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Índice............................................................................................................................................1
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Império Otomano nas vésperas da 1ªG.M.............................................................................19
A 1ª Guerra Mundial..................................................................................................................34
A procura da "decisão": guerra submarina alemã, revoluções russas e intervenção dos EUA
(1917).....................................................................................................................................38
Tratados de Paz......................................................................................................................44
A recessão da década de 1930: a crise bolsista nos EUA (1929) e a sua transformação em
recessão mundial...................................................................................................................54
A 2ª Guerra Mundial..................................................................................................................63
A Guerra no Pacífico...............................................................................................................70
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A nova ordem mundial após a 2ªG.M....................................................................................73
A emergência da China.............................................................................................................117
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América Latina e o golpe de Estado no Chile (1973)........................................................143
Nesses países, o lucro é em geral elevado, pois os capitais são escassos, o preço da
terra e os salários relativamente baixos, e as matérias-primas baratas.
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A necessidade de exportação de capitais (exportação de valor com o objetivo de
obtenção de valor suplementar [em forma de mais-valia, juros, lucros não económicos ou não
equivalentes] decorre da lei económica fundamental do capitalismo em resultado do carácter
limitado da aplicação do capital dentro do país, com taxa de lucro máxima. No Imperialismo do
século XX, a consolidação da exportação de capitais dá um sentido diferente dos imperialismos
antigos.
Já Lenine afirmava que: “ (…) O que caracteriza o capitalismo moderno, no qual impera
o monopólio, é a exportação de capital”, uma exportação que serve o capitalismo, modelo de
organização direcionado para os “grandes” se aproveitarem do pouco dos “pequenos”.
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incluídos nos enormes espaços geográficos. A organização do império é sempre supranacional
e autoritária, impondo a metrópole a forma e a substância da organização política. América,
África, Ásia e Oceânia foram ocupadas e transformadas em províncias, dependentes política,
económica e militarmente da metrópole europeia. As colónias, os territórios ocupados,
serviam para obter matérias-primas baratas e para lá exportar os excedentes e do capital. A
exportação de capital é, pois, feita da metrópole para a colónia.
Esta expansão europeia inscreve-se, então, numa estratégia de controlo de uma vasta
extensão territorial com vista à satisfação das necessidades económicas das metrópoles, e foi,
sobretudo, marcada pelo colonialismo que fez de África e da Ásia locais especialmente
cobiçados. Aliás, o caso mais evidente de imperialismo e de colonialismo ocorreu
relativamente à ocupação do continente africano. Em 1885, a Conferência de Berlim ditou as
regras de partilha do continente africano e asiático. Consagrou o princípio da ocupação efetiva
do território, em detrimento dos direitos históricos de descoberta. Em 1914, já só restavam
como Estados independentes, em África, a Etiópia e a Libéria. Já na Ásia, a expansão territorial
europeia não foi intensa. A Índia ficou sob domínio inglês, a Indochina, francês, a Insulíndia,
holandês. Só o Japão e a China permaneceram independentes.
Deste modo, antes da 1ªG.M., o mundo vivia sob um equilíbrio de forças que conduziu
à sua divisão, em que as sociedades capitalistas exportavam capital para fora da Europa,
submetendo as restantes nações política e militarmente aos seus interesses oportunistas.
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As teorias anteriores às guerras mundiais – a exportação
de capitais como explicação para a nova ordem
internacional
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Para Hilferding, a organização do capital sob égide do capital financeiro,
correspondente a uma expansão extraordinariamente rápida dos monopólios capitalistas, leva
a um processo de “aglomeração nacional”, de nacionalização e a uma luta cada vez mais dura
no mercado mundial. Hilferding chegou à conclusão de que o capital financeiro necessitava de
um grande apoio estatal para se obter proteção económica, territórios para inverter e
matérias-primas e, igualmente, para dispor de mercados para os seus produtos. Assim, a
exportação de capitais adquire uma importância muito especial como causa do imperialismo.
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economias capitalistas obriga-as a assegurar o controlo das formações sociais não capitalistas
situadas na periferia.
A nível político, a metrópole aplica a sua vontade aos restantes povos incluídos nos
enormes espaços geográficos. A organização do império é sempre supranacional e autoritária,
impondo a metrópole a forma e a substância da organização política. América, África, Ásia e
Oceânia foram ocupadas e transformadas em províncias, dependentes política, económica e
militarmente da metrópole europeia. As colónias, os territórios ocupados, serviam para obter
matérias-primas baratas e para lá exportar os excedentes e do capital. A exportação de capital
é, pois, feita da metrópole para a colónia.
Esta expansão europeia inscreve-se, então, numa estratégia de controlo de uma vasta
extensão territorial com vista à satisfação das necessidades económicas das metrópoles, e foi,
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sobretudo, marcada pelo colonialismo que fez de África e da Ásia locais especialmente
cobiçados. Aliás, o caso mais evidente de imperialismo e de colonialismo ocorreu
relativamente à ocupação do continente africano. Em 1885, a Conferência de Berlim ditou as
regras de partilha do continente africano e asiático. Consagrou o princípio da ocupação efetiva
do território, em detrimento dos direitos históricos de descoberta. Em 1914, já só restavam
como Estados independentes, em África, a Etiópia e a Libéria. Já na Ásia, a expansão territorial
europeia não foi intensa. A Índia ficou sob domínio inglês, a Indochina, francês, a Insulíndia,
holandês. Só o Japão e a China permaneceram independentes.
depois começaram a exportar os capitais para o local. Nos séculos XX e XXI houve uma enorme
massa de capitais exportados. Esta prática era feita na expetativa de se receber mais do que o
investido. De outro modo, colocava-se riqueza para gerar mais riqueza. Os países que
começaram a ficar mais comprometidos com estes capitais procuravam garantir que os países
para onde enviavam os capitais eram os países que eles esperavam (cumpriam as regras
impostas). Assim, procuravam controlar os governos dos países para onde exportavam.
Os ingleses eram o maior investidor de capitais nos Impérios coloniais. O Reino Unido
concentra grande parte das exportações de capitais nos seus territórios coloniais. Já a França
era o segundo maior exportador de capitais e foi paulatinamente oferecendo bens a outros
países, sem receber a compensação merecida (só exportava 8,9% para as colónias e o resto
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para outros países independentes). Verifica-se aqui a distinção entre imperialismo e
colonialismo. As relações internacionais eram dominadas pela tentativa de alguns países
exercerem influência sobre outros e assim exportar o seu capital (no início do século XX eram
consideradas potências aquelas que mais exportavam).
Não era necessário que fosse uma relação colonial (China, Império Otomano e América
Latina pediam empréstimos aos grandes centros financeiros de Londres e Paris, sendo países
independentes). Então, o imperialismo do século XX não está associado à criação de colónias
(países como Portugal têm impérios coloniais mas não são imperialistas; países como os EUA
não têm impérios coloniais mas são imperialistas). Esta relação podia ser feita entre dois países
independentes, ou seja, não está associado à posse de colónias.
No início do séc. XX, a exploração de capitais podia ser feita de duas formas:
investimento direto ou investimento indireto. O investimento direto era feito diretamente por
empresas que se instalam no exterior (as multinacionais). Se os mercados não fossem
fechados seria mais fácil aumentar a produção dentro já do país instalado. O capital em
excesso torna-se produtivo num mercado fechado. Já o investimento indireto (ou de carteira)
é feito normalmente por bancos (acionistas), que aplicam o investimento e compram dívidas
públicas (empréstimos públicos feitos a governos). Essas dívidas condicionam muito a política
dos países importadores, conduzindo, muitas vezes, a situações de ruturas de pagamentos,
expondo um determinado país com menos capacidade de pagamento a um ataque ao seu
orgulho.
Os Impérios são grupos de Estados ou reinos com domínio sobre extensos territórios
subordinados a um chefe supremo, o imperador, apresentando também um poder
hegemónico em certa área de influência. Esses grupos formaram-se, quer pela sua livre
associação, geralmente com objetivo de defesa mútua, quer pela dominação de vários estados
por um estado dominante. Foi desta forma que se formaram os grandes impérios coloniais.
Nas vésperas da I Guerra Mundial, o mundo encontrava-se sob controlo político das
potências europeias. De facto, de 1890 a 1910, assiste-se à conquista e administração de
grandes partes de territórios pelos Europeus. Este domínio concretizava-se numa nova fase de
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expansão europeia que remontava à segunda metade do século XIX. Pode dizer-se que a
Europa partilhava o mundo entre si. O movimento ficou conhecido por imperialismo.
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A dependência expressa subordinação, a ideia de que o desenvolvimento desses países
está submetido (ou diria limitado) ao desenvolvimento de outros países e não era forjada pela
condição agrário-exportadora ou pela herança pré-capitalista dos países subdesenvolvidos mas
pelo padrão de desenvolvimento capitalista do país e pela sua inserção no capitalismo mundial
dada pelo imperialismo. Portanto, a superação do subdesenvolvimento passaria pela rutura
com a dependência e não pela modernização e industrialização da economia, o que pode
implicar inclusive a rutura com o próprio capitalismo, o que, a meu ver, pode justificar as
políticas de extremas direita/esquerda, bem como o longo processo das descolonizações que
se sucederam no séc. XX.
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Por ser o país mais industrializado e com maior nível de exportação de capitais, tinha
uma posição contra a guerra e os próprios impérios coloniais, dependendo do mercado livre e
sem barreiras (era contra o protecionismo). O seu domínio hegemónico assentava em bases
navais para que pudesse exercer um controlo do comércio e das próprias rotas de acesso,
evitando, simultaneamente a concorrência. Até porque “[a]Inglaterra era fortemente rica e
possuía um vasto império ultramarino. (…) [a]s suas indústrias eram responsáveis por uma
grande parte do comércio mundial. A sua posição global era garantida por uma marinha
colossal. (…)”, tal como já afirmava Norman Stone, no livro Primeira Guerra Mundial.
Deste modo, a Inglaterra tinha interesse em ter uma rede marítima mundial e o
controlo das regiões mais populosas, como a da Índia. Desde meados do século XIX que a
Inglaterra controlava grande parte da Índia.
Os impérios coloniais ocupavam quase metade do mundo, pelo que o segundo maior
exportador de capitais antes da 1ªG.M. era a França.
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França nas vésperas da 1ªG.M.
O império francês estava melhor localizado do que o inglês. A geopolítica francesa
centrava-se na África Ocidental e na Indochina. À exceção da Argélia, todos os territórios
foram conquistados em plena fase do imperialismo. Na África, as possessões francesas
situavam-se em áreas desérticas de difícil acesso. A nível administrativo, estes territórios
estavam divididos em África Ocidental Francesa (AOF), com sede administrativa em Dakar e
que integrava territórios como o Senegal, o Mali, a Níger…; e África Equatorial Francesa (AEF),
cujos países integrados eram o Congo, o Gabão, a República Centro-Africana e Chade, que
mantinham a comunicação entre si. É de salientar que as suas colónias mais rentáveis eram a
Indochina (Vietname, Laos, Camboja, Malásia, Myanmar Singapura e Tailândia), o Congo e a
Costa de Marfim.
Uma vez que só 4% do capital francês era exportado para as colónias, pode-se afirmar
que a França detinha um colonialismo muito pouco imperialista, até porque o seu poder se
encontrava muito reduzido devido às guerras perdidas no séc. XIX, sendo que uma delas
estava relacionada com o facto das pretensões francesas no território africano irem de
encontro com as pretensões inglesas. E a verdade é que os ingleses, muito raramente
permitiam que alguém se “atravessasse no meio” das suas pretensões e/ou ambições e saísse
impune.
Os objetivos estratégicos franceses colidiam com os dos ingleses, pois a tendência era
expandir para o Nilo (no sentido oeste-leste, em direção ao Sudão). O incidente de Fachoda
(cidade localizada atualmente no Sudão do Sul) ocorreu entre 1898 e 1899, quando França e
Inglaterra decidiram construir ferrovias para ligar suas colónias africanas. A referida cidade
situava-se na intersecção das linhas. Uma expedição militar francesa foi enviada a Fachoda
antes que a força expedicionária britânica, originária do Egito, chegasse à cidade. Porém, os
franceses tiveram que se retirar da cidade devido à sua inferioridade militar. Embora o exército
francês continental fosse considerado maior e mais poderoso que o britânico, nada poderia
fazer no contexto africano sem o devido apoio naval, já que a Grã-Bretanha possuía a mais
poderosa marinha do planeta.
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Alemanha nas vésperas da 1ªG.M.
A Alemanha era um país recente (unificado apenas 1971) e, apesar das suas colónias
pouco significativas, era a potência mais próxima de Inglaterra, tentando igualá-la ou superá-la
constantemente, principalmente a nível de frota naval (no início do séc. XX, a Alemanha e a
Inglaterra travaram uma corrida ao armamento entre elas), de modo a assegurar os seus
investimentos nas colónias, até porque durante muito tempo, a Alemanha este sem condições
para exportar capital. Na época imperialista, a Alemanha passou a controlar colónias em
África, mas não foi exportadora de capitais, pois queria garantir a proteção dos seus
investimentos nas colónias, constituindo então, um bom exemplo de uma nação que não era
um império colonial, mas que era uma nação imperialista. O império alemão não tinha
qualquer objetivo colonialista, aspirava ser uma potência naval e possuir um domínio
industrial.
“Por que não haveria a Alemanha de adquirir um império ultramarino (…)? (…) o
poderio alemão e a sua expressão disparatada tornaram-se um – o – problema europeu.”, por
Norman Stone em Primeira Guerra Mundial. Tanto que a rivalidade anglo-alemã não era só em
termos de exportação de capitai, mas também em termos políticos. Além desta, a Alemanha
também acabou por comprar uma rivalidade com a França ao anexar ao seu território Alsácia e
Lorena, após a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o que lhe valeu o isolamento político
quando a França se uniu com a Rússia, nesse mesmo sentido. Pois, a França sabia que a união
política alemã criaria um Estado forte, extremamente perigoso para a sobrevivência francesa.
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Então, Rússia uniu-se com a França porque esta lhe emprestava capital, pelo que estava como
em dívida para com ela.
A Inglaterra tinha uma política de não entrar em alianças, mas França e Alemanha
começavam a criar sistema de alianças defensivas/ofensivas. As potências estavam
organizadas em mercados fechados efetuavam e alianças com estados médios. Mais tarde
(1904), os ingleses resolvem desequilibrar os pratos da balança e aliar-se à França, formando a
Entente Cordiale. Após chocarem, os interesses coloniais tornaram-se num convénio de
interesses contra terceiros. Estavam traçados os dados geopolíticos que causaram a 1ªG.M..
Nada como interesses capitalistas para unir dois países com desavenças, até porque como o
velho ditado afirma, “A união faz a força” e é essa força que a Inglaterra nunca pretende
perder.
Para terminar, salienta-se só os limites do território, de modo a deixar uma ideia mais
concreta do espaço geográfico e da dimensão da ameaça para a Inglaterra, já que esta tanto
temia o crescimento da Alemanha. A Alemanha, a par do Império Austro-Húngaro, constituía
os impérios centrais. A Prússia era o estado principal dos Estados do Império: todos os outros
eram muitos mais pequenos e fracos (África Ocidental Alemã [protetorados do Togo e
Camarões], África Oriental Alemã [Tanganyica, Burundi e Ruanda], Sudoeste Africano Alemão
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[Namíbia], bases na China [Baía de Kiauchau, Tianjin e Qingdao] e ilhas do Pacífico tropical
[protetorados de Nova Guiné Alemã e Samoa Alemã]).
Porém, no início da vaga imperialista de 1890, a Rússia já era uma grande potência
colonial, ascendente a potência imperialista devido à rápida industrialização que fomentou a
exportação de capital.
Pouco tempo depois, as pretensões expansionistas russas na Ásia vão de encontro com
as posses e outras potências imperialistas, nomeadamente o Japão, que ocupava a China e a
Coreia, sendo que o principal interesse estratégico russo era a China. A “Rússia” preferia
expandir para o sudeste asiático devido às oportunidades comerciais que o Pacífico lhe
oferecia, pois o lado Este, correspondente ao Mar Negro, já estava repleto de concorrência
(Império Otomano – adversário perigoso, visto que estava protegido pelos impérios
ocidentais). Para além disso, o grande problema do Império Russo era o facto de não ter
acesso a um mar navegável. Tinha apenas acesso ao Mar Báltico, mas este encontrava-se
gelado. De resto, grande parte do seu território era marcado por uma grande planície gelada,
ou seja, não podia ser uma potência naval por causa do clima.
Foi criada uma capital, São Petersburgo, a partir da qual se iniciou a expansão para
Ocidente e depois para Oriente. A Rússia detinha já o Mar Negro, a zona do Cáucaso,
Cazaquistão, Turquestão, tendo, depois, conseguido atingir o Oceano Pacífico.
Assim, quando começa a vaga imperialista de finais do século XIX, a Rússia detinha já
um império colonial do tamanho de um continente. Já era, pois, uma grande potência colonial,
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ascendente como potência imperialista devido à rápida industrialização que fomentou a
exportação de capital.
Mas, nesta época imperialista, a Rússia começou a ver-se impedida pela Inglaterra na
sua intenção de se expandir para o sul da Ásia, o que levou a choques entre as duas potências.
Mais uma vez, a Inglaterra evidencia que a hegemonia só pode ser dela e que o lugar no pódio
é pouco se este não for no primeiro lugar.
Houve também uma colisão de interesses com o Japão, com quem a “Rússia”
disputava territórios, sobretudo a Manchúria. Aliás, em 1904-1905, dá-se a Guerra Russo-
Japonesa devido a interesses económicos nessa região (a Manchúria possuía grandes jazidas
minerais), como sempre, vêm à tona os interesses económicos. Desta guerra, sai vencedor o
Japão, o qual acaba por ocupar a zona, sendo que o Império Russo saiu economicamente
debilitado.
Ainda assim, “[e]m 1913, verificou-se [na Rússia] o aumento decisivo: um «grande
programa» destinado a converter a Rússia numa «superpotência». Este programa teria dotado
a Rússia de mais canhões do que a Alemanha (…) ” (Norman Stone), ao lado da França e da
Inglaterra, o objetivo só poderia ser, então, vencer.
Deste modo, no século XIX, vivia na eminência de desagregação, o que acabou por não
se verificar devido às divergências de opinião entre todas as nações do Império. Além disso, os
países rivais não conseguiram chegar a acordo acerca de quem iria tirar partido dos territórios
do Império e foi essa pressão que permitiu que este ainda se mantivesse. Por exemplo, a
Inglaterra não tinha influência suficiente para desagregá-lo, mas tinha poder para impedir que
outros (nomeadamente a Rússia) o fizessem. Mais uma vez, nada pode destronar os desejos
ingleses, eles sempre se quiseram assumir como os mais e os melhores e não admitiam
partilhar o primeiro lugar do pódio com ninguém.
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A sua estrutura era muito diferente dos outros impérios. A partir do século XIX, houve
um grande fluxo de capitais estrangeiros destinados ao Império Otomano, nomeadamente
franceses e ingleses, empréstimos para tentar modernizar-se e, decerto, para a Grã-Bretanha
manter o Império Turco sob controlo.
A Alemanha era a potência que estava a ter mais hegemonia ao nível militar e do
investimento, havendo uma tentativa de unir, por caminho-de-ferro, Berlim a Bagdad (The
Berlin Bagdad-Railway), e que atravessaria regiões influenciadas pela Alemanha, um projeto
que não se chegou a realizar antes da 1ª G.M..
No Golfo Pérsico a potência dominante era a Inglaterra, como não é de admirar, visto
que parece que não há nenhum local que a Inglaterra não queria controlar. Recorde-se que as
áreas sob influência inglesa eram a Índia e o Egipto (relativamente ao canal do Suez). Tal como
tinha acontecido com a China, o Império Otomano estava cada vez mais dominado pelas
políticas imperialistas. Para a Rússia era um alvo estratégico, pois podiam finalmente ter
acesso a um mar quente em zonas europeias. Havia, portanto, um choque entre o Império
Russo e as colónias inglesas.
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estilhaços do fim do Império Otomano. A Bulgária era mais ligada aos Impérios Centrais. A
Grécia apoiava-se mais na Inglaterra. Ao atuar, este tipo de forças retardaram a guerra.
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capitais e técnicos estrangeiros, adquiriu no estrangeiro os equipamentos necessários à
modernização, financiou a criação de novas indústrias, às quais concedeu exclusivos e outros
privilégios e promoveu a construção de uma rede ferroviária. Na atualidade, o capitalismo de
estado da China assemelha-se bastante ao do Japão no século XIX.
Houve também aqui uma mistura estranha entre capitalismo e feudalismo, pois
manteve uma grande aristocracia e mentalidade feudal, mas ao mesmo tempo adotou o
capitalismo. De resto, a indústria japonesa era controlada por proprietários que eram nobres
da aristocracia. Para a industrialização, o Japão aproveitou o facto de não ser uma colónia
como a China (era um arquipélago – fechava mais facilmente as portas estrangeiras – e
detinha um sistema feudal por ser mais fraco do que o chinês) e aproveitou a base da
apropriação do excedente rural camponês e posterior transferência para a indústria ou para o
Estado, que depois arrendava a indústrias. Na Europa Ocidental, a industrialização surge
também através de excedentes agrícolas. O aumento da produtividade agrícola/rural conduz
ao aumento do excedente. Isso faz aumentar os lucros/riquezas, que depois são transferidas
para a indústria.
Entre 1894 e 1895, os japonenses tentaram entrar na China e na península coreana (1º
Guerra Imperialista Sino-Japonesa). A China era um país bastante rural e pobre, que foi,
durante a maioria do imperialismo semicolonial (vários países a tentarem ganhar influências
na China). O conflito entre o Japão e a China terminou em março de 1895, com os dois países a
assinarem o tratado de Shimonoseki, que levou os chineses a aceitar a concessão aos
japoneses da Ilha Formosa, das Ilhas Pescadores e de Liaodong e a perda de alguma influência
que outrora exercera na Coreia. No entanto, nesse mesmo ano, a Rússia, que via a expansão
de Japão como um perigo aos seus interesses geopolíticos na zona, apoiada pela França e Grã-
Bretanha, pressionaram o governo japonês para que amistosamente reconsiderasse as
vantagens obtidas pelo Tratado de Shimonoseki.
O Japão, que se via incapaz, no momento, de enfrentar a Rússia, sobretudo por esta
estar apoiada pelos franceses e pelos britânicos (a afronta britânica sempre foi terrivelmente
temida) cedeu e teve de renunciar em favor da Rússia, aos direitos adquiridos sobre a
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península de Liaodong e a sua cobiçada praça estratégica de Port Arthur. Apesar de conservar
os restantes ganhos territoriais e a influência sobre a Coreia, este facto criou um considerável
ânimo de vingança entre os japoneses, pelo que considero que a partir daí tenha vindo a
crescer fortemente o orgulho japonês. Assim, a desforra surgiria sensivelmente dez anos mais
tarde, com a guerra russo-japonesa.
