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CURSO DE GRADUAÇÃO NA ÁREA DE TEOLOGIA

HISTÓRIA ECLESIÁSTICA II

Da reforma aos dias contemporâneos

Mario Biolada

Londrina-PR
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Apresentação

Caro aluno,
A proposta deste material de estudos e pesquisa reúne elementos que se
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da
pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso,
de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Elaboração: Mario Biolada.

Primeira edição: 2014.


Segunda edição: 2015.
Terceira edição: 2016.
Quarta edição: 2017.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO: ....................................................................................................... 5

CUIDADOS NECESSÁRIOS AO ESTUDAR A HISTÓRIA ................................. 7

1. 1 A PRÉ REFORMA DO SÉCULO XV ............................................................ 8

1.2 REFORMADORES A PARTIR DO SÉCULO XV. CONTRA REFORMA E


MISSÕES CATÓLICAS.................................................................................................... 9

LINHA DO TEMPO: SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS A


PARTIR DA REFORMA ................................................................................................. 14

1.3 CAUSAS E CONSEQUENCIAS DA REFORMA PROTESTANTE .............. 15

1.4 LUTERO E A REFORMA NA ALEMANHA ................................................. 18

1.5 AS 95 TESES DE LUTERO......................................................................... 25

1.6 OS CINCO “SOLA” ...................................................................................... 25

1.7 CONTROVÉRSIA SOBRE A EUCARISTIA ................................................. 26

1.8 APRENDENDO COM LUTERO .................................................................. 28

1.9 DESENVOLVIMENTO DAS INDULGÊNCIAS ............................................. 29

1.10 CURSO POSTERIOR DO LUTERANISMO .............................................. 30

1.11 A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA TEOLÓGICA .......................................... 32

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................. 33

QUESTIONÁRIO 1 ............................................................................................... 34

2. ÚLRICO ZUÍNGLIO E A REFORMA NA SUIÇA ............................................... 36

3. OS ANABATISTAS ........................................................................................... 40

4. OS PAÍSES ESCANDINAVOS.......................................................................... 44

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ...................................................................... 46

QUESTIONÁRIO 2:............................................................................................... 47

5. IGREJA ANGLICANA - O ROMPIMENTO DA INGLATERRA COM A IGREJA


ROMANA ........................................................................................................................... 48

QUESTIONÁRIO 3:............................................................................................... 54

6. A REFORMA NA SUIÇA E EM GENEBRA ANTES DE CALVINO .................. 55

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7. CALVINISMO .................................................................................................... 56

7.1 O CALVINISMO DE CALVINO E O CALVINISMO DE TEODORO DE BEZA


....................................................................................................................................... 60

8. ARMINIANISMO ............................................................................................... 63

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ...................................................................... 70

QUESTIONÁRIO 4:.............................................................................................. 72

9. A REFORMA ESCOCESA ................................................................................ 73

APRENDENDO COM JOHN KNOX .................................................................. 76

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ...................................................................... 78

QUESTIONÁRIO 5:............................................................................................... 79

10. A ESPANHA E O PROTESTANTISMO .......................................................... 80

11. A FRANÇA E O PROTESTANTISMO ............................................................. 82

QUESTIONÁRIO 6:............................................................................................... 86

12. OS QUACRES ................................................................................................ 87

13. OS PURITANOS ............................................................................................. 93

14. PIETISMO ....................................................................................................... 96

15. CONTRA REFORMA ...................................................................................... 99

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 101

QUESTIONÁRIO 7:............................................................................................. 102

16. ZINZENDORF E O MORAVIANISMO ........................................................... 103

17. WESLEY, WHITEFIELD E O METODISMO ................................................. 107

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 111

QUESTIONÁRIO 8:............................................................................................ 113

18. A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO NORTE AMERICANO............................. 114

18.1 O REAVIVAMENTO AMERICANO .......................................................... 114

18.2 CRISE ENTRE OS PRIMEIROS GRUPOS PROTESTANTES ............... 115

18.3 O PRIMEIRO GRANDE DESPERTAMENTO AMERICANO ................... 117

18.4 A ÉPOCA REVOLUCIONÁRIA ................................................................ 118

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18.5 O SEGUNDO GRANDE DESPERTAMENTO ......................................... 118

18.6 O MOVIMENTO DE SANTIDADE ........................................................... 120

18.7 O MOVIMENTO PENTECOSTAL ........................................................... 121

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 122

QUESTIONÁRIO 9:............................................................................................. 123

19. HISTÓRIA DO CATOLICISMO ROMANO NO BRASIL ................................ 124

20. UM POUCO DA HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO NO BRASIL .............. 126

21. UMA GERAL SOBRE AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ................... 128

22. IGREJAS PROTESTANTES NO BRASIL ..................................................... 129

23. O MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL ............................................. 135

24. O MOVIMENTO NEOPENTECOSTAL BRASILEIRO ................................... 138

24.1 CARACTERÍSTICAS DOS CULTOS NEOPENTECOSTAIS .................. 140

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 142

QUESTIONÁRIO 10:........................................................................................... 143

REFERÊNCIAS................................................................................................... 144

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INTRODUÇÃO:

Algumas questões devem ser consideradas antes de fazermos um estudo


sistemático da História da Igreja bem como uma análise da Reforma Protestante.

Existe espiritualidade sem Teologia? O que é Teologia? Estudo de Deus? Como


Deus pode ser estudado? Que tal pensarmos em Teologia como “estudo da revelação
que Deus fez de si?”. Entenda então a pergunta: existe espiritualidade sem uma devida
análise da vontade de Deus para a vida humana revelada em Sua Palavra? Analise
Êxodo 20:1-17 com a ênfase nos versículos 2, 5, 7, 11. O que você notou? Agora
analisemos Mateus 6:1-13 com a ênfase nos versículos 1, 2, 4, 6. O que você notou?
Você percebeu em ambas as análises que Deus dá explicações para o porquê de
obedecermos sua ordem? Ele nos pede para fazermos ou sermos algo que Ele mesmo
não faça, ou seja?
Há uma teoria de que a Reforma Protestante não resgatou a Bíblia, mas sim o
Evangelho. Essa teoria baseia-se na informação de que um teólogo, para formar-se,
deveria comentar a Bíblia diariamente. A Bíblia estava na mão do clero. Ela podia não ser
interpretada adequadamente, mas era interpretada. Com isso, a Reforma teria resgatado
o Evangelho, não a Bíblia. Lindolfo Weingartner (2017, p.9) ressalta, no entanto, que
apesar de a Bíblia ser estudada pelos teólogos e monges, o povo leigo só conhecia
histórias de santos, leis de jejum, regras de penitência e missas para defuntos. Eram
mantidos em total submissão aos padres e bispos que, em nome do Papa, ditavam o que
era certo e errado. Sob esta ótica a Reforma Protestante resgatou a Bíblia, ao menos,
para traduzi-la no idioma vernacular e recomendar seu livre exame, tomando os devidos
cuidados quanto à livre interpretação.
Sob esta ótica John Fullerton MacArthur disse: “A Reforma não acabou”. Em uma
pregação na Conferência Nacional Ligonier, em Orlando, na Flórida (EUA), MacArthur
disse que "a cada novo falso professor que surge para ensinar uma ou outra 'versão
alternativa' da Mensagem", isto mostra a necessidade da Reforma diária. Ele nos dá uma
visão da Reforma como chamado ao arrependimento em sua pregação “Chamado de
Cristo à Reforma (ao arrependimento),disponível em nossa bibliografia complementar.
É possível conhecer toda a Bíblia e não se conhecer o Evangelho. Por essa razão
é necessário que haja novos reformadores hoje em dia. É impossível conhecer o
Evangelho sem a Bíblia, mas é possível conhecer a Bíblia e não conhecer o Evangelho
(os rabinos fazem isso muito bem). Para tanto é necessário novamente levar o povo à

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leitura da Bíblia e buscar uma ideal interpretação do Evangelho, recusando as novidades


que sempre são uma tentação no que diz respeito a templos cheios.
A igreja se tornou um grande negócio. Nesse negócio, Bíblias têm sido deixadas
nos bancos, têm sido lidas, têm sido interpretadas. O Evangelho, contudo, tem ficado
(como já foi comparado) como um leão enjaulado.
A igreja se desfigurou com tantas inovações. O Evangelho já não parece
encantar. Parece que a igreja inovou tanto que precisa agora continuar oferecendo aquilo
que agradou seus adeptos. Aliás, essa foi a razão do surgimento de tantas inovações nos
EUA nos séculos XVIII e XIX, quando muitas igrejas estavam ficando vazias.
O termo “evangélico” está tão desgastado que alguns cristãos sequer aceitam ser
chamados assim. Alguns sugerem que não se deveria mais usar esse termo. Lembremos
que “evangélico” reporta ao Evangelho, aquilo que a Reforma resgatou.
Quando olhamos para o espírito das “cinco solas”, um resumo do que ensinavam
os principais reformadores, entre eles, Lutero e João Calvino, temos um resumo do que a
Reforma trouxe para a Igreja do Senhor Jesus. Um claro resgate do Evangelho! Nas cinco
solas são exaltados a Escritura, a fé, o Senhor Jesus, a graça e a glória de Deus. São
esses os pilares das pregações nas igrejas contemporâneas?
Lutero tinha consciência de que era um pecador. Essa era uma característica
comum aos homens medievais. A própria definição que Lutero fez de si (FERREIRA,
2017, p. 28) foi de um miserável e fedorento saco de vermes. O Iluminismo, Humanismo e
o Espiritismo trouxeram ao Brasil uma definição diferente do ser humano, fazendo-o com
que se sinta bom o suficiente para não precisar de uma intervenção divina em sua vida.
Essa é a realidade em que nasceram e cresceram nossa geração. Toda a teologia de
Lutero foi desenvolvida com base nessa certeza de que somos maus, pecadores, e
necessitamos de um salvador. Como trabalhar esse princípio bíblico em uma geração que
assimilou um pensamento tão oposto?
Nos tempos de Lutero a Igreja havia se apossado do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo e o administrava a seu critério. Lindolfo Weingartner (2017, p.12) nos informa o
protesto de Lutero: “A igreja é criatura do evangelho, isto é, o evangelho faz a igreja e não
a igreja o Evangelho”. As 95 teses de Lutero (a obra de Weingartner é uma análise das 95
teses) em pouco tempo “viralizaram” tanto na Alemanha como em Países vizinhos. Seu
propósito com as 95 teses era combater as indulgências que surgiram com propósito
pedagógico (punição imposta pela Igreja para conferir perdão ao fiel) e depois passou a
aceitar a possibilidade de ser convertida em dinheiro que seria utilizado em obras de
caridade e por fim passou a levantar vultuosas somas de dinheiro para diversos tipos de
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necessidades da igreja, como por exemplo, a construção da catedral de São Pedro, em


Roma. Ainda que oficialmente o propósito das indulgências fosse “substituir punições
eclesiásticas impostas aos cristãos faltosos” o povo as comprava para ter o perdão de
Deus para si ou para alguém que já tivesse falecido ou mesmo que estivesse vivo.
Ao afixar as 95 teses na porta da Igreja do castelo de Wittenberg na data de
31/10/1517, escritas em latim e com propósitos acadêmicos (tarefa comum e diária de um
doutor em Teologia), Lutero acabou iniciando aquilo que tem sido a marca característica
da Reforma Protestante: um livre exame da Bíblia com o propósito de recebermos uma
mensagem alegre e felicitante que procede do Evangelho daquele que gerou a Igreja e
não o contrário.
Em nosso tempo não se vendem mais indulgências aos moldes dos séculos XV e
XVI. Permanece, contudo, um mercado religioso que tende a substituir o Evangelho do
Senhor Jesus Cristo com substitutivos que as próprias pessoas almejam receber. Ainda
existe o “tráfico de influência espiritual” como fazia o Papa nos tempos da Reforma. Ainda
temos o que protestar! A graça de Deus, oferecida no Evangelho do Senhor Jesus Cristo,
não pode ser ofuscada nem barateada.
Esse material tem por objetivo apresentar historicamente o movimento da
Reforma Protestante ao mesmo tempo em que contextualiza as principais lições que a
Reforma apresentou e que precisam ser trazidas de volta ao nosso tempo.

CUIDADOS NECESSÁRIOS AO ESTUDAR A HISTÓRIA

- Cuidado com o anacronismo: Situe cada acontecimento em seu tempo.


- Situe cada personagem em seu devido contexto (não heroificar). Lutero: pessoa
certa, no tempo certo, no lugar certo.
- A Reforma precisa ser observada de acordo com o contexto de sua era e assim
compreendê-la a partir de seu próprio tempo, podendo assim fazer uma devida
contextualização nos dias atuais.
- Não se esqueça que às vezes o dito popular quanto à Teologia pode ser válido:
“Teologia deve ser escrito a lápis”. A supremacia é da Palavra de Deus, não da Teologia.
Muitas vezes temos que adaptar muitas lições ao nosso contexto cultural e geográfico. A
lição do “Palimpsesto” é importante. Exemplo: boa parte dos reformadores entendia como
necessário aceitar a intervenção do estado nas questões da Igreja. Na realidade deles
isso gerava oportunidades de avanços. E em nossa situação no Brasil? Isso seria bom?

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1. DA PRÉ REFORMA AOS PRINCIPAIS REFORMADORES DO SÉCULO 16

1. 1 A PRÉ REFORMA DO SÉCULO XV

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1.2 REFORMADORES A PARTIR DO SÉCULO XV. CONTRA REFORMA


E MISSÕES CATÓLICAS

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LINHA DO TEMPO: SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS A


PARTIR DA REFORMA

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1.3 CAUSAS E CONSEQUENCIAS DA REFORMA PROTESTANTE

As principais consequências da Reforma Protestante na Europa: resumo, história


e consequências para a sociedade e Igreja Católica.

Principais causas da Reforma Protestante:

1) Motivos de ordem religiosa: A Reforma Religiosa pode ser entendida como


um movimento religioso de contestação ao poder da Igreja Católica. Ocorrido na Europa
no século XVI, teve como principais movimentos a Reforma Luterana (Alemanha), A
Reforma Calvinista (Suiça) e a Reforma Anglicana (Inglaterra), além do protestantismo
nacional na Escócia.

2) Motivos de ordem política: A questão política passa a ganhar um peso


significativo a partir do início do processo de centralização do poder. Naturalmente, os
reis, ao buscarem se fortalecer politicamente, vão entrar em choque com o poder da
Igreja, pois o Papado era uma potência religiosa e política. Em muitos casos (como o
exemplo da Inglaterra, é apenas o mais evidente), vão romper com a Igreja Católica e
criar uma nova Igreja sob seu comando. Foi a forma encontrada pelos reis para se libertar
do poder político do papado.

3) Motivos de ordem econômica: Num quadro de crescimento do comércio


(transição do período Medieval para o período moderno, auge do mercantilismo), os
dogmas da Igreja, de condenação à usura e ao lucro excessivo, representavam um forte
obstáculo para a burguesia. Assim, também essa nova camada ascendente vai ter
interesse em romper com os entraves impostos pelo catolicismo e adotar uma nova
religião, para a qual suas práticas não se constituíssem em pecados e fossem
consideradas como dignificantes do homem. A vida econômica estava organizada ao
redor das Igrejas paroquiais e dominadas por elas.

4) Motivos de ordem cultural ou intelectual: Não se pode deixar de lado a


influência do Renascimento Cultural e do Iluminismo, no sentido de romper com o
monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O Renascimento teve o
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efeito de possibilitar a aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles


impostos pela Igreja Católica, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja
exercia na Idade Média. As artes eram, por definição, religiosas; a pintura e a arquitetura
refletiam a preocupação com o transcendente, não havendo evidência mais clara para
isso que o impulso vertical das catedrais.

Principais consequências da Reforma Religiosa:

- Diminuição da influência e do poder da Igreja Católica na Europa.

- Surgimento de novas igrejas cristãs como, por exemplo, Igreja Anglicana, Igreja
Luterana e Igreja Reformada;

- Diminuição da interferência da Igreja Católica no poder político dos monarcas;

- Fortalecimento dos princípios sociais e econômicos da burguesia, que


passaram a ser sustentados pela aprovação do lucro (doutrina calvinista);

- Reação da Igreja Católica (Contra-Reforma) ao movimento de Reforma


Protestante. Neste contexto de reação foi reativada a Inquisição, criada a Companhia de
Jesus e estabelecido o combate ao protestantismo;

- Tradução da Bíblia para outros idiomas, entre eles o alemão e o francês. Desta
forma, mais pessoas passaram a ter acesso à leitura da Bíblia;

- Perseguição religiosa foi uma das consequências da Reforma (Noite de São


Bartolomeu, 1572)

Consequências da Reforma Protestante na sociedade:

Surgimento de conflitos sociais de ordem religiosa, além de perseguições pelo


mesmo motivo. Muitos destes conflitos foram estimulados ou tiveram como
patrocinadores os monarcas europeus. Em 1572, cerca de 30 mil protestantes foram

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assassinados por católicos na França. O episódio ficou conhecido como "O Massacre da
Noite de São Bartolomeu";

Surgimento de movimentos sociais, que tinham como propósito a implantação de


um sistema social e econômico mais justo. Entre estes, podemos citar a Guerra dos
Camponeses que estourou na Alemanha no ano de 1525. Este movimento pretendia
abolir as obrigações dos servos e a propriedade privada, criando um sistema agrário
igualitário. Foi severamente reprimido pelos príncipes alemães.

Uma nova visão como o homem olha para Deus nas Igrejas que surgiram como
consequência da Reforma (Igrejas Luteranas, Reformadas, e suas filhas como Igrejas
Batistas, Presbiterianas, Congregacionais, Movimentos Puritanos, etc...), como
consequência de um culto pautado na Palavra de Deus. Os cinco solas retirados da
doutrina de Lutero mostra como tudo na vida deve ser voltado para a glória de Deus,
rejeitando toda glória voltada ao homem em si.

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1.4 LUTERO E A REFORMA NA ALEMANHA

No século XVI, A Alemanha era considerada o País mais “igrejeiro” da Europa. A


autoridade papal permanecia maior na Alemanha do que em qualquer outro grande país
europeu, exceto a Itália.
As peregrinações e as missas pelos mortos eram mais populares do que nunca.
A veneração dos santos, especialmente da Virgem Maria e de sua mãe, Santa Ana, havia
aumentado dramaticamente. Havia muitas coleções de relíquias e a venda de
indulgências se multiplicava. O papado renascentista estava à beira da bancarrota,
precisando de Imensas quantias financeiras para manter sua posição política na Itália.
Para enfrentar suas despesas, a Cúria papal criava novos e mais opressivos impostos,
taxas e multas que pesavam por demais sobre o clero mais alto que, por sua vez,
passava-os para o clero inferior e, por fim, para o laicato.
O despertamento religioso da Baixa Idade média, como aquele anterior do século
XII, suscitou enormes expectativas. A Igreja institucional não estava sendo ameaçada
pelo secularismo ou pela indiferença com a religião, mas por exigências de que ela se
conformasse verdadeiramente à “igreja pura, apostólica” retratado no Novo Testamento.
Às vésperas da reforma, a igreja ensinava que o destino eterno de uma pessoa
seria determinado por quão efetivamente ela havia se apropriado das graças
sacramentais da igreja para que pudesse apresentar obras verdadeiramente meritórias –
uma vez que apenas uma fé ativa em obras poderia ser uma fé salvífica. Isso levava as
pessoas a pensarem: será que eu realmente realizei obras que agradaram a Deus?
De certa forma, diante de tantos escândalos na alta cúpula da igreja, entre eles
sexuais, bem como um modelo severo que desencorajava a fé salvadora, as pessoas
aspiravam seriamente às consolações da religião cristã. Mais tarde, quando a reforma
estivesse eclodindo, tais pessoas voltar-se-iam contra a igreja tradicional e seus
representantes, com toda a fúria de um amor desiludido.
Na ocasião, Lutero tinha 34 anos. Nasceu em 10 de novembro de 1483. Pela
vontade de seu pai, se formaria em direito, curso que começou a estudar em 1501, na
universidade de Erfurt. Escapando por um triz de um raio, em 1505, fez um voto a Santa
Ana de tornar-se monge. Para desgosto de seu pai, ele rompeu com os estudos em
direito e em 17 de julho de 1505, ingressou no mosteiro dos eremitas agostinianos em
Erfurt, confiando que a vida monástica era o caminho mais seguro para a salvação de sua
alma.

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Lutero conquistou reconhecimento na vida monástica. Em 1507 foi ordenado ao


sacerdócio e no ano seguinte estava em Wittenberg, por ordem de seus superiores,
ensinando ética aristotélica e preparando-se para um futuro magistério na universidade
que ali fora estabelecida em 1502 pelo eleitor da Saxônia, Frederico III, o “Sábio” (1486-
1525). Ali se bacharelou em Teologia em 1509.
Em 1512, recebeu o grau de “doutor em Teologia”. Tornou-se o sucessor de
Staupitz como professor de Bíblia na universidade. Logo iniciou uma série de preleções
exegéticas de Salmos (1513-1515), de Romanos (1515-1516), de Galátas (1516-1517) e
Hebreus (1517-1518).
Em 1512 foi nomeado diretor de estudos em seu próprio convento. Em 1515 foi
nomeado vigário distrital responsável por onze mosteiros de sua ordem. Possuía em sua
ordem a reputação de monge de piedade, erudição, dedicação e zelo singular.
No entanto, apesar de todo o rigor monástico, Lutero não encontrava paz de
espírito. A prática de penitências e obras não diminuiu seu sentimento de pecaminosidade
diante de um Deus Santo, antes, agravou este sentimento. Staupitz auxiliara-o
ressaltando que a verdadeira penitência começa não com temor de um Deus punitivo,
mas com amor para com Deus. Ele assumiu que Staupitz abriu seus olhos pela primeira
vez para o Evangelho, contudo, a clarificação de sua visão espiritual foi um processo lento
e gradual.
WALKER (2006, p. 495) nos apresenta algumas teses que seriam a base da
reforma sob Lutero, com quais princípios defenderia suas 95 teses: a) Ao tempo em que
estava ensinando Romanos, ele já havia se convencido de que a salvação é um novo
relacionamento com Deus, alicerçado não em qualquer obra meritória mas na confiança
absoluta na promessa divina de perdão por causa de Cristo; b) A lei de Deus, com seu
rigoroso comando para se viver em santidade diante de um Deus Santo, não foi dada
como um meio de salvação, mas existe para convencer os pecadores de seu pecado,
para humilhar o orgulhoso e esmagar o hipócrita; c) O Evangelho, com sua mensagem
radical de que “Deus justifica o ímpio” pela fé à parte das obras, sustenta os pecadores
que se arrependem e os reconcilia com Deus. A pessoa redimida, portanto, ainda que não
deixando de ser pecadora, já está graciosa e plenamente perdoada, e desse novo e
jubiloso relacionamento com Deus em Cristo agora flui a nova vida de voluntária
conformidade à vontade de Deus; d) A fé, entendida como firme confiança do coração
(fidúcia cordis) na misericórdia de Deus por causa de Cristo, está assim ativa nas obras
de amor – não como fruto de compulsão porque a salvação dependa de tais obras, mas
como fruto de gratidão porque a salvação já foi assegurada; e) O amor é o fruto
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espontâneo da fé e está direcionado para o bem do próximo; não é uma condição para a
aceitação de alguém diante de Deus; f) Consequentemente a fé, não o amor (como na
teologia escolástica), é o vínculo que une a alma a Deus.
Lutero, assim como o apóstolo Paulo, passou a analisar a salvação como um
relacionamento pessoal com Deus através de Cristo (ou seja, com o próprio Deus como
“Graça Não-Criada”, e não com as “graças criadas” dos sacramentos da igreja). O
alicerce e penhor desse relacionamento correto é a misericórdia de Deus demonstrada
nos sofrimentos de Cristo em favor da humanidade. Tauler, um alemão, com sua religião
cristocêntrica, ajudou Lutero a chegar à conclusão de que essa confiança transformadora
não é, como ele havia suposto, uma obra na qual podemos participar, mas é totalmente a
dádiva de Deus a pecadores humildes, arrependidos.
Em 31 de outubro de 1517 ocorreu um protesto contra estes abusos eclesiásticos.
95 teses que mostravam os erros que a igreja deveria corrigir foram enviados por Lutero
para o arcebispo Alberto de Mainz e para o bispo Jerônimo de Brandenburgo, em cuja
jurisdição encontrava-se Wittenberg. Se Lutero naquele dia também afixou ou não suas
teses na porta da igreja do castelo em Wittenberg, que servia como painel de afixação
dos boletins da universidade, é tema de controvérsia entre os historiadores, embora seja
bastante possível que ele realmente tenha feito isto. O evento anterior imediato que
causou a motivação para a afixação destas teses foi a decisão da Cúria da igreja em
vender indulgências na Alemanha visando o financiamento da Basílica de São Pedro em
Roma (ainda hoje um ornamento de Roma). A venda de indulgências fora proibida na
Alemanha pelo príncipe Frederico, o Sábio e pelo príncipe do território vizinho, o duque
Jorge da Saxônia. Ainda assim as indulgências foram vendidas e as pessoas não
queriam mais se penitenciar por seus pecados, uma vez que os documentos já as
perdoavam de todos os pecados.
A data de 31 de outubro tornou-se a data oficial da Reforma Protestante. O marco
oficial é a afixação das 95 teses. Na Islovênia e em partes da Alemanha, é um feriado
nacional.
As 95 teses foram escritas em latim. Visavam um debate acadêmico, com vistas à
reforma da igreja, não uma revolução religiosa que incluísse os leigos. Ele acreditava que
o papa, ao reconhecer os erros que estava praticando, voltaria atrás e pararia de cometer
abusos que julgava corretos. As 95 teses, no entanto, rejeitadas pela cúpula da igreja
local, foram traduzidas para o alemão, e espalhadas dentro do Império de norte a sul e
leste a oeste. Os agentes primários nessa disseminação foram as irmandades humanistas
nas cidades alemãs.
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Lutero fora acusado de heresia. Inicialmente por João Maier de Eck, professor de
Teologia na universidade de Ingolstadt e antigo amigo de Lutero. Ao ser acusado, Lutero
defendeu sua posição em um sermão intitulado “Graça e indulgência”, replicando a Eck.
No início de 1518 o arcebispo Alberto e os dominicanos fizeram chegar a Roma
acusações formais contra Lutero. O resultado foi que o superior geral dos agostinianos,
Gabriel Dela Volta, convocou Lutero a se apresentar diante do cabido geral da ordem que
se reuniria em Heidelberg em abril de 1518. Ali Lutero argumentou sobre sua “teologia da
cruz”, conquistando novos seguidores dentre os quais os mais importantes foram
Martinho Bucer e João Brenz, que mais tarde se tornaram os reformadores de
Estrasburgo e Wurttemberg, respectivamente.
Em junho de 1518 o papa Leão X comissionou seu censor de livros e supervisor
do palácio papal, o dominiciano Silvestre de Prierio, a escrever esta réplica a Lutero: “a
igreja romana é representada pelo colégio dos cardeais e, além disso, é virtualmente o
sumo pontífice” e que, “aquele que diz que a igreja romana não pode fazer o que na
realidade está fazendo com respeito às indulgências, é herege”. Lutero foi então intimado
a comparecer a Roma no prazo de 60 dias.
Não fosse a proteção de seu príncipe, o eleitor Frederico, Lutero teria sido
condenado à morte. Ele evitou o quanto pode enviar Lutero a Roma. Sua habilidade
política conseguiu que a audiência de Lutero fosse feita perante o representante papal no
Reichstag, em Augsburgo. Este representante era o culto comentador de Aquino e
teólogo de fama na Europa, cardeal Tomás de Vio, conhecido como Cajetano devido ao
local de seu nascimento (Gaeta). A ordem do papa era que não debatesse com Lutero, e
caso este não se retratasse, deveria conseguir sua prisão sob qualquer pretexto ou meio
disponível. Por um lado Lutero queria convencer o Papa dos erros que praticava. Por
outro este sequer queria diálogo.
Cajetano conseguiu que Lutero tivesse uma audiência sem debate, sob pressão
de Frederico. Isto já ia contra a ordem do Papa. Assim poderia falar sobre suas teses. De
12 a 14 de outubro de 1518 Lutero pode falar sobre suas teses. Ao terminar, Cajetano
simplesmente pediu a Lutero que se retratasse, deixando claro que sequer ponderou no
que ouviu por 3 dias. Lutero negou-se a se retratar, e a 20 de outubro retirou-se de
Augsburgo, tendo apelado ao Papa “para ser melhor informado”. Tentou uma audiência
com o Papa, mas a resposta foi, no mesmo mês, a definição de novas indulgências no
sentido em que Lutero as criticava.
Lutero recebeu de Frederico uma instalação em Wittenberg, para ensinar grego a
um jovem erudito chamado Filipe Melanchthon.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Lutero conseguiu um debate em 1519, em Leipzig. Karlstadt, um debatedor


diligente, amigo de Lutero, foi o responsável pelo debate, pois sustentou em 1518 que o
texto da Bíblia deve ser preferido até mesmo à autoridade de toda a igreja. Eck exigiu um
debate com Karlstadt, que teve apenas moderado sucesso. Já com Lutero, a estratégia
de Eck foi levar Lutero à declaração devastadora de que sua posição, sob alguns
aspectos, era a mesmo de João Huss (Eck conhecia Lutero, foi seu amigo, sabia bem
como ele pensava e o que defendia).
Ao dizer que o Concílio de Constança de forma incorreta condenou Huss à morte,
Eck sentiu-se vitorioso no debate, pois quem nega a infabilidade de um concílio geral é
“pagão e publicano”. Lutero, que já havia negado a infabilidade do Papa, agora assume a
fabilidade dos concílios gerais. Tal atitude implicava no rompimento com a totalidade do
sistema medieval de autoridade, e permitia o apelo final exclusivo às Escrituras. Eck
sentiu que toda a controvérsia agora poderia chegar ao fim rapidamente mediante uma
bula papal condenatória, a qual, então, procurou conseguir. Essa bula foi publicada em 15
de junho de 1520.
Lutero passou a olhar para o controle papal como o anticristo. Percebeu que sua
tarefa seria libertar a Alemanha desse controle.
Uma das maiores contribuições de Lutero ao pensamento protestante se deu
quando denunciou aqueles que “definem as boas obras tão estreitamente de forma a
fazerem-nas consistirem apenas em orar na igreja, jejuar e dar esmolas”. Defendeu que a
vindicação da vida cotidiana no mundo era o melhor campo para o serviço a Deus, ao
invés da fuga monástico-ascética do mundo. Esta era tida como umas das melhores
formas de “perfeição cristã”.
Lutero publicou três importantes obras em 1520: a) à Nobreza Cristã da Nação
Alemã; b) Cativeiro Babilônico da Igreja; c) Sobre a liberdade Cristã. A rebelião
eclesiástica na Alemanha estava evidente. Eck e Girolamo Aleander chegaram à
Alemanha com a bula papal que condenava Lutero à morte. A publicação desta bula não
foi permitida em Wittenberg e sua recepção em grande parte do país foi mais com
indiferença ou mesmo hostilidade. Aleander conseguiu publicá-la no Países baixos e
buscou a queima dos livros de Lutero em Lovaina, Liege, Antuérpia e Colônia. Em 10 de
dezembro de 1520 Lutero replicou queimando a bula papal e o direito canônico na
presença aprovadora de estudantes e cidadãos de Wittenberg e sem oposição das
autoridades civis. As mais altas autoridades do Império perceberam que a Alemanha
estava em rebelião eclesiástica.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Carlos V, neto de Maximiliano, foi escolhido para ascender ao trono do Sacro


Império Romano. Já era herdeiro da Espanha, e agora assumira os Países Baixos e os
territórios austríacos da casa de Habsburgo, e senhor de uma parcela considerável da
Itália. Aleander lhe dizia que ele tinha a obrigação de executar a bula papal que
condenava Lutero. Frederico, todavia, defendia Lutero dizendo que ele não teve uma
audiência adequada. E Lutero, a esta altura, tinha amplo apoio popular. A Lutero foi
concedido um salvo conduto imperial, a fim de comparecer em Worms, ante o Imperador
e o Reichstag. Uma pilha de seus livros lhe foi mostrada, e lhe perguntaram se ele se
retrataria ou não. Lutero pediu um tempo para refletir no assunto. Um dia lhe foi
concedido. Na tarde seguinte, ele estava novamente diante da assembleia. Ali
reconheceu que usara palavras duras contra pessoas, mas no tocante ao que escreveu,
nada tinha a retratar-se, a menos que fosse convencido de seu erro “pela testemunha das
Escrituras ou pela razão clara”. Diante do mais alto tribunal de sua nação, Lutero dera
este testemunho.
Se a Alemanha estive controlada por uma forte autoridade central, a carreira de
Lutero logo teria terminado em martírio. A força política que tinha Frederico, mais uma
vez, salvou Lutero, pois ao fim da audiência, uma ordem imperial foi dada a fim de que
fosse preso e seus livros queimados. Mas este édito imperial não poderia ser executado
contra a vontade de um forte governante territorial. Não desejando sair abertamente a
favor de Lutero, indo contra a Cúria da igreja, Frederico fez com que mãos amigas
prendessem Lutero quando este regressava a Worms e, em segredo, o levaram ao
castelo de Wartburgo. Durante meses seu esconderijo foi desconhecido. Mas que estava
vivo e participando do destino da luta, sua pena brilhante logo o demonstraria. Seus
ataques às práticas romanas aumentaram de intensidade. O fruto mais durável e
apreciável deste período foi a tradução do Novo Testamento na língua alemã, iniciada em
dezembro de 1521 e publicada em setembro do ano seguinte. Não foi o primeiro a traduzir
a Bíblia para o alemão, mas as traduções anteriores haviam sido feitas da Vulgata e eram
de expressão dura e grosseira. Esta tradução, feita por um mestre da expressão popular,
era idiomática e fácil de ler.
A apresentação sistemática da teologia Luterana começou em dezembro de 1521,
com a publicação em Wittenberg de um pequeno volume escrito por Melanchthon, os Loci
communes, ou Pontos Cardeais da Teologia. Seus escritos tiveram amplo alcance em
grande parte da Europa devido à recente descoberta da Imprensa. Em 1455 o inventor
alemão Johannes Gutemberg criou uma das maiores contribuições para o mundo
moderno. A tipografia permitiu que os textos, antes manuscritos, fossem impressos a
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

partir da elaboração dos tipos, letras móveis produzidas em cobre e alocadas em uma
base de chumbo onde recebiam a tinta e eram prensadas no papel. Dessa maneira, a
“imprensa”, como ficou conhecida a invenção de Gutembgerg, passou a influenciar a
produção e divulgação de conhecimento, contribuindo para um maior desenvolvimento
não apenas da produção literária na Europa, mas da metalurgia e da produção de papel.
Quem nos dá uma boa visão da razão de Lutero ter sobrevivido mesmo com sua
condenação na dieta de Worms (1521) é Latourette (2006, p.87-89). Entre as razões
principais estão as guerras contra a França e na Itália e a ameaça dos turcos que durou
até 1929, os príncipes alemães que penderam para o Protestantismo, a consequente
dieta de Augsburgo (1530) como tentativa do Imperador Carlos V de restaurar a unidade
religiosa e a nova invasão turca a partir de 1932 que levou o Imperador Carlos V a
precisar de uma trégua nos assuntos contra o Luteranismo a fim de desenvolver uma
unidade religiosa para proteção do Império.
Segundo WALKER (2006, p. 496) Lutero desenvolveu suas 97 teses
praticamente em cima do ensino da Teologia Escolástica. O objetivo era uma disputa
contra a Teologia Escolástica. São alguns: a) Foi contra o ensino que pecadores
justificados agora cooperam com sua salvação mediante a realização de obras meritórias
dentro de um estado de graça; b) Qualquer mérito no tema da justificação era blasfêmia e
heresia (pelagiana).
Lutero morreu em 18 de fevereiro de 1546. Não há unanimidade acerca da causa
de sua morte. Dois médicos que o examinaram deram laudos diferentes. Um afirmou ser
ataque de apoplexia (hoje seria AVC), enquanto o outro defendeu ser Angina Pulmonar.

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1.5 AS 95 TESES DE LUTERO

1.6 OS CINCO “SOLA”

Cinco solas são frases latinas que definem princípios fundamentais da Reforma
Protestante em contradição com os ensinamentos da Igreja Católica Romana. A palavra
latina "sola" significa "somente" em português. Os cinco solas sintetizam os credos
teológicos básicos dos reformadores, pilares os quais creram ser essenciais da vida e
prática cristã. Todos os cinco implicitamente rejeitam ou se contrapõem aos ensinamentos
da então dominante Igreja Romana, a qual tinha, na mente dos reformadores, usurpado
atributos divinos ou qualidades para a Igreja e sua hierarquia, especialmente seu superior,
o Papa.
Nestes cinco resumos das 95 teses, toda a estrutura do Catolicismo Romano foi
confrontada, colocando a ordem religiosa de toda a Europa “de cabeça para baixo”. São
elas: a) Sola fide (somente a fé); b) Sola scriptura (somente a Escritura); c) Solus
Christus (somente Cristo); d) Sola gratia (somente a graça); e) Soli Deo gloria (glória
somente a Deus).

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Questão da autoridade: Sola Scriptura. A Reforma defendeu o livro exame da


Escritura, não a livre interpretação. A Sola Scriptura não é uma deturpação da Escritura
mas o contrário. Esse princípio da Reforma preza pela correta interpretação bíblica por
parte da Igreja. Através desse princípio um pastor não pode criar uma doutrina que não
seja claramente um princípio bíblico e não pode impor uma visão particular. As Escrituras
tem que nos convencer e não o líder.
Questão da insuficiência: Sola Gratia. O ser humano não é suficiente em si. A
insuficiência revela a dependência de Deus. Essa dependência revela a glória de Deus na
vida de suas criaturas. Essa dependência leva a criatura a perceber que sem Deus ele
sequer pode respirar.
Questão da gratidão: sola fide. Um miserável que se reconhece miserável
encontra na fé o alívio. O pior miserável é aquele que não se reconhecendo miserável se
julga Deus.
Questão da mediação: Solus Christus. A mediação do Senhor é um tipo de
mediação que nenhuma organização de paz pode fazer. Sendo Deus e sendo homem Ele
se põe entre Deus e os homens para promover a paz. Por isso somente Ele pode ser o
mediador humano.
Questão da finalidade última: Soli Deo Glória. Esse princípio resolve o problema
dos princípios éticos que não consideram a Deus. A própria vocação seria mais facilmente
identificada observando a finalidade última.

