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FRATERNIDADE UNIVERSALISTA DA DIVINA LUZ CRÍSTICA

ESTUDO SISTEMATIZADO UNIVERSALISTA - MÓDULO 1


FILOSOFIA OCULTA, COSMOGÊNESE E ANTROPOGÊNESE

Elaboração: Carla Costa


ÍNDICE
CAPÍTULO 1 – FILOSOFIA E DEFINIÇÕES...................................................................................................... 7
1 – FILOSOFIA E RELIGIÃO ................................................................................................................................. 8
2 – DEFINIÇÕES IMPORTANTES ........................................................................................................................ 9
2.1 – CRENÇA E VERDADE ...................................................................................................................... 9
2.2 – DOGMAS E PARADIGMAS ............................................................................................................ 12
2.3 – CETICISMO ..................................................................................................................................... 14
2.4 - O QUE É COSMOVISÃO? .............................................................................................................. 16
3 - DEFINIÇÕES ACERCA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO-RELIGIOSO ................................................... 17

CAPÍTULO 2 – CIÊNCIAS OCULTAS E MISTICISMO................................................................................... 24


1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 24
2 - O QUE É ESOTERISMO? .............................................................................................................................. 25
3 - OCULTISMO E MISTICISMO: QUAL A DIFERENÇA? ............................................................................... 28
4 – A LINGUAGEM DOS MISTÉRIOS E SUAS CHAVES .................................................................................. 31
4.1 – O SIMBOLISMO ............................................................................................................................. 31
5 – HISTÓRIA ....................................................................................................................................................... 36
5.1 – RAÍZES NO MUNDO ANTIGO ...................................................................................................... 36
5.2 - HISTÓRIA RECENTE E OCULTISTAS FAMOSOS ...................................................................... 38
6 – AS ESCOLAS DE MISTÉRIOS ....................................................................................................................... 40
7 – OS PROCESSOS INICIÁTICOS .................................................................................................................... 47

CAPÍTULO 3 - FILOSOFIA HERMÉTICA ....................................................................................................... 50


1 – HERMES TRISMEGISTO E O HERMETISMO ............................................................................................. 50
2 - ESCRITOS HERMÉTICOS .............................................................................................................................. 52
3 – OS SETE PRINCÍPIOS .................................................................................................................................... 54

CAPÍTULO 4 - LEIS CÓSMICAS ....................................................................................................................... 64


1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 64
2 – AS 7 GRANDES LEIS UNIVERSAIS .............................................................................................................. 65

2
CAPÍTULO 5 – COSMOGÊNESE ESOTÉRICA ................................................................................................ 73
1 – DEFINIÇÃO ..................................................................................................................................................... 73
2 – COSMOGONIA ESOTÉRICA ........................................................................................................................ 76
2.1 – A VISÃO MONISTA DA CRIAÇÃO ............................................................................................... 77
2.2 – O UNIVERSO MANIFESTADO E O NÃO MANIFESTADO ....................................................... 84
2.3 – O ABSOLUTO (PARABRAHMAN) E A EXISTÊNCIA NEGATIVA ............................................ 86
2.4 - O IMANIFESTADO EM OUTRAS TRADIÇÕES E MITOLOGIAS .............................................. 87
2.5 – OS DOIS ELEMENTOS PRIMORDIAIS DO UNIVERSO: PURUSHA E PRAKRTI ................... 90
2.6 - O LOGOS E SEU TRÍPLICE ASPECTO ......................................................................................... 94
2.7 - PRALAYA E MANVATARA ............................................................................................................ 97
2.8 - O SETE E A EQUAÇÃO DO UNIVERSO ......................................................................................100

CAPÍTULO 6 - COSMOGÊNESE SEGUNDO A CIÊNCIA ............................................................................ 105


1 – COSMOLOGIA .............................................................................................................................................. 105
2 – TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO UNIVERSO .......................................................................................... 106
3 - MATÉRIA ESCURA ........................................................................................................................................ 111

CAPÍTULO 7 – A CRIAÇÃO DA VIDA ............................................................................................................. 114


1 - O SURGIMENTO DA VIDA NA TERRA ....................................................................................................... 115
2 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE ....................................................................................................................... 117
3 - A EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO INTELIGENTE .......................................................................................... 118
3.1 - AS MÔNADAS ................................................................................................................................. 118
3.2 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE EM CADA REINO ........................................................................ 121
4 - TEORIAS PARA A ORIGEM DO HOMEM .................................................................................................. 123
5 - A ALMA-GRUPO .......................................................................................................................................... 125
6 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE NOS ANIMAIS ........................................................................................... 128

CAPÍTULO 8 – O HOMEM ESPIRITUAL ....................................................................................................... 133


1 - O HOMEM ESPIRITUAL ............................................................................................................................... 133
2 – CARACTERÍSTICAS DOS ESPÍRITOS ......................................................................................................... 136
3 - DA ORDEM DE EVOLUÇÃO DOS ESPÍRITOS .......................................................................................... 138

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CAPÍTULO 9 –A VIDA NO PLANO ESPIRITUAL ......................................................................................... 141
1 - PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS ............................................................................................ 141
2 - O MUNDO ESPIRITUAL .............................................................................................................................. 143
3 - OS PLANOS OU DIMENSÕES ESPIRITUAIS ............................................................................................. 145
4 - PROGRESSÃO DOS MUNDOS ................................................................................................................... 149
5 – MUNDOS TRANSITÓRIOS ......................................................................................................................... 151
6 - A FORMAÇÃO DOS NÚCLEOS E COLÔNIAS ESPIRITUAIS .................................................................. 152
7 - OS EXILADOS DE CAPELA E A FORMAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL .......................................... 154

CAPÍTULO 10 – A LEI DE AÇÃO E REAÇÃO OU LEI DO CARMA. O DHARMA. ................................... 158


1 – DEFINIÇÕES .................................................................................................................................................. 158
2 – A LEI DO CARMA NO DIA-A-DIA ............................................................................................................. 163

CAPÍTULO 11 - A REENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS ................................................................................ 167


1 – PALINGENESIA X METEMPSICOSE .......................................................................................................... 167
2 – O CONCEITO DE REENCARNAÇÃO NA HISTÓRIA ............................................................................... 167
3 - FINALIDADES DA ENCARNAÇÃO ............................................................................................................. 169
4 – PRINCIPAIS IDÉIAS ..................................................................................................................................... 171
5 – BASES DE COMPROVAÇÃO DA HIPÓTESE REENCARNACIONISTA .................................................. 175

CAPÍTULO 12 – O RETORNO À VIDA ESPIRITUAL .................................................................................... 177


1 – MORTE E DESENCARNAÇÃO ..................................................................................................................... 178
2 - SEPARAÇÃO DA ALMA E DO CORPO ...................................................................................................... 178
3 - DAS CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE DO CORPO .................................................................................... 179
4 - DO GRAU DE EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO DESENCARNANTE .............................................................. 179
5 – O AMPARO E A RECEPÇÃO DOS DESENCARNADOS NO PLANO ESPIRITUAL ............................... 180
6- DURANTE E DEPOIS DA MORTE ............................................................................................................... 181
7 – TRAGÉDIAS COLETIVAS ............................................................................................................................ 188
8 - COMEMORAÇÕES FÚNEBRES E O CULTO AOS “MORTOS” ............................................................... 189
9 - CREMAÇÃO DE CADÁVERES ..................................................................................................................... 191
10 - TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS .................................................................................................................... 195
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................... 198

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“O nível mais profundo da comunicação não é a comunicação, mas a comunhão.
Ela é sem palavras. Ela está além das palavras, além dos discursos, além dos conceitos.
Não estamos descobrindo uma unidade nova, mas uma unidade antiga.
Queridos irmãos e irmãs, nós já somos Um, mas imaginamos não ser.
O que temos de reencontrar é nossa unidade original.
Apenas, temos de ser o que já somos.”
(Thomas Merton, monge beneditino.
Conferência interreligiosa entre monges cristãos e budistas em Calcutá, 1969)

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A vida mística exerce uma influência muito peculiar. Nada se compara à beleza, à paz e à
harmonia que invadem o coração e a mente daquele que se dedica a essa linha de influência.
Quando entramos no caminho do pensamento místico, da filosofia mística, quando
encaramos a vida em todo o seu complexo significado, sentimos acentuadas mudanças em nossa
vida interior.
O iniciar-se na vida mística constitui uma grande mudança. É como vivermos em um vale
agradável durante muitos anos e, um dia, escalarmos uma montanha próxima, contemplando e
conhecendo pela primeira vez o formidável panorama que se descortina. Quando iniciamos
conscientemente a vida mística, começamos a vislumbrar as potencialidades maiores ao nosso
dispor. É como se erguêssemos um véu que tivesse impedido a nossa visão por muitos anos.
Essa expansão de consciência não ocorre por acaso, nossa longa história de vidas anteriores
decretou o momento de nossa iniciação. Ela tem lugar após anos de anseio e considerável
confusão quanto ao significado e o valor da vida. Uma vez que nos tenhamos colocado
firmemente na senda esotérica, não haverá retorno. Decidimos empreender a maior aventura da
vida, na busca da luz que somente o misticismo pode revelar.
Uma vez adiantados em nossos estudos, a influência da vida mística em nós imprime o seu
efeito, refinando, purificando, embelezando e espiritualizando o nosso caráter. As mudanças se
realizam lentamente, porém, com o passar dos anos, as características da vida espiritual começam
a se intensificar em nosso âmago e de nós se irradiar. A luz da alma em nosso âmago irradia-se
com novo e maior fulgor na medida em que a vida mística imprime o seu efeito em nós.
Frater Robert E. Daniels

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CAPÍTULO 1 – FILOSOFIA E
DEFINIÇÕES

Fig. 1 – Most Sacred – Treasure of the Mountains - Séc. XX – por Nicholas Roerich

“Não ouseis olhar a Divindade mais de perto, nem definir mais além, considerai-a antes
como um resplendor ofuscante que não podeis olhar. Considerai cada coisa que existe e
vos cerca como um raio de seu esplendor que vos toca. Não reduzais a Divindade a formas
antropomórficas, não a restringeis em conceitos feitos à vossa imagem e semelhança. Não
pronuncieis Seu Santo Nome em vão. Seja Deus vossa mais alta aspiração, tal como o é de
toda a criação. Não vos dividais entre ciência e fé, entre as diversas religiões, com o único
intuito de encontrá-Lo. Ele está, acima de tudo, dentro de Vós.

(Pietro Ubaldi – A Grande Síntese)

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1 – FILOSOFIA E RELIGIÃO

“Verdadeiramente, assim como a fé está morta sem ações, então o Ensinamento


é inútil sem sua aplicação à vida.”

(Helena Roerich – Agni Yoga)

Fig. 2 – O Pensador – Séc. XIX – Auguste Rodin

A filosofia se dedica ao estudo dos princípios. Entender a dinâmica da gênese do


conhecimento, da origem do ser, os fundamentos da natureza humana, os princípios da ética e
diversas outras perguntas basilares sustenta a atividade do filósofo e do pesquisador da filosofia. A
natureza do saber filosófico está no questionamento profundo e na resposta baseada na razão e
em argumentos coerentes e válidos, que apresentam uma possibilidade de leitura sólida em sua
estruturação.
Quando pensamos nas investigações possíveis da filosofia, encontramos – sem dúvida – os
questionamentos sobre o divino. Essas investigações entram no quadro do que chamamos de
Filosofia da Religião.

8
A Filosofia da Religião é um ramo filosófico que investiga a esfera espiritual inerente ao
homem, do ponto de vista da metafísica, da antropologia e da ética. Ela levanta questionamentos
fundamentais, tais como: o que é a religião? Deus existe? Há vida depois da morte? Como se
explica o mal? Estas e outras perguntas, ideias e postulados religiosos são estudados por esta
disciplina.
Há uma infinidade de religiões, compostas de distintas modalidades de adoração,
mitologias e experiências espirituais, como o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduísmo, o Budismo,
o Espiritismo, a Umbanda, o Candomblé, Judaísmo, dentre outras.
Os filósofos da religião têm como objetivo descobrir se o olhar espiritual sobre o Cosmos é
realmente verdadeiro. Desta forma, em suas pesquisas, o filósofo da religião adota como
instrumentos teóricos a metodologia histórico-crítica comparativa, que contrapõe as mais
diversas religiões, espacial e temporalmente, para perceber suas semelhanças e o que as distingue,
logrando assim visualizar o núcleo central dos eventos religiosos; a filológica, que realiza a
investigação dos vários idiomas, comparando-os e buscando expressões usadas para se referir ao
sagrado, estabelecendo assim o que elas têm em comum; e a antropológica, que resgata o passado
espiritual dos povos ancestrais e dos contemporâneos, seus institutos, suas convicções, seus ritos
e seus valores. Cabe à Filosofia da Religião realizar uma correta associação destes distintos
métodos, para assim perceber claramente o que é essencial nas religiões.

2 – DEFINIÇÕES IMPORTANTES
2.1 – CRENÇA E VERDADE

“Uma crença forte demonstra apenas a sua força,


não a verdade daquilo que se acredita.”

(Friedrich Nietzsche)

Há várias coisas que sabemos que são verdade e há coisas que acreditamos que são verdade
ou que são possíveis. Sabemos que podemos falar, não? Mas talvez acreditemos que exista vida
após a vida, não tendo uma certeza totalmente fundamentada. Ou seja, há coisas e fatos
irrefutáveis, as verdades, e há as crenças, que estão sujeitas a questionamento, em geral com base
em experiências que as contradizem.
Crença é o estado psicológico em que um indivíduo detém uma proposição ou premissa
para a verdade, ou ainda, uma opinião formada ou convicção.
Os termos crença e conhecimento são usados de formas diferentes na filosofia. A
Epistemologia é o estudo filosófico do conhecimento e da crença. O principal problema na
epistemologia é entender exatamente o que é necessário para que nós tenhamos conhecimento
verdadeiro.
9
Em uma noção derivada do diálogo de Platão, Teeteto, a filosofia tem tradicionalmente
definido conhecimento como "crença verdadeira justificada". A relação entre crença e
conhecimento é que uma crença é o conhecimento, se a crença é verdade e se o crente tem uma
justificativa (afirmações/provas/orientações razoáveis e necessariamente plausíveis) para acreditar
que é verdade.

A verdade não é um pré-requisito para a crença. Acreditar meramente em algo, não


importa quão ardentemente, não faz disso uma verdade. Da mesma forma, desacreditar de algo
não faz que esse algo seja uma mentira. Para que se saiba algo, não temos somente de acreditar
nisso; isso também tem de ser verdade.
Ensina Sri Ram:
"O que é a Verdade? Ela é um objeto de conhecimento? Um objeto de amor e do
conhecimento que está na origem do amor? Ou ela consiste, ainda mais do que isso, numa
identificação universal do eu, possibilitando a incorporação da essência de cada outro ser
em si próprio, e o viver uma vida que é a cada momento uma perfeita consumação de si
mesmo? Neste caso, a Verdade é um vir-a-ser, mas com uma qualidade de finalidade, um
progressivo atingimento e contudo uma realização. Verdade é vida em seu mais elevado e
mais evoluído estado, a mais plena revelação de sua essência."

Para conhecermos a verdade, temos que buscá-la, através do uso dos instrumentos que
temos à nossa disposição ou em nós: nossa capacidade de pensar e sentir, racionalizar e intuir,
questionar e ter fé, a ciência e a espiritualidade, pois há verdades que podem ser conhecidas e
estudadas pela razão e a ciência, outras, pela intuição e a sensibilidade.

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Não será por isso que temos dois hemisférios cerebrais (direito e esquerdo),
complementares, trabalhando juntos para apreender e entender o mundo?
Outro requisito essencial para se conhecer a verdade é manter a mente livre de pré-
conceitos ou pré-julgamentos. Uma mente presa a crenças, dogmas e paradigmas trilhará sempre
um caminho limitado e estreito, não se permitindo conhecer o diferente, o novo. E a verdade
pode (e geralmente está mesmo) estar bem além das nossas crenças mais arraigadas.
Um cuidado que devemos ter é considerar que, pelo fato de uma pessoa, grupo, ou mesmo
uma obra, ser aceita e defendida por um grupo social, religioso, cultural, etc, reconhecido como
notório pela maioria, isso seja motivo suficiente para que tudo o que provém do mesmo seja a
expressão da verdade.
Se voltarmos na história, veremos que famosos personagens como Aristóteles defenderam
avidamente teorias como a do geocentrismo, a crença de que tudo giraria ao redor da Terra, sendo
esta o centro do Universo. Outra teoria defendida por leigos e estudiosos europeus do passado era
a ideia da Terra plana, a qual fez com que por muito tempo as explorações de novas terras pelo
oceano fossem temidas e evitadas por receio de se “cair” no abismo que existiria nos confins do
mundo! Mais recentemente, passamos por épocas em que se questionava a humanidade de
determinadas raças, como a negra e a indígena, sendo que diversos estudos científicos e
psicológicos tentaram relacionar diferenças anatômicas, neurológicas e cognitivas com a
superioridade de uma raça ou sexo em relação ao outro.
Em verdade, alguns conhecimentos podem ser mais (ou menos) do que mera crença
suportada por provas adequadas. Mas se o conhecimento for pelo menos isso, então uma das
coisas que devemos perguntar às nossas autoridades é que provas têm elas para as coisas que
afirmam saber. E uma das coisas que temos de perguntar a nós próprios, quando aceitamos certas
pessoas como autoridades, é que provas mostram que essas pessoas são competentes e fidedignas.
Assim, não podemos simplesmente aceitar tudo o que nos dizem, pelo fato de serem
autoridades religiosas, políticas, científicas ou profissionais. Um PhD em Psiquiatria, por exemplo,
será um especialista na sua área de formação. Mas será que terá mais autoridade e conhecimento
do que outros para discorrer e afirmar sobre mediunidade, reencarnação ou ufologia? Será que o
fato dele conhecer muito sobre um surto psicótico o fará reconhecer um surto mediúnico?
Da mesma forma, pretensos líderes religiosos/espirituais devem ser questionados sim,
principalmente se suas afirmações/ensinamentos nos parecerem contraditórios ao amor e à
caridade, estranhos à ética e à justiça divina, intolerantes e preconceituosos em relação ao nosso
próximo!
Na Filosofia Esotérica não há apologia à nenhuma crença ou religião. Porém, há, após
tantas divagações e suposições, a certeza de que a consciência coletiva caminha em busca do
conhecimento e da elevação espiritual, utilizando-se da capacidade de crer e ao mesmo tempo
questionar, intrínsecas à alma humana.
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2.2 – DOGMAS E PARADIGMAS

“Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação.”


(Mário Quintana)

▪ PARADIGMAS são conjuntos de crenças ou verdades relacionadas entre si que são


tomadas como modelo ou padrão de uma sociedade ou grupo.
Paradigmas e crenças podem subsistir por séculos. O Sol girou em torno da Terra por 1.400
anos. A Física até o início do século tinha as leis de Newton como um de seus principais
paradigmas. Com a Teoria da Relatividade, esse passou a ser um caso especial de outro
paradigma. E continua mudando; no livro Universo Elegante, Brian Greene diz por exemplo que
"A sugestão de que o nosso universo poderia ter mais de três dimensões pode parecer supérflua,
bizarra ou mística. Na realidade, contudo, ela é concreta, e perfeitamente plausível".
▪ DOGMATISMO é um termo usado pela filosofia e pela religião. É definido pelo dicionário
da língua portuguesa como “pertencente ou relativo a dogma, que se apresenta com o caráter de
certeza absoluta; que exprime uma opinião de forma categórica.
O dogma pode ser entendido como qualquer idéia ou pensamento que se apresenta como
verdade certa e indiscutível; podendo designar uma doutrina que se apoia na autoridade de sua
fonte, devendo, assim, prevalecer sobre qualquer dúvida, vale dizer, devendo ser aceita sem
contestação.
Por extensão, o dogmatismo pode ser designado como a convicção absoluta, não aberta à
crítica, da verdade de dogmas religiosos ou ideológicos. Diz-se, também, do pensamento de quem
– de um modo autoritário e peremptório – guia-se e quer que se orientem por princípios
considerados incontestáveis.
O dogmatismo filosófico pode ser entendido como a possibilidade de conhecer a verdade, a
confiança nesse conhecimento e a submissão a essa verdade sem questionamento. Desde a
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Antiguidade existem filósofos dogmáticos, como Parmênides (515 a.C.-445 a.C.), Platão e
Aristóteles, e céticos, que se recusam a crer nas verdades estabelecidas.
O perigo do dogmatismo é a petrificação da doutrina. Apega-se, antes, à letra da teoria: ele
não admite o desenvolvimento e as revisões doutrinárias. Em consequência, e sobretudo no
emprego do adjetivo-dogmático – e do substantivo-dogmatismo –, evoca a rigidez, mais próxima
da opinião imutável.
Dogma e dogmatismo, portanto, revelam a tendência a enuclear-se em torno das idéias de
teoria assente ou práxis obrigatória, amparadas no argumento da autoridade ou na determinação
do poder, sem qualquer apoio em experimento ou demonstração. Um dogmatismo é uma tese
aceita às cegas, sem crítica, sem levar em conta as condições de sua aplicação.

▪ DOGMATISMO DO SENSO COMUM


Por senso comum entende-se que é o modo de pensar da maioria das pessoas sobre
determinado assunto ou situação específica. Baseia-se no conhecimento empírico, isto é, sem
base científica, aprendido pelas vivências, observações e experiências.
O conhecimento empírico advém de gerações e são passadas para outras gerações com
base no senso comum. É considerado cultural e ajuda a nortear a sociedade.
Exemplos de conhecimento empírico são os saberes populares dos agricultores, que podem
saber quando a terra não está boa para plantio só em olhar o cultivo; das (os) cozinheiras (os), que
pode não dominar todas as técnicas sofisticadas de culinária mas sabem o que pode colocar na
comida para melhorar o sabor ou o que pode desandar a receita e das (dos) benzedeiras (os) que
propagam seus conhecimentos acerca das ervas.
O dogmatismo do senso comum passa pelo puro senso do comum a todos, aqui não se faz
o uso da razão, ou até se faz, mas ela não prevalece. Nesse caso a emoção é a voz da verdade. E as
verdades ou falsidades para as teorias existentes são aceitas sem necessitar de uma pré-
investigação, bastando a aceitabilidade de um conjunto de pessoas. E aqui devemos lembrar que
“uma mentira pronunciada muitas vezes não se torna verdade” nem um “erro praticado por
muitos se torna um acerto”, como já disseram alguns filósofos.
Por isso, o dogmatismo do senso comum se esbarra nesse conflito existencial no qual fica
sujeito ao pensar de uma massa, que na maioria das vezes não é a pensante, mas a subordinada
pelas autoridades pensamentárias."
Devemos fugir do dogmatismo, das crenças e afirmações sem fundamentos, do que nos é
colocado “goela abaixo” por grupos ou autoridades políticas, sociais, religiosas, o que sejam.
Devemos ter o pensamento autônomo, aprender a crer e descrer, aceitar ou repelir aquilo que nos
é passado, embasados em fundamentos válidos adquiridos em nossa busca do conhecimento e da
experiência.
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Sidarta Gautama, o Buda, um dos maiores mestres espirituais que já passaram pela Terra,
ensinou:
Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente
porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em
seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que
é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração.
Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que
conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o.

PRÁTICA
1 – Assista o vídeo “Mito da Caverna de Platão - Compreenda os simbolismo”, de Lúcia Helena
Galvão e reflita sobre o Mito e a busca da Verdade.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=nFSDOZxoZFY&t=2s
2 - Assista o vídeo “Porque nem tudo o que ouvimos ou falamos é verdadeiro”, de Monja Coen e
reflita sobre o assunto.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=Yuv9u2z8gtY

2.3 – CETICISMO
Na investigação sobre as condições de
validade do nosso conhecimento um grupo de
filósofos merece destaque: os céticos. O termo cético
vem da palavra grega skepsis, que significa "exame".
Atualmente, dizemos que uma pessoa cética é
alguém que não acredita em nada, mas não é bem
assim. Um filósofo cético é aquele que coloca suas
crenças e as dos outros sob exame, a fim de verificar
se elas são realmente dignas de crédito ou não.
Pirro de Elis (360-275 a.C.) é considerado o
fundador do ceticismo. Segundo ele, não podemos
ter posições definitivas sobre determinado assunto,
pois mesmo pessoas muito sábias podem ter
posições absolutamente opostas sobre um mesmo
tema e ótimos argumentos para fundamentar suas posições. Nesse caso, Pirro nos aconselha a
suspensão do juízo e a mantermos nossa mente tranquila (ataraxia). Ao invés de enfrentarmos o
desgaste de acalorados debates que não produzirão certeza alguma, devemos manter silêncio
(apraxia) e preservar uma atitude de suspeita diante de qualquer tipo de dogmatismo.
14
Depois de Pirro, muitos outros filósofos tornaram o ceticismo uma das mais importantes
correntes filosóficas até os dias de hoje. Atualmente, alguns céticos defendem o probabilismo ou
falibilismo, ou seja, na impossibilidade de encontrarmos verdades absolutas, seja pelas limitações
de nossos sentidos e intelecto, seja pela complexidade da realidade, devemos tratar nossas crenças
sempre como provisórias, como quem anda em gelo fino.
Desse modo, um cético nunca seria pego de surpresa se algo que todos acreditavam ser
verdade se revelasse falso no futuro. Por outro lado, reconhecer que as verdades são provisórias
não significa uma completa inação. Sabemos que os remédios são falhos, mas são a única coisa
que temos para combater as doenças.
Isso também vale para o campo da ética. O filósofo Montaigne propunha que vivêssemos
em harmonia com os costumes de nosso povo ou cultura, pois embora eles sejam falhos, são tão
falhos quanto os de qualquer outro povo, não havendo razão para preferir este a aquele.
Conta a lenda que Pirro morreu enquanto dava aula de olhos vendados. Um aluno o teria
alertado quanto ao precipício à sua frente. Cético, Pirro desconfiou do aluno e caiu. Essa lenda,
obviamente, pretende mostrar os perigos de se duvidar de tudo. Mas será que um cético autêntico
não duvidaria também de suas próprias dúvidas?
O verdadeiro cético não duvida por duvidar, mas traz uma dúvida ativa, construtiva, que, à
priori, não nega ou afirma nada que ele não conheça antes de buscar maiores informações e
verificações.
Odiado por alguns, o cético é como a abelha que aferroa o boi do conhecimento, retirando-
o da mesmice das ideias prontas e acabadas, nos provocando, por meio da dúvida, a investigar a
fundo os pressupostos de nossas crenças; ou, como diria Kant, o cético é aquele que nos desperta
do nosso sono dogmático para lembrar-nos que pensar não é um fim, mas uma atividade.
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2.4 - O QUE É COSMOVISÃO?

É um conjunto de crenças fundamentais através das quais vemos o mundo. É a forma pela
qual interpretamos e percebemos a realidade ao nosso redor, seja de forma consciente ou
inconsciente. O conjunto total de crenças de uma pessoa compõe a sua cosmovisão.
Da mesma forma, o sistema de crenças de uma coletividade compõe sua cosmovisão,
aquilo em que o povo acredita e a forma como interpreta a realidade. Tudo o mais em sua vida
será grandemente determinado por esse sistema: o valor do ser humano para aquela cultura, a
família, os relacionamentos, as leis, questões de ética, o valor da ciência e do trabalho, questões da
moral e da justiça, modelos econômicos, a importância de Deus na sociedade, etc.
Nem todas as crenças tem o mesmo "peso" dentro do sistema. As crenças que sustentamos
sobre o mundo estão inter-relacionadas de diversas formas, e tem diferentes funções. Assim,
embora num sentido mais lato, a totalidade das crenças de um indivíduo constitua sua
cosmovisão individual, o conjunto de crenças mais fundamentais, que ocupam papel central na
"imagem mental" do mundo de um ou mais indivíduos define a sua cosmovisão.
Que tipos de experiências podem afetar nossa cosmovisão? A vida emocional, por exemplo.
Sentimentos enraizados de abandono podem afetar a integridade da fé. Pessoas que foram
submetidas ou testemunharam abusos frequentes de autoridade podem moldar sua cosmovisão
de tal forma que o poder seja sempre identificado com o mal. Pessoas que nunca conheceram a
miséria e a exploração de perto podem adotar uma visão otimista da sociedade e apoiar teorias
econômicas liberais. Conflitos pessoais podem causar uma ruptura entre o que é confessado na fé
e a prática, e alguém pode tentar fechar essa brecha alterando não a prática, mas a confissão de fé.

16
A vida social também pode nos levar a uma alteração de cosmovisão. O desejo de manter
privilégios sociais pode nos levar a adotar posturas que justificam a opressão. Ou podemos ser
levados a aceitar como corretos certos comportamentos imorais devido à pressão da maioria.
Temos então que a cosmovisão tem sempre duas fontes: (1) nossas crenças fundamentais,
fornecidas pela orientação religiosa fundamental, através da fé, e (2) nossas experiências e
condições de vida, incluindo condições materiais, sociais, emocionais, intelectuais, etc. Podemos
dizer que ela serve como um mediador entre a fé e essas condições de vida.

3 – DEFINIÇÕES ACERCA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO-RELIGIOSO


Abaixo detalhamos alguns conceitos filosóficos pertinentes às diversas cosmovisões
religiosas:
3.1 - GNOSTICISMO - Gnóstico é um termo que deriva do grego "gnostikós" cujo significado
remete para algo ou alguém que é capaz de conhecer. Na Língua Portuguesa o termo é utilizado
para referir aquele que é sectário do gnosticismo.
O gnosticismo designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo
princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma essência imortal que transcende
o próprio homem.
De acordo com o gnosticismo, o caminho para a libertação desses sofrimentos é através do
conhecimento. Não um conhecimento adquirido apenas de forma racional e com base científica,
mas um conhecimento intuitivo e transcendental que dá sentido à própria vida humana.

3.2 - AGNOSTICISMO - Agnóstico é aquele que considera os fenômenos sobrenaturais


inacessíveis à compreensão humana. A palavra deriva do termo grego “agnostos” que significa
“desconhecido", "não cognoscível”.
O termo “agnóstico” foi usado no século XIX pelo naturalista inglês Thomas Henry Huxley
(1825-1895), quando descreveu sua dúvida a respeito de algumas crenças religiosas, do poder
atribuído a Deus e do sentido da vida e do universo. Desde então, muitos estudiosos escreveram
sobre o assunto.
Agnosticismo é a visão de que o valor de verdade de certas reivindicações, especialmente
afirmações sobre a existência ou não existência de qualquer divindade, mas também de outras
reivindicações religiosas e metafísicas, é desconhecido ou incognoscível. É o meio termo sobre
existência ou não de divindades. No sentido popular, um agnóstico é alguém que não acredita
nem descrê (não nega a possibilidade) na existência de um Deus.

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3.3 - NIILISMO - é uma doutrina filosófica que indica um pessimismo e ceticismo extremos
perante qualquer situação ou realidade possível. Consiste na negação de todos os princípios
religiosos, políticos e sociais.
Este conceito teve origem na palavra em latim nihil, que significa "nada". O seu sentido
original foi alcançado graças a Friedrich Heinrich Jacobi e Jean Paul. Este conceito foi abordado
mais tarde por Nietzsche, que o descreveu como falta de convicção em que se encontra o ser
humano após a desvalorização de qualquer crença. Essa desvalorização acaba por culminar na
consciência do absurdo e do nada.
O niilismo moral (ou niilismo ético) consiste em um ponto de vista em que nenhuma
ação pode ser considera moral ou imoral.
O niilismo existencial significa que a existência do ser humano não tem qualquer sentido
ou finalidade e por isso o homem não deve procurar um sentido e um propósito para a sua
existência.
O niilismo político tem como fundamento que a destruição de todas as forças políticas,
religiosas e sociais, são essenciais para um futuro melhor.

3.4 - ATEÍSMO - Ateu é quem não crê em Deus ou em qualquer ser superior. A palavra tem
origem no Grego “atheos” que significa “sem Deus, que nega e abandona os deuses”. É formado
pela partícula de negação “a” juntamente com o radical “theos” (deus).
O termo nasceu na Grécia Antiga para descrever aquelas pessoas que rejeitavam as
divindades adoradas por grande parte da sociedade. Eram considerados ímpios por não
acreditarem nos muitos deuses venerados.
O ateísmo é a doutrina dos ateus. É uma postura filosófica que rejeita a ideia de existência
de quaisquer deuses. É uma atitude de descrença perante a afirmação religiosa de que existem
divindades e de que elas exercem influência no universo e na conduta humana.

3.5 - DEÍSMO – Doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da
existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião
organizada.
Pela lógica deste pensamento, que racionaliza a crença em Deus, não há necessidade de se
institucionalizar a religião, ou seja, é dispensável a criação de cultos religiosos formais.
Ao contrário do teísmo, que também afirma a existência do Criador, gerador de tudo que
há, o Deísmo acredita que a interferência desta Divindade no mundo por ela produzido cessa
exatamente neste momento. Ele lhe atribui leis que regerão a vida e seus mecanismos, depois

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deixa sua criação relegada às normas naturais instituídas por Ele; e, além disso, dispensa seus ritos
de devoção.

3.6 - TEÍSMO - O teísmo sustenta a existência de um Deus (contra o ateísmo), ser absoluto
transcendental, pessoal, vivo, que atua no mundo através de sua providência e o mantém (contra
o deísmo). No teísmo a existência de um Deus pode ser provada pela razão, prescindindo da
revelação, mas não a nega.
3.6.1 - MONOTEÍSMO - (do grego: mónos, "único", e théos, "deus": único deus) é a crença na
existência de apenas um só Deus. Define-se algumas classificações do monoteísmo:
I. O monoteísmo substancial, encontrado em algumas religiões indígenas africanas,
sustenta que os inúmeros deuses são formas diferentes de uma única substância
subjacente.
II. O monoteísmo trinitário é a doutrina cristã da crença em um Deus que é três diferentes
pessoas; Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
São exemplos de religiões monoteístas o Cristianismo, o Espiritismo, a Umbanda, a Fé
Bahá'í, o Islamismo, o Judaísmo, o Zoroastrismo e o Sikhismo.

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3.6.2 - POLITEÍSMO - Consiste na crença em mais do que uma divindade de gênero masculino,
feminino ou indefinido, sendo que cada uma é considerada uma entidade individual e
independente com uma personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades,
áreas, objetos, instituições, elementos naturais e mesmo relações humanas.

3.6.3 - PANTEÍSMO

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O panteísmo é a doutrina que compreende Deus nada mais do que a somatória de tudo o
que existe. Segundo essa escola filosófica, há uma aproximação de identidade completa entre
Deus e a criação, entendidos como integrados em uma só e indissolúvel realidade.
Assim, para o panteísta Deus é coincidente com a sua obra e nada pode existir que não seja
a própria substância e manifestação da Divindade, até mesmo a condição humana. Tudo sendo
Deus, toda individualidade somente existe como gotas em um oceano, e o oceano, por sua vez,
nada mais é do que o conjunto de todas elas.
Esta doutrina foi severamente combatida nos meios religiosos ocidentais, compreendida
como uma negação da existência de um Deus independente e transcendente à Sua obra. Hoje
compreendemos que a teologia cristã nos ensinou a divisar, ainda que situado nos rincões do
infinito, somente a transcendência divina, como se fosse a Sua única realidade, visão que se define
como monoteísta. Já o panteísmo é uma tentativa de se compreender Deus como uma imanência
presente em toda criação, uma vez que o Senhor não poderia criar fora de Seu próprio campo de
manifestação e sem que retirasse de Sua própria substância unitária, aspecto que também não
pode ser negado.
Dessa forma o monoteísmo viu Deus em Sua transcendência, a unidade divina que está
além da criação, enquanto que o panteísmo O vislumbrou em Seu aspecto imanente, inserido em
tudo o que existe. Já o monismo é a exata soma das duas visões, a transcendência e a imanência
divina, unificando as duas verdades em uma única realidade. E assim o monismo reúne o Deus
superior, que comanda à distância a Sua criação, com o Deus interior, que é força e lei imanente e
permanente em cada eu fenomênico em realização no mundo das formas.
As doutrinas que mais se aproximam da filosofia panteísta são: o Budismo, o Jainismo, o
Taoísmo e o Confucionismo.
Há várias modalidades de panteísmo, tais como:
❖ Panteísmo Cosmológico: Doutrina que considera o Universo e Deus como
sendo identicamente o mesmo ser;
❖ Panteísmo Místico: Aquele que considera a massa total das coisas como um
ser do qual o real e o ideal, o subjetivo e o objetivo, são como que os dois pólos opostos;
❖ Panteísmo Ontológico: Aquele que reconhece apenas a substância eterna -
espinosismo;
❖ Panteísmo Psicológico: Sistema que considera Deus a alma do Mundo, o
qual seria o corpo da divindade.

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3.6.4 - PANENTEÍSMO

Já o Panenteísmo (do grego πᾶν (PAN) “tudo”; ἐν (pt) “em”, e θεός (Theos) “Deus”, “tudo-
em-Deus”) é um sistema de crença que postula que o universo está contido em Deus (seja num
deu monoteísta, deuses politeístas, ou uma força anímica cósmica eterna), mas Deus (ou os
deuses) é maior do que o universo, interpenetra cada parte da natureza e eternamente se estende
para além dele. O panenteísmo se diferencia do panteísmo, que sustenta que o divino é sinônimo
de universo.
O termo foi proposto por Karl Christian Friedrich Krause, na sua obra System des
Philosophie (1828), para designar a sua própria doutrina teológica que pretendia servir de
mediação entre o panteísmo e o teísmo.
No panenteísmo, o universo na primeira formulação é praticamente o próprio todo. Na
segunda formulação, o universo e o divino não são ontologicamente equivalentes. No
panenteísmo, Deus é visto como a força animadora eterna por trás do universo. Algumas versões
sugerem que o universo não é nada mais do que a parte manifesta de Deus. Em algumas formas
de panenteísmo, o cosmos existe dentro de Deus, que por sua vez, “transcende”, “invade” ou está
“dentro” do cosmos.
Enquanto o panteísmo afirma que “Tudo é Deus”, panenteísmo vai mais longe ao afirmar
que Deus é maior do que o universo. Além disso, há algumas formas de indicar que o universo
está contido dentro de Deus, tal como no conceito de Tzimtzum, pensamento hindu que é
altamente caracterizado pelo panenteísmo. A doutrina de que o mundo está incluso como uma
parte de Deus, embora não seja a totalidade de seu ser.
Meister Eckhardt, famoso místico e ocultista alemão, muitas vezes chamado como o Pai
do Misticismo Alemão, argumentava que Deus está em toda a parte. Deus é o mesmo, em
qualquer forma ou aspecto, para aqueles que podem vê-Lo e que O vêem. Ele exorta o ser
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humano a não procurar Deus, como uma luz reluzente em trevas remotas, ou em algum canto
do universo, mas procurar e encontrar Deus em toda e qualquer manifestação da natureza.

PRÁTICA
1 – Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo:
a. ( ) Segundo a crença panteísta, há uma aproximação de identidade completa entre Deus
e a criação, entendidos como integrados em uma só e indissolúvel realidade.
b. ( ) Dogmas são conjuntos de crenças ou verdades relacionadas entre si que são tomadas
como modelo ou padrão de uma sociedade ou grupo.
c. ( ) Para a crença panenteísta, Deus é transcendente e imanente a toda criação.
d. ( ) O preconceito é um juízo de valor que se faz de alguém a partir de fatores
superficiais, comumente acompanhado de discriminação e intolerância. É o julgamento
associado a crenças, sentimentos e tendências de terceiros.
e. ( ) Agnosticismo é uma postura filosófica que rejeita a ideia de existência de quaisquer
deuses. É uma atitude de descrença perante a afirmação religiosa de que existem divindades e
de que elas exercem influência no universo e na conduta humana.
f. ( ) Estereótipo é o conceito ou imagem preconcebida, padronizada e generalizada
estabelecida pelo senso comum, sem conhecimento profundo, sobre algo ou alguém. É usado
principalmente para definir e limitar pessoas quanto a aparência (cor da pele, tipo de
vestimentas, uso de acessórios, etc), naturalidade (região ou país de origem) e comportamento
(religião, cultura, crença, nível de educação, etc).

2 – Pesquise sobre a figura de Pietro Ubaldi, filósofo e escritor espiritualista italiano, autor da
magistral obra “A Grande Síntese”.

“As nossas verdades não expressam outra coisa senão a maneira


pela qual são vistas e concebidas para cada um, num dado
momento. Elas são, portanto, relativas ao observador e
progressivas no tempo.”
(Pietro Ubaldi)
Referência: https://citacoes.in/autores/pietro-ubaldi/

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CAPÍTULO 2 – CIÊNCIAS OCULTAS E
MISTICISMO
"O homem nada sabe, mas é chamado a tudo conhecer”.
(Hermes Trismegisto)

1 – INTRODUÇÃO

A capacidade humana de questionar-se é uma de suas maiores virtudes ao longo da


história. O simples ato de buscar o autoconhecimento, compreender a própria origem e um
significado supremo da existência na Terra, conduziu o destino de civilizações, desenvolveu
conceitos que se estenderam por vários séculos e gerou um infinito e crescente ciclo ideológico.

A espiritualidade é o combustível desta incessante busca. É quem santifica o homem e


consagra a terra. É quem desenvolve o conhecimento e o direciona ao próprio benefício. É neste
momento que nasce o conceito de um deus responsável pela criação do universo, de forças e
seres superiores que conduzem a existência humana. A fé, oriunda no espírito humano, e o
dogma, são as principais colunas que sustentam as religiões e doutrinas espalhadas ao longo do
globo terrestre.

Se toda religião é formada basicamente de fé e misticismo, podemos compreender que


religião e ocultismo estão interconectados. Dessa forma, concluímos que ocultismo é o

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conhecimento secreto das religiões, que pode ser acessível apenas aos membros mais elevados
na hierarquia de determinadas ordens.

Na sociedade contemporânea, ocultismo também designa temas sobrenaturais, e até


certo ponto, supersticiosos, que não tenham um caráter religioso formal, mas que estejam
relacionados às filosofias e doutrinas. A religião e o ocultismo também são responsáveis por
criar grupos sociais que podem estar associados a manifestações culturais e políticas, por
exemplo.

Não existem bases confiáveis para se estabelecer um ponto de partida comum das
crenças. Mas pode ser na cultura dos babilônios e egípcios do período pré-cristão, que está a
raiz do ocultismo ocidental. Os deuses e religiões desta época se desenvolveram ao lo ngo das
eras, sofreram transformações agregando em si diversos elementos de outras culturas,
emergindo novos conceitos e ressurgindo velhas crenças.

Ao longo dos tempos, a humanidade divinizou alguns de seus filhos, que se tornaram
profetas e imortais no coração e na crença de tantos outros. O homem sagrou terras, erigiu
templos e monumentos, louvou a vida e entoou cânticos em nome de suas divindades e da
própria fé. Mas a fé combinada com a vaidade e a ganância promoveu guerras, escravizou,
segregou e retardou a evolução do espírito.

2 - O QUE É ESOTERISMO?

“Quando a raça humana aprender a ler a linguagem do simbolismo, um grande véu cairá
dos olhos dos homens. Eles então conhecerão a verdade e, mais do que isso, perceberão
que desde o princípio a verdade não foi reconhecida no mundo, salvo por um número
pequeno, mas gradualmente crescente, apontado pelos ‘Senhores da Alvorada’ como
ministros às necessidades das criaturas humanas que lutam para recuperar sua
consciência da divindade.”

- Manly P. Hall, Melquisedeque e o mistério do fogo

Esoterismo vem da palavra grega esotero (“o que está dentro”, “interior”), em contraponto
à palavra exotero(“o que está fora”, “exterior”).
Muito diferente do que se pensa e do que o sensacionalismo midiático difunde, esoterismo
não é o que é “estranho”, “exótico” ou simplesmente jogar tarô, búzios, adivinhação etc. Em
realidade, esoterismo refere-se ao que está mais oculto no Ser, por isso também há grande relação
com o termo “Ciências Ocultas”.

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Todas as grandes religiões tiveram sua parte pública e exotérica (ensinado ao povo), e sua
parte interna ou esotérica (ensinado aos Iniciados). Os Iniciados não eram a elite social ou
intelectual da sociedade, mas uma elite espiritual (não importando se eram de famílias pobres ou
ricas) que decidiu dedicar sua vida ao caminho espiritual e a passar por delicadas e duras provas
para alcançar o Despertar da Consciência.
A parte esotérica das ordens religiosas era conhecida como Mistérios. “Mistério” vem da
palavra latina Misterium, do grego Mysterion, que significa “Doutrina ou Rito Secreto”. Por sua
vez, Mysterion vem de Myste, que significa “pessoa iniciada nos segredos”. A raiz de todas essas
palavras é Myein (“fechar” ou “fechado”). No latim eclesiástico, Misterium se tornou
Sacramentum.
Resumidamente, o esoterismo traz à luz as características de conhecimento ligadas à
verdade e às leis que regem o Universo, criando um vínculo entre o que é natural e o que é dito
sobrenatural.
Sendo assim, está ligado aos ensinamentos e conhecimentos ocultos aos não-iniciados
neste estudo e que são passados a gerações por meio de suas tradições que evocam energias da
natureza através de diversos meios.
Sua ideia principal é a de buscar o impenetrável utilizando técnicas para que o iniciado
possa transmutar e transcender seus próprios limites e alma ao Criador.
O exoterismo era ensinado através de contos, lendas, mitos, parábolas etc. para ensinar ao
povo a voltar-se para uma vida espiritual. Também havia alguns ritos públicos que ensinavam
através símbolos e ditos que se direcionavam diretamente à consciência do indivíduo.
Já o esoterismo ensinava o que estava por
trás dos mesmos contos, lendas, mitos, parábolas,
rituais etc. e sempre se referia ao que está mais
oculto no homem: o próprio Homem (seu mundo
interior, sua psicologia), que é o mesmo objeto de
estudo das chamadas “Ciências Ocultas” ou
“Ocultismo”. Também conhecido com o exato
termo Gnosis (do grego “Conhecimento”). Também
havia rituais mais sagrados, mais fechados, restrito
aos Iniciados.
Devido à sacralidade do ensinamento oculto,
surgiu a necessidade de criar os ensinamentos
exotéricos e esotéricos. Assim, a Gnosis não se
perderia na boca do povo, degenerando o
conhecimento com o passar do tempo, pois, como diz o ditado: “quem conta um conto, aumenta
um ponto”.
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Os Iniciados, que passavam por diversas provas para adentrar aos Mistérios, davam grande
valor e respeito aos ensinamentos e tinham mais consciência da realidade, nunca profanando a
Gnosis.
O objetivo dos Mistérios de todas as religiões, de todos os povos e tempos, era levar o
homem, o ser humano, a conhecer diretamente e na prática ao seu próprio Ser Divinal Interior,
levá-lo ao Autoconhecimento, através de uma orientação regenerativa em todos os níveis do
Homem, pois assim eram as Escolas de Regeneração. Isto é o que chamamos de Autorrealização
Íntima do Ser.
Portanto, o Conhecimento Secreto esteve no Egito, na Grécia, em Roma, entre os Judeus,
Nórdicos, Chineses, entre os Astecas, Indianos, Tibetanos, Caldeus, Persas etc. através das formas
religiosas. Porém, que fique claro que a Gnosis/Teosofia (a essência, não a tradição), por estar em
todas as religiões, não pode ser confundida com um tipo de sincretismo religioso. É, melhor
dizendo, um Conhecimento Síntese.
Atualmente, devido à bancarrota dos valores morais e espirituais, à falta de corretas
orientações educacionais e espirituais à humanidade, ao ateísmo e materialismo extremos, a
Gnosis deixou de ser um conhecimento velado. O véu da sabedoria foi descerrado nestes tempos
para que todos aqueles que possuem inquietudes, pessoas rebeldes contra os valores atuais (ou
contra a falta deles), pessoas que buscam uma saída, que questionam “para que serve a vida”,
possam encontrar as respostas que buscam e ir além, a mais ocultos lugares, dentro de si mesmos.
Eis o admirável fruto cognitivo da Ciência Espiritual: proporcionar força e firmeza à vida, e
não apenas a satisfação do desejo de saber. A fonte onde esses conhecimentos haurem sua
força para o trabalho e a confiança para a vida é inesgotável. Ninguém que uma vez se
tenha aproximado realmente dessa fonte sairá, ao recorrer repetidamente a ela, sem estar
fortalecido.
(Rudolf Steiner)

PRÁTICA

1 – Aprofunde seus conhecimentos através dos vídeos abaixo:


a) Esoterismo e o Sentido da História.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=-cKbCeuW1w8
b) Os Símbolos Ocultos de Matrix.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=76nVdZXFsnc
c) Exoterismo x Esoterismo - Nilton Schutz
Link: https://www.youtube.com/watch?v=biCTUenLB6o

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2 – Explique o significado da afirmação abaixo:
“Conhecer o homem é conhecer Deus. Conhecer Deus é conhecer o homem. Estudar o
Universo é instruir-se sobre Deus e sobre o homem, porque o Universo é a expressão do
Pensamento Divino, e o Universo está refletido no homem. O conhecimento é necessário
para que o Eu se torne livre e se conheça unicamente como Si mesmo."
(Annie Besant)

3 – Escolha uma parábola de Jesus que você aprecie. Qual seria seu ensinamento central?

4 – Reflita na afirmação abaixo:


O mundo - aquele das existências individuais - é cheio de significados latentes e
propósitos profundos, que formam a base de todos os fenômenos do Universo, e só a
Ciência Oculta - isto é, a razão elevada à sabedoria suprassensível – pode fornecer a
chave para revelá-los ao intelecto. "
(Carta dos Mahatmas)

3 - OCULTISMO E MISTICISMO: QUAL A DIFERENÇA?

