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PREFÁCIO

Este artigo sobre o avivamento morávio foi preparado e traduzido a partir


de vários artigos de uma revista americana denominada “Herald of His
Coming” (O Arauto da Sua Vinda). Este é o primeiro de uma série de
histórias de avivamentos que publicaremos de tempos em tempos. Deus tem
prometido na Sua Palavra um derramamento do Seu Espírito nos últimos
dias, e a preparação de uma igreja gloriosa para a vinda do nosso Senhor
Jesus Cristo. Ultimamente, Deus tem prometido através dos Seus profetas
um avivamento para a terra do Brasil, e está convocando o Seu povo à
oração intensiva para esse fim. Que esses relatos de avivamentos passados
em outros países possam transmitir aos intercessores nas igrejas
brasileiras uma visão mais clara e um peso mais profundo daquilo que Deus
tem prometido realizar na nossa terra hoje, em resposta à oração
perseverante.
J.W.

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SANGUE E FOGO: A História do Avivamento Morávio

ORAÇÃO TRAZ AVIVAMENTO

Se você ler a história de qualquer grande obra do Espírito Santo,


encontrará aí uma história de oração. Oração, no Espírito, foi o segredo
de todos os grandes avivamentos no passado — e será o segredo de todo o
poder de avivamento que vier sobre nós nestes dias.
Aproximadamente há 250 anos um grupo de discípulos rixentos,
contenciosos, discutidores e opiniosos, seguidores de Huss, Lutero,
Calvino e outros reformadores, fugindo das perseguições mortíferas
daquela época, achou asilo em Herrnhut, no patrimônio de um fidalgo
abastado, o Conde Zinzendorf, situado na Alemanha Oriental. Este grupo
tornar-se-ia conhecido como os “morávios” em conseqüência do fato de uma
parte deles ter saído da província de Morávia, na Tchecoslováquia.
Embora fossem protegidos ali do mundo exterior, quem haveria de
protegê-los das suas próprias paixões religiosas que ameaçavam destruí-
los? Como poderiam se unir em fé e amor esses cristãos contenciosos que
acabavam de achar um esconderijo no patrimônio do Conde Zinzendorf?
Aparentemente era uma tarefa completamente impossível.
Contudo, oraram! No dia 5 de agosto de 1727, alguns desses irmãos
passaram a noite toda em oração. A oração os levou a elaborar uma Aliança
Fraternal a fim de “procurar e enfatizar os pontos em que concordassem” e
não salientar as suas diferenças.
O amor fraternal e a unidade em Cristo seriam as correntes douradas
que os ligariam uns aos outros. Todos os membros da comunidade apertaram
as mãos uns dos outros e se comprometeram a obedecer os estatutos da
Aliança. Aquele dia foi o princípio de uma nova vida para eles.
No diário deles está escrito:
Neste dia o Conde, fez uma aliança com o Senhor. Os irmãos
prometeram, um por um, que seriam verdadeiros seguidores do Salvador.
Vontade própria, amor próprio, desobediência — eles se despediram de tudo
isso. Procurariam ser pobres de espírito; ninguém deveria buscar seu
próprio interesse; cada um se entregaria para ser ensinado pelo Espírito
Santo. Pela operação poderosa da graça de Deus, todos foram não somente
convencidos, mas arrastados e dominados.
Depois de adotarem os estatutos e todos terem se comprometido a uma
vida de obediência e amor, o espírito de comunhão e oração foi
grandemente fortalecido. Desentendimentos, preconceitos, alienações
secretas, eram confessados e postos de lado. A oração muitas vezes tinha
tanto poder que aqueles que haviam apenas confessado sua disposição ou
aderido de boca para fora eram convencidas do pecado e compelidos
interiormente a mudar de vida ou a irem embora.
No domingo, 13 de agosto de 1727, mais ou menos ao meio-dia, numa
reunião onde se celebrava a ceia do Senhor, o poder e a benção de Deus
vieram de forma tão poderosa sobre o grupo inteiro que tanto o pastor
como o povo caíram juntos no pó diante de Deus e “nesse estado de mente
continuaram até a meia-noite, tomados em oracão e cântico, choro e
súplicas”.
O Senhor Jesus lhes apareceu como Cordeiro... levado ao matadouro;
traspassado pelas suas transgressões e moído pelas suas iniqüidades (Is
53:7, 5). Na presença divina do seu ensangüentado e expirante Senhor,