1.7 CONTROVÉRSIA SOBRE A EUCARISTIA

Como já observamos anteriormente, a questão sobre a presença real ou espiritual


do Senhor na Eucaristia (Santa Ceia) já era uma questão controversa desde os
primórdios da Igreja. Justino (100-165) já dizia que o alimento que é recebido é carne e o
sangue de Jesus. Contudo, foi após o século IX que os maiores debates a respeito da
Ceia se acirraram.
Segundo Matos (2008, p. 105) o Imperador Carlos, o Calvo, interpretou a
presença de Cristo na Eucaristia em termos fortemente realistas, ou seja, materiais.
Ratramno, seu ex-aluno, formado na tradição espiritualista de Agostinho, insistiu, em um
tratado muito discutido posteriormente, em que a presença de Cristo no sacramento é
apenas “figurada” (invisível aos olhos humanos) e espiritual (inacessível aos sentidos).

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A posição que veio a se tornar aceita pela Igreja Católica Apostólica Romana foi a
interpretação realista da presença de Cristo na Eucaristia, conhecida como
“transubstanciação”.
John Wycliff, pré reformador do século XIV, cria que o pão continuava sendo pão,
e que o suco ou vinho continuavam sendo suco ou vinho, e que a presença do Senhor
Jesus na ceia era tão somente espiritual.
Jan Hus, outro pré reformador do século XIV, no tocante à ceia, ainda mantinha a
mesma ideia já praticada pela igreja Católica Romana, da transubstanciação.
Matos (2008, p. 147), nos informa que quanto à Ceia, Ulrico Zuinglio e Lutero
divergiam seriamente. Zuinglio apelava a Lutero, baseado em João 6:63, que a Ceia é
apenas uma comemoração da morte de Cristo e que nela não há nenhuma “presença
real” do corpo de Cristo. Apoiando-se nas palavras de Cristo “Isto é o meu corpo”, Lutero
insistia em que tanto o alimento físico quanto o corpo humano glorificado de Cristo
alimentavam os fiéis na refeição sacramental. Enquanto Zuínglio acreditava que o corpo
glorificado de Cristo estava presente no céu e não é onipresente, exceto “mediante o
Espírito”, Lutero, com base na “comunicação dos atributos” de Cirilo e Leão I, argumentou
que a humanidade de Jesus Cristo é glorificada e está em todos os lugares (ubiquidade).
João Calvino procurou encontrar um meio termo entre esses dois reformadores.
GONZALEZ (2011, p. 71), vai além em sua explicação sobre a questão como
Lutero via a Eucaristia. Ele informa que Lutero rechaçava categoricamente a doutrina da
transubstanciação, que lhe parecia demasiadamente presa a categorias aristotélicas e,
portanto, pagãs, e que, além do mais, era a base da ideia da missa como sacrifício
meritório, que se opunha radicalmente à doutrina da justificação pela fé. Porém, por outro
lado, Lutero também não estava disposto a dizer que a ceia era um mero símbolo de
realidades espirituais. As palavras de Jesus ao instituir o sacramento: "isto é meu corpo",
lhe pareciam completamente claras. Portanto, segundo Lutero, na ceia os fiéis participam
verdadeira e literalmente do corpo de Cristo. Isto não indica, como na transubstanciação,
que o pão se converta em corpo, e o vinho em sangue. O pão continua sendo pão, e o
vinho, vinho. Porém agora estão também neles o corpo e o sangue do Senhor, e o crente
se alimenta deles ao tomar o pão e o vinho. Mais tarde se deu a essa doutrina o nome de
"consubstanciação”, contudo, segundo Gonzalez, Lutero nunca a chamou assim e preferia
sim chamá-Ia de a presença de Cristo em, com, debaixo, ao redor e por trás do pão e do
vinho.
CHAMPLIN (2002, p. 980), assim nos informa sobre este assunto:
“Consubstanciação vem do latim, toa , “com”, e “substância”. Indica a doutrina promovida
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

por Lutero, como substituta da doutrina católica romana da transubstanciação, a qual


declara que, na eucaristia, o corpo e o sangue de Cristo encontram-se em uma «presença
real substancial» no pão e no vinho, embora a substância desses elementos não seja em
nada transformada na substância do corpo e do sangue de Cristo. Tal doutrina requer a
ideia da onipresença do corpo e do sangue de Cristo. Tal doutrina tem sido rejeitada pela
maioria dos Luteranos”. Em sua visão temos a clara noção que Lutero defendia a
presença real do Senhor na Ceia, contudo, os elementos não se transformavam em corpo
nem em sangue do Senhor.
CHAMPLIN (2002, p. 464), ainda nos informa que Melancton defendia que o
corpo e o sangue do Senhor estavam verdadeiramente presentes na Ceia e era
distribuído. Porém, a partir de 1540, na edição Confesio Augustana Variata, alterou esse
artigo para “o corpo do Senhor estão com o pão e o vinho, verdadeiramente exibidos”.
Nesta visão, vemos que Melancton mudou de opinião, antes defendia a
transubstanciação, doutrina Católica Apostólica Romana, depois passou a defender a
consubstanciação de Lutero.
Segundo Matos (2008, p. 160), Calvino adotou uma posição intermediária entre
Lutero e Zuínglio. Embora Cristo esteja nos ceús à destra do Pai, a Ceia não é mero
símbolo, mas um meio de “verdadeira participação” em Cristo. Ele entendia a Ceia do
Senhor como o sinal de uma realidade espiritual. Não entendia a Ceia como mero símbolo
(ou memorial), mas também não concebia a ideia do Senhor estar corporalmente
presente na Ceia.

1.8 APRENDENDO COM LUTERO

SHAW MARK (1997, p. 23) nos ensina que Lutero aprendeu que Deus ensina por
meio de paradoxos. Paradoxo é uma declaração que parece ser contraditória, mas na
realidade apresenta uma verdade profunda. Por exemplo, Cristo disse quem acha sua
vida perdê-la-á; (Mt 10:39). Para a maioria de nós, isso parece confuso. Mas está claro o
que Jesus queria dizer. Para encontrar a vida verdadeira, devemos abrir mão de nossa
independência e entregar nossas vidas a ele.
O autor nos dá uma lição, baseado na compreensão de Lutero. Se eu quero
entender a Bíblia hoje, preciso aprender a pensar usando paradoxos. A teologia cristã
falha quando utiliza apenas a lógica linear. O caminho para a verdade suprema é como
uma estrada que sobe a montanha, cheia de curvas e com um vento incessante. A

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

percepção que Lutero tinha da cruz ilustra a maneira como devemos pensar, se realmente
desejamos entender a verdade das Escrituras. O paradoxo presente nos pontos que
examinaremos a seguir é de que Deus faz as coisas usando o seu oposto. Ele faz algo
surgir a partir do nada. Ele ganha quando perde. Ele nos exalta quando nos humilhamos.
Ele transforma as sextas-feiras da paixão em domingos de Páscoa. Ele age de maneira
oposta ao que a humanidade espera, segundo a lógica, que um Deus onipotente agiria.
Enquanto estudava as epístolas de Romanos e Coríntios, ele descobriu um fato
surpreendente: Deus trabalha usando opostos. A única salvação segura é aquela que
renuncia às obras. A força de Cristo foi revelada na morte de Cristo. Quando estamos
fracos é que somos fortes. Lutero viu que o Evangelho estava recheado de paradoxos.

1.9 DESENVOLVIMENTO DAS INDULGÊNCIAS

Esta seção é fruto da informação do autor Kenneth Scott Latourette (1975, Vol. II,
p. 61).
O surgimento da venda das indulgências nos séculos 11 e 12 e a crença que, por
intermédio delas, o papa poderia contar com o tesouro dos santos para remitir as
penalidades temporais pelo pecado não somente para os vivos, mas também para as
almas no purgatório.
À medida que o tempo passava, o uso das indulgências aumentou e a venda
delas se tornou uma importante fonte de renda para o papa e para aqueles a quem ele
favorecia. A questão foi trazida a Lutero pela concessão das indulgências pelo papa para
aqueles que viam, em um dia específico, uma coleção famosa de relíquias que o Eleitor
Frederico reunira em Wittenberg, contanto que eles também fizessem as contribuições
exigidas.
Nos sermões, em 1516, para o desconforto do Eleitor, Lutero questionou a
eficácia das indulgências e declarou que o papa não tinha poder para libertar as almas do
purgatório.
Em 1517, as indulgências eram vendidas em partes da Alemanha por
engenhosos métodos promocionais elaborados por Tetzel, um dominicano. Tetzel, mais
tarde, defendeu sua alegação de que tão logo o dinheiro caísse no cofre, uma alma seria
liberta do purgatório. Foi anunciado que os procedimentos ajudariam a edificação da
Catedral de São Pedro que os papas erigiam em Roma. Realmente, metade do dinheiro
era para pagar um débito que Alberto de Brandenburgo, da família aristocrática

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Hohenzollern, adquirira por compra do Arcebispado de Mainz, um posto que o colocou na


principal posição eclesiástica da Alemanha.
Isso despertou Lutero e, em 31 de outubro de 1517, uma data que é com
freqüência chamada de o nascimento da Reforma protestante, ele fixou na porta da igreja
de Wittenberg, uma espécie de quadro de avisos da universidade, 95 teses que ele
preparara para debate. Era esse o procedimento normal, nos círculos acadêmicos, para
se obter um debate. Em linguagem vigorosa e nítida, Lutero desafiou as indulgências. Ele
protestou contra o despojamento dos alemães para pagarem pela construção da Catedral
de São Pedro, dizendo que poucos alemães poderiam adorar ali, que o papa era rico o
suficiente para fazer a construção com o seu próprio dinheiro, e que ele faria melhor
designando um bom pastor para uma Igreja do que dar indulgência a todos eles. Lutero
disse que as indulgências não removiam a culpa e que o papa poderia remitir somente as
penalidades que ele próprio tinha imposto sobre a Terra e que ele não tinha nenhuma
jurisdição sobre o purgatório. Ele negou que os santos tivessem crédito excedente
acumulado. Ele sustentou que as indulgências produziam um falso senso de segurança e,
assim, eram definitivamente prejudiciais.

1.10 CURSO POSTERIOR DO LUTERANISMO

A doutrina da predestinação não foi o ponto forte da doutrina de Lutero. Ele a


considerava necessária visto a condição da pecaminosidade humana. Portanto Lutero
concordava com a Teologia Agostiniana da predestinação, bem como com seus
antecessores da Reforma como João Wycliff. Quanto ao livre arbítrio, Lutero parecia
concordar apenas com ações puramente externas (com essas o ser humano teria certa
liberdade), ou seja, a vontade pode dirigir nossa capacidade de movimentação.
Filipe Melanchton fora bastante elogiado por Lutero ao comentar esse assunto
controverso nas teologias de Lutero e Erasmo:
Na controvérsia entre Lutero e Erasmo sobre o livre-arbítrio,
Melanchthon buscou um caminho intermediário, expresso no
comentário à Carta aos Colossenses de 1527. A edição alemã desse
comentário, de 1529, foi prefaciada por Lutero, que encheu de elogios
a interpretação de Melanchthon. A partir do artigo XVIII da Confissão
de Augsburgo, a compreensão de Melanchthon sobre o livre-arbítrio
alcançou status confessional. Os elogios de Lutero aos Loci
persistiram, mesmo após a nova edição de 1535, onde Melanchthon
trazia a mesma compreensão sobre o livre-arbítrio. Lutero elogiava
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

tanto a forma quanto o conteúdo da exposição (reset verba) (artigo de


Ricardo Willy Rieth, p. 225)
Segundo HAGGLUND (2003) a partir de 1530 Filipe Melanchton começou a julgar
impossível a doutrina da predestinação nos moldes da Teologia de Agostinho. De acordo
com o mesmo autor, Melanchton começou a dissertar que “É verdade que apenas o
Espírito de Deus é capaz de deter os efeitos corruptores do pecado original e de destruir
os poderes dos sentimentos, mas na realidade (dizia o Melanchthon amadurecido) isto
acontece com a cooperação da vontade. Pois quando o Espírito age sobre o homem
através da Palavra, ele pode aceitar ou re-jeitar o chamado. Essa cooperação da vontade
humana passou a ser definida na Teologia como “Sinergismo”, ou seja, a doutrina
teológica que disserta que, apesar do pecado original, o ser humano conserva o livre
arbítrio na busca de sua salvação (claramente oposto à forma como Lutero entendia o
livre arbítrio). O sinergismo opõe-se ao monergismo, que afirma que o Espírito Santo atua
sozinho na salvação humana por meio dos decretos divinos.
Melanchton passou a rejeitar a própria ideia da predestinação na forma em que a
apresentara anteriormente. Deus elege o homem para a salvação e realiza sua obra de
salvação de acordo com seu decreto eterno. Mas isto não pode significar que Deus
também tinha predeterminado a destruição dos maus. Pois em tal caso Deus apareceria
como sendo a causa do mal, o que não se coaduna com a natureza de Deus. Portanto, a
razão porque um é escolhido e outro é condenado, deve residir no homem. A promessa é
universal. Se Saul é rejeitado mas Davi é aceito, a diferença deve fundamentar-se em sua
própria conduta. A eleição divina é «eleição secreta e eterna», sobre a qual só podemos
julgar a posteriori. Os que em fé aceitam a misericórdia de Deus por causa de Cristo são
eleitos. O chamado é universal, e se um homem é rejeitado, a explicação se encontra no
fato que rejeitou o chamado. Dificilmente se poderia dizer que Melanchton era sinergista
nesta questão, mas procurava enfatizar os aspectos humanos e volitivos da experiência
da conversão. Também divergiu do conceito de «dupla» predestinação de Lutero e da
ideia da onipotência de Deus como base para a predestinação.
Portanto, sob a teologia de Lutero, a igreja Luterana teria permanecido uma igreja
que crê na predestinação. Sob a teologia de Melanchton, tomou o rumo de uma igreja que
crê na livre arbítrio humano, embora não tenha força para ser operado sem a ajuda do
Espírito Santo. Seria a teologia base de Armínio quase um século depois.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

1.11 A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA TEOLÓGICA


Quando observamos a importância que Lutero teve para a Igreja, pensando na
Reforma Protestante, tendemos a considerá-lo um gênio. Tal comparação não seria
errada, mas há algo importante a considerar: Lutero não fez nada a mais do que um
mestre em Teologia fazia, dia a dia, em seu tempo.
Todo teólogo tinha três tarefas no tempo do Dr. Lutero: “legere, disputare e
praedicare”. “Legere” implicava em ler a Bíblia e explicar o que foi lido. Esse método
levava a uma interpretação do texto; “disputare” implicava em uma espécie de torneio
intelectual em que as armas eram os argumentos. Quem não fez bem a primeira lição
(legere) se dava muito mal; “praedicare” implicava em levar ao povo, na pregação, o
resultado da interpretação do texto bíblico e a argumentação feita nas questões
teológicas.
O que percebemos? Lutero começou o movimento da Reforma na Alemanha
fazendo aquilo que fazia no dia a dia. Ao ficar incomodado com as indulgências, preparou
um debate acadêmico com 95 teses. Cada tese era uma “disputare”. Ele queria uma
disputa a fim de mostrar que a interpretação do texto bíblico não estava boa na prática
teológica da Igreja.
O que isso nos ensina? A Reforma acabou? Nossa prática teológica (como um
todo) está obedecendo a uma boa interpretação bíblica? Não precisamos voltar a
reformar o que saiu daquilo que a Reforma já resolveu?

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. Martinho Lutero A Reforma Protestante Filme Completo Português:


https://www.youtube.com/watch?v=eezenm7Tlps
2. A Reforma Protestante MARTINHO LUTERO - resgatando nossa história:
https://www.youtube.com/watch?v=hy0CsCQXj78
3. História Reforma Protestante Lutero e a origem da Reforma -
https://www.youtube.com/watch?v=cVF296Q0Ebo.
4. 19. História (Ensino Médio): As Reformas Religiosas - Novo Telecurso –
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=MvuJEm4FTEg>. Esse vídeo retrata
as razões do surgimento da reforma protestante.
5. Anexo: Comunicação dos atributos de Cirilo. Disponível em: <
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_arquivos/6/TDE-2007-01-25T140120Z-
167/Publico/Introducao.pdf >.
6. Anexo: Entendendo a posição de eleitor no Sacro Império Germânico:
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sacro_Imp%C3%A9rio_Romano-
Germ%C3%A2nico>
7. A Formação Acadêmica na Idade Média: Trivium e Quadrivium - Jonas
Madureira. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=eM5VIOYXw7w>.
8. As Tarefas do Mestre em Teologia: Legere - Jonas Madureira. Disponível
em: < https://www.youtube.com/watch?v=ADelX-wQ0sc>.
9. Chamado de Cristo à Reforma (ao arrependimento) - John MacArthur.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=vwES_enPIf8>.

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QUESTIONÁRIO 1

1) Quais foram as principais causas da Reforma Protestante? As causas foram


apenas religiosas?
2) Quais foram as principais consequências da Reforma Protestante na
sociedade?
3) Fale um pouco sobre a situação que vivia a Alemanha no período em que
Lutero vivia.
4) Fale um pouco sobre Lutero, desde seu nascimento até o momento em que
percebeu os erros da igreja Romana.
5) Falando dos moradores da Alemanha: eles estavam contentes com a religião,
descontentes ao ponto de não mais desejar a religião, ou o que eles esperavam da
Igreja?
6) Quais os principais argumentos de Lutero contra as indulgências? (Você
precisará pesquisar as 95 teses que ele preparou, encontrará facilmente no google).
7) No debate com Eck, Lutero foi comparado a quem? (fato que fez com que Eck
se sentisse vitorioso no debate).
8) Por que Huss foi executado pela igreja, e Lutero, que obteve maior resultados
na reforma, permaneceu vivo?
9) Socialmente falando, identifique os problemas sociais que a Alemanha
enfrentava e foram solucionados através da intervenção do ministério de Lutero.
10) Por que os escritos de Lutero alcançaram rapidamente grandes partes da
Europa, enquanto os de outros reformadores anteriores não tiveram o mesmo sucesso?
11) Qual era a grande questão divergente entre Lutero e Zuínglio? Disserte sobre
a divergência.
12) Em que muda a doutrina da transubstanciação católica apostólica Romana e
da consubstanciação Luterana na visão de Justo Gonzalez?
13) Em que implica a doutrina da transubstanciação, uma vez que o pão se torna
em corpo e o vinho em sangue? Por que a missa é chamada de “o sacrifício da santa
missa”?
14) Em que Calvino divergia de Lutero e Zuínglio, no tocante à Ceia do Senhor?
15) Lutero escreveu as 95 teses em 1517. Fora condenado (o que resultaria em
sua morte) em 1521. O que houve para a Igreja demorar quatro anos para chegar à sua
condenação? Leve em consideração o que era exigido por Aleander ao dirigir-se ao
Imperador eleito Carlos V.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

16) Em que as “cinco solas” contradiziam a doutrina Católica Apostólica Romana?


Cite algumas questões importantes que poderiam ser tratadas na pregação bíblica
observando o princípio das cinco solas.
17) Apresente uma teoria apresentada no material do Dr. Lutero em que ele
contradiz uma teoria da escolástica. Em que isso implica?
18) Por qual motivo se deu início as indulgências? Por que ela estava sendo
praticada na Alemanha nos dias de Lutero?
19) Em que data comemoramos o dia da Reforma Protestante? Qual o marco
para esta data?
20) O que levou a Igreja Luterana a ter em sua teologia certa participação
humana na salvação já que Lutero entendia necessária a predestinação?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

2. ÚLRICO ZUÍNGLIO E A REFORMA NA SUIÇA

A Suíça, oficialmente, fazia parte do Sacro Império Romano. Todavia, de longo


tempo, era praticamente independente. Os jovens suíços tinham grande fama como
soldados e por essa razão eram muito procurados como mercenários, principalmente
pelos reis franceses e pelos papas.
Úlrico Zuínglio nasceu em janeiro de 1484, na cidade de Wildhaus, Suiça.
Graduou-se Bacharel em artes no ano de 1504 na Universidade de Basiléia. Seu
professor, Tomás Wyttenbach, um humanista, lhe ensinou sobre a autoridade das
Escrituras, a morte de Cristo como o preço único do perdão e a inutilidade das
indulgências.
Em 1506 Zuínglio foi nomeado pároco de Glarus, onde permaneceu por 10 anos.
Durante este tempo capacitou-se em grego, começou a estudar hebraico e assimilou os
escritos de Erasmo. Também estudou cuidadosamente os clássicos, a Bíblia, e os pais da
Igreja. Opôs-se ao emprego dos suíços como mercenários, exceto pelo Papa, de quem
recebeu uma pensão em 1513. Ficara convencido do mal moral de tal prática. A França,
porém, desejosa em continuar contando com o trabalho dos jovens soldados, trouxe muita
perturbação à sua paróquia de Glarus. Com isso, ele transferiu suas atividades em 1516
para o santuário de peregrinação de Einsiedeln. Ali se opôs à venda de indulgências
feitas pelo monge franciscano Bernardo Sanson.
Em 1519 iniciou uma exposição versículo por versículo de todos os livros da
Bíblia, iniciando com o Evangelho de Mateus, sem recorrer à interpretação tradicional
(escolástica). Em setembro de 1519, atacado pela peste bubônica, esteve à beira da
morte. Tal fato o fez refletir sobre sua vida espiritual. Renunciou, em seguida, à pensão
papal.
Em 1521, passou a estudar cuidadosamente os escritos de Lutero. Continuou a
pregar rigorosamente contra o recrutamento de mercenários, de forma que o conselho
municipal de Zurique por fim (janeiro de 1523) proibiu essa prática.
Se a motivação para a reforma por Lutero deu-se devido a sua preocupação com
a salvação pessoal, com Zuínglio a motivação foi a preocupação com que apenas a
Bíblia, interpretada corretamente, era necessária aos cristãos. Em março de 1522 alguns
cidadãos quebraram o jejum quaresmal, citando a afirmação de Zuínglio sobre a
autoridade exclusiva da Escritura em questão de justificação.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Zuínglio tornou-se muito mais radical que Lutero quanto às práticas da igreja não
apoiadas pela Bíblia. Ele fazia questão de comparar cada atitude imposta pela igreja com
os ensinamentos Bíblicos. O governo cantonal, com a liberdade religiosa que de longa
data possuía, introduzia gradativamente as mudanças que Zuínglio persuadia o governo a
sancionar.
O conselho municipal ordenou um debate público em janeiro de 1523, no qual a
Bíblia deveria ser o fundamento exclusivo. Zuínglio preparou para esse debate 67 breves
artigos. Entre os ensinamentos da igreja que ele se opunha em seus artigos, figuraram a
salvação apenas pela fé, negação do caráter sacrificial da missa, do caráter salvífico de
boas obras, do valor intercessório dos santos, do caráter obrigatório dos votos monásticos
e da existência do purgatório. Declarou ainda ser Cristo o único cabeça da igreja e
defendeu o casamento dos clérigos. No debate, assistido por mais de 600 pessoas, o
conselho declarou Zuínglio como vencedor contra seus oponentes romanos. Ficou
afirmado que ele não ensinara nenhuma heresia e que não era nenhum perturbador
inovador (acusação contra ele feita por Roma).
A partir deste debate ficou ordenado pelo conselho que Zuínglio continuasse
pregando e que todos os outros pregadores da Bíblia deveriam pregar apenas o que
fosse sustentado pelos Evangelhos e pela sagrada Escritura.
Um segundo debate fora marcado para outubro de 1523. Agora o assunto tratado
seria a missa e o uso de imagens. Desta vez, a audiência contou com mais de 900
pessoas. A retirada das imagens, que fossem propriedade das igrejas, foi aprovada. As
missas em latim continuaram. Zuínglio percebeu que “seria lenta” a vitória definitiva. Mas
escreveu a seu amigo Jud: “caminhando devagar, alcançaremos nossos objetivos”.
A liderança de Zuínglio começou a ser ameaçada por aqueles que queriam uma
reforma mais rápida. No entanto, não conseguiram por em risco sua liderança. Em 1525
veio a ruptura clara com Roma. Por ordem do conselho, grupos de trabalhadores
removeram pela força quadros, estátuas e relíquias das sete igrejas da cidade. Os
mosteiros foram dissolvidos naquele ano, e suas propriedades foram dispostas para
propósitos educacionais e socorro aos pobres. Segundo WALKER a missa foi também
abolida naquela região do País. Em seu lugar foi instituído um culto simples no vernáculo,
com comunhão em memória da última ceia.
A principal divergência entre Lutero e Zuínglio encontrava-se no tocante à
interpretação da santa ceia. Para Lutero as palavras do Senhor “este é o meu corpo”
eram literalmente verdadeiras. Consequentemente ele ensinava que o corpo e o sangue
de Cristo estão “realmente” ou “substancialmente” presentes no pão e no vinho. Zuínglio
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

seguia a interpretação de um advogado Holandês que sustentava que a interpretação


correta era: “Isto representa o meu corpo”.Com isto passou a negar a presença física do
Senhor na Ceia. Segundo passou a ensinar, os elementos são assim sinais visíveis e
exteriores de uma graça espiritual e interior, já presente, e portanto “comer” é equivalente
a “crer”.
Zurique passou a ser conhecida como a cabeça política da causa evangélica.
Segundo MATOS (2008, p. 151) em 1531 Zurique pretendeu forçar a pregação evangélica
nos cantões católicos do Sul da Suiça mediante um embargo no envio de alimentos para
eles. Uma guerra foi declarada, e Zuínglio advertiu que Zurique não estava preparada
para enfrentar tal guerra. Os cantões romanos derrotaram os homens de Zurique na
batalha de Kappel, em 11 de outubro de 1531. O próprio Zuínglio foi descoberto entre os
que estavam gravemente feridos. Após recusar as ministrações de um confessor, ele foi
morto e seu corpo esquartejado, queimado e misturado com estrume, para impedir que
suas cinzas fossem recolhidas e se tornassem relíquias protestantes.
Henrique Bullinger sucedeu Zuínglio na liderança religiosa de Zurique. As igrejas
que seriam filhas deste movimento seriam chamadas de “Reformadas”, para se
distinguirem das “Luteranas”.
Principais obras de Zuínglio: Da providência de Deus, Da religião verdadeira e
falsa, explicação da religião de Zuínglio e Exposição breve e clara da fé cristã. Essas
obras exerceram profunda influência sobre João Calvino. Conforme nos mostra MATOS
(2008, p. 151), na obra Da providência de Deus, Zuínglio reuniu a filosofia grega, a
teologia natural tomista, a lógica aristotélica, a teologia bíblica e o apelo à tradição cristã,
notadamente Agostinho.
Ainda segundo MATOS, Zuínglio deu à soberania de Deus a posição de tema
central organizador da teologia reformada, em contraste com Lutero e sua ênfase na
justificação pela graça mediante a fé. Para ele o governo providencial de Deus é absoluto,
eterno e imutável, é a causa de tudo o que ocorre e elimina a possibilidade de qualquer
coisa ser contingente ou acidental. Uma consequência da soberania de Deus é a
predestinação, tanto para a salvação (eleição) como para a condenação, que Zuínglio
encontrava nas Escrituras. Ela é a base da presciência: Deus conhece porque
predetermina. Deus não é maculado pelo pecado que os réprobos cometem.
MATOS também nos mostra que, como Lutero, Zuínglio insistia na salvação pela
graça mediante a fé e afirmou que a fé é uma dádiva de Deus aos eleitos. Todavia, esses
reformadores divergiam em dois aspectos de sua soteriologia: 1) Lutero teve uma atitude
negativa em relação à lei de Deus (como os Dez mandamentos) e a contrastou com o
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Evangelho, ao passo que, para Zuínglio, lei e Evangelho são inseparáveis. A lei é
expressão da vontade de Deus para o viver justo e santo, um meio pelo qual o cristão
agrada a Deus e lhe é grato pela salvação. Assim a teologia reformada deu à santificação
e ao discipulado cristão uma ênfase que faltou em Lutero. No que diz respeito ao
relacionamento entre Igreja e Estado, Zuínglio estabeleceu entre eles uma relação mais
estreita do que fez Lutero. 2) A segunda diferença diz respeito à Ceia do Senhor: Zuínglio
argumentava que o corpo glorificado do Senhor está localizado espacialmente no céu,
não sendo onipresente. Portanto não está presente real ou fisicamente nos elementos.
Lutero via nisso um indício de nestorianismo, enquanto, para Zuínglio, a posição Luterana
acerca da onipresença corpórea de Cristo apontava para a antiga heresia do
Eutiquianismo.
O conceito de Zuínglio sobre a Ceia do Senhor foi modificado por João Calvino,
mas veio a ser adotado pelos anabatistas, batistas e outros grupos. Calvino recebeu a
influência de Zuínglio por meio do sucessor deste, João Henrique Bullinger. Para
contestar a Zuínglio e os anabatistas, Calvino argumentava que os sacramentos são, de
fato, eficazes. Resolvia assim, em sua doutrina, a controvérsia da eficácia dos
sacramentos, que Lutero defendia e Zuínglio rejeitava e consequentemente também
rejeitavam os anabatistas que adotaram os ideias de Zuínglio. Segundo Lecerf (2006, p.
228) Para combater a doutrina da consubstanciação Luterana, que afirma que o corpo e o
sangue do Senhor estão presente de forma real, corporal, na Ceia, Calvino argumentava:
“Cristo verdadeiramente dá seu verdadeiro corpo e sangue a comer e a beber para
nutrição da alma”. Assim, para Calvino, a presença de Cristo na comunhão é real, porém
espiritual. Para ele, não se tratava de um mero símbolo nem da descida do corpo de
Cristo do céu.
Se o princípio motivador para a reforma para Lutero na Alemanha fora a questão
das indulgências, para Zuínglio na Suiça, segundo HURLBUT (2002, p. 108) foi a questão
da “remissão dos pecados” que muitos procuravam por meio de peregrinações a um altar
da Virgem de Einsieldn. O autor nos informa que a Reforma na Suiça foi independente na
Reforma na Alemanha, ainda que ocorrendo simultaneamente. No ano de 1522 Zuínglio
rompeu definitivamente com Roma, a Reforma foi formalmente estabelecida em Zurique e
se tornou mais radical do que na Alemanha.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

3. OS ANABATISTAS

Lutero, na Alemanha, e Zuínglio, na Suiça, possuíam opositores. Entre eles, Félix


Manz, que considerava Zuínglio um falso profeta. Hubmaier tornou-se pregador na Suiça,
convertido às ideias evangélicas pelos escritos de Lutero. Tinha dúvidas quanto ao
batismo infantil. Grebel e Manz chegaram à mesma conclusão na Suiça, propondo um
debate público com Zuínglio.
Em 1525 cerca de trinta e cinco pessoas foram batizadas perto de Zurique. O
primeiro deles foi Jorge Blaurock. Formaram uma comunidade separada da “Igreja
reunida”. Seus oponentes os apelidaram de “anabatistas”, ou rebatizadores. O batismo
destes integrantes deste novo grupo deu-se em desconformidade com algumas doutrinas
que os reformadores ensinavam, principalmente o batismo de crianças. Por serem
batizados quando crianças e se batizarem novamente, foram chamados de anabatistas.
Recusaram-se a participar de qualquer tipo de igreja estatal, inclusive do tipo que
Zuínglio estabelecera em Zurique e que foram desenvolvidas em outros centros da
Reforma. Portanto, foram os primeiros a praticar a separação completa entre igreja e
estado. A razão principal do sucesso da reforma foi o apoio do estado aos grupos
reformadores, como o apoio que recebeu o Luteranismo em Wittenberg (Alemanha), A
Igreja Reformada em Zurique (Suíça), bem como na Suécia, Noruega, Dinamarca,
Genebra (Suiça), sem falar da Igreja Anglicana na Inglaterra, que foi oficializada pelo rei e
imposta como a igreja oficial do Reino. Os anabatistas, ao pregar total separação entre a
Igreja e o Estado, perderam qualquer apoio para sua causa, enfrentando imediatamente,
sozinhos, a Igreja Romana e os próprios grupos reformadores que já estavam
estabelecidos em grandes partes da Europa.
Em 7 de março de 1526 o conselho de Zurique ordenou que os anabatistas
fossem afogados, parodiando horrendamente a crença deles. Quatro pessoas foram
condenadas à morte pela magistratura de Zurique. O primeiro mártir da causa no cantão
foi Felix Mans, que foi afogado no rio Limmat em 5 de janeiro de 1527. Preso e torturado
em Zurique, Hubmaier escapou para Augsburgo e dai para a Morávia, onde propagou
com muito êxito o movimento anabatista.
Na Alemanha, Suiça e Paises Baixos, o movimento foi espalhado, tomando
grandes proporções. Nas partes ainda católicas do Império, a propaganda anabatista
praticamente substituiu a luterana.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

A Assembleia dos territórios alemães, formado tanto por católicos como por
protestantes, aplicaram sobre eles a velha lei romana contra a heresia. Punição com a
morte. Na Áustria e na Baviera, essa lei foi executada com extrema severidade.
Nos territórios evangélicos os anabatistas eram considerados sediciosos, não
hereges. Tinham a oportunidade de se conformar à ordem eclesiástica, porém se não o
fizessem, e continuassem a ensinar sua doutrina, eram punidos com prisão ou morte.
A expansão do movimento anabatista partiu de três centros: Suiça, sul da
Alemanha e Morávia.
Os anabatistas não tinham uma uniformidade de pensamento. Cada ala desse
movimento, em cada lugar, parecia pensar diferente com relação a algumas doutrinas. Na
confissão de Augsburgo (25/06/1530), por exemplo, no artigo 5, são condenados por
ensinar que alcançamos o Espírito Santo mediante preparação, pensamentos e obras
próprias, sem a palavra física do evangelho.
Quanto às doutrinas que ensinavam, abaixo temos uma relação resumida:
As doutrinas enfatizadas pelos anabatistas, a exemplo dos Menonitas, apontadas
pelo teólogo John Howard Yoder são: a) A Bíblia, principalmente a ética do Novo
Testamento, deve ser obedecida como a vontade de Deus, embora não sistematizando
sua teologia, mas aplicando-as no dia-a-dia. A interpretação da Bíblia é realizada nos
cultos e reuniões da igreja; b) Credos e confissões são somente documentos para
demonstrar aquilo que se crê em comum, assim não requerem a adesão formal a eles.
Aceitam, portanto, em essência os credos históricos do Cristianismo, mas não o
professam; c) A Igreja é uma comunidade voluntária formada de pessoas renascidas. A
Igreja não é subordinada a nenhuma autoridade humana, seja ela o Estado, ou hierarquia
religiosa. Assim evitam participar das atividades governamentais, jurar lealdade à nação,
participar de guerras; d) A Igreja não é uma instituição espiritual e invisível, mas uma
coletividade humana e real, marcada pela separação do mundo e do pecado e uma
posição afirmativa em seguir os mandamentos de Cristo; e) A Igreja celebra o Batismo
adulto normalmente por infusão como símbolo de reconhecimento e obediência a Cristo, e
a Santa Ceia em memória da missão de Jesus Cristo; f) A Igreja tem autoridade de
disciplinar seus membros e até mesmo sua expulsão, a fim de manter a pureza do
indivíduo e da igreja; g) Como pode ser notado, a Teologia Anabatista é maciçamente
eclesiológica, baseada na vida comunitária e Igreja; h) Quanto à salvação, o Anabatismo
crê no livre-arbítrio, o ser humano tem a capacidade de se arrepender de seus pecados e
Deus regenera e ajuda-o a andar em uma vida de regeneração; i) O que é único na
Teologia Anabatista, principalmente depois de Menno Simons, é a visão sobre a natureza
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

de Cristo, possui uma doutrina semi Nestoriana, crendo que Jesus Cristo foi concebido
miraculosamente pelo Espírito Santo no ventre de Maria, mas não herdou nenhuma parte
física dela. Maria seria, portanto, um instrumento usado por Deus, para cumprir o seu
plano, mas não Theotokos (Mãe de Deus); j) A essência do cristianismo consiste em uma
adesão prática aos ensinamentos de Cristo; k) A ética do amor rege todas as relações
humanas; l) Pacifismo: Cristianismo e violência são incompatíveis (não pegavam em
armas para guerras, o que explica a quantidade de Anabatistas que morreram tanto pelas
mãos de Católicos Romanos, quanto de protestantes). Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anabatista
Depois de serem massacrados na Guerra dos Camponeses (uma revolta popular
generalizada nos países da língua alemã na Europa Central, entre 1524-1525), os
Anabatistas sobreviveram na sua forma pacifista, como a Igreja mennonita. Originalmente
concentrados no vale do rio Reno, desde a Suíça até a Holanda, os anabatistas
conquistaram adeptos de cultura germânica. Perseguidos pelo Estado e guerras, tiveram
imigração em massa para a Rússia e América do Norte. No final do século XIX e começo
do XX surgiram colónias na América do Sul (Paraguai, Argentina, Brasil, Bolívia), onde
mantêm suas culturas e fé. Muitos anabatistas conservadores vivem em comunidades
rurais isoladas e desconfiam do uso de tecnologia. Os principais remanescentes
anabaptistas são: os huteritas, mennonitas, amishes, cuja postura em muito se assemelha
ao estilo de vida dos cristãos descrito no Novo Testamento, especialmente em Atos dos
Apóstolos 4:34,35 (pacifismo, comunalismo na produção e consumo). Os Anabatistas
influenciaram ainda outras denominações religiosas, como os quakers, Batistas, Dunkers
e outras denominações protestantes que afirmam a necessidade de uma adesão
voluntária à Igreja. Há grupos que reclamam os princípios anabatistas, mesmo que não
tenham sua origem nos grupos históricos. Um bom exemplo são grupos pentecostais que
se autodenominam anabatistas, como os Pentecostais do Nome de Jesus. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anabatista.
MATOS (2008, p. 161) nos apresenta dois tipos de reforma protestante, segundo
classificação dos estudiosos da reforma: reforma magisterial (desenvolvida por Lutero,
Zuinglio, Calvino, Thomas Cranmer) trabalhadas juntamente com a colaboração dos
magistrados; Reforma radical, não desenvolvida em acordo com as autoridades civis pois
pregavam separação entre Igreja e Estado.
A reforma Radical, ainda segundo MATOS, era também chamada de “ala
esquerda da Reforma”, e inclui três grupos distintos: 1) os espirituais ou espiritualistas,
como Caspar Schwenkfeld (1489-1561), cuja religiosidade mística dava ênfase à “luz
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

interior” do Espírito Santo, vindo a influenciar George Fox (1624-1691) e os quacres


ingleses e o espanhol Juan de Valdes; 2) Os racionalistas antitrinitários, como Miguel
Serveto (1511-1553) e Fausto Socino (1539-1634) que mais tarde deram origem aos
unitários ingleses e norte-americanos; 3) Os anabatistas, o grupo maior e mais influente,
surgiram em Zurique em 1525 com o nome de “irmãos suíços”. Depois se espalharam
pela Europa divididos em vários seguimentos, como: menonitas, hutteritas, amish, Igrejas
dos Irmãos.
Os anabatistas são comumente chamados de heréticos, e a principal heresia a
eles atribuída é a questão do unitarismo (anti-trinitarianos). Como visto eles tinham
algumas divisões e os racionalistas antitrinitários realmente ensinavam essa doutrina.
Mas era uma ala do movimento, não todo o movimento, que assim ensinava sobre a
Trindade.
WALKER (2006, p. 524) nos informa que:
1) Alguns dentre os que trabalhavam com Lutero (citados no início dessa seção)
entenderam ser ele um meio reformador;
2) Com maior intensidade Félix Manz e Conrado Grébel concluiram em 1523 que
Zwinglio era um falso profeta e iniciaram um movimento com o objetivo de alcançar
inovações na Igreja.
3) Grébel e Manz chegaram à conclusão de que o batismo infantil era errado:
propuseram um debate;
4) O conselho de Zurique ordenou que todas as crianças não batizadas fossem
apresentadas para batismo no prazo de oito dias;
5) Os dissidentes entenderam ser essa uma determinação por um poder contrário à
Palavra de Deus;
6) Em 21/01/1525 Jorge Blaurock foi batizado por Conrado Grébel (rebatizado);
Blaurock batizou outras quinze pessoas;
7) Na mesma noite o Conselho de Zurique exigiu que Grébel e Manz parassem de
propagar suas ideias;
8) Na semana seguinte, agora agindo contra a ordem do conselho de Zurique, Grébel
e Manz efetuaram reuniões de avivamento perto de Zurique. Trinta e cinco foram
batizados por afusão.
9) Tendo instituído o batismo de fiéis, passaram a celebrar a comunhão pela
observância simples da ceia do Senhor. Foram assim apelidados de “anabatistas”
ou “rebatizadores”.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

10) Walker afirma ainda que os anabatistas ensinavam que a Igreja era composta
apenas por fiéis convictos (batizados quando adultos) e não fiéis confessos (que
afirmaram o batismo infantil). Consequentemente eram proibidos de frequentar
igrejas estatais (como as reformadas de Zwinglio).
11) Anabatistas = separação entre Igreja e Estado (viviam separados em comunidades
livres).
12) Fé voluntária (que implicava em abandono de força em questões religiosas).
13) Não participavam do serviço militar (resultado= acusação de serem antipatriotas).
14) 07/03/1526 – Conselho de Zurique ordena o afogamento dos Anabatistas.
15) A perseguição fez com que o movimento se espalhase pela Alemanha, Suiça e
Países Baixos.
16) A dieta de Spira (1529, sacro império Romano Germânico) e a de Augsburgo
(1530, Luterana) aplicaram contra os Anabatistas a velha lei romana contra a
heresia.

