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Selma Pantoja
Professora de História da África Universidade de Brasília
tempos clássicos de uma imagem de seres degradados pelo excesso de calor. Apesar da
com monstros, embora ninguém duvidasse que era um inundo real. Na modernidade, os
O Brasil herdou parte desse imaginário e, mais do que isso, tomou parte nessa
construção imaginária no período colonial. E tanto isso é verdade que após o fim do
tráfico de escravos a imagem da África passou a ser, como disse o historiador brasileiro
a Sociedade Civil discutem a introdução, nos livros didáticos, nas escolas e nas
com a história do Brasil. O que reafirma que ainda a Imagem da África está tão distante
como os pólos.
abordagens da cultura negro-africana além das rela ções daquele continente com as
Américas e não só com o Brasil. Estudar a História da África faz parte do conhecimento
geral, universal. É como estudar História da América, da Europa e da Ásia. É preciso
estudar a África como um todo para entender, por exemplo, que o estudo da História da
outras partes do mundo. A partir daí, pode-se chegar a uma abordagem de uma História
da África por ela mesma, nas suas realidades e não por conta dos mitos criados do
exterior.
Se a história da África é importante para nos situar no mundo, outras faces de sua
imaginário especulativo de uma terra longínqua, com risco de mantermos uma visão do
continente tão distante como os pólos.
Contudo, é preciso acentuar que para, o chamado período moderno, onde se situa
o Brasil Colônia, o estudo do continente com o fenômeno da migração forçada dos
africanos é fator fundamental para se chegar a compreender historicamente a população
negra brasileira e a formação do nosso país. Mas a falta de historicidade, inclusive por
parte dos historiadores brasileiros, sobre o período do tráfico de escravos é frontal.
Como aceitar as noções gerais, tantas vezes veiculadas pelos livros, de que coube aos
europeus toda a iniciati va no tráfico de escravos sem nenhuma referência à posição
africana perante tão gigantesco acontecimento no continente negro? O tráfico negreiro
ainda é tratado de forma a ceder ao europeu o papel de único agente no comércio. Como
entender as diferentes posições políticas e económicas tomadas pela rainha Nzinga
Mbandi, no século XVII, nesse tráfico atlântico de escravos? O mundo africano naquele
momento é passado como um ambiente de constan tes guerras "tribais", tendo-se
aproveitado disto os europeus. Mais grave ainda é passar a noção de que toda a
população estava dispersa na floresta c portugueses, holandeses, ingleses etc. os
caçavam jogando-os em navios negreiros. Assim, também, o conhecimento da relação
entre África e Brasil nos séculos anteriores não possui suficiente noção histórica por
falta de conhecimento das dinâmicas das sociedades africanas, provocando nos alunos
noções de urna África estática, sem uma história interna própria, que foi 'despertada'
pelos europeus. A idéia de uma África a-histórica provocada peia colonização européia,
infelizmente, ainda é a predominante no nosso país.
acesso a textos básicos e a material que lhe permitam problematizar o conteúdo de suas
História africana corno um todo, o que parece ser o ponto de partida. Um estudo dessa
monta não considera somente pessoas que atravessaram oceanos mas que com elas
vieram idéias, modo de pensar c estar no inundo.
REFERÊNCIA