Você está na página 1de 34

Síntese Explicativa

MÓDULO I

Terapia Ocupacional e Saúde mental:


constituição dos campos

TO em SM II
Semestre Letivo em APNP - 2022.1

Profªs: Roberta Pereira Furtado da Rosa


Ana Maria Quintela Maia
“Este é um material pedagógico desenvolvido por
servidor do IFRJ. Seu uso, cópia, edição e/ou
divulgação, em parte ou no todo, por quaisquer
meios existentes ou que vierem a ser
desenvolvidos, somente poderão ser feitos
mediante autorização expressa de seu autor e do
IFRJ. Caso contrário, poderão ser aplicadas as
penalidades legais vigentes” (Resolução
CONSUP/IFRJ Nº36, DE 7 DE JULHO DE 2021).
1

Apresentação
Este módulo pretende apresentar como a saúde mental e a terapia ocupacional
se constituíram ao longo da história. Para isso, construímos essa síntese que
apresenta, de modo resumido, o campo da saúde mental e a profissão terapia
ocupacional e em que ponto elas se relacionam, em um mesmo contexto
histórico e social.

Para falarmos de saúde mental precisamos antes entender de onde vem o


termo ‘doença mental’ e, anterior a isso, como o termo ‘loucura’ em uma
determinada época passou a ser considerada uma doença, sendo definida como
o objeto de estudo pertencente a um saber: no caso, a medicina e sua
especialidade, a psiquiatria.

Antes mesmo da medicina se constituir enquanto um saber científico, a loucura


já era reconhecida no meio social de outras formas. Então voltamos em alguns
séculos atrás, na Idade média, para, a partir daí construir esse entendimento da
loucura.

Neste módulo teremos como material de estudo esta síntese, um texto de


referência para leitura, um vídeo e, a partir deles, a realização da atividade
avaliativa.

Vocês também encontrarão nesta síntese algumas


sugestões de leituras, vídeos e outros links que são
leituras complementares (não obrigatórias) e
que ajudam no processo formativo.

Boa leitura!
2

O QUE É LOUCURA?

Para João Frayze Pereira, autor do


livro “O que é loucura”, falar desse
termo LOUCURA não é nada simples.
Ele diz que “se loucura é algo que
convivemos, é paradoxalmente algo
difícil de se falar na primeira pessoa. É
mais fácil falar da loucura no/do
outro” [...] (PEREIRA, 1984, p.8)

Ou seja, sempre que falamos de


loucura, as referências que nos vêm a
mente se ligam àquilo que escutamos
desde nossa infância. Uma imagem do
louco que é construída em nosso
imaginário, e que geralmente está
muito distante da nossa realidade e
experiência.
3

PEREIRA (1984) apresenta essa ideia de loucura a partir de uma


pergunta disparadora que faz aos estudantes da instituição em que
ele trabalha. É desse modo que ele inicia sua pesquisa para a escrita
de seu livro. Com a seguinte pergunta: O que é loucura para você?

Algumas respostas que aparecem:

➢ Loucura é perda de consciência de si, de seu lugar no mundo,


estado quase vegetal;

➢ Loucura é uma doença, o cérebro sofre danos causando


descontrole, agressividade;

➢ Loucura é um distúrbio orgânico, desequilíbrio emocional,


desvio de comportamento em relação às normas sociais;

➢ Loucura é desajustamento dentro da sociedade;


➢ Loucura é desvio do comportamento em relação a uma
norma;

➢ Loucura é desligamento ou fuga da realidade objetiva por


insatisfação com o mundo normal;

➢ Loucura é tomada de consciência de si e do mundo, rejeição


do mundo preestabelecido, moldado, aqueles que sabem
olhar a realidade do mundo.
4

Podemos identificar nessas respostas dois entendimentos


principais:

• A loucura é percebida como experiência corajosa de descoberta


do real

loucura entendida como uma sabedoria para além do normal

• A loucura é percebida como falha da forma consciente,


equilibrada e normal do ser humano.

loucura entendida como uma falha do sujeito

As duas ideias localizam a loucura no indivíduo. Essa pessoa


considerada louca, passa a não ser reconhecida em seu lugar como
ser humano, ou seja, como qualquer outra pessoa. Essa percepção
exclui a pessoa considerada louca do universo comum dos mortais.
Fato é que “[...] a loucura é uma questão problemática tanto quanto
é a compreensão sobre a identidade do homem” (PEREIRA, 1984, p.
12).

