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capítulos traduzidos do livro:

Discipleship Begins with Beholding


de Samuel Whitefield.
SUMÁRIO
Introdução

capítulo 1: Começa com a contemplação


capítulo 2: O discipulado começa com a contemplação
capítulo 3: O Padrão Apostólico
capítulo 4: O Aviso do Sinai
capítulo 5: O discipulado deve começar com Deus
capítulo 6: O campo de batalha da beleza
capítulo 7: O Comando para Deleitar
capítulo 8: Um povo que contempla
capítulo 9: O projeto Divino
capítulo 10: A dor de um rei
capítulo 11: Contemplando Alimentado por dor e desejo
capítulo 12: Uma reunião de adoração que lançou
um movimento missionário
capítulo 13: O fogo está de volta
capítulo 14: Gentios que contemplam a beleza de Deus
capítulo 15: Um povo que canta no fim dos tempos
capítulo 16: Finalizando a tarefa
capítulo 17: Como contemplar
capítulo 18: Uma vida de contemplação
capítulo 19: Contemplamos a Deus na Pessoa de Jesus
capítulo 20: Contemplamos a Deus pelo Espírito
capítulo 21: Contemplamos a Deus em Sua Palavra
capítulo 22: Somos Discipulados cantando
capítulo 23: Contemplamos a Beleza de Deus em Seu povo
capítulo 24: Contemplamos a Deus em Oração
capítulo 25: Contemplamos a Deus em Jejum
capítulo 26: A aula imersiva
capítulo 27: Transformado pela contemplação
capítulo 28: Comunidades que contemplam
capítulo 29: Contemple a Jesus e torne-se como Ele
INTRODUÇÃO

Nossa principal tarefa nesta era é discipular pessoas:

E Jesus veio e disse-lhes: “Foi-me dada toda a autoridade nos


céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”.
Mateus 28: 18-19

É fácil ser pego em atividades “cristãs” que têm pouco impacto


porque, em última análise, não desempenham um papel no disci-
pulado de um povo, e há muitas atividades que têm pouco impacto.
Precisamos enfrentar o fato de que uma boa parte do nosso ministé-
rio moderno é, nas palavras de Shakespeare:

Cheio de som e fúria, nada significando.

Todo crente precisa fazer duas perguntas básicas:


1. Seu ministério faz discípulos? Pode criar muita atividade, mas
se não contribuir para fazer discípulos, precisa ser realinha-
do. Alguns reduzem a tarefa das missões ao evangelismo,
mas esse é um pequeno componente das missões. Você não
pode terminar a tarefa missionária evangelizando. A tarefa
missionária é a tarefa do discipulado.
2. Você sabe o que é discipulado bíblico? Tragicamente, a defi-
nição bíblica de discipulado é freqüentemente reduzida a
informação ou certo comportamento, mas o discipulado é
um processo que produz um povo corporativo que é como
Deus.

O discipulado é a tarefa principal da igreja, então devemos saber


o que é e biblicamente como fazê-lo.
Você não pode construir uma casa se não souber que tipo de
casa precisa construir, e não pode discipular corretamente se não
entender o que Deus quer desta época e como Ele quer produzi-la.
O propósito de Deus para esta era pode ser resumido por dois temas
principais:

• Deus planejou esta era para se revelar na pessoa de Jesus.


• Deus designou esta era para formar um povo que se tornará
Seu companheiro.

Se não entendermos esses dois temas e o firme compromisso


de Deus em produzir uma igreja madura, não podemos discipular
corretamente. Esses dois temas levantam uma questão importante:
como fazemos isso? Este livro aborda o fundamento bíblico que deve
embasar todos os nossos métodos de discipulado para que produza-
mos o que Deus deseja.
Se implementarmos as ferramentas de discipulado sem compre-
ender o propósito fundamental dessas ferramentas, não as adaptare-
mos e não as usaremos de maneira adequada. Por exemplo, os cons-
trutores costumam usar martelos para cravar pregos. No entanto,
imagine um menino que deseja se tornar um construtor observando
os construtores martelando. No desejo de construir, aquele menino
pega um martelo e começa a martelar nas coisas, imaginando que
está construindo quando na verdade está apenas fazendo barulho.
Ele está usando a ferramenta, mas não tem clareza sobre a finalida-
de precisa da ferramenta, então está ocupado martelando, mas não
construindo nada.
O discipulado pode facilmente terminar assim. Podemos acabar
usando as ferramentas, mas perdendo de vista a razão das ferramen-
tas. Se estamos “martelando” em nossas igrejas, mas não construin-
do o que devemos construir ou consultando os “projetos” bíblicos
que nos foram dados, então não estamos usando nossas ferramentas
apropriadamente. Muitas pessoas começam o discipulado com in-
formações, hábitos e disciplinas.
Todas essas são “ferramentas” importantes, mas se elas se tor-
narem o centro do discipulado em vez das ferramentas que contri-
buem para o nosso discipulado, sairemos do caminho rapidamente.
Existem muitos livros valiosos sobre ferramentas para o discipula-
do, e este livro não é um livro exaustivo sobre o assunto. Este livro
enfoca o fundamento que deve sustentar todo discipulado, mas é
freqüentemente negligenciado. Este fundamento nos dá uma estru-
tura para o discipulado que define um contexto de como usamos as
ferramentas do discipulado.

TUDO COMEÇA COM A CONTEMPLAÇÃO


O discipulado deve começar com o conhecimento de Deus e a revelação
de Sua beleza na pessoa de Jesus.
Se o discipulado começar em qualquer outro lugar, pode realizar
algumas coisas valiosas, mas perdeu de vista a estrutura bíblica para
o discipulado. Resumimos o propósito de Deus para esta era com
dois temas principais: (1) a revelação de Deus e (2) a formação de
um povo.
Ambos os temas requerem que um povo contemple a beleza de Deus.
Se não focalizarmos nossas vidas na revelação de Deus, estaremos
fora de sincronia com o propósito principal de Deus para esta era
inteira. Além disso, se não contemplarmos a Deus, não conhecere-
mos a imagem que devemos nos tornar. Não somos chamados para
ser apenas um povo “moral”. Não somos chamados a nos comportar
como Deus; somos chamados a ser semelhantes a Deus.
Agora, para evitar a heresia, devemos estabelecer duas convicções
firmes no início: Nunca nos tornaremos divinos e nunca seremos
adorados. Com isso em mente, o Novo Testamento é muito claro
que Deus deseja que os humanos se tornem semelhantes a Ele, mui-
to mais do que muitos crentes imaginam. Temos uma visão muito
baixa da vida cristã. Jesus realmente é o primogênito de muitos ir-
mãos que serão como ele.
Como podemos nos tornar semelhantes a Deus que mal conhe-
cemos?
Como veremos, os humanos são projetados para se tornarem o
que vêem. Os dons ministeriais que Deus deu à igreja foram dados
para que possamos contemplar a Deus e nos tornar como Ele. Aqui
está o que as pessoas precisam de cada dom do ministério:

• Pastores - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.


Deixe-nos vê-lo.
• Líderes de adoração - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.
Deixe-nos vê-lo.
• Professores - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo. Deixe-nos
vê-lo.
• Pais - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.
Deixe-nos vê-lo.
• Ministros - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo. Deixe-nos
vê-lo.

Se não dermos Deus ao povo, nosso discipulado está fora do


caminho - está fora do fundamento bíblico. Vamos ver como
mantê-lo sob controle. Começaremos explicando por que o
discipulado deve começar com a contemplação e terminar com
algumas maneiras bíblicas de contemplá-Lo.
O DISCIPULADO COMEÇA
COM A CONTEMPLAÇÃO
A segunda carta de Paulo aos Coríntios resume a abordagem do
Novo Testamento ao discipulado:

E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do


Senhor, estamos sendo transformados na mesma imagem de
um grau de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é
o Espírito.

2 Coríntios 3:18

O discipulado começa com o povo de Deus contemplando corporati-


vamente a glória de Deus na face de Jesus.
Este modelo de discipulado foi o método de Deus desde o iní-
cio, e se negligenciarmos essa contemplação corporativa, ignoramos
o modelo bíblico. Como resultado, precisamos perguntar se nossos
métodos de discipulado estão seguindo esse modelo.
Não devemos reduzir o discipulado à aquisição de informações.
Aprender algumas informações novas não é “discipulado”; é apren-
der. Aprender é uma parte valiosa do processo de discipulado, mas
não é discipulado, a menos que a nova informação nos permita con-
templar o Senhor e ser transformados à Sua imagem. Infelizmente,
muitos programas de “discipulado” são, na verdade, aulas destinadas
a comunicar informações. Por isso, principalmente em culturas que
valorizam o conhecimento, imaginamos que temos uma maturida-
de que não temos. Simplesmente aprendemos muitas informações.
O discipulado também não deve ser reduzido à modificação de
comportamento. O comportamento é importante e, com o tempo,
pode ser um teste decisivo de nossa resposta ao Senhor, mas existem
muitas maneiras diferentes de alterar o comportamento. É muito
possível viver uma vida disciplinada e adotar um comportamento
moral sem contemplar a Deus ou conhecê-Lo. Somos chamados a
nos tornar como Jesus, não apenas agir como ele.
Se enfatizarmos o comportamento sobre o conhecimento de Deus,
corremos o risco de formar “discípulos” que ouvirão o Senhor dizer: “Eu
não te conhecia”, porque é possível se comportar corretamente e até mes-
mo operar com poder espiritual e não se tornar como Jesus.
O objetivo do discipulado é a exibição de Deus em um povo
assim como Ele se exibiu em Jesus. Enquanto Jesus sozinho é a reve-
lação completa, Deus quer um povo como ele. Se a sua abordagem
de discipulado visa qualquer outra coisa, está fora de sincronia. Não
é suficiente aprender o comportamento cristão (o que é útil), de-
vemos nos tornar como ele. O propósito de nossas vidas nesta era
é nos tornarmos como Jesus, mas não podemos nos tornar como
alguém que não conhecemos.
Segunda Coríntios 3:18 resume a abordagem de Paulo ao disci-
pulado, e foi transmitida a nós como o paradigma do discipulado
para nossas próprias comunidades de igreja locais. Antes de exa-
minarmos esse paradigma em profundidade, precisamos considerar
algumas implicações do paradigma.

