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MIL ANOS COM JESUS

O Futuro Reino Messiânico

Matthew Bryce Ervin


Prefácio Dr. Michael Brown
SUMÁRIO

Prefácio por Michael L. Brown

Capítulo 1 - O Tempo Está Vindo


Interpretando o milênio
A regra do profeta verdadeiro

Capítulo 2 - As Promessas de Deus


Deus fez uma promessa a abraão
A terra prometida
Deus fez uma promessa a davi
Deus prometeu uma nova aliança
Um povo preservado

Capítulo 3 - O Reino Milenar


Daniel Interpreta os sonhos do Reino
O reino na criação
Um reino de sacerdotes
O evangelho do reino
Ainda vindo
Não ainda
Uma luz para o mundo

Capítulo 4 - O Caminho Para O Éden


Geografia
Ecologia
Desertos
Saude
Israel é o eden
O triunfo do último adão

Capítulo 5 - Governo no Milênio


A população
Oficiais de governo
O assento bema de cristo
Adoração obrigatória

Capítulo 6 - Jerusalém: A Capital do Mundo


Deixe-nos ir com você
Subindo para Jerusalem
A Jerusalem milenar

Capítulo 7 - O Templo Messiânico no Milênio


A casa do messias
O complexo do templo
A glória shekinah enche o templo
A revelação da planta
Água flui do templo
O altar do sacrificio
O sistema sacerdotal e sacrificial
Seu santuário se levantará

Capítulo 8 - Sacrifícios em harmonia


A natureza dos sacrifícios
A consistência dos relatos
Retorno à lei mosaica?
Dois propósitos
Deus disse

Capítulo 9 - Pré-milenismo na Igreja Primitiva


Barnabé
Policarpo
Pápias
Justino Mártir
Ireneu
Tertuliano
Metódio
Lactâncio
O pre-milenismo espalhou o evangelho

Capítulo 10 - Apostasia
Orígenes e a alegoria
Mais motivos
Agostinho
Amilenismo
A reforma
Joseph Mede
Pós milenismo
Ele vira primeiro

Capítulo 11 - Presente Era, Milênio


ou Eternidade?
A torá
Salmos
Isaias
Daniel
Profetas menores
O novo testamento
O destino do milênio
PREFÁCIO

E
m sua pregação pouco depois da crucificação e res-
surreição de Jesus, Pedro diz aos seus ouvintes ju-
deus que se eles se arrependessem, Deus enviaria o
Messias de volta para a terra, uma vez que o céu deve retê-lo
“até o tempo da restauração de todas as coisas, de que Deus
falou pela boca dos seus santos profetas desde a antiguida-
de” (At 3:21, NAA). Então, de forma bem direta, Pedro nos
diz que tudo o que os profetas falaram no passado, incluin-
do todas as promessas feitas a Israel a respeito do glorioso
governo do Messias na terra, se cumprirá quando o Rei Je-
sus voltar. Ou seja, o Novo Testamento não espiritualiza o
significado das promessas do Antigo Testamento.
É verdade que os autores do Novo Testamento frequen-
temente fazem aplicações espirituais dos ensinamentos das
Escrituras hebraicas (também conhecidas como o Antigo
Testamento, mas simplesmente como “as Escrituras” para
os judeus do primeiro século). Mas ao fazê-lo, eles não anu-
lam o sentido literal daqueles ensinamentos, uma vez que
fazer isso seria roubar o significado fundamental daqueles
textos, além de remover qualquer limite de interpretação

