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PSICOLOGIA DA ATENÇÃO

Conceitos da psicologia e da psicopatologia clássicas da atenção


Tomando-se em consideração a natureza da atenção, pode-se discernir dois
tipos básicos de atenção: a atenção voluntária, que exprime a concentração ativa
e intencional da consciência sobre um objeto; e a atenção espontânea, que é
aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, que
desperta este ou aquele objeto. Esta última geralmente está aumentada nos
estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua
atividade mental.
Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas formas básicas: a
atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para
o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial,
utilizando os órgãos dos sentidos. A atenção interna, que se volta para os
processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva,
introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude da atenção, há a atenção
focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente
delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que
não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos
delimitado.
O psiquiatra Bleuler sugeriu no início do século XX, que a atenção tinha duas
qualidades fundamentais: Tenacidade e Vigilância.
Tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar e manter sua atenção
sobre determinado estímulo. Na tenacidade, a atenção se prende a certo
estímulo, fixando-se sobre ele.
A vigilância é definida como o aspecto da atenção relacionado a mudança de
foco, de um objeto para outro.
Tais qualidades são com frequência antagônicas; em estados maníacos, os
pacientes apresentam hipotenacidade (redução da capacidade de fixar a
atenção) e hiper vigilância (atenção salta rapidamente de um estímulo para o
outro).
Atenção flutuante é um conceito desenvolvido por Freud (1856-1939), relativo
ao estado de como deve funcionar a atenção do psicanalista durante uma sessão
analítica. Segundo Freud, a atenção do analista não deve privilegiar a priori
qualquer elemento do discurso ou comportamento do paciente, o que implica
deixar funcionar livremente sua própria atividade mental, consciente e
inconsciente, deixando livre a atenção e suspendendo ao máximo as
motivações, os desejos e os planos próprios. É um estado artificial da atenção,
cultivado pela necessidade técnica do processo psicanalítico.
A neuropsicologia contemporânea da atenção
1. Capacidade e foco de atenção (atenção concentrada ou concentração)
2. Atenção Seletiva
3. Atenção dividida
4. Atenção alternada
5. Atenção sustentada
6. Seleção de resposta e controle executivo

Capacidade e foco de atenção referem-se à focalização da atenção e estão


intensamente associados à experiência subjetiva de concentração. A
capacidade de atenção não é constante com o passar do tempo, flutuando em
função de fatores extrínsecos (valor dos estímulos, demandas de respostas
predominantes e de fatores intrínsecos [fatores energéticos, como estado afetivo
e grau de motivação, e fatores estruturais, como velocidade de processamento
e capacidade de memória]). A capacidade de focalizar a atenção relaciona-se
diretamente com o número de operações mentais que precisam ser realizadas
ao mesmo tempo e com a dificuldade das tarefas.
Já a atenção seletiva diz respeito aos processos que permitem ou facilitam a
seleção de informações relevantes para o sujeito e seu processamento cognitivo.
Ela resume a qualidade mais importante dos processos atencionais: a
seletividade. Todo o tempo o sujeito é inundado por um número quase infinito de
sinais vindos do exterior ou do interior; a atenção seletiva limita as informações
que chegam ao sistema cerebral. Além disso, aumenta a capacidade de
processar e dar conta das informações mais relevantes para o sujeito,
fundamentais para o desempenho cognitivo e comportamental. Quando a
atenção elege certos estímulos, a capacidade de responder a outros diminui
proporcionalmente.
Na Atenção dividida os processos atencionais não se limitam a um único alvo
ou foco da atenção; com frequência, ocorre o processamento simultâneo e
paralelo de dois ou mais estímulos captados pela atenção ao mesmo tempo. É
acionada quando duas ou mais tarefas ou estímulos concorrentes se
apresentam ao sistema atencional.
Atenção alternada é a capacidade de mudança do foco de atenção, alternando
voluntariamente o foco atencional de um estímulo a outro durante a execução de
tarefas.
Atenção sustentada é a capacidade de manter a atenção ao longo do tempo,
geralmente durante uma atividade contínua e repetitiva. Tal capacidade varia
com o passar do tempo. Todas as pessoas apresentam limites na capacidade
de manter a atenção por longo tempo; tal desempenho depende da relação entre
os estímulos-alvo (sinal) e os estímulos distrativos (ruído), do nível de
consciência (vigilância), da motivação e da fadiga.
Seleção de resposta e controle seletivo
São de extrema relevância, pois o ato de prestar a atenção está, quase sempre,
associado a uma ação planejada, voltada a certos objetivos. Assim, a atenção
está sempre envolvida na seleção não apenas dos estímulos e das informações,
mas também das respostas e do controle destas.
A atenção vincula-se a processos cognitivos complexos que envolvem a
intenção, o planejamento e a tomada de decisões. Esses processos estão na
base da ação volitiva (dos atos de vontade), são denominadas funções
executivas e dependem intensamente de sistemas cerebrais pré-frontais,
sobretudo em circuitos subcorticais. O controle executivo possibilita que se mude
com eficácia de uma resposta possível para outra conforme as demandas do
ambiente.
NEUROANATOMIA E REDES NEURAIS DA ATENÇÃO
A atenção resulta da interação complexa de diversas áreas do sistema nervoso, não sendo,
portanto, um processo unitário (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006).