Em 1904 o Japão começou a conquistar território chinês e tentou entrar na área que
colidia com a Rússia. Posto isto, em 1905 deu-se a guerra russo-japonesa (especial destaque
para a batalha naval de Tsushima, em que os japonenses atacaram as frotas russas
provenientes do Báltico, derrotando um adversário bastante fragilizado que teve de mudar o
seu trajeto para fora dos canais regulares de transporte marítimo, de forma a reduzir as
hipóteses de deteção ao aproximar-se das águas japonesas). Esta guerra terminou com a
vitória surpreendente do Japão, e tornou-se na primeira grande derrota do Imperialismo
Europeu (o Japão ganhava estatuto). O Japão passou a retomar algumas posições russas (em
1910, a Coreia torna-se num protetorado japonês). O protetorado consiste num sistema de
proteção em que um país domina o outro, apesar de ambos serem independentes. De resto,
isto antecipava aquilo que viria a constituir a 2ªG.M..
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com um crescimento muito rápido. Grande parte desta industrialização é feita com a
importação de capitais ingleses. Chegaram a ultrapassar a Inglaterra e a Alemanha na
produção de aço no início do século XX. Importa referir que outros países com grandes
territórios não puderam crescer enquanto potências pois não tinham controlo interno político.
Durante o século XIX, os EUA estavam isolados do resto do mundo, porque não
importavam nada. Os americanos tinham acesso a muitas matérias-primas e eles próprios as
transformavam. Aliás, os EUA exportavam maioritariamente matérias-primas como a madeira
e o algodão, sendo esta última a base industrial europeia. Possuía um vasto mercado interno e
estava independente.
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declarou guerra à Espanha (…) esta guerra revelou a todos a debilidade e o estado de
desagregação interna da monarquia espanhola, que sofreu rápida derrota e teve de se
resignar a pedir a paz.” (In História Moderna: O Imperialismo)
O centro de gravidade político dos EUA encontrava-se a Leste, nas principais bases
navais americanas. Contudo, os americanos construíram em 1901 o Canal do Panamá. Isto
tinha um duplo interesse. Por um lado, um interesse estratégico e comercial, pois a frota de
guerra americana encurtava e, por conseguinte, facilitava bastante a passagem marítima do
Atlântico para o Pacífico através do istmo. Por outro lado, possibilitava ao país a consolidação
da sua hegemonia no Extremo Oriente e na América Latina. De resto, o Pacífico constituía a
zona de exploração norte-americana. O arquipélago das ilhas do Havai transformou-se em
Estado americano, distanciando-se a 3500km da costa californiana.
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competição entre eles. A Itália lançou-se na conquista da África do Norte, enquanto a
Alemanha reivindicou territórios ultramarinos para si. Logo, a competição económica passou a
ser uma rivalidade política.
O principal antagonismo era entre os impérios britânico e alemão. O Reino Unido era
a força hegemónica do mundo e a Alemanha era o seu principal desafiador. A poderosa
indústria alemã necessitava de acesso às matérias-primas e do controlo dos novos mercados
para exportação da enorme quantidade dos seus produtos. O caminho da afirmação
internacional alemã passava pela construção de uma marinha mercantil e de uma marinha de
guerra. Isso os britânicos nunca podiam permitir. As duas principais rivais imperialistas
travavam uma corrida ao armamento naval. Para contrariar a Alemanha, a Inglaterra tinha de
entrar na futura Aliança entre a França e a Rússia. Mas a Inglaterra tinha problemas com a
Rússia por esta estar a expandir-se para sul na Ásia, ameaçando invadir a Índia. Para além
disto, Rússia e Inglaterra já tinham olhos na Pérsia devido ao petróleo e ambas estavam em
situação territorial estratégica. Em 1890, o novo imperador da Alemanha, Guilherme II,
demitiu o seu velho chanceler Bismarck. Com ele desapareceu a arte da negociação
internacional, que foi substituída por uma nova política externa, conhecida como weltpolitik.
Tratava-se de uma ideia de redistribuição das colónias do mundo, tendo em conta os
interesses alemães. A realização dessa nova visão alemã devia ser conseguida através da
realpolitik, isto é, por meio da utilização de toda a sua força internacional. Como exemplo,
temos a instalação dos alemães no Sudeste africano, que impediu a concretização do sonho
britânico de construir um Império do Cabo ao Cairo. Esta rivalidade não tinha forçosamente de
levar à Guerra nem a constituição de impérios coloniais era um fator decisivo para a Guerra.
Os problemas entre as grandes potências podiam ser resolvidos com acordos porque estas não
dependiam dos mercados coloniais. Aparentemente, as potências imperialistas ganhavam mais
se não combatessem mutuamente. Mas a tensão entre os impérios britânico e alemão
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aumentava dia após dia. Apesar das várias tentativas entre Inglaterra e Alemanha para criar
uma boa relação entre si (ambas não tinham interesses numa guerra mundial), a verdade é
que estes dois países não encontravam uma solução para os seus conflitos de interesses.
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concordo, que “a complicar ainda mais esta mistura tão instável estava o facto de dezenas de
etnias diferentes no interior do império estarem a ser apoiadas por países como a Rússia e a
Alemanha”.
Sendo assim, em 1894, a França alia-se à Rússia (aliança franco-russa), pois a primeira
queria cercar a Alemanha e a segunda queria cercar o Império Austro-Húngaro.
Explicitando a citação acima feita: estas três rivalidades, que eu tenho vindo a explicar,
foram cruciais para o desencadear de um conflito europeu generalizado. As rivalidades
políticas entre os impérios provocaram uma corrida ao armamento, a formação de grandes
blocos político-militares e à assinatura de pactos militares secretos. Ficou conhecida como
Tríplice Entente a coalizão militar constituída na primeira década do século XX, onde os
Impérios Britânico, Russo e República Francesa se uniram para fazer frente à política
expansionista de outro bloco, a Tríplice Aliança (constituída pelos Impérios Alemão, Italiano e
Austro-Húngaro), formado em 1882.
Esse processo de alianças na transição do século XIX para o XX reflete uma mudança
que ocorria no cenário político europeu: as antigas potências, Grã-Bretanha e França, com os
seus vastos impérios coloniais distribuídos pelo globo, estavam a sofrer a concorrência de
novas forças como Alemanha e Itália, recentemente constituídos estados nacionais unificados,
que rapidamente conquistavam tantas fatias importantes dos mercados globais como
inauguravam os seus próprios impérios coloniais.
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militares onde países com interesses semelhantes se reuniam. Assim, dois blocos distintos
destacaram-se: a “Tríplice Aliança” e a “Tríplice Entente”. Esta criação de alianças, combinada
com a diplomacia secreta, prática comum na política europeia da época, foram fatores
determinantes para o início da 1ª Guerra Mundial, em 1914.
A França e a Rússia formam uma aliança em 1894, pois partilhavam o mesmo inimigo:
a Alemanha. No fundo, trata-se de um pacto de amizade firmado para defender a causa da
Sérvia, apoiada pelo Montenegro, contra a pretensão do Império Austro-Húngaro
relativamente ao território da Bósnia-Herzegovina, também disputado pelos sérvios. A França
e o Reino Unido também queriam resolver as suas disputas coloniais em África e na Ásia para
que pudessem conjuntamente enfrentar o perigo alemão. Para isso, fizeram um pacto com o
nome francês “entente cordiale” (entendimento cordial). A sua assinatura marcou o fim de
quase um milénio de conflitos intermitentes entre as duas nações e seus Estados antecessores,
e a formalização da coexistência pacífica que já existia desde o fim das guerras napoleónicas
em 1815. Por exemplo, a França reconhece o controlo britânico sobre o Egito, enquanto a Grã-
Bretanha é recíproca a respeito da França em Marrocos.
29
Porém, o acordo entre a Alemanha e a Itália neste ponto era bem específico,
afirmando que o seu apoio não se estenderia na defesa contra um ataque vindo do Reino
Unido, o “temível”. A situação da Itália neste acordo era instável na medida em que a sua
população era desfavorável ao estabelecimento de um acordo com o Império Austro-Húngaro,
antigo inimigo do processo de unificação da Itália. Além disso, os territórios da Ístria, do
Trentino e da Dalmácia, sob controlo da Áustria, tinham também populações italianas (entre
outras), que não tinham sido incorporadas na Itália unificada.
A guerra não podia ser evitada. Porém, segundo a opinião do General William T.
Sherman, “[s]omente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos
dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e desolação. A guerra é o inferno.”
30
Contudo, foi a 28 de junho de 1914 que o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do
trono austro-húngaro, enquanto visitava Sarajevo (capital da Bósnia), foi assassinado por um
jovem nacionalista sérvio.
Como represália da Sérvia não ter cumprido com o seu castigo composto por 30
pontos, o I. Austro-Húngaro decide invadir a Sérvia, convencidos de que o I. Russo não se
envolveria, uma vez que havia pouca coisa em causa para o seu império.
A Alemanha queria iniciar o ataque pelo lado que considerava mais fraco, isto é, o da
europa ocidental (mais precisamente, França), o que significou entrar pela Bélgica,
protetorado inglês, violando a sua neutralidade. Tendo isto, a Inglaterra declara a guerra ao I.
Alemão, porque por muitos defeitos que a Inglaterra tenha por agir maioritariamente em
função do interesse económico, a verdade é que é sempre amigo do seu amigo e um caso vivo
disso é a sua relação com Portugal ao longo da História.
Em poucos dias, todas as grandes potências europeias estavam em guerra, sendo que
a única que se proclamou formalmente neutral foi a Itália, mas até esta, um ano depois (1915),
se juntou à Tríplice Entente Cordiale.
A Tríplice Entente foi, então, apoiada pela Sérvia, Bélgica, Japão, Roménia, Portugal,
Grécia, China e por vários Estados da América Latina. E a Tríplice Aliança recebeu ajuda do I.
Otomano e da Bulgária. Era o fim da paz armada e o início da 1ª Guerra Mundial.
31
Fatores de aproximação entre potências
A partir de finais do século XIX, regista-se uma maior importância dos alemães nesta
região. Houve o projeto The Berlin Bagdad-Railway, que era um caminho-de-ferro que
atravessava todo o Império e ligava Berlim ao Golfo Pérsico (onde se situavam os lençóis
petrolíferos do Médio Oriente), sendo construído com fundos do Deutsch Bank. Este causou
um grande descontentamento e consequente oposição por parte de Inglaterra e França (e da
própria Sérvia), pois a construção do mesmo só iria aumentar o poderio alemão e,
consequentemente, ameaçar a hegemonia britânica na região, o que era inconcebível para
estes e para o seu ego gigantesco. É que o caminho-de-ferro tinha como vantagem a
possibilidade de transportar grandes e várias mercadorias e garantir a influência alemã da
Arábia. No fundo, era uma espécie de autoestrada de comunicações e interesses, como se
comprova no livro da História Moderna: O Imperialismo: “ (…) O caminho-de-ferro de Bagdade
devia facilitar as conquistas que os imperialistas alemães se propunham efetuar para Leste.
Depressa a Turquia se viu submetida à total influência alemã”.
Nesta altura, o petróleo não era valorizado, apesar de vir a ter mais potencial do que o
carvão. Até então, o carvão era a matéria-prima mais usada para constituir-se como o
combustível dos navios. Mas, para as potências imperialistas, o poderio naval era
determinante e deste facto advém a importância do petróleo. É que os países necessitavam de
uma grande frota de Guerra e as frotas militares navais moviam-se a vapor. Usavam carvão
32
para produzir o vapor, que tinha de ser disponibilizado ao longo do oceano, em ponto de
apoio, para que os barcos não parassem.
33
petróleo do Império Otomano estava dividido pela Alemanha e Inglaterra, o que mostra que é
possível os interesses imperialistas chegarem a um consenso.
Porém, este acordo revela ainda que as duas potências, apesar das divergências, são capazes
de manter uma boa relação e, quando possível, dividiriam colónias que teriam um grande
interesse para ambos os lados.
Quatro meses antes do início da guerra, ingleses e alemães tinham acertado as contas
em termos de exploração do petróleo, pois era fácil chegar a um entendimento. O governo
inglês detinha a maioria da Anglo Persian (hoje British Petroleum - BP), criada para resolver
34
estrategicamente a falta de petróleo da Inglaterra (explorar o Golfo Pérsico), sendo que a
Gulbenkian era o grande mediador destes negócios.
A 1ª Guerra Mundial
Além disso, esta guerra não era desejada por nenhum governo, nem mesmo pela
Inglaterra ou pela Alemanha, como se compreende através da realização dos acordos
anteriormente falados.
Por outro lado o imperialismo britânico pretendia conservar e ampliar o seu império
colonial e debilitar a sua mais importante rival: a Alemanha. Já o imperialismo francês lutava
pela restituição da Alsácia e da Lorena, que a Alemanha recuperara em 1871, enquanto o
Imperialismo russo aspirava varrer da Turquia e dos Balcãs a influência alemã e austríaca e
estabelecer aí a sua própria esfera de influência.
35
A Frente Ocidental localizou-se perto de Paris, em França, devido à investida alemã
para conquistar e controlar todo o território francês. Mas os conselheiros do imperador
alemão também se enganaram; o Reino Unido entrou na guerra contra os cálculos daqueles.
Logo em setembro de 1914, foi travado o avanço alemão com o esforço conjunto das tropas
francesas, britânicas e belgas. Criou-se um impasse, pois as linhas fortificadas francesas
impediram o avanço alemão e os ganhos territoriais eram mínimos. Como ninguém esperava
este impasse, a guerra alargou-se em 1915. O Plano Schlieffen falhou no seu principal, que era
obter uma vitória rápida e decisiva a ocidente para, em seguida, transferir forças para oriente
e ali obter outra vitória decisiva.
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Já a Frente Balcânica, localizada no sul da Europa, era dominada pelas potências
centrais (Alemanha e Áustria-Hungria). Os aliados não conseguiram fazer progressos até à
queda das potências do centro da Europa. De resto, a Sérvia fez uma resistência
surpreendente, conseguindo, logo em 1914, travar e até expulsar o exército austríaco.
Mas em 1915 já não podia fazer nada contra o conjunto das forças armadas austríaca e
alemã. A partir deste ano, a guerra move-se mais para os países balcânicos, que vão entrando
nela consoante as promessas que as potências lhes fazem. Os sérvios recuaram para a Grécia
e, depois de receberem a ajuda dos aliados franceses, reapareceram na batalha da frente no
Sudoeste. O adversário principal das potências centrais no Leste era, obviamente, o I. Russo.
Portugal entra oficialmente na guerra a 1916 ao lado dos Aliados, o que estava de
acordo com as orientações da República ainda recentemente instaurada. Porém, a Inglaterra,
que mantinha desde há muito uma aliança com Portugal, moveu influências para que o país
não participasse ativamente na Guerra. O Partido Democrático, que estava no poder na altura,
movido também pelo facto de já existirem combates entre tropas portuguesas e alemãs junto
às fronteiras das colónias em África, desde cedo demonstrou interesse em se tornar parte
beligerante do conflito.
Sabia de antemão que uma vitória alemã na guerra levaria à perda de grande parte dos
seus territórios coloniais. Como tal, em Setembro de 1914 eram enviadas as primeiras tropas
para África onde as esperariam uma série de derrotas perante os alemães, na fronteira do sul
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de Angola com o Sudoeste Africano Alemão (Desastre de Naulila) e na fronteira norte de
Moçambique com a África Oriental Alemã. Apesar destes combates, a posição oficial do Estado
português era claramente ambígua. Os partidos de cariz esquerdista estavam ao lado dos
regimes da França e da Inglaterra, enquanto os da direita simpatizavam-se com os regimes das
potências centrais (Alemanha e Austro-Hungria). Porém, a questão que se colocava era se
Portugal entraria na guerra ou não, já que a entrada de Portugal na guerra seria sempre ao
lado da Inglaterra e França.
Além destas frentes, a guerra travava-se também a nível aéreo e naval. O avião fora
inventado apenas uma década antes do início da guerra. A princípio, a Alemanha usava mais
aeróstatos dirigíveis chamados zepelins do que aviões para bombardear o Reino Unido. Então,
os britânicos construíram armas antiaéreas para derrubar os zepelins. Durante o conflito, os
dois lados construíram vários tipos de aviões de guerra. Os caças tinham metralhadoras que
disparavam noutros aviões. Em 1917, os alemães começaram a lançar bombas a partir dos
aviões. Estes bombardeamentos mataram cerca de 1.300 pessoas e feriram aproximadamente
3 mil no Reino Unido.
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conseguiam deter os submarinos alemães. Em 1915, os alemães anunciaram que tentariam
afundar todos os navios inimigos em águas britânicas. O grande objetivo era isolar a ilha
britânica e não permitir que os navios da marinha britânica alcançassem a ilha e abastecessem
o país.
Entretanto, na Rússia a situação estava cada vez mais complicada, tal como já foi
referido anteriormente. Na verdade, a Rússia encontrava-se fraca e pouco capaz de aguentar
os esforços de guerra. Em 1917 a Rússia conheceu duas revoluções. A primeira, a Revolução de
Fevereiro, foi contra o regime vigente, causada pela insatisfação geral com o esforço de
guerra. Essa revolução derrubou o czar e proclamou a república, mas não alterou a situação na
frente. Dito de outro modo, a Rússia, a partir dessa revolta, praticamente não combatia, o que
se transformou num problema grave para os franceses e britânicos que tinham, a partir de
1917, de defrontar-se sozinhos com o todo-poderoso exército alemão. A Revolução
Bolchevique de Outubro de 1917 começou com Lenine que, estando na Finlândia e ao analisar
a situação da Rússia, achou que estava na hora de tomar o poder e por isso regressou e criou
um comité revolucionário junto do soviete de Petrogado, presidido por Trotsky. Na noite de 25
de Outubro, o II Congresso dos Sovietes, dominado pelos bolcheviques, legalizou a revolução e
designou para governar o país um Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenine. O
partido de Lenine vencia então a luta interna.
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Para os alemães, era uma questão de tempo até que a guerra estivesse ganha: a
Inglaterra estava sem marinha de guerra (tenta isolar os impérios centrais dos abastecimentos
marítimos, afetando a indústria militar alemã, mas os germânicos intercetam os navios
britânicos através de submarinos); a França estava a perder força; e a Rússia encontrava-se
inativa. O novo tipo de combate (numa única frente) dificultou ainda mais a situação militar
franco-britânica, mas foi também a razão formal para os EUA declararem guerra à Alemanha. A
revolução Russa viria a favorecer os Impérios Centrais e a entrada dos Estados Unidos viria a
favorecer a Entente.
Se antes até lucravam com a guerra, pois conseguiam aumentar as exportações para a
Europa (cereais, petróleo, borracha, aço, medicamentos, etc.), agora forneciam-lhe
empréstimos e tornavam-na dependente e por isso consideraram-se neutros (1914), a partir
de 1917 sentiram que deveriam intervir e tentar defender os seus interesses. Com a chegada
de tropas americanas houve o fecho de muitos mercados na América do Sul e na Alemanha, o
que fez com que a Alemanha não conseguisse resolver a guerra para o seu lado. A entrada dos
EUA ao lado da Tríplice Entente traz uma nova energia à guerra e conduz os aliados ao sucesso,
forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Fortalecidos, os países da Entente
conseguiriam romper o imobilismo em que se encontrava a disputa.
Por outro lado, estes também queriam a luta pela liberdade, que passava por
combater a ditadura do Kaiser (imperador), como chamavam ao chefe do Estado Alemão,
40
Guilherme II. Como o regime da Alemanha era considerado pelos EUA como uma ditadura,
então as democracias francesa e britânica deviam ser apoiadas contra o autoritarismo alemão.
A partir deste diagnóstico, a opinião pública foi preparada para aceitar a guerra. Faltava só
criar os meios militares. Os EUA praticamente não tinham forças armadas, exceto a marinha de
guerra. Aliás, a marinha de guerra norte-americana já combatia os submarinos alemães. Logo
depois da declaração de Guerra à Alemanha, foi introduzido nos EUA o serviço militar
obrigatório, tendo sido recrutados três milhões de soldados. Sem dúvida alguma, a força dos
EUA resolveu a I Guerra Mundial. Chegaram dois milhões de soldados, apoiados por uma
enorme capacidade económico-financeira e pela produção industrial. Essa força foi decisiva. As
ofensivas alemãs pararam e, em novembro de 1918, a Alemanha capitulou. A 1ª Guerra
Mundial acabou.
No entanto, venceram a guerra devido a três fatores: Expansão territorial até início
do século XX (constituíam um dos maiores territórios do mundo e o maior império do Mundo,
com especial destaque para o Canal do Panamá); força económica: novas e maiores
oportunidades de crescimento económico (liberalismo económico, território rico em recursos
naturais e mineiros, revolução Industrial ampliada no novo mundo, investimento na ciência e
na tecnologia e culto da inovação prática). Este crescimento teve uma paragem durante a
Guerra Civil, devido a razões económicas (o Norte necessitava dos escravos para as suas
fábricas e o Sul queria-os para trabalhos na agricultura) e reformas no sistema
social/progressismo (para diminuir desigualdades, como investimentos públicos, educação
para todos ou igualdade entre homens e mulheres); e o Isolacionismo: política externa eficaz e
útil (Doutrina Monroe – potências europeias não interferiam no território norte-americano e
vice-versa).
41
estarrecedor colosso militar. E, mesmo rodeada por aliados que se revelariam pouco
resilientes, ao final das contas, quase garantiu a vitória. Quase.
“A Grande Guerra e o modo como ela termina anunciam o declínio da Europa. (…) a Europa (…)
foi materialmente devastada e quase toda sangrada e empobrecida pelo conflito militar. (…)
[N]a economia mundial o papel da Europa diminuiu, em proveito (…) dos EUA (…).”, Jacques
Nére, História Universal: O mundo contemporâneo.
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Houve também perdas materiais. Após a Guerra, os principais devedores aos EUA
(principal credor europeu) eram o Reino Unido, a França, a Itália, Rússia e a Polónia. Este
endividamento levou à perda ou destruição de 1/3 dos ativos ingleses e franceses e de 1/4 dos
ativos alemães. Assim, houve perdas materiais e um endividamento maiores nos países da
Entente do que nos países da Europa Central.
Deste modo, o império russo deu lugar à Rússia Soviética, Finlândia, Estónia, Letónia,
Lituânia e Polónia. E o império austro-húngaro à Checoslováquia, Áustria, Hungria e Jugoslávia.
