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VERSÃO 4

Atualização Nov/2021
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

SUMÁRIO
Apresentação do curso ............................................................................................................................ 5
Introdução ............................................................................................................................................... 6
Texto 1) Atos dos Apóstolos (At 15, 1-21) ........................................................................................... 7
Texto 2) Novidades para o Sínodo: tem início a partir das Igrejas locais - 21/05/2021 ...................... 9
Texto 3) Papa está preparando reforma radical nas estruturas de poder na Igreja - 11/09/2021 ... 12
O Sínodo dos Bispos de 2023................................................................................................................. 15
O anúncio do Sínodo dos Bispos que seria realizado inicialmente em 2022 .................................... 15
A definição do tema do Sínodo dos Bispos de 2022.......................................................................... 15
A alteração da data do Sínodo dos Bispos para 2023 e a instituição do Caminho Sinodal ............... 15
Sínodo e Concilio na história da Igreja .................................................................................................. 17
Os Sínodos antes do Vaticano II ........................................................................................................ 17
As mudanças no mundo ocidental e a queda do poder da Igreja ..................................................... 19
Século XVIII. Maçonaria, Revolução Francesa, liberalismo, racionalismo, positivismo ................ 19
A Alemanha e o protestantismo .................................................................................................... 20
A América e o fim das colônias espanholas e do império do Brasil .............................................. 21
Século XX. Modernismo e luta do capitalismo contra o socialismo .............................................. 22
Período ultramontano ................................................................................................................... 23
Concílio Vaticano II – um Concílio que buscava reformas desde seu início ...................................... 24
O domínio dos teólogos liberais no CV II ....................................................................................... 26
O domínio dos teólogos liberais após o CV II – o Espírito do Concílio .......................................... 27
O Espírito do Concílio..................................................................................................................... 29
O Sínodo dos Bispos após o Vaticano II ............................................................................................. 30
O Motu Proprio Apostolica Sollicitudo .............................................................................................. 31
Sínodos já realizados ......................................................................................................................... 32
Código de Direito Canônico sobre o Sínodo dos Bispos .................................................................... 33
A Constituição Apostólica Episcopalis Communio – Sobre o Sínodo dos Bispos ............................... 34
As etapas do novo Caminho Sinodal ..................................................................................................... 37
Caminho Sinodal – cavalo de Tróia para a Teologia da Libertação e o Modernismo............................ 40
Influências relativas aos participantes .............................................................................................. 40
A descentralização das propostas dos temas .................................................................................... 41
Fiéis avalizando temas que desconhecem e ajudando a fundar uma nova igreja ............................ 42
Fase diocesana – etapa 1 ............................................................................................................... 43
Fase diocesana – etapa 2 ............................................................................................................... 44
Fase diocesana – etapa 3 ............................................................................................................... 44
Fase continental............................................................................................................................. 44
Fase universal ................................................................................................................................ 44
Sínodo da América Latina e Caribe – Análise crítica .............................................................................. 46
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Linha do tempo da escuta ............................................................................................................. 46


Site da escuta ................................................................................................................................. 46
O que é e o que não é uma atividade comunitária à luz da sinodalidade..................................... 47
Algumas curiosidades .................................................................................................................... 47
A Escuta ......................................................................................................................................... 48
Áreas da escuta.............................................................................................................................. 48
Olharmos o que fazemos ............................................................................................................... 48
Temas da Escuta – os sinais dos tempos ....................................................................................... 49
Consequências para a paróquia de não se abordar essas questões ............................................. 50
Cinco aspectos que deseja incorporar em sua jornada como discípulo missionário .................... 50
Sobre os desafios pastorais ........................................................................................................... 52
Do direcionamento dos temas, a impossibilidade de contestação das afirmações e domínio de
temáticas da Teologia da Libertação e dos modernistas ............................................................................... 52
Temas (sinais dos tempos) são impostos como afirmações que devem, obrigatoriamente, ser
tidas como verdades, não podendo ser repudiadas, caso não se concorde com elas............................... 53
Explicação dos temas tem direcionamento para a afirmação colocada, nunca para um
contraponto ................................................................................................................................................ 53
Campo aberto para posicionamentos de intelectuais da Teologia da Libertação ........................ 53
SINODALIDADE E A REFORMA DA ESTRUTURA DA IGREJA ................................................................... 54
Sinodalidade, o caminho que Deus espera? .................................................................................. 54
Sinodalidade, termo novo, não definido no Concílio Vaticano II .................................................. 56
Sinodalidade indica o modus vivendi e operandi da Igreja ........................................................... 57
O “caminhar juntos” ...................................................................................................................... 57
Desconstrucionismo teológico em ação ........................................................................................ 58
Sinodalidade e a protestantização da Igreja.................................................................................. 60
Materiais do Sínodo 2021-2023 ............................................................................................................ 62
DOCUMENTO PREPARATÓRIO............................................................................................................... 63
Objetivos ............................................................................................................................................ 63
Vade-mécum.......................................................................................................................................... 64
Questionamento básico......................................................................................................................... 64
Enfoques e Sinais dos tempos ........................................................................................................... 65
Total apego ao mundo ................................................................................................................... 66
Coletivo sobre o individual e o esquecimento dos princípios da Doutrina Social da Igreja .......... 66
O acomodamento do católico e a perda do dom da evangelização ............................................. 66
Dez núcleos temáticos e sua interrelação com outros Sínodos ............................................................ 67
I. Os companheiros de viagem .......................................................................................................... 67
II. Ouvir .............................................................................................................................................. 67
III. Tomar a palavra ............................................................................................................................ 67
IV. Celebrar ........................................................................................................................................ 68
V. Corresponsáveis na missão ........................................................................................................... 68

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

VI. Dialogar na Igreja e na sociedade................................................................................................. 68


VII. Com as outras confissões cristãs ................................................................................................. 69
VIII. Autoridade e participação .......................................................................................................... 69
IX. Discernir e decidir ......................................................................................................................... 69
X. Formar-se na sinodalidade ............................................................................................................ 69
Os questionários das Dioceses no Brasil................................................................................................ 70
Algumas questões finais ........................................................................................................................ 70
Conclusão............................................................................................................................................... 72

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

APRESENTAÇÃO DO CURSO
O objetivo deste curso é analisar a nova metodologia do Sínodo dos Bispos, definida pelo Papa
Francisco, o caminho sinodal ou, como é chamado, sinodalidade, bem como suas possíveis consequências na
Igreja Católica.’
No curso analisaremos as formas de reuniões dos bispos na história da Igreja, tanto em sínodos como
concílios, as definições de Paulo VI para o Sínodo dos Bispos. As discussões de Francisco apontando sua
preferência para a “sinodalidade” até a definição da nova metodologia de participação dos fiéis, definida em
2021.
Faremos a análise das fases desse novo método que defende uma participação dos fiéis na
abordagem de temas para a discussão dos Bispos, algo inédito na história da Igreja Católica, mas não menos
prejudicial às estruturas da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aprofundaremos no entendimento da pesquisa que permeia esse método, da chamada “escuta do
povo de Deus”. Pesquisa essa com temas intimamente ligados à Teologia da Libertação, da discussão de
temas mundanos, de políticas públicas que cabem ao Governo, da interferência de teólogos com formação
progressista e de religiosos de outras denominações religiosas interferindo na Igreja Católica. Discussão de
temas complexos para a aprovação de fiéis, que não estão preparados para, no mínimo, entender esses
temas, mais impossível ainda seria colocar uma escolha sobre eles. Tudo numa aura de participação plena
dos fiéis nos destinos da Igreja, mas que trazem uma estrutura democrática à Igreja, tão combatida pelo
Magistério e pela Tradição de dois mil anos da Igreja Católica. Veremos que esses temas propostos para
discussão, deixam de lado os objetivos de dois séculos da Igreja Católica, que é a conversão e a salvação de
almas.
Analisaremos os temas que foram propostos com o Sínodo da América Latina, que ocorreu nesse ano
de 2021.
O curso se propõe a abrir campos de discussão, uma visão de análise e de crítica sobre o novo
método proposto pelo Papa Francisco, devido à algumas influências perceptíveis de linhas políticas e sociais
e de suas vertentes de discussões ligadas à Teologia da Libertação, temas afeitos às condições do homem no
mundo e não a temas ligados à fé ou à doutrina propriamente dita, que foram os temas sempre em voga nos
sínodos e concílios já realizados pela Igreja.
Como se verá, várias publicações colocam que esse novo método é a continuidade da “reforma” a
que se propôs o Concílio Vaticano II, a qual estava pendente e necessária, conforme a ala progressista da
Igreja.
Acima dessa mudança de posicionamento nos sínodos o método do caminho sinodal pode
representar uma mudança na organização da Igreja, voltada para “ouvir” os fiéis, com o poder de definir
temas de preocupação dos bispos e do Papa, trazendo a Igreja para o mundano, em detrimento da
transcendência de Deus. De uma preferência maior ao homem do que a Deus.
E pior, uma mudança na forma administrativa da Igreja Católica Apostólica Romana, onde o povo
tenha mais voz, num caminho de protestantização, que vem se tentando instalar há décadas.
Assim, cria-se a necessidade de entendimento desse novo método e sua interpretação, pois ele
implica em desdobramentos que recairão sobre a Igreja de Cristo, podendo não apresentar resultados tão
positivos como estão a colocar seus defensores, mas sim tratar-se de mais um passo na consolidação de uma
nova estrutura de autoridade para uma “Nova Igreja”. Uma Igreja que tenha o homem como centro e o
mundo como objetivo final, em total discordância dos ensinamentos das Sagradas Escrituras, do Magistério e
da Tradição. Cabe a cada um interpretar os fatos, entendê-los e tirar suas conclusões. Esse curso tem o
objetivo de fazer os fiéis entenderem uma das facetas que são parte das mudanças preocupantes que vem
acontecendo na Igreja Católica, não só após o Concílio Vaticano II, mas que tem origens antes dele.
Bons estudos.
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Salve Maria Santíssima.

INTRODUÇÃO
Vamos iniciar esse curso com a leitura de três textos.
O primeiro texto é uma passagem das Sagradas Escrituras nos Atos dos Apóstolos (AT 15, 1-21), onde
se relata a primeira reunião dos Bispos da Igreja Católica nascente, com a presença direta dos Apóstolos,
realizado no ano de 49 D.C.1
O segundo texto é um artigo do Vaticannews, de maio de 2021 sobre o novo método de consulta
proposta pelo Papa Francisco, o Caminhos Sinodal, em preparação ao Sínodos dos Bispos, que se realizará
em 2023.
A matéria do Vaticannews relata uma reunião do Sínodo dos Bispos que se realizará em Roma no ano
de 2023, com a presença de Bispos, não em sua totalidade, conforme as regras do Sínodo dos Bispos,
instituída por Paulo VI em 1965 e com um novo método definido pelo Papa Francisco em 2021, com fases
anteriores à reunião dos Bispos em Assembleia. Essa nova metodologia, de participação de Igrejas
Particulares (Dioceses) e instituições religiosas e acadêmicas nas fases pré-sínodo é chamada de “itinerário
sinodal”, ou “Caminho Sinodal” e “sinodalidade”.
O terceiro texto, do site ncronline.org, traduzido pelo site domtotal.com, trata da radical reforma
pretendida pelo Papa Francisco da estrutura da Igreja Católica, por meio da sinodalidade.
Nada menos do que 1.974 anos separam o primeiro Sínodo de 49 D.C. do que se realizará em 2023.
Sendo que pretende-se agora alterar a estrutura da Igreja que perdurou por dois mil anos.

1
Alberigo, 1993; Tanner, 2003 e; Rops, 1988
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Texto 1) Atos dos Apóstolos (At 15, 1-21)


A passagem abaixo foi retirada da tradução da Bíblia Sagrada, Novo Testamento, do Padre Matos
Soares, o qual traduziu diretamente da Vulgata. Edição de 1956, Porto, Portugal.
Do lado direito estão os comentários explicativos do Padre Matos Soares sobre a referida passagem
bíblica.
15 — 1Ora alguns vindos da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se vos não circuncidais Motivo do
segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.» 2Tendo-se levantado uma Concílio
discussão e uma viva altercação entre eles e Paulo e Barnabé, resolveram que
fossem Paulo e Barnabé e alguns dos outros consultar os Apóstolos e os
presbíteros de Jerusalém sobre esta questão. 3Eles, pois, acompanhados (durante
algum tempo) pelos membros da Igreja, iam passando pela Fenícia e pela Samaria,
contando a conversão dos gentios, o que causava grande contentamento a todos
os irmãos.
4
Tendo chegado a Jerusalém, foram recebidos pela Igreja, pelos Apóstolos e pelos Recepção de
anciães, e contaram todas as coisas que havia feito Deus com eles. 5Mas Paulo e Barnabé
levantaram-se alguns da seita dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que em Jerusalém
era necessário (que os gentios) fossem circuncidados e que se lhes intimasse a
observância da lei de Moisés.
6
Reuniram-se, pois, os Apóstolos e os presbíteros para examinar esta questão. Reunião do
7
Tendo-se suscitado uma grande discussão, levantando-se Pedro , disse-lhes: Concílio;
«Irmãos, sabeis que Deus, há muito tempo, me escolheu entre vós para que da deliberações dos
minha boca ouvissem os gentios a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8Deus, Apóstolos
que conhece os corações, deu testemunho em favor deles, conferindo-lhes o
Espírito Santo, como também a nós, 9e não fez diferença alguma entre nós e eles,
purificando com a fé os seus corações. 10Logo, por que tentais agora a Deus,
impondo um jugo sobre as cervízes dos discípulos, que nem nossos pais, nem nós
podemos suportar? 11Pelo contrário, pela graça do Senhor Jesus Cristo, cremos ser
salvos, do mesmo modo que eles.»
12
Toda a assembleia se calou; e ouviam Barnabé e Paulo contar todos os milagres e
prodígios que Deus tinha feito por intervenção deles entre os gentios. 13Depois que
se calaram, Tiago tomou a palavra, dizendo: «irmãos, ouvi-me. 14Simeão contou
como Deus, desde o princípio, cuidou em tirar do meio dos gentios um povo que
fosse seu. 15Com isto concordaram as palavras dos profetas, como está escrito:
16
Depois disto voltarei e reedificarei o tabernáculo de David que caiu, repararei
as suas ruínas e o levantarei, 17a fim de que busquem a Deus todos os outros
homens e todas as gentes, sobre as quais tem sido invocado o meu nome, diz o
Senhor, que faz estas coisas, 18determinadas desde a eternidade (Am. 9,11-12).
19
Por isso sou de opinião que se não devem inquietar os que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, 20mas que se lhes escreva que se abstenham das
contaminações dos ídolos, da fornicação, das carnes sufocadas e do sangue.
21
Porque Moisés, desde tempos antigos, tem em cada cidade homens que o
pregam nas sinagogas, onde é lido todos sábados.»
22
Então pareceu bem aos Apóstolos e aos presbíteros, com toda a Igreja, eleger Promulgações das
algumas pessoas dentre eles, e enviá-las a Antioquia, com Paulo e Barnabé. decisões do
(Elegeram) Judas, que tinha o sobrenome de Barsabas, e Silas, pessoas eminentes Concílio
entre os irmãos, 23mandando por mão deles esta carta: «Os Apóstolos e os
presbíteros irmãos, aos irmãos convertidos dos gentios, que estão em Antioquia,
na Síria e na Cilícia, saúde. 24Tendo nós sabido que alguns, indo do meio de nós,
sem nenhuma ordem da nossa parte, vos perturbaram com discursos que agitaram

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

as vossas almas, 25aprouve-nos, depois de nos termos reunido, escolher alguns


homens, e enviá-los a vós com os nossos muito amados Barnabé e Paulo,
26
homens que leem exposto as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
27
Enviamos portanto Judas e Silas, que voz exporão as mesmas coisas e de viva voz.
28
Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargos
além destes indispensáveis: 29Que vos abstenhais das coisas imoladas aos ídolos,
do sangue, das carnes sufocadas e da fornicação, das quais coisas fareis bem em
vos guardar. Adeus.»
Notas de rodapé do Padre Matos Soares
15» 14. Simeão, forma aramaizante de Simão (Pedro).
20. Carnes sufocadas, isto é, carnes de animais mortos sem lhes ter sido tirado o sangue.

Notas de aula
Cervizes (At 15 10) – plural de cerviz, que é a região do posterior do pescoço; cachaço, nuca. Tem o
significa de coração duro, não se dobra, não curvar-se.
(Retirado de :https://www.dicionarioinformal.com.br/cerviz/)
A referida passagem pode também ser interpretada como peso sobre a nuca, sobre os ombros dos
discípulos, até pelo fato de se encontrar no plural.

Na primeira reunião dos Bispos realizada pela Igreja Católica, em 49 D.C. é discutida a questão da
circuncisão dos fiéis gentios. Alguns, vindos da Judéia, tinham como opinião que a salvação só poderia
ocorrer se houvesse a circuncisão, outros discordavam e tinham a opinião de que a circuncisão não poderia
ser uma imposição para a salvação. Claro notar que os judeus queriam uma imposição de suas leis vigentes,
assim os gentios teriam de ser circuncidados. Paulo e Barnabé identificaram o problema e levaram-no para
ser discutida entre as pessoas principais da Igreja, em Jerusalém. Essa reunião foi realizada com a
participação dos apóstolos e dos presbíteros – “Reuniram-se, pois, os Apóstolos e os presbíteros para
examinar esta questão.” (At 15, 6).
Nota-se aqui um método de decisão da Igreja. O clero identifica os problemas que perpassam pelos
fiéis e encaminha para a decisão dos bispos e do Papa, que tomam suas decisões para toda a Igreja.
Essa foi o método utilizado por quase dois mil anos pela Igreja Católica.
Em 2021 o Papa Francisco cria um novo método, o Caminho Sinodal, no qual os fiéis serão
consultados sobre vários temas que serão decididos no Sínodo dos Bispos.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Texto 2) Novidades para o Sínodo: tem início a partir das Igrejas locais - 21/05/2021
Este artigo do site vaticannews.com, de 21/05/2021, transcrito abaixo, traz informações de como
serão as etapas e as atividades do próximo Sínodo dos Bispos, que terá como parte inicial o Caminho Sinodal,
que se inicia em outubro de 2021. Link da matéria do Vaticannews:
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-05/sinodo-bispos-caminho-sinodal-inicio-a-partir-das-
igrejas-locais.html
O artigo traz um vídeo do Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos Cardeal Mario Grech, com as falas
do Subsecretário do Sínodo dos Bispos Dom Luis Marin de San Martin e da Subsecretária do Sínodo dos
Bispos Irmã Nathsalie Becquart. Esse vídeo pode ser acessado no link do artigo ou por este link:
https://www.youtube.com/watch?v=T0EVChK4jHI.

Novidades para o Sínodo: tem início a


partir das Igrejas locais
Em outubro próximo, o Papa dará início a um caminho
sinodal de três anos e articulado em três fases
(diocesana, continental, universal), feito de consultas e
discernimento, que culminará com a assembleia de
outubro de 2023 em Roma
Salvatore Cernuzio – Vatican News
21 maio 2021, 12:00
"Um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito
Santo." Para tornar concreta e visível aquela sinodalidade
desejada por Francisco desde o início de seu pontificado,
o próximo Sínodo dos Bispos será celebrado não somente
no Vaticano, mas em cada Igreja particular dos cinco
continentes, seguindo um itinerário trienal articulado em
três fases, feito de escuta, discernimento, consulta.
Leigos, sacerdotes, missionários, consagrados, bispos,
cardeais, mesmo antes de discutir, refletir e questionar-se sobre a sinodalidade na assembleia de outubro de
2023 no Vaticano, se encontrarão, portanto, vivendo-a em primeira pessoa. Cada um em sua diocese, cada
um com seu papel, com as suas instâncias.
Um processo sinodal integral
O itinerário sinodal, que o Papa aprovou, é anunciado em um documento da Secretaria do Sínodo no qual
são explicadas suas modalidades. "Um processo sinodal integral só será realizado de forma autêntica se as
Igrejas particulares estiverem envolvidas nele", diz o texto. Além disso, também será importante a
participação dos "órgãos intermediários da sinodalidade, isto é, os Sínodos das Igrejas católicas orientais, os
Conselhos e Assembleias das Igrejas sui iuris e as Conferências episcopais, com suas expressões nacionais,
regionais e continentais".
Pela primeira vez, um Sínodo descentralizado
Esta é a primeira vez, na história desta instituição querida por Paulo VI em resposta ao desejo dos padres
conciliares de manter viva a experiência colegial do Concílio Vaticano II, que um Sínodo começa
descentralizado. Em outubro de 2015, o Papa Francisco, comemorando o 50º aniversário desta instituição,
expressou o desejo de um caminho comum de "leigos, pastores, Bispo de Roma" através do "fortalecimento"
da assembleia dos bispos e "uma descentralização salutar". O desejo agora se torna realidade.
Abertura solene no Vaticano com o Papa

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Superando qualquer "tentação de uniformidade", mas visando uma "unidade na pluralidade", a abertura do
Sínodo terá lugar tanto no Vaticano quanto em cada diocese. O caminho será inaugurado pelo Papa no
Vaticano nos dias 9 e 10 de outubro. Seguir-se-ão três fases - diocesana, continental, universal - que visam
tornar possível uma verdadeira escuta do povo de Deus e, ao mesmo tempo, envolver todos os bispos em
diferentes níveis da vida eclesial.
Fase diocesana: consulta e participação do Povo de Deus
Seguindo o mesmo esquema, ou seja, com um momento de encontro/reflexão, oração e celebração
eucarística, as Igrejas particulares começarão seu caminho no domingo 17 de outubro, sob a presidência do
bispo diocesano. "O objetivo desta fase é a consulta do povo de Deus para que o processo sinodal se realize
na escuta da totalidade dos batizados", lê-se no documento. Para facilitar a participação de todos, a
Secretaria do Sínodo enviará um texto preparatório acompanhado de um questionário e um vade-mécum
com as propostas para a realização da consulta. O mesmo texto será enviado a Dicastérios da Cúria, Uniões
dos Superiores e das Superioras Maiores, Uniões ou Federações de Vida Consagrada, Movimentos leigos
internacionais, Universidades ou Faculdades de Teologia.
Um responsável diocesano
Cada bispo, antes de outubro de 2021, nomeará um responsável diocesano como ponto de referência e
conexão com a Conferência episcopal, que acompanhará a consulta na Igreja particular a cada passo. Por sua
vez, a Conferência episcopal nomeará um responsável ou uma equipe como ponto de referência junto aos
responsáveis diocesanos e à Secretaria Geral do Sínodo. O discernimento diocesano culminará em uma
"Reunião pré-sinodal" no final da consulta. As contribuições serão enviadas a sua própria Conferência
episcopal, até uma data determinada por esta última.
O discernimento dos pastores
Caberá então aos bispos reunidos em assembleia abrir um período de discernimento para "escutar o que o
Espírito suscitou nas Igrejas a eles confiadas" e fazer uma síntese das contribuições. A síntese será enviada
para a Secretaria do Sínodo, assim como as contribuições de cada Igreja em particular. Tudo isso será feito
antes de abril de 2022. Da mesma forma, também serão recebidas contribuições enviadas por Dicastérios,
Universidades, União de Superiores Gerais, Federações de Vida Consagrada, Movimentos. Uma vez obtido o
material, a Secretaria Geral do Sínodo elaborará o primeiro Instrumentum laboris, que servirá de esboço de
trabalho para os participantes da assembleia no Vaticano e que será publicado em setembro de 2022 e
enviado às Igrejas particulares.
Fase continental: diálogo e discernimento
Assim tem início a segunda fase do caminho sinodal, o caminho "continental", programado para durar até
março de 2023. O objetivo é dialogar a nível continental sobre o texto do Instrumentum laboris e realizar, em
seguida, "um ato ulterior de discernimento à luz das particularidades culturais específicas de cada
continente". Cada reunião continental dos episcopados nomeará, por sua vez, antes de setembro de 2022,
um responsável que atuará como referência junto aos próprios episcopados e à Secretaria do Sínodo. Nas
Assembleias continentais será elaborado um documento final, a ser enviado em março de 2023 para a
Secretaria do Sínodo. Ao mesmo tempo das reuniões continentais, também se deverão realizar assembleias
internacionais de especialistas, que poderão enviar suas contribuições. Por fim, será elaborado um
segundo Instrumentum laboris, cuja publicação está prevista para junho de 2023.
Fase universal: os bispos do mundo em Roma
Este longo percurso, que quer configurar "um exercício da colegialidade dentro do exercício da
sinodalidade", culminará em outubro de 2023 com a celebração do Sínodo em Roma, de acordo com os
procedimentos estabelecidos na Constituição promulgada em 2018 pelo Papa Francisco Episcopalis
Communio.

O Caminho Sinodal altera a forma de consulta, que antes era dos próprios bispos, e também do
Papa. Coloca-se agora uma participação dos fiéis na definição dos temas relevantes para discussão do Sínodo
dos Bispos.
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Mas o que poderia ser apenas uma simples opinião dos fiéis, sobre o que esses consideram como
problemas relevantes para a Igreja, carrega algumas questões mais profundas.
Historicamente a missão da Igreja no mundo sempre foi definida pelos bispos e Papas, pelo fato de
que são eles que carregam o sentido da Igreja de Jesus Cristo, que é propagar a boa nova, o evangelho e
converter as pessoas, Essa missão foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo.
No curso iremos trabalhar mais profundamente esta proposta.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Texto 3) Papa está preparando reforma radical nas estruturas de poder na Igreja -
11/09/2021
O texto abaixo foi tirado do site domtotal.com2 e foi traduzido do site ncronline.org3.
Para os que não conhecem, a Igreja Católica apresenta uma diversidade de sites que discutem os
temas da doutrina católica, mas esses sites, assim como os membros do clero da Igreja, apresentam
vertentes de pensamentos diferentes. O site domtotal.com é ligado a uma linha progressista da Igreja
Católica. Nesse sentido as pautas do site sempre têm relação com matérias de cunho bem ligados ao Concílio
Vaticano II, mais modernista, mais reformista.
Desta forma, temos um texto que é claramente defensor das mudanças que, como se coloca, o Papa
Francisco pretende realizar na Igreja.
Com esse sentido vamos ler e analisar o texto.
Estão sublinhadas algumas passagens relevantes que iremos discutir e serão relevantes para esse
curso, pois trazem luz a pontos importantes de reformas nunca vistas na Igreja Católica e que são temerárias.