As principais estruturas subcorticais do sistema nervoso relacionadas à atenção


são:
O sistema reticular ativador ascendente (SRAA) no tronco cerebral. Este
possibilita o nível de consciência básico para manter a vigilância necessária aos
processos de atenção.
Os núcleos intralaminares do tálamo filtram os sinais enviados pelo SRAA e
os projetam para o núcleo caudado (no corpo estriado) e para o córtex pré-
frontal, assim como para outras áreas corticais.
O núcleo reticular do tálamo também tem associações recíprocas como o córtex
pré-frontal e com núcleos sensoriais do tálamo. O núcleo reticular age como um
filtro ou uma comporta, permitindo que apenas algumas informações prossigam
em direção ao córtex cerebral (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006).
Por sua vez, o córtex parietal também está envolvido na seleção sensorial
(principalmente na atenção seletiva visual e na atenção dirigida ao espaço
extrapessoal), ao passo que o córtex frontal do cíngulo se vincula à intensidade
do foco de atenção e à motivação.
São as estruturas do córtex pré-frontal, entretanto, as mais relevantes à atenção.
As áreas pré-frontais dorsolaterais (na porção mais externa e alta do cérebro
frontal) estão muito relacionadas a “seleção de resposta e controle seletivo”.
Além disso, desempenham um papel na manutenção da flexibilidade da resposta
e na geração de alternativas de respostas, assim como na memória de trabalho
e no sequenciamento da informação temporal.
Lesões nas áreas frontais dorsolaterais produzem alterações da atenção como
distraibilidade, impersistência e perseveração (repetição automática de
respostas).
Já as áreas pré-frontais orbitomediais (córtex frontal logo acima dos globos
oculares) relacionam-se à modulação dos impulsos, ao humor e à memória de
trabalho. Lesões nessas áreas ocasionam alterações da atenção relacionadas a
impulsividade, desinibição e labilidade afetiva (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006).
Além dos lobos frontais, diversas estruturas límbicas nas porções medianas dos
lobos temporais estão envolvidas no interesse afetivo, principalmente no que diz
respeito a atração, motivação, importância do estímulo e carga emocional que
este ou aquele objeto desperta na mente. Assim, também participam dos
mecanismos neuronais da atenção. Nesse sentido, há o consenso de que os
aspectos motivacionais e afetivos da atenção, mobilizados em áreas límbicas,
devam interagir com os aspectos de seleção e hierarquização da atividade
consciente, elaborados em áreas pré-frontais e parietais, produzindo um vetor
final, a saber, a atividade atencional do indivíduo (Engelhardt; Laks; Rozenthal,
1996).