Sem contar com as alterações que também atingiram o médio-oriente, onde o Império Turco
dividiu-se na Turquia, Síria, Iraque, entre outros. Estenderam-se, então, os regimes
republicanos e as democracias parlamentares.
Em termos de capacidade destrutiva, foi uma evolução que foi usada para fragilizar os
países. A certa altura, deixou de poder ser usada em pleno. Até aí, era uma capacidade
crescente, que permitia a evolução da indústria e o crescimento económico. É que, nas
economias capitalistas, em épocas de guerra, as indústrias doa armamento desenvolvem-se e
lucram mais do que em tempos anteriores, já que têm de produzir mais para satisfazer a
procura. Durante a guerra, o Estado compra a crédito a produção das indústrias. Os Estados
capitalistas investem na compra de produtos com dinheiro de lucros, de salários e, quando isso
não chega, imprimem novo dinheiro para que haja forma de pagar o que é necessário comprar
às indústrias. Apesar de haver uma canalização de recursos para o esforço de guerra, não
houve necessariamente uma estagnação económica, pelo contrário. Em períodos de guerra, as
potências capitalistas tendem a crescer economicamente, devido a uma maior facilidade de
escoar os bens (não há restrições em termos de procura, visto que esta é feita pelo Estado.
43
Muitas vezes a produção torna-se deficitária face à procura do Estado). Houve, então, uma
inflação de procura e consumo.
Uma das consequências mais importantes desta guerra foi a inversão da tendência das
exportações líquidas em termos de comércio mundial. A Europa deixou de englobar as
potências imperialistas dominantes no domínio político-militar e começou a depender de
novos países a nível de alimentos. De resto, os aliados (que tinham recebido dinheiro
americano) endividaram-se muito mais do que a Alemanha. Os EUA eram os que
transportavam mais mercadorias para a Europa, passando assim de devedores para credores.
44
Tratados de Paz
Como já é caracterizador na História, depois da guerra, vem a paz, por isso Churchill
afirma que “a guerra é uma invenção da mente humana. E a mente humana também pode
inventar a paz”. A Conferência de Paz iniciou-se em janeiro de 1919, em Paris, com a presença
de 27 representantes das potências vencedoras, tendo especial participação a Itália (Vittorio
Orlando), a Grã-Bretanha (Lloyd Geoge), a França (Clemenceau) e os EUA (Wilson), numa
altura em que ainda se vivia na Europa uma enorme instabilidade social.
A Itália só queria alargar o seu território na costa adriática e no Norte de África, pelo
que ficou pouco satisfeita com a expansão territorial conseguida em Paris. O Reino Unido
preocupava-se em salvar o seu império colonial, conseguindo estabelecer novas fronteiras
aparentemente desfavoráveis a Londres. A França pensava unicamente numa forma de
controlar a Alemanha, através de imposições (diktat). Nesta situação, foram os EUA que
dirigiram a Conferência de Paz. Os EUA são contra anexações territoriais, não se considerando
aliados, mas sim associados da Entente. Por isso, agrada-lhes o fim dos Impérios, para terem
mais mercados disponíveis, não protegidos.
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Sociedade das Nações, devido às minas de carvão que lá existiam; cedência de territórios à
Polónia, à Dinamarca e à Bélgica; reconhecimento da independência da Áustria e da
Checoslováquia; destituição de todas as suas colónias, que passaram para os aliados; e serviço
militar deixou de ser obrigatório. Para além de tudo isto, e ainda de acordo com o Tratado de
Versalhes, a Alemanha foi obrigada a pagar indemnizações aos países vencedores bem como a
reparar financeiramente todos os prejuízos da guerra, uma vez que foi considerada por este
Tratado como culpada da Guerra. As tão controversas reparações de guerra, exigidas a um país
que já se encontrava na penúria.
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O Tratado de Trianon foi assinado a 4 de Junho de 1920, determinando que a Hungria
cede territórios à Checoslováquia, Jugoslávia e Roménia (criando expressivas minorias
húngaras nestes locais). Através da fragmentação do território (a Hungria perdeu 2/3),
pretende dar resposta à diversidade étnica. Além disso, os húngaros perderam o acesso ao
mar que possuía através da Croácia e o seu exército teria no máximo 35 mil soldados.
Estes países foram obrigados a pagar indemnizações aos países vencedores (as tão
controversas reparações de guerra, exigidas a países que se encontravam na penúria). Estes
tratados também criaram um «cordão sanitário» da influência russa, para que a Europa não
caísse nas mãos do socialismo, nem sofresse qualquer tipo de influência por parte da Rússia.
Foi, portanto, uma tentativa de isolar a Rússia, logo após a revolução socialista e o final da
1ªGuerra Mundial, quando o país era visto como uma ameaça ao capitalismo. Este cordão
consistiu em criar um embargo comercial para tentar asfixiar e matar a economia socialista.
Estas cláusulas foram mal vistas pelos EUA e pela Inglaterra. Os primeiros não
concordaram especialmente com o Tratado de Versalhes, pois achavam as decisões demasiado
duras, tinham uma política de neutralidade (recusando-se a associar-se a algum lado) e
queriam que os pagamentos das reparações da Alemanha fossem feitos muito faseadamente –
para custar menos ao Estado Alemão e para não prejudicar a importância alemã à Inglaterra e
aos EUA, sob a consequência de gerar uma recessão mundial. É que as empresas americanas
começavam a estabilizar na Europa e os EUA, uma vez que eram credores de muitos países
europeus. Por outro lado, a França foi a que mais concordou com estes tratados, pois a
Alemanha era o seu maior rival, e muitas das decisões iriam beneficiar os franceses. Portanto,
47
contava com o pagamento dos alemães e queria enfraquecê-los, tomando uma posição
favorável à entrada destes numa recessão.
Uma das consequências do pós-guerra foi, então, a criação da Sociedade das Nações
(SDN). A proposta do presidente Wilson foi concretizada através da Sociedade das Nações
(uma organização internacional multilateral) em 1919, sediada em Genebra, cujo Pacto
organizador foi assinado pelos 27 representantes na Conferência e posteriormente integrado
no próprio texto do Tratado de Versalhes. Aí reuniam-se regularmente os estados-membros da
Assembleia Geral. A SDN era, então, uma assembleia de deputados diplomáticos que tinha
ação muito limitada devido à falta de verbas, pelo que pouco fazia no contexto internacional.
Contudo, era composta por cinco membros: o Secretariado, o Conselho, a Assembleia Geral, o
Tribunal de Justiça Internacional e várias comissões especializadas.
Ainda assim, a SDN era a esperança de que a Grande Guerra tivesse sido a última, uma
vez que tinha como objetivos:
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4. A promoção da autodeterminação dos povos.
Deste modo, sem o apoio americano, que lhe conferia credibilidade, e sem
mecanismos que lhe permitissem responder às contínuas violações territoriais que se
sucederam, pois limitava-se a discutir as questões sem pôr um termo com força militar, a SDN
viu-se impossibilitada de desempenhar o seu papel de organizadora da Paz. A SDN é ignorada
e, a partir de 1939, extingue-se lentamente, dissolvendo-se em 19 de Abril. A 1ªG.M. acabou,
mas a paz duradoura não se iniciou.
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A exportação de capitais entre as guerras e a depressão
1929-1933
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o início da Guerra devido ao abandono do padrão-ouro e à consequente inconvertibilidade das
moedas.
Sendo assim, em 1920, a Europa sofreu uma inflação galopante que atingiu proporções
gravíssimas para os vencidos da Guerra, obrigados a pagar pesadas indemnizações, grande
parte com o dinheiro dos EUA. Os preços de bens essenciais subiram devido à elevada procura
desses bens sem a equivalente resposta por parte da produção. As exportações eram quase
inexistentes, o que tornava muito difícil equilibrar a balança de pagamentos. A contração de
novos empréstimos era o recurso inevitável dos governos. O agravamento do défice dos
estados era a consequência imediata.
Deste modo, a partir de 1924, surgiu o Plano Dawes, um plano provisório de ajuda
económica direcionado à Alemanha da pós-Primeira Guerra Mundial, com o intuito de que
esta pudesse reerguer a sua economia e pagar as dívidas e reparações a ela impostas. Este
plano foi elaborado pelo norte-americano Charles Dawes, e procurava resolver o problema do
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não cumprimento por parte dos alemães das dívidas acordadas em Versalhes com o final da
guerra. As propostas eram na verdade bastante simples, pois mantinham-se as somas a serem
pagas pelo país, mas com pagamentos anuais reduzidos e mais distanciados, dando tempo ao
país de acumular os valores devidos para libertar os seus débitos de guerra.
A dependência face aos EUA era, então, notória, pelo que a importância do dólar foi
cada vez maior, assumindo-se como a moeda mais forte.
Apesar de todos os países europeus terem revitalizado a sua situação por volta de
1925, este crescimento encontrava-se assente numa base frágil, devido à instabilidade social
existente e o aumento lento do protecionismo. A Europa passou de credora a devedora dos
EUA e Londres perdeu para Nova Iorque o seu papel de polo central/epicentro da economia
mundial. Os EUA são, agora, a dinâmica de todas as economias industriais. Possuem um vasto
mercado interno, com um poder de compra razoável, que absorve a maior parte da produção,
cada vez mais estandardizada. É nos EUA que abundam os capitais e a importância do dólar
americano é cada vez maior.
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não tem, todavia, o reflexo esperado ao nível dos défices orçamentais, que se mantêm muito
elevados, muito por culpa dos endividamentos externos. Isto quer dizer que esta recuperação
provocou efeitos diretos na economia norte-americana. Apesar de tudo, os países europeus
procuraram dinamizar as suas respetivas produções e tornar-se menos dependentes dos
produtos norte-americanos.
Além disso os EUA possuíam um vasto mercado interno, com um poder de compra
razoável, que absorve a maior parte da produção e havia uma grande abundância de capitais
devido à especulação bolsista, baseada na crescente produção industrial e na cada vez maior
importância do dólar. A aplicação de novos métodos de racionalização do trabalho como o
taylorismo, o fordismo e a estandardização contribuíram também para a grande prosperidade
e avanço dos Estados Unidos.
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“males” em vias de extinção. Afinal, devido à miséria europeia do pós-guerra, os EUA eram os
grandes fornecedores da Europa.
No entanto, foi esta mesma prosperidade que, como sabemos, se vai revelar precária,
ou frágil se quisermos, até porque:
1. Várias indústrias não tinham recuperado os níveis anteriores à breve crise de 1920-21.
2. Persistia um desemprego crónico associado à intensa mecanização.
3. A Europa melhorava e já não carecia de muitos produtos americanos.
4. A agricultura não era compensadora para quem se dedicava a ela. As produções
excedentárias originavam preços baixos e queda de lucros.
5. A política de facilitação de crédito mantinha, artificialmente, o poder de compra
americano, pelo que a compra de automóveis, imóveis e eletrodomésticos realizava-se
com base no crédito e nos pagamentos a prestações. Assim como acontecia na
aquisição de ações de empresas.
No entanto, para alguns historiadores, não é claro que os EUA sejam, no período entre
as duas guerras mundiais, a área económica dominante, e que se possa afirmar que Europa é
dependente dos EUA. O que se verifica é uma interdependência, com os capitais americanos a
fluírem para a Europa, e com os juros pagos pelos empréstimos a serem reinvestidos, em
grande parte, no reforço da economia americana, sustentando, ainda, a especulação bolsista
de Wall Street. Confirma-se assim, que na segunda metade da década de 20 se viveu um clima
de acalmia económica na Europa.
Deste modo, os americanos, crentes numa boa situação económica, muitos eram os
que investiam na Bolsa, onde a especulação crescia, ultrapassando, muitas vezes, entre 1927 e
1929, o valor da produção industrial. É, então, precisamente na Bolsa de Nova Iorque em Wall
Street que se irão manifestar os primeiros sinais da crise de 1929. Porém, esta já tinha
precedentes.
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do dinheiro americano tenha ido para lá – para reavivar a indústria. Com o risco de uma
recessão devido à guerra e com o poder que os EUA exerciam agora na Europa do pós-guerra,
a indústria alemã cresceu bastante, em grande parte graças à massificação do consumo dos
produtos alemães na Europa.
Ora, percebe-se, assim que a crise teve origem, por um lado, na especulação bolsista.
As cotações das ações da bolsa, cada vez mais altas, não correspondiam à situação real das
empresas. A facilidade de recurso ao crédito mantinha os cidadãos na ilusão de uma
prosperidade interminável. Os bancos estimulavam esta especulação bolsita, pois concediam
créditos ao consumo privado de forma pouco criteriosa e a pessoas que não possuíam
capacidade, acabavam-se por endividar. Tratava-se do recurso ao crédito para aplicação na
compra de ações. Ora, quanto mais se consumia, mais os bancos emprestavam, numa espiral
que só podia conduzir a um fim – a rutura do sistema financeiro e, consequentemente,
produtivo. As pessoas não pagavam aos bancos o que lhes deviam e deixaram de consumir por
não terem meios para tal. Porém, neste contexto, salienta-se que “Hoover tornou-se uma das
figuras mais determinantes na expansão económica do início dos anos vinte, um período
marcado por um alargamento excessivo do crédito, que trazia maus pronúncio para o futuro”,
avaliação feita por Bill Fawcett que, como veremos em pormenor, mais correta não poderia
estar.
55
A crise teve origem, por outro lado, na superprodução de bens de consumo. Na euforia
da recuperação do pós-guerra, produz-se demasiado rápido para as necessidades reais das
sociedades desenvolvidas. Acumulam-se, pois, os excedentes, que são o rastilho da crise. E,
com a referida retração do consumo privado, as empresas veem-se com uma enorme
quantidade de stocks acumulados, o que vai levar à deflação, isto é, à baixa dos preços, a qual
penaliza as empresas, que veem os seus lucros diminuir, obrigando-as a despedimentos, o que
conduzirá ao desemprego e à queda do poder de compra. Para este facto, Bill Fawcett, autor
do livro os “Os 100 Grandes erros da História”, atribui um culpado,"Hoover [(presidente dos
EUA da época)] tentou manter os salários dos trabalhadores industriais elevados demais [na
época de prosperidade], e o resultado foi o aumento do desemprego com impacto negativo no
PIB”.
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Os desequilíbrios trazidos pelos tratados de paz e pela instabilidade social agravaram-
se através desta crise bolsista (e consequente recessão). Assim, ela teve uma repercussão
generalizada nos EUA e na Europa. Enquanto primeira potência económica do mundo, os EUA
mantinham relações comerciais com todo o mundo capitalista, pelo que a falência da
economia americana conduziu à falência da economia mundial. A verdade é que quem sofreu
mais com esta crise foram, de facto, os EUA. A Europa ficou abalada, mas não foi de forma tão
grave como nos EUA. Os países europeus, como dependiam muito do pagamento dos
empréstimos americanos para a reconstrução do pós-guerra, viram-se sem apoios, pois os
capitais injetados pelos EUA foram resgatados pelos bancos americanos, de modo tentar salvar
a sua economia. Os países que dependiam da exportação de matérias-primas deixaram de ter
compradores e os países em vias de desenvolvimento ficaram sem mercados para o
escoamento dos seus produtos, procedendo à diminuição dos níveis de produção. A Alemanha
foi o país europeu mais afetado, já que os EUA investiram muito na economia alemã e
respetiva indústria.
A recessão durou anos. As diferentes economias tentaram de tudo para parar a crise. A
maior parte dos países procurou tornar-se autossuficiente, iniciando-se um período de adoção
de políticas fortemente protecionistas (estavam autocentrados e tinha tendência a fechar-se).
57
Outros apostaram em verbas públicas na economia nacional para incentivar o crescimento
económico (os países capitalistas fizeram isto para acelerar a produção de capital) e ainda
outros apostaram nas políticas de redistribuição de rendimentos.
A Alemanha também fez tudo isso e até criou uma fábrica de construção de
automóveis (Volkswagen). Era uma empresa estatal, financiada pelo Estado e por instituições
públicas. Outros países também desenvolveram programas destes para o incentivo do
desenvolvimento económico, ainda que em menor escala.
No meio de toda esta situação, o pior residiu ainda no facto das autoridades
americanas, não conscientes da dimensão da crise, terem acabado por acentuar ainda mais a
deflação com medidas desastrosas. “A recessão foi impulsionada por uma desaceleração
cíclica do mercado de capitais e depois exacerbada por uma política económica mal orientada.
E foi a inépcia de Hoover que agravou a crise. Embora ele, e de certa forma justificadamente,
tenha sido um bode expiatório da crise económica, o seu fracasso não foi invertido pelo seu
sucessor, Roosevelt, e as ações combinadas de ambos fizeram com que a Grande Depressão
durasse mais tempo e se intensificasse ainda mais” (Bill Fawcett) Assim, logo em 1930, os EUA:
1. Aumentaram de 26% para 50% as taxas sobre as importações (para proteger a sua
economia).
2. Criaram dificuldades acrescidas a outros países que ficaram sem condições para
adquirir a produção americana (, o que provocou o declínio do comércio mundial).
3. Aumentaram os impostos, buscando novas receitas para o orçamento.
58
Instava-se, então, a descrença do capitalismo liberal, necessitando-se de uma maior
intervenção na regulação das atividades económicas.
59
A recessão trouxe consigo o reacender do fervor revolucionário de esquerda e a defesa
de alternativas económicas anticapitalistas. Isto ocasionou alterações políticas em todos os
países. Muitos deles, com estruturas políticas muito frágeis, evoluíram para regimes ditatoriais
(fórmulas autoritárias e conservadoras de direita). O tempo das ditaduras, dos fascismos,
aproximava-se. O facto de os Estados tentarem sair da recessão numa base nacional (passando
a crise para outros) levou-os a uma nova guerra.
Uma das características do período que decorre entre as duas guerras mundiais é a
crise das democracias liberais. As dificuldades do primeiro pós-guerra, a reação bolchevique e
a crise de 1929 são algumas das causas de regressão democrática na Europa.
O fascismo surgiu primeiro em Itália, em 1919. Este país não ficou feliz com a sua
participação na Primeira Guerra Mundial, pois gastou imensos recursos e não obteve
compensações significativas. Nomeadamente a expansão territorial italiana que ficou aquém
do esperado e desejado. A não satisfação das suas reivindicações na Conferência de Paz em
1919, deram à população uma “vitória incompleta”. A Itália atravessava então uma grave crise
60
moral e económica (posteriormente agravada pela recessão). Nesta situação, a maioria da
população estava recetiva a uma solução radical. Foi Benito Mussolini que tomou o poder em
1922. Foi o primeiro regime fascista a ser implementado definitivamente. Este movimento só
pôde ser implantado, porque encontrou uma ampla base social de apoio e condições propícias
ao seu desenvolvimento.
61
Hitler, pretendendo evitar complicações a leste, celebra um pacto de não-agressão com a
URSS, que incluía a partilha da Polónia e a integração na URSS dos países bálticos.
A crise mundial do capitalismo levou o imperialismo japonês, mais fraco que o seu
concorrente no pacífico, os EUA, ao paroxismo nacionalista, formando um governo dominado
por uma casta militar fascista que se organizou para esmagar completamente os seus vizinhos
asiáticos e retirá-los da esfera de influência dos imperialismos rivais dos EUA, da Inglaterra e
da França como uma vida de saída da crise. Tratava-se de um país que dependia muito do
comércio mundial, uma vez que necessitava de matérias-primas e de mercados externos para
exportar. O principal objetivo visado pelo imperialismo japonês era dominar a China.
62
Em suma e, neste contexto, Niall Ferguson, no livro “A Guerra do Mundo” afirma que
“A economia planificada tinha um insaciável apetite não só por trabalhadores, mas também
por matérias-primas. A União Soviética tinha herdado ambos, em copiosa quantidade, do
Império Czarista. Todavia, os outros países que haviam adoptado o modelo totalitário eram
menos dotados. Na Alemanha e no Japão, a economia planificada estabeleceu um ritmo
político muito diferente da sincopada batida da era do jazz. Em meados dos anos 30, já as
pessoas haviam deixado de dançar; em vez disso, marchavam.”
Deste modo, os regimes totalitários afirmavam sem quaisquer reservas o seu carácter
militarista e imperialista. Com efeito, as suas bases sociais de apoio foram alimentadas com
promessas ultranacionalistas de alargamento das fronteiras dos respetivos territórios pela
agressão expansionista, nem que para isso tivessem de violar todos os tratados e convenções
internacionais. Assim, em particular a Alemanha, a Itália e o Japão marcaram os anos 30 pelas
sistemáticas agressões à nova ordem internacional, inviabilizando todas as intenções de paz e
de cooperação entre os estados-membros da Sociedade das Nações.
“Em termos globais, o colapso da democracia não pode ser facilmente atribuído à
Depressão; como já pudemos ver, demasiadas democracias sobreviveram às profundas crises
económicas e demasiadas ditaduras formaram antes da súbita queda ou no rescaldo de
declínios bastante modestos da produção”, Niall Ferguson.
A 2ª Guerra Mundial
A 2ª Guerra Mundial deu-se entre 1939 e 1945. Esta foi uma guerra essencialmente
ideológica, onde se verificou um conflito entre Liberalismo, Comunismo e Fascismo. Pode
dizer-se que as causas (além do surgimento dos regimes totalitários) desta guerra estiveram
nas determinações do Tratado de Versalhes. Este Tratado, assinado em 1919 e que encerrou
oficialmente a Primeira Grande Guerra, determinava que a Alemanha assumisse a
responsabilidade por ter causado a 1ªG.M. e obrigava o país a pagar uma dívida aos países
prejudicados, além de outras exigências como o impedimento de formar um exército
reforçado e o reconhecimento da independência da Áustria. Isso é claro, trouxe revolta aos
alemães, que consideraram estas obrigações uma verdadeira humilhação.
63
o domínio dos checos sobre alemães que se seguiu à queda da monarquia dos Habsburgo e à
criação da Checoslováquia.
A base do capitalismo alemão era uma base nacional, apesar da presença de empresas
americanas. Alguns historiadores chegam mesmo a dizer que os capitalistas americanos
trouxeram aos capitalistas alemães o apoio financeiro e político possível à agressão hitleriana.