Nessa síntese, pretendemos como Pereira (1984) “questionar essa


ligação tradicionalmente estabelecida entre loucura e patologia e
compreender como se torna possível a loucura no contemporâneo”.
5

Para nos instigar um pouco mais essa


conversa, vejamos o que nos diz Antonin
Artaud:

“E o que é um autêntico louco? É um


homem que preferiu enlouquecer, no
sentido em que socialmente se
ANTONIN ARTAUD
entende a palavra, a trair uma certa
Poeta, escritor, ator,
dentre outras ideia superior de honra humana. Eis
ocupações, teve um
papel relevante no por que a sociedade condenou ao
campo da saúde
mental. estrangulamento em seus manicômios
todos aqueles dos quais queria se
Para saber mais sobre
ele, veja nesta livrar ou contra os quais queria se
página:
https://redehumaniza defender, pois eles haviam se recusado
sus.net/89562- a acumpliciar-se com ela (a sociedade)
antonin-artaud-carta-
aos-medicos-chefes- em certos atos de suprema sujeira.
dos-manicomios-
1925/ Pois um louco é também um homem a
quem a sociedade não quis ouvir e a
quem quis impedir a expressão de
insuportáveis verdades”.

Antonin Artaud
6

HISTÓRIA DA LOUCURA:
EXPERIÊNCIA TRÁGICA – EXPERIÊNCIA CRÍTICA
PRÁTICAS DE SEGREGAÇÃO E RECLUSÃO

Segundo Foucault (2008) a


humanidade*, desde a idade
média, convive com uma
inquietude: o vazio da existência.
Uma existência que tem como seu
A loucura nessa época era tida
final, a morte. Esta é a ameaça e a
como familiar e o louco
conclusão. Na tentativa de eliminar
reconhecido em sua existência
essa ameaça, a sociedade medieval
errante pelas cidades, não era tido
passou a afastar tudo aquilo que se
porém como ameaça, apesar de
aproximava da morte. A lepra
haverem maneiras de tentar uma
naquela época, mostrava a
certa purificação dessa loucura nas
presença da morte ainda em vida,
cidades. Surge nessa época da
daí explica-se a atitude de exclusão
renascença uma figura literária que
da lepra enquanto ameaça. Criam-
logo após um tempo torna-se real:
se asilos para os leprosos. Ao longo
a nau dos loucos, ou seja, eram
do tempo a lepra vai deixando de
embarcações que levavam
ser a principal ameaça e tais
as pessoas consideradas loucas
lugares dão espaço para outras
para longe com a finalidade de
doenças venéreas que sucedem a
purificação.
lepra (isso acontece já ao final da
idade média, pelo século XV).

* Lembramos que Foucault, em sua análise, ao falar de humanidade, está


tomando como referência a sociedade ocidental.
7

LOUCURA COMO FIGURA FAMILIAR, PRESENTE NAS CIDADES

Essas ‘naus’ surgem de forma concreta assim como as peregrinações


que algumas cidades faziam em busca da razão. Algumas cidades
acolhiam esses ditos insanos. Em outras cidades, nos lugares de
passagem, de feiras, os loucos eram levados pelos mercadores e
marinheiros. A purificação era então da cidade que se livrava deles.
Confiar aos marinheiros era a certeza de tê-los afastados. Tais
embarcações acolhem o louco e o levam a outros lugares distantes
onde o mar, nesse contexto, além de afastá-los, tem um simbolismo de
purificação (FOUCAULT, 2008).

O louco pertence nesta época a um lugar de


passagem.

Sugestão de leitura: O livro História da loucura


de Michel Foucault, Capítulo 1 - Stultifera
Navis, onde está descrita a nau dos loucos.

Essa navegação do louco “não faz mais que desenvolver, ao longo de


uma geografia semi-real, semi-imaginária, a situação limiar do louco
no horizonte das preocupações do homem medieval [...] sua exclusão
deve encerrá-lo, se ele não pode ter outra prisão que o próprio limiar,
seguram-no no lugar da passagem. [...] É o prisioneiro no meio da
mais livre, da mais aberta das estradas. É o passageiro por excelência,
isto é, o prisioneiro da passagem” (FOUCAULT, 2008, p.12).
8

EXPERIÊNCIA TRÁGICA – EXPERIÊNCIA CRÍTICA

Ao final da Idade Média, essa barca (a Nau dos Loucos) passa a ser
simbolizada a partir de um incômodo, se ligando ao homem a partir de
suas fraquezas. A loucura passa a assumir uma outra superfície,
marcada pela desordem. Começa a surgir aí a experiência crítica da
loucura onde seu lugar passa de uma existência errante, lugar de
passagem, para o reconhecimento de uma existência marcada pela
desordem, e consequentemente, seu lugar passa a ser o do
internamento.

A Loucura lembra, a cada um, a sua


verdade, é reconhecida como
própria do homem.

Na imagem: A nave dos loucos, de


Hieronymus Bosch.