Psicopatologia da atenção
A alteração mais comum e menos específica da atenção é a diminuição global
desta, chamada hipoprosexia. Aqui se verifica uma perda básica da capacidade
de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que dificulta a percepção dos
estímulos ambientais e a compreensão; as lembranças tornam-se mais difíceis
e imprecisas, há dificuldade crescente em todas as atividades psíquicas
complexas, como o pensar, o raciocinar, a integração de informações etc.
Denomina-se aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais
fortes e variados que sejam os estímulos utilizados.
A hiperprosexia consiste em um estado da atenção exacerbada, no qual há
uma tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos
objetos com surpreendente infatigabilidade.
A distração é um sinal, não de déficit propriamente, mas de superconcentração
ativa da atenção sobre determinados conteúdo ou objetos, com a inibição de
tudo o mais (Nobre de Melo, 1979). Há, nesse sentido, certa hiper tenacidade e
hipovigilância. É o caso do cientista que, pelo fato de seu interesse e de sua
atenção estarem totalmente voltados para um problema, comete erros do tipo
esquecer onde estacionou o carro ou colocar meias de cores diferentes.
Já a distraibilidade é, ao contrário da distração, um estado patológico que se
exprime por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção
voluntária, com dificuldade ou incapacidade para fixar-se ou deter-se em
qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é muito
facilmente desviada de um objeto para outro.
AS REDES ATENCIONAIS
O modelo cognitivo do sistema atencional humano proposto e revisado por
Posner (2012) envolve três componentes dissociados: alerta, orientação e
atenção-executiva (ou vigília, processos atencionais automáticos e processos
atencionais controlados).
O primeiro processo diz respeito à ativação e à responsividade do sistema
nervoso central a estímulos internos e externos, envolvendo a ativação de
regiões subcorticais como o tronco encefálico, o tálamo e o diencéfalo. Os
processos atencionais automáticos representam um sistema relacionado ao
direcionamento do foco atencional diante de estímulos ambientais. Envolvem a
modulação dos recursos sensoriais e de processamento com relação ao
estímulo-alvo, além do uso de esquemas fortemente consolidados pelo
organismo, como a leitura e a contagem.
Esse segundo aspecto da atenção é muito associado a regiões posteriores do
córtex cerebral, sobretudo os lobos occipitais e parietais. Além disso, esse
sistema apresenta também conexões com regiões dos lobos frontais
relacionadas aos movimentos oculares e manuais e à linguagem expressiva.
O terceiro componente do sistema atencional é composto pelos processos
atencionais controlados, que envolvem recursos de natureza executiva,
permitindo ao sujeito a mudança voluntária de foco, a manutenção do tônus
atencional e a resolução de conflitos atencionais em situações que demandam
inibição, flexibilidade e alternância. Esses últimos processos são fortemente
associados a regiões anteriores do sistema nervoso central, incluindo as porções
anteriores do giro do cíngulo. Embora esses três sistemas apresentem natureza
modular, são fortemente interconectados (Fan, McCandliss, Fossella,
Flombaum, & Posner, 2005; Posner, 2012).
Processos atencionais automáticos encontram grande sobreposição com o
conceito de velocidade de processamento, domínio cognitivo comumente
encontrado em estudos de natureza psicométrica que se relaciona à velocidade
de execução de diferentes tarefas, das mais simples às mais complexas. Seus
principais correlatos neurobiológicos seriam as fibras de substância branca, que
conectam diferentes regiões do encéfalo, e regiões corticais posteriores. Os
processos atencionais controlados, por sua vez, apresentam grande
sobreposição com o conceito de funções executivas. No modelo proposto por
Diamond (2013), os processos atencionais controlados integrariam os
componentes de controle de interferência, parte do sistema de controle inibitório,
um dos aspectos fundamentais do funcionamento executivo. Assim como as
funções executivas, o desenvolvimento dos diferentes sistemas atencionais
apresenta uma curva em forma de “U” invertido, mostrando-se ainda em
desenvolvimento durante a infância e adolescência e apresentando relativa
estabilidade na vida adulta e declínio na velhice. Os recursos atencionais são de
extrema importância a todos os aspectos do funcionamento cognitivo, sendo
preditores importantes da aprendizagem e solução de problemas em diferentes
fases do desenvolvimento. O declínio cognitivo característico do envelhecimento
cognitivo normal pode, inclusive, estar relacionado ao comprometimento dos
sistemas atencionais.

FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas correspondem a um conjunto de habilidades que, de


forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas,
avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar
estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver
problemas imediatos, de médio e de longo prazo. Essas funções são
requisitadas sempre que se formulam planos de ação e que uma sequência
apropriada de respostas deve ser selecionada e esquematizada (Robbins,
1996). Para a realização bem-sucedida de diversas tarefas cotidianas, o
indivíduo deve identificar claramente seu objetivo final e traçar um plano de
metas dentro de uma organização hierárquica que facilite sua consecução. Em
seguida, deve executar os passos planejados, avaliando constantemente o
sucesso de cada um deles, corrigindo aqueles que não foram bem-sucedidos e
adotando novas estratégias quando necessário. Ao mesmo tempo, o sujeito
deve manter o foco da atenção na tarefa que está realizando, monitorar sua
atenção e integrar temporalmente os passos que já foram realizados, bem como
aquele que está sendo executado e os seguintes. Ele também deverá armazenar
temporariamente em sua memória as informações que serão usadas durante
toda a realização da tarefa, e esse armazenamento temporário deve ficar
“protegido” do efeito de distratores. Essa organização de procedimentos garante
que tenhamos um bom desempenho em atividades do dia a dia, sobretudo
naquelas tarefas mais complexas, que necessitam da escolha de procedimentos,
da hierarquização de passos e da administração de informações. Atividades em
que há um maior nível de ineditismo também demandam maior envolvimento das
funções executivas. Mesmo em tarefas corriqueiras, falhas nas funções
executivas tornam sua realização verdadeiros desafios para pacientes com
comprometimentos cerebrais adquiridos ou com desenvolvimento anormal do
sistema nervoso. Diversos são os modelos teóricos que definem as funções
executivas. Eles diferem entre si em relação às seguintes hipóteses:
1. se as funções executivas são um construto único ou vários construtos
paralelos e integrados
2. quais são os componentes das funções executivas.
Entre os autores que propõem a existência de múltiplos processos executivos
operando de forma hierarquizada e sequencial, podemos citar Barkley (2001). O
autor foca nos processos de controle inibitório, os quais poderiam ocorrer em
três níveis distintos: inibição de respostas prepotentes, interrupção de respostas
em curso e/ou controle de interferência de distratores. Os processos inibitórios
contribuem para a atuação eficaz de outras funções executivas:
– Memória operacional: envolve a manutenção de representações mentais,
retrospecção, prospecção e orientação temporal.
– Fala internalizada: comportamento encoberto envolvendo autoinstrução,
definição de regras, orientação a partir das regras definidas, raciocínio moral e
reflexão sobre o comportamento em curso.
– Autorregulação: ativação, motivação, controle sobre o afeto, atividade levando
em consideração a perspectiva social e direcionamento à conquista de metas.
– Reconstituição: sintaxe comportamental envolvendo fluência (verbal e não
verbal), criatividade, ensaios mentais, análise e síntese comportamental.
Esses quatro processos, quando otimizados, permitem a execução motora
fluente e eficaz, a qual é caracterizada por comportamentos dirigidos a metas,
de forma persistente e com a concomitante inibição de comportamentos
irrelevantes.
Outros autores, como Lezak, Howieson, Bigler e Tranel (2012), sugerem a
existência de um processo composto por etapas sucessivas e interdependentes.
Para eles, as funções executivas apresentam quatro componentes principais: a
volição, o planejamento, a ação proposital e o desempenho efetivo.
A volição está relacionada ao nosso comportamento intencional, envolvendo a
formulação de objetivos e motivação para iniciar um comportamento dirigido à
realização de metas, por mais simples que sejam.
O planejamento engloba a identificação de etapas e elementos necessários para
se alcançar um determinado objetivo. Envolve a análise de alternativas
concorrentes e a escolha daquela que, a princípio, parece mais apropriada para
a consecução do objetivo em termos de custo e benefício.
A ação propositada envolve a transição da intenção e do plano para o
comportamento em si, o qual, por sua vez, deve ser iniciado, sustentado ou
alterado (dependendo de sua eficácia), interrompido (quando necessário) e
integrado a outros no contexto da solução do problema atual. Enquanto
desempenha as ações propositadas, é importante que o sujeito também exerça
a autorregulação de seu comportamento e a monitoração do desempenho
efetivo.

Esse processo envolve a capacidade de avaliar se um comportamento é


apropriado para o alcance do objetivo traçado, bem como a flexibilidade e a
capacidade de modificá-lo caso não seja eficaz. A inflexibilidade cognitiva pode
resultar em comportamentos perseverativos e estereotipados. Cabe salientar
que, conforme sugerem Lezak e colaboradores (2012), a eficácia do
desempenho está relacionada à capacidade do sujeito de se monitorar,
autocorrigir, regular a magnitude de cada resposta e considerar a dimensão
temporal das ações para a conclusão da tarefa realizada.

