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História do Presente e Intelligence nas Relações Internacionais
Outubro 2010
6
Ao Professor Adriano Moreira
ÍNDICE
Nota Prévia.................................................................................................. 17
Introdução: O Tempo Tríbio nas Relações Internacionais...................... 19
I – A Evolução da Conjuntura Internacional .......................................... 29
1. Tendências da Conjuntura ....................................................................... 29
1.1. A Guerra da Informação ................................................................ 29
1.2. O Futuro da Vigilância................................................................... 30
1.3. A Globalização do Crime Organizado ........................................... 32
1.4. O Negócio do Conhecimento ........................................................ 33
1.5. O Movimento do Islamismo Europeu ........................................... 35
1.6. A Geopolítica da Informação ........................................................ 36
1.7. O Ciclo do Patriotismo Económico ............................................... 38
1.8. A Guerra Longa dos Estados Unidos ............................................ 40
1.9. O Regresso da Guerra Fria ............................................................ 42
1.10. A Incerteza da Conjuntura ........................................................... 43
1.11. 2007 .............................................................................................. 45
1.12. Informações e Negócios em Tempo de Guerra ............................ 47
2. Áreas Regionais ..................................................................................... 49
2.1. África ............................................................................................ 49
2.1.1. A Nova Luta pela África ...................................................... 49
2.1.2. Condicionalismos Sociais do Investimento em África.......... 50
2.1.3. Crise à vista na Nigéria ........................................................ 52
2.1.4. A Tragédia do Darfur ........................................................... 54
2.1.5. A Luta pelo Poder na África do Sul...................................... 55
9
2.1.6. A Corrupção em África ........................................................ 57
2.1.7. Diamantes de Sangue ........................................................... 59
2.1.8. A Construção da Paz no Congo ........................................... 60
2.1.9. Missão (Im)Possível no Congo ............................................ 61
2.1.10. Alta Tensão na Nigéria ....................................................... 63
2.1.11. O Engodo da Somália ........................................................ 64
2.1.12. Tensão Pré-Eleitoral na Nigéria .......................................... 66
2.1.13. Os Piratas da Somália ........................................................ 67
2.1.14. O Imbróglio do Darfur ........................................................ 69
2.2. América.......................................................................................... 70
2.2.1. Raios Laser Ameaçam Estados Unidos................................. 70
2.2.2. O Papel Estratégico de Cuba ............................................... 72
2.2.3. O Escândalo Cunningham .................................................... 73
2.2.4. O Programa Nuclear do Brasil ............................................. 74
2.2.5. A Estratégia Africana dos Estados Unidos .......................... 76
2.2.6. A Parceria Sino-Brasileira ..................................................... 77
2.2.7. A Tríplice Fronteira ............................................................... 79
2.2.8. O Comando África dos Estados Unidos ............................... 81
2.2.9. O Novo Chefe do Pentágono................................................. 82
2.2.10. Operação Milagre ............................................................... 83
2.2.11. O Novo Comando África dos Estados Unidos .................. 85
2.2.12. O Banco Mundial de Wolfowitz.......................................... 87
2.2.13. Morreu o Rei, Viva o Rei ................................................... 89
2.2.14. O Programa Nuclear do Brasil ............................................ 90
2.3. Ásia ................................................................................................ 92
2.3.1. Satélites Espiam Efeitos do Tsunami ................................... 92
2.3.2. O Alvo Coreano ................................................................... 94
2.3.3. Jogos Chineses ..................................................................... 95
2.3.4. O Papel Estratégico de Taiwan ............................................. 96
2.3.5. Os Negócios da China em África ........................................ 98
2.3.6. A Turbulência Política no Sudoeste Asiático......................... 99
2.3.7. A Revolução da Internet na China ....................................... 101
2.3.8. A Corrida Nuclear da Índia .................................................. 102
2.3.9. Os Negócios da China .......................................................... 103
2.3.10. A Crise em Timor-Leste ..................................................... 105
2.3.11. A Geopolítica da China ...................................................... 106
2.4. Eurásia ......................................................................................... 108
2.4.1. A Situação no Quirguistão ................................................... 108
2.4.2. O Escândalo do Petróleo no Cazaquistão.............................. 109
10
2.5. Europa .......................................................................................... 111
2.5.1. A Posição Estratégica da Turquia ......................................... 111
2.5.2. O Plano África da Espanha .................................................. 112
2.5.3. O Exemplo da Cooperação Francesa ................................... 114
2.5.4. A Estratégia Africana da France Telecom ............................ 116
2.5.5. A Nova Geopolítica da Rússia ............................................. 117
2.5.6. A Nova Política de Cooperação Europeia ............................. 118
2.5.7. Interesses Permanentes .......................................................... 120
2.5.8. A Espanha em África ............................................................ 122
2.6. Médio Oriente .............................................................................. 124
2.6.1. O Próximo Alvo Será o Irão? .............................................. 124
2.6.2. O Cenário Pós-Eleitoral no Iraque ....................................... 125
2.6.3. O Novo Embaixador Saudita em Washington ...................... 127
2.6.4. O Imponderável Futuro do Iraque ........................................ 128
2.6.5. O Irão Vai Ser Atacado? ....................................................... 129
2.6.6. Os Números da Guerra no Iraque ......................................... 131
2.6.7. O Convite da Rússia ao Hamas ........................................... 132
2.6.8. O Regresso de Kadafi ........................................................... 134
2.6.9. A Ameaça Nuclear do Irão.................................................... 135
2.6.10. A Evolução da Situação no Iraque ...................................... 136
2.6.11. A Incerteza de Um Ataque ao Irão...................................... 138
2.6.12. A Jogada do Hezbollah........................................................ 139
2.6.13. O Dilema de Israel .............................................................. 141
2.6.14. A Diplomacia Secreta na Crise do Líbano.......................... 142
2.6.15. O Irão e o Hezbollah........................................................... 143
2.6.16. A Oposição Política no Irão ................................................ 145
2.6.17. O Programa Nuclear do Egipto........................................... 146
2.6.18. A Situação no Líbano.......................................................... 148
2.6.19. A Influência do Irão no Iraque............................................ 149
2.6.20. A Ameaça Regional do Iraque ............................................ 151
2.6.21. A Estratégia de Moqtad Al Sadr ......................................... 152
2.6.22. O Futuro do Iraque.............................................................. 153
3. O Factor Energético ............................................................................... 155
3.1. A Corrida ao Ouro Negro .............................................................. 155
3.2. Prospectiva do Mercado de Energia .............................................. 156
3.3. (In)Segurança Energética .............................................................. 158
3.4. O Novo Líder da BP ...................................................................... 160
11
II – A Grande Ameaça Terrorista ............................................................ 163
1. Al-Qaeda ................................................................................................ 163
1.1. Onde Está Bin Laden...................................................................... 163
1.2. O Modelo de Bin Laden ................................................................. 164
1.3. O Embaixador de Bin Laden .......................................................... 166
1.4. O Manual da Al-Qaeda................................................................... 167
1.5. A Jogada de Bin Laden................................................................... 168
1.6. O Esconderijo de Bin Laden.......................................................... 170
1.7. A Ameaça de Ossama Bin Laden .................................................. 171
1.8. A Metamorfose da Al-Qaeda ......................................................... 172
1.9. A Força da Al-Qaeda ..................................................................... 174
1.10. A Propaganda da Al-Qaeda........................................................... 175
1.11. A Ameaça Nuclear da Al-Qaeda .................................................. 177
1.12. A Voz da Jihad .............................................................................. 178
1.13. A Ameaça da Al-Qaeda no Norte de África................................. 179
2. Diversidade das Ameaças ..................................................................... 181
2.1. WMD ............................................................................................. 181
2.2. O Ciberterrorismo........................................................................... 182
2.3. O Terrorismo Nuclear ..................................................................... 183
2.4. Petroleiros, Terroristas e Bombas Nucleares................................... 185
2.5. O Terrorismo no Sudoeste Asiático ................................................ 186
2.6. Lavagem de Dinheiro e Terrorismo ................................................ 187
2.7. A Ameaça do Terrorismo Islâmico nos Balcãs .............................. 189
2.8. A Nova Geração de Terroristas ...................................................... 190
2.9. A Crescente Ameaça da Internet ................................................... 191
2.10. As Ligações Perigosas de Saddam................................................ 193
2.11. A Ameaça Terrorista em Marrocos ............................................... 194
2.12. A Universidade de Al Iman ......................................................... 196
2.13. A Ameaça Terrorista ao Comércio Marítimo................................ 197
2.14. A Ameaça Terrorista na Argélia ................................................... 199
2.15. A Ameaça Terrorista nos Estados Unidos ................................... 200
3. O Contra-Terrorismo ............................................................................. 202
3.1. Lutando Contra a Al-Qaeda ........................................................... 202
3.2. A Caça ao Homem.......................................................................... 203
3.3. A Europa Contra o Terrorismo ....................................................... 205
3.4. A Luta Anti-Terrorista Europeia .................................................... 206
3.5. A Luta Anti-Terrorista em África ................................................... 207
3.6. A Luta Anti-Terrorista em Espanha ............................................... 209
12
III – A Perspectiva da Intelligence ........................................................... 211
1. Teoria das Informações ........................................................................... 211
1.1. A Diplomacia Secreta dos Serviços de Informações...................... 211
1.2. A Gestão dos Segredos .................................................................. 212
1.3. A Função da Análise....................................................................... 214
1.4. A Prática da Boa Teoria .................................................................. 216
1.5. O Ciclo de Produção de Informações ........................................... 218
1.6. A Expansão das Fontes Abertas ..................................................... 220
1.7. O Conceito de OSINT .................................................................... 221
1.8. A Perspectiva da Inteligência Económica....................................... 223
1.9. O Plano de Informações Estratégicas ............................................. 225
1.10. The Intelligence Question ............................................................. 227
1.11. Intelligence Studies ....................................................................... 229
1.12. A Unidade de Intelligence nas Empresas ..................................... 231
1.13. A Complexidade Crescente........................................................... 232
2. Espionagem e Serviços de Informações ................................................ 234
2.1. A Guardiã de Sua Majestade .......................................................... 234
2.2. Vigilância Global ............................................................................ 236
2.3. Clube Secreto.................................................................................. 237
2.4. O Novo KGB .................................................................................. 238
2.5. Serviços Pouco Secretos ................................................................. 240
2.6. Jogos Seguros.................................................................................. 241
2.7. Toupeiras e Agentes Duplos............................................................ 242
2.8. A Espionagem Americana............................................................... 244
2.9. O Novo Director da CIA ................................................................ 245
2.10. O Trauma da Espionagem Israelita............................................... 246
2.11. A Força Especial da CIA .............................................................. 248
2.12. A Espionagem Chinesa ................................................................. 249
2.13. A Guerra da Inteligência no Iraque .............................................. 250
2.14. A Internet Secreto da CIA ............................................................ 252
2.15. Os Correspondentes Honorários dos Serviços Secretos ............... 253
2.16. Um Serviço à Moda Antiga .......................................................... 254
2.17. Espiões Precisam-se...................................................................... 256
2.18. O Complexo Cenário da (In)Segurança Americana ..................... 257
2.19. O Labirinto das Informações no Iraque........................................ 259
2.20. Guerra, Espionagem e Inteligência Económica............................ 260
2.21. O Guardião de Israel..................................................................... 261
2.22. A Reforma da Espionagem Anglo-Americana ............................. 263
13
2.23. O Czar das Informações ............................................................... 264
2.24. O Número Dois da Espionagem Americana................................. 266
2.25. Ajuste de Contas no Meio da Espionagem Britânica ................... 267
2.26. O Projecto Scope........................................................................... 268
2.27. Antropólogos e Espiões em Tempo de Guerra ............................. 270
2.28. A Crescente Ameaça dos Gangs Urbanos .................................... 271
2.29. O Estado da (In)Segurança Europeia............................................ 273
2.30. O Escândalo dos Espiões Chineses Dissidentes ........................... 274
2.31. O Caso Valerie Plame ................................................................... 275
2.32. Os Serviços Secretos da Síria ....................................................... 277
2.33. A Nova Estratégia de Informações Americana ............................. 278
2.34. As Prisões Secretas da CIA .......................................................... 279
2.35. Operações Cobertas e Clandestinas da CIA ................................. 281
2.36. Pentágono Espia Americanos ....................................................... 282
2.37. O Novo Chefe da Espionagem Alemã.......................................... 283
2.38. Jogos de Espiões .......................................................................... 285
2.39. A Ameaça da Espionagem Económica ......................................... 286
2.40. A Espionagem Económica dos Estados........................................ 288
2.41. Os Suspeitos do Caso Litvinenko ................................................ 290
2.42. Novos Factos do Caso Litvinenko ............................................... 291
2.43. As Guerras Secretas Anglo-Russas............................................... 293
2.44. O Novo Czar da Espionagem Americana ..................................... 294
2.45. A Cruzada do Senador Rockfeller ............................................... 296
2.46. Caça às Bruxas na Europa do Leste ............................................. 297
2.47. Tensões Russo-Americanas .......................................................... 298
2.48. A Espia de quem se Fala ............................................................. 300
2.49. Jornalistas, Políticos e Espiões .................................................... 301
2.50. A Espionagem Económica Chinesa nos Estados Unidos ............. 302
2.51. As Tensões Anglo-Russas ............................................................. 304
3. Competitive Intelligence ....................................................................... 306
3.1. O Empresário da CIA .................................................................... 306
3.2. Serviços Privados ........................................................................... 307
3.3. A Escola de Guerra Económica...................................................... 309
3.4. A Vantagem das Informações Estratégicas .................................... 310
3.5. Os Limites da Business Intelligence .............................................. 312
3.6. A Evolução da Competitive Intelligence ....................................... 314
3.7. O Estratega da Guerra Económica ................................................. 316
3.8. Espionagem Económica e Informações Estratégicas...................... 318
14
3.9. A Espionagem Empresarial............................................................. 320
3.10 A Ignorância é mais cara que a Informação.................................. 321
3.11. Tempo de Intelligence nas Empresas ............................................ 323
3.12. A Expansão da Inteligência Económica ...................................... 325
IV – Uma Perspectiva de Portugal nas Relações Internacionais............ 327
1. A Imagem Externa de Portugal ............................................................... 327
2. Uma Visão Optimista de Portugal............................................................ 329
3. Comunidade de Afectos e Interesses........................................................ 331
4. Diplomacia Económica e Negócios Estrangeiros ................................... 333
5. A Matriz da Cooperação Portuguesa........................................................ 335
6. Estrangeirados, Ma Non Troppo ............................................................. 337
7. O Legado Colonial na África Lusófona .................................................. 339
8. Visão Estratégica da Cooperação com África .......................................... 341
9. A Oportunidade Africana ........................................................................ 343
10. Para Angola (s)em Força ........................................................................ 345
11. Pelo Debate do Patriotismo Económico................................................. 347
12. A (In)cultura Estratégica Portuguesa...................................................... 349
13. Em Busca da Imagem Perdida ............................................................... 351
14. Espionite Aguda ..................................................................................... 353
15. Xenofilia................................................................................................. 355
16. Os Amigos de Peniche ........................................................................... 356
17. A Imagem de Portugal............................................................................ 358
18. Uma Comunidade Virtual....................................................................... 360
19. Conceito Estratégico Nacional ............................................................... 362
20. O Desafio do Mar .................................................................................. 364
21. Iberismo ou talvez não ........................................................................... 366
22. Cooperação e Negócios .......................................................................... 368
23. A Sobrevivência dos Camaradas ............................................................ 370
24. Opções Estratégicas................................................................................ 372
25. Propaganda de Portugal.......................................................................... 374
26. Out of Africa........................................................................................... 375
27. O Plano Ibero-Africano .......................................................................... 377
28. Um desafio de Portugal.......................................................................... 379
29. Ameaça e Oportunidade ......................................................................... 381
30. O Fim da Universidade .......................................................................... 382
31. Fumos da Índia....................................................................................... 384
32. A Emergência das Informações Estratégicas ......................................... 386
33. O Tempo Tríbio Português...................................................................... 388
15
34. O Futuro da Universidade ...................................................................... 389
35. Entrever Portugal .................................................................................... 391
36. O País que Somos................................................................................. 393
37. Portugal em África................................................................................. 395
38. A Oportunidade Angolana .................................................................... 397
CONCLUSÃO............................................................................................. 399
16
NOTA PRÉVIA
17
outro lado, essa profundidade também resultou da pesquisa sistemática e
intensa para cada um dos dossiês que suportaram semanalmente cada um
dos artigos, fundamentada igualmente na experiência pessoal que tive como
Director de Departamento de Análise do Serviço de Informações
Estratégicas de Defesa e Militares, em tão honrosa quanto patriótica comis-
são de serviço, enquanto Assistente do Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, num período desde
logo marcado pelo conturbado processo da independência de Timor-Leste,
pelo atentado terrorista do 11 de Setembro e pela invasão do Iraque.
18
INTRODUÇÃO: O TEMPO TRÍBIO
NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
19
dos famosos MBA que incorporam a Matemática como instrumento supos-
tamente presciente da tomada de decisão das organizações, da gestão do
risco e do correspondente controlo da evolução da situação.
3 Adriano Moreira, Teoria das Relações Internacionais, Coimbra, Livraria Almedina, 1997
(2ªed.), p. 395 ss.
4 Jan Vansina, Living with Africa, Madison, The University of Wisconsin Press, 1994.
20
ciências sociais, desde os antropólogos aos economistas, que inevitavel-
mente constroem os seus trabalhos sobre as bases da História, é certo tam-
bém que os historiadores são portadores de uma equação pessoal que lhes
imprime maior ou menor objectividade e consequentemente maior ou
menor controlo da subjectividade e da produção de conhecimento histórico
independente da consciência histórica geral inerente ao quotidiano da rea-
lidade social. E a verdade é que a proximidade no tempo dos factos anali-
sados interfere na equação pessoal dos investigadores no que respeita aos
seus valores culturais e princípios políticos num ambiente de opinião quo-
tidianamente marcado pelos mass media, nos quais aliás muitos investiga-
dores colaboram regularmente.
Com efeito, os mass media são hoje em dia o principal meio indutor da
realização da História do Presente através principalmente das notícias, repor-
tagens (incluindo as do chamado jornalismo de investigação), artigos de opi-
nião e artigos de informação sobre determinados factos da evolução da con-
juntura. Estes factos são por regra seleccionados a partir de critérios
considerados “jornalísticos”, o que remete para a importância desses mesmos
factos no quotidiano das pessoas, importância essa que também poderá ser
subjectiva de acordo com o “agenda-setting” definido, ou seja, a decisão no
âmbito da política editorial sobre o que merece e não merece ser
editado/publicado.
21
“Mas a verdadeira transformação é o facto de que um aconteci-
mento histórico só era acontecimento porque os historiadores assim
o tinham decidido, em função do que esse acontecimento tinha pro-
vocado. Eram os historiadores que faziam ascender este ou aquele
acontecimento à dignidade histórica e, de certo modo, toda a
História consistia em decidir se isto era ou não um acontecimento, a
reavaliar a sua importância (…) No acontecimento de tipo moderno,
pelo contrário, já não é o historiador que dispõe, nem mesmo o jor-
nalista, que não é também mais que o eco instantâneo duma coisa
mais vasta, e que forma este emaranhado da actualidade que muda
completamente o nosso vivido histórico e que constitui a sua natu-
reza. É o acontecimento que faz o historiador.
(…)
Mas para a História do mundo contemporâneo, que é estudada
em concorrência pelo economista e o geógrafo, pelo sociólogo ou
pelo demógrafo, o acontecimento é, sem dúvida, o ponto de vista
privilegiado. É, provavelmente, a via de acesso real à História do
presente. O acontecimento, esta novidade ininteligível, deve ser cla-
rificado pelo historiador, que lhe tem de fornecer uma explicação
provisória e plausível, e esta explicação só pode enraizar-se no
passado”.5
22
lização dos recursos humanos e tecnológicos, a uma nova realidade
após a 2ª Guerra Mundial nas relações internacionais, no sentido em
que o seu papel, para além do domínio militar, evoluiu de proeminen-
temente táctico e operacional para estratégico, constituindo organizações
nunca vistas no passado.7 Os serviços de informações são hoje de facto
um subsistema das relações internacionais, mais concorrendo que coo-
perando com os ministérios dos negócios estrangeiros na informação e
influência da tomada de decisão das políticas externas dos Estados.
Com efeito, a sua actividade pode ser definida de forma simples como
a obtenção de conhecimento sobre o que está a acontecer e irá acontecer
que se afigure relevante para o interesse nacional e a segurança dos
Estados. Para o sucesso deste objectivo os serviços de informações dis-
põem de múltiplos meios, aplicando uma metodologia geralmente desig-
nada por ciclo de produção de informações ou ciclo de inteligência, a
qual, na componente da análise que antecede o produto final destinado
aos decisores sob a forma de relatórios de informações, deriva direc-
tamente da metodologia científica própria dos trabalhos universitários
no que respeita ao rigor do tratamento das fontes e da procura da verdade
dos factos, limitando-se o mais possível ou mesmo anulando a subjec-
tividade em benefício da objectividade.
23
Mundial, com a criação da posição do Coordinator of Information (COI)
junto do Presidente Roosevelt e com o Office of Strategic Services (OSS),
precursor da CIA, cujo Research and Analysis Branch (R&A), chefiado
por William Langer, outro professor de História, da Universidade de
Harvard, contou com a colaboração de cerca de 900 investigadores e pro-
fessores universitários.9 Mas Sherman Kent, um desses scholars do OSS,
imprimiu à CIA após a guerra um carácter essencialmente civil e compe-
titivo adaptado ao ambiente de paz, e sobretudo promoveu dentro da nova
organização um debate académico alargado, impresso na revista Studies in
Intelligence criada para o efeito e que ficou integralmente secreta até à
queda do Muro de Berlim.10 Os actuais e internacionalmente consagrados
intelligence studies e security studies são uma consequência directa do tra-
balho de Sherman Kent.
9 https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/books-and-
monographs/oss/art04.htm.
10 https://www.cia.gov/library/center-for-the-study-of-intelligence/csi-publications/csi-studies/
index.html.
24
a curto, médio ou longo prazo – com informação idealmente fiável através
da construção de cenários e da avaliação prospectiva com base numa escala
definida de possibilidades e probabilidades. A publicação de livros e artigos
científicos é substituída, no quotidiano da actividade dos serviços de infor-
mações, pela divulgação restrita sob classificação de segurança dos rela-
tórios de informações.
Ora, toda esta actividade é hoje desenvolvida pela grande maioria dos
países, com mais ou menos recursos e maior ou menor eficácia, o que nos
remete para uma dimensão secreta dos Estados a nível mundial, onde se
incluem também parte da diplomacia e da força militar, e consequentemente
para a necessidade de operacionalizar conceitos como os de estado secreto
e de mundo secreto na perspectiva das Relações Internacionais, os quais
abrangem um amplo leque de actividades como a da própria diplomacia e
cooperação secreta dos serviços de informações. E esta dimensão é cada
vez mais expressiva na evolução da conjuntura internacional na medida em
que cresce o sentimento de insegurança nacional num conjunto de Estados
situados no patamar das Grandes Potências, como é o caso dos Estados
Unidos, face a ameaças como a do terrorismo transnacional. Podem ser
observados como indicadores, por exemplo, acontecimentos como os desig-
nados “voos secretos da CIA” ou ainda, no domínio económico, tão rara-
mente abordado, o caso Valerie Plame.
11 https://www.cia.gov/offices-of-cia/clandestine-service/index.html.
25
nos pois outros também os detêm, como os britânicos, chineses, franceses,
israelitas e russos, para referir somente alguns dos mais expressivos. Porém,
a designação americana é efectivamente singular no conjunto dos serviços
de informações a nível mundial, e note-se também que o novo presidente
Barack Obama não a mudou até ao momento, o que não só simboliza mas
também revela um determinado modus operandi que não é de facto disso-
nante neste domínio relativamente à administração Bush, ao contrário de
algumas notícias mais mediáticas, recorrentes, que projectam uma imagem
de mudança dos democratas em comparação com os republicanos. De facto,
para qualquer serviço de informações defensor do interesse nacional de
qualquer Estado, enquanto não for mudada a designação, o National
Clandestine Service representa formalmente uma ameaça de grau máximo.
Neste aspecto não há serviços amigos mas tão somente serviços congéneres,
e este critério não pode ser esquecido pelos países de menor potência, mais
vulneráveis por este motivo às acções cobertas e clandestinas das maiores
potências.
12 http://www.defenselink.mil/pubs/pdfs/QDR20060203.pdf.
26
• passou-se de um período de paz para um tempo de guerra
• passou-se de uma ameaça para múltiplas
• passou-se da guerra contra nações para a guerra dentro de nações
• passou-se de respostas reactivas para acções preventivas, das for-
ças aquarteladas para as forças expedicionárias
• passou-se dos combates convencionais para as operações assimé-
tricas
• passou-se das forças massivas para os efeitos massivos
• passou-se da ênfase no material para a ênfase nas informações
• passou-se da resposta a crises para a modelação do futuro
27
I – A EVOLUÇÃO DA CONJUNTURA
INTERNACIONAL
1. Tendências da Conjuntura
29
e militares dos serviços secretos começaram a vender às empresas o seu
know-how. Seria contudo nos anos 90, por virtude do desenvolvimento das
telecomunicações e da Internet, que a CI se afirmaria. Hoje, as empresas
mais avançadas em conceitos de gestão não descuram a função de CI na
sua organização, isto é, a “produção de informações” a partir da recolha
de notícias e dados em fontes abertas ao público – Open Souces Intelligence
(OSINT) – excluindo-se formalmente a actividade ilegal da espionagem.
30
preventivas em relação à ameaça terrorista, as verbas duplicaram desde
então, atingindo este ano os 40 mil milhões de dólares. Em constante cres-
cimento, as estimativas apontam o valor actual do mercado na ordem dos
100 mil milhões de dólares.
A Camero tem pois como objectivo adquirir uma posição líder no seg-
mento e acabou de anunciar que dava por concluída a primeira fase do seu
desenvolvimento com um investimento de 6 milhões de dólares. O sistema
de “through-wall imaging” será comercializado a curto prazo, tanto numa
versão portátil, para distâncias curtas, como noutra, para maiores distâncias,
composta por antena, tripé, transmissor, processador de sinais e imagens e
monitor.
31
torizar o movimento de pessoas no interior de edifícios a partir do exterior.
A tendência contudo é a da globalização desta nova tecnologia, a qual virá
reforçar a eficácia das operações de vigilância activa e preventiva da luta
contra o terrorismo.
32
Neste momento, as polícias e os serviços de informações estão porém
particularmente preocupados com a possibilidade de cooperação e de rea-
lização de negócios entre o crime organizado e o terrorismo internacional,
concretamente a al-Qaeda. O pior cenário da ameaça imagina pois as ten-
dências e os circuitos clandestinos do comércio das armas de destruição
em massa, sublinhando as bombas nucleares, que poderão ser usadas em
futuros atentados. A última avaliação prospectiva do National Intelligence
Council americano, produzida em Dezembro de 2004 e intitulada “Mapping
the Global Future”, é peremptória: “se os governos dos países que detêm
armas de destruição em massa perderem o controlo dos seus inventários,
o risco do crime organizado traficar armas nucleares, químicas e biológicas
aumentará daqui até 2020”.
33
prestam-se aliás por vezes a alguma confusão na definição de uma fronteira
clara entre ambos. De facto são correspondentes, mas, para efeitos opera-
cionais, podemos considerar que o primeiro reflecte o conhecimento do
ambiente de negócios da empresa, incluindo os principais actores, enquanto
que o segundo traduz o processo tecnológico de comando e controlo da
organização, desde a produção à distribuição e ao serviço pós-venda.
34
Esta cultura de informações está bem patente na dinâmica do sector,
com novas empresas, publicações, sítios na internet e novos produtos a
serem constatemente anunciados. Por exemplo, na passada 3ª feira, a
ONVIA, sediada em Seattle, anunciou o lançamento de uma base de dados
com mais de 400 mil contactos de decisores da administração pública ame-
ricana, desde o nível federal ao local, incluindo moradas, números de tele-
fone e endereços de email.
35
Personalidade polémica, Mustafa Ceric tem 55 anos. Após ter realizado os
estudos universitários e religiosos em Sarajevo e no Cairo, viveu em Chicago
entre 1981 e 1986, para onde foi como Iman da mais antiga organização islâ-
mica no país, agora designada Bosnian-American Cultural Association
(BACA), tendo aproveitado para realizar um doutoramento na Universidade de
Chicago em teologia islâmica. Daí seguiu para a Bósnia, onde, frontalmente
contra sérvios e croatas, ganhou relevo como líder espiritual na guerra de 92-
95, a seguir à qual o número de imigrantes bósnios nos Estados Unidos passou
de pouco mais de um milhar para os cerca de duzentos mil.
36
flexíveis por causa dos avanços tecnológicos no domínio da comunicação que
vêm acelerando extraordinariamente os negócios e trocas de toda a espécie, a
nível internacional, no sentido da integração progressiva do sistema mundial.
Chamamos a este fenómeno globalização, por influência anglófona, enquanto
os franceses insistem em denominá-lo de mundialização.
37
Curiosamente, também é raríssimo encontrar livros em francês com
este título, mas este passou a ser mais uma referência da percepção francesa
relativamente ao que se considera ser actualmente o ataque económico
americano aos mercados internacionais e aos interesses nacionais da França.
Com efeito, a “Géopolitique de L’Information” surgiu no contexto de um
movimento mais amplo de patriotismo económico, originalmente francês,
que hoje se manifesta sobretudo através do conceito de inteligência econó-
mica e da Escola de Guerra Económica (EGE). Esta foi fundada em 1997,
em Paris, por iniciativa de dois homens: o General Jean Pichot-Duclos, ex-
comandante da Escola Inter-Armas de Informações e Estudos Linguísticos,
que, entre outros trabalhos, publicou em 2002 o livro “As Guerras Secretas
da Mundialização”; e Christian Harbulot, que tem realizado estudos como
“Técnicas Ofensivas e Guerra Económica”, e cujo último livro se intitula
“A Mão Invisível das Potências. Os Europeus face à Guerra Económica”,
publicado no passado mês de Julho.
38
raro, quando o nível da ameaça é percepcionado como elevado, a opinião
pública mobilizar-se ou ser mobilizada em torno dessa decisão.
Não é pois de admirar que os Estados Unidos tenham vindo a ser, desde
o século XIX, os principais defensores da liberalização do comércio inter-
nacional. Tornaram-se cada vez mais fortes, competitivos, por virtude de
vários factores sobejamente conhecidos.
39
tismo económico. O primeiro argumento é o da preservação dos sectores
estratégicos nacionais, mas a questão está em saber qual é a definição pre-
cisa do conceito e quais as categorias que abarca.
40
dos Estados Unidos. O facto é particularmente relevante, uma vez que que
marca uma mudança assinalável na percepção das ameaças, na respectiva
pirâmide de conceitos e na formulação de respostas aos problemas. O docu-
mento, conforme é logo afirmado no início, tem como base a experiência
adquirida na designada guerra global contra o terrorismo, nos últimos cinco
anos, e parte da noção de que, neste curto período de tempo, o mundo
mudou muito.
41
Combinada com o conceito de guerra prolongada, esta noção geogra-
ficamente delimitada da segurança nacional americana é pois suficiente-
mente ampla para integrar o factor petróleo e permite antever um reforço
substancial da presença dos Estados Unidos em África a curto prazo. O
petróleo africano é de alta qualidade, mais fácil de refinar, está mais pró-
ximo do mercado e representa já 70% das importações americanas de
África.
42
refere numa análise oficial produzida este mês de Maio pelo centro de pes-
quisa e documentação do Congresso. A tensão entre os dois países está
bem patente na luta pela influência na Europa do Leste, na Ásia Central,
na parceria estratégica entre a Rússia e a China no grupo de Shangai, que
já realizou exercícos militares conjuntos, e no caso do Irão que está a bene-
ficiar da transferência de tecnologia nuclear russa.
43
no Iraque, a qual se encontra num momento crucial. Ou a guerra civil entre
sunitas e shiitas, de facto existente, se mantém no actual nível de baixa
intensidade, ou se agrava e inevitavelmente se alastrará a toda a região,
cumprindo a regra ou maldição de que no Médio Oriente só pode mesmo
é tudo piorar. Apesar de serem vistas como ocupantes e alvos pela resis-
tência iraquiana, o papel das forças militares estrangeiras no país é agora
principalmente o de contenção daqueles dois grupos etno-religiosos.
Ao Irão, por seu turno, também não interessa uma escalada da guerra
civil no Iraque, não obstante ser um forte apoiante financeiro, logístico e
mesmo operacional, através dos seus serviços secretos, das milícias shiitas.
Se essa escalada ocorrer, uma vez que o potencial para a regionalização do
conflito é muito elevado, as consequências serão imprevisíveis. Desde logo,
é muito provável que os países vizinhos se envolvessem, pois o poder é aí
controlado pelos sunitas, como é o caso da Arábia Saudita, da Jordânia, da
Turquia e do Kuwait. Estes sentem-se ameaçados pela crescente presença
44
e influência do Irão no Iraque e, para contrabalançar isso, já começaram a
criar as suas próprias redes de apoio aos sunitas iraquianos.