É importante compreender a diferença entre Esoterismo, Ocultismo, Mistérios e


Misticismo. No sentido popular, o termo ‘ocultismo’ se aplica a coisas que estão escondidas ou
encobertas. Ele sugere, à mente, aquilo que diz respeito à magia e ao misterioso. Na realidade, o
verdadeiro ocultista não é um diletante no sobrenatural; para ele, nada existe, que seja
”sobrenatural”. Todos os fenômenos estão dentro da categoria da lei natural. Ele não ama aquilo
que é fantástico, aquilo que amedronta, aquilo que é estranho, e ele não é um buscador do
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sensacional. O ocultista é alguém que tem uma convicção íntima que existem princípios
construtivos no universo, que são as causas de muitos das assim-chamadas coisas misteriosas, que
existem além do raio de ação de nossos sentidos normais.
O ocultismo é o caminho da renúncia do eu, tanto em pensamento quanto em ação. É o
caminho no qual o aspirante sacrifica sua alma animal, no altar do Eu Superior, o mestre do
santuário interno. Um ocultista é um cientista do mundo espiritual.
Os Mistérios consistiam em rituais ocultos destinados a iniciar alguém no conhecimento
de determinadas práticas. Alguns dos coordenadores destes ritos eram conhecidos como
hierofantes – ‘reveladores de conhecimentos sacros’.
O ponto culminante dos Mistérios era quando o Iniciado se tornava um “deus”, seja pela
união com um Ser divino fora de si, seja pela percepção do Eu divino em si. Isso era chamado
êxtase, e era um estado que o Yogi indiano chamaria Samadhi, sendo posto em transe o corpo
denso e a alma liberta efetuando sua própria união com o Grande Ser. Este “êxtase não é
propriamente falando uma faculdade, é um estado da alma, que a transforma de tal modo que
então ela percebe o que antes estava oculto de si. (Annie Besant - O Cristianismo Esotérico ou os
Mistérios)

O misticismo não é ocultismo. O Misticismo se resume na procura espiritual pelo saber


verdadeiro e não conhecido, visando alcançar a conexão com a esfera sagrada. Muitos elementos
místicos estão presentes nas principais religiões, bem como em práticas espirituais diversas.
O Misticismo é a crença na possibilidade de percepção, identidade, comunhão ou união
com uma realidade superior, representada como divindade(s), verdade espiritual ou o próprio
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Deus único, por meio de forte intuição ou de experiência direta em vida. Na intenção de atingir
esse tipo de experiência, as tradições místicas fornecem ensinamentos e práticas específicos, como
meditação e aperfeiçoamento pessoal consciente.
As ciências ocultas são aplicações parciais deste conhecimento, em áreas específicas, tais
como a Biologia, a Química e a Física são áreas específicas de conhecimento da ciência. O
Ocultismo, como a ciência, é um todo; as disciplinas, como as ciências ocultas, são partes de um
todo.
Pode-se compreender por Ciências Ocultas as atividades e ensinamentos de fundamento
místico, como a Alquimia, Astrologia, Numerologia, Geometria Sagrada, Cartomancia e algumas
modalidades de Magia, entre outros.
Verifica-se que, com o tempo, as próprias ciências ocultas chegaram a se tornar os pais de
muitas da ciências físicas reputadas de hoje. Em verdade, da ciência oculta da astrologia, vieram
os rudimentos da astronomia. Da alquimia, com a sua experimentação com ervas, de sua busca
da quinta-essência e de elixires, vieram aqueles fundamentos, aqueles elementos e propriedades
físicas, que se desenvolveram, chegando à ciência da química. A geometria sagrada traz
importantes fundamentos para a matemática atual.
Por outro lado, foi o ocultismo o que favoreceu os experimentos de Franz Mesmer, quando
este surpreendeu o mundo, ao proclamar que o corpo humano tinha um fluir e um refluir de
energia através do mesmo, que podia emanar através das pontas dos dedos, que era curativa em
sua natureza, e que podia ser detectada por outros e influenciar a outros. Suas alegações,
naturalmente, eram sensacionais. Elas chegavam aos limites do reino do sobrenatural, quando
consideradas pela média das pessoas; Mesmer foi caluniado, como sendo um charlatão e, por
causa disto, foi perseguido.
O ocultista procurava investigar a verdade de suas afirmações, não importando quão
heterodoxas pudessem ser. O ocultismo, além do mais, proporcionou os experimentos de
hipnotismo de Mesmer, numa época em que isto era considerado uma indulgência na prática de
magia negra. As demonstrações de sucesso, por um período de tempo, por parte dos ocultistas,
em hipnotismo, finalmente compeliram a uma investigação do fenômeno pela ciência física, e a
descoberta resultante dos princípios fundamentais da psicologia. A ciência oculta, do mesmo
modo, explorou a telepatia mental, a hiperestesia, a comunicação da inteligência sem o uso de
meios físicos, e outros aspectos de fenômenos psíquicos, quando estas coisas eram proclamadas
como sendo nada menos do que práticas diabólicas, e quando tais tópicos eram absolutamente
tabus, em círculos de inteligência e nas universidades. Hoje, há cadeiras de pesquisa psíquica em
muitas das principais universidades, com apreciáveis investimentos naquele reino de fenômenos,
e diversas universidades conservadoras têm efetivamente editado monografias a respeito de sua
experimentação, na telepatia mental.

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O ocultismo, entretanto, não é uma ciência, nem uma religião, nem misticismo ou filosofia.
Porém, suas revelações têm influenciado, de maneira bastante definida, todos aqueles canais do
pensamento humano e suas buscas. As perguntas, naturalmente, se fazem presentes: “Quais
foram os primeiros ocultistas? Como vieram eles a existir, como um grupo de pessoas, ou um tipo
de pessoas?” O mundo jamais saberá, talvez, os nomes dos primeiros ocultistas. Podemos dizer,
geralmente, que eles eram aqueles homens e aquelas mulheres, que conseguiam ver além dos
limites da visão objetiva dos olhos, e eram aqueles que conseguiam ouvir além do limite audível
de seus ouvidos. Em outras palavras, eram os homens e as mulheres, que não estavam contentes
com as limitações de seus sentidos objetivos. Eles não queriam aceitar a mera aparência das
coisas.

4 – A LINGUAGEM DOS MISTÉRIOS E SUAS CHAVES

“Em todas as tradições esotéricas, as instruções internas mais importantes são sempre
transmitidas em linguagem simbólica, velando assim o sagrado dos olhos do profano. Ao
mesmo tempo, o desvelamento das instruções oferece um método para treinar a
compreensão do discípulo.”
- Raul Branco, A Pistis Sophia, Uma Introdução

4.1 – O SIMBOLISMO
Conforme afirma Mainly P. Hall:
“Simbolismo é a linguagem dos mistérios; na
verdade, é a linguagem não apenas do misticismo e
da filosofia, mas de toda a Natureza, pois toda lei e
poder ativos no procedimento universal se
manifestam às percepções limitadas dos sentidos do
homem por meio do símbolo.
Toda forma existente na esfera diversificada do
ser é simbólica da atividade divina pela qual é
produzida. Por símbolos, os homens sempre
procuraram comunicar uns aos outros os
pensamentos que transcendem as limitações da
linguagem.
Rejeitando os dialetos concebidos pelo homem como inadequados e indignos de perpetuar
as ideias divinas, os Mistérios escolheram o simbolismo como um método mais engenhoso e ideal
de preservar seu conhecimento transcendental. Em uma única figura, um símbolo pode revelar e
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ocultar, pois para o sábio o objeto do símbolo é óbvio, enquanto para o ignorante a figura
permanece inescrutável. Portanto, aquele que busca desvelar a doutrina secreta da antiguidade
deve procurar por essa doutrina não nas páginas abertas de livros que possam cair nas mãos dos
indignos, mas no lugar onde foi originalmente ocultada”.
Assinala Proclo:
“O método Órfico almejava a revelação das coisas divinas por meio de símbolos, um
método comum a todos os escritores sobre a sabedoria divina.”
(G.R.S. Mead, Orpheus, p. 59).

Revista Esfinge – Nº 09

Todas as teologias, desde as mais antigas até a última, surgiram não apenas de uma origem
comum de crenças abstratas, mas de uma linguagem esotérica universal.
A chave dessa linguagem esotérica antiga, ou língua dos hierofantes está contida e pode ser
encontrada tanto nas religiões antigas como nas mais atuais. Essa língua tinha e tem sete chaves
ou dialetos - por assim dizer - de interpretação. Cada chave se refere a um mistério da natureza,
ou seja, a Natureza podia deste modo ser lida em sua plenitude ou considerada sob um de seus
aspectos especiais.
Afirma-se que a Índia, incluindo suas antigas fronteiras, é o único país que conta ainda
com adeptos que ainda possuem o conhecimento dos sete subsistemas e do sistema completo. No
Egito, desde a queda de Mênfis, se começaram a perder essas chaves, e os Caldeus apenas
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conservavam três na época de Berosus. Os hebreus só conheciam três dessas chaves: numérica,
astronômica e geométrica, para simbolizar as funções humanas, especialmente as fisiológicas.
Parte dessa linguagem também se encontra nos dogmas da religião cristã, e assim se fala de
uma Trindade, da ressurreição dos mortos, dos sete pecados capitais e as sete virtudes, do dilúvio,
etc. Cada religião antiga não é mais do que um capítulo ou dois do volume dos mistérios arcaicos
primitivos e tem, além do mais, duplo aspecto: um externo para o culto popular e a massa - para
que cada um possa entender segundo sua mentalidade e possa se aperfeiçoar - e outro interno ou
esotérico, que só é conhecido por aqueles que iniciam um caminho de busca mais profunda de si
mesmos e, como seres que estão inseridos na Natureza, pretendem conhecer suas leis para ajudar
no seu desenvolvimento.
Os dogmas exotéricos podem ter mudado, podem ter sido alterados amiúde, mas não os
mistérios de iniciação. Os sacerdotes egípcios haviam esquecido muitas coisas, mas não alteraram
nada. A perda de grande parte dos ensinamentos primitivos foi devida à morte repentina de
grandes hierofantes, que faleceram antes de ter tido tempo de revelar tudo a seus sucessores e,
acima de tudo, à falta de herdeiros dignos do conhecimento, já que o conhecimento implica
poder. Mas isso é outro tema.
Ainda que se suponha que todo o ciclo da linguagem universal do Mistério não tenha sido
dominado durante séculos, basta o que tem sido descoberto na bíblia por alguns sábios
comparados com outros livros tão ou mais antigos do que esse - que também foram importantes
para outras culturas para demonstrar o que se afirma.
Todos os registros antigos estavam escritos numa linguagem universal, que era conhecida
por todas as nações. Uma passagem da bíblia diz que quando a torre de babel era construída
todos falavam o mesmo idioma até a sua destruição.
Todos os símbolos e números bíblicos sugeridos por observações astronômicas pois a
astronomia e a teologia estão estritamente conectadas - se encontram nos sistemas indos, tanto
externos quanto internos. Esses números e símbolos do zodíaco, dos planetas, seus aspectos e
peculiaridades, conhecidos na astronomia como sextantes, quadrantes, etc, têm sido usados
durante séculos pelas nações arcaicas e, em certo sentido, têm o mesmo significado dos números
hebreus.
As primeiras formas de geometria elementar deviam estar relacionadas com a observação
dos corpos celestes e seus agrupamentos. Daí serem os símbolos mais arcaicos no esoterismo
oriental um ponto, um círculo, um triângulo, um quadrado, um pentágono, um hexágono e outras
formas planas com vários ângulos. Isso demonstra que o conhecimento e uso da simbologia
geométrica é tão antigo quanto o mundo.
Cada cosmogonia começa com um círculo, um ponto, um triângulo e assim até o número
nove, sintetizado pela primeira linha e um círculo; isso é o número 10. Por isso se encontram
números e figuras usadas como expressão comum em todas as escrituras simbólicas antigas.
33
A década e suas mil combinações se encontram em todas as partes do mundo. Pode ser
reconhecida nas cavernas, nos templos abertos na rocha do Indostão e da Ásia Central, nas
pirâmides e monolitos egípcios e americanos, nas ruínas de Palenque, na Ilha de Páscoa, em todos
os lugares que o homem antigo pisou.
Nas costas das estátuas que se encontram na Ilha de
Páscoa, aparece desenhada uma cruz ansata, a mesma que
desenharam os egípcios (Ankh). Na América do sul, se
encontra esculpida no topo de algumas montanhas a
estranha figura de um homem estendido numa cruz. E na
religião cristã quantas vezes temos visto um crucifixo sem
entender realmente o seu significado.
Entre os astecas, existe um relato igual ao do dilúvio
que conhecemos. A pirâmide de Papatla tem sete pisos. Três
escadas conduzem ao seu topo; seus degraus estão decorados
com figuras geométricas cujo valor faz alusão aos dias do seu
calendário civil, 318. Esse número é um valor abstrato e
universal que faz referência ao valor do diâmetro tomando a
circunferência como unidade. Também é o valor gnóstico de
Cristo e o famoso número dos circuncidados de Abraão.
Tomemos um exemplo: 10. Vejamos como interpretar
essas duas letras que parecem não dizer nada.
Uma pessoa que só tenha os conhecimentos normais verá representado o número 10, 10
unidades de qualquer coisa. Se tivesse conhecimento de línguas o associaria com a palavra "eu"
em latim ou italiano. Um filólogo encontraria a relação com línguas mais antigas, chegando até a
raiz que daria uma ideia de divindade.
Para os estudiosos de religiões comparadas seria o Deus primordial. Representa a união do
espírito (I) com a matéria (O). A letra "I" seria o elemento masculino vertical que penetra no ovo,
elemento feminino horizontal cuja gestação dará lugar aos diversos mundos. Uma das vantagens
do símbolo é mostrar através de uma breve representação uma realidade cheia de significados.
Para a Cabala, a linguagem tem uma grande importância na sua estrutura, pois esta,
enquanto construção lingüística, é baseada em três processos originais de formação de palavras,
conhecidos como Guematria, Notaricom e Temura.
A Guematria, por exemplo, consiste em aproximar duas palavras que tem o mesmo valor
numérico no alfabeto hebreu. Como nesse alfabeto cada letra corresponde a um número, as
palavras formadas com as diferentes letras representam também um determinado valor e um
significado, que variam segundo esse valor.

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Assim, diversas palavras, formadas com as mesmas letras, podem ter diferentes
significados. As letras da palavra “Abraão”, por exemplo, corresponde ao número 248, que
também têm o mesmo valor numérico das palavras misericórdia, piedade, sabedoria, etc.
Dessa forma, quando a Cabala se refere à alguém como sendo um “Abraão”, isso significa que esse
alguém é sábio, misericordioso, piedoso, etc. Da mesma forma, as letras da palavra “escada”
equivale ao número 130 e corresponde em valor numérico, às palavras Sinai, subida, ascensão.
Assim, subir o Monte Sinai, como fez Moisés, significa ascender até o Senhor.

Portanto, as sete chaves desvelam os mistérios passados, presentes e futuros. "A vocês é
dado saber o mistério de Deus, mas aos que estão fora, todas as coisas serão comunicadas por
parábolas”.

PRÁTICA
1 - Leia os trechos abaixo da “Voz do Silêncio”, de Helena P. Blavatsky e tente interpretá-los
conforme seu entendimento ou compreensão:
Dica: Posteriormente assista o vídeo “Comentários à Voz do Silêncio”, de Lúcia Helena Galvão e
complemente seus conhecimentos.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=NQs4bA4hMUw

a) “Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao
acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o
Um - o som interior que mata o exterior.”

b) Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor de lótus abre o seu seio para
beber o sol matutino.

c) Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos
de quem sofre.

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d) “Cada tentativa sincera ao seu tempo recebe seu prêmio.”

e) “Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne
tornados cegos a toda a ilusão.”

5 - HISTÓRIA

“A mais bela e profunda experiência é a sensação do mistério.


Ela é a semeadora de toda verdadeira ciência.”

(Albert Einstein)

5.1 - RAÍZES NO MUNDO ANTIGO

Os primórdios do Ocultismo têm origem no Egito Antigo, remontando há


aproximadamente 1.500 A.C.. Naquela época, a palavra “Mistério” designava uma sabedoria
secreta, o Conhecimento Arcano. Assim, a expressão “ser introduzido aos Mistérios Menores e
Maiores” designava um processo iniciático e filosófico muito especial.
Na época considerada, surgiram no Egito grupos seletos formados para investigar os
mistérios da vida, do homem e do universo. Eram formados por pessoas livres de sectarismos,
interessadas nas ciências, filosofias e artes, cuja pesquisa transcendia o aspecto puramente
material destes assuntos e se remetia à sua dimensão sutil. Só aspirantes sinceros à sabedoria e

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que satisfaziam certos testes, eram considerados dignos de serem iniciados neste conhecimento.
Destes grupos surgiram as Escolas de Mistérios.
Os primeiros membros destas Escolas se reuniam em câmaras secretas de magníficos e
velhos templos, nas quais, como candidatos, eram iniciados nos Mistérios.
Segundo a Tradição Rosacruz, as grandes pirâmides de Gizé, ao contrário do que afirmam
historiadores, não foram construídas para serem tumbas de faraós, mas para servirem de local de
estudo e iniciação. Ao longo dos séculos, estas escolas de Mistérios evoluíam gradativamente para
grandes centros de saber, atraindo estudantes de todo mundo conhecido.
Séculos depois, filósofos como Tales. Pitágoras, Sólon, Platão, Plotino e outros viajaram
para o Egito e foram iniciados nas Escolas de Mistérios. Trouxeram, então, aquele avançado saber
ao mundo ocidental.
Na Idade Média, principalmente na Península Ibérica devido à presença de muçulmanos e
judeus, floresceu a alquimia, ciência relacionada com a manipulação dos metais, que segundo
alguns, seria na verdade uma metáfora para um processo mágico de desenvolvimento espiritual.
Tanto a alquimia quanto o ocultismo receberam influência da cabala judaica, um movimento
místico e esotérico pertencente ao judaísmo.
Alguns destes ocultistas medievais acabaram sendo condenados pela Inquisição, acusados
de serem bruxos e terem feito pacto com o diabo. Mas existem trabalhos relacionados à cabala
durante toda Idade Média. E de alquimia na Baixa Idade Média.
O ocultismo ressurgiu no século XIX, com os trabalhos de Eliphas Levi, Helena Petrovna
Blavatsky, Cagliostro, Papus, Aleister Crowley, Rudolph Steiner, Joan Grant, Edgar Cayce, Alice
Bailey e outros.

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5.2 - HISTÓRIA RECENTE E OCULTISTAS FAMOSOS
O movimento neo-ocultista teve o seu resgate
com o seminarista francês Alphonse Louis Constant, mais
famoso como Eliphas Levi. Pode-se afirmar que esta escola
procura trazer à luz ancestrais saberes dos iniciados. Seus
ensinamentos estão sempre ocultos sob linguagens
simbólicas, das quais a compreensão é reservada apenas aos
que já se encontram preparados para sua recepção. Desta
forma eles seguem a tradição de seus precursores.
Levi foi profundamente inspirado pelo movimento
Rosacruz, vigente na Europa deste período, pelos maçons
místicos, por ensinamentos extraídos da Cabala, bem como
pelas ideias de Jacob Böhme – filósofo e místico alemão,
conhecido por suas experiências com a
Clarividência, Emanuel Swedenborg – considerado um dos
precursores do Espiritismo – e de outros tantos adeptos
do misticismo do século XVIII.
Também devemos lembrar a importância para o crescimento do ocultismo em todo o
planeta de Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica em 1875. S. L.
MacGregor Mathers e da Ordem Hermética do Amanhecer Dourado ("Hermetic Order of the
Golden Dawn"), responsáveis em parte pelo ressurgimento da magia ritualística, e que
influenciaram fortemente a maioria dos mais conhecidos e importantes magos e ocultistas do
século XX.
No século XX, destaca-se a figura controversa de Aleister Crowley, que desenvolveu um
sistema mágico, conhecido como Thelema, que deu origem e influenciou diversas escolas
mágicas. Não podemos esquecer também a contribuição de Rudolf Steiner, fundador da
Antroposofia e Franz Bardon com seus poucos, mas valiosos livros.
No Brasil, um dos principais expoentes dos estudos ocultistas, Henrique José de Souza,
nasceu em Salvador, em 1883, e participou de uma série de movimentos, desde a fundação de lojas
maçônicas a correntes espiritualistas como Dhâranâ, que mais tarde viria a se chamar Sociedade
Brasileira de Eubiose.

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PRÁTICA
1 – Assista os vídeos abaixo, que trazem maiores informações sobre ciências ocultas e grandes
nomes do esoterismo universal.
a) O que São as Ciências Ocultas?
Link: https://www.youtube.com/watch?v=_MGJdpyItv0
b) Helena Blavatsky - a Mãe do Esoterismo Moderno.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=vz5HyLxd0Wk
c) O Esoterismo de Pitágoras.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=psbRlyzCzNQ
d) Eliphas Levi e o Despertar dos Magos.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=cOc-lCf2ZQU
e) Papus: Mago, Ocultista e Iniciador.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=QiiCfMEuNUI
f) Rudolf Steiner: o Místico Universal.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=U3mZMgcVcVA

2 - "Feliz e bem-aventurado, serás Deus ao invés de um mero mortal!


De homem, nascerás Deus, pois és filho do Divino!”
(Máxima do Orfismo)
Diz-se que sem o Orfismo não se explicaria a filosofia e a doutrina de Pitágoras, nem a de
Empédocles e, sobretudo, não se explicaria Sócrates e boa parte do pensamento de Platão, bem
como de toda a tradição que deriva de ambos. Mas afinal, o que é o Orfismo?

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6 – AS ESCOLAS DE MISTÉRIOS

“O que caracteriza a VERDADEIRA iniciação é o fato de que esta procura obter o despertar
dos órgãos de percepção suprassensível por um caminho inteiramente consciente. Nada
fica na penumbra de estados semiconscientes ou inconscientes, ou no enlevo de estados
extáticos ou orgásticos. O homem que se encaminha pela senda da iniciação tampouco
fica na dependência de qualquer hierofante ou guru.”
(Rudolf Steiner)

Tão antigo quanto o Homem é a busca por respostas para as questões que ele próprio
desconhece, as coisas ocultas ou superiores. Afortunadamente, sempre existiram, na história da
humanidade, lugares onde eram estudados os princípios mais sagrados ou transcendentais do
conhecimento, frequentados por professores ou veneráveis Mestres, estudantes e múltiplos
buscadores.
As Escolas Iniciáticas ou Escolas de Mistérios são esses lugares onde ocorre a transmissão
da sabedoria dos séculos. Fundadas e sustentadas por homens e mulheres que percorreram o
Caminho Iniciático, são lugares onde se estudam e praticam os princípios da sabedoria universal
ou ciência superior. Toda autêntica Escola de Mistérios possui Ciência e Filosofia, também possui
conhecimentos Artísticos e Religiosos ou Místicos. Normalmente seus estudos são orientados a
buscar compreender os mistérios da existência, o porquê dos principais eventos da vida, os

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segredos e leis do universo e da natureza e principalmente do Ser Humano, buscando levar este
último a verdadeira realização interior.
Os diversos conhecimentos estudados nas Escolas de Mistérios são normalmente
transmitidos em dois níveis: um nível externo ou público (exotérico) e outro nível secreto ou
iniciático (esotérico).
No nível exotérico, mais básico, ocorre a adequação dos mistérios, ou conhecimentos
superiores, aos costumes ou meio cultural vigente, pois é sabido que o ser humano somente
consegue expandir para novos conhecimentos se estes estiverem próximos do seu campo de
percepção, similar ao passo de uma perna, que não pode ir muito distante da posição em que se
encontra a perna de apoio. Porém a finalidade deste nível público é preparar, àqueles que
queiram, para ascender a um nível mais objetivo e claro, saindo do campo das superstições e
crenças, onde a compreensão mais ampla e a prática do conhecimento são os principais focos, os
quais permitem ir formando o que se chama Iniciado nos Mistérios.
A separação em dois níveis de ensinamentos aparece em todas as sociedades esotéricas da
antiguidade. Entre os pitagóricos, por exemplo, sabe-se que os recém-ingressos, enquanto
estudavam diversas matérias como matemática, filosofia e símbolos sagrados, também eram
orientados a permanecer por anos mantendo silêncio, como prova inicial de humildade e
aspiração a receber os mistérios mais elevados, desta maneira os ensinamentos de Pitágoras saíam
pouco ao nível público.
Já no Orfismo grego, o círculo público se expressava mais através das formas artísticas,
como o teatro, a música e a dança, onde se instruía a consciência das multidões com os princípios
eternos mais elementares e de forma simbólica. Enquanto que, no Cristianismo primitivo, Jesus
falava às multidões em parábolas e concluía dizendo que “aquele que tiver ouvidos, que ouça”;
quando os apóstolos o interrogaram sobre o porquê da diferença de ensinamentos dados às
multidões e aos discípulos, ele respondeu:
“Porque a vós é dado conhecer os mistérios, mas a eles não lhes é dado; porque
aquele que tiver (ou seja, o que tiver o interesse e a ciência para decifrar os
mistérios) se dará mais e terá em abundância; porém o que não tiver (esse
entendimento) até o pouco que tem lhe será tirado. Porque eles, vendo, não vêem; e,
ouvindo, não ouvem nem compreendem”. Mat. 11-13
No Oriente, especialmente no Tibete, os candidatos passavam também por provas até
finalmente serem aceitos como alunos e depois disso ainda se passavam alguns anos nas matérias
básicas até poderem acessar os níveis mais profundos, também pouco difundidos ao público geral.
Neste sentido podemos ver que as formas religiosas, ou seja, as religiões geralmente são
o aspecto mais público ou externo de tais escolas de mistérios. Seus grandes iniciados ao
trazerem ao mundo vários ensinamentos, fazem-no por uma necessidade de formar novos sábios,

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o que por uma consequência faz surgir um novo movimento ou escola iniciática, a qual,
posteriormente, difunde-se nas multidões.
“A Natureza revela seus mais íntimos segredos e partilha a verdadeira sabedoria somente
àquele que busca a verdade por amor à própria verdade, e que aspira ao conhecimento para
conferir benefícios aos outros, não à sua insignificante personalidade.”
(H.P. Blavatsky)

As escolas de mistérios também têm um ciclo vital e, como qualquer organismo que se
desenvolve na natureza, nascem, crescem, reproduzem-se (multiplicam-se em várias vertentes) e
por fim definham e morrem. Diz-se então que são formas mortas, porque já não conduzem aos
mistérios, apenas servem como um sistema de regulação da conduta social, ou sistema religioso,
muitas vezes dogmático.
É assim como Krishna explica a Arjuna no Bhagavad Gita:
“Ò Arjuna, sempre que há declínio da virtude e predominância do vício, encarno-me. Para a
proteção do bom e destruição dos malfeitores e para o restabelecimento do Dharma sou
nascido de era em era.”
(Sri Krishna)

Ou seja cada vez que os princípios religiosos de um povo decaem e viram meros costumes
sociais e dogmas religiosos, surge então um novo mensageiro, um novo Avatar, para restaurar os
princípios da religião cósmica, os princípios eternos, ou seja, a ciência iniciática original. Esse
novo mensageiro ou profeta traz a mesma mensagem, porém revestida de um novo formato, para
que seja vista pelas multidões como uma renovação, do contrário não produziria o efeito
psicológico que tem que produzir, pois não estremeceria a consciência nem produziria a
motivação para realizar uma revolução interior. Assim, os princípios eternos se mantêm, porém
agora são tratados com outra aparência e com isso vão surgindo os diferentes movimentos
espirituais que marcaram a história da humanidade.
E de acordo com as necessidades de cada período vão surgindo as Escolas de Mistérios,
cada uma trazendo os princípios eternos em uma forma que possa ser compreendida e praticada
em seu tempo. Assim, as grandes Escolas Iniciáticas são vertentes da sabedoria universal que
possuem os seus tesouros sagrados mais além do plano tridimensional, nas dimensões sutis da
natureza e segundo a lei de afinidades, cristalizam-se em determinada época e região para
cumprir com sua finalidade de expandir o nível de consciência da humanidade.

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Ao analisarmos o início de cada escola de mistérios, podemos verificar ali um momento
onde o conhecimento é transmitido de forma mais pura, original. Os antigos filósofos gregos
denominaram de “Gnosis” todo esse conhecimento original que trata sobre os grandes mistérios,
e de “Gnóstico” todo aquele que transcende o nível básico de formas, opiniões e crenças e passa a
buscar a autêntica sabedoria, através de uma prática do conhecimento. De maneira que,
independentemente do lugar e momento histórico onde surgiu uma escola de mistérios, podemos
aplicar os termos gregos e considerar que se trata de uma vertente de “Gnosticismo”, ou seja, os
elementos da sabedoria gnóstica estão presentes em todas as autênticas Escolas de Mistérios.
Realizando uma verificação na antiguidade para buscar as características gnósticas nos
diferentes povos do mundo, as encontraremos claramente presentes nos elementos helenísticos
orientais, incluindo as Escolas de Mistérios da Pérsia, Mesopotâmia, Fenícia, Índia, Egito, etc., e
na América e suas culturas serpentinas dos Nahuas, Toltecas, Astecas, Zapotecas, Maias,
Chibchas, Incas, Quéchuas, etc.
Como referência de Iniciados da Antiguidade podemos citar alguns exemplos:
• Tales de Mileto (séc VII a.C.) – autor da máxima “nosce te ipsum” (conhece-te a ti mesmo),
inscrita na Escola do Templo de Delfos, Grécia.
• Sólon (séc VII a.C.) – quem teve acesso às tradições iniciáticas por meio de Escolas do
Antigo Egito.
• Pitágoras (séc VI a.C.) – e sua Escola Pitagórica, como citamos, considerado uma figura
legendária, um Mestre de Mistérios Maiores que segundo contam as tradições só foi conhecido
pelos altos iniciados. Ensinou sobre a imortalidade da alma e as reencarnações (metempsicose).

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Pitágoras fundou a Escola Pitagórica que possuía iniciação secreta. Eles floresceram em uma
colônia grega na Itália. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia (amizade ao saber) e revelou
segredos sobre as dimensões da natureza e as músicas superiores.
A Escola Pitagórica na Magna Grécia foi fechada no
final do século VI aC, devido à perseguição do poder civil,
mas outras comunidades existiam, preservando a tradição
sagrada (Ibid., p. 30). Mead declara que Platão a
intelectualizara a fim de protegê-la de uma crescente
profanação, e os ritos Eleusinos preservaram algumas de suas
formas, tendo perdido sua substância. Os Neoplatônicos
herdaram de Pitágoras e Platão, e seus trabalhos deveriam
ser estudados por aqueles que percebiam algo da grandeza e
beleza preservadas para o mundo nos Mistérios.
A Escola Pitagórica em si serve como um protótipo da
disciplina aplicada. Sobre isto Mead fornece muitos detalhes
interessantes (G.R.S.Mead, Orpheus, p. 263 e 271) e assinala:
“Os autores da antiguidade concordam que esta disciplina havia conseguido produzir os
mais altos exemplos, não só da mais pura castidade e sentimento, mas também uma
simplicidade de modos, uma delicadeza e um gosto por buscas sérias, que não tinha
paralelo. Isto é admitido até mesmo pelos escritores Cristãos”.

A Escola tinha discípulos externos, liderando a vida familiar e social, e a citação acima se
refere a eles. Na Escola interna havia três graus – o primeiro, dos Ouvintes, que estudavam por
dois anos em silêncio, fazendo o melhor possível para dominar os ensinamentos; o segundo era
dos Mathematici, onde era ensinada a geometria e a música, a natureza do número, da forma, da
cor e do som; o terceiro grau era dos Physici, que dominavam a cosmogonia e a metafísica. Isto
levava aos verdadeiros Mistérios. Os candidatos à Escola deveria ser “de uma reputação imaculada
e de uma disposição tranqüila”.
• Sócrates (séc V a.C.) – o maior referencial filosófico acadêmico de todos os tempos. Um
marco gigante na história da humanidade capaz de ter produzido o que os historiadores chamam
de “Pré-socráticos” e “Pós-socráticos”, um equivalente ao “antes de Cristo” e “depois de Cristo”.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores (dialética). Esses
diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: interrogação e a maiêutica (concepção
de ideias). Os principais representantes gnósticos do período pós-socrático são: Platão e
Aristóteles.
Tampouco estavam os Hebreus desprovidos de seu conhecimento secreto e suas Escolas de
Iniciação. A companhia dos profetas em Naioth, presidida por Samuel (I Samuel, XIX, 20) formava
uma destas Escolas, e o ensinamento oral era transmitido por eles. Escolas similares existiam em

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Bethel e Jericó (II Reis, II, 2, 5) e na Concordância de Cruden (Verbete Escola) há a seguinte nota
interessante:
“As Escolas ou Colégios dos profetas são as primeiras (escolas) de que temos qualquer
notícia na Escritura; onde os filhos dos profetas, isto é, seus discípulos, viviam nos
exercícios de uma vida retirada e austera, em estudo e meditação, e na leitura da lei de
Deus... Estas Escolas, ou Sociedades, dos profetas foram sucedidas pelas Sinagogas”.

A Kabbala, que contém os ensinos semipúblicos, é, na forma que subsiste hoje, uma
compilação moderna, parte da qual é trabalho do Rabbi Moisés de Leão, que morreu em 1305. Ela
consiste de cinco livros, Bahir, Zohar, Sepher Sephiroth, Sepher Yetzirah, e Asch Metzareth, e é
dito ter sido transmitida oralmente desde tempos muito antigos -– como antigüidade, é
reconhecida historicamente.
Algumas partes do ensinamento oral foram incorporadas à Kabbala na forma em que ela se
encontra hoje, mas a verdadeira sabedoria arcaica dos Hebreus permanece sob guarda de alguns
poucos dos verdadeiros filhos de Israel.
Podemos citar também os essênios, que influenciaram o surgimento do Cristianismo. Os
Essênios eram um grupo formado por detentores dos ensinamentos secretos e viviam em
cavernas, zona árida e quente próxima ao Mar Morto, na Palestina, anos antes de Cristo até o final
do primeiro século.
O Essenismo é transcrito pela primeira vez por Filon e Flávio Josefo, onde citavam uma
ordem que havia se afastado do judaísmo tradicional por motivos desconhecidos, pois seus
costumes se diferenciam em determinados pontos.

Os membros da escola essênia vestiam-se de branco e seguiam uma dieta vegetariana,


como a ordem monástica cristã dos Carmelitas, conhecidos também como Monges Brancos,
devido a sua túnica branca, e é interessante notar que membros atuais dessa ordem afirmam
abertamente que Jesus era essênio.
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Sabemos que a regra do silêncio é comum a todos os cultos de Mistérios, até os dias atuais.
A prática dos cultos não se divulga senão ao círculo fechado de pessoas (Iniciados) que neles
participa. Na antiguidade, seus ensinamentos eram passados oralmente e ao longo dos séculos, as
Escolas de mistério acrescentaram uma dimensão de iniciações ao conhecimento que
transmitiam.

Usavam a espiga de milho como símbolo destas Escolas,


a ‘espiga de trigo colhida em silêncio’, representando o trigo
que morre no inverno para renascer na primavera, como um
regresso à vida pela morte (pela mudança de atitude que fez),
sendo que depois da morte fisica o Iniciado viveria integrado
na existência celeste-divina-eterna que comprovou em vida ao
passar pelos Mistérios.
A sabedoria dos mestres se deixou perceber algumas
vezes durante a Idade Média, como, por exemplo, através de:
• Os Templários (França) – século XII.
• Os Cátaros (França) – século XII.
• Os célebres Alquimistas imortalizados nas pessoas de
Aureolo Paracelso, Alberto Magno, Nicolas Flamel, Raimundo Lulio, Saint German, Cagliostro,
Fulcanelli, entre outros.
Convém destacar que muitas destas correntes até aqui citadas possuem na atualidade
pretensos representantes que em nada se assemelham, já que perderam seus princípios originais e
servem a fins meramente caprichosos, às vezes políticos, outras vezes comerciais.
Assim, podemos ver que a sabedoria superior esteve presente em muitas épocas e culturas,
expressando-se também, isoladamente, em alguns grandes cientistas e artistas. De maneira que o
conhecimento dos mistérios esteve, quase sempre, ao alcance daquelas pessoas sinceras que
anelavam um tipo mais objetivo de conhecimento, que pudesse esclarecer as dúvidas mais
elementares da existência humana e também elucidar os mistérios mais elevados da natureza e do
Cosmos, buscando assim liberar-se de alguns sofrimentos inúteis do diário viver e ter uma vida
mais edificante conquistando a felicidade real. Portanto, o objetivo principal de todas as
autênticas escolas de mistérios é libertar o homem comum da ignorância e ilusão através do
autoconhecimento, levando-o a autorrealização íntima.

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7 – OS PROCESSOS INICIÁTICOS
As Ordens Iniciáticas caracterizam-se por três manifestações: A Tradição, a Iniciação e o
Sigilo.

A Iniciação assegura a transmissão da Tradição. Ela é a um só tempo um início para aquele


que entra na Senda e um retorno à origem, ao princípio, graças ao influxo espiritual que passa do
Iniciador para o Iniciado e o transmuta num discípulo da Luz. Este processo tem várias
exigências: a presença do candidato, a transmissão dos símbolos e de uma força espiritual durante
a Iniciação e, na continuidade, o trabalho interior do Iniciado, que tem a missão de fazer germinar
a semente que recebeu.
Haveria duas fases na iniciação aos Mistérios, a fase dos Pequenos Mistérios e a fase dos
Grandes Mistérios, chamada também de Epoptia ou Iniciação Perfeita. Ambas consistem, não
em teorias intelectuais mas profundas experiências marcantes.
Nas escolas de mistérios da Antiguidade o iniciado ou neófito recebia durante anos um
ensinamento profundo e era submetido a um treino intenso da vontade, de perseverança, da
coragem e outras qualidades. Chegado o momento da iniciação propriamente dita, o seu mestre o
fazia adormecer e, durante um sono de três dias e meio, manipulava o corpo etérico por praxes
mágicas de maneira a quase separá-lo do corpo físico; isso o capacitava a acompanhar o "eu" em
suas peregrinações pelos mundos espirituais. Ao acordar, o candidato era um "desperto", porque o
corpo etérico que acompanhara o "eu" tinha agora a lembrança de toda a realidade espiritual
vivenciada por este. O iniciado sabia, nessa altura, por experiência própria, que o mundo
espiritual existia. Por meio de novos exercícios, ele aprofundava ainda mais esses conhecimentos.

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A preparação anterior era necessária para permitir ao indivíduo suportar conscientemente tais
vivências.
“O Iniciado recebe-vive impressões, sentimentos-emoções após ser colocado em
‘disposições’ que o predispõem a recebê-las”.(Aristóteles)
“Nos Mistérios apenas se contempla.” (Clemente de Alexandria)

A iniciação representa a morte para a vida antiga e o nascimento para uma nova vida, que é
no fundo uma nova maneira de encarar, de perspectivar a vida.
“Os ritos iniciáticos são para as almas, tocando-as de um modo desconhecido e divino, que
faz abrir os olhos para uma nova realidade.” (Proclus)

Na antiguidade, antes dos Pequenos Mistérios havia uma purificação corporal com
lavagens rituais, determinado tipo de jejum, e eventualmente um período de abstinência sexual.
Nos Grandes Mistérios, o neófito passava
‘por labirintos confusos, desvios penosos, marchas
perturbadoras e sem fim, com tremores, angústia e
suores frios’, tudo isto às escuras até finalmente ‘ver
uma Luz pura e maravilhosa’, a Epoptia que coroa
essa noite de trevas. Existiria uma dupla impressão,
terror inicial e serenidade final, simbolizando a vida
física e a vitória, o encontro com a Luz.
“Saí da sala dos mistérios como que estranho a mim
mesmo.” (Sópatros)

Essa iniciação era originalmente praticada


no fundo dos Mistérios. Mais tarde, estes
degeneraram, e somente alguns círculos muito
fechados e secretos passavam a uns poucos
escolhidos a sabedoria iniciática, enquanto a maior parte dos homens já se tinha afastado do
contato com os mundos superiores Havia sempre fraternidades ocultas, como os cabalistas, os
cavaleiros do Graal ou os Rosacruzes, ordens como a dos Templários, correntes heréticas como a
dos cátaros, escolas filosóficas como a de Chartres e indivíduos "místicos" ou alquimistas,
desacreditados e perseguidos pelas religiões oficiais. A própria maçonaria era originalmente uma
sociedade esotérica.
Ser místico é viver profundamente a realidade divina dentro de si. Tal vivência é
transformadora, porque a união com o divino faz com que o homem materializado pelas ilusões
do mundo se transforma em homem espiritual.

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PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos sobre os assuntos deste capítulo assistindo os vídeos abaixo:
a) O Egito Secreto
Link: https://www.youtube.com/watch?v=51WTengio90
b) O Olho de Hórus. Parte 01/10. A Escola de Mistérios.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=2ZJyoKfsKuM
c) Escolas de Mistérios da Grécia Antiga.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=uSk0nFF45Tk
d) A Grande Fraternidade Branca e os Mestres Secretos do Mundo.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=vniFRkrJlhU

2 – Pesquise sobre o que seriam os Mistérios Maiores e os Mistérios Menores.


3 - O que seriam os Mistérios Eleusinos?

49
CAPÍTULO 3 - FILOSOFIA HERMÉTICA
"Os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento.”
“Quando os ouvidos do discípulo estão preparados para ouvir, então vêm os lábios para
os encher com Sabedoria."
(O Caibalion – Os Três Iniciados)

1 – HERMES TRISMEGISTO E O HERMETISMO


“Hermes” é o nome grego de uma figura mítica transcendente, um deus conhecido no Egito
como Thot e no mundo romano como Mercúrio, mas que também está ligado ao mistério de
Buddha. Helena Blavatsky esclarece:
“Thot-Hermes é um nome genérico, como é Enoch (....). Não é o nome próprio de
nenhum homem que tenha vivido, mas o título genérico de muitos sábios. (....) Eles
são todos patronos representativos da Sabedoria Secreta.”

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Trazemos trecho do livro “O Caibalion” sobre o assunto:
“Do velho Egito saíram os preceitos fundamentais esotéricos e ocultos que tão
fortemente têm influenciado as filosofias de todas as raças, nações e povos, por vários
milhares de anos. O Egito, a terra das Pirâmides e da Esfinge, foi a pátria da Sabedoria
secreta e dos Ensinamentos místicos. Todas as nações receberam dele a Doutrina secreta.
A índia, a Pérsia, a,Caldéia, a Média, a China, o Japão, a Assíria, a antiga Grécia e Roma e
outros países antigos aproveitaram lautamente dos fatos do conhecimento, que os
hierofantes e Mestres da Terra de Isis tão francamente ministravam aos que estavam
preparados para participar da grande abundância de preceitos místicos e ocultos, que as
mentes superiores deste antigo país tinham continuamente condensado.
No antigo Egito viveram os grandes Adeptos e Mestres que nunca mais foram
avantajados, e raras vezes foram igualados, nos séculos que se passaram desde o tempo do
grande Hermes. No Egito estava estabelecida a maior das Lojas dos Místicos. Pelas portas
dos seus Templos entraram os Neófitos que mais tarde, como Híerofantes, Adeptos e
Mestres, se espalharam por todas as partes da terra, levando consigo o precioso
conhecimento que possuíam, ansiosos e desejosos de ensiná−lo àqueles que estivessem
preparados para recebê−lo. Todos os estudantes do Oculto conhecem a dívida que têm para
com os veneráveis Mestres deste antigo país.
Mas entre estes Grandes Mestres do antigo Egito, existiu um que eles
proclamavam como o Mestre dos Mestres. Este homem, se é que foi verdadeiramente um
homem, viveu no Egito na mais remota antiguidade. Ele foi conhecido sob o nome de
Hermes Trismegisto. Foi o pai da Ciência Oculta, o fundador da Astrologia, o descobridor
da Alquimia. Os detalhes da sua vida se perderam devido ao imenso espaço de tempo, que é
de milhares de anos, e apesar de muitos países antigos disputarem entre si a honra de ter
sido a sua pátria. A data da sua existência no Egito, na sua última encarnação neste
planeta, não é conhecida agora mas foi fixada nos primeiros tempos das mais remotas
dinastias do Egito, muito antes do tempo de Moisés. As melhores autoridades
consideram−no como contemporâneo de Abraão, e algumas tradições judaicas dizem
claramente que Abraão adquiriu uma parte do seu conhecimento místico do próprio
Hermes.
Depois de ter passado muitos anos da sua partida deste plano de existência (a
tradição afirma que viveu trezentos anos) os egípcios deificaram Hermes e fizeram dele um
dos seus deuses sob o nome de Thoth. Anos depois os povos da Antiga Grécia também o
deificaram com o nome de "Hermes, o Deus da Sabedoria". Os egípcios reverenciaram por
muitos séculos a sua memória, denominando−o o mensageiro dos Deuses, e ajuntando−lhe
como distintivo o seu antigo título "Trismegisto", que significa o três vezes grande, o
grande entre os grandes.”

Desta forma, Hermes como símbolo representa o contato entre o mundo físico e mundo
espiritual. Hermes é o deus da magia, da escrita e da razão. O Hermetismo é portanto uma
Ciência Oculta que estuda e busca a compreensão do motivo de tudo ser do jeito que é através da

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razão e da espiritualidade. Devido a necessidade de uma linguagem que seja uma ponte entre os
mundos, a linguagem do Hermetismo é o simbolismo.
O Hermetismo, diferente das tradições religiosas, não afirma como, quando ou porquê
tudo que existe surgiu. Como uma sabedoria oculta, o Hermetismo não revela nada, mas sim
fornece as chaves para que nós busquemos as respostas.

2 - ESCRITOS HERMÉTICOS
Os escritos Herméticos são uma coleção de 18 obras
Gregas, e as principais são Corpus Hermeticum e a Tábua de
Esmeralda, as quais são tradicionalmente atribuídas a Hermes
Trismegistus. Estes escritos contêm os aspectos teórico e
filosófico do Hermetismo em seu aspecto teosófico. O período
bizantino é marcado por uma outra coleção de obras
herméticas, que também são relacionadas ao Hermes
Trismegistus, e contêm uma tradição hermética popular a qual
é composta essencialmente por escritos relacionados a
astrologia, magia e Alquimia. O livro Caibalion foi escrito no
final do sec. XIX por três Iniciados que registraram as Sete Leis
do Hermetismo. Não é um livro oriundo da era pré-cristã
como se supõe.
Há hoje várias versões dos fragmentos reunidos no
Corpus Hermeticum, e uma das melhores é a compilação
feita por um dos discípulos diretos de H. P. Blavatsky. O Corpus Hermeticum parece ter sido
organizado na forma atual entre os séculos II e III da era cristã, e, sem dúvida, recebeu uma dose
considerável de enxertos teológicos cristãos, durante as recompilações feitas na idade média. Para

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HPB, na verdade, eles são “lembranças mais ou menos vagas” dos textos autênticos que haviam
sido destruídos. Ela aponta como texto diretamente autêntico apenas a Tábua de Esmeralda.
A filosofia hermética é tão velha quanto o hinduísmo, e a sra. Blavatsky escreveu:
“Todas as verdades fundamentais da natureza eram universais na antiguidade, e as idéias
básicas sobre espírito, matéria e o universo, ou Deus, Substância e ser humano, eram
idênticas. Examinando com base nas escrituras da Índia e do Egito as duas filosofias
religiosas mais antigas do globo, o hinduísmo e o hermetismo, vemos que a identidade das
duas é facilmente reconhecível.”

Pouco conhecidos em português, os textos herméticos são inspiradores, e vale a pena


abandonar os assuntos de curto prazo para poder apreciá-los sem pressa e meditar sobre seu
conteúdo, que possui várias camadas de significado.
A compilação do Corpus Hermeticum parece ter sido feita no Egito quando este país já
fazia parte do império romano. A proposta do Corpus inclui a ideia de promover a síntese das
diferentes religiões e filosofias, e a elevação da consciência humana até o mundo divino, o Logos,
a mente universal. Seu conteúdo é, em grande parte, comum ao pitagorismo e ao platonismo,
mas também está ligado aos movimentos gnósticos e ao cristianismo primitivo.
Um simples exemplo de um cientista que tomou seus estudos por base no Hermetismo foi
Sir Isaac Newton, Presidente da Royal Society. Muitos dos seus estudos refletem o Hermetismo,
inclusive suas famosas Leis. A primeira tradução em inglês das Tábuas de Esmeralda foi
encontrada em seus arquivos pessoais.

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3 – OS SETE PRINCÍPIOS

Os Princípios da Verdade são Sete; aquele que os conhece perfeitamente possui a Chave
Mágica, com a qual todas as Portas do Templo podem ser abertas completamente.
(O Caibalion)

Os Sete Princípios Herméticos buscam mostrar como o Universo funciona e se mantêm


funcionando num nível esotérico.

I. O PRINCÍPIO DO MENTALISMO

O TODO é MENTE; o Universo é Mental.

