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Módulo de História

Moderna Europa -América


Curso de Licenciatura em Ensino de História

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas

Departamento de História

Universidade Pedagógica
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo
Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720
Fax: (+258) 21-322113

Centro de Educação Aberta e à Distancia


Programa de Formação à Distância
Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto
Telefone: (+258) 84 20 26 759 / 84 900 18 04
e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com
Ficha técnica

Autoria: Hermenegildo Lange

Revisão Científica: Maria Amida Maman

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Augusta Guilima

Edição Linguistica: Salomão Massingue

Edição técnica/Maquetização: Valdinácio F. Paulo

Layout da Capa: Valdinácio F. Paulo


Imagem base da Capa: Gaël Epiney

© 2018 Universidade Pedagógica

Primeira Edição

Impresso e Encadernado por

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio – mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.
Índice
Visão Geral do Módulo de História Moderna Europa -América 1

Ícones de Actividades 4

Unidade 1: Expansão marítima e comercial europeia 9

Lição n° 1 11
Contextualização da primeira expansão europeia ........................................................... 11
Primeira expansão marítima europeia ................................................................... 13
Causas da primeira expansão europeia .................................................................. 14

Lição n° 2 18
A Expansão marítima europeia no século XV ................................................................ 18
Expansão marítima Portuguesa ............................................................................. 20
A expansão marítima Espanhola ........................................................................... 21

Lição n° 3 25
A expansão marítima europeia no século XVI ............................................................... 25
A expansão marítima inglesa, francesa e holandesa ............................................. 26
O tratado de Tordesilhas e a expansão marítima no século XVI .......................... 27

Unidade 2: Renascimento na Europa 35

Lição n° 4 37
Renascimento: contextualização ..................................................................................... 37
Renascimento: Conceito e características ............................................................. 39
As causas do Renascimento .................................................................................. 41

Lição n° 5 45
A Itália- O berço do Renascimento................................................................................. 45
Renascimento na Itália .......................................................................................... 46
A literatura renascentista italiana .......................................................................... 47
A Arte renascentista italiana.................................................................................. 49
A filosofia e a ciência na Itália Renascentista ....................................................... 52
O declínio do renascimento italiano ...................................................................... 55

Lição n° 6 59
A expansão do Renascimento na Europa ........................................................................ 59
6.1. Renascimento na Alemanha ........................................................................... 60
O Renascimento na península Ibérica ................................................................... 62
Renascimento nos Países Baixos ........................................................................... 63
Renascimento na França ........................................................................................ 65
Renascimento na Inglaterra ................................................................................... 66

Unidade 3: Reforma religiosa na Europa 71

Lição n° 7 73
Reforma religiosa na Europa- Contextualização ............................................................ 73
Contexto do surgimento da Reforma Religiosa .................................................... 74
Os ideais dos reformadores protestantes ............................................................... 76

Lição n° 8 80
Causas da Reforma Protestante....................................................................................... 80
Causas religiosas ................................................................................................... 81
Causas Políticas ..................................................................................................... 83
Causas económicas ................................................................................................ 84

Lição n° 9 89
O desencadeamento da Reforma na Alemanha .............................................................. 89
Ambiente socioeconómico e político na Alemanha do século XVI ...................... 90
O luteranismo na Alemanha .................................................................................. 91

Lição n° 10 95
O desencadeamento da Reforma na Suíça: o calvinismo ............................................... 95
O calvinismo na Suíça ........................................................................................... 95

Lição n° 11 99
A Revolução Protestante na Inglaterra ........................................................................... 99
Anglicanismo na Inglaterra ................................................................................. 100

Lição n° 12 104
A Reforma católica ou Contra-Reforma ....................................................................... 104
O concílio de Trento e a contra-reforma ............................................................. 105
A inquisição, o índex e a companhia de Jesus .................................................... 106

Lição n° 13 110
As consequências da Reforma religiosa ....................................................................... 110
Consequências da reforma religiosa do século XVI ........................................... 111
Unidade 4: Revolução Industrial 117

Lição n° 14 119
Revolução industrial – Contextualização ..................................................................... 119
Conceito e características da Revolução Industrial ............................................. 120
Causas da Revolução industrial ........................................................................... 122

Lição n° 15 127
Revolução Industrial na Inglaterra ................................................................................ 127
A Inglaterra: o berço da Revolução Industrial .................................................... 129

Lição n° 16 133
A Revolução Industrial como arranque económico triunfal da sociedade capitalista .. 133
A Revolução Industrial e a sociedade capitalista ................................................ 134
O triunfo da sociedade capitalista ....................................................................... 136

Unidade 5: Revoluções Burguesas na Europa e América 141

Lição n° 17 143
Revolução Inglesa/Gloriosa no século XVII ................................................................ 143
Causas e decurso da revolução ............................................................................ 144

Lição n° 18 148
Revolução Americana ................................................................................................... 148
A formação das colónias ..................................................................................... 150
O processo de independência nos EUA .............................................................. 151

Lição n° 19 156
A Revolução Francesa: como arranque da idade contemporânea ................................ 156
As causas da Revolução Francesa ....................................................................... 158
A convocação dos Estados Gerais e início da revolução .................................... 160

Referências bibliográficas 165


Visão Geral do Módulo de História
Moderna Europa -América
Caro estudante!

Este módulo foi elaborado com a finalidade de oferecer-lhe um


auxiliar para o estudo da disciplina de História Moderna da Europa
e América. O módulo desenvolve todos os pontos do plano temático
da disciplina e, por outro lado, visa munir-lhe de ferramentas para a
compreensão dos principais fenómenos históricos que
caracterizaram a Idade Moderna.

Em termos estruturais e, para uma melhor orientação da sua


aprendizagem, o módulo contempla textos introdutórios para situar
o assunto a ser estudado; os objectivos específicos a serem
alcançados ao término de cada lição e Unidade Temática, as diversas
actividades que favorecem a compreensão dos textos lidos e o
comentário das actividades que lhe permitem verificar se está a
compreender a matéria em estudo. Ainda no presente módulo
encontrará a indicação de leituras complementares, isto é, indicações
de outros textos, livros e materiais relacionados ao tema em estudo,
de modo ampliar as suas possibilidades de reflectir, investigar e
dialogar sobre aspectos do seu interesse. Portanto, a completa
compreensão dos conteúdos apresentados requer a complementação
entre a leitura dos textos, a consulta da bibliografia básica ou
complementar; a execução das actividades/exercícios de auto-
avaliação.

1
Objectivos do Módulo
O módulo visa ajudá-lo a ser capaz de:
 Descrever o contexto do surgimento da primeira expansão
europeia;

 Discriminar os objectivos da expansão por país;

 Identificar os países europeus que iniciaram a expansão


marítima no sáculo XVI;

 Identificar as principais figuras da expansão em cada país;

 Descrever o relacionamento entre os países que iniciaram


a expansão no século XV e os que iniciaram mais tarde;

 Identificar as principais causas do Renascimento;

 Descrever as diversas manifestações do Renascimento nos


países da Europa;

 Contextualizar a Reforma religiosa do século XVI;

 Descrever os antecedentes da reforma religiosa;

 Identificar os principais movimentos reformistas

 Explicar o legado/herança da Reforma religiosa na


actualidade.

 Identificar as causas da Revolução industrial;


 Descrever as principais fases da Revolução Industrial;
 Descrever as rotas de expansão da revolução industrial.

2
Estrutura do Módulo
Os conteúdos deste módulo estão organizados em 4 (quatro)
unidades e 21 lições conforme ilustramos no quadro que se segue:

Unidade Lições Tempo


previsto
1. Expansão marítima 1ª Contextualização da Primeira Expansão
e comercial Europeia; 15h
Europeia 2ª Expansão Marítima Europeia no século
XV;
3ª Expansão Marítima Europeia no século
XVI.
2. Renascimento na 1ª Renascimento: Contextualização;
Europa 2ª A Itália, o berço do renascimento; 15h
3ª A Expansão do renascimento na Europa.
1ª Reforma religiosa na Europa-
Contextualização;
2ª Causas da reforma protestante;
3. A Reforma 3ª O desencadeamento da reforma na 50h
Religiosa do Século Alemanha;
XVI. 4ª O desencadeamento da reforma na Suíça;
5ª A revolução protestante na Inglaterra;
6ª A reforma católica ou contra- reforma.
1ª Revolução Industrial – Contextualização;
2ª Revolução Industrial na Inglaterra;
4. Revolução 3ª Revolução Industrial como arranque 20h
Industrial triunfal da sociedade capitalista.
5. Revoluções 1ª Revolução Inglesa/Gloriosa no século
Burguesas na XVII; 20h
Europa e América 2ª Revolução Americana;
3ª Revolução francesa como arranque da idade
contemporânea.

3
A quem se destina o Módulo
Este Módulo foi concebido para os estudantes da Universidade
Pedagógica inscritos no 2º ano do Curso de Licenciatura em Ensino
de História na modalidade de Educação à Distancia. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos.

Avaliação
Ao longo deste módulo encontram-se actividades e tarefas de auto-
avaliação. Parte das actividades e essas terefas serão objecto de
avaliação devendo ser entregues aos tutores/doceentes para efeitos
de correcção e subsequentemente atribuição da nota. Haverá outros
objectos de avaliação como: participação em chats na plataforma,
actividades disponibilizadas na plataforma, testes presenciais e
exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante fazer todos os
exrcícios de avaliação é uma grande vantagem.

Ícones de Actividades

Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e


facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones
foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e
Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a
diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o

4
que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no
módulo:

1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[peneira]
[colher de pau com
[enxada em actividade] alimento para provar]
4. Exemplo/estudo de 5. Debate 6. Trabalho em grupo
caso

[Jogo Ntxuva]
[fogueira] [mãos unidas]
7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[estrela cintilante] [livro aberto]


[batuque soando]
10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da fogueira]

[sol]
[embondeiro]

5
13. Terminologia 14. Video/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[Dicionário] [computador]
[Balão de fala]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um


tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática ou
aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e
verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não
aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso
diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou
usando a plataforma digital) para troca de experiências, para novas
aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.
6. Trabalho em grupo – Para a sua realização há necessidade de
entreajuda, que se apoiem uns aos outros
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter
informações adicionais através de livros ou outras fontes.
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para
fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.

6
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou
lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou
então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para
ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na plataforma
digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a
verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de
auto-avaliação.

7
Conteúdos
Expansão marítima e
comercial europeia

Lição n° 1 11

UNIDADE
Contextualização da primeira expansão
europeia............................................................................... 11

1
Primeira expansão marítima europeia .... 13
Causas da primeira expansão europeia ...14

Lição n° 2 18
A Expansão marítima europeia no século XV ...... 18
Expansão marítima Portuguesa ................. 20
A expansão marítima Espanhola ..................21

Lição n° 3 25
A expansão marítima europeia no século XVI ... 25
A expansão marítima inglesa, francesa e
holandesa ............................................................ 26
O tratado de Tordesilhas e a expansão
marítima no século XVI...................................27

Pág. 10 - 33

Unidade 1: Expansão marítima e comercial europeia

9
Introdução
No século XV, início da Idade Moderna, a Europa via sua economia
cada vez mais comprometida com a queda de consumo dos bens
produzidos na zona rural e agrícola. O mercado interno europeu
passava por sérias complicações. Para abastecer o consumo, muitas
vezes tinha que importar produtos do Oriente, como especiarias,
objectos raros e pedras preciosas.

Nesta unidade aborda-se a primeira expansão marítima europeia,


processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, o que
contribuiu para que a Europa superasse a crise de cereais dos séculos
XIV e XV. Estudando esta unidade, você poderá compreender o
contexto do surgimento da primeira expansão marítima europeia, as
causas bem como as principais consequências.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:

 Contextualizar o surgimento da expansão europeia;


 Descrever as causas da Expansão europeia;
 Descrever a expansão marítima Portuguesa, espanhola, inglesa,
francesa e holandesa;
 Identificar as consequências da primeira expansão marítima
europeia.

10
Lição n° 1
Contextualização da primeira expansão europeia

Introdução
A primeira expansão marítima europeia apresentou-se como um dos
mais incríveis eventos históricos de todos os tempos. Após a crise de
cereais no século XIV, a Europa necessitava de eliminar as barreiras
feudais para desenvolver o comércio através da conquista de novos
mercados. Entretanto, alguns obstáculos se interpuseram sobre tais
interesses, como por exemplo, o monopólio árabe-veneziano sobre o
comércio de produtos orientais, sobretudo, das especiarias. O
comércio com o Oriente era bastante lucrativo para os comerciantes
italianos, mas empobrecia a economia europeia, pois os produtos
orientais eram pagos, em boa parte, com ouro e prata.

Nesta lição é lhe facultada a oportunidade de abordar a primeira


expansão marítima europeia no que se refere ao contexto, as causas,
os pioneiros e, finalmente, ao enquadramento espácio-temporal. O
conhecimento destes aspectos permitirá você perceber o início de um
fenómeno mundial que mais tarde resultaria na globalização.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Situar a primeira expansão europeia no tempo e espaço;

 Identificar as causas da expansão;

 Identificar os pioneiros da expansão;


Objectivos  Descrever o contexto do surgimento da primeira expansão
europeia;

11
Tempo de estudo da Unidade
 5 horas

Tempo

Observe o mapa 1.

Mapa1. Mediterrâneo do século XII a XIII

Actividade 1

Fonte: https://historiazine.com/

1. O Mar Mediterrâneo era o centro de confluência de mercadorias


provenientes de três continentes, o que permitiu a formação de dois
grandes entrepostos comerciais.
a) No mapa é possível identificar 3 continentes banhados pelo
Mediterrâneo. Nomeie-os.
b) Identifique, no mapa, os principais centros comerciais dos
séculos XII e XIII.

No mapa estão visíveis três continentes banhados pelo mar


Mediterrâneo. Se você respondeu África, Ásia e Europa, parabéns! Essa
é a resposta certa. Os principais centros comerciais estão destacados no
mapa, por isso, para responder à pergunta 1.b) você deve observar
Comentário da actividade 1
atentamente no mapa, pois estão destacados os dois principais centros.

12
Primeira expansão marítima europeia
Na Europa ocidental, sobretudo nos séculos XIII e XIV, a produção
de alimentos não era suficiente para alimentar sua população. Para
agravar a situação, a população rural não tinha poder económico para
adquirir a produção artesanal dos burgos. Assim, o excedente
artesanal deveria ser colocado em outros mercados. A solução
natural para todos esses problemas foi a expansão marítima. Como
Veneza dominava as principais rotas do Mediterrâneo, era
necessário encontrar novas rotas. Os europeus, acostumados à
navegação no Mediterrâneo e próximo ao litoral Atlântico, teriam
que desenvolver técnicas mais ousadas, ampliar conhecimentos
geográficos e astronómicos para orientação em mar alto, e melhorar
a cartografia, essencial para a representação das novas regiões. As
modernas invenções criavam uma perspectiva favorável para as
navegações: a imprensa propiciava a divulgação dos avanços, a
pólvora era utilizada para armar os navios com canhões; e
instrumentos como a bússola e o astrolábio orientavam melhor os
navegantes. A introdução do leme e o uso da vela latina propiciaram
o aparecimento da caravela, um navio capaz de enfrentar os grandes
percursos, as grandes ondas do Atlântico e de carregar muita
mercadoria. Soma-se, a tudo isso, o interesse económico do Estado
moderno e a obra missionária da Igreja Católica e um amplo
estimulante das grandes navegações. Segundo Schneeberger (2006:
138), a queda de Constantinopla, em 1453, acelerou a expansão
marítima, pois com as rotas comerciais no Mediterrâneo oriental sob
controlo dos turcos, as mercadorias asiáticas alcançaram um alto
preço. Assim, era preciso descobrir novas rotas para evitar o domínio
comercial dos turcos e venezianos no Mediterrâneo e atingir as
Índias directamente, sem intermediação.

Portanto, Primeira expansão marítima é o nome dado ao processo


pelo qual os europeus no século XV partiram em busca de rotas
comerciais mais rentáveis, que dariam oportunidades de superar a

13
crise europeia e fortalecer a nova classe que despontava: a burguesia
comercial.

Causas da primeira expansão europeia


Conforme referiu - se na introdução a esta lição, a expansão europeia
esteve completamente relacionada com a crise do século XIV. Os
banqueiros e os comerciantes que formavam a burguesia nascente
juntamente com os Estados Nacionais recém-formados precisavam
encontrar alternativas económicas fora da Europa, já que o mercado
continental apresentava-se muito restrito e envolto em crises que o
tornava instável. Esse panorama segundo Schneeberger (2006:133),
determinou a expansão, cuja realidade deveu-se a algumas causas:
 Os avanços tecnocientíficos atingidos no início da Idade
Moderna facilitaram a empresa expansionista, pois
colocavam à disposição dos grupos envolvidos no processo
um grande número de instrumentos novos e técnicas de
navegação. É importante lembrar que no mesmo período –
início da Idade Moderna o continente europeu passava pelo
chamado Renascimento Cultural, movimento artístico-
científico que mudou o pensamento de toda a cristandade
ocidental. Os homens se tornaram mais destemidos,
investigativos e aventureiros;
 A necessidade de buscar diferentes caminhos comerciais
para as cidades orientais que não passassem pelo
Mediterrâneo, já que o domínio das rotas mediterrânicas e
dos pontos de comércio era dos mercadores árabes e
italianos, respaldados por um considerável poder naval;
 O apoio dos Estados Nacionais Modernos ao
empreendimento expansionista da burguesia foi primordial
para o processo, pois diante da situação de crise apresentada,
somente o Estado centralizado e forte poderia angariar

14
recursos a escala nacional para investir num negócio tão
fantasticamente grande;
 A escassez de metais preciosos para a cunhagem de moedas
no continente europeu era um problema grave desde o início
da Baixa Idade Média, em virtude da canalização de moedas
para o Oriente, por intermédio do comércio de especiarias
feito principalmente pelas cidades italianas. A expansão
poderia proporcionar um afluxo de metais preciosos, obtidos
através do comércio ou da exploração de jazidas que fossem
eventualmente descobertas;
 A ascensão da burguesia (aliada ao rei) e o processo de
renascimento urbano. Este último se reflectia directamente
no aumento do consumo de produtos orientais, devido à
mudança nos hábitos da população abastada das cidades
europeias;
 Os interesses da Igreja Católica, preocupada em expandir a
fé para outros continentes, já que crescia a influência do
movimento protestante. Esse ideal cruzadístico deve ser visto
como um elemento de justificativa utilizado pela Igreja e pela
nobreza tradicional. Tal ideal, ao apregoar a expansão da fé
cristã, está relacionado ao interesse em se conquistarem
terras aos árabes, à derrota do mundo muçulmano e à prática
do saque.

A conjugação destes factores impulsionou na Península Ibérica um


movimento expansionista iniciado por Portugal em 1415 e Espanha
em 1492. A primazia destes países resultou fundamentalmente de um
conjunto de factores político-económicos, envolvendo o processo de
centralização política e a formação de uma monarquia nacional
precoce. O fortalecimento do poder monárquico contou com o apoio
de uma dinâmica burguesia mercantil. Outro factor que colocou
Portugal e Espanha na condição de países pioneiros foi a sua posição
geográfica privilegiada, localizam-se na parte mais ocidental da

15
Europa. Eram países voltados naturalmente para o Atlântico e
próximos, o que permitiu que cedo dominassem o mar e as técnicas
de navegação.

Resumo da lição
Nesta lição abordou-se sobre a primeira expansão marítima europeia
no que diz respeito ao contexto, causas e enquadramento espácio-
temporal. Movidos por interesses económicos, políticos e religiosos,
Portugal e Espanha empreenderam viagens marítimas para outros
continentes a partir do século XV, por isso, são considerados
pioneiros da expansão.

Auto-avaliação
1. Explique o contexto da emergência da expansão
europeia.
2. Durante a nossa lição ficou claro que Portugal e Espanha
foram os pioneiros da expansão.
a) Que factores contribuíram para esse pioneirismo?
3. Quais são as causas da expansão marítima europeia?

Comentários da auto-avalição
Ao responder à pergunta 1, se conseguiu enquadrar na sua
resposta a queda de Constantinopla em 1453, o bloqueio do
Mediterrâneo e a alta de preços dos produtos orientais; você está
parabens e está num bom caminho. Mas se não conseguiu
enquadrar, tente de novo e compara a sua resposta à dos seus
colegas. Para responder às perguntas 2 e 3, o subtópico 1.2

16
desta lição, as causas da expansão e o pioneirismo de Portugal
e Espanha estão destacados com “bulets”. Se tiver dúvidas na
sua resposta, compare-a à dos seus colegas.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

RITA-FERREIRA, António. Fixação Portuguesa e História pré-


colonial de Moçambique. Lisboa, Instituto de Investigação
Científica Tropical, Junta de Investigações Científicas do
Ultramar, 1982.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

Na próxima lição vamos descrever a primeira expansão europeia


pelas principais potências envolvidas.

17
Lição n° 2
A Expansão marítima europeia no século XV

Introdução
Na lição anterior referiu-se a Portugal e Espanha como tendo sido os
primeiros países a lançarem-se para a expansão marítima. Embora
ambos tenham iniciado a expansão no século XV e com mesmos
objectivos, as rotas foram seguidas e os destinos foram diferentes.

Nesta lição aborda-se a expansão marítima portuguesa e espanhola,


no que diz respeito à cronologia, rotas, principais figuras e locais
alcançados. Estudando esta lição, você poderá perceber por que
razão, depois do século XV os três maiores continentes (África,
América e Ásia) passaram a alimentar as necessidades da Europa que
aproveitando disso passou a dominar o mundo, fruto da acumulação
primitiva de capital.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Nomear as principais figuras da primeira expansão


marítima Portuguesa;

 Nomear as principais figuras da primeira expansão


marítima Espanhola;
Objectivos
 Discriminar os objectivos da expansão por país;

 Descrever as principais rotas seguidas pelos países.

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

18
1. Nas classes anteriores, você teve a oportunidade de falar da
primeira expansão marítima europeia. A principal causa,
sobretudo, para Portugal e Espanha é a procura do caminho
Actividade 4 marítimo para Índia à procura de especiarias.

a) Teste os seus conhecimentos nomeando as seguintes


especiarias.

1._ 2._

3._ 4._

5._ 6._

b) Agora pode responder. O que são especiarias?

c) Quais são as especiarias mais usadas na sua


comunidade/cidade/vila ou bairro?

As especiarias continuam a ser usadas na nossa culinária. Por isso se


tiver dificuldades em nomear pode dirigir-se ao mercado mais
próximo, à cozinha da sua casa ou restaurantes da sua vila, cidade etc.
Pode também consultar
Comentário da actividade 4
http://www.aromasesabores.com/p/especiarias.html

19
Expansão marítima Portuguesa
A Guerra dos Cem Anos interrompera a ligação terrestre entre a
Itália e os Países Baixos. Com efeito, Lisboa tornara-se escala na rota
do Mar Mediterrâneo-Atlântico, que alcançava o Mar do Norte e
importantes centros comerciais daquela área. Dessa forma, Portugal
adquiria importância no comércio marítimo europeu, contando com
portos adequados a essa actividade.

Em 1415 Portugal lança-se para a expansão conquistando Ceuta,


cidade comercial árabe norte africana. Desde o século XIV era
comum navios, que ligavam a Itália e para o mar do Norte, aportarem
em Lisboa, para abastecimento e reparos, transmitindo para seus
tripulantes conhecimentos e propiciando lucros aos portugueses. O
interesse da monarquia coincidia com o dos comerciantes na busca
de riquezas, e os da nobreza e da Igreja não eram diferentes. A
nobreza lutava pelos saques e terras; o clero lutava pela expansão do
Cristianismo e os benefícios que isto lhe traria. Pode-se, portanto,
considerar essa expansão como uma renovação do ideal das
Cruzadas. Não esquecendo os esforços do infante D. Henrique, o
Navegador, ao fundar em Sagres, em 1417, um centro de construção
e estudos navais, onde concentrava boa parte dos maiores
conhecedores da ciência náutica da época.

De acordo com LOPES (1991: 34), as principais etapas do avanço


marítimo português foram: a) 1415 – Conquista de Ceuta, no norte
da África, primeiro passo na expansão. b) 1434 – Alcance do Cabo
Bojador, por Gil Eanes. c) 1488 – Alcance do Cabo da Boa
Esperança, no extremo sul da África, por Bartolomeu Dias. d) 1498
– Chegada de Vasco da Gama às Índias, por navegação, contornando
o continente africano; a mais longa viagem marítima até então. e)
1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em sua viagem
às Índias. Feitorias comerciais e militares foram estabelecidas no
litoral africano (Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São

20
Tomé e Príncipe) e asiático (Calicute, Goa, Timor e Malaca). Em
1520, os portugueses atingiam a China e o Japão.

Para consolidar o seu domínio no comércio das especiarias, Portugal


edificou um império na Ásia, que enriquecia mais especificamente a
nobreza e o Estado. Lisboa era, nas primeiras décadas do século
XVI, a principal praça comercial europeia.

A expansão marítima Espanhola

O atraso da Espanha nas navegações foi causado pelas Guerras de


Reconquista e pela demora na centralização política. Em 1492,
Cristóvão Colombo iniciou a expansão espanhola. A Espanha ainda
estava envolvida na guerra da reconquista quando os portugueses já
atingiam a região do Cabo da Boa Esperança. Só em 1492, expulsos
os mouros da Espanha, os espanhóis se
dispuseram a financiar grandes navegações. A questão da
esfericidade da Terra era então amplamente discutida, ainda que
contra a posição da Igreja. Cientistas do renascimento criticavam
antigas teorias que afirmavam ser a Terra plana. As ideias sobre a
esfericidade do planeta empolgavam muitos, entre eles o Colombo.

De acordo com Schneeberger (2006: 138), em 1477, viajando pela


Islândia, deve ter tido conhecimento das antigas lendas viquingues
sobre viagens à terras a oeste. Cristóvão Colombo deduzia que se
poderia alcançar o Oriente, navegando-se no sentido ocidental (ciclo
ocidental), para quebrar o monopólio comercial português na costa
africana, que levaria Portugal às Índias (ciclo oriental). Obtido o
apoio dos “reis católicos”, deixou a Espanha no começo de Agosto,
navegando com três navios no sentido ocidental. Depois de muitos
problemas e ameaças de motim, avistou terra em 12 de Outubro de
1492. Ao desembarcar na ilha denominada por ele San Salvador,
Colombo chamou os habitantes de índios, pois acreditava

21
sinceramente ter chegado nas Índias. Foram feitas várias
explorações, especialmente nas ilhas de Cuba e Haiti.