4. OS PAÍSES ESCANDINAVOS

Dinamarca, Noruega e Suécia estiveram reunidas sob um soberano Dinamarquês


desde a formação da união de Kalmar em 1397. A coroa não era poderosa em nenhum
destes países. Em todos eles os membros do alto clero eram impopulares, opressores,
frequentemente nascidos no exterior e sempre em disputas com a nobreza. Em parte
alguma da Europa a reforma seria tão amplamente política.
No Início da reforma o trono dinamarquês estava ocupado por Cristiano II (1513-
1523), déspota esclarecido e simpático ao Renascimento. Ele acreditava que o grande
mal do seu reino encontrava-se no poder nas mãos dos nobres e dos eclesiásticos. Com
o objetivo de limitar o poder dos bispos mediante a introdução do movimento Luterano,
ele trouxe em 1520 um pregador chamado Martinho Reinhard, o qual se mostrou ineficaz.
Em 1523 Cristiano II foi deposto do cargo e o trono foi ocupado por Frederico I
(1523-1533), seu tio. Este era simpático ao movimento Luterano, mas os partidos que o
fizeram rei o fizeram prometer respeitar os privilégios dos nobres e a impedir qualquer
pregação herética. Mesmo assim, o Luteranismo penetrou no país.
Frederico morreu em 1533. Sua morte gerou grande confusão. A maioria da
nobreza apoiava o mais velho de seus dois filhos, Cristiano III, Luterano confesso;

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

enquanto que os bispos apoiavam o mais jovem, Hans Tausen, que fora capelão de
Frederico. Seguiu-se um período insano de guerra civil do qual Cristino III emergiu
vitorioso. Os bispos foram aprisionados, sua autoridade abolida e as propriedades
eclesiásticas confiscadas pela coroa. Cristiano solicitou ajuda de Wittenberg. João
Bugenhagen, companheiro de Lutero, chegou em 1537. Sete novos superintendentes
Luteranos foram nomeados pelo rei, mas conservaram o título de “bispos”. A igreja
Dinamarquesa foi assim reorganizada, conforme o sistema Luterano.
A Noruega era um reino separado mas estava sujeita ao rei dinamarquês por
causa dos termos da união de Kalmar. Durante o reinado de Frederico I, a Reforma não
chegou à Noruega. Sob o reinado de Cristiano III, foi introduzida nominalmente. Cristiano
III, no entanto, foi muito negligente quanto à pregação e superintendência na Noruega. A
consequência: imposta de cima, a Reforma demorou muito para ganhar a simpatia
popular.
Segundo WALKER (2006, p. 547) na Suécia a reforma esteve em grande parte
vinculada à luta nacional pela independência. Cristiano II da Dinamarca encontrou feroz
resistência aos seus esforços para conquistar o trono sueco. Seu principal cooperador ali
foi Gustavo Trolle. Gustavo procurou aprovação pelo papa Leão X da excomunhão de
seus oponentes, ainda que tal oposição fosse simplesmente política. Em 1520 Cristiano II
tomou Estocolmo e fez acompanhar sua coroação como rei da Suécia de um ato de
tremenda crueldade. Reuniu os nobres, que de nada suspeitavam, para a cerimônia, e
mandou matá-los como hereges excomungados. O banho de sangue de Estocolmo
levantou a Suécia em rebelião contra Cristiano II. O líder dessa revolta foi o vigoroso
Gustavo Vasa. Em 1523 os dinamarqueses foram expulsos e Gustavo coroado rei (1523-
1560).
Mesmo com o novo reinado, a doutrina Luterana estava sendo ensinada por dois
irmãos – Anderson e Lars Peterson. O arquidiácono Anderson se converteu ao
Luteranismo. Em 1524 o rei Gustavo estava definitivamente a favor desses líderes.
Anderson tornou-se seu chanceler e Lars Peterson professor de teologia em Upsala.
Qual teria sido a motivação do rei em apoiar o movimento Luterano, é uma dúvida
não respondida. Em parte poderia ter sido por suas convicções religiosas, mas acredita-
se que talvez a maior parte tenha sido motivada pela extrema pobreza da coroa, que
Gustavo pensava ser possível remediar unicamente por extensa confiscação dos bens da
igreja.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. ANABATISTAS: <Quarta Pre18 - Os Radicais Anabatistas (completo)


21Set2012> - https://www.youtube.com/watch?v=JHni2xrKAmc.
2. Zuinglio: <História da Igreja 37/56 – Zwinglio>
https://www.youtube.com/watch?v=5FOUYHhI51c&list=PLksBVeXuy5YEm86GVygSqh3z
3YpeM3sBs&index=37.
3. Anexo: SANTA CEIA: UMA DAS MAIS SIGNIFICATIVAS CONTROVÉRSIAS
ENTRE OS REFORMADORES LUTERO, ZWÍNGLIO E CALVINO.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 2:

1) Comente sobre o problema social que você identificou na Suíça do século XV.
2) O que diferenciava a Suíça da Alemanha, em termos religiosos, quando
começou a reforma?
3) Qual era a diferença entre a motivação de Lutero e a motivação de Zuínglio,
para a reforma?
4) Qual era a principal divergência teológica entre Lutero e Zuínglio? Por que não
se entendiam quanto a este assunto? Houve algum momento em que quase resolveram
esta diferença? Quem propôs um meio termo ao assunto? Como o fez?
5) De um modo geral, comente sobre o sucesso de Zuínglio na Suíça durante a
reforma.
6) Por que surgiu o movimento Anabatista? O que o nome sugere?
7) Onde surgiu este movimento? Por que ele teve início?
8) Pelo que você aprendeu na aula, qual a razão de o movimento Anabatista ter
sido perseguido? Qual ou quais grupos religiosos os perseguiram?
9) Os anabatistas eram heréticos?
10) Qual foi a motivação para que tivesse início a reforma na Dinamarca?
11) Por que a igreja Católica Romana perdeu a força na igreja Dinamarquesa?
12) Como se deu a reforma na Noruega. Fale das consequências.
13) Qual foi a motivação para a reforma na Suécia?
14) Qual teria sido a razão para o Rei da Suécia apoiar o movimento Luterano em
seu reino?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

5. IGREJA ANGLICANA - O ROMPIMENTO DA INGLATERRA COM A


IGREJA ROMANA

A história da Reforma na Inglaterra é a história da protestantização gradual da


população e da Igreja Inglesa, um processo que se estendeu pelos reinados de Henrique
VIII (1509-1547) e seus três filhos e sucessores, Eduardo VI (1547-1553), Maria (1553-
1558) e Isabel I (1558-1603).
A questão imediata da Reforma Inglesa foi o divórcio entre Henrique e Catarina
de Aragão, que por fim levou à separação da nação da obediência romana e à drástica
diminuição da riqueza e privilégios da igreja. A Reforma foi uma ação do estado, imposta
pelo soberano rei, seus hábeis ministros e um parlamento complacente. O rompimento da
Igreja Inglesa com a Igreja Católica Apostólica Romana foi denominado “Ato de
Supremacia”, pelo qual o soberano inglês passava a ser o chefe supremo da Igreja da
Inglaterra.
Os prelados do rei Henrique eram mais juristas civis do que teólogos, o que ajuda
a explicar sua unanimidade ao lado de Henrique quando este rompeu com o papado.
Os escritos de Lutero penetraram a Inglaterra por volta de 1519, influenciando
jovens professores das universidades. Um grupo de professores em Cambridge no início
de 1520 reuniu-se para debater as doutrinas que tinham lido. Eles se tornariam os líderes
da primeira geração de protestantes ingleses, e seriam futuramente martirizados por sua
fé: Roberto Barnes, Tomás Bilney, Hugo Latimer, João Frith, Miles Coverdale, Tomás
Cranmer, Nicolau Ridley, Mateus Parker e Guilherme Tyndale. Tyndale foi o mais notável
entre estes.
Por volta de 1522, Tyndale procurou traduzir o Novo Testamento para a língua
inglesa, mas não encontrou apoio do bispo de Londres. Visitou Lutero em 1524 e no ano
seguinte publicou em Colônia e Worms uma esplêndida tradução baseada no texto grego
de Erasmo e também bastante dependente da Bíblia alemã de Lutero. Em 1526, cópias
desta tradução chegaram à Inglaterra, onde as autoridades tentaram em vão impedir.
Em 1521 o rei Henrique publicou sua afirmação dos Sete Sacramentos contra
Lutero. Isto foi uma forma de se opor aos escritos de Lutero que começaram a circular na
Inglaterra. Com este ato, recebeu do papa Leão X o título de “Defensor da fé”.
Em 1509, Henrique casara-se com Catarina de Aragão. Ela era viúva do irmão
mais velho do rei, Artur, embora o casamento fora apenas nominal. Tiveram seis filhos,
mas apenas Maria sobreviveu. Por volta de 1527 Henrique passou a expressar

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

escrúpulos religiosos sobre a validade de seu matrimônio, dizendo que a Escritura (Lv
20:21) proibia expressamente o casamento com a viúva de um irmão. O que se acredita é
que ele queria um pretexto para separar-se, já que Catarina provavelmente não queria
mais filhos (ou não poderia ter) e o rei não tinha um herdeiro homem. A guerra das Rosas
havia acabado há pouco, em 1485, e a falta de um herdeiro no caso do falecimento do rei
reacenderia uma guerra civil. Desde 1525 o rei estava apaixonado por Ana Bolena, dama
de sua corte e irmã de Maria Bolena, sua amante.
O divórcio, no entanto, não foi concedido pela igreja Romana. Catarina era tia do
imperador Carlos V. Este vitorioso na guerra, submeteu o papa à política imperial. Carlos
estava determinado a não permitir que Catarina fosse repudiada.
Determinado a romper com Roma, o rei em janeiro de 1531 acusou a totalidade
do clero de violação do velho estatuto de Praemunire (1353), por terem reconhecido a
autoridade de Wolsey (demitido pelo rei por não conseguir convencer a igreja a conceder
seu divórcio) como representante papal – autoridade que o próprio Henrique reconhecera
e aprovara.
Em janeiro de 1533 Henrique casou-se secretamente com Ana Bolena, que sabia
estar grávida. Em março seguinte o parlamento aprovou uma decisão legislativa crucial, a
Lei de restrição de Apelos, que proibia qualquer apelo a Roma tanto em questões
espirituais como temporais. Essa lei aboliu a autoridade Papal na Inglaterra. Esta lei foi
criada com o interesse de forçar o Papa Clemente VII a confirmação de sua indicação de
Tomas Cranmer como arcebispo de Cantuária. Cranmer foi consagrado em 30 de março
de 1533; em 23 de maio este reuniu um tribunal e formalmente declarou inválido o
casamento de Henrique com Catarina e em 28 de maio declarou o casamento com Ana
Bolena totalmente legal. A nova rainha foi coroada em primeiro de junho e em 7 de
setembro teve uma filha, a princesa Isabel.
Em 11 de julho de 1533 o papa Clemente VII preparou uma bula ameaçando
Henrique de excomunhão. Este conseguiu do parlamento uma série de leis proibindo
quaisquer pagamentos ao papa bem como anulação de todos os juramentos feitos a
Roma e reconhecimento da autoridade papal. Em 3 de novembro de 1534 o parlamento
aprovou a famosa Lei da Supremacia, pela qual Henrique e seus sucessores eram
declarados “a única cabeça suprema na terra da Igreja da Inglaterra”. Isso dava o poder
de reprimir “heresias” e “abusos”. Esta lei não concedia direitos espirituais como a
ordenação e a administração de sacramentos, mas no restante ela praticamente colocava
o rei no lugar do papa.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

O rompimento com Roma foi completo. Tais leis não ficaram no papel. Em maio
de 1535 alguns monges das mais acatadas ordens da Inglaterra foram executados de
modo bárbaro por negarem a supremacia do rei. Em junho e julho, o bispo João Fisher e
o ex-chanceler Sir Tomás More foram decapitados pela mesma ofensa. O restante do
clero seguiu ao rei.
Em janeiro de 1536 Catarina de Aragão morreu. Isso aliviou em parte a ameaça
de intervenção de Carlos V no governo de Henrique. A esta altura, o rei estava enfastiado
com Ana Bolena e não perdoava o fato de ela não conseguir dar-lhe um herdeiro
masculino. Ademais, Cromwell suspeitava do partido de Bolena no conselho privado do
rei. Ela foi acusada de adultério em maio de 1536 e decapitada no dia dezoito do mesmo
mês. Um dia antes, Cranmer declarava nulo e inválido o casamento dela com Henrique.
Em 30 de maio Henrique casou-se com Jane Seymour, que lhe deu o tão desejado filho
em 12 de outubro de 1537. Apenas doze dias depois do nascimento do menino, que
recebeu o nome de Eduardo, Jane morreu. Eduardo viria a falecer em 6 de julho de 1553,
quando tinha 16 anos.
Em 1536 a igreja Inglesa necessitava de uma definição de sua doutrina, já que
rompera com Roma. Henrique não queria uma fórmula de fé protestante pois, como
Walker nos informa, queria dar uma demonstração ao mundo de sua fé católica ortodoxa,
no entanto sem a obediência ao Papa. Então, redigiu ele mesmo os assim chamados “dez
artigos de fé”: entre eles: A Bíblia é autoridade de fé, três sacramentos (batismo,
penitência e Ceia do Senhor), Justificação implica fé em Cristo apenas, mas a confissão e
absolvição e as obras de caridade também são necessárias; Cristo está fisicamente
presente na Ceia; As imagens devem ser veneradas, mas moderadamente; Os santos
devem ser invocados, mas não porque “nos ouvirão antes de Cristo”; As missas para os
mortos são desejáveis, mas a noção que o “bispo de Roma” pode livrar uma alma do
purgatório deve ser rejeitada. Walker (2006, p. 573), também nos informa que em 1539 o
Rei Henrique VIII, junto com o Parlamento, aprovou a lei dos Seis artigos. 1) O documento
afirmava como credo da Inglaterra uma estrita doutrina da transubstanciação, cuja
negação seria punida com a morte na fogueira; 2) Repudiava o casamento do clero; 3)
Negou o cálice aos leitos; 4) Ordenava a observância permanente dos votos de castidade;
5)recomendava as missas privadas; 6) recomendava a confissão auricular. Essa lei ficou
conhecida como “chicote sangrento de seis tiras”. Como podemos notar, uma liturgia
idêntica à Católica Apostólica Romana.
Em 6 de janeiro de 1540, Henrique casou-se com Ana de Cleves. Esse
casamento uniu o rei aos adversários de Carlos V, que ameaçava intervir no reinado do
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rei. O rei sequer se sentiu atraído por Ana quando a viu pela primeira vez. Pouco após
casar-se, queria se separar.
Em 10 de julho, Cranmer declarou inválido o casamento do rei com Ana de
Cleves. Em 9 de agosto Henrique casou-se com Catarina Howard. Este era o quinto
casamento do rei, em 31 anos. Em novembro de 1541 a nova rainha foi acusada de
adultério, (desta vez as acusações eram verdadeiras). Ela foi decapitada em fevereiro de
1542.
Em julho de 1543 Henrique casou-se com Catarina Parr, que teve a felicidade de
viver mais do que ele. Henrique morreu em 28 de janeiro de 1547, e foi sucedido por seu
filho, que governou como Eduardo VI (1547-1553). Durante seu reinado, o país foi
comandado pelo Conselho Regencial, sob o controle de Hertford, já que ele nunca atingiu
a maioridade. Subiu ao trono com 9 anos de idade.
Antes de sua morte, Eduardo VI conduziu a Igreja da Inglaterra a uma reforma
religiosa, devido à influência de Thomas Cranmer. Segundo Walker (2006, p. 574) a
influência veio dos reformadores suíços e do Sul da Alemanha – Bucer, Zuínglio,
Bullinger, e Calvino, que influenciaram Cranmer. Lutero e os teólogos luteranos não
serviram tanto de referência à reforma na Inglaterra, ainda que os escritos de Lutero
tivessem penetrado na Inglaterra anos antes. No final do reinado de Eduardo a Inglaterra
havia se tornado em um país protestante, pelo menos no que se refere às declarações
oficiais de fé e prática. Os seis artigos de Henrique VIII foram abolidos. No fim de 1548
foram retiradas todas as imagens das Igrejas. Em 1549 os sacerdotes puderam se casar.
Em 1549 foi redigido por Thomas Cranmer e oficializado por Eduardo VI o Livro
de oração comum. Ele tinha muito dos rituais católicos romanos, e em 1552 foi
reformulado. Entre as aprovações, a fórmula para a entrega dos elementos eucarísticos,
segundo Walker, harmonizou com a concepção zuingliana da ceia.
Em 1553, resultado do trabalho de Thomas Cranmer e outros seis teólogos, entre
os quais João Knox, foi aprovado os Quarenta e dois Artigos. Eram muito mais
protestantes em tom do que o segundo livro de oração. A preocupação dos artigos
atacava o radicalismo anabatista e o tradicionalismo católico romano.
Em fevereiro de 1553, Eduardo adoeceu. Ao descobrir que era uma doença
terminal, ele e seu conselho redigiram a "Elaboração para a Sucessão", tentando impedir
que a Inglaterra voltasse ao catolicismo (com a nomeação de Maria). Nomeou a prima
Joana Grey como herdeira, excluindo suas meio-irmãs Maria e Isabel. O testamento de
Henrique VIII em sua forma final deixara a coroa para Eduardo, Maria e Isabel. Porém,
depois de sua morte em 6 de julho, Joana foi deposta por Maria em treze dias. Ela
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

reverteu as reformas protestantes de Eduardo, que mesmo assim se tornaram a base


para a Resolução Religiosa de Isabel em 1559. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_VI_de_Inglaterra.
O testamento de Eduardo VI acabou sendo colocado de lado e Maria tornou-se
rainha, com Joana sendo executada. Maria não fora presa, e acabou recebendo apoio da
Inglaterra para ascender ao poder. Isabel ficou presa por quase um ano durante o reinado
de Maria por suspeitas de apoiar os rebeldes protestantes.
Com a ascensão de Maria (conhecida como Maria, a sanguinária) ao poder,
Thomas Cranmer e os principais bispos protestantes foram levados à prisão. Casando-se
com seu primo Felipe II (filho de Carlos V), o mais reacionário soberano católico, tornou
seu governo impopular. A forma de culto da Igreja Anglicana foi restaurada à forma do
último ano de vida do Rei Henrique VIII. O objetivo de Maria era voltar às pazes com
Roma, oficializando novamente a Igreja Romana na Inglaterra. Em 1554 foi restabelecida
a autoridade papal na Inglaterra.
Vítimas da perseguição de Maria, no ano de 1553 a 1555 cerca de oitocentos
protestantes, tanto clérigos como leigos, se refugiaram no continente, principalmente em
Frankfurt, Estrasburgo, Basiléia, Zurique e Genebra. Acabaram sendo treinados no
protestantismo reformado, o que levaria, futuramente, a um alicerce ainda mais profundo
na Igreja da Inglaterra, no reinado de Isabel. Uma de suas mais importantes ações nesse
tempo de exílio foi a produção da Bíblia de Genebra, publicada em Genebra em 1560.
Essa Bíblia foi muito utilizada no reinado de Isabel. Os estados luteranos, segundo
Walker, se mostraram pouco hospitaleiros a esses exilados marianos, pois consideravam-
nos eréticos em suas crenças sacramentais e também por temer repercussões políticas).
Com a autoridade papal restaurada na Inglaterra, os líderes da reforma
começaram a ser perseguidos. A primeira vítima foi João Rogers, tradutor da Bíblia, que
foi queimado em Londres em 4 de fevereiro de 1555. No fim desse ano, mais setenta e
cinco pessoas morreram na fogueira, entre eles Hugo Latimer e Nicolau Ridley. Thomas
Cranmer, para não morrer, aceitou novamente a autoridade papal e negou o
protestantismo. Maria, no entanto, conseguiu a aprovação para sua morte, pois ele
declarou o casamento de sua mãe inválido e ela mesma, uma bastarda. No momento de
sua morte, declarou novamente sua fé protestante e, segunda a história, pediu que
primeiro fosse queimada sua mão com a qual assinara sua retratação.
Até a morte de Maria, em 1558, cerca de 300 protestantes foram queimados.
Isabel sucedeu Maria em 1558 e passou a reinar com um bom conselho. Ela muito
dependia de um grupo de conselheiros de confiança liderados por Guilherme Cecil, Barão
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Burghley. Uma de suas primeiras ações como rainha foi o estabelecimento de uma igreja
protestante inglesa, da qual tornou-se sua Governadora Suprema. A Resolução Religiosa
Isabelina mais tarde desenvolveu-se na atual Igreja Anglicana. Era esperado que ela se
casasse e gerasse um herdeiro para continuar a linhagem Tudor. Entretanto, nunca se
casou apesar de vários pretendentes. Isabel ficou famosa por sua virgindade enquanto
envelhecia. Um culto cresceu ao seu redor em que ela era celebrada em pinturas, desfiles
e obras literárias. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_I_de_Inglaterra.
No reinado de Isabel a autoridade papal foi novamente cancelada com o assim
denominado “segundo Ato de Supremacia”, bem como todos os pagamentos a Roma
foram cancelados. O rei Filipe II da Espanha era um forte opositor de seu governo e
trabalhava para restaurar o Catolicismo na Inglaterra. A adesão da Rainha Elizabeth ao
protestantismo é visto como uma forma que encontrou para unir forças contra Filipe II. Ela
declarou-se Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra, rechaçando o título de
Suprema Cabeça. Na prática, significava a mesma coisa.
A questão da presença física do Senhor na Ceia foi, segundo Walker, deixado
indefinido no reinado de Isabel. O protestantismo foi sendo implantado em seu reinado
nos moldes do segundo ano do reinado de Eduardo VI.
Os Quarenta e dois artigos de 1553 foram em parte revisados e então, como trinta
e nove artigos, se tornaram a definição de fé da igreja da Inglaterra.
Uma vez definida a regra de fé da Igreja Anglicana no reinado de Isabel, ela
contava com ameaça de dois lados: Roma, pois o papa a excomungou e conclamou seus
súditos a deporem-na; e com potencial ainda mais explosivo os reformadores mais
diligentes que desejavam ir mais longe na reforma e que logo ficaram denominados
puritanos.
Carlos I foi o Rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda de 1625 até sua execução em
1649. Em seu reinado, acompanhado do Arcebispo Laud, a fé católica medieval voltou a
ser a expressão de fé da Igreja Anglicana. Como característica desse retorno na teologia
podemos observar que: a) a justificação passou a ser vista como uma justificação através
da Igreja; b) os clérigos passaram a ser intérpretes da Bíblia para o povo; c) a expressão
reformada “sola fide” passou a se tornar incompreensível à parte da Igreja. Se
observarmos que no período de governo da rainha Elisabeth (Isabel) a justificação era
vista como ocorrendo pela fé, notamos um retorno claro à teologia medieval católica.
Uma característica notável da Reforma Inglesa, segundo Walker, é que ela não
produziu nenhum destacado líder religioso – nenhum Lutero (Alemanha), Zuínglio (Suiça),
Calvino (França) ou Knox (Escócia). Nem tampouco, antes do começo do reinado de
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Isabel, manifestou qualquer despertamento espiritual considerável entre o povo em todos


os níveis da sociedade. Viria um grande reavivamento da vida religiosa da Inglaterra, cuja
história inicial coincidiria com o reinado de Isabel, mas que nada deveria diretamente à
Rainha.

QUESTIONÁRIO 3:

1) Resuma a motivação para a reforma na Inglaterra, que por fim rompeu as


alianças com Roma. O que é o “ato de supremacia” e em que implica?
2) Em seu entendimento, por que o parlamento aprovava tudo quanto o rei
Henrique desejava aprovar? (Esta é uma pergunta que necessita de pesquisa para
resposta, não está no material o conteúdo necessário, é algo histórico).
3)A Inglaterra teve um reformador que tenha tido a mesma importância dos
reformadores em outros países?
4) O que mudou, em termos de fé, da Igreja Católica Apostólica Romana para a
Igreja Anglicana no reinado de Henrique VIII?
5) Quando finalmente ocorreu uma reforma religiosa na Inglaterra? No reinado de
quem? O que levou o rei Eduardo VI, que subiu ao trono tão novo e morreu com 16 anos
de idade, levar a Igreja Anglicana a uma reforma religiosa?
6) No reinado de Eduardo VI, qual compreensão da Ceia foi aceita?
7) O que ocorreu com a fé protestante na Inglaterra após o início do reinado de
Maria? Por que a autoridade papal foi restaurada?
8) Em que sentido a perseguição de Maria causou um maior aprofundamento nos
alicerces da fé da Inglaterra?
9) O que fez com que a autoridade papal fosse novamente negada na Inglaterra
no reinado de Isabel?
10) Como ficou a questão da presença física do Senhor na Ceia no reinado de
Isabel?
11) O que ocorreu no reinado de Carlos I, no tocante à teologia da Igreja
Anglicana?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

6. A REFORMA NA SUIÇA E EM GENEBRA ANTES DE CALVINO

A cidade mais forte da Suíça era Zurique, enquanto que no sul a mais poderosa
era Berna. A aceitação do protestantismo por Berna em 7 de fevereiro de 1528, levou o
governo da cidade a procurar introduzir a Reforma nos distritos dependentes, estimulando
a pregação de Guilherme Farel (1489-1565). De tanto pregar a reforma logo teve que
deixar a França. Em 1524 se encontrava em Basiléia novamente pregando a Reforma,
com tal impetuosidade que terminou expulso da cidade.
Em novembro de 1526 Farel iniciou seu trabalho em Aigle, na Suiça, onde o
governo de Berna o defendeu, ainda que não estivesse totalmente comprometida com a
Reforma. Com a vitória completa das novas ideias em Berna, a obra de Farel progrediu
rapidamente. Aigle, Ollon e Bex adotaram a Reforma, imagens das igrejas Romanas
foram destruídas e pôs-se fim à missa. Depois de tentar em vão converter Lausana,
iniciou tempestuoso ataque a Neuchatel, que por fim resultou na implantação da Reforma
naquele local. Em 1530, conseguiu o mesmo em Morat. Porém, em Grandson e Orbe que,
com Morat, estavam sob o governo conjunto da protestante Berna e da católica Friburgo,
ele conseguiu apenas a tolerância para ambas as formas de culto.
Em outubro de 1532 Farel fez uma tentativa fracassada de pregar a Reforma em
Genebra. Seu principal colaborador foi Pedro Viret, futuro reformador de Lausana.
O governa da Genebra estava em uma situação difícil. Friburgo, sua aliada
católica, exigia que Farel fosse silenciado. Berna, sua aliada protestante, insistia na prisão
de Furbity (frade dominicano e principal defensor da causa romana), que acusara os
Genebrianos de serem fantoches de Berna. A magistratura puniu Furbity e rompeu
relações com Friburgo. Berna ficou assim como única aliada suíça de Genebra. Furbity,
agindo em acordo com o duque de Sabóia, armou tropas para atacar a cidade de
Genebra e a sitiou. Esta ação fortaleceu a oposição Genebriana e forneceu a Farel e
Viret a oportunidade de avançarem sua causa vinculando o protestantismo à luta de
Genebra por independência.
Com o apoio de Berna, em janeiro de 1536, desapareceu o perigo de Sabóia, e o
controle reformado de Berna assumiu Genebra. Berna reconheceu a independência de
Genebra em 7 de agosto de 1536. Fora aceito oficialmente o protestantismo, embora mais
por causas políticas que religiosas. Farel sentia-se incapaz para a tarefa, e em julho de
1536 constrangeu um jovem francês, conhecido seu, a permanecer e auxiliar na obra.
Seu nome: João Calvino.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

7. CALVINISMO

João Calvino (1509-1564) nasceu em 10 de julho de 1509, em Noyon, cerca de


90km a nordeste de Paris. Fazendo uma comparação com Lutero (1483-1546), este tinha
26 anos quando Calvino nasceu. Seu pai, Geraldo Cauvin, era o secretário do bispado de
Noyon e procurador do cabido de sua catedral. Geraldo desfrutava da amizade da
poderosa família nobre dos Hangest, que fornecera no tempo dele dois bispos a Noyon.
João Calvino teve relações muito chegadas com os jovens dessa família, e através
dessas relações aprendeu as maneiras da sociedade polida, que poucos reformadores
tiveram. Pela influência do pai, Calvino recebeu os benefícios de certos cargos
eclesiásticos em Noyon e nas suas proximidades. O primeiro deles quando ainda não
tinha doze anos de idade. Nunca, porém, foi ordenado ao sacerdócio romano.
Em agosto de 1523 Calvino pode ingressar na universidade de Paris. Um de seus
professores foi Maturino Cordier, a quem ficou devendo as bases de seu estilo literário
brilhante.
Em 1527 o pai de Calvino, por estar com problemas com o cabido da catedral de
Noyon, decidiu que seu filho, antes destinado à teologia e ao sacerdócio, estudaria direito.
Calvino então ingressou na universidade de Orleans. Depois foi para a universidade de
Bourges. Como seu interesse pelo humanismo era muito forte, em ambas as
universidades estudou grego, com o auxilio do erudito alemão Melquior Wolmar, que se
tornaria seu amigo pelo resto de sua vida. Calvino obteve sua licenciatura em direito, mas
a morte do pai em 1531 deixou-o livre para decidir o que queria. Ele continuou seus
estudos de grego e iniciou hebraico no College de France, instituição humanista fundada
em 1530 pelo rei Francisco I em Paris. Sua primeira obra foi escrita nesta época,
Comentário ao Tratado de Sêneca Sobre a Clemência, publicado em abril de 1532. Era
uma maravilha de erudição, muito marcada pelo profundo senso dos valores morais.
Entretanto, nessa obra Calvino não demonstrou nenhum interesse pelas questões
religiosas da época.
Wolmar, amigo de Calvino, já estava comprometido com a Reforma. Em algum
momento entre a obra de 1532 e o início de 1534 Calvino passou por aquilo que mais
tarde chamaria de uma “súbita conversão”. Desde então os assuntos religiosos passam a
ocupar primazia no pensamento de Calvino.
Em 4 de maio de 1534 Calvino seguiu à cidade de Noyon, onde renunciou os
benefícios que lá tinha. A França estava se tornando um lugar perigoso para Calvino,
principalmente depois que seu amigo Antonio Marcourt afixou suas teses contra a missa,
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

em outubro de 1534. Francisco I publicou em fevereiro de 1535 uma carta aberta


acusando o protestantismo francês de objetivos anárquicos que governo algum poderia
tolerar. Segundo Walker (2006, p.555) Calvino sentiu que devia defender seus caluniados
amigos, e então apressou-se a publicar a obra denominada Instituição da Religião Cristã,
em março de 1536. Ela foi prefaciada ao rei Francês. Até então nenhum protestante
francês falara com tanta clareza, controle e vigor. Calvino, com 26 anos de idade, tornou-
se o líder do protestantismo francês.
Esta obra, projetada como um catecismo de seis capítulos, eventualmente se
desenvolveu em um volumoso tratado de oitenta capítulos na edição final de Calvino, de
1559. Calvino pertencia à segunda geração de reformadores na França. Não almejava ser
um pensador “criativo”. Ele reconheceu rapidamente que sua obra não poderia ter sido
feita sem o trabalho anterior de Lutero. Do reformador alemão ele se apropriara dos
conceitos de justificação pela fé e dos sacramentos como selos da promessa de Deus.
Também extraiu muito de Bucer (Martin Bucer nasceu na França, em Selestat, em 11 de
novembro de 1491, foi um reformador protestante em Estrasburgo, influenciado pelas
vertentes de Lutero), principalmente as ênfases deste na glória de Deus como sendo o
objetivo para o qual todas as coisas são criadas, na predestinação como doutrina de
confiança cristã e nas consequências da eleição divina como um esforço vigoroso para
uma vida de conformidade com a vontade de Deus. Tudo, porém, ficou sintetizado e
aclarado com a habilidade de Calvino.
O assunto “obras” era tão importante para Calvino quanto o era para a instituição
romana. Contudo, a igreja romana ensinava a justificação através de obras, enquanto
Calvino focava na “obra” realizada por Cristo, não dando lugar a justificação diante de
Deus pela realização de boas obras. Para Calvino, a pessoa era salva “para o caráter”,
não pelo caráter.
Quanto à eleição, o que parece ficar claro pela análise dos escritos de Calvino é
que ele acreditava que o ser humano era bom e capaz de obedecer à vontade de Deus.
Como perdeu isso devido ao pecado, ficou impossibilitado de responder à expectativa de
Deus para sua vida. Ficaram então todos os seres humanos em estado de ruína,
merecendo somente a condenação. Cristo, porém, pagou completamente a condenação
que as pessoas merecem. Tudo o que Cristo fez é inútil até que se torne posse pessoal
do indivíduo, pensava Calvino. Essa apropriação, defendia, é efetuada pelo Espírito Santo
que atua onde, quando e como quer, criando arrependimento e fé. O fato de que agora os
crentes realizam boas obras agradáveis a Deus é prova de que entraram em união viva
com Cristo.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Concluiu-se dos ensinos de Calvino que, uma vez que todo o bem provém de
Deus, e os pecadores são incapazes de iniciar ou resistir à sua conversão, a causa seja a
escolha divina, eleição e condenação. Tal ensino, todavia, não parece estar claro nos
escritos de Calvino. Parece, sim, uma dedução ou conclusão com base em sua
dissertação.
Apenas dois sacramentos eram reconhecidos por Calvino: o batismo e a Ceia do
Senhor. Quanto à divergência entre Lutero e Zuínglio com relação à Ceia do Senhor,
Calvino se colocava, como Bucer, entre Lutero e Zuínglio, mais perto do reformador suíço
na forma e do alemão no espírito. Como Zuínglio, negava qualquer presença física de
Cristo; no entanto, afirmava em termos muito claros uma presença real, ainda que
espiritual, recebida pela fé. “Cristo, a partir da substância de sua carne, infunde vida em
nossas almas, de fato, difunde sua própria vida em nós, ainda que a carne real de Cristo
não ingresse em nós”.
Pedro Caroli, de Lausana, acusou a Calvino de arianismo. A acusação ocorreu no
momento em que Calvino recomendou que o Conselho de Genebra celebrasse
mensalmente a Ceia do Senhor. Para um preparo melhor, nomeasse “certas pessoas de
boa conduta” para cada parte da cidade. Estas informariam à igreja quais os indignos que
deviam ser disciplinados até ao ponto da excomunhão. A recomendação também incluía a
imposição de um credo, possivelmente da autoria de Farel, a todo o povo, além da
adoção de um catecismo composto por Calvino. Tais sugestões visavam a formação de
uma comunidade modelo em Genebra. Ambos foram banidos de Genebra em 23 de abril
de 1538. Sua obra em Genebra parecia haver terminado em fracasso total.
Farel encontrou um pastorado em Neuchatel, onde fixou residência. Calvino, a
convite de Bucer, foi se refugiar em Estrasburgo. Pastoreou por três anos uma igreja de
refugiados franceses e foi preletor de teologia. A cidade lhe concedeu honrarias e o fez
um de seus representantes nos debates que Carlos V promoveu entre católicos e
protestantes. Com isso Calvino ganhou a amizade de Melanchthon e de outros
reformadores alemães. Em 1540 casou-se com Idelete de Bure, que seria sua
companheira até 1549, quando ela morreu. Em Estrasburgo escreveu seu Comentário
sobre Romanos, que foi o início de uma série que o colocou na primeira fila dos exegetas
reformadores.
Em 13 de setembro de 1541 Calvino retornava a Genebra. O partido favorável a
Calvino retornara ao poder e desejou seu retorno. Conseguiu assim prontamente a
adoção de sua nova constituição para a igreja genebriana.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Em 1542 houve um surto de Peste Negra em Genebra. Seu filho, Jacques,


morreu pouco após nascer, em 28 de julho. Nos seus últimos anos de vida, a saúde de
Calvino começou a vacilar. Sofria de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e pedras
nos rins. Calvino morreu em 27 de maio de 1564, em Genebra.
O grande diferencial da teologia de Calvino para a de Lutero é que Calvino
entendia que os ensinamentos bíblicos não serviam apenas para levar à salvação, mas
também para organizar a sociedade. Isto ficou claro em seu tratado Novas Ordens.
Posteriormente seu tratado foi adaptado pelo governo suíço como constituição.
Segundo o autor Lucas Banzoli (p.30) Calvino era abertamente defensor da
expiação universal, contra a expiação limitada que foi criada depois dele, a partir de
Teodoro de Beza, seu sucessor. O mesmo autor ainda afirma, baseando-se em escritos
de Calvino nas Institutas da Religião Cristã, que Calvino defendia explicitamente que
Deus determina o pecado e que ordenou a Queda, e que também defendeu a dupla
predestinação, em que Deus não apenas elege um grupo para si, mas também elege
outro para ser condenado. Embora ele defendesse a responsabilidade humana (ainda que
de forma contraditória), ele rejeitava o livre-arbítrio libertário e cria que tudo, incluindo os
desejos no coração do homem, provinha de Deus e não do próprio homem.
Gonzalez (1995, vol. 6, p. 117) nos informa que Calvino, seguindo o exemplo do
reformador Bucero, deu um meio termo ao assunto teológico mais controverso do século
XVI: A ceia. Para Calvino a presença de Cristo na comunhão é real, porém espiritual, o
oposto de Zuinglio, que defendia apenas um memorial (o Senhor não estaria presente na
terra, na Ceia, tão somente no céu) e de Lutero (que defendia a presença não apenas
espiritual, mas corporal do Senhor, ao ponto do corpo estar presente com a substância –
consubstanciação). Gonzalez ainda nos informa que Calvino reprovava a explicação de
Lutero que defendia que o corpo do Senhor descia do céu para se unir com os elementos
(consubstanciação), bem como reprovava a definição de Zuínglio que dizia que o Senhor
não estava presente na Ceia, esta era apenas um memorial. Calvino, segundo Gonzalez,
ensinava que na Ceia, pelo poder do Espírito Santo, os cristãos são levados ao céu, e
participam com Cristo de uma antecipação do banquete celestial.
Gonzalez ainda nos informa que no século XVI o principal ponto de destaque do
Calvinismo não era a predestinação, mas o assunto da Ceia do Senhor. Ele informa que
em 1536 Bucero e Lutero assinaram a Concórdia de Wittenberg, um documento que
pretendia eliminar as diferenças entre a posição que Bucero defendia, a qual Calvino
endossaria, e que Lutero defendia. Em 1549, Bucero, Calvino, os principais teólogos
suíços e vários outros do Sul da Alemanha firmaram o Consenso de Zurique, outro
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

documento semelhante. Além disso, Lutero havia dado boa acolhida às Institutas de
Calvino. Portanto, afirma Gonzalez, as diferenças entre os diversos reformadores com
respeito ao significado da Ceia não pareciam insolúveis. Entretanto, os seguidores dos
grandes mestres eram extremos, e em 1552 o luterano Joaquim Westphal acusou Calvino
de declarar-se campeão da posição de Lutero com respeito à Ceia.
Gonzalez ainda afirma (1995, vol. 6, p.119) que enquanto vivos não havia divisão
entre Lutero e Calvino no que diz respeito à predestinação, pois ambos a afirmavam.
Essa divisão ocorreu no meio protestante mais tarde, principalmente com Arminio.
No artigo “Calvino ensinou a expiação limitada?” o autor Leandro Antonio de Lima
conclui que Calvino nunca afirmou a expiação limitada pelo simples fato que essa questão
não estava em evidência em seu tempo. Ele considera os comentários de Strong e
Kendall sobre esse assunto na teologia de Calvino. Faz uma análise sobre a afirmação de
Strong de que Calvino teria morrido negando a eleição limitada que durante toda a vida
apoiou.