Este Princípio explica que tudo é Mental, que O TODO é espírito, é incognoscível e
indefinível em si mesmo, mas pode ser considerado como uma mente vivente infinita e universal.
Ensina também que todo o mundo fenomenal ou universo é simplesmente uma Criação Mental
do TODO, sujeita às Leis das Coisas criadas, e que o universo, como um todo, em suas partes ou
unidades, tem sua existência na mente do TODO, em cuja Mente vivemos, movemos e temos a
nossa existência. Este Princípio, estabelecendo a Natureza Mental do Universo, explica todos os
fenômenos mentais e psíquicos que ocupam grande parte da atenção pública, e que, sem tal
explicação, seriam ininteligíveis e desafiariam o exame científico.
Este Princípio explica a verdadeira natureza da Força, da Energia e da Matéria, como e por
que todas elas são subordinadas ao Domínio da Mente. O físico Niels Bohr, considerado o “Pai da
Mecânica Quântica, afirmava, no início do século passado, que “tudo que chamamos de real é feito
de coisas que não podem ser consideradas reais”.

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Esse princípio, bem como os outros seguintes, vem sendo comprovados pela física
quântica. No filme “Quem Somos Nós?” vemos o físico Amit Goswami explicar:
"O mundo tem várias formas de realidade em potencial, até você escolher. Mas,
como um objeto pode ter dois estados ao mesmo tempo? Em vez de pensarmos nas coisas
como possibilidades, temos o hábito de pensar que as coisas que nos cercam já são objetos
que existem sem a nossa contribuição, sem a nossa escolha. Nós precisamos banir essa
forma de pensar, temos que reconhecer que até o mundo material que nos cerca - as
cadeiras, as mesas, as salas, os tapetes - não são nada além de possíveis movimentos da
consciência, e estamos a todo tempo escolhendo momentos nesses movimentos para
manifestar nossa experiência atual.
É algo radical que precisamos compreender, mas é muito difícil, pois achamos que
o mundo já existe independente da nossa experiência. Mas não é assim, e a física quântica
é bem clara. O próprio Eisenberg, depois da descoberta da física quântica, disse que os
átomos não são objetos, são tendências. Em vez de pensar em objetos, você deve pensar em
possibilidades. Tudo é possibilidade subconscientemente.”

Um velho Mestre hermético escreveu, há muito tempo:


"Aquele que compreende a verdade da Natureza Mental do Universo está bem avançado no
Caminho do Domínio.”

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II. O PRINCÍPIO DE CORRESPONDÊNCIA

"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está
em cima."

Este Princípio contém a verdade que existe uma


correspondência entre as leis e os fenômenos dos
diversos planos da Existência e da Vida. O velho axioma
hermético diz estas palavras: "O que está em cima é
como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o
que está em cima.’
A compreensão deste Princípio dá ao homem os
meios de explicar muitos paradoxos obscuros e segredos
da Natureza. Existem planos fora dos nossos
conhecimentos, mas quando lhes aplicamos o Princípio
de Correspondência chegamos a compreender muita
coisa que de outro modo nos seria impossível
compreender. Este Princípio é de aplicação e
manifestação universal nos diversos planos do universo
material, mental e espiritual: é uma Lei Universal.
Os antigos Hermetistas consideravam este
Princípio como um dos mais importantes instrumentos mentais, por meio dos quais o homem
pode ver além dos obstáculos que encobrem à vista o Desconhecido. O seu uso constante rasgava
aos poucos o véu de Isis e um vislumbre da face da deusa podia ser percebido. Justamente do
mesmo modo que o conhecimento dos Princípios da Geometria habilita o homem, enquanto
estiver no seu observatório, a medir sóis longínquos, assim também o conhecimento do Princípio
de Correspondência habilita o Homem a raciocinar inteligentemente, do Conhecido ao
Desconhecido. Estudando a mônada, ele chega a compreender o arcanjo.
Na obra “A Grande Síntese”, de Pietro Ubaldi, podemos verificar claramente esta ideia:
“O microcosmo está construído como o macrocosmo. O átomo é um verdadeiro sistema
planetário, com todos os seus movimentos, em cujo centro está um sol, o núcleo central, de
densidade máxima, em redor do qual giram, seguindo uma órbita semelhante à planetária,
um ou mais elétrons, segundo a natureza do sistema, é isso que define o átomo e lhe dá sua
individuação química. Vosso sistema solar, com todos os seus planetas, poderia
considerar-se o átomo de uma química astronômica, cujas combinações e reações
produzem essas nebulosas que vedes aparecer e desaparecer nos confins de vosso universo
físico.”
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III. O PRINCÍPIO DA VIBRAÇÃO

"Nada está parado; tudo se move; tudo vibra."

Este Princípio encerra a verdade que tudo está em movimento: tudo vibra; nada está
parado; fato que a Ciência moderna observa, e que cada nova descoberta científica tende a
confirmar. E contudo este Princípio hermético foi enunciado há milhares de anos pelos Mestres
do antigo Egito.
Ele explica que as diferenças entre as diversas manifestações de Matéria, Energia, Mente e
Espírito, resultam das ordens variáveis de Vibração. Desde O TODO, que é Puro Espírito, até a
forma mais grosseira da Matéria, tudo está em vibração; quanto mais elevada for a vibração, tanto
mais elevada será a posição na escala. A vibração do Espírito é de uma intensidade e rapidez tão
infinitas que praticamente ele está parado, como uma roda que se move muito rapidamente
parece estar parada. Na extremidade inferior da escala estão as grosseiras formas da matéria, cujas
vibrações são tão vagarosas que parecem estar paradas. Entre estes pólos existem milhões e
milhões de graus diferentes de vibração. Desde o corpúsculo e o elétron, desde o átomo e a
molécula, até os mundos e universos, tudo está em movimento vibratório. Isto é verdade nos
planos da energia e da força (que também variam em graus de vibração); nos planos mentais
(cujos estados dependem das vibrações), e também nos planos espirituais.
O conhecimento deste Princípio, com as fórmulas apropriadas, permite ao estudante
hermetista conhecer as suas vibrações mentais, assim como também a dos outros. "Aquele que
compreende o Princípio de vibração alcançou o cetro do poder", diz um escritor antigo.

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O médico e escritor Deepak Chopra já afirmava, num de seus livros:
...Os seres humanos são campos de energia conscientes, junto com o resto do universo. Se
você quiser mudar o mundo ao seu redor, só precisa modificar a qualidade da sua vibração;
quando fizer essa modificação, a qualidade do que está à sua volta muda. A situação, as
circunstâncias, eventos e relacionamentos que você encontra na vida são um reflexo do
estado de consciência no qual você se encontra. O mundo é um espelho. Se estiver apoiado
no seu eu não-local, o mundo inteiro estará disponível para você...”

IV. O PRINCÍPIO DA POLARIDADE

"Tudo é Duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma
coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se
tocam; todas as verdades são meias verdades; todos os paradoxos podem ser
reconciliados."

Este Princípio encerra a verdade: tudo é Duplo;


tudo tem dois pólos; tudo tem o seu oposto, que formava
um velho axioma hermético. Ele explica os velhos
paradoxos, que deixaram muitos homens perplexos, e que
foram estabelecidos assim: A Tese e a Antítese são
idênticas em natureza, mas diferentes em grau; os opostos
são a mesma coisa, diferindo somente em grau; os pares
de opostos podem ser reconciliados; os extremos se
tocam; tudo existe e não existe ao mesmo tempo; todas as
verdades são meias-verdades; toda verdade é meio-falsa;
há dois lados em tudo, etc., etc. Ele explica que em tudo
há dois pólos ou aspectos opostos, e que os opostos são
simplesmente os dois extremos da mesma coisa,
consistindo a diferença em variação de graus. Por
exemplo: o Calor e o Frio, ainda que sejam; opostos, são a
mesma coisa, e a diferença que há entre eles consiste
simplesmente na variação de graus dessa mesma coisa.
Olhai para o vosso termômetro e vede se podereis descobrir onde termina o calar e começa
o frio! Não há coisa de calor absoluto ou de frio absoluto; os dois termos calor e frio indicam
somente a variação de grau da mesma coisa, e que essa mesma coisa que se manifesta como calor
e frio nada mais é que uma forma, variedade e ordem de Vibração.

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Assim o calor e o frio são unicamente os dois pólos daquilo que chamamos Calor; e os
fenômenos que daí decorrem são manifestações do Princípio de Polaridade. O mesmo Princípio se
manifesta no caso da Luz e da Obscuridade, que são a mesma coisa, consistindo a diferença
simplesmente nas variações de graus entre os dois pólos do fenômeno Onde cessa a obscuridade e
começa a luz? Qual é a diferença entre o grande e o pequeno? Entre o forte e o fraco? Entre o
branco e o preto? Entre o perspicaz e o néscio? Entre o alto e o baixo? Entre o positivo e o
negativo.
O Princípio de Polaridade explica estes paradoxos e nenhum outro Princípio pode excedê-
lo. O mesmo Princípio opera no Plano mental. Permitiu-nos tomar um exemplo extremo: o do
Amor e o ódio, dois estados mentais em aparência totalmente diferentes. E, apesar disso, existem
graus de ódio e graus de Amor, e um ponto médio em que usamos dos termos Igual ou Desigual,
que se encobrem mutuamente de modo tão gradual que às vezes temos dificuldades em conhecer
o que nos é igual, desigual ou nem um nem outro. E todos são simplesmente graus da mesma
coisa, como compreendereis se meditardes um momento.
E mais do que isto (coisa que os Hermetistas consideram de máxima importância), é
possível mudar as vibrações de ódio em vibrações de Amor, na própria mente de cada um de nós e
nas mentes dos outros.
Muitos de vós, que ledes estas linhas, tiveram experiências pessoais da transformação do
Amor em ódio ou do inverso, quer isso se desse com eles mesmos, quer com outros. Podeis pois
tornar possível a sua realização, exercitando o uso da vossa Vontade por meio das fórmulas
herméticas. Chumbo e ouro são, pois, os pólos da mesma coisa, e o Hermetista entende a arte de
transmutar o chumbo (sombra) em ouro (luz), por meio da aplicação do Princípio de Polaridade.
Em resumo, a Arte de Polaridade fica sendo uma fase da Alquimia Mental, conhecida e praticada
pelos antigos e modernos Mestres hermetistas. O conhecimento do Princípio habilitará o
discípulo a mudar a sua própria Polaridade, assim como a dos outros, se ele consagrar o tempo e o
estudo necessário para obter o domínio da arte.
Ratificando essas informações, o autor Deepak Chopra, no livro “A Realização Espontânea
do Desejo”, aborda de forma muito interessante os sete princípios herméticos e como eles podem
nos auxiliar a compreender o microcosmos que somos, se os aplicarmos à nossa realidade
cotidiana. Em relação ao Princípio da polaridade, ensina:
“... Na verdade, seja o que for que você tenha agora, bom ou mau, encerra o seu
complemento. Mesmo que esteja sofrendo uma profunda depressão, por exemplo, se você
identificar o sentimento oposto - a alegria ou a gratidão — e prestar atenção nele, verá que
ele começa a crescer na sua consciência. Retirar a atenção do desespero e colocá-la na
felicidade efetivamente faz com que o novo sentimento floresça...”

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V. O PRINCÍPIO DO RITMO

"Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por
oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à
esquerda; o ritmo é a compensação."

Este Princípio contém a verdade que em tudo se manifesta um movimento para diante e
para trás, um fluxo e refluxo, um movimento de atração e repulsão, um movimento semelhante ao
do pêndulo, uma maré enchente e uma maré vazante, uma maré -alta e uma maré baixa, entre os
dois pólos, que existem, conforme o Princípio de Polaridade de que tratamos há pouco. Existe
sempre uma ação e uma reação, uma marcha e uma retirada, uma subida e uma descida. Isto
acontece nas coisas do Universo, nos sóis, nos mundos, nos homens, nos animais, na mente, na
energia e na matéria.
Esta lei é manifesta na criação e destruição dos mundos, na elevação e na queda das
nações, na vida de todas as coisas, e finalmente nos estados mentais do homem (e é com estes
últimos que os Hermetistas reconhecem a compreensão do Princípio mais importante). Os
Hermetistas compreenderam este Princípio, reconhecendo a sua aplicação universal, e
descobriram também certos meios de dominar os seus efeitos no próprio ente com o emprego de
fórmulas e métodos apropriados. Eles aplicam a Lei mental de Neutralização. Eles não podem
anular o Princípio ou impedir as suas operações, mas aprenderam como se escapa dos seus efeitos
na própria pessoa, até um certo grau que depende do Domínio deste Princípio. Aprenderam como
empregá-lo, em vez de serem empregados por ele.

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Neste e noutros métodos consiste na Arte dos Hermetistas. O Mestre dos Hermetistas
polarizasse até o ponto em que desejar, e então neutraliza a Oscilação Rítmica pendular que
tenderia a arrastá-lo ao outro pólo.
Todos os indivíduos que atingiram qualquer grau de Domínio próprio executam isto até
um certo grau, mais ou menos inconscientemente, mas o Mestre o faz conscientemente e com o
uso da sua Vontade, atingindo um grau de Equilíbrio e Firmeza mental quase impossível de ser
acreditado pelas massas populares que vão para diante e para trás como um pêndulo. Este
Princípio e o da Polaridade foram estudados secretamente pelos Hermetistas, e os métodos de
impedi-los, neutralizá-los e empregá-los formam uma parte importante da Alquimia Mental do
Hermetismo.

VI. O PRINCÍPIO DE CAUSA E EFEITO

"Toda a Causa tem seu Efeito, todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a
Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos
de causalidade, porém nada escapa à Lei."

Este princípio contém a verdade que há uma Causa para todo o Efeito e um Efeito para
toda a Causa. Explica que: Tudo acontece de acordo com a Lei, nada acontece sem razão, não há
coisa que seja casual; que, no entanto, existem vários planos de Causa e Efeito, os planos
superiores dominando os planos inferiores, nada podendo escapar completamente da Lei.
Os Hermetistas conhecem a arte e os métodos de elevar-se do plano ordinário de Causa e
Efeito, a um certo grau, e por meio da elevação mental a um plano superior tomam-se Causadores
em vez de Efeitos.
As massas do povo são levadas para a frente; os desejos e as vontades dos outros são mais
fortes que as vontades delas; a hereditariedade, a sugestão e outras causas exteriores movem-nas
como se fossem peões no tabuleiro de xadrez da Vida. Mas os Mestres, elevando-se ao plano
superior, dominam o seu gênio, seu caráter, suas qualidades, poderes, tão bem como os que o
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cercam e tornam-se motores em vez de peões. Eles ajudam a jogar a criação, quer física, quer
mental ou espiritual, é possível sem partida da vida, em vez de serem jogados e movidos por
outras vontades e influências. Empregam o Princípio em lugar de serem seus instrumentos. Os
Mestres obedecem à Causalidade do plano superior, mas ajudam a governar o nosso plano. Neste
preceito está condensado um tesouro do Conhecimento hermético: aprenda-o quem quiser.

VII. O PRINCÍPIO DE GÊNERO

"O Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o
gênero se manifesta em todos os planos."

Este princípio encerra a verdade que o gênero


é manifestado em tudo; que o princípio masculino e
o princípio feminino sempre estão em ação. Isto é
certo não só no Plano físico, mas também nos Planos
mental e espiritual. No Plano físico este Princípio se
manifesta como sexo, nos planos superiores toma
formas superiores, mas é sempre o mesmo Princípio.
Nenhuma criação, quer física, quer mental ou
espiritual, é possível sem este Princípio, A
compreensão das suas leis poderá esclarecer muitos
assuntos que deixaram perplexas as mentes dos
homens.
O Princípio de Gênero opera sempre na
direção da geração, regeneração e criação. Todas as
coisas e todas as pessoas contêm em si os dois
Elementos deste grande Princípio.
Todas as coisas machos têm também o
Elemento feminino; todas as coisas fêmeas têm o Elemento masculino. Se compreenderdes a
filosofia da Criação, Geração e Regeneração mentais, podereis estudar e compreender este
Princípio hermético. Ele contém a solução de muitos mistérios da Vida.
Nós vos advertimos que este Princípio não tem relação alguma com as teorias e práticas
luxuriosas, perniciosas e degradantes, que têm títulos empolgantes e fantásticos, e que nada mais
são do que a prostituição do grande princípio natural de Gênero. Tais teorias, baseadas nas
antigas formas infamantes do Falicismo, tendem a arruinar a mente, o corpo e a alma; e a Filosofia
hermética sempre publicou notas severas contra estes preceitos que tendem à luxúria, depravação
e perversão dos princípios do Natureza. Se desejais tais ensinamentos podeis procurá-los noutra
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parte: o Hermetismo nada contém nestas linhas que sirva para vós. “Para aquele que é puro,
todas as coisas são puras; para os vis, todas as coisas são vis e baixas.”

PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos através dos vídeos e livro abaixo:
a) O CAIBALION, Sabedoria egípcia hermética - Lúcia Helena Galvão
Link: https://www.youtube.com/watch?v=eqRV0K6bzrU&t=31s
b) Tábua de Esmeralda (1/2) - Histórico, breve contextualização: Lúcia Helena Galvão.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=BYE00SfSLWw
c) O Caibalion e os Sete Princípios Herméticos.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=tjeQZnAlgLw
d) Livro - O Caibalion: Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da Grécia.
Autores: Os Três Iniciados – Editora Pensamento.

2 – “Assim como é em cima, é embaixo; Assim como é dentro, é fora.” Qual princípio hermético
está explícito neste aforismo? Explique.

63
CAPÍTULO 4 - LEIS CÓSMICAS
1 – INTRODUÇÃO
No universo visível e invisível nada teria
sentido se não houvessem leis regendo a harmonia
claramente presente. Religiões orientais como o
Hinduísmo já eram conscientes dela e foram tais Leis
apresentadas por
mensageiros/profetas/avatares/sábios em todos os
tempos e lugares para que o espírito encarnado viesse
a entender melhor o funcionamento da relação
Criador-criação-criaturas, pois são estas Leis que
influem diretamente no sistema evolutivo.
As Leis Cósmicas encontram sua origem junto
com o Universo. Aquele que criou o Universo também
criou Leis que regem o Universo. Portanto, essas leis
evoluem de acordo com a evolução do universo, que é
dinâmico.
Cientificamente falando, se o Universo nasceu
com a explosão do Big Bang também as Leis nasceram com ele. Se o Universo foi evoluindo, as
Leis também evoluíram com o passar do tempo.
Mas, independentemente da sua origem, as Leis estão no Universo, e existem para
manter a ordem, a harmonia do Universo e também das criaturas que fazem parte dele. Por isso,
para toda a ciência e para todo o estudo do homem através da filosofia e da espiritualidade, o
importante é saber como essas Leis funcionam, e qual a interferência delas na vida de cada
pessoa.
O homem, como integrante do Universo, está sujeito à essas leis. É necessário estar
sintonizado com essas Leis Cósmicas para não provocar e sofrer atrito externo e conflito
interior.
As Leis Universais são os pilares da criação e regulam os movimentos e atividades tanto
da vida humana quanto de todo o Cosmos. Muitos mestres Zen dizem “Conhece as Leis e sê
livre”.
São essas Leis Eternas, imutáveis, perfeitas, válidas para todos e estão inscritas na
consciência de todos os homens, como se pode ler no Livro dos Espíritos, questão nº 621: “onde
está escrita a Lei Divina?” – “Na consciência do ser”, respondem.
64
2 – AS 7 GRANDES LEIS UNIVERSAIS
a) A principal destas Leis é a Lei do Amor.
O amor é a essência da vida. Nada do que existe, nada do que existirá, em termos de vida
planetária, em termos de vida cósmica, poderá ocorrer sem o amor. De fato, o amor é a alma da
vida. Do mesmo modo que não conseguimos sobreviver no corpo físico sem o oxigênio, sem a
respiração, sem a nutrição, não conseguimos viver animicamente, não encontramos saúde da
alma fora das dimensões do amor. É tão importante amar que João, o Evangelista, estabeleceu
que Deus não é alguém que ama, mas que Deus é amor.
No maravilhoso poema psicografado por Chico Xavier temos:

O Amor, sublime impulso de Deus, O carinho é o Amor que se enflora.


é a energia que move os mundos: A dedicação é o Amor que se estende.
Tudo cria, tudo transforma, tudo eleva. O trabalho digno é o Amor que aprimora.
Palpita em todas as criaturas. A experiência é o Amor que amadurece.
Alimenta todas as ações. A renúncia é o Amor que se ilumina.
O ódio é o Amor que se envenena. O sacrifício é o Amor que se santifica.
A paixão é o Amor que se incendeia. O Amor é o clima do Universo.
O egoísmo é o Amor que É a religião da vida, a base do estímulo
se concentra em si mesmo. e a força da Criação.
O ciúme é o Amor que se dilacera. Ao seu influxo, as vidas se agrupam,
A revolta é o Amor que se transvia. sublimando-se para a imortalidade.
O orgulho é o Amor que enlouquece. Nesse ou naquele recanto isolado,
A discórdia é o Amor que divide. quando se lhe retire a influência,
A vaidade é o Amor que se ilude. reina sempre o caos.
A avareza é o Amor que se encarcera. Com ele, tudo se aclara.
O vício é o Amor que se embrutece. Longe dele, a sombra se coagula e prevalece.
A crueldade é o Amor que tiraniza. Em suma, o bem é o Amor que se desdobra,
O fanatismo é o Amor que se petrifica. em busca da Perfeição no Infinito,
A fraternidade é o Amor que se expande. segundo os Propósitos Divinos;
A bondade é o Amor que se desenvolve. e o mal é, simplesmente, o Amor fora da Lei.

XAVIER, Francisco Cândido. Falando à Terra, Diversos Espíritos.

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PRÁTICA
1 – Assista o vídeo a seguir para complementar seus conhecimentos sobre o tema.
a) A Lei do Amor, com Raul Teixeira.
Link: https://www.youtube.com/watch?time_continue=41&v=G1Ai1DOjsG0&feature=emb_logo
b) Khalil Gibran - Do Amor - Álbum Poemas Místicos do Oriente
Link: https://www.youtube.com/watch?v=oxcDjoIm5TQ

b) A segunda grande Lei é a Lei do Livre – Arbítrio.


Diz Elizabeth Claire Prophet:
“A vida é criada a partir das decisões que tomamos. Não importa o que nos acontece,
mas sim, o que faremos, qual decisão tomaremos, em cada situação que a vida nos
apresenta.
Quando falamos em livre arbítrio, falamos em evolução da alma. A Alma está
aprendendo a conviver com seus irmãos. O livre arbítrio é o grande teste para a
convivência em harmonia.
A harmonia cósmica exige que todas as formas de consciência busquem viver em
harmonia e cooperação mutua. Assim, o livre arbítrio fica limitado às esferas Terrestres.
Somente provando sua capacidade de convivência em harmonia, através da liberdade
vigiada na Terra, o ser humano poderá ganhar a liberdade para voar através do cosmos,
de mundos em mundos, conhecendo a grandeza da mente de Deus.
Quando utilizamos o livre arbítrio, para promover o bem estar geral de todos. Quando
buscamos por livre e espontânea vontade, ser útil a nossa comunidade, ajudando a
evolução de todos, então, estamos no caminho certo e desenvolvendo nosso livre arbítrio
da maneira correta.
O ser humano que aprende a utilizar seu livre arbítrio em concordância com a vontade de
Deus, ganha mais liberdade de expressão, mais poder, maior qualidade de vida, maior
capacidade de realizar sua vontade, mesmo ainda em vida terrena.
Aqueles que conseguem o poder agindo pela força e coação, servindo ao seu próprio ego e
à vontade da falsa hierarquia, viram escravos de suas próprias maldades.
A sabedoria está em devolver a Deus, o livre arbítrio que Ele nos deu, e buscar seguir a
voz divina interior, que nos fala no coração.”

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c) A terceira Lei da Natureza é a Lei de Causa e Efeito (Lei do Carma).
É uma lei complexa que parece como que o traço de união, a argamassa que liga todos os
seres e coisas do Universo, a trama invisível que encadeia os acontecimentos, palavras, atos,
pensamentos e sentimentos de todos os seres do Universo. Encadeia essas coisas, porque cada
pensamento origina um novo pensamento; cada emoção uma nova emoção; cada desejo um
novo desejo; cada palavra uma nova palavra, cada ato um novo ato, cada acontecimento um
novo acontecimento, cada situação uma nova situação, e isto obedecendo a uma ordem
transcendentemente lógica e perfeita, embora nem sempre ao alcance do homem vulgar.
Em virtude desta Lei, sábia e resumidamente expressa pelo Apóstolo Paulo, “cada um
colhe o que semeia”, seja individual, seja coletivamente, pois existe o Carma coletivo e o Carma
individual, que caraterizam: o primeiro as raças, as nações, os povos, as sociedades, as famílias,
etc., e o segundo o caráter individual e as individuais qualidades, idiossincrasias e atributos de
cada indivíduo.
Está escrito no Sutra Contemplação da Mente-Solo budista:
" Se deseja saber que causas foram feitas no passado, observe os resultados que se
manifestam no presente. E se deseja saber que resultados serão manifestados no futuro,
observe as causas que estão sendo feitas no presente. "

Os efeitos do presente se devem a causas cármicas do passado. No entanto, os efeitos


futuros surgem a partir das causas que fazemos no presente. É sempre o presente que conta.
Embora as causas feitas no passado tenham contribuído para moldar nosso presente, é também
o momento presente, ou seja, o instante que vivemos agora, que decide o nosso futuro. As
causas passadas não governam o nosso futuro.
O Budismo Nichiren ressalta que, sejam quais forem as causas cármicas passadas,
podemos construir um futuro brilhante por meio das causas que fazemos hoje. É nesse aspecto
que encontramos o verdadeiro valor do Budismo Nichiren.
O propósito de Nichiren ao explicar sobre o Carma é mostrar que podemos transformá-lo
definitivamente.
(Daisaku Ikeda)

d) A quarta grande Lei é a Lei do Progresso ou Evolução.


É a lei do progresso, a evolução eterna, que guia a Humanidade através das idades e
aguilhoa cada um de nós, visto que a Humanidade são as próprias almas que, de século em
século, voltam à cena física para, com auxílio de novos corpos, preparar-se para mundos
melhores em sua obra evolutiva.

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A lei do progresso não se aplica apenas ao homem; abarca todos os reinos da Natureza,
como já foi reconhecido por diversos pensadores. Na planta, a inteligência dormita; no animal,
sonha; no homem, acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente. O Teósofo Edimar Silva
explica:
“Desde o surgimento da vida e das infinitas formas que ela habita, seja nos minerais, nos
vegetais, nos animais ou nos humanos, nada é fortuito ou fruto do acaso; mas todas as
modificações são para possibilitar que a vida habite aquela forma, evolua e desabroche,
gradualmente, a consciência; e ao chegar no estágio humano surge a autoconsciência,
que não existe, por exemplo, nos vegetais ou animais.”

A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na


hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Podem, em suas diferentes existências
corpóreas, descer como homens, não como Espíritos.

e) A Quinta Lei é a Lei dos Ciclos.

O Universo é regido por um código de leis não-escritas que baliza e impulsiona a


evolução de todos nós. Independente do plano que nos encontramos, somos regidos por
condições inexoráveis que estabelecem o próximo conflito que vamos vivenciar. Tal problema,
na verdade, nada mais é do que a lição adequada naquele momento da vida. Viajamos em
direção à luz, à plenitude, à perfeição do espírito, a nossa real identidade. A evolução de cada
um de nós será alavancada, queiramos ou não. Claro que como em toda sala de aula, há alunos
dedicados e outros relapsos ou rebeldes. A lição que demora pouco tempo para uns, para outros
se prolonga por séculos, literalmente. Isso explica o motivo pelo qual nem todos passam, neste
exato instante, pelas mesmas dificuldades e alegrias.
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As penas eternas são existem e não têm qualquer ligação com a inteligência cósmica. O
universo não está preocupado em punir, mas em educar e, por isto, a necessidade pulsante do
perdão e de todos os demais nobres sentimentos derivados do amor. É impossível educar sem
perdoar, sem permitir novas oportunidades.
Desta forma, a vida é um grande ciclo formado por inúmeros pequenos ciclos. Cada um
deles abrange um conjunto de ensinamentos. Eles vão gerar indispensáveis transformações em
seu ser. Sempre vivenciamos o ciclo que contêm as exatas lições para as quais estamos prontos.
Nem mais nem menos. Como um aluno que repete a série na escola quando não presta atenção
ou se recusa a aprender a lição, o ciclo se torna recorrente e, não raro, mais severo para que o
entendimento e, a consequente modificação que alavancará a evolução, ocorra. Assim
caminhamos.
O fim de um ciclo necessariamente será o início de outro. No entanto, dois ciclos não
coexistem. O novo nunca se inicia sem que o anterior esteja encerrado. A repetição do Ciclo,
como sofisticada prisão, nada mais é do que a nossa negação em evoluir. A metamorfose é
indispensável. Aprendendo e nos transformando, ficamos livre do problema. “O problema nunca
é o problema em si, mas a nossa reação equivocada diante dele”.

PRÁTICA
1 - Leia o artigo acima na íntegra e aprofunde seus conhecimentos sobre a Lei dos Ciclos.
Link: http://yoskhaz.com/pt/2016/02/16/a-lei-dos-ciclos/

f) A sexta grande Lei da Natureza é a Lei da Reencarnação.


Esta Lei decorre de todas as outras leis, pois sem ela o cumprimento das mesmas seria
prejudicado. A ideia da reencarnação é muito antiga, fazendo parte da tradição cultural e
religiosa dos povos que constituem a humanidade terrestre. Não foi inventada pelo Espiritismo
e foi confirmada por Jesus, em seu diálogo com o fariseu Nicodemos: “Na verdade, na verdade te
digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João,3:3)
O túmulo de Allan Kardec, em Paris, contém a inscrição que resume o pensamento
espírita a respeito do assunto:
“Nascer, morrer, renascer , ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.”
Reencarnar, diz respeito aos renascimentos sucessivos do Espírito, em um mesmo Planeta
ou em outros. Assim, a Lei da Reencarnação impõe aos seres a “encarnação com o fim de fazê-
los chegar à perfeição. […] Mas para alcançarem essa perfeição, têm de passar pelas vicissitudes
da existência corporal […].”

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A encarnação tem ainda outra finalidade: a de pôr o Espírito em condições de cumprir sua
parte na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, ele toma um instrumento
[corpo físico] em harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de nele contribui r para
o adiantamento espiritual deste mundo e o seu próprio.
A reencarnação é aceita como lei natural, que favorece a evolução do Espírito. Em cada
existência corpórea, o Espírito recebe oportunidades para reparar equívocos cometidos em
existências anteriores e para desenvolver novos aprendizados. Cada reencarnação é precedida de
um planejamento, que permite ao reencarnante renascer no meio propício e junto a pessoas
onde se faz necessário desenvolver aprendizados e os acertos espirituais.
A reencarnação expressa a justiça e a misericórdia divinas que, não condenando o
infrator — tal como apregoa algumas interpretações religiosas — concede ao Espírito a
oportunidade de corrigir erros, cometidos devido à própria ignorância de não saber medir as
consequências das próprias ações, magoando ou prejudicado pessoas.
Nesses termos, a reencarnação é, por princípio, o reajuste da consciência culpada perante
as leis sábias e amorosas que governam o Universo. Ninguém dela está livre.

g) A sétima Grande Lei é a Lei da Unidade.


Este é o Princípio do Monismo. Desta Lei decorre a unidade de toda a vida; ela aponta
uma fonte única e eterna para todo conhecimento e demonstra a identidade essencial entre os
grandes mitos das culturas mundiais.
De acordo com o Livro Sagrado, que era o nome de uma das obras de Manetho, preparada
por ele para um dos Ptolomeus, e para ser colocada numa biblioteca em Alexandria, os antigos
egípcios contemplaram, há longo tempo, esta unidade da existência. Para eles, a deusa Isis era o
aspecto materno do universo. Além do mais, de acordo com a obra de Manetho, o nome Isis
significava “Eu venho de mim mesma”. Isto indicaria que Isis foi um movimento que se auto -
originou; ela, portanto, perpetuou sua própria existência, não teve criador, ela continuou,
partindo da natureza de sua própria existência. Foi, além do mais, indicado que aquilo que é,
sempre é, em essência. Agora, há, naturalmente, numerosas lendas entre os egípcios, para
mostrar que Isis, como uma deusa, veio de alguma outra fonte, porém entre os adeptos das
escolas de mistério e entre os verdadeiros ocultistas, Isis, o aspecto maternal, sempre foi, como
um atributo fundamental do ser, do qual consiste o universo.
Ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são interdependentes e
constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias, passamos a ver todas as coisas
como elas são e a nós mesmos como apenas uma parte do momento presente. Essa
compreensão da unidade nos leva a uma apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles

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como simples momentos miraculosos que "apenas são". Nos vemos não como entes separados,
mas parte de algo maior, diversidade na Unidade.
Esta Lei nos interliga a todos de forma essencial. Sem tempo nem espaço, como já
demonstrado pela Física Quântica no fenômeno do Entrelaçamento Quântico. Viemos de uma
mesma origem cósmica, e as aparentes diferenças são exteriores, não essenciais.
Isto nos ajuda a ver que o que ocorre dentro, ocorre fora. O que afeta o outro, me afeta.
Deste princípio também decorre o fenômeno quântico da interferência do observador na
realidade.
Conforme ensina o Taoísmo:
Do "caminho", surge "um" (aquele que está consciente), de cuja consciência, por sua vez,
surge o conceito de "dois" (yin e yang), dos quais o número "três" está implícito (céu,
terra e humanidade); produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do mundo como
o conhecemos, "as 10 000 coisas", através da harmonia do wu xíng.

Os Espíritos respondem a Kardec na questão 540 do "O Livro dos Espíritos".... "que tudo
se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo
átomo".
Vamos encontrar na "A Gênese" cap. X, item 3, a colocação de Allan Kardec: "a formação
dos primeiros seres vivos pode ser deduzida, por analogia, da mesma lei segundo a qual foram
formados, e formam-se todos os dias, os corpos inorgânicos".
À medida que nos aprofundamos nas leis da natureza, vemos seu mecanismo, que à
primeira vista parece tão complicado, simplificar-se e confundir-se na grande lei de unidade que
preside a todas as obras da criação.
Dr. Jorge Andréa, em seu livro "Impulsos Criativos da Evolução", no cap. I, no item que
aborda o período pré-cambrico da era arqueozóica coloca que "o mineral possui tanto a vida
quanto o vegetal e o animal. O Princípio Unificador, a essência que preside as formas e o
metabolismo da flora e da fauna, existe também no reino mineral, presidindo as forças de
atração e repulsão em que átomos e moléculas se unificam e equilibram. No mesmo livro, no
cap.II, na 9a parte, Dr. Jorge Andréa, coloca: "como fase inicial, o Princípio Inteligente estaria,
como sempre, em sua específica e superior dimensão, a influenciar as organizações atômico-
moleculares do reino mineral.”

71
PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos através dos vídeos e textos abaixo:
a) O Cristianismo Místico.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=6KZUNXkvXlE
b) A Sabedoria dos Sufis: Os Místicos do Islã.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=1HH6XgiYDWw
c) Filme: O Pequeno Buda - Filmes Dublados Hd
Link: https://www.youtube.com/watch?v=jVoiMiYutFs

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CAPÍTULO 5 – COSMOGÊNESE
ESOTÉRICA

“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia;
havia trevas (…) Disse Deus: Haja luz; e houve luz. (…) fez a separação entre a luz e as
trevas.”

(Gênesis, 1)

1 – DEFINIÇÃO

Cosmogênese se refere ao surgimento e evolução do Cosmo. Já foram propostas diversas


teorias que tentam explicar a origem do Universo, tanto no contexto científico (cosmologia e
astrofísica), quanto por parte das religiões e na mitologia.
As primeiras tentativas do homem de explicar a origem do mundo foram os mitos. A
mitologia grega, por exemplo, diz que no princípio havia o Caos, e em algum momento surgiu
Érebo, o lugar desconhecido onde a morte mora, e Nix, a noite. Havia apenas silêncio e vazio.

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Então, Eros nasce produzindo um início de ordem, e se faz Luz e Dia, e a terra (Gaia) aparece.
Érebo e Nix copulam e dão nascimento a Éter, a luz celestial, e Dia, a luz terrena. Gaia, por si só,
gera Urano, o céu. Urano torna-se o esposo de Gaia e a cobre por todos os lados. Da união de
Urano e Gaia surgem todas as criaturas, Titãs, Ciclopes e Hecatonquiros.
A ciência atual aceita a teoria do Big Bang. Segundo esta teoria, o Universo teria surgido de
uma grande explosão há cerca de 13 bilhões de anos, quando então as primeiras estrelas e galáxias
se formaram.
Cosmogonia (do grego cosmos "universo, mundo" e gonia "nascimento, geração") é o
termo que abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as
religiões, mitologias e ciências através da história.
Todas as religiões tem versões diferentes para a criação do mundo e da humanidade. Uns
acreditam que o universo foi criado há menos de seis mil anos. Outros, que é simplesmente
impossível quantificar a idade universal e o seu tempo de criação a partir dos conhecimentos
mundanos. No entanto, as crenças têm um ponto de convergência: a criação universal foi um ato
da vontade divina. E só pode ser desfeita caso Deus queira.
Algumas das teorias cosmogônicas mais conhecidas vêm dos gregos. Buscando responder a
pergunta básica “Como tudo foi criado?” os antigos gregos identificaram quatro elementos
primordiais, que se contrastavam dois a dois: água e fogo, ar e terra. Cada um deles, entretanto,
era dedução óbvia da combinação de duas qualidades distintas, espécie de essência por detrás da
essência que, misturadas, geravam as manifestações elementares. Assim, da mesma forma que a
água era fruto da combinação do frio com a umidade, o fogo seria resultado da interação entre o
quente e o seco; já o ar, traria em si a reunião de outras duas qualidades, quente e úmido,
distinguindo-se assim da terra que, embora sendo seca, preferiu ser fria.
Indo além, os primeiros filósofos gregos, nomeados pré-socráticos, indagavam-se sobre
aquilo que pudesse haver por detrás destas qualidades primevas que explicasse as diferentes
manifestações da natureza e pudesse solucionar o sempiterno mistério da vida. Os gregos
perscrutavam a physis (a natureza) no intuito de alcançar a origem do Cosmos. Para Tales de
Mileto (séc. VI a.C.), por exemplo, a vida provinha da água (e muitos cientistas assim o crêem em
nossos tempos); Anaximandro, seu discípulo, imaginou o apeiron (o ilimitado) como fonte
primordial da natureza, e Anaxímenes (séc.V a.C.), o terceiro grande nome da Escola de Mileto,
dizia ser o pneuma, isto é, o ar, a causa primeira por detrás de toda existência.
Já o mestre Pitágoras (580-489 a.C.), primeiro dos pré-socráticos a intitular-se filósofo,
fazendo-o entretanto na acepção literal do termo, já que não se julgava sábio, mas declarava-se
com afinidade pela sabedoria, acreditava ser o fogo o elemento sutil a alimentar todo o Universo
(e não estava errado, já que as estrelas todas, além do Sol que nos mantém, são naturalmente
fogo). Por detrás de sua “mônada” ou princípio estrutural e organizador da vida, estaria o fogo

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interior ou invisível, substância etérea, distinta do fogo comum que nossos sentidos percebem
queimar, a servir de fonte de energia do Universo.

Os quatro elementos do mundo Ocidental: Terra, Água, Ar e Fogo


Na Bíblia, o livro do Gênesis narra a criação do mundo pelo Senhor Deus, começando pela
criação do céu e da terra e a separação das águas, em seis dias, tendo no sétimo dia Deus
descansado. Hoje, a teologia considera esta narrativa alegórica, abandonando seu sentido literal.
A Igreja Católica Romana atualmente aceita a teoria científica do Big Bang.
Conforme informa o Espiritismo:
Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em
habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou
sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e
milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado
pode formar ou co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade. (Evolução em Dois
Mundos – Chico Xavier e Waldo Vieira)
Devidas à atuação desses Arquitetos Maiores, surgem nas galáxias as organizações
estelares como vastos continentes do Universo em evolução e as nebulosas intragaláticas
como imensos domínios do Universo, encerrando a evolução em estado potencial, todas
gravitando ao redor de pontos atrativos, com admirável uniformidade coordenadora.
É aí, no seio dessas formações assombrosas, que se estruturam, interrelacionados,
a matéria, o espaço e o tempo, a se renovarem constantes, oferecendo campos gigantescos
ao progresso do Espírito.
Cada galáxia quanto cada constelação guarda no cerne a força centrífuga própria,
controlando a força gravítica, com determinado teor energético, apropriado a certos fins.
A Engenharia Celeste equilibra rotação e massa, harmonizando energia e
movimento, e mantém-se, desse modo, na vastidão sideral, magnificentes florestas de
estrelas, cada qual transportando consigo os planetas constituídos e em formação, que se
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lhes vinculam magneticamente ao fulcro central, como os elétrons se conjugam ao núcleo
atômico, em trajetos perfeitamente ordenados na órbita que se lhes assinala de início.

2 – COSMOGONIA ESOTÉRICA

Na Teosofia explica-se que o Cosmo é emanado de um


princípio que é chamado de Parabrahman, e que não é o Deus criador
das religiões monoteístas. Esta manifestação do Cosmo ocorre de
forma periódica, em um ciclo eterno, sem início nem fim.
Blavatsky descreve esta teoria em seu livro “A Doutrina Secreta
(1888)” que, segundo ela própria, tem como inspiração pergaminhos
muito antigos, chamados de Estâncias de Dzyan, os quais ela teria
tido acesso e teria estudado. A Cosmogênese da Teosofia tem suas
raízes na filosofia oriental, particularmente o hinduísmo e no
budismo e influenciou as chamadas ciências ocultas.
Segundo a Cabala, a tradição esotérica e mística do judaísmo, a
criação do mundo e do Homem deu-se por emanações de um
princípio chamado de Ain Soph. Estas emanações são chamadas de
Sephiroth, em número de dez, e o seu conjunto forma a árvore da
vida, que representa esotericamente o Homem Arquetípico, Homem
Primordial, Adam Kadmon. O mundo material é representado na árvore da vida por sua base, que
é associada a Adonai.

“Deus é Uno em Essência, Trino em Manifestação e Sétuplo em Evolução.”


(JHS)

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Menorah judaica, o reconhecido Candelabro de Sete Chamas.

2.1 – A VISÃO MONISTA DA CRIAÇÃO

“É idêntica a lei de evolução, é contínua a linha do desenvolvimento, o princípio é único.”


(Pietro Ubaldi – A Grande Síntese)

Segundo Pietro Ubaldi em “A Grande Síntese”, o monismo, em seu aspecto filosófico mais
abrangente, é o substrato ideológico que apregoa a existência de uma substância única,
subordinada a princípios também unitários, na composição de tudo o que existe no universo. Em
seu significado mais simples, monismo é a doutrina da unidade, cuja palavra advém do grego
monás que designava, na filosofia pitagórica, “toda complexidade que se faz um todo coeso”.
O monismo se opõe ao dualismo que admite a existência de duas entidades independentes
na criação – espírito e matéria – e ao pluralismo, o qual adota a diversidade de fundamentos e de
substâncias para se explicar o universo.
O dualismo é classicamente defendido por René Descartes e o pluralismo compõe o
complexo pensamento científico moderno que, pela análise reducionista, fragmentou a realidade
objetiva nas múltiplas e mais variadas expressões fenomênicas que, até o momento, se pôde
produzir, muitas destituídas do mínimo senso crítico, por se fundamentar no vazio e no niilismo.

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As ideias unicistas sempre ventilaram as
concepções humanas e são encontradas em
todas as épocas do desenvolvimento de nossa
história. A milenar cultura chinesa do taoísmo já
o apregoava em seus encantadores versos. Nas
doutrinas hindus, o Vedanta Sutra já o
anunciava ao ensinar que a essência bramânica,
unitária, onisciente e perfeita, era a substância
formadora das almas individuais e do universo.
Seguindo o seu enunciado, a escola vaishnava,
defendida por Ramanuja no século XII da era
cristã, criou o termo visishtadvaita, com o
exato significado de monismo, tal como o
entendemos hoje. Curiosamente essa escola
defendia que os elementos criados passaram a
abrigar a imperfeição, causa da ignorância, sem
explicar os motivos de tal contaminação da
substância bramânica, mas que eles poderiam,
através da devoção, refazer a comunhão perfeita
com Brahma, sem perder a individualidade,
preceito muito semelhante ao difundido pelo
cristianismo.
Na filosofia grega, tanto a pré-socrática quanto a pós-clássica, o monismo já era uma
aspiração dos principais pensadores, que buscavam compreender a diversidade de todas as coisas
a partir de uma única causa primária. Interpretada às vezes como physis, a natureza formadora,
ápeíron, a substância ilimitada, ou simplesmente o arqué, o princípio originário, todos
procuravam representar o que seria essa substância fundamental, compondo o que os estudiosos
da filosofia denominaram monismo corporalista.
Recordemos que, para Tales, o arqué seria a água; para Heráclito, o fogo. Anaxímenes,
contudo, o julgou ser o ar. Mas, prenunciando o pluralismo, Empédocles estabeleceu que a
igualdade dos princípios (isonomia) teria se dividido em quatro raízes, o ar, o fogo, a água e a
terra, de cujas misturas se formava a multiplicidade do universo, embalada pelas forças do amor
(philia) e da rivalidade (neikos). A doutrina eleática, fundada por Xenófanes e defendida,
sobretudo, por Parmênides, apregoava a unidade e a imobilidade como fonte do ser e do universo.
Para Anaxágoras, fervoroso seguidor da doutrina eleática, uma substância incorpórea,
denominada noûs, eterna e imutável, embora submetida à aparência dos movimentos de
nascimento e morte, teria gerado tudo o que existe. E Demócrito, finalmente, firmou o monismo
atomista como base da realidade, concebendo o estofo do universo formado por unidades

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simples, corpóreas, indivisíveis e descontínuas, os átomos. Infinitamente espalhados em meio a
um espaço contínuo e vazio, estariam subjugados a determinismos puramente mecanicistas,
antecipando, no século V a.C., o ateísmo moderno.
A Idade Média não conheceu outra forma de monismo a não ser a Trindade Santa,
concebida por Santo Agostinho, através da qual o Uno se consubstanciava no Todo e a ela nos
referiremos a seguir. No Renascimento, o mais expressivo pensamento monista que se conhece foi
veementemente defendido por Giordano Bruno e na Era Moderna, sobretudo pelos filósofos
Spinoza, Berkeley, Hume e Hegel. Destarte, o mais influente monista conhecido até os nossos
dias, tendo em vista que Ubaldi ainda é ignorado, é considerado Baruch Spinoza, que viveu no
século XVII, embora em sua época não se empregasse tal acepção. O termo monismo foi usado
pela primeira vez no século XVIII pelo filósofo Christian Wolff. Entretanto, aqueles que, de fato, o
popularizaram foram o biólogo Ernst Haeckel e o químico Wilhelm Ostwald no início do século
XX.
Segundo a natureza da substância apregoada como fundamental, o monismo pode ser
diferenciado em diversos modelos, como o ontológico, o panteísta, o metafísico, o religioso, o
material, o lógico, o gnosiológico e alguns outros de interesse menor para o nosso estudo. Tipos
que se podem considerar incluídos em suas duas grandes e principais vertentes, em nítida
oposição: o monismo materialista e o monismo idealista. O primeiro se fundamenta no fato de
que toda a existência se reduz à matéria e seus atributos. Os seres vivos, por exemplo, se
explicariam unicamente pelo funcionamento dos fenômenos físico-químicos existentes na
unidade orgânica e a própria consciência humana nada mais seria que o produto das ações e
interações bioquímicas da massa neuronal (ideia também chamada epifenomenismo).
Os grandes representantes do monismo materialista, normalmente ventilado por
sentimentos anti-religiosos, foram Thomas Hobbes, Diderot, Paul Henri Dietrich, Pierre
Maupertuis, Julien Offroy de la Mettrie, Karl Marx, Engels, Lênin e outros.
No início do século XX, o filósofo e biólogo alemão Ernst Haeckel, utilizando o
pensamento evolucionista de Charles Darwin, tentou explicar a vida, o universo e a própria
consciência, segundo um monismo genético e mecanicista.
Haeckel foi o primeiro pensador moderno a intentar, com a ajuda do evolucionismo
nascente, a unificação da Biologia com a religião. Ainda que seu pensamento monista não tenha
abrangido a essência divina, seu brilhantismo se revelou na descoberta da existência de um
princípio unificador regendo a evolução, chamado lei biogenética, segundo o qual cada animal
percorre, a partir da fase embrionária, todas as etapas evolutivas que o levaram a ocupar o seu
lugar na ordem natural. Em suas próprias palavras, “a ontogenia recapitula a filogenia”, sendo a
ontogenia o desenvolvimento embrionário individual e a filogenia a história evolutiva da sua
espécie, princípio que foi prontamente absorvido pelo pensamento espiritualista moderno.
Somando-se a lei biogenética de Haeckel à palingenesia, foi possível unificar a evolução biológica

79
com o espiritualismo, adotando-se o princípio espiritual como a unidade da vida,
proporcionando-se maior coerência aos processos vitais e conferindo telefinalismo às mutações
genéticas, antes consideradas fenômenos completamente casuais.
A ciência do século XX, concebendo em sua época que tudo se reduz à matéria e não
admitindo para ela uma origem transcendente a si mesma, compôs o seu mais importante
subsídio filosófico, o monismo materialista. Monismo que logo sucumbiu ante a irrealidade das
bases constituintes da própria matéria, sob o domínio do pensamento quântico que tudo desfez
em pacotes de ondas que, afinal, em nada se sustentam.
Prenunciando o monismo quântico, Wilhelm Ostwald, químico e filósofo germânico do
início do século XX, apregoou a doutrina segundo a qual a única e última realidade da existência
era a energia. E recentemente, unindo a Física relativista à Mecânica quântica, a moderna teoria
das cordas, como vimos, vem tentando resgatar um substrato único para as partículas atômicas de
massa e para as energias que as mobilizam, identificando-o nos laços mínimos, as agitadas
unidades feitas de insólitos pulsos vibráteis e nada mais. Esforço que integra a busca pela grande
teoria unificada (Gut, em inglês) segundo a qual a ciência de nossos dias se empenha na afanosa
procura por um monismo substancial que satisfaça o natural anseio humano por unicidade,
aspiração que sempre moveu todos os grandes pensadores de todas as épocas, demonstrando-nos
que a unidade é um modelo divino que impera em toda a criação.
Já o monismo idealista se fundamenta em princípios formativos de natureza imaterial e
espiritual, para explicar a composição de tudo o que existe. Seu mais ardoroso representante na
Antiguidade pode ser considerado Plotino, o sucessor do idealismo platônico. Filósofo egípcio que
viveu entre 205 e 270 d.C., desenvolveu a escola denominada neoplatonismo que defendia ser a
realidade última do universo a inteligência pura, incognoscível, infinita e perfeita, da qual tudo
derivava. Plotino se utilizou do mesmo termo apregoado por Anaxágoras, noûs, como a essência
universal consubstanciada no Uno para compor o seu monismo idealista. Ele foi mais tarde, no
período medieval, seguido por Jâmblico, Proclo, Santo Agostinho e Marsilio Ficino.
O físico Stephen Hawking afirmava:
“Tenho a esperança de que ainda vamos encontrar um modelo coerente que descreva tudo
no Universo. Se o fizermos, será um verdadeiro triunfo para a humanidade.”