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eles se sentiam inundados na consciência do seu pecado e da graça do
Senhor ainda mais abundante. Suas controvérsias e rixas foram
silenciadas; suas paixões e orgulho foram crucificados — enquanto fitavam
atentamente as agonias do seu “Deus expirante”.
A oração os uniu. A oração trouxe-lhes um novo derramamento do
Espírito Santo; agora veremos como estas bênçãos, por sua vez, levavam-
nos a uma vida mais profunda de oração!
Depois daquele dia destacado de benção, o dia 13 de agosto de 1727,
em que o Espírito de graça e súplicas havia sido derramado sobre a
congregação em Herrnhut, surgiu o pensamento em alguns irmãos e irmãs de
que seria bom separar horas determinadas para o propósito de oração,
tempos em que todos pudessem ser relembrados do seu grande valor e
incitados pelas promessas que acompanham a oração fervorosa a derramar os
seus corações diante do Senhor.
Além disso, consideraram importante que, assim como nos dias da
Velha Aliança nunca se permitiu que o fogo sagrado se apagasse no altar
(Lv 6:12, 13), da mesma forma numa congregação que é o templo do Deus
vivo, na qual Ele tem Seu altar e Seu fogo, a intercessão dos Seus santos
deverá subir incessantemente a Ele como um incenso santo (1 Co 3:16; 1 Ts
5:17; Sl 141:2; Lc 18:7; Ap 8: 3,4).
No dia 26 de agosto, vinte e quatro irmãos e o mesmo número de
irmãs se reuniram e fizeram entre si uma aliança de continuar em oração a
partir da meia-noite até na outra meia-noite, para isto repartindo as
vinte e quatro horas do dia por sorte entre eles.
No dia 27 de agosto, este novo regulamento entrou em vigor. Outros
foram acrescentados a esse número de intercessores, passando a contar com
77 pessoas, e até mesmo as crianças iniciaram um plano semelhante a esse
entre elas. Os intercessores tinham uma reunião semanal na qual se lhes
fazia uma lista daquelas coisas que deveriam considerar como assuntos
especiais para a oração e para levar constantemente diante do Senhor.
As crianças todas sentiam um impulso sobremodo forte para a oração,
e era impossível ouvir suas súplicas infantis sem ser profundamente
comovido e tocado: Uma testemunha ocular diz:
Não posso explicar a causa do grande despertamento das crianças em
Herrnhut de outra maneira que não seja um maravilhoso derramamento do
Espírito de Deus sobre a congregação reunida naquela ocasião. O sopro do
Espírito atingia na quele tempo jovens e velhos igualmente.

INCENTIVO PARA EVANGELIZAÇÃO

Os quatro anos seguintes foram tempos de avivamento constante! A


vigilância cuidadosa mantida pelos presbíteros e superintendentes, o
tratamento fiel de almas individuais de acordo com suas necessidades
pessoais, a manutenção zelosa do espírito de amor fraternal, a contínua
vigilância em oração, fizeram das reuniões dos irmãos tempos de grande
alegria e bênção. Eram tempos de preparação para a obra de evangelização
mundial que estava para iniciar.
O bispo Hasse escreveu o seguinte:
Houve já em toda a história da igreja alguma reunião de oração tão
extraordinária como esta que, começando em 1727, continuou vinte e quatro
horas por dia, durante cem anos?
Oração deste calibre leva à ação. Neste caso, acendeu um desejo

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ardente de tornar a salvação de Cristo conhecida aos pagãos. Produziu o
início do movimento missionário atual. Daquela pequena comunidade rural
mais de cem missionários foram enviados num período de vinte e cinco
anos.
Este era o fruto de oração e união de coração sem precedentes. Não
era de se admirar dos resultados espirituais sem precedentes também que
sucederam. Daquela pequena aldeia de cristãos morávios saíram
missionários a todo canto do mundo, levando consigo o fogo do Espírito.
Qual era seu incentivo para o trabalho missionário no exterior?
Embora sempre reconhecessem a autoridade suprema da Grande Comissão (Mt
28:19), os irmãos morávios sempre enfatizaram como o seu maior incentivo
a verdade inspiradora encontrada em Isaias 53:3-12; fazendo assim o
sofrimento do Senhor o impulso e fonte de toda a sua atividade. Desta
profecia tiraram seu “brado de guerra” missionário; “Conquistar para o
Cordeiro que foi morto a recompensa dos Seus sofrimentos”.
Eles sentiam que deviam compensar o Senhor de alguma maneira pelos
terríveis sofrimentos que suportou quando efetuou a salvação deles. A
única maneira de retribuí-Lo é trazer-Lhe almas. Quando trazemos-Lhe as
almas perdidas, é a recompensa ou fruto do penoso trabalho da sua alma
(Is 53:11).

