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3.1.

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CONCEITO DE VIOLÊNCIA DE


MANEIRA GLOBAL

A figura do desatino e da internação começam a se chocar no início da


racionalidade da idade das luzes (século XVIII). A terra do internamento parece
adquirir na sociedade poderes prórpios de “terra do mal”. Sob um aspecto
fantástico, o mal que se tinha excluido do internamento agora reaparece e,
para espanto do público;
“ Vêem-se nascer e ramificar em todos os sentidos os temas de
um mal, físico e moral ao mesmo tempo, que envolve, nessa
indecisão, poderes confusos de corrosão e horror. Impera então
uma espécie de imagem indiferenciada da "podridão", que diz
respeito tanto à corrupção dos costumes quanto à decomposição
da carne, e pela qual irão pautar-se a repugnância e a piedade
sentidas em relação aos internos (FOUCAULT, Vigiar E Punir,
1974)
Segundo Foucault, é no fantático e não na medicina que o desatino, a loucura,
se encontra. O imaginário das pessoas ao se referir à loucura, portanto, retoma
com a noção fantástica do mundo do medo, da corrupção, da falta de
comunicação e dos “vicios”.

Segundo o autor, as instituições se tornaram, a partir da segunda metade do


século XVIII o grande movimento de reforma psiquiatrica inciou e tem ai sua
origem em trasnformar a instituição num movimento asilar. Hospitais, a casa de
força, todos os locais de internamento se tornaram ambientes de dificílimo
acesso, bem isolados.

Com a obra de Michel Foucault existe um esforço em torno do levantamento


do conceito de loucura que são vistos como um dado natural, imutável, cuja
abordagem varia através dos tempos, que ao longo da história a loucura e não-
loucura, razão e não-razão estiveram uma existindo pela relação da outra .

A partir do século XiX o conceito da loucura se torna efeito psicológico de uma


falta de moral e passa a ser vista como uma doença, sofrendo influências da
psicanálise. Já o homem contemporâneo no quesito loucura é aquele histérico,
depressivo, esquizofrênico, cujo comportamento é obsceno, dando ênfase
também às condições orgânicas, ligando-se à medicalização excessiva.
“O que a história da loucura nos revela, pondo em
questão toda a cultura ocidental moderna, é que o louco é
excluído porque insiste no direito à singularidade e portanto,
à interioridade” (FRAYZE-PEREIRA, 1993, p.102.)

É ao longo do século XXI que a discussão se torna massiva em torno da


importância da reestruturação da assistência psiquiátrica e suas formas de
hegemonia centralizadora dos hospitais psiquiátricos. São muitos relatos de
violência acerca desses meios que tornaram necessários salvaguardar os
direitos civis, a dignidade pessoal, os direitos humanos dos usuários e propiciar
a sua permanência em seu meio comunitário.

Em 1990 os países da America Latina comprometeram-se em promover um


documento que assegura as discussões sobre a reestruturação da psiquiatria,
inclusive no Brasil. Em 2005 esse documento foi retomado e reafirmaram a
necessidade de proteção dos direitos humanos e da cidadania dos portadores
de transtornos mentais e a necessidade da construção de redes de serviços
alternativos.

A partir da modernidade, portanto, nos deparamos com o conceito de


desistucionalização da loucura. A partir desses marcos, começou-se a
privilegiar a criação de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, mas na
realidade, é muito mais amplo do que só deslocar a atenção para a
comunidade.

Na obra de Alice Hiders “A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão” é


feita uma análise de Rotelli em torno da obra Desinstitucionalização, que a vê
como um trabalho prático de transformação que contempla a ruptura de
inúmeras ideias, criação de áreas com novas políticas de saúde mental e a
transformação de ideias, locais e conceitos.
O foco era dado para a doença e passa a ser o sujeito, dando importância a
saúde, projetos terapêuticos, reabilitação e reinserção social.A reorientação do
modelo assistencial em saúde mental demanda investimentos políticos,
técnicos, financeiros e éticos, entre outros, assim como a articulação com
outras instâncias educação, trabalho, cultura, habitação e habilitação
profissional que tenham capacidade para intervir na existência do sujeito, seu
sofrimento e ajudando a reconstruí-lo.

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