O DISCIPULADO DEVE ALIMENTAR A FASCINAÇÃO


Ver a beleza produz fascinação, e a fascinação é a melhor maneira de
transformar uma pessoa.
Considere um jovem apaixonado. Pais, professores, mentores e
amigos podem implorar a um jovem que mude certos hábitos e ado-
te certas disciplinas por anos, sem grande efeito. No entanto, quan-
do um jovem é capturado pela beleza de uma jovem, de repente
tudo muda. Ele se concentra em seu futuro. Ele abraça ansiosamen-
te certas disciplinas. Seu estilo de vida muda radicalmente. Toda
a sua vida assume uma nova intencionalidade. Em um momento,
ele faz mudanças que seus pais e mentores pediram que ele fizesse
durante anos.
A fascinação produz transformação.
A fascinação também produz imitação. Um jovem apaixonado
repentinamente se interessa por coisas que nunca considerou an-
tes. Ele começa a frequentar novos eventos e ter novas conversas. A
fascinação por uma mulher produz nele imitação, porque parte de
amar uma pessoa é desfrutar do que a pessoa gosta. Seu prazer por
ela muda seu apetite e seu estilo de vida. Se o amor continuar, ele
fará de bom grado e com alegria o maior sacrifício do casamento.
O casamento exigirá que ele elimine muitas opções, corte certos
relacionamentos e reoriente todo o seu estilo de vida. Ele não terá
o tempo livre de antes. Ele provavelmente perderá vários amigos.
Ele assumirá novas responsabilidades e perderá sua liberdade. Por
que um jovem abriria mão de boa e boa vontade de sua liberdade
e assumiria uma vida restrita de compromissos que exigirá perma-
nentemente sua agenda, seu dinheiro e suas forças? Uma palavra
descreve isso: fascinação.
A fascinação é a chave para o sacrifício voluntário e duradouro,
e isso não se limita ao romance. Quando as pessoas iniciam um
novo hobby ou atividade, elas respondem de maneira semelhante.
Eles gastam dinheiro intencionalmente. Eles encontram amigos que
compartilham seus interesses. Eles passam horas investindo em seu
novo passatempo. Outros acham sua fascinação estranho, mas eles
não se importam porque seu coração está cativado. A mesma coisa
acontece quando alguém está envolvido com esportes ou qualquer
outra coisa.
É assim que o coração humano é feito e é o modelo para o disci-
pulado bíblico. Nós “vemos” Alguém que é bonito. Ficamos fascinados
por ele. E então, com alegria e alegria, reorientamos nossas vidas para
contemplar mais daquela Pessoa e desejar fazer parte de Seu povo.
Os casamentos morrem quando não há prazer ou fascinação na
outra pessoa e o mesmo é verdade para as igrejas. Não queremos
igrejas cheias de pessoas que fazem a coisa certa e frequentam as
funções da igreja, mas não têm prazer em Deus.
Se as pessoas abraçam certos ritmos e se engajam em certas discipli-
nas, mas não ficam fascinadas, então não são discipuladas.
Considere as pessoas que amam correr. Eles vão se reunir natu-
ralmente. Eles vão discutir a corrida. Eles comprarão tênis novos e
compartilharão informações sobre corrida. Mas, acima de tudo, eles
serão executados regularmente. Alguns correrão mais do que outros,
mas encontrarão um elo comum em sua prática de corrida.
Se temos pessoas que gostam de aprender sobre Deus, mas na
verdade não gostam de contemplá-Lo e perseguir o que Ele valoriza,
então eles ainda não foram discipulados. Eles são como corredores
que leem sobre novos equipamentos de corrida e discutem a corri-
da, mas nunca realmente correram. Se uma pessoa está lendo sobre
corrida, mas não corre, ela precisa ser ensinada por outro corredor
e levada a experimentar as delícias da corrida. Uma pessoa que não
conhece a corrida terá de reorientar o corpo. Eles precisam trabalhar
novos músculos e superar a dor inicial que surge quando alguém que
não correu começa a correr. Eles terão que desenvolver a capacidade
de correr longas distâncias. Eles provavelmente enfrentarão desâni-
mo. Da mesma forma, o discipulado é um processo. A capacidade
e o apetite de uma pessoa devem ser remodelados. Eles podem ficar
desanimados. Tudo bem - o discipulado é um processo e devemos
nos comprometer com ele.
Novos crentes precisam de crentes maduros que contemplem
a beleza de Jesus e possam levá-los a crescer em contemplação e
fascínio. Mas, se os “maduros” em nossas igrejas não são fascinados,
como podem discipular outros? E eles são realmente “maduros”?
Acostumamo-nos à ideia de que o amor romântico fica obsoleto
e menos apaixonado à medida que os parceiros envelhecem. No
entanto, esse é o efeito do pecado. Não é o estado ideal. Os crentes
maduros devem ser mais íntimos do Espírito Santo do que os novos
crentes, e o fruto da intimidade com o Espírito é o fascínio por
Jesus.
Talvez devêssemos medir a maturidade na igreja pelo fascínio e um
desejo crescente e hábito de contemplar a beleza de Deus na pessoa de
Jesus.
Quando uma pessoa vem pela primeira vez a Jesus, ela é tão cati-
vada por Jesus que sua vida começa a mudar. Seus relacionamentos,
hábitos, gastos, entretenimento e a maneira como gastam seu tempo
começam a mudar. Eles normalmente estão famintos para aprender
tudo o que puderem sobre Jesus porque seus olhos foram repentina-
mente abertos para Sua beleza. Alimentamos esse anseio por Jesus
ou os satisfazemos com outras coisas? Nossos métodos de discipula-
do alimentam o desejo pelo conhecimento de Jesus ou satisfazemos
seu desejo com novos hábitos?
Temporadas de dificuldade, sofrimento, desafios, solidão e até
mesmo desânimo podem surgir na vida cristã. Haverá momentos
em que será difícil contemplar a beleza de Jesus. No entanto, com
o passar dos anos e décadas, nossas vidas devem ser uma descoberta
contínua da beleza da pessoa de Jesus. Não devemos “amadurecer”
além do desejo que um novo crente tem de ver mais do Humano
Divino.
Devemos chamar as pessoas para profunda dedicação, devoção
e sacrifício. No entanto, deve ser no contexto da beleza e do fascí-
nio. Pessoas que são fascinadas por Jesus sacrificam voluntariamente
muito mais do que pessoas que são devotadas, mas não fascinadas.
Se treinarmos as pessoas para serem devotadas quando não são cap-
turadas pela beleza de Jesus, elas se tornarão religiosas em seus hábi-
tos, mas isso não é discipulado. É uma forma de hipocrisia.
A lógica não é suficiente para produzir um povo maduro. O pe-
cado é muito enganoso e o coração humano não é um robô. O cora-
ção humano não é basicamente racional e lógico. Anseia por beleza.
CONTEMPLAR É CORPORATIVO
Somos transformados enquanto todos nós contemplamos o Se-
nhor. É importante contemplar o Senhor pessoalmente, mas
também devemos contemplá-Lo juntos. As igrejas devem consi-
derar como criar um ritmo contínuo e sustentável de observação
corporativa. A igreja deve se reunir regularmente para contemplar
a beleza de Jesus e responder a essa beleza de forma corporativa.
Na verdade, todo ministério corporativo deve levar à contempla-
ção.
Isso é fundamental para o discipulado porque a vida cristã é
uma experiência corporativa que deve ser vivida em comunidade.
Os cristãos não podem atingir a maturidade plena vivendo vidas
isoladas e individualistas. Como um amigo disse certa vez, Jesus não
é polígamo. Ele não está procurando por milhões de “noivas” que
O amam individualmente. Ele está procurando uma noiva solteira
corporativa, um povo que foi formado em conjunto para ser Seu
companheiro.
Porque Jesus está procurando um povo, e não apenas indivíduos,
o discipulado deve ser um processo corporativo onde amadurece-
mos juntos. Deus não dá tudo de Si mesmo a uma pessoa. Existem
aspectos de quem Ele é que você só encontrará por meio de outra
pessoa no corpo. Existem coisas que o Senhor só falará com você
por meio de outra pessoa no corpo. Não podemos ser completos
em Jesus por nós mesmos. Existem alguns aspectos do discipulado
que apenas venha quando O contemplarmos juntos e então come-
çarmos a viver juntos à imagem do que temos visto. A sua igreja ou
pequeno grupo se reúne para contemplá-lo corporativamente?
A TRANSFORMAÇÃO DEVE SER O OBJETIVO
Deus não se tornou homem para melhorar sua vida - Ele veio para
torná-lo semelhante a ele.
Qualquer abordagem ao discipulado que falhe em se tornar se-
melhante a Deus não é um discipulado bíblico verdadeiro. Porque a
transformação à semelhança de Deus é o objetivo, a igreja perde seu
caminho quando ela consiste em pessoas talentosas e dedicadas que
não são fascinadas pela beleza de Deus e não buscam a transforma-
ção à Sua imagem. O discipulado bem-sucedido produz pessoas que
estão se tornando semelhantes a Deus. Quaisquer outras realizações
têm um benefício marginal, na melhor das hipóteses.
Muitas vezes tentamos convencer as pessoas a serem como Deus,
quando elas não O viram. Se olharmos juntos para a beleza de Deus e
O virmos como Ele é, isso confrontará nosso comportamento e nos levará
a ser como Ele.
Se você não contemplar a Deus, no final das contas medirá o
sucesso com base no que você contempla. Como resultado, muitas
igrejas definem “sucesso” da mesma forma que a cultura circundan-
te, talvez com um pouco de moralidade adicional. Se sua definição
de sucesso for idêntica à da cultura ao seu redor, então não é uma
definição bíblica de sucesso. Em vez disso, é uma evidência de que
você ainda está olhando para o mundo e mais capturado por seu
fascínio do que a pessoa de Jesus.
Quando contemplamos Jesus, transformação em vez de sucesso
torna-se nosso objetivo, porque reconhecemos que a Bíblia nunca
nos prometeu sucesso nesta era, e Deus tem uma definição de su-
cesso radicalmente diferente da que o mundo tem. Na verdade, às
vezes Deus projeta situações que parecem muito “mal sucedidas”
para produzir o que Ele deseja em Seu povo. Há momentos em que
Deus orquestrará as circunstâncias em sua vida para capacitá-lo a
vivenciar Sua própria dor ou a produzir algo que não pode ser pro-
duzido de outra maneira.
Deus vai usar tudo em nossas vidas para produzir transforma-
ção - até mesmo nossos maiores fracassos. Pedro é um dos maiores
exemplos. Pedro foi chamado para pastor, mas ele era impetuoso,
orgulhoso e forte. Então, quando Jesus foi traído, Pedro negou pu-
blicamente a Jesus três vezes porque uma serva o desafiou. Foi um
fracasso público humilhante para um homem que prometeu que
morreria com Jesus.
Jesus perseguiu Pedro após seu fracasso. Ele perguntou a Pedro:
“Você me ama?” três vezes para curar o aguilhão de três negações.
Cada vez que Pedro disse “sim”, Jesus respondeu: “Então apascen-
tem minhas ovelhas.”
O fracasso de Pedro deveria tê-lo desqualificado para a liderança,
mas da perspectiva de Jesus o fracasso de Pedro o preparou para lide-
rar. Pedro agora podia pastorear outros com graça e longanimidade.
Seu orgulho havia sido quebrado e ele pastorearia de maneira muito
diferente daquele momento em diante. Seu maior fracasso o impul-
sionou para frente porque ele cooperou com Jesus.
Você vê os desafios em sua vida - mesmo que sejam produto de suas
próprias falhas - como oportunidades de ser transformado à imagem
de Jesus?
Muitas pessoas estão satisfeitas com o sucesso em vez da transfor-
mação. Quando as pessoas buscam o “sucesso”, algumas constroem
negócios impressionantes e grandes ministérios, mas o sucesso não
é tão importante quanto imaginam. Outros se sentem fracassados​​
porque não são bem-sucedidos pela definição do mundo, quando
podem ser muito mais bem-sucedidos do que pensam da perspec-
tiva de Jesus.
Se nos concentrarmos no sucesso em vez da transformação, se-
remos enganados ou desanimados ao avaliar nossas vidas de acordo
com definições antibíblicas de sucesso. Por outro lado, se abraçar-
mos a transformação, podemos encontrar dignidade em tudo o que
acontece em nossas vidas. Não seremos seduzidos se parecermos
“bem-sucedidos” ou “influentes” e não seremos desencorajados por
nossos fracassos ou pela “pequenez” de nossas vidas. Deus pode pe-
gar tudo, incluindo sua fidelidade, fracassos, perdas, vitórias, trai-
ções, sofrimentos e alegrias e usá-los para o seu bem e sua transfor-
mação.