7.1 O CALVINISMO DE CALVINO E O CALVINISMO DE TEODORO DE


BEZA
Em relação à Expiação Limitada, os teólogos do Sínodo de Dort fizeram questão
de enfatizar que “a morte do Filho de Deus é a oferenda e a satisfação perfeita pelos
pecados, e de uma virtude e dignidade infinitas, e totalmente suficiente como expiação
dos pecados do mundo inteiro”5. Porém, ela não se estende eficazmente a todos os
homens do mundo, conforme o sínodo explicitou:
“Porque este foi o conselho absolutamente livre, a vontade misericordiosa e o
propósito de Deus Pai: que a virtude vivificadora e salvadora da preciosa morte de seu
Filho se estendesse a todos os predestinados, para, unicamente a eles, dotar da fé
justificadora, e por isso mesmo levá-los infalivelmente à salvação; ou seja: Deus quis que
Cristo, pelo sangue de sua cruz (com a qual firmou o Novo Pacto), salvasse eficazmente,
de entre todos os povos, tribos, linhagens e línguas, a todos aqueles, e unicamente a
aqueles, que desde a eternidade foram escolhidos para salvação, e que lhe foram dados
pelo Pai” (Os Cânones de Dort. São Paulo: Editora Cultura Cristã, II.VIII). Vemos
claramente uma teologia da Expiação Limitada adotada pelo Concílio de Dort. Afinal,
Calvino defendeu claramente essa postura em seus escritos?
Segundo o autor Leandro Antonio de Lima (leia o artigo “Calvino ensinou a
expiação limitada?”:

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

1. Calvino não fala sobre expiação limitada em seus escritos pois esse conceito
foi formulado posteriormente à sua morte;
2. Diz que Strong (Augustus Hopkins Strong) teólogo Batista, popularizou o
conceito de que Calvino mudou de posição no que se refere à Expiação quando chegou à
maturidade teológica e cronológica;
3. Em sua avaliação Strong ataca o Supralapsarismo (doutrina calvinista da
teologia antes da queda)o qual atribui a Beza e aos hipercalvinistas (crença de que Deus
salva os eleitos através de Sua soberana vontade com pouco ou nenhum uso dos
métodos de causar a salvação (como evangelismo, pregação e oração pelos perdidos),
ou seja, por sua soberania);
4. O autor conclui que Strong afirma que Calvino morreu negando a doutrina da
eleição (expiação limitada) que afirmou durante a vida;
5) O autor também analisa o teólogo R. T. Kendall, segundo o qual Calvino jamais
defendeu a Expiação Limitada, e que, ao contrário, poderia ser considerado um
universalista. Kendall defende que o calvinismo puritano modificou a teologia de Calvino.
Tal mudança teria sido idealizada por William Perkins. Quanto à teologia Calvinista com
respeito à Expiação limitada, o mesmo teólogo conclui que a Confissão de Fé de
Westminster é fruto dessa profunda modificação que remonta a Teodoro de Beza
(discordância de Calvino quanto à eleição antes do mundo), sucessor de Calvino em
Genebra. Kendall afirma que Calvino não cria na expiação limitada, e justamente porque
não cria, podia apontar Cristo para aqueles que desejavam ter a certeza da salvação;
6) O autor busca solucionar esse problema lendo os escritos de Calvino e chega à
conclusão de que, no entendimento de Calvino, Cristo através de sua morte buscou uma
remissão eficaz dos pecados dos eleitos, e, dessa forma, ele somente poderia ter morrido
pelos eleitos.A questão é que Calvino não disserta quem são esses eleitos;
7) O teólogo A. A. Hodge também concorda com o fato de que Calvino não definiu
com precisão seu pensamento sobre a extensão da Expiação;
8) O autor cita ainda um comentário de Calvino a Mateus 20:28: “Muitos é usado,
não para um número definido, mas para um amplo número, que Ele mesmo estabelece
sobre e contra todos os outros, e este é seu significado também em Romanos 5.15, onde
Paulo não está falando de uma parte da humanidade, mas da raça humana inteira”.

Com base nessa reflexão Calvino não quis criar uma teologia supralapsariana
(antes da queda). O consenso é que o ele “não queria saber mais do que convém, ou
seja, mais do que Deus revelou”.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Já Teodoro de Beza é tido como quem “avançou o sinal vermelho” traindo o


mestre.
Com a morte de Calvino, Teodoro Beza retrocede no método de ensino,
abandona o método indutivo de Calvino e introduz o método dedutivo aristotélico que
caracterizava o escolasticismo medieval. A análise das Institutas de Calvino leva os
teólogos a entenderem que Calvino oferece aos leitores do livro pistas para a expiação
limitada, mas não entra no mérito pela incerteza que advém da leitura e a grande dúvida
ao tentar ensinar aquilo que até em Paulo era um paradoxo.
Teodoro de Beza introduziu uma proposição teológica conhecida como
“supralapsarianismo, ou seja, antes da Queda”. Essa reflexão levou a expiação a ser
entendida como limitada, ou seja, Deus escolheu antes de todas as coisas, antes da
criação do mundo, antes da queda humana, quem seria salvo e quem seria condenado.
Portanto os “cinco pontos do Calvinismo” TULIP em inglês, não são
necessariamente de Calvino mas de Teodoro de Beza.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

8. ARMINIANISMO

Na última década do século XVI e nos primeiros anos do XVII, a igreja reformada
nos Países Baixos (as Províncias Unidas) foi dilacerada por uma amarga controvérsia
centrada nas questões da predestinação e da adequada relação entre igreja e estado.
De um lado estavam o grupo dos calvinistas radicais (supralapsarianos),
defendendo a doutrina da predestinação incondicional por Deus dos eleitos e dos
réprobos desde antes da fundação do mundo, e afirmando o direito da igreja governar-se
completamente, embora buscando o estado para proteção e manutenção. De outro lado
estava o grupo dos Arminianos, que defendiam que a predestinação diz apenas ao
homem em seu estado de queda ou pecaminoso, não ao homem enquanto não criado, e
que o decreto divino de eleição e condenação está baseado no conhecimento prévio que
Deus tem do comportamento das pessoas (uma leitura do Calvinismo infralapsariano
baseado na presciência divina). Enquanto os Calvinistas não aceitavam interferência dos
magistrados nos assuntos espirituais, os Arminianos julgavam que estes poderiam emitir
leis relativas à política eclesiástica e podiam participar na nomeação e supervisão de
ministros.
O líder do Arminianismo era Jacó Harmenszoon (Jacobus Arminius, (1559-1609).
Arminius nasceu na Holanda. Estudou nas universidades de Marburgo e Leyden. Em
1587 ingressou em um pastorado que durou 15 anos em Amsterdã, conquistando
notoriedade como pregador e pastor de espírito irênico. Em 1603 foi escolhido para
suceder o estimado Franciscus Junius como professor de teologia em Leyden, Países
Baixos, onde permaneceu até a morte. Calvista desde o nascimento, ensinava na
Universidade de Leyden junto com outro renomado professor Calvinista conhecido como
Gomarus. Convidado por Gomarus a preparar uma refutação contra os pensamentos
anticalvinistas do teólogo Calvinista Dirck Volkertsz Coornhert, ao preparar sua
argumentação para contestar Coornhert, Arminio se convenceu do contrário, passando a
definir os primeiros pontos que se tornaram a base da Teologia Arminiana. Tal
argumentação seria duramente contestada por Teodoro de Beza.
Arminius, em contrapartida à doutrina da predestinação eterna defendida pelos
Calvinistas supralapsarianos, ensinava que Deus nomeou Jesus Cristo como o Redentor
e Salvador do pecado, e que os crentes são predestinados para a salvação em Jesus
Cristo. Dai a predestinação não ser absoluta (um decreto incondicional de Deus), mas
condicional à sua aceitação ou rejeição de Cristo. Ou seja, Deus determina salvar aqueles
a quem prevê que irão crer em Cristo e perseverar na fé, enquanto deseja condenar
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

aqueles a quem prevê que não irão crer em Cristo e perseverarão na descrença. A
presciência de Deus é, portanto, a base da predestinação, e não o contrário (pensamento
próximo do Calvinismo infralapsariano, teologia em que Armínio cresceu e se
desenvolveu). Em sua teologia abriu-se espaço, não existente na teologia Calvinista, para
a escolha humana (onde rompe com o Calvinismo infralapsariano), para um ato de crer da
parte das pessoas que são salvas e, da mesma forma, para um ato de rejeitar a oferta de
salvação oferecida por Deus. Para Armínio, todos são eleitos em Cristo, e como tal, são
recipientes da graça, recebendo a capacidade de crer na obra redentora de Cristo. O ato
de crer, entretanto, somente é possível por causa da graça divina, não podendo ser
considerada meritória.
Fora de tal graça, o livre arbítrio humano está aprisionado ao pecado e assim,
abandonado a si mesmo, resiste ao Espírito Santo e rejeita a graça de Deus oferecida no
Evangelho. Esta noção de “graça cooperante – nem só Deus, nem só o homem, são os
dois cooperando para o mesmo fim” não tinha lugar no calvinismo, mas era singular ao
“sinergismo” exposto por Filipe Melanchthon posteriormente (No conceito de Melanchton
três elementos concorriam para se efetivar a salvação: o Espírito Santo, a verdade bíblica
e a vontade, sendo que o Espírito é a causa eficiente, a Palavra é o meio para alcança-la,
mas, depois de tudo, sem o exercício da vontade, o homem não a consegue. É o que se
chama de “sinergismo”.
Depois da morte de Arminius, em 1609, a direção do movimento “arminiano”
coube a seu amigo íntimo e pregador da corte, João Uitenbogaert, e a Simão Biscop,
discípulo e amigo de Arminius, que pouco depois se tornaria professor de teologia em
Leyden.
João Wesley, séculos depois, iria se inspirar na doutrina arminiana, ao reformar a
“Inglaterra reformada”.
Walker (2006, p. 634) nos informa que em 1604 Arminio travou uma áspera
disputa com seu colega teólogo, Francisco Gomarus, representante estremado da ideia
“supralapsariana” da predestinação, contrário à ideia “infralapsariana”. Essas ideias dizem
respeito à ordem do decreto divino da predestinação. Na primeira ideia, Deus decretava
eternamente a eleição e a não eleição das pessoas e então permitia a queda como um
meio pelo qual esse decreto absoluto pudesse ser executado. Na segunda ideia Deus
permitia que a queda ocorresse e apenas então decretava a eleição e a não eleição das
pessoas. Calvino, segundo Walker, não trabalhou esses temas, não oferecendo nenhuma
ordem dos decretos. Ele atribui a Teodoro de Beza, sucessor de Calvino, a definição da
ordem supralapsariana. Brian (2018, p. 113) esclarece que esse é precisamente o ponto
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

em que divergiam Beza e Armínio: enquanto Beza definia a predestinação na lógica dos
decretos divinos, Armínio a definia na pessoa e obra de Jesus Cristo.
Na disputa que Arminio travou com Gomarus, defensor da ideia supralapsariana
da predestinação, ele se posicionou de forma nem supralapsariano nem infralapsariano. A
seu ver, a primeira ideia fazia de Deus o autor do pecado. Ele insistia que Deus nomeou o
Senhor Jesus Cristo como o Redentor e Salvador da humanidade pecadora, e que os
cristãos são predestinados para a salvação em Jesus Cristo. Walker nos diz que Arminio
dizia que o primeiro e absoluto decreto de Deus teve Cristo somente como seu objeto, e a
predestinação tem que ser discutida apenas nesse contexto cristológico. Dai a
predestinação das pessoas não ser absoluta, mas condicional à sua aceitação ou rejeição
de Cristo. Em sua conclusão, Deus determina (ou predetermina) salvar aqueles que irão
crer em Cristo, enquanto deseja condenar aqueles a quem prevê que não irão crer em
Cristo e perseverarão na descrença. A presciência de Deus é, portanto, a base da
predestinação, e não o contrário.
Nesse contexto Arminio deixava espaço para a liberdade humana de crer ou
rejeitar a graça de Deus. No entanto, segundo Walker, Arminio não trabalhou a liberdade
humana da mesma forma que os pelagianos (que colocam no ser humano a capacidade
final de escolha ao não serem afetados pelo pecado original. Para estes, Adão apenas
deu um mau exemplo para a humanidade). Ele ensinava que o ato de crer somente é
possível por causa da graça divina, não podendo ser considerada meritória. Fora de tal
graça, o arbítrio humano está aprisionado ao pecado e assim, abandonado a si mesmo,
resiste ao Espírito Santo e rejeita a graça de Deus oferecida no Evangelho. Essa era a
doutrina da “graça cooperante”, que mais tarde João Wesley chamaria de “graça
preveniente” (termo comum desde Agostinho, mas nesse autor teve conotação
Monergista e não Sinergista).
Essa doutrina da “graça cooperante” não tinha espaço no Calvinismo. Ela era
singular à doutrina do “sinergismo” que passou a ser defendido por Filipe Melanchton, que
deu ao Luteranismo o status de uma religião que crê no livre arbítrio (claramente opondo-
se às ideias fundamentais de Lutero).
Depois da morte de Arminio, em 1609, seu sucessor, João Uitenbogaert (1557-
1644), junto com quarenta e dois ministros, redigiram uma declaração de sua fé intitulada
“Remonstrance” a qual deu ao grupo o nome de “Remonstrantes”. Walker lista as
oposições do documento: 1) contrariando a doutrina calvinista da predestinação absoluta,
ela ensinava uma predestinação baseada na presciência divina do uso que as pessoas
fariam dos meios da graça; 2) combatendo a doutrina de que Cristo morreu apenas pelos
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

eleitos, afirmava que ele morreu por todos, ainda que apenas os cristãos recebam tal
benefício. Concordava com o Calvinismo na negação da capacidade de as pessoas
chegarem ao arrependimento e a fé por si mesmas – tudo depende da graça; 3) Em
oposição à doutrina da graça irresistível, ensinavam que a graça pode ser resistida; 4)
Opunha-se à perseverança dos santos do Calvinismo, defendendo que era possível que
as pessoas pudessem perder a graça uma vez recebida se não perseverassem; 5) não
havia nenhuma forte discordância quanto à depravação total dos seres humanos, pois os
arminianos concordavam com o calvinismo em que, sem a assistência da graça divina, o
homem não pode crer em Deus. A discordância estava quanto à eleição parcial, não tanto
na questão da depravação.
Os arminianos foram acusados de pelagianismo. Claramente não eram, como
afirmam os historiadores, como Walker.
Mauricio de Nassau era Calvinista, e como bom político, tinha a seu lado os
príncipes calvinistas. Em julho de 1618 ele utilizou a milícia para efetuar um golpe de
estado na principais cidades da Holanda, substituindo os magistrados simpatizantes dos
remonstrantes por calvinistas.
Um sínodo nacional foi convocado pelos Estados Gerais, já sem a presença
massiva dos arminianos. A assembleia se reuniu em Dort (atual Dordrecht) de 13 de
novembro de 1618 a 9 de maio de 1619. Além de representantes dos países baixos
estavam representantes da Inglaterra, Escócia, Palatinado, Nassau, Hesse, Bremen e
Suiça. Os remonstrantes estavam presentes apenas como acusados, não tendo assento.
O sínodo de Dort condenou os arminianos e adotou noventa e três “cânones”
rigorosamente calvinistas, que juntamente com a confissão Belga e o Catecismo de
Heidelberg tornou-se a base doutrinária da Igreja reformada Holandesa. Em 23 de abril de
1619 foram adotadas cinco séries de artigos que afirmavam especificamente os “cinco
pontos” do calvinismo em réplica ao arminianismo: 1) eleição absoluta, incondicional; 2)
expiação cuja eficácia é limitada aos eleitos; 3) depravação total do homem natural; 4)
irresistibilidade da graça; 5) perseverança final dos eleitos.
Em consequência deste sínodo, os arminianos foram proibidos de pregar e muitos
fugiram do país. Quando da morte de Maurício de Nassau, em 1625, e a ascensão de seu
irmão Frederico Henrique, que favorecia os remonstrantes, as medidas contra eles
ficaram apenas no papel. O grupo cresceu nos países baixos, e posteriormente teve
grande influência na Inglaterra, devido a João Wesley.
Tiago Armínio nunca sistematizou suas doutrinas. É difícil, mesmo, julgar a quem
dar a primazia e crédito, se a Simão Episcópio, autor da “primeira confissão de fé
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

arminiana”, constituída de vinte e cinco capítulos, e “Apologia e Institutiones Theologicae”,


ou se a Philip Van Limborch, professor no Ginásio arminiano de Amsterdã e redator da
mais completa exposição da doutrina de Armínio, em sua “Theologia Christiana,” ou,
ainda, a Stephen Curcellaeus ou a John Le Clerc.
Ao longo dos tempos os calvinistas ganharam nomes como Charles Spurgeon,
John Piper e Paul Washer. Os arminianos ganharam nomes como John Wesley, C.S.
Lewis, Norman Geisler e Billy Graham. John Wesley escreveu: “A graça de Deus é livre
em todos e livre para todos”.
O arminianismo foi além dos Países-Baixos e não se limitou, simplesmente, ao
campo teológico. Sua influência calou na Filosofia, na Ciência do Direito, na Política e no
terreno da prática, prestando desse modo valiosíssima contribuição à humanidade.
Hastings adverte que nem sempre o fez diretamente, mas serviu-se de um meio. Foi o
caso, por exemplo, da Filosofia. O veículo que lhe levou o arminianismo foi o pensamento
religioso. E explica-se: durante o século XVI a atividade teológica predominou sobre a
Filosofia, dando-se o contrário no século XVII, porém a base estava no XVI. E o
arminianismo contribuiu com a sua parte. Realçando a capacidade do homem, podia mais
facilmente aliar-se à investigação, à crítica e, enfim, ao avanço científico. Por isso vemos
a filosofia cartesiana ser perseguida na Holanda pelos calvinistas ortodoxos, ao passo
que o arminianismo a favorecia, (Hastings - Encycl. Of Relig. And Ethics - Vol I: pág. 807).
Principais ensinos de Armínio listados por CHAMPLIN (2002, p. 286-287):
1. O conhecimento que Deus tem dos atos futuros dos livres agentes não é a
causa desses atos. O fato que Deus prevê não é a causa dos acontecimentos.
2. Os decretos de Deus repousam sobre Sua presciência, pelo que a eleição é
baseada na fé prevista, e a reprovação é baseada na incredulidade e na desobediência
dos incrédulos.
3. O homem predomina sobre criaturas inferiores porque há nele a imagem de
Deus.
4. O pecado consiste em atos da vontade, que se tornou rebelde.
5. A pecaminosidade é por nós herdada de Adão, mas sua culpa não é imputada
aos homens.
6. A reprovação do homem, resultante da queda, não é total.
7. Portanto, o homem reteve a faculdade de autodeterminação, e sua vontade
pode inclinar-se para o bem, não somente para o mal.
8. A expiação é universal, mas a vontade pervertida pode rejeitar essa provisão.
9. A graça é uma só: não há graça comum que a distinga da especial.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

10. Graça universal e suficiente segue a pregação do evangelho; todos podem


reagir favoravelmente ou não, segundo a vontade de cada um. A graça não é irresistível
em qualquer caso.
11. A regeneração origina-se no arrependimento e na fé.
12. A vontade humana é uma das causas da regeneração.
14. A fé é uma boa obra humana, base de aceitação diante de Deus.
15. A justiça de Cristo não é imputada ao crente.
16. Nesta vida, o crente pode chegar à perfeição impecável, conformando-se à
vontade divina, com a cooperação de sua vontade.
17. O indivíduo pode cair da graça e perder a salvação que antes possuía.
18. O amor é o atributo supremo de Deus, a essência mesma de Seu ser.
19. O alvo da criação é a felicidade (eudaimonismo).
20. O homem foi criado naturalmente como um ser moral.
21. A expiação é rectoral ou governamental, o que significa que a expiação não é
estritamente vicária e penal, e, sim, uma realização simbólica que visa a salvaguardar os
interesses do governo moral de Deus, ao mesmo tempo que abre a possibilidade
de salvação, alicerçada sobre a obediência evangélica.
22. Plena certeza de salvação não é possível nesta vida, exceto mediante a
revelação ou iluminação individuais.

Alguns desses pontos listados por Champlin, como os itens 6 e 14, parecem
controversos dentro dos ensinos do próprio Armínio. Talvez Champlin tenha cometido
algo que se tornou bem notável na história: atribuir os pensamentos dos arminianos, ou a
teologia Arminiana, dos seguidores do Armínio (os quais claramente foram se
distanciando dos ensinos originais de Armínio) ao próprio Armínio. Pelo fato de os
Arminianos terem sido condenados como hereges seus ensinos tiveram muita dificuldade
no princípio e isso fez com que a verdadeira teologia de Armínio nunca fosse
verdadeiramente conhecida mas meramente rotulada como uma teologia humana ou
humanista.
O autor Rustin Brian fez um bom estudo da vida e obra de Armínio. Em sua obra
“Jacó Armínio: o homem de Oudewater” ele destacou algumas características importantes
da Teologia de Armínio:
1) É um homem “atrás de um adjetivo”. Dele se fala mais as acusações que
contra ele e seus discípulos foram proferidas pelos Hiper Calvinistas no século
XVII do que realmente sua Teologia;

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

2) A salvação é um movimento dependente da graça divina. Deus age na vida do


ser humano com Sua graça permitindo assim que o ser humano se movimente
em direção a Ele (podendo movimentar-se favoravelmente ou resisti-lo). Tal
movimento nunca será arbitrário e nem limitado;
3) Armínio foi constantemente acusado de ser Católico Apostólico Romano
devido à sua teologia da Graça e compreensão da liberdade humana;
4) Em seu tempo, Armínio tinha como adversários o Catolicismo Romano, a
crescente Filosofia Humanista e o crescente Calvinismo que resultou na Igreja
Reformada;
5) Como muitos de seu tempo, Armínio cria que a peste que dizimou muitos de
seu povo era um castigo divino pelo pecado humano. Mais tarde, essa
concepção teve que ser reformulada pois não se encaixava em sua teologia
da graça.
6) De forma alguma Armínio afirmava que a salvação era produto de escolha
humana, antes, dependia do agir da graça divina;
7) A predestinação não era, ensinava, nem teórica nem abstrata, mas
inteiramente cristológica;
8) Seu livro “declaração de sentimentos” foi escrito como resultado do conflito
que culminou no sínodo de Dort. Uma de suas expressões é que a
predestinação não é a doutrina central da fé cristã, e que essa só será bíblica
se for baseada na cristologia (que é a doutrina central da fé cristã);
9) Dentre as questões teológicas trabalhadas por Armínio estão a unidade, o
amor, a verdade, a bondade, a beleza, a onipresença, onipotência e
onisciência, a simplicidade, a infinitude, a imutabilidade e a impassibilidade de
Deus;
10) Armínio trabalhou a questão da liberdade humana mais em termos de
“vontade libertada” do que propriamente de “livre arbítrio”;
11) O autor afirma que a teologia de Armínio é mais cristológica que a teologia do
próprio Calvino, de seus discípulos, mas menos que a de Lutero;
12) A predestinação e a eleição dependem de Jesus, não dos decretos divinos.
Essa teologia o aproximou mais da Igreja Católica Apostólica Romana que dos
Reformados;
13) Armínio, afirma o autor, distanciou-se dos ensinos de Pelágio quanto à
Soteriologia. A escolha humana em Pelágio se torna a fonte da salvação. Em
Armínio, a condenação é fruto da escolha humana, porém, a salvação
depende da graça de Deus;
14) O pré conhecimento divino inclui o conhecimento de todos que serão salvos,
mas para Armínio, esse conhecimento não guia, nem força ou destina
qualquer pessoa, seja à salvação ou à condenação;
15) Para Armínio, todos são eleitos em Cristo e, como tal, todos são recipientes da
graça e recebem a capacidade de responder positivamente a Deus, bem como
de rejeitá-lo;
16) Principais ensinos de Pelágio citados pelo autor que diferem da Teologia de
Armínio: 1) mesmo se Adão não tivesse pecado, teria morrido; 2) O pecado de
Adão prejudicou apenas a ele mesmo; 3) as crianças nascem no mesmo
estado de Adão antes da queda; 4) a raça humana não morre por causa do
pecado de Adão, nem ressuscita por causa da ressurreição de Cristo; 5) A lei
mosaica é um guia tão bom para o céu quanto o evangelho; 6) mesmo antes
da vinda de Cristo ao mundo havia homens sem pecado;
17) O autor diferencia a teologia Calvinista da Arminiana com a seguinte
expressão: “a teologia do calvinismo surge, natural e adequadamente, como
uma teologia do povo de Deus no seio da casa de Deus. A teologia arminiana
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

surge de igual maneira de um modo natural e adequado como uma teologia da


missão para o descrente”;
18) A predestinação não foi entendida por Armínio dentro da lógica dos decretos
divinos como no calvinismo supralapsarianismo, mas na pessoa e obra de
Jesus. È, portanto, uma predestinação cristológica;
19) O sínodo de Dort condenou o Arminianismo como herege, logo, tanto na
Holanda como em toda a Europa essa teologia ficou mal vista e dai surgiu
todo o adjetivo de que o autor tenta desmistificar em sua obra.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS DO ARMINIANISMO POR FTML FAC. TEOL.


METODISTA (5m, 14s)- https://www.youtube.com/watch?v=9o2_1iuZbbw
2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CALVINISMO (6m, 54s) -
https://www.youtube.com/watch?v=tA16Yz5zXTk
3. Calvinismo fácil de se entender! Entrevista com o Rev. Augustus
Nicodemus Lopes: (6m, 59s) https://www.youtube.com/watch?v=QsOW1enLBLo
4. Predestinação x Livre Arbítrio Augustus Nicodemus calvinismo ou
arminianismo – Rev. Augustus Nicodemus Lopes (10m, 21s):
https://www.youtube.com/watch?v=w-39tTnSSog
5. O Arminianismo Wesleyano - por FTML Faculdade de Teologia Metodista
Livre (5m, 47s): https://www.youtube.com/watch?v=dRHZJvCIQNM
6. Se o calvinismo esta errado como entender Atos 13.48? (DEBATE ENTRE
UM CALVINISTA (Pr. Thomas Tronco dos Santos – Igreja Batista) um ARMINIANO (Pr.
Elias Soares de Moraes – Igreja Assembléia de Deus) e um SEMINARISTA (Marcos
Cléber dos Santos Siqueira – Seminário José Manuel da Conceição). 1h 20m.
https://www.youtube.com/watch?v=HaWtv6W13sQ.
7. Predestinação à luz da Bíblia. Silas Malafaia. (13m, 16s).
https://www.youtube.com/watch?v=OsDnFNHIAWo.
8. ANEXO: A RELEVÂNCIA DA TEOLOGIA DE CALVINO PARA O SÉCULO
21. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/7037.html>.

9. ANEXO: OS CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO. Um breve resumo de todo


o conteúdo desta unidade.

10. ANEXO: ARMÍNIO E SUA IMPORTÂNCIA NA TEOLOGIA PENTECOSTAL.


Um resumo da controvérsia envolvendo o Arminianismo e o Calvinismo, e a ascensão do
Arminianismo por meio de João Wesley.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

11. ANEXO: Calvino ensinou a expiação limitada? Escrito por Leandro Antonio de Lima.
Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/expiacao_limitada/Calvino_Expiacao_Leandro.pdf > .

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 4:

1) Como começou a reforma na Suíça?


2) Por que Farel teve sucesso na reforma, se até expulso da França foi?
3) Por que Genebra oficializou o protestantismo?
4) Qual foi a primeira obra de Calvino? Ela já tratava as questões teológicas?
5) Qual importância você percebeu que Lutero teve na vida de Calvino?
6) A primeira obra teológica de Calvino foi prefaciada a quem? Por quê?
7) No tocante a obras, assunto tão importante na época. O que você entendeu?
Qual a diferença entre a conceituação deste assunto pela Igreja Católica Apostólica
Romana e por Calvino?
8) Quais sacramentos Calvino reconhecia?
9) Com relação à discussão teológica sobre a Ceia do Senhor entre Lutero e
Zuínglio, como Calvino se posicionou? O que ele defendeu com relação à Ceia do
Senhor?
10) Qual o diferencial de Calvino a outros reformadores no que diz respeito à sua
visão política?
11) Cite as obras sociais de Calvino (com base no conteúdo da aula ou em
bibliografia de sua escolha).
12) Qual a grande diferença da teologia de Calvino para a teologia de Lutero?
13) A qual escola de Teologia Arminio pertencia? O que o levou a contestar a
teologia Calvinista? Arminio defendia o livre arbítrio da mesma forma que Pelágio?
Explique.
14) Como a predestinação era vista pelos calvinistas e como era visto por Arminio
e os armianos?
15) Quais os principais ensinos de Armínio que por fim levou o calvinismo a
declarar os “5 pontos do calvinismo”. Cite os 5 pontos do Calvinismo.
16) Quem foi o responsável pela proibição do Arminianismo nos Países Baixos?
17) Por qual razão, mesmo condenados a não pregar, os arminianos voltaram a
pregar nos Países Baixos?
18) Em que país os arminianos tiveram maior sucesso? Através de quem?
19) Os cinco pontos do Calvinismo podem ser atribuídos a Calvino ou devem ser
atribuídos a Teodoro de Beza? Por que?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

20) Quem defendeu abertamente a teologia da Expiação limitada: Calvino ou


Teodoro de Beza? Em que implica essa teologia na vida prática das pessoas? O que
Calvino defendia sobre a eleição?
21) Cite o argumento de Armínio contra a doutrina calvinista da predestinação que
mostre, segundo o entendimento dele, mostra o erro da direção dessa doutrina à luz da
Bíblia (questão central).

9. A REFORMA ESCOCESA

Segundo Walker (2006, p. 583) no início do século XVI a Escócia era um país
pobre e atrasado. Suas condições sociais eram feudais. Seus reis tinham pouco poder,
sua nobreza era turbulenta, sua igreja era relativamente rica em terras, possuindo cerca
de metade do país, mas as posições eclesiásticas eram utilizadas em grande parte para a
colocação dos filhos mais moços das casas nobres e, assim, muito das propriedades
eclesiásticas estava nas mãos dos nobres leigos. Os estabelecimentos monásticos
estavam, em geral, em declínio.
A Escócia temia nesta época ser dominada e anexada pela Inglaterra. Aliou-se à
França para ter força contra a Inglaterra. Tiago V, sobrinho de Henrique VIII casou-se com
uma filha de Francisco I, e depois que ela morreu, com Maria de Lorena, da poderosa
família católica francesa dos Guise. O objetivo claro era ter a França como completa
aliada.
Pouco após a reforma eclodir na Alemanha houve manifestações protestantes na
Escócia. Patrício Hamilton pregou a doutrina Luterana e foi queimado em 29 de fevereiro
de 1528. Houve outras execuções em 1534 e 1540. Em 1543 o Parlamento Escocês
autorizou a leitura e tradução da Bíblia, como consequência da influencia inglesa. O
principal entre os pregadores desta época foi Jorge Wishart, queimado por ordem do
cardeal Beaton em 2 de março de 1546. Em 29 de maio o próprio Beaton foi brutalmente
assassinado, em parte por vingança pela morte de Wishart e em parte por hostilidade à
sua política francesa.
Em 1547 levantou-se um líder aos refugiados pregadores da reforma, que se
escondiam da perseguição imposta na Escócia. Era João Knox, que viria a ser o herói da
reforma escocesa. Foi levado para a França onde por dezenove meses sofreu o destino

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

cruel de um escravo de galé. Quando solto, dirigiu-se para a Inglaterra em 1549, então
sob governo protestante em nome de Eduardo VI. Ali tornou-se um dos capelães reais e
ajudou na elaboração dos Quarenta e dois Artigos da Igreja reformada da Inglaterra. A
subida de Maria Tudor ao trono o obrigou a fugir em 1554. Dali fugiu para Genebra, onde
tornou-se ardente discípulo de Calvino, trabalhando na versão genebriana da Bíblia em
inglês, tão querida mais tarde pelos puritanos ingleses.
Ele tornou-se Capelão Real na Inglaterra em 1551 e tomou parte na revisão do
Segundo Livro de Orações de Eduardo VI e ajudou a elaborar os Quarenta e dois Artigos
da Igreja reformada da Inglaterra. Em 1552 pregou perante o rei Eduardo VI um sermão
contra o artigo 38, que obrigava a recepção da ceia de Joelhos (chamou isso de
idolatria).Cranmer chamou a esse artigo “artigo negro”.
Para grande parte dos nobres e do povo da Escócia a dependência à França era
tão odiosa quanto a submissão à Inglaterra. Protestantismo e independência nacional
pareciam estar unidos, e nessa dupla luta Knox seria o líder. Em 1555 ele voltou a seu
país, pregando ali seis meses. A situação, porém, ainda não estava madura para a revolta
e Knox retornou a Genebra para pastorear a igreja de refugiados de fala inglesa. Ele
plantou semente frutífera. Em 3 de dezembro de 1557 alguns nobres protestantes e
antifranceses na Escócia fizeram um pacto para “estabelecer a mui bendita Palavra de
Deus e sua congregação”.
Em 2 de maio de 1559 Knox retornou para a Escócia. Uma revolta causada pela
morte de Henrique II da França piorou muito a situação dos reformadores na Escócia. A
revolução terminou com o apoio inglês, mas sem comprometer a independência da
Escócia, e Knox fora seu inspirador. Em 17 de agosto de 1560 foi adotado como credo do
reino da Escócia uma confissão de fé calvinista, em sua maior parte preparada por Knox.
Uma semana mais tarde o mesmo parlamento aboliu a jurisdição papal e proibiu a missa,
sob pena de morte na terceira reincidência.
Algumas ações desejadas ou praticadas devido a Knox: queria que a igreja, a
educação e os pobres fossem mantidos pelas propriedades da antiga igreja; as práticas
sem apoio das Escrituras foram eliminadas; o domingo foi o único dia santo que
permaneceu.
A carreira de Knox chegou ao fim em 24 de novembro de 1572, quando morreu
aos 58 anos de idade. Influenciou não apenas a religião, como o próprio caráter da nação,
mais que qualquer outra pessoa na Escócia. Sua obra foi continuada por André Melville,
que reformou o ensino nas universidades de Glasfow e St. André. Foi um vigoroso

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

defensor contra os abusos episcopais e reais de Tiago VI, que o obrigou a passar os
últimos 16 anos de sua vida no exílio.
Segundo Gonzalez (2011, Vol. 6, p. 140) o sucesso da reforma na Escócia está
ligado intimamente aos ideais de liberdade política do País. Ele informa que os
protestantes apelaram para a Inglaterra no momento em que a Escócia se aliava à
França, com vários soldados franceses em território Escocês, dizendo que se os católicos
conseguissem esmagar as forças protestantes na Escócia o País cairia em mãos
católicas e seria totalmente dominado pela França, colocando em perigo a coroa Inglesa.
A rainha Isabel (Elisabeth I) decidiu então, em 1560, enviar tropas inglesas à Escócia,
fazendo os franceses retornarem a seu País. Com isso tanto os ingleses quanto os
franceses decidiram deixar os Escoceses escolherem seu próprio destino. Nesta visão, o
ideal revolucionário de independência, seguido de apelo ao povo com a consequente
adesão dos mesmos, é a razão que levou a um protestantismo nacional na Escócia.
Gonzalez também informa que a rainha Maria Stuart regressou à Escócia e
ocupou o trono como herdeira de seu pai. Ela era católica, mas não conseguiu opor-se
aos protestantes. Knox e a rainha Stuart sempre se opunham. A rainha insistia em
celebrar a missa em sua capela privada, e o reformador bradava contra sua “idolatria”
chamando-a de “nova Jezabel”.
Algumas características da Igreja Presbiteriana Escocesa (na Escócia surgiu o
termo “Igreja Presbiteriana”), como consequência do trabalho de John Knox: a) erradicou
a influência do culto católico apostólico romano; b) recusou a veneração de santos,
relíquias e figuras ornamentais; c) acabou com determinadas formas de divertimento
coletivo como o carnaval ou as celebrações de maio; d) ficou estritamento proibido o
trabalho aos domingos (pessoas podiam ser presas por depenar uma galinha no
domingo); e) os jogos de cartas foram proibidos; f) fornicação passou a ser severamente
punido, até com exílio; g) adultério foi punido com pena de morte.
O Presbiterianismo é o modelo de Igreja que Calvino sonhava implantar para a
Igreja. Esse sonho foi incutido no coração de John Knox pelo próprio Calvino. A grande
diferença se encontra na visão da relação estado/igreja: Calvino entendia que o Estado
não deveria interferir nas decisões da Igreja. O modelo Episcopal da Igreja Católica
Apostólica Romana, através de sua relação com o Estado, dava a esse o direito de
nomear os bispos da Igreja. Calvino entendia que o modelo bíblico de governo da Igreja
era o Presbiteriano, ou seja, a Igreja nomeia seus líderes, não o Estado, havendo assim
uma autonomia da Igreja em relação ao Estado. Esses líderes, no modelo presbiteriano,
iriam representar toda a congregação (Igreja). Logo começaram a surgir os movimentos
75
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

que não iriam concordar com nenhum dos dois modelos de governo de Igreja, dizendo
que o modelo mais parecido com o bíblico seria o governo Congregacionalista, ou seja, a
congregação toma as decisões eclesiásticas em uma assembleia, e não seus líderes
eleitos. Assim cada congregação local seria autônoma e independente, não precisando se
submeter a uma liderança geral. As origens do Congregacionalismo são historicamente
atribuídas ao Puritanismo e nos separatistas ingleses. Robert Browne é tido como o
primeiro teórico do sistema congregacional.
O tratado de união de 1707 uniu os reinos da Escócia e da Inglaterra (Reino
Unido). Ainda assim a Igreja da Escócia continuou Presbiteriana. Os escoceses chamam-
lhe informalmente de ”The Kirk”. Ela possui comunhão com a Igreja Anglicana, mas em
teoria não pode ser confundida com a Igreja da Inglaterra, da Irlanda (que posteriormente
aderiu ao tratado de 1707) ou a Igreja Episcopal Escocesa.