Final do século XV: Vive-se nessa época uma experiência marcada


por uma enorme ferida narcísica, onde se descobre que a terra não
é mais o centro do universo. A humanidade entra em um vazio onde
a dúvida toma conta de todos. O filósofo Descartes declara que
‘duvida de tudo, só não duvida que, ao duvidar, ele pensa’. Essa
declaração se refere à conhecida frase: “Penso, logo existo”.
9

É com essa afirmação que se dá o reconhecimento do ser humano


nessa época - a partir do pensar. Nesse caminho, a morte é substituída
pela loucura uma vez que a ameaça passa a ser a ‘falta do pensamento’.
A loucura, ao ser reconhecida nesse lugar, passa a ser vista como uma
‘morte em vida’. Enquanto ameaça, assumirá o mesmo lugar da lepra e
se unirá a outras doenças em casas próprias” (Foucault, p.16, 2008).

O lugar que a loucura assume como seu

os espaços de internamento

Desenho do Hospício Pedro II (Primeiro hospital construído no Brasil


destinado ao tratamento dos alienados, onde hoje é o Campus da
Praia Vermelha, da UFRJ). Rio de Janeiro.

Fonte: https://images.app.goo.gl/24UXdnoKV5ZwLa5c8

A experiência trágica da loucura se distancia e a experiência crítica


se aproxima → daí nasce a experiência clássica da loucura. A
loucura passa a existir aos parâmetros da razão, e não é
considerada nada mais do que uma falta de razão. (Foucault, 2008).
10

PRÁTICAS DE SEGREGAÇÃO E RECLUSÃO

Essas práticas vem marcar diferenças entre sujeitos considerados


loucos e sãos a partir do gesto de internamento: separam o que é
social do que é considerado a-social. A partir dessas práticas, vai se
definindo um padrão, um modelo, e a partir desse modelo, se
reconhece tudo aquilo que difere ao modelo:

Ser de razão = humano


X
Ser desarrazoado = não humano.

Foucault chama esse gesto de alienação. Esse gesto do internamento


criava, a partir do isolamento, figuras bizarras que ninguém mais
reconhecia, desfazendo as familiaridades na paisagem social.

Século XVII: Cria-se uma sensibilidade social que se definia através dos
privilégios da razão. São nos hospitais gerais que os loucos são
recolhidos, levados por autoridades reais ou judiciárias.

É necessário lembrar que, nessa época, os hospitais ainda não são


estabelecimentos médicos. São estabelecimentos de acolhimento,
onde não há tratamento algum, apenas tem a função de controle da
sociedade, recebendo aqueles que não seguem as normas e a boa
ordem, com o intuito de afastar do social tudo o que é entendido como
desrazão.
11

INTERNAMENTO: ASSISTÊNCIA E inutilidade social. Os


CASTIGO internamentos cumprem um
papel de proteção social em
tempos de crise econômica,
O internamento se justifica
para evitar agitações e revoltas.
duplamente como benefício (ao
bom pobre, pela assistência), e
como castigo (ao mau pobre, O louco se define por sua própria

pela punição). O louco tem seu indefinição, opondo-se a tudo

lugar reconhecido junto aos que é razão. Nesse movimento, a

pobres sendo comparado como loucura é reconhecida por

um entre todos os que atravessar a ordem burguesa,

promovem a desordem (loucos, alienando-se fora dos limites de

pobres, desempregados, sua ética (os loucos eram

‘vagabundos de toda espécie’). incapazes de manter um ritmo


de trabalho e da vida coletiva
dentro da internação).
Há na sociedade um pacto ético
pautado pelas relações de
trabalho. Sem tais relações, o O internamento assume um

indivíduo não é considerado aspecto quase pedagógico para

humano. A internação é tida conduzir os sujeitos de volta à

como uma condenação ética, verdade.

onde a comunidade de trabalho


rejeita todas as formas de
12

VÍDEO OBRIGATÓRIO:

Para entender melhor esse


funcionamento dos espaços de
internamento a partir de nossa realidade
brasileira, e de modo específico, no Rio
de Janeiro assista:

❖ Memória da Reforma Psiquiátrica no


Brasil: Do nascimento da Psiquiatria
ao início da Reforma -
https://youtu.be/611777tFm8k

Como atividade complementar, leia


também o livro clássico de Machado
de Assis: ‘O ALIENISTA’
http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/DetalheObraForm.do?sele
ct_action=&co_obra=2027
13

LOUCURA:
“DOENÇA MENTAL”E O ADVENTO DA
MEDICINA SOCIAL

SÉCULO XVIII – A negatividade da loucura é identificada neste século a


partir de uma variedade de fenômenos. Foucault (2008) coloca que a
presença de médicos nessa época nos hospitais não é porque a loucura
é tida como doença, mas para que os internos não adquiram doenças.
O internamento destina-se a corrigir. Alguns espaços de internamento
passam a receber loucos a medida em que estes são vistos como
curáveis. A ideia de cura vai sendo estabelecida neste século e junto a
ela vem a ligação da loucura enquanto uma doença.