Papa está preparando reforma radical nas estruturas de poder da Igreja


RELIGIÃO
11/09/2021 | domtotal.com
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Inverter a estrutura piramidal da Igreja Católica pode ser assustador para alguns.
Claire Giangrave
NCR
Em 2001, o cardeal Jorge Bergoglio foi
relator da reunião dos bispos do
Vaticano - e não gostou do que viu.
A Igreja Católica havia adotado uma
abordagem de cima para baixo que
privava as igrejas locais de qualquer
poder ou tomada de decisão, reduzindo
o sínodo dos bispos a nada mais do que
um selo de aprovação para as
conclusões pré-estabelecidas por Roma.
Quando Bergoglio assumiu como papa
Francisco no conclave de 2013, o
processo sinodal estava no topo de sua
lista de reformas.
"Houve um cardeal que nos disse o que
deveria ser discutido e o que não
deveria", disse Francisco sobre sua
experiência no sínodo geral de 2001, em
entrevista ao jornal argentino La Nación

2
https://domtotal.com/noticia/1538290/2021/09/papa-esta-preparando-reforma-radical-nas-estruturas-de-
poder-da-igreja/
3
https://www.ncronline.org/news/vatican/pope-francis-preparing-radical-reform-churchs-power-structures
12
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

em 2014. "Isso não vai acontecer agora", acrescentou o papa.


De 9 a 10 de outubro, Francisco inaugurará um processo de preparação de três anos para o sínodo de 2023,
que se concentrará na reforma do processo sinodal. O processo de preparação e o Sínodo de 2023, com o
tema "Por uma Igreja sinodal: Comunhão, participação e missão", têm o potencial de revolucionar a forma
como as decisões são tomadas na Igreja Católica e promover uma estrutura de autoridade mais
descentralizada.
"Se as pessoas pensam nisso apenas como um encontro ou mais uma reunião, estão perdendo o ponto
principal", disse o padre David McCallum, diretor executivo do Programa de Discernimento da Liderança da
Universidade Gregoriana de Roma e membro da Comissão Sinodal de Metodologia, em entrevista ao
Religion News Service.
O processo de revisão sinodal de três anos acontecerá em três fases: uma fase local em nível diocesano e
paroquial; uma fase continental, envolvendo conferências episcopais em todo o mundo, e uma fase
universal, quando bispos e leigos se reunirão em Roma para discutir as conclusões e tópicos desenvolvidos
nas duas primeiras fases. Para coordenar e orientar todo o processo, Francisco criou um comitê gestor de
cinco membros, rodeado por duas comissões de metodologia e teologia.
A estrutura hierárquica da qual Francisco se afastou no Vaticano em 2001 se reflete atualmente nas
dioceses católicas em todo o mundo. Ao longo da história, "tornou-se muito natural que os bispos, que
muitas vezes eram os líderes mais educados e preparados na região em que a Igreja estava localizada,
exercessem sua liderança como um prefeito", explicou McCallum.
Falando ao La Nación, Francisco disse que a governança da Igreja "está em minhas mãos, depois que
receber os conselhos necessários". Longe de ser uma imposição autoritária, os organizadores do sínodo
dizem que o papel do papa é garantir a unidade, o que ajuda a distinguir a sinodalidade de um debate
parlamentar.
O objetivo da comissão de metodologia na primeira fase é fornecer às dioceses e paróquias orientações que
promovam espaços de diálogo entre todos os membros da comunidade - leigos, religiosos e desfavorecidos.
Os bispos serão convidados a nomear uma pessoa de referência cujo trabalho é facilitar e criar
oportunidades de encontro. Ao instruir as pessoas sobre o discernimento individual e comunitário, "o
sínodo terá uma qualidade formativa antes das pessoas entrarem nele", disse McCallum.
Na Venezuela, Rafael Luciani, professor titular da Universidade Católica Andrés Bello em Caracas e
extraordinarius da Escola de Teologia e Ministério do Boston College, aborda a sinodalidade no contexto
latino-americano.
Luciani é teólogo leigo e membro da Comissão de Teologia do Sínodo. Seu trabalho, antes da inauguração
do processo sinodal em Roma, é coordenar seminários que envolvam toda a Igreja latino-americana. Ao
colocar uma lente de aumento nas paróquias locais, Luciani espera encontrar um modelo envolvente que
possa ser aplicado às dioceses e conferências episcopais em todo o mundo.
No final das contas, o Sínodo de 2023 provavelmente mudará a dinâmica de poder e as relações na Igreja
Católica, mas a mudança "tem que vir das igrejas locais, não de Roma", disse Luciani à RNS.
Inverter a estrutura piramidal da Igreja Católica pode ser assustador para alguns, os proponentes admitem,
levantando preocupações de que o Vaticano se tornará nada mais do que um passo burocrático no processo
de tomada de decisão da Igreja ou - pior ainda - semelhante a uma organização não governamental.
Em vez disso, o novo processo sinodal é "uma espiral", explicou Luciani, onde a cada fase as decisões são
enviadas das dioceses e conferências episcopais à Roma e depois voltam. "Pela primeira vez existe uma
interação, não é um procedimento linear", acrescentou.
Essa "nova cultura eclesial" é a verdadeira novidade do sínodo, segundo Luciani, mas as dúvidas
permanecem nas igrejas locais, onde a "grande questão", segundo Luciani, "é a questão da autoridade".
A autoridade está intimamente ligada ao clericalismo, uma "perversão do sacerdócio", como diz Francisco,
que também induz os leigos a acreditar que aqueles que receberam o ministério sacerdotal estão acima do
rebanho, especialmente no exercício do poder. A corrupção financeira, a imoralidade e o abuso sexual por

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

parte do clero são apenas alguns exemplos das consequências de um clero intocável. Com a sinodalidade,
Francisco espera romper com uma tradição que inexoravelmente amarrou o poder na Igreja Católica aos
membros do clero.
A sinodalidade se propõe a renovar as estruturas de poder que caracterizam a Igreja Católica há séculos,
mas para isso deve atingir um objetivo muito mais ambicioso: ensinar fiéis, leigos e religiosos a se unirem no
diálogo em um momento em que o entrincheiramento e a polarização transformaram a "cultura do
encontro" do papa Francisco em um conceito quase utópico e - ironicamente – de divisão.
Nesse esforço, o sínodo "vai além da visão do papa Paulo VI e das diferentes formas de proceder do papa
João Paulo II e do papa Bento XVI e vai além dos primeiros sínodos do papa Francisco", disse Luciani.
Os Estados-nação também lutam para reconciliar as diferenças das realidades locais com um mundo cada
vez mais centralizado. Países como a Hungria, a Polônia, o Brasil, a Rússia, as Filipinas e até mesmo os
Estados Unidos mudaram "para uma forma mais autoritária ao tentar estabelecer a ordem como defesa
contra o caos e a incerteza", disse McCallum.
"A Igreja, uma organização enraizada na fé, precisa ter um histórico melhor do que simplesmente recorrer à
autoridade de cima para baixo", acrescentou.
Os membros das comissões sinodais hesitam em dizer quais mudanças estruturais ocorrerão na cúpula do
Vaticano em outubro. Seria contra o propósito de união se não houvesse "uma sensação de
imprevisibilidade e de possibilidade", disse McCallum.
Francisco entende que o sínodo é mais sobre "iniciar processos" do que obter resultados imediatos.
Reformar os seminários é essencial para promover a formação de clérigos capazes de superar as diferenças
e encontrar um terreno comum, segundo McCallum.
"Percebemos que é um processo geracional", apontou o diretor do programa.
Embora esta conclusão possa parecer desanimadora, o sínodo não é o primeiro passo neste processo.
Baseia-se na experiência ortodoxa oriental do Sínodo de Jerusalém em 1672 e nas transformações
desencadeadas no Concílio Vaticano II de 1962-1965, bem como nos últimos sínodos sob os três últimos
papas.
A sinodalidade já funcionou antes. "Já foi o testemunho dos bispos de que eles mudaram", disse Luciani,
citando exemplos de prelados que foram transformados em suas crenças durante os sínodos no Vaticano
sobre os jovens em 2018 e na região pan-amazônica em 2019.
A Conferência Episcopal Latino-americana, Celam, tem uma vantagem na aplicação da sinodalidade. Desde
antes do encontro de Aparecida de 2007, no qual o cardeal Bergoglio desempenhou um papel fundamental,
a Igreja na América Latina envolveu leigos e comunidades locais em consultas vivas com o objetivo de
promover a responsabilidade compartilhada e o diálogo. Luciani, consultor especialista do Celam, disse que
esse processo sinodal oferece uma visão profunda sobre como "voltar a um modelo de Igreja como a Igreja
das Igrejas".
"Não se trata apenas de quem toma essa decisão", disse Luciani, "mas de como chegaremos a essa decisão
juntos".
A aposta de Francisco como orientador espiritual inaciando de 1,2 bilhão de católicos no mundo - se bem-
sucedida - poderia se tornar uma declaração contracultural para uma nova maneira de tomar decisões que
outras instituições poderiam aprender.
A sinodalidade "precisa demonstrar ao mundo que temos fé de que a verdade e a bondade supremas para
as quais Deus nos chama não serão estabelecidas pelo poder secular, o tipo de poder de controle
unilateral", disse McCallum. "Vai se manifestar quando expressarmos nosso amor e afeto um pelo outro
com autenticidade, quando vivermos com a integridade de nossos valores e comportamentos."
Publicado por NCR - Tradução: Ramón Lara

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

O SÍNODO DOS BISPOS DE 2023

O anúncio do Sínodo dos Bispos que seria realizado inicialmente em 2022


Em fevereiro de 2020 o Vaticano anunciava que o próximo Sínodo dos Bispos, a XVI Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, ocorreria no outono4 de 20225. O anúncio se deu durante a XV
Conselho Ordinário da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos, presidido pelo Papa Francisco, reunido em
Roma nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2020. Anunciava ainda que não havia a definição de qual seria o tema
do Sínodo dos Bispos e que havia uma lista de possíveis temas a serem tratados, que fora construída por
consultas realizadas em 2019 nas diferentes Conferências Episcopais, nos Sínodos das Igrejas Católicas
Orientais sui iuris, nos dicastérios da Cúria Romana e na União dos Superiores Gerais. A partir daquela data
“é o Pontífice quem tem o poder de escolher o tema definitivo”6.

A definição do tema do Sínodo dos Bispos de 2022


Em 7 de março de 2020 é anunciado que o tema da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos seria “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.” e que estava marcado para
outubro de 20227.
A razão de se realizar o sínodo de 2022 seria “garantir um maior envolvimento de toda a Igreja na
preparação e celebração do próximo Sínodo Ordinário”8.

A alteração da data do Sínodo dos Bispos para 2023 e a instituição do Caminho Sinodal
Conforme o documento “Nota do Sínodo dos Bispos”, de 21/05/20219, o Papa Francisco aprovou a
mudança da forma da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tinha previsão de se
realizar em outubro de 2022, e definiu o caminho, de três fases, que seria seguido para o Sínodo,
mantendo-se o mesmo tema, já definido anteriormente: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e
missão””.
Com isso, a data da Reunião final foi alterada para outubro de 2023, e foi definida as fases anteriores,
que envolverá várias áreas da Igreja. Iremos analisar essas partes mais à frente.

4
Neste caso, o período do outono refere-se à Itália, sendo assim entre os meses de setembro e dezembro de 2022.
5
As informações da realização do Sínodo dos Bispos em 2022 consta nos seguintes sites:
VaticanNews - https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-02/papa-francisco-tema-sinodo-bispos-2022.html;
ACIDIgital - https://www.acidigital.com/noticias/vaticano-anuncia-quando-sera-celebrado-o-proximo-sinodo-dos-
bispos-58302; Domtotal - https://domtotal.com/noticia/1423398/2020/02/papa-francisco-convoca-sinodo-dos-bispos-
para-2022/
6
Conforme o site ACIDIgital - https://www.acidigital.com/noticias/vaticano-anuncia-quando-sera-celebrado-o-proximo-
sinodo-dos-bispos-58302
7
Informação veiculada nos seguintes sites: VaticanNews - https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/em-
2022-sinodo-bispos-igreja-sinodalidade.html ; ACIDigital - https://www.acidigital.com/noticias/vaticano-revela-qual-
sera-o-tema-do-proximo-sinodo-dos-bispos-97142
8
ACIDigital - https://www.acidigital.com/noticias/vaticano-revela-qual-sera-o-tema-do-proximo-sinodo-dos-bispos-
97142
9
Em https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2021/05/21/0314/00693.html#en
15
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Nota do Sínodo dos Bispos, 21.05.2021

XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos

“Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”

O Papa Francisco, em 24 de abril de 2021, aprovou um novo itinerário sinodal para a


XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, inicialmente prevista para
outubro de 2022, com o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e
missão”. O Secretariado Geral do Sínodo dos Bispos, com o parecer favorável do
Conselho Ordinário, propôs modalidades inéditas para o caminho rumo às
Assembleia.
O caminho para a celebração do Sínodo será dividido em três fases, entre outubro de
2021 e outubro de 2023, passando por uma fase diocesana e uma fase continental,
que dará vida a dois Instrumentum Laboris diferentes , até o final da Igreja universal.
O Sínodo dos Bispos é o ponto de convergência do dinamismo da escuta mútua no
Espírito Santo, conduzida em todos os níveis da vida da Igreja (cf. Discurso do Santo
Padre Francisco em comemoração do 50º aniversário da instituição da Igreja Sínodo
dos Bispos , 17 de outubro de 2015). A articulação das diferentes fases do processo
sinodal possibilitará assim uma verdadeira escuta do Povo de Deus e garantirá a
participação de todos no processo sinodal. Não é apenas um acontecimento, mas um
processo que envolve em sinergia o Povo de Deus, o Colégio Episcopal e o Bispo de
Roma, cada um segundo a sua função.10
Note-se que a proposta do caminho sinodal foi feita pelo Secretariado Geral do Sínodo dos Bispos,
com parecer do Conselho Ordinário e aprovado pelo Papa Francisco.
A nota altera a forma de realização do sínodo que seria realizado em 2022, com o advento de uma
estrutura inédita de fases diocesanas e continentais, culminando na fase Universal, na assembleia dos
Bispos propriamente dita, e com dois novos Instrumentos Laboris, além daquele que seria o relativo à
própria assembleia.
A ideia central do sínodo é a escuta do Povo de Deus, em uma sinergia do Povo de Deus o Colégio
Episcopal e o Papa.11
Antes de iniciarmos uma análise da estrutura do futuro Sínodo dos Bispos, e do significado da
metodologia (Caminho Sinodal), e suas implicações, vamos analisar alguns aspectos históricos do sínodo na
Igreja Católica.

10
Este é um extrato da parte inicial do documento, o restante do documento, com o esquema do Sínodo dos Bispos de
2023, será analisado mais à frente.
11
O termo “Povo de Deus” é muito utilizado quando se trata do tema da sinodalidade. Mas não era uma expressão
usada pela Igreja até o Concílio Vaticano II. O termo usado antes era “Corpo Místico de Cristo” (Mystici Corporis Christi).
Na Carta Encíclica Mystici Corporis, do Papa Pio XII, de 1943 (https://www.vatican.va/content/pius-
xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_29061943_mystici-corporis-christi.html), que trata sobre o “Corpo Místico
de Jesus Cristo e nossa união nele e com Cristo” em nenhum momento é utilizada a expressão “povo de Deus”.
Conforme relata o Papa Bento XVI, em seu discurso no Encontro com o Clero de Roma, de 14/02/2013, duas semanas
antes de renunciar ao Papado, ele diz que nos anos 40 e 50 surge a crítica ao conceito Corpo de Cristo, com a opinião de
que “místico” seria demasiado espiritual, demasiado exclusivo. Desse entendimento, começou-se a usar o termo “Povo
de Deus”, que depois foi aceito pelo Concílio Vaticano II, considerando uma consitnuidade do Antigo e do Novo
Testamento. Mas após o Concílio é que ocorreu a ligação do Povo de Deus com o Corpo de Cristo, que é “precisamente
a comunhão com Cristo na união eucarística; aqui tornamo-nos Corpo de Cristo. Podemos dizer que a relação entre
Povo de Deus e Corpo de Cristo cria uma nova realidade: a comunhão.” (https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-xvi_spe_20130214_clero-roma.html).
16
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

SÍNODO E CONCILIO NA HISTÓRIA DA IGREJA


As palavras Sínodo e Concílio eram sinônimas, na história da Igreja até o Concílio Vaticano II,
quando Paulo VI publicou o Motu Proprio Apostolica sollicitudo, por Paulo VI em 1965, que definiu a forma
do Sínodo dos Bispos que tem a finalidade de aconselhar o Papa sobre determinados assuntos. Com isso
surge uma diferença entre os significados de Sínodo, que tem um papel consultivo, e o termo Concílio, que
é uma Assembleia Eclesial que tem poder legislativo e executivo 12. Essa diferença está expressa no Código
de Direito Canônico, como será visto mais à frente.
Essa diferença somente foi aplicada pela Igreja Católica Romana. E até o Vaticano II, não havia
distinção entre os termos Sínodo e Concílio13.
Desta forma, vamos analisar como era a questão dos sínodos e concílios antes do Vaticano II. Depois
passamos para a diferenciação pós Vaticano II.

Os Sínodos antes do Vaticano II


Conforme Norman P. Tanner (2003), era de se esperar que os termos fossem sinônimos no passado,
em decorrência da etimologia da palavra ser muito próxima em seu significado, pois trata-se uma de origem
grega (sínodo = σύνοδος) e outra de origem latina (concílio = concilium). Existem palavras correspondentes
a essas duas em várias línguas: synod e council em inglês; synode e concile em francês; sinodo e concilio em
italiano; synode e konzil em alemão. A palavra sínodo também existe em latim como synodos, sendo uma
transliteração da palavra grega, que significa “assembleia”, não sendo claro se assume o caráter consultivo
ou executivo”14.

A palavra grega σύνοδος – que foi utilizada no início, pois era a língua usada pela maioria
dos Concílios antigos – está composta de dois vocábulos: σύν, que significa “juntos”, e
óδος que significa “caminho” ou “viajem”. Tem o sentido de uma assembleia de pessoas
que viajam juntas.15
Em sua origem o termo σύνοδος referia-se a qualquer assembleia, secular ou religiosa, só
mais tarde se restringiu seu uso a, praticamente, concílios da Igreja16.

Na história da Igreja os sínodos foram comuns a partir da segunda metade do século II, e eram
bastante frequentes nessa época. Tinha como função decidir dificuldades que ocorressem, ou para as
reuniões de bispos e delegados para a tomada de decisões em conjunto. Mas sempre se tratava de reuniões
regionais ou provinciais, restritas a uma região, devido aos perigos das perseguições religiosas contra o
cristianismo. Só depois de Constantino foi possível a realização do primeiro concílio ecumênico, em Nicéia,
no ano de 32517.

12
Tanner. Norman P. Los Concilios de La Iglesia Breve história. Madrid. 2003, p. 10.
13
Idem, Ibidem.
14
Idem, Ibidem.
15
Idem, Ibidem
16
Idem, p. 11.
17
O Concílio de Nicéia, em 325, é considerado pela literatura o primeiro concílio ecumênico. Todavia os Atos dos
Apóstolos (At 15, 4-21) cita a primeira reunião dos apóstolos, em Jerusalém, no ano 49 D.C. Essa reunião não é
considerada um concílio, mas sim um sínodo ou um concílio regional, sendo que nem é citado como um dos Concílios
oficiais da Igreja Católica, os quais se iniciam com o de Nicéia (conforme a obra de Giuseppe Alberigo, Historia de los
Concilios ecumenicos, Salamanca, 1993 e de Norman P. Tanner, Los Concilios de la Igresia, 2003) (Rops, p. 452).
17
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

No momento em que o Império é sacudido pelas forças da desagregação, e se veem


regiões inteiras entrarem em secessões que duram décadas, a Igreja tende cada vez mais
para uma unidade hierárquica e orgânica. Não há aí um esforço sistemático, mas uma
tendência profunda para realizar de forma concreta aquela unidade que, espiritualmente,
todo o cristão experimenta, e fixá-la em instituições. Um dos meios que se desenvolvem
no decurso do século III é o concílio ou sínodo, que já existia na segunda metade do
século II, mas que agora se torna um hábito constante. Sempre que surge uma
dificuldade, ou mesmo periodicamente, os bispos e os delegados das comunidades
reúnem-se e tomam decisões em conjunto. Não é possível citar todos os concílios que se
realizaram no decorrer do século III em Roma, em Antioquia, em Alexandria, em Cartago ,
na Gália e na Espanha. É certo que se trata apenas de reuniões regionais ou provinciais ,
pois seria ainda difícil, ou até mesmo perigoso, realizar uma assembleia plenária da
cristandade numa época em que o cristianismo continuava ameaçado pelas
perseguições; só depois da pacificação de Constantino é que se reunirá o primeiro dos
concílios ecumênicos, ou seja o de Nicéia. Mas desde já, quando se trata de casos que
dizem respeito a toda a Igreja, os sínodos provinciais realizam-se simultaneamente nas
dioceses metropolitanas e confrontam depois os seus respectivos trabalhos .18 (negritos
e grifos nossos)
Já em 314 , logo após o seu primeiro triunfo, Constantino entrara em conflito com Licínio;
derrotou-o, tirou-lhe a Ilíria, a Grécia e a Macedônia e repeliu-o quase totalmente para a
Ásia. E de ano para ano , as relações entre os dois cunhados foram-se azedando. (...) Uma
regulamentação propositadamente minuciosa e irritante , que pretendia proibir aos
cristãos as reuniões de homens e mulheres , e aos bispos que saíssem de suas dioceses e
se reunissem em sínodos , provocou certas resistências , a que Licínio respondeu com
uma perseguição em regra.19

Somente a partir do primeiro concílio ecumênico de Nicéia é que todos os bispos do mundo cristão
foram envolvidos nas decisões, sempre para um consenso de temas relacionados à Igreja.
As discussões e condenações em relação ao arianismo ocorreram em sínodos. Em 321 na cidade de
Alexandria, 32120 e em 355 em Paris21. Permeado pelo Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325, que foi
convocado para discutir o mesmo tema22, e de onde foi instituído, para fixar o dogma católico contra Ário, o
“Símbolo de Nicéia”.
Outros sínodos foram realizados em Milão (345, 355, 389, 451, 860)23, em Roma (313, 382, 465, 499,
721, 731, 731, 745, 898, 963, 964)24, em Alexandria (378) e em Antioquia (379)25. E muitos outros.
Lamentavelmente, não poderemos informar os temas tratados nos vários sínodos e quantos foram
realizados, pelo fato de não se encontrar fontes que tratem especificamente desse assunto. Existem várias
fontes sobre os Concílios, a partir de Nicéia, mas nada, pelo menos em documentos publicados ou da
internet, que tratam especificamente dos sínodos da Igreja.
Assim, os sínodos eram realizados apenas pelos bispos da Igreja, que decidiam os problemas e
tomavam as decisões. E isso dentro de suas regionais ou províncias, de forma restrita.
As decisões colegiadas nunca foram estranhas à Igreja. Foram sim uma prática para dirimir dúvidas,
mas sempre ocorreram envolvendo os bispos da Igreja. Claro que suscitados por acontecimentos e fatos
que ocorriam envolvendo a Igreja.

18
Rops Daniel, A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo. 1988. p.323.
19
Idem, p. 415.(que
20
Idem, p. 449, p. 468, p.
21
Idem, p. 468.
22
Idem, p. 451
23
Em https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADnodo_de_Mil%C3%A3o
24
Em https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADnodos_de_Roma
25
Rops, Daniel. A Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo. 1991. p. 153
18
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Mas as ocorrências no mundo, a partir da Revolução Francesa, tomaram rumos que interferiram na
posição da Igreja no mundo ocidental.

As mudanças no mundo ocidental e a queda do poder da Igreja


As mudanças ocorridas no mundo ocidental, nos 200 anos antes do Concílio Vaticano II, impactaram
a forma de realização e participação de outras pessoas com influência no Concílio, além dos bispos. Antes de
analisarmos essas novas influências conciliares, é necessário entender o que a Igreja Católica enfrentou com
movimentos, revoluções e guerras, que alteraram em vários sentidos a realidade vigente no Século XVIII e o
peso que a Igreja Católica tinha no mundo.
Desde a Reforma Protestante de 1517, com o monge agostiniano Martinho Lutero, até a Revolução
Francesa, em 1798, várias acontecimento marcaram mudanças no mundo cristão da época, a Cristandade.
até os anos de 1960Revolução Francesa até os anos de 1960, o mundo ocidental passou por uma alteração
social, econômica, valorativa, tecnológica, geopolítica e cultural nunca vistos antes, com uma grande
alteração de valores e de formação de várias ideologias e formas de governo e econômicas que
confrontavam com os ensinamentos da Igreja Católica. Esses fatos terão impacto na forma da estrutura
criada para o auxílio dos bispos no Concílio Vaticano II.