O QUE VOCÊ CONTEMPLAR, VOCÊ SE TORNARÁ


A revelação de Jesus como a plenitude de Deus, tornada conhecida por
meio de um homem, deve ser o centro de todo o nosso ensino e ministério
porque, se não o contemplarmos, não nos tornaremos como ele.
Pais, vocês ensinam a seus filhos o conhecimento de Deus ou o
bom comportamento? Professores da Bíblia, quanto do seu ensino
é focado no conhecimento de Deus na pessoa de Jesus? Líderes de
adoração e cantores, vocês levam o povo a contemplar Jesus? Líde-
res, seu ministério reflete sua vida interior. Se você está frustrado
com o discipulado de seu povo, isso poderia ser um reflexo de seu
próprio discipulado? Se você não pode levar as pessoas a contem-
plar Jesus, então você precisa reexaminar seu próprio discipulado
primeiro. Comece aí antes de fazer alterações em seus programas.
Se o seu ministério não leva as pessoas a contemplarem Jesus, você
não pode esperar que elas se tornem como Ele.
O princípio de que os humanos se tornam o que vêem é fun-
damental para a experiência humana. Cada ser humano é moldado
pela cultura e pelo contexto em que foi criado. Eles aprendem o
idioma, a cultura e alores observando os outros. Você não precisa
ensinar cultura. As crianças imitam naturalmente aqueles ao seu re-
dor. Eles veem e imitam o que veem até se tornarem o que veem.
Considere tentar ensinar a uma pessoa a cultura de outra nação
apenas por meio da informação. Eles podem aprender informações,
idioma e informações culturais, mas não expressarão adequadamen-
te a outra cultura. Se você quer que alguém aprenda outra cultura,
você deve imergi-lo nessa cultura. Eles precisam viver nele para que
comecem a imitar naturalmente o que vêem. Com o tempo, eles
não apenas aprendem a linguagem e as informações, mas também
imitam aspectos sutis da cultura e refletem verdadeiramente a cul-
tura.
Da mesma forma, as crianças não aprendem sua cultura nativa.
Os pais não trazem livros e dão aulas sobre como se tornar parte
de um grupo de pessoas. As crianças veem, observam e estão imer-
sas em uma cultura até que a imitem naturalmente e se tornem
parte dela. Eles compartilham os maneirismos que observaram e se
comportam de maneira muito semelhante. Um milhão de pequenas
coisas se tornam muito naturais para eles. Na verdade, ele se torna
parte deles.
O pessoal de marketing sabe disso e gasta bilhões de dólares com
isso em mente. Eles sabem que tudo o que você contemplar e consi-
derar valioso, procurará imitar. Eles usam celebridades para endos-
sar produtos porque sabem que o coração humano naturalmente
deseja imitar aqueles que consideramos belos. As pessoas gastam
bilhões de dólares para comprar sapatos, roupas e equipamentos
que os atletas profissionais endossam. Na verdade, esse equipamen-
to não vai transformar as pessoas em atletas, mas existe o desejo de
imitar aqueles a quem idolatramos.
Na realidade, uma celebridade não está qualificada para saber
quais produtos são os melhores, mas o pessoal de marketing sabe
que as pessoas querem imitar, então usam as pessoas que você deseja
imitar. Embora as celebridades não sejam qualificadas para avaliar
as coisas que endossam, e as roupas esportivas não farão das pesso-
as atletas melhores, desejamos ser como aqueles que consideramos
belos. As empresas manipulam isso porque está profundamente en-
raizado na psique humana e devemos entender que é a base de todo
discipulado.
O que você vê? Seja o que for, você será moldado nessa imagem.
O PADRÃO APOSTÓLICO
Paulo resumiu o coração do discipulado como transformação
através da contemplação corporativa porque sua própria transfor-
mação começou com a contemplação.
O Novo Testamento destaca de maneira única a vida e o pensa-
mento do apóstolo Paulo, mas se lermos o Novo Testamento princi-
palmente como um registro histórico de Paulo e da igreja primitiva,
perderemos a mensagem principal. O registro do Novo Testamento
da vida e do pensamento de Paulo não nos foi simplesmente dado
como registro histórico. Foi-nos dado para que possamos imitar a
sua resposta dele a Jesus.
Paulo é mais do que uma figura antiga. Ele é um protótipo, e de-
vemos modelar nossa busca por Jesus após sua busca por ele. Paulo
é o apóstolo mais proeminente do Novo Testamento, e isso permite
que ele sirva de protótipo por várias razões:

• Paulo resistiu ao evangelho inicialmente. Ele era um


inimigo da igreja primitiva.
• Paulo nunca viu ou conheceu Jesus até onde sabemos.
• Paulo não era um dos doze discípulos de Jesus.
• Paulo trabalhou fora de Israel em terras gentias.

Se compararmos a vida de Paulo com a vida de Pedro ou João, é


genuinamente estranho que o Novo Testamento cubra tanto da vida
de Paulo. A maioria de nós teria destacado a vida de um dos discípu-
los, mas o Espírito destacou a vida de Paulo porque se parece muito
mais com a maioria de nossas vidas do que com a vida daqueles que
andaram com Jesus pessoalmente. É difícil identificar-se com os dis-
cípulos, mas muito mais fácil identificar-se com Paulo e, portanto,
ele é um protótipo apresentado para nossa imitação.
A vida de Paulo é simultaneamente um registro histórico de
como a igreja começou, um padrão para a vida na igreja agora e um
prenúncio dos mensageiros que surgirão para levar a igreja à matu-
ridade no final dos tempos. Na realidade, todo o livro de Atos é um
protótipo, um prenúncio da igreja vitoriosa no fim dos tempos. É
uma imagem da igreja no passado e uma imagem de onde a igreja
está indo.
Certamente há mais no discipulado do que contemplar a beleza
do Senhor, mas contemplar era central para o padrão apostólico de
discipulado. Se somos chamados a imitar Paulo, precisamos enten-
der o papel do contemplar em sua vida e missão, e isso começou
com sua conversão.