O desejo de Hitler consistia em expandir os domínios territoriais da Alemanha e ampliar, desta
forma, a obtenção de poder e recursos materiais (principalmente matérias-primas). Em termos
de ajuda económica, após Versalhes, os bancos e os “trusts” americanos multiplicaram na
Alemanha investimentos de capitais e créditos. Como conclusão, a primeira condição da
agressão hitleriana foi o renascimento da indústria metalúrgica e química de guerra na
Alemanha. Este renascimento só foi possível graças ao auxílio dos meios dirigentes do capital e
da política dos EUA (grande parte do armamento do exército alemão era produzido pelos
americanos). Estes objetivos militaristas e expansionistas também estavam presentes, no final
da década de 1930, na Itália fascista de Mussolini e no Japão. Em 1934, a Itália encontrava-se
ao lado das potências vencedoras da 1ªG.M. (França e Inglaterra). A Alemanha tentou anexar a
Áustria e a Itália, algo que não acontece devido à Conferência de Stresa. É garantida a
independência da Áustria, bem como é impedido a promoção do rearmamento alemão (um
dos objetivos de Hitler). Os italianos não queriam sair da sombra porteira dos vencedores da
1ªG.M. e, portanto, fazem um pacto com Inglaterra e França.
Tal proibição, no entanto, não chegou a afetar a Itália, porque nações fortes como os
Estados Unidos e a Alemanha - que não faziam parte da SDN - continuaram a vender-lhe
matérias-primas essenciais, como petróleo e carvão. A conquista da Etiópia pela Itália,
consumada em 1936, provou ao mundo que a SDN era incapaz de assegurar a paz mundial.
Isto provocou um ponto de rutura/colisão entre Itália e a Entente Anglo-Francesa. A Alemanha
alia-se aos transalpinos e celebrava então um pacto com Mussolini (Eixo Roma-Berlim), onde
foram anexadas várias regiões que permitiam regular o comércio e a política externa de países
como a Áustria e a Checoslováquia. O "Eixo Roma-Berlim" tornou-se uma aliança militar em
64
1939 com o Pacto de Aço. Foi um acordo entre os governos da Itália fascista e da Alemanha
nazista, firmado em 1939, que estabelecia uma aliança em caso de ameaças internacionais,
bem como ajuda imediata e suporte militar em caso de guerra e colaboração na produção
bélica e no campo militar. Além disso, nenhuma das partes poderia firmar paz sem o
consentimento da outra. As anexações territoriais da Áustria e da região checa dos Sudetas
foram realizadas pela Alemanha em 1938. Posteriormente, em 1939 Mussolini anexa a
Albânia.
Todo este processo de expansão ia contra o Tratado de Versalhes que os alemães
sempre reprovaram e culpavam pela sua situação de penúria no imediato pós-guerra, até
porque, segundo, R. A. C. Parjer, em a História da 2ª Guerra Mundial, “[E]ra imprescindível
para o sucesso dos Nazis e para a eventual aceitação de Hitler por parte dos Alemães, no que
diz respeito à política externa, que o povo alemão acreditasse que os seus infortúnios
económicos e políticos eram uma consequência da imposição e da aplicação do Tratado de
Versalhes por parte dos predadores estrangeiros. Poucos alemães sentiam qualquer
«culpabilidade» especial em relação à Primeira Guerra Mundial e não sentiam que as suas
dolorosas consequências, encarnadas no Tratado de Versalhes, representassem um castigo
justificado.”
A expansão japonesa interferia também na política europeia. A Alemanha afirma com
o Japão um pacto anticomunista em 1936 (Pacto Anti-Komintern), cujo objetivo era combater
o expansionismo do comunismo soviético. Em caso de ataque da URSS contra a Alemanha ou o
Japão, os dois últimos comprometiam-se a efetuar consultas acerca das medidas a serem
tomadas para proteger os seus interesses comuns. Também concordaram que nenhum dos
dois concluiria tratados políticos com a URSS. Esta aproximação do Japão à Alemanha deve-se,
essencialmente, à viragem da política japonesa para uma direção mais nacionalista e
autoritária. Em 1937, a Itália aderiu a este pacto. Após ter firmado com a Alemanha o Pacto do
Aço, integra os seus objetivos militares em 1940, com o Pacto Tripartite. Através deste,
formalizou a aliança conhecida como Eixo Roma-Berlim-Tóquio. Foi idealizado por Hitler para
intimidar os EUA e tentar mantê-lo como país neutro durante a guerra. Porém, na prática
acabou legitimando a entrada americana no conflito europeu, quando este declarou guerra ao
Japão, após o ataque japonês a Pearl Harbor.
Perante o desrespeito das normas dos tratados de paz e dos termos do pacto da SDN,
as democracias ocidentais reagiram muito passivamente. A SDN manifestou uma atitude
displicente em relação aos países que violaram as cláusulas do seu pacto. O Reino Unido e a
França não impediram Hitler de atuar logo em 1938 porque ambos não estavam preparados
para a guerra. A nível económico, financeiro e industrial eram muito mais fracos do que a
65
Alemanha. Para além disso, os britânicos e os franceses não tinham nenhuma vontade
psicológica de entrar numa nova guerra depois das terríveis perdas que tiveram durante a
1ªG.M.. Também, sem o apoio dos EUA, os exércitos francês e inglês tinham poucas
probabilidades de resistir perante as forças armadas de Hitler.
Acreditando nas promessas feitas por Hitler de que, resolvido o problema dos Sudetas,
não haveria mais problemas na Europa, as democracias ocidentais cederam na celebração do
Pacto de Munique, em 1938, aceitando a integração daquela região nas fronteiras alemãs.
Estes são os principais exemplos da atitude passiva das democracias, as quais não notavam
que, com as suas tentativas de pacificação, estavam a dar oportunidades à Alemanha e à Itália
de testarem as suas armas.
O último obstáculo à guerra foi a posição da URSS. A França já tinha tentado fazer a
Guerra e em 1934 ofereceu um lugar à Rússia na SDN. Esta, ao início, pensou em aceitar o
lugar, mas depois mudou de opinião por causa da Polónia (um novo país criado na sequência
dos tratados e que ninguém queria), pois achava que tinha sido criada numa área que já tinha
influência (só aceitaria se tivesse livre acesso ao território em questão). A França não quis
sacrificar a aliança com a Polónia e a URSS desistiu do seu possível lugar na SDN e da sua
aliança com a França.
66
do Estado polaco e de uma invasão pelas tropas de Wehrmacht (conjunto das forças armadas
da Alemanha durante o Terceiro Reich entre 1935 e 1945).
Durante a 2ª Guerra Mundial, existiam duas grandes frentes. A frente oriental iniciou-
se com bombardeamentos maciços realizados pela aviação (luffwaffle) a Varsóvia (primeira
capital europeia a conhecer as agruras do bombardeio aéreo). Os alemães tencionavam
conquistar o território polaco rapidamente, antes que as chuvas de outono tornassem os
movimentos mais difíceis e que os franceses pudessem atacar a oeste.
Os comandantes polacos esperavam poder resistir aos ataques alemães até que a
ofensiva francesa, com a qual contavam, fizesse recuar as tropas alemãs. Face a esta invasão, a
Inglaterra e a França enviam ultimatos, exigindo a retirada imediata das forças alemãs do
território polaco - dando-lhes um prazo de vinte quatro horas - findo os quais
automaticamente se declarariam em guerra com a Alemanha. A 3 de Setembro, chegam à
Chancelaria alemã as declarações de guerra. Apesar dos esforços, os polacos não têm
condições de deter a poderosa máquina militar germânica. Em apenas três semanas, a Polónia
caiu em poder dos alemães, acabando por se render incondicionalmente.
67
A Frente Ocidental foi a segunda maior frente e mais importante durante a 2ª Guerra
Mundial. Em abril de 1940, capitulavam a Dinamarca e a Noruega; em maio, deu-se a invasão
da Holanda e da Bélgica, por onde se processou a entrada em França, cuja capital cedeu ao
avanço triunfante dos alemães, em meados de junho. Em pouco mais de um mês,
praticamente todo o território francês estava ocupado pelos nazis.
Em junho de 1941, a guerra sofreu, pois, uma mudança radical. Hitler rompe o pacto
germano-soviética e as forças armadas deram início à invasão da URSS. O ataque foi
fulminante. Perante um exército mal preparado e mal dirigido, a Wehrmacht (infantaria
alemã), em menos de um mês, chegava às portas de Leninegrado e, em mais de três meses,
instalava-se nos arredores de Moscovo. O pacto de não-agressão, uma aliança entre dois
ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos -, que deveria possibilitar aos
dois parceiros conquistas territoriais e políticas de grandes proporções e, ao mesmo tempo,
mudar o equilíbrio político na Europa, é considerada por muitos uma mácula na história. Os
alemães não estavam interessados em conquistar grandes cidades russas, queriam apenas
alcançar grandes zonas petrolíferas dentro do território para assim controlarem o petróleo
russo.
68
Verifica-se então uma hegemonia alemã, que rapidamente invadiu territórios e
exerceu a sua força e poder, para alcançar mercados protegidos e expandir a sua base
nacional. Os alemães não estavam interessados em conquistar grandes cidades russas,
queriam apenas alcançar grandes zonas petrolíferas dentro do território para assim
controlarem o petróleo russo (este recurso era uma arma estratégica para os exércitos). A
Rússia era um reservatório da produção industrial e energética e o segundo maior produtor de
petróleo mundial, que era proveniente do Azerbaijão). Era uma região estratégica, pois dava
ligação ao Mar Cáspio e ao Médio Oriente. Se chegassem a esta zona, teriam praticamente
tudo sob controlo.
69
Todavia, a partir de 1943, começa a derrocada do Eixo. Os alemães são derrotados no
Norte de África por tropas americanas e inglesas, iniciando-se a invasão aliada da Sicília, que
foi reconquistada em julho desse ano. Em julho de 1944, os aliados entraram em Roma.
A Guerra no Pacífico
No Mediterrâneo, o avanço dos alemães contava com o apoio dos exércitos de
Mussolini e com a ascensão, por toda a Península Balcânica, de regimes conservadores. Muitos
deles, sob pressão de Hitler, integraram também o Eixo Berlim-Roma-Tóquio, entretanto
constituído pelas potências totalitárias. Portanto, sem sólidos apoios no Sul da Europa, a força
aérea inglesa, obrigada a utilizar as bases no Egito e na Líbia, encontrava grandes dificuldades
em suster a iminente entrada dos Alemães no Norte de África.
70
Apesar de ter assinado o Pacto Tripartite em 1940, o grande problema do Japão era o
interesse e a dependência em relação aos EUA. A tensão com os EUA aumenta ainda mais,
com os americanos (principais produtores de petróleo) a deixaram de vender petróleo ao
Japão, por este ser aliado da Alemanha. Portanto, os EUA entram abertamente em conflito
com o Japão. A hegemonia sobre o Pacífico, onde os americanos detinham grande poder e
influência, levou o Governo japonês a atacar a base naval americana de Pearl Harbor em
dezembro de 1941.
Isto provocou o envolvimento imediato dos EUA no conflito, ao lado das democracias
europeias. A sua participação na guerra era, até então, indireta já que preparavam os seus
exércitos e armamentos nas suas bases localizadas em pontos estratégicos do planeta. Este
ataque constituiu o segundo ponto de viragem, pois levou à entrada dos EUA na II Guerra
Mundial. O conflito estendia-se, agora, ao Pacífico e ao continente asiático, onde os japoneses,
graças às suas ofensivas militares, vinham edificando um poderoso império que era governado
por um autoritário imperador e que lhes assegurava o controlo de ricas fontes de matérias-
primas essenciais para a sua indústria e, ao mesmo tempo, o domínio de importantes áreas
estratégicas que se estendiam da Manchúria até à Oceânia. Perante o ataque ao aliado
asiático, Hitler declara guerra aos EUA.
O primeiro dos acordos firmados entre a Rússia (Josef Stalin), os EUA (Franklin Delano
Roosevelt) e a Inglaterra (Winston Churchill) ocorreram no ano de 1943, em Teerão. Além de
lançarem bases quanto às definições de partilhas, decidiu-se que as forças anglo-americanas
interviriam conjuntamente com as forças orientais soviéticas na França, completando o cerco
de pressão à Alemanha (dia D). Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras
da Polónia ao terminar a guerra, além de se formularem propostas de paz com a colaboração
de todas as nações. Os Estados Unidos e o Reino Unido reconheceram, ainda, a fronteira
soviética no Ocidente, com a anexação da Estónia, da Letónia, da Lituânia e do Leste da
Polónia.
71
Europa constitui então a data formal da derrota da Alemanha Nazi em favor dos Aliados na II
Guerra Mundial.
Faltava resolver uma outra guerra que se arrastava desde 1941: a Guerra do Pacífico.
Esta foi dividida em duas etapas. Entre 1937 e junho de 1942, quando o Japão se manteve na
ofensiva e foi vitorioso na ocupação de grande parte do território chinês e também na
destruição da frota americana em Pearl Harbor, assim como na tomada de Hong Kong e
Singapura, na invasão e ocupação da Tailândia, Birmânia, Malásia, Filipinas, Nova Guiné, Índias
Orientais Holandesas, Ilhas Salomão e das bases americanas de Guam e Wake. Já em 1942
tem-se a vitória da marinha e da aviação norte-americana na batalha naval de Midway, o que
impediu o desembarque das tropas japonesas no atol e resultou na destruição dos quatro
principais porta-aviões do Japão. A ofensiva passou, então, para os aliados, que, nos três anos
seguintes reconquistariam todos os territórios tomados, através de grandes batalhas terrestres
e navais (Guadalcanal, no Mar de Coral, Tarawa, Golfo de Leyte, Filipinas, Saipan, Iwo Jima e
Okinawa).
A guerra no Pacífico inverteu-se para o lado dos Aliados, em junho de 1942. A partir de
1943, os americanos recuperam o controlo do Pacífico e só uma resistência suicida dos
japoneses ia conseguindo suster um avanço mais rápido das tropas americanas e australianas.
Era o tempo dos kamikazes, pilotos japoneses que lançavam os seus aviões contra os alvos
inimigos.
72
(vencida na 2ª Guerra Mundial), a lançar os fundamentos da paz futura na Europa e no mundo,
e a resolver todas as dificuldades provocadas pela guerra, terminada apenas a 7 de maio desse
mesmo ano. A Conferência teve lugar em Potsdam, por esta cidade ser considerada o centro
simbólico do militarismo e da agressividade prussiana, com o que se quis demonstrar o fim
desses valores.
O ataque a Hiroshima tinha sido decidido pelo presidente dos Estados Unidos Truman,
desejoso de acabar com o conflito tão rapidamente quanto possível, ainda mais porque a
Alemanha já se tinha rendido em maio desse mesmo ano. O presidente foi informado do mais
secreto projeto aliado durante a guerra, conhecido como projecto «Manhattan», destinado a
conseguir a cisão do átomo e assim dominar a tecnologia que permitiria produzir um engenho
explosivo atómico
73
A nova ordem mundial após a 2ªG.M.
Calcula-se que morreram entre 40 a 52 milhões de pessoas. A 2ªG.M. causou graves
consequências a todos os níveis. Verificou-se um grande grau de destruição, milhões de baixas
e falta de liquidez para pagar as importações. As cidades estavam destruídas, os campos
arrasados e as vias de transporte e comunicações intransitáveis. Aliás, a evolução científica e
técnica proporcionou aos beligerantes armas muito mais mortíferas do que as existentes
durante a Primeira Guerra Mundial. O alcance dos canhões, metralhadoras e espingardas
aumentou, mas foram sobretudo os meios de guerra aérea que causaram as baixas civis. Os
aviões bombardearam insistentemente e causaram enorme destruição, bem como numerosas
vítimas humanas. Pela sua capacidade de destruição destacou-se uma nova arma: a bomba
atómica. Como a força de guerra dependia muito da capacidade económica, nomeadamente
da produção de armas e de comida, as fábricas tornaram-se alvos legítimos dos bombardeiros.
Depois, outros alvos civis foram proclamados legítimos ao considerar-se que os trabalhadores
nas outras fábricas apoiavam também as máquinas de guerra.
Pode dizer-se que foi praticada uma espécie de guerra total que visava destruir todos
os recursos do adversário para o derrotar igualmente dessa maneira. Das vítimas civis, vale a
pena destacar os milhões de civis que morreram nos campos de concentração. O Estado que
sofreu mais baixas foi a URSS. Mais de 20 milhões de cidadãos da União Soviética morreram
nos combates ou foram vítimas da fúria alemã.
74
O fim dos impérios coloniais
Uma importante consequência do fim da 2ª Guerra Mundial foi o fim dos impérios
coloniais e, consequente, arranque irreversível dos processos de descolonização. Os dois
acontecimentos que vieram debilitar as relações dos europeus com as suas colónias
correspondem às duas guerras mundiais.
Mas a 2ª Guerra Mundial foi muito mais séria. A crise foi definitiva. A correlação de
forças entre a metrópole e as colónias alterou-se profundamente, pois algumas metrópoles e
colónias foram ocupadas pelo inimigo. Com o final da 2ªGM, origina-se o colapso material dos
países europeus. Como não tinha liquidez para a manutenção dos impérios coloniais,
dependiam das exportações americanas. A perda de importância das outrora potências
mundiais, que agora estavam arruinadas, causou o fim desses impérios coloniais. Isto levou à
reconfiguração dos territórios a nível geográfico. Neste processo decorre o surgimento de
novos países.
75
sentindo a 2ªGuerra como uma luta pela liberdade. Deste modo, a guerra fomentou o espírito
rebelde dos dominados e revelou as fragilidades da Europa, incapaz de defender os seus
territórios da invasão estrangeira.
Inglaterra e URSS tentaram negociar o crédito. Nas suas cimeiras com os EUA,
discutiram-se a recuperação europeia e o pós-guerra. Entre 1945 e 1947 verificou-se que a
Europa necessitaria muito mais de créditos a curto prazo e que os americanos não se
interessavam com muitos acordos bilaterais. Recorde-se que os EUA tentavam evitar uma
recessão, pois isso teria um forte impacto sobre a sua economia. Os EUA necessitavam cada
76
vez mais da Europa como mercado. Mas, com a 1ªG.M., aprenderam que uma potência
colonial não poderia sobreviver num espaço económico fechado.
Os EUA verificaram que já não lhes interessavam acordos bilaterais devido ao que
aconteceu depois da 1ªG.M.. Preocupados com a recessão e com as necessidades de
reconstrução da Europa, os EUA fizeram uma grande pressão para que os acordos fossem
feitos multinacional e não bilateralmente, pois o capitalismo já não era compatível com base
nacional. Queriam que a economia europeia deixasse de estar fechada em ambientes
herméticos. Isso implicaria naturalmente uma abertura da Europa e dos mercados coloniais
(um prolongamento dos espaços económicos nacionais). Portanto, era necessário levar os
países europeus a encontrarem empresas para gerir estes fluxos de capitais americanos.
É importante referir que ainda o fim da guerra estava longe de todas as previsões, já as
forças democráticas ocidentais representadas pela Inglaterra e EUA revelavam as suas
preocupações relativamente à definição do novo quadro geopolítico do mundo pós-guerra,
perante os sinais expansionistas evidenciados por Estaline.
77
esconder a divisão do mundo em áreas de influência antagónicas, tanto quanto o eram os
interesses geoestratégicos e políticos das novas potências aliadas.
78
apoio prestado ao regime nazi durante a II Guerra Mundial). Estaline reagiu ao Plano Marshall
exatamente como os EUA previram: reforçando o seu domínio onde quer que fosse possível.
Criou o Kominform (Secretariado de Informação Comunista, 1947: tinha como objetivos
promover a troca de informações e dirigir a ação dos partidos comunistas sob orientação
soviética, assim como exercer um maior controlo sobre os países de Leste, reforçando a
hegemonia soviética nessa parte da Europa), bloqueou a zona ocidental da cidade de Berlim e
formou o COMECON (Conselho para Assistência Económica Mútua, 1949. Decorrente do Plano
Molotov, procurava constituir uma resposta direta ao Plano Marshall: procurava promover a
cooperação económica do Leste europeu e exercer um controlo económico mais apertado
sobre os países satélites).
Entre 1945 e 1949, os EUA apareceram como uma potência “super imperialista” numa
época de necessidade e de carência económica e produtiva. Por outro lado, viam agora nascer
um novo rival económico e ideológico, capaz de contaminar a Europa que se encontrava em
ruínas, e, por isso, havia uma grande preocupação em conter o avanço da esfera soviética.
Havia uma preocupação, desde logo na Grécia, onde se temia que os soviéticos avançassem,
pois a Inglaterra não tinha forças para intervir e, caso não houvesse uma substituição por parte
dos americanos, supunha-se que os soviéticos avançassem. Neste período de recessão
económica, dada a grande influência da URSS, França e a Itália faziam parte das grandes
incertezas no que diz respeito ao benefício do Plano Marshall - o comunismo estava muito
presente e era capaz de ganhar as eleições, pelo que os países estavam ainda em estudo. Em
1948, houve eleições em Itália, e os EUA fizeram tudo para impedir a chegada do comunismo
ao poder. Desta forma, foi possível impedir o poder comunista e houve meios para dar ajuda
aos italianos.
Com o Plano Marshall, os EUA conseguiriam ver quais os países que poderiam servir de
aliados e também encontrar destinos de exportação de capital. Os americanos não podiam
abdicar da economia japonesa e foi, então, criado o Plano Dodge, com as mesmas
características do Marshall, para desenvolver o Japão e para exportar o capital americano.
79
asiáticas, quando juntas lutaram contra o nazi-fascismo. Essa prática foi amplamente apoiada
pelos EUA e pela URSS (interessados em áreas de influência), movidos pela Guerra Fria.
A URSS ocupava também uma política anticolonial, mas ao mesmo tempo não queria
estragar as relações que tinha com os outros países. Nos anos 20 tinha discutido a questão
colonial, e uma maneira de dar resposta às guerras civis dentro do seu território era levar a
corrente comunista a esses governos, pelo que a URSS apoiou também partidos comunistas
aquando das eleições em países asiáticos. No entanto, caso houvesse outros movimentos com
maior hipótese de sucesso, era esses que a URSS apoiava. Os soviéticos tinham o facto de
outros países não terem a situação política definida para não fazerem muita pressão
anticolonial. Eram países com colónias, mas que hesitavam sobre o que fazer em termos de
blocos. Um dos exemplos é a Itália. Neste contexto, os soviéticos não queriam tomar uma
postura anticolonial, para não empurrar os países para fora da sua área de influência. Neste
contexto, Andrei Jdanov, secretário do Comité Central do Partido Comunista da URSS em 1947,
afirmava, nesse mesmo ano que “[o]s povos das colónias não querem mais viver como no
passado. As classes dominantes das metrópoles já não podem governar as colónias da mesma
forma. As tentativas de esmagamento dos movimentos de libertação nacional pela força
80
militar chocam (…) com uma residência armada crescente dos povos colonizados e conduzem a
guerras coloniais prolongadas: os Países Baixos, na Indonésia, a França, no Vietname.”,
acusando, desde logo, o lado ocidental.