Século XVIII. Maçonaria, Revolução Francesa, liberalismo, racionalismo, positivismo


O Século XVIII teve, logo em seus primeiros anos, nada mais nada menos do que o início da
Maçonaria, no ano de 1717. Neste século também apresentou o início da Revolução Industrial (1760-1840). E
culminou com a Revolução Francesa (1789). As ideais do iluminismo (liberdade, igualdade e fraternidade),
que tiveram mais sucesso do que o governo em si (que foi desbancado pelo poder bélico e o prestígio de
Napoleão Bonaparte, que era integrante das hostes revolucionárias de 1792) influenciaram o mundo, tanto
na base da Ciência do Direito como nas lutas sociais e na filosofia, criando várias ideologias, dentre elas os
mais marcantes: o liberalismo, o nacionalismo.
Do liberalismo nasceu a ”visão antropocêntrica do mundo (o homem no centro)”26 que, conforme
este ideário, “o poder emana do povo, e não de Deus; e não há uma religião verdadeira”27. Aliado a isso,
Augusto Comte (1798-1857) traz o positivismo onde “considerava que na história humana não havia mais
lugar para a teologia e a metafísica, passava a valer só o pragmatismo e o cientificismo, que trariam a
felicidade ao homem e o progresso ilimitado à humanidade”28. A partir daí a teologia colocada de lado nos
meios acadêmicos, e a metafísica era relegada ao esquecimento, junto a isso, os ensinamentos da teologia
medieval forma sendo desconsiderados como filosofia, chegando a não serem tidos uma das partes da
formação da filosofia nas universidades nos dias de hoje. Doravante, os ensinamentos de Santo Agostinho,
Santo Tomás de Aquino e os Padres da Igreja são descartados como ciência, sendo relegados apenas à
formação dos padres, isso até o momento em que, a partir dos anos 60, a formação dos padres é dominada
por linhas teológicos modernistas e tiram, tanto da filosofia como da teologia os ensinamentos da teologia
medieval.
A Igreja teve de enfrentar no final do Século XVIII ataques de questões religiosas. Na Alemanha inicia-
se o movimento do febronianismo que propunha a volta das heresias do conciliarismo. Direcionava-se para
“a nacionalização do catolicismo, a limitação do poder do Papa, em favor do episcopado, com a alegação que
a instituição de Jesus Cristo não era uma monarquia. Propunha a reunião das igrejas católicas dissidentes
com a cristandade”29. Além do febronianismo, a Igreja teve de enfrentar o jansenismo e o quietismo.
O “positivismo – uma religião sem transcendência - foi assim a chave para superar o cristianismo,
desvendando todos os mistérios e explicando a realidade”30. Esse pensamento deu frutos ruins com

26
AQUINO, Felipe. História da Igreja Idade Moderna e Contemporânea. Cleofás. 4 ed. 2020. p. 359.
27
AQUINO, Idem, Ibidem.
28
AQUINO, Idem. Ibidem.
29
AQUINO, Idem. p. 336.
30
AQUINO, Idem. Ibidem.
19
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Emannuel Kant (1724-1804), Georg Hegel (1770-1831), Ludwig Feuerbach (1804-1872) e depois com Karl
Marx (1818-1883) e o marxismo. Surge um liberalismo católico, liderado por um padre francês Felicité
Lamennais (1782-1854), que esboçou um programa de reforma da Igreja, mas foi contido pelo Papa Gregório
XVI (1831-1846), pela Encíclia Mirari vos (1832), onde se condenou pontos fundamentais da proposta: a
igualdade de tratamento de todas as religiões que levava ao indiferentismo religioso [que vemos hoje nas
propostas de ecumenismo da Igreja]; a separação completa entre a igreja e o Estado [que iria se iniciar na
segunda metade daquele mesmo Século XIX, e se fundamentar nos primeiros anos do Século XX], e liberdade
ilimitada de consciência, de opinião e de imprensa [que parece que temos nos dias atuais, mas que não passa
de um controle dos meios de comunicação e de opinião por parte dos progressistas]31. Surgiu o laicismo
anticristão e a busca de explicar a realidade excluindo Deus: Hegel, Charles Darwin (1809-1882) e Kant.
Podemos resumir os dogmas do liberalismo em quatro pontos:
1. Supervalorização da liberdade individual: Ser livre é mais importante que fazer o bem
ou o mal;
2. A autoridade deve garantir a liberdade individual absoluta;
3. Absoluta autonomia da razão individual – racionalismo;
4. Soberania absoluta da natureza – nada é sobrenatural.

Cada um é o autor da lei para si mesmo e juiz dos seus atos; não há autoridade acima da sua. É o
que Bento XVI chamou de ditadura do relativismo, que não aceita a verdade. O Estado obedece
a maioria, não a verdade e a moral. Moral, verdade, religião são cadeias que asfixiam. Gera
democracia doentia.32

Outra corrente filosófica anticristã foi o racionalismo. Os adventos da ‘crítica da historicidade da


Sagrada Escritura’ e o seu esvaziamento sobrenatural, levaram os racionalistas a negar a divindade de Cristo
e a autenticidade dos Evangelhos”. Nesta linha teremos Friedrich Strauss, teólogo e exegeta alemão (1808-
1874), Ernest Renan (1823-1892), Adolf Harnack (1851-1930), que tentaram destruir a credibilidade nos
evangelhos e a divindade de Jesus Cristo33.
Com o peso de tudo isso a Igreja, teve de enfrentar, a partir da segunda metade do Século XIX outras
situações: As lutas entre tradicionalistas e liberais, que geraram revoluções entre 1830 e 1848 (Alemanha), as
lutas de unificação da Itália (o Resorgimento, 1815-1870) e da Alemanha, deposição de governos de
monarcas e imperadores, que tinham ligação com a Igreja; a laicização dos estados a partir dos Século XIX
(França, Itália, Bélgica, Alemanha, Suíça)34; a retirada da responsabilização da Igreja pela educação pública; a
influência das doutrinas do cientificismo e do materialismo35; a instalação do capitalismo com valores de um
inédito consumismo e foco no hedonismo.

A Alemanha e o protestantismo
A Alemanha, sendo o berço do nascimento do protestantismo, sempre foi um ponto de confronto
entre protestantes e católicos, e por sua vez com a Igreja Católica.

31
AQUINO, Idem. Ibidem.
32
AQUINO, Idem. p. 360.
Hoje podemos ver que o posicionamento não é da opinião da maioria sobre temas de moral. Com as ideias plantadas
pela Escola de Frankfurt, o poder está nas minorias, principalmente raciais e de gênero.
33
AQUINO, Idem. p. 360. Esses autores tentaram de várias formas desconstruir o evangelho e provar que Jesus Cristo
era uma farsa. Depois de muito tentar e pesquisar, não tiveram sucesso. Após 50 anos de trabalho Renan teve de
afirmar que “EM suma, admito como autênticos os quatro Evangelhos canônicos (Vie de Jèsus) (Aquino, p. 361.
34
ROPS, Daniel. A Igreja das Revoluções I. Diante de novos destinos. Quadrante. 2003. p. 712
35
ROPS. Op. Cit. 2003. p. 713
20
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

A Prússia em 1871 incluía 16 milhões de protestantes, reformados e luteranos, e 8 milhões de


católicos. A maioria das pessoas era geralmente segregada em seus próprios mundos religiosos,
vivendo em distritos rurais ou bairros da cidade que eram predominantemente da mesma
religião e enviando seus filhos para escolas públicas separadas onde sua religião era ensinada.
Houve pouca interação ou casamento entre os grupos religiosos. No geral, os protestantes
tinham um status social mais alto, e os católicos eram mais propensos a serem camponeses ou
trabalhadores industriais não qualificados ou semiqualificados. Em 1870, os católicos formaram
seu próprio partido político, o Partido do Centro Alemão, que geralmente apoiava a unificação e
a maioria das políticas de Otto von Bismarck. No entanto, Bismarck desconfiava da democracia
parlamentar em geral e dos partidos da oposição em particular, especialmente quando o Partido
do Centro Alemão mostrava sinais de obter apoio entre elementos dissidentes, como os
católicos poloneses na Silésia. Uma poderosa força intelectual da época era o anti-catolicismo,
liderado pelos intelectuais liberais que formavam uma parte vital da coalizão de Bismarck. Eles
viam a Igreja Católica como uma poderosa força de reação e anti-modernidade, especialmente
após a proclamação da infalibilidade papal em 1870 e o controle mais rígido do Vaticano sobre
os bispos locais.36

Tensões entre a Alemanha e a hierarquia da Igreja Católica, representadas em


um jogo de xadrez entre Otto von Bismarck e o Papa Pio IX. Between Berlin and
Rome, Kladderadatsch, 1875.37

A América e o fim das colônias espanholas e do império do Brasil


No início do Século XIX, a Igreja Católica contava com 41 dioceses e 23 universidades, nos países de
língua espanhola, e todo o povo era católico. Já no início do Século iniciou-se o fim da colonização espanhola
na América Latina, com a independência de vários países: Venezuela (1821), Colômbia (1818), México (1821),
Peru (1824) Equador (1836) e Chile (1840). Os movimentos revolucionários tomaram várias medidas contra a
Igreja: a Colômbia expulsou os jesuítas e tornou o ensino laico; No México a Constituição (1857) determinou

36
Wickipedia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Alem%C3%A3o#Era_Bismarck. Marjorie Lamberti,
"Religious conflicts and German national identity in Prussia, 1866–1914", in Philip G. Dwyer, ed. Modern Prussian
History: 1830–1947 (2001) pp. 169–187
37
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/81/Kladderadatsch_1875_-
_Zwischen_Berlin_und_Rom.png
21
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

a extinção do foro religioso, proibição dos votos, proibição da Igreja adquirir bens, outorga para o governo
interferir nos cultos e na disciplina eclesiástica, nacionalização dos bens da Igreja, supressão das ordens
religiosas e estabelecimento de liberdade de culto. Essas ações mexicanas repercutiram na Guatemala
(1879), Honduras (1880), El Salvador (1894), Colômbia (1845), Venezuela e Equador (1877), e na Argentina.
No Brasil, o Império manteve os poderes da Igreja, mas a Constituição de 1891 definiu a liberdade de culto.38
Felipe Aquino cita a ocorrência de um Sínodo na América Latina em 1888. Cita também concílios
nacionais em 1852, 1866 e 1884, na América do Norte. Provavelmente devido aos problemas enfrentados
pela Igreja.39
No apagar das luzes do Século XIX, o Brasil determina o fim do Império e é proclamada a República
em 1899. Com isso ocorre a separação do Estado e da Igreja Católica.

Século XX. Modernismo e luta do capitalismo contra o socialismo


O Século XX veio marcado pela imposição das várias ideologias criadas nos últimos 200 anos. A
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o esfacelamento da geopolítica europeia até o Século XIX; em 1917
as ideias marxistas foram colocadas em prática na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas; o capitalismo
aumentou seu poder, mas teve um grande revés na Crise de 1929 na Bolsa de Valores de Nova Iorque, que
destruiu a economia mundial e colocou milhões de pessoas na pobreza, levando países à bancarrota e
possibilitando o surgimento de movimento políticos nacionalistas na Europa como o Partido Nacional
Socialismo na Alemanha (Hitler e o Nazismo – 1920-1945), o Partido Nacional Fascista na Itália (Mussolini e o
Fascismo – 1922-1943); guerras civis pelo enfrentamento contra o comunismo: a Espanha lutava desde 1920
contra os comunistas, até a conflagração da Guerra Civil no país (1936-1939), com a vitória da Frente
Nacionalista de Francisco Franco, de linha conservadora. Logo depois eclode a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) onde, a URSS, sendo uma das partes vitoriosos, conseguiu aumentar seu poder territorial em
grande parte da Europa oriental, expandindo os braços do socialismo e ateísmo no Velho Mundo. Essa
expansão da URRS possibilitou o aumento da influência das teorias marxistas em várias áreas de
conhecimento e aumentou a propagação do socialismo para outras partes do mundo, China (1949), Cuba
(1959), Vietnam (1954); a Guerra Fria (1947-1991) que dividiu o mundo entre EUA (OTAN) e URRS (Pacto de
Varsóvia) numa luta ideologia e geopolítica que buscou, cada um a seu modo, colocar seus valores no
mundo, de um lado o protestantismo e o capitalismo e, de outro, as ideias marxistas conjugadas com o
Estado ateu. Com a junção das ideias da revolução francesa e do marxismo, muitas antigas colônias do
Terceiro Mundo foram se dissolvendo em revoluções e independência dos países, tornando-se campos de
batalha para os dois lados da Guerra Fria vigente, com isso várias guerras (Vietnã, Laos e Camboja e também
em vários países da África) e conflitos (Crise de Suez, em 1956; crise de Berlim, em 1961; crise dos mísseis em
Cuba, 1962) eclodiram nos anos 50 e 60, que envolviam tanto os EUA como URSS pelo poderio mundial na
América Latina, Oriente Médio, África e Ásia. Aliado a isso, a influência filosófica de pensadores modernistas,
e seus discípulos da Escola de Frankfurt, e de pensadores protestantes, confirmaram a diminuição do peso da
influência da Igreja nas ciências e na forma de educação acadêmica, proporcionando, mais e mais, visões
conflitantes e de enfrentamento com os ensinamentos da Igreja Católica.
Apesar disso, ocorreu a tentativa de ressureição do tomismo, em pequena escala, ainda hoje tendo
um crescimento, apesar de pequeno. Mas pouco influenciando na formação dos padres, tomado pelas
correntes modernistas, tanto na filosofia como na teologia.
Em 1903 Pio X condenou o modernismo. Esse movimento “considerava os dogmas apenas como
símbolos de uma verdade que não se pode alcançar; esvaziava o conteúdo sobrenatural da fé católica”. Teve
influência do protestantismo liberal alemão, que propunha “racionalizar a fé cristã, para torná-la aceitável à
mentalidade ‘moderna’, esvaziando-se de todo conteúdo dogmático e sobrenatural”. Os modernistas não
tinham o interesse de abandonar a Igreja, mas sim reformá-la, a partir do seu interior. O modernismo tem
por base filosófica o imanentismo, sendo a ‘consciência religiosa’ a norma suprema da vida cristã. “É uma
doutrina metafísica segundo a qual a presença do divino é pressentida pelo homem, mas não pode ser

38
AQUINO, Op. Cit. p. 366-367.
39
AQUINO, Idem p. 367.
22
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

objeto de qualquer conhecimento claro. Defende que a presença de Deus é intrínseca aos seres particulares,
negando a existência de influências transcendentais. O imanentismo crê que a força criada não se pode
separar do mundo natural”40.

Período ultramontano
Toda essa avalanche de mudanças sociais e políticas no mundo ocidental, com especial atenção ao
modernismo, foram enfrentadas dentro da Igreja Católica por um movimento chamado Ultramontanismo. O
Ultramontanismo compreende o período de 1800 a 1960.
Ultramontanismo vem da palavra latina ultramontanus, que significa “além da montanha”.
O termo "ultramontanismo", cujo significado é "para além dos montes", tem origem entre os
séculos XI e XIII14 e, segundo Ítalo Santirocchi começou a ser usado na França, a partir do século
XIII, para "designar os papas escolhidos ao norte dos Alpes" (SANTIROCCHI, 2015, p. 161). Mas
foi no século XIX que o termo passou a significar o pensamento e a postura da Igreja Católica
frente às transformações trazidas pela Revolução Francesa. (SANTIROCCHI, 2015; VIEIRA, 1980).
Essa fase da Igreja foi descrita pela historiografia como conservadora (HAUCK, 1992; VIEIRA,
1980), pois em reação às novas tendências políticas, seus representantes buscaram reafirmar o
escolasticismo, reestabelecer a Companhia de Jesus e apoiar-se nas diretrizes do Concílio de
Trento.41
O ultramontanismo teve como objetivo fortalecer a autoridade do Papa em detrimento das igrejas
nacionais, dominadas pelos governos locais, como acontecia na França, que gerou a assinatura da
Concordata de 1801, e Santa Sé do Papa Pio VII e a França de Napoleão Bonaparte42, ato esse que deu
origem ao movimento que duraria até o Concílio Vaticano II.
O Ultramontanismo é pontuado com vários ataques dos Papas ao modernismo: Encíclica Mirari vos
43
(1832) , do Papa Gregório XVI (1831-1846), que denunciou os principais erros de seu tempo; Dogma da
Imaculada Conceição (1854); A Encíclica Quanta Cura (1864)44 apresenta o Syllabus, com se condena “o
panteísmo, o racionalismo, o socialismo, o comunismo, as sociedades secretas e outros elementos que
faziam frente ao pensamento católico”45; Dogma do Primado de Pedro e Dogma da Infalibilidade Papal
(1870); Carta Encíclica do papa são Pio X (1903- 1914), a Pascendi Dominici Gregis, datada de 8 de setembro
de 190746.
A Igreja do período ultramontano nada mais faz do que reafirmar aquela identidade oriunda do
período tridentino quando se fundamentou no antagonismo em relação ao protestantismo. Em
partes, no Ultramontanismo, a identidade se reforça em relação aos demais erros aqui
apresentados. Mas a problemática que se segue é a nova visão em relação a esta modernidade
que se configuraria ao longo do período do II Concílio Ecumênico do Vaticano.47

40
AQUINO, Idem p. 408-409.
41
SILVA, Ana Rosa Clocet. CARVALHO, Thai da Rocha. A cruzada ultramontana contra os erros da modernidade. Revista
Brasileira de História das Religiões, ANPUH, Ano XII, n. 35. Set/dez 2019. p. 09-42. Dsiponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RbhrAnpuh/article/download/45883/751375148315/
42
Rops, op, cit. 2003. p. 122.
43
Encíclica Mirari Vos de Gregório XVI. Disponível em: https://www.vatican.va/content/gregorius-
xvi/it/documents/encyclica-mirari-vos-15-augusti-1832.html
44
Encíclia Quanta Cura e Sillabus, Papa Pio IX. Disponível em: https://www.vatican.va/content/pius-
ix/it/documents/encyclica-quanta-cura-8-decembris-1864.html
45
DIAS, Juliano Alves. Et veritas liberabit vos o Catolicismo entre modernismo e a tradição
(1960-2013). Tese de doutorado. UNESP, Franca. 2013 p. 27. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/110587
46
Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis, Papa Pio X. Disponível em: https://www.vatican.va/content/pius-
x/pt/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis.html
47
DIAS, Idem, p. 30.
23
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

No período Ultramontano é convocado e realizado o Concílio Vaticano I (1869 – 1870), que foi
interrompido pela guerra franco-alemã, “mas deixando como legado mais um elemento na centralização do
poder romano sobre toda a Igreja, a proclamação do dogma da Infalibilidade Papal”48.
Ao longo do século XX as ações papais procurariam se pautar nestes conceitos ultramontanos
mesmo diante das rápidas mudanças oriundas de duas guerras mundiais e da Guerra Fria, até
que uma nova forma de se apresentar e se relacionar com o mundo fosse posta em pauta no
Vaticano II49. (grifo nosso)
Obvio que a posição, o poder, o domínio do pensamento filosófico e teológico, que a Igreja possuía
no início do Século XIX estavam totalmente diferentes às vésperas do Concílio Vaticano II. Os Estados
Pontifícios (756-1870) já não existiam a 90 anos, absorvido pelo Reino da Itália50, mantendo o governo da
Igreja no Estado do Vaticano, um bairro de Roma onde ficava a sede da Igreja. O Papa Pio IX (1846-1878) não
aceitou a situação e considerou-se prisioneiro do estado laico. Todos os bens da Igreja foram confiscados,
mantendo-se o Papa e os bispos dentro dos muros do Vaticano, não sendo ainda considerado um Estado. A
situação se manteve até 1929 quando foi assinado o Tratado de Latrão, instituindo-se o Estado da Cidade do
Vaticano, um enclave murado dentro da cidade de Roma, capital da Itália.
Em todo esse quadro de mudança social e política mundial, desde o Século XVIII, foi gerado o Concílio
Vaticano II, que tinha a função de buscar um posicionamento da Igreja Católica frente a essa realidade do
mundo ocidental. Mas, conforme Ratzinger, o despreparo dos bispos conciliares acarretou a entrega de
posicionamentos aos teólogos, que se colocavam como mestres dos bispos, invertendo a relação do
magistério pastoral e os teólogos, como veremos.

Concílio Vaticano II – um Concílio que buscava reformas desde seu início


Conforme dito mais acima os sínodos eram realizados com a participação dos bispos. Assim também
foram realizados os concílios, desde o primeiro Concílio de Nicéia (325) até o Concílio Vaticano I (1869-1870),
somente os bispos participavam, analisavam o mundo, colocavam suas opiniões e decidiam sobre as
soluções a serem tomadas. Outro fator importante é que, durante séculos a teologia sempre foi uma
matéria restrita a um pequeno grupo de clérigos51.
Havia uma espectativa de mudança com o Concílio Vaticano II, uma nova era da Igreja, conforme o
Papa Bento XVI52 que relatava o fato em um Encontro com o Clero de Roma em 14/02/2013, exatos duas
semanas antes de renunciar ao pontificado, que ocorreu em 28/02/2013.
Então partimos para o Concílio não apenas com alegria, mas também com entusiasmo. Havia
uma expectativa incrível. Esperávamos que tudo se renovasse, que viesse verdadeiramente um
novo Pentecostes, uma nova era da Igreja, pois esta apresentava-se ainda bastante robusta
naquele tempo, a prática dominical ainda boa, as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa,
apesar de já um pouco reduzidas no número, ainda eram suficientes. Contudo, tinha-se a
sensação de que a Igreja não caminhava, ia diminuindo, parecia mais uma realidade do passado
que a portadora do futuro. E, naquele momento, esperávamos que esta situação se alterasse,
mudasse; que a Igreja fosse de novo força do futuro e força do presente. E sabíamos que a
relação entre a Igreja e o período moderno tinha sido, desde o princípio, um pouco
contrastante, a começar do erro da Igreja no caso de Galileu Galilei; pensava-se em corrigir este

48
DIAS, Idem. p. 31.
49
DIAS, Idem. p. 32.
50
Estes fatos foram tratados no curso sobre o livro Infiltrados: A trama para destruir a Igreja a partir de dentro, Taylor
R. Marshall.
51
RATZINGER, Joseph. Natureza e Missão da Teologia. Trad. port. de Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Vozes,
2008. P. 87
52
Conforme relato do Papa Bento XVO nesse mesmo Encontro, ele havia sido nomeado em 1959 como professore da
Universidade de Bonn, e foi ali conheceu o Cardela Frings, que o levou ao Concílio, como seu assessor. (Encontro do
Papa Bento XVI com o Clero de Roma – 14/02/2013 – Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-xvi_spe_20130214_clero-roma.html)
24
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

início errado e encontrar de novo a união entre a Igreja e as forças melhores do mundo, para
abrir o futuro da humanidade, para abrir o verdadeiro progresso. Por isso, estávamos cheios de
esperança, de entusiasmo e também de vontade de contribuir com a nossa parte para isso.
Lembro-me que o Sínodo Romano era considerado um modelo negativo. Disse-se – não sei se
era verdade – que tivessem lido os textos preparados na Basílica de São João e que os membros
do Sínodo tivessem aclamado, aprovado aplaudindo, e assim se teria realizado o Sínodo. Os
Bispos disseram: Não, não façamos assim! Somos Bispos, nós mesmos somos o sujeito do
Sínodo; não queremos apenas aprovar aquilo que foi feito, mas queremos ser nós o sujeito, os
condutores do Concílio. O próprio Cardeal Frings, que era conhecido pela sua fidelidade
absoluta, quase escrupulosa, ao Santo Padre, neste caso disse: Encontramo-nos aqui com outra
função. O Papa convocou-nos como Padres, para sermos Concílio ecuménico, um sujeito que
renove a Igreja. Assim queremos assumir esta nossa função.53
Claro notar que antes do Concílio já havia um interesse muito grande do clero de mudanças na Igreja
Católica, com o interesse de mudar a relação com o passado da Igreja, de criar “uma nova era da Igreja”.
Com esse interesse os Cardeais queriam tomar as rédeas do Concílio, não se curvar a coisas
previamente programadas, queriam ser eles mesmo ao que produzissem os caminhos do Concílio.
O primeiro momento, em que se manifestou esta atitude, foi logo no primeiro dia. Estavam
previstas, para este primeiro dia, as eleições das Comissões e tinham sido preparadas, de modo
– procurou-se – imparcial, as listas, os nomes; seriam estas listas que se deviam votar. Mas os
Padres disseram imediatamente: Não! Não queremos simplesmente votar listas já feitas. Somos
nós o sujeito. Então teve-se de adiar as eleições, porque os próprios Padres queriam conhecer-
se um pouco, queriam eles próprios preparar listas. E assim se fez. O Cardeal Liénart de Lille e o
Cardeal Frings de Colônia disseram publicamente: Assim não pode ser. Queremos fazer as
nossas listas e eleger os nossos candidatos. Não era um ato revolucionário, mas um ato de
consciência, de responsabilidade por parte dos Padres conciliares.54

Os Cardeais queriam ter o domínio do processo do Concílio. Com essa efervecência muitas reuniões
foram realizadas, com encontros formais e outros transversais, nesses o Papa Bento XVI cita que conheceu
figuras de peso na teologia da época como Henry de Lubac, Jean Daniélou e Yves Congar.55 Esses teólogos,
durante o concílio, teriam grande influência com suas ideias de reforma e mudança litúrgica
Num primeiro momento os Cardeais estavam perdidos. Com isso o episcopado francês, alemão,
belga, holandês, que era chamada de “aliança do Reno”, tomou a iniciativa de conduzir os trabalhos e o
caminho a seguir. Franceses e alemães tinham muito interesses em comum, com nuances diferentes. Um
primeiro objetivo de ambos era a reforma da liturgia da liturgia. Essa reforma já tinha sido iniciada por Pio
XII, com a reforma da liturgia da Semana Santa. Depois o intento era reformar a Igreja, depois a Palavra de
Deus, a Revelação e finalmente, o ecumenismo. Os franceses, mais do que os alemães tinham o problema da
“situação das relações entre a Igreja com o mundo”56. Esta discussão ocorreu na primeira parte do Concílio.
Mas não se consolidou rapidamente, com o tempo estas questões seriam colocadas efetivamente em
operação na Igreja.
A de se notar o tema “ecumenismo” é frequente nos discursos do Papa Francisco. E seu intento de
desligar a liturgia do passado ficou claro com o documento “Traditionis Custodes”.
A mudança na Igreja segue seu caminho com a nova estrutura do Sínodo e sua sinodalidade,
Proposto pelo Papa Francisco, e que pretende uma mudança na forma de administração da Igreja.

