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SUMÁRIO
HISTORIA GERAL
Antônio Pedro Tota, Pedro Ivo de Assis Bastos
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?oucos registros restaram sobre a vida pessoal de Gaio, um jurisconsulto romano que viveu entre os anos
'130 e 180 d.C. da era cristã. Em compensação, ele nos legou importantes textos de sua autoria. Muitos
anos após sua morte, foi designado como um dos cinco juristas mais importantes do Império e suas opi
niões deveriam ser seguidas para decidir as questões judiciais. Gaio viveu na época dos Antoninos, um
período de prosperidade e equilíbrio do Império Romano que ficou conhecido como "paz romana".
Vamos ler agora um trecho escrito por Gaio:
"Os escravos devem ser submetidos ao poder de seus amos. Esta espécie de domínio já é consagrada no direi
to dos povos; pois podemos observar que, de um modo geral, em todos os povos, o amo tem sobre os escravos
poder de vida e morte, e tudo aquilo que se adquire por intermédio do escravo pertence ao amo. Mas, hoje
em dia, não é permitido nem aos cidadãos romanos, nem a nenhum dos que se acham sob o império do povo
romano, castigar excessivamente e sem motivos os escravos. Pois, em virtude de uma constituição do imperador
Antonino, aquele que matar sem motivo seu próprio escravo é passível de sanção, da mesma forma que aquele
que mata o escravo de outrem. ( ... )Não devemos fazer mau uso de nossos direitos; é em virtude do mesmo prin
cípio, que se proibiu ao dissipador a administração dos próprios bens."
Para o historiador, o texto acima é um documento muito útil para interpretar e compreender os fatos
históricos. Mas os documentos não se resumem a textos escritos, são qualquer material que nos revele
algo sobre o passado do homem. Cabe ao historiador analisá-los, interpretá-los, para reconstituir as ins
tituições jurídicas, sociais e econômicas, a vida cultural e social de cada povo ao longo das diversas épo
cas. As interpretações dos historiadores podem variar, porque eles também vivem numa determinada
sociedade, possuem uma determinada posição social que influi sobre o seu modo de enxergar a vida.
O documento que acabamos de ler trata das relações entre senhores e escravos na Roma Antiga e justi
fica a submissão dos escravos ao poder de seus amos, argumentando que a dominação é consagrada no
direito dos povos. Mas ele mesmo recomenda que ela não seja absoluta, pois os cidadãos romanos de
sua época, do Império Antonino, não deveriam castigar um escravo excessivamente e sem motivo.
O documento nos revela de maneira clara a situação do escravo na Roma Antiga: ele não possuía nada,
era apenas uma propriedade e um instrumento do senhor. Essa é a base da relação senhor-escravo, no
modo de produção escravista.
Você já sabe que existiram outras formas de os indivíduos se relacionarem entre si no processo de
produção, outras maneiras de justificarem as relações de dominação e outras formas de organizarem o
poder.
Essa mudança contínua, esse movimento perpétuo de transformação e os reajustes necessários às sem
pre renovadas condições de existência tanto material como social, religiosa ou artística constituem o ob
jeto de estudo da História. Esse conhecimento, por sua vez, nos permite compreender o nosso momento
histórico e nos ajuda a tomar uma posição diante dos fatos da vida.
Os primórdios
O processo histórico é tradicionalmente dividido em Pré-História e História, sendo o marco divisor
a invenção da escrita. O início do primeiro período é datado de acordo com os primeiros instrumentos
fabricados pelo homem, há cerca de 2 milhões de anos. E seu término corresponde ao surgimento
das primeiras civilizações no Egito e na Mesopotâmia.
A Pré-História é subdividida em Paleolítico ou Antiga Idade da Pedra e o Neolítico ou Nova Idade
da Pedra. Essa designação decorre do material usado na fabricação dos artefatos. No Paleolítico, as facas,
pontas de lanças e machados eram fabricados com lascas de grandes pedras. No Neolítico, os artefatos
eram obtidos com o desgaste e polimento das pedras.
Mas o que diferencia realmente um período do outro foi o início do cultivo de plantas e a domesticação
de animais. Durante o Paleolítico os homens eram nômades e coletores de alimentos. No Neolítico -
tornaram-se agricultores e sedentários, o que permitiu o início de uma organização social e política. Em 1
decorrência dessa profunda transformação, considera-se que nesse período houve uma verdadeira revo
lução na história dos homens: a Revolução Agrícola.
No quadro abaixo estão detalhados os principais momentos e características desse processo:
Paleolítico Inferior
início: cerca de 2 milhões a.C. • objetos encontrados na natureza - ossos de animais, galhos de árvore e
primeiros hominídeos: pedaços de pedra - servem como instrumento.
Homo habilis
Homem de Java
Homem de Pequim
PaleoHtico Superior
início: cerca de 30000 a.C. • instrumentos e artefatos (anzóis, arpões, agulhas, arco e flechas) fabrica-
término: por volta do ano 10000 a.C. (fim dos também com chifres de rena e com marflm, além da pedra lascada;
da última glaciação) • cozimento dos alimentos;
Neolítico
início: em torno de 7000 a 10000 a.C. • fabricação de armas e instrumentos com pedras polidas;
término: surgimento das primeiras civili • desenvolvimento da tecelagem, fabricação de utensílios de cerâmica, pro-
za çõe s
gráficas. (Cerca de 3500 a.C . no Egito dução do fogo por atrito, uso de metais encontrados na natureza;
e na Mesopotâmia e cerca de 2000 a.C. na • desenvolvimento da agricultura e domesticação dos animais;
Eur opa). Até hoje existem povos que conti • com a sedentarização, inicia-se a organização social; desenvolvimento das
quam nesse; e st ági o nas ilhas do Pacífico, no instituições familiares, religiosas e políticas.
Artico, na Mrica, na América e na Austrália.
-
2
AS PRIMEIRAS lei##
ClVILIZAÇOES
Egito
O moderno Egito situa-se na mesma região em que se desenvolveu, na Antigüida
de, a riquíssima civilização egípcia. Trata-se do nordeste da África, uma zona carac
terizada pela existência de desertos e por uma vasta planície banhada pelo rio Nilo.
O desenvolvimento do Egito tornou-se possível graças à presença do rio Nilo, que
corta o país em toda a sua extensão. Assim, é natural que a população tenha se con
centrado na região fértil situada às margens do grande rio. A fertilidade do solo é
devida à invasão das margens, na época das cheias, quando as águas deixam nas ter
A agricultura egípcia vista por um visi ras um húmus fertilizante que resulta do apodrecimento dos restos vegetais deposi
tante grego: tados no solo inundado.
Foi nessas terras fertilizadas que os an
tigos egípcios desenvolveram a agricultu
ra. Além de plantarem o trigo, cultivaram
Os habitantes do Delta são certamente aqueles que, de todos os homens vi-
0 papiro, uma palmeira usada na constru-
vendo noutros países ou no resto do Egipto, recolhem os frutos da terra com me-
nor fadiga; não penam abrindo regos com a charrua, nem se servem da enxada: ção de barcos e na fabricação do papel.
quando o rio regou, ele próprio, os seus campos e em seguida se retirou, cada A população do antigo Egito não teve
um deles semeia e larga no campo os porcos; quando estes, pisando, enterraram uma única origem. Houve uma mistura de
as sementes , só lhes resta esperar o tempo da ceifa.
povos diferentes. Os primeiros habitantes
(Heródoto, "Histórias';séc. V a.C., apud: Gustavo de Freitas"- 900 textos e documen-
tos) foram os hamíticos, aos quais se juntaram
'-------' mais tarde outros povos de origem semíti
ca e núbia.
Até 4000 a.C., havia no Egito apenas aldeias, nas quais persistia o modo de vida
das comunidades primitivas. A partir dessa época, as aldeias próximas entre si, cu
jos habitantes tinham relações de parentesco e se ajudavam reciprocamente, passa
ram a se reunir, formando nomos.
Os nomos constituíam uma reunião de aldeias politicamente independentes. Cada
uma tinha seu próprio governo, exercido pela autoridade máxima local, o nomarca.
Embora os nomos fossem politicamente independentes, costumavam cooperar en
tre si, principalmente para a construção de represas ou para a abertura de novos ca
nais de irrigação. Com a unificação dos nomos, formaram-se dois reinos distintos:
o reino do sul (Alto Egito), que apresentava como símbolo uma coroa branca e cuja
capital era a cidade de Hieracômpolis; e o reino do norte (Baixo Egito), localizado
na região do delta do Nilo, com a capital na cidade de Buto e apresentando como
símbolo uma coroa vermelha.
Por volta de 3200 a.C., o rei Menés, do Alto Egito, conseguiu conquistar a região
norte, passando a usar as duas coroas como símbolo da unificação dos dois reinos.
A partir dessa data, o Egito transformou-se num império e passou a ter um gover
no fortemente centralizado, isto é, um governo em que todos os poderes locais se
submetiam ao poder central absoluto, exercido pelo imperador.
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U· Ós faraós e a concentração do poder
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> Quando o imperador transformou-se em faraó, isto é, no momento em que pas
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(f) sou a ser adorado como um deus, ganhou direitos sobre todas as terras do Egito.
� Obedecendo ao faraó como ao deus dono de todas as terras, os camponeses traba
üJ lhavam coletivamente como servos. Da produção agrícola tiravam para si apenas
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a: o necessário para a sobrevivência; o restante era destinado ao faraó, como imposto
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(f) coletivo, e estocado nos armazéns do Estado. Além desse imposto coletivo, deviam
<( serviços ao faraó, trabalhando na abertura de canais de irrigação, na construção de
- represas, templos, palácios e pirâmides, recebendo como pagamento apenas o ali
4 mento diário.
Com a unificação do Egito, a situação dos nomos e dos nomarcas se modificou.
Estes últimos passaram a ser escolhidos pelo faraó, entre os descendentes das famí
lias mais importantes. E administravam os nomos como representantes do faraó. A
principal tarefa dos nomarcas era cobrar da população camponesa o imposto
coletivo (excedente agrícola).
Com esse tipo de administração, o faraó conseguiu acumular uma riqueza extraor
dinária. Em troca, beneficiava os nomarcas, concedendo-lhes o direito de cobrar im
postos especiais das aldeias.
Assim, a riqueza do Egito foi-se concentrando nas mãos do faraó e de seus funcio
nários, enquanto a grande população, composta por camponeses que produziam a
riqueza do Estado, vivia na mais completa miséria.
Com o tempo, para manter a concentração da riqueza, o cargo de nomarca tornou
se hereditário, passando de pai para filho.
Como o poder do faraó era atribuído à sua identificação como deus, o Egito era
o que se costumava chamar de Estado teocrático. Numa sociedade assim governa
da, os sacerdotes compunham a camada social mais elevada, e sua função revestia-se
Os escribas formavam uma burocracia
de grande importância.
que ficava logo abaixo da nobreza, cama
Os egípcios acreditavam que as práticas religiosas garantiam a fertilidade das ter da mais alta da sociedade egípcia.
ras, e cabia aos sacerdotes orientar o cultivo dos cereais em todo o território. Conse Os escribas estudavam doze anos,
qüentemente, estes gozavam de imenso prestígio social e recebiam favores especiais aprendendo Matemática, Geografia e Ad
ministração.
do faraó; seu cargo também era hereditário.Possuíam extensas propriedades e não
O relato anônimo de um escriba des
eram obrigados a pagar impostos.
taca as duas condições de trabalho dos
Para fiscalizar o cumprimento das decisões, existia uma classe de funcionários pú egípcios e a extorsiva cobrança de im
blicos, os escribas, indivíduos muito cultos que supervisionavam toda a administra postos.
ção pública, responsabilizando-se pelas
leis e pela cobrança de impostos.
Até mesmo o artesanato era controlado Já pensaste na vida do camponês que cultiva a terra? O cobrador de impostos
fica no cais ocupado em receber os dízimos das colheitas. Está acompanhado
pelo faraó, que fornecia alimentos e mate de agentes armados de bastões e negros munidos de pedaços de pau. Todos gri
riais para os artesãos. tam: Vamos, os grãos! Se o camponês não os possui , eles o atiram ao solo. Amar
O comércio interno consistia na troca de rado, arrastado para o canal é j ogado de cabeça.
um produto por outro, apenas para satis O entalhador de pedra permanece agachado desde o nascer do sol, seus joe
lhos e sua espinha dorsal estão alquebrados. O pedreiro fica sobre as vigas dos
fazer as necessidades imediatas da popu
andaimes, exposto a todos os ventos, pendurado nos capitéis das colunas; seus
lação. Como objeto de troca utilizavam-se braços se gastam nos trabalhos, suas roupas ficam em desordem, ele só se lava
ferramentas de trabalho, roupas e utensí uma vez por dia.
lios domésticos, geralmente de fabricação Mas talvez o mister de oficial seja mais tentador? Conto-te a respeito do ofi
cial de infantaria. Ainda pequeno, é levado e encerrado na caserna. Agora, queres
casetra.
que te conte suas expedições em países longínquos? Carrega seus víveres e água
Uma outra parte da população era cons nas costas como um burro de carga; sua s costas estão feridas. Bebe água podre.
tituída de guerreiros profissionais a servi Deve montar guarda sem cessar. Chega diante do inimigo? Não passa de um pás
ço do faraó. Esse exército, além de vigiar saro trêmulo. Regressa ao Egito? Não é mais que um velho pedaço de madeira
o trabalho servil dos camponeses, atacava roído de vermes.
Só vi violência por toda parte! Por isso, consagra teu coração às letras. Con
regiões vizinhas para conseguir metais e es
templa os trabalhos manuais e, em verdade, nada existe acima das letras. Ama
cravizar os vencidos. A força do trabalho a literatura, tua mãe. Faze entrar suas belezas em tua cabeça. Ela é mais impor
escravo era utilizada tanto nas obras públi tante do que todos os ofícios. Aquele que, desde a infância, se dispõe a tirar
cas quanto no serviço doméstico. proveito dela, será venerado.
Hebreus
Abaixo estão dois trechos da Bíblia. O
Povo de origem semita, os hebreus começaram seus deslocamentos por volta do
primeiro é designação de Moisés por lah II milênio antes de Cristo. No livro Gênesis (o começo), da Bíblia, conta-se como
weh Geová) para a libertação dos hebreus Abraão conduz seu povo para a terra que lhe fora prometida por Deus, o país de
do Egito. O Êxodo, a saída dos hebreus Canaã, ou Palestina. Historicamente, consta que os hebreus chegaram à Palestina
do Egito e a peregrinação pelo deserto
no século XVIII a.C.
até Canaã (Terra Prometida), ocorre por
volta de 1400 a 1200 a.C. Divididos em doze tribos, estabeleceram-se numa região montanhosa, de colinas
O segundo texto mosira a imposição áridas e vales, banhado pelo rio Jordão e mar Morto. Vivendo sobretudo da agricul
da crença em um deus único, Iahweh, tura e do pastoreio, apresentavam uma formação social e econômica caracterizada
senhor todo-poderoso e eterno. Para ele
pelo patriarcado, sendo chefiados por um homem mais velho e mais sábio (o pa
não eram suficientes as oferendas. Iah
weh queria que seu povo obedecesse aos
triarca). Abraão e Isaac foram os primeiros patriarcas.
mandamentos que foram gravados numa As secas, nas terras prometidas da Palestina, levaram os h ebreus a migrarj)ara
placa de pedra e dados à Moisés. o Egito por volta de 1800 a.C. Nessa travessia, foram conduzidos por Jacó, tilho de
Isaac, através do delta do Nilo. Talvez te
A missão de Moisés. Iahweh disse: "Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que
nham sido empurrados pelos hicsos, que
está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço avançavam em direção às planícies do Ni
as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para lo; ou talvez tenham simplesmente acom
fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel, panhado esse povo.
o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos Os hicsos, invasores do Egito, permitiam
jebuseus. Agora, o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo
a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vai, pois, e eu te enviarei liberdade aos hebreus. Depois de sua ex
(f) a Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os filhos de Israel". pulsão, entretanto, foram submetidos à es
LU
•O Então disse Moisés a Deus: "Quem sou eu para ir ao Faraó e fazer sair do Egi cravidão pelos egípcios. Conduzidos por
U· to os filhos de Israel?" Deus disse: "Eu estarei contigo; e este será o sinal de que
<( Moisés, os hebreus deixaram o Egito por
p..J eu te enviei: quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta
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volta de 1250 a.C. Essa grande viagem pe
montanha".
> lo deserto do Sinai, narrada no livro Êxo
u A revelação do nome divino. Moisés disse a Deus: "Quando eu for aos filhos
(f) de Israel e disser: 'O Deus de vossos pais me enviou até vós; e me perguntarem: do (fuga), da Bíblia, durou quarenta anos.
<( 'Qual é o seu nome?' que direi?" Disse Deus a Moisés:"Eu sou aquele que é". Os hebreus tiveram que lutar com per
a:
w Disse mais: "Assim dirás aos filhos de Israel: 'EU SOU me enviou até vós'. "Disse
sistência para se instalar na Palestina. Na
:::?! Deus ainda a Moisés: "Assim dirás aos filhos de Israel: 'Iahweh, o Deus de vossos
ã: pais, o Deus de Abraão o Deus de Isaac e o Deus de Jacó me enviou até vós. luta contra cananeus e filisteus, Josué, o
c...
(f) Este é o meu nome para sempre, e esta será a minha lembrança de geração em sucessor de Moisés, agrupou as doze tri
<( geração." bos, distribuindo-lhes as terras conquista
- (Bíblia Sagrada, Velho Testamento, Êxodo) das. A necessidade de um comando militar
8 único criou a figura do juiz, escolhido pe-
las tribos para comandar a guerra e preservar a crença num único Deus. Os juízes
mais famosos foram: Gedeão, Jefté e Sansão (que liderou os hebreus na vitória con
tra os filisteus) .
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a:
w Ideologia e cultura
das primeiras civilizações
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cn
<( Até este momento, você estudou a formação dos primeiros Estados. Aprendeu que
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o Estado existe em conseqüência da divisão da sociedade em classes sociais. Ele as
10 segura a dominação por parte das camadas superiores; e, para garantir essa domina-
ção, os reis, imperadores e príncipes organizaram os exércitos.
Mas não são apenas os exércitos que garantem o poder às classes dominantes. Nas
sociedades onde predominam as desigualdades sociais, idéias e crenças constituem
um importante instrumento de dominação, ao qual chamamos de ideologia; esse
instrumento é usado por uma camada superior, privilegiada, como forma de coação
das camadas inferiores, oprimidas.
A religião, a arte e até a ciência são manifestações externas de ideologia, que, por
sua vez, resultam da produção material, da divisão do trabalho e da forma de pro
priedade.
Por meio da ideologia, os poderosos controlam o comportamento e a forma de pensar
da sociedade. Mas a História mostra também que apenas o que chamamos de cons
ciência pode libertar as mentes. Assim, as expressões ideológicas que não aceitam
a dominação são formas de consciência.
Desde a origem do homem, ideologia e consciência coexistem.
Vamos estudar agora as ideologias dos primeiros povos, assim como os traços prin
cipais de suas culturas.
O Estado egípcio
A vida cultural dos egípcios era marcada pela forte presença da religião. O ho
mem, os animais e as forças da natureza eram objeto de adoração. Adeptos do poli
teísmo (crença em vários deuses), os egípcios acreditavam numa existência
extraterrena. Assim, preparavam-se durante toda a vida para a morte.
A dependência econômica em relação às cheias e vazantes do rio Nilo explica, de
certa forma, a deificação da natureza. Por volta do IV milênio a.C., os primitivos
habitantes do Egito adoravam totens (objetos sagrados, animais ou vegetais, que os
nomos consideravam seus antepassados) . Mais tarde, esses totens passaram a conter
traços humanos, mas conservando alguns aspectos das divindades primitivas. Em
geral, apresentavam corpo de homem e cabeça de animal.
Para justificar a origem dos seus deuses, os egípcios contavam que nos primeiros
tempos, Set (o vento quente do deserto) matou Osíris (o Sol, o Nilo, deus da vegeta
ção e dos mortos), lançando seu corpo no rio. Ísis (a deusa da vegetação e das se Para os egípcios, após a morte, a alma
mentes) encontrou seu corpo, mas Set voltou a atacá-lo, dividindo-o em catorze era admitida no reino de Osíris (deus dos
pedaços, que espalhou pelo Egito. Ajudada por Hórus, Ísis conseguiu juntar os pe Mortos). De tempos em tempos, a alma
podia retornar à vida através de um cor
daços com palavras mágicas.
po, mas para que isso acontecesse era ne
Essa explicação da morte e do renascimento de Osíris está de acordo com o ritmo cessário que o corpo P._ermanecesse intac
da vida egípcia, totalmente dependente da natureza. to, assim a alma sobreviveria. Impedir a
Essas crenças religiosas foram substituídas por outras, introduzidas pela aristo decomposição do corpo era um dever sa
cracia. Os sacerdotes impuseram o culto de Ra (deus-sol, criador de todos os deu grado. Além da mumificação cuidava-se
também dos túmulos onde eram coloca
ses) ou Amon (deus supremo e protetor dos faraós) . Mesmo assim, os camponeses
das mobílias, provisões e estátuas dos
continuaram a cultuar animais como os gatos (perseguidores dos ratos que prejudi mortos. Abaixo, dois textos que descrevem
cavam as colheitas) , os cães (protetores das casas), os crocodilos e as serpentes. a técnica de mumificação.
No Egito, a religião era a mais impor-
tante forma de dominação ideológica. Em
nome dos deuses, o faraó e os sacerdotes O embalsamamento de rico "Primeiro, com a ajuda dum ferro curvo, ex
traem o cérebro pelas narinas ... em seguida, com urna pedra ... cortante, fazem
cobravam pesados impostos dos campone
uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vi
ses. nho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois
A crença na vida depois da morte fez enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arôma
com que os egípcios desenvolvessem a téc tas, com exceção do incenso, e c,osem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o
nica de conservar cadáveres (a mumifica de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias ... Lavam o corpo, enrolam
no todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola) ...
ção), o que contribuiu decisivamente para cn
Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana ... que guar UJ
os primeiros estudos da anatomia huma dam no interior de urna câmara funerária . . . 10
"
U·
na. Apresentaram progressos notáveis tam Embalsamamento de pobre "Desinfetam os intestinos... metem-no no sal du <(
N
bém na medicina: além de descobrirem a rante 70 dias; entregam o corpo." ::J
(Heródoto, "Histórias", apud: Gustavo de Freitas - 900 textos e documentos de história) >
cura para certas doenças, praticavam cirur
u
gias, inclusive a craniana.
Os cálculos feitos pelos escribas para o 5{l
a:
controle da produção agrícola na época das enchentes do Nilo levaram ao desenvol üJ
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vimento do conhecimento da ciência matemática. ã:
a..
No Oriente Próximo, o artista da Antigüidade deixara de ser o mágico da Pré cn
história. Com uma sociedade caracterizada pela divisão social do trabalho, ele pas <(
sou a ser um artífice que modelava esculturas ou vasos e executava pinturas tal como -
O Estado fenício
A religião dos persas, conhecida como zoroastrismo, estabelecia uma vida depois
da morte e um julgamento fmal, com um paraíso como prêmio para os bons e um
inferno para os maus. Predizia a vinda de um Messias, que aperfeiçoaria os bons,
preparando-os para o fim do mundo.
O zoroastrismo, embora admitisse a superioridade de alguns homens - eleitos,
desde o princípio do mundo para serem salvos -, reconhecia a liberdade do homem
de escolher entre as forças do bem e as do mal, isto é, entre a pureza e o pecado.
Havia Aura-Mazda, deus do bem, da luz e da verdade, e Ahriman, deus do mal,
das sombras e das trevas. Aqueles que seguissem Aura-Mazda seriam recompensa
dos, enquanto os que seguissem Ahriman seriam castigados para sempre.
Na Pérsia não existiam templos ou cultos. Zoroastro acabou com as crenças nos
antigos ídolos ao demonstrar que a verdade e a pureza eram expressões do próprio
culto.
Muitas .características do zoroastrismo revelam sua influência sobre outras religiões,
como o cristianismo e o judaísmo.
Algumas virtudes recomendadas pelo zoroastrismo, como o cumprimento às obri
gações de trabalho, obediência aos governantes, criação de muitos fllhos e cultivo
da terra, serviam também para convencer a camada mais inferior da sociedade persa
a não se revoltar contra a situação de exploração a que vivia submetida. Essa con
cepção religiosa acabou por se transformar em importante fator de controle político
e social por parte dos reis e da aristocracia persa.
As criações artísticas e intelectuais sofreram influência das culturas dos povos vi
zinhos. Os persas optaram a princípio pela escrita cuneiforme, inventada pelos su
mêrios, que depois foi substituída por uma escrita alfabética. Adotaram o uso da
moeda (o dárico) , visando ao desenvolvimento do comércio.
Na arquitetura, os persas usaram como modelo as construções babilônicas e egíp
cias, embora os grandes monumentos persas não fossem templos - como no Egito
e na Mesopotâmia - e sim palácios reais.
A grande herança cultural deixada pelos persas foi a religião, diferente de todas
as outras existentes no Oriente Próximo.
Exercício
Resposta
Alternativa a. O Estado Egípcio pode ser caracterizado como uma monarquia des c.n
w
pótica na qual o Faraó era considerado o próprio Deus. Além de ser dono de todo •O
U·
o Egito antigo, concentrava em suas mãos enorme soma de nqueza. Os sacerdotes <
N
por sua vez desfrutavam de inúmeros privilégios constituindo-se a base de sustenta ::i
>
ção do Faraó. A ideologia religiosa era predominante, por isso, podemos afmnar que u
o Estado egípcio era teocrático. Embora possamos afirmar que o Faraó governava c.n
<
de maneira absoluta, houve durante toda a história do Egito vários momentos em CC
que esse poder foi abalado, como durante a ascensão dos nomarcas, e durante a inva w
�
são dos hicsos no Médio Império. ã:
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13
I
GRECIA ANTIGA
Foi devido ao poder econômico de seu império que a Pérsia conseguiu dominar
todo o Oriente Próximo. No entanto, vencidos na guerra contra os gregos, os persas
perderam o predomínio sobre outros Estados da Antigüidade. Dessa forma, a hege
monia econômica se deslocou das civilizações do Oriente Próximo para a civilização
grega.
Veremos, a seguir, como a civilização grega se formou, conquistou o poderio
econômico sobre todo o mundo antigo e acabou perdendo-o para o Império Romano.
Existem várias maneiras de dividir a história da Grécia. O critério que escolhe
mos baseia-se nas grandes divisões do processo histórico grego:
• Período Pré-Homérico (2500- 1 1 00 a. C.), período que antecedeu a formação do
povo grego .
• Período Homérico ( 1 1 00-800 a.C.), fase retratada pelos poemas de Homero,
Ilíada e Odisséia.
• Período Arcaico (800-500 a.C.), fase da formação das cidades-estados.
grega.
• Período Helenístico (336- 146 a. C.), fase da decadência da Grécia.
O escravismo grego
A democracia ateniense
Graças a sua localização na península Ática, que se estende por todo o mar Egeu,
Atenas escapou das grandes correntes invasoras (principalmente os dórios) . Com pou
cas terras férteis, os atenienses dedicaram-se ao comércio marítimo, favorecido pela
existência de portos naturais e de minas de prata, que facilitaram a emissão de moe
das. O desenvolvimento do comércio transformou Atenas em grande centro eco
nômico.
Seus primitivos habitantes eram de origem ariana (aqueus , jônios .e eólios), mas
os atenienses se consideravam apenas jônios. Essa população distribuiu-se em vilas
espalhadas pela planície, organizadas, segundo a estrutura patriarcal, em fratrias e
gens. Por volta do século X a.C . , essas vilas aglutinaram-se pacificamente em diver
sas pólis, da qual Atenas se tornou capital.
Dois séculos depois, a estrutura econômica da cidade mantinha-se ainda essen
cialmente rural, baseada na grande propriedade. Já se notava, porém, o desenvolvi
<(
mento de atividades artesanais e mercantis que ultrapassavam os limites da própria (.!)
Atenas. A camada social dominante era constituída pelos eupátridas (bem-nascidos), 1-
z
cujas grandes propriedades eram cultivadas por escravos, rendeiros e assalariados. <(
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Embora o governo fosse monopolizado pelos eupátridas, o regime era monárquico u
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e hereditário, sendo chefiado por um monarca (o basileu, que era chefe de guerra, c:
juiz e sacerdote), cujo poder era limitado por um conselho de aristocratas, o areópago. (.!)
-
A colonização provocada pela diáspora ampliou o.s horizontes do mundo grego.
O contato dos colonos com a metrópole intensificou-se e Atenas transformou-se em 19
As reformas de Sólon diminuíram o importante centro comercial. Como resultado, os comerciantes e artesãos tornaram
poder da aristocracia eupátrida, prote· se cada vez mais numerosos, iniciando um processo de ascensão na escala social.
gendo os endividados e lançou as bases
As leis do legislador Dracon (623 a.C . ) , embora reforçassem os privilégios dos
da democracia ateniense, mais tarde con
solidada por Clístenes . O texto abaixo
eupátridas, foram as primeiras leis escritas destinadas a impedir abusos em relação
descreve isso: às classes inferiores.
Outro legislador, Sólon, promulgou uma
série de leis que limitavam o poder dos eu
Não houve a abolição das dívidas, mas os juros foram reduzidos e os pobres,
aliviados, deram-se por satisfeitos. Deram o nome de "seisachteia" a esta deci·
pátridas. Sólon determinou o fim do mo
são plena de humanidade e à operação concomitante do aumento de peso e das nopólio do poder pela aristocracia (que se
medidas e da desvalorização monetária. Sólon, com efeito, fixou o valor da mina baseava no critério de nascimento) e insti
em cem dracmas, que até então era somente setenta e três. Desta maneira, os tuiu um novo sistema de participação de
devedores que saldavam as dívidas entregavam numericamente a mesma quan·
poder baseado na riqueza dos cidadãos
tia, mas, na realidade, davam menos; ganhavam assim bastante, sem lesar em
nada seus credores. (eclésia). Nessa assembléia, que dividia os
cidadãos em quatro classes políticas, todos
(Plutarco in J. Pinsky, 100 textos de história antiga) podiam participar igualmente das decisões.
Todavia, poucos podiam votar, já que o di-
l
reito de voto era baseado exc usivamente
na riqueza. Sólon também acabou com a escravidão por dívida, mas a situação do
escravo continuou a mesma.
As reformas de Sólon não puderam ser devidamente aplicadas devido à rivalidade
entre os partidos políticos e sociais. Essas desavenças provocaram o aparecimento
dos tiranos, homens que se apoderavam do poder sem respeitar a legislação estabe
lecida, ou seja, de forma ilegítima. Vale a pena ressaltar que o termo tirano não en
volvia, então, o sentido pejorativo que carrega atualmente.
Pisístrato foi o principal tirano. Líder do partido diacranos (partido das monta
nhas) , formado por pequenos proprietários (gergois) e por trabalhadores remunera
dos, tomou o poder, derrotando os pedianos (partido da aristocracia) e os paralianos
(partido dos grandes comerciantes) .
Ao assumir o poder, confiscou grande parte das terras dos eupátridas e distribuiu
as aos camponeses pobres. Foi criado um sistema de crédito estatal aos camponeses
(pequenos proprietários rurais) para que estes não recorressem aos empréstimos dos
eupátridas.
Com a morte de Pisístrato (527 a .C . ) , o poder passou a Hiparco e Hípias, seus
filhos . Sem a mesma popularidade, foram derrubados pelos eupátridas,
restabelecendo-se a oligarquia em Atenas .
A volta da oligarquia uniu diacranos e paralianos que, liderados por um aristocra
ta progressista, Clístenes, realizaram uma série de reformas políticas. Clístenes im
plantou a democracia em Atenas.
As reformas de Clístenes limitavam o poder do arcondato e do areópago, concen
trando o poder na assembléia popular (eclésia) , onde todo cidadão ateniense podia
A organização social grega caracteri
falar e propor leis. O poder passou a ser exercido pela bulê, ou conselho dos 500,
zava-se por um excessivo patriarcalismo.
O texto abaixo, do historiador Xenofon composto por 50 elementos dos 10 demos de Atenas, que foi dividida por Clístenes
te, revela a condição da mulher ateniense. em três regiões: cidade (asty) , interior (mesogia) e litoral (paralia) .
A democracia ateniense era o regime do
povo, que constituía a parcela menor da
Eis os conselhos que um bom marido dá à sua mulher: "É mais honesto para população, pois excluía escravos, estrangei
a mulher ficar em casa do que estar sempre saindo; e é mais vergonhoso para ros e mulheres. Ao povo pertenciam ape
o homem ficar em casa do que fora, tratando de negócios. Portanto, deverás (tu, nas os que tinham direitos políticos e eram
mulher) permanecer em casa, mandar acompanhar teus servos encarregados dos
considerados, por isso, cidadãos atenienses.
trabalhos externos e fiscalizar pessoalmente aqueles que trabalham dentro de
casa. Deverás receber o que for trazido e distribuir as provisões que deverr: ser A democracia fez com que o poder, an
usadas; com relação ao supérfluo, tu deverás zelar para que nâo se gaste num tes dominado pelos eupátridas, passasse a
mês o que estiver destinado ao ano i nteiro. Quando te trouxerem lã, tu manda· ser exercido pelos pequenos proprietários,
rás fiar e tecer vestuário para aqueles que deles estiverem necessitando; igual
artesãos e comerd.antes, submetendo uma
mente, terás que zelar para que as provisões secas estejam boas para comer.
Entretanto, uma das tuas funções que, talvez, te agradará menos: se algum de
massa de escravos, metecos (estrangeiros)
teus escravos ficar doente, deverás cuidar dele até sua cura completa". e mulheres.
<(
c.:J (Xenofonte, Economia) A democracia ateniense tornou-se um
1- exemplo para muitas cidades gregas e a ci
z
<( dade de Atenas passou a ser o centro polí
<(
tico e cultural da Grécia no século V a.C.
u
·L.U Por outro lado, as reformas de Clístenes produziram um período de estabilidade
a:
c.:J em Atenas. Essa estabilidade permitiu a formação de um sistema coeso, capaz de
- enfrentar um longo período de perturbações externas - provocadas pelas guerras
20 contra os persas - que ajudaram a consolidar ainda mais as instituições atenienses.
As guerras greco-pérsicas A Batalha de Maratona (490 a.C.) foi
contra os persas. Milcíades, o grande es·
trategista ateniense, soube atacar as for
trategista ateniense soube atacar as for
ças persas nos seus pontos mais fracos .
. Quase todas as colônias gregas situadas no Oriente foram ocupadas pelas tropas
O inimigo não conseguiu se defender e
persas desde os tempos do rei Ciro. No início, os persas respeitavam a autonomia perdeu mais de 6 000 homens. Heródo
das cidades gregas da Ásia, das quais recebiam contribuições aparentemente espon to conta como os atenienses arremês
tâneas. Com o passar do tempo, entretanto, a exigência cada vez maior de impostos saram-se a passo acelerado contra os
persas.
obrigou muitas dessas cidades a se revoltarem, principalmente Mileto, que contou
com a ajuda dos atenienses. Esse foi o motivo para a guerra total entre gregos e persas.
Primeira guerra. A cidade de Mileto foi
arrasada e seus habitantes deportados pa
Os Persas , vendo os adversários na fúria da corrida, esperaram o choque. Por
ra a Mesopotâmia. Em seguida, uma ex
seu pequeno número, por essa maneira de atacar correndo, j ulgaram-nos presa
pedição militar persa submeteu a Trácia e de uma loucura que iria, em um abrir e fechar de olhos, perdê-los, tanto mais
a Macedônia. Em 492 a.C. , Dario exigiu que não tinham cavalaria nem arqueiros. Os Atenienses meteram-se na confu
a rendição incondicional dos gregos. Atra são e combateram com bravura digna de memória. A manobra surtiu: No cen
tro, os Bárbaros levaram vantagem. Mas, nas duas alas, os Atenienses e os
vessando o mar Mediterrâneo, Dario de
Plateienses (soldados de Platéia, cidade vizinha e amiga) derrotaram os corpos
sembarcou o exército persa na planície que lhes opunham resistência; tendo-se reunido, voltaram-se contra os que des
grega de Maratona, a poucos quilômetros barataram o seu centro. A vitória dos Atenienses foi completa. Desbarataram os
de Atenas. Avisados a tempo, os atenien fugitivos empurrando-os até o mar.
ses conseguiram se organizar. Comandados (Heródoto in Malet!Isaac, História Universal)
por Milcíades e ajudados pelas irregulari
dades do terreno - que dificultaram a ação
da cavalaria persa -, conseguiram vencer os persas. Com a vitória, o prestígio de
Atenas aumentou como nunca entre os gregos.
Segunda guerra. Dez anos depois, os persas voltaram a ameaçar a Grécia. Xerxes,
sucessor de Dario em 486 a.C. , preparou uma nova ofensiva. Para atravessar o es
Na tragédia Os Persas, de Ésquilo, um
treito de Dardanelos, os persas chegaram ao requinte de construir uma ponte feita
dos personagens, um mensageiro persa,
com barcos. Mas a iminência da dominação uniu ainda mais os gregos: formou-se narra a batalha de Salamina, vitória grega
uma confederação de cidades - a Confederação ou Liga de Delos - para lutar liderada pelo ateniense Temístocles.
contra os invasores.
Cerca de 6 000 espartanos, comandados
Quando o dia de brancos corcéis lança sua claridade sobre a terra, eis que,
pelo rei Leônidas, tentaram barrar os per sonoro, um clamor se eleva do lado dos gregos( . . . ) E o terror se apodera de todos
sas no desfiladeiro das Termópilas. Mas es os bárbaros, pois se os gregos entoavam esse canto solene, era para marchar ao
tes descobriram outra passagem, no alto combate( . . . ) e os apelos da trombeta inflamavam toda a sua linha. Logo os remos
das montanhas. Para permitir a retirada de ruidosos ferem a água profunda em cadência, logo todos surgem à plena vis
ta( ... ) e podia-se ouvir então, muito próximo, um imenso apelo: "Ide, filhos dos
seus homens, Leônidas e mais 300 solda
Gregos, libertar a pátria, libertar vossos filhos e vossas mulheres, os santuários
dos resistiram no desfiladeiro, acabando dos deuses de vossos pais e os túmulos dos vossos antepassados: é a luta supre
massacrados pelos persas. Os persas ata ma"( . . . ) Um navio grego deu o sinal de abordagem( . . . ) O afluxo dos vasos persas
caram Atenas depois de a população ter si resistia a princípio; mas todos eles amontoando-se em um passo estreito onde
se abordam mutuamente chocando as suas faces de bronze, quebram a apare
do retirada. Embora vazia, Atenas foi
lhagem dos remos, e então as trirremes gregas destramente os envolvem, batendo
incendiada. os; os cascos reviram-se; o mar desaparece sob um amontoado de destroços, de
Temístocles, comandante dos atenienses, cadáveres sangrentos, e uma fuga desordenada arrebata em todos os remos o
atacou a frota persa no golfo de Salamina que resta dos navios bárbaros - enquanto os Gregos, como se fossem atuns,
e destruiu-a. Em seguida, Pausânias, rei peixes sem lombo, ferem, matam, com restos de remos, fragmentos de destro
ços! . . . A soma das nossas perdas, mesmo que eu levasse dez dias para relacioná
de Esparta, comandando um exército gre
las, não saberia estabelecê-la ... "
go unificado, derrotou os persas na bata (Ésquilo, "Os Persas", in Malet/Isaac, op. cit. )
lha de Platéia.
O poderoso império persa foi obrigado
a curvar-se diante dos gregos que, na ofen-
siva conduzida pela Liga de Delos, forçaram os persas a aceitar a paz e sair da Ásia
Menor.
, ... iÍÍodes
1---
atenienses são derrotados pelos 1:) 4
2 espartanos nas batalhas de Egos
<(
'dl /t
Potamos (405 a.C.). Após ser
<(
u
•UJ
bloqueada por terra e por mar,
Atenas assina a paz com Esparta em )f
.. scarpanto
.
0::: 404 a.C . , os atenienses são obrigados
(!)
a derr1,1bar as muralhas que cercavam
-
22
a cidade, entregar sua esquadra e
reconhecer a hegemonia de Esparta. Esparta a s
e seus ali d o O t A ena s e seus aliados = Neutros
terra, enquanto no mar os atenienses, comandados por Temístocles, devastaram a Filipe II da Macedônia, após centra
frota de Corinto, aliada de Esparta. lizar o poder lançou-se na conquista da
Grécia. Ésquines, importante político e
Como os ataques espartanos eram constantes, toda a população vizinha refugiou
orador ateniense, era a favor da submis
se dentro da cidade de Atenas. Como conseqüência, uma terrível peste atingiu a ci são dos gregos aos macedônios assim co
dade, dizimando grande número de pessoas. O próprio Péricles foi vítima da peste, mo Isócrates. Demóstenes, outro famoso
morrendo em 429. orador, era a mais importante voz que
As cidades dominadas pela Liga de Delos aproveitaram-se do enfraquecimento de clamava em defesa da soberania das cida
des-estados gregas.
Atenas e se revoltaram. Com o poderio da cidade abalado, o governo foi retomado
pela aristocracia. Em 421 a.C., Nícias, um aristocrata, assinou um tratado de paz Na luta diplomática entre a
com Esparta,mas essa !régua duraria pouco. Em 415 a guerra recrudesce. Contando Macedônia e a Pérsia, a Grécia
com o apoio do rei da Pérsia, Esparta consegue derrotar Atenas no mar e por terra, tinha um difícil papel a
impondo-lhe a rendição em 404 a.C. Começa assim um período de hegemonia de desempenhar. Logo compreendeu
as aspirações de Filipe. Havia um
Esparta. grupo de idealistas no país -
No entanto, não interessava aos persas fortalecer qualquer das cidades gregas. As Isócrates, o mais importante deles
sim é que, em 396 a.C., apoiaram uma liga de cidades gregas que se insurgiam con - viu que a cidade-estado não
tra Esparta, entre as quais se destacavam Atenas e Tebas. Os conflitos entre as cidades tinha poderes para efetuar uma
união de nação e compreendeu o
gregas sucederam-se. Atenas recobrou seu poderio e conseguiu voltar a impor-se,
perigo persa. Portanto, os
por um curto período. componentes desse grupo estavam
Ao assinar o acordo de paz com o rei da Pérsia, Esparta reconheceu o domínio inclinados a suportar a
dele sobre os gregos da Ásia, enfraquecendo-se cada vez mais. Na verdade, através dependência da Macedônia ( ... ) e
de sucessivos conflitos, as cidades gregas foram se alternando no poder, culminando na submissão a ela viam a única
solução possível, o único meio de
com a hegemonia de Tebas, que se impôs graças à liderança de Epaminondas. Mas preservar para a Grécia sua
o domínio tebano durou pouco (371 a 362 a.C.). Marcada pelas conseqüências das importância e proeminência na
guerras do Peloponeso e por rivalidades internas, a Grécia tornara-se um alvo fácil vida política e na civilização
para outros conquistadores. mundial. Um dos defensores mais
ativos dessa política em Atenas
A Macedônia, região situada ao norte e governada por Filipe II, conquistou toda
era Ésquines, um eloqüente
a Grécia. orador.
Mas a maioria na Grécia
Domínio macedônico adotava um ponto de vista
diferente, encontrando um líder
A Macedônia localizava-se ao norte da Grécia. Cercada de grandes montanhas e em Demóstenes, orador retórico e
vales férteis, essa região possuía uma economia fundamentada na agricultura e no estadista, inimigo ferrenho da
Macedônia e defensor das antigas
pastoreio; em comparação com as cidades gregas, comercialmente desenvolvidas e tradições. Para Demóstenes e seus
urbanizadas, era considerada atrasada. seguidores, a questão em pauta
Os macedônios eram povos de origem ariana. Sua organização política, baseada era a liberdade da Grécia, que
na nobreza territorial, apoiava-se numa economia agrária bastante rudimentar. Os identificavam com a cidade
estado, sua independência, seu
ricos proprietários de terras, em número muito pequeno, exploravam os campone
direito de resolver seus próprios
ses pobres e escravos. Por outro lado, devido a sua posição geográfica, eram freqüen assuntos, nacionais e estrangeiros,
temente ameaçados por regiões vizinhas como a Ilíria, a Trácia e o Epiro. Esses fatores sem interferência externa. Oposta
obrigaram os macedônios a se tornarem um povo prático e extremamente combativo. a essa liberdade estava a
monarquia, na qual eles viam o
A conquista da Grécia por Filipe 11 inimigo mortal dos princípios
constitucionais peculiares tão
Em meados do século IV a.C . , Filipe II da Macedônia, alguns anos antes de assu caros aos gregos. (Rostautzeff, M . ,
História da Grécia)
mir o poder, viajou por toda a Grécia para conhecer seu moâo de vida e costumes.
Em Tebas, percebeu que as guerras e rivalidades entre as cidades haviam enfraque
cido os Estados gregos. Observou, também, a organização do exército teban:) e
familiarizou-se com o uso das longas lanças de madeira introduzidas pelo grande
estrategista Epaminondas.
Ao assumir o poder em 356 a.C . , uma das primeiras medidas de Filipe II foi limi
tar o poder da nobreza, distribuindo suas terras entre os camponeses pobres. Dessa
forma, passou a contar com o apoio de uma classe numerosa, o que lhe permitiu
a formação de um exército de milhares de soldados . Armadas de escudos e lanças
de madeira, essas forças militares - que tinham na falange seu ponto forte - conse
guiram vencer os tradicionais inimigos da Macedônia. Ao mesmo tempo, Filipe II
fortaleceu a economia do país, desenvolvendo o comércio e aumentando a explora
<(
ção das jazidas de ouro. (!)
As reformas econômicas e militares de Filipe II criaram a base de um aparelho i=
z:
de Estado destinado, acima de tudo, a manter uma política imperialista. <(
<(
Aproveitando a forte crise que enfraquecia as cidades gregas - resultado das lutas u
•W
internas iniciadas com a Guerra do Peloponeso -, Filipe II conquistou alguns alia a:
(!)
dos entre os gregos, que viam na dominação macedônica a única forma de união
-
e de superação das divergências internas.
Filipe II usou toda a sua habilidade para conseguir adeptos. Para isso, instigava 23
os gregos contra os persas e procurava demonstrar a necessidade de se unirem para
combatê-los . Nesse sentido, contou com a importante colaboração de lsócrates, pre
gador de uma cruzada grega contra os persas.
As intenções imperialistas de Filipe 11 eram evidentes . No entanto, somente De
móstenes, o grande orador ateniense, tinha consciência do perigo e passou a alertar
seus concidadãos na Eclésia de Atenas. Em coy.seqüência, formaram-se dois grupos
políticos: os filomacedônios, liderados por Esquines, que viam em Filipe II o sal
vador da Grécia; e os antimacedônios, liderados por Demóstenes, que pregavam
a união dos gregos contra Filipe 11.
Quando os gregos perceberam o perigo que representava a política macedônica,
já era tarde. Apoiando-se nos grupos filomacedônios, organizados em todas as cida
des gregas, a falange macedônica derrotou atenienses e tebanos na Batalha de Que
ronéia, em 338 a.C. Em seguida, Filipe 11 apoderou-se do resto da Grécia.
Todavia, conhecedor do individualismo das cidades gregas, Filipe 11 preservou
sua autonomia e respeitou suas instituições. Desse modo, pôde reivindicar o direito
de chefiar uma liga militar contra os persas - a Liga de Corinto.
Filipe II j á havia assentado as bases militares para a invasão da Pérsia quando foi
assassinado, durante a cerimônia de casamento de sua fllha.
1ão logo se espalhou a notícia da morte do rei da Macedônia, cidades gregas como
Após a conquista da Grécia, Alexan Tebas e Atenas começaram a se revoltar. Por outro lado, os numerosos filhos de Fili
dre volta-se para a Ásia. O primeiro ini
migo a enfrentar foram os persas sob a pe reivindicavam a sucessão do pai. Alexandre, filho legítimo de Filipe 11, que con
liderança de Dario. Ao desembarcar, em tava na época apenas 20 anos de idade, resolveu a questão por meio da violência.
334 a.C., perto da antiga Tróia, vence a Montou uma armadilha para os irmãos, assassinando-os no meio de um banquete.
primeira batalha contra os persas. Segue Além disso, usou de extrema brutalidade para com os revoltosos. As cidades gregas
para a Síria, onde trava a batalha de Is
rebeldes foram arrasadas e seus habitantes escravizados.
sos (333 a.C.), liderada pelo próprio Da
rio. A cidade de tiro continuava nas
mãos dos persas. No texto abaixo, Ale Conquistas de Alexandre Magno
xandre explica as razões da tomada de Ti
ro, antes de continuar a conquista do Com um exército de 35 000 homens e 1 69 navios, constituído na maioria por ma
Império persa. Alexandre, após um as
cedônios e pequenos contingentes das cidades gregas, Alexandre desembarcou na
sédio de sete meses, toma de assalto a ci
dade e segue para o Egito onde é acolhido Ásia. Na primeira batalha, em 334 a.C. , venceu os sírios junto ao rio Górdio. No
como libertador. ano seguinte, desbaratou um imenso exército persa comandado pelo próprio Dario
111 na planície de lssos. Em seguida, to
Amigos e aliados, vejo que a marcha em direção ao Egito não está assegurada mou o porto de Tiro, na Fenícia. Fiel a sua
enquanto os persas dominarem o mar; não é prudente de muitos pontos de vista, política de enfraquecer ao máximo o ini
sobretudo no que concerne aos gregos, perseguir Dario, deixando atrás esta du
migo antes de chegar ao centro do impé
vidosa cidade de Tiro, enquanto que o Egito e Chipre continuam em mãos dos
persas. Se algum dia os persas dominarem novamente as regiões próximas ao rio, Alexandre deslocou-se para o Egito,
mar - enquanto nossas forças avançam em direção à Babilônia e a Dario - com onde encontrou pouca resistência, sendo re
uma armada reforçada eles fariam a guerra na Grécia, onde existe a hostilidade cebido como um verdadeiro deus pelos sa
dos lacedemônios e a neutralidade atual dos gregos, devida mais ao temor do
cerdotes locais.
que à simpatia. No entanto, se Tiro fosse tomada, dominaríamos a Fenícia, e lo
gicamente a frota fenícia (isto é, a melhor parte da frota persa) estaria do nosso
Alexandre incorporou o exército egípcio
lado, pois nem os marinheiros nem as tropas enviadas da Fenícia correriam o às suas divisões e invadiu o território per
risco de uma batalha em benefício de outrem, se dominássemos suas cidades. sa em 331 a.C. , defrontando-se com o ini
Após isso, Chipre se j untaria a nós sem dificuldades, ou seria derrotada facil migo na planície de Gaugamela. A vitória
mente por uma expedição. Uma vez reunidas as frotas fenícia e egípcia e ainda
abriu-lhe caminho para a conquista das ci
Chipre, dominaríamos seguramente o mar, tornando a expedição ao Egito um
golpe fácil. Com o Egito submetido à nossa dominação, não teremos mais que dades persas. O rei Dario III foi assassi
nos inquietar pelos nossos problemas ou dos gregos, e marcharíamos em dire nado, e Alexandre coroado rei da Pérsia.
ção à Babilônia, não somente livres de toda a preocupação, mas com um trunfo As tropas macedônicas continuaram a
a mais, uma vez que teremos tirado da dominação persa todo o mar e as terras
marchar até a Índia. Porém, ao chegarem
aquém do Eufrates.
(Jaime Pinsky - 100 textos de História Antiga) às margens do rio Indo, os soldados se re
cusaram a avançar. Alexandre, então, di-
vidiu seu exército e voltou à Mesopotâmia.
Na Babilônia, foi acometido por uma fe
bre vindo a falecer em 323 a.C., com 33 anos de idade.
Alexandre não deixou herdeiros. Devido às diferenças sócio-culturais, o imenso
<(
(.!) império que conquistou foi dividido entre seus generais, formando os Estados hele
1- nísticos.
:z
<( O reino do Oriente incluía a dinastia dos Selêucidas e compunha-se da Síria, Me
<(
u
sopotâmia e Ásia Menor; o reino do Egito foi herdado por Ptolomeu; e o reino da
•LU
CC Macedônia, que incluía toda a Grécia, ficou com o general Antígono. Além disso,
(.!) formaram-se em outras regiões do Império pequenos reinos, como o de Pérgamo,
-
que teve grande desenvolvimento. As cidades gregas voltaram a ter um curto período
24 de relativa independência, mas no século II a.C. foram conquistadas pelo romanos.
Macedônia Estados aliados ou inde p endentes - Roteiro d e Alexandre
Im p ério de Alexandre
Respostas
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26
ROMA ANTIGA
Roma localiza-se na região central da península Itálica, às margens do rio Tibre.
Entrando pelo mar Mediterrâneo, a península Itálica situa-se entre a península Bal
cânica, à direita, e a península Ibérica, à esquerda. Apresenta a costa leste banhada
pelo mar Adriático e a costa oeste banhada pelo mar Tirreno. Ao sul, localiza-se o
mar Jônio.
O relevo da península Itálica é constituído ao norte pela cordilheira dos Alpes,
O Império Romano, de início
cuja altitude vai diminuindo em direção ao sul, até a planície do rio Pó. Daí até
talvez o mais fraco e que se
o extremo sul, na direção norte-sul, estende-se a região montanhosa dos Apeninos, tornou, por suas conquistas, o
que separa as duas planícies litorâneas paralelas. Estado mais poderoso que jamais
Toda essa região, extremamente fértil, sempre permitiu à população local, princi existiu na face da terra, tem sua
origem em Rômulo, filho de uma
palmente das planícies, produzir seu próprio alimento. Essa era uma condição in
sacerdotisa de Vesta e, ao que se
dispensável para a sobrevivência dos povos que habitavam o território, pois as acredita, de Marte.
montanhas de um lado e o mar de outro provocavam um relativo isolamento de toda Rômulo nasceu com Remo, seu
a Itália. irmão gêmeo. Depois de viver
Entre os primitivos habitantes da península Itálica encontravam-se, ao norte, os entre os pastores, as armas
sempre na mão, aos dezoito anos
lígures e ao sul, os sículos (ou sicilianos). ele ergue uma pequena cidade no
A partir de 2000 a .C . , povos indo-europeus, aparentados com os arianos gregos, monte Palatino ( . . . )
deslocaram-se para o centro e para o sul da península. Esses povos, conhecidos co Após fundar a cidade, que
mo italiotas ou itálicos, formaram vários núcleos de povoação: latinos, samnitas, chamou Roma, nome que tirou do
úmbrios, volscos e sabinos. seu, faz o que se segue: recebeu,
na nova cidade, todos seus
Os latinos fixaram-se na planície do Lácio, às margens do rio Tibre, onde pratica vizinhos; escolheu cem dos mais
vam a agricultura e o pastoreio. Viviam em comunidades primitivas, tendo como velhos para que o aconselhassem
chefe o mais velho do grupo: o páter-família. em todas suas ações; deu-lhes o
Na época da colonização pelos latinos, Roma era nada mais que um forte militar, nome de senadores, por causa da
idade avançada. Mas como ele e
construído para evitar a invasão de povos vizinhos.
seu povo não tinham mulheres,
A partir do século VIII a.C . , enquanto o nível de vida das tribos italiotas era ainda convidou para os jogos as nações
muito rudimentar, os gregos que começaram a colonizar o sul já apresentavam notá vizinhas de Roma e mandou
vel desenvolvimento econômico e cultural. Na mesma época chegaram também os raptar as moças. Este ultraje logo
provocou guerras; os ceninenses,
etruscos, vindos provavelmente da Ásia Menor, que ocuparam a planície a oeste do
os antenates, os crustuminenses,
Tibre. os sabinos, os fidenates e os
Distribuídos em doze cidades , os,etruscos formavam uma confederação. A partir veientanos, cujas cidades estavam
de sua área de ocupação inicial, estenderam seus domínios para o sul, até chegar ao redor de Roma, foram
às planícies do Lácio e da Campãnia. Ao norte, expandiram-se em direção ao vale vencidos. E, tendo Rômulo
desaparecido durante urna súbita
do Pó. Ao sul, chegaram a competir com os gregos, principalmente depois de se
tempestade - após um reinado
aliarem aos fenícios de Cartago. de trinta e seis anos - acreditou
Ocupando toda a região do Lácio, os etruscos conseguiram dar à cidade de Roma se que tinha sido recebido no
uma nova estrutura. Empregaram novas técnicas, desconhecidas pelos latinos, e fi céu: /oram-lhe rendidas as honras
zeram da agricultura a atividade econômica predominante. Desenvolveram também da apoteose.
(Eutrópio in J. Pinsky, 100 Texws
atividades tipicamente urbanas, como o comércio e o artesanato, contribuindo para de História Antiga)
a transformação da aldeia em cidade.
<(
As mudanças econômicas ocorridas em Roma conduziram a transformações na or (.!)
ganização social. i=
z
Com o surgimento da propriedade privada, a comunidade primitiva teve frm e as <(
famíliasligadas ao páter-família apropriaram-se das melhores terras, formando uma <(
:2:
aristocracia de patrícios (palavra cujo significado se aproxima de "pai", pater em o
ex:
latim). Constituindo a camada social dominante, os patrícios eram denominados gen
tes por estarem agrupados numa única unidade básica, o gens ou clã. Os membros -
do gens reuniam-se em torno do mesmo chefe e cultuavam o mesmo antepassado. 27
Essa unidade compreendia os parentes po
Mas o que manifestamente separa o plebeu do patrício é o fato de aquele não
possuir a religião da cidade. Não pode, por impossível, ser investido no sacer bres ou clientes e os patrícios agrupa
dócio. Pode-se mesmo acreditar que a oração, nos primeiros séculos, lhe esti vam-se em associações religiosas chamadas
vesse interdita e não pudessem os ritos serem-lhe revelados. ( ... ) O plebeu é um cúrias.
estranho, e, por conseqüência, a sua presença profana o sacrifício. O plebeu
é repelido pelos deuses. Entre o patrício e o plebeu existe toda a desproporção Todos os que não pertenciam ao gens
resultante da religião não poder estabelecer-se entre dois homens. ( . . . ) Todo o eram considerados plebeus . Em geral, a
contato com plebeu é impuro. Os decênviros, nas suas dez primeiras tábuas,
esqueceram-se de interditar o casamento entre as duas classes; sucedeu isto por camada dos plebeus era formada por es
que estes primeiros decênviros eram todos patrícios e nem acudira ao espírito trangeiros, comerciantes, artesãos e peque
de nenhum deles a possibilidade de semelhante casamento. nos proprietários de terras pouco férteis.
Vê-se como as classes, na idade primitiva das cidades, estavam sobrepostas
uma à outra. No cimo, estava a aristocracia dos chefes de família, os que a lin Os plebeus que conseguiam enriquecer
guagem oficial de Roma chamava palres, os clientes apelidavam de reges ( . . . ). podiam reivindicar a condição de clientes,
Abaixo dos palres, os ramos mais novos das famílias; abaixo ainda, os clientes, desde que se colocassem sob a proteção le
e, só depois, mais abaixo, muito mais para baixo e fora de todos os mais, se en
gal de uma família patrícia. Em troca, pres
contrava a plebe.
Da religião proveio esta distinção de classes. Porque, no tempo em que os an tavam determinados serviços e adotavam o
tepassados gregos, dos ítalos e dos hindus vi·,riam ainda juntos na Á sia central, mesmo culto religioso da família. Desse
a religião lhes havia dito: "O primogênito fará a oração". Daqui, a superiorida modo, conseguiam assegurar seu direito à
de do primogênito em todas as coisas; o ramo primogênito foi em cada família
propriedade perante as leis romanas. Tais
o ramo sacerdotal e proprietário. Todavia, a religião, estimava em muito aos ra
mos mais novos, por estes serem espécie de reserva para um dia substituírem plebeus enriquecidos compunham a clien
o ramo primogênito, quando extinto, e assim salvarem o culto da família. A reli tela que, dependendo da família patricia,
gião contava ainda em alguma coisa o cliente, e até mesmo o escravo, porque poderia tornar-se hereditária.
estes assistiam aos atos religiosos. Mas o plebeu, não tomando parte alguma no ·
culto, a esse, a religião não considerava absolutamente em nada. Deste modo Havia, ainda, os escravos que, em pe
estavam as classes estabelecidas. queno número, limitavam-se aos serviços
(F. de Coulanges - A cidade antiga) domésticos ou a atender as necessidades
pessoais dos patrícios.