Outras organizações anticolonialistas passam pela Liga Árabe. Alguns territórios árabes
que estavam entregues a potências europeias sob forma de mandatos, passaram a ter
independências fictícias – a maioria sob o poder de Inglaterra. A Inglaterra teve a ideia de
formar uma organização para integrar esses estados “livres”, a que Liga Árabe.
Em terceiro lugar, há o caso da OUA: criada em 1963, mas não foi um acelerador da
descolonização. Os novos estados africanos, quando foram declarados independentes,
decidiram manter as fronteiras que haviam sido definidas pelas potências que as exploraram
81
até aí. Isto aconteceu, porque caso mudassem as fronteiras, iriam desencadear um conjunto
de conflitos entre os países africanos. Alguns deles acederam à independência com maiores
territórios, mas, para evitar esses conflitos, a OUA declarou que as fronteiras coloniais seriam
respeitadas e mantidas.
Por fim, o Movimento dos Não Alinhados. Foi um fenómeno acentuado nos anos 50 e
desenvolveu encontros regulares para servir de contrapesa às mais poderosas metrópoles. A
sua criação remonta à Revolução Russa: muitas das populações asiáticas que tinham sido
conquistadas pelos bolcheviques decidiram organizar uma assembleia – Congresso do Médio
Oriente – em 1920. Isto deu origem a outras reuniões e congressos que viriam a motivar o
MNA. Este era formado por estados asiáticos e africanos, por países recém-emancipados da
dominação colonial e que tinham em vista a denúncia e condenação do colonialismo. Mas
muitos dos estado ainda não eram independentes. Quando se deu a independência de muitos
desses, criou-se um esboço para a primeira conferência: Asian Relations Conference, na Nova
Deli, mesmo antes da independência da Índia. Importa ressalvar que aquele dito Movimento
dos Não Alinhados surgiu em 1955, na Conferência de Bandung, com estados, como já referi,
independentes.
82
A descolonização asiática (1947-1953)
Antes da I Guerra Mundial, o governo Inglês até chegou a fazer algumas concessões às
regiões indianas, como a participação de conselheiros locais nos conselhos governativos. Mas
isto era compensado com o aumento de impostos sobre a população. Como não houve uma
grande abertura política, o partido reorganizou-se e passou a ter uma implantação popular
enorme.
Depois da Guerra, apareceu uma terceira corrente, a de Ghandi, que consistia em usar
a tradição indiana para se conseguir alcançar a modernidade. Ghandi começou a lançou
famosas campanhas de dinamização popular que eram uma tentativa do partido ganhar apoio
popular e pressionar os ingleses para obter concessões políticas. O seu objetivo era tornar a
Índia numa nação independente. Para tal, efetuou campanhas de rebeldia, em que deixaria de
pagar impostos, sendo esta a principal fonte de rendimento dos ingleses. As elites locais iam
criando uma burguesia nacional. Mas isto era insuficiente para que as metrópoles fizessem
concessões políticas. Outras colónias sofreram o mesmo, ainda que em menor escala.
83
política na Índia. Até chegaram a declarar aos EUA que não tinham condições para manter a
sua base naval no Pacífico. Começava então a ponderar-se a hipótese da retirada total da Índia
e, consequente, atribuição da independência a este país.
84
No ano de 1945, a Inglaterra, resolveu realizar a Conferência dos Himalaias com o
Congresso Indiano e a Liga Muçulmana, para mostrar que havia uma grande rivalidade entre os
dois. Esta rivalidade passou da teoria à prática: houve confrontos em grande escala. Quando a
Inglaterra os quis reunir, já não havia relações amigáveis entre as duas organizações. O Partido
do Congresso, das elites hindus (unidade cultural, cuja base era religiosa), liderado por Gandhi
e Nehru, mostrou-se favorável à manutenção da união indiana, uma ideia contrariada pela Liga
Muçulmana, de Muhammad Ali, que propôs a divisão do território em duas partes. O partido
indiano foi forçado a ceder e a aceitar a divisão. Colocou-se a questão de potenciar a
independência de dois territórios, proposta que não foi aceite pelo partido do Congresso.
Mountbatten propôs então aos Rajás que escolhessem em qual dos dois países que daí iriam
surgir é que queriam viver. No fundo, que certas localidades pudessem escolher as suas
preferências.
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A Guerra indo-paquistanesa de 1947 foi um conflito ocorrido entre a Índia e o
Paquistão pela região da Caxemira entre 1947-1948. Foi a primeira das quatro guerras
ocorridas entre as duas novas nações independentes. Os resultados da guerra continuam a
afetar a geopolítica de ambos os países.
86
Quando, em maio de 1999, Atal B. Vajpayee teve conhecimento deste processo infiltrador, foi
lançada uma outra operação (a Operação Badr), de maior dimensão, que acabou por dar início
à quarta guerra indo-paquistanesa. Em segundo lugar, as forças indianas protegeram estradas
de grande importância estratégica. Por fim, houve o recuo das tropas paquistanesas e dos
respetivos infiltradores da região.
Colónia holandesa desde o século XVII, o vasto arquipélago indonésio foi ocupado
pelos japoneses durante a II GM, dada a sua riqueza em matérias-primas. O Japão teve um
grande efeito dissolvente na Ásia colonial e queria estimular o nacionalismo local, de modo a
que a região indiana se pudesse desligar das antigas metrópoles. Para tal, conseguiu o apoio
de homens importantes (pertencentes a algumas elites) com a promessa de independência –
1945. Aparecia como libertador do colonialismo ocidental, embora tenha feito recrutamento
de capital humano para força de trabalho e de guerra.
Os holandeses haviam criado uma burguesia nas ilhas, composta maioritariamente por
muçulmanos. Também formou um movimento – Sarekat Islam; o nacionalismo foi influenciado
pela URSS – Partido Comunista Indonésio, que evoluiu para o Partido Nacional, fundado por
homens influentes: Hattar e Sukarno.
Os laços de união entre a Holanda e a Insulíndia encontravam-se num ponto tal por
esta altura que, dois dias depois da capitulação do Japão, os nipónicos não cumpriram a
promessa, pelo que a Indonésia alcançou a independência sozinha e instaurou a república em
agosto de 1945 por Sukarno e Hatta. Depois, os japoneses tentaram recuperar algumas ilhas,
mas já que eram independentes, os indonésios não o permitiram. No entanto, acabaram por
ceder-lhe algumas ilhas para que tivessem acesso a matérias-primas.
Claro que a potência colonial não aceitava de bom grado esta situação. Argumentando
que a ocupação japonesa não lhe fizera perder os direitos na região, a Holanda protestou e
87
empreendeu uma série de negociações que conduziram, em julho de 1946, à conferência de
Malino, onde foram lançadas as bases de uma Indonésia federal e aliada da Holanda.
Todavia, os tempos não eram calmos. Ao mesmo tempo que se realizavam todos estes
encontros e negociações, tinha início uma revolta entre partidários da República e os
holandeses, na qual interferiu a Inglaterra, que convenceu as duas fações a iniciarem um rol de
negociações ainda no fim do ano de 1945. À trégua negociada, seguiu-se o acordo de
Linggadjati, pelo qual a Holanda reconheceu a independência dos povos indonésios, aceitou a
criação de um Estado federal soberano, sob a direção de um soberano holandês.
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A Indochina já tinha, antes da guerra, um movimento nacionalista, como na Índia. Era
uma zona onde se podia desenvolver uma burguesia comercial, e formou-se o Movimento
Nacionalista VNKD, que se inspirava no partido político chinês de Kuo-Min-Tang – depois de
não conseguir nada do que reivindicava, organizou-se militarmente.
Entre estes territórios e a Birmânia, estava um outro que nenhuma das potências havia
ocupado: o Sião (atual Tailândia), que serviu de “tampão” entre uma zona e outra.
A ocupação japonesa podia também ter impedido o Movimento Nacional VNKD que,
como não conseguiu o apoio do Japão para alcançar as suas reivindicações, juntou-se à URSS
que apoiou os “rebeldes”. A URSS, que já tinha expandido a sua política soviética por parte da
Ásia na Mongólia (1924), na Coreia do Norte (1948) e na China (1949, onde arranjou um
agradável parceria com Mao Tsé-Tung), vê agora a possibilidade de estender o comunismo
aliando-se a Ho Chi Minh na conquista da independência neste território do Sudeste Asiático.
Mais tarde, viria a ser acordada a criação de uma zona republicana no Norte do
Vietname e, no Sul, uma zona de controlo colonial francês. Os EUA, que sempre se declararam
anticolonialistas, não queriam que o Movimento Nacionalista invadisse a área colonial
francesa, e tudo fizeram para que isso não acontecesse. Mas tal não aconteceu. Houve uma
violenta guerra civil entre 1946 e 1954 (a Guerra da Indochina). Aliás, as políticas dos franceses
e dos vietnamitas eram inconciliáveis, já que a França queria restabelecer o regime colonial. Os
EUA intervieram e envolveram-se na Guerra, pelo lado da França, não querendo igualmente a
independência do Vietname. Já os vietnamitas eram representados pelos nacionalistas
(apoiados por chineses e soviéticos).
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controlado pelos nacionalistas e chefiado até 1969 pelo comunista Ho Chi Minh. A Indochina
via assim nascer três novas nações: o Vietname, o Laos e o Camboja (estes dois últimos ficaram
neutros).
A descolonização da Ásia durou de 1947 até 1954, e foi a partir destes conflitos houve
uma crescente preocupação da ONU em intervir nas seguintes descolonizações.
90
A descolonização da Coreia e o primeiro grande conflito regional do
pós-2ª Guerra
A partir do séc. XVI, a Coreia foi alvo de incursões estrangeiras: China, Japão, Rússia e
potências ocidentais. A partir do séc. XX, o Japão tornou-se dono da península da Coreia,
anexando-a definitivamente em 1910. Como resposta a este ato, formou-se, em seguida, uma
resistência nacionalista contra a ocupação japonesa.
Durante a 2ªG.M., essa resistência foi liderada por comunistas, com o apoio da URSS.
Isso fez com que os aliados aprovassem e apoiassem a Independência da Coreia. Quando o
Japão abandonou a Coreia, em 1945, os americanos pretendiam que os soviéticos declarassem
guerra à China, o que levou à sua instalação na Manchúria. Os dois grandes vencedores, os
EUA e a URSS, optaram por ocupar e dividir a Coreia pelo paralelo 38 (segundo a Conferência
de Postsdam), até que fossem realizadas eleições e o povo decidisse livremente o seu destino.
Cada parte da Coreia realizou eleições. No território controlado pelos soviéticos venceu o
partido comunista, enquanto no Sul, controlado pelos norte-americanos, venceram os liberais.
O pretexto era garantir a liberdade da Coreia, eliminando-se por completo a presença
japonesa.
O acordo era que, depois das eleições, as tropas soviéticas e americanas retirar-se-iam.
As forças de ocupação da URSS saíram em janeiro de 1949, deixando ao governo do norte um
significativo arsenal de armas.
O acordo era que, depois das eleições, as tropas soviéticas e americanas retirar-se-iam.
As forças de ocupação da URSS saíram em janeiro de 1949, deixando ao governo do norte um
significativo arsenal de armas. A 24 de janeiro de 1950, os norte-coreanos exigiram a retirada
dos norte-americanos do território sul. Como estes não o fizeram, iniciou-se uma campanha
militar. Três dias depois, os norte-coreanos conseguiram ocupar Seul, capital do sul.
91
Foi convocada uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, que
considerou a ação militar da Coreia do Norte como uma agressão e pediu aos Estados-
membros para preparar um exército multinacional e obrigar o agressor a retirar-se para além
do paralelo 38. Os EUA rapidamente prepararam e lideraram o exército. No fim dos anos 50, já
os norte-americanos estavam perto da fronteira com a China.
A URSS pensou que os EUA não iam defender a Coreia do Sul, porque o secretário de
Estado da administração Truman tinha definido, no início de janeiro de 1950, as zonas de
defesa da política da contenção, ou seja, Estaline concluiu que os norte-americanos iriam
deixar essas zonas ao domínio soviético. Mas, contrariamente ao que o líder soviético tinha
pensado, Truman autorizou as suas tropas a apoiar a Coreia do Sul. Apesar disso, a ação militar
teve limites. O presidente norte-americano estava preparado para conter o avanço comunista,
mas não estava pronto para uma guerra atómica.
92
seria mais viável manter o controlo da Coreia.
Os ingleses (instalados no Egito desde o século XIX), para abrir uma frente militar na
guerra, pensaram nas elites árabes que se manifestavam contra a independência do Império
Otomano. Os aliados exploraram esta situação e, em 1916, é organizada a Revolta Árabe
contra o Império Otomano. Os ingleses convenceram o xerife Sharif Hussein a organizar,
fomentar e dirigi uma revolta dentro do próprio Império Otomano, com a promessa de que no
final da guerra toda aquela zona seria um califado árabe. Era a primeira promessa inglesa para
levar os árabes a lutar contra os otomanos. Os otomanos acabaram por ser expulsos.
93
Os franceses não estavam em grande posição de ocupar um outro território, mas foi-
lhes reconhecido o esforço que estavam a fazer durante a guerra, que contribuía para essa
divisão. Para vender o Império Otomano e passar a controlar essas zonas, era necessário criar
um processo que o permitisse. No início de 1916, os ingleses conseguiram que uma família
árabe dominante no campo político (Família Hussein, de Meca) iniciasse uma revolta contra os
turcos – cavalaria e nómadas árabes subiram até ao território turco do Império Otomano para
derrotar os turcos.
Com isto, conseguiu-se abrir uma frente até ao território turco e vencer as forças
militares do Império Otomano. No entanto, era necessário cumprir a promessa feita aos
árabes: a criação de um grande Império Árabe. Esta promessa não era compatível com o
acordo de Sykes-Picot. Uma outra promessa dos ingleses foi feita ao Movimento Sionista e foi
a criação de um destino de emigração da população para a zona da Palestina. O Sionismo era
um movimento de cariz religioso e político que defendia a fundação de um Estado judeu na
Palestina, uma região com população maioritariamente árabe. Nasceu no final do século XIX na
Europa Central e Oriental como um movimento de revitalização nacional. Os sionistas queriam,
então, um território autónomo na Palestina. O movimento defende a manutenção da
identidade judaica, opondo-se à assimilação dos judeus pelas sociedades dos países em que
viviam.
Porém, esta declaração inglesa iria aumentar as questões problemáticas na região. Estava,
então, previsto um conjunto de cenários (Declaração de Balfour; Grande Império Árabe; e
Acordo Sykes-Picot) que não era possível acontecerem em simultâneo.
A solução foi cumprir o que era possível (com base no Tratado de Versalhes), por
forma a manter todos os envolvidos satisfeitos. No final da 1ªG.M., do acordo Sykes-Picot,
surgiu a criação de pequenos estados, ao invés de duas grandes zonas: a Inglaterra ficava com
o Iraque (englobava duas grandes reservas de petróleo, uma a norte [curda] e outra a sul
[xiita], o que levou ao estabelecimento de uma fronteira com a Turquia) e com a
Transjordânia. Dentro da zona francesa, os ingleses tinham prometido o reino árabe. A Síria
ficou sob administração francesa, tal como o Líbano (novo Estado criado e que mesclava
bastantes religiões).
94
A região entre a Península do Sinai, o Líbano, a Síria e a Transjordânia era uma zona
bastante problemática. Entre 1919 e 1920, criou-se a Palestina, que ficou com o estatuto de
mandato da SDN, confiado aos ingleses. Na Arábia Saudita, os saudis derrubaram os axumitas
no final dos anos 20.
Com isto, a criação de um grande Império Árabe foi anulada. Para manter todos
contentes, os Ingleses cederam o reino da Transjordânia e o Iraque aos filhos do Xerife de
Meca, família Hussein. A Inglaterra esperava que estas dinastias ficassem pró-inglesas,
juntamente com as dinastias da Arábia, que foram mais tarde substituídas pela família Saud.
Isto levantou cada vez mais a tensão social, e o dirigente religioso Al-Hussein começou
a centrar à sua volta os colonos sionistas, que compravam terras tendo em vista o seu plano de
instaurar um Estado Judaico na Palestina, como já foi referido. Foi desta forma que, nos anos
20, foram criadas organizações palestinianas que tinham como objetivo criar um referendo, e
assim acabar com o mandato, ou seja, teriam que arranjar outra solução política para a
Palestina. Criou-se assim o Conselho Nacional Palestiniano
95
Ao chegar a 2ª Guerra Mundial, os ingleses já viam que só havia uma hipótese de
contornar estes conflitos e parar as guerras: ou criar dois estados na Palestina ou parar as
emigrações sionistas para a Palestina. Assim, em 1936, os britânicos nomearam a Comissão
Peel, destinado a unir esforços diante da liderança judaica
Optaram, então, por criar dois Estados, um para os árabes e outros para os sionistas, o
que pôs fim ao mandato britânico. Esta solução política foi muito difícil de pôr em prática: a
zona árabe ficava separada em dois territórios no meio de todo o território judaico. Esta
solução não era aceite por ninguém – os árabes não queriam a divisão da Palestina e judeus
não queriam a coexistência com um Estado árabe. (Zona Árabe – atual Cisjordânia + território
conhecido Faixa de Gaza).
Os árabes palestinianos não aceitaram esta votação, dado que não estavam lá
representados e dado que uma grande parte do território iria ficar sob domínio dos
emigrantes. O clima de tensão política multiplicou-se e os Estados árabes, que entretanto
foram criados, declararam guerra ao futuro Estado de Israel.
A guerra não foi justa para ambas as partes, já que os sionistas tinham o apoio dos EUA
e possuíam treino militar profissional, enquanto as tropas árabes eram muito mais fracas em
armamento e inteligência militar.
Desta guerra resultou um fenómeno irreversível e que é algo em vigor ainda hoje:
expulsão da população árabe do território da Palestina. Cerca de 700 mil palestinianos árabes
foram recambiados para campos de refugiados. A Guerra acabou com a derrota dos
palestinianos árabes.
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Segue-se uma série de guerras de curta duração, a Guerra do Suez, em 1957; a Guerra
dos Seis Dias, em 1967; a Guerra do Yon Kipur, em 1973, em que os exércitos israelitas
impõem pesadas derrotas aos desorganizados e malpreparados exércitos árabes e
acrescentam novas áreas ao Estado de Israel.
Tudo isto trouxe dificuldades. Desde 1960 que os palestinianos nunca conseguiram
nada a nível político.
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A evolução do Egipto – da independência formal de 1922 à República
Árabe Unida (1958)
Os países da África do Norte alcançaram a independência entre 1952 e 1962, todos
eles. A África do Norte distingue-se das restantes zonas africanas pelo Deserto do Sahara, que
a divide da África Subsariana e pela existência, em todos os seus países, de Muçulmanos
Sunitas (vs. Xiitas) – todos eles têm isso em comum. Outro ponto em comum em todos os
países da África do Norte é o facto de estarem ocupados na zona do litoral e zonas altas –
nesses locais, havia uma grande densidade demográfica, sendo o resto dos territórios apenas
desertos. Todos os países falavam árabe; era a sua oficial. Mas esta não era a única cultura
existente: em todos eles, estava presente a cultura berbere – nada tem que ver com o árabe. A
cultura berbere ainda hoje é a dominante em alguns desses estados. Como nunca foi tornada
oficial, a língua e a cultura berberes nunca foram ensinadas na escola, fazendo com que fosse
encarada como uma língua de segunda categoria.
Os ingleses ocuparam o Egito em 1882, como estratégia para chegar à Índia. Desde
esse ano até ao fim da I Guerra Mundial que o Egito era um condomínio anglo-egípcio. Depois
da Guerra, e dada a situação inglesa, a Inglaterra teve de fazer concessões aos egípcios, a nível
político. O movimento nacionalista egípcio ganhou a maioria da assembleia legislativa local.
Perante o exílio do líder do partido, o país levantou-se na primeira revolta da sua história
moderna. As constantes rebeliões por todo o país levaram a Grã-Bretanha a proclamar,
unilateralmente, a independência do Egipto, em 1922. Declarou-se terminado o protetorado e
deu a independência nominal ao país. Foi criado um reino, governado pelo Rei Fuad I.
98
questão da derrota dos países árabes no médio oriente teve ondas de choque nos restantes
países. As burguesias nacionais de alguns destes países começaram a adotar uma atitude mais
antiocidental. Assim, muitos dos oficiais que participaram na guerra de 1948 contra Israel
fizeram um golpe militar no Egito em julho de 1952 (Golpe dos Oficiais Livres) Um grupo de
oficiais destronou o Rei da época, Faruk, e colocou no poder uma junta militar composta por
Nasser e Neguib. Nasser era um homem muito forte e acabou por assumir o comando. Este
golpe viria a representar o ponto de viragem na vida do Egito, já que o novo regime instalado
permitiu iniciar um processo de emancipação do Egito da tutela inglesa.
Em 1952, a Inglaterra já não tinha a Índia, mas o controlo do Canal do Suez continuava
a ser importante, já que era por lá que passava o petróleo vindo do Médio Oriente. Os Ingleses
já não tinham possibilidades para manter o Canal, mas fizeram uma proposta ao Egito para
continuar a controlá-lo. Em 1956 os ingleses deram a independência ao Sudão, e criaram um
governo controlado por eles, pois além do Sudão ser muito importante por causa do Nilo que
percorre o Sudão até aos Grandes Lagos, foi uma forma de pressionar e de prejudicar o Egipto.
Nasser aumentou muito a sua base de apoio, porque tinha uma visão de
desenvolvimento do país, uma vez que levou a cabo uma reforma agrária - projeto que fez
com que a junta militar ganhasse muita popularidade entre os nacionais e, até mesmo,
estrangeiros.
Em 1957, dá-se a Crise do Suez e tal acontecimento permitiu que Nasser obtivesse uma
melhor visão para promover o projeto de desenvolvimento do país. Nasser queria melhorar a
agricultura e desenvolver a Indústria. Contudo, a agricultura egípcia estava muito dependente
das cheias do Nilo e também a Indústria poderia vir a depender muito do rio, através da
criação de eletricidade gerada por uma barragem. Era para essa infraestrutura que Nasser
precisava de adquirir recursos – podia pedir ajuda à Inglaterra, mas para isso teria de perder a
sua “dignidade”. Os ingleses estavam de saída, mas não queriam perder as suas posições no
Médio Oriente, influenciaram os americanos a não emprestarem capital aos egípcios.
Além disso, também a França queria ver o Egito derrotado, já que o país dava apoio
aos Movimentos pela independência da Argélia. E havia ainda um grupo de irmãos
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muçulmanos que queriam derrubar Nasser. Inglaterra já sabia que o apoio destes dois seria
indispensável.
