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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ACRE

INFORMÁTICA PARA INTERNET

DANIEL HENRIQUE ARAUJO DO NASCIMENTO


MYCHELLE KETLEN FALK ROCHA
THIAGO EDUARDO PINHEIRO DA SILVA
WESLLEY ALEXANDRE RODRIGUES ANASTÁCIO

ATIVIDADE SOBRE O PRÉ-MODERNISMO

RIO BRANCO - ACRE


2021
1. Leia um trecho de Os sertões, de Euclides da Cunha.
Na descrição da vila de canudos e dos sertanejos que para lá se dirigiam, o leitor toma
conhecimento de um dos fatores determinantes do conflito: a vida de sofrimento e privações
no interior do sertão brasileiro.

Aspecto original

A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado novo
surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe,
desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas
quebradas, revolto nos pendores — tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo
houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto. [...]
Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas
eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo
ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna
escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre
a caverna primitiva e a casa. [...] O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza
repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da
raça.
[...] Vinham [as caravanas de fiéis] de todos os pontos, carregando os haveres
todos; e, transpostas as últimas voltas do caminho, quando divisavam o campanário
humilde da antiga Capela, caíam genuflexos sobre o chão aspérrimo. Estava atingido o
termo da romagem. Estavam salvos da pavorosa hecatombe, que vaticinavam as profecias
do evangelizador. Pisavam, afinal, a terra da promissão — Canaã sagrada, que o Bom
Jesus isolara do resto do mundo por uma cintura de serras...

CUNHA, Euclides da. Os sertões. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. V.
2, p. 227-232. (Fragmento)

Urbs: em latim, cidade, capital.


Civitas: em latim, cidade, conjunto de cidades, raiz civilização. O termo é usado, no
trecho, com o sentido de civilização.
Cômoros: pequenas elevações de terreno.
Canhadas: planícies entre montanhas.
Pendores: rampas (declive ou aclive)
Atrium: em latim, átrio, sala principal.
Genuflexo: ajoelhados.
Termo da ramagem: fim da romaria.
Hecatombe: destruição, desgraça. No contexto da pregação de Antônio Conselheiro,
refere-se ao momento do Juízo Final, quando todos os fiéis serão julgados por Deus.
Canaã: na Bíblia, é a terra prometida ao povo escolhido por Deus. Lugar de fartura e
felicidades terrenas.

a) Como é descrito o povoado que está sendo construído pelos seguidores de Antônio
Conselheiro?
Resposta: Ele é descrito como já sendo uma ruína, que já "nascia velho", como uma cidade
arruinada por um terremoto.
2. Releia este trecho, observando os adjetivos destacados.

“Feitas de pau-a-pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram


paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo ao
mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna
escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre
a caverna primitiva e a casa.”

a) O que os adjetivos sugerem sobre as casas de Canudos?


Resposta: Sugerem que há um século nascia os sertões verdadeiros, verdadeiro
monumento da cultura literária brasileira.

b) No fim desse parágrafo, o narrador conclui que aquelas casas traduziam “mais do que a
miséria do homem, a decrepitude da raça”. Que relação há entre essa conclusão e a
comparação entre as casas romana e as habitações dos fiéis?
Resposta: A relação que existe é apenas em questão da estruturação das casas.

3. Depois de descrever o povoado, o narrador volta-se para as pessoas. Que motivações


elas tinham para ir até o povoado e ali ficar?
Resposta: Ele conta que o povo acreditava estar em Canaã, a terra sagrada, e por isso
estavam salvos da “hecatombe”.

a) Transcreva o trecho que comprove sua resposta.


Resposta: “Estavam salvos da pavorosa hecatombe, que vaticinavam as profecias do
evangelizador. Pisavam, afinal, a terra da promissão — Canaã sagrada, que o Bom Jesus
isolara do resto do mundo por uma cintura de serras...”.

b) “Vinham de todos os pontos, carregando os haveres todos.” Essa frase oferece uma
importante pista sobre a condição social dos fiéis que mudam para Canudos. Que condição
é essa? Justifique com base no trecho.
Resposta: Seus modos de vida eram bem precários, então é possível que quando ele fala
“Vinham de todos os pontos, carregando os haveres todos.” ele tivesse falando da própria
existência deles.

4. Que explicação o texto dá para o fato de, mesmo chegando “estropeados”, os romeiros
estão felizes?
Resposta: Porque finalmente chegaram à Canaã, terra prometida por Deus, e estavam
livres da “pavorosa hecatombe”, que vaticinavam as profecias do evangelizador.
TEXTO PARA ANÁLISE

➢ Leia os textos a seguir para responder às questões de 1 a 4.