Segundo a magnífica obra de Pietro Ubaldi “A Grande Síntese”, em seu aspecto conceitual,
o universo é um organismo, organismo de formas, organismos de forças, organismo de leis. Como
estrutura, o universo é um organismo, ou seja, um todo, composto de partes, não reunidas ao
acaso, mas com ordem e proporção recíproca; mesmo que momentaneamente e
excepcionalmente possa ocorrer o contrário, sempre se correspondem entre si, como é necessário
num organismo cujas partes, ao funcionarem, devem coordenar-se num objetivo único. O
Universo é organismo monístico que funciona num princípio único.

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“Um fato nos ajudará: o universo é regido por um princípio único. Já afirmei que o Universo
não é nem caos nem acaso, mas suprema ordem: a Lei.”
(Pietro Ubaldi)

Desta forma, podemos dizer que o princípio de unidade é o fundamento que sustenta todo
o edifício conceitual da criação, o alicerce de toda a fenomenologia universal. Tudo no universo se
constrói segundo um modelo único, oriundo de um único pensamento diretor que proporciona a
tudo funcionamento e estrutura semelhantes. Observa-se, assim, um só princípio que se desdobra
do geral ao particular, copiando-se sempre a si mesmo. Em decorrência disso, o universo se
comporta como um grande e unitário organismo, um Todo coerente, funcionando suas partes de
modo integrado em função de uma unidade maior.
Justifica-se, dessa forma, o fato de que as leis que regem esse Todo se comportem de forma
idêntica em absolutamente todos os lugares em que expressa a existência, uma vez que elas são
filhas de uma mesma Inteligência diretora. Se assim não fosse, não podendo se tocar fisicamente
pelas imensas distâncias que os separam, os fenômenos não poderiam funcionar de forma tão
semelhante. Por exemplo, por que a lei da gravidade atua exatamente da mesma maneira em
regiões que jamais se conheceram? A unitária coerência das leis físicas é a máxima e inconteste
prova de que a criação flui de uma única vontade que uniformiza todas as suas expressões
fenomênicas, refletindo o Todo de onde provêm.
“A unidade é a mais evidente expressão do monismo do universo e da presença universal da
Divindade.”
(Ubaldi em A Grande Síntese)

O princípio monista gera a repetição do tipo único,


fazendo com que a criação reproduza, em todas as suas
escalas, os mesmos fundamentos gerais do Todo. Por isso a
obra divina, embora se divida do geral ao particular, irá
refletir, nas partes, o mesmo comportamento da Unidade.
A geometria monista faz-se assim holística em seus
fundamentos, uma vez que as suas frações são iguais à
totalidade. Esquema este que identificamos nas
formulações denominadas fractais, que se desenham como
formas geométricas divididas em partes sucessivamente
menores, as quais copiam, do infinito positivo ao negativo,
a exata configuração do diagrama maior.

A dinâmica em fractal, segundo a qual é tecida a criação, representa exatamente o mesmo


conceito apregoado pela doutrina holística atual, que se encontra refletido também no esquema
holográfico, no qual cada porção repete exatamente a figura do conjunto. Princípio secular que se
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pode identificar nas culturas do passado, pois os grandes sábios de todos os tempos souberam
enxergá-lo, com evidência, na expressão fenomênica do universo. Uma lenda védica nos diz que,
no paraíso de Indra, há um colar de pérolas dispostas de tal maneira que, ao se olhar para uma
delas, se vê refletido todo o colar.
Anaxágoras no séc. V a.C. já afirmava que “tudo está em tudo” e que “em cada coisa há
parte de todas as coisas”, conceito repetido por Heráclito no séc IV a.C., que, com poesia, nos
revelava a mesma dinâmica holística do funcionamento universal, ao afirmar: “De todas as coisas
um e do um, todas as coisas”. Parmênides, ao declarar que o cosmo era uma esfera única e imóvel,
e Pitágoras, ao dizer que todas as coisas são números, vislumbravam igualmente a coesão unitária
da criação. Os filósofos monistas, como Spinoza, ao supor o todo como a única realidade e
Leibniz, declarando a unidade monádica da criação, estavam no encalço do princípio unitário. E,
da mesma forma, os físicos modernos, empenhados na busca da grande teoria unificada, sem que
o saibam, estão atendendo ao mais lídimo anseio da alma humana: a compreensão da lei de
unidade que rege o universo e nos aproxima do Criador.
Esse princípio, contudo, foi melhor evidenciado por Jesus ao afirmar “Eu e o Pai somos um”
e ao explicar que veio ao mundo “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu
em ti, que também eles sejam um em nós” (João 10:30 e 17:21 respectivamente ), suscitando-nos a
entrega da vontade a Deus a fim de constituirmos com Ele e o universo uma verdadeira unicidade.
Pelo fato de podermos reduzir tudo a um tipo único, torna-se possível assim compreender
toda a estrutura da criação, pois se conhecermos os princípios que regem um determinado
fenômeno, basta extrapolá-los para as maiores ou menores unidades que lhe seguem, uma vez que
todos lhes serão análogos. Assim o Todo sempre copia a si mesmo, o microcosmo repete o
macrocosmo e nas menores particularidades fenomênicas se acham sempre presentes os mesmos
fundamentos gerais que regem a criação. Um idêntico pensamento gera galáxias, guia mundos,
constrói átomos e também forma seres fecundados de vida, sentimentos e vontade. Isso nos leva a
reafirmar, como aprendemos em A Grande Síntese, que uma mesma potência se faz coesão no
átomo, atração no mineral, luta no animal, simpatia no homem e amor na angelitude.
Além disso, observa-se na criação que o impulso de unificação se equilibra com uma igual
força de partição, que tudo divide em menores componentes, fazendo o geral fragmentar-se no
particular e especializar-se em funções específicas. Fato necessário para que o Todo se converta
em organismo, onde quer que se expresse a fenomenologia universal. Todavia, podemos observar
também que, embora a realidade unitária se separe em partes constituintes, estas logo tornam a
se juntarem no afã de reconstituir a unidade. E, assim, a rica complexidade fenomênica da criação
nada mais é do que a pulverização de uma mesma unidade que busca reunir-se novamente,
fundindo suas partes em um indissolúvel conjunto. Tal impulso é facilmente observável em nós
mesmos, pois somos feitos de um inestancável anseio por unificações que somente a herança dos
atávicos impulsos divinos pode explicar.

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Unidades de princípios e finalidades, de ações e meios, de dinamismos e trajetórias fazem
assim do universo um grande e unitário organismo. Por isso, isolar-se é morrer em nosso cosmo e
todo “filho” está imbuído do permanente ensejo de reencontrar-se com o seu “Pai”.
O princípio monista imprime a tudo uma razão de ser e um funcionamento lógico,
tornando o universo um todo por excelência, orgânico e ordenado. Na infinita variedade das
formas, ele se expressa sempre igual, ressurgindo com mecanismos semelhantes e objetivos
comuns, embora em níveis e particularidades, às vezes, aparentemente diferenciados. Logo, esse é
o fundamento que confere ordem e harmonia ao cosmo, sem o qual tudo se esfacelaria em um
completo caos.
A própria lei que rege a criação se comporta como uma unidade orgânica, pois seus
princípios se desdobram sempre dos maiores para os menores, gerando uma coerência de
funcionamento que se harmoniza em torno de objetivos comuns e faz convergir causa e efeito,
tornando ilusórias as suas divisões, uma vez que, fundidos na unidade, nada tem existência
isolada. Por isso, Deus está ao mesmo tempo no centro e na periferia da criação, por mais distante
que se possa concebê-Lo, não havendo para o pensamento diretor do universo lugar onde não se
ache presente com a mesma potência de Seu cerne de origem. “Todas as coisas estão cheia de
deuses”, nos afirmou a visão intuitiva de Tales de Mileto, ainda no século VI a.C., que enxergou
em tudo a manifestação da mente divina.
O fundamento monista nos diz ainda que o edifício divino tem, não somente uma única
origem e funcionamento, mas se constrói através do transformismo de uma só substância, fato
que caracteriza justamente o monismo substancial. Do pensamento de Deus, portanto, parte uma
emanação criadora unitária, que Ubaldi denomina substância, capaz de se converter em tudo o
que é possível existir. Indefinível em sua natureza íntima, tal substrato unitário se constitui, em
sua origem, de uma potência criadora que se dinamiza pela vontade, concretizando-se em todos
os elementos conhecidos e desconhecidos, fazendo do universo nada mais do que uma abstração
da mente divina. Esse conceito torna espírito, energia e matéria elementos de idêntica natureza
que se diferenciam apenas por íntimo funcionamento dinâmico e nada mais. E assim, no edifício
monista, essas três apresentações fenomênicas têm uma mesma fonte e não são, absolutamente,
geradas em separado como anteriormente julgávamos. O espírito é a ideia pura, a energia é a ideia
dinamizada progredindo no tempo e a matéria, a mesma ideia encarcerada no espaço.
Tornaremos a esse monismo substancial a fim de visualizá-lo melhor, mais adiante.
Compreendemos ainda que, embora pareça um contrassenso ao nosso precário
entendimento, o princípio de unidade se manifesta como uma divisão conceitual dualística e
ternária, pois ele se faz dualidade e trindade ao mesmo tempo. Fato indispensável para se gerar a
complexidade fenomênica universal e que entenderemos melhor ao apresentarmos os princípios
de dualidade e trindade que integram o funcionamento do Todo.

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O monismo, como princípio de unidade, está então inexoravelmente presente em tudo o
que se forma na natureza. Tudo se origina a partir de uma semente, um núcleo irradiante de
potencialidades criadoras que se desenvolve na multiplicidade da forma. Por exemplo, somos uma
admirável unidade orgânica, uma única vontade operante de um eu central, manifesto em um
universo de 100 trilhões de células que nasceram de um único óvulo fecundado, expressando
nitidamente o admirável princípio unitário que funciona no Todo e no particular. E não somente
os seres biológicos se desenvolvem a partir de bases unitárias, pois o universo físico se expandiu a
partir de um ponto mínimo de singularidade, as galáxias são irradiações de um poderoso núcleo
de atração gravitacional e os sistemas solares se constroem a partir da convergência de diáfanas
massas nebulares. No reino elementar, igualmente, uma única substância, o hidrogênio, é a base
para a formação de todos os 94 elementos naturais. E chegaremos à compreensão de que um
único substrato forma todo o edifício atômico, com sua variada gama de partículas fundamentais.
E uma só força origina todas as energias do universo, fato que, se ainda é motivo de perquirições
pela nossa ciência, já desponta na intuição humana como uma verdade fundamental, pronta para
concretizar a tão sonhada grande teoria unificada do universo.
Conhecedores de que uma base monista governa a obra divina, torna-se fácil compreender
que o individualismo separatista, que por vezes nos domina as intenções, é inadequado
sentimento que nos aparta das portentosas forças que sustentam a criação e nos faz paupérrimos
em meio à abundância que nela impera. Por isso, unificar-se é o sentido da vida e o anseio natural
que deve nos mover na caminhada evolutiva.

2.2 – O UNIVERSO MANIFESTADO E O NÃO MANIFESTADO


Nos sistemas esotéricos o universo está dividido em duas etapas: sem forma (arupa) e com
forma (rupa) ou em não-manifestado e manifestado. O primeiro refere-se ao estado passivo,
neutro e integrado, onde todas as formas e poderes existem em estado latente. A segunda etapa é
quando o universo passa para o estado ativo, polar, diferenciado, dando início a atividade
construtiva que resulta na criação do universo onde vivemos.
A Filosofia Esotérica também afirma que estes dois estados de repouso e atividade se
alternam eternamente. Em certo momento o universo sai do estado latente e passa a atividade e
depois de atingir o ápice de sua evolução recolhe toda a criação para seu interior, fazendo isso
sucessivamente.
Há, do ponto de vista esotérico, um conceito fundamental para o entendimento da
Cosmogênese: o Conceito da Substância.
Para nós, Substância é aquilo que se manifesta, a base da manifestação dos Universos. A
Causa Sem Causa do Espírito e da Matéria. É algo que não tem princípio nem fim, que não tem
passado, presente ou futuro, que transcende o tempo, a única realidade incontinente.

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Substância tem inúmeros sinônimos na literatura ocultista: Espaço, Vida Uma, Absoluto,
Eterna Presença, Grande Hálito, Svayambhuva, Aquilo que Existe por Si Mesmo, O Todo, Ain-
Soph, Tudo Nada.
Segundo o livro “Evolução em Dois Mundos”, do espírito André Luís, psicografado por
Chico Xavier e Waldo Vieira:
“O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo Sábio.
Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como
peixes no oceano.
Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências
Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível, os grandes Devas da
teologia hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, extraindo
desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da
Imensidade, em serviço de Cocriação em plano maior, de conformidade com os desígnios
do Todo Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação Excelsa.”

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2.3 – O ABSOLUTO (PARABRAHMAN) E A EXISTÊNCIA NEGATIVA
Ain Soph ( /eɪn sɒf/, sem limites ou ilimitado ou Infinito) é um termo cabalístico para a
Deidade antes de sua auto-manifestação na Criação dos mundos
"Antes de dar qualquer forma ao mundo, antes de produzir qualquer forma, Ele estava
sozinho, sem forma e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode
compreender como Ele estava antes da Criação? Por essa razão, é proibido emprestar-lhe
qualquer forma ou semelhança, ou até mesmo chamá-lo pelo seu nome sagrado, ou indicá-
lo por uma única letra ou um único ponto...Mas depois que Ele criou a forma do Homem
Celestial [‫]עלאה אדם‬, Ele o usou como uma carruagem [‫ ]מרכבה‬para descer, e Ele deseja ser
chamado de acordo com Sua forma, que é o nome sagrado 'Yhwh". Em outras palavras, "En
Sof" significa "o ser sem nome".
(Azriel ben Menahem)

Parabrahman, literalmente, é “superior a Brahmâ”. É o supremo e infinito Brahma, o


“Absoluto”, a Realidade sem atributos e sem segundo; supremo universal, impessoal e inominado.
É o Princípio eterno, omnipresente, infinito, imutável, inconcebível e inefável. É o Único Todo
Absoluto, a Única Realidade Absoluta, Aquele, o supremo e eternamente não manifestado, que
antecede a todo o manifestado. É a Causa incausada do Universo, Raiz sem raiz de ‘tudo o que foi,
é e será’. Tal Realidade Una é, naturalmente, desprovida de todo e qualquer atributo, e permanece
essencialmente sem relação nenhuma com o Ser manifestado e finito.
Parabrahman não é ‘Deus’ pela razão de que não é um Deus. Como diz o Mândûkya
Upanishad, é Aquele “que é supremo e não supremo (parâvara)”: é supremo como causa e não
supremo como efeito. É o Espaço infinito, no mais elevado sentido espiritual. Para os nossos
sentidos e para a percepção dos seres finitos, é Não-Ser, no sentido de que é a única Seidade
(Beness); porque neste Todo se encontra oculta a sua coetânea emanação ou radiação inerente,
que, convertendo-se periodicamente em Brahma (a Potência masculino-feminina), desdobra-se
(transformando-se) no Universo manifestado.
O Espírito (ou Consciência) e a Matéria são os dois símbolos ou aspectos de Parabrahman,
o Absoluto, que constituem a base do Ser condicionado, seja subjetivo ou objetivo”.
Esta formulação, de cunho vedantino, encontra adequada correspondência no
ensinamento da Cabala acerca da Existência Negativa. “A Árvore da Vida define o Universo
relativo em todos os seus níveis. É o padrão prototípico. No entanto, acima dele, mais além de
Kether – a Coroa oca (…) – jaz o oculto da existência negativa.
A existência negativa é (…) a pausa que precede a música, o silêncio por detrás de cada
nota, a tela em branco detrás de cada pintura e o espaço vazio pronto para ser preenchido. Sem
esta Existência inexistente nada chegaria a ser. É um vazio e, contudo, sem ele e o potencial nele
encerrado, o universo relativo jamais poderia manifestar-se.
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A existência negativa está sempre presente em todos os níveis da criação. Subjaz ao tempo
e ao espaço. (…) A existência negativa permite a um homem ser quem é” – tal como permite a um
Cosmos ser o que é, acrescentamos nós.
“O Absoluto não mantém contato direto com a criação, mas o Ser penetra a matriz do
universo, sustendo-o como o silêncio detrás de cada som. Sem esta realidade negativa,
nada poderia existir”.

Outro aspecto do Absoluto é o ritmo que leva o universo a alternar estado de atividade
(manvantara) e repouso (pralaya). Considera-se que o estado neutro deve surgir pelo equilíbrio
entre dois opostos, o manifesto e o não-manifesto que coexistem no Absoluto. Estas forças
opostas em estado potencial dão orígem ao rítmo cósmico que é a própria natureza da Realidade
Suprema. Sendo a fonte de todos os rítmos conhecidos no universo, como o movimento dos
átomos e dos planetas, a vida e a morte, o sono e a vigília.

2.4 - O IMANIFESTADO EM OUTRAS TRADIÇÕES E MITOLOGIAS


Não é apenas na Sabedoria Oculta, na Vedanta e na Cabala que encontramos este mesmo
Ensinamento. Na verdade, a referência ao Absoluto Ser que é Não-Ser qualquer coisa
condicionada, a menção a um mais além mesmo da divina atividade logóica ou criativa, está
universalmente disseminada, nas grandes Religiões, nas grandes Tradições Espirituais, nas
Filosofias mais profundas.
“No início, havia esse Ser puro, uno, em verdade, sem segundo. Dizem que antes d’Ele era o
puro Não-ser, uno, em verdade, sem segundo; desse Não-ser nasceu a existência.”
(Chandogya-Upanishad);
“A respeito desta verdade, está escrito: antes de surgir o universo, Brahman existia como o
Não-manifesto. Do Não-manifesto, foi emanado o manifesto” (Taittirya-Upanishade);

No Bhagavad Gîtâ deparamo-nos com afirmações como estas:


“Tendo penetrado o Universo inteiro com um fragmento de Mim Mesmo, Eu permaneço
(além dele)” (X, 42) (Krishna, em vários passos do Bhagavad Gita, é posto a discursar como
se fosse a Divindade, tanto imanifestada, como manifestada);
“Ó Causa Primeira, Parabrahman, Infinito, Deus dos deuses, continente de todos os
mundos, Imperecível Ser e Não-Ser, Isso, Supremo! Primeiro dos deuses (…) supremo
contenedor de tudo o que vive” (XI, 37, 38).

Purusha é o Espírito manifestado (sacrificado, como se lê nos Vedas) em todo o Universo,


de que é o Logos. “Antes de”, “para além” do próprio Espírito está o Uno Ser/Não Ser Absoluto…
No Budismo setentrional, existe o ensinamento acerca de Amitabha, “o esplendor infinito”
ou “o espaço infinito” (correspondente ao Parabrahman e ao Mûlaprakriti vedantinos e, portanto,
ao Imanifestado).
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No Taoismo, bastará recordar as seguintes frases do Tao-te-King:
“Não-Ser e Ser saindo de um fundo único só se diferenciam pelos seus nomes. Este fundo
único chama-se Obscuridade” (I, 7-10);

Por sua vez, no Confucionismo, o equivalente de Parabrahman é Tian (“Céu”), o


imanifestado não-criador, ou Tian-sin (“Céu da Mente”).
No Mazdeísmo, menciona-se Zeroana Akerna, o Tempo sem limites ou a Causa
desconhecida. Dele exsurge o Logos, Ahura-Mazda, “trino diante das outras criaturas”.
Esta mesma noção aparece também no Judaísmo e no Cristianismo ortodoxo, que tratamos
em conjunto, dado partilharem parcialmente as mesmas Escrituras.
Assim, o Génesis, o primeiro livro da Bíblia, refere-se ao estado anterior a uma criação
nestes termos: “O mundo estava informe e vazio; as trevas cobriam o abismo e o Espírito Santo
pairava sobre as águas” (Idem, 1: 2). Estas águas primordiais correspondem a Mûlaprakriti, a
Virgem Celestial. As Trevas ou Obscuridade, no sentido superior, sempre aludem ao Ante-Cosmos
(logo, para além do Cosmos Manifestado): a Luz Absoluta só pode parecer, aos nossos olhos
(mentais) relativos, como Trevas, Obscuridade. O aparente paradoxo é evidente: Ser Absoluto é
Não Ser; Consciência Absoluta é Inconsciência; Som Absoluto é Silêncio; Luz Absoluta é
Obscuridade e Trevas. A Luz, o Verbo, o Logos inicia a criação, espoleta e ordena o Cosmos – o
Cosmos manifestado, relativo, condicionado… A luz implica relatividade, distinção entre o
Conhecedor, o Conhecido (objeto do Conhecimento) e o meio do Conhecimento.
No Livro Sagrado do Islamismo encontramos uma expressiva e belíssima referência ao
Divino Imanifestado, que não é o criador:
“Deus, Ele, é Uno. É a plenitude absoluta, bastando-se a Si mesmo. Não engendrou nem foi
engendrado” (Alcorão, CXII, 3).

Nos textos do Hermetismo, apesar de grande parte deles se ter perdido, deparamo-nos com
a mesma distinção, como, por exemplo, nestas passagens:
“Deus sempre esteve em repouso; sempre, também, a eternidade, do mesmo modo que
Deus, permanece imóvel – encerrando dentro de si, antes de nascer, este mundo (…). Na
verdade, o tempo, por muito que sempre esteja em movimento, possui a força e a natureza
da estabilidade sob uma modalidade que lhe é própria, em virtude dessa necessidade que o
força a voltar ao seu princípio” (Asclépio, 31).

Simão, o Mago, mencionava o Bem Aventurado e Imperecível Princípio ou, ainda, o Pai;
Basílides aludia a “Aquele que não é”, ao “Não-Ser” ao “Deus-Nada” (ouk no Theos); num texto
valentiniano, lia-se: a “Raiz do Todo, o Inefável que vive na Mónada. Ele residia sozinho em
silêncio, visto que ele era, e ninguém existiu antes dele”.

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No Antigo Egito, postulava-se sobre Nouth ou
Neith – a Deusa do Espaço Celestial, o Espaço que É
para além de toda a Manifestação. É a Noite
Primordial, o Caos Primordial, a Mãe dos Deuses,
especialmente de Amon-Ra. Nouth era também
Mehueret, a vaca celestial da qual nascera o céu antes
de a vida despertar.
Fazendo a transição para a Mitologia Grega, os
nomes Egípcios Nouth e Neith não podem deixar de
nos fazer evocar Nux ou Nix. Na Mitologia Grega, e,
aliás, também na Romana, existia, antes de tudo, a
referência ao Caos primordial (ou seja, antes do
surgimento do Cosmos manifestado) e a deuses
incriadores (ou que devoram os próprios filhos – assim
configurando o 1º Logos, o Logos Imanifestado), só
depois se chegando ao Demiurgo, Zeus ou Júpiter. Ora,
numa variante da cosmogonia órfica, o Caos e Nix ou
Nux (a Noite) estão na origem do mundo: Nix põe um
ovo (correspondente a Hiranyagarbha, o Ovo do
Mundo ), de que nasce Eros, enquanto Urano e Gaia se formam das duas metades da casca
partida. Nesta acepção, Nix corresponde a Mûlaprakriti – a raiz imanifestada da Matéria.
Nas cosmogonias da Suméria, da Babilónia, da Caldeia e da Assíria, encontramos também o
Espaço, o Caos Primordial – Absu, Apsu, Abiss ou Mummu – onde mora Ab, o Pai das Águas, e
Tiamat (a Grande Mãe, princípio deífico feminino, idêntico a Mûlaprakriti).
A Caldeia justifica uma referência especial, não só pelas várias fases de desenvolvimento da
sua Mitologia Cosmogônica, como pela influência direta que exerceu na Cosmogênese Judaica,
nomeadamente a vertida no Genesis bíblico. Se nos viramos para a Caldeia, encontramos aí Anu, a
Divindade oculta, o Uno, cujo nome, de resto, revela ser de origem sânscrita. Anu, que em
sânscrito significa ‘átomo’, aníyámsam anîyasâm (o mais pequeno dos pequenos), é um nome de
Parabrahman na filosofia Vedantina.
Existe UM, antes de todos os seres, imóvel, habitando na solidão de Sua própria unidade.
D’AQUELE surge o Deus Supremo, o Auto-engendrado, a Bondade, a Fonte de todas as
coisas, a Raiz, o Deus dos Deuses, a Causa Primordial, desdobrando-Se em Luz.
(Jâmblico)

Leia mais no Link: http://misticismonaturalmn.blogspot.com/

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2.5 – OS DOIS ELEMENTOS PRIMORDIAIS DO UNIVERSO: PURUSHA E PRAKRTI

O sistema denominado Sāmkhya compõe juntamente com o Yoga, seu par complementar,
uma das três duplas de Darśanas, isto é, constitui um dos seis sistemas teóricos divididos em
pares que formam o Hinduísmo Ortodoxo. O termo Sāmkhya, de acordo com o Monier-Williams,
significa literalmente, enumerar, classificar, assim, esse sistema classifica uma propagação de
princípios e fundamentos que estabelecem a estrutura cósmica.
O Sāmkhya está relacionado a uma teoria baseada na percepção e no conhecimento. É
uma doutrina que parte da relação entre os opostos Prakṛti e Puruṣa para atingir o
conhecimento deste último e consequentemente, a libertação.
De acordo com o Sāmkhya, o universo está estruturado em dois princípios opostos que se
complementam e impulsionam tudo em vida. A base do mundo é Puruṣa (mônadas vitais, o ser
perfeito, incondicionado, que é a meta a ser atingida) e Prakṛti, a força imanifesta da natureza, a
matéria. O homem possui a mesma estrutura do universo, logo, é formado por Puruṣa e Prakṛti.
• FOHAT
Fohat (em tibetano: vida cósmica ou vitalidade) é uma expressão usada na Teosofia para
designar a força de interação entre a Ideação Cósmica e a Substância Cósmica, o "incessante poder
formador e destruidor". A expressão Fohat é sinônimo da expressão daiviprakriti, a luz do Logos.
Ele é uma força fundamental na formação do cosmo. Durante um período de inatividade
do Universo (Mahapralaya), no Imanifestado antes da formação do cosmos objetivo, Fohat
permanece latente e coeterno com Parabrahman e Mulaprakriti. Ele é o aglutinador de ambos,
que liga e separa, sendo assim o desejo criador. No período de atividade (Mahamanvantara), de
manifestação do cosmos, Fohat permanece ativo e torna-se o Raio Divino da criação que aplica a
Ideação Cósmica no seio da Substância Primordial.

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Fohat é a essência da eletricidade cósmica, entendendo "eletricidade" como um atributo da
consciência. No mundo manifestado ele é a força vital, oculta que, sob a vontade do Logos
criador, une todas as formas, dando-lhes o primeiro impulso. Ele é a força propelente que torna o
Um em diversos, agregando e combinando os átomos. Na constituição humana ele corresponde
aos pranas.
No Hinduísmo, Fohat é esotericamente associado a Vishnu (o deus mantenedor do
Universo), na mitologia grega Fohat é associado ao deus Eros, e na mitologia egípcia ao deus
Atum (mitologia).
Existindo essa dualidade, purusha-prakrti, é necessário algo que una a Ideação à
Substância, o Espírito à Matéria, o Sujeito ao Objeto, da mesma forma como é necessário o
dinamismo que permita a ligação entre a ideia de um escultor e a pedra onde a obra se vai
executar – sendo por via desse dinamismo que a substância é trabalhada e moldada. Esse “algo”,
diz a Doutrina Secreta, é chamado Fohat pelos ocultistas. É a “ponte” através da qual as ideias
existentes no Pensamento Divino são imprimidas na Substância Cósmica, como Leis da Natureza.
Assim, pois, Fohat é “a energia dinâmica da Ideação Cósmica, ou, considerando de outro
ponto de vista, é o meio inteligente, a potência diretora de toda a manifestação, o Pensamento
divino transmitido e manifestado através dos Dhyân Chohans, os Arquitetos do mundo visível (…)
É o elo misterioso que une o Espírito à Matéria, o princípio animador que eletriza cada átomo
para lhe dar vida” . É através de Fohat que as ideias da Mente Universal são impressas na Matéria.
O Universo é emitido por Prakṛti pelo jogo e interação dos três gunas (qualidades,
modalidades, atributos…) que, antes do princípio, estavam em equilíbrio, no qual Aquilo, que
viria a ser o Universo, era ainda Imanifestado.
Os gunas são: sattva (compreensão, alegria, paz, leveza, pureza…), rājas (força vital, força
emotiva, dinamismo…) e tamas (resistência, obstrução, estagnação…). É a simples presença de
Puruṣa que faz romper o equilíbrio dos gunas, e, assim, precipita a manifestação do Universo.
A Sabedoria Iniciática nos ensina que a Substância Primordial é o Não Ser que, passando
do estado “passivo” ou indiferenciado para o “ativo” manifestado, se transforma no Ser. Quando
saindo do imobilismo aparente para plena atividade, Aquilo, ou TAT dos orientais, ao entrar na
Roda de Samsara, passa por uma mutação. Enquanto imanifestada, Ela é eterna, ao entrar em
atividade passa a ser limitada, com tempo de manifestação cíclica, periódica, com princípio e fim
bem definida. Na fase de polarização, tudo é finito, limitado, mortal, para no fim voltar ao Eterno
Presente, que sempre foi, é e será. É como aquela pedra de mó do moinho, que tenha ou não grão
para moer, ela continuará a girar.
❖ Purusha - Pólo Positivo - Espírito
❖ Prakriti - Pólo Negativo – Matéria

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O termo Ishwara é de origem sânscrita e significa Ser Cósmico. É um Ser da mais alta
Hierarquia que na sua Morada Divina é de natureza Andrógina, ou seja, encerra em si
simultaneamente as potencialidades masculina e feminina, positiva e negativa, solar e lunar.
Porém, quando se manifesta no Mundo Humano polariza-se como Pai e Mãe Cósmicos,
isto é, como Manu Masculino e Manu Feminino. Assim, embora se apresente como um Par ou
Gémeos Espirituais, etc., em essência são uma só Entidade. Este fenômeno caracteriza a existência
de todos os Avataras do Eterno.
Usando a Chave Filológica, o termo Ishwara é composto de ISH+WARA.
ISH = É a base do nome Ísis, feminina – A Grande Mãe Divina.
WARA = É o Grande Varão, masculino – O Manu.
Segundo a Ciência Iniciática, tanto Espírito como Matéria não são permanentes. Só passam
a existir no período de manifestação. Período de manifestação chamado pelos Brahmanes de Dia e
Noite de Brahma, também chamado de Manvântara ou Mavântara.
Concordando com a visão oriental, na questão 27 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec
questiona a espiritualidade sobre os elementos constitutivos do Universo da seguinte maneira:
L.E 27 - Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?
Resposta: Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, Pai de todas as coisas. Deus, Espírito e
matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal (...), informam
ainda da existência de um elemento intermediário, que é o fluido universal, elemento este
que permite ao Espírito exercer ação sobre a matéria.

A Umbanda também nos traz essa ideia:


“A Ciência Divina nos ensina que tudo o que Deus projeta tem dupla polaridade.”
(Pai Benedito de Aruanda)

Toda constituição tangível do Universo parte do elemento básico, o fluido cósmico que,
segundo André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, é o plasma divino, hausto do
Criador ou força nervosa do Todo Sábio.
Agindo sobre ele, a espiritualidade superior converte-o nas mais variadas expressões. É
com ele que os Espíritos Construtores constroem sistemas, constelações, em cujos campos a vida
se manifesta e se expande.
Não pode o homem, devido à sua pouca evolução para as questões espirituais, conhecer o
princípio das coisas; mas devido à inteligência, atributo superior dado por Deus, tem através da
Ciência buscado incessantemente esse conhecimento.
Só que a Ciência humana se limitou a considerar como únicas realidades existentes, a
matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento, chegou à conclusão de

92
que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas, que representam, em verdade, duas
expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada
ou concentrada.
Vemos, desta forma, que a Ciência só considerou na constituição do Universo, o elemento
material, quer em seu estado denso, ou em suas manifestações energéticas. Nesta particularidade,
é que podemos notar o avanço trazido ao mundo pela Ciência Espírita, definindo o elemento
material e o elemento espiritual como constitutivos de tudo que há no Universo.
Nem sempre nos é fácil separar esses dois elementos um do outro, devido aos vários
estados em que se pode transformar a matéria. Mas o importante é saber que, como nos afirma
Emmanuel, através do médium Chico Xavier, é lícito considerar-se espírito e matéria como estados
diversos de uma essência imutável...1 (confirmando a orientação dos Espíritos a Kardec),apesar de
o ponto de integração dos dois elementos serem ainda desconhecidos de Espíritos do nosso plano
de evolução.
Mas afinal, o que podemos entender como matéria? Esta pergunta também foi feita por
Kardec aos Espíritos, respondendo Eles da seguinte forma: “É o laço que prende o Espírito; é o
instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo exerce sua ação.”
A partir dessa resposta, o Codificador diz que é através da matéria que o Espírito atua,
sendo um elemento essencial para a evolução deste.
Resumindo então, vemos que são dois os elementos do universo: espírito e matéria. O
primeiro é o elemento inteligente do universo que, quando individualizado, é o Espírito. O
segundo é o elemento material. Todo tipo de matéria que conhecemos é uma modificação da
matéria básica, que é o fluido cósmico universal. As propriedades da matéria vêm das
modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união em certas
circunstâncias.

PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos através dos vídeos abaixo:
a) A Filosofia Sankhya - Purusha e Prakriti
Link: https://www.youtube.com/watch?v=CETDGq-x6Y8
b) Bhagavad Gita - Comentários filosóficos sobre o livro sagrado indiano
Link: https://www.youtube.com/watch?v=FYqJ5fwR4Ps&list=PL9r2LIDuEBQAkFO4X81BK_5PmOBDA5-
RF&index=13

93
2.6 - O LOGOS E SEU TRÍPLICE ASPECTO

“O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o
livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série
divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua
individualização.”
(Allan Kardec; A Gênese, VI–19)

Segundo o Ocultismo, o início da Criação foi a Unidade. Um ponto que continha tudo,
uma criação feita em três momentos, em três fases distintas chamadas de “Logos”. Assim nasceu o
que chamamos de Trindade.
Assim, podemos dizer que, do Todo que é Um, existem três Logos (aspectos manifestados
do Um) atuando na criação e sustentação de todas as coisas: O primeiro Logos, o Pai, é
representado pelo Poder-Vontade, é o Verbo do Antigo Testamento; o segundo aspecto do Logos
é a Mãe, agregadora, amorosa, geradora. Simbolizada pela matéria (mater - Mãe) ou a Natureza. E
o terceiro Logos é o Filho, o Sol, que transforma e cria.
A Kundalini (conhecida na Teosofia por Fogo serpentino) provém do segundo Logos, o
"laboratório do Espírito Santo, oculto nas entranhas da terra". É, digamos, a energia Divina em sua
forma mais "material", é a manifestação da "Primeira Onda de Vida" no seu sentido ascendente.
Os Logos também são identificados por suas qualidades:
❖ Primeiro Aspecto - Vontade, poder, propósito;
❖ Segundo Aspecto - Amor, sabedoria, magnetismo;
❖ Terceiro Aspecto - Atividade, inteligência criadora.

94
No pensamento Hindu, esses três aspectos se apresentam na Trimūrti, a trindade de
Brahma, Vishnu e Shiva e na sua contraparte Saraswati, Lakshimi e Parvati, formando, com o Um,
o Sete Sagrado.
No hinduísmo, Adi Shakti (a energia primordial) através de seus três principais aspectos – a
trindade divina, rege o universo.
• Criação por Brahma
• Preservação por Vishnu
• Transmutação por Shiva
Fundamentalmente os três são unos e interdependentes, isto é, um não pode existir sem o
outro, porque são as diferentes formas da mesma energia inicial. O mais importante é entender os
atributos, não as formas ou figuras que foram criadas posteriormente pela imaginação humana.
A "Trindade Divina" é o fundamento do hinduísmo, todas as outras divindades e deidades
são uma ou outra forma aliadas a ela, por exemplo, Saraswati – deusa da sabedoria é esposa do
Brahma; Lakshmi – a deusa da riqueza é a esposa do Vishnu; Ganesh é o filho de Shiva; Rama e
Krishna são encarnações de Vishnu.
Considerando que a constituição dos nossos Veículos e Princípios são da mesma natureza
do Logos a que estamos relacionados, qualquer modificação que se opera nas suas Auras se
refletirá, de maneira irreversível, no psiquismo da grande massa da Humanidade, embora ela não
tenha consciência do fenómeno. Daí os sábios hindus afirmarem que o Homem está sujeito à
influência do Ishwara, queira ou não queira.
O homem comum, por ignorar estas verdades, limita-se a falar rendido da Força do
Destino a que ninguém pode escapar. Os Iniciados procuram afinizar-se com essas Forças
Cósmicas e com isso estão sempre em harmonia com a Natureza que, em última análise, também
faz parte do contexto.
Conforme ensina o teósofo Charles Leadbeather:
“Do Absoluto, do Infinito, do Onipresente, em nosso atual estágio não podemos
saber nada, exceto que existe; não podemos dizer nada que não represente uma limitação, e
portanto inexata.
... Em qual estupenda altitude Sua consciência habita não sabemos, nem podemos
conhecer Sua verdadeira natureza como se mostra lá. Mas quando Ele se manifesta em
condições que estão dentro de nosso alcance, Sua manifestação é sempre tríplice, daí todas
as religiões O terem imaginado como uma Trindade. Três, ainda que fundamentalmente
Um; Três Pessoas (embora pessoa signifique máscara) e ainda Um Deus, mostrando-Se
naqueles Três Aspectos. Três para nós, olhando-O de baixo, porque Suas funções são
diferentes; Um para Ele, porque Os reconhece como apenas facetas de Si mesmo.

95
Todos estes Três Aspectos estão envolvidos na evolução do Sistema Solar; todos os
Três também estão envolvidos na evolução do homem. Esta evolução é Sua Vontade; o
método dela é o Seu plano...
N´Ele existem universos inumeráveis; em cada universo, incontáveis sistemas
solares. Cada sistema solar é a expressão de um poderoso Ser, a quem chamamos de Logos,
o Verbo Divino, a Deidade Solar. Para o sistema Ele é tudo o que os homens entendem
por Deus. Ele o permeia; não existe nada nele que não seja Ele; é a Sua manifestação nesta
matéria o que podemos ver. Porém Ele existe acima e fora do sistema, vivendo uma vida
própria estupenda entre Seus Pares. Como é dito numa Escritura Oriental: “Tendo
permeado este universo inteiro com uma partícula de Mim mesmo, ainda permaneço”.
Desta Sua excelsa vida não podemos saber nada. Mas do fragmento de Sua vida que
energiza Seu sistema podemos saber algo nos níveis inferiores de sua manifestação. Não
podemos vê-Lo, mas podemos ver Seu poder em ação. Ninguém que seja clarividente pode
ser ateu; a evidência é por demais tremenda.
De Si mesmo chamou à existência este poderoso sistema. Nós que estamos nele
somos fragmentos em evolução de Sua vida, Centelhas de Seu Fogo divino; d´Ele todos
procedemos; a Ele todos retornaremos.”

RESUMINDO...

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2.7 - PRALAYA E MANVATARA

“A Eternidade do Peregrino é como um abrir e fechar de olhos de Existência-por-si-


Mesma. O aparecimento e o desaparecimento dos Mundos são como o fluxo e o refluxo
periódico das marés.”
(DZYAN Apud BLAVATSKY, 2000 - v. I, p. 84)
“Uma respiração ou pulsação macrocósmica de Brahma ou Deus, corresponde a uma
respiração microcósmica do homem.”
(Vedas)

A Doutrina Esotérica ensina (...) que a Essência Una, infinita e desconhecida existe em toda
a eternidade, e que ora é ativa [Manvatara], ora é passiva [Pralaya], em sucessões alternadas,
regulares e harmônicas. Na linguagem poética de Manu, chamam-se esses estados Dias e Noites
de Brahma.
Esse é o nome que se dá aos períodos do Manvantara (Manu-Antara ou entre Manus) e do
Pralaya (eu Dissolução), o primeiro corresponde aos períodos ativos do Universo e o outro aos
tempos de Repouso relativo e repouso completo, que devem ocorrer ao terminar um Dia ou uma
Idade ou Vida de Brahmã.
Tomando 360 Manvantaras e igual número de Pralayas, obtem-se um "Ano de Brahman". A
duração de 100 "Anos de Brahman" forma uma "Vida de Brahman", também chamado de
Mahamanvantara, durando no total 311.040.000.000.000 de anos. Este é, segundo Blavatsky, o
período de atividade do cosmo, seguindo-se um período de inatividade, chamado Mahapralaya,
de igual duração.
Queremos lembrar que o estudo da religião hindu nos Puranas nunca deve ser interpretada
literalmente, nem num só sentido, as sentenças que ali se encontram, principalmente as que se
referem aos Manvantaras ou Kalpas devem ser entendidas em suas diferentes significações.
Antes da criação do universo só existia Parabrahman e mais nada, nem espaço e tempo,
nem sóis e planetas. Por vontade própria, ele se manifestou e sua energia operativa entrou em
ação começando o ciclo da expansão. Na opinião de pesquisadores contemporâneos este
momento corresponde ao momento de grande explosão do "Big Bang" – a mais recente teoria
sobre a criação do universo aceita no Ocidente. Em sânscrito, o fenômeno Big Bang chama-se
Bindu Visphot, traduzindo literalmente, explosão do ponto.
Nesse momento, liberou-se enorme quantidade de energia radioativa e vibratória e
começaram existir espaço e tempo. A dinâmica da energia radioativa tinha uma forma típica que
foi denominada na mitologia indiana como "Swastica" e a energia vibratória foi simbolizada pelo
"Om". Esses símbolos são usados para o bem estar e prosperidade e podem ser vistos
distintamente em todas as cerimonias auspiciosas.

97
Assim, começou mais um ciclo de expansão e retração, que não foi o primeiro nem será o
último. Após o fim do ciclo da expansão haverá retração, quando o universo se dissolverá no
Brahman para regenerar de novo.
Na mesma direção, Pietro Ubaldi diz que o universo possui um movimento contínuo.
Movimento significa trajetória; trajetória significa um objetivo a atingir. Na realidade, o aspecto
dinâmico se funde com o estático.
“A matéria se desmaterializa, desagrega-se e expande-se em forma de energia, vontade,
movi-mento; é um tornar-se, que por meio das experiências de infinitas vidas, reconstrói a
consciência ou espírito. Aqui, o ponto de partida é a matéria, e o ponto de chegada é o
espírito. Assim, a espiral, que antes era aberta, agora se fecha; a pulsação de regresso
completa o ciclo iniciado pelo de ida.” (Pietro Ubaldi)

Segundo Ramatís, no livro “O Sublime Peregrino”:


“O Universo é a sucessão consecutiva de "Manvantaras" ou "Grandes Planos", a se
substituírem uns aos outros, nos quais formam-se também as consciências individuais, que
nascidas absolutamente ignorantes e lançadas na corrente evolutiva das cadeias
planetárias, elas despertam, crescem, expandem-se, absorvem o "bem" e o "mal" relativos
às faixas ou zonas onde estacionam e depois, conscientes do seu próprio destino, atingem o
grau da angelitude!”
Pergunta: - Quais as características principais de um Grande Plano, ou Manvantara?
Ramatís: - Visto que a Criação, que é o produto do Pensamento de Deus, nunca teve
começo, assim como não terá fim, nem se subordinará nunca ao tempo e ao espaço, os
Mentores Siderais procuram expressar o seu processo criador tanto quanto seja possível ao
entendimento humano, por cujo motivo a situam, idiomaticamente, em duas fases
distintas e compatíveis com a compreensão humana. É óbvio que Deus não traçou divisões
em si mesmo, porquanto a sua manifestação é eterna, contínua e ilimitada. Mas a filosofia
oriental procurou distinguir, no Onipotente, a fase da sua "descida" à forma exterior-
matéria e, depois, o "retorno" ou a dissolução da substância, como a libertação do Espírito
Cósmico da forma. Em conseqüência, a "expiração" é a descida angélica para fora, ou
exterior, e que no Oriente se denomina o "Dia de Brama", isto é, quando Deus cria. A
segunda fase é a "aspiração", ou seja, a "Noite de Brama", quando então Deus dissolve o
Cosmo exterior.
O "Grande Plano" - denominação mais apropriada para a mente dos ocidentais - ou o
"Manvantara", da escolástica oriental, abrange, então, essas duas fases de expirar e
aspirar, ou sejam a Noite de Brama e o Dia de Brama. Perfaz cada fase o tempo de
2.160.000.000 de anos terrestres, somando ambas o total de 4.320.000.000 de anos, em
cujo tempo Brama, ou Deus, completa uma "Respiração", ou seja, um Grande Plano ou
Manvantara.
Cada signo zodiacal dura exatamente 2.160 anos, e um Grande Ano Astrológico
compreende a passagem completa do Sol pelos 12 signos, perfazendo, então, 25.920 anos.
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Os antigos atlantes não se referiam ao Grande Plano nem ao Manvantara, mas ao
"Supremo Giro de Ra", ou seja, o "Supremo Giro do Sol", que devia compor-se exatamente
de 2 milhões de signos zodiacais. Sendo cada signo de 2.160 anos, conforme a tradição
astrológica, dois milhões de signos somam 4.320.000 .000 de anos terrestres, ou seja um
Grande Plano ou Manvantara.
Os velhos iniciados dos Vedas e os instrutores da dinastia de Rama costumavam afirmar
que a respiração macrocósmica de Brama corresponde à respiração microcósmica do
homem.

Trazemos ainda, a visão de Leonardo Boff no livro “Uma cosmovisão ecológica: a narrativa
atual, em Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres”:
“Três grandes emergências ocorrem na cosmogênese e antropogênese: (1) a
complexidade/diferenciação, (2) a auto-organização/consciência e (3) a religação/relação
de tudo com tudo. A partir de seu primeiro momento, após o Big-Bang, a evolução está
criando mais e mais seres diferentes e complexos. Quanto mais complexos, mais se auto-
organizam, mais mostram interioridade e possuem mais e mais níveis de consciência até
chegaram à consciência reflexa no ser humano. O Universo, pois, como um todo possui
uma profundidade espiritual. Para estar no ser humano, o espírito estava antes no
universo. Agora ele emerge em nós na forma da consciência reflexa e da amorização. E,
quanto mais complexo e consciente, mais se relaciona e se religa com todas as coisas,
fazendo com que o universo seja realmente uni-verso, uma totalidade orgânica, dinâmica,
diversa, tensa e harmônica, um cosmos e não um caos.
As quatro interações existentes, a gravitacional, a eletromagnética e a nuclear
fraca e forte, constituem os princípios diretores do universo, de todos os seres, também dos
seres humanos. A galáxia mais distante se encontra sob a ação destas quatro energias
primordiais, bem como a formiga que caminha sobre minha mesa e os neurônios do
cérebro humano com os quais faço estas reflexões. Tudo se mantém religado num
equilíbrio dinâmico, aberto, passando pelo caos que é sempre generativo, pois propicia um
novo equilíbrio mais alto e complexo, desembocando numa ordem, rica de novas
potencialidades.”

PRÁTICA
1 – Acesse o link https://www.vedantaonline.org/os-vedas-sao-politeistas/. Leia e comente o
texto em questão explicitando suas opiniões.