53
(Encontro do Papa Bento XVI com o Clero de Roma – 14/02/2013 – Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-
xvi_spe_20130214_clero-roma.html)
54
Idem. Ibidem.
55
Idem. Ibidem.
56
Idem, Ibidem.
25
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

O domínio dos teólogos liberais no CV II


Mas isso mudou com o Concílio Vaticano II. O Concílio Vaticano II foi marcado por uma grande
participação de teólogos, que assessoravam os bispos presentes. Fato antes nunca ocorrido. Com o Concílio,
a importância dos teólogos aumentou, sendo que trouxe um sentimento de que eles seriam os verdadeiros
mestres da Igreja, inclusive dos próprios bispos. E, aliado ao contato com os meios de comunicação, o
magistério da Igreja passou a visto como autoritário.
Esses fatos são relatados por Joseph Ratzinger57, então Papa Bento XVI, em seu livro “Natureza e
missão da teologia”, de 2008, que transcrevemos abaixo:
A importância do teólogo e da teologia para toda a comunidade dos crentes passou a ser visível
de uma maneira nova no Concílio Vaticano II. Antes a teologia era vista como ocupação de um
pequeno círculo de clérigos, como um assunto elitista e abstrato, que quase não conseguia
despertar nenhum interesse para a opinião pública na Igreja. A nova maneira de ver e se
expressar a fé, que se impôs no concílio, foi fruto do drama, anteriormente pouco percebido,
de uma reorientação teológica iniciada após a Primeira Guerra Mundial, associada a novas
correntes do espírito. A tendência liberal dominante, com seu ingênuo otimismo do progresso,
havia-se tornado frágil nos horrores da guerra, e com ela também o modernismo teológico,
que tentara a fé à visão liberal do mundo. O movimento litúrgico, o movimento bíblico e
ecumênico, e por último um intenso movimento mariano criaram um novo clima espiritual, do
qual nasceu também uma teologia que no Concílio Vaticano II tornou-se fecunda para toda a
Igreja. Os próprios bispos foram surpreendidos por uma teologia que em parte ainda lhes era
pouco familiar, e de boa vontade deixaram-se conduzir pelos teólogos, como seus mestres em
um terreno que eles até então desconheciam, embora as últimas decisões sobre o que podia ser
apresentado como afirmação do concílio, e com isso da Igreja, também continuasse confiada
aos Padres.58

Conforme o Padre Paulo Ricardo, “Ora, este confessado despreparo técnico e a condição subalterna
de «aluno» em que não poucos Padres se colocaram, invertendo, assim, a relação entre magistério pastoral e
teólogo durante o Concílio, levaram muitos teólogos a se sentirem «mais e mais como os verdadeiros
mestres da Igreja, mestres inclusive dos bispos»”, citando da passagem do texto de Ratzinger no livro
“Natureza e missão da teologia”.59

O dinamismo desta evolução teve continuidade após o concílio; os teólogos passaram a sentir-
se mais e mais como os verdadeiros mestres da Igreja, os mestres inclusive dos bispos. A partir
do concílio eles foram descobertos também pelos meios de comunicação, para os quais
passaram a ser interessantes. O magistério da Santa Sé passou a ser visivelmente considerado
como o último resquício de um fracassado autoritarismo. A impressão era que, com a
insistência sobre a autoridade por parte de uma instância extra científica, se pretendia controlar
o pensamento, embora o caminho do conhecimento não pudesse ser estabelecido pela
autoridade, mas dependesse unicamente da força dos argumentos. Tornou-se dessa forma
necessária uma nova consciência da posição da teologia e do teólogo, bem como de sua
relação com o magistério, que tenta entender uma e outra a partir de sua lógica interna, com
isso servindo não apenas à paz na Igreja mas sobretudo também a uma reta forma de ligação
entre fé a razão.

57
Cabe registrar que Joseph Ratzinger era um dos teólogos que participaram do Concílio Vaticano II, a convite do
Cardeal alemão Joseph Frings.
58
RATZINGER, 2008. Op. Cit., p. 87-88
59
Padre Paulo Ricardo, Curso “Introdução ao Método Teológico”, na aula O relacionamento de teólogo com o
Magistério (cf. § 76).
26
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

É a esta tarefa que a Instrução60 tenta servir. Em última análise trata-se de um problema
antropológico. Quando religião e razão não conseguem retamente encontrar-se, a vida
espiritual do Homem se desfaz61, seja em um acanhado racionalismo tecnicista, seja em um
sombrio irracionalismo. A onda de esoterismo que observamos hoje mostra que no racionalismo
positivista dominante as camadas mais profundas da condição humana não conseguem mais ser
integradas, e por isso as formas atávicas da superstição voltam a ganhar ascendência sobre o
Homem. O positivismo nega a capacidade do Homem para a verdade; o conhecimento
humano estaria limitado ao que pode ser feito e comprovado; quando se deixa de lado o
terreno do que é factível, o irracional assume as rédeas. Aparentemente livre, o Homem passa
a ser escravo de poderes imperscrutáveis. Por isso a Instrução coloca o tema da teologia dentro
do grande horizonte da capacidade do Homem para a verdade e de sua verdadeira liberdade. A
fé cristã não é um passatempo, nem a Igreja um clube ao lado de outros clubes semelhantes, ou
mesmo diferentes. Pelo contrário, a fé responde à pergunta primordial pela origem e o destino
do Homem. Ela refere-se aos problemas básicos que Kant considerava como o ponto central da
filosofia: Que é que eu posso saber? Que devo saber, que posso esperar? Que é o Homem?
Noutras palavras: a fé tem que ver com a verdade, e só se o Homem for capaz de conhecer a
verdade é que se pode dizer que ele é chamado a ser livre.62 (marcações nossas)

O domínio dos teólogos liberais após o CV II – o Espírito do Concílio


Em seu curso o Padre Paulo Ricardo coloca a existência por uma briga pelo poder, por parte dos
teólogos, após o Concílio Vaticano II.
77. Uma luta pelo poder. — Mesmo encerradas as sessões conciliares, escreve Ratzinger, «o
dinamismo desta evolução teve continuidade»63. Os meios de comunicação, como dissemos
anteriormente (cf. § 71), descobriram com inusitado interesse a figura desses teólogos peritos e,
alimentado uma certa expectativa popular de que a Igreja enfim abrir-se-ia ao mundo (pressão
que ainda persiste), fomentaram, baseados, de resto, numa péssima compreensão
do aggiornamento64 que o Concílio intentara, o surgimento do que hoje se conhece
por hermenêutica da ruptura65, ou seja: os documentos do Concílio Vaticano II, apresentado

60
Nota do curso – Ratzinger refere-se à Instrução Donum Veritatis sobre a vocação eclesial do teólogo. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19900524_theologian-
vocation_po.html
61
Alusão ao protestantismo e outras religiões e seitas onde o entendimento da fé não passa pela explicação da razão.
Alusão também às questões filosóficas modernas, racionais positivistas, que não aceitam a fé pela razão.
62
RATZINGER, Joseph. Op cit. 2008. P. 88-89
63
J. Ratzinger, op. cit., p. 88.
64
Aggiornamento significa atualização ou modernização.
”Aggiornamento é um termo italiano, que significa "atualização", renovação. Esta palavra foi a orientação chave dada
como objetivo para o Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII. “O aggiornamento para adequar a Igreja aos
tempos atuais não deveria significar a mera adaptação a relações mutáveis, mas sim abertura ao mundo moderno. O
aggiornamento da Igreja, que era o objetivo do Concilio, não se verificou através da ruptura com a tradição, nem com a
adaptação a um ambiente transformado; deu-se sobretudo de um aggiornamento que entrelaçou as tradições mais
antigas, em parte esquecidas, com o tempo presente”, parágrafo retirado da matéria do site Vatican News,
"Aggiornamento", o contexto da atualização conciliar. Disponível em:
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-08/concilio-vaticano-ii-aggiornamento-sacrosanctum-
concilium.html
65
Hermenêutica da ruptura – termo oposto à Hermenêutica da Continuidade, ambos criados pelo Papa Bento XVI, na
tentativa de desconstruir o discurso de que o Concílio Vaticano II se tratava de uma ruptura com a tradição católica. O
tema foi colocado pela primeira vez no Discurso realizado aos Cardeais, Arcebispos e Prelados da Cúria Romana na
apresentação do votos de Natal, em 22 de dezembro de 2005 (Discurso disponível em
https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2005/december/documents/hf_ben_xvi_spe_20051222_roman-curia.html ). E teve uma ação do
27
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

como o marco da fundação de uma «nova Igreja», deveriam ser lidos independentemente da
doutrina católica tradicional. Tal chave de leitura, muito simpática aos mass media e a alguns
setores da teologia moderna, levou à percepção de que, em virtude dessa aparente solução de
continuidade entre o que o Magistério até então ensinara e o que agora se atribuía ao recém-
celebrado Concílio, havia-se instaurado uma cisão entre duas supostas igrejas, pré e pós-
conciliares66. O Vaticano II, desta forma, deixava de ser o 21.º Concílio Ecumênico da Igreja, em
harmonia com dois milênios de doutrina, para se transformar, aos olhos de muitos, numa

Pontífice quando da publicação do Motu Proprio Sommorum Pontificum, que declarou a plena liberdade para a
celebração da liturgia romana da Missa Tridentina (Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_motu-proprio_20070707_summorum-pontificum.html ).
66
Bento XVI, «Discurso aos cardeais, arcebispos e prelados da Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal», de
22 de dez. de 2005. Abaixo parte do discurso do Papa.
O último acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a celebração do
encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal memória suscita a interrogação: qual foi o
resultado do Concílio? Foi recebido de modo correto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi
insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a
recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil, mesmo que não se deseje aplicar àquilo que
aconteceu nestes anos a descrição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situação da Igreja depois
do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na escuridão da tempestade, dizendo entre
outras coisas: "O grito rouco daqueles que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados
incompreensíveis e o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase toda a Igreja falsificando,
por excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé..." (De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, pág.
524). Não queremos aplicar exatamente esta descrição dramática à situação do pós-Concílio, todavia alguma
coisa do que aconteceu se reflete nele. Surge a pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes partes
da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do
Concílio ou como diríamos hoje da sua correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os
problemas da recepção derivaram do facto de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e
disputaram entre si. Uma causou confusão, a outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais visível,
produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir "hermenêutica da
descontinuidade e da ruptura"; não raro, ela pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma
parte da teologia moderna. Por outro lado, há a "hermenêutica da reforma", da renovação na continuidade
do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve,
permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da
descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar.
Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do
Concílio.
Seriam o resultado de compromissos em que, para alcançar a unanimidade, foi necessário arrastar atrás de
si e confirmar muitas coisas antigas, já inúteis. Contudo, não é nestes compromissos que se revelaria o
verdadeiro espírito do Concílio mas, ao contrário, nos impulsos rumo ao novo, subjacentes aos textos:
somente eles representariam o verdadeiro espírito do Concílio, e partindo deles e em conformidade com
eles, seria necessário progredir. Precisamente porque os textos refletiriam apenas de modo imperfeito o
verdadeiro espírito do Concílio e a sua novidade, seria preciso ir corajosamente para além dos textos,
deixando espaço à novidade em que se expressaria a intenção mais profunda, embora ainda indistinta, do
Concílio. Em síntese: seria necessário seguir não os textos do Concílio, mas o seu espírito. Deste modo,
obviamente, permanece uma vasta margem para a pergunta sobre o modo como, então, se define este
espírito e, por conseguinte, se concede espaço a toda a inconstância. Assim, porém, confunde-se na origem a
natureza de um Concílio como tal. Deste modo, ele é considerado como uma espécie de Constituinte, que
elimina uma constituição velha e cria outra nova. Mas a Constituinte tem necessidade de um mandante e,
depois, de uma confirmação por parte do mandante, ou seja, do povo ao qual a constituição deve servir.
Disponível em: (https://www.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2005/december/documents/hf_ben_xvi_spe_20051222_roman-curia.html) . Acesso em: 30
jun. 2015.
(Sobre o tema ver também V. Juliano A Dias, Sacrificium Laudis: A Hermenêutica da Continuidade de Bento XVI e o
Retorno do Catolicismo Tradicional (1969-2009). São Paulo: Cultura Acadêmica [UNESP], 2010, pp. 96-8. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/109154)
28
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

espécie de revolução eclesial em que o espírito do tempo (Zeitgeist67) traveste-se de Espírito


Santo.
É natural, pois, que, neste quadro, tenha surgido o problema de saber quais os rumos que a
Barca de Pedro agora deveria tomar e a quem caberia, afinal, a função de timoneiro. Ora, como
o Magistério da Santa Sé passasse «a ser visivelmente considerado como o último resquício de
um fracasso autoritarismo» e o «caminho do conhecimento», pensava-se, «não pudesse ser
estabelecido pela autoridade, mas dependesse unicamente da força dos argumentos»68, quer
dizer, não coubesse mais ao munus pascendi dos bispos69, senão ao labor teológico, a teologia
passou a degenerar-se em uma luta pelo poder dentro da Igreja, conflito em que, deste
momento em diante, teólogos e Magistério vir-se-ão obrigados a tomar parte.70

O domínio dos teólogos aumentou após o Concílio. Os clérigos deixaram de ter relevância nos temas
teológicos, possivelmente por esses fatores: - pequeno número de padres e religiosos que se prestavam a
concentrar-se nos estudos teológicos e sua relação num mundo em mudança do Século XIX e XX; - grande
interesse de leigos nos temas teológicos; - aumento de cursos acadêmicos de teologia, em relação às escolas
de formação clerical;

É por demais absurdo e altamente injurioso dizer que se faz necessária uma
certa restauração ou regeneração [da Igreja], para fazê-la voltar à sua primitiva incolumidade,
dando-lhe novo vigor, como se fosse de crer que a Igreja é passível de defeito, ignorância ou
outra qualquer das imperfeições humanas; com tudo isto pretendem os ímpios que, constituída
de novo a Igreja sobre fundamentos de instituição humana, venha a dar-se o que São Cipriano
tanto detestou: que a Igreja, coisa divina, se torne coisa humana (Papa Gregório XVI, Encíclica
Mirari Vos, 1832, destaques nossos).71

O Espírito do Concílio
Uma expressão muito utilizada nos textos pós conciliares é o chamado “Espírito do Concílio”, que,
conforme o Padre Paulo Ricardo:

Por conseguinte, a questão principal a se entender neste tema é que esse "Espírito do Concílio"
é um movimento criado por teólogos liberais e pela imprensa. Nada tem a ver com a
verdadeira letra do Concílio Vaticano II. Na verdade, sua expressão é a de um humanismo sem
Deus, no qual a transcendência cristã é quase que posta de lado e substituída por alguns
espasmos espirituais. Em tese, é a total aliança do homem com a mentalidade moderna e anti-
cristã. Aliança, vale lembrar, duramente criticada por teólogos que tiveram grande peso
durante o Concílio como Hans Urs von Balthasar.
No entanto, apesar da sua verve revolucionária e notoriamente anti-católica, foi o "Espírito do
Concílio" que obteve a primazia sobre a opinião pública, mesmo dentro da Igreja. Isso se explica,
sobretudo, pelo fato do Concílio dos meios de comunicação ter sido o mais acessível a todos.
Portanto, como ressaltou Bento XVI, "acabou por ser o predominante, o mais eficiente, tendo

67
Zeitgeist – termo alemão cuja tradução significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. Significa,
em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um
determinado período de tempo.
(https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/ponto_de_vista/2014/02/06/zeitgeist.html )
68
J. Ratzinger, op. cit., loc. cit.
69
Cf. Bento XVI, «Discurso aos participantes no Congresso dos Novos Bispos», de 21 de set. de 2006, na Sala dos Suíços
do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo. Disponíve
l em (sítio): <goo.gl/2ayxX0>. Acesso em: 30 jun. 2015.
70
Padre Paulo Ricardo, Curso “Introdução ao Método Teológico” (§ 77).
71
GUEDES, Karlos. Modernismo na Igreja. 2019. Disponível em https://pelafecatolica.com/2019/08/07/modernismo-
igreja/. Esse texto é altamente recomendável para leitura e depois aprofundamento em cada um dos temas abordados.
29
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

criado tantas calamidades, tantos problemas, realmente tanta miséria". (grifos do texto
original)72
O Espírito do Concílio é chamado como solução de texto mal explicados atualmente, e que não tem
consonância com o que está escrito nos documentos do CVII. Assim se coloca que determinada situação
desejada, apesar de não estar clara, era parte do Espírito do Concílio, escrito nas entrelinhas dos textos, na
ideia dos bispos conciliares.

Com isso possibilita-se toda a sorte de posicionamentos e atitudes, pois tudo é explicado pelo
Espírito do Concílio.

O Sínodo dos Bispos após o Vaticano II


A partir de 1965, foi definida a diferença entre os termos sínodo e concílio, e foi instituído no
formato par a realização de sínodos, somente a participação dos bispos, e com a base de um Instrumentum
Laboris para os trabalhos do Sínodo.
Como visto as palavras Sínodo e Concílio eram sinônimas, na história da Igreja até o Concílio
Vaticano II. A partir do Moto Proprio Apostolica Sollicitudo, de Paulo VI em 1965, é definida a diferença entre
os termos Sínodo e Concílio:
 Sínodo – caráter Consultivo
 Concílio – Caráter Legislativo e Executivo
O Código de Direito Canônico define o Concílio ou Colégios dos Bispos nos canonês 336 – 341. O
Sínodo dos Bispos é tratado nos cânones 342 – 348.
O texto abaixo traz um resumo do histórico do sínodo pós Vaticano II.

PERFIL73
O Sínodo dos Bispos foi instituído por São Paulo VI em 15 de setembro de 1965 com o Motu
Proprio Apostolica sollicitudo74. A sua criação teve lugar no contexto do Concílio Vaticano II que,
com a Constituição dogmática Lumen gentium (21 de novembro de 1964), se concentrou
amplamente na doutrina do episcopado, apelando a um maior envolvimento dos Bispos cum et
sub Petro nas questões que afetam a Igreja Universal.
Assim, o decreto conciliar Christus Dominus75 (28 de outubro de 1965) descreve o Corpo recém-
constituído: “Bispos escolhidos em diferentes regiões do mundo, reunidos no conselho
propriamente denominado Sínodo dos Bispos. Este Sínodo, representando todo o episcopado
católico, é um sinal de que todos os Bispos participam na comunhão hierárquica no interesse da
Igreja universal ”(n. 5).
Ao longo dos anos, a legislação sinodal foi sofrendo sucessivos aperfeiçoamentos, como
comprovam as várias edições da Ordo Synodi Episcoporum76 publicada em 1966, 1969, 1971 e
2006. Nesse ínterim, o Código de Direito Canônico (25 de janeiro de 1983), os cânones 342 -348,

72
Padre Paulo Ricardo, O falso Concílio dos teólogos liberais e as suas desastrosas consequências.
https://padrepauloricardo.org/blog/o-falso-concilio-dos-teologos-liberais-e-as-suas-desastrosas-consequencias
73
Em https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20190314_profilo_it.html
74
Motu Proprio Apostolica Sollicitudo. Estabelecendo o Sínodo dos Bispos para a Igreja Mundial. 1965.
https://www.vatican.va/content/paul-vi/en/motu_proprio/documents/hf_p-vi_motu-proprio_19650915_apostolica-
sollicitudo.html
75
Decreto Christus Dominus, sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja. 1965.
https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651028_christus-
dominus_po.html
76
Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_20050309_documentation-
profile_lt.html
30
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

e o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (18 de outubro de 1990), cânone 46, integrou o
Sínodo na lei universal da Igreja, especificando sua natureza e funcionamento.
Recentemente, o Papa Francisco , com a Constituição Apostólica Episcopalis communio77 (15 de
setembro de 2018), renovou profundamente o Sínodo dos Bispos, inserindo-o no quadro da
sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja, em todos os níveis da sua existência. Em
particular, o Sínodo é entendido como um processo dividido em três fases: a fase preparatória,
na qual se realiza a consulta ao Povo de Deus sobre os temas indicados pelo Romano Pontífice; a
fase comemorativa , caracterizada pela assembleia dos Bispos; a fase de implementação, em
que as conclusões do Sínodo aprovadas pelo Romano Pontífice devem ser aceitas pelas Igrejas. A
fase central, em que se realiza o trabalho de discernimento dos Pastores, é precedida e seguida
de fases que envolvem a totalidade do Povo de Deus, na pluralidade dos seus componentes.
O Sínodo - que conta com um Secretariado Geral composto por um Secretário Geral, um
Subsecretário e alguns Conselhos Episcopais especiais - reúne-se em diferentes tipos de
Assembleia: na Assembleia Geral Ordinária, para assuntos relativos ao bem da Igreja universal;
na Assembleia Geral Extraordinária, para assuntos de consideração urgente; na Assembleia
Especial, para questões que mais afetam uma ou mais regiões específicas. O Romano Pontífice
também é responsável por convocar uma assembleia sinodal de acordo com outras modalidades
por ele estabelecidas.

O Motu Proprio Apostolica Sollicitudo


O Motu Proprio Apostolica Sollicitudo foi publicado em 15/09/196578, e definiu como seria um
Conselho especial de bispos, após o Concílio Vaticano II (CVII).
Em linhas gerais o Motu proprio coloca que:
- Durante o CVII surgiu a “ideia de estabelecer permanentemente um Conselho especial de bispos
com o objetivo de dar continuidade após o Concílio da grande abundância de benefícios que temos estado
tão felizes de ver fluir para o povo cristão durante o tempo do Concílio, como resultado de Nossa estreita
colaboração com os bispos”.;
- Foi instituído “aqui em Roma um Conselho permanente de bispos para a Igreja universal, para estar
direta e imediatamente sujeito ao Nosso poder. Seu nome próprio será Sínodo dos Bispos.”
- O documento cita que o Sínodo pode ser melhorado com o passar do tempo, como todas as
instituições humanas.
- “O Sínodo dos Bispos, por meio do qual bispos escolhidos de várias partes do mundo devem
oferecer uma assistência mais eficaz ao pastor supremo, deve ser constituído de tal forma que seja: a) uma
instituição eclesiástica central; b) representar todo o episcopado católico; c) perpétua por sua natureza; d)
quanto à estrutura, cumprindo sua função por um tempo e quando convocado.”
- O Sínodo tem por função informar e aconselhar o Papa.
- O artigo II define objetivos gerais, especiais e imediatos;
- O artigo III diz que o Sínodo é direta e imediatamente sujeito ao Papa, o qual tem como
responsabilidade: 1) a convocação do Sínodo, quando achar necessário, e definir o local de realização das
reuniões; 2) determinar o assunto; entre outras responsabilidades.

77
Constituição Apostólica Episcopalis Communio. 2018.
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_constitutions/documents/papa-francesco_costituzione-
ap_20180915_episcopalis-communio.html
78
Motu Proprio Apostila Sollicitudo. Estabelecendo o Sínodo dos Bispos para a Igreja Mundial. 1965.
https://www.vatican.va/content/paul-vi/en/motu_proprio/documents/hf_p-vi_motu-proprio_19650915_apostolica-
sollicitudo.html
31
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

- O artigo IV define que o Sínodo pode ser em Sessão Geral, Extraordinária e Especial. Sendo a Geral,
com ampla participação de bispos e as outras mais restritas a escolhidos.
- Os artigos V, VI e VII definem a composição para participação dos respectivos tipos de sínodos.
- O artigo XII determina a estrutura administrativa do Sínodo.

Sínodos já realizados
Abaixo estão as relações dos sínodos já realizados79
Assembleias Gerais Ordinárias – Roma
Ano Nº Tema
1967 1ª A preservação e o fortalecimento da fé católica, sua integridade, seu vigor, seu
desenvolvimento, sua coerência doutrinária e histórica
1971 2ª O sacerdócio ministerial e a justiça no mundo
1974 3ª Evangelização no mundo moderno
1977 4ª Catequese em nosso tempo
1980 5ª A família cristã
1983 6ª Penitência e reconciliação na missão da Igreja
1987 7ª Penitência e reconciliação na missão da Igreja
1990 8ª A formação de padres nas circunstâncias atuais
1994 9ª Vida consagrada e sua missão na Igreja e no mundo
2001 10ª O bispo, servo do Evangelho de Jesus Cristo, pela esperança do mundo
2005 11ª A Eucaristia, fonte e cume da vida e missão da Igreja
2008 12ª A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja
2012 13ª A nova evangelização para a transmissão da fé cristã
2015 14ª A vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo
2018 15ª Jovens, fé e discernimento vocacional
Assembleias Especiais
Ano Tipo/nº Local Tema
1980 Sínodo Holanda A situação pastoral na Holanda
Particular
1991 1ª Europa Somos testemunhas de Cristo que nos libertou
1994 1ª África A Igreja na África e sua missão evangelizadora no ano 2000:
"Vocês serão minhas testemunhas" (At 1,8)
1995 1ª Líbano Cristo é a nossa esperança: renovado pelo seu Espírito, em
solidariedade, testemunhamos o seu amor
1997 1ª América O encontro com Jesus Cristo vivo, o caminho para a conversão, a
comunhão e a solidariedade na América
1998 1ª Ásia Jesus Cristo, o Salvador, e sua missão de amor e serviço na Ásia:
"... para que tenham vida e a tenham em abundância"
1998 1ª Oceania Jesus Cristo: seguindo seu caminho, proclamando sua verdade,
vivendo sua vida: um apelo aos povos da Oceania
1999 2ª Europa Jesus Cristo vivendo em sua Igreja, fonte de esperança para a
Europa
2009 2ª África A Igreja na África a serviço da reconciliação, justiça e paz
2010 1ª Oriente Médio A Igreja Católica no Oriente Médio: comunhão e testemunho
2019 1ª Panamazzonica Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia
integral

79
Disponível em: http://www.synod.va/content/synod/pt/assembleias-sinodales.html
32
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Assembleias Gerais Extraordinárias - Roma


Ano Tema
1969 Cooperação entre a Santa Sé e as Conferências Episcopais
1985 Vigésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II
2014 Desafios pastorais da família no contexto da evangelização

Código de Direito Canônico sobre o Sínodo dos Bispos


A legislação sobre o Sínodo dos Bispos está expressa no Código de Direito Canônico80, nos Cânones
342 a 348.
O Código Canônico traz as definições gerais do sínodo.
CAPÍTULO II
DO SÍNODO DOS BISPOS
Cân. 342 — O Sínodo dos Bispos é a assembleia dos Bispos escolhidos das diversas
regiões do mundo, que em tempos estabelecidos se reúnem para fomentarem o estreitamento
da união entre o Romano Pontífice e os Bispos, para prestarem a ajuda ao mesmo Romano
Pontífice com os seus conselhos em ordem a preservar e consolidar a incolumidade e o
incremento da fé e dos costumes, a observância da disciplina eclesiástica, e bem assim
ponderar as questões atinentes à ação da Igreja no mundo.
Cân. 343 — Compete ao Sínodo dos Bispos discutir acerca dos assuntos a tratar e
expressar os seus desejos; não porém dirimi-los ou fazer decretos acerca dos mesmos, a não ser
que, em certos casos, lhe tenha sido dado poder deliberativo pelo Romano Pontífice, a quem
neste caso pertence ratificar as decisões sinodais.
Cân. 344 — O Sínodo dos Bispos está diretamente subordinado à autoridade do Romano
Pontífice a quem compete:
1.° convocar o Sínodo, todas as vezes que o julgar oportuno, e designar o lugar onde se
devem realizar as sessões;
2.° ratificar a eleição dos membros que, nos termos do direito peculiar, devem ser eleitos,
e designar e nomear outros membros;
3.° determinar em tempo oportuno os assuntos a tratar, nos termos do direito peculiar,
antes da celebração do Sínodo;
4.° determinar a ordem dos assuntos a tratar;
5.° presidir ao Sínodo por si ou por outrem;
6.º encerrar, transferir, suspender e dissolver o Sínodo.
Cân. 345 — O Sínodo dos Bispos pode reunir-se ou em assembleia geral, ordinária ou
extraordinária, para tratar de assuntos diretamente respeitantes ao bem da Igreja universal, ou
ainda em assembleia especial, para se ocupar de assuntos diretamente concernentes a uma ou
mais regiões determinadas.
Cân. 346 — § 1. O Sínodo dos Bispos, que se reúne em assembleia geral ordinária, é
constituído por membros, cuja maioria é de Bispos, eleitos pelas Conferências episcopais para
cada uma dessas assembleias segundo uma proporção determinada pelo direito peculiar do
Sínodo; outros, deputados por força do mesmo direito; outros, nomeados diretamente pelo

80
Código de Direito Canônico. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-
iuris-canonici_po.pdf
33
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Romano Pontífice; a estes somam-se alguns membros de institutos religiosos clericais eleitos nos
termos do mesmo direito peculiar.
§ 2. O Sínodo dos Bispos, reunido em assembleia extraordinária a fim de tratar de
assuntos que exijam resolução rápida, consta de membros, cuja maioria, formada de Bispos, é
deputada pelo direito peculiar do Sínodo em razão do ofício que desempenham, e de outros
nomeados diretamente pelo Romano Pontífice; a estes somam-se alguns membros de institutos
religiosos clericais, eleitos nos termos do mesmo direito peculiar.
§ 3. O Sínodo dos Bispos, reunido em assembleia especial, é constituído principalmente
por membros eleitos provenientes das regiões para as quais foi convocado, nos termos do direito
peculiar pelo qual se rege o Sínodo.
Cân. 347 — § 1. Ao ser encerrada pelo Romano Pontífice a assembleia do Sínodo dos
Bispos, termina o múnus sinodal cometido aos Bispos e aos outros membros.
§ 2. Se vagar a Sé Apostólica depois da convocação do Sínodo ou durante a sua
celebração, a assembleia sinodal fica suspensa pelo próprio direito, e do mesmo modo o múnus
cometido na mesma aos seus membros, até que o novo Pontífice decrete a dissolução ou a
continuação da assembleia.
Cân. 348 — Há um secretariado geral permanente do Sínodo dos Bispos, presidido pelo
Secretário geral, nomeado pelo Romano Pontífice, e assistido pelo conselho do secretariado, e
composto por Bispos, dos quais alguns, nos termos do direito peculiar, são eleitos pelo próprio
Sínodo dos Bispos, e outros nomeados pelo Romano Pontífice; o múnus de todos eles termina ao
principiar a nova assembleia geral.
§ 2. Para qualquer assembleia do Sínodo dos Bispos, são também constituídos um ou
vários secretários especiais, nomeados pelo Romano Pontífice, e que permanecem no ofício que
lhes foi confiado somente até terminar a assembleia do Sínodo.