A República romana
A substituição da Monarquia pela República foi um ato reacionário dos patrícios,
<(
(.? que afastaram a realeza, cada vez mais comprometida com as classes empobrecidas.
1-
z
O monopólio do poder voltou às mãos dos patrícios, com as instituições romanas
<( assegurando a manutenção desse poder.
<(
::2:
Plebeus e escravos continuaram sem direitos políticos, mas alguns plebeus, enri
o
a:
quecidos com o comércio, chegaram a ter certos privilégios resultantes de sua condi
ção de clientes. Entretanto, dependiam inteiramente dos benefícios concedidos pelos
-
patrícios.
28 A base da República romana era o Senado, formado por trezentos patrícios, com
a responsabilidade de propor leis. Os cargos eram vitalícios, abrigando outras fun
ções: garantir a integridade da tradição e da religião, supervisionar as tinanças pú
blicas , conduzir a política externa e administrar as províncias. A presidência do
Senado era exercida pelo magistrado, que o convocava, podendo ser um cônsul, um
pretor ou um tribuno.
Existiam duas assembléias encarregadas de votar as leis sugeridas pelo Senado.
A Assembléia Curiata, que perdeu quase toda a sua importância durante a Repú
blica, e a Assembléia Centuriata, formada pelas centúrias (divisões políticas e mili
tares compostas de cem cidadãos) , a quem cabia de fato discutir e votar as propostas.
O poder executivo era exercido pelos magistrados, pertencentes na maioria das
vezes à classe dos patrícios. Com exceção do censor, todos os magistrados eram elei
tos pela Assembléia Centuriata para um mandato de um ano. Coletivas, as magistra
turas exigiam a presença de dois ou mais magistrados para cada cargo.
Os magistrados eram os seguintes:
• Cônsules: Detinham o maior poder, equivalente ao dos antigos reis . Eram dois,
• Tribunos da plebe: Surgiram em decorrência das lutas da plebe por seus direitos.
Os tribunos podiam vetar todas as leis contrárias aos interesses dos plebeus, menos
em épocas de guerras ou de graves perturbações sociais, quando todas as leis fica
vam sob controle exclusivo do ditador. Os tribunos da plebe eram considerados in
violáveis e quem os agredisse era condenado à morte.
O imperialismo romano
A República romana foi marcada por conquistas que expandiram seu domínio por
toda a bacia do Mediterrâneo.
Em Roma, escravos e terras constituíam riqueza, e a forma de os grandes proprie
tários e comerciantes romanos consegui-los era por meio de guerras e conquistas.
Assim, o imperialismo romano manifestou-se como uma política de conquista de
novos territórios, para aumentar a mão,de-obra escrava e atender aos interesses dos
grandes proprietários de terras e de escravos.
A conquista da Itália
Os romanos levaram 230 anos para conquistar toda a Itália. As primeiras guerras
tiveram um caráter diferente: a prosperidade de Roma atraía a cobiça dos vizinhos
e, para defender-se, os romanos acabavam ocupando novos territórios. Nessa fase ini-
As conseqüências do imperialismo
O domínio romano na bacia do Mediterrâneo resultou em grandes transformações
econômicas, sociais e políticas , que conduziram à crise e ao fim da República,
formando-se o Império.
A economia romana passou a se fundamentar na venda de escravos capturados
entre os povos vencidos e na cobrança de tributos das regiões conquistadas. Um dos
reflexos dessa mudança foi a formação de uma classe de ricos comerciantes, os cava
leiros.
O trabalho escravo passou a ocupar todas as atividades profissionais, �obretudo
nas grandes propriedades, que chegavam a atingir a extensão de 80 000 hectares.
Enquanto na Grécia, durante o período clássico, o escravismo coincidiu com a esta
bilização da pequena propriedade e a formação de um grupo de cidadãos composto
principalmente por pequenos proprietários, em Roma o resultado foi o latifúndio
e o domínio de uma poderosa aristocracia.
Com o progresso econômico resultante do imperialismo ocorre o surgimento de
uma nova classe social, a dos homens novos ou cavaleiros. Eram antigos plebeus
que possuíam algum capital e que, aplicando-o em atividades rendosas - cobrança
de impostos, fornecimento de víveres para o exército durante as campanhas milita
res, arrendamento da exploração de minas e florestas pertencentes ao poder público,
construção de pontes, estradas etc. - obtinham grandes lucros, tornando-se imen
samente ricos.
Porém, a classe plebéia, sustentáculo do Exército, tendia a desaparecer. A agricul
tura em grande escala exigia cada vez mais capital e tanto o escravo quanto os peque
nos proprietários estavam sendo totalmente arruinados. Como o trabalho livre
praticamente não existia (a maioria das tarefas era executada pelos escravos), os ple
beus proletarizados , cada vez em maior número passaram a viver em torno de Roma
com o pão e o circo fornecidos pelo Estado.
Essas mudanças, resultantes da exploração imperialista, abriram um novo quadro
em Roma, marcado por violentas lutas políticas e sociais. Inicialmente ocorreram
conflitos entre patrícios e plebeus e, depois, entre patrícios e cavaleiros, que reivin�
clicavam o direito de ocupar cargos na magistratura e no Senado, pois isso lhes au
- mentaria o poder econômico. Essas lutas iriam destruir as bases da República romana
32 e formar o Império.
A Crise da República
Os Graco e a reforma agrária
A plebe prolet:arÍZl!,da tinha seus tribunos no Senado para defender seus interesses .
O tribuno Tibério Graeo propôs, em 133_ a.C . , a Lei Agrária, destinada a realizar
em Roma a redistribuição de terras inativas (não cultivadas) entre os plebeus desem
pregados.
De origem nobre e rica, Tibério Graco
teve educação esmerada, sendo influencia Os animais selvagens espalhados na Itália têm cada um a sua toca, o seu co
do pela cultura grega. Seu modelo de con vil, a sua furna; e aqueles que combatem e morrem pela Itália têm apenas o ar
e a luz, e depois nada mais: sem casa, sem morada fixa, erram com suas mulhe
duta era a democracia ateniense, principal
res e seus filhos. Os generais mentem quando, nas batalhas, animam os solda
mente os ensinamentos de Péricles. Como dos a combaterem os inimigos para a defesa dos túmulos e dos lugares de culto:
tribuno da plebe, retomou antigas leis, que entre tantos romanos, não há um que possua um altar familiar, uma tumba de
nunca haviam sido postas em prática, re antepassados. Guerreiam e morrem unicamente para o incremento do luxo e da
opulência dos outros: são chamados senhores do mundo, e não têm para eles
ferentes ao uso das terras públicas por par
uma nesga de terra!
ticulares. Propôs um limite à propriedade (Tibério Graco in Malet !I saac, op. cit.)
de 125 hectares. As que ultrapassassem es
se número, voltariam ao Estado e seriam
redistribuídas aos mais pobres. Uma co-
missão agrária composta por três membros faria o cadastramento. Após as Guerras Púnicas, Roma pas
A reforma agrária não interessava aos patrícios proprietários de terras, que come sou por um período de intensoo confli
çaram a boicotar as propostas de Tibério Graco. Com o fim do mandato, o tribuno tos internos. Foi a época dos levantes de
escravos sob a chefia de Espártaco.
candidatou-se novamente (o que não era permitido por lei) . Mas, apesar de sua vitó Os irmãos Graco, embora de ascendên
ria na reeleição, sem o apoio dos camponeses presos à terra e da plebe urbana desin cia aristocrática, propuseram um progra
teressada, tornou-se presa fácil dos inimigos. Cercado no Capitólio por senadores ma de reformas que visava diminuir os
e membros do partido dos nobres, Tibério foi massacrado junto com trezentos parti conflitos: dar terra aos camponeses, rea
bilitando o pequeno proprietário e assim
dários. fortificando o Estado. Eleito tribuno em
A semente da revolta plebéia brotou novamente com Caio Graco, irmão de Tibé 1 3 3 a.C., Tibério Graco, pronunciou na
rio, em 123 a.C. Caio Graco reivindicou melhores condições de vida para a plebe Assembléia Popular um brilhante discur·
e conseguiu que o senado aprovasse a Lei Frumentária, que distribuía pão à plebe. so (acima).
Mas Caio Graco pretendia radicalizar o movimento, conseguindo terras para a ple
be. ·os cavaleiros, que também eram proprietários, retiraram o apoio a Caio, impe
dindo assim a sua reeleição como tribuno. Tentando impor sua proposta pela força,
o movimento foi reprimido e os principais discípulos de Caio decapitados. Caio
pediu a um escravo que o matasse.
O movimento dos plebeus, liderado pelos irmãos Graco, não alcançou seus objeti
vos. O proletariado romano, sustentado pelo Estado, relutou em apoiar o movimen
to, prejudicado também pela união entre patrícios e cavaleiros.
novo período de lutas, solucionado com um acordo entre as classes dominantes. Es- 33
se acordo permitiu a formação do primei
E agora, Romanos, a esses nobres soberbos comparai Mário, homem novo. O
que eles ouvem contar, o que lêem, eu o vi , eu mesmo fiz; o que aprendem nos ro triunvirato, em 60 a.C., composto por
livros, aprendi-o nos acampamentos ( . . . ) Cada vez que, por assim dizer, tomam Crasso, rico cavaleiro, Pompeu, represen
a palavra, seja perante vós, seja no Senado , não tem na boca senão o elogio" aos tante dos patrícios, e Caio Júlio César, po
seus antepassados, como se, lembrando as belas ações desses grandes homens,
lítico de origem nobre mas com enorme
se tornassem eles mesmos mais ilustres! É j ustamente ao contrário: quanto mais
a vida de uns teve brilho, ma1s a nulidade dos outros é degradante( ... ) Não posso,
prestígio entre a população pobre.
para justificar a vossa confiança, exibir nem os bustos de meus antepassados, nem As guerras que envolveram Roma, des
os triunfos, nem os consulados de meus avós; mas, se for preciso, mostrarei dardos, de Sila a Mário, demonstraram que a Re
um estandarte, colares'cie honra, muitas outras recompensas militares; mostrarei , pública dos patrícios chegava ao frm e que
principalmente, as cicatrizes que sulcam o meu peito. Aí estão os meus bustos,
surgiam novos instrumentos do poder, co
aí está a minha nobreza: bustos, nobreza que eu não tenho, como eles, adquirido
por herança, mas conquistado por mim mesmo à força de trabalhos e perigos! mo a plebe urbana e o exército profissional.
(Salústio in Malet/Isaac, op. cit.)
O Alto Império
O Baixo Império
A economia de Roma, baseada quase exclusivamente no uso de trabalhadores es
cravos, passou a se ressentir, a partir do século 11 d.C . , com a falta desse tipo de
mão-de-obra. O longo período de paz afetou a oferta de escravos (fornecidos princi
palmente pelas guerras), que não pôde ser devidamente superada com a compra de
novos contingentes nas regiões de fronteira. Como esse tipo de população apresenta
va um baixo índice de natalidade e crescimento demográfico, o preço dos escravos
começou a subir acentuadamente. Em menos de um século, seu preço chegou a re
presentar mais de dez vezes o seu custo inicial. Como era considerada uma mercado
ria perecível e de alto risco, tornou-se cada vez mais oneroso para os proprietários
rurais fazerem esse tipo de investimento.
Assim, a produção dos grandes latifúndios começou a declinar, caindo também
o lucro dos proprietários. Com menos impostos a receber, em conseqüência da crise
econômica, o Estado romano viu-se obrigado a tomar uma série de medidas: deixou
de sustentar a plebe urbana (que foi trabalhar no campo) e limitou os gastos com
<( a corte imperial; aumentou também o valor dos impostos (quem não pudesse pagá
(.!;)
i= los fugia para o campo) e, finalmente, reduziu os contingentes militares.
z:
<( Como saída para a crise, os proprietários rurais escolheram um novo sistema de
<( arrendamento. Pelo novo sistema, os trabalhadores sustentavam-se com o próprio
�
o trabalho, nos pedaços de terra fornecidos pelos donos. Em troca, tinham que traba
ex:
lhar uns dias por semana para o proprietário. Esse tipo de arranjo tornava auto
- suficiente a produção de alimentos, mas dificultava a produção de excedentes para
36 o comércio.
Desse modo, foram gradativamente transformados em colonos plebeus da cidade,
bárbaros que fugiam das guerras no mundo germânico, pequenos proprietários agrí
colas e escravos que conseguiam obter seu pedaço de terra.
A cidade deixou de ser o centro do Império. O núcleo econômico passou a ser
a vila, onde os grandes proprietários de terras, em uma ou mais construções protegi
das, dirigiam a vida econômica, social e militar de toda a propriedade.
Esse processo de ruralização econômica e de descentralização política enfraquecia
o Império e preparava o surgimento do feudalismo. Por outro lado, à medida que
o Império se enfraquecia, suas dificuldades aumentavam. Povos bárbaros, na fron
teira ocidental, como os germânicos e os gauleses, ameaçavam invadir. O mesmo ocor
ria no Oriente com os persas, berberes e mauritânios.
A partir de 235 d.C., o Império Romano passou a ser governado por imperadores
soldados. Eram comandantes do exército que tinham como prioridade a defesa do
território. Para melhorar a eficiência administrativa do Estado, Diocleciano introdu
ziu,· em 284 d.C., a tetrarquia, sistema pelo qual o Império seria governado ao mes
mo tempo por quatro imperadores. Mas essa forma de governo logo entrou em crise,
após a morte de Diocleciano.
Por outro lado, o cristianismo, seita religiosa que começava a se expandir pelo
Império, com a adesão de plebeus, mulheres e escravos, minava as bases do regime,
já que por seu caráter pacifista e monoteísta, negava o militarismo e a configuração
divina do imperador. Em 313 d.C . , o imperador Constantino, pelo Edito de Milão,
deu liberdade de culto a seus seguidores. Sessenta anos mais tarde, outro imperador,
Teodósio, oficializaria o cristianismo, tentando criar uma nova base ideológica para
o governo, e dividiria definitivamente o Império Romano em duas partes: o Império
Romano do Ocidente, que ficou com seu filho Honório; e o Império Romano do
Oriente, com capital em Constantinopla, que passou para seu outro filho, Àrcádio
(395 d.C.).
O Império do Ocidente, depois de enfrentar e sofrer sucessivas invasões de povos
bárbaros, foi finalmente destruído por Odoacro, rei dos hérulos, em 476 d.C. Como
conseqüência do esfacelamento do Império do Ocidente, acentuou-se o processo de
descentralização econômica, dando origem ao feudalismo, que marcaria a Idade Mé
dia. No outro lado do mundo, porém, desenvolveu-se no Império Romano do Oriente
a civilização bizantina, que duraria mais de mil anos.
Exercício
(UNESP) A partir do século 111, o Império Romano caminhou da crise para a deca
dência. E, a propósito, considerando as afirmações:
1) O exército romano fazia e desfazia imperadores.
2) A decisão de tolerar o estabelecimento dos bárbaros que forçaram as fronteiras,
com o tempo, mostrou-se perigosa.
3) A fixação dos camponeses à terra contribuiu para o desenvolvimento do colonato,
em detrimento do modo escravista de produção.
4) Os invasores liquidaram com o Império do Ocidente, não restando uma única
instituição.
Assinale:
a) se todas as afirmativas estão incorretas.
b) se todas as afirmativas estão corretas.
c) se apenas a afirmativa 2 está correta:.
d) se apenas a afirmativa 4 está incorreta.
e) se apenas a afirmativa 4 está correta.
Resposta
�c;;
A cidade antiga.)
e para o momento histórico as principais questões da existência humana, da nature
U) za e da sociedade. Revelava de forma lendária a origem dos reis, do homem, do povo
·<
.....1
u grego, das g1lerras, do amor, da doença, da morte e dos sentimentos .
No mundo grego, principalmente no período homérico, os mitos justificavam as
�
a: estruturas sociais, as relações de trabalho e parentesco e as formas de dominação
::::>
!:J política.
,::::> A mitologia grega possuía muitos deuses. Zeus, o principal deles, reinava no monte
u
U) Olimpo e era senhor dos fenômenos atmosféricos, dos rios, das chuvas, controlando
ê§ todos os outros deuses. Hera, esposa de Zeus, protegia o casamento, a maternidade
(). e a família; Apolo protegia as artes e era o deus do Sol; Dioniso protegia os agricul
z
<
tores e era o deus do vinho.
a:
w Muitos heróis, em função de seus feitos e ações, eram elevados à categoria de deu
:X: ses. Assim, Perseu matou a Gorgone, monstro de dentes afiados e cabeça coroada
<
de serpentes; Teseu destruiu o Minotauro e Hércules realizou doze trabalhos para
-
·
Filosofta e ciência: Atenas foi o grande centro cultural da Grécia antiga., desde o
século VII a.C., mas floresceram impor1lllites escolas de pensamento por toda a Magna
Grécia. Os primeiros pensadores gregos são freqüen�mente chamados físicos, pois
procuravam uma explicação física para o Universo, isto é, seu objeto principal de
pesquisa era a origem do Universo e de toda a Natureza.
As condições materiais prol?iciadoras do apareciniento dessas idéias foram a ex
pansão comercial marítima grega e o crescimento da riqueza das cidades. Com o con
seqüente fortalecimento dos comerciantes e artesãos, surgiu a necessidade de uma
crítica à ideologia hegemônica da aristocracia rural, que se fundamentava no pensa
mento mitológico.
Os físicos inauguraram o método científico sob o nome de fllosoflll e, dentre eles,
destacam-se:
Tales de Mileto (630-545 a.C.). Autor do teorema que leva seu nome, afirmava
que tudo se origina da água, negando o pensamento mitológico que atribuía aos deuses
e mitos á origem do Universo.
Anaximaodro (610-545 a.C.). Para ele, o princípio da physis é um elemento fun
damental, que chamou de apeiron, o "indeterminado" ou "ilimitado". Do cons
tante movimento• do apeiron resulta uma série de pares opostos (água e fogo, frio
e calor), que constituem o mundo.
Anaxímeoes (588-528 a.C.). Foi o terceiro grande precursor da ftlosoflll. Para ele,
o princípio que governa o mundo é o ar, do qual tudo provém.
Outra vertente filosófica, a dos pitagóricos, aftrmava que o número era a essência
de todas as coisas e desenvolveu uma doutrina que buscava uma base matemática
para explicar a religião e a moral. Pitágoras nasceu na ilha de Saníos, Ásia Me
nor, por volta do século VI a.C., e morreu no fmal do mesmo século. Teria sido
discípulo de Ferécides e Anaximandro. Instalando-se em Crotona, fi.mdou uma
seita baseada no orftsmo. Seu sistema numérico foi objeto de estudos profundos
e, no campo da geometria, chegou a resultados notáveis, como o expresso através
do chamado teorema de Pitágoras. Sócrates (469-399 �.C.) foi o mais im·
Heráclito (536-470 a.C.). Fez uma crítica ao pensamento pitagórico, pois para ele portante fllósofo da Grécia Antiga. Não
a natureza estava em constante contradição, sendo responsável não apenas pela uni deixou nada escrito. Tudo o que sabemos
dade do mundo mas pela sua transformação. Muitos filósofos modernos consideram sobre a sua vida e suas idéias é através
de Platão, seu principal discípulo. A&re
Heráclito o pai âa dialética. A dialética é uma forma de interpretar o mundo, a na ditava que o homem poderia alcançar o
tureza e a sociedade do ponto de vista das transformações. conhecimento através de um método,
Com a consolidação da democracia escravista em Atenas e a ascensão das camadas que consistia em descobrir a verdade
médias da população, surgiram os sofistas. Insistindo sobre a relatividade e instabi através de um constante interrogatório
lidade das verdades e dos valores, os sofistas criaram uma argumentação lógica (lo que levava a descobrir as contradições.
Sócrates foi condenado à morte sob a acu
gomaquia) e elevaram a oratória à condição de arte. Um dos seus principais sação de inimigo da democracia e de cor
representantes foi Protágoras (c.480-410 a.C.), que afmnava que "o homem é a me romper os jovens. Abaixo, Platão relata
dida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são". a morte de Sócrates.
A fllosof1a dos sofistas era o reflexo ideo-
lógico de um novo momento histórico em Como o sol declinasse, o executor trouxe-lhe a taça que continha o veneno:
Atenas: o apogeu da democracia. E nesse Sócrates tomou-a com a maior calma ( ... ) mas olhando esse homem de olhar fir
momento viveu o controvertido Sócrates me e seguro como de costume: Dize-me, é permitido fazer uma libaçao com esta
(469-399 a.C.). Sua crítica aos sofistas, que beberagem? - Sócrates, respondeu-lhe esse homem, nao nos aborrecemos por
se diziam sábios, era sintetizada na frase isso contanto que seja bebida. - Compreendo, disse Sócrates , mas pelo menos
é permitido e é justo fazer as suas orações aos deuses, a fim de que eles aben
"tudo o que sei é que nada sei". Preten çoem a nossa viagem e a tornem feliz: é o que lhes peço; que eles ouçam o meu
dia chegar à verdade e ao saber através do pedido! Após ter dito isso levou a taça aos lábios e bebeu·a com uma tranqüili
diálogo e da dúvida, método que chamou dade e uma doçura maravilhosas. Até entao tivemos quase todos força para re
de maiêutica. ter as lágrimas, mas vendo-o beber, nc'io fomos mais senhores ( ... ) Que fazeis,
meus amigos? disse-nos. Não foi para isso que eu fizera sair as mulheres, com
Possuindo fma ironia e sólido espírito receio dessas fraquezas inconvenientes? ( ... ) Testemunhai pois mais firmeza. Es
crítico, Sócrates combateu o patriotismo sas palavras encheram-nos de confusc'io e retivemos as lágrimas.
vulgar de Atenas e as falsas verdades, que Entretanto Sócrates, que passeava, disse que sentia as pernas pesarem e deitou
sustentavam os grupos hegemônicos no po se de costas, como o homem lhe ordenara (. . . ) O corpo gelava e entorpecia-se,
e o homem, tocando-o, disse-nos que, logo que o frio chegasse ao coraçc'io, Só
der. Foi condenado à morte como inimigo
crates nos deixaria. Entao Sócrates ( ... ) Criton, disse ele (e foram as suas últimas
da democracia, acusado de corromper a ju palavras), devemos um galo a Esculápio, nao esqueças de pagar essa dívida. �
ventude e de pretender substituir a religião Isso será feito, respondeu Criton, mas vê se tens ainda alguma coisa para nos
tradicional por um ser supremo criador do dizer. Sócrates nada respondeu, e pouco tempo depois fez um movimento. O ho
universo. Sócrates não deixou nada escri mem entao tendo-o descoberto, o seu olhar estava fixo. Crtton ( ... ) fechou-lhe
os olhos e a boca.
to, limitando-se a transmitir oralmente suas Eis aí qual foi o fim do nosso amigo, podemos dizê-lo, que foi o melhor dos ho
idéias. mens que conhecemos nos nossos tempos·, o mais sábio e o mais justo dos homens.
O grande discípulo de Sócrates foi Pla
tão (427-347 a.C.). Representante da aris (Platão, Phedon apud Malet t1saac, História Universal)
tocraCia, escrev�u A República, onde defl-
Tucídides (465-395 a.C.) foi o mais nia o governo ideal como sendo uma república aristocrática escravista governada por
profundo historiador da Antigüidade. filósofos e guerreiros. Quanto aos escravos e ao trabalho braçal, mantinha uma ati
Heródoto, que é considerado o pai da tude de desprezo. O mérito de Platão foi sintetizar as idéias dos filósofos que o pre
História, tinha uma concepção funda
cederam, recolocando-as em novos termos.
mentalmente religiosa dos fatos e Tucí
dides uma visão realista e racional. Estava Platão fundou a Academia de Atenas, onde transmitiu sua visão de mundo, se
preocupado em narrar os acontecimen gundo a qual as idéias seriam as formas básicas de todas as coisas do Universo. Por
tos com imparcialidade e precisão, expli
essa razão, alguns pensadores costumam chamá-lo de idealista.
cando suas causas. No trecho abaixo
Tucídides relata algumas características
Aristóteles (384-322 a.C.). Foi o grande filósofo grego. Fez uma crítica ao idealis
de seu método. mo platônico em Organon, propondo o empirismo e a lógica formal. Escreveu sobre
quase tudo: moral, política, religião, física e arte. Sua teoria literária se configura
Pelo que se refere aos fatos, numa obra importante, a Poética, onde trata a poesia em sua forma por excelência,
não me baseei no dizer do isto é, a tragédia. Aristóteles, como outros pensadores gregos, considerava a escravi
primeiro que chegou ou nas
minhas impressões pessoais; não dão necessária.
narrei senão aqueles de que eu
próprio fui espectador ou sobre O estudo da história
os quais obtive informações
precisas e de inteira exatidão. Heródoto, chamado ' 'Pai da História' ', costumava registrar os fatos de maneira
Ora, eu tinha dificuldade em essencialmente narrativa: contava os acontecimentos em ordem cronológica, sem ex
conseguir isso, porque as plicar suas causas e conseqüências, retratando ao mesmo tempo casos históricos e
testemunhas oculares nem sempre
mitológicos e admitindo a intervenção dos deuses no desenvolvimento da História.
estavam de acordo sobre o mesmo
acontecimento e variavam Thcídides, outro historiador, narrou os acontecimentos da Guerra do Peloponeso,
segundo as suas simpatias ou a preocupado com suas causas e conseqüências. Retratou as lutas entre escravos e se
fidelidade da sua memória. nhores na Grécia, iniciando uma história- metodologicamente científica.
Talvez as minhas narrativas,
Depois de Tucídides, o método de estudo da história recebeu contribuições va
despidas do prestígio das fábulas,
perderão o seu interesse; basta liosas de Xenofonte que, em As Helênicas, retrata a vida e os costumes de Atenas
me que sejam consideradas úteis no século IV a.C . , e em Anabase as guerras Greco-Pérsicas.
a quem quer que deseje, fazer
uma idéia justa das coisas
passadas e prejulgar os
O Helenismo
incidentes mais ou menos
semelhantes, cuja volta o jogo das A formação de um império mundial por Alexandre Magno não sobreviveu à sua
paixões humanas deve levar à morte. Mas seu ideal foi realizado pelo menos no plano cultural. Em conseqüência
repetição. Eu quis legar à de suas muitas conquistas, formou-se um vasto mundo cultural relativamente ho
posteridade um documento a mogêneo que exerceria enorme influência até mesmo sobre os romanos.
consultar sempre e não oferecer
Alexandre Magno abre um novo período para o pensamento: a civilização helenís
um fragmento de ostentação a
ouvintes de um instante. tica, uma mescla de culturas que sobrevive à desagregação do império entre dinas
(Tucídides, I , 22, in Glotz, tias rivais do Egito, da Macedônia, da Pérsia e de outras regiões. No helenismo, uma
Lectures historiques.) série de correntes, como o cinismo, o epicurismo, o estoicismo, alteram o curso da
filosofia: a busca da felicidade pessoal torna-se um tema onipresente.
Nos grandes centros de cultura que então substituíram Atenas - Antioquia, Pér
gamo e Alexandria - a arte e a literatura se confmaram num círculo restrito de afi
cionados, que para cultivá-las só tinham o estímulo do gosto. Este foi o novo clima
de uma produção de letrados que se acercavam das bibliotecas - a do museu de
Alexandria, no Egito, tinha setenta mil volumes - fascinados diante da massa impo
nente de obras-primas catalogadas.
Sem o brilhantismo do período clássico, a filosofia do período helenístico destacou
se pela drástica guinada em direção ao individualismo.
O estoicismo, cujo expoente foi Zenon de Cício (335-265 a.C.), exaltava a igual
dade humana pela razão e procurava a completa autonomia individual. Os estóicos
procuravam um subjetivismo moral e o individualismo, que eram o reflexo da Gré
cia dominada e da decadência da pólis.
O epicurismo, formado a partir das idéias de Epicuro (341-270 a.C.), afirmava
que o fim único da existência era o prazer e o gozo.
Já o ceticismo, criado por Diógenes, era fruto do desespero e da crise do mundo
antigo e desprezava os bens materiais considerando todo o conhecimento relativo.
A herança romana
Religião:No início, a religião romana apresentava caráter doméstico. Em cada casa
havia um altar, representado pelo fogo sagrado. Gradativamente, com a expansão ter
ritorial e a formação do Império, essa religão primitiva e doméstica tornou-se uma
religião do Estàdo, passando a ter um. corpo hierarquizado de sacerdotes. O próprio
-
imperador passou a ser visto como um deus.
40 Os deuses gregos antropomórficos e outras divindades orientais foram assimilados
pelos romanos e receberam outros nomes:
Zeus Júpiter Apolo Apolo
Hera Juno Hermes Mercúrio
Atena Minerva Ares Marte
Todas as fontes históricas para estudar
Artemis Diana Hefesto Vulcano
a origem do cristianismo sio os quatro
Mrodite Vênus Posêidon Netuno Evangelhos que furam escritos após os f.t..
Demeter Ceres Héstia Vesta tos que relatam e estio comprometidos
Durante Ó Baixo Império, época de crise em Roma, o cristianismo surgiu como com a nova religião. Abaixo seguem al
guns textos dos Evangelhos do qual po
uma crítica ao politeísmo e ao caráter divino de César, propondo o pacifismo e a demos dedu.W algJlllS dos mais imponan
liberdade. Essa nova religião atraiu as populações oprimidas de escravos, proletários tes princípios do cristianismo.
e mulheres, tornando-se uma espécie de "consciência rebelde" para essas camadas
sociais. A partir do século VI d.C. , o Estado romano assimilou o cristianismo, O novo mandamento: Eu dou
vos um novo mandamento: Que
transformando-o em religião oficial.
vos ameis uns aos outros,
Com as invasões bárbaras e a queda do Império Romano, a igreja cristã manteve assim como eu vos amei, para
o poder e aliou-se aos chefes bárbaros que se tornaram reis e se converteram ao cris que vós também mutuamente vos
tianismo. ameis. (Evangelho segundo S. João,
cap. XIII)
Direito: Durante a realeza, no início de sua história, existia em Roma um direito
O Serméio da Montanha:
fundamentado nos costumes, isto é, consuetudinário, que constituía uma parte da
· Bem-aventurados os pobres:
religião. porque deles é o reino dos Céus.
A conquista romana do Mediterrâneo e a· criação de uma economia mercantil es Bem-aventurados os mansos:
cravista tornou necessária a formação de uma administração, dando condições para porque eles possuirao a Terra.
Bem-aventurados os que
o desenvolvimento do direito.
choram: porque eles
A lei aplicada aos povos submetidos a Roma era chamada de Jus Gentiun, sendo serao consolados.
considerada a fonte do direito internacional. Bem-aventurados os que têm
Em Roma já existia uma nítida diferença entre o direito público, que regulamen sede de justiça: porque eles
serao fartos.
tava as relações entre o cidadão e o Estado, e o direito privado, que tratava das rela
Bem-aventurados os
ções entre os cidadãos. misericordiosos: porque eles
O desenvolvimento do direito privado ocorreu no império, destacando-se impor alcançarao misericórdia.
tantes jurisconsultos, como Gaio, Ulpiano, Modestino e Paulo. Bem-aventurados os limpos de
A diversidade cultural e étnica do império, assim como as relações comerciais en coraçao: porque eles verao Deus.
Bem-aventurados os pacíficos:
tre Roma e as províncias, fez com que fosse concedida a cidadania a todos os homens
porque eles serao chamados filhos de
livres do Império, universalizando o direito. Deus.
O Direito foi a grande herança dos romanos ao mundo atual. Bem-aventurados os que
padecem perseguiçao por amor
Exercício da justiça: porque deles é o reino
dos Céus.
(UF-PR) As Leis das Doze Tábuas constituem um código de direito privado,
(Evangelho segundo S. Mateus, cap.
com prescrições no setor do direito penal e alguns artigOs referentes .ao direito V; Evangelho segundo S. Lucas,
religioso. Apresentam como elementos constitutivos e preponderantes: cap. VI.)
a) a dominação dos povos, exaltando, o espírito bélico dos romanos.
b) a garantia à liberdade pessoal e à igualdade dos cidadãos.
c) a inobservância de dispositivos legais na redação de contratos e testamentos, pre
dominando o direito de primogenitura.
d) a isenção de penalidades nos crimes de lesa-majestade.
e) a arbitrariedade dos magistrados patrícios em relação aos plebeus face à hierar
quia social.
Resposta
As Leis das Doze Tábuas foram a primeira compilação de leis realizada em Ro
�
c;;
cn
ma, constituindo-se no primeiro código esCrito. Surgiram por volta do século' V •<(
-I
a.C. e foram a base de todo Direito Romano. Este foi muito influenciado pelas u
préscrições religiosas, fundamento das leis naquela época. Seguem abaixo alguns cn
<(
a:
dos artigos que compunham as leis: :::>
"Se alguém comete furto à noite e é morto em flagrante, o que matou não será !:J
:::>
punido. u
O pai terá sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de
morte e o poder de vendê-los. �
<(
O escravo a quem foi concedida a liberdade por testamento, sob a condição de U·
z
pagar uma certa quantia, e que é vendido em seguida, tomar-se-á livre se pagar a <(
a:
mesma quantia ao comprador. w
::z:
Que não se estabeleçam privilégios em leis. <(
Que a última vontade do povo tenha força de lei".
-
· Portanto foi a primeira tentativa de estabelecer os direitos e os deveres dos cida
dãos romanos. Alternativa correta: b. 41
A ALTA
IDADE MEDIA
<(
Invasões '"bárbaras"
Cl
•W Aproveitando-se da crise, os povos que viviam nos limites do Império Romano in
:::;'!:
w vadiram as províncias, estabelecendo reinos bárbaros. "Bárbaro", para os romanos,
Cl era qualquer povo estrangeiro que tivesse civilização diferente da romana, conside
� rada a mais evoluída.
i:!;
:......1
<( Os hunos, povos orientais que chegaram à Europa em 375, foram os principais
<( agentes da penetração bárbara. Atraídos pelas terras quentes e férteis do Império
-
Romano, os bárbaros tinham medo dos hunos, excelentes guerreiros que, saindo da
42 Mongólia, atravessaram a Ásia e chegaram às -planícies da Ucrânia. Ali derrotaram
os alanos e dominaram os ostrogodos.
Pressionados pelos hunps, os visigodos estabeleceram-se dentro do Império Ro
mano. Alojados na Macedônia, tornaram
se aliados, encarregados de defender a Quando ainda muito jovens, fazem-lhes com um ferro profundos ferimentos
fronteira romana contra o ataque dos no rosto, .a fim de que as cicatrizes que nele se formarem impeçam a saída do
primeiro pêlo: envelhecem desfigurados e sem barba. Todos eles têm, aliás, os
hunos. membros vigorosos e o pescoço grosso: têm aspecto extraordinário e tc'lo curva
Os visigodos começaram a expandir-se dos que poderao ser tornados por animais de dois pés ou por esses pilares gros
na região, mas encontraram resistência na seiramente esculpidos em figuras humanas que se vêem nas bordas das pontes.
figura do imperador Valente, que tentou Nao têm eles necessidades de fogo nem de comidas temperadas, mas vivem de
raízes selvagens e de toda espécie de carne que comem meio crua, depois de
expulsá-los. Com a morte de Valente, na
tê-la aquecido levemente sentando-se em cima durante algum tempo quando estao
Batalha de Adrianópolis (378), Teodósio, a cavalo. Nao têm casas; nc'lo se encontra entre eles nem mesmo urna cabana co
seu substituto, deu terras aos visigodos para berta de caniço. Vestem-se de pano ou peles de ratos dos campos; têm apenas
acalmá-los. Conseguiu, assim, que eles o urna única roupa e nao tiram a túnica senao quando cai em farrapos. Cobrem
ajudassem nas lutas contra os vândalos, cu a cabeça com pequenos bonés caídos, e as pernas com peles de bode. Sao cola
dos a seus cavalos, que sc'lo, é verdade, robustos mas feios; nao existe nenhum dentre
ja invasão ocorrera através da região do eles que nao possa passar a noite e o dia sobre a montaria; é a cavalo que bebem,
curso superior do Danúbio. comem e, abaixando-se sobre o pescoço estreito do animal. dormem. Nenhum cul·
Com a divisão do Império Romano em tiva a terra nem toca mesmo em um arado. Sem morada fixa, sem casas, erram por
duas partes (Império Romano do Ociden tOdos os lados e parecem sempre fugir com as suas carriolas. Corno animais des
providos de razao, ignoram inteiramente o que é o bem e o que é o mal; nao têm
te e Império Romano do Oriente), os visi
religiao, nem superstiçao; nada iguala a sua paixao pelo ouro.
godos iniciaram a sua grande invasão. (in Malet/lsaac, História Universal)
Cercaram Constantinopla, mas foram des
viados para o oriente pelo imperador Ar-
cádio. Em 410, conseguiram saquear Roma e continuaram seus avanços até ocuparem Nos fms do século IV, o Império Ro
a península Ibérica e o sul da Gália. Considerando-se aliados dos romanos, os visi mano estava dividido em dois (o Impé
godos formaram seu reino (Reino Visigótico) dentro das fronteiras do Império Ro rio do Ocidente e o do Oriente). Total
mano do Ocidente. mente debilitado, foi incapaz de deter a
gigantesca horda a cavalo que se lançou
Em 406, um grupo de vândalos, suevos, alanos e quados atravessou a fronteira: sobre o Ocidente: os hunos. No texto acima,
do Danúbio superior e invadiu o império, liderados por Radagásio. Os vândalos ocu ó historiador Arniano Marcelino, oficial do
param a Espanha e atingiram a África. Lá formaram o Reino dos Vândalos. Exército rómano, descreve os hunos.
Os burgúndios, por sua vez, ocuparam o vale do rio Ródano, em 443, fundando
o Reino dos BUrgúndios.
Os anglos, saxões e jutos fixaram-se na Bretanha, onde formaram vários reinos.
Na Gália do norte estabeleceram-se os francos sálios e os francos ripuários.
Em 476, o Império Romano ruiu por completo. Nesse mesmo ano, Rômulo Au
gústulo, imperador de Roma, foi derrubado por Odoacro, rei dos hérulos. O Oci
dente estava totalmente dominado pelos bárbaros. Odoacro proclamou-se rei da Itália,
mas não reinou muito tempo: em 488, outro povo germânico, os ostrogodos, vindo
das margens do Danúbio, invadiu a Itália. Por volta do século VI, a Europa
apresentava a divisão territorial
segundo o mapa ao lado. As tribos
germânicas de anglo-saxões, que
se instalaram na ilha da Britânia,
estavam ampliando seu território.
Ao norte da Gália e a leste do
Reno estava o Reino dos Francos,
chefiados por Clóvis. Ao sul viviam
os visigodos, que dominavam parte
da Gália e da Espanha. No norte
da Africa estavam os vândalos. E
na Itália, os ostrogodos sob a
chefia de Teodorico. A maioria
desses reinos teve curta duraçao,
pois os chefes germanos
desconheciam as instituições
políticas e administrativas. Assim,
os suevos e os alamanos foram
conquistados pelos visigodos <
(século VI). O Reino dos Vândalos C5
•W
foi derrotado pelo exército de �
Bizâncio. O Reino dos Burgúndios w
foi anexado pelos francos e o Reino
o
dos Ostrogodos foi destruído pelos �
bizantinos. Por outro lado, os
visigodos se fortaleceram com a �
:...I
<
conversão ao cristianismo. Em 711,
<
os muçulmanos invadem a
Península 11:5érica e a transformam -
em provúicia do Império
Muçulmano. 43
O estabelecimento de novos reinos
Os reinos bárbaros formados por volta do século V, com a crise do Império Roma
no do Ocidente, evoluíram durante toda a Idade Média e viriam a originar os Esta
dos Nacionais europeus da época moderna.
Estimulou-se muito a idéia errônea de Com a decadência da economia européia, praticamente desapareceram as ativida
que os germanos eram povos selvagens des comerciais. O mercado limitava-se à compra e venda de artigos de luxo, lã, ar
e ferozes que destruíam o Império Ro mas e escravos. A indústria se resumia ao trabalho dos artesãos e os comerciantes
mano. Mas essa idéia é falsa. Eles eram
eram na maioria judeus e sírios.
chamados bárbaros por que não pos
suíam a cultura romana. Praticavam a A economia tendia à ruralização e começava a apresentar as características do mo
agricultura, dedicavam-se ao fabrico de do de produção feudal.
instrumentos e armas. Antes que os ger
manos conquistassem Roma houve um
,
· ·
Na Germânia, os casamentos são castos, e entre seus costumes são os que mais primitiva. As habitações eram rústicas; a
merecem elogios. Pois os bárbaros são quase os únicos que se contentam, ca caça e a pesca os elementos básicos para a
da um, com uma só esposa, com exceção de alguns personagens que, pondo subsistência. A população vestia peles de
de lado a sensualidade, são solicitados para várias uniões por causa de sua no animais e tecidos grosseiros. A guerra,
breza. Não é a esposa que traz o dote ao marido, mas o marido à esposa. O pai
principal atividade, estava reservada aos
e a mãe, assim como os parentes, assistem à cerimônia e apreciam os presentes,
os quais são escolhidos, não para o encanto de uma mulher nem para adornar guerreiros e homens livres. Mulheres e es
a jovem esposa, mas sao bois, um cavalo com rédeas, um broquei com uma lan cravos cuidavam dos rebanhos e do culti
ça e um gládio. Em troca desses presentes, a esposa é recebida e ela, por sua vo da terra. O pastoreio constituía o sus
vez, traz ao marido alglimas armas: tal é o laço supremo, tais são os ritos místi
tentáculo da agricultura. Quando as pas
cos, tais são, para eles, os deuses do matrimônio. Para que a mulher não pense
que os nobres projetos e os imprevistos da guerra são para os outros, os auspí tagens escasseavam, abandonava-se a área
cios de seu casamento que começa, advertem-na de que ela vai compartilhar de cultivo e o rebanho era conduzido para
os trabalhos e os perigos, assumir e encarar o mesmo destino durante a paz, o outro local. Assim, os germanos manti
mesmo destino durante o combate: é o que anunciam os bois atrelados, o cavalo nham uma atividade agrícola itinerante.
equipado, as armas presenteadas. Assim deverá ela viver e conceber; o que re
O modo de produção dos germanos com
cebe, entregará intacto e puro a seus filhos, suas noras recebê-lo-ão e tudo pas
sará, mais tarde, a seus netos. binava a propriedade comum e a proprie
dade individual do solo. A propriedade
(Tácito, a Germânia in Pinsky, 100 texws de História Antiga) comunitária era o complemento funcional
da propriedade privada (terreno de pasta-
gem, caça etc.).Dessa forma, a comunida
de agrícola constituía uma associação de proprietários individuais.
A partir do século I, o contato das tribos bárbaras com os romanos trouxe a desin
tegração desse sistema comunitário germânico. O comércio com os romanos gerou
disputas no interior das famílias e tribos germânicas. Alguns chefes atacavam outras
tribos para obter prisioneiros e vendê-los aos romanos. A terra passou a ser proprie
dade individual e não mais comunitária, resultando na formação da propriedade
privada.
Essas mudanças alteraram a sociedade primitiva germânica, com o surgimento de
uma aristocracia ávida de promover guerras, com o intuito de aumentar suas rique
zas. Os chefes passaram a ter um poder semelhante ao dos reis. Em conseqüência,
formou-se uma nobreza germânica proprietária de terras que explorava os camponeses.
A sociedade dos germanos era patriarcal, ou seja, o chefe da família tomava todas
as decisões. Eram animistas, adoravam as forças da natureza. Seu deus principal era
Odin ou Votan, protetor da guerra. Acreditavam num paraíso onde as valquírias,
virgens guerreiras, entretinham os felizes guerreiros, que se ocupavam com a caça,
a guerra e os banquetes.
Sua organização social e política compreendia a família, a aldeia, o cantão e a tri
bo. Independentes, as tribos se reuniam em época de guerra ou com uma finalidade
determinada. Organizados essencialmente em tribos, os povos germânicos impediam
a existência de um Estado organizado.
As relações políticas eram temporárias, baseadas em contratos e no princípio da
reciprocidade. Os chefes deviam comportar-se com justiça e os guerreiros deviam
obedecer ao chefe. Quem não cumprisse essas obrigações deveria pagar pelo erro.
-
Essa organização política chamava-se comitatus, bando de guerra, e exerceu grande
44 influência na formação do feudalismo.
Os francos e o império carolíngio Carlos Magno foi o mais importante rei
da dinastia carolíngia; ampliou as fron
teiras do reino, anexando quase toda a
Entre os vários reinos bárbaros formados com o esfacelamento do Império Roma Itália. Em 800, é coroado imperador pelo
papa Leão III, titulo que havia sido uti
no, muitos não sobreviveram devido à ausência de uma estrutura administrativa e lizado pela última vez no Ocidente em
de uma estrutura de poder, que mantivesse a coesão das tribos. 476. O monge Eginhard, amigo de Car
Alguns reinos, entretanto, conseguiram estruturar um sistema administrativo, prin los Magno deixou-nos uma história de
cipalmente pela dominação de populações que antes haviam estado submetidas à au talhada de sua vida. Abaixo, um trecho
dessa obra.
toridade romana.
Para a formação desses Estados foi fundamental a aliança entre a Igreja Católica Carlos Magno era de estatura
e os chefes bárbaros, com sua conversão ao cristianismo. Na ordem feudal em ascen elevada, espadaúdo, sem nada de
são, sobrevivia o poder da Igreja Católica. As divisões administrativas tornavam-se excessivo aliás ( ... ) Tinha o alto
clericais (bispados, arcebispados), com a Igreja monopolizando todo o saber e da cabeça arrendondado, olhos
grandes e vivos, nariz um pouco
tornando-se o principal aparelho ideológico. mais comprido do que a média,
Portanto, a Igreja foi uma ponte indispensável entre a época antiga e a Idade Mé belos cabelos brancos, fisionomia
dia, numa passagem conturbada, marcada por invasões e destruições da velha or alegre e aberta. Dava
dem romana . exteriormente, tanto sentado como
de pé, uma forte impressão de
Nesse contexto, formou-se o reino dos francos, o mais poderoso da Europa oci
autoridade e dignidade. ( ... ) A
dental. Subdivididos em francos sálios (estabelecidos perto da atual Bélgica) e francos voz era clara, sem corresponder
ripuários (na região do Baixo Reno), ocuparam as margens do rio Reno, penetran entretanto ao seu físico. Dotado
do, no século V, na Gália do Norte como aliados dos romanos. de boa saúde, só ficou doente nos
Descendente de Meroveu, Clóvis (481-51 1) foi o primeiro grande rei franco, fun quatro últimos anos da sua
vida( ... ) Fazia quase tudo o que
dador da dinastia dos merovíngios. Realizou numerosas campanhas militares, am lhe dava na cabeça, em vez de
pliando as fronteiras do reino e aliou-se à Igreja Romana. As ligações de Clóvis com ouvir a opinião dos seus médicos:
a igreja fortaleceram o poder real, com os bispados servindo de base para organizar tinha-lhes aversão porque
a administração do reino. aconselhavam-no a renunciar às
carnes assadas ( ... ) e substituí-las
Os sucessores de Clóvis ficariam conhecidos como os "reis indolentes", pois, mar
por carnes cozidas.
cados pelo passado tribal recente, não tinham uma preocupação administrativa e dei Usava, diretamente sobre o
xaram os negócios públicos nas mãos de um administrador, o prefeito do paço, que corpo, uma camisa e ceroulas de
aos poucos incorporou a autoridade do monarca. linho; por cima, uma túnica de
O prefeito Carlos Martel (714-740), depois de vencer os muçulmanos na Batalha seda bordada e calçOes; faixas em
torno das pernas e dos pés; ( ... )
de Poitiers, ganhou força militar e política e conseguiu unificar ainda mais o Reino envolvia-se em uma capa
Franco. Seu filho, Pepino, o Breve, assumiu o poder com o título de rei, dando (pelerine) azul e trazia suspensa
início à dinastia carolíngia. Foi sagrado oficialmente pela Igreja Católica. do flanco uma espada cujo punho
Com essa dinastia, tornou-se ainda mais forte a aliança entre os reis francos e a assim como o talim eram de ouro
e prata ( ... )
Igreja, criando condições para a expansão das conquistas dos carolingios.
Apreciava as águas termais e
Carlos Magno (768-814), sucessor de Pepino, o Breve, construiria um grande Im entregava-se muitas vezes ao
pério, à custa de trinta anos de campanhas militares contra saxões, eslavos e mu prazer da natação em que
çulmanos. sobressaía a ponto de não ser
ultrapassado por ninguém. Foi o
A Igreja Cristã obtinha poder político e formava-se uma elite de guerreiros, que,
que o levou a construir um
através de guerras, recebiam terras. No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado palácio em Aix-la-Chapelle, onde
imperador romano do Ocidente pelo papa Leão 111. residia constantemente nos
O império carolíngio, tinha uma administração simples, mas eficiente. Era dividi últimos anos da sua vida.
do em províncias, chamadas de marcas, condados e ducados, fiscalizados por fun (Eginhard in Maletllsaac, História
Universaf)
cionários de Carlos Magno, os missi dominici (mensageiros do Senhor).
Apesar da estrutura política centralizadora, o império carolíngio, pela sua base
econômica agrária de subsistência, criou condições para a formação do poder local
de uma nobreza.
As cidades não possuíam um papel econômico, mas apenas militar e administrati
vo. Antes de morrer, Carlos Magno nomeou seu filho, Luís, o Piedoso, como seu
sucessor. Pelo Tratado de Verdun, de 843, o Império foi dividido entre seus três ne
tos: Luís, o Germânico, ficou com a Alemanha; Carlos, o Calvo, com a França; e
Lotário com o norte da Itália.
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Os condados, ducados e marcas tornaram-se hereditários, gerando uma poderosa i5
nobreza de condes, duques, marqueses, e adquiriram crescente autonomia econô ......
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mica e política, o que contribuiu para a formação do feudalismo. LU
o
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O império bizantino �
:....J
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Durante a Alta Idade Média, enquanto o Império Romano do Ocidente desapare
-
cia sob as ondas das invasões bárbaras do século V, Constantinopla, antiga colônia
grega de Bizâncio, tornava-se o centro de um império que sobreviveria por um milênio. 45
Abrangendo a península Balcânica, a Ásia Menor, a Síria, a Palestina, o norte da
Mesopotâmia e o nordeste da África, Constantinopla conseguiu manter a unidade
do Império Oriental e representou a síntese do mundo greco-romano e do mundo
oriental.
O Império Bizantino mantinha um ativo comércio com regiões do Oriente, de on
de eram trazidas pedras preciosas, sedas e especiarias. Nas principais cidades bizan
tinas, existia uma produção artesanal de vidros, tecidos e prata, que eram vendidos
na Europa ocidental.
Na agricultura, predominava a grande propriedade, onde camponeses submeti
dos à escravidão trabalhavam para a riquíssima nobreza bizantina.
Formado da união de vários povos, o Império Bizantino apresentava uma estrutu
ra política multirraci�l, sendo a língua oficial o grego. O poder político estava con
centrado nas mãos do imperador que, aliado à Igreja, exercia o despotismo total sobre
seus súditos.
Durante o governo do imperador Justiniano (527-565), o Império Bizantino atin
giu o seu máximo esplendor. De origem camponesa, Justiniano chegou ao trono
apoiado pelo tio, Justino, que o adotou como herdeiro. Casado com Teodora, uma
atriz, depois de coroá-la imperatriz, Justiniano tomou-a ativa participante das deCi
sões do Império.
Justiniano iniciou sua carreira de legislador logo depois de tomar-se imperador.
Constituiu uma comissão de juristas para a a elaboração de um corpo de leis ade
Justiniano (527�565) tentou restabe quadas à organização política do Império, e no fim de dois anos fez publicar os pri
lecer o esplendor e a grandeza do Impêrio
meiros resultados: o Código, revisão sistemática de todas as leis promulgadas desde
Romano. Destruiu o Reino c,ios Vãndalos,
ocupou o sul da Espanha e des·
a época de Adriano. A seguir, as Novelas, que continham a legislação de Justiniano,
truiu o Reino dos .Ostrogodos, retomando e em 532, o Digesto, sumário de todos os escritos dos grandes juristas. O produto
a Península Itãlica após trinta anos final foram as Instituta, compêndio dos princípios legais, que orientavam o Digesto
de luta. Um poeta contemporâneo de Justi· e o Código� A reunião dos quatro trabalhos em um só códice configurou o Corpus
nianó, Coripo, descreve (abaixo) uma
audiência concedida pelo imperador a em·
Juris Civilis.
baixadores ãvaros - um povo parente Além de legislador, Justiniano era teólogo. Tentou unir o mundo oriental e oci
próximo dos hunos. dental através da religião. Para isso, governou como representante de Deus.
Pretendendo uma igreja unificada, Jus
Quando o Príncipe benevolente subiu ao seu trono elevado e foi envolvido em
tiniano imprimiu ao Estado feições abso
seu manto de púrpura, o camareiro da Corte divina anunciou que os enviados lutistas. Era o resultado de uma evolução
dos ávaros solicitavam o favor de ver os pés sagrados do clemente soberano. Com desencadeada por Constantino, que,
uma palavra cheia de bondade, como a sua alma, o imperador ordenou que fos ligando-se à Igreja, a transformou na mo
sem introduzidos. Presas de admiração, os bárbaros contemplavam o vestíbulo
e as salas imensas, e os guardas de porte gigantesco que aí se mantinham de
la propulsora do Estado. Pela intimidade
pé. Viam os escudos de ouro erguiam os olhares para os dardos de ouro cuja com o governo, tão cristão quanto ela pró
pónta cintilava sobre os capacetes dourados e os penachos· escarlates. Parecia pria, a Igreja fortificou-se e enriqueceu.
lhes que os palácios romanos eram um outro céu ( ... ) Mas, uma vez puxada a Ainda que o patriarca tivesse grande im
cortina, quando as portas que levavam aos apartamentos interiores do palácio
portância, nã<J podia resolver as questões
foram abertas e as salas do teto de ouro brilharam com todo o seu esplendor,
o ávaro Targitas elevou a vista para a cabeça de César. Estava ela cingida por de Estado. O imperador, por outro lado,
um diadema sagrado que brilhava. Dobrando três vezes o joelho, adorou-o, pros tinha poder de decisão mesmo nas ques
ternado e permaneceu com a fronte tocando o solo. Os outros ávaros presas de tões de fé, independentemente das doutri
igual terror, seguiam-lhe o exemplo e lançaram-se de face para o chao. nas do papa de Roma. O imperador acu
(Coripo in Malet/lsaac, op. cit.)
mulava, portanto, as funções de chefe da
Igreja e do Estado, união que recebeu o no
me de cesaropapismo.
Constantinopla era uma grande cidade, repleta de palácios e igrejas suntuosas, on
de destacava-se a de Santa Sofia. O poder e a grandeza do governo de Justiniano
se fez pelas guerras e pela cobrança excessiva de impostos aos súditos bizantinos que
viviam miseravelmente, o que resultava em revoltas populares. Em 532, explodiu
uma violenta revolta no hipódromo, conhecida como Revolta Nika, reprimida com
a matança total dos revoltosos.
c( As lutas internas e a instabilidade política eram constantes. Ao longo de toda a
o·
"Ü.. sua história, existiram 360 imperadores em Bizâncio. A instabilidade era resultado
:E
u.r da situação de miséria da população e do caráter multinacional do Império, que difi
o
cultava uma dominação política estável.
(!§ No século VIII, o grande poder do clero, dono de vastas regiões, foi combatido
�
:....1
pelo imperador Leão m, com o movimento iconoclasta. Com o decreto de 725,
c( proibiu-se o uso de imagens nos templos. Na igreja oriental, qualquer imagem de
<(
Cristo ou de santos, chamava-se fcone. Iconoclastas, quebradores de imagens, eram
- denominados os que condenavam o uso de ícones no culto. Os proventos, as rique
46 zas dos sacerdotes, derivavam grandemente da manumtura e venda de ícones. A ten-
tativa de aboli-los, porém, limitou•se à eliminação das esculturas: as pinturas foram
poupadas.
O movimento iconoclasta representou um estágio importante na reformulação das
tradições romanas e> orientais, foi um prenúncio da separação definitiva entre os dois
ramos da Igreja, o grego e o romano, que se concretizaria em 1504, através do Gran
de Cisma.
O Império Bizantino entrou em decadência com a expansão islâmica, e, em 1453,
enfraquecida pelo avanço dos muçulmanos, Constantinopla foi tomada pelos solda
dos de Maomé li.
A influência bizantina se fez sentir durante toda a Idade Média, emanada princi
palmente de Constantinopla. Sobretudo a Europa oriental recebeu seus legados: a
antiga Rússia assimilou suas instituições, inclusive a Igreja Ortodoxa, sua arquitetu
ra, seu calendário e parte do alfabeto. Também o Ocidente recebeu dos bizantinos
os benefícios de sua cultura.
Düusão do islamismo
No Oriente Médio, desenvolveu-se o islamismo, religião nascida entre os árabes Maomé, fundador da religião islâmi
a qual se converteram muitos povos, desde a Índia até o norte da África. Com 600 ca, nasceu em Meca por volta do ano 570
e morreu em 632, quando a nova !e já era
milhões de adeptos, o islamismo é atualmente a religião que possui maior número
aceita por quase todas as tribos árabes.
de seguidores, depois do cristianismo. No Alcorão, livro que reúne as anotações
Antes de Maomé, a desértica e árida península Arábica era habitada por tribos feitas por seus discípulos estão expostas
nômades, que praticavam um paganismo primitivo, politeísta, ou seja, cada tribo as regras práticas que os fiéis devem se
possuía seus próprios deuses. guir, baseadas na integridade moral e na
compaixão em relação ao próximo.
Apesar das diferenças e rivalidades, essas tribos do deserto tinham como centros
as cidades de Meca e Iatreb. Em Meca ficava a Caaba, o templo onde a Pedra Negra Oh, crentes! Fazei esmola das
era adorada por todas as tribos. Esse local de peregrinação funcionava como pólo melhores coisas que adquiristes.
mercantil. Nêio distribuais com largueza a
parte mais vil dos vossos bens ( .. . )
Nos séculos V e VI, através do comércio Oriente-Ocidente, do qual a Arábia era
Dais esmola durante o dia
intermediária, formou-se uma classe de comerciantes e proprietários que, para ga claro? É louvável; Vós a fazeis
rantir o poder sobre os nômades do deserto (beduínos), precisava unir os árabes e secretamente e socorreis os
formar um Estado. pobres? Isso vos aproveitará
Maomé nasceu em 570, em Meca. Comerciante até os quarenta anos, tivera, co muito. Tal conduta apagará os
vossos pecados. Deus é sabedor
mo condutor de caravanas, contato com cristãos e judeus e assim conhecera reli do que fazeis.
giões que cultuavam um só Deus. Acreditando no monoteísmo, adaptou-o ao seu A piedade nao consiste em
povo e lutou para converter a Arábia à sua fé, que aceitou como dogma a existência voltar o rosto para o lado do
de um só Deus, com Maomé como seu apóstolo e profeta. Maomé era um grande Levante ou do Poente. Melhor é o
que crê em Deus e no julgamento
místico, mas também um líder político que conhecia a realidade de seu país e com
final, nos anjos e no Livro, nos
preendia que sua unidade estava na dependência de um ideal comum. profetas; quem, por amor de
Meca, além de centro de peregrinação, era um entreposto comercial entre a Ará Deus, dá do seu ao próximo, aos
bia e terras do Oriente: Índia e China. Uma oligarquia mercantil detinha o poder órfaos, aos pobres, aos viajares
dominando a Caaba. Maomé contrapôs-se aos comerciantes, defendendo os oprimi e aos que pedem; quem resgata
os cativos, quem observa a
dos e os pobres. Por isso, em 622, foi obrigado a fugir de Meca para latreb. Essa oração, quem dá esmola, cumpre
data até hoje é venerada como a Hégira, o início da era muçulmana. as suas obrigações; quem é
Em Iatreb (Medina) , Maomé foi bem recebido: o prestígio econômico deslocava paciente na adversidade, nos
se já para essa cidade que com simpatia aceitou a possibilidade de se transformar tempos maus e nos tempos de
violência.
também no centro religioso. Nos dez anos que separam sua fuga e sua morte (em
A carne e o sangue das vítimas
632), Maomé converteu a maioria das tribos árabes, às vezes usando a força por meio nêio vao até Deus, mas a piedade
dos exércitos que formara. E impôs aos convertidos uma série de leis morais e civis, sobe até ele.
compiladas no livro sacro denominado Alcorão (O Discurso), que prometia aos bons O melhor é o primeiro a
e corajosos o paraíso de Alá. Alá é o nome do Deus único. reconciliar-se com o adversário.
