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Avancemos

© Copyright 2022 por Márcio Almeida Marques


Editora Chara
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Lotes 190/200
n
Brasília – DF
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1a edição em português © 2022 Editora Chara – Dezembro de 2022.


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Direção geral: JB Carvalho


Publisher: Paulo Lins
Coordenação editorial: Lana Lopes
Revisores: Renata Marisa Kuhn e Eduardo José De Freire
Diagramação: Samuel Tabosa
Projeto gráfico e design de capa: Vinícius de Souza

Ficha Catalográfica

Marques, Márcio Almeida


M357 Avancemos; um modelo de discipulado cristão para homens
/ Márcio Almeida Marques. — Brasília: Editora Shilo, 2022.
192p.
ISBN: 978-65-997823-4-3

1. Vida cristã. 2. Espiritualidade. 3. Discipulado. 4. Família


cristã. I. Título.

CDD: 212.1
CDU: 231.11

Elaborada por: Maria Aparecida Costa Duarte – CRB/6- 1047


EndossOS

Avancemos! O chamado é para todos nós. É um privilégio, inclu-


sivo, fruto da graça e misericórdia do nosso Pai. Ouvir o chamado
e segui-lo é encontrar um significado para a vida, um sentido para
a caminhada, uma missão.
Em Avancemos, o amigo e pastor Márcio Marques traz um
exercício prático do chamado por meio de um discipulado, alicer-
çado em um caminhar que mira os passos de Cristo. No seio de
nossas famílias, no exercício das nossas profissões, no esporte e
cuidados físicos, na caridade, na dinâmica da vida: podemos avan-
çar, enquanto cuidamos uns dos outros e exercermos o chamado!
Há dois anos, tive a honra de iniciar minha vivência no discipu­
lado Avancemos. Minha vida foi transformada, assim como vidas
à minha volta também. Tenho mais consciência do meu papel e do
legado que estou construindo. Hoje, intencionalmente, afio e sou
afiado, enquanto avanço rumo ao Alvo (ver Filipenses 3:13-14).

Neudson Freitas
Aprendiz, Pesquisador, Marido, Pai e Executivo

MÁRCIO MARQUES É UM AMIGO e, com certeza, podemos espe-


rar coisas boas de bons amigos!!! Este livro irá auxiliar você a cons-
truir princípios e valores nessa caminhada desafiante que se chama
VIDA. Sem dúvida, um trabalho que enriquecerá a sua jornada diária.

Almir Lopes
Empresário por Profissão e Pastor por Vocação
Caro leitor, esta obra que você tem em mãos é um presente para
nós, cristãos. O Pr. Márcio Marques é um HOMEM posicionado
em DEUS, convicto, com um coração aquebrantado, forte, sensível
e generoso, que compreendeu o chamado e a missão de discipular
homens e transformar vidas e gerações.
Sou muito grato e testemunho que, por meio do seu discipu-
lado, a minha vida, a da minha família e as de futuras gerações
foram transformadas! Entregue-se a esta leitura e a sua vida terá
um novo caminho.

Gustavo Lara de Melo


Sócio-fundador da Gustavo Lara & Advogados Associados

Esse discipulado foi transformador em minha vida!!! A liderança


servil exercida pelo pastor e grande amigo Márcio Marques nos
revelou e materializou a essência do ministério de Jesus por meio
de uma entrega genuína e intensa em favor das nossas vidas.
Todas as dinâmicas que vivenciamos foram frutos de uma busca
profunda por Deus. A cada semana, aguardava ansiosamente pelo
momento de estarmos juntos, compartilhando temas preciosos para
a nossa caminhada cristã.
Muitos frutos foram gerados nesses preciosos momentos de
comunhão. Foi um tempo de crescimento espiritual, de desenvol-
vimento de laços de amizade e, principalmente, de fortalecimento
de vínculos familiares.
Para mim, esse tempo trouxe a certeza de que o discipulado não
só é importante para o desenvolvimento do nosso caráter em Cristo,
mas é, sobretudo, imprescindível para o aperfeiçoamento do corpo
de Cristo, para o qual somos chamados a sermos multiplicadores
dessa fundamental missão.

Cairo Cardoso Campos


Filho do Deus vivo, Esposo da Christiane, Pai da Helena e da Antonella,
Empresário em busca de cumprir seu propósito e Amante do esporte
O que dizer sobre o Avancemos? Uma obra-prima... um livro... um
movimento... um verbo...
Eu poderia ficar nos próximos parágrafos apenas descrevendo
o que é e o que poderia significar este conceito, mas prefiro tes-
temunhar, visto que fiz parte deste projeto. Foi surpreendente ter
sido moldado como uma matéria nas mãos de um homem honra-
do, fiel e determinado a transmitir os ensinamentos cristãos e de
hombridade, aos quais o irmão, amigo, pastor e exemplo de vida,
Márcio, foi escolhido e capacitado por Deus para essa tarefa. Ver a
transformação de tantos irmãos amados, pouco a pouco, dia após
dia, foi algo digno de se colocar no papel e, por que não, ver esta
obra se tornar um best-seller. Estejamos sempre prontos para o
próximo passo! Excelente trabalho, mano Márcio!
Avancemos!!!

Filipe Ribeiro
Cristão, marido, pai e médico veterinário

A trajetória e a história do amigo Márcio Marques fala sobre per-


severança, persistência, convicção e fé.
Posso falar com propriedade que, para ele, o acúmulo de co-
nhecimento, experiências e sabedoria não se trata de conquistas
pessoais, mas em como ele pode contribuir com seus amigos ou
qualquer pessoa que esteja disposta a aprender com suas lições de
vida, com tudo que Deus fez e tem feito na sua vida e na da sua
família.
Obrigado, amigo! A sua amizade nos inspira e nos encoraja.
Sou muito abençoado em tê-lo como amigo e irmão em Cristo Jesus.

Bruno Samed Arabi Lopes


Sócio-fundador da BSA empreendimentos imobiliários
Querido Pastor e irmão Márcio, estou muito feliz em ver o seu sonho
sendo realizado. Este livro é a materialização de um longo tempo
de estudo e experimento de tudo aquilo que Deus colocou no seu
coração e você foi a fundo para aprender, discernir e traduzir de
maneira clara e objetiva para todos nós.
Você é um grande exemplo de dedicação, competência e pron-
tidão para multiplicar todos os talentos que Deus entrega em suas
mãos. Tenho certeza de que este livro é um desses talentos e alcan-
çará muitas pessoas, tomando uma proporção inimaginável – é
nisso que eu creio e desejo!
Sou um dos 9 homens que tiveram o privilégio e a honra de par-
ticipar do seu primeiro grupo de discipulado, no qual você testou e
validou grande parte da metodologia que este livro apresenta. Posso
afirmar, sem medo de errar, que funcionou! Começamos somente
nós, os homens. Hoje, as nossas famílias caminham juntas e novos
grupos estão sendo criados por vários de nós.
Desejo que todos aqueles que lerem este livro possam se sentir
estimulados a discipular outras pessoas, multiplicando a sua meto-
dologia, para que tenhamos uma sociedade melhor a cada dia. Peço
a Deus para continuar te capacitando e te usando como instrumento
para levar a Sua palavra ao máximo de pessoas possível. Muito
obrigado por tudo que você faz pelo nosso Brasil!

Fernando Macêdo
42 anos, casado, pai e diretor comercial da
ZM Plastic Indústria de Embalagens
O discipulado, por definição, está relacionado ao cuidado de
pessoas, ao acompanhamento, à instrução e ao relacionamento
contínuo... E o discipulado bíblico tem um significado muito maior:
é como um relacionamento entre irmãos, no qual objetivamente
alcançamos a estatura de Cristo por meio do ensino, da comunhão
e, principalmente, do testemunho.
Na minha opinião, o método do AVANCEMOS é um dos mais
eficazes para alcançarmos, em sua plenitude, os objetivos do disci-
pulado. Posso afirmar isso com muita convicção pois vivenciei na
prática, por mais de 2 anos, com o próprio autor e amigo Pastor
Márcio, bem como testemunhei a transformação milagrosa na vida
de 9 pessoas.
Para mim, que fui ateu até os 45 anos, significou muito essa
transformação na minha vida. Hoje, posso afirmar com muito orgu-
lho que sou um seguidor de Jesus, aprendo com Seus ensinamentos,
caminho conforme a Sua vontade e busco, a cada dia, me parecer
mais com Ele em minhas decisões e atitudes.
E mais que isso, estou pronto para exercer a missão que Jesus
deixou para nós: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações…” (Mateus 28:19).

Marcel Kitamura
Cristão, bem casado, pai e CEO da
empresa BBConsórcios

Para endossar um livro, basta lê-lo. Para endossar uma vida, há que
se viver o testemunho…
E é por isso que quero compartilhar a experiência de quem viu
a gestação do sonho e a prática do discipulado.
Ao ouvir, sensivelmente, a voz de Deus, Márcio permaneceu
firme no propósito do grupo, apesar da pandemia. Orando sem ces-
sar, acolheu os homens que Deus enviou e trouxe, individualmente,
uma Palavra de transformação.
No processo, com o novo posicionamento masculino, iniciamos
o Avancemos Feminino, para que toda família renovasse sua mente
e conhecesse a boa, agradável e perfeita vontade do Senhor.
Ao fim, compreendemos que o discipulado cristão, para além
de impactar vidas, alcança famílias inteiras, comunidades, a nação
que as envolve e as futuras gerações.
IDE!
Monize Marques
Juíza de Direito, mestre em Gerontologia, fundadora
do Instituto Parentalidade Prateada,
Pastora da Comunidade Sal da Terra e, o mais importante,
mãe da Carmel e do Héctor, esposa do Márcio e filha de Deus.
AGRADECIMENTOS

Ao meu lar… sem minha esposa e filhos, não haveria amor… e, sem
amor, nada seria. Sem eles, não haveria começo. Monize, Carmel
e Héctor, obrigado.

A toda família, meu muito obrigado. Reconheço a importância de


tudo que vivi na construção do homem que me tornei. 

Aos meus amigos-irmãos da Família Sal da Terra. Sinto-me hon-


rado por dividir com vocês a missão do IDE. Nas nossas mesas de
comunhão encontro reforço para a missão de discipular, por meio
do amor recíproco.

Aos irmãos Avancemos... a nossa relação é a materialização do


que Deus me revelou. Nossa caminhada evidencia a força que o
discipulado tem na transformação de vidas.

Aos meus irmãos de vida, de trabalho, de estudo e de outras comu-


nidades. Homens que, ao conviverem comigo fora do templo, me
lembram de que a vida ministerial se materializa na vida real, nas
interações normais do dia. É na vida real que a carta do Deus vivo
pode ser lida em nossas ações. É o testemunho silencioso o maior
desafio do IDE.

A todos os envolvidos na produção deste livro, especialmente os


queridos parceiros da Editora Shilo, por me receberem com tama-
nho carinho e profissionalismo. Obrigado mesmo! Estendo esse
agradecimento ao amigo Eduardo Muniz e ao Pastor Ivan, o Insano!
dEDICATÓRIA

Dedico este livro a Deus, autor e consumador da vida. A Ele a


Glória!

Dedico aos homens e às mulheres que vivem o discipulado como


um compromisso real, diário e intencional. Que haja combustível
nesta obra para o propósito de espelhar Cristo.

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, bati-


zando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos. Amém.”
Mateus 28:19,20
Sumário

Prefácio Autor | Márcio Almeida Marques .................................. 17


Prefácio | Pastor Paulo Borges Júnior ............................................ 23
Introdução . . . . ....................................................................................... 25

Capítulo 01 | Breve Testemunho ................................................... 30


Capítulo 02 | O que é Discipulado Cristão ................................. 42
Capítulo 03 | O que NÃO é Discipulado Cristão ...................... 58
Capítulo 04 | O Modelo! ................................................................ 66
Capítulo 05 | Seleção ....................................................................... 84
Capítulo 06 | Estratégias ................................................................. 92
Capítulo 07 | Virtudes .................................................................. 120
Estudo Bíblico .. .......................................... 124
O Cristão Executivo ................................. 130
Preparação Física ...................................... 138
Caridade ..................................................... 146
Comunhão .. ................................................ 150
Família ........................................................ 156
Serviço . . ....................................................... 164

Antes de Terminar... ....................................................................... 169


Obrigado, mesmo! . . ......................................................................... 173
Até Breve! .. . . . . .................................................................................... 181
Bibliografia .. . .................................................................................... 183
Márcio Marques .............................................................................. 189
Prefácio autor
Márcio Almeida Marques

O tema discipulado surgiu para mim de um modo decisivo


no verão de 2019. Eu estava buscando uma forma de engajar mais
os homens da nossa comunidade de Fé – Igreja Sal da Terra – em
Águas Claras, Brasília/DF, rompendo com uma inércia característica
de nós, homens. Em uma congregação pequena, porém relevante, o
trabalho mais expressivo era majoritariamente feminino, conforme
acredito que aconteça na maioria das comunidades espalhadas pelo
país e pelo mundo.
Historicamente, sempre tivemos muito movimento feminino,
com forte engajamento das mulheres. Diversas programações regu-
lares, cursos, encontros e períodos de convivência. Do outro lado,
com os homens, a realidade era bem diferente! Nenhuma atividade P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

especificamente concebida com base nas necessidades desse público;


pouquíssimos momentos de comunhão voluntária e apenas cursos
regulares da Universidade da Família, nos quais o homem, em
regra, recebia um “voucher” da sua mulher, sugerindo (para não
dizer “obrigando”) fortemente a sua participação. O engajamento
masculino dependia claramente de uma “decisão apoiada”, para
dizer o mínimo.
Tamanha diferença entre os modelos e intensidade da caminha-
da leva a uma série de consequências ruins. Quando não há uma
comunhão voluntária dos homens, a igreja padece da força vital
para a sua expansão e proteção espiritual.

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Incomodado com esse fenômeno, comecei a buscar ferramentas
P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

para interferir nessa realidade. Buscava algo que me desse condições


de abordar os homens da contemporaneidade, levando em conta
as grandes mudanças ocorridas na sociedade nas últimas décadas.
É preciso admitir que as circunstâncias atuais são muito diferentes
da época em que houve a Reforma Protestante, por exemplo. Ou,
ainda, dos tempos avivacionistas John Wesley e William Booth,
na Grã-Bretanha, fundadores do movimento metodista. Vivemos
em uma estrutura social mais dinâmica, mais competitiva e, por
consequência, opressora, devoradora do tempo e fomentadora do
estresse. São diversas distrações e muitas exigências. O acesso à tec-
nologia, por exemplo, trouxe inúmeros desafios ligados sobretudo
à gestão do tempo. Muita pressão obstruindo a visão daquilo que
é essencial. E, nesse contexto, colocar os homens sentados no ban-
quinho de uma igreja e ler textos bíblicos com eles não me parecia
uma saída muito estratégica.
Após ter lido autores que são referências no tema e ter exami-
nado os seus livros, tais como Discipulado, de Dietrich Bonhoeffe;
Discipulado: Como ajudar outras pessoas a seguir Jesus, de Jona-
than Leeman; Discipulado Radical, de John Stott e Jesus Copy, de
Douglas Gonçalves, percebi que Deus havia plantado algo diferen-
te em meu coração. A despeito dos ensinamentos preciosos e da
teologia consistente encontrada nessas obras, pelo menos com os
homens que eu buscava influenciar para Cristo, esses modelos não
se aplicavam.
Essa certeza prematura, de que não era necessariamente aquilo
que eu buscava, levou-me a um tempo de oração e meditação na
Palavra. Aliás, Deus sempre agiu assim comigo: após momentos de
reflexão Ele registra algo em meu coração, sem especificar modelos
ou caminhos. Justamente por isso, sabia que seria necessário me-
ditar e construir algo a partir da visão do Senhor para este tempo.
Coloquei meu Espírito e minha mente nesse vislumbre. E, de forma
intencional, comecei a ficar atento a tudo o que se relacionava com
o assunto. Era meados de 2018.

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No verão de 2019, fizemos uma viagem em família: minha
mulher, nossos dois filhos e eu; meu sogro e minha sogra; minha
cunhada, seu esposo e filho; meu cunhado e sua esposa. Eu sei que
você deve estar pensando: “Uau, que projeto audacioso… colocar
toda essa gente de férias em uma casa!!!”. Você tem razão… foi
audacioso! Aconteceu e foi um empreendimento bem-sucedido.
Ficamos em uma casa confortável, em Gramado, no Rio Grande
do Sul. Era uma casa relativamente nova, no acesso de uma coli-
na. Como a maioria das edificações daquela região, tinha muita
madeira e grama no jardim. Tinha uma varandinha envidraçada,
onde ficamos conversando até de madrugada. Na sala da casa havia
uma mesa em que nos reuníamos para as refeições. Era nessa mesa,
antes de todos acordarem, que eu orava e meditava todos os dias,
conversando com o Senhor sobre Discipulado.
Gramado deixou um saldo muito positivo. O lugar trabalha
muito bem o espírito natalino e oferece um aconchego bem pecu-
liar. Fizemos o que todo turista faz na “cidade luz”: visitamos o
Mini Mundo e fomos ao Lago Negro. Encontramos o Papai Noel,
assistimos ao show de Natal com trenós e ajudantes do bom ve-
lhinho. Fomos ao museu de carros e, claro, comemos bem e nos
embebedamos de chocolate! Depois de 10 dias juntos, voltamos
das férias com relações ainda mais profundas e muitas memórias P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

alegres, especialmente para os nossos filhos.


Mesmo com essa rotina intensa de eventos e muitas pessoas
reunidas, todas na mesma casa, consegui abrir algumas janelas de
meditação, através do devocional diário sempre pedindo a Deus
para me mostrar como poderia mover os homens da nossa comu-
nidade.
Nesta oportunidade, percebi claramente o sentido de priorida-
de. Seria possível tirar um tempo de meditação e estudo da Palavra
em uma viagem de férias, onde toda família estaria reunida no
mesmo lugar? Sim, foi possível. Tudo é uma questão de prioridade.
Lembro que me debrucei sobre textos que tratavam de disci-
pulado, chegando à conclusão de que não eram exatamente o que

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esperava encontrar. Os textos me dirigiam ao homem como sa-
P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

cerdote, pai e marido; falavam sobre a prosperidade daqueles que


entregam os seus caminhos ao Senhor. Esses trechos comprovam o
esmero de Deus em nos entregar ensinamentos claros sobre a con-
duta de um cristão genuíno. Mas não apontavam uma rotina, um
caminho, um método que pudesse ser aplicado e replicado.
O Espírito estava me conduzindo por meio de uma jornada mais
subjetiva. Ele me entregava as competências que a própria Palavra
revela ao cristão, enquanto eu buscava um método de discipulado.
Então, perto de encerrarmos a nossa viagem, o Senhor me presen-
teou com o modelo de discipulado que compartilho neste livro.
É um apanhado de tudo o que o Pai e eu conversamos durante um
bom tempo, especialmente naqueles dias. Dias reais, com demandas
e alegrias reais, mas de experiências sobrenaturais. O resultado
talvez não seja inédito, em sua íntegra. Muito possivelmente você
já tenha acessado parte desse conteúdo, um bocado aqui outro ali.
Nada além do que vivemos no dia a dia. Mas é exatamente aí que
está a chave: vida de verdade! Sem distração. Com intenção naquilo
que é prioridade: o Reino.
Fiquei entusiasmado com a perspectiva de ser menos teológico
e mais relacional. Deus me agraciou com um modelo de abordagem
que usa poderosamente as Escrituras como base, fundamento e
princípios, mas considera o ambiente, o contexto e os campos de
preparação.
Sendo assim, o que você vai encontrar neste livro, além da
história de como formamos uma grande família em Cristo a partir
de outras famílias, é um modelo de discipulado que se propõe a
desenvolver laços profundos com homens honrados, os quais estão
sendo trabalhados à imagem de Cristo.
Você verá, durante a leitura, que não tenho a ambição de
mostrar uma moldura exclusiva e perfeitamente acabada. Talvez
nem tudo se aplique à sua comunidade ou ao grupo de homens que
você busca discipular. Quem sabe seja um pouco utópica a visão
compartilhada neste livro. É possível também que não haja uma

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correspondência exata com as suas necessidades. Entretanto, posso
te garantir que as sete virtudes apontadas e trabalhadas aqui, por
meio das estratégias compartilhadas, apresentaram resultados em-
polgantes, com testemunhos belíssimos de famílias que conheceram
um evangelho rico, vivo, alegre e impulsionador.
Depois de ter recebido do Senhor o modelo que compartilharei,
pude misturar nele muita coisa das minhas vivências profissionais.
Como é bom confiar em um Deus que se revela conforme a nossa
maturidade! Hoje consigo compreender melhor alguns desafios pro-
fissionais que vivi, sobretudo quando precisei literalmente confiar
minha vida nas mãos de alguns dos meus parceiros de profissão.
Sou Policial Rodoviário Federal com quase 20 anos de carreira.
O policial, em regra, depende de laços bem construídos com a sua
equipe para voltar vivo para casa. Eu me perguntava como foi
possível, em tantas equipes nas quais participei, ter desenvolvido
amizades como as declaradas em Provérbios, que são mais chegadas
que irmãos, mesmo diante de forte tensão e estresse. Por outro lado,
na igreja, muitas vezes lidamos com uma distância quase intrans-
ponível em relação ao coração do irmão. Era para ser um lugar de
graça e paz! Mas, ironicamente, nem sempre conseguimos perceber
a presença sincera de amizades bíblicas, que nos dão sustento nos
dias maus. P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

Com essas ideias borbulhando na alma e no espírito, coloquei


em prática o que o Senhor me revelou e, por Sua exclusiva graça,
desde então, tenho visto vidas serem impactadas e um grande avi-
vamento acontecer entre os irmãos. Senti que deveria compartilhar
isso com outras pessoas e ver o Reino se expandir além das paredes
da nossa comunidade de fé, ganhando o Brasil e qualquer outro
lugar que o Espírito queira. Esse é o objetivo do meu livro!
De maneira breve apresento aqui o que você vai encontrar
adiante. Desejo a você uma leitura suave, mas edificante. Espero
que ao encerrar a leitura você consiga identificar aquilo que se
aplica à sua realidade e ao grupo de homens que Deus lhe confiou.
Sim, parto da premissa de que Deus lhe deu um povo, porque isso

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é uma verdade bíblica! Simplesmente não existe um discípulo que
P R E FÁ C I O A U T O R | M á r c i o A l m e i d a M a r q u e s

não venha a ser um discipulador, a menos que ele não tenha com-
preendido o seu papel no Reino e a sua missão. Nas palavras de
David Platt: “Este é o grande propósito para o qual fomos criados:
desfrutar da graça de Cristo enquanto propagamos seu evangelho,
desde onde moramos até os confins da terra”.
Meu desejo é que você, quer seja ainda um discípulo ou já es-
teja na condição de discipulador, tenha a oportunidade de cumprir
aquilo que o Senhor nos comissionou: fazer discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que Cristo nos tem
mandado; com a certeza de que Ele estará conosco todos os dias,
até a consumação dos séculos (ver Mateus 28:19-20).

Excelente leitura!

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Prefácio
Pastor Paulo Borges Júnior

H á uma declaração feita pelo Apóstolo Paulo no primeiro


capítulo da sua Carta aos Romanos:

“Porque desejo muito encontrar vocês, a fim de repartir com


vocês algum dom espiritual, para que sejam fortalecidos,
isto é, para que, em Comunhão, no exercício da fé mútua,
nos consolemos uns aos outros”.
Romanos 1:11,12

Essa declaração de Paulo traduz o que o nosso irmão Márcio


está nos entregando nessa convocação de Avançar, tendo compro-
misso integral com uma consciência plena do lugar essencial do P R E FÁ C I O | PA S T OR PA ULO B OR G ES J Ú N IOR
discipulado nesse processo. Dons e virtudes estão sendo repartidos,
vidas serão fortalecidas e consoladas e a Fé está sendo aplicada na
forma que traduz a sua natureza – a mutualidade.
A Fé só revela a sua essência e natureza quando é exercida em
favor das relações e não em favor dos interesses individuais. Em
favor dos interesses individuais estão as crenças, os dogmas e os
ritos, mas não a Fé.
Portanto, o Princípio da Mutualidade no exercício da Fé é
revelado através do Discipulado, para que Avancemos rumo à
Transformação do Ser, alcançando a Plena Expressão das Virtudes
do Pai, na Pessoa do Filho e na Relação dos Filhos.

23
O conteúdo aqui compartilhado não só vai estimular, como
P R E FÁ C I O | PA S T OR PA ULO B OR G ES J Ú N IOR

também vai alimentar aqueles que quiserem seguir essa Jornada de


Transformação. De forma objetiva e bem intencional, todos aqueles
que derem atenção ao que Deus usou o nosso irmão Marcio para
nos entregar, serão fortalecidos no sentido de Avançar e encorajados
a não retroceder.
O discipulado visto de forma bem orgânica e testemunhado
por quem tem se empenhado em colocar sua própria vida como
referência nesse processo. Não se trata de mais uma teoria ou de
uma possibilidade, mas de uma consciência desenvolvida a partir
de uma cultura de vida orientada pelas relações na comunidade
espiritual – a Igreja; um valor conhecido, um conceito aplicado.
Uma leitura que, com certeza vai desafiar os leitores a saírem
da inércia e da indiferença, assumindo o protagonismo de serem
referência de inspiração e maturidade espiritual. A prontidão
em responder com o decidido “Eis-me Aqui!” à convocação do
Conselho da Trindade, no cumprimento da Sua Eterna Vontade:
“A quem enviarei? Quem há de ir por nós?”.
Uma honra e um privilégio poder prefaciar esse trabalho,
especialmente por poder testemunhar a autenticidade dessa
convocação na vida do Márcio.

Forte abraço Amigo.


Forte abraço Companheiros de Leitura.

Avancemos!

24
Introdução

Todo livro carrega, além do conteúdo que o motivou, uma


dose de desconhecimento do autor sobre o assunto. Especialmente
nos dias de hoje, é impossível esgotar qualquer tema de maneira
definitiva. Novos conhecimentos surgem com uma velocidade maior
do que podemos supor, tal como demonstra Ray Kurzweil, com
sua Lei dos Retornos Acelerados, ensinando que as tecnologias de
informação crescem exponencialmente a cada ano, dobrando o seu
poder de processamento e, portanto, de geração de conhecimento.
Então, creio que é mais saudável ter consciência de que nossa
contribuição, cada vez mais, será dada com uma porção específica,
resultante da maravilhosa condição de indivíduo que temos. Não é
possível nem tangível buscar abarcar o todo. Assim, sejamos apenas
uma parte, mas uma parte bem sincera!
No período que antecedeu à produção deste livro, estive debru-
çado sobre inúmeros títulos, muitos deles, como dito anteriormente,
oriundos da literatura cristã. Mas também me vi impulsionado por
outros títulos que, embora não levassem o título “cristão”, ajudam
qualquer homem ou mulher a dialogar melhor com a realidade.
Entendo que o melhor caminho para o crescimento e amadure-
cimento, na busca de espelhar Cristo, é submeter qualquer assunto
ao crivo bíblico. Simples assim! Posso ler qualquer obra, de qual-
quer autor, desde que, durante a leitura, eu ative os meus filtros
I N T RODU Ç ÃO

espirituais e permaneça com consciência e capacidade de absorver


aquilo que é conforme a Bíblia, descartando o que não convém.
Assim nos ensinam as próprias escrituras:

25
“‘Tudo me é permitido’, mas nem tudo convém. ‘Tudo me
I N T R O D U Ç ÃO

é permitido’, mas eu não deixarei que nada domine.”


1 Coríntios 6:12

Portanto, durante a leitura, você vai se deparar com algumas


citações de obras que estão supostamente fora da “biblioteca cris-
tã”, inclusive porque esse título é arbitrariamente decidido por nós,
cristãos! Por outro lado, alguns desses livros trazem mensagens tão
construtivas, edificantes e práticas quanto as maravilhosas obras
dos teólogos mais celebrados.
Outra declaração importante para você, leitor, é que não tenho
como objetivo abordar o instituto do discipulado de uma posição
teológica/filosófica, decidindo o ponto final sobre o assunto.
Existem outros autores com autoridade para esse fim. Todavia,
conforme explico no capítulo Modelo, o Senhor me presenteou
com uma visão, a qual se materializou no modelo de discipulado
que busco colocar em prática e que, graças a Ele, tem se mostrado
virtuoso.
Este é o ponto de partida: Modelo Avancemos! Para dar vida
e contorno a esse modelo, busquei trazer ferramentas e conteúdos
que cooperem, claramente, para a construção de um relacionamento
discipulador.
Depois de haver meditado no Senhor, fiquei muito confortável
em enriquecer o modelo com assuntos que fazem parte da minha
rotina de estudos e da minha preparação para lidar com todos os
desafios que o Senhor assegurou que teríamos, notadamente no meu
caso, em virtude da minha atividade profissional.
Repito que não se trata de uma obra definitiva sobre o tema,
escrita por um teólogo, após longos anos de imersão e estudo.
Não, não é! Até mesmo porque, a despeito das ricas contribuições
que todos os teólogos já nos entregaram, elas fazem parte de uma
tentativa do homem de explicar Deus, segundo o seu próprio en-
tendimento. Não existe uma teologia imaculada que reproduza
“a verdade” do que é a natureza de Deus. Estamos continuamente

26
Deus te construiu do
jeitinho que você é!
Então, Ele quer de
você algo exclusivo.
I N T RODU Ç ÃO

27
aprendendo sobre essa natureza e aperfeiçoando, inclusive, nosso
I N T R O D U Ç ÃO

vocabulário a esse respeito.


As valiosas contribuições dos grandes teólogos, desde o após-
tolo Paulo, passando por Agostinho (354-430), Tomás de Aquino
(1224-1274), Duns Scot (1265-1308), João Calvino (1509-1564),
Martinho Lutero (1483-1546), John Wesley (1703-1791), Charles
Finney (1792-1875), Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), Die-
trich Bonhoeffer (1906-1945), C. S. Lewis (1898-1963), John Stott
(1921-2011) e, mais recentemente, John Stott (1921-2011) e Billy
Graham (1918-2018), trazem a nós o que o Senhor comunicou ao
coração deles a respeito da Sua natureza sagrada. Foram grandes
homens de fé e oração e, pelo conselho do Espírito Santo, alcança-
ram uma visão privilegiada sobre a natureza maravilhosa de Deus.
Mas, ainda assim, é uma visão humana, portanto, limitada daquilo
que Deus é, com uma natureza indescritível dentro do vocabulário
humano e de dimensão ilimitada, logo, fora da compreensão do
pensamento humano.
Este livro expõe a você, leitor, uma possibilidade, modelo ou
proposta de discipulado, com a intenção de compartilhar a visão
que o Senhor me entregou sobre o tema. Por esse modelo, tive
maravilhosas experiências que compartilho aqui. Algo como um
testemunho, acompanhado de um esboço metodológico de como
percorri o caminho, e que pode ser adaptado e reproduzido na sua
jornada de discipulado.
Exatamente por esse motivo não pretendo estabelecer uma
comparação com outras obras que tratam do tema, considerando,
inclusive, as poucas obras, ao menos em língua portuguesa, sobre
o assunto.
Considero, inclusive, que essa pouca diversidade de livros
sobre discipulado possa ter ligação com o baixo engajamento das
igrejas no tema. Precisamos reconhecer que existe um esforço por
parte das comunidades de cumprir o comissionamento deixado
por Jesus Cristo em Mateus 28. Talvez nos faltem modelos mais
contemporâneos, que partam de uma imagem menos estereotipada

28
do crente. Aquele que serve ao Senhor com sua vida não deve se
esconder por trás de uma rotina de cacoetes, desapegando-se da
própria personalidade para assumir uma conformação de massa!
Assuma: Deus o construiu do jeitinho que você é! Então, Ele quer
de você algo exclusivo.
E Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas,
alguns para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim
de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo
de Cristo fosse edificado, até que todos alcancemos a unidade da
fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade,
atingindo a medida da plenitude de Cristo (Efésios 4:11-13).
A unidade perseguida aqui é a da fé, não a da forma. Deus
quer usar aquilo que Ele te deu, como capacidades individuais,
em favor do Reino. Ele não propôs uma pasteurização das nossas
características e virtudes. Definitivamente, não! O que Ele pede a
cada um de nós é que a nossa força, capacidade, empenho, intenção,
ação, visão, enfim, tudo esteja conectado com a missão confiada
individualmente. No entanto, qualquer que seja a sua missão, ela
passa inexoravelmente pelo discipulado, porque esse chamado é
universal e imponderável.
Então, como agir intencionalmente para discipular homens, no
contexto atual, levando-se em conta os desafios e as potencialidades
aos quais temos acesso? Por Cristo, eis UM Modelo!
I N T RODU Ç ÃO

29
01
Breve Testemunho

Sou o terceiro filho de um casal que viveu o amor com muita


cumplicidade. Meus pais se casaram cedo e logo tiveram a primeira
filha – Juliana, minha irmã mais velha. Eram bem novos: minha
mãe tinha 20 anos e meu pai, 21. Estavam saindo da adolescência e
descortinando a fase adulta já com muitos desafios. Pelas histórias
que escutamos, eles tiveram que superar juntos essa fase de ajustes
sob grande pressão. Mas venceram a parada!
Sem casa própria e sem condições de arcar com um aluguel,
meus pais foram morar na casa dos meus avós paternos assim que
a minha irmã mais velha nasceu. Posso assegurar que essa relação
tinha lá suas quinas.
Minha avó paterna, Vó Márcia, era uma mulher sofisticada,
criada na sociedade carioca dos anos 1930. Gostava de programa-
ções diferenciadas para a época, como corridas de cavalo, esgrima
e desfile de escolas de samba. Lembro vivamente que os desfiles de
carnaval absorviam minha avó madrugada adentro, numa maratona
C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

sustentada por café, frango a passarinho e rabanada.