As funções executivas consistem em um grupo de habilidades crucial para a


adaptação do indivíduo às rotinas do cotidiano, sendo também a base para o
desenvolvimento de novas habilidades. Delas dependem o convívio social e o
desempenho ocupacional competente. Déficits nessas funções podem ser
observados em diversas patologias neurológicas e psiquiátricas, como
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno obsessivo-
compulsivo, esquizofrenia, demências, jogo patológico.
O comprometimento das funções executivas é também o principal fator cognitivo
relacionado a perda de autonomia e funcionalidade em pacientes de diferentes
síndromes (de Paula & Malloy-Diniz, 2013; Royall et al., 2007). Os déficits nas
funções executivas têm sido referidos com o termo “síndrome disexecutiva” e
geralmente ocorrem como consequência de um comprometimento envolvendo o
córtex pré-frontal ou os circuitos a ele relacionados. Pacientes com a síndrome
disexecutiva costumam apresentar dificuldades no processo de tomada de
decisão traçando metas irrealistas e sem prever as consequências de suas
atitudes em longo prazo, passam a tentar solucionar seus problemas pelo
método de tentativa e erro, apresentam dificuldades em controlar os impulsos e
tornam-se distraídos e insensíveis às consequências de seus comportamentos.
As alterações do humor são frequentes e podem se traduzir por quadros de
apatia, sintomas depressivos, euforia e afeto descontextualizado. A síndrome
disexecutiva não abriga, necessariamente, todos esses sintomas ao mesmo
tempo, sendo que sua apresentação clínica depende de quais circuitos pré-
frontais foram danificados. Dada a importância das funções executivas para a
sociedade como um todo, investimentos em políticas públicas que incentivem o
desenvolvimento das funções executivas na infância são de crucial importância
para a prevenção não apenas de transtornos do desenvolvimento, mas também
de suas consequências e prejuízos.
Além disso, investir no desenvolvimento das funções executivas por meio de
políticas públicas adequadas em saúde e educação pode ser uma importante
forma de prevenir questões relacionadas a violência e outros tipos de
comportamento de risco. De acordo com Diamond (2013), métodos educativos
mais diretivos e que estimulem a cognição social, práticas esportivas que
envolvam treino de disciplina (p. ex., artes marciais) e até mesmo jogos
computadorizados destinados ao desenvolvimento desses processos mentais
estão entre as alternativas para a estimulação do desenvolvimento dessas
funções na infância. Assim, compreender o funcionamento desse grupo de
funções altamente especializadas é de crucial importância para o
desenvolvimento de estratégias de avaliação, estimulação, habilitação e
reabilitação. Tais intervenções poderão ser destinadas tanto a casos de déficits
do funcionamento anormal do sistema nervoso como à estimulação em
populações não clínicas.
As funções executivas, processadas nos lobos frontais são um conjunto de
habilidades cognitivas relacionadas à capacidade do indivíduo de planejar,
executar e monitorar de forma flexível comportamentos com objetivos.
Os déficits em funções executivas impedem o indivíduo de iniciar, parar ou
mudar seus comportamentos conforme as exigências ambientais. As funções
executivas são divididas em “quentes” e “frias”. As “quentes” incluem os aspectos
emocionais e volicionais como parte central de tais funções, enquanto as “frias”
se referem a atividades cognitivas sem envolvimento de fatores emocionais,
como, por exemplo, realizar cálculos mentais ou decorar números.