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MIL ANOS COM JESUS

pelos quais esses escritos sagrados deveriam ser compreen-


didos. Claramente em Atos 3.21, Pedro está reiterando a
verdade de que virá o tempo da “restauração de todas as
coisas”, como foi dito pelos profetas de Israel, e neste livro
Matthew Ervin faz um excelente trabalho ao descrever as
promessas desses profetas, como reafirmam os autores do
Novo Testamento. Sua tese é simples: as coisas que a Bíblia
declara repetidamente que ocorrerão no futuro, ocorrerão
no futuro. Simples assim.
É claro, quando se trata de escatologia, é impossível (e
não é sábio) adotar uma postura dogmática sobre todos os
tópicos, e aqui, particularmente, não desejamos gerar divi-
sões por causa das diferenças de nossas crenças. Todo sis-
tema escatológico – desde o pré-milenismo histórico, que
é defendido nesta obra, ao mais recente pré-milenismo dis-
pensacionalista, e desde o amilenismo ao pós-milenismo –
possui alguns “versículos difíceis” que parecem desafiar sua
coerência. Ainda assim, é justo perguntar, se você pudesse
ler a Bíblia fluentemente nos idiomas originais em que foi
escrita, e se pudesse se isolar por alguns anos, lendo toda a
Bíblia repetidas vezes, você terminaria este período crendo
no que crê hoje? Manteria sua crença no sistema doutriná-
rio e escatológico em que crê ou concluiria que um pouco
do que aprendeu foi baseado em tradições humanas mais do
que nas próprias Escrituras?
Quando eu era novo convertido, me tornei muito fa-
minto pela Palavra de Deus, lendo as Escrituras por duas
horas todos os dias e memorizando versículos uma hora por
dia (eu era capaz de memorizar vinte versículos por dia na-
quela época, ou seja, após seis meses eu havia memorizado
mais de 3.600 versículos). Se me pedisse para defender o que

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P r e fá c i o

cria, eu poderia citar diversos versículos para você como


uma metralhadora. (Embora eu admita que não tinha muita
compaixão e sabedoria naqueles dias, tendo apenas dezes-
sete anos de idade e tendo sido recém resgatado de anos de
uso de drogas, certamente não me faltava zelo!)
Um dia um amigo me pediu para dar detalhes sobre a
segunda vinda de Jesus – baseado na forma que me havia
sido ensinada em nossa igreja – e eu disse a ele: “Eu não sei
muito sobre este assunto”. Determinado a preencher essa
lacuna, devorei alguns livros que me foram recomendados
até que houvesse dominado o assunto e pudesse combater
qualquer objeção. Então um dia me ocorreu o fato de que eu
nunca havia percebido este intrincado esquema do fim dos
tempos quando estava lendo a Bíblia por mim mesmo. Eu
tive que aprender com outras pessoas. Por outro lado eu era
capaz de defender todos os outros pontos doutrinários nos
quais eu cria baseado nas Escrituras, por causa da minha
prática de imergir na Palavra.
Para ser claro, não estou declarando ser doutrinaria-
mente infalível ou que minhas crenças estão todas acima
de qualquer crítica, e não estou minimizando a importân-
cia de estudo e aprendizado coletivo. Estou simplesmente
dizendo que percebi quais doutrinas poderiam ser pron-
tamente deduzidas através de uma leitura induzida da Pa-
lavra e quais não poderiam. Por fim acabei abandonando
o sistema escatológico que me foi ensinado na igreja, per-
cebendo que, em minha opinião, ele não era biblicamente
bem fundamentado.
A questão que enfrentamos, então, é esta: poderia al-
guém se tornar pré-milenista baseado num estudo exaus-
tivo e repetitivo das Escrituras? Ou um amilenista? Ou um