O ENCONTRO DE PAULO
Paulo era um zeloso inimigo do evangelho, mas foi subitamente
transformado ao contemplar a glória de Deus na face de Jesus:
Mas Saulo, ainda respirando ameaças e assassinato contra os
discípulos do Senhor, foi ao sumo sacerdote... Agora, enquanto
seguia seu caminho, aproximou-se de Damasco e, de repente,
uma luz do céu brilhou ao seu redor. E, caindo por terra, ouviu
uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E
ele disse: “Quem és tu, Senhor?” E ele disse: “Eu sou Jesus, a
quem você está perseguindo. Mas levante-se e entre na cidade,
e você será informado do que deve fazer”.
Atos 9:1, 3-6

Paulo era um homem brilhante que conhecia muito bem as Es-


crituras e estava imerso em teologia. Ele até mantinha “valores ju-
daico-cristãos” e compartilhava muito em comum com os cristãos
que perseguia. Com isso em mente, a primeira resposta de Paulo à
beleza de Jesus é bastante reveladora:

E ele disse: “Quem és tu, Senhor?” E ele disse: “Eu sou Jesus, a
quem você persegue”.
Atos 9:5

Paulo sabia muitas informações sobre Deus. Ele era brilhante e


tinha uma capacidade intelectual incrível. Além disso, ele havia sido
treinado por um dos melhores teólogos de sua época e conhecia sua
Bíblia muito melhor do que a maioria dos cristãos.
Este extraordinário teólogo poderia facilmente ter dado um se-
minário de uma semana sobre o assunto de Deus, e ainda assim,
quando ele viu Deus na face de Jesus, ele só tinha uma pergunta:
Quem é você? Paulo descobriu que contemplar Deus é completa-
mente diferente de saber informações sobre Ele. A informação que
Paulo conhecia não o levou à conversão, mas um momento de reve-
lação permanente e imediatamente alterou sua vida.
O discipulado pessoal de Paulo começou com a contemplação.
Paulo era brilhante, educado e conhecedor, mas nunca havia
contemplado a beleza de Deus na face de Jesus. Em um momento,
esse mestre teólogo não foi salvo por um argumento melhor; ele foi
subitamente transformado quando viu Deus na pessoa de Jesus.
Quantas pessoas em nossas igrejas aprenderam informações so-
bre Deus, mas se elas realmente contemplaram a pessoa de Jesus,
elas também podem gritar: “Quem é você?”
O encontro com Jesus surpreendeu Paulo, ele caiu no chão, e
Jesus revelou outro aspecto de Sua beleza a Paulo:

E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Sau-
lo, por que me persegues?
Atos 9:4

A primeira coisa que Paulo descobriu foi a profunda identifi-


cação de Jesus com Seu povo; Paulo perseguiu o próprio Jesus per-
seguindo Seu povo. A mensagem era clara: se você toca o povo de
Jesus, você o toca. A dor da igreja era a dor de Jesus, e a glória de
Jesus era a glória da igreja. Portanto, o encontro de Paulo com Jesus
foi também um encontro com a glória da igreja.
A resposta de Paulo: “Quem é você?” não era apenas uma per-
gunta sobre Jesus, era também uma pergunta sobre a natureza da
igreja.

TRANSFORMADO POR DUAS REVELAÇÕES


Paulo tinha ouvido todos os argumentos teológicos antes, mas
quando ele viu a beleza de Jesus, ele foi subitamente transforma-
do. O homem que havia sido um instrumento de sofrimento para
aqueles que amavam a Jesus, de repente se dispôs a suportar um
tremendo sofrimento por causa de Jesus e de Seu povo. O encontro
de Paulo foi o início de uma busca ao longo da vida pelo conheci-
mento de Jesus.
A beleza de Jesus é infinita, e nosso discipulado nunca acaba.
Nunca superamos a necessidade de contemplar a beleza de Deus na
pessoa de Jesus.
Paulo também recebeu uma revelação da beleza do povo de Je-
sus. Ao longo de suas cartas, Paulo escreveu repetidamente sobre a
glória e majestade presente e futura da igreja. Ele foi tão capturado
pela glória da igreja que ficou sem palavras para descrever o que será
revelado através do povo de Deus. Paulo tinha uma visão muito
mais elevada da glória da igreja do que a maioria dos cristãos, e tudo
começou com seu encontro em Atos 9. A glória de Jesus e Seu povo
forçou Paulo a cair no chão e o transformou completamente.
Paulo gostaria que lessemos Atos 9 e nos impressionássemos com
a beleza de Jesus e a beleza de Seu povo. Devemos ter um profundo
apreço por ambos. Se tivermos um sem o outro, teremos uma reve-
lação incompleta do evangelho.
Paulo foi transformado ao contemplar a glória do Senhor na face de
Jesus, então ele entendeu que era o ponto de partida para o discipulado.
A conversão de Paulo veio por revelação, e revela algo importan-
te: o trabalho da apologética, que é defender o cristianismo expli-
cando-o e apresentando argumentos razoáveis ​​para ele, tem valor,
mas não é a base da nossa fé. A base da nossa fé não é a razão, mas
a revelação. Devemos conversar com os outros e estar prontos para
explicar a verdade do evangelho, mas a conversão real requer revela-
ção. Não é tipicamente tão dramática quanto a conversão de Paulo,
mas o coração humano deve contemplar Jesus pelo Espírito para ser
transformado.
A contemplação não foi apenas a base da conversão de Paulo,
foi também a base de seu ministério. Quando reconhecemos o pa-
pel que a contemplação desempenhou na vida de Paulo, podemos
entender melhor sua exortação aos coríntios de que a transformação
começa com a contemplação corporativa:

E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do


Senhor, somos transformados na mesma imagem de um grau
de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é o Espírito.

2 Coríntios 3:18

Na próxima seção, veremos que o conceito de transforma-


ção pela contemplação não começou com a conversão de Paulo.
A transformação através da contemplação corporativa tem sido o
método de discipulado de Deus desde o início. É um padrão antigo
tão antigo quanto o Jardim do Éden. Os apóstolos entenderam o
padrão e construíram igrejas de acordo com esse padrão. Precisamos
redescobrir esse padrão e examinar se nos afastamos do paradigma
da contemplação.
O AVISO DO SINAI
Após sua dramática conversão, Paulo acabou indo para a Arábia.
Não sabemos exatamente para onde Paulo foi, mas sabemos que o
Senhor revelou o evangelho a Paulo após sua conversão durante esse
período. Quando tudo é considerado, é muito possível que Paulo
tenha ido ao Monte Sinai para buscar o Senhor, assim como Elias
havia feito.
Por que Paulo iria ao Monte Sinai? A razão é simples - o Monte
Sinai foi o local do momento mais dramático de observação corpo-
rativa da história. Muitas vezes somos culpados de minimizar o que
aconteceu no Monte Sinai. A presença de Deus era gloriosa. Você
ficaria apavorado se estivesse lá. Foi incrível de se ver. As pessoas
experimentaram um incêndio violento, uma fumaça incrível, uma
nuvem enorme, relâmpagos, trovões e um terremoto combinados.
Quando Deus apareceu no Monte Sinai, Ele veio para o bem de
Israel, mas Ele veio como Deus, e Sua aparição foi espetacular:

Agora o monte Sinai estava envolto em fumaça porque o


Senhor havia descido sobre ele em fogo. A fumaça dele subiu
como a fumaça de um forno, e toda a montanha tremeu muito.
E à medida que o som da trombeta ficava cada vez mais alto,
Moisés falou, e Deus lhe respondeu no trovão. O SENHOR
desceu sobre o monte Sinai, no cume do monte. E o Senhor
chamou Moisés ao cume do monte, e Moisés subiu. E o Senhor
disse a Moisés: “Desça e avise o povo, para que não cheguem ao
Senhor para olhar e muitos deles pereçam”.

Êxodo 19:18-21

Quando todo o povo viu os trovões e os relâmpagos e o som


da trombeta e o monte fumegando, o povo ficou com medo e
estremeceu, e parou de longe e disse a Moisés: “Fala-nos tu, e
nós ouço; mas não deixe Deus falar conosco, para que não mor-
ramos”. Moisés disse ao povo: “Não temais, porque Deus veio
para vos provar, para que o temor dele esteja diante de vós,
para que não pequeis”. O povo ficou longe, enquanto Moisés se
aproximava da densa escuridão onde Deus estava.

Êxodo 20:18-21

O medo tomou conta do povo, mas Moisés tentou acalmá-los


com uma simples exortação: Deus havia revelado Sua glória para
que o povo não pecasse.
Deus aterrorizou o povo com Sua majestade para que eles se
afastassem do pecado e O imitassem. Deus convidou toda a na-
ção a contemplá-Lo para ser transformado. Ele queria que eles O
contemplassem e se tornassem como Ele. O encontro no Monte
Sinai pretendia discipular um povo. Deus se revelou para produzir
um povo que se tornaria como Ele. Ele falou audivelmente e os
aterrorizou para compeli-los a abraçar um processo de discipulado
como um povo corporativo. Este processo deveria começar no Sinai
e continuar à medida que o povo se aproximasse de Sua presença no
tabernáculo.
Deus queria que o povo de Israel olhasse para Ele e ouvisse Sua
voz para que abraçassem Seus mandamentos e abandonassem o pe-
cado. Ele queria discipliná-los com Sua presença.
Alguns cristãos acreditam erroneamente que a lei do Antigo Tes-
tamento era um caminho para a salvação antes da vinda de Jesus,
mas a lei nunca foi o meio de salvação. A história do êxodo foi o re-
sultado das ações de Deus em favor de Seu povo, não uma resposta
à perfeita observância da lei.
A lei era um conjunto de diretrizes dadas depois que Deus salvou
Israel. Era um conjunto de instruções e um modo de vida destinado
a manter as pessoas longe dos pecados das nações para que pudes-
sem hospedar a presença de Deus em seu meio e aproximar-se de
Sua presença. Não era legalista e previa que as pessoas pecariam ao
definir um sistema de sacrifícios com instruções para arrependimen-
to quando as pessoas pecassem.
A lei mosaica estabeleceu um contexto para Israel ser discipulado
ao contemplar a presença de Deus no meio de Israel.

A CRISE NO SINAI
O Monte Sinai foi glorioso, mas também trágico. O povo foi cha-
mado a contemplar e ser transformado, mas em vez disso acabou na
idolatria e no pecado. O encontro no Sinai apresenta um aviso de
que a transformação (discipulado) através da contemplação não é
automática. É possível contemplar a Deus, mas não ser discipulado.
É até possível contemplá-lo e ainda assim terminar em apostasia.
Porque há muito em jogo em contemplar, Paulo deu aos corín-
tios um sério aviso ao comparar o que Deus fez em Jesus com o que
aconteceu no Sinai:

Ora, se o ministério da morte, esculpido com letras em pedra,


veio com tal glória que os israelitas não puderam contemplar
o rosto de Moisés por causa da sua glória, que estava chegando
ao fim, não terá o ministério do Espírito ainda mais glória?
Pois se houve glória no ministério da condenação, o ministério
da justiça deve superá-lo em glória. De fato, neste caso, o que
uma vez teve glória, passou a não ter glória alguma, por causa
da glória que a ultrapassa. Pois, se o que estava acabando veio
com glória, muito mais o que é permanente terá glória. Já que
temos essa esperança, somos muito ousados, não como Moisés,
que colocava um véu sobre o rosto para que os israelitas não
olhassem para o resultado do que estava chegando ao fim. Mas
suas mentes estavam endurecidas. Pois até hoje, quando eles
lêem a antiga aliança, esse mesmo véu permanece não levan-
tado, porque somente por meio de Cristo é removido... Mas
quando alguém se volta para o Senhor, o véu é removido...
E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do
Senhor, somos transformados na mesma imagem de um grau
de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é o Espírito.