APRENDENDO COM JOHN KNOX

É sabido que em seu tempo em Newcastle e Berwick, sob a jurisdição da Igreja


da Inglaterra, ele simplesmente deixava de lado a aplicação em sua congregação dos
Livros de Oração Comum de 1548 e 1549. Ele não pregava contra, mesmo
discordando deles, simplesmente não os aplicava.Lloyd-Jones chama a tenção para o
fato de que não precisamos ficar dizendo o que vamos fazer e assim chamando a atenção
para a questão e causando polêmica, pois muitas vezes na vida pastoral, fazer em
silêncio é mais importante do que falar. Fonte:
<http://www.monergismo.com/textos/biografias/knox-reformador_helio.pdf>.

Knox não hesitava em ir ao púlpito e pregar abertamente contra aquilo que não
concordava com base nas Escrituras. Também várias vezes usou da pregação para
refrear a cobiça dos lordes pelas terras da Igreja católica desapropriadas na Escócia.
Knox nos ensina que a pregação da palavra tem de ser a exposição bíblica e que essa
exposição não pode estar alienada do mundo ao seu redor, antes deve falar a ele partindo
da Escritura como única regra de fé e conduta.
Knox nos dá um exemplo primoroso do que seja uma teologia engajada, que
busca aplicar os preceitos bíblicos em todas as áreas da vida cristã privada e pública. A
rainha da Escócia declarou que temia mais as orações e pregações de John Knox, do que

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

dos soldados e dos canhões da Inglaterra. Seu sermão tinha a capacidade de colocar o
temor de Deus nas pessoas.
Seu senso da total dependência humana da graça divina, que compunha o seu
pensamento e sua vida tornaram-se “o centro da vida das igrejas reformadas durante toda
a sua história”. Fonte: <http://www.monergismo.com/textos/biografias/knox-
reformador_helio.pdf>.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. História breve da Reforma na Escócia: Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=H5_bB5J4iPc>.
2. Reforma na Escócia: História da Igreja 42/56 - John Knox e a Reforma na
Escócia: Por Eduardo Willians Bandeira de Melo.
https://www.youtube.com/watch?v=m9oCtxnukw8. 12m10s.
3. Reforma na Inglaterra: História da Igreja 41/56 - Reforma na Inglaterra: Por
Eduardo Willians Bandeira de Melo. https://www.youtube.com/watch?v=KiFQ5I3BveA.
16m 30s.
4. Novo Telecurso - Ensino Médio - História - Aula 20 (1 de 2) -
https://www.youtube.com/watch?v=YOpqSbfm8Mo. 6m 34s. (Este vídeo traz uma visão
da importância do Imperador Carlos V, envolvido em quase todos os conflitos católico-
protestantes do século XV, e abrirá a visão sobre o protestantismo nas Américas).
5. Novo Telecurso - Ensino Médio - História - Aula 20 (2 de 2)
https://www.youtube.com/watch?v=fwDi6wQY2Cs (continuação do vídeo anterior, que traz
uma visão importante do fracasso da Reforma na França).
6. Artigo: John Knox, o reformador da Escócia.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 5:

1) Por que se deu a Reforma na Escócia?


2) Por que o credo calvinista foi ensinado na Escócia, se João Calvino era da
França e sua doutrina ganhou espaço na Suiça?
3) Identifique uma ação social planejada por Knox, no decorrer da reforma.
(Assistir o vídeo “reforma da Escócia” lhe ajudará na resposta).
4) Qual foi a importância de Knox na Escócia, além da religião.
5) Qual a diferença entre os sistemas de governo Episcopal, Presbiteriano e
Congregacional?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

10. A ESPANHA E O PROTESTANTISMO

Durante o reinado de Carlos V foram poucos os espanhóis que se sentiram


atraídos pelo Protestantismo, e a maioria preferiu viver no exílio. No início do reinado de
Felipe II as autoridades perceberam que as ideias Luteranas tinham penetrado
profundamente no País.
João de Valdez (1509-1541) foi o primeiro autor “luterano” em espanhol. Recebeu
esse título na Espanha. Gonzalez diz que sua doutrina nunca teria sido aceita por Lutero,
pois era um místico que combinava a larga tradição espanhola com o humanismo no
estilo de Erasmo.
Segundo Gonzalez, Valdez não parece ter sido verdadeiramente protestante.
Entre outras coisas, parecia ser contrário ao estudo das Escrituras. Todavia, ganhou
vários discípulos, entre eles o famoso pregador Bernardino de Ochino (que depois pregou
contra a Trindade), general da ordem dos Capuchinhos. Todos tiveram que emigrar para
a Itália ou outros países, como Suíça e Holanda.
O principal líder da Igreja Católica na Espanha que combateu o Luteranismo foi
Fernando Valdés, inquisidor geral de 1547 a 1566. Trabalhou ativamente na proibição de
livros, especialmente os do luteranismo. Os autores proibidos eram considerados
hereges. Nas cadeias não havia mais espaços. Ele fundou a Universidade de Oviedo,
ainda hoje com muito prestígio.
Juliano Hernandez foi um dos principais responsáveis pelo protestantismo na
Espanha, pois ali permaneceu até morrer. Ficou preso por três anos, passou por várias
torturas, até ser levado à fogueira.
Em 1557 e 1558 começou os rumores de que a Inquisição se preparava para dar
um duro golpe nos círculos de protestantes. Em Sevilha, perto de 800 pessoas foram
levadas ao cárcere da Inquisição. Em Valladolid, umas 80. Entre eles se encontrava
Constantino Ponce de La Fuente, (Doutor Constantino), o mais renomado pregador da
Catedral, que fazia parte do círculo dos doutores que estudavam as doutrinas
protestantes. Foram encontrados escritos seus em que criticava as doutrinas e práticas do
Catolicismo. Morreu de desinteria num cárcere mal cuidado. Os Inquisidores tentaram
manchar sua memória dizendo que tinha se suicidado ingerindo vidro moído.
A Espanha já foi uma das maiores potências do mundo. Possuía um Império que
incluía o Brasil. Seu Império incluía a imposição do Catolicismo. Colombo descobriu as
Américas a serviço dos reis Espanhois Fernando e Isabel. Joana, filha destes reis, casou-
se com Filipe, filho do Imperador da Alemanha, e deste casamento nasceu Carlos,
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

conhecido como Carlos V ou Carlos I. 1516: Rei da Espanha. 1519: Imperador do Sacro
Império Germânico. A primeira bula papal que instituiu a Inquisição em Portugal foi
elaborada por pressão de Carlos V.
A Espanha tinha muita riqueza. Conquistou parte dos Estados Unidos, México,
Antilhas, América Central e toda a América do Sul, exceto o Brasil.
Essa riqueza toda era utilizada para financiar guerras. Contra a França foram 5
guerras. Carlos V também guerreou contra os Protestantes e contra os turcos.
Em 1555, Carlos V abdicou. Foram 36 anos no poder. Entregou a coroa do Sacro
Império Germânico para seu irmão Fernando. Para seu filho Filipe II deixou todo o
restante, incluindo a Espanha.
Para o católico Filipe II, a unidade política do seu reino era uma extensão da
unidade religiosa. Resolveu expulsar todos os que não eram católicos da Espanha.
Os cristãos não católicos da Espanha fugiram em sua maioria para a Holanda. A
Holanda era um país que pertencia ao domínio da Espanha... Mas seus moradores se
rebelaram contra Felipe.
Em 1550 a Holanda já dominava várias rotas comerciais europeias. Em 1568
rebelou-se contra a Espanha. Em 1572 decretou total liberdade religiosa.
Em 1630 os Holandeses ocuparam boa parte do Nordeste Brasileiro, onde
permaneceram por quase 25 anos.
Em 1578 Portugal passou a fazer parte do reino Espanhol. Filipe II era filho de
uma princesa portuguesa, e reclamou a coroa após a morte do rei de Portugal, Sebastião
I. O rei espanhol anexou Portugal e suas colônias, o que incluía o Brasil. O domínio
espanhol sobre o trono português durou 60 anos.
Na França, com o Édito de Nantes, começou a paz e a França começou a se
tornar uma potência. A Espanha estava em decadência. Felipe II morreu em 1598. Levou
o País à decadência.
Carlos V e Filipe II reinaram no período de maior riqueza da Espanha. Ouro e
prata chegavam das Américas em quantidades nunca vistas. Ao invés de impulsionar o
País, essa riqueza foi utilizada para financiar guerras na Europa e defender a fé católica.
A expulsão de árabes, judeus e protestantes implicou na perda de capitais,
trabalhadores e artesãos causando prejuízo enorme para a economia espanhola. A
comida e os produtos industriais tinham que vir da Holanda, que conquistou
independência.
Sem a agricultura e a manufatura desenvolvidas, a Espanha teve que se tornar
dependente de outros povos para sobreviver.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

11. A FRANÇA E O PROTESTANTISMO

“Nossas câmaras, nossos leitos vazios,


nossos bosques, nossos campos, nossos rios.
Envergonhados de tanto sangue inocente,
guardam silêncio e, em silêncio eloquente,
pedem vingança, vingança, vingança”.
Cancioneiro huguenote do século XVI

Francisco I era o Rei da França de 1515 a 1547. Reinava quando explodiu a


reforma.
Não queria avanço do Protestantismo na França. Ficava feliz com o avanço do
Protestantismo na Alemanha, pois ela enfraquecia a política de Carlos V, seu rival.
O Império colonial francês foi o conjunto das colônias que a França estabeleceu na
África, Américas, Ásia e na Oceania entre os séculos XVI e XX.
As primeiras tentativas dos franceses para estabelecerem colônias no Brasil em
1555, e na Flórida, em 1564 (em Fort Caroline, atualmente Jacksonville), realizada por
huguenotes, não tiveram sucesso, devido à vigilância dos portugueses e espanhóis. A
tentativa seguinte foi em 1598, em Sable Island, no sudeste da atual província da Nova
Escócia do Canadá; esta colônia não teve abastecimentos e os 13 sobreviventes tiveram
de voltar a França.
Sua política para com os protestantes Franceses variou de acordo com a
necessidade e com os tempos. Quando buscava aproximação com os reformadores
Alemães, ficava difícil perseguir os reformadores na França. Quando não via
necessidade de aproximação com os reformadores da Alemanha, perseguia os
reformadores Franceses.
Com esses intervalos de posicionamento, o Protestantismo cresceu na França entre
o povo e entre os nobres.
A política oscilante do Rei obrigou muitos reformadores a se exilarem. Entre eles,
Calvino.
No vizinho Reino de Navarra (que depois se dissolveu na República Francesa após
a Revolução Francesa) a irmã de Francisco I, Margarida de Angulema, dava apoio ao
movimento reformador. Acolhia os reformadores que fugiam da França.
Um dos reformadores protegidos por Margarida de Angulema foi Guilherme Farel,
que por fim teve papel importante na reforma da Suiça. Junto com Calvino, trabalhou para
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

treinar pregadores missionários que difundiram a causa protestante para outros países,
especialmente a França. Um dos fundadores da Igreja Reformada nos cantões de
Neuchâtel, Berna, Genebra e Vaud na Suíça. Ele é frequentemente lembrado por ter
persuadido João Calvino a permanecer em Genebra em 1536, e fazê-lo retornar em
1541, após ter sido expulso em 1538.
De Navarra e cidades fronteiriças como Estrasburgo e Genebra, os escritos de
protestantes se infiltravam na França.
Francisco I morreu em 1547 e foi sucedido por seu filho Henrique II.
Ele continuou a política do pai, e sua oposição ao protestantismo foi mais constante
e cruel.
Apesar da terrível perseguição, a fé continuou crescendo na França. Em 1555 foi
organizada a primeira Igreja seguindo os padrões traçados por Calvino. 4 anos mais
tarde se reuniu o primeiro sínodo nacional, com igrejas organizadas em todo o País.
Pouco depois do primeiro sínodo, Henrique II morreu. Com sua morte o reinado foi
sucedido por Francisco II e Carlos IX. Francisco II pouco se interessava pelos assuntos
do estado, o que fez o general Francisco de Guisa e seu irmão Carlos governarem em
seu nome.
Os “príncipes de sangue” não se agradaram da decisão de Francisco II. Eles Tinham
os Guisa como intrusos no Reino. Antonio de Bourbon e Luiz de Conde eram os príncipes
de sangue mais descontentes.
Antônio de Bourbon se casou com Joana d´Albret, que como sua mãe se tornou
Calvinista. Com isso o Calvinismo conquistou adeptos entre os maiores senhores do
Reino.
Os demais príncipes que se ressentiam do poder dos Guisa eram católicos
convencidos que deveriam acabar com o protestantismo. Assim se deflagrou a
conspiração de Ambroise, cujo objetivo era apoderar-se do Reino, separá-los dos Guisa e
estabelecer nova política no Reino.
Os principais implicados neste objetivo eram os “Huguenotes”: nome dado aos
protestantes franceses durante as guerras religiosas na França (segunda metade do
século XVI). Cerca de 300.000 deles deixaram a França, após as dragonnades
(perseguições contra as comunidades protestantes) e a revogação do Édito de Nantes,
em 18 de outubro de 1685. Eram majoritariamente calvinistas e membros da Igreja
Reformada.

83
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Quando a conspiração foi descoberta, os Guisa prenderam seus idealizadores, entre


eles Luiz de Conde. Isso causou revolta geral, pois se os Guisa se atreveram a prender
um príncipe de sangue, todos os privilégios da velha nobreza corriam risco.
Francisco II morreu em 1559. Catarina de Médicis interveio e tomou o título de
regente em nome de seu filho Carlos IX. A primeira ação de Catarina foi libertar Condé,
pois os Guisa a haviam humilhado diversas vezes. Como forma de obter força contra os
Guisa, aliou-se aos Huguenotes que a essa época eram milhares na França.
Em 1562, a regente promulgou o Édito de São Germano, garantindo aos
Huguenotes liberdade de religião. Templos foram proibidos, bem como reunir-se em
sínodos sem a permissão do Estado ou recolher fundos e manter exércitos.
Claramente o objetivo era conquistar o favor dos protestantes, mas limitar seu poder
político e militar. Os de Guisa não respeitaram este édito e um mês e meio depois do
édito os irmãos de Guisa mataram vários Huguenotes na aldeia de Vassy.
Como resultado, várias guerras religiosas ocorreram na França. Sob o comando
dos católicos estava o duque de Guisa. Sob o comando dos protestantes estava o
almirante Gaspar de Coligny.
Os católicos ganharam as principais batalhas, mas seu general foi assassinado. Em
1570, Catarina de Médici propôs nova paz aos protestantes (seu objetivo era apoio contra
os Guisa).
Porém, Coligny (líder de guerra dos Huguenotes) sofreu um atentado. Isso fez com
que os Guisa perdessem espaço na corte. Por sua vez, disseram que os Huguenotes
queriam apoderar-se do trono (justificando o atentado contra seu general).
O Rei, até então independente de critério, autorizou matança aos Huguenotes.
24 de agosto de 1572: NOITE DE SÃO BARTOLOMEU. Morreram uns dois mil
Huguenotes (estima-se número muito maior). O nome da noite deriva da festividade mais
significativa da França na época, o dia de São Bartolomeu.
A consequência da matança de São Bartolomeu foi o enfraquecimento do
Protestantismo na França, pois seus líderes morreram.
Carlos IX morreu em 1574. Com sua morte o reinado passou a Henrique de Anjou,
conhecido como Henrique III.
Ele fez as pazes com os protestantes, concedendo-lhes liberdade de culto, exceto
em Paris.
O resultado dessa liberdade foi união dos Guisa com os católicos Franceses, que
com ajuda da Espanha, avançaram contra os Protestantes na França. Sucessivas guerras
ocorreram em razão desse ato de liberdade aos protestantes Franceses.
84
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

As várias guerras decorrente do ato de liberdade aos protestantes culminaram com


a conhecida “guerra dos 3 Henriques”. Henrique III não tinha estabilidade financeira e
política. Henrique de Guisa tentou tomar o trono (uma ação para evitar que Henrique de
Bourbon, protestante, subisse ao trono). A igreja Católica apoiava Henrique de Guisa,
dizendo que ele descendia de Carlos Magno. Henrique de Guisa (já tinha tomado Paris)
foi assassinado a mando de Henrique III na noite de 1588, no mesmo local da matança da
noite de São Bartolomeu. Católicos se rebelaram contra o rei Henrique III, que refugiou-se
no acampamento de Henrique de Bourbon. Foi morto ali dias depois.
Henrique de Bourbon tomou o título de Henrique IV. (era casado com Margarida,
irmã do rei Carlos IX). Foi um dos melhores reis da França. Quando subiu ao reinado,
inspirava fé protestante, a qual para preservar a vida já havia abandonado antes.
Quando se tornou Rei da França, o papa não reconheceu a herança dos Bourbons
na França. Felipe II da Espanha buscava uma maneira de se apoderar da França.
Tendo seu reinado ameaçado, e convicto de que era a única forma de por fim à
guerra era tornar-se católico, Henrique IV renunciou à fé protestante. “Paris bem vale uma
missa”, frase em sua renúncia à fé protestante.
Em 13 de abril de 1598, promulgou o Édito de Nantes, que garantia liberdade de
culto em todos os lugares onde tinham igrejas até o ano anterior, exceto Paris. O
massacre aos Huguenotes já durava 36 anos. Em seu reinado, A França voltou a ver a
paz reinar.
O Édito de Nantes deixou claro que a religião católica era a religião oficial da França,
mas ao menos possibilitou liberdade aos protestantes.
87 anos mais tarde, a intolerância religiosa estaria de volta. Em 23 de outubro de
1685, o rei Luís XIV da França revogaria o Édito de Nantes com o Édito de Fontainebleau.
Os Huguenotes voltariam a ser perseguidos e muitos deles fugiriam para o estrangeiro:
para a Prússia, para os Estados Unidos e África do Sul. A migração dos Huguenotes
causou problemas econômicos ao país.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 6:

1) Qual a principal razão pela qual o Protestantismo não obteve sucesso na Espanha?
2) Quem eram os Huguenotes?
3) Por que a França não se tornou um País reformado já que Calvino era Francês?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

12. OS QUACRES

Durante as décadas de 1640 e 1650 na Inglaterra, multiplicou-se o números de


movimentos sectários. Entre eles ganhou destaque notório a Sociedade dos Amigos,
conhecida popularmente como “quacres”, pois tremiam diante do Senhor (quake =
tremer).
Jorge Fox (1624-1691) foi um dos poucos gênios religiosos da história inglesa.
Convidado a beber, aos 19 anos de idade, por alguns cristãos nominais, sentiu-se tão
chocado com o contraste entre a prática e as palavras destes cristãos que se entregou à
ansiosa procura da realidade espiritual. Detestava toda sorte de falsidade.
Segundo Walker (p.660), Fox registrou que teve uma experiência central e
transformadora com Deus em 1646. Dai lhe veio a firme convicção de que toda criatura
recebe do Senhor uma porção de luz e que se essa “luz interior” for seguida , ela
seguramente conduzirá à “luz da vida” e à verdade espiritual. Essa revelação não está
confinada às Escrituras, ainda que elas sejam a verdadeira Palavra de Deus, mas ilumina
todos quantos são verdadeiros discípulos. O Espírito de Deus fala diretamente com
esses discípulos, entrega-lhes sua mensagem e os estimula a servir.
Fox condenou o ministério profissional. Como consequência de sua experiência
da “luz interior”, passou a ensinar que o verdadeiro ministério é realizado por qualquer
homem ou mulher que Deus queira usar. Por volta de 1652, se reuniu a primeira
comunidade quacre em Preston Patrick, no norte da Inglaterra.
Walker lista alguns ensinos de Fox: a) Os sacramentos são verdades interiores e
espirituais; b) Os elementos externos não são apenas desnecessários mas enganosos; c)
Os juramentos não são necessários para corroborarem a palavra fidedigna do cristão; d)
A bajulação em palavras ou ações é degradação do verdadeiro respeito cristão de homem
para homem; e) Os títulos artificiais devem ser rechaçados, embora Fox não negasse
títulos legais como rei ou juiz; f) Para o cristão a guerra não é lícita e a escravidão é
abominável; g) Para ser verdadeiro o cristianismo tem que se expressar numa vida
transformada e consagrada.
A primeira comunidade quacre se reuniu por volta de 1652 em Preston Patrick, no
norte da Inglaterra. Dois anos depois, já haviam se expandido até Londres, Bristol e
Norwich.
Entre os primeiros seguidores de Fox destaca-se Margarida Fell (1614-1702). Ela
é vista como a mais importante. Fox casou-se com ela depois que ela ficou viuva.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

O movimento encontrou feroz oposição devido às circunstâncias da vida inglesa.


Antes de 1661, mais de três mil “amigos”, incluindo o próprio Fox, haviam passado pela
prisão. As circunstâncias da vida inglesa gerou tal perseguição. O movimento pretendeu
ser a restauração da fé cristã original. Eles se chamavam de "Santos", "Filhos da Luz" e
"Amigos da Verdade" – donde surge, no século XVIII, o nome "Sociedade dos Amigos". A
Sociedade dos Amigos reagiu contra o que considerava abusos da Igreja Anglicana,
colocando-se como "sob a inspiração direta do Espírito Santo". Os membros desta
sociedade, ridicularizados no século XVII com o nome de quakers (inglês para
"tremedores"), que a maioria adota até hoje, rejeitam qualquer organização clerical, para
viver no recolhimento, na pureza moral e na prática ativa do pacifismo, da solidariedade e
da filantropia.
Perseguidos na Inglaterra por Carlos II, os quakers emigraram em massa para os
Estados Unidos, onde, em 1681, criaram, sob a égide de William Penn, a colónia da
Pensilvânia. Em 1947, os comités ingleses e americanos do Auxílio Quaker Internacional
receberam o Prêmio Nobel da Paz.
O “Ato de tolerância” de 1689 livrou os quacres, bem como outros dissidentes, de
suas restrições mais severas, e lhes concedeu liberdade de culto.
No Brasil, um grupo se formou na década de 90, mas não seguiu adiante.
"Reuníamos em São Paulo, mas as pessoas se mudaram e o grupo acabou", conta a
americana Linnis Cook, que há 16 anos vive no Brasil e é quaker desde a década de 70.
"Mas, no exterior, o movimento continua forte, com tradição em militância social", afirma
ela (ano 2015).
Gonzalez nos dá a entender que para Fox “os hinos, a ordem do culto, os
sermões, os sacramentos, os credos, os ministros, tudo era um obstáculo humano à
liberdade do Espírito” (2011, Vol.8, p. 148).
A doutrina Calvinista da predestinação era vista por Fox como uma negação do
amor de Deus.
Em contrapartida à doutrina da predestinação, Fox pregava sua experiência da
“luz interna”, por mais obscurecida que esteja no momento, não devendo ela ser
confundida com o intelecto nem com a consciência. Não é uma razão natural, como a dos
deístas, nem tampouco uma série de princípios de consciência que apontam para Deus.
Gonzalez registra que como Fox e os seus seguidores criam que toda estrutura
no culto podia ser um obstáculo à obra do Espírito, o culto dos “amigos” se celebrava em
silêncio. Se alguém se sentia chamado a falar ou orar, o fazia. Quando o Espírito as
impulsionava, as mulheres tinham tanto o direito de falar ou orar em voz alta como os
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

homens. O próprio Fox não ia a tais reuniões preparado a fazer um discurso, mas
esperava que o Espírito Santo o movesse.
Gonzalez registra que os quacres não criam nos sacramentos, pois entendiam
que a água do batismo e o pão e o vinho da comunhão, faziam a atenção centralizar-se
sobre o material, ocultando a Deus ao invés de revelá-lo.
Em certa ocasião, Fox interrompeu a mensagem de um culto quando o pregador
dizia que a autoridade máxima do Cristianismo se encontra na Bíblia. Ele argumentou que
se encontra mais no Espírito Santo, que a revelou.
Gonzalez registra alguns dos comportamentos de Fox que resultaram em sua
própria perseguição e a de seus seguidores: a primeira vez foi encarcerado por
interromper um pregador que dizia que a verdade última estava nas Escrituras; Outras
vezes, foi preso por blasfêmia e acusação de conspirar contra o governo. Tentaram livrá-
lo com o perdão das autoridades, mas ele não aceitou, pois dizia que não era culpado e
aceitar tal perdão implicava em faltar com a verdade. Cumpriu assim a pena integral. Em
outra ocasião, quando iria cumprir uma pena de seis meses por blasfêmia, convidaram-
lhe a unir-se ao exército republicano. Fox negou pois não acreditava que um cristão devia
apelar a outras armas que a índole espiritual. A partir daí, os quakers ficaram distinguidos
pela firmeza de suas convicções pacifistas.

Uma pintura do começo do século XIX retratando uma reunião dos quacres.

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Sua religião baseia-se na busca da manifestação divina de maneira pessoal, e


não por meio de padres ou ministros da Igreja.
A presença de Deus dentro de cada pessoa é chamada pelos quacres de “luz
interior”, e eles acreditam que essa luz guia suas vidas.
Os quacres reúnem-se para louvar a Deus, e suas reuniões são abertas a
qualquer pessoa. Os fiéis sentam-se em silêncio, aguardando uma mensagem divina.
Aqueles que a recebem compartilham seu conhecimento com os outros.
Os quacres indispuseram-se com muitos líderes cristãos, porque se recusavam a
reverenciar as autoridades religiosas e a pagar pela manutenção das igrejas inglesas. As
autoridades do governo puniram alguns quacres, tomando seus bens e mandando-os
para a cadeia, mas o grupo continuou a crescer. Na Inglaterra, uma lei promulgada em
1689 garantiu a eles e a outros grupos religiosos a liberdade de culto.
Nessa mesma época, alguns quacres se estabeleceram nas colônias da América
do Norte. Em 1681, Carlos II, rei da Inglaterra, deu a um quacre chamado William Penn as
terras que passaram a constituir a colônia da Pensilvânia, onde muitos quacres se
estabeleceram. No século XIX, eles fundaram, nos Estados Unidos, muitos colégios e
universidades voltados para o estudo das ciências. No século XX, o movimento difundiu-
se também pela África e pela Europa.

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Esta gravura do século XIX mostra Elizabeth Fry (de pé, ao centro) visitando um
presídio feminino em 1813. Elizabeth Fry foi uma quacre que lutou pela reforma
presidiária na Inglaterra. Os quacres são conhecidos por seu envolvimento em questões
sociais.

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William Penn foi um quacre que, no final do século XVII, fundou a colônia da
Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde uma grande comunidade de quacres se
estabeleceu.

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13. OS PURITANOS

A Inglaterra foi a principal responsável pela colonização do território norte-


americano e dela vieram os primeiros grupos protestantes a se fixarem nos Estados
Unidos. A ruptura de Henrique VIII com Roma (1534) foi o primeiro passo para a criação
da Igreja Anglicana, que se tornou protestante nos reinados de seus filhos Eduardo VI
(1547-53) e Elizabete I (1558-1603). No reinado de Maria Tudor (1553-58), que tentou
tornar a igreja inglesa novamente católica, muitos líderes protestantes refugiaram-se em
Genebra e em outras cidades reformadas suíças e alemãs. Ao retornarem à pátria, já no
reinado de Elizabete, alguns desses líderes e muitos que haviam permanecido na
Inglaterra, mobilizaram-se em prol de uma reforma mais sistemática da igreja. Foi isso o
que deu origem ao puritanismo na década de 1560.
A Revolução Puritana foi um movimento surgido na Inglaterra no século XVII, de
confissão calvinista, que rejeitava tanto a Igreja Romana como o ritualismo e organização
episcopal na Igreja Anglicana.
As críticas à política da Rainha Isabel (Elisabeth I, protestante, mas não puritana),
partiram de grupos calvinistas ingleses, que foram denominados puritanos porque
pretendiam purificar a Igreja Anglicana, retirando-lhe os resíduos do catolicismo, de modo
a tornar sua liturgia mais próxima do calvinismo.
Desde o início, os puritanos já aceitavam a doutrina da predestinação. O
movimento foi perseguido na Inglaterra, razão pela qual muitos deixaram a Inglaterra, em
busca de outros lugares com maior liberdade religiosa. Um grupo, liderado por John
Winthrop, chegou às colinas da Nova Inglaterra na América do Norte em abril de 1630.
Um dos primeiros líderes do movimento foi Lourenço Humphrey (1527-1590). O
movimento foi muito influenciado por William Tyndale, que traduziu quase toda a Bíblia
para o idioma da Inglaterra, e por fim foi martirizado em 1536.
Os primórdios do Puritanismo surgiram no reinado de Eduardo VI (1547-1553),
quando a tradição reformada começou a exercer maior influência na Inglaterra. Nessa
época os reformadores Martin Bucer e Jan Laski residiram no País.
No reinado de Maria I (1553-1558), muitos líderes com inclinações reformadas
foram executados, a começar do próprio arcebispo Thomas Cranmer, e outros fugiram da
Inglaterra, refugiando-se em cidades reformadas como Genebra. Maria desejou fazer a
Inglaterra retornar ao Catolicismo.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Ao retornarem da Grã-Bretanha, eles estavam fortemente imbuídos do propósito


de reformar a igreja escocesa e inglesa em moldes calvinistas. Tiveram sucesso na
Escócia devido à liderança de Knox. Na Inglaterra, não tiveram sucesso.
O nome “puritanismo” surgiu durante o reinado da rainha Elisabeth I (Isabel). Os
líderes do movimento queriam reformar a igreja Anglicana em seu culto, teologia e forma
de governo. De tanto falar de purificação na igreja, foram denominados “puritanos”. Para
eles, uma igreja pura implicava em uma igreja mais bíblica, isenta de todos os resquícios
do “papismo”, como bispos, cerimônias elaboradas, vestes litúrgicas, incenso, altares,
entre outras práticas.
Quanto à forma de governo, os puritanos não chegaram a um consenso. Alguns
eram presbiterianos, outros episcopais. Alguns achavam que a forma de governo oriunda
do NT seria o Congregacionalismo. Outros foram mais longe e defendiam uma igreja
totalmente autônoma e cujos membros deveriam ser apenas os adultos, rejeitando o
batismo infantil, e concluindo que o batismo deveria ser somente por imersão, de maneira
que vieram a serem denominados de batistas, que por sua vez se subdividiam em dois
grupos, os batistas gerais que rejeitavam a doutrina calvinista da predestinação e os
batistas particulares que mantiveram esta doutrina conforme os argumentos
desenvolvidos por João Calvino (GONZÁLES, 2004, p. 298). Como consequência em
1609 Thomas Helwys fundou em Amsterdã, na Holanda, uma comunidade Batista. Em
1612 fundou uma denominação Batista em Spitalfields - arredores de Londres.
Por causa de suas posições, os puritanos foram duramente perseguidos durante
o reinado de Elisabeth I, Tiago I e Carlos I. Um pequeno grupo deixou o País, indo
inicialmente para a Holanda e depois para a Nova Inglaterra, na América do Norte. Foram
os “peregrinos” do navio Mayflower, que fundaram a colônia de Plymouth em 1620.
Teólogos notáveis do puritanismo: William Perkins (1558-1602), sua principal
obra: Armila aurea (a corrente de ouro, 1590); William Ames (1576-1633), sua principal
obra: The marrow of theology (a medula da teologia, 1623); John Owen (1616-1683), o
grande pensador sistemático da tradição teológica puritana. Entre suas obras constam: a)
uma exibição do arminianismo (1643) e a morte da morte na morte de Cristo (1647), um
estudo clássico sobre a doutrina da expiação limitada. Jonathan Edwards (1703-1758),
viveu na Nova Inglaterra e é considerado o último e o maior dos pensadores puritanos.
Alderi Matos lista algumas características do movimento puritano: apreço pela
revelação bíblica; vínculo entre erudição e piedade; profundidade espiritual e pastoral;
ênfase prática e ética; valorização da pregação e do culto; visão holística (conexão da fé
com todas as áreas da vida).
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

ALGUNS DOS IDEAIS PURITANOS

A persistente pergunta de John Bunyan, “Como podemos ser salvos?”, era em


última análise a questão importante para todo Puritano.
O Puritanismo também caracterizava-se por um forte consciência moral. Para os
Puritanos, a questão do certo ou errado era mais importante do que qualquer outra.
Os crentes poderiam, com a ajuda de Deus, alcançar a vitória através de meios
como vigilância, andar correto e mortificação.
O Puritanismo foi um movimento no qual a Bíblia era central em relação a tudo.
Num certo sentido a primeira questão do movimento Puritano ( como da Reforma em
geral ) – foi a questão da autoridade. Os Puritanos resolveram a questão da autoridade ao
colocar a Bíblia como autoridade final de crença e prática.
John Owen, sempre considerado como o maior teólogo Puritano, disse que “os
protestantes supõem que a Bíblia tenha sido dada por Deus para ser... uma perfeita e
completa regra de ...fé”. “Quem, então eram estes Puritanos originais?” – pergunta Derek
Wilson, “basicamente foi sua atitude em relação à autoridade da Bíblia que os destacou
de outros protestantes ingleses”.
Segundo Lloyd-Jones, Knox é o pai do puritanismo, apontando como razões a
originalidade de seu pensamento e também porque apresentou com muita clareza os
princípios normativos do puritanismo, quais sejam, a autoridade suprema das Escrituras;
uma reforma que alcançasse mais do que a doutrina apenas, mas que também atingisse
a vida prática de cada pessoa como cristão e como cidadão mais plenamente, uma
reforma “de raiz e ramos”. Lloyd-Jones, John Knox: O Fundador do Puritanismo, p.13.
Uma questão teológica fundamental que foi desenvolvida nas entranhas puritana
foi o conceito Federal ou do Pacto, que tinha no cerne a ideia de que a predestinação de
Deus não era um ato impessoal e mecânico, mas que a salvação deve ser apropriada
pela fé, de maneira que se torna irredutivelmente pessoal. Mendonça destaca este ponto:
“Embora os dispositivos do calvinismo continuassem presentes, como a iniciativa divina
na concessão da graça e a ênfase no ascetismo, havia um elemento novo: a iniciativa
humana e pessoal na apropriação dessa graça. Surge assim uma valorização do homem
e da pessoa” (1984, p. 36).