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

No transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), há dificuldade


marcante de prestar atenção a estímulos internos e externos, pois o paciente,
geralmente criança ou adolescente, tem a capacidade prejudicada em organizar
e completar tarefas, assim como relutância em controlar seus comportamentos
e impulsos. Pacientes com TDAH revelam, em estudos de imagem cerebral,
alterações no sistema frontal. A atenção constante prejudicada parece ser um
aspecto primário e central dessa condição. A dificuldade é maior quando se faz
necessário um estado de vigilância para detectar informação infrequente,
sobretudo quanto tal informação não é motivacionalmente importante para o
sujeito. Crianças com TDAH têm prejuízo relacionado à filtragem de estímulos
irrelevantes à tarefa (embora seja questionável se a filtragem atencional é ou
não o principal problema das pessoas com TDAH).
Há também perturbação da inibição de respostas no TDAH, com déficits nas
respostas inibitórias, que por sua vez, envolve disfunção nas funções executivas
frontais. As respostas de inibição implicam inibir ou suprimir respostas
inapropriadas em determinado contexto, em favor de respostas alternativas mais
apropriadas. Tal autocontrole, fundamental para a regulação emocional, é
exercido pelos circuitos frontoestriatais e frontossubtalâmicos. A inibição de
respostas, assim como a seleção de respostas, são fatores-chave para o
comportamento dirigido a objetivos sendo os déficits em tais funções
fundamentais no TDAH.
Também estão implicadas no TDAH a memória de trabalho, a mudança de
tarefas e contexto e a capacidade de manter-se na tarefa (atenção sustentada),
ou seja muitas da funções executivas frontais.
Segundo o DSM V TR O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento
definido por níveis prejudicados de desatenção, desorganização e/ou
hiperatividade-impulsividade. Desatenção e desorganização acarretam
incapacidade de permanecer na tarefa, parecendo não ouvir, e perda de
materiais necessários para as tarefas, em níveis inconsistentes com a idade ou
nível de desenvolvimento.
A hiperatividade-impulsividade envolve hiperatividade, inquietação,
incapacidade de permanecer sentado, intromissão nas atividades de outras
pessoas e incapacidade de esperar – sintomas excessivos para a idade ou nível
de desenvolvimento.
Na infância, o TDAH frequentemente se sobrepõe a transtornos que são
frequentemente considerados “transtornos externalizantes”, como transtorno
desafiador de oposição e transtorno de conduta. O TDAH geralmente persiste
na idade adulta, com prejuízos resultantes do funcionamento social, acadêmico
e ocupacional.
O TDAH começa na infância. A exigência de que vários sintomas estejam
presentes antes dos 12 anos de idade transmite a importância de uma
apresentação clínica substancial durante a infância. Ao mesmo tempo, uma
idade de início mais precoce não é especificada devido às dificuldades em
estabelecer retrospectivamente o início preciso na infância. A recordação dos
sintomas da infância por adultos tende a não ser confiável, e é benéfico obter
informações auxiliares. O TDAH não pode ser diagnosticado na ausência de
quaisquer sintomas antes dos 12 anos. Quando os sintomas do que parece ser
TDAH ocorrem pela primeira vez após os 13 anos, é mais provável que sejam
explicados por outro transtorno mental ou representem os efeitos cognitivos do
uso de substâncias.
As manifestações do transtorno devem estar presentes em mais de um ambiente
(por exemplo, casa e escola, ou casa e trabalho). A confirmação de sintomas
substanciais em todos os ambientes normalmente não pode ser feita com
precisão sem consultar os informantes que viram o indivíduo nesses ambientes.
Normalmente, os sintomas variam dependendo do contexto dentro de uma
determinada configuração. Os sinais do transtorno podem ser mínimos ou
ausentes quando o indivíduo está recebendo recompensas frequentes por
comportamento apropriado, está sob supervisão próxima, está em um ambiente
novo, está envolvido em atividades especialmente interessantes, tem
estimulação externa consistente (por exemplo, por meio de telas eletrônicas), ou
está interagindo em situações individuais (por exemplo, no consultório do
médico).
Muitos pais observam pela primeira vez atividade motora excessiva quando a
criança é pequena, mas os sintomas são difíceis de distinguir de
comportamentos normativos altamente variáveis antes dos 4 anos de idade. O
TDAH é mais frequentemente identificado durante os anos do ensino
fundamental, quando a desatenção se torna mais proeminente e prejudicial. O
transtorno é relativamente estável até o início da adolescência, mas alguns
indivíduos têm um curso piorado com o desenvolvimento de comportamentos
antissociais. Na maioria dos indivíduos com TDAH, os sintomas de
hiperatividade motora tornam-se menos óbvios na adolescência e na idade
adulta, mas persistem dificuldades com inquietação, desatenção, mau
planejamento e impulsividade. Uma proporção substancial de crianças com
TDAH permanece relativamente prejudicada na idade adulta.
Na pré-escola, a principal manifestação é a hiperatividade. A desatenção torna-
se mais proeminente durante o ensino fundamental. Durante a adolescência, os
sinais de hiperatividade (por exemplo, correr e escalar) são menos comuns e
podem limitar-se à inquietação ou a uma sensação interior de nervosismo,
inquietação ou impaciência. Na idade adulta, juntamente com desatenção e
inquietação, a impulsividade pode permanecer problemática mesmo quando a
hiperatividade diminui.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais: DSM-5-TR. 5.ed.rev. Porto Alegre: Artmed, 2023.

Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2008.

Neuropsicologia: teoria e prática / Organizadores, Daniel Fuentes ... [et al.]. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.

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