Meu avô paterno, Vô Mauro, era uma figura! Um homem for­
jado na dificuldade, mas que superou as limitações e construiu uma
história interessantíssima. Como era piloto privado, teve oportuni-
dade de realizar algumas missões na segunda grande guerra (missões
as quais não sabemos detalhes). Isso claramente lhe rendeu histórias
e sequelas. Era um homem de grandes feitos, mas que conversava
muito pouco em casa. Por isso, infelizmente, suas histórias e me-
mórias não foram tão bem aproveitadas.

31
Por outro lado, minha avó materna, Ana, era um misto de
AVA N C E M O S

rusticidade e docilidade. Baiana, descendente de índios, reprodu-


zia traços culturais muito peculiares que, de tão fortes, deixaram
marcas indeléveis. Foi a primeira pessoa que eu vi ajoelhada oran-
do. Ela aprendeu a ler no Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL), projeto que tinha por objetivo a alfabetização e educa-
ção de adultos. “Vó Ana”, como a chamávamos, empenhou-se em
aprender a ler justamente para poder ler a Bíblia! Era uma mulher
miudinha, com a audição prejudicada por sucessivos derrames e
pouca mobilidade. Mas não se enganem: era uma leoa! Defendia
seus valores e suas posições com o vigor de um samurai. Essa foi a
pessoa que criou minha mãe.
Meu avô materno era um referencial de homem “raiz”. Nascido
no sertão baiano, mudou-se para o Planalto Central para ajudar
na construção de Brasília. Chegou aqui sem muita perspectiva,
mas com grande destreza para trabalhar com madeira. Tornou-se
um dos inúmeros carpinteiros que ajudaram a dar forma à nova
Capital. Era uma referência para a vizinhança no que diz respeito
ao trabalho e ao acolhimento e, por isso, achávamos comum meus
avós receberem conterrâneos baianos que vinham para Brasília em
busca de emprego. Chegavam na casa dos meus avós apenas com
o endereço da casa do “Sr. Armando”. Ali, ganhavam pouso e ali-
mentação pelos dias necessários até conseguirem uma oportunidade.
Agradecidos, a maioria saiu dali encaminhada.
Maria de Lourdes, minha mãe, era uma morena linda e amoro-
sa, mas com uma personalidade forte, quase vertiginosa. Extrema-
mente carismática e de fala mansa, ela marcava presença no coração
de quem a conhecia. Tinha lá seus arroubos, típicos de uma natureza
cheia de contrastes, mas desconheço quem, tendo convivido com
ela, não tivesse nutrido um grande carinho pela Dona Lourdinha.
Meus pais moraram cerca de um ano e meio com meus avós
paternos até decidirem que precisavam de outro lugar. A solução
foi aproveitar o espaço vago no lote na casa dos meus avós mater-
nos para construir um barraco de fundos, com quarto, cozinha e

32
banheiro, em Sobradinho, cidade satélite de Brasília. Por ali, ficamos
quase dez anos.
Minha mãe tinha seis irmãos homens. Por ser a única filha
mulher, recaiu sobre ela, desde muito cedo, a divisão das tarefas
domésticas com minha avó. A precocidade nas tarefas do lar talvez
tenha subtraído tempo e alegria da sua infância, mas esse era o
modelo possível naquela família. E minha mãe transferiu para nós
a ideia de ajudar nas tarefas de casa desde cedo. Para mim, pelo
menos, foi muito bom.
Meu pai era o típico pacato cidadão. Mauro Marques Júnior,
Maurinho, ou “Moquinha”, como era conhecido, tinha um coração
gigante e uma habilidade diferenciada para lidar com as pessoas e
as máquinas! Gostava de carros, estruturas e engrenagens. Com seu
espírito altruísta, era o socorro certo das horas incertas. Era o amigo
que viajava quilômetros para socorrer alguém que tinha ficado em
pane, às vezes em outra cidade, mas que só confiava no Maurinho.
Homem de coração sereno e que evitava, como pudesse, brigas e
contendas. Faleceu muito novo, aos 49 anos, de aneurisma cerebral.
Seu sepultamento foi marcado por depoimentos de admiração pela
sua personalidade agradável, agregadora e prestativa.
Enquanto morávamos naquele barraco de fundos em Sobradi-
nho, dividimos o ambiente com os nossos tios. Eles ainda moravam
por ali com meus avós, o que gerava uma complexidade desafiado-
ra. Posso dizer com segurança que a dinâmica entre eles era tudo,
C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

menos pacífica.
Presenciei muitas brigas, grande parte delas motivadas pelo ex-
cesso de bebida alcoólica. Também era comum ouvir que meus tios
trocavam de namoradas como se troca de roupas. Minhas irmãs e
eu presenciamos consumo de drogas, brigas – que deixaram seque-
las graves – acidentes de trânsito e algumas ocorrências policiais.
Embora, por ser criança, eu não compreendesse muito bem tudo
aquilo, o clima tenso estava sempre presente.
Minha infância foi nesse lugar. Ali recebi muito amor por parte
dos meus pais e avós, mas, ao mesmo tempo, enfrentei diversos

33
desafios, especialmente pelo fato de sempre estarmos cercados por
AVA N C E M O S

muitos adultos, na maioria homens, oriundos de uma cultura ma-


chista e relativamente violenta. Muita coisa ali não se encaixava na
perspectiva que tenho hoje sobre o papel do homem na sua família
e na sociedade.
Testemunhei filhos concebidos fora do casamento e negligencia-
dos; relacionamentos abusivos marcados por violência e supressão
de direitos; sexualidade exacerbada, típica dos ambientes mais
rudimentares. Esse era o lado cru daquele lugar.
Mas também fui inserido num contexto cultural e musical bas-
tante rico. Minha infância teve o rock como trilha sonora. Meus
tios sempre apreciaram boa música e lideravam a vizinhança nesse
aspecto. A casa estava constantemente cheia de pessoas querendo
escutar as novidades do rock, trazidas por eles. Isso foi muito mar-
cante para mim e influenciou o meu gosto musical por estilos mais
compostos e com letras significativas.
Pelo fato do meu avô materno ser carpinteiro, tal como foi
José, pai de Jesus, o quintal dos fundos da casa era uma verdadeira
oficina. Por sorte, eu cresci brincando com inúmeras ferramentas:
martelo, serrote, tico tico, pua, torno, chaves variadas e lâminas
afiadas. Algumas dessas ferramentas são desconhecidas por muitos
homens. Era o meu parque de diversões e às vezes me sentia na
oficina do Senhor Gepeto. Era o meu verdadeiro mundo encantado.
Desde pequeno, eu lidava muito bem com facas e protótipos
de armas. Talvez isso tenha influenciado decisivamente a minha
opção profissional. Sou policial, gosto de armas, amo facas, cole-
ciono algumas ferramentas que considero úteis e creio que tudo isso
compõe a obra que Deus criou. Esse sou eu, sem mais, nem menos.
No início da minha adolescência, fomos contemplados com
uma casa de um projeto habitacional do governo local. Mudamos,
então, para Samambaia, uma cidade recém-criada no entorno
de Brasília. Começava a década de 1980 e aquele novo endereço
era, como toda cidade em seu início, pouco estruturada e muito
violenta. Locais assim eram chamados de cidades-satélites, algo

34
como periferia ou subúrbio. Ficamos longe do centro de Brasília,
longe da casa dos meus avôs maternos (Sobradinho) e longe das
influências que tínhamos quando criança. Nessa nova casa, agora
de propriedade dos meus pais, passamos a ter mais independência,
exigindo mais responsabilidade de mim e das minhas duas irmãs.
Era uma cidade nova, cheia de desafios e, infelizmente, com a vio-
lência sempre presente.
Passar a adolescência naquela cidade foi muito bom para mim.
Cheguei em Samambaia quando tinha 10 anos. Graças a Deus,
somente a Ele mesmo, os fundamentos da minha moral e personali-
dade estavam bem estabelecidos. Não fosse isso, talvez eu estivesse
escrevendo este livro de dentro de uma cela, num presídio, se isso
ainda fosse possível. Toda minha bagagem moral foi testada e in-
fluenciada pelo meio. Mas, graças a Deus, fui preservado.
Foi um tempo de muito esporte, estudos, rua, pipa, amigos de
todas as tribos e muita independência. Com 10 anos, eu pegava
ônibus sozinho para a escola, que ficava em outra cidade-satélite,
Taguatinga, distante cerca de 10km de onde morávamos. Às vezes,
passava o dia na escola para economizar passagem. Repetia o lanche
da escola e isso já servia como almoço. Até banho no colégio eu
tomava! Em outros dias, almoçava na casa dos meus avós paternos
e ficava ali algum tempo. Mas não era tão bom quanto estar no
colégio, brincando, praticando esportes ou estudando.
O tempo passou, concluí o ensino médio e consegui a grande
C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

façanha de ingressar em uma universidade pública. Aos leitores da


minha idade, isso pode ter um significado especial, porque a tran-
sição do ensino médio para o ensino superior era feita por meio do
vestibular, que era uma coisa séria! O vestibular de uma universida-
de pública era disputadíssimo e, praticamente, só quem estudava em
escolas muito bem-conceituadas, na maioria das vezes particulares,
passava. No entanto, eu estava lá. Em 1998, entrei na Universidade
de Brasília, no curso de Química, concluindo-o em 2002.
Pouco antes de passar no vestibular, havia me inscrito no serviço
militar obrigatório e sido dispensado. Eu e os meus colegas de rua

35
fomos juntos e nos alistamos na Aeronáutica, pois, naquela época,
AVA N C E M O S

eram as informações que eu tinha e segui o que os demais colegas


fizeram. Eu ainda não compreendia a diferença entre as diferentes
Forças: Marinha, Exército e Aeronáutica. A única compreensão
que tinha era que operavam, predominantemente, em mar, terra e
ar, respectivamente. De resto, não fazia ideia da estrutura nem do
nível de adestramento de cada instituição. Precisamos lembrar que
era um tempo em que a informação não era disponível como temos
hoje e esse assunto não estava no meu dia a dia.
A Força Aérea era a que menos incorporava novos soldados.
Por consequência, fomos todos dispensados do serviço obrigató-
rio. Para mim, ser dispensado soou como um fracasso, porque eu
realmente queria experimentar a vida militar. Como falei acima,
sempre tive uma forte conexão com armas, facas, armadilhas,
ferramentas, e achava que o serviço militar, ainda que no estágio
básico, me permitiria ter mais conhecimento e acesso a essas coisas
que eu gostava.
Alguns meses depois, ainda sob a ressaca da dispensa, recebi
um telegrama da Aeronáutica, informando que seria aberto um
concurso para Soldado Especializado. Achei que seria uma excelente
oportunidade, até porque, como não sabia absolutamente nada
de carreira militar, acreditava que poderia entrar como soldado e
sair como um Top Gun! Só depois de muita ralação, muita flexão,
muito ‘senta e levanta’ e ‘prestenção soldado’ descobri que não era
bem assim!
Fiz o concurso para Soldado Especializado e passei. Dedi­
quei-me 4 anos nas fileiras da Aeronáutica. Foi uma experiência
importante da qual me recordo com muito carinho.
Durante boa parte do tempo em que estive na UnB, cumpri o
serviço militar. Em virtude de ter ingressado por meio de concurso,
eu tinha um tempo mínimo a cumprir (2 anos). Só depois desse
prazo, poderia solicitar minha baixa. Acabei ficando 4 anos, tem-
po suficiente para adiantar bem o meu curso superior e organizar
minimamente minha vida financeira, que estava começando.

36
Ainda como estudante de Química, fiz concurso para soldado
da Polícia Militar do Distrito Federal e obtive aprovação. Cumulei
a graduação com o curso de formação de soldados na PMDF. Não
foi nada fácil! De um lado, intensa atividade mental, com conteúdos
complexos de Química. Do outro, alto nível de exigência física e
emocional. No mesmo período, lidávamos com uma severa crise
psiquiátrica da minha mãe, diagnosticada com transtorno bipolar.
Quase tive uma estafa! Hoje, vejo que Deus agiu para que eu não
embarcasse num esgotamento.
Fiquei pouco tempo na PMDF. A estrutura militar, já conhecida
desde a Aeronáutica, mostrava suas limitações. Não permitia muita
mobilidade, especialmente porque eu havia ingressado pelo quadro
de praças. Eu não tinha expectativa de permanecer muito tempo na
instituição, pois, apesar de ter feito grandes amigos, encontrei uma
instituição com estrutura aquém do necessário para o cumprimento
de sua missão: garantir ordem pública e paz social. Dessa forma,
o serviço era desgastante e eu via, em perspectiva, que a minha
permanência poderia comprometer alguns valores pessoais.
Com menos de dois anos de instituição decidi que não perma-
neceria na PMDF. Foi quando apareceu outro concurso na área
policial. Agora, na Polícia Rodoviária Federal.
Da PRF eu não conhecia quase nada! Mas achei interessante
a estrutura horizontal (sem postos durante a carreira) o salário e a
esfera de atuação, em âmbito federal.
C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

Adotei uma estratégia arrojada de estudos. Em menos de dois


meses, fiz a prova e obtive aprovação. Foi uma marca pessoal im-
portante! A PRF significou uma grande mudança de perspectiva.
Encontrei um ambiente favorável ao crescimento profissional e
pessoal e pude desempenhar funções em diferentes áreas, atuando
em quase todas as competências da instituição. Por intermédio da
PRF, consegui realizar coisas importantes e viver experiências que,
naquela época, jamais imaginava.
Preciso admitir que a experiência na PMDF me deu alguma
vantagem sobre os demais colegas recém-ingressos na PRF. Em

37
virtude disso, rapidamente me destaquei em algumas ocorrências
AVA N C E M O S

relevantes e tive a oportunidade de pertencer aos quadros da fra-


ção especializada da instituição, na época denominada Divisão de
Combate ao Crime – DCC.
Qualquer fração especializada exige alto nível de especialização
dos seus integrantes, e na DCC não era diferente. Para a minha
incorporação à equipe, passei pelo clássico funil: teste físico, teste
de habilidades especiais e, por último, convivência com os demais
membros. Para completar o ciclo, fui designado para o curso de
Operador Químico na Polícia Militar do Estado de Goiás. A PMGO
é reconhecida no meio operacional pelo nível de exigência física e
emocional dos seus cursos. Ali, “o sistema é bruto”! Fui lá e paguei
a etapa. Formei-me no curso e voltei apto a integrar a DCC.
Na PRF, tive a oportunidade de fazer o Curso de Operações
Especiais Policiais em 2005, já como integrante da Divisão de
Combate ao Crime. Foi um tempo extremamente intenso, de muito
aprendizado e formação de vínculos. Um tempo de forja física, mo-
ral e emocional, que me deu oportunidade de desempenhar outras
funções, mesmo fora da polícia, com rigor técnico e ético, típico
das Operações Especiais.
Paralelamente à jornada profissional, veio uma percepção clara
de que a minha caminhada cristã, até então ligada ao catolicismo,
não supria mais meus anseios espirituais e relacionais. Eu queria mais!
Minha mulher e eu fomos em busca de um espaço de fé que nos
abastecesse. Visitamos diversas igrejas até que nos fixamos numa
igreja Metodista. Caminhamos por algum tempo até a comunidade
ser praticamente diluída em função da saída inesperada do pastor,
que precisou acompanhar a esposa em um desafio profissional em
São Paulo.
Mesmo com a dissolução daquele campo missionário, pas-
samos um tempo liderando um pequeno grupo, num movimento
chamado de Café com Deus. Era algo como um bate-papo sobre
vida real e espiritualidade, sempre movidos por um texto comum,
mas de fundo bíblico. Nós nos encontrávamos em cafés na cidade

38
de Águas Claras e conversávamos sobre vida, Bíblia, Cristo e iden-
tidade cristã.
Deus nos conduziu nesse movimento durante quatro anos.
Contudo, nos dois últimos, nossa família sentia um forte desejo de
encaminhar as pessoas que se ligavam ao Evangelho (não a nós!!),
por meio do Café com Deus, a alguma comunidade de fé.
A essa altura, fomos apresentados ao Ministério Sal da Terra,
em Águas Claras. Fomos muito bem acolhidos, e embora quisés-
semos, naquele tempo, “apenas sentar no banco e respirar um
pouco”, no segundo dia de comunidade já estávamos envolvidos
com louvor e assistência. Nós realmente nos sentíamos conectados
àquela fonte de vida.
Quase cinco anos depois, com alguma relutância, Deus nos
convocou para assumir o pastoreio. Logicamente, eu não me achava
preparado. Minha esposa também não. Mas tínhamos vivido muitas
experiências com Deus e sabíamos que a submissão à Sua vontade
era a nossa única escolha. Pessoalmente, nunca havia concebido
a possibilidade de me tornar pastor. Como eu e minha mulher
tínhamos vidas profissionais muito bem definidas, achávamos di-
fícil conciliar as duas coisas. Na verdade, ainda pairava sobre nós
a divisão da vida religiosa e da vida secular. Uma herança dualista
equivocada, que hoje entendo que nos limitou por algum tempo,
no exercício do nosso ministério.
Não temos dúvidas de que a vida pastoral é integral. Não
C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

importa se estamos na igreja ou no exercício das nossas atividades


profissionais: somos filhos de Deus e seremos reconhecidos pela
nossa fidelidade.
Então, com autoridade, soberania e poder, de maneira misteriosa
e maravilhosa, Deus nos colocou em 2018 na condição de pastores.
Tenho certeza de que chegamos no Evangelho em um momento
totalmente privilegiado! Atualmente, no Brasil, a despeito de termos
tantos ataques à fé cristã, não temos perseguições. Temos liberdade
de professar a nossa fé em locais públicos e privados. Podemos
viver o cristianismo sem tantos estereótipos, ou seja, não preciso

39
de um terno escuro e surrado e nem de uma Bíblia cheia de orelhas
AVA N C E M O S

para ir aos cultos no domingo. Nos dias de calor, inclusive, mesmo


como pastor, permito-me usar uma roupa mais leve, porque minha
convicção é de que estou na casa do meu Pai com a minha família.
E é assim que tenho tentado viver, sendo o mais natural possível
e tendo convicção de quem sou em Cristo. Ele é a minha rocha,
o meu fundamento e o meu referencial. É n’Ele que apoio as mi-
nhas expectativas e busco consolo nos dias difíceis. É com Ele que
caminho de maneira firme e decidida em direção ao alvo que Ele
mesmo estabeleceu.
Mesmo com o pouco tempo de evangelho reformado, se com-
parado a homens e mulheres com os quais convivo hoje, percebo a
diferença de ritmo na caminhada de cada um. Os homens, em regra,
são muito mais lentos! Temos um verdadeiro apagão de homens
aptos a assumirem seu papel bíblico nas famílias e na sociedade.
A falta de hombridade tem castigado as estruturas sociais, enfra-
quecendo a nossa sociedade e nos deixando vulneráveis aos ataques
do inimigo.
Comumente, vemos as mulheres empenhadas em levar os filhos
para as igrejas, buscando amparo na Palavra. Quando prego a
respeito, brinco dizendo que: “elas enxergam e chegam primeiro!”
Estão conscientes da necessidade de plantar essa semente no coração
dos pequenos e, talvez por isso, assumem quase todas as posições
de ensino e serviço na igreja.
Enquanto isso, os homens regozijam-se pela liberdade na ma-
nhã de domingo, enquanto esposa e filhos estão na igreja. É um
tempo livre: assistem aos jogos do time de coração, à corrida de
Fórmula 1, ou simplesmente dormem. Gastam um tempo precioso
com qualquer coisa que não seja responsabilidade e serviço à sua
família e ao próximo. Essa decisão (ou falta dela) traz um alto custo
às gerações atuais, que estão sem referências masculinas enquanto
observam a sobrecarga das mulheres!
Um cenário pavoroso como esse não é algo com o qual de-
vemos nos acostumar. A Bíblia nos ensina que o homem tem um

40
importante papel perante a sua família, estabelecendo a visão da
casa, buscando provisão e garantindo segurança. Acima de tudo,
levando a Palavra, na condição de Sacerdote, aos filhos e à própria
mulher. Nada parecido com o que vemos hoje.
Diante desse cenário inquietante, Deus colocou um incômodo
em meu coração a fim de que eu ajudasse os homens a compreen-
derem o seu papel bíblico, para desempenhá-lo de maneira honrosa.
E creio que a ferramenta ideal para isso seja o discipulado, uma vez
que o próprio Cristo agiu e ensinou assim.
Não tenho dúvidas de que a nossa abordagem e nossa lingua-
gem precisam acompanhar os tempos atuais. Para novos tempos,
novas fórmulas. Não conseguiremos da mesma forma que os nos-
sos antepassados fizeram. Para novos desafios e novas realidades,
precisamos renovar a nossa mente, assim como nos diz a Palavra,
figurando algo novo.
E, assim, nasceu a chama que motivou este livro.

C A P Í T U LO 01 | B R E V E T E ST E M U N H O

41
02
O Que é Discipulado Cristão

Portanto, vão e façam discípulos de


todas as nações, batizando-os em
nome do Pai e do Filho e do Espí-
rito Santo, ensinando-os a obedecer
a tudo o que eu lhes ordenei. E eu
estarei sempre com vocês, até o fim
dos tempos.
Mateus 28:19-20

Discipulado é a escola da obediência e da submissão: obe-


diência ao IDE de Cristo e submissão aos irmãos. Nesse ambiente
o aluno se faz professor para ensinar outros alunos, os quais se
tornarão professores de alunos que também serão professores…
e assim por diante, até o fim dos tempos! C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO
É incrível como tantos homens e mulheres de fé genuína passam
por esse texto apressadamente sem apreender dele uma chave revo-
lucionária: batizar, ensinar e conservar o Espírito Santo do Senhor.
Cumprir o Ide, para além de ato fundamental de obediência e fé,
lança-nos no inestimável privilégio de compartilhar da presença sua-
ve, marcante e decisiva do Espírito Santo, por meio da comunhão.

Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz,


façais vós também.
João 13:15

O livreto fantástico de C. S. Lewis, Cartas de um Diabo a seu


Aprendiz, fala dessa obediência de uma forma sagaz e irônica. Por

43
todo o livro, o diabo que discipula seu aprendiz chama Deus de
AVA N C E M O S

Inimigo, parodiando o que fazemos nos nossos sermões. Lewis


brinca sobre o assunto, dando essas palavras ao diabo:

Nosso objetivo é absorver a disposição deles para fortale-


cer a nossa, aumentar a nossa reserva de egoísmo à custa
deles. Mas a obediência que o inimigo exige dos homens
é algo bem diferente. Temos que admitir que toda aquela
conversa sobre Seu amor pelos homens e de que o fato de
que o serviço a Ele não é, como acreditamos, de bom grado,
mera propaganda, mas uma terrível verdade!

O cristão deve ter como fundamento de vida o espelhar-se em


Cristo. É essa, inclusive, a raiz da palavra cristão, que, a bem da
verdade, poderia ser Cristinho, ou pequeno Cristo, assim como
defende W. P. Young, em seu livro As mentiras que nos contaram
sobre Deus.
Jesus deixou muitos registros preciosos da sua missão. En-
tretanto, pouca coisa Ele fez tão intencionalmente quanto reunir
discípulos. Além da cruz, talvez essa seja a maior mensagem vivida
por Ele: Ide e fazei discípulos! Isso acontecia ao redor da mesa,
compartilhando a vida real, bebendo, comendo e conversando so-
bre assuntos nobres. Era o momento de ensinar o caminho, afiar
o irmão, repartir as riquezas, chorar a dor do outro. É assim que
se faz discípulos.
Discipular é caminhar ao lado do outro, ensinando-o a enxergar
pelos olhos do Espírito e, em alguma medida, aprendendo com ele.
Assim como diz a Palavra, caminhar ambos se moldando a Cristo
– como ferro amola o ferro.
Essa viagem tem uma riqueza que só pode ser colhida no lon-
go prazo. Discipular é para todos, em todas as fases do percurso.
Não é prerrogativa apenas das lideranças ou dos mais antigos na
fé. Todo aquele que, inobstante o tempo de jornada, compreendeu
as bases do Evangelho, deve se envolver no discipulado. Então, ao

44
contrário do que muitos imaginam, o treinamento cristão não é
uma obrigação exclusiva das lideranças, mas um privilégio e um
comissionamento de todos.
Cristo deixou isso muito claro quando, logo antes de ser assunto
ao céu, deu as últimas orientações aos seus próprios discípulos. Em
Mateus 28, Ele não deixou nenhuma exigência ou anotação espe-
cial. Não foi hierárquico nem litúrgico. Exigiu apenas obediência.
Embora a mensagem seja muito clara, para o nosso desespero
não traz um “passo a passo” nem um manual de como fazer. Só
menciona uma dica muito simples, mas quase inatingível: façam
como Eu fiz.
Costumo dizer que a personalidade de Jesus é instigadora, rica e
vibrante. No entanto, algo que definitivamente podemos concordar
é que Ele foi tudo, menos previsível, linear. Jesus sempre tinha uma
forma inédita para responder a questões controversas. Paul Tour-
nier, em seu livro Culpa e Graça, é categórico
ao dizer que, quando lemos os evangelhos, Discipulado é a
precisamos ter em mente não somente as escola da obediência
palavras de Jesus, mas também a quem elas e da submissão:
foram dirigidas. É mais um exemplo da Regra obediência ao IDE de
de Ouro que Ele deixou anotada no Sermão Cristo e submissão
da Montanha (ver Mateus 7:12). Tenha em aos irmãos. C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

mente que as mesmas palavras de Jesus ditas


a mim e a você produzirão efeitos completamente diferentes, na
exata medida da obra que Ele mesmo tem para cada um de nós.
Duas sementes de igual espécie, originadas da mesmíssima planta,
jamais reproduzirão padrões iguais. Se bem cuidadas, germinarão,
crescerão, encontrarão sua fase madura e darão frutos. Contudo,
inescapavelmente, serão expressões diferentes uma da outra.
Nasci em Brasília e aqui, tradicionalmente, apreciamos a ex-
plosão dos ipês entre os meses de agosto e setembro. Eles aparecem
nas cores branca, amarela, rosa, roxo e verde, que tem uma flor
esverdeada. Este último, um pouco mais raro. Todos são lindíssimos,
porém, os que mais se destacam são os amarelos, pela alegria e in-

45
tensidade de sua cor. Todos são ipês, mas não existe absolutamente
AVA N C E M O S

nenhum igual ao outro! Uns mais esguios, outros mais encorpados,


uns mais torcidos, outros mais agudos em suas formas, uns mais
escondidos e outros mais pronunciados na paisagem. Todos são
ipês. E nenhum igual ao outro no número de galhos, flores e forma.
Todos são ipês, mas nenhum é igual ao outro!
Foi Laurie Jones quem disse que “Ele não veio para nos dar
fórmulas. Veio para criar uma nova mentalidade, gerar uma mu-
dança de enfoque”. Respostas autorais, inéditas e marcadas pela
simplicidade.
Todas as vezes que dizemos que algo é simples, subitamente
imaginamos ser de fácil execução. Inúmeras vezes eu debati com
meus irmãos de caminhada a distinção entre simples e complexo,
fácil e difícil. Não são termos da mesma categoria e podem, inclu-
sive, ser complementares, como quando eu digo que uma tarefa é
de baixa complexidade (simples), mas de difícil execução (penosa,
por exemplo).
Podemos nos deparar com algo complexo, mas que exige pouco
esforço na execução. Esse é o caso dos cubos mágicos. Meu filho
Héctor, hoje com 5 anos, ama montar esses brinquedinhos assusta-
dores! Um certo dia, ele estava me mostrando como consegue mon-
tar uma face do cubo 2 x 2 (cada face tem quatro peças) em apenas
dois segundos! Isso mesmo, eu vi, com meus próprios olhos, ele
montar uma face do cubo em cerca de dois segundos, diversas vezes,
independentemente da configuração inicial! Achei aquilo incrível!
Embora pareça algo realmente genial, ou mesmo mágico, o
que acontece é que ele decifrou uma chave complexa, que são os
algoritmos de montagem do cubo, os quais informam a sequência
que você deve seguir ao se deparar com determinada configuração.
Conhecida e memorizada a sequência, que é a fase complexa do
negócio, o resto é só movimentos giratórios. Agora, o Héctor exe-
cuta essa tarefa com extrema facilidade.
Por outro lado, desde os seus 3 anos de idade, eu me empenho
em ensinar a ele algo extremamente simples, mas que não tem sido

46
fácil: arrumar a própria cama! Temos um ritual matinal o qual cha-
mo de “um – dois – três”, que envolve as seguintes tarefas: trocar
de roupas, escovar os dentes e arrumar a cama. Ele pode escolher
a ordem que quiser, desde que, ao se apresentar para o café da
manhã, tenha concluído o pack “um – dois – três”. Mesmo aos 3
anos, ele não tinha qualquer dificuldade
em compreender as instruções e executar Discípulos precisam orar
as tarefas. Tanto ele quanto Carmel, mi- juntos, para que, em
nha filha mais velha, foram incentivados Espírito, possam discernir
desde cedo a desenvolver a autonomia, a vontade do Pai.
começando pela execução de tarefas de
baixa complexidade. Portanto, esperava que executassem sozinhos
e proativamente ações como trocar de roupa, escovar os dentes e
arrumar a cama. Simples, né? Mas…
Praticamente todos os dias eu precisava lembrar para as minhas
joias, que só teriam permissão para tomar assento na mesa de café
da manhã depois de concluir o “ritual de iniciação do dia”. Quase
todos os dias, ao menos um dos dois chegava de mansinho para o
café da manhã sem ter concluído sua primeira rotina do dia, obri-
gando o papai ou a mamãe a lembrá-los dos compromissos mati-
nais. Embora fossem compromissos de baixíssima complexidade,
ainda assim eram negligenciados. Creio que não há melhor forma C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

de demonstrar que o simples nem sempre é de fácil assimilação e


execução.
Jesus reduziu o comando dessa ordenança ao mínimo possível.
Deixou uma orientação curtíssima e muito clara: “Vão, não parem
nunca, façam discípulos e transfiram a eles tudo o que vos tenho
ensinado” (Tradução minha para Mateus 28:18-20). Ele não disse
exatamente como começar nem quando o discipulado irá atingir
o seu propósito. Porém não deixou dúvidas quanto ao principal:
vão e façam discípulos.
Por haver inúmeros caminhos e nenhuma certeza sobre o re-
sultado, é comum que os irmãos sejam tomados por certa paralisia
que os inibe de assumir responsabilidades no Reino. A principal

47
dificuldade talvez seja a insegurança e a dúvida de por onde começar
AVA N C E M O S

e como desenvolver.
Temos alguns fundamentos da fé que nos ajudam a lidar com
o tema de maneira mais objetiva, portanto, segura. E o primeiro
deles é a obediência!
Jesus deixou uma clara ordenança a respeito da tarefa de fazer
discípulos. Não é um convite condicional ou uma promessa para
alguns poucos eleitos. É a confiança de que cada um pode contribuir
grandemente para a edificação do Reino. Portanto, todo cristão
encontra-se incumbido dessa comissão. Ir e fazer discípulos é uma
mensagem universal que deve ser assumida como responsabilidade
por todos os cristãos. Nas palavras de Bruce Wilkinson, “indepen-
dentemente de quais sejam nossos dons, nossa formação ou nossa
vocação, o chamado que recebemos de Deus é para realizar sua obra
na terra”. E os blocos de construção dessa obra são os discípulos.
Se entendemos que devemos agir em obediência, porque isso
é um princípio, e se temos uma ordenança da parte de Jesus, pre-
cisamos admitir que estamos vinculados ao cumprimento do Ide.
Tenho certeza de que você já ouviu muita coisa a respeito da
vocação de alguns irmãos para alcançar pessoas para Cristo, bem
como sobre a notável capacidade de outros em ganhar almas, por
meio de pregações de alto impacto. Isso é importante e são ferramen-
tas à disposição do nosso Senhor. Entretanto, o seu dia a dia pode,
ou melhor, deve ser uma grande caixa de ressonância da vontade
de Deus, desde que você comece a enxergar seus relacionamentos
como um campo fértil para o discipulado.
A intencionalidade em se relacionar como discípulo e discipula-
dor nos leva a enxergarmos os panoramas muito mais próximos ao
que a Palavra nos ensina. Essa ideia é muito bem apresentada por
Francis Chan, quando diz que “o verdadeiro discipulado implica
relacionamentos profundos. Jesus não se limitou a conduzir um
estudo bíblico semanal. Ele viveu com seus discípulos e ensinou,
tanto por meio de ações, quanto de palavras”.