2 Coríntios 3:7–14, 16, 18

Paulo exortou os coríntios a contemplar Jesus e serem transfor-


mados comparando o que Deus fez em Jesus com a história de Israel
no Monte Sinai. A experiência de Israel no Monte Sinai não foi
repetida e continua sendo o ato de Deus mais visivelmente dramá-
tico para um povo corporativo na história. Os israelitas viram Deus
aparecer como fogo e fumaça no topo de uma montanha e o ouvi-
ram falar audivelmente. Eles ouviram trovões e experimentaram um
terremoto quando Ele se aproximou.
Quando Deus apareceu a Israel, Ele era majestoso e aterrorizan-
te, e ainda assim Paulo diz que através da habitação do Espírito você
tem acesso para contemplar Deus em maior glória. Acreditamos que
temos acesso a uma revelação maior da glória de Deus do que a que
os israelitas experimentaram no Sinai?
Muitos cristãos minimizam a glória que acompanhou o Monte
Sinai, e isso minimiza o que Paulo escreveu. Considere os trovões,
terremotos, relâmpagos, vozes e terror do Monte Sinai. E então ma-
ravilhe-se por ter acesso a uma revelação maior de Deus ao contem-
plar Jesus através do ministério do Espírito.
Deixe isso acontecer por alguns momentos antes de continu-
armos: os israelitas não podiam olhar para Moisés, e podemos ver
muito mais na face de Jesus através do Espírito que habita nele. Se
a beleza de Deus está disponível para nós em uma medida muito
maior do que o encontro espetacular que Israel teve com Deus no
Monte Sinai, por que estamos tão distraídos com coisas menores?
Paulo comparou a nova aliança ao Monte Sinai porque essa foi
a última vez que Deus desceu à vista de Seu povo para fazer uma
aliança com eles. Paulo queria que os coríntios comparassem sua
situação com a do Sinai:
• Deus desceu no êxodo para libertar Israel da escravidão.
Ele se revelou a Israel e deu a Israel um novo modo de
vida que os capacitaria a contemplá-Lo e, no processo,
deixar o pecado e ser transformado à Sua imagem.
• A lei mosaica era um tipo e uma sombra do que estava por
vir. Quando olhamos para o encontro de Israel no Sinai,
descobrimos os fundamentos de nossa fé. O que começou
no Sinai deve ter maior expressão em nosso tempo.
• Deus desceu na pessoa de Jesus para libertar nossos cora-
ções do poder do pecado. Ele se revelou a Israel novamen-
te e nos deu um novo modo de vida através do novo nas-
cimento e do Espírito que nos capacita a contemplá-Lo,
afastar-nos do pecado e ser transformados à Sua imagem.

Paulo fez referência ao encontro no Sinai para fazer uma decla-


ração: Deus desceu novamente. Podemos olhar para Ele novamente no
rosto de Jesus e ouvir Sua voz nas palavras de Jesus.
A comparação de Paulo com o Sinai, no entanto, também trouxe
uma advertência crítica, e há uma lição que ele queria que os corín-
tios aprendessem com o encontro de Israel na montanha.
Um grave aviso Quando Paulo se referiu ao Monte Sinai, ele es-
perava que os coríntios recordassem toda a história no Monte Sinai.
Essa história é gloriosa, mas também traz um grave aviso. Quando
o povo encontrou Deus no Sinai, eles ficaram tão aterrorizados que
ficaram à distância e pediram a Moisés que se aproximasse de Deus
por eles e falasse com eles em nome de Deus:

Quando todo o povo viu os trovões e os relâmpagos e o som


da trombeta e o monte fumegando, o povo ficou com medo e
estremeceu, e parou de longe e disse a Moisés: “Fala-nos tu,
e nós ouço; mas não deixe Deus falar conosco, para que não
morramos”.
Êxodo 20:18-19

Como vimos, Moisés implorou a eles que não recuassem de


medo, mas permitissem que a revelação de Deus os afastasse do
pecado:

Moisés disse ao povo: “Não temais, porque Deus veio para vos
provar, para que o temor dele esteja diante de vós, para que
não pequeis”.
Êxodo 20:20

Deus queria que a nação O contemplasse e se aproximasse, mas


a nação estava aterrorizada com Sua presença, então eles olharam
para Moisés e disseram: “Vá falar com Ele”. Por causa da majestade
da presença de Deus, as pessoas não abraçaram o processo de disci-
pulado pela contemplação, e os efeitos foram horríveis.
Porque o povo não se aproximou para contemplar a Deus e ser
transformado pelo que viu e ouviu, acabou na idolatria.
Moisés se aproximou da presença do Senhor, mas a nação não.
Ele foi transformado, mas eles não. À medida que Moisés conti-
nuou a contemplar Deus, a própria glória de Deus transformou o
corpo físico de Moisés. Moisés foi tão transformado pela glória de
Deus, seu rosto estava radiante, e os israelitas acabaram cobrindo o
rosto de Moisés. Eles não podiam suportar quem Moisés se tornou
ao contemplar Deus, mas Deus queria que toda a nação carregasse
Sua glória. Moisés foi transformado (discipulado) ao contemplar a
glória de Deus diante da cruz é uma imagem vívida do poder de
contemplar Deus para nos transformar.

ENVIANDO OS PROFISSIONAIS PARA OLHAR


Porque Israel enviou Moisés para contemplar o Senhor para eles, ele
foi transformado, mas eles acabaram adorando um bezerro de ouro.
Em vez de levar a glória de Deus, os israelitas pareciam um ídolo.
G. K. Beale comenta esta tragédia indescritível:

Em contraste com Moisés, o Salmo 106:20 afirma que os


idólatras do bezerro de ouro “trocaram” a glória de Deus
que deveriam ter refletido pela semelhança inglória do
ídolo do bezerro. De fato, que a glória refletida no ros-
to de Moisés representava o que todos os israelitas fiéis
deveriam ter refletido é apontado por outros textos do
Antigo Testamento, que parecem ver a proximidade de
uma pessoa fiel com Deus resultando em refletir sua luz:
“O Senhor faça o Seu rosto resplandeça sobre você” (Nm
6:25); “olharam para Ele [o Senhor] e ficaram radiantes”
(Sl 34:5); assim também Isaías 60:1-5 (por exemplo, “mas
o Senhor se levantará sobre você e a Sua glória aparecerá
sobre você”).

Em vez de serem transformados à imagem de Deus ao


contemplá-Lo, os israelitas fizeram um deus de acordo com seus
próprios desejos e o chamaram de YHWH. Da mesma forma, se
não contemplarmos a Deus e buscarmos ser transformados à Sua
imagem – especialmente quando isso nos deixa desconfortáveis –​​
acabaremos criando nossos próprios “deuses” e nos tornando como
eles.
Estar perto da glória de Deus não é suficiente. Um líder que con-
templa Deus não é suficiente. Devemos contemplá-Lo como uma
comunidade. Devemos enfrentar o temor de Deus e devemos ser
transformados.
A idolatria dos israelitas no Monte Sinai nos obriga a fazer algu-
mas perguntas desconfortáveis: Enviamos nossos pastores para olhar
para Deus e ouvi-lo por nós da maneira como os israelitas trataram
Moisés? Ou procuramos olhar e ouvir a Deus nós mesmos? Se você
é pastor: você prioriza olhar para Deus? Ou você gasta mais energia
olhando para outras coisas que parecem bem-sucedidas?
Deus estabelece líderes para servir ao Seu corpo e levá-lo à ma-
turidade, mas “todos nós” devemos contemplá-Lo. Precisamos de
líderes piedosos, mas Deus colocou Moisés no lugar para facilitar
um encontro corporativo. Devemos olhar para Deus juntos, não
apenas enviar um “Moisés” para fazer isso por nós.
A igreja sofre tremendamente quando enviamos os “profis-
sionais” (pastores, professores, líderes de louvor, etc.) Os cristãos
protestantes muitas vezes criticam a Igreja Católica por ter padres
profissionais, apontando que todos os crentes são chamados a ser
padres. Na prática, porém, mesmo os cristãos protestantes costu-
mam tratar os ministros vocacionais como “sacerdotes” que buscam
a Deus em seu favor.

CONTEMPLAR É SÉRIO
Embora possamos não encontrar Deus da maneira que os israelitas
encontraram, Deus ainda habita no meio de Seu povo, independen-
temente do que possamos pensar de nossa congregação local. Deus
convidou o povo a se aproximar Dele, mas também os advertiu a
respeitar o encontro.