99
2.8 - O SETE E A EQUAÇÃO DO UNIVERSO

ESTRELA DOS MAGOS


O 3 (plano das causas) + 4 (plano das formas) = 7
(plano da evolução) tem sido considerado pelos
estudiosos das culturas primordiais como a mais antiga
equação espiritual do mundo.
O algarismo 3 (três), associado ao princípio
espiritual, ao céu, ao masculino e ao triângulo é somado
ao quatro, símbolo do princípio material, da terra, ao
feminino, relacionado ao quadrado.
A junção destes elementos, encontrada também
nos apontamentos alquímicos e na hermenêutica
medieval, consubstancia no sete a representação da
perfeição refletida pela união do espírito e matéria, do
princípio masculino com o princípio feminino e
consequentemente, da geração da vida (o ovo cósmico).
Através da escolástica hindu, sabe-se que o universo é setenário, isto é, todas as
manifestações mais importantes da vida cósmica e planetária são disciplinadas ou regidas por um
padrão vibratório diretor, que é o número sete.
Entre essas manifestações setenárias, destacamos principalmente as seguintes: são sete as
cores fundamentais do espectro solar e da cromosofia do mundo material; sete, as principais
notas da música terrena; sete, os dias da semana e cada período lunar. Há sete pecados capitais e
sete virtudes principais, sete planetas astrológicos e sete esferas ocultas que se agrupam em torno
da terra, pois o espírito do homem só se libera depois que atinge o sétimo céu! Foram sete os
sábios da Grécia e as maravilhas do mundo; também são sete as raças-mães de cada orbe. Jacob,
em sonhos, viu os anjos subindo e descendo os sete degraus da escada evolutiva espiritual,
enquanto o apocalipse de João é pródigo em “sete selos, sete anjos, sete céus e sete castiçais”.
Em diversas atividades do homem, que dizem respeito aos momentos mais importantes da
vida, observa-se ainda o padrão setenário regendo-lhe as manifestações e responsabilidades: a
criança é considerada inocente até aos sete anos, em cuja idade o espírito então se integra
definitivamente no corpo físico; a puberdade no menino ou na menina chega aproximadamente
aos quatorze anos, isto é, duas vezes sete, em cuja época solidifica-se no homem o corpo astral da
emoção ou dos desejos; a maioridade ou emancipação só se faz aos vinte e um anos ou três vezes
sete, quando o homem já tem “juízo“, pois, realmente, em tal fase fica de posse consciente do
corpo mental, passando a raciocinar dali por diante sob sua inteira responsabilidade espiritual.
Ensina-nos a ciência transcendental que o duplo-etérico possui sete chacras ou centro de
forças etéricas, os quais correspondem às sete regiões principais do corpo físico e do perispírito do
100
homem; o prana ou vitalidade que alimenta esses chacras também é uma síntese de sete cores,
que atestam um tipo de vibração ou variedade de cada zona corporal humana. Aliás, o próprio
prana está colocado entre os sete elementos, que correspondem às sete regiões, ou sete
invólucros do universo ou de Brahma, como dizem os orientais, a saber: prana, a vitalidade,
manas, o princípio inteligente ou a mente; o éter, o fogo, o ar, a água e a terra.
Eis por que as filosofias e doutrinas espiritualistas da terra, em sua essência, tratam da
revelação cosmogônica pela mesma ordem setenária, embora às vezes variem, entre si, nas suas
denominações peculiares e especulações filosóficas, conforme seja a índole, o temperamento e as
tradições de cada povo.
Assim, por exemplo, os rosacruzes refere-se a sete divisões com relação ao homem, na
seguinte forma: o mundo de deus, o dos espíritos virginais, o do espírito divino, o do espírito da
vida, o do pensamento, o dos desejos e da matéria.
Embora se verifique aparente diferença com a mesma anunciação feita pela yoga, na
intimidade espiritual ambos se concordam malgrado a última assim especifique a sua definição
setenária: espírito mente espiritual, intelecto, mente instintiva, prana ou força vital, corpo astral e
corpo físico.

2.8.1 - AS DIVISÕES DO UNIVERSO SETENÁRIO


Onde quer que um mundo ou sistema de mundos esteja evoluindo, lá o plano foi traçado
na mente universal; a força original vem do espírito, a base é a matéria – que é de fato invisível –;
a Vida sustenta todas as formas que requerem vida, e o Akasha/Éter é o elo entre a matéria de um
lado e o espírito-mente, do outro.
Segundo a Cosmogonia Umbandista, Deus é um centro energético consciencial universal,
de qualidades geradoras e sustentadoras, maternas e paternas, de onde todas as energias
existentes provêm e para onde convergem. Para os Umbandistas, Deus emana de si e através dos
Orixás e dos guias (espíritos desencarnados) suas qualidades/virtudes, auxiliando os homens em
sua caminhada para a elevação espiritual.
Deste núcleo de consciência/poder (Deus, Zambi, Olorum) emanaram-se energias
primordiais atuantes na natureza. São em número de sete – como sete são os raios luminosos da
refração da luz, como sete são os chacras principais de nosso corpo físico, como sete são os corpos
que possuímos, entre o material e os de matéria menos densa. Estas sete forças primordiais são o
que chamamos na Umbanda de Orixás, que não são forças DA natureza, mas sim forças atuantes
NA Natureza, já que tiveram seu início em Deus, sendo manifestações dele.
Os Orixás, enquanto energias divinas, expressam as principais qualidades do princípio
criador e as principais áreas de desenvolvimento e evolução para todos os seres. Estas sete
energias emanadas de Deus são agrupadas na Umbanda em suas Sete Linhas Mestras ou
101
Principais – as Sete Linhas de Umbanda, dentro das quais estão as vibrações energéticas de todas
as entidades que trabalham em suas fileiras, sejam pretos velhos, caboclos, erês etc.
Rubens Saraceni informa que no planeta Terra o magnetismo que agrega, funde e irradia o
fluido universal e que são parte da criação dos seres, se dividem em 7 tipos. Cada um destes tipos
corresponderia a um Trono ao qual chamamos de Orixás ancestrais.
Quando dizemos que somos regidos, abençoados ou imantados pelos Orixás podemos
entender que é pelo magnetismo desses tronos que nossas vibrações mentais, nossos sentimentos,
nossas intenções, ideias e toda a energia que depositamos em função de algo, são acolhidas,
absorvidas, condensadas, transformadas e irradiadas de volta a nós.
“Essas irradiações começam em Deus e chegam até nós por meio das ondas vivas,
transportadoras de fatores, essências, elementos e energias.”
Rubens Saraceni

102
Conforme ensina a Magia Divina, trazida por Rubens Saraceni, são Sete (7) os Princípios e
os Tronos de Deus:

OS SETE PRINCÍPIOS
1. Princípio da Fé - Trono Fé - (Campo Religiosidade) - Rege a Religiosidade.
2. Princípio do Amor - Trono Amor - (Campo Concepção) - Rege a União.
3. Princípio do Conhecimento - Trono Conhecimento (Campo Sabedoria) - Rege o
Aprendizado.
4. Princípio da Justiça - Trono Justiça - (Campo do Equilíbrio) - Rege a Razão.
5. Princípio da Lei - Trono da Lei - (Campo da Ordenação) - Rege o Caráter e a
Determinação do cumprimento da Lei.
6. Princípio da Evolução - Trono Evolução - (Campo da Transmutação) - Rege o
Aperfeiçoamento nas passagens dos estados evolutivos.
7. Princípio da Geração - Trono da Geração - (Campo maternidade e criação) - Rege a
natividade, criação, amparo à vida.

OS SETE TRONOS
a. Trono da Fé - Rege a Religiosidade
b. Trono do Amor - Rege a União
c. Trono do Conhecimento - Rege a Sabedoria
d. Trono da Justiça - Rege a Razão
e. Trono da Lei - Rege o Caráter, determinação ao cumprimento da lei
f. Trono da Evolução - Rege a evolução das formas e consciências
g. Trono da Geração - Rege a Natividade, amparo à vida, rege o Criar

PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos assistindo o vídeo:

Itan, A criação do Mundo Iorubá. Mitologia Africana.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=xqrxAA_OKFk
103
2.8.2 - DOS SETE REINOS DE EVOLUÇÃO

“A alma dorme na pedra, sonha na planta, move-se no animal, desperta no homem,


ilumina-se nos mestres e cosmifica-se nos deuses.”

Antes de falarmos do homem, há que se falar nos Reinos que se apresentam em número de
sete:
1. O primeiro é o Reino Mineral, que representa e comporta a consciência mineral;
2. O segundo, o Reino Vegetal, com a consciência vegetal;
3. O terceiro, o Reino Animal, consciência animal;
4. O quarto, o Reino Humano, consciência humana;
5. O quinto, o Reino Espiritual, consciência espiritual;
6. O sexto, o Reino Angelical, consciência angelical; e
7. O sétimo, o Reino Divino, consciência divina.
A rigor, tudo isto diz respeito à Grande Evolução Humana e suas subdivisões evolutivas.
Simbolicamente, os três primeiros reinos remetem à condição pré-humana nas sucessivas rondas
de evolução, incluídos nela os hominídeos; e os três últimos, ainda vindouros, à futura situação
pós-humana, pela qual os Mestres trabalham. Mas é na abrangência de todos os reinos que ocorre
a Grande Evolução Humana, considerando, então, o desenvolvimento consciencial e iniciático,
possibilitado pela vivência e experimentação dos diferentes planos da criação.

104
CAPÍTULO 6 - COSMOGÊNESE
SEGUNDO A CIÊNCIA

1 – COSMOLOGIA
A palavra cosmologia tem sua origem na Grécia Antiga, sendo cosmos o radical que
significa, para nós, “universo” e logos o mesmo que “razão, racionalidade, organização mental” ou
“ciência”. O cosmólogo (aquele que estuda cosmologia) tem por objetivo entender o Universo e
determinar qual é a sua origem, com base em raciocínios lógicos e fugindo das fabulações e
narrativas mitológicas. O que um cosmólogo faz é tentar entender como o Universo está
organizado para, com base nisso, determinar sua origem.
Há quase 14 bilhões de anos, o universo em que vivemos se expandiu graças a um evento
extraordinário: uma explosão de proporções inimagináveis que foi chamada de Big Bang. Calcula-
se que, numa fugaz fração de segundo, o universo se expandiu exponencialmente, indo muito
além dos limites que podem ser alcançados pelos nossos melhores telescópios.

105
Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito, Demócrito e muitos outros
filósofos eram chamados de cosmólogos porque tentaram descobrir qual era a origem do
Universo. Tentando apresentar uma alternativa para as explicações mitológicas sobre a
constituição de tudo, esses filósofos partiram para um movimento de observação da natureza e a
tentativa de compreensão dela. Procuraram aceitar somente aquilo que estivesse racionalmente
solidificado em nexos causais, com abstrações racionais, mas sem fabulações. Grosso modo, eles
procuravam uma explicação que fizesse sentido.
Hoje em dia, a cosmologia está incorporada na Astrofísica e na Astronomia, contando com
modernos equipamentos óticos de observação e avançadíssimos processadores e softwares para
processamento de dados. A cosmologia atual também conta com cálculos matemáticos, fórmulas
físicas e um gigantesco trabalho científico para desvendar a organização e a origem do cosmos.

2 – TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO UNIVERSO


Existem diversas teorias científicas a respeito da origem do Universo. As mais aceitas são a
do Big Bang e a teoria inflacionária, que se complementam. No entanto ambas teorias conseguem
explicar o que ocorreu a partir dos primeiros instantes da expansão Universal, mas não
conseguem explicar as condições iniciais, isto é, o que ocorreu antes da própria expansão. Existem
vários modelos teóricos, no entanto, nenhum foi comprovado.
A Origem do Universo é um dos temas mais importantes da Cosmologia e continua sendo
um dos maiores mistérios da Ciência.

a) TEORIA CLÁSSICA DO BIG BANG


A teoria clássica do Big Bang lembra, pelo menos em um aspecto, a criação bíblica: Ela diz
que o tempo e o universo tiveram um começo. Será que isso é verdade? Difícil afirmar com
certeza, mas as teorias modernas sobre a origem do mundo preveem a existência de um “antes”.
Como a ciência não prescinde de provas e demonstrações concretas, teria sido apenas um
ensaio cosmogônico quando o padre e cosmólogo belga Georges Lemaître (1894-1966) sugeriu
pela primeira vez que o universo teria tido um início repentino numa grande explosão - O Big
Bang.
No final dos anos de 1940, o astrônomo George Gamow sugeriu que a explosão inicial
poderia ter deixado resquícios observáveis até hoje. Ele pensou que um universo tão compacto e
quente teria emitido muita luz. Com a expansão, a temperatura característica dessa luz teria
abaixado. Segundo cálculos simples, hoje ela talvez pudesse ser observada na radiação de
microondas, com uma temperatura de cerca de 5 graus Kelvin.

106
Em 1965, dois engenheiros, Arno Penzias e Robert Wilson, procuravam a origem de um
ruído eletromagnético que estava atrapalhando as radiopropagações de interesse para um sistema
de telecomunicações. Descobriram que a radiação vinha de todas as direções para as quais
apontassem sua antena. Mediram a temperatura dessa radiação; eles encontraram um valor para a
temperatura não muito diferente do previsto, de 2,7 graus Kelvin (próximo ao zero absoluto). Era
a confirmação da teoria do Big Bang; Penzias e Wilson receberam o Prêmio Nobel de Física em
1978.
As diversas descobertas no campo da física atômica que se seguiram demonstram que
quantidades titânicas de energia podem não apenas transformar como criar matéria (E=mc²),
além do que o estudo da história recente das galáxias deu mais prestígio ainda a essa teoria agora
famosa como a Teoria do Big Bang.
Essa teoria, revisada e corrigida, explica o surgimento do universo a partir do acúmulo de
imensurável quantidade de energia em um único ponto, chamado de singularidade primordial
que teria explodido, e no momento da explosão teria originado não apenas toda a matéria de que
se compõe o universo, como ainda teria originado o tempo, a gravitação universal, e as outras leis
físicas até então inexistentes.

b) UNIVERSOS PARALELOS
Segundo Alan Guth, físico do Mit di Boston (EUA), o nosso universo surgiu a partir de uma
instabilidade do “vazio” primordial. Esse vazio era semelhante a um fluido extremamente quente,
no qual surgiam bolhas em contínua expansão… exatamente como acontece numa panela d’água
em ebulição. Nosso universo era uma das bolhas, as outras bolhas eram universos “paralelos” ao
nosso. O Modelo de Guth foi superado pelo de Andrei Linde, físico da Universidade de Stanford
(EUA), segundo o qual os universos não nascem de um estado primordial quentíssimo, mas sim
de flutuações de certos parâmetros no vazio. Segundo Linde, a realidade última é um
“multiverso”: uma espécie de fluxo eterno de universos que nascem uns dos outros. O universo
seria constituído de muitas bolhas que, por sua vez, produzem novas bolhas, em um processo
infinito. As bolhas são criadas a partir de repentinas mudanças das características energéticas do
vazio. As constantes físicas (como a velocidade da luz) teriam valores diferentes em cada uma das
bolhas.

c) UNIVERSO-MÃE
Um universo primordial genitor de si mesmo e de todos os outros universos, entre os quais
o nosso. Esta é a ideia de J. Richard Gott e Li-Xin Li, físicos da Universidade de Princeton, EUA. O
modelo é similar ao multiverso de Linde (hipótese precedente), mas segundo Gott e Li no
princípio de tudo existe um “universo-mãe”, um mundo no qual a estrutura espaço-tempo se

107
fecha e se completa em si mesma, como uma rosca. Desse modo, o passado coincide com o futuro,
como um trem que gire em círculo passando sempre pelos mesmos lugares. E, desse modo,
continuamente fechando o círculo sobre si mesmo, como uma serpente que come o próprio rabo,
o universo-mãe geraria outros universos ad infinitum, entre eles também o nosso.

d) TEORIA DAS CORDAS

De acordo com a teoria das cordas, a matéria é feita de cordas oscilantes.


O que chamamos de teoria das cordas nada mais é que um grande campo de estudo da
Física que reúne os conhecimentos da relatividade geral com os fundamentos da mecânica
quântica.
Para os teóricos da área, as cordas são as menores constituintes da matéria, de tamanhos
compatíveis com o comprimento de Planck (10-35 m). A forma como as cordas oscilam é aquilo
que dá molde a todas as partículas e forças que existem no Universo.
A teoria atual sobre as interações da natureza é conhecida como o modelo-padrão. O
modelo padrão é uma construção teórica produto do trabalho de um grande número de cientistas
ao longo dos últimos séculos. No entanto, entre as forças existentes na natureza, a força
gravitacional ainda não pode ser explicada nos mesmos termos que as demais forças. É por esse
motivo que a teoria das cordas surgiu: unificar a interação gravitacional com o mundo quântico.
De acordo com a teoria das cordas, em escalas muito pequenas, inferiores ao tamanho do
núcleo atômico, toda a matéria pode ser descrita pelos modos vibracionais de pequenas cordas
fechadas.
Resumidamente, podemos dizer que todas as partículas (quarks, elétrons e até mesmo os
bósons) são produzidas por diferentes oscilações das cordas. A realidade, entretanto, é que a
teoria das cordas é um objeto teórico matemático extremamente complexo, que surgiu por volta
de 1960 e, desde então, vem sofrendo alterações e acréscimos na tentativa de explicar
satisfatoriamente as interações da natureza.
108
Atualmente, existem diversos estudos feitos com base na teoria das supercordas. Em alguns
deles, existem interpretações que exigem a existência de 11 dimensões, e alguns, um pouco mais
audaciosos, propõem a existência de 27 dimensões de espaço-tempo.

e) TEORIA M
Em 1995, Edward Witten sugeriu que as diversas interpretações matemáticas da teoria das
cordas tratavam-se, na verdade, da mesma coisa, e, dessa forma, deu origem ao que chamamos de
teoria-M, uma teoria unificada. Uma das suposições que emergem dessa teoria é a possibilidade
de existirem universos “paralelos” ao nosso.
O Big Bang seria o resultado do choque entre dois deles. Essa ideia deriva da teoria das
supercordas, que diz que a matéria é formada por cordas microscópicas vibrando no espaço-
tempo. Cada vibração daria origem a um tipo de partícula elementar.
• Gravidade quântica em loop
A Teoria defende que antes de o “nosso” Universo existir, haveria outro, que também
surgiu de um ponto supermassivo, se expandiu e começou a encolher, chegando à singularidade
do Big Bang. Nessa hipótese, dá para saber qual será o nosso destino…

No artigo dos físicos Stephen Hawking e Thomas Hertog, estes descrevem uma realidade
na qual nosso universo observável teria sido derivado de um universo maior e inobservável.
“Não estamos reduzidos a um universo único e simples.”
(Stephen Hawking)

109
f) TEORIA DOS BURACOS DE MINHOCA
Os buracos de minhoca foram teorizados pela primeira vez em 1916, embora não fosse o
que eram chamados na época. Enquanto revisava a solução de outro físico para as equações da
teoria da relatividade geral de Albert Einstein, o físico austríaco Ludwig Flamm percebeu que
outra solução era possível. Ele descreveu um “buraco branco”, uma inversão teórica do tempo de
um buraco negro. As entradas para os buracos negro e branco poderiam ser conectadas por um
conduto espaço-temporal.
Em 1935, Einstein e o físico Nathan Rosen utilizaram a teoria da relatividade geral para
elaborar a ideia, propondo a existência de “pontes” através do espaço-tempo. Essas pontes
conectam dois pontos diferentes no espaço-tempo, teoricamente criando um atalho que poderia
reduzir o tempo de viagem e a distância. Os atalhos chegaram a ser chamados de pontes Einstein-
Rosen, ou buracos de minhoca.
Os buracos de minhoca podem não apenas conectar duas regiões separadas dentro do
universo, mas também conectar dois universos diferentes. “Um buraco de minhoca não é
realmente um meio de voltar no tempo, é um atalho, então algo muito distante está muito mais
próximo”, escreveu Eric Christian, da Nasa.

110
PRÁTICA
1 – Complemente seus estudos assistindo os vídeos abaixo:
a) Universo: Os Impressionantes Buracos de Minhoca | Ei Nerd
Link: https://www.youtube.com/watch?v=pY03hV8gezs
b) Filme: Interestellar (LEG)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=LpdTsygor0A

3 - MATÉRIA ESCURA
Matéria, como a conhecemos; Átomos, estrelas e galáxias, planetas e árvores, pedras e nós.
Este tipo de matéria é responsável por menos de 5% do universo conhecido. Cerca de 25% é
matéria escura; e 70% é energia escura. Ambas são invisíveis. Isso é meio estranho porque sugere
que tudo o que experimentamos é, na verdade, apenas uma pequena fração da realidade. Mas fica
pior. Nós realmente não temos ideia do que são matéria e energia escuras, ou como elas
funcionam. Temos certeza de que elas existem. Então, o que nós sabemos? A matéria escura é o
material que possibilita a existência de galáxias. Quando calculamos por que o universo é
estruturado da maneira como é, rapidamente ficou claro que simplesmente não há matéria
normal suficiente. A gravidade da matéria visível não é forte o suficiente para formar galáxias e
estruturas complexas.
A matéria escura é provavelmente composta de uma partícula exótica complicada que não
interage com a luz e a matéria da maneira que esperamos, mas, no momento, simplesmente não
sabemos. A energia escura é ainda mais estranha e misteriosa. Não podemos detectá-la, não
podemos medi-la e não podemos prová-la.
Certamente existe mais matéria nas galáxias que não emite luz, mas as evidências indicam
que há um limite máximo para a matéria normal (aquela feita de átomos) presente no universo.
Evidências vindo da medição da radiação cósmica de fundo, por exemplo, apontam que no
máximo 5% da densidade de massa-energia do universo e 20% da massa dos aglomerados está na
forma de átomos.
E como a matéria escura afeta o universo? Aparentemente, ela é responsável pelas
estruturas que vemos no universo, como galáxias e aglomerados; é ela que “segura” estes objetos
imensos, não deixando que se desfaçam.
Como curiosidade, a proposta de uma matéria escura na década de 1930 por Fritz Zwicky
não foi levada a sério porque o suíço tinha entrado em atrito com muitos colegas na comunidade
astronômica. Em 1962, a astrônoma Vera Rubin fez a mesma descoberta, que novamente não foi
111
levada à sério, desta vez porque ela era uma mulher. Ela persistiu e conseguiu atenção da
comunidade em 1978, com um estudo profundo de 11 galáxias, inclusive a nossa.
A energia escura tem sua origem nos trabalhos para entender a expansão acelerada do
universo. Basicamente, a teoria atual não consegue explicar essa aceleração. Uma das
especulações é que a aceleração é consequência de uma nova forma de matéria, apelidada
“energia escura”, que também não foi detectada até agora.
É chamada de “escura” porque deve interagir muito fracamente com a matéria, como a
matéria escura, e é chamada de energia porque uma das coisas de que estamos certos é que ela
contribui com cerca de 70% da energia total do universo. Se descobrirmos o que é, podemos então
trocar o nome para algo menos misterioso.

Proporção de matéria e energia (normal e escura) no universo.


Com o estabelecimento do modelo cosmológico do Big Bang, acreditava-se que a expansão
inicial de 13,7 bilhões de anos atrás estaria diminuindo com o tempo, mas duas equipes de
pesquisadores independentes descobriram em 1998 que a expansão estava acelerando.
E como a energia escura afeta o universo atualmente? Ela é responsável pela aceleração
cósmica, e equipes internacionais de astrônomos estão trabalhando para refinar a medida desta
aceleração. Dela depende o julgamento da constante cosmológica de Einstein, uma possível
compreensão da teoria fundamental da natureza (gravidade quântica e o estado quântico do
universo), e o destino do universo (Big Chill ou Big Rip?).
As duas, matéria escura e energia escura, possuem diferenças enormes. A matéria escura
atrai e a energia escura repele, ou seja, a matéria escura é usada para explicar uma atração
gravitacional maior que o esperado, enquanto a energia escura é usada para explicar uma atração
gravitacional negativa.
112
Além disso, os efeitos da matéria escura se manifestam em uma escala de 10 megaparsecs
(um megaparsec corresponde a 3,2 milhões de anos luz, aproximadamente) ou menor, enquanto
que a energia escura parece que só se torna relevante em escala de 1.000 megaparsecs ou mais.
Nossas melhores mentes estão trabalhando no problema e nossa melhor tecnologia está
examinando o cosmos, e, por enquanto, não há outra explicação para os efeitos que observamos:
no entanto, a matéria escura e a energia escura são reais.

PRÁTICA

1 – Aprofunde seus conhecimentos através dos vídeos abaixo:


a) Matéria e Energia escura.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=eVl6VtUcM_8
b) Palestra - Cosmologia Moderna (Origem e Fim do Universo).
Link: https://www.youtube.com/watch?v=QtQA4xd0w0U
c) Cosmos EP 1 - Os Limites do Oceano Cósmico – Dublado
Com Neil DeGrasse Tyson.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=u8f_gz4PvWI
d) Teoria das cordas | Astronomia #9
Link: https://www.youtube.com/watch?v=sYPkIWeEYtk

2 – Assista o filme “Teoria de Tudo”, sobre a vida e as teorias do físico Stephen Hawking e se lhe
interessar, leia o livro “Universo numa Casca de Noz”, do mesmo autor.

113
CAPÍTULO 7 – A CRIAÇÃO DA VIDA

“Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se
movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da
Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos
cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de
ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os
orgulhosos e glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos
se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da
lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e
repercutam de um extremo a outro do Universo.
Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também,
uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu:
Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.”
(O Espírito de Verdade)

114
1 - O SURGIMENTO DA VIDA NA TERRA
A verdadeira vida não é uma síntese de substâncias protéicas (...); a vida não
reside na evolução das formas, mas na evolução do centro imaterial que as anima;
a vida não está na química complexa do mundo orgânico, mas no psiquismo que a
guia (...)
(Pietro Ubaldi – Livro: A Grande Síntese)
A vida na Terra teria surgido há cerca de três bilhões de anos, provavelmente quando
formas primitivas desenvolveram estratégias mais eficazes de captar energia do sol, segundo
estudo publicado na revista científica Nature. Mas como será que ela se deu?
Durante séculos, houve várias respostas para essa pergunta. A mais comum é a religiosa. A
vida teria origem em um evento sobrenatural. Houve também quem acreditasse que a vida surgia
espontaneamente a partir da matéria, tese conhecida como a da Geração Espontânea, que
prevaleceu até o século 19. E houve também quem sugerisse que a vida e a matéria coexistem
desde a origem do planeta.
Para a maioria dos cientistas, contudo, a vida nasceu de uma série de reações químicas
ocorridas sob condições especiais. A base dessa explicação surgiu na década de 1950 quando os
cientistas Harold Urey e Stanley Miller produziram aminoácidos essenciais à vida ao misturarem
os elementos presentes na atmosfera primitiva e os submeterem a descargas elétricas, simulando
os raios na atmosfera.
Desde então, os cientistas conhecem os principais ingredientes que deram origem à vida. A
base seria o carbono, que serve como uma espécie de liga entre os demais ingredientes. Do nosso
DNA às unhas de nossos pés, o carbono está presente como um dos mais importantes elementos
da vida. Acontece que o carbono é abundante no Universo e nem por isso há vida em todos os
planetas. O segredo da receita da vida na Terra estaria então no ambiente em que o carbono e
outros ingredientes se mesclaram.
A primeira dessas condições foi a existência de água. A segunda foi a existência de uma
atmosfera gasosa exposta a altas temperaturas e descargas elétricas. Dentro dessa espécie de
cozinha primordial, surgiram os primeiros compostos complexos, alguns deles cercados por uma
fina membrana externa, capazes de se auto-replicar ao reagir com a energia do ambiente. Nasciam
assim as primeiras bactérias, capazes de sobreviver a temperaturas altíssimas até hoje elas são
encontradas na cratera de vulcões, que se reproduziam usando como energia o hidrogênio, o
dióxido de carbono ou o enxofre.
Até aí, tudo o que chamamos de vida poderia se resumir a essas bactérias. Mas o grande
salto que a vida deu no planeta ocorreu quando uma delas passou a se comportar de uma maneira
diferente, captando a luz sobre um pigmento verde (clorofila) e transformando o dióxido de

115
carbono em dois elementos: o carbono, usado para sua nutrição, e oxigênio, liberado para a
atmosfera como um subproduto.
Ao ser liberado durante milhões de anos, o oxigênio terminou fazendo da Terra um planeta
completamente diferente dos outros conhecidos no Universo. O oxigênio liberado pela
fotossíntese lentamente transformou a atmosfera e eliminou alguns dos gases que teriam
impedido o desenvolvimento da vida, escreveu o biólogo inglês Richard Fortey, autor de Vida:
Uma Biografia Não Autorizada. Como explica o biólogo, foi esse fenômeno que permitiu o
surgimento de organismos mais complexos, como o próprio homem.
O mistério aqui é saber o que fez com que essa bactéria se comportasse dessa maneira.
Apesar da experiência da década de 1950 ter produzido aminoácidos fundamentais à vida, ela não
conseguiu produzir vida. Por isso mesmo, há quem considere a hipótese de que a vida na Terra
pode ter vindo do espaço, talvez trazida por um dos milhares de meteoritos que caíram no planeta
em seus primórdios. Essa hipótese é conhecida como Panspermia.
Segundo a Panspermia, os seres vivos não teriam se originado em nosso planeta, mas sim
em outro ponto do universo, tendo sido transportados pelo espaço cósmico, possivelmente sob
forma de esporos. Seus defensores argumentam que o lapso de tempo necessário à evolução da
vida seria maior que os 4,5 bilhões de anos desde a formação da Terra, mas não oferecem
nenhuma ideia de onde ou como a vida teria realmente surgido. Observe-se, porém, que a
possibilidade de compostos orgânicos simples formados em cometas ou em outros pontos do
espaço é aceita por muitos defensores do modelo clássico para a origem da vida.
Em “O Livro dos Espíritos”, Kardec coloca o tema em pauta sob a análise dos Espíritos
superiores, nas questões 44 e 45: “Donde vieram para a Terra os seres vivos?
Resposta: A Terra lhes continha os germes, que aguardavam momento favorável para se
desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram, desde que cessou a atuação da força que
os mantinha afastados, e formaram os germes de todos os seres vivos. Estes germens
permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o
momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se uniram, então, e se
multiplicaram.
Logo, a Doutrina Espírita adota em seus princípios a panspermia que dá embasamento a
pluralidade dos mundos habitados, mostrando que a vida está em toda parte, aqui na Terra ou
muito além do nosso pequeno mundo.

116
2 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE

"Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos


filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em
experiência, de milênio a milênio".
(André Luiz - No Mundo Maior)

O Espírito é o princípio inteligente do Universo, afirmam os maiores da espiritualidade, na


questão 23 de “O Livro dos Espíritos”. É importante observar que aí os Espíritos definem o
elemento inteligente do universo, e não a individualidade deste, que são os seres inteligentes do
Universo, conforme definem na questão 76.
Quanto à origem dos Espíritos, quase nada se sabe. Allan Kardec diz:
"Desconhecemos a origem e o modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que eles são
criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento, porém perfectíveis e
com igual aptidão para tudo adquirirem e tudo conhecerem. Na opinião de alguns filósofos
espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e
elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a
vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria, por assim dizer, o
período de incubação. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há
filiação corporal."

Hoje não resta mais dúvida de que os Espíritos, em sua longa trajetória, têm percorrido os
diversos reinos da natureza. O pensamento de Léon Denis, de que "a alma dorme na pedra, sonha
na planta, move-se no animal e desperta no homem", está plenamente incorporado ao corpo
doutrinário do Espiritismo.
André Luiz, no livro "Mecanismos da Mediunidade" informa:
"Temos, hoje, o Espírito por viajante do Cosmo, respirando em diversas faixas de evolução,
condicionados nas suas percepções, à escala do progresso que já alcançou". (...) Tal
progresso, estampado no campo mental de cada alma, é condicionado por duas variantes:
o tempo de evolução, ou seja, aquilo que a vida já lhe deu, e o tempo de esforço pessoal na
construção do destino, ou seja, aquilo que ele próprio já deu à vida".

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3 - A EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO INTELIGENTE
“Não venho de nenhum lugar, e não pertenço a tempo algum.
Fora do tempo, meu ser espiritual vive sua existência eterna.”
(Cagliostro)

3.1 - AS MÔNADAS
Como se nos é ensinado na Doutrina Secreta:
““Diz o bem conhecido aforismo Cabalístico: Uma pedra se torna uma planta; a planta,
uma besta; a besta, um homem; o homem, um espírito; e o espírito, um deus”.

A ‘centelha’ anima todos os reinos por sua vez antes que entre e anime o homem divino,
entre o qual e seu predecessor, o homem animal, há toda a diferença do mundo. A Mônada -
(Super Alma Universal)... existe primeiro de tudo, lançada abaixo pela lei da evolução na mais
inferior forma da matéria – o mineral.
A mônada (do grego monas, unidade) é a centelha divina ou Jiva, a parte imortal do
homem que inicia sua evolução nos reinos inferiores passando pelo elemental, mineral, vegetal,
animal e humano, depois continua evoluindo até se tornar um Logos Solar. Embora una em
essência penetra em todos os planos e regiões, contém em si o Germe ou poderes latentes dos
atributos divinos que vão se manifestando em virtude das experiências adquiridas pelo contato
com o universo manifestado. A mônada da mesma forma que o universo em manifestação passa
pelos diversos planos até chegar ao físico.
É a Mônada, Âtmâ-Buddhi, que vivifica assim cada parte e reino da natureza, fazendo tudo
ser permeado de vida e consciência, um todo palpitante. O ocultismo não reconhece nada
inorgânico no cosmos. A expressão empregada pela ciência, ‘substância inorgânica’,
significa simplesmente que a vida latente, dormitando nas moléculas da assim chamada
‘matéria inerte’, é irreconhecível.
118
Tudo é vida e cada átomo mesmo do pó mineral é uma vida, embora além de nossa
compreensão e percepção, porque está fora do alcance das leis conhecidas dos que rejeitam
o Ocultismo” (Doutrina Secreta. vol. I, pp. 268-269).

O relacionamento entre a Mônada e o Logos poder ser ilustrado pela analogia entre uma
árvore e suas sementes. Tanto na semente como na mônada existe a faculdade de crescer,
amadurecer e tornar-se semelhante a árvore, gerando depois novas sementes. Outra analogia é do
óvulo fecundado que contém o potencial de gerar uma nova vida à semelhança de seus pais,
levando consigo os atributos genéticos que darão suas características.
Ervin Laszlo nos afirma em seu livro, Conexão Cósmica, que “a evolução não se processa ao
acaso mas, como os registros fósseis mostram, se move numa direção escolhida”. Isto tem levando
muitos pesquisadores a admitirem a existência de fatores extragenéticos para a orientação da
forma, além dos já conhecidos elementos genéticos.
No livro “A Grande Síntese”, apelidada pelo espírito Emmanuel de “O Evangelho da
Ciência”, consta:
“(...) Essa evolução, cujo maravilhoso caminho estamos observando, é produzida, em seu
aspecto conceptual, por uma transformação de princípios e de leis. As formas do ser, como
as encontrais em todos os níveis são simplesmente a expressão desse pensamento em
contínua ascensão.
(...) Vedes sintetizada na vida a mais alta sabedoria da natureza. Como seria possível
que fenômenos reveladores de tão profunda inteligência e sabedoria, diante das quais a
vossa se desorienta, tivessem acontecido assim, irracionalmente, e fossem filhos do acaso?
Como a ciência lógica e racional pôde ser tão vergonhosamente míope, a ponto de não
perceber o grande conceito que transborda sobre todos os fenômenos da vida e sua
finalidade superior, que tudo explica e dirige?”

Atualmente os pensadores mais adiantados já consideram que todo ser vivo é resultado de
padrão de auto-organização não material que o anima e o mantém organizado, segundo uma
orientação própria, tornando-o uma unidade coerente consigo mesmo e com as finalidades na
vida. Conceito também chamado de princípio de auto-elaboração, que adiantados pensadores
afirmam tratar-se de um campo quântico psíquico. Esta surpreendente ideia que antecipa a
descoberta de um espírito gerindo a carne, está perfeitamente antecipada pela Grande Síntese,
que o denomina psiquismo diretor:
Segundo Pietro Ubaldi, o psiquismo físico é o menor psiquismo da substância. Os cristais
são sociedades moleculares, verdadeiros povos organizados e regidos por um princípio de
orientação matematicamente exato; nesse princípio reside o citado psiquismo.
André Luiz, em Evolução em Dois Mundos, cita que o princípio inteligente, estagiando na
ameba, adquire os primeiros automatismos do tato; nos animais aquáticos, o olfato; nas plantas,
o gosto; nos animais, a linguagem.

119
Hoje, somos o resultado de todos os automatismos adquiridos nos vários reinos da
natureza. Assim, no reino mineral adquirimos a atração; no reino vegetal, a sensação; no reino
animal, o instinto; no reino hominal, o livre-arbítrio, o pensamento contínuo e a razão.
(Xavier, 1977, cap. 4)
Ainda na lúcida visão de Léon Denis:
“Não sendo a vida mais que uma manifestação do espírito, traduzida pelo movimento,
essas duas formas de evolução são paralelas e solidárias. A alma elabora-se no seio dos
organismos rudimentares. No animal está apenas em estado embrionário; no homem,
adquire o conhecimento, e não mais pode retrogradar. Porém, em todos os graus ela se
prepara e conforma o seu invólucro. As formas sucessivas que reveste são a expressão do
seu valor próprio. A situação que ocupa na escala dos seres está em relação direta com o
seu estado de adiantamento”
(Depois da morte, pp. 132-l33).

Assim, no reino mineral, o princípio espiritual refletiria a sua presença nas manifestações
das forças de atração e coesão com que as moléculas se ajuntam em característicos sistemas
cristalográficos.
No reino vegetal, mostraria maiores aquisições pelo fenômeno de sensibilidade celular.
No reino animal, o princípio inteligente somaria novas aquisições refletidas nos instintos.
No reino hominal, todo esse cabedal de experiências estaria ampliado pelos novos lastros
da conscientização, a carregar consigo, raciocínio, afetividade, responsabilidade e outras tantas
condições que caracterizam esta fase.
• MINERAL – atração: capacidade de aglutinar os elementos da matéria;
• VEGETAL – sensação: faculdade de reagir aos estímulos do meio;
• ANIMAL – instinto: atitudes espontâneas, involuntárias, reflexas, características da
espécie;
• HOMINAL – razão: consciência que o indivíduo tem de si mesmo e do meio que o cerca.

120
3.2 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE EM CADA REINO

1) REINO MINERAL
Acredita-se que antes de unir-se ao elemento material primitivo do planeta, (o
"protoplasma", na expressão de Emmanuel), dando início a vida no orbe, o princípio inteligente
encontrava-se nos cristais, completando seu estágio de individualização em longuíssimo processo
de auto-fixação, ensaiando, aos poucos, os primeiros movimentos internos de organização e
crescimento volumétrico.
Até hoje constitui fato pouco explicado pela ciência acadêmica, de determinadas
substâncias arranjarem-se sob a forma de cristais perfeitamente arrumados segundo linhas
geométricas definidas, o que não deixa de ser uma organização, ainda que não um organismo.
"O cristal é quase um ser vivente", disse Gabriel Delanne. Naturalmente que não iremos
pensar numa inteligência própria da matéria. Todavia, o cientista Jean Emille Charon declarou
que "o comportamento das partículas interatômicas revela vida incipiente".

2) REINO VEGETAL E ANIMAL


Após adquirir a capacidade de aglutinar os diversos elementos da matéria em sua
peregrinação pelos minerais, o princípio espiritual vai iniciar outra etapa de sua longa carreira
evolutiva. Identifica-se com os vírus, logo a seguir com as bactérias rudimentares, as algas
unicelulares e, sucedendo-as, com as algas pluricelulares. O princípio inteligente passa então a
vivenciar as experiências nos vegetais mais complexos, melhor estruturados, onde ele vai adquirir
a capacidade de reagir direta ou indiretamente a qualquer mudança exterior (irritabilidade) e
depois a faculdade de sentir, captar e registrar as alterações do meio que o cerca (sensação) -
conquistas do princípio espiritual em seu percurso pelo reino vegetal.
Mais tarde, assinala-se o ingresso da "energia pensante", no reino animal. O princípio
inteligente vai desdobrar-se entre os espongiários, os celenterados, os equinodermos e crustáceos,
anfíbios, répteis, os peixes e as aves, até chegar aos mamíferos. Neste imenso percurso, o elemento
espiritual estará enriquecendo a sua estrutura energética, aprimorando o seu psiquismo
rudimentar e assimilando os valores múltiplos da organização, da reprodução, da memória, da
autopreservação, enfim, dos diversos instintos, preparando-se para a sublime conquista da razão.
Afirma-se que a conquista maior do princípio inteligente em sua passagem pelos animais
foi o instinto.
Denomina-se instinto às formas de comportamento dos organismos que não são
adquiridas durante a vida, mas herdadas. São impulsos naturais involuntários pelo qual os seres

121
executam certos atos de forma mecânica, sem conhecer o fim ou o porquê desses atos (como o
gato enterrar suas fezes e urina, ou certos pássaros fazerem seus ninhos de certa forma).
No entanto, em muitos animais, especialmente nos animais superiores (macaco, cão, gato,
cavalo, muar e o elefante), já se identifica uma inteligência rudimentar. Além dos atos instintivos,
observa-se, às vezes, atitudes que demandam certo grau de perspicácia e lucidez. Seria uma forma
primitiva de inteligência relacionada apenas a coisas que importam à autopreservação do animal.
André Luiz diz que nos animais superiores observa-se um pensamento descontínuo e
fragmentário, a partir do qual vai desenvolver-se o pensamento contínuo do reino hominal.

3) REINO HOMINAL
Afirma André Luiz que, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de
raciocínio e discernimento, o ser automatizado em seus impulsos, no caminho para o reino
angélico, despendeu nada menos que um bilhão e meio de anos.
Com a conquista da razão, aparece o raciocínio, a lucidez, o livre-arbítrio e o pensamento
contínuo. Até então, o progresso tinha uma orientação centrípeta, ou seja, de fora para dentro; o
ser crescia pela força das coisas, já que não tinha consciência de sua realidade, nem tampouco
liberdade de escolha. Ao entrar no reino hominal, o princípio inteligente - agora sim, Espírito -
está apto a dirigir a sua vida, a conquistar os seus valores pelo esforço próprio, a iniciar uma
evolução de orientação centrífuga (de dentro para fora).
Mas a conquista da inteligência é apenas o primeiro passo que o Espírito vai dar em sua
estadia no reino hominal. Ele deverá agora iniciar-se na valorosa luta para conquistar os valores
superiores da alma: a responsabilidade, a sensibilidade, a sublimação das emoções, enfim, todos
os condicionamentos que permitirão ao Espírito alçar-se à comunidade dos Seres Angélicos.

122
4 - TEORIAS PARA A ORIGEM DO HOMEM

4.1 - TEORIA DA EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES


De acordo com a Antropologia, nosso mais antigo ancestral já identificado seria o chamado
Ramapithecus, que teria vivido na África, Europa e Ásia, entre 14 e 8 milhões de anos atrás. Mas
para que se tenha uma ideia da verdadeira situação, devemos ressaltar que o material fóssil
disponível desta criatura se restringe a poucos dentes e ossos de mandíbulas. Alguns antropólogos
têm dúvidas, inclusive, da ligação do Ramapithecus com a linha evolutiva, que supostamente
levaria ao surgimento do homem. Em seguida, teríamos o chamado Australopithecus aferensis,
cujos últimos achados parecem fixar seu aparecimento por volta de 5 milhões de anos atrás. Esta
criatura teria vivido exclusivamente na África e, para muitos, seria um descendente direto do
Ramapithecus. Mas, como se percebe, existe uma grande lacuna de tempo entre as duas espécies.
Há ainda outros dois tipos de Australopithecus. O chamado africanus (ou grácil), que teria
surgido no planeta por volta de 3 milhões de anos atrás, com altura entre 1 e 1,2 metro e com
capacidade intracraniana, que chegava em alguns espécimes a 600 cm3. O segundo, conhecido
como robustos, teria cerca de 1,5 metro e capacidade intracraniana, que girava em torno de 500 a
550 cm3.
Já na década de 70 do século passado, o Homo habilis entrou definitivamente para a lista
de supostos ancestrais do homem, devido a duas grandes descobertas. Na primeira, foram
encontrados, na Garganta de Olduvai, Tanzânia, em 1961, fragmentos do crânio de um ser que, de
acordo com estudos realizados, teria vivido há quase dois milhões de anos. A segunda descoberta
aconteceu em 1972, nas proximidades do lago Turkana, no Quênia. Tratava-se do crânio de um

123
hominídeo, que viveu provavelmente há cerca de 3 milhões de anos, e que tinha um cérebro bem
maior que o do Homo habilis, encontrado em Olduvai.
Dando seqüência, temos o chamado Homo erectus, cujas últimas descobertas indicam ter
aparecido há quase 2 milhões de anos. Ao contrário de seus supostos antecessores, ele viveu na
África, Ásia e Europa. Este hominídeo era muito semelhante ao homem atual, com traços
primitivos na estrutura facial e craniana. Curiosamente, no entanto, alguns de seus fósseis,
encontrados anteriormente, apresentavam características menos primitivas. Há cerca de 300 mil
anos, o Homo sapiens apresentava grau de diferenciação ainda menor em relação ao homem
moderno, embora apresentasse traços primitivos na conformação facial. Este homem selvagem
habitou também a África, Ásia e Europa, sendo, segundo a visão antropológica, descendente
direto do erectus.
Continuando em direção ao nosso tempo, encontramos o Homem de Neanderthal, que
apareceu há cerca de 130 mil anos. De maneira surpreendente, esta criatura, tão próxima do
homem moderno em termos temporais, apresenta, apesar de um cérebro tão grande quanto o
nosso, uma capacidade intracraniana superior, características extremamente primitivas, o que
acaba representando um retrocesso em termos evolutivos. Apesar disso, foi durante muito tempo
considerado como ancestral imediato do homem atual. Ainda hoje existem antropólogos que
defendem esta ideia. Este homem primitivo, que habitou a Europa, desapareceu por volta de 35
mil anos, ao mesmo tempo em que surgia o Homo sapiens sapiens, nossa espécie.
Como pudemos observar, temos pouco material fóssil pertinente aos nossos mais antigos
ancestrais, e várias lacunas a serem preenchidas, para não falarmos das contradições do esquema
antropológico vigente.

4.2 - TEORIA DE INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE


Segundo esta teoria, o homem deve sua inteligência não apenas à evolução natural da
espécie, mas à intervenção em nosso mundo de raças alienígenas. Estas raças possuiriam
conhecimentos avançados na área da ciência, e teriam modificado/melhorado o material genético
de algumas espécies humanoides presentes no nosso planeta, acelerando o processo de mutação.
Segundo o teórico Giorgio Tsoukalos, existem dados científicos e arqueológicos mais
recentes sobre quem somos e de onde podemos ter vindo. A teoria da Charles Darwin sobre a
seleção natural defende que o homem evoluiu dos macacos ao longo de milhões de anos. Mas
novas provas sugerem que há 50.000 anos, os seres humanos foram alvo de grandes mudanças a
que alguns chamam o "Big Bang" do cérebro. E por que razão crônicas com cerca de 5.000 anos e
diversos petróglifos com mais de 10.000 anos associam os nossos antepassados ancestrais a seres
estelares?

124
PRÁTICA
1 – Complemente seus conhecimentos:
a) Assista o documentário “Alienígenas aprimoram a genética humana”, do History
Channel.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=8i4Um0kyeN4
b) Leia o livro “Os Discos Voadores e a Origem da Humanidade”, de Marco Antonio Petit.

SINOPSE: Marco Antonio Petit questiona a tese estabelecida


pela Ciência para a origem da humanidade, levando em
consideração não só as informações obtidas de experiências de
contato mantidos no Brasil e exterior com os extraplanetários,
mas também a própria “prova” fóssil, utilizada pela
Paleontologia e Antropologia.
Além do tema principal, o autor ainda revela detalhes de
outras áreas da fenomenologia ufológica, incluindo a questão
da existência de bases alienígenas em nosso planeta e suas
pesquisas na região da Serra da Beleza, bem como casos
clássicos da história da Ufologia.

c) Acesse o site da Revista UFO e pesquise sobre este e outros assuntos relacionados.
Site: https://ufo.com.br/
Link: https://ufo.com.br/artigos/o-homem-e-resultado-de-experiencias-de-ets.html

5 - A ALMA-GRUPO
O princípio inteligente no início do seu processo evolutivo, sem a conscientização de seus
propósitos, que viria muito depois, quando alcançasse a fase hominal, seria conduzido por um
“princípio orientador”, um princípio inteligente grupal que atuaria na matéria permitindo um
processo evolutivo através das sucessivas reencarnações; a esse princípio denominamos alma-
grupo.
A organização mineral, com todos seus sistemas, seria portanto, a conseqüência de um
“poder” na intimidade de suas unidades atômicas, na força de coesão e atração. Cada sistema de

125
organização mineral seria impulsionado pelo seu próprio princípio específico, pertencente a um
grupo, princípio inteligente grupo da espécie ou alma-grupo.
O princípio inteligente (alma-grupo) responsável pelas diretrizes da estrutura mineral
depois de milênios de experiência passaria para a fase vegetal onde ganharia os novos potenciais
da “sensibilidade”.
Se nos minerais, os atributos são as forças de coesão e atração das moléculas, nos vegetais
temos o impulso mais categorizado que é a sensibilidade dos vegetais (não é aquela sensibilidade
que nós entendemos junto das nossas posições cerebrais, nervosas, mas sim face às forças da
natureza) como o heliotropismo (ligado ao Sol), como o Ph, as posições ácidas e alcalinas da
própria terra, nutrindo os vegetais. Dessa forma o espírito vai avançando para depois de bastante
trabalho e experiências nesse reino, alcançar o reino animal. Porque é nas experiências que o
espírito adquire a posição espiritual definitiva.
A alma-grupo vegetal, com as aquisições no cenário orgânico de seu novo mundo, ir-se-ia
tornando cada vez mais complexa, dentro de seu próprio ângulo, a ponto de possuir
possibilidades de dirigir a vida vegetal com a mecânica metabólica de que se acha investida. Esses
fatores de “sensibilidade vegetal” já foram detectados e mesmo registrados por eletrodos especiais
assestados nas folhas de algumas plantas. E o mais interessante é que o registro se fez de tal forma
eficiente e positivo, de modo a traduzir estados diversos que oscilavam da alegria ao medo e
mesmo ao pavor, quando mentes humanas se aproximavam das plantas com variadas idéias de
amor, ódio ou violência. Quando os registros foram feitos, gritaram os pesquisadores dizendo que
as plantas possuem sensibilidade. Claro está que é uma sensibilidade sem o cortejo mais
enriquecido que caracteriza o reino animal. O registro realizado nas plantas, com delicados
eletrodos, seria o resultado da influência da alma-grupo envolvente de toda a organização vegetal
pelas suas irradiações.
Não devemos entender o conceito de alma-grupo como uma espécie de panteísmo grupal,
onde as individualidades sem consciência se extinguiriam, fundindo-se numa alma maior,
principalmente em relação aos animais.
Diz o espírito Miramez:
“Há muitas filosofias espiritualistas que ensinam de modo diferente, que as almas dos
animais pertencem a um todo, que ao deixar o corpo perde a sua individualidade,
penetrando na massa que corresponde ao seu viver. Essa informação é enganosa; o animal
não perde a sua individualidade, ele a conserva nos planos que a vida espiritual reserva
para todos, sob a guarda de Entidades que trabalham com amor para a evolução de todos,
voltando em outros corpos de acordo com as suas necessidades.”