A Constituição Apostólica Episcopalis Communio – Sobre o Sínodo dos Bispos


A Constituição Apostólica Eposcipalis Communio, foi publicada em 15/09/201881, definindo a inclusão
da consulta aos fiéis em fase anterior ao Sínodo dos Bispos, com a inclusão da sinodalidade de consulta aos
fiéis. Não altera o que já fora determinado pelo Moto Próprio nem pelo Código de Direito Canônico.
O documento que:
- “Durante mais de cinquenta anos, as Assembleias do Sínodo revelaram-se um válido instrumento
de conhecimento mútuo entre os Bispos, oração comum, confronto leal, aprofundamento da doutrina cristã,
reforma das estruturas eclesiais, promoção da atividade pastoral no mundo inteiro.”
- “Ainda hoje, num momento histórico em que a Igreja se vê introduzida numa «nova etapa
evangelizadora»82, que lhe pede para se constituir num «“estado permanente de missão” em todas as
regiões da terra»83, o Sínodo dos Bispos é chamado, como qualquer outra instituição eclesial, a tornar-se
progressivamente «um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à
autopreservação»84. Sobretudo é necessário, como já almejava o Concílio, que o Sínodo, ciente de que «o

81
Constituição Apostólica Episcopalis Communio – Sobre o Sínodo dos Bispos. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_constitutions/documents/papa-francesco_costituzione-
ap_20180915_episcopalis-communio.html
82
Citação da Constituição referindo-se à Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, do Papa Francisco, de 2013, parágrafo
1.
83
Idem, parágrafo 25.
84
Idem, parágrafo 27.
27. Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os
horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do
mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode
entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas
34
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

cuidado de anunciar o Evangelho em todas as partes da terra pertence, antes de mais, ao corpo episcopal»
se empenhe por «atender de modo especial à atividade missionária, que é a principal e a mais sagrada da
Igreja»85.”
- “o Bispo é conjuntamente chamado a «caminhar à frente, indicando o rumo, apontando a vereda;
caminhar no meio, para fortalecer [o Povo de Deus] na unidade; caminhar atrás, não só para que ninguém
fique para trás, mas também e sobretudo para seguir a intuição que o Povo de Deus tem para encontrar
novas sendas. O Bispo que vive no meio dos seus fiéis mantém os ouvidos abertos para escutar “o que o
Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 7) e a “voz das ovelhas”, também através daqueles organismos diocesanos que
têm a tarefa de aconselhar o Bispo, promovendo um diálogo leal e construtivo».”
- “Também o Sínodo dos Bispos deve tornar-se cada vez mais um instrumento privilegiado de escuta
do Povo de Deus: «Para os Padres sinodais, pedimos, do Espírito Santo, antes de mais nada o dom da escuta:
escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade de Deus que
nos chama».”
- “é um instrumento adequado para dar voz a todo o Povo de Deus precisamente por meio dos
Bispos, constituídos por Deus «autênticos guardiões, intérpretes e testemunhas da fé de toda a Igreja»
mostrando-se de Assembleia em Assembleia uma expressão eloquente da sinodalidade como «dimensão
constitutiva da Igreja».”
- “Nesta primeira fase os Bispos, seguindo as indicações da Secretaria Geral do Sínodo, submetem as
questões, que devem ser tratadas na Assembleia sinodal, aos Presbíteros, Diáconos e fiéis leigos das suas
Igrejas, individualmente ou associados, sem transcurar a valiosa contribuição que pode vir dos Consagrados e
das Consagradas. Sobretudo pode revelar-se fundamental a contribuição dos organismos de participação da
Igreja particular, especialmente o Conselho Presbiteral e o Conselho Pastoral, a partir dos quais
verdadeiramente «pode começar a tomar forma uma Igreja sinodal».”
- “À consulta dos fiéis segue-se, durante a celebração de cada Assembleia sinodal, o discernimento
por parte dos Pastores especificamente designados, unidos na busca dum consenso que nasce, não de
lógicas humanas, mas da obediência comum ao Espírito de Cristo. Atentos ao sensus fidei86 do Povo de Deus

as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de
«saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. Como
dizia João Paulo II aos Bispos da Oceania, «toda a renovação na Igreja há de ter como alvo a missão, para não
cair vítima duma espécie de introversão eclesial».[25]
28. A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir
formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade.
Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar
constantemente, continuará a ser «a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas
filhas». Isto supõe que esteja realmente em contacto com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma
estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos. A paróquia é
presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o
anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração. Através de todas as suas atividades, a paróquia
incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades,
santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário.
Temos, porém, de reconhecer que o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente
fruto, tornando-as ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e
orientando-as completamente para a missão. (EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM DO SANTO
PADRE FRANCISCO AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O
ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL. 2013. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-
ap_20131124_evangelii-gaudium.html#Uma_renova%C3%A7%C3%A3o_eclesial_inadi%C3%A1vel_
85
Citação da Constituição referindo-se ao Decreto Ad Gentes, do Concílio Vaticano II, de 1965, parágrafo 29 e
Constituição Dogmática Lumem Gentius, de 1964, parágrafo 23.
86
“A teologia entende por sensus fidei (sentido/senso da fé) o dom ou capacidade dada pelo Espírito Santo àquele que
crê, de perceber a verdade da fé e de discernir o que lhe é contrário. É um dom ou carisma de todos os batizados.”
(https://www.diocesesa.org.br/2016/02/o-sensus-fidei-na-vida-da-igreja/)
35
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

– «que devem saber cuidadosamente distinguir dos fluxos frequentemente mutáveis da opinião
pública»[28]–, os Membros da Assembleia facultam ao Romano Pontífice o seu parecer, para que este o
possa ajudar no seu ministério de Pastor universal da Igreja.”
- Além dos Membros, podem participar na Assembleia do Sínodo, como convidados e sem direito a
voto, Especialistas (Periti), que colaboram na redação dos documentos; Auditores (Auditores), que possuem
particular competência nas questões a tratar; Delegados Fraternos (Delegati Fraterni), pertencentes a
Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja Católica87. A estes,
podem-se juntar alguns Convidados Especiais (Invitati Speciales), designados em virtude da sua reconhecida
autoridade.

“os fiéis têm um instinto para a verdade do Evangelho, o que lhes permite reconhecer quais são a doutrina e prática
cristãs autênticas e a elas aderir. Esse instinto sobrenatural, que tem uma ligação intrínseca com o dom da fé recebido
na comunhão da Igreja, é chamado de sensus fidei, e permite aos cristãos cumprir a sua vocação profética.”(O Sensus
Fidei na vida da Igreja. 2014.
https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20140610_sensus-
fidei_po.html#1._O_sensus_fidei_como_instinto_da_f%C3%A9)
Sobre o sensus fidei, pode se aprofundar no texto “Sensus Fidei na vida da Igreja”, de 2014, da Comissão Teológica
Internacional. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20140610_sensus-
fidei_po.html#1._O_sensus_fidei_como_instinto_da_f%C3%A9
87
Chama a atenção a participação dos Delegados Fraternos nas reuniões dos Sínodos, o que é bem frequente.
Estiveram na 14ª Assembleia Geral Ordinária de 2015 sobre a família
(https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2015/10/16/0789/01720.html). Estiveram na 15ª
Assembleia Geral Ordinária, de 2018 dos jovens
(http://www.christianunity.va/content/unitacristiani/en/news/2018/delegati-fraterni-al-sinodo-dei-vescovi.html). São
eles: Igrejas Ortodoxas (Sérvia, Alexandria, Antioquia, EUA, Moscou, Romênia), Comunidade Anglicanas, Federação
Luterana Mundial, Conselho Metodista Mundial, Igreja Cristã Discípulos de Cristo, Aliança Batista Mundial, Aliança
Evangélica Mundial (Alemanha), Conselho Ecumênico de Igrejas, Igreja Anglicana do Quênia, Conselho Metodista
Mundial, Comitê Nacional Alemão da Federação Luterana Mundial, Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas,
Conselho Mundial de Igrejas. A pergunta que fica: A Igreja Católica participa das Assembléias dessas Igreja? Ou só eles
participam das Assembléias do Bispos Católicos.
36
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

AS ETAPAS DO NOVO CAMINHO SINODAL


O documento “Nota do Sinodo dos Bispos”, de 21/05/202188, definiu a estrutura do Sínodo dos
Bispos de 2023.
Data Atividade
Preparatoria
Secretaria Geral do Sínodo preparará e distribuirá: Documento Preparatório +
Questionário + Vademecum – (será enviado às dioceses, Dicatérios da Cúria Romana, às
set/2021 Uniões de Superiores e Superiores Maiores e outras uniões, às Federações de Vida
Consagrada, aos Movimentos Internacionais de Leigos, às Universidades e Faculdades
de Teologia)
Dioceses: Nomeação de um responsável diocesano (ou equipe) para a consulta sinodal
(servirá como ponto de referência e contato com a Conferência Episcopal e
Antes de acompanhará a consulta na Igreja Particular)
out/2021
Conferências Episcopais: Nomeação de um responsável (ou equipe) (atuará como
referência e contato com os líderes diocesanos e com a Secretaria Geral do Sínodo)
Abertura
9e Abertura do Sínodo no Vaticano – Papa Francisco
10/out/2021
17/out/2021 Abertura do Sínodo nas dioceses – Bispos das Dioceses
Fase Diocesana
O objetivo desta fase é a consulta ao Povo de Deus (cfr. Episcopalis Communio , 5,2), a fim de que o
processo sinodal se realize na escuta de todos os batizados, sujeitos da infalível sensu fidei in
credendo.
out/2021 a Consultas serão:
abr/2022
- nas Igrejas particulares, por meio dos Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e
Arquiepiscopais Maiores, dos Conselhos dos Hierarcas e das Assembleias dos
Hierarcas das Igrejas sui iuris e das Conferências Episcopais;
- Nas Uniões, as Federações e as Conferências masculinas e femininas dos Institutos
de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica;
- Associações de fiéis reconhecidas pela Santa Sé;
- Dicastérios da Cúria Romana;
- A Secretaria Geral do Sínodo pode individuar ainda outras formas de consulta do Povo
de Deus. (Episcopalis Communio, Art. 6)
Os resultados das consultas das Igrejas Particulares são enviados Sínodo dos Bispos das
Igrejas Patriarcais e Arquiepiscopais Maiores, ou ao Conselho dos Hierarcas e à
Assembleia dos Hierarcas das Igrejas sui iuris, ou então à Conferência Episcopal do
respetivo território. Bem como os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de
Vida Apostólica e os Dicastérios. (Episcopalis Communio, Art. 7, § 1)
Os organismos acima enviam uma síntese à Secretaria Geral do Sínodo. (Espicopalis

88
Em https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2021/05/21/0314/00693.html#en
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Communio, Art. 7, § 1)
Art. 7 § 2. Resta íntegro o direito que têm os fiéis, como indivíduos ou associados, de
enviar as suas contribuições diretamente para a Secretaria Geral do Sínodo.
(Episcopalis Communio)
Antes de Redação da Síntese pelo responsável pela Conferência Episcopal e pelos representantes
abr/2022 eleitos para participar da Assembleia Geral Ordinária o Sínodo. A Síntese e as
contribuições serão enviadas ao Secretariado Geral do Sínodo.
Outras contribuições: Contribuições enviadas pelos Dicastérios da Cúria Romana, pelas
Universidades, Faculdades de Teologia, pelas Uniões de Superiores e Superiores Gerais
(USG-UISG), por outras uniões, pelas Federações de Vida Consagrada e pelos
movimentos leigos internacionais serão enviadas ao Secretariado Geral do Sínodo.
Antes de A Secretaria-Geral do Sínodo dará continuidade à redação do primeiro Instrumentum
set/2022 Laboris.
Encontro Internacional de Conferências Episcopais nomeará, um responsável que
atuará como contato entre as Conferências Episcopais e com o Secretariado Geral do
Sínodo.
Fase Continental
O objetivo desta fase é dialogar em nível continental sobre o texto do primeiro Instrumentum
Laboris , realizando um posterior ato de discernimento à luz das especificidades culturais de cada
continente.
Set/2022 a Secretaria-Geral do Sínodo publicará e enviará o primeiro Instrumentum Laboris que
mar/2023 será enviado aos Encontros Internacionais das Conferências Episcopais.
As Assembleias se encerrarão com a redação de um documento final, que será enviado
à Secretaria Geral do Sínodo.
Paralelamente às reuniões pré-sinodais em nível continental, recomenda-se a
realização de assembleias internacionais de especialistas, que podem enviar suas
contribuições à Secretaria Geral do Sínodo
Antes de A Secretaria-Geral do Sínodo procederá à redação do segundo Instrumentum Laboris.
jun/2023
Fase Universal
Out/2023 A Secretaria Geral do Sínodo enviará o segundo Instrumentum Laboris aos
participantes da Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
Celebração do Sínodo dos Bispos em Roma, segundo os procedimentos estabelecidos
na Constituição Apostólica Episcopalis Communio

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-06/grech-novidade-sinodo-nao-sonho-do-papa-
mas-concilio.html

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

CAMINHO SINODAL – CAVALO DE TRÓIA PARA A TEOLOGIA


DA LIBERTAÇÃO E O MODERNISMO
O caminho sinodal tem por função ouvir os fiéis e levantar as questões para serem discutidas no
Sínodo dos Bispos, na Assembleia que se realizará em 2023.
Como vimos, a história nos mostrou vários acontecimentos que culminaram no Concílio Vaticano II e
as várias vertentes de pensamento que foram sendo criados durante os anos pelo modernismo. Vimos
também que o Concílio Vaticano II, conforme o próprio Papa Bento XVI, foi marcado pela grande influência
de teólogos, que se colocaram em nível superior aos Bispos, sendo tratados como mestres pelos clérigos,
dado ao desconhecimento desses últimos em analisar o mundo daquele momento.
O período pós conciliar também abriu a porta para a influência dos teólogos sobre os Bispos durante
o Concílio, fato que continuou no decorrer dos anos. Essa influência se mostrou também de outras formas,
como na influência na formação dos padres.
Os anos seguintes ao Concílio foi marcado pelo surgimento de várias teologias de linha marxista e
modernista: teologia da libertação, teologia feminista, teologia indígena, teologia ecológica. Essas teologias
criadas estão, em sua totalidade, em desacordo com a teologia milenar da Igreja Católica, devido a suas
influências políticas e sociais, além de um profundo imanentismo, tendo foco no homem e muito pouco em
Deus.
Essas influências também podem ocorrer no sínodo, como iremos estudar nesta parte do curso.

Influências relativas aos participantes


O Caminho Sinodal terá a participação de leigos, sacerdotes, missionários, consagrados, bispos e
cardeais. Terá também a participação dos "órgãos intermediários da sinodalidade, isto é, os Sínodos das
Igrejas católicas orientais, os Conselhos e Assembleias das Igrejas sui iuris89 e as Conferências episcopais, com
suas expressões nacionais, regionais e continentais"90.
Na fase diocesana os textos preparatórios (ou seja, previamente escritos e defendendo os temas
apresentados para escolha) serão enviados para “Dicastérios da Cúria, Uniões dos Superiores e das
Superioras Maiores, Uniões ou Federações de Vida Consagrada”91.
Até aí pode-se até estar tudo bem, mas a coisa complica mais, os textos serão também enviados para
“Movimentos leigos internacionais, Universidades ou Faculdades de Teologia”92. Entenda-se aqui as
opiniões de movimentos leigos que podem defender as propostas mais absurdas, alheias à Fé Católica, e
de teólogos interessados unicamente na desconstrução da hierarquia da Igreja e deturpação da Fé
Católica.

89
Igrejas sui iuris compreende todas as Igrejas que formam a Igreja Católica. A Igreja Católica é formada por 24 Igrejas
independentes. Sui iuris, em latim, significa independente. As 24 Igrejas são autônomas, mas em relação ao seu rito e
sua disciplina, mas não em relação aos seus dogmas, que são semelhantes para todas, garantindo a unidade de fé, todas
elas obedientes ao Papa. No Ocidente temos apenas um rito, o Rito latino ou romano, com sede em Roma. O Oriente
apresenta 23 Igrejas: três de tradição litúrgica alexandrina (Copta, Etíope e Eritréia); quatorze de tradição litúrgica
bizantina, formada por Igrejas Greco-Católicas (Melquita, Ucraniana, Bielorrussa, Russa, Búlgara, Húngara, Romena,
Macedônia) e por Igrejas Católica Bizantina (Grega, Ítalo-Albanesa, Eslovaca, Croácia e Sérvia, Rutena, Albanesa; uma de
tradição litúrgica Armênia; uma de tradição litúrgica Maronita; duas de tradição litúrgica antioquena ou siríaca ocidental
(Siríaca e Siro=Malancar) e; duas de tradição litúrgica caldeia ou siríaca oriental (Caldeia e Siro-Malabar). Mais
informações em: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-10/igreja-catolica-sempre-una.html e em
https://pt.aleteia.org/2016/08/02/voce-sabia-que-a-igreja-catolica-e-constituida-por-24-igrejas-autonomas/
90
Cernizio, Salvatore. Site Vaticannews. Novidades para o sínodo: tem início a partir das Igrejas locais. 21.05.2021.
Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-05/sinodo-bispos-caminho-sinodal-inicio-a-partir-
das-igrejas-locais.html
91
Cernizio. Op. Cit.
92
Cernizio. Op. Cit.
40
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Sabe-se que entre os movimentos leigos apresentam-se temas de vários tipos, inclusive de defesa
do aborto, feminismo, padres casados, LGBT, etc. Note-se que os movimentos leigos são os internacionais,
e não somente católicos, que em só já apresenta vários problemas. Assim, a participação no Caminho Sinodal
apresenta um espectro muito amplo.
Quanto à participação de faculdades e Universidades de Teologia, é sabido sobre os textos que
correm nos bancos acadêmicos, bem como seu viés, tanto político como religioso.
Com isso pode-se esperar uma presença maciça nas mídias de defesas de propostas que venham a
ser interessantes para esses grupos. Dado ainda o interesse da grande mídia em seu posicionamento
contra a Igreja Católica. Pode-se esperar a defesa dos temas prévios preocupantes à Tradição e à Moral da
Igreja, principalmente com possibilidade de fabricação de matérias nas mídias, com o objetivo de
influenciar nas “escolhas” que os fiéis farão nas suas dioceses. E o ataque às propostas contrárias a esses
interesses.

A descentralização das propostas dos temas


A tônica que marcará esse sínodo será a “descentralização”, ou seja, os pontos a serem discutidos
partirão das comunidades para chegarem à parte superior da estrutura da Igreja. O Papa Francisco chama
isso de “uma salutar descentralização”93. Já o texto divulgado pelo Vaticano diz que se superará a “tentação
da uniformidade”, com vistas à “unidade na pluralidade”94.
Nesse sentido pode se entender uma diversidade de temas, podendo estar ligados às questões
mundanas, discutindo-se não a posição da Tradição e do Magistério da Igreja, mas podendo se colocar como
uma discussão da adequação aos desejos do mundo. Isso se percebe no Sínodo da América Latina e Caribe,
que está em andamento, cujo temas iremos analisar mais à frente.
A tempos se houve que os objetivos do Concílio Vaticano II não tinham sido ainda alcançados. Este
deve ser um deles. Joga-se para o lado a unidade que a Igreja Católica apresentou durante seus dois
milênios, centralizado na Tradição, no Magistério e na Doutrina, e busca-se as opiniões dos fiéis e de grupos
do mundo sobre os destinos da Igreja, de forma plural e descentralizada, abrindo a discussão para todas as
vertentes que se coloca no mundo.
A Igreja Católica, desde antes do Vaticano II, já vinha sendo tomada por correntes teológicas de
cunho duvidoso à Fé. Esse domínio de teologias contrárias à hierarquia da Igreja e da Fé Católica deu-se após
o CV II, dando terreno a teologias progressistas e de viés político de linha marxista (teologia da libertação e
outras teologias modernas, feminista, indígena, ecológica), bem como a infiltração de ideias próprias de
igrejas oriundas do Cisma Protestante (vide Campanha da Fraternidade 2021 e a influência do CONIC,
formada em sua maioria por igrejas de cunho protestante). Os resultados foram sentidos nas alterações da
construção das igrejas, tanto no seu exterior como no seu interior, que remontam a antes do CV II. Depois
nas alterações litúrgicas produzidas pela Missa de Paulo VI e nas alterações do próprio sentido da Missa,
com a protestantização de termos, ritos e forma de celebração. Ocorreram mudanças na formação dos
seminaristas, cujos professores passaram a ser acadêmicos impregnados de novas teologias mundanas,
muito em voga no Ocidente, com uma clara ruptura em relação aos ensinamentos dos Padres da Igreja, e
uma voraz tentativa de tratar como verdade somente o que existiu após o CV II. Com essa formação, e essa
mentalidade de desligamento do passado da Igreja, visto como ultrapassada, os documentos e livros tem
sua linha bibliográfica formada unicamente por textos a partir dos anos 90, muito raramente, trazendo
citações entre 70 e 80, e nunca anterior aos anos 70. Desta forma as ideias são normalmente ligadas à
forma textual que se apresenta nestes livros modernos, fechados que estão ao pensamento dominante na
teologia moderna, isso quando não se coloca frontalmente a favor de teologias heréticas atuais, como
exemplo a teologia da libertação e suas vertentes.

93
Papa Francisco. Discurso de comemoração do cinquentenário da Instituição do Sínodo dos Bispos, 17/10/2015.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october/documents/papa-
francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.html
94
Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-05/sinodo-bispos-caminho-sinodal-inicio-a-
partir-das-igrejas-locais.html
41
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

O Moto Próprio “Tradiciones Custodes” do Papa Francisco, que impediu a Missa no rito Tridentino
segue essa linha de rompimento com o passado da Igreja, pois se coloca contrariamente ao que propõe o
caminho sinodal, de ouvir os fiéis. Nesse caso em particular ouviu-se alguns bispos, mas não os fiéis. Ouviu-
se apenas um lado.
O sentido da ruptura com o passado é visível, a partir do CV II, e está sendo cada vez mais
fundamentado e consolidado. É a vitória da hermenêutica da ruptura, conforme definiu o Papa Bento XVI, é
clara.
E esse Caminho Sinodal que se inicia, trilha na mesma linha de ruptura, senão é a pedra essencial
para que a consolidação das rupturas desejadas por grupos que leem no “espírito do concílio”, coisas que
não estavam literalmente definidas nos documentos, interpretando a seu bel prazer as mudanças
desejadas que colocam a Igreja em colapso.

