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Neuropsicologia e as Funções Cognitivas

O interesse do ser humano em buscar explicações sobre o comportamento


e uma possível relação com o cérebro data desde a Antiguidade, época em
que os gregos se tornaram os pioneiros na localização de lesões cerebrais
em feridos de guerra.

Desde então, a trajetória das neurociências vem se


desenvolvendo ao longo dos séculos, até chegar nos dias
atuais, em que o avanço do aparato tecnológico e
médico-científico possibilita a investigação mais
complexa da atividade cerebral e sua correlação como
comportamento humano, e ainda assim há muito para se
descobrir nesse campo da ciência.

A neurociência é um campo interdisciplinar que abrange um conjunto de


disciplinas dentre outras: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica,
neuroimagem, genética, farmacologia, neurologia, psicologia, psiquiatria. As
neurociências procuram estudar as várias relações entre o comportamento
e a atividade cerebral.

Dentro das neurociências, o papel do psicólogo vem conquistando um


grande destaque, que resultou na Resolução nº 02/2004 do Conselho
Federal de Psicologia, que regulamenta a prática da neuropsicologia
(diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e pesquisa) como
especialidade do profissional psicólogo através de registro e titulação.
Todas as tarefas que diariamente realizamos necessitam da atividade
cerebral. Para ler e compreender esse texto, anotar um recado para um
colega, reconhecer alguém e lembrar seu nome, calcular o orçamento
doméstico, conversar com uma pessoa, saber que amarelo é uma cor e que
carro é um meio de transporte, lembrar o caminho de casa, são apenas
alguns de uma infinidade de funções que nosso cérebro faz no dia a dia.

As principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória,


linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas
funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde o
mais simples até as situações de maior complexidade, e que exigem
atividades cerebrais mais elaboradas.

ATENÇÃO

A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos


comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem
bem sucedidos, por exemplo: assistir um filme e compreendê-lo; manter o
foco de conversação em um ambiente ruidoso. A atenção também é um pré-
requisito fundamental para o processo de memorização.

O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco,


seja de um estímulo ou informação, entre as inúmeras que obtemos através
de nossos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos.
Em outras palavras, dirigimos nossa atenção para o estímulo que julgamos
ser importante num exato momento. Os outros estímulos que não os
principais, passam a fazer parte do “fundo” não sendo mais os focos na
atenção.

Podemos estudar e avaliar os diferentes aspectos da atenção, por exemplo:

atenção seletiva: quando o indivíduo escolhe um estímulo ao qual prestará


atenção, por exemplo, ler um livro ao invés de assistir tv, mesmo que esta
esteja ligada e faça ruídos ao fundo;
atenção dividida: caracteriza-se pela capacidade do indivíduo em prestar
atenção em mais de um estímulo ao mesmo tempo, por exemplo, conversar
enquanto dirige um veículo, trabalhar no computador enquanto atende ao
telefone;
Nossa capacidade de manter a concentração é restrita, e depende de
inúmeros fatores, desde a falta de vontade ou ânimo por algum assunto, até
a dificuldades específicas, como as presentes no TDAH (veja seção
principais diagnósticos) que interferem na capacidade de atenção seletiva e
dividida, ou seja, todos nós temos alguma dificuldade atencional, se isso
representa um problema a ser tratado, depende do grau de
comprometimento e do número de sintomas.

Problemas de concentração podem ser resultantes de um distúrbio


atencional simples, ou a uma inabilidade de manter o foco de atenção
(/)
intencional, ou até aos dois problemas ao mesmo tempo. No nível seguinte
de complexidade, está o rastreamento mental que também é afetado por
dificuldades atencionais. A preservação da atenção é um pré-requisito para
atividades que requeriam, tanto concentração, como rastreamento mental.
A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental
fica diminuída, ou seja pode-se ter dificuldade de para se manter uma
seqüência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a
habilidade de solução de problemas mais complexos.

Elucidar a natureza dos problemas atencionais, depende não somente da


O que
complexa você está
observação procurando? geral do paciente, assim como o
do comportamento
desempenho em testes específicos que envolvam concentração e trilhas
mentais. Somente com a comparação entre as várias observações, pode ser
possível a distinção entre os déficits globais e aqueles mais discretos e
normais presentes na maioria das pessoas.

MEMÓRIA

Tecle enter ou retorno para busca
A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser humano
em seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações,
lembrar delas e utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória
depende inicialmente de do nível de atenção. Para que o bom
armazenamento aconteça outras atividades cognitivas como a capacidade
de percepção e associação é importante para que as informações possam
ser armazenadas com sucesso.