Os fenômenos passam a ser observados pelos médicos e ordenados


em grupos: demências, manias, melancolias. O saber empírico que
ronda as instituições em um misto de cura e correção é, aos poucos
misturado a um saber médico que vai sendo construído.

Para entender como a ideia de loucura passa a ser reconhecida como


uma doença a ser tratada (doença mental), é preciso entender que
ocorre nesse processo uma transformação no espaço hospitalar. Antes
esse espaço era reconhecido como local de assistência e castigo,
seguindo uma ordem caritativa.
14

A partir da presença dos médicos, há uma tentativa de anular os


efeitos negativos do hospital (eliminar as doenças dos internos
evitando atingir as pessoas da cidade, e também eliminar a desordem
econômico-social). Essa é a primeira ação de transformação. Assim, há
uma reorganização hospitalar aos moldes da disciplina, como nos
demais estabelecimentos (escola, prisão, convento).

Também é possível acompanhar uma modificação da própria medicina


enquanto saber. De uma medicina da crise para uma medicina do
espaço urbano, que se preocupa com o ambiente, com o regime, com a
alimentação. O espaço hospitalar torna-se então meio de intervenção
dessa medicina sobre o doente (Foucault, 2001).

A loucura, passa a ser reconhecida como doença mental e esta


“assume a feição de uma entidade natural manifestada por sintomas”.
Estas são agrupadas pela medicina mental em conjuntos coerentes
cuja análise busca revelar a essência da doença. Ao lado, portanto, da
constituição de uma sintomatologia, é elaborada uma nosografia na
qual as formas específicas da doença, suas fases e variações são
classificadas e descritas. Inúmeros são os quadros classificatórios e os
termos empregados.

Por exemplo: “histeria”, “obsessões”, “mania”, “depressão”, “paranóia”,


“hebefrenia”, “catatonia” etc. (PEREIRA,1984, p.15).
15

Com o advento da medicina no social, o saber médico vai ganhando


força a partir de experimentos formulados como ‘técnicas contra a
loucura/doença’ e em favor da razão. O médico surge nesse cenário
como guardião, pois havia um medo de contágio do impuro por
parte da sociedade.

Século XIX – Abrem-se casas onde se separam os loucos dos demais


internos. A loucura enquanto doença passa a se especificar cada vez
mais. Para a cura surgem técnicas privilegiadas – purificações,
imersões, atividades de arte, música (como forma de despertar do
estado de doença). É o princípio da psiquiatria positivista. É também
neste século que a paisagem das cidades se modifica com a
industrialização.

Nesse novo cenário industrial define-se um novo lugar social para a


pobreza, mais vinculada à esfera econômica (sendo ela necessária ao
sistema de valores a partir do trabalho). Há uma busca de
disciplinarização do trabalho.

Para saber um pouco


mais sobre a loucura no
século XIX e a
evolução da psiquiatria
acesse:

https://melkberg.com/20
18/09/21/historia-da-
loucura-loucos-do-
seculo-xix-evolucao-da-
Phillipe Pinel à esquerda no hospital La
psiquiatria/
Salpêtrière.
16

Fazendo um paralelo com a nossa


A era positivista é testemunha
dessa libertação dos loucos do realidade no Brasil, destacamos a
confinamento para tratamento. Esse percepção do escritor Lima Barreto,
tratamento, baseado na observação internado em 1919 no Hospital
de sintomas marcam e dividem a Nacional de Alienados, no Rio de
doença mental em diagnósticos Janeiro. Durante sua internação, ele
diversos. Ele passa pela se dedica à escrita de um livro que
culpabilidade e o louco é convidado não finaliza, por decorrência de sua

a objetivar-se aos olhos da razão. morte no hospital. Em Diário do


Surgem novas modalidades de Hospício, ele se refere à população
medicalização e, nesse movimento, é que prioritariamente está presente
criada a especialidade médica: a nesses espaços de internamento – a
psiquiatria. população negra. Ele diz:

“[...] Devido à pigmentação negra de uma grande parte dos doentes aí


recolhidos, a imagem que se fica dele é que tudo é negro. O negro é a cor
mais cortante, mais impressionante, e contemplando uma porção de
corpos negros nus, faz ela que as outras se ofusquem no nosso
pensamento. É uma luz negra sobre as coisas, na suposição de que, sob
essa luz, o nosso olhar pudesse ver alguma coisa.” (BARRETO, 2010, p. 37)

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922)


17

PHILIPPE PINEL E A ‘LIBERTAÇÃO DOS


LOUCOS’ - PSIQUIATRIA POSITIVISTA

Nessa época a figura de Phillipe Pinel se destaca como uma figura


médica reconhecida, que traz propostas consideradas inovadoras para o
tratamento da loucura nas instituições.

