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As Catástrofes e os Desastres

Coletivos
SUMÁRIO

1 Introdução ......................................................................................................................................................1
2 Flagelos – Catástrofes & Desastres Coletivos – Definições e Conceitos....................................................3
2.1 Flagelos – Tipos ......................................................................................................................................3
2.1.1 Naturais............................................................................................................................................ 3
2.1.2 Humanos .......................................................................................................................................... 4
2.2 Flagelos – Objetivos ................................................................................................................................5
2.2.1 Acelerar o Progresso Material/Moral – Lei de Destruição .............................................................. 5
2.2.2 Higienização da Psicosfera Psíquica/Espiritual ............................................................................... 7
2.2.3 Provas & Resgates Morais/Espirituais – Lei de causa e Efeito ....................................................... 7
2.3 Flagelos – Processo .................................................................................................................................9
2.3.1 Planejamento Coletivo/Planetário – dimensões dos Resgastes/Reajustes ....................................... 9
2.3.2 Planejamento Reencarnatório – individual/familiar ...................................................................... 11
2.3.3 Tempo de Amadurecimento Espiritual – méritos/aprendizados .................................................... 11
2.4 Flagelos Humanos – Porque / Quem está sujeito ..................................................................................12
2.5 Flagelos – Amparo Espiritual ................................................................................................................15
2.5.1 Antevisão das tragédias – preparativos/pressentimentos ............................................................... 15
2.5.2 Equipes especializadas de socorro – requisitos ............................................................................. 16
2.5.3 Assimilação do amparo – morte # libertação espiritual ................................................................. 17
2.6 Flagelos – O Que Você pode Fazer .......................................................................................................19
2.6.1 Atitudes Corretivas/suporte ........................................................................................................... 19
2.6.1.1 Manter a calma – desenvolver um entendimento abrangente .................................................... 19
2.6.1.2 Prece Intercessória ..................................................................................................................... 21
2.6.1.3 Caridade Fraternal ..................................................................................................................... 21
2.6.1.4 Atendimento Espiritual a distância ............................................................................................ 21
2.6.2 Atitudes Preventivas ...................................................................................................................... 22
2.6.2.1 Educar-se espiritualmente.......................................................................................................... 22
2.6.2.2 Agir de forma positiva no Bem próprio e da coletividade ......................................................... 22
2.7 Flagelos - Íntimos ..................................................................................................................................23
2.7.1 Tipos e alcance .............................................................................................................................. 23
2.8 Flagelos e Desastres Coletivos – no Brasil – marcantes nos últimos 100 anos – 1918/2018 ................24
2.8.1 Inundações ..................................................................................................................................... 24
2.8.1.1 1967 – Inundação e deslizamento de terra em Caraguatatuba ................................................... 24
2.8.1.2 2011 – Deslizamento de terra/Região Serrana do Rio de Janeiro.............................................. 24
2.8.1.3 2015 – Rompimento da Barragem de Mariana/Minas Gerais ................................................... 24
2.8.2 Incêndios........................................................................................................................................ 25
2.8.2.1 1961 – Incêndio do Circo Americano /Niterói .......................................................................... 25
2.8.2.2 1972 – Incêndio do Edifício Andraus/São Paulo ....................................................................... 25
2.8.2.3 1974 – Incêndio do Edifício Joelma/São Paulo ......................................................................... 25

i
2.8.2.4 1984 – Incêndio da Vila Socó/São Paulo .................................................................................. 25
2.8.2.5 2013 – Incêndio da Boate Kiss/Santa Maria.............................................................................. 26
2.8.2.6 1987 – Contaminação por Césio/Goiânia .................................................................................. 26
2.8.3 Desastres Aéreos............................................................................................................................ 27
2.8.3.1 1928 – Queda do Hidroavião Santos Dumont ........................................................................... 27
2.8.3.2 1973 – Acidente do avião da VARIG/Paris............................................................................... 27
2.8.3.3 1982 – Acidente do avião da VASP/Ceará ................................................................................ 27
2.8.3.4 1996 – Acidente do avião Fokker 100 – TAM/São Paulo ......................................................... 27
2.8.3.5 2006 – Acidente do avião GOL/Legacy/Amazônia................................................................... 27
2.8.3.6 2007 – Acidente do avião TAM/São Paulo ............................................................................... 27
2.8.3.7 2009 – Acidente do avião AIRFRANCE/Oceano Atlântico ..................................................... 28
2.8.3.8 2016 – Acidente do avião LaMia/Colômbia/Equipe da Chapecoense ...................................... 28
2.8.4 Desastres Rodoviários ................................................................................................................... 29
2.8.4.1 1960 – Acidente do Rio Turvo .................................................................................................. 29
2.8.4.2 1998 – Acidente dos ônibus dos Romeiros................................................................................ 29
2.8.5 Desastres Náuticos......................................................................................................................... 29
2.8.5.1 1927 – Naufrágio do navio Princesa Mafalda ........................................................................... 29
2.8.5.2 1988 – Naufrágio do Bateau Mouche ........................................................................................ 29
2.8.5.3 1988 – Naufrágio do Correio do Arari ...................................................................................... 30
2.8.6 Desastres Ferroviários ................................................................................................................... 30
2.8.6.1 1946 – Acidente de Trem em Aracaju ....................................................................................... 30
2.8.6.2 1983 – Acidente de Trem na Bahia ........................................................................................... 30
2.9 Flagelos – Casos com Esclarecimentos Espirituais ...............................................................................31
2.9.1 1938 – Queda do Avião Australiano – André Luiz ....................................................................... 31
2.9.2 1938 – Choque de Trens – Minas Gerais – Kleber Halfeld ........................................................... 32
2.9.3 1960 – Incêndio do Circo Americano – Niterói – Humberto de Campos ..................................... 34
2.9.4 1973 – Queda do Avião Turco – Paris – Silva Ramos .................................................................. 35
2.9.5 1974 – Incêndio do Edifício Joelma – São Paulo – Cornélio Pires / Cyro Costa .......................... 36
2.9.6 2004 – Tsunami Asiático – Indonésia – Manoel Philomeno de Miranda ...................................... 37
3 Catástrofes & Desastres Coletivos – Mensagens & Artigos Completos .................................................38
3.1 Conceitos e Considerações Gerais .........................................................................................................38
3.1.1 Flagelos Destruidores – Allan Kardec ........................................................................................... 38
3.1.2 As Expiações Coletivas – Allan Kardec/ Clélia Duplantier .......................................................... 40
3.1.3 Emigrações e imigrações dos espíritos e os flagelos destruidores - Allan Kardec ........................ 43
3.1.4 Flagelos - Demeure ........................................................................................................................ 44
3.1.5 Flagelos e Males – Manoel Philomeno de Miranda ...................................................................... 45
3.1.6 Calamidades – Joanna de Angelis – Incêndio do Joelma .............................................................. 48
3.1.7 Perante os Fatos Momentosos – André Luiz ................................................................................. 51
3.1.8 Supercultura e Calamidades Morais - Emmanuel ......................................................................... 52
3.1.9 Flagelos Íntimos – Emmanuel ....................................................................................................... 53

ii
3.1.10 Catástrofes – Francisco Cândido Xavier ....................................................................................... 54
3.1.11 Desencarnações Coletivas – Emmanuel ........................................................................................ 55
3.1.12 Expiações Coletivas – Rodolfo Calligaris ..................................................................................... 57
3.1.13 Provação Coletiva – Emmanuel .................................................................................................... 59
3.1.14 O Apocalipse – Francisco Cândido Xavier ................................................................................... 60
3.1.15 Os Instrumentos do Grande Cirurgião - Kleber Halfeld ................................................................ 61
3.1.16 Para os montes – Emmanuel .......................................................................................................... 65
3.1.17 Catástrofes – Raul Teixeira ........................................................................................................... 66
3.1.18 Mortes Coletivas – Divaldo Franco ............................................................................................... 67
3.1.19 Terremoto Espiritual - Leopoldo Machado ................................................................................... 68
3.2 Esclarecimentos Espirituais sobres Catástrofes/Tragédias ....................................................................71
3.2.1 Incêndio do Circo Americano........................................................................................................ 71
3.2.1.1 A Tragédia do Circo – Humberto de Campos ........................................................................... 71
3.2.2 Queda do Avião Australiano ......................................................................................................... 74
3.2.2.1 Resgates Coletivos – André Luiz .............................................................................................. 74
3.2.3 Incêndio do Joelma ........................................................................................................................ 78
3.2.3.1 Calamidades Salvadoras – Editorial – Revista Reformador ...................................................... 78
3.2.3.2 Incêndio do Edifício Joelma – Francisco Cândido Xavier ........................................................ 80
3.2.3.3 Senhor Jesus! – Emmanuel ........................................................................................................ 81
3.2.3.4 O Enigma Insolúvel – Herculano Pires ..................................................................................... 82
3.2.3.5 O Ponto Central – Francisco Cândido Xavier ........................................................................... 83
3.2.3.6 Luz nas chamas – Cyro Costa.................................................................................................... 84
3.2.3.7 Resgates a Longo Prazo – Herculano Pires ............................................................................... 85
3.2.3.8 Os Poetas e o Incêndio – Francisco Cândido Xavier ................................................................. 87
3.2.3.9 Incêndio em São Paulo – Cornélio Pires ................................................................................... 87
3.2.3.10 Almas Libertas – Herculano Pires ............................................................................................. 88
3.2.3.11 O incêndio do Joelma - Caio Ramacciotti ................................................................................. 89
3.2.3.12 Mãezinha, estou bem - Volquimar Carvalho dos Santos ........................................................... 91
3.2.3.13 Renasci das Chamas - Wilson William Garcia .......................................................................... 96
3.2.4 Queda do Avião Turco ................................................................................................................ 101
3.2.4.1 Revelação de Poeta – Francisco Cândido Xavier .................................................................... 101
3.2.4.2 Culpas – Silva Ramos .............................................................................................................. 102
3.2.4.3 A Escolha do Espírito – Herculano Pires ................................................................................ 103
3.2.5 A Queda do Avião da VARIG ..................................................................................................... 104
3.2.5.1 O Boeing 707 – Voo Varig 820 – Editorial – Revista Reformador ........................................ 104
3.2.6 Choque de Trens em Minas Gerais.............................................................................................. 106
3.2.7 Tsunami Asiático – Indonésia ..................................................................................................... 108
3.2.7.1 A Transição Planetária – Manoel Philomeno de Miranda ....................................................... 108
4 Referências .................................................................................................................................................114

iii
As Catástrofes e os Desastres Coletivos
1 Introdução

Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e
pertencem aos desígnios da Providência.
Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não
lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males
são geralmente agravados pela indolência do homem.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 741

Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados


em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra.
Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da
agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas os meios de
neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres?
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Comentários a Perg. 741

Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade
para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na
escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser
apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais
de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são
frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de
coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 737

Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros


meios que não os flagelos destruidores?
Pode e os emprega todos os dias, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo
conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário,
portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 738

1
Esses flagelos destruidores têm utilidade do ponto de vista físico; malgrado os
males que ocasionam?
Sim, eles modificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta
só é geralmente sentido pelas gerações futuras.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 739
Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a
braços com as mais aflitivas necessidades?
Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de
demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de
manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não
domina o egoísmo.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 740

2
2 Flagelos – Catástrofes & Desastres Coletivos – Definições e Conceitos
2.1 Flagelos – Tipos
2.1.1 Naturais

Em face do impositivo da evolução, o homem enfrenta os flagelos que fazem parte da


vida. Os naturais, surpreendem-no, sem que os possa evitar, não obstante a inteligência lhe haja
facultado meios de os prevenir e até mesmo de remediar-lhes algumas das consequências.
(...)
Inúmeros desses flagelos destruidores já podem ser previstos e alguns diminuídos os
seus os seus efeitos perniciosos, em razão das conquistas que a Humanidade vem alcançando.
Outros, que constituíam impedimentos aos avanços e à saúde, têm sido minorados e até
vencidos, quais a fertilização de regiões desérticas, o saneamento de áreas contaminadas, a
correção de acidentes geográficos, a prevenção contra as epidemias que dizimavam multidões,
assolando países e continentes inteiros, e, graças ao Espiritismo, a terapia preventiva em relação
aos processos obsessivos que dominavam grupos e coletividades ...
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 10 – Flagelos e
Males
Com frequência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam
rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.
Consequência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta
a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que
se revestem.
Cataclismos sísmicos e revoluções geológicas que irrompem voluptuosos em forma de
terremotos, maremotos, erupções vulcânicas obedecem ao impositivo das adaptações,
acomodações e estruturação das diversas camadas da Terra, no seu trânsito de ‘mundo
expiatório’ para ‘regenerador’.
(...)
As endemias e epidemias que varriam o planeta, no passado, continuamente, com danos
incalculáveis, em grande parte são, hoje, capítulo superado, graças às admiráveis conquistas
decorrentes da ‘revolução tecnológica’ e da abnegação de inúmeros cientistas que se
sacrificaram para a salvação das coletividades. Muitas outras que ainda constituem verdadeiras
catástrofes, caminham para oportunas vitórias do engenho e da perseverança humana
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

3
2.1.2 Humanos

Apesar disso, há os flagelos que o homem busca através dos vícios que se permite,
sobrepondo as paixões torpes aos sentimentos de elevação, vindo a padecer males que poderiam
ser evitados com um mínimo de esforço.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 10 – Flagelos e
Males
Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte são
resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto, lhes
constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se.
(...)
Há, também, aqueles resultantes da imprevidência, da invigilância, por meio das quais
o homem irresponsável se autopune, mediante os rigores dos sofrimentos decorrentes das
desencarnações precipitadas, através de violentos sinistros e funestas ocorrências...
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

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2.2 Flagelos – Objetivos
2.2.1 Acelerar o Progresso Material/Moral – Lei de Destruição

Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade
para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na
escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser
apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais
de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são
frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de
coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 737

As renovações rápidas, quase instantâneas, que se produzem no elemento espiritual da


população, por efeito dos flagelos destruidores, apressam o progresso social; sem as emigrações
e imigrações que de tempos a tempos lhe vêm dar violento impulso, só com extrema lentidão
esse progresso se realizaria.
É de notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre
seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual, ou moral e, por conseguinte, no
estado social das nações que as experimentam. É que elas têm por fim operar uma remodelação
na população espiritual, que é a população normal e ativa do globo.
Allan Kardec – A Gênese – Cap. 11 – Item 36 – Emigrações e Imigrações dos
Espíritos

Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para


extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele
provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão ou, para melhor dizer,
cada região será, passo a passo, batida por flagelos de naturezas diversas.
Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois,
preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se
instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso.
Demeure – Revista Espírita – 1868 – Novembro - Epidemia da ilha Maurice

5
Tais desesperadores eventos impõem ao homem invigilante a necessidade da meditação
e da submissão à vontade divina, do que resultam transformações morais que o incitam à
elevação.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

Criamos a culpa e nos mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe


as consequências.
E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de
induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito a nossa
própria segurança.
E por esse motivo que, de todas as calamidades terrestres, o homem se retira com mais
experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap. 19 – Desencarnações Coletivas

6
2.2.2 Higienização da Psicosfera Psíquica/Espiritual

Olhados sob o ponto de vista espiritual esses flagelos destruidores têm objetivos
saneadores que removem as pesadas cargas psíquicas existentes na atmosfera, que o homem
elimina e aspira, em contínua intoxicação.
Indubitavelmente trazem muitas aflições pelos danos que se demoram após a extinção
de vidas, arrebatadas coletivamente.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

2.2.3 Provas & Resgates Morais/Espirituais – Lei de causa e Efeito

Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a
braços com as mais aflitivas necessidades?
Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de
demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de
manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não
domina o egoísmo.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 740

Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes
significam justiça integral que se realiza.
Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em
forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade
provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos
à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.
Como há podido pela técnica superar e remover vários fatores de calamidades, pelas
conquistas morais conseguirá, a pouco e pouco, suplantar as exigências transitórias de tais
injunções redentoras.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

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Dentro da Doutrina Espírita, como se explicam as mortes, assim aos milhares, em
guerras, enchentes, em toda espécie de catástrofe?
– São essas provações, que coletivamente adquirimos do ponto de vista de débitos
cármicos.
As vezes empreendemos determinados movimentos destrutivos, em desfavor da
comunidade ou do indivíduo, às vezes operamos em grupo, às vezes, em vastíssimos grupos e,
no tempo devido, os princípios cármicos amadurecem, e nós resgatamos as nossas dívidas,
reunindo-nos uns com os outros, quando estamos acumpliciados nas mesmas culpas, porque
a Lei de Deus é a Lei de Deus, formada de justiça e de misericórdia.
Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Dos Hippies aos problemas do mundo –
Cap. 18 - Catástrofes

Quando retornamos da Terra para o mundo espiritual, conscientizados nas


responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e
rogamos os meios precisos a fim de resgata-los devidamente.
E assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a
redenção múltipla.
Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap. 19 – Desencarnações Coletivas

Quanto às chamadas catástrofes, essas sempre existiram e continuarão a existir,


podendo, em dada ocasião, levar em sua voragem incontáveis criaturas que estejam na faixa
das necessidades expiatórias, via sofrimento.
Raul Teixeira – Ante o Vigor do Espiritismo – Cap. 1 – Flagelos

Há quem se revolte à ideia de que uma criatura querida tenha praticado crimes em vida
anterior. Mas a verdade é que somos todos, sem distinção, espíritos endividados com a nossa
própria consciência.
Nada devemos a Deus, que nada nos cobra, mas tudo devemos a nós mesmos. A
natureza divina do espírito se revela nas leis de justiça da consciência. E é por esse tribunal
secreto, instalado em nós mesmos, que nos condenamos a suplícios redentores.
A tragédia passageira resulta em benefícios espirituais na vida sem limites que nos
aguarda além-túmulo.
J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – O Enigma Insolúvel

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2.3 Flagelos – Processo
2.3.1 Planejamento Coletivo/Planetário – dimensões dos Resgastes/Reajustes

Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação,
às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas.
Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o
seu caráter, se expia em virtude da mesma lei.
O algoz, relativamente à sua vítima, quer indo a encontrar-se em sua presença no espaço,
quer vivendo em contato com ela numa ou em muitas existências sucessivas, até à reparação do
mal praticado.
O mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por um certo
número de pessoas. As expiações também são solidárias, o que não suprime a expiação
simultânea das faltas individuais.
Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro
da família e, finalmente, o de cidadão.
Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser
virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão e reciprocamente.
Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências.
Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa
existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o
mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto é,
expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.
(...)
Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem
dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado.
Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas?
Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado;
mas, não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem?
Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu. Depois,
como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta
da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até à última moeda.

9
(...)
As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão,
pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus
negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado
as mãos em crimes de lesa-sociedade.
Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas
concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião,
ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa
pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram.
Allan Kardec/Clélia Duplantier – Obras Póstumas – 1º Parte – Questões e Problemas
– As Expiações Coletivas

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2.3.2 Planejamento Reencarnatório – individual/familiar

Como se processa a provação coletiva?


Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados,
participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro.
O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente,
através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas da dívida do pretérito para os
resgates em comum, razão porque, muitas vezes, intitulais “doloroso caso” às circunstâncias
que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo
físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais.
Emmanuel – O Consolador – Perg. 250 – Como se processa a Provação Coletiva

2.3.3 Tempo de Amadurecimento Espiritual – méritos/aprendizados

Mesmo entre os espíritas, alguns poderão perguntar por que motivo dívidas tão remotas
só agora foram pagas.
As Cruzadas se verificaram entre princípios do Século XI e final do Século XIII. É que
a Lógica Divina é superior à lógica humana. Débitos pesados esmagariam o espírito endividado,
sob cobrança imediata.
Convém dar tempo ao tempo para que os resgates se façam de maneira proveitosa.
Os Espíritos devem evoluir o suficiente para que suas próprias consciências os levem a
aceitar o resgate e a pedi-lo, reconhecendo a medida como necessária para continuidade de sua
evolução.
Entrementes, nas encarnações sucessivas, partes do débito vão sendo pagas, aliviando o
devedor.
J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Resgates a Longo Prazo

11
2.4 Flagelos Humanos – Porque / Quem está sujeito

O egoísmo, que não cede lugar às aspirações altruístas, comanda a sua ambição
desmedida, levando-o a excessos que o comprometem.
(...)
O abuso das paixões, e não o uso correto que leva aos ideais do amor e ao arrebatamento
pelas causas nobres, é o agente dos flagelos e males que se voltam contra o próprio homem e o
infelicitam.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 10 – Flagelos e
Males

Pareceriam desnecessárias as aflições coletivas que arrebatam justos e injustos, bons e


maus, se olhados os saldos precipitadamente.
Conveniente, todavia, refletir quanto à justeza das leis divinas que recorrem a métodos
purificadores e liberativos, de que os infratores e defraudadores das Leis e da Ordem não se
podem furtar ou evitar.
(...)
Comparsas de hediondas chacinas;
Grupos de vândalos que se aliciam na desordem e usurpação;
Maltas de inveterados agressores que se identificam em matanças e destruições;
Corsários e marinhagens desvairados em acumpliciamentos para pilhagens criminosas;
Soldadesca mercenária, impiedosa e avassaladora, que se refestela, brutal, na inocência
imolada selvagemente;
Incendiários contumazes de lares e celeiros, em hordas nefastas e contínuas; bandos
bárbaros de exterminadores, que tudo assolam por onde passam; cúmplices e seviciadores de
vítimas inermes que lhe padecem as constrições danosas;
Pesquisadores e cientistas impenitentes, empedernidos pelas incessantes experiências
macabras de que se nutrem em agrupamentos frios;
Legisladores sádicos e injustos que se desforçam nas gerações débeis que esmagam;
Conquistadores arbitrários, carniceiros, que subjugam cidades nobres, tornando seus
vítimas cadáveres insepultos, enquanto se banqueteiam em sangue e estupor;

12
Mentes vinculadas entre si por estranhas amarras de ódio, ciúme e inveja que
incendeiam paixões, são reunidos novamente em vidas futuras, atravessando os portais da
Imortalidade, através de resgates coletivos, como coletivamente espoliaram, destruíram,
escarneceram, aniquilaram, venceram os que encontravam à frente e consideravam
impedimentos à sua ferocidade e barbaria, vandalismo e estroinice, a fim de que se reajustem,
no concerto cósmico da Vida, servindo, também, de escarmento para os demais, que, não
obstante se comovem ante as desgraças que os surpreendem, cobrando-lhes as graves dívidas,
prosseguem, atônitos e desregrados, em atitudes infelizes sem que lhes hajam constituído lições
valiosas, capazes de converter-se em motivo de transformação interior.
Construtores gananciosos que se fazem para cobranças negativas;
Maquinistas e condutores de veículos displicentes, que favorecem tragédias volumosas,
Homens que vendem a honradez e sabem que determinadas calamidades têm origem
nas suas mentes e mãos, embora ignorados pela Justiça humana, não se furtarão à Consciência
Divina neles mesmos insculpida, que lhes exigirá retorno ao proscênio em que se fizeram
criminosos ignorados para tornar-se heróis, salvando outros e perecendo, como necessidade
purificadora de que se alçarão, depois, à paz.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades

Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia


do saque, tornamos a Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para
a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal,
pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro
e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o plano físico a fim de
sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e
lagrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis,
em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno a Terra para a
desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap. 19 – Desencarnações Coletivas

13
– Imaginemos que fossem analisar as origens da provação a que se acolheram os
acidentados de hoje.... Surpreenderiam, decerto,
Delinquentes que, em outras épocas, atiraram irmãos indefesos do cimo de torres
altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no chão;
Companheiros que, em outro tempo, cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar,
pondo a pique existências preciosas;
Suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, em supremo
atestado de rebeldia, perante a Lei, os quais, por enquanto, somente encontraram recurso em
tão angustioso episódio para transformarem a própria situação.
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgastes Coletivos

14
2.5 Flagelos – Amparo Espiritual
2.5.1 Antevisão das tragédias – preparativos/pressentimentos

Sabíamos que milhares de Espíritos nobres haviam acorrido em auxílio de todos,


empenhando-se em resgatá-los das Entidades infelizes e vampirizadoras, interessadas no fluido
vital dos recém-desencarnados.
Engenheiros e arquitetos desencarnados movimentaram-se com rapidez e edificaram
uma comunidade de emergência, que a todos nos albergaria logo mais, recebendo também
aqueles aos quais socorrêssemos.
Curiosamente ampliou os esclarecimentos, informando que os ocidentais em férias que
se fizeram vítimas, mantinham profunda ligação emocional com aquele povo e foram
atraídos por forças magnéticas para resgatar, na ocasião, velhos compromissos que lhes
pesavam na economia moral...
- Nada acontece, sem os alicerces da causalidade! – Concluiu.
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 4

15
2.5.2 Equipes especializadas de socorro – requisitos

Em pleno quadro inquietante, um ancião desencarnado, de semblante nobre e digno,


formulava requerimento comovedor, rogando à Mansão a remessa de equipe adestrada para a
remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no doloroso sinistro.
(...)
A cena aflitiva parecia desenrolar-se ali mesmo. Oito dos desencarnados no acidente
jaziam em posição de chague, algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam,
jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas,
gritavam desesperados, em crises de inconsciência.
Contudo, amigos espirituais, abnegados e valorosos, velavam ali, calmos e atentos.
Figurando-se cascata de luz vertendo do Céu, o auxílio do Alto vinha, solícito, em
abençoada torrente de amor.
(...)
Foi então que Hilário e eu indagamos se não nos seria possível a participação na obra
assistencial que se processava, no que Druso, paternalmente, não concordou, explicando que o
trabalho era de natureza especialíssima, requisitando colaboradores rigorosamente treinados.