E o Senhor disse a Moisés: “Desça e avise o povo, para que não


cheguem ao Senhor para olhar e muitos deles pereçam. Tam-
bém os sacerdotes que se aproximam do Senhor se santifiquem,
para que o Senhor não os ataque”.
Êxodo 19:21-22

O Senhor quer que Seu povo veja, mas Ele advertiu os israelitas
a não se aproximarem do monte santo por curiosidade. Esta é uma
advertência contra uma abordagem casual da igreja que se aproxi-
ma de Deus para nossa própria diversão e entretenimento, mas não
busca a transformação à Sua imagem. Quando Deus se revela para
que um povo possa contemplá-lo, é uma coisa séria.
Deus se revela ao Seu povo no contexto da aliança, e Ele espera
que respondamos a Ele de maneira pactual.
Somos, de longe, a geração mais educada da história. Temos
muito mais acesso à Bíblia e à teologia do que qualquer outra gera-
ção. Nenhum dos autores bíblicos teve acesso a nada perto do que o
cristão médio tem no bolso em seu smartphone.
Também temos muito mais música de adoração do que qualquer
geração para despertar nossas afeições para a beleza e majestade de
Deus. No entanto, se estamos buscando uma “experiência de adora-
ção”, mas não estamos sendo transformados à imagem de Jesus por
meio de nossa adoração, nossa “adoração” é perigosa. Está servindo
como um placebo, uma imitação emocional do que Deus quer.
Líderes de louvor, cantores e músicos, vocês devem levar seu
dom muito a sério. Você pode ser um presente incrível para a igreja
se nos levar a contemplar Deus. No entanto, se você apenas nos
dá “experiências” emocionais, você está nos confortando em nossa
imaturidade e nos levando à idolatria, dando-nos uma espécie de
encontro com Deus que nos afirma, mas não nos transforma.
Contemplar Deus não é apenas uma experiência melhor da pre-
sença de Deus em uma reunião de adoração. Trata-se da transforma-
ção que deve resultar da revelação da pessoa de Deus.
Somos de longe a geração mais informada da história, mas será
que somos a geração mais transformada?
Receio que tenhamos nos tornado muito familiarizados com in-
formações sobre Deus e até mesmo a presença de Deus, mas, como
os israelitas, enviamos nossos líderes para falar com Deus e trazer in-
formações de volta para nós. Mas Deus quer que nos aproximemos
dEle como uma comunidade e suportemos as consequências do que
vemos. Você procura contemplar Deus para sua própria curiosida-
de? Para um pouco de emoção? Ou porque você quer conhecê-lo e
anseia por transformação?
Os israelitas estavam aterrorizados por Deus, e Paulo chamou
seu encontro de uma glória menor do que a que está disponível
através do Espírito que habita:

Ora, se o ministério da morte, esculpido com letras em pedra,


veio com tal glória que os israelitas não puderam contemplar
o rosto de Moisés por causa da sua glória, que estava chegando
ao fim, não terá o ministério do Espírito ainda mais glória?
Pois se houve glória no ministério da condenação, o ministério
da justiça deve superá-lo em glória. De fato, neste caso, o que
uma vez teve glória, passou a não ter glória alguma, por causa
da glória que a ultrapassa. Pois, se o que estava acabando veio
com glória, muito mais o que é permanente terá glória.

2 Coríntios 3:7-11

Nossa experiência de Deus nem sempre será dramática, mas exi-


girá algo de nós. Sua natureza e caráter nos confrontarão e nos dei-
xarão desconfortáveis. Ele irá expor a grande diferença entre quem
somos e quem Ele é. Nesse momento, podemos recuar, ou podemos
nos aproximar confiantes de que Deus gosta de mostrar misericór-
dia e nos transformar pela obra de Seu Espírito. Deus é muito gra-
cioso conosco, e Ele trabalhará com a lacuna entre nós e Ele, mas
Ele não se tornará como nós. Ele nos fará semelhantes a Ele.
Se você nunca se assustou com o que sente quando contempla
Deus, ainda não desfrutou de todos os benefícios da nova aliança.
Por meio da habitação do Espírito, você pode suportar uma reve-
lação de Deus que os israelitas não podiam suportar. Você deve se
aproximar com total confiança no sangue de Jesus e na ajuda do
Espírito Santo para ver Deus como Ele é.
Não precisamos ficar à distância. Podemos subir ao “monte san-
to” e contemplá-Lo juntos com absoluta confiança por causa do
sangue de Jesus. Se o fizermos, Ele nos transformará à Sua imagem.
A glória de Deus foi velada no Monte Sinai, mas totalmente re-
velada na pessoa de Jesus. O encontro dos israelitas com a glória
“velada” de Deus no Sinai é um testemunho incrível do que está
disponível para nós pelo Espírito.
Você pode imaginar estar no Monte Sinai e se recusar a olhar
para a montanha e ouvir a voz audível do Senhor? Você pode ima-
ginar colocar fones de ouvido e desfrutar de entretenimento em vez
de olhar para o Deus vivo em chamas na montanha e ouvir Sua voz
estrondosa? Mas não é isso que fazemos quando priorizamos entre-
tenimento, mídia e diversões em vez de buscar comunhão com o
Espírito e pedir a Ele que nos revele Deus?
Além disso, você poderia imaginar o povo de Israel decidindo se
reunir e falar uns com os outros, mas nunca olhar corporativamente
para o fogo, a fumaça e o trovão da montanha? Mas, novamente,
não é isso que fazemos quando nos reunimos semana após semana,
mas nunca contemplamos corporativamente a glória de Deus?
Considerando o que está disponível pela habitação do Espírito, é
trágico que gastemos mais tempo em entretenimento do que contem-
plando Deus. Somos como os israelitas no pé de uma montanha em
chamas, nunca se preocupando em olhar para a montanha.
Se recebemos acesso do Espírito para contemplar a glória de
Deus em uma medida além do que Israel experimentou no Sinai,
como achamos a Netflix mais atraente? Como é que nos reunimos
como um povo, mas não nos reunimos para contemplar Deus cor-
porativamente pelo Espírito? E será que nossa falta de visão está
mais ligada à nossa falta de transformação do que percebemos?
A transformação não é automática. Este é o aviso do Monte Sinai.
Devemos responder.
Israel acabou na idolatria porque a nação não se esforçou para
contemplar a glória de Deus e enfrentar as implicações de Sua gló-
ria. Da mesma forma, se não priorizarmos a contemplação de Deus
quando nos reunimos, aos poucos acabaremos na idolatria. Forma-
remos um “Jesus” feito por nós mesmos. Vamos chamá-lo de “Jesus”
e nos reunir em torno desse “deus”, mas não será o Deus aterrori-
zante e incriado. Será simplesmente um bezerro de nossa própria
criação, moldado à nossa própria imagem.
Como adverte um estudioso:
Na medida em que criamos um deus à nossa imagem e segundo
nossos gostos, é a medida em que seguimos outro deus.
Contemplar é coisa séria. Tudo está em jogo.
O DISCIPULADO DEVE
COMEÇAR COM DEUS
Antes de olharmos para o padrão bíblico de contemplação, pre-
cisamos considerar por que o discipulado deve começar com a con-
templação.
O discipulado é um processo de construção – está construindo
pessoas. Sempre que você constrói algo, você precisa saber como é
o produto final. Por exemplo, arquitetos e engenheiros produzem
plantas do produto acabado para que os trabalhadores saibam o que
estão fazendo e como fazê-lo. Sem projetos, você não sabe o que está
construindo.
Deus quer formar pessoas que se tornem como Ele, e Deus na
pessoa de Jesus é o projeto – o produto final do discipulado.
O discipulado deve começar com a contemplação porque o dis-
cipulado deve começar com Deus – se você não contemplar Jesus
consistente e intencionalmente, você não sabe como Deus quer que
o homem se torne. E se você não sabe qual é o produto do discipu-
lado, então você não pode discipular corretamente.
Quando fazemos discipulado principalmente sobre uma versão
melhor de nós mesmos, perdemos o foco. Deus não está tentando
produzir humanos melhores. Ele está produzindo um povo como
Ele. Muitas vezes pensamos nesta era como o desdobramento de
nossos próprios destinos, mas esta era foi formada para revelar quem
é Deus e desvendar o que Ele quer. Somos convidados a entrar em
Sua história para que possamos ser formados à Sua imagem. Ele não
existe para nós, e Ele não é à nossa imagem.
O discipulado deve ser centrado em Deus e não centrado no
homem. Esta era não foi projetada para nós; ela foi projetada para
Deus. Esta era não é toda sobre nossa história; trata-se de nos colo-
car na história de Deus e nos tornar semelhantes a Ele.
Nós tendemos a gastar muito esforço para descobrir como pode-
mos obter a ajuda de Deus para desfrutar de nossos próprios “des-
tinos”. Nós tratamos Deus como um bem para garantir nosso pró-
prio fim, e isso está totalmente exposto em inúmeros livros cristãos.
Todos os anos há novos livros e inúmeros vídeos sobre as fórmulas
secretas que darão poder às nossas orações e nos permitirão obter o
favor de Deus. No final, trata-se de manipular Deus para conseguir
o que queremos, e é uma evidência de que não fomos discipulados
biblicamente. Na verdade, está mais próximo da feitiçaria do que
do cristianismo.

DEUS NÃO É FEITO À NOSSA IMAGEM


Se o discipulado não se basear na contemplação, nos tornaremos
como os fariseus, um povo que conhece informações sobre Deus
e adota um estilo de vida religioso, mas não conhece realmente a
Deus.
Deus não é feito à nossa imagem. Somos feitos à Sua, e a ma-
turidade cristã é medida pelo grau em que você se assemelha à Sua
imagem. Nosso maior problema é que não conhecemos a Deus, e
não podemos discipular as pessoas à imagem de um Deus que não
conhecemos.
A Bíblia promete que nos tornaremos como Deus de maneiras
que não podemos imaginar:

Pois se fomos unidos a ele em uma morte como a dele, certa-


mente seremos unidos a ele em uma ressurreição como a dele.
Romanos 6:5

E se filhos, então herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros


de Cristo, contanto que soframos com ele para que também
sejamos glorificados com ele. Pois considero que as aflições deste
tempo presente não podem ser comparadas com a glória que
há de ser revelada em nós. Pois a criação aguarda com ânsia
a revelação dos filhos de Deus. . . . Para aqueles que de ante-
mão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos.
Romanos 8:17–19, 29

O primeiro homem era da terra, um homem de pó; o segundo


homem é do céu. Como foi o homem do pó, assim também são
os que são do pó, e como é o homem do céu, assim também são
os que são do céu. Assim como trouxemos a imagem do homem
do pó, também traremos a imagem do homem do céu.
1 Coríntios 15:47–49
Mas a nossa cidadania está nos céus, e de lá esperamos um
Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso corpo
abatido para ser semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder
que o capacita até mesmo a sujeitar todas as coisas a si mesmo.
Filipenses 3:20-21

Para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para que alcanceis
a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
2 Tessalonicenses 2:14

Amados, somos filhos de Deus agora, e o que seremos ainda


não apareceu; mas sabemos que, quando ele aparecer, seremos
semelhantes a ele, porque o veremos como ele é.
1 João 3:2