48
Não havendo uma pressuposta intencionalidade em trans-
formar relacionamentos triviais em verdadeiros discipulados, as
relações tomarão a forma que o
contexto social ditar. Anote isso: as É um grande privilégio
relações tomam a forma do ambien- experimentar todas as fases do
te em que se desenvolvem! discipulado com a consciência
Portanto, se você busca rela- de que todos os que vieram
cionamentos saudáveis na roda dos antes de nós, desde Jesus,
escarnecedores, sinto lhe dizer que entregaram parte de suas
sairá decepcionado. De outro lado, vidas para construir o Reino.
se você estiver perto de pessoas que
verdadeiramente espelham Cristo, quem sabe aqueles seus pecadi-
nhos de estimação começarão a não fazer mais sentido e você irá
se amoldar a um novo jeito de viver?
Certa vez, quando estava recém-casado, conheci um amigo
muito querido, pelo qual tenho apreço até hoje. Ele era um sambista
famoso na cidade e patrono de um dos eventos mais badalados
de samba na Capital Federal, que reunia gente famosa de todo o
Brasil. Cheguei a ir com ele em algumas edições; algumas vezes,
sem a minha mulher. Entretanto, percebia claramente que aquele
ambiente, da forma como havia sido concebido, não contribuía
para a solidez de um relacionamento conjugal e, mais do que C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

isso, expunha a um risco desnecessário. Música boa, bebida em


abundância, gente bonita, camarote, destaque. Para a época, era
um risco desnecessário.
Com muito amor, mas também com uma clareza que só pode
ter vindo do Espírito Santo, eu o chamei para um almoço e conver-
samos bastante. Eu sei que ele gostava da minha companhia, porque
sempre deixava isso muito claro, mas precisei me abrir com ele.
E disse claramente: “Amigo, embora eu te ame, não posso andar
ao seu lado. Isso não seria saudável para o meu casamento”. Sem
precisar me aprofundar em justificativas, ele compreendeu e nos
afastamos, resguardando o amor, o carinho e o respeito mútuos.

49
Talvez se eu não estivesse atento, se o Espírito não soprasse
AVA N C E M O S

um conselho certeiro, hoje a história poderia ser outra, e não acho


que seria glamourosa.
Não existem relações neutras. Sempre há intercâmbio de in-
fluências, por mais que não queiramos admitir. Não é possível ir
a um churrasco e, mesmo sem comer carne, sair de lá sem estar
defumado. O cheiro ficará impregnado até o banho…
Costumo dizer que existe uma trilha previsível no seu relacio-
namento tanto com Cristo, quanto com os homens. Precisamos
compreender que intencionalidade leva à intimidade, e essas são
as bases para qualquer relação. Se desejamos influenciar homens
para Cristo, precisamos ter um caminhar sólido com esses homens.
Mas, para os influenciarmos, precisamos antes ter um relaciona-
mento sólido com o próprio Cristo, por meio do Espírito Santo.
É necessário que estejamos em unidade com o Espírito, porque é Ele
quem traz convicções e paz ao agir. E o caminho para a intimidade
com o Espírito é a oração.

Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a von-


tade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais
o Espírito.
1 Tessalonicenses 5:17-19

Discípulos precisam orar juntos, para que, em Espírito, possam


discernir a vontade do Pai.
Ao contrário do que parece, orar não é algo fácil. Conversar
com o invisível e intangível requer fé pré-ativada. Tenho visto a
timidez que assola o ambiente quando, numa reunião de homens,
nos colocamos a orar. A impressão que dá é que isso não é um hábito
em casa. Logo, não tem como produzir frutos fora. Tish Harrison
Warren, no seu livro Liturgia do Ordinário, diz que as formas
frequentemente invisíveis e silenciosas com que passamos o nosso
tempo são o que nos formam. E como é verdadeira essa afirmação.
Se não adquirimos o hábito de orar, primeiramente sozinhos na

50
Ir e fazer discípulos
é uma mensagem
universal que deve
ser assumida como
responsabilidade por
todos os cristãos. C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

51
presença do Espírito Santo e, em seguida, no seio familiar, não
AVA N C E M O S

atingiremos a liberdade de orar em público.


Penso que a crise de comunicação que atinge a humanidade
também tem reflexos no contexto da oração. Vejo homens com
pensamentos confusos, sem saber ao certo como se relacionar com
o seu próprio Pai, como se nunca tivessem tido a alegria de uma
conversa íntima com o Senhor.
O teólogo Benny Hinn, grande incentivador da oração, esclare-
ce que precisamos ter discernimento inclusive para orar. Confundi-
mos as figuras da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), professando
orações confusas e embargadas. Benny Hinn diz que se você precisa
de vida, deve pedir ao Pai, pois Ele é o doador de toda boa dádiva
e de todo o dom perfeito. É caso de vida, por certo. Não entre
em colapso com o que vou dizer, mas há instâncias distintas nesse
diálogo. Deus, o Pai, é o autor. É como se Ele tivesse construído
tudo e deixasse num gigantesco armazém, à espera de dispensação.
E quem faz essa dispensação é o Filho, Jesus Cristo. O Filho faz por
intermédio do poder que vem do Espírito Santo.
Jesus nos ensinou a pedir ao Pai em Seu nome. Então esse pe-
dido é feito em nome do dispensador Jesus Cristo, pelo poder do
Espírito Santo.
Não quero com isso introduzir uma complexidade desnecessá-
ria para um diálogo entre Pai e filho. Mas é importante você saber
a quem dirigir seus pedidos, seja no mundo físico ou no domínio
espiritual. Saiba que você se acha na presença de Deus por meio do
Espírito Santo e que pode pedir qualquer coisa ao Pai, em nome do
Seu filho, Jesus Cristo. Isso é o bastante para você debutar e buscar
seu próprio eixo de comunicação com o sagrado.
No que diz respeito ao relacionamento discipular, a oração tam-
bém conduz à intimidade entre os irmãos, que favorece a unidade.
À medida que oram juntos, os homens vão ganhando confiança
uns nos outros, tornando-se mais livres para compartilhar sonhos
e angústias.

52
Conectados os corações por meio da oração, é preciso avan-
çar mais… E esse avanço virá por meio do estudo sistemático da
palavra, com vontade de discernir, em Cristo, aquilo que Deus tem
como propósito para o indivíduo e para o corpo.
Compartilhar a Palavra é condição imprescindível. E como
absolutamente tudo na vida, só conseguimos compartilhar aquilo
que temos. Portanto, só é possível compartilhar a Palavra depois
de haver estudado, meditado e aplicado às Escrituras.
É por meio do conhecimento e da sabedoria, vindos do Senhor,
que aperfeiçoamos nossas veredas. Devemos buscar o discerni-
mento, que só pode vir das suaves lições do Espírito Santo, fiel
conselheiro e nosso ajudador.
Como cristãos, devemos ter consciência de que somos templos
do Espírito Santo. A nós foi dada a oportunidade de nos encher-
mos cada vez mais d’Ele. Como consequência, quanto mais cheios
do Espírito Santo de Deus, mais conhecedores e submissos à Sua
vontade estaremos.
A essa altura fica claro que o caminho para um discipulado
cristão começa com a consciência desse comissionamento. A cami-
nhada de um verdadeiro discípulo de Jesus é iniciada quando ele
recebe Jesus como Salvador, depois de se reconhecer como pecador
e dependente do perdão. C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

O segundo passo é preencher-se do Espírito Santo para cumprir,


obedientemente, tudo o que é proposto àqueles que se reconhecem
como família em Cristo e, reforço, a Bíblia é o instrumento perfeito
para alcançarmos essa completude.

No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de


dois dos seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: “Eis
o Cordeiro de Deus!’” Os dois discípulos, ouvindo-o dizer
isto, seguiram Jesus.
João 1:35-37, ARA

No trecho acima, João nos mostra, na prática, de quem são


os discípulos: de Jesus. Como discipuladores, somos, no máximo,

53
um irmão mais antigo de caminhada que de forma obediente cha-
AVA N C E M O S

mou outros irmãos para caminharem juntos numa mesma direção.


O alvo é Cristo!
Essa compreensão só se torna clara à medida que estudamos a
bíblia. Esse assunto retornará mais à frente, porém, antecipo que
não é possível discipular ao largo da Palavra. A caminhada do dis-
cipulado precisa acontecer à luz da Palavra. Jesus deixa claro em
Mateus 4.1-11 que o conhecimento sobre o querer e o poder de Deus
são insubstituíveis. Quando foi tentado pelo diabo, que também é
conhecedor das Escrituras, Jesus o admoesta com agudeza, citando
as próprias Escrituras e enfatizando que a vida mergulhada nelas é
o que nos faz perseverar, mesmo diante das tentações.
Consciência, obediência, intencionalidade, oração, leitura da
Bíblia e amor. Considero que essa seria uma trilha segura para o
cumprimento do discipulado. Os cristãos têm que amar uns aos
outros porque Deus é amor, ensina Michael Hinton. Vou um pou-
co além: devemos nos esforçar para amar aqueles que ainda não
viram a luz de Cristo. Só assim estaremos realmente espalhando o
Evangelho.
Precisamos ter em mente que todas essas etapas não acontecem
ao acaso e que não são adornadas por flores perfumadas. Existe muito
trabalho e muitas frustrações em todos os momentos da caminhada.
Orar, ler a Bíblia e amar são caminhos trabalhosos. E se alguém
não quiser se deixar gastar, que não se aventure! É uma peleja que
seguramente trará percalços… mas teremos alegrias sem medidas!
Além do trabalho, existe um custo. Custo de escolher se amolar,
que envolve tempo, recursos materiais e sacrifício da agenda pessoal.
O Pastor Jonas Madureira dedicou um livro a esse tema. Em sua
obra O Custo do Discipulado, ele evidencia esse custo explorando
o texto de Lucas 14:25–35:

Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, dis-


Capítulo 2

se-lhe: Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e


mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também

54
a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer
que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode
ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma
torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos,
para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça
que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo
acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,
dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro
rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com
dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com
vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe,
manda embaixadores, e pede condições de paz. Assim, pois,
qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não
pode ser meu discípulo. Bom é o sal; mas, se o sal degene-
rar, com que se há de salgar? Nem presta para a terra, nem
para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça.

Essas não são palavras do autor. São palavras do próprio Cristo,


as quais não variam nem sofrem interferência de sombras. A clareza
do texto precisa nos mover ao discernimento de que existe, sim, C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

um dispêndio de recursos para que o discipulado seja alcançado.


Como estamos falando de doação sacrificial, de entrega inten-
cional, sabemos que não devemos esperar que isso flua naturalmente
do nosso ser. Nós nascemos equipados com um constante sentimen-
to de autopreservação, que movimenta nossos impulsos no sentido
de ganharmos mais, de colhermos mais, de nos saciarmos mais do
que ao servirmos. Somos, desde a amamentação, condicionados a
obedecer aos instintos de autopreservação, que são tão irracionais
quanto impiedosos. Se fôssemos movidos por eles, seríamos, oca-
sionalmente, sádicos ou tiranos. Não fosse a graça, a misericórdia
e a redenção do Salvador na Cruz, nossas escolhas seriam guiadas
pelo nosso umbigo e haveria pouco espaço para nos inquietarmos

55
com a dor dos outros. Para romper essa essência caída, precisamos
AVA N C E M O S

contar com a ajuda do Espírito de Deus.


Somente na presença do Santo Espírito é que conseguimos abrir
espaço para o atrito, como ensinado em Provérbios 27:17. Regina
Franklin, em seu livro Aos Olhos do Pai, fala desse relacionamento
que gera desgaste em prol do aperfeiçoamento, ressaltando que as
críticas construtivas serão sempre bem-vindas, enquanto as acusa-
ções de fracasso e inadequação, não.
Esse aperfeiçoamento deve perpassar todos os campos da nossa
existência. A despeito de outras visões sobre a estrutura e comple-
xidade de cada ser humano, compreendo que Deus nos concebeu
em quatro dimensões: física, emocional, intelectual e espiritual. Em
nossa fé cristã, cremos que o homem é eminentemente espiritual e a
sua expressão física apenas o auxilia a cumprir a sua missão. Foi o
Padre francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) quem disse:
“Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. Teilhard
possivelmente tenha sido inspirado por João Evangelista, que nos
diz que o Espírito Santo viria para nos guiar na verdade de Jesus.
Nesse mesmo sentido, o cientista Gerald Schroeder reforça que
quanto mais nos aprofundamos na natureza, mais claro fica que há
uma parte da nossa existência que se situa fora do visível, fora das
dimensões de tempo, espaço e matéria. Embora para muitos isso
possa representar um mistério, para nós, cristãos, a ciência apenas
reforça a nossa convicção de que vivemos em Espírito. Portanto,
devemos considerar que se desejamos ter um desempenho notável
na missão que o Senhor nos confiou, precisamos buscar a orientação
do Espírito Santo, aquele que é fluido e universal, e age por meio
de nós, deixando que Ele nos guie.
Avançamos um pouco sobre o conceito de discipulado. Confor-
me dito anteriormente, compreendo que o discipulado faz parte de
uma ordenança deixada pelo próprio Cristo e que sua obediência
personifica as ideias de frutificação de virtudes encontradas na
Bíblia. É uma atitude intencional de construção e acontecerá se

56
discípulo e discipulador obedecerem ao seu chamado, destacando
que, no Reino, ora discipulamos, ora somos discipulados. É resul-
tado de muita entrega.
É um grande privilégio experimentar todas as fases do disci-
pulado com a consciência de que aqueles que vieram antes de nós,
desde Jesus, entregaram parte de suas vidas para construir o Reino.
Chegou a nossa vez de deixarmos a nossa contribuição para os que
nos sucederão. Há um custo associado ao discipulado… mas, sem
ele, não há legado.
É imprescindível que tenhamos consciência de que, uma vez
que assumimos viver guiados pela Palavra, nossas vidas passam
a ser regidas por outro sistema de valores. Nesse novo sistema, a
obediência, o amor, o perdão e o serviço ocupam papéis de destaque.
Assim, doar-se pelo outro, para ver o seu crescimento, deixa de ser
apenas um sacrifício, passando a ser o fruto natural do cristão que
compreendeu sua natureza em Cristo.

C A P Í T U L O 0 2 | O Q U E É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

57
03
O Que NÃO é Discipulado Cristão

E ele designou alguns para apóstolos,


outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores
e mestres, com o fim de preparar os
santos para a obra do ministério,
para que o corpo de Cristo seja
edificado, até que todos alcancemos
a unidade da fé e do conhecimento
do Filho de Deus, e cheguemos à
maturidade, atingindo a medida da
plenitude de Cristo.

C A P Í T U L O 0 3 | O Q U E N Ã O É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO
Efésios 4:11-13

Tive algumas experiências profissionais que me lançaram no


gerenciamento de projetos. Segundo o PMBOK1, um projeto “é um
esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou
resultado exclusivo”. Gerenciar projetos é algo estimulante para
mim. Segundo Roque Rabechini, os projetos têm, em linhas gerais,
quatro fases distintas: concepção, estruturação, desenvolvimento e
encerramento. Esse ciclo, preliminarmente definido, sempre sofre
interferências do meio, forçando sucessivos ajustes.
No gerenciamento de projetos, a primeira e mais fundamental
premissa é conhecer o escopo, ou seja, saber qual é o produto espe-

1 PMBOK é o guia referencial de gerenciamento de projetos, autoria do Project


Management Institute (PMI).

59
rado a partir de determinado esforço. Com esse contorno em mente,
AVA N C E M O S

estimar quais os recursos e quais os trabalhos serão necessários.


Sem uma definição clara de escopo, é impossível estimar as fases do
projeto e os recursos (humanos, logísticos, técnicos e financeiros)
necessários para o empreendimento.
Rabechini defende que o sucesso de um projeto depende do
estabelecimento de metas e objetivos claros, por meio de uma de-
claração formal que estipule marcos (milestones) de controle.
Greg McKeown diz que “ter clareza de qual é o aspecto de um
projeto finalizado além de nos ajudar a terminar, também nos ajuda
a começar. Com frequência, procrastinamos ou temos dificuldade
de dar os primeiros passos num empreendimento porque não temos
em mente uma linha de chegada clara”.
Romper a inércia e manter-se firme em direção ao alvo! Esse é o
prêmio para quem define uma meta e tem uma ideia clara de escopo.
Entretanto, tão importante quanto conhecer o escopo de um
projeto é definir o que NÃO É ESCOPO. Na linguagem de projetos:
o “não escopo”.
Muitas vezes o projeto leva os profissionais envolvidos a de-
rivações. Especialmente quando o resultado a ser entregue é algo
inédito – seja produto ou serviço – não se tem uma ideia clara de
como chegar ao resultado. Quem já experimentou gerenciar proje-
tos, ou mesmo participar de equipes, sabe que a última coisa que
podemos dizer sobre o caminho de um projeto é que ele é linear.
Por esse motivo, na medida em que definimos o escopo, fazemos
um esforço semelhante para dizer o que não é escopo. Escopos mal
definidos, mal compreendidos ou mal declarados geram passivos de
não escopos que consomem energia, talento, paciência e recursos.
No limite, induzem ao fracasso do projeto.
Exemplificando, posso considerar uma viagem de férias como
um projeto, visto que ela reúne todas as características de um: é um
esforço temporário, empreendido para criar um resultado exclusivo.
O escopo, nesse caso, poderia ser uma viagem com a família (mari-
do, mulher e dois filhos menores) para o litoral nordeste brasileiro,

60
O discipulado
visa à perfeita
adequação ao
mandamento
de disseminar o
evangelho entre

C A P Í T U L O 0 3 | O Q U E N Ã O É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO
as nações.

61
preferencialmente em uma praia pouco movimentada, com duração
AVA N C E M O S

de sete dias. O deslocamento deve ser aéreo e no local de destino


deve haver transfer para o hotel escolhido. No hotel, deve ser ofe-
recido café da manhã e deseja-se, pelo menos, duas programações
turísticas no local.
Com essas informações em tela, serão definidos: os custos, o
cronograma, os recursos humanos (se necessário), a cadeia de co-
municações, como informar as partes interessadas (stakeholders),
a qualidade esperada, os itens necessários no local (aquisições), os
riscos envolvidos (chuva é um deles!) e, se for o caso, a integração
com outros projetos/equipes. Bastante coisa, não é?
Mesmo com esse exercício, muitas vezes minucioso, inúmeros
fatores podem alterar essa equação e inserir novos desafios, in-
terferindo no escopo. Daí a necessidade de declarar o que é “não
escopo”.
No caso citado, poderíamos dizer, por exemplo, que um pas-
seio de barco pode constar como não escopo, uma vez que não
estava listado na primeira declaração. Ele até pode aparecer como
programação turística, mas não é um item obrigatório, de acordo
com a solicitação inicial.
Também não foram demandadas aulas de surfe. Embora, se
acontecer, será um plus. Não foram demandadas características
específicas do hotel, tais como piscina, garagem, sala de ginástica
e demais facilidades. A única exigência foi o oferecimento de café
da manhã. Penso que você já percebeu até onde isso pode ir, não é?
Daí a necessidade de deixar claro para os objetivos desta obra
o que NÃO é discipulado.
Existem muitas ferramentas no ambiente cristão voltadas
para o crescimento e o relacionamento entre irmãos. Na minha
opinião, cada uma tem sua natureza e finalidade. Mas quando não
discernimos bem o que é uma e o que é outra, não fazemos direito
qualquer uma delas.
No exemplo dado por Don Richardson, no seu poderoso
livro O Fator Melquisedeque, se uma mulher usa a navalha do seu

62
marido para cortar algum objeto e a estraga, não significa que a
navalha não deveria estar ali desde o começo. O mau uso, ou o uso
inapropriado de uma ferramenta no lugar de outra, não invalida o
propósito para o qual tal ferramenta foi criada.
Não pretendo aqui examinar os diversos tipos de ambiente de
crescimento e/ou pastoreio. Vou apenas citar alguns que recorren-
temente entram em pauta quando falo de discipulado.
Muita gente me pergunta, por exemplo, como pode se inscrever
para participar do nosso pequeno grupo. Eu geralmente respondo
com outra pergunta: qual pequeno grupo?
E não faço isso por descortesia ou coisa Romper a inércia e
do tipo, é porque, de verdade, não associo manter-se firme em
uma coisa à outra. direção ao alvo! Esse é o
Pequenos Grupos são um tipo de prêmio para quem define
ferramenta poderosa nas congregações. uma meta e tem uma
Funcionam como frações menores da ideia clara de escopo.
comunidade de fé, que se reúnem regu-
larmente para troca de experiências e ajuda mútua. Sim, eu sei que
você pensou que isso é muito parecido com o discipulado. Mas, na

C A P Í T U L O 0 3 | O Q U E N Ã O É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO
minha visão, são coisas distintas.
Primeiramente, porque o discipulado parte de uma premissa
de tratamento individual, onde discípulo e discipulador desenvol-
vem uma fraternidade que excede os vínculos da comunidade de
fé. Forma-se um novo laço de confiança que é capaz de suportar,
inclusive, as frustrações vividas na “igreja”. A seu turno, o pequeno
grupo, bem… é um grupo!
O discipulado visa à perfeita adequação ao mandamento de dis-
seminar o evangelho entre as nações, ou seja, da forma mais ampla
possível, o que significa dizer, com toda certeza, que você pode ter
como missão discipular alguém que NÃO faça parte da sua comu-
nidade de fé e que, portanto, jamais estaria em um pequeno grupo.
Outra confusão bastante comum é com a formação de lideran-
ças. Embora o discipulado também tenha entre suas finalidades a
formação de lideranças, ele NÃO é uma escola de líderes. Não se

63
trata de um tempo de instrução unidirecional voltada para entre-
AVA N C E M O S

gar capacidades a um neófito. Conforme disse antes, é um tempo


de comunhão intencional entre irmãos, com um propósito bem
específico: reproduzir, cada vez mais, melhor e naturalmente, tudo
o que Jesus nos ensinou.
Igrejas mais performáticas poderão compreender o discipulado
como uma espécie de treinamento coach da fé. Particularmente, não
vejo problema nisso, desde que as técnicas sejam usadas a serviço de
um propósito saudável. Creio que Deus tem nos dado ferramentas
diversas e variadas para buscarmos as visões iluminadas pelo Espíri-
to e, nesse sentido, se as técnicas de coach funcionarem bem, voilá!
Dentro desse exercício de não escopo, gostaria de destacar por
último que discipulado não é seminário. Ao final do processo (espe-
ro que você depreenda que tempo é esse!), não espere um teólogo
formado, que domine teoricamente os fundamentos da fé cristã, as
escolas bíblicas e técnicas de homilética. Não, de fato não é isso!
Justamente porque o discipulado leva o cristão para o caminho
prático. A teoria só será importante se interferir decisivamente no
resultado prático. Teoria por teoria, faça uma relação de canais no
YouTube que contenham os assuntos que você deseja abordar e
encaminhe para uma lista de homens que estão em busca do cresci-
mento espiritual. Você não conhecerá o resultado. Aliás, não saberá
sequer qual dos homens dessa lista acessou os vídeos recomendados.
Com expressivas ressalvas pessoais às ideias de Paulo Freire, ele tem
uma frase que se encaixa perfeitamente nesse contexto: “A teoria
sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria vira
ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se
a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”.
Este é o plano: anunciar a boa nova a todas as nações, fazen-
do amigos que se interessem por essa verdade, incorporando-os à
família, por meio do batismo; adotando-os como filhos, por meio
do discipulado; e, emancipando-os à condição de irmãos, que serão
pais, por meio do encorajamento ao ministério de fazer novos discí-
pulos. Esse é o ciclo virtuoso de discipulado que deve estar em nosso

64
horizonte. Conforme disse Laurie Jones, devemos manter o plano
que intuímos vagamente, mas que só Deus pode ver com clareza!

Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, bati-


zando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu
estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.
Mateus 18:19-20

C A P Í T U L O 0 3 | O Q U E N Ã O É D I S C I P U L A D O C R I S TÃO

65
04
O Modelo!

Este capítulo mostra o mapa que tem guiado a mim e a


outros irmãos nessa corrida de orientação, a qual chamamos de
discipulado.
Como disse anteriormente, fui tomado por uma inquietação
acerca do que é fazer discípulos para Cristo, especialmente nos
dias atuais. Precisei meditar bastante para que o Senhor acalmasse
o meu coração e me mostrasse como Ele queria me usar.
Fui em busca de materiais que pudessem me ajudar, que me
orientassem de uma forma clara e objetiva por onde começar e como
prosseguir. Lembro-me de que o Bispo JB Carvalho sempre diz que
todos nós trouxemos algo para este mundo e que precisamos estar
atentos a isso, porque somos continuamente programados por aqui-
lo que aceitamos como verdadeiro. Então, fui em busca de algo que
me desse o tom da verdade que o Senhor plantou no meu coração.
Li alguns livros que são referência nesse tema e analisei os meus
apontamentos de pregações a esse respeito. Em seguida, conversei
com alguns cristãos mais antigos na fé e me aconselhei com uns
amigos, sempre tentando conciliar essas influências com a visão
que o Senhor me entregou, levando em conta a minha percepção
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

de mundo.
Concluí que a despeito das grandiosas contribuições que todo
esse material historicamente tem deixado, estamos num tempo de
grande fluxo de comunicação e inúmeras distrações. Os materiais
de outrora, que partiam de um padrão de autoridade incontestável
dos pastores e pregadores, não são mais tão reais quanto antes.
O desafio de discipular homens, sobretudo fora das igrejas, precisa

67
ser compatibilizado com as carências e necessidades desse tempo.
Hoje, o discipulado precisa acontecer notadamente fora do templo,
onde a vida acontece “de verdade” e os valores cristãos são, de fato,
colocados à prova.
Meditando sobre isso, Deus me presenteou com uma visão que
aborda os múltiplos papéis que estão sob a responsabilidade de um
homem: serviço, negócios, saúde, caridade, comunhão, família e
sacerdócio.
Provavelmente você deve ter achado estranha a ordem em que
apresentei as virtudes acima. Realmente, elas não foram elencadas
em grau de prioridade! Se fosse, não tenho dúvidas de que, em
primeiro lugar, estaria o sacerdócio; em segundo, a família, sendo
acompanhada de caridade, comunhão etc. Entretanto, a ordem foi
apresentada conforme a visão que o Senhor me presenteou, mar-
cando os dias da semana: de segunda a domingo.
Conforme assinala o Bispo JB Carvalho, em seu best-seller
Metanoia, Deus fala NOS sonhos quando estamos dormindo e
EM sonhos enquanto acordados. E, acordado, o Espírito Santo do
Senhor soprou-me a visão que compartilho.
Inicialmente, eu havia pensado em um regime de oito encontros,
assim distribuídos:

Primeiro encontro – Semana 1

Dia da semana: Segunda-feira


Virtude: Estudo Bíblico
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

O primeiro encontro é para explicar o modelo e verificar os


ajustes administrativos, além de ser uma aula sobre estudo bíblico.
Pela densidade do conteúdo, imaginei que esse encontro deman-
daria, no mínimo, 4 horas. Aqui são estabelecidas as expectativas
mútuas, as responsabilidades e, o mais importante, o fundamento
sobre o qual tudo vai acontecer: a Bíblia. Não é possível discipular
alguém sem uma Bíblia do lado. Da mesma forma, um discípulo

69
não avança nas suas competências se não tiver condições de estudar
AVA N C E M O S

sozinho a Palavra.

Segundo encontro – Semana 2

Dia da semana: Terça-feira


Virtude: O Homem Cristão nos Negócios

O encontro destina-se a emular um almoço executivo.


Deve acontecer em algum local público, preferencialmente um
restaurante ou uma praça de alimentação em algum centro co-
mercial. O intuito é quebrarmos a “visão túnel” de que negócios,
finanças e Reino não caminham juntos.
Sobre o assunto, inclusive, temos uma grande referência em
Brasília, o Pr. Peréa. Ele tem exercido seu ministério ensinando
homens a serem prósperos em seus negócios sem perderem a alma.
Peréa tem algumas obras que falam sobre o tema, as quais deixo
citadas nas referências bibliográficas.
O outro objetivo do encontro, neste formato, é desconstruir a
visão de que só conseguimos falar de Cristo dentro da igreja e que,
quando acionamos o módulo business, Cristo sai da jogada. Organi-
zando o jogo, neste encontro estarão à mesa: refeição, negócios e fé!

Terceiro encontro – Semana 3

Dia da semana: Quarta-feira


Virtude: Cuidar do Próprio Templo – Preparação
Física

Esse encontro destina-se a discutir os benefícios do esporte e


levá-los à prática de atividade física. Deve acontecer preferencial-
mente em algum parque público ou local reservado para esse fim,
pois vai focalizar justamente essa competência.
Sabemos que o nosso corpo é templo do espírito e que não ire-
mos muito longe se não nos exercitarmos. Existe uma epidemia de

70
homens inertes, que abandonaram a vocação que Deus lhes deu para
construir a realidade com as próprias mãos. Tais homens relegam o
treino físico sob o pretexto de serem intelectuais demais para isso
ou serem muito espiritualizados para gastarem tempo com esporte.
A esse respeito, gostaria de lembrar o exemplo de um dos nossos
irmãos mais velhos, Pedro. Cefas era pescador, portanto, um traba-
lhador braçal. Um homem que manteve a sua capacidade física e o
seu vigor, a despeito de sua caminhada junto ao Mestre. Os relatos
bíblicos nos mostram que era um personagem aprestado, com boa
capacidade física e reflexos apurados. Era um homem maduro, mas
muito disposto, o que nos leva a concluir que ele não negligenciava
sua condição física.
Também me recordo do Apóstolo Paulo, cuja tenacidade de
corpo e espírito foram determinantes para o cumprimento da sua
missão, que alicerça muito da nossa fé. Paulo superou desafios fí-
sicos comparáveis aos de atletas de alto nível: nadou para se salvar
de um naufrágio, caminhou distâncias brutais com pouca provisão,
suportou castigos físicos sem arquear sua moral e permaneceu lú-
cido e vigoroso até o fim dos seus dias.
Com esses dois exemplos, mostro o quanto é importante
para um homem manter a sua saúde e a sua preparação física em
dia, estando apto a cumprir as atividades que o papel lhe exige e a
defender as suas posições.

Quarto encontro – Semana 4

Dia da semana: Quinta-feira


C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

Virtude: Prática da Caridade

Esse encontro destina-se a conectar o homem ao que Tiago


nos ensina sobre a verdadeira religião: assistência aos órfãos e às
viúvas (ver Tiago 1:19).
Tem por objetivo levar o discípulo a experimentar, na prática,
a alegria da caridade, quebrando um discurso muito comum entre

71
aqueles que já foram impactados pelo Evangelho: eu quero abençoar
AVA N C E M O S

alguém ou algum projeto, mas não sei por onde começo!


Recomenda-se que o discipulador tenha conhecimento sobre
a instituição de caridade que será visitada, preferencialmente man-
tendo um relacionamento de longo prazo com aquela organização.
É necessário, ainda, ter autoridade sobre o que se está falando e
fazendo.

Quinto encontro – Semana 5

Dia da semana: Sexta-feira


Virtude: Comunhão entre os Irmãos

É recomendável que seja um happy hour e que ocorra depois


do horário de expediente em algum lugar público.
Havia um tempo em que o indivíduo, para ser cristão, precisava
ser sisudo, gostar do isolamento, ter um semblante entristecido,
geralmente mal ensolarado, com um jargão muito típico e viver
dentro da igreja. Ir a um lugar “do mundo” seria um absurdo, pois
havia o perigo de contaminação. Risco! Ameaça!
Não recrimino quem viveu e construiu sua fé nesse modelo.
Entretanto, todos os amigos de caminhada com quem converso e
que se desenvolveram no Evangelho assim, carregam certa amar-
gura e ressentimento. Muitos, inclusive, atrofiaram as relações, tal
o nível de exclusivismo das interações sociais.
Talvez fosse o resquício daquela atitude lá no Éden, de onde
saímos da calorosa presença do Senhor, por meio da relação,
para vivermos ensimesmados nas nossas decisões e convicções.
O Pr. Olgálvaro Júnior, do Ministério Sal da Terra, afirma que o
homem se afastou da relação de intimidade com Deus porque queria
uma vida independente. Aos moldes de hoje, não queremos pres-
tar contas com quem nos afia e não queremos nos gastar em afiar
outros irmãos em comunhão. Segundo Olgálvaro, essa atitude, em
vez de trazer a pretendida liberdade, levou o homem à escravidão

72
da solidão, alimentado pela vaidade, subjugado pelo inimigo das
nossas almas: o diabo.
Imagino que existam homens e mulheres que conseguem viver
em algum nível de felicidade nesse modelo, mas tenho certa dificul-
dade para enxergar como essa opção possa atingir mais pessoas na
anunciação do Evangelho, distribuindo a boa nova especialmente
nos locais onde as pessoas em que ali estão precisam ouvir.
Mesmo sabendo da discordância de alguns leitores, entendo que
esse encontro deve acontecer em um local público, como um café,
pub ou restaurante, onde os irmãos irão se confraternizar à luz da
Palavra, levando ao pé da letra a alegria do salmista:

Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.