Mas a verdade é que, embora tenha ali um papel central, pois 60% dos
iraquianos são shiitas, o que na nova ordem pós-Saddam já lhes deu o con-
trolo do governo, o Irão tem uma influência parcial sobre as milícias afins
etno-religiosas. Não controla, por exemplo, o designado Exército Mahdi,
de 20 mil elementos, chefiado pelo jovem Moqtada Al Sadr, de 32 anos,
apesar de ter vindo crescentemente a cortejá-lo. Moqtada Al Sadr é um
nobre do reverenciado clã Al Sadr, sobrinho-neto de Mohammed Baqr Al
Sadr, que foi mandado enforcar por Saddam Hussein em 1980.
1.11. 200723
O ano de 2006 consegue chegar ao fim sem que tenha havido uma crise
económica global de proporções incalculáveis por causa dos preços-recorde
do petróleo. E, indubitavelmente, esta matéria-prima condiciona a evolução
da economia global. A dúvida que emerge agora é, pois, a de saber se o
ano de 2007 será semelhante ou diferente do anterior. Desde logo, a incer-
teza é um factor presente, dificultando qualquer previsão. Pode manifes-
tar-se em vários quadrantes, no clima ou nas tensões geopolíticas, por
exemplo, passíveis de se reflectirem directamente nos custos da energia e,
em consequência, na economia.
45
ultrapassará a banda dos 60 dólares. A Goldman Sachs, por seu turno, prevê
que o petróleo de referência americano atinja os 75 dólares.
Ora, é precisamente aqui que entra James Baker e o Iraq Study Group,
cujo estudo de situação recentemente realizado constitui agora as linhas de
força da política do presidente Bush. É muito provável que as conversações
em curso com o Irão, lideradas por Robert Gates, que antes integrava a
equipa de Baker, abordem o dossiê do petróleo, que está a ser principalmente
extraído nas zonas xiítas. Note-se que James Baker é mais que um simples
amigo ou “empregado” do presidente Bush (pai); é o herdeiro de um presti-
giado escritório de advogados do Texas, fundado em 1840, que se especiali-
zou na área do petróleo a partir de 1901, e que, entre outros clientes do ramo,
é representante jurídico oficial da Arábia Saudita nos Estados Unidos.
46
De facto, para além da Al-Qaeda, já existe um guerra civil no Iraque,
embora de fraca intensidade, onde de um lado estão os sunitas apoiados
pela Arábia Saudita e do outro os xiítas apoiados pelo Irão, que poderá der-
rapar para um conflito regional. É isto que se está também a tentar impedir,
mas se em 2007 os Estados Unidos conseguirem concertar posições com
a Arábia Saudita e o Irão, fica aberto o caminho para um aumento do output
de petróleo iraquiano que se repercutirá nos preços.
Este novo factor veio assim acrescentar-se à constante histórica das ten-
sões, conflitos e guerras entre Estados e no seio destes, sendo realista
avaliar prospectivamente a evolução da conjuntura internacional na linha
da percepção dos próprios Estados Unidos. Com efeito, estes definiram a
sua nova geo-estratégia há já um ano, num documento de cem páginas
designado Quadrennial Defense Review Report, baseada na premissa de
que o mundo mudou muito nos últimos cinco anos. A primeira frase do
documento é a seguinte: “Os Estados Unidos são uma nação envolvida
naquilo que será uma guerra prolongada (long war)”.
Com este novo conceito de “long war”, desenham o cenário como uma
nova era marcada pela incerteza e pela surpresa, onde a mudança imposta
pela segurança requer, entre outros aspectos, que se passe das forças aquar-
teladas para as forças expedicionárias e da ênfase no material para a ênfase
nas informações. Por esta razão, está em curso um aumento do número de
efectivos das forças especiais americanas para terem, conforme é revelado,
“a capacidade de operarem simultaneamente em dúzias de países.”
24 Publicado em 15 de Fevereiro de 2007.
47
As chamadas operações de paz vieram pois para ficar e inúmeros países
são hoje chamados a dar o seu contributo. Portugal não foge à regra e esta-
mos até com um elevado nível de empenhamento face à nossa dimensão e
capacidades. Temos porém uma vulnerabilidade incrível neste quadro em
termos de planeamento estratégico. Portugal não tem um serviço de infor-
mações militares, quando tanto precisa dele. E não o tem, persistentemente,
por razões que se prendem ainda com complexos passados e vontades
adversas de indivíduos e de grupos de interesses – entre outros, corporativos
– instalados no sistema de informações, e sobretudo por causa da pura e
simples ignorância de sucessivos políticos nesta matéria, por isso facilmente
influenciáveis nas suas decisões por esses mesmos indivíduos e grupos.
48
2. ÁREAS REGIONAIS
2.1. África
49
tecção diplomática francesa. Por outro lado, a jogada britânica retira espaço
de manobra ao discurso crítico anti-capitalista que tem imperado no campo
dos movimentos anti-globalização, nos quais se inclui uma série de orga-
nizações não-governamentais especializadas em África.
A reacção destes críticos foi por isso imediata contra a campanha Make
Poverty History e a realização do concerto Live 8, afirmando que a África
precisa de mudanças fundamentais para sarar as feridas e não de políticas
cosméticas. Entre os argumentos esgrimidos referem que, de 1970 a 2000,
o capital acumulado de transferências para o mundo desenvolvido atingiu
os 250 mil milhões de euros, através do financiamento da balança de paga-
mentos e do serviço de dívida. No que respeita a este último, afirmam ainda
que por cada dólar recebido em empréstimo, 80% retorna à origem no
mesmo ano. Propôem assim que o Estado em África se redefina contra as
políticas do FMI e do Banco Mundial, seguindo o modelo da China.
50
Aí, o risco para o investimento externo será tanto mais elevado quanto
menor fôr a compreeensão dos seguintes factores não exclusivamente eco-
nómicos:
51
peita à redes escolares, sanitárias, energéticas ou comerciais. Outra é
a tendência para a falta de registo civil, como os certificados de nas-
cimento e de óbito, os quais por sua vez são imprescindíveis ao recen-
seamento da população e em parte, consequentemente, aos processos
eleitorais, abrindo desta forma espaço para irregularidades na com-
posição dos cadernos eleitorais.
• o papel das elites ou chefes tradicionais, agora frequentemente
designados como autoridades tradicionais, é determinante nas
zonas rurais. Aliás, como foram duramente perseguidos, e muitos
mortos, durante longos anos após as independências pelos poderes
marxistas-lenistas, sob a então terrível acusação de tribalistas, apro-
veitaram a abertura da Democracia, e o rasto que ficou de destruição
e miséria daqueles tempos, para restaurar certas práticas de feitiçaria,
que no tempo colonial já estavam de algum modo atenuadas, e assim
restaurar localmente a sua autoridade.
52
oitavo produtor mundial de petróleo, o primeiro africano e, sobretudo, o
seu quinto maior fornecedor. Por isso, face ao potencial de conflitos entre
muçulmanos e cristãos e aos ataques de rebeldes às instalações petrolíferas
no delta do rio Níger, os americanos desaconselharam o presidente
Obasanjo, até aqui sob sua protecção, de tentar alterar a constituição para
poder concorrer a um terceiro mandato.
53
Em rebelião desde 1966, os Ijaw exigem agora da Shell mais de mil
milhões de dólares de compensação por danos ambientais. E, para já, a ten-
tativa de Obasanjo cumprir um terceiro mandato está a servir de pretexto
para aumentarem as acções armadas.
Nos últimos três anos, a região do Darfur, no Sudão, tem estado envol-
vida num ambiente de violência extrema e, neste momento, a situação está
no seu maior pico de gravidade. A palavra “genocídio” é cada vez mais
utilizada nos meios de comunicação social para retratar o que está acontecer,
correspondendo ao discurso dos Estados Unidos, mas as Nações Unidas,
a União Europeia e a União Africana discordam e argumentam que a situa-
ção deve antes ser caracterizada como “crise humanitária”.
54
muito férteis envolvidas pelas montanhas vulcânicas Jebel Mare que atin-
gem os três mil metros de altitude.
55
e a fractura acabou por acontecer com um nível de conflitualidade tão ele-
vado que coloca em risco o futuro da África do Sul. O resultado imediato
foi a demissão do vice-presidente Jacob Zuma no passado Verão, acusado
de conspiração para assegurar em seu favor a sucessão do presidente Mbeki,
em 2009, e que está agora a ser alvo de três processos distintos sobre vio-
lação, fraude e corrupção.
Mas a tarefa afigura-se difícil e as feridas poderão ser de tal modo gra-
ves que já não podem ser curadas. Com efeito, a BEE é agora jocosamente
conhecida como Black Elite Empowerment ou Black Economic
Enrichement, correspondendo a um conjunto de casos em que líderes rele-
vantes do ANC estão a ficar com importantes posições em grandes empre-
sas. Destes, sobressai o presidenciável Manne Dipico, de 47 anos, estratega
eleitoral do ANC e conselheiro do presidente Mbeki. A partir da semana
passada firmou a sua posição no negócio dos diamantes, e também política,
passando a ser deputy-chairman da De Beers com uma quota estimada em
46 milhões de euros.
56
2.1.6. A Corrupção em África30
57
sinado em Maputo, em plena via pública, o jornalista Carlos Cardoso por
causa das repetidas investigações sobre corrupção que publicava em O
Metical, jornal que fundara em 1996.
Ambos têm e não têm razão. Os angolanos podem dizer que também existe
corrupção em Portugal, mas perdem a razão quando agitam o fantasma colo-
nialista e se recusam a reconhecer a abismal diferença de proporção entre
ambas as situações. Não há comparação possível entre o nível da corrupção
angolana e o da portuguesa. Esta é a verdade. Por outro lado, os portugueses
não têm razão quando pretendem que o mal angolano é incurável. É uma opi-
nião que não toma em conta os esforços que têm vindo a ser desenvolvidos
ao mais alto nível, não obstante o passado e os factos consumados, no sentido
de minorar o problema. A questão é que ainda vai levar bastante tempo até
que a corrupção em África, nomeadamente em Angola e Moçambique, atinja
um nível “aceitável”, correspondendo ao lento mas progressivo fortalecimento
das instituições e da pressão da nova geração, mais qualificada, que inevita-
velmente substituirá a geração dos antigos combatentes.
Para já, existem sinais de que alguma coisa está a mudar, como a inves-
tigação de três dezenas de páginas do jornalista Marcelo Mosse sobre a
situação em Moçambique, onde, entre outros, o presidente Armando
Guebuza aparece retratado no centro de uma imbricada rede de negócios,
sociedades, influências e clientelas. Mas este tipo de investigação também
tem outra utilidade: é uma boa fonte para a produção de informações estra-
tégicas.
58
2.1.7. Diamantes de Sangue31
Há poucos dias atrás o Los Angeles Times noticiou que circulam rumo-
res que a maior companhia de diamantes do mundo, a De Beers, firmou
um contrato com uma das mais importantes agências de comunicação dos
Estados Unidos, a Sitrick and Company. O objectivo é desenvolver uma
campanha de contra-informação relativamente ao filme “Blood Diamonds”,
protagonizado por Leonardo Di Caprio, que será lançado no final do ano
e que trata da exploração e contrabando de diamantes em ambiente de
guerra civil, particularmente em África. A Sitrick and Company já terá
mesmo contratado Nelson Mandela para ser a cara da campanha.
Por esta razão, a indústria dos diamantes, liderada pela De Beers, que
controla 70% da cadeia de fornecimento a nível mundial, tem vindo a lutar,
desde há meia dúzia de anos, contra a imagem negativa dos “diamantes de
sangue” que um conjunto de organizações não-governamentais (ONG),
nomeadamente britânicas, tem difundido, desde os finais dos anos 90, a
propósito das guerras civis de Angola, Serra Leoa, Libéria, Congo e Costa
do Marfim. Em 2003 foi, por isso, criado o “Sistema Kimberley”, que é
um processo de certificação dos diamantes desde a origem até à venda a
retalho.
59
anúncios, afirma ser impossível saber, no acto da compra de um diamante
numa joalheria, se este é ou não um diamante de sangue. Por outro lado,
sublinha o facto de os diamantes estarem a ser intensivamente utilizados
em esquemas de lavagem de dinheiro.
60
patrocínio internacional, o Congo encontra-se ainda sob a ameaça de rebe-
liões armadas na província do Kivu, fronteira ao Uganda, Ruanda e Burundi,
e no Katanga, fronteira à região dos diamantes em Angola, continuando a
morrer mil pessoas por dia.
61
Democrática do Congo continua numa situação de elevada tensão e incer-
teza quanto ao futuro. A comunidade internacional, representada no terreno
pela MONUC e pela EUFOR – cerca de 18 mil capacetes azuis e 2 mil
militares europeus de reforço -, continua apostada em não deixar cair na
total anarquia este colossal país africano do tamanho da Europa ocidental.
62
namentais, para as poderem entregar, ser desmobilizados e subsidiados; as
milícias, por seu truno, estão a recrutar de novo os desmobilizados, e estes,
se não obedecem, são ameaçados ou mortos.
63
gularidade do terreno, à diversidade étnica e à rivalidade entre os vários
grupos.
Estimando por baixo (70 mil bpd a 60 dólares o barril), esta economia
informal do delta está a gerar uma “indústria” de 1,5 mil milhões de dólares
por ano. Dinheiro que financia o tráfico de armas e a compra de influência
política e de fraudes eleitorais. O nível de incerteza é pois elevado quanto
ao futuro próximo do delta e da Nigéria.
64
período de tempo prolongado. Com efeito, esta operação que desmantelou
o poder crescente dos tribunais islâmicos na Somália deve ser, desde logo,
compreendida sob o ângulo da doutrina dos “ungoverned spaces” que o
Pentágono passou a adoptar no ano transacto.
65
namentais islâmicas estarão a promover a entrada no país de operacionais
vindos do médio oriente.
66
A tensão com Atiku Abubakar chegou recentemente ao limite, quando
este foi retirado da lista de candidatos presidenciais pela Comissão de
Eleições, no passado dia 15 de Março, sob a alegação constitucional de que
se encontrava a ser investigado por corrupção e também por apoiar os ata-
ques contra as instalações petrolíferas no delta do rio Níger. Seguiram-se
protestos de rua em várias cidades, Abubakar contestou a decisão nos tri-
bunais, mas a dúvida permanece se haverá ainda tempo para o seu nome
constar nos boletins de voto.
67
A Somália é o país africano com a maior linha de costa (cerca de 3.500
Km) e esta característica tem favorecido o desenvolvimento da pirataria,
reflectindo o caos instalado no território há já uma geração. A situação é
simplesmente anárquica e não existe na realidade um Estado ou qualquer
forma de autoridade legal organizada. Não existe marinha nacional e, por
isso, os piratas actuam sob a cobertura de clãs, senhores da guerra e milícias
que dividem entre si o controlo das regiões costeiras, atribuindo-se poderes
indiscriminados de autoridade marítima.
68
discreta mas intensamente capturados por embarcações europeias, africanas
e asiáticas.
69
beneficiava a imagem do Sudão, no mundo islâmico, no sentido da viti-
mização enquanto próximo alvo, a seguir ao Afeganistão e Iraque, da
cruzada anglo-americana.
2.2. América
70
caso grave, encontram-se registados pela NASA mais de 400 incidentes,
desde 1990, em que pilotos ficaram temporariamente cegos ou deso-
rientados, em plêno voo, por terem sido atingidos por raios laser. Foi
o que aconteceu, por exemplo, a um voo comercial a 10000 metros de
altitude, atingido por um espectáculo de raios laser em Las Vegas, a
150 km de distância.
71
2.2.2. O Papel Estratégico de Cuba40
Os Estados Unidos têm pois vindo a travar uma verdadeira guerra silen-
ciosa com Cuba, tendo registado um efectivo aumento da sua capacidade
ofensiva e defensiva nesta área. Por exemplo, é corrente as emissões da
Rádio Voz da América sofrerem interferências, mesmo quando se destinam
a países como o Irão (em língua farsi), que mantém boas relações com
Cuba. Bejucal possui assim, graças à China, a capacidade de espionagem
electrónica, de intrusão em redes de computadores, quer sob a forma de
72
vírus quer para ler ou modificar ficheiros, e de destruição de equipamento
através de radiações electromagnéticas.
73
sidente da respectiva subcomissão de terrorismo e espionagem e também
membro da subcomissão de aquisições da defesa. As competências de
Cunningham enquadravam-se na supervisão do orçamento de 33 mil
milhões de euros do sistema de informações civis e militares, e tinha par-
ticularmente acesso ao muito restrito e classificado “black budget” do
Pentágono, estimado em cerca de 23 mil milhões de euros.
74
cia nuclear. O projecto não é novo pois já tem mais de duas décadas. Foi
lançado pelos militares com o objectivo de dominar todas as componentes
do processo tecnológico, mas hoje o discurso oficial está principalmente
centrado na sua vertente civil. Contudo, como a marinha de guerra, prota-
gonista histórica do processo, pretende construir um submarino de propul-
são nuclear, e também porque o Brasil afirma estar a desenvolver tecnologia
inédita, existem alguns receios a nível internacional de que o programa
civil possa, a prazo, vir a ser rapidamente orientado no sentido militar.
75
Branca pela primeira vez, há cerca de 15 dias, através do porta-voz Scott
McClellan.
76
No que respeita especificamente à cooperação militar, tem vindo a ser
executado um plano intensivo de formação desde há cerca de três anos, que
consiste no treino de tropas e na realização de seminários com oficiais
superiores e generais africanos. Existem vários programas, um dos quais é
o IMET (International Military Education and Training), que só em 2003
gastou 10 milhões de dólares em acções que envolveram 1500 militares de
40 países africanos. Mais recentemente, teve lugar em Accra, capital do
Gana, no mês passado, um workshop regional sobre a segurança marítima
no Golfo da Guiné, no qual participaram 11 Estados, entre os quais Angola
e São Tomé e Príncipe, que será seguido de um “simpósio ministerial” no
próximo outono.
77
definição estratégica conjunta cuidadosamente elaborada. Neste contexto
preciso de relações económicas internacionais, Portugal é um outsider e
dificilmente terá qualquer lugar ou papel a desempenhar em negócios estra-
tégicos desta parceria sino-brasileira, não obstante eventuais ligações pri-
vilegiadas a Brasília e a Pequim (via Macau).
78
com a Universidade de Brasília e os seus interesses abrangem o desenvol-
vimento sustentável, a matemática, a química, a informática, a geologia, a
agricultura, a engenharia florestal, a economia, o direito, a ciência política
e as relações internacionais. Pela parte de Brasília, os interesses são a tec-
nologia e, curiosamente, os transportes urbanos, a organização social e a
administração pública. Uma área realmente inovadora é a utilização do
bambu na construção civil, transformado em placas, como matéria-prima
substituta da madeira.
79
O CRI já estava, porém, em funcionamento há cerca de um ano, mon-
tado pelos serviços de informações civis e militares brasileiros, que agora
convidaram os seus congéneres paraguaios e argentinos a desempenharem
funções na estrutura, a qual será completamente activada nas próximas
semanas. Fica assim executada a recomendação do Grupo 3+1 (Brasil,
Argentina, Paraguai e Estados Unidos), criado para o efeito em 2002. A
participação dos Estados Unidos é explicada pelo facto de os americanos
exercerem constantemente pressão, desde há cerca de 10 anos, sobre os três
países para darem atenção à existência de células de terroristas islâmicos
na área.
Com efeito, este cenário tem sido negado principalmente pelo Brasil,
que não vê com bons olhos a possibilidade de os americanos justificarem
deste modo a sua eventual presença na área. Mas a verdade é que se estima
que na tríplice fronteira vivem entre dez e quinze mil árabes, apelidados
localmente de turcos, a maioria dos quais de origem síria e libanesa, e há
anos que sobre si são lançadas suspeitas quanto ao financiamento do
Hezbollah, e mesmo do Hamas e da al-Qaeda, através do contrabando local,
do tráfico de droga e da lavagem de dinheiro. Até ao momento, todavia,
tanto o serviço de informações brasileiro como o argentino, respectivamente
a ABIN e o SIDE, reclamam que não há provas da existência de células
terroristas na tríplice fronteira.
80
2.2.8. O Comando África dos Estados Unidos46
81
A resposta america aos espaços não-governados está pois centrada na
cooperação militar, desde a formação às informações, reconhecendo impli-
citamente que o poder militar em África, não obstante os processos de demo-
cratização em curso, tutela de facto o político. A criação de um “Comando
África”, com o respectivo quartel-general e contingente permanente, parece
assim estar apenas dependente dos estudos de viabilidade económico-finan-
ceira entretanto produzidos pelos ramos das forças armadas. Para já, circulam
rumores de que o General William Ward, que tutela os assuntos africanos no
comando europeu, irá ser o primeiro responsável pelo “Comando África”,
eventualmente sedeado no Senegal, Gana ou Quénia.
82
dos relatórios de informações, com o objectivo de inflaccionar o papel
negativo da ex-União Soviética e agradar aos superiores.
Para já, a ele se encontra associada a imagem de que algo vai mudar
na forma como os Estados Unidos estão a conduzir a chamada Guerra con-
tra o Terrorismo, sobretudo no caso do Iraque. Na verdade, Robert Gates
passou parte do mês de Setembro neste país como membro da task-force
de avaliação da situação enviada pelo Iraq Study Group, uma comissão
nomeada pelo Congresso sob a direcção de James Baker. Esperam-se
melhores relações entre o Pentágono e a intelligence community, retirada
progressiva do Iraque e conversações com o Irão.
83
Estados Unidos são o principal alvo da espionagem cubana e é precisamente
neste domínio que a cooperação com os chineses se está a intensificar.
Os Estados Unidos têm pois vindo a travar uma verdadeira guerra silen-
ciosa com Cuba, tendo registado um efectivo aumento da sua capacidade
ofensiva e defensiva nesta área. Por exemplo, é corrente as emissões da
Rádio Voz da América sofrerem interferências, mesmo quando se destinam
(em língua farsi) a países como o Irão, que mantém boas relações com
Cuba. Bejucal possui assim, graças à China, a capacidade de espionagem
electrónica, de intrusão em redes de computadores, quer sob a forma de
vírus quer para ler ou modificar ficheiros, e de destruição de equipamento
através de radiações electromagnéticas.
84
Unidos em Taiwan, inclusivé no campo da espionagem e das operações
de escutas a alvos militares e empresariais.
Nos últimos dois anos, foram já operadas cerca de 500 mil pessoas,
a maior parte delas venezuelanas, e a contrapartida é o petróleo vene-
zuelano injectado em Cuba no valor de 2 mil milhões de dólares por
ano. A “Operação Milagre” vai ser agora exportada para África e a
Ásia e quer atingir o milhão de doentes por ano, seguramente com con-
trapartidas.
85
sidente Bush, como era esperado há algum tempo, abrangendo todos
os países africanos, excepto o Egipto.
86
Para já, com a localização do quartel general em África ainda por defi-
nir, o chefe da equipa de transição é o Almirante Robert Moeller. É provável
que o poder naval e a segurança marítima venham a ser os catalizadores
do AFRICOM.
87
União Africana no Sudão, em 2005, ou o aumento da ajuda ao desenvol-
vimento de 700 milhões de euros em 2001 para 4 mil milhões em 2006,
ou ainda a subida de 80% nas importações entre 2004 e 2005, a maior parte
das quais, obviamente, provenientes do sector petrolífero. Já neste ano de
2007, foi criado o AFRICOM, o comando autónomo militar americano de
África, que, entre outras coisas, vem enquadrar programas de cooperação
em curso que visam formar a nova geração de chefes militares africanos.
O retorno, a médio prazo, está no reequipamento das forças armadas afri-
canas.
Paul Wolfowitz tem-se mantido, pois, firme no seu posto, há quase dois
anos, gerindo as tensões que esta mudança de cultura no Banco Mundial
suscita. Mas os analistas mais atentos ao funcionamento da organização
têm apontado o dilema em que esta se encontra: ou se fecha e perde poder
internacional, exigindo critérios rígidos ambientais e de transparência aos
países subdesenvolvidos, condicionantes da atribuição de financiamentos;
ou modera esses mesmo critérios e conserva a sua posição, com influência
política a longo prazo, contrariando a ascensão da China no continente, a
qual não impõe condições desse tipo.
88
2.2.13. Morreu o Rei, Viva o Rei51
Note-se que passaram somente dois anos e este permanece ainda efec-
tivamente o contexto central no qual Robert Zoellick se vem inserir. A ques-
tão portanto, como é costume, é a de se saber se a sua acção irá ou não con-
tinuar a nova orientação traçada por Paul Wolfowitz. Tudo leva a crer que
89
não, tendo em conta o percurso de Zoellick e a nova estratégia americana
para a África que levou já este ano à criação de um comando militar autó-
nomo para o continente e ao reforço da posição no Sudão, na Somália e no
Golfo da Guiné. O que deverá acontecer é uma mudança de estilo, no con-
fronto com a própria cultura organizacional do Banco, no sentido de privi-
legiar a gestão negociada (embora dura) à gestão afirmativa e de gerar alian-
ças inter-nacionais.
Para já, também afirmou que a sua prioridade é África. Como singu-
laridade interessante, potenciadora da sua acção, refira-se a origem germâ-
nica e o facto de falar fluentemente alemão e de ser considerado um pro-
motor influente das relações germano-americanas.
90
relações internacionais, isto pode desde logo ser entendido como indispo-
nibilidade destas duas principais potências europeias para valorizarem o
domínio multilateral em detrimento das suas respectivas relações bilaterais
com o Brasil.
O programa não é novo pois já tem mais de duas décadas. Foi lançado
pelos militares, mas hoje o discurso oficial está principalmente centrado
na sua vertente civil. Contudo, como a marinha de guerra, protagonista his-
tórica do processo, pretende construir um submarino de propulsão nuclear,
e também porque o Brasil afirma estar a desenvolver tecnologia inédita,
existem alguns receios a nível internacional de que o programa civil possa,
a prazo, vir a ser rapidamente orientado no sentido militar.
91
Mas com a entrada em funcionamento da fábrica de Resende, o Brasil
atinge finalmente um patamar de conhecimento que o faz entrar no restrito
clube dos países que enriquecem urânio numa escala industrial: Estados
Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Rússia, China e Japão. O
objectivo inicial é o de a fábrica de Resende começar a produzir 60% do
combustível nuclear necessário aos dois reactores brasileiros já existentes.
2.3. Ásia
92
As imagens destinadas aos dois primeiros organismos visam orga-
nizar a intervenção de emergência, isto é, o transporte e colocação
do pessoal da ajuda e as actividades imediatas relacionadas com a
sáude, a alimentação, o vestuário e o alojamento das vítimas. As ima-
gens para o USTRANSCOM servem para se proceder à avaliação do
impacto do tsunami nas infraestruturas, como estradas, pontes, portos
e aeroportos ou campos de aviação, e consequentemente na qualidade
dos acessos de entrada e saída das áreas afectadas, não só para gerir
a intervenção de emergência mas também para planear a sua reabili-
tação.
93
2.3.2. O Alvo Coreano54
94
do regime no âmbito da contrafacção, do tráfico de drogas e da venda de
mísseis e outra tecnologia militar.
Após ter aprovado uma lei, no passado dia 14 de Março, que determina
o emprego da força contra a Taiwan em caso de este declarar formalmente
a sua independência, a República Popular da China veio duas semanas
depois, em 1 de Abril, propôr conversações que aliviem a tensão político-
militar. Pelo meio ocorreu uma visita de uma delegação militar americana
a Taipé e, também nesta capital, uma manifestação de cerca de um milhão
de pessoas contra o regime de Pequim, encabeçada pelo presidente Chen
Shui-bian e organizada pelo NSB (National Security Bureau), o serviço de
informações e de segurança do Taiwan.
Este foi mais um episódio do longo conflito entre os dois Estados chineses,
os quais adoptaram, há já algum tempo, a guerra de informação como conceito
estratégico prioritário, incluindo as componentes de psicologia e de propa-
ganda. Na verdade, com esta jogada, a China está a executar um plano do
Exército Popular de Libertação que visa uma escalada gradual e controlada de
avisos/ameaças para obrigar Taiwan a sentar-se à mesa para negociar o seu
grau de autonomia num prazo, eventualmente longo, a definir.
95
Por seu turno, Taiwan, consciente de que a estratégia de Pequim passa
pela influência da opinião pública e sobretudos dos líderes mundiais, res-
pondeu com a grande mobilização de massas que o major-general Hsueh
Shih-ming, director do NSB e tido como um duro, propôs logo como con-
tra-ataque no próprio dia 14 de Março. Foi a primeira vez que um director
do NSB assumiu tal posição de liderança, argumentando então Hsueh Shih-
ming, numa lógica de guerra de informação, que se o público não reagisse
contra a lei de Pequim, os líderes chineses “podiam dizer à comunidade
internacional que não se opusesse pois o povo de Taiwan não o fazia”.
96
deve ser alterado. No passado mês de Fevereiro, aliás, Porter Goss, o
director da CIA, alertara que o levantamento do embargo aceleraria a
modernização do Exército Popular de Libertação, cujas gastos este ano já
foram aumentados em cerca de 13%, enquanto no Taiwan o orçamento
militar tem decrescido.
97
A dependência dos Estados Unidos ultrapassa porém o aspecto da loca-
lização da base, uma vez que o conhecimento da língua e cultura é funda-
mental neste processo e não existe ninguém mais qualificado para a tarefa
que os chineses de Taiwan, que igualmente se encarregam das operações
HUMINT (human intelligence) na RPC. Na verdade, face ao grau de difi-
culdade do “alvo”, os serviços que não mantenham um esquema de coo-
peração com o NSB, terão um défice de informações sobre a RPC.
98
e 8 pontos acima da percentagem do aumento de todo o comércio externo
chinês. Para este aumento está a contribuir o facto de, no início deste ano,
a China ter isentado de impostos 190 categorias de produtos provenientes
de 25 países. Complementarmente, os novos empresários chineses estão a
ser incentivados a investir em África e, neste mesmo trimestre, já foram
assinados contratos de engenharia no valor de mil milhões de euros.
99
Em Julho, a organização reuniu-se no Cazaquistão e na altura emitiu
uma declaração, sem precedentes, dirigida aos Estados Unidos no sentido
de estes estabelecerem uma data limite para a retirada das suas bases mili-
tares da Ásia Central. Em Agosto, a China e a Rússia levaram a cabo, no
quadro da SCO, os primeiros exercícios militares conjuntos, que se repetirão
no próximo ano. E de momento a SCO tenta atrair para o seu seio o Irão,
o Paquistão e a Índia, que já foram convidados como observadores. Este
último país é especialmente apetecido, pela sua dimensão e por todos os
seus recursos e potencialidades, mas a sua inclusão afigura-se problemática,
desde logo pela competição no acesso ao petróleo e gás natural e pelas ten-
sões nas fronteiras com o Paquistão e a própria China.
100
2.3.7. A Revolução da Internet na China59
101
dores, ou seja, entre os 16 e os 25 anos. O trabalho de campo decorreu por
isso no período do ano novo chinês, o qual marca as férias escolares.
A Índia está próxima de entrar, sob a tutela dos Estados Unidos, para
o restrito clube das grandes potências nucleares. Face a esta probabilidade,
o complexo quadro geopolítico da Ásia está a alterar-se no sentido de uma
redefinição do equilíbrio de forças, o qual por enquanto não é facilmente
vislumbrável.
102
fornecimento de tecnologias nucleares à Índia, a China decidiu contra-ata-
car, acusando o acordo indo-americano de quebrar a ordem nuclear mundial.
Pouco tempo depois, a China decidiu que iria vender ao Paquistão oito
reactores nucleares no valor aproximado de 10 mil milhões de euros. Por
seu turno, o Irão reclamou que estão a ser praticados dois pesos e duas
medidas e decidiu reiniciar o seu programa nuclear. A Índia argumenta que,
ao contrário do Irão, não assinou o tratado de não-proliferação. A tensão
nuclear na Ásia está inevitavelmente a subir.
Com efeito, a Índia tem vindo a ser algo plurivalente na suas relações
externas, tentando conciliar políticas de sentido contrário. Por exemplo,
neste momento, em parceria com a China, a Índia está a planear comprar
um campo de petróleo na Síria. Washington já manifestou o seu desacordo,
ameaçando a Índia de que, assim, não levará adiante o acordo nuclear.
103
China é tratada como uma ameaça económica, um pouco por todo o mundo
ocidental, Hu Jintao levou a cabo uma bem planeada operação de negócios
centrada na alta tecnologia, no comércio internacional e no petróleo. Do
ponto de vista da cultura chinesa, que racionaliza todas as acções através
da numerologia, incluindo a política externa, o número 5 corresponde à
liberdade de acção, ao equilíbrio e à estabilidade emocional que conferem
a capacidade de motivar os outros de uma forma construtiva.
104
criação de empresas mistas e de uma grande plataforma de produção
e exportação de produtos chineses para os países árabes e africanos
francófonos e para a União Europeia. Na Nigéria, Hu Jintao terá garan-
tido, com contrapartidas energéticas, a venda de navios patrulha para
protegerem as instalações petrolíferas da região do delta do rio Níger.
E, no Quénia, foi assinado um acordo de prospecção petrolífera, por
parte da companhia chinesa CNOOC, nas águas costeiras e junto das
fronteiras com o Sudão e a Somália.
Timor-Leste está em crise e ninguém parece ser capaz, para já, inclusivé
na esfera dos serviços de informações, de prever a sua duração. Na verdade,
esta não é uma nova, repentina e inesperada crise, mas sim um novo episódio
da mesma, que se arrasta desde os violentos incidentes do Verão de 1999
e da subsequente transição para a Independência.