A memória pode ser classificada de forma simples, de acordo com a


duração e os tipos de informação envolvidos:

memória de curto prazo: também conhecida como memória de trabalho,


armazena (numa quantidade limitada) informações por alguns minutos. A
memória de trabalho possibilita, por exemplo, uma pessoa discar um
número de telefone que alguém acabou de lhe dizer ou repetir algumas
frases de um texto lido naquele exato momento.
memória de longo prazo: ao contrário da anterior, a memória de longo prazo
tem uma capacidade maior para o armazenamento de informações, que
permanecem com o indivíduo durante longos períodos, podendo até ficar
guardadas indefinidamente. Por exemplo, as lembranças de fatos ocorridos
na infância, o aprendizado de conteúdos escolares, a fisionomia ou o nome
de alguém que ao se vê há tempos, etc. Dentro da memória de longo prazo,
encontram-se os seguintes tipos:
- memória episódica: fazem parte desse conjunto os eventos vivenciados
pela pessoa que os recorda, em um determinado tempo e lugar, por
exemplo, uma viagem de férias, o primeiro dia num emprego, o nascimento
de um filho, ou até eventos negativos como uma situação de violência.
Assim, a memória episódica é constituída por lembranças autobiográficas
que representam um significado importante para o indivíduo.

- memória semântica: corresponde ao conhecimento de fatos da vida em


geral, como o idioma falado, o significado das palavras, o nome de objetos e
que não têm qualquer ligação com as experiências dotadas de algum tipo
de emoção, como descrito na memória episódica.

- memória procedural: esse tipo de memória é ligado ao conhecimento de


procedimentos corriqueiros e automáticos, por exemplo, lembrar como se
toca um instrumento musical, andar de bicicleta, vestir-se, etc.
Com o avanço da idade, a partir do 50 anos, é comum as pessoas se
queixarem de dificuldades de memória, o que traz um certo desconforto ou
ate o receio de que possa ser o início de um quadro patológico, como o Mal
de Alzheimer, porém é importante ressaltar que o declínio da memória
como avanço da idade é completamente normal.

Não é só a idade que provoca prejuízos na capacidade de memória; o


estresse emocional, a depressão e problemas de ordem física são outros
importantes fatores.

Por outro lado, existem também fatores que favorecem a memória, como a
motivação e as emoções. Quanto maior o interesse em aprender algo,
melhor será o armazenamento das informações obtidas nesse processo,
assim quanto maior o número de emoções (sejam elas positivas ou
negativas) atribuídas a um evento mais chances dele permanecer na
memória para uma futura recuperação.

LINGUAGEM

A linguagem é uma função que usamos todos os dias, durante a maior parte
do tempo, seja através da linguagem oral (numa conversa) ou da escrita (ao
ler ou escrever um texto).

O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de


combinar as palavras a fim de se comunicar, embora a comunicação não se
constitua unicamente num processo verbal. As formas não-verbais, como
gestos ou desenhos também são capazes de transmitir idéias e
sentimentos.

Tanto a fala quanto a escrita são processos em que o indivíduo seleciona as


palavras que conhece e as organiza num determinado contexto, dentro das
regras gramaticais de seu idioma.

A linguagem é um processo que ocorre apenas se existir uma seqüência


coerente de símbolos (sons ou palavras). Assim, para uma comunicação ser
satisfatória, o indivíduo precisa compreender uma determinada informação
para entender a seguinte, e daí por diante até o fim de um texto ou uma
conversa.

Mesmo que a pessoa leia um texto com muita atenção e compreensão,


dificilmente as frases serão armazenadas exatamente iguais como aparecem
no texto. Apenas as informações mais relevantes, como palavras-chave e as
idéias centrais, serão necessárias para a compreensão e armazenamento na
memória de longo prazo.

A leitura adequada é aquela que o sujeito organiza as palavras em grupos


coerentes, dos quais será extraído um significado geral e associados ao
tema principal do texto.

A linguagem também é caracterizada pela sua constate evolução, pois


embora as pessoas respeitem os limites de sua estrutura (gramática,
ortografia), elas podem produzir novas elocuções a qualquer momento.
Basta observar as mudanças ocorridas na escrita de certas palavras há
algumas décadas atrás, por exemplo “pharmácia”.

PERCEPÇÃO
A percepção é uma função cognitiva que se constitui de
processos pelos quais o sujeito é capaz de reconhecer,
organizar e dar significado a um estímulo vindo do
ambiente através dos órgãos sensoriais.