(Alcorão in Malet/Isaac, op. cit. )
Conquistas árabes
Em sua expansão, os arábes demonstraram ser conquistadores bravos e tolerantes: <(
o
as regras que impunham não afetavam a vida corrente; a civilização dos povos sub •W
�
metidos não era destruída, mas incorporada. Capturaram Damasco, Jerusalém, An w
tioquia; dominaram o Egito e a Pérsia; atingiram a margem africana do Atlântico o
A cultura islâmica
Como os muçulmanos eram extremamente tolerantes, não rejeitavam os sistemas
filosóficos de outros povos ou religiões. Traduziam os pensamentos de Platão ou de
Aristóteles, pouco se preocupando com o "paganismo" dos antigos gregos.
Assim, através das traduções árabes, o mundo europeu acabou conhecendo, em
plena Idade Média, os pensamentos dos filósofos gregos que, rejeitados como pa
gãos pelo cristianismo primitivo, eram simplesmente ignorados na Europa dos sécu
los anteriores à invasão árabe._
O contato com o mundo grego, descoberto graças aos seguidores de Alá, não so
mente modificou a filosofia cristã (como ocorreu, por exemplo, · com Sartto Tomás
de Aquino) mas também apressou as modificações sócio-culturais que geraram o
Renascimento.
O primeiro grande filósofo árabe foi AI Kindi. Viveu no século IX e considerava
se neoplatônico. lbn Sina - chamado Avicena -, de origem persa, viveu no século
X e foto introdutor da indução na filosofia; realizou estudos de psicologia, influen
ciando Santo Tomás e Albert Magnus. lbn Rush - chamado Averróis -, natural
de Córdoba, viveu no século XII e transmitiu as idéias aristotélicas ao mundo oci
qental europeu, aceitando a doutrina da dupla verdade: religiosa e intelectual.
Os árabes desenvolveram a medicina, a química, e alcançaram grande progresso na
matemática, sobretudo na álgebra. Além disso, são responsáveis pela criação dos al
garismos.
Entretanto, a ciência árabe estava submetida ao ensino da religião islâmica, não
podendo desenvolver-se livremente. Por isso, buscavam muitas vezes na ciência o
impossível e_ o fantástico, acreditavam ser possível traçar o destino dos homens pelos
astros, e por meio de experiências químicas procuravam a pedra filosofai que trans
formaria metais comuns em ouro.
A poesia era amplamente cultivada pelos árabes. O mais célebre poeta foi 0mar
K.hayam, autor do poema Rubayat. A literatura também tinha importância para os
árabes. Na época do califa Harun al-Rachid, em Bagdá, foi escrito o famoso livro
As Mil e Uma Noites.
Exercício
(UNIV. FED. ALAGOAS) O Império Bizantino, ao longo de sua história, apresen
tou um governo que se caracterizou por:
tras Cruzadas. Uma das mais famosas foi a Cruzada dos Reis ( 1 1 89-1 192) assim cha eram consumidos por elas. Viam- �
mada porque dela participaram os reis Filipe Augusto (França), Ricardo Coração
se pelas ruas e praças da cidade ifi
pedaços de cabeças, de maos e �
de Leão (Inglaterra) e Frederico Barba-Roxa (Sacro Império Germânico). de pés ( . . . ) . u
De modo geral, as Cruzadas não tiveram o efeito desejado, pois os muçulmanos (/)
(Raymond d'Agile, História Fran <(
conseguiram manter-se na região. No entanto, uma das conseqüências mais impor z
corum qui ceperunt Hierusalem in
-
tantes do movimento cruzadista foi a abertura do Mediterrâneo ao comércio euro modo de Produção Feudal - org.
peu. Esse fato ajudou o processo de transformação do feudalismo. Jaime Pinsky) 49
O renascimento comercial
Os nobres que lutavam no Oriente entraram em contato com o estilo de vida mais
sofisticado dos povos árabes e bizantinos. Ao voltar para a Europa depois dos com
bates, exibiam produtos de luxo, 8aqueados ou adquiridos dos comerciantes árabes.
Além disso, as Cruzadas abriram o Mediterrâneo aos mercadores italianos. O co
mércio de produtos de luxo se iniciava na Europa Medieval.
Especializados no comércio e na produção de artigos manufaturados (artesanato), Todos aqueles que estão
os habitantes eram obrigados a comprar produtos alimentícios e matéria-prima dos compreendidos na Amizade da
campos . Ao mesmo tempo o próprio camponês, que antes produzia quase tudo de cidade confirmaram, pela fé e
pelo juramento, que cada um
que necessitava, passou a concentrar-se na produção que iria comercializar e viu-se
ajudaria cada um corno um irmão,
obrigado a comprar mercadorias da cidade. Gerava-se assim um comércio interno no que é útil e honesto ( . . . ) Se
que, de certa forma, estava conectado ao comércio internacional. aquele que foi, quer autor, quer
Os cidadãos viam-se na contingência de proteger seu artesanato e o seu comércio vítima., dum prejuízo não aceitar a
da possível concorrência de outras cidades . Para essa proteção foram criadas as cha arbitragem ( . . . ) que ele próprio e
quem quer que tenha sido seu
madas corporações de ofício. Essas entidades controlavam os horários dos que tra cúmplice ( . . . ) seja entregue à
balhavam nas oficinas, mas sobretudo a qualidade dos produtos e o preço. Amizade comum ( . . . ) Se algum
Aparentemente, o processo era vantajoso para os pequenos artesãos e comerciantes; membro da Amizade perder os seus
no entanto, se um deles descobrisse uma nova técnica que barateasse a produção bens . . . que se queixe ao preboste
da Amizade ( . . . ) Se houver tumulto
de tecidos, por exemplo, era expulso da corporação e impedido de utilizar-se de
na cidade todo o membro da
seu invento. Amizade que, ouvindo-os, não ( . . . )
As corporações estabeleciam também uma hierarquia bastante rígida segundo as preste ajuda de inteiro coração
funções dentro de uma oficina artesanal: como as circunstâncias exijam ( . . . )
• O mestre artesão era o dono da oficina, das ferramentas e da matéria-prima. Mas
(pagará uma multa) ( . . . ) Se a alguém
ardeu a casa, ou se, caído em
o mais importante é que ele guardava os segredos da técnica de fabricação de um cativeiro, tiver de pagar resgate ( . . . )
produto. Em outras palavras, tinha que ser um profundo conhecedor de sua profissão. cada um dos Amigos dará um escudo
• O companheiro era um artesão formado na prática de sua convivência com um para socorrer o Amigo empobrecido. . .
mestre, mas não possuía sua oficina própria. Por isso era obrigado a trabalhar como (Ordenações dos reis de França, in
assalariado em alguma oficina. Gustavo de Freitas, op. cit.)
• O aprendiz era um jovem que se apresentava em uma oficina para trabalhar, aju
dando o mestre e com isso aprendendo uma profissão. De modo geral não ganhava
nada, a não ser casa e comida. Estava submetido a uma disciplina rígida.
• O jornaleiro era um jovem que trabalhava por tarefa. Essas tarefas (jornadas) eram
Por volta do ano 1 348, difundiu-se pela Europa um surto de peste bubônica que
talvez tenha sido trazida do Oriente nos navios, por ratos contaminados. Em pouco
tempo a sensação que se tinha era a de que um tufão passara por todos os lugares
varrendo, ou melhor, cortando a vida das pessoas.
A peste ocorria com maior freqüência nos aglomerados populacionais. Vale lem
Boccacio, famoso escritor da época,re
gistrou suas impressões dos efeitos de brar que as cidades medievais não possuíam nenhuma infra-estrutura de saneamen
vastadores da peste negra sobre a popu to: os esgotos eram os leitos das próprias ruas. As possibilidades de disseminação
lação de Florença, que era sua cidade. de doenças eram, portanto, bastante facilitadas.
Até o ano de 1350 a Europa não teve sos
Digo, pois que tínhamos já chegado ao ano da salutar encarnação de Jesus Cris
sego. Mais de um terço da população foi
to de 1 348, quando a pestífera mortalidade atingiu a excelente cidade de Florença contaminada e morta. A Europa só conse
( . . . ) a qual peste ( . . . ) foi enviada aos mortais pela justa ira de Deus, e alguns anos guiu voltar a ter o mesmo número de ha
antes começara nas partes do Oriente, que privou duma inumerável quantidade bitantes trezentos anos depois. Por que a
de vivos; ( . . . ) Poucos se curavam; quase todos morriam em três dias ( . . . ) esta parte
peste negra acelerou o processo de desin
ganhou ainda mais força porque se contagiava às pessoas sãs pela freqüentação
dos doentes ( . . . ) bastava mesmo o tocar nos trajes ou outras coisas ( . . . ) E assim sempre tegração do feudalismo? A peste matou mi
as pessoas, se o podiam fazer, fugiam dos doentes. E em tal aflição e miséria da nossa lhões de camponeses e a mão-de-obra
cidade , a autoridade das leis, tanto divinas como humanas, estava quase destruí diminuiu ainda mais. Os servos estavam
da, por falta de ministros e executores ( . . . ) pelo que era lícito a cada qual fazer o
portanto, em uma situação de relativa van
que queria ( . . . ) não se preocupando senão de si próprios, muitos homens e mulhe
res abandonavam a própria cidade ( . . . ) E, mais estranha coisa é e quase incrível ,
tagem, isto é, podiam até fazer exigências
até os pais e mães fugiam de visitar e servir os filhos, como se não fossem seus ( . . . ) em troca de seu trabalho. Passaram a exi
Muitas pessoas morriam (assim) por falta de socorros. Em virtude do que, tanto por gir a diminuição de impostos e queriam re
falta de remédios convenientes ( . . . ) corno pela forma da peste, a multidao daqueles
ceber mais por seu trabalho.
que morriam, dia e noite, era tão grande que era uma coisa terrificante ( . . . ) Daí que
Isto mudava profundamente as relações
a necessidade obrigasse a novos costumes contrários aos antigos ( . . . ) muita gente mor
ria sem testemunhas ( . . . ) e bem pequeno era o número daqueles cujos corpos fos de produção do feudalismo: uma parte
sem acompanhados à sepultura ( . . . ) e mesmo esses apenas por uma espécie de considerável dos camponeses acumula
coveiros, do povo miúdo, que fazia isso por dinheiro ( . . . ) carregando às costas o cai· va dinheiro suficiente para comprar sua
xão, com grande pressa ( . . . ) e metendo·o na primeira fossa que encontrassem vazia ( . . . )
liberdade, tornando-se cidadão livre. Os
(Giovanni Boccacio, Decarrwron, in Gustavo de Freitas, op. cit.)
. senhores feudais acabaram incentivando
essa prática, que, paradoxalmente, ia con
tra os próprios princípios do feudalismo.
Por outro lado, em certas regiões os senhores feudais temiam que seus servos fu
gissem e agravassem ainda mais a situação. Por isso reprimiam os servos, aumen
tando as obrigações e os impostos. O resultado dessa super exploração foi piorar
a crise: os camponeses não conseguiam atender as exigências porque suas forças che
garam à exaustão, o que · acabou diminuindo ainda mais a produção.
A forte pressão que a nobreza exercia sobre os servos acabou explodindo em rebe
liões que também marcaram o século XVI como um século de crises.
As rebeliões camponesas
Os camponeses passaram a reivindicar Na França, a rebelião começou aparentemente na cidade de Paris, espalhando-se,
melhores condições de trabalho e por es como fogo em um paiol, por todo o território. Alguns artesãos da cidade, não su
g sa razão o rei da Inglaterra determinou portando mais as pesadas taxas, se rebelaram no ano 1358. O líder da rebelião foi
4: que não se pagasse mais do que os se Estêvão Mareei. Os camponeses, tomando conhecimento do que ocorria na cidade,
� nhores achassem justo. Confira o doeu
� mento que Eduardo III, rei da
começaram também a fazer exigências. As rebeliões camponesas, que ficaram co
nhecidas na França com o nome de jacqueries, atingiram os nobres: castelos fo
UJ Inglaterra, fez circular no ano de 1 35 1 .
o o Estatuto inglês dos trabalhadores. ram invadidos, depósitos de alimentos saqueados e destruída a documentação que
4: oficializava a situação dos servos.
::2:
o Eduardo (III ) , pela Graça de Deus ( . . . ) Dado que uma grande parte do povo, Na Inglaterra as rebeliões explodiram al
z e especialmente dos trabalhadores e servidores, morreu ultimamente da peste , guns anos depois, sob a liderança de John
o
u e muitos, vendo as necessidades dos senhores e a grande escassez de serviçais, Ball. A cidade de Londres com seus po
UJ
não querem servir sem receber salários excessivos, preferindo outros mendigar
4: bres se rebelou também, acompanhando
o no ócio a ganhar a vida pelo seu trabalho; ( . . . ) ordenamos: Que cada homem
o e mulher do nosso reino de Inglaterra, de qualquer condição que seja, livre ou o campo, no ano 1381.
1-
z servo, apto de. corpo e com menos de sessenta anos, que não viva do comércio Tanto a rebelião francesa como a ingle
UJ nem exerça qualquer ofício, nem possua de próprio com que possa viver, nem sa foram, depois de duras lutas, reprimi
:::2:
terra própria em cujo cultivo se possa ocupar., nem sirva qualquer outro, se for
u das pela nobreza feudal. No entanto, essas
(f) convocado para trabalhar num serviço que lhe seja adequado, considerada a
4: rebeliões eram um claro indício de que a
z sua condição, será obrigado a servir aquele que assim o convoca ( . . . ) ·
FORMAÇAO DAS
MONARQUIAS
NACIONAIS
Vimos que, politicamente, o feudalismo caracterizou-se pela fragmentação do ter
ritório e pela descentralização do poder. Isto equivale a dizer que, na verdade, não
havia países; não se podia dizer durante o século X, por exemplo, que existisse a
França ou a Inglaterra. O que existia era um conglomerado de feudos, dominados
por nobres independentes, e ,somente no plano formal submetidos à autoridade de
um rei; na prática, quem tinha a autoridade era a nobreza feudal.
Essa situação tendeu a reverter-se a panir de um determinado momento, que coin
cidiu com as transformações gerais que ocorriam no próprio sistema feudal. Essas
mudanças acabaram· fortalecendo a autoridade do rei, tornando-o monarca de um
país. Esse processo caracterizou a formação das monarquias nacionais. De forma
simples poderia ser explicada como sendo a centralização militar e política nas mãos
do rei, que se consolida com o surgimento de fronteiras efetivas, um território coe
so, uma só autoridade e uma só lei.
rá sob o governo da dinastia de Avis que Portugal se lançará na expansão marítima <(
:z:
que iria mudar radicalmente o perfil da história da Europa. o
A Espanha também se consolidou como monarquia nacional durante a luta con Os reis da Espanha consolidaram a mo- �
narquia nacional na luta contra os mou- :z:
tra os mouros. Durante a guerra surgiram os reinos de Leão, Castela, Navarra e ros. Na carta que transcrevemos abaixo cn
Aragão . Embora a autoridade do senhor feudal continuasse vigorando nesses terri o rei Fernando anuncia ao papa a con- ;;
tórios, a presença de um inimigo poderoso e belicoso, como eram os árabes, fa quista final de Granada, no ano 1492. o
a:
voreceu o surgimento de uma autoridade forte e centralizada para dirigir a luta. <(
:z:
Mas foi apenas no ano de 1476, após a união o
::.:2:
de Aragão e Castela (com o casamento de Santíssimo Padre. O vosso humílimo e devotado filho, rei de Castela, de Leão,
(J)
Fernando e Isabel, respectivos goverrutes)
uÍ de Aragão, da Sicília, de Granada, etc. , beija os vossos santos pés e mão e mui <(
to humildemente se recomenda a Vossa Santidade. À qual aprazerá saber que Cl
e a expulsão definitiva dos árabes de Grana aprouve a Nosso Senhor dar-nos completa vitória sobre o rei e os mouros de Gra o
•<(
da em 1492, que a Espanha se tomou um nada, inimigos da nossa Santa Fé Católica. Pois hoje, segundo dia de Janeiro U·
<(
Estado Nacional. Com a centralização do do presente ano de noventa e dois (1492) a cidade de Granada se rendeu a nós.( ... )
::.:2:
poder, a Espanha lança-se na conquista dos este reino de Granada, que durante setecentos e oitenta anos foi ocupado pelos a:
infiéis... foi ganho( ... ) o
u..
mares, que tem seu marco inicial com a des
-
coberta da América pelo navegador genovês (Carta da Chancelaria de Fernando a Inocêncio VIII in: Guswvo de Freitas, op. cit.,2 vol. li)
Cristóvão Colombo, em 1492. 55
A França: exemplo clássico
de monarquia nacional
Quando pensamos na França do absolutismo, logo nos vem à mente a frase de Luís
Carlos Magno, durante seu reinado, con
quistou novos territórios que foram in XIV: "O Estado sou eu. " Isso significava que o rei havia atingido, no século XVII,
corporados ao seu império. Na� regiões o máximo de seu poder pessoal. Mas foram precisos muitos séculos de luta para que
mais longínquas ele instituiu as marcas o poder do rei francês chegasse àquele ponto. Para entendermos esse processo e a for
governadas por um marquês. mação da monarquia nacional francesa, temos que recuar até a Idade Média.
Antecedentes:Os francos foram unifica
dos sob o governo de Clóvis (482-5 1 1) ,
iniciador da dinastia merovíngia. Além
de estabelecer uma razoável organização
da administração no reino, Clóvis con
verteu os súditos ao catolicismo, obtendo
as boas graças da Igreja Católica, o que
ajudou seus sucessores a expandir as
fronteiras até o país dos germanos.
De modo geral, os sucessores de Clóvis
foram dominados pelos seus primeiros
ministros, chamados de major-domus
(mordomos do paço). Um desses major
domus, Carlos Marte!, acabou destronan
do o último rei da dinastia merovíngia, no
ano de 75 1.
Estava sendo inaugurada a dinastia ca
EMIRADO DOS rolíngia, nome oriundo de um dos mais fa
OMÍADAS mosos reis da primitiva França: Carlos
(OOMiNIO ÁRABE) Magno. No ano de 77 1 , Carlos Magno as
sumiu a chefia de todo o reino deixado por
seu pai, Pepino, o Breve. A extensão dos
domínios · de Carlos Magno eram bem
grandes para a época. Essa foi uma das ra
zões pelas quais seus domínios foram ba
tizados de Império Carolíngio, pois Carlos
Reino original dos francos • Marcas das fronteiras Magno pretendia reviver o Império Roma-
I J C a rolingeo
C o n q u istas do Império • Estado da Ig reja (património de no. Essa pretensão foi oficialmente reco-
São Pedro)
nhecida quando, na noite de Natal do ano
de 800, Carlos Magno foi consagrado pelo papa como Imperador dos Romanos.
O mais importante disso tudo é que Carlos Magno conseguiu organizar um governo
formado por um corpo de nobres de confiança, os condes. Cada um desses nobres ti
nha autoridade para administrar certas regiões, mas sempre submetidos ao imperador.
Quando Carlos Magno morreu, em 814, o poder passou para as mãos de seu ftlho.
Depois da morte deste, em 840, o império foi dividido entre seus três sucessores. A
luta entre os três terminou com o tratado de Verdun (84 3) que dividiu o território da
(f)
<( seguinte forma: a região central ftcou com Lotário; a região oriental com Luís, o Ger
z
o
mânico, e a parte ocidental com Carlos, o Calvo. A divisão enfraqueceu o poder cen-
u tral, fortalecendo a nobreza feudal.
� Em uma ordenação datada de 1439, Car Muito lentamente, a dinastia capetíngia, que sucedera a dinastia carolíngi.a, retomou
cn los VII, então rei da França, defendia a
<( livre atividade dos comerciantes, proibin
a luta pela centralização do poder. Como o rei não passava, na verdade, de um senhor
à do aos nobres o antigo direito de saque. feudal com praticamente os mesmos poderes que os outros, Filipe Augusto, que reinou
c: entre os anos de 1 180 e 1223, organizou um
<( - -=--::----:--:---:----:----------------------. exército
z: O Rei proíbe, sob pena de acusação de lesa-majestade e perda para sempre,
de mercenários para lutar contra os
o
� para o culpado e sua posteridade, de todas as honras e cargos públicos, e 0 con- senhores feudais e também nomeou fundo-
(f) fisco de sua pessoa e seus bens, a qualquer pessoa, de qualquer condição, que nários a fim de aplicar leis e recolher impostos.
<(
o
organize, conduza, chefie ou receba uma companhia de homens em armas, sem Este processo de centralização continuou
permissao, licença e consentimento do Rei... Sob as mesmas penalidades, o Rei
o
! <(
durante os reinados de Luís VIII e Luís
proíbe a todos os capitães e homens de guerra, que ataquem mercadores, traba·
U· lhadores, gado ou cavalos ou bestas de carga, seja nos pastos ou em carroças, IX (1223 a 1279), que aumentaram os ter-
<(
� e não pertubem nem aos carros, nem às mercadorias e artigos que estiverem trans- ritórios da Coroa às custas dos feudos to-
c:
o
portando, e nao exigirao deles resgate de qualquer forma; mas sim tolera rao mados à força da nobreza. Os reis rece-
LL que trabalhem, andem de uma parte a outra e levem suas mercadorias e artigos biam apoio dos comerciantes das cidades,
- em paz e segurança.
(Ordenanças dos Reis de França. . . , lei de 1439, in Gustavo de Freitas, op. cit. ).
que necessitavam de um governo central
56 '------=------.:.......:. ._ _... ___:_______...:.:.__ .__: __:_.:..__.J capaz de protegê-los em suas atividades.
Em troca, os comerciantes pagavam impostos diretos aos reis em vez de pagá-los
à nobreza.
Foi durante o reinado de Filipe IV, o Belo ( 1285- 1314), que a monarquia francesa
reforçou sua poütica de centralização. Este monarca iniciou seu governo forçando a pró
pria Igreja a pagar impostos ao rei da França. Ao mesmo tempo conquistou parte dos
ricos territórios da Flandres e da Champanha, facilitando as atividades dos comercian A organização de um exército real não ú
nha por objetivo único controlar a rebel
tes, que retribuíam pagando impostos diretos ao rei. No entanto, Filipe IV teve que
dia dos nobres que não queriam
enfrentar outros obstáculos sérios à centralização do poder. Vários nobres ingleses pos submeter-se à autoridade central. O exér
suíam vastos territórios na França e, aliados a nobres franceses, opunham-se ao forta cito era, sem dúvida, também uma arma
lecimento do poder real. Depois de muita luta, somente uma parte desses nobres para controlar a rebelião dos camponeses
reconheceu a autoridade de Filipe, mas outros continuavam a se opor à autoridade real. que, em última instância, punha em jogo
a própria ordem real, a existência da no
Essa foi uma das causas da Guerra dos Cem Anos, que já vimos anteriormente.
breza e, por que não, da.própria burgue
sia em ascensão. O rei desta forma
A consolidação : Durante a Guerra dos Cem Anos, a França foi obrigada a organizar relaciona-se com diversas classes sociais,
exércitos mais coesos e modernos, para poder enfrentar a força dos arqueiros ingleses, mas de maneira diferente e atendendo in
teresses também diferentes. Por essa razão
que no começo pareciam invencíveis. Ao longo do conflito morreram importantes du
diz-se que a monarquia nacional tende a
ques, condes e nobres em geral, enfraquecendo a nobreza. Politicamente, isso facili guardar certa distância em relação ao in
tou a tarefa real de centralização do poder. teresse de uma determinada classe social.
No entanto , a guerra não prejudicou somente a nobreza. O comércio se desorga
nizou completamente, provocando grandes prejuízos aos mercadores burgueses. O
mesmo se pode dizer do artesanato, que não encontrava mercado para os produtos
acumulados durante a paralisação da economia. Os camponeses, como vimos, tam
bém se levantaram em revolta:s, paralisando igualmente a produção agrária. Nesse
contexto de crises não é difícil imaginar que a figura de um líder com poder forte
era a única solução.
O rei Carlos VII já havia organizado oficialmente um exército forte e nacional.
Mas, mesmo com a autoridade ampliada, o rei Luís XI, sucessor de Carlos, teve
que lutar no ano de 1477 duramente contra os nobres da família de Borgonha, pois
estes não queriam reconhecer a autoridade do monarca.
Pouco a pouco a moderna nação francesa foi se forjando. No começo do século
XVI, a França já era vista como uma grande potência, que mais tarde dominaria
o cenário político europeu quando os reis adotaram o absolutismo.
A Inglaterra, assim como a França, se consolidará no século XVI, numa grande Os camponeses ingleses nessa época go
zavam de uma liberdade bem maior que
monarquia nacional, mas seu processo de fortalecimento do poder difere bastante
os camponeses do continente. Alguns
do processo francês. eram pequenos proprietários, apesar de
haver ainda uma pequena porcentagem de
Antecedentes Em 1066, os normandos liderados por Guilherme, o Conquistador, servos. No plano poütico, a monarquia
dominaram os anglo-saxões, consolidando o sistema feudal. No caso inglês, os anglo-saxônica já havia adquirido um po
der centralizador bem maior que a mo
feudos eram distribuídos diretamente por Guilherme a seus barões, que por
narquia dos francos; havia uma jusúça real
sua vez transformavam-se em vassalos diretos do rei, diferentemente da Fran cn
e uma moeda real, mas o exército era ain- <(
ça, onde sempre havia um nobre entre a autoridade do rei e o vassalo. da pouco organizado. :z
o
Isso significou que a autoridade do rei inglês era muito maior do que a autoridade u
do rei francês, mais ou menos no mesmo período. <(
:z
Henrique II ( 1 1 54- 1 1 8 9), primeiro rei da dinastia dos Plantagenetas, deu conti cn
<(
nuidade à obra de Guilherme no sentido de manter a autoridade do rei. No entanto, :::;)
Henrique foi sucedido por Ricardo, Coração de Leão, o famoso rei das Cruzadas. o
a:
Pelo fato de este monarca passar a maior parte de seu governo combatendo os mu <(
:z
çulmanos no Oriente, os nobres-barões tentaram recuperar suas liberdades. o
�
A luta dos barões contra o poder central continuou durante o reinado de João
cn
Sem-Terra. Nesse período os barões conseguiram grande vitória, obrigando o rei <(
a
a assinar, em 1 2 1 5 , um documento conhecido como a Magna Carta que restringia o
1<(
seus próprios poderes: o rei ficava obrigado a consultar os nobres todas as vezes U·
que quisesse cobrar impostos, era impedido de apoderar-se de um feudo ou aprisio <(
�
nar qualquer homem livre sem julgamento de seus pares. a:
o
No reinado de Henrique III, os nobres ingleses tornaram-se ainda mais indepen u_
-
dentes: em 1264, o rei foi obrigado a reconhecer a existência de um Parlamento,
que na prática tinha o poder de aprovar ou rejeitar as leis do monarca. 57
A Magna Carta foi um fàto inédito nesse Consolidação: A autoridade do rei inglês só foi restaurada depois da Guerra dos
período da história, pois pela primeira vez Cem Anos, em decorrência de alterações na economia e na sociedade, ocorridas,
os vassalos através de um contrato, obri
ao longo do século XV, que mudariam o rumo da história da Inglaterra.
,
Exercícios
1 . Qual das alternativas abaixo não está relacionada com o processo de concentra
ção do poder nas mãos dos reis nos séculos XIV e XV?
a) a formação de um exército profissional a serviço do rei.
b) a criação de uma justiça real, isto é, o rei e não mais os nobres passariam
a administrar a justiça.
c) a continuação da política fiscal nas mãos da nobreza, isto é, os nobres conti
nuariam a cobrar os impostos em seu benefício.
d) a aliança rei e burguesia contra a nobreza.
e) a criação de um corpo de funcionários, a maioria de origem nobre, que aju
dava o rei na tarefa de governar.
COL,ONIZAÇAO DA
AMERICA
Com o crescimento das atividades comerciais e artesanais, as burguesias européias
acumularam cada vez mais riquezas. Aliadas aos reis que concentravam o poder de
seus respectivos países, necessitavam mercados fornecedores de matérias-primas para
alimentar o crescente mercado consumidor europeu.
A expansão européia já havia começado na época das Cruzadas. Mas a conquista
dos mares e novas terras que ocorreu no século XVI fez as Cruzadas parecerem um
passeio no fundo do quintal de uma grande casa.
Além de buscar mercadorias novas ou matérias-primas para transformar em mer
cadorias a serem vendidas para os consumidores europeus, os comerciantes e os reis
necessitavam de ouro. Esse metal era de extrema importância, pois servia como meio
de troca para adquirir mercadorias no Oriente.
Com a tomada de Constantinopla pelos
turcos otomanos, em 1453, a tradicional A historiografia tradicional sempre sugeriu que a tomada de Constantinopla pe·
rota comercial entre o Oriente e o Oci· los turcos, no ano de 1453, foi um fator fundamental para explicar a expansão euro
dente foi interrompida. Comparando os péia pelo mundo. Na verdade, a tomada de Constantinopla não paralisou o comércio
dois mapas abaixo é fácil concluir que entre a Europa e o Oriente através do Mediterrâneo. O que sucedeu foi que as mer
o novo caminho para o Oriente teria ne·
cadorias ficaram mais caras por causa das exigências dos turcos. Isso, sim, levou
cessariamente que passar pelo Atlânúco
e o Índico. Será Vasco da Gama, em os europeus a procurarem outros caminhos para chegar às fontes fornecedoras dos
1498, o autor do célebre feito. produtos procurados na Europa: a Índia, a China, o Oriente em geral.
O novo caminho para as Índias seria
obrigatoriamente pelo Oceano Atlântico.
Veja no mapa: fechado o Mediterrâneo a
única saída seria através do Atlântico.
Portugal. o pioneiro
Observando o mesmo mapa você verifi
ca que Portugal está localizado na ' 'ponta''
da Península Ibérica, projetando-se em di
reção ao oceano. Essa posição geográfica
facilitou-lhe bastante tomar-se um dos pri
meiros países a conquistar os mares para en
contrar a nova rota rumo ao Oriente. É claro
que só a posição geográfica não explicaria o
fato. Vimos anteriormente que a monarquia
<( portuguesa formou-se relativamente cedo.
u
ã:
Depois da Revolução de Avis, em 1383, a
•W
Coroa, contando com o apoio dos mercado
::::;?!
<( res, incentivou a formação de empresas que
<( se dedicassem às navegações. No ano de
Cl
o 1415 Portugal tomou Ceuta, no norte da
l<(
U· África, e pouco a pouco, foi conquistando
� outros pontos, até contornar o continente
z africano e Vasco da Gama chegar às Índias,
o
...J
o no ano de 1498. A descoberta do Brasil, por
u Pedro Álvares Cabral, foi apenas uma con
-
tinuação do projeto português de navegar
60 em direção a novas fontes de mercadorias.
Portugal acabou transformando-se num país de mercadores. As cidades italianas, Embora Ceuta fosse base de pirataria e
que antes dominavam o cenário do comércio europeu, entraram em decadência. Lis uma ameaça constante aos navios portu
gueses, sua conquista não foi motivada
boa se assemelhava a um grande mercado onde poderia encontrar-se produtos do
pela necessidade de limpar os mares, mas
mundo todo, em especial do Oriente. As famosas especiarias (cravo, canela, açú sim pela ambição dos cavaleiros ansio
car) , sedas, porcelanas abarrotavam as casas comerciais de Lisboa, cujos comerciantes sos por terras e valores. O historiador Zu
as distribuíam para toda a Europa. rara relata a resposta de João Afonso
(auxiliar do rei D. João I) às petições da
Portugal tornou-se um país rico, uma grande potência na época. A burguesia mer
nobreza por grandes feitos .
cantil fortaleceu-se e o rei recebia impostos e participava dos lucros das empresas
de comércio e navegação. No entanto, esse poderio e riqueza não duraram muito Vossos pensamentos - disse ele
- são assaz de grandes e bons, e
tempo. Quanto maior era o império português com seus portos e feitorias na África pois que vós tal vontade tendes,
e na Ásia, maiores eram as despesas para manter todo esse grande empreendimen eu vos posso ensinar uma coisa
to. A construção de navios, de fortalezas e a manutenção de um vasto corpo de fun em que o podeis bem e honrada
cionários e um gigantesco exército exigia cada vez mais dinheiro. Ao mesmo tempo, mente executar, e isto é a cidade
de Ceuta, que é em terra de Áfri
a Corte portuguesa tinha gastos enormes com artigos supérfluos e de luxo, constru
ca, que é uma mui notável cidade
ção de castelos e outras atividades improdutivas. Para cobrir tantos gastos, os lu e mui azarada para se tomar; ( . . . )
cros do comércio oriental já não eram suficientes; por isso a Coroa pedia dinheiro segundo o grilo desejo de vosso
emprestado aos banqueiros italianos, alemães e holandeses. Os juros iam corroendo pai e o vosso, ni!o sinto pelo pre
a economia do país. sente cousa em que mais honra
damente pudésseis fazer de vossas
Para piorar a situação, Portugal acabou, no ano de 1580, sendo incorporado à Es honras como no filhamento (toma
panha durante 60 anos. da) daquela cidade ( . .. )
(Gomes Eanes de Zurara, Crônica
A Espanha, segunda grande potência da tomada de Ceutll in Gustavo de
Freitas, op.cit.)
marítima
Os espanhóis só conseguiram iniciar a expansão marítima após derrotarem os ára
bes na chamada Guerra da Reconquista. Como eles chegaram um pouco mais tarde
que os portugueses, foram obrigados a procurar uma outra rota para atingir o Oriente.
Naquela época, já se tinha certeza de que a Terra era redonda; se os espanhóis na
vegassem para o Ocidente, chegariam ao Oriente. Foi em busca de uma nova rota
No documento abaixo o fllho de Cristó
. para a Índia que o navegador genovês Cristóvão Colombo, a serviço dos reis espa vão Colombo explica as razões que leva
nhóis, descobriu a América, em 1492. ram o navegante genovês a seguir em
Portugal, temendo que as novas terras fossem parte da Ásia, exigiu da Espanha direção ao ocidente, na esperança de en
um acordo para ter garantia de acesso às novas descobertas. Sucederam-se as dis contrar a Índia, o Japão e a China.
cussões e tratados em torno dos direitos de
propriedade e de exploração das Coroas É pois a primeira razão (. . . ) esta: como toda a água e a terra do mundo constituem
portuguesa e espanhola sobre as terras uma esfera e por conseguinte seja redondo, considerou Cristóvi!o Colombo ser pos
recém-descobertas. Essas conversações sível rodear-se do Oriente a Ocidente, andando por ela os homens até estar pés
culminaram, em 1494, no Tratado de Tor com pés uns com os outros, em qualquer parte que se achem em oposto. A segun
da razão é ( . . . ) que muíta e muíto grande parte desta esfera tenha sido j á ( . . . ) por
desilhas, que dividiu o novo mundo entre muitos navegada e que ni!o restava para ser toda descoberta seni!o aquele espaço
Portugal e Espanha. que havia desde o fim oriental da Í ndia até que prosseguindo a via do Oriente tor
Os espanhóis prosseguiram. Vasco Nu nassem pelo nosso Ocidente às ilhas de Cabo Verde a dos Açores que era a mais
nes de Balboa chegou ao Pacífico, através ocidental terra que enti!o estava descoberta. A terceira entendia que aquele dito
espaço que havia entre o fim oriental( ... ) e as ditas ilhas de Cabo Verde não po
do istmo do Panamá, no ano de 1 4 1 3. En
diam ser mais que a terça parte do círculo maior da esfera(. .. )
tre 1 5 19 e 1 522, Fernão de Magalhães (Frei Bartolomé de las Casas História Geral das Índias in Gustavo de Freitas , op.cit.)
completou a primeira viagem de circuna-
vegação do globo terrestre. ,
Depois da descoberta da América, os espanhóis não se interessaram mais pela Asia.
Logo encontraram as minas de ouro e prata que transformaram a Espanha no país
mais rico da Europa no século XVI. Portugal havia sido superado pela Espanha.
A Espanha soube também explorar as Antilhas, onde foram implantadas fazen
das para produzir açúcar, nos moldes da exploração dos portugueses no Brasil. �
u
No entanto, toda a riqueza descoberta pela Espanha na América não era aplicada a:
•LU
em setores produtivos. Os reis espanhóis estavam mais preocupados em demons �
trar sua opulência e seu poderio construindo magníficas igrejas e palácios. Parte do <(
ouro seguia para França ou Inglaterra nos gastos em produtos manufaturados e tam �
o
bém no fmanciamento de intermináveis guerras, principalmente contra a Inglaterra. o
r<(
Não só a Espanha e Portugal estavam interessados na América. Ingleses, holan U·
<(
deses e franceses lançaram-se à luta para conquistar partes do rico território. Os N
ingleses e franceses concentraram seus interesses na parte norte da América. En z
o
....1
quanto os ingleses colonizaram o litoral, os franceses buscaram as terras do atual o
Canadá e a região central dos atuais EUA. Os holandeses, por sua vez, tiveram u
-
uma participação menor na conquista colonial: além da tentativa de estabelecer
uma possessão no Brasil, ocuparam algumas ilhas das Antilhas. 61
Fernão Cortez, após fundar no litoral a colô
nia de Vem Crui, seguiu em direção à capi A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA
llll do Império Asreca onde fui bem recebido
pelo imperador Montezurna. O documento À medida que a monarquia nacional se consolidava na Europa, a exploração das
abaixo demonstra que o único interesse dos
colônias era cada vez mais indispensável. A economia das monarquias era baseada
espanhóis em a obtenção de riquezas.
na idéia de que era preciso utilizar-se de qualquer meio para aumentar os ganhos
do país: vender caro e comprar barato, explorar ao máximo as colônias para poder
lucrar na venda dos produtos. Essa prática econômica fazia parte do mercantilis
Pois entrando, como estávamos,
mo, política econômica que atingiu o auge no século XVII e que correspondeu, a
naqueles aposentos (. . .), quando
olhávamos onde melhor e mais nível político, às monarquias absolutistas.
conveniente parte havíamos de Os espanhóis, os portugueses, os ingleses, os franceses e os holandeses lançaram
fazer o altar, (. . .) (um dos nos- se numa exploração sistemática das novas terras, organizando urna imensa empresa
sos) viu numa parede um como que iria beneficiar as monarquias e as burguesias da Europa.
sinal de que tinha sido porta,
Os habitantes das Américas, chamados pelos europeus de índios, encontravam-se
que estava entaipada; e como
havia fama de que naquele apo nos mais diferentes estágios de cultura. Uns, corno os índios brasileiros e norte
sento tinha Montezuma o tesou americanos, viviam praticamente nas mesmas condições do homem pré-histórico .
ro de seu pai Axaiaca, Muitos eram nômades e s e dedicavam à caça e coleta, outros cultivavam a terra em
suspeitou-se que estaria naquela
urna agricultura de subsistência.
casa, de há poucos dias fechada
e tapada(. . .) e secretamente se
Os incas, os maias e os astecas haviam atingido um estágio bem mais avançado,
abriu a porta, e, quando foi possuindo urna organização social e administrativa complexa. Eram povos agrícolas
aberta, Cortez com certos capi que conheciam técnicas de cultivo e irrigação. A produção era suficiente para que
tães entraram primeiro dentro e houvesse excedentes permitindo assim maior divisão de trabalho. Além dos agricul
viram tanto número de jóias de
tores havia oleiros, tecelões, artesãos, astrônomos, sacerdotes e urna classe dirigen
ouro (. . . ) e outras mil riquezas
(. . . ) e acordou-se (. . .) que nem te em cujo topo estava o imperador. Vamos apresentar de forma resumida as
por pensamento se tocasse em condições de vida dos mais importantes grupos:
coisa nenhuma dessas, mas que
da mesma porta se tornassem lo
Incas: Habitavam a região do atual Equador e estenderam seu império até o norte
go a pôr as suas pedras e se fe
chasse e pusesse da maneira que do Chile e parte da Argentina. Usavam o lhama corno meio de transporte e domina
a achamos e que não se falasse vam outros grupos indígenas que eram obrigados a prestar-lhes serviços.
n isso para que o não soubesse
Montezuma, até ver outro tempo Astecas: Habitavarn a região do atual México e parte da América Central . Inicial
(. . .)
mente estavam organizados numa sociedade igualitária, mas, com o desenvolvimento
(Berna! Diaz de! Castillo, História
verdadeira da conquista da Nova Es de guerras, acabaram dominando outros grupos que reconheciam a liderança de certos
panha in Gustavo de Freitas, op.cit.) chefes. Estavam estabelecendo um vasto império quando os espanhóis chegaram e
os dominaram.
O contato dos espanhóis com os indígenas foi desastroso. O objetivo básico dos
espanhóis era explorar ao máximo as riquezas e a mão-de-obra dos nativos, ainda
que fosse preciso recorrer ao trabalho forçado; os que se revoltavam eram mortos .
Para se ter uma idéia do massacre, a população indígena d a América espanhola era
calculada na época do descobrimento em mais de 5 0 milhões de indivíduos. No co
meço do século XIX essa população estava reduzida a menos de 8 milhões.
O trabalho negro era utilizado principalmente nas grandes plantações das Anti
lhas, onde a estrutura de tráfico de escravos dos mercadores da metrópole exigia
esse tipo de mão-de-obra importada. Este não era o caso do trabalho nas minas,
onde eram aproveitados os indígenas, especialmente os incas. Nessas áreas os espa
nhóis simplesmente aprov�itaram a estrutura de exploração da mão-de-obra já exis
tente entre os pré-colombianos.
A colonização inglesa
A América do Norte não despertou muito interesse dos europeus durante o sécu
lo XVI. Isso porque não havia nenhum produto que pudesse ser comercializado no
mercado europeu . No Brasil, o clima e o solo favoreceram a implantação de uma
empresa agrícola para o cultivo do açúcar, produto que tinha seu consumo garanti
do. Na América espanhola não era exatamente um produto agrícola que despertava
os interesses, mas sim os metais preciosos. Na América do Norte não havia ouro
e seu clima era semelhante ao da Europa,
portanto não se obteria nenhum produto
agrícola diferente, que pudesse interessar
aos mercadores europeus. Os franceses fi
zeram algumas viagens de caráter explo
ratório para a América do Norte no século
XVII. Fundaram Quebec (no atual Cana Os colonos ingleses fixaram-se no litoral
da América do Norte, onde fundaram as
dá) e ocuparam a região central dos atuais
1 3 colônias que originaram mais tarde os
Estados Unidos. No século XVII, a Ingla Estados Unidos. Compare o espaço ocu- j
terra resolveu tomar posse dos territórios pado pelas colônias, com o contorno çc
·UJ
conquistados na América do Norte, atra atual do país norte-americano.
O sentido da colonização
Exercícios
2. Sobre a colonização inglesa nas suas treze colônias na América do Norte pode
mos afirmar:
a) a colonização inglesa nessas treze colônias foi no sentido de produzirem produtos
<( tropicais voltados para a exportação.
u
ã:
b) as colônias do norte produziam artigos tropicais utilizando a mão-de-obra escra
·LJ..I
�
va e por isso são chamadas de colônias de exploração.
<( c) as colônias do sul, por terem um clima semelhante ao europeu, produziam
<( gêneros de subsistência em pequenas propriedades utilizando mão-de-obra li
Cl
o vre.
!<(
U· d) as colônias de povoamento foram povoadas, na sua maioria, por europeus que
<( fugiam da Europa devido a perseguições religiosas. Por isso faziam da América não
!::::::!
:z meramente um lugar de enriquecimento rápido, mas a nova pátria.
o
_J
o
e) a Inglaterra sempre se preocupou em explorar ao máximo todas as treze co-
·
u lônias.
-
Oriente.
e) todas alternativas estão corretas.
Respostas Comentadas
1. A mita era um sistema de trabalho que existia entre os incas através da qual
os indivíduos trabalhavam para o Estado nas tarefas mais variadas camo constru
ção de templos, estradas, trabalho nas minas. Era uma espécie de tributo pago ao
Estado com a prestação de serviços. Após um certo período, o indivíduo voltava
a se dedicar às suas tarefas. Os ,espanhóis utilizaram o sistema de mita para obter
a mão-de-obra no trabalho da mineração. Os colonizadores transformaram essa
instituição em verdadeira escravidão.
2 . A colonização inglesa nas treze colônias da América do Norte apresentou duas
características bem diversas. As colônias do Norte, em decorrência de sua seme
lhança climática, desenvolveu uma economia baseada na pequena propriedade,
mão-de-obra livre e produtora de produtos de subsistência. Foi povoada principal
mente pelos protestantes que buscavam t:efúgio na América diante das persegui
ções religiosas na Europa. As colônias do Sul, ao contrário, por terem um clima
tropical, atendiam aos interesses econômicos ingleses e nelas foi organizada uma
produção voltada para o mercado externo, utilizando a mão-de-obra escrava. Por
tanto, a alternativa correta é a d.
3. Todos os fatores citados foram responsáveis pela expansão marítima européia
nos séculos XV e XVI, portanto a alternativa correta é a e.
4. Sabemos que criollos eram a elite branca das colônias espanholas, mas por não
terem nascido na Espanha eram impedidos de ocupar cargos administrativos ou
eclesiásticos. Logo a alternativa correta é a b.
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65
RENASCIMENTO
CUL TURAL
O crescimento do comércio tomou conta da Europa nos séculos XIII, X�V e XV
e acabou por imprimir às cidades uma vida mais dinâmica e agitada. A cultura, que
já vinha se desenvolvendo desde o começo da Baixa Idade Média, foi ainda mais
impulsionada com a nova vida das cidades.
Os homens que viveram o período do Renascimento cultural não queriam reconhe
cer que a cultura de sua época não era nada mais do que uma continuação da expansão
cultural da Baixa Idade Média, por isso batizaram o seu período com o nome de Re
nascimento. Que pretendiam eles com isso? Queriam dizer que a cultura clásSica greco
romana havia morrido durante a Idade Média e renascido nos séculos XV e XVI.
Foram esses mesmos homens que espalharam a idéia de qué a Idade .Média havia
sido uma Idade das Trevas, uma forma de supervalorizar o período em que viviam.
O Renascimento na Itália.
A Itália havia mantido vivas, de uma forma ou de outra, as tradiÇões
da cultura
Os condottieri eram nobres que lideravam
greco-romana, durante a Idade Média e também a vida urbana nunca. chegou a de
bandos de soldados mercenários e ven
diam seus serviços para os príncipes e saparecer durante a Idade Média. Como já vimos anteriormente, cidades como Gê
condes das cidades italianas. Esses líde nova, Florença e Veneza, por exemplo, mantiveram durante a Idade Média uma
res surgiram na Itália no período de in intensa atividade comercial com o Oriente. Tinham, portanto, uma vida indepen
tensa instabilidade política que dente, que permitia a seus habitantes gozarem, em pleno ·feudalismo, de liberdades
caracterizava o Renascimento.
desconhecidas em outras partes da Europa.
De modo geral o feudalismo nunca chegou a se implantar totalmente na Itália,
por isso as atividades comerciais e artesanais geraram uma classe burguesa urbana
bastante ativa e dinâmica.
Um humanista tenta explicar o que é hu Foi do centro dessa sociedade mais dinâmica que nasceu uma nova forma de pen
manismo.
sar, de se manifestar artisticamente. As condições materiais para o desenvolvimen
to artístico estavam garantidas : tanto pelos burgueses ligados ao comércio quanto
Consagrai-vos a dois gêneros de pelos banqueiros que fmanciavam os empreendimentos dos reis e da burguesia.
estudos. Em primeiro lugar adqui
ri um conhecimento das letras,
não vulgar, mas sério e aprofun
dado... Depois, familiarizai-vos
Humanismo: a base do pensamento renascentista.
com a vida e as (boas) maneiras
- o que se chama os estudos hu O pensador do Renascimento tinha plena convicção de que o homem era o centro
manos, pois que eles embelezam do universo. Por isso, todo o conhecimento deveria ser voltado para o próprio homem.
os homens. (. .. ) Aconselho-vos a O pensador do Renascimento idealizava abranger todas as áreas do conhecimento: de
;;{ ler os autores que possam ajudar veria ser pintor, arquiteto, historiador, cientista etc. Um dos melhores exemplos desse
a: vos, não somente pelo seu assun
:::::>1- to, mas também pelo esplendor tipo de pensador foi Leonardo da Vinci, que era um sábio de seu tempo.
__.
:::::>
do seu estilo e o seu talento lite- Se inicialmente somente os descendentes de fanlílias ricas podiam se realizar ep
u rário, a saber: as obras de Cícero quanto humanistas, aos poucos outros artistas mais modestos também o pudera$.
O e as de todos aqueles que se
E quem financiava esses empreendimentos? Príncipes enriquecidos com o comér
!z aproximam do seu nível. ( ... ) É
cio, grandes mercadores e até Papas. Eram os mecenas, homens que queriam pro
� por isso que se nao deve somente
seguir as lições dos mestres, mas jetar seus nomes e suas artes.
u
cn também instruir-se com os poetas, Para facilitar a compreensão dos períodos históricos do Renascimento italiano,
� os oradores e os historiadores, pa suas fases artísticas foram divididas segundo os séculos em que se manifestaram.
li! ra adquirir um estilo elagante,
Assim, o período inicial do Renascimento, isto é, o século XIV, ficou conhecido
eloqüente...
-
como trecento (anos 300 em italiano), o período do século XV, como quattrocento
66 (Leonardo Bruni, Correspondências.� e o século XVI, como cinquecento.
Em Florença renascem a pintura e a escultura.
O Renascimento científico
--1
<( Foi durante o Renascimento que surgiu a ciência moderna. Sua característica mais
a:
::::> marcante foi a preocupação em fazer uma avaliação constante, através de experiên
'1-
--1
::::> cias, observações e rigoroso exame matemático.
u
Antes do Renascimento, a tendência dominante era explicar os fenômenos da na
o
1- tureza através da religião. Foram, portanto, os renascentistas que encararam de frente
z
UJ a compreensão dos fenômenos da natureza, sem se submeter às explicações religiosas�
::2
u Um bom exemplo de cientista que desafiou a concepção religiosa foi Nicolau Co
cn
<( pérnico ( 1453). Durante toda a Idade Média acreditava-se que a Terra era o centro
z
UJ do sistema solar (geocentrismo) . Copérnico, através de observação e de cálculos,
a:
desmontou completamente essa concepção, afirmando que a Terra era um planeta
-
como outro qualquer que girava em torno do Sol, centro do sistema (heliocentrismo).
68 Giordano Bruno, outro pensador e admirador de Copérnico, tratou de divulgar
essa novidade na Itália. A Igreja mandou prender Bruno e queimá-lo vivo, por ir ..)s filósofos do Renascimento, no seu cul
contra a concepção religiosa do universo. to ao passado greco-romano, inspiraram
Talvez o mais rigoroso observador dos fenômenos ·físicos tenha sido Galileu Ga se na República de Platão para elaborar
utopias que ao mesmo tempo serviam co
lilei (1564 a 1642). Galileu tornou-se famoso "por ter aperfeiçoado a luneta para
mo crítica à sociedade. Na Inglaterra, ca
observar o movimento dos astros. Ele desprezava ,rudo que não pudesse ser com be destacar a Utopia, de Thomas More
provado pela experiência. Perseguido pela Igreja, foi obrigado a negar tudo, para (uma sociedade ideal de cunho socialista).
salvar a pele. Importante também é a utopia do italiano
Tommaso Campanella, exposta no seu li
vro A Cidade do Sol, de 1602.
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70
REFt!JBMJJ. RELIGIOSA
A Igreja Católica sofreu diret:UKente�o impácto das transformações ocorridas na so
ciedade européia durante o século XVI. Vários movimentos religiosos deixaram de
reconhecer os dogmas dà'fgrejá e a autoridade do papa. Esses movimentos religiosos,
conhecidos genericamente como 'Reforma, tinham íntimas ligações com o desenvol
vimento do comércio e con{l:Í formação de uma nova classe social: a burguesia.
A concepção católica do mundo rião atendia mais às novas formas de pensar e viver
difundidas pelo Reriascimento. E como a Igreja Católica teimava em manter-se fiel aos
princípios do feudalismo, houve uma forte reação por parte dos novos setores da socie
dade, que elaboraram Uiíla nova vertente do cristianismo, mais adaptada às necessida
des burguesas.
Deu-se o nome de protestantismo a todos os movimentos que nesse período critica
ram e romperanr com a Igreja Católica.
<(
(/) Exercícios
o
(.!) l .(FUVEST-SP) Alguns historiadores admitem a conexão entre o calvinismo e o
:::i
UJ
a: desenvolvimento do capitalismo a partir do século XVI. Indique dois aspectos dessa
<( conexão.
:2
a:
o
u.. 2 .Qual dos fatores abaixo não pode ser considerado como tendo estimulado o movi-
LU ·
a: mento reformista.
- a) O conflito entre a doutrina católica e os interesses burgueses na procura do lucro.
74 b) O interesse dos nobres em se apropriarem das terras da Igreja.
c) A convocação do Gmcílio de Trento em 1545. O texto abaixo salienta algumas disposições
d) O conflito entre o poder nacional do rei e o universalismo católico de origem me· dogmáti::as que foram consideradas funda
dieval. mentais pelos católicos.
e) O desprestígio da Igreja motivado pelos abusos cometidos pelo clero: venda de in
du1gências, venda de cargos eclesiásticos. venda de relíquias, ostentação de luxo e Se alguém diz que o ímpio se j ustifi
ca unicamente pela fé, de tal modo
riqueza. que entenda que nada mais é preci
so para cooperar com a graça com o
S. A Igreja Católica havia perdido grande parte de sua influência com a expansão
do movimento reformista, em especial a Alemanha (Sacro Império Romano Germâ
nico), principal área dos interesses econômicos da Igreja. A Contra-Reforma tam
bém teve razões internas, pois desde o século XV já existia dentro da Igreja um
movimento de regeneração da vida espiritual.
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LL.
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75
ABSOLUTISMO E
MERCANTILISMO
A monarquia absolutista na França
Vimos que durante a Guerra dos Cem Anos a monarquia fortaleceu-se na França,
para lutar contra facções da nobreza e contra os ingleses. Depois da guerra, o forta
lecimento do poder real prosseguiu, mas ainda no começo do século XVI havia muita
resistência para que o rei se tornasse um monarca absoluto.
Das várias regiões ainda dominadas inteiramente pela nobreza feudal, uma ofere
cia particular resistência às tentativas de centralização: era a região de Navarra, con
trolada pela família Bourbon. No entanto, o rei francês ia, pouco a pouco, tomando
posse de outros pequenos feudos que não ofereciam resistência.
Para administrar o território que ia sendo anexado, o rei criou vários organismos
Em 1 547 é instituído na França um tri burocráticos. Havia um corpo de funcionários (Conselho do Rei) que auxiliava o
bunal ( Inquisição) para julgar e con rei diretamente nas questões financeiras, políticas e judiciárias. Mas o poder real
denar os calvinistas (huguenotes) . ganhou nova força nos reinados de Francisco I e Henrique II.
Francisco I reinou entre os anos de 1 5 1 5 e 1 547. Era um estudioso e amigo dos
humanistas, deu acolhida a Leonardo da Vinci e protegeu as artes. Essa posição
ajudou-o a elaborar planos mais seguros para centralizar o poder político. Foi ele
quem instituiu o usodo termo majestade,para aumentar seu prestígio diante da po
pulação e da nobreza. E ao mesmo tempo que conseguia se apossar de grande parte
dos territórios dos Bourbon (Navarra) , Francisco I diminuiu o poder da Igreja atra
3 de Setembro de 1 548. Visto pelo vés da Concordata de Bolonha (1516).
Tribunal o processo criminal ( . . . ) A s atividades econômicas iam sendo controladas pelo rei, principalmente no que
contra Jeanne Taffignon, Jacques
Royer, oleiro de estanho, Simon se refere às navegações. Francisco I foi o monarca que impulsionou a França na
Maréchal, sapateiro, Jacques direção de conquistas de territórios na América, entrando em choque, é claro, com
Bourclot, alfageme, Guillaurne os portugueses e espanhóis.
Michau, ourives (e suas mulhe· O setor que pagava grandes somas de impostos ao rei era a burguesia, mas era essa
res), todos presos na cadeia do
mesma burguesia que se beneficiava com as medidas do absolutismo, adquirindo, por
Palácio, por razão dos casos e cri-
mes de blasfêmias heréticas, refe· exemplo, concessões de monopólio para as mais variadas atividades econômicas. Du
rentes a urna espécie de idolatria, rante todo o reinado de Henrique 11 (1547 a 1 559) o processo de centralização prosse
reuniões sediciosas ocultas, mal guiu nos caminhos iniciados por Francisco I. No entanto, áepois da morte de Henrique
ditos e réprobos, e de atos con- 11, a monarquia foi abalada pelas chamadas guerras de religião.
trários à Santa Fé católica ( . . . )
Para reparaçao dos ditos casos e
o
:::2:
crimes muito perniciosos e escan As guerras de religião
cn
dalosos, o dito tribunal condenou
::J e condena os ditos presos a ser A monarquia francesa teve seu poder abalado por mais de trinta anos de guerra.
i= conduzidos em carroças das pri
z A luta entre católicos e protestantes não era simplesmente uma guerra de religião,
<( sões de Langres ao grande merca
u do e lugar público ( ... ) e no dito pois escondia uma violenta luta pelo poder.
. a:
LU lugar serão subidos a patíbulos Durante o reinado de Francisco 11 ( 1559 a 1 560), os membros da família católica
� ( . . . ) em redor dos quais será feita e nobre dos Guise agiram como se fossem os verdadeiros reis da França. Uma parte
LU uma grande fogueira e nela o dito da nobreza que havia se convertido ao protestantismo (huguenotes, na França) apro
�
cn
Taflignon será queimado vivo (. . . )
os outros estrangulados nas ditas veitou o momento para frear-lhes as ambições. Uma das principais famílias
§;
...J
forcas e depois os seus corpos,
juntamente com os livros encon-
que se opunham ao poder dos Guise eram os Bourbon (nobres de Navarra).
A luta teve episódios sangrentos como o Massacre de Vassy em 1 562 e a Noite de
� Irados na sua posse, deitados à São Bartolomeu em agosto de 1 572, onde mais de dois mil protestantes foram mortos.
� dita fogueira e queimados. ( . . . )
Três grupos políticos se batiam nessa guerra: o do rei, que agora era Henrique III, o dos
- Guise, que queria tomar o trono a qualquer custo, e o dos huguenotes, liderados por Hen
(Registros do Parlamento de Paris, in
76 Gustavo de Freitas, op. cir.) rique de Bourbon, que por relações de parentesco passou a ter o direito ao trono da França.
A situação ficou ainda mais confusa quando, em 1579, o rei Henrique III, ao mor
rer, reconheceu como legítimo herdeiro do trono Henrique de Bourbon, o líder pro
testante de Navarra. Isso significava que Henrique de Bourbon era rei de direito da
França, mas uma grande parte dos súditos não reconhecia sua autoridade. Por isso,
em 1 593, depois de vencer seus adversários no campo de batalha, Henrique IV
converteu-se ao catolicismo para ser reconhecido como rei da França. Para conse
guir a paz no reino, promulga o Edito de Nantes que concedia liberdade de culto
aos huguenotes.
Foi com Henrique IV que as bases do poder absoluto foram estabelecidas. Esse
poder foi ampliado ainda mais com Luís XIII e, principalmente, com o famoso Luís
XIV. Alguns anos após assumir o poder, Luís XIII nomeou, no ano de 1624, um
cardeal de nome Richelieu para o cargo de primeiro-ministro. Desse momento em
diante a figura do cardeal Richelieu se confundiu com a própria figura do rei, tama
nha era sua autoridade.
Se os protestantes gozavam de relativa liberdade durante o reinado de Henrique
IV, Richelieu compreendeu que essa liberdade representava uma forma de se opor
à autoridade do rei. Por isso revogou parte dos privilégios concedidos pelo Edito
de Nantes e perseguiu implacavelmente os nobres protestantes.
Para tudo isso Richelieu precisava de dinheiro e esse dinheiro ele obtinha estimu
lando as companhias de comércio e navegação, associando-se à burguesia e aumen
tando o número das colônias francesas.
Na política externa, Richelieu tentou sempre impedir que o poder do Sacro Im
pério Germânico (Alemanha) aumentasse e, para isso, auxiliava os nobres protes
tantes alemães que lutavam contra o imperador.