Dois olhares para o mesmo conflito


Os textos a seguir apresentam duas visões diferentes sobre a Guerra de Canudos

Euclides da Cunha, no final de Os sertões, Já Olavo Bilac, escrevendo sobre o mesmo


registrava: episódio comemorava:

[...] Canudos não se rendeu. Exemplo único em Enfim, arrasada a cidade maldita! Enfim,
toda a história, resistiu até o esgotamento dominado o antro negro, cavalo no centro do
completo. Expugnado palmo a palmo, [...] caiu adusto sertão, onde o Profeta das longas
no dia 5, ao entardecer, quando caíram os barbas sujas concentrava sua força diabólica,
últimos defensores, que todos morreram. Eram feita de fé e de patifaria, alimentada pela
quatro apenas: um velho, dois homens feitos e superstição e pela rapinagem” [...]
uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados. BILAC, Olavo. Cidadela maldita. In: Vossa
Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia
CUNHA, Euclides da. Os sertões. In: Obra das Letras, 1996. p. 412. (Fragmento)
Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
v. 2, p. 513. (Fragmento)

.......................................................................................................................................

1. Que visão cada texto manifesta sobre o episódio?


Resposta: Euclides descreveu os membros da comunidade sócio-religiosa como guerreiros
por terem lutado e resistido ao Exército até o fim, não se rendendo à eles. Adverso ao autor
de “Os Sertões”, Olavo Bilac comemorou a vitória do Exército, já que acreditava que
Antônio Conselheiro enganava seus fiéis.

2. Transcreva as expressões utilizadas por Olavo Bilac em seu texto para caracterizar a vila
de Canudo e Antônio Conselheiro.
Resposta: Olavo descreveu a vila como maldita, um antro negro e adusta. E caracterizou
Antônio Conselheiro como Profeta das longas barbas sujas, em que eram concentradas as
forças diabólicas, as quais eram feitas de fé e patifaria.

a) Que juízo de valor está associado a elas? Explique.


Resposta: Olavo Bilac manifestava sua revolta contra a comunidade sócio-religiosa por
meio do julgamento, utilizando adjetivos pejorativos para descrever a cidade e ao líder do
movimento(cidade maldita, antro negro e barbas sujas concentradas de forças diabólicas
são exemplos).

3. O que pode explicar duas visões tão diferentes a respeito de um mesmo acontecimento
histórico?
Resposta: Depende dos ideais e da cultura de quem está analisando o acontecimento
histórico. Por exemplo, na situação hipotética de que Euclides da Cunha fosse católico, ele
defenderia os seus irmãos da fé e os colocaria como heróis. E, caso Olavo Bilac fosse
intolerante religioso, ele condenaria os fiéis e comemoraria sua derrota. Descartando a
hipótese e encarando os fatos, os dois escritores possuíam ideais distintos entre si, logo,
opiniões diferentes.

4. Os dois textos citados circularam em jornais da época. Que repercussão a apresentação


de duas visões tão distintas pode ter tido sobre os leitores da época? Os dois textos podem
ter contribuído para a polarização de opiniões da população a respeito do conflito? Explique.
Resposta: Inegavelmente os meios de comunicação possuem grande influência na
formação da opinião das pessoas, tanto para algo ruim quanto para algo bom. As pessoas
que leram primeiro o texto de Olavo Bilac podem ter sido influenciadas a verem o
movimento como algo negativo, “fechando a mente” para a visão de Euclides da Cunha,
que via o povo como heróis da história. Já quem leu primeiro o texto do autor de “Os
Sertões”, pode ter sido motivado a concordar que os fiéis eram os “mocinhos da história” e o
Exército, os vilões. Os pontos de vista muito distintos acarretou a polarização de opiniões
na população, já que, como foi citado anteriormente, depende dos ideais de quem está
analisando o acontecimento histórico.

V
A afilhada

Acusado de traição, Policarpo Quaresma espera pela morte e reflete com amargura sobre o
nacionalismo ingênuo que o impediu de ver o verdadeiro país que tanto defendeu.

[...] Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua
vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la
muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara sua mocidade
nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava,
como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. [...]
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de
estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em
que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O
importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi, do
folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação?
Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à
loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era
fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera
combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele
não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra
decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de
decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do
seu gabinete. [...]
Contudo, quem sabe se os outros que lhe seguissem as pegadas não seriam mais
felizes? E logo respondeu a si mesmo: mas como? Se não se fizera comunicar, se nada
dissera e não prendera o seu sonho, dando-lhe corpo e substância?
E esse seguimento adiantaria alguma coisa? E essa continuidade traria enfim para a
terra alguma felicidade? Há quantos anos vidas mais valiosas que a dele se vinham
oferecendo, sacrificando e as cousas ficaram na mesma, a terra na mesma miséria, na
mesma opressão, na mesma tristeza. [...]