É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a
barba, a barba de Arão, e que desce sobre a gola de suas
vestes. Como o orvalho de Hermon, que desce sobre os
Montes de Sião, porque ali o senhor ordena a bênção e a
vida para sempre.
Salmo 133

Sexto encontro – Semana 6

Dia da semana: Sábado


Virtude: O Sacerdote do Lar
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

Esse encontro destina-se a abordar o papel do homem na fa-


mília, conectando a família de sangue à família da fé.
Nesse encontro, discípulo e discipulador devem levar as suas
famílias, pois elas precisam se conhecer e exercer a comunhão.
O autor James L. Garlow, no seu livro Não Seja Manipulado,
publicado pela Editora Chara, destaca a importância que a Bíblia dá
ao casamento. Ele cita que o casamento é tratado em Gênesis e em
Apocalipse, bem como é exaltado no Velho e no Novo Testamento,

73
sempre com a mesma configuração. Portanto, todo projeto do
AVA N C E M O S

Senhor começa em uma família. Não há como ser diferente, porque


Deus quis usar essa poderosa configuração como a
Sua ferramenta aqui na terra. E para sermos usa- Discipular
dos por Ele, precisamos criar ambientes favoráveis. é pregar o
Na intimidade, discípulo e discipulador po- evangelho com
derão viver em família tudo o que têm descoberto a própria vida!
como virtudes aos pés do Senhor.
Uma breve nota sobre família: as transformações sociais e
culturais mexeram em todas as estruturas vividas pelo homem. Da
natureza do trabalho à configuração das igrejas, passando pela
forma de aprender e ensinar, absolutamente tudo recebeu o impacto
dos sucessivos ciclos de mudança pelos quais a humanidade passou.
A família não ficou de fora dessa equação.
Atualmente, quando falamos de família, precisamos adjetivar
aquilo que um substantivo deveria ser suficiente para denominar.
Família é a unidade afetiva que gera e cria indivíduos.
Quando digo que gera e cria, estou adstrito ao que a Palavra
do Senhor propõe:

Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipli-


quem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os
peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais
que se movem pela terra”.
Gênesis 1:28

Em termos biológicos, só existe uma maneira de ser fértil: a


partir do cruzamento de gametas de seres da mesma espécie, conju-
gando-se macho e fêmea. Entretanto, é necessário compreender que
até atingir esse ponto da união, o ser humano passa por diversas
fases que vão da infância à fase adulta. E em todos esses estágios,
digo com muita serenidade, é possível introduzir um discipulado.
Quanto à questão que naturalmente salta à mesa, relativa à
diversidade das estruturas familiares, abstenho-me dela por entender

74
que ela não é imprescindível para a assimilação do conteúdo deste
livro. Todo homem e toda mulher iniciados na fé têm uma ideia
muito clara do que é a família idealizada na eternidade e entregue
a nós como modelo, cuja estrutura nos é apresentada em Gênesis
e a sua funcionalidade descrita detalhadamente no livro de Efésios
(ver Efésios 5 e 6).

Sétimo encontro – Semana 7

Dia da semana: Domingo


Virtude: Serviço

Esse encontro destina-se a capacitar o discípulo ao serviço na


sua comunidade de fé.
Servir é um grande privilégio, pois “há maior felicidade em dar
do que em receber” (Atos 20:35).
Aqui, discípulo e discipulador serão responsáveis pelo serviço
na sua comunidade de fé. Ao encargo deles, deve acontecer absolu-
tamente todo o serviço do encontro semanal daquela comunidade,
encerrando, assim, o ciclo temático do discipulado. Utilizo o termo
serviço para designar as atividades que compreendem o culto do-
minical. Apesar de nos reconhecermos como família, é certo que a
reunião semanal exige rotina e organização, e é nisso que o grupo
deverá focar.
Ao passar por todas essas competências – estudo bíblico,
o homem cristão nos negócios, corpo como templo do espírito,
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

caridade, fraternidade, família e serviço – creio que conseguiremos


trabalhar um olhar panorâmico sobre o papel do homem na família,
na sociedade e junto aos irmãos de fé. A partir de então, é lançar
a mão na massa!
Assim como foi apresentado, o modelo que recebi do Senhor
e compartilho pode ser desenvolvido em sete semanas. É um
sprint arrojado, mas com enorme potencial de ligar os irmãos e
encorajá-los a uma nova posição na corrida de fé.

75
Ocorre, todavia, que isso vai depender do nível de maturidade
AVA N C E M O S

dos envolvidos. Os encontros podem ser tanto sementes, para des-


pertar o olhar e a vocação do discípulo para essas virtudes, quanto
treinamento efetivo, para aqueles que apresentarem baixo nível de
desenvolvimento na virtude trabalhada.
O fato do modelo ser apresentado em dias específicos da
semana tem propósitos bem definidos, e o Senhor me abençoou
enormemente em ter clareza dessas coisas.
Em primeiro lugar, e à medida que as semanas transcorrem,
temos um memorial claro de cada virtude. Todos passamos pelos
ciclos semanais, mês após mês, ano após ano. Agora, imagine-se
memorizando sistematicamente essas virtudes trazidas aqui e colo-
cando-as em prática! Tenho certeza de que o registro no calendário
ajudará bem o discípulo a se conectar com a virtude e se aprofundar
durante a sua caminhada.
Em segundo, é importante assimilar que o desenvolvimento
cristão não ocorre de uma hora para outra. A conversão, seguida
do batismo, deve levar à santificação, que é a
busca diária pelo conselho do Espírito Santo Todo projeto do
em absolutamente todas as áreas da nossa vida. Senhor começa em
É exatamente isso que Stuart Scott ensina em uma família.
seu livro O Homem Bíblico. Scott afirma que
a salvação não nos torna imediatamente aquilo que deveríamos ser.
Ela, na verdade, é a porta pela qual entramos e nos comprometemos
a mergulhar completamente num esforço dependente de Deus, a
fim de espelharmos Cristo.
Muitos cristãos se dispersam em sua caminhada porque
acreditam, ingenuamente, que o batismo é algo como o portal
encantado da obra de C. S. Lewis. A partir de uma portinhola em
um dos quartos de uma casa antiga, abre-se um portal para algo
esplendorosamente novo: Nárnia. Mais ou menos como se alguém
esperasse que de um lado houvesse uma vida desmoronando, cheia
de vícios e pecados, decisões ruins e conflitos, e do outro lado, após
essa passagem mágica, haveria uma vida deslumbrante, repleta de

76
paz e bonança. Quem vende essa ideia age covardemente, e quem a
compra o faz irracionalmente. Tudo na nossa existência obedece a
um processo, e a nossa caminhada de fé está incluída nisso! Aceitar
a Jesus como único Senhor e Salvador, declarar isso publicamente
por meio do batismo e viver em comunhão com os irmãos é o pavi-
mento. Todos os demais degraus dependem da santificação diária,
buscada no conselho e consolo do Espírito Santo. Dessa maneira,
o modelo apresentado nos ajuda a compreender a caminhada cristã
como uma decisão renovada constantemente, dia após dia.

Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como


está escrito: Mas o justo viverá pela fé.
Romanos 1:17

Em terceiro lugar, o modelo aqui apresentado abre a visão


sobre o desenvolvimento da maturidade cristã de maneira ampla,
a qual deve permear todos os campos da nossa existência e, por
isso, não acontece somente dentro da igreja. Creio que esse é um
ponto marcante da proposta, especialmente porque muitos irmãos
são impermeáveis a vivências fora do templo, obstruindo uma co-
munhão espontânea com aqueles que não professam a mesma fé e,
por consequência, deixam de compartilhar a mensagem do Reino
com os que ainda não foram alcançados.

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será


salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram?
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

E como crerão naquele de quem não ouviram? E como


ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não
forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os
pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem
alegres novas de boas coisas.
Romanos 10:13-15

77
Discipular é pregar o evangelho com a própria vida! E, a menos
AVA N C E M O S

que sejamos monges que vivem separados do mundo, não é sus-


tentável uma experiência cristã completamente dependente de um
templo, nem uma vida experimentada em isolamento.
Em quarto lugar, dividir o modelo de discipulado em módulos
que evidenciem as virtudes, permite que ele seja trabalhado por mais
tempo e continuamente, até que os discípulos encontrem a maturi-
dade necessária para iniciarem seu próprio ciclo de discipuladores.
Entenda que a proposta de um encontro por semana, durante
sete semanas, é o minimum minimorum. É o ponto de partida onde
são entregues as sementes. Mas o aprofundamento dessas virtudes
depende de um exercício intencional e continuado. Assim como as
plantas obedecem às estações e dependem de nutrientes e cuidados
contínuos, cada homem terá seu tempo particular de amadureci-
mento. Por essa razão, o discipulador precisa ter a sensibilidade
para detectar o tempo certo de emancipar os seus discípulos. Não
é saudável uma relação dependente de longo prazo, onde não se
vislumbra, claramente, ganhos de crescimento nos envolvidos.
Por outro lado, um discípulo que não esteja seguro ou espi-
ritualmente preparado para transferir o que tem aprendido, pode
representar uma pedra de tropeço na vida de outros irmãos. Con-
forme diz a Palavra, há aqueles que ainda precisam de leite e não
estão prontos para alimentos mais sólidos. Esses continuarão a ser
estimulados em seu crescimento, até que ocorra a emancipação e
alcancem a liderança.
Por último, uma questão particularmente importante para o
Ministério ao qual pertenço, Sal da Terra, diz respeito ao dia de
início da semana.
Temos uma forma sintética e poderosa de expressar nossa
convicção a esse respeito: “uma semana de primeira não começa
na segunda!”. Fica claro que compreendemos o poder do primeiro
dia da semana, bem como a necessidade de iniciarmos os nossos
compromissos e nossa vida produtiva com isso em mente: a semana
tem início no domingo.

78
O desafio de
discipular homens,
sobretudo fora das
igrejas, precisa ser
compatibilizado
com as carências
e necessidades do
nosso tempo. C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

79
Domingo também é o dia reservado ao serviço à comunidade
AVA N C E M O S

e para a comunhão entre os irmãos. Nós nos reunimos logo pela


manhã para louvar ao Senhor e, normalmente, estendemos esse
privilégio ao longo do dia, pelas casas das famílias sempre dispostas
a receber e compartilhar da mesa. No nosso Ministério a mesa é
uma simbologia poderosa que transparece o poder das relações e
o potencial de cura que emerge do convívio entre os irmãos. Mesa
é o local dos olhares de mesma altura e da concentração de um
para com o outro. É o local da pacificação do corpo, da alma e do
espírito, porque é ali que encontramos o pão da vida e o pão da
presença. A provisão material alimenta nosso corpo, mas é o poder
da relação que promove a cura na presença do Espírito Santo do
Senhor. Esse é o pão da presença.
A despeito da nossa semana começar no domingo, esse modelo
de estudo começa na segunda-feira porque não é um plano eclesiás-
tico. Conforme compartilhei, o modelo de discipulado embrenha-se
por toda a vida do homem, passando pelos aspectos mais presentes
em sua vida. E essa trajetória precisa estar em consonância com
uma vida dinâmica, relevante e na dimensão atual.
O modelo tem o seu início na segunda-feira, depois da semana
ter começado, de fato, no domingo. O modelo se encerra no do-
mingo, depois do discípulo ter percorrido domínios importantes da
sua vida. Ocorre um encontro propositivo nesse dia, onde os discí-
pulos vão experimentar o início da semana sob outra ótica. Agora,
conscientes do seu papel indelegável na família e da imponderável
necessidade de servir, começarão a semana justamente servindo.
O término desse modelo culmina numa entrega mais intencional,
consciente e propositiva, em que os discípulos assumirão todos os
papéis em um culto dominical, como forma simbólica de testemu-
nharem a sua clareza de propósito e a sua consciência ativa.
Considero que o Senhor poderia ter dado a mim qualquer mo-
delo, qualquer proposta, inclusive desconsiderando a simbologia
dos dias da semana. Ou, ainda, associando-o às estações ou aos
meses do ano. No entanto, entendo que Ele quis ser didático e, ao

80
mesmo tempo, prático. Escolheu entregar um modelo que mostra
claramente o valor de todas as coisas que Ele deixou nas mãos dos
homens: sacerdócio, liderança, caridade, fraternidade, serviço e
governo.
Quanto à aplicação, a despeito das particularidades do grupo de
discípulos ou do líder que se dispôs a discipular, não tenho dúvidas
de que esse material poderá ajudá-los no cumprimento do Ide, e que
isso repercutirá em homens posicionados adequadamente na família
e na sociedade. O modelo em questão propõe estímulos sobre sete
áreas decisivas na vida do cristão, tratadas aqui como virtudes.
O vínculo aos dias da semana me fez escolher sete dentre mui-
tas variáveis na vida de um homem. Não é um número fechado e
nem encerra tudo o que o cristão pode absorver ao longo da sua
caminhada. Se você, como líder, entender que pode modificar esse
modelo, incluindo virtudes em substituição às que foram apresen-
tadas, você tem toda liberdade. No entanto, tenha em mente que
esse exercício deve ser precedido de uma conversa franca com o
Espírito Santo, o verdadeiro e fiel conselheiro, que lhe dirá o que é
importante para a comunidade que você lidera ou faz parte.
Essa possível adaptação do modelo só vai ficar mais clara a
partir da seleção dos homens que serão discipulados. Depois de
formado o grupo, o responsável deve permanecer atento para que
possa discernir qual (ou quais) virtudes precisam ser trabalhadas por
mais tempo, ou ainda, se existe alguma adaptação necessária. Se no
curso do discipulado você perceber que precisa de mais encontros
para cada tema, vá em frente! Você pode chegar à conclusão de que
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

precisa de um mês para abordar satisfatoriamente cada virtude. Se


esse lhe parecer o tempo necessário, não se prenda ao modelo: bus-
que o crescimento. Cito aqui uma frase de Napoleon Hill, da qual
gosto muito: “Não há nada permanente, exceto a transformação!”.
Importante alertar para a armadilha do perfeccionismo. Jamais
encontraremos o limite do “pronto”, mesmo porque os desafios em
nossa vida se renovam e precisamos alcançar, reiteradamente, novos
conhecimentos em todas as áreas da nossa existência! É o desafio

81
permanente da vida: o que não está crescendo ou se desenvolvendo,
AVA N C E M O S

está morrendo.
Por outro lado, devemos afastar os fantasmas da procrastinação
e da acomodação. Você perceberá, em determinado momento, que
os relacionamentos estarão estáveis, o convívio entre os irmãos será
amistoso, as reuniões serão divertidas e as conversas estarão ame-
nas. Aquele ímpeto inicial dará lugar a conversas mais econômicas,
justamente porque, pelo fato de já conhecermos bem as feridas uns
dos outros, evitaremos tocar nelas, para que não tenhamos as nos-
sas tocadas também. Definitivamente esse é o ponto em que você,
enquanto líder, precisará “cortar a corda”.
A expressão “cortar a corda” é muito comum entre desportistas
e operadores especiais. Resumidamente, significa que em situações
extremas, onde o peso demasiado ou o desequilíbrio causado por
uma carga extra coloca em toda a estrutura e, por consequência,
a vida de quem está a bordo. Nessas situações extremas, o líder
precisa fazer escolhas cruciais, aliviando a carga excedente ou
descompensada, que pode até mesmo ser um membro da equipe,
a fim de que o conjunto remanescente permaneça em segurança.
O brilhante filme dirigido por Martin Campbell, Limite
Vertical, escrito por Robert King, estrelado por Chris O’Donnell,
Bill Paxton, Robin Tunney e Scott Glenn, lançado em 2000, ilustra
esse drama. Filmado em locações estonteantes, o filme mostra a saga
de uma família de alpinistas que tentam conquistar o Monte K2,
conhecido e temido por eles. Logo no início, o herói Peter Garrett,
representado por O”Donnell, precisa fazer essa escolha dramática:
preservar duas vidas (a sua e a de sua irmã) ou arriscar o peso da
corda com três vidas em perigo (a dele, a da irmã e a do pai, que
está por último na corda, e talvez o peso faça todos serem lançados
abaixo). Numa decisão absolutamente difícil, ele opta por preservar
a sua vida e a da sua irmã, sendo apoiado pelo pai, que exigia que
ele cortasse a corda. Essa opção permitiria que ambos retornassem
vivos, o que de fato aconteceu. Mas as consequências rompem o
equilíbrio familiar, fazendo-o se afastar da família e do esporte.

82
Ao longo do filme, ele é obrigado a voltar e cumprir mais uma
missão: sua irmã fica presa no Monte K2, com uma equipe, a 8 mil
metros de altitude e com temperaturas baixíssimas. Ali há poucas
chances de vida. Para salvá-los, Peter lidera uma missão de resgate
bem-sucedida, superando a tragédia que o havia afastado de sua
irmã e do esporte. Filme maravilhoso, que ilustra bem o sentido de
“cortar a corda”.
A seguir, comentarei sobre o esforço necessário para manter a
liga, mas é necessário ter consciência de que nem sempre isso será
possível, e que teremos recursos para cortar a corda, quando a
situação exigir.
Um dos principais fatores que levam ao desligamento de mem-
bros de uma equipe é a falta de engajamento. Segundo William
e Jeffrey Dyer, um líder precisa reconhecer claramente o grau de
entrega e a motivação dos integrantes de uma equipe, pois o senti-
mento com que os componentes permanecem numa equipe define
a dimensão dos resultados que ela irá apresentar. É um fato: times
sempre contarão com algumas pessoas mais motivadas e outras com
baixo engajamento, que podem interferir no ânimo das demais. Em
respeito a toda a equipe, o líder precisa identificar a pessoa com
indisposição e afastá-la.
Falarei um pouco sobre como selecionar os homens que farão
parte do seu grupo de discipulado e o tipo de vínculo criado entre
todos. Naturalmente, parto da premissa de que essa escolha é um
comissionamento vindo do céu, mas, de maneira prática, passa pelas
nossas mãos. Por esse motivo precisamos nos manter conscientes
C A P Í T U LO 0 4 | O M O D E LO !

durante esse processo.

83
05
Seleção

John Maxwell, ao falar do seu mentoriado Dale Bronner,


afirmou que quando o estudante está pronto o professor aparece!
Ou seja, quando pensamos que estamos num exercício de seleção
de discípulos, na verdade, eles é que estão prontos, à espera de uma
sinalização, quem vem pelo Espírito Santo. Eles estão por aí, em
todas as nações.
No verão de 2020 fomos surpreendidos por uma novidade
global, chamada de pandemia do coronavírus (Covid-19). Ela
mexeu profundamente com os meus projetos, como imagino que
tenha mexido com os de todos. Se por um
lado ela catalisou algumas das minhas Podemos ter opiniões
expectativas, encurtando o tempo de diferentes sobre os fatos
projetos que estavam incubados, por da vida, mas não podemos
outro empurrou coisas para uma região interpretá-los sob
periférica, ajudando-me a enxergar o que fundamentos distintos.
era realmente prioridade na minha vida.
Iniciamos o ano cheio de expectativas, como todo mundo.
Muitos projetos e um razoável planejamento para levá-los adiante.
O que eu imaginava que aconteceria ao longo de doze meses preci-
C A P Í T U LO 0 5 | S E L EÇ ÃO

sou ser antecipado. Outras iniciativas foram replanejadas e assim


tateamos por alguns dias, até nos ajustarmos a uma rotina insólita
jamais imaginada.
Logo que começou o isolamento, entendi que era um ponto
crucial para o projeto de discipulado que o Senhor tinha me apre-
sentado: eu poderia tanto usar aquele momento traumático como
desculpa para me fechar ainda mais, estudar um pouco mais, eco-

85
nomizar o tempo e evitar o desgaste próprio das relações, quanto
AVA N C E M O S

poderia driblar a dificuldade e colocar em prática o modelo em ação,


mesmo de que diferente da forma que havia imaginado.
Não foi preciso meditar muito. Naquele ano, logo depois do
carnaval, eu abri um grupo de discussões, que inicialmente contava
com homens que estavam mais próximos a mim. Em sua maioria,
eram membros da nossa comunidade de fé, mas tínhamos homens de
outros núcleos sociais. Começamos com um ambiente de vazão da
pressão que a pandemia gerou, compartilhando desafios, angústias,
e orando uns pelos outros. Aos poucos, fui colocando em prática
aquilo que Deus havia me entregue como revelação.
De maneira geral, a primeira seleção foi feita com base em
dois critérios: primeiro, ser cristão; segundo, estar passando por
alguma dificuldade (financeira, emocional, saúde etc). O objetivo
era entregar algum tipo de recurso, advindo da Palavra, para que
esses homens pudessem vencer o fenômeno do confinamento e das
emoções sobressaltadas, até então desconhecidos de todos nós.
Ninguém tinha a menor noção do que viria pela frente. Em
breve síntese, foram quase dois anos de confinamento, ora total,
ora parcial; perda de renda; adaptação no emprego; home office;
perda de capacidade produtiva; abalo na saúde física, emocional e
espiritual, entre outras consequências. Éramos bombardeados por
notícias que causavam insegurança, sem a menor perspectiva de
todas as dificuldades (e oportunidades!) que a pandemia iria trazer.
De alguma maneira o Senhor me encorajou a levar adiante o
discipulado. Baseado nesse recorte (ser cristão e estar passando por
alguma dificuldade), selecionei os seis primeiros integrantes para o
grupo, porque tinha no meu coração que o projeto inicial deveria
acontecer com seis homens. Eu pensava o seguinte: se Jesus cami-
nhou com doze discípulos, por três anos, até deixá-los em condições
de levar adiante a boa nova, como pequeno Cristo que sou, apenas
um imitador das suas virtudes, não me atreverei a caminhar com
mais de meia dúzia de discípulos! Eu pensava em um modelo in-
tenso, com vivências semanais e muito compartilhamento de vida.

86
Por isso eu acreditava que não teria condições de discipular mais
do que seis irmãos de uma só vez, na intensidade que o Espírito
havia me revelado.
Selecionados os irmãos, percebi logo nos primeiros encontros
que nem todos estavam na mesma frequência. E daí veio uma li-
ção importante: é necessário respeitar o tempo das pessoas! Não
adianta entregar algo a alguém fora do tempo. É prejudicial para
quem recebe, para quem entrega e para quem assiste! É como a
declaração de Malcolm Gladwell, no clássico O ponto da virada,
quando ele conversava com Mark Alpert, e este diz: “Procuro ser um
expert bem passivo… é preciso lembrar que a decisão é das pessoas.
A vida é delas!”. Embora bem óbvio, às vezes perdemos de vista
essa obviedade! Não somos o Deus da vida de ninguém. A vida é
delas e a decisão de fazer parte, ativamente, de um discipulado, é
delas! Mas a decisão de manter o grupo, é do líder.
Flávio Augusto Silva, líder do movimento Geração de Valor,
exemplifica de maneira semelhante, utilizando o Governo como
estrutura macro na qual todos estamos ligados. O Governo pode
até estabelecer políticas de incentivo ao crescimento dos cidadãos,
mas isso só surtirá efeito se cada pessoa (homem e mulher) se
comprometer com a sua própria jornada, e, por meio da própria
iniciativa, trabalho duro e compromisso, mudarão a sua realida-
de. Flávio enfatiza que o pior governo que pode existir é o que
discursa, persuasivamente, subestimando a inteligência e a capaci-
dade de discernimento da população. Governos que sequestram o
protagonismo dos seus governados e se vangloriam do pouco que
entregam, garantem a sua autoridade por meio da manipulação e
C A P Í T U LO 0 5 | S E L EÇ ÃO

da entrega de migalhas.
O clássico Mananciais no Deserto, de Lettie Cowman, traz
uma curta e esclarecedora história a respeito desse alinhamento de
frequências, descrita no devocional do dia 17 de agosto. Ali, o autor
conta que estava embarcado em um navio e, quando a embarcação
se aproximava do porto, o capitão relatou uma história incrível:
ele havia estado lá, naquele mesmo porto, há menos de um mês

87
e o seu passageiro era Sir George Miller. Miller era professor de
AVA N C E M O S

Psicologia na Universidade Rockefeller, no Instituto Tecnológico de


Massachusetts e na Universidade Harvard; e autor do famoso The
Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on our
Capacity for Processing Information, publicado em 1956, no qual
demonstrava a baixa capacidade da memória de curto prazo (sete
itens, mais ou menos dois) para armazenar listas de letras, palavras,
números ou qualquer tipo de itens discretos.
Apesar do grande cientista que era, Miller também era um
homem de íntimo relacionamento com Deus. Naquela ocasião, ele
precisava chegar em Quebec num curto espaço de tempo, mas as
condições meteorológicas não eram favoráveis, pois havia muita
neblina e o navio precisava deslizar sobre as águas numa marcha
mais suave. Então, Miller chamou o capitão, que também era um
cristão devoto, para um compartimento e fez uma curtíssima oração.
O capitão estranhou aquele comportamento, porém, como era
cristão, ajoelhou-se para orar concordando. Quando ia começar
a oração, Miller pôs a mão no ombro do capitão e o dispensou,
dizendo: primeiro, porque ele não cria que Deus pudesse atender;
e, segundo, porque Ele já havia respondido e não havia mais neces-
sidade de reforço. Miller estava ciente de que o capitão do navio
não compartilhava da mesma intensidade de fé com a qual ele havia
orado, portanto, a oração daquele homem, embora fosse um servo
do senhor, era dispensável. Em seguida, ambos foram para o convés
do navio e viram a neblina se dissipando, dando condições para que
Miller chegasse a tempo para cumprir o seu compromisso.
Eis um bom exemplo da clareza, lucidez e posicionamento que
devemos ter em momentos importantes.
Após alguns encontros, precisei “cortar a corda” e alguns
homens foram “desconvidados”. Graças a Deus, isso não feriu a
relação que tenho com eles, mas fortaleceu o vínculo com aqueles
que permaneceram.
E, assim, alterei a composição do grupo algumas vezes até que
alcançamos um número de nove membros. Sim, eu excedi o limite

88
Não somos o Deus
da vida de qualquer
pessoa. A vida é
delas e a decisão
de fazer parte,
ativamente, de um
discipulado, é delas! C A P Í T U LO 0 5 | S E L EÇ ÃO

89
que havia estabelecido inicialmente, mas achei que era inevitável,
AVA N C E M O S

mesmo porque aquilo não estava no meu controle, mas, sim, nas
mãos do Senhor.
De maneira obediente, permaneci conectado a esses homens
buscando estratégias para criar um ambiente de compromisso e
confiança, o qual favorecesse a exposição da vida de Cristo, de
maneira prática, influenciando nas ações do dia a dia de cada um.
Importa dizer que, ao final da fase de seleção, nem todos os
homens eram da nossa comunidade de fé. Isso nunca foi uma bar-
reira para mim. Creio que, em algumas denominações, o fato de
não pertencer ao rol de membros pode representar uma barreira,
mas, para mim, era de alguma forma desejado. Gosto de desafios
e da multiplicidade de opiniões, por isso via a inclusão de homens
que não fossem da nossa comunidade de fé como algo benéfico,
não como um risco ou ameaça. Na verdade, foi e tem sido uma
maravilhosa porta para o intercâmbio de influências.
Então, guarde outra dica importante: para haver crescimento, é
preciso ter diversidade. Grupos homogêneos estagnam rapidamente.
Por outro lado, grupos diversos demais não alcançam estabilidade.
É necessário um equilíbrio dinâmico, ou seja, um equilíbrio que só
se alcança em movimento.
Existe uma equação que é própria do grupo de homens que você
vai liderar ou compor. Nessa equação, deve ser possível coexistirem
opiniões distintas sobre os mais diversos temas. As opiniões seguem
o olhar de cada indivíduo, porque reproduzem a perspectiva de
vida de cada um. Podemos ter opiniões diferentes sobre os fatos da
vida, mas não podemos interpretá-los sob fundamentos distintos.
Os nossos fundamentos precisam ser os mesmos, porque o que nos
une é transcendente e não está sujeito à nossa subordinação. E como
estamos tratando de discipulado cristão, os fundamentos estão na
Bíblia e são aqueles ensinados por Jesus Cristo.
Nesse sentido, valho-me dos ensinamentos do Pr. Paulo Borges
Júnior, irmão de caminhada, que lidera nosso ministério, enfati-
zando a possibilidade de estarmos juntos mesmo quando houver

90
constrangimento. Para ele, o que impede a comunhão não é o cons-
trangimento, mas sim o comprometimento. Logo, se só constrange,
segue. Se compromete, é a hora de cortar a corda.
Ao lado da intencionalidade na seleção, a consistência no
propósito contribuiu muito para a colheita que vivemos. Qualquer
projeto, interesse, decisão ou empreendimento humano é tão gran-
de quanto a consistência e firmeza de propósito de quem o lidera.
Pensando nisso, estabeleci um dia e horário que não seria fácil
de cumprir: domingo às 7h00. Fiz as contas e entendi que nesse
horário as intervenções seriam menores e quem se dispusesse a
levantar tão cedo no domingo para participar das reuniões estaria,
de fato, demonstrando seu engajamento. E assim, por dois anos,
nos reunimos absolutamente todos os domingos. É bem verdade
que no começo foi mais difícil. Eu soltava o link para a participação
virtual por volta de 6h30 e ficava com a sala aberta, aguardando as
solicitações de ingresso. Em alguns domingos, apareceu apenas um
ou dois discípulos. Mas o fato dos demais saberem que o encontro
havia acontecido, a despeito da sua ausência, os deixava interessa-
dos em participar do próximo encontro.
O que era uma adesão por conveniência – tudo bem, posso até
participar, desde que não atrapalhe qualquer outro plano! – passou
a ser uma agenda fechada. Começávamos a semana sabendo que
aos domingos, às 7h00 da manhã, haveria uma mesa preparada.
Isso fez toda a diferença! Conforme os homens percebiam o
meu compromisso e o daqueles que eram mais assíduos, eles se mo-
tivavam a participar. Todas as vezes que encerrávamos o encontro
virtual, eu fazia algum comentário positivo do que havia acontecido,
C A P Í T U LO 0 5 | S E L EÇ ÃO

sem abrir detalhes do conteúdo. Esses comentários geravam interes-


se dos que não se fizeram presentes. Saber que todos os domingos,
às 7h00 da manhã, havia um encontro marcado com o seu grupo
de discipulado, fez gerar conexões poderosas capazes de substituir
a dúvida gerada pela preguiça ou pelo cansaço, pela convicção de
que valeria a pena.

91
06
Estratégias

Depois de selecionar os discípulos, vem um período crítico: a


manutenção da regularidade e qualidade dos encontros.
Todos sabemos o quanto é desafiador manter uma agenda re-
gular, frente à quantidade de estímulos e necessidades dos tempos
atuais. Concorrer com agendas paralelas, tais como atividades
familiares, lazer, entretenimento e até mesmo o serviço na igreja,
exige bastante disciplina.
Não é comum homens permanecerem em grupos, interagindo
por muito tempo, se não compreenderem a importância e a necessi-
dade desse coletivo. Com essa informação nas mãos, o discipulador
deve, desde o início, trabalhar com estratégias de aprofundamento
das relações e manutenção do interesse pelo grupo.
No Capítulo de título Testemunho, comentei um pouco sobre
a minha carreira profissional como policial e, especialmente, como
membro de Operações Especiais. Tive a oportunidade de liderar
algumas equipes em diferentes missões. No ambiente profissional,
ao contrário de um grupo de discipulado, as pessoas precisam estar
ali. Existe um compromisso formal, assim como expectativas a res-
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

peito da participação de cada um. Isso, porém, não é suficiente para


extrair o melhor dos indivíduos, o que justifica a baixa qualidade
generalizada nos serviços prestados em âmbito público e privado.
Ressalto que essa péssima qualidade de serviço no Brasil não é
um privilégio exclusivo do setor público, visto que as empresas
têm prestado serviços com níveis insuficientes, especialmente com
relação ao preço cobrado. Isso está ligado diretamente aos colabo-
radores, homens e mulheres que estão ali para fazerem o que deve

93
ser feito, em atenção ao cliente. Contudo, fazem de qualquer jeito,
AVA N C E M O S

sem interesse na qualidade do resultado.


Nos lugares onde tive a oportunidade de liderar, sempre bus-
quei estratégias de engajamento para manutenção do interesse dos
indivíduos tanto na permanência no grupo quanto no seu autode-
senvolvimento. Conforme o indivíduo avança, ele naturalmente en-
trega serviços melhores. E na medida em que aprimora a qualidade
do seu serviço, sente-se mais gratificado em fazer o que faz. Esse
é um ciclo virtuoso, pois começa com o desenvolvimento pessoal,
passa pelas entregas e atinge o ponto central: o indivíduo melhora
a consciência sobre si mesmo, reconhecendo as suas limitações, mas
também o seu potencial, buscando, assim, extrair o melhor de si.
Compartilharei aqui algumas estratégias que foram decisivas
para a manutenção do grupo de discipulado, mas que eu já havia
utilizado antes, em outros ambientes, sobretudo profissionais. Essas
estratégias deram certo e compartilho sem a pretensão de que você
use todas, ou mesmo que adote outra estratégia que tenha relação
com suas habilidades ou com sua personalidade. São ideias e mode-
los. Elas podem ser substituídas por outras que façam mais sentido
em seu ambiente e nicho de relacionamento.
Possivelmente, você já teve contato com uma ou mais dessas
estratégias. A diferença é que agora elas são apresentadas para um
propósito que une todos nós cristãos: discipular vidas. A exemplo do
que fez Jesus, estamos tratando da formação de discípulos, os quais
caminharão espelhando-se no próprio Cristo. E sabemos que não é
uma tarefa prosaica, exigindo do discipulador estratégias eficientes.
Reforço que apresento um catálogo exemplificativo. Existem muitas
outras estratégias, seja no mundo corporativo, no ambiente militar
ou no âmbito dos esportes. Mas todas elas cooperam para o mesmo
desígnio: o poder do coletivo.

Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,


aí estou eu no meio deles.
Mateus 18:20

94
Estratégias:

1. Ore. Ore sempre. Ore desde o início!

Em todos os encontros não abro mão de orar no início


e no encerramento. Eu chamo de Oração de Abertura e
Oração de Selamento, respectivamente.

Penso que todo encontro deve ser iniciado por uma oração
segura e sincera, à espera de que o Espírito Santo guie o grupo
durante todo o tempo. Devemos considerar que o inimigo não fica
nada contente de ver homens se reunindo por um propósito nobre
de crescimento. É o que nos adverte Bruce Wilkinson, no livreto
A Oração de Jabez: “À medida que penetramos mais fundo no reino
do miraculoso, aprendemos que a guerra mais eficiente contra o
pecado é orar para que não tenhamos que lutar contra tentações
desnecessárias”.
A oração é parte fundamental do ciclo, pois garante que todos
se mantenham conscientes no sentido de que o discipulado é uma
busca por espelhar Cristo. E isso só é possível com o conselho do
Espírito.
Sempre busco dirigir minhas reuniões com um propósito pre-
viamente estabelecido, o que exige organização e meditação sobre
o que devo entregar. Mas, após iniciar a reunião com a oração de
entrega, deixo tudo sob o controle do Espírito Santo. Algumas
dessas reuniões simplesmente tomam caminhos totalmente ines-
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

perados. O Espírito se apossa do “volante” e nos leva a reflexões,


assuntos ou lugares que Ele mesmo quer. A oração de entrega nos
dá o conforto da confiança e “deixamos rolar”. Não precisamos ter
o protagonismo da fala, pois o protagonista é Cristo. Precisamos
apenas nos manter vigilantes, porque, afinal, existe uma responsa-
bilidade espiritual sobre os assuntos tratados nesse ambiente.
Da mesma maneira que considero indispensável a oração de
abertura e entrega, não abro mão da oração de fechamento. Ao

95
iniciarmos o encontro, abrimos uma janela espiritual, através da
AVA N C E M O S

qual coisas sobrenaturais acontecem. É uma espécie de portal por


onde transitamos em comunhão com todos e com o Espírito Santo.
Não é inteligente deixar este portal aberto! Assim, para encerrar
de maneira prudente, o líder deve conduzir uma oração serena e
intencional, declarando o término da reunião, momento em que
também recomendo orar pelas causas expostas durante o encontro.

2. Tenha clareza do propósito

Muitas vezes perdemos tempo com projetos mal definidos, am-


bíguos ou confusos. Muitos autores consagrados falam sobre clareza
de propósito. Mas tenho particular apreço pela primazia, clareza
e domínio com que Napoleon Hill falou sobre propósito no seu
clássico livro As Leis do Triunfo. Sendo direto, estou me referindo
à terceira Lei do Triunfo: ter um objetivo específico bem definido.
Outro autor consagrado, Lev Nikolaevitch Tolstoi, mais conhe-
cido como Leon Tolstói, trabalhou em suas célebres obras, tais como
Onde Existe Amor, Deus Aí Está (1885), Guerra e Paz (1869) e
Anna Karenina (1877), a necessidade de sermos coerentes nas nossas
intenções, vivendo de modo fiel à mensagem cristã, concentrados
em um objetivo, conforme a palavra toca o nosso coração.
Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo pseudônimo
Lewis Carroll, autor do célebre Alice no País das Maravilhas, ficou
famoso por ter dado ao mundo uma frase sucinta e constrangedora
sobre propósito: “Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho
serve”.
No universo dos esportes, o autor cristão Vitor Belfort refor-
çou essa lição ao dizer que, quando a intenção é clara, temos mais
chances e energia de sermos bem-sucedidos. Segundo ele, a intenção
é como uma luz dentro de nós iluminando o caminho. Com ela,
não sentimos medo de esmorecer, nem de perder a direção (Belfort:
Lições de Garra, Fé e Sucesso).

96
Aquele que se propõe a cumprir o Ide precisa ter clareza da
missão e onde ela deve ser desempenhada. Um discipulado eficaz
começa com a compreensão de que o objetivo de todo homem é
espelhar Cristo. Parafraseando Dale Carnegie Bronner: mentorear
requer ser antes de fazer, pois não temos interesse em praticar aquilo
em que não nos tornamos. Para discipular é necessário, antes, ser
um discípulo de Cristo. Só então nasce o desejo de fazer discípulos
com esse mesmo propósito.
Reflita sobre isso: discipulado não é uma agenda legal, com
caras legais. É uma associação de irmãos que se reconhecem em
Cristo, com propósito de crescimento, mediante a Palavra, buscando
transmitir as virtudes reveladas no
Salvador. Esse é o ponto central! E é A oração é parte fundamental
imprescindível que discípulo e disci- do ciclo, pois garante que todos
pulador mantenham-se ligados a ele. se mantenham conscientes no
Daniel Shapiro e Roger Fisher sentido de que o discipulado é
falam do poder da associação no uma busca por espelhar Cristo.
manual de resolução de conflitos
Além da razão. Os autores destacam que, ao somarmos nossa inteli-
gência e nossa percepção, construímos possibilidades mais concretas
de gerar resultados mutuamente satisfatórios. A associação nos leva
a relativizarmos nossos espaços emocionais, dando oportunidade
para que eles sejam cada vez mais próximos um do outro. É esse
fenômeno, o entrelaçamento dos espaços emocionais, que garante
a coesão de uma associação. Mas essa construção só é possível
quando as intenções estão postas e são compartilhadas pelas pessoas
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

que se unem. Clareza de propósito facilita o estabelecimento desses


espaços emocionais de confiança e compromisso.

3. Mantenha a regularidade das reuniões

“Pactos claros, amizades longas!”, assim dizem os italianos.


Muitas amizades sinceras são forjadas na aridez das declarações
que não escondem suas intenções. Ao mesmo tempo, conflitos

97
devastadores são decorrentes de comunicações falhas, sinuosas,
AVA N C E M O S

obtusas, irônicas, incompletas ou negligentes. Comunicação é a


ponte entre dois mundos quaisquer e precisamos nos esforçar para
eliminar os ruídos.
Nesse sentido, marque um horário específico na agenda com
seu(s) discípulo(s) e não permita que distrações, de qualquer das
partes, interfira nesse tempo. Seja claro quanto à periodicidade da
agenda e à tolerância em relação às ausências. Indivíduos descom-
prometidos contaminam o ambiente, enfraquecendo a adesão dos
demais.
Recomendo que você defina um dia e horário fixos na semana.
Que seja sábado ao meio-dia, ou terça-feira às 6h00, mas você pre-
cisa estabelecer isso, para que todos tenham a oportunidade de se
organizar em relação a essa agenda, definindo-a como prioridade.
Essa estratégia permitirá que os interessados se organizem em torno
do discipulado, e não ao contrário. Se a rotina não é bem definida,
abre-se uma brecha para um raciocínio mais ou menos da seguinte
natureza: “Se sobrar um tempo, dou um pulo no grupo”.
Dia, horário e ambiente são fundamentais para o sucesso do
discipulado.
A constância e a rotina das reuniões permitem, também, a
criação do hábito. Segundo Charles Duhing: “Há algo de pode-
roso em grupos e experiências compartilhadas. As pessoas talvez
sejam céticas sobre a sua capacidade de mudar se estiverem por
conta própria, porém um grupo pode convencê-las a suspender a
descrença. Uma comunidade cria fé”. São palavras encorajadoras
que nos mostram que a disciplina, trazida pela regularidade, pode
elevar o compromisso e promover as mudanças estruturais, em
Cristo, anunciadas no Evangelho.
Com relação à disciplina, o aclamado técnico de futebol Alex
Ferguson, considerado por muitos o melhor treinador de todos os
tempos, discorre sobre as decisões fundamentais ao longo da sua
carreira, sobretudo durante os 38 anos em que trabalhou como
treinador de futebol. Ferguson relata que a fantástica carreira de

98
sucesso do técnico, conhecido pelo seu incrível desempenho à frente
do Manchester United, foi pautada sobretudo na humildade e na
disciplina. O técnico compartilha que colocava a disciplina acima
de todo o resto, porque, em suas palavras: “Quando se dispensa
a disciplina, abre-se mão também do sucesso e a anarquia ganha
espaço”.
Crie o hábito dos seus encontros e, no futuro, isso definirá o
ponto de inflexão da agenda dos envolvidos.

4. Sempre em frente!

Particularmente perco rápido o interesse por ambientes em que


não há aprendizado. Na vida pessoal, profissional ou espiritual,
sempre busquei lugares em que permaneço aprendendo. Robert T.
Kiyosaki, no seu best-seller Pai Rico, Pai Pobre, ensinou que não se
deve trabalhar pelo dinheiro, porque isso é muito pouco e aprisiona.
Se você não trabalhar em um lugar onde aprenda continuamente,
seu tempo estará sendo desperdiçado, não importa o quanto você
receba por isso.
Muito embora o foco aqui seja o crescimento espiritual e o es-
pelhamento de Cristo, esse conceito se encaixa como uma luva em
nossa missão. É importante avaliar periodicamente se o ambiente
está promovendo o crescimento dos envolvidos para além do acon-
chego e das boas amizades. Só as amizades não bastam. Já dizia
minha saudosa vó Ana: “De ‘boas amizades’, o inferno está cheio!”.
É responsabilidade do discipulador trazer algo novo a TODOS
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

os encontros. Sim, é difícil, eu sei, mas é essa a missão. Nossa mente


está sempre pronta para ser renovada, a partir do momento que
aperfeiçoamos o nosso entendimento. No seu livro Livre-arbítrio,
Gerald L. Schroeder afirma que são necessárias várias gerações para
se alterar o cérebro por meio da evolução, porém, modificá-lo por
meio de palavras ou visões leva menos de um segundo. Esse é um
generoso convite para aproveitarmos todas as oportunidades de
lidar com essa maravilhosa mágica chamada de plasticidade neural.

99
Quando digo “algo novo”, estou me referindo a um versículo
AVA N C E M O S

que ainda não foi explorado; um estudo bíblico específico; uma


estatística impactante, que nos coloque para refletir sobre a vida
cristã e seus desafios; a resposta a uma dúvida que tenha surgido no
último encontro; um filme ou um livro que enriqueçam a discussão
sobre determinado tema, enfim, algo que dê a clara percepção de que
mais um degrau foi alcançado. Não faz sentido investir tempo em
uma comunhão na qual você sai do jeitinho que entrou! O mundo
está repleto de espaços que oferecem mais do mesmo. O ambiente
de discipulado não deve ser outro “lugar comum”.
Alexandre Magno, o primeiro brasileiro certificado na metodo-
logia Scrum no Brasil e fundador da Emergee – consultoria e escola
de negócios – especializada em tornar pessoas e empresas mais efi-
cazes e produtivas por meio da gestão ágil, revela que, entre todas
as suas experiências profissionais, dentro e fora do Brasil, liderando
ou sendo parte integrante de grandes times, não encontrou nada
que represente maior desperdício de tempo, dinheiro e talento do
que reuniões inúteis. Eu concordo integralmente com ele.
É um verdadeiro desrespeito iniciar uma reunião sem um obje-
tivo definido ou uma questão clara a ser debatida. E não me venha
com essa de que “deixe o Espírito Santo fluir…”. Na maioria das
vezes, esse discurso é usado por quem não se preparou adequada-
mente para enfrentar o seu turno e quer elevar o tom e a discussão
a um nível intangível e inegociável, supostamente responsabilizando
o Espírito.
Existe uma grande diferença entre deixar o Espírito fluir e não se
preparar para que Ele tenha a liberdade de fluir. Merece meu respeito
quem orou, jejuou, fez um consistente estudo bíblico, buscou uma
revelação, preparou uma palavra e, durante a reunião, sentiu que
o Espírito estava guiando as reflexões por outro caminho. No en-
tanto, fico bastante decepcionado com líderes que não se preparam,
negligenciam o processo que antecede uma reunião, desconsideram
o valor do tempo de quem se dispõe a estar junto e chegam para a
reunião com um sonoro: “E então, o que temos para hoje?”.

100
Conheço poucos homens de fé com substância suficiente para
caminhar exclusivamente pelo sopro do Espírito. Homens que de
tão preparados para a caminhada, estão prontos a qualquer tempo.
Na verdade, os homens que conheço e estão nesse nível passaram
por um longo processo de amadurecimento e intimidade com o
Senhor, a ponto de, realmente, andarem na presença do Espírito.
Para eles, qualquer encontro é pauta para debates profundos à luz
da Palavra. Esses homens, nos quais são patentes as virtudes e a
profundidade na Palavra, podem assumir a postura “descolada” de
“deixar fluir”. Creio que para os demais, entre os quais me incluo,
o caminho é cimentado pelo compromisso, pela disciplina e pelo
respeito ao tempo do outro, reservando tempo para um preparo
adequado e prévio às reuniões, de forma intencional em favor dos
objetivos do discipulado.

5. Todos iguais

Rui Barbosa, consagrado jurista brasileiro, deixou-nos um


precioso ensinamento sobre igualdade material:

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desi-


gualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam.
Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade
natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar
com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade,
seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

Devemos tratar desigualmente os desiguais para que se igualem.


Somos únicos em nossas experiências e não existe uma fórmula
pasteurizada de nos relacionarmos bem com todo mundo. Existem
regras seguras, como a Regra de Ouro, que permitem, no máximo,
que evitemos conflitos desnecessários em nossas relações, em virtude
dos nossos comportamentos.

101
A Regra de Ouro pode ser encontrada na Bíblia, de maneira
AVA N C E M O S

seminal. No consagrado Sermão da Montanha, registrado em


Mateus, Jesus ensina aos que lhe ouviam: “Portanto, tudo o que
vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque
esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12). Invertendo os períodos,
visando extrair uma melhor compreensão, teremos a seguinte regra:
faça aos outros apenas o que gostaria que fizessem a você! É uma
regra de dois caminhos, ou seja, pelo lado negativo, não devemos
fazer aos outros o que não gostaríamos de sofrer, como ação. Não
devemos tratar os demais de uma maneira diferente da qual gosta-
ríamos de ser tratados. Além disso, tem uma face positiva, que é a
de desenvolvermos a iniciativa de tratar os outros conforme gosta-
ríamos de ser tratados. Entregar atenção, cuidado, amor, respeito,
entre outras coisas, são maneiras de agir em conformidade com a
Regra de Ouro.
Augusto Cury é um dos defensores da Regra de Ouro. Em seu
livro O Código da Inteligência, ele destaca o altruísmo como um
dos pilares da inteligência interpessoal. Para o autor, o altruísmo é
o segredo da afetividade social, da capacidade de se doar, de cuidar
e de proteger quem nos cerca. No entanto, somente quem é madu-
ro emocionalmente consegue tratar os demais com generosidade,
bondade, compaixão e desprendimento. O altruísmo nos livra do
individualismo e do egocentrismo.
O neurocientista David Eagleman, professor na Universidade de
Stanford, célebre pesquisador no que diz respeito à compreensão do
processo de formação das memórias e, portanto, do conhecimento,
tem contribuído muito para ampliarmos a nossa capacidade de en-
tender o nosso próprio regime de funcionamento mental. Eagleman
é cofundador da Neosensory, empresa que desenvolve dispositivos
para substituição sensorial. Em sua jornada para explicar como
chegamos a ser o que somos, ele ensina que à medida que os trilhões
de novas conexões se formam e reformam continuamente, o padrão
característico resultante implica que nunca existiu e jamais existirá
alguém igual a você! Portanto, somente sendo altruísta conseguire-

102
mos sair um pouco da visão exclusiva de mundo que construímos
para buscar atingir, pelo menos em parte, a visão do outro, dando
oportunidade para construirmos as pontes que nos ligarão.
Assim como não há um indivíduo igual ao outro, não existe
discípulo mais importante do que outro. Cada um deve ser tratado
segundo a sua particularidade.
Essa estratégia é sensível porque pode ser facilmente mal inter-
pretada. Todavia, para acalmar nossos corações, ficamos seguros
quando vemos Cristo tratando desigualmente pessoas desiguais. Ele
não tratou um publicano e um fariseu da mesma forma. Não tratou
sequer os discípulos da mesma forma! A uns, confiava a estabilidade
do grupo. A outros, a sua intimidade.
O verdadeiro interesse no discipulado é o engajamento que
gera maturidade espiritual. Condições socioeconômica, intelec-
tual, moral ou, até mesmo, espiritual não subordinam a relação de
discipulado. Aqui, a caminhada acontece
ombro a ombro. Com isso quero dizer que O discípulo que se torna
a horizontalidade das relações, mesmo discipulador é como
com o líder, deve ter primazia. Todos os uma bússola, orientando
membros que permanecerem num grupo um ambiente por meio
de discipulado são relevantes! Se conside- de conselho. Ele não é
rarmos o discipulado como uma equação uma matriz. Cristo o é!
matemática, todos somam uma unidade.
Só assim o todo, que é resultado da soma das partes, será maior do
que a soma das partes individualizadas.
Eis aqui uma advertência importante: se você, na condição de lí-
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

der, perceber que qualquer dos membros do grupo não acompanha,


em espírito, a jornada, seja prudente e redirecione a participação
dele para outro momento! Não o sobrecarregue nem sobrecarregue
o grupo. Pode não ser o momento dele e, justamente por isso, a
sua presença vai drenar a energia espiritual do grupo, sem a con-
trapartida do crescimento espiritual desse integrante. Mantenha a
harmonia, para que o crescimento, mesmo em meio às divergências,
seja gradual e contínuo.

103
6. Elimine os ruídos
AVA N C E M O S

Distrações aniquilam propósitos. E temos hoje um mundo


fantasticamente tomado por distrações de toda natureza. Por isso,
devemos ser prudentes e nos anteciparmos para dissipar esses
ruídos.
Classifico como ruído tudo aquilo que não favorece o propó-
sito de crescimento do grupo. Por exemplo, uma discussão sobre
o Corinthians ser, ou não, o melhor time do Brasil (vã discussão,
pois de fato ele é!) toma tempo e gera perda de foco. Assuntos
assim devem ser prontamente contornados. E é desejável que não
volte mais à tela.
O Pr. Peréa, no seu livro A Herança do Homem Sábio, destaca
a predileção de Deus pela ordem. Segundo Peréa, nosso Pai Celeste
ama a ordem. Fisicamente, quando nos colocamos em uma posição
incômoda, que não é adequada para o nosso corpo, a dor nos
aponta que alguma coisa está errada ou fora do lugar. Quando
voltamos à posição normal, a dor passa. Então, precisamos estar
continuamente ajustando nossas posições, evitando os espinhos na
carne. A eliminação das distrações ajuda a nos manter concentrados
no propósito, adotando a postura natural e a espiritual corretas.
É bem verdade que a manutenção da ordem não deve se con-
fundir com a pasteurização. As individualidades são fundamentais
para o crescimento de qualquer grupo; não o individualismo! Todos
precisam cooperar no mesmo espírito. Vocabulário inapropriado
para o propósito do grupo, por exemplo, é uma distração que
precisa ser eliminada. Assuntos polêmicos e irreconciliáveis, que já
foram discutidos sem sucesso, também são distrações que estarão
sempre pairando. Ao pacificar um determinado assunto, por mais
que exista o desejo de algum integrante do grupo retomá-lo, este
só deverá voltar à tela se houver um fato novo ou uma revelação
que traga um discernimento pacífico a todos.
Sei que não é fácil ser um maestro, especialmente nos assuntos
mais espinhosos. E isso pode significar ter conversas diretas e indi-

104
aniquilam
Distrações

propósitos.

C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

105
gestas. Entretanto, se somos copiadores de Cristo, não devemos ter
AVA N C E M O S

receio de conversas duras, desde que o fundamento seja a própria


Palavra. Afinal, são essas conversas que podem gerar mudanças.
Tratados os assuntos e clarificadas as circunstâncias pelas quais
a pauta deve fluir, caso algum integrante persista com um compor-
tamento contraditório ao princípio do grupo, é aconselhável sua
recondução para outro grupo ou outro momento. Do contrário,
o ruído poderá tomar conta do ambiente e, neste caso, o foco irá
se esvaziar.

7. Mergulhe na intimidade

Homens têm uma dificuldade enorme de permitir avanço sobre


o seu inner circle. Parece duas vezes mais difícil para um homem
compartilhar sua intimidade com outros homens, se comparamos
com a forma com que as mulheres fazem isso. Intimidade significa
transparência, ou seja, significa acesso às nossas vulnerabilidades.
Brené Brown, no seu best-seller A Coragem de Ser Imperfeito,
sustenta que vulnerabilidade não está ligada, necessariamente, à
vitória ou derrota. É, na verdade, compreender a necessidade de
ambos, tanto ganhar quanto perder. É se envolver e se entregar por
inteiro, dando o seu melhor e esperando o bem que a vida traz.
Essa ideia é reforçada no texto do Bispo JB Carvalho, em seu livro
Metanoia, no qual ele afirma que todos nós queremos mais amor,
intimidade e pertencimento. No entanto, isso só é alcançado quando
estamos mais vulneráveis. O caminho é nos mostrar, nos deixar
sermos vistos uns pelos outros, nos conectarmos e nos conhecermos.
Nós, homens, achamos que é mais seguro estabelecer nossas
fronteiras, porque imaginamos que foram essas defesas que nos
permitiram perpetuarmos como espécie e sociedade. Contraditoria-
mente, o senso gregário inerente aos humanos informa que é mais
vantajoso andar “em bando” do que sozinho. Isso permite nos
sentirmos mais fortes e guardarmos a esperança de que, se formos
feridos, alguém poderá nos proteger e tratar das nossas feridas.

106
Entretanto, retomando o que foi defendido por Brown e JB, isso
só acontece num espaço de vulnerabilidade. Quando estamos vulne-
ráveis, nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia
e a criatividade, a confiança e a autenticidade, arremata Brown.
No outro lado da mesa estão as mulheres. Até com certa admi­
ração, vejo como os grupos de mulheres avançam em intimidade
de forma notável. A natureza feminina, mais doce e acolhedora, é
menos cheia de restrições, tornando mais natural compartilhar a
intimidade umas com as outras. E, na minha opinião, elas levam
uma enorme vantagem nesse sentido. Comunidades femininas são
mais ativas e produtivas porque se aliançam de modo mais fácil e
profundo.
Creio que a difícil operação de alcançar a intimidade dos ho-
mens tenha a ver com o orgulho que meticulosamente esculpimos
enquanto crescemos. Ser vulnerável não combina com o estereótipo
de homem que aprendemos. Imagine, por exemplo, um homem
confessar que se sente fragilizado,
que está sofrendo por uma questão Em um ambiente de conselho
emocional ou que simplesmente está não existe primazia de visão.
com sua estima em baixa por causa Tudo é discernido em Espírito.
de sua forma física. Os homens não
lidam bem com essa relativização da sua suposta força indestrutível.
C. S. Lewis, no seu catecismo Cristianismo Puro e Simples,
adverte seriamente que o orgulho é o pecado capital. Segundo
Lewis, é o orgulho que leva o ser humano aos demais estágios de
degradação moral: cobiça, castidade, raiva, avareza, bebedeira e
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

qualquer outro estado da mente que seja contrário a Deus. Ele fecha
o raciocínio dizendo que foi por causa do orgulho que o diabo se
tornou o diabo!
A intimidade expõe questões que o orgulho tenta esconder. Ela
deve ser considerada como a disposição de se expor no ambiente de
luz, de não guardar lixos em quartos escuros, que só quem esconde,
visita. Intimidade é reconhecer-se frágil diante de sua contraparte.
É estar vulnerável a tal ponto que só reste a confiança entre as

107
partes. É ter a certeza de que uma confissão jamais será utilizada
AVA N C E M O S

como acusação. É lamentar-se do mais íntimo, sem medo de ser


mal interpretado. É declarar-se insuficiente naquilo que se é, sem
ter medo de ser atacado justamente nesse ponto.
O desafio é construir esse elo entre os homens. Quando ga-
nhamos esse poder de coesão gerado pela intimidade, um exército
poderoso se forma.

8. Evidencie

Creio muito em liderança situacional. Esse é um conceito


bastante utilizado em ambientes militares e corporativos, princi-
palmente nos famosos Centros de Comando e Controle mundo
afora. Significa que, num mesmo ambiente físico e/ou relacional
reúnem-se pessoas aptas a resolver questões complexas, com com-
petências multidisciplinares, dispostas a dirimir crises que jamais
seriam solucionadas por apenas uma pessoa ou agência.
Em contextos complexos, como a relação dialógica entre as
nações, as crises de segurança pública ou, ainda, mais recentemen-
te, as crises sanitárias, é recorrente a escalada da crise a um ponto
tal que nenhuma autoridade seja capaz de solucionar a questão
unilateralmente. É nesse estágio que entra a liderança situacional.
Ou seja, a pessoa ou agência que tiver maior proficiência sobre o
tema, com o apoio e endosso das demais, toma a dianteira e lidera
a tomada de decisões, ainda que venha a abrir mão dessa liderança
num futuro próximo.
Vejo o grupo de discipulado da mesma forma. Todos precisam
brilhar em algum momento, sobretudo para ganhar confiança e
maturidade, passando a aspirar por responsabilidades no Reino,
visando cuidar de outras vidas.
Portanto, se você tem um churrasqueiro profissional no time,
não se atreva a queimar a carne! Deixe que ele comande a cena.
Se no grupo tem um médico ou especialista em algum assunto, dê
a ele a oportunidade de compartilhar o seu conhecimento, exercer

108
a liderança e contribuir com o crescimento de todos. Esse exercício
promoverá o apetite ao risco de liderar.

9. Coloque-se em segundo plano

Antes de Jesus se revelar como Cristo, Ele esteve com João Ba-
tista e o reverenciou. Mesmo sabendo da sua condição divina, Jesus
deu a João o grande privilégio de batizá-Lo, assim como fazia com
qualquer seguidor que ouvia a sua pregação sobre arrependimento.

Então Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por


João. João, porém, tentou impedi-lo, dizendo: “Eu preciso
ser batizado por ti, e tu vens a mim?”. Respondeu Jesus:
“Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos,
para cumprir toda a justiça”. E João concordou.
Mateus 3:13-15

Conforme a pregação de João, o batismo era um sinal de puri-


ficação da alma. João sabia que Jesus era o Cristo que viria. Apenas
João sabia… Naquele momento, embora Jesus pudesse reclamar
para Si toda honra e toda glória, fazendo o batismo de João, Ele
foi didático e colocou-Se em segundo plano, para evidenciar o
ministério de João.
Segundo David Gibson, foi João quem conferiu à narrativa
cristã um contexto histórico e religioso fundamental para a com-
preensão de quem foi Jesus. João, o grande pregador e um verda-
deiro precursor da mensagem messiânica, ao reconhecer Jesus como
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

o verdadeiro Messias, colocou-se em segundo plano:

E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte


do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar
a correia das suas alparcas.
Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém,
vos batizará com o Espírito Santo.
Marcos 1:7-8, ACF

109
Complementarmente à evidenciação, deixar-se em segundo
AVA N C E M O S

plano tem a ver com dar o protagonismo ao Espírito. O discípulo


que se torna discipulador é como uma bússola, orientando um
ambiente por meio de conselho. Ele não é uma matriz. Cristo o é!
Não é a base para a construção de outras personalidades. O discí-
pulo que instrui, cumprirá bem o seu papel se mantiver-se focado
em apontar Cristo como o norte. E isso não combina com vaidade
exacerbada e ambição.
Particularmente, tenho certo receio de quem pronuncia muito o
EU, em detrimento do NÓS. Discursos muito calcados na primeira
pessoa, em regra, têm pouco a ver com o que Cristo nos apresentou.
Uma boa maneira de colocar em prática a estratégia de deixar-se
em segundo plano é descentralizar o pensamento, desfocando-se do
próprio umbigo. Os ególatras têm dificuldade em pronunciar uma
frase em que o EU não seja o centro do discurso. E, de verdade,
isso pode até criar um mito, mas não forma um exército! Pensar
radialmente, interpretando e validando a dimensão de cada um, no
espelhamento a Cristo é tão difícil quanto reconhecer as próprias
limitações.

10. Ative a reciprocidade

A conhecida Regra de Ouro, defendida por Napoleon Hill e


diversos autores, diz que não devemos fazer aos outros o que não
gostaríamos que fizessem conosco. Contudo, permita-me fazer um
complemento e, quem sabe, audaciosamente, uma revisão.
Devemos conhecer bem as pessoas com as quais lidamos. Esse
é o caminho para compreender seus limites e suas sensibilidades.
Nossas linhas de base são distintas nos mais diversos assuntos. Por
exemplo, sou careca e não me importo que as pessoas façam piadas
ou comentários a respeito da minha “pouca telha”. Isso não me abor-
rece. Mas conheço muitos carecas que não têm a mesma tolerância
com esse assunto. Então, se a régua for a minha tolerância, pode ser
que eu pise, mesmo sem querer, na grama verde do meu amiguinho.

110
Assuntos triviais na nossa vida podem ser grandes crises na
vida do outro. É por isso que precisamos conhecer as pessoas com
as quais lidamos, especialmente quando desejamos construir rela-
cionamentos profundos e longevos, permanecendo atentos às suas
particularidades, visto que somente assim saberemos ser recíprocos
naquilo que elas valorizam.
Há alguns anos tenho ouvido falar da Regra de Platina e, sin-
ceramente, não consegui concluir quem a cunhou, para ser justo
intelectualmente. A Regra de Platina é um aperfeiçoamento da
Regra de Ouro e propõe que devemos tratar os outros como eles
gostariam de ser tratados, e não como gostaríamos de ser tratados.
Acredito que essa regra se encaixa perfeitamente com a estratégia
da reciprocidade. Na nossa vivência e interpretação, reciprocidade
é estar atento à necessidade do outro, dando tratamento adequado
às suas expectativas. Um pouco diferente de tratar as pessoas como
gostaríamos de ser tratados.

11. Mantenha sigilo!

Essa estratégia poderia facilmente ser incorporada à imersão na


intimidade, mas resolvi dar destaque a ela por um efeito didático.
O sigilo deve ser pressuposto em todo assunto sensível tratado
no discipulado. Ele é fundamental para que possamos criar uma
esfera de confiança que nos dê a oportunidade de tratar questões
mais profundas, quando vierem à tona. Exatamente por esse mo-
tivo inúmeras profissões têm códigos éticos que tratam o sigilo
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

como condição para o exercício profissional, tais como: médicos,


advogados, pastores, políticos, entre outros. Todos compreendem o
valor de uma relação de confiança, na qual o sigilo é fundamental.
Ambientes que promovem o sigilo saudável propiciam o avanço
das relações.
Além da ética, a manutenção do sigilo traduz lealdade. A des-
peito de qualquer discordância, ponderação ou intolerância com
um comportamento ou ponto de vista, o sigilo sobre o que está

111
sendo tratado é inegociável quando estamos em um ambiente de
AVA N C E M O S

conselho e discipulado.
Homens com grandes legados fizeram muito aliançados a
outros homens e respaldados por sigilo. O próprio Cristo nos deu
lições de que determinados assuntos devem ser tratados em sepa-
rado, dando prova de que o forte vínculo nos dá a liberdade de
compartilhar nossos dramas em um círculo de confiança e sigilo.
No discipulado, o sigilo entre os homens não pode ser interpre-
tado como uma permissão para assuntos que não convêm. É uma
ferramenta de proteção, não de degeneração, e deve colaborar para
o nosso crescimento e amadurecimento. Esse é o propósito.

12. Construa um ambiente de conselho

Fui alçado à condição de Pastor na Comunidade Sal da Terra


aos 40 anos. Quem me conhece sabe que esse percurso não foi,
por mim, intencional. Mas aí me recordo do que o Profeta Isaías
nos ensinou: “‘Pois os meus pensamentos não são os pensamentos
de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos’, declara
o Senhor. Assim como os céus são mais altos do que a terra, tam-
bém os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos;
e os meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos”
(Isaías 55:8-9). Foi um plano cuidadosamente desenhado que me
levou a um momento no qual percebi que Ele havia me trabalhado
em campos diversos, preparando-me para liderar o Seu rebanho.
E foi nesse papel de Pastor em uma pequena comunidade, que
descobri o poder de uma vida em Conselho.
Ao ser reconhecido Pastor, fui incorporado ao Conselho da Igreja
Sal da Terra em Águas Claras, para viver uma experiência que, nos
primeiros encontros, era desconfortável e extremamente desafiadora.
Em um ambiente de conselho, onde as relações são horizontais,
não existe primazia de visão. Tudo é discernido em Espírito e, leve
o tempo que levar, as decisões só são tomadas com a concordância
de todos.