Em 1 642 e 1643 morreram, respectivamente, Richelieu e Luís XIII. O herdeiro
do rei, Luís XIV, ainda era menor de idade; por isso, alguns nobres tentaram apro
veitar a oportunidade para readquirir seus direitos perdidos.
ela se enriquecia, mais recursos exigia para manter o aparelho burocrático, a corte e -
o exército. No fmal do século XVIII essa "doença" iria levar a França à revolução. 77
A monarquia absolutista na Inglaterra
Vimos que o poder central na Inglaterra se fortaleceu depois da Guerra dos Cem
Anos e principalmente depois da Guerra das Duas Rosas, que terminou em 1485
e marcou o início da dinastia Tudor e do estabelecimento do absolutismo inglês.
No ano de 1215, anobrezaaliadaàburgue
A estrutura social e econômica da Inglaterra havia gerado uma camada de nobres
sia obrigou o rei João Sem-Terra a assinar
a Magna Carta que foi a origem do parla (gentry) que se dedicavam à criação de ovelhas, para exportação de lã. Os campone
mentarismo inglês. A partir do século XIV ses, que viviam secularmente nas terras comunais, foram sendo expulsos pelos ba
o Parlamento se dividiu em duas câmaras: rões salteadores (robber barons), que apoiados por leis do Parlamento começaram
a dos Lordes, que reunia os senhores feu a demarcar e cercar as terras ( enclosure acts). Os cercamentos que se proliferaram
dais, os bispos e grandes barões e a dos Co
muns , que era composta pelos cavaleiros
por toda a área rural inglesa obrigou os camponeses a seguirem para as cidades, on
dos condados e os burgueses das cidades. de constituirão a mão-de-obra necessária para manufatura nascente. Com as cercas
No texto abaixo, umtrechodaMagnaCarta desaparece a lavoura, o campo se transforma em imensas fazendas de criação dirigi
pregando a liberdade dos nobres parlamen das pelos nobres, que mais se assemelhavam a homens de negócios.
tares diante da autoridade do rei.
Essa nova nobreza e a burguesia comercial apoiavam as medidas de Henrique VII,
o primeiro rei Tudor. O rei administrava
o país com ajuda de auxiliares diretos cha
Nenhum homem livre será detido, preso ou privado dos seus bens, ou posto fora da
lei, ou exilado, ou lesado por qualquer maneira, e não iremos contra ele nem contra mados sheriffs. Um Tribunal de Seguran
ele enviaremos ninguém, salvo em virtude de um julgamento legal por seus pares, ça Nacional (Câmara Estrelada) encar
segundo a lei. do país. regava-se de controlar os nobres que se
A ninguém venderemos, recusaremos ou diferiremos o direito ou a justiça. Todos os
opunham à autoridade do rei.
mercadores poderão livre e seguramente sair de Inglaterra, aí vir e morar e aí pas
sar, por terra ou por mar, para comprar e vender, sem ter de pagar más taxas, segun Havia, no entanto, um obstáculo à au
do os antigos costumes, salvo em caso de guerra ( ... ) . toridade do rei: o Parlamento, que contro
Instituímos e concedemos aos nossos barões a garantia seguinte: eles elegerão 25 lava as questões financeiras . Esse
barOes do reino, que lhes aprouverem, os quais deverao, com todo o seu poder, ob Parlamento era composto de duas Câma
servar, manter e fazer observar a paz e as liberdades que nós concedemos e confir
ras: a Câmara dos Lordes e a Câmara dos
mamos pela presente carta ( ... ) Se nós. ou algum dos nossos agentes tivermos
transgredido algum dos artigos desta paz e desta garantia e que isto tenha sido leva Comuns. Na Câmara dos Lordes estavam
do ao conhecimento de quatro dos vinte cinco sobreditos barOes, e se nll.o corrigir os representantes do alto clero e da alta no
mos esse abuso, os quatro barOes levarão o caso em conhecimento dos outros barões, breza e na: Câmara dos Comuns, os repre
e todos, com o comum do país inteiro, nos pressionarão por todos os meios possíveis,
sentantes da burguesia e os proprietários
ou seja, pela ocupação dos nossos castelos, das nossas terras, das nossas possessões,
e por todos os outros meios possíveis, até que o abuso seja corrigido segundo o seu rurais (gentry).
desejo ( . . . ). Quando Henrique VIII subiu ao trono,
(Mathieu Paris, Grande Crônica, in Gustavo de Freitas, op. cit.) o processo de centralização continuou. Du
rante seu reinado houve o rompimento
com a Igreja Católica e a criação da Igreja Anglicana, como vimos no capítulo sobre
a Reforma, reforçando a autoridade do rei. Mas com a morte de Henrique VIII em
1 547 iniciou-se uma séria crise no processo de centralização.
O reinado de Eduardo VI, sucessor de Henrique, foi curto: 1 547 a 1 553. Durante
esse período o poder ficou nas mãos dos protestantes. Mas com a morte do rei o
trono foi ocupado por Maria Tudor (casada com Felipe II da Espanha); católica
fanática, moveu dura perseguição aos protestantes. Praticamente toda a Inglaterra
repudiou o governo de Maria, pois a Espanha era tradicional inimiga e concorrente
eles ingleses. Foi somente quando Maria Tudor morreu, em 1 558, que a Inglaterra
se fortaleceu com a subida de Isabel I .
.isabel (Elizabeth) compreendeu que a melhor forma de restaurar a abalada autorida
de da monarquia era resolver o problema religioso. Oficializou o anglicanismo como re
ligião nacional: os dogmas seriam calvinistas enquanto a liturgia permaneceria católica.
Demonstrava com isso bastante habilidade política, agradando a católicos e protestantes.
Logo em seguida, cuidou de derrotar a Espanha: em 1 588, a chamada Invencível Ar
mada de Felipe II era vencida. Isabel reordenou toda a economia inglesa no sentido
de fortalecer a monarquia. Incentivou a conquista de colônias, fundou companhias de
comércio e ajudou os empreendimentos artesanais. No governo de Isabel I foi fundada
a primeira colônia inglesa na América do Norte: Virgínia. Nesse período intensificou
se também a pirataria inglesa, principalmente na figura de Francis Drake, que se apossou
LJ.J de numerosos navios espanhóis carregados de ouro e prata vindos da América. Duran
o te o reinado de Isabel I a economia inglesa lançou as raízes da futura revolução indus
:::2:
(/) trial. Em primeiro lugar, ampliaram-se as propriedades que se dedicavam à criação de
1- ovelhas e trigo, já com características capita:listas. E quanto mais cresciam as proprie
::>
.....I
o daçles desse tipo, maior era o número de camponeses expulsos para as cidades. Esses
(/)
a::J pobres eram utilizados como mão-de-obra barata nas oficinas artesanais. ·
<( Foi durante o governo de Isabel I que o Parlamento se submeteu ao poder central.
-
Por isso o absolutismo de Isabel ficou conhecido como absolutismo disfarçado, pois
78 permitiu o funcionamento do Parlamento, embora de forma controlada.
Com a morte de Isabel abriu-se novamente uma crise que acabou gerando as famo
sas revoluções inglesas do século XVII.
Os teóricos do absolutismo
país. Ao mesmo tempo deveria ser incentivada a entrada desses mesmos metais. E co Holanda. Expulsos dos campos, sem em
prego nas cidades, esses indivíduos deser
mo fazer isso? Vendendo caro e comprando barato. Por isso as colônias eram impor dados comtitufam um grave problema social.
tantes, pois poderiam fornecer metais preciosos e outros produtos a preços Algumas vezes eram simplesmente chacina
baixíssimos. Conquistar colônias; não s6 conquistar, mas garantir que a colônia fome dos pelos homens de bem que organizavam
cesse mercadorias a preços quase de graça para as metrópoles e comprasse produtos expedições de caça, outras vezes eram inter
nados em lugares que na França se chama
das metrópoles a preços caros. Essa relação metrópole-colônia ficou conhecida como
vam hospitais gerais. No texto abaixo, um
pacto-colonial. testemunm da época descreve a situação des
A política mercantilista das monarquias absolutas propiciou a acumulação de capital sas pessoas .
e riquezas nas mãos de uma classe que se tomava cada vez mais forte e rica. Essa clas
se, a burguesia, juntamente com os Estados absolutistas, acumularam essa riqueza
Mas nao devemos esquecer outra
graças à exploração das colônias e do trabalho de milhares de camponeses e trabalha espécie ( . . . ) composta por aqueles
dores que, na Europa, forneciam os produtos para serem consumidos por mercados que ( . . . ), embora sãos, fingem to- O
crescentes. das as espécies de doenças.� . . . ) �
ladroes e parasitas da comunida- �
No entanto, com o passar do tempo, essa burguesia começou a perceber que a asso
ciação com o Estado absolutista poderia também limitar suas atividades. Aos poucos
de ( . . . ) Há uns 60 anos que esta
gente apareceu: mas facilmente
�
<(
se prenunciava um rompimento entre o Estado absoluto e a burguesia. Isso ocorreu se pode ver que o seu número au- �
w
pela primeira vez na Inglaterra, no século XVII. mentou consideravelmente e
:a;
cuida-se que hoje são mais de
w
dez mil ( . . . ) Inventaram uma !in-
0
guagem que lhes é própria e a :a;
Exercícios que chamam calao ou "francês do cn
vagabundo", que data de há uns �
1 . (FUVEST-SP) "O Estado sou eu". Esta frase do rei francês Luís XIV indicava uma trinta anos e se compOe de inglês cS
e de muitas palavras de sua pró·
particular organização do Estado moderno. Qual era essa particular organização?
pria invençl!o, que só eles com-
�
Dê duas de suas características. <(
preendem.
-
(William Harrison, Descrição da Ingla
2. Quanto à implantação do absolutismo na França podemos afirmar: terra, in Gustavo de Freitas, op. cit.) 79
a) O fortalecimento do poder real só ocorreu com a subida ao trono do rei Luís XIV .
b) A ação política do cardeal Richelieu contribuiu decisivamente para o fortalecimento
do poder real na França.
c) Henrique IV de Bourbon agravou a questão religiosa francesa movendo tenaz per
seguição aos protestantes.
d) Francisco I teve uma relação conflituosa com os representantes do Renascimento,
o que atrapalhou os seus planos de centralização do poder.
e) Todas as alternativas estão corretas.
Respostas comentadas
1 . Essa forma de organização política é o Estado absolutista: todo poder está nas
mãos do rei. O Estado absolutista se caracteriza pela necessidade de um grande apa
relho burocrático e militar que execute as ordens do rei. A nível econômico, esse
Estado adotava uma política de extrema intervenção nas atividades produtivas e co
merciais.
2. A alternativa correta é a b que se refere à atuação política de Richelieu. As de
mais contêm informações falsas, seja por questões cronológicas como a a ou se
ja atribuindo ações opostas àquelas efetivamente realizadas pelos reis Hertrique IV
e Francisco I.
3. Todas as alternativas com exceção da e mencionam acontecimentos históricos ver
dadeiros . Apenas a última alternativa á incorreta, pois Maria Tudor perseguiu vio
lentamente os protestantes.
4. Todas as afirmações contidas nas alternativas caracterizam de maneira correta
o mercantilismo. Portanto , é certa a alternativa e .
S. Todos o s objetivos de Richelieu estavam voltados para aumentar a autoridade real
e transformar a França em uma grande potência. Por isso reprime violentamente
os nobres e os huguenotes. Externamente, o cardeal interferiu na Guerra dos Trinta
Anos para garantir os interesses da França.
6. A monarquia para se manter tinha necessidade de um grande aparato burocráti
co, de uma faustosa corte e uni poderoso exército. No entanto, para manter todas
-
essas instituições havia necessidade de muitos recursos que, a longo prazo, tendiam
80 a esgotar-se.
,.,
REVOfUÇOES INGLESAS
DO SECULO XVII
A Inglaterra encontrava-se em grande prosperidade econômica no ano de 1603,
quando morreu Isabel I. A lã produzida nas "fazendas" dos nobres aburguesados
alimentava um crescente artesanato têxtil que tornava a burguesia mercantil cada
vez mais rica. Os piratas ingleses enriqueciam o tesouro do Estado assaltando os
galeões espanhóis carregados de ouro e prata. A política mercantilista da monarquia
absolutista atendia perfeitamente aos interesses da burguesia que monopolizava o
comércio internacional.
Mas a Inglaterra não comercializava apenas as peças de lã produzidas pelos teares
das pequenas e médias oficinas. Também eram fabricados e comercializados produ
tos de ferro, anunciando a Revolução Industrial que aconteceria quase dois séculos
depois.
A política mercantilista da Coroa beneficiava parte da burguesia, mas deixava um
pouco marginalizado aquele setor da burguesia dedicado à produção e ao comércio
de bens para o mercado interno, que gerava menores lucros. As velhas regras das
corporações, por outro lado, impediam o desenvolvimento de novas técnicas de pro
dução, que pudessem propiciar maior lucratividade. Assim, essa burguesia depen
dente do mercado interno começou a reivindicar a diminuição dos privilégios da
alta burguesia. Era grande a tensão entre as diversas facções da burguesia.
Ao mesmo tempo, era também grave a situação dos camponeses que, como vi
mos, a cada dia perdiam suas terras e eram expulsos para as cidades. Muitos desses
camponeses começaram a resistir. A situação de tensão social foi ficando mais grave
durante o governo absolutista dos Stuart .
A dinastia do Stuart substituiu a dinastia dos Tudor no governo da lnglagerra
depois de 1603. O primeiro rei dessa dinastia foi Jaime I, adepto do absolutismo
total, do tipo francês. Por isso aumentou a participação do Estado nas grandes com
panhias de comércio e manufatureiras, diminuindo os lucros da burguesia. Ao mes
mo tempo, o rei entrou em choque com o P arlamento, fechando-o por sete anos.
Jaime Stuart pretendia com isso demonstrar sua força. Mas ele se esquecia de uma
coisa importante: a monarquia inglesa, ao contrário da francesa, ainda não possuía
um exército forte e profissional para ajudá-la.
Além dos problemas econômicos, impunha-se a questão religiosa, já que havia
vários grupos religiosos em conflito: >
X
• os católicos eram um pequeno grupo que tendia a desaparecer; o
-I
• os calvinistas eram formados pelos setores pobres e pela pequena burguesia; :::>
• os quackers ou puritanos eram um ramo mais radical do calvinismo; As pretensões absolutistas de Carlos I não -�
• os anglicanos constituíam a nobreza palaciana e a alta burguesia ligada às com
foram bem acolhidas pelo Parlamento. V>
dando origem à era das revoluções do século XVIII. ça radical na posição social do artista. w
�
Nos países católicos e absolutistas o ar- (3
tista está ainda ligado à corte e sua arte z
é um meio de representação e ostentação cn
* ExerClClOS
I . LLl
da nobreza. Mas nos países protestantes •O
e republicanos o artista começa a servir U·
:::>
1 . (FUVEST-SP) Nas revoluções inglesas do século XVII, os puritanos tiveram à burguesia que coleciona obras de arte ___J
o
participação decisiva na luta contra o absolutismo monárquico. Quem eram os pu para deleite pessoal. O artista começa a >
perder a proteção de reis e príncipes e LLl
ritanos e por que entraram em conflito com o absolutismo inglês? a:
é obrigado a vender suas realizações ar -
tísticas. No mundo burguês a obra de ar
2. Quanto às Revoluções Inglesas do século XVII é correto afirmar que: te se transforma em mercadoria. 83
a) foram lideradas pela burguesia comercial monopolista ligadas ao anglicanismo.
b) a nobreza teve participação intensa ao lado dos puritanos .
c) foram resultantes do aumento do absolutismo que cerceava tanto as atividades
econômicas da burguesia manufatureira como suas práticas religiosas.
d) tiveram forte influência do ideário iluminista.
Respostas comentadas
84
REVOLUÇÃO INDUS TRIAL
,.., E
REVOLUÇAO AMERICANA
Durante os séculos XV, XVI e XVII a burguesia associou-se à monarquia, como
forma de desenvolver suas atividades comerciais e artesanais. O capitalismo, sistema
criado com a expansão das relações econômicas mais dinâmicas, nasceu no momento
em que as monarquias nacionais começavam a se impor. Era o sistema econômico da
burguesia, baseado principalmente na propriedade privada das ferramentas, das fábri
cas e das matérias-primas (meios de produção), e havia se desenvolvido com a ajuda
da monarquia absoluta e da .política mercantilista.
Mas, com o tempo, o capitalismo e a burguesia "perceberam" que o absolutismo
e o mercantilismo iam, pouco a pouco, representando um obstáculo a sua expansão.
Isso porque a política mercantilista era rigidamente protecionista e as taxações acaba
vam atrapalhando a liberdade de negociar e de fabricar. Por essas razões havia uma
tendência para eclodir uma crise entre a burguesia e o absolutismo.
A economia mudara muito entre o final do século XVII e o começo do XVIII, a
ponto de provocar a concentração de riquezas nas mãos de um número menor de capi
talistas empreendedores. Isso facilitou o aumento da produção, impulsionado também
pelo fato de as corporações de ofícios não conseguirem mais controlar a produção arte
sanal independente.
Foi nesse período que a Inglaterra conheceu uma pré-revolução industrial: os em
presários se utilizavam do trabalho dos camponeses que ficavam em suas casas "fabri
cando'' fios e tecidos em suas ''máquinas'' primitivas. Os empresários compravam sob
encomenda e vendiam a preços bem mais altos para o mercado, nas cidades. Isso pro
porcionou as primeiras condições para a futura industrialização.
resses da nova classe social que despontava como revolucionária: a burguesia liberal. de Freitas, op. cit.) 87
O único pensador que talvez tenha se aproximado dos anseios populares foi Jean
Jacques Rousseau ( 1712- 1778). Defendia a idéia de soberania popular, isto é, a vontade
coletiva deve se impor sobre a vontade individual. Nisso Rousseau estava bastante avan
çado para sua época, pois criticava o individualismo burguês antes mesmo que a bur
guesia estivesse no poder. No seu estudo Discurso sobre a origem e fundamentos das
desigualdades entre os homens , Rousseau argumenta que todos os males da civilização
são originados da propriedade privada. A propriedade privada determinou as diferen
ças sociais e o surgimento de dominadores e dominados. Para superar essa dominação,
Rousseau propunha um contrato social, que deveria ser elaborado por toda a comuni
dade e não por indivíduos isolados. A soberania reside no povo; a vontade individual
não é importante, mas sim a vontade da maioria, que deveria ser expressa através do
voto. O contrato social iria garantir a igualdade de todos.
As idéias dos filósofos iluministas foram adotadas por alguns monarcas que resolve
ram modernizar as instituições políticas e a organização econômica de seus países. A
esse sistema político deu-se o nome de despotismo esclarecido.
O despotismo esclarecido
Os monarcas que adotaram o despotismo esclarecido dominavam regiões de econo
mia bem atrasada em relação a países como a Inglaterra. Eram em geral regiões como
a Rússia, por exemplo, de escassa vida urbana, onde predominava um significativo atraso
sócio-econômico em relação a outros países europeus. A França sobressaía como gran
de pólo cultural, em tomo do qual circulavam membros de toda a nobreza européia.
Dessa maneira, os pensadores iluministas não tardaram a exercer sua influência sobre
esses nobres.
Na Rússia, a maioria esmagadora da população vivia no campo. O monarca Pedro,
o Grande (1672-1725), fez pll:!flOS de modernizar a Rússia. O:lmeçou por modernizar
o exército. Pedro fez construir São Petersburgo (Petrogrado), cidade às margens do
rio Neva, numa região absolutamente selvagem e pantanosa. Por essa obra acabou sen
do identificado como o que utilizou métodos bárbaros para tirar a Rússia da barbárie.
Catarina 11, a Grande, prosseguiu a obra de Pedro. Aumentou as fronteiras da Rússia
em direção ao sul e fundou a Universidade de Moscou. Mas reprimiu todos os movi
mentos camponeses de caráter reivindicatório.
Jean-Jacques Rousseau, embora seja con Também na Áustria, centro do Sacro Império Germânico, o despotismo esclarecido
siderado um filósofo do Iluminismo, cri foi utilizado como recurso para se promover a modernização do país. O monarca que
ticou a excessiva valorização da razão tentou a façanha foi José 11 ( 1741-1790), através de uma reforma agrária que acabou
defendida por Voltaire. Para ele, O ho sendo frustrada pela resistência dos nobres proprietários.
mem que pensa é um animal deprava
Na Prússia do Sacro Império Germânico, Frederico I (1740-1786) se fortaleceu e ga
do. Suas obras influenciaram os homens
de sua época e furam fonte de consulta dos nhou prestígio graças às medidas reformistas adotadas em relação à educação e política
pensadores futuros. Emílio e N(J1)a Heloísa exterior.
� forneceram as diretrizes da pedagogia mo Já na Espanha, Carlos Ill (1716-1788) iniciou uma série de reformas administrativas,
<( dema e o Contrato Social, os fundamen
� tos do gQvemo democrático.
financeiras e fiscais para dar novo alento à economia. Além disso, combateu o poder
excessivo da Igreja Católica, suprimiu a Inquisição e expulsou os jesuítas. Em Portu
w
::::2: gal, o marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei José I (1750-1777), colocou em
6É possível estabelecer com simpli prática medidas que reforçaram o setor comercial, instituindo as companhias comer
• <( cidade o núcleo da idéia do con
ciais monopolistas, subsidiando manufaturas numa tentativa rudimentar de instaurar
g· trato social: cada um de nós
a industrialização de Portugal. Pombal também expulsou os jesuítas do reino e expro
coloca sua pessoa e autoridade
0
> sob a direçilo suprema da vontade priou os bens da Companhia de Jesus.
� geral; e o grupo recebe cada in
w d i v íd uo, como uma parte indivisí-
--'
�
vel do todo ( ... ) .
A fim de que o contrato social
A crise do mercantilismo
não seja apenas uma fórmula va
t:; zia, t odos precisam compreender
:::> Não foi apenas o absolutismo o alvo das críticas dos iluministas; eles também discor
Cl gue todo indivíduo gue se recusa
· � a obe de cer à vontade ge ra l deve davam do mercantilismo, a política econômica adotada naquele sistema de governo.
� ser
,U· fo rça do por seus companhei Entre os pensadores que criticaram o mercantilismo é importante destacar o economis
ros a fazê-lo. É uma maneira de ta francês François Quesnay que atacava a intervenção do Estado na economia e defen
3 d i ze r que pode ser necessário for dia a liberdade de comprar e vender onde cada um achasse mais conveniente.
§; çar um homem a ser livre, sendo
O lema dos fisiocratas que ficou famoso - laissez faire, laissez passer (Deixai fazer,
� neste caso a liberdade, a obediên·
cia à vontade de todos. deixai passar) -, atendia perfeitamente às necessidades da burguesia, desejosa de afas
- (Jean-Jacques Rousseau O Contrato tar o controle do Estado sobre a economia.
88 Social ) As atividades dessa burguesia, que queria maior liberdade para seus neg6cios e pre-
tendia exercer maior participação política, exigiam a quebra do monopólio comercial
que çaracterizava as relações entre metrópoles e colônias. A primeira manifestação des François Quesnay, médico de Luis XV, foi
se tipo foi a luta dos colonos americanos contra o domínio inglês, que resultou na inde um dos mais importantes teóricos da es
pendência dos Estados Unidos. cola fisiocrata. Em seu livro Quadro Eco
nômico, Quesnay criticou a intervenção do
As transformações ocorridas na Europa, como a Revolução Industrial e a Revolu
Estado na economia. P.ua ele, apenas a ter
ção Intelectual, não tardaram a ecoar nas co- ra era a verdadeira produtora de riqueza;
lônias, colocando em questão o próprio sis- o comérdo era considerado estéril, pois
tema colonial. A relação entre essas consistia na mera transferência de merca
dorias e não gerava riquezas.
transformações e a crise do sistema colonial
era direta. Os pensadores criticavam o mer
cantilismo das potências colonialistas como Que o soberano e a nação nunca percam de vista que a terra é a última fonte de rique
um dos responsáveis pelas restrições à livre zas e que é o agricultor quem as multiplica (... ) Que a propriedade dos bens fundiários
e das riquezas mobiliárias seja assegurada aos possuidores legítimos, pois a seguran
iniciativa. Isso sem dúvida seria verdadeiro ça da propriedade é o fundamento essencial da ordem econômica da sociedade (. .. )
também nas colônias, onde a nascente bur Que uma nação que tem um grande território a cultivar e a facilidade de exercer um
guesia se sentia cada vez mais forte e come grande comércio dos gêneros agrícolas não alargue demasiadamente o emprego do
çava a reivindicar maior autonomia em dinheiro e dos homens às manufaturas e ao comércio de luxo, em prejuízo dos traba
relação à metrópole. lhos e das despesas da agricultura; pois, preferentemente a tudo, o reino deve ser bem
povoado de ricos cultivadores ( ... ) Que se favoreça a multiplicação dos gados, pois são
Por outro lado, à medida que a crise do eles que fornecem às terras o estrume que produz ricas colheitas ( ... ) Que cada um
absolutismo e do mercantilismo ia se acen seja livre de cultivar no seu campo as produções que o seu interesse, as suas faculda
tuando, as metrópoles passavam a exigir ca des e a natureza do terreno lhe sugiram para obter maior produção possível ( ... ) Que
da vez mais das colônias. se mantenha a mais inteira liberdade de comércio ( ... ).
(Quesnay, Máximas gerais do guverrw econômico de um reino agrícola, in Gustavo de Freitas,
op. cit.)
A colonização da América inglesa foi feita, em grande parte, por pessoas que fugiam
das perseguições religiosas no período dos grandes conflitos provocados pela Reforma
Protestante. Eram puritanos e calvinistas procurando um lugar onde pudessem prati
car sua religião em paz. Esses colonos, conhecidos como peregrinos, se instalaram no
início do sécu1o XVII no norte da costa leste dos Estqdos Unidos. Trabalhavam por
conta própria em pequenas fazendas, dedicando-se ao cultivo de vários produtos e à
atividade manufatureira, em um esquema de produção para a subsistência. Em outras
colônias inglesas havia propriedades maiores, que se utilizavam da servidão temporá
ria. Mas de modo geral todas as colônias produziam para o seu próprio sustento, sem
excedentes para a exportação. Ora, isso não interessava a uma potência colonialista co
mo a Inglaterra. O motivo era muito simples: a Inglaterra queria colônias que geras
sem produtos que pudessem ser exportados com grandes lucros.
No entanto, nas colônias do sul, a Inglaterra tinha grande interesse. Aí as proprieda
des eram maiores e se dedicavam à plantação de tabaco e algodao voltados exclusiva <(
mente para a exportação. A mão-de-obra nessas colônias era escrava. O Sul era, portanto, z
<(
muito mais ligado aos interesses da Inglaterra do que o Norte. u
C2
O chamado pacto colonial praticamente não existia entre a Inglaterra e as colônias w
::;;E
do Norte; em compensação, era bastante forte em relação às colônias do Sul. <(
As relações entre as colônias e a Inglaterra foram piorando à medida que a própria o
•<(
colônia começava a ameaçar alguns mono- U·
:::>
pólios da metrópole. Isso porque as ativida --1
o
des econômicas desses colonos se Os colonos americanos exerciam, desde o início, direitos de soberania. Nomeavam >
seus magistrados, concluíam a paz, declaravam a guerra, promulgavam as leis, co w
expandiram a ponto de, por exemplo, fabri mo se sua fidelidade só fosse devida a Deus.
a:
w
carem navios, comercializarem peixe, ma Nas leis da Nova Inglaterra encontramos o germe e o desenvolvimento da indepen --1
<(
deira, gado, melaço, açúcar e escravos e dência local, que é a mola da liberdade americana dos nossos dias. Na América, po ã:
aumentarem a produção de manufaturados. de dizer-se que o município foi organizado antes da comarca, a comarca antes do 1-
cn
A Inglaterra não podia admitir essa con Estado e o Estado antes da União. :::>
As colônias reconheciam a supremacia da pátria-mãe; a monarquia era a lei do Esta o
corrência, pois sua Revolução Industrial ne do; mas a república estava já estabelecida em todas as pequenas localidades. Nas
z
cessitava de colônias que absorvessem seus cidades da Nova Inglaterra não se adotava a lei da representação, mas os negócios o
•<(
produtos e não os produzissem. A metró da comunidade eram discutidos, como em Atenas, no mercado, por uma assembléia U·
:::>
geral dos cidadãos ( ... ). --1
pole se preocupou em manter a colônia sob o
Eclodida a Revolução Americana, a doutrina da soberania do povo saiu das localida
seu controle, e adotou uma nova política co des, e tomou posse do Estado. Todas as classes foram alistadas na sua causa; foram
>
w
mercial: mandou fechar indústrias, procu travadas batalhas e obtidas vitórias: tomou-se a lei das leis.
a:
-
rou eliminar o comércio da Nova Inglaterra (Alccis de Tocqueville, Democracia na AminCa)
com as Antilhas e taxou o melado e o açúcar. 89
Em novembro de 178 1 , o imperador da Essa atitude da metrópole provocou urna onda de protestos entre os colonos, e a
Áustria, José li, déspota esclarecido e adep
razão foi simples: os colonos_ utilizavam o melado para transformá-lo em álcool, que
to das idéias iluministas, decretou a aboli
ção da servidão. era trocado por escravos na Africa, os quais, por sua vez, eram vendidos nas colônias
do Sul que usavam mão-de-obra africana escravizada.
Nós, José li, pela graça de Deus Para piorar a situação, entre 1750 e 1754, a metrópole aumentou as restrições, proi
eleito Imperador Romano, sempre bindo a fabricação de produtos de ferro e tecidos.
Augusto, Rei da Germâni a ,
Hungria e Boêmia, etc . ,
O descontentamento entre colonos e metrópole piorou depois da Guerra dos Sete Anos
Arquiduque de Á ustria , Duque ( 1756-1763), resultante das rivalidades entre França e Inglaterra e também entre os colo
de Borgonha e da Lorena, etc. nos anglo-americanos e franco-americanos. A Frahça, derrotada,perdeu o Canadá e gran
( . . . ) Considerando que a des extensões de terra na América. Os colonos ingleses, que haviam participado da guerra
supressão da servidão e a
e organizado um exército, sentiram-se fortalecidos, viram uma oportunidade para adqui
introdu ção de um regime mais
maleáve l , estabelecido segundo o rir mais terras e colonizá-las, mas o governo britânico quis ele mesmo iniciar a coloniza
exemplo do nosso domínio ção. Por isso proibiu os colonos de avançarem para Oeste. Além disso a Metrópole exigiu
hereditário da Á ustr ia , exerceram que as Treze Colônias ajudassem a pagar as dívidas resultantes da guerra.
a mais útil influência no
A situação ficou mais tensa ainda quando a Inglaterra aumentou os impostos sobre
melhoramento da a g ri cu ltura e da
indústri a , e a que a razão e a vários produtos que a colônia comprava. As pequenas cidades da costa leste começa
caridade falam a favor desta ram a se agitar. Os trabalhadores, os pequenos proprietários, os profissionais liberais,
mudan ç a , decidimos abolir de ora como advogados, médicos e professores, passaram a se organizar em entidades secretas
avante totalmente a servidão e para lutarem pela autonomia. Isso significava que o único caminho para solucionar a
introduzir em seu lugar um
regime mais flexível ( . . . ) Dada
crise era o rompimento com a metrópole.
em Viena , l 0 de Novembro de
1 78 1 ( . . ) .
(Arquivos do Estado, Viena, in M .
A luta pela independência dos Estados
Chaulanges, Textos Históricos, in
Gustavo de Freitas, op. cit.)
Unidos
A cidade de Boston transformou-se em março de 1 770 no símbolo da luta pela inde
pendência porque foi reprimida nesta cidade uma manifestação contra os britânicos,
com saldo de vários mortos.Em 1773, vários colonos jogaram ao mar o carregamento
de chá (Boston Tea Party) . O exemplo foi imitado por outras cidades. Os ingleses rea
giram promulgando as Leis Intoleráveis e fechando o porto de Boston.
E quem dirigia todas essas manifestações? Vários intelectuais que tinham contato
com as idéias ilwninistas. Eram liberais e de modo geral democratas, como Thomas
Jefferson, Samuel Adams, Benjamin Franklin, entre outros.
Para viabilizar a idéia de emancipação foi organizado um Congresso no ano de 1774
em Filadélfia. Uma das primeiras medidas tomadas pelo Congresso foi a suspensão de
Na Declaração de Independência dos Es todo o comércio com a Inglaterra. Isso equivalia a uma declaração de guerra e os pri
tados Unidos da Améríca do Norte, as meiros choques entre colonos armados e soldados ingleses ocorreram em Lexington,
sinada em 4 de julho de 1 776, é nítida
a presença das idéias iluminista�, como
em abril de 1775. As batalhas se multiplicaram. Os ingleses'perderam muitos homens,
se pode notar no texto que segue: mas mesmo assim a Inglaterra conseguiu manter-se Iias colônias.
No dia 4 de julho de 1776 os membros
Quando, no decurso dos acontecimentos humanos, um povo se vê na necessida- do Congresso anunciaram a histórica Decla-
<( de de rompe r os laços políticos que o unem a um outro e de tomar entre as po- ração de Independência; oficialmente, a in-
z tências da terra o lugar de independência e de igualdade a que as Leis da Natureza
<( dependência estava proclamada, restava
u e o Deu s da Natureza lhe dão direito, u m j usto respeito da opinião dos homens lutar para mantê-la. Durou mais de uma dê-
a: exige que ele declare as causas que o levaram a essa separação. Nós temos estas
UJ
verdades por evidentes por si mesmas: cada essa luta. Apenas em 1781 OS ingleses
2
<( • que todos os homens nascem iguais; se renderam em Yorktown às tropas ame-
o • que o seu Criador os dotou de certos direitos inalienáveis, entre os quais a ncanas.
•<(
U· Vida, a Liberdade e a procura da Felicidade; Q recém formado exército americano era
:::> • que, para garantir esses direitos, os homens instituem entre eles Governos,
....J muito fraco para enfrentar as tropas ingle-
o cujo justo poder emana do consentimento dos governados;
>
" UJ •
sas. A participação da França na guerra da
que, se um governo, seja qual for a sua forma, chega a não reconhecer estes
0:: independência foi decisiva; além de enviar
fins, o povo tem o direito de modificá-lo ou de aboli-lo e de instituir um novo
UJ
....J governo, que fundará sobre tais princípios, e de que ele organizará os poderes
homens e armamentos, obrigou a Inglater-
<( segundo as formas que lhe parecerem mais próprias para garantir a sua Segu-
tt
ra a lutar nas Antilhas e na Europa. A paz
f rança e sua Fel icidade. .
Cf) (As Constituições dos Estados Unidos, Paris, 1972).
foi estabelecida pelo Tratado de Pans, em
:::> L------' 1783. Nascia um novo país: os Estados Uni-
Cl
z dos da América do Norte.
o O pacto colonial representava uma verdadeira amarra entre as potências absolutis
l<(
U· tas/mercantilistas e suas colônias. As potências dependiam, em sua maioria, dessa liga
:::>
....J
o
ção. A independência dos Estados Unidos significou que estava sendo rompida essa
> importante ligação, o que provava que existia uma crise que já vinha se avolumando
" UJ
a:
no interior do próprio sistema mercantilista colonial.
...
O ponto culminante dessa crise, que havia cü'meçado com a Revolução Americana,
90 foi a Revolução Francesa.
A GRANDE
REVOL UÇÃO
FRANCESA
Primeiro Estado: era representado pelo clero dividido em alto clero, cujos membros
eram oriundos da nobreza e de familias ricas, possuindo todos os privilégios políticos
e econômicos e em baixo clero, pobre, proveniente das camadas mais populares.
Terceiro Estado: era constituído pela maioria esmagadora da população, aquela parte
da população que suportava economicamente toda a França. Os camponeses, que for
mavam a imensa maioria, forneciam com seu trabalhoalimentos e matérias-primas pa
ra a expansão econômica da sociedade. A maioria dos camponeses pagava, de uma forma
ou de outra, pesados impostos (alguns feudais) para seus senhores. Em menor núme
ro, mas com importante participação no Terceiro Estado, estavam os trabalhadores das
cidades, e também os desempregados, marginais que formavam o grupo dos assim cha
mados sans-culottes que era o nome dado aos pobres urbanos. Mas a liderança dessa imen
sa parte da população estava nas mãos da burguesia. Esta estava dividida em pequenos
burgueses (pequenos comerciantes e artesãos), uma camada média (composta de co
merciantes e profissionais liberais) e a alta burguesia (grandes banqueiros e comerciantes
com o exterior).
No ano de 1 774, subiu ao trono Luís XVI, neto do rei Luís XIV. Uma grande parte
dos franceses depositava certas esperanças de que o novo monarca conseguiria tirar a
França da situação crônica de crise. As esperanças duraram pouco: o governo francês
entrou em guerra com a Inglaterra, na época da Independência dos Estados Unidos,
e o déficit cresceu ainda mais, o que obrigou o rei a aumentar os impostos.
Como às dívidas do Estado e o déficit aumentassem, o rei tentou algumas soluções.
Convidou o fisiocrata Turgot para o cargo de Controlador Geral das Finanças, cargo
Os gráfica> abaixo demonstram de maneira
equivalente ao de ministro da fazenda. Turgot tentou sanear o déficit do Tesouro, mas
evidente a situação crítka em que se en
contravam as fmanças do reino quando esbarrou com um difícil problema: todos os impostos recaíam sobre o Terceiro Esta
Luís XVI subiu ao poder. A receita do Es do, deixando isentos o Segundo e o Primeiro. Ao propor igualdade de taxações, Tur
tado provinha principalmente doo impos got foi demitido.
816%
tos sobre o sal (gabela) e sobre os produtos
Novo Controlador das Finanças foi nomeado, mas ele chegou à mesma conclusão de
comercializados. Entretanto, corno a receita
não cobria oo gastos (veja o déficit de 5%), seu antecessor e teve o mesmo destino, isto é, a demissão. O ministro seguinte, Ca-
o rei tinha que recorrer constantemente aos ÓíVIDAS DO ESTADO lonne, propôs ao-rei que convocasse a Assem-
62 % 6 7 %
empréstimos da burguesia financeira que 1 oo % bléia dos Notáveis (composta somente de
510o/o 316% I I
cobrava altoo juros. As constantes guerras,
membros da nobreza) entre os anos de 1787
os gastos com a corte e os juros dos em
préstimos aumentaram nos anos subse
1 e 1788. Os nobres ouviram as explicações de
qüentes consideravehnente a dívida do
Estado, corno é possível verificar no segun
__
�=� ���=�� e: �:���d��=��:
r
t
'..... _ 212'_*'
.
1 6 8 3 1 7 1 5 1 7 2 1 7 3 9 1 7 6 3 1 7 4 1 7 89
do gráfico. Sem dúvida, essa crise fman
. ..
declararam-se em rebelião contra o próprio
ceira pode ser considerada corno urna das
i Luís XIV ' Luís XV ' Luís xv1 · r rei. Calonne foi, evidentemente, demitido.
<( causas da Revolução Francesa.
Cf) O déficit da França era, naquele momen
LJ.J
u
ORÇAMENTO DO ESTADO ( 1 774/5) to, de 126 milhões de libras (a moeda fran
z
<( cesa na época). Como saída para a crise,
cr: Receita Gastos
u.. sugeriu-se a convocação dos Estados Gerais,
o Cotas 1 2 , 5 % Diversos 21 o/o isto é, uma assembléia que reunisse represen
!<( Tália 1 2, 5 %
U· Exército 33%
:::> tantes do Primeiro, do Segundo e do Tercei
_J
o ro Estado. Os Estados Gerais deveriam
>
LJ.J discutir abertamente uma solução para a crise
cr:
LJ.J
financeira que assolava o país. Mas o Tercei
Cl
z
ro Estado pretendia muito mais do que isto:
<( queria aproveitar a oportunidade para fazer
cr:
(.9 exigências de caráter político. As principais
<(
reivindicações do Terceiro Estado eram:
-
• Duplicação do número de representan
92 tes nos Estados Gerais, garantindo pelo me-
nos o empate com os outros dois Estados; uma vez que cada Estado tinha direito a um O povo de Paris se levanta nas làmosas jor
voto, o Terceiro estava sempre em inferioridade, pois o Primeiro e o Segundo partilha nadas de 13 e 14 de julho e é seguido pelas
revoltas nas cidades das províncias, histori
vam as mesmas posições e votavam de maneira idêntÍca.
camente esse momento é conhecido como o
• Voto individual. Como o Terceiro Estado contava com a adesão de alguns membros
de Grande Medo ou o Terror que se estende
do Primeiro e do Segundo Estado, esta seria uma estmtégia para atingir maioria nas decisões. de fins de julho are priocípu de aga;1n de I7�.
A notícia da convocação dos Estados Gerais caiu como uma bomba sobre a Fran Soboul, fi:unooo historiador francês da Revo
lução Francesa assim descreve o Terror:
ça. Da noite para o dia, todo o país foi invadido por milhares de jornais, panfletos
e cartazes. A agitação geral da sociedade assustou o rei e a nobreza. Enquanto isso, A Krlac:l9p.mi1iva fazia-re una cxm e. IB'lÇl'b
o Terceiro Estado se organizava para obter a aprovação de suas reivindicações. defensiva: é preciso pôr os inimigos do
]XlVO em condição de nâo poderem mais
prejudicar, ]Xlrém também puni-los e
bém contra a propriedade burguesa. Para em 1383, este terrí.fico colosso que Luís XVI e Turenne julgavam inexpugnável, acabou o
! <(
finalmente ]XJr ser tomada de assalto em quatro horas ]XJr uma indisciplinada milícia
garantirem-se, decidiram abolir os direi U·
:::>
sem chefe, ]Xlr burgueses inexperientes, ajudados, é oerto ]Xlr alguns soldados da Pátria, _J
tos feudais, e, quase no mesmo tempo, ins e mais tarde ]Xlr um punhado de homens livres! Oh! Santa liberdade, tal é entôo o o
tituíram a Declaração dos direitos do homem >
teu poder. ( ... ) A notícia de um tôo grande e tão glorioso acontecimento espalhou a w
a:
e do cidadão (26 de agosto de 1789). alegria e a esperança em todos os bairros da cidade; mas uma carta interceptada, que
w
Grande parte da nobreza atemorizada re o traidor do preboste dos comerciantes escrevera ao ilustre De Launay ( o governador o
da Bastilha), tinha. dado a conhecer que, pelas lO horas e durante a noite, haveria com z
solveu emigrar para a Holanda, Inglater <(
certeza traições e surpresas. Por conseqüência t=u-se a rebate paraque todos os cida a:
ra, Áustria e outros países. Esperavam dãos pegassem em armas e ninguém dormisse na gn:mde capital ( . . . ) . �
conseguir restaurar o absolutismo, que (Diário redigido por Loustalot n° l, 1 5-7-1789, in Gustavo de Freitas, op. cit.) <(
-
caía em frangalhos .
Um dos atos mais importantes da As- 93
Declamçào dos Direita; do Homem e sembléia Nacional Constituinte foi o confisco dos bens do clero. Estes bens ser
do Cidadào de 26 de agosto de viram como garantia para os bônus que foram emitidos com o objetivo de arrecadar fun
1 789. .
dos e superar a crise financeira. A Igreja Francesa reagiu e protestou, mas a Assembléia
A Assembléia Nacional reconhece e
declara, na presença e sob os auspí
passou a prender qualquer membro da Igreja que se manifestasse politicamente.
cios do Ser Supremo, os direitos se- A situação política e social era bastante confusa, nos momentos iniciais da Revo
guintes do Homem e do Cidadão: lução. O rei maiJ.tinha secretamente contato com os emigrados e com as monarquias
Art. I - Os homens nasoem e per absolutistas da Austria e da Prússia, para conspirar contra o governo revolucionário
manecem livres e iguais em direitos.
e restaurar o absolutismo. Numa tentativa desesperada, o Rei Luís XVI tentou fu
( ... )Art. I! O objetivo de tcx:la as-
sociação política é a conservação dos gir para a Prússia, mas no caminho foi reconhecido e preso por camponeses, sendo
direitos naturais e imprescritíveis do obrigado a voltar a Paris.
homem: esses direitos são a liberda Os setores mais moderados da Assembléia conseguiram que fosse aprovada uma mo
de, a propriedade, a segurança e a
narquia parlamentar na Constituição de 1791 semelhante à inglesa após a Revolução Glo
resistência à opressão. Art. UI - O
princípio de tcx:la soberania reside
riosa. O poder do rei (executivo) ficava, portanto, limitado pelo poder legislativo
essencialmente na nação; nenhuma (parlamento). No entanto, o poder legislativo não era escolhido pelo voto universal (de
corporação, nenhum indivíduo pode todo o povo francês) mas pelo voto censitário (somente os mais ricos poderiam votar).
exercer autoridade que dela não Isto equivalia a dizer que o governo da França ficava nas mãos da fração minoritária da
emane expressamente. Art. IV - A
rica burguesia e da aristocracia. O povo francês continuava afastado das decisões políticas.
liberdade consiste em poder fazer tu
do aquilo que não pejudica a ou A situação da política externa era tão grave quanto a crise interna da França Re
trem. Art. V A lei não tem senão volucionária. As monarquias absolutistas vizinhas acompanhavam os acontecimen
o direito de proibir as açôes prejudi tos com grande temor. Crescia junto aos monarcas absolutistas a idéia de que era
ciais à sociedade. Tudo aquilo que preciso esmagar a revolução no seu nascedouro antes que se expandisse. Os revolu
não é proibido pela lei não pode ser
impedido e ninguém pode ser obri
cionários franceses passaram a raciocinar de forma oposta, isto é, pretendiam ex
gado a fazer aquilo que ela não or pandir a revolução através de uma guerra revolucionária, pois caso contrário a França
dena. Art. VI - A lei é a expressão ficaria isolada e a revolução sucumbiria.
da vontade geral; tcx:los os cidadãos
têm direito de conoorrer pessoalmen
te ou pôr seus representantes à sua
elaboração; ela deve ser a mesma
para tcx:los, seja protegendo, seja A guerra e a queda da monarquia constitucionalista
punindo.
( . .. ) A Assembléia Legislativa francesa declarou guerra à Áustria e à Prússia no dia
( Duguit, L., Monnier, H. Les amstiJu
20 de abril de 1792, depois que essas duas monarquias absolutas se recusaram a
tions et les principales /ais po/itiqw!s de la garantir um estado de não-beligerância.
Frances depuis 1789, in Falam, F.J.C. e Luís XVI tinha esperança que os exércitos franceses fossem rapidamente derrota
Moura, G. - A fonnação do mundo dos o que permitiria seu retorno ao poder. O rei e a rainha, Maria Antonieta, entra
cnnJemfXJI)'ânRo ram em contato com os inimigos passando-lhes segredos de guerra.
Na Assembléia, Robespierre denunciou a traição do rei e de alguns generais fiéis
à nobreza. Num discurso aos jacobinos, Robespierre dizia: "não! eu não me fio nos
generais e, fazendo exceções honrosas, digo que quase todos tem saudade da velha ordem,
dos favores que dispõem da corte. Só confia no povo, unicamente no povo. "
Nas ruas de Paris e das grandes cidades, os sans-culottes faziam grandes manifes
tações pedindo a prisão dos responsáveis pelas traições e pelas derrotas francesas
nos campos de batalha. A situação ficou ainda mais tensa, quando um alto militar
prussiano ameaçou de morte os membros da Assembléia se a família real francesa
fosse ultrajada. A ameaça tinha por objetivo amedrontar os revolucionários, mas
o resultado foi exatamente oposto: o povo e os sans-culottes enraivecidos pela arro
gância dos inimigos da França invadiram na noite de 9 de agosto de 1 792, o palácio
das Tulherias onde se encontrava o rei e a família real. Era o fim da monarquia.
<(
CJ)
LU
u
:z
A Proclamação da República
<(
0::
L.L. No dia 2 de setembro de 1792, pela manhã chegou a notícia de que a fortaleza de Ver
o
< <(
duo, a última entre Paris e a fronteira, havia sido sitiada. Imediatamente, foi lançada uma
c.>·
:::1
proclamação aos franceses: "Às armas cidadãos! As armas! O inimigo está às portas!" Vários
_J
o
nobres suspeitos de ligação com os inimigos foram massacrados pela população enfurecida.
>
w No dia 20 de setembro de 1 792 chegou a Paris a notícia da esmagadora vitória
0::
LU
dos exércitos revolucionários franceses sobre as tropas prussianas: no mesmo dia
Cl
:z
foi oficialmente proclamada a República na França, cujo órgão principal era a Con
<(
0::
venção, eleito por voto universal.
c..:J Os setores mais moderados, os girondinos haviam se apossado da direção política do
<( país. Havia um problema imediato a ser resolvido : que destino deveria ser dado ao rei
- e sua família que se encontravam presos. Os jacobinos não vacilaram: o rei deveria ser
94 julgado e executado como traidor. A proposta jacobina sai vencedora e Luís XVI foi
guilhotinado. A populatidade dos jacobinos crescia apoiados pelos sans-culottes. Os sans,;u/.ottes era um movimento essen
As vitórias/dos exércitos franceses eram acompanhadas de uma crescente simpa cialmente urbano constituído por trabalha
tia por parte da p.opulàÇão. 0 território prussiano que já havia sido em parte invadi dores pobres, pequenos artesãos, lojistas,
artífices, pequenos empresários. Eles rece
do, era proclamado zona da liberdade. biam esse nome que literalmente significa
No plano interno, o governo dominado pelos girondinos propôs uma série de re sem culotes, ou seja sem a vestimenta típi
formas moderadas de forma que os privilégios da alta burguesia não fossem afeta ca da nobreza.
dos. Muitos girondinos aumentaram suas fortunas, especulando com alimentos para Os sans-culottes eram organizados, princi
palmente nas "seções" de Paris e nos clubes
as campanhas militares. Com isso a situação só piorava, pois os preços subiam a
políticos locais, e forneciam a pn"ncipal força
cada dia. de choque da revolução - eram eles os verda
Os sans-culoues, nas ruas de Paris, sob o comando de líderes radicais, exigiam re deiros manifestantes, agitadores, constrntores
formas mais profundas e um rígido controle de preços dos alimentos. Os jacobinos de barricadas. Atmvés dejornalistas como Ma
rat e Hérbert, através de porta-vozes locais,
formaram a Comissão de Salvação Pública que tinha por fmalidade controlar os preços
eles r.ambémformulo.ram uma político:, por trás
(Lei do Máximo) e denunciar os abusos por parte de negociantes inescrupulosos da qual estava um ideal social contradil.ório
ligados aos girondinos. e vagamente definido, que combinava o res
Os girondinos ficaram cada vez mais temerosos diante do aumento das agitações peito pela (pequena) propriedade privada com
dos sans-culottes. Certas regiões da França como a Vendéia, por exemplo, haviam a hostilidade aos ricos, trabalho garantido pe
lo g(JI)erno, salários e segurança social para
sido tomadas por forças contra-revolucionárias apoiadas pela Inglaterra. A Revolu
o homem pobre, uma democracia extremada,
ção e as liberdades conquistadas corriam perigo. As camadas populares lideradas de igualdade e de liberdade, localizada e direta.
pelos jacobinos rebelaram-se entre maio e j unho de 1 793, o edifício da Convenção (Eric J. Hobsbawn, A Era das Revoluções
foi cercado pela população enraivecida. Os girondinos, líderes do governo, foram - 1 789-1848)
presos e um novo governo de tendência popular foi instaurado.
NAPOLEAOI A EUROPA I
E A AMERICA LA TINA
A época napoleônica
A revolução movimentou e envolveu todos os setores e segmentos da sociedade fran
cesa. Tendo como principal objetivo a transformação do mundo, ela atraiu para si prin
cipalmente os jovens. Com certeza se pode afirmar que a Revolução Francesa foi uma
revolução de jovens. Basta lembrar a idade de três de seus mais ilustres representantes;
Saint-Just, 25 anos; Robespierre, 34 e Joubert que, com 26 anos, foi nomeado general.
Os povos das demais nações européias viam a Revolução Francesa como um cami
nho a ser seguido para promover sua libertação das amarras impostas por séculos de
feudalismo. Todavia essa opinião não era partilhada pelos monarcas e pela nobreza
dessas nações. Para eles, a Revolução Francesa representava uma ameaça a seus privi
légios de classe. Assim, aos seus olhos, o caminho a ser seguido era exterminá-la em
sua origem. Comungava também desse pensamento a própria aristocracia francesa. Con
seqüentemente, esse conflito de interesses - de um lado, a França, cuja sobrevivência
dependia essencialmente da expansão do ideal burguês, e, de outro, a nobreza feudal
européia, que via nessa expansão uma ameaça a seus privilégios - tornava a guerra
inevitável.
Ao começar a Revolução, Napoleão - nascido em Ajaccio, na ilha de Córsega, de
uma família da pequena nobreza arruinada - a ela aderiu prontamente, influenciado
pelos escritores iluministas. Tendo se iniciado nas artes militares da artilharia, ele dá
continuidade a sua carreira nesse clima de conflito. E, embora inicialmente tenha se
posicionado contrariamente aos ideais jacobinos, mais tarde os apóia. É nessa oportu
nidade, coincidentemente, que ele ascende aos altos postos do exército francês.
Em agosto de 1 793, o porto de Toulon, ao sul da França, se encontrava nas mãos
dos ingleses que lideravam uma coligação de nações em luta contra a França revolucio
nária. Era imprescindível para a sobrevivência da Revolução a retomada desse porto.
O Comitê de Salvação Pública do governo jacobino nomeou o general Dugommier -
que tinha como assistente o capitão Napoleão Bonaparte - para executar essa tarefa.
Napoleão propõe ao seu superior um plano, que é aceito, para libertar a cidade portuá <(
ria: os canhões, dispostos estrategicamente, abrem um impiedoso fogo de artilharia em
z
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direção ao inimigo que, não suportando, parte em retir.ada com seus navios. Esta im :5
portante vitória concede ao jovem militar - com apenas 24 anos - o posto de general <(
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de-brigada. É justamente nessa oportunidade que Napoleão declara sua irrestrita soli ã:
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dariedade aos jacobinos. ::::!:
O golpe de 9 Termidor, em 1 794, derruba os jacobinos. Pego de surpresa, Napoleão <(
é detido como simpatizante das tendências mais radicais, permanecendo por algum tempo <(
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afastado do cenário político-militar. Até que uma rebelião realista, com a intenção de
rt.
restaurar a monarquia, eclode, e o governo termidoriano designa Napoleão para sufocá-la. o
c:
Pelo êxito alcançado, a República é salva do perigo e Napoleão, aclamado herói, é no :::::>
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meado general-de-divisão e chefe dos exércitos do interior. Contava então apenas 26 <(
anos de idade.
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Apesar de salva do perigo monarquista, a República continua sentindo-se ameaça •<(
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da, desta vez por aqueles que comungavam dos ideais jacobinos: os grupos de esquerda o
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que ainda pretendiam estabelecer um governo popular. Barras, um dos dirigentes do <(
Diretório, solicita a Bonaparte que feche o Panteon, clube dos revolucionários, no que z
-
é prontamente atendido. Assim, com a mesma frieza com que esmagou a revolta de
direita dos realistas, Napoleão inviabiliza a articulação de grupos de esquerda. Sua am- 97
bição pelo poder sempre fala mais alto e o leva a abrir mão de qualquer comprometi
mento ideológico. E até em sua vida particular se encontra vestígio desse seu oportu
nismo: casa-se com Josefina, cuja relação íntima com Barras alcança notoriedade.
Novamente a República se vê ameaçada por uma coligação de nações, incluindo-se
entre elas sua tradicional inimiga, a Inglaterra, e alguns estados italianos como Pie
monte e Sardenha. A Áustria lidera a ofensiva, iniciando operações no norte da Itália
com o objetivo de ameaçar o sul da França. Com a esperança de que o êxito se repita,
Napoleão é nomeado comandante dos exércitos na Itália. Ocorre que as melhores tro
pas francesas se encontram lutando a leste, no Reno, e a Napoleão cabe comandar tro
pas totalmente desorganizadas pela indisciplina de seus soldados. Mas o grande militar
sabe tirar proveito até de situações aparentemente desfavoráveis como esta.
Antes de iniciar a campanha, Napoleão conclama seus liderados : Soldados, estais nus,
mal nutridos. Vou conduzir-vos às mais férteis planícief do m undo. R icas províncias, gran
des cidades vos esperam; ali encontrareis honra, glória e riqueza. Lançando mão de seu
prestígio pessoal e do vertiginoso sucesso de sua carreira militar, ele persuade seus su
bordinados a obter, através das batalhas militares, vantagens pessoais. Dessa forma,
inicia-se com Napoleão um novo conceito de guerra . Já não se trava uma luta em nome
da pátria ameaçada, mas pela conquista de bens, de riquezas, através de pilhagens. Já
não se luta por ideal, mas em nome de um superior que oferece recompensas.
Irrompendo impetuosamente pela Itália, as tropas de Bonaparte impõem sucessivas
derrotas aos austríacos e italianos. A partir do sul da Itália, ele alcança Roma e, final
mente, em 18 de outubro de 1 797, obriga a Áustria a assinar o Tratado de Campo
Fórmio, através do qual ela cede a Bélgica, a Lombardia e parte do território da mar
gem esquerda do rio Reno à França. Após esse episódio a popularidade de Napoleão
cresce vertiginosamente e, quando volta a Paris, é recebido com intenso entusiasmo.
Mas o inquebrantável inimigo - a Inglaterra - ainda não havia sido derrotado.
Animado pelos sucessos anteriores, Bonaparte queria ser o autor de mais essa grande
façanha. E, percebendo ser impossível invadir a Inglaterra enquanto a marinha france
sa não fosse suficientemente forte para sobrepuj ar a armada britânica, apresentou um
plano para atacá-la na origem do seu poder, no local de onde provinha toda a sua rique
za. Ou seja, no Oriente, no Egito e, depois, nas Índias. Impressionado com a proposta,
o Diretório concedeu, imediatamente, seu beneplácito.
O golpe do 1 8 Brumário
No Egito, entretanto, a campanha não alcança o êxito esperado. Nesse momento,
Bonaparte recebe notícias sobre a formação de uma segunda coligação de nações con·
tra a França e sobre as sucessivas derrotas infligidas pelos países absolutistas e pela
Após o 18 Brumário, Napoleão convoca Inglaterra ao exército francês. É também informado acerca da fragilidade do governo
os banqueiros de Paris com o propósito do Diretório que, não conseguindo controlar a inflação, .dá lugar a agitações. Reinava
de um empréstimo complementar. No tre na França um clima de descontentamento e a cada dia a situação interna se agravava.
cho abaixo, a reação dos banqueiros ao pe
dido de subscrição desse empréstimo.
Um anúncio publicado nessa oportunidade em um jornal parisiense expressa o desejo
de um grande número de franceses: A França deseja qualquer coisa de grande e durável.
<( Todos subscrevemos, declarou (. . .) Não quer a realeza que está proscrita, mas quer a unidade. (. . .) Deseja que seus repre
;:
<(
Mallais, em nome dos
ba nq ue iros presentes. Há por
sentantes sejam conservadores pacíficos e não inovadores turbulentos. Apesar de o general
-l não ser citado nominalmente, tratava-se de sua pessoa.
acaso algum banqueiro ou
j negociante parisiense que, em Bonaparte compreende ter chegado a hora e a vez de .desempenhar na França o pa
ex: vista de tantas belas esperanças, pel com que tanto sonhara. Conseguindo burlar a vigilância dos navios ingleses anco
-� não se apressará a testemunhar
sua confiança absoluta n o
rados na costa do Egito, ele desembarca na França, acompanhado por alguns homens.
<( E, a caminho de Paris, por onde passava recebia ovações que o reconheciam como a
<( Governo? A bolsa responde ao
UJ golpe de estado subindo a
solução mais adequada para a França naquele momento.
.� cotação dos títulos do Estado. Os Esse reconhecimento, entretanto, ele não recebeu dos deputados que, reunidos na
O camponeses proprietários Assembléia dos Quinhentos, procuravam uma saída para a crise. Protestos como Fo
g5 franceses abrigavam a esperança ra-da-lei. Não queremos um ditador foram os "votos de boas-vindas" que Napoleão ou
UJ de que Bona parte , cujo nome se
viu da Assembléia e que o obrigou a dela se retirar. Imediatamente, porém, ordenou
<( vinculava às brilh antes vitórias
à nas guerras contra a coalizão
que uma coluna de soldados a dissolvesse; era 1 0 de Novembro de 1799.