André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgastes Coletivos

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2.5.3 Assimilação do amparo – morte # libertação espiritual

– O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos


esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente para
cada um.
No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes
outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o
afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos
que lhes dizem respeito.
– Quantos dias? – Clamou meu colega, incapaz de conter a emoção de que se via
possuído.
– Depende do grau de animalização dos fluidos que lhes retêm o Espírito à atividade
corpórea – respondeu-nos o mentor. –
Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias.... Quem sabe?
Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma.
O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de
nossa morte. Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo
gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que
se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a
que nos ajustamos, nelas encontrando combustível para dilatados enganos nas sombras do
campo carnal, propriamente considerado.
E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio
e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer
emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante a Lei.
Assim é que “morte física” não é o mesmo que “emancipação espiritual”.
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgastes Coletivos
(...)
Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô Álvaro, comigo durante todo o tempo,
não me deixaram assinalar quaisquer violências, naturais numa ocasião como aquela, da parte
daqueles que nos removiam do caminho em que se acreditavam no rumo da volta que não mais
se verificaria.
Lembrando nossas preces e nossas conversações em casa, procurei esquecer as frases
de desespero que se pronunciavam em torno de mim. Essa atitude de prece e de aceitação me
auxiliou e me colocou em posição de ser socorrida.

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(...)
Os irmãos hospitalizados, os que se refazem dos choques, os que se reconhecem
desfigurados por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma e os que se
acusam doentes, são ainda muitos.
(...)
Não me recorde desfigurada ou em situação difícil na qual você é induzido a lembrar-
me. Querido irmão, atravessamos aquela sombra.
Volquimar Carvalho dos Santos – Somos Seis – Cap. 3 (13 julho 1974)

(...)
Passaram. O nosso admirável Joelma para nós agora funcionou como um templo em que
nos transformamos para as Leis de Deus. Não creiam que o sofrimento para mim fosse muito.
A princípio, o tumulto, o desejo natural de escapar à provação, a luta pela sobrevivência
sem agressões (5) à frente dos companheiros e colegas que experimentavam como nós o
desequilíbrio nos conflitos inesperados...
Depois, foi a tosse, o cérebro toldado, como se houvesse sorvido uma bebida forte
e, em seguida, um sono com pesadelos (6)...
Os pesadelos das telas em derredor que vocês podem imaginar como tenham sido...
Posso dizer a você, Mamãe, que pensávamos em helicópteros que nos retirassem das
partes altas do edifício e com espanto, quando acordei ainda estremunhado, fui transportado
para um aparelho semelhante, junto de outros amigos.
Era assim tão perfeita a situação do salvamento que fui alojado num hospital, como se
estivéssemos num hospital da cidade para recuperação, antes do regresso à nossa casa.
Mantive essa expectativa até que meu avô Ângelo me fizesse recordar os tempos de
criança e, logo que me vi novamente menino na memória, compreendi que ele era o meu avô
na Vida Espiritual e que estávamos juntos. O hospital não era mais daqueles que conhecemos
no mundo.
Wilson William Garcia – Somos Seis – Cap. 8 (20 dezembro 1975)

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2.6 Flagelos – O Que Você pode Fazer

Tocados pelas dores gerais, partícipes das angústias que se abatem sobre os lares
vitimados pela fúria da catástrofe, ajudemo-nos e oremos, formando a corrente da fraternidade
santificante, e, desde logo, estaremos construindo a coletividade harmônica que atravessará o
túmulo em paz e esperança, com os júbilos do viajor retornando ditoso à Pátria da ventura.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap.1 – Calamidades

2.6.1 Atitudes Corretivas/suporte


2.6.1.1 Manter a calma – desenvolver um entendimento abrangente

Em tempo algum empolgar-se por emoções desordenadas ante ocorrências que


apaixonem a opinião pública, como, por exemplo, delitos, catástrofes, epidemias, fenômenos
geológicos e outros quaisquer.
Acalmar-se é acalmar os outros.
André Luiz – Conduta Espírita – Cap. 39 - Perante os fatos momentosos

Lamentemos sem desespero quantos se fizeram vítimas de desastres que nos


confrangem a alma. A dor de todos eles e a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram
são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença da Misericórdia
Divina junto as ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento e invariavelmente
reduzido ao mínimo para cada um de nos, que tudo se renova para o bem de todos e que
Deus nos concede sempre o melhor.
Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap.19 – Desencarnações Coletivas

Chico Xavier, o senhor não acredita no apocalipse previsto por Nostradamus e


outros videntes para o ano 2.000?
– Acima do próprio Apocalipse, eu creio na bondade eterna do Criador que nos insuflou
a vida imortal.
Então, acima de todos os apocalipses, eu creio em Deus e na imortalidade humana e
essas duas realidades preponderarão em qualquer tempo da Humanidade.
Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Mandato de Amor – Cap. 14 (1980)

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Dá-lhes a saber, em qualquer recanto de fé ou pensamento a que se acolham, que é
preciso nos levantemos de nossas próprias inquietações e perplexidades, a cada dia, para
continuar e recomeçar, sustentar e valorizar as lutas de nossa evolução e aperfeiçoamento, no
uso da Vida Maior que a todos nos aguarda, nos planos da União Sem Adeus.
Emmanuel – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – Senhor Jesus!

20
2.6.1.2 Prece Intercessória
Entretanto, não desconhecemos que nós, consciências endividadas, podemos melhorar
nossos créditos, todos os dias. Quantos romeiros terrenos, em cujos mapas de viagem constam
surpresas terríveis, são amparados devidamente para que a morte forçada não lhes assalte o
corpo, em razão dos atos louváveis a que se afeiçoam! ...
Quantas intercessões da prece ardente conquistam moratórias oportunas para pessoas
cujo passo já resvala no cairel do sepulcro?!... Quantos deveres sacrificiais granjeiam, para a
alma que os aceita de boamente, preciosas vantagens na Vida Superior, onde providências se
improvisam para que se lhes amenizem os rigores da provação necessária?!
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Desencarnações Coletivas

2.6.1.3 Caridade Fraternal


E, enquanto o buril da provação esculpe na pedra de nossas dificuldades, conquanto
as nossas lágrimas, novas formas de equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso,
engrandece em teu amor aqueles que entrelaçam providências no amparo aos companheiros
ilhados na angústia.
Agradecemos ainda a compreensão e a bondade que nos concedes em todos os irmãos
nossos que estendem os braços, cooperando na extinção das chamas da morte; que oferecem
o próprio sangue aos que desfalecem de exaustão; que umedecem com o bálsamo do leite e
da água pura os lábios e as gargantas ressequidas que emergem de tumulto de cinza e sombra;
que socorrem os feridos e mutilados para que se restaurem; e os que pronunciam palavras de
entendimento e paz, amor e esperança, extinguindo a violência no nascedouro!…
Senhor Jesus! …
Confiamos em ti e, ao entregarmo-nos em Tuas mãos, ensina-nos a reconhecer que
fazes o melhor ou permites se faça constantemente o melhor em nós e por nós, hoje e sempre.
Emmanuel – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – Senhor Jesus!

2.6.1.4 Atendimento Espiritual a distância


Diante, portanto, de toda realização mediúnica de socorro aos que sofrem e choram no
além-túmulo, tenhamos em mente que a caridade do Pai para com nós outros é maior do
que supomos oferecer aos que vêm até nós em busca de lenitivo para as suas dores.
João Cleófas

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2.6.2 Atitudes Preventivas
2.6.2.1 Educar-se espiritualmente
Bem sabemos que, se uma onda sonora encontra outra, de tal modo que as “cristas” de
uma ocorram nos mesmos pontos dos “vales” da outra, esse meio, em consequência aí não
vibra, tendo-se como resultado o silêncio.
Assim é que, gerando novas causas com o bem, praticado hoje, podemos interferir nas
causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando, com isso, o nosso
equilíbrio.
Desse modo, creio mais justo incentivarmos o serviço do bem, através de todos os
recursos ao nosso alcance. A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o
trabalho, a arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será
lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de nossos destinos.
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Catástrofes Coletivas

2.6.2.2 Agir de forma positiva no Bem próprio e da coletividade

É indispensável manter-se o discípulo do bem nas alturas espirituais, sem abandonar a


cooperação elevada que o Senhor exemplificou na Terra; que aí consolide a sua posição de
colaborador fiel, invencível na paz e na esperança, convicto de que, após a passagem dos
homens da perturbação, portadores de destroços e lágrimas, são os filhos do trabalho que
semeiam a alegria, de novo, e reconstroem o edifício da vida.
Emmanuel – Caminho, Verdade e Vida – Cap. 140 – Para os Montes

22
2.7 Flagelos - Íntimos
2.7.1 Tipos e alcance
No entanto, entre os povos mais adiantados do planeta, avançam duas calamidades
morais do materialismo, corrompendo-lhes as forças: o suicídio e a loucura, ou, mais
propriamente, a angústia e a obsessão.
É que o homem não se aprovisiona de reservas espirituais à custa de máquinas.
Emmanuel - Entre irmãos de outras Terras - Cap. 12 - Supercultura e Calamidades
Morais

Ante as calamidades que afligem a Natureza, gerando o espetáculo deprimente das


provações coletivas, não te esqueças daquele mundo vivo que somos nós mesmos, governado
por leis que não poderemos trair.
Lembra-te de que todos os nossos desacertos na luta e deserções do dever representam
deplorável plantação de males em nossa rota.
A rendição ao vício e o culto da crueldade criam espessas nuvens de treva em torno de
nossos passos a rebentarem depois, em temporais de lágrimas, que valem por destruidoras
convulsões em nosso campo íntimo.
É por isso que a experiência atual para nós outros permanece juncada pelos destroços
de ontem, quando a nossa invigilância favoreceu na estrada que nos é própria os flagelos morais
que hoje nos patrocinam as dificuldades e os sofrimentos.
Os obstáculos do templo familiar, os impedimentos afetivos, os espinheiros
profissionais e os tremendos conflitos interiores que nos assomam à vida constituem dolorosas
reminiscências dos cataclismos da alma que nós mesmos criamos.
Emmanuel – Fé, Paz e Amor – Cap. 14 - Flagelos

23
2.8 Flagelos e Desastres Coletivos – no Brasil – marcantes nos últimos 100 anos –
1918/2018
2.8.1 Inundações
2.8.1.1 1967 – Inundação e deslizamento de terra em Caraguatatuba
• De acordo com o posto da Fazenda dos Ingleses, o índice pluviométrico foi de
851 mm, 420 mm somente no dia 18, não tendo sido registrado índice maior
devido à saturação do pluviômetro. Na manhã do dia 18 começaram os
deslizamentos, a maior parte deles ocorrendo à tarde. Às 13:00 horas ocorreu
uma avalanche de pedras, árvores e lama dos morros Cruzeiro, Jaraguá e
Jaraguazinho, próximos à cidade. Por volta das 15:30 horas toda a serra desabou,
e a cidade ficou isolada.
• Mortes: 436

2.8.1.2 2011 – Deslizamento de terra/Região Serrana do Rio de Janeiro


• Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro,
localizado no Sudeste do Brasil, em janeiro de 2011. Os municípios mais
afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do
Vale do Rio Preto e Bom Jardim na Região Serrana e Areal na Região Centro-
Sul do estado.
• Mortes: 916 – 345 desaparecidos.

2.8.1.3 2015 – Rompimento da Barragem de Mariana/Minas Gerais


• O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de
2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do
município brasileiro de Mariana, Minas Gerais.[3] Rompeu-se uma barragem
de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco
Mineração S.A. O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre
industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior
do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de
62 milhões de metros cúbicos. Destruindo totalmente três distritos - Bento
Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, esta última a 60 km de Mariana - e
deixando milhares de pessoas desalojadas.
• Mortes: 19.

24
2.8.2 Incêndios

2.8.2.1 1961 – Incêndio do Circo Americano /Niterói


• No dia 17 de dezembro de 1961, ocorria, em Niterói, o maior incêndio do Brasil,
que deixou centenas de mortos. Oficialmente, morreram 503 pessoas na tragédia,
mas o número estimado seria maior. E cerca de 70% desse total eram crianças,
que morreram queimadas, asfixiadas ou pisoteadas. Entre os feridos, muitos
deles ficaram desfigurados e alguns até mutilados.
• Mortes: 503

2.8.2.2 1972 – Incêndio do Edifício Andraus/São Paulo


• Em 24 de fevereiro de 1972, o Edifício Andraus, localizado na Avenida São
João região central da Cidade de São Paulo, foi palco de um incêndio de
grandes proporções. A tragédia ocorreu devido a uma sobrecarga no sistema
elétrico no segundo pavimento, que fez com que o fogo rapidamente se alastrasse
consumindo o prédio por completo.
• Mortes: 16

2.8.2.3 1974 – Incêndio do Edifício Joelma/São Paulo


• O incêndio começou por volta das 8h45 de uma sexta-feira chuvosa – 1 de
fevereiro de 1974. O fogo foi causado por um curto-circuito em um aparelho de
ar-condicionado no 12° andar. Quinze minutos após o curto-circuito, era
impossível descer as escadas, que foram bloqueadas pelo fogo e a fumaça.
• Mortes: 187 - A grande maioria das vítimas era formada por funcionários do
Banco Crefisul de Investimentos, que funcionava lá.

2.8.2.4 1984 – Incêndio da Vila Socó/São Paulo


• O incêndio foi provocado pelo vazamento de 700 mil litros de gasolina de um
duto da Petrobras que passava sob as palafitas da favela, onde moravam quase
seis mil pessoas. O problema teria acontecido por uma falha operacional. O fogo
começou por volta da meia-noite e se estendeu até a manhã do dia seguinte.
• Mortes: 93 (500?) – mais de 3000 desabrigados.

25
2.8.2.5 2013 – Incêndio da Boate Kiss/Santa Maria
• A tragédia ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, e foi provocada
pela imprudência e pelas más condições de segurança no local. O acidente foi
considerado a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um
incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-
Americano, ocorrida em 1961, em Niterói, que vitimou 503 pessoas.
• Mortes: 242.

2.8.2.6 1987 – Contaminação por Césio/Goiânia


• O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com
o césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido
no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um
aparelho utilizado em radioterapias foi encontrado dentro de uma clínica
abandonada, no centro de Goiânia, em Goiás. O instrumento foi encontrado por
catadores de um ferro-velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi
desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o
qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas. O acidente com césio-
137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora
das usinas nucleares.
• Mortes: 4 – centenas de contaminados.

26
2.8.3 Desastres Aéreos

2.8.3.1 1928 – Queda do Hidroavião Santos Dumont


• Um Dornier Do J do Syndicato Condor cai nas águas da Baía de Guanabara.
Esse acidente ocorreu durante as comemorações do retorno de Alberto Santos
Dumont ao Brasil. Entre os mortos, estava o médico Amaury de Medeiros.
• Mortes: 14

2.8.3.2 1973 – Acidente do avião da VARIG/Paris


• Um voo da Varig que havia decolado do Rio de Janeiro caiu a quatro quilômetros
do aeroporto de Orly, na França. Entre os mortos estava o cantor Agostinho dos
Santos e o político Felinto Muller.
• Mortes: 123 – 11 sobreviventes

2.8.3.3 1982 – Acidente do avião da VASP/Ceará


• Em 8 de junho de 1982 um Boeing da Vasp que ia de São Paulo a Fortaleza se
chocou contra a Serra da Aratanha, no norte do Ceará.
• Mortes: 135
2.8.3.4 1996 – Acidente do avião Fokker 100 – TAM/São Paulo
• Na manhã de 31 de outubro de 1996, o voo 402, um Fokker 100, da TAM,
decolou de Congonhas para o Rio de Janeiro. Apenas 24 segundos depois, caiu
sobre oito casas da Rua Luís Orsini de Castro, no bairro do Jabaquara, na zona
sul de São Paulo.
• Mortes: 96 + 3 em terra

2.8.3.5 2006 – Acidente do avião GOL/Legacy/Amazônia


• Em 29 de setembro de 2006, um jato Legacy que ia para o Estados Unidos
colidiu com um Boeing da Gol que retornava para o sul do País, sobre a Floresta
Amazônica.
• Mortes: 154
2.8.3.6 2007 – Acidente do avião TAM/São Paulo
• Em 17 de julho de 2007, um avião da TAM que vinha de Porto Alegre não
conseguiu parar na pista ao pousar no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de
São Paulo. A aeronave se chocou contra um prédio da companhia aérea.
• Mortes: 186 + 13 em terra
27
2.8.3.7 2009 – Acidente do avião AIRFRANCE/Oceano Atlântico
• Em 31 de maio de 2009, o voo 447 da Air France, que ia do Rio de Janeiro para
Paris, caiu no oceano Atlântico, a cerca de 600 quilômetros de Fernando de
Noronha.
• Mortes: 228 – 58 brasileiros, entre eles o príncipe Pedro de Luís de Orleans e
Bragança.

2.8.3.8 2016 – Acidente do avião LaMia/Colômbia/Equipe da Chapecoense


• O avião partiu na noite de 28 de novembro de 2016 de Santa Cruz de La Sierra,
na Bolívia, com destino a Medellín, na Colômbia, onde a Chapecoense iria
disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético
Nacional. O jogo estava marcado para o dia 30 de novembro. A aeronave caiu a
poucos quilômetros da cidade colombiana, à 1h15 (horário de Brasília) de 29 de
novembro de 2016.
• Mortes: 71 – 6 sobreviventes – 4 brasileiros.

28
2.8.4 Desastres Rodoviários
2.8.4.1 1960 – Acidente do Rio Turvo
• Acidente do Rio Turvo: o acidente aconteceu em 24 de agosto de 1960, quando
um ônibus levando 64 estudantes de São José do Rio Preto para Barretos caiu de
uma ponte no rio Turvo, município de Guapiaçu. Até hoje, é o maior acidente
rodoviário em número de vítimas fatais ocorrido no estado de São Paulo.
• Mortes: 59
2.8.4.2 1998 – Acidente dos ônibus dos Romeiros
• O acidente ocorreu na Rodovia Anhanguera, no quilômetro 179 do sentido norte,
na altura da cidade de Araras, envolvendo 5 veículos, sendo destes 2 ônibus com
romeiros, a maioria deles da cidade de Anápolis. A maioria das pessoas morreu
carbonizadas após uma colisão entre o primeiro ônibus com um caminhão
carregado de combustível que veio a explodir. Os demais veículos, devido à
espessa fumaça, adentraram as chamas, elevando ainda mais o número de
vítimas. Hoje em Anápolis existe a Praça dos Romeiros, em homenagem às
vítimas desta tragédia.
• Mortes: 53

2.8.5 Desastres Náuticos


2.8.5.1 1927 – Naufrágio do navio Princesa Mafalda
• O luxuoso transatlântico italiano Princesa Mafalda pegou fogo e afundou na
costa da Bahia em 25 de outubro d1e 1927, durante o trajeto entre Cabo Verde
e o Rio de Janeiro. A embarcação levava 971 passageiros e 288 tripulantes. Mais
de 300 pessoas morreram, incluindo muitos imigrantes Italianos.
• Mortes: 300

2.8.5.2 1988 – Naufrágio do Bateau Mouche


• O navio 'Bateau Mouche IV', com cerca de 140 pessoas a bordo, afundou em
frente ao Pão de Açúcar. Em meio à escuridão típica de uma noite cuja principal
atração seria a queima de fogos na praia, os passageiros caíram no mar após forte
vento atingir o navio. Pouco antes da tragédia o barco começou a adernar e
acabou virando, jogando todos os passageiros ao mar.
• Mortes: 55

29
2.8.5.3 1988 – Naufrágio do Correio do Arari
• A embarcação pertencente à prefeitura do município naufragou em 15 de julho
de 1988, na área conhecida como “Cemitério dos navios”, próxima à Ilha das
Onças, na Baía do Guajará. A embarcação tinha capacidade para transportar 60
pessoas, mas saiu da Feira do Açaí, em Belém, com 120 pessoas, além de um
grande volume de carga considerada imprópria para um barco de passageiros.
Testemunhas ouvidas durante a instrução processual afirmaram que o
comandante do “Correio do Arari” foi avisado do perigo através de sinais
luminosos por barcos que navegavam na região da Ilha das Onças, mas
continuou até bater em carcaças de navios fundeados no local, naufragando em
dez minutos.
• Mortes: 59

2.8.6 Desastres Ferroviários

2.8.6.1 1946 – Acidente de Trem em Aracaju


• Foi o pior desastre ferroviário do Brasil, matando 185 pessoas e deixando 300
feridos. O acidente ocorreu no trajeto entre as estações de Riachuelo e
Laranjeiras, próximos à capital sergipana de Aracaju. Operando com
superlotação, carregava em torno de 1000 passageiros, por volta das 19 horas. A
locomotiva, cargueiro e três vagões de passageiros descarrilaram ao descer um
trecho inclinado da linha em alta velocidade, perdendo os freios
• Mortes: 185

2.8.6.2 1983 – Acidente de Trem na Bahia


• O Descarrilamento de Pojuca foi um acidente ferroviário ocorrido em 31 de
agosto de 1983 em Pojuca, estado da Bahia, no Brasil. Nessa data, um trem de
carga da Rede Ferroviária Federal transportando combustíveis descarrilou nas
proximidades de Pojuca, Bahia. A lentidão das autoridades em conter o
vazamento e a ação de saqueadores provocaram a explosão de três vagões.
• Mortes: 100

30
2.9 Flagelos – Casos com Esclarecimentos Espirituais
2.9.1 1938 – Queda do Avião Australiano – André Luiz

Um Douglas DC-2 da Australian National Airways, colide contra a região do monte


Dandenong em Vitória (Adelaide/Melbourne), Austrália (25/10/1938).

O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos


esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente
para cada um.
No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes
outorga a imediata liberação.
Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da
armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem
respeito.
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgates Coletivos

31
2.9.2 1938 – Choque de Trens – Minas Gerais – Kleber Halfeld

Na noite de 19 de dezembro de 1938, viajava um trem noturno, vindo de Belo Horizonte


para o Rio, e entre as estações de Sítio (Antônio Carlos) e a de João Ayres, um cargueiro, que
vinha no sentido Rio-BH, chocou-se frontalmente com o noturno, no qual viajavam escoteiros
de Belo Horizonte, que rumavam para São Paulo.

Carandaí 1938, dezembro 18.