112
A construção da visão passa pela vida de todos, o que torna
impossível “aprovar com ressalvas” algum assunto. Simplesmente
não avançamos enquanto não houver a concordância de todos os
corações à mesa. TODAS as discussões são exaustivas a caminho
do consenso.
Em ambiente de conselho, somos trabalhados na evangelização
das nossas posições. Se Deus colocou algo no seu coração que você
precisa transferir para os demais, prepare a sua pregação! Faça-os
enxergar pelas suas lentes e esforce-se para ler
a realidade com as lentes dos demais conse- Se Deus colocou
lheiros. Esse é um ponto de muita maturidade. algo no seu coração
Vida em conselho é virtude e a Bíblia é que você precisa
profusa nesse assunto. Dentre os muitos ver- transferir para
sículos que retratam o poder da unidade, da os demais, prepare
vida em conselho, da comunhão e da visão a sua pregação!
compartilhada, trago o que é dito em Provér-
bios 19:20-21: “Ouve o conselho e recebe a instrução, para que
sejas sábio nos teus dias por vir. Muitos propósitos há no coração
do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá”.
Sem sombra de dúvidas, nos últimos anos, esse foi o melhor
campo de preparação para as minhas convicções. Comparo isso a um
casamento, em que precisamos ser um com todas as visões. É muito
rico e posso testemunhar que vida em conselho tempera o nosso ser.
Viver em conselho é um grande desafio, mas asseguro que é um
aditivo poderoso para o desenvolvimento de relações. A trindade
é conselho. Deus escolheu a relação para ser visto e reconhecido.
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

A vida cristã é relacional.

13. Alterne a liderança

Somos diferentes por essência. É por isso que recebemos a desi­


gnação de “indivíduos”. Somos uma porção única, de vivências e
concepções também únicas. Somos o substrato necessário para a
grande diversidade que o próprio Deus criou. Indivíduo!

113
Uns mais agitados e outros mais meditativos. Uns mais emo-
AVA N C E M O S

cionais e outros mais analíticos. Uns mais organizados e outros


constantemente mobilizados por um senso de urgência. Não existe
alguém que seja melhor por essa ou aquela característica. Cresce-
mos muito quando observamos cuidadosamente as características
do outro, absorvendo e sendo enriquecido por elas.
James Hunter, autor de best-sellers, declara que é um apaixo-
nado por liderança. No Brasil, publicou livros prestigiados sobre o
tema, dentre os quais Como se Tornar um Líder Servidor. Hunter
relata que escolheu Jesus como o grande exemplo de liderança por
uma questão pragmática. Como liderança tem a ver com influência,
ele desafia qualquer um a indicar alguém que tenha influenciado
mais pessoas, no mundo, a partir da sua própria história. De fato,
Jesus foi o maior líder do qual se tem notícia.
Quando lideramos, entregamos aos nossos liderados a visão
e o ritmo da caminhada. Infelizmente, nem todas as visões são
universais, assim como nem todos os ritmos são universalmente
suportáveis. Você precisa se manter estável na visão e no ritmo que
lhe são próprios.
John Maxwell fala do desafio que é estabelecer uma visão.
O tamanho do seu horizonte declarado determinará quem tem
condições de caminhar contigo! Maxwell afirma que os vencedo-
res crescem de acordo com o desafio, já os chorões recuam diante
dele. Assim, quando distinguimos uma visão, ela servirá tanto de
elemento de agregação (para quem acredita e tem tamanho) quanto
de divisão (para quem não crê e não está disposto a crescer). Pessoas
com muita capacidade correm ao encontro de grandes desafios,
ao passo que pessoas pequenas, que não desejam se desenvolver,
abandonam logo o barco.
Quando lideramos, empregamos metodologias e mensagens de
incentivo, mas precisamos, antes de mais nada, entregar um pro-
pósito! Essa é a mensagem do poderoso ted talk de Simon Sinek,
que ensejou o livro Comece pelo Porquê. Sinek ilustra que todos
nós sabemos dizer O QUE estamos fazendo quando participamos

114
de um projeto. Embora com menor clareza, também conseguimos
descrever COMO estamos fazendo o que estamos fazendo. Mas o
grande segredo é discernirmos o PORQUÊ de fazermos tais coisas.
Os grandes líderes mostram a visão e o caminho, mas os líderes
extraordinários mostram o motivo pelo qual devemos caminhar.
Grupos sempre terão a pegada dos seus líderes. Porém, se inten-
cionalmente adicionarmos o desafio do intercâmbio de lideranças,
construiremos grupos mais dinâmicos, de maior espectro e mais
versátil. E esse é só o ganho primário!
Em segundo plano, o intercâmbio de liderança ensina outra
lição preciosa: para comandar, é preciso saber obedecer. Foi Sólon
(638-558 a.C.), um pensador grego, quem ensinou: “Aprenda a
obedecer antes de comandar”.
O intercâmbio de liderança gera É indispensável que
maior engajamento, uma vez que os o seu testemunho lhe faça
membros, ao experimentarem o desa- refletir sobre o que Deus fez
fio de liderar, assumem todas as fun- e tem feito em sua vida.
ções de um líder: preparar as reuniões,
estabelecer conexões, escolher um tema, conduzir as discussões etc.
Com isso, aprendem como é difícil estar à frente e passam a interagir
com maior respeito em relação à posição de liderança.
Grupos mais adaptáveis e polivalentes, e indivíduos mais cons-
cientes e aptos a liderar, são dois poderosos resultados do intercâm-
bio de liderança.
Um efeito adicional altamente positivo desse intercâmbio de
liderança é a experiência da hierarquia. Conheço muitas pessoas
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

que têm dificuldade com estruturas formais e insistem que não


existe distinção nas relações. Seguindo esse raciocínio, por exemplo,
o indivíduo não deve respeitar autoridades constituídas (líderes
religiosos, autoridades públicas, empregadores etc.), pois todos
são iguais.
Cristo nos assegura que maior é quem serve. Se Ele estabelece
esse raciocínio, de maior e menor, então devemos, automaticamen-
te, compreender que, sim, há uma distinção nas relações sociais e,

115
portanto, essa ideia de planificar os relacionamentos pode nos levar
AVA N C E M O S

a um lugar não bíblico.


Potter diz que tão divino quanto comandar é obedecer. Ele insis-
te em afirmar que se a hierarquia é parte de Deus nos seus processos
e cosmovisão, então, não pode ser, por si, causa de sofrimento.
É necessário experimentar a posição de comando para compreender
o valor da obediência.
Ao contrário da liderança situacional, que diz respeito a uma
situação pontual, onde se destacam capacidades individuais ne-
cessárias à resolução de determinado conflito, o intercâmbio de
liderança tem a ver com a assunção da posição de líder, revelando
virtudes mas também dando oportunidades para os desafios que
o discipulador possui. Além disso, é uma poderosa ferramenta de
empatia, que faz com que o discípulo compreenda o processo como
um todo e se comprometa com o seu próprio resultado, a partir
da doação da vida do discipulador e da construção decorrente da
vida em conselho.

14. Autorresponsabilização

Um provérbio árabe diz o seguinte: “Quem quer realizar algo


encontra um meio. Quem não quer, encontra uma desculpa!”.
É um belo ponto de partida, a partir do qual aconselho o líder,
desde o primeiro encontro, a deixar claras as responsabilidades dos
participantes e as consequências da “quebra de contrato”. Depois
disso, é vida em conselho e aperfeiçoamento constantes.
Devemos tratar homens como homens e não como crianças
grandes. Se o líder tiver que encampar o papel de secretário, pai,
mãe ou até babá do discípulo, sinto dizer que essa relação não é de
discipulado e não vai prosperar. A autorresponsabilização é uma
condição determinante para o alcance da maturidade. Somente
indivíduos que se apoderam da sua cota nos processos conseguem
desenvolver uma visão consistente de mundo e ter ciência dos seus
papéis, atingindo um nível excelente de maturidade.

116
Tenho lidado com muitos homens imaturos. Na minha opinião,
o traço mais evidente da imaturidade é a falta de capacidade de se
responsabilizar por algum assunto. Se o fundamento do discipulado
é fazer discípulos que fazem discípulos, esse raciocínio precisa estar
ativo desde os primeiros encontros. O processo é contínuo no senti-
do de transformar infantes em homens, e não em crianças grandes.
Dê responsabilidade e cobre resultados. É assim que crescemos
em absolutamente tudo, e na fé não é diferente.

15. Abra o seu coração

Essa última estratégia se correlaciona com a Imersão na Inti-


midade. O testemunho vai permitir ao líder e ao grupo conhecer
melhor um pouco da história uns dos outros, obviamente sob o
ponto de vista de quem narra.
Muitas pessoas têm uma dificuldade estrutural de pensar a res-
peito da própria vida. Não conseguem relatar os seus processos com
clareza tópica ou cronológica, confundindo a compreensão de quem
escuta a narrativa. Já escutei muitos testemunhos sobre os quais não
consegui identificar qual foi o “ponto de virada”, ou “o grande ato”,
ou, ainda, a maior dor ou experiência. A pessoa simplesmente conta
um punhado de eventos, como se fossem flashes, sem ligar os pontos.
Pensando em ajudar nesse processo, apresento a seguir uma
sugestão de roteiro de testemunho, que permite aos integrantes de
um grupo de discipulado abrirem as suas vidas, os seus comparti-
mentos mais escondidos, até que se sintam frágeis, porque este é o
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

ponto em que aumentamos a nossa intimidade.


O objetivo de todas as vivências compartilhadas neste livro está
bem claro: é o crescimento à luz da Palavra! Portanto, é indispen-
sável que o seu testemunho lhe faça refletir sobre o que Deus fez e
tem feito em sua vida.
Antes de apresentar a proposta de roteiro, deixo duas citações
estimulantes, ambas extraídas do livro A Coragem de Ser Imperfeito,
de Brené Brown:

117
1. Quando a vergonha se torna um estilo de gerenciamento,
AVA N C E M O S

a motivação vai embora. Quando errar não é uma opção,


não existe aprendizado, criatividade ou inovação.
2. Nossa única escolha tem a ver com o compromisso.
A vontade de assumir os riscos e de se comprometer com
a vulnerabilidade determina o alcance de nossa coragem
e a clareza do nosso propósito.

Com base nessas citações e na certeza de que não há relaciona-


mento sólido sem intimidade, e que intimidade é, de fato, desnudar
a vida, sugiro o seguinte roteiro:

1. O re! Peça conselho e direcionamento ao Espírito Santo, para


que você comunique o que Ele deseja e considera relevante.
2. Sem maquiagem! Fale sobre o que é verdade, e não sobre o
que você gostaria que fosse (ver Provérbios 19:9).
3. Coisas que para você parecem simples, para outros são
extraordinárias! Confesse o poder que o Senhor manifesta
por meio de você (ver 2 Timóteo 1:8).
4. Uma grande história tem clímax! Aborde as fases da sua vida
(infância, adolescência e fase adulta) e os eventos marcantes
de cada uma delas. Um evento por fase já é suficiente, mas
deve ser algo marcante em sua vida, no qual você viu a clara
manifestação do Senhor.
5. Fale sobre o grupo! No nosso caso, é fundamental entender
a sua relação com o grupo ao qual pertence. Isso ajudará
a mergulhar mais profundamente nos próximos encontros.
6. E ntabule respostas claras para as perguntas abaixo:
a. C omo foi a minha infância?
b. Quais eram minhas principais necessidades e problemas?
c. Qual era o centro da atenção na minha vida antes de Cristo?
d. Q uando fui exposto ao verdadeiro cristianismo?
e. Q ue mudanças Cristo operou em minha vida?
f. O
 nde coloco as minhas expectativas e segurança?

118
g. O  nde busco paz de espírito e felicidade?
h. De quais maneiras minhas necessidades não são/eram
satisfeitas?
i. Quais os meus principais dilemas (emocionais, espirituais,
como homem)?
j. Q ual a minha principal fragilidade?
k. Q  ual a minha principal fortaleza?
l. O nde quero chegar?

É válido lembrar que essa é a história da sua vida! Portanto,


só você conhece o gabarito, não existe a versão certa, a errada ou
a incompleta. Sempre existirá apenas a que você escolher mostrar.
O meu conselho é que você seja ousado e mostre a versão que
melhor te descreva. Posso assegurar que é aquela em que você se
sentirá vulnerável.
Deixei aqui um número razoável de estratégias, as quais permi-
tirão um melhor desempenho do discipulado. Perceba que o foco
está voltado para o discipulado em grupo, mas todas as estratégias
aplicam-se, igualmente, a discipulados individuais.
Além das estratégias, podemos usar outras ferramentas auxi-
liares: Feedback, Planejamento, Preparação e Ciclo de Aprendizado
Vivencial. Essas são apenas algumas referências para que você
busque aprofundamento. Quem sabe, em um segundo volume, eu
venha a descrevê-las!
C A P Í T U L O 0 6 | E S T R AT É G I A S

119
07
VIRTUDES

Segundo o dicionário Oxford Languages, virtude é uma


qualidade moral, um atributo positivo de determinado indivíduo.
Também pode ser considerada uma disposição para praticar o
bem. Logo, além de uma característica, é uma decisão de seguir
determinados caminhos, que levam o homem a praticar o bem, de
maneira intencional e voluntária.
Há diferentes tipos de virtude. Conforme abordado anterior-
mente, somos uma composição de quatro dimensões (física, emo-
cional, intelectual e espiritual), o que nos faz compreender que as
virtudes estão distribuídas nessas dimensões.
Por exemplo, praticar um esporte ou atividade física, de manei-
ra regular e disciplinada, é uma virtude que se sobressai no plano
físico; e, buscar continuamente novos conhecimentos, bem como
aplicá-los, é uma virtude no plano intelectual. Esses dois exemplos
comprovam que podemos somar virtudes, e que essa soma nos
tornará holisticamente virtuosos para a honra e glória do Nosso
Senhor.
As virtudes estão sempre correlacionadas aos princípios na-
turais entregues por Deus ao homem. Tomando os dois exemplos
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

acima, e relembrando a missão recebida lá no Éden (lavrar e pro-


teger), conclui-se que cultivar uma boa forma física é indispensável
à missão, bem como buscar novos conhecimentos, à medida que
desafios inéditos são apresentados, para que o homem seja perfeito
em seu ministério.
Quando Deus me entregou o modelo de discipulado que
apresento neste livro, colocou em seu bojo um pacote com sete

121
virtudes, as quais, somadas, têm alto potencial de aperfeiçoamento
AVA N C E M O S

do Homem, diante daquilo que Deus formou como imagem e


semelhança.
Busque por todos os lados e você verá que, percorrendo as
virtudes trabalhadas nesse modelo de discipulado, formaremos um
Homem apto a fazer a diferença em sua família, na sua comunidade
de fé, na cidade onde mora, no seu país e, até mesmo, no mundo.
Desenvolvendo, intencional e continuamente essas virtudes, não
há limite para o impacto positivo que esse Homem pode causar.
Sete é um número sugestivo, muitas vezes usado por Deus em
sua exposição didática. Há quem diga que é o número da perfeição,
mas eu sinceramente não pretendo aduzir argumentos para sustentar
essa afirmação. Basta dizer que Deus encerrou seu ciclo de criação
do mundo em sete dias, contemplando, inclusive, o descanso. Sete
vezes setenta foi o número utilizado por Jesus para simbolizar que
não há limites para perdoarmos aqueles que nos ofendem. Sete
também foi o número utilizado para simbolizar a cura, quando a
Bíblia apresenta a história do General Sírio Naamã, contagiado
por lepra. Naamã foi ministrado por Eliseu a se banhar no Jordão
para restaurar sua saúde e regenerar sua pele (2 Reis 5-9,10,14).
Por fim, a leitura do livro de Apocalipse nos faz enxergar o poder
e simbolismo do “sete”’, a partir de inúmeras ilustrações que usam
esse número como referência.
De alguma forma, Deus quis que eu me apropriasse dessa
atmosfera e comentasse, no número sete, a jornada de discipulado
que apresento neste livro.

122
A virtude é uma
decisão de seguir
determinados
caminhos, que
levam o homem a
praticar o bem, de
maneira intencional
e voluntária.
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

123
VIRTUDE 01

ESTUDO BÍBLICO

Toda a Escritura é inspirada por


Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para
a educação na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda
boa obra.
2 Timóteo 3:16,17

Propósito: conhecer ferramentas para o estudo bíblico


e desenvolver o interesse por essa prática.

A primeira e fundamental competência para um discipulado


bem-sucedido é a compreensão das escrituras. Essa premissa deve
ser levada com bastante seriedade, sob pena de perdemos a pers-
pectiva do verdadeiro discipulado cristão.
Discipulado cristão é crescimento mútuo e contínuo à luz da
Palavra, buscando espelhamento em Jesus Cristo.
Ao longo dos anos de Evangelho, tenho percebido, com certo
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

pesar, que estudar a Bíblia não é uma prioridade para os cristãos.


Sem leitura e estudo bíblicos, os conceitos deixados por Deus, seja
por seus profetas, seja pelos seus santos, seja pelos apóstolos ou
pelos discípulos de Cristo, ficam frágeis. E isso gera um grande
impacto na vida espiritual.
Foram Gordon Fee e Douglas Stuart, no livro Como Ler a Bíblia
Livro por Livro, que esclareceram uma importante questão:

125
A Bíblia não é um guia Divino, nem uma mina de proposi-
AVA N C E M O S

ções a serem criadas ou uma longa lista de ordens a serem


cumpridas. É verdade, recebemos dela uma abundância
de orientações, e de fato contém muitas proposições ver-
dadeiras e as ordens divinas. Mas a Bíblia é infinitamente
mais que isso!

Precisamos ter uma clara ideia do que a Bíblia é. Porém, mesmo


a mais iluminada resposta sobre o que representa a Bíblia, será insu-
ficiente, porque ela é sempre mais: é a Palavra de Deus, a vontade do
Pai declarada entre muitas gerações. É um manual de vida, escrito
pela mão de homens, mas inspirado pelo Senhor.
A Bíblia é um livro eminentemente histórico, com grande car-
ga biográfica e uma porção poética. Ela nos revela a história do
Criador e a Sua vontade por nos receber como filhos. Recordando
Gordon e Stuart, é uma história contada basicamente em quatro
atos: criação, queda, redenção e consumação. É uma narrativa ri-
quíssima, que contém o Herói (Deus) e o vilão (Satanás), bem como
aqueles que são impactados por essa dialogia (nós, o povo de Deus).
Os atingidos por essa dialogia experimentam, continuamente, as
vitórias do Herói, mesmo que as suas vidas sejam “arranhadas”
pelo inimigo.
A nossa fé é fundamentada nas Escrituras. Não conhecê-las
equivale a não alimentar a fé, e foi esse o ponto de partida quando
me vi meditando sobre discipulado. A primeira competência que
explodiu em minha visão foi a leitura e estudo bíblicos. Este é o
ponto central: desenvolver autonomia na leitura, estudo, interpre-
tação e assimilação do conteúdo da Bíblia.
Estamos num momento muito promissor da nossa fé. Atual-
mente, existem inúmeros métodos e ferramentas que auxiliam o
cristão no estudo e aprofundamento da fé. O aplicativo YouVersion,
por exemplo, é um riquíssimo ambiente de crescimento. Nele
encontramos estudos bíblicos, meditações, devocionais diários,
orientações, grupos de encorajamento e leitura comparada. Ou

126
seja, em um único aplicativo, você consegue superar barreiras que
apenas uma década atrás eram bem mais difíceis de transpor.
Outra ferramenta poderosa a qual tive acesso e recomendo
muito é o curso de Competências para Interpretação da Bíblia –
CIB, oferecido pela Aliança Cristã Missionária. É um modelo de
aprofundamento no estudo bíblico bastante objetivo, que pode mu-
niciar rapidamente o cristão. Com aproximadamente 12 encontros,
o estudante aprende ferramentas para ler e compreender a Bíblia
de maneira autônoma.
Mais uma excelente ferramenta é o Olive Tree, um aplicativo
que integra programas como Bíblias de Estudo, traduções interli-
neares, planos de estudo etc. A interface é bastante amigável e você
acaba desenvolvendo um bom hábito, por meio do auxílio dessa
aplicação.
É importante mencionar que A Bíblia é a vontade do Pai
essas indicações partem da minha declarada entre muitas
preferência pessoal. São essas as gerações. É um manual de vida,
principais ferramentas que uso para escrito pela mão de homens,
aprimorar a mencionada virtude. mas inspirado pelo Senhor.
Entretanto, não há qualquer impe-
dimento para que você utilize as ferramentas que sua denominação
oferece ou mesmo metodologias que você desenvolveu, desde que
levem o grupo ao domínio e fluência sobre as Escrituras.
Ler, interpretar e estudar a Bíblia deve ser um compromisso
contínuo. Não há um momento na nossa trajetória de fé em que
podemos nos sentir plenamente conhecedores da Palavra, pois ela
se renova e exige de nós uma compreensão renovada. Por esse mo-
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

tivo precisamos estar afiados. Uma vez que todas as interações e


conteúdos compartilhados no discipulado devem ter escopo bíblico,
não há como avançar negligenciando esse primeiro passo.
Neste modelo, o líder deve investir o tempo necessário para
que os discípulos alcancem uma autonomia mínima em relação à
Bíblia. Devem ser apresentadas estruturas e ferramentas que apoiem
o desenvolvimento de competências para interpretação bíblica.

127
Perceba que como é a primeira virtude proposta e é comum os
AVA N C E M O S

cristãos apresentarem dificuldades, sobretudo os novos, para avan-


çar neste tópico. Assim, não economize tempo para um propósito
tão importante.
Mas devo advertir que os encontros têm o objetivo de ser a cen-
telha de uma fornalha. Esses encontros são o ponto de partida para
um desenvolvimento que se estenderá por toda a vida. Dependerá
de autorresponsabilização, disciplina e maturidade, assim como
qualquer habilidade que desenvolvemos durante a vida.
Na primeira experiência de discipulado, por exemplo, eu
investi cerca de 8 encontros, com aproximadamente 1h30min de
duração. Isso equivale a aproximadamente 12h de leitura e estudo
bíblicos. Evidente que isso não aconteceu como uma classe de es-
cola dominical. Foi bem mais dinâmico e objetivo, porque eu tinha
a liberdade de escolher os temas que “doíam” naquele momento.
Nessa experiência, atingimos um bom nível satisfatório de fluência
bíblica em oito encontros.
Mas eu relembro que é o seu grupo de discipulado que vai di-
tar esse ritmo e a quantidade de horas necessárias. Mesmo sendo
curtinho esse tempo, é possível passar algumas técnicas de estudo
e interpretação das escrituras, fazendo com que os discípulos rom-
pam a inércia.
Importante ressaltar que o líder só deverá avançar nas demais
competências quando tiver certeza de que o discípulo desenvolveu
autonomia para ler, estudar, compreender e viver a Bíblia. Fora
disso, a assimilação das demais virtudes pode ser comprometida.

128
Ler, interpretar e estudar
a Bíblia deve ser um
compromisso contínuo.
AVA N C E M O S
VIRTUDE 02

O CRISTÃO
EXECUTIVO

Se participo da refeição com ação de


graças, por que sou condenado por
algo pelo qual dou graças a Deus?
Assim, quer vocês comam, quer be-
bam, quer façam qualquer outra coisa,
façam tudo para a glória de Deus.
1 Coríntios 10:30-31

Propósito: meditar sobre a necessidade de prontidão


para o Reino e sobre o aproveitamento do tempo e dos
recursos de maneira missional.

Ser cristão não é apenas enclausurar-se em uma comunidade


de fé. É, sobretudo, anunciar o Reino fora das quatro paredes do
templo, com a própria vida.
Em seu poderoso livro A Oração de Jabez, Bruce Wilkinson
compartilhou que, quando os cristãos lhe perguntavam se era válido
pedir a Deus mais sucesso nos negócios, ele respondia “Certamen-
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

te que sim!”, complementando que “Desde que o cristão esteja


tocando o seu negócio de acordo com os princípios bíblicos, não
apenas é certo pedir mais, como o próprio Deus estará esperando
que o cristão o faça, porque o seu negócio é o território que Deus
lhe confiou”.
Muitos homens de negócios acreditam que se seguirem os prin-
cípios cristãos estarão perdendo espaço no mundo business. Junto

131
a essa crença, ao longo dos séculos, a igreja ensinou ao homem a
AVA N C E M O S

tratar o dinheiro como uma praga perniciosa. A Bíblia é muito clara


neste sentido: não é o dinheiro a raiz de todo mal, pois o dinheiro é
neutro. O dinheiro não tem cor nem partido. Ele é, simplesmente,
um meio para o alcance de outros fins. Ele é o substituto para bens
e serviços, equivalente ao antigo excedente de produção. Dinheiro,
como meio de troca, não é nem bom nem ruim em si mesmo. A raiz
de todo mal, conforme a Bíblia nos ensina, é o amor demasiado ao
dinheiro. É a idolatria!
A história tem mostrado muitos homens de Deus prósperos,
os quais utilizavam seus recursos e talentos para abençoar pessoas,
sendo o exemplo mais célebre a trajetória de Salomão. Além de
muita riqueza, Salomão apresentava grande sabedoria. Aos olhos
dos acusadores daquele tempo, o filho de Davi seria um péssimo
arquétipo de alguém que tem comunhão com Deus.
O Pr. Peréa compartilha, em seu livro As Finanças do Homem
Sábio, que a capacidade física e intelectual, bem como os talentos e
até mesmo a disposição de cumprir determinadas missões, as quais
geram prosperidade, são dádivas de Deus. Compartilhando o tre-
cho de Filipenses 2:13 – Porque Deus é o que opera em vós tanto
o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade – Peréa repele
a ideia de que um homem de Deus precisa ser quase um indigente
para ter o respeito de outros fiéis.
No meu ponto de vista, precisamos incentivar os homens a
ocuparem posições de liderança na sociedade. E isso só será possível
por meio de trabalho, competência, compromisso e hombridade.
As lideranças cristãs precisam investir em potencializar homens
que têm vocação para os negócios, desde que a sua relação com as
conquistas e o sucesso não comprometam a sua fé.
Para a implantação do Reino precisamos de recursos. Por exem-
plo, uma ação missionária em outra cidade ou país só é possível com
financiamento. A fundação de uma creche de amparo aos órfãos ou
a criação de um programa de auxílio a viúvas também dependem de
recursos. Um centro de acolhimento de refugiados ou um ministério

132
de auxílio a reclusos, além de envolver amor e caridade, dependem
inexoravelmente de recursos.
Existem lideranças cristãs no Brasil que já operam nessa fre-
quência. Algumas denominações possuem ministérios específicos
para discipulado de homens bem posicionados na sociedade. En-
tendo que seja uma estratégia valiosíssima, pois fazer o homem de
negócios conhecer a Palavra e viver pela Palavra pode ser determi-
nante para a saúde da estrutura social. A justiça, como princípio
bíblico, é mais facilmente alcançada quando aqueles que detêm
recursos assumem a responsabilidade de agir, na prática, em favor
da vida do outro.
Estimular os homens a enxergarem Somos mordomos de uma
as suas capacidades como ferramentas a riqueza infinita. No nosso
serviço do Reino os levará a compreen- sistema, o maior é aquele
derem a inescusável posição de lide- que serve e, para nós, o dar
rança. Nas palavras de Brené Brown, é melhor do que o receber.
“liderar é assumir a responsabilidade
de encontrar potencial nas pessoas e nos processos e ter a coragem
de desenvolvê-los”. Para ser bem-sucedido nessa missão, os líderes
devem cuidar das pessoas e dos processos com um ímpeto paterno.
Deve-se contactar os seus liderados, inspirando confiança.
Deus deu aos heróis da fé – Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Josué
e tantos outros – a missão de liderar. Para exercer a liderança, o
homem precisa compreender que os recursos que recebe da parte do
Senhor, sejam eles na forma de competência ou provisão, atendem
ao Seu propósito quando em favor de muitos.
Deus deu a cada um de nós dons e talentos. Para alguns, Ele
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

deu a habilidade de empreender. Empreendedor é aquele que olha


para as necessidades e enxerga oportunidades. Existem pessoas
que olham para as necessidades e ficam se lamentando ou tentando
achar um culpado. O empreendedor, ao contrário, se vê como parte
da solução. E isso, para o cristão, deve ser feito para a glória de
Deus. Seja qual for a sua área de atuação, faça tudo com dedicação,
amor e excelência, como quem serve ao Senhor.

133
Vivemos em uma era de globalismo tecnológico impiedoso.
AVA N C E M O S

Empresas nascem e se extinguem em um ciclo curtíssimo. Grandes


negócios se dissolvem da noite para o dia. E precisamos entender
que entre esses homens, cujos recursos estão se vaporizando, existem
cristãos. Homens que trabalharam até o limite de suas forças para
construir um patrimônio material vulnerável e fugaz. Mais do que
nunca, não existem garantias sólidas o suficiente para sustentar
os reveses econômicos que vivemos de tempos em tempos. É certo
que eles virão! Portanto, nossos corações e mentes precisam estar
preparados e cheios do Senhor, tanto nos dias de fartura e glória
quanto nos dias maus.
Sempre que olhamos com amor para as necessidades humanas e
nos colocamos a serviço das pessoas, estamos agindo como Cristo.
Agindo como o Seu corpo aqui na terra.
Tenho visto que é um desafio enorme para o homem compreen-
der o seu papel sacerdotal onde atua. Lidamos com um sistema
moralmente falido, baseado na escassez, onde cada um busca o
seu próprio interesse. Entretanto, representamos outro sistema, no
qual somos mordomos de uma riqueza infinita. No nosso sistema,
o maior é aquele que serve e, para nós, o dar é melhor do que o
receber. Somos chamados a expressar o Deus provedor na terra em
meio ao caos da humanidade caída.
Rick Warren, usando o exemplo de Paulo, encoraja-nos a ser-
mos intencionais em apresentar o Evangelho onde quer que esteja-
mos. Ele adverte que precisamos estar atentos a todas as ocasiões,
pedindo a Deus que abra os nossos olhos para as oportunidades
diárias de testemunhar o impacto positivo de receber Jesus como
único e suficiente Senhor e Salvador. Comenta ainda que, se fizermos
o nosso devocional diário, pedindo ao Senhor que nos ajude a ver e
a amar do jeito que Ele faria, não nos faltará espaço para falar do
amor de Cristo. Mas fazer o melhor nas oportunidades em que o
próprio Deus nos coloca, exige conexão constante com o Espírito
Santo do Senhor.

134
Penso que, como seguidor de Cristo, a principal característica
de um empreendedor do Reino é estar alinhado com os “Negócios
de Deus”. Em meio a outros empreendedores, o cristão parecerá
um lunático. Um outlier. No seu modelo de negócio, ele desafia os
padrões deste mundo, pois usa o dinheiro e ama as pessoas; en-
quanto outros amam o dinheiro e usam as pessoas para consegui-lo.
Cristão ou não, todo empreendedor enfrenta grandes desafios
quando um país tem a corrupção em seu DNA e os tributos cobra-
dos são abusivos.
O cristão tem um desafio ainda maior, pois não pode abrir
mão dos valores encontrados na Palavra de Deus, para driblar as
dificuldades.
Por isso, precisa buscar ainda Empreendedor é aquele
mais o conhecimento e a excelência que olha para as necessidades
em tudo que faz, visando justamen- e enxerga oportunidades.
te fugir da média, onde a disputa Ele se vê como parte da solução.
é cruel e, algumas vezes, leva à
irracionalidade. Como resultado dessa busca pelo conhecimento, o
cristão desenvolve o que chamamos de “capital espiritual”. Quanto
maior este capital, maior o seu diferencial, pois o favor de Deus se
manifesta sobrenaturalmente.
Munido desse capital, o empreendedor passa a ser um repre-
sentante, um agente de Deus, cooperando para que a “vontade de
Deus seja feita na terra, assim como é no céu” (Mateus 6:10).
Conscientemente ou não, todo cristão é um empreendedor para
o Reino. Uns mais tímidos, outros mais arrojados. Uns mais inten-
cionais, outros nem tanto. Mas todos nós fomos feitos sacerdotes
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

reais. O sacerdote é aquele que busca a presença de Deus e depois


leva essa presença aos que ainda não têm.
Os empreendedores têm um grande privilégio de se relacionar
com várias pessoas diariamente por meio dos negócios que realizam.
Isso aumenta a sua responsabilidade de buscar a presença e a direção
de Deus, continuamente, para que Deus use a sua vida e os recursos
colocados sob os seus cuidados da maneira exata como Ele deseja.

135
Nessa trilha, algumas dicas podem fazer a diferença. Por exem-
AVA N C E M O S

plo, devemos colocar Deus em primeiro lugar, sobre todas as coisas:


antes de tomarmos qualquer decisão, antes de fazermos as nossas
escolhas, devemos reconhecer que estamos na Sua dependência e
precisamos ser fiéis a Ele acima de qualquer coisa. A isso chamamos
de “passo de fé”.
Quando Deus está em primeiro lugar, as nossas coisas se mul-
tiplicam. Nada pode nos derrubar, nada pode nos destruir, quando
somos fiéis a Ele. Todas as coisas pertencem ao Rei e Ele nos dá o
privilégio de administrá-las.

Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça,


e as demais coisas vos serão acrescentadas.
Mateus 6:33

Outra dica importante: não seja egoísta! A visão de Deus é


nos dar a competência para pensar no próximo. Portanto, se você
quer vencer na sua vida profissional, deve ter a visão de Deus e
pensar no próximo. Quando você tem a visão de Deus, todos ga-
nham: você e aquele que faz negócio com você. É a famosa relação
“ganha-ganha”.
Nesse mesmo sentido, se você tem funcionários, invista neles.
Respeite-os e os trate bem. Não os maltrate ou humilhe, não os
engane ou prejudique. O que você dá a eles, será colhido por você
em abundância.

