Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Psicopatologia da atenção
A alteração mais comum e menos específica da atenção é a diminuição global
desta, chamada hipoprosexia. Aqui se verifica uma perda básica da capacidade
de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que dificulta a percepção dos
estímulos ambientais e a compreensão; as lembranças tornam-se mais difíceis
e imprecisas, há dificuldade crescente em todas as atividades psíquicas
complexas, como o pensar, o raciocinar, a integração de informações etc.
Denomina-se aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais
fortes e variados que sejam os estímulos utilizados.
A hiperprosexia consiste em um estado da atenção exacerbada, no qual há
uma tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos
objetos com surpreendente infatigabilidade.
A distração é um sinal, não de déficit propriamente, mas de superconcentração
ativa da atenção sobre determinados conteúdo ou objetos, com a inibição de
tudo o mais (Nobre de Melo, 1979). Há, nesse sentido, certa hiper tenacidade e
hipovigilância. É o caso do cientista que, pelo fato de seu interesse e de sua
atenção estarem totalmente voltados para um problema, comete erros do tipo
esquecer onde estacionou o carro ou colocar meias de cores diferentes.
Já a distraibilidade é, ao contrário da distração, um estado patológico que se
exprime por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção
voluntária, com dificuldade ou incapacidade para fixar-se ou deter-se em
qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é muito
facilmente desviada de um objeto para outro.
AS REDES ATENCIONAIS
O modelo cognitivo do sistema atencional humano proposto e revisado por
Posner (2012) envolve três componentes dissociados: alerta, orientação e
atenção-executiva (ou vigília, processos atencionais automáticos e processos
atencionais controlados).
O primeiro processo diz respeito à ativação e à responsividade do sistema
nervoso central a estímulos internos e externos, envolvendo a ativação de
regiões subcorticais como o tronco encefálico, o tálamo e o diencéfalo. Os
processos atencionais automáticos representam um sistema relacionado ao
direcionamento do foco atencional diante de estímulos ambientais. Envolvem a
modulação dos recursos sensoriais e de processamento com relação ao
estímulo-alvo, além do uso de esquemas fortemente consolidados pelo
organismo, como a leitura e a contagem.
Esse segundo aspecto da atenção é muito associado a regiões posteriores do
córtex cerebral, sobretudo os lobos occipitais e parietais. Além disso, esse
sistema apresenta também conexões com regiões dos lobos frontais
relacionadas aos movimentos oculares e manuais e à linguagem expressiva.
O terceiro componente do sistema atencional é composto pelos processos
atencionais controlados, que envolvem recursos de natureza executiva,
permitindo ao sujeito a mudança voluntária de foco, a manutenção do tônus
atencional e a resolução de conflitos atencionais em situações que demandam
inibição, flexibilidade e alternância. Esses últimos processos são fortemente
associados a regiões anteriores do sistema nervoso central, incluindo as porções
anteriores do giro do cíngulo. Embora esses três sistemas apresentem natureza
modular, são fortemente interconectados (Fan, McCandliss, Fossella,
Flombaum, & Posner, 2005; Posner, 2012).
Processos atencionais automáticos encontram grande sobreposição com o
conceito de velocidade de processamento, domínio cognitivo comumente
encontrado em estudos de natureza psicométrica que se relaciona à velocidade
de execução de diferentes tarefas, das mais simples às mais complexas. Seus
principais correlatos neurobiológicos seriam as fibras de substância branca, que
conectam diferentes regiões do encéfalo, e regiões corticais posteriores. Os
processos atencionais controlados, por sua vez, apresentam grande
sobreposição com o conceito de funções executivas. No modelo proposto por
Diamond (2013), os processos atencionais controlados integrariam os
componentes de controle de interferência, parte do sistema de controle inibitório,
um dos aspectos fundamentais do funcionamento executivo. Assim como as
funções executivas, o desenvolvimento dos diferentes sistemas atencionais
apresenta uma curva em forma de “U” invertido, mostrando-se ainda em
desenvolvimento durante a infância e adolescência e apresentando relativa
estabilidade na vida adulta e declínio na velhice. Os recursos atencionais são de
extrema importância a todos os aspectos do funcionamento cognitivo, sendo
preditores importantes da aprendizagem e solução de problemas em diferentes
fases do desenvolvimento. O declínio cognitivo característico do envelhecimento
cognitivo normal pode, inclusive, estar relacionado ao comprometimento dos
sistemas atencionais.
FUNÇÕES EXECUTIVAS
Referências
Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
Neuropsicologia: teoria e prática / Organizadores, Daniel Fuentes ... [et al.]. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.