Este cenário faz sem dúvida lembrar o passado recente, e o facto é que
Timor-Leste ainda se encontra amarrado a memórias de conflitos, divisões
e tensões que não foram devidamente sanados. Não obstante o potencial
de riqueza de petróleo e sobretudo de gás natural, com reservas de dimensão
extraordinária, o presente continua hipotecado e o futuro, pelo menos a
105
curto e médio prazo, é incerto. Basicamente, adiados, ainda estão na rea-
lidade por resolver os diferendos entre pró-indonésios e independentistas,
entre os políticos da FRETILIN que estiveram no exílio e os guerrilheiros
das FALINTIL que lutaram no interior do território. E, dentro destas, entre
Kaladis e Firacos, isto é, a divisão etnocêntrica antiga entre aqueles que se
consideram a si mesmos corajosos e frontais e os outros que consideram
ser traiçoeiros e dissimulados.
Mas esta crise arrastada, que tem uma dimensão geopolítica, em grande
parte por causa dos recursos naturais, é também a prova de que falhou o
estudo de formação das forças armadas timorenses realizado pelo britânico
King s College. Complexos de alegados neocolonialismos, ou interesses
internacionais, terão porventura desviado essa responsabilidade de Portugal,
onde precisamente se encontra o melhor conhecimento sobre Timor-Leste.
E também a maior afinidade, como se vê pela entusiástica recepção à força
da GNR, desde Baucau a Díli.
106
Existe um lado visível, mais exposto, das relações sino-americanas
que revela que à medida que estas se vão desenvolvendo também os
Estados Unidos, além de sustentarem Taiwan, vão marcando a sua pre-
sença militar na região asiática, como uma espécie de garantia contra
eventuais problemas futuros. Por seu turno, a China torna-se incómoda
em regiões como a África, a América do Sul ou o Médio Oriente, em
particular no Irão.
107
Assim, nos próximos anos, a elite governante chinesa sentir-se-á inter-
namente pressionada a investir fortemente no desenvolvimento da sua capa-
cidade naval, o que criará tensões sino-americanas, não contrariando porém
a crescente conexão económica entre ambos os países.
2.4. Eurásia
108
por montanhas que chegam a ultrapassar os 7000 metros de altitude. É neste
ambiente, particularmente no sul do país, onde se situa o vale de Fergana
e se verifica a maior densidade populacional, que a organização islâmica
Hizb ut-Tahrir (Partido da Libertação), criada em 1953 em Jerusalém, tem
vindo a desenvolver uma intensa campanha de propaganda. O Hizb ut-
Tahrir defende a criação de um Califado agregando os países da Ásia
Central e a província chinesa de Xinjiang, mas declara publicamente que
tal objectivo não deve ser alcançado por meios violentos, razão pela qual
os Estados Unidos ainda não o incluíram na lista das organizações terro-
ristas.
109
O pico do escândalo deverá ser atingido no início do próximo ano com
o julgamento do lóbista e fundador do Banco Mercator, Jim Giffen, de 64
anos, acusado de violar o Foreign Corrupt Practices Act que proíbe os
homens de negócios americanos de corromperem empresas e governos
estrangeiros. Em causa estão 84 milhões de dólares, alegadamente prove-
nientes da Amoco, Mobil, Phillips Petroleum e Texaco, com que Jim Giffen
terá subornado o ex-ministro do petróleo, Nurlan Balgimbaev, e o ainda
presidente Nursultan Nazarbayev. Jim Giffen defende-se afirmando que
detém provas de que as suas actividades eram ou apoiadas ou orientadas
pela CIA e pelo Departamento de Estado, que entretanto recusam comentar
o caso.
110
2.5. Europa
111
esteira deste projecto, de tão forte significado político quanto estratégico,
ficaram também esboçados planos de pipelines paralelos para transportar
água, gás e electricidade, e eventualmente linhas de fibra óptica, para Israel
e também para a Jordânia e a Palestina.
112
O Plano África da Espanha, que vigora desde já até 2008, contém tam-
bém sete objectivos gerais: reforço da democracia e respeito dos direitos
humanos; luta contra a pobreza e ajuda ao desenvolvimento; regulação dos
fluxos migratórios e luta contra o tráfico ilegal de pessoas; participação
activa na estratégia da União Europeia para o continente africano; projecção
política e presença institucional na região, nomedamente no âmbito militar
e de segurança; cooperação cultural e projecção da língua espanhola; inves-
timentos e oportunidades de negócio, particularmente no sector dos hidro-
carbonetos.
113
dos 33 milhões de euros em 2003 para os 90 milhões orçamentados
em 2006, e irá ultrapassar os 120 milhões em 2008. A ajuda pública
ao desenvolvimento passou dos 122 milhões em 2003 para os 400
milhões em 2006.
114
do Ultramar, onde se transformou no principal dispositivo financeiro das
relações económicas entre a metrópole e as colónias. A sua função, como
Caixa Central de Cooperação Económica, continuou mais ou menos idên-
tica depois das independências destas. Na fase dos programas de ajusta-
mento estrutural passa a Caixa Francesa do Desenvolvimento e ganha
espaço de manobra com a criação de uma subsidiária especializada para o
efeito, a PROPARCO. Finalmente, em 1998, no quadro da reforma que
colocou o ministério da cooperação sob a coordenação dos negócios estran-
geiros, é adoptada a designação actual.
Mas afinal quando é que nós, portugueses, pomos ordem no nosso sis-
tema de cooperação?
115
2.5.4. A Estratégia Africana da France Telecom69
116
com a dificulde levantada pela quase inexistência de informações, anali-
sando a posição da France Telecom no tabuleiro da OPA da Sonae sobre a
PT, não é à partida crível que aquela grande empresa francesa não possua
um interesse e objectivo estratégico bem definido na operação.
117
à correspondente instabilidade no Médio Oriente e preocupação interna-
cional com a segurança energética.
118
dispersão de energias e financiamentos por parte dos doadores que está
longe de optimizar os projectos e benefícios para os receptores. As origens
do “movimento” remontam a meados dos anos 90, mas só mais recente-
mente, desde 2004, e ao longo de sete presidências, é que o processo tem
vindo a ganhar consistência. Entre os principais documentos de orientação
contam-se a Declaração de Paris, de 2005, e o European Commission Aid
Effectiveness Action Plan, de 2006.
Mas, todo este processo está ele mesmo longe de ser claro e afigura-
se complexo, sendo pertinente a dúvida de se saber se a Comissão Europeia
não estará numa linha de exorbitação das suas competências, ao querer
interferir, não obstante o argumento da economia e da eficácia, numa
dimensão tão particular, para alguns fortemente histórica, da política externa
de cada um dos países membros. Ao que parece, esta linha de raciocínio
geométrico tenderá a delimitar-lhes áreas de actuação, quer geográficas
quer sectoriais.
119
Note-se, entretanto, que a premissa de tudo isto é, de algum modo, a
de que os países receptores de ajuda não estão a desenvolver-se tanto quanto
seria esperado e desejável. E por isso, parece, o problema está a ser prin-
cipalmente situado, pelos eurocratas desenvolvimentistas, a montante e não
a jusante. Porém, este é um velho problema dos estudos do desenvolvi-
mento, nomeadamente no que respeita a África (que é o continente que nos
interessa mais a nós, portugueses, nesta matéria) tradicionalmente influen-
ciados pelas correntes de pensamento filiadas no marxismo, que vêm o
processo numa perspectiva “top-down”. A verdade é que os problemas do
desenvolvimento devem ser abordados numa perspectiva “bottom-up”, de
modo a ultrapassar as resistências dos condicionalismos sócio-culturais às
acções político-económicas. Se assim não fôr, em vez de se ganhar tempo,
perde-se, e com isto também dinheiro.
120
já pagou 2,7 mil milhões de dólares de indemnização às famílias das vítimas
e declarou renunciar ao terrorismo, fica livre do isolamento e está de volta
aos grandes negócios internacionais.
121
Os Estados Unidos não poderiam pois ficar fora deste “new arrange-
ment”. Portanto, o fundo americano de investimentos Colony Capital aca-
bou de comprar 65% da Oilinvest/Tamoil, a petrolífera nacional líbia, por
5,5 mil milhões de dólares. A Tamoil tem cerca de 3 mil postos de abaste-
cimento na Europa, principalmente na Itália, e refinarias na Espanha, Suiça
e Alemanha. E em África tem um contrato, desde Janeiro passado, no valor
de 100 milhões de dólares, para construir um pipeline de 320 km entre o
Quénia e o Uganda que vai aumentar e estabilizar o fornecimento de com-
bustível na região.
122
tutela financeira do Estado e de um conjunto de empresas (como a Indra,
Renfe, Telefónica, Cepsa, Repsol, Seat, Santander, BBVA e Prisa), tendo
como presidente de honra o Príncipe das Astúrias.
123
Objectivos do Milénio, mas agora passou a optar-se pelo bilateralismo com
projectos e parceiros concretos.
124
1984, sobre a estrutura herdada e parcialmente purgada do Shá Reza Palevi,
a qual por sua vez tinha sido montada pela CIA e pela MOSSAD.
125
Desde logo, os serviços de informações, tanto das forças da coligação
como dos iraquianos, não possuem percepções coincidentes sobre a
situação. A mais notória, trazida recentemente a público, diz respeito
à caracterização da resistência, nomeadamente ao número dos revoltosos.
Enquanto os dados oficiais americanos apontam 5 a 10 mil combatentes,
o general al-Shahwani, chefe do serviço de informações iraquiano,
afirma existirem 40 mil a tempo inteiro mais 160 mil a tempo parcial,
quer no combate activo quer no apoio e na logística. Por outro lado,
enquanto a CIA retrata o Iraque como um campo de treino para terroristas
oriundos de vários países árabes, como consta de um relatório que divul-
gou também recentemente, as informações recolhidas no terreno pelas
várias unidades militares contradizem essa visão, como demonstra o
facto de que os suspeitos detidos (2500 só no mês de Janeiro) são maio-
ritariamente iraquianos.
126
2.6.3. O Novo Embaixador Saudita em Washington76
Turki bin Faisal foi estudar para os Estados Unidos com 14 anos de
idade, concluíu o ensino secundário em New Jersey e entrou para a
Universidade de Georgetown em 1964, sendo contemporâneo do ex-presi-
dente Clynton. Fez uma pós-graduação na Universidade de Cambridge e
voltou para a Arábia Saudita, onde, com 28 anos, foi nomeado conselheiro
da corte real, e depois, com 32 anos, em 1977, chefe do GID. É nessa altura
que passa a fazer parte do secreto e selecto Safari Club, lançado pelo
famoso chefe dos serviços secretos franceses, Conde de Marenches, que
tinha como membros a França, Arábia Saudita, Marrocos, Egipto e Irão,
com o objectivo de coordenarem operações contra a expansão internacional
do comunismo, numa altura em que a CIA se encontrava enfraquecida pelo
encândalo Watergate.
Foi nesse contexto que Turki bin Faisal deu início aos contactos com
Ossama bin Laden para o apoiar na resistência à invasão soviética “infiel”
do Afeganistão. Para o mesmo fim, o ISI, o serviço secreto do Paquistão,
127
passou a contar com 600 milhões de dólares por ano fornecidos pelo GID,
nos anos 80, em concertação com os Estados Unidos, para treinar e equipar
milhares de mujahidin. Turki bin Faisal acabaria nos anos 90 por tentar,
sem sucesso, que bin Laden lhe fosse entregue pelos taliban, após terem
começado os atentados contra alvos americanos. Demitiu-se das funções
duas semanas antes do 11 de Setembro, o que levantou suspeitas – sabe-
se agora que infundadas – sobre o seu conhecimento dos atentados.
128
ricano John Negroponte, director da intelligence community, confessou há
poucos dias que os serviços de informações, relativamente ao Iraque,
“ainda estão a tentar compreender a natureza da resistência”.
129
mações ocidentais e também da NATO. O prestigiado Der Spiegel, por
exemplo, relata que Washington enviou recentemente altos funcionários
dos serviços em missões confidenciais à Europa para informarem e prepa-
rarem os aliados para esse ataque efectivo. Ao mesmo tempo, terão sido
também informados em termos gerais os governos da Arábia Saudita,
Jordânia, Oman e Paquistão.
Este último terá sido bastante directo na reunião que manteve com o
primeiro-ministro Tayyip Erdogan, solicitando-lhe que fornecesse apoio
político e logístico para os eventuais ataques aéreos e a correspondente coo-
peração especial dos serviços de informações turcos na preparação e moni-
torização da operação. Porter Goss teve também neste contexto uma reunião
de quatro horas e meia no MIT, o serviço congénere da CIA, com os mais
altos responsáveis das informações turcos, em tôrno de três dossiês que
levou sobre o Irão e cujo conteúdo específico permanece confidencial.
Por sua vez, os turcos apresentaram três condições para apoiarem a ini-
ciativa americana: primeiro, deve acabar a tolerância relativamente aos
movimentos curdos que actuam no interior da Turquia, em particular o
PKK; segundo, a Bélgica deve ser pressionada a extraditar Fehriye Erdal,
membro do DHKP-C, um partido radical interdito na Turquia, suspeito de
ter levado a cabo três assassinatos em 1996; terceiro, devem ser anuladas
as emissões, a partir da Europa, da televisão curda Roj TV.
130
Para avaliar a situação, será útil saber se estas condições serão preen-
chidas. Contudo, é imprescindível recortar as fugas para a imprensa destes
tipo de pormenores da cooperação entre serviços secretos. Para todos os
efeitos, o ultimato está lançado.
131
sonalizados”, em grande medida contra militares e funcionários públicos
iraquianos e respectivas famílias, estimando-se em cerca de 3000 o número
de vítimas mortais em 2005.
132
ter sido feito, e de a visita se concretizar, é por si só mais importante do
que possa vir a ser dito durante a reunião. No entanto, americanos e israe-
litas diferem quanto às visões de pormenor.
133
2.6.8. O Regresso de Kadafi81
134
líbios. Kadafi tem assim vindo a demonstar, principalmente nos últimos
tempos, que conservou incólume a sua atitude singular em termos de posi-
cionamento e discurso político, tendo aparentemente adaptado à situação
da Líbia o modelo chinês de “um país, dois sistemas”.
135
e sem qualquer pressão relevante sobre os Estados Unidos. Isto passa-se
um mês depois de dois dos mais influentes professores americanos de rela-
ções internacionais, John Mearsheimer e Stephen Walt, das universidades
de Chicago e de Harvard, terem publicado em conjunto um controverso
ensaio sobre “O Lobby de Israel e a Política Externa dos Estados Unidos”,
no qual afirmam que esta, no Médio Oriente, está excessivamente depen-
dente dos interesses israelitas em detrimento dos interesses americanos.
136
o que existe neste momento é um arranjo político entre os protagonistas dos
três principais grupos etno-religiosos: shiitas, curdos e sunitas. A sua duração
é para já uma incógnita, a incerteza é grande, mas a expectativa mantém-se,
nomeadamente por parte da coligação anglo-americana, de que venha a ser a
fundação política de um regime democrático.
Mas é sobre os líderes sunitas que está a ser exercida a maior pressão
no sentido de serem responsabilizados pelo eventual insucesso do acordo.
É-lhes assim exigido que consigam fazer parar os grupos da resistência
armada, nomeadamente os ataques aos shiitas, e que consigam também
cortar o apoio da população aos homens de al-Zarqawi. O dilema dos
líderes políticos sunitas consiste em que agora têm não só de executar esta
tarefa mas também de partilhar informações sobre a localização de armas
e de combatentes, sem que isto desencandeie uma reacção ainda mais vio-
lenta, particularmente sobre os shiitas.
137
Do ponto de vista dos Estados Unidos uma coisa parece cada vez mais
certa, independentemente do que acontecer: os 130 mil militares americanos
no Iraque serão a curto prazo um facto passado.
Após três anos de tensão contínua por causa da questão nuclear, man-
tém-se a incerteza relativamente à possibilidade de ocorrer um ataque dos
Estados Unidos ao Irão. Nos últimos tempos, porém, não obstante a política
de “todas as opções em aberto”, parece que este cenário tem vindo a ser
reforçado com um conjunto de acções no âmbito do chamado “soft power”.
Isto significa que está a ser dada uma especial atenção à estratégia indirecta
da guerra psicológica e da propaganda – por exemplo por via de meios de
comunicação social como a Voz da América -, do apoio aos movimentos
de dissidentes e do financiamento de organizações não-governamentais
promotoras dos valores da democracia e dos direitos humanos.
138
Com efeito, circulam rumores entre os especialistas da área de infor-
mações, referindo fontes não identificadas dos serviços secretos americanos
e europeus, de que estes mesmos serviços estão crescentemente preocupa-
dos com a existência de células adormecidas do Hezbollah (“O Partido de
Deus”) nas capitais do mundo ocidental. Os serviços americanos já teriam
mesmo detectado uma dessas células em Detroit e a recolha de informações
é agora constante sobre os activistas e simpatizantes deste movimento fora
do Médio Oriente, estimados em cerca de 15 mil.
139
interessava à Síria porque esta sempre teve a intenção de integrar o Líbano
no seu território ou, pelo menos, explorá-lo economicamente. Isto era assim
desde 2000, quando Israel retirou do sul do Líbano, depois de 17 anos de
ocupação militar, facto que era precisamente apontado pelo Hezbollah
como a razão dos ataques ao território israelita.
140
2.6.13. O Dilema de Israel86
141
mações. Surpreendeu a quantidade de rockets e o nível tecnológico, que
inclui visão nocturna e pequenos aviões áereos de espionagem, telecoman-
dados, os chamados “unmanned aerial vehicles” que equipam agora as mais
modernas forças armadas. Surpreendeu também a teia de túneis e a rede
descentralizada de pequenas células nas mais pequenas aldeias do sul do
Líbano, com rampas de lançamento de rockets dissimuladas em casas par-
ticulares, prontos a ser accionados, com as coordenadas pré-programadas
dos alvos israelitas.
Com a invasão terrestre “presa por um fio”, Israel está pois, para já, a
infiltar no Líbano comandos de origem drusa, que facilmente se integram
na população árabe, para recolherem informações e realizarem acções de
sabotagem.
A Rússia tem neste momento uma política externa para o Médio Oriente
que visa aumentar e reforçar a sua influência na região. Recorde-se que tem
142
relações privilegiadas com a Síria e o Irão e reconheceu, de imediato, a
vitória eleitoral do Hamas no início deste ano, tendo convidado uma delega-
ção deste movimento a visitar Moscovo. A Rússia possui hoje contactos com
o Hezbollah que remontam à decada de 80 e, ao contrário dos Estados
Unidos, não o consideram uma organização terrorista. Passada a Perestroika
e a queda do muro de Berlim, o SVR, o serviço de informações externas,
herdeiro directo do KGB e chefiado então por Yevgeny Primakov, reanimou
aqueles contactos no final de 1994.
143
directo e imediato do Irão com o Hezbollah nos ataques a Israel. Não obs-
tante as acusações nesse sentido vindas, principalmente, de círculos gover-
namentais israelitas e americanos, apenas se consegue apontar a ligação
histórica e ideológica entre ambos, materializada, é certo, no financiamento
e no fornecimento de armas aos xiitas libaneses por parte do Irão. Este,
por seu turno, tem mantido um perfil baixo, não dando azo a que possa
parecer minimamente culpado pela crise do Líbano perante a comunidade
internacional.
144
Note-se que o grau de dificuldade de infiltração no Hezbollah é similar ao
da al-Qaeda.
145
Existe ainda neste contexto um movimento armado com o qual os
Estados Unidos têm vindo a manter uma relação ambígua: a Organização
dos Mujahidin do Povo do Irão, também designado Conselho Nacional de
Resistência. Trata-se de um movimento secular de raíz marxista, criado,
nos anos 60, contra o então Xá Reza Pahlevi. Aliou-se ao Ayatollah
Khomeini durante a revolução islâmica, mas depressa foi purgado pelo
novo regime.
146
O porta-voz do anúncio foi, sintomaticamente, Jamal Mubarak, secre-
tário-geral do Partido Democrático Nacional, no poder, e filho do presidente
Hosni Mubarak, tendo este confirmado de seguida aquela posição. Poucos
dias depois, presidido pelo primeiro-ministro, o Supremo Conselho da
Energia, que não reunia há 18 anos, debroçou-se sobre o dossiê da energia
nuclear. Com a participação de vários ministros, das finanças e da habitação
e transportes ao ambiente e à defesa, foi decidido nomear um grupo de tra-
balho para acompanhar o processo depois do mês do Ramadão, que acaba
dentro de alguns dias.
Tudo isto veio a público nas últimas semanas e traduz uma actividade
prévia neste sentido, algo confidencial, que parece ter vindo a ocorrer, pelo
menos, desde há aproximadamente dois anos. Estes factos confirmam em
parte o aviso da MOSSAD à comissão da defesa e negócios estrangeiros
do parlamento israelita, em Janeiro de 2005, de que para além do Irão tam-
bém a Síria e o Egipto estavam a desenvolver programas nucleares. Não
existe porém neste momento, não obstante a incerteza quanto ao futuro,
qualquer indício de que esteja a decorrer um programa militar.
147
aliás, parecem não se opôr aos planos declaradamente pacifistas do pro-
grama egípcio, o que pressupôe um entendimento quanto a um eventual e
eficaz mecanismo de controlo do mesmo. Mas Israel está a percepcionar
o programa como uma ameaça e desconfia das intenções dos egípcios.
148
çado”, com os combatentes a levarem uma vida normal como habitantes
das aldeias da região.
149
Neste tabuleiro, os americanos encontram-se fragilizados em relação
aos iranianos. Em primeiro lugar cabe-lhes a iniciativa da gestão da crise
no Iraque, tanto no domínio político como militar, mas, desde logo, como
Donald Rumsfeld observou várias vezes, enfrentam grandes dificuldades
na área das informações sobre os shiitas (assim como sobre os sunitas) e
as suas milícias armadas e respectivos canais de apoio externos.
Recentemente, o General John Abizaid, chefe do CENTCOM (que tutela
o Iraque), confirmou esta percepção, e o General Michael Hayden, director
da CIA, acusou o Irão de estar a promover a violência através das milícias
shiitas.
Por enquanto, todavia, não interessa ao Irão que se agrave a guerra civil
de baixa intensidade que ocorre de facto no Iraque, uma vez que as reper-
cussões regionais seriam imprevisíveis. Este é um ponto de entendimento
e de partida para a negociação com os Estados Unidos, mas a incerteza é
ainda elevada quanto à evolução da situação.
150
2.6.20. A Ameaça Regional do Iraque93
Uma idéia cada vez nais propagada entre os analistas dos serviços
de informações, relativamente à região do Médio Oriente, é a de que
nunca se deve pensar que a situação não pode piorar mais do que já
está. Pelo contrário, a situação geralmente piora ainda mais. O Iraque
poderá vir a ser prova disso, uma vez que, neste momento, existe um
elevado risco de que a guerra civil de baixa intensidade entre sunitas
e xiitas derrape no sentido da regionalização do conflito, com a violência
a alastrar-se aos países vizinhos. As repercussões internacionais seriam
imprevisíveis, nomeadamente no que respeita aos preços dos produtos
energéticos.
151
Neste contexto, já começaram a emergir apelos por parte de líderes reli-
giosos moderados contra a ameaça de guerra generalizada, como fizeram
há dias em Bagdade sunitas, xiitas e curdos. Na Arábia Saudita, por exem-
plo, os líderes religiosos de ambas as partes estão cada vez mais a falar da
vinda de uma fitna, isto é, de um cisma ou guerra civil no seio do Islão.
Uma das consequências imediatas de tal guerra, além das vítimas e das
repercussões económicas internacionais, seria o enorme fluxo de deslocados
e refugiados. Numa primeira estimativa, poderiam ser na ordem das cen-
tenas de milhar, ou talvez milhões, e esta crise tocaria desde logo no Irão,
no Kuwait, na Arábia Saudita e também na Jordânia, desestabilizando o
equilíbrio etno-religioso nesses países.
152
Contudo, do ano passado para cá, tem havido uma aproximação gradual
entre ambas as partes, embora de forma cautelosa por Moqtada al-Sadr,
que não quer ser visto no Iraque como uma marioneta dos iranianos. Mas
Teerão olha agora para ele como um líder político de elevado estatuto que
tem uma força armada capaz de exercer um papel de primeira linha defen-
siva e de retaliação do Irão contra um eventual ataque dos Estados Unidos.
Neste sentido, os iranianos têm vindo de facto a fornecer armamento e
treino às milícias de al-Sadr, utilizando a mesma metodologia seguida no
passado relativamente às forças afegãs de Massoud contra os russos, aos
bósnios muçulmanos contra os sérvios e ao Hezbollah contra os israelitas.
153
soldados como parte de um plano de retirada a médio prazo. O objectivo é
reforçar os 140 mil já aí existentes de modo a conter os ataques da Al-Qaeda,
dos rebeldes e das milícias, que aumentam de dia para dia, e garantir a segu-
rança de homens e equipamento que uma operação deste género requer.
Na realidade, desde essa altura até agora, existiram cerca de 130 guerras
civis no mundo, com uma média de duração de 10 anos. E estas têm sido
154
sobretudo desencadeadas por grupos rebeldes empregando tácticas de guer-
rilha, em países pós-coloniais com instituições administrativas, militares e
policiais frágeis, tal como no Iraque.
A história mostra que a maioria dessas guerras civis não terminou com
uma partilha do poder entre as partes em conflito, mas sim pela vitória
clara de um dos lados. A situação no Iraque é ainda agravada pelo facto de
75% dos 26 milhões de iraquianos estarem distribuídos por 150 tribos.
3. O Factor Energético
155
sequência da implosão da URSS. Os objectivos de tal plano obedeceram a
critérios de natureza tanto geopolítica quanto estratégica do ponto de vista
económico, delineados durante a administração Clinton: a redução da
influência da Rússia na Ásia Central; a promoção de uma orientação “oci-
dentalizante” das restantes ex-Repúblicas soviéticas através da cooperação
regional com a Turquia; a afirmação das principais companhias petrolíferas
americanas na região; a redução da dependência do abastecimento do Golfo
Pérsico.
156
Mas esta realidade faz parte de uma inelutável dinâmica de mudança
da conjuntura, onde sobressaem factores quer económicos quer não exclu-
sivamente económicos nem imediatamente, isto é, em tempo real ou a
muito curto prazo, relacionados com os interesses directos, por hipótese,
de uma dada empresa. Porém, esses factores poderão vir, a médio ou longo
prazo, efectivamente interferir na actividade dessa empresa, e, por isso,
convém manter sob observação uma multiplicidade de ambientes favoráveis
à sua gestação, o que dificulta as análises da conjuntura.
157
tamente com outros factores como a guerra no Médio Oriente e o agrava-
mento das condições climatéricas em várias partes do globo, o preço do
petróleo subiu para o dobro em três anos. John Browne prevê no entanto
que, não obstante o aumento da procura, o preço vai estabilizar e mesmo
cair para um nível inferior, o que sugere a banda dos 40 dólares.
158
rio pior. Mas, para todos os efeitos, quem domina é a incerteza, até o futuro
se tornar presente.
Não parece provável que isto venha a acontecer, pelo menos a curto ou
médio prazo, o que significa que as coisas vão continuar a piorar. Os grandes
investimentos que estão a ser realizados neste sector, a nível mundial, não
podem contudo deixar de ser feitos, porque, face à insegurança energética
que de facto existe, percepcionada como tendência prolongada, estamos em
pleno domínio da gestão de crises, ou seja, dos planos de contingência para
atacar em tempo desejadamente útil os problemas. Mas a questão também é
que, nesta época de velocidade tecnológica, parece só haver tempo para
saltar de plano de contingência em plano de contingência.
159
Como estamos integrados na Europa e somos grandes importadores,
temos de estar atentos a todos os factores relevantes que interferem nessa
insegurança, porque estes repercutir-se-ão na nossa economia. Um desses
factores é o gás natural da Rússia – o maior exportador do mundo neste
sector – que apresenta uma tendência de subida do seu preço a prazo, asso-
ciada a uma geopolítica de afirmação enquanto superpotência energética.
Para se ter uma idéia, é o principal fornecedor de gás da Europa, com mais
de 90% das suas exportações. Totalmente dependentes, incluindo os ex-
países da Europa do Leste, são a Bielo-Rússia, Bulgária, Estónia, Finlândia,
Geórgia, Letónia, Lituânia, Moldávia e Eslováquia. Fortemente dependentes
são a Aústria, Grécia, Hungria e República Checa, e também a Turquia.
Menos dependentes, mas todavia importadores de peso, são a Alemanha,
Eslovénia, Itália, Polónia e Roménia.
160
sobre os problemas da gestão de segurança da BP, encomendado a um
painel independente coordenado por James Baker, que definitivamente
apressou a sua saída.
Mas John Browne foi um líder carismático da BP, para a qual entrou
em 1966, tendo-se tornado em 1995, com 47 anos, o mais novo CEO de
sempre da companhia, após o seu potencial ter sido superiormente identi-
ficado, ainda jovem. Foi assim sujeito a um programa de “fast track”, pró-
prio da cultura de gestão da BP, que o fez subir até ao topo da hierarquia,
passando por várias funções e adquirindo experiência sobre o funciona-
mento global da companhia.
161
reservas provadas de petróleo e 65 anos em gás, uma solução imediata é a
inovação tecnológica que está em vias de optimizar a exploração em águas
profundas e a baixas temperaturas, e nomeadamente o designado “tight
gas” que será cada vez mais importante.
162
II – A GRANDE AMEAÇA TERRORISTA
Al-Qaeda
Passado um ano sem notícias do seu paradeiro, a sua morte chegou a ser
anunciada como muito provável, até que em Novembro de 2002 a voz foi iden-
tificada numa cassette contendo apelos e ameaças de novos ataques contra os
Estados Unidos e seus aliados. Mais recentemente, já em 2004, a agência de
notícias iraniana fez circular a notícia de que Bin Laden tinha sido capturado
pelos americanos na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão e que estes o
mantinham secretamente preso para poder vir a servir de trunfo eleitoral do
Presidente Bush, o que de imediato foi oficialmente desmentido.
163
ralidade dos analistas. Contudo, no meio da comunidade das informações
circulou desde logo a informação, desde Dezembro de 2001, de que ele-
mentos militares dos serviços secretos paquistaneses favoreceram a passa-
gem à Al-Qaeda para a região de Cachemira. Este é assim, até hoje, o local
mais provável do paradeiro de Bin Laden, o seu santuário. A região cor-
responde à vertente ocidental dos Himalaias e encontra-se em contínuo
estado de disputa e conflito entre a Índia e o Paquistão, há mais de cinquenta
anos, e existe uma zona a nordeste que entretanto foi anexada pela China.
Aí actuam três grupos terroristas com ligações à Al-Qaeda que são o perí-
metro de segurança de Bin Laden: o Harakat ul-Mujahedeen (“Combatentes
Islâmicos da Liberdade”), o Jaish-e-Muhammad (“Lutadores de
Muhammad”) e o Lashkar-e-Taiba (“Exército dos Puros”).
Neste momento, por todo o mundo, os serviços secretos têm uma ficha
de Bin Laden nas suas respectivas bases de dados, contendo informações
pessoais, elementos biográficos, ligações e contactos, financiamentos,
modus operandi e uma análise dos seus traços psicológicos e intelectuais.
164
Estes últimos são particularmente interessantes porquanto nos remetem
para as suas principais referências religiosas e históricas. Dentre estas
parece destacar-se a figura de Saladino, o sultão cavaleiro do século XII,
ainda hoje considerado um herói no mundo islâmico.
165
1.3. O Embaixador de Bin Laden102
Abu Qatada foi pois neste caso um típico “agente duplo”, acabando por
entrar na clandestinidade dois meses após o 11 de Setembro. No aparta-
mento de Hamburgo de Mohamed Atta – o mais conhecido dos terroristas
do ataque às torres gémeas – foram encontradas 19 cassetes vídeo com as
suas pregações. Seria finalmente detido em Outubro de 2002, encontrando-
se neste momento numa prisão britânica de alta segurança. Contudo, foi
descoberto que isto não o impediu de continuar a desempenhar o seu papel.
166
Da prisão, autorizou por telemóvel o suicídio colectivo, no passado mês de
Abril, dos terroristas do 11 de Março que se encontravam cercados num
apartamento de Madrid. Por outro lado, é agora também acusado de orientar
a rede terrorista Al-Tawhid, chefiada por Abu Musab Zarqawi, que tem
estado particularmente activa no Iraque, sendo nomeadamente responsável
pelas “degolações” de ocidentais mantidos em cativeiro, de acordo com o
preceito de que se tratam de “animais”.
Abu Qatada nega todas as acusações e afirma que o seu caso se insere
numa perseguição ocidental a todos os muçulmanos. Mas ao mesmo tempo
vaticina: “penso que o futuro produzirá, para as nações ocidentais, muçul-
manos mais violentos que os que existem agora.”
167
Mas o documento mais famoso deste género é sem dúvida o designado
“Manual de Treino da Al-Qaeda”, que é de facto uma peça formativa e
informativa de elevado nível e também interesse para qualquer terrorista
“neófito”. Foi paradoxalmente divulgado pelo FBI, porém no contexto do
julgamento (em Maio de 2001) dos autores dos atentados às embaixadas
americanas em Nairobi e Dar es Salam em 1998. Logo após o 11 de
Setembro foi de novo utilizado pelas autoridades americanas para defen-
derem que os terroristas praticavam actos de guerra, e não somente crimes,
e por isso deveriam ser julgados por tribunais militares.