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. In: VASCONCELOS, Eliane (Org.).
Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p. 404-405. (Fragmento)

1. O trecho apresenta dois retratos de Policarpo: o que caracterizou a sua vida e aquele que
surge diante da morte. Quais são as características de cada retrato?
Resposta: O retrato que caracterizou a vida de Policarpo é composto pelo patriotismo, pela
admiração que tinha pelo país, a qual o trouxe diversas decepções.
Já o retrato na morte foi a idealização sendo desfeita, e o arrependimento por ter deixado o
patriotismo apagar sua felicidade, e nem, ao menos, ter deixado um legado.

a) Ao refletir sobre sua trajetória, o protagonista se dá conta do que fez em nome do


patriotismo. Quais foram suas ações?
Resposta: Durante a vida, por admiração a pátria, Policarpo aprendeu Tupi, aprender os
nomes dos heróis brasileiros, estudar os rios, as características da terra fértil (e tentar
realizar plantações nela, sem sucesso) e se tornar combatente, quem sabe para ser herói?
Entretanto, só se decepcionou com a terra que não gerava vida, as pessoas amargas, e a
efemeridade de seus feitos.

2. Qual a imagem idealizada que Policarpo tinha do povo brasileiro?


Resposta: Um povo doce, colaborativo.

3. Apesar de saber que a pátria que buscara era um mito, Policarpo ainda mostra
esperança de que sua trajetória e seu ideal não tenham sido em vão. Mas essa esperança
logo se desfaz. Explique por quê.
Resposta: Havia uma última esperança em Policarpo de que pelo menos alguém poderia
seguir seus traços, há uma quebra ao perceber que ele nunca deixou nada para ser
seguido, a qual foi atenuada, já que, para ele, de nada adiantaria o desperdício de outras
vidas, já que os costumes e decepções não mudariam.

a) A amargura da personagem é mais forte no trecho final do texto transcrito. Como sua
desesperança é apresentada no último parágrafo?
Resposta: Com exemplos de outras pessoas que também tentaram mudar algo no mundo
porém também morreram “sem concretizar seus sonhos”.

4. De que forma a transformação de Policarpo exemplifica a intenção dos pré-modernistas


de criar uma consciência crítica a respeito do Brasil?
Resposta: O pré-modernismo traz consigo uma visão crítica do país, em confronto com o
período do simbolismo, onde foram reforçados o patriotismo e representações nacionais.

Urupês
Na descrição de Jeca Tatu, Monteiro Lobato despe-o da idealização que, para ele, marcava
a representação da figura do caboclo.

[...] a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da
nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha no beiço,
uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e
sorna, nada a põe de pé.
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se
resumem todas as características da espécie. [...]
De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer
coisa com coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”,
imitado da mulher e da prole. Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar
um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras. [...]
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador,
Jeca lavrador, Jeca filósofo…
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre
coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão
e colher [...]
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e
nisto vai longe. [...]
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas,
nem horta, nem flores – nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o “tocarem” não ficará
nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a “criação” come;
porque... [...]
Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu,
coça a cabeça e cuspilha. – “Não paga a pena.” Todo o inconsciente filosofar do caboclo
grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas,
nem comodidades. De qualquer jeito se vive. [...]

LOBATO, Monteiro. Urupês. 37. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 166-170. (Fragmento)
Sorna: indolente, preguiçosa.
Piraquara: pessoa que vive no campo, caipira.
Epitome: síntese, resumo.
Entramam: confundem-se
Grulha: relativo a tagarelice, falatório.
Modorra: sonolência, apatia.

1. O narrador sugere que a figura do caboclo é idealizada indevidamente. Transcreva o


trecho em que isso aparece.
Resposta: “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!”

a) Explique por que o narrador critica essa idealização.


Resposta: Ele critica porque o personagem não tem atributo real que leve a essa
idealização.
2. Releia:
“Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca
lavrador, Jeca filósofo...”

a) De que maneira, no trecho destacado, o narrador demonstra a imagem “bonita” que a


personagem adquire nos romances?
Resposta: A imagem bonita é da personagem que vive pela natureza e do que ela
proporciona.

b) De acordo com o texto, como é o Jeca Tatu na realidade?


Resposta: Ele vive da natureza, mesmo esse modo de vida sendo um conformismo e não
uma escolha dele e também não se esforça muito porque de qualquer maneira se vive.

3. Essa caracterização do caboclo, vista por muitos como preconceituosa, valeu inúmeras
críticas a Monteiro Lobato. Como a imagem do caboclo no texto denota, de fato,
preconceito? Justifique sua resposta.
Resposta: Através das características do caboclo; preconceito por raça; por extrair da terra
tudo o que ela tem oferecer até esgotar.

4. De que maneira a crítica à idealização do caboclo reflete um desejo de retratar um Brasil


mais “verdadeiro”?
Resposta: O autor defende que devemos parar de idealizar o caboclo e compreendamos
como é a realidade deles.

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