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

14. PIETISMO

A origem do pietismo é atribuída a Philip Jacob Spener (1635-1705). Nascido em


Rappoltsweiler na Alsácia no dia 13 de janeiro de 1635. Seu desejo era um despertar da
fé em cada cristão. Para isto defendia maior leitura da Bíblia e maior responsabilidade dos
cristãos.
Treinado por uma madrinha devota que se utilizava de livros de devoção como
Wahres Christentum de Johann Arndt, Spener foi convencido da necessidade de uma
reforma moral e religiosa no luteranismo germânico. Ele estudou teologia em Strasbourg,
onde os professores da época (especialmente Sebastian Schmidt) tinham inclinação para
o "cristianismo prático" em vez da disputa teológica. Posteriormente, Spener passou um
ano em Genebra e foi influenciado pela rígida disciplina eclesiástica e pela vida moral
estrita aí prevalecente. Influenciaram-lhe também pela pregação e piedade do professor
valdense Antoine Leger e do pregador jesuíta convertido ao protestantismo Jean de
Labadie .
Philip Jacob Spener (1635-1705) foi pioneiro do pietismo. Durante uma estada em
Tübingen, Spener leu o Waechterstimme aus dem Verwuesteten Zion de Teophilus
Grossgebauer, panfleto que criticava a morosidade espiritual das igrejas de então. Em
1666 Spener recebeu seu primeiro encargo pastoral em Frankfurt com a opinião de que a
vida cristã no seio do luteranismo estava a ser sacrificada pelo rígido zelo da ortodoxia. O
Pietismo, como um movimento distinto na Igreja alemã, originou-se através de Spener
que promovia reuniões religiosas em sua casa (collegia pietatis) em que pregava seus
sermões, expondo passagens do Novo Testamento e induzindo os presentes a participar
na discussão de questões religiosas que surgiram. Em 1675 publicou o “Pia desideria” ou
desejos para a reforma da verdadeira Igreja evangélica, uma introdução a uma coletânea
de sermões de Arndt. O título deu origem ao termo "pietistas" e tornou-se um manifesto
para a renovação da Igreja. Nesta publicação fez seis propostas como o melhor meio de
restaurar a vida da Igreja: Sério e profundo estudo da Bíblia em reuniões privadas em
ecclesiolae ecclesia ( "igrejas dentro da Igreja"); O cristianismo sendo o sacerdócio
universal, os leigos devem partilhar no governo espiritual da Igreja; O conhecimento do
cristianismo deve ser alcançado através da prática; Em vez de ataques aos incrédulos e
heterodoxos, dar um tratamento simpático e gentil a eles; Uma reorganização da
formação teológica das universidades, dando maior destaque à vida devocional; Um estilo
diferente de pregação, ou seja, no lugar de retórica agradável, a implantação do

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

cristianismo, no interior ou novo homem, que é a alma da fé, devendo trazer frutos para a
vida.
Este trabalho produziu uma grande impressão em toda a Alemanha e, embora um
grande número de teólogos e pastores luteranos ortodoxos tenham sido profundamente
ofendidos por Spener em seu livro, as suas reivindicações foram admitidas e muito bem
justificadas. Consequentemente, um grande número de pastores imediatamente adotaram
as propostas de Spener.
Enquanto o Pietismo tradicional permaneceu dentro das igrejas luteranas apesar
de suas críticas, o Pietismo radical distanciou-se das igrejas estabelecidas ainda mais.
Doutrinariamente, muitas vezes os Pietistas radicais refletem as influências de Jacob
Boehme, mas eram separatistas formando suas próprias congregações. O Pietismo
radical criticou as noções luteranas de expiação, a autoridade das Escrituras,
sacramentos e no ministério.
O Pietismo prático foi promovido pela nova universidade pietista de Halle. Em
Halle, o pastor August Hermann Francke fundou em 1695 orfanatos, asilos e gráficas,
dando um caráter de ação social do Pietismo. A Universidade de Halle tornou-se o centro
de divulgação do Pietismo a partir de 1698. A gráfica social de Francke distribui 80 mil
Bíblias completas e 100 mil Novos Testamentos em apenas sete anos - um fato notável,
já que antes na Alemanha, cerca de 80 anos (1534-1626) foram produzidas apenas
20.000 Bíblias.
Outros movimentos acabaram por ser influenciado pelo Pietismo e ganharam
identidades denominacionais próprias, como o metodismo, as Igrejas Livres, os Dunkers e
alguns ramos anabatistas, como a Igreja dos Irmãos Mennonitas.
Um pietismo intimamente ligado a uma organização eclesial surgiu em
Württemberg. Mais tarde, o conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf fundou uma
comunidade dos «irmãos de Herrnhut».
No Brasil o Pietismo se encontra presente dentro da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil por meio da Missão Evangélica União Cristã. Há
denominações de identidade Pietista como os Dunkers ou “Igreja Evangélica dos Irmãos”,
a “Igreja Evangélica Congregacional do Brasil” e a “Igreja do Cristianismo Decidido” surgiu
no Brasil a partir de uma missão luterana Pietista da Alemanha na cidade de Curitiba.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pietismo.
Gonzalez aponta para o Pietismo como o movimento de protesto mais notável
contra o trem de fria intelectualidade que parecia dominar a vida religiosa. Registra
também que o termo “Pietista” foi dado pelos inimigos do movimento, frequentemente
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

com conotações negativas de beatice. Contudo, o termo pode advir dos profundos
desejos “piedosos” do líder Spener.
Spener mostrava estar de acordo com a Igreja Luterana. Seu desejo era um
despertamento da fé, a fim de combater a frieza espiritual. Ele entendia que as lutas
doutrinárias haviam impedido o crescimento do verdadeiro cristianismo no meio do
Luteranismo.
Spener era combatido pelos líderes da ortodoxia luterana pois estes diziam que
ele dava pouca importância às questões que haviam custado tantas disputas. Pretendeu ir
mais à fundo na reforma Luterana. Ele entendia que Lutero preocupou-se
exageradamente com a Justificação e pouco ou nada dissertou sobre a santificação. Ele
entendia que para Lutero o importante não era a pureza do crente, mas a graça de Deus
que perdoa o pecador. Ele concordava com Calvino e outros reformadores que, ao
mesmo tempo que concordavam com Lutero quanto à justificação, assinalavam que o
mesmo Deus que justifica é também o Deus que regenera e santifica o crente. Assim,
entendia que a santificação tinha um espaço importante na doutrina reformada.
Alderi Matos define o Pietismo como uma reação contra a preocupação luterana
com a ortodoxia. Ainda segundo sua visão, o movimento inicial visava uma renovação e
revitalização do Luteranismo nos séculos XVII e XVIII, tendo como objetivo completar a
Reforma, suprindo elementos que faltaram na obra de Lutero. Porém, com o decorrer dos
tempos, o movimento adquiriu um sentido negativo, de uma espiritualidade individualista,
subjetiva, emocional e alienada do mundo, muitas vezes associada a um sentimento de
superioridade religiosa.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

15. CONTRA REFORMA

O crescimento sólido do protestantismo suscitou uma reação poderosa da igreja


romana. Começando com Paulo III (1534-1549), os papas direcionaram esforços de toda
a igreja para represar a revolta protestante, corrigir os abusos eclesiásticos mais gritantes,
codificar o ensino eclesiástico normativo contra os hereges e protestantes e recuperar
territórios perdidos. A Europa totalmente católica, agora perdia espaços no Reino Unido ,
Escócia, Alemanha, França, Suíça, Países baixos, Escandinávia, e outros países como
Holanda, Bélgica, Amsterdã, Polônia, Praga e Áustria vinham sendo influenciados. Era
uma perca preocupante, tanto em território, como em poder político e financeiro.
Da Espanha e da Itália nasceram a contra reforma católica. Novas ordens
religiosas nasceram neste período, como a “Companhia de Jesus”, em latim “Sociedade
de Jesus”, fundada em 1534, cujos membros são conhecidos como Jesuítas. Os
primeiros membros da ordem doaram suas propriedades e abdicaram de seus benefícios.
Sua pobreza, estrito ascetismo e obras de caridade para os doentes e destituídos lhes
conquistaram grande respeito popular.
A ordem dos Capuchinhos foi fundada entre 1525 e 1528. O objetivo dos
integrantes era retornar à letra da regra original de São Francisco. Seu modo de viver
incluía pobreza absoluta, vida de oração ordenada e obras de caridade entre os doentes e
pobres. Em 1535 já tinham uns 700 membros. Em 1550, já eram mais de 2500. Depois
de 1572, quando foi permitido saírem da Itália, experimentaram uma expansão mundial.
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico da
Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a
disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão
então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado
também de Concílio da Contra reforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, na
Província autônoma de Trento, na área do Tirol italiano. O Concílio de Trento, atrasado e
interrompido várias vezes por divergências políticas ou religiosas, foi um conselho de uma
grande reforma, uma personificação dos ideais da Contra reforma. Mais de 300 anos se
passaram até Conselho Ecumênico seguinte. Ao anunciar o Concílio Vaticano II, o Papa
João XXIII afirmou que os preceitos do Concílio de Trento continuam nos dias modernos,
uma posição que foi reafirmado pelo Papa Paulo VI. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento.
A esta altura a Igreja já havia perdido o domínio sobre a Inglaterra, metade da
Alemanha e parte de diversos países da Europa. Desta forma, a Igreja se viu obrigada a
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

tomar medidas drásticas para frear a onda protestante que se alastrava pela Europa.
Assim, foi reaberto o antigo Tribunal da Santa Inquisição. Além disso, a Igreja publicou em
1564 o “Index Libro rum Prohibitorum”, onde listava todos os livros considerados hereges
por pregar contra os dogmas da Igreja. Fonte: http://www.infoescola.com/historia/contra-
reforma/.
A Companhia de Jesus foi o principal órgão da igreja romana para alastrar o
domínio que perdera na Europa. Os jesuítas foram encaminhados aos continentes
africano, americano e asiático. Tinham como objetivo principal transformar os nativos em
novos católicos, através da catequização (ensino da língua portuguesa, doutrina católica e
hábitos europeus). Os índios brasileiros foram catequizados por jesuítas como, por
exemplo, Padre Manoel da Nobre e José de Anchieta. A igreja, que estava até então
parada na Europa, ostentando riqueza e desatenta aos pobres, agora abria seus
horizontes com sua atenção voltada ao mundo. Continentes até então não explorados
agora receberiam o catecismo católico.
O Concílio de Trento (1545-1563) foi o Concílio, reunido inicialmente na cidade
italiana de Trento, que tratou das reformas da Igreja Católica Apostólica Romana,
influenciada em vários líderes pelas ideias luteranas. Segundo Walker (2006, p. 599)
rejeitou todas as ideias protestantes. Algumas decisões tomadas: a) a justificação não é
pela fé somente, mas pela fé formada por obras de caridade. Assim a salvação depende
de uma justiça adquirida (conquistada) não de uma justiça imputada, forânea (outorgada);
b) tanto as Escrituras quanto as tradições da Igreja tem o mesmo valor de autoridade na
fé; c) somente a Igreja pode interpretar as Escrituras; d) apenas a Vulgata Latina é o texto
sagrado; e) os sacramentos são sete e não dois; f) o sacramento da penitência envolve
obras de satisfação, como também contrição e confissão, e implica o poder da Igreja de
conceder ildulgências; g) permaneceu a doutrina da transubstanciação, entendida como
uma representação do oferecimento de Cristo no altar da cruz, e beneficia não apenas os
fieis vivos mas também as almas dos fieis que partiram no purgatório; h) o cálice não
deve ser oferecido aos leigos; i) o latim devia permanecer como a língua litúrgica.
Outra decisão importante do Concílio de Trento foi a intensificação das missões
católicas. Várias ordens foram criadas, como a ordem da Visitação que cuidou dos
doentes e dos pobres. A ordem dos dominicanos e franciscanos criou a “Sociedade de
Jesus” , ficando responsável pela cristianização na América do Sul e parte da América do
Norte. Também há relatos de missionários enviados à Índia e à China. A ordem dos
Jesuítas também enviou missionários à China e à Índia, bem como nas Américas (tiveram

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

grande êxito no Paraguai). Era claramente uma tentativa de recuperar o espaço perdido
na Europa devido ao crescimento do Protestantismo.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. História da Igreja 45/56 - Os Puritanos:


https://www.youtube.com/watch?v=0OPozYewRpM&index=45&list=PLksBVeXuy5YEm86
GVygSqh3z3YpeM3sBs.
2. História da Igreja 48/56 – Pietismo:
https://www.youtube.com/watch?v=7n5VWq9-
iR4&list=PLksBVeXuy5YEm86GVygSqh3z3YpeM3sBs&index=48.
3. CONTRA REFORMA por Camila Ferreira:
https://www.youtube.com/watch?v=pBrrwrENWZY. 7m 04s.
4. REFORMA CATÓLICA ROMANA: História da Igreja 43/56 - A Reforma
Católica Romana: Por Eduardo Willians Bandeira de Melo.
https://www.youtube.com/watch?v=8UC-M3yZJa8. 24m 43s.
5. Os Puritanos e a Bíblia - Joel Beeke. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=aLjmLbY3D80>.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 7:

1) Por que o movimento recebeu o nome de Quacres?


2) Pesquise as principais crenças dos quacres, bem como de Jorge Fox (líder do
movimento), e descreva quais características você achou mais interessante.
3) Qual razão levou os integrantes do movimento quacre a serem perseguidos na
Inglaterra?
4) Que contribuição a perseguição ao movimento quacre trouxe para a América
do Norte?
5) Explique a doutrina da “luz interior” de Jorge Fox.
6) Como e por que surgiu o Puritanismo? O que eles pretendiam? Por que foram
perseguidos na Inglaterra? E Por quem? Liste algumas das características do movimento
puritano.
7) Diferencie a forma de governo Presbiteriana, Episcopal e Congregacional. Qual
e razão e local onde surgiram as Igrejas Batistas?
8) Onde surgiu o movimento Pietista? Qual fato deu origem ao termo Pietista?
Quais eram as propostas de mudanças para se viver a “verdadeira Igreja Evangélica”?
9) Quem foi o principal líder deste movimento?
10) Qual era a visão de Spener quanto à obra de Lutero?
11) Cite algumas ações do Pietismo prático praticado pela universidade pietista
de Halle, que começou a ser praticado em 1695.
12) Como o Luteranismo via a questão da santificação? Como os Pietistas
julgaram que o Luteranismo deveria encarar esta doutrina?
13) O que você entendeu por “Contra Reforma católica”? Por que ela teve início?
14) Faça uma pesquisa (internet ou bibliografia) e descubra quais foram as
resoluções do concílio de Trento.
15) Onde a igreja estava parada até o século XV? Como ela se comportava com
relação aos problemas sociais? O que ocorreu após a reforma, no que diz respeito aos
domínios da igreja romana?
16) Quais foram as decisões tomadas pelo Concílio de Trento, que reuniu-se para
por fim às controvérsias protestantes que ameaçavam a Igreja Católica Romana?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

16. ZINZENDORF E O MORAVIANISMO

Um dos mais notáveis resultados do movimento Pietista foi a reconstrução dos


Unitas Fratum ou, como chamados, Irmãos Morávios, sob a direção do conde Nicolau
Ludovico von Zinzendorf. Nasceu em 26 de maio de 1700 em Dresden, na Alemanha. Foi
criado pela avó. Seu pai morreu logo após seu nascimento, e sua mãe o entregou para
morar com a avó, após casar-se novamente. Os Unitas Fratum eram um movimento
religioso iniciado pelos seguidores de Jan Huss, conhecidos como Hussitas. Esse
movimento eclodiu na Boêmia bem antes da Reforma Protestante sob Lutero. Eram
também conhecidos como os irmãos da Lei de Cristo. Espalharam-sem pela Morávia,
Boêmia e Polônia.
Zinzendorf tinha o desejo de compartilhar de sua riqueza com a obra de Deus.
Enquanto fazia uma viagem turística pela Europa, foi a um museu de artes em Dusseldorf,
na Alemanha, e lá viu um quadro do “Cristo de Coroa de Espinho”, com a seguinte
inscrição: “Eu fiz isto por ti; o que fazes tu por mim?”
Isso lhe causou uma profunda impressão e o levou a escrever em seu diário:
“Tenho amado-o por longo tempo, mas realmente nada tenho feito por ele. De agora em
diante farei tudo que me seja dado fazer”. Voltou para Herrnhut para onde os refugiados
Moravianos, que fugiam da perseguição na Boêmia iniciada por Frederico II, formaram
uma comunidade com cerca de trezentos membros. Zinzendorf assumiu a
responsabilidade, não apenas supervisionando como dono da terra onde viviam, mas sim
para lhes servir de pastor. Em 1727 um derramar do Espírito de Deus uniu a comunidade.
Inicialmente o Conde Zinzendorf lhes deu abrigo em uma aldeia de sua propriedade na
Alemanha, Berthelsdorf. Além de Boêmios um grande número de alemães e outros
perseguidos passaram a habitar nessa propriedade que o Conde comprara de sua avó.
Segundo ATAÍDES (2008, p. 24), para atender a necessidade dos refugiados foi fundada
por Zinzendorf uma comunidade denominada Herrnhunter, ou Herrn-Hut, cujo significado
é “abrigo do Senhor”. O próprio Conde e sua família eram moradores da comunidade. Ele
demitiu-se do emprego que possuía no governo e passou a dedicar-se como líder
espiritual desta comunidade por mais de trinta anos.
Cinco anos mais tarde, em 1732, Zinzendorf foi convidado a assistir a coroação
do rei Dinamarquês (ele estava ligado à família real na Dinamarca). Enquanto estava lá,
descobriu o produto das missões Dinamarca-Halle: alguns convertidos Esquimós da
Groelândia e uma pessoa convertida do Oeste da Índia, um escravo cujo nome era
Anthony. Tais pessoas fizeram um apelo a Zinzendorf: “Você não pode fazer alguma
103
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

coisa para nos enviar como missionários?”. Seu coração ficou muito quebrantado. Voltou
para a comunidade e lançou diante dela o desafio para o envio de reforços missionários
para a Groelândia, Índia e outras partes do mundo onde pessoas não conheciam a Cristo.
Vinte e seis pessoas imediatamente se ofereceram como voluntárias, e, assim, o
Movimento Missionário Moraviano foi lançado. Nos vinte e oito anos seguintes mais do
que duzentos missionários Moravianos entraram em mais de doze países para
implantação de trabalho missionário em torno do mundo.
Foram os primeiros protestantes a fazer missões entre os judeus. Segundo
ATAÍDES (2008, p. 42) enviaram missionários para várias partes do mundo: Rússia,
Groenlândia, Labrador, Ilhas do Caribe, América do Norte, Costa da América do Sul, sul
da Ásia, chegando à Índia e Ceilão.
Em 1728 um grupo de missionários Moravianos visitou a Turquia e a África para
fazer missões com os muçulmanos.
O sofrimento de Cristo era o estímulo para suas obras missionárias. Seu lema
era: “conquistar para o Cordeiro que foi morto a recompensa dos seus sofrimentos”.
A igreja Morávia tem suas origens no movimento religioso iniciado por Jan Huss.
O ideal do movimento era uma vida dedicada à causa do Evangelho. Tentaram, a partir
de 1728, até mesmo regulamentar a escolha dos cônjuges nos casamentos. Zinzendorf
tentava manter os morávios como parte da igreja Luterana oficial, apenas como um grupo
especial dentro dela, no qual se fomentaria uma vida espiritual mais ardente, uma “religião
do coração”. Alguns membros do movimento, no entanto, queriam o estabelecimento de
uma denominação separada.
O movimento logo encontrou muita oposição, não apenas dos luteranos
ortodoxos, mas também dos petistas, devido à tendência separatista.
Quando o avivamento espiritual ocorreu em 1727, começaram uma vigília de
virada de relógio, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta
e cinco dias por ano. O livro devocional conhecido como Lemas Diários, que ainda tem
sido publicado pela Igreja Moraviana, era o devocional mais amplamente usado entre os
cristãos europeus. O ministério Moraviano era fortemente regado por oração (tiveram uma
vigília de oração que durou um tempo de 100 anos literalmente – nota do tradutor).
Zinzendorf boi banido da Saxônia em 20 de março de 1736, devido a queixas
eclesiásticas com relação ao movimento moraviano. Em 1738 e 1739 viajou para as
Índias Ocidentais; em 1741 se encontrava em Londres, onde a obra moraviana já se
desenvolvia há anos. Em dezembro desse ano estava em Nova Iorque e na véspera do

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

natal deu o nome de Belém à colônia que os morávios da Geórgia estavam começando
na Pensilvânia.
Na América esforçou-se para reunir as forças protestantes alemãs espalhadas na
Pensilvânia numa unidade espiritual que ficaria conhecida como a “Igreja de Deus no
Espírito”. Iniciou missões entre os índios, organizou sete ou oito congregações morávias e
fundou escolas. Peter Bohler ficou como superintendente do ministério itinerante. David
Zeisberger ficou conhecido como o mais famoso missionário entre os índios. Missões
foram inauguradas no Suriname, Guiana, Egito e África do Sul.
O movimento moraviano era cada vez mais reconhecido como uma igreja
independente, embora Zinzendorf nunca desejou sua separação do luteranismo. Durante
sua vida, permaneceu como um movimento integrante do Pietismo alemão, que era uma
ala do Luteranismo, iniciado por Jacob Spener.
Os cultos da Igreja Moraviana possuíam uma hinologia rica, cheia de boas
músicas. Quanto à forma de governo, possuíam bispos, anciãos e diáconos. Era mais
presbiteriana que episcopal. Quanto à doutrina, consideravam as Escrituras como sendo
a única regra de fé e prática; criam na depravação total da natureza humana, na real
humanidade de Jesus Cristo, na reconciliação e justificação pela fé através do sacrifício
de Jesus Cristo.
Jan Amos Komenský (em latim, Iohannes Amos Comenius; em português,
Comênio), 1592-1670, foi um bispo protestante da Igreja Moraviana. Como pedagogo, é
considerado o fundador da didática moderna. Comenius nasceu em 28 de março de 1592,
na cidade de Uherský Brod (ou Nivnitz), na Morávia, região da Europa Central pertencia
ao antigo Reino da Boémia e que hoje corresponde à parte oriental da República Checa.
Viveu e estudou na Alemanha e na Polónia. Foi o último bispo da Igreja Hussita e tornou-
se um refugiado religioso. Foi um inovador e um dos primeiros defensores da
universalidade da educação, conceito que defende em seu livro Didactica magna. É
considerado como o pai da educação moderna. Aplicou um método de ensino mais
efetivo, a partir dos conceitos mais simples para chegar aos mais abrangentes.
Preconizava o aprendizado contínuo, por toda a vida, e o desenvolvimento do
pensamento lógico, em vez da simples memorização. Apoiava o acesso das crianças
pobres e das mulheres à escola. Introduziu livros e textos escritos na língua nativa dos
alunos, em vez de latim. Viveu em diversos países, incluindo a Suécia, a Comunidade
Polaco-Lituana, a Transilvânia, o Sacro Império, a Inglaterra, os Países Baixos e o Reino
da Hungria.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Os Moravianos tinham trabalho missionário no Estado da Geórgia devido ao


General Oglethorpe ter sido influenciado por Zinzendorf, que fazia parte de um grupo
missionário de estudantes que começou em Halle.
Segundo HURLBUT (2002, p. 124), proporcionalmente ao pequeno número de
membros em seu país, nenhuma outra denominação sustentou tantas missões como a
Igreja Morávia em toda a história.
Calcula-se que em vinte anos a Igreja Morávia tenha feito mais missões que todas
as Igrejas reformadas fizeram em mais de duzentos anos de história.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

17. WESLEY, WHITEFIELD E O METODISMO

O término das lutas do século XVII levou a Inglaterra a experimentar uma letargia
espiritual tanto na igreja oficial da Inglaterra como nos movimentos dissidentes.
O racionalismo penetrara em todas as classes de pensadores religiosos, de modo
que mesmo entre os ortodoxos o cristianismo se assemelhava mais a um sistema de
moralidade apoiado por sanções divinas. Os sermões pregados nos púlpitos consistia em
um característico ensaio descolorido sobre as virtudes morais.
A condição das classes inferiores era de indigência espiritual. Os divertimentos
populares eram grosseiros, o analfabetismo era generalizado, a lei era aplicada de modo
brutal e as prisões eram antros de doenças e iniquidade. Nunca o alcoolismo prevaleceu
tanto na vida inglesa quanto naquele período. Além disso, a Grã-Bretanha estava às
vésperas da revolução industrial que a transformaria de país agrícola em industrial.
No início do século XVIII alguns homens desejavam melhorar as coisas na
Inglaterra. William Law escreveu um livro intitulado “Sério apelo à vida devota e santa”.
John Wesley foi muito influenciado por esta leitura.
Para tentar uma vida religiosa mais fervorosa foi fundada na Inglaterra as
“sociedades religiosas”. Por volta de 1700, só em Londres havia cerca de uma centena
delas. O pai de John Wesley, Samuel Wesley, organizou uma dessas sociedades em
Epworth em 1702.
Os esforços desta sociedade religiosa obteve sucesso parcial, apenas com
influência local. A maioria do povo inglês continuou vivendo uma letargia espiritual. Os
primeiros sinais de um despertamento apareceram no começo do século XVIII. Na
Escócia, sob a liderança de Ebenezer e Ralph Erskine, cresceu um movimento evangélico
nos primeiros anos do século. Por volta de 1714 Ebenezer se viu obrigado a pregar em
um campo adjacente à sua igreja, para poder acomodar as multidões.
Com o surgimento de três grandes líderes, John e Charles Wesley e George
Whitefield, o reavivamento evangélico cresceu na Inglaterra. Três foram as vertentes do
crescimento religioso na Inglaterra: as sociedades metodistas sob a orientação dos
irmãos Wesley, os metodistas calvinistas sob Whitefield e os Evangélicos Anglicanos,
estes trabalhando junto a linhas paroquiais mais tradicionais.
Os pais de Wesley eram da igreja anglicana. Seu pai, Samuel Wesley, era pároco
da igreja campesina de Epworth. Sua mãe, Susanna, era mulher de notável fortaleza de

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

caráter. Os filhos tinham muito dos pais, talvez mais da força materna, já que o pai
dedicava todo seu tempo à igreja.
John Wesley nasceu em 17 de junho de 1703 e Charles em 18 de dezembro de
1707. Ambos foram salvos com dificuldade de um incêndio na casa paroquial, em 1709.
Tal fato deixou impressão indelével na mente de John, que desde então se considerou
literalmente “um tição arrancado do fogo”.
Em agosto de 1730, pela influência de Morgan, um grupo que Wesley havia
ingressado em Oxford, que procurava realizar os ideais de William Law, passaram a
jejuar, ter ideais altamente igrejeiros, e a visitar encarcerados na prisão. Foram
apelidados de “metodistas”. No entanto, eram um grupo que lutavam penosamente pela
salvação da própria alma, pois ainda, como foi Lutero durante um período de sua vida,
eram reféns de um sistema religioso que tenta obter méritos pela obra.
O movimento recebeu uma importante adesão em 1735: George Whitefield, que
saiu de uma crise durante a moléstia da primavera de 1735 com uma alegre certeza da
paz com Deus. Era um conceituado pregador, mais que todos os demais em sua época, e
sua mensagem consistia no Evangelho da paz e da graça perdoadora de Deus por meio
da aceitação de Cristo pela fé, com a consequente vida de serviço em alegria. Boa parte
de seu ministério aconteceu na América do Norte.
Em 1738, Whitefield esteve na Georgia. No ano seguinte retornou à América e
sua pregação na Nova Inglaterra, em 1740, foi acompanhada pela maior comoção
espiritual jamais vista ali. Ele faleceu em 30 de setembro de 1770 em Newburyport,
Massachusetts.
O grupo metodista não estava disposto a permanecer em Oxford, nem seu
movimento a ter muita influência na universidade, que estava em declínio acadêmico e
religioso. Com a morte de Samuel Wesley, em 25 de abril de 1735, os irmãos Wesley
ficaram menos apegados ao lar, e ambos conseguiram colocação como missionários para
a nova colônia da Geórgia.
No navio em que embarcaram havia um grupo de vinte e seis morávios. A
animosa coragem destas pessoas durante uma grave tempestade convenceu John
Wesley de que os morávios tinham uma confiança em Deus que ele não possuía. Pouco
depois de chegar a Savannah encontrou-se com Spangenberg que lhe fez esta
embaraçosa pergunta: “Você conhece Jesus Cristo?” Wesley respondeu: “Sei que ele é o
salvador do mundo”. Ao que Spangenberg replicou: “Certo. Mas você sabe que Ele o
salvou”? E por fim: O conheces? Respondeu Wesley: Sim. Mais tarde escreveu Wesley:
“Temo que o que eu disse foram somente palavras vazias”.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Wesley tornou-se influente na Geórgia, até conhecer Sophie Hopkey, uma mulher
que o deixou impressionado. Desejou casar-se com ela, mas oscilando entre o celibato
clerical e a possibilidade de contrair matrimônio, recorreu à Escritura. Entendendo que a
resposta foi não, recusou a se casar com ela. Melindrada, ela logo casou-se com outro
pretendente. O marido proibiu que ela continuasse a participar das discussões religiosas
íntimas de Wesley. Então este achou não estar Sophie preparada adequadamente para
receber a comunhão e negou-lhe o sacramento. Os amigos dela acusaram ser isto o ato
de um pretendente desgostoso. Chegava ao fim a influência de Wesley na Geórgia.
Iniciaram-se protestos contra ele, que decidiu voltar para sua pátria em 1 de fevereiro de
1738. Em seu amargurado desapontamento, Wesley dizia: “tenho bela religião de verão”.
Caiu sim em muitos erros na Geórgia, mas não eram estes falta de consagração cristã.
Na semana em que chegou na Inglaterra, ele e seu irmão entraram em íntima
relação com um morávio, Peter Bohler. Este ensinava a fé de completa auto entrega, a
conversão instantânea e a alegria na fé.
No dia 25 de maio de 1738, relatou John Wesley que fora de má vontade a uma
reunião de uma “sociedade” anglicana na rua Aldersgate, em Londres, e ouviu a leitura do
prefácio de Lutero ao Comentário a Romanos. Ele relata que sentiu o coração
“estranhamente aquecido”. Ali se deu sua real conversão, como ele mesmo declarou. Seu
irmão, dias antes, em 21 de maio de 1738, declarou também sua real conversão quando
estava acometido de grave enfermidade.
Wesley decidiu conhecer mais os moravianos, que o ajudaram até ali. Menos de
três semanas após sua conversão declarada viajou para a Alemanha, onde encontrou-se
com Zinzendorf, em Marienborn. Ficou ali duas semanas retornando a Londres. Decidiu
não ser um morávio, por entender que, mesmo devendo muito a eles, sua piedade eram
muito limitadas subjetivamente (mais fechadas dentro de um templo), e Wesley era muito
interessado nas necessidades do próximo. O interessante é que conheceu os morávios
em uma missão, e os moravianos foram os maiores missionários que a época protestante
pode conhecer.
Os irmãos Wesley passaram a pregar nas oportunidades que lhes apareciam. No
entanto tiveram muitos púlpitos fechados ao seu “entusiasmo”. No começo de 1739
Whitefield iniciara seu trabalho em Bristol pregando ao ar livre aos mineiros de carvão de
Kingswood. Whitefield convidou Wesley, que a principio recusou pregar ao ar livre, mas a
oportunidade de proclamar o Evangelho aos necessitados era irresistível. Em 2 de abril
começou em Bristol o que seria seu costume por mais de cinquenta anos, enquanto as
forças lhe permitiram.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Wesley não tinha a intenção de romper com a igreja da Inglaterra, assim como
Lutero não desejava romper com a igreja romana. Por esta razão não fundava igrejas.
Seu objetivo era “reformar” a igreja anglicana. Durante uma conferência em 1770 Wesley
assumiu forte posição arminiana. Seu amigo Whitefield era calvinista.
Wesley defendia que seus seguidores evitassem a separação com a igreja
anglicana. Contudo, os metodistas wesleyanos separaram-se da igreja oficial aos poucos.
Com a morte de Wesley(1791), a ruptura foi completa. Herdou de seu amigo Whitefield o
costume de pregar ao ar livre. A primeira vez que o fez, contra sua vontade, foi para
assumir a agenda de Whitefield que estava para retornar para a América e tinha
compromissos em Bristol. A convicção de Wesley, segundo Gonzalez, era: “estava tão
convencido de que Deus queria que tudo se fizesse ordenadamente e quase pensou que
salvar almas fora do templo era pecado” (GONZALEZ, 1984, p. 179). Outro fenômeno que
preocupava Wesley segundo Gonzalez era o modo como seus ouvintes respondiam à sua
pregação. Começavam a chorar, condoer-se amargamente e em voz alta por seus
próprios pecados. Alguns caíam desmaiados por causa da profunda angústia que
sentiam. Depois um grande gozo tomava conta deles e diziam que estavam limpos de sua
maldade. Tudo isto não era do agrado de Wesley, que desejava mais solenidade no culto.
Wesley e Whitefield eram calvinistas quanto a questões tais como o significado da
Ceia e do modo em que a fé deve resultar em santidade de vida. Mas quanto à
predestinação e o livre arbítrio, Wesley se separava do Calvinismo ortodoxo e seguia a
linha arminiana. Se separaram em razão da divergência doutrinária. Whitefield fundou a
Igreja Metodista Calvinista. Wesley continuou ministro da Igreja Anglicana. Assim como o
Pietismo influenciava as massas dentro da Igreja Luterana, Wesley tinha o mesmo
objetivo dentro da Igreja Anglicana.
Wesley desenvolveu pregações nas minas de carvão, fábricas, prisões, hospitais,
praças... Quando o bispo de Bristol tratou de submetê-lo à disciplina, ressaltando que sua
pregação perturbava a ordem da paróquia, Wesley contestou: “o mundo todo é minha
paróquia”.
O metodismo se tornou uma igreja oficial em 1787, devido a uma lei de 1689 que
tolerava na Inglaterra cultos e edifícios religiosos apenas se fossem legalmente inscritos
na lei. Wesley ainda se declarava Anglicano, mas o primeiro passo para a ruptura estava
dado.
Robert Raikes (1735-1811) iniciou a escola dominical na Inglaterra. O motivo que
levou à fundação desta agência de ensino foram as crianças que Raikes via brincando
nas ruas, todas maltrapilhas, e que aos domingos ficavam totalmente largadas, pois de
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

segunda a sábado muitas trabalhavam e aos domingos não havia trabalho. Ao observar
que o destino de muitas destas crianças eram a prisão, e como Raikes se interessava por
uma reforma prisional, iniciou a Escola Dominical aos domingos. John Wesley abraçou a
ideia, e iniciou estudos bíblicos dominicais em Savannah, Geórgia, em 1737.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. Biografia do avivamento - Jovens Moravianos -


https://www.youtube.com/watch?v=MdGGgb9ScPs
2. A Rota dos Avivamentos e da Reforma - Herrnhunter - Avivamento dos
Moravianos - https://www.youtube.com/watch?v=16F5Quc6oWA. Este vídeo mostra a
“Torre dos Morávios”, onde eles oraram 24h por dia, 7 dias por semana, por mais de 100
anos.
3. História da Igreja 49/56 - Avivamento Evangélico.
https://www.youtube.com/watch?v=mUClZd0jLkw&index=49&list=PLksBVeXuy5YEm86G
VygSqh3z3YpeM3sBs
4. A Vida de Joao Wesley. Por Marcos Batista Machado.
https://www.youtube.com/watch?v=kJkO_qtV_Hk.
5. O Arminianismo Wesleyano. Por FTML Faculdade de Teologia Metodista
Livre. https://www.youtube.com/watch?v=dRHZJvCIQNM.
6. Fatores que influenciaram no desenvolvimento da Teologia Wesleyana -
parte 1/3. Por FTML Faculdade de Teologia Metodista Livre.
https://www.youtube.com/watch?v=h6_JmJmxaMw.
7. Fatores que influenciaram no desenvolvimento da Teologia Wesleyana -
parte 2/3. Por FTML Faculdade de Teologia Metodista Livre.
https://www.youtube.com/watch?v=mG8hQKoDG6Q
8. Fatores que influenciaram no desenvolvimento da Teologia Wesleyana -
parte 3/3. Por FTML Faculdade de Teologia Metodista Livre.
https://www.youtube.com/watch?v=FV3I5zjy7Fw.
9. Doutrina da Redenção - Teologia Wesleyana. Por FTML Faculdade de
Teologia Metodista Livre. https://www.youtube.com/watch?v=ukNxEpbaOrI.

111
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

10. John Wesley e George Whitefield falando sobre a pregação ao ar livre.


Por Pequeno Cristo. https://www.youtube.com/watch?v=Zn7HNXYIEn0
11. Artigo: Coletânea da Teologia de Joao Wesley. Disponível em:
<http://nazarenopaulista.com.br/estudos/Coletanea_da_Teologia_de_Joao_Wesley.pdf>
12. Artigo: A GRAÇA PREVENIENTE NA TRADIÇÃO
ARMINIANA/WESLEYANA. Disponível em: <
http://mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/Fides_Reformata/17/17_1artigo2.pdf>,

112
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 8:

1) Qual a origem do movimento Moraviano?


2) Qual importância teve o movimento Moraviano para as missões protestantes?
3) Qual foi a razão que levou o Conde Zinzendorf a acolher mais de trezentos
moravianos em sua propriedade em Herrnhunter?
4) Qual era o lema das missões moravianas?
5) Pesquise quais eram as atividades principais das “sociedades religiosas”.
6) Quais foram as primeiras três importantes vertentes de crescimento religioso
na Inglaterra do século XVIII?
7) Qual era a realidade religiosa de Wesley e seus companheiros quando
receberam o apelido de “metodistas”?
8) Pesquise o significado do apelido “metodista”.
9) Qual a principal razão do fracasso de Wesley na Geórgia?
10) Quais os principais ensinos do morávio Peter Bohler aos irmãos Wesley?
11) Quem era Comenius e qual sua importância para o ensino?
12) Por que Wesley decidiu não ser um morávio, mesmo visitando para conhecer
Zinzendorf?
13) Resuma, em seu entendimento, como Wesley enxergava a importância da
Igreja na vida da comunidade.
14) Qual fator social foi o motivador do surgimento da Escola Dominical?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

18. A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO NORTE AMERICANO

18.1 O REAVIVAMENTO AMERICANO

Católicos Romanos da Espanha e da França estão entre os primeiros a darem


início ao Cristianismo no território Norte Americano. A colonização espanhola da América
do Norte teve início com a conquista do México por Hernando Cortés, em 1519-1521
A França teve o controle do Canadá e do meio oeste dos futuros Estados Unidos
desde a fundação de Québec por Samuel de Champlain em 1608 até a derrota diante dos
ingleses em 1759.
A Inglaterra foi a principal responsável pela colonização do território norte-
americano e dela vieram os primeiros grupos protestantes a se fixarem nos Estados
Unidos.
A primeira colônia inglesa do Novo Mundo foi a Virgínia, que teve início com a
fundação de Jamestown em 1607.
Seu primeiro código de leis tornou compulsória a frequência aos cultos dominicais
e continha normas rigorosas contra o adultério, a violação do dia do Senhor e os
excessos no vestuário. A preocupação missionária em relação aos índios também estava
presente. John Rolfe casou-se com a lendária Pocahontas em parte para comunicar-lhe a
fé cristã.
Os primeiros puritanos a migrarem para a América estabeleceram-se em
Plymouth, Massachusetts, em 1620. Em 1630, John Winthrop liderou o primeiro grande
grupo de puritanos até a baía de Massachusetts.
O Puritanismo foi a religião dominante em quatro colônias americanas: Plymouth;
Massachusetts (que absorveu Plymouth em 1691); Connecticut, que surgiu em 1636
quando vários pastores sob a direção do Rev. Thomas Hooker levaram colonos de
Massachusetts para o vale do Rio Connecticut; e New Haven, fundada em 1638 sob a
liderança do Rev. John Davenport e do governador Theophilus Eaton.
Logo que chegaram, os ministros e os magistrados concordaram na necessidade
de evidências mais visíveis de conversão. Deu-se uma nova ênfase à experiência de
conversão como critério para a plena admissão na igreja. Os candidatos a membros
deviam não só aceitar as doutrinas puritanas e viver com integridade, mas também
testemunhar diante dos irmãos que haviam experimentado a graça redentora de Deus.