Para tentar derrubar Nasser, Inglaterra planeou uma ofensiva militar coordenada. O
plano era Israel fazer um ataque preventivo ao Sinal (Estado Egípcio) e formar um corpo
expedicionário franco-britânico; depois, com o pretexto de proteger o Canal, os franceses e
ingleses ocupariam o Suez. Israel invadiu, então, o Estado egípcio do Sinai e, três dias depois,
os franceses e os ingleses invadiram e ocuparam o controlo do Canal do Suez – 1956. Isto
gerou uma guerra política sem precedentes, a Crise do Suez.
Num primeiro momento, Israel hesitou, pois tinha a consciência de que estava a ser
usado pelos interesses imperialistas das potências. No entanto, a razão da sua aprovação ao
convite dos ingleses e franceses prendeu-se com a entrada de reatores para aquecer o urânio.
Em 1957, dá-se a Crise do Suez e isto foi o que deu mais visão a Nasser para o projeto
de desenvolvimento do país. A tentativa de forçar o Egito a assinar um ultimato fracassou.
Como tal, os britânicos resolveram bombardear os campos aéreos egípcios. Os EUA viriam a
entrar nestes conflitos como aliados do Egito, já que não lhes convinha ser contra os árabes
devido à sua posição relativamente ao Médio Oriente. Confrontados com a possibilidade de os
soviéticos apoiarem os egípcios, os EUA patrocinaram o debate de uma resolução pacífica. Por
outro lado, aos ingleses não convinha entrar numa guerra nuclear com os EUA. O cessar-fogo
tornara-se inevitável pelo desgaste das forças britânicas. A 5 de Novembro os combates
cessaram, e no ano seguinte (1957) o primeiro-ministro inglês abandonava as suas funções,
perante uma derrota inequívoca. A Inglaterra e França perderam a sua influência, sendo
humilhados com a expulsão do Egito. Foi o fim da influência europeia no Médio Oriente,
consolidando a influência de Nasser. Israel ficou totalmente associado ao bloco ocidental,
havendo um aumento da influência dos EUA e da URSS.
Depois desta crise, Nasser saiu como herói dos árabes. Isto deu-lhes a esperança
novamente da criação de um grande Império Árabe no Médio Oriente, englobando agora o
100
Egito (principal país árabe). De resto, entre 1922 e 1952 houve, no Egito, uma discussão
relativamente à identidade do povo egípcio: devia ser árabe no sentido religioso (somente) ou
árabe no sentido cultural, laico e político?
No Médio Oriente, havia a ideia de criar uma aliança defensiva, que tinha sido lançada
pelos ingleses para defender o Médio Oriente dos eventuais ataques do Egito. Os povos árabes
do MO não queriam fazê-lo, já que a aliança seria patrocinada por um país estrangeiro do
Ocidente. (Médio Oriente – Turquia, Jordânia, Iraque e Irão).
Nasser era pan-arabista e, por isso, contra o Ocidente. Era ideal do pan-arabismo a
criação da RAU – República Árabe Unida – como imposição ao Ocidente. Nasser era pan-
arabista, isto é, estava contra o Ocidente. Era ideal do pan-arabismo a criação da RAU –
República Árabe Unida – como imposição ao Ocidente. Nasser tinha a intenção de alterar as
fronteiras do Médio Oriente árabe, outrora impostas pelas potências ocidentais. O projeto
pan-arabista só se conseguiu afirmar em países onde não houvesse burguesias prósperas e
ligadas à política. Em 1958, o Egito estava em expansão política, a Síria já se lhe havia juntado e
o Iraque estava perto de alcançar também a independência. No entanto, a tentativa de união
entre o Egito e a Síria durou apenas três anos, até 1961. Em 1958 surge um golpe militar no
Iraque, organizado pelo movimento nacionalista Baath (criado por dois cristãos), uma espécie
de organização defensora do pan-arabismo. Do outro lado, a Jordânia estabeleceu-se sempre
enquanto regime árabe axumita pró-ocidental.
Conclui-se assim que a maior oposição ao colonialismo britânico veio do Egipto, que
conseguiu a independência em 1953 depois de alguns anos de confronto entre a resistência
nacionalista e as tropas monárquicas. A luta dos egípcios foi determinante para a
descolonização do mundo africano, uma vez que serviu de exemplo para países como o Sudão,
que rapidamente se empenhou na conquista da independência (1956).
A atual revolução na Líbia tem origens anti arabistas – Kadhafi é Nasserista – pan-
arabista. Daqui é possível perceber a influência que Nasser teve e ainda tem na Política Norte
Africana/Árabe. Os países ocidentais desde sempre viram o Movimento pan-arabista como
uma ameaça.
101
A guerra colonial na Argélia e o seu impacto na França (1954-1962)
A região da África do Norte vai desde Marrocos ao Egito. O Magrebe corresponde à
parte ocidental da África do Norte enquanto o Mashrek é o oriente. Marrocos e Tunísia eram
protetorados, o Egito era um condomínio e a Argélia era uma colónia.
A Argélia fica mais perto da costa francesa, e houve emigração de franceses que foram
para a Argélia ocupar terras e desenvolver a agricultura, aliás, 10% da população da Argélia era
composta por franceses, espanhóis e italianos. Não eram só militares e políticos, sendo a
maioria dos emigrantes civis.
Ainda no século XIX, Napoleão III declarou a Argélia como colónia oficial francesa
(1830).
Entre as duas guerras, esta região foi administrada sem grandes problemas (com a
exceção do Egito). Nos anos de 1930 havia já uma burguesia argelina, um Partido Popular
Argelino (apoiado pela URSS) e movimentos independentes (liderados por Messali Hadj e
Ferhat Abbas).
É importante referir que, entre 1945 e 1954, a ausência de ocorrências na Argélia foi
apenas aparente. O PPA transformou-se no MTLD (Movimento para o Triunfo e Liberdade
Diplomáticos) tendo como grande figura Messali Hajd que, ao ver que a influência do MTLD
era quase nula, criou o CRUA, um Movimento clandestino. Dentro do CRUA, foi criado um
braço, a Frente de Libertação Nacional, que atacava explorações agrícolas francesas na Argélia.
A FLN começou a ser apoiada, não publicamente, pelo Egito. E criou-se no Cairo um grande
Movimento pan-arabista anticolonial: o Comité de Mobilização do Magreb.
Com a colonização, a Argélia criou duas grandes cidades que baseavam a sua economia
no comércio de exportação: Argel e Oran. A FLN começou a tentar fechar as fronteiras ao
exército francês – começou a guerrilhar em finais de 1954: nesta altura, já a Tunísia e
Marrocos estavam em ambiente de guerrilha e os franceses resolveram escolher apenas um
território. Dado que a Argélia era a mais importante, a França decidiu desistir de Marrocos e
102
da Tunísia, concedendo-lhes a independência em 1956. É que os Franceses não podiam
aguentar três frentes militares.
Em virtude da derrota italiana na 2ªG.M., a Líbia, outrora colónia italiana, passou para
mandato da ONU. Restava o caso da Argélia, a primeira colónia francesa, do ponto de vista
cronológico e da implantação dos interesses franceses. Tinha mais de um milhão de colonos
franceses, que se tinham apropriado das mais profícuas terras do litoral. Os franceses tinham
um grande interesse pelo facto de terem sido descobertas grandes reservas de petróleo e gás
natural na zona saariana da Argélia. Portanto, não estavam dispostos a abdicar da Argélia sem
as devidas contrapartidas.
A FLN tinha o apoio do Nasser e resolveu levar a guerra para as duas principais cidades:
Argel e Oran. Fizeram isto estrategicamente, para que os colonos (os franceses) não se
pudessem esconder nas cidades.
De Gaulle achava que a França tinha um problema com a imposição de poder. Foi à
Argélia, onde achavam também que ele era melhor hipótese para a satisfação dos seus
interesses. Depois de um encontro em Argel com os dirigentes argelinos e com alguns colonos
franceses, estes, juntamente com os militares da metrópole, chegaram a fazer um Golpe de
Estado contra a política de De Gaulle.
103
Nesta altura, a situação era caótica, tanto na Argélia como na França. De Gaulle teve
que ceder a algumas reivindicações da FLN, chegando a dar-lhes a independência. O partido
FLN venceu o MNA e, depois de muitos conflitos, a França teve que reconhecer a
independência da Argélia.
Depois dos acordos de Evian, em julho de 1962, a situação caótica voltou à Argélia.
Houve uma guerra, na qual morreram 30 mil franceses e cerca de 250 mil arábes. A situação
era insustentável para a Vª República francesa e para a FLN.
No Verão de 1962, tentaram também matar de Gaulle numa operação levada a cabo
pela OAS – Organization Armée Secrete. A França começou a evacuar a Argélia, depois de
vários atentados, ataques bombistas e guerrilhas. Os colonos franceses começaram a sair do
território argelino e, para agravar, ainda eram rejeitados pelos franceses residentes em França,
que lhes chamavam Pieds Noirs.
104
As descolonizações em África (1957-1990)
Apesar disso, a verdade é que a África Subsariana era subdesenvolvida e não tinha um
grande fluxo de capitais exportados, pois o interesse era mínimo (com natural exceção das
áreas mineiras, polos de desenvolvimento que viam rapidamente um grande crescimento
causado, em grande parte, pelo investimento e pela criação de infraestruturas e polos de
industrialização). Como tal, nos anos 60, Angola tinha uma taxa de crescimento muito alta
enquanto a África do Sul era um país desenvolvido.
105
Visto praticamente não ter colonos europeus, tornou-se mais fácil fazer negócios/acordos
políticos e as independências foram dadas facilmente, pois não havia grandes interesses a
defender, nem locais que de alguma forma favorecessem a metrópole que os controlava.
Como já dito anteriormente, o próprio exemplo das guerras coloniais predispôs ingleses e
franceses a adotarem uma outra atitude.
A França ficou desligada das suas colónias durante a 2ª G.M.. Não estava disposta a ter
mais guerras coloniais e não tinha qualquer interesse em manter o controlo sob as suas
regiões na África Subsariana. Apenas queria manter a sua rede de influência na AEF e na AOF.
106
metrópoles tentaram valorizar os seus territórios coloniais com investimentos em
infraestruturas, administração, etc.; enquanto antes da guerra as colónias tinham que pagar as
próprias despesas, agora as metrópoles investiam muito capital nelas, para lucrarem mais
depois; para as metrópoles, havia sistemas políticos diferentes entre elas e as suas colónias, e
por isso achavam que as colónias necessitavam de leis diferentes; tudo o que aconteceu
aquando e depois da guerra fez com que houvesse uma mudança na forma de tratamento das
colónias, por parte das metrópoles.
No entanto, a França fez uma federação com governos próprios e a devida divisão dos
territórios que aceitaram ser autónomos dentro da comunidade francesa. Para muitos
dirigentes africanos, isto representava uma divisão de fronteiras. Começou a existir uma
fixação de fronteiras que a maior parte dos países não queria. Portanto, não aceitavam a
divisão territorial. Um deles foi a Costa do Marfim, uma colónia bastante rica e que se tornou
107
na maior exportadora de cacau. Esta nação exigia fronteiras mais pequenas, visto que o
território que a rodeava era pobre e em nada lhe favorecia. Quando alguns deles viram que
não era bom fazer parte da federação, entre 1958 e 1960 começam a pedir unilateralmente a
independência. Em 1960 (o ano de África), praticamente todos tinham encontrado os
caminhos da independência, rompendo os laços políticos com França. Assim, os países
finalmente puderam fazer as suas próprias fronteiras. Desta forma, os países ricos não se
prejudicavam e deixavam de estar ligados aos outros países pobres da África Ocidental.
108
Para Portugal, a primeira pressão de independência veio da Índia. A Inglaterra havia
dado a independência e a União Indiana queria que Portugal fizesse o mesmo. A partir dos
anos 50, Portugal começou a ser pressionado pela ONU e pela NATO, pelo que foi obrigado a
rever a sua política colonial.
A adaptação aos novos tempo processou-se, numa primeira fase, em duas vertentes
complementares, uma ideológica e outra jurídica.
109
A integracionista defende a integração plena dos territórios ultramarinos no Estado
português, o que implicava a luta armada – tese defendida por Salazar e pelos setores mais
conservadores.
Em Angola, em 1955 nasceu a UPA (União das Populações de Angola), liderada por
Holden Roberto, que, em 1962, passou a designar-se FNLA (Frente de Libertação de Angola);
em 1956, nasceu o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), liderado por
Agostinho Neto; e em 1966, nasceu a UNITA (União para a Independência Total de Angola),
liderado por Jonas Savimbi. Em Moçambique, nasceu em 1962 a FRELIMO (Frente de
Libertação de Moçambique), liderado por Eduardo Hondlane. E na Guiné, nasce em 1956 o
PAIGC (Partido de Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabral.
Em dezembro de 1961, Diu, Goa e Damão foram invadidos pelo exército da União
Indiana, e em pouco tempo, a guerra alastrou-se pelo território, obrigando à mobilização de
milhares de portugueses.
110
mobilização de 7% da população ativa e gasto de 40% do Orçamento Geral do Estado em
Defesa. Em 13 anos de combate, morreram, ficaram feridos e incapacitados milhares de
portugueses. A resistência portuguesa ultrapassou, em muitos, os prognósticos internacionais,
que previam a capitulação rápida desta nação pequena e economicamente atrasada. Mas,
apesar da forte tenacidade com que Portugal defendia a sua causa, este tinha, à partida, muito
poucas probabilidades de sucesso.
Na Guiné, o PAIGC tinha o apoio da URSS, acesso fácil a mísseis e outro armamento
pesado.
Em 1955, quando Portugal entrou para a ONU, a questão das colónias começou a
ganhar uma dimensão internacional. No entanto, Portugal recusou logo submeter-se à
administração de “territórios não autónomos” estipulada na Carta, argumentando que as
províncias ultramarinas eram parte integrante do território português.
Ainda assim, após o debate com os países do Terceiro Mundo na Assembleia Geral,
concluiu-se, como é óbvio, que os territórios que estavam sob a administração portuguesa
eram colónias.
Estava vincada, assim, a primeira derrota de uma série delas que, progressivamente,
foram isolando os portugueses.
Então, em 1961, Portugal destacou-se no seio das Nações Unidas, pois teimava em não
cumprir os princípios da Carta, pelo que era castigado com apelos claros para que
reconhecesse a o direito à autodeterminação das colónias africanas.
Salazar mantinha-se irredutível, pelo que Portugal perdeu prestígio e foi excluído de
vários órgãos da ONU.
Para além da adversidade da ONU, Portugal, no início dos anos 60, enfrentou a
hostilidade da administração americana, pois durante a presidência de Kennedy, os
americanos estavam convictos que o prolongamento da guerra iria favorecer os interesses
111
soviéticos, uma vez que afastava os estados africanos de Portugal e, por consequência, dos
aliados da NATO.
Deste modo, os EUA financiaram alguns grupos nacionalistas (como foi o caso da UPA)
e propuseram sucessivos planos de descolonização, a Salazar, baseados num forte auxílio
económico. Mas o ditador português preferiu afirmar que ficaríamos “orgulhosamente sós”,
palavras que não seguiu à risca ao produzir uma intensa companha diplomática junto dos seus
aliados europeus e ao produzir operações de propaganda internacional, não descartando o
trunfo da base das Lajes (Açores), vital para os americanos. Por isto é que os EUA, apesar de
não concordarem com a política colonial portuguesa, mantinham-se “calados”, insistindo
apenas em pequenas reformas, o interesse falava mais alto. Os americanos queriam que o
acordo com Portugal relativamente à base das Lajes fosse renovado e, para isso acontecer, não
insistiam muito para Portugal fazer algo que não quisesse.
Nos anos de 1970, para entrar na União Europeia, Portugal tinha de resolver a guerra
em África. Isto levou ao golpe militar de 1974, que tinha como objetivos o cumprir o famoso
movimento dos 3D’s: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar. O governo recém-criado
começou logo a tratar das situações coloniais.
Nesta conjuntura, o presidente Spínola assina, a contra gosto, a lei 7/74, que
reconhece a direito de independência das colónias.
112
Intensificam-se, então, as negociações com o PAIGC. Em 1974, assinaram-se acordos
que levaram a eleições em Cabo Verde que, depois das eleições, ficou independente,
juntamente com a Guiné – Julho 1975. Os grandes problemas eram em Moçambique e em
Angola.
Os Moçambicanos não queriam forçar os brancos a sair de lá, mas com a revolta e a
formação de movimentos para alcançar o controlo do país, foram forçados a sair mais cedo,
mesmo antes da independência de 1975.
Moçambique entrou em guerra com a Rodésia e com a África do Sul e deu-se uma
guerra civil com uma resistência, a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), em 1975 e
1992. Deste modo, a situação só melhorou no final da década.
Foi esta independência mal resolvida e realizada “à pressa”, uma vez que Portugal
estava preocupado com a sua situação interna instável, após uma revolução (25 de abril) que
culminou numa guerra civil (1975-2002) que depôs a UNITA, o MPLA e a FNLA.
O MPLA pediu apoio a Cuba (que tinha governo dependente da URSS e já tinha tentado
intervir em África), pelo que os cubanos enviaram armas e contingentes militares. Com isto, a
FNLA foi praticamente eliminada de Luanda. Os Angolanos não estavam preparados para
combater contra os cubanos.
113
No período colonial, a Angola vivia da exportação de matérias-primas, principalmente
o café. Em 1973, Angola deixou de ter o café como principal produto exportado, passando a
ser o petróleo o produto mais importante.
A Gulf Oil tinha concessão petrolífera em Cabinda. Isto permitiu a Angola assumir um
papel de potência petrolífera, que dava mais vantagem estratégica aos angolanos.
Com o interesse no ouro negro que ainda hoje move políticas, as nações estrangeiras
decidiram dar todo o apoio ao MPLA por causa do petróleo angolano, que já tinha potencial.
No anos 80, com a África do Sul, chegou-se à Iª solução política em que se previa a
retirada dos cubanos e dos sul africanos e chegou-se a acordo político para eleições – acordo
Bicesse.
A Rodésia do Sul era uma colónia britânica, que desde o século XIX era um país com
colonos europeus. Foi por este motivo que, quando se começou a exigir a independência, a
população branca, que possuía grande poder naquele local, não estava disposta a consentir a
independência da Rodésia.
114
Em 1953, a Inglaterra decidiu juntar a Niassalândia à Rodésia do Norte e à Rodésia do
Sul, no que os britânicos chamaram a Federação da Rodésia e Niassalândia. Dadas as
diferenças existentes e a presença europeia intensa num deles, foi difícil manter a união. Os
europeus não queriam ser uma minoria numa união que integrava três países africanos, não
queriam perder as quintas. Em 1964, a Inglaterra concedeu a independência aos dois
territórios do norte, a Rodésia do Norte e a Niassalândia, atribuindo os nomes de Zâmbia e
Malawi, respetivamente. Entretanto, o mesmo foi negado à Rodésia, pois a minoria branca
negava-se a transmitir o poder à maioria negra. Em 1965, os colonos decidiram fazer uma
cessação das relações com a Inglaterra e o país não era reconhecido internacionalmente. Esta
independência foi apoiada pelos portugueses e sul-africanos, pois significava a continuação do
regime colonial da Rodésia do Sul.
A África do Sul era uma reunião de vários estados autónomos. Os ingleses instalaram-
se no século XIX. No Cabo cria-se uma colónia inglesa. Por outro lado, não distante do Cabo e
do Natal, ficavam as terras povoadas por colonos vindos da Holanda, no século XVII, e que
115
recebiam o nome de boers. Estas populações começaram a migrar para outras zonas da África
Austral, estabelecendo outras repúblicas bóer a norte e a leste. Deste modo, a África do Sul
englobava uma população heterogénea e ficou dividida em quatro grandes territórios: Cabo,
Natal, Orange e Transval (continha uma zona mineira). Joanesburgo era uma cidade que
permitia um fluxo mineiro entre o sul do Moçambique e o Transval. Ao longo do século XIX, os
ingleses anexaram essas regiões, antes de estalar a Guerra dos Boers.
Oito anos após o fim da Segunda Guerra dos Boeres e após quatro anos de negociação,
uma lei do parlamento britânico criou em 1910 a União Sul-Africana. A União era um estado
unilateral de domínio britânico que incluía as antigas colónias holandesas do Cabo e de Natal,
bem como as repúblicas do Estado Livre de Orange e do Transvaal. Os brancos pobres
correspondem aos boers agricultores.
Quando a África do Sul se torna numa zona industrial, a população bóer, dentro da
europeia, era a maia pobre. Os interesses estrangeiros passavam por um bom funcionamento
da economia sul-africana. Em 1948, o partido nacionalista boer foi eleito com maioria e chegou
ao poder. Este grupo político reforçou a segregação racial, que já tinha começado sob o
domínio colonial holandês e britânico. O Governo Nacionalista classificou todos os povos em
três raças, com direitos e limitações desenvolvidas para cada uma. A minoria branca
controlava a muito maior maioria negra. A segregação legalmente institucionalizada ficou
conhecida como Apartheid. Enquanto a minoria branca sul-africana usufruía do mais alto
padrão de vida de toda a África (comparável aos de nações de países desenvolvidos
ocidentais), a maioria negra ficou em desvantagem em quase todos os aspetos.
Entretanto, o ANC (African National Congress) era um partido que crescia para
combater o regime instaurado. Nos anos 60 e 70, a situação social e política da África do Sul
foi-se degradando cada vez mais. Entretanto, a descolonização portuguesa tinha um efeito de
contágio. Fazia-se grande pressão diplomática contra Asul, que continuava a financiar a
RENAMO em Moçambique. Nos anos 80, a conjuntura internacional levou a uma acentuada
queda dos preços do ouro. Os grandes interesses internacionais passavam por resolver a
tensão política que se fazia sentir. Havia, portanto, uma enorme pressão para que que o
Governo Boer começasse a ceder. A África do Sul estava nesta altura a sofrer vários boicotes.
Havia também uma situação de recessão económica, condições que fizeram com que o
governo estivesse se predispusesse a negociar.
116
Moçambique. Para tal, os signatários do dito acordo concordaram em deixar de apoiar a
RENAMO (responsabilidade da África do Sul) e o ANC (responsabilidade de Moçambique).
Apesar disto, cada parte continuou a agir por conta própria, e os guerrilheiros da RENAMO
prosseguiram com a guerra civil em Moçambique.
A emergência da China
A China localiza-se no Extremo Oriente e é uma potência industrial, que tem uma
unidade territorial que se manteve intacta desde a Antiguidade. Isto significa que a China não
sofreu grandes alterações em relação ao seu território durante mais de dois mil anos. Foi
durante muito tempo um país essencialmente rural, que utilizava técnicas avançadas na
produção de porcelana, seda e pólvora (produtos industriais). Isto significa que era um polo de
difusão de tecnologia, com novidades técnicas admiradas por outros países.