Nos anos seguintes, mais três viagens foram feitas por Colombo,
explorando a costa da Venezuela e a América Central, regiões insular
e continental. Porém, as fabulosas riquezas asiáticas não eram
localizadas, para sua frustração. Merece destaque a grande viagem
iniciada por Fernando de Magalhães, em Setembro de 1519.
Navegante português a serviço da Espanha, propôs-se a circunvagar
o mundo. Desceu o Atlântico próximo ao litoral da América do Sul,
atravessou o estreito que leva seu nome (estreito de Magalhães),
adentrou e percorreu o imenso oceano denominado por ele de
Pacífico, mas morreu nas Filipinas em 1521. Seu substituto,
Sebastião del Cano, concluiu a viagem em Setembro de 1522. Dos
265 tripulantes e cinco embarcações, apenas 18 homens e um navio
haviam regressado.

Resumo da lição
O conteúdo da lição que aqui termina foi sobre a expansão marítima
no século XV onde se constatou que foi dominada por Portugal e
Espanha. Portugal começou, em 1415, com a conquista de Ceuta
(norte de África) ao passo que a Espanha começou mais tarde com
a chegada às Américas em 1492.

Embora o objectivo principal fosse a procura do caminho marítimo


para Índia, apenas Portugal alcançou esse objectivo através do
Vasco da Gama que depois de uma viagem longa com escalas na
costa africana, conseguiu chegar a Índia em 1498.

22
Auto-avaliação
1. Portugal e Espanha iniciaram a expansão no século XV, com
o objectivo de chegar a Índia à procura de especiarias.

a) Qual dos países efectuou a viagem marítima mais longa?

b) Nomeie as principais figuras da expansão portuguesa.

c) Nomeie as principais figuras da expansão marítima


espanhola.

d) Por que razão Cristóvão Colombo chamou os povos que


encontrou nas américas por índios?

Comentários da auto-avaliação
Na pergunta 1.a) se você respondeu que é Portugal, parabéns, está
a entender a matéria. Para responder às perguntas 1.b) e 1.c) releia
os subtópicos 2.1 e 2.2 desta lição. Você poderá notar que é
dedicada especial atenção para Vasco da Gama e Cristóvão
Colombo.

Na pergunta 1.d) é importante lembrar-se de que o objectivo de


Colombo era chegar a Índia, por isso qualquer outra terra que
encontrasse na outra margem do Atlântico era suposto que fosse
Índia. A convicção de ter chagado a Índia levou a que ele chamasse
os seus habitantes por índios.

23
Leituras complementares
BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do
Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

LOPES, C. Figueiredo. História cronológica de Portugal.


Portugal, Porto Editora, 1991.

RITA-FERREIRA, António. Fixação Portuguesa e História pré-


colonial de Moçambique. Lisboa, Instituto de Investigação
Científica Tropical, Junta de Investigações Científicas do
Ultramar, 1982.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

24
Lição n° 3
A expansão marítima europeia no século XVI

Introdução
A primeira expansão marítima europeia embora tenha iniciado com
Portugal e Espanha teve envolvimento de outros países. A natureza,
o destino e provavelmente os objectivos, foram diferentes de um país
para o outro. Por isso nesta lição descrevemos a expansão dos países
europeus que se envolveram no século XVI.

Estudando esta lição poderá conhecer os países europeus que


começaram a expansão no século XVI, as rotas por eles seguidas
bem como o seu relacionamento com os pioneiros da expansão
marítima.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar os países europeus que iniciaram a expansão


marítima no sáculo XVI;
 Identificar as rotas seguidas por cada país;
 Identificar as principais figuras da expansão em cada
Objectivos país;
 Descrever o relacionamento desses países com os outros
que iniciaram a expansão no século XV.

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

25
A expansão marítima inglesa, francesa e holandesa

“[...] que se faça e assinale polo dito mar oceano uma raia ou linha direita
de pólo a pólo, a saber do pólo árctico ao pólo antárctico, que é de norte
a sul. A qual raia ou linha se haja de dar e dê direita, como dito é, a
Actividade 3 trezentas e setenta léguas das ilhas do Cabo Verde pera a parte do
ponente, por graus ou por outra maneira como melhor e mais prestes se
possa dar de maneira que não sejam mais nem menos[...]”.

Fig1:Mapa Mundi na perspectiva de Tordesilhas

(TORDESILHAS, 1494). Extraido de PIMENTAL, 2012 :422.

1. O texto e o mapa fazem referência ao tratado de Tordesilhas


realizado em 1494.

a) Quem foram os principais participantes do tratado?


b) Qual foi o principal assunto debatido na conferência?
c) Olhando para o mapa, qual é a potência com mais
superfície para tutela?

26
Nas perguntas 1 a) e 1b), se você respondeu que os principais
participantes foram Portugal e Espanha e que o assunto tratado foi a
divisão do mundo entre eles, parabéns! Voc está num bom caminho.
Quanto à pergunta 1 c) olhando para o mapa, fica claro que Portugal
Comentário da actividade 3 seria o maior beneficiado.

O tratado de Tordesilhas e a expansão marítima no


século XVI

A Inglaterra, a França e a Holanda iniciaram a expansão marítima e


comercial no século XVI, em parte, como reacção ao tratado de
Tordesilhas. Quando as Coroas portuguesa e espanhola dividiram o
mundo, em junho de 1494, através do Tratado de Tordesilhas, era de
se esperar que os governos da Inglaterra, França e Holanda tivessem-
se recusado a reconhecer a partilha.

Mesmo tendo sido referendado pelo papa (espanhol) Alexandre 6º,


o tratado não deixava terras para mais ninguém. A linha divisória do
Tratado de Tordesilhas passaria a 370 léguas marítimas
(aproximadamente 2.442 quilômetros) a oeste do arquipélago de
Cabo Verde, na região mais ocidental da costa africana.

Nos livros, a linha de Tordesilhas geralmente é mostrada cortando


apenas o território da América do Sul, quando, na verdade, era um
meridiano e circundava o globo terrestre passando pelos dois pólos.
A leste, "todas as terras descobertas, ou por descobrir", pertenceriam
a Portugal e, a oeste, o mesmo valia para a Espanha.

Quais são as razões que explicam o atraso da Inglaterra e França na


expansão maritima? Segundo Schneeberger (2006: 150) Entre 1337
e 1456, ingleses e franceses travaram a Guerra dos cem anos, que
consumiu uma enorme quantidade de dinheiro e homens por mais de
um século. Ao final do conflito, a França, que suportou praticamente
toda a guerra dentro de seu território, teve urgência na recomposição

27
de sua agricultura e de suas finanças, o que levou algum tempo. Por
seu turno, na Inglaterra, a disputa pelo trono levou à Guerra das Duas
Rosas (1455 a 1485), um conflito interno que envolveu as famílias
Lancaster (rosa vermelha no brasão) e York (rosa branca no brasão).
A paz só foi alcançada em 1485, com a coroação de um membro da
família Tudor, Henrique 7º, que tinha laços de parentesco com as
duas casas de nobres que vinham se digladiando até então.

Os Países Baixos também estiveram envolvidos numa série de


disputas entre nobres e o rei. A região de Flandres, desde o século
XII, se destacou por seu desenvolvimento manufatureiro e seu
próspero comércio, tendo chegado a ser alvo da disputa entre a
França e a Inglaterra na Guerra dos Cem Anos. Em 1556, os Países
Baixos caíram sob o domínio de Filipe 2º de Habsburgo, rei da
Espanha, país cuja principal fonte de riqueza era as minas de ouro e
prata da América.

Estes conflitos podem ajudar a perceber o atraso de alguns países


para expansão marítima. A Inglaterra, por exemplo, somente no
começo do século XVI iniciou sua expansão marítima. Apesar de a
guerra dos “cem anos” e a Guerra das Duas Rosas terem atrasado o
seu desenvolvimento marítimo, a participação da burguesia, aliada
ao governo dos Tudor, permitiu que navegadores italianos ao serviço
da Inglaterra, como Sebastião e João Caboto, explorassem as regiões
do Labrador e Terra Nova, no Canadá; e Walter Raleigh, explorou a
região da Nova Inglaterra (costa nordeste dos Estados Unidos).

Por seu lado, os reis franceses eram os que mais contestavam as


decisões papais que beneficiavam apenas os países ibéricos.
Ironicamente, Francisco I exigia ver o testamento de Adão que
dividia o mundo apenas entre Espanha e Portugal. O navegador
italiano Giovanni Verrazano, em 1524, chegou ao sul do Canadá,
explorou o rio Hudson e a baía onde mais tarde seria fundada Nova
York; Jacques Cartier, em 1534, explorou o rio São Lourenço, o
mesmo tendo feito Samuel Champlain, que fundou Quebec (1609);

28
La Salle, em 1682, navegou pela região do Mississipi, reivindicando
sua posse pela França, com o nome de Luisiana.

A grande dificuldade em se encontrar caminhos marítimos distantes


dos controlados pelos portugueses e espanhóis levou os reis da
França e da Inglaterra a se associarem à piratas que atacavam
embarcações ibéricas na rota do Atlântico. Protegidos pelos reis de
seus países, esses salteadores dos mares passaram a ser conhecidos
por corsários. Em troca da proteção oficial, parte do que pilhavam
era dividida com a própria Coroa. Deve-se à absorção desses
salteadores pela política de Estado a incorporação de ilhas antilhanas
à Inglaterra e à França. Agraciados com patentes militares e títulos
de nobreza, ex-corsários foram incumbidos a tarefa de dar início ao
processo de colonização e plantio de cana, nos séculos XVI e XVII,
nas ilhas que haviam sido tomadas de nativos e, até então, foram
usadas como refúgios.

A Holanda iniciou sua expansão apenas em meados do século XVI,


após as “Províncias Unidas da Holanda” se libertarem do domínio
espanhol. O navegador inglês Hudson, a seu serviço, explorou o rio
que leva o seu nome. Mas, na verdade, a principal acção da Holanda
foi a criação de companhias mercantis privilegiadas. Foi o caso da
companhia das índias orientais fundada em 1602. Os holandeses,
através da Companhia das Índias Orientais, resolveram desafiar o já
decadente poderio português e passaram a frequentar a rota das
Índias através do contorno da África. Depois dos holandeses, vieram,
a partir de 1532, também os franceses e ingleses.

29
Resumo da lição
Nesta lição abordou-se a expansão marítima e comercial europeia
no século XVI, tendo-se destacado que a mesma foi marcada pela
participação da Inglaterra, França e Holanda. A Inglaterra e
França, na impossibilidade de disputarem o mercado com Portugal
e Espanha, financiaram a pirataria no mar contra os barcos desses
países e, apoderando-se das suas mercadorias foram enriquecendo
os seus estados. A pirataria foi a maior peculiaridade do século
XVI.

Auto-avaliação
1. A partir do século XVI outros países europeus lançaram-se à
expansão marítima, desafiando a hegemonia dos países da
Península Ibérica.

a) Identifique os países europeus envolvidos na expansão a partir


do século XVI.

b) Quais são as razões que poderão ter contribuído para o atraso


da Inglaterra e da França na expansão marítima?

c) Apesar da entrada tardia na corrida expansionista, a Inglaterra


usando estratégias extra -expansionistas, conseguiu lucrar sem
investir. Comente a afirmação.

d) Qual foi a estratégia usada pela Holanda para enfrentar o


poderio de Portugal e Espanha?

30
Comentários da auto – avaliação
Caro estudante, provavelmente terá sentido alguma dificuldade ao
responder às perguntas 1b) e 1c). Na pergunta 1b) se você
respondeu: guerra dos cem anos, guerra das duas rosas, disputa
entre os nobres e o rei; então você está de parabéns! Isso demonstra
que está num bom caminho. Para responder à pergunta 1c) deve
recorrer à ideia de pirataria praticada pelos ingleses contra os
barcos de Portugal ou Espanha carregados de metais vindos das
colonias.

As restantes perguntas você pode responder recorrendo ao texto ou


consultando o endereço:
http://www-storia.blogspot.com/2014/05/a-expansao-maritima-
inglesa-francesa-e.html

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986. LOPES, C.

31
Figueiredo. História cronológica de Portugal. Portugal, Porto
Editora, 1991.

RITA-FERREIRA, António. Fixação Portuguesa e História


pré-colonial de Moçambique. Lisboa, Instituto de Investigação
Científica Tropical, Junta de Investigações Científicas do
Ultramar, 1982.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

Resposta aos exercícios das lições da unidade


Para ajudar-lhe a avaliar a qualidade das suas respostas ao longo
das lições desta unidade, apresento, a seguir, alguns comentários
das perguntas. Seleccionei as questões onde achei que você
poderia ter dificuldade em responder. Se existir uma pergunta
onde você sentiu dificuldade em responder e não consta desta
lista, por favor, releia o texto e a bibliografia recomendada na
lição a que corresponde a pergunta e compara as suas respostas as
dos seus colegas.

Licão nº 2

1 d) Cristóvão Colombo chamou-lhes de índios porque acreditava


ter chegado a Índia e, naturalmente, os habitantes da Índia seriam
índios.

Licão nº 3

1 b) A Inglaterra e França envolveram-se na guerra dos cem anos


(1337 a1456), que consumiu uma enorme quantidade de dinheiro
e homens por mais de um século. Uma vez terminada a guerra; a
França, que suportou praticamente toda a guerra dentro de seu
território, teve urgência na recomposição de sua agricultura e de
suas finanças, o que levou algum tempo. Por seu turno, na
Inglaterra, a disputa pelo trono levou à Guerra das Duas Rosas

32
(1455 a 1485), um conflito interno que envolveu as famílias
Lancaster (rosa vermelha no brasão) e York (rosa branca no
brasão), o que desorganizou a sua economia.

1 c) A expansão marítima europeia era também uma expansão


comercial. As nações europeias levavam para África, Ásia e
América produtos manufacturados que trocavam basicamente por
metais preciosos. A Inglaterra, através da pirataria assaltava
barcos espanhóis e portugueses que vinham das suas zonas de
influência carregados de ouro e prata. Portanto, obtinha esses
metais sem ter investido nos produtos manufacturados.

Auto-avaliação da Unidade
1. Faça uma análise comparativa entre os países envolvidos na
primeira expansão marítima europeia. Para a sua orientação
preencha o quadro que se segue.

a)

País Ano do início da Locais alcançados Principais


expansão navegadores

Portugal

Espanha

Inglaterra

França

Holanda

33
Conteúdos
Renascimento
Lição n° 4 37 na Europa
Renascimento: contextualização ............................ 37
Renascimento: Conceito e

UNIDADE
características ................................................. 39
As causas do Renascimento ..........................41

2
Lição n° 5 45
A Itália- O berço do Renascimento ........................ 45
Renascimento na Itália .................................. 46
A literatura renascentista italiana ............47
A Arte renascentista italiana ...................... 49
A filosofia e a ciência na Itália
Renascentista.................................................... 52
O declínio do renascimento italiano ......... 55

Lição n° 6 59
A expansão do Renascimento na Europa ............. 59
6.1. Renascimento na Alemanha ................. 60
O Renascimento na península Ibérica ..... 62
Renascimento nos Países Baixos .............. 63
Renascimento na França .............................. 65
Renascimento na Inglaterra ........................ 66

Pág. 36 - 70

Unidade 2: Renascimento na Europa

35
Introdução
Pouco depois de 1300 havia começado a decair a maioria das
instituições e dos ideais característicos da época feudal. A cavalaria,
o próprio feudalismo, o Santo Império Romano, a autoridade
universal do papado e o sistema corporativo do comércio e da
indústria iam aos poucos enfraquecendo e terminariam por
desaparecer completamente. Estava praticamente finda a grande
época das catedrais góticas, a filosofia escolástica começava a ser
ridicularizada e desprezada, e aos poucos, mas com eficácia, ia sendo
minada a supremacia das interpretações religiosas e éticas da vida.
Em lugar de tudo isso, surgiam gradualmente novas instituições e
modos de pensar cuja importância é suficiente para imprimir, aos
séculos que se seguiram, o cunho de uma civilização diferente. O
nome tradicionalmente aplicado a essa civilização, que se estendeu
de 1300 a cerca de 1650, é o de Renascimento.

Nesta unidade aborda-se o contexto em que surge o renascimento


bem como as suas manifestações nas diferentes áreas do domínio
humano.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Definir o conceito de Renascimento;
 Identificar as principais causas do Renascimento;
 Descrever as diversas manifestações do Renascimento nos
países da Europa;
 Identificar os principais renascentistas.

36
Lição n° 4
Renascimento: contextualização

Introdução
O termo Renascimento tem sua origem na própria vontade de muitos
artistas e intelectuais dos séculos XV e XVI de recuperar ou retomar
a cultura antiga, greco-romana, que o período medieval passou a ser
rotulado como “Idade de Trevas”, época de “barbarismo” cultural.

Nesta lição vamos abordar sobre renascimento no que diz respeito


ao conceito, o contexto, as causas e as características. Com estes
conteúdos você poderá perceber uma das grandes revoluções que
colocaram o homem no centro do universo abrindo caminho para o
avanço da ciência e da técnica.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Definir o conceito de Renascimento;


 Explicar as principais causas do Renascimento;
 Identificar as características do Renascimento.
Objectivos

1. O termo renascimento é sugestivo. Numa primeira vista pode


significar nascer de novo. Já imaginou nascer de novo?
Lê o poema
Actividade 4
Apetece-me rasgar com o passado
Escrever tudo novamente,
Forma de reinventar-me, acordado
Rabiscar o sonho presente!

Tentando apenas presentear

37
O renascimento do meu novo ser
Uma diferente alma, um novo despertar
Nunca me esquecendo, ao mundo dizer!

Acordei e agora não quero mais dormir


Quero eternamente, de olhos abertos ficar
Para tudo poder ver, e um dia sorrir...
E tudo recordar, os irrepetíveis momentos

Acabando agora por me deixar


neste canto a recordar, e viver...
Num eterno, e melancólico desejar
Tentando jamais, voltar á adormecer!

Quero voltar a viver,


A viver Platão, Homero e Aristoteles;
Dormi na idade média não quero mais dormir
É esse o meu desejo agora!

Poemas de renscimento.
Extraido https:www.coladaweb.com › História

a) Ficou mais claro agora? A que se refere o fenómeno de


renascimento?
b) A que passado o autor pretende rasgar?

Esta actividade é mesmo para abrir o seu horizonte sobre o renascimento


como fenómeno histórico. As respostas podem ser extraídas no poema.
Na pergunta 1b) o autor pretende resgatar a antiguidade clássica, depois
de ter passado a Idade Média adormecido. Portanto, esse reviver de um
Comentário da actividade 4
passado esquecido por vários séculos comparou-se a um nascer de novo,
assim estaria a responder 1.a).

38
Renascimento: Conceito e características
O notável desenvolvimento literário, artístico e científico que
ocorreu no fim da Idade Média e começo da Idade Moderna foi
denominado renascimento pelos próprios homens daquela época. De
modo geral, esse movimento intelectual e cultural caracterizou a
transição da mentalidade medieval para a mentalidade moderna.

O renascimento foi um movimento cultural surgido na Itália no


século XV e que, recusando as concepções teocêntricas medievais,
passa a colocar o Homem no centro de todos os interesses e o seu
bem-estar passa a constituir a principal preocupação.

A condenação medieval dos negócios com a finalidade no lucro fora


completamente relegada ao absurdo pelos gananciosos mercadores e
banqueiros de todas as cidades da Europa. O colectivismo da Idade
Média, a absorção do indivíduo na corporação, na igreja e na ordem
social a que cada um pertencia cedeu lugar a um furioso egoísmo que
glorificava quase todas as formas de auto-afirmação e marcava o
orgulho da condição de um pecado mortal à de uma alta virtude. Os
contrastes mais impressionantes eram, talvez, os que se observavam
no campo da política. O ideal medieval de uma comunidade
universal sob a autoridade soberana do imperador ou do Papa não
tinha nenhum significado para os filósofos políticos do
renascimento. Afirmavam, ao invés disso, que cada estado, qualquer
que fosse o seu tamanho, devia ser absolutamente livre de todo e
qualquer controlo externo. Admitia-se agora, em geral, que a
autoridade do governante não estava submetida a qualquer limitação,
e alguns chegavam a asseverar que o príncipe, no exercício das suas
funções oficiais, não devia obediência aos cânones da moralidade;
tudo quanto fosse necessário para manter o seu próprio poder ou o
poder do estado que governava, justificava-se por si mesmo.

Portanto, o renascimento foi um reviver da cultura antiga greco-


romana. Mesmo nas escolas das catedrais e dos mosteiros, Cícero,
Vergílio, Séneca e mais tarde Aristóteles foram alvo,

39
frequentemente, de uma veneração igual à que se consagrava a
qualquer dos santos.

Esse movimento não só reviveu o passado clássico, como também


abrangeu, em primeiro lugar, um notável acervo de novas
realizações no campo da arte, da literatura, da ciência, da filosofia,
da política, da educação e da religião. Embora baseadas muitas delas
nos fundamentos clássicos, não tardaram a expandir-se para além
dos limites da influência grega e romana. Por isso, a maioria dos
progressos renascentistas em matéria de pintura, de ciência, de
política e de religião muito pouco tinham que ver com a herança
clássica.

O Renascimento incorporou certo número de ideais e atitudes


dominantes que segundo Schneeberger (2006: 141-143) passaram a
ser a sua principal característica:

Humanismo - valorização do homem e das suas obras. O homem


dessa época se liberta dos dogmas da Igreja e passa a se preocupar
com ele próprio, valorizando a sua vida aqui na Terra e cultivando a
sua capacidade de produzir e conquistar. Porém, a religiosidade não
desapareceu por completo. É assim a passagem do Teocentrismo que
considera Deus como o centro do Universo para o Antropocentrismo
que coloca o Homem como o centro do Universo. No seu sentido
mais amplo, o humanismo pode ser definido como a glorificação do
humano e do natural, em oposição ao divino e ao extra-terreno. O
humanismo também tem o sentido mais restrito de entusiasmo pelas
obras clássicas, devido ao seu interesse humano.

Naturalismo - admiração pela natureza, a qual se tenta transpor pela


arte, captação do real, o que fez surgir um novo e ousado interesse
pela fisionomia, pelo pormenor anatômico, pelo gesto, pelo
movimento, pela diversidade biológica e botânica das paisagens. O
naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos
pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de
ordem filosófica.

40
Classicismo - Imitação dos autores clássicos gregos e romanos da
antiguidade. O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas
necessidades diárias, comuns. Os poetas renascentistas revivem a
idéia de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual,
puro, não-físico.

As causas do Renascimento

O Renascimento foi um fenómeno tipicamente urbano, que atingiu a


elite economicamente dominante das cidades prósperas.

A maior parte das causas do renascimento já foram indicadas.


Foram, de um modo geral, exactamente os mesmos factores que
estimularam a renovação intelectual e artística dos séculos XII e
XIII. Mas segundo Burns (191: 85), podemos destacar as seguintes:
1) A influência das civilizações sarracena e bizantina; 2) o surto de
um comércio florescente; 3) o crescimento das cidades; 4) a
renovação do interesse pelos estudos clássicos nas escolas dos
mosteiros e das catedrais; 5) o desenvolvimento de uma atitude
crítica e céptica, exemplificada pela filosofia de homens como
Abelardo e Roscelino; e 6) a fuga progressiva à atmosfera de
misticismo e ascetismo da primeira fase da Idade Média.

A essas precisam ser acrescentadas algumas outras causas que


foram, na realidade, elementos do renascimento medieval dos
séculos XII e XIII:

a) A revivescência dos estudos de direito romano, com o


impulso que deu à expansão dos interesses seculares; b) o
incremento dos interesses intelectuais, possibilitado pelo
aparecimento das universidades; c) o aristotelismo da
filosofia escolástica, com o seu apelo para a autoridade de
um pensador pagão; d) os progressos do naturalismo na
literatura e na arte; e) o desenvolvimento de um espírito de
pesquisa científica, demonstrado nos trabalhos de Adelardo

41
de Bath, Rogério Bacon e Frederico II. Pouco depois de se
ter iniciado o movimento renascentista, a sua marcha foi
acelerada pela influência dos protectores da cultura, tanto
leigos como eclesiásticos.

Resumo da lição
Esta lição centrou-se no renascimento, visto como um movimento
cultural e científico que surgiu na Europa no século XV. Baseado
na imitação da antiguidade greco-romana, o renascimento coloca
o homem e a razão no centro das suas atenções. As principais
correntes que deram mais visibilidade ao renascimento foram: o
classicismo, o humanismo e naturalismo.

Auto-avaliação
1. O termo Renascimento tem sua origem na própria vontade
de muitos artistas e intelectuais dos séculos XV e XVI de
recuperar ou retomar a cultura antiga, greco-romana.
a) Defina o conceito de renascimento.
b) Descreva o humanismo como característica do
renascimento.
c) O renascimento aquando da sua aparição foi
considerado um fenómeno urbano. Justifique.

42
Comentários da auto – avaliação
Para responder às questões colocadas volte a ler o texto desta lição
e compare as suas respostas às dos seus colegas. Lembre-se de que
o fenómeno refere-se a uma vontade de trazer os ideais de um
passado ignorado no tempo, por isso as suas causas devem ser
descriminadas em sociais, políticas e económicas. Pode ler
também as obras sugeridas nas leituras complementares ou
disponíveis na internet:

www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento;

www.brasilescola.uol.com.br/historiag/renascimento.htm.

Na pergunta 1.c), se você respondeu que é pelo facto de ter emergido


e desenvolvido nas cidades, parabéns! A sua resposta está certa. De
facto, apenas nas cidades havia pessoas letradas e condições que
permitiram o aparecimento de ideias que questionassem a ordem
vigente.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941.

43
CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976.

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

Informações da próxima lição

O renascimento como um fenómeno europeu, não se deu ao mesmo


tempo em todos países. A próxima lição descreve os primeiros
momentos do renascimento na Europa, indicando o país e as
condições que permitiram a eclosão desse movimento. Por isso,
espero por você.

44
Lição n° 5
A Itália- O berço do Renascimento

Introdução
Caro estudante!