Ainda que os animais não tenham plena consciência de si mesmos ou do mundo, eles a
possuem em seus rudimentos, alguns mais, outros menos, e essa consciência não se perde jamais,

126
ao contrário, só se expande, a partir das experiências boas ou amargas, nas sucessivas existências
que cada um de nós vivemos.
A escritora espírita e médica veterinária Irvênia Prada ensina que “a célula já é um indivíduo
e que corresponde a um princípio inteligente rudimentar. Penso que a noção de alma-grupo apenas
pode ser entendida como o estado de sintonia e consequentemente de interação energética e
vibratória, em que vivem seres afins.”
Como os minerais e os vegetais estariam nas dependências de um condutor e orientador,
os animais possuiriam o princípio inteligente mais avançado e evoluído, como uma alma-grupo de
seu reino. Existiriam inúmeras colônias vibratórias correspondendo as necessidades das espécies
animais. Portanto o princípio inteligente animal responsável pelas orientações vitais pertenceria a
determinada alma-grupo da espécie, de acordo com a posição evolutiva em que se encontra a
espécie animal.
Do mineral ao animal, a alma-grupo iria sedimentando aptidões, num processo que vai
buscando os fatores de um psiquismo cada vez mais consciente. Nas espécies mais simples - os
vírus, insetos, peixes - a energética-espiritual estaria muito presa aos seus afins; alma-grupo-da-
espécie influenciando todo um conjunto de seres, um único campo vibratório controlando a
espécie a que se destina.
À medida que as espécies vão perdendo o contato de colônia, próprio das formas mais
simples, vão adquirindo relativa individualidade, “pequeno Eu”, mas que ainda não podem viver
completamente fora dessa colônia que lhe deu origem e de onde se nutrem.
Num determinado momento, quando a maturação atinge um grau bem maior, tornando-se
independentes, esta fase desponta nas espécies animais que tenham possibilidades do nascimento
de novos aspectos psicológicos, isto é, dos primeiros vagidos emocionais e cujo mecanismo sexual
se apresenta com outras tonalidades.
Com certa lógica podemos incluir esta assertiva nos animais em que se evidenciam, na
massa nervosa encefálica, as primeiras células da futura glândula pineal e que, por seus aspectos
iniciais, são conhecidos e denominados de olho pineal. Isto acontece nos lacertídeos, certa
variedade de répteis. A partir desses animais a alma-grupo, praticamente vai desaparecendo e dá
margem ao nascimento das Individualidades.
O “espírito-animal” já desligado da alma-grupo pela aquisição de seu Eu, após afastamento
do corpo pela desencarnação, ainda não apresenta condições mentais para sustentar-se no lado
espiritual como Individualidade, ou seja, ainda não possui condições de independência devido a
insuficiência de campos emotivos específicos. Isto o impulsionará, por sintonia, para o lado da
espécie a que pertence, a fim de aguardar a oportunidade de nova encarnação.

127
E, dos lacertídeos (répteis) ao homem, milhões de milhões de experiências se darão até que
o Espírito tenha condições, por aquisições, de expressar-se como Eu que começou a libertar-se da
alma-grupo daquela fase animal.
No livro “Todos os Animais Merecem os Céus”, de Marcel Benedeti, é trazida a noção de
corpo-coletivo:
“Corpo coletivo significa, ... que existe o indivíduo, mas comportam-se de forma idêntica
em coletividade, como se fossem um só corpo formado por vários indivíduos da mesma
espécie ou gênero ou outro grupo de classificação. Guilherme parecia não entender bem o
conceito, por isso Kayamã tentou dar exemplos. Temos o reino animal, que engloba todos
os animais. Este é um corpo coletivo. Os gêneros formam outros corpos coletivos; as
espécies formam outros corpos coletivos, as subespécies formam outros; e, assim por
diante. São vários corpos menores dentro de um maior explicou o professor.
(...) no código genético, ou seja, na seqüência do DNA de cada espécie, é introduzida,
automaticamente, durante sua formação, esta molécula que os une para formar um ‘corpo
coletivo’. Quando estamos falando de grandes corpos, significa que os indivíduos são seres
que se encontram em uma escala evolutiva bem primária.”

6 – O PRINCÍPIO INTELIGENTE NOS ANIMAIS

128
“Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos consideremos que
os animais diversos, a nós rodearem a existência de seres humanos em evolução no
planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmo o próprio
princípio inteligente.(…) Eles, os animais aspiram ser, num futuro distante, homens e
mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos
mais velhos e mais experimentado dos animais. (…) Tudo isso se resume em graves
responsabilidades para os seres humanos; a angústia, o medo e o ódio que provocamos
nos animais lhes altera o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando
ajustamentos em posteriores existências (…)
(Chico Xavier – Mandato de Amor)

Segundo a filosofia espírita, a evolução humana se inicia no nível da simplicidade moral e


da ignorância intelectual, mas é antecedida por estágios evolutivos nos reinos inferiores da
criação, do mineral às plantas, das plantas aos animais e dos animais ao reino hominal. Trazemos
algumas questões presentes no Livro dos Espíritos sobre o assunto:
606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma de
natureza especial de que são dotados?
“Do elemento inteligente universal.”
a) - Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos
animais?
“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da
que existe no animal.”
607. Dissestes (Q. 190) que o estado da alma do homem, na sua origem,
corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas
desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do
seu desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”
600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se,
depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?
“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é
um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De
idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o
principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a
quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente.”

Desta forma, podemos afirmar que os animais possuem uma alma, um princípio inteligente
ou espiritual individualizado, que reencarna, evolui, progride e traz em si mesmo, como todo
princípio inteligente, as potencialidades intelecto-morais e psíquicas vindouras.
129
“Os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade,
possuem, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de
sua existência e de suas individualidades”.
(O Livro dos Espíritos, questão 585)

Gustave Geley, pensador metapsíquico, simpatizante do Espiritismo, escreveu uma obra


magistral, Do Inconsciente ao Consciente, onde chama a alma dos animais de Dinamopsiquismo
Essencial, que entra em um processo evolutivo que ele denominou de Evolução Dínamo-Genética.
Segundo Galileu, nesta evolução anímica, “não é necessário que um carrapato se transforme
numa pulga, e ela num piolho e posteriormente numa formiga, a vida segue o rumo necessário a
evolução de cada ser vivo”. Ou seja, não é necessário que cada ser vivo estagie em todas as espécies
para que prossiga em sua evolução como normalmente costumamos imaginar, a evolução não
ocorre numa trilha reta, não é preciso que a pequena aranha percorra todos os tipos existentes de
aranhas para ascender, nem é preciso que o leão passe por todas as espécies de mamíferos,
terrestres e aquáticos, para que um dia chegue a fase primata e posteriormente chegue ao modelo
humano.
A evolução se baseia na necessidade de cada ser vivo e cada ser vivo possui necessidades
diferentes, adquire conhecimentos de forma diferente, uns são mais rápidos, outros mais lentos,
nesse caminho evolutivo existem várias trilhas evolutivas diferentes para cada ser, para que cada
um possa ali estagiar e aprender um pouco mais conforme suas necessidades.
Os mamíferos terrestres podem ir da evolução terrestre a aquática e vice-versa, angariando
qualidades, armazenando conhecimentos que nunca serão perdidos, pois que o fluído cósmico
universal se encontra em todos os reinos.
Só é preciso que não nos esqueçamos de que o carrapato, a pulga, assim como tantos
outros insetos, bem como os mamíferos, as aves, os peixes são todos eles Princípios Inteligentes
Universais adequados cada qual para aquele determinado momento, ou seja, as suas necessidades
materiais. Os insetos, com suas antenas longas, com seus três pares de pernas, asas, são muitas
vezes vistos por alguns como seres assustadores, mas são também Princípios Inteligentes que
apenas estagiam naqueles corpos com a missão de elevarem-se à Deus. Assim, como os
invertebrados de todas as classes, desde os protozoários ao equinodermos, nenhum ser existente
na Terra está fora de um ciclo evolutivo. Todos nós evoluímos e os diversos reinos nos servem de
estágios de aprendizagem de moralidade e amor, como podemos ver nos animais que amam seus
tutores, que os protegem, porém que nem sempre recebem deles o mesmo carinho desprendido,
amor este que aos poucos nosso egoísmo vai esmagando.
Conforme a espécie vai evoluindo, seu corpo perispiritual também irá se modificando, e é
preciso asseverar que nem toda mudança, nem toda evolução ocorre no orbe terrestre, mas se faz
em outros planetas, outras colônias espirituais.É o que ocorre quando o espírito alcança a fase
primata, o restante de sua evolução até que atinja o reino hominal não ocorrerá no Planeta Terra,
130
mas a modificação perispiritual e parte de sua caminhada evolutiva, ocorrerá em outro plano,
assim como nos coloca a questão 607 do Livro dos Espíritos:
607 b) Esse período de humanização principia na Terra?
“A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da
humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto,
não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início
humano, esteja apto a viver na Terra. Não é freqüente o caso; constitui antes uma
exceção.”

Sendo todos os espíritos criados por Deus, todos caminham, cada qual em seu momento
evolutivo ruma a uma perfeição relativa, agregando conhecimentos através das experiências
vividas em cada uma das fases por onde estagiou.
O princípio inteligente encarnado nos animais traz em si todas as potencialidades morais e
intelectuais. Tem, em estado rudimentar, conforme o nível de progresso que haja realizado, a
afetividade, a inteligência e a moralidade em estado de gérmen, tanto quanto o psiquismo
desenvolvido de acordo com a necessidade. Quem convive com eles sabe que demonstram, ainda
que de forma rudimentar, emoções que seriam próprias dos humanos. Expressam ciúme, alegria,
tristeza, medo e uma série de emoções conforme o seu nível evolutivo.
A ciência admite que os animais têm uma inteligência rudimentar, também conforme as
suas necessidades. Mas rejeita, ainda, a idéia de que possuam emoções. Há um preconceito
científico, paradigmático, em relação a essa questão. A acusação de antropomorfismo é inevitável
em pesquisas que objetivem a evidência de que eles possuam emoções semelhantes às humanas.
Portanto, a existência de um psiquismo, de uma transcendência espiritual, de uma alma nos
animais, ainda está muito longe de ser admitida pela ciência.
Pesquisas recentes sobre a existência de emoções nos animais tentam superar o
preconceito acadêmico do antropomorfismo. Essas pesquisas apontam para um caminho que
possivelmente venha a admitir a existência de espiritualidade nos animais. Espiritualidade
significa a posse de uma dimensão espiritual que sobreviva e transcenda à matéria, que tenha um
caráter espiritual, relativo ao espírito, à existência de um princípio espiritual. Isso a ciência rejeita
de forma radical.
Essa visão transcendental em relação à vida animal tem um profundo sentido ético que
deverá ser aplicado não somente no convívio com essas belas criaturas, no grande ecossistema
terrestre, mas também na legislação. Documentos como a Declaração Universal dos Direitos do
Animal, proclamada na UNESCO em 15 de outubro de 1978, apontam para um comportamento
que dignifica os animais, atribuindo-lhes direitos que sempre foram negados. O nível evolutivo de
uma civilização também se mede pelo tratamento dado a esses irmãos menores que nos
encantam, nos seduzem e que contribuem para tornar a nossa vida mais bela.

131
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
(Artigo 1º. da Declaração Universal dos Direitos do Animal,
proclamada na UNESCO em 15 de outubro de 1978)

PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos:
d) Vídeo: “Animais têm alma?”
Link: https://www.youtube.com/watch?v=4dgClUhnaeE
e) Palestra: Espiritualidade dos Animais, com Marcel Benedeti.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=fTX38XQwMwc

2 – Busque ler o livro “Todos os Animais merecem os Céus” de Marcel Benedeti e conheça mais
sobre a vida e sorte dos animais após a morte.

132
CAPÍTULO 8 – O HOMEM ESPIRITUAL

“O homem conquistou o poder fora de si, o domínio da terra.


Agora tem que conquistar o poder dentro de si, o domínio do espírito.”
(Pietro Ubaldi – A Grande Síntese)

1– O HOMEM ESPIRITUAL
Segundo a Bíblia, no princípio dos tempos Deus criou, simultaneamente, todas as plantas
e animais superiores, a partir da matéria inerte. Deus, do pó da terra, forma o primeiro homem -
Adão, sopra-lhe as narinas e lhe dá vida. Retira-lhe uma de suas costelas e cria Eva. Esta é tentada
pela serpente e come, juntamente, com Adão o fruto proibido - a maçã. Literalmente considerada,
esta noção é mitológica e antropomórfica. Dá-se a impressão que Deus é um ceramista que
manuseia os seres criados por Ele.
Allan Kardec, no capítulo XII de A Gênese, esclarece-nos a linguagem figurada da Bíblia.
Adão e Eva não seriam o primeiro e único casal, mas a personificação de uma raça, denominada
adâmica; a serpente é o desejo da mulher de conhecer as coisas ocultas, suscitado pelo espírito de
adivinhação; a maçã consubstancia os desejos materiais da humanidade.

133
Em “O Livro dos Espíritos”, questão 51, Kardec comenta:
“O homem cuja tradição se conservou sob o nome de Adão foi um dos que
sobreviveram, numa região, após alguns dos grandes cataclismos que abalaram a
superfície do globo em diversas épocas e veio a originar uma das raças que o
povoam hoje”.
As leis da natureza se opõem à opinião de que os progressos da humanidade,
observados muito antes de Cristo, tenham se realizado em alguns séculos, caso o
homem tivesse aparecido na Terra somente a partir da época assinalada para a
existência de Adão. Para muitos, Adão é considerado, e com muita razão, mais um
mito, uma alegoria, personificando os primeiros tempos do mundo.”
A Doutrina Espírita informa que Deus criou o espírito (princípio inteligente do universo) e
a matéria, os quais, unidos por um agente intermediário, o perispírito, originaram a criação, cujo
ápice é exatamente a vida.
A questão 59 do Livro dos Espíritos esclarece que:
“A ciência, ao escavar os arquivos da Terra, descobriu a ordem em que os diferentes seres
vivos apareceram na sua superfície, e essa ordem está de acordo com a que é indicada na
Gênese, com a diferença de que toda a Criação, em vez de ter saído miraculosamente das
mãos de Deus em algumas horas, conforme está escrito no Gênese, se realizou sempre pela
Sua vontade, mas de acordo com a lei das forças da natureza, em alguns milhões de anos.
Deus é por isso menor e menos poderoso? Sua obra é menos sublime por não ter o prestígio
da instantaneidade? Evidente que não. Seria preciso fazer da Divindade uma idéia bem
mesquinha para não reconhecer Seu grande poder nas leis eternas que estabeleceu para
reger os mundos. A ciência, longe de diminuir a obra divina, mostra-a sob um aspecto mais
grandioso e mais em conformidade com as noções que temos do poder e da majestade de
Deus, em razão de ter se realizado sem anular as leis da natureza.
A ciência, neste ponto concordante com Moisés, coloca o homem em último lugar na
ordem da criação dos seres vivos; mas, enquanto Moisés, no Gênese, põe o dilúvio universal
no ano de 1654 após a Criação, a Geologia nos mostra o grande cataclismo anterior ao
aparecimento do homem na Terra. Até hoje não se encontrou nas camadas primitivas do
globo nenhum indício nem da presença do homem nem de animais da mesma categoria do
ponto de vista físico. Mas nada prova que isso seja impossível. Muitas descobertas já
lançaram dúvidas a esse respeito. Pode-se, portanto, de um momento para outro, adquirir
a certeza material dessa anterioridade da raça humana, e então se reconhecerá que, sobre
esse ponto, como em outros, o texto bíblico é um símbolo, uma representação. A questão é
saber se o cataclismo geológico é o mesmo que atingiu Noé. O certo é que a duração
necessária à formação das camadas fósseis não permite confundi-los, e a partir do
momento que se tiverem encontrado traços da existência do homem antes da grande
catástrofe, ficará provado ou que Adão não foi o primeiro homem, ou que sua criação se

134
perde na noite dos tempos. Contra fatos não há argumentos possíveis e será preciso aceitar
esses fatos, como se aceitou o do movimento da Terra e os seis períodos da Criação.
A existência do homem antes do dilúvio geológico, na verdade, ainda é hipotética,
mas eis aqui um detalhe que revela que não é assim. Ao admitir que o homem tenha
aparecido pela primeira vez sobre a Terra 4 000 anos antes de Cristo, e que, 1650 anos mais
tarde, toda a raça humana tenha sido destruída, com exceção de uma única família, resulta
que o povoamento da Terra ocorreu somente a partir de Noé, ou seja, 2.350 anos antes de
nossa era. Porém, quando os hebreus emigraram para o Egito no décimo oitavo século,
encontraram esse país muito povoado e já muito avançado em civilização. A História prova
que nessa época também a Índia e outros países estavam igualmente florescentes, sem
mesmo se levar em conta a cronologia de alguns outros povos que remonta a uma época
ainda bem mais antiga. Teria sido preciso, portanto, que do vigésimo quarto ao décimo
oitavo século, ou seja, no espaço de 600 anos, não somente os descendentes de um único
homem pudessem povoar todos os imensos países então conhecidos, supondo que os
outros não o fossem, mas também que, nesse curto espaço de tempo, a espécie humana
pudesse se elevar da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau do
desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas.
A diversidade das raças vem, ainda, em apoio a essa opinião. O clima e os
costumes, sem dúvida, produzem modificações no caráter físico, mas sabe-se até onde pode
chegar a influência dessas causas, e o exame fisiológico prova que há entre algumas raças
diferenças mais profundas do que o clima pode produzir na constituição física do homem.
O cruzamento das raças origina os tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres
extremos, primitivos, mas não os produz; apenas cria variedades. Portanto, em vista disso,
para que houvesse cruzamento de raças, seria preciso que houvesse raças distintas. Como
explicar a existência de raças tão distintas se lhes dermos uma origem comum e sobretudo
tão próxima? Como admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé fossem
transformados a ponto de produzir, por exemplo, a raça etíope? Uma transformação desse
porte é tão pouco admissível quanto a hipótese de terem uma mesma origem o lobo e o
cordeiro, o elefante e o pulgão, o pássaro e o peixe. Mais uma vez: nada pode prevalecer
contra a evidência dos fatos.
Tudo se explica, ao contrário, se admitirmos que a existência do homem é anterior à época
que lhe é vulgarmente assinalada; a diversidade das origens; que Adão, que viveu há seis
mil anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma
catástrofe parcial e que foi considerada como um cataclismo geológico e, finalmente,
atentando para o fato da forma de linguagem alegórica própria do estilo oriental e que se
encontra nos livros sagrados de todos os povos. Por isso é prudente não acusar
apressadamente de falsas as doutrinas que podem cedo ou tarde, como tantas outras,
desmentir aqueles que as combatem. As idéias religiosas, em vez de perder, se engrandecem
ao marchar com a ciência. Esse é o único meio de não mostrar ao ceticismo um lado
vulnerável.

135
Segundo o Espírito Emmanuel, Jesus recebeu o orbe terrestre, desde o momento em
que se desprendia da massa solar e, junto a uma legião de trabalhadores, presidiu à
formação da lua, à solidificação do orbe, à formação dos oceanos, da atmosfera e à
estruturação do globo nos seus aspectos básicos, estatuindo os regulamentos dos
fenômenos físicos da Terra, organizando-lhe o equilíbrio futuro na base dos corpos simples
da matéria (Xavier, 1972, cap. 1).
O amor de Jesus foi o verbo da criação do princípio. “Atingido o momento, Jesus
reuniu nas alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a
Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu
o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do
planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento
viscoso que cobria toda a Terra.”

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. “Com essa massa
gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe
sagrado dos primeiros homens.” (Xavier, 1972, p. 22 e 23).

“Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos


triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?”

(André Luiz)

2 – CARACTERÍSTICAS DOS ESPÍRITOS


• Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve entender com relação ao
Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, a que se não poderia atribuir
forma determinada. Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre
revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e
eleva na hierarquia espiritual. De sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da de Espírito
e não concebemos uma sem a outra. O perispírito faz, portanto, parte integrante do Espírito,
como o corpo o faz do homem. Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a
que melhor o faça reconhecível, se tal é o seu desejo.
• Os Espíritos desencarnados estão em todos os lugares, povoam infinitamente os espaços.
São atraídos uns para os outros pela semelhança de suas qualidades e formam assim grupos, ou
famílias, por simpatia.
• Como nós, eles estudam, trabalham e desenvolvem diversas atividades no mundo
espiritual. Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, existe o mundo
espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados.

136
• À exemplo do que observamos na Humanidade encarnada, o conhecimento que eles têm é
correspondente ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. A “morte” é apenas uma
passagem para a vida espiritual (na verdade é uma “volta”, pois a vida espiritual é a nossa
verdadeira vida) e não dá valores morais ou de inteligência a quem não os tem.
• Os Espíritos estão livres das imperfeições físicas, quer dizer, das doenças e enfermidades do
corpo; mas as imperfeições morais são do Espírito e não do corpo.
• Os desencarnados estão sempre ao nosso lado, nos observam e agem entre nós sem os
percebermos, porque os Espíritos são uma das forças da natureza e os instrumentos dos quais
Deus se serve para a realização de Seus desígnios providenciais. Entretanto, a possibilidade de
locomoção do espírito nesse espaço é relativa às suas condições evolutivas. Assim sendo, é natural
que os espíritos inferiores estejam limitados a uma área que poderíamos denominar atmosfera
terrestre.
• Estando elas nas circunvizinhanças de nosso planeta, e grande percentagem junto a nós,
influindo e sendo influenciados, nada impede que eles possam acentuar essa influenciação até o
ponto de serem perceptíveis àqueles que lhes proporcionam essas possibilidades, os quais são
denominados médiuns, pelas suas condições sensitivas.
Esse contato com a população espiritual é bem maior do que imaginamos, conforme nos
ensina Kardec, a ponto de agirmos freqüentemente como intérpretes, mais ou menos, segundo a
passividade e a sintonia estabelecida.
• A alimentação dos espíritos desencarnados é tanto menor e tanto mais leve quanto maior
se evidencie o enobrecimento da alma, porquanto, pela difusão cutânea, o corpo espiritual,
através de sua extrema porosidade, nutre-se de produtos sutilizados ou sínteses
quimioeletromagnéticas, hauridas no reservatório da Natureza e no intercâmbio de raios
vitalizantes e reconstituintes do amor com que os seres se sustentam entre si.
• Os Espíritos não são perfeitos porque são as almas dos homens e os homens não são
perfeitos; pela mesma razão os homens não são perfeitos porque são a encarnação de Espíritos
mais ou menos avançados. O mundo corporal e o mundo espiritual se derramam incessantemente
um sobre o outro; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao mundo
espiritual e, pelo nascimento, o mundo espiritual alimenta a Humanidade.
• A cada nova existência, o Espírito realiza um progresso mais ou menos grande, e quando
adquire sobre a Terra a soma de conhecimentos e elevação moral que comporta nosso globo, ele o
troca para passar a um mundo mais elevado, onde aprende coisas novas.
A Bíblia e todos os livros-base de doutrinas religiosas são repositórios de relatos do
intercâmbio entre os espíritos e os homens. Os grandes profetas e líderes religiosos são os
personagens que marcaram as páginas da história pelas suas demonstrações fenomênicas,

137
acordando-nos do sono milenar para as realidades espirituais, contribuindo dessa forma para o
progresso da civilização.

3 - DA ORDEM DE EVOLUÇÃO DOS ESPÍRITOS

“Nosso espírito é um ser de uma natureza realmente indestrutível, e sua atividade


continua de eternidade a eternidade. É como o Sol, que parece se pôr apenas aos nossos
olhos terrenos, mas que, na realidade, nunca se põe, antes brilhando sem cessar.”
(Goethe)

O progresso espiritual não se realiza senão gradualmente e, algumas vezes, bem


lentamente. Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o
reflexo do mundo corporal; encontram-se aí os mesmos vícios e as mesmas virtudes. Há entre eles
sábios, ignorantes e falsos sábios, prudentes e estouvados, filósofos, raciocinadores e sistemáticos.
Não se tendo desfeito de todos os seus preconceitos, todas as opiniões políticas e religiosas têm aí
seus representantes. Cada um fala segundo as suas idéias e o que dizem, freqüentemente, não é
senão sua opinião pessoal. Eis porque não é preciso acreditar cegamente em tudo o que dizem os
Espíritos.
Em “O Livro dos Espíritos” classificou-se os espíritos, didaticamente, em diferentes ordens,
conforme o grau de perfeição que tenham alcançado:
1) Espíritos Puros – Espíritos que atingiram a perfeição máxima. Passaram por todos os graus da
escala e se libertaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido o mais elevado grau de
perfeição de que é capaz a criatura, não têm mais que sofrer provas nem expiações, não estando
mais, desta forma, sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis. Gozam de uma felicidade
inalterável por não estarem mais sujeitos nem às necessidades, nem às variações e transformações
da vida material. São os mensageiros e ministros de Deus, cujas ordens executam para a
manutenção da harmonia universal. Comandam todos os Espíritos que lhes são inferiores,
designando-lhes missões e ajudando-os a se aperfeiçoarem. São chamados, às vezes, de anjos,
arcanjos ou serafins.
2) Bons Espíritos – Espíritos nos quais o desejo do bem é o que predomina. Suas qualidades e
poder para fazer o bem estão em conformidade com o grau que alcançaram. Uns têm a ciência;
outros, a sabedoria e a bondade. Os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não
estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, de acordo com sua
categoria, os traços da existência corporal, tanto na forma da linguagem quanto nos costumes,

138
entre os quais se identificam algumas de suas manias. Não fosse por isso, seriam Espíritos
perfeitos. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem.
A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças populares pelos nomes de
gênios bons, gênios protetores ou espíritos do bem.

Pode-se dividi-los em quatro grupos principais:


• Espíritos Superiores - Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade.
• Espíritos de Sabedoria - As qualidades morais do mais elevado grau formam seu caráter.
• Espíritos Prudentes ou Sábios - Preocupam-se menos com as questões morais do que com as
científicas, para as quais têm mais aptidão.
• Espíritos Benevolentes - Sua qualidade dominante é a bondade; satisfazem-se em prestar
serviços aos homens e em protegê-los, mas seu saber é limitado. Seu progresso é maior no
sentido moral do que no intelectual.
3) Espíritos Imperfeitos – Espíritos caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas
paixões inferiores. Aqui há uma predominância da matéria sobre o Espírito, caracterizada pelos
sentimentos como inveja, ciúme, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que são as
conseqüências dos maus pensamentos. Conforme lê-se na obra Nosso Lar, do espírito André Luis:
“Chamamos Trevas às regiões mais inferiores que conhecemos. Considere as criaturas
como itinerantes da vida. Alguns poucos seguem resolutos, visando ao objetivo essencial
da jornada. São os espíritos nobilíssimos, que descobriram a essência divina em si mesmos,
marchando para o alvo sublime, sem vacilações. A maioria, no entanto, estaciona. Temos
então a multidão de almas que demoram séculos e séculos, recapitulando experiências. Os
primeiros seguem por linhas retas. Os segundo caminham descrevendo grandes curvas.
Nessa movimentação, repetindo marchas e refazendo velhos esforços, ficam à mercê de
inúmeras vicissitudes. Assim é que muitos costumam perder-se em plena floresta da vida,
perturbados no labirinto que tracejam para os próprios pés. Classificam-se, aí, os milhões
de seres que perambulam no Umbral. Outros, preferindo caminhar às escuras, pela
preocupação egoísta que os absorve, costumam cair em precipícios, estacionando no fundo
do abismo por tempo indeterminado.”
Nosso Lar

Nem todos são essencialmente maus. Entre alguns há mais ignorância, leviandade,
inconseqüência e malícia do que verdadeira maldade. Alguns não fazem o bem nem o mal; mas,
apenas pelo fato de não fazerem o bem, já demonstram sua inferioridade. Outros, ao contrário, se
comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram a ocasião de fazê-lo.
Pode-se dividir essa ordem de espíritos em cinco classes principais:

139
• Espíritos Batedores e Perturbadores - Parecem estar ainda, mais do que outros, ligados à
matéria e ser os agentes principais das variações e transformações das forças e elementos da
natureza no globo, seja ao atuarem sobre o ar, a água, o fogo, os corpos duros ou nas
entranhas da terra. Manifestam, freqüentemente, sua presença por efeitos sensíveis e físicos,
como pancadas, o movimento e o deslocamento anormal dos corpos sólidos, a agitação do ar,
etc.
• Espíritos Neutros - Não são bastante bons para fazer o bem, nem suficientemente maus para
fazer o mal. Inclinam-se tanto para um quanto para o outro e não se elevam acima da
condição comum da humanidade, tanto pela moral quanto pela inteligência. Eles se prendem
às coisas deste mundo e lamentam a perda das alegrias grosseiras que nele deixaram.
• Espíritos Pseudo-Sábios - Seus conhecimentos são bastante amplos, mas acreditam saber
mais do que sabem na realidade. Sua linguagem tem uma característica séria que pode induzir
ao erro e ocasionar enganos sobre suas capacidades e seus conhecimentos. É uma mistura de
algumas verdades ao lado dos erros mais absurdos, no meio dos quais sobressai a presunção, o
orgulho, a inveja e a obstinação das quais não puderam se libertar.
• Espíritos Levianos - São ignorantes, maliciosos, inconseqüentes e zombeteiros. Comprazem-
se em causar pequenos desgostos e pequenas alegrias, atormentar e induzir maliciosamente
ao erro por meio de mistificações e espertezas. Nas suas comunicações com os homens, a
linguagem é algumas vezes espirituosa e engraçada, mas quase sempre sem profundidade.
Compreendem os defeitos e o ridículo humanos, exprimindo-os em tiradas mordazes e
satíricas.
• Espíritos Impuros - São inclinados ao mal e fazem dele o objeto de suas preocupações. Dão
conselhos falsos, provocam a discórdia e a desconfiança e se mascaram de todas as formas
para melhor enganar. Ligam-se às pessoas de caráter mais fraco, que cedem às suas sugestões,
a fim de prejudicá-los, satisfeitos em poder retardar o seu adiantamento e fazê-las fracassar
nas provas por que passam. Quando estão encarnados, são inclinados a todos os vícios que
geram as paixões vergonhosas e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a mentira, a
hipocrisia, a cobiça e a avareza sórdida. Fazem o mal pelo prazer de fazê-lo e, muitas vezes,
sem motivos e por ódio ao bem, escolhem quase sempre suas vítimas entre as pessoas
honestas. São flagelos para a humanidade, seja qual for a posição da sociedade a que
pertençam, e o verniz da civilização não os livra da baixeza e da desonra.

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CAPÍTULO 9 –A VIDA NO PLANO
ESPIRITUAL

1 - PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS


Definitivamente, a Terra está longe de ser o único planeta onde a vida se desenvolveu.
Anaximandro foi o primeiro pensador que introduziu a ideia de que há infinitos mundos. O
conceito que muitos de nós ainda trazemos de que Deus fez a terra e tudo que nela há, o sol, a lua
e as estrelas para nós é falso e é isto que vem nos deixando com idéias arraigadas não nos
permitindo enxergar mais além. Esta visão é bastante egoísta e presunçosa, não há como admitir,
nos dias de hoje, que Deus tenha criado tudo para o gozo, contemplação e delícia do ser humano,
que na verdade não passa de mais um dos seres da criação divina, cuja diferença para com os
animais é ter o raciocínio contínuo. Entretanto mostra, em algumas situações, mais irracional que
os próprios animais. Para podermos nos situar, vejamos a grandeza do cosmo. Ao depararmos
com sua magnitude chegaremos à conclusão de nossa extrema insignificância perante o Universo.

141
O cosmo conhecido tem por diâmetro 40.000.000.000 anos-luz. E para quem quiser
mensurar o que representa este número, basta multiplicá-lo por 9.467.280.000.000 km, número
este que equivale a um ano-luz. Ora, dentro desta extraordinária grandeza não há como pensar
que somente a terra, talvez nem um minúsculo grão de areia neste contexto, tenha vida humana.
A ciência avança gradativamente e algumas nações gastam fortunas para tentar captar sons de
outras galáxias, instrumentos cada vez mais potentes e sensíveis são direcionados para o céu em
busca do contato com inteligências extraterrestres. Pode até parecer ficção científica, mas é a
nossa pura realidade nos dias de hoje.
Perguntaríamos: Dada a grandeza do cosmo com seus bilhões e bilhões de planetas porque
pensar que apenas a Terra teria vida? Não poderia Deus ter criado tantos planetas sem que
tivessem alguma outra utilidade a não ser iluminar nossas noites escuras? Tem que haver
forçosamente, dentro de um senso lógico, vidas em outros planetas. Para se ter uma idéia
somente a Via Láctea possui cerca de 200.000 planetas semelhantes a terra. Se há vida na terra
porque não poderia haver nestes outros planetas semelhantes ao nosso? Não podemos fugir desta
grande possibilidade de que possa haver vidas em outros planetas.
Suponhamos que um homem é colocado num foguete e lançado à Marte, desce lá e se não
vê vida humana não quer dizer necessariamente que não há vida em Marte, o que podemos
afirmar é que em Marte não há vida igual ou semelhante à da terra. Poderia ocorrer, talvez, que a
vida em Marte não seria captada pelos nossos sentidos, como por exemplo, numa gota d’água não
enxergamos, a olho nu, os micróbios que nela vivem, mas se colocarmos esta gota diante de um
microscópio veremos uma infinidade de seres vivendo nesta gota, ou seja, se tivermos um
instrumento apropriado poderíamos deslumbrar com a vida naquele planeta.
E aí as palavras de Jesus, em João 14, 2, “há muitas moradas na casa de meu Pai”, parecem
fazer sentido. Não estaria ele falando dos vários planetas habitados?
Kardec questiona na pergunta 55 de “O Livro dos Espíritos”: Todos os globos que
circulam no espaço são habitados?
Ao que eles respondem: Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como pensa, o primeiro
em inteligência, bondade e perfeição. Entretanto, há homens que se julgam superiores a
tudo e imaginam que somente este pequeno globo tem o privilégio de ter seres racionais.
Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o universo só para eles.

☼ Deus povoou os mundos com seres vivos, todos convergindo para o objetivo final da
Providência. Acreditar que só existem seres vivos no planeta que habitamos seria colocar
em dúvida a sabedoria de Deus, que não faz nada inútil. A cada um desses mundos Deus
deve ter dado uma destinação mais séria do que divertir as nossas vistas. Nada, aliás, nem
pela posição, nem pelo volume, nem pela constituição física da Terra, pode razoavelmente
fazer supor que seja a única a ter o privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos
milhares de mundos semelhantes. (Comentário de Allan Kardec).

142
Pergunta 56 – A constituição física dos mundos é a mesma?
Resposta – Não, eles não se assemelham de modo algum.
Pergunta 67 – A constituição física dos mundos não sendo a mesma para todos,
seguir-se-ão tenham organização diferentes os seres que os habitam?
Resposta – Sem dúvida, como para vós os peixes são feitos para viverem na água e os
pássaros no ar.

PRÁTICA
1 –Assista os vídeos abaixo sobre o assunto Ufologia. O que você pensa sobre o assunto?
a) Ufo- Gevaerd fala tudo sobre ufologia (PARTE I)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=EPDNYG71VDM
b) Paul Hellyer | Quem são os Extraterrestres? [CM+P]
Link: https://www.youtube.com/watch?v=cBi_y5teyDQ

2 - O MUNDO ESPIRITUAL

André Luiz nos mostra que o mundo espiritual é muito parecido com o lado de cá. Há
muitas semelhanças. Ninguém fica vagando no espaço como alma “penada”, nem tocando harpa
no beiral de uma nuvem. O mundo espiritual, para os espíritos, é tão real e dinâmico quanto o
mundo físico é para nós.

143
É por isso que muitos espíritos não sabem, ou não conseguem acreditar que já morreram.
São daqueles que pensam que ao morrer irão para o céu, o purgatório ou mesmo para o inferno,
ou então, que a morte irá apagá-los de vez. Mas, ao invés disso, encontram-se quase como antes.
Muitos voltam para o lar, para os ambientes do trabalho ou do lazer. Vêem as pessoas, falam com
elas, mas as pessoas não lhes dão a menor atenção. Alguns pensam que ficaram loucos, ou que
estão vivendo um pesadelo interminável. Muitos assistem ao próprio velório e sepultamento, mas
não aceitam a idéia de que aqueles funerais sejam os seus. Espíritos nessa condição são
popularmente conhecidos como sofredores.
Uma das atividades dos centros espíritas é o esclarecimento a esses irmãos tão
necessitados. Eles se incorporam ao médium e o doutrinador conversa com eles explicando-lhes a
realidade. O grupo todo envolve o irmão sofredor em vibrações de paz e de amor. É como ele se
alivia e consegue melhorar a própria freqüência vibratória. Essa elevação vibratória é necessária
para que ele possa ser socorrido e levado para tratamento em local adequado.
Mas há também aqueles que retornam à dimensão espiritual mais ou menos conscientes do
que está ocorrendo, ou seja, sabem, ou mesmo desconfiam que desencarnaram, ou “morreram”.
Quando alguém desencarna é muito importante que receba vibrações de paz, em vez das
manifestações de desespero que geralmente acontecem nessas situações.
Muitos espíritos têm relatado através da mediunidade seus dramas, sofrimentos e aflições,
por causa do desespero e desequilíbrio dos parentes e amigos, após seus desenlaces. Eles dizem
que as lágrimas dos entes queridos que ficaram na Terra, suas vibrações angustiadas, chegam a
eles com muita intensidade, provocando-lhes sofrimentos e aflições sem conta.
Por isso, diante da morte, a atitude dos presentes deve ser de respeito, serenidade,
equilíbrio e, acima de tudo, prece. O recém-desencarnado necessita de paz e de muita oração.

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3 - OS PLANOS OU DIMENSÕES ESPIRITUAIS

Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas das outras são as
condições dos mundos, quanto ao seu grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus
habitantes.
De um modo geral, os mundos poderiam ser classificados em superiores e inferiores,
classificação essa que nada tem de absoluta; é, antes, muito relativa. Tal mundo é inferior ou
superior com referência aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
Entre eles há-os em que estes últimos são inferiores aos da terra, física e moralmente;
outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores a todos os
respeitos.
Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam soberanas as paixões, sendo
quase nula a vida moral. A medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal
maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando um ou outro,
segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam. Embora se não possa fazer, dos
diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se contudo, em virtude do estado em que se

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acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais adiantados, dividi-los, de
modo geral, da seguinte forma:
• Mundos Primitivos: destinados às primeiras encarnações da alma humana.
• Mundos de Expiação e Provas: Mundo ainda inferior, onde os Espíritos encarnam afim
de prosseguir em seu estágio evolutivo, passando a maioria por provas, e, conforme a necessidade,
por expiações, com o intuito de se despojarem de suas imperfeições.
• Mundos de Regeneração: Nesses mundo há a aurora da felicidade. Ainda tem de suportar
provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Os Espíritos haurem novas forças,
repousando das fadigas da luta.
• Mundos Ditosos ou Felizes: Onde o bem sobrepuja o mal.
• Mundos Celestes ou Divinos: Habitação de Espíritos depurados, onde exclusivamente
reina o bem.
Detalharemos cada um destes para melhor compreensão:
• Mundos Primitivos:
Sendo os mundos destinados às primeiras encarnações dos Espíritos, são de certo modo
rudimentares os seres que os habitam.
Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não têm a abrandá-
los qualquer sentimento de delicadeza ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto. A
força bruta é, entre eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na
conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona; no fundo das
trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou menos desenvolvida, de um Ente
supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a
ascensão a uma vida mais completa, porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que
estão a crescer.
• Mundos de Expiações e Provas:
A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o
homem a braços com tantas misérias, porém segundo orientação da própria espiritualidade, passa
o Planeta por uma transição para outro estágio que é a Regeneração.
Se o nosso Planeta for tomado por termo de comparação, pode-se fazer idéia do estado de
um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição das raças selvagens ou das nações
bárbaras que ainda entre nós se encontram, restos do estado primitivo do nosso orbe.
Segundo nos relata Santo Agostinho, na Instrução dos Espíritos, Cap. 3.º de “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”, n.º 11, em se referindo à terra: “No vosso, precisais do mal para sentirdes o
bem; da noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a saúde.”

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• Mundos Regeneradores:
Nada melhor do que neste momento, a palavra esclarecedora de Santo Agostinho,
conforme consta em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. III, itens 17 e 18:
“17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os
mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-
se. Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a
matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões
desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da
inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra
amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam
caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.
Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade.
O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham
os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as
pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos
e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma após a
tempestade, a convalescença após a moléstia cruel.
Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o
futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se
mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes
outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes.
Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e
celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do
seu seio emanam.
18. Mas, ah! nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há perdido
completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver firmado
bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais
terríveis provas o aguardam.
Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das inúmeras
esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que
conduzem a Deus e pedi-lhe que um mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação
na Terra. - Santo Agostinho. (Paris, 1862.)”

• Mundos Ditosos ou Felizes:


“Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são
muitíssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a
humana, mas embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da
materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou
147
deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a
percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite
locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela
superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se
representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens
conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais
quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões
interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos
e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou
auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos já muito adiantados torna rápido o
desenvolvimento dos corpos e curta ou quase nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a
vida é proporcionalmente muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda
proporção com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os
horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso
que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a
matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente
de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.
Nesses mundos venturosos, as relações, sempre amistosas entre os povos, jamais são
perturbadas pela ambição, da parte de qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela
guerra que daí decorre. Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a
superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A
autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito é conferida e se exerce sempre
com justiça.
O homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo, aperfeiçoando-
se. Seu objetivo é galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse
desejo, porém, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os igualar. Lá, todos os
sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados;
desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; um laço de amor e
fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos.
Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos
por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário, uma vez que
ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.
A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria
eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, ou pelo contacto dos maus, que lá
não têm acesso. Isso o que o espírito humano maior dificuldade encontra para compreender. Ele
foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas nunca pôde imaginar as alegrias
do céu. Por quê? Porque, sendo inferior, só há experimentado dores e misérias, jamais entreviu as
148
claridades celestes; não pode, pois, falar do que não conhece. A medida, porém, que se eleva e
depura, o horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem que está diante de si, como
compreendeu o mal que lhe está atrás.
Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial
para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para
chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos
outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las
pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no
lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os Espíritos superiores.)”
• Mundos Celestes ou Divinos:
Morada dos Espíritos Puros. Dentro da relatividade dos mundos, chegaram ao grau
máximo de evolução.

4 - PROGRESSÃO DOS MUNDOS


O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados,
foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria
destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas um meio de se
chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada
sofre o aniquilamento.
Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele presos indefinidamente, nem
nele atravessam todas as fases do progresso que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição.
Quando, em um mundo, eles alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta,
passam para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado de puros
Espíritos.
São outras tantas estações, em cada uma das quais se lhes deparam elementos de progresso
apropriados ao adiantamento que já conquistaram. É-lhes uma recompensa ascenderem a um
mundo de ordem mais elevada, como é um castigo o prolongarem a sua permanência em um
mundo desgraçado, ou serem relegados para outro ainda mais infeliz do que aquele a que se vêem
impedidos de voltar quando se obstinaram no mal.
Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem
materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas
diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e
constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus
imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais
agradável, à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim,
paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da
149
habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa idéia e
digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que
concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e
restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!
Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em
que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um
dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de
regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus. - Santo
Agostinho. (Paris, 1862.)
Como bem nos orienta Emmanuel, no livro “Religião dos Espíritos”, no capítulo referente à
“Pluralidade dos mundos Habitados”, que: “temos, assim, no Espaço Incomensurável, mundos-
berços e mundos-experiências, mundos universidades e mundos-templos, mundos oficinas e
mundos-reformatórios, mundos-hospitais e mundos-prisões ...”
E complementado, o Espírito Joanna de Ângelis, no livro “No Limiar do Infinito”, no
capítulo referente à pluralidade dos mundos habitados, assevera que:
“Mundos e mundos gravitando no infinito, desde os que se encontram em estado de gases
incandescentes aos mais sublimes, esperando por nós, como disse Jesus. Entesourando o
amor na alma, a luz do divino amor desatará uma cascata de claridades infinitas, para o
vôo eterno de cada Espírito, na direção da luz, porque na Luz gerados todos seguiremos
para a Luz geradora que é o nosso Pai”.

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5 - MUNDOS TRANSITÓRIOS
Os mundos transitórios fazem parte dos corpos celestes, espalhados pelo Universo,
podendo ser um planeta, um satélite, ou algo similar.
Martins Peralva no seu Livro “O Pensamento de Emmanuel”, no capítulo referente aos
Mundos Habitados, tece um comentário que merece uma reflexão mais acurada:
“O ensino dos Espíritos, ao ditarem a codificação do Espiritismo, confirma plenamente a
referência de Nosso Senhor Jesus Cristo, de “que na casa de meu Pai há muitas
moradas”. Podemos conceituar de três maneiras, para efeito de estudo, a palavra
“morada”, mencionada no Evangelho:

• Os mundos que formam o Universo, onde outras humanidades realizam a marcha


evolutiva;
• As diversas zonas espirituais, superiores ou inferiores, além das fronteiras físicas, onde
a vida palpita com a mesma intensidade das metrópoles humanas;
• Os vários departamentos da mente, onde se demoram pensamentos e reações, dramas
e tragédias, anseios e realidades do Espírito.”

Antes de adentrarmos especificamente no conceito e explicações referentes aos mundos


transitórios, mister se faz algumas definições, para facilitar o nosso entendimento:
✓ Espírito Errante: - Espírito que se encontra na erraticidade, desencarnado, à espera de
uma oportunidade para reencarnar.
✓ Erraticidade: Estado dos Espíritos errantes ou erráticos, isto é, não encarnados, que vivem
durante o intervalo de suas existência corpóreas. Kardec escreveu o seguinte sobre a erraticidade:
“estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas diversas
existências corporais. A erraticidade não é um sinal absoluto de inferioridade para os Espíritos. Há
Espíritos errantes de todas as classes, salvo os da Primeira Ordem ou Espíritos Puros que não
precisam mais reencarnar para melhorarem-se.
Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes segundo o grau de sua purificação. É nesse
estado que o Espírito sem o véu material do corpo que o vestia, percebe suas existências
anteriores e os erros que o afastam da perfeição e da felicidade infinita. É então, que escolhe novas
provas, a fim de progredir mais rápido (O Livro dos Espíritos, n.º 223 e seguintes).
Na situação errante como na corpórea, os Espíritos tendem a formar núcleos coletivos
onde interagem e acabam por formar seus próprios ambientes. A Lei da Afinidade é que rege essa
questão, visto que os Espíritos afins se buscam.
Mundos Transitórios são mundos que servem de estações ou ponto de repouso aos
Espíritos Errantes. São mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes

151
podem servir de habitação temporária, espécies de acampamentos onde descansam. São entre os
outros mundos, posições intermédias, graduada de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas
podem ter acesso e onde gozam de maior ou menor bem-estar.
Os Mundos Transitórios não são habitados por seres corpóreos. Estéril é neles a superfície.
Os que os habitam de nada precisam. Essa esterilidade, no entanto é transitória, tendo já a
própria Terra, durante a sua formação, figurado entre os mundos transitórios.

6 – A FORMAÇÃO DOS NÚCLEOS E COLÔNIAS ESPIRITUAIS

No que toca as diversas regiões espirituais, sabemos que comunidades redimidas habitam
zonas mais elevadas da Espiritualidade, às quais obreiros dedicados são periodicamente
conduzidos em processo estimulante do esforço pessoal.
Em faixas vibratórias mais ligadas à Terra, estacionam, temporariamente, almas ainda
vinculadas às sensações e problemas da vida física, uma vez que o peso específico de suas
organizações perispirituais, apresentado certa densidade, lhes não permitem as grandes
ascensões.
Tais regiões ou esferas espirituais de diferentes graus evolutivos, vão desde simples Posto
de Socorro, como as Casas do Caminho, a verdadeiras cidades espirituais.