O relógio marca 19h30min. Dona Yara alerta o marido.
- Zenóbio já acabei de fazer a matula para sua viagem desta madrugada. Podemos sair
agora mais sossegados para a reunião.
(...) Prece inicial.
Leitura e comentário de um trecho de "O Evangelho segundo o Espiritismo".
E, logo após, a segunda parte: o intercâmbio com o Mundo Espiritual através da
mediunidade de alguns confrades.
(...). Pedirei mentalmente, com fé, em favor do Zenóbio, a fim de que ele faça boa
viagem.
Mal terminara a prece e o Espírito "Irmão José", através da médium Maria Russo, fala
com voz firme e pausada:
- Há neste recinto uma senhora que acaba de pedir proteção para o marido. Quero dizer
a ela que o aconselhe a não realizar a viagem que pretende. Que retarde sua saída desta cidade.
(...) Papai, o trem que o senhor ia tomar acaba de sofrer um desastre. Falaram lá
na estação que há muita gente morta e ferida. O pai vai até lá, onde já se acotovelam
dezenas de pessoas, a tecerem comentários sobre o triste acontecimento
Kleber Halfeld –- Reformador - 1987 – Abril - Retalhos do Cotidiano

O noturno (N-2) que descia da Capital mineira para o Rio chocara-se com um cargueiro
(C-65) que subia a Mantiqueira. O desastre verificara-se no quilômetro 355, entre as Estações
de João Aires e Sítio.
Naquela data, 19 de dezembro de 1938, o "Diário Mercantil" estampava em suas páginas
uma grande manchete: "O maior desastre ferroviário no Brasil, nos últimos tempos",
noticiando, logo depois, que 53 pessoas haviam morrido, enquanto que 60 estavam gravemente
feridas, a maior parte internada em hospitais de Barbacena.
(...) E a Irmã de caridade? Já localizaram o corpo?

32
O cambista continua a explicar, agora com voz a tremer: Durante muitas horas eu e
outras pessoas tentamos localiza-la. Não a encontramos.
Comentei o fato com os passageiros que estavam no mesmo carro. Todos eles afirmaram
com absoluta certeza: Não havia nenhuma irmã de caridade no vagão!...
Kleber Halfeld –- Reformador - 1987 – Abril - Retalhos do Cotidiano

33
2.9.3 1960 – Incêndio do Circo Americano – Niterói – Humberto de Campos

Com três mil pessoas na plateia, faltavam 20 minutos para o espetáculo acabar, quando
uma trapezista notou o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente
devorado pelas chamas.
372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a
mais de 500 mortes, das quais 70 % eram crianças.

Cada um de nós traga um.... Essas pragas jazem escondidas por toda a parte... Caça-las
e exterminá-las é o serviço da hora...
Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam
residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e
criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte,
queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em
correria.
......
Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento....
Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os
responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa
expiação, a 17 de Dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia
num circo.
Humberto de Campos – Cartas e Crônicas – Cap. 6 – Revista Reformador – 1962 –
Março

34
2.9.4 1973 – Queda do Avião Turco – Paris – Silva Ramos

Conhecido como desastre aéreo de Ermenonville era uma linha aérea da empresa turca
Turkish Airlines que ligava o Aeroporto Internacional Atatürk, na Turquia ao Aeroporto de
Londres-Heathrow, na Inglaterra.
Durante um voo ocorrido no dia 3 de março de 1974, um McDonnell Douglas DC-10,
matrícula TCJAV, que realizava essa rota caiu numa floresta nos arredores de Paris, matando
todos os seus 335 passageiros e 11 tripulantes.

A Natureza aponta a culpa que começa:


Em cidade praiana, a legião pirata
Desembarca, saqueia, humilha, fere, mata…
Por nada se detém, por mais que se lhe peça…

Quantas vidas ao mar sob golpes à pressa! ...


Incêndios e orações no horror que se desata…
Depois, vinho e prazer, os butins de ouro e prata
E as horas avançando ao tempo que não cessa…

Os séculos se vão marchando em luz e treva…


Um dia, em mar aéreo, enorme nave leva
Os piratas de outrora e a Justiça Divina…

Surge a morte no ar… A aflição se renova…


Preces, gemidos e ais de corações em prova…
E a Natureza apaga a culpa que termina.
Silva Ramos – Diálogos dos Vivos – Cap. 29

35
2.9.5 1974 – Incêndio do Edifício Joelma – São Paulo – Cornélio Pires / Cyro Costa

Incêndio no Edifício Joelma faz referência a uma tragédia ocorrida em 1º de fevereiro


de 1974, no atualmente denominado Edifício Praça da Bandeira, na região central de São Paulo,
Brasil, e que provocou a morte de 187 pessoas e deixou mais de 180 mortos.

Fogo!… Amplia-se a voz no assombro em que se espalha


Gritos, alterações… O tumulto domina.
No templo do progresso, em garbos de oficina,
O coração se agita, a vida se estraçalha.

Tanto fogo a luzir é mística fornalha


E a presença da dor reflete a lei divina.
Onde a fé se mantém, a prece descortina
O passado remoto em longínqua batalha…

Varrem com fogo e pranto as sombras de outras eras


Combatentes da Cruz em provações austeras,
Conquanto heróis do mundo, honrando os tempos idos.

Na Terra o sofrimento, a angústia, a cinza, a escória…


Mas ouvem-se no Além os hinos de vitória
Das Milícias do Céu saudando os redimidos.
Cyro Costa – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Luz nas Chamas

Homenagem aos companheiros desencarnados no incêndio ocorrido na capital de São


Paulo a 1º de fevereiro de 1974, em resgate dos derradeiros resquícios de culpa que ainda
traziam na própria alma, remanescentes de compromissos adquiridos em guerra das
Cruzadas.

36
2.9.6 2004 – Tsunami Asiático – Indonésia – Manoel Philomeno de Miranda

O sismo e tsunami do Oceano Índico de 2004 foi um terremoto/sismo submarino que


ocorreu às 00:58:53 UTC de 26 de dezembro de 2004, com epicentro na costa oeste de Sumatra,
na Indonésia.

Sabíamos que milhares de Espíritos nobres haviam acorrido em auxílio de todos,


empenhando-se em resgatá-los das Entidades infelizes e vampirizadoras, interessadas no fluido
vital dos recém-desencarnados.
Engenheiros e arquitetos desencarnados movimentaram-se com rapidez e edificaram
uma comunidade de emergência, que a todos nos albergaria logo mais, recebendo também
aqueles aos quais socorrêssemos.
Curiosamente ampliou os esclarecimentos, informando que os ocidentais em férias que
se fizeram vítimas, mantinham profunda ligação emocional com aquele povo e foram
atraídos por forças magnéticas para resgatar, na ocasião, velhos compromissos que lhes
pesavam na economia moral...
- Nada acontece, sem os alicerces da causalidade! – concluiu.
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 4

37
3 Catástrofes & Desastres Coletivos – Mensagens & Artigos Completos
3.1 Conceitos e Considerações Gerais
3.1.1 Flagelos Destruidores – Allan Kardec

Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade
para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na
escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser
apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais
de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são
frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de
coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 737
Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros
meios que não os flagelos destruidores?
Pode e os emprega todos os dias, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo
conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário,
portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 738
Esses flagelos destruidores têm utilidade do ponto de vista físico; malgrado os
males que ocasionam?
Sim, eles modificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta
só é geralmente sentido pelas gerações futuras.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 739
Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a
braços com as mais aflitivas necessidades?
Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de
demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de
manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não
domina o egoísmo.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 740

38
É dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem?
Sim, em parte, mas não como geralmente se pensa. Muitos flagelos são a consequência
de sua própria imprevidência.
À medida que ele adquire conhecimentos e experiências pode conjurá-los, quer dizer,
preveni-los, se souber pesquisar-lhes as causas.
Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e
pertencem aos desígnios da Providência.
Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não
lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males
são geralmente agravados pela indolência do homem.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 741
Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados
em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra.
Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da
agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas os meios de
neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres?
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Comentários a Perg. 741

39
3.1.2 As Expiações Coletivas – Allan Kardec/ Clélia Duplantier

O Espiritismo explica perfeitamente a causa dos sofrimentos individuais, como


consequências imediatas das faltas cometidas na existência precedente, ou como expiação
do passado; mas, uma vez que cada um só é responsável pelas suas próprias faltas, não se
explicam satisfatoriamente as desgraças coletivas que atingem as aglomerações de
indivíduos, às vezes, uma família inteira, toda uma cidade, toda uma nação, toda uma
raça, e que se abatem tanto sobre os bons, como sobre os maus, assim sobre os inocentes,
como sobre os culpados.

Todas as leis que regem o Universo, sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais,
foram descobertas, estudadas, compreendidas, partindo-se do estudo da individualidade e do da
família para o de todo o conjunto, generalizando-as gradualmente e comprovando-se-lhes a
universalidade dos resultados.
Outro tanto se verifica hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá a
conhecer.
Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação,
às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas.
Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o
seu caráter, se expia em virtude da mesma lei.
O algoz, relativamente à sua vítima, quer indo a encontrar-se em sua presença no espaço,
quer vivendo em contato com ela numa ou em muitas existências sucessivas, até à reparação do
mal praticado.
O mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por um certo
número de pessoas. As expiações também são solidárias, o que não suprime a expiação
simultânea das faltas individuais.
Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro
da família e, finalmente, o de cidadão.
Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser
virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão e reciprocamente.
Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências.
Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa
existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o
mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que hajam atingido a meta, isto é,
expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.

40
Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem
dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado.
Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas?
Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado;
mas, não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem?
Quer ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu. Depois,
como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta
da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até à última moeda.
As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão,
pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus
negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado
as mãos em crimes de lesa-sociedade.
Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas
concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião,
ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa
pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram.
Assim, o que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e
lógico mediante o conhecimento dessa lei.
A solidariedade, portanto, que é o verdadeiro laço social, não o é apenas para o presente;
estende-se ao passado e ao futuro, pois que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e
reunirão, para subir juntas a escala do progresso, auxiliando-se mutuamente.
Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da equitativa lei da reencarnação
e da continuidade das relações entre os mesmos seres.
Allan Kardec/Clélia Duplantier – Obras Póstumas – 1º Parte – Questões e Problemas
– As Expiações Coletivas
NOTA — Conquanto se subordine aos conhecidos princípios de responsabilidade pelo
passado e da continuidade das relações entre os Espíritos, esta comunicação encerra uma idéia
de certo modo nova e de grande importância.
A distinção que estabelece entre a responsabilidade decorrente das faltas individuais ou
coletivas, das da vida privada e da vida pública, explica certos fatos ainda mal conhecidos e
mostra de maneira mais precisa a solidariedade existente entre os seres e entre as gerações.
(...)
Não se pode duvidar de que haja famílias, cidades, nações, raças culpadas, porque,
dominadas por instintos de orgulho, de egoísmo, de ambição, de cupidez, enveredam por mau
caminho e fazem coletivamente o que um indivíduo faz insuladamente.

41
Uma família se enriquece à custa de outra; um povo subjuga outro povo, levando-lhe a
desolação e a ruína; uma raça se esforça por aniquilar outra raça. Essa a razão por que há
famílias, povos e raças sobre os quais desce a pena de talião.

42
3.1.3 Emigrações e imigrações dos espíritos e os flagelos destruidores - Allan Kardec

Em certas épocas, determinadas pela sabedoria divina, essas emigrações e imigrações


se operam por massas mais ou menos consideráveis, em virtude das grandes revoluções que
lhes ocasionam a partida simultânea em quantidades enormes, logo substituídas por
equivalentes quantidades de encarnações.
Os flagelos destruidores e os cataclismos devem, portanto, considerar-se como ocasiões
de chegadas e partidas coletivas, meios providenciais de renovamento da população corporal
do globo, de ela se retemperar pela introdução de novos elementos espirituais mais depurados.
Na destruição, que por essas catástrofes se verifica, de grande número de corpos, nada
mais há do que rompimento de vestiduras; nenhum Espírito perece; eles apenas mudam de
planos; em vez de partirem isoladamente, partem em bandos, essa a única diferença, visto que,
ou por uma causa ou por outra, fatalmente têm que partir, cedo ou tarde.
As renovações rápidas, quase instantâneas, que se produzem no elemento espiritual da
população, por efeito dos flagelos destruidores, apressam o progresso social; sem as emigrações
e imigrações que de tempos a tempos lhe vêm dar violento impulso, só com extrema lentidão
esse progresso se realizaria.
É de notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre
seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual, ou moral e, por conseguinte, no
estado social das nações que as experimentam. É que elas têm por fim operar uma remodelação
na população espiritual, que é a população normal e ativa do globo.
Allan Kardec – A Gênese – Cap. 11 – Item 36 - Emigrações e Imigrações dos
Espíritos

43
3.1.4 Flagelos - Demeure

Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para


extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele
provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão ou, para melhor dizer,
cada região será, passo a passo, batida por flagelos de naturezas diversas.
Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois,
preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se
instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso.
Já algumas regiões foram provadas, mas seus habitantes estariam em completo erro se
se fiassem na era da calma, que vai ceder á tempestade, para recair nos seus antigos erros.
Há um período, que lhes é concedido, para entrarem num caminho melhor. Se não o
aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até os trazer ao arrependimento.
Demeure – Revista Espírita – 1868 – Novembro - - Epidemia da ilha Maurice

Nota:
Entre 1866 e 1869 dois fatos deixaram a Maurícia completamente arrasada: em 1866,
1867 e 1868 uma epidemia de malária afastou os navios de Port Luis (a capital), isolando por
completo a ilha; em 1869, a abertura do Canal de Suez fez desviar muitas das rotas mercantes
que passavam pela Maurícia.

44
3.1.5 Flagelos e Males – Manoel Philomeno de Miranda

Em face do impositivo da evolução, o homem enfrenta os flagelos que fazem parte da


vida. Os naturais, surpreendem-no, sem que os possa evitar, não obstante a inteligência lhe haja
facultado meios de os prevenir e até mesmo de remediar-lhes algumas das consequências.
Irrompem, de quando em quando, desafiando-lhe a capacidade intelectual, ao mesmo
tempo estimulando-lhe os valores que deve aplicar para os conjurar e impedir.
Enquanto isto não ocorre, constituem-lhe corretivos morais, mecanismos de reparação
dos males perpetrados, recursos da Vida para impulsioná-lo ao progresso sem retentivas com a
retaguarda.
Inúmeros desses flagelos destruidores já podem ser previstos e alguns diminuídos os
seus os seus efeitos perniciosos, em razão das conquistas que a Humanidade vem alcançando.
Outros, que constituíam impedimentos aos avanços e à saúde, têm sido minorados e até
vencidos, quais a fertilização de regiões desérticas, o saneamento de áreas contaminadas, a
correção de acidentes geográficos, a prevenção contra as epidemias que dizimavam multidões,
assolando países e continentes inteiros, e, graças ao Espiritismo, a terapia preventiva em relação
aos processos obsessivos que dominavam grupos e coletividades ...
Apesar disso, há os flagelos que o homem busca através dos vícios que se permite,
sobrepondo as paixões torpes aos sentimentos de elevação, vindo a padecer males que poderiam
ser evitados com um mínimo de esforço.
O egoísmo, que não cede lugar às aspirações altruístas, comanda a sua ambição
desmedida, levando-o a excessos que o comprometem.
Agressivo por instinto, não abdica da violência que gera atritos domésticos e de classes,
levando as nações às guerras, cada vez mais danosas e de efeitos imprevisíveis, aumentando a
sanha de desforços, que se tomam causas de novos enfrentamentos, como se da vida somente
lhe interessasse o poder para a destruição ...
A inteligência, nesses momentos, fica obnubilada e os vapores do ódio intoxicam a
razão, bloqueando os sentimentos. O homem, desgovernado, tomba, então, no flagelo por ele
mesmo criado, quando, no entanto, está fadado à gloria do bem e ao remanso da paz.
Tal ocorrência se dá por efeito da sua imantação animal, desse predomínio da matéria
sobre o Espírito, do enleamento das paixões perturbadoras que cultiva, atrasando-lhe a marcha
que deveria prosseguir sem interrupção ou retardamento.
Entretanto, está no desejo dele mesmo evitar os males nos quais se enreda, caso se
dispusesse a seguir o Estatuto divino, cujas leis são de fácil acesso e de perfeita assimilação no
seu dia-a-dia.

45
Rebelando-se contra a ordem, afasta o bem, e, quando este se encontra ausente,
enxameia o mal. Assim age, por pretender privilégios e prerrogativas que lhe exaltam o orgulho,
fazendo-o posicionar-se acima do seu próximo, a quem passa a explorar e ferir, distante de
qualquer respeito e dignidade pela vida e pelas demais criaturas.
Na raiz desse comportamento extravagante e insensato encontra-se o atavismo ancestral,
cujas imposições materiais têm primazia, dominando completamente a paisagem emocional.
O abuso das paixões, e não o uso correto que leva aos ideais do amor e ao arrebatamento
pelas causas nobres, é o agente dos flagelos e males que se voltam contra o próprio homem e o
infelicitam.
É, porém, através da dor-aguilhão que o propele para a frente que ele aprende a valorizar
as oportunidades da sua existência corporal e desperta para o bem, a que se entrega, após a
exaustão que o sofrimento lhe impõe.
Não sendo o mal uma realidade, senão um efeito transitório, que pode ser alterado a
partir do momento que se lhe modifique a causa, ele se transforma num futuro bem, porque
vacina a vítima, que a partir daí melhor compreende a finalidade da vida na Terra, empenhando-
se por alcançá-la no mais breve prazo.
Não importa em que classe social ou posição cultural estagie, porquanto a ·característica
nele prevalecente é a de ordem moral, responsável pelo tipo de aspiração a que se entrega e da
conduta que mantém.
Lord Byron, por exemplo, cuja poesia romântica influenciou toda uma época e criou um
mito, poderia ter-se utilizado dos recursos de que dispunha para enobrecer-se e felicitar as vidas.
Considerado belo e de corpo perfeito, culto e inteligente, assumiu comportamento excêntrico e
individualista, sensual e vulgar, com uma genialidade asselvajada que ora pertencia às suas
personagens e noutros momentos parecia refletir-lhe o próprio ser.
Carlos Steinmetz, por sua vez, com algumas deformidades físicas, mas belo nos ideais
de solidariedade humana, refugiando-se na América para salvar-se das perseguições de
ideologia político-social, contribuiu de maneira extraordinária para o progresso das ciências
elétricas, chegando a patentear duzentas invenções e escrever diversos trabalhos científicos e
alguns livros que promoveram o progresso tecnológico da Humanidade.
Na direção que o homem encaminha os passos, surgem os comportamentos que lhe
assinalam a marcha. Isto, porém, é decorrência do seu mundo mental, característica do seu
estágio evolutivo. Gerando hábitos, a eles se submete, porquanto ninguém há que viva sem
esses condicionamentos. Quem não os tem bons, não fica deles isento, passando a tê-los maus.

46
Ideal será, então, iniciar-se nas experiências da vida por urna forma de neutralidade, isto
é, não praticar o mal, o que não é suficiente, porquanto, em certas ocasiões, não propiciar o bem
torna-se uma forma de desenvolver o mal.
Primeiro passo, faculta outros mais audaciosos, até que a atração do bem passa a
envolver o indivíduo, levando-o ao comprometimento com as ações superiores.
Desse modo, evitar o mal, que nele mesmo reside, e, mediante o livre-arbítrio, firmado
no conhecimento e obediência às divinas leis, conquistar espaço para as ações meritórias,
empenhando-se por vivenciá-las a partir de então - eis o caminho a trilhar.

Sentindo-se impelido ao mal, em razão dos remanescentes do primitivismo que nele jaz,
deve e pode evitar praticá-lo, educando a vontade e canalizando as forças morais para o bem
que nele igualmente se encontra em gérmen, graças à sua origem divina. Procedente do mundo
espiritual para ali retornará, fadado ao bem vitorioso que conseguirá ao fim das pelejas travadas.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 10 – Flagelos e
Males

47
3.1.6 Calamidades – Joanna de Angelis – Incêndio do Joelma

Com frequência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam
rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.
Consequência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta
a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que
se revestem.
Cataclismos sísmicos e revoluções geológicas que irrompem voluptuosos em forma de
terremotos, maremotos, erupções vulcânicas obedecem ao impositivo das adaptações,
acomodações e estruturação das diversas camadas da Terra, no seu trânsito de ‘mundo
expiatório’ para ‘regenerador’.
Tais desesperadores eventos impõem ao homem invigilante a necessidade da meditação
e da submissão à vontade divina, do que resultam transformações morais que o incitam à
elevação.
Olhados sob o ponto de vista espiritual esses flagelos destruidores têm objetivos
saneadores que removem as pesadas cargas psíquicas existentes na atmosfera, que o homem
elimina e aspira, em contínua intoxicação.
Indubitavelmente trazem muitas aflições pelos danos que se demoram após a extinção
de vidas, arrebatadas coletivamente, deixando marcas de difícil remoção, que se insculpem no
caráter, na mente e nos corpos das criaturas.
Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte
são resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto, lhes
constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se. (*)
As endemias e epidemias que varriam o planeta, no passado, continuamente, com danos
incalculáveis, em grande parte são, hoje, capítulo superado, graças às admiráveis conquistas
decorrentes da ‘revolução tecnológica’ e da abnegação de inúmeros cientistas que se
sacrificaram para a salvação das coletividades. Muitas outras que ainda constituem verdadeiras
catástrofes, caminham para oportunas vitórias do engenho e da perseverança humana.
Há, também, aqueles resultantes da imprevidência, da invigilância, por meio das quais
o homem irresponsável se autopune, mediante os rigores dos sofrimentos decorrentes das
desencarnações precipitadas, através de violentos sinistros e funestas ocorrências...
Pareceriam desnecessárias as aflições coletivas que arrebatam justos e injustos, bons e
maus, se olhados os saldos precipitadamente.

48
Conveniente, todavia, refletir quanto à justeza das leis divinas que recorrem a métodos
purificadores e liberativos, de que os infratores e defraudadores das Leis e da Ordem não se
podem furtar ou evitar.
Comparsas de hediondas chacinas;
Grupos de vândalos que se aliciam na desordem e usurpação;
Maltas de inveterados agressores que se identificam em matanças e destruições;
Corsários e marinhagens desvairados em acumpliciamentos para pilhagens criminosas;
Soldadesca mercenária, impiedosa e avassaladora, que se refestela, brutal, na inocência
imolada selvagemente;
Incendiários contumazes de lares e celeiros, em hordas nefastas e contínuas; bandos
bárbaros de exterminadores, que tudo assolam por onde passam; cúmplices e seviciadores de
vítimas inermes que lhe padecem as constrições danosas;
Pesquisadores e cientistas impenitentes, empedernidos pelas incessantes experiências
macabras de que se nutrem em agrupamentos frios;
Legisladores sádicos e injustos que se desforçam nas gerações débeis que esmagam;
Conquistadores arbitrários, carniceiros, que subjugam cidades nobres, tornando seus
vítimas cadáveres insepultos, enquanto se banqueteiam em sangue e estupor;
Mentes vinculadas entre si por estranhas amarras de ódio, ciúme e inveja que
incendeiam paixões, são reunidos novamente em vidas futuras, atravessando os portais da
Imortalidade, através de resgates coletivos, como coletivamente espoliaram, destruíram,
escarneceram, aniquilaram, venceram os que encontravam à frente e consideravam
impedimentos à sua ferocidade e barbaria, vandalismo e estroinice, a fim de que se reajustem,
no concerto cósmico da Vida, servindo, também, de escarmento para os demais, que, não
obstante se comovem ante as desgraças que os surpreendem, cobrando-lhes as graves dívidas,
prosseguem, atônitos e desregrados, em atitudes infelizes sem que lhes hajam constituído lições
valiosas, capazes de converter-se em motivo de transformação interior.
Construtores gananciosos que se fazem para cobranças negativas;
Maquinistas e condutores de veículos displicentes, que favorecem tragédias volumosas,
Homens que vendem a honradez e sabem que determinadas calamidades têm origem
nas suas mentes e mãos, embora ignorados pela Justiça humana, não se furtarão à Consciência
Divina neles mesmos insculpida, que lhes exigirá retorno ao proscênio em que se fizeram
criminosos ignorados para tornar-se heróis, salvando outros e perecendo, como necessidade
purificadora de que se alçarão, depois, à paz. (*)
Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes
significam justiça integral que se realiza.