114
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Aqueles que pudessem testificar de modo aceitável acerca de sua salvação


constituíam igrejas pela aliança de uns com os outros. Somente tinham direitos políticos
os homens que eram membros plenos das igrejas pactuadas. Ou seja, o pacto da graça
qualificava o indivíduo tanto para ingressar na igreja quanto para exercer o direito de voto
na vida pública da colônia. Essa vida pública por sua vez cumpria o pacto social com
Deus, uma vez que os líderes eleitos pelos membros da igreja formulavam leis que
honravam as Escrituras. Todavia, a Nova Inglaterra não era uma teocracia, pois os
ministros não exerciam um controle direto da vida pública. Era, no entanto, um lugar em
que os magistrados frequentemente buscavam os conselhos dos pastores, inclusive
quanto à melhor maneira de promover a vida religiosa das colônias.
Os puritanos também se esforçaram por criar um sistema educacional que
preservasse o seu experimento. Em 1636 a legislatura de Massachusetts autorizou a
criação de um colégio, instalado dois anos depois quando o jovem pastor John Harvard
(foi um pastor congregacional calvinista inglês e que foi viver nas colônias americanas,
em Massachusetts) legou à nova instituição uma biblioteca de 400 volumes. Desde o
início, o propósito primário do Harvard College foi a preparação de pastores, mas seus
objetivos não se limitavam a isso. A educação primária e secundária também preocupou
os líderes puritanos. A “Cartilha da Nova Inglaterra” (The New England Primer), um livro
que ensinava noções básicas de leitura e redação através da Oração do Pai Nosso, dos
Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos, tornou-se o livro-texto mais popular de
todas as colônias no século 18. Essa ênfase ao ensino fez da Nova Inglaterra um dos
lugares mais alfabetizados do mundo.

18.2 CRISE ENTRE OS PRIMEIROS GRUPOS PROTESTANTES

À medida que o tempo passou, um número cada vez maior de filhos dos pioneiros
deixou de ter a mesma experiência religiosa que os seus pais, não podendo assim se
tornar membros plenos da igreja. O problema agravou-se quando esses filhos começaram
a casar-se e ter os seus próprios filhos. Segundo a teologia reformada dos puritanos, os
convertidos tinham o privilégio de trazer seus filhos para o batismo como selo da graça
pactual de Deus. Agora, muitos daqueles que haviam sido batizados como crianças não
estavam apresentando-se voluntariamente para confessar a Cristo; todavia, queriam que
seus filhos fossem batizados. O dilema era delicado: os líderes puritanos desejavam

115
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

preservar a igreja para os crentes verdadeiros, mas também queriam manter tantas
pessoas quanto possível sob a influência da igreja.
Um sínodo de ministros reunido em 1662 encontrou a solução através do “half-
way covenant” (pacto do meio-termo), pelo qual a segunda geração podia apresentar os
filhos para o batismo e filiação parcial à igreja. Todavia, a Santa Ceia e outros privilégios
ficavam reservados para aqueles que pudessem testificar sobre uma atuação específica
da graça de Deus em suas vidas.
Outras crises surgiram no final do século 17. A guerra contra os índios em 1675-
76 trouxe devastação para as vilas mais afastadas e causou a morte de centenas de
colonos. Em 1685, as colônias da Nova Inglaterra perderam as suas assembleias
representativas e foram colocadas com Nova York e Nova Jersey sob o controle da coroa
inglesa. Em 1687, a Igreja da Inglaterra passou a oficiar o seu culto em Boston.
Uma das crises mais perturbadoras ocorreu em Salem Village, ao norte de
Boston, em 1692. Embora os processos e execuções por feitiçaria não fossem
desconhecidos na Nova Inglaterra, os eventos de Salem foram muito além de incidentes
anteriores. Em consequência de diversos fatores religiosos, psicológicos e políticos e de
vários meses de excitação descontrolada, vinte pessoas foram executadas (quase todas
mulheres e a maioria por enforcamento). Finalmente, quando começaram a ser feitas
acusações contra indivíduos de caráter ilibado e quando líderes como Increase Mather, o
pastor de Boston, protestaram contra os procedimentos, o movimento rapidamente se
esvaziou. Eventualmente, chegou-se à conclusão que o diabo estivera mais atuante nos
acusadores e naqueles que lhes deram ouvidos do que nas pessoas acusadas. Até hoje
esses episódios constituem-se em uma mancha na reputação dos puritanos.
Desde o século 17, muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo
presbiteriana foram do continente europeu para os Estados Unidos. Dentre os primeiros
estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os
huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte,
fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados
alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses
imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles
ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.
Muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados
Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os
principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o
século 18, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em
116
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia,


eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos.
O primeiro líder do presbiterianismo norte-americano foi Francis Makemie (1658-
1708), que nasceu na Irlanda, estudou na Escócia e foi enviado como missionário ao
Novo Mundo.
Passado mais de 200 anos, apesar da chegada de vários protestantes, e da
fundação das diversas denominações religiosas (Congregacional, Anglicana, Batista,
Presbiteriana Escocesa e Irlandesa, Luterana, Reformada Holandesa) a espiritualidade
decaiu na América, por razões como: a) Menor interesse pela Bíblia e pela fé cristã; b)
Consequente desinteresse pelos cultos; c) Após as dificuldades iniciais, com a
prosperidade veio o declínio religioso: cristianismo nominal, apatia, mundanismo.
Influência do racionalismo europeu (conservadorismo).

18.3 O PRIMEIRO GRANDE DESPERTAMENTO AMERICANO

Nomes a se considerar: Jonathan Edwards (1703-1758), Congregacional; Gilbert


Tennent (1703-1764), Presbiteriano; George Whitefield (1714-1770), Metodista Calvinista.
Jonathan Edwards pregou uma série de sermões sobre a justificação pela fé,
trabalhando ativamente no reavivamento local.
Gilbert Tennent trabalhou também no reavivamento. Seu sermão mais famoso: “o
perigo de um ministério não convertido, 1740”.
George Whitefield pregava tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. Era
famoso pelas pregações em ambientes públicos e praças, onde reunia multidões.
Realizou diversas campanhas evangelísticas nas colônias centrais, no Sul e na Nova
Inglaterra.
São efeitos do primeiro grande despertamento americano: a) Crescimento das
igrejas; b) Reflexão bíblica e teológica; c) Ênfase em missões e educação ; d) Liberdade
política e religiosa.
A mensagem cristã foi levada de modo mais direto a grupos marginalizados da
sociedade. Um exemplo inspirador foi o de David Brainerd (1718-1747), que se tornou um
zeloso missionário junto aos indígenas do leste de Nova Jersey e cujo Diário foi publicado
por Jonathan Edwards.

117
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

18.4 A ÉPOCA REVOLUCIONÁRIA

Na segunda metade do século 18, a atenção de muitos americanos afastou-se do


grande interesse religioso produzido pelo Grande Despertamento para concentrar-se em
uma longa série de acontecimentos políticos e militares de grande relevância: a
Revolução Americana (1775), a Declaração de Independência (1776), a Guerra contra a
Inglaterra (até 1783) e a promulgação da Constituição Americana (1789).
Durante esse período, o evento mais significante foi a implantação da liberdade
religiosa. A consequência foi o surgimento do que conhecemos por “denominacionalismo”.
O artigo 6º da Constituição Federal declarou: “Nenhum teste religioso jamais será exigido
como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos”. Em 1791, a
Primeira Emenda à Constituição dispôs que “o Congresso não promulgará nenhuma lei
referente ao estabelecimento da religião ou que proíba o exercício da mesma”.
Com isso, todas as igrejas passaram a ser instituições voluntárias, teoricamente
iguais perante a lei. Todavia, em Massachusetts o Congregacionalismo continuou a ser a
igreja oficial até 1833.
O período revolucionário também viu o surgimento de novos grupos nos Estados
Unidos, alguns deles bastante heterodoxos, como foi o caso dos unitários (antitrinitários),
que haviam surgido na Inglaterra já no final do século 16. A primeira igreja unitária inglesa
só foi organizada em 1773, em Londres. Em 1787, a King’s Chapel, de Boston, a mais
antiga igreja episcopal da Nova Inglaterra, tornou-se a primeira igreja declaradamente
unitária, sob a liderança de seu pastor, James Freeman. Mais tarde, o unitarismo iria
causar um grande cisma nas igrejas congregacionais.
Teólogos como Jonathan Edwards Jr. (1745-1801) e Timothy Dwight (1752-1817),
neto de Jonathan Edwards (1703-1758), desenvolveram alguns conceitos que
valorizavam a capacidade humana inata e se afastavam de uma plena afirmação da
soberania de Deus (método Calvinista).

18.5 O SEGUNDO GRANDE DESPERTAMENTO

O Segundo Grande Despertamento foi o reavivamento mais influente da história


do cristianismo nos Estados Unidos. Desde 1795 até por volta de 1810 surgiu um
renovado interesse pelo cristianismo em todo o país. Por sua vez, essa renovação serviu

118
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

de modelo e ímpeto para ondas semelhantes de reavivamento que continuaram a ocorrer


em toda a nação até depois da Guerra Civil.
No leste, o interesse pelo avivamento manifestou-se entre vários ministros
congregacionais de Connecticut. A manifestação mais visível ocorreu como resultado do
trabalho de Timothy Dwight (1752-1817), o neto de Jonathan Edwards que se tornou
presidente do Yale College em 1795. Em 1802 houve um grande avivamento no campus
que levou à conversão de um terço dos 225 estudantes, muitos dos quais tornaram-se
agentes do avivamento na Nova Inglaterra, no Estado de Nova York e no oeste. Logo,
quase não havia um lugar em que os cristãos não estivessem orando pelo avivamento ou
agradecendo a Deus por terem-no recebido.
Enquanto o primeiro despertamento foi liderado por congregacionais (Jonathan
Edwards), anglicanos (George Whitefield) e presbiterianos (Gilbert Tennent), o segundo
foi rapidamente dominado pelos metodistas, batistas e discípulos de Cristo (Barton Stone
e Alexander Campbell).
Dois líderes personificaram de maneira especial as principais ênfases desse
avivamento. O primeiro foi o inglês Francis Asbury (1745-1816), que viajou extensamente
através dos Estados Unidos promovendo a causa metodista e liderou a organização
oficial dessa denominação em 1784. Pelo fato de ter percorrido mais de 450 mil km, em
grande parte a cavalo, ele conheceu o interior americano melhor que qualquer um dos
seus contemporâneos e foi também o homem mais conhecido do seu tempo. Quando
Asbury chegou aos Estados Unidos em 1771, somente quatro missionários metodistas
davam assistência a cerca de 300 pessoas. Quando ele faleceu, havia 2 mil pastores e
mais de 200 mil metodistas no país.
Outro líder imensamente influente foi Charles Grandison Finney (1792-1875), o
mais famoso avivalista americano na parte intermediária do século 19. Convertido de
modo dramático em 1821, ele imediatamente começou a pregar de maneira vigorosa. Um
grande reavivamento em Rochester no inverno de 1830-31 deu-lhe notoriedade nacional.
Nessa época, ele rompeu definitivamente com o seu presbiterianismo de origem, que ele
julgava excessivamente burocrático e possuidor de uma teologia que não valorizava a
capacidade humana natural. Finney estabeleceu o seu quartel general no Oberlin College,
em Ohio, um centro de evangelismo e reforma social. Ele escreveu livros que também
divulgaram amplamente as suas ideias, como Lectures on Revivals (1835) e Systematic
Theology (1846-47).
Em sua teologia, Finney foi ainda mais arminiano que John Wesley. Wesley
sustentava que a vontade humana é incapaz de escolher a Deus sem a sua graça
119
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

preparatória. Finney rejeitou esse requisito: ele cria que era possível uma condição
permanente de vida espiritual superior para todo aquele que a buscasse de todo o
coração. Seguindo os teólogos da Nova Inglaterra, ele aceitava uma noção
governamental da expiação segundo a qual a morte de Cristo foi uma demonstração
pública da disposição de Deus em perdoar os pecados antes do próprio pagamento pelo
pecado. Finney envolveu-se com um grande número de iniciativas religiosas e sociais,
mas seu maior impacto, assim como o de Asbury, foi no sentido de modificar o caráter do
evangelicalismo norte-americano tornando-o menos calvinista, mais arminiano e assim
melhor identificado com os valores e as aspirações da nova República.

18.6 O MOVIMENTO DE SANTIDADE

No século XIX começou no Leste dos Estados Unidos e se espalhou pela nação
uma renovada ênfase à santidade cristã. Timóteo Merritt, clérigo metodista e editor
fundador do Guia da Perfeição Cristã, esteve entre os líderes deste reavivamento de
santidade. A figura central do movimento foi Phoebe Palmer, da cidade de Nova Iorque,
líder da Reunião da Terça-Feira para a Promoção da Santidade, na qual bispos,
educadores e outros clérigos metodistas se juntaram ao grupo original de senhoras em
busca de santidade. Ao longo de quatro décadas, a Sra. Palmer promoveu a fase
metodista do movimento de santidade, através de palestras públicas, escritos e também
como editora do Guia para a Santidade.
O reavivamento de santidade alastrou-se para além das fronteiras do Metodismo.
Charles G. Finney e Asa Mahan, ambos do Colégio Oberlin, lideravam a renovada ênfase
à santidade nos círculos presbiterianos e congregacionalistas, tendo feito o mesmo o
avivador William Boardman. O evangelista batista A. B. Earle esteve entre os líderes do
movimento de santidade dentro da sua denominação. Hannah Whitall Smith, uma quaker
e avivadora popular do movimento de santidade, publicou “O Segredo Cristão duma Vida
Feliz” (1875), um texto clássico sobre a espiritualidade cristã.
Em 1867 os ministros metodistas John A. Wood, John Inskip e outros começaram,
em Vineland, Nova Jersey, a primeira de uma longa série de reuniões nacionais de
avivamento. Também organizaram nessa altura a Associação Nacional de Encontros de
Avivamento para a Promoção de Santidade, comumente conhecida como Associação
Nacional (hoje, Associação de Santidade Cristã). Até aos primeiros anos do século XX,
esta organização patrocinou reuniões de santidade através dos Estados Unidos. Surgiram

120
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

também associações locais e regionais de santidade e uma imprensa vital de santidade


publicou muitos periódicos e livros.
O testemunho prestado à santidade cristã desempenhou funções de diversos
significados na fundação da Igreja Metodista Wesleyana (1843), da Igreja Metodista Livre
(1860) e, na Inglaterra, do Exército da Salvação (1865). Nos anos de 1880
desabrocharam novas igrejas distintivamente de santidade, incluindo a Igreja de Deus
(Anderson, Indiana) e a Igreja de Deus (Santidade). Várias outras tradições religiosas
foram também influenciadas pelo movimento de santidade, incluindo certos grupos
Menonitas, Irmãos e Amigos que adotaram o ponto de vista wesleyano quanto à inteira
santificação. Os Irmãos na Igreja de Cristo e a Aliança Evangélica de Amigos são
exemplos desta fusão de tradições espirituais.

18.7 O MOVIMENTO PENTECOSTAL

O pentecostalismo como um fenômeno distinto surgiu nos últimos anos do século


19 ou nos primeiros do século 20. Todavia, por algum tempo ele se manteve
relativamente modesto e circunscrito às fronteiras dos Estados Unidos.
Seu crescimento vertiginoso e sua difusão internacional ocorreram a partir do
famoso avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, que teve início em abril de 1906.
O reavivamento da Rua Azusa foi uma reunião de avivamento pentecostal que se
deu em Los Angeles, Califórnia, liderada por William Joseph Seymour, um pregador afro-
americano. Teve início com uma reunião em 14 de Abril de 1906 em um prédio que fora
da Igreja Metodista Episcopal Afro-americana e continuou até meados de 1915.
O avivamento foi caracterizado por experiências de êxtase espiritual
acompanhadas por falar em línguas estranhas, cultos de adoração, e mistura inter-racial.
Os participantes foram criticados pela mídia secular e teólogos cristãos por considerarem
o comportamento escandaloso e pouco ortodoxo, especialmente para a época. Hoje, o
avivamento é considerado pelos historiadores como principal catalisador para a
propagação do pentecostalismo no século XX.
No Brasil, a magnitude do pentecostalismo é evidente a todos os observadores.
Há muitos anos esse segmento congrega a maioria dos protestantes. De acordo com o
Censo de 2000, dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros, 17,7 milhões são
pentecostais (67%).

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

A partir de Los Angeles, e especialmente de Chicago, o pentecostalismo


rapidamente se irradiou para vários outros países. O movimento entrou cedo na América
Latina, primeiro no Chile (1909) e logo em seguida no Brasil (1910). No início o
crescimento nesses e em outros países foi lento, mas se intensificou a partir da década
de 50. Desde os anos 70, o pentecostalismo também se expandiu na América Central,
especialmente na Guatemala e El Salvador, onde representa respectivamente 30% e 20%
da população. No Chile, cerca de 80% dos protestantes são pentecostais.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. Novo Telecurso - Ensino Médio - História - Aula 21 (1 de 2).


https://www.youtube.com/watch?v=bUcVyDe5LdQ.
2. Novo Telecurso - Ensino Médio - História - Aula 21 (2 de 2).
https://www.youtube.com/watch?v=7K6MQy6r6BI.
3. História da Igreja 50/56 - O Grande Despertamento nos EUA.
https://www.youtube.com/watch?v=MQgEN6Bkf-Q.
4. História da Igreja 51/56 - Jonathan Edwards.
https://www.youtube.com/watch?v=QRgvqRFL_8U.
5. História da Igreja 52/56 - Segundo Grande Despertamento nos EUA.
https://www.youtube.com/watch?v=LhO_0cqUIMI.
6. O movimento Pentecostal: Alderi de Souza Matos. (Com uma visão do
NeoPentecostalismo). 29p. Anexo pdf. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/6982.html>.
7. O desafio do neopentecostalismo e as igrejas reformadas. Alderi de Souza
Matos. 13p. Anexo pdf. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/7090.html>.
8. O protestantismo norte americano séculos 17 a 19 – Alderi de Souza Matos.
39p. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/7111.html>.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 9:

1. Como se deu o início do Protestantismo nas Américas?


2. Identifique duas questões apresentadas neste material para o início da queda
da espiritualidade nos Estados Unidos.
3. Qual pregador teve grande influência tanto na Inglaterra quanto nos Estados
Unidos, devido ao seu método de pregação em locais abertos?
4. Quais os efeitos do primeiro grande despertamento americano?
5. Quem foram os principais responsáveis pela mudança de pensamento
Calvinista para um pensamento que se aproxima da capacidade humana nos Estados
Unidos?
6. Em que o pensamento de Charles Finney, contrário ao Calvinismo, se
identificava com as aspirações da Nova República Americana?
7. Quais eram as características do movimento pentecostal?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

19. HISTÓRIA DO CATOLICISMO ROMANO NO BRASIL

O cristianismo chegou no Brasil já no descobrimento territorial português, e lançou


profundas raízes na sociedade desde o primeiro momento de interação portuguesa com
os habitantes indígenas. Durante o período de colonização, ordens e congregações
religiosas assumem serviços nas paróquias e dioceses, a educação nos colégios, a
evangelização do indígena e inserem-se na vida do país.
Frades franciscanos apareceram nas capitanias com precocidade. As missões
propriamente ditas se instalaram mais tarde: em 1549 seis jesuítas (padres da Companhia
de Jesus) acompanharam o governador-geral Tomé de Sousa, chefiados pelo padre
Manuel da Nóbrega; ficaram famosos o padre José de Anchieta e o Padre João de
Azpilcueta Navarro. Os carmelitas chegaram em 1580, as missões dos beneditinos
tiveram início em 1581, as dos franciscanos em 1584, as dos oratorianos em 1611, as dos
mercedários em 1640, as dos capuchinhos em 1642. Durante o século XVI e o século
XVII, a legislação buscou certo equilíbrio entre Governo central e Igreja, tentando
administrar os conflitos entre missionários, colonos e índios.
A influência da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil explica porque a
maioria das cidades brasileiras foi construída em volta de uma igreja ou porque grande parte dos
feriados é dedicada a santos.
A missa celebrada na chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, foi imortalizada por
Victor Meirelles no quadro “Primeira Missa no Brasil”. A presença da Igreja Católica começou a se
intensificar a partir de 1549 com a chegada dos jesuítas da Companhia de Jesus, que formaram vilas
e cidades, cujo caso mais célebre é a cidade de São Paulo.

Vários outros grupos de clérigos católicos vieram também à colônia portuguesa com a
missão principal de evangelizar os indígenas, como as ordens dos franciscanos e dos carmelitas,
levando a eles a doutrina cristã. Esse processo se interligou às próprias necessidades dos interesses
mercantis e políticos europeus no Brasil, como base ideológica da conquista e colonização das
novas terras. As consequências foram o aculturamento das populações indígenas e os esforços no
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

sentido de disciplinar, de acordo com os preceitos cristãos europeus, a população que aqui habitava,
principalmente através de ações educacionais.
Nas artes, a mais notória contribuição da Igreja Católica na história do Brasil foram as
produções artísticas barrocas, que tiveram como principal expoente o artista plástico Aleijadinho.
Essas obras podem ser encontradas nas cidades de Salvador, Diamantina, Ouro Preto, Recife e
Olinda. Por outro lado, o contato do catolicismo com as religiões africanas produziu sincretismos
religiosos, uma mescla das religiões que originou o candomblé, por exemplo.
As relações entre Igreja Católica e Estado foram estreitas no Brasil tanto na colônia quanto
no Império, pois, além de garantir a disciplina social dentro de certos limites, a igreja também
executava tarefas administrativas que hoje são atribuições do Estado, como o registro de
nascimentos, mortes e casamentos. Contribuiu ainda a Igreja com a manutenção de hospitais,
principalmente as Santas Casas. Em contrapartida, o Estado nomeava bispos e párocos, além de
conceder licenças à construção de novas igrejas.
O cenário mudou com a nomeação do Marquês de Pombal, que afastou a influência da
Igreja Católica da administração do Estado. Após sua morte, os laços voltaram a se estreitar,
perpassando por todo o período imperial brasileiro no século XIX. Com a proclamação da
República em 1889, houve a separação formal entre Estado e Igreja Católica, mas sua presença
continuou ainda viva, como comprova a existência de várias festas e feriados nacionais, como as
festas juninas e o feriado de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país.
Fonte: Tales Pinto, Graduado em História. Disponível em:
<http://www.brasilescola.com/historiab/igreja-catolica-no-brasil.htm>
Segundo Alderi de Souza Matos (2005, p. 53): “Em virtude do fenômeno
conhecido como padroado, no período colonial e no império a igreja católica brasileira foi
fortemente controlada pelo Estado, recebendo relativamente pouca influência de Roma.
Os papas tiveram muita dificuldade em aplicar no Brasil as normas da lei canônica,
inclusive no que se refere ao celibato dos sacerdotes. Essa restrição, aliada ao ambiente
cultural permissivo dos trópicos, contribuiu para que muitos padres “seculares” (isto é, não
filiados a ordens religiosas) tivessem suas companheiras e filhos, não somente nas
cidades, mas também no ambiente patriarcal dos engenhos de açúcar. Preocupado com
essa situação constrangedora, Diogo Antônio Feijó, um sacerdote liberal que ocupou altos
cargos na administração do império na década de 1830, quando deputado em São Paulo,
chegou a propor que aquela província autorizasse o casamento clerical e escreveu um
tratado sobre essa questão. No longo pontificado de Pio IX (1846-1878), Roma foi
assumindo gradativamente um maior grau de controle sobre a igreja brasileira. Todavia,
por um bom tempo uma parcela do clero secular continuou arredia à aceitação do
125
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

celibato. É muito interessante a esse respeito o testemunho do Rev. John Boyle, um


missionário presbiteriano pioneiro que trabalhou por cerca de dez anos no Triângulo
Mineiro e em Goiás. Em 1888, ele esteve em uma cidade goiana no dia em que se casou
a filha do padre local. O missionário soube que o casamento foi oficiado pelo vigário
vizinho e que os dois velhos sacerdotes sempre batizavam e casavam os filhos um do
outro. E esse caso não era excepcional. Em toda a região e em todo o país multiplicavam-
se os casos de padres amancebados, variando a atitude dos bispos em relação aos
mesmos”.
Foi somente algumas décadas após a Proclamação da República, com a
revitalização da igreja católica brasileira e sua maior submissão a Roma, que o celibato
clerical passou a ser amplamente exigido e observado. Isso agravou um problema: o
número relativamente pequeno de vocações para o sacerdócio, visto que não muitos
jovens estavam dispostos a abrir mão da possibilidade de casar-se. Essa foi uma das
razões pelas quais sempre houve no Brasil, “o maior país católico do mundo”, um número
desproporcional de sacerdotes estrangeiros.

20. UM POUCO DA HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO NO BRASIL

Em 1555 tivemos Protestantes Huguenotes no Brasil, no Nordeste Brasileiro. Não


tiveram sucesso em terras Brasileiras. Em 1558 escreveram “Confissão de fé da
Guanabara” Rio de Janeiro. Seus autores foram Huguenotes Franceses enviados pelo
próprio reformador João Calvino (modelo de missões de Calvino, que enviou missionários
para exercer no Brasil a mesma profissão que exerciam em sua terra). Foi a primeira
confissão de fé da América. O artigo “a confissão de fé da Guanabara” escrito pelo Dr.
Alderi de Souza Matos
dá mais detalhes sobre a confissão. No site
“http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_guanabara.htm” você encontra o
conteúdo da confissão de fé.
Em 1630 Os Holandeses estavam em solo Brasileiro. Permaneceram 24 anos em
Pernambuco. Com a chegada de Maurício de Nassau chegou a existir 24 Igrejas
reformadas Holandesas em Pernambuco. Todas suas edificações foram destruídas na
guerra entre Holandeses e Portugueses.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Em 1824 os Luteranos alemães vieram ao Brasil junto com a imigração alemã.


Não tem a característica de Igreja missionária, mas étnica (veio para atender os alemães
em solo Brasileiro). A primeira comunidade luterana foi a de Nova Friburgo, no Rio de
Janeiro organizada em 1824 por Friedrich Osvald Sauerbronn, o primeiro pastor luterano
no Brasil.
Em 1835 veio para o Brasil o Pr. Fountain Elliot Pitts, enviado pela Igreja
Metodista Americana ao Rio de Janeiro. Chegando ao país com uma carta de
recomendação do então presidente americano Andrew Jackson, o Rev. Pitts
desembarcou no Rio de Janeiro. Mais tarde em 1836 e 1837, foram enviados o Rev.
Justin Spaulding e Rev. Daniel Parish Kidder, com suas respectivas famílias, para compor
a missão. Porém, essa missão é encerrada em 1841 por falta de recursos.
Em 1876, a Junta de Missões da Igreja Metodista Episcopal Sul, despertada
através da publicação das cartas nos jornais metodistas nos EUA, enviou seu primeiro
obreiro oficial: Rev. John James Ranson. Dedicou-se ao aprendizado do português para
proclamar as boas novas aos brasileiros, sendo o responsável pela criação da primeira
publicação metodista no Brasil, o Methodista Catholico. J. E. Newman e sua família
mudaram-se para Piracicaba, SP, onde permaneceram entre 1879 e 1880. O "Colégio
Newman" é considerado precursor do Colégio Piracicabano, hoje Unimep (Universidade
Metodista de Piracicaba).
Em 1859 Ashbel Green Simonton e Alexander Blackford, ambos Presbirerianos,
ordenaram o primeiro Pr. Protestante Brasileiro, José Manuel da Conceição, ex padre.
Em 1867 os Batistas chegaram do Sul dos Estados Unidos ao Porto de Iguape,
litoral de São Paulo. O Coronel William Hutchinson Norris estabeleceu-se em Santa
Barbara do Oeste – SP. Na sequencia vieram cerca de 8 mil americanos, grande parte
Batistas. Em 1871 foi organizada a primeira Igreja Batista de Santa Bárbara do Oeste
(distrito na época da atual cidade de Americana). Também teve a característica de uma
igreja étnica, não missionária, para atender o interesse dos colonizadores. O padre
Antônio Teixeira de Albuquerque foi o primeiro Pr. Brasileiro da Igreja Batista. Converteu-
se ao Protestantismo ouvindo uma pregação do Pr. Presbiteriano John Walker Smith.
A Constituição de 1891 determinou que o Brasil passaria a ser um estado Laico.
Até então, no Brasil Colônia, o País era teocrático, e a fé era monopolizada pela Igreja
Católica Apostólica Romana. Desde os atos constitucionais de 1834 o Brasil já começava
a caminhar para deixar de ser um país Católico Romano. Como podemos observar, é
justamente neste espaço que começam a chegar Igrejas Protestante ao Solo Brasileiro.
As que tentaram se instalar em séculos anteriores não tiveram qualquer sucesso.
127
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antonio Conselheiro


(1830-1897), era um líder religioso Brasileiro. Se autodenomivana “o peregrino”. Era
contrário a República, pois considerava a monarquia como direito divino, e portanto
inquestionável, a cobrança de tributos, ao casamento civil, ao estado laico e a
constituição. Era um radical católico e, de maneira antagônica, pregava a igualdade entre
os homens em tudo que não se referisse à Igreja e a monarquia. Considerava que essas
mudanças eram um sinal claro de que estava muito próximo o apocalipse.

21. UMA GERAL SOBRE AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

a) 1500 – 1822 – Brasil Colônia – religião oficial Catolicismo.


b) 1822: Independência do Brasil
c) 1824: primeira Constituição Brasileira – outorgada por D. Pedro I tendo como
jurista Benjamin Constant (não promulgada). 3 poderes (legislativo, executivo e judiciário),
e um quarto poder, o moderador. Religião oficial: Catolicismo. Voto censitário.
d) 1889: Proclamação da República.
e) 1891: Segunda Constituição Brasileira (primeira do Brasil República). Desde
1889 Marechal Candido Rondon ocupava a presidência provisoriamente. Fim do poder
moderador e da religião oficial. Manteve-se proibição de votos a mulheres, analfabetos e
indigentes. Instalou-se o habeas corpus. Eleição direta.
f) 1930: Golpe de estado por Getúlio Vargas encerra a República Velha.
g) 1934: Terceira Constituição Brasileira (segunda do Brasil República). Direito de
voto às mulheres. O voto passa a ser secreto e obrigatório aos maiores de 18 anos. Os
analfabetos ficaram proibidos de votar. Instauração dos direitos sociais (dos quais o
estado é responsável, como saúde, estudo...)
h) 1937: Quarta Constituição brasileira. Apenas 3 anos após a instauração da
Terceira Constituição Brasileira, chega seu fim. Getúlio Vargas dá um novo golpe de
estado, agora em seu próprio governo, e instaura a ditadura milita. Congresso nacional é
dissolvido, e instaura-se a constituição do estado novo (imposta, não promulgada),
10/11/1937. Suprimiu vários direitos civis, instituiu a pena de morte, suprimiu liberdade
política e de imprensa. Muitos opositores do novo regime foram presos ou exilados. As
eleições para o presidente da República passou a ser indireto.

128
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

i) 1946: Quinta Constituição Brasileira. Direitos e liberdade pública recuperados,


extinção da pena de morte, fim da censura prévia (imprensa). Eleiçoes voltam a ser
diretas.
j) 1967: Sexta Constituição brasileira, ditadura militar. Fim do habeas corpus para
crimes políticos. Fim da eleição direta. Fechamento do Congresso Nacional. Censura aos
meios de comunicação.
k) 1986. Eleição do primeiro congresso nacional Pós ditadura.
l) 1988. Sétima Constituição brasileira, vigente até os dias atuais. Analfabetos
podem votar, e o voto foi concedido a maiores de 16 anos. Eleição majoritária em dois
turnos. Licença maternidade e paternidade.

22. IGREJAS PROTESTANTES NO BRASIL

1. O site da Wikipédia
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_das_igrejas_protestantes_no_Brasil> nos oferece
uma cronologia das Igrejas Protestantes em solo brasileiro.

Cronologia das igrejas protestantes no Brasil


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A D
no ata Igreja Eventos Observação

Chegam ao Brasil os primeiros missionários calvinistas (huguenotes-franceses),


7Igreja
1 1ºs enviados por João Calvino à França Antártica antiga colonia francesa na
557
de Reformada Missionários Baía de Guanabara atual Estado do Rio de Janeiro
Março Francesa liderados pelos Reverendos Pierre Richier e Guillaume Chartier.

1 1º
Igreja Reformada Realizado o primeiro culto protestante nas Américas,
0 de Culto
Francesa oficiado pelo Reverendo Pierre Richier.
Março Protestante

2
Igreja Reformada 1ª No domingo, 21 de março, houve aprimeira celebração da Ceia do Senhor
1 de
Francesa Santa Ceia sob o rito calvinista.
Março

A Igreja Reformada Holandesa instala-se no Recife, PE.


Foram fundadas 22 igrejas protestantes no Nordeste, sendo que a maior era a do Recife e
contava, inclusive, com uma congregação inglesa e uma francesa.
Esta se reunia no templo gálico, que tinha no conde João Maurício de Nassau seu membro
1 NIgreja Reformada Fundação
mais ilustre.
630 D Holandesa da 1ª igreja
As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores (“predicantes”), além de pregadores
auxiliares (“proponentes”) e outros oficiais.
A Igreja Reformada Holandesa batizou índios, lutou por sua libertação e pretendia traduzir a
Bíblia para o tupi e ordenar pastores indígenas.

129
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

1 N 1º Chega ao Brasil na cidade do Rio de Janeiro - RJ,


Igreja Anglicana
816 D Capelão o primeiro capelão anglicano, Robert C. Crane.

1 2 1ª Inaugurada no Rio de Janeiro - RJ, a primeira capela anglicana,


Igreja Anglicana
822 6 de Maio Igreja direcionada aos estrangeiro anglicanos na sua maioria ingleses.

Inicio Chegam ao Brasil os primeiros luteranos vindos da Alemanha para a Região Sul.
1 N
Igreja Luterana da imigração Mais precisamente em São Leopoldo, RS e Blumenau, SC. Inauguração da Igreja Luterana
824 D alemã em Nova Friburgo (RJ).

Chega ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, RJ


1 1Igreja 1ºs
o primeiro casal de missionários da Igreja Congregacional,
855 0 de Maio Congregacional missionários
Robert Reid Kalley (escocês) e Sarah Poulton Kalley (inglesa).

1 Fundação 1ª Igreja Evangélica de estilo congregacional e de fala portuguesa no Brasil:


1 Igreja
1 de da 1ª igreja A Igreja Evangélica Fluminense fundada pelo missionário escocês Robert R. Kalley.
858 Congregacional
Julho congregacional Em 1913 junta-se a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil.

Igreja
1 1º
1 Presbiteriana do Missionário presbiteriano estadunidense chega ao Brasil,
2 de missionário
859 Brasil Ashbel Green Simonton.
agosto presbiteriano
(IPB)

Igreja
Fundação
1 JPresbiteriana do Fundador: Ashbel Green Simonton, missionário americano.
da 1ª
862 aneiro Brasil Fundada na cidade do Rio de Janeiro, RJ.
denominação
(IPB)

Igreja
1º Jornal
1 NPresbiteriana do "Imprensa Evangélica" primeiro jornal evangélico
Evangélico
864 D Brasil fundado por Ashbel G. Simonton.
do Brasil
(IPB)

Igreja
1 NPresbiteriana do 1º José Manoel da Conceição, ex-padre
865 D Brasil pastor brasileiro foi o primeiro brasileiro a ser pastor.
(IPB)

1º Junius Estaham Newman (americano) chega ao Brasil na cidade do Rio de Janeiro,


1 AIgreja Metodista
missionário pioneiro da obra metodista permanente no Brasil,
867 gosto (IM)
metodista fixando-se na cidade de Saltinho, próximo a Santa Bárbara d'Oeste, SP.

Fundação Reverendo Newman organiza, com nove membros a 1ª Igreja Metodista no Brasil
1 AIgreja Metodista da 1ª em Saltinho no interior de São Paulo.
871 gosto (IM) denominação Origem: Igreja Metodista Episcopal do Sul - EUA embora não apoiada oficialmente por essa
metodista organização.

Em 1871 um pequeno grupo de batista residentes em Santa Bárbara d'Oeste/SP,


1 Organização
organizaram a primeira igreja batista em solo brasileiro.
0 de Igreja Batista da primeira igreja
Os fundadores foram os Pr. Richard Ratcliff e o Pr. Robert Porter Thomas.
Setembro batista
Os cultos eram realizados em inglês, para servir aos imigrantes estadunidenses.

