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do caráter. Basta ler as primeiras linhas do catecismo, para


ver nele mencionado o fim mais sublime que possa o
homem atingir, e para achar o incentivo mais eficaz para
realizá-lo em nós: "Estamos na terra para conhecer a Deus,
para amá-lo,
servi-lo, e mercermos destarte, alcançar a vida eterna".
Cada dia, tanto mais progredirás no caminho do teu
caráter, quanto mais conseguires avizinhar tua alma do
modelo sublime de todo caráter: Cristo.

Alegremo-nos, pois!

Gaudeamus igitur juvenes dum sumus. “Alegre mo-nos de


ser ainda jovens”, diz velho estribilho de estudantes. Tem
razão esse mote. A alegria pura é mais um meio de fortalecer
a vontade. É uma fonte de energia ativa e um preservativo do
pecado. Sempre achamos fácil aquilo que fazemos com
prazer.
A alegria é um raio de sol, e o raio de sol é sempre
portador duma energia vital; faz desaparecer o bolor,
podridão, o miasma. Uma nobre alegria emudece os baixos
instintos que nos quereriam arrastar ao pecado.
Mas, meu filho, toma bem cuidado, e não confundas a
"alegria" com o "prazer". É curioso ver como diferem as
concepções dos homens sobre este ponto. A alegria, para
muitos, é a embriaguez, é a bebida e a fumaça do tabaco, a
libertinagem, a preguiça, o passeio da moda, a algazarra,
etc. Não te modeles por eles. Para ti, a alegria devem ser os
bosques onde cantam as aves os prados floridos, o dever
cumprido concienciosamente
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e seguido de folguedos inocentes, todas essas pequenas


ocasiões de recolhimento que pontilham a vida dum jovem,
como a campina se junca de florinhas. A abelha suga o mel em
mil pequenos cálices. Sugar o mel de mil pequenas alegrias em
mil pequenas ocasiões, é uma das mais belas tarefas da arte de
viver.
Verdadeira e radiosa alegria só pode brotar duma
conciência pura. Quem tem qualquer coisa na conciência
tenta em vão ser alegre. A quem quiser achar prazer nas
coisas proibidas, no pecado, recomendo a lembrança deste
epitáfio que se acha no túmulo de um estudante num
cemitério de Bolonha: "O quam fragilis, nosce teipsum ruit
volúpias" — Aprende quanto é efêmero o prazer.
O jovem que se dá à embriagues, às orgias de uma noite
inteira, ao sono que se prolonga até á tarde; o que joga
dinheiro pela janela, o que fica na ociosidade, jamais
contribuirá para a prosperidade de seus pais. O pagão Sêneca
exprobra ao seu tempo produzir homens que trocam as
ocupações do dia e as da noite, e que, chegada a noite,
esfregam os olhos, após a embriaguez do dia que se acaba.
"Sunt qui officia lucis noctisque perverterin nec ante diducant
óculos hesterna graves crápula, quam adpetere nox coepit"
(Epist. mor. 105). Não estou bem certo se não se pode dizer
outro tanto de muitos moços de hoje!
São bem dignos de pena esses rapazes que passam seus anos
de estudos a divertir-se dia e noite, que se provam assim das
mais puras alegrias, que não têm nenhum nobre entusiasmo,
que desperdiçam um tempo precioso gastam loucamente o
dinheiro ganho pelos pais num tra-
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nova: está cheia de vigor, ávida de crescimento, estuante de


seiva! Contempla um jovem; para ele o mundo tem cada dia
aspectos novos; sua imaginação é viva, a memória fiel; ele se
rejubila com o presente, e constrói projetos miríficos para o
futuro! Planta e jovem se parecem; estão ambos túmidos de
vida e em plena floração primaveril!
E depois, a juventude é bela também, porque os mil
cuidados da existência ainda lhe não riscaram a alma.
Como?, protestas, mas eu tenho os meus problemas de
matemática, os meus exercícios de latim, os meus . ." — Ah!
meu filho, se nunca tivesses outros cuidados senão esses no
mundo, seria o paraíso! Sim o paraíso!
Porque não tens o direito de dizer que conheces os amargos da
vida, que já lhe provaste as aflições e os tormentos. Mas
quando falo duma juventude sem cuidados, não entendo dizer
uma juventude descuidada. Ausência de cuidados e descuido,
são dois termos que de modo algum significam, como muitos
imaginam, uma só e mesma coisa. E são esses que assim
pensam, que utilizam mal a juventude, desperdiçam com
leviandade incrível anos que nunca mais voltarão.
Entretanto, se não tirarmos proveito da nossa juventude
segundo o plano de Deus, no qual ela há-de ser tempo de
preparação para a idade madura, a idade dos frutos, — essa
juventude não passará de um sonho confuso, desalinhado,
seguido mais tarde de doloroso despertar. — Não te esqueças,
pois, filho, que a juventude passa tão depressa como o vento e
a flor: "Ut flos vel ventus, sic transit nostra juventus". Bem sei
que "mesmo o justo cai sete vezes", e que
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um jovem experimenta muita queda e muita recaída de ordem