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Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em
forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade
provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos
à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.
Como há podido pela técnica superar e remover vários fatores de calamidades, pelas
conquistas morais conseguirá, a pouco e pouco, suplantar as exigências transitórias de tais
injunções redentoras.
Não bastassem as legítimas concessões do ajustamento espiritual, as calamidades
fazem que os homens recordem o poder indômito de forças superiores que os levam a ajustar-
se à sua pequenez e emular-se para o crescimento que lhes acena.
Tocados pelas dores gerais, partícipes das angústias que se abatem sobre os lares
vitimados pela fúria da catástrofe, ajudemo-nos e oremos, formando a corrente da fraternidade
santificante, e, desde logo, estaremos construindo a coletividade harmônica que atravessará o
túmulo em paz e esperança, com os júbilos do viajor retornando ditoso à Pátria da ventura.
Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap.1 – Calamidades - Reformador –
1974 - Abril (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão pública
da noite de 2-2-1974, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
(*) à véspera havia irrompido, em São Paulo, o incêndio do Edifício Joelma, que
arrebatou mais de 170 e revelou alguns heróis. (Nota da Autora Espiritual.)

50
3.1.7 Perante os Fatos Momentosos – André Luiz

Em tempo algum empolgar-se por emoções desordenadas ante ocorrências que


apaixonem a opinião pública, como, por exemplo, delitos, catástrofes, epidemias, fenômenos
geológicos e outros quaisquer.
Acalmar-se é acalmar os outros.
Nas conversações e nos comentários acerca de notícias terrificantes, abster-se de
sensacionalismo.
A caridade emudece o verbo em desvario.
Guardar atitude ponderada, à face de acontecimentos considerados escandalosos,
justapondo a influência do bem ao assédio do mal.
A palavra cruel aumenta a força do crime.
Resguardar-se no abrigo da prece em todos os transes aflitivos da existência.
As provações gravitam na esfera da Justiça Divina.
Aceitar nas maiores como nas menores decepções da vida humana, por mais estranhas
ou desconcertantes que sejam, a manifestação dos Desígnios Superiores atuando em favor do
aprimoramento espiritual.
Deus não erra.
Ainda mesmo com sacrifício, entre acidentes inesperados que lhe firam as esperanças,
jamais desistir da construção do bem que lhe cumpre realizar.
Cada Espírito possui conta própria na Justiça Perfeita.
“Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para
com os outros, como para com todos”. — Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:15.)
André Luiz – Conduta Espírita – Cap. 39 - Perante os fatos momentosos

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3.1.8 Supercultura e Calamidades Morais - Emmanuel

“Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado
para quem será? ”. — Jesus. (Lucas, 12:20.)

Não basta ajuntar valores materiais para a garantia da felicidade.


A supercultura consegue atualmente na Terra feitos prodigiosos, em todos os reinos da
Natureza física, desde o controle das forças atômicas às realizações da astronáutica.
No entanto, entre os povos mais adiantados do planeta, avançam duas calamidades
morais do materialismo, corrompendo-lhes as forças: o suicídio e a loucura, ou, mais
propriamente, a angústia e a obsessão.
É que o homem não se aprovisiona de reservas espirituais à custa de máquinas.
Para suportar os atritos necessários à evolução e aos conflitos resultantes da luta
regenerativa, precisa alimentar-se com recursos da alma e apoiar-se neles.
Nesse sentido, vale recordar o sensato comentário de Allan Kardec, no item 14, do
Capítulo V, de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, sob a epígrafe “O Suicídio e a Loucura”:
“A calma e a resignação hauridas na maneira de considerar a vida terrestre e da
confiança no futuro dão ao Espírito uma serenidade, que é o melhor preservativo contra a
loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se devem à
comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se
encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o
homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram
desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos
acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, o conturbariam”.
Espíritas, amigos! Atendamos à caridade que suprime a penúria do corpo, mas não
menosprezemos o socorro às necessidades da alma!
Divulguemos a luz da Doutrina Espírita! Auxiliemos o próximo a discernir e pensar!
Emmanuel - Entre irmãos de outras Terras - Cap. 12 - - Supercultura e Calamidades
Morais / Ceifa de Luz – Cap. 37 – Reformador – 1966 – Janeiro (Paris, França, 19, Agosto,
1965.)

52
3.1.9 Flagelos Íntimos – Emmanuel

Ante as calamidades que afligem a Natureza, gerando o espetáculo deprimente das


provações coletivas, não te esqueças daquele mundo vivo que somos nós mesmos, governado
por leis que não poderemos trair.
Lembra-te de que todos os nossos desacertos na luta e deserções do dever representam
deplorável plantação de males em nossa rota.
A rendição ao vício e o culto da crueldade criam espessas nuvens de treva em torno de
nossos passos a rebentarem depois, em temporais de lágrimas, que valem por destruidoras
convulsões em nosso campo íntimo.
É por isso que a experiência atual para nós outros permanece juncada pelos destroços
de ontem, quando a nossa invigilância favoreceu na estrada que nos é própria os flagelos morais
que hoje nos patrocinam as dificuldades e os sofrimentos.
Os obstáculos do templo familiar, os impedimentos afetivos, os espinheiros
profissionais e os tremendos conflitos interiores que nos assomam à vida constituem dolorosas
reminiscências dos cataclismos da alma que nós mesmos criamos.
Regeneremos, assim, o destino, suportando com heroísmo e serenidade o inquietante
reajuste de agora.
Achamo-nos à frente do passado que ainda vive em nós e, se nos propomos alcançar o
futuro de firmamento sem sombra em que desejamos viver, saibamos carregar a cruz de provas
e inibições que nós mesmos talhamos, a fim de que, com ela e por ela, possamos proclamar
perante a lei o nosso justo resgate, garantindo, dessa forma, a posse de nossa verdadeira
libertação.
Emmanuel – Fé, Paz e Amor – Cap. 14 – Flagelos Íntimos

53
3.1.10 Catástrofes – Francisco Cândido Xavier

Dentro da Doutrina Espírita, como se explicam as mortes, assim aos milhares, em


guerras, enchentes, em toda espécie de catástrofe?
– São essas provações, que coletivamente adquirimos do ponto de vista de débitos
cármicos.
As vezes empreendemos determinados movimentos destrutivos, em desfavor da
comunidade ou do indivíduo, às vezes operamos em grupo, às vezes, em vastíssimos grupos e,
no tempo devido, os princípios cármicos amadurecem, e nós resgatamos as nossas dívidas,
reunindo-nos uns com os outros, quando estamos acumpliciados nas mesmas culpas, porque
a Lei de Deus é a Lei de Deus, formada de justiça e de misericórdia.
Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Dos Hippies aos problemas do mundo –
Cap. 18 - Catastrofes

54
3.1.11 Desencarnações Coletivas – Emmanuel

“Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas
enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios? ”
(Pergunta endereçada a Emmanuel por algumas dezenas de pessoas em reunião pública,
na noite de 28-02-1972, em Uberaba, Minas Gerais.)
Resposta
Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado a Justiça Perfeita. E o
homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a justiça imanente, convertendo-se,
em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o mundo espiritual, conscientizados nas
responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e
rogamos os meios precisos a fim de resgata-los devidamente.
E assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a
redenção múltipla.
***
Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia
do saque, tornamos a Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para
a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal,
pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro
e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o plano físico a fim de
sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e
lagrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis,
em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno a Terra para a
desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
***
Criamos a culpa e nos mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe
as consequências.
E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de
induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito a nossa
própria segurança.

55
E por esse motivo que, de todas as calamidades terrestres, o homem se retira com mais
experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
***
Lamentemos sem desespero quantos se fizeram vítimas de desastres que nos
confrangem a alma. A dor de todos eles e a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram
são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença da Misericórdia
Divina junto as ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento e invariavelmente
reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que
Deus nos concede sempre o melhor.
Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap. 19 – Desencarnações Coletivas

56
3.1.12 Expiações Coletivas – Rodolfo Calligaris

A lei do Carma ou de Causa e Efeito exerce sua influência inelutável não só


sobre os homens, individualmente, como também sobre os grupos sociais.
Assim, por exemplo, quando uma família, nação ou raça busca algo que lhe traga
maiores satisfações, esforça-se por melhorar suas condições de vida ou adota medidas que
visem a acelerar seu desenvolvimento, sem prejudicar nem fazer mal a outrem, está
contribuindo, de alguma forma, para a evolução da Humanidade, e isso é bom. Receberá, então,
novas e mais amplas oportunidades de trabalho e progresso, conduzindo os elementos que a
constituem a níveis cada vez mais elevados.
Se, porém, há constituído seu poder ou grandeza, valendo-se da opressão ou de
recursos desonestos e indignos, evidentemente agiu mal, porque isso é contra o interesse do
Todo. Por isso, mais cedo ou mais tarde sofrerá a perda de tudo aquilo que adquiriu
injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e aflitivas, segundo o grau de malícia
e crueldade que lhe tenha caracterizado as ações.
Muitas vezes, os que contraíram, solidariamente, pesados débitos com a Lei do
Carma, embora reencarnados em vários e distantes rincões, são reunidos por uma atração
misteriosa, a dado ponto, para serem feridos em comum. Haja vista esses naufrágios, sinistros
e catastróficos que tanto emocionam as almas piedosas do mundo inteiro.
O estudo dos séculos, todo o sangue vertido, toda a escravização, afronta e
rapinagem perpetradas, repercutem, fatalmente, sobre seus autores, produzindo as mesmas
consequências funestas: luto, lágrimas, humilhações e miséria!
Lá bem no passado, egípcios, babilônios e persas elevam-se a uma situação de
fastígio à custa do esmagamento de outros povos; tempos depois, entretanto, vêm a conhecer,
a seu turno, o peso e o infortúnio da opressão estrangeira.
Roma e Bizâncio, através de uma série de campanhas militares, estendem seus
domínios por toda a parte; todavia, roídos pelos germens da corrupção, gerados no próprio seio,
baqueiam ao embate da invasão dos bárbaros e seus fabulosos impérios deixam de existir.
Espanha e Inglaterra, durante séculos, dominam pelas armas suas
numerosíssimas colônias; contudo, não escapam, por sua vez, ao flagelo da guerra, que lhes
dizima as populações.
A Rússia dos czares, sob o comando da Imperatriz Catarina II, apossa-se, a ferro
e fogo, de vastos territórios circunvizinhos, mas é forçada, logo após, a pagar o seu tributo de
dor em vários conflitos em que se vê envolvida, para cair, em 1917, sob o regime comunista.

57
Napoleão, Mussolini e Hitler revivem os feitos de conquistadores do pretérito,
ocupando à força nações inermes; não tardam, porém, a conhecer o travo das transgressões às
leis superiores, e seus países com eles.
Segundo os relatos do Velho Testamento, os judeus, intitulando-se o ‘povo
eleito’, também destruíram cidades e mais cidades de prósperos reinados ‘passando pelo fio da
espada todos os que nelas encontravam, homens, mulheres, crianças, velhos, e até animais,
como pacíficas ovelhas, bois e jumentos’.
Davi, um de seus reis, cuja insensibilidade foi de estarrecer, em cada cidade que tomava
dos amonitas, mandava arrebanhar todos os seus moradores, ordenando friamente ‘que
passassem por cima deles carroças ferradas, que fossem serrados, esquartejados a cutelo, ou
torrados em forno de cozer tijolos’.
O resultado dessa selvajaria, os judeus o colheram em longo período de provações, cujo
remate foram os fuzilamentos, os flagícios em campos de concentração e o horror dos fornos
crematórios, sob o guante de Eichmann, a besta-fera nazista!
Poderosa organização religiosa, apoiada pelo braço secular, torturou e assassinou
barbaramente, enquanto pode, todos quantos ousavam descrer de seus dogmas, revelavam
possuir ideias mais avançadas, ou lhe verberavam a simonia; já começou, porém, a ser destruída
aqui, ali e acolá, sofrendo, na própria carne, as violências de que fez uso e abuso.
***
Impossível prever até quando a Humanidade permanecerá assim, oprimindo-se
e dilacerando-se reciprocamente, no regime do ‘olho por olho e dente por dente. ’
Acreditamos, entretanto, que, trabalhada pela Dor, cansada de sofrer, há de
aprender um dia, ainda que remoto, a lei sublime da ‘não resistência’, pregada e exemplificada
pelo Cristo, conquistando então uma paz duradoura, e com ela a felicidade, que é o destino final
da Criação!
Rodolfo Calligaris - Reformador – 1962 – Outubro – Expiações Coletivas

58
3.1.13 Provação Coletiva – Emmanuel

Como se processa a provação coletiva?


Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados,
participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro.
O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente,
através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas da dívida do pretérito para os
resgates em comum, razão porque, muitas vezes, intitulais “doloroso caso” às circunstâncias
que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo
físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais.
Emmanuel – O Consolador – Perg. 250

59
3.1.14 O Apocalipse – Francisco Cândido Xavier

Chico Xavier, o senhor não acredita no apocalipse previsto por Nostradamus e


outros videntes para o ano 2.000?
– Acima do próprio Apocalipse, eu creio na bondade eterna do Criador que nos insuflou
a vida imortal.
Então, acima de todos os apocalipses, eu creio em Deus e na imortalidade humana e
essas duas realidades preponderarão em qualquer tempo da Humanidade.
Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Mandato de Amor – Cap. 14 (1980)

A palavra grega utilizada para revelação é apokalypsis (ἀποκάλυψις), a qual significa,


literalmente, revelar, retirar o véu. Portanto, o termo que dá origem à palavra apocalipse não
tem qualquer relação com catástrofes ou fim do mundo, frequentemente associados ao verbete
em português. Na Bíblia em inglês, o livro do Apocalipse se chama Revelação.

60
3.1.15 Os Instrumentos do Grande Cirurgião - Kleber Halfeld

Elas fazem parte da história da Humanidade, pois sua ocorrência data dos primórdios
do Planeta.
Países subdesenvolvidos tanto quanto aqueles que alcançaram alto índice tecnológico
tem experimentado seus efeitos: ora, pequenos grupos atingidos por suas garras destruidoras;
ora, enormes coletividades a sofrerem o impacto de suas investidas.
Refiro-me às catástrofes, aos flagelos em seus mais diversificados aspectos, que
regularmente abatem sobre os seres dessa grande escola: a Terra.
*
Em francês o termo catastrophe está documentado em Rabelais [1] -1546 -, assim
como, em inglês, com a mesma grafia, é encontrado em Spenser [2] - 1579.
Atentos à Geologia, a expressão catástrofe inicialmente designava apenas a ação dos
terremotos; com o passar dos anos teve seu sentido ampliado, compreendendo inúmeras outras
transformações súbitas que ocorrem na Terra, sem mencionar aquelas que surgiram com o
advento da tecnologia.
A teoria das catástrofes, ou catastrofismo, atribuída a Cuvier [3] e que predominou
durante o século XVIII, ‘seria uma tentativa para explicar as formas do relevo terrestre pela
sucessão de violentos cataclismos provocados por forças da Natureza, na época pouco
conhecidas’.
No caso particular do presente estudo, não ficarei preso a semelhante teoria: debaixo da
rubrica catástrofe, identificarei, igualmente, o conjunto de ocorrências designadas como
calamidades naturais, bem como episódios revestidos de forte impacto e decorrentes de
circunstâncias criadas pela visa moderna.
Adentrando, pois, nesse campo, fazendo citações sem considerações extensas e ainda
deixando de lado as convulsões pelas quais passou nosso Planeta nos anos iniciais de sua
formação, podemos imaginar que dentro da era cristã uma das mais conhecidas – e violentas =
catástrofes naturais de que temos conhecimento foi a erupção em 79 d.C. do Vesúvio, quando
foram destruídas as cidades romanas de Herculanum e Pompéia. Aliás, em algumas obra
espíritas, particularmente em romances, há referências a esse acontecimento. De momento,
recordo duas grandes obras de grande aceitação por parte do público: ‘Há 2000 anos...’ de
Emmanuel, através das psicografia de Francisco Cândido Xavier, e ‘Herculanum’, de J. W.
Rochester, por intermédio de Wera Krijanowsky.

61
Ainda na época do vulcanismo me vem à mente a erupção de 1883, ocorrida na ilha de
Krakatoa, entre Sumatra e Java, que causou a morte de 36.000 pessoas, sem se mencionar o
desaparecimento de dois terços da ilha!
E, em 1902, a erupção do Monte Pelée, na Martinica, que destruiu totalmente a cidade
de Saint-Pierre, matando seus 28.000 habitantes.
Fazendo-se alusão a terremotos, quem nunca ouviu referências ao abalo sísmico que,
acompanhado de um maremoto, vitimou, em 1923, cerca de 140.000 pessoas em Tóquio e
Yokohama.
Inundações também são responsáveis por desencarnações coletivas, sempre dentro –
sabemos os espíritas – de uma planificação divina, a escapar, não raro, da compreensão de
quantos apenas encaram a vida presente... De momento, recordo as enchentes do rio Mabadani,
na Índia, as quais mataram em 1955 mataram 300.000 pessoas!
Mas, outros fenômenos concorrem para tal modalidade de desencarnação, ou seja, a
coletiva.
Entre outros, citemos os deslizamentos de solo, comuns em áreas montanhosas, como
os Alpes, Andes, Himalaia; os furacões (recordem-se aqueles de grande frequência no mar das
Caraíbas, litoral oriental dos Estados Unidos e no Sudeste da Ásia)
Em 1970, o Paquistão Oriental – hoje Bangladesh – foi tragicamente atingido, quando
morreram centenas de milhares de pessoas!
Citemos, ainda, as secas, porquanto anos a fio de aridez excepcional podem apresentar
para as populações graves consequências. Caso o homem não se encontre munido dos
indispensáveis elementos de defesa. Como impressionante exemplo ocorrido em nosso País,
pode ser citada a seca que destruiu partes do sertão do Nordeste nos anos de 1877-1878.
*
Kardec não se descuidou do estudo das catástrofes. Exatamente por perceber que
oportunos comentários poderiam advir para os leitores da Revista Espírita. À sua
atenção juntou-se aquela do plano espiritual, conforme podemos observar em algumas páginas
desse órgão de imprensa. Também em 'O Livro dos Espíritos’ o assunto é tratado de forma
ampla.
Vejamos, aqui, o caso de uma catástrofe – traduzida por uma epidemia numa ilha.
Datada de 8 de maio de 1867, uma correspondência era portadora de triste notícia: uma
epidemia na ilha Maurícia. [4] O mais curioso é que Kardec dela já tinha conhecimento através
de um médium sonâmbulo que normalmente frequentava a Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas. Aliás, o remetente da carta era sócio correspondente da mencionada ‘Sociedade’.

62
Da mesma forma alguns moradores da ilha haviam sido avisados dessa epidemia, que
‘surgira como flagelo destruidor’. O que, realmente ocorreu, porquanto Kardec em novembro
de 1868 voltava a comentar esse fato, já 60.000 pessoas haviam desencarnado vítimas da
doença, que consoante expressões do missivista começava com:
“(...) uma febre sem nome, que reveste todas as formas, começa suavemente,
hipocritamente, depois aumenta e derruba todos os que ela atinge (...) São terríveis acessos
que quebram, torturam durante, pelo menos, doze horas, atacando cada um por sua vez, cada
órgão importante. Depois o mal cessa durante um ou dois dias, deixando o doente abatido até
o próximo acesso, e se vai assim, mais ou menos rapidamente, para o termo fatal.”
É sugestivo observar que o autor da carta, componente de um grupo de estudiosos do
Espiritismo na ilha Maurícia, tinha perfeita compreensão quanto à finalidade da epidemia que
à época devastava a região, uma vez que em determinado ponto de sua carta confessava que via
no acontecimento...
“(...) um desses flagelos anunciados, que devem retirar do mundo uma parte da geração
presente, e destinados a operar uma renovação tornado necessária.”

O término do seu relato contém, da mesma forma, depoimento assaz curioso. Esclarece
que o grupo de espíritas a que pertencia estava disperso havia três meses e eu embora todos os
membros houvessem sido atingidos pela doença, nenhum deles havia morrido. Ele próprio fora
atingido e estava na quarta recaída.
Sentindo Kardec a imperiosa necessidade de uma resposta confortadora para o grupo
espírita da ilha Maurícia, em carta dirigida aos seus componentes, juntou ele a mensagem que
o Espírito Demeure havia deixado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Dessa
mensagem – de profundo conteúdo moral – permito-me transcrever pequeno trecho que nos
explica a função das catástrofes, sobre os habitantes da Terra, em todos os tempos de sua
história.
Mensagem que, afinal, continua perfeitamente atualizada, malgrado os anos decorridos.
“(...). Cada dia mais entramos no período transitório, que deve trazer a transformação
orgânica da Terra e a regeneração de seus habitantes.
Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para
extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele
provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão ou, para melhor dizer,
cada região será, passo a passo, batida por flagelos de naturezas diversas.

63
Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois,
preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se
instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso. Já algumas regiões foram provadas,
mas seus habitantes estariam em completo erro se se fiassem na era da calma, que vai ceder á
tempestade, para recair nos seus antigos erros. Há um período, que lhes é concedido, para
entrarem num caminho melhor. Se não o aproveitarem, o instrumento de morte os
experimentará até os trazer ao arrependimento”. [5]

Apenas por uma questão de curiosidade, informo que, além desses ensinamentos de tão
profundo conteúdo moral, o Espírito comunicante teceu comentários sobre um medicamento –
o Croton tiglium -, ou seja, o óleo de cróton. Segundo nos explica a Homeopatia, esse
medicamento tem larga ação sobre a diarreia, dores lancinantes e ardentes que ocorrem no lado
esquerdo do peito, atingindo as espáduas. Tem ainda influência sobre os pruridos intensos que
se estendem sobre todo o corpo.
(Possivelmente, sintomas que também poderiam ser encontrados nos habitantes da ilha
Maurícia quando foi assolada pela epidemia que dizimou mais de 60.000 pessoas!).
Kleber Halfeld - Reformador - 1992 - Agosto

[1] François Rabelais, humorista francês nascido em Chinon, na Touraine.


[2] Edmund Spenser, poeta inglês (1552-1599)
[3] Georges Cuvier é tido como o mais eminente naturalista do século XIX.
[4] Antiga ilha de França, tem cerca de 1920 km2.
[5] Revista Espírita – 1868 – Novembro - Essa mensagem foi recebida em 23-10-1868.

64
3.1.16 Para os montes – Emmanuel

“Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes.”


- Jesus. (MATEUS, capítulo 24, versículo 16.)

Referindo-se aos instantes dolorosos que assinalariam a renovação planetária,


aconselhou o Mestre aos que estivessem na Judéia procurar os montes.
A advertência é profunda, porque, pelo termo “Judéia”, devemos tomar a “região
espiritual” de quantos, pelas aspirações íntimas, se aproximem do Mestre para a suprema
iluminação.
E a atualidade da Terra é dos mais fortes quadros nesse gênero. Em todos os recantos,
estabelecem-se lutas e ruínas. Venenos mortíferos são inoculados pela política inconsciente nas
massas populares. A baixada está repleta de nevoeiros tremendos. Os lugares santos
permanecem cheios de trevas abomináveis.
Alguns homens caminham ao sinistro clarão de incêndios.
Aduba-se o chão com sangue e lágrimas, para a semeadura do porvir.
É chegado o instante de se retirarem os que permanecem na Judéia para os “montes”
das idéias superiores.
É indispensável manter-se o discípulo do bem nas alturas espirituais, sem abandonar a
cooperação elevada que o Senhor exemplificou na Terra; que aí consolide a sua posição de
colaborador fiel, invencível na paz e na esperança, convicto de que, após a passagem dos
homens da perturbação, portadores de destroços e lágrimas, são os filhos do trabalho que
semeiam a alegria, de novo, e reconstroem o edifício da vida.
Emmanuel – Caminho, Verdade e Vida – Cap. 140 – Para os Montes

65
3.1.17 Catástrofes – Raul Teixeira

Este século assistiu a duas guerras mundiais e a mudanças vertiginosas na vida social.
O que ainda nos espera? Haverá catástrofes, como muitos predizem?