Na lição nᵒ 4 você conseguiu perceber que o renascimento foi o


reviver da antiguidade clássica, mas também integrou um notável
acervo de novas realizações no campo da arte, da literatura, da
ciência, da filosofia, da política, da educação e da religião. Essas
realizações caracterizaram a sociedade europeia dos séculos XV e
XVI, tornando-se num verdadeiro movimento revolucionário.

Esta revolução antes de passar para toda a Europa, teve o seu início
na Itália. Por isso, nesta lição aborda-se a Itália como berço do
renascimento. Estudando esta lição você ficará a saber das
condições que permitiram o surto do renascimento na Itália, bem
como das grandes contribuições que o renascimento italiano deu ao
mundo moderno nos campos da ciência, literatura e da arte.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Situar o renascimento italiano no tempo;


 Identificar os factores que permitiram a Itália ser “o berço
do renascimento”;
 Nomear as principais figuras do renascimento italiano;
Objectivos
 Descrever as manifestações do renascimento italiano na
arte, literatura e na ciência.

45
Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

Renascimento na Itália

Para Schneeberger (2006: 142), o renascimento teve sua origem na


Itália e difundiu-se pela Europa ocidental. Em primeiro lugar, a Itália
tinha uma tradição clássica mais vigorosa do que qualquer outro país
da Europa ocidental. Através de todo o período medieval, os
italianos tinham conseguido manter a crença de que eram
descendentes dos antigos romanos. Enchiam os olhos com orgulho
para a sua ascendência, esquecendo naturalmente as infiltrações de
sangue lombardo, bizantino, sarraceno e normando a que, com o
tempo, fora submetida a sua raça. Nas escolas municipais de algumas
cidades italianas ainda sobreviviam traços do antigo sistema romano
de educação. Também se podiam descobrir remanescentes do velho
espírito pagão na atitude essencialmente amoral dos italianos.

O renascimento surgiu no meio de um turbilhão político. Não só a


Itália não era um estado unificado quando se iniciou o movimento,
mas também, durante toda a história, o país permaneceu em estado
de turbulência. Rebeliões facciosas e acerbas disputas entre estados
pequeninos seguiam-se umas às outras em rápida sucessão. Diversas
foram as causas desse caos. Ao revoltarem-se contra o colectivismo
medieval, com a sua condenação do orgulho e o seu encarecimento
da modéstia, os homens foram ao extremo oposto da glorificação e
do engrandecimento do eu. Outra causa estava no fato de se acharem
os cidadãos mais importantes tão profundamente absortos no afã de
ganhar dinheiro que não tinham muito tempo para se preocuparem
com assuntos de governo.

46
A literatura renascentista italiana
A literatura renascentista foi descrita por Burns (191 :490), ao referir
que, não existe nenhum vasto abismo a separar a literatura
renascentista italiana da literatura do fim da Idade Média. A grande
maioria dos feitos literários registados entre 1300 e 1550 já se
deixavam prefigurar por uma ou outra das diferentes tendências
surgidas nos séculos XII e XIII. O próprio Francisco Petrarca (1304-
1374), denominado o pai da literatura italiana renascentista, estava
muito próximo da mentalidade medieval. Usava o mesmo dialeto
toscano que Dante escolhera como base de uma língua literária
italiana. Além disso, acreditava firmemente no cristianismo como
caminho da salvação para o homem e cultivava, por vezes, um
ascetismo monacal. Suas obras mais conhecidas, os sonetos que
dedicou à sua amada Laura, participavam do mesmo tom que as
poesias cavaleirosas de amor dos trovadores do século XIII.

Outras figuras importantes na arte e cultura intalinas foram:

Giovanni Boccaccio (1313-1375), quase todos os seus primeiros


trabalhos são poemas e romances que tratam dos triunfos e das
torturas do amor. A obra mais notável de Boccaccio foi
incontestavelmente o Decameron, que escreveu por volta de 1348. O
Decameron é composto por uma centena de histórias que o autor põe
na boca de sete damas jovens e três rapazes. Embora alguns dos
contos fossem inventados por Boccaccio, muitos deles foram tirados
das fábulas, das “mil e uma noites” e de outras fontes medievais.
Diferem, em geral, dos seus modelos medievais por serem anti-
clericais e mais profundamente preocupados com uma franca
justificação da vida carnal. A importância de Boccaccio reside no
fato de ter estabelecido o modelo da prosa italiana e exercido uma
influência considerável nos escritores renascentistas de outros
países. Por isso a sua morte em 1375, assinala o fim do primeiro

47
período da literatura italiana da Renascença, período que é
denominado Trecento.

Em 1393 o binzatino Manuel Chrysaloras, chegou a Veneza e


fundou a cátedra de clássicos gregos na Universidade de Florença.
Nos começos do século XV imigraram para a Itália, vários outros
eruditos bizantinos. Dentre eles podem ser citados, como os mais
notáveis, Pléthon e Bessárion, filósofos platônicos. Não tardou
muito que estudiosos italianos começassem a fazer viagens a
Constantinopla e outras cidades bizantinas, em busca de
manuscritos. Entre 1413 e 1423, por exemplo, Giovanni Aurispa de
lá trouxe perto de duzentos e cinquenta livros manuscritos, inclusive
obras de Sófocles, Eurípides e Tucídides. Foi assim que muitos
clássicos helênicos, em especial as obras dos dramaturgos, dos
historiadores e dos primeiros filósofos, foram postos à disposição do
mundo moderno. Esta época foi conhecida como Quattrocento. Foi
caracterizado pelo revivescimento da língua latina e entusiasmo
pelos clássicos.

Ludovico Ariosto (1474-1533), autor de um longo poema intitulado


“Orlando Furioso” foi o mais eminente dos poetas épicos italianos.
Sua obra representa a desilusão da última etapa da Renascença, a
perda da esperança e da fé e a tendência a procurar consolação no
prazer estético.

Jacopo Sannazaro (1458-1530), autor da poesia bucólica que marca


o último estilo poético renascentista. A sua principal obra foi
Arcádia. O desenvolvimento da poesia bucólica, nessa época, reflete
provavelmente uma atitude similar de desencanto e perda de
confiança. O romance bucólico glorifica a vida simples nos
ambientes rústicos e exprime o anseio por uma idade áurea de

48
prazeres não deturpados, livre dos cuidados e das frustrações de uma
sociedade urbana artificial.

Esta foi a última grande época no desenvolvimento da literatura


renascentista italiana conhecida por Cinquecento, que se estendeu
de 1500 a 1550 aproximadamente. As principais formas de literatura
cultivadas no Cinquecento foram as poesias épica e bucólica, o
drama e a história.

A Arte renascentista italiana

A respeito da riqueza de obras literárias brilhantes, as mais soberbas


realizações do renascimento italiano pertencem ao domínio da arte.
A evolução da pintura italiana seguiu uma marcha mais ou menos
paralela à da história da literatura. No período inicial do Trecento
Giotto (1276-1336) foi o pintor naturalista mais destacado. Com ele
a pintura alcançou definitivamente a posição de arte independente.
As suas principais obras foram: a imagem de uma mosca na tela, a
imagem de São Francisco pregando aos pássaros, o retrato do
massacre dos inocentes e o retrato da vida de Cristo.

Foi só no período do Quattrocento que a pintura italiana atingiu a


maioridade. O Quattrocento caracterizou-se pela introdução da
pintura a óleo, provavelmente importada de Flandres. O uso da nova
técnica teve, contribuiu bastante para os progressos artísticos desse
período porque o óleo não seca tão depressa como a água, o pintor
podia agora trabalhar com mais vagar, demorando-se nos detalhes
mais difíceis da pintura e fazendo correções, quando necessárias. Os
principais pintores do Quattrocento foram florentinos como:

Lippo Lippi Botticelli foi o primeiro a fazer do rosto o espelho da


alma contribuindo que a pintura fosse uma tradição de análise

49
psicológica. Para os seus retratos de santos e madonas escolheu,
como modelos, homens e mulheres comuns de Florença. Seu
principal quadro foi menino Jesus como uma robusta criança que
parecia muito capaz de, a qualquer instante, pôr-se a puxar os cabelos
da mãe ou explodir numa zanga pouco espiritual.

Sandro Botticelli levou mais longe o método do tratamento


psicológico. Tinha, na realidade, um interesse mais profundo pela
beleza espiritual da alma. Como outros homens do seu tempo, era
fortemente influenciado pelo neo-platonismo e sonhava com uma
reconciliação dos pensamentos cristão e pagão. Em consequência
disso, muitos dos rostos que pintou evelam uma tristeza pensativa,
um anelo místico das coisas divinas. Mas de modo algum tinham
todos os seus trabalhos um fundo religioso. Alegoria da primavera e
Nascimento de Vênus baseiam-se inteiramente na mitologia clássica
e pouco mais sugerem além de um prazer absorvente no desabrochar
da vida e uma saudade romântica das glórias da Grécia e da Roma
antigas.

Leonardo da Vinci, um dos gênios mais completos que já existiram,


não somente foi um pintor talentoso, mas também escultor, músico
e arquiteto de capacidade incomum, além de brilhante matemático,
cientista e filósofo. A atividade de Leonardo, que se estende dos
últimos anos do século XV às primeiras duas décadas do século XVI,
assinala o início do período áureo do renascimento italiano. Como
pintor, Leonardo insurgiu-se contra a tradição corrente de imitar os
modelos clássicos. Acreditava que toda arte devia basear-se num
estudo científico da natureza. Foi um dos pintores mais
profundamente intelectuais que já existiram. As suas obras foram: a
Virgem das Rochas, a Última Ceia e Mona Lisa (Giconda).

Miguel Ângelo (1475-1564), apresenta-se como uma das mais


trágicas figuras da história da arte. Seus negros pressentimentos,
amiúde, aparecem refletidos na obra que lhe saía das mãos, sendo

50
por isso algumas das suas pinturas trabalhadas em excesso e quase
morbidamente pessimistas. Toda a obra de Miguel Ângelo, foi o
humanismo na sua forma mais intensa e eloquente. A maior
realização de Miguel Ângelo como pintor foi a série de obras a
frescos que pintou no tecto da Capela Sixtina e nas paredes acima do
altar. A série compreende numerosas cenas da grande epopéia da
raça humana, de acordo com a lenda cristã. Entre elas estão Deus
separando a luz das trevas. Deus criando a terra, a criação de Adão,
a queda do homem, o dilúvio etc. A cena culminante é o juízo final,
que Miguel Ângelo terminou cerca de trinta anos depois, na parede
por trás do altar.

Esta lição é longa, por isso vamos parar um pouco para ver se você
está percebendo algo.
1. No ponto 5.1.2 abordou-se a arte renascentista italiana.
Actividade 5 a) Preenche o seguinte quadro:

Período Principais figuras Principal característica

Giotto

Introdução da técnica de
pintura a óleo

Cinquecento

Para realizar a actividade 4 deve, primeiro, preencher os principais


períodos. Depois disso, você tem o trabalho facilitado pois, é só em
cada período destacar as principais figuras e as principais
características. Na primeira coluna se você conseguiu preencher
Comentário da actividade 5
trecento, quattrocento e cinquecento, está de parabéns, porque o resto
se tornou mais fácil.

51
A filosofia e a ciência na Itália Renascentista
A impressão comum de que o renascimento representa em todos os
campos um progresso em relação à Idade Média não corresponde
rigorosamente à verdade. Tal não se deu, em especial, no campo da
filosofia. Segundo Burns (1941:453), os primeiros filósofos dessa
época rejeitaram a escolástica, que dera um lugar de grande relevo
ao exercício da razão humana, e chafurdaram num pântano de
superstições infantis e puerilidades místicas. Como a escolástica
fizera de Aristóteles o seu deus intelectual, a maioria dos primeiros
humanistas resolveu voltar a Platão.

O grosso da sua filosofia era formado pelos ensinamentos neo-


platônicos de Plotino, combinados com vários acréscimos
mitológicos que se haviam acumulado através da Idade Média. Mas
nem todos os humanistas italianos foram admiradores extáticos de
Platão. Alguns deles, no zelo de fazer reviver a cultura pagã,
ensaiaram em despertar novamente o interesse por Aristóteles, mas
por Aristóteles em si mesmo e não como baluarte do cristianismo.

Os filósofos mais originais do renascimento italiano foram Lourenço


ValIa, Leonardo da Vinci e Nicolau Maquiavel. Dentre eles há que
destacar Nicolau Maquiavel que segundo Burns (1941: 454), é sem
dúvidas, o mais famoso e também o mais infame filósofo político do
renascimento italiano. Confessava francamente sua referência pelo
absolutismo como necessário para consolidar e fortalecer o estado e
expressava o mais profundo desprezo pela idéia medieval de uma lei
moral a limitar a autoridade do governante. Para ele o estado era um
fim em si mesmo. A suprema obrigação do governante é manter o
poder e a segurança do país que governa. Sejam quais forem os
meios necessários para capacitá-lo a cumprir essa obrigação, não
deve o príncipe hesitar em adoptá-los. Maquiavel afirmava que todos
os homens são movidos exclusivamente por interesses egoístas, em
particular, pela ambição de poder pessoal e prosperidade material.

52
Por conseguinte, o chefe de estado nunca deverá fiar-se na lealdade
ou na afeição dos seus súditos.

A Itália renascentista também foi marcada pelo avanço na ciência,


tornou-se no século XV o mais importante centro de descobrimentos
científicos da Europa renascentista. De todas as partes do continente
vinham homens para estudar nas suas universidades e tirar proveito
das pesquisas dos seus sábios eminentes. Foi na Itália que se
assentaram os alicerces de quase todos os descobrimentos
importantes dos séculos XV e XVI. Isso ocorreu, em particular, nos
campos da astronomia, da matemática, da física e da medicina.

O grande feito da astronomia foi o revivescimento e a comprovação


da teoria heliocêntrica. Contrariamente à opinião popular, essa
conquista não resultou do trabalho de um só homem, mas de vários.
Devemos estar lembrados de que a idéia do sol como centro do nosso
universo tinha sido concebido originalmente pelo astrônomo
helenístico Aristarco, no século III antes da era cristã. Cerca de
quatrocentos anos depois, no entanto, a teoria de Aristarco fora
suplantada pela explicação geocêntrica de Ptolomeu. Por mais de
doze séculos, a teoria de Ptolomeu foi a conclusão universalmente
aceite acerca da natureza do mundo físico. Foi, pela primeira vez,
abertamente atacada em meados do século XV por Nicolau de Cusa,
que negou que fosse a terra o centro do universo. Logo depois,
Leonardo da Vinci ensinou que a terra gira em torno do seu eixo e
negou a realidade das revoluções aparentes do sol. Em 1496 o
polonês hoje famoso, Nicolau Copérnico, foi à Itália para completar
os seus estudos de direito civil e canônico. Nesta viagem tambem
defendeu a teoria heliocêntrica. A mais importante prova
astronômica da teoria heliocêntrica foi fornecida pelo maior dos
cientistas italianos, Galileu Galilei (1564-1642). Com um telescópio
que aperfeiçoou até alcançar um poder amplificador de 30 vezes,
descobriu os satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as manchas

53
do sol. Pôde, do mesmo modo, estabelecer que a Via-Láctea é uma
aglomeração de corpos celestes independentes do nosso sistema
solar e fazer uma idéia das enormes distâncias das estrelas fixas.
Embora muitos se voltassem contra eles, esses descobrimentos de
Galileu aos poucos convenceram a maioria dos cientistas de que era
verdadeira a principal conclusão de Copérnico. O triunfo final da
idéia costuma ser chamada Revolução Copernicana.

Galileu também é famoso, sobretudo, como físico, devido à sua lei


da queda dos corpos. Considerando com cepticismo a teoria
tradicional de que os corpos caíam com uma velocidade diretamente
proporcional ao seu peso, demonstrou, mediante experiências
realizadas na torre inclinada de Pisa, que a distância percorrida na
queda aumenta na proporção do quadrado do tempo levado a
percorrê-la. Rejeitando as idéias escolásticas do peso e da leveza
absolutas, mostrou serem "esses termos puramente relativos, pois
todos os corpos têm peso, mesmo aqueles que, como o ar, são
invisíveis; no vácuo, todos os objectos cairiam com velocidade igual.

Também é admirável o quadro das conquistas italianas no campo


das ciências relacionadas com a medicina. Já no século XIV, um
médico chamado Mundinus havia introduzido a prática da
dissecação na Universidade de Bolonha, considerando-a como a
única fonte legítima de conhecimento anatômico. Algum tempo
depois, Falópio descobriu os ovidutos humanos, ou trompas de
Falópio, e Eustáquio descreveu a anatomia dos dentes, tornando a
descobrir o tubo que tem o seu nome e que faz comunicar o ouvido
médio com a garganta. Alguns médicos italianos ofereceram
contribuições valiosas para o conhecimento da circulação do sangue.

54
O declínio do renascimento italiano
Iniciado por volta de 1300, o renascimento italiano iria decair logo
depois de 1550 depois de dois séculos e meio de uma história
gloriosa. Para Delorme (1986:156), estão muito longe de ser bem
claras as causas desse desaparecimento um tanto repentino. Talvez
possamos colocar, em primeiro lugar na lista, a perda da supremacia
económica. Parece fora de dúvida que a brilhante cultura das cidades
italianas tenha repousado largamente num fundo de prosperidade
económica, resultante do monopólio comercial italiano com o
Oriente Próximo, depois da queda dos impérios muçulmano e
bizantino. O descobrimento do Novo Mundo, no fim do século XV,
levou os centros de comércio a se mudarem rapidamente da área
mediterrânea para a costa do Atlântico. Em consequência disso,
esgotou-se a seiva da cultura italiana. Houve outros elementos que
ditaram a decadência do renascimento entre eles a reforma católica
e a instabilidade política. A reforma religiosa será discutida na
próxima unidade.

Segundo Burns (1941: 480), pode ser apontada outra causa da


decadência da cultura renascentista italiana, como é o caso da
persistência da ignorância e da superstição nos meios populares.
Talvez seja esta a verdadeira explicação da famosa questão
Savonarola. Jerônimo Savonarola dentro de dois ou três anos
começou a pregar no jardim do convento e nas igrejas da cidade,
infundindo no coração de seus ouvintes o temor do castigo que os
atingiria se eles não renunciassem ao pecado. Sua ardente eloquência
e sua aparência ascética e impressionante atraíam grandes massas de
povo atemorizado. Em 1494, seu poder sobre a multidão alcançara
tais proporções que se tornou virtualmente o ditador de Florença. Os
cidadãos recebiam ordem de entregar seus artigos de luxo assim
como os livros e pinturas considerados imorais; todas essas obras do
demônio eram queimadas em praça pública, na célebre "feira das
vaidades". Mas um belo dia o povo cansou-se do governo do
macilento monge, seus inimigos conspiraram contra ele e, em 1498,

55
a instâncias do Papa e, sob falsas acusações de heresia, foi
condenado à morte. Embora o caso Savonarola não constituisse em
si mesmo uma causa primordial do declínio da civilização
renascentista, é importante como indício da difusão desigual dos
conhecimentos e, consequentemente, dos frouxos alicerces sobre os
quais se construira tal civilização.

Resumo da lição
Esta lição foi dedicada à Itália como “berço” do renascimento e,
constatou-se que foram várias as condições que permitiram que o
renascimento eclodisse na Itália, entre elas destacaram-se: o facto
de a Itália ter sido detentora duma tradição clássica mais vigorosa
do que qualquer outro país da Europa ocidental, por outro lado,
tinha conseguido manter a crença de que os seus habitantes eram
descendentes dos antigos romanos e, finalmente, a existência de
cidades-estado autónomas que pareciam pequenas repúblicas. O
renascimento italiano manifestou-se em distintas áreas
nomeadamente literatura, arte, ciência e filosofia. A decadência
do renascimento italiano deu-se por volta de 1550 devido,
provavelmente, a perda da hegemonia económica das suas
cidades associada à persistência da ignorância e superstição nos
meios populares.

Auto-avaliação
1. Por volta de 1300, a Itália quebrando com a mentalidade
da época, inaugurou o renascimento que, pouco depois,
abrangeu várias áreas desde as artes até a ciência. Mas,
dois séculos depois este momento iria perder fervor.

56
a) Aponte as razões que ditaram o surto do
renascimento na Itália.
b) Nomeie as principais figuras que se destacaram na
literatura e as respectivas obras.
c) Qual foi o contributo do renascimento para o triunfo
da teoria heliocêntrica?
d) Leonardo da Vinci é considerado um génio no
cotexto do renascimento italiano. Explique porquê?
e) Descreva as causas da decadência do renascimento
italiano.

Comentários da auto – avaliação


A pergunta 1. c) refere-se a um assunto que dominou debates
durante o seu percurso estudantil. Aqui tem a oportunidade de
percorrer a evolução histórica da teoria heliocêntrica, por isso na
sua resposta deve considerar os contributos de: Nicolau cusa,
Galileu galilei, Leonardo da Vinci, Nicolau Copêrnico,
enquadrando-os nos respectivos períodos históricos. Na pergunta
1.d) se você destacou as qualidades de Leonardo da Vinci como
pintor, escultor, músico, arquiteto, matemático, cientista e
filósofo, você está num bom caminho; esá percebendo o
conteúdo.

Para responder às perguntas 1.a) e 1.b) por favor volte a ler os


subtópicos do texto com esses títulos. Para perceber se está
caminhando bem ou não, pode comparar a sua resposta às dos
seus colegas. Para a pergunta 1.d) o destaque vai para a perda
da hegemonia económica das cidades associada à persistência da
ignorância e superstição nos meios populares. Se não estiver
satisfeito pode consultar também os seguintes endereços
electronicos:

57
www.infoescola.com/movimentos-culturais/renascimento;
www.brasilescola.uol.com.br/historiag/renascimento.htm

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

Informação da próxima lição


O renascimento, apesar de ter surgido na Itália, muito rapidamente
transformou-se num movimento europeu. Por isso, na próxima lição
você vai estudar a expansão do renascimento pela Europa.

58
Lição n° 6
A expansão do Renascimento na Europa

Introdução
No decorrer do século XVI a cultura renascentista expandiu-se para
outros países da Europa. Era inevitável que um movimento tão
vigoroso quanto o renascimento italiano se expandisse por outros
países. Durante anos houvera uma procissão contínua de estudantes
vindos da Europa setentrional para a Itália, a fim de coabitar com a
vida intelectual de Florença, Milão e Roma. Além disso, as
mudanças económicas e sociais no norte e no ocidente da Europa
haviam seguido, por algum tempo, um caminho mais ou menos
paralelo às da Itália. Por todas as partes, o feudalismo estava sendo
suplantado por uma economia capitalista e um novo individualismo
sobrepunha-se à estrutura corporativa da sociedade abençoada pela
igreja na Idade Média. Interesses comuns, económicos e sociais,
favoreceram o desenvolvimento duma cultura semelhante em quase
toda a Europa.

Nesta lição, você poderá compreender como é que o renascimento


iniciado na Itália propagou-se por toda a Europa como uma
velocidade nunca vista antes. Ser-lhe-á fornecida, igualmente, a
possibilidade de conhecer os países que viveram o renascimento no
século XVI bem como a relação entre a estrutura de algumas cidades
e o renascimento.

59
Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever o renascimento nos diferentes países europeus;

 Nomear os principais renascentistas de cada país;

 Explicar a relação entre o renascimento e o estilo


Objectivos arquitectónico das diferentes cidades.

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

1. O renascimento foi um fenómeno dos séculos XV e XVI


envolvendo os principais países europeus daquela época.
a) Complete a seguinte frase:

Actividade 6 Os principais países da Europa no século XVI foram.


i) Portugal, Espanha, Alemanha, França, Dinamarca;
ii) Portugal, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França,
iii) Portugal, Espanha, Suíça, Noruega.

Esta actividade foi mesmo para você viajar no tempo. Portanto, se


você escolheu ii) para completar a frase, está de parabéns. De facto
esses foram os países que dominavam o cenário político e económico

Comentário da actividade 6 da Europa nos séculos XV e XVI.

6.1. Renascimento na Alemanha

Segundo Burns (1941: 520), um dos primeiros países a receber em


cheio a influência do movimento humanístico italiano foi a

60
Alemanha. Isso deveu-se não só à proximidade dos dois países, mas
também à migração em larga escala dos estudantes alemães para as
universidades italianas. A influência desse humanismo teve, porém,
pequena duração e seus frutos foram de certo modo escassos e
medíocres. Não se pode dizer quais teriam sido os resultados se a
Alemanha não fosse tão cedo lançada pela turbulência da luta
religiosa. A verdade, no entanto, é que a revolução protestante
excitou o ódio e a intolerância, inimigos inevitáveis do ideal
humanístico. Valorizou-se a fé e a intolerância, ao passo que tudo
que se assemelhasse ao culto do homem ou à reverência pela
antiguidade pagã era considerado obra do demónio. É quase
impossível fixar uma data para o início do renascimento alemão. Em
algumas cidades prósperas do sul, como Augsburgo, Nuremberg,
Munique e Viena, houve vigoroso movimento humanístico
importado da Itália desde 1450.

No começo do século XVI, esse movimento enraizou-se firmemente


nos meios universitários, especialmente, nas cidades de Heidelberg,
Erfurt e Colónia. Seus representantes mais notáveis são Ulrich von
Hutten (1488-1523) e Crotus Rubianus (1480-1539). Ambos se
interessavam mais pelas possibilidades do humanismo como
expressão de protesto religioso e político do que pelos seus aspectos
literários.

Os feitos mais notáveis do renascimento alemão ocorreram na arte


concretamente na pintura e à gravura, representadas principalmente
pelos trabalhos de Albrecht Durer (1471-1528) e Hans Holbein
(1497-1543). Ambos, artistas, sofreram profunda influência das
tradições italianas, ainda que se note na sua obra uma boa dose do
sombrio realismo do espírito alemão. As mais famosas pinturas de
Durer são: A adoração dos Magos, Os quatro Apóstolos e Cristo
crucificado. O último é um estudo de trágico desespero. Mostra o
corpo do pálido galileu estendido sobre a cruz, tendo como fundo
um céu negro e sinistro. O bruxuleio de luz no horizonte não faz mais

61
que acrescentar ao efeito sombrio da cena. Certas gravuras mais
conhecidas de Durer também possuem as mesmas características.