168
A cassete é uma peça de guerra psicológica, mas sobretudo de propa-
ganda que em primeiro lugar se destina a demonstrar, perante o mundo
islâmico, o poder da al-Qaeda e de Bin Laden, que relembra manter-se
incapturável três anos após o 11 de Setembro. A intenção é animar os
muçulmanos na luta contra o Ocidente, especialmente contra os israelitas,
os americanos e os regimes árabes considerados seus aliados e corruptos,
sublinhando Bin Laden a sua condição de homem livre e resistente à tirania
daqueles que pretendem acabar com o modo de vida islâmico. A imagem
que emprega para caracterizar a situação é a de uma criança indefesa
atacada por um crocodilo, animal que num encontro com qualquer ser
humano só entende a linguagem das armas.
169
1.6. O Esconderijo de Bin Laden105
Quatro anos após o 11 de Setembro, não saber onde está Ossama Bin
Laden continua a ser a mais incómoda questão da luta contra o terrorismo
islâmico transnacional. E é incómoda na medida em que põe em causa a
eficácia dos serviços de informações ocidentais, em especial dos america-
nos, ao mesmo tempo que estimula o sentimento de invulnerabilidade dos
actuais e potenciais terroristas em todo o mundo.
170
Com efeito, não existe hoje consenso, nos Estados Unidos, no seio da
comunidade de informações, sobre a localização do esconderijo de Bin Laden
e sobre a magnitude da ameaça da al-Qaeda. Uma corrente afirma que a lide-
rança se encontra encurralada e fragilizada, apesar de permanecer incapturá-
vel, e consequentemente a organização não tem capacidade de coordenar ata-
ques de escala idêntica ao do 11 de Setembro. Outra corrente defende que a
cadeia de comando se mantém funcional, que existem células em cerca de
100 países e que tais ataques são não só possíveis como prováveis.
171
entender, e de que o seu núcleo dirigente continua a ter a organização sob
controlo.
Por outro lado, esta gravação audio de bin Laden é de uma qualidade
muito inferior à de al Zawahiri divulgada há pouco tempo atrás, o que
sugere que os dois se encontram em locais diferentes. A cadeia de comando
da al-Qaeda poderá pois estar fragmentada e assim, do ponto de vista ope-
racional, a sua ameaça não será tão elevada quanto bin Laden quer fazer
crer. Na verdade, a al-Qaeda não conseguiu, desde o 11 de Setembro, pro-
duzir um atentado a partir da sua estrutura central, mas somente a partir
de estruturas locais filiadas e autónomas.
172
de muçulmanos no sentido de agirem violentamente contra alvos america-
nos, europeus, israelitas e mesmo contra outros muçulmanos. Naquela
altura, os atentados foram levados a cabo por operacionais enviados a partir
da “base”, os quais receberam orientações e apoio logístico do núcleo de
comando da organização. De modo diferente, no ano passado, os atentados
de Londres, da Indonésia ou da Jordânia foram executados por elementos
locais que não possuíam assistência directa da organização, e o mesmo
fenómeno se passa no Iraque com a insurreição liderada por al Zarqawi.
173
Na verdade, a ameaça dos extremistas, hoje, é um perigo constante que
pode ser espoletado por tudo e por nada. Uma vez que os estados democráticos
não controlam o pensamento e a expressão dos cidadãos, não podem controlar
de facto o nível da ameaça. E com mais de 4000 sítios referenciados na
internet, para além da componente armada, o movimento da al-Qaeda está,
neste momento, no centro da mobilização político-religiosa anti-ocidental.
No caso dos “Canadá 17”, como a imprensa titula agora o grupo, esta-
vam a ser preparados, contra alvos em Toronto e Otava, atentados à bomba,
assaltos à mão armada e raptos com degolação das vítimas. Mas um dado
preocupante é o de terem mantido contacto com dois outros suspeitos ter-
roristas nos Estados Unidos, Ehsanul Islam Sadequee e Syed Haris Ahmed,
entretanto presos, e também com outro em Inglaterra, Younis Tsouli, tam-
bém entretanto preso, que era um “hacker” ou “ciberwarrior” que operava
sob o nome de código “Irhabi007”.
Isto significa que se pode estar perante um novo modus operandi da al-
Qaeda, sendo os “Canadá 17” parte de uma rede internacional de células
locais. Deste modo, com um sistema cifrado de comunicações via internet,
em árabe, poderá estar a ser montada uma estrutura complexa com vários
níveis de coordenação que possibilite ataques simultâneos contra alvos geo-
graficamente distintos. É a partir deste cenário que os serviços de informa-
ções estão a conduzir operações não só de vigilância electrónica mas também
de infiltração na internet, para estabelecerem relações com suspeitos terro-
ristas, tal como acontece no combate à pedofilia.
174
Contudo, a tarefa é muito difícil porque o número de potenciais terro-
ristas está aumentar, são cada vez mais jovens e cidadãos dos países oci-
dentais, como os “Canadá 17”. É a “Geração Y”, social e culturalmente
híbrida, que domina as novas tecnologias e está menos preocupada com a
ideologia sofisticada de restauração do Califado que com a vingança contra
o que vê na televisão e na internet como a agressão contra os muçulmanos
em todo o mundo.
175
Esta preocupação não é nova. No início do ano, o próprio Donald
Rumsfeld alertou para a ameaça da propaganda da Al-Qaeda e afirmou que
os terroristas se tinham adaptado melhor que os Estado Unidos neste tipo
de guerra. Defendeu então a necessidade de se criar uma máquina de pro-
paganda que funcionasse ininterruptamente 24 horas por dia, ligada a um
sistema de planeamento de comunicações governamental, o que ainda não
aconteceu.
176
1.11.A Ameaça Nuclear da Al-Qaeda110
177
terá comprado no mercado negro alguns desses engenhos, cujos materiais
estão a chegar ao final do prazo de validade, esta situação presta-se à ela-
boração de cenários de facto aterrorizadores.
178
elevado profissionalismo e alta qualidade gráfica, e composta por entrevistas
com os principais comandantes, notícias dos atentados, manifestos religiosos,
recensões de livros e análises dos discursos e declarações de Bin Laden e Al
Zawahiri. Um dos objectos recorrentes das críticas era a “família infiltrada”,
ou seja, a família real saudita, alegadamente controlada pelos infiéis.
179
festando desde os anos 90 com atentados bombistas e assassinatos colec-
tivos, em aldeias, de homens, mulheres e crianças.
O GSPC não tem sido mais mortífero, nomeadamente nas cidades, porque
os serviços secretos argelinos têm em grande medida conseguido conter as
suas actividades. Mas, no último par de meses, registou-se uma série de ocor-
rências que indiciam que o GSPC está com um novo fôlego e com uma nova
estratégia. Atacou dois autocarros na Argélia que transportavam funcionários
britânicos e americanos de uma companhia petrolífera, tentou levar a cabo
uma operação na Tunísia contra embaixadas e diplomatas e estabeleceu uma
rede, detectada em Marrocos, de recrutamento de combatentes para o Iraque.
Este cenário, porém, já está há algum tempo a ser encarado como prová-
vel pelos serviços de informações ocidentais, nomeadamente dos Estados
Unidos, os quais depois do 11 de Setembro têm vindo a construir um pro-
grama de combate ao terrorismo na região. Em Junho de 2005 deram-lhe o
nome de Trans-Sahara Counter-Terrorism Initiative e reforçaram-no com um
orçamento de 100 milhões de euros por ano, destinado a treinar e dinamizar
a cooperação entre as forças militares e de segurança de 10 países: Argélia,
Chade, Gana, Mali, Mauritânia, Marrocos, Niger, Nigéria, Senegal e Tunísia.
180
uma plataforma de cooperação no domínio das informações e segurança
entre os países do Magrebe e do Sahel.
2.1. WMD113
181
como o 4 de Julho, as Convenções Republicana e Democrata, as refinarias
de petróleo, a rede eléctrica, os portos, os sistemas de abastecimento de
água ou mesmo o Capitólio. A expectativa encontra-se reflectida numa son-
dagem realizada pela Associação Nacional dos Chefes de Polícia que refere
que 95% destes responsáveis esperam uma “catástrofe”.
2.2. O Ciberterrorismo114
182
Face à impossibilidade, pelo menos por enquanto, de se elaborar “ava-
liações de ameaças” credíveis – devido ao infinito espectro da rede infor-
mática global conjugado com a vastidão das opções terroristas – a atenção
está concentrada particularmente nas “avaliações de vulnerabilidades” dos
sistemas no sentido da sua total eliminação. Este é neste momento o objec-
tivo principal da “Information Security” (INFOSEC) ou “Information
Assurance” (IA), mas a realidade é que se está ainda muito longe de se
atingir esse objectivo. De acordo com as informações transmitidas por Daniel
Wolf – director do respectivo departamento da NSA – ao comité de segu-
rança interna (homeland security) do Congresso americano, os ataques são
hoje comuns, descobrem-se vulnerabilidades diariamente e o verdadeiro
problema é que a “velocidade da resposta humana” não é equiparável à
“velocidade do ataque cibernético”.
O Verão terminou sem que até agora se tenha concretizado um dos mais
terríveis receios dos governos ocidentais, particularmente do americano e
do britânico: um atentado terrorista, numa grande cidade, com armas de
destruição em massa. O tempo vai entretanto decorrendo e os técnicos dos
departamentos governamentais, os peritos dos serviços de informações e
os especialistas das universidades vão produzindo relatórios de avaliação
da situação. Neste momento está assim a emergir uma opinião tendencial-
183
mente unânime que considera a ameaça de um ataque nuclear mais credível
que a de um ataque biológico ou químico.
184
2.4. Petroleiros, Terroristas e Bombas Nucleares116
185
terroristas anti-americanos. Os petroleiros chegam a medir 60 metros de
largura, 350 de comprimento e 22 de calado, transportanto cerca de 300
mil toneladas de crude. É possível colocar uma bomba nuclear pequena
neste imenso espaço, inclusivamente no interior do crude, iludindo a actual
tecnologia de detecção.
186
da Malásia, de Singapura e da Tailândia. “Coligação Mujahidin” (Rabitatul
Mujahidin) é a designação deste verdadeiro sistema de cooperação multila-
teral terrorista animado pela Jemaah Islamiah, que se encontra inclusiva-
mente em expansão para países limítrofes como o Bangladesh, neste
momento em vias de se transformar num “santuário” dos radicais islâmicos.
187
tam para movimentos anuais na ordem das centenas de milhar de milhões
de euros.
188
ter um impacto relevante a curto prazo na prevenção de atentados terroristas,
pois trata-se de uma luta de longa duração.
189
têm sido frequentes nas intervenções de Bin Laden, assim como nos vídeos
de propaganda e recrutamento da organização.
190
ciliação de valores religiosos tradicionais com elementos avançados e sofis-
ticados das modernas tecnologias.
A nova geração pretende pois ser tão ou mais “piedosa” e eficiente que a
primeira. Desde já, por virtude da televisão e da internet, possui uma identi-
dade islâmica radical mais firmada, um consolidado poder anímico, precisa-
mente porque tem uma referência poderosa – Bin Laden e a al-Qaeda – que
antes não existia. Por outro lado, estão a usufruir de uma teoria do terrorismo
que está em formação e que os dota de ideologia e conhecimento, nomeada-
mente de assuntos militares, estratégicos, de informações e segurança.
Para já, merecem especial atenção as tendências da nova geração para uma
maior número de elementos (e mais “piedosos”), profissionalismo e moderni-
zação. Por isso a designada “intelligence question” é a seguinte: qual é o tipo e
grau de ameaça específica que a nova geração coloca e qual é, neste contexto,
a “ordem-de-batalha” da al-Qaeda? A resposta continua a ser procurada.
Não obstante os esforços que têm sido efectuados nos últimos anos no
domínio da segurança informática, nomeadamente através da cooperação
internacional, o facto é que o chamado cibercrime tem vindo a aumentar
drasticamente. Por exemplo, no espaço de um ano, segundo o FBI, cerca
de nove milhões e meio de americanos foram vítimas de roubos de identi-
191
dade, os quais se traduzem em grande medida na utilização fraudulenta de
cartões de crédito. A IBM, por seu turno, revelou que os ataques a com-
putadores por via da Internet aumentaram 50%, só na primeira metade do
corrente ano de 2005.
192
De facto, a percepção actual é a de que a tendência se irá manter e os
ataques a computadores por intermédio da Internet serão cada vez mais
numerosos, rápidos e sofisticados.
193
tador. Mesmo assim, estão cerca de 600 elementos a trabalhar no DOCEX,
24 hora por dia, divididos em três turnos.
194
“5º Bureau”, liderado pelo general Belbachir e responsável pelas infor-
mações militares. Nos últimos anos, este passou a depender directamente
do rei e viu os seus meios e competências alargados na luta anti-
terrorista relativamente aos serviços de informações civis. Isto começou
logo a seguir aos atentados de Casablanca, em 2003, sob proposta do
próprio general Belbachir, quando em Méknés foi detido Youssef Amani,
um jovem soldado que tinha em sua posse sete Kalashnikov e quinze
caixas de munições.
195
2.12. A Universidade de Al Iman124
196
Farmacologia no Cairo, nos anos 50, onde se tornou um ferveroso anti-comu-
nista defensor do Corão. Seguiu depois o percurso de universitário islâmico na
Arábia Saudita e no Iémen e, nos anos 80, foi professor de Bin Laden e seu
companheiro de resistência contra a invasão soviética no Afeganistão.
197
(Internacional Ship and Port Facility Security Code), mas este só abrange
os navios com mais de 500 toneladas. Por outro lado, no que respeita ao
controlo dos contentores, só se conseguiu atingir uma taxa de inspecção na
ordem dos 5% do volume total, inclusivé nos Estados Unidos, o que deixa
aberta uma enorme brecha a possíveis atentados terroristas.
198
2.14. A Ameaça Terrorista na Argélia126
Ora, esta situação de aparente acalmia tem vindo a ser perturbada desde
o Outono passado, precisamente pelo GSPC que, agora, pelo menos no que
respeita a uma facção, se intitula Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM)
e se assume como um braço da organização de Ossama bin Laden. Neste
últimos meses, ocorreram de novo atentados terroristas, chegando mesmo
outra vez à capital, Argel, e à sua respectiva área urbana. Explodiram bom-
bas em frente a esquadras da polícia, foram atacados meios de transporte
de trabalhadores das companhias petrolíferas estrangeiras e sucederam vio-
199
lentos confrontos armados com os militares, com baixas para ambos os
lados. Mas o ponto alto ocorreu com o atentado, no centro de Argel, contra
as instalações do gabinete do primeiro-ministro.
200
tado terrorista no seu território, de dimensão equivalente ou maior ao das tor-
res gémeas. A ameaça é oficialmente avaliada como sendo de grau amarelo,
ou seja, elevada, definida como “risco significativo de ataques terroristas”.
Os jornais enchem-se de análises e os especialistas em terrorismo e segurança
e informações apresentam os mais variados cenários possíveis e prováveis.
201
congestionamento das telecomunicações, quebras de produção, interrupções
nos circuitos de distribuição e assim por diante.
Por outro lado, este ambiente favorece o reforço das medidas de vigilân-
cia de pessoas, grupos e instituições, tal como aconteceu recentemente com
a decisão de, pela primeira vez, se permitir às forças de segurança o acesso
aos mais potentes e secretos satélites militares, para terem imagens de alta
definição em tempo real. A tecnologia já permite, por exemplo, “ver” pessoas
dentro de edifícios, detectando o calor emitido pelo corpo humano.
3. O Contra-Terrorismo
202
No computador de Mohammed Khan – suspeito de ser membro da Al-
-Qaeda – foram encontradas fotografias dos supostos alvos, mas não existiam
quaisquer planos de atentado. Porém, Khan tinha visitado o Reino Unido
várias vezes e contactado com uma série de indivíduos que estavam a ser
vigiados pelo MI5. Estes últimos, num total de doze, são cidadãos britânicos
de origem asiática, com idades entre os 20 e 30 anos, e foram entretanto pre-
sos na sequência da fuga de informação sobre Khan. São acusados de
estarem a preparar atentados terroristas, mas não foram encontrados em sua
posse quaisquer produtos químicos ou equipamento de fabrico de bombas.
Com efeito, este “falso alerta” – divulgado nos Estados Unidos – trouxe de
novo a público o espectro da “politização das informações”, nomeadamente
quando o presidente Bush afirmou de imediato que se estava perante “sound
intelligenge” (informações credíveis) e de seguida a imprensa veiculou que
afinal se tratavam de “informações” antigas de há quatro anos. Essas “infor-
mações” teriam sido em grande medida baseadas num documento conhecido
como o “manual de treino da Al-Qaeda”. Este “manual” veio a público alguns
meses antes do 11 de Setembro quando, nos Estados Unidos, foram realizados
os julgamentos dos autores dos atentados contra as embaixadas americanas de
Nairobi e Dar es Salam, em 1998, que provocaram mais de 200 mortos.
Contudo não é possível afirmar que tenha havido “politização das informa-
ções” neste caso de Mohammed Khan. Do ponto de vista da regular actividade
dos serviços secretos, o que parece ter acontecido foi que, independentemente
das provas materiais, as informações recolhidas – em parte sem dúvida através
de escutas – foram “integradas” (cruzadas) com outras registadas nas bases de
dados e, neste particular clima de incerteza quanto às operações da Al-Qaeda, a
“análise” produziu uma “avaliação prospectiva” de máxima prudência e de ele-
vada probabilidade da ocorrência a curto prazo. Em suma, às acusações de
“pecarem” por defeito os serviços secretos respondem “pecando” por excesso.
203
– considerado o terceiro homem na hierarquia da Al-Qaeda e responsável
operacional pelo 11 de Setembro – aponta a possibilidade de Bin Laden
estar na área desértica do Beluquistão, na fronteira a sul do Afeganistão
com o Irão e o Paquistão. Outra é a de que se esconde algures na fronteira
a norte entre o Afeganistão e o Paquistão, resguardado por um perímetro
de segurança móvel com uma extensão de cerca de 200 quilómetros, con-
trolado pelas tribos locais. Uma terceira hipótese refere que se encontra na
região de Cachemira, na vertente ocidental dos Himalaias, protegido pelos
movimentos terroristas locais com ligações à Al-Qaeda.
Neste momento existem três países cujos serviços secretos estão parti-
cularmente empenhados na captura de Bin Laden: Paquistão, Estados
Unidos e Reino Unido. Os paquistaneses têm obtido alguns resultados na
obtenção de informações e no desmantelamento de algumas células inter-
médias da Al-Qaeda, mas não têm conseguido infiltrar a organização de
modo a alcançar, por fontes directas ou indirectas, o núcleo duro de Bin
Laden. Neste aspecto são os que estão em melhor posição – pela língua,
cultura, fisionomia e conhecimento do terreno – de desenvolverem opera-
ções de HUMINT (human intelligence), ou seja, o emprego de espiões,
toupeiras e agentes duplos. Há alguns dias atrás viram-se todavia obrigados
a negarem oficialmente as alegações de Cofer Black, o coordenador de
contra-terrorismo do State Department, de que se verificaram progressos
na localização de Bin Laden. Os americanos, por seu turno, estão princi-
palmente confinados aos poderosos meios tecnológicos da SIGINT (signal
intelligence) e GEOINT (geo-spatial intelligence) – e foi desta forma que
detectaram e prenderam Khalid Sheikh Mohammed, depois de este ter uti-
lizado um telefone de satélite – meios esses insuficientes para localizar Bin
Laden que, ao que tudo indica, não comete qualquer quebra de segurança
neste campo. Na verdade, os americanos estão com um sério problema de
restruturação do sistema de informações e especificamente de HUMINT,
conforme apontou o relatório da comissão sobre o 11 de Setembro e na
semana passada confirmou Porter Goss, o director nomeado da CIA, que
declarou ser a human intelligence “uma das mais fracas componentes do
serviço e serem necessários pelo menos cinco anos para o reconstruir”.
Resta o esforço dos britânicos, sobre o qual não transpira para o público
qualquer tipo de notícia ou declaração. Dos serviços ocidentais, são quem
melhor conhece a região, a história e a cultura, as elites modernas e tradi-
204
cionais, e quem mantém aí contactos de todo o género há já algumas gera-
ções. Qualquer avanço significativo na localização de Bin Laden não dei-
xará pois de ter a marca dos serviços secretos britânicos.
205
conjunto de serviços de informações externas e internas dos Estados mem-
bros, que produz relatórios de informações confidenciais sobre a ameaça
terrorista dentro e fora da Europa. Estes são distribuídos, de acordo com
uma lista classificada, a Javier Solana e aos ministros dos negócios estran-
geiros, no sentido de apoiarem a definição da política externa e de segurança
comum, e igualmente aos ministros do interior e da justiça.
206
(situation center), que funciona junto de Javier Solana, o Sr. PESC, que
produz análises e avaliações de ameaças com elementos provenientes de
sete serviços europeus.
207
de 16 estados africanos e observadores dos Estados Unidos, Reino Unido,
Arábia Saudita e Nações Unidas. Dirigentes e analistas passaram assim
dois dias a debater, a fazer apresentações e a trocar informações sobre as
crescentes actividades e movimentações de terroristas em África, nomea-
damente da al-Qaeda, que têm vindo a ser detectadas pelos serviços de
informações ocidentais. Por exemplo, três dos suspeitos dos atentados falha-
dos de Londres, depois do 7 de Julho, eram naturais de África.
208
Na verdade, Wolfowitz já anunciou que a prioridade da instituição é
África e que os investimentos serão canalizados em grande medida para a
construção de infraestruturas. Porém, haverá “tolerância zero” relativamente
a esquemas de corrupção envolvendo dinheiros do Banco e os líderes polí-
ticos e empresários serão responsabilizados por qualquer eventual ligação
directa ou indirecta aos negócios dos terroristas.
209
representa quase o dobro do orçamento global do Centro Nacional de
Inteligencia.
210
III – A PERSPECTIVA DA INTELLIGENCE
211
ticas e militares) ficar desde logo estabelecida uma relação regular, de
máxima ou muita confiança, norteada pelo desejo recíproco de troca de
informações sem ou quase sem barreiras.
212
causa actualmente nos Estados Unidos a propósito da reestruturação anun-
ciada da Intelligence Community, isto é, da constelação de 15 serviços
secretos que compõem o sistema nacional de informações. Paralelamente
aos temas mediáticos – como por exemplo o da extinção da CIA – o debate
em curso possui também uma dimensão, mais discreta, que congrega um
número restrito de altos funcionários e de especialistas em “informações”
oriundos do meio académico e com ligações formais e informais aos pró-
prios serviços secretos. O assunto “quente” – que subjaz à reforma global
do sistema – é o da gestão dos segredos, ou seja, o processo de classificação,
manutenção e difusão das “informações”.
213
de princípios gerais que defina como se usa, qual a quantidade, o melhor
método de classificação e o número exacto de utilizadores. É muito provável
que, em caso de mudança substancial do sistema neste domínio, tal venha
a reflectir-se na cooperação com os chamados “serviços amigos”.
214
A partir desta distinção tornou-se comum, nomeadamente em Portugal,
invocar e ensinar o chamado ciclo de produção de informações como a
ideia-mestra da configuração da análise. Tal ideia acaba porém por cons-
tituir uma espécie de mnemónica para os iniciados nas informações que
muitas vezes ficam assim apenas “formatados” relativamente ao que cons-
titui o processo geral de identificação/selecção/tratamento de informação
em qualquer actividade. O analista que se guie estritamente por essa mne-
mónica tem pois tendência para desenvolver um trabalho burocratizado que
se traduz na recolha diária de um conjunto de notícias, no seu “recorte”
(confirmação), no seu processamento numa base de dados e eventualmente
na produção de um relatório, o que para si constituirá a tarefa mais difícil
uma vez que, para além de outros factores como a capacidade de escrita e
de síntese, o seu conceito de análise estará confundido com os de integração
e de interpretação que estão associados à interiorização do ciclo de pro-
dução de informações.
215
pela “necessidade” de mostrar trabalho a todo o custo) de confundir pros-
pectiva com especulação, levando esta última inevitavelmente à utilização
de tempos verbais condicionais que de maneira nenhuma constituem ins-
trumentos de precisão.
216
estruturante do fenómeno da globalização. A tecnologia e os valores oci-
dentais estão a traçar o caminho para a unidade do mundo, nomeadamente
desde a 2ª guerra mundial, após a qual ocorreu uma multiplicação sem pre-
cedentes de centros de decisão políticos e económicos (princípio da dis-
persão). Porém, na medida em que tal se produziu, começou a registar-se
um movimento no sentido da concentração regional e mesmo transnacional
desses centros de decisão, e da correspondente multiplicação qualitativa e
quantitativa das suas relações (princípio da convergência). Na perspectiva
das informações estratégicas, isto significa que é necessário acompanhar a
dinâmica de certos centros de decisão que, embora não determinem, con-
dicionam a evolução da conjuntura e o espaço de manobra das empresas.
217
informações estratégicas, serão um indicador seguro das possibilidades e
probabilidades de comportamento do núcleo e dos obstáculos ou oportu-
nidades que se apresentam à tomada de decisão interessada nesse mesmo
comportamento.
218
informações quando as tivermos?; (6) Qual é o custo dessas informações?;
(7) Qual é o custo de não ter essas informações?
Por último, mas em primeiro lugar, quando não existe uma unidade
de informações estratégicas, é obviamente necessário estabelecer uma
estimativa dos custos de desenvolvimento e gestão desta função na
empresa. Os custos de desenvolvimento incluem o desenho do sistema
com hardware, software e formação. Os custos de gestão abrangem o
analista ou analistas (de acordo com a dimensão e projecção da empresa),
que neste tipo de função devem ser em número suficientemente reduzido,
a manutenção de fontes e a aquisição complementar de dados e infor-
mação especializada.
219
1.6. A Expansão das Fontes Abertas139
220
grafias, videos, etc.; e também a formação nesta área e o desenvolvimento
das tecnologias de informação no sentido da ampla disseminação das infor-
mações pelo governo (need-to-share). Para director do OSC foi escolhido
Douglas Naquin, um funcionário de topo da CIA que chefiava já o FBIS,
e que possui uma formação de base em Ciência Política e pós-graduções
pela Universidade de Georgetown e pelo Army War College. Filho de um
Marine, Naquin construiu também ao longo da carreira a reputação de faci-
litador da ligação entre civis e militares.
221
de interesse crescente no ambiente dos serviços de informações civis e
militares e das revistas académicas da área dos Intelligence Studies. A
NATO, por exemplo, tem vindo a criar doutrina em tôrno do conceito desde
os finais de 2001, tendo já definido os conceitos subsidiários de open
source data (OSD) e open source information (OSI), referindo-se ambos à
informação em bruto antes de ser objecto de recolha e tratamento: o pri-
meiro relativo a elementos como fotografias e imagens de satélite comer-
ciais; o segundo relativo aos meios de comunicação social, livros e relatórios
de todo o género. A NATO define pois a OSINT como “a informação que
foi deliberadamente descoberta, discriminada, destilada e disseminada por
uma audiência seleccionada, de modo a responder a uma questão especí-
fica”.
222
bilidade de se proceder a pesquisas temáticas abrangendo milhares de publi-
cações de praticamente todos os países do mundo, com uma actualidade
na ordem dos minutos, o que permite inclusivamente em tempo real ultra-
passar a barreira da diferença horária mais dilatada. Outra utilidade da
internet é o enorme espectro de sites especializados que existem pelas mais
variadas razões e intenções. E há ainda que contar com a “gestão de stocks”
dos designados favoritos, que não param de crescer.
223
geral da Suchard e, embora durante somente três meses, em 2003, ex-direc-
tor do departamento de análise dos serviços informações externas (DGSE),
tendo divulgado já este ano um guia de formação avançada em inteligência
económica, (3) o clube de defesa económica da empresa, no quadro da
“gendarmerie nationale”, de que fazem parte empresas como a Air France,
a Alcatel, a Electricité de France ou o BNP-PARIBAS, (4) a Sociedade
Nacional de Inteligência Estratégica/ADIT, que neste momento tem uma
rede que abrange os cinco continentes, (5) e, muito recentemente, o conceito
associado de “inteligência territorial”, que traduz a mobilização das regiões.
224
disseminar amplamente informações estratégicas pelas organizações, gran-
des, pequenas e médias, ou que as compradas a grandes consultoras estran-
geiras sejam de suprema qualidade e preencham por si só as necessidades
“personalizadas” de internacionalização das empresas portuguesas.
225
unidade de informações estratégicas como instrumento de apoio à tomada
de decisão.
226
e secundárias. As primárias veiculam directamente a informação gerada
pelos núcleos de decisão sob todas as formas possíveis de imaginar, desde as
simples afirmações aos documentos estratégicos, passando pelas notícias,
comentários, entrevistas, análises e artigos. As secundárias emitem de
maneira geral toda a informação produzida a partir das fontes primárias.
227
Só um pequeno número afortunado de analistas no campo das infor-
mações estratégicas, por talento e/ou experiência e/ou mérito de trabalho,
conseguem aproximar-se de facto do paradigma. Com efeito, segundo a
teoria, um analista deste género possui um conjunto de características espe-
cíficas, e não é fácil preencher o perfil: honestidade intelectual, pensamento
aberto, sensatez, agilidade de raciocínio, fiabilidade, cepticismo, distancia-
mento, paciência, diligência, perseverança, intuição e imaginação. Destas
características, a intuição e imaginação são especialmente úteis quando os
elementos de informação não abundam, para se fazer a aproximação à
“intelligence question”.
Agora, “a posteriori”, com acesso simplesmente aos dados que são públi-
cos, podemos listar uma série de elementos de informação que aparentam
terem nexo: inflexão estratégica do BCP relativamente à Europa, depois do
desaire da Roménia; capital disponível; lucros extraordinários; criação do
BCP Angola; afirmação pelo BCP do novo mercado “core” de Angola; atraso
comparativo na corrida para Angola; aliança da Caixa Geral de Depósitos e
do Santander para Angola; liderança do BPI em Angola; presumível cresci-
mento extraordinário de Angola, a curto prazo, de cerca de 28%.
228
E a acrescentar a estes elementos, devem também ser tomados em con-
sideração três factores psicológicos adstritos ao perfil do líder do BCP:
naturalidade de Angola; relações familiares com fortes sentimentos de liga-
ção a Angola; pensamento filosófico-político integralmente português,
lusíada e universalista.
229
Foi neste ambiente que se desenvolveram os intelligence studies,
mas com a singularidade de se terem mantidos secretos, até ao início
da sua expansão universitária nos anos 70-80, numa publicação aca-
démica criada no seio da CIA, em 1955, e divulgada exclusivamente
na organização. O seu fundador foi Sherman Kent, professor de História
na Universidade de Yale que, durante a 2ª guerra mundial, passou a
trabalhar no OSS (Office of Strategic Services), organização percursora
da CIA. Sherman Kent, por muitos considerado o “pai da análise das
informações”, deu à revista o nome de “Studies in Intelligence” e
escreveu no primeiro número um ensaio – ainda hoje uma referência
-, sobre a necessidade de se produzirem e divulgarem trabalhos espe-
cializados nesta área que resultem na formação e acumulação de conhe-
cimento. E tudo isto deu de facto origem a uma área interdisciplinar
universitária que, em concreto no que respeita aos Estados Unidos,
entre outros aspectos, procura contantemente novas formas de vantagem
competitiva e projecção económica internacional.
230
1.12. A Unidade de Intelligence nas Empresas145
231
Quando decidem investir tempo, dinheiro e recursos humanos numa
unidade de intelligence, os decisores devem pois estar posicionados no cen-
tro da dinamização do processo, cabendo-lhes em primeiro lugar, em inte-
racção com os analistas, a abordagem de sete perguntas-chave: (1) O que
é que nós precisamos de saber?; (2) O que é que nós já sabemos ou quais
são as nossas percepções ?; (3) Por que é que nós precisamos de saber
“isso” e qual será o impacto estratégico?; (4) Quando é que nós precisamos
de saber “isso”?; (5) O que é que faremos com as informações quando as
tivermos?; (6) Qual é o custo dessas informações?; (7) Qual é o custo de
não ter essas informações?
232
nalização em curso a que chamamos globalização, e que tanto afecta o
nosso destino, porque este passou a ser não só próprio e exclusivamente
nosso mas também comum ao de muitos outros.
233
é a excelência. Os fundamentos que lhes permitem aproximarem-se o mais
possível dessa excelência, para além da regra de ouro da fiabilidade das infor-
mações, encontram-se nos seguintes pontos: uma correcta definição e delimi-
tação dos objectos das investigações para minimizar a subjectividade; e um
apuramento contínuo da redacção dos relatórios de modo a tornar clara e con-
cisa a transmissão da informação e precisa a sua leitura, sem equívocos
semânticos e sintácticos nem tempos verbais condicionais.
Num espaço de dez anos é a segunda vez que uma mulher ocupa o
cargo de Directora-Geral do MI5, os prestigiados serviços secretos do
Reino Unido na área da segurança interna. Eliza Manningham-Buller é o
seu nome, tem neste momento um peso determinante na definição da segu-
rança britânica face à ameaça terrorista e está a levar a cabo uma profunda
mudança da atitude dos serviços secretos no seu relacionamento com os
cidadãos.
234
Buller tem trinta anos de carreira no MI5, é casada e sem filhos, fez os
seus estudos em Oxford, terreno privilegiado dos recrutamentos secretos,
e é uma pessoa extrovertida e extremamente sociável, enérgica e decidida.