Pinel passa a ordenar o espaço hospitalar a partir das diversas espécies


de alienados existentes, entendendo o isolamento como fundamental
para observar a sucessão de sintomas e descrevê-los. Ele organiza o
espaço asilar e essa divisão objetiva reconhecer a loucura como
unidade. O gesto de Pinel funda uma ciência que classifica a loucura
em um espaço próprio, instituindo a doença mental.

As concepções de Pinel vêm anunciar uma nova experiência da


loucura, onde cabe a ele fazer uma síntese a partir de três
articulações que Engel (2001) explicita:
✓ a classificação do espaço institucional;
✓ um arranjo nosográfico das doenças mentais;
✓ a imposição de uma relação específica de poder entre
médico e doente.
(ENGEL, 2001, p.118)
18

A medicina se apossa da experiência da loucura em meio ao


desenvolvimento de uma ciência objetiva do homem, de onde nascem
os princípios da psiquiatria positiva. A loucura assume estatuto de
objeto de conhecimento tendo como exclusiva a intervenção médica.

Enquanto condição de objeto, o louco é submetido a uma diversidade


de ações coercitivas, porém de um modo novo que não necessita mais
da força para deter. Através da culpabilidade, o louco é convidado a
objetivar-se sob os olhos da razão.

Philippe Pinel (1745 – 1826) foi diretor


do Hospital de Bicêtre na França. Ele
obteve o direito de libertar dos grilhões
todos os seus doentes e reabilitá-los na
condição de seres humanos.

A “doença mental” mostra-se cada vez mais abrangente, sendo somente


definida pelos especialistas que detivessem os aspectos chave, como a
abrangência dos casos e a invisibilidade da loucura. Esse poder perpassa
os corpos desses indivíduos internados demonstrando submissão ao
tratamento por reconhecerem o médico como única autoridade sobre
sua saúde e, no caso de alguns internados, por acreditarem em seu
desvio de comportamento, assumindo a culpa por seus sentimentos
“errados” ou “inadequados” aceitam tal internação (ENGEL, 2001).
19

Nesta época surgem tratados médicos sobre a loucura, novas


modalidades de medicalização e ocorre uma definição entre as
práticas médicas e as demais práticas, em que se busca marcar as
diferenças entre “verdade da ciência” e o erro do “senso comum”. A
partir dessa nova concepção o poder médico retira do louco a
condição de ser humano completo abrindo assim brechas para
exercer um poder irrestrito sobre ele (ENGEL, 2001, p.120).

A psiquiatria que nascia, “protegia” o louco num


esquadrinhamento que o encerra e o localiza, definindo quem é
o louco, e a partir disso, afirmando técnicas de como buscar sua
melhora em direção à normalidade possível.

Tais técnicas são atravessadas por um modo de funcionamento que


já se configura no meio social, tendo sua construção a partir de um
esquema de visibilização do outro. Falamos aqui de um poder
disciplinar presente no meio social e que realiza a partir de algumas
práticas e do próprio modo de indução a um estado consciente e
permanente de visibilidade. Esse modo de funcionamento é
exemplificado por Foucault (1983), a partir do Panóptico.

Vamos entender como isso funciona?


20

PANÓPTICO: Trata-se de uma arquitetura de poder que realiza uma


prática disciplinar de vigilância contínua dos indivíduos, sejam eles
quaisquer: loucos no asilo, mas também alunos em uma escola,
detentos em uma prisão, doentes em um hospital geral.

O poder disciplinar é onipresente e onisciente para combater


qualquer mistura que se insinue enquanto ameaça à ordem e
moral da sociedade. Misturas que são vistas como perigosas a uma
sociedade que idealiza uma “comunidade pura” e uma “sociedade
disciplinar” como descreve Foucault (1983).

“A multidão, massa compacta, local de múltiplas trocas,


individualidades que se fundem, efeito coletivo, é abolida em proveito
de uma coleção de individualidades separadas. Do ponto de vista do
guardião, é substituída por uma multiplicidade enumerável e
controlável; do ponto de vista dos detentos, por uma solidão
seqüestrada e olhada” (FOUCAULT, 1983, p.177).
21

Esse esquema se difunde no Foucault (1983) se refere à


corpo social, sendo recebido formação da sociedade
com um sentido de progresso, de disciplinar, considerando tanto as
aumento das forças de disciplinas fechadas até os
produção, de desenvolvimento mecanismos de vigilância como
da economia, enfim, dispositivo o panoptismo. Nessa sociedade
que se mostra benéfico e útil à de vigilância, os corpos são
sociedade. investidos em profundidade,
fabricados como máquina: os
É um momento de
efeitos de poder sobre os corpos
transformação histórica quando
fazem com que estes funcionem
se modificam as bases de
conforme uma engrenagem.
pensamento, quando não se
deseja mais neutralizar os
perigos negativos referentes aos
loucos, mas dar-lhes um papel
positivo, “incluindo-os”
enquanto úteis. Ao movimento
do capital não comporta mais o
acúmulo de espaços não
funcionais.