95

A descentralização de temas para serem discutidos na Igreja soa mais como um discurso vazio de
significado em relação ao que sempre foi colocado pela Igreja desde seus primórdios, mas cheio de
significados quando se vislumbra verdadeiros tormentos para o futuro da Igreja.
O texto do Vaticano diz “Um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo” traz a dúvida
se as propostas a serem levantadas neste Caminho Sinodal terão mesmo a luz do Espírito Santo, ou se serão
engendradas propostas vindas de posições contrárias ao Espírito Santo, mas travestidas como tal.
A descentralização fomentada por esse Caminho Sinodal, longe de trazer a posição dos fiéis trás,
sobremaneira, a possibilidade de propostas contrárias à Fé, à Tradição, ao Magistério e à Doutrina, oriundas
de pessoas específicas e vertentes interessadas em destruir a fé e a diminuir o poder da Igreja, quiçá
destruí-la.

Fiéis avalizando temas que desconhecem e ajudando a fundar uma nova igreja
É fato que a imensa maioria dos fiéis não sabe quase nada sobre o que acontece na Igreja, não tem
nenhum conhecimento sobre Teologia, Tradição, Magistério, Dogmas, Doutrina. Em sua grande maioria, nem
ao Catecismo leram. Sabem unicamente ir à Missa, muitas vezes somente uma vez por semana. E muitos
ainda vão de chinelo e bermuda e roupas curtas e provocantes, como se fossem à praia ou a uma rave, sem

95
Fonte: https://gloria.tv/post/aGCPjSmqRXjw3CPtrBwgUgvX3
42
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

que os padres chamem a atenção para o respeito a Deus. Pode-se tudo, conforme o pensamento de cada
um, pois “o que vale é o que vai no coração”. Muitos nem se confessaram em toda a vida, mas vão à Missa e
comungam. Nem o catecismo, a imensa maioria nunca leu, ou conhece. A maioria, mesmo os com formação
superior, nunca chegou a ler algum documento da Igreja, e muitos nem teriam condições de entendê-los.
E essas pessoas, esses fiéis, serão assim alçados, conforme o que propõe o discurso do Concílio, a
fazerem escolhas em relação à Igreja de Jesus Cristo.
Cabe salientar que objetivo é que esses leigos no conhecimento da Igreja e na profundidade da sua
Tradição e Magistério, sejam “avalistas” de propostas desejadas para serem aplicadas na construção de uma
nova Igreja, mais ligada ao mudo e aos interesses das pessoas.
E assim serão jogados aos leões, dado o interesse que se coloca por trás das ações que estão a
tempos sendo construídas. E tudo virá da “escuta” dos fiéis, conforme a singela proposta do Caminho
Sinodal.
Despreparados e desinteressados decidindo o futuro da Igreja.

Fase diocesana – etapa 1


Na primeira fase, a diocesana, o texto apresentado demonstra que, como tudo o que traz o selo de
uma tal “consulta do povo”, de “escuta”, o processo será o de” textos preparatórios, acompanhado de um
questionário e um vade-mécum com as propostas para a realização da consulta.
Ou seja, alguns, escolhidos a dedo, por sabe-se lá quem, irão: 1) preparar as propostas; 2) escrever
textos que fundamentem as propostas pretendidas, com clara posição de defesa das mesmas, sem
questionamento contrário nenhum; 3) preparar minuciosamente um questionário direcionado à aceitação
das propostas; 4) colocar tudo em votação dos fiéis, para que esses, democraticamente, façam as escolhas
de temas que já vieram definidos.
Desta forma, tendo que se votar em propostas previamente prontas, e possivelmente sem
alternativas contrárias, acompanhadas de um texto propício à defesa das propostas, é altamente discutível a
possibilidade de que os fiéis, carentes de maiores informações e sem formação educacional para colocar
posições contrárias, tenham condições de “discernir” sobre as propostas. E alicerçado a isso uma mídia
pesada, interessada em determinados resultados.
O Vaticano utiliza o termo “discernimento”. Ora, discernimento é um espírito crítico para se
distinguir e diferenciar propostas alternativas ou antagônicas. Para isso é necessário que aquele que discerne
tenha um bom conhecimento do que está sendo proposto, e suas variantes contrárias, para que possa
comparar posições e discernir entre a mais aceitável. Levando em consideração a qualidade e profundidade
de conhecimento que os fiéis têm sobre as questões da Igreja Católica, é notório que não terão condições
de discernir, mas serão facilmente levados a uma opinião, que será utilizada como sua, mas na verdade foi
conduzida por um terceiro para tal.
Quanto à essa condução de terceiros lembremos dos textos ecumênicos das Campanhas da
Fraternidade, em especial o deste ano de 202196, preparado por uma instituição (CONIC) que reúne, em sua
maioria, igrejas não católicas97, e cujo documento-base teve a coordenação de uma pastora luterana,
defensora do aborto e do feminismo, que tanto mal criou dentro da Igreja98.
Lembremos também dos temas que foram discutidos no Sínodo para a Amazônia, da imagem da
pacha mama que foi colocada dentro de uma igreja em Roma e foi dançada nos jardins do Vaticano99, do

96
Campanha da Fraternidade 2021. Disponível em: https://anec.org.br/acao/campanha-da-fraternidade-2021/
97
CONIC. Disponível em: https://www.conic.org.br/portal/igrejas-membro
98
Disponível em: http://www.agora.com.vc/noticia/campanha-da-discordia/
99
Disponível em: https://www.acidigital.com/noticias/bispo-denuncia-idolatria-e-escandalo-causados-pelas-imagens-
da-pachamama-33553
43
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

pacto das catacumbas100 que vem desde o CV II e a linha ideológica que move seus participantes, e do
REPAM101.

Fase diocesana – etapa 2


O próximo passo da fase diocesana, do Caminho Sinodal, é que todas essas propostas, previamente
ordenadas, sejam preparadas por um responsável diocesano, que encaminhará à Conferência Episcopal, no
caso do Brasil a CNBB. A mesma CNBB que propiciou ao CONIC a possibilidade de preparação da Campanha
da Fraternidade de 2021, aceitando o texto e elogiando a coordenação da citada pastora luterana, defensora
do aborto e do feminismo.
Sendo que aqui temos um filtro, cabe levantar o questionamento da formação e dos interesses
oriundos de quem está a formular esse filtro de propostas previamente prontas.

Fase diocesana – etapa 3


Depois, as propostas que foram previamente criadas para a “escolha democrática” dos fiéis, passar-
se-á à análise dos Bispos das Conferências. Ora, os bispos irão somente analisar propostas prontas por
algumas pessoas, pré-determinadas, a priori e escolhidas pelos fiéis, pessoas sem nenhum conhecimento
sobre os temas, influenciados por uma mídia voraz.
Desta fase diocesana será montado um primeiro Instrumentum Laboris, que passará à próxima fase.

Fase continental
Na fase continental chama a atenção, no texto do Vaticano, quando diz que o diálogo seja
fundamentado à “luz das particularidades culturais específicas de cada continente”.
Esta etapa terá a participação dos bispos.
Paralelamente à reunião dos bispos uma “assembleia internacional de especialistas, que poderão
enviar suas contribuições”, ou seja, uma assembleia de teólogos. Como é notório as ideias de muitos
teólogos nos tempos de hoje, é possível esperar propostas não condizentes com o Espírito Santo. Pois é
claro que essa assembleia contará com teólogos e especialistas que não tem ligação com as linhas
tradicionais da Igreja Católica.
Da fase continental será elaborado um segundo Instrumentum Laboris, previsto para junho de 2023,
que passará para a fase universal.

Fase universal
Depois desse longo “caminho”, que configura, conforme o Vaticano, “um exercício da colegialidade
dentro do exercício da sinodalidade” chega-se à fase universal, onde se realizará o Sínodo propriamente
dito, a Assembleia dos Bispos em Roma, em outubro de 2023.
Temos aqui um exercício da colegialidade, ou seja, da reunião dos bispos da Igreja que analisarão
propostas advindas do caminho sinodal, que se entende na escolha dos fiéis (em sua maioria sem nenhum
conhecimento e/ou entendimento e/ou interesse sobre o que se discute) das igrejas particulares de
propostas previamente preparadas (por algumas pessoas escolhidas a dedo por algum outro), fundamentado
por textos que determinem as propostas como as melhores, com mínimas posições contrárias. E tudo com
pressões de mídias interessadas no fim da Igreja. Tudo numa bela aura de “participação e escuta” dos fiéis
nas decisões da Igreja.

100
Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2019-10/um-grupo-de-padres-sinodais-renova-
pacto-das-catacumbas.html
101
Disponível em: http://www.synod.va/content/sinodoamazonico/pt/a-pan-amazonia/repam-rede-eclesial-pan-
amazonica.html
44
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Cabe assim as seguintes perguntas sobre este tal Caminho Sinodal:


- Porque outras denominações religiosas (protestantes, luteranos, hindus, islâmicos, religiões
asiáticas) não fazem também esse tal Caminho Sinodal, ouvindo todo mundo, de dentro ou de fora da sua
denominação, para dar opinião sobre sua religião?
- Porque somente a Igreja Católica assumiu essa linha de ouvir todos, inclusive quem não tem nada
a ver com a Fé da Igreja Católica Apostólica Romana?
A pergunta que fica no final é essa: Tudo isso está de acordo com o Espírito Santo?

45
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

SÍNODO DA AMÉRICA LATINA E CARIBE – ANÁLISE CRÍTICA


Para demonstrar a possibilidade de que o Sínodo dos Bispos de 2023 tenha por foco temas oriundos
de linhas ideológicas estranhas à fé Católica, temos como exemplo o Sínodo que se realiza na América Latina
e Caribe.
A 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe se realizará entre 21 e 28 de novembro de 2021,
na Cidade do México, E foi pensada dentro da perspectiva do caminho sinodal, ou seja, incluindo as fases de
escuta do povo de Deus, com pesquisas de opiniões dos fiéis sobre suas paróquias e outros grupos e
instituições participantes. O site oficial é: https://asambleaeclesial.lat/.
Linha do tempo da escuta
O documento Guia Metodológico traz a linha do tempo desde o Comitê de Conteúdos (junho de
2020) até a Assembleia dos Bispos (novembro de 2021).102

Site da escuta
Nessa escuta foi preparado um site com um formulário para o processo de ouvir o povo de Deus.
Para o Brasil, único país de língua portuguesa em toda a América Latina e Caribe, o site da pesquisa é:
https://assembleiaeclesial.com.br/escuta.
Além da escuta o site apresenta no link <Subsídios> os materiais de orientação:
Guia Metodológico do Processo de Escuta Documento para o Caminho em direção à
do Povo de Deus que peregrina na América Latina Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe
e no Caribe

102
CELAM, GUIA METODOLÓGIC0 do Processo de Escuta do Povo de Deus que peregrina na América Latina e no Caribe.
2021. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1uJc9tNSO72trg1zNmGiNgAbzGzV3GO9-/view?usp=sharing
46
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

https://drive.google.com/file/d/1uJc9tNSO https://drive.google.com/file/d/1ABKZuX0
72trg1zNmGiNgAbzGzV3GO9-/view?usp=sharing G04z9C8wCwkIWcW9TyK7wkkOq/view?usp=sharin
g

O que é e o que não é uma atividade comunitária à luz da sinodalidade


O Guia Metodológico coloca o que é uma atividade comunitária à luz da sinodalidade:103
 espaço de consulta e diálogo coletivo para responder e contribuir para o documento de trabalho da
Assembleia;
 espaço que visa ouvir o maior número de pessoas, mas com os objetivos alicerçados a partir das
orientações do processo de escuta;
 espaço que busca contribuir com a Igreja sobre novas formas de responder às necessidades do povo
de Deus, coerentes ao seguimento de Jesus, e aos apelos e conjunturas da contemporaneidade;
 levar em conta o Guia Metodológico, para que possa ser respondido da forma mais consensual
possível e com maior sustento de cada contribuição;
 a necessidade de que seja pautado, à luz da sinodalidade, os aspectos relacionados com a
autogestão local das atividades comunitárias a serem desenvolvidas.
O Guia também apresenta o que não é uma atividade comunitária à luz da sinodalidade104:
 As escutas não são cursos, oficinas ou reuniões de planejamento e/ou avaliação.
 Não são atividades com o enfoque apenas como fórum sociopolítico.
 Não é um espaço para discussão teórica ou abstrata da Igreja.
Como se nota, pela rigidez do processo, a finalidade é apenas e unicamente seguir os temas
propostos, sem questionamento aos mesmos.

Algumas curiosidades
Em uma parte do Guia, sobre os “cuidados das atividades”, coloca-se a questão do “respeito à
diversidade”105.
Tema estranho, pois diversidade significa aquilo que é diferente, diverso, variado.
Sendo que todos os batizados somos filhos de Deus, como podem ser diferentes, como podem ser
diversos?
O documento não explana o que isso significa, trazendo um certo ponto da mundanidade vigente.
O texto não se aprofunda em responder o que significa essa colocação, apenas faz um alerta.

103
CELAM, Guia comunitário, p. 8
104
CELAM, Guia comunitário, p. 9
105
CELAM, Guia comunitário, p. 12
47
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Mas surgem perguntas:


- Até que ponto esse “respeito com a diversidade” entraria em choque com o pecado de certos
comportamentos, reprovados pela Igreja desde os seus primórdios? (homossexualidade, segunda união, etc.)

A Escuta
Para entrar na pesquisa o link <A Escuta> leva ao formulário, onde é necessário fazer um cadastro.
Ou pelo link https://conocimientocompartido.org/.

Áreas da escuta
Ao entrar no site a tela apresenta as seguintes áreas:
- Participação Pessoal – formulário para resposta individual de cada fiel;
- Participação do Grupo – formulário para escuta dos grupos da paróquia;
- Foros Temáticos – locais de discussão de questões, que podem ser previamente definidas, ou
propostas novas;
- Você quer propor um novo fórum? – local de proposição novas temas de fóruns.

Olharmos o que fazemos


Um dos itens da pesquisa, onde existe a possibilidade de se comentar fora dos temas é o item 3.

48
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Neste espaço é possível se posicionar sobre algumas questões.

Temas da Escuta – os sinais dos tempos


A escuta divide-se em duas partes:
 4. Temas mais presentes na pastoral
 5. Temas mais ausentes na pastoral

Tanto uma como outra escolha tem de ser definida dentre os seguintes temas, que se diga de
passagem são afirmações e não perguntas:
 A pandemia da COVID-19, sinal de uma mudança de época.
 O modelo económico e social que se está a virar contra o ser humano.
 A crescente exclusão, a cultura do descarte e as práticas de solidariedade.
 A escuta do grito da terra, cuidar da nossa casa comum.
 A violência crescente nas nossas sociedades.
 As grandes lacunas educacionais, a necessidade de um “Pacto Educativo Global”.
 Os Migrantes, refugiados e vítimas de tráfico de pessoas como novos rostos da cultura do descarte.
 Os povos indígenas e afrodescendentes: rumo a uma cidadania plena na sociedade e na Igreja.
 A globalização e a democratização da comunicação social.
 O enfraquecimento dos processos políticos e democráticos nos nossos países.
49
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 O envelhecimento da população.
 Informação transbordante, conhecimentos fragmentados e a urgência de uma visão integradora.
 O aumento do número de pessoas que se declaram agnósticos, não-crentes ou ateus na América
Latina e no Caribe.
 O crescimento crescente das igrejas evangélicas e pentecostais no nosso continente.
 O desafio de um maior desenvolvimento do ministério da pastoral urbana e das grandes cidades.
 Os novos desafios da família e as suas diferentes realidades.
 Os jovens como atores sociais e gestores da cultura.
 O desafio da plena participação dos jovens na sociedade e na Igreja.
 Prevenção do abuso sexual na Igreja e acompanhamento das pessoas que foram abusadas.
 O clericalismo, um grande obstáculo a uma Igreja sinodal.
 Em direção a uma Igreja itinerante e sinodal, caminhando por novos caminhos.
 Outros: especificar

Nota-se o peso de afirmação de linha modernista e da Teologia da Libertação, discutiremos isso mais
À frente.

Consequências para a paróquia de não se abordar essas questões


Esta parte do formulário pergunta: Quais têm sido as consequências para nossa pastoral de não
abordar estas questões?

No documento Guia metodológico coloca-se 4 campos de reflexões para essa pergunta, apesar que
no formulário esses campos não apareçam.
a. Na nossa vida pessoal
b. Na nossa vida comunitária
c. Na Igreja do meu país
d. Na Igreja na América Latina e no Caribe

Nesse caso, já é complicado para os fiéis, dado ao pouco conhecimento sobre afirmações tão amplas
para a paróquia e sua vida, coloca-se a eles dizer sobre o impacto no país e no mundo, como se estivéssemos
frente à opinião de intelectuais em várias áreas do conhecimento.
Cinco aspectos que deseja incorporar em sua jornada como discípulo missionário
A próxima pergunta coloca que: 7. Com base em sua experiência, quais são os 5 aspectos que
deseja incorporar em sua jornada como discípulo missionário?

50
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

São disponibilizados cinco campos para se escolher as opções que são estas:
 A leitura da realidade, discernimento dos sinais dos tempos.
 O crescimento no seguimento de Jesus.
 Ser discípulos missionários ao serviço da vida.
 A evangelização sempre ligada à promoção humana e à autêntica libertação.
 O apelo a uma ecologia integral.
 O trabalho para uma economia solidária, sustentável e ao serviço do bem comum.
 Discipulado comprometido com uma cultura de paz.
 As novas tecnologias, as suas grandes contribuições e os seus riscos.
 A incorporação de uma maior interculturalidade e inculturação da nossa ação pastoral.
 O compromisso com o fortalecimento da democracia, ainda frágil nos nossos países.
 A renovação eclesial
 A incorporação de linguagens pastorais atualizados ou significativos para os destinatários.
 Outros temas: Especificar
Novamente apresentam-se afirmações que tem as mesmas características da dos temas anteriores,
afirmações onde não existe a possibilidade de contraponto ou argumentação contrária e com total viés da
Teologia da Libertação e do modernismo:
- leitura da realidade, discerni sobre o sinal dos tempos – uma leitura do que o mundo apresenta e
não mais do que Jesus apresenta para nós, uma mundanização do nosso interesse e não no interesse na vida
eterna e na salvação;
- a evangelização ser ligada a uma promoção humana – um claro desligamento da evangelização para
a palavra de Jesus Cristo e sua salvação, em troca da promoção do homem e sua vida terrena;
- a evangelização ligada à autêntica libertação – sentido unicamente da Teologia da Libertação,
considerando a libertação num sentido de liberdade no mundo;
- apelo à ecologia integral – a ligação com o mundo e os problemas do homem;
- renovação eclesial – tema que está sendo aplicado desde o Concílio Vaticano II, a ruptura com o
passado da Igreja e na formação de seus padres e de sua ação na sociedade.
- incorpora novas linguagens pastorais atualizadas ou significativas – a possibilidade de que as missas
possam ser feitas conforme a comunidade em que se está, destruição da unidade da Igreja e de seus
ensinamentos. A proibição da Missa Tridentina foi um dos passos dados nesse sentido e a falta de mão de
ferro em celebrações heréticas e situação como a benção de casais do mesmo sexo.

51
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Sobre os desafios pastorais


O formulário coloca quatro perguntas para serem respondidas em relação aos itens do tópico 5.
1.- Como você os incorporaria em sua vida pessoal?
2.- Como você os incorporaria em sua vida comunitária?
3.- O que a igreja em seu país teria que fazer para incorporá-los?
4.- O que a igreja na América Latina e no Caribe teria que fazer para incorporá-los?

Do direcionamento dos temas, a impossibilidade de contestação das afirmações e


domínio de temáticas da Teologia da Libertação e dos modernistas
Conforme o “Documento para o Caminho”106, material disponibilizado pela Assembleia, esses temas
referem-se a “alguns sinais dos tempos que hoje impactam a vida dos nossos povos”. Esses sinais dos tempos
devem ser olhados com os olhos da fé (conforme o Documento de Aparecida, 19).
“de tal forma que o seu discernimento nos leve a uma proposta capaz de “chegar a atingir
e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que
contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os
modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus
e com o desígnio da salvação” (EN 19).

Conforme isso os sinais dos tempos atingem e modificam os critérios de julgamento dos cristãos,
seus valores seus interesses, seus pensamentos, suas fontes de inspiração e seus modelos de vida, tudo isso
pela força do evangelho?????
Ora, se mudou tudo isso não se está mais relacionada com a Igreja de Cristo. Como que, se seguimos
a doutrina da Igreja, seu Magistério e sua Tradição, como pode um católico mudar tudo isso, sem que se
deixe de seguir o que a Igreja sempre colocou como verdade?
Nota-se nesta linha ação do Sínodo da América Latina e Caribe o intuito é tentar mudar a forma do
cristão ver a Igreja, com a influência do mundo, preocupando-se mais com o mundo do que com a salvação.
Coloca-se os sinais dos tempos é o que o Espírito Santo nos transmite, o que ele deseja.
Cabe relembrar a colocação do Padre Paulo Ricardo, sobre se colocar os sinais dos tempos como uma
ação do Espírito Santo, características de uma visão pós Vaticano II.
O Vaticano II, desta forma, deixava de ser o 21.º Concílio Ecumênico da Igreja, em
harmonia com dois milênios de doutrina, para se transformar, aos olhos de muitos,

106
CELAM. Documento para o Caminho em direção à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. P. 6.
Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1ABKZuX0G04z9C8wCwkIWcW9TyK7wkkOq/view?usp=sharing

52
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

numa espécie de revolução eclesial em que o espírito do tempo (Zeitgeist) traveste-se


de Espírito Santo.

Temas (sinais dos tempos) são impostos como afirmações que devem, obrigatoriamente, ser tidas
como verdades, não podendo ser repudiadas, caso não se concorde com elas.
Nesse contexto os sinais dos tempos (as afirmações) são discutidos pelos fiéis que, em sua maioria,
nunca pensaram ou estudaram sobre essas afirmações. São colocados assim a se posicionar:
- sobre questões que desconhecem no seu dia a dia;
- mesmo não concordando com a afirmação;
- sem tempo para avaliar se tal afirmação é ou não verdadeira, conforme seu ponto de vista;
- sem condições de se aprofundar na busca de uma verificação sobre se a afirmação é ou não
verdadeira, conforme sua opinião;
- sem condições de refutar a afirmação e seus argumentos;
- obrigatoriamente sobre uma afirmação que outra pessoa decidiu que aquilo era uma verdade;
- com o auxílio de um texto explicativo que tem como única função defender a referida afirmação,
que foi vista como verdade por outra pessoa;
- Sobre um texto de colocações impossíveis de serem entendidas pelo fiel simples, ou mesmo por
um fiel de formação superior, pois vários aspectos do texto remontam ao ramo das ciências humanas
(globalização, Pacto educacional global, democratização, cidadania, exclusão, cultura do descarte, modelo
econômico e social, sinal de mudança de época, informação transbordante, conhecimento fragmentados,
pluri ou multiculturalismo, secularização, clericalismo)
E aqui que reside todo o problema. Os temas são impostos de forma arbitrária, sem existir campo
para contestação.
Não se existindo campo para contestar o que se coloca como uma verdade, a “escuta” peca pela
imposição de uma visão de mundo que não necessariamente é da concordância de quem responde ao
formulário. Sendo imposto a ele uma adesão obrigatória.
Com isso, os fiéis serão avalistas de afirmações que desconhecem o contexto.

Explicação dos temas tem direcionamento para a afirmação colocada, nunca para um contraponto
Todos esses temas são explicados, conforme a visão dos elaboradores no “Documento para o
Caminho”.
É claro ver que os sinais dos tempos são sempre convalidados por documentos elaborados após o
Concílio Vaticano II, com pequenos trechos das Sagradas Escrituras que são colocados intencionalmente de
maneira a subentender que se falava sobre isso. Neste sentido, escritos da Igreja Católica pré-Concílio
Vaticano II, nunca entram nessas análises. Isto se deve ao sentido de ruptura que se deseja dar aos textos.
O “Documento para o Caminho” nunca cita nenhum outro Papa, a não ser o Papa Francisco. Como
se não existissem posições de outros Papas sobre esses temas.

Campo aberto para posicionamentos de intelectuais da Teologia da Libertação


As afirmações da forma como se apresentam, e com a impossibilidade de contra-argumentar coloca-
se como um vasto campo de ação para defensores da Teologia da Libertação e modernistas, pois essas
afirmações e suas explicações estão alinhadas a esses pensamentos.
Com o posicionamento de universidades e faculdades de teologia, essa presença demonstra o
domínio que ocorreu no Concílio Vaticano II, com o poder dos teólogos sobrepondo-se aos dos Bispos.
53
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

SINODALIDADE E A REFORMA DA ESTRUTURA DA IGREJA


O chamado “caminho sinodal” foi criado pelo Papa Francisco pela Constituição Apostólica Episcopalis
Communio.
Esse caminho precede a realização do Sínodo dos Bispos, a Assembleia principal a ser realizada com
os Bispos da Igreja e o Papa. O objetivo do Sínodo é escutar o povo de Deus, trata-se de uma consulta feita
nas Dioceses com o intuito de ouvir propostas dos fiéis.
Muitos termos foram criados a partir desta agregação de etapas e o entendimento desses é
primordial para conseguirmos interpretar o que se apresenta para o futuro.
A sinodalidade é o termo principal das mudanças que se processam atualmente na Igreja. Mas o
termo guarda em si uma indefinição de sentido claro. É um termo vago que está a cada momento ganhando
mais e mais proporções, mas nunca alcançando um explicação plausível.
Na verdade, como os textos que surgiram desde o Concílio Vaticano II, trata-se de mais um monte de
palavras colocadas uma ao lado da outra e que não se consegue ter o sentido claro, e que busca muito mais
confundir do que explicar.
Contrário ao que se tinha nos documentos da Igreja antes do CVII, onde os Papas eram claros em
suas posições.
Nesse sentido estamos diante de uma construção de caminhos muito preocupantes pra o futuro da
Igreja.
Sinodalidade, o caminho que Deus espera?
Em outubro de 2015, no Discurso por ocasião da Comemoração do cinquentenário da instituição do
Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco disse que “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da
Igreja do Terceiro Milênio”107.
O documento da Comissão Teológica Universal é introduzido com essa mesma explanação e
aprofunda mais.
1. “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro
Milênio”108 esse é o empenho programático proposto pelo Papa Francisco na comemoração do
cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos pelo Beato Paulo VI. De fato, a sinodalidade
– ressaltou ele – “é dimensão constitutiva da Igreja”, de modo que “aquilo que o Senhor nos
pede, em certo sentido, já está tudo contido na palavra ‘sínodo’”109
Desta forma, a sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja, e tudo o que Deus nos pede
está inserido na palavra Sínodo, em certo sentido.
Este posicionamento coloca que “ouvir o povo”, dentro do “caminho sinodal”, que se traduz no
termo “sinodalidade”, criado em 2018 “aquilo que Deus espera da Igreja e envolva ‘tudo’ o que Deus nos
pede”.
Daí surge uma pergunta: A única missão da Igreja é “caminhar junto” com os fiéis neste mundo?
Dentro desse conceito onde se coloca:

107
FRANCISCO. Discurso por ocasião da Comemoração do cinquentenário da Instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de
outubro de 2015: Acta Apostolicae Sedis (AAS) 107 (2015), 1139. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october/documents/papa-francesco_20151017_50-
anniversario-sinodo.html
108
FRANCISCO. Discurso do cinquentenário do sínodo dos bispos. 2015. Op.cit
109
Documento “A sinodalidade na vida e na missão da Igreja”, da Comissão Teológica Universal. 1. Disponível em:
https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_20180302_sinodalita_po.html
54
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 A missão de séculos da Igreja de evangelizar os povos, com o objetivo de trazer pessoas para a única
Igreja de Jesus Cristo?
 E a pregação da Igreja da busca da santidade e o objetivo maior do ser humano que é o paraíso
celestial com Deus?
 E que as coisas do mundo devem obrigatoriamente ser deixadas de lado, para se atingir as coisas do
céu?