O seu percurso no MI5 incluiu a contra-espionagem, a colocação em
Washington como elemento de ligação ao FBI, a direcção da vigilância e
operações técnicas e a direcção do contra-terrorismo. Nesta última função
Eliza Manningham-Buller adquiriu assim a fama de conduzir “operações
brilhantes” de desmantelamento de várias células activas do IRA, e conse-
quentemente o capital de competência e prestígio que, aos olhos do
Governo, a transformaram na pessoa certa para proteger os súbditos de Sua
Majestade dos ataques da Al-Qaeda.
235
2.2. Vigilância Global148
236
das informações”, ou seja, a capacidade de visionar alvos bem definidos
em tempo real ou diferido, passíveis de serem identificados com precisão
em eventuais ataques selectivos e operações de vigilância ou captura. Num
futuro não muito longínquo os serviços secretos americanos terão assim a
capacidade de manter “debaixo d olho” qualquer suspeito de terrorismo
em qualquer lugar da Terra.
237
do aumento de todo o comércio externo chinês. Para este aumento está
a contribuir o facto de, no início deste ano, a China ter isentado de
impostos 190 categorias de produtos provenientes de 25 países.
Complementarmente, os novos empresários chineses estão a ser incen-
tivados a investir em África e, neste mesmo trimestre, já foram assinados
contratos de engenharia no valor de mil milhões de euros.
O SVR tem cerca de 12 000 funcionários (100 vezes mais que o serviço
congénere de um pequeno país) distribuídos por 5 “directórios” cobrindo
238
todas as regiões do Globo. Estes estão divididos em “direcções”, desta-
cando-se as relativas ao anti-terrorismo, à proliferação de armas de des-
truição massiva, ao crime organizado, às informações económicas, tecno-
lógicas e científicas, à segurança das Embaixadas russas e às mais variadas
operações, incluindo as dos agentes secretos. Entre 1995 e 1999, sob a che-
fia de Vyacheslav Trubnikov, o SVR recuperou os velhos níveis de opera-
cionalidade e eficiência e manteve-se num grau muito moderado de coo-
peração com os serviços secretos ocidentais. Os pontos de desconfiança
recíproca centravam-se na “fuga” dos países do Leste para a NATO e par-
ticularmente no problema da Chéchénia que muitas organizações interna-
cionais e países – como os Estados Unidos – apontavam como uma cla-
morosa violação dos direitos humanos.
239
2.5. Serviços Pouco Secretos151
240
modo incontrolável e passível de ser aproveitado pelos terroristas. O último
e mais “bombástico” exemplo apareceu muito recentemente sob a forma
de um livro de mais de trezentas páginas – “Imperial Hubris: Why the West
is Losing the War on Terror” – de um autor simplesmente chamado
“Anónimo”, que é tido como um “analista sénior” da CIA. Credibilizado
por recensões e análises em meios como o New York Times, a BBC e o
The Guardian – que afirma tê-lo entrevistado secretamente – o “Anónimo”
afirma que a “vantagem estratégica” está do lado da Al-Qaeda e, em defesa
do bom nome da “comunidade de informações”, culpa os políticos pelo
que está a acontecer, entre várias descrições de práticas e procedimentos
dos serviços secretos
241
acordo com a NATO – secreto quanto a detalhes – que assegura a utilização
de meios aéreos e navais preventivos (“early warning”), de unidades de res-
posta rápida a ataques de armas de destruição em massa e de uma unidade
especial anti-terrorista, com cerca de 500 elementos, estacionada nas ime-
diações de Atenas. Por sua vez os Estados Unidos estão particularmente
“comprometidos” com a deslocação para a Grécia de um número desco-
nhecido (mas estimado na ordem das centenas) de agentes armados dos
serviços secretos, para além do fornecimento da tecnologia mais avançada
neste domínio. Como reforço foram ainda contratados os mais prestigiados
consultores privados neste sector, dos quais se destaca o ex-chefe da
Mossad, Brigadeiro-General Amiram Levi.
242
vação económica ou convicção político-ideológica. Por definição o agente
duplo espia uma “organização-alvo” em benefício de uma outra organiza-
ção, mas na verdade é leal ao “alvo”. No quotidiano esta realidade asse-
melha-se a um “jogo de espelhos” onde a confiança se entrecruza conti-
nuamente com a desconfiança entre quem espia e quem controla.
243
2.8. A Espionagem Americana154
244
nomeadamente, reforçar as competências do DCI e a cooperação institu-
cional quanto à designada “terrorism information”.
245
um colégio privado exclusivamente masculino e conservador, criado em
1891 com o principal propósito de preparar estudantes para a Universidade
de Yale, instituição onde efectivamente se formou em 1960. Ingressou no
serviço de informações do Exército e de seguida na CIA, onde foi um ope-
racional especializado em missões clandestinas na América Latina e na
Europa do Leste, sobre as quais aliás não são publicamente conhecidos
quaisquer detalhes. Eleito pela primeira vez em 1974, para funções autár-
quicas no sudoeste da Florida, Porter Goss entrou para o Congresso em
1989 e a sua intervenção centrou-se nas áreas da Saúde, da Ecologia –
sendo excepcionalmente a favor do Protocolo de Kyoto-, dos ex-
Combatentes e da Segurança Nacional e Informações. O cargo de presidente
da comissão de informações atribuiu-lhe ainda a “mais-valia” de conhecer
pessoalmente um número elevado de representantes e directores de “servi-
ços amigos”.
Tido como uma pessoa frontal com um discurso simples, directo e edu-
cado, Porter Goss não se tem coibido, após o 11 de Setembro, de criticar
fortemente os erros da CIA, acusando-a de ter operacionais e analistas
acomodados e pouco imaginativos, e de as missões clandestinas obedece-
rem a um burocracia institucionalizada inibidora de sucesso. Conhecendo
“gente da casa”, a sua intenção anunciada é a de “reconstruir” a CIA em
cinco anos, protegendo-a da “contaminação destrutiva do processo polí-
tico”. Para já fica a expectativa da sua duração no cargo, uma vez que o
senador e candidato presidencial John Kerry é contra a sua nomeação.
246
serviços israelitas. Ora, é precisamente neste domínio que se revela um
forte trauma da espionagem israelita, com mais de 30 anos.
Não obstante, todos os anos, nesta altura, ocorre em Israel uma espécie
de expiação de culpa colectiva, animada em larga medida pelos meios de
comunicação social, devido à “derrota” que no vizinho Egipto continua a
ser celebrada como uma grande vitória. Para os israelitas o “desastre” do
Yom Kippur é agora comparado com o “choque” do 11 de Setembro para
os americanos, particularmente no que respeita ao fracasso da previsão dos
serviços secretos. Ao longo dos anos, tornou-se comum apontar o Major-
General Eli Zeira, que então dirigia o Aman – o serviço de informações
militares – como o principal responsável por esse fracasso, pois avaliou a
ameaça como “muito pouco provável”, até ao último momento, com base
nas informações de uma toupeira posicionada no círculo restrito do poder
egípcio. Hoje, Eli Zeira, depois de ter levado a cabo uma investigação pri-
vada com dois ex-directores do Shin Bet (serviços de segurança interna),
acusa essa toupeira, da qual há dois anos se conhece a identidade (Ashraf
Marwan, reputado homem de negócios egípcio), de ter sido na realidade
um agente duplo fiel ao Egipto.
247
2.11. A Força Especial da CIA157
248
Janeiro de 2003, passaram a poder planear e executar operações antiterro-
ristas a nível mundial, o que as “empurra” para as operações cobertas e
clandestinas. Mas os militares não vêm com bons olhos essa possibilidade
(contrária à Convenção de Genebra), reforçada agora pelas recomendações
da Comissão do 11 de Setembro no sentido de o Pentágono assumir o seu
controlo integral.
249
Relações Internacionais Contemporâneas, que funciona como um gabinete
de estudos estratégicos, e a agência noticiosa Xinhua (Nova China) que conta
com delegações em cerca de 100 países, em regra baseadas nas embaixadas.
Na sede desta, em Pequim, existe o Gabinete de Recolha de Informações e
Notícias Externas que produz uma edição diária classificada, de distribuição
restrita à elite governante, intitulada “Matérias Secretas de Referência”.
250
Essa doutrina consta no manual de circulação restrita editado em
Outubro sob o título “Counterinsurgency Operations”. O papel determi-
nante das informações no sucesso das operações é aí sublinhado. Parte-se
do princípio que as informações militares terão de desenvolver uma nova
abordagem às situações a nível local, privilegiando a compreensão do
ambiente cultural através do emprego prioritário de HUMINT (human intel-
ligence) e OSINT (open sources intelligence).
Por isso está a tornar-se comum no meio das chefias militares ameri-
canas a utilização do termo “intelligence war” para caracterizar a situação
no Iraque, estando em curso um plano de aumentar em 9.000 o número de
soldados especializados em informações, nos próximos dois anos, para
serem distribuídos pelas brigadas do exército.
251
“no futuro vamos passar muito mais tempo a procurar o inimigo que a
manobrar no espaço de batalha.”
252
noventa e dois “sites” no dia 30 de Setembro de 2005. Entretanto para os
aliados está destinado um número limitado e completamente controlado de
pontos de contacto com a GIG. A Lockheed Martin, um dos principais for-
necedores do projecto, anunciou na semana passada que completara a ins-
talação da CMN (Coalition Multinational Network) no Iraque, o que con-
firma que a GIG está já a ser testada no teatro de guerra.
253
suindo um departamento de “contactos” cuja actividade difere do tradicional
departamento de fontes no qual são enquadrados agentes duplos e toupeiras.
A principal diferença reside na função do “especialista de contactos”, o
qual tem de lidar com uma fonte que não é controlada, sendo a colaboração
desta voluntária e livre de qualquer tipo ameaça ou intimidação.
254
a designar-se SBU, sigla de Sluznba Bespeky Ucrayiny, isto é, Serviço de
Segurança da Ucrânia. Não se tratou, na prática, da criação de uma nova
instituição mas sim do desmembramento da estrutura local do KGB, de
dimensão correspondente a um território maior que a França e a uma popu-
lação de 48 milhões de habitantes.
255
No passado dia 16 de Outubro, um mês antes das eleições, esse depar-
tamento autonomizou-se completamente do SBU, através de um decreto
presidencial que criou o SZR, isto é, o novo serviço de informações exter-
nas, chefiado pelo mesmo Oleg Sinyansky, que já mandara espiar os mem-
bros da oposição. A linha dura do SBU sobrevive agora no SZR e é aí que,
sob protecção presidencial e até agora resguardados dos holofotes mediá-
ticos, se encontram os principais suspeitos do envenenamento de Yushenko
e da armadilha a Igor Smeshko.
256
imprescindível para todos os casos) de origem árabe, iraniana, afegã e
paquistanesa, com fluência nas línguas locais.
257
partir do dia 12 de Março de 2002, seis meses após o atentado às torres
gémeas e um ano antes da invasão do Iraque.
É esta a situação com que vai ter de lidar o juíz Michael Chertoff,
nomeado na semana passada pelo presidente Bush para o cargo de
“Homeland SecuritySecretary”. Republicano, ex-procurador geral adjunto,
com a reputação de homem sensato mas agressivo, que pôs na ordem as
cinco principais famílias da Mafia em Nova Iorque, Chertoff está para já
em estado de graça.
258
2.19. O Labirinto das Informações no Iraque165
259
mos. Para agravar o quadro, os revoltosos e terroristas estão a ganhar a luta
pelo controlo da antiga e enorme rede de informantes do tempo de Saddam
e conseguiram, inclusivamente, infiltrar a todos os níveis as forças de segu-
rança, como demonstram os recentes assassinatos do governador e do direc-
tor-adjunto da polícia de Bagdad, quebrando dispositivos de segurança con-
fidenciais.
260
neste domínio. A correpondência entre a CIA e o Congresso durante a
administração Clinton comprova-o. De acordo com os escassos dados vin-
dos a público, só em 93 e 94 a designada intelligence community ajudou
um conjunto de empresas americanas a obterem contratos no estrangeiro
no valor de 17 mil milhões de dólares. Esses contratos foram obtidos em
países do chamado terceiro mundo, através da utilização de informações
de vários tipos, juntos dos governantes e decisores locais, afastando con-
correntes europeus.
261
pouco tempo, Ariel Sharon nomeava um homem, até aí somente conhecido
por Y, para o substituir na chefia do Shin Bet a partir de Maio.
262
os seus quartéis-generais de Damasco e Beirute para a faixa de Gaza
e depois para a Cisjordânia.
263
que se gerou após o 11 de Setembro. Multi-int é uma palavra que está a
entrar no glossário do ramo traduzindo a produção integrada de informações
humint, sigint e geo-int.
264
O DNI apresenta assim à partida a elevada probabilidade de se trans-
formar numa posição influente prioritária da política externa e militar ame-
ricana. Não só pela concentração da gestão do sistema, cujo orçamento está
neste momento estimado em 40 mil milhões de dólares e muito possivel-
mente já desactualizado, mas também pelo facto de que ao “czar” caberá
informar e aconselhar pessoalmente, todos os dias, o presidente em tudo o
que diga respeito às informações. De acordo com as palavras do próprio
Georges Bush, quando o nomeou em 17 de Fevereiro, após longos meses
de expectativa, será o seu “ primary briefer”.
Muitos destes, com efeito, integram o Pentágono, que pesa 80% no sis-
tema e aguarda com elevada expectativa a agenda do DNI.
265
iniciativa, desde já, da designada “integração horizontal” das arquitecturas
informáticas dos serviços e comandos militares.
266
clientelas. Por outro lado, pressionou pedidos de reformas, ordenou exames
psiquiátricos e psicológicos a funcionários considerados problemáticos,
aumentou a carga e exigência de trabalho dos turnos sem correspondente
aumento de pessoal e apertou a fiscalização interna em termos de contra-
espionagem. Por esta razão, a sua alcunha entre os descontentes é “Hitler
Hayden”.
267
que sucedeu (tal como nos Estados Unidos em relação a Georges Bush),
mas sublinharam a recomendação de que tal erro não se poderia repetir,
sob pena de ficar irremediavelmente manchado o tradicional prestígio dos
serviços secretos britânicos.
Com efeito, meio ano antes, numa reunião secreta em Madrid após o
11 de Setembro, em Dezembro de 2001, que juntou quinze serviços secretos
europeus, os britânicos revelaram que tinham conseguido anular a vontade
de os Estados Unidos deporem Saddam Hussein com base em informações
que eles próprios, britânicos, consideravam não credíveis. A verdade é que
alguma razão concreta, provavelmente em nome do interesse nacional mas
desconhecida, levou o governo britânico, passado um ano, a condicionar
as informações do mesmo modo que o governo americano, subvertendo a
avaliação dos serviços secretos quanto à situação no Iraque. Tal como fize-
ram outros governos que de imediato se declararam aliados da coligação.
268
as novidades contam-se o bilhete de identidade nacional com fotografia,
dados biométricos e elementos como a situação profissional e o número
da segurança social, o bilhete de identidade de asilado/imigrante, o passa-
porte biométrico e, sobretudo, o projecto SCOPE, originalmente classifi-
cado muito secreto.
269
De qualquer modo, já foi testado com sucesso o circuito da informação
classificada e também a ligação directa entre o GCHQ (government com-
munications headquarters) e o DIS (defence intelligence staff), os serviços
respectivamente encarregados das escutas e das informações militares. No
prazo de um ano deverão estar também ligados o MI5, o departamento de
comércio e indústria, as alfândegas e o serviço nacional de informações
criminais. E, entretanto, o SCOPE vai ser instalado num edíficio que já
está a ser construído para o efeito.
270
madores sobre as actividades dos rebeldes e terroristas. Num artigo publi-
cado no último número da Military Review, Montgomery McFate, investi-
gadora sénior do Office of Naval Research, critica porém abertamente esta
“falha táctica” porque, ao inverso do pretendido, destrói a honra das vítimas
e activa o conceito de “al-sharaf”, que é a restauração dessa mesma honra
através do derramamento de sangue.
No final dos anos 90, nos Estados Unidos, estava a ser executada uma
estratégia nacional de combate aos gangs urbanos, mas a prioridade desta
passou para um nível secundário em consequência do 11 de Setembro. A
proliferação e expansão de gangs nos últimos anos, aliada a rumores recen-
tes sobre “contactos de negócios” com a al-Qaedatrouxeram porém o
assunto para a linha da frente do combate ao crime organizado, existindo
mesmo a tendência de o definir enquanto ameaça à segurança nacional.
271
fico de armas e drogas, raptos, assassinatos, extorsão, roubo de automóveis
e redes de imigração ilegal. No conjunto destes estão a emergir novos
gangs, agora designados de “3ª geração”, cada vez mais violentos, mais
bem organizados e mais espalhados pelo território americano, levando os
analistas a considerarem que se está perante um novo tipo de subversão
urbana, internacionalizável, que deliberadamente desafia a soberania do
Estado.
Embora com origens que remontam aos anos 80, o MS-13 é um desses
gangs de 3ª geração mais activos, com maior potencial de desenvolvimento,
e está portanto a ser alvo de particular atenção por parte das autoridades.
Possui cerca de 10 mil membros operacionais, está presente em 31 Estados
através de filiais denominadas “cliques”, lideradas pelo “shot caller”,
expressão que significa simplesmente “aquele que manda”. Um exemplo
do código de violência do MS-13: na semana passada foram condenados
dois membros a prisão perpétua por terem esfaqueado até à morte uma
adolescente grávida que tinha cooperado com as autoridades numa inves-
tigação sobre a organização.
272
2.29. O Estado da (In)Segurança Europeia175
273
de informações e de segurança, especialmente para os departamentos de
contra-terrorismo.
Esta estrutura foi porém fortemente abalada nos últimos dois meses por
uma série inédita de elementos ligados ao MSS que procuraram asilo em
países ocidentais. O escândalo tem vindo a ser principalmente protagoni-
zado por Chen Yonglin, de 37 anos, colocado como primeiro secretário no
consulado de Sydney, na Austrália. Permanecendo escondido com a mulher
e a filha, tem aparecido episodicamente perante os meios de comunicação
social para fazer revelações e apresentar documentos sobre a sua anterior
actividade. Os outros dissidentes surgiram por uma espécie de efeito de
contágio da atitude de Chen Yonglin, confirmando as revelações deste, um
dos quais na Austrália, Hao Fengjin, outro no Canadá, Han Guangsheng,
e outro ainda na Bélgica que mantém a identidade confidencial.
274
Confirmando, pelo interesse oposto, o antigo princípio chinês de que
“um bom espião vale 10 mil homens”, estes dissidentes estão a transmitir
informações preciosas sobre o modus operandi e as prioridades do MSS.
Ficou assim explícito que os consulados possuem um orçamento secreto
diverso do diplomático, abrigando os centros de coordenação das operações
e acções de espionagem. Só na Austrália existem cerca de 1000 agentes
(um número desconhecido dos quais detém a cidadania australiana) que
dispendem grande parte do seu tempo na vigilância dos membros aí resi-
dentes do Falun Gong, um movimento de exercitação física e espiritual
assente em valores de natureza budista como a verdade, a compaixão e o
perdão. O governo chinês considera-o altamente subversivo, afirmando que
se trata de um “culto demoníaco”, e por isso criou para o efeito no quadro
do MSS, em 10 de Junho de 1999, o designado gabinete 6-10, na sequência
de uma manifestação surpresa de 10 mil membros, em Pequim, junto do
complexo de edifícios da sede do governo.
Por outro lado, os alvos na Europa e nos Estados Unidos e Canadá são
as indústrias pesadas e do espaço, da defesa e das telecomunicações. Para
tal o MSS emprega a espionagem propriamente dita e o aproveitamento
dissimulado de relações de amizade e de relações de trabalho para a recolha
de informações. Note-se que nos dois últimos casos, antes de começarem
a transmitir informações, os agentes podem levar 5 a 10 anos a construírem
com o máximo de credibilidade a sua cobertura, sobretudo quando se trata
de posições relevantes em instituições consideradas estratégicas.
275
O ambiente está pois pesado: o presidente e o vice-presidente já foram
ouvidos e o procurador Patrick Fitzgerald insistiu que Judith Miller, jorna-
lista do New York Times, fosse presa por se recusar a testemunhar. O
mesmo não aconteceu a Matthew Cooper, correspondente da revista Time
na Casa Branca, que, após alguma resistência e sob a ameaça de prisão,
prestou declarações perante o “grande júri”, há poucos dias atrás, e apontou
Karl Rove como a fonte da notícia que foi divulgada em primeira mão por
Robert Novak, jornalista veterano da CNN e participante do conhecido pro-
grama “Crossfire”.
276
2.32. Os Serviços Secretos da Síria178
277
informações militares liderado pelo cunhado do presidente que, para além
das suas funções naturais, também apoia logistica e militarmente grupos
extremistas palestinianos, libaneses e turcos. Mas é o Idarat al-Mukhabarat
al-Jawiyya, o designado serviço de informações da força aérea, compara-
tivamente mais pequeno, e que o mais secreto e activo do sistema. A sua
designação é por si só uma cobertura, uma vez que não corresponde ao seu
objectivo. Sediado no palácio presidencial, é, desde 1970, o centro das ope-
rações clandestinas internas e externas. O assassinato tem sido uma delas.
278
conhecimento” (need-to-know), isto é, o impedimento de alguém ter acesso
a informações que ultrapassem o campo restrito do seu departamento, fun-
ção e respectiva área de competências. Esta regra é agora substituída pela
“necessidade de partilhar” (need-to-share), que desde já dinamiza a coo-
peração interna do sistema através de uma intranet classificada, integrando
dados e informações dos diferentes serviços. Esta dinâmica reproduzir-se-
á na cooperação com serviços estrangeiros, de acordo com um plano que
determinará quais as novas relações que devem ser estabelecidas e quais
as existentes que devem ser reforçadas.
Se esta estratégia tiver sucesso, é pois muito provável que passe a existir
uma força internacional clandestina sem precedentes.
279
Segundo fontes não identificadas da intelligence community, antes do
11 de Setembro existia a ideia de que se devia capturar Osama bin Laden
e os líderes da al-Qaeda para levá-los a julgamento nos Estados Unidos ou
talvez em países estrangeiros. Existia então uma lista dos chamados “alvos
valiosos”, que foi aumentada logo a seguir aos atentados. Em 17 de
Setembro, o presidente Bush assinou uma autorização especial para a CIA
desenvolver todas as actividades necessárias para desmantelar a al-Qaeda
em qualquer parte do mundo, incluindo a morte ou captura e detenção dos
seus membros. Esta foi a certidão de nascimento do sistema prisional clan-
destino. A amostra é Guantanamo Bay em Cuba, um dos vários “black
sites” – designação atribuída a essas prisões nos documentos classificados
americanos – alegadamente existentes no Afeganistão, na Tailândia e em
cinco países não identificados da Europa do Leste. O objectivo é o estabe-
lecimento de condições de detenção e de interrogatório que não estejam
condicionadas pelo direito, desde logo o americano, para optimizar a recolha
de informações. A tortura é apontada como uma técnica frequente, de
acordo com o manual da CIA intitulado “Enhanced Interrogation
Techniques”, que inclui expedientes como o chamado “waterboarding”,
contrário às convenções das Nações Unidas, em que se procede à simulação
de afogamento do prisioneiro.
280
2.35. Operações Cobertas e Clandestinas da CIA181
281
os factos recentes mais significativos, com um mês de existência, foram a
designada Nova Estratégia de Informações e a criação, precisamente no
quadro da CIA mas com um papel coordenador, do National Clandestine
Service (NCS). Esta designação formal, contudo, coloca um problema polí-
tico de natureza jurídica, obviamente em termos de direito internacional, e
note-se na coincidência da actual polémica sobre as prisões e os voos secre-
tos da CIA.
Para todos os efeitos, desde 2002, está em curso uma operação euro-
americana com sede em França, designada Alliance Base, que tem actuado
clandestinamente contra a al-Qaeda, de acordo com informações muito
superficiais vindas a público este ano. É muito provável que países aliados
mais pequenos tenham sido envolvidos, pelo menos logisticamente.
Está viva mais uma polémica nos Estados Unidos relativamente à forma
como a administração Bush está utilizar o sistema de informações na desig-
nada guerra contra o terror. Desta vez trata-se de um pacote legislativo que
uma recente comissão presidencial pretende ver aprovado no sentido de
serem conferidas ao Pentágono amplas competências no domínio da segu-
rança interna: por um lado, a atribuição aos agentes da DIA (Defense
Intelligence Agency) da faculdade de entrevistarem de forma coberta (isto
é, sem se identificarem ou assumindo uma identidade falsa), cidadãos ame-
ricanos em território nacional; por outro lado, a expansão do CIFA
(Counterintelligence Field Activity), um serviço criado em Fevereiro de
2002, na sequência do 11 de Setembro, com a missão específica de avaliar
ameaças e proteger pessoal, instalações e actividades do Pentágono a nível
interno e externo.
282
mam que já atingirão o milhar, cinco ou seis vezez mais, por exemplo, que
o número de analistas do novo departamento de segurança interna (home-
land security).
283
o sistema não deve ser politizado, sob pena de se quebrar a sua eficácia e
consequentemente vulnerabilizar o interesse e a segurança nacionais.
Neste contexto, é relevante o facto de Ernest Uhrlau, que até aqui ocu-
pava o cargo de coordenador do sistema – exercido a partir do designado
Departamento VI da chancelaria que supervisiona e garante a cooperação
entre os três serviços existentes (interno, externo e militar) -, ter passado
para director do BND, o serviço de informações externas. Ao contrário do
que possa parecer, não se tratou de uma despromoção. Ernest Uhrlau vai
gerir 6000 funcionários e um orçamento de 400 milhões de euros daquele
que, por exemplo no âmbito da NATO, é considerado um dos mais pode-
rosos e eficientes serviços.
Foi neste lugar que solidificou a sua reputação tanto a nível nacional
como internacional. Começou por recusar o estatuto de secretário de estado
que lhe cabia e conseguiu credibilizar o cargo que levava a imprensa a retra-
tar jocosamente o seu antecessor como “agente 008”. Mas, sobretudo, tor-
nou-se um especialista nas áreas do crime organizado e do terrorismo inter-
nacional, e adquiriu fama de extraordinário diplomata quando, no ano
passado, foi o principal protagonista da “operação céu azul e branco”.
Assim designada pelo BND, esta traduziu-se na intermediação da troca,
entre Israel e o Hezbollah, de cerca de quatrocentos prisioneiros palesti-
nianos e libaneses por um prisioneiro e três corpos de soldados israelitas.
No final do mês passado, foi também o responsável pela troca da arqueóloga
alemã raptada no Iraque por um elemento do Hezbollah detido na
Alemanha.
284
Alemanha no Médio Oriente através da complexa teia de ligações que
Ernest Uhrlau estabeleceu com os principais responsáveis dos serviços
secretos do Irão, com os actores-chave do regime da Síria, com os chefes
do Hezbollah e com operacionais dos grupos radicais islâmicos próximos
da al-Qaeda.
285
episódio recente dos espiões do MI6 que utilizavam pedras falsas num par-
que de Moscovo, para se corresponderem com informadores russos, mostra
não só essa realidade mas também que o jogo passou para um nível de con-
flitualidade diferente do que acontecia há já cerca de 15 anos.
286
Mas, de facto, é importante que as empresas desenvolvam uma cultura
de segurança e estejam atentas à possibilidade de serem alvo de recolha de
informações que poderão vir a prejudicar o seu desempenho. Todavia, é
necessário não perder a noção da realidade relativamente ao grau da ameaça
e respectiva definição.
Obviamente que esta actividade não pode resvalar em caso algum, atra-
vés das extraordinárias possibilidades oferecidas pela tecnologia, para a
violação daquilo que podemos chamar “segredo do negócio”, pois aí entrará
no domínio ilegal da espionagem económica. E há casos desses registados,
como o da Kroll, a maior empresa de competitive intelligence do mundo,
que há dois anos viu um dos seus funcionários envolvido num escândalo
de espionagem entre a Telecom Itália e a Brasil Telecom. No entanto, isto
não invalida o facto de que a metodologia legal da OSINT (open source
intelligence) possui a capacidade de gerar quadros analíticos de elevada
eficácia.
287
região, como é evidente, com a qual não possuímos qualquer ligação
tradicional ou capacidade operacional. Com efeito, em Portugal circulam
muitas notícias e informações sobre Angola ou Moçambique, em deter-
minados círculos, com um nível de credibilidade superior ao de qualquer
outro país. Por isso, uma das missões dos representantes dos serviços
estrangeiros é conseguirem aceder a essas informações. Cabe ao SIS
realizar a contra-espionagem.
288
Esta é, com efeito, uma área de acesso muito reduzido e restrito, caso
a caso, dentro dos serviços de informações. As operações requerem a assi-
natura de uma “declaração de segredo”, nas maiores e mais eficientes orga-
nizações, por parte dos “conhecedores”, independentemente da sua posição
hierárquica, com vista a impedir (ou responsabilizar, se fôr caso disso) as
fugas de informação. Aliás, frequentemente, a verdadeira identidade do
espião é conhecida apenas por um agente de ligação.
289
Outro caso, também recente, vindo a público por causa de uma nomea-
ção política, é o de Alain Juillet, que ocupa agora o recém criado cargo de
Alto Responsável pela Inteligência Económica no Secretariado Geral da
Defesa Nacional, orgão que se encontra sob a tutela directa do primeiro-
ministro da França. Alain Juillet, de 60 anos, ex-páraquedista, diplomado
em negócios por Harvard, com uma longa carreira de gestor, que incluiu a
direcção geral da Marks & Spencer em França, foi nomeado, para surpresa
de todos, antes de transitar para a actual posição, director da DGSE, os ser-
viços de informações externos franceses.
290
210 (a substância radioactiva que envenenou Litvinenko) em Londres, em
Moscovo e em Hamburgo, na Alemanha, local onde acabaram de ser detec-
tados vestígios na casa da ex-mulher de Dmitry Kovtun, adensando ainda
mais o mistério. A Scotland Yard já conseguiu também identificar vestígios
da substância noutros locais em Londres onde Kovtun e Lugovoy estiveram
dias antes de se encontrarem com Litvinenko: no Parkes Hotel, no Sheraton
e em dois escritórios de empresas de segurança cujos nomes não foram
revelados.
291
com a substância radioactiva Polónio 210. Os resultados da diligência não
foram porém revelados. A viúva do ex-espião, Marina Litvinenko, que vive
em Londres, já veio a público agradecer o esforço da Scotland Yard e
acusou as autoridades russas de terem tentado esconder num hospital os
principais suspeitos, Dmitri Kovtun e Andrey Lugovoy, sob o pretexto de
estarem contaminados. Recorde-se que, antes de morrer, o ex-espião acusou
o presidente Putin de estar por detrás do seu envenenamento.
Parece assim que, de dia para dia, todo este verdadeiro enredo de espio-
nagem se torna mais denso. Novas personagens têm entrado em cena, como
a jornalista Elena Tregubova, que veio revelar conversas que manteve com
Putin quando este, como director do FSB, dimitiu Litvinenko em 1998. Ou
292
como uma jovem e misteriosa russa a viver em Londres, alegadamente estu-
dante, chamada Yulia Svetlichnaya, que aparece a acusar Litvinenko de
extorquir dinheiro a políticos e homens de negócios russos. Ou ainda como
Oleg Gordievsky, ex-representante do KGB em Londres, aí actualmente
exilado, que reclama saber quem foi o assassino e alega que os serviços
britânicos também sabem.
Em 1994, foi expulso, de Moscovo, John Scarlett, que viria mais tarde
a dirigir o MI6 e que foi o responsável pela deserção de Vasili Mitrokhin,
o arquivista do KGB que entregou aos britânicos cópias de centenas de
dossiês secretos. Para acentuar a retaliação, os russos revelaram então o
caso à imprensa durante a sua viagem de regresso a Londres, e a sua iden-
tidade secreta tornou-se pública com uma fotografia que lhe foi tirada no
aeroporto de Heathrow.
293
Em 1996, o FSB (ex-KGB) detectou o diplomata Platon Obukhov a
operar como toupeira do MI6 e, em consequência, houve oito expulsões
de diplomatas acusados de espionagem, repartidas equitativamente entre
Moscovo e Londres. Condenado a 11 anos de prisão, Obukhov, cujo nome
de código era “Masterwork”, era filho do diplomata Alexei Obukhov, ex-
secretário de estado dos negócios estrangeiros da União Soviética e então
um dos principais negociadores do controlo de armamento nuclear.
294
nada “intelligence community”, composta por 16 serviços, e afectarão o
nível de eficiência que se pretende atingir após as falhas do 11 de Setembro
e do Iraque; para estes, não há tempo a perder quando várias parte do
mundo podem implodir a qualquer momento. Do outro lado estão os que,
pelo contrário, consideram que isto vai melhorar significativamente a pro-
dução de informações dos Estados Unidos e a sua utilidade para a tomada
de decisão política.
295
2.45. A Cruzada do Senador Rockfeller191
296
Mas esta autêntica cruzada do Senador Rockefeller pela moderação da
política externa americana tem um peso acrescido em Washington para
além da sua condição de presidente da Comissão de Informações. Jay
Rockefeller é um membro proeminente daquela que é uma das mais influen-
tes famílias dos Estados Unidos, tanto no domínio financeiro como no polí-
tico. O mais poderoso “think tank” privado da política externa americana,
o Council on Foreign Relations, está intimamente ligado ao patrocínio da
sua família, sendo presidente honorário o seu tio David Rockefeller.
