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CENTRO DE CULTURA POPULAR MESTRE NOZA
CARVING WOOD, CARVING MEMORIES: HANDICRAFTS IN MASTER NOZA
POPULAR CULTURE CENTER
RESUMO
Reflete sobre o artesanato como expressão cultural popular, abordando a discussão de
identidade cultural, a partir da cidade de Juazeiro do Norte-CE, localizada na região sul do
Estado do Ceará. Essa cidade, destaca-se como um centro de peregrinação religiosa no
nordeste do Brasil, tendo na figura histórica o Padre Cícero Romão Batista seu maior
expoente. As romarias, característica do catolicismo popular existente na cidade, fomentaram
a circularidade da cultura através da interação das diferentes identidades culturais que para lá
confluem, através dos romeiros, artistas, pesquisadores, artesãos e empresários, todos que
visitam a cidade. Para além da figura do Padre Cícero, destaca-se na região do Cariri Cearense
um território marcado pela presença da cultura negra, indígena e paleontológica, assim como
pela biodiversidade da Chapada do Araripe. Assim sendo, nesse território em que a
circularidade das culturas se faz presente numa troca contínua, a presente pesquisa coloca-se
com o intuito de apresentar o artesanato na cidade de Juazeiro do Norte a partir do Centro de
Cultura Popular Mestre Noza. O estudo justifica-se pela importância cultural do artesanato na
cidade, neste contexto, a pesquisa tem como objetivo geral discutir o artesanato enquanto uma
expressão da cultura da cidade cidade de Juazeiro do Norte-CE, a partir do citado centro.
Nesse sentido, foram consideradas algumas premissas, tais como, evidenciar o artesanato da
Região do Cariri Cearense como uma referência cultural, bem como veículo de transmissão
da memória para as gerações futuras, além de apresentar seus aspectos econômicos como o
fato de ser fonte de renda e de fomentar o comércio da região. Para tanto, realiza-se uma
revisão de literatura, com ênfase na coleta de dados através de observação participante, tendo
como sujeitos os artesãos que trabalham no Centro de Cultura Popular Mestre Noza. Ao
analisar os fatos estudados, foi possível observar que o artesanato, como elemento da cultura,
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Artigo produzido no âmbito do grupo de pesquisa SABERES - Informação e Cultura, Patrimônio Cultural e
Sustentabilidade da Universidade Federal do Cariri.
possibilita o desenvolvimento econômico, além de perpassar por aspectos políticos,
identitários e sociais. Conclui-se que a cultura é um elemento determinante e ao mesmo tempo
determinado pelo meio social, e o artesanato, por fazer parte da chamada cultura popular,
muitas vezes visto como algo menor ou de baixo valor estético, quando comparado com a arte
tida como erudita, representa um papel proeminente na formação da história cultural do
território.
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Esta foi uma das primeiras confirmações que tivemos nas conversas com os artesãos,
“é um aprendizado passado de geração em geração, vi meu irmão esculpindo e logo quis
aprender e faço isso até hoje, 32 anos depois”, relata Beto. Como ressalta Silva (2009), a
complexidade que envolve os estudos sobre o artesanato decorre do fato de que este, na
qualidade de elemento componente do patrimônio cultural, incorpora-se ao conjunto de
monumentos, documentos e objetos que constituem a memória coletiva de um povo e,
portanto, deve ser considerado do ponto de vista social e cultural.
No entanto, a existência do artesanato com o avanço industrial não poderia ser
explicada se entendemos o artesanato como uma atividade que sobrevive ainda em sua forma
original e que, por preservar de forma inalterada técnicas e práticas antigas, assumiria o papel
de guardião da tradição. Conforme Fischer e Soares (2010), o artesanato insere-se como um
dos campos de representação da cultura popular, responsável por contribuir com a identidade
cultural de um dado território.
Nessa perspectiva, Santos (2012, p.16) diz que por ser uma referência cultural na
cidade, o Centro de Cultura Popular Mestre Noza tem demonstrado, através da sua arte, a
valorização da cultura regional, fomentando a difusão das tradições locais através do
artesanato em madeira com a representação de imagens que representam o contexto social em
que estamos inseridos, proporcionando ao público em geral informações referentes à nossa
sociedadee uma forma de representação da memória coletiva.
Apesar da atividade artesanal da região, ao longo do tempo, passar por processo de
fragilização, a cidade de Juazeiro do Norte continua sendo o maior polo de artesanato
cearense em quantidade, qualidade e diversidade, possuindo forte representatividade para a
cultura popular do Estado e do Brasil.
Associado a isto, percebemos que o artesanato fortalece cada vez mais a economia da
cidade de Juazeiro do Norte e região, trazendo um grande fluxo de pessoas de outros locais.
São milhares de pessoas por ano que chegam até a cidade em busca de conhecê-la e
principalmente explorar a cultura local, sendo que os artesãos estão os mais procurados por
essas pessoas.
Já mencionamos o papel de Padre Cícero como incentivador do artesanato na região.
Esse incentivo deu resultado: atualmente o artesanato tem forte participação na economia do
lugar, que se tornou celeiro de artistas. Criatividade e habilidade unem-se e fazem surgir
peças em madeira, barro, palha, entre outros materiais. Podemos afirmar que a cidade chama a
atenção dos turistas não só pela fé, mas também por suas manisfestações artísticas e culturais.
Apesar das dificuldades econômicas, o artesanato ainda representa para a maioria dos
trabalhadores a única atividade produtiva exercida. Na região do Cariri cearense, a produção
do artesanato destaca-se e configura-se como principal, e muitas vezes única forma de
sustento do tabalhador. O artesanato da região em destaque além de ser conhecido no mundo
todo e, consequentemente, atrair pessoas de vários lugares interessadas em acompanhar
inclusive o porcesso de produção dos artesãos, ainda carrega consigo o valor histórico e
memorial daquela cidade, suas tradições, e, por último, garante o sustento à muitas famílias e
associações.
A cidade de Juazeiro do Norte abriga artesãos nacionais e internacionais, que têm suas
peças expostas em museus; e artesãos mestres da cultura cearense que norteiam o ofício
artesanal e contribuem para permanência da cultura sertaneja. Conforme Grangeiro (2015), a
princípio, o alto grau de visibilidade das peças produzidas por um determinado grupo de
artesãos apresenta-se como um possível indicador de êxito profissional destes trabalhadores.
Por conseguinte, Castilho (2013) destaca que a cultura está sempre enraizada com base
no território, proveniente da integração do homem para adequar-se às adversidades do local, e
assim construir a sua identidade.
Tal afirmativa é possível de visualizar no âmbito do Centro de Cultura Popular Mestre
Noza onde se fazem presentes elementos de memória existentes tanto no processo de criação
(práticas que os artesãos aprenderam e hoje transmitem) bem como, na memória existente nas
peças criadas, que são representações de elementos da cultura local (Pe. Cícero, Luiz
Gonzaga, Jaraguás, Brincantes de Reisado e outras figuras e elementos). Desse modo,
observar, refletir e analisar essa prática permite adentrar nas tessituras simbólicas e afetivas da
cultura local e compreender os complexos elementos que a compõe.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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