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MIL ANOS COM JESUS

pós-milenista? Aí está o verdadeiro debate e, se pudermos


não gerar divisões por causa da escatologia, continua sen-
do pertinente perguntar: se eu nunca tivesse ouvido falar
desses sistemas de crença e houvesse lido a Bíblia de capa a
capa, de forma indutiva e dedutiva, eu esperaria um reino
divino literal na terra quando Jesus retornar, um reino que
tem Israel como centro? Pessoalmente, eu creio que a res-
posta é sim, embora, novamente, eu não julgue a sinceri-
dade ou devoção ou nível acadêmico daqueles que discor-
dam de mim neste assunto. Eu simplesmente creio, após
mais de quarenta e cinco anos lendo as Escrituras, que esta
é a interpretação mais natural do testemunho bíblico. Esta
também foi a crença mais adotada entre os discípulos dos
apóstolos, como Matthew demonstra habilmente na parte
final do livro.
Posso encorajá-lo a testar essa tese enquanto lê as pá-
ginas a seguir? A cada texto citado, pergunte a si mesmo:
“Matthew está abordando este texto da forma correta? Ele
está extraindo do texto algo que não está ali, ou está deixan-
do o texto falar por si mesmo? Ele está forçando uma com-
preensão preconcebida ou está extraindo seu entendimento
do texto? Os autores das Escrituras ficariam surpresos com
a forma como ele lida com o que eles escreveram ou prova-
velmente afirmariam que o que ele diz é exatamente o que
eles estavam querendo dizer?”
O que pode ser revelador para os leitores que não ado-
tam uma leitura pré-milenista das Escrituras é: 1) quantos
versículos falam da questão do futuro reino terreno do Mes-
sias, o reino vindouro de Deus; e 2) o quanto os escritores
do Novo Testamento reforçam essa visão ao invés de negá-la
ou modificá-la. Sim, Jesus, o Messias, retornará, e reinará a

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P r e fá c i o

partir de Jerusalém por 1.000 anos antes de entrarmos no


eterno e perfeito reino de Deus.
Esse reino terreno representa um passo atrás da morte
expiatória de Jesus na cruz? Por quê? Jesus é tanto o Messias
de Israel, quanto o Salvador do mundo (na verdade, Ele é o
Salvador somente porque é o Messias), e Ele não veio para
abolir a Torá ou os profetas (Mateus 5:17), mas sim para
cumprir. Somos salvos do pecado por sua morte e, quan-
do Ele voltar, nos ressuscitará e reinaremos junto com Ele,
quando Deus cumprir as palavras dos profetas.
Quanto à presença de sacrifícios de animais no futuro
Templo milenar - geralmente o maior obstáculo à crença
no pré-milenismo -, a abordagem de Matthew é novamen-
te direta. Primeiro, ele argumenta que não é apenas Eze-
quiel quem fala de futuros sacrifícios (nos capítulos 40–48),
mas também Isaías, Jeremias, Zacarias e Malaquias. Segun-
do, ele aponta que os sacrifícios de animais nunca poderiam
realizar o que a cruz realizou, portanto, qualquer que seja o
papel deles no futuro (seja como memorial ou outra finali-
dade), de forma alguma se oporão, minimizarão ou negarão
a finalidade da morte expiatória de Jesus.
Existe espaço para debate sobre estas questões? Claro
que existe. Mas, novamente, o que será revelador para muitos
leitores é a consistência do testemunho bíblico sobre alguns
desses assuntos controversos. Os profetas quiseram dizer lite-
ralmente o que disseram, ou o significado de seus textos deve
ser inteiramente espiritualizado em todas as passagens?
Quanto ao conceito escatológico do “já e ainda não”, acre-
dito que o Novo Testamento ensina claramente que, em certo
sentido, o governo de Deus (ou seja, o reino de Deus) invadiu
poderosamente a presente era, e esse reino avança onde quer

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MIL ANOS COM JESUS

que o evangelho faça recuar os poderes das trevas (Lc 10:8–9).