Os• Espíritos do Senhor, que nos trouxeram a Codificação Espírita, não são alarmistas.
Não anunciam catástrofes que o nosso livre-arbítrio não possa conjurar, uma vez que o ensino
do Cristo garante que "a cada um será dado conforme suas obras" 1.
Esclarece-nos O Livro dos Espíritos que a predominância da natureza animal sobre a
espiritual, junto à satisfação das paixões, é o que motiva a guerra 2.
Então, podemos admitir que o que nos leva à guerra é a ação sempre nefasta do egoísmo.
Quanto mais trabalharmos no sentido de transformar esse vício, fazendo desenvolver-se em nós
o altruísmo, como oposição natural, mais iremos nos situando em níveis morais de tal ordem
que não estaremos sujeitos a perecer apanhados nas malhas dos fenômenos planetários, que
costumam tornar­ se flagelos destruidores.
Muitíssimo válida é a reflexão da comunidade espírita em torno do fato de que estamos
reencarnados num planeta em fase de tal estabilização cósmica, com seus movimentos sísmicos,
climáticos etc., que ficamos sujeitos aos seus variados movimentos naturais, ao mesmo tempo
que esses mesmos fenômenos, quando nos alcançam, permitem-nos resgates de diversa monta
e acertos com as leis reequilibradoras da vida sideral.
Por suas características próprias, a Terra não nos pode oferecer a felicidade perfeita,
exatamente pelo fato de que ainda não conquistamos o devido mérito 3.
Quanto às chamadas catástrofes, essas sempre existiram e continuarão a existir,
podendo, em dada ocasião, levar em sua voragem incontáveis criaturas que estejam na faixa
das necessidades expiatórias, via sofrimento.
Raul Teixeira – Ante o Vigor do Espiritismo – Cap. 1 – Catástrofes

1 Mt.16:27.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Perg. 742.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Perg. 920.

66
3.1.18 Mortes Coletivas – Divaldo Franco

Periodicamente a humanidade é surpreendida com acontecimentos que causam a morte


de muitas pessoas, algumas decorrem de eventos da natureza como tsunamis, terremotos ou
desabamento de terra, outras já decorrem da ação do homem, como o -acidente de avião.
Recentemente, nós tivemos, em São Paulo, um acidente muito grave em que um avião
da TAM se chocou com um prédio. Qual o propósito da divindade nessas mortes coletivas?

O egrégio codificador da Doutrina Espírita Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na


sua terceira parte, a Lei de destruição, faz uma análise dessas tragédias coletivas e interroga aos
benfeitores da humanidade o que pretende a divindade com essas desencarnações coletivas.
E, para surpresa de Allan Kardec e nossa, os benfeitores disseram que era para fazer a
sociedade progredir.
O comentário é vasto, e nessa mesma questão o codificador pergunta se não teria a
divindade outros recursos para promover o progresso dessas pessoas.
Os espíritos informaram que sim, e isso acontece através de fenômenos naturais, como
epidemias, insucessos de vária ordem, fenômenos sísmicos e outros.
Então, Allan Kardec volve à questão, indagando que, se num caso desses, muitos
inocentes não seriam vítimas dos infelizes acontecimentos.
Os benfeitores espirituais assinalam que não, porque dentro do código das soberanas
leis, somente nos acontece aquilo de que temos necessidade para evoluir.
A Lei de causa e efeito estabelece os parâmetros não somente dos resgates coletivos
como também das técnicas que induzem os indivíduos a esses resgates calamitosos.
Observamos, por exemplo, que nos acidentes aéreos pessoas chegam num momento e
resolvem mudar a viagem, desenvolvendo um esforço tremendo, enquanto outros lutam para
poder ser incluídos naquele vôo e, como resultado, padecem essas consequências que estão
dentro da sua programação evolutiva.
É sempre providencial, portanto, que se mantenha a confiança em Deus, quando
acontece algo lamentável e doloroso, como este que estamos examinando, especialmente os
familiares, que ficam embrulhados nos mantos sombrios da saudade, e talvez também para
alguns desencarnados, porque, surpreendidos de maneira inesperada, experimentam grande
choque ao despertar no além, considerando que todas essas ocorrências estão dentro dos códigos
da Soberana Justiça.
Divaldo Franco - Mortes Coletivas - Divaldo Franco Responde I - Pag. 91

67
3.1.19 Terremoto Espiritual - Leopoldo Machado
A avançada tecnologia conseguiu construir sismógrafos ultrassensíveis que detectam os
mais leves movimentos de adaptação das placas terrestres, que podem ser medidos pela escala
Richter, estabelecendo a sua intensidade. Não obstante esse extraordinário logro, não é possível
à inteligência humana prever onde acontecerá o fenômeno perturbador, ou mesmo impedir a
sua manifestação.
Tentando evitar tão desastrosa ocorrência, geólogos hábeis, utilizando-se de satélites
especialmente equipados para o mapeamento da intimidade do planeta, recorrendo a raios
infravermelhos e outros que podem alcançar as estruturas mais profundas, conseguiram
identificar as falhas mais perigosas, como outras de menor monta, acompanhando com
cuidadosa argúcia as alterações que ocorrem com o tempo, em tentativas de minimizar-lhes a
ameaça de destruição. Todavia, periodicamente, sem qualquer prevenção, erupções vulcânicas
produzem ressonâncias em várias regiões e terremotos devastadores assolam diferentes áreas,
reduzindo tudo a pó e destroços.
A inteligência humana, urbanizando lugares inóspitos, altera-lhes a topografia e erguem
cidades de expressiva beleza, lançando pontes grandiosas que atravessam lagos, pântanos e
mares, facilitando a comunicação entre diferentes pontos terrestres.
Engenheiros civis e de cálculo constroem edifícios incomparáveis, alcançando as nuvens, e
tomam providências para serem evitados desastres sísmicos, utilizando material e tecnologia
invulgar.
Recentemente, as torres gêmeas Petronas, de Kuala Lumpur, na Malásia, atingiram a
invejável altura de 452 metros, tornando-se o edifício mais alto do mundo...
O empenho humano para vencer as condições adversas que produzem os terremotos, como
outros flagelos, é credor do maior respeito e consideração. Apesar disso, a agressão do próprio
homem ao ecossistema estarrece, contribuindo para a morte, antes lenta e agora acelerada do
planeta que habita, caso providências urgentes não o tornem consciente de sua responsabilidade.
Enquanto o ingente esforço de cientistas e tecnólogos, de estudiosos e trabalhadores
cuida da beleza e comodidade externa da Terra, as paixões dissolventes oxidam os sentimentos,
como ferrugem corrosiva emperrando equipamentos importantes.
A vulgaridade e o despudor alcançam índices jamais igualados e uma nuvem de
miasmas morais intoxica as criaturas, enlouquecendo-as, atirando-as em abismos de dor e de
sombra.
O materialismo e o utilitarismo dão-se as mãos e desgovernam as mentes e os corações,
que perdem as diretrizes do comportamento, tombando em exaustão nas suas masmorras sem
grades, porém, cruéis, de onde não há meio possível de fácil evasão...

68
Numa análise perfunctória, parece que o caos moral cresce ao lado das conquistas da
comodidade e do poder, face à truculência, à bestialidade e ao horror que se desenvolvem e
expandem, quase a passe de mágica.
É claro que não se podem ignorar, nesse, báratro, as realizações nobilitantes, as
conquistas salvadoras e os passos gigantescos para o encontro com a vida fora da Terra...
São consideráveis os sacrifícios dos idealistas, de todos aqueles que promovem o
progresso. No entanto, as hórridas ameaças morais vicejam ao lado, contrabalançando
negativamente as elevadas realizações.
Numa revisão histórica, verificamos que, das maravilhas do mundo antigo, somente as
pirâmides do Egito permaneceram até então.
O Colosso de Rodes, por exemplo, desapareceu nas águas do mar, após terremoto... e
dos Jardins de Samíramis e dos Muros da Babilônia, do Farol de Alexandria, de 400 pés de
altura, também varrido do solo, do Túmulo de Mausolo, do Templo de Artêmis em Éfeso, da
Estátua de Zeus Olímpico, de Fídias, somente ficaram pedras calcinadas pelo tempo,
demonstrando a fragilidade das construções humanas...
Na atualidade podem ser contempladas as suntuosas catedrais que foram erguidas no
passado, os palácios e museus formidandos, assim como os edifícios modernos de incomparável
beleza e luxo, os cassinos inigualáveis, os monumentos e obras de arte não superados, os
engenhos da eletrônica e da cibernética, exaltando a glória da mente que voa no rumo do
Infinito...
Concomitantemente, o despautério, a miséria, a hediondez dos vícios das drogas, do
sexo, do medo e do pânico, da loucura e da insatisfação, aparecem com predominância, porque,
esse ser humano, ainda não se identificou com o Herói Crucificado, o Construtor da Terra, que
veio, mas não foi ouvido sequer, nem recebido.
Em Jerusalém, no passado, ante a exclamação dos discípulos emocionados pela
grandeza do Templo da Salomão, suas pedras colossais, sua porta extraordinária, suas colunas
majestosas seus átrios luminosos, Ele respondeu com tristeza na voz:
— Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
E o vaticínio aconteceu, permanecendo a área vazia da antiga e opulenta construção, de
alguma coberta com novos edifícios sagrados.
Foram as guerras que se responsabilizaram por fazê-lo, como em muitos outros lugares,
qual sucedeu com a Acrópole - ainda teimosamente em pé -, o Areópago, totalmente destruído,
e outros...

69
Sobre essa paisagem trabalhada pelo homem, no entanto, pairam profecias sobre
acontecimentos desastrosos, cuja concretização poderá ser evitada, se forem alteradas as
condutas mental, moral e comportamental - a força que contribuirá para o equilíbrio do planeta
e movimento sem choques das suas placas -, diluindo o anúncio das terríveis tragédias que
poderão ocorrer.
Graças ao Espiritismo, vem acontecendo um terremoto que os sismógrafos não
conseguiram detectar, mas que o psiquismo vem captando e dando-lhe curso - o de natureza
espiritual.
Suave, a princípio, depois irrompendo de forma expressiva, irá derrubar os castelos de
sonhos e de pesadelos do materialismo, do utilitarismo perverso, que cederão lugar à
fraternidade verdadeira, à solidariedade legítima e ao amor sem fronteiras.
Tremem os alicerces dessas antigas construções que albergam o existencialismo e a
negação de Deus, da alma e da Divina Justiça, estimulando ao gozo e à anarquia dos valores
éticos.
Sopra já uma brisa de esperança sobre os escombros da mentalidade desvairada, que se
desconecta ante as alterações provocadas pelo terremoto espiritual, encarregado de mudar as
estruturas do pensamento anterior e ainda vigente, que tem retardado o crescimento moral da
sociedade.
Esse está sendo o mais notável acontecimento da humanidade, nos tempos hodiernos,
que assinalará época, porque renovará por completo as bases sociais e humanas do
comportamento, abrindo espaço para um mundo novo e feliz.
Esse terremoto espiritual, que decorre da vivência digna da mediunidade, pode ser
considerado como ajustador das placas colossais, que se movem e se chocam nas camadas
profundas do inconsciente do ser, que se libertará dos vulcões do desespero, permitindo que
surjam em toda parte as planícies da paz imorredoura, sob o canto sublime das vozes dos
imortais.
Enquanto o ingente esforço de cientistas e tecnólogos, de estudiosos e trabalhadores
cuida da beleza e comodidade externa da Terra, as paixões dissolventes oxidam os sentimentos,
como ferrugem corrosiva emperrando equipamentos importantes.
Leopoldo Machado – Luzes do Alvorecer – Cap. 23 – Terremoto Espiritual
Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 01/06/1998 no Centro Espírita
Caminho da Redenção, em Salvador - BA. (Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998).

70
3.2 Esclarecimentos Espirituais sobres Catástrofes/Tragédias

3.2.1 Incêndio do Circo Americano


3.2.1.1 A Tragédia do Circo – Humberto de Campos

Naquela noite, da época recuada de 177, o ‘concilium’ de Lião regurgitava de povo.


Não se tratava de nenhuma das assembleias tradicionais da Gália, junto ao altar do
Imperador, e sim de compacto ajuntamento.

***

Marco Aurélio reinava, piedoso, e, embora não houvesse lavrado qualquer escrito em
prejuízo maior dos cristãos, permitira se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as
leis existentes contra eles.
A matança, por isso, perdurava, terrível.
Ninguém examinava necessidade ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doentes,
tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis
ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.
Através do espesso casario, a montante da confluência do Ródano e do Saône,
multiplicavam-se prisões, e no sopé da encosta, mais tarde conhecida por colina de Fourvière,
improvisara-se grande circo, levantando-se altas paliçadas em torno de enorme arena.
As pessoas representativas do mundo lionês eram sacrificadas no lar ou barbaramente
espancadas no campo, enviando-se os desfavorecidos da fortuna, inclusive grande massa de
escravos, ao regozijo público.
As feras pareciam entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas
mandíbulas sanguissedentas. Em razão disso, inventavam-se tormentos novos.
Verdugos inconscientes ideavam estranhos suplícios.
Senhoras cultas e meninas ingênuas eram desrespeitadas antes que lhes decepassem a
cabeça, anciães indefesos viam-se chicoteados até a morte. Meninos apartados do reduto
familiar eram vendidos a mercadores em trânsito, para servirem de alimárias domésticas em
províncias distantes, e nobres senhores tombavam assassinados nas próprias vinhas.
Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.

***

71
Naquela noite, a que acima nos referimos, anunciou-se para o dia seguinte a chegada
de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador por se
haver distinguido contra a usurpação do general Avídio Cássio, e que se inclinava agora a
merecido repouso.
Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter.
Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o
patrício Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, a
pedido do Propretor, programando os festejos.
- Além das saudações, diante dos carros que chegarão de Viena - dizia, algo tocado pelo
vinho abundante -, é preciso que o circo nos dê alguma cena de exceção... O
lutador Setímio poderia arregimentar os melhores homens; contudo, não bastaria renovar o
quadro de atletas...
- A equipe de dançarinas nunca esteve melhor - aventou Caio Marcelino, antigo
legionário da Bretanha que se enriquecera no saque.
- Sim, sim... - concordou Ácio - instruiremos Musônia para que os bailados
permaneçam à altura...
- Providenciaremos um encontro de Auroques - lembrou Pérsio Níger.
- Auroques! Auroques! ... - Clamou a turba em aprovação.
- Excelente lembrança! - Falou Plancus em voz mais alta - mas, em consideração ao
visitante, é imperioso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça...
Um grito horrível nasceu da assembleia:
- Cristãos às feras! Cristãos às feras!
Asserenado o vozerio, tornou o chefe do conselho:
- Isso não constitui novidade! E há circunstâncias desfavoráveis. Os leões recém-
chegados da África estão preguiçosos...
Sorriu com malícia e chasqueou:
- Claro que surpreenderam, nos últimos dias, tentações e viandas que o próprio
Lúculo jamais encontrou no conforto de sua casa...
Depois das gargalhadas gerais, Álcio continuou, irônico:
- Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero
resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristãs,
guardando-as nos cárceres...
E, amanhã, coroando as homenagens, ajuntá-las-emos na arena, molhada de resinas e
devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a
liberação das mais fortes.

72
Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando
sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos.... Realmente, as chamas e as
patas dos animais formarão muitos lances inéditos...
- Muito bem! Muito bem! - rugiu a multidão, de ponta a ponta do átrio.
- Urge o tempo - gritou Plancus - e precisamos do concurso de todos.... Não possuímos
guardas suficientes...
E erguendo ainda mais o tom de voz:
- Levante a mão direita quem esteja disposto a cooperar.
Centenas de circunstantes, incluindo mulheres robustas, mostraram destra ao alto,
aplaudindo em delírio.
Encorajado pelo entusiasmo geral, e desejando distribuir a tarefa com todos os
voluntários, o dirigente da noite enunciou, sarcástico e inflexível:
- Cada um de nós traga um.... Essas pragas jazem escondidas por toda a parte... Caça-
las e exterminá-las é o serviço da hora...
Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam
residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e
criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte,
queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.

***

Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento.... Entretanto, a


justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas
posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de Dezembro de
1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.
Humberto de Campos – Cartas e Crônicas – Cap. 6 – Reformador – 1962 – Março

73
3.2.2 Queda do Avião Australiano
3.2.2.1 Resgates Coletivos – André Luiz

(...)
Entendíamo-nos com Silas, acerca de variados problemas, quando expressivo
chamamento de Druso nos reuniu ao diretor da casa, em seu gabinete particular de serviço.
O chefe da Mansão foi breve e claro. Apelo urgente da Terra pedia auxílio para as
vítimas de um desastre aviatório.
Sem alongar-se em minúcias, informou que a solicitação se repetiria, dentro de alguns
instantes, e conviria esperar a fim de examinarmos o assunto com a eficiência precisa.
Com efeito, mal terminara o apontamento e sinais algo semelhantes aos do telégrafo de
Morse se fizeram notados em curioso aparelho. Druso ligou tomada próxima e vimos um
pequeno televisor em ação, sob vigorosa lente, projetando imagens movimentadas em tela
próxima, cuidadosamente encaixada na parede, a pequena distância.
Qual se acompanhássemos curta notícia em cinema sonoro, contemplamos,
surpreendidos, a paisagem terrestre.
Sob a crista de serra alcantilada e selvagem, destroços de grande aeronave guardavam
consigo as vítimas do acidente.
Adivinhava-se que o piloto, certamente enganado pelo traiçoeiro oceano de espessa
bruma, não pudera evitar o choque com os picos graníticos que se salientavam na montanha,
silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos torreões de fortaleza agressiva.
Em pleno quadro inquietante, um ancião desencarnado, de semblante nobre e digno,
formulava requerimento comovedor, rogando à Mansão a remessa de equipe adestrada para a
remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no doloroso sinistro.
Enquanto Druso e Silas combinavam medidas para a tarefa assistencial, Hilário e eu
olhávamos, espantados, o espetáculo inédito para nós ambos.
A cena aflitiva parecia desenrolar-se ali mesmo. Oito dos desencarnados no acidente
jaziam em posição de chague, algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam,
jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas,
gritavam desesperados, em crises de inconsciência.
Contudo, amigos espirituais, abnegados e valorosos, velavam ali, calmos e atentos.
Figurando-se cascata de luz vertendo do Céu, o auxílio do Alto vinha, solícito, em
abençoada torrente de amor.

74
O quadro patético era tão real à nossa observação, que podíamos ouvir os gemidos
daqueles que despertavam desfalecentes, as preces dos socorristas e as conversações dos
enfermeiros que concertavam providências à pressa...
De alma confrangida, vimos desaparecer a notícia televisada, enquanto Silas cumpria as
ordens do comandante da instituição com admirável eficiência.
Em poucos instantes, diversos operários da casa puseram-se em marcha, na direção do
local minuciosamente descrito.
Voltando ao gabinete em que lhe aguardávamos o retorno, Silas ainda se entendeu com
o orientador, por alguns minutos, com respeito ao serviço em foco.
Foi então que Hilário e eu indagamos se não nos seria possível a participação na obra
assistencial que se processava, no que Druso, paternalmente, não concordou, explicando que o
trabalho era de natureza especialíssima, requisitando colaboradores rigorosamente treinados.
Cientes de que o generoso mentor poderia dispensar-nos mais tempo, aproveitamos o
ensejo para versar a questão das provas coletivas.
Hilário abriu campo livre ao debate, perguntando, respeitoso, por que motivo era rogado
o auxílio para a remoção de seis dos desencarnados, quando as vítimas eram catorze.
Druso, no entanto, replicou em tom sereno e firme:
– O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos
esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente para
cada um.
No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes
outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o
afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos
que lhes dizem respeito.
– Quantos dias? – Clamou meu colega, incapaz de conter a emoção de que se via
possuído.
– Depende do grau de animalização dos fluidos que lhes retêm o Espírito à atividade
corpórea – respondeu-nos o mentor. –
Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias.... Quem sabe?
Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma.
O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de
nossa morte.

75
Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo gastamos
para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que se nos
constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos
ajustamos, nelas encontrando combustível para dilatados enganos nas sombras do campo
carnal, propriamente considerado.
E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio
e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer
emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante a Lei.
Assim é que “morte física” não é o mesmo que “emancipação espiritual”.
– Isso, no entanto – considerei –, não quer dizer que os demais companheiros
acidentados estarão sem assistência, embora coagidos a temporária detenção nos próprios
restos.
– De modo algum – ajuntou o amigo generoso –, ninguém vive desamparado. O amor
infinito de Deus abrange o Universo.
Os irmãos que se demoram enredados em mais baixo teor de experiência física
compreenderão, gradativamente, o socorro que se mostram capazes de receber.
– Todavia – reparou Hilário –, não serão atraídos por criaturas desencarnadas, de
inteligência perversa, já que não podem ser resguardados de imediato?
Druso estampou significativa expressão facial e ponderou:
– Sim, na hipótese de serem surdos ao bem, é possível se rendam às sugestões do mal,
a fim de que, pelos tormentos do mal, se voltem para o bem. No assunto, entretanto, é preciso
considerar que a tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida, de dentro para fora. A
junção de nossas almas com os poderes infernais verifica-se em relação com o inferno que já
trazemos dentro de nós.
(...)
– Imaginemos que fossem analisar as origens da provação a que se acolheram os
acidentados de hoje.... Surpreenderiam, decerto,
Delinquentes que, em outras épocas, atiraram irmãos indefesos do cimo de torres
altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no chão;
Companheiros que, em outro tempo, cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar,
pondo a pique existências preciosas;
Suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, em supremo
atestado de rebeldia, perante a Lei, os quais, por enquanto, somente encontraram recurso em
tão angustioso episódio para transformarem a própria situação.

76
Quantos milhares de irmãos encarnados possuímos nós, em cujas contas com os
Tribunais Divinos figuram débitos desse jaca?
Entretanto, não desconhecemos que nós, consciências endividadas, podemos melhorar
nossos créditos, todos os dias. Quantos romeiros terrenos, em cujos mapas de viagem constam
surpresas terríveis, são amparados devidamente para que a morte forçada não lhes assalte o
corpo, em razão dos atos louváveis a que se afeiçoam! ...
Quantas intercessões da prece ardente conquistam moratórias oportunas para pessoas
cujo passo já resvala no cairel do sepulcro?!... Quantos deveres sacrificiais granjeiam, para a
alma que os aceita de boamente, preciosas vantagens na Vida Superior, onde providências se
improvisam para que se lhes amenizem os rigores da provação necessária?!
Bem sabemos que, se uma onda sonora encontra outra, de tal modo que as “cristas” de
uma ocorram nos mesmos pontos dos “vales” da outra, esse meio, em consequência aí não
vibra, tendo-se como resultado o silêncio.
Assim é que, gerando novas causas com o bem, praticado hoje, podemos interferir nas
causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando, com isso, o nosso
equilíbrio.
Desse modo, creio mais justo incentivarmos o serviço do bem, através de todos os
recursos ao nosso alcance. A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o
trabalho, a arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será
lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de nossos destinos.
André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgates Coletivos

77
3.2.3 Incêndio do Joelma
3.2.3.1 Calamidades Salvadoras – Editorial – Revista Reformador

Malgrado toda a cultura que já amontoaram, os homens ainda não conseguem


nem entender nem enfrentar as coisas comezinhas que fazem parte integrante de sua estada na
crosta terrestre.
Bem o demonstra o estupor que lhes causam as ocorrências que aparentam decorrer da
atuação de forças cegas e caprichosas, rotuladas de fatalidade.
A dificuldade, para os encarnados, reside no fato de não possuírem uma concepção firme
e racional de suas próprias condições de vida neste ‘vale de lágrimas’, a despeito de todos os
protestos que fazem de suas convicções espiritualistas e de sua crença na imortalidade.
De fato, para aqueles que reduzem a uma vida única, no plano terráqueo, o mecanismo
de ação duma justiça perfeita e iniludível - torna-se incompreensível um acontecimento como
o pavoroso incêndio ocorrido no Edifício Joelma, na cidade de São Paulo, onde perto de 200
pessoas foram arrebatadas da vida pelos processos mais dolorosos, sendo a grande maioria
constituída de jovens que despontavam para o porvir.
Diante de quadros como esse é que se pode averiguar a solidez e a justeza da
Doutrina Espírita, cujas virtudes consoladoras se realçam exatamente nessas contingências,
pois só mesmo a ideia das vidas sucessivas pode asserenar o pensamento atordoado dos homens,
fazendo-os entrever a justiça imanente na trama dos fatos cuja brutalidade inesperada os faz
descambar, muita vez, para o desespero, a dúvida, e até a descrença.
A reencarnação põe à mostra a dinâmica da justiça perfeita e infalível, a desenrolar-se
através da lei de ação e reação, que, em suas determinantes, sujeita, sempre e inapelavelmente,
a colher segundo o que se planta. E a exatidão desse mecanismo alcança tanto os atos cometidos
individualmente quanto aqueles praticados coletivamente.
Por isso mesmo, aquilo que aos olhos dos homens são terríveis coincidências, a reunirem
num dado local e no mesmo momento criaturas as mais diversas, provenientes das mais
distanciadas procedências, conhecidas ou desconhecidas, e impelidas pelas mais fortuitas
razões, são, na verdade, dispositivos providenciais que agrupam Espíritos com débitos
contraídos em comum e chamados, portanto no momento oportuno, a resgatarem
conjuntamente as responsabilidades assumidas em parceria.
Se meditarmos bem, é de se agradecer a Deus a irrupção dessas calamidades
imprevisíveis, cujas causas imediatas não possam ser imputadas à ação deliberada dos homens.