“Operários”, de Tarsila do Amaral


22

TRATAMENTO MORAL

No século XVIII, as práticas de poder disciplinar e os saberes (práticas


discursivas) se reforçam mutuamente em um processo que Foucault
(2001) chama de circular. Há a multiplicação dos efeitos de poder
graças à formação e à acumulação de novos conhecimentos. É neste
contexto disciplinar que surge a medicina clínica, a psiquiatria, a
psicologia da criança, a racionalização do trabalho.

Entendendo que nessa época o trabalho é tido como valor e como


‘ordem natural’ do processo produtivo, este passa a fazer parte do
processo terapêutico e seria o ponto para se estabelecer os limites
entre normal e patológico. A cura viria através do trabalho.

“Concebendo o doente mental como portador de uma desordem


interna e acreditando numa natureza humana e racional, a prática
do tratamento moral iria defender a bandeira do exercício da
liberdade do espírito humano. Mediante a utilização da
racionalidade influenciada pelas atividades laborativas que lhe
dariam ordenação e desenvolvimento, o tratamento moral
proporcionaria ao sujeito um comportamento adequado.
[...] Tratava de incentivar hábitos que lhe eram passados por uma
‘ordem natural’ do processo produtivo e, ao mesmo tempo, de
desestimular os pensamentos mórbidos provocados pela perda
dos mecanismos normais de adaptação à realidade.” (MEDEIROS,
2003, p.73)
23

Esse método era coerente com a concepção de “novo homem” –


pensamento racionalista e empirista – que afirmava que a mente
humana era o ponto central de equilíbrio e desequilíbrio do homem.
Assim, as técnicas terapêuticas usadas no tratamento moral (centradas
em atividades humanas ou no trabalho) possibilitariam um
acompanhamento e uma constatação empírica dos efeitos dessas
técnicas na mente do paciente.

Outra motivação para esse tratamento foi de cunho social: o tratamento


como resposta às necessidades trazidas pela questão populacional em
virtude da organização econômica e política. (MEDEIROS, 2003, p.73)

O tratamento moral se insere em um modo de funcionamento


social em que a valorização e dignificação do trabalho tornam-se
a base “para a construção de uma nova sociedade organizada em
torno da produção capitalista que requeria a sujeição do ritmo da
vida ao tempo da produção” (LIMA,2004, p. 4).

“Durante os séculos XVIII e XIX o trabalho, ou a terapia da ocupação,


foi utilizado principalmente no atendimento do paciente doente
mental” (MEDEIROS, 2003, p.74).
24

Em meados do século XIX na Europa, esse modelo do Tratamento Moral


perde terreno para outras práticas médicas que surgiam, frente às
exigências da nova racionalidade científica e os estudos baseados em
concepções biológicas. Tais abordagens vão ganhando terreno e
tornando-se hegemônicas, deixando de lado as práticas baseadas no
Tratamento Moral. Um nome conhecido que se destaca nesse outro
caminhar da psiquiatria é Emil Kraepelin, que defendia a tese de que as
causas das doenças psiquiátricas seriam de origem biológica e genética.

Somente um século depois de Pinel, o foco do tratamento do ‘doente


mental’ com base nos hábitos e nas reações do paciente frente a seu
ambiente social e familiar são retomadas a partir das iniciativas de Adolf
Meyer nos Estados Unidos. Esse caminho era uma alternativa às
propostas de Kraepelin.

Meyer estava interessado nos estudos e concepções da filosofia


pragmática, que considerava o pensamento como uma ferramenta de
adaptação, cujo funcionamento era estimulado pelas necessidades da
ação. A partir disso, desenvolveu práticas que colaboravam na busca de
uma adaptação social do paciente.

Adolf Meyer (EUA) – 1866/1950

Psiquiatra suíço, presidente a


Associação Americana de Psiquiatria.
A ocupação é concebida por ele como
fator de possibilidade de equilíbrio
dinâmico humano. (Práticas
adaptativas)
25

CAMINHOS DE UMA PROFISSÃO:


A TERAPIA OCUPACIONAL

Foi com Meyer que ocorreu a retomada das práticas que se assemelhavam ao
tratamento moral, até então relegado em quase todo século XIX, fruto da
oposição de alguns médicos a esse modelo da psiquiatria biológica. Tanto Meyer
como outros psiquiatras com pensamentos afins, consideravam desumano o
tratamento proposto pela psiquiatria biológica, e faziam críticas à essa escola e
suas concepções anatomofisiológicas que qualificavam os doentes como
incuráveis.