Há algumas dimensões inteiramente espirituais do reino de
Deus das quais podemos desfrutar aqui e agora (Rm 14:17).
No entanto, o próprio fato de ainda orarmos pela vinda do
reino e para que a vontade de Deus seja feita na terra como
no céu (Mt 6:9–13) nos lembra que, num sentido muito real,
o reino ainda não veio. Além disso, está claro que muitas das
palavras dos profetas que apontavam para o sublime reino do
Senhor ainda não se cumpriram. Como o professor D.A. Car-
son observou em um de seus comentários bíblicos, quem lê
as palavras da oração do Pai Nosso no Evangelho de Mateus
“percebe que o reino já invadiu esta realidade e ora para que
ele se estenda, bem como por sua manifestação não qualificada”
(grifo meu). É o propósito deste livro explorar o reino de Deus
em “suas manifestações não qualificadas” e desafiar cada leitor
a examinar as evidências das Escrituras novamente.
Uma última nota. Muitos críticos do pré-milenismo,
que têm como fundamento inabalável a veracidade das pro-
messas de Deus para Israel, rejeitam este sistema porque as-
sociam-no ao dispensacionalismo, uma doutrina formulada
mais recentemente que a Igreja primitiva desconhecia. O
leitor deve saber que não há uma sílaba neste livro que exija
a crença num arrebatamento anterior à grande tribulação
ou quaisquer outros traços da doutrina dispensacionalista.
O sistema escatológico pré-milenista deve ser avaliado por
seus próprios termos, e aqui, em linguagem clara e simples,
Matthew Ervin expôs os embasamentos bíblicos desse siste-
ma para que todos possam examinar e avaliar. Que sigamos
a verdade das Escrituras, aonde quer que ela nos conduza.

Michael L. Brown, PhD

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Capítulo 1
O TEMPO ESTÁ VINDO

E
stá chegando o tempo em que o mundo mudará
radicalmente para melhor. Quando isso acontecer,
essa nova realidade durará mil anos, começando pe-
las ressurreições, primeiro dos justos e depois dos injustos.
Satanás será acorrentado no abismo, não estará mais livre
para influenciar as nações. Os santos reinarão ao lado do
Rei dos Reis, Jesus Cristo. Este é um tempo que começará
após o retorno do Messias e terminará com a derrota total
de Satanás e o julgamento dos pecadores. Este será o ápice
da história, uma transição do mundo caído para a perfeição
da realidade eterna. Este tempo é conhecido como o Milê-
nio. Esses detalhes definem o que chamamos de Pré-mile-
nismo, o que significa que o Messias deve voltar antes do
início dos mil anos. Aqueles que afirmam essa doutrina são

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MIL ANOS COM JESUS

chamados de pré-milenistas. Esta era futura era conhecida


pelos hebreus como a Era Messiânica e o Reino Messiânico.
A passagem fundamental para a compreensão do Milê-
nio é Apocalipse 20:1-7:
Vi descer do céu um anjo com a chave do abismo e
uma grande corrente na mão. Ele prendeu o dragão,
a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amar-
rou por mil anos. Lançou-o no abismo, onde o fechou
e pôs um selo sobre ele, para que não enganasse mais
as nações, até que os mil anos se completassem. De-
pois disso é necessário que ele seja solto por um pouco
de tempo. Então, vi alguns tronos, e foi dado o poder
de julgar aos que neles se assentaram; e vi as almas
dos que foram degolados por causa do testemunho
de Jesus e da palavra de Deus, os que não adoraram
a besta nem a sua imagem e não receberam o sinal
na testa nem nas mãos. Eles reviveram e reinaram
com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos
não reviveram, até que se completassem os mil anos.
Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e
santo é o que participa da primeira ressurreição! A
segunda morte não tem poder sobre eles, mas serão
sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele du-
rante os mil anos. Quando se completarem os mil
anos, Satanás será solto da prisão.