78
Porque mil vezes mais sinistras são aquelas ocasionadas pela cegueira e pela inópia
moral dos homens, como as guerras desencadeadas pelo egoísmo e pelas paixões coletivas, pelo
patriotismo inumano que conduz nações inteiras a se digladiarem e exterminarem, e que ainda
faz que os patriotas estufem o peito de orgulho, por dizimarem o inimigo, arrasando suas
cidades, ou por morrerem heroicamente...
Deplorável, neste particular, o espetáculo que ainda oferece o mundo nos dias
presentes. Ignorante ou alienada das coisas do espírito, da realidade de si mesma, a humanidade
continua a movimentar o carrossel do círculo vicioso e carreando, para si mesma, os ônus das
dores repetitivas, inteiramente desatenta, para sua própria infelicidade, à profunda advertência
do Mestre Divino, quando disse: “O escândalo é necessário, mas ai daquele por quem vier o
escândalo! ”

Há, contudo, que se refazer dos golpes dolorosos. Os desígnios do Pai Celestial são
sempre magnânimos e impregnados de misericórdia, que começa por balsamizar as angústias
daqueles que são atingidos pela severidade da lei.
Misericórdia que impele a todos, igualmente, nas linhas da evolução infinita, à conquista
das galas da intelectualidade iluminada e do sentimento sublimado, quando então, sabendo
senhorear todas as forças da Natureza e sendo os manobreiros dos próprios destinos, estarão
livres das inferioridades e liberados, em definitivo, de suas funestas consequências.
Editorial do Reformador - 1974 – Março – Calamidades Salvadoras

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3.2.3.2 Incêndio do Edifício Joelma – Francisco Cândido Xavier

Tão logo nos chegou pelo rádio a notícia do incêndio do Edifício Joelma, em São
Paulo, reunimo-nos em prece, quatro amigos, solicitando auxílio dos Benfeitores Espirituais
para as vítimas do aflitivo acidente.
O nosso Emmanuel atendeu-nos e escreveu a prece que lhe envio. É uma oração sem
título, simplesmente oração.
Tenho a certeza de que, se houvesse título, ele seria escrito com as nossas próprias
lágrimas.
Até hoje, sob a forte impressão do incêndio do Edifício Andraus que acompanhamos
pessoalmente em fevereiro de 1972, o triste acontecimento nos dói profundamente no
coração. Por isso, na ideia de que a prece do nosso benfeitor Emmanuel (1) possa confortar
algum coração amigo, mais diretamente atingido pela dolorosa provação coletiva que a todos
nos fere, enviamo-la à sua atenção. Deus nos fortaleça e abençoe a todos.
Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 25

(1) Recebida em reunião íntima realizada no dia 1° de fevereiro de 1974, data em que
ocorreu o incêndio no Edifício Joelma. (N.E.)

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3.2.3.3 Senhor Jesus! – Emmanuel
Auxilia-nos, perante os companheiros impelidos à desencarnação violenta, por força
das provas redentoras.
Sabemos que nós mesmos, antes do berço terrestre, suplicamos das Leis Divinas as
medidas que nos atendam às exigências do refazimento espiritual. Entretanto, Senhor, tão
encharcados de lágrimas se nos revelam, por vezes, os caminhos do mundo, que nada mais
conseguimos realizar, nesses instantes, senão pedir-te socorro para atravessá-los de ânimo
firme.
Resguarda em tua assistência compassiva todos os nossos irmãos surpreendidos pela
morte em plena floração de trabalho e de esperança e acende-lhes nos corações, aturdidos de
espanto e retalhados de sofrimento, a luz divina da imortalidade oculta neles próprios, a fim
de que a mente se lhes distancie do quadro de agonia ou desespero, transferindo-se para a
visão da vida imperecível.
Não ignoramos que colocas o lenitivo da misericórdia sobre todos os processos da
justiça, mas tocados pela dor dos corações que ficam na Terra – tantos deles tateando a lousa
ou investigando o silêncio, entre o pranto e o vazio –, aqui estamos a rogar-te alívio e proteção
para cada um! …
Dá-lhes a saber, em qualquer recanto de fé ou pensamento a que se acolham, que é
preciso nos levantemos de nossas próprias inquietações e perplexidades, a cada dia, para
continuar e recomeçar, sustentar e valorizar as lutas de nossa evolução e aperfeiçoamento, no
uso da Vida Maior que a todos nos aguarda, nos planos da União Sem Adeus.
E, enquanto o buril da provação esculpe na pedra de nossas dificuldades, conquanto
as nossas lágrimas, novas formas de equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso,
engrandece em teu amor aqueles que entrelaçam providências no amparo aos companheiros
ilhados na angústia.
Agradecemos ainda a compreensão e a bondade que nos concedes em todos os irmãos
nossos que estendem os braços, cooperando na extinção das chamas da morte; que oferecem
o próprio sangue aos que desfalecem de exaustão; que umedecem com o bálsamo do leite e
da água pura os lábios e as gargantas ressequidas que emergem de tumulto de cinza e sombra;
que socorrem os feridos e mutilados para que se restaurem; e os que pronunciam palavras de
entendimento e paz, amor e esperança, extinguindo a violência no nascedouro!…
Senhor Jesus! …
Confiamos em ti e, ao entregarmo-nos em Tuas mãos, ensina-nos a reconhecer que
fazes o melhor ou permites se faça constantemente o melhor em nós e por nós, hoje e sempre.
Emmanuel – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – Senhor Jesus!

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3.2.3.4 O Enigma Insolúvel – Herculano Pires

As provas coletivas, profundamente dolorosas, como a do incêndio do Edifício


Joelma, constituem enigma insolúvel para os que creem em Deus, mas não conhecem os
princípios da sua Justiça Divina.
Diante da tragédia absurda o coração vacila e muitas vezes a fé desmorona. Como
pode Deus castigar assim as criaturas humanas ou até mesmo permitir ocorrências dessa
espécie? Não há argumentos que possam acalmar a revolta dos que perderam entes queridos.
Mas a prece de Emmanuel começa por uma referência a “provas redentoras”. E a
seguir nos lembra que nós mesmos, ao reencarnar na Terra, suplicamos às leis divinas as
medidas de que necessitamos. Assim, orando a Jesus, Emmanuel nos envia também a
mensagem esclarecedora sobre as razões ocultas da tragédia.
Cada criatura humana se define como personalidade pela sua consciência. Graças à
consciência, a individualização humana nos separa da individualização animal e nos confere
a dignidade espiritual. Conscientes do que somos e do que fazemos, somos naturalmente
responsáveis pelos nossos atos. Essa responsabilidade se acentua quando o espírito, livre da
ilusão da matéria, se defronta com a realidade no mundo espiritual. É então que pede para
voltar à Terra numa reencarnação de provas redentoras, submetendo-se aos mesmos suplícios
que infligiu a outros em vidas anteriores.
Quem conhece a História da Humanidade sabe de quantos horrores ela se constitui. O
egoísmo humano, a ganância, a sede de poder, a arrogância desmedida dos homens – não
obstante a natureza passageira da vida terrena – levaram-nos a muitos desvarios por mares e
terras do planeta. Agora, numa fase decisiva da evolução terrena, muitos Espíritos anseiam
por aliviar sua consciência dos crimes do passado, preparando-se assim para experiências
mais altas no mundo melhor que vai nascer.
Há quem se revolte à ideia de que uma criatura querida tenha praticado crimes em vida
anterior. Mas a verdade é que somos todos, sem distinção, espíritos endividados com a nossa
própria consciência.
Nada devemos a Deus, que nada nos cobra, mas tudo devemos a nós mesmos. A
natureza divina do espírito se revela nas leis de justiça da consciência. E é por esse tribunal
secreto, instalado em nós mesmos, que nos condenamos a suplícios redentores.
A tragédia passageira resulta em benefícios espirituais na vida sem limites que nos
aguarda além-túmulo.
J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 25- Enigma Insolúvel

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3.2.3.5 O Ponto Central – Francisco Cândido Xavier

Precedendo a nossa reunião pública, os comentários sobre o incêndio havido em São


Paulo, no dia primeiro deste mês de fevereiro (1), foram ainda o ponto central de nossas
conversações.
Éramos dezenas de companheiros, na maioria procedentes de cidades diversas. Não
tínhamos, porém, outro assunto, mesmo porque estavam entre nós alguns familiares dos que
foram vítimas da ocorrência dolorosa. Da troca de reflexões sobre o acontecido fomos às
tarefas programadas.
Após a oração habitual O Livro dos Espíritos nos deu para estudar a questão 740,
referente às provações coletivas. Após a interpretação do texto os poetas Cyro Costa e
Cornélio Pires se manifestaram pela psicografia, oferecendo-nos os sonetos que lhe envio.
***
NOTA – Publicamos neste capítulo apenas o soneto de Cyro Costa, em virtude da
revelação que o conhecido e saudoso poeta paulista faz a respeito das vítimas do incêndio do
Edifício Joelma. O soneto de Cornélio Pires se encontra no capítulo seguinte.
Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 26

83
3.2.3.6 Luz nas chamas – Cyro Costa

Homenagem aos companheiros desencarnados no incêndio ocorrido na capital de


São Paulo em 1° de fevereiro de 1974, em resgate dos derradeiros resquícios de culpa
que ainda traziam na própria alma, remanescentes de compromissos adquiridos em guerra
das Cruzadas.

Fogo!… Amplia-se a voz no assombro em que se espalha


Gritos, alterações… O tumulto domina.
No templo do progresso, em garbos de oficina,
O coração se agita, a vida se estraçalha.

Tanto fogo a luzir é mística fornalha


E a presença da dor reflete a lei divina.
Onde a fé se mantém, a prece descortina
O passado remoto em longínqua batalha…

Varrem com fogo e pranto as sombras de outras eras


Combatentes da Cruz em provações austeras,
Conquanto heróis do mundo, honrando os tempos idos.

Na Terra o sofrimento, a angústia, a cinza, a escória…


Mas ouvem-se no Além os hinos de vitória
Das Milícias do Céu saudando os redimidos.
Cyro Costa – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Luz nas Chamas
(1) 1º de fevereiro de 1974. (N.E.)

84
3.2.3.7 Resgates a Longo Prazo – Herculano Pires

Para as pessoas que ainda não aceitam o princípio da reencarnação, a revelação parece
absurda, simplesmente imaginária. Mas quem conhece realmente o problema não terá dúvidas
a respeito. O poeta Cyro Costa, autor do livro Terra Prometida (José Olímpio Editora, 1938)
foi um dos homens exponenciais de São Paulo nos idos de 30. Foi ele, já desencarnado, quem
encerrou o primeiro “Pinga Fogo” de Chico Xavier, no Canal 4, a 28 de julho de 1971, com
o soneto intitulado “Segundo Milênio”.
Por que razão Cyro Costa teria revelado a causa longínqua da morte das vítimas do
incêndio? Certamente para consolar os familiares aflitos que não viam motivo para esse fim
cruel. Muitos desses familiares são espíritas ou aceitam os princípios doutrinários, como
vemos pela presença de alguns na reunião de Chico Xavier. Além desse motivo caridoso há
o interesse de confirmar o princípio da reencarnação diante de uma ocorrência que sem ele
não seria explicável.
Em termos de consolação para os que ficaram, o final do soneto é de suma importância,
pois informa que as vítimas da Terra foram recebidas no Além como vitoriosas.
A convicção espírita, firmada em fatos reais e nas intuições profundas da alma, recebe
com alegria informações espirituais dessa natureza, quando dadas por espíritos plenamente
identificados e de comprovada elevação.
Mesmo entre os espíritas, alguns poderão perguntar por que motivo dívidas tão
remotas só agora foram pagas. As Cruzadas se verificaram entre princípios do Século XI e
final do Século XIII. É que a Lógica Divina é superior à lógica humana. Débitos pesados
esmagariam o espírito endividado, sob cobrança imediata. Convém dar tempo ao tempo para
que os resgates se façam de maneira proveitosa. Os Espíritos devem evoluir o suficiente para
que suas próprias consciências os levem a aceitar o resgate e a pedi-lo, reconhecendo a medida
como necessária para continuidade de sua evolução. Entrementes, nas encarnações
sucessivas, partes do débito vão sendo pagas, aliviando o devedor. Por isso Cyro Costa alude
a “resquícios de culpa” e não à culpabilidade total.
Também por isso as vítimas foram recebidas de maneira gloriosa, pois agora
comparecem na Espiritualidade como heróis da evolução, espíritos que se propuseram a
passar na Terra pelo que infligiram a outros no passado. Não foram submetidos
compulsoriamente ao sacrifício, mas entregaram-se a ele de maneira espontânea, no exercício
voluntário do seu livre arbítrio. Essa a sua glória. E o consolo para os que ficaram é evidente.

85
Seus entes queridos não foram vítimas ocasionais de um golpe nefando do destino ou
da fatalidade. Nada disso. Sacrificaram-se num momento terrível, mas passageiro, para
assegurar-se a felicidade no mundo espiritual e reencarnações felizes no futuro.
Sem as provas positivas que o Espiritismo oferece aos que o estudam e praticam, é
difícil ao homem compreender o problema. Mas há mais de um século a revelação espírita
vem beneficiando milhares de criaturas, hoje perfeitamente aptas a compreender esse
processo.
Quanto às Cruzadas, convém lembrar que suas guerras foram das mais desumanas,
marcadas por massacres e incêndios. Historiadores de insuspeita autoridade, como Brentano,
Langlois, Michaud, relatam cenas de canibalismo, massacres de crianças, horrores de toda
espécie praticados em nome da fé cristã.
Na queda de Jerusalém, segundo Brentano, em 1099, os judeus da cidade foram
reunidos na sinagoga e queimados vivos. Correndo a notícia de que os mouros haviam
engolido objetos de ouro, para escondê-los, milhares deles tiveram o ventre aberto e suas
vísceras remexidas pelos cruzados, ainda quentes.
O fogo era largamente usado. Mouros e judeus eram levados aos edifícios mais altos
e obrigados a saltar para se espatifarem no solo. Encurralavam-se prisioneiros em prédios
altos, que eram incendiados para que eles morressem nas chamas. Como vemos, crimes tão
hediondos só poderiam provocar resgates a longo prazo.
J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Resgates a Longo Prazo

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3.2.3.8 Os Poetas e o Incêndio – Francisco Cândido Xavier
Os poetas Cyro Costa e Cornélio Pires manifestaram-se pela psicografia, como já
dissemos anteriormente, oferecendo-nos visão nova do terrível acidente.
Ambos os poetas trouxeram-nos grande conforto. Nossa troca de impressões sobre o
acontecimento doloroso, antes da manifestação dos poetas, revelava o grande abalo que todos
sofrêramos.
Concordamos todos em colocar os sonetos em suas mãos, na ideia de que possam
consolar outros irmãos, cujos sentimentos estejam mais diretamente ligados à provação que
nos atingiu a todos.
***
NOTA – O soneto de Cyro Costa, que revela os motivos cármicos de tantas mortes no
incêndio, está publicado no capítulo anterior.
Neste capítulo reproduzimos o de Cornélio Pires, o poeta de Tietê, de saudosa
memória, que nos dá uma dupla visão da dolorosa ocorrência.
Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 27
3.2.3.9 Incêndio em São Paulo – Cornélio Pires

Céu de São Paulo… O dia recomeça…


O povo bom na rua lida e passa…
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.

A morte inesperada age possessa,


E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao Céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa…

A cidade magoada e enternecida


É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto…

Mas vejo, em prece, além do povo aflito,


Braços de amor que chegam do Infinito
E caminhos de luz no céu aberto…
Cornélio Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 27 – Incêndio em São Paulo

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3.2.3.10 Almas Libertas – Herculano Pires

Tudo se encadeia no Universo, explicam os Espíritos na obra básica da doutrina. Nada


acontece por acaso. Há em tudo uma sequência natural de causas e efeitos, de ação e reação.
Cyro Costa nos deu em seu soneto as raízes da tragédia do Joelma.
Cornélio Pires nos relata as consequências. Temos assim uma visão em três tempos da
catástrofe que seria absurda, ininteligível, sem os esclarecimentos proporcionados pela
comunicação mediúnica.
A ocorrência não se torna menos dolorosa, mas a consolação é levada a muitos
corações desesperados. Saber que os entes queridos não pereceram ao acaso nem
desapareceram nas cinzas, mas foram socorridos por amigos espirituais e estão a caminho de
recuperação nos planos superiores da vida, é aliviar o coração e desafogar a alma.
Muitos perguntarão: E as provas de tudo isso? E quantos, ao fazer a pergunta, já
obtiveram a resposta pela intuição da realidade que trazem em si mesmos, nas profundezas
misteriosas da consciência.
O soneto de Cornélio Pires é descritivo, como era de seu estilo tão conhecido de todos.
O poeta busca socorro nas reticências, nos três pontinhos que, sem mudar de aparência,
mudam de significação em cada verso. Todo o quadro da tragédia foi apanhado nesses catorze
versos de um decassílabo modesto, mas preciso. Não há uma pincelada a mais nem a menos.
E a última reticência é uma abertura para tudo aquilo que a palavra não pode traduzir.
Das terríveis guerras das Cruzadas, em nome de Cristo, as almas enclausuradas em
reencarnações sucessivas vieram imolar-se no último sacrifício.
Em breves momentos de desespero e dor libertaram-se do passado para librar-se a
planos superiores da vida.
Aliviaram para sempre suas consciências doloridas.
Almas libertas, podem agora prosseguir nos caminhos da evolução espiritual sem cair
em novos enganos. Possuem a experiência maior. Amadureceram para a imortalidade.
Ontem queriam servir a Deus a ferro e fogo. Hoje compreendem que só o amor nos
livra das ciladas do egoísmo e da arrogância e nos prepara de maneira eficiente para os
serviços de Deus.
J. Herculano Pires - Diálogo dos Vivos – Cap. 27 – Almas Libertas

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3.2.3.11 O incêndio do Joelma - Caio Ramacciotti

Para o paulistano, habituado às dimensões arquitetônicas de sua megalópole, não é


hábito particularizar esse ou aquele edifício, essa ou aquela construção mais ou menos soberba,
porquanto, vive-se na capital paulista entre rochedos de concreto, perdendo-se, já em passado
mais remoto, o tempo em que se admirava a altura, então, descomunal do edifício Martinelli,
do Banco do Estado ou mesmo da Esplanada.
Hoje, apenas a idéia do Metrô quebra a rotina da população operosa que de sol a sol
constrói a maior cidade da América Latina.
Um edifício há, contudo, que, a despeito de não apresentar muito de diferente em relação
aos outros, há dois anos permanece vivo na retina de todos nós que da grande São Paulo
presenciamos a eclosão de catástrofe de inusitadas proporções.
Falamos do Joelma.
Com seus 26 andares, alinhados em arquitetura moderna, em que a forma convexa de
sua fachada se abre em leque para a Avenida 9 de Julho, descortinando a extensão toda da
grande avenida que se perde nos Jardins, fica o Joelma situado em posição estratégica. Logo no
início da 9 de Julho, próximo à Praça das Bandeiras e do Vale do Anhangabaú, voltando suas
costas para a Avenida 23 de Maio, semelha-se, mesmo, o Joelma a um guardião do miolo da
cidade onde se depositam as tradições primeiras de sua história, com o antigo Anhangabaú
sepultado pela canalização de concreto, correndo no sopé das colinas onde se construiu, por
determinação de Manoel da Nóbrega, o Colégio de São Paulo de Piratininga.
Pouco antes das 9 horas da manhã daquela sexta-feira, no primeiro dia do mês de
fevereiro de 1974, línguas de fogo, nascendo do meio do Edifício, começaram a crescer,
alcançando em poucos minutos proporções que lembravam o trágico Andrauss, de dois anos
antes.
Com a combustão de materiais diversos que se imolavam ao poder destruidor do fogo,
volutas de fumaça negra, em rolos intermináveis, alternavam-se ou conviviam com as chamas
ciclópicas.
Muitas das pessoas que se encontravam naquela manhã no Joelma conseguiram descer
as escadarias até o Térreo e salvar-se. Mas muitas, também, não tiveram o mesmo destino: à
medida em que o fogo queimava, chamas e fumaça subiam pelo vão das escadas, impedindo de
qualquer modo a descida de quem se encontrava nos andares superiores. Elevadores lotados se
perdiam na ausência de eletricidade, transformando-se em fornos crematórios a carbonizar os
infelizes passageiros que acreditaram na possibilidade de atingir o Térreo, através daquelas
gaiolas de aço.

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Sem possibilidades de descer, muitos subiram até o topo do Edifício, na idéia de que se
repetiria o mesmo processo de salvamento do Andrauss em que dezenas de pessoas foram salvas
pelos helicópteros.
Não sabiam, e não adiantava saber, que o Joelma não tinha heliporto. Na cobertura, os
muitos que lá chegaram, começaram a correr, como um bando desorientado, fugindo para cá e
para lá das lâminas de chamas aterradoras e dos rolos de fumaça que a todos intoxicava.
O oxigênio, rarefeito pela combustão, atraído pelo sorvedouro do fogo, como que
acabava, toda vez que as chamas mais ousadas varriam os cimos do Joelma, retornando
escassamente quando as chamas recuavam, para com parcimônia ser sorvido a longos haustos
pela multidão em desespero.
No interior do prédio o panorama não era mais alentador, posto que a fumaça penetrava
onde não chegava o fogo, asfixiando a muitos. As laterais do Edifício foram as mais poupadas,
ali concentrando-se a maior parte das pessoas que foram recolhidas com vida.
No desespero de salvar-se, na confusão generalizada corpos eram pisados ou, quais
tochas vivas, impiedosamente carbonizados: alguns não poucos, no paroxismo da dor e do
desespero, pularam para estatelar-se perto do povo que assustado, acompanhava a tragédia,
entre atônito e inerme.
O heroísmo estava presente: mais uma vez páginas de coragem indômita foram escritas:
a generosidade irmanou muitos naquelas poucas horas e espíritos valorosos deixaram seus
corpos para alçar vôos maiores, já sem os helicópteros que os não puderam salvar, mas, com o
apoio, talvez, de aparelhos outros, invisíveis para nós, que levavam as vítimas fatais para
regiões diferentes...
Caio Ramacciotti – Somos Seis – Introdução

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3.2.3.12 Mãezinha, estou bem - Volquimar Carvalho dos Santos

Querida mãezinha, meu querido Álvaro (1). Primeiro a bênção que peço a Deus em
nosso auxílio e a bênção que rogo à querida mamãe para que as forças não faltem, agora que
tomo o lápis com o auxílio de meu avô (2) para escrever.
Não sei explicar a emoção que me controla todos os pensamentos. É como se voltasse
todo o quadro de meses antes à memória.
Tudo me sensibiliza em excesso, tudo me faz recuar para rever o que devo contemplar
em mim própria com serenidade. E parece um sonho, mamãe, estarmos juntas, através das letras
no entendimento desejado.
Não mais o cartão do alfabeto (3) em que os movimentos vagarosos demais nos
impedem a idéia de correr como desejamos.
Aqui, é alma para alma nas palavras que anseio impregnar de amor sem conseguir. Peço-
lhe não chorem mais o que ficou para trás no tempo, por expressão das Leis Divinas em forma
de sofrimento.
Embora isto, sei que a senhora e os nossos pedem notícias.
Como foi o inesperado? Muito difícil a revisão. Tudo aconteceu de repente, como se
devêssemos todos naquela manhã obedecer, de um modo só, a ordem que vinha do mais Alto,
a fim de que a gente trocasse de vida e corpo.
Quando recebi o impacto da notícia do fogo, o tumulto fora da sala não era pequeno. O
propósito de fazer com que o trabalho rendesse, habitualmente, nos isolava dos ruídos
exteriores. E o tempo de preservação possível havia passado.
Atendi automaticamente ao impulso que nascia nos outros companheiros – descer à
pressa. E fizemos isso.
Elevadores não mais podiam aguardar-nos. A força elétrica sofrera a queda
compreensível.
Esforcei-me por atingir algum meio para a descida, mas isso se fazia impraticável. Com
alguns poucos que me podiam ouvir, subimos apressadamente para os cimos do prédio.
A esperança nos helicópteros estava em nossa cabeça, mas era muito difícil abraçar
tantos para o regresso à rua com recursos tão poucos.
Entendi tudo e orei. Orei como nunca, lembrando toda a vida num momento só, porque
os minutos de expectativa eram para nós um prolongado instante de expectativa sempre menor.
Tudo atravessei com a prece no coração. E posso dizer a você, mãezinha querida, que
um brando torpor me invadiu, pouco a pouco...