Podemos considerar que tanto as propostas de Pinel como as de Meyer


contribuíram na construção da profissão Terapia Ocupacional. Então, para
iniciarmos esse diálogo, é interessante fazer dois destaques: Tanto na época de
Pinel, como na época de Meyer estão ocorrendo movimentos de crítica que se
ligam diretamente ao momento de crise econômica que a sociedade em que
eles estão inseridos vivencia:

Pinel – desenvolve suas práticas em meio à Meyer – levanta críticas


Revolução Francesa. “A valorização e à psiquiatria biológica
dignificação do trabalho eram base para a em meio à crise
construção de uma nova sociedade econômica do
organizada em torno da produção capitalismo nos EUA que
capitalista que requeria a sujeição do ritmo vai levar à primeira
da vida ao tempo da produção” (LIMA, S/A, guerra mundial.
p. 4)
26

O treino de Meyer se como “filosofia hegemônica”.


baseava em estimular o “O mais importante era o
sentimento de patriotismo e impacto mental da ocupação,
desviar os soldados de isto é, os efeitos mentais
pensamentos “mórbidos”, para favorecidos pelo uso da
recuperar o equilíbrio ativo e atividade. Efeitos responsáveis
voltar a casa com sentimento de por uma ação organizativa no
dever cumprido. Os princípios todo da pessoa” (MEDEIROS,
fundamentais do tratamento 2003, p.93).
concebia o homem definido por Cabe destacar que esses
sua natureza ativa. A ocupação conhecimentos e práticas assim
era concebida como fator de como outras perspectivas
possibilidade de um equilíbrio teóricas estiveram na base da
dinâmico humano. profissão Terapia Ocupacional.
Esse momento onde o Segundo Morrinson
Estado necessita de uma (2011), o início epistemológico
população ativa respaldada da terapia ocupacional no final
politicamente é onde do século XIX tem em sua base
movimentos humanistas se tanto em fundamentos da
valiam de concepções de Filosofia Pragmatista,
homem que contivessem fundamentos no Tratamento
valores de normal e anormal Moral e fundamentos no
relacionadas à produtividade. Movimento de Artes e Ofícios.
Essa proposta de Meyer, em
1910, foi reconhecida na época
27

A primeira técnica registrada em 1917, relacionada à intervenção na


Terapia Ocupacional, tinha como objetivo “a ocupação de pacientes
institucionalizados, tanto da área mental como da área física, com o
propósito de promover seu retorno à sociedade e, ainda, suprir os
custos das internações, vistos que o que era produzido, por exemplo,
produtos artesanais e agrícolas, era comercializado” (Shimoguiri; Costa-
Rosa, 2017, p. 847).

Aqui trazemos principalmente um caminhar dessa profissão localizado


nos EUA, mas também podemos considerar outros estudos que
futuramente vão colaborar nessa construção de um saber no âmbito
da terapia ocupacional nesse campo da saúde mental.

Reunião de fundação para a Sociedade Nacional para a promoção da Terapia


Ocupacional (NSPOT) – mais tarde renomeada de American Occupational Therapy
Association (AOTA), ocorrida em Nova York em março de 1917.

Para saber um pouco mais sobre essa história acesse:


https://crefito12.org.br/100-anos-da-terapia-ocupacional/
28

Outra base que podemos considerar importante são os estudos de


Herman Simon, na Alemanha. Este psiquiatra, que trabalhava no
Hospital de Warstein, buscava outras experiências não restritas à
psiquiatria clássica, as quais nomeou primeiramente de “Terapia Ativa”
e que logo ficou conhecida como praxiterapia, ergoterapia.

Simon praticava sua terapêutica desde 1905. Ele partia da ideia de que
“vida é atividade, princípio que rege tanto a vida corporal como a
mental”. Ele afirmava que “[...] o homem nunca permanece sem fazer
nada; se não faz algo útil, faz algo inútil” (SIMON, 1937, p.24). Entendia
que todos os pacientes atendidos tinham responsabilidade, e que esta
faz parte de “todo ser vivente em virtude da relação de seus processos
vitais elementares com o meio ambiente” (SIMON, 1937, p.6).

Desse modo a Terapia Ativa visava estimular a responsabilidade, a


vontade e atitude dos enfermos, buscando atacar o que é patológico
nele. (ROSA, 2017).

Psiquiatra Herman Simon (1867 – 1947)


29

Assim, vemos que o uso terapêutico das ocupações como prática médica
ocorre desde o século XVIII, no entanto é somente no século XX que é aceita a
utilização terapêutica da ocupação, com o reconhecimento de que a saúde do
indivíduo está ligada às complexidades das experiências diárias...” (De Carlo,
Bartalotti,2001, p. 26).