297
ções, sobreviventes do antigo regime. Estes são considerados responsáveis
pelo facto de Ratko Mladic, acusado pelo massacre de sete mil muçulmanos
bósnios em 1995, ainda não ter sido capturado.
298
KGB recentemente envenenado em Londres, que conhecia pessoalmente,
teria sido assassinado a mando do governo russo. Em sua opinião, tratara-
se de uma mensagem enviada aos críticos de Putin de que serão calados,
não importa quem sejam e onde estejam.
299
2.48. A Espia de quem se Fala194
300
Bush de ter destruído a sua carreira, o que acabou por dar a tónica
política à sua intervenção, ligando-a à recente condenação de Scooter
Libby, adjunto do vice-presidente Dick Cheney, que todavia não foi
acusado de ser o autor da fuga de informação sobre a sua identidade
como agente da CIA.
301
a revelar uma fonte ao “grande júri”. E essa fonte era precisamente “Scooter
Libby”.
302
longo prazo. O seu número de agentes é desconhecido, mas estima-se que
ultrapassa a centena ou mesmo as duas centenas de milhar. É assim possível
que existam espiões chineses espalhados pelo Mundo na ordem das dezenas
de milhar, os chamados “chen diyu”, isto é, “peixes de águas profundas”,
com particular incidência nos Estados Unidos, sob a cobertura de estudan-
tes, comerciantes, homens de negócios ou donos e empregados de restau-
rantes, incluindo elementos da diáspora de segunda e terceira geração entre-
tanto recrutados. Por outro lado, uma imagem de marca dos serviços
secretos chineses é a “velha escola” do emprego de agentes femininas sedu-
toras.
O FBI, com os seus cerca de 13 mil agentes, está neste momento algo
enfranquecido no campo da contra-espionagem. A razão é que a atenção
da organização está principalmente centrada no contra-terrorismo desde o
11 de Setembro. E é claro que os chineses têm aproveitado a oportunidade
para intensificarem as suas acções. Contundo, nos últimos dois anos, o FBI
já deteve 30 cidadãos chineses sob suspeita de espionagem económica.
303
O último caso acabou de ser julgado durante seis semanas e aguarda agora
a leitura da sentença, cuja pena pode ir até aos 45 anos de prisão.
304
e, portanto, como uma ameaça elevada à sua segurança e interesse nacional.
De há cerca de quinze anos para cá têm por isso ocorrido vários confrontos
entre russos e britânicos (que têm aliás dado origem a uma literatura de
memórias, em especial de protagonistas russos, praticamente desconhecida
em Portugal), dos quais alguns merecem ser recordados para se compreen-
der o ambiente de rivalidade existente.
Em 1994, foi expulso, de Moscovo, John Scarlett, que viria mais tarde
a dirigir o MI6 e que foi o responsável pela deserção de Vasili Mitrokhin,
o arquivista do KGB que entregou aos britânicos cópias de centenas de
dossiês secretos. Para acentuar a retaliação, os russos revelaram então o
caso à imprensa, no momento em que Scarlett se encontrava no vôo de
regresso a Londres, e a sua identidade secreta tornou-se pública com uma
fotografia que lhe foi tirada no aeroporto de Heathrow.
305
O mais recente episódio das tensões anglo-russas compreende-se pois
neste contexto de ressurgimento progressivo e renovado da guerra fria,
envolvendo também os Estados Unidos e a União Europeia, desde logo no
que respeita a questões como a expansão da NATO para leste, o dossiê do
Kosovo ou a dependência de gás russo pelos países europeus. Para já as
consequências vislumbram-se no domínio essencialmente político, com
tendência para dificultar a presidência portuguesa, mas não se deve também
descurar o cenário possível das implicações económicas negativas para a
Europa e particularmente para o ambiente de negócios, como ameaça a
semântica crescentemente agressiva dos discursos.
3. Competitive Intelligence
Não há filme do 007 que passe sem a cena de James Bond a receber
as mais extraordinárias inovações tecnológicas da mão do cientista Q, que
se revelam depois imprescindíveis para a sua missão. Também aqui a ficção
se cruza com a realidade. No ano passado o Departamento de Ciência e
Tecnologia (DST) da CIA celebrou 40 anos de existência e nas suas insta-
lações encontrava-se uma exposição – aberta somente à “intelligence com-
munity” – onde era possível ver, por exemplo, pequenos insectos voadores
mecânicos – parecidos com abelhas e libelinhas – contendo aparelhos de
escuta e observação.
Nos finais dos anos 90, o DST concluiu que a velocidade e a dimensão
do fenómeno da inovação tecnológica era de tal ordem que a CIA teria de se
abrir à cooperação com a iniciativa privada para não ser ultrapassada. Foi
assim criada, em 1999, a In-Q-Tel – a primeira empresa não-secreta da CIA
– com o objectivo de investir na criação e desenvolvimento de novos produtos
relacionados com a actividade dos serviços secretos, estabelecendo parcerias
306
com universidades, laboratórios de pesquisa e companhias, frequentemente
pequenas, desconhecidas e recém-criadas. Obedecendo a um conceito origi-
nal e híbrido de cultura organizacional pública e privada, com 50 funcioná-
rios, a In-Q-Tel segue orientações anuais quanto às necessidades tecnológi-
cas mais prementes da CIA, particularmente no que respeita à ameaça
terrorista. Até ao momento já foram avaliadas cerca de 3.500 propostas de
empresas privadas, das quais 40 receberam investimentos na ordem dos 80
milhões de dólares.
307
radicado no Brasil desde 1975 – foi detido sob a acusação de ter levado a
cabo uma acção de espionagem que envolveu escutas telefónicas e inter-
cepção de “e-mails” privados de um ministro amigo do Presidente Lula da
Silva. Tiago Verdial afirma ter sido contratado pela Kroll – a maior e mais
conceituada empresa do mundo na área da “economic intelligence” -, por
sua vez contratada pela Brasil Telecom.
308
Relativamente a países, nomeadamente do chamado terceiro mundo, a Kroll
produz, de acordo com os seus próprios termos institucionais, “discreet yet
informed political access”, isto é, “relatórios de informações” confidenciais
sobre os núcleos da tomada de decisão político-económica.
309
gestão ofensiva da informação no desenvolvimento das actividades econó-
micas. A ambição maior da EGE é a substituição da geração de quadros
formados após a 2ª guerra mundial por uma nova geração de gestores
imbuídos destes conceitos à luz do patriotismo económico.
310
Foi esta metodologia que deu origem ao termo anglófono de competitive
intelligence e posteriormente ao francófono de intelligence économique,
reproduzindo ambos actualmente modelos concorrentes e altamente com-
petitivos de actuação na globalização económica em curso. A França, neste
momento, tem mesmo institucionalizado o conceito ao mais alto nível com
a figura do Alto Representante para a Inteligência Económica, sob a tutela
do primeiro-ministro, e está em curso nos meios militares e académicos, à
luz do patriotismo, a definição do conceito associado de guerra económica
como resposta ao que é visto como a globalização influenciada em grande
medida pelo eixo anglo-americano.
311
empresas não podem depender exclusivamente de informação externa se
querem de facto garantir um elevado nível de competitividade.
No caso da China, por exemplo, visto agora como um dos mais agres-
sivos competidores mas também como um dos mais apetecíveis mercados,
uma empresa portuguesa não conseguirá aí penetrar somente com infor-
mações e apoios governamentais. Só tomando em conta os condicionalis-
mos dos factores culturais, precisa sem dúvida de contratar os serviços de
uma outra empresa especializada que detenha conhecimento do terreno.
Mas será seguramente um erro estratégico se não filtrar, comparar e even-
tualmente corrigir ou completar, com os da sua própria unidade de infor-
mações estratégicas, os dados fornecidos por essa empresa especializada.
Além do mais, o custo de uma unidade deste tipo é muito reduzido.
312
blema das empresas quanto à recolha da informação “certa” nem da sua
correcta interpretação. O erro mais comum do desenvolvimento da business
intelligence pelas empresas é por isso o pressuposto de que o processo se
resume a um conjunto especializado de complexos algoritmos. É preciso
não esquecer que a matriz fundamental é o plano de informações estraté-
gicas e quando o processo não é bem compreendido, por mais inteligentes
e criativas que seja as soluções aplicadas, incluindo algoritmos, à informa-
ção errada, os resultados continuarão errados.
313
Porventura, por comparação, um exemplo para se compreender os limi-
tes da business intelligence, e da exclusiva dependência da tecnologia nas
informações estratégicas, está no desaire da falha do sistema de informações
dos Estados Unidos sobre as intenções de Saddam Hussein e dos seus
planos e capacidade efectiva em termos de armas de destruição em massa.
Os erros da prospectiva e da avaliação da situação levaram à ocupação do
Iraque e, com base num forte suporte tecnológico, a desvios continuados
de recolha, análise e disseminação de informações que levaram ao imbróglio
político e económico actual. Do ponto de vista financeiro, o problema
adquiriu proporções de tal forma gigantescas e dramáticas que alguns ana-
listas americanos consideram insolúvel. De uma estimativa inicial que não
chegava aos mil milhões de dólares, os custos da guerra do Iraque são hoje
avaliados ao nível do trilião de dólares.
Na passagem dos anos 70 para os 80, uma série de elementos dos ser-
viços de informações americanos, entretanto reformados, desdobraram a
economic intelligence (ainda centrada na guerra e nos complexos industriais
militares) em competitive intelligence, e depois em business intelligence,
criando assim um novo mercado especializado na área da consultoria, em
que, por exemplo a companhia norte-americana Kroll é líder mundial. O
caso da Kroll, aliás, é o reflexo da implantação crescente do conceito e da
sua evolução metodológica no seio das grandes empresas americanas.
Foi fundada por Jules Kroll em 1972 para fornecer serviços de consultoria
a departamentos de compras de grandes empresas. Formado nas prestigiadas
universidades de Cornell e Georgetown, Jules Kroll depressa visionou a apli-
cação do conceito de “intelligence” à actividade económica privada e, nos
anos 80-90, ganhou proeminência durante a “febre” das fusões e “takeovers”.
Mas a sua “coroa de glória” veio sobretudo com as investigações bem suce-
didas sobre os patrimónios secretos dos ditadores Jean Claude Duvalier,
Ferdinand e Imelda Marcos e Saddam Hussein. A Kroll chegou assim a 2004
com mais de 3 mil funcionários (número idêntico ao do MI6 britânico) e um
volume de negócios na ordem dos 485 milhões de dólares, altura em que foi
314
comprada por 2 mil milhões de dólares pelo grupo MMC (60 mil funcionários,
11 mil milhões de dólares de volume de negócios e clientes em mais de 100
países), líder mundial da corretagem de seguros, grupo no qual se encontra
integrada uma das mais importantes consultoras a nível mundial e um dos
maiores fundos de investimento dos Estados Unidos. Mas, o objectivo da
compra resultou do facto de a Kroll, nos últimos anos, ter desenvolvido o
conceito de “intelligence” sob múltiplas formas, entre as quais a recolha de
“informações” sobre o risco associado a processos de parcerias empresariais
e a investigação do passado (“background screening”) dos funcionários das
grandes companhias, incluindo o seu estado de saúde e a eventual utilização
de drogas. Relativamente a países, nomeadamente do chamado terceiro
mundo, a Kroll oferece serviços como a produção de relatórios de informações
confidenciais sobre os núcleos da tomada de decisão político-económica.
Uma obra pioneira publicada entre nós neste domínio, por portugueses,
é Competive Intelligence. Conceito, Práticas e Benefícios, em 2002, de
João Pedro Taborda e Miguel Duarte Ferreira. Trabalho ao que julgo saber
episódico dos autores como manual de ensino e divulgação, embora com
mérito, que referem logo no início da introdução que o termo pode ser tra-
duzido para português como inteligência competitiva, salientando no
entanto que é um bocado indiferente porque o que interessa é a metodologia.
Estes autores definem pois o conceito apresentando um conjunto de ele-
mentos que o caracterizam, e afirmam que falar apenas em concorrência
é redutor. Por isso a noção geral de que partem é a de que o objectivo da
competitive intelligence é “identificar as fontes de risco que podem ameaçar
o negócio” e isto leva a que uma organização esteja continuamente atenta
para responder às oportunidades e ameaças que a envolvem.
315
para lá da simplicidade original da metodologia dos serviços de informa-
ções. No caso americano, foi, como é óbvio, estimulante o mercado nacional
de grandes proporções, altamente competitivo, e a vontade e capacidade,
isto é, o poder de projecção internacional das empresas americanas. Por
isso penso que a competitive intelligence em toda a sua complexidade,
independentemente da exequibilidade da aplicação do conceito a diversas
situações nacionais e socio-culturais, é sobretudo aplicável às grandes orga-
nizações com estruturas internas e externas também altamente complexas,
como é o caso dos grandes grupos multinacionais.
316
Esta posição decorre do caminho que, desde há cerca de 10 anos, a
França tem vindo a percorrer no campo da guerra económica. As várias
instituições que entretanto foram criadas merecem portanto atenção, assim
como as que estão a ser criadas, na medida em que poderão vir a afectar,
nos vários sectores, empresas não francesas. E, neste sentido, é de acom-
panhar o pensamento e as iniciativas de Bernard Carayon que representa
neste momento o papel de principal estratega francês da guerra económica.
317
do conselho de administração do prestigiado Institut de Relations
Internationales et Stratégiques. O objectivo declarado é “produzir um pen-
samento operacional” e os fundadores são 10 grandes empresas francesas,
entre as quais a Alstom, a EADS e a Dassault Aviation.
Nos “Prós e Contras” desta semana, que teve José Maria Aznar como
convidado de honra, juntamente com Dias Loureiro e Ernâni Lopes, a certa
altura foi trazido a debate, pela apresentadora, a questão do papel das infor-
mações e dos serviços secretos nas relações económicas entre Portugal e
Espanha. Foi apontada a existência no SIS do designado Programa de
Segurança Económica (PSE) e passada a idéia de que este, tal como acon-
tece noutros serviços de informações estrangeiros, se destina a vigiar e
identificar ameaças empresariais externas à economia e às empresas por-
tuguesas.
318
Com efeito, na perspectiva económica, empresarial e competitiva,
é um erro crasso, e uma ignorância que se faz pagar cara a prazo,
pensar actualmente que a “intelligence” é assunto em que se não deve
mexer e que está sempre ligada à espionagem económica ou empresarial
ou industrial, como se lhe quiser chamar. Uma coisa é a espionagem
económica, outra as informações estratégicas (designação que, por opção
metodológica, prefiro utilizar) aplicadas à tomada de decisão, tanto nas
instituições públicas como nas organizações privadas, pensando sobretudo
nas empresas.
Julgo que é uma questão de tempo até que seja interiorizado em Portugal
que tanto no mercado nacional como sobretudo no mercado internacional,
para além da componente tecnológica e das que têm a ver com o produto
e a sua comercialização, são vitais informações estratégicas aplicadas à
tomada de decisão. E a produção deste género de informações, na sua
forma eficaz, obedece de facto a uma metodologia extraída dos serviços
secretos. Mas esta é hoje utilizada de forma legal em todo o mundo no tra-
tamento das enchentes de informação aberta que circundam as empresas.
Por isso, nisto, infelizmente, já temos alguns anos de atraso.
319
3.9. A Espionagem Empresarial206
320
de dados nos computadores onde se alojam. Mas é necessário estar também
vigilante quanto a outras formas de espionagem de dados em computadores,
como foi o caso recente do casal israelita Michael e Ruth Haephrati, com a
sua empresa Target Eye Limited, baseada em Londres. O esquema passava
por uma proposta de um negócio vantajoso de software a gestores de topo,
aos quais era oferecido um CD exclusivo de demonstração que, contornando
desta maneira as firewalls, instalava um troiano muito dificilmente detectá-
vel. Ao todo, executaram cerca de 100 “projectos” antes de serem presos.
321
mundo em processo de globalização e crescentemente competitivo. O mer-
cado das empresas de intelligence, e de uma maneira geral de segurança,
nas suas várias modalidades, está pois em franco crescimento na Europa,
replicando o que vem acontecendo desde há já pelos menos duas décadas
nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Para além dos serviços neste domínio prestados por empresas especia-
lizadas e por uma série de Consultoras que incluem no seu pacote a oferta
de estratégia e intelligence (chamando-lhe ora business ora competitive ora
market), existem também as designadas private security companies (PSC)
cujo campo de actuação e expansão prioritária se situa no espaço dos com-
plexos industriais militares tutelados pelos Estados. A privatização e o out-
sourcing de determinadas funções até aqui exclusivamente detidas pelos
Estados é já um modelo aceite por americanos e britânicos, mas não ainda
na generalidade dos países europeus. Todavia, como se verifica uma ten-
dência de crescimento internacional deste sector, estão a ocorrer movimen-
tos de pressão das PSC sobre a União Europeia no sentido de ser adoptado
o modelo anglo-americano.
322
destas empresas, é provável que redireccionem parte das suas actividades
para a business e competitive inteligence.
323
está a crescer o interesse e correspondente debate, sobretudo nos meios aca-
démicos e militares, em tôrno deste conceito aplicado às empresas, no seu
leque de variantes. Há duas semanas atrás, por exemplo, Didier Lucas, director
de estudos da École de Guerre Économique, bastião francês do ensino da
inteligência económica, esteve em Portugal, onde visitou a Edisoft, a AIP e a
SEDES, tendo proferido aqui uma conferência para cerca de 20 pessoas orga-
nizada pelo Grupo de Trabalho de Inteligência Competitiva.
324
Por isso, embora ainda insuficientemente, algo está a mexer nesta maté-
ria em Portugal, e é provável que as novas gerações de gestores portugueses
venham no futuro a utilizar naturalmente a intelligence como ferramenta
de gestão. Mas, para já, aqueles que a começarem a adoptar, obviamente
que adquirirão capacidade de antecipação e vantagem competitiva.
325
vável é a da construção progressiva de uma rede heterogénea de produção
de informações estratégicas envolvendo instituições públicas, empresas e
associações. É um movimento crescente que já cobre os grandes grupos
económicos, os quais criaram ou uma unidade ou departamento de inteli-
gência económica, função transversal nas organizações sob essa designação
ou outra, como a de direcção de desenvolvimento ou de estratégia.
326
IV – UMA PERSPECTIVA DE PORTUGAL
NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
327
Por outras palavras, a imagem político-económica tem um tempo ace-
lerado que acompanha, em flutuações de curto prazo, os altos e baixos da
estabilidade política e do clima económico. A imagem socio-cultural tem
um tempo demorado, geracional, a longo prazo, que estrutura de modo con-
solidado a imagem que os outros fazem de nós. E esta última, particular-
mente no que respeita a Portugal, assenta em fundamentos históricos de
desinformação internacional da cultura portuguesa, cuja exposição deta-
lhada não cabe aqui neste espaço.
328
tividades, a imagem de Portugal não é a de um parceiro imediata ou automa-
ticamente privilegiado no sentido de uma ligação de negócios “a toda a
prova”. Na verdade, nos mercados mais importantes do Brasil, Angola e
Moçambique, os favorecimentos são casos de excepção. As empresas portu-
guesas valem o poder e dinheiro que têm. A CPLP é ainda uma comunidade
virtual que não congrega uma sinergia lusófona económica, uma Lusofonia
potenciadora de uma visão de empreendorismo conjunto a nível internacio-
nal. O complexo anticolonialista ainda está pois vivo, quer subtil quer subli-
minarmente, numa parte relevante das elites locais.
Por esta razão, não será porventura má ideia reforçar os estudos secto-
riais de mercado com uma análise global da situação da imagem externa
de Portugal nos países-alvo prioritários, para começar, e com um programa
de avaliação da eficácia das campanhas de promoção para se afinar estra-
tégias e conceitos operacionais.
329
No que respeita pois à nossa identidade nacional, o cenário é optimista
pois temos de ter presente que 30 anos de História representam apenas 3%
de 900 anos, e que portanto, partindo deste perspectiva estatística e fria,
nos encontramos apenas numa fase de turbulência. Isto contraria a visão
negativista com que uma parte influente das elites portuguesas, em parti-
cular os “opinion makers”, têm tratado o nosso Passado recente e antigo.
Porém, faz também parte da nossa identidade nacional a tendência de valo-
rizar o que se faz ou que vem, como é costume dizer, lá de fora. E assim
frequentemente se esquece ou subalterniza o que se faz cá dentro. Numa
perspectiva estratégica, isto fragiliza-nos o nosso poder anímico e conse-
quentemente a nossa afirmação colectiva que, de forma indelével, sustenta
a projecção internacional das nossas empresas.
330
básica que num ambiente de formação universitária. É pois uma questão
de tempo. Para alguns, mais impacientes, tudo está a acontecer muito len-
tamente, e não deixam de ter razão. Dar tempo ao tempo é mais uma carac-
terística antiga da nossa identidade cultural que oferece inúmeras resistên-
cias ao stress anglo-saxónico do tempo é dinheiro.
331
geográfica, nem a do conceito de comunidade lusófona para definir o pro-
jecto de organização formal dessa realidade. Ao termo lusofonia parece que
tem andado associado, no âmbito de uma parte substancial das elites dos
países africanos lusófonos, porventura com excepção de Cabo Verde e
Timor, um sentido pejorativo de neocolonialismo por parte de Portugal.
Com efeito, semanticamente o vocábulo luso tem sido uma causa impor-
tante desse princípio de dissociação, porque de algum modo, numa das
interpretações possíveis, confere à priori a Portugal um estatuto ascendente
numa situação de relacionamento que se pretende igual. O Brasil, por seu
turno, tem mesmo utilizado frequentemente no discurso oficial o conceito
de países de língua comum, naquilo que pode ser entendido como um pres-
suposto de não reconhecimento de uma “vantagem competitiva” de Portugal
no processo de liderança da comunidade lusófona.
332
considerar como exemplo óbvio a sua própria experiência no domínio de
determinadas relações pessoais. Mas globalmente não parece ser posssível
afirmar que a fórmula “comunidade de afectos e interesses” funcione auto-
máticamente como conceito mobilizador de pessoas, grupos e institutições
no sentido da aceleração dos processos. Os factos têm-nos revelado que
pelo menos no campo das lideranças existem certas incompatibilidades que
têm provocado desencontros e adiamentos.
Há uma pequena anedota que diz que enquanto os militares dão a vida
pela pátria, os diplomatas dão o fígado. Vem isto a propósito do ressurgi-
mento do discurso da diplomacia económica que andava meio adormecido
desde o tempo do ministro-embaixador Martins da Cruz e da respectiva
crítica à chamada diplomacia do croquete. A sugestão é de que os diplo-
matas se encerram de tal modo nas recepções e cocktails, e nas questões
meramente políticas, que descuram um conjunto de tarefas necessárias à
captação de investimento estrangeiro e à projecção económica de Portugal.
A crítica é justa por um lado mas injusta por outro. É justa porque a
atitude dos diplomatas portugueses, conforme é correntemente percepcio-
nada, em particular no seio das comunidades portuguesas, roça em muitos
casos a sobranceria e está repleta de maneirismos de comportamento e lin-
guagem que cria fossos de comunicação. É injusta – e isto é uma verdade
elementar bem antiga, desde aqui à mais remota tribo – porque é nos
eventos sociais gastronómicos, passe a expressão, que se criam dinâmicas
333
facilitadoras ou solucionadoras ou empreendedoras de negócios e interesses
comuns entre partes. Aliás, este enfoque no adjectivo económico da diplo-
macia não acrescenta nada de substancialmente novo, em termos concep-
tuais, àquilo que é a função mais tradicional dos diplomatas. Até parece
esquecido o facto, tão evidentemente expresso na língua portuguesa, de que
aos diplomatas cabem os “negócios estrangeiros”. Afinal, o discurso da
diplomacia económica é ou não redundante? E o ICEP e a API não são
instrumentos especializados dos “negócios estrangeiros”?
334
facto a projecção internacional das empresas e dos produtos portugueses. E
os empresários que efectivamente possuem uma atitude empreendedora
sabem que não podem depender do Estado para serem competitivos.
335
A primeira fase é a do difícil reatamento de ligações com os PALOP,
após uma descolonização “traumática” tanto para os colonizadores como
para os colonizados. O sistema da cooperação portuguesa começou a ser
formalmente esboçado no último dia do ano de 1974, quando foi criado,
junto da Presidência da República, o Gabinete Coordenador para a
Cooperação, ao mesmo tempo que a Comissão Nacional de Descolonização.
O Gabinete Coordenador para a Cooperação pretendia ser o núcleo central
de estudo, programação e acompanhamento das acções de cooperação dos
“diferentes departamentos de Estado” e ser também por estes informado
das “variadas matérias que hajam de constituir objecto de acordos de coo-
peração a negociar com os novos países”.
336
Para consolidar o desejado reatamento das ligações, estabeleceu-se tam-
bém na época o método das consultas mútuas regulares e das comissões
mistas, mas nos finais dos anos 70 a dinâmica ainda não se encontrava
minimamente implantada. Reajustamentos constantes, à velocidade da
sucessão de governos, deram origem a um conjunto de instituições de dura-
ção limitada que se sobrepuseram nas suas competências, traduzindo na
verdade uma efectiva descoordenação do sistema. Como medidas tendentes
a solucionar o problema, a reestruturação do Instituto para a Cooperação
Económica (ICE) e a criação da Direcção Geral de Cooperação (DGC), no
final de 1979, e a institucionalização da Secretaria de Estado da Cooperação
e Desenvolvimento em 1981, representaram a tentativa de estabelecimento
de um núcleo eficaz de coordenação do sistema no MNE.
337
é parte intrínseca da cultura portuguesa. Por outras palavras, a cultura por-
tuguesa revela uma tendência histórico-sociológica no sentido da integração
de elementos culturais diferentes, indubitavelmente em grau muito mais
elevado que outras culturas como, por exemplo, a espanhola, a francesa, a
britânica ou a variante americana. Basta comparar, a partir de dados demo-
gráficos actualizados, a dinâmica de integração social do sistema brasileiro
com a do americano para se constatar a validade da observação. É a dife-
rença entre a convivência social que gera o multiculturalismo integrado e
a coexistência social que gera o multiculturalismo segregado.
338
capacidade de desenvolver com os nossos próprios meios. A transferência
de tecnologia avançada é hoje para nós absolutamente fundamental. Mas
por que é que isso tem de ser feito entre universidades e instituições privadas
estrangeiras e o Estado português, que aparece assim como um tipo com-
binado de intermediário, moderador e relações públicas? Uma coisa é o
plano tecnológico enquanto política governamental programada de desen-
volvimento, outra deve ser a cooperação universitária e outra ainda a con-
tratação de serviços a empresas, nacionais ou estrangeiras, para a moder-
nização da administração pública.
339
Na perspectiva do Estado, verificou-se globalmente com as
Independências uma descontinuidade num dos seus elementos: o governo.
No entanto, ao isolarmos este elemento para efeitos de análise, essa descon-
tinuidade assume a forma de ruptura ao observarmos a mudança no aparelho
do poder e na sua imagem e ideologia. Relativamente ao aparelho do poder,
essa mudança não foi abrupta pois se recorreu ao método dos governos de
transição e daí decorreu uma adaptação do novo aparelho governativo à
variedade e especificidade das funções administrativas e burocráticas do
Estado. Porém, no conjunto dos Países Africanos Lusófonos, a ideologia
constituíu desde o início, explícita ou implícitamente, um imperativo de rup-
tura Após o período de turbulência que se viveu após o momento da
Independência, os funcionários públicos, desde os escalões mais baixos,
muitos deles, senão a maioria, formados na época colonial, asseguraram
na medida do possível o funcionamento corrente da Administração, nor-
malizando-a no sentido dos expedientes conhecidos. Por outras palavras,
asseguraram a continuidade do aparelho de Estado colonial por intermédio
dos processos estabelecidos pelo Direito colonial que não sofreram revo-
gações revolucionárias.
340
académicos “abrilianos” e estrangeiros de esquerda (leia-se extrema), que
monopolizaram os estudos africanos lusófonos após as Independências,
lhes lançaram o anátema de coloniais-fascistas. Contudo, qualquer empresa
que se projecte hoje para a África lusófona extrairá deles conhecimento e
uma correspondente vantagem competitiva.. O leque é variado, desde as
pragas agrícolas até aos planos de desenvolvimento regional, passando
pelos problemas de absentismo e instabilidade da mão-de-obra, pelas comu-
nicações, transportes e circuitos comerciais. Recorde-se, por exemplo, que
a economia de Angola era uma prioridade da política colonial.
341
ficado é a articulação da ajuda bilateral com a multilateral. É meramente
uma pretensa “buzzword” com intenções mobilizadoras. Por outro lado,
aponta a criação de uma nova instituição financeira que virá dinamizar o
sistema e será parceira do Banco Europeu de Investimentos. Face aos ante-
cedentes, é preciso ver e também aceder para crer.
342
competitivos que em qualquer outro lugar do mundo. Mas esse avanço deve
ser sustentado em informações estratégicas, as quais, se as empresas não
as puderem desenvolver no seu seio, poderão ser disponibilizadas numa
plataforma comum (de acesso livre e/ou restrito) alimentada por uma uni-
dade de produção numa universidade com competência para o efeito.
9. A Oportunidade Africana218
343
vamente subalternizada pela política europeia. Como consequência, não foi
realmente montada até hoje uma plataforma consistente de projecção das
empresas portuguesas para África.
344
cionais programas de educação. Ao mesmo tempo avisou que haverá “tole-
rância zero” relativamente a esquemas de corrupção em África envolvendo
dinheiros do Banco, e os líderes políticos e empresários africanos e não-
africanos serão responsabilizados por qualquer eventual ligação directa ou
indirecta aos negócios dos terroristas.
Na prática, os Estados Unidos estão aplicar a política trade not aid, que
já vinha do presidente Clinton, cuja percepção macro de África era a de
um potencial mercado de 700 milhões de consumidores, do qual já pos-
suíam uma quota próxima do 10%, que se traduzia em cerca de 10.000
empregos americanos.
Está a ocorrer uma onda de grande interesse pelos negócios que poderão
ser feitos em Angola, sem dúvida por causa da paz que cada dia se vai conso-
lidando, não obstante a democracia ainda limitada, mas sobretudo pelas
potencialidades à vista num vasto leque de sectores. O crescimento previsto
para o corrente ano é superior a 25%. É neste clima que se realiza na próxima
semana a visita do primeiro-ministro de Portugal e, por isso, conforme foi
revelado, mais de trezentas empresas queriam integrar a comitiva. Esse privi-
légio só foi atribuído a oitenta que se encontram já a operar no terreno.
345
Esta semana, por outro lado, teve lugar uma conferência de dois dias
sobre negócios em Angola e Moçambique, do sempre atento e activo
Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, onde a onda foi analisada,
perante uma vasta e interessada audiência, por um selecto painel de oradores
convidados: representantes de câmaras de comércio e associações empre-
sariais, consultores, embaixadores e reputados africanistas estrangeiros.
Um ponto crucial foi a tónica transversal das comunicações, principalmente
de portugueses e africanos, no problema da falta de visão estratégica de
grande parte dos nossos empresários e igualmente a falta ou insuficiência
de informações sobre o terreno.
De um modo geral falaram neste problema com base nas suas respec-
tivas experiências pessoais, e houve mesmo um orador que falou de um
caso concreto, enfim, com um certo “fair play”, porém incomodado com
a ameaça chinesa em Angola (coisa que os angolanos ripostaram in loco
não temerem). Revelou ele que durante dois anos, até há duas semanas,
estava plenamente convencido de que o processo da refinaria do Lobito iria
passar por uma sociedade de advogados portugueses, em representação de
americanos, gerando dividendos na ordem do milhão de euros. Todavia, o
processo passou para uma sociedade de advogados britânicos em represen-
tação de chineses.
346
campo problemático de interesses complexos que a prazo se reflectem nega-
tiva e gravemente na vida das empresas.
347
No que respeita aos outros, estrangeiros, incluindo os lusófonos, a imagem
negativa suplanta em grande medida qualquer imagem positiva que de nós
possam ter. Basta ler a generalidade das Histórias, escritas desde o 25 de
Abril, para ver a forma totalmente negativa como Portugal é apresentado.
348
de que o nível do patriotismo português não se pode comparar com o ameri-
cano, o francês, o inglês, o alemão ou o espanhol.
349
Infelizmente esse processo está muito atrasado em Portugal, mais um entre
inúmeros factos de verdadeiro subdesenvolvimento que parecem dar razão
àqueles que falam na nossa fatalidade histórica, em que não acredito. De
um ponto de vista realista, é antes um problema maior de cultura nacional,
de sociologia de Portugal (note-se que não digo portuguesa), que não cabe
agora aqui tratar.
350
matizá-la; todos a afirmam como importante; e quase todos a pretendem
(de facto ou virtualmente) gratuita (...) uma situação caracterizada por
baixos níveis de consciência, responsabilidade e profissionalismo”.
351
Ouvi também dizer naquela mesma ocasião que se deveria até agregar
a figura prestigiada do presidente da república (e de outras personalidades
com credibilidade internacional) às campanhas de promoção de Portugal.
Não me parece que isso venha a produzir resultados. Pelo contrário, poderá
desencadear um efeito de boomerang se a imagem replicar a atmosfera da
fotografia oficial. Um povo triste e nostálgico, com mulheres vestidas de
negro, é ainda uma forte carga histórica que temos de carregar como este-
rótipo. Por outro lado, é contraproducente porque a melhor propaganda é
aquela que não aparenta ser, de acordo com as velhas leis da propaganda,
porque é disso que estamos efectivamente a falar,
Longe vai o tempo em que éramos alvo de grande curiosidade por parte
do mundo e vistos com respeito. Foi o tempo da Utopia de Thomas More,
no princípio do século XVI, na qual a principal personagem era um por-
352
tuguês, Mestre Rafael Hitlodeu, que detinha um conhecimento global e
maior e dissertava ao longo da obra sobre a forma ideal de organizar a
sociedade. Essa imagem de procura da excelência ficou perdida no tempo,
mas importa não esquecê-la.