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Sobre isso fala o espírito Ramatis, no livro “A Vida Além da Sepultura”, psicografado pelo
médium Hercílio Maes:
PERGUNTA: - Sendo certo que, em virtude das desencarnações, há uma constante
emigração de espíritos da Terra para o Astral, onde terão de se agrupar conforme o seu
caráter ou adiantamento espiritual, somos levados a crer que isso obrigará à criação ou
fundação constante de colônias, onde esses espíritos devam ser recebidos e educados. É
assim?
ATANAGILDO: - Sem dúvida, pois, assim como na Terra se multiplicam as tarefas de
educação e assistência social, quer devido ao crescimento contínuo de sua população, quer
devido ao seu progresso, também se torna necessária a fundação de novos núcleos na
esfera astral adjacente à Terra, para atenderem aos desencarnados que chegam. E o
problema, no Astral, ainda é um tanto complexo, porque na formação das comunidades
espirituais as almas devem ser congregadas tendo em vista especialmente as suas
condições morais, enquanto que na Terra elas se agrupam por tipos raciais, formando
países e nações irmanadas pelos mesmos costumes e tradições.
Por isso é intensa a operosidade dos espíritos nas regiões que circundam o globo terrestre,
onde as condições das comunidades de espíritos desencarnados têm por fim ajustá-los ao
meio a que fizerem jus, na conformidade de seus procedimentos no mundo terráqueo.
PERGUNTA: - Existem equipes de espíritos especializados para procederem à fundação de
colônias no mundo astral?
ATANAGILDO: - Nem sempre há o determinismo de se fundar uma cidade astral; esta pode
nascer naturalmente em torno de uma estalagem; de um posto de socorro ou de instituição
avançada no seio de fluidos densos. As fundações deliberadas obedecem a uma orientação
mais ou menos igual à da Terra; elas progridem e evoluem à medida que também aumenta
a sua população. Também não são precisas equipes adestradas para tais realizações,
contamos com abnegados pioneiros que enfrentam heroicamente os fluidos nocivos,
exalados pelos charcos pestilenciais e pelos coágulos de substância mental deletéria, que se
produzem no desregramento da própria humanidade ali existente. Esses espíritos
abnegados e destemidos não recuam diante das exigências mais sacrificiais, que
terminariam desanimando os mais intrépidos homens terrenos!

6.1 - A COLÔNIA ESPIRITUAL NOSSO LAR


Colônia Espiritual situada nos planos vizinhos da esfera terrestre. Encontramos no Livro
“Nosso Lar”, primeira obra de uma série de livros ditados pelo Espírito André Luiz e psicografados
por Francisco Cândido Xavier, informações importantíssimas acerca da vida no plano espiritual.
Neste momento, de forma especial, encontramos no capítulo intitulado “Notícias do
Plano”, as seguintes informações referentes à Colônia Nosso Lar:

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“Antiga fundação de portugueses distintos desencarnados no Brasil, no século XVI. A
princípio, enorme e exaustiva foi a luta... Há substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tais
como nas regiões que se caracterizam pela matéria grosseira... Os trabalhos primordiais foram
desanimadores, mesmo para os Espíritos fortes. ... Os fundadores não desanimaram porém.
A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios,
orientados, cada qual, por doze Ministros...
Os Ministérios do Nosso lar são enormes células de trabalho ativo. Nem mesmo alguns dias
de estudos oferecem ensejos à visão detalhada de um só deles.
A Instituição é eminentemente rigorosa, no que concerne à ordem e à hierarquia.
Nenhuma condição de destaque é concedida aqui a título de favor.
A lei do descanso é rigorosamente observada, para que determinados servidores não
fiquem mais sobrecarregados, que outros; mas a lei do trabalho é também rigorosamente
cumprida”.
Concluímos, assim, que as colônias ou regiões espirituais, são locais destinados aos
Espíritos desencarnados, ainda necessitados de reencarnações e intimamente ligados a este ou
aquele planeta pelas ações cometidas no passado.

7 - OS EXILADOS DE CAPELA E A FORMAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL


Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam, examinam, lêem em seus
estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação de Cocheiro, que recebeu, na
Terra, o nome da Cabra ou Capela. A sua luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra,
considerando-se, desse modo, a regular distância existente entre a Capela e o nosso planeta.
Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas afinidades com o globo
terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos.
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral,
dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes,
mas uma ação de saneamento geral os alijaria, os desvencilharia daquela humanidade, que fizera
jus à concórdia perpétua, para a sublimação dos seus elevados trabalhos.
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmo, deliberaram, então, localizar
aquelas entidades, que se tornaram pertinazes, obstinadas, persistentes no crime, aqui na Terra
longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as
grandes conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos
inferiores.
Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba, aquela
multidão, de seres sofredores e infelizes.
154
Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram, proporcionalmente, nas regiões mais
importantes, onde se haviam localizado as tribos e famílias primitivas, descendentes dos primatas.
Com a sua reencarnação no mundo terreno, estabeleciam-se fatores definitivos na história
etnológica dos seres. (etnologia – estudo e conhecimento, sob o aspecto cultural, das populações
primitivas).
Com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das raças brancas. Em sua maioria,
estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o ístmo (faixa de terra que liga uma península a
um continente) de Suez para África, na região do Egito, encaminhando-se igualmente para a
longínqua Atlântida, de que várias regiões da América guardam assinalados vestígios.
Aqueles seres dacaídos e degradados, à maneira de suas vidas passadas no mundo distante
da Capela, com o transcurso dos anos reuniram-se em 04 grandes grupos que se fixaram depois
nos povos mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os associavam
na Constelação do Cocheiro. Formaram desse grupo:
➢ O Grupo dos Árias
➢ A Civilização do Egito
➢ O Povo de Israel
➢ As Castas da Índia
Dos Árias descende a maioria dos povos brancos da família indo-européia; nessa
descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os celtas e os gregos, além dos germanos e
dos eslavos.
As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos de toda a organização da
civilizações futuras, introduzindo os mais largos benefícios no seio da raça amarela e da raça
negra, que já existiam.
Civilização Egípcia: Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a
civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e no culto da Verdade.
Em razão dos seus elevados patrimônios morais, guardaram no íntimo uma lembrança
mais viva das experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava, que era trabalhar
devotadamente para regressar, um dia aos seus penates, à sua casa paterna, ao seu lar
resplandecente. Uma saudade torturante do céu foi a base de todas as suas organizações
religiosas. Em nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão altamente desenvolvido.
Os egípcios traziam consigo uma ciência que a evolução da época não comportava. Nos
círculos esotéricos, onde pontificava, onde se falava com ênfase, em tom categórico, a palavra
esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de
todas as criaturas e Providência de todos os seres, O destino e a comunicação dos mortos e a
pluralidade das existências e dos mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos.
155
Depois de perpetuarem nas Pirâmides, os seus avançados conhecimentos, todos os
Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.

As Castas da Índia: As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização


egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas.
Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na Europa e hoje atingem um
dos mais agudos períodos de transição na sua marcha evolutiva. O pensamento moderno é o
descendente legítimo daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do
Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas das raças brancas
guardam as mais estreitas afinidades com o sânscrito, originário de sua formação e que constituía
uma reminiscência da sua existência pregressa, em outros planos.
Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de
estoicismo (austeridade de caráter; rigidez moral; impassibilidade em face da dor ou do
infortúnio) resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos do passado humano,
progenitores do pensamento contemporâneo, deles aprenderam as lições mais sublimes.
Grupos dos Árias: Se as civilizações hindu e egípcia definiram-se no mundo em breves
séculos, o mesmo não aconteceu com a civilização ariana, que ia iniciar na Europa os seus
movimentos evolutivos.
Somente com o escoar de muitos séculos regularizaram-se as suas migrações sucessivas,
através dos planaltos da Pérsia. Do Irã procederam quase todas as correntes da raça branca, que
representariam, mais tarde os troncos genealógicos da família indoeuropéia.

156
Caminheiros do desconhecido, erraram pelas planícies e montanhas desertas. Mais
revoltados e enrijecidos que todos os demais companheiros no orbe terrestre, suas reminiscências
da vida pregressa nos planos mais elevados, qual que haviam experimentado no sistema da
Capela, traduziam-se numa revolta íntima, amargurada e dolorosa, contra as determinações de
ordem divina. Apenas, muito mais tarde, com a contribuição dos milênios, os celtas retornaram
ao culto divino, venerando as forças da natureza, junto dos carvalhos sagrados, e os germanos
iniciaram a sua devoção ao fogo, que personificava, a seus olhos, a potência criadora dos seres e
das coisas.
Enquanto os semitas e hindus se perderam na cristalização do orgulho religioso, as famílias
arianas da Europa, embora revoltadas e endurecidas, confraternizaram com o selvagem e nisso
reside a sua maior virtude. Assinalando os aborígenes, engendraram as premissas de todos os
surtos das civilizações futuras. Nessa movimentação para o estabelecimento do novo habitat,
organizaram as primeiras noções políticas da vida coletiva, elegendo cada tribo um chefe para
direção de sua vida em comum. A agricultura, as indústrias pastoris, com elas encontraram os
primeiros impulsos nas estradas incertas dos que descendiam do primata europeu. Com as
organizações econômicas, oriundas do trato direto com o solo, deixaram perceber a lembrança de
suas lutas no antigo mundo que haviam deixado.
O Povo de Israel: Dos espíritos degredados na Terra, foram os Hebreus que constituíram a
raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as
mutações.
Reconhecendo que, se grande era a sua certeza na existência de Deus, muito grande
também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da verdade e da vida. Consciente da
superioridade de seus valores, nunca perdeu oportunidade de demonstrar a sua vaidosa
aristocracia espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão com as demais raças do orbe.
Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo testamento é um
repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes
mestres da raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.
Moisés, com a expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as leis
básicas do Sinai, constituindo desse modo o grande alicerce de aperfeiçoamento moral do mundo.
Todas as raças da Terra devem ao judeus esse benefício sagrado, que consiste na revelação
do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres. É talvez, a raça mais
livre, mais internacionalista, mais fraternal, entre si, mas também a mais altiva e exclusivista do
mundo.
Dos Espíritos que vieram exilados para a Terra, muitos já regressaram ao sistema da
Capela, onde os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições mais santas e
mais puras, porquanto outros tantos, por abnegação prosseguem reencarnando na Terra, para o
desempenho de abençoadas missões.
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CAPÍTULO 10 – A LEI DE AÇÃO E REAÇÃO
OU LEI DO CARMA. O DHARMA.

“O que somos hoje e o que seremos amanhã dependem de nossos pensamentos. Se


procedo mal, sofro as consequências; se procedo bem, eu mesmo me purifico.”

(Buda)

1 - DEFINIÇÕES
• CARMA
Na filosofia indiana, o Carma é a soma das ações (boas ou más) de um indivíduo, que estão
ligadas à alma quando esta transmigra, sendo que cada novo corpo (e cada acontecimento
experimentado por esse corpo) será condicionado pelo carma anterior.
O Carma é um ensinamento budista fundamental. É a sua mais importante característica e,
ao mesmo tempo, a mais complexa e a mais frequentemente mal compreendida. Carma é um
termo sânscrito que significa ação ou ato. Qualquer ação física, verbal ou mental executada com
uma intenção pode ser chamada de carma. Em outras palavras, pode-se dizer que carma é
qualquer volição moral ou imoral, ou qualquer ação, reação ou resultado volitivo.

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O Carma e suas Leis, definem o sentido de causa e efeito, o que se planta hoje, colhe-se em
qualquer existência, assim sendo cada um carrega consigo as consequências de vidas passadas.
Essa já é uma ação individual, onde cada pessoa traz em seu espírito a bagagem do que passou em
suas reencarnações.
A lei do Carma é um sistema educacional construído na natureza, projetado para ajudar a
alma corporificada a aprimorar seu comportamento moral, ou dhármico. Toda ação que você
realiza tem uma qualidade moral associada a ela. Essa foi a ação certa a ser desempenhada, ou, em
outras palavras, estava dentro do seu Dharma fazer isso? Se estava, fez com atenção, com
cuidado? Ou, para simplificar: você fez o seu melhor? Em caso positivo, você gerou um resultado
positivo proporcional. Se você fez o contrário, você obtém um resultado negativo proporcional.
Outra maneira de se explicar: a lei do Carma coloca um espelho diante de você. Você recebe o que
você dá. Ou, como a Bíblia diz, “você colhe o que você planta”.
Quando se pensa em Carma não é como algo que define uma fatalidade, pois todos
possuem o livre-arbítrio de modificar esse impacto causado anteriormente e assim, renovar as
energias que os movimentam.
Na verdade, nem sempre o Carma é um "mau" carma. O Carma pode ser categorizado, com
base nas características das ações, em positivo, negativo ou neutro. Carma positivo é o que segue
a moralidade e é benéfico a todos. Carma negativo é qualquer ação que prejudique alguém.
Ações que não possam ser definidas como sendo boas ou más, como, por exemplo, aquelas
que não têm uma intenção consciente, são chamadas de carma neutro.

O Carma está dividido em vários tipos:

➢ INDIVIDUAL: quando é aplicado especificamente a uma pessoa. Por exemplo no caso de


uma doença. Mas nem todo sofrimento ou acontecimento ruim é cármico, pois devido a nossa
inconsciência podemos causar diretamente nosso sofrimento.

➢ FAMILIAR: quando é aplicado de tal forma que afeta toda uma família. Se um membro da
família é viciado em drogas. Isto traz sofrimento para todos ao redor.

➢ REGIONAL: quando é aplicado em determinada região. As secas, enchentes ou outras


adversidades climáticas que ocorrem em determinados lugares é considerado um carma regional.

➢ NACIONAL: É uma ampliação do carma regional estendido a nível nacional, ou seja


atingindo toda uma nação. Temos o exemplo de países que são assolados pela guerra, ditaduras,
misérias, desastres naturais.
➢ MUNDIAL: Quando é aplicado a toda humanidade. Temos o exemplo das guerras
mundiais, atualmente vemos os problemas econômicos mundiais, iminência de guerra nuclear,
grandes desastres naturais.
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• DHARMA

Como a ave que encontra uma corrente de ar ascendente paira cada vez mais alto no céu
sem precisar bater suas asas, quem alinha sua vida com o Dharma consegue alcançar seus
propósitos com naturalidade, sem fazer muito esforço. Como isso é possível?
“Dharma” (ou darma), é uma palavra do idioma antigo sânscrito que significa literalmente
“aquilo que sustenta, que mantém“, mas é usado em significados mais amplos principalmente
pelas escolas de sabedoria do Yoga e do Budismo.
No Yoga, “Dharma” é a força régia da existência, a essência verdadeira do que existe, ou a
própria Verdade, trazendo significados associados como a direção universal que baliza a vida
humana ou o devir pessoal. Quando acontece uma transmissão de compreensão, da Verdade,
entre mestre e discípulo nessa tradição, diz-se que houve uma “transmissão do Dharma”.
No Budismo, “Dharma” (ou dhamma) é a Verdade contida nos ensinamentos do Buda
Gautama, que também apontam na direção do que é a Verdade — algumas vezes se fala em
conjunto, “Buda-Dharma”.
Um dos principais livros do cânone budista que contém ensinamentos diretos do Buda se
chama Dharmapada (ou dhammapada). Praticamente todos eles mantém uma certa coerência em
essência que aponta para a “Lei Natural” ou a “Lei Cósmica”, num sentido amplo de toda a
existência e não apenas o da realidade material visível. O Dharma “indiano” também guarda
semelhanças com o “Tao” chinês e com o “logos” ocidental.
Viver o Dharma é essencialmente saber expressar aquilo que somos, é a arte de responder
apropriadamente a cada situação que a vida nos apresenta. Esse Dharma se reflete nas várias
dimensões da nossa existência: corpórea, emocional, vocacional, relacional e espiritual. É dito que
na verdade não somos seres humanos buscando uma experiência espiritual, mas seres espirituais
passando por uma experiência humana. Portanto, as atividades de cada uma dessas esferas da vida
deveriam todas ser orientadas pelos valores da dimensão espiritual. Em outras palavras, quando a
execução dos nossos deveres em cada dimensão da vida contribui para a elevação da nossa

160
consciência, isso indica que estamos alinhados com o nosso Dharma. Uma maneira de entender o
Dharma é refrasear os clássicos dizeres: “Não pergunte o que o mundo pode fazer por você,
mas pergunte o que você pode fazer pelo mundo”.
A busca desse equilíbrio na vida nos ajuda a superar crises existenciais, quadros de
depressão, problemas com ansiedade, insônia, etc. Mais do que isso, estar bem situado no
Dharma gera grande entusiasmo pela vida e nos ajuda a desenvolver plenamente o nosso
potencial latente. Tendo encontrado seu caminho e seu lugar no mundo, a pessoa contribui de
forma significativa para a sociedade e em retorno recebe todo o apoio de que precisa. Viver assim,
alinhado com um plano maior, gera um profundo sentimento de satisfação e bem-estar.
O universo é perfeito e tudo tem alguma razão de ser dentro da criação. Portanto,
espiritualizar a vida não é negar o mundo, mas saber alinhar tudo – posses, habilidades,
relacionamentos, etc. – dentro de um propósito superior.
Não é teoria religiosa nem filosófica. Uma vida bem examinada e investigada, onde exista
autoconhecimento (como disse Sócrates), é uma vida que encontra a Verdade, que encontra seu
caminho, que encontra o Dharma. Se o universo fosse um rio, o fluxo desse rio seria o Dharma.
Segundo ensina S.N. Goenka:
“Dhamma deve ser mantido afastado de todas as terminologias sectárias. Dhamma nunca
deveria ser confundido com o Dhamma-hinduísta, o Dhamma-budista, o Dhamma-
jainista, o Dhamma-muçulmano, o Dhamma-cristão, o Dhamma-sikh, etc. Dhamma é a lei
universal da natureza. É aplicável a todos, em toda a parte, a todo o momento. É a lei da
natureza que manterá as nossas mentes livres das impurezas, livres das negatividades,
livres de qualquer tipo de poluição. Ao praticar Dhamma a mente se purifica, fica cheia de
amor, cheia de compaixão, cheia de alegria contagiante, cheia de equanimidade. Uma
mente pura o ajudará a viver uma vida boa, uma vida saudável, uma vida íntegra, que será
boa para você e ao mesmo tempo boa para os outros. Uma tal vida Dhâmmica pode ser
vivida por qualquer pessoa”.

Assim, Dharma mostra o que deveria ser feito. Carma, no sentido da Lei do Carma, seria a
reação que se obtém de acordo com quão “dhármica” foi sua ação. Quanto mais próximo do seu
Dharma, melhor a reação material, melhor o Carma que será acumulado. Quanto mais longe do
Dharma, pior a reação, pior o Carma acumulado.

O yogi, porém, não quer Carma algum. Carma nos prende a rede de nascimentos e mortes.
Yoga, no seu nível mais primário, é a técnica para vencer e eliminar seu karma de uma vez por
todas e assim se liberar.
O yogi então vai seguir seu Dharma, mas agora como uma oferenda a Deus, sem desejo de
resultado algum material. Esta verdade predomina nos ensinamentos de Krishna a Arjuna no
Bhagavad-gita e é chamada de karma-yoga. De fato, a Bhagavad-Gita explica que a ação em si não

161
gera reação cármica; o problema está no apego egoísta aos resultados. Portanto, agir sem apego é
o segredo do karma-yoga:
“Aquele que executa seu dever sem apego, entregando os resultados ao Senhor Supremo,
não é afetado pela ação pecaminosa, assim como a folha de lótus não é tocada pela água.”
[BhG 5.10]

Em outras palavras, devemos cumprir o Dharma pelo Dharma, não para ganhar alguma
outra recompensa ou para escapar de algum castigo.
De fato, a propensão a amar e servir está sempre presente na alma, é nossa natureza
intrínseca, nosso Dharma eterno. Portanto, servir a Deus e ao próximo é mais uma questão
ontológica do que uma escolha moral. Ou seja, não o fazemos para evitar ferir um preceito ético,
mas simplesmente porque é natural e faz bem para a alma.
Portanto, existem três pontos chaves para transformar uma ação comum numa ação
transcendental em karma-yoga:
1) estar alinhado com seu Dharma;
2) realizar toda ação como uma oferenda a Deus e
3) ficar no aqui e agora, sem desejar o resultado futuro da ação.
Assim, você não acumula Carma algum na atividade e gradualmente se liberta da existência
material.
Falando sobre o papel do indivíduo na evolução espiritual humana, Helena Roerich
escreveu:
"O maior benefício que podemos contribuir consiste na ampliação da consciência e da
melhoria e enriquecimento do nosso pensamento, que, juntamente com a purificação do
coração, fortalece as nossas emanações. E, assim, aumentando as nossas vibrações,
podemos restaurar a saúde de todos que nos rodeiam.”

PRÁTICA
1 – Você já pensou qual seria seu propósito na vida? Seu Dharma? Você acredita que está no
caminho do seu Dharma ou está distante dele?

2 – Assista o vídeo “Qual é o Propósito da sua Vida?” e reflita sobre as informações trazidas nele
pelo prof. Alexandre Magno.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=wsw8-tmGftQ

162
2 – A LEI DO CARMA NO DIA-A-DIA

Isaac Newton foi, sem dúvida, um dos maiores expoentes do mundo científico: grande
matemático, exímio físico e destacado astrônomo, revolucionou sua época com inúmeras
descobertas. Em uma delas, denominada a terceira lei de Newton, diz o seguinte: a toda ação
corresponde uma reação, de igual intensidade e de sentido contrário.
No campo físico, podemos comprová-la inúmeras vezes. Só para exemplificar, vejamos:
O empuxo fornecido pelos motores a jato, nada mais é do que a reação dos gases que são
expelidos em alta velocidade (ação). Observemos nesse exemplo os sentidos das duas forças, ação
e reação, sempre contrárias.
Quando o esportista praticante do “tiro ao alvo” experimenta o “coice” ao dar um tiro, aí
identificamos igualmente a lei de ação e reação.
No campo espiritual, essa lei determina o equilíbrio de toda a criação.
Quando com nossas ações contrariamos a lei, na realidade não desequilibramos nada a não
ser nós mesmos. Vejamos que as criaturas vivem em desequilíbrio, mas apesar de tudo, o mesmo
não acontece com a Criação, que é sempre equilibrada. Isto é devido à atuação da lei de causa e
efeito, que age na intimidade da criatura.
Ao escolher, o homem, fazendo uso de seu livre-arbítrio, o caminho do erro, determina em
si uma ação de igual intensidade e em direção contrária, que anula no mesmo instante o
desequilíbrio no geral, ficando somente a anomalia em sua própria intimidade, até que pela lei do

163
retorno volte ele ao equilíbrio refazendo o caminho percorrido em sentido contrário, e entrando
novamente no campo de ação determinado pelo Amor.
Esse voltar à lei, pode ser mais ou menos rápido, de acordo com a conscientização da
criatura, e a sua vontade de corrigir o erro. Assim temos Espíritos que se arrependem
rapidamente, e consertam o passo; outros insistem na rebeldia, e vão gerando erros em cima de
erros, demorando séculos e mais séculos no resgate dos mesmos.
Segundo André Luiz, o centro coronário, atuando como um diretor em relação aos outros,
é o órgão responsável pela implementação desta lei no Espírito:
(…) Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos
espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos
demais centros da alma os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto
quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes reflexos
nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós
próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.
A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos
elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente de fixar a
natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as
consequências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.

Como se vê, o homem só é verdadeiramente livre antes de pensar ou de agir, porque a


partir do instante em que já emitiu uma ação em determinada direção, fica condicionado a um
retorno, que mais cedo ou mais tarde se manifestará.
A lei de causa e efeito tem por objetivo o bem da criatura. Ela não tem, como muitos
pensam, um caráter punitivo, mas sim uma ação educadora, no sentido de fazer o ser reconhecer
o seu erro, e indicar-lhe o caminho mais curto do acerto. Quando o apóstolo Pedro, diz em sua
epístola: O amor cobre a multidão de pecados (I Pedro, 4:8), quer nos ensinar que não é preciso
sofrer para resgatarmos uma “dívida”, mas através da vivenciação do amor, podemos atingir o
mesmo alvo de uma forma mais ampla e sem dor. Isto porque, como já dissemos, o objetivo da lei
de causa e efeito, não é punir. Se pela vivenciação dos ensinamentos cristãos, o ser se redime,
então não é preciso sofrer.
Vimos então que a ação da lei, do ponto de vista espiritual, não tem uma forma absoluta de
se manifestar. Pode o homem pelo seu livre-arbítrio acrescentar novas forças no sentido de
abrandá-la ou de agravá-la.
Para melhor entendimento do assunto, vamos analisar dois casos em que esta lei atua. O
primeiro fala sobre a possibilidade de abrandamento da lei, quando o elemento “amor” atua.
Saturnino Pereira sofre um acidente na fábrica onde trabalha, vindo a perder o polegar
direito. Seus colegas e amigos comentam a injustiça da ocorrência, dada a grande dedicação de
Saturnino ao bem de todos. Comparecendo à reunião mediúnica em que colabora regularmente,
164
um benfeitor espiritual espontaneamente lhe esclarece que, em existência anterior, foi poderoso
fazendeiro que, num momento de crueldade, puniu barbaramente um pobre escravo, moendo-lhe
o braço direito no engenho. Com o despertar de sua consciência, atrozes remorsos torturam-no
no além túmulo. Deliberou então impor-se rigoroso aprendizado, programando um acidente para
futura encarnação, na qual perderia o braço. No entanto, sua renovação para o bem,
testemunhada por suas ações, possibilitou que o acidente apenas lhe ocasionasse a perda de um
dedo.
No segundo, vemos a lei atuando de maneira mais rigorosa: André Luiz estudava, junto de
amigos no plano espiritual, o caso de Laudemira, uma irmã que padecia muitas dificuldades no
instante de dar à luz um filho muito importante para o seu processo evolutivo.
Envolta que estava por fluidos anestesiantes que lhe eram desfechados por perseguidores
do plano invisível, durante o sono, tinha a vida uterina prejudicada por extrema apatia. Como
consequência, talvez fosse necessária a intervenção cirúrgica. Mas a cesariana neste caso não seria
aconselhável, porque a prejudicaria no sentido de outras gravidezes que se faziam necessárias.
Imbuídos que estavam de estudar os mecanismos da lei de causa e efeito, foi permitido a
eles informação sobre o passado de nossa irmã, conforme veremos a seguir:
(…) As penas de Laudemira, na atualidade, resultam de pesados débitos por ela contraídos,
há pouco mais de cinco séculos. Dama de elevada situação hierárquica na corte de Joana II,
Rainha de Nápoles, de 1414 a 1435, possuía dois irmãos que lhe apoiavam todos os planos
loucos de vaidade e domínio. Casou-se, mas sentindo na presença do marido um entrave ao
desdobramento das leviandades que lhe marcavam o caráter, acabou constrangendo-o a
enfrentar o punhal dos favoritos, arrastando-o para a morte. Viúva e dona de bens
consideráveis, cresceu em prestígio, por haver favorecido o casamento da rainha, então
viúva de Guilherme, Duque da Áustria, com Jaime de Bourbon, Conde de la Marche. Desde
aí, mais intimamente associada às aventuras de sua soberana, confiou-se a prazeres e
dissipações, nos quais perturbou a conduta de muitos homens de bem, e arruinou as
construções domésticas, elevadas e dignas, de várias mulheres do seu tempo. Menosprezou
sagradas oportunidades de educação e beneficência que lhe foram concedidas pela Bondade
Celeste, aproveitando-se da nobreza precária para desvairar-se na irreflexão e no crime. Foi
assim que ao desencarnar, no fastígio da opulência material nos meados do século XV,
desceu a medonhas profundezas infernais, onde padeceu o assédio de ferozes inimigos que
não lhe perdoaram os delitos e deserções. Sofreu por mais de cem anos consecutivos nas
trevas densas, conservando a mente parada nas ilusões que lhe eram próprias, voltando à
carne por quatro vezes sucessivas, por intercessão de amigos do Plano Superior, em
cruciantes problemas expiatórios, no decurso dos quais, na condição de mulher, embora
abraçando novos compromissos, experimentou pavorosos vexames e humilhações da parte
dos homens sem escrúpulos que lhe asfixiavam todos os sonhos (…).

165
Silas, o instrutor de nossos amigos na espiritualidade, informa ainda que estava previsto
para ela receber nesta encarnação outros filhos:
“… Deve agora receber cinco de seus antigos cúmplices na queda moral, para reerguer-lhes
os sentimentos, na direção da luz, em abençoado e longo sacerdócio materno.” E
complementa “Do seu êxito no presente, dependerão as facilidades que espera recolher do
futuro, para a liberação definitiva das sombras que ainda ofuscam o Espírito, pois, se
conseguir formar cinco almas na escola do bem, terá conquistado enorme prêmio, diante
da Lei amorosa e justa.”

Vê-se, desta forma, que a lei de ação e reação ou Lei do Carma, ou ainda o “a cada um
segundo suas próprias obras”, baseia-se num perfeito mecanismo de justiça e igualdade absoluta
para todos. Não há qualquer favoritismo para quem quer que seja. Agindo bem, teremos o mérito
do bem. Agindo mal, teremos as consequências. Não se trata de castigo, em absoluto, mas de
consequências.
Léon Denis, um dos continuadores de Kardec, que muito bem compreendeu a verdadeira
missão da dor, ensina:
"Todos aqueles que sofrem não são forçosamente culpados em vida de expiação. Muitos
são Espíritos ávidos de progresso, que escolheram vidas penosas e de labor para colherem o
benefício moral que anda ligado a toda pena sofrida.”

E mais à frente: "Às almas fracas, a doença ensina a paciência, a sabedoria, o governo de si
mesmas. Às almas fortes, pode oferecer compensações de ideal, deixando ao Espírito o livre vôo
de suas aspirações até ao ponto de esquecer os sofrimentos físicos".
A causa do sofrimento não somente está no passado ou no presente, mas também no
futuro. A dor-evolução não está corrigindo erros cometidos, mas construindo um porvir
venturoso para o Espírito em evolução. Sabemos que muitos deles reencarnam em missão na
Terra, com o objetivo de impulsionar o nosso progresso moral e científico.
Tais Espíritos aceitam resignados, até mesmo com certa alegria, as adversidades e
infortúnios de tal existência, por saberem que estão se adiantando na escala evolutiva (O Livro
dos Espíritos, questão 178).

PRÁTICA
1 – Aprofunde seus conhecimentos sobre o assunto assistindo o vídeo “O Que é Karma?”, de |
Sadhguru.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=CJFGPL8iAZM
2 – Vídeo “Divaldo - Como funciona o Carma e a Reparação”.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=uPIPaGfKVDc

166
CAPÍTULO 11 - A REENCARNAÇÃO DOS
ESPÍRITOS

1 – PALINGENESIA X METEMPSICOSE
Reencarnação é uma idéia central de diversos
sistemas filosóficos e religiosos, segundo a qual uma
porção do Ser é capaz de subsistir à morte do corpo.
Chamada consciência, espírito ou alma, essa porção
seria capaz de ligar-se sucessivamente a diversos corpos
para a consecução de um fim específico, como o auto-
aperfeiçoamento ou a anulação do carma. Usa-se
também o termo Palingenesia, proveniente de duas
palavras gregas — Palin, de novo; genesis, nascimento.

Metempsicose - do grego metempsykhosis,


embora empregada no mesmo sentido da reencarnação,
tem um significado diferente, pois supõe ser possível a
transmigração das almas, após a morte, de um corpo
para outro, sem ser obrigatoriamente dentro da mesma
espécie. Ou seja, a alma que atingiu a fase humana
poderia reencarnar em um animal. Plotino (205-270 a. C.) sugeriu que se substituísse por
metensomatose, uma vez que haveria na realidade, mudança de corpo (soma) e não de alma
(psykhe) (Andrade, 1984, p. 194 e 195)
Ressurreição - do lat. ressurrectione - significa ato ou efeito de ressurgir, ressuscitar.
Segundo o Catolicismo e o Protestantismo, retorno à vida num mesmo corpo.

2 – O CONCEITO DE REENCARNAÇÃO NA HISTÓRIA


A reencarnação é um dos pontos fundamentais do Espiritismo, codificado por Allan
Kardec, do Hinduísmo, do Jainismo, da Teosofia, do budismo, do Rosacrucianismo e da filosofia
platônica. Existem vertentes místicas do Cristianismo como, por exemplo, o Cristianismo
esotérico, que também admite a reencarnação.
Há referência recentes a conceitos que poderiam lembrar a reencarnação na maior parte
das religiões, incluindo religiões do Egito Antigo, religiões indígenas, entre outras.
Na antiga Índia, os Vedas diziam:
167
“Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa usada para pegar uma nova, assim
a alma se descarta de um corpo usado para se revestir de novos corpos.”

Buda, o grande mestre que viveu na Índia seis séculos antes de Cristo pregava:
“O conhecimento e o amor são os dois fatores essenciais do Universo. Enquanto não
adquire o amor, o Ser está condenado a prosseguir a série de reencarnações terrestres.”

A doutrina céltica acreditava que a alma era imortal e chegava ao aperfeiçoamento pelas
reencarnações. A crença céltica e a druida diziam que o homem teria a ajuda dos espíritos
protetores, e sua libertação dos ciclos reencarnatórios seria, assim, mais rápida.
A reencarnação fazia parte da vida dos egípcios. No papiro Anana (1320 a.C.) está escrito:
“O homem retorna à vida várias vezes, mas não se recorda de suas prévias existências,
exceto algumas vezes em um sonho. No fim todas essas vidas ser-lhe-ão reveladas.”

O filósofo e matemático Pitágoras introduziu, na Grécia, a doutrina das vidas sucessivas


do espírito, que tinha conhecido em suas viagens ao Egito e a Pérsia. Ele dizia que a alma era
imortal e, depois da morte do corpo, ela ocupava outro.
A preexistência do espírito é uma teoria que prega a existência do espírito, antes da
existência do corpo. Foi uma das teses defendidas pelo grande sábio cristão Orígenes. Ele
afirmou, de forma contundente, numerosas passagens sobre a reencarnação, dizendo:
“Todas as almas chegam a este mundo fortalecidas pelas vitórias ou debilitadas pelas
derrotas de uma vida pregressa. O seu lugar neste planeta é determinado por seus
méritos ou deméritos do passado.”

Esta tese de Orígenes foi condenada pelo polêmico V Concílio Ecumênico de


Constantinopla II (553 d.C.).
Santo Agostinho, no livro Confissões, chegou a interpelar a si mesmo: “Não vivi em outro
corpo antes de entrar no ventre de minha mãe?”
Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a reencarnação que a cultura
religiosa oriental já proclamava como fato, milênios antes da era cristã, norteador dos princípios
da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o
trabalho de sua regeneração, em nova existência.
Contudo, o Concílio realizado em Constantinopla (atual Turquia), no ano de 553 d.C.,
resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria. As decisões do Concílio
condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do
Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido
séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias, na passagem:
“E, se quiserdes compreendê-los, João é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, que
escute bem”. (Mateus 11, 14-15)

168
Pai Alexandre Cumino comenta sobre a questão da reencarnação na Umbanda no 14º
Episódio da Jornada Teológica dizendo:
“Somos espíritos que encarnamos e reencarnamos muitas vezes e em diversas culturas. Em
uma vida você foi branco, negro, brasileiro, europeu, americano, foi índio em determinada
tradição e isso está ali na palavra do Caboclo das Sete Encruzilhadas do dia 15 de
Novembro de 1908: ‘Se é preciso que eu tenha um nome, me chame Caboclo das Sete
Encruzilhadas. O que você está vendo são reminiscências de outra vida em que eu
fui Frei Gabriel de Malagrida, que fui queimado na Santa Inquisição por haver
previsto o terremoto de Lisboa’.”

3 - FINALIDADES DA ENCARNAÇÃO
Mas porque as Mônadas precisam se manifestar em um corpo passando por todas as
vicissitudes humanas? Talvez a finalidade da manifestação seja produzir as mônadas que virão a
se tornar novos Logos dando continuidade ao trabalho da Realidade Suprema. Cada mônada
individual contribui para evoluir o universo enriquecendo-o com suas experiências. Se
permanecesse no estado integrado do Absoluto a mônada não poderia vivenciar as experiências
do mundo diferenciado necessárias para sua evolução misteriosa que foge da compreensão
intelectual. A personalidade humana é um pálido reflexo da mônada que na maioria dos casos no
estágio atual de evolução volta-se contra ela, o ser humano se esquece de sua origem divina.
Peregrino é o nome dado à nossa Mônada [ser individual] durante seu ciclo de
encarnações. É o único Princípio imortal e eterno que existe em nós, sendo uma parcela
indivisível do todo integral, o Espírito Universal, de onde emana e no qual é absorvido no final do
ciclo.
“(...) a peregrinação é obrigatória para todas as Almas (...) através do Ciclo de Encarnação
(...) nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma existência
consciente independente antes que (...) haja passado por todas as formas elementais
pertencentes ao mundo fenomenal do Manvatara (...) à custa dos próprios esforços (...)
regulados pelo Carma, escalando assim todos os graus de inteligência, desde o Manas
[entendimento] inferior até o Manas superior; desde o mineral e a planta ao Arcanjo mais
sublime.” Dhyâni-Buddhas. (p. 84)

Em “O Evangelho à Luz do Cosmo”, do espírito Ramatis, este informa que:


“Em face da impossibilidade de o espírito primário lograr a sua gloriosa angelitude numa
só existência humana, e não podendo de imediato aperceber-se do “reino de Deus”, ele,
então, precisa de muitas vidas físicas ou encarnações em vários planetas das mais
diferentes graduações. Lenta, sensata e conscientemente, o espírito, então, se gradua para
a integração angélica através das sucessivas existências físicas de aprendizado e educação
espiritual. Eis por que Jesus anunciou que ‘ninguém poderá ver o reino de Deus se não

169
nascer de novo’, pois é de Lei que tanto quanto o espírito submete-se às lições educativas
das formas físicas ele afina e sublima o próprio perispírito.”

Portanto, podemos resumir as finalidades da encarnação conforme abaixo:


1) Expiação — Expiar significa remir, resgatar, pagar. A expiação, em sentido restrito consiste em
o homem sofrer aquilo que fez os outros sofrerem, abrangendo sofrimentos físicos e morais, seja
na vida corporal, seja na vida espiritual.

2) Prova — Em sentido amplo, cada nova existência corporal é uma prova para o Espírito. A
prova, às vezes, confunde-se com a expiação, mas nem todo sofrimento é indício de uma
determinada falta. Trata-se freqüentemente de simples provas escolhidas pelo espírito para acabar
a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova mas a
prova nem sempre é uma expiação.

3) Missão — A missão é uma tarefa a ser cumprida pelo Espírito encarnado. Em sentido
particular, cada Espírito desempenha tarefas especiais numa ou noutra encarnação, neste ou
naquele mundo. Há, assim, a missão dos pais, dos filhos, dos políticos etc.

4) Cooperação na Obra do Criador — Através do trabalho, os homens colaboram com os


demais Espíritos na obra da criação.

5) Ajudar a Desenvolver a Inteligência — a necessidade de progresso impele o Espírito às


pesquisas científicas. Com isso a sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. É assim que
o homem passa da selvageria à civilização.

A encarnação ou reencarnação tem outras finalidades específicas para este ou aquele


Espírito. Citam-se, por exemplo, o restabelecimento do equilíbrio mental e o refazimento do corpo
espiritual. (FEESP, 1991, 7.ª Aula, p. 73 a 76)

170
4 – PRINCIPAIS IDÉIAS
• A reencarnação não é um processo punitivo; é manifestação da misericórdia divina. Não
reencarnamos somente por sermos devedores, mas, acima de tudo, porque a vida na matéria
significa oportunidade de crescimento em todas as latitudes espirituais. A evolução é lei divina e,
por isso, imperiosa. Sofremos, vez ou outra, pela causa que abraçamos e não somente por causa de
alguma infringência às leis divinas.

• Os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem. O Espírito, liberto da


matéria, sempre os conserva. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte,
momentaneamente, mas a intuição que conserva deles o ajuda em seu adiantamento. Sem isso,
teria sempre que recomeçar. A cada nova existência, o Espírito parte de onde estava na existência
anterior.
• Todos os Espíritos estão destinados à perfeição, e Deus lhes fornece os meios de alcançá-la
pelas provações da vida corporal. Mas, na Sua justiça, lhes permite cumprir, em novas existências,
o que não puderam fazer, ou acabar, numa primeira prova.
• O Espírito deve avançar em ciência e moralidade; se progrediu apenas num deles, é preciso
que progrida no outro, para atingir o alto da escala. Porém, quanto mais o homem avança em sua
vida presente, menos longas e difíceis serão as provas futuras.
• O número de encarnações não é o mesmo para todos os Espíritos. Aquele que caminha
rápido se poupa das provas. Todavia, essas encarnações sucessivas são sempre muito numerosas,
porque o progresso é quase infinito.
• A vida do Espírito, em seu conjunto, passa pelas mesmas fases que vemos na vida corporal.
Gradualmente, passa do estado de embrião ao de infância para atingir, no decurso de uma
sucessão de períodos, o de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que não conhece o
declínio e a decrepitude, isto é, a velhice extrema como na vida corporal. Essa vida, que teve
começo, não terá fim; precisa de um tempo imenso, do nosso ponto de vista, para passar da
infância espírita a um desenvolvimento completo, e seu progresso se realiza não somente num
único mundo, mas passando por diversos mundos. A vida do Espírito se compõe, assim, de uma
série de existências corporais, e cada uma delas é uma ocasião para o seu progresso, como cada
existência corporal se compõe de uma série de dias em cada um dos quais o homem adquire um
acréscimo de experiência e instrução. Mas, da mesma forma que, na vida do homem, há dias que
não trazem nenhum proveito, também na do Espírito há existências corporais sem resultado, por
não as ter sabido aproveitar.
• Nem todas as nossas encarnações se passam no planeta Terra. Algumas se passam em
diferentes mundos, de acordo com a necessidade evolutiva de nosso espírito. As encarnações que

171
passamos na Terra não são nem as primeiras nem as últimas, embora sejam das mais materiais e
mais distantes da perfeição.” (L.E, questão 172).
• Os Espíritos podem encarnar corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em
que já viveram para cumprir uma missão e ajudar no progresso. Aceitam com alegria as
dificuldades dessa existência, porque lhes oferecem um meio de avançar.
• Os mundos estão também submetidos à lei do progresso. Todos começaram por um estado
inferior, e a própria Terra passará por uma transformação semelhante. Ela será um paraíso
quando os homens se tornarem bons.
• A duração da vida nos diferentes mundos parece ser proporcional ao grau de superioridade
física e moral desses mundos, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material é o corpo,
menos está sujeito às alternâncias e instabilidades que o desorganizam. Quanto mais puro é o
Espírito, mais livre das paixões que o destroem. Esse é “ainda um benefício da Providência que,
desse modo, abrevia os sofrimentos.”
• A doutrina da reencarnação amplia os laços de afeição entre os espíritos. O parentesco,
estando fundado em afeições anteriores, faz com que os laços que unem os membros de uma
mesma família sejam mais vigorosos. Essa doutrina amplia também os deveres da fraternidade,
uma vez que, entre os vossos vizinhos, ou entre os servidores, pode-se encontrar um Espírito que
esteve ligado a vós pelos laços de sangue.
• Os Espíritos encarnam como homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem
progredir em tudo, cada sexo, assim como cada posição social, lhes oferece provas, deveres
especiais e a ocasião de adquirir experiência. Aquele que encarnasse sempre como homem apenas
saberia o que sabem os homens.
• A marcha dos Espíritos é progressiva e não retrógrada. Elevam-se gradualmente na
hierarquia e não descem da categoria que já alcançaram. Em suas diferentes existências corporais
podem descer como homens, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um poderoso da Terra
pode mais tarde animar o mais humilde operário, e vice-versa; essas posições entre os homens
ocorrem muitas vezes na razão inversa dos sentimentos morais. Herodes era rei e Jesus,
carpinteiro.
• Não temos, durante a vida corporal, lembrança precisa do que fomos e do que fizemos de
bem ou mal em existências anteriores, mas muitas vezes temos a intuição disso, e nossas
tendências instintivas são uma lembrança do nosso passado, às quais nossa consciência, que é o
desejo que concebemos de não mais cometer as mesmas faltas, nos adverte para resistir.
• A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes muito graves;
poderia, em certos casos, nos humilhar muito; em outros, exaltar nosso orgulho e, por isso
mesmo, dificultar nosso livre-arbítrio. Deus deu, para nos melhorarmos, exatamente o que é
necessário e basta: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, privando-nos do que
172
poderia nos prejudicar. Adicionalmente, se tivéssemos lembrança de nossos atos pessoais
anteriores, teríamos igualmente a dos outros, e esse conhecimento poderia ter os mais desastrosos
efeitos sobre as relações sociais.
• Ninguém escapa à lei do progresso. Cada um será recompensado de acordo com seu mérito
real e ninguém é excluído da felicidade suprema, a que pode pretender, sejam quais forem os
obstáculos que venha a encontrar no caminho.
• Nos intervalos de suas existências corpóreas, os Espíritos estão no estado de erraticidade, e
compõem a população espiritual ambiente do globo. Para os desencarnados e os que nascem,
essas duas populações se inclinam incessantemente uma para a outra; há, pois, diariamente,
emigrações do mundo corpóreo no mundo espiritual, e imigrações do mundo espiritual no
mundo corpóreo: é o estado normal. (Gênese, 1868)
• Em certas épocas, reguladas pela sabedoria divina, essas emigrações e essas imigrações se
operam em massas mais ou menos consideráveis, em consequência das grandes revoluções que
fazem partir, ao mesmo tempo, quantidades inumeráveis, as quais são logo substituídas por
quantidades equivalentes de encarnações. É necessário, portanto, considerar os flagelos e os
cataclismas como ocasiões de chegadas e partidas coletivas, de meios providenciais para renovar a
população corpórea do globo, de retemperá-la com a introdução de novos elementos espirituais
mais depurados.
(...) As renovações rápidas e quase instantâneas que se operam no elemento espiritual da
população em conseqüência de flagelos destruidores, aceleram o progresso social; sem as
emigrações e as imigrações que vêm, de tempos em tempos, dar-lhe um violento impulso, ele
caminharia com uma extrema lentidão. (Gênese, 1868)

173
PRÁTICA
1 – Medite sobre a afirmação:
“Esse erro de não te conheceres a ti mesmo é a fonte de todas as tuas tristezas
e a causa de todos os teus tropeços”.
(Sri Aurobindo, filósofo, poeta e yogue indiano)

2 – Assista ao filme “A Reencarnação de Manika” e reflita sobre a temática contida no filme.


Link: https://www.youtube.com/watch?v=-dOQQPDdp68

3 - Assista ao filme “Minha Vida Na Outra Vida” e reflita sobre a temática contida no filme.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=giZoGF4eGXc

4 – Qual a diferença entre Palingenesia e Metempsicose?

5 - O Espiritismo e a Umbanda são religiões/tradições reencarnacionistas. A Metempsicose é


aceita por essas religiões? (Sim/Não). Porquê?

6 – Assista a série “Vidas Além do Tempo - Episódio 1: A vida que segue: a reencarnação para
as religiões”, exibida pela Rede Globo, e aprofunde seus conhecimentos.
Link: http://redeglobo.globo.com/videos/t/tudo-da-globo/v/vidas-alem-do-tempo-episodio-1-a-
vida-que-segue-a-reencarnacao-para-as-religioes/4584405/

174
5 – BASES DE COMPROVAÇÃO DA HIPÓTESE REENCARNACIONISTA

Há muitos cientistas e pesquisadores se dedicando a estudar a reencarnação, e existem


muitos vestígios e detalhes que levam a vidas sucessivas, desde reminiscências ou lembranças de
vidas passadas, marcas de nascença, até recursos utilizados por peritos criminais, tais como
datiloscopia, pela qual tem sido comprovada igualdade de impressões digitais da pessoa
reencarnada com a personalidade que lembra ter sido em vida passada.

Entre as tentativas de dar uma base "científica" a essa crença, destaca-se o trabalho do Dr.
Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia, Estados Unidos, que recolheu dados sobre mais de
2.000 casos em todo o mundo que evidenciariam a reencarnação. No Sri Lanka (país onde a
crença é muito popular), os resultados foram bem expressivos. Dentre os trabalhos desenvolvidos
por Dr. Stevenson sobre a reencarnação, destaca-se a obra "Vinte casos sugestivos de
reencarnação".

O professor doutor Hamendra Nat Banerjee, da Universidade de Jaipur-Índia, também


pesquisou sobre reencarnação e catalogou mais de três mil casos.

A psicóloga Helen Wanbach fez muitas experiências por hipnose para comprovar a
reencarnação.

175
O renomado psiquiatra norte-americano Brian Weiss, autor de livros como “Muitas vidas,
muitos mestres”, trabalha com regressão há muitos anos e diz:

“O conceito de reencarnação explica e clarifica as nossas relações na vida presente.


Por vezes há acontecimentos no nosso passado distante que ainda influenciam as
nossas relações atuais. Se conseguirmos compreender a raiz dos problemas em
vidas passadas poderá sarar a relação no presente. A consciência e a compreensão
são fontes poderosas de cura.”

Doutor Hernani Guimarães Andrade, pesquisador espírita brasileiro, colheu excelentes


resultados em suas pesquisas, relacionadas a lembranças reencarnatórias e marcas de nascença.
Ele apresentou oito casos que sugerem renascimento; cada caso é profundamente pesquisado de
forma científica.

