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27/12/2021 15:25 As três conversões e o “mundo” na Igreja

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Texto da aula Aulas do curso

Engenharia da Santidade

As três conversões e o “mundo” na Igreja


A Igreja sempre creu no chamado universal à santidade. Mas, em tempos recentes, esse chamado caiu em total
descrédito, com muitos passando a acreditar que entre Igreja e mundo não haveria mais fronteira alguma.

Nesta penúltima pregação de nosso retiro, Padre Paulo Ricardo denuncia os estragos da teologia moderna sobre
a missão dos cristãos e nos dá os fundamentos para uma autêntica vida de santidade, fazendo-nos voltar ao que
sempre foi a doutrina da Igreja a esse respeito: o caminho das três conversões.

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Façamos um breve resumo da pregação anterior antes de entrarmos nesta nova matéria.
Vimos que precisamos dedicar-nos radicalmente à oração íntima para chegarmos até as
Terceiras Moradas do castelo interior. As Primeiras Moradas correspondem à entrada no
castelo, ou seja, ao estado de graça que se adquire com o Batismo ou com a absolvição na
Confissão. As Segundas Moradas dizem respeito àquelas almas que se decidiram pela vida de
oração, ainda que isso muito custe. Finalmente, nas Terceiras Moradas habitam as almas que
começaram a ordenar suas paixões e afetos na direção das bem-aventuranças, buscando uma
vida séria de oração, ascese e apostolado.

Nas Terceiras Moradas, a alma sofre uma espécie de estancamento e não consegue mais
avançar para as fases posteriores. Essa alma já adquiriu um nível razoável de virtudes, mas
continua a procurar as próprias vontades. Trata-se de um período deplorável de oscilações e
contrariedades, que causam à pessoa uma verdadeira aflição de ânimo. “Dar-lhes conselho é
inútil”, explica Santa Teresa, “pois há anos trilham o caminho da virtude” e “acham que podem
ensinar aos outros e que têm razão de sobra para sentirem tanto seus males” (Terceiras
Moradas, II, 1). Santa Teresa mesmo viveu nessa morada por vinte anos.

Com efeito, a passagem para as Quartas Moradas depende de uma intervenção divina. Nessas
moradas, a alma deixa de ter vontade própria e adquire o chamado recolhimento infuso, isto é,
uma capacidade sobrenatural de recolher-se profundamente para falar com Deus. As almas de
quarta morada têm, além disso, uma caridade superior para suportar as contrariedades; elas
sofrem pacientemente todo e qualquer contratempo do dia a dia. Por isso, uma evidência de
que a pessoa se encontra nas Quartas Moradas é o seu testemunho diante das provações, e não
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necessariamente o tipo de oração que faz. Antes de entrar nas Quartas Moradas, Santa Teresa

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recebeu de Deus alguns dons místicos, pelo que seus diretores já a consideravam uma grande
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santa. Todavia, ela mesma reconhece que viveu durante muito tempo na fase purgativa,
mesmo manifestando grandes dons místicos.

A teologia mística divide a vida cristã comumente em três conversões ou fases: 1.º) a fase dos
principiantes, 2.º) a fase dos progredidos e 3.º) a fase dos perfeitos. Essas três conversões em
nada diferem daquilo que Santa Teresa fala sobre as Moradas. Trata-se apenas de outra
linguagem para dizer a mesma coisa. A fase dos principiantes corresponde, em linguagem
teresiana, às três primeiras moradas; a fase dos progredidos, às quartas e quintas moradas; e a
fase dos perfeitos, às sextas e sétimas moradas. Conforme o estágio de conversão da pessoa, os
pecados mortais se tornam raros, ao passo que os veniais e as imperfeições passam a ser
decididamente combatidos.

Na primeira conversão, a alma experimenta a via purgativa, de modo que seus afetos são todos
orientados para o Senhor. Na passagem para a quarta morada, ou segunda conversão, Deus
intervém e permite que essa alma passe pela noite escura dos sentidos. A partir desse
momento, a alma começa a viver a via iluminativa, sentindo que Deus a eleva para um amor
maior do que ela mesma pode oferecer. Deus age na sua vontade, fazendo com que a alma ame
com um amor que não é dela. Trata-se de um amor heróico. Na quinta morada, por sua vez,
Deus começa a agir no intelecto, preparando o coração da pessoa para a terceira conversão,
para a via unitiva, que consiste na união esponsal da alma humana com a Pessoa Divina de
Cristo. Essa união se dá por meio de uma noite escura da alma, uma purificação da vontade e
do intelecto — purificação severa —, que leva a alma para as Sextas Moradas, onde a pessoa já
não é mais capaz de pecar, pois tem o coração completamente unido ao de Jesus. As Sétimas
Moradas dependem de uma eleição divina.

A meta dos sacerdotes de Cristo é ajudar as almas a chegarem às mais altas moradas, cuidando
eles mesmos de elevarem as suas almas à grande união esponsal com Cristo. Todavia, a Igreja
atual passa por uma crise sem precedentes, que se espalhou por todo o “povo de Deus” logo
após o Concílio Vaticano II, ainda que este tenha declarado solenemente a doutrina sobre o
“chamado universal à santidade”. No período pré-conciliar, essa doença já se fazia notar aqui e
acolá, embora de maneira sorrateira. Depois do Concílio, porém, a crise se espalhou por todo o
Corpo de Cristo como uma verdadeira cizânia no meio do trigo. Trata-se da mundanização da
Igreja, que já não distingue mais o santo do profano, o sagrado do blasfemo, a pureza do
pecado.

A teoria do cristão anônimo de Karl Rahner derrubou as fronteiras da Igreja, introduzindo a


ideia de que todos, na verdade, são cristãos, sejam eles batizados ou não. Outros teólogos mais
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radicais, como João Batista Metz e Edward Schillebeeckx, chegaram a declarar que “o atual

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processo de dessacralização e secularização faz aquilo que antes aparecia como algo próprio e
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peculiar da Igreja (socorro aos pobres, obras caritativas etc.) passar a ser, em muitos pontos, a
forma própria de vida dos homens e do mundo”, mas o que notamos, ao contrário, é que aquilo
que antes aparecia como algo próprio e peculiar do mundo (aprovação ao aborto, uso de
anticoncepcionais, homossexualismo etc) passa a ser agora o modo de vida dos cristãos [1].

O Concílio Vaticano II falou em santidade, mas os seguidores daquele tal “espírito do Concílio”
proclamaram a paganização da Igreja. Toda essa nova mentalidade não deixaria de imprimir
caráter sobre a atividade missionária da Igreja. Agora não se fala mais em conversão, mas em
adaptação ao mundo. Os cristãos é que devem curvar a cabeça para o século e não o século
para a Igreja.

Ora, sem julgamentos e brigas desnecessárias, temos naturalmente de romper com essa
mentalidade e fazer como manda o Senhor ao profeta Jeremias: “Sustai vossos passos e
escutai; informai-vos sobre os caminhos de outrora, vede qual a senda da salvação; segui-a, e
encontrareis a quietude para vossas almas” (6, 16). Esses “caminhos de outrora” nada mais são
que os caminhos da oração e da busca da santidade. Por isso, os católicos de hoje precisam,
mais do que nunca, voltar à oração íntima, “ainda que o mundo venha abaixo” (Caminho de
Perfeição, XXI), pois disso depende a quietude para as suas almas.

Referências

1. Edouard Schillebeeckx, Iglesia y Humanidad, in: Concilium, 1, 1965, pp. 65-94.

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