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Texto da aula Aulas do curso

História da Igreja Antiga

Concílio de Calcedônia
No Concílio de Calcedônia, foram resolvidas as grandes questões cristológicas do século V. Por trás de
conceitos teológicos aparentemente simples estão escondidos os mistérios da nossa fé, o enigma de Cristo,
“consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade”.

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O que ditou o rumo das discussões teológicas no século V foi a Cristologia. Após as indagações
envolvendo a Trindade, no século IV, resolvidas pelos Concílios de Niceia e Constantinopla, os cristãos se
depararam com outra questão: como as naturezas divina e humana se relacionavam em Cristo. Dois
extremos foram escolhidos pelos hereges: ou se separavam totalmente as duas naturezas, a ponto de elas
ficarem justapostas; ou se juntavam demais, de modo a uma absorver a outra.

A heresia nestoriana, que adotou a primeira postura, foi condenada pelo Concílio de Éfeso, no ano de 431.
Neste Concílio, sobressaiu-se a figura de São Cirilo de Alexandria, que teve alguns de seus escritos
definidos como dogmáticos. Infelizmente, no fervor de defender a fé contra os nestorianos, Cirilo “carregou
nas tintas” e, em uma expressão infeliz, escreveu que em Jesus havia “μία φύσις – uma natureza”. Esse
deslize de Cirilo deu origem à heresia monofisita. Para explicar que “em Jesus havia uma natureza”, uns
diziam que a divindade tomara posse da humanidade, “como uma gota de mel diluída no oceano”; outros,
que a divindade se esvaziara na humanidade; outros advogavam uma espécie de mistura das naturezas; e
outros, ainda, ressuscitaram a heresia do apolinarismo, que dizia que a “alma” de Jesus era, na verdade, a
Sua divindade.

O sucessor de Cirilo no patriarcado de Alexandria, Dióscoro, tornou-se adepto desta heresia e um de seus
discípulos, Eutiques, monge de Constantinopla, conseguiu acesso junto à imperatriz Eudóxia e ao
imperador Teodósio II, colocando o monofisismo sob a proteção do poder real.

Flaviano, patriarca de Constantinopla, defensor da fé católica, em um ato de coragem, reuniu alguns bispos
e condenou Eutiques. Ao revés, Eutiques, novamente por influências políticas, conseguiu do imperador
Teodósio II a convocação de um concílio, em Éfeso, no ano de 449. Nesta reunião, o heresiarca conseguiu
mais uma condenação do nestorianismo – ainda defendido por Teodoreto de Cirro, por exemplo –, além de
sua própria reabilitação. No entanto, o que era para ser um concílio se revelou um verdadeiro conciliábulo: a
confusão instalou-se entre os presentes e o patriarca de Constantinopla acabou agredido e assassinado.

O Papa da época, São Leão Magno – que já havia escrito uma carta a Flaviano [1], explanando a fé católica e
condenando com clareza os erros de Eutiques –, quando tomou consciência das circunstâncias em que se
deu a reunião de Éfeso, chamou-a de “concílio de ladrões”. Consciente da gravidade do problema, Leão
pediu ao imperador Teodósio II que convocasse um Concílio, mas ele, sendo monofisita, não atendeu ao
apelo do Papa.

Com a morte de Teodósio, no entanto, sobem ao poder sua irmã Pulquéria e seu cunhado Marciano, que,
enfim, decidem atender ao pedido do Sumo Pontífice, convocando um Concílio para a cidade de Calcedônia
– hoje, a parte de Istambul que fica na Ásia –, no ano de 451. Ali, seiscentos bispos reunidos ouviram a
leitura do Tomus ad Flavianum, e, abismados com a sabedoria e a precisão teológica do Papa, exclamaram,
em uníssono: “Pedro falou por Leão”.

O símbolo de fé de Calcedônia [2] estabelece com bastante clareza a relação entre a divindade e a
humanidade de Cristo: Ele é “ομοούσιος τω πατρι – consubstancial ao Pai”, mas, também, “ομοούσιος ημιν –
consubstancial a nós”; n’Ele, há “uma só pessoa” (πρόσωπον) e “uma só hipóstase” (υπόστασιν); e as suas
duas naturezas se relacionam “inconfuse, immutabiliter, indivise, inseparabiliter – sem confusão, sem
mudança, sem divisão, sem separação”. Os dois primeiros advérbios refutam o monofisismo e os dois
últimos refutam o nestorianismo. Portanto, em Cristo há duas naturezas: unidas, sem se confundirem;
distintas, sem se separarem.

Por que esses conceitos são tão importantes? Por causa de suas consequências soteriológicas: se o
nestorianismo vencesse – ou seja, se em Cristo houvesse duas naturezas separadas –, não haveria
salvação, pois o abismo entre Deus e o homem continuaria existindo; ao mesmo tempo, se o monofisismo
tivesse prevalecido, uma das duas naturezas se teria aniquilado – ou Deus desapareceria, como acontece
no materialismo marxista, ou tudo se tornaria Deus, como acontece no panteísmo hegeliano. A fé cristã é
uma coisa totalmente diferente disso: ela crê na comunhão do homem com Deus, através da união
hipostática de Cristo.

Essas noções teológicas também são importantes para estudar e compreender uma série de dogmas
cristãos. Não é possível, por exemplo, compreender o sacerdócio, senão como participação no mistério da
união hipostática. A pessoa de Maria Santíssima também se relaciona em grande parte com esta realidade.
Por isso, o Concílio de Calcedônia é de uma importância fundamental para a fé católica.

Referências

1. Carta Lectis dilectionis tuae, ao bispo Flaviano de Constantinopla (“Tomus [I] Leonis”), 13 jun. 449: DS 290-295

2. 5ª sessão, 22 out. 451: Símbolo de fé de Calcedônia: DS 300-303

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