Segundo o Evangelho de São Marcos 16,16 - Cristo afirmou aos discípulos:


"Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo,
mas quem não crer será condenado". (Mc 16,16)

Em Atos dos Apóstolos Pedro pregou:


“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos
vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Essa promessa é para vós, para os vossos
filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus”. (At 2,38)

Soa estranho que uma ação de consulta dos fiéis, de ouvir o povo de Deus, conforme se coloca no
Sínodo, tenha se transformado na ação principal do que Deus nos pede.
O documento da Comissão Teológica Universal, sobre esse ponto, coloca que a palavra sínodo
“remete , portanto, ao Senhor Jesus, que apresenta a si mesmo como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo
14,6), e ao fato de que os cristãos, em sua sequela, são originariamente chamados “os discípulos do
caminho” (At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22)”110.
Em Jo 14,6 temos que o próprio Jesus afirma que: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim.”
O que nos leva a questionar:
 Por que o caminho (antes Jesus e agora a sinodalidade) tornou-se diferente no Terceiro Milênio, e
após o Concílio Vaticano II, ou com o Papa Francisco?
 Jesus não é mais o caminho? Sua vida não é mais o exemplo a ser seguido? Onde fica Jesus e seus
ensinamentos nessa atual situação?
 Ouvir o povo é mais importante do que ouvir Jesus Cristo?
 Qual a relação da salvação, que Jesus nos colocou, que é o destino último do homem, o qual deve
ser ter como meta ser santo, com o sentido do sínodo e sua consulta aos fiéis?
 Onde Deus definiu que o caminho terreno de ouvir o povo é mais importante do que a salvação
para a vida eterna, tendo como exemplo Jesus, sendo a terra apenas um lugar passageiro para
buscarmos a santidade?
 Como se coloca a santidade nesse sentido?
 Onde se coloca o objetivo de atingir o céu, como meta de vida do homem?
Com isso há a tentativa de se buscar entender que o sínodo, uma reunião de Bispos e do Papa seja
a mesma coisa que Jesus, que é o único caminho, a única verdade e o objetivo de vida?
Jesus é o exemplo a ser seguido, é a verdade absoluta em todos os sentidos, é a vida a servir de
exemplo. O sínodo nada mais é do que um ato humano de busca de orientação para a Igreja neste mundo.
São duas coisas sem relação nenhuma. Comparar a sinodalidade, o ato de consultar o povo, ou mesmo de
caminhar com o povo, não tem relação com a verdade de Jesus ser o caminho, a verdade e a vida.

110
Idem, 3.
55
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Nesse sentido, por mais que a ação do Espírito Santo tenha a ação nos seres humanos, isso não
coloca a sinodalidade no mesmo patamar de comparação com o caminho que é Jesus Cristo, por meio do
que nos ensina a Igreja há dois mil anos.

Sinodalidade, termo novo, não definido no Concílio Vaticano II


Como coloca a Comissão Teológica Universal, o termo sinodalidade é novo.
5. Na literatura teológica, canonística e pastoral dos últimos decênios surgiu o uso de um
substantivo criado recentemente, “sinodalidade”, correlato do adjetivo “sinodal”, ambos
derivados da palavra “sínodo”. Fala-se, assim, da sinodalidade como “dimensão constitutiva da
Igreja e tout court de “Igreja sinodal”. Esta novidade de linguagem, que pede uma atenta e
precisa definição teológica, atesta uma aquisição que vem amadurecendo na consciência
eclesial a partir do Magistério do Vaticano II e da experiência vivida nas Igrejas locais e na Igreja
universal desde o último Concílio até hoje.111
O que é preocupante é que este termo esteja tomando proporções amplas demais.
A Comissão Teológica Universal afirma claramente que “o termo e o conceito de sinodalidade não se
encontrem, explicitamente, no ensinamento do Concílio Vaticano II, pode-se afirmar que a instância da
sinodalidade está no coração da obra de renovação por ele promovida”.112
Assim, o que está sendo proposto quanto à sinodalidade não foi fruto de discussão do Concílio
Vaticano II, mas se coloca como aquilo que Deus deseja do Terceiro Milênio? Até como similar ao caminho
de Jesus?
A afirmação de não estar explícito nos textos conciliares, coloca um perigo de ir mais além do que a
interpretação do Concílio, é o caso da subjetividade de uma suposição, do que o Concílio “queria dizer”.
Neste tipo de posição, qualquer um pode colocar o que vier na mente, ou nas suas ideias, com algo que
estaria implícito no Concílio, apenas com a leitura dos textos conciliares, que não dizem aquilo. E sem que
essas pessoas estivesse presentes nas discussões conciliares. Com essa posição pode-se trilhar por vielas que
se deseje, conforme os interesses, sem a clara definição do que foi proposto, e enveredando pelas
entrelinhas que não foram ditas ou publicadas. Ainda mais quando todos os Bispos envolvidos no Concílio já
nem estão mais entre nós, para serem consultados. É a atitude de colocar na boca da Concílio palavras que
ele não disse, nem quis dizer ou mesmo nem pensou em dizer. E nesse sentido, nem a Tradição da Igreja
utiliza esse termo e seus significados como se apresenta agora.
Mais à frente a Comissão coloca que:
8. Os frutos da renovação propiciada pelo Vaticano II na promoção da comunhão eclesial, da
colegialidade episcopal, da consciência e da praxe sinodal foram ricos e preciosos. Contudo,
muitos são os passos que faltam ser dados na direção traçada pelo Concílio.113 Hoje, aliás, o
impulso para realizar uma pertinente figura sinodal de Igreja, ainda que seja amplamente
compartilhado e tenha experimentado positivas formas de realização, mostra-se necessitado de
princípios teológicos claros e de orientações pastorais incisivas.114
A colocação de que “muitos são os passos que faltam ser dados na direção traçada pelo Concílio”
está ligada à Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, do Papa João Paulo II, especificamente ao parágrafo 44:
Depois do Concílio Vaticano II, já muito se fez nomeadamente quanto à reforma da Cúria
Romana, à organização dos Sínodos, ao funcionamento das Conferências Episcopais; mas
certamente há ainda muito que fazer para valorizar o melhor possível as potencialidades destes

111
Idem, 5.
112
Idem, 6.
113
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte (NMI), 6 de janeiro de 2001, 44: AAS 93 (2001),
298. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/2001/documents/hf_jp-
ii_apl_20010106_novo-millennio-ineunte.html
114
Comissão Teológica Universal, op. Cit. 8
56
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

instrumentos da comunhão, hoje particularmente necessários tendo em vista a exigência de dar


resposta pronta e eficaz aos problemas que a Igreja tem de enfrentar nas rápidas mudanças do
nosso tempo.115
Apesar da colocação de João Paulo II sobre muito a ser feito para a aplicação do Concílio, cabe
questionar que colocar o caminho sinodal como similar ao caminho para Jesus, tem uma grande distância,
senão incomparável, a nosso ver.

Sinodalidade indica o modus vivendi e operandi da Igreja


Coloca ainda o documento da Comissão que:
“A sinodalidade, nesse contexto eclesiológico, indica o específico modus vivendi et operandi da
Igreja povo de Deus que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos,
no reunir-se em assembleia e no participar ativamente de todos os seus membros em sua
missão evangelizadora.”116
Pelo documento, subentende-se que o modo de vida e de operação (modus vivendi et operandi) da
Igreja, tem por foco apenas o “caminhar juntos”, sendo este o ponto de comunhão, sendo a reunião em
assembleia e a participação ativa dos membros em sua missão evangelizadora as atividades do povo.
Estranho não estar presente nestas definições o objetivo da salvação em Cristo, a vida eterna com
Deus, da busca do paraíso, numa vida correta e santa, dentro de padrões morais da Tradição.
9. Disso deriva o limiar de novidade que o Papa Francisco convida a atravessar. No sulco
traçado pelo Vaticano II e percorrido pelos seus predecessores, ele sublinha que a sinodalidade
exprime a figura de Igreja que brota do Evangelho de Jesus e que é chamada a encarnar-se
hoje na história, em fidelidade criativa à Tradição.117
A “encarnação na história” é, nada mais, nada menos, do que a vivência no mundo. O sentido vertical
de baixo para cima, característica da transcendentalidade, parece ter sido colocado de lado, em função de
um sentido vertical, mas de cima para baixo, para uma encarnação na história, assumindo ares de
imanentismo. Sendo o caminho sinodal o sentido horizontal deste imanentismo, tendo a Igreja o foco no
mundo, no caminhar juntos.

O “caminhar juntos”
No discurso de cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, Francisco diz que:
“Aquilo que o Senhor nos pede, de certo modo está já tudo contido na palavra «Sínodo».
Caminhar juntos – leigos, pastores, Bispo de Roma – é um conceito fácil de exprimir em
palavras, mas não é assim fácil pô-lo em prática.”118
Claro, pois não tem como a Igreja caminhar separada, pois tem na sua formação esses elementos:
leigos, pastores e Bispo de Roma.
A etimologia da palavra Sínodo é caminhar juntos, por isso a afirmação do Papa.
Mas entre a afirmação “caminhar juntos” e a afirmação que “O caminho da sinodalidade é o caminho
que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio” existe uma boa distância para compreensão. Ainda mais
quando a sinodalidade não mais apresenta-se somente como uma consulta do Papa aos Bispos, mas a partir
de agora, uma consulta direta aos fiéis.
A instituição do Sínodo dos Bispos, em 1965 foi uma das medidas tomadas durante o Concílio
Vaticano II. Havia na época, conforme o Papa Paulo VI, a necessidade dos pastores reunirem-se mais

115
João Paulo II. Op. Cit. 44
116
Idem, Ibidem.
117
Idem. 9.
118
FRANCISCO. Discurso do cinquentenário do sínodo dos bispos. 2015. Op.cit
57
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

frequentemente com o Bispo de Roma, buscando auxiliá-lo nas decisões. Quanto à necessidade do Bispo de
Roma buscar orientação era claro, visto os fatos, ideologias e mudanças que afetaram o mundo ocidental a
partir do Século XVIII, como vimos anteriormente.
Francisco afirma ainda que, com base na Constituição Apostólica Lumem Gentius: “a totalidade dos
fiéis que receberam a unção do Santo (cf. 1 Jo 2, 20.27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade
peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do Povo todo, quando este, desde os bispos até
ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes”119. Conforme o Papa,
“Aquele famoso infalível «in credendo»: não pode enganar-se na fé”.
O Concílio Vaticano II, conforme essa afirmação da Lumem Gentius, define que o povo de Deus, na
sua totalidade, assume o poder de não se enganar na fé, em decorrência da unção do Espírito Santo. Essa
propriedade é manifestada no “sentir sobrenatural” da fé de todo o povo.
Nota-se aqui a tentativa de colocar os fiéis como centro da Igreja, Jesus Cristo não é mais o centro.
 Como os fiéis são ungidos pelo Espírito Santos, não podem eles enganar-se? Absurdo.
 Não é a revelação de Jesus o centro, mas a unção recebida pelos fiéis, que irão conduzir a Igreja?
 A Igreja não é mais a portadora da verdade?
É muito comum, nos textos explicativos dessa nova metodologia a relação que se faz com a
passagem das Sagradas Escrituras, do encontro de Jesus com os dois discípulos na estrada para Emaús:
“Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles” (Lc 24, 15)120. Também sempre se ouve sobre o
“escutar” o mundo, “olhar” a Igreja, “acompanhar” os fiéis, o “caminhar juntos”. Tudo dentro de um
comportamento de não julgamento dos atos do cristão, mas apenas acompanhamento no seu caminho.
Antes de continuarmos vamos ler a passagem dos discípulos de Emaús em Lucas (Lc 24, 13-33).
Note que enquanto os discípulos falavam, eles estavam com os olhos vendados e não
reconheceram Jesus. Após ouvir os discípulos, Jesus foi duro e bastante claro com eles: “Ó estultos e tardos
do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas!” (Lc 24, 25)121.
Somente depois que Jesus começou a falar é que os discípulos sentiram uma ardência em seu
coração: E disseram um para o outro: “Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando
ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32)122
Ou seja, o entendimento que se extrai não é ouvir o corpo falar, mas que a cabeça oriente o corpo
naquilo que o corpo deve fazer, para atingir os objetivos que são definidos pela cabeça, que é Jesus, ou
atualmente os sucessores dos apóstolos e de Pedro. Esses devem orientar os fiéis, conforme a graça do
Espírito Santo. Não o contrário.

Desconstrucionismo teológico em ação


O que vemos atualmente na Igreja é uma desconstrução da Doutrina da Igreja e dos ensinamentos
do Magistério. Ao se colocar o ouvir o podo de Deus como extremamente importante, deixa-se de lado o
Magistério e a Doutrina Católicas de dois mil anos.
Como vimos, não se ouve o povo, ouve-se alguns teólogos, que constroem suas perguntas, conforme
seus interesses e se passa para o povo opinar sobre algo que desconhecem.
Com isso constrói-se um Cavalo de Tróia, que por fora apresenta uma bela aura de palavras
enganosas, mas por dentro trás entranhas muito perigosas.
Vejamos esse texto do Padre José Eduardo de Oliveira123.

119
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 21 de Novembro de 1964, 12. Disponível em:
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-
gentium_po.html
120
Bíblia Ave Maria.
121
Bíblia Sagrada – Tradução Padre Matos Soares, Novo Testamento. p. 193
122
Idem, Ibidem.
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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

DESCONSTRUCIONISMO TEOLÓGICO EM AÇÃO


Padre José Eduardo de Oliveira
Lendo e escutando algumas reflexões nos últimos dias, quis escrever umas anotações que podem
servir para assimilar melhor a natureza desses debates, especialmente porque se dão entre
membros da Igreja que não se conseguem entender, justamente por usarem lógicas fechadas e
incapazes de se interpenetrar. Rastrear as origens filosóficas dos discursos é fundamental para
entendê-los.
I. Desde a Revolução Francesa, as forças revolucionárias pretendem tirar a Igreja da jogada
mediante a sua neutralização filosófica. Então, mobilizaram-se para suprimir a Companhia de Jesus
e, graças a isso, deixaram o campo livre para a expansão da filosofia moderna, que inicialmente
anulava a possibilidade de conhecer o mundo objetivamente (Kant) e que depois unificava a história
sacra e a história profana numa única história na qual toda a verdade é tida como provisória e
dialética (Hegel).
II. Com o advento do marxismo, estes princípios teoréticos foram convertidos em técnica de uma
militância que se concentrou em demolir todas as verdades (argumentos de razão) e dissolver todas
as autoridades (argumentos de autoridade) através da teoria crítica, do estruturalismo, do
desconstrucionismo, da arqueologia e da genealogia foucaultianas, das induções comportamentais
etc.
III. Alguns teólogos, temendo o descrédito intelectual diante da hegemonia crítica, quiseram
enturmar-se com esses pensamentos e adaptar a teologia a esses novos métodos. Foi Rahner
quem conseguiu transpor perfeitamente o historicismo hegel-heideggeriano para a teologia e
esvaziar o dogma na noção de um “deus transcendental” cujo conhecimento seria sempre incerto e
se daria sempre dentro dos condicionamentos da história (já unificada, tal como no pensamento de
Hegel).
IV. Na sequência, apareceram os teólogos da libertação afirmando que toda a fé é tributária dos
condicionamentos sociopolíticos do seu tempo e que, portanto, precisa ser criticada enquanto
legitimadora de alguma forma de poder. Ficava, assim, rompida a ideia de uma Revelação
transcendente, no sentido de toda a teologia católica, e imanentizava-se-a a ponto de torná-la
variável de acordo com as demandas históricas atuais (não existe uma teologia ahistórica, diziam
eles).
V. Para neutralizar quem quisesse apresentar o dogma e a doutrina em geral como permanentes, os
iconoclastas começaram a forjar rotulações sentimentais: imobilismo doutrinal, conservadorismo,
rigidismo, tradicionalismo, fixismo etc, para inibir quem quisesse defender a coerência intrínseca da
Divina Revelação com a tradição posterior, enquanto eles mesmos se ocupavam de dissolver a ideia
de tradição no historicismo dialético hegeliano (a tradição não seria a transmissão coerente da
mesma fé revelada, mas a atualização dessa fé segundo as solicitações do presente/futuro; o
permanente nela seria justamente a sua impermanência, o fato de que ela é histórica, em sentido
dinâmico-hegeliano).
VI. A relação igreja-mundo é monista, tal como a concepção de história em Hegel. Em simples
palavras, a única razão que legitima a existência da Igreja é ser serva do mundo e, portanto, ela
precisa parecer-se com ele (se o mundo está anarquizado, precisamos ser tão anarquizados quanto
o mundo).
VII. O problema dessas ideologias é que, embora sejam lindas em suas afirmações, são
simplesmente inconcretizáveis. Servem apenas como fórmula para diluir a Igreja. Dito de outro
modo: os revolucionários primeiro tentaram criar um mundo anticatólico, agora querem apenas
ajustar a Igreja a este anticatolicismo, para que ela mesma renuncie-se a si mesma em benefício
dele.
VIII. Neste sentido, dizer que a Igreja é serva do mundo parece algo lindo, humilde, evangélico, mas,
se o que a Igreja faz é justamente confirmar as pretensões do mundo, não é ela que o ensina, mas é
este que a ensina. Acontece que isto é materialmente impossível: alguém já viu o mundo inteiro
ensinar uma coletividade menor? Para que serviria isso? O processo pedagógico se dá justamente

123
Texto Padre José Eduardo de Oliveira - DESCONSTRUCIONISMO TEOLÓGICO EM AÇÃO -
https://www.facebook.com/jose.eduardo.7792/posts/6028402103838421. Publicado em 01/07/2021.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

no sentido contrário.
IX. Do mesmo modo, dizer que a Igreja não é portadora da verdade, mas serva da verdade, pois a
verdade não é um conjunto de doutrinas, mas é uma pessoa, parece ser algo lindíssimo, até que
alguém tenha a “maligna” ideia de perguntar: esta sua afirmação é, em si mesma, uma pessoa ou
um conjunto de ideias? Seria ela verdadeira? É verdade que Deus transcende todos os dogmas e
que estes não são propriamente ele, mas a pergunta não é esta, e sim: ao revelar-se aos homens,
ele não se quis adaptar ao nosso modo intelectual de conhecer de tal modo que pudéssemos
adequadamente conhecê-lo justamente através das verdades sobre si que ele nos quis transmitir?
X. Ainda, é muito agradável escutar que a Igreja precisa abrir-se às novas demandas da sociedade
e que é preciso dialogar com elas, pois são “sinais dos tempos”, e não podemos pregar um
Evangelho para os homens do passado ou fecharmo-nos em uma pregação anacrônica. Mas,
chamar o extermínio de bebês no ventre de suas mães, o extermínio de doentes em fase terminal, o
suicídio assistido, a depravação sexual e a anarquização da identidade humana de “sinais dos
tempos” não é apenas um recurso retórico para atirá-las numa neutralidade moral que as transforme
discursivamente em condutas normais? Em seguida, a tática geralmente é apelar para o
sentimentalismo e proteger tais práticas contra os “odiosos intolerantes” que pretendem salvar vidas
da morte e famílias da loucura e da destruição. Se o livro do Karl Popper, “Sociedade aberta”, é a
“bíblia” do George Soros e afirma que “a sociedade da tolerância não pode tolerar os intolerantes”,
isso seria uma imposição totalitária ou apenas “sinais dos tempos”?
XI. Quando analisamos todos esses discursos sob o ângulo da sua possível concreção, percebemos
que não passam de uma selva de non sense, neologismos que não significam coisas reais mas
apenas são palavras-gatilho para sentimentos caóticos, discursos destinados a desorientar o ouvinte
e desarmá-lo por completo, para que caia na perplexidade mais inexplicável e, portanto, na completa
inatividade, deixando o campo aberto para os bárbaros.
XII. Às vezes, o interlocutor católico cai facilmente na armadilha de circunscrever a sua resposta à
mera oposição doutrinal, apelando para a autoridade dos documentos a Igreja, invalidados de
antemão por estes que se dizem apóstolos do porvir que estão lidando com situações
presumidamente dramaticíssimas para as quais nem Deus teria uma resposta (a não ser deixar tudo
como já está). Deste modo, os grupos católicos acabam por assumir involuntária e até
imperceptivelmente a posição de sectários, dogmáticos, autoritários etc., rótulos pré-fabricados pelo
oponente justamente para colocar o debate num campo confortável para ele e terrivelmente difícil
para a vítima.
XIII. Do mesmo modo, não serve muito fazer uma contra-argumentação racional, pois, neste caso, o
oponente não está interessado na verdade. Ele já afirma de antemão que a verdade não é uma
ideia, mas uma pessoa, e que ninguém pode dizer-se possuidor da verdade etc., imunizando-se
contra todo desmentido, lógico ou retórico.
XIV. O único modo de enfrentar esse caos é colocar todo o mapa das ideias em cima da mesa e
mostrar qual é a ideologia que as unifica em seu caráter realmente ideológico, ou seja, esses
discursos não significam nada em si mesmos, são apenas um meio para amordaçar a Igreja e fazê-
la prostrar-se obedientemente diante dos seus maiores inimigos. Não se trata de uma nova doutrina,
mas de um meio de desativar o catolicismo como um todo para que ele se torne inócuo, e o intento
revolucionário seja alcançado sem nenhuma oposição.

Sinodalidade e a protestantização da Igreja


O terceiro texto do inicio desse curso apontava argumentos que colocam que o objetivo do sínodo e
a mudança na estrutura da Igreja Católica.
Não são poucos os textos, principalmente de sites progressistas, que colocam efusivamente que esse
é o caminho, comandado pelo Papa Francisco, que se está pretendo seguir.
O que se deseja é diminuir o comando do Papa e dos Bispos sobre os fiéis. Os quais serão mais
ouvidos. Mesmo que não entendam nada do que lhe é perguntado, como vimos na pesquisa no Sínodo da
América Latina.
O desejo é cada vez mais aproximar a Igreja Católica de uma forma de Igreja Protestante, onde não
se tenha mais um comando do sucessor de Pedro e seus bispos.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Na verdade, ao não se ter esse comando se abre a Igreja ara um domínio do demônio, com a
Teologia da Libertação colocando seus tentáculos, casamento de padres, apoio ao aborto, apoio ao
casamento em segunda união, fim do celibato.
Após o Concílio Vaticano II instaurou-se a Missa de Paulo VI, combateu-se a Missa Tradicional.
O Papa Francisco colocou como decisão dos Bispos a realização da Missa Tridentina, a qual havia sido
liberada pelo Papa Bento XVI.
Tristes caminhos nos reservam para o futuro e a sinodalidade é mais uma pedra que pretende
determinar uma mudança de rota da Igreja, para um caminho proposto pela heresia de Martinho Lutero.
mas como sempre aconteceu.
Mas, apesar de todas as intervenções do demônio em destruir a Igreja de Jesus Cristo, Deus intervirá
e colocará novamente da Igreja no caminho que foi determinado por Nosso Senhor Jesus Cristo, com o foco
na conversão de todos, na salvação das almas, na nossa santificação e a na busca do céu.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

MATERIAIS DO SÍNODO 2021-2023


O site oficial do Sínodo dos Bispos 2013, realizado pelo Vaticano está em
https://www.synod.va/it.html, em italiano e espanhol. Outro site apresenta o texto em português, e se
encontra em http://secretariat.synod.va/content/synod/pt.html.
A CNBB desenvolveu um site em português, https://www.cnbb.org.br/sinodo2023/.

No site da CNBB estão disponíveis vários documentos relacionados ao Sínodo 2023. Esses materiais
podem ser acessos na página inicial, indo a Material de apoio.

Ao clicar na imagem <Material de Apoio> será aberta uma página se encontrará os materiais para
serem baixados.

Clique no botão Baixar para ter acesso aos documentos.

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Iremos analisar dois documentos que estão na pasta “Subsídios da Secretaria-Geral”. O Documento
Preparatório (DP) e o Vade-mécum (VM), são os documentos principais do Sínodo. O primeiro é o
instrumento que visa facilitar a primeira fase do Sínodo, a diocesana. O segundo documento é um manual
que visa um apoio prático.
Os outros documentos apresentados derivam desse, em especial os constantes na pasta “Materiais
das Dioceses”, que junta arquivos preparados pelas Arquidioceses de Belo Horizonte, Ribeirão Preto e Pouso
Alegre e a Diocese de Lins.

DOCUMENTO PREPARATÓRIO
O DP é o instrumento para facilitar a primeira fase do Sínodo, a diocesana.
Este documento tem por finalidade124:
1) delinear algumas caraterísticas salientes do contexto contemporâneo;
2) resumir as referências teológicas fundamentais para uma correta compreensão e prática da
sinodalidade;
3) oferecer algumas indicações bíblicas que poderão alimentar a meditação e a reflexão orante ao
longo do caminho;
4) descrever certas perspectivas a partir das quais reler as experiências de sinodalidade vivida;
5) expor determinadas indicações para articular este trabalho de releitura na oração e na partilha.
O Documento afirma que o caminho da sinodalidade se insere no “sulco da ‘atualização’ da Igreja,
proposta pelo Concílio Vaticano II. Constitui num dom e numa tarefa: “caminhando lado a lado e refletindo
em conjunto sobre o caminho percorrido, com o que for experimentando, a Igreja poderá aprender quais são
os processos que a podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-se à missão”125.
Afirma ainda que o “nosso ‘caminhar juntos’ é o que mais implementa e manifesta a natureza da
Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário”.