Assim vemos que esse fenômeno natural chamado reencarnação vem ser comprovado por
inúmeros experimentos, observações e análises científicas elaboradas por metodologias sérias,
sem o preconceito radical da ciência materialista, que nem sequer ousou investigar tais
acontecimentos.
Cada vez mais cientistas e pensadores estão descobrindo que o homem é muito mais que
um simples rótulo ou aparência, é um ser pensante que se utiliza da lei da reencarnação a favor de
seu progresso íntimo.

“Em verdade, em verdade te digo que se um homem não renascer da água e do espírito,
não pode entrar no reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do
Espírito é Espírito. Não te espantes com o que te disse:
Necessário vos é nascer de novo”.

(Jesus)

PRÁTICA

1 – Pesquise sobre a visão budista da reencarnação.


2 - O que seria o termo Bardo, utilizado pelos budistas? E o que seria o Bardo Thodol?
3 – Assista o vídeo “Como a Umbanda entende a Reencarnação?”, de Norberto Peixoto.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=AAZq49LXWyo
4 – Ouça a canção “Reencarnação” e reflita sobre sua mensagem.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=3msX2Gg8nzw&list=RDG9GrnIi3wzU&index=30
176
CAPÍTULO 12 – O RETORNO
À VIDA ESPIRITUAL
“O corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma
nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no
instante da morte são um gozo para o Espírito que se vê chegar o termo do seu exílio.”

(Allan Kardec)

Já imaginou as surpresas e decepções que


esperam a criatura no mundo espiritual? Que
aflições não terá de atravessar até que consiga
entender que a posição social, econômica e cultural
do indivíduo neste mundo não guarda relação
alguma com a sua posição no mundo espiritual.
Pessoas que neste mundo ocuparam posições
de grande relevo ficam surpreendidas ao
encontrarem do outro lado da vida, revestidos de luz
e altamente respeitados, espíritos de antigos criados;
homens que foram importantes na Terra, em aflições
insuportáveis, reduzidos a extrema penúria.
Isso não quer dizer que os ricos e poderosos
fiquem no plano espiritual sofrendo, nem que todos
os miseráveis sejam espíritos de grande categoria.
Não levamos ouro nem títulos, nem posições:
levamos apenas, inscrito em nosso espírito o bem ou
mal que houvermos praticado.
Se, ainda que modestamente, houvermos contribuído para deixar atrás de nós um mundo
melhor, seremos compensados pelo esforço feito. E mais ainda: quando voltarmos a renascer aqui
estaremos nos beneficiando das coisas boas que ajudamos a implantar e a construir.

177
1 – MORTE E DESENCARNAÇÃO
Poucos sabem que morte e desencarnação são conceitos diferentes. A morte nada mais é,
para nós espiritualistas, que o cessar do funcionamento do corpo físico.
Ao encarnar, o espírito se liga à matéria através de seu corpo espiritual e sob a influência
do princípio vital. Quando o corpo morre, não mais oferece condições para que o espírito o
anime. Então, há o desligamento do perispírito e o espírito, liberto, retorna ao mundo espiritual.
Desencarnação, portanto, é o processo pelo qual o espírito se desprende do corpo, em
virtude da cessação da vida orgânica e, conservando o seu perispírito, volta à vida espírita. Nas
palavras do espírito Ramatis:
O falecimento consiste na total impossibilidade orgânica de sobreviver a algum tipo de
fatalidade, seja através de moléstia, acidente, ou pela falência de algum órgão vital.
O desencarne consiste na libertação do espírito em relação ao escafandro carnal que
vestira durante sua existência na matéria. Ele só ocorre quando o Duplo Etéreo cumprir de
maneira relativamente satisfatória o processo de escoamento de certos conteúdos
perispirituais os quais o desencarnante deverá libertar-se por efeito daquilo que vivera
enquanto na matéria.
De igual forma, vários despojos perispirituais, verdadeiros resíduos ocasionados pela apara
das arestas humanas, precisam ser demovidos da sensível estrutura espiritual. Pois sua
estocagem é completamente desnecessária. É neste ambiente de constantes drenagens que
opera o Duplo Etéreo como agente de limpeza espiritual! (Livro Flores do Oriente, pelo
espírito Ramatis).

2 - SEPARAÇÃO DA ALMA E DO CORPO


O desprendimento do perispírito em relação ao corpo:
a) Opera-se gradativamente, pois os laços fluídicos que o ligam ao corpo não se quebram, mas se
desatam.
b) Processa-se dos pés para a cabeça, sendo o cérebro o último ponto a se desligar.
c) No instante da agonia, quando esse desligamento está se processando, o desencarnante
costuma ter uma visão panorâmica, rápida e resumida, mas viva e fiel, dos pontos principais
da existência terrena que está findando.
d) Logo após a desencarnação, o espírito entra em um estado de perturbação espiritual. Como
estava acostumado às impressões dos órgãos dos sentidos físicos, fica confuso, como quem
desperta de um longo sono e ainda não se habituou, de novo, ao ambiente onde se encontra.

178
A lucidez das idéias e a lembrança do passado irão voltando, à medida que se destrói a
influência da matéria.

3 - DAS CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE DO CORPO


O processo todo da desencarnação e reintegração à vida espírita dependerá:
• Nas mortes por velhice, a carga vital foi-se esgotando pouco a pouco e, por isso, o
desligamento tende a ser natural e fácil e o espírito poderá superar logo a fase de perturbação.
• Todo desencarne longo e com muito sofrimento é indício certo de expiação e limpeza de
cargas fluídicas e vibrações doentias e pesadas. Após o desencarne doloroso, todos passam
pela sonolência e período de descanso.
• Nas mortes por doença prolongada, o processo de desligamento também é feito pouco a
pouco, com o esgotamento paulatino da vitalidade orgânica, e o espírito vai-se preparando
psicologicamente para a desencarnação e se ambientando com o mundo espiritual que, às
vezes, até começa a entrever, porque suas percepções estão transcendendo ao corpo.
• Nas mortes violentas (acidentes, desastres, assassinatos, suicídios etc.) o rompimento dos
laços que ligam o espírito ao corpo é brusco e o espírito pode sofrer com isso, e a perturbação
tende a ser maior. Em casos excepcionais (como o de alguns suicidas), o espírito poderá sentir-
se por algum tempo, "preso" ao corpo que se decompõe, o que lhe causará dolorosas
impressões.
Conforme os esclarecimentos de Ramatis no livro Flores do Oriente, o desligamento do
Duplo Etéreo pode ser processado quando se fizer o desgaste natural, pelo término da encarnação
em vigência, pelo desgaste natural das energias etéreas e a conseqüente dissolução dos laços
fluídicos que prendem o corpo astral, ou quando a rogativa sincera se faça acompanhar de
condições cármicas que permitam o socorro.
Quando ocorram atenuantes verdadeiras – em geral, quando houve a indução ou
responsabilidade maior de terceiros (suicídios forçados ou induzidos) – ou se a criatura, apesar do
gesto insano, tiver credenciais de serviço e fraternidade, há condições vibratórias para a
intervenção dos técnicos em desencarne processem o desligamento do espírito antes do corpo ser
sepultado ou cremado.

4 - DO GRAU DE EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO DESENCARNANTE


• De modo geral, quanto mais espiritualizado o desencarnante, mais facilmente consegue
desvencilhar-se do corpo físico já sem vida. Quanto mais material e sensual tiver sido sua
existência, mais difícil e demorado é o desprendimento.

179
• A perturbação natural por se sentir desencarnado é menos demorada e menos dolorosa para o
espírito evoluído. Quase que imediatamente ele reconhece sua situação, porque, de certa
forma, já vinha se libertando da matéria antes mesmo de cessar a vida orgânica (vivia mais
pelo e para o espírito). Logo retoma a consciência de si mesmo, percebe o ambiente em que
se encontra e vê os espíritos ao seu redor. Para o espírito pouco evoluído, apegado à matéria,
sem cultivo das suas faculdades espirituais, a perturbação é difícil, demorada, sendo
acompanhada de ansiedade, angústia, e podendo durar dias, meses e até anos.
• Os seres que se fecham no ódio, ignorância, egoísmo, violência, maldade, indiferença, se
precipitam no mal e destróem, por si mesmos, os tecidos perispirituais e iniciam a
desagregação do organismo psíquico. Estes, após a morte física vêem-se jogados na vida
espiritual. Como não cultivaram estudos espirituais, não têm fé. Abrigam sentimentos
grosseiros, mentalizam o nada, tornam-se inconscientes ou em coma, e assim se conservam
por períodos que vão de umas horas até séculos. Não vêem, não ouvem, não falam. A
desarmonia interna, provocada pela agitação, degrada progressivamente a forma, tomando a
aparência de espíritos humanos com as formas horripilantes, monstruosas: cabeça de homens
com corpos de animais, faces inchadas, figuras agigantadas, etc. Muitos retornam às formas
inferiores a que já passaram. Conforme ensina o espírito André Luis: “Um dia voltarão à
normalidade”.
• O conhecimento do Espiritismo ajuda muito o Espírito na desencarnação, porque não
desconhecerá o que se está passando e poderá favorecer o processo, sem se angustiar
desnecessariamente e procurando recuperar-se mais rápido da natural perturbação.
Entretanto, a prática do bem e a consciência pura é que pode assegurar um despertar pacífico
na Pátria Espiritual.

5 – O AMPARO E A RECEPÇÃO DOS DESENCARNADOS NO PLANO ESPIRITUAL


A bondade divina, que sempre prevê e provê o que precisamos, também não nos falta na
desencarnação. Por toda a parte, há Bons Espíritos que, cumprindo os desígnios divinos, se
dedicam à tarefa de auxiliar na desencarnação os que estão retornando à vida espírita.
A forma como a alma é acolhida no seu regresso ao mundo dos Espíritos, depende de como
agiu como espírito encarnado. Será bem recebida, pelos bons espíritos, se foi uma pessoa justa.
Nossos parentes e amigos do mundo espiritual, costumam vir ao nosso encontro quando
deixamos a Terra. É como se regressássemos de uma viagem, ajudando-nos a desprender-nos das
ligações corporais.
Mas nem sempre a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam para o
mundo dos Espíritos. É necessário algum tempo para que ela se reconheça a si mesma e se
desligue da sua vida material.
180
Os parentes e amigos nem sempre se reúnem depois da morte. Vai depender isso da
elevação deles e do caminho que seguem, procurando progredir. Se um está mais adiantado e
caminha mais depressa do que o outro, não podem os dois conservarem-se juntos. Poderão ver-se
de tempos a tempos, mas não estarão reunidos para sempre, senão quando puderem caminhar
lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Acresce que a privação de ver os
parentes e amigos é, às vezes, uma punição.
Todos receberão essa ajuda, normalmente, se não apresentarem problemas pessoais e
comprometimento com espíritos inferiores. Em caso contrário, o desencarnante às vezes não
percebe nem assimila a ajuda ou é privado dessa assistência, ficando à mercê de espíritos inimigos
e inferiores, até que os limites da lei divina imponham um basta à ação destes e o Espírito rogue e
possa receber e perceber a ajuda espiritual.

6- DURANTE E DEPOIS DA MORTE


No livro “As Flores do Oriente”, do espírito Ramatis, ele ensina:
Após o falecimento orgânico, o corpo físico não servirá mais ao espírito senão para ser
depósito de todas as suas impurezas energéticas. Há então um período de hiperatividade
do Duplo Etéreo, que varia de acordo com cada indivíduo, o que pode levar até cerca de três
meses por exemplo, se a morte corpórea for provocada por doenças graves ou cujo início se
deu pela intensificação da drenagem energética ocasionada pelo Duplo Etéreo.
Há casos em que este processo é mais rápido, podendo durar apenas algumas horas se for
por morte natural, principalmente se o individuo não era vicioso! É importante esclarecer
que o Duplo Etéreo é o higienizador perispirítico e em casos de doenças complexas, de
difícil cura, podemos perceber sua nobre atividade, que visa a libertar o espírito de energias
deletérias geradas por atos inconseqüentes no decorrer de centenas de encarnações!

Após desligar-se do corpo material, o espírito conserva sua individualidade, continua sendo
ele mesmo com seus defeitos e virtudes.
Sua situação, feliz ou não, na vida espírita será conseqüência da sua existência terrena e de
suas obras. Os bons sentem-se felizes e no convívio de amigos; os maus sofrem a conseqüência de
seus atos; os medianos experimentam as situações de seu pouco preparo espiritual.
Através do perispírito, conserva a aparência da última encarnação, já que assim se
mentaliza. Mais tarde, se puder e desejar, a modificará.
Depois da fase de transição, poderá estudar, trabalhar e preparar-se para nova existência, a
fim de continuar evoluindo.

181
PRÁTICA
1 – Assista o filme “Nosso Lar”, baseado na obra de Chico Xavier/André Luís e reflita sobre o
processo de desencarnação e a vida no plano espiritual.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=I_aFA4Wg-tg

6.1 - SORTE DAS CRIANÇAS APÓS A MORTE

Ao nos defrontarmos com o fenômeno da morte, muitos de nós ficamos abalados,


mormente quando esta envolve crianças em tenra idade. Poderíamos então perguntar que
significado ou valor espiritual pode ter a vida de alguém que desencarnou ainda bebê?
Essa curta vida teve também sua finalidade e proveito, do ponto de vista espiritual. Pode
ter sido, por exemplo:
• uma complementação de encarnação anterior não aproveitada integralmente;
• uma tentativa de encarnação que encontrou obstáculos no organismo materno, nas condições
ambientes ou no desajuste perispiritual do próprio reencarnante;
• uma prova para os pais (a fim de darem maior valor à função geradora, testemunharem
humildade/resignação), ou para o reencarnante (a fim de valorizar a reencarnação como
bênção).
182
Abaixo transcrevemos trecho do livro “Entre a Terra e o Céu”, do espírito André Luis,
psicografado por Chico Xavier:
Antigamente, na Terra, conforme a teologia clássica, supúnhamos que os inocentes, depois
da morte, permaneciam recolhidos ao descanso do limbo, sem a glória do Céu e sem o
tormento do inferno, e, nos últimos tempos, com as novas concepções do Espiritualismo,
acreditávamos que o menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de
adulto...
- Em muitas situações, é o que acontece —esclareceu Blandina, afetuosa —; quando o
Espírito já alcançou elevada classe evolutiva, assumindo o comando mental de si mesmo,
adquire o poder de facilmente desprender-se das imposições da forma, superando as
dificuldades da desencarnação prematura. Conhecemos grandes almas que renasceram na
Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos
para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a
respectiva apresentação que lhes era costumeira.
Contudo, para a grande maioria das crianças que desencarnam, o caminho não é o
mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo inconsciente, acham-se relativamente
longe do auto-governo. Jazem conduzidas pela Natureza, à maneira das criancinhas no
colo maternal. Não sabem desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que
orientam o mundo das formas e, por isso, exigem tempo para se renovarem no justo
desenvolvimento. É por esse motivo que não podemos prescindir dos períodos de
recuperação para quem se afasta do veículo físico, na fase infantil, de vez que, depois do
conflito biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham nos
primeiros degraus da conquista de poder mental, o tempo deve funcionar como elemento
indispensável de restauração. E a variação desse tempo dependerá da aplicação pessoal do
aprendiz à aquisição de luz interior, através do próprio aperfeiçoamento moral.

Complementando as informações acima, no site www.espirito.org.br, constam as seguintes


questões relativas ao assunto:
Uma criança, quando desencarna, seu Espírito terá a mesma idade que ela tinha,
quando era encarnada?
Sim, dependendo, no entanto de sua maturidade espiritual. O Espírito, quando desencarna,
permanece com os mesmos condicionamentos mentais que tinha na Terra, até que se
conscientize de sua real situação. Permanecerá em estado de criança ou de adolescente,
por um determinado tempo, dependendo de sua evolução, ou seja, de seu grau de
entendimento, até que adquira plena consciência de sua condição e de suas necessidades.
Isso, geralmente acontece com Espíritos que ainda estão em situação de pouca evolução
espiritual. Por isso, nas colônias socorristas próximas à crosta terrestre, encontram-se
Espíritos em condição de crianças e adolescentes. Deve-se saber, entretanto, que esta
situação perdura apenas por um determinado período.
O que acontece com os recém-nascidos que logo morrem? E por que isto acontece?

183
O Espírito de criança morta em tenra idade recomeça outra existência normalmente. O
desencarne de recém-nascidos, freqüentemente, trata-se de prova para os pais, pois o
Espírito não tem consciência do que ocorre. A maioria dessas mortes, entretanto, é por
conta da imperfeição da matéria.

Informações igualmente preciosas nos deu André Luiz, em sua obra intitulada Entre a
Terra e o Céu, psicografada por Francisco Cândido Xavier.
Conta-nos ele que, em determinado momento no plano espiritual, passa a ouvir uma suave
melodia; ao se aproximar, percebe que a música era entoada por um coro de crianças felizes e
sorridentes, em meio a paisagens de rara beleza. Ele se encontrava no Lar da Bênção — um misto
de escola de preparação para a maternidade e abrigo para espíritos que haviam desencarnado na
infância. Alguns deles, naquele exato momento, recebiam a visita de suas mães, ainda encarnadas,
que para lá se deslocavam por ocasião do sono físico. André Luiz, então, fascinado com o que via,
questiona se haveria ali cursos primários de alfabetização; ao que a dirigente daquele educandário
responde afirmativamente, pois que se tratava de um verdadeiro estabelecimento de ensino no
além, que abrigava à época, cerca de dois mil espíritos desencarnados em tenra idade, que lá
permaneciam até reunir condições para retornar ao plano físico, o que se dava, na maioria das
vezes, antes que o Espírito retomasse sua compleição adulta.
Surge, então, a instigante questão do “crescimento das crianças no plano espiritual”, que
estará intimamente atrelada à retomada de consciência por parte do Espírito desencarnado, o que
lhe permitirá plasmar as modificações necessárias em seu corpo fluídico.
Claro que, depois de algum tempo, os espíritos de quem desencarnou ainda criança são
vistos muitas vezes "crescidos" perispiritualmente e até já em forma adulta, pois os espíritos não
têm a idade do corpo. No entanto, se desejam se fazer reconhecidos pelas pessoas com quem
conviveram, podem se apresentar com a forma infantil que tiveram. Se vão ter de reencarnar em
breve, poderão conservar a forma infantil no seu perispírito, que facilitará o processo de nova
ligação à matéria.
O Livro dos Espíritos também traz o questionamento sobre a situação espiritual das
crianças no além, ao que os espíritos da codificação respondem:
“É a mesma que merecia com a existência anterior ou que já tinha na vida espiritual, porque
na curta vida como criança, nada pôde fazer de bom ou de mal que alterasse sua evolução,
que representasse um desenvolvimento, um progresso”.
Mas pode estar melhor na sua conscientização e no seu equilíbrio espiritual, e, também, ter
reajustado, no processo de ligamento e desligamento com o corpo, algum problema
espiritual de que fosse portador. (anomalias, desajustes no perispírito).”

184
PRÁTICA

1 – Aprofunde seus conhecimentos assistindo o filme “As Mães de Chico Xavier.”


2 – Leia o livro “Flores de Maria”, do espírito Rosângela e psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de
Carvalho.
SINOPSE: Flores de Maria é uma colônia do plano espiritual
onde são abrigadas crianças e adolescentes que partiram para o
outro lado da vida. Rosângela, a jovem que narra sua história do
plano espiritual, partiu antes de completar 14 anos. Depois de
passar por um período de muitas dificuldades em virtude de uma
doença no plano terreno, ela acorda no plano astral, livre e
sentindo-se refeita. Aos poucos toma contato com as
oportunidades de estudos e aprendizados. Assim, com uma
narrativa leve, Rosângela conta como são recebidos os bebês, as
crianças e os jovens que passam para o outro lado, mostrando-
nos como os amigos espirituais estão sempre por perto, os
auxiliando, assim como também auxiliam aos pais e aos entes
queridos que ficaram. Flores de Maria é sem dúvida uma leitura
reconfortante para aqueles que aqui ficaram, mostrando que
Deus nunca desampara ninguém.

3 – Assista o vídeo “Existe explicação para a morte de crianças?”, de Mayse Braga.


Link: https://www.youtube.com/watch?v=RoXGsDnFuqs

185
6.2 – SORTE DOS ANIMAIS APÓS A MORTE

O cientista espírita italiano, Ernesto Bozzano, de forma inédita, pesquisou dezenas de


casos de materializações de animais, demonstrando que a alma desses seres sobrevive ao corpo e
desfruta, momentaneamente, de uma quase erraticidade. Esse “quase” significa um tempo bem
inferior ao dos espíritos, dotados de livre-arbítrio, com plena consciência de si mesmos e com um
fator diferenciado em seus processos mentais, o que o espírito André Luiz denominou de
pensamento contínuo.
No livro “Nosso Lar”, André Luiz relata a presença de cães, muares e aves, curiosamente
chamadas de “íbis viajores”, que auxiliavam as caravanas no resgate de espíritos sofredores nos
planos umbralinos para as Câmaras de Retificação, situadas na cidade de Nosso Lar. O mesmo
autor espiritual ficou surpreso no livro “Os Mensageiros”, em observar com atenção a presença de
cavalos no Posto de Socorro situada em região umbralina, que tracionavam carruagem de modelo
muito antiga, no auxílio do transporte de trabalhadores locais. Cães “inteligentes e prestimosos”
auxiliavam trabalhadores especializados descrito no livro “Ação e Reação”.
O médico espiritual Dr. Inácio Ferreira no livro “Na próxima dimensão”, em visita à cidade
de Nosso Lar, observa um ninho num galho de árvore de uma ave semelhante ao rouxinol. A
surpresa do médico ficou registrada em diálogo com outro médico, André Luiz, que explica a
presença do ninho na árvore. Já no livro “Evolução em Dois Mundos”, André Luiz esclarece:
186
“Os animais estão presentes nas dimensões superiores próximas à Terra vivendo,
colaborando e evoluindo juntamente com os humanos e outros animais. Não apenas em
uma dimensão, mas em diversas dimensões.”

Adicionalmente trazemos a informação dada pelo conhecido médico de que há


trabalhadores que ajudam os animais nas dimensões superiores na criação, na área de
treinamento e saúde dos animais que possuem quaisquer serviços de auxílio aos espíritos
inferiores e que há o auxílio dos seres elementais na ajuda aos animais das diversas dimensões
espirituais, assim como na Terra.
Consta do magistral livro “Todos os Animais Merecem o Céu”, de Marcel Benedeti, a
informação sobre a colônia espiritual Rancho Alegre, situada nos arredores de Mato Grosso, que é
especializada em auxiliar e acolher animais de todas as espécies:
Esta fazenda é, na realidade, uma colônia espiritual, isto é, uma comunidade que cuida dos
animais, auxiliando-os principalmente no seu aprendizado evolutivo. Há vários
colaboradores de diversas áreas de especialização e várias equipes especializadas em
assuntos relativos aos animais. Há os colaboradores das equipes de resgate, de cirurgiões,
os responsáveis por animais selvagens, que incluem os animais marinhos e diversos outros.
Aqui em nossa fazenda trabalham muitos que foram, quando encarnados, veterinários, que
nos auxiliam, mas há muitos outros que se encontram ainda encarnados também. Dentre
os diversos especialistas, há aqueles que exercem as mesmas especialidades que exercem na
Terra, trabalhando aqui, em funções semelhantes. Há aqueles que não são especialistas,
mas são grandes colaboradores e trabalhadores valorosos naquilo que fazem e que por isso
merecem tanto respeito quanto os Outros.
(...) Os animais são como nós: quando morrem, também são encaminhados para a
dimensão espiritual e são acolhidos por equipes que os tratam e alimentam.

Uma pergunta comum em relação aos animais é, não tendo os animais consciência dos
próprios atos e não sendo dotados de razão e discernimento, eles não sofrem expiação. Em que,
então, esses sofrimentos os ajudariam?
Os animais não estão realmente sujeitos à expiação, e a dor por que passam é explicada
num dos textos contidos na obra Ação e Reação, de André Luiz, na qual o Instrutor Druso diz que
podemos identificar na experiência terrestre três tipos de dores: a dor-evolução, a dor-expiação e
a dor-auxílio.
Referindo-se diretamente ao caso dos animais, Druso afirma: "A dor é ingrediente dos mais
importantes na economia da vida em ex-pansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o
animal em sacrifí-cio, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para
desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando
o ser, sem a qual não existiria pro­gresso”.
A dor-evolução, cujo objetivo notório é o aprimoramento do ser, nada tem que ver com
atos do passado. É o que ocorre com os animais, não somente aqueles que vivem em nosso meio,
187
como os cães, vítimas de tantas enfermidades e problemas, mas sobretudo com os que vivem em
plena selva. Imaginemos o sofrimento de uma presa abatida por seu predador e estraçalhada antes
mesmo de ocorrer sua morte corpórea.

7 – TRAGÉDIAS COLETIVAS
Vejamos a questão 737 de O Livro dos Espíritos:
“Com que objetivo Deus atinge a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
Para fazê-la avançar mais depressa. Não vos dissemos que a destruição é necessária para a
regeneração moral dos Espíritos, que adquirem, a cada nova existência, um novo grau de
grau de perfeição? É preciso ver o fim para lhe apreciar os resultados. Não os julgais senão
sob o vosso ponto de vista pessoal e os chamais de flagelos por causa do prejuízo que vos
ocasionam. Mas esses transtornos são, freqüentemente, necessários para fazer alcançar,
mais prontamente, uma ordem melhor de coisas, e em alguns anos, o que exigiria séculos”.

Assim, entendemos que, devido a nossos próprios erros, a dor muitas vezes se faz
necessária para nos mostrar nosso ponto de equilíbrio interior. É como a criança que precisa por o
dedo no fogo para saber que ele queima. Se ela escutasse os conselhos dos pais, não precisaria se
queimar. É o caso da nossa humanidade. Quantas dores e sofrimentos poderiam ser evitados se ao
invés de guerras procurássemos o caminho da fraternidade.
Mas, vejamos as questões seguintes:
Q. 738 – Deus não poderia empregar, para o aprimoramento da Humanidade, outros meios
senão os flagelos destruidores? Sim, e o emprega todos os dias, visto que deu a cada um os
meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É que o homem não aproveita [...].
Q. 739 – Os flagelos destruidores têm uma utilidade, sob o ponto de vista físico, malgrado
os males que ocasionam?
Sim, eles mudam, algumas vezes, o estado de uma região; mas o bem que disso resulta não
é, freqüentemente, percebido senão pelas gerações futuras.
Q. 740 – Os flagelos são provas que fornecem ao homem a ocasião de exercitar sua
inteligência, de mostrar sua paciência, sua resignação à vontade de Deus, e o orientam
para demonstrar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se
ele não está mais dominado pelo egoísmo”.

Mas tudo isso não significa que o homem deve ser passivo aos flagelos destruidores. Na
questão seguinte, Kardec pergunta se é dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem. Os
espíritos respondem: “Sim, de uma parte, mas não como se pensa, geralmente. Muitos flagelos são
o resultado de sua imprevidência; à medida que ele adquire conhecimentos e experiência, pode
conjurá-los, quer dizer, preveni-los, se sabe procurar-lhes as causas. Mas entre os males que
afligem a Humanidade, há os gerais que estão nos desígnios da Providência, e dos quais cada
indivíduo recebe mais ou menos, a repercussão. A estes o homem não pode opor senão a
188
resignação à vontade de Deus e, ainda, esses males são agravados, freqüentemente, pela sua
negligência.”.

8 - COMEMORAÇÕES FÚNEBRES E O CULTO AOS “MORTOS”

Variados são os costumes, idéias e atitudes que a sociedade e as religiões adotam, ante os
corpos mortos e os espíritos que os deixaram. Aceitando ou não tais procedimentos, devemos
manter o respeito necessário buscando agir em função da realidade espiritual e não das
aparências.
Assim, o espiritualista:
• Nos velórios: Não se desespera; mantém-se em atitude respeitosa, pois sabe que o espírito
desencarnante está em delicada fase de desprendimento do corpo e de transformação de sua
existência. Não usa velas, coroas, flores, pois o espírito não precisa dessas exterioridades; mas
procura oferecer o que o desencarnante realmente precisa, que é o respeito à sua memória,
orações, pensamentos carinhosos em favor de sua paz e amparo no mundo espiritual. É
fraterno com os familiares e amigos do desencarnante, ajudando-os no que puder;
• Nos sepultamentos: Não adota luxo nem ostentação nem se preocupa em erigir túmulos,
mas lembra sempre com afeto os entes queridos já desencarnados e procura honrá-los com
atos bons e carinhosos em sua homenagem.
Oremos sempre pelo bem estar e progresso espiritual dos desencarnados, mas sabe que
não é indispensável ir aos cemitérios para isso, porque as vibrações alcançam o espírito, onde quer
que ele esteja.

189
Trazemos o alerta de Ramatis sobre o tema:
É espantoso o sinal de apego e excentricidade que o ser humano dá ao construir suntuosas
criptas e mausoléus que não servem para mais do que abrigar o despojo do espírito, que
usufruiu ao máximo daquele corpo já sem um único sinal de vida. É imprescindível que o
homem pare de cultuar um ser morto que é o corpo físico após o desencarne do espírito, e
passe a compreender as realidades de Deus!
Não podeis imaginar o desespero que abate muitos irmãos que, desencarnados, felizes por
encontrar a imortalidade do espírito, se vêem impotentes diante da incredulidade dos seus,
que se tornaram fiéis seguidores de doutrinas tradicionais, que pregam suas verdades
teístas enquanto há vida corpórea, mas negam veementemente e omitem as verdades
imutáveis, lançando muitas criaturas no precipício do tormento ante o traspasse corpóreo-
espiritual!
Além dos fatos ligados às crenças religiosas, essas ―cidades de mortos‖ são verdadeiros
reservatórios de energias deletérias das mais apavorantes. Até que o magnetismo da terra
absorva a miscelânea de energias segregadas pelos níveis espirituais na hiperatividade do
Duplo Etéreo, elas constituem farto reservatório energético para espíritos degradados que
perambulam pelas avenidas fúnebres, tornando os cemitérios verdadeiras cidades
habitadas!
A prática da cremação pode condicionar maior higiene astral e física uma vez que evita o
processo de putrefação necessária à condição normal de desintegração orgânica, e o
contínuo fluxo energético-deletério gerado por este prolongado sistema de reintegração
cósmica. Outro fator importante é a abolição dos cuidados exigidos à conservação dos
empreendimentos fúnebres, que perduram por gerações e gerações!
Uma vez que o falecimento orgânico é inerente a todo e qualquer ser vivo, em menos de
trezentos anos, e portanto, muito pouco tempo, teremos imensos territórios abrigando
algo que já não serve mais. Que no passado foi veículo destinado à evolução de um espírito,
mas que após o seu despojamento o corpo físico já não possuirá utilidade alguma.

190
9 - CREMAÇÃO DE CADÁVERES

Há algum tempo passou no Fantástico um trecho do


documentário da BBC sobre a biologia humana. Diz lá que
quando a pessoa morre, o cérebro demora até 32 horas horas
pra "apagar" seus últimos neurônios. Já as células da pele
ainda se dividem por 24 horas. Será que é nisso que se baseia o
costume de esperar 72 horas antes de cremar o corpo?
No Oriente, o hábito da cremação remonta há milhares
de anos, e, por se tratar de um procedimento absolutamente
natural aos olhos dos orientais, sabem eles que não há razões
para que o corpo seja inumado.
Emmanuel, no livro O Consolador, psicografado por
Chico Xavier, quando lhe perguntam se o Espírito desencarnado pode sofrer com a cremação dos
elementos cadavéricos, a resposta é a seguinte:
Na cremação, faz-se mister exercer a caridade com os cadáveres, procrastinando por mais
horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre
muitos ecos de sensibilidade entre o espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o
tonus vital, nas primeiras horas seqüentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que
ainda solicitam a alma para as sensações da existência material.

Já Ramatis assevera quando questionado se a cremação era prejudicial ao espírito:


Não se trata de algo prejudicial ao espírito uma vez que é praticado há milênios no Oriente,
mas deve-se respeitar todo o processo de hiperatividade pelo qual o Duplo Etéreo passa
quando ocorre o falecimento do corpo físico! Como foi mencionado anteriormente, há
muitos casos onde essa hiperatividade encerra em apenas algumas horas, e já é possível
então submeter o cadáver à cremação. Em outros casos mais demorados a hiperatividade
pode durar mais tempo. Este processo é muito interessante se observarmos toda a
atividade do Duplo Etéreo, que após concluir sua tarefa desintegra-se aos poucos para
então se unir novamente ao cosmo. E as energias deletérias drenadas do perispírito e
injetadas no cadáver, por sua vez são absorvidas pelo magnetismo do planeta, passando
também pela reintegração cósmica!
Na Índia, é costume deixar o cadáver ao ar livre, sem urnas ou coisa que o valha, durante
dias, até que o processo de drenagem ocorra por completo, para só depois darem o
derradeiro encaminhamento através dos rituais ligados a seus costumes.
Os prejuízos de uma cremação poderiam ser desastrosos para o espírito se este ainda
estiver ligado ao corpo que ocupou quando encarnado. Em casos de suicídio, onde o Duplo

191
Etéreo sofre uma espécie de - apagão súbito, e onde os chacras também passam por este
choque, a drenagem se torna impossível, e por muito tempo o espírito poderá se ver preso
ao corpo, sentindo todos os momentos da putrefação, até que, apresentando condições,
receba o auxílio dos irmãos socorristas e consiga se desligar do cruel destino que buscou
para si próprio. Há também os casos de mortes trágicas, mas em sua maioria, a
espiritualidade já esta acompanhando os desencarnantes para que estes sofram o mínimo
possível com o traspasse.

Chico Xavier, ao ser indagado no programa Pinga Fogo quanto à cremação de corpos que
seria implantada no Brasil, respondeu: "Já ouvimos Emmanuel a esse respeito, e ele diz que a
cremação é legítima para todos aqueles que a desejem, desde que haja um período de, pelo
menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório, o que poderá se
verificar com o depósito de despojos humanos em ambiente frio".
Richard Simonetti, em seu trabalho Quem tem Medo da Morte (Gráfica S. João, Bauru, SP),
registra que "nos fornos crematórios de São Paulo, espera-se o prazo legal de 24 horas, inobstante
o regulamento permitir que o cadáver permaneça na câmara frigorífica pelo tempo que a família
desejar", observando que os "Espíritas costumam pedir três dias", mas "há quem peça sete".
Diz-se que, com o desencarne, os laços que unem o corpo físico com o perispírito se
desfazem lentamente, a começar pelas extremidades e terminando nos órgãos principais, cérebro
e coração. Assim, o desligamento total somente ocorre com o rompimento definitivo do último
cordão fluídico que ainda liga ao corpo. Afirmam ainda que se o espírito estiver ligado ao corpo
não sofrerá dores, porque o cadáver não transmite sensações ao espírito, mas transmite
impressões dolorosas extremamente desagradáveis, além do trauma decorrente do desligamento
violento.
Kardec, na questão 164 de O Livro dos Espíritos, faz a seguinte indagação:
Todos os Espíritos experimentam, num mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação
que se segue à separação da alma e do corpo?"

E a resposta dos amigos espirituais é a seguinte:


"Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase
imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto que o
homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão
da matéria."

Se com a morte, como vimos, o Espírito está totalmente desconectando do corpo material,
poderíamos concluir, de imediato, que tudo o que fosse feito com o cadáver, não deveria atingir o
Espírito, por falta de ligações reais. Assim, poderíamos cremar o cadáver. Mas as coisas podem
não ser bem assim, porque o Espírito, mesmo liberto da matéria, continua a pensar e a ter desejos
e sentimentos.

192
Podemos dizer, neste caso, que o nosso corpo carnal seria o nosso tesouro e o coração, o
nosso pensamento, o nosso sentimento. Para as criaturas ainda não totalmente espiritualizadas,
que viveram na Terra muito apegadas aos bens materiais, inclusive ao próprio corpo carnal, a
morte não impede que o pensamento do Espírito esteja concentrado no seu cadáver, até mesmo
por uma espécie de saudade, devido o recente acontecimento do decesso e por se reconhecer,
daquele momento em diante, impedido de usufruir um instrumento carnal para fazer as coisas
que estavam acostumadas a fazer. Se isto acontecer, e acontece com freqüência, o Espírito fica
como que algemado à carne que vestiu na Terra, presenciando, de forma angustiante, as labaredas
a queimar as suas vísceras, durante a cremação, porque, como sabiamente disse Jesus, o seu
tesouro está ali, no corpo carnal, sendo destruído pelo fogo, em poucos minutos, bruscamente.
Como sabemos, Espíritos muito adiantados, altamente espiritualizados, existem
reencarnados na Terra, mas são raros. Aqui se encontram executando missões específicas, para
ajudar a Humanidade a acelerar o seu progresso evolutivo, em diferentes áreas do conhecimento.
Com a morte, os corpos materiais desses Espíritos, podem ser cremados, porque em nada afetará a
sua sensibilidade, visto que vivem mais ligados à Espiritualidade do que à própria matéria.
Não é o que se passa com a esmagadora maioria, da qual fazemos parte, pois somos
Espíritos em processo evolutivo, mas muito fragilizados pelo acúmulo de imperfeições e, nestas
condições, o campo material ainda nos impressiona fortemente, sensibilizando-nos de forma
muito acentuada, mesmo para os que são espíritas ou se dizem espíritas. Há sempre alguma
circunstância maior ou menor, que nos prende à matéria. Nestes casos, as labaredas da cremação
podem chamuscar os Espíritos que se ressentirão do evento, para ele dramático.
Algo semelhante acontece quando nas sessões mediúnicas recebemos um Espírito sofredor
como, por exemplo, um Espírito que desencarnou através do assassinato, com um tiro no coração.
Ele se aproxima do médium sentindo ainda as dores no coração provocadas pelo tiro que o
vitimou e repassa para o médium, de forma amenizada, aquelas dores. Como ele já desencarnou,
não mais possui coração físico e, portanto, não deveria estar sentindo dor alguma. Mas o quadro
da sua desencarnação foi muito traumatizante, fazendo com que o Espírito conserve, por muito
tempo, o seu pensamento fixo, concentrado, naquele acontecimento, e é por isso que ele sofre.
O Irmão X nos adverte de que a atitude crematória é um tanto precipitada, podendo vir a
ter conseqüências desagradáveis para o Espírito desencarnante:
... morrer não é libertar-se facilmente. Para quem varou a existência na Terra entre
abstinências e sacrifícios, a arte de dizer adeus é alguma coisa da felicidade ansiosamente
saboreada pelo Espírito, mas para o comum dos mortais, afeitos aos comes e bebes de cada
dia, para os senhores da posse física, para os campeões do conforto material e para os
exemplares felizes do prazer humano, na mocidade ou na madureza, a cadaverização não é
serviço de algumas horas. Demanda tempo, esforço, auxílio e boa vontade. Eis porque, se
pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos. Se a lei divina fornece um prazo de nove
meses para que a alma possa nascer ou renascer no mundo com a dignidade necessária, e
193
se a legislação humana já favorece os empregados com o benefício do aviso prévio, por que
razão o morto deve ser reduzido a cinza com a carne ainda quente?

Leon Denis na obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor, comenta que, ao consultar os
Espíritos sobre a cremação de corpos, concluiu que em tese geral, a cremação provoca
desprendimento mais rápido, mas brusco e violento, doloroso mesmo para a alma apegada à Terra
por seus hábitos, gostos e paixões. É necessário certo arrebatamento psíquico, certo desapego
antecipado dos laços materiais, para sofrer sem dilaceração a operação crematória. É o que se dá
com a maior parte dos orientais, entre os quais está em uso a cremação. Em nossos países do
Ocidente, em que o homem psíquico está pouco desenvolvido, pouco preparado para a morte, à
inumação deve ser preferida, posto que por vezes dê origem a erros deploráveis, por exemplo, o
enterramento de pessoas em estado de letargia. Deve ser preferida, porque permite aos indivíduos
apegados à matéria que o Espírito lhes saia lenta e gradualmente do corpo; mas, precisa ser
rodeada de grandes precauções. As inumações são, entre nós, feitas com muita precipitação.
Nos casos em que o cadáver não é cremado e sim sepultado, o Espírito, por estar muito
apegado à matéria, pode ficar no cemitério, próximo à sua sepultura, assistindo também,
desesperado, a decomposição gradativa do seu corpo, sentindo mesmo os vermes corroerem a
sua carne e com isso sofrendo muito. Há, porém, uma diferença capital entre a cremação e a
inumação. Na cremação tudo se processa rapidamente, em poucos minutos e no sepultamento a
decomposição do cadáver é lenta, oferecendo oportunidade para que o Espírito possa ser
devidamente socorrido, orientado e esclarecido, no sentido de desviar, aos poucos, o seu
pensamento para outras coisas importantes.
É imperioso compreender que não devemos ter uma interpretação errônea da cremação, ao
contrário, mas apenas respeitar o cumprimento de todos os ciclos necessários para o devido
desligamento em relação ao corpo. Conforme assevera Ramatis:
Não se trata de dizer que as práticas orientais são mais eficazes que as práticas ocidentais,
mas sim, apontar para soluções ecológicas, que permitam à sociedade hodierna a liquidez
da manutenção dos despojos carnais.
A cremação, além de ser hábito saudável ao evitar o surgimento de epidemias e outras
inconveniências, permite uma solução ecológica à sociedade. É por isso que, além de outras
razões mais profundas, estamos vos recomendando tal prática!

PRÁTICA
1 – Complemente seus conhecimentos sobre o tema através dos vídeos abaixo:
a) Como o Budismo vê a cremação, o enterro, o suicídio e o karma? Monja Coen Responde
- Zen Budismo
Link: https://www.youtube.com/watch?v=jq1WA5pokAw
194
b) Cremação na visão Umbandista, com Géro Maita.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=W027Os58DeM
2 – Leia mais sobre o assunto:
Site: http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2010/09/cremacao_no_esp.html

10 - TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS
O Dr. Jorge Andréa, no seu livro Psicologia Espírita, examinando o tema, assevera que não
há nenhuma dúvida de que, nas condições atuais da vida em que nos encontramos, os
transplantes devem ser utilizados.
“A conquista da ciência é força cósmica positiva que não deve ser relegada a posição
secundária por pieguismos religiosos. Por isso, chegará o dia em que poderemos avaliar até
que ponto as influências espirituais se encontram nesses mecanismos, a fim de que as
intervenções sejam coroadas de êxito e pleno entendimento”.

Perguntaram a Chico Xavier se os Espíritos consideram os transplantes de órgãos prática


contrária às leis naturais. Chico respondeu:
Não. Eles dizem que assim como nós aproveitamos uma peça de roupa que não tem
utilidade para determinado amigo, e esse amigo, considerando a nossa penúria material,
nos cede essa peça de roupa, é muito natural, aos nos desvencilharmos do corpo físico,
venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam
utilizá-los com segurança e proveito”.

A extração de um órgão não produz reflexos traumatizantes no perispírito do doador,


desde que ele tenha tido o esclarecimento necessário sobre o assunto antes do desencarne, pois a
doação em si não é o problema, mas a mente em desalinho que acredita que a extração de um
órgão no corpo físico se perpetua no corpo espiritual. É necessário o esclarecimento, antes e
depois da morte. O caso abaixo ilustra bem a questão:
No dia 6 de fevereiro de 1996, atendemos um Espírito em sofrimento, que recebera o
coração de um jovem morto num acidente, o qual, sem haver compreendido que desencarnara, o
atormentava no plano espiritual, reclamando o coração de volta. Curiosamente, o Espírito que
recebera o órgão sabia estar desencarnado e lembrava até haver doado as córneas a outra pessoa.
Indagaram a Chico Xavier: “Chico, você acha que o espírita deve doar as suas córneas? Não
haveria nesse caso repercussões para o lado do perispírito, uma vez que elas devem ser retiradas
momentos após a desencarnação do indivíduo?”

195
Respondeu o bondoso médium mineiro (“Folha Espírita”, nov/82, apud “Chico, de
Francisco”, pág. 84):
“Sempre que a pessoa cultive desinteresse absoluto em tudo aquilo que ela cede para
alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer
remuneração, nem mesmo aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome
de compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a um ponto de
evolução em que a noção de posse não mais a preocupa, esta criatura está em condições de
dar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma.
No caso contrário, se a pessoa se sente prejudicada por isso ou por aquilo no curso da vida,
ou tenha receio de perder utilidades que julga pertencer-lhe, esta criatura traz a mente
vinculada ao apego a determinadas vantagens da existência e com certeza, após a morte do
corpo, se inclinará para reclamações descabidas, gerando perturbação em seu próprio
campo íntimo. Se a pessoa tiver qualquer apego à posse, inclusive dos objetos, das
propriedades, dos afetos, ela não deve dar, porque ela se perturbará”.

Anos depois dessa resposta, registrou-se o caso Wladimir, o jovem suicida que foi aliviado
em seus sofrimentos post-mortem graças às preces decorrentes da doação de córneas por ele feita,
mostrando que, mesmo em mortes traumáticas como essa, a caridade da doação, quando
praticada pelo próprio desencarnante, é largamente compensada pelas leis de Deus. (O caso
Wladimir é narrado no livro “Quem tem medo da morte?”, de Richard Simonetti.)
Lembremos que o que lesa o perispírito, que é nosso corpo espiritual, são as atitudes
incorretas perpetradas pelo indivíduo, e não o que é feito a ele ou ao seu corpo por outras pessoas.
Além disso, o doador desencarnado é, muitas vezes, beneficiado pelas preces e pelas vibrações de
gratidão e carinho por parte do receptor e de sua família.
A integridade, pois, do perispírito está intimamente relacionada com a vida que levamos e
não com o tipo de morte que sofremos ou com a destinação de nossos despojos.
No caso de doação de órgãos, basta que as pessoas se acostumem com a ideia de a fazerem
de boa vontade e estejam bem esclarecidas a respeito.
Encarnados doam órgãos por amor para ajudar alguém, e não receiam qualquer sofrimento
ou inconveniente que isso lhes traga. Porque não doar órgãos depois de estar morto o nosso
corpo, quando eles já nem nos servem mais e nem sofreremos quando forem retirados do corpo
que houvermos abandonado?

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PRÁTICA
1 – Complemente seus conhecimentos acessando os links a seguir:
a) Campanha - Doação de órgãos: um ato de amor e solidariedade.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=vngw8f0OT9c&feature=emb_logo
Site: http://bioemfoco.com.br/noticia/doacao-de-orgaos/
b) [DOCUMENTÁRIO COMPLETO] Anjos da Vida - Em busca da doação de órgãos.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=m822R0RqsBc
c) Entre Dois Mundos - Doação de Órgãos.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=FmL-16y9XTc
d) Doação de órgãos na visão Umbandista.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=jvdtxgYvlyQ

2 – E você? Concorda ou não com a doação de órgãos? Você faria esta doação? Baseado nas
informações recebidas reflita sobre o assunto.

197
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Apostila de Estudo Sistematizado Universalista – módulo 1
O Caibalion – Os Três Iniciados
Ísis sem Véu – Helena P. Blavatsky
Doutrina Secreta - Helena P. Blavatsky
Mitos da Criação: as Origens do Universo nas Religiões, na Mitologia, na Psicologia e na Ciência –
Philip Freund
Origens – Neil deGrasse Tyson
Arquitetura Cósmica – Gilson Freire
A Grande Síntese – Pietro Ubaldi
No Limiar do Infinito – Divaldo P. Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis
A Vida Humana e o Espírito Imortal - Hercílio Maes, pelo espírito Ramatís
Evolução no Planeta Azul - Norberto Peixoto, pelo espírito Ramatís
Umbanda: A Proto-síntese Cósmica – Mestre Araphiaga (Rivas Neto)
No Mundo Maior - Chico Xavier, pelo espírito André Luis
Evolução em Dois Mundos – Chico Xavier, pelo espírito André Luis
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – Da Criação – parte 1, cap. 3, perguntas 55/59 e 69/70; Da
vida Espírita – Parte 2, cap. VI, perguntas 157/159 e 234/236.
Kardec, Allan – O evangelho segundo o Espiritismo – Cap. III - Há muitas moradas na Casa de
meu Pai.
Revista Espírita – Mundos intermediários ou transitórios – 1859.
Peralva, Martins – O Pensamento de Emmanuel – Mundos Habitados.
Palhano Jr., Lamartine – Dicionário de Filosofia Espírita.
Kardec, Allan – A Gênese – Uranografia geral – itens 48/52.
Calligaris, Rodolfo – Páginas de Espiritismo Cristão – Na Casa de meu Pai há muitas Moradas.
Franco, Divaldo Pereira - No limiar do Infinito – pelo Espírito Joanna de Ângelis – pluralidade dos
Mundos habitados – Ante o Cosmo.
Xavier, Francisco Cândido – Emmanuel - pelo Espírito Emmanuel - As vidas sucessivas; Os
mundos habitados.

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Xavier, Francisco Cândido – Libertação - pelo Espírito André Luiz – Numa cidade estranha.
Xavier, Francisco Cândido – No mundo maior - pelo Espírito André Luiz – Entre dois planos.
Xavier, Francisco Cândido – Nosso Lar - pelo Espírito André Luiz – Organização de Serviços;
Notícias do Plano.
Xavier, Francisco Cândido – A Caminho da Luz - pelo Espírito Emmanuel – As raças adâmicas; A
Civilização egípcia; A Índia; A família indo-européia; O povo de Israel.
Revista Espírita – Mundos intermediários ou transitórios – 1859.
Peralva, Martins – O Pensamento de Emmanuel – Mundos Habitados.
Palhano Jr., Lamartine – Dicionário de Filosofia Espírita.
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Lourenço, Eduardo augusto. O homem transcendental. 1ª. Ed., São Paulo, Ed. do
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