Até ao século XVI a China era um país fechado, pouco visitado e com escasso
reconhecimento português. Até este século, com a chegada dos Europeus por via marítima, a
rota da seda (muito extensa e não permitia transportar certos produtos) era a única rota
possível, daí que não houvesse grande relação comercial com a Europa, e daí ser considerado
um país fechado.
117
Entre os séculos XVI e XIX, passou a ser olhada com supremacia. A relação com a
Europa é invertida, com os europeus na supremacia. Com a introdução de novas culturas sul-
americanas como o milho e a chegada de plantas de alto rendimento, a China começou a ter
um grande crescimento demográfico. Se no século XVI já tinha cerca de 500 milhões de
habitantes, no século XIX a população já alcançava os 700 milhões de habitantes. Este
crescimento vai diferenciar a China dos outros países, pois é algo que não é recente. Além
disso, este crescimento desmedido provocou periodicamente o aumento das pressões
agrárias, o que conduziu a revoltas camponesas.
A nível do plano político, nos campos havia um estado central, governado por
autoridades locais. Os camponeses pagavam rendas e impostos e viviam do seu produto
produzido, o que leva a concluir que tinham uma agricultura de subsistência. Apesar do grande
rendimento, a maior parte dele ia para as rendas e impostos, o que levava à falta de
investimento. Um dos problemas da agricultura chinesa era o facto de ser muito instável, pois
estava sujeita às condições naturais.
Ainda no século XIX, ocorreu a Revolta dos Taiping (1850-60). Considerada por muitos
historiadores um dos mais sangrentos conflitos armados da história da humanidade, contou
com a participação dos Taiping (nacionalistas chineses), os quais surgiram de um duplo
protesto à presença estrangeira na China e ao governo imperial manchu. Esta revolta teve
como causas a impotência da elite tradicional e a inoperância da dinastia manchu em
enfrentar as sucessivas degradações impostas pelos ocidentais e provocou a morte de
aproximadamente 20 milhões de civis e militares e o enfraquecimento do governo central
chinês. Esta agitação acontecia paralelamente à entrada da Europa na China. É que a Europa
era agora superior à China a nível tecnológico, económico e político. Os ingleses queriam, em
especial, aproveitar o grande mercado chinês para a exportação de mercadorias inglesas e
indianas. Macau era uma região que recebia inúmeras exportações europeias.
118
Ao mesmo tempo, a China não podia cobrar impostos, necessitando de pedir
empréstimos aos europeus. Ficava então com uma dívida, entrando num ciclo. Ao mesmo
tempo, a Rússia e o Japão foram entrando em áreas nortenhas da China e começaram a
ganhar poder, o que provocou um grande descontentamento, levando à guerra russo-japonesa
em disputa do território. A China atuava, portanto, como sujeito passivo. Embora a China não
tivesse sido uma colónia, ela esteve sob a influência do exterior durante parte do século XIX e
XX.
Mesmo com esta “conquista” e com o enfraquecimento dos imperialistas após a IGM,
a China continuava a não resistir ao interesse dos estrangeiros, principalmente dos japoneses
(cuja posição imperialista saiu favorecida da guerra) e britânicos. Quase toda a interferência
exterior ainda se mantinha. Com isso, os membros do Kuo-Min-Tan tiveram de enfrentar a
insatisfação dos chefes militares e do Partido Comunista Chinês, então criado sob a influência
da Revolução Russa. Aliás, aquando da realização da Conferência de Paz (1919), o Japão
manteve todas as suas bases na China, o que causou ainda mais descontentamento e causou
uma “segunda revolução”, pois isto não era o que esperavam quando o Japão entrou na SDN.
119
Foi neste contexto que se deu o Protesto Estudantil em Pequim, no dia 4 de maio de
1919, onde estudantes universitários chineses protestaram contra as resoluções do Tratado de
Versalhes, que atribuía terras chinesas ao Japão e concedia antigos territórios alemães na
região aos japoneses. Esta manifestação iniciou a revolução cultural na China, ou seja, a
modernidade. Chen Tu-hsiu foi um dos homens mais influentes, já que dirigia a revista “Nova
Juventude”, que se converteu na voz dos movimentos reformistas chineses.
Em 1920, enviou representantes a Moscovo para negociar com a URSS o apoio à China
(a política soviética apoiaria as colónias ocidentais na Ásia porque precisava de aliados
antiocidentais). Um dos representantes foi Chiang Kai-shek, que foi mesmo para Moscovo para
ter uma formação militar juntamente com um quadro exército chinês. A revolução russa
termina por volta de 1921/1922. Em 1923 a União Soviética (depois do triunfo dos
Bolcheviques) comprometeu-se a ajudar na unificação nacional da China. Os conselheiros
soviéticos começaram a chegar à China em 1923 para apoiar a reorganização e consolidação
do Kuo-Min-Tan com as linhas defendidas pelo Partido Comunista da União Soviética.
Kuo-Min-Tan dominava apenas uma parte do Sul da China: de Kuangtung até ao rio
Yangtse. Mesmo assim, nesta zona havia muitos militares e generais que não respondiam a
esse movimento. Mas em 1924 o apoio soviético viria a provocar um processo de unificação da
China. O Kuo-Min-Tan tinha três princípios: Democracia, Desenvolvimento e Nacionalismo,
bem como três políticas: apoio aos movimentos chineses, união com a URSS e integração com
o PCC. Assim, o PCC (Partido Comunista da China), movimento nacionalista chinês, recebeu as
instruções do Komintern para cooperar com o Kuo-Min-Tan e os seus membros foram
encorajados a juntar-se a eles, desde que as partes mantivessem suas identidades, formando
assim a Primeira Frente Unida entre as duas partes.
Com a morte de Sun Yat-sen em 1925, Chiang Kai-shek assume a liderança do partido
nacionalista. Decidido a reunificar a China, pretendia eliminar os comunistas e os senhores da
guerra. Em 1927, Chiang unificou a maior parte do território, e o país passou a ser
efetivamente controlado pelo Kuo-Min-Tan. Foi pela vontade de eliminar os comunistas que,
ainda em 1927, o Kuo-Min-Tan sofreu uma cisão interna, pois o seu líder queria livrar-se do
PCC, considerando-o um obstáculo. Este tinha apenas presença urbana, pelo que foi fácil
eliminar o partido, já que o país era maioritariamente rural. A União Soviética, por sua vez,
limitou-se a apoiar o que lhe aprecia ser o movimento mais forte.
120
O decénio de Nankin e a guerra civil – 1927-1937
Desde 1927 que o PCC, em expansão e cada vez mais afastado do modelo soviético,
havia entrado em conflito com o líder Kuo-Min-Tan Chiang Kai-shek. Desprovidos de um
exército na verdadeira aceção da palavra, os comunistas, acossados pelas tropas modernas e
prestigiadas de Kai-shek, foram obrigados a entrar na clandestinidade e a procurar refúgio nas
montanhas do Sul da China onde organizaram diversas células de intervenção local.
O período entre 1927 e 1937 ficou conhecido como Período de Nankin, que era a
capital política chinesa. Representava o período de domínio de Kuo Min Tan a partir de Nankin.
A China estava a modernizar-se, estava a adotar gradualmente o Capitalismo, numa época
seguinte ao período de recessão a nível internacional (recessão que quase não se sentiu na
China). No entanto, esta modernização era apenas superficial.
Ao longo dos anos, a população chinesa foi aumentando cada vez mais, mas a maioria
era composta por camponeses. A população camponesa era a que sustentava todo o país, toda
a superestrutura política chinesa, através de altos impostos.
Kuo Min Tan propunha um projeto de reforma agrária que acabou por deixar ficar no
papel. Desta forma, não modernizou a agricultura, alienando o apoio dos camponeses
chineses. Este projeto foi depois aproveitado pelo PCC, que tinha sido afastado das cidades,
como foi referido, e decidiu então aproximar-se da população rural para formar verdadeiros
sovietes. Os principais responsáveis por esta mudança de direção foram Peng P’ai e Mao Tsé-
Tung.
A retirada prosseguiu depois, sempre sob condições dramáticas: desde logo, o terreno,
extremamente difícil, e as más condições climatéricas complicavam o avanço; por outro lado,
121
os ataques das forças de Chiang Kai-shek, agravados pela fome e pela doença que grassavam
entre os comunistas, provocaram baixas consideráveis. Até chegarem a Shensi, os homens da
Longa Marcha contornaram a China pelo Tibete, Koukor e Kansu. Aquilo que foi uma retirada
forçada converteu-se numa verdadeira vitória moral, num feito tornado épico, um verdadeiro
tónico na luta que conduziu o PCC ao poder.
O segundo período inicia-se a partir de 1941 e prossegue até 1945. Na China, o PCC
propôs ao Kuo-Min-Tan a renovação da união existente entre ambos anos antes. KuoMin-Tan
era apoiado pelos EUA e, depois, com a união com PCC, ambos os partidos estavam de mãos
dadas com os americanos.
No final da IIª Guerra Mundial, a partir de 1945, voltaram a instalar-se dois poderes
separados na China: Kuo Min Tang, perto de Nankin, com o apoio dos EUA; e o PCC, agora não
tão presente no campo, mas com apoio soviético.
Com o final da IIª Guerra Mundial, a URSS passou a apoiar o PCC e isso fez com que a
guerra civil de 1945 a 1949 levasse a China a ser dominada pelo Comunismo, quando se
proclamou República Popular da China.
122
Os planos quinquenais até ao fim do Grande Salto em Frente
Em 1949, a China continental foi unificada sob a República Popular da China, sendo
dominada pelo PCC. Mao Tsé-Tung tornou-se presidente em 1954. Já a Ilha Formosa formou a
República da China, sob o controlo do Kuo-Min-Tan. Criou-se duas Chinas, uma situação que
apresentava parecenças com a guerra que estalara no Vietname. A China beneficiava agora do
apoio soviético a todos os níveis. Todas as matérias-primas, alimentos e mão-de-obra
necessária eram provenientes do campo. Por outro lado, a população chinesa aumentou
bruscamente, à semelhança do que ocorrera nos EUA e na URSS. Porém, isto faria parte do
problema, pois existiam diferenças na base de apoio e a China dispunha de uma margem de
manobra mais pequena que os russos.
Com os planos quinquenais, a China cresceu quase 20%. E, para não depender tanto da
URSS a nível material, a China decidiu juntar-se ao Movimento dos Não Alinhados, criado
oficialmente na Conferência de Belgrado em 1961, a partir do impulsionamento dado por
Nehru (Índia), Nasser (Egito) e Tito (Jugoslávia), empenhados numa via política alternativa à
bipolarização mundial dos tempos da Guerra Fria.
123
Em 1950 a China tinha-se aliado à Rússia no contexto da Guerra Fria, tendo igualmente
participado na guerra da Coreia em favor da Coreia do Norte e na do Vietname contra França.
Contudo, as cordiais relações com a Rússia, que valeram à China a posse de tecnologia nuclear,
regrediram assim que Mao Tsé-Tung percebeu que os soviéticos temiam a força que uma
potência como a chinesa poderia alcançar. De facto, o "Grande Salto em Frente" (segundo
plano quinquenal, entre 1958 e 1962) procurou tornar a China uma das potências mundiais,
estipulando grandes objetivos de produção e investindo no fabrico de aço. Era o lançamento
de uma nova política, tendo em vista o redobrar de esforços, para que a China alcançasse
grandes níveis de produtividade.
Ainda assim, este processo não teve tanto êxito, já que a agricultura estava muito
“danificada” e as colheitas eram fracas e pobres, o que afetava gravemente a indústria. O
resultado foi mesmo um estrondoso fracasso, traduzido em milhões de mortos por
subnutrição, tão fortemente foram sentidas as faltas de apoios materiais e técnicos.
124
Estes problemas foram reprovados pela União Soviética e, por sua vez, Mao Tsé-Tung
criticando aquilo que achava ser permissividade, como a desestalinização, suspendeu as
relações com os soviéticos entre os anos de 1960 e 1962, lutando energicamente contra o
imperialismo da América do Norte, o socioimperialismo da URSS e o revisionismo soviético
(que tentava apoderar-se do Partido Comunista para o transformar num órgão fascista ao
serviço da burguesia, com figuras proeminentes como Thorez, Khroutchev e Togliatti).
Por outro lado, criaram-se entre a China e a URSS conflitos pelo poder do mundo
comunista, agravados pela morte de Estaline e a subida ao poder de Krushchev, uma vez que
Mao, pela antiguidade, se considerou o líder da verdadeira doutrina marxista. No entanto, este
não possuía os predicados militares e políticos da Rússia, estando em inferioridade neste
sentido. Assim, o tratado assinado em 1950 com a URSS e a promessa de ajudar a conseguir a
bomba atómica para a China ficaram sem efeito, tendo sido agravadas as relações entre as
duas potências pelo bombardeamento dos ilhotes de Matsu e Quemoy (estreito da Formosa),
pertencentes a Taiwan, que era apoiada pelos EUA. Como a URSS se manteve neutral, a China
acusou os soviéticos de aliança com as potências ocidentais capitalistas, algo que desviava o
seu ideal socialista. Alinhando-se a Albânia à China em 1962, foi também nesse ano que a URSS
apoiou a Índia na luta contra a pretensão chinesa de posse do Tibete. Dois anos depois o
panorama agravou-se, uma vez que a China produziu a primeira bomba atómica.
125
a morte do chamado Grande Timoneiro, esta revolução foi condenada. A partir de 1974, a
situação estabilizou e o PCC tomou o controlo do país. Em 1975, morreu Mao Tsé-Tung e
voltou a instabilidade à China – durou até 1977.
Deve-se ainda referir que no mundo ocidental, em países como Bélgica, Noruega,
Grécia, França, Itália, Espanha, Portugal (através da UDP, por exemplo), Alemanha e alguns dos
ditos menos desenvolvidos de outros continentes, como o Peru (guerrilha maoísta do Sendero
Luminoso), entre outros, houve tentativas de implantação da doutrina maoísta. Na Albânia,
por exemplo, o regime de Enver Hoxha foi todo ele maoista, tendo o país servido como centro
de formação de células maoístas, como por exemplo da UDP portuguesa.
A missão de mudar a face da China foi assumida por Deng Xiaoping, este lança um
conjunto de medidas que define como socialismo de mercado, ou seja, defende que a China
deve ser um país com dois sistemas diferentes. Aproveita o capitalismo e tenta articulá-lo com
o socialismo.
126
No entanto, este processo foi facilitado pelo restabelecimento de relações
diplomáticas com o Japão e com a URSS e pela integração da China nos circuitos económicos
mundiais como o FMI, Banco Mundial (fonte de importantes fundos de auxílio económico) e o
GATT.
Desde 1981 que o crescimento económico da China tem sido impressionante, até
porque esta detém um potencial muito superior ao dos seus parceiros asiáticos em recursos
naturais e mão-de-obra, pelo que a competitividade do país se baseia na multidão de
trabalhadores mal pagos e sem regalias.
Contudo, esta política de abertura ao exterior manteve-se até aos dias de hoje. A
China transformou-se num grande exportador e reinveste os lucros no seu país e em países
capitalistas industrializados do Ocidente. Hoje, a China é o maior credor da dívida pública dos
EUA. Tem um controlo estatal muito elevado e um controlo sociopolítico igualmente elevado.
127
Os equilíbrios mundiais na época da Guerra Fria
Após a 2ªG.M., alteraram-se forças nas relações internacionais. A Alemanha e o Japão,
antigas potências, saíram da guerra vencidos e humilhados. O Reino Unido e a França, embora
vitoriosos, ficaram empobrecidos e dependentes da ajuda externa. Restaram, apenas, duas
potências que se agigantaram: a URSS, pela força do exército vermelho, e os EUA,
definitivamente, 1ª potência mundial.
Então, depois da 2ªGuerra, a União Soviética ganhou não só territórios, mas também
um grande prestígio internacional. A URSS abandonara a sua política isolacionista, passando a
participar na definição de novas coordenadas geopolíticas.
A URSS detinha, assim, uma clara vantagem estratégica na Europa de Leste. Apesar dos
acordos de Ialta preverem o respeito pela vontade dos povos, na prática tornava-se impossível
contrariar a hegemonia soviética que, como se impôs, entre 1946-1948, converteu todos os
países libertados pelo exército vermelho ao socialismo, isto com o objetivo de dividir o mundo
capitalista e o mundo pró-soviético; defender o seu território; e também para não perder força
mesmo após ter perdido tantos homens na Guerra.
Quando, em 1946, Churchill afirmou que a Europa estava dividida por uma “cortina de
ferro”, o processo de sovietização era já irreversível e, para os ocidentais, inaceitável, pois
constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal.
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subsidia os partidos comunistas do mundo inteiro –, que era um importante organismo de
controlo por parte da URSS – doutrina de Jadnov. Deste modo, Andrei Jdanov justifica-se, na
Conferência do Kominform, afirmando que “[o]s políticos imperialistas mais enfurecidos e
desequilibrados começaram, depois de Churchill, a estabelecer planos com vista a
organizarem, o mais depressa possível, uma guerra preventiva contra a URSS. […]”
O Plano Marshall foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países sob influência
soviética, pelo que a URSS impede os países sob a sua influência de aceitarem o Plano norte-
americano, considerando-o uma “manobra imperialista”. Por isso é que Maurice Thorez,
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dirigente do Partido Comunista Francês afirmou que “o Plano Marshall [era] uma máquina de
guerra contra os povos e contra o comunismo.”
Pouco depois, Andrei Jdanov formaliza a rutura entre as duas potências, afirmando
que o mundo se divide, de facto, em dois sistemas contrários: um imperialista e
antidemocrático, os EUA; e outro democrático e fraterno, a URSS – doutrina de Jdanov.
Em janeiro de 1949, como resposta da URSS, surge o Plano Molotov que estabelece as
estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi no âmbito deste plano que se
criou o COMECON (Conselho de Assistência Económica Mútua), destinado a promover o
desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da URSS.
A expansão do comunismo no primeiro ano de paz fez com que os ingleses, franceses e
americanos vissem a Alemanha como um aliado imprescindível à contenção do avanço
soviético. Por isso, o governo americano considerou necessário restaurar a independência e o
poder económico da Alemanha.
Deste modo, em março de 1948, EUA, Inglaterra e França unificaram as suas zonas de
ocupação, formando, em junho, uma assembleia constituinte e uma nova moeda.
130
O Bloqueio de Berlim (junho de 1948 – maio de 1949) foi o primeiro medir de forças
entre as duas superpotências e dura apenas um ano, porque Estaline sabia que ao manter este
sistema, podia estar a promover a criação de um terceiro conflito mundial.
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No mundo capitalista, lançada a doutrina de Truman, os EUA empenharam-se na
contenção do comunismo. O primeiro passo foi, então, o Plano Marshall, que permitiu a
reconstrução da economia europeia ocidental em moldes capitalistas, estreitando as relações
com a Europa ocidental.
O pacto do OTAN, firmado entre os EUA, Canadá e dez nações europeias, revelava a
desconfiança que residia nas relações internacionais. E os seus membros fundadores
consideravam-se ligados por uma “herança civilizacional comum”, cuja preservação exige o
desenvolvimento da “capacidade individual ou coletiva de resistir a um ataque armado”.
132
No entanto, o comunismo foi-se expandindo e, entre 1945 e 1949, implantou-se na
Europa Oriental, na Coreia do Norte e na China. Em 1950 e 60 atinge o Vietname do Norte,
Camboja e Birmânia e, mesmo perto dos EUA, chega a Cuba. Por fim, na década de 70,
conquista países asiáticos e a África Negra.
A URSS, tanto pelo seu poderio como por ser pioneiro na implantação do comunismo,
encontra-se à cabeça deste mundo comunista, onde, devido ao clima de tensão da guerra fria,
organizou, a partir do Kominform, uma campanha internacional contra os EUA. Como resposta,
nos EUA, surge uma campanha de propaganda que denunciava o perigo comunista
(Maccartismo).
A expansão do mundo comunista fez-se, em grande parte, sob a égide da URSS. Após a
2ªG.M., o reforço da posição militar soviética e o processo de descolonização criaram
condições favoráveis à expansão do comunismo e ao estreitamento dos laços e da cooperação
entre Moscovo e os países recentemente emancipados.
A URSS abandona, então, como eu já tinha referido, a sua política isolacionista que
mantinha desde a Revolução de Outubro e alarga a sua influência aos quatro continentes.
133
Considerando-se a “pátria do socialismo”, a URSS impôs o seu modelo único e rígido,
do qual não admitiu desvios, pelo que Brejnev (líder soviético) assumiu, perante o mundo, que
a soberania dos países do Pacto de Varsóvia encontrava-se limitada pelos superiores interesses
do socialismo.
Foi, então, esta hegemonia comunista “intocável”, na Europa Oriental, que conduziu à
construção do Muro de Berlim (1961), símbolo da Guerra Fria na Europa e no Mundo. Porém,
em 1953, Malenkov, político soviético e líder do Partido Comunista da URSS, afirma,
contrariando K. Adenauer, que “[a] União Soviética segue e seguirá sempre invariavelmente
uma política de paz. A União Soviética não tem o propósito de atacar quem quer que seja, e os
desígnios agressivos são-lhe alheios.”
Embora sem ligações iniciais a Moscovo, a Cuba comunista cria a hostilidade nos EUA,
que tentam uma retoma falhada do poder por exilados anticastristas, localizados nas prisões
americanas da Baía dos Porcos (abril de 1961).
Como consequência, Fidel Castro aceita o apoio da URSS e Cuba transforma-se num
bastião avançado do comunismo na América Central. A influência soviética em Cuba é
confirmada quando, a 16 de outubro de 1962, aviões americanos obtém provas fotográficas da
instalação, na ilha, de mísseis russos de médio alcance, capazes de atingir o território
americano.
No meio disto tudo, e de forma a promover a paz com receio da opinião pública, o
presidente Kennedy faz um discurso, passando a citar um breve excerto: “Apelo ao Presidente
Kruchtchev para que cesse e elimine esta ameaça clandestina, temerária e provocatória, à paz
no mundo e às relações estáveis entre as nossas duas nações. Apelo, além disso, para que
abandone esta competição pelo domínio do mundo e para que se junte a nós num esforço
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histórico, para pôr fim à perigosa corrida aos armamentos e para transformar a história do
homem.”
Doze cargueiros russos invertem, então, a marcha, acabando por haver cedências
mutúas: Kruchtchev aceita retirar os mísseis e os EUA comprometeram-se a não tentar
derrubar, novamente, o regime cubano.