O Renascimento na península Ibérica


O renascimento em Portugal manifestou - se principalmente na
literatura. A glorificação dos feitos náuticos portugueses foi a missão
de Camões, em “os Lusíadas”, um épico da literatura mundial. Gil
Vicente reformulou o teatro nacional, escrevendo autos.

Na Espanha, segundo Schneeberger (2006: 144-146), o grande génio


foi Cervantes, com sua famosa sátira à cavalaria decadente e aos
costumes medievais em D. Quixote, recentemente, escolhida como
a maior obra literária de todos os tempos. D. Quixote é o mais
emocionante herói da imaginação humana. A pintura espanhola foi
imortalizada por El Greco, autor de “O Enterro do Conde de Orgaz”.
Durante o século XVI e o início do XVII a Espanha refulgiu no auge
de sua glória. Suas conquistas no Hemisfério Ocidental
proporcionaram riqueza aos nobres e mercadores espanhóis e lhe
deram uma posição na vanguarda dos estados europeus. Seus
cidadãos estavam absorvidos no saque dos territórios conquistados
para dedicar grande atenção às actividades intelectuais e artísticas.
Além disso, a longa guerra com os mouros engendrara um espírito
de carolice e a posição da igreja era muito forte, ao passo que a
expulsão dos judeus, no fim do século XV, privara o país do talento
que mal tinha para dar. Por essas razões, o renascimento espanhol se
limitou a um número muito pequeno de realizações no campo da
pintura e da literatura, ainda que algumas delas igualassem em valor
as melhores produzidas noutros países.

A pintura espanhola foi profundamente marcada pela luta entre


cristãos e mouros. Exprime, por isso, uma intensa preocupação
religiosa e versa sobre temas angustiosos e trágicos. Seus
fundamentos são medievais, com a mistura de certas influências de

62
Flandres e, mais tarde, da Itália. A literatura do renascimento
espanhol apresenta certas tendências em comum com as da pintura.
Isso é particularmente verdadeiro do teatro, onde com frequência são
apresentadas peças alegóricas que descrevem o mistério da
transubstanciação ou apelam para o fervor religioso.

O mais alto representante dos dramaturgos espanhóis é Lope de


Vega (1562- 1635), o mais prolífico autor de peças teatrais que o
mundo literário já conheceu. Pensa-se que tenha escrito nada menos
que 1500 comédias e mais de 400 alegorias religiosas. Desse total
chegaram aos nossos dias 500 obras. Seus dramas seculares podem
ser divididos principalmente em duas classes: 1) as peças de "capa e
espada", que pintam intrigas violentas e exageram os ideais de honra
das classes superiores, e 2) as peças de grandeza nacional, que
celebram as glórias da Espanha no seu auge e representam o rei como
o protector do povo contra uma nobreza viciosa e degenerada.

Renascimento nos Países Baixos

Já em 1450 haviam ocorrido nos Países-Baixos importantes


progressos artísticos, inclusive o desenvolvimento da pintura a óleo.
Foi ali também que se imprimiram alguns dos primeiros livros.
Embora o renascimento nessa região não tenha tido um alcance mais
alto do que em outras partes da Europa setentrional, suas realizações,
em conjunto, revestem-se de um brilho excepcional.

Para Burns (1941: 524), a história da literatura e da filosofia


renascentista nos Países Baixos começa e acaba com Desidério
Erasmo, aclamado universalmente como o Príncipe dos Humanistas.
O amor de Erasmo pelos clássicos não nascera de um interesse
pedante. Admirava-os, porque eles tinham sido a expressão dos
verdadeiros ideais de naturalismo, tolerância e humanitarismo que
ocupavam lugar tão alto em seu próprio espírito. Estava pronto a
acreditar que pagãos como Cícero e Sócrates mereciam muito mais

63
o título de santos do que muitos cristãos canonizados pelo Papa por
causa de milagres fortalecedores da fé dos crédulos.

As principais obras de Erasmo são: O elogio da loucura, no qual


elogia a paz, condena a guerra e a tirania; Colóquios familiares, e o
Manual do cavaleiro cristão, no qual condena o cristianismo
eclesiástico e se bate pela volta aos ensinamentos simples de Jesus,
"que nada mais nos ordenou senão o amor ao próximo". Numa obra
menos famosa, intitulada A lamentação da Paz, exprime o horror à
guerra e o desprezo pelos príncipes despóticos.

Em 1536 Erasmo morreu na Basiléia, depois de uma existência longa


e dedicada sem vacilações à defesa do estudo, dos altos padrões de
gosto literário e da vida racional. Como filósofo do humanismo, ele
foi a encarnação dos mais altos ideais do renascimento nos países
setentrionais. Convencido da inata bondade do homem, acreditava
que toda a miséria e injustiça possivelmente desapareceriam se fosse
permitido à pura luz da razão penetrar nas escuras cavernas da
ignorância, da superstição e do ódio.

O renascimento artístico dos Países-Baixos limitou-se quase que


exclusivamente à pintura; nesse campo sobressaem as realizações da
escola flamenga. Ali não houve influências clássicas, nenhuma
estátua antiga a ser imitada e nenhuma tradição viva das culturas
bizantina e sarracena. Até relativamente bem tarde, mesmo a
influência italiana foi de pequena monta. A pintura de Flandres era,
antes, o produto espontâneo de uma sociedade urbana viril e
próspera, dominada por mercadores ambiciosos e interessados na
arte como um símbolo de seus gostos luxuosos. O trabalho de quase
todos os principais pintores - os van Eycks, Hans Memling e Roger
van der Weyden - mostram essa inclinação para pintar as virtudes
sólidas e respeitáveis de seus clientes. Distinguem-se também pelo
seu poderoso realismo, por uma atenção infatigável aos detalhes da
vida quotidiana, por um colorido brilhante e por uma piedade
profunda e sem crítica.

64
Renascimento na França
A despeito dos fortes interesses artísticos do povo francês,
demonstrado pela perfeição da sua arquitectura gótica na Idade
Média, foram relativamente de pequena importância as realizações
dos artistas desse país na época do renascimento. Houve um pequeno
progresso na escultura e um modesto avanço na arquitectura. Foi
nesse tempo que se construiu o Louvre, no lugar de edifício mais
antigo que tinha o mesmo nome, enquanto numerosos castelos
erigidos no país representavam uma tentativa mais ou menos bem-
sucedida de combinar a graça e a elegância do estilo italiano com a
solidez do castelo medieval.

Os feitos mais notáveis do renascimento francês ocorreram no


campo literário e filosófico, ilustrado especialmente pelas obras de
François Rabelais (1490-1553) e Michel de Montaigne (1533-1592).
Rabelais desde o início entremeou suas actividades profissionais
com tentativas literárias desta ou daquela ordem. Escreveu
almanaques para o povo, sátiras contra charlatães e astrólogos e
caricaturas das superstições populares. Em 1532 Rabelais publicou
a primeira edição do Gargântua, que mais tarde reviu e acresceu de
outro livro intitulado Pantagruel. Gargântua e Pantagruel eram
originariamente os nomes de lendários gigantes medievais que se
salientaram pela sua prodigiosa força e pelo seu enorme apetite.

Para ele, todos os instintos do homem eram sãos, contanto que não
pretendessem tiranizar outros homens. Assim como Erasmo
acreditava na bondade inerente do homem, mas, diferindo do grande
príncipe dos humanistas, manteve-se pagão, rejeitando não somente
o dogma cristão, mas também a moralidade cristã. Sua famosa
descrição da abadia de Theleme, construída por Gargântua, pretendia
mostrar o contraste entre a sua concepção de liberdade e o ideal
ascético cristão.

65
Renascimento na Inglaterra
A Inglaterra gozou de uma idade áurea no século XVI e no começo
do XVII. Embora ainda não estivesse fundado seu grande império
colonial, começara não obstante, a colher enormes lucros da
produção de lã e do comércio com o continente. As classes
comerciais da Inglaterra desfrutavam excepcionais vantagens sobre
suas rivais dos outros países. Contribuíram também para o
florescimento de uma brilhante cultura na Inglaterra o
desenvolvimento da consciência nacional, o despertar do orgulho do
poder estatal e a expansão do humanismo vindo da Itália, da França
e dos Países-Baixos. Não obstante, o renascimento inglês limitou-se
principalmente à filosofia e à literatura.

As artes não floresceram, devido talvez à influência calvinista que


começou a se fazer sentir nos meados do século XVI. Os mais
antigos filósofos do renascimento inglês podem ser descritos
simplesmente como humanistas. Conquanto não desprezassem o
valor dos estudos clássicos, interessavam-se, acima de tudo, pelos
aspectos mais práticos do humanismo. A maioria deles desejava um
cristianismo mais simples e mais racional e almejavam um sistema
educativo liberto do domínio da lógica medieval. Outros
preocupavam-se precisamente com a liberdade individual e a
correcção dos abusos sociais.

O maior desses pensadores foi Sir Thomas More, julgado pelos


humanistas contemporâneos como "superior a todo o seu povo". A
filosofia de More está contida na sua Utopia, que publicou em 1516.
Esse livro descrevia uma sociedade ideal numa ilha imaginária, na
realidade era uma acusação dos terríveis abusos do tempo - a pobreza
e a riqueza imerecidas, as punições drásticas, a perseguição religiosa
e a matança insensata da guerra. Os habitantes de Utopia possuíam
todos os seus bens em comum, trabalhavam somente seis horas por
dia, sobrando, assim, tempo a todos para as actividades intelectuais

66
e para a prática das virtudes naturais da sabedoria, moderação,
fortaleza e justiça.

Resumo da lição
Nesta lição abordou-se a expansão do renascimento pelos países da
Europa. Constatou-se que o mesmo não teve a mesma velocidade
em todos países, havendo alguns que abraçaram muito cedo (1450)
e outros que esse movimento só se manifestou na primeira metade
do seculo XVI. O mesmo aconteceu com os domínios de maior
influência do renascimento que também não foram uniformes,
havendo países que só se dedicaram à literatura e pintura, e outros
que abrangeram mais áreas.

Auto-avaliação
1. Depois da Itália, o renascimento expandiu-se por outros
países da Europa embora com uma velocidade
diferenciada.

a) Nomeie os países da Europa que abraçaram o


renascimento depois da Itália.
b) O renascimento não teve as mesmas características em
todos países. Justifique.
c) Descreva as principais obras filosóficas que marcaram
o renascimento nos países baixos.
2. O renascimento espanhol limitou-se a um número reduzido
de realizações. Explique as razões deste fenómeno.

67
Comentários da auto – avaliação
Para responder à pergunta 1.a) basta voltar a ler os subtítulos da
lição nº 6 pois eles reflectem o renascimento em cada país. Na
pergunta 1.b) é importante salientar que nem todos os países
durante o renascimento desenvolveram todas as áreas. Por
exemplo: a Alemanha desenvolveu a pintura, a Inglaterra a
Filosofia, Portugal e Espanha a literatura e, assim por diante.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

68
Resposta aos exercícios das lições da unidade
Para ajudar-lhe a avaliar a qualidade das suas respostas ao longo
das lições desta unidade, apresento a seguir alguns comentários das
perguntas. Seleccionei as questões que presumi que você poderia
ter dificuldade em respondê-las. Se existir uma pergunta onde você
sentiu dificuldade em responder e não consta desta lista, por favor
releia o texto e a bibliografia recomendada na lição a que
corresponde à pergunta e compara as suas respostas às dos seus
colegas.

Lição nº 4

1.a) O Renascimento foi um movimento cultural surgido em Itália


no século XV e que, recusando as concepções teocêntricas medievais
passa a colocar o Homem no centro de todos os interesses e o seu
bem-estar passa a constituir a principal preocupação.

1.c) O Renascimento foi um fenómeno tipicamente urbano, porque


emergiu e desenvolveu-se nas cidades que floresciam com a
actividade comercial enquanto o campo conservava os traços do
feudalismo. Este fenómeno muito rapidamente atingiu a elite
economicamente dominante das cidades prósperas.

Lição nº 5

1.e) i) A perda da supremacia económica – o descobrimento do


“novo mundo” levou os centros de comércio a se mudarem
rapidamente da área mediterrânea para a costa do Atlântico. Em
consequência disso esgotou-se a seiva da cultura italiana.

ii) A reforma católica e a instabilidade política que lhe acompanhou.

69
iii) A persistência da ignorância e da superstição nos meios
populares - sem um sistema de educação universal, era inevitável
que permanecesse ignorante a grande massa do povo.

Lição nº 6

3. Os séculos XV e XVI marcaram o auge dos descobrimentos


espanhóis. Os Seus cidadãos estavam absorvidos no saque
dos territórios conquistados e pouco interessaram-se em
dedicar atenção às actividades intelectuais e artísticas. Além
disso, a longa guerra com os mouros fortificou a posição da
igreja que era contrária aos ideais renascentistas.

Auto-avaliação da Unidade
1. O renascimento foi um movimento que apesar de ter
emergido na Itália, muito rapidamente tornou-se num
movimento dominante na maior parte dos países europeus
nos séculos XV e XVI.

a) As características dominantes do renascimento foram:


humanismo, naturalismo e classicismo. Comente.

b) Explique como o naturalismo se manifestou na arte


renascentista.

Descreva o impacto das ideias burguesas para o triunfo do


renascimento na Europa.

70
Conteúdos
Lição n° 7 73 Reforma religiosa
Reforma religiosa na Europa- Contextualização..............73
Contexto do surgimento da Reforma Religiosa .. 74 na Europa
Os ideais dos reformadores protestantes ..........76

Lição n° 8 80

UNIDADE
Causas da Reforma Protestante ........................................ 80
Causas religiosas .......................................................81
Causas Políticas ....................................................... 83

3
Causas económicas ................................................. 84

Lição n° 9 89
O desencadeamento da Reforma na Alemanha ............... 89
Ambiente socioeconómico e político na Alemanha
do século XVI ............................................................. 90
O luteranismo na Alemanha .....................................91

Lição n° 10 95
O desencadeamento da Reforma na Suíça: o
calvinismo ................................................................................ 95
O calvinismo na Suíça.............................................. 95

Lição n° 11 99
A Revolução Protestante na Inglaterra ............................. 99
Anglicanismo na Inglaterra ................................... 100

Lição n° 12 104
A Reforma católica ou Contra-Reforma .......................... 104
O concílio de Trento e a contra-reforma ........... 105
A inquisição, o índex e a companhia de Jesus .. 106

Lição n° 13 110
As consequências da Reforma religiosa ........................... 110
Consequências da reforma religiosa do século Pág. 72 - 116
XVI ..................................................................................111
Unidade 3: Reforma religiosa na Europa

71
Introdução
Prezado estudante. Seja bem-vindo a esta unidade.

A reforma religiosa constitui uma manifestação do renascimento no


contexto religioso. Por isso o quadro histórico da época renascentista
não estaria completo sem uma menção do renascimento na religião,
ou como é comummente chamado, de Reforma religiosa do século
XVI. Os dirigentes do renascimento cristão eram, em geral,
humanistas. Alguns deles nunca desertaram a fé católica; seu
objectivo era purificar essa fé no que ela tinha de mais essencial, e
não destruí-la. O ímpeto original do renascimento religioso parece
ter vindo dos "religiosos da vida comum", um grupo de homens
piedosos que criaram escolas nos Países-Baixos e na Alemanha
Ocidental. Seu objectivo era propagar uma religião simples de
piedade prática, liberta do dogmatismo e do ritual da igreja
organizada.

Esta unidade desenvolve todo esse processo de questionamento dos


dogmas religiosos da igreja cristã católica e a emergência do
movimento protestante que culminaria com o aparecimento de várias
igrejas cristãs.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Contextualizar a Reforma religiosa do século XVI;
 Descrever os antecedentes da reforma religiosa;
 Identificar os principais movimentos reformistas;
 Descrever os instrumentos usados pela igreja católica para
combater a reforma protestante;
 Explicar o legado/herança da Reforma religiosa na actualidade.

72
Lição n° 7
Reforma religiosa na Europa- Contextualização

Introdução
A Europa dos séculos XV e XVI viveu um momento de renovação
cultural, intelectual e artística que recebeu o nome de renascimento.
O renascimento é de longe uma revolução contra a mentalidade
religiosa da idade média. Por isso o seu maior alcance foi marcado
pela reforma religiosa.

Nesta lição abordam-se os principais elementos que marcaram o


contexto do surgimento da reforma religiosa. Estudando esta lição
você poderá perceber em que ambiente emergiu o movimento
protestante contra a igreja católica depois de cerca de dez séculos de
hegemonia, poderá também localizar no espaço este evento.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:


 Estabelecer a relação entre renascimento e reforma
protestante;
 Descrever a principal intenção dos primeiros
reformadores;
Objectivos  Identificar os países pioneiros da reforma religiosa.

Tempo de estudo da Unidade: 6 horas

Tempo

73
1. De certeza já ouviu falar do Cristianismo que é, em suma,
uma crença na figura e doutrina de Jesus Cristo.

a) Faça um levantamento das igrejas cristãs que existem no


Actividade 7 seu bairro, vila, localidade, cidade ou posto
administrativo.

b) Procure saber qual é o principal livro sagrado que eles


usam.

De certeza que ficou surpreso com o número das igrejas cristãs existentes
no local em que fez o levantamento. Se você conseguiu identificar a
Bíblia como principal livro sagrado comum dessas igrejas, parabéns,
está num bom caminho.
Comentário da actividade 7
Quero acreditar, todavia, que essa actividade suscitou algumas
indagações em si. Se todas baseiam-se na crença em Jesus Cristo e usam
a Bíblia Sagrada como principal fonte doutrinária, qual é a necessidade
de serem diferentes? Esta lição vai responder a sua curiosidade.

Contexto do surgimento da Reforma Religiosa

Reforma religiosa foi o movimento que rompeu a unidade do


Cristianismo centrado pela Igreja de Roma. Esse movimento é parte
das grandes transformações económicas, sociais, culturais e políticas
ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, que enfraqueceram a
Igreja permitindo o surgimento de novas doutrinas religiosas.

Segundo BURNS (1941: 480-482), as transformações ocorridas na


Europa, na passagem da Idade Média para a Moderna, atingiram os
princípios e os valores religiosos tradicionais. Os “grandes males”
do século XIV revelavam que a vida valia muito pouco, que era
preciso pensar mais na alma, na vida após a morte, preparar-se para
o dia do Juízo Final. Porém, os princípios da Igreja católica, como a
proibição da usura, que limitava os lucros, não se encaixavam nos

74
ideais e objectivos da burguesia. Além disso, os reis e a nobreza
cobiçavam os bens da Igreja, especialmente suas terras. Agravava a
crise o fato de que leitura da Bíblia e dos textos básicos do
cristianismo contradiziam muitas atitudes e condições da Igreja.
Observa-se que havia um descompasso entre a doutrina e a realidade.
As riquezas oriundas das rendas das terras eclesiásticas, da venda de
indulgências, da cobrança do dízimo, embelezavam os palácios
episcopais e corrompiam o alto clero. Era uma Igreja que pregava a
simplicidade, para os outros.

A revolução religiosa foi, em grande parte, o produto de factores tais


como o nacionalismo, o individualismo e o capitalismo, que são hoje
reconhecidos como característicos da Idade Moderna. Por essas
razões pode-se justificadamente considerar a Revolução Protestante
como tendo inaugurado o período inicial da civilização moderna.
Este movimento compreendeu duas fases principais: a Revolução
Protestante, que irrompeu em 1517 e levou a maior parte da Europa
setentrional a separar-se da igreja romana, e a Reforma Católica, que
alcançou o auge em 1560. Embora a última não seja qualificada de
revolução, na verdade o foi em quase todos os sentidos do termo,
pois efectuou uma alteração profunda em alguns dos característicos
mais notáveis do catolicismo dos fins da Idade Média.

Em muitos aspectos, o renascimento e a reforma tiveram íntima


relação entre si. Para SCHNEEBERGER (2006: 140/2), ambas
foram produtos dessa poderosa corrente de individualismo que, nos
séculos XIV e XV, tantos danos causou à ordem estabelecida.
Ambas tinham causas económicas comuns no desenvolvimento do
capitalismo e no aparecimento de uma sociedade burguesa. Uma e
outra compartilhavam o carácter de um retorno às fontes originais:
no primeiro caso, às realizações literárias e artísticas dos gregos e
romanos; no segundo, às doutrinas dos Padres da Igreja. O despeito,
porém, dessas importantes semelhanças, seria certamente inexacto
considerar a reforma como um mero aspecto religioso do
renascimento.

75
A essência do renascimento era o gozo desta vida e a indiferença
pelo sobrenatural. O princípio da reforma foi a extraterenalidade e o
desprezo pelas coisas da carne como muitíssimo inferiores às do
espírito. No julgamento dos humanistas, a natureza do homem era
intrinsecamente boa; do ponto de vista dos reformadores, era
indizivelmente corrupta e depravada.

Embora tanto o renascimento como a reforma visassem restabelecer


o passado, cada uma delas se orientava num sentido completamente
diverso. O passado que os humanistas procuravam reviver era a
antiguidade greco-romana, embora, na realidade, continuassem a
seguir um número muito maior de tradições da última fase da Idade
Média do que estariam dispostos a reconhecer, particularmente no
terreno literário. Os reformadores, pelo contrário, estavam
interessados, sobretudo, na volta aos ensinamentos de São Paulo e
Santo Agostinho; não só rejeitavam a ideia humanista de um
revivescimento das realizações pagãs, mas pelo menos os
protestantes propunham-se a esquecer praticamente todo o conjunto
das instituições e doutrinas do fim da Idade Média. Na verdade, a
reforma religiosa representou uma ruptura muito mais violenta com
a civilização da época feudal do que o movimento chefiado pelos
humanistas.

Os ideais dos reformadores protestantes

Os reformadores rejeitavam em bloco as teorias e práticas


fundamentais do cristianismo do século XIII. A Reforma estava
intimamente ligada a certas tendências políticas que persistiram
através dos tempos modernos. Alguns humanistas escreveram sob a
influência do orgulho nacional, a maioria deles talvez era levada por
considerações totalmente diversas. Muitos desdenhavam a política,
interessando-se somente pelo homem como indivíduo; outros,
incluindo-se entre eles o grande Erasmo, eram decididamente
internacionalistas. A Reforma Protestante, por outro lado,

76
dificilmente teria ganho adeptos se não houvesse associado sua
causa à poderosa maré montante dos ressentimentos nacionais da
Europa setentrional contra um sistema de tirania eclesiástica cujo
carácter chegara a ser reconhecido como predominantemente
italiano.

Do mesmo modo, pouco lhes interessavam os sacramentos ou as


cerimónias de qualquer espécie e ridicularizavam as superstições
relacionadas com a veneração de relíquias e a venda de indulgências.
Embora reconhecessem a necessidade de uma certa organização
eclesiástica, negavam a autoridade absoluta do Papa e não queriam
admitir que os padres fossem realmente essenciais como
intermediários entre o homem e Deus. Em suma, o que esses
humanistas cristãos desejavam realmente era a superioridade da
razão sobre a fé, a primazia da conduta sobre o dogma e a supremacia
do indivíduo sobre o sistema organizado. Acreditavam que essa
religião simples e racional pudesse ser alcançada, não através de uma
revolta violenta contra a igreja católica, mas por meio de uma vitória
gradual sobre a ignorância e a eliminação de abusos. O declínio da
cultura renascentista nos países da Europa setentrional e ocidental
deu-se menos abruptamente que na Itália. Na verdade, a mudança a
certos respeitos foi tão suave, que o que houve foi uma simples fusão
entre o velho e o novo. Por exemplo, as realizações científicas não
fizeram mais que expandir-se, embora com o correr dos tempos se
desse uma nítida transferência de interesse dos ramos matemático e
físico para o biológico. Além disso, a arte renascentista da Europa
setentrional evolveu gradualmente para o barroco, que dominou o
século XVII e o começo do XVIII.

Segundo SCHNEEBERGER (2006: 139), nos países pioneiros da


reforma religiosa como são os casos da Alemanha, Suécia e
Inglaterra, os reformadores mostraram que queriam uma nova ordem
religiosa. Os ensinamentos religiosos desses homens concordavam
totalmente com os ideais humanísticos, tal como eram entendidos na

77
Europa setentrional. Acreditando que a religião devia existir para o
bem do homem e não em benefício de uma igreja organizada ou
mesmo para a glória de um Deus inefável. Interpretavam o
cristianismo acima de tudo em termos éticos, considerando que é
benéfico para o bem harmonioso da humanidade. Portanto, não
lutavam contra com a igreja católica e sim contra alguns princípios
dessa igreja.

Resumo da lição
Terminada esta lição foi possível constatar que a reforma religiosa
eclodiu na Alemanha em 1517 e, muito rapidamente, expandiu-se
para Suécia e Inglaterra constituindo-se, assim, nos pioneiros da
expansão. Este movimento compreendeu duas fases principais: a
Reforma Protestante levantada pelos reformistas contra a igreja
católica e a Reforma Católica ou contra reforma, que alcançou o
auge em 1560 e representava a resposta da igreja católica às
críticas lançadas pelos reformistas.

Auto-avaliação
1. A reforma religiosa constitui uma manifestação do
renascimento no contexto religioso. Suas raízes devem
ser buscadas no renascimento.

a) Estabeleça a relação entre o renascimento e a


reforma religiosa.
b) Nomeie os países pioneiros da reforma protestante.
c) Qual era a principal intensão dos reformistas?

78
Comentários da Auto – avaliação
De facto, a reforma religiosa ou protestante tem suas bases no
renascimento por isso, ao responder à pergunta 1.a) deve ter em
conta que os principais reformadores eram humanistas, portanto,
duma das correntes do renascimento que valorizava o homem e
suas obras. Para a pergunta 1.b) a resposta correcta é Alemanha,
Suécia e Inglaterra. Finalmente, a resposta da pergunta 1.c) você
encontra relendo o ponto 7.2 desta lição. Compare as suas às dos
seus colegas.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

79
Lição n° 8
Causas da Reforma Protestante

Introdução
A Reforma Protestante precedeu de múltiplas causas, grande número
das quais relacionadas com as condições políticas e económicas da
época. Nada menos exacto do que julgar a revolta
contra Roma, um movimento exclusivamente religioso. Se não
fossem as mudanças políticas essenciais ocorridas na Europa
setentrional e o desenvolvimento de novos interesses económicos,
possivelmente o catolicismo romano teria sofrido uma evolução
gradual, e não uma violenta revolução.