Os mil anos são mencionados seis vezes em apenas sete


versículos. A especificação do período de tempo é a maior
contribuição presente em Apocalipse 20 para nosso conhe-
cimento sobre o Reino Milenar.1 No entanto, é comum o

1 - Embora não seja dito de forma explícita, a duração do Milênio pode


ser verificada em Salmos 90:4 e em 2 Pedro 3:8

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O T e m p o E s tá V i n d o

equívoco de se dizer que esta passagem é o único lugar na


Bíblia onde o Milênio é mencionado. Na realidade, este é um
resumo do que pode ser encontrado ao longo das Escrituras.
A compreensão do Milênio faz com que a narrati-
va bíblica faça sentido como um todo. Ela ajuda a contar
a história das Escrituras. Dessa maneira, passagens difíceis
tornam-se mais fáceis de serem compreendidas e inseridas
na linha do tempo profética. Deus fez promessas em suas
alianças incondicionais, muitas das quais serão cumpridas
no Milênio. Israel finalmente perceberá seu destino como
líder das nações, num mundo que estará indo em direção
ao Éden. Santos ressurretos, incluindo alguns dos mais no-
táveis das Escrituras, ocuparão altos cargos com responsa-
bilidades igualmente elevadas reinando sob a autoridade do
Rei Jesus. Jerusalém será a capital do mundo, e no mesmo
lugar estará a casa do Messias, um enorme templo de onde
milagres fluirão. Por mais incríveis que sejam essas coisas,
o ponto principal do Milênio é a exaltação do Senhor Jesus.
Seu reino será demonstrado em contraste com um mundo
incrédulo, provando de uma vez por todas quem é superior.
Os salvos e os não salvos contemplarão o lugar de direito do
Messias como o soberano divino do universo.

INTERPRETANDO O MILÊNIO

A hermenêutica é a ciência da interpretação, particular-


mente das Escrituras. O uso da hermenêutica adequada é
especialmente importante para a compreensão da profecia
bíblica. Praticamente todas as principais divergências sobre
passagens proféticas são oriundas das diferenças nos méto-

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MIL ANOS COM JESUS

dos de interpretação. A hermenêutica aplicada neste livro é


literal, gramatical e histórica. É literal na medida em que as
palavras são compreendidas de acordo com seu significado
literal. Isso significa que a exegese é de suma importância,
enquanto a eisegese deve ser evitada. Exegese significa ex-
trair algo, e o resultado disso é que o leitor é informado pelo
texto. Eisegese significa trazer algo para dentro e impor uma
ideia ao texto, e como resultado ele é manipulado a fim de
transmitir um significado que as palavras e o contexto em si
nunca pretenderam transmitir. O aspecto gramatical signi-
fica que a gramática e o contexto são rigorosamente obser-
vados e expostos. O modo como as palavras e suas defini-
ções, as frases e sentenças se relacionam é cuidadosamente
examinado. A parte histórica da hermenêutica requer que o
leitor esteja atento ao público original para o qual o texto foi
escrito e ao cenário histórico. “O intérprete deve, portanto,
esforçar-se para deixar de lado o ponto de vista de seu pró-
prio tempo e transportar-se para a posição histórica de seu
autor, ver através de seus olhos, observar seu ambiente, sentir
com seu coração e captar sua emoção. Aqui observamos a
importância do termo interpretação histórico-gramatical”.2
A hermenêutica literal, gramatical e histórica é freqüente-
mente mencionada simplesmente como hermenêutica lite-
ral, como uma abreviação.
O uso dessa hermenêutica é apenas o senso comum
de que Deus deseja que sua palavra seja compreendida. Ele
não teria tentado enganar os que O ouvem (ver Nm 23:19;
Hb 6:17–18). Foi Satanás quem primeiro correspondeu à

2 - Terry, Biblical Hermeneutics, 231.