1 <( No lugar do Diretório, instala-se o Consulado, governo do qual participavam, além
UJ feuda l , defenderia a França
,_1
o contra o inimigo do exterior e de Napoleão, Roger Ducos e o abade de Sieyes.
a... contra os emigrados , e garantiria
<( A constituição do Diretório foi substituída por um novo d�lCumento constitucional
z a posse das terras conquistadas
no qual desaparecia a declaração dos direitos. O governo de Napoleão,, estabelecido
- durante a Revolução.
(V. M. Jvostov e Zubok, História com o golpe do 18 Brumário - pelo novo calendário revolucionário .....,, acabou com
98 Contemporânea) os projetos político-liberais e de descentralização.
Do Consulado ao Império No dia 2 de dezembro de 1804, Napoleão
fez-se coroar imperador da França. A bur·
guesia francesa rejubilou-se com o ato.
do Reno, como resultado da união de vá política e social, se mantinha impenetrável às idéias revolucionárias. Para o go <(
UJ
verno português, como para o governo britânico, Napoleão continuava a revo
rios pequenos Estados alemães: é um dos si
nais de que a Alemanha dava os primeiros
lução. Além disso, o governo português estava ligado economicamente à Ingla �
terra há séculos e, sobretudo desde o Tratado de Methuen, de 1703, Portugal se o
passos no sentido da sua unificação e mo a:
negou a aplicar os decretos de Berlim e Milão (que estabeleceram o Bloqueio ::::>
UJ
dernização. Desaparecia, assim, o Sacro Continental) . O primeiro-ministro espanhol , Godoy, incitou Napoleão a inter
vir ( . . . ). Desejava (Godoy) forjar um principado pessoal na costa portuguesa. <(
Império Romano-Germânico.
A intervenção neste país teve, pois, como causa profunda a aplicação do Blo à
Em 1806, a Prússia se levanta contra Na queio Continental , mas f01 precipitada pelas intrigas do governo espanhol (A
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UJ
poleão e, para combatê-lo, se alia à Rússia, intervenção) foi nefasta ( . . . ) para o próprio Napoleão que se meteu no vespeiro
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cujo exército é derrotado pelos franceses. ibérico. a..
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Napoleão parecia invencível. Contudo, exis z
(Jacques, Godechot, Europa y América En La Época Napoleônica) -
tia ainda um poderoso inimigo a ser venci
do: a Inglaterra. Consciente da supremacia 99
O ódio aos Bourbon era tão grande que militar deste país, Bonaparte desloca a guerra para o campo econômico: organiza o
Napoleão conseguiu voltar ao poder. As
Bloqueio Continental, de 1 806. Com esta medida, Napoleão pensa atingir a nação
tropas enviadas contra ele começavam a
passar para seu lado.
inimiga em um ponto crucial para o seu desenvolvimento, ou seja, impedindo o livre
Nos jornais parisienses escrevia-se a comércio deste país com as outras nações. Com o intuito de que a Rússia assumisse
princípio: O monstro corso desembarcou
na a mesma postura frente à Inglaterra, Bonaparte obriga este país, que acabava de derro
baía de S. João. O canibal marcha sobre tar, a assinar o Tratado de Paz de Tilsit. É necessário destacar o habilidoso papel
Grasse. À medida que o avanço de N apo
que o ministro das relações exteriores, Talleyrand, desempenha nesse período. São im
leão obtinha êxito, os jornais mudavam de
tom: Bonaparte ocupou Lyon, Napoleão se portantes as conseqüências que o Bloqueio Continental acarreta não só para a Europa
aproxima de Fontainebleau. Finalmente, - que se encontra toda ela sob o domínio de Napoleão (embora haja movimentos de
anuncirram: Sua Alteza 1mpenal é esperada resistência : caso da Espanha, por exemplo, que organiza guerrilhas para expulsar o
amanhã em sua leal Paris. invasor) -, como também para a América Latina, onde as colônias, cujas metrópoles
Em 19 de março de 1 8 1 5, Luís XVIII
foge em direção à fronteira belga. No dia
se encontram enfraquecidas pela luta contra as fortes pressões exercidas pelos fran
seguinte, Napoleão entra em Paris. ceses, iniciam seu processo de independência.
Após ter tomado, pela segunda vez, o
poder, Napoleão só o manteve durante
cem dias. Os aliados enviaram novamen·
te s eus exércitos contra ele. Na última
Enfraquecimento e queda de Napoleão Bonaparte
grande batalha, em Waterloo, próximo a
Bruxelas ( 1 8 de junho de 1 8 1 5), Napoleão Inicialmente as medidas adotadas por Napoleão para enfraquecer a Inglaterra eco
foi derrotado definitivamente pelos exér· nomicamente surtiram o efeito desejado. Mas, com o decorrer do tempo, tornavam-se
citos aliados, comandados pelo general
inofensivas. Organizando um eficiente sistema de contrabando, os ingleses burlavam
prussiano Blücher e pelo inglês Wel·
lington.
o bloqueio e conseguiam vender suas mercadorias. Um outro fator contribuiu para o
enfraquecimento dessa ofensiva: o fato de a indústria francesa não ser capaz de cobrir
a demanda do continente. Pouco a pouco, as atividades dos portos começaram a dimi
nuir, chegando a ponto de não suprir, sequer, a necessidade de matérias-primas. Dessa
forma, os países europeus conquistados por Napoleão utilizaram-se dos ensinamentos
sobre modernização e liberdade veiculados pelos exércitos franceses e deles se aprovei
taram para expulsar o invasor.
O ano de 1 8 1 2 marca o início do declínio do império napoleônico, que até então
reinava absoluto por quase toda Europa. Foi nesse ano que a Rússia rompeu o pacto
do Bloqueio e, em represália, Napoleão invadiu este país. E aquilo que, de início, parecia
ser mais uma das invencíveis campanhas, logo depois se apresentava como uma catás
trofe. Inicialmente o povo russo não ofereceu resistência, mas, quando começou a com
bater tenazmente o invasor, durante o rigoroso inverno, os franceses partiram em reti
rada. Em dezembro de 1 8 1 2, dos 600 mil soldados que haviam invadido este país resta
vam apenas 30 mil.
Em 1812, o Império Napoleônico atingi- Animados com a vitória russa, os outros países começam a se mobilizar. Em setem
ra seu apogeu. Dentre as regiões domina- bro de 1 8 1 3, os exércitos franceses são derrotados pelos russos, austríacos e prussia
das pel:� França - 130 depMmmentos -,
nos, na Batalha de Leipzig. Com o intuito de se recompor, Napoleão vai até o Reno,
algumas se encontraVl!ID diretamente
sob a tutela de Napoleão, enq=to outras mas as dificuldades econômicas o impedem de prosseguir.
eram países vassalos submetidos a funi.l.i:l- Em 1 8 1 4, o grande exército formado pela Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia inva-
res do imperador. de a França e ill!põe_ l!J!la derrota definitiva ao exército do invencível general. Liderado
)- REII'jODA, [ �1� �ó,NA�ARcW " t ; I ·.) por Talleyrand, um governo provisório é
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criado e Napoleão é deposto e desterrado pa-
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- Marcha de Bolfvar e Sucre -
Exercícios
AS REV9LUÇOES
EUROPEIAS: 1830 A 1848
pela permanência do status quo, ou seja, pela mente .e pelo livre exercício da nossa autoridade real -, concedemos e outor
co
conservação da monarquia constitucional de gamos aos nossos súditos, tanto por nós corno pelos nossos sucessores, e para '<:t
sempre, a Carta constitucional que segue: . . Art. 1 3 - A pessoa do rei é invio co
Luís X:VIII; e o partido hõeral, reivindi _
putado pode ser admitido na Câmara se .não tiver quarenta anos de idade e não �
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poleão .são presas e fuziladas. Durante este pagar mil francos de contribuição direta. Art. 40 - Os eleitores que concorram o
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período, chamado de Terror Branco, mui à nomeação dos deputados não podem ter direito de sufrágio se não pagarem u.J
uma cootribuição direta de trezentos francos.
a:
tos membros do partido liberal, e até mes (f)
mo alguns bonapartistas, passaram a atuar <:{
(As Constituições da França desde 1 789). -
na clandestinidade. E, em 1'824, com a mor-
te de Luís XVIII e a subida ao trono do con- 105
O historiador francês Jacques Néré mos de de Artois - que recebeu o nome de Carlos X -, a situação radicalizou-se.
tra, no texto que segue, as articulações po Logo depois de subir ao trono, o novo monarca adotou uma série de medidas de
líticas para impor o duque de Orléans
caráter reacionário: agrupa em um ministério pessoas ultraconservadoras e indeniza
(Luis Filipe), no plano sucessório de Car
los X. todos os nobres cujas terras haviam sido confiscadas durante a Revolução. Em 1830,
o seu reacionarismo chega ao extremo: dissolve a Câmara, restringe ainda mais o direi
A candidatura do Duque de to ao voto e promulga uma austera lei contra a imprensa. Aos olhos dos franceses a
Orléans, apresentada no dia 30 situação se torna insuportável. Eles, que já haviam admitido a restauração, suportado
de julho por um cartaz an6nimo severas limitações às liberdades conquistadas com anos de luta não podiam continuar
colado nos muros de Paris
apáticos diante de tão grande retrocesso. Os representantes da burguesia, cujos interes
(redigido na verdade por ·
Thiers) , oferece aos chefes ses eram diretamente atingidos pelas medidas do monarca, mobilizam o povo e, com
liberais uma solução que permite o seu apoio e o da Guarda Nacional, iniciam uma série de manifestações.
evitar a república, sinônimo Em 27 de julho de 1830, teve início um levante. Carlos X, percebendo sua impossi
ainda do Terror para a maioria bilidade de vencer a revolta que unia setores da burguesia liberal, grande parcela da
da opinião pública. ( . . . ) O
população e a Guarda Nacional, fugiu para a Inglaterra. Subiu ao trono Luiz Felipe,
Duque de Orléans é primeiro
nomeado general-de-divisao do oriundo de um ramo da nobreza de tendência mais liberal.
reino e, depois, apresentado à
multidão parisiense por La
Fayette, do balcão do Paço
Municipal; no meio disso, Carlos
X abdica, tarde demais, em favor
Contestação ao absolutismo na Europa
do neto, o Duque de Bordeaux,
"Henrique V", e parte para a
Inglaterra, enquanto os Ao ser deposto Carlos X, todo o resto da Europa que ainda se encontrava sob o
deputados declaram vago o trono jugo do absolutismo se rebela. A Bélgica, sob o domínio da Holanda, consegue a sua
( . . . ) e proclamam, no dia 7 de independência. A Polônia inicia uma rebelião para expulsar os russos e os austríacos
agosto, o Duque de Orléans rei
de seu país, sendo mais tarde derrotada. E em várias partes da Itália e da Alemanha
dos franceses; este presta
juramento a 9 de agosto sob o iniciam-se movimentos objetivando a unificação.
nome de Luís Filipe. A situação da Europa, inclusive a da França, no período que antecede a Revolução
(Jaques Néré) de 1848, é muito séria. O agravamento da economia ocorre em conseqüência, princ�
palmente, dé problemas na agricultura, como as péssimas colheitas e a praga que se
alastra nas plantações de batata. Esta crise, além de provocar uma vertiginosa subida
dos preços dos produtos, ocasionando a ruína de um grande número de. camponeses,
reflete-se também nas indústrias e oficinas de artesanato. Estes setores sofrem. paralisa
ção em conseqüência da escassez de matérias-primas e de um surto generalizado de
greves. Essas circunstâncias desfavoráveis, por sua vez, se refletiram no setor comer
cial onde inúmeras empresas, principalmente as pequenas, foram à falência.
Como não podia deixar de ser, a crise econômica abre espaço para 1.1ma crise políti
ca. Novas forças políticas entram em cena. Os liberàis, reco;nhecen4o as circunstâncias
como favoráveis à propagação de suas idéias, reivindicaJD a ampliação do direito ao
voto; os republicanos exigem o fim do sistema monárquico; e, pela primeira vez, en
tram em cena os socialistas, cujas bandeiras de .luta são .o direito de greve, a redução
da jornada de trabalho e melhores condições de v�da para a classe operária.
lhões de francos.
À medida que ocorre o desenvolvimento do setor fabril, fortalecem-se a burguesia A ligaçao do tril[lo com a mina
industrial e comercial que partem em busca de novos mercados. Essa tendência expan explica a localização das
primeiras linhas ( . . . ) A
sionista toma corpo com o processo de colonização da África, onde surge a famosa Le
construção em 1 837 da linha
gião Estrangeira, cujo objetivo é esmagar os movimentos nacionalistas. Paris-Sainl-Germains (. .. )
Voltemos a analisar a Constituição da Monarquia de Julho na tentativa de melhor chama a atençllo dos detentores
compreender a situação da França no. período que antecedeu a Revolução de 1 848, de capitais para o novo meio de
para, assim, melhor conhecer as condições que a possibilitaram. Em relação ao direito locomoçlío. Se numerosos
engenheiros, amiúde
ao voto, por exemplo, esta caFta constitucional amplia esta prerrogativa. Enquanto a influenciados pelas idéias
Constituição da Monarquia dos Bourbon, anterior à da Monarquia de Julho, de sansimonistas, como Michel
terminava que somente as pesse'as cuja renda anual atingisse a casa dos 300 francos Chevalier, Eugene Flachat,
podiam votar, esta nova carta . estende esse direito para aquelas com renda anual de Clapayron, logo se interessaram
200 francos. Graças a esta inovação; o corpo eleitoral aumenta, passando de 94 mil pela construção de estradas de
ferro, e a solicitaram nos jornais
para 240 mil votantes. É importante, porém, ter em mente que, do ponto de vista do e nas publicações, as resistências
conjunto da sociedade, esta ampliação é pouco representativa, pois, dos 33 milhões foram inúmeras, provocadas pelo
de habitantes, somente 240 mil privilegiados podem votar e ser votados. medo das mudanças e também
Os demais setores da sociedade não foram contemplados pela nova constituição e, pela hostilidade dos alugadores
de cavalos de posta e, de um
conseqüentemente, continuaram marginalizados. A pequena burguesia permaneceu ali
modo geral, de todos os que
jada da vida política do país e os operários, se levarmos em conta suas condições de viviam do tráfego nas estradas
vida e de trabalho naquele momento, sequer se constituíam em pessoas jurídicas. Le ou nos rios ( . . . ) Foi preciso
vavam uma vida de extrema penúria;.além dos baixos salários que recebiam, trabalha esperar que se votasse a lei de
vam 1 4 horas por dia e não possuíam nenhum direito político. A situação se agravou 1 1 de junho de 1842 para ver a
adoção de um vasto plano de
de tal forma que, em 1 83 1 , os tecelões da cidade de Lyon se revoltaram. Um simples construção de vias férreas, que
protesto se transformou em uma rebelião: os trabalhadores, depois de derrubarem associava o Estado a companhias
as forças do governo local, tomaram a cidade, dominando-a durante dez dias. A concessionárias particulares. Só
seguir foram violentamente reprimidos pelo exército do governo central. Em 1 834, depois dessa lei se iniciou
verdadeiramente a construção de
quando outra rebelião eclode, ainda em Lyon, eles são novamente sufocados. Esses
ferrovias na França; as linhas
acontecimentos, sem dúvida alguma, eram prenúncio daquilo que viria a acontecer exploradas representavam 499
em 1 848. quilômetros em 1 84 1 ; cerca de
Entre os anos de 1 845 e 1 847, a situação da França se agravou ainda mais. A falta 1900 quilômetros em 1847; a
Paris-Life (da Companhia do
de alimentos, conseqüência das colheitas malsucedidas e das pragas que assolaram as
Norte, dominada pelos
plantações de batata de toda a Europa, exacerbou sobremaneira a crise econômica des Rothschild) foi a mais importante
se país: os salários caíram em 50%; um grande número de fábricas foi à falência em das grandes linhas concluídas.
virtude da inexistência de um mercado consumidor; e a guerra da França contra a Ar ( . . . ) (a construção das ferrovias)
gélia, com o objetivo de manter a sua posse, consumiu grande parte do tesou;:o--francês despertou tantas ilusões quanto
desconfianças encontrara no
e contribuiu para piorar as condições de vida.
início; mas não impulsionou
Todos os setores da sociedade excluídos do poder - ou seja, a maioria da população apenas a indústria e a
- viviam um profundo descontentamento. Até mesmo a burguesia industrial, que ob organizaçil.o do crédito;
tivera pequenas conquistas, sentia-se insatisfeita. E qualquer indício de crítica que es desapossou também os notáveis
ses setores esboçassem era motivo suficiente para que sobre eles se abatesse uma vio de parte do seu prestígio; as
influências locais eram
lenta repressão. Existiam, portanto, todas as condições para que proliferassem idéias insuficientes, e a escolha do
revolucionárias, que ganharam corpo quando o monarca escolhe Guizot para chefiar traçado, assim como a <(
o novo ministério. Famoso pelo seu conservadorismo, sua nomeação é rechaçada pelas construção da linha, exigiam a o
C")
forças de oposição - bonapartistas, republicanos e, até mesmo, socialistas. Impedidas, conciliaçlío de interesses locais <X)
opostos , os técnicos e os
por um ato desse ministro, de exprimirem o seu descontentamento, essas correntes or cn
financistas das grandes <(
ganizaram uma campanha de banquetes onde discutiram a conjuntura política e foram companhias, e redundavam •LU
o..
propostas reformas. numa concentração de poder o
econômico bem <..:orno num a:
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conluio entre o Estado e as LU
grandes empresas . cn
LU
A revolução de 1 848 na França (Jacques Néré) •O
U·
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Um grande banquete de protesto contra a política de repressão e corrupção do go
(ij
verno, marcado para o dia 22 de fevereiro de 1 848, foi suspenso por ordem do ministro a:
cn
Guizot. Como resposta a essa arbitrariedade, o jornal O Nacional, porta-voz da bur <(
guesia republicana, convida o povo a se manifestar. Operários, estudantes e pequenos -
burgueses reúnem-se e começam a bradar palavras de ordem como Abaixo Guizot, Vi- 107
Quando a República foi proclamada, va a Reforma!. Imediatamente, o ministro ordena à Guarda Nacional que reprima os
em fevereiro de 1848, houve muita vaci manifestantes, mas além de não cumprir a ordem, ela se une à multidão em protesto.
lação e temor por pane de alguns mem
bros do chamado Governo Provisório, co
O monarca apela para o exército: 52 manifestantes morrem nesse embate.
mo podemos notar no texto do famoso es Paris, com a Guarda Nacional à frente, se rebela. As ruas se enchem de barricadas.
critor, Victor Hugo. Luiz
. Felipe abdica em favor de seu neto; mas a multidão se insurge contra a sua pos-
se. A Assembléia é invadida pelo povo que
r-------�
O sr. Ledru-Rollin leu em voz alta a frase: O governo provisório declara que conta com o apoio de alguns deputados ra-
o governo provisório da França é o governo republicano . . . , e disse: - Temos dicais.E por proclamação,na manhã de 24 de
duas vezes a palavra "provisório". . . - É verdade, disseram os outros. - Épre- fevereiro, instala-se um governo republica-
ciso riscá-la ao menos uma vez, acrescentou o sr. Ledru-Rollin. O sr. Lamarti- no provisório. Todas as forças políticas que
ne compreendeu o alcance desta observaçao gramatical, que era pura e sim-
plesmente uma revoluçao por escamoteaçao. E disse: Épreciso, contudo, espe-
contribuíram para a derrubada da monar·
rar a sanção da França. _ Passo sem a sanção da França, gritou Ledru-Rollin, quia tomam assento nesse novo governo: a
quando tenho a sanção do povo. - Mas quem pode saber neste momento o que burguesia republicana, representada pelo
quer o povo?, observou Lamartine. - Eu , disse Ledru-Rollin. Houve um mo- poeta Lamartine; a pequena burguesia, que
mento de silêncio. Ouvia-se a multidao como um mar. Ledru-Rollin prosseguiu:
reivindica reformas mais radicais, se faz pre-
0 que o povo quer é a República imediatamente, a República sem demora!. . .
Nós somos provisórios, nós, replicou Ledru-Rollin, mas a República não o é. sente na pessoa de Ledru-Rollin; e Louis
O sr. Crémieux tomou a pena das mãos de Lamartine, riscou o termo "provisó- Blanc e Albert, representantes dos socialis-
rio" no fim da terceira linha e escreveu ao lado: "atual". O governo "atual"?, tas, que exigem melhores condições de vi-
exclamou Ledru-Rollin, seja. Gostaria mais de definitivo. Todavia, assino. Ao da para a classe operária.
lado da assinatura de Lamartine, assinatura quase ilegível, onde se encontram
as incertezas que perturbavam o coração do poeta, LedrucRollin após a sua as-
Passada a euforia dos primeiros momen-
sinatura tranqüila ornada do traço banal de empregado de solicitador que ele tos, evidenciam-se as contradições presentes
paqilha com Proudhon. Depois de Ledru-Rollin, e por baixo, Garnier-Pagês as- nesta nova composição. Os representantes
sin6u com a mesma segurança e o mesmo traço. Depois Crémieux, depois Ma- dos diversos grupos entram em choque uns
rie, por fim Dupont de l'Euro, cuja mao tremia de velhice e medo. Só estes seis
com 08 outros, .essencla1mente pe10 antago-
homens assinaram. O governo provisório nesse momento compunha-se unica-
·
mente desses seis deputados. O selo da cidade de Paris estava em cima da me-
nismo dos seus pontos de vista. Entretanto,
sa . . . Ledru-Rollin pegou-o e aplicou-o no papel, tao precipitadamente que o apesar desses conflitos, algumas reformas
pôs ao contrário. Ningu$m pensou em escrever uma data. Alguns minutos de- que contribuiriam para a melhoria das con-
pois esse pedaço de papel era uma lei, esse pedaço de papel era o futuro dum dições de vida dos trabalhadores são inicia-
povo, esse pedaço de papel era o futuro do mundo. A República estava pro-
clamada.
das: a Segunda República é consolidada,· 0
(Vi-ctor Hugo, Coisas vistas) voto universal é estabelecido; a jornada de
'-------..,.--' trab�lho é diminuída; são criados novos em-
pregos em oficinas do Estado - os ateliers
nationaux. Além disso, o Governo Republicano Provisório cumpre sua principal pro·
messa de promover a organização de uma Assembléia Constituinte para elaborar uma
nova carta e eleger um novo governo. Em abril de 1 848, realizam-se as eleições, quan
do vence a burguesia republicana por uma maioria esmagadora de votos. Temerosos,
os trabalhadores dos partidos socialistas, que haviam sido derrotados, começam a se
manifestar.
ve, com o apoio do exército -, no dia 2 de dezembro de 185 1 , Luís Napoleão Bonapar
te dá um golpe de Estado. Autoproclama-se presidente por 1 0 anos. Era o 18 Brumá
rio de Luis Bonaparte, uma alusão à sua tentativa de reeditar o feito do tio em 1 799.
No ano seguinte declara-se imperador dos franceses, com o nome de Napoleão III. Inicia
se o Segundo Império na França, que perduraria até 1 870, quando foi esmagado pe
las forças militares da Prússia .
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O Segundo Império foi marca·
do pela política expansionista de w
Napoleão 111, que sonhava dotar '8.
a França de um vasto império co- 3
lonial . Assim, ele consolida o do- O
mínio sobre a Argélia, amplia �
possessões no Senegal, instala-se a:
na China e na Síria, realiza a con- �
quista da Indochina, tenta ocu-
-
par o México e constrói o Canal
de Suez. 1 09
1 848: Revolução em outros países da Europa
Respostas Comentadas
ECONOlVliCO E
SOCIAUSMO
Adam Smith As teorias econômicas nascem com Adam Smith e o seu pensamento
constitui um marco na história do conhecimento. Até o surgimento de sua t>bra A Ri
queza das Nações, em .1 176, não. só a economia como também todos os demais aspectos
da vida humana e da natureza eram explicad()s pela filosofia, origem de todo o conheci
mento. Suas teorias, ao analisar apenas o aspecto econômico da sociedade e ao cons
truir essa análise de forma coerente e a partir de justificativas sólidas, inauguram um
novo campo do conhecimento que ganha categoria de ciência: a Economia Política
Clássica.
Antes de Smith, os fisiocratas haviam elaborado uma crítica às teses mercantilis
tas, defensoras da idéia de que a riqueza de um país podia ser determinada pela posse
de grandes quantidades de moeda - ouro e prata - e pela balança comercial favorável.
Em contrapartida, argumentavam os fisiocratas que era a posse dos bens materiais que
garantia a riqueza de um país. E Adam Smith, em A Riqueza .das Nações, aperfeiçoou
o argumento desta corrente afirmando ser o trabalho que cria a riqueza de uma nação.
E vai mais além, quando diz que, para se aumentar essa riqueza, faz-se necessário pro
vocar o crescimento da produtividade do trabalho.
Em decorrência dessa premissa - de que a riqueza aumentará se se provocar o cres
cimento da produtividade do trabalho -, Adam Smith defende a idéia segundo a qual,
o
:2 se cada indivíduo cuidar somente de seus interesses econômicos, a sociedade como um
CJ)
=.i todo prosperará. E que as relações de compra e venda, ou seja o mercado, se regula
4:: riam pela lei da oferta e da procura. Atrás desta postura smithiana encontra-se um prin
u
o cípio liberal: a não necessidade da interferência do Estado. No absolutismo, o Estado
CJ)
U-J se fazia muito presente na economia dos países, ao regulamentar suas relações, atitude
o esta que encontrava justificativa teórica nas teses mercantilistas. Em contrapartida, ao
�
:2 defender esses princípios, conhecidos como livre-cambismo, Smíth propunha que até
•C
z as novas indústrias só se expandiriam se caíssem por terra todas as restrições de mono
o pólio - o pacto colonial - também propostas pelo mercantilismo.
u
w
o
:2
CJ)
-I
Malthus Essas teorias foram consideradas otimistas por vários pensadores da eco
4:: nomia clássica, entre os quais Malthus. Autor de Ensaio sobre o Principio da População,
ex:
U-J
CC Malthus defende nessa obra a idéia de que a proposta de prosperidade de Smith não
-I se efetivaria na medida em que o crescimento populacional se dá em maior proporção
-
que o crescimento da produção. E, ao invés de vislumbrar um futuro de abundância
1 12 e prosperidade para a humanidade, como fazia Smith, Malthus antevê, inicialmente,
surtos de miséria que, aos poucos, se transformarão em condição de vida permanente O pessimismo de Malthus e de Ricardo
pode ser explicado em parte por não te·
de toda a humanidade. E, para justificar essa antevisão, ele se vale de um arsenal de
rem levado em conta o progresso técnico
argumentos. Diz ele: O homem que nasce num mundo que já tem donos, se não puder que aumentaria a produtividade do solo
obter de seus pais a subsistência a que faz jus, e se a sociedade não desejar seu trabalho, e faria crescer a produção das flibricas. De
nenhum direito possui de reivindicar a menor proporção de alimentos e, em verdade, nada qualquer forma, o pensamento da econo
mia clássica revelava os interesses da bur
tem a fazer aqui. Na poderosa festa da Natureza, não há lugar para ele. A Natureza lhe
guesia inglesa, como afirmava o próprio
diz para ir embora. Para Malthus são os próprios pobres os únicos responsáveis pela David Ricardo.
pobreza, pois, a seus olhos, são eles que mais procriam. E, para criticar o instinto natu·
ral da procriação que, em sua visão, os pobres possuem em maior intensidade, ele constrói Num sistema de comércio perfei
um argumento que, aparentemente, encontra em outra lei natural a sua justificativa. tamente livre, cada país natural
mente dedica seu capital e tra
Afirma: Em todo o reino animal e vegetal a Natureza dispersou as sementes da vida com
balho aos empreendimentos que
mão profusa e liberal; mas foi relativamente mesquinha quanto ao espaço e à capacidade lhe sao mais benéficos. Essa bus
de alimentação necessários para sustentar tais sementes. A raça das plantas e a raça dos ca de vantagem individual está
animais reduziram-se sob essa grande lei restritiva, e a raça do homem não pode por ne admiravelmente ligada ao bem
nhum esforço dela escapar. universal do todo. Estimulando a
indústria, recompensando a en
genhosidade, e usando da forlléla
David Ricardo A economia clássica ganha um novo impulso com o aparecimento mais eficaz os poderes atribuídos
pela natureza, ela distribui o Ira·
da obra Princípios de Economia Política e Tributação, de autoria de David Ricardo.
balho com mais eficiência e mais
Este pensador amplia a tese de Smith acerca do valor da mercadoria, sugerindo que economicamente ( . . . ) É esse
ele se relaciona com o trabalho gasto para produzi-lo. Ao afirmar que existe uma rela princípio que determina ser o vi
ção entre a renda dos trabalhadores e a renda dos proprietários e capitalistas, David nho feito na França e Portugal,
que o trigo seja cultivado na
Ricardo analisa cada uma delas. Conclui que a renda de cada trabalhador é suficiente
América e Polônia, e que as
apenas para prover sua sobrevivência e, conseqüentemente, ele está condenado a uma mercadorias de ferro e outras se
eterna miséria. jam manufaturadas na Inglaterra.
Quanto aos capitalistas, no que diz respeito à renda, Ricardo concebe que suas pers (David Ricardo)
pectivas não são das mais promissoras, pois os lucros desta classe tendem sempre a
diminuir na medida em que ela se vê forçada a pagar maiores salários aos trabalhado
res. Pois, com o esgotamento do solo fértil e com a explosão demográfica, se tornará
cada vez mais dificil atender a demanda por alimentos, e este fator provocará uma ele
vação dos preços das mercadorias, o que tornará a vida cada vez mais cara.
Jean Baptiste Say Mas não só os ingleses dão sua contribuição para a teoria eco
nômica clássica. Também os pensadores franceses contribuem. Jean Baptiste Say é um
deles. Além de divulgar o pensamento de Smith por todo o continente europeu, ele
amplia a teoria sobre o mercado. Defende a opinião de que só o sistema de livre empre
sa tem condições de manter a economia da sociedade em expansão. E que este sistema,
ensejando a troca de um produto por outro, confere ao dinheiro apenas a função de
meio de troca. Say também acreditava na possibilidade de crises ocasionais - mas nunca
generalizadas - em determinados mercados, pois eventuais desproporções entre a oferta
e a procura poderiam ocorrer. Mas o remédio para este mal se inscreve na própria lei
que rege esta relação - é o seu ponto de vista -, a qual induziria as "coisas" a volta
rem a seu lugar natural.
John Stuart Mill Outro grande pensador da econ�mia clássica é John Stuart Mill,
que se tornou conhecido por desenvolver a já conhecida teoria do fundo de salários. o
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Uma espécie de fundo total disponível em caixa, que seria dividido pelo número de CJ)
:::i
trabalhadores, determinaria os salários. Mas enquanto a maior parte dos pensadores �
clássicos considerava esse fundo igual ao capital total, Mill o concebia como o mínimo u
o
necessário para comprar a mão-de-obra. De modo geral os pensadores clássicos teoriza CJ)
LU
vam acerca de uma divisão internacional do trabalho - alguns países produziriam ali o
mentos e matérias-primas, outros manufaturas -, o que beneficiaria evidentemente u
�
a Inglaterra, maior produtora de bens industrializados. Por outro lado, percebe-se cla •O
:z
ramente que toda a teoria econômica clássica se posicionava a favor da burguesia, pois o
as suas propostas sugerem um desvio - ou superação - dos perigos que, porventura, u
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se interpusessem no caminho da Revolução Industrial e do capitalismo. o
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Mas até agora só a perspectiva de uma classe foi analisada, a partir das teorias <X:
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econômicas que mais sobressaíram . É necessário, para se ter uma visão abrangente !!:!
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desse momento, trocar de posição e tentar compreender qual o impacto que a Revo -
lução Industrial provocou sobre as demais classes da sociedade inglesa e, especial
mente, sobre a classe dos trabalhadores urbanos. 1 13
A Revolução Industrial
e os novos rumos da classe trabalhadora
Todas essas lutas se centravam nas condições de vida do operariado, que acabaram
se tornando objeto de estudo e preocupação de muitos pensadores. E assim nasce o
pensamento socialista, procurando oferecer uma sustentação teórica não só para inter
pretar a situação da classe trabalhadora como também para orientar os embates por
ela travados. Ele se divide em duas correntes: a inicial, conhecida como socialismo
utópico e a outra, que surgiu mais tarde, inaugurada por Marx e Engels, chamada
de socialismo cientifico.
Debruçados sobre os problemas sociais acarretados pelas condições surgidas a par
tir da Revolução Industrial, vários pensadores e intelectuais do século XVIII e, parti
cularmente do século XIX, propuseram soluções. Esses pensamentos, assentados na
falsa premissa da viabilidade de uma harmonia entre as diferentes classes, mostraram
se inexeqüíveis. Assim, essas teorias tornaram-se conhecidas como utópicas, impossí
veis de se concretizarem.
O ensaísta norte-americano Edmund Wil
son comenta no texto abaixo o pensamento
do socialista utópico Saint-Simon.
Saint-Simon O primeiro desses pensa-
dores foi Saint-Simon ( 1 7 60-1 825), cujas teo O século XVIII - afirmava Saint-Simon - cometera um erro fundamental:
rias concebiam ser objetivo primordial da so por um lctdo, tomara como pressuposto que o homem era dotado de plena liber
ciedade a produção de riquezas. Dividia a dade de vontade, e, por outro, que o mundo físico era governado por leis inva
sociedade em dois grupos: os trabalhadores riáveis; ao fazer isso, excluíra o homem da Natureza. Pois havia também leis
sociais; havia uma ciência do desenvolvimento social; e através do estudo da
e os ociosos. Todos aqueles que exerciam
história da humanidade, deveríamos poder dominar esse saber ( . . . ) A soluçao
qualquer atividade - operários, industriais, dos problemas sociais era ajustar os interesses em conflito; e a política, na reali
banqueiros e comerciantes - pertenciam ao dade, consistia simplesmente em controlar o trabalho e as condições do traba
grupo dos trabalhadores. O grupo dos ocio lho; estavam os liberais redondamente enganados ao bater na tecla da liberda
sos era composto por aqueles que viviam de de individual; na sociedade, as partes deviam subordinar-se ao todo.
Então a solução era livrar-se dos velhos liberais; livrar-se dos soldados na
renda. Supunha, ainda, que a atividade dos
política , e colocar o mundo nas mãos dos cientistas, dos capitães de indústria
industriais deveria apoiar-se em pressupos e dos artistas. Pois a nova sociedade seria organizada não como a de Babeuf,
o
::2:
tos científicos, pois assim poderiam identi com base no princípio de igualdade, mas segundo uma hierarquia de mérito. CJ)
--'
ficar os males sociais e distribuir melhor a (Edmund Wilson, Rumo à Estação Finlândia) �
riqueza, dirigindo a sociedade com mais par u
o
CJ)
cimônia. Através dessa visão percebe-se que
LU
Saint-Simon, o pioneiro do pensamento socialista, ignorava a natureza do impulso que o
mobiliza a ação do capitalista: a obtenção de lucros. u
::2:
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o
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Fourier Outro importante pensador do socialismo utópico foi Charles Fourier LU
põe a formação de falanstêrios - comunas - nas regiões dos mosteiros e terras deso -
cupadas, locais onde deveriam ser construídos edificios para os trabalhadores; e a pro- 1 15
Além das questões econômicas, Fourier dução, dividida comunitariamente, ou seja, entre os membros da comuna. Igualmente
preocupou-se também com as emoções dos como acontecia com o pensamento de Saint-Simon, o de Fourier propugna a compreen
homens.
são dos ricos para que a sociedade fosse reorganizada.
1 a) os instintos e as paixões hu
manas são sempre bons: se pu
dessem expandir-se livremente, Owen Tanto Saint-Simon como Fourier eram franceses e oriundos das classes so
condu ziriam os indivíduos à feli ciais mais privilegiadas. O primeiro era filho de aristocratas e o segundo, de comer
cidade. Tudo se resume, pois,
ciantes. Mas um outro pensador, cujas teorias também pertencem à corrente do socia
em encontrar boas instituições
sociais, isto é, capazes de permi lismo utópico, Robert Owen ( 1 77 1 - 1858), é inglês e provém de outra classe social. Além
tir essa liberdade de expansão de ser filho de artesão, ele próprio começou a trabalhar aos 7 anos, ajudando, em um
nece ssá r i a ; 2"') o comércio é colégio, a cuidar de crianças de 4 a 5 anos de idade. Aos 10 anos trabalhou em um
prejudicial , moral e material
armazém em Londres; aos 20, se torna gerente-geral de uma grande fábrica em Man
mente, porque corrompe as dis
posições naturais do homem, de
chester, grande centro da indústria têxtil e metalúrgica. Casa-se com a filha de um rico
verá ser substituído pela coope- industrial de New Lanarck, na Escócia, tornando-se mais tarde co-proprietário de uma
ração e pela associação; 3 a ) o fábrica na qual trabalhavam 2 mil operários. Preocupado com a condição de vida dos
casamento é uma hipocrisia , por seus empregados, Owen reduz a jornada de trabalho para 10 horas e meia e abre um
que sempre determina a escravi
armazém onde eles podiam adquirir produtos de boa qualidade a preços acessíveis.
zação da mulher, e por isso deve
ser substituído pela união livre. Acreditando que através de uma boa educação seria possível o homem desenvolver
um bom caráter, ele inaugura uma escola-modelo, na qual são suprimidos os castigos
corporais - recurso pedagógico muito utilizado naquela época -, como também orga
niza creches e praças de jogos para as crianças menores. Em seu empenho para melho
rar a condição de vida da classe trabalhadora, Owen ultrapassa as fronteiras de seu es
tabelecimento. Defende, ardorosamente, a redução oficial da jornada de trabalho e a
regulamentação do emprego da mão-de-obra feminina e infantil. E, além de participar
dos congressos dos trabalhadores, embriões do Trade Union, tentou organizar uma
comuna na América, no Estado de Indiana. Transferiu-se, em companhia de seus adep
tos, para uma fazenda aí localizada.
Mas, sob as condições do capitalismo, todos os empreendimentos organizados se
gundo o plano de Owen desintegram-se ou se convertem em empresas de camponeses
ricos que, como qualquer outra, exploram a mão-de-obra alheia. Outra tentativa de Owen
foi desenvolver a cooperação operária através da organização de armazéns de troca, acre
ditando ser este um meio de os operários alcançarem uma posição mais igualitária. Em
1 832, em Londres, pôs em prática esta idéia, organizando um armazém que recebia
mercadorias de várias pessoas e cooperativas que tinham o direito de trocá-las por ou
tras. Como os demais empreendimentos, este também fracassou.
O historiador Eric Hobsbawm mostra no Todas essas tendências socialistas se traduziram na prática pelo surgimento de ma
texto abaixo como, em muitos casos, o nifestações cujo objetivo era a organização do movimento operário. Na França, por
marxismo buscou matéria-prima no socia
exemplo, surgiram as sociedades secretas, entre elas a chamada Os Amigos da Ver
lismo utópico para elaborar sua própria
teoria. dade. A uma dessas sociedades pertencia
o líder Augusto Blanqui ( 1 805- 1 88 1 ) que
o
:2: participou, inclusive, da Comuna de Paris
Nos anos da sua maturidade, Engels elogiava Charles Fourier ( 1 772-1837)
�
-' sobretudo por três motivos: por sua crítica brilhante , espirituosa e feroz da so
em 187 1 . Na Inglaterra, além das Corres
<( ciedade burguesa, ou, antes, do comportamento burguês; por seu empenho em ponding Societies, outras sociedades surgi
u
o favor da libertação da mulher; e por sua concepção essencialmente dialética ram. Foi em uma dessas sociedades france
(/)
w
da história (embora esse último ponto pareça ser atribuído mais a Engels que sas que os alemães Weittling, Bauer e ou
a Fourier) . Todavia, o que primeiro o impressionou no pensa me nto de Fourier,
o tros membros da chamada Liga Cultural
u o que de i x ou os traços talvez mais profundos no socialismo marxiano, foi sua
análise do trabalho ( . . . ) Marx talvez tenha sido mais consciente do que Engels dos Operários Alemães, com sede em
:2:
'0 do conflito potencial existente entre a concepçào fourieriana do trabalho, en Londres, entraram em contato com as idéias
:z:
o qu anto satisfação essencial de um instinto humano, idêntico ao jogo, e a plena socialistas e comunistas, dando origem à co
u explicitação de todas as capacidades humanas, que, em sua opinião e na de En
w nhecida Liga dos Comunistas. Mas, de
gels, seria assegurada pelo comunismo, embora a abolição da divisao do traba
o
lho (ou sej a , de especializações funcionais permanentes) pudesse certamente
modo geral, os socialistas utópicos acredi
:2:
(/) produzir resultados interpretáveis em chave fourieriana ("caçar pela manhã, pes tavam na eficácia das palavras, pois enten
-'
<( car à tarde, cuidar do gado no início da noite e, depois do jantar, criticar"). diam que bastaria revelar ao mundo suas
a:
w Com efeito, mais tarde, ele refutol! especificamente a concepção do trabalho doutrinas para que este se transformasse.
lXI como "pura alegria, pura diversão" .
::i Já o socialismo científico possui uma
(Eric J. Hobsbawm, História do Marxismo)
- outra visão: acredita na necessidade de a
1 16 classe operária tomar o poder para que o
mundo se transforme. E o pensamento de Karl Marx, principalmente na obra intitu Uma outra corrente do pensamento socia
lada O Capital, estabelece os fundamentos para a construção do socialismo científico lista está ligada ao nome de Proudhon
e apresenta uma análise profunda dos mecanismos da sociedade capitalista, desvendan (1809-1865). Em seu livro O que é a Proprie
dade?, publicado em 1 839, ele afirma que
do como se realiza a exploração do capital sobre o trabalho. "a propriedade é um roubo". Entretan·
Para o marxismo, a história da humanidade é a história das formas utilizadas para to, Proudhon considerava "um roubo"
produzir riqueza, ou seja, é a história dos modos de produção de todas as épocas. Karl apenas a grande propriedade (a proprie
Marx acredita na necessidade da ação política e, em sua obra O Manifesto Comunista, dade do comerciante, do latifundiário e do
industrial). Defendia a pequena proprie
publicada em 1848, ele conclama a classe operária a se tornar agente da transformação
dade, acreditando que se os camponeses
social. Em 1 864 ajuda a fundar uma associação chamada Internacional Socialista proprietários e artesãos trocassem seus pro
- Associação Internacional dos Trabalhadores -, cujo objetivo é promover a luta do dutos sem a intervenção de intermediários,
operariado contra o capitalismo. através de um banco de intercâmbio, fa
riam desaparecer a exploração. Partindo
Se pensadores liberais como Adam Smith e David Ricardo já haviam percebido ser
desse princípio, Proudhon julgava possí
o trabalho a fonte de toda riqueza, não estabeleceram contudo uma relação entre o cres vel formar uma sociedade de uma só elas·
cimento do capitalismo e a exploração da classe trabalhadora. Tanto Marx quanto En se, a classe dos pequenos proprietários, e
gels - seu parceiro intelectual em várias obras - compreenderam e se detiveram na negava a necessidade da luta de classes. A
análise dessa relação. teoria do materialismo histórico, desenvol·
vida por Marx, propunha: O ideal nãtJ é
Em 1 872, durante o congresso da I Internacional - Associação Internacional dos
senão o material transposto e traduzido no
Trabalhadores -, Proudhon e Bakunin divergiram da proposta apresentada por Marx. cérebro humano. Aplicando o materialismo
Esta proposta, cujo objetivo era contribuir para o avanço das lutas operárias, defendia à história, Marx dizia que todas as formas
a seguinte tática: que os operários devem engajar-se na ação sindical e política para de vida social, cultural e política de uma
sociedade estavam determinadas, em úl
conquistar o poder; alcançado este propósito, o passo seguinte é o estabelecimento de
tima instância, pela forma como homens
uma ditadura do proletariado, momento em que a classe operária reordenará a econo se organizavam na produção dos meios
mia a partir de critérios opostos àqueles adotados pela burguesia. consumidos nesta sociedade. Portanto, di
Bakunin que, ao lado de Kropotkin, definira o Estado como a origem de todos os zia Marx: Não é a consciência dos homens
males sociais, neste congresso uniu-se a Proudhon para reafirmar a sua tese e pregar que determina a sua consciência. Daí o er·
ro, segundo Marx, de tentar reformar a so
a imediata supressão do Estado e da propriedade privada pela conspiração secreta e
ciedade apelando para a consciência das
pela insurreição popular armada. Assim, seria estabelecida a sociedade anarquista, pessoas, como queriam os socialistas
organizada em comunidades cooperativas voltadas para o auto-abastecimento e a troca utópicos.
sem fins lucrativos.
Também a Igreja Católica se manifestou sobre a questão social. Aproximadamente
em 1 850, o padre francês Robert de Lamennais, preocupado em corrigir os males da
industrialização, desenvolve uma teoria de justiça social chamada & catolicismo social
ou socialismo cristão. Essa teoria ganha força com a Encíclica Rerum Novarum do
Papa Leão XIV. Não aceitando as soluções socialistas, a Igreja apela ao Estado para
que encontre formas de impedir a exploração do operário. Estimula a criação de corpo
rações para regulamentar o trabalho feminino e infantil e assegurar salários justos e
melhores condições de vida para a classe trabalhadora.
Exercícios
trialização da Inglaterra. o
�
b) Primeiro, os operários viam na crescente adoção de máquinas uma das razões do ::2
desemprego; por isso destruíam-nas. •O
:z
A outra forte razão para o ludismo era a percepção que os operários tinham de que o
u
as máquinas significavam também uma forma de escravidão para suas mulheres e filhos. LU
o
::2
2. O liberalismo econômico, teorizado por Adam Smith e sintetizado na expressão sa
--'
laissez-faire, laissez-passer, defendia, como postulados básicos, a livre-concorrência na <(
c:
economia e a eliminação dos monopólios, privilégios e restrições mercantilistas. Assim, LU
çg·
deveria haver auto-regulamentação natural das condições do mercado, sem a ingerên -'
-
cia do Estado na vida econômica.
117
,.,.,
UNIF7CAÇOES
NACIONAIS E A
COMUNA DE PARIS
Até a segunda metade do século XIX, tanto a Itália como a Alemanha conservavam
importantes traços do feudalismo, como, por exemplo, permaneciam divididas em pe
quenos Estados - principados, ducados, monarquias etc. -, desconhecendo a autori
dade de um governo central que os integrasse. Durante a Revolução de 1 848, uma das
bandeiras de luta empunhadas pela Alemanha - principalmente por uma parcela de
sua burguesia - era a de que, sob a liderança da Prússia, o povo alemão se unificasse
e adotasse uma política liberal para acompanhar o desenvolvimento da Europa. Entre
tanto, disputando a liderança dos países localizados nessa região, além da Prússia -
o mais industrializado de todos -, havia a Áustria. Este país une-se à Prússia para
impedir a unificação dos povos fronteiriços.
Na península itálica a situação não era muito diferente. Além de encontrar-se divi·
dida em monarquias autônomas, parte importante do seu território encontrava-se sob
o domínio da Áustria. E, também por ocasião das Revoluções de 1 848, essas posses
sões tentaram, com o auxílio do Reino de Piemonte - industrializado e de tendência
liberal -, expulsar o invasor. Mas o con�ervadorismo acabou vencendo.
A unificação da Itália
Alguns militantes da unificação italiana já O processo de unificação foi adiado mas não esquecido, pois o germe da unificação
anteviam a necessidade de uma aliança en encontra posteriormente no Reino de Piemonte terreno fértil para se desenvolver. O
tre a Itália (Piemonte) e a França, como
forma de luta pela unidade. A cana de Or
governo deste país se acha nas mãos de um ministro liberal, o conde de Cavour, cujo
sini, condenado à morte, ilustra essa projeto de unificação - o Risorgimento - visava a ampliação do mercado consumi
posição. dor para os produtos das indústrias piemontesas. A sua ambição ia mais longe ainda:
alimentava o desejo de competir com a França e a Inglaterra na conquista de novos
A Napoleão III, imperador dos mercados e colônias, mas percebia que só com uma Itália unida e forte esse desejo se
Franceses: ( . . . ) Perto do fim da
realizaria. Portanto, unificar os diversos Estados italianos era um projeto que ia ao en
minha carreira, quero, todavia ,
tentar fazer um último esforço contro dos interesses da burguesia que dominava o setor industrial, concentrado no
para ajudar a Itália, cuja Piemonte.
LU independência me tem feito até Além do crescimento do mercado consumidor, a unificação iria proporcionar ainda
O hoje atravessar os perigos ( . . . )
um outro benefício que igualmente concorreria para o fortalecimento desta parcela da
� Para manter o equilíbrio atual da
:::> Europa, é preciso ou tornar a burguesia: a possibilidade de impor uma política alfandegária protecionista para os pro
:2: Itália independente ou apertar as dutos da incipiente indústria piemontesa, eliminando a concorrência das mercadorias
8 cadeias sob as quais a Á ustria a francesas e inglesas.
tem em escravidão. Pedirei eu Inúmeros obstáculos deviam ser derrubados para que esse projeto se realizasse. Lu
UJ que, para a sua libertação, seja
tar contra a Áustria, dona dos territórios de Lombardia e Veneza; contra o Papa que,
ÇQ vertido o sangue dos Franceses?
em hipótese alguma, admitia perder o domínio sobre os Estados da Igreja e contra o
� Não, não vou até aí. A Itália
o pede que a França não Reino de Nápoles, governado por um monarca absolutista da família dos Bourbon. Ca
Ü intervenha contra ela ; pede que vour reconhecia a necessidade de aliar-se a um país forte para realizar os seus propósi
� a França não permita à
tos. Com essa perspectiva, aproximou-se de Napoleão 111 da França. E a melhor opor
Alemanha apoiar a Áustria nas
lutas que talvez em breve se tunidade de demonstrar o seu apreço por este país apareceu durante a guerra da Cri
travem. Ora é precisamente o méia, em 1855. O Piemonte enviou soldados para lutar ao lado dos franceses nesse
que Vossa Majestade pode conflito em que se envolveram com a Rússia. Esse apoio deu condições a Cavour de
fazer . . . - Da prisão de Mazas, pedir a Napoleão 111 que ajudasse a libertar seus territórios, Veneza e Lombardia, do
l l de fevereiro de 1858. -
domínio da Áustria. A guerra começou em 1 859, e os piemonteses, com o apoio dos
Felipe Orsini .
- franceses e dos movimentos populares - sob a liderança de Garibaldi -, começam
(in J. M. d'Hoop, Documentos de
1 18 História) a impor uma série de derrotas à Áustria. Mas Napoleão 111 preferiu retirar o seu apoio
ao Piemonte, atemorizado com os rumos que os movimentos populares desse país pa
reciam tomar. Em conseqüência, a Áustria só abriu. mão da Lombardia e a situação
permaneceu inalterada até que os pequenos ducados de Módena e Parma se rebelam,
sob a liderança de Garibaldi.
Encorajados pelas vitórias alcançadas por esses ducados, os liberais e populares nos
Estados do Papa e do Reino de Nápoles começam a se manifestar. Impulsionado pelo
rei de Piemonte, Vítor Emanuel li, e pelo ministro Cavour, Garibaldi inicia a tomada
de Nápoles. Desembarca no sul da Itália com seus mil camisas vermelhas - exérci
to popular -, avança em direção ao norte e, sem encontrar resistência, ocupa Nápoles,
provocando a fuga do rei Fernando de Bourbon. Logo depois, Garibaldi expressa o
desejo de proclamar Piemonte uma república independente. Mas essa possibilidade é
esquecida quando grande parte da população e dos latifundiários do sul, que apoiavam
a luta contra os Bourbon, optam pela união. Em seguida, Vítor Emanuel envia tropas
contra os Estados do Papa que são anexados ao Piemonte, com exceção de Roma que
resiste com a proteção da França. E, no dia 26 de outubro de 1 860, Garibaldi encontra-se
com Vítor Emanuel e o saúda como rei da Itália.
Com exceção de Roma e Veneza, toda a Itália estava unificada. Fazia-se necessário
pois, para integrá-las no conjunto, lutar contra a Áustria e contra o Papa. Surge a pri
meira oportunidade em 1 866, quando na Alemanha ganha corpo o movimento de uni
ficação, com o apoio da Prússia. A Áustria, sentindo-se ameaçada, adota medidas para
reprimir esse movimento, tentando repetir o feito de 1 848. Mas a Prússia contra-ataca,
declarando guerra aos austríacos. Os italianos se aliam a este país e atacam as forças
austríacas em Veneza, dominando-as. Em 1 870, configura-se outra conjuntura favorá
vel para a anexação de Roma ao resto do país. França e Prússia entram em guerra e
O processo de unificação da Itália come
ça em 1859, quando o Reino de Piemonte
recupera territórios dominados pela Áus
tria: Lombardia e, em seguida, Móde
na, Parma e Toscana. Numa segunda
fase, o Reino de Nápoles e o das Duas
Sicílias são anexados, formando o Rei
no da Itália. Em 1 866 é a vez do Vêneto
e, em seguida, dos Estados Pontifícios se
unirem aos anteriores, compondo uma
única nação.
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- 3\1 fase ::>
§ 4\1 fase -
119
as forças francesas que estavam em Roma são convocadas às pressas. Vitor Emanuel,
oportunamente, invade esse Estado, obrigando o Papa Pio IX a se refugiar em um bairro,
atualmente o Estado do Vaticano. Em setembro de 1870, finalmente, a Itália se encon
Na complementação da unificação italia trava unificada.
na, as tropas do exército de Vitor Emanuel
Mas, apesar da unificação, os dirigentes do novo Estado italiano continuam a en
11 invadem Roma, sem que o papa ofere
frentar problemas externos e internos. Recusando os privilégios que lhe conferia o rei
ça resistência. Uma testemunha da época
descreve o episódio. Vitor Emanuel - como, por exemplo, as prerrogativas de soberano com livre comuni-
cação com o estrangeiro e uma pensão de
3 milhões de liras por ano -, o Papa prefe
O general Kanzler tinha estabelecido defesas, mas Pio IX queria evitar a efusão
riu considerar-se em conflito permanente
de sangue: queria unicamente que se verificasse, à face do mundo, que a vio
lência precedera a ocupaçao. As portas continuaram fechadas, trancadas . O com o Estado, e julgar-se prisioneiro do rei,
general Cardona teve de arrombá-las a tiro de canhao. A 20, arvorava-se a ban ordenando seus adeptos a não participarem
deira branca na cúpula de S. Pedro e no campanário de Santa Maria Maior, das eleições do Parlamento. Esse conflito es
e, ao meio-dia, o general Cardona fazia a sua entrada em Roma, no meio duma
tendeu-se até o ano de 1 929, quando um
populaçao delirante, que lhe atirava flores ( . . . ) A liália tinha a sua capital, a
bandeira nacional flutuava sobre o Capitólio. acordo foi firmado - o Tratado de Latrão
(G. Rothen, Recordações diplomáticas). - entre a Igreja e a Itália, já nas mãos de
Mussolini.
Um conflito externo se verificava com a
Dalmácia - atual Iugoslávia -, pois parte de seu território continuava pertencendo
à Áustria. Apesar dos problemas, nascia a moderna Itália, nova potência da Europa .
A unificação da Alemanha
A Alemanha, unificada e moderna, nem sempre existiu, pois durante muito tempo
a região era dividida em vários Estados independentes. Já na década de 30 do século
XIX, a Prússia, industrializada e de tendência liberal, havia adotado algumas medidas
que, de certa forma, constituíam passos no sentido da unificação. Implementava uma
política de unificação aduaneira - instituindo o Zollverein, espécie de mercado comum
- que insen.tava do pagamento de impostos as mercadorias aí negociadas. Naturalmente
esta decisão - e outras que lhe sucederam até a década de 60 - visava beneficiar a
própria Prússia que conseguia, dessa forma, ampliar o seu mercado. Outras tentativas
de união - feitas ainda em 1 848 - foram reprimidas pela Áustria e pela própria aris
tocracia prussiana.
E quem realmente detinha o poder de decisão eram as potências Áustria e Prússia.
E nenhuma das duas concebia não participar da união dos povos alemães, nem tão pouco
permitir apenas a inclusão da outra. A ninguém mais do que à Prússia interessava a
unificação. Mas, apesar de se encontrar em um estágio mais avançado que as outras,
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NORTE
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•O PrC.ssia em 1 860 e anexações
t.>- A formação do Estado alemão unificado
{) começou quando a Prússia anexou os du � Estados não prussianos
� anexados em 1 871
LLcados do norte, que pertenciam à Dina
Z marca. Depois disso, os Estados do sul (Ba
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viera e outros) também reconheceram a so-
2
- Q berania prussiana, que finalmente se es
1 tendeu ainda sobre a Alsácia-Lorena.
esta região precisava desenvolver-se mais ainda para poder lutar contra aqueles que A vitória da Prússia sobre a Áustria mar·
se opunham a esse projeto. O órgão máximo do poder político neste país, e do qual cou profundamente o processo de unifi·
cação da Alemanha, sob a liderança de Bis·
participavam, através de representantes, alguns Estados alemães que reconheciam sua
marck e Guilherme I. Os austríacos tive·
supremacia, era o Bundesrat - Conselho Federal que exercia, simultaneamente, os
ram mais de 20 000 mortos (duas vezes
poderes legislativo e executivo. Seu presidente, Guilherme I, rei da Prússia, escolheu, mais que o exército prussiano), 20 000 pri
em 1 862, Bismarck como ministro, o qual, apesar de conservador, tomou algumas pro sioneiros, perdendo 160 canhões.
vidências de natureza político-administrativa que capacitaram o seu Estado a lutar pela Depois da vitória, Guilherme I quis
submeter a Áustria e entrar a cavalo em
unificação. Instituiu um Parlamento chamado Reichstag, eleito por voto universal, mas
Viena, à frente de seus exércitos, mas Bis·
com poderes bastante limitados - só outorgava leis aprovadas pelo Bundesrat -, re marck o impediu. Como se preparava pa·
formou a administração, implementou a construção de uma ferrovia e modernizou o ra lutar contra a França, Bismarck insis·
exército. tia em condi_5ões relativamente suaves de
Bismarck, na tentativa de fortalecer o país, começou a alimentar o desejo de que paz para a Austria.
alemão - ou ainda, de ver a Prússia mais fortalecida -, exige, através de uma nota J). O nascimento da moderna e fortemen·
te centralizada Alemanha pode ser perce·
diplomática, que Bismarck lhe preste satisfação. O ministro prussiano revela total in
bido na constituição de 1 8 7 1 .
diferença em relação a esse protesto, e Napoleão, entendendo que a França havia
(/)
sido ferida em seus brios pátrios, declara guerra à Prússia em 1 9 de julho de 1 870. ( . . . ) Art. 2 - ( . . . ) as leis do a:
Era este exatamente o desejo de Bismarck, pois o gesto do monarca francês podia Império prevalecem sobre as leis -;1:.
constituir-se em um motivo legítimo para mobilizar o povo alemão. Sob o pretexto de cada Estado (. . . ) Art. 5 - O LU
Poder Legislativo do Império O
de que a França queria destruir a jovem nação, o ministro prussiano pretendia não
exerce-se pelo Conselho Federal �
apenas neutralizar as divergências internas, mas também fazer com que as regiões do (Bundesrat) e pela Assembléia :::>
sul se unissem à Prússia para lutar contra o inimigo invasor. Com inteligência e astú do Império (Reichstag). Uma ::2:
o
cia, Bismarck soube colher os frutos da semente que há muito tempo vinha sendo se maioria concordante numa e u
noutra assembléia é necessária e <t:
meada: nascia, assim, a Alemanha moderna, forte e unida, e sequiosa de novas con LU
suficiente para qualquer lei do
quistas territoriais. Império ( . . . ) Art. 6 - O <n
O exército francês, mal preparado, não conseguindo deter os alemães, mais bem equi Conselho Federal compõe-se dos �
pados e considerados o mais forte exército da Europa, é derrotado na região de Alsácia representantes dos governos dos Q
e Lorena. Estava aberto o caminho para que os alemães marchassem em direção a Pa Estados que fazem parte da U
Caro Kugelman
Ainda assim Paris continua resistindo
Chegou a tua carta. Estou neste momento sobrecarregado com trabalho. As contra a proposta do governo de assinar o
S:Q sim, apenas algumas palavras. Não posso compreender como podes comparar armistício através do qual a França se com
0: demonstrações pequeno-burguesas a 13 de junho de 1849 etc. com a luta atual
<( prometia a pagar aos alemães milhões de
a... em Paris.