Fundação
j Iniciou-se na cidade do Rio de Janeiro, em 1878, com oito irmãos que saíram da Igreja
1 do movimento
unho/julh Casa de Oração Evangélica Fluminense depois de troca de correspondências com o irmão Richard
878 dos irmãos
o Holdenque havia sido co-pastor daquela mesma igreja ainda na época do Dr. Kaley.
no Brasil

1
1 Igreja Evangélica Fundação Iniciou-se na cidade do Rio de Janeiro, em 1879, com 11 membros que saíram da Igreja
1 de
879 Brasileira de denominação Presbiteriana liderados pelo doutor Miguel Vieira Ferreira.
Setembro

130
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Foi organizada a primeira Igreja Batista do Brasil, na cidade de Salvador/BA


Organizada com 5 membros fundadores, que são os pioneiros Willian Buck Bagby, Anne
Fundação
1 NIgreja Batista do Luther Bagby, Zacharias Clay Taylor, Kate Stevens Crawford Taylor e Antônio Teixeira de
da 1ª igreja
882 D Brasil Albuquerque. Taylor foi o primeiro pastor. Vinte cinco anos depois nessa mesma igreja seria
batista brasileira
organizada a Convenção Batista Brasileira, em 1907.
Origem: Igreja Batista de Santa Barbara d'Oeste, sustentados pela Junta de Richmond.

1 NIgreja Metodista 1º Bernardo de Miranda é o primeiro brasileiro


885 D (IM) pastor metodista nomeado como pastor metodista.

Igreja Evangélica
de Confissão
1 N Fundação Organizado o Sínodo Rio-Grandense da Igreja Evangélica Alemã,
Luterana no
886 D de denominação que em 1968 se tornaria a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
Brasil
(IECLB)

Igreja Episcopal Fundação


1 1 Fundadores: missionários Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris.
Anglicana do de denominação
890 de Junho Fundada na cidade de Porto Alegre, RS.
Brasil anglicana


1 NIgreja Adventista Albert B. Stauffer, primeiro missionário enviado ao Brasil
missionário
893 D do Sétimo Dia pela liderança mundial da Igreja Adventista, chega em São Paulo, SP.
adventista

1 8Igreja Adventista Fundação A primeira igreja adventista do Brasil é estabelecida com a


895 de Junho do Sétimo Dia de denominação inauguração de seu templo na cidade de Gaspar Alto, Santa Catarina.

Igreja Cristã
2 Fundador: Reginaldo Young (canadense).
1 Evangélica do Fundação
5 de Fundada na cidade de São Paulo, SP.
901 Brasil de denominação
Agosto Sede: Anápolis, GO.
(ICEB)

Igreja
Fundador: Reverendo Eduardo Carlos Pereira.
3Presbiteriana
1 Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
1 de Independente do
903 de denominação Sede: São Paulo, SP.
Julho Brasil
Dissidência: Igreja Presbiteriana do Brasil.
(IPI)

Igreja Evangélica Fundador: diversos pastores luteranos.


2
1 Luterana do Fundação Fundada na cidade de São Pedro do Sul, RS.
4 de
904 Brasil de denominação Sede: Porto Alegre, RS.
Junho (IELB) Origem: Igreja Luterana - Sínodo de Missouri.

Convenção
1 J Fundação Fundada por 32 delegados que representavam 39 igrejas,
Batista Brasileira
907 ulho de denominação reunidos na cidade de Salvador, BA
(CBB)

Fundação da 1°
denominação em
solo Brasileiro
que crê no
batismo pelo Fundador: Louis Francescon (italiano).
Congregação
1 2 espirito santo Fundada na cidade de Santo Antônio da Platina, PR.
Cristã no Brasil
910 0 de Abril (CCB) com evidência de Central do Brasil: Brás São Paulo, SP.
novas línguas Origem: igreja presbiteriana.
conforme o
espirito santo
conceda que se
fale.
1Igreja Evangélica
Primeiros Chegam ao porto de Belém, capital do Estado do Pará
9 de Assembleia de
missionários os missionários suecos batistas Gunnar Vingren e Daniel Berg vindos dos EUA,
Novembr Deus
assembleianos ao chegarem naquela cidade são acolhidos pela Igreja Batista local.
o (IEAD)
Igreja Evangélica
1 Fundadores: Missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg (suecos).
1 Assembleia de Fundação
8 de Fundada na cidade de Belém, PA.
911 Deus de denominação
Junho Adotando o nome de Missão da Fé Apostólica.
(IEAD)

131
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Convenção das
3
1 Igrejas Batistas Inicio
de Fundada na cidade de Guarani das Missões, RS, pelo missionário Erik Jansson (sueco).
912 Independentes de missão
Setembro (CIBI)
União das Igrejas
Evangélicas
1 N Fundação Treze igrejas locais originarias do trabalho do casal Kalley, se reuniram
Congregacionais
913 D de denominação e formaram a UIECB - União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil.
do Brasil
(UIECB)
Igreja Evangélica
1
1 Assembleia de Alteração
8 de Por sugestão de Gunnar Vingren, passou a chamar-se Assembleia de Deus.
918 Deus de nome
Janeiro (IEAD)
1Igreja Evangélica Chega ao Brasil o missionário e pastor japonês Takeo Monobe,
1 Inicio
5 de Holiness do dando inicio ao trabalho de visitação e evangelização no estado de São Paulo.
925 de missão
Julho Brasil Dia em que é comemorado o inicio da Missão Holiness no Brasil.
Igreja Evangélica Com a chegada da esposa do Pastor Takeo Monobe ao Brasil,
1 N Fundação
Holiness do é estabelecida na cidade de São Paulo, na rua Conde de Sarzedas no bairro da Liberdade
926 D de denominação
Brasil a sede da denominação.
2 Na Igreja Metodista Central da cidade de São Paulo,
1 Igreja Metodista Fundação
de foi organizada a Igreja Metodista do Brasil
930 do Brasil de denominação
Setembro . O primeiro bispo eleito foi o missionário John Willian Tarboux.
Fundador: Pastor João Augusto da Silveira.
2Igreja Adventista
1 Fundação Fundada na cidade de Paulista, PE , reconhecida como a primeira igreja pentecostal
4 de da Promessa
932 de denominação genuinamente brasileira.
Janeiro (IAP)
Dissidência: Igreja Adventista do Setimo Dia
1 Fundadores: membros oriundos da Assembleia de Deus destacando-se o Pastor Manoel
Igreja de Cristo
3 de Fundação Higino de Souza.
no Brasil
Dezembr de denominação Fundada na cidade de Mossoró, RN.
(IC)
o Dissidência: Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
9Igreja de Cristo Chega ao Brasil no porto do Rio de Janeiro - RJ, capital da nação na época
1 Inicio
de Pentecostal no o 1º missionário da "A Igreja de Cristo Pentecostal" Reverendo Horace S. Ward oriundo dos
935 de missão
Janeiro Brasil EUA.
1 Fundadores: Reverendos Daniel Masayoshi Nishizumi e Hiroyuki Hayashi (japoneses).
Igreja Metodista
1de Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
Livre
936 Novembr de denominação Sede: descentralizada.
(IMEL)
o Origem: Igreja Metodista Livre do Japão
Fundador: Reverendo Horace S. Ward (americano).
2Igreja de Cristo
1 Fundação Fundada na cidade de Serra Talhada, PE.
4 de Pentecostal no
937 de denominação Sede: Mogi Guaçu, SP.
Janeiro Brasil
Origem: A Igreja de Cristo Pentecostal - EUA.
Missão
Fundadores: missionários Harland e Hazel Graham (americanos).
Evangélica
1 N Fundação Fundada na cidade de Manaus, AM.
Pentecostal do
939 D de denominação Sede: Natal, RN.
Brasil
Origem Igreja da Beira da Estrada - Seattle, EUA.
(MEPB)
Igreja Fundadores: membros da Liga Conservadora da IPI,
1
1 Presbiteriana Fundação sob a liderança do Reverendo Bento Ferraz.
1 de
940 Conservadora do de denominação Sede: São Paulo, SP.
Fevereiro Brasil Origem: Igreja Presbiteriana Independente.
Fundador: Pastor Karl Spittler dentre outros.
Igreja Evangélica
1 Fundada na cidade de Panambi, RS.
1 Congregacional Fundação
1 de Sede: Panambi, RS.
942 do Brasil de denominação
Janeiro Origem: A IECB foi apoiada pela Igreja Evangélica Congregacional da Argentina e dos
(IECB)
EUA.
Igreja Evangélica
0
1 Avivamento Fundação de Fundadores Mário Roberto Lindstron, Oswaldo Fuentes e Alídio Flora Agostinho
7 de
946 Bíblico denominação Dissidência da Igreja Metodista do Brasil
setembro (IEAB)
2 Chega na cidade do Rio de Janeiro - RJ,
1 Igreja de Cristo Inicio
5 de o primeiro casal de missionários americanos Lloyd David Sanders e Ruth Sanders
948 no Brasil de missão
Março com a missão de estabelecer a "Igreja de Cristo" no Brasil.
Fundador: Missionário e Pastor Lloyd David Sanders.
1 NIgreja de Cristo Fundação Fundada na cidade de Goiânia, GO.
949 D no Brasil de denominação Sede: descentralizada.
Origem: Igreja de Cristo - EUA
1 1Igreja do Fundação Fundador: Missionário Harold Edwin Willians (americano) e Pr. Emílio Vasquez.
951 5 de Evangelho de denominação Fundada na cidade de São João da Boa Vista, SP.

132
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Novembr Quadrangular Sede: São Paulo/SP, Rua Gal. Olímpio da Silveira.


o (IEQ) Origem: Igreja do Evangelho Quadrangular - EUA
Convenção das
2
1 Igrejas Batistas Fundação
2 de Primeira convenção das igrejas batistas independentes.
952 Independentes de denominação
fevereiro (CIBI)
Fundador: Pastor Fued Moysés.
Ministério Voz
1 N Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
da Verdade
953 D de denominação Sede: Santo André, SP.
(VDV)
Dissidência: Igreja Metodista
2Igreja Fundador: Aldo Ferretti
1 Fundação de
1 de Renovadora Cidade: São Paulo, SP
953 denominação
fevereiro Cristã Dissidência: Congregação Cristã no Brasil
Igreja Evangélica Fundador: Missionário Manoel de Mello e Silva.
1 NPentecostal O Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
955 D Brasil Para Cristo de denominação Sede: São Paulo.
(OBPC) Dissidência: Igreja do Evangelho Quadrangular.
Igreja do Fundador: Missionário Earl Elwood Mosteller e sua esposa Gladys Marie Parker Mosteller.
1 Fundação de
1 Nazareno no Fundada na cidade de Campinas, SP.
2/10/195 denominação
958 Brasil Sede: São Paulo.
8 Brasil
(INB) .
Igreja Cristã de Fundador: Missionário Robert McAlister.
1 N Fundação da
Nova Vida Fundada na cidade do Rio de Janeiro RJ.
960 D denominação
(ICNV) Sede: Rio de Janeiro.
Igreja Fundador: Missionário David M. Miranda.
1 3Pentecostal Deus Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
962 de Junho é Amor de denominação Sede: "Templo da Glória de Deus" na cidade de São Paulo.
(IPDA) Dissidência: Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo.
Fundador: Pastor Luiz Schiliró.
1
1 Igreja Unida Fundação Fundada na cidade de São Paulo, SP.
2 de
963 (IU) de denominação Fusão das Igrejas: Igreja Cristã Pentecostal de Evangelização e Cura Divina “Maravilha de
Julho Jesus"; Igreja Evangélica do Povo e Igreja Cristã Evangélica Unida.
Igreja
Tabernáculo Fundador: Doriel de Oliveira.
1 9Evangélico de Fundação Fundada na cidade de Belo Horizonte, MG.
964 de Junho Jesus de denominação Sede: Catedral da Bênção na cidade de Taguatinga, DF.
Casa da Bênção Dissidência: Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo.
(ITEJ)
Convenção
1 J Exclusão Em Niterói - RJ, a CBB exclui 32 igrejas de seu rol,
Batista Brasileira
965 aneiro de igrejas por terem aceitado a doutrina pentecostal dos dons do Esprirto Santo em sua liturgia.
(CBB)
Convenção Fundação Sobem para 52 as igrejas recém desligadas da CBB
1 J
Batista Nacional de missão devido a aceitação da doutrina pentecostal. Devido aos fatos
966 aneiro
(CBN) independente os pastores Ilton Quadros e Artue Freire criam a Ação Missionária Evangélica.
Fundador: diversos pastores da Igreja Metodista do Brasil que aderiram ao movimento de
5Igreja Metodista renovação.
1 Fundação
de Wesleyana Fundada na cidade de Nova Friburgo, RJ.
967 Denominação
Janeiro (IMW) Sede: Nova Friburgo, RJ.
Dissidência: Igreja Metodista do Brasil.
Aliança das
Igrejas
1 Fundadores: diversos pastores oriundos da UIECB.
Evangélicas Fundação
0 de Sede: João Pessoa, PB.
Congregacionais de denominação
Agosto Dissidência: União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil.
do Brasil
(AIECB)
Por ocasião da primeira Assembleia Geral,
1Convenção
Fundação realizada na Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte - MG,
6 de Batista Nacional
de denominação com a presença de 43 representantes de 19 igrejas a AME - Ação Misssionária Evangélica
Setembro (CBN)
passa a se chamar Convenção Batista Nacional.
Igreja Cristã Fundada na cidade de Vila Velha, ES.
O Fundação
Maranata Sede: Vila Velha, ES.
utubro de denominação
(ICM) Dissidência: Igreja Presbiteriana do Brasil.
Fundador: Nilson Santos
NIgreja Cristã
Fundação Cidade: Telêmaco Borba, PR
/D Remanescente
Disseidência: Congregação Cristã no Brasil
Igreja Evangélica Surge a partir da união dos: Sínodo Rio-Grandense da Igreja Evangélica
1 Nde Confissão Fundação Alemã (1886); Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros
968 D Luterana no de denominação Estados da América do Sul (1905); Associação de Comunidades Evangélicas de
Brasil Santa Catarina e Paraná (1911);
133
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

(IECLB) Sínodo Evangélico do Brasil Central.


Igreja Universal Fundadores: Bispo Edir Macedo e Romildo R. Soares (R. R. Soares).
1 9do Reino de Fundação Fundada na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
977 de Julho Deus de denominação Sede: "Templo de Salomão" - São Paulo, São Paulo.
(IURD) Dissidência: Igreja Cristã de Nova Vida.
Igreja Fundadores: diversos pastores oriundos da IPB.
1
1 Presbiteriana Fundação Fundada na cidade de Atibaia, São Paulo.
0 de
978 Unida do Brasil de denominação Sede: Vitória, Espírito Santo.
Setembro (IPU) Dissidência: Igreja Presbiteriana do Brasil.
Fundador: Romildo Ribeiro Soares mais conhecido como Missionário R.R. Soares.
Igreja
1 N Fundação Fundada na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
Internacional da
980 D de denominação Sede: São Paulo, São Paulo.
Graça de Deus
Dissidência: Igreja Universal do Reino de Deus.
Fundadores: Apóstolo Estevam Hernandes e Bispa Sônia Hernandes.
Igreja Apostólica
1 N Fundação Fundada na cidade de São Paulo, São Paulo.
Renascer em
986 D de denominação Sede: São Paulo, São Paulo.
Cristo
Dissidência: Igreja Cristã Pentecostal da Bíblia.
Congregação Fundador: José Valério
1 N
Cristã no Brasil Fundação Cidade: Goiãnia, GO
991 /D
Renovada Dissidência: Congregação Cristã no Brasil
Comunidade Fundadores: Bispos Robson Rodovalho e Maria Rodovalho.
1 FEvangélica Sara Fundação Fundada na cidade de Brasília, Distrito Federal.
992 evereiro Nossa Terra de denominação Sede: Brasília, Distrito Federal.
(SNT) Dissidência: Comunidade Evangélica de Goiânia.
Fundador: Apóstolo César Augusto M. de Sousa.
1 NIgreja Apostólica Fundação Fundada na cidade de Goiânia, Goiás.
994 D Fonte da Vida de denominação Sede: Goiânia, Goiás.
Dissidência: Comunidade Evangélica de Goiânia.
Fundador: Pastor Aluízio Antônio Silva
1 N Fundação Fundada na cidade de Goiânia, Goiás.
Igreja Videira
997 D de denominação Sede: Goiânia, Goiás.
Dissidência: Igreja Luz Para os Povos.
Igreja Mundial Fundador: Apóstolo Valdemiro Santiago.
9
1 do Poder de Fundação Fundada na cidade de Sorocaba, São Paulo.
de
998 Deus de denominação Sede: Templo dos Milagres na cidade de São Paulo, São Paulo.
Março (IMPD) Dissidência: Igreja Universal do Reino de Deus.
Fundador: Apóstolo Rinaldo Luis de Seixas Pereira (Apóstolo Rina).
Bola de Neve
2 N Fundação Fundada na cidade de São Paulo, São Paulo.
Church
000 D de denominação Sede: São Paulo, São Paulo.
(Bola)
Dissidência: Igreja Apostólica Renascer em Cristo.
Igreja Fundador: Bispo José Elias e Pastora Cláudia.
2 NPresbiteriana Fundação Fundada na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro.
000 D Viva de denominação Sede: Volta Redonda, Rio de Janeiro.
(IPV) Dissidência: Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Igreja Apostólica Fundador: Apóstolo Agenor Duque e Bispa Ingrid Duque.
2 NPlenitude do Fundação Fundada na cidade de São Paulo, São Paulo.
006 D Trono de Deus de denominação Sede: São Paulo, São Paulo.
(IAPT) Dissidência: Igreja Mundial do Poder de Deus.
Igreja
0 Fundação
2 Pentecostal Fundador: Bispo Elcemir Durans
9 de de denominação
009 Última Aliança Fundada na cidade de Penalva, Maranhão.
Setembro e primeiro culto
(IPUA)
Fundador: Samuel Trevisan
Sede: Jandira, SP
Congregação Dissidência: Congregação Cristã no Brasil
m
2 Cristã no Brasil Fundação de Surgiu por ocasião de uma cisma entre os líderes da Congregação Cristã no Brasil -
aio de
010 - Ministério denominação Brás, que não acataram pedido de suas igrejas da cidade de Jandira, SP, na qual
2010 Jandira houve brigas e ameaças aos fiéis que frequentassem a nova demoninação
Comunidade Evangélica Renovadora 2011 Pastor Luiz Amaral Dissidência:
Comunidade da Graça

134
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

23. O MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL

As duas igrejas pioneiras do pentecostalismo brasileiro tiveram sua origem em


Chicago, através do ministério de William H. Durham (1873-1912), que fundou em 1907 a
Missão da Avenida Norte (North Avenue Mission). Um dos seus discípulos foi o italiano
Luigi Francescon (1866-1964), que havia emigrado para os Estados Unidos em 1890. Em
Chicago, ele se converteu ao evangelho e foi um dos fundadores da Igreja Presbiteriana
Italiana daquela cidade.
Em 1903, Francescon foi batizado por imersão e passou a reunir-se com um
grupo holiness, até descobrir a mensagem pentecostal na igreja do pastor Durham. Foi
batizado com o Espírito Santo em 1907 e recebeu uma profecia de Durham para que
levasse a mensagem pentecostal aos seus patrícios. Em 1909 ele e Giacomo Lombardi
foram a Buenos Aires, onde abriram uma igreja. No início do ano seguinte, Francescon
visitou São Paulo e a pequena Santo Antônio da Platina, no Paraná. Numa segunda
visita, em junho de 1910, ele criou a Congregação Cristã, que resultou em parte de um
cisma na Igreja Presbiteriana do Brás, constituída em boa parte de italianos. O fundador
nunca chegou a residir no Brasil, mas fez onze visitas entre 1910 e 1948, totalizando uma
estada de quase dez anos.
Seu ethos caracteriza-se por um rígido dualismo igreja-mundo e espírito-matéria,
e, no entanto, não pratica o legalismo de outros pentecostais. Destaca-se pelo
“iluminismo” religioso, apelando para revelações diretas de Deus no que diz respeito às
mensagens nos cultos e a decisões tomadas pela liderança. Suas reuniões, bastante
ordeiras em comparação com as de outros grupos pentecostais, dão forte ênfase aos
“testemunhos”. A igreja pratica uma forte cultura de ajuda mútua, denominada “obra de
piedade”. No plano administrativo, rejeita o excesso de organização, tem uma burocracia
mínima, e não conta com pastores, e sim com anciãos não-remunerados. A liderança é
baseada na antiguidade mais do que no carisma ou competência. Seus líderes são
praticamente anônimos e essa ausência de personalismo resulta numa tendência mínima
para cismas e ambições políticas. A homogeneidade interna do grupo é fortalecida pelo
constante contato entre os crentes de diferentes cidades e por uma convenção anual
realizada no Brás, na Semana Santa. Com as suas características inusitadas, a
Congregação Cristã no Brasil exemplifica o dinamismo e a diversidade do movimento
pentecostal.
A Igreja Assembleia de Deus, que veio a ser tornar a maior denominação
pentecostal e evangélica do Brasil, bem como uma das maiores do mundo, também teve
135
ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

as suas raízes em Chicago, a cidade norte-americana onde o pentecostalismo mais


cresceu nos primeiros tempos e na qual 75% da população era constituída de imigrantes
ou filhos de imigrantes. Entre estes estavam dois suecos de origem batista: Gunnar
Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1885-1963). Vingren, filho de um jardineiro, foi para
os Estados Unidos em 1903 e estudou no seminário da igreja batista sueca em Chicago.
Em seguida, pastoreou algumas igrejas e abraçou o pentecostalismo, época em que
conheceu o colega Daniel Berg. Este era filho de um líder batista e também havia
emigrado para os Estados Unidos. Retornando ao seu país em 1908, descobriu que um
amigo de infância, Levi Pethrus, havia se tornado pentecostal. Ele seria posteriormente o
líder do pentecostalismo sueco. Influenciado por Pethrus, Berg abraçou a fé pentecostal
quanto retornava para os Estados Unidos em 1909. Conhecendo Vingren, os dois se
uniram pelo ideal missionário. Enquanto oravam com um patrício, este profetizou que
deveriam ir para um lugar chamado Pará.
Os dois obreiros fixaram-se em 1911 em Belém do Pará, onde passaram a
frequentar a igreja batista, cujo pastor, Erik Nilsson ou Eurico Nelson, também era sueco.
Alguns meses depois, a mensagem pentecostal de Vingren e Berg produziu uma divisão
na igreja, surgindo assim o primeiro grupo da nova denominação, que inicialmente foi
chamado “Missão de Fé Apostólica”, um dos nomes dos primeiros grupos pentecostais
dos Estados Unidos. Só alguns anos mais tarde foi adotado o nome Assembleia de Deus.
A partir de 1914, outros missionários suecos começaram a chegar para auxiliar os
pioneiros. O auge da presença sueca na Assembleia de Deus ocorreu nos anos 30 e
praticamente cessou após 1950. O ano de 1930 foi muito significativo, porque marcou a
nacionalização do trabalho. Na primeira Convenção Geral, realizada em Natal, com a
presença de 11 suecos e 23 líderes brasileiros, a igreja adquiriu autonomia em relação à
missão sueca, que lhe transferiu todas as propriedades. Houve também a virtual
transferência da sede nacional de Belém para o Rio de Janeiro. Mais tarde surgiu uma
ligação mais estreita com os Estados Unidos, cujos missionários têm exercido influência
na área da educação teológica.
Fundada nos Estados Unidos em 1927 por Aimee Semple McPherson, a Igreja
Quadrangular chegou ao Brasil por meio do missionário Harold Williams, um ex-ator de
filmes de faroeste, que implantou a primeira igreja em São João da Boa Vista (SP), em
novembro de 1951. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo
Raymond Boatright o principal evangelista. Desde então essa igreja tem crescido
constantemente, sendo uma de suas peculiaridades a forte ênfase dada ao ministério
feminino. De todas as grandes igrejas pentecostais brasileiras (1,3 milhão de membros
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

segundo o Censo 2000), esta é a única que pode ser considerada uma filial da congênere
norte-americana. Todas as demais surgiram no próprio Brasil, ainda que algumas delas
tenham sido iniciadas por fundadores estrangeiros.
Um dos primeiros pastores da Igreja Quadrangular brasileira foi Manoel de Mello,
um ex-evangelista da Assembleia de Deus. Em 1955, ele separou-se da Cruzada
Nacional de Evangelização e organizou a campanha “O Brasil Para Cristo”, da qual surgiu
a igreja com o mesmo nome. Manoel de Mello surpreendeu o mundo evangélico em 1969
quando filiou sua igreja ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), filiação essa que se
estendeu até 1986. Em 1979 a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo
inaugurou o seu enorme templo no bairro da Água Branca, em São Paulo, sendo orador
oficial Philip Potter, o secretário-geral do CMI. Curiosamente, entre os presentes estava
D. Paulo Evaristo Arns, o cardeal arcebispo de São Paulo.
A Igreja Deus é Amor foi fundada por David Miranda, nascido em 1936, filho de
um agricultor do Paraná. Vindo para São Paulo, ele se converteu numa pequena igreja
pentecostal e em 1962 iniciou sua própria igreja na Vila Maria. Pouco depois a igreja
transferiu-se para o centro da cidade, sendo em 1979 adquirida a “sede mundial” da
Baixada do Glicério, onde há poucos anos foi construído um dos maiores templos
evangélicos do Brasil. A Igreja Deus é Amor até hoje não utiliza a televisão, mas é
proprietária de uma rede de emissoras de rádio e transmite os seus programas para toda
a América Latina. Destaca-se como a mais rígida e legalista de todas as igrejas
pentecostais. David Mirando morreu no ano de 2015.
O surgimento das igrejas pentecostais no Brasil é classificado como: primeira
onda, segunda onda e terceira onda (neopentecostalismo).
Primeira onda (PROTO-PENTECOSTALISMO): Congregação Cristã no Brasil,
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, Convenção Nacional das
Assembleias de Deus no Brasil, Missão Evangélica Pentecostal do Brasil, Igreja de Cristo
no Brasil, Igreja de Deus no Brasil, Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil, Igreja
Evangélica Avivamento Bíblico.
Segunda onda (DEUTERO-PENTECOSTALISMO): Igreja do Evangelho
Quadrangular, Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo, Igreja Pentecostal Deus
é Amor, Catedral da Bênção, Igreja Unida, Igreja União Evangélica Pentecostal, Igreja
Cristã Maranata, Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (carismática), Igreja Cristã de
Nova Vida, Igreja Pentecostal, Última Aliança.
Terceira onda (NEO-PENTECOSTALISMO): Igreja Universal do Reino de Deus,
Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo,
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Comunidade da Graça, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Apostólica


Fonte da Vida, Igreja Bola de Neve, Ministério Internacional da Restauração, Igreja
Mundial do Poder de Deus, Igreja Mundial do Poder de Cristo, Igreja Videira, Igreja Luz
Para os Povos, Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, Comunidade Cristã Paz e Vida,
Ministério Apascentar, Missões Evangelísticas Vinde Amados Meus.

24. O MOVIMENTO NEOPENTECOSTAL BRASILEIRO

O acontecimento mais marcante das últimas décadas no âmbito religioso do


Brasil foi o surgimento do neopentecostalismo, notadamente sua expressão mais
espetacular, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Sendo um fenômeno recente,
essa manifestação religiosa ainda está sendo objeto de uma identificação mais precisa,
inclusive no aspecto terminológico. Alguns autores falam em “pentecostalismo autônomo”.
Já o professor Antonio G. Mendonça utiliza a designação “pentecostalismo de cura
divina”, o que pode ser problemático, pois faria o neopentecostalismo retrocedor aos anos
50, com o início da segunda onda pentecostal.Seja qual for a designação, o fato é que
essa manifestação representa, ao lado de alguma continuidade, profundas rupturas com o
pentecostalismo clássico e muito mais ainda com o protestantismo histórico.
Esse fenômeno ainda em evolução tem como proposta religiosa básica o trinômio
cura-exorcismo-prosperidade. Diante das realidades de sofrimento e alienação que
caracterizam a sociedade moderna, principalmente nos grandes centros urbanos, essas
igrejas oferecem espaços de solidariedade e acolhimento, gerando um forte senso de
dignidade entre os seus participantes. Por outro lado, elas revelam uma clara tendência
para práticas sincréticas e mágicas, tais como a utilização crescente de objetos e rituais
como mediação do sagrado, a adoção do vocabulário e práticas da religiosidade popular
brasileira e o uso da Bíblia apenas como um instrumento para a solução de problemas.
Mendonça faz a seguinte avaliação contundente: “essas igrejas não constituem
comunidades de crentes comprometidos com a koinonia cristã. Estão sempre cheias, mas
de clientes que buscam solução mágica para os problemas do cotidiano e que estão
sempre em trânsito, na maioria das vezes mantendo sua identidade religiosa tradicional.
Não são, portanto, igrejas, mas clientela de bens de religião obtidos magicamente”
(MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, pentecostais & ecumênicos. São Bernardo
do Campo, SP: UMESP, 1997, p. 165).

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

Esse novo pentecostalismo se adapta muito bem à moderna cultura urbana


influenciada pela televisão e pela ética do capitalismo de consumo. Duas expressões
emblemáticas são a Igreja Universal do Reino e a Igreja Renascer em Cristo.
A Igreja Universal do Reino de Deus foi fundada pelo pastor Edir Macedo, nascido
em 1944, que possui uma biografia interessante e reveladora. Filho de um comerciante
fluminense, ele trabalhou por dezesseis anos na Loteria do Estado do Rio de Janeiro,
período no qual subiu de simples contínuo até um cargo administrativo. De origem
católica, ingressou quando adolescente na Igreja de Nova Vida, deixando-a para fundar
sua própria, inicialmente denominada Igreja da Bênção. Em 1977, ele deixou o emprego
público para dedicar-se integralmente ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o
nome IURD e o primeiro programa de rádio. Em 1980, houve um conflito de liderança
entre Macedo e seu cunhado Romildo Soares, o que levou este último a criar a Igreja
Internacional da Graça de Deus. Há anos Soares se destaca como o líder religioso que
ocupa maior espaço na televisão brasileira.
Macedo residiu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou para o Brasil,
transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. À
medida que construía um império econômico e de comunicações, a igreja também se
preocupou em buscar sustentação política, elegendo em 1990 três deputados federais, e
outros mais em anos posteriores. Em 1992, Macedo esteve preso por doze dias sob a
acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo. Um acontecimento que deu
grande publicidade à igreja foi o episódio do “chute na santa”, quando, em um programa
de televisão transmitido em 12 de outubro de 1995, o bispo Sérgio von Helde referiu-se de
modo desairoso a Maria, dando alguns chutes numa imagem da mesma. Apesar dos
percalços, a IURD tem crescido enormemente, sendo, graças à sua presença maciça na
mídia e aos seus grandes templos nas principais ruas e avenidas de muitas cidades, a
mais visível das igrejas evangélicas brasileiras. Segundo o último censo geral, tinha no
ano 2000 pouco mais de 2 milhões de adeptos no Brasil, além de muitos templos no
exterior.
A Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) é uma igreja cristã evangélica
neopentecostal fundada por Romildo Ribeiro Soares (mais conhecido como Missionário
R.R. Soares) em 1980, na cidade do Rio de Janeiro. Presente em 11 países, além do
Brasil, possui mais de 2.000 templos em seu total. Sua sede se encontra em São Paulo.
A decisão de Romildo Ribeiro Soares em se tornar um pastor evangélico, se deu em
1968, após RR Soares ler o livro Curai Enfermos e Expulsai Demônios (T.L.Osborn,
Graça Editorial). Foi através desta leitura, que despertou para o ministério evangelístico.
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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

No mesmo ano, conheceu Edir Macedo, que mais tarde veio a se tornar seu cunhado, na
Igreja de Nova Vida. Em 1975, junto dele e dos irmãos Samuel e Fidélis Coutinho, fundou
o Ministério Cruzada Para o Caminho Eterno. Pouco tempo depois, em companhia de Edir
Macedo funda a Igreja Universal do Reino de Deus, em 1977.
A Igreja Renascer foi fundada em 1985 pelo “apóstolo” Estevam Hernandes Filho
e sua esposa, a “bispa” Sônia Haddad Moraes Hernandes. Como outros líderes
pentecostais, Estevam teve uma origem humilde como filho de um jardineiro de cemitério
e começou a trabalhar aos 7 anos, fazendo carretos em feiras livres. Mais tarde,
desiludido com o catolicismo, filiou-se a uma igreja pentecostal, onde conheceu a futura
esposa. Sete anos depois, casaram-se e decidiram fundar sua própria igreja. À
semelhança dos pastores da IURD, o casal Hernandes tem grande habilidade em
conseguir contribuições dos fiéis. Todavia, ao contrário de Edir Macedo, ostentam com
orgulho sinais de riqueza, como roupas caras, joias e automóveis importados. O casal é
proprietário da Rede Gospel de Comunicação e por algum tempo procurou assumir o
controle da Rede Manchete de Televisão. A Igreja Renascer exemplifica um
pentecostalismo de classe média e tem forte apelo junto à juventude e a celebridades do
esporte e da mídia.
A Igreja Mundial do Poder de Deus é uma congregação cristã neopentecostal
fundada na cidade de Sorocaba, em 9 de março de 1998 pelo líder evangélico Valdemiro
Santiago. Inicialmente com sede no Grande Templo dos Milagres, num galpão de uma
antiga fábrica que tem 43 mil metros quadrados de área construída, localizada na Rua
Carneiro Leão, no Brás, em São Paulo. Posteriormente construiu uma megatemplo para
150 mil pessoas em São Paulo. Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) por
18 anos, após ser expulso por conta de desentendimentos com o bispo Edir Macedo,
fundou a Igreja Mundial em 1998.

24.1 CARACTERÍSTICAS DOS CULTOS NEOPENTECOSTAIS

Escritura: ênfase excessiva na experiência, profecias ou revelações, relativizando


a importância da Bíblia; interpretação bíblica literalista ou alegórica, conforme a
necessidade, sem atentar para as boas regras da hermenêutica; a Bíblia é considerada
acima de tudo um livro de promessas de Deus para os crentes.
Vida espiritual: entendimento da relação com Deus como uma transação,
perdendo-se o senso da salvação como dádiva imerecida da graça; visão dualista da

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

realidade (bem-mal, Deus-diabo) e tendência de atribuir todo mal a influências diabólicas,


minimizando a responsabilidade humana; ênfase excessiva na experiência e nas
emoções, que pode levar ao subjetivismo; interesse por modismos e novidades.
Liderança: estilo centralizador e personalista; culto à personalidade do líder,
considerado intocável (o “ungido do Senhor”); pequena participação dos fiéis na esfera
decisória e na administração dos recursos financeiros.
Ética: atitude triunfalista e ênfase no poder podem minimizar um viver ético; maior
ênfase aos dons do que ao fruto do Espírito; tendência para a alienação quanto aos
problemas da sociedade; atuação questionável na esfera política.
Culto: perigo de colocar os adoradores no centro das atenções ao invés de Deus
(antropocentrismo); liturgia condicionada por interesses pragmáticos (atrair e empolgar os
participantes) e preferências culturais, e não pelo ensino da Escritura.
Essas deficiências e outras são muito sérias e as igrejas históricas devem não só
orientar os seus próprios fiéis, mas ajudar os pentecostais e carismáticos a serem mais
bíblicos nessas áreas.
Por outro lado, os pentecostais, carismáticos e renovados oferecem algumas
lições importantes para as igrejas tradicionais ou históricas. O surgimento e crescente
aceitação desses movimentos sugere insatisfação com uma religiosidade formal e
rotineira, bem como o desejo de uma experiência mais profunda com Deus, de um culto
mais alegre e fervoroso, de uma vida cristã mais plena.
Embora haja diferentes perspectivas, em uma coisa todos concordam: o
pentecostalismo veio para ficar. As igrejas herdeiras da Reforma, como a presbiteriana,
podem adotar diferentes atitudes: tentar ignorar o movimento pentecostal, como se não
fosse relevante; hostilizá-lo, apontando somente para as distorções teológicas e éticas;
ou, preferivelmente, interagir com ele, aprendendo lições úteis com essa tradição e ao
mesmo tempo procurando influenciá-la, para que se torne mais íntegra e bíblica (É essa a
abordagem seguida pelo Rev. Antônio Carlos Costa, do Rio de Janeiro, que, através de
programas de televisão e das conferencias anuais que promove em sua igreja, tem
despertado grande interesse de muitos pentecostais em relação à fé reformada).

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. Concílio Vaticano II: 1962 A Revolução na Igreja (Documentário


Completo). https://www.youtube.com/watch?v=gjux5xGeKxo.
2. Breve História do Protestantismo no Brasil: Alderi de Souza Matos. 13 p.
Anexo pdf. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/6994.html>.
3. Aprenda como começou o movimento pentecostal no Brasil.
<https://www.youtube.com/watch?v=eBJe59Mtc-o>.Esse é um vídeo que registra o início
da Igreja Assembléia de Deus no Brasil.
4. História da Congregação Cristã no Brasil. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=sroD8d21Y2A>.
5. Diferenças Entre Pentecostais, Neo-Pentecostais, Batistas e
Presbiterianos-Augustus Nicodemus. Por Augustus Nicodemus Lopes. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=DOODXHTBndM>.

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

QUESTIONÁRIO 10:

1. Por que a maioria das cidades brasileiras foram construídas em volta de uma
igreja Católica Apostólica Romana?
2. Qual a origem da construção da cidade de São Paulo?
3. Por qual razão no Brasil era comum encontrarmos padres casados e até com
filhos?
4. Por que após a proclamação da República Brasileira começou a aumentar o
número de sacerdotes católicos Romanos estrangeiros?
5. No Brasil as primeiras igrejas protestantes chegaram apenas após a
proclamação da República ou pouco antes dela. Esta afirmação está correta? Justifique
com exemplos.
6. O Brasil poderia, pouco tempo após sua descoberta, ter sido colonizado com a
cultura dos protestantes reformados Holandeses. O que ocorreu para impedir que isso
ocorresse?
7. Oficialmente, quais as primeiras igrejas protestantes que chegaram ao Brasil
(dentre as que continuaram aqui instaldas)? Em que época?
8. Quais as duas primeiras igrejas pentecostais a se instalarem no Brasil? Em que
ano?
9. Dentre os movimentos das chamadas primeira e segunda onda do
pentecostalismo, o que diferencia a Igreja do Evangelho Quadrangular das igrejas da
primeira onda, como Congregação Cristã e Assembléia de Deus?
10. Qual igreja denota de forma singular o surgimento do NeoPentecostalismo
Brasileiro?
11. O que diferencia as igrejas Pentecostais das chamadas igrejas Tradicionais?
12. O que diferencia as igrejas NeoPentecostais das igrejas Pentecostais?
13. Na análise feita pelo Rev. Antônio Carlos Costa, quais atitudes das igrejas
Pentecostais e Neo Pentecostais devem ser observadas para evitar insatisfação com uma
religiosidade formal e rotineira das igrejas tradicionais?

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ISBL - História Eclesiástica II – Mario Biolada

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