Cuba, que não pretendia ter ligações ao regime soviético, desempenhou, também, um
papel ativo na proliferação do comunismo, nomeadamente, nos anos 70, na Guatemala, El
Salvador e Nicarágua com uma pequena ajuda da URSS.
É contra esta orientação que se afirma Nikita Kruchtchev, sucessor de Estaline. Depois
do primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começaram a mostrar, de
forma evidente, as duas debilidades.
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sem nunca pôr em causa o sistema, e para fazer face aos sintomas de estagnação económica,
implementou, nos anos 60, um vasto conjunto de reformas em praticamente todos os países
da Europa socialista. Assim, num novo plano, iniciado em 1959: reforça os investimentos nas
indústrias de consumo, habitação e agricultura; reduz o número de horas de trabalho e da
reforma; e cria sistemas de prémios aos trabalhadores mais ativos.
Estas medidas ficaram muito aquém das expectativas e, na década de 70, Brejnev volta
a reforçar a burocracia, o que alastra uma onda de corrupção, volta a dar prioridade à indústria
pesada e à exploração de recursos naturais (ouro, gás e petróleo na Sibéria). Mas os custos
inerentes à exploração longínqua e gélida refletiram-se num período de estagnação da
economia soviética.
Neste contexto, e face aos maus resultados económicos derivados do “Grande Salto
em Frente” (programa de remodelação e fomento económico), Mao Tsé-Tung procurava uma
via económica diferente, criticando Kruchtvev, a sua política de coexistência pacífica e os seus
desvios do ideal socialista (denúncia do revisionismo soviético), uma vez que a China se
considerava o único país verdadeiramente socialista. Contudo, foi o fracasso da campanha
agrícola anterior que fez com que Mao Tsé-Tung fosse afastado do poder em 1960. Este, não
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satisfeito, e a fim de recuperar o poder que lhe tinha sido tirado bem como eliminar os seus
opositores, lança mais uma campanha de massas – “Revolução Cultural” –, que leva jovens
estudantes a promoverem um movimento contra todas as estruturas que não
correspondessem à “base económica socialista”, tendo em vista criar um Homem novo através
da transformação radical das mentalidades.
Apesar do clima conturbado, Mao Tsé-Tung retoma o poder e encaminha a China para
o papel de grande potência mundial capaz de afrontar a URSS. A partir de 1974, a situação
estabilizou e o PCC tomou o controlo do país. Em 1976, morreu Mao Tsé-Tung e voltou uma
instabilidade à China que durou até 1977.
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O investimento ocidental nas armas convencionais desencadeou, como seria de
esperar, uma igual estratégia por parte da URSS que, ao querer quebrar a superioridade
americana, afetou, em 1952, 80% do orçamento do Estado, pelo que na ideia de Ronald
Reagan, “[h]á apenas um meio seguro e legítimo de reduzir o custo com a segurança e esse
meio é reduzir a sua necessidade”, para tal efeito, o presidente dos EUA referiu, em 1985, que
já o estava a tentar fazer, “negociando com a União Soviética”.
Estas duas grandes potências, os EUA e a URSS detinham 90% das armas nucleares. A
3ª potência a surgir foi a China. A partir daqui, foram criadas condições bilaterais. Os arsenais
começaram a ser negociados.
No fundo, o poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial uma
característica nova: a dissuasão. Cada um dos blocos procurava persuadir o outro de que
usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em caso de violação das respetivas áreas de
influência. O mundo estava perante o “equilíbrio instável do terror”, pois tal como Ronald
Reagan afirmou no dia da sua tomada de posse do 2ª mandato, a 21 de janeiro de 1985,
“[a]gora e durante décadas, nós e os soviéticos vivemos sob a ameaça de uma destruição
mútua.”
É assim que é assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (1968), em que os EUA,
a URSS e a Inglaterra se comprometem a não dar informações a terceiros países. A França e a
China não o assinaram, porque ainda estavam em experiências e estavam a beneficiar mais da
redução do custo da energia nuclear. Os primeiros três assinaram para que o valor da força
nuclear não descesse.
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Nos anos 60 e 70, o preço da energia nuclear desceu, de forma que mais alguns países
tivessem acesso a ela – estava mais barata. Para que nem todos os países adquirissem acesso a
ela- estava mais barata. Para que nem todos os países adquirissem poder nuclear, assinou-se o
acordo.
Dois fenómenos contraditórios afetavam a tática da era nuclear: estava cada vez mais
acessível, tanto para fins civis como militares; e a capacidade de uso das armas tornava-as
inutilizáveis (podiam ser apenas a nível de contenção, já que ao usar o poder nuclear o planeta
corria o risco de ser destruído).
Para a correlação real de forças, os arsenais nucleares não se podiam usar – arsenais
de 70 e 80 não eram utilizáveis em panoramas regionais. Por um lado era bom, visto que era
mais fácil chegar à ideia de que os arsenais militares podiam ser desmantelados: OPÇÃO ZERO.
Para os conflitos regionais, alguma arma teria que se arranjar.
O acordo SALT II assinou-se em junho de 1979. Assinado entre os EUA e a URSS, previa
passar dos mísseis para 2400 e até 1981 para 2280.
Os EUA queriam saber por que é que a URSS estava tão interessada no acordo, pois,
provavelmente, seria por esta ter um poder mais baixo, comparativamente aos EUA, e queria
que estes reduzissem o poder nuclear para que ficassem no mesmo pé. Tal situação, acentuou-
se mais nos anos 80.
O tratado SALT II foi recusado pelo Senado americano e seria substituído mais tarde
pelo programa START. Os EUA iam também pôr em prática o Sistema de Interceção de Mísseis
Interorbital (SDI). Na época, era chamado pelo público de “Guerra das Estrelas”. Este consistiu
num programa norte-americano que pretendeu construir um escudo espacial protetor de
receção de mísseis. Face a este, o armamento soviético torna-se obsoleto, pelo que obrigada a
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URSS a um esforço militar suplementar. Agora podiam crescer os armazenamentos nucleares
( não havia acordo SALT)
Se isto fosse verdade, as armas nucleares não seriam inúteis. Isto nunca aconteceu,
pelo que ainda faz parte agora do tema de conversa da política americana.
A verdade é que a base militar da URSS faliu e houve dificuldade em manter o país à
tona. Os esforços feitos, anteriormente, para a aposta no armamento tinham de ser
canalizados para outras áreas civis, como se realça no parágrafo anterior. A URSS ou parava a
sua escalada belicista ou fazia algo politicamente. Optou por sair da Guerra e cedeu perante o
poder dos americanos.
Logo nos anos 80, a URSS propôs a desnuclearização total, mas a administração
Reagan (EUA) não atendeu à proposta. A desnuclearização seria possível, mas ninguém a quer
fazer sozinha, só tinha lógica se todas as potências nucleares se desnuclearizassem.
Neste contexto, nos anos 90, houve os acordos de START I e II. No primeiro (1991) os
EUA e a URSS comprometiam-se a reduzir até 9000 ogivas e 1500 veículos. No segundo (1993),
comprometiam-se a reduzir para 3500 ogivas.
140
No início dos anos 90, a URSS dissolveu-se. A grande maioria dos territórios separados
da Rússia eram territórios periféricos. Foi na periferia que a URSS se dividiu em mais Estados:
zona da Ásia Ocidental. A Rússia histórica tinha o seu centro em Kiev, na Ucrânia.
Assim, foi a primeira vez que um número tão elevado de países uniu os seus esforços
com a finalidade de se pôr de acordo acerca de um importante conjunto de princípios
reguladores das relações internacionais, da segurança coletiva e do desenvolvimento de
relações de cooperação entre os vários estados ocidentais. De entre esses princípios,
salientam-se a igualdade soberana dos estados, a não intervenção nas questões internas, a
resolução pacífica dos diferendos, o respeito pelos direitos humanos e liberdades
fundamentais, a igualdade de direitos e a autodeterminação dos povos.
141
momento, a dissolução das respetivas organizações militares; a paragem na corrida aos
armamentos de todos os tipos; a criação de zonas desnuclearizadas em várias regiões do
mundo (incluindo a Europa); o desarmamento nuclear generalizado, com redução dos efetivos
e do armamento concentrado em várias regiões do mundo, designadamente na Europa
Central; a redução geral das despesas militares, especialmente por parte das grandes
potências; a adoção de medidas preventivas do risco de eclosão acidental ou da provocação
deliberada de incidentes militares e sua transformação em crises localizadas ou mesmo em
guerras internacionais; o estabelecimento de relações de cooperação; o desenvolvimento dos
sistemas de transportes e telecomunicações.
A guerra começou com um ataque conjunto surpresa por parte do Egipto e da Síria, no feriado
judaico de Yom Kippur. O Egipto e a Síria cruzam linhas de cessar-fogo no Sinai e nas Colinas do
Golã (respetivamente), já capturados anteriormente por Israel, em 1967, durante a Guerra dos
Seis dias.
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diplomática. Entretanto, entra em vigor um cessar-fogo das Nações Unidas, de caráter
cooperativo.
Esta guerra significou implicações profundas para muitas nações. O mundo árabe, que
tinha sido humilhado pela derrota desproporcional da aliança Egípcio- Sírio-Jordaniana,
durante a Guerra dos Seis Dias, sentiu-se psicologicamente vingado pelas suas vitórias no início
do conflito, apesar do resultado final. Um sentimento de vingança que pavimentou o caminho
para o processo de paz que se seguiu, assim como liberalizações como a política de Infitah do
Egipto.
Os Acordos de Camp David (1978), que se seguiram, conduziram ao iniciar de uma fase
marcado por uma relação normalizada entre o Egipto e Israel – a 1ª vez que um país árabe
conheceu o Estado israelense. Egipto, que já se tinha afastado da União Soviética, deixou a
esfera de influência soviética de forma integral.
Desta forma, puderam abrir passagem nas fortificações integrantes da linha Bar-Lev,
alcançando o lado desprotegido dos israelitas e obrigando-os a renderem-se.
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Uma das consequências desta guerra foi a crise do petróleo, uma vez que os estados
árabes, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) boicotaram os
EUA e os países europeus que apoiavam a sobrevivência de Israel. Se a curto prazo a medida
agravou a crise económica mundial, a longo prazo a comunidade internacional aprendeu a usar
fontes alternativas de energia e, inclusive, algumas áreas do planeta começaram a descobrir
que também possuíam petróleo – caso da região do Mar do Norte, na Europa, do Alasca, nos
EUA, da Venezuela, do México, da África do Sul, da União Soviética e, de lá para cá, também do
Brasil.
Este país, desde 1830 gozava de uma atividade política e eleitoral democrática até o
golpe de 1973. Com a chegada do século XX, o Chile consolidou-se como um Estado
democrático parlamentar, com uma aliança de classes no poder sob a hegemonia da burguesia
industrial e com uma pequena participação das camadas médias e do movimento operário.
É em 1970 que esse cenário começou a ganhar novos traços, com o surgimento e
vitória do candidato da Unidade Popular o socialista Salvador Allende. O Chile elegia
democraticamente, pela primeira vez na história mundial, um presidente socialista que tinha
como proposta o projeto de transição pacífica para o socialismo, que ficou conhecido como
“via chilena ao socialismo”. Este projeto procurava a implementação de um governo socialista
através de meios pacíficos, a partir das estruturas democráticas, assegurando a liberdade e
respeitando a constituição.
144
Porém esse governo de caráter socialista não agradou à burguesia chilena, nem ao
governo dos Estados Unidos que estabeleceu, em 1971, um bloqueio económico informal ao
Chile, fazendo com que a crise se intensificasse. Assim, um período de caos é estabelecido no
país. Não era possível produzir suficientemente para toda nação bens de primeira necessidade,
bem como importar parte desses produtos. Uma vez que o Chile era historicamente
dependente das importações estadunidenses, o país viu crescer o mercado negro de
alimentos. A falta desses produtos atingiu mais as classes mais pobres do que a burguesia que,
apoiada nos EUA, tinha acesso aos produtos através do mercado ilegal.
Foi neste momento que a burguesia, outrora classe dominante do cenário político,
usou essa instabilidade a seu favor. Apoiada na força política e económica, tanto nacional
quanto internacional, inicia uma contraofensiva ao governo. Em 1972 intensifica-se a
mobilização das camadas médias, juntamente com alguns oficiais das Forças Armadas chilenas.
É também neste período que a organização fascista Patria y Libertad (braço paramilitar de
extrema direita do golpe; formada pela classe média alta, que promovia boicotes e saía às
ruas, tomando partido da violência para protestar contra Allende) ganha força política. Entre
agosto e outubro deste mesmo ano, a oposição tinha criado um plano de desobediência civil
que desestabilizou o governo. A sabotagem mais impactante foi a greve de 9 de setembro,
financiada pelos EUA, feita pelos proprietários de caminhões que impediu o plantio da safra de
1972/73.
A primeira tentativa de golpe aconteceu a 29 de junho de 1973, mas ainda não era
uma ação articulada globalmente com todas as forças políticas, militares e sociais que
participavam do plano oposicionista. Tal tornou possível ao governo de Allende neutralizar a
ação com a ajuda do general Prats, o último oficial legalista das Forças Armadas. A oficialidade
golpista tratou de articular um plano de desprestígio a Prats, que o levou a renunciar o seu
cargo de comandante-chefe das Forças Armadas, uma vez que se viu isolado. Allende promove
então o general Augusto Pinochet ao cargo que foi de Prats.
Ao observar a situação política do país, Allende percebeu que seu projeto socialista
deixava de ser uma alternativa política para o Chile, então entendeu que havia duas opções
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para o país: o golpe militar ou a volta da democracia burguesa personificada pela Democracia
Cristã – partido político composto pela burguesia industrial e apoiado pelas classes alta e
média chilenas. Preferindo sempre a via constitucional, Allende decide convocar um plebiscito
em que a população votaria por sua continuidade no governo ou não. Caso perdesse, passaria
a presidência ao presidente do senado, Eduardo Frei, da Democracia Cristã. Allende faz o
anúncio público do plebiscito na noite de 11 de setembro; o erro do presidente foi ter
consultado Pinochet sobre o discurso. Na posse desta informação, Pinochet mobiliza as forças
oposicionistas e antecipa o golpe.
Pinochet ficou no poder por mais de 26 anos (1973-1990) e implementou uma das
ditaduras mais sangrentas da América Latina, somando inúmeros mortos, torturados e
desaparecidos.
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comum e assinaram, com a representação portuguesa, os Acordos de Alvor, que previam a
participação de todos eles no Governo do país. Devido à existência de rivalidades políticas, não
se verificou um entendimento entre as três forças angolanas. Em março de 1976, registaram-
se violentos confrontos entre o MPLA e a FNLA, que marcaram o início de uma guerra longa e
sangrenta. As duas organizações procuraram apoios no exterior. A FNLA simbolizava o
anticomunismo contra a expansão da Rússia e o MPLA a luta contra o capitalismo. O MPLA
passou a controlar Luanda com o apoio de Cuba e da União Soviética, a FNLA contou com a
ajuda do Zaire, da China e de alguns países ocidentais, enquanto a UNITA foi auxiliada pela
África do Sul e pelos Estados Unidos da América. Entretanto, a UNITA e a FNLA formaram uma
frente comum para lutar contra o MPLA, e Portugal foi afastado da condução do processo
político de transição de Angola, não conseguindo impedir a internacionalização do conflito.
Kissinger, o então secretário de estado norte-americano, analisava os acontecimentos em
Angola como um prolongamento da Guerra Fria. Em 1984, a FNLA rendeu-se ao Governo, o
mesmo não acontecendo com a UNITA, que, liderada por Jonas Savimbi, continuou a sua luta
contra o regime de José Eduardo dos Santos. O ano de 1988 trouxe alguma esperança para o
povo angolano. Surgiram então várias iniciativas para a paz. As propostas do Governo não
foram, no entanto, do agrado da UNITA, que como resposta intensificou a luta, persistindo na
reivindicação de integrar um Governo de transição com o MPLA como prelúdio para a
instituição de um regime multipartidário e para a realização de eleições livres. A 24 de junho
de 1989, na sequência de uma conferência realizada em Gbadolite (Zaire) onde participaram
José Eduardo dos Santos, Jonas Savimbi e um conjunto de 18 chefes de Estado africanos, foi
acordado um cessar-fogo. Mas este acordo teve interpretações diferentes para as duas partes
em conflito. Em agosto, Savimbi anunciou o recomeço das hostilidades. Mais tarde seria a
UNITA a apresentar uma série de propostas, entre as quais a criação de uma força de paz para
a fiscalização do cessar-fogo e o reinício das negociações com o Governo de Luanda. Depois de
sucessivas rondas de negociações, primeiro apenas com a presença de Portugal e mais tarde
com observadores norte-americanos e soviéticos, a 31 de maio de 1991, em Lisboa, e com a
presença do primeiro-ministro português, Aníbal Cavaco Silva, foram formalmente assinados,
pelo presidente angolano e pelo presidente da UNITA, os Acordos de Paz para Angola
(conhecidos por Acordos de Bicesse). Mas mais uma vez, em finais de 1991, a implantação dos
acordos estava longe de se considerar satisfatória a nível político e militar. Com o
desanuviamento das relações Leste-Oeste e depois de uma guerra sangrenta de dezasseis
anos, foram finalmente realizadas eleições livres e multipartidárias em setembro de 1992, com
a mediação das Nações Unidas, que fez deslocar para o terreno uma missão de verificação e
fiscalização das eleições. O MPLA foi o vencedor oficial. A segunda força política mais votada, a
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UNITA, recusou-se a aceitar os resultados. Angola voltou a mergulhar na guerra civil até à
assinatura do Protocolo de Lusaca (cessar-fogo), em novembro de 1994. Este protocolo iria ser
muitas vezes violado em certas zonas, mas sem haver um retorno à guerra civil generalizada. A
situação política e militar no país estão ainda por normalizar, havendo pressões por parte do
Conselho de Segurança da ONU sobre a UNITA, no sentido de obrigar esta organização a
proceder ao acantonamento dos seus soldados. O conflito fez muitos milhares de mortos e
cerca de um milhão de refugiados dispersos por várias regiões dos países vizinhos, ao mesmo
tempo que arruinou a economia angolana.
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A invasão soviética no Afeganistão
Era madrugada do dia 24 de dezembro de 1979 quando os blindados do exército da
União Soviética invadiram o Afeganistão sob o pretexto de garantir o cumprimento do Tratado
de
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batalhas campais. Os combatentes afegãos valiam-se de armamento capturado dos soviéticos
e, principalmente, do material bélico que os Estados Unidos lhes forneciam. O curso da guerra
mudou definitivamente quando Washington passou a abastecer os mujahedin, a partir de
1987, com mísseis antiaéreos Stingers, facilmente transportados e disparados dos ombros dos
combatentes. Esse armamento permitiu-lhes abater regularmente helicópteros e aviões que
voavam a baixa altitude.
Os EUA são a primeira potência mundial e a China é a segunda, pois como confirma
George Soros, empresário húngaro-americano, em 2004: “Os Estados Unidos não são o único
país no centro do sistema capitalista dominante, mas são o mais poderoso e constituem a
principal força impulsionadora por detrás da globalização.”
De facto, a China passou de uma situação muito subalterna para segundo lugar;
aumentou a um ritmo elevado e prevê-se que permaneça assim.
A situação atual é que a repartição de riqueza não tem a ver com desenvolvimento. Ao
considerarmos a China e a Índia, vemos que estes países têm vindo a aumentar as suas cotas-
partes do PIB mundial. Em 2003, representavam 20% e prevê-se que em 2030 representem
mais de 33%.
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O chamado Bloco BRIC, constituído, respetivamente, pelo Brasil, Rússia, Índia e China
está em ascensão, no que diz respeito à produção de riqueza. Hoje, dos 27 biliões de
trabalhadores em todo o Mundo, metade encontram-se no bloco BRIC. Apenas 14% encontra-
se na União Europeia, nos Estados Unidos e no Japão.
Os trabalhadores dos países que eram os ricos têm visto os seus salários reais a
estagnar ou a descer.
25% das exportações são agora assegurados pelo Bloco BRIC mais no México.
Em 1960, a maioria dos investimentos eram feitos em locais onde já havia outros
investimentos. Nos últimos vinte anos, abriram-se muitos mercados de trabalho em países que
duplicaram a força de trabalho em relação ao que havia antes – esses países apresentaram
mais do dobro dos trabalhadores que havia até aí.
Como estes países são os maiores exportadores mundiais e os que vêm ganhando
importância na produção mundial, os que dantes eram os ricos têm acumulado défices
comerciais – principalmente os EUA, com um défice que representa 2% do PIB mundial/7% PIB
americano.
O valor das exportações feitas por países como o Japão, a China, mas também a UE,
aos EUA sem receberem nada em troca (a compra da dívida americana) são elevadíssimos.
Os EUA produzem cada vez menos do que consomem. Se continuarem a fazer isto, o
dólar vai perder o valor. Para os americanos poderem continuar a comprar sem vender, têm de
dar algo em troca – têm de saldar a venda.
Os EUA pagam, mas não com dinheiro; pagam com títulos de dívida.
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É por isso que os bancos mundiais mantêm o dólar à tona. Assim, os EUA continuam a
comprar sem pagar.
O que acontece na economia mundial? Há um fluxo de capital para os EUA, mas não há
exportações americanas – poços sem fundo.
A China detêm metade da dívida pública americana, o que acaba por ser benéfico para
os chineses, que têm, assim, maior acesso ao mercado americano, onde podem vender os seus
produtos tecnológicos. Se a China deixasse de vender aos EUA e de comprar a dívida
americana, a economia chinesa colapsava, já que não tinha para onde produzir e não
conseguia manter o crescimento. Neste momento, a economia mundial depende de um só
país – os EUA. Todos os outros países capitalistas têm beneficiado da situação americana.
Na Europa Ocidental, mais de 25% do PIB mundial era das economias europeias.
Atualmente, a tendência é continuar a diminuir. Prevê-se que até 2030 terá 13%.
Nos EUA, em 1952, representava mais de 25% (também), e a partir desse ano tem
vindo a diminuir, esperando-se que alcance os 17% em 2030.
A Rússia, em 1952, detinha mais de 9% do PIB, mas desde aí a percentagem tem vindo
a diminuir, prevendo-se que se fique pelos 3,5% em 2030.
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Para terminar, deixo uma pergunta retórica de Tony Blair, primeiro-ministro britânico
de 1997 a 2007, feita em 2001: “E não é possível que a Índia e a China, cada um com três vezes
mais cidadãos do que o conjunto da União Europeia, assim que as suas economias de
desenvolverem o suficiente, como seguramente acontecerá, venham a reconfigurar
completamente a geopolítica mundial ainda nos nossos dias?” Eu presumo e, aliás, já consigo
ver que sim.
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