353
de obras basta ir ao amazon.com. Para escolher uma melhor entre tantas,
ver por exemplo “Economic Espionage and Industrial Spying”, com estudos
de vários especialistas e publicado pela Cambridge University Press em
2004. Por outro lado, mais importante que tudo o resto, o PSE alerta para
um cenário vago de ameaças a Portugal, cuja definição seria porém mais
desejável do ponto de vista da política da transparência, da correspondente
informação efectiva dos cidadãos, e que não beliscaria em qualquer
momento o indispensável segredo de Estado que é necessário preservar
nesta matéria. Face ao alerta, as perguntas que ficam sem resposta são:
Qual é o grau da ameaça? É alto, médio ou baixo? Em que sectores? Donde
vem? Quantos casos foram detectados? Quantos casos foram denunciados?
354
15. Xenofilia224
355
informação cultural. Sob este ângulo vemos que as relações internacionais
são, antes de mais, relações culturais internacionais, isto é, entre percepções
etnocêntricas e mundovisões diferentes, e estas por sua vez são relações
entre poderes culturais nacionais, ou seja, entre capacidades efectivas de
projecção de culturas e respectivas idéias e modos de vida.
Parece que as gerações mais novas nunca ouviram falar dos “amigos de
peniche”. Foi coisa que se deixou de falar na escola. E as que ouviram são
precisamente da área de Peniche, que vêem a História pregar-lhes a partida
356
de ter mudado o significado à expressão, conotando-os a eles próprios com
os atributos negativos da falsidade e deslealdade. A câmara municipal orga-
nizou mesmo, no passado dia 27 de Maio, uma dramatização pública da rea-
lidade dos factos históricos com o objectivo declarado de contrariar a ten-
dência, sentida pelos penichences, do estigma daqueles atributos.
Vem tudo isto a propósito dos ataques da imprensa inglesa à selecção por-
tuguesa. O mínimo que se pode dizer é que, depois de tantos séculos a “dar a
volta” aos Portugueses, os ingleses estão nitidamente com medo de nós e usam
todos os “truques sujos” – eles sim, nós não – para verem se não são derrotados
no futebol, um dos seus maiores orgulhos nacionais. Uma ironia do destino é
que já lá têm aquele “arrogante” treinador português a ganhar tudo. Porventura,
se não estivessem com medo e inseguros, e pelo contrário se sentissem con-
fiantes, adoptariam uma atitude cultural característica: quanto mais quisessem
ganhar, mais se esforçavam por mostrar que não se importavam de perder.
Uma astúcia de raposa. Mas é um facto que o treinador não é inglês.
357
Será que, lá para aquelas bandas, vencer agora Portugal é vencer indi-
rectamente Mourinho? Primeiro, tentaram roubar-nos o nosso treinador “à
boca da baliza”. Agora, mostram a fotografia da “marradinha” do Figo e
fazem um pé-de-vento. Parecem desesperados e nós não podemos pecar
por excesso de confiança. A resposta de Pauleta foi por isso muito adequada,
para além de orgulhosa mas serenamente patriótica.
358
das campanhas de promoção efectuadas, para se afinar estratégias e con-
ceitos operacionais. Navegamos à vista sem roteiros nem referências.
359
Não é por acaso que no campeonato mundial de futebol surgiram acusa-
ções de sermos violentos e fazermos teatro, isto é, sermos aldrabões. É a
conotação de uma imagem cultural percepcionada, por essa Europa fora,
como visão negra dos Descobrimentos protagonizados por marinheiros escla-
vagistas, missionários católicos obscurantistas e comerciantes sem escrúpulos.
Alguém duvida? Então que veja o filme A Missão, com Robert de Niro, e pro-
vavelmente compreenderá a força com que essa imagem está “colada” e o
impacto que um produto cultural desta natureza tem na audiência.
360
sos argumentos, desde a invisibilidade da organização em crises do mundo
lusófono, como a da Guiné-Bissau ou recentemente de Timor-Leste, à irre-
levância das parcerias de negócios e dos projectos conjuntos de desenvol-
vimento; ou até – problema complexo – à inexistência de um estatuto do
cidadão lusófono e de livre circulação na Comunidade.
361
parece assim hoje um grupo de amigos que querem “comer à grande e à fran-
cesa” mas que no final, sem dinheiro no bolso, passam a conta de uns para os
outros. A propósito, não é uma vergonha que as limusines em que se vão des-
locar os Chefes de Estado lusófonos na Guiné-Bissau, na comemoração do 10º
aniversário da CPLP, tenham sido emprestadas pela Líbia?
Nós, que tantas coisas copiamos do estrangeiro, quantas vezes com pre-
juízo da nossa criatividade e do desenvolvimento das nossas capacidades,
foi pena não termos aprendido nesta matéria, por exemplo, com o movi-
mento da Francofonia. Em primeiro lugar, este teve na base a criação, no
Canadá, em 1961, da AUPELF-UREF (Association des Universités
Partiellement ou Entièrement de Langue Française-Université des Réseaux
d’ Expression Française). Depois, em 1970, foi criada a ACCT (Agence de
Coopération Culturelle et Technique) com o objectivo de dinamizar a cul-
tura, educação, comunicação, direito e economia, e, em 1987, o BIFFA
(Bureau International du Forum Francophone des Affaires. Só em 1991 é
que foi criado o CPF (Conseil Permanent de la Francophonie) para reforçar
o seu peso na comunidade internacional.
362
os partidos de referência - era então o único que não contemplava a pos-
sibilidade de se avançar para uma, como então se dizia, sociedade socialista.
“Patrão” passou a ser sinónimo de “fascista”, e só a seguir ao 25 de
Novembro, que apenas moderou a deriva esquerdista, é que a iniciativa pri-
vada foi temperada com a palavra “empresário”. E assim se entrou na eco-
nomia de mercado – incompletamente, é certo –a olhar para a Europa.
363
manteigueiro e subserviente, daquele que não faz ondas, que não chega
nunca a congregar respeito nem conseguir os seus objectivos.
Contudo, nos últimos anos, foi desenvolvida uma área de reflexão, pra-
ticamente desconhecida da maioria dos portugueses, que radica na nossa
tradição mais profunda de crescimento e desenvolvimento económico e
social: o mar. O trabalho de síntese, que se encontra editado e circula res-
tritamente, é modelar enquanto exercício de análise da situação e orientação
prospectiva. É, porventura, o melhor conceito estratégico nacional que
alcançámos desde o 25 de Abril.
O grande poema do mar, que são Os Lusíadas, foi escrito por Camões com
o orgulho de um homem que faz parte de um povo com um passado e um carác-
ter inigualável, prenhe de humanismo e universalismo, como tão bem captou
Thomas More na Utopia. Não é extraordinário que a principal personagem
364
deste livro tão marcante seja o português Rafel Hitlodeu, nobre e marinheiro,
que ao longo das páginas discursa àcerca da melhor constituição de uma repú-
blica? (O livro é ficção, é certo, fruto da criatividade de Thomas More, mas a
predominância do português é um facto, passível de ser aproveitado na projec-
ção actual da imagem de Portugal, com o mar em primeiro plano...)
Para se ter uma idéia da dimensão, veja-se que o mar sob jurisdição
portuguesa é dezoito vezes superior ao nosso território continental e insular
e equivale a mais de metade do mar do conjunto dos países da União
Europeia. Só no que respeita aos transportes, por exemplo, temos um
tráfego marítimo anual superior a meia centena de milhões de toneladas de
carga e, nos portos nacionais, transitam mercadorias num valor que se apro-
xima dos cinquenta mil milhões de euros.
365
público em 2004, “O Oceano. Um Desígnio Nacional para o Século XXI”.
É um documento de circulação algo restrita, uma vez que foi editado de
forma não comercial, mas que é facilmente acessível através da internet
em sites universitários, como é o caso do da Universidade dos Açores. Foi
um trabalho elaborado numa perspectiva nacional, independente, congre-
gando múltiplas contribuições de especialistas e personalidades de reco-
nhecido mérito, mas cuja qualidade é em grande medida devida ao coor-
denador, Tiago Pitta e Cunha, que agora faz parte da equipa do comissário
europeu para as pescas.
Entretanto, há coisas que já podiam ter sido feitas há muito tempo. Por
exemplo, por que razão, até hoje, não há representação visível de veleiros
portugueses nas mais conceituadas regatas internacionais? É falta de defesa
da nossa honra, ou no mínimo de brio, que isso não aconteça, quando temos
o passado de grande nação marinheira. Projectaríamos uma imagem dis-
tintiva de Portugal, congregando não só simpatia mas também admiração,
com reflexo nos negócios.
“De Espanha não vem bom vento nem bom casamento”. Este dito está
arreigado na cultura popular portuguesa e traduz uma atitude generalizada
de desconfiança secular em relação aos também por nós chamados, muitas
vezes em tom algo jocoso, “nuestros hermanos”. Tradicionalmente as nossas
elites – políticas, económicas e culturais – dividem-se quanto ao assunto,
perfilando-se nos campos opostos do sim ou do não ao iberismo, palavra
que entretanto crismou a vontade daqueles que querem unir Espanha e
Portugal.
366
Foram os partidários do não que criaram, no século XIX, a Sociedade
Histórica da Independência de Portugal, a qual desde logo se dedicou a ani-
mar as comemorações do 1º de Dezembro de 1640. Ainda hoje é assim, mas
a cerimónia anual na Praça dos Restauradores é uma triste caricatura de
outros tempos, quando o Presidente da República, em cortejo, dignificava o
acto com a assinatura do livro de honra na sede da Sociedade, no Palácio da
Independência, ali ao Rossio. O ex-Presidente Jorge Sampaio esvaziou-a de
significado ao não cumprir deliberadamente esta tradição, que considerava
descabida nos tempos que correm das relações luso-espanholas.
Por isso, quando hoje alguém fala em Espanha como uma ameaça, a
tendência é a de desvalorizar imediatamente tal idéia e considerá-la ino-
portuna. Porventura, o sentimento é o de que a simples ponderação da
ameaça possa fazer emergir ou animar um qualquer movimento “reaccio-
nário” ou incómodo, como o daqueles que ainda reclamam a devolução de
Olivença; ou então que possa de algum modo atrapalhar as relações luso-
espanholas, o que remete para uma espécie de “política da manteiguice”,
essa sim descabida.
367
Contudo, a oportunidade que de facto se nos apresenta na relação com
Espanha não nos pode deixar adormecer à sombra da idéia de que se trata
de um país “amigo”, ou mesmo “irmão”, que, por essa razão, nos fará con-
cessões em termos de competitividade. Importa por isso, ao lado da opor-
tunidade, e sem prejuízo das boas relações, avaliar a ameaça que a Espanha
também representa para a projecção económica de Portugal.
368
ples doacção de fundos para projectos de desenvolvimento em África não
se tem traduzido em casos de sucesso, mas sim no esbanjamento descon-
trolado de dinheiro e no enriquecimento desavergonhado de uns quantos,
a partir de situações de pobreza e miséria indescritíveis.
369
desenvolvimento em África. Existe um enorme acervo de estudos coloniais
à espera de quem os consulte, tendo para tal simplesmente de percorrer os
caminhos da investigação para lá chegar, e um exemplo a apontar é sem
dúvida os célebres planos do fomento ultramarino. Mas atenção à concor-
rência: há notícias de estrangeiros que começam a percorrer esses caminhos,
ultrapassando o problema da língua com a contratação de portugueses ou
de quem saiba português.
A Universidade foi uma das instituições que, a partir dos anos 60, mais
infiltrada foi por homens e ideias comunistas e toda a panóplia de variantes
de extrema esquerda. Em Portugal, isso aconteceu obviamente depois de
1974 e a deriva libertária foi intensa, muito facilitada, é certo, pelo anterior
ambiente de repressão da autonomia de pensamento que é característica do
ideal universitário. Muitos jovens, e outros não tanto assim, voltaram do
estrangeiro para ocuparem os lugares dos professores então saneados, como
se dizia na altura, como “ fascistas”.
370
anos, e muitos problemas estruturais de Portugal, nomeadamente no ensino,
são consequências da situação.
Um dos campos onde se fez sentir esta realidade foi o das ciências
sociais, com particular incidência na história e na economia. Especialmente
atingido foi o ensino e investigação sobre a África, que passou a ser con-
siderado descartável no panorama universitário, uma vez que se tratava, de
acordo com a mentalidade da época, de um resquício do “colonial-fas-
cismo”. É por isso que encontramos um hiato nos estudos africanos por-
tugueses entre 1974 e meados dos anos 80, período durante o qual predo-
minaram os trabalhos condenatórios do colonialismo, em regra laudatórios
dos regimes marxistas e corruptos e inúteis enquanto investigação sobre o
desenvolvimento económico e social do continente africano.
371
nuaram a manter o seu espaço de manobra universitário. Ninguém foi des-
pedido por ser marxista, nem tal evidentemente deveria acontecer, mas a
verdade é que hoje ocupam lugares estratégicos no sistema universitário
que lhes confere poder de controlo da progressão das carreiras académicas,
da apresentação de comunicações a congressos e, sobretudo, da atribuição
de financiamentos à investigação sobre África, por parte das instituições
competentes, com dinheiro dos contribuintes portugueses. Os camaradas
sobreviveram e, neste ambiente, continuam a poder formar as suas clientelas
- e fazem-no sem escrúpulos – conforme bem entendem.
O tempo dirá se esta opção é a mais correcta ou não, mas Angola não
é certamente neste momento um país a desconsiderar em termos de pro-
jecção económica de Portugal e é francamente discutível se não deverá ser
372
a prioridade da política externa portuguesa. Veja-se só de relance este
número: 31,4% de crescimento económico previsto para 2007, ultrapas-
sando todas as expectativas, conforme veio afrimar esta semana o Fundo
Monetário Internacional. Nenhum outro país em África atingirá os dois
dígitos. Em 2008, terá uma produção de petróleo na ordem dos 2 milhões
de barris por dia, preenchendo cada vez mais a procura dos países impor-
tadores, e Angola será tanto mais importante neste sector quanto maior fôr
a instabilidade na Nigéria.
373
25. Propaganda de Portugal234
Há quase cinco anos atrás o ICEP realizou um estudo que revelava que
Portugal era associado a “atraso” e não era diferenciado nos mercados-alvo.
O problema da imagem do nosso país foi então explicado como sendo um
resultado combinado de baixa produtividade, inveja, derrotismo e mesqui-
nhez. De uma penada, o ICEP traçou um perfil do nosso carácter nacional –
complexa questão antropo e psico-sociológica – e chegou assim à conclusão
de que iria pôr em prática o projecto da Marca Portugal e lançar uma campa-
nha a nível nacional apelando à auto-estima, à ambição e à iniciativa. Mas, já
agora, o ICEP podia ter também referido a burocracia excessiva, a corrupção
e o tráfico de influências, os alçapões da lei, os contratos públicos para ami-
gos e clientelas, o esbanjamento de dinheiro, a incompetência, a má gestão e
a demora e perda de tempo na execução dos projectos.
Com efeito, é este Projecto da Marca Portugal que, quase cinco anos
depois, se afirma que “está agora em fase de implementação e será lançado
publicamente no início de 2007”. Dos anunciados sete eixos de acção,
existe um designado “Prefiro Portugal” que visa “criar um movimento de
conhecimento e valorização do que somos e do que fazemos, um movimento
de mobilização interna que promova o respeito por nós próprios, a iniciativa,
a auto-exigência”.
Primeiro, duas perguntas: quanto é que custa? como é que isto vai ser
feito? Segundo, uma observação: a História está cheia de propagandistas que
tentaram levar a cabo ambiciosos planos deste género, e em regra isso aconte-
ceu em regimes totalitários que pretendiam educar e mobilizar o povo. É óbvio
que o Projecto da Marca Portugal não faz parte de uma intenção totalitária,
mas os seus responsáveis talvez devessem ponderar se querem efectivamente
“mexer” no carácter nacional, de acordo com percepções institucionais que
374
não coincidem com as do público-alvo e que poderão provocar efeitos de boo-
merang imprevisíveis. E talvez devessem ponderar também se esta tarefa é
mesmo exequível e da competência de economistas e marketers, e se não se
estará perante um excesso de imaginação voluntarista e de extrapolação daquilo
que pode e deve ser especialmente aplicado ao sector do turismo.
375
tecia há anos por causa da guerra civil. Uma torrente de estrangeiros abatia-
se sobre o país à procura de negócios. Ao final da tarde, na reconfortante
esplanada do Hotel Cardoso em Maputo, um intermediário moçambicano e
dois empresários sul-africanos mantêm uma conversa em inglês. A opinião
dos sul-africanos é a seguinte: os portugueses não representam uma ameaça,
pois vão ficar com os pequenos negócios e nós com os grandes.
Não se pode fazer deste único caso teoria. Existem de facto empresas
portuguesas com projectos de grande dimensão em Moçambique, embora
talvez em número insuficiente face às oportunidades que este país oito vezes
maior que Portugal oferece e em escala proporcionalmente inferior no quadro
do investimento externo. Mas a verdade é que o maior de todos os empreen-
dimentos de Portugal no estrangeiro, a Barragem de Cahora Bassa em
Moçambique, acabou de ser vendido na sua maioria pelo governo português
ao governo moçambicano. Os termos do acordo são em parte confidenciais,
parecendo desde logo que os 950 milhões de dólares do negócio correspon-
dem a uma sub-avaliação do activo, talvez na ordem dos 30-40%.
376
Contudo, o facto mais significativo deste negócio é porventura o de
que a retirada de Portugal de Cahora Bassa simboliza a nossa retracção em
termos de projecção económica de vulto para África e, de certo modo, o
fim de um ciclo histórico desencadeado há 130 anos por homens como
Teixeira de Vasconcellos e Luciano Cordeiro, hoje praticamente esquecidos.
Com este acordo, a opção estratégica lusófona teve assim um forte revés
na política externa portuguesa e é agora, de forma marcada, tendencial-
mente virtual. Infelizmente tudo isto se passa quando Cahora Bassa se está
a valorizar e quando existe uma forte dinâmica de globalização que apela
à projecção económica dos Estados e das empresas.
377
Não me parece que isto seja um bom começo, mas as cartas estão na
mesa à espera de uma provável reunião, de mais alto nível, que decida com
maior competência sobre essa agenda comum. É facil imaginar desde já um
possível (mas incerto) cenário de entendimento quanto a uma triangulação
que desemboque na organização de um espaço ibero-africano, a par dos já
existentes lusófono e ibero-americano, configurador de uma parceria estra-
tégica ibérica para África. Porém, tal dependerá da formulação de um con-
ceito operacional de “interesse ibérico” em relação ao continente africano.
378
por exemplo, a maioria a pensar que Cahora Bassa era “uma pedra no
sapato” e a minoria a lamentar “o activo desbaratado”.
Ora, tendo em conta este cenário, devemos recordar que o primeiro quadro
de diluição da nossa identidade e imagem é precisamente a Espanha. É um facto
histórico. Na área anglófona é por demais evidente, em especial nos Estados
Unidos. Alguém que tenha tido uma experiência americana, que não somente a
do turismo, sabe isso perfeitamente. E a diluição dos portugueses na categoria
dos hispanos atinge as elites, inclusivé as universitárias, grande parte das quais,
muito provavelmente a maioria, ignora a identidade portuguesa. A confusão dos
portugueses com espanhóis é portanto natural e espontânea.
É por esta ordem de razões que me parece, não obstante concordar que
interessa a Portugal uma parceria ibero-africana no âmbito empresarial e
379
da ajuda ao desenvolvimento, que não nos interessa seguramente que essa
parceria específica envolva o domínio cultural. Ou seja, não é do interesse
de Portugal que se formule um qualquer conceito de cultura ibérica como
forma de projecção conjunta para a África lusófona. É isto, por exemplo,
que começou a ser ensaiado a partir de ontem em Luanda, com a designada
1ª Mostra de Cinema Ibérico, organizada pela Embaixada de Espanha em
conjunto com o Instituto Camões.
Tudo isto não é, com efeito, compatível com a expansão da língua por-
tugesa em África. Neste aspecto somos inevitavelmente concorrentes e nós,
portugueses, detemos uma enorme vantagem, não sendo por isso inteligente
esquecermo-nos desse facto e desbaratá-lo. Por outro lado, a expansão do
espanhol na África lusófona interfere no processo local de construção da
nação, no que este comporta de criação de um sistema linguístico homo-
géneo, ultrapassando a heterogeneidade dominante das línguas tradicionais,
via língua portuguesa, a qual é verdadeiramente o cimento da construção.
E saber comunicar em português é um factor meliorativo da força de tra-
balho e da qualificação profissional dos africanos, repercutindo-se na atrac-
ção do investimento externo.
380
29. Ameaça e Oportunidade238
381
acontecer em português, além do mais porque a France 24 vai estar muito
activa em África.
Com efeito, note-se que, mesmo sem português, este canal não pode
deixar de ser encarado como um factor centrífugo da coesão lusófona em
África, ou, numa perspectiva meramente nacional, como uma ameaça à nossa
influência na área, nomeadamente no que respeita à projecção económica. A
avaliação da ameaça e do seu grau é portanto urgente, e observe-se a France
Telecom, que fica com um acrescido interesse estratégico africano. Angola
merece por isso uma atenção particular, uma vez que sobre si estão concentra-
dos, cada vez mais, projectos e iniciativas de proveniências nacionais diversas
que aproveitam o extraordinário clima de crescimento a dois dígitos.
Não vale a pena invocar o que está a ser feito, para justificar o injus-
tificável. Ainda é pouco para o muito que há a fazer. Onde está a anunciada
sociedade de risco para a ajuda ao desenvolvimento? Ondes estão os 200
professores para Angola?
382
Não é caso para empregar palavras menores que estas. Na verdade, não há
desenvolvimento sem Universidade, seja onde fôr, e mesmo aquelas insti-
tuições autónomas de pesquisa que pupulam no mundo moderno mais
desenvolvido nasceram no seu seio.
383
fessor jubilado: “antes, numa oral, se não se soubesse uma pergunta, chum-
bava-se; hoje, basta saber uma para passar.”
384
de Goa - e da singularidade da cultura goesa, que é luso-indiana - não
é possível afirmar que as feridas, do lado de lá (do governo indiano,
entenda-se), já tenham completamente sarado; à menor arranhadela,
infectam-se. Aliás, alguém viu alguma comemoração conjunta signifi-
cativa a propósito do quinto centenário dos Descobrimentos?
385
Para se ter uma idéia do avanço do Brasil, veja-se o resultado do seminário
oficial conjunto com a Índia, realizado no Rio de Janeiro, em 11 e 12 de Janeiro
de 1996, há precisamente 11 anos. Tem 632 páginas, foi organizado pelo
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, editado pelo Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais de Brasília e o título é “Estratégias. Índia e Brasil”. A
perspectiva, ainda com actualidade, é “O Brasil e a Índia no Cenário Político e
Económico Internacional dos Próximos Anos”. E os temas tratados, de forma
qualitativa e quantitativa, vão da biotecnologia à energia nuclear e à cooperação
aero-espacial, passando pela informática e pelo meio ambiente.
É isto que temos de fazer e é com isto que temos de competir, para já
com, pelo menos, uma década de atraso.
386
militar, quer através de pessoal formado, à partida, nos conceitos funda-
mentais, quer através da realização de determinado tipo de estudos, com
fontes abertas, não cobertos pelos serviços de informações.
387
33. O Tempo Tríbio Português242
388
memória, mais selectiva ou não, conforme as simpatias, ficou-nos também
sucessivas classes políticas, sobretudo desde o século XIX, mergulhadas
num ambiente geral de corrupção. Oliveira Martins, amado por uns e
odiado por muitos, com o seu traço peculiar deixou-nos no Portugal
Contemporâneo, por exemplo, ilustrações desse ambiente.
Ora, este presente de trinta anos que vivemos desde o 25 de Abril, hoje,
com todos os casos de corrupção, de descrédito da justiça e da classe
política e de frustação do desenvolvimento económico, realmente sentido
pelos portugueses, não obstante possíveis explicações contrárias de alguns
economistas, coloca essa mesma classe política num plano de responsabi-
lização irrefutável. E portanto não é de admirar que Salazar tenha ganho
um concurso televisivo de maior português de todos os tempos, ainda para
mais com uns expressivos 41%, sem a mobilização partidária que levou
Cunhal ao segundo lugar, mas abaixo do 20%.
389
gerido por professores incompetentes. Alimenta-se mesmo a imagem de
que existe uma certa insuficiência científica e pedagógica que se reproduz
negativamente na estagnação e falta de desenvolvimento nacional. No
limite, de acordo com esta visão, na Universidade residem em certa medida
as causas da falta de produtividade e competitividade de Portugal.
390
tores desempregados. Pelo contrário, a Universidade tem cumprido a sua
função de democratizar o ensino superior e estabelecer bases para o “take-
off” de Portugal que tarda em surgir, não obstante os 22 anos de fundos
europeus que deveriam ter servido ao nosso arranque industrial e corres-
pondente projecção económica internacional.
391
mente original e moderna. Temo-nos ficado repetidamente pela solução
simples e gasta de colar a imagem do país às figuras de projecção mediática
do momento, de modo a criar aquilo que em comunicação social se chama
“efeito de halo”, esquecendo-nos que Portugal é muito mais que isso.
392
E devemos assumir a responsabilidade como nossa, colectiva, incluindo
os empresários no que toca à sua falta de visão estratégica e informação.
Há excepções, é claro, e o poder gosta muito de mostrá-las como regra ou
exemplo, mas a realidade é que o tecido é esmagadoramente frágil em ter-
mos de produtividade e concorrência internacional.
393
século XV (Descobrimentos) e depois reafirmada nos séculos XVI e XVII
(Lusíadas e Restauração). Mesmo assim, quase nove séculos após a fun-
dação, ainda persistem, consoante as diferentes filiações, digamos, filosó-
ficas, dúvidas quanto à nossa singularidade, parecendo existir uma tendên-
cia para esses portugueses cépticos se repartirem em activos ou passivos
europeístas militantes e iberistas. Nada de alarmante. É normal existirem
dissensões, mas tal facto, em crescendo, como ocorre em Portugal desde
o 25 de Abril, é indubitavelmente um factor de dissociação nacional.
394
Sofide, o nosso futuro “banco do desenvolvimento”, criado por lei há quase
dois e que talvez veja finalmente a luz antes do ano acabar, assiste impotente
ao vazio ser preeenchido pelos nossos concorrentes. É só espreitar a dinâ-
mica actual dos espanhóis com o “Plan Africa”.
395
com um novo “direito de ocupação efectiva”. Se alguém quiser dar-se ao
trabalho de ver o que está acontecer, reparará que está em consolidação um
multilateralismo que vai contra o interesse nacional e dá a impressão que
neste momento há portugueses em funções europeias que, como se costuma
dizer, “são mais papistas que o papa”.
396
38. A Oportunidade Angolana247
Todos reconhecem, porém, que ainda há muito trabalho a fazer, que exis-
tem problemas nas áreas da corrupção e dos direitos humanos, da reconstru-
ção do Estado de Direito, por exemplo, e ninguém ilude o facto de que o
clima de negócios é complexo e difícil. Neste aspecto, Angola está numa das
últimas posições do ranking do Banco Mundial “Fazer Negócios em 2007”.
A OCDE, em grande medida perfilhada em Portugal na concepção oficial
multilateralista da nossa cooperação, sublinha o facto de aí existir um mau
clima de negócios e é pessimista quanto à sustentabilidade a médio prazo da
evolução positiva da situação que agora se verifica.
397
dade angolana, tal como há um ano atrás alertava, numa conferência em
Lisboa, Mário Pizarro, ex-vice-governador do Banco de Angola. É interes-
sante observar a sua percepção, numa entrevista a um jornal diário, na
mesma altura, de que, relativamente a Angola, “a maior parte das empresas
portuguesas não têm uma estratégia de longo prazo, nem uma boa organi-
zação nem um conhecimento que não seja de circunstância”.
Em suma, quer por via pública quer por via privada, estamos a desper-
diçar a vantagem competitiva que detemos em relação a Angola, que deve-
ríamos aproveitar massivamente na oportunidade que agora se abre de
forma extraordinária. Se não ocuparmos o maior e melhor espaço possível,
se não nos posicionarmos rapidamente a curto e médio prazo, dependendo
das áreas e sectores, não recuperaremos a oportunidade no futuro. E não é
seguramente do nosso interesse, não é demais enfatizar, que a Espanha apa-
reça internacionalmente como “o parceiro privilegiado de Angola na União
Europeia, juntamente com Portugal”, como aconteceu numa notícia emitida
a partir de Macau, no passado dia 20 de Agosto, e que não produziu eco
entre nós.
398
CONCLUSÃO
399
esta causa encontrava-se oculta uma vez que o banco central americano
respondera à massiva drenagem financeira da guerra com a injecção de
crédito barato na economia americana com a expectativa de dividendos
massivos e rápidos. O que não aconteceu.
400
Estas perguntas ficam para já sem resposta, mas é certo que a tranqui-
lidade da segurança se constrói com a intranquilidade permanente do com-
bate à insegurança, e este é desde logo efectuado na primeira linha pelos
serviços de informações, os quais desde o 11 de Setembro têm visto os
seus recursos e orçamentos a crescerem de forma significativa. Estima-se,
por exemplo, que o orçamento do sistema de informações americano cres-
ceu cerca de 25%, atingindo os 60 mil milhões de dólares, o mesmo suce-
dendo ao britânico que terá atingido 2 mil milhões de libras.
Esta dinâmica significa que a dimensão secreta do mundo nas relações
internacionais está em notória expansão, e a sua observação será segura-
mente potenciada pelas técnicas de investigação da História do Presente,
em particular pela open sources intelligence.