Nesta lição, você poderá definir o conceito indulgências, explicar as


causas da reforma protestante e descrever o papel das indulgências
para o enriquecimento da igreja católica.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar as causas da reforma protestante;

 Definir o conceito indulgências;

 Descrever o contributo das indulgências e veneração de


Objectivos relíquias para o enriquecimento da igreja;

Tempo de estudo da lição: 8 Horas

Tempo

80
Causas religiosas
As causas religiosas foram descritas em BURNS (1941: 558). O
autor começa por referir que para a maioria dos primeiros adeptos de
Lutero, o movimento por ele desencadeado valia principalmente
como uma rebelião contra os abusos da igreja católica. Historiador
algum pode negar, qualquer que seja seu credo religioso, a existência
de tais abusos. Por exemplo, muitos dos clérigos romanos eram
incrivelmente ignorantes. Alguns, tendo obtido a posição por meios
irregulares, não eram capazes de entender o latim da missa que
deviam celebrar. Havia até casos de padres que não sabiam recitar o
pai-nosso em língua alguma. Além disso, grande número de clérigos
levava vida escandalosa.

Enquanto alguns papas e bispos viviam numa magnificência


principesca, os padres humildes procuravam aumentar as rendas das
suas paróquias montando e mantendo tabernas, casas de jogos ou
outros estabelecimentos lucrativos. Não só alguns monges
habitualmente esqueciam os votos da castidade, mas muitos
membros de todas as categorias do clero minimizavam a dureza da
regra do celibato sustentando amantes, ou "esposas espirituais",
como eram às vezes chamadas.

Mas a venda de indulgências e a veneração supersticiosa de relíquias


são os abusos que parecem ter feito sentir com mais urgência a
necessidade de uma reforma. Segundo BURNS (ibid), Uma
indulgência é a remissão, em parte ou na totalidade, do castigo
temporal do pecado - isto é, do castigo nesta vida e no purgatório,
pois não passa por ter qualquer influência sobre a punição no inferno.
A teoria em que se baseia a indulgência tem seu fundamento na
famosa doutrina do Tesouro de Merecimento, desenvolvida pelos
teólogos eclesiásticos no século XIII. De acordo com essa doutrina,
Jesus e os santos, devido às suas "supérfluas" de que deram provas
na terra, acumularam no céu um excesso de merecimento. Esse
excesso constitui um tesouro de graça sobre o qual o Papa pode sacar

81
em benefício dos mortais comuns. Originalmente, as indulgências
não eram concedidas em troca de pagamento em dinheiro, mas
apenas como prémio a obras de caridade, jejuns, participação numa
cruzada ou coisa parecida. Com o tempo, o comércio de indulgências
passou a ter outra dimensão. Os agentes do clero iludiam os
ignorantes fazendo-lhes crer que as indulgências eram passaportes
para o céu. O único objectivo do negócio era, naturalmente, angariar
tanto dinheiro quanto fosse possível.

Durante séculos, antes da Reforma, a veneração de relíquias


sagradas tinha sido um elemento importante do culto católico.
Acreditava-se que os objectos usados por Cristo, pela Virgem e pelos
santos possuíssem uma milagrosa virtude curativa ou protetora para
qualquer pessoa que os tocasse ou lhes chegasse perto. Era
inevitável, porém, que tal crença desse ensejo a inúmeras fraudes.
Tornava-se fácil convencer camponeses supersticiosos de que
qualquer lasca de madeira velha era um fragmento da verdadeira
cruz. Evidentemente, não faltavam negociantes de relíquias para se
aproveitarem dessa credulidade. Os resultados foram
fantasticamente além do que se pode acreditar. De acordo com
Erasmo, as igrejas da Europa possuíam pedaços de madeira da
verdadeira cruz em quantidade suficiente para construir um navio.

Em suma, o que os reformadores queriam era a volta a um


cristianismo mais primitivo do que aquele que predominava desde o
século XIII. Inclinavam-se fortemente a rejeitar qualquer doutrina
ou prática que não fosse expressamente sancionada pelas Escrituras,
em especial pelas Epístolas Paulinas, ou que não fossem
reconhecidas pelos Padres da Igreja. Por esse motivo, condenavam
não apenas a teoria do sacerdócio e o sistema sacramental da igreja,
mas também certos aditamentos medievais à fé, tais como o culto da
Virgem, a crença no purgatório, a invocação dos santos, a veneração
das relíquias e a regra de celibato do clero.

82
Causas Políticas
Como movimento político, a reforma protestante resultou
principalmente de duas causas: primeiro, a formação de uma
consciência nacional no norte da Europa; e, segundo, o aparecimento
de governos despóticos.

Já desde os fins da Idade Média fazia-se notar um crescente espírito


de independência entre muitos povos fora da Itália. Esses povos
tinham passado a considerar a sua vida nacional como soberana e a
não tolerar qualquer interferência de origem externa. Em especial,
inclinavam-se a encarar o Papa como um estrangeiro a quem não
assistia o direito de intrometer-se nos negócios internos da
Inglaterra, da França ou da Alemanha.

A formação de uma consciência de autonomia nacional em todos


esses países marchou a passo igual com o aparecimento de governos
despóticos. Não era de esperar que um déspota tolerasse a exclusão
da religião da sua esfera de controlo. Não lhe era possível ser déspota
enquanto houvesse uma dupla jurisdição dentro do seu reino. O
apetite de controlo sobre a igreja, por parte dos príncipes, foi
aguçado originalmente pelo restabelecimento do direito romano,
com a sua doutrina da delegação de todos os poderes pelo povo ao
governante secular. A isso deve ser somado o efeito dos
ensinamentos da Wyclif na Inglaterra e de Pierre Dubois (1250-
1312) na França, segundo os quais o poder temporal do Papa devia
ser transferido para o rei.

Em suma, quaisquer que tenham sido as razões dessa evolução, não


pode haver dúvida de que a causa original do crescente antagonismo
a Roma tenha sido a ambição dos príncipes seculares de colocar a
igreja sob o seu domínio.

83
Causas económicas
As mais importantes causas económicas foram o desejo de se
apossar das riquezas da igreja e o ressentimento contra a tributação
papal.

Segundo BURNS (1941: 566), no curso da sua história, desde o


início da Idade Média, a igreja tinha-se transformado num vasto
império económico. Era, por grande diferença, a maior proprietária
de terras na Europa ocidental, sem falar no seu enorme acervo de
bens móveis, sob a forma de ricas alfaias, jóias, metais preciosos etc.
A estimativa da extensão das terras possuídas pelos bispados e
mosteiros, no século XVI, atinge o total de um terço do território da
Alemanha (com uma extensão de cerca de 357.376 km²) e um quinto
do da França (com uma extensão de cerca de 643.801 km²). A
existência de tão grandes riquezas nas mãos da igreja provocava a
profunda acrimônia não só dos reformadores ascéticos do século
XVI, mas também de milhares de leigos.

Os reis, suspirando por mais exércitos e armadas, tinham urgente


necessidade de aumentar as suas rendas. A lei católica, no entanto,
proibia a tributação dos bens da igreja. Tal isenção significava uma
sobrecarga para os outros proprietários, sobretudo para os
mercadores e banqueiros prósperos. Além disso, na Alemanha, a
pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso
da economia senhorial. Muitos desses pequenos nobres lançavam
olhares cobiçosos às terras da igreja.

Havia, além disso, os inumeráveis emolumentos pagos ao tesouro


pontifício por indulgências, dispensas, recursos de decisões
judiciárias etc. Num sentido muito real, o dinheiro recolhido da
venda de cargos eclesiásticos e das "anatas", ou comissões
arrecadadas sobre a renda do primeiro ano de cada bispo ou padre,
ia para os cofres da igreja. O verdadeiro motivo das queixas contra
os tributos papais era o escoamento de grande parte da riqueza dos
países setentrionais em proveito da Itália. Alguns alemães e ingleses

84
escandalizavam-se com o facto de a maior parte do dinheiro
recolhido não ser despendida para fins religiosos, mas desperdiçada
pelos papas mundanos na manutenção de uma corte sumptuosa.

Uma terceira e muito importante causa económica da Revolta


Protestante foi o conflito entre as ambições da nova classe média e
os ideais ascéticos do cristianismo medieval. Os filósofos católicos
dos fins da Idade Média desenvolveram uma teoria com o objectivo
de guiar o cristão em assuntos de produção e comércio. Essa teoria
fundava-se na premissa de que o negócio com vista o lucro era
essencialmente imoral. Ninguém tinha direito a mais do que uma
retribuição razoável em troca dos serviços prestados à comunidade.
Toda riqueza adquirida além dessa quantia devia ser entregue à
igreja, em benefício dos necessitados. Obter vantagem sobre um
rival nos negócios, açambarcando o mercado ou reduzindo os
salários, era contrário à toda lei e moralidade. Igualmente era
condenada a prática da usura, isto é, a cobrança de juros por
empréstimos que não envolvessem risco verdadeiro. Embora essas
doutrinas não fossem de modo algum universalmente respeitadas,
mesmo pela própria igreja, continuaram a formar parte integrante do
ideal católico até o fim do período renascentista.

Resumo da lição
Nesta lição abordaram-se as causas da Reforma Protestante, onde se
constatou que as mesmas podem dividir-se em religiosas, políticas e
económicas. Por isso, apesar de existir uma tendência de dar maior
ênfase às causas religiosas, a compreensão deste fenómeno exige o
cruzamento destes três domínios de causas.

85
Auto-avaliação
1. A venda de indulgências e a veneração supersticiosa de
relíquias são os abusos que parecem ter feito sentir com
mais urgência a necessidade de uma reforma.

a) Justifique a afirmação.

b) O que entende por indulgências?

c) Em que consistia a veneração à relíquias?

2. A reforma protestante foi um movimento religioso, mas as


suas causas podem ser encontradas a níveis económico,
político e religioso. Embora negligenciado, o
analfabetismo do clero pode também pode ter contribuído
para a reforma.
a) Explique a influência das causas politícas para a reforma
religiosa.
b) Até que ponto o analfabetismo do clero pode ter
contribuído para a reforma protestante?

Comentários da auto - avaliação


As práticas ligadas às indulgências dominaram toda a idade média
chegando até a alterar o seu sentido original. Por isso para
responder às perguntas 1.a) e 1.b) deve reler o ponto 8.1 desta lição.
Se tiver dúvidas das suas respostas, compare-as às dos seus
colegas. Para responder à pergunta 1.c) deve ter em conta que
relíquia é tudo deixado por um defunto, mas aqui não se tratava de
um qualquer. Acreditava-se que as peças usadas/deixadas por Jesus
Cristo, pela virgem Maria e pelos santos tinham poder curativo.

Durante quase toda a idade média, a acumulação dos poderes


espiritual e temporal pelos monarcas contribuiu para a formação de

86
regimes despóticos. Por isso, o desenvolvimento da consciência
nacionalista no Norte da Europa, procurando a separação dos
poderes espiritual e temporal acabou dando impulso à reforma
religiosa. Portanto, esta seria a resposta para a pergunta 2.a).

As práticas ligadas às indulgências dominaram toda a idade média


chegando até a alterar o seu sentido original. Por isso para responder
às perguntas 1.a) e 1.b) deve reler o ponto 8.1 desta lição. Se tiver
dúvidas das suas respostas, compare-as às dos seus colegas. Para
responder à pergunta 1.c) deve ter em conta que relíquia é tudo
deixado por um defunto, mas aqui não se tratava de um qualquer.
Acreditava-se que as peças usadas/deixadas por Jesus Cristo, pela
virgem Maria e pelos santos tinham poder curativo.

Durante quase toda a idade média, a acumulação dos poderes


espiritual e temporal pelos monarcas contribuiu para a formação de
regimes despóticos. Por isso, o desenvolvimento da consciência
nacionalista no Norte da Europa, procurando a separação dos
poderes espiritual e temporal acabou dando impulso à reforma
religiosa. Portanto, esta seria a resposta para a pergunta 2.a).

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

87
CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

88
Lição n° 9
O desencadeamento da Reforma na Alemanha

Introdução
A Alemanha foi o pioneiro da revolução protestante no século XVI.
Depois da Alemanha o movimento mostrou-se irreversível e
espalhou-se um pouco por toda Europa. Alguns historiadores como
BURNS (1941: 65), acreditam que as condições para uma revolta
religiosa já estavam presentes na Europa no princípio do seculo
século XVI.

Nesta lição você ficará a saber que condições permitiram a


Alemanha ser pioneiro na revolução protestante e quais as razões que
explicam a sua rápida propagação.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Contextualizar ambiente socioeconómico e político da


Alemanha no século XVI;

 Identificar o primeiro reformador religioso alemão;

Objectivos  Descrever as causas da reforma protestante alemã;

 Caracterizar a primeira religião protestante no Mundo.

Tempo de estudo da lição: 6 Horas

Tempo

89
Ambiente socioeconómico e político na Alemanha do
século XVI

Quando se fala da reforma na Alemanha há perguntas frequentes que


se fazem: Por quê na Alemanha? Por quê no século XVI e não antes
ou depois?

SCHNEEBERGER (2006 : 149), refere que é importante considerar


brevemente as razões pelas quais a Revolução Protestante se iniciou
na Alemanha. Em primeiro lugar, temos o facto de se encontrar a
Alemanha numa situação de certo atraso em relação à maioria dos
demais países da Europa ocidental. Tinha sido tocada apenas de leve
pelo renascimento e era ainda muito forte ali a herança da “Idade das
Trevas” ou idade média. Em consequência, o espírito religioso
estava mais profundamente enraizado do que na Itália, na França ou
na Inglaterra. Em segundo lugar, a Alemanha era, em maior escala
do que outras regiões, vítima dos abusos católicos.

Em terceiro lugar, a Alemanha não tinha um governante poderoso


que lhe defendesse os interesses. Foi, sobretudo, por essa razão que
Leão X a escolheu como o campo mais promissor para a venda de
indulgências. A igreja possuía na Alemanha uma porção enorme das
melhores terras cultiváveis e o país fervia de descontentamento por
causa de uma transição demasiado rápida da sociedade feudal para
uma economia de lucros e salários. A pequena nobreza via-se
ameaçada de ruína pela concentração das terras em grandes
propriedades, enquanto os camponeses estavam sendo imprensados
entre a alta dos preços e a perda dos privilégios feudais.
Defrontando-se com tais dificuldades, ambas as classes voltaram-se
contra a igreja, na qual viam a sua opressora mais rica e mais séria.
Os mercadores e os banqueiros, por motivos diferentes, mas não
menos poderosos, não se mostraram disponíveis em oferecer o seu
apoio.

90
O luteranismo na Alemanha
Segundo BURNS (1941: 5690), no início do século XVI a Alemanha
estava madura para a revolução religiosa. Só faltava encontrar um
líder capaz de unir os elementos descontentes e emprestar às suas
reivindicações um verniz teológico aceitável. Esse homem não
demorou a aparecer. Chamava-se Martinho Lutero e nascera na
Turíngia, em 1483.

Os pais queriam que ele fosse advogado e, com esse fim em vista,
matricularam-no aos dezoito anos na Universidade de Erfurt. Mas
em 1505, ao voltar de uma visita à casa, foi surpreendido por violenta
tempestade. No terror de ser fulminado por um Deus furioso, fez a
Santa Ana a promessa de tornar-se monge. Pouco depois ingressou
no mosteiro agostiniano de Erfurt. Perseguido pela ideia de ter
inúmeros pecados, esforçava-se desesperadamente para alcançar a
paz espiritual por meio de jejuns e torturas. Mas, voltando-lhe as
antigas solicitações da carne, convenceu-se por fim de que nenhum
esforço de sua parte poderia salvá-lo.

Finalmente, lendo S. Paulo e S. Agostinho, concluiu que nenhuma


virtude humana tem valor a não ser quando santificada pela graça de
Deus, a qual é largamente dispensada aos eleitos. Descobriu que toda
a humanidade é pecadora por natureza, mas que Deus escolhe
alguns para a vida eterna e os dota de graça para levarem uma
existência justa. Depois, baseando-se na Epístola de S. Paulo aos
romanos, desenvolveu a famosa doutrina da justificação pela fé.
Com isso queria significar que o homem só se pode tornar merecedor
aos olhos de Deus pela absoluta submissão à vontade divina. As
chamadas boas obras da igreja - jejuns, peregrinações e sacramentos
- de nada valem na realidade. Nem a intercessão dos padres ou dos
santos podem ter qualquer efeito sobre a redenção do homem. Essa
doutrina da justificação pela fé, opondo-se à salvação pelos
sacramentos e pelas demais boas obras da igreja, é geralmente
considerada a pedra angular da revolta luterana.

91
A venda das indulgências foi o factor que precipitou a Reforma.
Eram títulos comprados para abonar os pecados cometidos ou a ser
cometidos. Um “passaporte para o Paraíso”, que beneficiava os
ricos. Para concluir as obras da basílica de São Pedro, a Igreja
escolheu a obediente Alemanha para a venda de indulgências. A casa
bancária dos Fuggers foi a encarregada da venda, adiantando o
dinheiro à Igreja. Contra essa comercialização da fé,
Colocou-se o monge agostiniano Lutero, que afixou suas 95 teses na
porta da catedral de Wittenberg, em 1517. Pretendia purificar a
religião, e não criar uma divisão dentro da Igreja. Porém, uma das
teses afirmava que só a fé assegurava a salvação, negando portanto
o livre arbítrio, um dos princípios oficiais da Igreja. Em 1520, o papa
Leão X, por meio de uma bula, exigiu sua retratação. Lutero
respondeu com a queima da bula papal, por isso, foi
excomungado.

A acção de Lutero teve o apoio entusiasmado da pequena nobreza,


que pretendia se apossar das terras clericais e dos camponeses, que
se aproveitaram da anarquia gerada pela nobreza, atacando as
propriedades feudais. A revolução social estourou na Alemanha.
Diante da terrível situação, Lutero se aliou à nobreza que reprimiu
com violência a revolta camponesa. A Reforma permitiu aos
príncipes alemães se apoderarem dos bens patrimoniais da Igreja.
Assim, até a consciência religiosa dos súbitos ficava submetida aos
príncipes. O movimento de Lutero se encaixava nos interesses dos
governantes, ou seja, a submissão da Igreja ao poder político. A
centralização do poder só se completaria com os governantes
controlando, também, a hierarquia eclesiástica.

Mais tarde Martinho Lutero fundou a igreja luterana. A Igreja


luterana adquiriu características nacionais. O próprio Lutero traduziu
a Bíblia para o alemão, e o latim foi substituído pelo alemão na
celebração do culto, estimulando o interesse do povo. O luteranismo
manteve a ideia da presença espiritual de Cristo na eucaristia
(consubstanciação), mas rejeitou a transubstanciação (transformação

92
do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo). Outras mudanças
estabelecidas pela Reforma luterana foram:

a) Salvação da alma apenas pela fé; livre leitura e interpretação


da Bíblia. b) Conservação apenas do baptismo e da
eucaristia. c) Abolição do celibato clerical. d) Rejeição da
hierarquia eclesiástica católica e da autoridade papal. e)
Rejeição do culto dos santos e da adoração das imagens.

Resumo da lição
A reforma protestante na Alemanha foi um movimento religioso
impulsionado por Martinho Lutero, mas logo foi apoiado pelo
poder político. O poder político pretendia apoderar-se dos bens
patrimoniais da Igreja e submeter a Igreja ao poder político, por
isso viam na revolução uma oportunidade para tal.

Auto-avaliação
1. A reforma de Martinho Lutero foi resultado da situação
vivida na Alemanha no século XVI, mas foi sobretudo a
leitura de S. Paulo e S. Agostinho, que mais despertou
Lutero.
a) Descreva a situação vivida na Alemanha nas vésperas
da reforma.
b) Comente expressão sublinhada.
c) Qual foi a acção de Lutero que mais pesou para a sua
excomunhão?
d) Quais são princípios básicos da doutrina luterana?

93
Comentários da auto – avaliação
Na Alemanha do século XVI vivia-se uma situação semelhante a
qualquer país católico europeu. As acções de Lutero enquadram-se
nas aspirações políticas, socias e económicas da época. Para
responder a auto-avaliação deve voltar a ler o texto desta lição. Se
duvidar das suas respostas pode compará-las às dos seus colegas.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

94
Lição n° 10
O desencadeamento da Reforma na Suíça: o calvinismo

Introdução
Caro estudante, na lição anterior ficou destacado que a reforma
iniciada na Alemanha ter-se-ia expandido para outros países da
Europa. Um dos primeiros países a seguir a Alemanha foi a Suíça.
Nesta lição aborda-se o movimento reformista na Suíça. Esta
abordagem concentra-se nas causas, características e manifestações
da reforma. Portanto, ao terminar esta lição você estará em condições
de desenvolver uma análise comparativa entre a reforma na
Alemanha e na Suíça.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Contextualizar ambiente o socioeconómico e político da


Suíça no século XVI;

 Identificar o primeiro reformador religioso sueco;

Objectivos  Explicar as causas da reforma protestante sueca;

 Descrever os princípios doutrinários do calvinismo.

Tempo de estudo da lição: 6 Horas

Tempo

O calvinismo na Suíça
Para além da Alemanha, o vigor da revolta luterana se fez sentir em
várias outras terras. Tal foi especialmente o caso da Suíça, onde o
nacionalismo se vinha fortalecendo havia séculos.

95
Segundo SCHNEEBERGER (2006: 153), o pai da Revolução
protestante na Suíça foi Ulrico Zwinglio. Na Suíça, a Reforma foi
bem mais radical. Ulrich Zwinglio foi o introdutor das ideias da
reforma na região. Apoiado no humanismo de Erasmo de Roterdão,
combateu todos os sacramentos e a própria hierarquia clerical. Suas
ideias se propagaram por vários cantões (províncias) suíços, mas os
católicos reagiram eclodindo a guerra civil, na qual morreu
Zwinglio, em 1531.

Depois da morte de Zwinglio, a obra reformista teve prosseguimento


com o teólogo francês Jean Calvino que criticava duramente a acção
da Igreja na França. Perseguido, refugiou-se em Genebra, na Suíça,
onde conquistou rapidamente o poder e pôs em prática suas ideias.

Estabeleceu uma verdadeira ditadura teocrática, com os princípios


religiosos confundindo-se com a administração pública. Era até
mesmo favorável à pena de morte para quem não fosse adepto de sua
religião. Uma das mais famosas vítimas foi o médico espanhol
Miguel de Servet que, tendo escapado da Inquisição católica, foi
julgado, condenado e queimado vivo em Genebra. O calvinismo
pregava a predestinação e reforçava a rigidez doutrinária e moral. Do
catolicismo conservou apenas o baptismo e a eucaristia. A salvação
dava-se pela fé, que é outorgada por Deus às pessoas. O culto foi
extremamente simplificado. Suas ideias se difundiram pela França,
Inglaterra, Escócia e Holanda.

Os valores éticos do calvinismo foram adoptados pela burguesia


capitalista. Estimulava a acumulação de capitais e a prática da usura.
Segundo o calvinismo, o ser humano deve lutar pelo seu progresso.
Assim, o calvinismo valorizava o trabalho, como forma de justificar
a obra criadora de Deus. Portanto, das religiões reformadas, o
calvinismo era a que mais se ajustava aos interesses da burguesia.

A popularidade do calvinismo não se limitou à Suíça. Expandiu-se


pela maior parte dos países da Europa ocidental onde o comércio e
as finanças se tinham tornado actividades preponderantes. Os

96
huguenotes da França, os puritanos da Inglaterra, os presbiterados da
Escócia e os protestantes da Holanda eram todos calvinistas. Foi ela,
eminentemente, a religião da burguesia, ainda que, como é natural,
atraísse convertidos de outras camadas sociais. Teve enorme
influência em moldar a ética dos tempos modernos e em acoroçoar
o ímpeto revolucionário da classe média. Foram adeptos dessa fé os
que tiveram parte saliente nas revoltas iniciais contra o despotismo
na Inglaterra e na França, para não falarmos do papel que
desempenharam ao contribuir para a derrubada da tirania espanhola
na Holanda.

Resumo da lição
Nesta lição abordou-se a reforma protestante na Suíça,
constituindo o segundo país a seguir o exemplo da Alemanha.
Nessa abordagem destacou-se o papel de Zwinglio e Calvino para
o sucesso deste movimento. Foi possível notar também a reforma
calvinista foi a mais radical e representava os interesses da
burguesia.

Auto-avaliação
1. Para além da Alemanha, o vigor da revolta luterana se fez
sentir em várias outras terras. Tal foi especialmente o caso
da Suíça onde a reforma religiosa foi mais radical.
a) Comente a expressão sublinhada.
b) Quem foi o pioneiro da Reforma na Suíça?
c) Quais são princípios doutrinários do calvinismo?
d) Por que razão o calvinismo foi considerado uma
religião burguesa?

97
Comentários da auto – avaliação
Ao responder o número 1.b) deve ter em conta que diferentemente
do luteranismo, o calvinismo teve um percursor chamado Ulrich
Zwinglio que depois da sua morte, a tarefa ficou com Jean Calvino,
um francês exilado na Suíça. O calvinismo pregava a predestinação
e a salvação pela fé, se respondeu assim o número 1.c) você está
de parabéns! Ao responder o número 1.d) deve ter em conta que
contrariamente às outras doutrinas, o calvinismo estimulava a
acumulação de capitais e a prática da usura.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

98
Lição n° 11
A Revolução Protestante na Inglaterra

Introdução
Tal como na Alemanha e na Suíça, a Inglaterra também conheceu
uma das primeiras igrejas protestantes. A única diferença reside no
facto de na Inglaterra, o golpe inicial contra a igreja romana não ter
sido dado por um entusiasta religioso como Lutero ou Calvino, mas
pelo chefe do governo, ou melhor, o rei.

Nesta lição aborda-se o contexto do surgimento do protestantismo


na Inglaterra, as causas, bem como os factores da expansão.
Estudando esta lição você poderá perceber entre muitos aspectos, até
que ponto um chefe do governo foi capaz de empreender uma
reforma doutrinária religiosa.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Contextualizar o ambiente socioeconómico e político da


Inglaterra no século XVI;

 Identificar o primeiro reformador religioso inglês;

Objectivos  Explicar as causas da reforma protestante na Inglaterra;

 Descrever os princípios doutrinários do anglicanismo.