moral. Isso é bem triste; mas é a sorte da humanidade, e não é
por causa disso que se fala duma juventude corrompida. Só
desespero do caráter que recua covardemente, sem lutar,
diante das más inclinações que a homem algum poupam; do
jovem que, embora côncio da imperfeição de sua alma, não
tem cuidado nenhum de melhorá-la, não toma a sério a
própria educação de si.
Meu ideal é o moço de caráter nobre e puro, que sabe
concentrar a sua verdade para a luta, por freio aos sentidos,
vencer a frouxidão e a moleza; o que, conhecendo o valor de
sua alma, única e imortal, não teme combater para
conservá-la pura, que cultiva o coração e a inteligência, e
sabe sorrir alegremente ante os labores mais difíceis. Meu
ideal é o estudante aplicadíssimo aos seus deveres,
fervorosíssimo na oração e cheio de entusiasmo no jogo.
Tu, que queres ser?

Que queres ser?

Sim, que queres ser? À primeira vista, pensarás, talvez,


que me esteja interessando pela escolha da tua carreira. Não;
não é isto. Não pergunto se queres ser médico ou negociante,
engenheiro ou sacerdote, advogado ou industrial. Onde quer
que vás, para onde te conduzam teus talentos, tua vocação, as
circunstâncias, tua categoria social, agora pouco importa.
Mas o que importa muito é que sejas um homem e que
cumpras o teu dever, na situação que tiveres escolhido.
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tentar no panteão dos ídolos modernos. Logo que saíres da


escola, sentiras também tu o sopro glacial do paganismo
contemporâneo passar sobre o ideal da tua alma juvenil. No
mundo, onde mutuamente se empurram e se esmagam para
avançar, achar-te-ás logo diant dum monte de erros e
preconceitos malsãos ante os quais tantos dos teus compatriotas
estarão de joelhos e como que em êxtase, - um panteão onde só
não terá lugar a adoração ao verdadeiro Deus.
E - quer queiras quer não - serás obrigado a penetrar neste
panteão, e a viver neste meio de novo paganismo. O teu dever
será então permaneceres firme e não te fazeres pagão também.
- Se levares a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo no peito e no
teu coração, se viveres segundo os princípios cristãos, se não te
envergonhares do teu crucifixo no meio dos teus companheiros
e de teus amigos, no teu ofício, na sociedade, e isso por toda a
tua existência, permanecerás cristão, irradiarás luz, a alegria, o
bom exemplo. E, assim, de moço de caráter, tornar-te-ás homem
de caráter

Uma triste noite de S. Silvestre

Jamais esqueças, filho, a verdade que te saltou aos olhos, a


cada página deste livro: em ti está oculto o maior dos tesouros,
tua alma única e imortal. A grande tarefa da tua vida terrena é
tornares bela, sublime, essa alma, a mais rica possível de nobres
qualidades. Para cada um de nós, a felicidade da vida eterna
depende do
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esforço que empregarmos neste mundo no aperfeiçoamento de


nossa alma.
Certamente já ouviste da ágave, essa planta singular que só
floresce de cem em cem anos, mas que dá uma flor de beleza
maravilhosa. Durante um século todo, ela se prepara para
esse belo dia, congrega suas forças, enfeita-se embeleza-se por
um trabalho íntimo e oculto. Um século todo! E, quando o
tempo é chegado, abre suas corolas inteiramente brancas, para
encanto dos que vêm ver o prodígio.
Pois bem, meu filho, deves também tornar-te uma ágave
florida. Deves empenhar todas as forças para atingir este
único e grande fim: desabrochar a flor do teu caráter! És uma
jovem árvore em pleno crescimento. . . um botão que procura
entreabrir-se. . . uma semente que quer amadurecer. Durante a
juventude, trabalha sem descanso a formar tua alma, a
cortar-lhe os brotos selvagens; reúne todos as energias para te
tornares um homem, de caráter tão puro e tão firme que até os
anjos do céu possam alegrar-se com ele.
Toda alma deve ser conquistada, e toda conquista é a preço
de luta . Os desejos da carne não se harmonizam com as nobres
aspirações da alma, e eis o combate que se trava. É a luta da
alma paia conquistar sua liberdade.
Quem deve reinar sobre mim? o corpo ou a alma? Quem
deve mandar? o senhor ou o servo? Quem deve empunhar o
leme, o capitão do navio ou o maquinista? Que caminho
tomará o batel de minha vida? Viajará à matroca, por entre
bancos de areia e rochedos submari-

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