CONVERSÃO DE JOHN WESLEY

Em 1736 um grupo de morávios estava viajando num navio com destino


à América. Dois jovens ingleses, missionários anglicanos, estavam no
mesmo navio. Sobreveio sobre eles um terrível temporal e era iminente um
naufrágio. Leiamos o que um dos jovens, John Wesley, escreveu no seu
diário a respeito desse acontecimento:
Às sete horas fui procurar os morávios. Eu havia observado há muito
a profunda seriedade do seu comportamento. Davam provas incessantes da
sua verdadeira humildade em fazer aquelas tarefas servis para os demais
passageiros que nenhum de nós suportaria; eles procuravam nos servir
dessa forma e rejeitavam qualquer remuneração, dizendo que era bom para
os seus corações orgulhosos e que o seu querido Salvador havia feito
muito mais que isso por eles.
Cada dia que passava lhes dava oportunidade de demonstrar uma
meiguice que nenhuma injúria poderia desafiar. Se alguém os empurrasse,
batesse ou jogasse no chão, eles se levantavam e saiam; mas nunca se
ouviu qualquer queixa ou resposta nas suas bocas. Agora se apresentaria
uma oportunidade de ver se eles eram isentos do espírito de medo da mesma
forma que o eram do espírito de orgulho, ira e vingança.
No meio do salmo com que iniciaram a sua reunião, o mar se ergueu,
despedaçou a vela mestra, inundou o navio e as águas vieram jorrando
sobre o convés como se um grande abismo estivesse nos engolindo.
Irromperam-se terríveis gritos e uivos entre nós. Os morávios, porém
continuavam a cantar tranqüilamente.
Perguntei para um deles depois: “Você não estava com medo?” Ele
respondeu: “Graças a Deus, não”. Perguntei ainda: “Mas não estavam
amedrontadas as mulheres e crianças?” Ele respondeu brandamente: “Não,
nossas mulheres e crianças não têm medo da morte.”
Quando ele voltou à Inglaterra, escreveu:
Fui à América para converter os índios; mas quem há de me

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converter? Quem é que me libertará deste coração mau de incredulidade?
Tenho uma religião “de tempo bom”. Sei falar bem; sim, e tenho confiança
em mim mesmo quando não há perigo ao meu lado; mas venha a morte me
enfrentar e meu espírito já se perturba. Nem posso dizer: “O morrer é
lucro!”
Em Londres, Wesley procurou o conselho de um missionário morávio,
Peter Bohler, e logo após, converteu-se. Em menos de três semanas, ele
estava viajando para a Alemanha para conhecer o Conde Zinzendorf e passar
um período de tempo em Herrnhut.

A VIDA DO CONDE ZINZENDORF

O Conde Zinzendorf, preparado tão maravilhosamente por Deus para


treinar e guiar a jovem igreja no caminho missionário, era marcado acima
de tudo por um tenro, simples e apaixonado amor para o nosso Senhor
Jesus. Convertido com a idade de quatro anos, ele escreveu naquela época:
“Querido Salvador, sê meu e eu serei Teu”. Ele escolheu como o lema da
sua vida: “Tenho apenas uma paixão. É Jesus, Jesus somente”.
O amor expirante do Cordeiro de Deus havia conquistado e enchido o
seu coração; o amor que levou Jesus a morrer pelos pecadores havia
entrado na sua vida. Ele não tinha outro alvo a não ser viver e, se
preciso, morrer também por esses pecadores.
Quando ele se encarregou de cuidar dos morávios, aquele amor foi o
único motivo ao qual ele recorria, o único poder no qual ele confiava, o
único alvo para o qual ele procurava conquistar as suas vidas. O que o
ensinamento, argumentos e disciplina nunca alcançariam, necessários e
produtivos como fossem, o amor de Cristo realizou! Fundiu todos em um só
Corpo; implantou em todos o desejo de abandonar tudo que fosse pecado.
Inspirou a todos com o anseio de testificar de Jesus. Dispôs muitos a
sacrificar tudo — a fim de tornar aquele amor conhecido a outros,
alegrando dessa forma o coração de Jesus.
O Conde Zinzendorf aprendera cedo o segredo da oração eficaz. Ele
foi tão diligente em estabelecer círculos de oração que quando deixou o
colégio de Halle, aos dezesseis anos de idade, entregou ao professor
Francke uma lista de sete grupos de oração.

CARACTERÍSTICAS DOS MORÁVIOS

E os seguidores que Deus havia dado a Zinzendorf? O que havia neles


que os capacitava a tomarem a liderança das igrejas da Reforma? Em
primeiro lugar, havia aquele desprendimento e desligamento do mundo e das
suas esperanças, o poder de perseverança e resistência, a confiança
simples em Deus que a aflição e perseguição são destinadas a produzir.
Esses homens eram literalmente estrangeiros e peregrinos na terra. Eram
imbuídos do pensamento e espírito de sacrifício. Haviam aprendido a
suportar dureza e dificuldades e a olhar para Deus em cada problema.
Em cada detalhe das suas vidas -- no negócio, no lazer, no serviço
cristão, nos deveres civis — tomavam o Sermão da Montanha como lâmpada
para os seus pés. Consideravam o servir a Deus como o único motivo da
vida e faziam todas as demais coisas ocupar um plano de segunda
importância. Seus ministros e presbíteros deveriam supervisionar o
rebanho para averiguar se todos estavam realmente vivendo para a glória
de Deus. Todos deveriam formar uma única irmandade, auxiliando e