Tempo de estudo da lição: 6 Horas

Tempo

99
Anglicanismo na Inglaterra
Na Inglaterra, a reforma ocorreu de cima para baixo, por obra do rei
Henrique VIII, isso não quer dizer, no entanto, que a Reforma
inglesa representasse um movimento exclusivamente político.
Henrique VIII não teria conseguido fundar uma igreja inglesa
independente se essa decisão não fosse endossada por grande
número de seus súbitos. Pouco depois de desencadear-se a Revolta
Protestante na Alemanha, as ideias luteranas foram levadas à
Inglaterra por pregadores errantes e pela circulação de panfletos
impressos. Em resultado de tudo isso, a monarquia inglesa, ao cortar
os laços que a prendiam a Roma, desfrutou as simpatias dos seus
súbditos mais influentes. O conflito com o papa foi precipitado pelas
dificuldades domésticas de Henrique VIII. Durante dezoito anos
estivera casado com Catarina de Aragão1 e tinha apenas uma filha
valetudinária para suceder-lhe. A morte, em tenra idade, de quase
todos os filhos varões desse matrimónio era uma cruel decepção para
o rei, que desejava um herdeiro masculino para perpetuar a dinastia
dos Tudor. Isso, porém, não era tudo, pois Henrique se apaixonara
profundamente por Ana Bolena, uma dama de honor de olhos
negros, e resolvera fazê-la rainha.

Em 1527 pediu para o papa Clemente VII, pedindo anulação do seu


casamento com Catarina. Sua Santidade ficou entre dois fogos. Se
recusasse satisfazer Henrique, a Inglaterra estaria provavelmente
perdida para a fé católica. Por outro lado, se concedesse o decreto de
anulação provocaria a ira do imperador Carlos V (rei da Espanha),
que era sobrinho de Catarina. Carlos V já tinha invadido a Itália e
ameaçava o Papa com a perda do poder temporal. Não parecia haver
outra saída para Clemente senão adiar. A princípio, sob pretexto de
resolver a questão na Inglaterra, delegou poderes ao legado

1
O rei desejava um herdeiro masculino e Catarina já passara da idade fecundável.

100
pontifício e ao cardeal Wolsey para instalarem um tribunal de
inquirição a fim de determinar se o casamento de Catarina fora ou
não legal. Depois, ao cabo de longa demora, a causa foi transferida
para Roma. Henrique VIII perdeu a paciência e decidiu tomar as
rédeas nas suas próprias mãos. Rompeu com a Igreja, anulou seu
casamento, criou a Igreja Anglicana e casou-se com Ana Bolena, sua
amante, já grávida. Em 1531 convocou uma assembléia do clero e,
sob a ameaça de puní-los caso se submetessem ao legado pontifício,
induziu-os a reconhecê-lo como chefe da igreja inglesa “tanto quanto
o permite a lei de Cristo".

Em seguida, persuadiu o Parlamento a decretar uma série de leis


abolindo todos os pagamentos de rendas ao Papa e proclamando a
igreja anglicana uma unidade nacional independente, submetida à
autoridade exclusiva do rei. Volvidos poucos anos, em 1534, tinham
sido rompidos todos os laços que ligavam a Roma a igreja da
Inglaterra. Henrique VIII pretendia construir um Estado nacional
absolutista, livre da influência papal e dos impostos cobrados pela
Igreja. Apoderou-se dos seus bens, fechou os conventos e editou o
Ato de Supremacia, em 1534, pelo qual se nomeava chefe da Igreja
na Inglaterra. Assim, era um catolicismo sem o papa. Foram
adoptados o divórcio, a salvação pela fé, a celebração da liturgia em
inglês e o fim do celibato clerical. A nova religião, imposta pela
força, desencadeou muitas perseguições. Os filhos de Henrique VIII
tentaram impor sua autoridade ao povo: Eduardo VI, o calvinismo;
Maria I, o catolicismo; mas foi Elisabeth I quem consolidou o
anglicanismo e o poder do Estado sobre a Igreja.

101
Resumo da Unidade
Anglicanismo foi o nome atribuído ao movimento de reforma
protestante na Inglaterra. Este movimento foi desencadeado pelo rei
Henrique VIII que desejando contrair o segundo matrimónio,
desligou-se do poder papal. Esta situação permitiu a Henrique VIII
alcançar os seus principais objectivos: eliminar a influência do Papa
na Inglaterra e acabar com os impostos cobrados pelo vaticano. Mas
a consolidação do anglicanismo só foi conseguida pela filha
Elisabeth I.

Auto-avaliação
1. Na Inglaterra, a reforma ocorreu de cima para baixo e foi
precipitado pelas dificuldades domésticas de Henrique
VIII.
a) Comente a expressão sublinhada.
b) Descreva as principais acções de Henrique VIII a partir
de 1531 com vista a instaurar o anglicanismo.
c) Apresente os princípios doutrinários do anglicanismo.

Comentários da auto – avaliação


Para responder à pergunta 1.a) você deve tomar em consideração
que a causa imediata para ruptura com Roma não foi religiosa
nem política, e sim matrimonial e está descrita no ponto 11.1
desta lição. Na pergunta 1.c) Henrique VIII depois de se desligar
de Roma adoptou alguns princípios dos outros reformistas e
criou novos. Por isso, se você respondeu salvação pela fé e fim
de celibato clerical, parabéns! A sua resposta está correcta.

102
Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a
realização das actividades propostas para esta lição. Portanto,
não deixe de estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

103
Lição n° 12
A Reforma católica ou Contra-Reforma

Introdução
O movimento da reforma religiosa protestante na primeira metade
do século XVI representou um perigo para a igreja católica. A
velocidade com que se propagou trazia ao alto algumas fragilidades
do poder clerical. Era necessária uma acção urgente por parte do
catolicismo para travar o movimento reformista e manter a
autoridade da igreja.

Nesta lição, você ficará a conhecer os principais instrumentos usados


pela igreja católica para travar o movimento reformista. A riqueza
desta lição está no facto de trazer algumas acções praticadas pela
igreja católica que estão muito distantes dos valores morais que ela
dizia defender.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Situar a contra reforma no tempo e no espaço;

 Identificar os instrumentos usados pela igreja católica para


responder à reforma protestante;

Objectivos  Explicar as principais medidas tomadas no concílio de


Trento.

Tempo de estudo da lição: 8 Horas

Tempo

104
O concílio de Trento e a contra-reforma
Segundo CORVISIER (1976: 610), os avanços do protestantismo
ameaçavam seriamente a supremacia da Igreja Católica. A contínua
expansão do protestantismo por toda a Europa colocou a Igreja
Católica numa situação crítica. Impunha-se uma reforma para
moralizar o clero e, ao mesmo tempo, desencadear o combate às
novas religiões, classificadas como heresias. Com excepção de
Portugal e Espanha, todo o resto da Europa ocidental conhecia
movimentos reformistas, o que forçou a Reforma Católica, também
conhecida como Contra-Reforma.

A Igreja não só se armou contra o protestantismo, como também


reformou-se internamente. Fundaram-se escolas, eliminaram-se os
abusos dos mosteiros e os padres foram instigados a aceitar suas
responsabilidades pastorais. Embora o movimento tivesse sido
lançado originalmente com o fim de fortalecer a igreja na guerra
contra os heréticos e infiéis, teve o efeito de regenerar em grau
considerável a vida espiritual da nação. O Concílio de Trento iniciou
a Reforma Católica. Realizado na cidade italiana de Trento entre
1544 a 1563, com intervalos, os conciliares discutiram as medidas a
serem adoptadas. Decidiram manter o monopólio do clero na
interpretação dos dogmas, reforçar a autoridade papal e a disciplina
eclesiástica. Outras medidas foram:

a) Formação obrigatória e ordenação dos padres em seminários.


b) Confirmação do celibato clerical.
c) Proibição da venda de indulgências e relíquias.
d) Manutenção do direito canónico.
e) Edição oficial da Bíblia e do catecismo.
f) Fortalecimento dos tribunais de inquisição para combater o
protestantismo. Os dogmas católicos foram defendidos pela
política do terror e da perseguição dos suspeitos de heresia.
g) O espanhol Inácio de Loiola fundou a Companhia de Jesus,
em 1534, ordem religiosa com características militares,

105
exigindo dos seus membros completa obediência. Os jesuítas
foram bem-sucedidos em regiões da Alemanha, Polónia e
Suíça. Colaboraram na restauração da disciplina clerical,
devolvendo-lhe a pureza. Lutaram pela supremacia da
autoridade papal. Participaram activamente das colonizações
portuguesas e espanhola. Desembarcaram na Ásia e na África
para difundir o catolicismo.

A inquisição, o índex e a companhia de Jesus

A realização do concílio de Trento não era suficiente para combater


os reformistas e as novas igrejas protestantes. Eram necessários
instrumentos mais concretos e urgentes, foi o caso da inquisição, do
índex e da Companhia de Jesus.

Em 1564, o papa Paulo IV, antigo grande inquisidor, investiu contra


as obras científicas que contrariassem os princípios e dogmas
católicos. Foi criada a Congregação do índex, um órgão com a
função de elaborar a “relação dos livros proibidos”, ou seja os livros
que os católicos não poderiam ler. A Contra-reforma tomava, assim,
aspectos de uma verdadeira contra-renascença. Muitos livros e
suspeitos de heresia foram queimados.

Segundo SCHNEEBERGER (2006 :156), a Inquisição era


composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados
uma ameaça às doutrinas da igreja católica. Todos os suspeitos eram
perseguidos e julgados, e aqueles que eram condenados, cumpriam
as penas que podiam variar desde prisão temporária ou perpétua até
a morte na fogueira, onde os condenados eram queimados vivos em
plena praça pública. Muitos cientistas também foram perseguidos,
censurados e até condenados por defenderem ideias contrárias à
doutrina cristã. Um dos casos mais conhecidos foi do astrônomo
italiano Galileu Galilei, que escapou por pouco da fogueira por
afirmar que o planeta Terra girava ao redor do Sol (heliocentrismo).

106
A mesma sorte não teve o cientista italiano Giordano Bruno que foi
julgado e condenado a morte pelo tribunal.

A outra instituição foi a Companhia de Jesus. As actividades da


Companhia de Jesus eram numerosas e variadas. Em primeiro lugar
e, antes de mais nada, concebiam-se a si mesmos como defensores
da verdadeira religião. Com esse objectivo em vista, obtiveram do
papa a autorização para padres seculares, a fim de ter acesso ao
púlpito e pregar a verdade como oráculos de Deus.

Em todo o seu trabalho seguiam, como guia infalível, a orientação


da Santa Madre Igreja. Não levantavam dúvidas nem tentavam
resolver mistérios. Loyola ensinava que, se a igreja decidisse que o
branco era preto, o dever de seus filhos era acreditar. Os jesuítas,
porém, não se limitavam a defender a fé contra os ataques de
protestantes e heréticos; ansiavam por propagá-la até os mais
longínquos recantos do globo, por tornar católicos os budistas, os
muçulmanos e os parses da Índia, e até mesmo “os selvagens
incultos” dos continentes recém-descobertos (África). Outra
actividade importante dos soldados de Loyola foi a educação.
Fundaram, aos milhares, colégios e seminários na Europa e na
América e insinuaram-se também em instituições mais antigas.
Durante séculos tiveram o monopólio da educação na Espanha e um
quase monopólio na França. O fato de a igreja católica ter recuperado
muito de sua força a despeito da secessão protestante deveu-se, em
grande parte, às actividades múltiplas e dinâmicas dos jesuítas.

A companhia de Jesus foi, sem comparação, a mais batalhadora das


ordens religiosas católicas inspiradas pelo zelo espiritual do século
XVI. Não era uma simples sociedade monástica, mas um regimento
de soldados que havia jurado defender a fé. A organização era
moldada pelo padrão de uma companhia militar, com um general no
posto de comandante em- chefe e uma disciplina férrea imposta aos
membros. Toda individualidade era suprimida e de cada um e de
todos exigia-se uma obediência de soldados ao general.

107
Resumo da lição
A reforma católica ou contra-reforma foi um movimento levado a
cabo pela igreja católica como forma de reagir aos ataques dos
protestantes. Em termos práticos, foram usados três principais
instrumentos para fazer a contra-reforma: os concílios, o index e a
inquisição.

Auto-avaliação
1. A contínua expansão do protestantismo por toda a Europa
colocou a Igreja Católica numa situação crítica. Impunha-se
uma reforma para moralizar o clero e, ao mesmo tempo,
desencadear o combate às novas religiões, classificadas como
heresias. A Igreja não só se armou contra o protestantismo,
como também reformou-se internamente.
a. Identifique os países da Europa Ocidental que até finais do
século XVI não tinham sido atingidos pelo protestantismo.
b. A Igreja não só se armou contra o protestantismo, como
também se reformou internamente. Indique os meios usados
pela igreja para tal feito.
c. Descreva a relação entre o índex e a inquisição.
d. Explique por que razão os jesuítas foram considerados braço
direito do colonialismo.

108
Comentários da auto – avaliação
No século XVI o protestantismo estava tão difundido na Europa
ocidental, exceptuando os países da Peninsula Ibérica. Por isso na
pergunta 1.a) se você respondeu Portugal e Espanha, parabéns,
essa é a resposta certa. Para responder à pergunta 1.b) deve ter em
conta que todas as reuniões (concílios) realizadas de 1544 a 1563
visavam rever algumas normas dentro da própria igreja católica
com o objectivo de criar um catolicismo renovado.

No que diz respeito às perguntas 1.c) e 1.d) você deve voltar a ler
o ponto 12.2 desta lição se duvidar da sua resposta pode compará-
la à dos seus colegas. Se a dúvida persistir consulte a bibliografia
indicada nas leituras complementares.

Leituras Complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

109
Lição n° 13
As consequências da Reforma religiosa

Introdução
A Reforma Religiosa foi sempre entendida como um movimento
religioso de contestação ao poder da Igreja Católica. Mas as suas
consequências não foram apenas no contexto religioso como
também atingiram outros sectores.

Nesta lição, a última da unidade, aborda-se o efeito da reforma


religiosa integrando também a contra-reforma católica. Estudando
esta lição, você ficará a saber das consequências desta reforma que
mudaram completamente o mundo, desde o século XVI até a
actualidade.

Bom proveito!

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar as consequências da reforma religiosa do século


XVI,
 Agrupar as consequências da reforma religiosa em sociais,
políticas e económicas.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 8 Horas

Tempo

110
Consequências da reforma religiosa do século XVI

Para BURNS (1941: 594), o resultado mais flagrante da Reforma foi


a divisão da cristandade ocidental numa multidão de seitas hostis. Já
não havia, como na Idade Média; um único rebanho e um único
pastor para toda a Europa latina. O norte da Alemanha e os países
escandinavos tinham-se tornado luteranos; a Inglaterra adoptara um
protestantismo próprio, de meio-termo, ao passo que na Escócia,
Holanda e Suíça francesa triunfava o calvinismo. Do vasto domínio
que outrora prestara obediência ao Vigário de Cristo, restavam
somente a Itália, a Áustria, a França, a Espanha e Portugal, a
Alemanha do sul, a Polônia e a Irlanda; e mesmo em alguns desses
países, agressivas minorias protestantes constituíam um vexame
constante para a maioria católica. Por estranho que pareça, essa
fragmentação do cristianismo em facções rivais acabou trazendo
consideráveis benefícios à humanidade.

A reforma contribuiu, com o tempo, para refrear a tirania


eclesiástica, promovendo desse modo a liberdade religiosa. À
medida que as seitas proliferavam em diversos países, foi-se
percebendo, aos poucos, que nenhuma delas poderia tornar-se
bastante forte para impor a sua vontade às demais. Fez-se sentir a
necessidade da tolerância mútua para que todas pudessem
sobreviver. Certamente não foi esse o único factor do progresso da
tolerância religiosa, mas não é possível negar-lhe a importância. Se
a Reforma teve outros resultados benéficos, consistem sem dúvida
no impulso adicional dado ao individualismo, na fragilidade parcial
do dogmatismo e da superstição e no progresso da instrução popular.

Um segundo efeito benéfico da Reforma foi o incremento dado à


educação das massas. O renascimento, com o seu interesse
absorvente pelos clássicos, tivera o infeliz resultado de perturbar o
currículo das escolas, dando exagerada importância ao grego e ao
latim, e restringindo a educação à aristocracia. Os luteranos, os

111
calvinistas e os jesuítas mudaram tudo isso. Desejosos de propagar
as suas respectivas doutrinas, fundaram escolas para as massas, nas
quais até o filho do sapateiro ou do camponês podia aprender a ler a
Bíblia e os opúsculos teológicos. Estudos práticos foram muitas
vezes introduzidos em lugar do grego e do latim, e é significativo
que algumas dessas escolas tenham por fim aberto suas portas à nova
ciência.

Mas é impossível qualificar de benéficos todos os efeitos da reforma.


A Reforma Protestante resgatou as verdades fundamentais da
doutrina cristã: Que a Bíblia é a única fonte de autoridade de fé e
conduta para os filhos de Deus aqui na Terra; que Jesus Cristo é o
único e exclusivo mediador entre Deus e os seres humanos; que a
salvação da alma do pecador somente é obtida pela graça, por meio
da fé; que apenas Deus deve ser adorado e glorificado. Naquela
época apenas os padres, bispos, Papas e teólogos tinham acesso a um
exemplar das Escrituras Sagradas, pois afirmavam e ensinavam que
só a eles era dado o entendimento dos textos bíblicos. Com a
Reforma, elas foram reproduzidas em grande escala e distribuídas
para todos aqueles que desejavam ter um exemplar. Com a leitura e
o ensino da Bíblia, as pessoas descobriram que elas mesmas podiam,
a qualquer tempo, ter acesso a Deus, através do único mediador que
é Cristo Jesus. Também descobriram que o perdão e a salvação não
dependem de penitências, indulgências, esmolas, jejuns ou qualquer
outra obra humana, mas somente da obra redentora de Cristo
realizada na cruz do calvário. Ainda, descobriram que a consciência
humana deve obediência apenas a Deus, e não a determinada
denominação ou líder religioso. E por fim, descobriram que Deus
não elege uma pessoa para ser seu representante aqui na Terra, mas
que todo aquele que pela fé crê em Deus é um sacerdote de
propriedade exclusiva de Deus, com a missão de proclamar as
virtudes Daquele que chama o pecador das trevas da perdição para a
maravilhosa luz do evangelho.

112
Resumo da lição
Traduzidas de uma forma resumida as consequências foram:
 Diminuição da influência e do poder da Igreja Católica na
Europa;
 Surgimento de novas igrejas cristãs como, por exemplo, Igreja
Anglicana, Igreja Luterana e Igreja Calvinista;
 Diminuição da interferência da Igreja Católica no poder político
dos monarcas;
 Fortalecimento dos princípios sociais e econômicos da
burguesia, que passaram a ser sustentados pela aprovação do
lucro (doutrina calvinista);
 Tradução da Bíblia para outros idiomas, desta forma, mais
pessoas passaram a ter acesso à leitura da Bíblia;
 Surgimento de conflitos sociais de ordem religiosa, além de
perseguições pelo mesmo motivo.

Auto-avaliação
1. A reforma religiosa foi de longe uma revolta contra a igreja
católica, mas as suas consequências afectaram também o
ambiente político.
a) Comente a afirmação.
b) Descreva as consequências da reforma protestante do
século XVI.

113
Comentários da auto – avaliação
As consequências da reforma protestante foram resumidamente
descritas na lição 13. Para responder às perguntas 1.a) e 1.b) é só
voltar a ler o texto da lição e comparar as suas respostas às dos seus
colegas. Pode consultar também a bibliografia apresentada nas
leituras complementares.

Leituras Complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

Respostas às perguntas da unidade


Para ajudar-lhe a avaliar a qualidade das suas respostas, ao longo
das lições desta unidade, apresento a seguir alguns comentários às

114
perguntas. Seleccionei as questões onde achei que você poderia ter
dificuldade em responder. Se existir uma pergunta onde você
sentiu dificuldade em responder e não consta desta lista, por favor
releia o texto e a bibliografia recomendada na lição a que
corresponde a pergunta e compara as suas respostas às dos seus
colegas.

Licão 8

2.b) Muitos dos clérigos romanos eram incrivelmente ignorantes.


Alguns, tendo obtido a posição por meios irregulares, não eram
capazes de entender o latim da missa que deviam celebrar. Havia até
casos de padres que não sabiam recitar o pai-nosso em língua
alguma.

Licão 10

1.a) Era até mesmo favorável à pena de morte para quem não fosse
adepto de sua religião. Uma das mais famosas vítimas foi o médico
espanhol Miguel de Servet que, tendo escapado da Inquisição
católica, foi julgado, condenado e queimado vivo em Genebra.

Licão 11

1.b) Em 1531 convocou uma assembléia do clero e, sob a ameaça de


puní-los caso se submetessem ao legado pontifício, induziu-os a
reconhecê-lo como chefe da igreja inglesa “tanto quanto o permite a
lei de Cristo". Aboliu todos os pagamentos de rendas ao Papa e
proclamou a igreja anglicana uma unidade nacional independente,
submetida à autoridade exclusiva do rei. Apoderou-se dos bens da
igreja, fechou os conventos e editou o Ato de Supremacia, em 1534,
pelo qual se nomeava chefe da Igreja na Inglaterra.

115
Licão 12

1.c) O índex, como o próprio nome sugere, é uma espécie de uma


lista de livros cuja sua leitura era considerada perigosa para fé,
portanto proibida. Quem fosse encontrado a ler um dos livros
contidos na lista era levado para o julgamento na inquisição.

1.d) Os jesuítas não se limitavam a defender a fé contra os ataques


de protestantes e heréticos; ansiavam por propagá-la até os mais
longínquos recantos do globo, por tornar católicos os budistas, os
muçulmanos e os párias da Índia, e até mesmo “os selvagens
incultos” dos continentes recém-descobertos (África).

Licão 13

1.a) Contribuiu, com o tempo, para refrear a tirania eclesiástica,


promovendo desse modo a liberdade religiosa e um segundo efeito
benéfico da Reforma foi o incremento dado à educação das massas.

116
Conteúdos
Revolução
Industrial

UNIDADE
Lição n° 14 119

4
Revolução industrial – Contextualização ............ 119
Conceito e características da Revolução
Industrial ............................................................ 120
Causas da Revolução industrial ................ 122

Lição n° 15 127
Revolução Industrial na Inglaterra ....................... 127
A Inglaterra: o berço da Revolução
Industrial ............................................................ 129

Lição n° 16 133
A Revolução Industrial como arranque
económico triunfal da sociedade capitalista ....133
A Revolução Industrial e a sociedade
capitalista .......................................................... 134
O triunfo da sociedade capitalista ...........136

Pág. 118 - 139

Unidade 4: Revolução Industrial

117
Introdução
Bem-vindo, prezado estudante, a quarta unidade temática!

Até meados do século XVIII, a maioria da população europeia vivia


no campo e produzia o que consumia. De maneira artesanal o
produtor dominava todo o processo produtivo. Na Idade Moderna
tudo mudou. Emergiu uma nova classe, ávida por maiores lucros,
menores custos e produção acelerada, que buscou alternativas para
melhorar a produção de mercadorias. Foi a partir desses esforços que
houve a mecanização dos sistemas de produção como principal
característica da Revolucao industrial. Portanto, a Revolução
industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa
nos séculos XVIII e XIX, substituindo, sobretudo, o trabalho
artesanal pelo trabalho assalariado e com o uso das máquinas.

Os conteúdos sobre a Revolução industrial serão retomados na


disciplina de História Moderna e Contemporânea da Europa e
América. Por isso, nesta unidade, entre muitos assuntos, aborda-se
as causas, as características, a expansão, as principais invenções
técnicas e as relações de trabalho entre as classes envolvidas.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Definir o conceito de Revolução industrial;
 Identificar as causas da Revolução industrial;
 Descrever os factores que permitiram a Inglaterra o
pioneirismo na Revolução Industrial;
 Descrever as principais fases da Revolução Industrial;
 Caracterizar a Revolução Industrial;
 Descrever as rotas de expansão da revolução industrial.

118
Lição n° 14
Revolução industrial – Contextualização

Introdução
Vários elementos marcaram o contexto do surgimento da revolução
industrial, desde naturais até sócio tecnológicos. Esta lição procura
desenvolver alguns aspectos que marcaram a era da emergência da
revolução, bem como as principais causas.

Estudando esta lição, você poderá perceber por que razão a


revolução arrancou em primeiro lugar em alguns países da Europa e
não em todos países deste continente.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Definir o conceito de Revolução Industrial;


 Descrever o contexto político e socioeconómico em que
eclodiu a Revolução industrial;
 Caracterizar a Revolução Industrial;
Objectivos
 Indicar as causas da Revolução Industrial.

Tempo de estudo da lição: 7 Horas

Tempo

119
A revolução industrial foi um fenómeno europeu marcado por
invenções técnicas nuca vistas antes.
1. Assinale com X a opção correcta.
Actividade 4 Antes da revolução industrial houve invenções técnicas, isto é,
durante a revolução comercial constituídas por:
a) Motor a vapor, vacinas, adubos e linha férrea ___.
b) Relógio de pêndulo, termómetro, bomba aspirante, roda
de fiar, tear e fundição de minérios ___.
c) Debulhadora, semeadora, tear mecânico e motor a
vapor__.

A invenção do motor de combustão interna que permitiu a invenção do


motor a vapor é um invento que marca o arranque da revolução
industrial. Por isso se você escolheu a opção b), parabéns, a sua resposta

Comentário da actividade 4 esta correcta!

Conceito e características da Revolução Industrial


A Revolução Industrial designa um processo de profundas
transformações económico-sociais que se iniciou principalmente na
Inglaterra em meados do século XVIII, caracterizado pela passagem
da manufactura à indústria mecânica. A introdução de máquinas
fabris multiplicou o rendimento do trabalho e aumentou a produção
global.

Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma


evolução tecnológica, econômica e social que se vinha processando
na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a
Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da
Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos
países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral,

120
mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos
países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.