Por exemplo, se um indivíduo tem seus olhos vendados e


lhe são oferecidos alguns objetos para tatear, ele é capaz
de reconhecer - através de informações armazenadas - a textura (áspero ou
macio, duro ou mole), a forma (quadrado, redondo, grande, etc.) e depois
nomear o objeto. O mesmo processo ocorre com os outros sentidos como o
olfato (reconhecer que é “cheiro de fumaça"), a gustação (identificar se algo
é doce ou salgado), a audição (saber que um som é do canto de pássaros),
ou a visão (identificar um obstáculo ao dirigir um veículo e desviá-lo).

As agnosias são os déficits na capacidade de percepção dos estímulos


sensoriais, especialmente os relacionados à visão. Embora o sujeito não
seja portador de qualquer tipo de deficiência sensorial, ele não é capaz de
reconhecer e identificar o estímulo que lhe é oferecido, normalmente em
conseqüência a lesões cerebrais adquiridas.

FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas compreendem um conceito neuropsicológico que se


aplica às atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução
de tarefas. Elas incluem o raciocínio, a lógica, a estratégias, a tomada de
decisões e a resolução de problemas. Todos esses processos cognitivos são
produzidos diariamente, pois uma série de problemas - dos mais simples
aos de maior complexidade - ocorrem na vida do ser humano. Assim,
independente do grau de complexidade do problema, o sujeito precisa
estar apto para analisar a situação (problema), lançar mão de estratégias, e
antever as conseqüências de sua decisão.

O cotidiano oferece diferentes desafios ou simplesmente situações


imprevistas que exigem uma boa habilidade para um manejo adequado. Por
exemplo, descobrir o melhor caminho para se chegar num determinado
local, uma nova função no emprego, aumentar o orçamento doméstico, ou
mesmo durante o desenvolvimento da criança, que a cada momento
descobre uma nova possibilidade e vai em busca de uma nova habilidade.

Existem três tipos de resolução de problemas:

inferente: utilizada quando o indivíduo está frente a uma situação


desconhecida e pela qual ainda não existem soluções disponíveis. Sendo
assim, é necessário avaliar os elementos que compõem o problema e
deduzir (inferir) qual a melhor estratégia para superar aquele problema, ou
no pelo menos minimizar seus efeitos. Na medicina isso é bastante
utilizado quando se tem um determinado quadro patológico desconhecido.
analógica: é o uso de recursos anteriormente utilizados em situações
semelhantes.
automática: é o tipo que se caracteriza pela espontaneidade. Ocorre
principalmente se a pessoa que o utiliza tem bastante prática no problema,
por exemplo, um motorista experiente.

CONCLUSÃO

Como pode ser visto todas as funções cognitivas interagem entre si. A
separação existe apenas para fins educativos, pois o ser humano é
caracterizado por sua totalidade. As funções executivas reúnem todas as
funções anteriores. Para resolver um determinado problema, o sujeito
precisa utilizar todas as funções cognitivas. Por exemplo, ao detectar um
cheiro de fumaça (atenção), ele vai reconhecer (percepção) de acordo com o
que já foi aprendido (memória) que esse pode ser um sinal de incêndio; a
partir de então ele busca estratégias para solucionar o problema, como
primeiro se certificar do que se trata, manter a calma, retirar as pessoas do
local, e chamar por socorro (funções executivas).

A atuação do neuropsicólogo - seja na pesquisa, na avaliação ou na


reabilitação - se dá sobre os quadros que envolvem algum distúrbio das
funções cognitivas, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,
Mal de Alzheimer, Dislexias, ou qualquer distúrbio neurodegenerativo, na
avaliação pré-cirúrgica, etc.
É importante lembrar que a neuropsicologia é uma área das neurociências e
que portanto, o neuropsicólogo não trabalha sozinho, e sim existe uma
equipe atuando em conjunto para o bem estar do paciente.

Referências bibliográficas

www.happyneuron.com (http://www.happyneuron.com)
Andrade, F.H.S. (org.) Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.
Mello, C.B. (org.) Neuropsicologia do desenvolvimento. São Paulo: Memnon,
2005.
Sternberg, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

2006-08-15 00:00:00

(http://plenamenteonline.com.br)
Autores
 Maria Alice Fontes, Psy. Ph.D. (/profissional.php?FhIdProfissional=1)
 Claudia Petlik Fischer (/profissional.php?FhIdProfissional=9)

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