A Terapia Ocupacional, enquanto categoria profissional, está muito ligada à


Primeira Guerra Mundial, a qual amplia o número de pessoas incapacitadas
para o trabalho e os ditos neuróticos de guerra. Os primeiros cursos e
programas de Terapia Ocupacional eram conduzidos por médicos e
enfermeiros. Cabe destacar que foram as mulheres as pioneiras do trabalho
com pessoas incapacitadas. Elas recebiam o nome de “auxiliares de
reconstrução”.

Nas décadas de 30 e 40 nos EUA,


a profissão sofre uma pressão
do meio científico para maior
definição de suas práticas, uma
vez que esse paradigma da
ocupação era considerado não
científico. Esse aperfeiçoamento
dos conhecimentos na área da
http://historiatoumayor.blogspot.com/2013/05/
saúde fez com que a perspectiva comienzos-de-la-terapia-ocupacional.html

trazida por Meyer entrasse em


decadência.

No Brasil, os Estados do Sudeste foram pioneiros no tratamento de pessoas


com incapacidades físicas, sensoriais e mentais (De Carlo e Bartalotti,
2001).
30

Como já apresentado no vídeo sugerido nesta síntese, a utilização do


trabalho como forma de tratamento iniciou-se com a fundação do
Hospício D. Pedro II, em 1852 no Rio de Janeiro. Outros trabalhos
baseados na ocupação surgiram no século XX, como na Colônia Juliano
Moreira, o serviço de Terapia Ocupacional do Engenho de Dentro com
Nise da Silveira, ambos no Rio de Janeiro e o trabalho de ‘praxiterapia’
no Hospital do Juqueri, em São Paulo. Este último entra em declínio já
na década de 20, mas o psiquiatra Osório Cesar, interessado na
produção artística dos internos, investe no trabalho de arte (LIMA,
2004; DE CARLO, BARTALOTTI, 2001).

Para saber quem foi Osório César,


acesse:

https://www.academiamedicinasa
opaulo.org.br/biografias/169/BIOG
RAFIA-OSORIO-THAUMATURGO-
CESAR.pdf

RETRATO de Osório César. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura


Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra3108/retrato-de-osorio-cesar>.
Acesso em: 03 de Nov. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
31

Embora essas iniciativas com o uso das ocupações como forma de


tratamento já estivesse sendo usada a mais tempo nos hospitais
psiquiátricos no Brasil, a implantação de cursos de formação em
Terapia Ocupacional focaram preferencialmente na área da
reabilitação física, com forte influência norte americana. (DE CARLO,
BARTALOTTI, 2001).

LEITURA OBRIGATÓRIA!

Para compreender um pouco mais


desse caminho da terapia
ocupacional na sua constituição e
sua relação com a saúde mental,
solicitamos a leitura do artigo:

“Do tratamento moral à atenção


psicossocial: a terapia ocupacional a
partir da reforma psiquiátrica
brasileira”
https://www.scielo.br/scielo.php?scr
ipt=sci_arttext&pid=S1414-
32832017000400845&lng=en&nrm=
iso&tlng=pt
32

Referências:

ENGEL, Magali G. Delírios da Razão – Médicos, loucos e hospícios.


Rio de Janeiro. Editora Fiocruz, 2001.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis,
Vozes, 1983.

FOUCAULT, Michel. História da loucura na época clássica. São Paulo,


Editora Perspectiva, 2008.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Edições
Graal, 16ª ed. 2001.
LIMA, EMFA. Oficinas, laboratórios, ateliês, grupos de atividades:
dispositivos para uma clínica atravessada pela criação. In: Costa CM,
Figueiredo AC, organizadoras. Oficinas terapêuticas em saúde
mental - sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa
Livraria; 2004. p. 59-81. Coleções IPUB.
MEDEIROS, M. H. R. Terapia Ocupacional – Um enfoque
Epistemológico e social. São Carlos, EdUFSCAR, 2003.
MORRINSON, Olivares, Vidal. La Filosofía de la Ocupación Humana y
el Paradigma Social de la Ocupación. Algunas reflexiones y
propuestas sobre epistemologías actuales en Terapia Ocupacional y
Ciencias de la Ocupación. Revista Chilena de Terapia Ocupacional,
2011, 11:2, 102-119.

PEREIRA, J. F. O que é loucura?, São Paulo, Brasiliense, 3ªed. 1984.


SHIMOGUIRI, AFDT; COSTA-ROSA, A. Do tratamento moral à atenção
psicossocial: a terapia ocupacional a partir da reforma psiquiátrica
brasileira. Interface (Botucatu). 2017; 21(63):845-56.

Você também pode gostar