Pode-se dizer que a Revolução Industrial compreendeu: 1) a


mecanização da indústria e da agricultura; 2) a aplicação da força
motriz à indústria; 3) o desenvolvimento do sistema fabril; 4) um
sensacional aceleramento dos transportes e das comunicações; e 5)
um considerável acréscimo do controlo capitalista sobre quase todos
os ramos de actividade económica. A velha Europa agrária foi se
tornando uma região com cidades populosas e industrializadas. Com
tempo, a Revolução Industrial influenciou profundamente a vida de
milhões de pessoas em todas as regiões do planeta.

Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e


manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de
algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de
artesãos podiam organizar-se e dividir algumas etapas do processo,
mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo,
desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto
final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos
próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se
não todas) etapas do processo produtivo.

Com a Revolução Industrial, os trabalhadores perderam o controlo


do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um
patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse
da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores
passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios
de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho
realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.

121
Causas da Revolução industrial
A Revolução Industrial nasceu duma multiplicidade de causas,
algumas das quais são mais antigas do que habitualmente se pensa.
Talvez convenha considerar, em primeiro lugar, os
aperfeiçoamentos iniciais da técnica. As maravilhosas invenções dos
fins do século XVIII não nasceram já completas, como Minerva da
testa de Júpiter. Pelo contrário, já desde
algum tempo havia um interesse mais ou menos fecundo pelas
inovações mecânicas. O período da Revolução Comercial assistira à
invenção do relógio de pêndulo, do termómetro, da bomba
aspirante, da roda de fiar e do tear para tecer meias, sem falar dos
melhoramentos introduzidos na técnica de fundir minérios e na
obtenção do bronze. Mais ou menos em 1580 foi inventado um tear
mecânico que fazia fitas, sendo capaz de coordenar vários fios ao
mesmo tempo. Houve também importantes progressos técnicos em
outras indústrias, como a de vidraria, relojoaria, aparelhamento de
madeira e construção naval. Várias dessas primeiras invenções
tornavam necessária a adopção de métodos fabris.

Entre outras causas de primeira importância, contam-se algumas


consequências mais directas da Revolução Comercial. Esse
movimento provocara o surto de uma classe de capitalistas que
procuravam constantemente novas oportunidades de investimento
para o seu excesso de riqueza. A princípio essa riqueza podia ser
facilmente absorvida pelo comércio, pelos empreendimentos de
mineração, pelas especulações bancárias ou pelas construções
navais, mas com o correr do tempo as oportunidades em tais campos
se tornaram bastante limitadas. Em consequência, havia uma
disponibilidade crescente de capitais para o desenvolvimento da
manufactura. Mas dificilmente teria ocorrido um desenvolvimento
rápido se não houvesse uma procura cada vez maior de produtos
industriais. Tal procura deveu-se, em grande parte, à fundação de

122
impérios coloniais e ao acentuado crescimento da população
europeia. Na Inglaterra, o número de habitantes subiu de quatro
milhões em 1600 a seis milhões em 1700 e a nove milhões no fim do
século XVIII. A população da França elevou-se de 17.000.000 em
1700 a 26.000.000 cerca de cem anos mais tarde. Até que ponto esse
aumento foi um efeito dos progressos da medicina no século XVIII
e em que medida se deveu à maior abundância de alimentos
decorrente da expansão do comércio? É uma questão discutível, mas
a influência do segundo destes factores não pode ser desprezada.
Finalmente, a Revolução Comercial estimulou o crescimento das
manufacturas graças à sua doutrina básica do mercantilismo. A
política mercantilista visava, entre outras coisas, aumentar a
quantidade de artigos manufacturados disponíveis para a exportação
a fim de garantir uma balança de comércio favorável.

Portanto, a Revolução Comercial teve grande importância em


preparar o caminho para a Revolução Industrial na Europa. Isso se
deu por várias razões:

 A Revolução Comercial criou uma classe de capitalistas que


constantemente procuravam novas oportunidades para
empregar os seus lucros excedentes;
 A política mercantilista, com a importância que atribuía à
protecção das indústrias incipientes e à produção de
mercadorias para exportação, deu um poderoso estímulo ao
desenvolvimento das manufacturas;
 A fundação dos impérios coloniais inundou a Europa de novas
matérias-primas e aumentou muitíssimo o suprimento de certos
produtos até então considerados como de luxo. A maior parte
deles precisava ser manufacturada antes de passar ao
consumidor. Em consequência, surgiram novas indústrias
completamente livres de qualquer regulamentação corporativa
que porventura ainda subsistisse. O exemplo mais frisante foi a
manufactura de tecidos de algodão, e é ainda bastante
significativo ter sido ela a primeira indústria a se mecanizar.

123
 Por último, a Revolução Comercial caracterizou-se pela
tendência de adoptar os métodos fabris em certos ramos de
produção, a par de aperfeiçoamentos técnicos tais como a
invenção da roda de fiar, a do tear de fazer meia e o
descobrimento de um processo mais eficiente para reduzir
minérios. Não é difícil perceber a conexão entre tais fatos e os
progressos mecânicos da Revolução Industrial.

Resumo da lição
Na lição que agora termina abordou-se o conceito e causas da
revolução. Entre as causas da revolução industrial, maior destaque
foi para a revolução comercial porque: permitiu a aplicação dos
lucros excedentários, estimulou o desenvolvimento das
manufacturas e impulsionou as invenções técnicas.

Auto-avaliação
1. O momento de passagem que marca o ponto culminante de
uma evolução tecnológica, econômica e social, vinha se
processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com
ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha
conseguido destronar a influência da Igreja Católica. Nos
países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu,
em geral, mais tarde.

a) Nomeie os paises fieis ao catolicismo no século XVI.


b) Defina o conceito de Revolução Industrial.
c) Identifique os principais elementos que marcaram a
Revolução Industrial.
d) Descreva as causas da Revolução Industrial.

124
Comentários da auto – avaliação
Para responder à pergunta 1.a) lembre-se, primeiro, da resposta da
pergunta 1.a) na lição 12. Para responder à pergunta 1.b) releia o
primeiro parágrafo do ponto 14.1.

Os principais elementos que marcaram a revolução industrial estão


descritos no terceiro parágrafo do ponto 14.1, por isso, para
responder à pergunta 1.c) você deverá reler esse parágrafo.
Finalmente, para responder a pergunta 1.d) releia o ponto 14.2.

Leituras Complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

ASHTON, T.S. A Revolução Industrial: 1760-1830. Lisboa,


Publicações Europa-América, 1977.

KEMP, Tom. A Revolução Industrial na Europa do século XIX.


Lisboa, Edições 70,1987.

CONTE, Giuliano. Da crise do feudalismo ao nascimento do


capitalismo. Lisboa, Presença, 1984.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

125
DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.
Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

126
Lição n° 15
Revolução Industrial na Inglaterra

Introdução
A Revolução Industrial teve o seu arranque na Inglaterra. Isso é do
domínio comum. Mas poucos sabem por que razão esta revolução
aconteceu na Inglaterra e não noutro país europeu. Que
peculiaridades apresentava a Inglaterra dos séculos XVII e XVIII?

Esta lição aborda as características físico-naturais e socio-


económicas da Inglaterra no século XVIII que ajudarão a você
perceber os factores que estiveram no arranque da Revolução da
Revolução Industrial naquele país.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Localizar geograficamente a Inglaterra;

 Descrever o contexto socio-económico da Inglaterra no


século XVIII;

Objectivos  Identificar as causas que estiveram na origem da


Revolução Industrial na Inglaterra.

Tempo de estudo da lição: 7 Horas

Tempo

127
1. Observe o mapa sobre a estrutura física da Grã-Bretanha
com maior destaque para a hidrografia.

Mapa 5: Mapa físico da Grã-Bretanha


Actividade

a) Caracterize a rede hidrográfica quanto à densidade.

b) Identifique alguns rios destacados no mapa.

Esta actividade tem por objectivo chamar atenção para algumas


condições naturais que ao longo da lição serão apontadas como
tendo sido determinantes para o arranque da revolução industrial.
Com uma costa bastante acidentada e numerosos rios, a Inglaterra
Comentário da actividade
gozava de uma posição privilegiada. Na pergunta 1.a) a rede
hidrográfica é densa, ou seja, existem muitos rios próximos uns dos
outros. No mapa podem identificar-se vários rios como por
exemplo: Avon, Medway, Exe, Thames, Trent, etc.

128
A Inglaterra: o berço da Revolução Industrial

A primeira nação a industrializar- se foi a Inglaterra. A Inglaterra é


uma das nações constituintes do Reino Unido. Historicamente
dominante, ocupa a metade sul da ilha da Grã-Bretanha, à excepção
de uma área a oeste, correspondente ao País de Gales. É limitada a
Norte com a Escócia, a Leste com o mar do Norte, a Sul com o canal
da Mancha e a Oeste com o oceano Atlântico, Gales e o mar da
Irlanda. O território da Inglaterra é, em sua maioria, composto por
pequenas colinas e planícies, especialmente no centro e no sul do
país. No entanto, existem planaltos no norte e no sudoeste. O país
também inclui mais de 100 ilhas menores, como as ilhas Scilly e a
Ilha de Wight.

O país, reunindo condições favoráveis, utilizou os capitais


acumulados durante a Revolução Comercial como investimentos no
sector de transformação. Os grandes proprietários também
colaboraram, pois ao cercarem suas terras (enclosures), inclusive as
comunais (de uso comum), arruinaram os pequenos proprietários; ao
substituírem a lavoura pela pecuária (criação de ovelhas) liberaram
mão-de-obra, cujo excedente deslocou-se para as cidades, e iriam se
constituir nos futuros trabalhadores fabris. Por outro lado, devido ao
crescimento populacional em escala mundial, houve um aumento da
procura de mercadorias para atender às necessidades de consumo,
estimulando assim a produção e a produtividade. A solução foi a
invenção e o uso de máquinas, tanto na lavoura como nas
manufacturas. Certamente as invenções industriais não surgiram por
acaso, mas da necessidade de se aumentar a produção e diminuir os
custos, proporcionando maiores lucros ao empresário.

À primeira vista pode parecer estranho que o pequeno reino insular


não só se tenha tornado o líder industrial do mundo, mas que haja
conservado essa posição por mais de um século.

129
 Acumulação de capital – Depois da Revolução Gloriosa, a
burguesia inglesa se fortalece e permite que o país tenha a mais
importante zona livre de comércio da Europa. O sistema
financeiro é dos mais avançados. Esses factores favorecem a
acumulação de capitais e a expansão do comércio em escala
mundial.
 Controlo do campo – Cada vez mais fortalecida, a burguesia
passa a investir também no campo e cria os cercamentos (grandes
propriedades rurais). Novos métodos agrícolas permitem o
aumento da produtividade e racionalização do trabalho. Assim,
muitos camponeses deixam de ter trabalho no campo ou são
expulsos de suas terras. Vão buscar trabalho nas cidades e são
incorporados pela indústria nascente.
 Crescimento populacional – Os avanços da medicina preventiva
e sanitária e o controlo das epidemias favorecem o crescimento
demográfico. Aumenta assim a oferta de trabalhadores para a
indústria.
 Reservas de carvão – Além de possuir grandes reservas de
carvão, as jazidas inglesas estão situadas perto de portos
importantes, o que facilita o transporte e a instalação de
indústrias baseadas em carvão. Nessa época, a maioria dos países
europeus usa madeira e carvão vegetal como combustíveis. As
comunicações e comércio internos são facilitados pela instalação
de redes de estradas e de canais navegáveis. Em 1848 a Inglaterra
possui 8 mil km de ferrovias.
 Situação geográfica – A localização da Inglaterra, na parte
ocidental da Europa, facilita o acesso às mais importantes rotas
de comércio internacional e permite conquistar mercados
ultramarinos. O país possui muitos portos e intenso comércio
costeiro.

Notável foi também a influência dos factores políticos e sociais na


origem da Revolução Industrial inglesa porque, embora o governo

130
britânico estivesse longe de ser democrático, era pelo menos mais
liberal do que a maioria dos governos continentais. Antes da
liberalização econômica, as atividades industriais e comerciais
estavam caractelizadas pelo rígido sistema de guildas, razão pela
qual a entrada de novos competidores e a inovação tecnológica eram
muito limitados. Com a liberalização da indústria e do comércio
ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento da
produtividade em um curto espaço de tempo.

Resumo da lição
Nesta lição abordou-se em torno dos factores que permitiram a
Inglaterra ser a pioneira da Revolução Industrial. Neste sentido
foram apontados factores humanos e físico-naturais. Mas também
foi notável a influência dos factores políticos e sociais na origem da
Revolução Industrial inglesa porque, embora o governo britânico
estivesse longe de ser democrático, era pelo menos o mais liberal
do que a maioria dos governos continentais.

Auto-avaliação
1. A Inglaterra é considerada o berço da Revolução
Industrial.
a) Faça a localização geográfica da Inglaterra.
b) Descreva os factores que permitiram à Inglaterra o
pioneirismo da Revolução Industrial.

131
Comentários da auto – avaliação
Para responder à pergunta 1.a), você deve reler o primeiro parágrafo
do subtópico 15.1 desta lição. A resposta da pergunta 1.b), você
encontrará a partir do segundo parágrafo do subtópico 15.1. Se
duvidar da sua resposta, compare-a às dos seus colegas.

Leituras Complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

ASHTON, T.S. A Revolução Industrial: 1760-1830. Lisboa,


Publicações Europa-América, 1977.

KEMP, Tom. A Revolução Industrial na Europa do século XIX.


Lisboa, Edições 70,1987.

CONTE, Giuliano. Da crise do feudalismo ao nascimento do


capitalismo. Lisboa, Presença, 1984.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.II, Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

132
Lição n° 16
A Revolução Industrial como arranque económico
triunfal da sociedade capitalista

Introdução
A Revolução Industrial trouxe o afluxo para as cidades grandes e
pequenas, os crescentes atractivos da vida urbana e o constante
declínio da procura de braços para a agricultura, em consequência da
mecanização da lavoura. Isso teve tanto bons como maus efeitos. A
fuga ao solo libertou grande número de homens e mulheres do
isolamento da vida rural, da tirania do tempo atmosférico, dos
costumes primitivos e de uma cansativa existência de trabalho
solitário em terras pesadas. Mas, ao mesmo tempo, transformou
muitos deles em instrumentos dos seus empregadores capitalistas.

Nesta lição aborda-se o papel da Revolução Industrial para o


arranque do modo de produção capitalista bem como de novas
relações sociais que caracterizaram a sociedade capitalista.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever as transformações operadas da sociedade feudal


para a sociedade capitalista;
 Caracterizar a sociedade capitalista;
 Identificar as principais classes da sociedade capitalista.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

133
Complete as frases que se seguem, marcando com “X” na opção
correcta.

A revolução industrial inaugura uma nova época e modo de produção


Actividade
que se designa por capitalismo. A sociedade capitalista caracteriza-se
por:
a) Relações de produção estabelecidas entre servo e senhor
feudal _____
b) Acumulação primitiva de capital _____
c) Maior utilização da força humana em substituição de
máquinas ____
d) Existência de duas classes principais: a burguesia capitalista e
o proletariado ___
e) Maior fluxo da informação.________

O modo de produção capitalista alterou profundamente a sociedade,


alterando o modo de vida que caracterizou o período feudal. Por isso,
na sua resposta deve ter em conta estes aspectos. Se tiver dúvida na
Comentário da actividade sua resposta, não desanime, poderá satisfazer-se ao longo desta lição.

A Revolução Industrial e a sociedade capitalista

A Revolução Industrial vai além da ideia de grande desenvolvimento


dos mecanismos tecnológicos aplicados à produção, na medida em
que: consolidou o capitalismo; aumentou de forma rapidíssima a
produtividade do trabalho; originou novos comportamentos sociais,
novas formas de acumulação de capital, novos modelos políticos e
uma nova visão do mundo; e talvez o mais importante, contribuiu de
maneira decisiva para dividir a imensa maioria das sociedades
humanas em duas classes sociais opostas e antagónicas: a burguesia
capitalista e o proletariado.

134
A primeira, composta por proprietários de fábricas, minas e estradas
de ferro, formou-se ao lado da antiga classe média de comerciantes,
banqueiros e advogados. Com o seu número e a sua influência assim
fortalecidos, essa burguesia mista logo deixou de ser uma classe
média e tornou-se, para todos os fins, o elemento dirigente da
sociedade. A hegemonia da classe burguesa foi-se acentuando, pois
meios financeiros ganharam extraordinária importância. O comércio
e a indústria necessitavam de créditos para dinamizar suas
economias. Os bancos financiavam os empreendimentos, criando
uma dependência das indústrias, do comércio e até mesmo dos
governos. Os financistas se transformavam na aristocracia burguesa.
Iniciava-se a era do “capitalismo financeiro”, ainda hoje dominante.

A segunda classe é a do proletariado que se tornou suficientemente


forte, com o tempo, para desafiar a supremacia burguesa. Em certo
sentido, o proletariado existe desde a aurora da civilização, uma vez
que o termo inclui todos os indivíduos que dependem de um salário
para ganhar a vida. O proletário é um trabalhador que presta serviços
em jornadas que variam de 14 a 16 horas, não tem oportunidades de
desenvolvimento intelectual, habita em condições sub-humanas, em
geral, nas adjacências do próprio local da actividade. Regista-se no
proletário uma instabilidade psicológica. É um desajustado, sem
património, sem casa, sem cidade, às vezes longe da Pátria. É
dependente e passivo. São outras pessoas que dizem e escolhem o
lugar em que vai ocupar. Essas condições geraram protestos dos
trabalhadores, mas como a lei inglesa proibia greves e associações
operárias, a polícia reprimia-os com violência. Fábricas foram
destruídas pelos artesãos que temiam as concorrências, porém
inutilmente. O agravamento dos problemas socioeconómicos com o
desemprego e a fome foram acompanhados de outros problemas,
como a prostituição e o alcoolismo.

135
O triunfo da sociedade capitalista
A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida
do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso
deslocamento da população rural para as cidades. Vivendo em
condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a
salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a classe operária
nascente era facilmente explorada, devido também, à inexistência de
leis trabalhistas e enormes concentrações urbanas. As consequências
mais graves foram de ordem social, ou seja, a transição para a nova
economia criou miséria e descontentamento, isto é, os ingredientes
para a revolução social. E na verdade, a revolução social eclodiu sob
a forma de sublevações espontâneas dos explorados urbanos e da
indústria.

A falta de protecção à saúde, à vida e às condições de trabalho


continuaram a ser um marco para a sociedade com o
desenvolvimento da indústria que despontou com a Revolução
Industrial, por volta de 1750, época em que surgiram as primeiras
máquinas. O exercício de uma actividade de trabalho rompia com os
elementos vitais da pessoa humana. O trabalhador custava muito
pouco, sendo fácil a sua substituição. A saúde e vida não eram bens
tutelados, o homem trabalhava submetido a condições de trabalho
que desrespeitavam a dignidade humana.

A Revolução Industrial acabou transformando o trabalho em


emprego. Os trabalhadores de maneira geral passaram a trabalhar por
salários. Com a mudança houve uma nova cultura a ser aprendida e
uma antiga a ser desconsiderada. No período da Antiguidade e da
Idade Média, não existia uma relação de emprego e sim de
escravidão e servidão, porém, com o advento da Revolução
Industrial as pessoas ofereciam seu trabalho como moeda de troca.

Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o


desenvolvimento urbano com a separação, de um lado, do capital e

136
meios de produção de outro, o trabalho. Os próprios valores da
sociedade modificaram-se brutalmente: o tempo passou a ser controlado
pelo relógio (para que os industriais mantivessem o controlo sobre a
produção), tendência que teve como resultado o estabelecimento da
pontualidade como condição à sociabilidade; o fluxo de informações
passou a ser mais rápido – a imprensa estruturou-se nessa época; a razão e
a técnica impuseram o controlo da natureza; o trabalho tornou-se repetitivo
e forçado. Os novos costumes urbanos começaram a preponderar sobre as
formas tradicionais de relacionamento entre indivíduos, e o campo, apesar
de estar em processo de modernização económica, adquiriu a condição de
local retrógrado e conservador, do qual os jovens desejavam afastar-se
(tendência que acelerou o êxodo rural.

Resumo da lição
Esta lição centrou-se no papel da Revolução Industrial para o
triunfo da sociedade capitalista. Neste sentido constatou-se que a
Revolução Industrial alterou profundamente o modo de vida feudal
ao introduzir a tirania do relógio, ao transformar o trabalho em
emprego e, sobretudo, ao mecanizar economia reduzindo a
necessidade da força humana no processo de produção.

Auto-avaliação
1. Com a Revolução Industrial, a fuga ao solo libertou grande
número de homens e mulheres do isolamento da vida rural,
da tirania do tempo atmosférico, dos costumes primitivos e
de uma cansativa existência de trabalho solitário em terras
pesadas. Mas, também lhes submeteu a outras condições
adversas.
a) Comente a afirmação.

137
b) Descreva as principais classes que passaram a compor
a sociedade capitalista.
c) Por que razão podemos afirmar que a revolução
industrial foi além da evolução tecnológica?
d) Descreva os elementos que marcaram o triunfo da
sociedade capitalista.

Comentários da auto – avaliação


As perguntas colocadas na auto – avaliação tem por finalidade
demonstrar o contraste entre o modo de produção inaugurado pela
Revolução Industrial e os modos de produção anteriores. Para
responder às perguntas 1.a), 1.b) e 1.c) releia do primeiro ao
terceiro parágrafos do subtópico 16.1. Para responder à pergunta
1.d) releia o subtópico 16.2.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

ASHTON, T.S. A Revolução Industrial: 1760-1830. Lisboa,


Publicações Europa-América, 1977.

KEMP, Tom. A Revolução Industrial na Europa do século XIX.


Lisboa, Edições 70,1987.

CONTE, Giuliano. Da crise do feudalismo ao nascimento do


capitalismo. Lisboa, Presença, 1984.

138
BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do
Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

ELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

139
Conteúdos
Revoluções
Burguesas na
Europa e América

UNIDADE
Lição n° 17 143

5
Revolução Inglesa/Gloriosa no século XVII ....... 143
Causas e decurso da revolução................ 144

Lição n° 18 148
Revolução Americana................................................. 148
A formação das colónias .............................150
O processo de independência nos EUA ... 151

Lição n° 19 156
A Revolução Francesa: como arranque da idade
contemporânea.............................................................156
As causas da Revolução Francesa...........158
A convocação dos Estados Gerais e início
da revolução .....................................................160

Pág. 142 - 164

Unidade 5: Revoluções Burguesas na Europa e América

141
Introdução
Ao longo dos séculos XVII e XVIII a burguesia demonstrou-se como uma
classe social revolucionária, destruindo a ordem feudal, consolidando o
capitalismo e transformando o Estado para atender a seus interesses.

Nesta unidade abordam-se as Revoluções Burguesas entendidas como


sendo o processo histórico que consolidou o poder económico da burguesia,
bem como sua ascensão ao poder político. Nessa passagem histórica, o
poder é legitimado não mais pela terra e pelos títulos herdados, como o era,
durante o Antigo Regime, mas pela acumulação de capital. Tal acumulação
ocorreu desde a Revolução Comercial, e intensificou-se a partir do
desenvolvimento do capitalismo industrial.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Localizar no tempo e no espaço as principais revoluções
burguesas na Europa;
 Descrever as principais causas das revoluções;
 Identificar o significado histórico de cada revolução.

142
Lição n° 17
Revolução Inglesa/Gloriosa no século XVII

Introdução
A Inglaterra foi o primeiro país a promover uma revolução burguesa. No
início do século XVII, a burguesia opôs-se aos reis da dinastia Stuart devido
à tentativa de legitimação do absolutismo real, as perseguições religiosas e
ao controlo da economia. O reinado de Carlos I (1625-49) foi de forte
perseguição aos puritanos e concentração do poder real. Uma revolução que
tinha motivações de natureza política, económica e religiosa.

Nesta lição, você ficará a saber das principais causas, percurso e desfecho
da Revolução Gloriosa.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever as causas da Revolução burguesa inglesa de


1640 ou revolução Gloriosa;
 Caracterizar o ambiente político e religioso da Inglaterra
no século XVII;
Objectivos  Descrever as principais fases da revolução;
 Identificar os grupos envolvidas na revolução.

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

143
Causas e decurso da revolução

No início do século XVII, a Coroa inglesa decidiu aumentar os impostos


sobre a burguesia. O rei Carlos I, desesperado, convocou o Parlamento em
busca de apoio político e de aprovação de novas taxas e impostos. Mas seu
desejo foi negado. Houve dissolução do Parlamento que não se reunia com
regularidade, e a crise agravava-se.

Em 1640 ocorreu uma nova convocação. Iniciou-se, então, a reacção


parlamentar: dissolução dos tribunais reais, supressão dos tributos ilegais,
convocação obrigatória do Parlamento, pelo menos uma vez a cada três
anos. Porém, os políticos, a burguesia e a população de Londres recorreram
às armas, tendo início, em 1642, a guerra civil, com o Parlamento opondo-
se ao absolutismo real. De um lado, o exército real, constituído pelos
grandes proprietários de terras (cavaleiros) e seus mercenários,
maioritariamente anglicanos; e, de outro, a burguesia, os artesãos e os
camponeses, conhecidos como os “cabeças-redondas”, pela forma
arredondada do seu corte de cabelo. Seu comandante era Oliver Cromwell,
radical puritano. A guerra favorecia o Parlamento, por causa do apoio
financeiro da burguesia e pelas reformas militares introduzidas por
Cromwell.

Em situação difícil, o rei fugiu para a Escócia, em busca de apoio. Porém,


Carlos I foi preso e, posteriormente, entregue ao Parlamento inglês.
Julgado, condenado, foi decapitado. O poder era disputado pelo Parlamento
e pelo Exército. Cromwell, apoiando-se nos seus soldados, realizou um
grande expurgo no Parlamento, afastando os presbiterianos monarquistas
que temiam a radicalização das reformas propostas pelos puritanos. A
Câmara dos Lordes, uma das casas do Parlamento, foi dissolvida,
substituída por um conselho puritano.

Cromwell representava a burguesia inglesa e os interesses económicos


dessa classe. Em 1651, editou o Acto de Navegação e a riqueza da nação

144
se expandiu. Implantou uma ditadura pessoal com o apoio do exército e da
burguesia comercial. A república foi proclamada, e Cromwell recebeu o
título de Lorde Protetor da Inglaterra. A sua ditadura estimulou o
crescimento económico e dela se aproveitou. Sua morte, em 1658, reabriu
a luta pelo poder entre o Parlamento e o Exército.

