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Texto da aula Aulas do curso

Terapia das Doenças Espirituais

A tristeza enquanto paixão


A tristeza é uma reação normal e sadia de todo ser humano às coisas más. Por que,
porém, o que deveria ser algo neutro acaba se transformando em uma realidade
perigosa e doentia em nossas vidas? Por que, mesmo enquanto sentimento, a tristeza
constitui uma espécie de desordem na humanidade? Como Cristo, suando sangue no
Horto das Oliveiras, redimiu a tristeza humana?

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Como já dito, o apetite sensível divide-se em duas faculdades: o


concupiscível, que diz respeito ao bem simplesmente considerado; e o
irascível, que se refere ao bem enquanto algo árduo. Importa dizer que o
homem só deseja o que ele avalia como bom – ainda que, objetivamente,
aquilo lhe possa fazer mal. Um dependente químico, por exemplo, só
quer as drogas porque ele as vê como um bem, embora elas sejam, de
fato, um mal.

Diante deste bem, duas reações opostas no apetite sensível são


possíveis: na sua presença, tem-se a alegria; na sua ausência, tem-se a
tristeza. Consideradas no aspecto sensível, essas duas reações são
realidades meramente passionais. Não há nelas, pois, nenhuma doença
ou virtude.
Por conta do pecado original, no entanto, a paixão da tristeza, que
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deveria ser moralmente neutra, assume um caráter doentio. Como
explicar isso?

Sabemos bem, por revelação divina, que Deus não tinha projetado o
homem para morrer. Adão, o primeiro homem, em estado de inocência,
era imortal e impassível [1]: o ser humano não foi designado nem para a
morte, nem para o sofrimento. Foi após a queda que as paixões da alma
começaram a manifestar-se desordenadamente no homem. Os nossos
primeiros pais, no Paraíso, não só não enfrentariam a morte, como não
se entristeciam, não sentiam dor e nem eram acometidos abruptamente
por manifestações passionais [2]. Os movimentos das paixões estavam
inteiramente submetidos à faculdade racional. Mas, por um castigo de
Deus (cf. Gn 3, 16-19), esse dom preternatural foi tirado do homem, com
vistas ao seu próprio bem.

O conteúdo das maldições divinas a Adão e Eva descreve sofrimentos


predominantemente exteriores ( dores, tratando de modo genérico):
"Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darás à luz os
filhos. (...) Amaldiçoado será o solo por tua causa. Com sofrimento
tirarás dele o alimento todos os dias de tua vida". A tristeza,
propriamente dita, diz respeito a uma espécie de dor, ensina Santo
Tomás de Aquino [3]: enquanto esta é causada pela mera apreensão
exterior, aquela é causada pela apreensão interior. Por isso, embora a
tristeza esteja presente na natureza dos animais, essa paixão, no ser
humano, assume o caráter de doença.

Para entender melhor essa realidade, vale considerar o que acontecia na


alma perfeítissima de Cristo com relação às paixões. Está nas Escrituras
que Ele, antes de morrer, padeceu a agonia no Horto, chegando a
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declarar que sua alma estava triste até a morte (cf. Mc 14, 34). Essa
tristeza se deu em Sua alma de modo livre, diferentemente do que
acontece conosco, que somos acometidos subitamente pelas paixões.
Ele escolheu livremente que as Suas paixões humanas se
manifestassem em Sua Paixão, a fim de que também elas fossem
remidas por Sua ação redentora, seguindo o já conhecido princípio de
que "quod non est assumptum, non est sanatum – o que não foi
assumido, não foi salvo". Preleciona, sobre isso, o Doutor Angélico:

"Deve-se saber que essas paixões existiram em Cristo de


maneira diferente do que em nós quanto a três aspectos.
Primeiro, quanto ao objeto. Em nós, essas paixões muitas vezes
tendem a coisas ilícitas, o que não acontecia em Cristo. Segundo,
quanto ao princípio. Em nós, essas paixões antecedem
frequentemente o juízo da razão; em Cristo, porém, todos os
movimentos do apetite sensitivo eram orientados segundo a
disposição da razão. Por isso diz Agostinho: 'Esses movimentos,
pela graça de uma disposição certíssima, Cristo acolheu quando
quis na alma humana, assim como se fez homem quando quis.' –
Terceiro, quanto ao efeito. Em nós esses movimentos algumas
vezes não se detêm no apetite sensitivo, mas arrastam consigo a
razão. Mas isso não sucedeu em Cristo, pois os movimentos que
convinham naturalmente à carne humana de tal modo
permaneciam, segundo sua disposição, no apetite sensitivo, que
a razão não era, de maneira alguma, impedida de fazer o que era
conveniente." [4]
No homem decaído, porém, as paixões se encontram de tal modo
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desordenadas que podem gerar um ciclo de autodestruição. Veja-se, e. g.,
esta explicação do Aquinate:

"Deve-se dizer que a própria dor pode ser deleitável,


acidentalmente, quando acompanhada de admiração, como nos
espetáculos; ou quando faz lembrar o ser amado e faz sentir o
amor daquele de cuja ausência sofre. Por isso, como o amor dá
prazer, a dor e tudo o que procede do amor, é deleitável enquanto
faz sentir o amor." [5]

Essas linhas podem servir de ajuda para diagnosticar o problema da


depressão. Os psicólogos modernos admitem que um indivíduo
irremediavelmente deprimido só chega à beira do abismo porque foi
seduzido por uma espécie de "recompensa": a pessoa sente um certo
prazer em sua tristeza. O depressivo transformou esse "ganho" em uma
droga e, embora o sofrimento o esteja destruindo, ele não deseja sair
desse ciclo de morte.

Essas considerações já se dirigem, de algum modo, ao que será abordado


nas próximas aulas, que é a doença da tristeza propriamente dita. A
princípio, porém, é importante olhar para a tristeza como simples
paixão.

Referências

1. Cf. Suma Teológica, I, q. 97, a. 1-2

2. Cf. Suma Teológica, I, q. 95, a. 2


3. Cf. Suma Teológica, I-II, q. 35, a. 2
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4. Suma Teológica, III, q. 15, a. 4

5. Suma Teológica, I-II, q. 35, a. 3, ad 2

Bibliografia

Suma Teológica, I-II, q. 35-39

Breve introdução ao estudo das Paixões em S. Tomás de Aquino (I), Padre João Batista
Costa e Silva, ORC

Breve introdução ao estudo das Paixões em S. Tomás de Aquino (II), Padre João
Batista Costa e Silva, ORC

The Passions of Christ's Soul in the Theology of St. Thomas Aquinas, Paul Gondreau

Thomas Aquinas on the Passions: A Study of Summa Theologiae, I-II, 22-48, Robert
Miner

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