Objetivos
O Documento Preparatório apresenta os objetivos para a qualidade da vida eclesial e o cumprimento
da missão de evangelização126.
 fazer memória do modo como o Espírito orientou o caminho da Igreja ao longo da história e
como hoje nos chama a ser, juntos, testemunhas do amor de Deus;
 viver um processo eclesial participativo e inclusivo, que ofereça a cada um – de maneira
particular àqueles que, por vários motivos, se encontram à margem – a oportunidade de se
expressar e de ser ouvido, a fim de contribuir para a construção do Povo de Deus;
 reconhecer e apreciar a riqueza e a variedade dos dons e dos carismas que o Espírito
concede em liberdade, para o bem da comunidade e em benefício de toda a família humana;
 experimentar formas participativas de exercer a responsabilidade no anúncio do Evangelho e
no compromisso para construir um mundo mais belo e mais habitável;
 examinar como são vividos na Igreja a responsabilidade e o poder, e as estruturas mediante
as quais são geridos, destacando e procurando converter preconceitos e práticas distorcidas
que não estão enraizadas no Evangelho;

124
DP, n.3
125
DP, n. 2
126
Idem, Ibidem.
63
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 credenciar a comunidade cristã como sujeito credível e parceiro fiável em percursos de


diálogo social, cura, reconciliação, inclusão e participação, reconstrução da democracia,
promoção da fraternidade e da amizade social;
 regenerar as relações entre os membros das comunidades cristãs, assim como entre as
comunidades e os demais grupos sociais, por exemplo, comunidades de crentes de outras
confissões e religiões, organizações da sociedade civil, movimentos populares etc.;
 favorecer a valorização e a apropriação dos frutos das recentes experiências sinodais nos
planos universal, regional, nacional e local.

VADE-MÉCUM
Vade-mécum é uma expressão em latim que significa "vai comigo". É o nome dado para um livro
para referências, muito usado na área de ciências jurídicas, mas que também existe em outras áreas. A
designação vade-mécum é dada porque se trata de um livro ou manual de uso prático, que os leitores podem
consultar para esclarecer dúvidas. O vade-mécum pode ser tanto genérico, trazendo diversos códigos e leis
gerais, como pode ser especializado em uma área específica, como acontece com aas leis do Direito e o de
medicamentos da área de Farmácia.
No caso do vade-mécum do Sínodo 2023 trata-se de um documento metodológico, trata-se assim de
um manual que acompanha o DP, sendo complementares. O VM “dá apoio prático à(s) Pessoa(s) (ou Equipe)
de Contato da Diocese, designada pelo Bispo diocesano, para preparar e reunir o Povo de Deus, de modo que
possa dar voz à sua experiência na sua Igreja local”127.

QUESTIONAMENTO BÁSICO
Tanto o DP como o VM colocam um questionamento que é básico para todo a pesquisa do Sínodo
2023: Como é que este "caminhar juntos" tem lugar, hoje, a diferentes níveis (desde
o local ao universal), permitindo que a Igreja anuncie o Evangelho? E quais os passos que o
Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal?128.
O primeiro ponto a ser analisado nesta pergunta geral é que já se inicia com uma afirmação que não
pode ser contestada, ou levada em dúvida, ou seja, a de que a Igreja deve ser sinodal, e “caminhar juntos”.
Este é o ponto principal, inquestionável, tanto é assim, que, como vimos, o Papa Francisco define que “O
caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio”129. Com isso se torna
inquestionável, para o Papa Francisco a questão de que o destino da Igreja é ser uma Igreja Sinodal.
Em relação a esse questionamento básico se coloca o objetivo do Sínodo que “escutar, como todo o
Povo de Deus, o que o Espírito Santo está a dizer à Igreja. Fazemo-lo escutando juntos a Palavra de Deus na
Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja e, depois, escutando-nos uns aos outros e especialmente aos
que estão à margem, discernindo os sinais dos tempos”130.
Chama atenção no documento que anunciar o Evangelho passa pela ação do coletivo. Cabe lembrar
que Jesus confiou aos apóstolos, em dupla, anunciar o Evangelho, e não a uma multidão. A missão de
anunciar é individual, de cada batizado.

127
VM, p, 5.
128
VM, p. 8.
129
FRANCISCO. Discurso por ocasião da Comemoração do cinquentenário da Instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de
outubro de 2015: Acta Apostolicae Sedis (AAS) 107 (2015), 1139. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october/documents/papa-francesco_20151017_50-
anniversario-sinodo.html
130
Idem, Ibidem.
64
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Nesse sentido coloca-se que o objetivo do Sínodo não é “produzir documentos”.” Pelo contrário,
destina-se a inspirar as pessoas a sonhar com a Igreja que somos chamados a ser, a fazer florescer as
esperanças das pessoas, a estimular a confiança, a vendar as feridas, a tecer relações novas e mais
profundas, a aprender uns com os outros, a construir pontes, a iluminar mentes, a aquecer corações e a dar
força de novo às nossas mãos para a nossa missão comum. Assim, o objetivo deste Processo Sinodal não é
apenas fazer uma série de exercícios que começam e param, mas um caminho de crescimento autêntico
rumo à comunhão e à missão que Deus chama a Igreja a viver no terceiro milénio.” 131
Só para lembrarmos que toda essa união, esse ouvir, esse “caminhar juntos”, não foi respeitado
quando do impedimento da Missa Tradicional, a qual foi condenada ao bel prazer do Bispo, com base em
pesquisa aos Bispos132. O Povo de Deus não foi “ouvido”, “escutado” em relação ao que os Bispos disseram
em suas respostas. Desta forma, não sendo o Povo De Deus escutado, também não o foi o Espírito Santo,
que age no referido Povo de Deus. O sensus fidei foi colocado de lado, neste caso.
A pergunta básica é: O que se quer “escutar”? Os temas pré-definidos por especialistas, que se
repetem nos vários sínodos, ou quer se escutar o Povo de Deus de maneira aberta, ampla e democrática ?
Veremos à frente que os temas do Sínodo 2023 guardam ampla relação com temas apresentados em
outros Sínodos realizados nos últimos anos. Nota-se assim que a “escuta” tem como ponto fundamental a
definição de temas pré-determinados por um grupo de especialistas, orientando a consulta e o caminho das
respostas, e isso se perpassa por vários dos Sínodos realizados.

Enfoques e Sinais dos tempos


O DP aborda a questão dos sinais dos tempos (zeitgeist) e a necessidade de interpretá-los “à luz dos
evangelhos133:
1) Pandemia- O primeiro enfoque é dado à Pandemia do COVID-19 que faz “eclodir as desigualdades
e as disparidades já existentes: a humanidade parece estar cada vez mais abalada por processos de
massificação e fragmentação”134;
2) Coletivo - O documento foca na questão de que somos uma única família humana, um coletivo.
Isso se liga a várias colocações do Papa Francisco envolvendo o coletivo, Pacto educacional global, ecologia
global.135
3) Pobres e marginalizados - Cita ainda a necessidade de ouvir os pobres e marginalizados e a terra.
De reconhecer as sementes de esperança e de futuro. De “cultivar a esperança e a fé na bondade do Criador
e da sua criação”136 (DP, 5);
4) Abuso sexual na Igreja - O enfrentamento da Igreja dos casos de abuso sexual realizado por
clérigos.137
5) Clericalismo - O peso de uma cultura impregnada de clericalismo herdada da história, que se
insinuam em várias formas de poder dentro da Igreja (p. 6) e o uso do Povo de Deus para combater a
“conversão do agir eclesial”138;
6) Fundamentalismo religioso – o fundamento religioso (no caso católico) “que não respeita as
liberdades dos outros, alimentando formas de intolerância e de violência” que reflete na comunidade cristã e
nas relações com a sociedade. Os cristãos adotam a mesma atitude, fomentando divisões e contradições na

131
DP, n. 32. VM, p. 8.
132
Um importante relato sobre fatos que envolveram a Traditiones Custodes, está nesta matéria:
https://fratresinunum.com/2021/10/09/traditiones-custodes-separando-fato-de-ficcao/
133
DP, n. 4.
134
DP, n. 5.
135
Idem, Ibidem.
136
DP, n.6.
137
Idem, Ibidem.
138
Idem, Ibidem.
65
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Igreja. “É igualmente necessário ter em consideração o modo como as fraturas que atravessam a sociedade
se repercutem no seio da comunidade cristã e nas suas relações com a própria sociedade, por razões étnicas,
raciais, de casta ou devido a outras formas de estratificação social ou de violência cultural e estrutural”139.

Total apego ao mundo


Nota-se um sentido de total apego ao mundo, os temas levam a isso, nada trata da salvação que
cada um deve se empenhar para conseguir o céu. Aliás céu é uma palavra que inexiste no texto, juntamente
com as palavras inferno e purgatório. A escatologia inexiste nesse documento. Dá-se assim o sentido de que
a caminho está ligado apenas ao nosso tempo na Terra, sem a preocupação com o depois, com o
Julgamento Final.
Isso é o que marca a Igreja Sinodal.

Coletivo sobre o individual e o esquecimento dos princípios da Doutrina Social da Igreja


Outro sentido é de que todos estamos caminhando, juntos, pelo mundo e juntos devemos nos
evangelizar, convivermos entre nós.
A questão que se apresenta é que apesar de estarmos juntos no mundo, não somos um só, mas
somos diferentes entre nós. E cada um será julgado individualmente, não em relação pelo que fizemos
juntos, mas pelas nossas ações individuais. Aqui reside um problema dessa interpretação de sermos
comparados com uma unidade, enquanto coletivo, quando na verdade somos uma unidade, indivíduos
separados e diferentes, cada um com seus pecados a serem respondidos no momento final.
Num sentido temos a necessidade de nos unir, mas também não podemos esquecer de nossas
diferenças, dadas pelos nossos dons. Mas essa união só é possível quando orientadas pelas Sagradas
Escrituras, pelo Magistério da Igreja e pela Tradição. Nesse sentido a Igreja Católica apresenta uma
orientação para orientar essa união, e a Doutrina Social da Igreja, tão incompreendida e esquecida
atualmente, mas muitas vezes deturpada140.
Cabe notar que a palavra Magistério não aparece em nenhum dos documentos, assim como as
palavras céu, inferno e purgatório.
Como ponto de sustentação deste argumento é colocado os três atores da estrutura, Jesus, a
multidão e os apóstolos141.

O acomodamento do católico e a perda do dom da evangelização


Um ponto que deve ser observado, contudo, é que a Igreja Católica, em especial cada batizado em si,
devido até ao seu posicionamento majoritário de séculos, perdeu o sentido de como evangelizar, de buscar
converter pessoas para a verdade da Igreja Católica Apostólica Romana. E isso é feito com afinco pelas outras
religiões.
Esse ponto deve ser relido por todos nós, mas com o sentido da evangelização de ovelhas
desgarradas.

139
DP, n. 8.
140
Doutrina Social da Igreja (DSI) é o conjunto de ensinamentos contidos na Doutrina da Igreja Católica, consoante ao
Magistério da Igreja Católica e constante em vários documentos, sendo o primeiro a Encíclica Rerum Novarum, do Papa
Leão XIII, de 1891. Constitui-se de 5 princípios: do bem comum, da destinação universal dos bens, da subsidiariedade,
da participação, da solidariedade, dos valores fundamentados da vida social, da via da caridade. Tem como
fundamentos a família, na propriedade privada, no trabalho humano, entre outros. Dentro do conceito da DSI nasceu o
contraposto ao capitalismo e ao comunismo, o distributismo (desenvolvido por Hilaire Beloc e G. K. Chesterton), um
modelo econômico formada pela participação de todos e o respeito a todos. A Doutrina Social da Igreja e o
Distributismo não podem ser confundidas com uma ligação, nem ao capitalismo, nem ao comunismo. Um livro muito
importante para essa diferenciação é “Justiça e Caridade”, do Venerável Fulton Sheen.
141
DP, n. 17-21.
66
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

Como estamos realizando nosso papel de evangelizar outras pessoas? Estamos preparados para
isso? Estamos nos preparando para essa função?
Ou nos preocupamos apenas com o mundo e com nós mesmos?

DEZ NÚCLEOS TEMÁTICOS E SUA INTERRELAÇÃO COM


OUTROS SÍNODOS
Como já colocado em nosso curso, os temas escolhidos destacam o andamento das respostas, ou o
controle delas. Ao analisarmos o Sínodo da América Latina e Caribe, que está em andamento, foi possível
conhecermos a vertente escolhida.
O Sínodo de 2023 apresenta também seus temas, em 10 núcleos temáticos, os quais são orientados
pelos “sinais dos tempos”.
Esses temas levam em consideração a pergunta fundamental:
Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha em conjunto”: como é
que este “caminhar juntos” se realiza hoje na vossa Igreja particular? Que passos o
Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?142
A partir desse questionamento básico formam-se os seguintes grupos temáticos, onde se
apresentam várias perguntas que orientadores da resposta principal acima, e são fundamentadas em
afirmações pré-definidas (em itálico)143.

I. Os companheiros de viagem
Na Igreja e na sociedade, estamos no mesmo caminho, lado a lado.
 Na vossa Igreja local, quem são aqueles que “caminham juntos”?
 Quando dizemos “a nossa Igreja”, quem é que faz parte dela?
 Quem nos pede para caminhar juntos?
 Quem são os companheiros de viagem, inclusive fora do perímetro eclesial?
 Que pessoas ou grupos são, expressa ou efetivamente, deixados à margem?

II. Ouvir
A escuta é o primeiro passo, mas requer que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos.
 Com quem está a nossa Igreja particular “em dívida de escuta”?
 Como são ouvidos os Leigos, de modo particular os jovens e as mulheres?
 Como integramos a contribuição de Consagradas e Consagrados?
 Que espaço ocupa a voz das minorias, dos descartados e dos excluídos?
 Conseguimos identificar preconceitos e estereótipos que impedem a nossa escuta?
 Como ouvimos o contexto social e cultural em que vivemos?

III. Tomar a palavra


Todos estão convidados a falar com coragem e parrésia144, ou seja, integrando liberdade, verdade e
caridade.

142
DP, n. 26.
143
DP, n. 30.
67
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 Como promovemos, no seio da comunidade e dos seus organismos, um estilo comunicativo


livre e autêntico, sem ambiguidades e oportunismos?
 E em relação à sociedade de que fazemos parte?
 Quando e como conseguimos dizer o que é deveras importante para nós?
 Como funciona a relação com o sistema dos meios de comunicação social (não só católicos)?
 Quem fala em nome da comunidade cristã e como é escolhido?

IV. Celebrar
“Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração
da Eucaristia.
 De que forma a oração e a celebração litúrgica inspiram e orientam efetivamente o nosso
“caminhar juntos”?
 Como inspiram as decisões mais importantes?
 Como promovemos a participação ativa de todos os Fiéis na liturgia e o exercício da função
de santificar?
 Que espaço é reservado ao exercício dos ministérios do leitorado e do acolitado?

V. Corresponsáveis na missão
A sinodalidade está ao serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a
participar.
 Dado que somos todos discípulos missionários, de que maneira cada um dos Batizados é
convocado para ser protagonista da missão?
 Como é que a comunidade apoia os seus membros comprometidos num serviço na
sociedade (na responsabilidade social e política na investigação científica e no ensino, na
promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos e no cuidado da Casa
comum etc.)?
 Como os ajuda a viver estes compromissos, numa lógica de missão?
 Como se verifica o discernimento a respeito das escolhas relativas à missão e quem
participa?
 Como foram integradas e adaptadas as diferentes tradições em matéria de estilo sinodal, que
constituem a herança de muitas Igrejas, especialmente as orientais, em vista de um
testemunho cristão eficaz?
 Como funciona a colaboração nos territórios onde estão presentes diferentes Igrejas sui
iuris?

VI. Dialogar na Igreja e na sociedade


O diálogo é um caminho de perseverança, que inclui também silêncios e sofrimentos, mas é capaz de
recolher a experiência das pessoas e dos povos.
 Quais são os lugares e as modalidades de diálogo no seio da nossa Igreja particular?
 Como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades?
 Como promovemos a colaboração com as Dioceses vizinhas, com e entre as comunidades
religiosas no território, com e entre associações e movimentos laicais etc.?
 Que experiências de diálogo e de compromisso partilhado promovemos com crentes de
outras religiões e com quem não crê?

144
Parrésia – Palavra de origem grega. Descrita como franqueza, confiança ou ousadia para falar em público.
68
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 Como é que a Igreja dialoga e aprende com outras instâncias da sociedade: o mundo da
política, da economia, da cultura, a sociedade civil, os pobres...?

VII. Com as outras confissões cristãs


O diálogo entre cristãos de diferentes confissões, unidos por um único Batismo, ocupa um lugar
particular no caminho sinodal.
 Que relacionamentos mantemos com os irmãos e as irmãs das outras Confissões cristãs?
 A que âmbitos se referem?
 Que frutos colhemos deste “caminhar juntos”?
 Quais são as dificuldades?

VIII. Autoridade e participação


Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável.
 Como se identificam os objetivos a perseguir, o caminho para os alcançar e os passos a dar?
 Como se exerce a autoridade no seio da nossa Igreja particular?
 Quais são as práticas de trabalho em grupo e de corresponsabilidade?
 Como se promovem os ministérios laicais e a assunção de responsabilidade por parte dos
Fiéis?
 Como funcionam os organismos de sinodalidade a nível da Igreja particular?
 São uma experiência fecunda?

IX. Discernir e decidir


Num estilo sinodal, decide-se por discernimento, com base num consenso que dimana145 da
obediência comum ao Espírito.
 Com que procedimentos e com que métodos discernimos em conjunto e tomamos decisões?
 Como podem eles ser melhorados?
 Como promovemos a participação na tomada de decisões, no seio de comunidades
hierarquicamente estruturadas?
 Como articulamos a fase consultiva com a deliberativa, o processo do decision-making com o
momento do decision-taking146?
 De que maneira e com que instrumentos promovemos a transparência e a accountability147?

X. Formar-se na sinodalidade
A espiritualidade do caminhar juntos é chamada a tornar-se princípio educativo para a formação da
pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades.
 Como formamos as pessoas, de maneira particular aquelas que desempenham funções de
responsabilidade no seio da comunidade cristã, a fim de as tornar mais capazes de “caminhar
juntas”, de se ouvir mutuamente e de dialogar?
 Que formação oferecemos para o discernimento e o exercício da autoridade?

145
Dimana – verbo dimanar: brota, decorre, flui.
146
Decision making e decision-taking . Essas duas expressões somente são usadas no inglês britânico. O inglês
americano não faz essa distinção. Na língua portuguesa não temos essa distinção também entre os termos, dessa
forma, tanto uma como outra devem ser consideradas como “tomada de decisão”. Pode-se assim entender a frase
como “o processo da tomada de decisão com o momento da tomada de decisão”.
147
Significa o controle e a prestação de contas.
69
Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

 Que instrumentos nos ajudam a interpretar as dinâmicas da cultura em que estamos


inseridos e o seu impacto no nosso estilo de Igreja?

OS QUESTIONÁRIOS DAS DIOCESES NO BRASIL


Nos arquivos que podem ser enviados no site da CNBB, temos 4 pertencentes a arquidioceses e
dioceses: Arquidioceses de Belo Horizonte, Ribeirão Preto e Pouso Alegre e a Diocese de Lins.
Os documentos de Belo Horizonte e Ribeirão Preto seguem o mesmo roteiro de perguntas, colocam
a questão central do Sínodo e depois orientam com algumas poucas perguntas:
O Sínodo coloca a seguinte questão fundamental:
Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, “caminha em conjunto”. Como é que este
“caminho em conjunto” está acontecendo, hoje, na nossa Arquidiocese? Que passos o Espírito nos
convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”? (DP 26)
Ao responder a esta pergunta, somos convidados a:
1) Recordar as nossas experiências:
a) Que experiências da nossa Igreja já revelam que caminhamos em conjunto?

2) Reler, mais profundamente, estas experiências mencionadas:


a) Que alegrias proporcionaram?
b) Que dificuldades e obstáculos encontramos? Que feridas fizeram emergir?
c) Que intuições suscitaram?

3) Colher os frutos para compartilhar:


a) Nestas experiências, onde ressoa a voz do Espírito? O que ela nos pede?
b) Quais são os pontos a confirmar, as perspectivas de mudança, os passos a dar?
c) Onde alcançamos um consenso?
d) Que caminhos se abrem para a nossa Igreja Arquidiocesana?

Já a Arquidiocese de Pouso Alegre coloca unicamente três perguntas:


1. Como já “caminhando juntos” na nossa comunidade/ pastoral/ movimento?
2. Que alegrias e dificuldades encontramos?
3. Que passos o Espírito Santo nos convida a dar para crescermos no “caminhar juntos”?

Já a Diocese de Lins formulou 3 perguntas.


1. Na sua opinião, a nossa Igreja (comunidade, paróquias ou Diocese) está sabendo acolher a
participação de todos? Como isso está acontecendo?
2. Quais são as alegrias (pontos mais marcantes) que animam a nossa Igreja? Ao mesmo tempo,
quais são as dificuldades ou os obstáculos (pontos menos marcantes) que precisamos corrigir e
melhorar?
3. O que você sugere para que a nossa Igreja (comunidade, paróquias ou Diocese) possa ser mais
acolhedora e aberta aos tempos atuais?

ALGUMAS QUESTÕES FINAIS

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Sínodo dos Bispos pelo Caminho Sinodal: Um processo de consulta ou de persuasão?

É muito claro a diferença dos questionamentos dispostos no DP daquele realizado pelas


Arquidioceses e Dioceses no Brasil.
Inicialmente cabe destacar o empenho dos questionários de colocar a sinodalidade da Igreja Sinodal.
Desde o início deste curso foi colocada a preocupação com os temas a serem postos para as Dioceses
decidirem, por meio de seus fiéis. O próprio DP coloca questões que se refletiram no Sínodo da América
Latina e Caribe, no Sínodo da Amazônia e porque não dizer no Sínodo da Alemanha, em relação ao
clericalismo, que envolve o casamento de padres, o fim do celibato, a ordenação dos viri probati. O DP coloca
como textos preparatórios várias questões relativas aos sinais dos tempos.
Mas quando nos defrontamos com os questionários que são apresentados pelas Dioceses, vemos
que as questões são bem menores e mais simples.
Isso poderia soar como uma tranquilidade visto que não serão perguntas muito grandes e complexas.
Mas cabe aqui uma análise mais profunda.
Ainda muitas outras pesquisas serão feitas, com várias congregações, inclusive universidades e
faculdades. E o Documento Preparatório é bastante amplo em questionamentos. Assim, isso não significa
que essas entidades estarão sujeitas às perguntas que foram encaminhadas às Paróquias da Diocese.
Preocupa o nível de aprofundamento dos temas que estão em voga em toda a Igreja Católica. A possibilidade
de que temas que não foram vistos nas pesquisas nas Dioceses e Paróquias apareçam nas outras instituições
é preocupante.
Como já dito aqui, o Povo de Deus pode estar assinando mudanças e situação que ele não teve
condições de compreender.
Como estamos vendo a Igreja está em processo de mudança, muitos querem uma verdadeira
revolução e alteração de forma, com total desligamento com a Igreja Católica de dois mil anos. Os textos que
vemos, baseados somente a partir do Concílio Vaticano II e documentos posteriores, o descaso com os
ensinamentos da Igreja antes desse Concílio. Nos dois documentos básicos do Sínodo 2023, em nenhum
momento foi utilizada a palavra Magistério, nem as palavras céu, inferno e purgatório.
Estamos vendo acontecimentos horríveis nas celebrações em várias Igrejas no Brasil e no mundo,
celebrações de cerimônias para a Terra, para diferentes culturas e religiões, que não apresentam nenhuma
relação com a Santa Missa.
Nas paróquias vemos o distanciamento dos padres de suas funções, que foram suas marcas por
séculos. Vemos os leigos tomando as decisões e decidindo sobre os desígnios da Igreja, com o padre muitas
vezes somente olhando, sem poder de voz e decisão. Democratizamos a Igreja.
Com o Sínodo 2023 notamos que é patente o desvio de caminho que a Igreja está tomando. Qual
será o destino? Não sabemos.
Que Nosso Senhor Jesus Cristo acompanhe os passos da Igreja que ele fundou, que os homens não
desvirtuem esse caminho. Mas se o desvirtuamento acontecer Jesus colocará pessoas que tratem de voltar a
Igreja ao seu caminho original, como aliás várias vezes aconteceu na história da Igreja.
Que Deus dê força, sabedoria e persistência para lutarmos contra as injúrias que por acaso venham a
ocorrer na Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Que Maria Santíssima cubra a cada um de nós de graças e ore por nós.
Obrigado a todos que acompanharam este curso. Que Deus ilumine a cada um de vocês.
Salve Maria Santíssima.

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CONCLUSÃO
Concluímos aqui este curso, que tentou mostrar que o caminho sinodal leva a vertentes mais
progressistas para a Igreja, colocando o povo de Deus num patamar de igualdade com o Bispos e
posicionando-os como avalistas de afirmações que eles não criaram, mas foram definidas por estranhos, com
interesses não declarados. Busca-se assim colocar o povo de Deus como avalista de futuras mudanças que
podem atingir a Igreja de Cristo de forma nunca imaginada.
O Caminho Sinodal é assim mais uma das peças, senão uma das principais, para alcançar-se os
objetivos desejados pelos progressistas, objetivos esses que vem sendo construído a tempos, e bem antes do
Concílio Vaticano II.
Usa-se a história para fundamentar que os sinais dos tempos demonstram a necessidade da Igreja
tornar-se mais moderna para caminhar com Jesus, quando na verdade, os sinais dos tempos demonstram um
mundo cada vez mais longe de Deus e da palavra de Jesus Cristo.
Mas a promessa de Jesus Cristo vencerá:
"E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não
prevalecerão contra ela." (Mateus, 16, 18)
Salve Maria.

>>> FIM <<<

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