O Parlamento, em 1660, decidiu reconduzir ao trono um Stuart, com a


condição de obedecer aos direitos parlamentares. Porém, Carlos II, filho de
Carlos I, decidiu enfrentar o Parlamento, optando pelo absolutismo.
Agravando a situação, o rei simpatizava com o catolicismo. O Parlamento
reagiu e aprovou uma lei que obrigava todos os funcionários reais a prestar
juramento ao anglicanismo, em 1679. Assim, um católico não poderia ser
soberano da Inglaterra. Em 1685, o rei morreu sem ter herdeiros directos.
O trono passou para seu irmão, o Duque de York, Jaime II, possivelmente
convertido ao catolicismo. Havia, portanto, o perigo da volta da influência
papal nos assuntos internos do país. Perante a impossibilidade de arranjo
entre a posição do rei e os interesses britânicos, iniciou-se o processo de
seu afastamento.

O Parlamento, reaberto em 1688, convocou Guilherme de Orange, príncipe


holandês protestante, casado com a filha do rei, Maria Stuart, para assumir
o trono. O novo rei jurou a Declaração de Direitos em 1689. Por esse
documento a autoridade real foi drasticamente reduzida, tornando-se o
Parlamento o verdadeiro governo do país. A chamada “Revolução
Gloriosa” fazia triunfar a monarquia parlamentar.

145
Resumo da lição
A revolução gloriosa na Inglaterra deu-se de 1640 a 1689
provocada por motivações económicas, políticas e religiosas.
Entre os vários resultados da revolução, maior destaque vai para
a instauração da monarquia constitucional/parlamentar que
conseguiu acabar com as tendências absolutistas das monarquias
inglesas.

Auto-avaliação
1. Revolução Gloriosa é a designação pela qual é conseguida
uma insurreição que se deu na Inglaterra no século XVII.

a) Descreva a causa imediata da Revolução.


b) Identifique os grupos envolvidos na guerra civil de
1640.
c) Descreva a influência da religião para a eclosão da
revolução.
d) Estabeleça a relação entre a lei de 1679 e a reforma
protestante.
e) Qual foi o significado histórico da revolução gloriosa?

Comentários da auto – avaliação


Havia vários problemas na Inglaterra do século XVII mas para que
houvesse revolta popular foi necessário o lançamento de novos
impostos. Por isso na pergunta 1.a) se você respondeu lançamento
de novo imposto, parabéns, esta é a resposta certa. A revolução
opôs dois grupos principais: De um lado, o exército real,
constituído pelos grandes proprietários de terras (cavaleiros) e seus

146
mercenários, maioritariamente anglicanos; e, de outro, a burguesia,
os artesãos e os camponeses, conhecidos como os “cabeças-
redondas”. Para responder à pergunta 1.e) leia o último parágrafo
do subtópico 17.1.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

DAHRENDORF, Ralf. Reflexões sobre a Revolução na Europa.


Rio de Janeiro, Zahar, 1991.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do


Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1941

ELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

RODRIGUES, Adriano Vasco. História Geral da Civilização;


civilização moderna e contemporânea. Porto, Porto Editora, s/d.

147
Lição n° 18
Revolução Americana

Introdução
A revolução americana foi levada a cabo pelos habitantes das treze
colónias. As colónias foram estabelecidas por colonos ingleses que
procuravam um lugar para viver. A maioria dos colonos fugiu para a
América do Norte para proteger-se da perseguição religiosa da rainha
Elizabeth, defensora do Anglicanismo. Portanto, a maioria desses ingleses
eram Puritanos (calvinistas) que acreditavam na teoria da predestinação que
pregava a poupança e o lucro.

Nesta lição, você ficará a conhecer as 13 colónias, as causas da revolução


americana bem como o seu significado histórico.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Nomear as 13 colónias inglesas da américa do Norte;

 Descrever as etapas da revolução americana;

 Explicar a importância histórica da Constituição americana


Objectivos de 1787;

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

148
Observe atentamente as figuras que se seguem:

Actividade

a) Quantas colónias aparecem no mapa?

b) Quantas faixas, no total tem a bandeira?

c) O que as duas figuras tem em comum?

149
Ao realizar esta actividade, você deve chegar a uma conclusão
interessante: o número de colónias deve ser igual ao de faixas na
bandeira. A explicação para esta coincidência encontrará ao longo da

Comentário da actividade lição.

A formação das colónias

Segundo SCHNEEBERGER (2006: 188), as Treze Colónias formaram-se


a partir do século XVII. Ao final do século XVIII, havia 680 mil habitantes
no norte, ou Nova Inglaterra (Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode
Island e Connecticut), 530 mil no centro (Pensilvânia, Nova York, Nova
Jersey, Delaware) e 980 mil no sul (Virgínia, Maryland, Carolina do Norte,
Carolina do Sul e Geórgia). No total, existiam mais de 2 milhões de
colonizadores em dois tipos de colónias: as de povoamento e as de
exploração.

Para muitos ingleses, a América significava libertar-se das perseguições


políticas e religiosas que sofriam na metrópole. Além disso, as enormes
áreas inexploradas, em princípio, “terra sem dono”, atraíam aqueles que
nada possuíam. Era a possibilidade de se tornarem proprietários, cidadãos
e obterem ascensão social.

Podem ser identificadas três áreas:

a) No Norte: Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e


Connecticut;b) No Centro: Pennsilvânia, New York, New Jersey e
Delaware; c) No Sul: Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do
Sul e Geórgia. As características específicas das colônias se acentuaram
com o passar dos tempos.

Nas colónias do Norte, de colonização mais espontânea, desenvolveram-se


a pequena e a média propriedades fundiárias, onde o trabalho era livre,
exercido pelos próprios proprietários.
Havia a chamada “servidão temporária” (indentured servants), imigrantes

150
que tinham sua passagem paga por um proprietário rural, sujeitos a um
contrato de trabalho, em geral com duração de sete anos. Cumprido o
contrato, obtinham a liberdade e procuravam um lote de terra, para se
tornarem proprietários. Com um clima semelhante ao da metrópole, não
tinham uma produção agrícola para exportar para a Inglaterra. Como não
tinham o que exportar, não podiam importar, genericamente. Por outro
lado, a produção de matérias-primas e a presença de artesãos propiciaram
um relativo desenvolvimento artesanal e manufactureiro no Norte,
atendendo às suas necessidades. Destacava-se também a sua construção
naval, em consequência da abundância de madeira.

No Sul, a colonização foi uma iniciativa da metrópole, que fundou os


primeiros núcleos coloniais. Por causa do clima subtropical, nele se
organizou uma produção agrário-exportadora, que o colocou na
dependência do comércio e do mercado metropolitanos, fornecendo
produtos tropicais, como o algodão e o tabaco. As importações supriam as
necessidades locais e provinham em geral da Inglaterra. A economia
exportadora condicionava a existência da grande unidade monocultora,
cujos proprietários formavam a aristocracia rural, que se beneficiava de
muita mão-de-obra escrava negra e poucos trabalhadores livres. Era uma
sociedade conservadora, aristocrática e escravocrata.

Merecem destaque os triângulos comerciais. Os produtos eram levados às


Antilhas pelos colonos e trocados por açúcar e melaço. Levados para as
colónias do Norte, eram transformados em rum, utilizado no escambo de
escravos na África que, por sua vez, eram vendidos nas Antilhas. Assim,
havia uma importante acumulação de capitais nas colónias do Norte.

O processo de independência nos EUA

Porém, após a “Guerra dos Sete Anos” (1756-1763), as relações


“metrópole-colônias” se alteraram radicalmente, levando à ruptura. A
situação agravou-se ainda mais por causa da influência de ideias iluministas

151
sobre a elite colonial. O político Thomas Paine notabilizou-se pela difusão
dessas ideias por meio de panfletos. Endividado pelas despesas da guerra,
o governo inglês decidiu fazer das colónias a solução de seus problemas
financeiros.

O Parlamento lançou mão de novos impostos, como a Lei do Selo e do


Açúcar. O açúcar importado de regiões não-pertencentes à Inglaterra
pagaria taxas. A Lei do Selo determinava que todos os documentos e
publicações tinham que ser selados, o que implicava na elevação dos
custos. Em 1765, os colonos enviaram uma petição ao parlamento,
solicitando a revogação das leis, pois as consideravam ilegais. O argumento
era consistente: eles não tinham representantes no Parlamento, não
participando, portanto, da votação dessas leis. Sob o lema “No taxation
without representation”, os colonos se rebelaram, negando-se a pagar os
novos impostos.

O governo metropolitano, estrategicamente, recuou, suspendendo a Lei do


Selo e diminuindo o imposto sobre o açúcar. Mas, como compensação,
determinou que os produtos importados teriam uma tarifa mais elevada. Os
colonos decidiram então boicotar os produtos importados da Inglaterra,
provocando uma semiparalisarão das operações comerciais, prejudicando
os mercadores ingleses.

Em 1773, o monopólio do comércio do chá foi entregue à Companhia das


Índias Orientais. A reacção dos colonos foi imediata. A carga que estava
em navios da companhia foi atirada ao mar, no episódio conhecido como
“Festa do Chá em Boston”. A Inglaterra não podia recuar sob pena de
desmoralização total. Assim, foram aplicadas novas determinações (Leis
Intoleráveis). O porto de Boston foi interditado e o governador de
Massachussetts obtinha poderes excepcionais para enfrentar a crise. Pela
Lei do Aquartelamento, os colonos arcariam com as despesas feitas com a
manutenção das tropas inglesas. Em 1775, representantes dos colonos se

152
reuniram na Filadélfia e liderados por Samuel Adams e Thomas Jefferson
repeliram as Leis Intoleráveis. Porém, a não renovação das Leis
Intoleráveis fez com que os representantes optassem pela separação.

Para SCHNEEBERGER (ibid :193), Thomas Jefferson redigiu a


Declaração da Independência, promulgada em 4 de Julho de 1776. Ela
proclamava o desejo de liberdade, busca da felicidade, igualdade e o direito
de rebelião contra o autoritarismo. Foram feitas violentas críticas ao rei
Jorge III, o símbolo do despotismo.

Iniciava-se a “Guerra da Independência”. George Washington foi nomeado


comandante das tropas americanas que, despreparadas, sem adestramento,
com pouca quantidade de armas e munições, sofreram inicialmente muitas
derrotas. Mas a vitória americana na batalha de Saratoga (1777) estimulou
países europeus como a França, rivais dos ingleses, a ajudarem os
americanos. Era a oportunidade de vingar a derrota na “Guerra dos Sete
Anos”. Em 1781, ocorreu a batalha de Yorktown, na qual os ingleses
capitularam. A Inglaterra decidiu reconhecer a independência dos Estados
Unidos. A paz foi firmada, em 1783, pelo Tratado de Versalhes. A
Constituição dos Estados Unidos da América foi promulgada em 1787. As
colónias se constituíram em Estados unificados, formando uma república
federativa, com a divisão de poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Os direitos civis eram assegurados, mas, contraditoriamente, a escravidão
foi mantida.

153
Resumo da lição
Com base na experiência dos resumos das lições anteriores,
produza o resumo desta lição.

Auto-avaliação
1. Endividado pelas despesas da guerra, o governo inglês
decidiu fazer das colónias a solução de seus problemas
financeiros. Este factor associado às ideias iluministas teria
precipitado a revolução das treze colonias.

a) Nomeie as treze colónias inglesas da América do Norte.

b) Explique a influência das ideias iluministas para a


revolução americana.

c) Descreva o lançamento dos impostos como causa


imediata da revolução americana.

d) Qual é a importância histórica da constituição


americana de 1787?

e) As colónias inglesas da América do Norte alimentaram


os triângulos comerciais. Como funcionavam esses
triângulos?

154
Comentários da auto – avaliação
Para responder à pergunta 1.a) releia o subtópico 18.1. Para
responder à pergunta 1.e) releia o último parágrafo do subtópico
18.1.

As perguntas 1.b) e 1.c) dizem respeito às causas da revolução, por


isso, para responde-las você deve reler o primeiro e segundo
parágrafos do subtópico 18.2. Se duvidar das suas respostas, por
favor, compare-as às dos seus colegas.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental
importância para a compreensão dos conteúdos e para a realização
das actividades propostas para esta lição. Portanto, não deixe de
estudá-los.

ROBERTS, Diovane (1992) América: Passado e presente, Rio de


Janeiro: Editora Nórdica.

Coe, Michel (1962) O México: história mundial, Londres:


Editorial Verbo.

BLAINEY, Geofrey (2008) Uma breve historia do mundo, 2ª ed.,


São Paulo: Fundamento.

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporanea.


S. Paulo. 1988.

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro, Paz e


Terra, 1988.

SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História Geral: Teoria e


Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

155
Lição n° 19
A Revolução Francesa: como arranque da idade contemporânea

Introdução
Com a Revolução Francesa, tem início uma segunda fase da história da
civilização ocidental moderna. Foi profunda a influência exercida sobre o
mundo moderno por esse acontecimento. Foi uma das fontes principais do
nacionalismo militante, do individualismo económico e do princípio da
soberania das massas. Vários destes resultados em especial o nacionalismo,
a democracia e a supremacia da classe média persistiram durante todo o
século XIX e o começo do século XXI, podendo ser contados entre as
características dominantes desse período.

A Revolução Francesa é usada como marco para o início da Idade


Contemporânea. Por isso, tal como a Revolução Industrial, serão discutidos
mais detalhes na disciplina de História Contemporânea de Europa e
América.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:


 Descrever as causas da revolução francesa;
 Identificar a causa imediata da revolução;
 Identificar os principais grupos envolvidos na revolução;
 Caracterizar a primeira fase da revolução francesa.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

156
Observe atentamente as imagens seguintes.

A B
Actividade 4

Fonte: http://aprovadonovestibular.com/revolucao-francesa-
%E2%80%93-causas-resumo.html

1. As imagens aqui apresentadas não constituem novidade para si.


Elas aparecem em quase todos os manuais que abordam a revolução
francesa.

a) Nomeie-as.

b) Qual é significado de cada imagem para a revolução francesa?

As imagens A e B são marcos principais da revolução francesa. Se você


respondeu: A-execução do rei Luís XVI e B- tomada de Bastilha, a sua
resposta está correcta. Quanto ao significado de cada imagem para a
revolução, você pode comparar a sua resposta às dos seus colegas. Se a
Comentário da actividade
duvida persistir, procure satisfazer-se ao longo desta lição.

157
As causas da Revolução Francesa

Para a facilidade de estudo, podemos dividir as causas da Revolução


Francesa em três categorias principais: políticas, económicas e intelectuais.

Causas políticas

Segundo BURNS (1969: 12), uma das principais causas políticas foi o
governo despótico dos Bourbons. Nos séculos XIV, XV e XVI havia-se
reunido com intervalos irregulares uma espécie de parlamento conhecido
como os Estados Gerais e composto de representantes do clero, da nobreza
e do povo. Depois de 1614 não tornou a ser convocado. Daí por diante foi
o rei o único detentor do poder soberano. Num sentido muito real, era ele o
estado. Escusava de preocupar-se com questões de constitucionalidade ou
relativas aos direitos naturais dos seus súbitos. Podia atirar homens à prisão
sem processo, bastando para isso uma ordem real.

Uma segunda causa política da Revolução Francesa foi o carácter ilógico e


caótico do governo. A confusão reinava em quase todos os sectores. Em
consequência havia grande superposição de funções e numerosos
funcionários sem nenhuma utilidade recebiam salários dos cofres públicos.
Por quase toda parte as qualidades dominantes do sistema eram a
ineficiência, o desperdício e o suborno. Mesmo nos assuntos financeiros
não havia mais regularidade do que em outros ramos da administração
pública.

Não havia uma distinção clara entre as rendas do rei e as do estado.


Condições semelhantes de desorganização prevaleciam no campo do
direito e das normas judiciais. Quase todas as províncias da França tinham
o seu código especial baseado nos costumes locais. Essa falta de
uniformidade era sobretudo mortificante para as classes comerciais,
envolvidas em transações com partes distantes do país.

A causa política mais decisiva veio, provavelmente, das guerras desastrosas


a que se lançou a França no século XVIII. O primeiro dos conflitos que

158
prepararam o terreno para a Revolução Francesa foi a Guerra dos Sete Anos
(1756-63), travada durante o reinado de Luís XV. Nessa luta, a França
bateu-se contra a Inglaterra e a Prússia e, a despeito do auxílio da Áustria
e, por algum tempo, da Rússia, sofreu uma derrota esmagadora. Em
resultado disso, a França viu-se compelida a entregar quase todas as suas
possessões coloniais. A culpa dessa catástrofe foi atribuída à incompetência
do governo. Os efeitos do golpe agravaram-se ainda quando Luís XVI
decidiu, 1778 intervir na Guerra da Independência Americana. As despesas
das frotas e dos exércitos durante mais de três anos, arruinou o governo.

Causas económicas

A emergência de um novo grupo económico que passou a ser a classe


económica dominante. Afora a terra, quase toda a riqueza produtiva estava
nas suas mãos. Controlava os recursos do comércio, da manufactura e das
finanças. Segundo (ibid: 16), em 1789 o comércio exterior da França
alcançou o total jamais atingido de 1.153.000.000 de francos. Mas o efeito
principal dessa prosperidade crescente foi avivar o descontentamento dos
burgueses. Por mais dinheiro que acumulasse um negociante, um industrial,
um banqueiro ou um advogado, os privilégios políticos continuavam a ser-
lhes negados.

Outro factor que muito contribuiu para acender a chama da revolução, foi
o sistema de privilégios arraigado na sociedade do velho regime. Antes da
Revolução, a população da França se dividia em três grandes classes ou
"estados": a primeira compunha-se do clero, a segunda dos nobres e a
terceira do povo ou terceiro estado. O clero e a nobreza eram as classes
mais privilegiadas. Entre os mais valiosos privilégios do clero e da nobreza
contavam-se os relativos a isenção dos impostos. Num sentido muito real,
a maioria deles eram parasitas a consumir uma riqueza que outros
produziam com o suor do seu rosto.

159
Causas intelectuais

As causas intelectuais da Revolução Francesa foram, em essência, um fruto


do Iluminismo. Esse movimento produziu duas interessantes teorias
políticas que desde então têm exercido sua influência. A primeira foi a
teoria liberal de Locke, Voltaire, Montesquieu e outros, a segunda foi a
teoria democrática de Rousseau. Ainda que fundamentalmente opostas,
tinham elas certos elementos em comum. Ambas se baseavam na premissa
de que o estado é um mal necessário e de que o governo repousa sobre uma
base contratual. Cada uma tinha a sua doutrina de soberania popular,
embora discrepassem quanto à interpretação. E, finalmente, ambas
defendiam até certo ponto os direitos naturais do indivíduo, condenavam o
absolutismo e o governo déspota.

A convocação dos Estados Gerais e início da revolução

No começo de 1789 já estavam criadas as condições para uma revolução


de grandes proporções. A causa imediata deste facto foi o colapso
financeiro, resultado das guerras dispendiosas e das despesas reais. A
dívida pública crescia cada vez mais de ano para ano. A única esperança de
desafogo parecia consistir no lançamento de novos impostos.

Com este objectivo Luís XVI convocou em 1787 uma Assembleia de


Notáveis, confiando em que os principais magnatas do reino se
dispusessem a arcar com uma parte da despesa fiscal. Os nobres e bispos,
no entanto, recusaram abrir mão do seu privilégio de isenção de impostos.
Foi assim que houve necessidade de uma convocação dos Estados Gerais.
Esta assembleia, composta de representantes dos três grandes estados ou
classes da nação, daria a conhecer ao rei a vontade do povo no tocante à
maneira de enfrentar crise financeira. Mal se haviam congregado as três
ordens quando surgiu uma controvérsia sobre o sistema de votação. O clero
e a nobreza pretendiam uma votação por ordem, neste caso, cada classe
correspondia uma ordem. A burguesia não se conformou com uma

160
disposição pela qual os votos das duas classes superiores poderiam obstar
a tudo que o Terceiro Estado pretendesse fazer. Exigiram, pois, que as três
ordens formassem uma assembleia única e o voto fosse individual. Uma
vez que já se tinha concedido aos plebeus um número de representantes
igual ao das duas outras classes juntas, era evidente que o Terceiro Estado,
conseguindo o apoio ocasional de alguns elementos descontentes da
nobreza ou do clero, tornar-se-ia capaz de controlar toda a assembleia.

Ao cabo de um mês de disputas, em 17 de Junho, o Terceiro Estado tomou


a decisão de proclamar-se Assembleia Nacional e convidou os
representantes das classes privilegiadas a participar dos trabalhos. Na
manhã de 20 de junho, quando os deputados quiseram reunir-se no salão do
rei, encontraram as portas guardadas por soldados. Não havia outra
alternativa senão submeter-se ou desafiar o poder soberano do próprio
monarca. Os representantes deste e seus aliados retiraram-se para um
recinto das vizinhanças, usando a sala de jogo da péla. Ali, sob a chefia de
Mirabeau e do padre Sieyès, comprometeram-se por um juramento solene
a não se separar enquanto não houvessem redigido uma constituição para a
França. Esse Juramento do Jogo da Péla, em 20 de junho de 1789, foi o
verdadeiro início da Revolução Francesa.

O curso da Revolução Francesa assinalou-se por três grandes fases, a


primeira das quais se estendeu de junho de 1789 a agosto de 1792. Durante
a maior parte deste período os destinos da França estiveram nas mãos da
Assembleia Nacional, dominada pelos líderes do Terceiro Estado. Foi, em
conjunto, uma fase moderada, as massas não tinham ainda conquistado
nenhum poder político nem estavam em condições de assumir o controlo
do sistema económico.

O Maior acontecimento foi a destruição da Bastilha, em 14 de Julho de


1789, mas houve, no geral, pouca violência.

161
Os resultados mais importantes da primeira fase da Revolução Francesa
foram: a destruição dos remanescentes do feudalismo; abolição dos dízimos
e as obrigações feudais dos camponeses, abolição dos privilégios dos
nobres, sobretudo a isenção de impostos e os vários monopólios;
promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em
setembro de 1789, confiscação das terras da igreja. Mas só em 1791 a
assembleia conseguiu completar a sua tarefa primordial de redigir uma
nova constituição para o país.

As outras fases foram: a convenção, o diretório, o consulado e o império.


Estas fases serão tratadas na disciplina da História Contemporânea da
Europa e América.

Resumo da lição
A revolução francesa teve início em 1789 com a formação da
Assembleia Nacional constituinte e a tomada de bastilha. Até ao fim da
primeira fase tinham sido alcançados alguns dos objectivos da
revolução. Mas a revolução continuou por mais 4 fases.

Leituras complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância
para a compreensão dos conteúdos e para a realização das actividades
propostas para esta lição. Portanto, não deixe de estudá-los.

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporânea. S.


Paulo. 1988.

Blainey, Geofrey (2008) Uma breve história do mundo, 2ª ed., São


Paulo: Fundamento.

162
BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do
Homem das cavernas até a bomba Atómica. Vol.II Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1969.

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos.


Portugal, Publicações Europa-América, 1986.

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro, Paz e


Terra, 1988.SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral:
Teoria e Prática. Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

ROBERTS, Diovane (1992) América: Passado e presente, Rio de


Janeiro: Editora Nórdica.

Coe, Michel (1962) O México: história mundial, Londres: Editorial


Verbo.

Respostas às perguntas da unidade


Para ajudar-lhe a avaliar a qualidade das suas respostas ao longo das
lições desta unidade, apresento, a seguir, alguns comentários às
perguntas colocadas. Seleccionei as questões que presumi que você
poderia ter dificuldade em responder. Se existir uma pergunta em que
você sentiu dificuldade em responder e não consta desta lista, por
favor, releia o texto e a bibliografia recomendada na lição a que
corresponde a pergunta e compara as suas respostas às dos seus
colegas.

Licão 17

1. d) A lei obrigava a conversão de todos os funcionários reais ao


anglicanismo como religião oficial do Estado.

2. e) O novo rei jurou a Declaração de Direitos em 1689. Por esse


documento a autoridade real foi drasticamente reduzida, tornando-
se o Parlamento o verdadeiro governo do país.

163
Licão 18

1.b) O iluminismo proclamava as liberdades individuais, a separação de


poderes e o respeito aos cidadãos pelos detentores de poder político, ou
seja, o fim dos regimes ditatoriais.

1.d) Aplicou, pela primeira vez, a teoria da separação dos poderes que
viria a ser a principal característica das constituições modernas.

164
Referências bibliográficas
ASHTON, T.S. A Revolução Industrial: 1760-1830. Lisboa, Publicações
Europa-América, 1977.

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporanea. S.


Paulo. 1988.

Blainey, Geofrey (2008) Uma breve história do mundo, 2ª ed., São


Paulo: Fundamento.

BEAUD, Michel. História do capitalismo: de 1500 aos nossos dias. São


Paulo, Brasiliense, 1981.

BURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do Homem


das cavernas até a bomba Atómica. Vol.I Rio de Janeiro, Editora Globo,
1941

_________________. História da Civilização Ocidental: do Homem das


cavernas até a bomba Atómica. Vol.II Rio de Janeiro, Editora Globo,
1969

CONTE, Giuliano. Da crise do feudalismo ao nascimento do


capitalismo. Lisboa, Presença, 1984.

COE, Michel (1962) O México: história mundial, Londres: Editorial


Verbo.

CORVISIER, André. O Mundo Moderno. Lisboa, Ática, 1976

DAHRENDORF, Ralf. Reflexões sobre a Revolução na Europa. Rio de


Janeiro, Zahar, 1991.

DELORME, Jean. As Grandes Datas dos Tempos Modernos. Portugal,


Publicações Europa-América, 1986.

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro, Paz e Terra,


1988.

165
RITA-FERREIRA, António. Fixação Portuguesa e História pré-
colonial de Moçambique. Lisboa, Instituto de Investigação Científica
Tropical, Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1982.

RODRIGUES, Adriano Vasco. História Geral da Civilização;


civilização moderna e contemporânea. Porto, Porto Editora, s/d.

ROBERTS, Diovane (1992) América: Passado e presente, Rio de


Janeiro: Editora Nórdica.

SCHNEEBERGER. Carlos Alberto. História Geral: Teoria e Prática.


Brasil, SP, Editora Rideel, 2006.

166

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