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encorajando-se mutuamente numa vida sossegada e piedosa.
No entanto havia algo mais que isso que emprestava a comunhão
desses irmãos seu poder tão maravilhoso. Era a intensidade da sua devoção
e dedicação coletiva e individual a Jesus Cristo, como o Cordeiro de Deus
que os comprara com o Seu sangue.
Toda a sua correção uns dos outros e a sua confissão voluntária do
pecado com o abandono do mesmo, vieram dessa fé no Cristo vivo, através
do qual acharam no seu coração a paz de Deus e a libertação do poder do
pecado.
Essa mesma fé os levava a aceitar, e a zelosamente guardar, sua
posição de pobres pecadores, salvos pela Sua graça, dia a dia. Essa fé,
cultivada e fortalecida diariamente pela comunhão na palavra, no cântico
e na oração, transformou-se no alvo das suas vidas. Essa fé os enchia com
tanto gozo que seus corações regozijavam no meio das maiores
dificuldades, na certeza triunfante de que seu Jesus, o Cordeiro que
morrera por eles, e que agora estava amando-os, salvando-os e guardando-
os, minuto por minuto, poderia também conquistar o coração mais
endurecido e estava disposto a abençoar até mesmo o mais vil pecador.
Em 1741 ocorreu algo que completou a organização da Igreja dos
Irmãos e que selou a sua característica central -- a devoção ao Senhor
Jesus. Leonardo Dober havia sido por alguns anos o principal presbítero
da igreja. Ele e alguns outros sentiam que seus dons peculiares o
capacitavam mais para outro tipo de ministério.
No entanto, a medida que os irmãos do sínodo olhavam em redor,
sentiam que seria difícil em extremo encontrar uma pessoa capaz de tomar
o seu lugar. No mesmo instante veio o pensamento a muitos que poderiam
pedir ao Salvador para ser o Presbítero Principal da Sua pequenina
igreja, e como resposta à oração, receberam a confiança de que Ele
aceitara o cargo.
Seu único desejo era que Ele fizesse tudo que o presbítero
principal fazia até aquela data -- que Ele os tomasse como a Sua
propriedade peculiar, que Ele Se preocupasse com cada membro
individualmente, e cuidasse de todas as suas necessidades. Prometeram
amar e honrá-Lo, dar-Lhe a confiança dos seus corações, e como crianças,
ser guiados pela Sua mente e vontade.
Era uma nova e aberta confissão do lugar que sempre haviam desejado
que Cristo ocupasse, não só na sua teologia e vidas pessoais, mas
especialmente na Sua igreja. A igreja havia chegado agora à maioridade.

CONCLUSÃO

A história da igreja dos morávios foi contada como um exemplo. Nos


primeiros vinte anos da sua existência ela realmente enviou maior numero
de missionários que toda a Igreja Protestante no mesmo período. Ela
somente, entre todas as igrejas, procurou realmente viver a verdade: “que
congregar a Cristo as almas pelas quais Ele morreu para salvar é o único
objetivo pela qual a Igreja existe”. Ela somente procurou ensinar e
treinar cada um dos seus membros a considerar como seu primeiro dever
para com Aquele que os amou: doar a sua vida para torná-Lo conhecido a
outros.
Podemos identificar quatro princípios básicos ensinados pelo
Espírito Santo nesta época da Sua grande operação:

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1. Que a igreja existe para estender o Reino de Deus em toda a
terra.
2. Que cada membro deve ser treinado e preparado para participar
deste propósito glorioso.
3. Que a experiência íntima do amor de Cristo é o poder que
capacita para este fim.
4. Que a oração é o segredo, a fonte, de tudo isto.
A “graça total” do nosso Senhor Jesus Cristo foi transmitida aos
irmãos morávios através de uma revelação do sangue do expirante Cordeiro
de Deus. O resultado foi o fogo do Espírito Santo, incendiando as suas
vidas numa “dedicação total” para a evangelização do mundo.
Oração organizada, intensiva, e perseverante trará hoje os mesmos
resultados que trouxe naquela época,
Que o Espírito Santo, nestes dias de restauração em que estamos
vivendo, faça-nos arder de amor e paixão pelo Senhor Jesus, e transforme-
nos numa igreja gloriosa que O manifeste plenamente; e que assim os
pecadores se convertam e se unam a esta comunhão de amor de Deus Pai que
temos no Seu Filho Jesus Cristo.

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