Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
OS SABERES SOBRE A LOUCURA
Nesta obra, Foucault se propõe a estudar os saberes
sobre a loucura, para estabelecer o momento exato e as
condições de possibilidade do nascimento da Psiquiatria.
2
QUESTÃO CENTRAL
3
EM BUSCA DE UMA ONTOLOGIA DA LOUCURA
Com este livro, Foucault atinge diretamente a Psiquiatria, que ele chamou de
“monólogo da razão sobre a loucura”. Para Foucault, o discurso da Psiquiatria
veio não suprimir, mas ocultar a loucura.
Ontologia: parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser
concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a
cada um dos seres.
4
A EXPERIÊNCIA TRÁGICA (OU CÓSMICA) DA
LOUCURA.
5
6
A NAU DOS INSENSATOS
É difícil saber o sentido exato dessas naus.
Pode ser ainda que esses lugares tenham sido confundidos com
lugares onde os insanos eram levados a título de cura, com a
exclusão no espaço sagrado do milagre.
7
O LOUCO É O PASSAGEIRO POR EXCELÊNCIA
A água leva embora, mas faz mais do que isso – ela purifica.
8
CONSCIÊNCIA CRÍTICA DA LOUCURA
9
10
APENAS FORMAS HUMANAS DE LOUCURA
Tudo o que havia de manifestação cósmica obscura na
loucura, tal como Bosch a via, desapareceu em Erasmo.
A loucura não está mais à espreita do homem pelos
quatro cantos do mundo, ela se insinua nele, ela é um
sutil relacionamento que o homem mantém consigo
mesmo.
11
COMPARANDO A EXPERIÊNCIA TRÁGICA E A
CONSCIÊNCIA CRÍTICA:
Experiência trágica: Consciência crítica:
De um lado, temos então, os pintores, como Bosch, e Do outro lado, com Brant, Erasmo e toda a
todo o silêncio das imagens. É no espaço da pura tradição humanista, a loucura é considerada no
visão que a loucura desenvolve seus poderes. A universo do discurso. Ela pode ter a última
loucura tem uma força primitiva de revelação: palavra, mas não é nunca a última palavra da
revelação de que o onírico é real, de que a delgada verdade e do mundo. O discurso com o qual se
superfície da ilusão se abre sobre uma profundeza justifica resulta apenas de uma consciência crítica
irrecusável, e que o brilho instantâneo da imagem do homem. Enquanto Bosch, Brueghel e Durer
deixa o mundo às voltas com figuras inquietantes eram espectadores terrivelmente terrestres, e
que se eternizam em suas noites e, revelação implicados nessa loucura que viam brotar à sua
inversa, mas igualmente dolorosa, de que toda a volta, Erasmo observa-a a uma distância suficiente
realidade do mundo será absorvida um dia na para estar fora do perigo, observa-a do alto de seu
imagem fantástica, no delírio da destruição pura. Olimpo.
12
A TESE CENTRAL DE HISTÓRIA DA LOUCURA É:
13
DA LOUCURA À DOENÇA MENTAL
A experiência da loucura, que se estende do século XVI até hoje, deve sua
figura particular e a origem de seu sentido a essa ausência e a tudo o que a
ocupa.
14
UMA REVISÃO RADICAL DOS SABERES SOBRE A
LOUCURA
Foucault postula a necessidade de uma revisão radical da maneira
como a Psiquiatria e a Psicopatologia haviam pensado a loucura até
então:
15
UMA LOUCURA INERENTE À RAZÃO
Mas como se constituíram, no século XVI, os privilégios da reflexão
crítica? O que se passou para que as imagens trágicas se
dissipassem na sombra?
16
UMA MUDANÇA NA RELAÇÃO ENTRE LOUCURA E
DESRAZÃO
Segundo Foucault, a problemática da loucura, tal como era colocada por Montaigne na Idade Média, vê-
se modificada com Descartes:
“A Não-Razão do século XVI constituía sempre uma espécie de ameaça aberta cujos perigos podiam
sempre, pelo menos de direito, comprometer as relações da subjetividade e da verdade. O percurso da
dúvida cartesiana parece testemunhar que no século XVII esse perigo está conjurado e que a loucura foi
colocada fora do domínio no qual o sujeito detém seus direitos à verdade: domínio que, para o
pensamento clássico é a própria razão. Doravante, a loucura será exilada. Se o homem pode sempre ser
louco, o pensamento, como exercício de soberania de um sujeito que se atribui o dever de perceber o
verdadeiro, não pode ser insensato. Traça-se uma linha divisória que logo tornará impossível a
experiência, tão familiar à Renascença, de uma Razão irrazoável, de um razoável Desatino”. (Foucault,
1989, p.47-48).
17
DA CLAUSURA DO FORA AO FORA DA CLAUSURA
18
O EXTERIOR/A ALTERIDADE RADICAL
“Trata-se da hipótese de que o surgimento da própria loucura enquanto fato social, objeto de exclusão, de
internamento e de intervenção, já seria o encobrimento e o desvanecimento de uma alteridade todavia
mais extrema e irredutível – a Desrazão. A Desrazão, entenda-se, não era esse Exterior confinado a um
personagem social recluso, como foi a loucura a partir da Idade Clássica, mas simplesmente o Exterior,
isto é, o exterior do homem, e isto sob as mais diversas formas que a história lhe emprestou, seja como
Caos no Mundo, Aventura da Linguagem, Estranheza da Natureza, Transcendência do Divino, Fúria da
Morte, Sagrado dos Elementos, Bestialidade do Humano, estas são algumas das diferentes maneiras
através das quais o homem se relacionou, ao longo da história, com aquilo que não era ele, num vaivém
que hoje nos parece quase impensável. É que a modernidade, tornando tudo familiar, aprendeu a
domesticar o estranho, seja sob a tutela clínica, da dominação técnica ou da oposição antitética”.
