O documento descreve a história da loucura ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os tempos modernos. Na Idade Média, os leprosos eram isolados em leprosários. Após a lepra diminuir, esses locais passaram a abrigar outros grupos excluídos, incluindo os portadores de doenças venéreas e, posteriormente, os loucos. Na Renascença, os loucos eram vistos ora como detentores da verdade, ora como representantes das fraquezas humanas. No século XVIII, passou
O documento descreve a história da loucura ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os tempos modernos. Na Idade Média, os leprosos eram isolados em leprosários. Após a lepra diminuir, esses locais passaram a abrigar outros grupos excluídos, incluindo os portadores de doenças venéreas e, posteriormente, os loucos. Na Renascença, os loucos eram vistos ora como detentores da verdade, ora como representantes das fraquezas humanas. No século XVIII, passou
O documento descreve a história da loucura ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os tempos modernos. Na Idade Média, os leprosos eram isolados em leprosários. Após a lepra diminuir, esses locais passaram a abrigar outros grupos excluídos, incluindo os portadores de doenças venéreas e, posteriormente, os loucos. Na Renascença, os loucos eram vistos ora como detentores da verdade, ora como representantes das fraquezas humanas. No século XVIII, passou
Quando tratamos da história da loucura, nos remetemos a obra homônima
de Michel Foucault, que sem dúvidas se estabeleceu como referencial ao tema, não somente por todo esmero de pesquisa do autor, mas também por sua análise crítica ao mostrar as diversas “ocupações” que a loucura figurou no pensamento humano.
A loucura é um fenômeno inerente a humanidade. A forma que o homem
lidou com a loucura e até mesmo o conceito sofreu transformações ao longo dos séculos. Portanto, faz-se válido abordar de forma sucinta sua história e como desenvolveu-se à atual condição que se encontra.
Na Idade Média, no período das Cruzadas, a lepra se disseminou e
contaminou a população de forma tal a obrigar as autoridades reais da época a construírem estabelecimentos para abrigar os leprosos e, consequentemente, afastá-los do resto da sociedade. Via-se, em âmbito religioso, que a Igreja pregava uma imagem do leproso sendo uma manifestação divina, uma vez que Deus os fez e os trouxe ao mundo. Por esse motivo, segundo ela, os leprosos “estão afastados da sociedade, mas não de Deus”, explicitando a contradição entre o tratamento dignado a eles e a forma como eram estigmatizados. A sociedade, por sua vez, estabelece uma relação de exclusão com o leproso, e este sentimento permaneceu no inconsciente coletivo. . Mesmo com o fim dos surtos de lepra na Europa, os Leprosários - nome atribuído a tais estabelecimentos - são mantidos e sua estrutura reaproveitada; nela, serão mantidos novos grupos de excluídos, como os portadores de doenças venéreas, que também se disseminavam rapidamente entre a população. Conforme esse grupo aumenta, os Leprosários não possuem estruturas suficientemente espaçosas para mantê-los, exigindo assim a construção de novas instituições. Tais instituições com o passar do tempo, irão adquirir novas finalidades, e a loucura ainda estabelecerá uma forte relação com a mesma a partir do século XVII. No entanto, para que reações de divisão, exclusão e purificação dominassem a loucura foram necessários quase dois séculos, pois as experiências e as formas de se relacionar com a loucura produzidas na Renascença tinham um sentido completamente diverso e Foucault procurará compreendê-lo.
Entre os séculos XV e XVII as duas principais concepções de Loucura são
experenciadas, Conforme Foucault, de fohttp://www.damplips.com/rma “trágica” e “crítica”. Esse elemento "crítico" da loucura prevaleceu sobre o "trágico", na história, em certo sentido abriu espaço para tornar possíveis as experiências modernas da loucura.
Na Renascença, os loucos eram colocados em barcos e navios e
carregados para cidades longe das suas em busca da razão. Haviam navios especialmente para leva-los, resolvendo desta forma a presença indesejada dos loucos nas cidades, ao mesmo tempo que atribuíam um sentido de esperança em encontrar a razão ao se lançar ao mar. Quando estes chegavam nas cidades, eram expulsos pelos moradores. Assim surgiu a “Nau dos loucos”, figurando o imaginário do homem europeu. A loucura se associou ao mar. Os loucos eram os eternos prisioneiros da passagem, sempre navegando de um porto ao outro, não pertencem a nenhum lugar.
Interessante notar que nesse período a loucura passa a ser tema
principal da literatura, do teatro, enfim, das artes como um todo. Neste espaço, o louco não é visto mais como uma figura boba, e sim como o detentor da verdade. (Foucault, 1972, p. 14). Em um cenário onde a morte era vista como protagonista, a loucura ganha destaque porque os loucos começaram a ser vistos como sábios, que conhecem a efemeridade da vida e, a loucura, seria então, um ato de razão. Um ato em direção à verdade. Esta abordagem “trágica” dividia espaço com uma visão crítica, onde o louco e seus desatinos seriam o homem lidando com suas fraquezas, suas ilusões e a seus sonhos, representando um sutil relacionamento que o homem mantém consigo mesmo. Aqui, portanto, a loucura não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade que ele distingue de si mesmo
Temos assim as experiências da loucura na Renascença: de um lado,
uma experiência cósmica, trágica, composta pela Nau dos loucos; de outro, uma experiência crítica, relacionada a toda essa ligação que o homem mantém consigo mesmo. É o confronto entre essas duas experiências que expressa a formulação que o começo da Renascença faz da loucura. Não há, desse modo, uma única experiência formulada pela Renascença sobre a loucura, esperando para se desenvolver, evoluir e finalmente atingir uma forma mais acabada e mais complexa, mas seguindo a concepção de história genealógica utilizada por Foucault, uma luta entre duas experiências que não param de brigar entre si, pois: “As forças que se encontram em jogo na história não obedecem nem a uma destinação, nem a uma mecânica, mas ao acaso da luta”. (Foucault, 1978: 28).
No século XVIII temos então a visão crítica ganhando destaque, onde o
louco cada vez mais é visto como alguém que precisa estar afastado, por sua falta de razão. Os loucos, por ficarem na ociosidade e mendigando, são associados aos excluídos da sociedade. Neste ponto retomamos a questão da internação, que adquire aqui função social: os leprosos são substituídos por pobres, presidiários, velhos, vagabundos e os chamados ‘alienados’. Aqueles que não contribuíam e/ou ofereciam perigo à sociedade são internados, visando a contenção e não a cura. Eram desumanizados, maltratados, viviam em condições muito precárias.
Sendo assim o internamento em nada contribuiu para um melhor
tratamento daqueles que possuíam sofrimentos mentais, pois não tinha pretensões médicas e a loucura passou por um árduo processo até ser compreendida pela sociedade. Tal processo ainda não terminou, como Foucault deixa claro em suas conclusões. Atualmente a loucura é compreendida como doença mental, como uma patologia, e os ”loucos” são vistos como pessoas que possuem um sofrimento psíquico, que merecem ser tratadas adequadamente, e com a Luta anti-manicomial, tal percepção se expandiu ao buscar-se maneiras alternativas a internação.