Então lhes disse [Jesus]: Acautelai-vos e guardai-vos da


avareza; a vida de um homem não consiste na abundância
dos bens que ele possui.
Lucas 12:15

E uma última dica: permaneça na fé! O segredo para você


conquistar aquilo que parece intangível é permanecer na FÉ. Segu-
ramente os desafios aparecerão. No entanto, se o seu propósito for
firme, você se sentirá inabalável.

136
Afaste qualquer pensamento de desistência, de medo, de que
não conseguirá ou de que não dará certo. Sustentando uma fé ra-
cional, Deus irá mantê-lo firme e disposto.
Nos momentos mais difíceis, erga os olhos: olhe para Deus e
permaneça na fé. Concentre-se nas coisas do alto! Quando fizer
isso, Deus lhe dará discernimento e sabedoria para conquistar as
outras coisas, mostrando-lhe o caminho por onde deverá andar.

O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu


vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
João 10:10

A você, cristão, digo que a abundância está associada a algo


muito mais além do que riqueza material. Quando o propósito é
regido pela vontade de Deus, a abundância vem completa: riqueza
espiritual, familiar, na saúde e demais áreas.
Deus tem coisas boas, grandes e abundantes para todos. Por-
tanto, creio que é uma perspectiva estimulante empreender com a
consciência de Reino.

C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

137
AVA N C E M O S
VIRTUDE 03

PREPARAÇÃO
FÍSICA

Acaso não sabem que o corpo de vo-


cês é santuário do Espírito Santo que
habita em vocês, que lhes foi dado por
Deus, e que vocês não são de vocês
mesmos? Vocês foram comprados por
alto preço. Portanto, glorifiquem a
Deus com o seu próprio corpo.
1 Coríntios 6:19-20.

Propósito: demonstrar a necessidade de perceber


o homem de maneira integral: corpo, espírito, alma e
consciência, atuando em cada uma dessas dimensões
positivamente, de maneira intencional.

“Campeões são aqueles que dão o seu melhor quando o seu


melhor é necessário”. É o que o esporte nos ensina, segundo Vitor
Belfort, autor do livro Belfort: Lições de Garra, Fé e Sucesso.
Não é exatamente um elogio dizer que alguém “come feito
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

crente”! Isso vai além da cultura popular. Você pode fazer o teste:
ligue para um buffet conhecido da sua cidade e peça um orçamento
para uma “festa de crente”. Deixe isso bem claro e você perceberá
que o preço cobrado sofrerá alguns cliques para cima.
Depois de algum tempo de convivência entre os cristãos perce-
bemos que é verdade: nós comemos muito! Acredito que, ao evitar
bebidas alcoólicas, os convidados acabam comendo mais.

139
As igrejas sentem esse reflexo. As mais conservadoras são cúm-
AVA N C E M O S

plices do aumento de volume abdominal e do declínio da saúde de


seus membros.
Ainda existem igrejas que condenam práticas desportivas, por
entenderem, por exemplo, que os uniformes são vestimentas impró-
prias ao cristão. O resultado acaba sendo um contexto de pessoas
sedentárias, com hábitos alimentares ruins e uma perigosa ênfase
no descuido com o corpo.

Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do


Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por
Deus, e que vocês não são de vocês mesmos?
1 Coríntios 6:19

Recebemos o nosso corpo por empréstimo e nele habita o


Espírito Santo. Creio que são argumentos fortes o suficiente para
sermos zelosos com essa Graça – empréstimo de um templo, para
cumprir nossa jornada terrena.
Cuidar do corpo deveria ser equiparado a cuidar do templo
onde nos reunimos. Valendo-me mais uma vez do Belfort, ao
mesmo tempo que cultivamos a parte física, devemos desenvolver
os aspectos mental, emocional e espiritual, pois as capacidades se
complementam. Uma não vai muito longe sem as demais.
Não achamos confortável permanecer em um local sujo, pouco
iluminado, descuidado e precário. Da mesma forma, não deveríamos
achar aceitável perambular por aí com um templo disforme, sujo e
malcheiroso, depondo contra nós e contra o Espírito que há em nós.
Não se trata de esticar a corda para o outro lado, fazendo da
vaidade uma religião. O foco são os cuidados e hábitos saudáveis,
capazes de promover saúde e bem-estar.
Todos buscamos uma fórmula para uma vida equilibrada e
saudável. Invariavelmente nos deparamos com recomendações sobre
alimentação, atividade física e repouso. A negligência de uma dessas
variáveis pode sabotar qualquer projeto de harmônica.

140
Se você quer saber até onde isso é científico, recomendo a lei-
tura do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz, de Shawn Achor. Nele,
o autor enumera diversas experiências que levaram os cientistas a
conclusões sobre taxas de felicidade entre os alunos supostamente
mais fantásticos do planeta.
Uma das experiências relatadas comprova que a atividade física,
além de reduzir as chances dos indivíduos entrarem em depressão,
age como um elemento terapêutico, combatendo e evitando a rein-
cidência da depressão, mal associado à era do consumo exacerbado
de bens e informações.
Shawn descreve uma experiência feita com três grupos de
pacientes diagnosticados com depressão. A cada grupo foi admi-
nistrado um tratamento distinto: o primeiro, com medicamentos
antidepressivos; o segundo, com exercícios regulares de 45 minu-
tos, 3 vezes por semana; e, o terceiro, com a combinação das duas
estratégias anteriores. Os resultados demonstraram claramente os
benefícios da atividade física! Os três grupos apresentaram melhoras
significativas após 4 meses de tratamento. Entretanto, após 6 meses
de acompanhamento, o grupo tratado com fármacos apontou uma
recaída de 38%, enquanto o grupo que havia sido tratado com a
estratégia combinada apresentou uma taxa de recaída de 31%.
Contudo, o melhor ainda está por vir: o grupo submetido ao trata-
mento exclusivo com atividade física apresentou uma reincidência
de apenas 9%! Ou seja, menos intoxicação e melhores resultados.
Por que não aproveitar esse benefício maravilhoso da prática
desportiva, que é o despejamento de hormônios estabilizadores do
humor? Pessoas que praticam regularmente atividade física são
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

mais alegres!
Aproveito o texto de uma irmã querida, escrito quando estuda-
va no Invisible College. Na sua publicação, Adriana Meira discorre
sobre a integralidade de Jesus como um homem que experimentou
todas as variáveis de uma vida plenamente humana. A partir dessa
análise, ela enfatiza a integralidade do ser como uma conjunção
entre material e imaterial, ou seja, entre aquilo que não se vê (alma,

141
espírito e consciência) com o que é visível (o corpo): “Com efeito,
AVA N C E M O S

a verdadeira espiritualidade cristã envolve as esferas material e


espiritual numa visão integral do ser humano.”
Nas palavras de Tish W. Warren, “o corpo não é periférico à
nossa fé, mas é intrínseco à nossa adoração”. Segundo J. I. Packer,
“os cristãos devem viver esse paradigma em busca de algum equi-
líbrio, já que a dimensão de nosso corpo no mundo agora deve
ser vivida à luz de nossa vida como seres eternos”. Meira ainda
complementa: “a cosmovisão bíblica apresenta uma visão integral
do ser humano. A saúde integral passa por medidas de cuidado
corporal, como, por exemplo, uma boa alimentação, a prática de
atividade física e o sono adequado. Jesus realizava milagres para
restaurar os que tinham deficiências visuais, auditivas e corporais,
demonstrando a relevância do corpo. Consequentemente, a matéria
é uma dádiva de Deus, um meio de revelação da Sua glória”.
Prática de atividades físicas, boa alimentação, hidratação ade-
quada, exames periódicos e sol. Essas são as medidas substanciais
para a manutenção do templo individual.
Tenho o privilégio de conviver com alguns atletas de alto ren-
dimento. Alguns deles já “aposentados” na sua modalidade. No
meu círculo mais próximo, também convivo com atletas amadores,
verdadeiramente apaixonados pelo esporte, mas que não fazem dele
a sua profissão, mas, sim, a sua paixão.
Vejo em cada um deles grande potencial para se desenvolverem
em outras áreas, apoiados na disciplina e na determinação que o
esporte instiga. Grandes esportistas são apaixonados por desafios
e alargam os seus limites quando confrontam as suas próprias
marcas. E esse é um dos benefícios do esporte: reconhecer limites
e se esforçar para superá-los. Do esporte para a vida, essa filosofia
é aplicável a tudo, inclusive à espiritualidade.
Dentre os irmãos com os quais convivo, destaco a intensidade
e o testemunho de Cairo Campos, atleta amador de triathlon e
membro da nossa comunidade de fé.

142
Escolher um esporte
pode ser um exercício
de estratégia,
autogerenciamento e
aperfeiçoamento.
Cairo é apaixonado por esportes e começou bem cedo, dedi-
AVA N C E M O S

cando-se inicialmente à natação e, depois, passando por várias mo-


dalidades: karatê, polo aquático, automobilismo, jiu-jitsu, futvôlei
e triathlon. Seguindo aquele espírito de superação, ele buscou ser
competidor em todos.
Uma das reflexões poderosas que ele traz sobre a prática
desportiva, é que cada modalidade tem as suas particularidades,
infundindo no atleta competências específicas. Embora, no geral,
todo atleta desenvolva grande senso espacial, consciência corporal,
disciplina, resistência à fadiga, espírito de competição, senso de
equipe, etc., cada modalidade tem uma contribuição importante
para a personalidade do atleta.
Por exemplo, se você se reconhece como alguém ansioso, que
não lida bem com as pressões inerentes aos tempos atuais, as mo-
dalidades aquáticas talvez tragam bons
Pessoas que praticam benefícios. Agora, se você acha que precisa
regularmente atividade melhorar a sua coordenação motora e seus
física são mais alegres! reflexos, não tenha dúvidas, busque a ca-
poeira! Por outro lado, se você é inseguro
quanto ao seu porte físico e quer aprender a se defender, a combina-
ção de boxe, ou jiu-jitsu, com treino de hipertrofia podem melhorar
a sua autoestima. Se você está precisando aliviar a sobrecarga do
escritório e, de quebra, ganhar condicionamento, o pedal de trilhas
pode ser um grande aliado.
Veja, escolher um esporte pode ser um exercício de estratégia,
autogerenciamento e aperfeiçoamento. Qualquer modalidade des-
portiva trabalha a saúde física global, mas, a depender do que você
precisa em determinado momento da vida, haverá uma modalidade
específica que pode representar um grande ganho. São influências
poderosas que moldam nossos hábitos e, com o tempo, moldam
também os traços da nossa personalidade.
Independentemente da sua vocação para algum tipo de esporte,
o cuidado com a saúde, que passa inevitavelmente pela atividade
física habitual, deve ser um forte ponto de atenção. Até porque,

144
no que posso compreender nos meus mais de 40 anos, essa é a pri-
meira área negligenciada quando a rotina aperta. À medida que os
compromissos e responsabilidades se avolumam, é quase natural
abandonar o tempo dedicado à atividade física, o que, na verdade,
é contraproducente. Pesquise e certifique-se: a quase totalidade
das pessoas que apresentam um excelente desempenho pessoal,
familiar, ministerial e profissional, mantém uma rotina consistente
de cuidados com a alimentação, a prática desportiva e os cuidados
preventivos.
Não seja negligente com o SEU templo! Corra em direção a
uma saúde integral, que passa tanto pelo físico quanto pelo emo-
cional, intelectual e espiritual. Nos dizeres de Michael Sandel, as
capacidades morais e mentais, assim como as musculares, só se
aperfeiçoam se forem estimuladas.
Um corpo fraco não sustenta um espírito forte.

C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

145
AVA N C E M O S
VIRTUDE 04

CARIDADE

A religião que Deus, o nosso Pai,


aceita como pura e imaculada é
esta: cuidar dos órfãos e das viúvas
em suas dificuldades e não se deixar
corromper pelo mundo.
Tiago 1:27

Propósito: desenvolver a compreensão sobre o papel


do homem bíblico quanto à caridade e à assistência
aos menos favorecidos.

A verdadeira religião é cuidar e dar assistência a órfãos e


viúvas. Assim diz o livro do Tiago, na Bíblia.
A minha caminhada cristã tem me revelado que muitas pes-
soas que são tocadas pelo Espírito Santo vivem a sua conversão e
assumem novos propósitos, mas encontram certa paralisia no que
se refere à caridade.
Foi Napoleon Hill quem disse que a economia divina é automá-
tica e muito simples: recebemos apenas o que damos. Num universo
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

ressonante, se dermos amor, colheremos amor de volta. Se dermos


atenção, seremos preenchidos por ela. Se dermos acolhimento,
não nos sentiremos desamparados. Entenda que não se trata de
um jogo de apostas ou uma bolsa de valores, na qual deposito a
matéria-prima do que quero receber. É uma lei natural e imutável,
assim como a gravidade, que se impõe, independentemente de você
ou eu concordarmos com ela. Biblicamente falando, é o relato de

147
Davi, no Salmo 7, quando entoa aos homens que “a sua obra cairá
AVA N C E M O S

sobre a sua cabeça; e a sua violência descerá sobre a sua própria


cabeça” (Salmos 7:16).
Mesmo entre os irmãos que foram apossados pelo desejo de
atender a necessidade do próximo, é comum eu escutar: “Pastor,
eu tenho muita vontade de ajudar alguém ou alguma causa. Mas
não sei por onde começar!”.
E, de fato, isso não é tão simples. Visualizar esse caminho não
é natural, especialmente se estamos lidando com pessoas que não se
depararam com a carência, pobreza e miséria econômica enquanto
cresciam.
Essas pessoas, além de não desenvolverem pontes com gru-
pos sociais vulneráveis, sentem-se inseguras perto desses grupos.
É preciso uma estratégia para “iniciá-las”.
O auxílio material é a parte mais evidente da caridade. Esta-
mos habituados a falar sobre dignidade e ela não subsiste sem os
elementos mínimos: alimentação, moradia, vestuário, assistência de
saúde e segurança. A subtração desses recursos rompe a dignidade
humana, em confronto com as lições de Immanuel Kant. Segundo
ele, devemos preservar nossa moral ao respeitar as pessoas, como
fins em si mesmas! É por isso que Kant defende que o princípio
supremo da moralidade está na dignidade humana, valor que define
nossas concepções atuais dos Direitos Humanos universais.
Mas, por outro lado, é preciso considerar que vivemos em um
tempo de muita complexidade. As carências hoje não se resumem à
falta de habitação, alimentação, assistência médica, remédios, leite
e pão. Precisamos entender a caridade num espectro mais amplo,
onde as questões existenciais ocupam espaço importante, mas são
sistematicamente negligenciadas.
A caridade, portanto, vai além das ações práticas de assistência
material. Ela precisa percorrer os domínios existenciais, onde só a
presença do Espírito traz cura e paz.
Entendo que a anunciação do Evangelho é um grande ato de
caridade. Distribuir gratuitamente uma verdade transformadora,

148
capaz de mudar cursos de vida de maneira radical e promover uma
paz que não é compreensível aos homens, também é caridade.
Oferecer isso a alguém, gratuitamente, é algo incrível! Dar de
graça o que também recebemos de graça é um caminho consagrado
de caridade.
Ao introduzir essa disciplina no discipulado, o líder precisa
conectar os discípulos a ações práticas de intervenção na vida das
pessoas por meio da e com base na Palavra.
Preciso relembrar o que foi dito anterior- Se dermos
mente: não se leva ninguém a um caminho que acolhimento, não
não se percorreu antes! Portanto, se o líder não nos sentiremos
operar a caridade com regularidade, ficará difícil desamparados.
apresentar essa virtude ao discípulo.
Arrisco dizer que toda comunidade de fé tem algum projeto em
que ajuda. Está no próprio DNA das missões cristãs. Consequente-
mente, um caminho lógico e prático para acessar os campos missio-
nais é por intermédio das lideranças, nas comunidades. Com isso, o
líder estará, adicionalmente, fortalecendo a presença da comunidade
de fé nos projetos que atende, trabalhando de maneira inteligente a
conexão entre quem precisa e quem pode oferecer ajuda.

C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

149
VIRTUDE 05

COMUNHÃO

Oh! Quão bom e quão suave é que


os irmãos vivam em união. É como
o óleo precioso sobre a cabeça, que
desce sobre a barba, a barba de
Arão, e que desce à orla das suas
vestes. Como o orvalho de Hermom,
e como o que desce sobre os montes
de Sião, porque ali o Senhor ordena
a bênção e a vida para sempre.
Salmo 133:1-3

Propósito: desenvolver a visão de que podemos e


devemos louvar ao Senhor em qualquer lugar, sob
qualquer circunstância. Ensinar que o cristão deve ser
luz onde quer que esteja e que as trevas não apagam
a luz, mas sim, o contrário.

Uma das armadilhas mais ardilosas que pode ser lançada na


vida de um cristão é a ideia de isolamento. O caminho da fé, ou
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

seja, da maior experiência com o Senhor, passa pela oração, pelo


estudo da Palavra e pela comunhão!
O salmista virtuoso nos lembrou muito bem de que é bom e
agradável que os irmãos vivam em união! Ótimo!!! Mas, quem são
os meus irmãos? Quem é minha família? Onde ela se reúne?
A essas perguntas, muitas denominações respondem taxativa-
mente: sua família é, exclusivamente, os “membros contáveis” desta

151
comunidade! E você só pode se relacionar com eles confinado nas
AVA N C E M O S

quatro paredes do nosso templo!! E, com isso, o Reino vai ficando


cada vez menor…
Temos vivido a alegria de nos sentirmos livres, assim como
Jesus, para nos relacionarmos (intencionalmente) com pessoas “di-
ferentes” de nós, apresentando a elas todo o amor e o acolhimento
do Evangelho do Nosso Senhor.
Adicionalmente, num constante espírito de adoração, meus
irmãos de caminhada e eu temos tido a oportunidade de irmos a
lugares que não são tipicamente cristãos e, ainda assim, experimen-
tar a comunhão que alegra ao Senhor.
Compartilho o relato do artista Leonardo Lima, conhecido
como Leo Vox, autor de inúmeras músicas cristãs, muitas das quais
alegram nossos encontros dominicais em nossa comunidade de fé.
Além de ser Ministro do Louvor, Leo Vox tem uma banda cover
que interpreta grandes sucessos do U2, Queen e outras lendas.

E se eu te dissesse que sou músico, faço shows para grandes


públicos, frequento casas noturnas, ando com outros artis-
tas e uso isso em favor da implantação do Reino?
Sou um cristão, casado há 12 anos e pai de um casal
de filhos maravilhosos. Quando conheci minha bela
esposa, já era envolvido com música e fazia shows de Pop
Rock. Após o casamento, continuei fazendo os shows, em
menor número, é verdade. Mas sempre os entendi como
uma oportunidade para convidar amigos para conhecerem
uma vida prazerosa, que tem como fundamento a fé em
Jesus Cristo.
Entendo que uma vida cristã de verdade permite que nós
sejamos felizes e livres, desde que tenhamos sabedoria para
administrar a liberdade. Deus, o Criador, pode ser visto em
tudo e, na minha opinião, Ele ama música! Ele é música.
Portanto, para mim, estar em contato com sons, melodias
e letras é estar constantemente conversando com o Eterno.

152
Em alguns dias, depois de uma jornada bem produtiva
no trabalho e em casa, costumo dar uma paradinha pra
alimentar a alma com um bom bate-papo numa roda de
amigos. A famosa Hora Feliz, ou Happy Hour para os grin-
gos, é aquele momento importante para alma, de recarregar
as energias com bons amigos, especialmente aqueles que se
identificam com os projetos de Deus.
Esse é um tempo importante para conversar assuntos
densos, delicados, pedir uma sugestão para uma situação
que demande mais atenção, para comemorar uma vitória,
para chorar em razão de alguma dificuldade, para conversar
e se inspirar sobre um novo projeto, enfim, tempo para gerar
virtudes e nutrir a vida!
O capítulo 02 do livro de João relata Jesus numa festa
realizando o primeiro milagre que marca sua passagem
por aqui. Jesus e seus discípulos foram convidados para
um casamento e, imagino que no clímax da festa, o vinho
acabou. Sem muitos protocolos, Jesus transforma litros de
água em vinho, como se consolidasse as palavras declaradas
pelo salmista, no célebre Salmo 133. É uma bela mostra de
quão saudável pode ser participar de um tempo leve, cujo
olhar mais atento e sábio enxergará sua importância para
o trato da alma!
Essa necessidade precisa ser conversada com regulari-
dade em casa, com os cônjuges. É um entendimento que
precisa ser buscado entre marido e mulher desde logo, para
que os dois consigam viver a plenitude do amor de Cristo
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

dentro do relacionamento e apoiados na palavra de Deus.


Alimentar amizades virtuosas é necessário, pois creio que
é bálsamo poder desfrutar desse tempo dadivoso. Todavia,
compreendo que é um assunto considerado sensível aos
casais, sobretudo aos imaturos.
Creio que a visão bíblica do papel de ambos, marido
e mulher, irá ajudar a discernir sobre a necessidade desse

153
tempo de fruição do bom que Deus nos permite. A segu-
AVA N C E M O S

rança entre o casal, fundamentada em Cristo, ajuda o rela-


cionamento, possibilitando a ambos viverem a liberdade e
o compromisso que Cristo ensinou.
E aí, rola um happy hour hoje?

Leo foi muito completão ao revelar o poder da comunhão,


exigindo pouquíssimo complemento.
Ilumino, apenas, o impacto que homens, juntos num propósito
sadio, geram. Estamos habituados a “dar explicações” para outras
pessoas que ficam verdadeiramente interessadas por nossa conduta,
quando nos reunimos. Rimos alto, nos abraçamos, tratamos um
ao outro com respeito, mas não economizamos as boas piadas,
cuidamos uns dos outros assim como cuidamos uns dos filhos dos
outros! Tudo pela compreensão de que há vida, e vida em abun-
dância, quando nos juntamos.
Com a intenção de levar esse mecanismo de saúde emocional
e espiritual a outras gerações, temos um projeto maravilhoso em
nossa Comunidade chamado “Papai Offline”. Ao longo dos anos,
temos visto o impacto negativo nas famílias, fruto da adicção às
redes sociais. Pais e mães perplexos, ligados às telas dos seus apa-
relhos, negligenciando atenção, cuidado e educação aos filhos que,
naturalmente, também serão adictos às telas.
Com o objetivo de romper esse ciclo, um dos irmãos da nossa
família de fé, Jeferson Ferreira, recebeu do Senhor um desafio: levar,
sozinho (sem a presença da mãe), os filhos para um acampamento
de três dias. Ele compartilhou a ideia comigo e com outros manos
de primeira hora e a chama tomou proporção, resultando no Papai
Offline.
Uma vez por ano, no final de semana subsequente ao dia dos
Pais, homens (nossa comunidade e convidados externos) levam
seus filhos e filhas para um acampamento, provendo absolutamente
tudo: desde a montagem da barraca até o desembaraço do cabelo
das meninas! Não há qualquer participação das mães, a não ser

154
pelos mimos e surpresas que todos os anos propomos, como forma
de elas participarem da experiência.
Temos visto transformações emocionantes com esse projeto.
Pais que sequer sabiam o número do calçado do filho incumbin-
do-se do cuidado e do tempo de qualidade. Famílias dependentes
da maestria da mulher, em todos os processos, encontrando uma
nova forma de se relacionar, com mais
independência e confiança, tanto por O caminho da fé, ou seja,
parte dos pais quanto dos filhos. Crian- da maior experiência
ças que nunca tiveram experiência com com o Senhor, passa pela
espaços naturais apaixonando-se pelo oração, pelo estudo da
campismo e transformando seus pais em Palavra e pela comunhão!
verdadeiros profissionais da experiência
outdoor. Enfim, o Papai Offline veio com uma proposta séria de
comunhão entre pais e filhos, pais e pais, filhos e filhos, causando
uma grande transformação nas famílias e na nossa comunidade. Sem
dúvidas é uma das programações mais aguardadas do ano e cada
vez é mais disputada! A última edição antes da publicação deste
livro foi 2022. Nosso objetivo era fazer o mais ‘enxuto’ possível,
em virtude das contingências pós pandemia de Covid 19. Resultado:
quase cinquenta famílias envolvidas! Um sucesso.
Louvar ao Senhor, estando entre amigos, em local público e não
necessariamente constituído com esse propósito é, sim, um belo de-
safio. E quais são os frutos: impactar aqueles que, de outra maneira,
jamais conheceriam a virtude de amizades baseadas na Palavra.
Vou repetir o convite: e aí, rola um happy hour hoje?
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

155
AVA N C E M O S
VIRTUDE 06

FAMÍLIA

Se alguém não cuida de seus pa-


rentes, e especialmente dos de sua
própria família, negou a fé e é pior
que um descrente.
1 Timóteo 5:8

Propósito: desenvolver a visão de que, como provedor,


o homem deve alimentar sua família materialmente,
emocionalmente, intelectualmente e espiritualmente.

Segundo o livro de Efésios, o sacerdócio perfeito inicia-se em


casa. Famílias fortes e bem estruturadas são resultados inequívocos
do desempenho funcional dos papéis que Deus estabeleceu: pai,
mãe e filhos.
Passamos por um longo período de desidratação do papel do
homem. Isso não foi acidental, pois, como nos ensina o Provérbio
Oriental, “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram
homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos
difíceis geram homens fortes”.
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

Penso que não é à toa que nos deparamos com tempos tão
desafiadores. E se não trabalharmos para uma virada de cenário,
será apenas o prólogo de um tempo de privações e escassez.
Não desconsidero os excessos e as omissões que os homens
encamparam ao longo do tempo. A distorção do cumprimento do
papel de garantidor gerou, em diversas sociedades, uma subjugação
não bíblica da mulher e dos filhos.

157
Outro comportamento bastante comum dos homens sem
AVA N C E M O S

propósito é a fuga do lar. Homens que não compreendem seu


papel, ou, se compreendem, não assumem, desistem facilmente da
vida familiar, vida em um lar, deixando um legado de desamparo
e desestrutura. Segundo dados do IBGE, em 1950, cerca de 12%
dos lares brasileiros eram liderados por mulheres. Essa proporção
saltou para 26% em 2000, chegando a 35% em 2009. Em 2019,
esse número atingiu a assustadora marca de 45%, significando que
cerca de 10 milhões de mulheres desempenham o papel de chefe
de família, assumindo as responsabilidades econômicas e educa-
cionais, sem deixar de cumular com os demais papéis inerentes à
natureza feminina. É uma sobrecarga assustadora e esse fenômeno
só cresce.
O comportamento leviano desses homens tem produzido
uma geração de filhos desamparados, uma legião de mulheres
exaustas e lares fragmentados. Tudo isso porque o homem deixou
de se enxergar no seu papel fundamental, abandonando-se em
posições fragilizantes. Nunca será um homem. Será eternamente
um menino.
Esse menino que não assume o comando da nem da própria
vida, sendo incapaz de assumir qualquer coisa importante a partir
daí. É um contramodelo que contrasta com o papel de guardião,
protetor, provedor, nutridor, disciplinador, acolhedor, mentor e
estimulador que o homem deve cumprir.
Ao discipular homens nos tempos atuais, precisamos reconec-
tá-los à sua essência e natureza. O homem é o cabeça da família e
deve cumprir seu ministério com zelo.
A Bíblia ensina que é tarefa do homem dar a visão para o seu
lar. A partir dessa visão, estabelece-se uma missão, cujo encargo
de levar essa missão adiante, é do homem. Para o seu sucesso,
é indispensável e fundamental o auxílio de sua mulher.
Quando o homem cumpre seu papel e gera ambiente para a
mulher compreender o seu papel bíblico, ela o acompanhará em
submissão. Submissão, portanto, é a condição de estar ligada a

158
uma missão atuando como auxílio e apoio. Não é uma condição
menor! É uma condição de amparo e auxílio, sem a qual a missão
fica gravemente comprometida.
Quero destacar três papéis fundamentais que o cristão precisa
desempenhar com desenvoltura na família. O primeiro deles é o
de protetor e provedor. Tanto na proteção quanto na provisão, o
homem precisa ter em mente que são quatro as dimensões do ser:
física, emocional, intelectual e espiritual. Todas precisam igualmente
de atenção. Proteção e provisão devem alcançar os domínios mate-
riais, representados por abrigo e alimento. A dimensão material é
mais fácil de analisar porque é visível. Por
outro lado, as demais dimensões estão no Famílias fortes e bem
domínio imaterial, portanto não visível. estruturadas são
Requerem observação mais atenta e zelosa. resultados inequívocos
O homem deve proteger e prover sua do desempenho
família emocionalmente, dando segurança funcional dos papéis
ao ser presente e atencioso. Quando o que Deus estabeleceu:
homem constrói a confiança nos filhos e pai, mãe e filhos.
esposa, fica mais fácil, inclusive, orientá-los
moral e intelectualmente. Daniel Kahneman, no seu brilhante livro
Rápido e Devagar, destaca que a dominância de conclusões sobre
argumentos é mais pronunciada quando há emoções envolvidas.
Isso quer dizer que um pai que representa uma figura de autoridade
e segurança tem maior chance de ensinar e transmitir conhecimento
junto aos seus filhos, exatamente porque ele tem acesso ao campo
das emoções. Assim também acontece com professores talentosos,
pastores e demais figuras de autoridade. Contudo, não restam dúvi-
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

das de que a primeira figura de autoridade que um ser humano devia


ter contato é a de um pai. Essa ascendência deve ser aproveitada
e, a partir dela, construído o campo de conhecimentos e virtudes
sobre a vida dos filhos.
A autoridade que Deus entregou aos pais para exercerem o
sacerdócio no lar não deve ser confundida com a arbitrariedade.
Relações arbitrárias se estruturam em torno do autoritarismo,

159
que é a exigência de uma obediência absoluta e incontestável à
AVA N C E M O S

autoridade, em oposição a individualidade, maturidade, liberdade,


expectativas e discernimento das partes envolvidas na relação. Em
hipótese alguma um pai arbitrário e autoritário estará cumprindo
seu papel bíblico no lar. Na verdade, ele estará desvirtuando uma
posição sagrada, fundamental para a formação dos indivíduos que
integram aquela família e, por conseguinte, para a construção de
uma sociedade saudável.
Ellis Potter ensina que hierarquia não implica desigualdade.
Deus nos construiu com um senso de relação que reconhece as
diferentes posições que ocuparemos ao longo da vida. Ora obedece-
remos e, com isso, seremos conduzidos em amor, ora orientaremos
e guardaremos a vida de quem está sob a nossa responsabilidade.
O autor complementa dizendo que em Deus o pai comanda e o
filho obedece, mas são igualmente Deus. O filho não é um aprendiz
à espera de obter seu certificado. Ele é plenamente filho (se Filho de
Deus, Deus, se filho de homem, homem), desenvolvendo-se numa
relação de amor, cuidado e confiança.
Está nas mãos do homem gerar momentos afetivos importantes
que irão marcar as memórias mais remotas dos filhos, enquanto
crianças, sem perder o encanto à medida que o tempo passa. Isso é
muito desafiador porque cativar as crianças, por meio do universo
lúdico, é muito mais fácil do que envolver adolescentes ou adultos.
É um desafio sempre crescente e isso vai exigir maior investigação e
ferramental por parte dos homens. Adicione a esse desafio proteger
e prover conhecimento e sabedoria e estará formada a base intelec-
tual de toda família. Está ficando cada vez mais difícil, concorda?
É isso mesmo.
O cume desse desafio é o plano espiritual. É papel do homem
(que compreendeu o seu chamado) proteger e prover sua família
espiritualmente, e o melhor caminho é a oração, o estudo da palavra
e a comunhão entre irmãos. Diariamente o homem precisa liderar
o desenvolvimento espiritual da sua família, alimentando-os com
a palavra.

160
O segundo papel é o de sacerdote. Além de protetor e provedor,
o homem também deve se encarregar de ser o “representante do sa-
grado” em sua casa, dirigindo e manejando os aspectos ritualísticos,
ligados à religião. Por suas mãos devem passar a orientação e as
práticas espirituais, conduzindo todos a um nível de compreensão
e clareza a respeito dos fundamentos da fé.
O terceiro e último papel é o de profeta. Da boca do homem,
do sacerdote, devem sair palavras de edificação. Ele deve ser di-
ligente ao escolher o que entregar à esposa e aos filhos, sempre
buscando abençoá-los, profetizando sobre suas vidas as virtudes e
o conselho do Espírito, assim como o cumprimento da missão que
o Senhor confiou a cada um, em sua individualidade, e à família,
como corpo de Cristo.
Atribui-se a Lao-Tsé o conselho de que o homem deve fazer o
que gosta no trabalho e deve estar presente por inteiro com a famí-
lia. Se o homem inverter essas premissas, fazendo em casa apenas o
que gosta e entregando-se por inteiro ao trabalho, acabará gerando
um ambiente árido. É como dizia Sócrates:
“Devemos nos precaver com a aridez de As relações familiares
uma vida ocupada”. representam as bases
Greg McKeown afirma em seu livro na vida de um homem.
Sem Esforço que ficaríamos surpresos com
o grau de sucesso na resolução de problemas aparentemente difíceis,
quando eliminamos as premissas erradas. Ou seja, quando parti-
mos de premissas equivocadas, normalmente geramos transtornos
e desgastes muito além do necessário.
No caso específico, quando imputamos ao trabalho o papel
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

principal em nossas vidas, sacrificando o convívio familiar, essa


inversão que dá ênfase à performance profissional a construção de
laços saudáveis no lar. É uma advertência que nos leva a buscar
caminhos mais eficientes, focando no que é essencial. A essencia-
lidade de estarmos presentes gera o que conhecemos como tempo
de qualidade (mas em quantidade suficiente!) com os tesouros que
Deus nos confiou.