(Pelbart, 1993, p. 94-95).
19
DA NAU ÀS CASAS DE INTERNAMENTO
Nasce a experiência clássica da loucura. Não existe mais a
barca, mas o hospital. No lugar da Nau dos Loucos, surgem
as casas de internamento. Além da experiência filosófica e
dos desenvolvimentos do saber, outros signos traem a
existência da passagem da experiência trágica para a crítica.
20
PINEL E A CRIAÇÃO DA PSIQUIATRIA
A partir de Pinel, sabe-se que é lá que os loucos foram
colocados durante um século e meio. É entre os muros do
internamento que Pinel e a Psiquiatria do século XIX
encontrarão os loucos, e é lá que os deixarão, não sem antes
se vangloriarem por terem-nos libertado.
21
O HOSPITAL GERAL
Casas de internamento: uma data de referência
importante é a do decreto da Fundação, em Paris, do
Hospital Geral, em 1656.
22
ASSISTÊNCIA E REPRESSÃO
Idade Média – inventou os leprosários.
23
UMA NOVA REAÇÃO À MISÉRIA
Trata-se de uma nova reação à miséria.
24
UMA RESPOSTA À CRISE ECONÔMICA
Mas trata-se ainda de uma resposta à crise econômica:
A prática da internação vai se constituir como uma das respostas dadas pelo século XVII a uma crise
econômica que afeta o mundo ocidental em sua totalidade. As profundas alterações sócio-econômicas que
ocorrem na Europa neste período - a ascensão da burguesia mercantilista e o declínio da sociedade feudal e
o conseqüente abandono do campo pelas populações rurais que buscam as cidades atraídas pelas
manufaturas – engendram fenômenos que comprometem a circulação e a segurança das mercadorias.
Além disso, há desemprego, diminuição de salário, escassez de moeda. O internamento vai desempenhar
então, do ponto de vista socioeconômico, uma dupla função: nos períodos de crise prendendo os
desprovidos de trabalho, e, fora desses períodos, dando trabalho aos que haviam sido presos, fazendo-os
servir, com isso, à prosperidade de todos. A alternativa é clara: mão de obra barata nos tempos de pleno
emprego e altos salários; e, em períodos de desemprego, reabsorção dos ociosos e proteção social contra a
agitação e as revoltas.
25
A EXCLUSÃO
Trabalho e ociosidade traçaram, no mundo clássico uma linha de partilha
que substituiu a grande exclusão da lepra.
26
UM PROBLEMA DE “POLÍCIA”
Se o louco antes aparecia de modo familiar na paisagem da Idade Média, agora ele
vai se destacar sobre um fundo formado por um problema de “polícia”, referente à
ordem dos indivíduos na cidade. Outrora ele era acolhido porque vinha de outro
lugar, agora ele é excluído porque vem daqui mesmo, e porque seu lugar é entre os
pobres, os miseráveis e os vagabundos.
Essa comunidade adquire um poder ético de divisão que lhe permite rejeitar, como
num outro mundo, todas as formas da inutilidade social. É nesse outro mundo que a
loucura vai adquirir o estatuto que lhe reconhecemos.
27
E A LOUCURA É INSERIDA NOS PROBLEMAS DA CIDADE
28
EXCLUSÃO / ORGANIZAÇÃO
As diferenças nessa população que se confinou nas casas de
internamento agora, são claras para todos, e essa mistura hoje pode
nos parecer um tanto quanto confusa.
Não é, portanto, o nosso saber que temos que interrogar e sim essa
experiência, a respeito do que ela sabe sobre si mesma, pois o
internamento não significou apenas um ato negativo de exclusão,
mas também um papel positivo de organização.
29
A REPERCUSSÃO DE “HISTÓRIA DA LOUCURA”
NQS MEIOS PSIQUIÁTRICOS
Foi lançado num momento em que a comunidade dos historiadores da psiquiatria havia deixado de lado o mito da libertação
dos loucos por Pinel, e começava a estudar a história das ferramentas conceituais utilizadas na Psiquiatria em suas diferentes
construções nosológicas. Nessa perspectiva, a loucura, “natural” ao homem, fora arrancada do olhar lançado sobre ela pelo
pensamento mágico, para se tornar o objeto de uma ciência. Foucault denunciava todos os ideais sobre os quais repousava
seu saber e destroçava a prolongada permanência do humanismo pineliano, declarando guerra a todas as formas de
reformismo institucional.
30
A CONTESTAÇÃO DA PSIQUIATRIA NOS E.U.A. E NA EUROPA
A defesa do saber psiquiátrico tornava-se ainda mais difícil porque as teses de Foucault
se aproximavam das do movimento antipsiquiátrico. A crítica à noção de doença mental
e a contestação de uma psiquiatria considerada patogênica havia começado em 1959,
percorrendo caminhos totalmente diferentes dos seguidos pelo autor de História da
Loucura. Na Inglaterra, na Califórnia e na Itália, a contestação da psiquiatria surgira nos
domínios do asilo e na prática, e ocupava o lugar que, na França, cabia à psicoterapia
institucional e à renovação lacaniana.
Mas este já é um outro tema, que fica para uma outra aula...
31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOUCAULT, M. História da Loucura na idade clássica. 2. ed. São
Paulo: Perspectiva, 1989.
___________Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1975.
MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, M.
Microfísica do poder. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
PELBART, P.P. Da clausura do fora ao fora da clausura: loucura e
desrazão. São Paulo: Brasiliense, 1989.
ROUDINESCO, E. et. Al. Foucault: leituras da história da loucura.
Rio de Janeiro: Relume-Durmará, 1994.
32