LU francos de indenização, além de ceder a Al
A história mundial seria na verdade muito fácil de fazer se a luta fosse em
Cl
preendida apenas em condiçoes nas quais as possibilidades fossem infalivelmente sácia e a Lorena, regiões ricas em minérios.
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z favoráveis. Por outro lado, seria de natureza muito mística se os "acidentes" não A Guarda Nacional, lançando o brado de La
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�
desempenhassem papel algum. Esses mesmos acidentes caem naturalmente no Patrie en Danger A Pátria em Perigo -,
�
o curso geral do desenvolvimento e são compensados por novos acidentes. Mas torna-se porta-voz dos parisienses. Thiers,
u a aceleraçi!o ou a demora do movimento dependem muito de tãis "acidentes",
<( com a anuência dos prussianos, ordena ao
entre os quais igualmente figura o caráter dos chefes chamados a conduzir o
LU
movimento. exército fiel aos conservadores que invada
CJ')
Desta vez o "acidente" decisivo e desfavorável nao deve de modo algum ser a cidade, pronta para se rebelar. E, na ma
<(
z encontrado nas condições gerais da sociedade francesa , mas na presença dos drugada de 1 7 de março, as tropas de Ver
,O prussianos na França e na sua posiçao muito próxima de Paris. Os parisienses
u salhes chegam a Montmartre, desmobilizan
<( sabiam muito bem isso. E também o sabia muito bem a canalha burguesa de Ver
z sa lhes. Foi justamente por isso que eles colocaram os parisienses perante a al do os sonolentos soldados da Guarda Nacio
CJ')
L.LJ ternativa de aceitar o combate ou sucumbir sem luta. No último caso, a desmo nal. A notícia se espalha: Os versalheses que
•O
U·
ralização da classe operária seria um mal muito maior que a perda dum qual rem dominar Paris. Entrentanto, o general
<( quer número de "chefes". Graças ao combate oferecido por Paris, a luta da classe incumbido de tomar de assalto a cidade é
u operária contra a classe capitalista e o . Estado capitalista entrou em nova fase.
LL preso por seus próprios soldados, que ade
Qualquer que seja o resultado, conquistamos um novo ponto de partida de uma
z
:::> importância histórica universal . rem à causa parisiense. A resistência se es
- (Marx - Engels, A Comuna de Paris). palha pela capital francesa e é criada a Co
muna de Paris, primeira tentativa de es
122 tabelecimento de um governo popular.
É criado um comitê central, que se instala na Prefeitura e organiza as eleições popu O historiador Eric Hobsbawm descreve a
lares, pelo voto universal, para a formação do Conselho· da Comuna. Formado por ja ação dos exércitos de Versalhes sobre a Co
muna de Paris.
cobinos e socialistas membros da Internacional, o conselho estabelece o seguinte pro
grama de reformas: ensino gratuito e obrigatório; controle dos preços de alimentos; ( . . . ) a Comuna foi quase que
direito de o Estado apropriar-se das fábricas cujos donos fugiram de Paris; parcela imediatamente sitiada pelo
mento e prorrogação do pagamento de aluguéis para pessoas com dificuldades finan governo nacional (entào
ceiras. localizado em Versalhes) o
exército vitorioso alemão que
Entretanto, a Comuna não se preparou para lutar contra os exércitos conservadores
cercava Paris contendo-se para
de Thiers que assediavam Paris. Enfim, em maio de 1 8 7 1 , os exércitos de Versalhes não intervir. Os dois meses da
invadem a cidade, e o resultado do massacre é até hoje lembrado: 20 mil execuções, Comuna foram um período
milhares de deportações e 1 5 mil prisões. E perdurou o estado de sítio até 1 876. Além praticamente de guerra contínua
contra as esmagadoras força� de
desse trágico resultado, o movimento operário francês se enfraqueceu e a Internacio
Versalhes: quase duas semana·s
nal, centro de organização desse movimento, desapareceu pouco tempo depois. depois de sua proclamação em
18 de março havia perdido a
iniciativa . Por volta de 21 de
Exercícios maio, o inimigo havia entrado
em Paris. (. . . ) Os de Versalhes
talvez tenham perdido 1 1 00 em
1 . A Alemanha e a Itália conseguem unificar-se somente na segunda metade do século mortos e desaparecidos, e a
XIX devido, fundamentalmente, ao fato de: Comuna talvez tenha executado
a) terem ficado à margem do grande desenvolvimento'dos séculos XVI, XVII e princi uma centena de reféns. (Mas)
Quem saberá dizer quantos
palmente das transformações do século XVIII;
comunardos foram mortos
b) existirem guerras constantes entre os senhores dominantes das pequenas regiões que durante a luta? Milhares foram
dominavam ·o cenário político e econômico até o século XIX; massacrados posteriormente: os
c) os italianos não se interessarem pela unificação política de seu país, pois isto contra de Versalhes admitiram 17 mil ,
riava os interesses da forte burguesia mercantil de Piemonte; mas este número pode nâo ser
mais do que a metade da
d) inexistir um sistema planejado para desenvolver um pensamento liberal tão neces
verdade. Mais de 43 mil foram
sário à unificação no período do Renascimento; feitos prisioneiros, l O mil foram
e) todas as alternativas estão corretas. sentenciados, dos quais pelo
menos metade foi enviada para o
exílio penal na Nova Caledônia,
2. A União dos Estados Alemães se processou sob a hegemonia da Prússia devido:
o resto para a prisão.
a) à fraqueza política dos grandes proprietários agrícolas de todos os Estados, únicos (Eric Hobsbawm, A Era do Capital)
interessados em promover a unificação nacional;
b) à economia ser totalmente baseada na agricultura, tendo possibilidades de acumular
grandes quantidades de alimentos;
c) ao grande desenvolvimento industrial da região, o que facilitou uma certa hegemo
nia sobre os outros Estados;
d) ao apoio prestado por Napoleão III da França, que tinha o interesse de ver seu vizi
nho fortalecido com a unificação.
Respostas Comentadas
APOS A INDEPENDENCIJI
Depois das guerras de independência, toda a região nordeste dos Estados Unidos
começou a se industrializar. Aí se faziam presentes as condições necessárias para que
esse processo se dinamizasse: de um lado, as inúmeras pequenas propriedades que se
espalhavam por toda a região, com uma produção de alimentos bem diversificada e
em grande quantidade, e que, ao mesmo tempo, constituíam um excelente mercado
consumidor para os produtos das manufaturas localizadas nas proximidades; de outro
lado, vários centros urbanos onde se instalavam pequenas indústrias que, por sua vez,
produziam bens manufaturados e eram consumidores de alimentos. E o fluxo constan
te de imigrantes vindos da Europa supria a necessidade de mão-de-obra.
Um outro fator contribuía para o desenvolvimento do processo de industrialização
que aí se verificava: uma política protecionista que eliminava o perigo da concorrên
cia, na medida em que impedia a ·entrada de mercadorias - principalmente vindas da
Inglaterra -, por mais baratas que fossem.
No sul do país o cenário era bem diferente. Toda essa região encontrava-se dividida
em grandes propriedades que utilizavam a mão-de-obra escrava vinda da Á frica. Além
de essencialmente agrícola, essa parte dos Estados Unidos mantinha com a sua antiga
metrópole vínculos muito semelhantes àqueles da época em que era ainda colônia in
glesa: vendia matéria-prima para as indústrias britânicas e comprava seus produtos ma
nufaturados. Produzia principalmente o algodão, uma das mais importantes fontes de
divisa para os Estados Unidos - chegando a atingir cerca de 200 milhões de dólares
por ano -, que vendia para os teares de Liverpool, Manchester e outros centros indus
triais ingleses.
A primeira metade do século XIX nos Estados Unidos caracterizou-se pela ocorrên
cia de um fenômeno migratório rumo a sua região oeste. Atraídos pela possibilidade
<t:
de aí descobrir novos meios de vida:, levas e levas de migrantes dirigiam-se para o des
u conhecido "sertão" norte-americano. Além desses pioneiros que partiam da costa leste
z
<UJ em busca de novas terras, os grandes latifundiários também expandiam suas proprie
Cl
z dades para o Oeste à procura de solos mais férteis para substituir a terra esgotada pela
UJ
0...
UJ monocultura do algodão. Os algodoais se estenderam até as margens do Mississípi, on
Cl
z de em sua foz nasce New Orleans, o maior porto exportador desse produto. E as famí
<t: lias dos pioneiros, que se fixaram no Oeste, praticavam em suas fazendas uma agricul
(f) tura simples mas intensa. Grande parte dessa produção, juntamente com o gado,
-o
0... destinava-se aos centros urbanos da costa leste. Intensificavam-se, assim, as relações
<t:
(f) do Leste com o Oeste.
o
Cl
z
;::)
(f)
Divergências entre Norte e Sul
o
Cl
<t: Pelas diferentes condições existentes, os interesses econômicos e políticos das re
t
Cf)
UJ giões norte e sul não coincidiam. Pois, se por um lado, interessava aos latifundiários
(f) dos Estados do sul, plantadores de algodão, um governo federalista que lhes concedes
o
se maior autonomia e, principálmente, uma política alfandegária flexível que estimu
-
lasse a exportação de matérias-primas e favorecesse a importação dos manufaturados;
1 24 por outro lado, aos fabricantes e comerciantes do norte, interessava justamente o opos-
to. Os nortistas desejavam um governo central forte que adotasse uma política adua
neira protecionista que não só agravasse com taxas os produtos dos concorrentes es
trangeiros, mas que também impedisse a entrada das mercadorias inglesas, constante
mente contrabandeadas do sul para o norte.
O historiador norte-americano Leo Huberman, em sua obra intitulada Nós, o Povo,
lembra as longas discussões travadas entre QS representantes do Norte e os do Sul acer
ca das tarifas alfandegárias: As duas partes discutiam porque o que era bom para o Norte
industrializado não era bom para o Sul agrícola, e vice-versa. A tanja de proteção era um
dos casos em foco. Quando se discutiam as tarifas nos salões do Congresso, ficou claro que
os senadores aprovavam ou não as tarifas de acordo com a região de onde provinham.
John Randolph, da Virgínia, emitiu o ponto de vista sulino sobre a tarifa de proteção: "(. ..)
você, como plantador, irá consentir em pagar impostos, a fim de pagar um outro homem
para trabalhar numa oficina de sapateiro, ou estabelecer uma máquina de fiação? Não,
não, eu comprarei onde o artigo for mais barato; não concordarei em taxar os cultivadores
do solo a fim de encorajar os fabricantes estranhos, porque, afinal de contas, obteríamos
apenas coisas piores por preço mais alto, e nós, que cultivamos o solo, no fim pagaríamos
por tudo ( ...). Por que pagar a um homem muito mais do que ele vale, para transformar
nosso próprio algodão em roupas, se, vendendo matéria-prima, eu posso comprar minha
roupa muito mais barato, e de melhor qualidade? "
O s que falavam e m nome dos industriais não s e alongavam sobre o fato de a s tarifas
de proteção representarem mais dinheiro em seus bolsos. Isso não. Estavam interessa
dos na tarifa principalmente porque assim as fábricas continuariam produzindo, e isso
traria emprego aos trabalhadores, com salários altos. Era o trabalhador comum, então,
o mais beneficiado pela tarifa, dizia o representante dos industriais. Daniel Webster,
de Massachusetts, resumiu isso assim: Portanto, este é um país de trabalho... Ora, e qual
é a principal fonte de prosperidade desse povo? Simplesmente o emprego, onde há trabalho
para as mãos, há trabalho para os dentes. Onde há emprego há pão... Emprego constante
e produção bem remunerada, num país como o nosso, prosperidade geral, contentamento
e alegria. . . Durante muitos anos, no Congresso, os representantes dos plantadores su
listas discutiam com os representantes dos industriais do norte sobre essa questão da
tarifa de proteção. A discussão ficou tão azeda que em 1832 a Carolina do Sul ameaçou
separar-se dos Estados Unidos porque a tarifa era muito alta. O Congresso evitou a
separação aprovando uma nova lei que diminuía as tarifas a cada ano, durante dez anos.
A tarifa entretanto era tema de constantes debates, e continuava a provocar discórdia
entre o Norte industrial e o Sul agrícola.
Mas as divergências que apareciam no Congresso entre os representantes dessas duas
regiões se referiam também a outras questões. Discussões acaloradas ocorriam, por exem
plo, quando os representantes dos Estados do Oeste pediam a aprovação de projetos
que visavam beneficiar sua região com estradas, ferrovias e canais - e, claro, tudo por
conta dos cofres do governo federal. Eles viam nesses beneficios a possibilidade de es
coar a produção dos seus sítios e fazendas para os centros urbanos do leste. Os indus
triais nortistas os apoiavam incondicionalmente pois, por seu lado, esperavam poder
assim viabilizar a venda dos seus produtos aos fazendeiros do oeste. Mas os plantado
res do Sul, que tinham a sua disposição uma via natural de transporte - Mississípi Durante a Guerra de Secessão, os sulistas
-, que nenhum produto tinham a oferecer à população dos Estados do oeste e nada argumentavam que os operários do Nor- �
te eram mais explorados e miseráveis do �
desejavam comprar dos nortistas, faziam cerrada oposição à aprovação desses projetos.
que os escravos das plantações do Sul. O ·�
Outra questão concorre para aumentar o antagonismo entre o Norte e o Sul: o discurso de um senador da Carolina, é um �
escravismo. A oposição sustentada pelos exemplo desse pensamento.
tb
nortistas referente a esse problema, se an o
tes possuía apenas conteúdo ideológico, ga Em todos os sistemas sociais, é preciso haver uma classe para desempenhar �
as tarefas indignas, para fazer o que é monótono e desagradável ( . . . ) nós a cha <(
nha uma nova dimensão com o avanço dos cn
mamos escravos. Somos antiquados ainda, aqui no sul; é uma palavra que os -o
latifundiários para o Oeste, levando consi ouvidos educados não ouvem; não chamarei a classe existente no norte usando a_
<(
go seus escravos. Pois, além de cobiçarem esse termo; mas vocês também os possuem; estão em toda parte; são eternos ( . . . ) cn
as terras do Oeste, os nortistas não deseja A diferença entre nós é que os escravos são contratados pela vida toda, e são o
bem recompensados; não há fome, nem mendicância, nem desemprego entre o
vam que a economia dos Estados que sur :z
nós, e nem excesso de empregos, também. Os de vocês são empregados por
giam estivesse vinculada ao emprego da ::=>
diárias, não são bem tratados, e têm escassa recompensa, o que pode ser prova cn
mão-de-obra escrava. do, da maneira mais deplorável , a qualquer hora, em qualquer rua de suas ci o
o
Algumas tentativas são feitas para equa dades. Ora, pois a gente encontrava mais mendigos em um dia, em uma só rua
cionar as divergências. Elas contudo entram de Nova York, do que os que se encontram durante toda uma vida no sul intei ;::
cn
ro. Nossos escravos são pretos, de uma outra raça inferior; ( . . . ) os de vocês são LU
em colapso quando em 1845 os Estados Uni cn
brancos, de sua própria raça; são irmãos de um s6 sangue .
dos venceram o México e anexaram o Te o
(Apud Huberman) -
xas, o Novo .México e a Califórnia ao seu
território. Ao se tornarem partes integran- 125
tes da União, esses Estados são considerados abolicionistas. Os escravistas protestam,
dando origem a um novo acordo que garantia a cada novo Estado o direito a optar
pelo abolicionismo ou pelo escravismo. Mas essa questão recrudesce quando, na déca
da de 50 do século XIX, associações abolicionistas, que organizavam a fuga dos escra
vos das fazendas do sul para o norte, começam a aparecer. Insurgindo-se contra isso,
um granjeiro do sul, John Brown, organiza uma rebelião de escravos, mas é preso
e processado. E a tensão entre sulistas e nortistas alcança maior intensidade quando
Lincoln é eleito presidente da República.
A Guerra de Secessão
Lançado candidato pelo Partido Republicano - fundado em 1854 -, a principal bandeira
da campanha de Abraham Lincoln à presidência é manter a união dos estados a qualquer preço.
Não deseja que os conflitos prossigam, mas tem certeza de que esse objetivo só será alcançado
Os Estados confederados, escravistas, en pela força das armas. Imediatamente após a sua eleição, o Estado da Carolina do Sul declara-se
tram em guerra com os Estados do norte, separado da União. Inicia-se, assim, a tentativa de secessão nos Estados Unidos, com a seguinte
abolicionistas - área livre no mapa. Os
composição de forças: os l l Estados do sul, com 9 milhões de habitantes, Confederação, luta
Estados escravistas leais, apesar do apoio
ao sul, recusam-se a participar da Confe vam pela secessão e pela manutenção do escravismo; e os 23 Estados do norte, Federação, com
deração na Guerra de Secessão. 20 milhões de habitantes, lutavam pela União e pelo abolicionismo.
TERRITÓRIO DE DAKOTA
TERRITÓRIO DO
NOVO MÉXICO
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• Area Livre Estados Confederados - Estados Escravistas Leais
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cn Esta guerra vai-se configurar como uma das mais violentas do século passado, pois, pela pri
o
meira vez, será utilizada uma série de inovações promovidas pelo desenvolvimento industrial.
-
Por exemplo: fuzis de repetição, navios de aço, trens mais velozes, telégrafo etc. Para os pró
126 prios estados do Norte, cujas industrias se encontravam em um estágio rel:ttivamente avançado,
permitindo-lhes uma maior estabilidade econômica, fazer frente aos estados do sul lhes custou Em 1 862, Lincoln faz a Proclamação da .
muitos esforços, mesmo tendo lançado mão de ousadas invenções. Para impedir, por exemplo, Emancipação, deixando claro o carãter
abolicionista e não separatista da guerra,
que o Sul entrasse em contato com as forças da Europa - principalmente da Inglaterra -, o
a fim de convencer a Inglaterra a não in
Norte fez uso do bloqueio naval, introduzindo novos barcos na arte bélica. Entretanto essa estra tervir. A partir daí os negros passam a in
tégia inicialmente não surtiu o efeito desejado, dada a impossibilidade de exercer uma perma tegrar as forças armadas do Norte. O his
nente vigilância no extenso litoral dos Estados do Sul. Para fazer frente a essa ofensiva, os sulis toriador Peter Eisemberg, nos mostra co
tas, por sua vez, desenvolveram um navio a vapor bastante veloz que lhes permitia chegar com mo eles eram discriminados em relação aos
soldados brancos.
grande rapidez ao Caribe, onde se encontravam os cargueiros da Europa carregados de mercado
ria, principalmente de armas. Os sulistas ainda foram mais longe: cobriram seus navios com cha ( . . . ) Até o fim da guerra,
pas de ferro de 5 centímetros de espessura, impedindo, assim, a penetração de balas. Inicialmen calcula-se que 208 486 negros
te esses navios pareciam invencíveis, provocando enormes prejuízos não só à marinha de guerra entraram nos exércitos e marinha
do norte como também à marinha mercante, além de conseguir, triunfalmente, furar o blo do Norte, ou seja,
aproximadamente 14% das
queio. Entretanto, os nortistas aos poucos vão ganhando terreno dada a grande eficiência dos
tropas. Mas até 1864 os negros
seus estaleiros: enquanto os sulistas afundavam um de seus navios, os ianques - como eram tinham que servir mais tempo,
chamados os nortistas - fabricavam vários. quase nunca eram promovidos a
Em 1863, com a derrota infligida aos confederados pelas tropas comandadas pelo gal. Grant, oficiais e recebiam armas,
em Gettysburg, foi dado um passo decisivo pelas forças da União. Finalmente em 1865 a ren salários e tratamento médico
inferiores aos dos brancos, de
dição foi assinada em Appomatox Court House, no Estado de Virgínia. A partir da submissão modo que a sua taxa de
do sul, começam a surgir as condições para que os Estados Unidos se desenvolvam e se transfor mortalidade (37 % } era três vezes
mem em uma grande potência mundial. superior à taxa geral dos
combatentes nortistas.
(Apuà Peter Eisemberg)
No pós-guerra a emergência
de um novo país
Um dos mais significativos passos para o desenvolvimento dos Estados Unidos foi
o crescimento das ferrovias que, entre 1 860 e 1 880, passaram de 30 mil para 90 mil
milhas. Para executar uma ferrovia, que corria de costa a costa, ligando o oceano Atlân
tico ao oceano Pacífico, formaram-se duas grandes companhias: uma chamada Pacífico
Central, que construiu o trecho iniciado em Sacramento, na costa oeste, Estado da Ca
lifórnia, seguindo em direção ao leste; e a outra, Companhia União do Pacífico, que
iniciou a construção em Omaha, já no Centro-Oeste, e prosseguiu em direção ao pró
prio Oeste. Um grande contingente de trabalhadores, a maioria chineses e irlandeses,
participou desse monumental empreendimento. Arriscavam muitas vezes sua própria
vida, devastando regiões inóspitas e enfrentando as mais adversas condições, para cons
truir, nesse jovem país, uma obra tão grandiosa. E, com o geralmente acontece, só os
capitalistas, proprietários das empre�as construtoras, se beneficiaram, em função dos
lucrativos incentivos concedidos pelo governo. O Congresso americano aprovou um
empréstimo de 48 mil dólares - isento de juros - para cada milha de trilhos assenta
da, além da doação de 20 milhas das terras laterais à ferrovia, levando essas compa
nhias a adquirir uma quantidade de terras equivalente ao território da França. E, para
continuar auferindo lucros, alguns dos magnatas das estradas de ferro construíram fer
rovias que não levavam a lugar algum. A Guerra Civil não tinha sido em vão, como Eis a descrição de um viajante sobre o di
bem afirma Leo Huberman. namismo e a rapidez da construção de uma <(
Em 1 884 quatro grandes estradas de ferro cortavam o oeste americano. O leste ma ferrovia nos Estados Unidos, ao fim da �
Guerra de Secessão. <LU
nufatureiro podia contar com o rápido fornecimento dos alimentos e matérias-primas c
z
produzidos no oeste e transportados por eficientes trens. Mas tanto a expansão das Dois homens seguravam uma u.J
a..
ferrovias, como a da agricultura e da pecuária deveram-se à expulsão dos indígenas ponta do trilho e avançavam; o u.J
o
de suas terras férteis e de suas pastagens. Esta imagem ficou imortalizada pelo cinema resto da turma ia segurando o z
norte-americano. Nas imagens registradas pelas suas câmaras, aparecem os "caras corpo do trilho, de 2 em 2, até <(
retirá-lo completamente da cn
pálidas", " montados" em diligências e carroções, em luta contra os índios. No entanto, o
carroça. Avançava em passo a..
no final do século XIX, quando os brancos, em nome do progresso, expulsam os ín rápido. A uma palavra do <(
dios, se utilizam de eficientes locomotivas. E o próprio governo se encarregava de "afas comando, o trilho era largado no �
tar" aqueles que ofereciam resistência. lugar, com o lado certo para g
cima, cuidadosamente, enquanto Z
Os Estados do sul depois da guerra tiveram que passar por profundas reformas para
o mesmo processo era executado ::::>
se adequar à voracidade dos novos donos do poder. Sua administração, até 1 870, ficou no outro lado da carroça. Menos �
nas mãos do exército, o que contribuiu para que se transformassem em um verdadeiro de 30 segundos para cada turma O
foco de corrupção. Grandes fortunas surgiram do desvio dos impostos pagos pelos su carregar um trilho, e assim são �
listas ao governo federal. colocados 4 trilhos por minuto! f3
Trabalham depressa, sem cn
Sob a tutela de leis aparentemente democráticas que alardeavam direitos iguais para dúvida, mas o pessoal da União O
todos, os ex-escravos permaneciam na situação de antes, trabalhando nas mesmas fa -
do Pacífico faz a coisa para
zendas e, muitas vezes, sob condições mais aviltantes ainda. Apesar da abolição da es- valer. (Apud Huberman ) 127
cravatura - oficializada ao final da guerra -, os negros continuam marginalizados;
e o racismo - institucionalizando as diferenças - começa a ganhar forma. Surgem
associações terroristas de extrema-direita, como a Klu Klux Klan, que se encarregam
de conferir à sociedade um tom segregacionista.
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o Louisiana, comprada Oregon, obtido por tratado As t rez e colônias originais
º à França em 1 803 com a Inglaterra em 1 846
71.:1.�
z
=> Flórida, comprada à Espanha
1 853 Texas, anexado em 1 845
c.n Comprado ao México em
�!:�
�$� em 1819 .
o
Cl
<( 'lJJ,� Terras obtidas como resultado
Território adquirido durante a
128
que no dia 1 � de Maio é comemorado o Dia do Trabalhador.
A população dos EUA cresce: os 23 milhões de habitantes em 1 843 se transformam
em 50 milhões em 1 876. Surgem cidades gigantescas como Nova York, cuja população
O norte-americano Leo Huberman escre
é constituída basicamente de imigrantes. Mas a maioria dos imigrantes que chegava
veu uma história dos Estados Unidos. No
aos Estados Unidos ia para o oeste em busca de terras, para sobreviver e enriquecer. trecho abaixo, ele os situa no cenário mun
A produção agrícola nessa região, com o adveruo das máquinas, se tornou mais inten dial, depois da Guerra da Secessão, co
sa, chegando a quadruplicar entre os anos mo principal potência industria l.
de 1840 e 1890.
Alguns anos depois, os Estados Unidos Depois de tantas páginas dedicadas à história da expansão da agricultura
despontam como uma das maiores potências desde 1865, parece uma contradi ção dizer que este período assinalou a trans
modernas. Inicialmente esta longínqua na formação dos Estados Unidos de nação agrícola em nação industrial. Entretan
to, foi exatamente isso que aconteceu. Mesmo tendo havido aquela grande re
ção da América mantinha com os países da
volução na agricultura, a revolução que houve na manufatura foi maior ainda.
Europa uma política de distanciamento, Dep ois da Guerra Civil os Estados Unidos se tornaram a nação industrial mais
isentando-se muitas vezes dos conflitos ar poderosa do mundo. ( . . . )
mados e dos efeitos das crises que periodi Enquanto que em 1 860 os Estados Unidos tinham o 4'? lugar entre as nações
camente varriam esse continente. do mundo, em 1 894 pularam para o 1 '? lugar. Enquanto o valor dos artigos
manufaturados nos Estados Unidos era quase 5 vezes mais em 1 894 do que em
Os Estados Unidos afirmam-se mundial
1860, nas outras nações esse valor não foi nem mesmo duplicado. ( . . . )
mente, adquirindo tal destaque entre as na Em 1 890, pela primeira vez, o valor dos artigos manufaturados já era maior
ções que a sua intervenção se torna impres que o dos produtos agrícolas; dentro de mais 1 0 anos, os produtos manufatura
cindível na política internacional. Aparecem dos atingiam 2 vezes mais os das fazendas, pomares e laticínios.
(Leo Huberman, Nós, o Povo)
em vários conflitos envolvendo as potências
imperialistas, principalmente no Oriente. E
na Primeira Guerra Mundial sua atuação
será de grande importância.
Exercícios
Respostas Comentadas
<(
u
1 . As regiões do Norte e Nordeste americano se caracterizaram por uma economia ba 2
<UJ
seada no trabalho assalariado, na pequena propriedade e na manufatura, que atendia Cl
2
UJ
às necessidades de um crescente mercado. Este fato facilitou a formação de indústrias. a...
UJ
Já a região Sul, mesmo depois da independência, tinha uma economia preponderante Cl
mente agrária, de monocultura, baseada no trabalho escravo e voltada para o mercado �
<(
externo. A alternativa correta é a b. cn
o
a...
2. Em primeiro lugar, após a Guerra Civil o Norte industrializado submeteu o Sul <(
cn
agrário, transformando-o em mercado exclusivo para seus produtos, antes sob a con o
corrência da indústria inglesa. Em segundo lugar, a eliminação da mão-de-obra escrava Cl
2
no Sul significou o fim de um sistema de trabalho que constituía importante obstáculo ::::>
à dinâmica economia manufatureira. Em terceiro lugar, a introdução de novas técnicas cn
o
na agricultura em substituição à mão-de-obra escrava provocou verdadeira revolução. Cl
�
cn
UJ
3. A Guerra de Secessão está diretamente ligada ao fato do Norte ser industrializado
cn
e o Sul, agrário. O Norte entendia que a economia do Sul voltada para o exterior (ex o
-
portadora) e baseada no trabalho escravo impedia o fortalecimento e o crescimento de
sua economia, mais industrializada. 129
Há um certo tempo atrás, um canal de televisão exibia uma série intitulada Lancei
ros da Índia. Todos os seus episódios ocorriam nesse paíse seus personagens e enredos
eram sempre os mesmos: soldados ingleses, de aparência saudável, inteligentes, verda
deiros representantes da raça anglo-saxônica, sufocavam revoltas cujos protagonistas
- hindus feios, raquíticos, pouco inteligentes - se amotinavam para libertar seu país
da presença estrangeira. E os charmosos mocinhos louros e de olhos azuis invariavel
mente venciam. Que motivos determinaram esses acontecimentos e que visão de mun
do orientou sua reprodução em filme - a elaboração dos roteiros, a escolha dos atores
e as tomadas de câmara? U.ma palavra elucida todas essas questões: colonialismo.
Talvez tenhamos tido contato pela primeira vez com a palavra colonialismo quando
aprendemos que Espanha e Portugal durante o século XVI lançaram-se pelos mares
em busca de mercadorias. Chegaram à América e transformaram-na em colônia.
Dirigiram-se à Ásia, mas lá se satisfizeram em tomar um porto, o que era suficiente
para realizar os seus desejos: um entreposto para armazenar as mercadorias que aí com
pravam e levavam para a Europa.
É preciso notar que tanto em um continente como no outro a postura e os objetivos
da Espanha e de Portugal eram os mesmos: ditavam as normas e as condições que favo
reciam a compra dos produtos. E as relações estabelecidas entre países em que uns
submetem outros aos seus intere$ses políticos e econômicos recebem o nome de colo·
nialismo.
Segundo a análise de Eric Hobsbawm, na Mas os episódios apresentados na série Lanceiros da Índia ocorrem em uma época
prática, todo o resto do mundo gravitava bem posterior a essa. Todavia tanto os motivos que determinaram os acontecimentos
em torno das decisões européias. nela descritos como a visão de mundo que orientou o filme - enaltecendo os coloniza
dores como heróis e subestimando os nativos, ou "colonizados", ao realçar as diferen
A maior parte do mundo não
ças físicas - continuam sendo formas de colonialismo. Mas esses motivos, apesar de
estava, portanto, numa posição
de determinar seu próprio sua natureza político-econômica, são determinados por outras conjunturas que não aque
destino (. . . ) Este mundo de las do século XVI.
vítimas consistia em quatro Sabemos que, a partir da Revolução Industrial, ocorre um desenvolvimento das for
setores mais importantes.
ças produtivas. Toda a sociedade européia está voltada para o aperfeiçoamento de téc
Primeiro, havia os impérios não·
O europeus sobreviventes ou nicas que viabilizem um maior rendimento do trabalho. Não é mera coincidência que
::2: grandes reinos independentes do o conhecimento científico ganha impulso nesse período. Surgem novas ciências que,
� mundo islâmico e da Ásia: o além de se empenharem na descoberta de máquinas mais potentes, buscam também
<( Império Otomano, Pérsia, China,
a causa dos males que afligem a humanidade. E a burguesia se e ncarrega de patrocinar
ffi Japão e uns outros menores
essas pesquisas desde que os resultados venham ao encontro de seus interesses eco
a_ como o Marrocos, Barma, Sião e
,::2: Vietnã ( . . . ) Segundo, havia as nômicos.
w
antigas colônias da Espanha e Na segunda metade do século XIX o crescimento industrial alcança o Seu apogeu.
�
cn
Portugal nas Américas , agora
estados nominalmente
Entretanto, para que o capital se auto-reproduza, faz-se necessária a venda de merca
::i dorias. Mas os salários não sobem no mesmo ritmo da produção, justamente porque
independentes. Em terceiro
� lugar , havia a África ao sul do - é uma lei do sistema - o capital aumenta com a exploração do trabalho. Conseqüen
g Sahara, sobre o que não há temente os baixos salários impediam o surgimento de um mercado consumidor capaz
O muito o que dizer pois não atraía de absorver toda a produção. Cria-se um excedente.
g a atenção neste período. ·A saída encontrada para o problema foi dominar outros países, transformando-os
� Finalmente, havia as vítimas j á
formalmente colonizadil;s ou
em colônias e obrigando-os a absorver esses excedentes. Desta forma, os países da Eu
-
ocupadas , sobretudo na Asia. ropa não só resolvem o problema da produção excedente como encontram ainda novos
130 (Eric Hobsbawm, A Era do Capital) meios de aumentar os seus lucros: obtêm mão-de-obra barata das colônias, investem
na agricultura e na exploração de minérios nesses países, adquirem matérias-primas As justificativas para a expansão dos eu
mais baratas e, com o lucro obtido, aumentam os salários da classe trabalhadora metro ropeus sobre os povos dominados,
baseavam-se também na idéia de que os
politana, estimulando o consumo e aplacando os movirp.entos reivindicatórios.
brancos levavam a felicidade e o progres
Por essas razões é que as potências industrializadas e semi-industrializadas da Euro so aos "indígenas". É o que demonstra o
pa e da América lançaram-se, no final do século XIX, em uma desesperada corrida discurso de um famoso colo ni al ist a -
para abocanhar a fatia que pudessem da África e da Ásia, no processo conhecido como Chamberlain.
neocolonialismo.
( . . . ) Sentimos hoje que o nosso
Surge, então, a necessidade de convencer a opinião pública da superioridade dos
governo sobre esses territórios
brancos, para que a dominação seja aceita como um dado natural. Entra em cena todo não pode justificar-se se não
um aparato ideológico: literaturas que veiculam imagens preconceituosas dos coloniza mostrarmos que ele aumenta a
dos; teorias pseudocientíficas que engrandecem a missão colonizadora dos bpncos e felicidade e a prosperidade do
outros recursos, entre os quais se incluem filmes do tipo Os Lanceiros da lndia. povo, e afirmo que o nosso
Enquanto isso, nos países desenvolvidos ocorre um outro fenômeno: já não há mais
e
governo e fetivament levou a
esses países, que nunca tinham
lugar para as pequenas empresas. A partir de 1870, entramos num período de trustes e conhecido esses benefícios, a
cartéis (união de várias empresas) nos Estados Unidos, Alemanha e demais países europeus. segurança, a paz e uma
A livre concorrência foi substituída pelo monopólio. Os pequenos comerciantes foram expul prosperidade relativa .
Prosseguindo nesta obra de
sos do mercado pelos grandes. O pequeno negócio foi esmagado pelo grande negócio ou com
civilização, cumpramos o que
ele se fundiu para fazer um negócio maior a inda. Em toda parte houve crescimento, fusão, penso ser a nossa missão
concentração - indústrias gigantescas se formavam, indústrias que buscavam o monopólio. nacional, e encontraremos nessa
(Leo Huberman) empresa em que exercer aquelas
qualidades e aquelas virtudes
que fizeram de nós uma grande
raça governante (. . . )
(Joseph Chamberlain, Discursos
O colonialismo europeu na Ásia Coloniais.)
nifestações dessa natureza, em 1 887, a Rai ma grande concorrência de príncipes indígenas e de nobres vindos de todas
as partes da Í ndia ( . . . ) do corpo consul a r , de todos os Governadores ( . . . ) e das
nha Vitória é sagrada Imperatriz da Índia principais autoridades militares, civis e judiciais da Í ndia Britânica, bem como
e nomeia um vice-rei para governar esse de uma imensa multidão de súditos de sua Maj estade vindos a título privado e
país. A Inglaterra ganha aliados entre os pró de todas as cl a sses . Europeus e indí genas. A flor do exército das Í ndias, forma
prios hindus, pois os grandes rajás e chefes da na planície, fez uma magnífica impressão .
e Zubok, declaram em que condições históricas deu-se o confronto: O Japão entrou 133
na guerra estando perfeitamente preparado para ela; além disso contava com o apoio finan
ceiro da Inglaterra e dos Estados Unidos. A Rússia, ao contrário, graças ao regime czaris
ta, não estava nem remotamente preparada para uma guerra de tais proporções numa fren
te tão distante. A través de uma única estrada de ferro, a Transiberiana, tinha que trans
portar a uma distância de 14 mil quilômetros, suas tropas, armamentos e o abastecimento.
Logicamente? desde os primeiros encontros ficou patenteada a preparação deficiente das for
ças russas. . .
E a guerra russo-japonesa revela duas realidades bem diferentes: reafirma o Japão
como potência militar-imperialista e atesta a decadência do império russo, cujos sinais
da derrocada final já se faziam ouvir pelos rumores que antecedem a Revolução de 1 90 5 .
,
A partilha da Africa
A África era desde há muito conhecida dos europeus, principalmente de Portugal,
que possuía aí duas colônias: Angola e Moçambique. Mas no século XIX, época do
apogeu do desenvolvimento industrial, dos grandes lucros e das grandes empresas, es
te continente volta a ser novamente cobiçado pelos países da Europa. E, dessa vez,
é a França que toma a dianteira quando, no ano de 1 830, começa a dominar a Argélia.
Para consolidar seu domínio, cria a famigerada Legião Estrangeira, formada pelos
elementos mais marginais de sua sociedade. Pois o governo francês, com o intuito de
torná-la bastante numerosa e tendo dificuldade em atrair seus compatriotas a se lança
rem nesse desafio, promete absolver todos aqueles condenados pela Justiça desde que
nela se integrem. A França, contudo, não se limita a dominar a Argélia. Sequiosa de
Na primeira década deste século a África
expansão, ela pouco a pouco estende os seus domínios até Senegal, Gabão e Guiné,
tinha seu território totalmente dividido en·
tre as potências européias, com predomí· inclusive Madagascar e Tunísia, quando entra em choque com a Itália. E todos esses
nio da Inglaterra e França. territórios passaram a ser conhecidos como África Ocidental Francesa.
Mas a Inglaterra, temendo o domínio da
França, entra na corrida pela conquista da
África c alimenta secretamente o plano de
dominá-la desde o Cairo até o Cabo. E, su
bindo desde a África do Sul, que já lhe per
tencia, conquista a Rodésia, o Gabão e o
Quênia. A essa altura, opta por um acordo
com a França: esta ficaria com o M-arrocos,
enquanto o Egito, que, apesar de manter uma
aparente independência, já se encontra sob
sua proteção, continua. sendo um protetora
do seu. Ratificada sua condição de proteto
rado, o Egito perde o direito às suas ações
na empresa que construía o Canal de Suez,
passando-as para as mãos dos ingleses.
A Inglaterra continua suas conquistas,
OCEANO ATLÂNTICO partindo do sul em direção ao norte, travan
do no caminho uma feroz luta com os zu
lus, povos que habitavam esse território. E
seu interesse por essa região se devia prin
cipalmente ao fato de suas terras serem ri
d a Franca cas em diamante. Foi o próprio Ceci! Rho
des, o rei do diamante, quem comandou es
as d a G rã- Breta n h a
sas expedições. Em sua rota expansionista,
os ingleses enfrentam-se também com os
bôeres, um povo descendente dos holande
ses que habitava outra região ric a e m
� minerais - hoje África do Sul. Os des-
� cendentes de holandeses haviam fundado
V)
_J aí Juas repúblicas: Orange e Transvaal . Em
� C o l ô n i a s da 1,.1,.
1 899 os ingleses, sem respeitar a indepen-
S llo;.li��:L.----.J dência desses Estados, os invade para explo-
8 rar os seus minérios. Inicia-se uma guerra
� com os bôeres e, em virtude da desesperada
z resistência que esse povo demonstra, a luta
-
se estende até 1902.
134 E&sa violenta invasão dos europeus, na
segunda metade do século XIX, causa gravíssimos prejuízos aos indígenas africanos
e à sua cultura. Além de contaminar esses povos com doenças que até então desconhe
ciam, introduz em sua cultura, principalmente através da pregação dos missionários,
valores totalmente alheios à sua visão de mundo. Em conseqüência, desestruturam-se
suas relações culturais, pois são obrigados a seguir normas de conduta que, para eles,
não tinham nenhum sentido.
Modernização da Rússia
A Rússia, apesar da tentativa de alguns monarcas no século XVIII de tirá-la do iso
lamento, sempre se manteve afastada dos acontecimentos mais importantes da Europa o
Ocidental. A Revolução Francesa, as campanhas napoleônicas e a política de restaura �
CJ)
ção contribuíram para que ela se mantivesse recolhida; e o reinado de Nicolau, entre .....J
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1825 e 1 855, caracterizou-se por esse isolamento. A Rússia vivenciava, contudo, na a:
LU
segunda metade do século XIX, uma série de contradições internas. A sociedade O
�
compunha-se predominantemente de duas classes: uma nobreza dominante, os boiar
LU
dos, e uma grande massa de camponeses servos, os mujiques, que somavam, aproxi o
madamente, 60 milhões. Existia também uma incipiente burguesia, que não detinha �
CJ)
as condições necessárias para patrocinar atividades que propiciassem seu fortalecimen ::::i
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to. A direção política estava nas mãos da nobreza, liderada pelo Czar, o Imperador z
da Rússia, absolutista que não permitia contestação ao seu poder. No entanto, nessa o
.....J
época, grupos de trabalhadores e de intelectuais se organizavam em uma oposição. To o
u
da a economia do país centrava-se, quase exclusivamente, nas atividades agrárias e o
LU
na criação de gado. z
-
Fazia-se necessário que se modernizasse, pois esse caminho poderia ser uma alter
nativa para superar os estreitos limites da situação de atraso em que a Rússia se encon- 1 35
Logo depois da libertação dos servos, a in trava. Assim, quando, em 1 855, sobe ao trono o imperador Alexandre li, a Rússia co
dústria russa experimentou um surto de meça a desenvolver uma série de reformas visando a modernização. Uma das primeiras
expansão considerável. Grande parte desta
medidas do novo imperador foi abolir a servidão, em 186 1 . Em seguida, estimula a
industrialização se deu entre os anos de
1 870 e 1 890, e foi financiada graças às in industrialização, buscando o incentivo do capital estrangeiro, principalmente francês.
denizações recebidas pela nobreza, em fim E se lança sobre a região do mar Negro, através dos Balcãs, em busca de uma saída
ção da libertação dos servos e da reforma para o Mediterrâneo. Essa série de reformas dá origem ao surgimento de uma classe
agrária. Na verdade, não houve um inves operária, que contribui para o crescimento da oposição ao regime czarista.
timento direto da nobreza nas indústrias,
mas sim uma aplicação que a própria bur
Vítima de um atentado praticado por um grupo radical, morre o Czar Alexandre,
guesia fez quando recebeu as dívidas da o que desencadeia uma onda de repressão e o fim da política reformista. Entretanto,
velha aristocracia russa. a Rússia não quer abrir mão de sua prática expansionista, seguindo o exemplo das po
Depois de 1 890, a incipiente industriali tências européias. Com esse objetivo começa a construção de uma ferrovia que atraves
zação russa experimentou um novo surto
sa todo o seu território e chega até a Ásia, em frente ao Japão. Prosseguindo em seu
expansionista com a implantação de fer
rovias, das quais a mais famosa, foi a que caminho, chega à Criméia onde vai de encontro aos interesses do Japão, decorrendo,
liga Petrogrado a Vlad.ivostok (Ásia), com desse confronto, a Guerra Russo-Japonesa, em que sai derrotada em 1 905. Esta derro
mais de 1 4 mil quilômetros. Foram estas ta significa, para o povo russo, o atestado de falência do regime czarista, Os soldados,
ferrovias que criaram condições para o de os camponeses e a população em geral se rebelam. Ocorre, então, a chamada Revolu
senvolvimento de indústrias siderúrgicas
e metalúrgicas.
ção de 1905, considerada um ensaio para o grande conflito que se desencadeari� logo
depois: a Revolução Socialista de 1917.
Expansionismo norte-americano
Apesar de a doutrina do presidente norte-americano Monroe defender a não
intervenção em outros países, o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos exige
novos mercados. E, premidos por essa exigência, os grandes empresários desse país,
e igualmente o seu governo, adotam uma política colonialista que em nada difere da
quela praticada pelos países europeus.
O primeiro território que incorporam é o Havaí, cobiçado desde a expansão ameri
cana para o oeste, por sua localização estratégica no Pacífico. Em 1 893, armam um
golpe de Estado que derruba a monarquia indígena e instauram uma república sob a
sua proteção. Pouco tempo depois, os Estados Unidos formalizam sua posse sobre o
Havaí.
Cuba continuava a ser, no final do século XIX, uma das poucas regiões do conti
nente americano que estava submetida aos laços coloniais da Espanha. Resistindo a
esse domínio, alguns grupos revolucionários surgiram, destacando-se entre eles aquele
liderado pelo famoso poeta cubano José Martí. Ao mesmo tempo que isso ocorria,
alguns empresários norte-americanos investiam no território cubano em plantações de
cana e em um dos setores mais prósperos do comércio, como os hotéis e as casas de
jogos, uma vez que essa região sempre se constituiu em um importante ponto de atra
ção turística. Assim, estes movimentos que se insurgiam contra a dominação espanho
la acabavam causando enormes prejuízos ao capital norte-americano aí investido. E a
grande nação do norte, se dando conta do obstáculo que a Espanha representava, co
meça a articular alguns planos com o objetivo de transpô-lo.
Em 1 898, surge a situação esperada: um encouraçado da marinha de guerra ameri
cana - o Maine - ao chegar à ilha, com o propósito de retirar e oferecer proteção
aos cidadãos norte-americanos que aí se encontravam, explode, vítima de um atentado
nunca esclarecido. Sob esse pretexto, os Estados Unidos declaram guerra à Espanha.
o Rapidamente esse conflito termina, pois é incontestável a superioridade norte-americana.
� E os espanhóis são obrigados a assinar um tratado de paz pelo qual cedem aos Estados
(./)
:::i Unidos a colônia americana de Porto Rico e as Filipinas (na Ásia) . A ilha de Cuba
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a: se tornava país independente, sob a proteção dos Estados Unidos.
w
a.. Gradativamente, continuavam aumentando os interesses norte-americanos na Amé
�
ria Latina. Várias intervenções foram realizadas na Nicarágua e na República Domini
ú.J
o cana. E a "independência" do Panamá, ocorrida em 1 903, deu-se sob sua proteção.
�
(./)
Este apoio, no entanto, foi bem recompensado, pois os americanos obtiveram da Repú
:::i blica do Panamá o direito de construir o seu canal. Era presidente dos Estados Unidos,
<(
z nesta ocasião, Theodor Roosevelt, cujo governo se notabilizou pela adoção de uma po
o lítica imperialista tão contundente que passou a ser conhecida como a do big stick -
-I
o
u grande porrete. Ou seja, constituía princípio de honra para este país intervir onde os
o interesses americanos corressem alguma forma de risco.
w
z O historiador norte-americano Leo Huberman, em sua obra intitulada Nós, o Povo,
-
transcreve as declarações de um general dos fuzileiros navais que mostram o papel da
136 intervenção militar a serviço dos grandes capitalistas: Passei 33 anos e 4 meses no serviço
ativo como membro de nossa força m ilitar mais ágil - o Corpo de Fu;úleiros. Servi em O historiador André Ribard resume as pri
todos os postos. De segundo-tenente a major-general. E durante .esse período passei a maior meiras tentativas de expansão imperialis
parte do tempo como guarda-costas dos Grandes Negócios, de Wall Street, dos banqueiros. ta norte-americana.
Em resumo: eu era um p irata a serviço do capitalismo. . . Assim foi que ajudei a transfor
O imperialismo americano tem
mar o México. e especialmente Tampico, num lugar seguro para os investimentos america ainda muito que fazer para
nos no petróleo, em 1914. Ajudei a tornar o Haiti e Cuba em lugares decentes para que surgir como concorrente.
os rapazes do National City Bank pudessem recolher os proventos. . . Ajudei a purzficar a MacKinley, eleito presidente ,
Nicarágu a, para o estabelecimento bancário mundial dos irmãos Brown, de 1 909 a 1912. ameaça a Espanha, caso esta não
renuncie a Cuba: a Espanha
Tornei esclarecida a República de São Domingos, para que os investimentos americanos recusa; é a guerra, sustentada
na cana-de-açúcar pudessem ser protegidos, em 1916. . . Durante todos esses anos eu tinha, por uma insurreição que
no dizer dos rapazes de qualquer bando reunido, num quarto de fundo, uma boa mamata. Washington apóia, a guerra
Era recompensado com honras, medalhas, promoções. Agora olho para trás e sinto que po contra um fantasma e mal
dirigida; entretanto ela estalou
deria ter dado alguns conselhos a AI Capone. O mais que ele fazia era controlar a malan
ainda esta vez em condições que
dragem executada em três cidades. Nós, os fuzileiros, operávamos em três continentes. ficaram imersas em mistério. A
propaganda imperialista,
dirigida; entretanto , ela estalou
Uma crise imperialista exige a entrega de Porto Rico e
das Filipinas ( . . . ) Mas os filipinos
não aceitam sua anexação aos
Com a decadência do Império Turco-Otomano, que dominava parte da região sul da Estados Unidos e lutam:
Europa, a Rússia e a Áustria pretendem estender seus domínios para essas regiões. resistirão três anos em suas ilhas.
A Áustria consegue dominar todo o norte da Sérvia, e a Rússia, procurando uma saída Já se voltaram os Estados Unidos
para o Panamá .
para o Mediterrâneo, tenta impedir que a Áustria aumente sua área de influência. Essa
(André Ribard, A Prodigiosa
divergência de interesses cresce com a pretensão da Turquia de retomar as posições História da Humanidade)
perdidas nessa região. Os pequenos países dos Balcãs, sob a influência das grandes po
tências que os dominam, vivem em constante atrito, razão pela qual essa região é co
nhecida como o barril de pólvora do mundo. A Primeira Guerra iria começar.
Exercícios
Respostas Comentadas
Basta uma consulta ao mapa da época, para compreender a razão de ser da insatisfa
ção da Alemanha frente à divisão do mundo coloniaL Embora tenha se posicionado
um pouco atrás na disputa colonial, aos olhos deste país , a situação parecia um tanto
quanto injusta, pois, afinal, como as demais potências desenvolvidas, ele também ne
cessitava de matérias-primas para alimentar as suas indústrias. E a insatisfação era ta
manha que o Kaiser Guilherme li, ao visitar o Marrocos, área de influência francesa,
No início do século XIX, o mwtdo eslava prati afirmou que a Alemanha estava disposta a 'ir à guerra se a questão da divisão não fosse
camente dividido em possessões de três gran revista. Imediatamente foi convocada uma conferência para se discutir essa pendência.
des potências européias. A Inglaterra detinha Assim, em 1906, na cidade espanhola de Algeciras , se chegou ao seguinte acordo: o
20% da superfície terrestre; o império francês, Marrocos continuaria área de influência francesa, mas, em compensação, a Alemanha
em segundo lugar, contava com um território
muito maior do que a própria França, e a Ale
passaria a ter direitos sobre uma pequena faixa de terras na África Francesa. Perceben
manha possuía apenas colônias na África e al do que a Alemanha não ficara satisfeita com a nova partilha, a França, receosa, assinou
guns ponos na Asia. um tratado de aliança com a Inglaterra.
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� E essa aliança era sintomática. O poder econômico da Alemanha crescia a olhos vis
g: tos. Indústrias como a Siemens e a AEG, no setor elétrico pesado, como a IG-Farben,
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no setor químico, e a Krupp e Stinnes, no setor metalúrgico e bélico, haviam apareci
1 38 do há pouco e já dominavam o mercado, pois seus produtos eram vendidos ao mundo
inteiro. Além disso, metade do transporte marítimo mundial, por volta do ano de 1 9 1 0, O texto abaixo nos mostra, na visão de V.
estava nas mãos de dois trustes alemães, um dos quais era o Hamburg-Amerika-Linie, M.Jvostov e Zubok, a divisão do mundo
do ponto de vista dos mercados, com o sur
e um truste anglo-americano explorava a outra metade. Esta nova posição da Alema
gimento dos trustes e das indústrias mul
nha ameaçava a Inglaterra que, até então, mantivera uma posição hegemônica em rela tinacionais.
ção às demais potências. Assustados, os membros do Parlamento britânico, represen
tantes dos industriais ingleses, propõem que, para pôr um termo a essa concorrência, Na época do imperialismo,
a Inglaterra deveria, se necessário, declarar guerra a esse país. E, além de todos esses simultaneamente com a
culminação da total divisao do
motivos, havia um outro, de menor importância, mas que exercia influência na nova
mundo entre os Estados
correlação de forças que começava a aparecer: a França guardava ressentimentos pela capitalistas, começa também a
derrota que sofrera da Alemanha em 1 870. divisão entre os trustes e
sindicatos e bancos mais
poderosos. Os grandes
monopólios industriais não se
A crise dos Balcãs contentam em concentrar em
suas mãos a produçi!o integral
Em um outro ponto da Europa, outros conflitos políticos e econômicos ensejavam de um determinado r�mo da
novas articulações. Depois da independência dos países balcânicos, o Império Austro indústria ( . . . ) em ter submetido a
seu arbítrio todo o mercado
Húngaro havia tomado extensos territórios ao norte da Sérvia, conhecida como Bósnia
interno. Pretendem também
Herzegovina. A Sérvia reclamava a posse desses territórios e, por essa razão, incentiva apoderar-se dos mercados
va os movimentos contra a Áustria. A Rússia czarista, por sua vez, alimentava sonhos estrangeiros, nos quais se
imperialistas, sob a j usti ficativa do pan-eslavismo, que previa a unificação de todos chocam inevitavelmente em luta
os povos eslavos sob a proteção da Grande Rússia, reunindo, assim, condições de se encarniçada com organizações
monopolistas semelhantes dos
opor à Áustria e à Turquia ao mesmo tempo. Por outro lado, se seu sonho se realizas
capitalistas de outros países.
se, conseguiria, através do Mar Negro, uma saída livre para o Mediterrâneo, outra am (V. M.Jvostov e Zubok, História
bição que acalentava há muito tempo. Entretanto, um obstáculo teria que ser vencido: Contemporânea)
a presença da Áustria-Hungria naquela região.
Aos olhos da Rússia, apareceu uma op ortunidade de enfraquecer tanto a Turquia
quanto o império austríaco quando, em 1 9 1 2, apoiou uma coligação entre os países
balcânicos: Sérvia, Bulgária, Montenegro e Grécia. Depois de algumas semanas de con
fronto, os exércitos turcos bateram em retirada. Mas, sob a pressão da Áustria, os esta Antes da Primeira Guerra Mundial, a Eu
ropa era um caldeirão pronto a explodir.
dos balcânicos, principalmente a Sérvia, foram obrigados a interromper o avanço e a A França, que havia perdido em 1 870 os
estabelecer negociações. Em um texto dos historiadores russos Jvostov e Zubok, depósitos de ferro e carvão da Lorena pa
encontram-se informações sobre o desenvolvimento desse acordo: No mês de dezembro ra a Alemanha, adotava uma clara políti
iniciavam-se em Londres as negociações de paz entre a Turquia e os países integrantes da ca de revanchismo. Os russos, que que·
riam controlar Constantinopla e outras
aliança balcânica e nelas intervinham ativamente representantes das grandes potências. A lém
porções do território turco, incentivavam
da paz com a Turquia, era preciso solucionar o conflito austro-sérvio e uma série de questões o pan-eslavismo. A Sérvia rivalizava com
vinculadas à guerra dos Balcãs. As negociações se desenvolviam com dzficuldade. Os turcos a Áustria-Hungria, principalmente após a
não queriam ceder A ndrinopla à Bulgár�a e os búlgaros se negavam a assinar a paz sem anexação pela Áustria da Bósnia e da Her
antes obter aquela cidade. Entrementes, surgiram sérias divergências entre os próprios alia zegovina. A Alemanha, que havia entra·
do num intenso processo de industrializa
dos balcânicos: a Bulgária, de um lado, e a Sérvia e a Grécia, de outro.
ção e conquista colonial, rivalizava com a
Mas nenhum dos Estados ficou satisfeito. A Albânia havia se constituído como na Inglaterra e constituía uma grave ameaça
ção independente, embora continuasse dis- à França.
putada pela Itália e pela Áústria. Imediata-
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mente depois, a Sérvia e a Grécia estabele·
ceram uma aliança exigindo os territórios
da Bulgária. Por sua vez, os exércitos búl
garos atacaram os soldados sérvios, em ju
nho de 1 9 1 3, dando início à Segunda Guer
OCEANO
ra Balcânica. A Turquia aproveita a opor
ATLÂ NTI C O
tunidade e declara guerra à Bulgária,
apoderando-se de seus antigos territórios.
Derrotada, a Bulgária é obrigada a pagar pe -I
sados tributos. E a Macedônia passou a fa <(
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zer parte do território sérvio. Em linhas ge z
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rais, a conseqüência dessa guerra foi o for �
talecimento da Sérvia, o que não era bem <(
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aceito pela Áustria, uma vez que os iugos a:
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lavos, que habitavam o império austríaco, ::::>
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passaram a apoiar as reivindicações nacio <(
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nalistas dos sérvios em relação aos territó w
rios ocupados pela Áustria. E a Rússia, por �
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sua vez, ficou descontente pelo fato de a Bul a..
gária ter-se aliado à Alemanha e, assim, for -
A Rússia vivia uma situação muito particular. Além de sofrer pesadas perdas nas
constantes derrotas frente ao exército alemão, sua situação econômica, política e social,
que já era bastante tumultuada antes da guerra, com o desenrolar do conflito deteriorou
se rapidamente. E, em novembro de 1 9 1 7, um dos partidos políticos mais populares
- bolchevique - tomou o poder. Uma das bandeiras que ele havia levantado duran
te o processo revolucionário é que a Rússia deveria abandonar a guerra. Recebendo
apoio de toda a população, que se sentia muito penalizada pelo envolvimento de seu
país no conflito, os novos governantts assinam com a Alemanha o Tratado Brest
Litovsk, através do qual confirmava a sua retirada da guerra.
Apesar de sua aparente neutralidade, os Estados Unidos demonstraram, durante o 14 1
desenrolar do conflito, sua simpatia para com a Entente: forneceram à França e à In
glaterra grandes quantidades de armas e significativas somas de dinheiro, alimentos
e matérias-primas. E, temendo que a balança pendesse para o lado contrário, o que
os levaria a perder todos os investimentos feitos, com a desculpa de que submarinos
germânicos haviam afundado alguns dos seus navios, no dia 6 de abril de 1 9 1 7, os Es
tados Unidos entram em guerra contra a Alemanha.
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143
As nações vencedoras da Primeira Guerra meiro conflito mundial propiciou, levam o capitalismo, principalmente o europeu, a
se associaram na expectativa de articular
uma grande crise, cujo cerne reside no questionamento das premissas do liberalismo,
uma paz duradoura. Nascia assim a Socie
dade das Nações ou Liga das Nações.
tanto econômicas como políticas. E se a nova conjuntura política favorece, por um la
do, o surgimento de governos autoritários e ditatoriais, por outro possibilita importan
Às Altas Partes Contratantes, tes conquistas democráticas. Alemanha e Áustria adotam constituições liberais; a de
considerando que, para mocracia inglesa dá mais um avanço, ao estender o direito do voto às mulheres; na
desenvolver a cooperação entre França, a jornada de trabalho foi reduzida para 8 horas.
as nações e garantir-lhes a paz e
a segurança, importa: aceitar
E, no campo das relações internacionais, é feita uma tentativa de se romper com
certas obrigaçoes de não a tradicional diplomacia secreta, considerada uma das c�usas desse conflito. É formada
recorrer à guerra; manter uma sociedade - a Liga das Nações - cujo objetivo seria resolver as disputas entre
abertas e francas relações as nações para se evitar uma nova guerra. Luís Cesar B. Rodrigues, historiador, em
internacionais fundadas na
seu livro A Primeira Guerra Mundial, tece algumas considerações acerca dessa socieda
justiça e na honra; observar
rigorosamente as prescrições do de: A Liga da Nações passou a aplicar, nas relações diplomáticas, os princípios e práticas
direito internacional , havidas de característicos dos Estados democráticos: discussão pública, deliberação parlamentar e reso
ora avante como regras de lução das pendências mediante o critério de votação. Na consciência do simples e cotidiano
conduta efetiva dos governos; homem das ruas, a Sociedade das Nações parecia sigmficar a universalização do regime
estabelecer o predomínio da
justiça e respeitar
parlamentar, a definitiva vitória do direito sobre a força e, fundamentalmente, a instaura
escrupulosamente todas as ção de uma ordem jurídica internacional.
obrigações dos tratados nas O mundo inteiro, depois da Primeira Guerra Mundial, acreditava ter sido aquele
relações recíprocas dos povos o último conflito envolvendo homens, máquinas e destruindo bens materiais e vidas.
organizados.