161
Muitos homens só se dão conta do valor de sua família quando
AVA N C E M O S

a perdem. Na condição de líder em uma comunidade de fé, cons-


tantemente nos deparamos com crises conjugais provocadas pelo
permanente estado de neutralidade nas relações, resultante dos
fatores combinados: muito tempo dedicado ao trabalho, gerando
afastamento do lar, e fadiga física e emocional, causada pelo excesso
de preocupações trazidas do ambiente profissional. Isso consome
as relações!
Homens que entram num ciclo automático de casa-trabalho-
casa, sem raciocinar a imensidão de coisas ‘extras’ que existem
nesse curto percurso diário. É evidente que existe também uma cota
feminina nessa equação que gera esfriamento e/ou adoecimento das
relações. Mas não é escopo desse livro. Por aqui e por enquanto,
vamos assumir que a culpa é dos homens!
A despeito da presente violência urbana no nosso país, que
ceifa vidas na proporção de grandes guerras, vivemos num relativo
estado de paz entre as nações. Há quem diga que esse interstício de
paz forma homens frágeis, que não possuem os tônus moral para
sustentar uma sociedade. Homens que cuidaram de suas famílias
em tempos de extrema instabilidade têm uma noção mais clara do
que significa ter um “clã” são e salvo.
Em seus impressionantes relatos sobre a vida de confinamento
nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, Viktor
Frankl relata que uma das fases mais duras da assimilação daquele
horror era a saudade dos familiares. Ele relata que após o perío-
do de choque, ao se perceber em um campo de concentração, os
homens eram tomados por uma indizível saudade de seus fami-
liares. Uma saudade febril, tão ardente, que só lhes restava uma
sensação: a de se consumir. Tenho certeza de que se esses homens
pudessem optar entre terem trabalhado mais ou terem permaneci-
do mais tempo com suas famílias antes do cativeiro nos campos,
suas opções mostrariam o que realmente é essencial para a vida de
cada um.

162
Dentre os muitos aspectos destacados neste livro, talvez as
relações familiares sejam as que requeiram maior intencionalidade,
na medida que representam as bases na vida de um homem.
Em seu primeiro best seller, Essencialismo, Greg McKeown
ajudou muitos a reconhecerem os excessos que geram perda de qua-
lidade de vida. Ao longo do livro, o autor pontua o que considera
uma jornada em busca do essencial. Dentre as muitas comparações
que encontramos durante a sua leitura, destaco uma que pode aju-
dar bastante na concentração desse objetivo:

NÃO ESSENCIALISTA
• A mente não para de pensar no passado ou no futuro;
• Pensa no que foi importante ontem ou será impor-
tante amanhã;
• Preocupa-se com o futuro e se estressa com o pas-
sado.

ESSENCIALISTA
• A mente focaliza o presente;
• Sintoniza o que é importante agora mesmo;
• Desfruta o momento.

Ao sobrepor tantas camadas de informação, espero que você


permaneça concentrado naquilo que é essencial, ou seja, naquilo
que Deus lhe entregou como potencial e que, com uma consciência
ativada, pode gerar um legado.
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

163
AVA N C E M O S
VIRTUDE 07

SERVIÇO

Cada um exerça o dom que rece­


beu para servir aos outros, admi­
nistrando fielmente a graça de
Deus em suas múltiplas formas.
Se alguém fala, faça-o como quem
transmite a palavra de Deus.
Se alguém serve, faça-o com a
força que Deus provê, de forma
que em todas as coisas Deus seja
glorificado mediante Jesus Cristo,
a quem sejam a glória e o poder
para todo o sempre. Amém.
1 Pedro 4:10-11

Propósito: compreender a importância de servir e de


colaborar para a Casa do Senhor. Compreender como
funciona a dinâmica de serviço na Igreja, que vai da
preparação ao ensino bíblico, bem como evidenciar a
dificuldade de assumir responsabilidades perante uma
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

comunidade.

O Livro de Efésios, em seu capítulo 4, ensina que muitos são


os dons e diversos são os talentos que compõem o corpo, e que,
ao nos investigarmos, encontraremos clareza sobre qual é a nossa
contribuição para com o corpo.

165
No entanto, é muito difícil saber qual a sua vocação, qual o seu
AVA N C E M O S

chamado para o serviço na comunidade, se você nunca teve uma


experiência nesse sentido.
É bastante evidente o nível e profundidade do compromisso
dos homens e das mulheres no que se refere ao serviço para a
igreja. Mais uma vez, elas largam muito na frente! Antes mesmo de
reconhecer o seu próprio dom, as mulheres já estão trabalhando.
E é na caminhada que reconhecem as suas virtudes e se ajustam.
Em outro giro, os homens demoram a perceber a importância
da sua contribuição para o Corpo de Cristo, deixando de brilhar
a luz do Espírito que há em si, gerando sobrecarga para as pessoas
que estão trabalhando.
Visando dar ao homem o protagonismo e simultaneamente
a experiência de servir, o discipulado deve oportunizar o serviço
prático na comunidade de fé. Recepção, organização do templo,
meios audiovisuais, ornamentação da igreja, preparação da ceia,
ministração, enfim, tudo o que estamos habituados a assistir do-
mingo após domingo, e muitas vezes não fazemos a menor ideia da
energia que se gasta para que aconteça.
Quando estava meditando sobre o modelo do discipulado que
eu levaria adiante, vi a desproporção entre o número de homens
e mulheres ligados ao serviço na igreja. O número de homens tra-
balhando é certamente abaixo da metade do número de mulheres.
Os homens são sempre mais tímidos e tardios em se apresentar.
Ironicamente, isso contrasta com a predominância de pastores
que presidem as comunidades ou que são a principal referência.
Defendo que precisamos encontrar os homens em todos os
Ministérios, porque somente assim irão discernir a sua verdadeira
vocação.
Olhando para esse cenário, tive uma visão muito clara de que
o homem precisa ser motivado a ocupar os papéis de serviço. Em
regra, aqueles que assumem tais responsabilidades fazem com em-
penho, porém, a largada precisa de um estímulo.

166
Cristo ensinou, na prática, como servir. Ele colocou água numa
bacia e lavou os pés dos seus discípulos. Após lavar, os enxugou e
fez isso interrompendo a última ceia, tamanho era o simbolismo do
serviço que Ele queria repassar. Lavou e enxugou. Fez um serviço
de excelência! A um só tempo, mostrou-nos a humildade e o zelo
de servir, mesmo nas tarefas consideradas menores.

Se sabeis essas coisas, bem aventurado sois


se as praticardes!
João 13:17

Colocar os homens nas posições de serviço da comunidade e


deixar a rotina dos cultos familiares acontecer pelas mãos deles dará
a todos uma melhor compreensão: do seu papel, dons e talentos no
corpo e do valor do serviço que recebemos, reunião após reunião.
Talvez a sua comunidade de fé tenha o modelo mais conserva-
dor, no qual não seja possível “testar” um membro numa posição
de serviço. Talvez a própria comunidade exerça uma certa pressão
para que os cultos aconteçam no padrão de
qualidade, dificultando a iniciação daqueles O discipulado deve
que precisam. Se esse for o seu caso, sugiro que oportunizar o
você estabeleça algumas reuniões menores, no serviço prático na
modelo de células, para que os homens possam comunidade de fé.
exercer o trabalho.
Numa reunião como essa, podemos reproduzir grande parte
do que vivemos nos cultos públicos familiares. Existe uma grande
necessidade de planejamento e logística envolvida e é exatamente
C A P Í T U LO 0 7 | V I RT U D E S

isso que deve ficar a cargo dos homens, até mesmo detalhes menos
convencionais, como arrumação da mesa, escolha das músicas e
acolhimento. É importante que os homens operem tudo no evento.
Tudo!
O propósito é um serviço integral, que desonere as mulheres,
normalmente empenhadas em muitas tarefas importantes. É tempo
do homem desafiar-se a sair de uma posição passiva, de exclusivo

167
usufruto, para uma posição de serviço em que a sua vida e o seus
AVA N C E M O S

talentos estarão à disposição da comunidade de fé.


E se, diante de todas as possibilidades, você ainda não souber
onde colaborar, comece por aquilo que mais o incomoda na sua
comunidade. Se você sente falta de um melhor acolhimento, seja
voluntário nessa área. Se acha que as finanças poderiam ser melhor
administradas, talvez você seja a solução. Se acredita que o louvor
não está tão afinado, compartilhe a sua voz. Deus nos incomoda
onde quer nos usar.
E, assim, encerramos o ciclo de discipulado.
Importante observar que o modelo aqui proposto tem início,
meio e fim! E serei enfático em dizer que o MODELO tem esse
ciclo bem definido.
O discipulado, por outro lado, pode avançar para além dessa
proposta. Pode se desenvolver por toda uma vida, desde que haja
um contínuo e mútuo crescimento.
Augusto Cury diz que Jesus sabia que seu projeto levaria
uma vida inteira. Quando estava com seus discípulos, Ele mos-
trava com gestos e palavras que aqueles
É tempo do homem homens deveriam reescrever as suas histó-
desafiar-se a sair rias baseadas nas experiências novas e mais
de uma posição elevadas. Jesus criou diversos ambientes
passiva, de exclusivo pedagógicos para que esse crescimento es-
usufruto, para uma piritual acontecesse continuamente: praia,
posição de serviço. templo, montes, sinagogas, feiras, avenidas,
descampados, desertos, ou seja, todos os
lugares onde a vida pode acontecer na prática. Portanto, se depois
desse ciclo de desenvolvimento das sete virtudes você identificar
outras sete, quatorze, vinte uma ou, até mesmo, setenta, busque
ambientes favoráveis ao desenvolvimento delas. Siga em direção à
vida de verdade e isso lhe revelará em que os discípulos precisam
se aperfeiçoar e aonde a mensagem será entregue. Tudo o mais,
o próprio Espírito se encarregará.

168
Antes de Terminar…

Aos jovens…

Mesmo antes de terminar esta versão do livro, enquanto


conversava com amigos e discípulos, muitos me incentivaram a es-
crever um outro com teor semelhante voltado para o público jovem.
Não tenho dúvida de que essa é uma dor que devemos enfrentar.
Temos uma juventude apática, que não se expressa, seja por vergo-
nha, seja por falta de convicção. Jovens que trocaram a adrenalina
do protagonismo pela letargia.
É um fenômeno que tem preocupado as lideranças em todos os
setores da sociedade, não apenas nas igrejas. Assim como assistimos
a um apagão de homens, um declínio da hombridade – e essa obra
é uma iniciativa de enfrentamento – temos também um apagão de
liderança jovem.
Quando falo de liderança, não estou obviamente me referindo
aos controversos personagens influenciadores, que possuem uma
grande audiência nas redes sociais. Estou tratando da liderança da
vida real, gente que sai às ruas para contestar e reivindicar uma
posição. Gente que se gasta com processos. Gente que se gasta com
gente!
Nada contra a atividade dos influenciadores digitais. Reconheço
ANTES DE TERMINAR

os esforços e métodos usados para alcançar a audiência que pos-


suem. Mas isso não os torna líderes, segundo a expressão bíblica
e sociológica que desenhamos aqui. São influenciadores, ou seja,
dispersores de ideias em ambiente fechado. Absorve essas ideias
quem quer. Em contrapartida, líder é alguém que aponta uma visão

169
e equipa aqueles que acreditam nesse norte, fazendo com eles a
AVA N C E M O S

travessia. Ser um influenciador não equivale, nem de longe, a ser


um discipulador, simplesmente porque não há relacionamento.
Falo isso na perspectiva de hoje, enquanto escrevo. Estamos em
2022, ano conturbado politicamente e tomado pela polarização de
ideias. Nos dias de hoje, perdemos o gradiente entre uma posição e
outra. Estamos convivendo na maioria das vezes com os extremos.
E, mesmo nesses extremos, não enxergo jovens cristãos mobilizados
em prol de uma visão (própria) do Reino.
Nasci em 1978 e tive a oportunidade de participar de alguns
movimentos importantes na história política do País. Fui às ruas
em, pelo menos, dois impeachments. Protestei contra desigualdade
social e busquei, ainda cedo, compreender onde estavam me clas-
sificando, dentro da política, para saber se era ali mesmo que eu
gostaria de ser contabilizado.
Fui católico até por volta dos vinte e cinco anos. Sempre estive
envolvido nas atividades dirigidas aos jovens e minha adesão sem-
pre foi voluntária, assim como era a da grande maioria dos meus
irmãos de fé. Hoje, na condição de Pastor em uma pequena comu-
nidade de fé, debatemos exaustivamente, em Conselhos, os meios e
as oportunidades para engajarmos os nossos jovens. Confesso que
não tenho me sentido vitorioso nesse sentido.
Diante de tudo isso, se você, jovem, por acaso teve acesso a este
livro e pretende utilizá-lo como ferramental para o seu discipulado,
encorajo-o a fazê-lo e a compartilhar comigo os seus resultados.
Ficarei muito feliz em receber um feedback das gerações que nos
sucederão.

Às esposas

Reforcei aqui meu reconhecimento pelo engajamento das


mulheres em absolutamente tudo. Atualmente, não há espaço
na sociedade onde não vejamos mulheres liderando e em grande

170
número e com grande competência. Eleve isso à décima potência
quando falamos de estruturas de acolhimento e de igreja.
O Ministério ao qual pertenço entende que o chamado pastoral
encontra-se não no indivíduo, mas na família. Pessoalmente, acho
isso fantástico, porque não consigo contabilizar as histórias de fa-
mílias que sofrem porque o homem exerce um chamado pastoral
em detrimento do seu papel na família e atenção para com o lar.
Assim, quando a FAMÍLIA recebe a ordenação, reconhecendo
marido e mulher como casal pastoral, aquela unidade cujo compro-
misso de ser uma só carne e um só espírito, também se manifestará
no Ministério. Fica mais fácil a compreensão mútua no que diz
respeito ao compromisso para com o pastoreio.
Muito bem! Falamos das condições quase ideais de temperatura
e pressão, mas precisamos falar do que é mais comum.
Conforme caminhávamos juntos, os discípulos passaram a
compreender melhor o seu papel como Sacerdote, assumindo novas
posturas, o que acabou por reformular a configuração de alguns
casais. O que deveria ser uma bênção, passou a ser um desconforto.
Algumas das esposas não estavam compreendendo muito bem
a mudança de postura dos seus maridos e acabaram contestando
alguns comportamentos. Por incrível que pareça, estavam acostuma-
das com a sobrecarga de tomar tantas decisões, cuidar dos assuntos
da casa e da liderança espiritual dos filhos. Uma vez que os homens,
agora tomados por uma nova consciência, reposicionaram-se,
houve certo desconforto e estranheza por parte das mulheres. Elas
queriam, no mínimo, entender o que estava acontecendo.
Foi então que decidimos iniciar um discipulado com as mulhe-
res dos discípulos! Compreendemos que a novidade de comporta-
ANTES DE TERMINAR

mento dos homens precisava ser melhor contextualizada para suas


esposas num ambiente semelhante ao que criei, porém na versão
feminina.
Quem sabe em algum momento venhamos a escrever a versão
feminina do Avancemos… Certamente, isso seria motivo de muita
alegria para nossa casa e a certeza de que estaríamos contribuindo,

171
ao menos um pouco, para a mais harmônica equação possível para
AVA N C E M O S

um casal cristão.
Assim, pretendo dizer claramente que é possível aos homens
envolvidos no discipulado reformularem a sua conduta a tal ponto
que cheguem a causar estranheza, sobretudo para as suas esposas.
Por esse motivo, tenha em mente que, em algum momento, a sua
comunidade também precisará investir no discipulado de mulheres,
caso ainda não tenha. E, assim como aconteceu conosco, sugiro
investir em um discipulado de casais, gerando vida e virtudes de
maneira exponencial.

172
Obrigado, mesmo!

Ao longo do livro tive inúmeros insights que me renderam


pregações e bate-papos com minha esposa e amigos. Foram con-
versas que me ajudaram a validar o conteúdo, ao mesmo tempo
que colhia a impressão dos meus interlocutores a respeito da crise
de hombridade que descrevi nos capítulos anteriores.
Surpreendeu-me ver que muitos dos amigos com os quais com-
partilhava as minhas ideias estavam tomados por certo incômodo
existencial, sem saber exatamente do que se tratava. À medida que
conversávamos o cenário ganhava contorno e o que antes era um
vago incômodo para esses homens, transformou-se em uma justi-
ficada causa de atenção.
Colecionei muitos aprendizados ao meditar no conteúdo desta
obra e destaco, principalmente, o poder da ação.
Quando decidi colocar em prática o discipulado, não tinha
ideia do ponto em que chegaríamos. Eu tinha algumas premissas,
nas quais me agarrei, deixando o resultado ser esculpido pelo
Espírito Santo.
Reconheço que, muitas vezes, durante a minha vida, abri mão
de uma visão simplesmente porque ela não estava tão bem desenha-
da quanto eu achava que devia estar. Ou porque não me via naquele
cargo ou espaço. Foi assim inclusive com o pastorado, conforme
O B R I GA D O, M E S M O !

compartilhei aqui. Fui hesitante em me reconhecer como pastor, pois


eu nunca havia me organizado, preparado ou, até mesmo, sonhado
em ser um líder numa comunidade cristã. Eu apenas estava fazendo
aquilo que o Senhor ministrava ao meu coração e não achava que
isso teria que alterar a minha relação com os demais irmãos.

173
Implicitamente havia algum receio de assumir algo para o
AVA N C E M O S

qual não tinha sido intencionalmente preparado. Aquela famosa


“síndrome do impostor”, explicada pela especialista Dra. Lisa
Orbé-Austin como um estado em que a pessoa não enxerga nada de
forte, habilidoso ou único para protagonizar determinada situação
me sobrevinha recorrentemente.
Nassim Taleb, no clássico Antifrágil, sugere que a evitação dos
pequenos erros faz com que os grandes se tornem ainda maiores.
Concordo integralmente! A evitação dos erros fáceis de corrigir,
seja pelo perfeccionismo ou pela preguiça do desgaste na corre-
ção, faz com que os projetos fiquem perpetuamente incubados,
que feedbacks sinceros não aconteçam, a educação dos filhos seja
negligenciada e que o discipulado não seja iniciado.
Então, de acordo com as lições abundantes do Vale do Silício,
que caracterizam um mindset ágil, devemos errar o mais rápido
possível, acertar o mais rápido possível e com o menor dano pos-
sível. E as coisas não precisam ser prematuras, precárias ou mal
elaboradas. A verdade é que, muitas vezes, não sabemos o quanto
de estrutura determinada ação ou projeto demanda e ficamos pre-
sos a estimativas inflacionadas, deixando de testá-la com o que já
temos em mãos.
A propósito, essa história de construir o que você precisa, a
partir do que você tem, é conhecida, né? Pães, peixes, água, vinho…
É isso mesmo. Não começamos pelo ideal. Começamos pelo real
e, quando esse começo é dirigido pelo Espírito Santo do Senhor, os
recursos, pessoas, ferramentas, oportunidades e resultados, apare-
cerão de maneira natural numa proporção superabundante. Tenho
experimentado isso e não tenho dúvidas de que você guarda o mate-
rial genético, espiritual e emocional para viver essa mesma alegria.
Despido do medo de errar e incomodado com a visão que o
Senhor me presenteou, comecei com o pouco que tinha, mas firmado
em uma estrutura segura. Agarrei-me na premissa da ancoragem
bíblica. Esse referencial nunca falha! Mesmo utilizando conceitos
contemporâneos de desenvolvimento pessoal e de equipes, todo

174
material ou conteúdo utilizado no discipulado passou por um es-
crutínio, cujo esquadro era sempre a Bíblia.
Compartilhei aqui que gosto de ler e me manter atualizado
sobre inúmeros assuntos, especialmente aqueles que interferem no
meu desempenho pessoal e profissional. Mas todo conhecimento
prévio, e mesmo aquele acumulado durante a jornada, foi filtrado
pela Palavra. A verdadeira Palavra. Daí, fica fácil escolher o que
aplicar em sua vida. Você pode ter acesso a todo tipo de conhecimen-
to, inclusive para saber as baboseiras que são vomitadas por gente
tola, mas que é idolatrada. Não precisa ter receio de ler filosofia,
história ou romance, literatura estrangeira ou livros de autoajuda.
Se tudo passar pelo crivo da Palavra, seguramente você acumulará
um conhecimento que lhe será útil.
Também fui exposto a chaves bíblicas fantásticas, que só tive
a oportunidade de ver reveladas mergulhando nas páginas deste
manuscrito.
O capítulo 28 de Mateus, tantas vezes citado aqui, revelou-me
duas chaves poderosas. A primeira, que compartilhei ao longo da
obra, é que o Discipulado é a escola da obediência. Preste atenção
na estrutura desses versos e veja que a palavra Obediência ocupa o
centro gravitacional do conhecido Ide, deixado por Jesus.

Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, bati-


zando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu
estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.
Mateus 28:19-20

O que Cristo nos pede é que ensinemos a todos aqueles que


O B R I GA D O, M E S M O !

vamos discipular a obedecerem. Obedecer a tudo o que Ele tem dito,


e não apenas aprender tudo o que Ele tem dito. Expor a Palavra,
vivendo nela verdadeiramente e ensinando os irmãos ao longo do
caminho.

175
É certo que ninguém conduz alguém a algum lugar que ainda
AVA N C E M O S

não foi. Cego não guia cego, assim diz a Palavra. Por consequência,
o ensino da obediência pressupõe ter obedecido primeiro. Pressupõe
ter sido submetido ao teste do tempo, na luta da carne contra o
espírito, consagrando este último como vencedor. Só ensina quem
aprende. Só se ensina obediência, sendo já obediente. E assumir o
discipulado, atendendo ao comando de Mateus 28 já é expressão
de obediência.
Outra chave maravilhosa à qual tive acesso está no último
período do versículo 20: “E eu estarei sempre com vocês, até o fim
dos tempos”. Você não pode imaginar quantas vezes li esse texto
e quantas vezes ele ressoou na minha memória e no meu coração.
Um dia, quando já estava fazendo a revisão da primeira versão do
livro, abriu-se o clarão em minha frente: O Espírito Santo do Senhor
continua nos ensinando até os dias de hoje.
Vivemos na era da informação, também conhecida como era
digital ou era tecnológica. É um período de expansão quase infinita
da capacidade de processamento das máquinas, o que nos leva a
contínuas descobertas sobre absolutamente tudo, desde a estrutura
molecular, passando pela idade dos corpos celestiais e chegando
às sinapses nervosas que dão origem aos nossos pensamentos.
É realmente estonteante a quantidade de informação e conheci-
mento disponíveis.
Mas Jesus viveu em uma era diferente, na qual não havia sequer
energia elétrica, cuja descoberta revolucionária só nos alcançou
no século 18, pelas mãos do físico americano Benjamin Franklin,
ao observar as descargas elétricas que vinham das nuvens durante
as tempestades. Então, quando voltamos ao texto de Mateus 28,
poderia gravitar uma dúvida sobre o tipo de conhecimento que
Jesus disse que deveríamos repassar. Os mais açodados diriam
que era o conhecimento existencial e espiritual que o próprio
Filho do Homem entregou, nos seus diálogos e no dia a dia com
os discípulos.

176
Mas, algo me intrigava além dessa pronta resposta. Tantos
conhecimentos que mexem com a posição do ser humano no cos-
mos, tantas descobertas que dão um poder perigosamente grande
aos homens e tanta densidade informacional para lidar, tudo isso
não faria parte de um campo de treinamento para homens e mu-
lheres que servem a Deus?
Uma curiosidade santa me levou a refletir melhor sobre os
tempos verbais nas diversas versões da Bíblia às quais temos acesso.
As principais versões que subsidiam
nossos estudos bíblicos guardam a Não começamos pelo ideal.
mesma ideia. Se você quiser pode ler Começamos pelo real e,
numa versão mais contemporânea, quando esse começo é
como a Nova Versão Internacional; dirigido pelo Espírito Santo do
numa mais conservadora, como a Senhor, os recursos, pessoas,
Almeida Revista e Corrigida (a qual ferramentas, oportunidades
particularmente gosto muito); ou e resultados, aparecerão
numa versão muito conhecida, como de maneira natural numa
a Almeida Revista e Atualizada; ou, proporção superabundante.
por último, numa que dialoga com a
gramaticalidade anglo-saxã, como a King James Atualizada, em
todas elas você encontrará uma ideia de continuidade na relação
ensino/aprendizado. Em todas, a expressão “vos tenho ensinado/
mandado/ordenado”, entrega a ideia de que o ciclo de aprendizado
em Cristo não parou com o exemplo da Sua própria vida. Ele viaja
pelo tempo, renovando-se continuamente, até os dias de hoje.
Aí quando você mergulha na última frase do capítulo, ou
melhor, provavelmente a última frase dita por Jesus, depois de sua
ressurreição e comunhão com seus discípulos por 40 dias, já no
corpo glorioso, e momentos antes de subir definitivamente ao Céu,
O B R I GA D O, M E S M O !

você encontra uma maravilhosa promessa: “E assim, Eu estarei


permanentemente convosco, até o fim dos tempos” (Mateus 28.20).
É uma verdadeira explosão diante dos nossos olhos: o Espírito Santo
do Senhor permanece conosco hoje e até o final dos tempos, desde
que sejamos comprometidos com o discipulado e a obediência.

177
E esse mesmo Espírito, se n’Ele estivermos, nos ensina constante-
AVA N C E M O S

mente o que devemos fazer. Jamais haverá um ponto final nesse


aprendizado, se estivermos em obediência, cumprindo o chamado
para o qual fomos designados. Portanto, uma das nossas maiores
esperanças de permanecer no Espírito, e Ele em nós, é cumprindo
o discipulado. Meu Deus!!!
Preste bem atenção: uma vez que eu obedeço àquilo que Jesus
me ordenou, que é anunciar a sua boa nova a todos os povos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e me
conectar a essas pessoas, ensinando-as tudo o que já aprendi, Ele
continuamente renovará o meu entendimento, ensinando-me mais
coisas, as quais preciso continuar repassando aos meus irmãos por
meio do discipulado. E isso se tornará um ciclo virtuoso e perpétuo,
até a consumação dos tempos. Glórias a Deus nas alturas! A escola
da obediência me manterá ligada ao Espírito Santo do Senhor,
e por meio d’Ele eu continuarei aprendendo, dia após dia, tudo o
que eu preciso para viver neste mundo cheio de desafios, inundado
de conhecimentos novos num volume aparentemente esmagador.
Mergulhado nessa compreensão bíblica, percebo que não há
limite no aprendizado e nem conhecimento a que posso ter acesso,
bastando, para isso, que eu esteja ligado ao Pai, por meio de seu
Santo Espírito, obedecendo ao que Seu filho Jesus Cristo, meu
irmão mais velho na fé, ordenou-me de maneira simples, direta e
objetiva. É uma espécie de jogo infinito, parafraseando Simon Sinek!
Traduzir o discipulado como um jogo infinito do qual jamais será
possível dominar todas as regras, ajuda muito a não se angustiar
em busca de resultados previsíveis. É, por outro lado, a certeza de
construir, em grupo, algo grandioso, numa dimensão que escapa à
nossa compreensão.
Sinek, no seu aclamado livro O Jogo Infinito, compartilha que
grupos que adotam uma mentalidade infinita desfrutam de níveis
mais elevados de confiança, cooperação e inovação e de todos os
seus benefícios subjacentes. Ele acrescenta que, se nos reconhece-
mos como jogadores de jogos infinitos, devemos buscar conhecer e

178
compreender a natureza dessas interações a partir de uma menta-
lidade igualmente infinita.
A regra é simples: todas as vezes que acharmos que domi-
namos completamente as regras, elas simplesmente mudam.
E quando achamos que dominamos novamente, elas voltam a mudar.
E quando nos ambientamos mais uma vez, mudam-se os jogadores.
E assim a vida transcorre.
Essa compreensão revela quão difícil é cumprir esse plano de fé.
Em outras palavras, Cristo já havia nos alertado que precisaríamos
de conhecimentos novos, dia após dia, para não só avançarmos no
entendimento sobre a nossa natureza, identidade e propósito, como
também nos habilitarmos a acessar novas culturas, novas pessoas
e novos horizontes.
Na minha visão, estamos diante de um grande convite transcul-
tural e, no limite, transcendental. Cristo nos convida a dialogar com
todos os povos da terra, anunciando as boas novas, batizando-os
e, em seguida, ensinando tudo o que temos aprendido e cumprido,
em conformidade com o conselho do Espírito. Raciocinando por
esse prisma, entendo que todo conhecimento supostamente huma-
no deve estar a serviço da missão de edificar o Reino diariamente.
Cai por terra o entendimento de que o cristão deve se limitar ao
estudo bíblico, rechaçando os demais conhecimentos que fruti-
ficam na engenhosa mente humana, criada tão inteligentemente
por Deus.
Minha formação em Química apurou o senso de busca pelo
conhecimento e toda a metodologia envolvida no processo.
As ciências naturais propõem que uma tese só alcança valor cientí-
fico quando, mantidas as mesmas variáveis, pode ser reproduzida
várias vezes, gerando o mesmo resultado. Mantendo-se os mesmos
O B R I GA D O, M E S M O !

elementos (matéria-prima ou insumos), condições de temperatura


e pressão, sequência lógica e ritmo apropriado, os resultados, na
ciência, precisam ser equivalentes. O método gera a possibilidade
de produção em série, massificando resultados com minimização
de esforço.

179
Parafraseando o poeta, “para nossa alegria” a Graça não se
AVA N C E M O S

comporta como uma ciência. Deus a distribui segundo o Seu arbítrio


e isso não tem nada de democrático, socrático ou tirânico. É uma
lógica que não alcançamos, mas que está disponível a todos que
crêem. Portanto, não há um passo a passo, um guia, um roteiro,
um método ou um manual para se alcançar a Graça. O que há de
comum entre os que recebem a graça é a fé e a obediência.

180
Até breve!

Após percorremos juntos este trajeto, espero que eu tenha


conseguido transmitir a visão e o modelo que o Senhor me presen-
teou, a respeito do discipulado masculino contemporâneo.
Tratando-se de caminhada, lado a lado, o discipulado é um
regime de crescimento continuado à luz da palavra.
Discípulo e líder caminham amoldando-se à imagem de Cristo,
buscando, no dia a dia, o aperfeiçoamento das virtudes que Deus já
depositou em nós, mas que ficam em segundo plano frente a uma
realidade conturbada e complexa dos dias atuais.
Espero que tenha sido possível vislumbrar que o discipulado
parte, inicialmente, de um sentimento de obediência. Discipular
é atribuição de todo aquele que aceitou Cristo como seu único e
suficiente Senhor e Salvador.
Além disso, espero que tenha ficado claro que existe a necessi-
dade de intencionalidade nos relacionamentos, associada a oração,
leitura e estudo bíblicos, meditação da palavra e comunhão para
que o discipulado seja realmente fundamentado no que o Senhor
nos comissionou.
Falamos um pouco sobre a seleção daqueles que entendem e
querem o discipulado, do modelo a ser adotado, bem como das
estratégias de engajamento, focado no crescimento continuado.
Fomos em direção às virtudes que esse modelo de discipulado
busca trabalhar: estudo bíblico, atuação do cristão no mundo se-
AT É B R E V E !

cular, preparação física, caridade, comunhão, sacerdócio familiar


e serviço.

181
Como ilustrado ao longo do livro, esse foi o modelo que o
AVA N C E M O S

Senhor me presenteou. Foram essas as virtudes que Ele me deu para


trabalhar. Mas isso não engessa o crescimento. Logo, concebo que
podem existir outras virtudes a serem desenvolvidas, especialmente
se levarmos em consideração a sociologia do seu grupo.

182
Bibliografia

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MÁRCIO MARQUES

É Pastor na Comuni­dade Sal da Terra


em Águas Claras, onde cultiva seu minis­
tério com enfoque no desenvolvimento de
lideranças masculi­nas.
É servidor público federal, exercendo
carreira na segurança pública há mais
de vinte anos. Possui inúmeras experiên­
cias dentro e fora do Brasil nessa temá­
tica e é Operações Espe­ciais pela PRF, de
onde extraiu lições que o tem ajudado no
Ministério e na con­dução de lideranças
masculinas.
Pr. Márcio acredita que o resgate da
hombridade passa pelo manejo de fer­
ramentas, uma vez que a natureza do
Homem está, desde sua gênese, ligada
ao cultivo e à proteção. Por meio dessa
visão, tem ministrado pa­lestras em diver­
sas comunidades.
M Á RC I O M A RQ U E S

 marquesxmail@gmail.com 
 @marquesxmail

189
•••

Este livro foi composto em Sabon corpo 11


e impresso pela Gráfica Coronário sobre papel Pólen Soft 80g
para Editora Shilo em Dezembro de 2022.

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