91
O calor era demasiado para que fosse sentido por nós, especialmente por mim com
minudências de registro.
Compreendi que não estávamos à beira de uma libertação para o mundo e sim na
margem da Vida Espiritual que devíamos aceitar com fé em Deus. E aceitei.
Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô Álvaro, comigo durante todo o tempo,
não me deixaram assinalar quaisquer violências, naturais numa ocasião como aquela, da parte
daqueles que nos removiam do caminho em que se acreditavam no rumo da volta que não mais
se verificaria.
Lembrando nossas preces e nossas conversações em casa, procurei esquecer as frases
de desespero que se pronunciavam em torno de mim. Essa atitude de prece e de aceitação me
auxiliou e me colocou em posição de ser socorrida.
Mais tarde com algumas horas de liberação do corpo, é que despertei ao seu lado (4).
Aquele amigo certo que hoje sei nele o meu avô e benfeitor de todos os dias, estava a postos,
reconfortando-me..
Estava em meu próprio leito, refazendo energias, e por ele fui informada de que a ilusão
de estar no corpo, precisava ser esquecida; que o nosso querido Álvaro, auxiliado por ele, me
encontrara a forma física na instituição a que fôramos recolhidos, depois da luta enorme e que
não me cabia agora, senão estar calma e forte para fortalecê-la.
Mas que pode se gabar de ser mais forte que os outros numa ocasião qual naquela em
que nos vimos todos agoniados e alterados sem qualquer possibilidade de opção?
Chorei muito, mas Deus não nos abandona.
Por alguns poucos dias estive quase que constantemente ao seu lado, até dar-lhe a
certeza de que devíamos estar em paz.
Meu avô e outros amigos me ajudaram e prossigo na recuperação necessária.
Os irmãos hospitalizados, os que se refazem dos choques, os que se reconhecem
desfigurados por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma e os que se
acusam doentes, são ainda muitos.
De minha parte, estou melhorando. Agradeço as suas preces e as orações de Volnéia e
de Volnelita, do Álvaro (5) e dos nossos todos, sem esquecer a nossa querida Célia (6) e outras
amigas. Todos os pensamentos de paz que me enviam são preciosos agentes de auxílio em meu
favor.
Quanto posso, querida mamãe, e auxiliada por enquanto e sempre por amigos queridos
daqui, volto ao nosso ambiente familiar. Nossas irmãs e os cunhados José e Wilson sempre
amigos, nosso Álvaro, nossos queridos Flávio e Cristiano (7), com a sua imagem materna em
meu coração, prosseguem comigo, como não podia deixar de ser.

92
Estou satisfeita por haver adquirido um apartamento mais compatível com as nossas
necessidades (8).
Fui eu mesma, com auxílio de meu avô e de outros benfeitores, quem lhe forneceu a
idéia de aproveitarmos a ocasião para a compra.
A senhora, querida mamãe, não precisava hesitar quanto ao assunto (9); você sabia que
o nosso ideal era sempre o de conseguir o dinheiro para uma entrada que aliviasse o futuro.
E não diga mamãe que isso teria implicado na prova que atravessamos. De qualquer
modo a sua filha terminara o tempo aí e, na essência, nós ambas sempre tivemos a certeza de
que a minha existência seria curta na terra desta vez, em que aí estive (10).
O fato de grifar as palavras “desta vez” me consola, pois isso dá a vocês a certeza de
que estou em dia com a bênção da reencarnação, na lembrança do que aprendi.
Meu avô e nossos amigos Augusto e José Roberto estão aqui conosco.
Agradeço as nossas queridas amigas Yolanda e Helena, Acácia e outras irmãs, pelo
incentivo à confiança em Deus que estamos recebendo.
O amor é um milagre permanente. Por ele as afeições se multiplicam e os nossos
corações sempre se escoram em novas esperanças para a vitória na vida.
Querido Álvaro, lembre-me como em nossos retratos felizes.
Não me recorde desfigurada ou em situação difícil na qual você é induzido a lembrar-
me. Querido irmão, atravessamos aquela sombra. Agora, tudo é luz e bênção; seja para a nossa
querida mamãe, o que você sempre foi, um companheiro e uma bênção.
Comemoramos os aniversários de meu avô e meu que vocês marcaram com as nossas
preces (11).
Quero prosseguir escrevendo, mas não consigo.
Mamãe, continue forte e calma na fé. A morte não existe; o que existe é a mudança que,
por vezes, quando imprevista, como foi o nosso caso, não é fácil de suportar.
Abraços aos meus pequenos filhos do coração. Não posso esquecer os sobrinhozinhos.
Nossos amigos Augusto e José Roberto (12), já treinados com o intercâmbio na escrita,
estão me amparando.
Queridas irmãs Yolanda, Helena e Acácia (13), agradeço muito. Querida mamãe, meu
querido Álvaro, irmãos e irmãs do coração, Deus os recompense.
Mamãe, ouça-me dando notícias e recorde aqueles recados: Mãezinha, fique tranquila;
mãezinha, estou bem; mamãe, já cheguei do trabalho; mamãe, chegarei um pouco mais tarde.
E esteja certa, querida mãezinha, de que com o beijo de todos os dias e carinho de todos
os momentos, continua sendo sua, sempre sua, a filha que lhe entrega o próprio coração.
Hoje e sempre a sua

93
Volquimar Carvalho dos Santos – Somos Seis – Cap. 3 (13 julho 1974)

1 - Seu irmão.
2 - Refere-se ao seu avô materno. Álvaro de Carvalho. Suboficial da Marinha de Guerra,
desapareceu com o Cruzador Bahia, em 4 de julho de 1945, torpedeado nos Rochedos São Pedro
e São Paulo, quando retornava ao Brasil, ao fim da 2ª Guerra Mundial.
3 – Método de comunicação utilizado em comunicação anterior.
4 - É a confirmação de que a mãe realmente a viu em espírito, próximo ao Instituto
Médico Legal, de São Paulo.
5 - Irmãos de Volquimar.
6 - Célia Januário Ferreira, amiga de Volquimar, colega de cursinho e dos primeiros
empregos.
7 - Seus sobrinhos, Flávio Henrique dos Santos Foguel e Cristiano dos Santos Augusto,
filhos, respectivamente, das irmãs Volnelita e Volnéia.

8/9 - São daquelas informações pela psicografia do Chico que verdadeiramente nos
desnorteiam.
D. Walkyria havia utilizado o seguro de vida da filha como entrada para a aquisição de
um apartamento; consolando a mãe, pela conveniência da atitude, Vôlqui nos revela episódio
restrito ao ambiente familiar, em evidente prova da exuberância do processo mediúnico
autêntico. Sem ter qualquer idéia ou informação a respeito, como pôde, senão mediunicamente,
Chico Xavier transmitir com tanta riqueza de dados este episódio revelado pela Volquimar??
10 - Volquimar guardava secreta intuição de que seus dias na Terra estavam contados,
dando a entender à mãe, suas intuições, por diversas vezes.
11 - Referência ao seu aniversário de nascimento e à data de falecimento do avô, a 1° e
a 4 de julho, respectivamente. A comemoração de que fala Volquimar na mensagem diz respeito
à reunião familiar nesses dias em que a filha desencarnada se comunicou pelo cartão do
alfabeto.
12 - Augusto é coautor deste livro, assim como José Roberto Pereira da Silva, filho de
Nery Pereira da Silva e Lucy Ianez Silva, faleceu a 8 de junho de 1972, no acidente com o trem
que levava estudantes para Mogi das Cruzes. Contava, então, 18 anos.
13 - Yolanda mãe do Augusto. D. Helena Leal do Canto acompanhava a mãe de
Volquimar, quando da recepção desta mensagem.

94
Volquimar Carvalho dos Santos
Guaratinguetá - 1° de julho de 1952
São Paulo - 1° de fevereiro de 1974
Filha de Geraldo Avelino dos Santos e Walkyria Carvalho dos Santos
Irmãos:
- Volnelita dos Santos Foguel, casada com Wilson Foguel, residentes em Araras-SP
- Volnéia dos Santos Augusto, casada com José Augusto, residentes em São Paulo -
Capital
- Álvaro Avelino Carvalho dos Santos.

95
3.2.3.13 Renasci das Chamas - Wilson William Garcia

Querida Mãezinha, abençoe seu filho como sempre.


Aqui me parece reencontrar um segredo da Providência Divina: o retorno ao coração
materno para renascer entre as criaturas humanas.
Importante pensar: no mundo chegamos pelo regaço dos anjos a quem Deus confiou o
lar e creio que, em meu caso, torno a me fazer sentir por suas preces, mãe querida.
Tenho a ideia de que obedeço a uma compulsão: suas orações me envolvem, desde
muito tempo levando-me a recordar os panos do berço com que a senhora um dia aí na Terra
me esperou com tanto carinho. Mas o segredo continua: porque se alcancei os seus braços,
chorando de alegria e de dor, na imagem de uma criança recém-nascida, regresso ao seu carinho
com as lágrimas da felicidade e do sofrimento para surgir na forma desta carta em que trago
notícias.
Se me sensibilizo tanto, perdoem-me. A senhora e meu pai desculpem o que me ocorre.
Não posso estancar o pranto de júbilo e saudade, em que se misturam os nossos corações no
vaso da família.
Mãe, não se aflija tanto. Poderia afirmar como num telegrama: cheguei bem. No entanto,
de que modo não extravasar o sentimento quando a ansiedade do rever foi tão amargurada e tão
sofrida?
Tenho procurado consolá-los, fortalecê-los, mas não é fácil vencer os muros de
vibrações, através dos quais ouvimos as vozes inarticuladas uns dos outros. O pensamento fala
sem palavras e a mente escuta sem ouvidos.
Você sabe, mamãe, que seu filho está vencendo as lutas novas. Em nossas orações, o
nosso diálogo é sempre repetido, sempre constante, mas você aguardava que esse tipo de ondas
espirituais em que nos comunicamos tivesse um registro: o registro através das letras escritas.
E estou aqui, rogando à senhora conduza minhas informações aos nossos entes queridos.
Cessem nossas lágrimas, porque o pesado aguaceiro de nossas inquietações vai sendo
amainado. Peça à nossa querida Maria Cristina para que se refaça no coração.
O amor é uma luz que brilha sempre. Um perfume que pode transferir-se de frasco,
persistindo sempre o mesmo.
Não quero dizer que sou agora simplesmente o irmão da esposa querida que deixei. Sou
ainda o homem, o companheiro, o amigo, a metade do par feliz que nós fomos; entretanto, as
lições daí são semelhantes às nossas neste mundo novo, em que nos modificamos pouco a
pouco.

96
Por que o exclusivismo, não é Mamãe? Quando devemos entender as necessidades que
ficam na Terra?
Por que prender os corações amados, acorrentando-os a nós, quando o amor é a
felicidade que podemos distribuir em seu nome?
Amor é paz que se dá para receber, luz que se acende em alguém, para que a luz desse
alguém nos clareie os caminhos.
Deixei Maria Cristina por menina que precisa de proteção para reconstruir as próprias
tarefas.
Precisamos auxiliá-la a reencontrar-se, realizar-se. Diga para ela, Mãezinha, que foi bom
para nós não havermos encomendado o bebê com que sonhávamos...
A promoção que esperávamos em meu trabalho para isso era importante demais para
que marcássemos a existência com esse compromisso.
Não peço a ela para esquecer-me, porque isso eu também não posso fazer, mas que nossa
querida Cristina se lembre de que a compreensão mora conosco e, pela compreensão, devemos
contar com as renovações com que Deus, por Seus Mensageiros, nos queira favorecer. O que
ela escolher escolhi; o que ela desejar, também desejo para ela, desde que nisso ela se faça feliz.
Os caminhos dela serão os nossos, porque a leguei à nossa casa; ela é sua filha,
Mãezinha, filha de meu pai também e nós todos estaremos com ela em todas as circunstâncias.
Meu avô Ângelo (1) e meu amigo o tio Ernesto Arbulu (2) me informaram que ela
procurou viajar para refazer energias (3), a pedido deles mesmos, a fim de que melhorássemos,
mas sei que ela não se sente feliz fora de nossos horizontes.
Mamãe, rogue a ela e ao nosso caro Armandinho (4) para não se rebelarem e não
esmorecerem na fé.
A oração é um fio de intercâmbio entre nós, ante a Providência Divina.
Aqui, vejo que a religião é uma lâmpada que brilha em qualquer lugar. As interpretações
são apenas cores sobre o foco, imprimindo maneiras e reflexos diferentes da chama que é única.
Seja qual for a manifestação de fé em que os nossos procurem viver, essa fé será sempre
benéfica, embora deva considerar de minha parte que, neste mundo novo em que me vejo,
trazem grande bem ao coração os textos que nos ensinem a necessidade de bem e de
conhecimentos maiores, em nosso próprio auxílio. Mas, não tenho autoridade para tocar nisso;
apenas anseio ver a paz em nossos familiares queridos, a paz que surge da certeza de que a vida
não termina com a morte.
E por falar em morte, os quadros do incêndio já estão longe.
Passaram. O nosso admirável Joelma para nós agora funcionou como um templo em que
nos transformamos para as Leis de Deus. Não creiam que o sofrimento para mim fosse muito.

97
A princípio, o tumulto, o desejo natural de escapar à provação, a luta pela sobrevivência
sem agressões (5) à frente dos companheiros e colegas que experimentavam como nós o
desequilíbrio nos conflitos inesperados...
Depois, foi a tosse, o cérebro toldado, como se houvesse sorvido uma bebida forte
e, em seguida, um sono com pesadelos (6)...
Os pesadelos das telas em derredor que vocês podem imaginar como tenham sido...
Posso dizer a você, Mamãe, que pensávamos em helicópteros que nos retirassem das
partes altas do edifício e com espanto, quando acordei ainda estremunhado, fui transportado
para um aparelho semelhante, junto de outros amigos.
Era assim tão perfeita a situação do salvamento que fui alojado num hospital, como se
estivéssemos num hospital da cidade para recuperação, antes do regresso à nossa casa.
Mantive essa expectativa até que meu avô Ângelo me fizesse recordar os tempos de
criança e, logo que me vi novamente menino na memória, compreendi que ele era o meu avô
na Vida Espiritual e que estávamos juntos. O hospital não era mais daqueles que conhecemos
no mundo.
Meu avô e o meu tio, nosso irmão José Garcia (7), me apresentaram aos benfeitores que
nos acolhiam.
Tantas surpresas tive ao abraçar antigos mestres do São Bento (8) que chorei muito, sem
saber se eu estava alegre ou triste, renovado ou vencido, como se algum pesadelo ou sonho feliz
daquela hora fosse repentinamente materializado para meus olhos.
Um benfeitor dos meus benfeitores, preciso nomear – nosso amparo na Terra e aqui
mesmo: Dom Lourenço Zeller.
Os que acreditam aí no mundo que a morte seja uma cortina de sombra e esquecimento,
saibam que das cinzas do mundo surgem os nossos agradecimentos e os grandes benfeitores
delas renascem para ajudar aos que caminham em passos vacilantes para as verdades maiores.
Os que sofreram nos claustros, os que desapareceram em louvor da fé, os que
trabalharam para socorrer as criaturas que lutam na Terra, os que amaram um ideal superior,
em nome de Deus, são aqui mais vivos.
Todos vivemos, porque todos somos filhos de Deus e espíritos imortais; no entanto, os
que se doaram pelos outros, os que se trocaram pela felicidade e pela paz dos seus semelhantes,
aqui encontram mais vida, somando vida e amor a si mesmos, na medida do amor e da vida que
distribuíram com os outros.
Isso me vem à lembrança porque os amados professores do nosso colégio não estão
mortos.

98
Mãe, querida Mamãezinha, agora despede seu filho em paz, e lembre-me aos nossos. A
todos, muito carinho e muito amor.
Não posso escrever mais. À Maria Cristina e ao nosso Armandinho, o meu abraço de
imensa confiança.
Ao papai, a certeza de que prosseguimos juntos. Não tenham receio pelo amanhã. O
verdadeiro seguro - o seguro que nunca falha – é o trabalho que Deus nos concede. Trabalhando
no bem, tudo teremos de bom.
Querida Mãezinha, agradeço as orações e os pensamentos.
Não chore com aflição que isso dói muito em nós aqui.
Confiemos em Deus.
Receba todo amor e toda gratidão, com as saudades e as esperanças do filho que lhe traz
o espírito agradecido, sempre seu filho e companheiro, carinho de seu carinho e coração de seu
coração.
Wilson William Garcia – Somos Seis – Cap. 8 - 20 dezembro 1975

1 - Avô materno Ângelo Arbulu, muito ligado ao Wilson. Faleceu há 12 anos, em São
Paulo.
2 - Tio Ernesto Arbulu.
3 - Realmente confirmado pela esposa do Wilson que buscou, em viagem para os
Estados Unidos, no ano passado, o esquecimento da dor inseparável.
4 - Irmão do Wilson, assim chamado pelos familiares.
5 - Um companheiro de serviço contou que durante o incêndio o Wilson, tão logo teve
ciência do ocorrido, foi de sala em sala avisar os outros funcionários da secção em que
trabalhava.
6 - Confirma que a morte ocorreu presumivelmente por asfixia, pois que seu corpo
estava praticamente intacto, sem sinais de queimaduras importantes.

7 - Tio paterno, desencarnado há cerca de 30 anos. O Sr. Armando Garcia nos contou
que eram irmãos por parte de pai, sendo, José Garcia, filho do primeiro casamento. Sempre
viveram distantes um do outro, sem maiores aproximações afetivas, desconhecendo mesmo o
pai do Wilson, a data mais aproximada e o local de falecimento do irmão.
8 - Antigos mestres - Wilson cursou o primário no Colégio São Bento, tendo sido aluno
de D. Lourenço Zeller, conforme lembra na mensagem, além de falar genericamente em outros
mestres. O jovem reconhece em D. Lourenço Zeller o devotado benfeitor da Causa do Bem,

99
homenageando-o com formosos conceitos a respeito dos abnegados heróis que passam pela
Terra, distantes de nosso conhecimento maior, escondidos na própria humildade.

WILSON WILLIAM GARCIA


- São Paulo - 07 de fevereiro de 1949
- São Paulo - 1º de fevereiro de 1974
Casado com a Sra. Maria Cristina Bueno Ribeiro Garcia
Filho de Armando Garcia e Hilda Arbulu Garcia
Irmão: Armando Garcia Filho
Todos residentes em São Paulo - Capital

100
3.2.4 Queda do Avião Turco

3.2.4.1 Revelação de Poeta – Francisco Cândido Xavier

Motivos da explosão do DC-10 em Paris.

Regressávamos de ligeira viagem e reunimo-nos em oração, apenas três companheiros,


após comentar o acidente aéreo ocorrido em Paris, no dia 3 deste mês.
Os sofrimentos de perto nos fazem meditar nos sofrimentos que se verificam longe de
nós.
Ainda não refeitos das atribulações pelas quais todos passamos, com o incêndio de
fevereiro, em São Paulo, reunimo-nos em prece para buscar, acima de tudo, compreensão para
nós mesmos, de maneira a entendermos que a dor, em qualquer parte, vem das leis de Deus em
benefício de nós próprios.
Abrimos O Livro dos Espíritos antes de iniciar o nosso culto de oração e a questão 266
veio em nossa ajuda.
Pensamos no assunto e, numa confortadora surpresa, recebemos a visita do poeta Silva
Ramos, que nos tomou a mão e escreveu o soneto que ele mesmo intitulou “Culpas”.
Ainda profundamente sensibilizados com o lamentável desastre, enviamos ao prezado
amigo o soneto do poeta desencarnado, na ideia de que as suas anotações auxiliem-nos a
desenvolver o nosso pensamento a respeito das desencarnações coletivas.
Francisco Cândido Xavier – Diálogos dos Vivos – Cap. 29 – Revelação de Poeta

101
3.2.4.2 Culpas – Silva Ramos

A Natureza aponta a culpa que começa:


Em cidade praiana, a legião pirata
Desembarca, saqueia, humilha, fere, mata…
Por nada se detém, por mais que se lhe peça…

Quantas vidas ao mar sob golpes à pressa! ...


Incêndios e orações no horror que se desata…
Depois, vinho e prazer, os butins de ouro e prata
E as horas avançando ao tempo que não cessa…

Os séculos se vão marchando em luz e treva…


Um dia, em mar aéreo, enorme nave leva
Os piratas de outrora e a Justiça Divina…

Surge a morte no ar… A aflição se renova…


Preces, gemidos e ais de corações em prova…
E a Natureza apaga a culpa que termina.

Silva Ramos – Diálogos dos Vivos – Cap. 29

102
3.2.4.3 A Escolha do Espírito – Herculano Pires

A revelação do poeta Silva Ramos pode parecer absurda e até mesmo ofensiva para
muitas pessoas. Pereceram na explosão do avião turco, sobre Paris, 345 pessoas. Três brasileiros
estavam nesse número espantoso de vítimas.
Como considerar todas elas criminosas, envolvidas em atos de pirataria?
Convém lembrar que se trata de culpas remotas, de vidas anteriores. Quem pode, na
Terra, examinando suas próprias tendências atuais, considerar que há cinco séculos tenha sido
uma criatura virtuosa, incapaz de ações criminosas?
O Espiritismo ensina que os Espíritos escolhem e pedem as provas por que vêm passar
na Terra. Outra dúvida se levanta, mas já a vemos registrada na questão 266 de O Livro dos
Espíritos.
Kardec perguntou: “Não parece natural que os Espíritos escolham as provas menos
penosas? ” E os Espíritos Superiores responderam: “Para vós, sim, para o Espírito, não. ”
Nossas provas decorrem de nossa consciência. As leis de Deus, inscritas na consciência,
levam o culpado a pedir o seu próprio castigo.
Note-se a perfeição absoluta dessa justiça que não vem de fora, mas se processa de
dentro para fora. O culpado é o seu próprio juiz, o mais severo dos juízes.
Por isso mesmo as provas mais graves não são imediatas. O Espírito do culpado precisa
amadurecer moralmente para sentir o aguilhão da consciência e obedecê-lo. As provas coletivas
reúnem criaturas que nos parecem incapazes de haver cometido atrocidades.
Elas tiveram de atingir esse grau atual de evolução para terem a coragem heroica de
submeter-se às expiações necessárias.
Nessa perspectiva, como vemos, tudo se torna compreensível.
As vítimas de hoje são almas purificadas que se redimem por vontade própria. Não são
mais criminosas, são heroínas da evolução.
Silva Ramos usa o soneto para mostrar, numa síntese poética, o que podemos chamar
de mecânica da prova. As ações do passado dão começo à culpa; os séculos de luz e treva
desenvolvem os Espíritos nas experiências dolorosas; e, por fim, a culpa se apaga na prova
coletiva em que todos se reúnem. As lentas depurações individuais se conjugam, no final, para
o resgate coletivo em que a culpa é liquidada.
Herculano Pires – Diálogos dos Vivos – Cap. 29

103
3.2.5 A Queda do Avião da VARIG
3.2.5.1 O Boeing 707 – Voo Varig 820 – Editorial – Revista Reformador
Não é a popularidade ou o prestígio das pessoas desencarnadas em meio a tragédias
coletivas que deve dar a medida emocional da opinião pública. Entretanto, não se pode negar
que esses dois fatores mundanos emprestam, realmente, maior impacto aos acontecimentos,
tanto festivos quanto funestos.
O desastre, em Paris, com o Boeing 707, embora não represente caso isolado na história
da aviação comercial, atraiu maiores atenções, dada a presença de nomes conhecidos na
política, na música popular e nos círculos destacados da sociedade.
É natural que assim seja, ainda que a desencarnação devesse provocar sempre as mesmas
reações. Afinal, tanto significa, para a modesta e desconhecida família, a partida abrupta do seu
chefe, eventual vendedor anônimo, quanto a de prestigioso político ou a de fascinante
cancioneiro.
Há de se compreender, porém, essa diferenciação do comportamento humano, a qual
não será nem negativa nem condenável. Funções, presenças, popularidade, projetam mais
determinadas figuras e sua partida provoca maior impacto.
A preocupação do Espírita, todavia, deve se situar sempre na faixa ideal do
entendimento, amplo e sensato dos fatos, sem deixar necessariamente de senti-los, é claro, mas
encarando-os com serenidade e confiança. Não há de anestesiar-se dentro de um conformismo
frio e insano, posto quer os elementos imponderáveis e muito pessoas de amizade, admiração e
saudade são a fantasia do super-homem, visando a exibi-la na medida em que se jacta tolamente
do seu ‘espírito forte’, tudo arrostando com ensaiada fleuma e a ‘coragem’ que faltaria aos que
ainda sabem chorar...
A Doutrina Espírita não sobreviveria a essa colocação conformista e egoísta. Por isso,
ela alia aos sentimentos nobres da dor e da amargura sensações balsamizantes do consolo e da
fé.
Explicando o porquê de todos os fatos e indicando com precisão o papel dos que ficam
e o destino dos que partem, a tudo atribui um sentido lógico e racional, descortinando diante de
quem sofre os caminhos da consolação e da esperança.
É natural a intimidade do pranto. É até bom chorar, às vezes. Jesus também chorou.
Sentimos a ausência provisória dos que amamos, como a sentimos quando deles nos afastamos
ao ensejo de qualquer separação menos rotineira.
Inobstante, é preciso compreender que Deus tudo comanda, que nada acontece por
acaso, que cada um recebe de acordo com as suas obras, que a ‘morte’ trágica e violenta é
sempre um meio de resgatar equívocos pretéritos e libertar o Espírito à amplidão dos espaços.