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O T e m p o E s tá V i n d o

clareza da palavra de Deus perguntando: “Deus realmen-


te disse isso?” (Gn 3:1). Uma interpretação legítima nunca
pode estar tão longe do significado literal a ponto de exigir
uma revelação especial ou fontes extra-bíblicas para ser de-
cifrada. Assim, a hermenêutica literal é materialmente in-
separável da Sola Scriptura. Desviar-se do método faz com
que cada leitor do texto formule uma interpretação distinta
sobre ele. Tudo o que você precisa fazer é observar o que
alguns comentários não literais dizem sobre o significado de
passagens como Isaías 11, Ezequiel 47 ou Zacarias 14 para
testemunhar a absoluta falta de consenso. Por outro lado, os
comentários literais são surpreendentemente coerentes uns
com os outros.
O fato de que a hermenêutica correta é literal numa
abordagem geral, não significa que tudo deva ser tomado
literalmente. Ninguém que leia as Escrituras de forma literal
pensaria que Jesus tem dobradiças porque é a porta (Jo 10:9)
ou que tem folhas porque é a videira verdadeira (Jo 15:1).
No entanto, os críticos do Pré-milenismo frequentemente
acusam aqueles que o ensinam de tomarem as Escrituras
de forma excessivamente literal. “A simples verdade é que
nem um único autor milenista, desde os dias dos apóstolos
até hoje, mantém essa opinião; todos eles, sem exceção, re-
conhecem totalmente símbolos, tipos e figuras de linguagem,
observam suas peculiaridades e as distinguem do que é es-
tritamente literal”.3 Frequentemente outras passagens do
mesmo texto nos explicam o que os diversos símbolos sig-
nificam. Por exemplo, em Daniel 7 o profeta recebeu uma

3 - Peters, Theocratic Kingdom, 63.

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MIL ANOS COM JESUS

visão simbólica de quatro bestas. Posteriormente no mesmo


capítulo, o significado dos símbolos é interpretado. O livro
do Apocalipse está cheio de símbolos, e fica claro quando
eles estão sendo usados. O texto nos diz diretamente o que
significam os símbolos (por exemplo, Ap 1:16, 20) ou eles
são emprestados de profecias anteriores com as quais os
seus destinatários estavam bem familiarizados. Interpretar
as Escrituras a partir das próprias Escrituras, incluindo sím-
bolos, ilustrações e figuras de linguagem, é uma parte im-
portante da hermenêutica literal.
Talvez a maior virtude da hermenêutica literal seja que
ela conduz ao conhecimento genuíno das coisas espirituais.
As Escrituras têm um significado espiritual somente porque
têm um significado literal. As bênçãos espirituais vieram
por causa da morte literal de Jesus na cruz e de sua ressur-
reição literal. Ignorar o significado literal do texto em prol
de um significado “espiritual” oculto impede que verdades
espirituais sejam aprendidas.

A REGRA DO PROFETA VERDADEIRO

As Escrituras prescrevem a hermenêutica literal. Isso pode


ser verificado em alguns lugares como Deuteronômio
18:21-22:
Se vocês pensarem: “Como conheceremos a palavra
que o SENHOR não falou?”, saibam que, quando
esse profeta falar em nome do SENHOR, e a pala-
vra dele não se cumprir, nem acontecer o que ele
profetizou, esta é uma palavra que o SENHOR não
falou. Tal profeta falou isso com presunção; não te-
nham medo dele.

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O T e m p o E s tá V i n d o

Os profetas eram expostos como sendo falsos quando


suas profecias não se cumpriam. Esses falsos profetas não
podiam justificar suas falhas identificando-as como meras
alegorias ou mensagens espiritualizadas nebulosas. Os fal-
sos profetas eram tão prejudiciais que deveriam ser execu-
tados (Dt 18:20; 13:1-5). Se uma palavra profética realmente
viesse do SENHOR, ela seria cumprida exatamente como
foi declarada. Este é o selo de aprovação de um verdadeiro
profeta. Certamente Deus projeta sobre si mesmo o mesmo
padrão, ou um mais elevado do que impõe aos seus profetas.
Se o SENHOR diz que algo é a sua palavra, então devemos
esperar que signifique exatamente o que diz significar de
acordo com uma leitura normal. Esta é a regra de interpre-
tação do profeta verdadeiro. Sua aplicação consistente reve-
la fatos incríveis e inspiradores sobre o Milênio.

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