Contudo, as contradições permaneciam latentes sob o manto de uma aparente tranqüi
(Gustavo de Freitas, op. cit.)
lidade, embora pequenas fagulhas explodissem aqui e acolá. E, ao assumirem maior
proporção, estas contradições explodem novamente, vinte e cinco anos depois, e de
forma mais violenta ainda.
Exercícios
Respostas Comentadas
1 . O objetivo era eliminar um inimigo comum. Os aliados de cada grupo tinham tam
bém profundos antagonismos entre si mas que ficavam adiados diante do crescimento
de um "perigo maior". A alternativa correta é a b.
3. Os Estados Unidos haviam investido grande soma de dinheiro (em forma de ajuda)
nos Aliados (França e Inglaterra) . O impasse da guerra obrigou os intesses econôrr
cos americanos a intervirem para salvaguardar seus investimentos.
144
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REVOLUÇAO RUSSA
Para termos uma idéia mais clara do significado da Revolução Russa, vamos compará
la com a Revolução Francesa.
A Revolução Francesa significou, entre outras coisas:
• que a classe dominante não era mais a nobreza (proprietária de terras) , mas sim
a burguesia (comerciantes e donos de manufaturas) ;
• que o modo de produzir as riquezas não poderia ser somente baseado na terra
e na exploração do trabalhador servil, mas nas atividades industriais e na exploração No dia 22 de janeiro de 1905 ocorreu o
do trabalho assalariado; episódio conhecido como "Domingo
Sangrento", que desencadeou a Revolu
• que o feudalismo estava morto e que o capitalismo era, agora, o novo modo de ção de 1905. Eis como o historiador
produzir as riquezas da sociedade. David Floyd descreve o episódio:
A Revolução Russa, por sua vez, significou:
Muito antes que os
• a criação de um governo com a participação dos operários; manifestantes tivessem atingido
• a substituição do capitalismo pelo socialismo, com a mudança no modo de produ a praça, destacamentos de
ção das riquezas; tropas e da polícia fortemente
armados obrigaram os vários
• a tentativa de estabelecer uma sociedade onde as diferenças entre as classes ten cortejos isolados a parar. E, uma
dem a desaparecer; vez barrados, receberam ordens
• a tentativa de pôr em prática a teoria elaborada pelos pensadores socialistas Marx para dispersar. Quando se
recusaram a obedecê-las, os
e Engels. soldados atiraram. Primeiro,
foram alguns tiros de festim.
A situação da Rússia Depois, sem esperar por maiores
explicações, atiraram
antes da Revolução imediatamente com munição
verdadeira sobre uma multidão
Em meados do século XIX, a Rússia feudal iniciou sua industrialização. Uma re indefesa de homens, mulheres e
crianças . ( . .. )
duzida parcela da burguesia ligada ao czar e aos senhores feudais associou-se a capi Esse foi o primeiro grande
talistas europeus para construir estradas de ferro e fábricas, formando ilhas choque entre a monarquia e o
"desenvolvidas" num país agrário e atrasado. Assim, enquanto a maior parte do povo russo no século XX, e
mudou inteiramente a atmosfera
país continuava na "Idade Média" (com o povo dominado pelos senhores de terra política do país. Mais
e controlado pela Igreja Ortodoxa), começavam a crescer cidades (como Moscou e importante ainda que a morte
Petrogrado) em torno de ferrovias. A migração de camponeses pobres para as cida dessas desafortunadas pessoas
pelos agentes do czar, no
des, engrossando o exército de reserva, ajudava a achatar os salários e a aumentar "Domingo Sangrento", foi a
o lucro de um reduzido número de capitalistas nacionais e estrangeiros. destruição das ilusões a respeito
Em 1 88 1 , o czar Alexandre 11 foi assassinado por um grupo terrorista que preten da monarquia, que teria
grandes conseqüências a longo <(
dia derrubar o regime. O ato isolado não encontrou apoio na população e o czar (/)
prazo. (/)
foi sucedido por Alexandre III, que desencadeou violenta repressão aos opositores (David Floyd - A Revolução de :::::>
1905 in História do Século XX) a:
do governo. Os principais partidos e grupos políticos de oposição tiveram de passar
o
para a clandestinidade: z<(
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• os populistas (narodnik) procuravam o apoio das massas camponesas porque jul :::::>
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gavam que a passagem para o socialismo se daria sem atravessar o estágio capitalista.
o
Na Rússia, os camponeses viviam em comunidades rurais que ainda não haviam si >
w
do modificadas pelas relações capitalistas. a:
Eram de tendências anarquistas e julgavam que, praticando atentados contra ins -
Majestade. Nós, trabalhadores e habitantes de São Petersburgo, nossas mulhe No início do século XX, a Rússia cza
res, nossos filhos e nossos parentes velhos desamparados, vimos à vossa presen rista resolveu expandir-se ainda mais pelo
ça, majestade, buscar verdade, j ustiça e proteção. Fomos transformados em Oriente. As nações do Ocidente disputa
pedintes, somos oprimidos, estamos à beira da morte ( ... ) Chegou para nós o
vam a posse de territórios no Oriente, e a
momento em que a morte seria preferível ao prolongamento de nossos insupor
táveis sofrimentos. Paramos o trabalho e dissemos aos nossos patrões que não Rússia, não querendo ficar atrás, lançou
recomeçaremos enquanto não aceitarem nossas reivindicações. Não pedimos mui se à conquista imperialista da Manchúria,
to: a reduç ao de jornada de trabalho para oito horas, o estabelecimento de um
deparando-se com o jovem e potente im
salário mínimo de I rublo por dia e a abolição do trabalho extraordinário. ( . .. )
Os oficiais levaram o país à ruína completa e o envolveram numa guerra vergo perialismo japonês, o que levou os dois paí
nhosa. Nós, os trabalhadores, nao temos como nos fazer ouvir sobre a maneira ses à guerra pela disputa da área. A Rússia
como são gastas as enormes somas que nos são retiradas em impostos. ( ... ) Estas
foi facilmente derrotada, e no começo de
coisas, majestade, trouxeram-nos diante de vosso palácio. Estamos procurando
aqui a nossa última salva'çao. Não recusai ajuda a vosso povo. Destruí o muro 1905, desencadeou-se uma onda de revol
que se levanta entre vós e o vosso povo. tas em seu território.
Ordenai que sejam efetuadas eleições para uma Assembléia Constituinte, sob
forma de sufrágio secreto, igual e universal. Trabalhadores, marinheiros e soldados
Se nao derdes essas ordens e não responderdes às nossas súplicas, morrere ficaram indignados com o governo que os
mos aqui nesta praça diante de vosso palácio. havia envolvido numa guerra perdida. O
g
primido pela polícia do czar. A cidade de Petro rado quase foi tomada pelos
uma explicação:
rários.
Em julho de 1918 foi promulgada uma Constituição provisória estabelecendo o
regime socialista no país, que depois passou a chamar-se União das Repúblicas So
cialistas Soviéticas.
A reconstrução
Um dos maiores especialistas da Revo
A guerra civil afetara drasticamente a já abalada economia da URSS. Campo, in lução Russa foi o historiador inglês E. H.
Carr. Ele fala das implicações da NEP
dústria e comércio estavam paralisados. Era preciso tomar medidas rápidas.
na economia soviética.
Em fevereiro de 192 1 , sob a orientação
A semeadura de 1922 foi ampla. As colheitas daquele ano e de 1 923 foram exce
de Lênin, formou-se a Comissão Estatal lentes e pareciam anunciar um renascimento da agricultura soviética: pequenas
para o Plano Econômico, que em março quantidades de cereais foram até mesmo exportadas. Observou-se que a NEP, rein
adotaria a Nova Política Econômica troduzindo no campo os processos do mercado, inverteu as políticas de nivela
mento do comunismo de guerra e estimulou o reaparecimento do camponês rico
(NEP), restaurando algumas medidas ca ou kulak, como a figura-chave da economia rural. O camponês pobre produzia
pitalistas, como, por exemplo, a permissão para a subsistência própria e de sua família. Consumia o que produzia; se procu
de entrada de capitais estrangeiros, a for rava o mercado, era mais freqüentemente como comprador do que como vende
dor. O kulak produzia para o mercado e tornou-se um pequeno capitalista; foi
mação de pequenas indústrias privadas e essa a essência da NEP. O direito de arrendar terra e contratar mão-de-obra, teo
de pequenas e médias propriedades agrí ricamente proibido desde os primeiros dias de regime, foi concedido com algu
colas. Ficavam nas mãos do Estado as in mas restrições formais, pelo novo código agrícola de 1922. Mas enquanto os
camponeses tivessem alguma coisa para comer, e proporcionassem suprimentos
dústrias de base e o sistema bancário. suficientes para alimentar as cidades, poucos, mesmo entre os mais dedicados
Muitos líderes da.revolução acreditavam membros do partido, tinham pressa em questionar o abandono dos princípios e
que o socialismo se espalharia imediata ideais da revolução, os quais haviam proporcionado esses resultados felizes. Se
a NEP pouco, ou nada, fez para ajudar a indústria ou o trabalhador industrial,
mente pelo resto da Europa. Trotsky era e menos ainda para promover a causa de uma economia planificada, esses pro
mais radical: achava que os exércitos rus blemas poderiam ser transferidos, sem risco, para o futuro.
sos deveriam levar a revolução para outros
(E. H. Carr - A Revolução Russa de Lênin e Stálin)
países, da mesma forma que os exércitos
franceses haviam feito há mais de um sé-
culo (teoria da "revolução permanente").
Outros, como Stálin, achavam que o socialismo deveria se consolidar primeiro na
<(
URSS e depois se espalhar ("socialismo num só país"). (f)
(f)
Quando Lênin morreu, em 1924, iniciou-se uma intensa disputa pelo comando da ::::>
a:
URSS entre Stálin e Trotsky, levando o primeiro ao poder. Stálin governaria o país
o
de forma ditatorial até meados dos anos 50. z <(
No plano econômico, Stálin continuou a orientação de Lênin, que em 192 1 havia U·
:::>
criado o GOSPLAN (uma espécie de ministério do Planejamento) e elaborado um ......J
o
plano geral para reerguer a vida material do país. >
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Em 1928, iniciou-se o primeiro Plano Qüinqüenal, que tinha como objetivo esti a:
mular a indústria de base e coletivizar a agricultura. -
1 50
I
O PERIODO
ENTRE GUERRAS
A crise e a Europa mia nacional. Não pouparei esforços para restaurar o comércio mundial por meio
do ajustamento econômico internacional, mas a emergência doméstica não po·
de aguardar esses acontecimentos.
mento, isto é, permitiu que a Alemanha (já nazista) violasse o Tratado de Versalhes . 1 53
França: dificuldndes e problemas
Este é o quadro da Europa pouco A situação francesa se assemelhava à inglesa. Grandes agitações populares, que
antes do início da Segunda Guerra exigiam melhores condições de vida, marcaram os anos subseqüentes à I Guerra.
Mundial. Sofrendo as conseqüências
No plano externo, a política ultranacionalista responsabilizava a derrota da Alema
da crise econômica, convulsionada
por grandes movimentos de ·direita e nha por todos os problemas franceses. Nesse clima de insegurança, o Partido Socia
de esquerda, a maioria dos povos lista, a Confederação Geral, dos Trabalhadores e o recém-fundado Partido Comunista
perderam a fé na democracia.
Francês ( 192 1) incentiva\Wll os movimentos grevistas.
Restaram a Inglaterra, a França, a
Tchecoslováquia e os países nórdicos. Em 1923, exércitos franceses ocuparam a industrializada região do Ruhr (Alema
Nos outros países, a burguesia e as nha) para obrigar o governo alemão a pagar as dívidas de reparação da guerra.
classes médias apavoradas diante do
Os efeitos da crise de 1929 atingiram a economia francesa apenas em 19 3 1 : os pre
avanço dos partidos de esquerda e do
movimento operário optaram por ços caíram assustadoramente e o potencial de compra do povo baixou a níveis ín
ditaduras antimarxistas, antiliberais e fimos.
nacionalistas.
POLÔNIA
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o repressivos ou conservadores  greves e manifestações
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Até o ano de 1910, Portugal viveu sob o regime monárquico. A derrubada da Mo
narquia foi, em parte, provocada por setores liberais das Forças Armadas, que apoia
ram o Governo Provisório do professor, também liberal, Teóftlo Braga.
As medidas do novo governo visavam extinguir as velhas leis reacionárias da Mo
narquia. Com uma vigorosa política anticlerical, o governo pretendia diminuir a se
cular influência da Igreja na vida política portuguesa.
Apesar das tentativas de reformas liberais, as forças conservadoras adotaram novas
formas de atuação durante as três primeiras décadas deste século. Um golpe de Esta
do, em 1917, vitimou vários líderes progressistas que haviam implantado a República.
As agitações prosseguiram durante quase toda a década de 20. Em maio de 1926,
alguns militares instalaram uma ditadura de forte cunho nacionalista. Depois de du
ras lutas pelo poder, uma facção dos militares, liderada pelo general Carmona,
estabeleceu-se no governo em março de 1928. O ministro da Fazenda do novo gover
no era Antônio de Oliveira Salazar, que pouco a pouco foi adquirindo mais poder
no governo do general Carmona. Inspirado na Itália fascista de Mussolini, Salazar
transformou-se numa espécie de primeiro-ministro. OrganiZou a sociedade e a eco A ditadura de Primo de Rivera trouxe
nomia em moldes corporativos, instituindo um único partido político: a União Na uma momentânea pacificação na agita
da política espanhola.
cional. A eficiência do governo de Salazar agradava as classes dominantes portuguesas.
Sua política era a de repressão aos movimentos de esquerda e de cunho progressista. O rei Afonso era um
Em abril de 1933, Salazar outorgou uma nova Constituição ao país, que foi apro governante cínico, astuto e
egoísta ( . . . ) Salvou-se
vada por plebiscito. A partir daí instaurou uma ditadura de cunho pessoal, apoiado temporariamente ao permitir um
pela União Nacional. O novo regime foi chamado Estado Novo. Para controlar a opo golpe militar no qual o ( . . . )
sição, Salazar criou a PIDE, Polícia Interestadual de Defesa do Estado, violento ór Primo de Rivera, se proclamou
Ditador em 1 923. ( . . . ) Sua
gão repressivo que mantinha todos os cidadãos sob suspeita. A ditadura sobreviveu ditadura foi popular durante
até o ano de 1974. algum tempo, graças,
principalmente, à expansão
econômica que se seguiu à
Primeira Guerra Mundial, mas a
Espanha, como tantos outros
Espanha: da República à Ditadura países, foi extravagante e
excessivamente otimista. O
(/)
Ministro das Finanças era jovem <(
A história da Espanha guarda semelhanças com a de Portugal. Até o século XX e inexperiente. Seu nome foi ex:
alvo do destino - José Calvo ex:
ainda vigorava no país um regime monárquico centraliZador. w
Sotelo, cujo assassinato foi o :::)
O poder sempre esteve nas mãos das camadas mais conservadoras da sociedade sinal para o início da Guerra (.!J
espanhola, representadas pelos grandes .latifundiários, pelo Exército e pela Igreja. Civi l . w
Primo d e Rivera f o i exemplo ex:
Apenas no final do século passado alguns setores liberais, representantes da burgue 1-
da corrupção pelo poder. Suas z
sia urbana, passaram a ter uma relativa participação no poder. promessas de liberdades cívicas UJ
Em 1902 foi coroado rei da Espanha Afonso XIII. Nessa época, a sociedade espa provaram não terem qualquer o
significado. Seu comportamento o
nhola se agitou sob a influência do anarquismo. Os operários entraram em greve, ,o
boêmio e intemperado, bem
paralisando as poucas fábricas existentes nas cidades. como sua falta de compreensão, ex:
w
O quadro geral do país no começo do século XX era de grave crise: levantes, mo eram características algo a..
divertidas de início, mas
vimentos grevistas e de independência nas colônias africanas (Marrocos) , aspirações o
tornava m-se intoleráveis com o
-
separatistas das províncias basca e catalã. Para agravar o quadro, o movimento na tempo.
cionalista marroquino, liderado por Abd-el-Krim, derrotou os soldados espanhóis (Herbert L. Mattheus, op. cir. ) 1 55
no ano de 192 1 no deserto do Saara.
A guerra colonialista era impopular na Espanha, provocando movimentos contra
as campanhas militares no norte da África. A agitação social e a profunda crise eco
nômica desencadearam um golpe de Estado no dia 1 3 de setembro de 1 923. O golpe
foi apoiado pelo próprio rei e liderado pelo general Primo de Rivera , que instaurou
uma ditadura de tendência fascista .
Primo de Rivera reprimiu todos os partidos políticos de esquerda na Espanha, em
especial o Comunista e o Socialista, que passaram para a clandestinidade. O prestí
gio da ditadura de Primo de Rivera aumentou quando as tropas espanholas derrota
Com a abdicação do rei Afonso XIII foi
proclamada a república na Espanha. Nas ram os mouros de Abd-el-Krim em Marrocos. Os jovens oficiais dessas tropas
eleições para as cortes constituintes em formaram uma ala de sólidas tendências nacionalistas que, alguns anos mais tarde,
julho de 193 1 , o governo obteve amplo desempenharia importante papel na luta contra as forças democráticas espanholas.
apoio popular. O povo não queria mais
ser governado por uma monarquia nem A vida econômica da Espanha passou a ser regida pelos padrões corporativos nos
por uma ditadura. Segundo Matthews moldes do fascismo italiano. Mas a crise do capitalismo, iniciada nos EUA em 1 929,
essas foram as eleições mais honestas já refletiu-se também na Espanha em 1 930, e grandes agitações sociais puseram fim
realizadas na Espanha. As eleições foram
vencidas pelos partidos republicanos e à ditadura de Primo de Rivera.
socialistas. A nova c·:>nstituição deu à Se No ano seguinte, o rei decidiu fazer eleições municipais a fim de testar o apoio
gunda República o direito de ser consi com que poderia ainda contar.
derada democrática. No texto que segue
Matthews analisa as dificuldades para a Os grupos políticos de oposição à Monarquia se organizaram numa Frente Repu
implantação da democracia na Espanha. blicana e exigiram a democratização do regime. As idéias republicanas influencia
vam a baixa oficialidade e os soldados, que
A Segunda República foi implantada durante a crise econômica que se seguiu
por isso eram perseguidos pelos altos es
à depressão e que teve início nos Estados Unidos em 1 929. A situação econômica
na Espanha, em 1 93 1 , era crítica: elevado índice de desemprego, preços agríco calões do Exército.
las muito baixos, salários de subsistência . Havia fuga de capitais e desconfiança Em 193 1 , a Frente Republicana obteve
geral do governo nos meios financeiros internacionais. As medidas para lidar com a grande maioria dos votos nas eleições mu
crises econômicas, que se tornaram prática comum nos anos 40 e 50, eram-lhe
desconhecidas. As intervenções governamentais keynesianas foram rotuladas de nicipais . Sentindo-se sem apoio político, o
comunismo quando o regime de Azaiia as tentou em 1 93 1 - 1 933. A política, ain rei abdicou e saiu do país em abril desse
da mais do que os fatores econômicos, conduziram a greves e desordens . O abis
ano.
mo histórico entre os poucos ricos e as massas pobres era intransponível .
A necessidade vital para a reforma agrária foi sempre barrada teimosamente Um governo provisório foi imediatamen
pelas classes proprietárias de terras. Gerald Brenan e outros historiadores con te empossado e a República foi proclama
sideram isto como "a mais importante causa individual da Guerra Civil". Havia
da. Alcalá Zamora e Azanha, líderes do
condições relativamente satisfatórias em certas regiões do norte e ao longo da
costa oriental, até. Valência, onde existiam pequenas propriedades férteis e cam novo governo, iniciaram reformas políticas
poneses conservadores. As dificuldades concentravam-se nos latifúndios quase e sociais.
feudais da Andaluzia e da Estremadura, no stil, bem como nas duas Caste1as,
Mas o novo regime não conseguiu resol
no centro, onde os camponeses eram despedidos quando pediam salários mais
ver os graves problemas sociais. Em de
·
ria foi dominada pelos japoneses, que ali instalaram um Estado independente. são de ódio, numa revolução acidental e
num reino de terror que, de várias for
Aos poucos, o Japão foi se aproximando da Alemanha e da Itália. Em 1936, assi mas diferentes, continuou durante a
nou um pacto de amizade e cooperação, chamado Anti-Komintern, contra a URSS. guerra de ambos os lados e, também, du
Em 1937, o Japão entrou em guerra contra a China. Essa expansão japonesa era mal rante os quatro anos seguintes, sob a di
tadura de Franco. Acima, Matthews re
vista pelos EUA, fazendo com que se deteriorassem as relações diplomáticas entre lata as atrocidades cometidas pelas for
os dois países. Essa tensão culminaria com a destruição da frota norte-americana ças falangistas.
em Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941, provocando a entrada dos EUA no
conflito mundial.
a Itália contribuído com armas e munições para a defesa do governo republicano. :::::>
(.!J
e) Apesar da importância estratégica desta guerra, suas conseqüências, tanto para LU
·Resposta o
o
A alternativa correta é a a. Na alternativa b, o correto seria afirmar que o general
·º
o:
Franco foi posto no cargo de primeiro-ministro pela Falange. Na c as relações estão LU
a..
trocadas, pois os republicanos é que detinham maioria nos centros urbanos. Na d, o
a Alemanha e a Itália realmente enviaram armas, munições e tropas, mas foi para -
É no seio das classes Quando a I Guerra terminou, a Itália estava do lado dos vencedores. Mas, de tudo
laboriosas que a agitação
aparece primeiro. (. .. ) o seu aquilo que pensava receber da partilha, após a derrota da Alemanha e da Áustria,
nível de vida está deteriorado a maior parte ficou com a França e com a Inglaterra.
(alta dos preços mais rápida que Embora os lucros de algumas indústrias italianas, como a Fiat e a Ansaldo, tives
a dos salários), e o desemprego
é uma conseqüência da crise
sem crescido com a guerra, a maioria das empresas do país teve prejuízo gerando
econômica; nos campos, não se desemprego e achatamento de salários.
cumprem as promessas feitas Havia uma grande quantidade de partidos políticos no país. Um dos mais fortes,
depois de C aporetto, relativa às
soluções que deverão ser dadas o Partido Socialista Italiano, passou a organizar greves, protestando contra a situa
ao problema da distribuição das ção de penúria em que se encontrava o operariado depois da guerra.
terras; finalmente, a Revolução Os católicos se organizaram no Partido Popular Italiano, sob a direção do padre
Russa de 1 9 1 7 aparece como um
modelo interessante em mais de don Luigi Sturzo. Um dos principais objetivos desse partido era deter o avanço do
um sentido. Desde a primavera Partido Socialista junto às camadas populares. O Partido Popular Italiano tinha maior
de 1 9 1 9, a agitação se influência sobre os trabalhadores do campo e reconhecia que o velho Estado liberal
desenvolve: ondas de greves
contra a vida cara, amiúde italiano precisava fazer algumas reformas para melhorar as condições de vida dos
seguidas de motins nas c i dades trabalhadores.
e atividades mais politizadas,
Apesar da atuação do partido de don Luigi Sturzo, os socialistas aumentavam suas
.organizadas pelos mil itantes da
Federação dos Operários fileiras de militantes. Mas cresciam também as críticas à direção do partido e sur
Metalúrgicos, ao passo que, nos giam dissidências. Uma das mais importantes foi o grupo que se aglutinou em torno
campos, se ocupam as terras da revista L' Ordine Nuovo, liderada por Terracini, Gramsci, Tasca e Togliatti. Esse
não-cultivadas e os latifúndios
o ( . . . ) criam-se cooperativas que grupo propunha a criação de sovietes nos moldes da Rússia revolucionária, para pre
� impõem suas condições (salários parar as massas para a tomada do poder.
(J)
N
e contratos de trabalho) aos Em 1919 houve eleições. O Partido Socialista foi o mais votado, com 1 56 deputa
proprietá rios agrários, que logo
<(
respondem por intermédio de dos, enquanto o Partido Popular ficou com cem.
z
UJ milícias particulares, formadas A vitória dos socialistas deixou as classe proprietárias e o velho Estado liberal apreen
o
freqüentemente por ex sivos . A grande burguesia italiana passou a criticar os liberais do poder porque não
combatentes sem trabalho.
�
(Jacques Nérês História conseguiam controlar os socialistas e o operariado.
(J) �
u Contemporânea) Esse clima se agravou entre os anos de 1919 e 1920, quando uma onda de agitação
(J) social fez a Itália parecer estar às vésperas de uma revolução semelhante à russa. Em
<(
LL. meados de 1919, a população passou a saquear armazéns e lojas em várias partes
- do país. No começo do ano seguinte, uma sucessão de greves paralisou mais de dois
160 milhões de operários e camponeses.
A situação parecia incontrolável. A Monarquia convocou Giolitti, um velho libe
ral, para o cargo de primeiro-ministro, esperando que ele resolvesse a crise. Mas as
agitações pioraram quando os operários metalúrgicos tomaram várias fábricas e pas
saram a geri-las com certo sucesso.
Os setores mais moderados do Partido Socialista, entretanto, acabaram por aceitar
negociações com o governo o que levou à divisão do Partido Socialista. Os setores
mais à esquerda saíram do partido e em 1921 fundaram o Partido Comunista Italiano.
A burguesia sentiu-se vitoriosa com o recuo dos operários e passou a se organizar
em um grupo que, pouco a pouco, adquiria características de partido. Tratava-se
do movimento fascista, criado por Benito Mussolini. E quem era Mussolini? Ele ha
via sido militante socialista com profundas ligações com o sindicalismo combatente,
tendo chegado a um papel de destaque, a ponto de dirigir o jornal Avanti (órgão
oficial do socialismo) . Por suas posições favoráveis à guerra, Mussolini acabou sen
do expulso das fileiras do Partido Socialista. Depois da guerra, declarou-se clara
mente anti-socialista, criou os chamados fasci di combattimento (esquadrões fascistas
compostos de ex-soldados, marginais e pequenos burgueses desocupados) . Os fasci
di combattimento tinham por objetivo reprimir violentamente as manifestações ope Segundo o historiador Adrian Lyttel
rárias. ton a Marcha sobre Roma não passou de
um gigantesco blefe. Afinal, a cidade era
No plano político, Mussolini havia criado o Popolo d 'Italia, jornal dos fascistas, defendida por 1 2 000 homens do Exér
e participado das eleições de 1919, obtendo o inexpressivo número de 5 000 votos. cito que facilmente poderiam dispersar
Mas, depois da tomada das fábricas, os fascistas passaram a ter apoio aberto da os fascistas mal armados. O rei, Vitor
Emanuel, ficou indeciso e não tomou
alta burguesia, temerosa do perigo que os movimentos operários representavam para medidas para reprimir a manifestação.
suas empresas. Além do apoio da alta burguesia, os fascistas também atuavam nas Assim nascia o mito da revolução fascis
regiões rurais, aliciando os camponeses e pequenos proprietários rurais. ta. No relato abaixo um diplomata estran
geiro conta como observou a Marcha
Em 1 92 1 , os fascistas mostraram-se especialmente violentos, destruindo centenas sobre Roma.
de sindicatos e cooperativas que tinham li-
gações com os socialistas. Uma das conse Numa sombria noite de Outono, a 30 de Outubro (de 1922 ) , os bandos de ca-
qüências políticas foi a formação do Partido misas negras (as mi!ícias armadas fascistas de Mussolini), ferozes, bem arma
dos, esbranquiçados pela poeira de uma longa marcha, entraram sem resistência,
Nacional Fascista, com mais de 200 000
como uma horda de conquistadores, na Cidade Eterna (Roma), muda e ferida
membros inscritos. de espanto. No dia seguinte, apareceu o Duce (guia, general, chefe) e estalaram
A esquerda não conseguiu se organizar as aclamações. Np seu estado-maior figuravam generais e oficiais superiores, que
tinham vestido a camisa negra. . . Na nobreza como na indústrlil, possuindo vas
para combater a violência fascista. Tanto
tas propriedades ou _grandes fábricas, vítimas, uma e outra, do estado anárqui
o Partido Socialista como o Comunista não co que reinava na província, o entusiasmo que suscitou o triunfo de Mussolini
apoiaram a luta armada contra os fascistas. foi sincero e espontâneo. O patriciado de camisas brancas apertou com efusão
a mão do fascismo de camisas negras, e as belas damas da aristocracia foram
O Estado liberal, por sua vez enfraquecia
as primeiras a exaltar-se pela pessoa do ditador. A burguesia citadina, liberal
se cada vez mais, mostrando-se incapaz de por tradição, mas sentindo bem que havia no ar uma vassourada, j ulgou pru
reprimir os fascistas, pois vários oficiais do dente pôr-se ao lado do cabo da vassoura, e aderiu à revolução.
Exército e das forças policiais eram mili
(Gustavo de Freitas 900 texUJs históricos)
-
bro de 1922 , em Nápoles, com cinqüenta mil camisas negras, a conhecida Marcha -
sobre Roma. No dia 30 de outubro de 1 92.2 , Mussolini foi empossado no cargo de 161
primeiro - ministro pelo rei Vítor Emanuel IH.
Mesmo depois de Mussolini passar a fazer parte do poder, algumas liberdades de
mocráticas ainda sobreviveram por algum tempo. Mussolini, porém, tomou medi
das para acabar violentamente com elas, começando pelo fechamento dos sindicatos
e dos jornais que não eram fascistas e pela prisão de lideres sindicais.
Entre 1922 e 1925, os fascistas tiveram uma única preocupação: consolidar sua
posição e formar um novo tipo de Estado emanado das idéias fascistas.
A criação das Milícias Voluntárias para a Segurança Nacional e a formação do Gran
de Conselho Fascista, foram duas das principais realizações de Mussolini, em seu
primeiro governo. As Milícias funcionavam como um exército oficial paralelo, com
posto de militantes fascistas. O Conselho tinha a função política de ligar o Partido
Alguns trechos de pronunciamentos de
Benito Mussolini: Nacional Fascista ao Estado.
Enquanto as Milícias perseguíam os opo
Quero deixar uma marca em minha era como a que o leão deixa com suas garras.
Vocês pensam que estão assinando minha sentença de morte, mas estão enga sitores, a economia italiana se recuperava,
nados. Hoje vocês me odeiam porque no coração de seus corações vocês ainda tornando o fascismo simpático à opinião
me amam ( ... ) . Mas vocês ainda não viram o que eu guardei para o fim. Doze pública.
anos de minha vida no partido são a garantia de minha fé no socialismo.
(Milão, 25 de novembro de 1914, quando de sua expulsão do Partido Socialista.) O aumento da popularidade do fascismo
O Fascismo é um movimento da realidade, da verdade, da vida - dedicado pôde ser medido nas eleições de 1924. A
à vida. É pragmático. Não tem apriorismos. Nenhum fim remoto. Não promete campanha eleitoral foi violenta e a fraude
o tradicional paraíso do idealismo. Não pretende viver para sempre, nem mesmo
por muito tempo. (Julho, 1919) deu a vitória aos candidatos do Duce (que
Há algo de romano e muito mais de guerreiro do que de militarista em todas significa líder e que passou a designar Mus
as nossas atitudes. Nem nos falta pompa e um lado pitoresco, o que é muito im solini). Os fascistas obtiveram mais de 65%
portante. Eu não entendo uma política triste e sombria. (Maio, 1921.)
( . . . ) O fascismo italiano representa ( ... ) uma reação contra os democratas que dos votos, elegendo 356 deputados.
tornariam tudo medíocre e uniforme e tentariam sufocar e tornar transitória a Um deputado socialista, Giacomo Mat
autoridade do Estado ( ... ). A democracia tirou a "elegância" da vida das pes teotti, protestou contra os métodos fraudu
soas, mas o fascismo a traz de volta; isto é, traz de volta a cor, a força, o pitores
co, o inesperado, o misticismo, e, enfim, tudo o que falta às almas da multidão. lentos utilizados nas eleições. Em junho de
(Milão, 6 de outubro de 1922) 1924, Matteotti apareceu morto. Ele havia
Eu poderia ter transformado esta sala num campo armado de camisas-negras, sido raptado e assassinado por setores mais
um acampamento para cadáveres. Eu poderia ter costurado as portas do Parlamento.
( Discurso na Câmara dos Deputados, 16 de novembro de 1922.) radicais das milícias fascistas. Por alguns
Meus ancestrais foram camponeses que araram a terra, e meu pai foi um fer meses, o poder de Mussolini correu sérios
reiro que malhava o ferro em brasa na bigorna. Ainda criança ajudei meu pai riscos, pois os partidos de oposição e as or
nesse trabalho duro e humilde, e agora tenho a tarefa mais difícil, de moldar almas.
(Milão, 6 de dezembro de 1922.) ganizações operárias passaram a exigir o
Minha ambição, nobres senadores, é apenas uma. Por ela, pouco me importa fim da violência. Mas nenhuma atitude im
se eu tenho de trabalhar 14 ou 16 horas por dia. E eu não me importaria se per portante foi tomada. Uma greve que havia
desse a vida, nem consideraria isso um sacrifício excessivo. É esta minha ambi
ção: quero fazer o povo italiano forte, próspero, grande e livre. sido proposta não teve nenhuma repercus
(Discurso ao Senado em 8 de junho de 1923.), (in História do Século XX, são. E Mussolini foi ganhando força.
op. cit. ) Em vez de punir os responsáveis pelo as-
sassinato de Matteotti, Mussolini culpou as
oposições, argumentando que procuravam desestabilizar o regime. As classes pro
prietárias e os setores moderados da sociedade (entre eles a Igreja) voltaram a apoiar
Mussolini. Rapidamente o Duce cassou os partidos e fechou o Congresso. Uma onda
de prisões bloqueou as possibilidades de atuação dos partidos. Só o fascismo era per
Slogans fascistas:
mitido. Antonio Gramsci, por exemplo, foi preso e morreu, depois de alguns anos,
Acredita! Obedece! Luta! vítima dos maus-tratos recebidos nos cárceres da ditadura fascista.
Quem tem aço, tem pão! Em janeiro de 1925, sentindo-se suficientemente forte, Mussolini assumiu a res
Nada jamais foi ganho na História
o
ponsabilidade "histórica e moral" do assassinato de Matteotti.
sem derramamento de sangue!
� É melhor um dia de leão, Em fevereiro de 1929, um impor.tante acordo com a Igreja aumentou o poder de
cn do que cem anos de carneiro! Mussolini: o Tratado de Latrão, que pôs fim à relação tensa entre o Estado italiano
N A guerra é para o homem o que
<! e a Igreja Católica existente desde a Unificação. Por esse tratado, o catolicismo pas
z a maternidade é para a mulher!
Um minuto no campo de batalha sou a ser a religião oficial do Estado,garantindo uma posição privilegiada para a Igre
UJ
vale por uma vida inteira de paz! ja (criação do Estado do Vaticano). A partir daí, Mussolini recebeu apoio integral
O
� da Igreja, garantindo um importante aliado ao fascismo.
cn
No plano econômico, o fascismo proporcionou um avanço na grande indústria em
u
cn detrimento das pequenas e médias empresas, que tendiam a desaparecer, engolidas
<!
L.L.. pelos monopólios. No entanto, apesar da política de proteção e de facilidades conce
-
didas pelo Estado às grandes indústrias, o crescimento só foi possível graças a um
1 62 constante rebaixamento dos ganhos dos operários e um crescente nível de desempre-
go. Para absorver temporariamente o ele
A CARTA DO TRABALHO
vado número de desempregados, o Estado Benito Mussolini
investiu em importantes obras públicas, co Do Estado corporativo e da sua organizaçào: Artigo 1) A Naçào italiana é um or
mo estradas de rodagem, ferrovias e mo ganismo que tem fins, vida e meios de açao superiores, em potência e duração,
aos dos indivíduos isolados ou reagrupados que a compõem. É uma unidade mo
numentos de conteúdo ideológico. ral, política e econômica que se realiza integralmente no Estado Fascista. Artigo
Ao mesmo tempo que se efetivava uma 2) O trabalho, sob todas as suas formas de organizaçào e execução, intelectuais,
economia voltada para a grande indústria, técnicas e manuais é um dever social. Neste sentido e só neste, é tutelado pelo Es
tado. ( . . . ) Artigo 3) A organização sindical ou profissional é livre. Mas só o sindi
o Estado fascista criou um sistema de con cato reconhecido regularmente e submetido ao controle do Estado tem o direito
trole das atividades sindicais. Era o cha de representar legalmente toda categoria de patrões ou de trabalhadores para o
mado Estado corporativo. Os sindicatos qual é constituído; de proteger os seus interesses frente ao Estado e antes as ou
tras associações profissionais; de estipular contratos coletivos de trabalho obri
não eram mais independentes, passando a gatórios para todos os pertencentes à categoria, de impor sua contribuição e de
ser órgãos do Estado. exercer funções delegadas de interesse público relacionadas a eles.(. .. )Artigo 5 )
A grande burguesia industrial apoiava e A Magistratura do trabalho é o órgão através do qual o Estado intervém para re
gular as controvérsias trabalhistas, quer contratos e das outras normas existen
se beneficiava da política econômica e tra tes, quer consistam na determinação de novas condições de trabalho. Artigo 6)
balhista do regime fascista. Esse apoio cres As associações profissionais legalmente reconhecidas asseguram a igualdade ju
ceu ainda mais com a política de expansão rídica entre os patrões e os trabalhadores, mantém a disciplina da produção e do
trabalho e promovem o seu aperfeiçoamento. As corporações constituem a orga
colonial levada a cabo por Mussolini. nizaçào unitária das forças da produção e representam integralmente seus inte
A Itália tinha pretensões de aumentar resses. Em virtude desta representação integral, sendo os interesses da produção
suas colônias na África. As tropas italia interesses nacionais, as corporações são reconhecidas por lei como órgãos de Es
tado. ( . . . ) Artigo 7) O Estado corporativo considera a iniciativa privada no campo
nas, estacionadas nas pequenas colônias da da produção como o instrumento mais eficaz e mais útil no interesse da Nação.
Eritréia e Somália, provocavam constantes Sendo a organização privada da produção uma função de interesse nacional, o
atritos com a Etiópia, único Estado ainda organizador da empresa é responsável pela orientação da produção da frente ao
Estado. ( . . . ) Artigo 9) A intervenção do Estado na produção econômica se verifi
independente que existia na África. Os ita ca unicamente quando falta ou seja insuficiente a iniciativa privada ou quando
lianos já haviam tentado conquistar a Etió estejam em jogo interesses políticos do Estado. Tal intervenção pode assumir a forma
pia no frm do século passado, mas foram e controle, de estímulo ou da gestão direta.
(Tradução de Elis Francesc)
derrotados pelos "indígenas". Agora Mus
solini queria recuperar a honra perdida.
Em outubro de 1935, as tropas italianas No texto acima ficam evidenciados os
princípios que nortearam o Estado cor
invadiram a Etiópia. A Sociedade das Nações protestou contra a atitude imperialista porativista. O objetivo básico era promo
da Itália, mas a Alemanha nazista deu total apoio à invasão. No dia 5 de maio de ver a hartnonização dos interesses confli·
1936, a Etiópia era italiana. No mesmo ano, juntamente com a Alemanha, a Itália tantes do capital e trabalho dentro das
corporações sob a égide do Estado. Os
iniciava a intervenção na Guerra Civil Espanhola. sindicatos que ficaram inteiramente nas
A aliança com a Alemanha formalizou-se com o Pacto de Aço. O mundo se prepa- mãos dos fuscistas expressavam apenas os
rava para a guerra. interesses das classes patronais. Se acres
centarmos a abolição do direito de greve
e a extinção dos comitês de fábrica fica
evidenciado a impotência do operariado
A ascensão do nazismo na Alemanha diante do Estado corporativista.
poso, o Partido " Socialista dos Trabalhadores" não era nem socialista nem dos tra -
pelo próprio Hitler em 1939) . Ainda em 1934, Hitler conseguiu que a região do -
Sarre, que depois da guerra ficou sob influência francesa, fosse reincorporada ao 165
território alemão. A tentativa de apoiar um
Mais de dez milhões de alemães vivem em dois estados vizinhos de nossas fron golpe de Estado na Áustria, com o assas
teiras ( ... ) Não é possível duvidar de uma coisa. A separação política do Reich sinato do ministro austríaco Dollfuss, não
não pode levar à privação dos direitos - isto é, dos direitos gerais da autodeter
surtiu efeito. O plano de Hitler era incor
minação. É intolerável para uma potência mundial saber que existem irmãos de
raça junto dela, que vivem continuamente afligidos pelos mais terríveis sofri porar a Áustria ao mundo nazista, e isso
mentos, por sua simpatia ou desejo de unidade de toda a nação, de seu destino só foi conseguido em 1 938.
e de seu Weltanschaung. Consideramos ser do interesse do Reich alemão prote
O serviço militar obrigatório passou a ser
ger aqueles alemães que não se encontram em condições de manter, fora de
nossas fronteiras, sua liberdade política e espiritual, por meio de seus própri legal em 1935, o que era terminantemente
os esforços. (William Shirer - op. cit ) proibido pelo Tratado de Versalhes. É pre
ciso lembrar que a remilitarização da Ale-
No texto acima Hitler justifica a ne manha aumentava as relações entre o Esta
cessidade do espaço vital e a reunião de do e a indústria bélica, pois as encomendas feitas pelo Exército cresciam e as indústrias
todas as regiões habitadas por alemães
tinham seus lucros aumentados com as vendas.
para a formação da Grande Alemanha.
A remilitarização da região do Reno, a aliança com a Itália na Guerra Civil Espa
nhola e com o Japão no chamado Pacto Anti-Komintern (anti-comunista) só refor
çaram a tendência ao crescimento do clima de guerra na Europa na década de 30.
A incorporação da Áustria pelo Anschluss em março de 1938 e a questão com a
Tchecoslováquia em setembro do mesmo ano só tinham um endereço: a expansão
alemã para o leste. Isso começou com a invasão da Polônia em setembro de 1939:
era o início da II Guerra Mundial.
Exercício
zismo. Só quando a França foi invadida é que se notou o grande erro. e queda do liI Reich.) 1 67
Em 1935, as tropas de Mussolini invadiram a Abissínia (Etiópia), na África, e em
1936 tomaram a capital Adis-Abeba. Vitor Emanuel, rei da Itália, foi proclamado
imperador da Etiópia. Ainda em 1936, Mussolini intervém, juntamente com Hitler,
na Guerra Civil Espanhola ao lado de Franco, após os dois países terem assinado
o Pacto Ítalo-germânico. Em abril de 1939, tropas italianas ocupam a Albânia.
Na época, o expansionismo dos fascistas italianos também não preocupava a Fran
ça e a I'nglaterra, pois a Itália estava fazendo o mesmo que esses países haviam feito
muito tempo atrás: ocupar países africános pela força das armas. Além disso, a Etió
pia era o único país independente da África e isso não interessava aos europeus .
Entre os dias 9 .de abril e 1 0 de junho, a Alemanha conquistou a Noruega. Os no atacar a Polônia sem se preocupar com
a URSS. Além disso, havia uma parte
ruégueses ofereceram feroz resitência ao invasor alemão, mas não conseguiram im secreta em que Hitler abria mão das re
pedir o seu avanço. giôes do Báltico Oriental para Stálin.
ceses fugiram para a Inglaterra, onde foi nicas. As mesmas condições da guerra, que nos abateu por 5 000 aviões e 6 000 <(
carros de combate, podem dar amanhã a vitória por 20 000 carros e 20 000 aviões. o
instaurado o governo da França Livre, sob z
Eu digo interesse superior da Pátria, pois esta guerra não é uma guerra franco·
a liderança do general De Gaulle. alemã, não é uma guerra que uma batalha possa decidir. Esta guerra é uma guerra ::>
�
Com a derrota e a ocupação da França mundial. (Apud: B arres - Charles De Gaulle, in J. J. Arruda - História Moderna
e Contemporânea) <(
pelos nazistas, a Inglaterra encontrava-se a:
agora sozinha contra a Alemanha. Hitler �------� ffi
::>
elaborou um plano para tomar a Inglater (.9
ra: atacá-la com a força aérea até a rendição final. Em agosto de 1 940, começaram
os bombardeios alemães contra as cidades inglesas. Os que mais sofreram foram os <(
-
civis. Londres foi bombardeada dia e noite.
Os alemães não acreditavam na possibilidade de os ingleses conseguirem se defen- 1 69
der. Mas a força aérea britânica (RAF) era muito superior à Luftwaf/e. Com auxílio
de radares mais sofisticados, os ingleses repeliram, em grande parte, os ataques ale
mães. No primeiro grande combate, os alemães perderam trinta aviões, enquanto
os ingleses não perderam nenhum.
A Inglaterra resistia sozinha ao peso da guerra, até que, em 1 94 1 , a Alemanha
invadiu a URSS, abrindo uma nova frente de guerra.
O conflito ampliou-se com a invasão italiana dos Balcãs e do norte da África.
Os italianos iniciaram a invasão da Albânia, mas foram imediatamente derrotados
pelos gregos, que chegaram a tomar uma parte da Albânia.
A Alemanha precisou correr em auxílio de sua aliada. Hitler começou a campa
nha contra os outros países balcânicos, principalmente contra a Iugoslávia, que foi
derrotada. Aliou-se em seguida à Bulgária, à Hungria e à Romênia, fechando o cer
co sobre a URSS.
Na África, os italianos, ainda querendo melhorar sua imagem, atacaram o Egito,
colônia da Inglaterra, mas foram novamente derrotados. Os alemães correram em
auxílio dos italianos e começaram as famosas campanhas no deserto do norte da África,
sob o comando de Rommel.
A guerra chega à
União Soviética
No dia 22 de junho, a Alemanha nazista, com uma força combinada de terra
e ar, invadiu a União Soviética. Começava a Operação Barabarossa, uma das
mais acalentadas aventuras militares de Hitler.
Apesar da existência do Pacto de Não-Agressão entre os dois países, a políti
ca alemã de procurar seu "espaço vital" à Leste, foi posta em prática. O projeto
alemão visava a posse das ricas regiões produtoras de alimentos e matérias-pri
mas . O petróleo das regiões do rio Volga, do mar Negro e Cáspio era, no
entanto, o seu principal objetivo.
O avanço nazista surpreendeu o sistema de defesa soviético . Em poucas
semanas o s exército alemães estavam a caminho de Moscou. Passado o
primeiro momento, e depois de duras derrotas, o Exército Vermelho, conseguiu
se reorganizar e deter o avanço nazista.
No dia 22 de junho de 194 1 , a Alemanha nazista atacou a União Soviética. Ainda assim, os alemãe s , auxiliados
Mal começara a amanhecer quando milhares de canhões alemães abriram fogo por divisões húngaras, búlgaras e ita
através da fronteira soviética. A Força Aérea alemã atacou de surpresa os aero
portos da Força Aérea soviética próximos à fronteira e grupos de assalto alemães lianas, mantive- ram a posse de uma
abriram caminho para as forças da Wehrmacht. v asta área do território s o v i é t i c o .
Hitler e seus generais não tinham a menor dúvida de que a Alemanha vence Leningrado, por exemplo, ficou sitiada
ri a rapidamente o Estado soviético. Haviam feito preparativos p rolongados , con
centrando secretamente um imenso Exército de 3 milhões de homens na fronteira por mais de três anos . S talingrado
russa. Esse Exército não sofrera nenhuma derrota durante dois anos de guerra rompeu o cerco em janeiro de 1 943 , na
e confirmara nos campos de batalha europeus a doutrina da Blitzkrieg. Além famosa batalha que levou o nome da
disso, os alemães tinham um detalhado plano de guerra (Barbarossa), de acordo
com o qual as forças principais do Exército Vermelho seriam destruídas numa cidade.
única e gingantesca operação e o território soviético até o Volga seria ocupado
no outono de 1 94 1 ( . . . ) .
N o quartel-general de Hitler, Wolfsschanze (Covil d o Lobo), instalado e m só
lido prédio de concreto reforçado no meio das florestas da Prússia oriental, rei
n ava uma atmosfera de tri unfo. Num relatório entregue a Hitler no dia 3 de julho,
Ataque no Pacífico: os
o General Halder, chefe do Estado-Maior do Exército concluiu: "As principai s Estados Unidos na Guerra
forças do Exército russo em frente aos rios Dnieper e Dvina foram destrúídas ( ... ),
não será exagero dizer que vencemos a campanha da Rússia em apenas quinze
dias" - essa opinião era compartilhada por Hitler. Chegou a haver planos para
Os EUA, apesar de não terem entrado
retirada de tropas, que seriam concentradas na conquista da Grã-Bretanha e do oficialmente na guerra, apoiavam a Ingla
Extremo Oriente. (Coronel D. M .Proektor - Barbarossa, in , História do Século XX)
terra desde 1 940, abandonando sua políti
ca de isolamento.
Foi em decorrência do choque com o ex
pansionismo japonês que os EUA tornaram a guerra global. Em 1 936, o Japão havia
entrado no Pacto Anti-Komintern e em 1940 aderiu à aliança das potências do Eixo.
<{
Em 1941 iniciava-se a guerra com a China e o subseqüente avanço japonês sobre
-
os territórios da Malásia e Indonésia, ricos em matérias-primas.
1 70 Na manhã de 7 de dezembro de 1 94 1 , as forças combinadas de mar e ar do Impé-
do Eixo
Países ocupados
pelo Eixo
Países neutros
Territórios ocupados
pela URSS
avanço alemáo e
italiano
r-......,
L_j forças soviéticas
- forças aliadas
movimento de
retirada
O mapa acima mostra o avanço das tropas alemãs até 194 1 , ano em governada pelo marechal Pétain , que se aliou aos nazistas.
que Hitler inicia a invasão da União Soviética, chegando assim na sua O alvo seguinte foi a Inglaterra. A partir de agosto de 1940, os alemães <(_
máxima expansão. Em setembro de 1939, Hitler invade a Polônia. A maior iniciaram os bombardeios contra as cidades industriais e portos ingleses 0
pane do território polonês foi ocupada pelos alemães, o restante ficou (Batalha da Inglaterra) .
z
com Stálin, cumprindo os protocolos secretos do Tratado de Não-Agressão No Norte da África, avançavam as tropas italianas e alemãs comanda- ::>
assinado pelos dois países. Os alemães seguem para os países nórdicos: das pelo general Rommel em direção ao Egito, (possessão britãnica), com �
invadem a Dinamarca e depois a Noruega. Os ingleses tentam impedir o propósito de tomar a canal de Suez. A URSS, por sua vez, ocupou a
<(
o abastecimento de aço sueco aos alemães, mas tiveram que se retirar, Estônia, Letônia e Lituânia, antes já havia invadido a Finlândia e obtido a:
incapazes de se contrapor ao avanço alemão.
Em maio de 1 940, Hitler invade a Bélgica e Holanda. Tropas inglesas,
concessões territoriais.
Hitler voltou-se em seguida para os países Bálticos em auxliio às tro-
ffi
::>
francesas e as forças de resitência dos países ocupados são encurraladas pas italianas que haviam sido derrotadas pelos ingleses na Grécia. Em (!)
pelos alemães em Dunquerque. Com auxilio da armada britânica as tro março de 194 1 , as tropas alemãs entraram em Sofia, capital da Bulgária
pas foram retiradas diante da ameaça de massacre total pelos alemães (Re· e depois invadiram a Iugoslávia e a Grécia.
<(
tirada de Dunquerque) . Em maio de 1941 os alemães haviam esmagado toda a resitência euro- -
Em junho os alemães chegam a Paris. A França foi dividida em duas péia. Restava apenas a Inglaterra. Em junho de 1 94 1 , a guerra entra na
panes: uma ocupada pelos alemães e outra, ao sul, com capital em Vichy, sua terceira fase: Hitler inicia o ataque contra a União Soviética. 171
rio japonês atacaram de surpresa a base mi
Na tarde de domingo, de 7 de Dezembro de 1 9 4 1 , um ataque de surpresa de litar americana de Pearl Harbour, no Ha
105 bombardeiros japoneses estraçalhou navios e destruiu a maior parte dos avires
vaí, e continuaram avançando pelo Pacífi
pertencentes à Frota Americana do Pacífico, em Pearl Harbour. "Ontem, 7 de
Dezembro de 1941 - data que levará para sempre a mancha da infâmia - os co. A frota americana sofreu graves perdas.
Estados Unidos da América foram súbita e deliberadamente atacados por forças EUA e Grã-Bretanha declararam guerra ao
navais e aéreas do Império do Japão", foi o que disse o presidente Roosevelt ao Japão.
Congresso, no dia seguinte. "Peço ao Congresso que declare, por haver um ata
que sem provocação, e miseravelmente feito pelo Japão, um estado de guerra
O conflito se tomara mundial. De uma
entre os Estados Unidos, e o Império Japonês." Com apenas um voto em contrá forma ou de outra, quase todos os países
rio, o Congresso declarou guerra ao Japão. entraram na guerra. Muitos diretamente,
Quatro dias mais tarde, em 1 1 de Dezembro de 1 94 1 , a Alemanha e a Itália
declararam guerra aos Estados Unidos. (Leo Huberman - Nós, o PllVo)
como o Brasil, que declarou guerra ao Ei
xo em 1942. Outros indiretamente, forne-
cendo matéria-prima para os americanos.
Esse fato ajudou os EUA na luta contra as
potências do Eixo: quatro dias depois de iniciada a guerra entre americanos e japo
neses, a Alemanha e a Itália declararam guerra aos EUA.
Até maio de 1942, o Japão conseguiu conquistar uma área de mais de 4 milhões
de km2 e uma população de 1 50 milhões de pessoas. As forças japonesas tomaram
a Malásia, as Filipinas, Hong Kong, a Birmânia e incontáveis pequenas ilhas no ocea
no Pacífico. Esse fato valeu ao Japão o fornecimento de matéria-prima e mão-de
obra necessárias para o prosseguimento da guerra. Os japoneses tentaram também
ampliar o domínio sobre a China, mas o Exército de Libertação, comandado por
Mao Tsé-tung, resistiu tenazmente.
Somente a partir de maio de 1942 os EUA começaram a recuperar os terrenos
perdidos.
A URSS havia se aliado aos ingleses e americanos na luta contra a Alemanha na
zista. Nessas condições, pedia insistentemente que abrissem mais uma frente de ba
talha no Ocidente para aliviar a frente oriental. Mas isso só ocorreria em 1944.
Em vez de uma grande invasão na frente ocidental, os aliados preferiram começar
as operações invadindo a Itália.
Os exércitos americanos e ingleses tiveram que tomar, primeiramente, grande par
te do norte da África, que ainda estava nas mãos dos alemães e italianos, para servir
de ·base quando fossem invadir a Itália.
Em julho de 1943, as tropas dos aliados desembarcaram na Sicília e começaram
um avanço em direção a Roma, onde havia se organizado um grande movimento
de resistência contra as forças nazistas e fascistas. Mussolini foi deposto e substituí
do por um general chamado Badoglio, que declarou a rendição incondicional. Ao
mesmo tempo, Mussolini, auxiliado pelos alemães, tentou organizar um governo fas
cista no norte da Itália, mas, no início de 1945, caiu prisioneiro de guerrilheiros co
munistas e foi executado.
O governo soviético queria que seus aliados abrissem uma frente mais importante
na parte ocidental. Assim, Stálin, chefe do governo soviético, Churchill, chefe do
governo inglês, e Roosevelt, presidente dos EUA, reuniram-se em Teerã, em 1944,
onde acertaram a abertura da frente, no norte da França.
1 74
A SITUAÇA O
/IV
D O MUNDO DEPOIS
DA GUERRA
No fim da guerra, o panorama da Europa Ocidental não podia ser mais desolador: os Os governos podiam, entretanto,
países se encontravam arrasados por seis anos de guerra, fome e desemprego. A agita corrigir a distribuição desigual
das necessidades, por meio d e
ção social era intensa. Além disso, a maioria desses países, endividada pelos gastos de
todos o s dispositivos do "Estado
guerra, não dispunha de capitais necessários à sua reconstrução. Nessas condições cres do Bem-Estar": através dos
cia um clima de tensão e de agitação social, colocando em risco a sobrevivência do pró subsídios de alimentos, como na
e Alemanha. Essa verdadeira injeção de dólares nas moribundas economias da Europa devido ao fato de que uma parte
tão grande de seus alimentos
Ocidental não tardou em apresentar resultados: só nos dois primeiros anos de aplicação essenciais e de suas matérias
do plano, a economia européia cresceu em média 25%. primas vinha dos Estados Unidos
Em todos os países europeus, a reconstrução econômica beneficiou prioritariamente e do Canadá, os países da área do
<(
esterlino encontraram-se em face CC
as grandes companhias monopolistas, além de servir como ponte para a penetração dos de um grande déficit de dólares e a:
UJ
capitais norte-americanos no parque industrial europeu. de um balanço de pagamentos :::::>
Depois da guerra, os europeus tomaram consciência da fraqueza relativa de sua eco desfavoráveL (A área do esterlino <D
nomia frente ao poderio representado pelo capital norte-americano. A reconstrução
incluía toda a Comunidade, <(
exceto o Canadá, e compreendia o
econômica, feita com o auxílio norte-americano, deixava esses países na incômoda cerca de 540 milhões de pessoas.) (f)
Também a França e a Itália
situação de dependência, que se tomava mais nítida com a desagregação dos velhos o
encontraram dificuldade, durante 0..
impérios coloniais. UJ
toda a década de 1 950, em evitar o
A solução para esse impasse estava numa integração econômica a nível continental um balanço de pagamentos
o
desfavoráveL Os países da
que criasse os recursos fmanceiros necessários para prosseguir com o crescimento eco o
Europa, em grau maior do que os z
nômico de cada país. de qualquer outro continente, :::::>
A integração econômica européia, facilitada pelo Plano Marshall, incentivou, até dependiam, para sua 2
prosperidade, do comércio o
certo ponto, a formação da BENELUX: união alfandegária entre Bélgica, Holanda .e
internacional. Dessa maneira, a o
Luxemburgo; Em 1 952, foi criada a Comunidade Européia do Carvão e do Aç� desorganização do referido o
(CECA), com a participação da França e da Alemanha, que procuravam racionalizar a comércio pela guerra, e pela ! <(
partilha que se lhe seguiu, feriu a U·
exploração de seus recursos. O êxito econômico alcançado por esses organismos esti <(
Europa com especial dureza.
mulou a formação, emJ257, .da. Cow.u.n.idad�. .E:c.:Qn,9mica Européia (CEE), mais :::::>
Contribuiu para a contração 1-
conhecida como Mercado Comum Europeu (MCE). relativa da posição da Europa no (f)
mundo. Aqui também houve um
Inicialmente assinaram o tratado do MCE a França, a Alemenha Ocidental e os paí
(David
deslocamento de poder.
ses-membros da B ENELUX. Posteriormente foram admitidos outros países. O objeF Thompson - Pequena história do
-
tivo principal do MCE era abolir todas as tarifas internas que pudessem impedir mundo contemporâneo) 1 75
a livre circulação de mercadorias entre os
O objetivo d o Plano Marshall era reconstruir a Europa. O programa envolveria
dezesseis países da Europa e mais a Alemanha Ocidental. Foram esboçados quatro
países a ele associados.
objetivos principais: um aumento na produtividade agrícola e industrial. que atingis O cenário político europeu ganhou defi
se pelo menos os níveis do pré-guerra; alcançar a estabilidade financeira; a coopera nitivamente um novo personagem, repre
ção econômica entre os países participantes e uma solução para o problema do défi
cit de dólares por meio do aumento das exportações. Os membros prometeram coo
sentado pelos principais partidos comunis
peração, redução das tarifas e, por fim, a conversibilidade da moeda. Paralelamente tas, que tiveram sua legalidade respaldada
ao trabalho da CEEC havia grupos de estudo nos Estados Unidos traçando planos pela participação dos comunistas nos
para fazer frente à emergência. O Conselho de Consultores E conômicos fez análises
detalhadas da situação geral; a Comissão Presidencial para Ajuda Estrangeira. sob a
movimentos de resistência contra a ocupa
direção do secretário de Comércio, Averell Harriman, explorou as ramificações de um ção nazifacista. Muitos desses partidos
amplo programa de auxilio; e uma terceira comissão, sob a direção do secretário do evoluíram, transformando-se em poderosos
Interior, Julius Krug, estudou a capacidade dos Estados Unidos, em termos de recur
sos, para manter um vasto programa de ajuda econômica. Nos relatórios apresenta
partidos de massa, que contavam com
dos pelas comissões, no outono de 1 947, todos apoiavam a concepção presente no expressivo apoio eleitoral, como foi o caso
Plano Marshall e baseavam seus argumentos no fato de quEiJ, por diversas maneiras, da Itália e da França.
os interesses nacionais americanos seriam servidos por esse programa. Todos con
cordavam em que a segurança dos Estados Unidos estaria em risco se a Europa capi
Na Itália, a cena política do pós-guerra
talista entrasse em colapso. Segundo o Conselho de Consultores Econômicos, caso foi marcada pela disputa entre a Demo
não houvesse um amplo programa de ajuda, as exportações americanas cairiam rapi cracia Cristã e o Partido Comunista Italia
damente, trazendo problemas para a economia interna. A Comissãó Harriman calcu
no (PCI), os dois maiores partidos políti
lou que seriam necessários de 12 bilhões a 17 bilhões de dólares para a recuperação
européia, e que tal ajuda não seria caridade, mas um investimento no interesse públi cos. Na França, o Partido Comunista Fran
co. Todos eles definiram os interesses nacionais americanos, enfatizando os fatores cês (PCF) e o Partido Socialista dividiam
econômico, político, estratégico e "humanitário". Um tema constante era o de que os
entre si os votos da maior parte da esquer
Estados Unidos não deveriam dirigir as operações, mas sim cooperar num programa
inspirado pelos europeus. da. Em 198 1 , o Partido Socialista elegeu
(D. K. Adams in Histórüz do Século XX, op. cit.) François Miterrand presidente da França,
que em 1 988 foi reeleito.