401
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411
ÍNDICE REMISSIVO
413
240, 242, 245, 247, 273, 279, 280-282, 285, Atef, Mohammed (191)
296, 344, 400, 409, 411) Atentados de Madrid (26, 31, 38, 40, 52, 67, 74,
al-Qaeda (ameaça da) (171, 182, 202, 236) 81, 87, 95, 96, 108, 118, 134, 145, 152, 153,
al-Qaeda (ataque da) (173, 178, 210) 167, 186, 189, 192, 205, 206, 209, 210, 227,
al-Qaeda (células terroristas da) (204) 231, 258, 263, 273, 298, 300, 341, 343, 345,
al-Qaeda (chefe de operações da) (169) 386, 388, 395, 399)
al-Qaeda (guerra psicológica da) (177) atentados suicidas (140, 173, 187)
al-Qaeda (infiltração na) (145) Atta, Mohamed (166)
al-Qaeda (líder da) (169) Austrália (85, 196, 212, 241, 274, 275, 288)
al-Qaeda (manual da) (168, 203) Aústria (160)
al-Qaeda (membro da) (203) avaliação prospectiva (25, 33, 100, 203, 215, 367,
al-Qaeda (metamorfose da) (172) 400)
al-Qaeda (modus operandi da) (174) Azerbeijão (155)
al-Qaeda (movimentações em África da) (208) Aziz Al Muqrin, Abdel (178)
al-Qaeda (o poder da) (169)
al-Qaeda (operacionais da) (169) B
al-Qaeda (operações da) (203)
al-Qaeda (plano da) (258) Baggara (povo) (55)
al-Qaeda (propaganda da) (175-177) Bahrain (151)
al-Qaeda (treinos da) (189) Baker, James (46, 83, 90, 161)
al-Qaeda (vantagem estratégica da) (241) Bakis, Henri (37, 38)
al-Sadr, Moqtada (152, 153) Bakiyev, Kurmanbek (108)
Al-Tawhid (167) Balcãs (189, 190, 206, 297, 344)
Al-Timimi, Ali (202) Balgimbaev, Nurlan (110)
al-Zarqawi (126, 129, 137, 169) Baluyevsky, Yuri (299)
al-Zindani, Sheik (196) Banco Europeu de Investimentos (113, 342)
Amani, Youssef (195) Banco Mundial (50, 81, 87, 88, 89, 114, 208, 344,
Amaral, Roberto (75, 91) 397)
ameaça terrorista (31, 81, 108, 144, 180, 181, 197, Bangladesh (173, 187)
211, 234, 241, 245) Barragem de Assuão (147)
América do Sul (80, 107) Batalha de Hattîn (165)
América Latina (73, 84, 85, 246) Batalha de Tora Bora (163)
AML (anti-money laundering) (188) BCP (228, 229)
Amoco (110) Beeri, Amir (31)
ANC (55, 56) Beghal, Djamel (166)
Anderson, Lisa (36) Bejucal (Base Militar Cubana de) (72, 84)
Angola (23, 50, 58-59, 61, 77, 88, 99, 112-113, Bennie, Jeremy (171)
123-124, 162, 228-229, 238, 288, 317, 329, Berezovsky, Boris (291)
331, 336, 341-347, 368, 372-373, 377, 378, Bernhardt, Douglas (221)
382, 385, 392, 396-398) Bielorrússia (43, 118)
Angola (independência de) (78) Bilashkov, Anatoly (239)
anti-globalização (37, 50) Bin Laden, Ossama (163-167, 169-171, 176-180,
apartheid (55) 190, 191, 196-198, 203)
Arábia Saudita (44, 46, 47, 68, 103, 104, 127, 130, Bin Laden, Ossama (captura de) (204)
151, 152, 167, 178, 179, 197, 208) Bin Laden, Ossama (estratégia de) (168)
Arafat, Yasser (262) Bin Laden, Ossama (localização de) (204, 205)
Aramco (178) Black Economic Empowerment Law (55)
area studies (229) Black Economic Enrichement Law (56)
Argélia (121, 159, 179, 180, 326) Black Elite Empowerment Law (56)
Argélia (ameaça terrorista na) (199, 200) Black, Cofer (204)
Argentina (79, 80) Blair, Tony (120, 121, 242, 267, 268)
armas de destruição em massa (33, 134, 144, 190, BND (serviço de informações externas alemão)
198, 210, 240, 242, 244, 267, 275, 278, 314) (143, 284)
Army War College (81, 221) BNP-PARIBAS (224, 326)
Ásia (35, 85, 109, 121, 122, 133, 223, 249) Boinett, Wilson (Brigadeiro-General) (208)
Ásia (influência russa na) (156) bombas nucleares (33, 95)
Ásia (quadro geopolítico da) (102) Bonner, Robert (185)
Ásia Central (43, 85, 99, 100, 102, 107, 109) Bósnia (35, 36, 189, 190)
Assad, Bashir (140, 277) Bosnian-American Cultural Association (36)
414
Bouchar, Abdelmajid (189) 182, 195, 235, 273, 274)
Bouteflika (199) CENTCOM (85, 150)
Boykin, William (251) Centro Nacional de Inteligencia (210)
BP (120, 121, 155, 156, 157, 158, 160, 161, 162) Centro Superior de Estudios de la Defensa
BPI (228) Nacional (368)
Brasil (23, 74-78, 80, 90-92, 223, 287, 307, 308, Ceric, Mustafa (35, 36)
329, 332, 342, 344-347, 368, 372, 385, 386, Chade (70, 180)
392, 393) Chardin, Teillard (216)
Brasil (programa nuclear do) (74, 75, 91, 92) Chéchénia (187, 239)
Brasil (recursos no) (79) Cheney, Dick (43, 73, 279, 296, 301)
Brasil Telecom (308) Chernobyl (147)
BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) (79) Chevron (39)
Brichambaut, Marc (36) China (39, 43, 46, 50, 54, 72-78, 81, 83, 84, 86,
Brigadas Badr (150) 88-90, 95-100, 103-107, 109, 110, 117, 122,
Brigadas dos Mártires al-Aqsa (262) 147, 164, 170, 188, 192, 237, 238, 249, 250,
Brigadas Vermelhas (166) 260, 261, 303, 304, 311, 312, 342-344, 378,
Brookings Institution (101, 157, 408) 385)
Brown, Marck (69) China (aliança estratégica de Cuba com a) (85)
Browne, John (157, 158, 160, 161) China (ascensão da) (88)
Buenos Aires (atentados terroristas de) (80) China (discurso da) (237)
Burundi (61, 62) China (geopolítica da) (106, 107)
Bush, George (26, 41, 46, 69, 70-76, 83, 86, 87, China (internet na) (101)
89, 90, 100, 103, 104, 124, 130, 135, 144-146, China (mudança social e política na) (102)
153, 154, 163, 175, 177, 186, 203, 208, 236, China (programa nuclear da (92)
242-245, 248, 256, 258, 259, 264-268, 275, China (programa nuclear da) (102)
276, 280, 282, 289, 294-296, 300-302, 399, China (recursos na) (79)
400, 403, 409) Chipre (111)
business intelligence (29, 33, 312, 313, 314, 315, CIA (23-25, 40, 44, 65, 70, 73, 82, 83, 97, 109,
325) 110, 125-127, 130, 149, 150, 170, 172, 192,
204, 206, 213, 218, 220, 221, 230, 236, 239,
C 241, 244-246, 248, 249, 256, 257, 259, 261,
263, 265, 275, 276, 279, 280-282, 285, 289,
Cabo Verde (112, 113, 123, 331, 332, 368) 294, 295, 297, 300-307, 404-411)
Cachemira (164, 170, 204) cibercrime (191, 192)
Caixa Central da França Livre (114) ciberterrorismo (182, 183, 192)
Caixa Central de Cooperação Económica (115) ciclo de produção de informações (23, 215)
Caixa Francesa do Desenvolvimento (115) Ciência Política (20, 22, 221, 262)
Caixa Geral de Depósitos (228) Cimeira da Lituânia (43)
Câmara Internacional de Comércio (67) Cimeiras França-África (49)
Camero (31) Clapper, James (General) (236, 295)
Camões, Luís de (116, 164, 227, 364) Clarke, Richard (171, 290)
Canadá (88, 174, 175, 212, 274, 275, 288, 362) Clinton, Bill (156, 261, 345, 404)
Capitólio (182) CMN (Coalition Multinational Network) (253)
Carayon, Bernard (316, 317) CNN (236, 276, 381)
Cardoso, Carlos (58) Coligação anglo-americana (137, 164, 259)
Cardoso, Pedro (General) (116, 350, 376) Coligação Mujahidin (187)
Carnegie Corporation (36) Comando África (81, 82)
Casa Branca (109, 170, 193, 276, 281, 300, 301, COMINT (communications intelligence) (236,
302) 244)
Castro, Fidel (72, 73, 84, 85) Comissão Estratégica dos Oceanos (365)
Castro, Raúl (72, 84) Comissão Europeia (119, 322, 351, 395)
Cáucaso (85, 133, 173, 329) Companhia de Petróleos da Califórnia (39)
CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) Companhia Nacional de Petróleos da China (39)
(79) competitive intelligence (29, 30, 221, 223, 287,
CDS (362) 312, 314-316, 324)
CEDEAO/ECOWAS (Economic Community of complexidade crescente (lei da) (20, 216, 233,
West African States) (112) 234)
células de terroristas islâmicas (80) Comunidade das Democracias (43)
células terroristas (80, 139, 142, 171, 173, 174, Comunidade de Estados Independentes (118, 156)
415
Comunidade dos Estados da África Ocidental (76) Disraeli, Benjamin (120)
Comunidade dos Estados Independentes (43) DNI (Director of National Intelligence) (263, 264-
Comunidade Económica Europeia (335, 391) 267, 278, 294, 295)
comunidade judaica (80) DOCEX (193)
Conferência de Bandung (98, 237) Doutrina de Monroe (86)
Conferência de Berlim (120, 339, 395) Droukdal, Abdelmalek (180)
Congo (59, 60, 61, 62, 63, 113) Duvalier, Jean Claude (308, 314)
Congresso dos Estados Unidos da América (43,
44, 72-74, 83, 110, 125, 153, 183, 185, 194, E
198, 221, 244, 246, 249, 256, 257, 261, 264,
300, 302) economic intelligence (29, 34, 261, 308, 314)
Conselho de Segurança (ONU) (60, 69, 148) Egipto (86, 127, 133, 247)
Convenções Republicana e Democrata (182) Egipto (programa nuclear do) (146, 147)
cooperação lusófona (120, 342) Ehindero, Sunday (67)
Corão (166, 197) Electricité de France (224, 326)
Cordeiro, Luciano (377) emigração ilegal (32)
Coreia do Norte (94) Escola de Guerra Económica (38, 222, 223, 309)
Coreia do Norte (programa nuclear da) (70, 74, 75, Eslováquia (160)
94, 95, 146, 400) Eslovénia (160)
Coreia do Sul (95, 266) Espanha (112, 113, 122, 123, 205, 241, 318, 329,
Costa do Marfim (59) 342, 359, 366-368, 372, 377-379, 395, 398)
Couto, Diogo (384) Espanha (instauração da democracia em) (209)
CPLP (329, 360, 361, 362, 385) espionagem (25, 30, 40, 73, 82, 85, 97, 190, 220,
CRI (Centro Regional de Inteligência) (79, 80) 226, 235, 245, 247, 250, 260, 261, 267, 274,
crime organizado (32, 33, 182, 187, 190, 209, 239, 275, 286-288, 290, 291, 293-295, 303-305,
271, 284) 308, 310, 318, 320-323, 353)
criminalidade organizada (47, 63, 79, 81) espionagem cubana (72, 84)
CRS (Congressional Research Service) (71, 185) espionagem económica (231, 260, 290, 319)
Cuba (72, 73, 83, 84, 85, 280) espionagem electrónica (72, 84)
Cuba Transition Project (73, 85) espionagem empresarial (321)
Cunningham, Randy “Duke” (73, 74) espionagem privada (307)
Curdistão iraquiano (151) espionagem sob cobertura (168)
curdos (130, 131, 137, 151, 152) Estado de Bayelsa (53)
Estado de Katsina (66)
estado secreto (25)
D Estados Unidos da América (25, 26, 29, 34, 36, 39,
Darfur (54, 55, 69, 70) 41-44, 46, 47, 52, 54, 59, 63-65, 69-77, 83-89,
De Beers (56, 59) 95, 99, 103, 104, 107, 109, 120, 122-124, 127-
de Vries, Gijs (205, 206) 131, 133, 135, 136, 140, 145-147, 149-155,
Declaração de Paris (119) 159, 162, 163, 171, 175-178, 180, 181, 184-
Declaração dos Muçulmanos Europeus (35) 188, 190, 192-198, 201, 208, 212, 213, 222,
Defesa para a Contra-Inteligência e Segurança 230, 236, 238-242, 244, 248, 250, 252, 255,
(213) 257, 260-264, 267-271, 275, 279, 280-283,
Democracia. (26, 37, 52, 64, 113, 135, 138, 145, 295-299, 301, 303, 306, 308, 315, 320, 322,
208, 255, 299, 340, 345, 362, 397) 342, 345, 363, 378, 399, 400)
Deserto do Sahara (179, 180) Estados Unidos da América (alerta terrorista nos)
DHS (Department of Homeland Security) (71) (202, 203)
DIA (Defense Intelligence Agency) (81, 236, 250) Estados Unidos da América (ameaça terrorista
diamantes de sangue (59, 60) nos) (200, 202)
Dipico, Manne (56) Estados Unidos da América (estratégia dos) (138)
diplomacia (25, 129, 130, 285-287, 333-336, 380, Estados Unidos da América (estratégia indirecta
395) dos) (139)
diplomacia secreta (142, 143) Estados Unidos da América (geopolítica dos) (81)
Directorate of Operations (25) Estados Unidos da América (hegemonia dos) (78)
Direito Internacional (25) Estados Unidos da América (manobra diplomática
Direitos Humanos (138, 139, 145, 239, 279, 397) dos) (100)
DISA (Defense Information System Agency) Estados Unidos da América (política africana dos)
(252) (87)
Diskin, Yuval (262, 263) Estados Unidos da América (política externa dos)
(76, 87)
416
Estados Unidos da América (sistema de Foz do Iguaçu (79)
informações dos) (314) França (38, 40, 49, 75, 76, 88, 111, 117, 127, 180,
Estados Unidos da América (terroristas nos) (174) 222, 223, 232, 241, 255, 261, 282, 290, 309,
Estónia (160, 294, 305) 310, 311, 316, 317, 323, 325, 359, 381, 387)
estratagema do Catual (116) França (programa nuclear da) (92)
Estratégia (18, 29, 266, 278, 282, 324, 373) France Telecom (117)
Estratégia de Segurança Nacional (87) Franklin, Larry (243)
Estratégia de Segurança Nacional Norte- Frelimo (52, 57, 375)
Americana (76, 145) FRETILIN (106)
Estreito de Malaca (67, 198) Freyre, Gilberto (19, 388, 393, 394)
Estreito de Ormuz (198) FSB (238, 285, 286, 291, 292, 294, 305)
Estreitos de Bósforo e Dardanelos (111, 156) Fur (etnia) (54, 55)
Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar
(373) G
ETA (166, 201, 209)
Etiópia (65, 66) G8. (87, 89, 113, 177)
EUCOM (85) Gabão (60)
EUFOR (62) Gadahn, Adam (176)
Eurointel (206) Gama, Vasco da (116, 227)
EUROJUST (205) Gana (77, 82, 180)
Europa (32, 35, 39, 41, 59, 61, 111, 112, 121, 122, Ganguly, Sumit (100)
130, 136, 138, 166, 194, 197-200, 205, 228, Gates, Bill (104, 338)
246, 273-275, 280, 289, 297, 299, 311, 322, Gates, Robert (44, 46, 82, 83, 149, 295, 400)
323, 329, 342, 345, 351, 360, 363, 383, 392) Geisel, Ernesto (General) (78)
Europa (gás da) (160) genocídio (54, 70)
Europa (poder na) (206) GEOINT (geospatial intelligence) (204, 220, 236,
Europa (projecção da) (348) 244)
Europa do Leste (35, 43, 160) Geórgia (43, 108, 155, 156, 160, 297)
Europa ocidental (62) Gheith Abu (177)
European Commission AidEffectiveness Action Giffen, Jim (110)
Plan (119) Global Intelligence Alliance (223)
EUROPOL (205, 206) Global Witness (ONG) (59, 60)
Exército Mahdi (45, 150-153) globalização (29, 32, 37-39, 47, 78, 79, 155, 160,
Exército Popular de Libertação (95, 97) 217, 233, 288, 308-311, 318, 320-323, 329,
EximBank (99, 238) 331, 335, 349, 353, 377, 379, 387)
extorsão (32, 201, 272) GNR (106)
Exxon Mobil (63) Goldman Sachs (46, 90)
Ezhei, Mosheni (139) Golfo da Guiné (77, 89, 90)
Golfo de Aden (68)
Golfo Pérsico (156)
F Gorbachev, Mikhail (110, 133, 238)
FAA (Federal Aviation Administration) (71) Gordievsky, Oleg (293)
FALINTIL (106) Goss, Porter (97, 130, 170, 204, 245, 246)
falsificação de documentos (32) Grécia (160, 242, 335)
Farah, Douglas (60) Grupo 3+1 (80)
FATF (Finantial Action Task Force on Money Grupo de Shangai (43, 109, 117)
Laundering) (188) Grupo Salafista de Predicação e Combate (179,
FBI (71, 130, 168, 176, 183, 191, 201, 206, 235, 199)
236, 243, 260, 271, 272, 299, 303, 304, 404, Guarda Civil (209)
408) Guarda Costeira Voluntária Nacional (68)
FBIS (Foreign Broadcast Information Service) Guardas da Revolução do Irão (150)
(220) Guebuza, Armando (58, 377)
fei chien (188) Guerra Civil no Congo (62)
FEMA (93) guerra da informação (30, 37, 72, 84, 324)
FMI (50, 88, 397) Guerra de Julho (148)
Foreign Corrupt Practices Act (110) Guerra do Golfo (193)
Fórum China-Africa (98) Guerra do Vietnam (73, 74, 97)
Forum de Cooperação China-África (50) Guerra dos 33 dias (148)
Fox News (88) guerra económica (38, 40, 260, 309, 310, 311, 316,
317, 325, 381)
417
Guerra Fria (37, 43, 44, 65, 78, 82, 83, 87, 97, 110, Iémen (68, 196, 197)
114, 133, 147, 211, 251, 256, 260, 274, 285, Ijaw (etnia) (53, 54)
293, 299, 304, 306) IMET (International Military Education and
guerra global contra o terrorismo (26, 41, 47, 64, Training) (77)
173) Índia (67, 107, 117, 164, 170, 188, 348, 384-386)
Guerra Mundial (1ª) (23, 236, 380, 389) Índia (programa nuclear da) (74, 100, 102, 103)
Guerra Mundial (2ª) (21, 23, 34, 38, 114, 154, 212, Indonésia (85, 173, 186, 187)
217, 220, 230, 235, 263, 288, 310) informações estratégicas (34, 35, 116, 122, 125,
guerra prolongada (41, 42, 47) 156, 157, 160, 199, 214-219, 223-228, 232,
Guiné-Bissau (50, 112, 331, 360, 361, 362, 368) 233, 310, 311, 314, 319, 321, 323, 326, 335,
Gulf Research Centre do Dubai (171) 343, 346, 349, 350-352, 381, 398)
informações militares (48, 133, 221, 251, 270,
H 278, 294, 305)
Information Assurance (183)
Haave, Carol (213) Information Security (183)
Hamas (80, 132, 133, 246, 262) information warfare (97)
Hamas (vitória eleitoral do) (143) Instituto da Defesa Nacional (81)
Haradheere (região de) (68) inteligência competitiva (315, 324, 325)
Harakat ul-Mujahedeen (164) inteligência económica (38, 40, 223, 290, 309-
Harbulot, Christian (38, 309, 387) 311, 316, 317, 323-326, 381, 387)
Hariri, Rafik (140, 277) intelligence community (.83, 128, 129, 136, 185,
hawala (188) 236, 252, 256, 261, 263, 264, 267, 269, 280,
Hayden, Michael (General) (150, 266, 267, 295, 282, 295, 296, 301)
300, 302, 403) intelligence cycle (218)
Hayward, Tony (161, 162) intelligence studies (24, 229, 230, 315, 319, 386,
Henry, Ryan (86) 387)
Herman, Michael (214, 407) investimento externo (51, 122, 376, 380)
Hezbollah (80, 124, 153, 284, 285) IRA (166, 235, 243)
Hezbollah (apoio do Irão ao) (139) Irão (43-47, 72, 83, 84, 103, 107, 124-130, 133-
Hezbollah (capacidade militar do) (141) 136, 143, 145, 149, 151-154, 177, 184, 189,
Hezbollah (combatentes do) (143) 200, 204, 211, 285, 296, 299, 400)
Hezbollah (contactos da Rússia com o) (143) Irão (democracia no) (138)
Hezbollah (desarmamento do) (148) Irão (fronteira do Iraque com o) (146)
Hezbollah (infiltração no) (145) Irão (influência no Iraque) (150)
Hezbollah (logística do) (140) Irão (pipeline do) (100)
Hezbollah (membros do) (144) Irão (programa nuclear do) (70, 74, 75, 138, 144,
Hezbollah (contrabando de armas para o) (149) 146, 147, 243)
Hezbollah (objectivo do) (141) Irão (regime do) (138)
Hidroeléctrica de Cahora Bassa (376) Irão (revolução islâmica do) (139)
Hispanidad (368) Irão (revolução no) (139)
Hizb ut-Tahrir (109) Iraq Study Group (44, 46, 83)
Holanda (75, 111, 285) Iraque (18, 43-47, 65-67, 70, 73, 83, 124-129, 131,
Holanda (programa nuclear da) (92) 136, 141, 144, 149-155, 165, 167, 169, 173-
homeland security (30, 183, 185, 256, 257) 175, 179, 180, 193-195, 212, 236, 240, 244,
Homeland Security Secretary (258) 248, 250-255, 258, 259, 263, 264, 267, 268-
Honduras (265) 271, 275, 276, 284, 289, 294-296, 300, 301,
Huafu Industry (260) 399, 400)
HUMINT (human intelligence) (98, 204, 220, Iraque (armas de destruição em massa no) (193,
236, 246, 251, 270, 274, 313) 263, 296)
hundi (188) Iraque (futuro do) (137)
Hungria (160, 189) Iraque (guerra do) (175, 314)
Hussein, Saddam (.42, 45, 46, 83, 126, 128, 134, Iraque (invasão do) (86, 87, 138, 140, 146, 178,
146, 150, 193, 194, 259, 260, 267, 268, 300, 187, 243, 265, 311, 314)
301, 308, 311, 314) Iraque (sabotagem no norte do) (111)
ISPFSC (Internacional Ship and Port Facility
I Security Code) (198)
Israel (43, 112, 124, 135, 136, 138-148, 241, 243,
iberismo (366, 367) 247, 261, 262, 284, 344, 404, 406, 409)
IBM (192, 269) Israel (bombardeamentos de) (143)
418
Itália (32, 122, 160, 287, 323) Líbano (43, 80, 139, 140-142, 148, 149, 153, 277)
Ivanov, Sergei (121, 358) Líbano (conflito no) (141)
Líbano (crise do) (143, 144)
J Líbano (infiltração de comandos israelitas no)
(142)
Jaish-e-Muhammad (164) Líbano (reconstrução do) (80)
Jamal, Muafak (80) liberalismo (39, 288, 317)
Janjaweed (etnia) (55) Libéria (59, 76)
Japão (39, 75, 117, 342) Líbia (programa nuclear da) (95)
Japão (programa nuclear do) (92) Lituânia (43, 160)
Jebel Mare (montanhas de) (55) Litvinenko, Alexander (14, 290-294, 298, 299,
Jemaah Islamiah (186, 187, 196) 304, 305)
Jihad Islâmica (169, 179, 193, 262) Litvinenko, Marina (292)
Jintao, Hu (73, 84, 98, 103, 104, 105, 237) Lockerbie (120)
jogo clandestino (32) Lockheed Martin (77, 178, 253)
Johnson, Paul (178, 404, 407) Lombard, Didier (117)
Jones, James (General) (41, 76) Lopes, Ernâni (318, 350)
Jong-il, Kim (94, 95) Los Angeles Times (jornal) (59)
Jordânia (44, 112, 130, 133, 152, 173) Louie, Gilman (307)
Juillet, Alain (223, 290) Lubumbashi (província do) (62)
Lugovoy, Andrei (290, 291, 292)
K Lusofonia (329, 361)
419
MI6 (268, 285, 286, 293, 294, 299, 305, 308, 314, O
411)
Military Professional Resources Inc. (77) O Metical (jornal) (58)
Miller, Pablo (276, 294, 301, 305) Obama, Barack (26)
Mitrokhin, Vasili (293, 305) Obasanjo, Olusegun (53, 54, 66, 67)
Mobil (110) Objectivos do Milénio (119, 124)
Moçambique (50, 52, 57, 58, 112, 113, 123, 288, Obukhov, Platon (294, 305)
329, 331, 336, 343, 346, 368, 372, 375, 376, OCDE (113, 396, 397)
377, 378, 380, 392) Oceano Atlântico (62)
Moeller, Robert (Almirante) (87) Oceano Pacífico (107)
Moldávia (160) Office of National Counterintelligence Executive
Mondale, Walter (110) (303)
MONUC (62) ONU (54, 60-63, 69, 78, 98, 105, 140, 148, 196,
More, Thomas (352, 364, 365, 392) 208, 237, 277, 280)
Moreira, Adriano (20, 22, 216, 233, 330, 390) Open Source Center (220)
Mossad (31, 125, 147, 242, 247, 262, 406) Operação Milagre (85)
Mosse, Marcelo (58) operações de paz (48)
Motlanthe, Kgalema (56) Organização dos Mujahidin do Povo do Irão (146)
MPLA (78) Organização Marítima Internacional (67)
Mubarak, Hosni (147) Organização Mundial de Comércio (78, 90)
Mubarak, Jamal (147) OSCE (36)
Mugabe, Robert (49, 395) OSINT(open source intelligence) (17, 27, 30, 116,
mujahidin (128, 189) 220-223, 228, 232, 240, 251, 270, 278, 287)
Muro de Berlim (24, 42, 49, 72, 329) OSS (Office of Strategic Services) (24, 230, 409)
N P
420
Pizarro, Mário (398) Reino Unido (49, 69, 75, 88-90, 117, 166, 181,
Plame, Valerie (25, 73, 276, 279, 281, 289, 300- 204, 208, 212, 234, 240, 241, 264, 267, 273,
302) 291, 299, 322, 323)
Plano de Acção de Adis-Adeba (50) Reino Unido (programa nuclear do) (92)
Plano de Acção de Combate ao Terrorismo (205) relações internacionais (17, 20-24, 47, 79, 91, 120,
plano de intelligence (231) 127, 216, 226, 233, 285, 331, 335, 352, 355-
Plano Tecnológico (373) 359, 367, 400)
Platt, Washington (Brigadeiro- General) (34) relações sino-americanas (106, 107)
Pokchov, Vassily (239) Relatório Mcbride (37)
Pollard, Jonathan (243) Renamo (57, 375)
Polónia (43, 160, 298, 299) República Centro Africana (70)
Polónio 210 (292) República Checa (160, 298, 299)
Portugal (17, 23, 30, 48, 54-58, 60, 64, 81, 91, República Democrática do Congo (60)
106, 108, 112, 120, 199, 201, 215, 216, 222, Rexach, Eduardo Serra (36)
225, 230, 287, 288, 293, 305, 310, 315, 318- Rice, Condolezza (90, 130, 177, 294, 302)
330, 332-335, 337, 338, 341, 343, 344, 345, Rio Litani (148, 149)
347-352, 355-361, 363-368, 370-380, 385- Rio Níger (53, 63, 64, 67, 105)
398) Rio Nilo (55)
Portugal (ameaças a) (354) Rio Paraná (79)
Portugal (conotações negativas da imagem de) Rockefeller Brothers Fund (36)
(360) Rockefeller IV, John Davison (296)
Portugal (imagem negativa de) (352) Rockefeller, Jay (36, 296, 297)
Portugal (poder anímico de) (375) Roménia (160, 228)
Portugal (poder de) (396) Royal Air Maroc (195)
Portugal (revolução em) (351) Ruanda (61, 62)
Portugal (sentimento patriótico de) (348) Rumsfeld, Donald (44, 150, 184, 194)
Portugal Telecom (117) Rússia (42, 43, 75, 99, 108-111, 117, 118, 121,
Powell, Colin (General) (295) 122, 132, 133, 143, 147, 156, 178, 184, 285,
Preventive Defense Project (399) 286, 291-293, 299, 304, 306, 378)
Primakov, Yevgeny (143) Rússia (gás natural da) (160)
Programa Hellios (206) Rússia (geopolítica da) (117, 118)
Programa MIT-Portugal (373) Rússia (política externa para o Médio Oriente da)
Projecto Avani (56) (142)
Projecto Echelon (266) Rússia (programa nuclear da) (92)
Projecto Hawkeye (198) Rússia (ressurgimento da) (304)
Projecto SCOPE (269)
Proliferation Security Iniciative (177) S
proteccionismo (38, 39, 288)
PSOE (209) S. Tomé e Príncipe (112, 331, 357, 368)
public diplomacy (27) Sadequee, Ehsanul Islam (174)
Puntland (grupo) (68) Sahel (180, 181)
Putin, Vladimir (42, 86, 117, 132, 133, 239, 291- Saladino (165)
293, 299, 304) Saleh, Ali Abdullah (196)
Sampaio, Jorge (367)
Q Santander (123, 228)
Santorium, Rick (138)
Qatada, Abu (166, 167) Santos, José Eduardo (350, 372, 376)
Qatar (121, 193, 239) São Tomé e Príncipe (77)
Quadrennial Defense Review Report (26, 40, 47) Sawt Al Jihad (178)
Quénia (82, 103, 105, 122, 208) Scapatticci, Freddy (243)
Quirguistão (99, 108, 109) Scarlett, John (293, 305)
SCO (Shangai Cooperation Organization) (99,
R 100, 102)
Scotland Yard (290, 291, 292)
Rádio Voz da América (72, 84) security studies (24)
Ramadão (147) segurança energética (46, 81, 118, 159)
Ramadi, Samara (193) Senado dos Estados Unidos da América (41, 52,
Reagan, Ronald (82) 83, 245, 296, 299)
Reingruber, John (31) Senegal (82, 180, 326)
421
Serra Leoa (59, 60) Sociedade Nacional de Inteligência Estraté-
Sérvia (189, 297, 299) gica/ADIT (224)
serviço de informações (26, 27, 126, 135, 246, Sócrates, José (377, 396)
247, 257, 259, 277, 278, 284) softpower (118, 138)
Serviço de Informações África do Sul (56) Solana, Javier (205, 206, 207)
Serviço de Informações bósnio (190) Somália (49, 64-67, 76, 90, 105, 196)
Serviço de Informações da Argentina (80) Somália (águas territoriais da) (68)
Serviço de Informações do Brasil (80) Sonae (117)
serviço de informações do Taiwan (95) Sonangol (77)
Serviço de Informações europeu (205, 206) SOUTHCOM (85)
Serviço de Informações portugueses (81, 116) Studies in Intelligence Review (24, 230)
Serviço de Informações sul.coreano (95, 259) Sudão (54, 69, 70, 76, 88, 90, 99, 105, 207, 208,
Serviços de Informações americanos (71, 92, 145, 238)
175, 256, 266) Suíça (88)
serviços de Informações britânicos (176) sunitas (44, 45, 47, 131, 137, 150, 151, 152, 153,
serviços de informações estratégicas (116) 154, 175)
serviços de informações iranianos (150) Sutyagin, Igor (294, 305)
serviços de informações israelitas (143) SVR (serviço de informações externas russo)
serviços de informações japoneses (94) (133, 143, 238, 239, 285, 292, 294, 305)
serviços de informações militares (48)
serviços de informações militares israelitas (140) T
serviços de informações ocidentais (94, 170, 179,
180, 190) Taiwan (73, 85, 95-97, 237)
serviços jordanos (175) Taiwan (soberania de) (96)
serviços secretos americanos (139, 165, 236, 237, Tajiquistão (99, 109, 181)
240, 263) tensões sino-americanas (108)
serviços secretos chineses (243, 302, 304) teoria do segredo (213)
serviços secretos sauditas (178, 179) Teresa de la Vega, Maria (112, 368)
Setembro de 2001 (11 de) (18, 30, 36, 47, 81, 86, terrorismo internacional (33)
99, 124, 128, 166, 169, 170-173, 176, 177, terrorismo nuclear (184)
180, 185, 198, 200, 203, 204, 213, 239, 241- terrorismo transnacional (25, 47, 128, 192, 205,
247, 249, 250, 252, 256, 257, 264, 266-268, 250, 252, 279)
271, 278, 280, 282, 283, 295, 303, 399, 400, terroristas islâmicos (111, 190)
401) Texaco (110)
Sharia (66, 196) The Guardian (241)
Sharon, Ariel (262) Timor-Leste (18, 105, 106, 361)
Shell (54, 63) tráfico de drogas (32, 95)
Shih-ming, Hsueh (Major-General) (96) Trans-Sahara Counter-Terrorism Initiative (180)
shiitas (44, 45, 131, 137, 149, 150, 152, 153, 154) Tratado Constitucional da União Europeia (111)
Shin Bet (247, 261, 262, 263) Tratado de Não-proliferação Nuclear (102)
Shui-bian, Chen (95) Tratado de Tordesilhas (348)
SIGINT (signals intelligence) (72, 73, 84, 97, 182, Tregubova, Elena (292)
204, 220, 250, 266) Trepashkin, Mikhail (292)
Silva, Lula da (75, 91) tríades chinesas (32)
Sinopec (77, 99, 238) tribunais islâmicos (65)
Sinyansky, Oleg (255, 256) tríplice fronteira (79, 80)
Síria (43, 103, 133, 139, 140, 143, 151, 165, 247, Tsouli, Younis (174)
277, 285) Tunísia (180, 326)
Síria (programa nuclear da) (147) Turquia (44, 112, 130, 132, 151, 155, 156, 160)
SIS (Serviço de Informações de Segurança) (286, Turquia (posição estratégica da) (111)
288, 318, 353)
Sistema das Informações da República Portuguesa U
(353)
Sistema Kimberley (59) Ucrânia (43, 108, 118, 133, 254, 255)
Sitrick and Company (agência de comunicação) Uganda (61, 62, 122)
(59) Uhrlau, Ernst (143, 284, 285)
SLB (sigint liaison branch) (97) UNCTAD (197)
Smeshko, Igor (255, 256) ungoverned spaces (65, 81)
Smith, Anthony (37) União Africana (54, 55, 69, 76, 88, 112)
422
União Europeia (35, 39, 54, 60, 90, 91, 105, 122, W
206, 297, 306, 316, 322, 395)
União Europeia (controlo das fronteiras da) (205) Ward, William (General) (82)
União Europeia (entrada da Turquia na) (111, 112) Washington Post (jornal) (60, 279)
União Europeia (estratégia da) (113) Waxman, Henri (300-302)
União Europeia (politíca de cooperação da) (118) Whelan, Theresa (81)
União Soviética (72, 82, 83, 108-110, 117, 254, WMD (weapons of mass destruction) (181, 182,
294, 298, 305, 399) 411)
unidade de intelligence (231, 232) Wolf, Daniel (183)
UNIFIL (United Nations Interim Force in Wolfowitz, Paul (81, 87, 88, 89, 114, 208, 209,
Lebanon) (148, 149) 252, 253, 344)
Universidade de al-Iman (196)
Universidade de Brasília (79) X
Universidade de Chicago (36)
Universidade de Columbia (36) Xinhua (serviço de informações chinês) (50, 250)
Universidade de Duquesne (266) Xinjiang (108, 109)
Universidade de Georgetown (82, 221)
Universidade de Harvard (23, 24, 90, 127, 135, Y
196, 197, 262, 343)
Universidade de Miami (73, 85) Yandarbiyev, Zelimkhan (239)
Universidade de Nova Iorque (36) Yar’Adua, Umar Musa (66)
Universidade de Salamanca (396) Yeh, Puong Fey (230)
Universidade de Yale (23, 230, 265) Yushenko, Viktor (255, 256)
Universidade do Texas (44, 82)
USAID (73, 85, 92) Z
Uzbequistão (99, 109)
Zâmbia (62)
Zarqawi, Abu Musab (167)
V Zimbabwe (49, 395)
Van Gogh, Theo (169) Zoellick, Robert (89, 90)
Vasconcellos, Teixeira (377) Zuma, Jacob (56)
Venezuela (85)
Verdial, Tiago (307, 308)
Villepin, Dominique (316)
Virginia Jihad Group (202)
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