O Novo Testamento descreve a igreja como um povo que será


completamente transformado à imagem de Deus. Nos tornaremos
como Ele de maneiras que não podemos prever. Até mesmo nossos
corpos se tornarão como o Dele. Deus está atrás de muito mais do
que uma moralidade melhor.
Discipulado não é preparar as pessoas para irem para o céu. Tra-
ta-se de transformar as pessoas à imagem de Deus.
Não somos chamados a abraçar atributos divinos nesta era para
ganhar uma aposentadoria celestial. Quando apresentamos o disci-
pulado dessa maneira, as pessoas escolhem ser generosas, abnega-
das, humildes, mansas, perdoadoras e longânimes, esperando uma
recompensa. Embora Deus nos recompense, esse não é todo o pro-
pósito de Deus. Deus está produzindo um companheiro para Si
mesmo - um povo que é como Ele. Ele quer um povo que goste de
viver do jeito que Ele vive, não um povo que suporta certas discipli-
nas para ganhar um prêmio.
Muito mais está em jogo no discipulado do que chegar ao céu.
A questão central do discipulado é: você se tornará como Ele? Você
assumirá a Sua imagem? Quando ensinamos as pessoas a obedecer a
certas regras para escapar do inferno, não as estamos disciplinando.
Estamos enganando-os, convencendo-os de que ganharão a apro-
vação de Deus vivendo de uma certa maneira quando não estão
realmente alinhados com a agenda de Deus.
Se as pessoas não querem se tornar como Deus, não importa
quão “moral” sejam suas vidas e quão saudáveis ​​sejam suas famílias.
Eles não são discipulados, e Deus não está interessado em suas rea-
lizações. O discipulado não é a personificação de Deus; é o processo
de tornar-se como Deus. Um papagaio pode se passar por você, mas
um papagaio não pode se tornar você.
Deus é incrivelmente longânimo. A Bíblia revela que Ele pode
suportar todo tipo de fracasso, pecado e imaturidade em uma pessoa
que realmente deseja se tornar como Ele. Ele não é irracional - Ele é
generoso. Deus também é muito paciente conosco e nos conduzirá
por um processo. Ele conhece nossa fraqueza, e isso não O desen-
coraja, mas Ele quer tudo, e não devemos dar outra impressão às
pessoas.

VENDENDO TUDO COM ALEGRIA


Se Deus está exigindo – e Ele está – como levar as pessoas a dar tudo
a Ele e permitir que Ele transforme sua pessoa inteira à Sua imagem?
A resposta é o amor simples que flui do fascínio. Eles precisam con-
templar algo que torne valioso o doloroso, difícil e longo processo
de transformação. Quando alguém contempla algo belo – seja outra
pessoa ou uma joia preciosa – dará tudo para obter este tesouro:

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num


campo, que um homem achou e escondeu. Então, em sua ale-
gria, ele vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”.

Mateus 13:44

Eles não apenas “venderão tudo”, eles o venderão com alegria.


Não podemos chamar as pessoas ao discipulado profundo quan-
do elas não veem Jesus como o tesouro superior a todos os outros
tesouros. Não podemos discipular adequadamente as pessoas com
base na culpa e compulsão. Deus não quer um povo que segue Seu
Filho porque se sente culpado e obrigado. Ele está formando um
povo que ama Seu Filho mais profundamente e O considera um
tesouro maior do que qualquer outro tesouro.
Jesus esperou milhares de anos por uma noiva, e o Pai vai dar a
Ele uma noiva digna de Sua espera – uma companheira que O ama
e O desfruta plenamente. Nenhum noivo quer ir a um casamento
e encontrar uma noiva que esteja lá por obrigação, esperando que
o casamento traga alguns benefícios pessoais. Um noivo anseia por
uma noiva que é cativada pelo amor (e uma noiva anseia pela mes-
ma coisa) com um desejo genuíno por ele - pelo homem a quem ela
está entregando sua vida. Jesus não é diferente. Ele não quer unir-se
a pessoas que não o acham desejável, agradável, agradável e belo.

Jesus estabeleceu um padrão muito alto para o discipulado. Ele


nos chamou para negar a nós mesmos e abraçar nossa própria execu-
ção para segui-lo. Ele exigia a primeira prioridade em todas as áreas.
Seus requisitos para o discipulado eram incrivelmente altos, e Ele
disse às pessoas que calculassem cuidadosamente o custo de segui-lo
antes de segui-lo. Jesus tinha requisitos muito mais elevados para o
discipulado do que muitos de nós. A verdade é que muitos de nós
achamos os requisitos de Jesus muito exigentes e constantemente
procuramos reduzi-los.
É fácil ler os requisitos de Jesus e se perguntar como Ele esperava
que alguém O seguisse, mas Jesus nunca forçou as pessoas a segui-
-Lo. Na verdade, Ele voluntariamente deixou as pessoas irem. Jesus
nunca esperou que todos O seguissem. Ele procura aqueles que en-
contram alegria nEle. Ele é muito paciente conosco em nossas falhas
e falhas, mas Ele não quer que as pessoas O sigam por dever. Ele
quer ser objeto de deleite de Sua Noiva, como qualquer outro noivo
que se prepara para um casamento.
Jesus seguiu a ordem do Pai de ir para a Sua própria morte por
causa da alegria, e Ele está formando um povo que O seguirá por
causa da alegria e deleite.
Se as pessoas não virem Jesus como um belo tesouro – muito
mais desejável do que qualquer outro tesouro – elas não suportarão
o processo de discipulado. E certamente não venderão tudo com
alegria para obtê-Lo e tornar-se como Ele. É uma perda de tem-
po tentar continuamente discipular pessoas que não acham Jesus
bonito, mas tragicamente há muitos em nossas igrejas que ainda
não viram Jesus como verdadeiramente belo. Como resultado, eles
tentam servi-Lo, mas não vendem tudo com alegria.

O OBJETIVO É DEUS
Quando pensamos no discipulado principalmente como um cami-
nho para as recompensas celestiais por meio da obediência (o que
não é totalmente errado), podemos facilmente sair do caminho. O
objetivo do discipulado não é o céu; é Deus.
Por exemplo, Paulo nunca desejou o céu. Ele ansiava por estar
com Deus:

Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Se devo


viver na carne, isso significa trabalho frutífero para mim.
No entanto, qual escolherei, não posso dizer. Estou duramente
pressionado entre os dois. Meu desejo é partir e estar com Cris-
to, pois isso é muito melhor.
Filipenses 1:21-23

Mas qualquer ganho que eu tivesse, eu contava como perda


por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda
por causa do valor supremo de conhecer a Cristo Jesus, meu
Senhor. Por causa dele, perdi todas as coisas e as considero como
lixo, para ganhar a Cristo.
Filipenses 3:7-8

O desejo de Paulo era Deus na pessoa de Jesus, não a aposen-


tadoria no céu. De fato, o Novo Testamento nunca faz do “céu”
o objetivo de nosso discipulado. Quando Paulo falou sobre nossa
cidadania nos céus, o foco não era o “céu”, mas Jesus. Olhamos para
o céu porque Jesus está lá e ansiamos que Ele esteja conosco nova-
mente e nos transforme à Sua imagem:

Mas a nossa cidadania está nos céus, e de lá esperamos um


Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso corpo
abatido para ser semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder
que o capacita até mesmo a sujeitar todas as coisas a si mesmo.
Filipenses 3:20-21

Primeira Coríntios 15 poderia ser a passagem onde Paulo mais


falou sobre o céu e o crente, mas mesmo nesta passagem o alvo não
é o céu. O objetivo é tornar-se como o homem que vem do céu:

O primeiro homem era da terra, um homem de pó; o segundo


homem é do céu. Como foi o homem do pó, assim também são
os que são do pó, e como é o homem do céu, assim também são
os que são do céu. Assim como trouxemos a imagem do homem
do pó, também traremos a imagem do homem do céu.
1 Coríntios 15:47–49

Paulo descreve a glória de Jesus como o Homem do céu, mas


quando ele fala da esperança do crente, a esperança nunca é o céu.
A esperança é a ressurreição e tornar-se como o Homem Divino.
Assim, o discipulado deve começar com a contemplação da beleza
de Deus na pessoa de Jesus.
Se você acredita que Ele é lindo, então você será atraído por Ele
e abraçará o processo de discipulado. Se você não o vê como bonito,
então você abandonará o caminho do discipulado quando se tornar
difícil, ou você se tornará um legalista que mantém certas regras por
causa da culpa ou na esperança do céu. Não é útil colocar a esperan-
ça das pessoas no céu. É uma esperança vaga e indefinida, e não é a
esperança do Novo Testamento.
O objetivo do Novo Testamento é claro: torne-se como Jesus para
que você possa se unir a Ele e participar de Sua restauração da criação.
O discipulado começa com a contemplação, mas nada acontece
quando contemplamos alguém ou algo que não achamos bonito.
Portanto, o discipulado é uma luta que se trava no campo de batalha
da beleza. E é aí que precisamos voltar nossa atenção a seguir.
SOMOS DISCIPULADOS
CANTANDO