Na Inglaterra, a luta política se dava entre
O Plano Marshall, ou Programa de dois grandes partidos: o Partido Conservador, que representava os interesses do grande
Recuperação Européia, foi sugerido
capital e de parte da classe média inglesa, e o Partido Trabalhista, que defendia um pro
pela primeira vez por George Marshall,
secretário de estado norte-americano. grama reformista, com o apoio dos sindicatos e da numerosa classe trabalhadora.
No texto acima ficam evidentes os inte Nesses países, o impulso da participação popular, o crescimento do poder de barga
resses americanos que na realidade
nha dos poderosos sindicatos trabalhistas e a pressão dos partidos de oposição levaram
eram uma tentativa de conter a expansão
soviética. os governos a adotar um sistema de segurança social (socialização da medicina, pen
sões para desempregados, salário-família etc.); capaz de garantir um padrão de vida
mínimo à população, eliminando os problemas relacionados com a miséria. Por outro
lado, a expansão econômica vivida por esses países nas décadas de 50 e 60 combinada
com um poderoso movimento sindical, permitiu vitórias importantes para os assalaria
dos, que conquistaram um alto padrão de vida.
Outra éáfãctei'Ísticã era a: crescente importância econômica que o Estado foi adqui
rindó. A intervenção direta do Estado na economia, muitas vezes favorecendo certas
<{
0: companhias através de créditos especiais, isenção de impostos etc., outras vezes atra
0:
UJ vés de empresas sob controle estatal, um fenômeno então recente na Europa, que des
::)
(.9 pertou a atenção de muitos estudiosos. A tendência de intervensionismo estatal sofrefâ,
<{ como veremos, mudanças nos anos 80 e 90.
a
(f)
o
c..
w
a
o Os problemas da Europa Meridional
a
z
::)
� Talvez a disparidade mais gritante no quadro geral da Europa Ocidental era exata
o mente aquela representada pelos países do sul da Europa, especialmente a Grécia,
a
Portugal e, até certo ponto, a Espanha.
o
I<{ Em Portugal, o Estado ditatorial salazarista só encontrou seu fim em 1 974, com a cha
U· mada Revolução dos Cravos, que contou com a decisiva participação dos quadros da
<{
::) média oficialidade do Exército português; exasperados por quase duas décadas de guer- .••
l
C/) ra colonial na África.
Do ponto de vista econômico, a estrutura agrária de Portugal, marcada pela presença
- de grandes latifúndios mal-.adlllinistrados e improdutivos, colocou sérios obstáculds ao
176 des envolv1me!lto industrial desse país. Essa situação foi ainda agravada pela falta de
matéria-prima e de recursos financeiros
Lisboa, esta noite, está povoada de sombras.
capazes de financiar o desenvolvimento No entanto, esta noite de 24 para 25 de abril, assemelha-se a tantas outras.
português. Viaturas cruzam as artérias da capital; os noctívagos bebem o último copo. Nesta
primavera, há um pouco de boa disposição espalhada pela antiga e bela cidade.
Na Espanha, a morte do velho ditador
Por vezes adormece-se. A vida é vulgar.
Francisco Franco, em 1 975, precipitou a Alguns homens, no entanto, esperam pelo invulgar, pelo extraordinário. De
decomposição da ditadura franquista. O omlha colada aos ieceptoms de rádio, escutam a Rádio Renascença.
Assemelhamse aos resistentes que, na sombra, escutavam a B.B.C. durante a últi
novo rei, Juan Carlos I, no poder desde
ma guerra; que esperavam uma mensagem, um código, um sinal para uma açao
1975, optou pelas reformas democratizantes de que talvez dependesse o resultado da guerra.
e pela modernização do Estado, que respon Meia-noite e meia. Algo se diz semelhante a uma esperança. Grândola, vila
regime. das Forças Armadas prosseguirá na sua aç&o libertadora e pede à população que
se mantenha calma e se recolha a suas residências. Viva Portugal! " Chegam ainda
A eleição em 1 982 de Felipe Gonzáles, à Rádio Clube dois outros comunicados. Dirigem-se respectivamente aos homens
líder do Partido Socialista Operário Espa da Guarda Nacional Republicana, da Polícia de Segurança Pública, da Legião
Portuguesa e da D.G.S., as forças policiais e militarizadas de que falavam os pri
nhol (PSOE), aparecia como uma saída
meiros comunicados. Sao ameaçados de resposta implacável no caso de intervi
pacífica para a situação do povo espanhol. rem. (Pierre Audibert e Daniel Brignon - Portugal - Os novos cen turiões)
A Grécia enfrentou, na década de 60, uma
das ditaduras mais corruptas e violentas da
história européia mais recente. Jnsfal.Irªflo em 1 967, o "regime dos coronéis" só foi çles No dia 24 de abril de 1 974 é dada a
senha pela Rádio Renascença de Lisboa
truído em 1974, quando CaranÍanlls, hcierando a direita liberal, subiu ao poder e restau
para o início da Revolta dos Cravos. No
rou as instituições democráticas . dia seguinte, Portugal entrava numa
Apesar disso, a democracia grega permaneceu ainda instável, ameaçada de um lado nova era após mais de meio século de
ditadura. Os autores do texto são dois
pelo Exército ainda não depurado de suas pretensões golpistas e, de outro, pelas tensões
jornalistas franceses que se encontravam
sociais que se agravaram com as dificuldades geradas pela economia agrícola do país. na ocasião acompanhando a revolução.
A situação desse países mudará substancialmente depois do ingresso na Comunidade
Econômica Européia nos anos 80 e 90.
<(
a:
a:
O problema das duas Alemanhas LU
:::>
{!)
As premissas que orientaram o tratamento que os aliados dispt;nsaram à Alemanha de
<(
Hitler, após a vitória, foram decididas na Conferência de Yal� i:rm fevereiro de 1 94� e, Cl
posteriormente, reafirmadas na Conferência d� fcj�cfl(tfií;,: ��julho do mesmo ano. •• (f)
Nessas conferências, as três potências aliadas (Inglaterra, EUA e URSS) se comprome o
a..
teram a dotar a Alemanha de uma constituição democrática no mais breve intervalo de LU
Cl
tempo possível; ao mesmo tempo se prócédéda ao desarmamento do país. o
No entanto, divergências entre os antigos aliados mudaram os planos inicias. Na parte Cl
z
ocupada pelos exércitos da França, Inglaterra e Estados Unidos foi criada a República :::>
Federal Alemã, dentro dos moldes liberais-democráticos-capitalistas. Em 1 949, o novo :2!
governo alemão promulgou a "lei fundamental de Bonn", que viria a ser a primeira o
Cl
Constituição provisória da República Federal Alemã (RFA). Ao mesmo tempo, uma série o
de reformas econômicas e a ajuda norte-americana permitiam a reconstrução da economia. 1<(
u
A URSS, por sua vez, passou a atuar no sentido de favorecer uma solução socialista para <(
:::>
sua zona de ocupação. Em 1949, respondendo à criação da RFA, no lado ocidental, o go l
verno soviético pressionou a criação de uma República Socialista Alemã. Em outubro C/)
desse ano, o Congresso do Povo Alemão, eleito em maio com poderes legislativos,
-
proclamou a Constituição da República Democrática Alemã (RDA), na porção oriental da
antiga Alemanha. 1 77
A cidade de Berlim, situada na Alemanha Oriental, acabaria sendo dividida e m duas:
uma porção c apitalista e uma socialista, separadas por um muro que só foi derrubado
em novembro de 1 989, quando começará, como veremos, a reunificação alemã.
As Repúblicas Socialistas do
leste europeu
Os países do leste europeu, que até o final dos anos 80 faziam parte do bloco
soviético, se tran sformaram em sociali stas de diferentes forma s . A Pol ô n i a , a
Tchecoslováquia e a Bulgária, organizaram, durante a invasão da Alemanha Nazista,
movimentos clandestinos guerrilheiros para combater os alemães.
De modo geral, esses grupos clandestinos eram conduzidos pelos partidos comu
nistas, auxiliados pela União Soviética. Na medida em que o Exército Vermelho ia
avançando e libertando esses países do domínio nazista, formavam-se governos pro
visórios. Os novos governos eram compostos pelas diferentes forças políticas que resis
tiram ao Nazismo.
Na Iugoslávia o processo foi diferente. Seguindo um caminho próprio, os guerril
heiros, dirigidos pelo lendário Marechal Tito, derrotaram os nazistas. Combateram os
guerrilheiros chetniks (também iugoslavos), liderados por Mikhailovich, que em certos
momentos apoiavam os nazistas. Assim, em 3 1 de janeiro de 1 946, a Iugoslávia trans
formou - s e em uma repúblic a liderada por Tito . O sistema de confederação fia ·
Sob o título "Duas mil palavras··, seten A Hungria e a Romênia tiveram situação diversa. Esse países haviam sido aliados da
ta destacadas personalidades tchecos Alemanha Nazista. Por isso, quando os exércitos sovi�tic()s derrotaram os alemães, )iún
lovacas divulgaram um documento que
exerceu influência decisiva na crise que
garos e romenos foram tratados �oi'ri�T�ill1ig�� �j'()��n{ ��b�gtídÓ� � �rri ii�t)rüso controle.
abalou aquele país da Europa Central. Na Romênia. por exemplo. os soviéticos impuseram um governo de frente popular,
destituindo a liderança pró-ocidente apoiada
pela Inglaterra e pelos Estados Unidos. De
A vida de nossa nação, antes ameaçada pela guerra, conheceu em seguida um perío
do sombrio pelos acontecimentos que puseram em perigo sua saúde espiritual e seu
modo geral, a União Soviética concordava
próprio caráter. . com governos de coalizão, resultado de
Foi com um sentimento de esperança que a maioria da nação aceitou o programa do
acordos não muito claros entre os antigos
socialismo. Mas as alavancas de comando não cairam em boas mãos. Oue faltasse
<( experiência aos estadistas, conhecimentos práticos ou cultura filosófica, isto não teria aliados (Inglaterra e Estados Unidos) . Na
a: tido maior importância se, ao menos , eles tivessem sido capazes de escutar as opiniões
a: medida em que cresciam as desconfianças
w dos demais e se eles se deixassem substituir por outros mais capazes.
::::> O Partido Comunista que, depois da guerra, contava com a confiança do povo, gra entre a liderança soviética e os ocidentais, o
t9 dualmente substituiu essa confiança pelos postos até ocupá-los todos com exclusivida quadro político dos países do chamado leste
<( de. Devemos dizê-lo e os que, entre nós, são comunistas sabem que é verdade. A sua
Cl decepção diante dos resultados é tão grande como a decepção dos demais. europeu tendia a ser determinado pela URSS.
C/) A linha incorreta dos dirigentes transformou o partido, que era um partido político e A vitória do Exército Vermelho sobre os
o um agrupamento ideológico, em uma organização do poder que atraiu os egoístas ávi
0.. dos de domínio, os covardes hábeis e as pessoas de má conseqüência. O afluxo desses
nazistas dava condições morais para que a
w
Cl elementos ao partido afetou sua natureza e conduta. URSS destituísse governos que fossem
Sua organização interna não permitia às pessoas honestas conquistar influência sem
o pró-ocidente. Tanto a Inglaterra quanto os
o incidentes escandalosos nem modificar o partido para mantê-lo constantemente em
z harmonia com o mundo moderno. Muitos comunistas combateram essa decadência, Estados Unidos procuravam, por todos os
::::> mas não conseguiram impedir o que aconteceu.
:i!! meios, impedir o aumento da influência
A situação no interior do Partido Comunista serviu de modelo e provocou uma situa
o ção similar no Estado. O fato de o Partido Comunista estar ligado ao Estado levou-o a russa na região. A Guerra Fria começava a
o perder as vantagens do distanciamento do poder executivo. Ele não tinha mais as críti
tomar corpo.
o cas das atividades do Estado e das organizações econômicas. O Congresso esqueceu os
t<( procedimentos parlamentares, o Governo esqueceu como se governa, os dirigentes, A cada investida do Ocidente, a União
U· como se dirige. As eleições não tinham mais significação e as leis perderam seu valor.
<( Soviética ajudava os comunistas a estab
::::> Não podíamos mais contar com nossos representantes em nenhuma organização. Se
podíamos neles depositar nossa confiança, não lhes pod.iarnos pedir o que quer que elecer governos de maioria na Europa
t:
(/) fosse porque eles nada podiam fazer. Pior ainda, não podíamos mais ter confiança uns Oriental. Formavam-se assim os chamados
nos outros. A honra pessoal e coletiva declinava. (Revista civilização .bra.sileirà cader
países s atélites da esfera de influência
-
- no especial n' 3)
soviética.
178
Evolução econômica dos p aíses
do Leste europ eu
Nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial , os países da Europa Oriental, ao con- .•• Houve fortes reações contra a socializa
trário cl() que Írluitós observadores . previiílin , ãpresentaram crescimento econômico. ção forçada da Hungria. Em 1 956
explodiu uma revolta contra a presença
Em especial, o desenvolvimento indl1sifialsuperou todas as expectativas: Partindo de
soviética. No texto abaixo, o ponto de
uma situação de atraso crônico, com parques industriais obsoletos e pouco desenvolvi vista da URSS sobre os acontecimentos:
dos, esses países souberam imprimir um ritmo particularmente intenso ao processo de
industrialização de suas economias. A planificação da economia nacional e o esforço
concentrado no desenvolvimento de uma sólida indústria de base foram as alavancas do Em 23 de outubro de 1956,
espetacular crescimento industrial registrado nos últimos anos. começaram em Budapeste
demonstrações de rua. Os
Entretanto, esse desenvolvimento não deixou de custar alguns sacrifícios à população
operários e os estudantes exigiam
local, especialmente no que se referia à ofertade bens de consumo . .As indústrias pesa a correção dos erros cometidos.
das desses países receberam relativamente muito mais investimentos que as indústrias Esse movimento dos trabalhadores
foi aproveitado pelos conspiradores
de consumo durável (automóveis, eletrodomésticos etc.). Essa situação tendeu a se
para iniciar uma insurreição
inverter a partir da década de 70. contra-revolucionária. A revolta foi
Na agricultura, os resultados da administração centralizada foram menos brilhantes. preparada cuidadosamente pela
reação internacional, pois, com
A reforma agrária, realizada após a expulsão dos nazistas, distribuiu a terra dos gran
de terra, o
bastante rapidez , foram
des latifundiários, criando uma numerosa classe de pequenos proprietários transportados, da Alemanha
que dificultou a exploração racional do solg. Alguns países tentaram resolver esse pro Ocidental, bandos de terroristas e
armas. Os amotinados
blema através da nacionalização da terra; a adoção dessa política causou grandes atri
apoderaram-se das posições-chave,
tos entre os camponeses. Outros países buscaram a solução em cooperativas agrícolas, em Budapeste e em outras
(Conselho de Mútua Ajuda Econômica). Esse organismo desempenha atualmente um enforcaram mais de duas mil e
setecentas pessoas; vinte mil
papel semelhante ao do MCE da Europa Ocidental.
homens foram feridos e mutilados.
Com exceção da Albânia e da Iugoslávia, praticamente todos os outros países da O governo do revisionista lmre
Europa Oriental participam do COMECON, inclusive a URSS. A Iugoslávia mantém Nagy, formado durante os dias da
revolta, declarou, de maneira
contatos comerciais tanto com o MCE como com o COMECON, porém não participa traidora, que a Hungria se afastava
de nenhum deles como país-membro. A Albânia afastou-se da esfera de influência da organização do acordo de
soviética a partir de 1 959, quando tiveram início as disputas sino-soviéticas. Desde Varsóvia. Entretanto, os elementos
avançados da classe operária não
então, até a morte de Mao Tsé-Tung, a Albânia manteve estreitos contatos políticos e
permitiam que a causa do
econômicos com a China. socialismo sucumbisse na Hungria.
(Revonenkov História dos
-
As alianças militares
Durante a li Guerra Mundial, a URSS lutou ao lado das potências capitalistas contra
o nazifascismo. Depois da guerra, entretanto, essa aliança se tornou tensa. As descon
fianças dos aliados do Ocidente já se faziam presentes quando a guerra se aproximava
do fim, pois a URSS já havia tomado quase todo o Leste europeu.
A Conferência de Potsdam realizou-se em julho de 1945, quando os países da área
capitalista, sob a liderança dos EUA, deixaram claras suas preocupações com a ascen
são dos comunistas nos países do Leste. Harry Truman, presidente norte-americano,
passou a intervir nos assuntos internos desses países, exigindo eleições livres. A partir
daí, a posição da URSS, sob a liderança de Stálin, foi se tomando mais rígida, pois este
temia o renascimento militar da Alemanha, com o apoio do Ocidente.
Faltava pouco para que se desse um rompimento efetivo entre os Estados Unidos e a
União Soviética. O conflito diplomático aumentava dia a dia. Finalmente, em 1 2 de
abril de 1 947, o presidente Truman tomou pública a doutrina que ficou conhecida pelo A pressão da União Soviética sobre a
seu nome. Era o rompimento efetivo entre os antigos aliados. Grécia, a Turquia e o Irã levou o presi
dente dos Estados Unidos a formular a
.Adoutrina .IruiiJ.an.tinha por objetivo específico a contenção do comunismo, onde ele • Doutrina Truman, com a finalidade de
pudesse se está&efecei': :(rártindo desse princípio, os Estados Unidos coméçaram a enviáf conter a expansão soviética.
<X:
a:
armas para os goverhos da GréCia e. dá a:
.
Turquiá, pâra
r�pririi f fth fu� � gd
Óvi nt: s erri� A existência legítima do Estado grego é ameaçada hoje em dia pelas atividades ter
w
:::::>
lheiros C()1Ulll1iStZ!�. ql1e já dominavam roristas de vários milhares de homens armados, orientados pelos comunistas e que (!)
grai!Cie p'm:te·aesses paísés. desafiam a autoridade governamental em diversas regiões, particularmente ao
longo das fronteiras do norte. Uma comissão indicada pelo Conselho de Segurança
<X:
Cl
A partir desse momento começou a se das Nações Unidas está presentemente investigando as condições de agitação no (/)
norte da Grécia, de um lado, e de outro na Albânia, Bulgária e Iugoslávia ( . . . ). O país
popularizar, na imprensa comprometida o
vizinho da Grécia, a Turquia, também requer a nossa atenção ( . . . ). Para assegurar o (L
com os países capitalistas, o termo "cortina desenvolvimento pacífico das nações, livre da coerção, os Estados Unidos tomaram w
Cl
de ferro", reinventado por Winston Chur uma posição de liderança ao criarem o organismo das Nações Unidas. A esse órgão
cabe possibilitar a continuidade da liberdade e da independência para todos os o
chill em março de 1 946. Cl
seus membros. Não podemos alcançar, no entanto, os nossos objetivos, a menos
Era a guerra fria, conflito não-declarado z
que sejamos capazes de auxiliar um povo livre a manter suas instituições livres e :::::>
entre a URSS e os EUA, que não se sua integridade nacional contra movimentos agressivos, que buscam impor-lhe �
regimes totalitários. Isso não é mais do que um reconhecimento franco de que os
enfrentavam diretamente, mas apoiavam, o
regimes totalitários impostos a povos livres, por agressão direta ou indireta, minam Cl
cada um a seu favor, forças em conflito em os fundamentos da paz internacional e, assim, a segurança dos Estados Unidos ( . . . ).
o
vários pontos do mundo. Acredito que a nossa ajuda deve processar-se primariamente através de auxílio !<X:
O fato de os Estados Unidos terem explo econômico e financeiro, que é essencial para a estabilidade econômica e a ordena U·
ção dos processos políticos ( . . . ). Os Estados Unidos, ao ajudarem nações livres e <X:
dido as bombas atômicas sobre o Japão, em independentes a defender sua liberdade, estarão concretizando princípios da Carta
:::::>
l
agosto de 1 945, demonstrava o poder com das Nações Unidas (. .. ). As sementes de regimes autoritários são alimentadas pela
C/)
miséria e pela necessidade. Elas brotam e se desenvolvem no solo daninho da
essa poderosa arma principalmente dos
pobreza e da discórdia. (R. B. Morris Doutrina Truman, in. J. J. Arruda
norte-americanos, capazes de ameaçar a
- -
-
História Modema e Con temporânea.)
União Soviética. 181
Em 1 949, os EUA fizeram uma aliança militar com os países europeus para com
bater a influência da URSS, o que aumentou o clima de tensão entre as duas potências.
Estava nascendo a famosa OfAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ,
que completava, no campo militar, aquilo que no campo econômico havia sido feito
pelo plano Marshall. Para efetivar os objetivos militares da OfAN criou-se um exército
conjunto dos seguintes países: EUA, Alemanha Ocidental, Bélgica, Canadá, Dina
marca, França (que deixou a OfAN em 1966), Grã-Bretanha, Grécia, Islândia, Ho
landa, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Turquia. A sede da OfAN fica em
Bruxelas, na Bélgica, onde o comando é feito por um Estado Maior que dirige as
operações de cinco grupos regionais.
ças armadas.
Do lado socialista ocorrem os mesmos
pactos. Em 1947, é criado o COMECON
(Conselho de Mútua Ajuda Econômica)
visando coordenar e planejar as econo
mias dos países socialistas europeus; a
aliança militar desses países foi efetiva
da com a criação do Pacto de Varsóvia,
em 1955.
<t:
a:
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<t:
o
(/)
o
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w
D Palses membros da OTAN • Palses membros do Pacto de Varsóvia
.
D Países neutros
o
o
o
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o
O Pacto de Varsóvia
o
o
l<t: Em 1955, a URSS organizou um pacto de defesa com os demais países socialistas
U· da Europa (Romênia, Tchecoslováquia, Bulgária, Polônia, Hungria e Albânia) -
<t:
::> o Pacto de Varsóvia, assinado na capital polonesa. Um pouco mais tarde, a Repúbli
f
(/) ca Democrática Alemã aderiu ao tratado, que tinha por objetivo a ajuda mútua em
<t: caso de agressões armadas e consultas sobre problemas políticos e de segurança. No
- final da década de 80, as reformas democráticas em todos esses países levaram à ex
1 82 tinção do pacto ( 199 1 ) .
A diminuição das tensões
URSS: as reformas de Gorbatchev.
O clima de tensão entre as duas grandes potências chegou diversas vezes à beira A reabilitação do físico Andrei
Sakharov, a libertação de mais de
do conflito armado. Vários aliados dos EUA, que faziam parte da OTAN, passaram
uma centena de dissidentes, a
a tomar atitudes mais independentes. A Inglaterra, por exemplo, reconheceu o go· punição a diversos altos
verno revolucionário instalado na China, a partir de 1 950. Um novo acontecimen funcionários acusados de
corrupção e abuso de poder, a
to levou os Estados Unidos a rever sua posição intransigente em relação à União
retomada de um movimento de
S oviética em 1 949, os soviéticos explodiram sua primeira bomba atômic �; Esse desestalinização do país que tinha
fato rompeu o monopólio que os EUA vinham exercendo até então sobre as armas estado interrompido durante 20
anos, mudanças fundamentais nas
atômicas. A partir desse momento, qualquer tentativa de conflito passaria, inevi·
relações sociais e econômicas, a
tavelmente, pelo perigo de uma guerra nuclear, significando uma ameaça para toda revitalização das atividades
a humanidade. culturais com a atenuação dos
mecanismos repressivos de
Ao mesmo tempo, a vitória da Revolução Chinesa e as constantes derrotas dos
censura, até mesmo a reformulação
EUA na guerra da Coréia foram fatores que desencorajaram a política belicista dos do tradicional sistema de eleições
norte-americanos. Do lado socialista, a morte de Stálin contribuiu paulatinamente controlado ferreamente pelo
partido: num espaço de tempo
para a melhoria das relações com o Ocidente, principalmente com a ascensão de
muito curto, a URSS experimentou
Nikita Krushev ao cargo de Secretário Geral do Partido Comunista da URS S . reformas absolutamente inéditas
No início dos anos 8 0 , o s discursos ameaçadores do então presidente dos EUA, em 70 anos de história. O processo
de mudanças radicais, que afeta
Ronald Reagan, contra a política independente dos países da América Central e a
todos os setores da vida soviética,
ameaça de aumentar o número de mísseis nucleares (Pershing-2) na Europa trou· e que tem sido conhecido com o
xeram de volta uma certa possibilidade de guerra. Esse clima de tensão motivou a nome de glasnost (transparência),
iniciou.:'ie a 1 1 /03/1 985 quandoi
atuação dos pacifistas da Europa, que desde o início da década de 70 pediam o
a�&t a rirmte ae Kóristáríúri •·F •
desarmamento do mundo para que a humanidade pudesse viver em paz. Tch�me!JJ<o ,,ÇJ. �'Atg{i.�\i $éi2f�tário
A perestroika de Gorbatchev, no entanto, colocou uma pá de cal na guerra fria \fe�iÍÍ�� Í?Ç0S fÇli oqypaéío pÓÍ:
Mikhail Gorbatchev. A adoção de
que ameaçava reaparecer e alterou as relações entre as duas superpotências a par
medidas de abertura do regime,
tir de 1 98 5 . entretanto, não ocorreu
imediatamente: antes disso,
Exercício Gorbatchev preocupou-se em
consolidara séu poder afastando
da cúpula dirigente, membros da
(UFPR) A Segunda Guerra Mundial gerou uma nova situação internacional, sej a pela velha-guarda brejneviana,
definição de elementos novos ou pela aceleração de processos que vinham se manifes reticentes á idéia de mudanças nas
estruturas tradicionais do Estado
tando há algum tempo. Sobre essa conjuntura é correto afirmar:
soviético e, em seu lugar,
colocando colaboradores mais
0 1 . A política de equilíbrio europeu, praticada há séculos, não mais encontra lugar e a jovens e de sua inteira confiança.
( . . . ) Paralelamente a essa
Europa não detém mais a hegemonia mundial.
progressiva consolidação de seu
02. As nações se aglutinam em torno de duas potências emergentes: URSS e EUA, poder, Gorbatchev foi
gerando a política de blocos e a bipolarização do poder. implementando, a nível interno e
externo, medidas de dissensão que
04. Antes que a guerra terminasse os aliados já se dividiam; os ocidentais temendo a <(
se manifestaram através de novas a:
expansão soviética se organizam em alianças, o mesmo fazendo os soviéticos e os paí propostas nas negociações com os a:
w
ses transformados em socialistas. EUA sobre a limitação de armas ::J
estratégicas; da flexibilização da <.!J
08 . A descolonização dos países africanos e asiáticos se faz imediatamente após a
atitude quanto aos dissidentes <(
guerra. ( . . . ) e de indícios da disposição em o
1 6 . A guerra aguçou as manifestações de descolonização, acelerando seu processo, cujo encontrar uma solução negociada (J)
para questões externas como a
apogeu ocorreu na década de 1 960. o
intervenção no Afeganistão ou os 0...
atritos nas relações com a China.
UJ
o
Resposta (Almanaque Abril 1988) •
o
o
z
Em outubro de 1 944, Stálin e Churchill se reuniram para entrar em acordo sobre as :::::>
esferas de influência de cada potência, e é em decorrência desse acordo que Stálin retira :2:
seu apoio aos guerrilheiros gregos, durante a guerra civil, por exemplo, deixando a Grécia o
o
permanecer sob a área de influência inglesa.
o
Com o fim da guerra rompia-se a grande aliança entre Grã-Bretanha, EUA e URSS e o ! <(
u
cerne da política mundial nos vinte anos seguintes seriam as relações entre EUA e URS S. <C
A perda de hegemonia da Europa levou a um rápido colapso os impérios coloniais da ::J
f
África e da Ásia. Em 1 955 haviam apenas 5 países independentes na África e em 1 969 já (J)
eram 6 1 . -
te onda de violência social e política. Os negros se organizaram em movimentos, como importantes líderes do movimento negro
dos Estados Unidos, assassinado em 4
os Black Panthers e os Black Muslin, que propunham a luta violenta contra o
de abril de 1968, era um pregador
racismo, e também a ANPPC (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de incondicional da não-violência, um
Cor) que desde 1950 defendia a causa negra, através da via pacífica. O principal líder humanista e integracionista do movi
desse movimento, o reverendo Martin Luther King, foi assassinado em 1 968. Nesse mento negro. Segue um trecho de um
famoso sermão :
ano também os estudantes iniciaram manifestações para protestar contra a intervenção
dos EUA na Guerra do Vietnã. Eu tenho o sonho de que, um dia,
Nesse clima violento foi eleito o conservador Richard Nixon para presidente. Por os homens se ergam e percebam
alguns momentos, os americanos pareceram recobrar o espírito de esperança, principal que são feitos para viver uns com
os outros, como irmãos.
mente quando os astronautas da Apolo XI chegaram à Lua Gulho de 1 969). Mas os Esta manhã, ainda tenho o sonho
protestos logo continuaram. Em 1971 foram presas mais de quinze mil pessoas que de que, um dia. todos os negros
plicaram. Em 1 972, o Produto Nacional Bruto deixou o Japão em segundo lugar no ran- 1 89
king das economias capitalistas mundiais. Já em fins de 1 960 e começo de 1 970, os reló
gios fabricados no Japão eram mais vendidos do que os tradicionais suíços. As suas
máquinas fotográficas superaram as tradicionais alemãs. Suas televisões eram vendidas
nos Estados Unidos desbancando as tradicionais marcas norte-americanas. Finalmente, o
automóvel, símbolo máximo da cultura e da indústria americanas, sucumbiu diante dos
japoneses. Os americanos tiveram de se habituar a ver nas ruas de suas cidades, automó
veis com marcas tais como Ronda, Mitsubishi e Toyota convivendo com as tradicionais
Ford, Chrysler e Chevrolet. No ano de 1 990, a indústria automobilística japonesa produ
ziu 1 3 milhões e 487 mil veículos enquanto que os Estados Unidos produziram pouco
mais de 9 milhões. Ainda nesse ano, as tradicionais marcas como Ford ou Chevrolet
foram superadas, no próprio mercado americano, pela venda do Ronda Accord. Outro
interessante dado: em 1 986, os japoneses tinham 1 1 6 mil robôs trabalhando em suas
indústrias, enquanto que os Estados Unidos tinham somente 25 mil e a então Alemanha
Ocidental, pouco mais de 1 2 mil.
Em dezembro de 199 1 , o Japão comemorava mais de 60 meses de crescimento inin
terrupto. Era a chamada "heisei boom". Em julho de 1992, os valores dos títulos negocia
dos na bolsa de valores de Tóquio caíram mais de 50%. O Japão conheceu sua primeira
grande recessão, que só no começo de 1 995 mostrou sinais, ainda que pequenos, de recu
peração.
Mesmo assim, se fizermos um balanço da produção e do consumo mundial da atua
l i dade, chegaremos a resultados surpreendente s . Os Estados Unidos, a Europa
Ocidental e o Japão são os responsáveis, Iia prática, pela produção de cerca de 90% dos
computadores, aviões, aparelhos eletrônicos de alta tecnologia, fibras de náilon, etc.
Além disso, essas três regiões detêm cerca de 80% da produção mundial de veículos.
Nos últimos anos vem despontando a formação de outro pólo de desenvolvimento
industrial de relativa importância. Trata-se dos chamados tigres asiáticos. Grupo for
mado por Ron g - Kong, o enc lave britânico na China, por Taiwan (Formosa) e
Cingapura. Produzindo calçados, aparelhos eletrônicos que não exigem tecnologia
muito sofisticada ou relógios, eles se consolidaram na esteira do vácuo deixado pela
indústria j aponesa fornecedora dos mercados ocidentais. Ultimamente estes países
começaram a imprimir maior qualidade a seus produtos conseguindo atender mercados
de computadores , câmaras fotográficas e automóveis, ocupando uma faixa pequena,
mas importante, dos mercados dos países ocidentais. Os tigres asiáticos exportaram
no ano de 1 990, 223 bilhões de dólares enquanto o Brasil, México, Chile e Argentina
_J
<(
juntos "exportaram somente 7 1 bilhões de dólares.
::::>
A Comunidade Econômica Européia, a CEE, tem grande peso no panorama econô
·�
o mico com mais da metade das exportações. A Comunidade Econômica Européia nas
o
z ceu depois da guerra, através da paulatina eliminação das barreiras alfandegárias, feita
::::>
2 com o objetivo de aumentar o mercado interno. A maior potência industrial no interior
o da Comunidade é a Alemanha, que, sozinha, produz mais que a Inglaterra e a França
o
l <( juntas. Como veremos mais adiante, com o fim do bloco socialista europeu e o fim do
c.>
<( império soviético, há uma perspectiva de ampliação deste mercado.
CC
(!J No dia 1° de j aneiro de 1 993, foi ratificado o tratado assinado anteriormente na
LJJ
f
z
cidade holandesa de Maastricht. Pela ata de formação da União Européia, a partir de
;<( 1 993 passaria a existir um"espaço sem fronteiras internas, com trânsito livre de merca
o
l <(
dorias, pessoas, serviços e capitais". Formada por 1 2 países, a Comunidade Européia
c.>
conta, depois de 1° de j aneiro de 1995, com mais de três membros, com uma popula
;::5
CC ção total de 370 milhões de habitantes. Apesar da "unificação", os países europeus
<(
_J enfrentam ainda graves problemas. O maior deles refere-se aos 1 1 % da população
o
a._ ativa que continuava desempregada no começo de 1 995. A população alemã ainda vê
<(
o com certo temor a união achando que o seu tão valorizado marco pode despencar.
- A política neoliberal está sendo seriamente contestada pelos trabalhadores em geral
1 90 e, na França, em dezembro de 1995, desencadeou uma onda de greves . Os sindicatos
exigem a manutenção dos benefícios sociais que vem sendo drasticamente reduzidos
pelo primeiro ministro Allain Juppe.
-<C
ta de Gorbatchov e tentaram um golpe de estado. Grandes pressões internacionais e,
o
l <(
principalmente, a reação popular, somada à falta de apoio por parte do exército, fize
o
<(
ram o golpe fracassar. O golpe tornou Ieltsin o grande líder da resistência e o transfor
N
CC
mou no grande paladino da liberalização. Até o final do ano de 1 99 1 , as transforma
<(
_J ções foram rapidíssimas. No dia 25 de dezembro houve um fato simbólico: a bandeira
o
o... vermelha com a foice e o martelo foi substituída pela velha bandeira czarista branca,
<(
o azul e vermelha. Gorbatchov renunciou, e a União das Repúblicas S ocialis tas
- S oviéticas desapareceu, dando lugar à Comunidade dos Estados Independentes .
1 92 Instalou-se da noite para o dia a economia de mercado.
Dentre as medidas tomadas por Ieltsin destacaram-se o ato colocando o Partido
Comunista na ilegalidade, que teve sua popularidade restaurada a concorrer às eleições em
1996; a despolitização do Exército; a dissolução da temida KGB, a agência de espionagem
e controle político; a privatização dos meios de comunicação, com a remodelação da agên
cia Tass. Graves problemas começaram a surgir quando nações inteiras, como a Geórgia,
Azerbaidjão, Turkmenistão ou Quirguízia se rebelaram reivindicando o direito de se tomar
independentes de um domínio secular da Rússia. As repúblicas bálticas, por exemplo, já
haviam proclamado sua independência. O antigo império soviético dissolvia-se rapidamen
te. O resultado é a constante ameaça, muitas vezes concretizada, de guerra civil.
O caso da pequena Tchetchênia, pode bem ilustrar a difícil situação em que se encon
tram as diversas nações que faziam parte da União Soviética. Com uma população em sua
maioria islâmica, o "país" se rebelou contra o governo central russo, provocando prolonga
da e sangrenta guerra civil. Em abril e maio de 1996, tentativas de acordos de paz foram
constantemente interrompidas por atentados e lutas. O exército russo tem se mostrado
impotente para controlar a situação.
A situação atual da Rússia é bastante complicada. Bóris leltsin, o presidente, está às
voltas com rebeliões armadas de povos que faziam parte da União, com o aumento da mor
talidade infantil e com uma inflação galopante. Está às voltas como o crescimento vertigi
noso da criminalidade que formou várias máfias no país. Estes grupos criminosos contro
Carta de Ho-Chi-Minh ao presiden
lam desde as drogas, cujo consumo aumentou vertiginosamente, até a venda de proteção te dos Estados Unidos Lincoln B .
aos novos ricos. Estes surgiram do vácuo deixado pela ausência do Estado. Fortunas incal Johnson (15 de fevereiro d e 1967)
culáveis foram parar nas mãos de antigos dirigentes ou de espertalhões que souberam apro
Excelência.
veitar a ocasião. Em 10 de fevereiro de 1 967,
Bóris leltsin vem também enfrentando uma forte oposição não só dos liberais ou dos recebi vossa mensagem. Eis minha
ex -comunistas, mas também da extrema direita russa que renasceu rapidamente. Vladimir resposta.
O Vietnã enccmtra-se a milhares
Jirinovski, o líder desse grupo, tem posições racistas e propõe, por exemplo, a divisão da de milhas dos Estados Unidos. O
Polônia entre a Rússia e a Alemanha, restaurando o mapa do antigo império russo. povo vietnamita nunca cometeu
A absoluta minoria dos novos ricos moscovitas tenta imitar os ricos ocidentais. De qualquer atentado contra os
Estados Unidos. Mas, contrariando
modo geral, copiam, numa versão de bastante mau gosto, a vida dos sofisticados milioná .os compromissos assumidos por
rios nova-iorquinos. Quando esses russos visitam o Ocidente, em especial os Estados seu representante na Conferência
Unidos, mergulham numa euforia consumista. No entanto, essa nova classe está aterroriza de Genebra de 1954, o governo dos
Estados Unidos não cessou de
da com o rápido crescimento da pobreza e do crime na antiga União Soviética. intervir no Vietnã ( . .. ) e cessar esta
Os famintos - a grande maioria da população - viam com simpatia as propostas de agressão, é o único caminho para o
Zyuganov, líder do renascido Partido Comunista. Zyuganov argumentava que na época da restabelecimento da paz. O gover
no dos Estados Unidos deve cessar
União Soviética, se não havia uma plena democracia havia ao menos emprego, moradia e definitiva e incondicionalmente os
assistência médica para todos. bombardeios e todos os outros atos
Em 1 996, durante a campanha para a eleição presidencial, Zyuganov declarou: "É de guerra contra a República
Democrática do Vietnã, retirar do _J
claro que os membros desse governo (referindo-se a Ieltsin) não são reformistas e sim Vietnã do Sul as tropas americanas c::x:
::>
assassinos da mãe-pátria". e os satélites, reconhecer a Frente 1-
<(
Entretanto, apesar de Ieltsin estar com a popularidade em baixa devido aos efeitos das Nacional de Libertação do Vietnã
o
do Sul e deixar o povo vietnamita o
reformas econômicas e à guerra na Tchetchênia, as eleições realizadas em 03 de julho con resolver por si mesmo seus pró z
::>
firmaram a continuidade das reformas capitalistas e a aceleração do crescimento econômi prios assuntos. Este é o conteúdo
:::2:
co com a reeleição de Boris Ieltsin. fundamental da posição em quatro
o
pontos do governo da
Ainda com relação ao antigo bloco europeu socialista, cabe lembrar que a Iugoslávia RepúblicaDemocrática do Vietnã, a é:i
l <(
foi abalada por um longo período de sangrenta guerra civil. Com um saldo de mais de 250 qual é aexpressão dos princípios e 0
<(
mil mortos, a antiga federação de nações da região chegou a um acordo. No final de 1 995, disposições essenciais dos cr.
Acordos da Genebra de 1 954 sobre <!:l
a Bósnia, a Croácia e a Sérvia assinaram um acordo patrocinado pelos Estados Unidos. A o Vietnã. É a base de uma solução
w
1-
z
paz está sendo garantida por tropas da OTAN, em sua maioria compostas por soldados política correta para o problema
americanos. vietnamita. ( ... ) -c::x:
O povo vietnamita não cederá o
l<(
jamais diante da força, ele não <...r
aceitará jamais conversações sob a <(
N
ameaça de bombas.
A luta pela independência
cr.
Nossa causa é justa. É de se c::x:
_J
desejar que o governo dos Estados o
das antigas colônias Unidos aja de conformidade com a a..
c::x:
razão. o
Vimos que praticamente toda a Á sia e a África haviam se transformado em domínio Ilustres saudações Ho-Chi-Minh -
(Ho-Chi-Minh - A resistência do
das grandes potências européias. A I Guerra provocou a primeira crise no sistema impe- Vietnã) 193
rialista que dominava as colônias. Mas foi depois da II Guerra Mundial que o mundo
colonial das velhas potências imperialistas européias entrou em profunda crise.
Na Á sia, formaram-se grupos guerrilheiros para lutar contra o domínio da Europa e
do Japão.
No Vietnã, por exemplo, os movimentos guerrilheiros que lutaram contra o fascismo
japonês não se desmobilizaram depois da guerra, continuando a lutar contra as forças
francesas, que haviam colonizado a região e tinham sido momentaneamente expulsas
A emancipação política da maior pelos j aponeses.
parte dos países da África inicia um Os guerrilheiros do líder vietnamita Ho-Chi-Min proclamaram a República Popular
período de rápidas mudanças e gran
de instabilidade. No mapa abaixo do Vietnã (socialista) logo depois de terem destroçado as forças japonesas. A França,
estão localizadas as principais áreas querendo retomar a região, iniciou operações militares contra o novo país. A resistência
de conflito pós-colonial, com a data
vietnamita foi tenaz e conseguiu derrotar os franceses em 1954.
de independência dos países. A maio
ria conseguiu sua liberdade política No sul de Vietnã, entretanto, restavam forças de resistência que se aliaram aos fran
n a década de 60, mas as possessões ceses contra os comunistas do norte. Em 1 955, os EUA passaram a dar apoio ao gover
portuguesas obtiveram sua indepen
dência a partir de 1 974. Outros tive
no do sul: surgiram o Vietnã do Sul sob a proteção do governo norte-americano e o
ram de esperar um pouco mais. Vietnã do Norte (comunista), que contava com o apoio da China e da URSS.
A descolonização da África
1 974'
SERRA LEOA
1 96 1 '
LIBÉRIA
1822'
_J
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a... O Grã-Bretanha ffi:il
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::;:: Itália 111 influência britânica
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���� França Espanha * data de independência
rança do ativista Nelson Mandela, iniciaram uma longa luta de libertação. No dia 27 de eram, aliás, mais do que as marcas
de uma política de explorações a
abril de 1 994, finalmente ocorreram eleições livres que transformaram o líder do Partido um tempo opressiva e repressiva.
do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, no primeiro presidente negro da his Mas se o fato colonial comporta
va todas essas práticas desonrosas .....J
tória do país. <.(
que atingiam a nossa dignidade e
:;::)
os nossos interesses, provocava ao
mesmo tempo uma corrente con
�
o
trária favorecida pela nossa tomada Cl
de consciência das múltiplas alie z
:;::)
O Oriente Médio e o conDito árabe-israelense nações que suportávamos, como
::2:
possibilidades naturais, humanas e
o
políticas. A organização da luta
anti-colonialista e a profunda aspi
o
Teoricamente, o Egito era independente da Inglaterra desde 1 936, mas esta continua l<.(
ração popular à soberania e à res üo
va com o direito sobre o canal de Suez, o que reservava aos britânicos uma das maiores <.(
ponsabilidade nacional eram devi c:
fontes de renda da região. das a essa tomada de consciência (!J
LU
política. 1-
Quando a li Guerra Mundial terminou, os líderes egípcios tentaram entrar em acordo z
Após a Segunda Guerra
com os ingleses, para que estes abandonassem sua pátria. Mas a Inglaterra se opôs, Mundial, o Ocidente Africano ,<.(
conheceu esse movimento de o
desestabilizando o governo do Egito, que foi derrubado por forças nacionalistas lidera l<.(
emancipação que, sob o triplo üo
das pelo coronel Nasser. Os ingleses tiveram enfim que deixar o país. plano político, sindical e cultural, r:5
O Egito tornou-se verdadeiramente independente, mas deveria lutar contra um novo combatia o regime colonial, não j á c:
nos seus efeitos, mas nos seus pró <.(
país que se formava e que começava a defender os interesses das antigas potências colo _J
prios fundamentos, exigindo, em o
nialistas: o Estado de Israel. benefício dos povos, o respeito do
a..
<(
No final do século passado iniciou-se o movimento sionista, que pretendia recons direito à autodeterminação. (Sékou o
Touré " Sobre Doutrina e Política
truir um Estado judeu na Palestina, habitada há quase dois mil anos por povos árabes. -
Geral" , in Problemas da África
Aos poucos, os judeus foram se transferindo para aquela região e, durante o domínio Negra). 1 95
A Europa Pós-Guerra Fria
AsIA
RÚSSIA
(P.,n� E:vtcp6i3i
MOS<;OU •
ÁSIA
_J
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� ÁFRICA
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o
o '
z Com o fim do bloco soviético, o mapa da ruropa ganha novas fronteiras: a fragmentação da URSS.
:::l a d ivisão da Tchecoslováquia e o conflito étnico na Iugoslávia.
2
o
O Oriente Médio é uma das regiões
o mais tensas do mundo atual. A principal
<<! nazista na Alemanha, essa migração se intensificou bastante. A opinião pública mundial
C> causa dessa sangrenta disputa é o petró
<! leo, abundante nas terras árabes, fonte tomava-se simpática aos judeus, na medida em que se conheciam os massacres realiza
cr:
(!) energética vital para os países altamente
dos pelos nazistas durante a II Guerra.
LJ.J
1-- industrializados. A guerra é uma cons
z tante nessa região desde a criação do Em 1947, a Assembléia Geral da ONU consentiu na criação de um Estado judeu na
,<(: Estado de Israel, com a expulsão dos Palestina, que em pouco tempo se transformou em uma nova potência, graças ao grande
o árabes da Palestina e a formação da
> <! afluxo de capitais carreado principalmente pelos judeus norte-americanos . E não tardou
C> O r g a n i z a ç ão para a L ibertação da
<! Palestina (OLP). O conflito árabe-israe para que se iniciasse um conflito com os árabes, que permanece até hoje.
N
lense, que se prolonga até os dias atuais,
cr: Após a decisão da ONU, grupos de voluntários árabes se armaram para lutar contra
<! iniciou-se um dia após a independência
_J Israel - o novo país - que, com o auxílio militar britânico, conseguiu repelir sucessi
o de Israel, em 1 948. Em 1975, estoura a
a... guerra do Líbano e em 1 9 80 a guerra vos ataques.
<! Irã-Iraque. Em 2 de agosto de 1 990, o
o Em meio a constantes ataques dos países árabes vizinhos, que abrigavam os palesti
Iraque invade o Kuweit dando origem à
-
Guerra do Golfo, cuja causa básica foi o nos como refugiados, foi oficializada a fundação do Estado de Israel, em maio de 1 948.
1 96 petróleo. A partir daí, judeus e árabes empenharam-se numa luta marcada por várias guerras: a de
1956, a de 1967 e a de 1 973. Mas as vitórias dos judeus não significaram paz para o povo
israelita, que vive permanentemente em estado de guerra e depende do apoio dos EUA.
A ocupação da Palestina pelos judeus desestabilizou outras regiões do Oriente Médio.
Muitos palestinos refugiaram-se, por exemplo, no Líbano, desequilibrando a situação
política do país e gerando conflitos entre cristãos e muçulmanos que perduram até hoje.
Depois de longos anos de luta entre a guerrilha palestina, liderada pela OLP
(Organização de Libertação da Palestina) e as forças de Israel, árabes e judeus chegaram
a um prévio acordo. Em abril de 1993, o líder Yasser Arafat concordou em estabelecer
um Estado palestino na faixa de Gaza em troca do reconhecimento do Estado de Israel.
Aparentemente, a paz havia chegado entre os dois povos. No entanto, radicais, tanto de
um lado como de outro, fazem de tudo para impedir a conclusão dos acordos de paz.
Um desses movimentos é o Hamas, nascido em 1987 na Intifada, o movimento de resis
tência do povo palestino à ocupação dos territórios ocupados por Israel. Em abril de
1995, militantes do fundamentalismo islâmico (ligados ao Hamas e ao Hezbollah, outro
grupo fundamentalista islâmico) desfecharam uma série de atentados suicidas em Israel
matando várias pessoas. Esses atentados influíram na eleição do direitista Binyamin
Netanyahu, que já mudou o rumo da política de distensão iniciada por Yitzhak Rabin e
continuada por Shimon Peres.
Revolução Chinesa:
Mao Tsé-tung no seu famoso dis
um novo país socialista curso "Que cem flores desabro
chem", publicado em 1956, convida
os cidadãos da China a criticarem a
conduta do PCC, denunciando os
A República Chinesa havia sido proclamada em 1 9 1 1 , acabando com o milenar
conflitos de interesse entre vários
sistema monárquico. Mas o novo regime não acabou com o domínio imperialista grupos. Mao acreditava que não
estrangeiro que, aliado aos chefes militares locais e parte da burguesia chinesa, manti havia conflito, mas o domínio de
uma burocracia que poderia ser
nha o povo na miséria. Por essa época, os grupos internos que lutavam pelo poder se superado pela educação. Esse e
dividiam em dois grandes movimentos: de um lado, o Partido Kuomintang, liderado outros documentos serão responsá
veis pelo desencadeamento da
pelo general Chiang-Kai-Chek, que era apoiado pelas forças conservadoras e pelos
Revolução Cultural.
imperialistas europeus e americanos: de outro lado, o Partido Comunista Chinês, lide
rado pelo legendário Mao Tsé-tung, que recebia o apoio de parte da burguesia chinesa "Que Cem Flores Desabrochem"
e "Que Cem Escolas de Pen
e, principalmente, dos camponeses. Esses dois grupos lutaram pelo poder numa san samento Discutam" , "Coexistência
grenta guerra interrompida momentaneamente pela II Guerra Mundial, quando o e Supervisão Mútua a Longo
Prazo", como foram
Japão invadiu a China na tentativa de submetê-la.
criadas essas palavras de ordem? _J
O Partido Comunista Chinês se aliou ao Kuomintang até quase o fim da guerra. Foram criadas à luz das condi <(
::::::>
Mas, mesmo antes da derrota do Japão, o conflito entre os exércitos dos dois partidos ções específicas existentes na
China, à base do reconhecimento !;c
j á havia reinic i ado . Até 1 946, os comunistas haviam dominado quase toda a dos vários tipos de contradições
o
Cl
Manchúria, a região mais industrializada da China. Os exércitos do Kuomintang ainda existentes numa sociedade z
::::::>
(nacionalistas) recebiam ajuda maciça norte-americana, mas os comunistas, com sua socialista e em resposta à necessi
2
dade premente que tinha o país de
convicção inabalável, foram dominando aos poucos o território chinês, recebendo em intensificar o seu desenvolvimento
o
se achava sob o controle dos comunistas liderados por Mao Tsé-Tung. Nesse mesmo
se livremente e diferentes escolas
�
na ciência entrar em livre competi o::
mês, nascia a República Popular da China. ção. Acreditamos ser prejudicial ao
:5
crescimento da arte e da ciência o o
O peso da transformação da China em um país comunista foi grandemente sentido uso de medidas administrativas a..
<(
pelos países ocidentais, principalmente pelos EUA, que continuaram a apoiar a manu para impor um determinado estilo Cl
de arte ou escola de pensamento e
tenção de uma chamada China Nacionalista, sob a direção de Chiang Kai-Chek, que -
proibir outro. (C. Wright Mills Os
-
_J
Tendências Atuais
c::(
::::l
� Vários países tentaram uma alternativa independente para suas economias. Essas
o tentativas não foram facilmente implantadas, pois os interesses dos capitais estrangei
o
2 ros, aliados aos setores conservadores dos países latino-americanos, impediam as
::::l
:2: reformas. Um dos exemplos mais próximos dessa tentativa frustrada de reformas foi o
o
período presidencial de Getúlio Vargas ( 1 950 a 1 954). Em agosto de 1 954 Vargas sui
o
I<::( cidou-se, acusando os grupos estrangeiros e nacionais ligados aos estrangeiros de
o
c::( terem impedido a implantação de uma economia autônoma no Brasil.
a:
(.!J As décadas de 50 e 60 se caracterizaram pelo apoio dos EUA aos regimes milita
LU
1-
2 res que se estabeleceram na América Latina para impedir a formação de governos
,<:( nacionalistas. Instalaram-se longas ditaduras, principalmente na América Central :
o
I<::( Trujillo, na República Dominicana; Somoza, na Nicarágua; Duvalier, no Haiti. Essas
o
c::( ditaduras incorporaram o aparelho policial aos órgãos políticos de domínio.
N
a: Esse panorama começou a sofrer modificações importantes a partir de fins da
::5 década de 1 970.
o
CL Na Nicarágua, a ditadura da família Somoza foi derrubada por uma revolução no
c::(
o ano de 1 979. Iniciava-se assi�, o regime chamado sandinista com matizes socialistas
-
tendo como forte aliado Cuba de Fidel Castro. O governo revolucionário nicaragüense
1 98 teve que enfrentar, durante muitos anos, o movimento guerrilheiro de direita conheci-
do como Contras, apoiados pela CIA americana. Em . 1 990, convocadas as eleições
gerais, o movimento sandinista foi derrotado e o líder Daniel Ortega foi substituído por
Violeta Chamorro na presidência da república. Enfrentando alto nível de desemprego e
inflação, as perspectivas do pequeno país centro americano não são as mais promisso
ras.
O fim de outros regimes militares acentuou as perspectivas de mudanças no sub
continente: Argentina, Brasil, Chile são os exemplos mais marcantes que conseguiram
livrar-se dos regimes militares, mas carregam os problemas da chamada modernização
coexistindo com bolsões de atraso. Os grandes acordos de integração econômica entre
países, como o Mercosul por exemplo (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), junta
mente com aplicação de medidas econômicas ortodoxas para reduzir os crônicos pro
blemas inflacionários, têm atingido seus objetivos. No entanto, o preço parece estar
sendo alto: o número de desempregados tem aumentado e a pobreza tem crescido. No
México, um dos países que está se submetendo às reformas, em janeiro de 1 994, a ten
s ão explodiu na rebelião de Chiapas desencadeada pelo Exército Zapatista de
Libertação Nacional. Além dos problemas sociais e políticos, a economia mexicana,
seguindo o modelo do Fundo Monetário Internacional fracassou. O México talvez,
seja o retrato futuro de "nuestra América" do capitalismo neoliberal. O saldo, aponta
do pelo jornalista Elio Gaspari, é revelador: "La modernidad triplicou a mortalidade
infantil e o preço da cesta básica. Enquanto isso, o número de milionários com fortuna
estimada em mais de 1 bilhão de dólares passou de 2 para 24. A grana desses seiiores,
somada, equivale à renda anual de 1 7 milhões de mexicanos".
A ilha era também u m ponto d e turismo obrigatório dos milionários americanos. Por uma simples lei da gravidade , a
Os jogos, a prostituição, os cabarés luxuosos eram a marca registrada de Cuba. pequena ilha de 1 14.524 km' e
6.500.000 habitantes está assumin
Enquanto isso, a maioria da população, composta de camponeses, vivia na miséria
do a liderança da luta anticolonial
habitando em favelas e passando fome. na América, pois há condições
Em agosto de 1958, duas colunas de guerrilheiros desceram a serra e começaram o importantes que lhe permitem .....J
assumir esse glorioso, heróico e <(
ataque às principais bases militares do Exército de B atista. Vencidos alguns quartéis :::;)
perigoso papel. As nações da
(Las Villas, Yaguajay, entre outros), os guerrilheiros, comandados por Ernesto Che América colonial que são economi !;;:
camente menos fracas, as que o
Guevara e por Camilo Cienfuegos, iniciaram a marcha sobre Havana. Cl
estão desenvolvendo seu capitalis 2
Diante da impossibilidade de derrotar a guerrilha, pois grande parte dos soldados mo nacional aos trancos e barran :::;)
::2!:
aderiu às forças de Fidel Castro, Batista fugiu da ilha. No dia 2 de j aneiro de 1 959, cos numa luta contínua, por vezes
o
violenta e sem quartel, contra os
Fidel Castro e seus guerrilheiros entraram em Havana. Formou-se imediatamente um o
monopólios estrangeiros, estão I <(
Governo Revolucionário, que tomou algumas medidas urgentes : diminuição das gradualmente cedendo seu lugar a c..»
esta nova e pequena força da liber <(
taxas de energia elétrica, nacionalização da Companhia Telefônica e do comércio de 0::
dade, já que seus governos não se C!:l
derivados de petróleo. Foram estabelecidos uma política de aumento salarial e um LU
julgam suficientemente fortes para f--
sistema de seguro de saúde, e reorganizou-se o sistema educacional. levar a luta até o fim. E isso porque 2
a luta não é simples nem está livre '<(
O programa de Fidel Castro era reformista. A reforma agrária instituída previa a
dos perigos e das dificuldades. É o
expropriação dos grandes latifúndios, mas não a coletivização. Porém, depois das I <(
essencial ter o apoio da totalidade c..»
pressões exercidas pelos EUA, Fidel passou a radicalizar os rumos da Revolução. do povo e um idealismo e um espí ;::5
rito de sacrifício enormes, para 0::
Após romper relações com Cuba, os EUA fracassaram na tentativa de desembar levá-la a cabo sob as condições de <(
.....J
car tropas na baía dos Porcos (abril de 196 1 ), e Fidel voltou-se cada vez mais para a isolamento quase total em que o
lutamos na América {Ernesto o..
URSS (armas e petróleo). Cuba sofreu boicote dos EUA e, em 1 962, foi expulsa da
"Che" Guevara - "Notas para o <(
OEA (Organização dos Estados Americanos). A maioria dos países do continente Cl
Estudo da Ideologia da
-
rompeu com Havana. Revolução Cubana" in
Os marxistas) 1 99
Embora o regime socialista cubano acabasse por ser aceito pela maioria dos paí
ses do mundo, a perestroika e aproximação da URSS com os EUA provocaram um
distanciamento entre Cuba e Moscou. A partir de 1 989, cresceram as críticas a Fidel,
resultando em novas represálias diplomáticas. Internamente, porém, um plebiscito
realizado em 1 993 confirmou a manutenção do regime cubano, sob o comando de
Castro.
No começo de 1 995, a inauguração do primeiro McDonald' s em Havana demons
trava que Cuba tenta, a seu modo, adaptar-se ao capitalismo. Em setembro de 1 995, o
governo cubano decretou a abertura para o capitalismo internacional. Duzentas e doze
empresas já se instalaram em Cuba e investiram mais de 2 bilhões de dólares. O presi
dente americano Bill Clinton, antes simpático à abertura dos EUA em direção à Cuba,
mudou radicalmente de posição em virtude de a Força Aérea Cubana ter derrubado
um avião americano que violou as fronteiras do espaço aéreo cubano.
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