104
A partida coletiva abala e comove; mas naquele avião estavam apenas -e
exclusivamente- criaturas comprometidas num mesmo processo, atraídas de diversos pontos e
aproximadas na precisão e justiça de leis que se sobrepõe às da aerodinâmica.
Todos os passageiros do Boeing 707 deixaram este mundo de lágrimas. O prestígio e a
popularidade de alguns acrescentou ao desastre carga maior de emotividade pública.
Talvez tenha ela contribuído para que o processo de desligamento daqueles Espíritos
haja sido facilitado, tal o feixe de vibrações amorosas lançadas pela perplexidade dos parentes,
amigos e desconhecidos. Importa, contudo, salientar a confiança que em horas tais a ninguém
deve faltar, configurada na certeza de que a ‘morte’ não é o fim e que todos os passageiros e
alguns tripulantes do Boeing 707 estarão à espera dos que ficaram.
Um dia - ainda sujeito ao critério da Lei -, estarão todos juntos novamente. Os que se
abeberaram da Doutrina Espírita, tanto entre os que partiram quanto entre os que ficaram, sabem
perfeitamente disso e disso vivem. Oremos pelos que não o sabem. Precisam de nossas preces.
Bem mais do que nossa amargura ou nosso desespero.
Editorial - Reformador - 1973 – Julho
O voo Varig 820 foi um voo da empresa aérea brasileira Varig que partiu do Aeroporto
Internacional de Galeão, no Rio de Janeiro, Brasil, em 11 de julho de 1973, com destino
a Londres, Inglaterra e uma escala no Aeroporto de Orly, em Paris, França.
O avião, um Boeing 707 prefixo PP-VJZ, realizou um pouso de emergência sobre uma
plantação de cebolas, a cerca de quatro quilômetros do aeroporto francês, devido à fumaça
existente dentro da cabine, provocada por um incêndio iniciado num dos banheiros do fundo
do avião. O incêndio, a fumaça e a aterrissagem forçada resultaram em 123 mortes, com apenas
onze sobreviventes (dez tripulantes e um passageiro).
Data: 11 de julho de 1973
Causa: Perda de controle em voo, causada por incêndio.
Local: Próximo de Orly, França
Origem: Aeroporto Internacional do Galeão, Rio de Janeiro, Brasil
Escala: Aeroporto de Orly, Paris, França
Destino: Aeroporto de Heathrow, Londres, Reino Unido
Passageiros: 117
Tripulantes: 17
Mortos: 123
Feridos: 11
Sobreviventes: 11

105
3.2.6 Choque de Trens em Minas Gerais

Na noite de 19 de dezembro de 1938, viajava um trem noturno, vindo de Belo Horizonte


para o Rio, e entre as estações de Sítio (Antônio Carlos) e a de João Ayres, um cargueiro, que
vinha no sentido Rio-BH, chocou-se frontalmente com o noturno, no qual viajavam escoteiros
de Belo Horizonte, que rumavam para São Paulo.

Carandaí 1938, dezembro 18.


O relógio marca 19h30min. Dona Yara alerta o marido.
- Zenóbio já acabei de fazer a matula para sua viagem desta madrugada. Podemos sair
agora mais sossegados para a reunião.
(...) Prece inicial.
Leitura e comentário de um trecho de "O Evangelho segundo o Espiritismo".
E, logo após, a segunda parte: o intercâmbio com o Mundo Espiritual através da
mediunidade de alguns confrades.
(...). Pedirei mentalmente, com fé, em favor do Zenóbio, a fim de que ele faça boa
viagem.
Mal terminara a prece e o Espírito "Irmão José", através da médium Maria Russo, fala
com voz firme e pausada:
- Há neste recinto uma senhora que acaba de pedir proteção para o marido. Quero dizer
a ela que o aconselhe a não realizar a viagem que pretende. Que retarde sua saída desta cidade.
(...) Papai, o trem que o senhor ia tomar acaba de sofrer um desastre. Falaram lá
na estação que há muita gente morta e ferida. O pai vai até lá, onde já se acotovelam
dezenas de pessoas, a tecerem comentários sobre o triste acontecimento
Kleber Halfeld –- Reformador - 1987 – Abril - Retalhos do Cotidiano

O noturno (N-2) que descia da Capital mineira para o Rio chocara-se com um cargueiro
(C-65) que subia a Mantiqueira. O desastre verificara-se no quilômetro 355, entre as Estações
de João Aires e Sítio.
Naquela data, 19 de dezembro de 1938, o "Diário Mercantil" estampava em suas páginas
uma grande manchete: "O maior desastre ferroviário no Brasil, nos últimos tempos",
noticiando, logo depois, que 53 pessoas haviam morrido, enquanto que 60 estavam gravemente
feridas, a maior parte internada em hospitais de Barbacena.
(...) E a Irmã de caridade? Já localizaram o corpo?

106
O cambista continua a explicar, agora com voz a tremer: Durante muitas horas eu e
outras pessoas tentamos localiza-la. Não a encontramos.
Comentei o fato com os passageiros que estavam no mesmo carro. Todos eles afirmaram
com absoluta certeza: Não havia nenhuma irmã de caridade no vagão!...
Kleber Halfeld –- Reformador - 1987 – Abril - Retalhos do Cotidiano

107
3.2.7 Tsunami Asiático – Indonésia
3.2.7.1 A Transição Planetária – Manoel Philomeno de Miranda
O egrégio codificador do Espiritismo, assessorado pelas Vozes do Céu, deteve-se, mais
de uma vez, na análise dos trágicos acontecimentos que sacudiriam a Terra e os seus habitantes,
a fim de despertar os últimos para as responsabilidades para consigo mesmos e em relação à
primeira.
Em O Livro dos Espíritos, no capítulo dedicado à Lei de destruição, o insigne mestre de
Lyon estuda as causas e razões dos desequilíbrios que se dão no planeta com frequência,
ensejando as tragédias coletivas, bem como aquelas produzidas pelo ser humano, e constata que
é necessário que tudo se destrua, a fim de poder renovar-se. A destruição, portanto, é somente
produzida para a transformação molecular da matéria, nunca atingindo o Espírito, que é imortal.
Desse modo, as grandes calamidades de uma ou de outra procedência têm por finalidade
convidar a criatura humana à reflexão em torno da transitoriedade da jornada carnal em relação
à sua imortalidade.
As dores que defluem desses fenômenos denominados como flagelos destruidores,
objetivam fazer a "Humanidade progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma
necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um
degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados
possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os
qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são
frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de
coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos."1
Eis, portanto, o que vem ocorrendo nos dias atuais.
As dores atingem patamares quase insuportáveis e a loucura que toma conta dos arraiais
terrestres tem caráter pandêmico, ao lado dos transtornos depressivos, da drogadição, do sexo
desvairado, das fugas psicológicas espetaculares, dos crimes estarrecedores, do desrespeito às
leis e à ética, da desconsideração pelos direitos humanos, animais e da Natureza... Chega-se ao
máximo desequilíbrio, facultando a interferência divina, a fim de que se opere a grande
transformação de que todos temos necessidade urgente.
(...)
Procuramos sintetizar as operações de socorro aos desencarnados vitimados pelo
tsunami ocorrido no Oceano Índico, devastador e de consequências graves, que permanece
ainda gerando sofrimento e desconforto, especialmente porque sucedido de outros tantos que
prosseguem ocorrendo com frequência assustadora...
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária - Introdução

108
Havíamos silenciado por um pouco, depois das considerações que entretecêramos sobre
os últimos acontecimentos que sacudiram a sociedade terrena, apos o tsunami que resultara do
choque de placas tectônicas no abismo das águas do Oceano Indico...
O obituário estarrecedor chegara-nos ao conhecimento, enquanto estávamos reunidos
em oração pelas vitimas inermes da dolorosa tragédia sísmica.
A administração da nossa comunidade destacara duas centenas de especialistas em
libertação dos despojos carnais, a fim de cooperarem com os Guias da Humanidade, auxiliando
aqueles que foram atingidos pela fúria das ondas gigantescas e das suas consequências.
Dialogáramos a respeito dos sobreviventes, assinalados pelas dores superlativas
advindas, pelas epidemias que já se instalavam na região onde os cadáveres se decompunham,
pela miséria defluente das perdas materiais e pela saudade inominável dos seres queridos que
foram arrebatados pela morte...
A fase mais angustiante se apresentava naqueles dias, quando as sequelas cruéis do
infortúnio despedaçavam os sentimentos dos sobreviventes, desanimados e aturdidos...
Tivéramos ocasião de acompanhar em projeções muito fiéis em nosso auditório as cenas
terrificantes, comovendo-nos todos até as lagrimas...
Também nos sensibilizaram a movimentação e o interesse dos países civilizados
providenciando ajuda imediata ao povo desnorteado, todos contribuindo com valiosa
colaboração capaz de amenizar os flagelos que vergastavam as vítimas, hebetadas umas pelos
cheques violentos e outras quase alucinadas pelo desespero e pela desesperança.
Sabíamos que milhares de Espíritos nobres haviam acorrido em auxílio de todos,
empenhando-se em resgatá-los das Entidades infelizes e vampirizadoras, interessadas no fluido
vital dos recém-desencarnados.
Simultaneamente, tomávamos conhecimento das providencias que haviam sido
estabelecidas para diminuir os transtornos comportamentais que se iam alastrando naqueles que
ficaram na roupagem carnal. . .
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 1

109
Os sucessivos acontecimentos que estarreceram a sociedade, convidando-a à análise em
torno das convulsões que sacodem o mundo físico periodicamente, enquanto os atos hediondos
de terrorismo e de atrocidade repetiam-se de maneira aparvalhante, eram sinais inequívocos da
grande mudança que já estaria tendo lugar no orbe terrestre.
Passados, porém, os primeiros momentos explorados pela mídia insaciável de tragédias,
outros fatos se tornavam relevantes, substituindo aqueles que deveriam merecer mais estudos e
aprofundamento mental, de maneira a encontrar-se soluções para os terríveis efeitos da poluição
da atmosfera, do envenenamento das fontes de vida no planeta...
É verdade que alguns movimentos bradavam em convites à responsabilidade das nações
e dos governos perversos, responsáveis pela emissão dos gases venenosos, para logo tomarem
vulto os planos de divertimentos globais e de novas conquistas para o gozo e a alucinação.
Ainda o pranto das vítimas não secara nos olhos e os efeitos trágicos dos acontecimentos
nem sequer diminuíram, e as contribuições da solidariedade eram desviadas para fins ignóbeis,
enquanto os sofredores observavam a indiferença com que eram tratados, relegados à própria
sorte, após a tragédia que sofreram.
As praias de diversos países do Oceano Índico estavam juncadas de cadáveres, dezenas
de milhares jaziam sob os escombros das frágeis construções destruídas e a insensatez turística
já planejava novos pacotes para outros paraísos e lugares de lazer e perversão que não foram
danificados...
Felizmente, mulheres e homens nobres, organizações e entidades humanitárias
sensibilizaram-se com a dor do seu próximo e acorreram com generosidade, oferecendo alguns
recursos que podiam diminuir o desespero das vítimas, dos sobreviventes que tinham
necessidade de reconstruir os lares e continuar as experiências humanas.
O espetáculo espiritual nas regiões atingidas, no entanto, era muito grave.
De igual maneira, em razão da decomposição dos cadáveres humanos e de animais
outros e da ausência de água potável, era grande a ameaça do surgimento de epidemias, e os
Espíritos, abruptamente arrancados do domicílio orgânico, vagavam, perdidos e desesperados,
pelas áreas onde sucumbiram, transformadas em depósitos de lixo e de destroços, numa noite
sem término, pesada e ameaçadora. Os gritos de desespero, os apelos de socorro e os fenômenos
de imantação com outros desencarnados infelizes, constituíam a geografia extrafísica dos
dolorosos acontecimentos.

110
Acompanhávamos os tristes acontecimentos desde nossa comunidade, através de
recursos especiais que nos projetavam as imagens terríveis, recolhendo-nos às reflexões do que
seria possível contribuir para atenuar tanto desespero e cooperar pelo restabelecimento da
ordem.
O banditismo aproveitava-se da situação deplorável para estrangular as suas vítimas,
exploradores hábeis negociavam sobre os despejos dos perdidos e alienados, conspirações
hediondas forjavam hábeis manobras para a usurpação do máximo daqueles que nada quase
possuíam...
Era esse, de alguma forma, o espetáculo horrendo pós-tragédia do tsunami.
(...)
Engenheiros e arquitetos desencarnados movimentaram-se com rapidez e edificaram
uma comunidade de emergência, que a todos nos albergaria logo mais, recebendo também
aqueles aos quais socorrêssemos.
Curiosamente ampliou os esclarecimentos, informando que os ocidentais em férias que
se fizeram vítimas, mantinham profunda ligação emocional com aquele povo e foram atraídos
por forças magnéticas para resgatar, na ocasião, velhos compromissos que lhes pesavam na
economia moral...
- Nada acontece, sem os alicerces da causalidade! - concluiu.
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 4

Alguns Espíritos nobres acercaram-se da região no começo de dezembro, a fim de


organizarem as comunidades transitórias para receberem os que desencarnariam em aflição, no
terrível futuro evento sísmico.
Transcorrido algum tempo de viagem, chegamos à comunidade espiritual situada sobre
a área tristemente atingida.
Embora houvéssemos acompanhado alguns lances da tragédia em nossa Colônia,
podíamos agora ver diretamente os danos causados pela onda imensa e as que a sucederam,
destruindo tudo com a velocidade e a força ciclópica do terremoto nas águas profundas do
oceano Indico, e logo depois, as contínuas vibrações e seguidos choques destruidores.
A força tempestuosa espalhara-se pelas costas da índia, do Sri Lanka, da Tailândia, das
Ilhas Phi Phi, das Maldivas, de Bangladesh, de parte da África e de outros países, embora com
efeitos menores que alcançaram o Atlântico...
Como resultado lastimável ocorreram alterações na massa terrestre, no seu movimento,
na inclinação do eixo, que embora não registradas com facilidade pelos seus habitantes, foram
detectadas por instrumentos sensíveis.

111
A primeira onda avassaladora ceifara mais de 150.000 vidas, enquanto as sucessivas
carregadas de destroços de casas, barcos e construções de todo tipo, de árvores arrancadas e
pedras, semearam o horror, arrasando as comunidades litorâneas...
A psicosfera ambiental era densa, denotando todos os sinais inequívocos das tragédias
de grande porte.
Ouvíamos o clamor das multidões desvairadas, enlouquecidas pelo sofrimento
decorrente da morte dos seres queridos, assim como em relação aos desaparecidos, à perda de
tudo, vagando como ondas humanas sem destino.
De imediato, começaram a chegar as contribuições internacionais, porém, os instintos
agressivos dominavam grupos de exploradores, de vadios e criminosos que se aproveitavam da
oportunidade para ampliar a rapina e o terror.
Tempestades vibratórias descarregavam energias densas sobre o rescaldo humano e
geográfico, confrangendo-nos sobremaneira.
Logo após encontrarmos o lugar que nos deveria servir de suporte para as incursões ao
planeta, onde igualmente se alojavam outros grupos espirituais socorristas, o nosso gentil
condutor explicou-nos qual a tarefa que deveríamos desempenhar naqueles primeiros minutos
e, orientando-nos, mergulhamos na densa noite que se abatia sobre a região devastada.
Os corpos em decomposição amontoavam-se em toda parte, após ligeira identificação
de familiares e a remoção de alguns para outros lugares, chamando-nos a atenção as fortes
ligações espirituais mantidas pelos recém-desencarnados, que nem sequer se haviam dado conta
da ocorrência grave. Imantados aos despojos, estorcegavam, experimentando a angústia do
afogamento, as dores das pancadas produzidas pelos destroços, o desespero defluente da
ignorância...
De quando em quando escutavam-se preces e súplicas dirigidas a Allah, logo seguidas
de blasfêmias e imprecações tormentosas.
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 5

Não havia oportunidade para mais esclarecimento e divagações sobre o tema relevante,
porque agora chovia energia causticante, que fazia lembrar os raios durante as tempestades,
aumentando as dores das vítimas de si mesmas, arrebatadas do corpo pela desencarnação em
massa.
Curiosamente relampejava na sombra temerária, e essas claridades eram psíquicas, que
predominavam na região mesmo antes do acontecimento terrível.

112
Turistas de diversos países europeus, especialmente nórdicos e americanos, franceses e
alemães, escolhiam aquelas regiões para os prazeres do corpo sem qualquer compromisso com
a beleza das paisagens dos mares do sul, com a sua natureza ainda semi preservada...
Muitos viajavam para aqueles paraísos, quais a Tailândia, as ilhas Maldivas, as ilhas Phi
Phi e outras, para desfrutarem das facilidades morais, sexuais, de jovens adolescentes vendidos
pelos pais irresponsáveis ao comércio da licenciosidade...
Hábitos ancestrais ainda vigentes de total desrespeito pela mulher e pelo ser humano,
facultavam a larga prostituição de meninas e de meninos que serviam de mascotes aos
ocidentais que os podiam comprar a preço bastante acessível para eles.
Ao largo dos últimos anos, as mentes geraram essa psicosfera doentia nas regiões agora
afetadas pela calamidade que teve uma função purificadora para toda a região, alterando os
costumes e propondo novos comportamentos morais pela dor, advertindo a respeito da
fragilidade e temporalidade da vida orgânica, e que, infelizmente, ainda não apresentava
qualquer possibilidade de melhora. Pelo contrário, aconteciam a revolta, o suborno, o desvio
dos auxílios internacionais, a dominação dos mais fortes sobre os mais fracos, que ficariam à
mercê da própria sorte em relação ao futuro sombrio em cujo rumo avançavam
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 6

"Aqui estamos a convite dos reais governadores do país, portanto, dos respeitáveis
embaixadores de Deus, com o objetivo de desalgemar os irmãos infelizes dos seus despojos e
libertá-los dos vampiros do Além-túmulo, e tenha certeza de que não arredaremos pé dos nossos
compromissos, confessando-lhe que, de maneira alguma, temos medo das suas ameaças e da
farândola que o acompanha temente e assustada..."
(...)
A informação sobre a solicitação dos Guias da Indonésia, pedindo auxílio espiritual às
comunidades do Além, também soou-nos de forma agradável e iluminativa. Como realmente
não existe o acaso, todos os labores edificantes são pré-organizados, estudados com cuidado,
examinadas as possibilidades de êxito ou de fracasso, e quando começam, o plano avança com
segurança e metas bem definidas.
Realmente, recordava-me de quando soaram as cornetas em nossa Colônia, naquela
manhã de 6 de dezembro e todos nos recolhemos à oração, porque, de imediato, o nosso serviço
de comunicações informou-nos sobre a grande tragédia, facultando-nos acompanhar os
infaustos acontecimentos. Ignorava, porém, os cuidados estabelecidos pelos Mentores e a
solicitação de ajuda solidária no mundo espiritual.
Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 7/8

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4 Referências

Esta relação bibliográfica não está, intencionalmente, seguindo os padrões canônicos –


está numa forma mais sintética, fazendo uma correlação direta entre o texto do trabalho e os
livros/mensagens.

# Referência
1 Allan Kardec – A Gênese – Cap. 11 – Item 36 – Emigrações e Imigrações dos
Espíritos
2 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 737
3 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 738
4 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 739
5 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 740
6 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 741
7 Allan Kardec/Clélia Duplantier – Obras Póstumas – 1º Parte – Questões e
Problemas – As Expiações Coletivas
8 André Luiz – Ação e Reação – Cap. 18 – Resgastes Coletivos
9 André Luiz – Conduta Espírita – Cap. 39 - Perante os fatos momentosos
10 Caio Ramacciotti – Somos Seis – Introdução
11 Cornélio Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 27 – Incêndio em São Paulo
12 Cyro Costa – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Luz nas Chamas
13 Demeure – Revista Espírita – 1868 – Novembro - Epidemia da ilha Maurice
14 Divaldo Franco - Mortes Coletivas - Divaldo Franco Responde I - Pag. 91
15 Editorial do Reformador – Revista Reformador - 1974 – Março – Calamidades
Salvadoras
16 Emmanuel – Caminho, Verdade e Vida – Cap. 140 – Para os Montes
17 Emmanuel – Chico Pede Licença – Cap. 19 – Desencarnações Coletivas
18 Emmanuel – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – Senhor Jesus!
19 Emmanuel - Entre irmãos de outras Terras - Cap. 12 - Supercultura e Calamidades
Morais
20 Emmanuel – Fé, Paz e Amor – Cap. 14 - Flagelos
21 Emmanuel – O Consolador – Perg. 250 – Como se processa a Provação Coletiva
22 Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Dos Hippies aos problemas do mundo –
Cap. 18 - Catástrofes
23 Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier – Mandato de Amor – Cap. 14 (1980)
24 Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 25
25 Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 26

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26 Francisco Cândido Xavier – Diálogo dos Vivos – Cap. 27
27 Francisco Cândido Xavier – Diálogos dos Vivos – Cap. 29 – Revelação de Poeta
28 Herculano Pires – Diálogos dos Vivos – Cap. 29
29 Humberto de Campos – Cartas e Crônicas – Cap. 6 – Revista Reformador – 1962 –
Março
30 J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 25 – O Enigma Insolúvel
31 J. Herculano Pires – Diálogo dos Vivos – Cap. 26 – Resgates a Longo Prazo
32 J. Herculano Pires - Diálogo dos Vivos – Cap. 27 – Almas Libertas
33 Joanna de Angelis – Após a Tempestade – Cap. 1 - Calamidades
34 Kleber Halfeld –- Reformador - 1987 – Abril - Retalhos do Cotidiano
35 Kleber Halfeld – Revista Reformador - 1992 - Agosto
36 Leopoldo Machado – Luzes do Alvorecer – Cap. 23 – Terremoto Espiritual
37 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 10 – Flagelos e
Males
38 Manoel Philomeno de Miranda – Transição Planetária – Cap. 4
39 Raul Teixeira – Ante o Vigor do Espiritismo – Cap. 1 – Flagelos
40 Rodolfo Calligaris - Reformador – 1962 – Outubro – Expiações Coletivas
41 Silva Ramos – Diálogos dos Vivos – Cap. 29
42 Volquimar Carvalho dos Santos – Somos Seis – Cap. 3 (13 julho 1974)
43 Wilson William Garcia – Somos Seis – Cap. 8 - 20 dezembro 1975

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