Cantar é uma das principais ferramentas que recebemos para con-


templar Deus. O poder da música e do canto é óbvio, mas raramente
consideramos o papel que o canto deve desempenhar em nosso dis-
cipulado, quando cantamos em particular e com outras pessoas. Os
humanos são projetados exclusivamente para responder à música
e ao canto. Uma simples melodia ou progressão de acordes pode
imediatamente despertar a emoção e transmitir uma sensação de
majestade, alegria, celebração, luta, tristeza ou medo. Quando as
palavras se unem à música, o efeito é ainda mais profundo.
O canto desempenha um papel importante no desenvolvimen-
to do povo de Deus em toda a Bíblia. Israel sempre foi um povo
que cantava, e o tabernáculo de Davi instituiu formalmente o canto
como um componente central do ritmo de vida e forma de disci-
pulado de Israel. Esses fundamentos do Antigo Testamento prepa-
raram o terreno para uma expressão muito maior do canto no Novo
Testamento. Na verdade, é provável que o Cristianismo dê mais
ênfase ao canto do que qualquer outra religião no mundo.
Por meio do canto individual e corporativo, contemplamos Deus de
uma maneira única.
Líderes de adoração, cantores, músicos e compositores são teó-
logos musicais. Alguns podem recuar porque têm uma noção pre-
concebida de um teólogo como alguém que está constantemente
imerso em livros, muito inteligente, difícil de entender e focado no
estudo acadêmico.
No entanto, essas caricaturas do que significa ser um “teólogo”
não são precisas. Aqueles que lideram o culto musical não precisam
tentar se conformar com alguma definição artificial de um “teólo-
go”, mas devem reconhecer seu papel como teólogos musicais na
igreja. Aqueles que lideram a adoração musical muitas vezes têm um
efeito muito maior na concepção de Deus das pessoas do que aque-
les que ensinam e pregam, indicando que a música desempenha um
papel profundo no discipulado da maioria das pessoas. Liderar o
canto de uma congregação é uma responsabilidade séria e deve ser
feito com sobriedade.
A Bíblia está repleta de canções e comandos para cantar,
reconhecendo o papel crítico do canto no discipulado de uma
comunidade. A maioria dessas canções são canções sobre Deus
e nosso relacionamento com ele. Eles foram gravados para
adoração corporativa para que pudéssemos contemplar Deus
juntos, declarando sua natureza musicalmente. A combinação de
letras majestosas e música é uma das maneiras mais poderosas de
contemplarmos Deus, e os tipos de canções que cantamos revelam
o que pensamos sobre Deus.
Cantar era uma parte central da vida devocional pessoal de Pau-
lo e aparentemente tão importante quanto a oração em seu ritmo
diário. Paulo também cantou no Espírito, indicando que cantar é
tão importante que o Espírito nos ajuda a cantar e canta conosco:

Eu orarei com meu espírito, mas orarei com minha mente


também; Cantarei louvores com meu espírito, mas também
cantarei com minha mente.
1 Coríntios 14:15

Deus adora cantar conosco e, no processo, descobrimos quem Ele é.


Quando Paulo e Silas foram espancados e presos em Filipos, eles
oravam e cantavam durante seu sofrimento. Essa resposta ao sofri-
mento deles mostra que a oração e o canto eram dois dos principais
meios que usavam para contemplar Deus no sofrimento:

Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e can-


tando hinos a Deus, e os prisioneiros os ouviam.

Atos 16:25

Cantar também era uma parte importante dos métodos de disci-


pulado de Paulo. Ele disse aos efésios para andarem com sabedoria
e fazerem o melhor uso do seu tempo cantando uns para os outros:

Observe com atenção então como você anda, não como insen-
sato, mas como sábio, aproveitando o tempo da melhor ma-
neira, porque os dias são maus... dirigindo-se uns aos outros
em salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando e entoando
melodias ao Senhor com o coração, dando graças sempre e por
tudo a Deus Pai em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sub-
metendo-se uns aos outros em reverência a Cristo.
Efésios 5: 15–16, 19–21

Paulo instruiu os efésios a cantar uns para os outros. Cantar


não é apenas um exercício pessoal. Nós também devemos cantar
um para o outro. Conseqüentemente, nesta passagem, o “você” a
quem Paulo falou era um você no plural e não um você no singular,
portanto, essas instruções são destinadas ao discipulado corporativo.
Este capítulo em Efésios começa com o mandamento de sermos
“imitadores de Deus”, então cantar é uma das ferramentas que nos
permite contemplar a Deus e então nos tornar semelhantes a Ele.
Paulo exortou os colossenses a deixar a Palavra habitar neles, en-
sinando e instruindo uns aos outros por meio do canto:

Deixem a palavra de Cristo habitar em vocês ricamente, en-


sinando e admoestando uns aos outros com toda a sabedoria,
cantando salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão em
seus corações a Deus.
Colossenses 3:16

Mais uma vez, o “você” nesta passagem está no plural, mostran-


do que esse comando é para a comunidade corporativa, não apenas
para indivíduos. Esta seção de Colossenses começa com a ordem de
se tornar como Jesus:

Se então você foi ressuscitado com Cristo, busque as coisas que


estão acima, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Con-
centre-se nas coisas que estão acima, não nas coisas que estão
na terra. Pois você morreu, e sua vida está oculta com Cris-
to em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, aparecer, você
também aparecerá com ele na glória.
Colossenses 3:1–4

Devemos buscar as “coisas de cima”, o que significa enfocar a


pessoa de Jesus e as implicações de Sua exaltação aos céus. Devemos
ver o mundo de sua perspectiva para que possamos descobrir quem
somos Nele e viver com a compreensão de que apareceremos com
Ele na glória quando Ele voltar. Paulo incluiu o canto como uma
das disciplinas corporativas que nos permitem contemplar Jesus e
Sua exaltação para que possamos nos tornar como Ele.
Paulo discipulou pessoas por meio do canto, e esse é um padrão que
devemos seguir, porque o canto nos permite contemplar a Deus de uma
maneira única.

POR QUE CANTAR?


O canto é tão comum na Bíblia que levanta a questão: por que can-
tar? Embora não possamos dar uma resposta completa a isso em um
pequeno espaço, há vários motivos pelos quais o canto é tão comum
nas Escrituras.
Cantar move nossas emoções de uma maneira que falar raramente o
faz. Ouvir uma mensagem pode nos comover profundamente, mas
cantar tem muito mais probabilidade de mover nossas emoções e,
em geral, nos afeta de forma mais profunda e rápida do que ouvir
algo falado. A música tem um grande efeito em nossas emoções, e
Deus deseja que nossas emoções estejam conectadas ao Seu plano.
Cantar ultrapassa nossa resistência natural. Cantar tem a capaci-
dade única de contornar nossa resistência a uma ideia ou conceito,
e isso lhe confere um poder incrível para o bem ou para o mal.
Por exemplo, é fácil encontrar-se em um shopping ou outro espaço
público cantando junto com uma música inadequada. O poder da
música pode facilmente induzi-lo a repetir coisas que você não diria
e que você avaliaria criticamente se uma pessoa lhe pedisse para
repetir. Aliás, essa habilidade da música a torna inestimável para
comunicar o evangelho.
Pessoas que hesitariam em responder a um sermão desafiador
não hesitariam em cantar letras como:

“Então, coloque-me em qualquer lugar, apenas colo-


que Sua glória em mim, eu servirei em qualquer lugar,
apenas deixe-me ver Sua beleza.”

“Leve-me através do fogo, leve-me através da chuva,


leve-me através do teste, eu farei qualquer coisa.”

“Eu quero ser provado pelo fogo, purificado, Você leva


tudo o que Você deseja, Senhor, aqui está a minha vida.”

Essas letras são incrivelmente exigentes, mas mesmo assim as


pessoas as cantam devocionalmente facilmente quando são tocadas.
A música ajuda as pessoas a aceitar o difícil chamado ao discipulado,
e os líderes de louvor devem abordar seu dom com isso em mente.

• Cantar é uma experiência corporativa. Quando alguém en-


sina ou prega, o público fica em silêncio. Por outro lado,
quando uma pessoa talentosa começa a liderar uma mú-
sica, todos se juntam ao canto. Nem todo mundo tem
o dom de liderar musicalmente, mas toda a congregação
participa do canto. É uma maneira pela qual podemos
contemplar a Deus e declarar Sua beleza juntos.
• Nós memorizamos canções naturalmente. Quando
cantamos, isso se torna parte de nós, e a música pode ser
o dispositivo de memória mais poderoso. Se você pedir às
pessoas para repetir o sermão da semana passada, elas só
serão capazes de apresentar alguns pontos principais da
mensagem. No entanto, sem nenhum esforço, as pessoas
memorizam facilmente as canções que cantam todas as
semanas. Há algo na música que guarda uma mensagem
profundamente em nós. Como exemplo, o movimento
metodista foi um dos movimentos cristãos de maior
impacto no mundo ocidental sob a liderança de John
Wesley. Até hoje, as pessoas estão cientes de John Wesley,
mas muito poucas pessoas poderiam sequer citar um de
seus sermões. Charles, irmão de John, codificou a teologia
do movimento em seus hinos, e até hoje suas canções são
amplamente cantadas. Não conhecemos os sermões de
João, mas ainda cantamos as canções de seu irmão.
• As músicas criam memórias profundas e marcam movimen-
tos redentores na história. Ao longo da Bíblia, canções são
cantadas para marcar grandes eventos na história. Cantos
de lamento em meio às crises e cantos de festa nas grandes
vitórias. Essas músicas se tornam uma maneira poderosa
de recontar a história da atividade de Deus na história.
Do êxodo ao fim dos tempos, vemos os santos cantando a
obra de Deus no passado, presente e futuro.
• Cantar está conectado com a atividade do Espírito. Eliseu
pediu um músico quando buscou ao Senhor por uma pa-
lavra, e a música de Davi libertou Saul da opressão dos
espíritos malignos. Paulo também associou o canto à ati-
vidade do Espírito porque o canto bíblico e centrado em
Deus cria um contexto para o Atividade do Espírito.
• Deus ama cantar. Talvez o principal motivo pelo qual
cantar seja tão importante seja porque Deus ama cantar.
Sofonias diz que Deus expressa Seu deleite em Seu povo
com “cânticos altos”. Quando Davi trouxe a arca para Je-
rusalém, ele cercou a presença de Deus com cânticos, e
quando temos vislumbres da sala do trono de Deus, Ele
está rodeado de música e cantos. É óbvio que Deus ama
cantar, e nós amamos música e cantar porque fomos feitos
à Sua imagem. Nosso deleite pela música é Seu deleite, e
o poder que a música tem sobre nós origina-se do amor
de Deus pela música.

Deus claramente discipula Seu povo através do canto, e este é


um dos os aspectos mais negligenciados do discipulado. Nós na-
turalmente cantamos sobre as coisas que amamos e vemos o que
achamos belo na música. A grande maioria das canções humanas
são canções de amor, e quando ouvimos a canção de amor de uma
pessoa, isso nos permite contemplar a beleza da pessoa que con-
quistou o afeto do cantor. Quando cantamos canções centradas no
homem na igreja, isso mostra que ainda somos capturados por nossa
própria beleza, mas as canções bíblicas nos permitem contemplar a
beleza de Deus e proclamá-la aos outros.

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