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Até aqui o nosso espanto não foi excessivo porque este fim de século e o mundo
católico dito "progressista" já nos saturaram de extravagâncias, e já nos
embotaram a manifestação do espanto. A nossa preocupação começou a ganhar
dimensões de alarme quando vimos que o prudente hebdomadário "L'Homme
Nouveau", dirigido por Marcel Clement, enviou 7 representantes ao Congresso de
"renovação carismática" na Universidade Notre Dame, e que o próprio Marcel
Clement, no seu editorial de 1o. de Julho, não hesita em falar de "novo
Pentecostes" e de fazer este estranho pronunciamento:
"É uma realidade de Igreja. Equilibrada, serena, poderosa. Não se trata de
misticismo exaltado. É verdadeiramente o Espírito Santo que os invade e os faz
caminhar muito depressa até à única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo. "
A nós nos parece que depressa demais pronunciou-se o Prof. Marcel Clement,
como também nos parece incompreensível que se diga "cheminement très vite
jusqu'à la seule et veritable Église de Jesus Christ" de pessoas já nela inseridas
pelos sacramentos.
Prevemos o caminho de uma luta mais difícil do que as outras que até agora tivemos
de enfrentar porque todos terão pressa excessiva de marcar pontos positivos num
movimento em que os rapazes e as moças só dizem que querem rezar em
"comunidade carismática", porque receberam do próprio Espírito Santo, num novo
Pentecostes, dons maravilhosos que os tiraram dos mais profundos abismos e os
elevam à mais pura alegria. Quem quererá cobrir-se do negrume de todas as
antipatias para enfrentar tão maravilhosa transformação do mundo com um
mínimo de reserva ou de exigência?
Para encaminhar adequadamente a questão, amigo leitor, começo por lhe lembrar
alguns títulos que nos dão direitos a certas exigências. Somos um povo que há 2 mil
anos segue a pista de um Deus flagelado; pertencemos à forte raça daqueles
mártires que deram o sangue para testemunhar a verdadeira Religião e para
resistir a todas as fraudes; descendemos também daqueles outros que silenciaram
nos mosteiros os seus próprios sentimentos e as suas próprias emoções para deixar
que só o Espírito de Deus falasse por eles. Pertencemos a um Povo ainda mais
antigo que ouviu do próprio Deus o trovão de uma identidade absoluta:
"Eu sou aquele que sou", e o preceito da mais inquebrantável intolerância: "não
terás outro deus diante de minha face".
Tudo isto, amigo leitor, nos inclina a uma profunda aversão por tudo que pareça
equívoco, e que, em matéria de Religião, mais manifeste as turbulências da pobre
alma humana torturada por um mundo encandecido do que as grandezas de Deus
manifestas pelos Apóstolos no dia do único e verdadeiro Pentecostes.
Logo a seguir tentarei expor as razões que me levam a ver nesse movimento uma
nova feição da "revolução" que quer por vários processos destruir a Igreja.
Aqui trago apenas os títulos que me dão o direito de exprimir tais reservas, e que
me lembram o dever de as exprimir. Pecador e inútil servidor, pertenço todavia
àquela raça exigente. Sou homem de Igreja que só quer nela viver e nela morrer.
Vale a pena comparar esses textos sagrados com a narração de Irling Shelton, uma
das representantes de "L'Homme Nouveau" no congresso de Notre Dame:
"A oração perde seu ritualismo, seu formalismo, sua rotina. " (Por que rotina?) Sem
rejeitar completamente a oração ritual (...) a tônica é posta na espontaneidade (...)
"a expressão dessa efusão anterior pode então se acompanhar de movimentos da
sensibilidade. Cantam, riem, choram, batem as mãos, prosternam-se no chão ou
elevam os braços (...) Essas manifestações incontroladas da emotividade podem
degenerar em atitudes grotescas e até em histeria de grupo. Mas quando o líder (...)
controla bem seu grupo de orações, e sua emotividade, as manifestações sensíveis
da efusão do Espírito poderão aquecer os corações e servir de edificação para
todos".
Chamo a atenção do leitor católico alfabetizado na boa doutrina para a sem-
cerimônia com que a autora dessas linhas atribui tais efusões ao Espírito, em
vez de atribuí-las à Carne que costuma opor às obras do Espírito esse tipo
de exteriorização. Na sadia espiritualidade traçada na Igreja pelos santos
doutores aprendemos que os dons do Espírito Santo são recebidos por
todos desde o seu batismo, e sabemos também que a espontaneidade
sobrenatural é o chamado "modo dos dons" que opera nas almas
longamente trabalhadas, arduamente purgadas. Há uma espontaneidade
animal, sensível que precede a maturidade e a espiritualização. Qualquer
criança a possui. Mas a espontaneidade dos dons é uma longa conquista que
só os grandes santos atingem através da noite dos sentidos e da subida do
Carmelo.