Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Regimes Jurídicos
Internacionais
RESUMOS
GUILHERME LARANJEIRA LIMA
Regimes Jurídicos Internacionais - Resumos
Índice
CAPÍTULO I – USO DA FORÇA E DIREITO INTERNACIONAL .................................................................... 4
3. A AUTODETERMINAÇÃO-DESCOLONIZAÇÃO .................................................................................................. 38
3.1. As grandes resoluções da Assembleia Geral e a sua aplicação ................................................. 38
3.2. Povo colonial e território colonial .............................................................................................. 39
3.3. A conservação territorial (ou o princípio do uti possidetis) ....................................................... 41
3.4. A representação através do MLN (movimento de libertação nacional) .................................... 42
4. O “FIM” DA AUTODETERMINAÇÃO E A INTEGRIDADE TERRITORIAL DOS ESTADOS ................................................. 43
5. DA AUTODETERMINAÇÃO EXTERNA À AUTODETERMINAÇÃO INTERNA ................................................................ 44
5.1. As hipóteses ............................................................................................................................... 44
5.2. As minorias étnicas, religiosas, linguísticas e culturais.............................................................. 44
5.3. Povos indígenas ......................................................................................................................... 45
5.4. “Direito” à democracia .............................................................................................................. 48
6. SECESSÃO E DIREITO DE AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS.............................................................................. 50
Surge a Carta das Nações Unidas, após a Segunda Guerra Mundial; esta Carta
teve um papel fundamental no capítulo do uso da força, daí a muitos Estados considerar
a Carta com importância constitucional.
Em extrema importância estão os arts. 1º e 2º da CNU.
2. A proibição
2.1. Apresentação. Direito consuetudinário, norma imperativa e Carta das Nações
Unidas
O facto de ser uma norma jus cogens implica, desde logo, um primeiro efeito:
não é derrogável por ato de vontade de sujeitos internacionais – art. 53º CV’69.
Art. 41º CNU: “[o] Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem
envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas as
suas decisões [...]”.
O Conselho de Segurança possui ampla discricionariedade na aplicação de
medidas não militares; sendo de notar que, as elencadas neste artigo são meramente
exemplificativas e não taxativas – é exemplo disto, as sanções económicas ou
institucionais, que não se encontram elencadas mas que são normalmente aplicáveis.
A CNU permite, no seu art. 42º, a adoção de medidas militares: “Se o Conselho
de Segurança considerar que as medidas previstas no artigo 41 seriam ou demonstraram
ser inadequadas, poderá levar a efeito, por meios de forças aéreas, navais ou terrestres,
a ação que julgar necessária para a manter ou restabelecer a paz e segurança
internacionais, tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios, e outras
operações por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações
Unidas”.
Nota: não há obrigação de ser adotada, primeiramente, uma medida não militar
face a uma medida militar.
O art. 43º CNU, de certo modo, apela à criação de umas “forças armadas” do
Conselho de Segurança – ideia que nunca foi concretizada – pelo que, na verdade, na
prática, a aplicação do art. 42º CNU, nunca foi conseguida.
Porém, o CS tem autorizado, de uma forma mais ampla, que os Estados-
membros recorram à força militar para o restabelecimento da paz e segurança
internacionais.
O facto de o CS autorizar os Estados a adotarem “todos os meios necessários”,
evidencia a centralidade na tomada de decisões por parte do Conselho. Tal foi notório
com a invasão do Kuwait pelo Iraque, com a crise do Golfo.
Ora, na verdade, maior parte das operações da ONU, tem como missão
fundamental a proteção dos civis, o que, na verdade, as coloca numa posição hibrida
entre peacekeeping e peace enforcement.
Aspetos relevantes desta distinção:
1.º A manutenção da paz pretende aplicar acordos de paz vigentes;
enquanto que a imposição de paz pretende fazer cessar as
hostilidades através do uso da força.
2.º Num caso de imposição de paz, as atuações das unidades militares
vão para lá de meras ações defensivas.
3.º Por fim, nas operações de peacekeeping há uma habitual participação
grande de Estados.
O facto de o CS possuir uma ampla flexibilidade, tal pode dar origem ao seu uso
abusivo.
Acrescentando que uma decisão do CS não pode ignorar o impacto das suas
decisões noutras dimensões e o direito internacional a esse respeito – sendo as normas
de direito internacional humanitário e de direitos humanos tidos como limites
materiais às sanções institucionais.
medida deverão ser tomadas diversas considerações e, claro está, tal não significa que
o CS possa atuar arbitrariamente ou ultra vires.
4. Legítima defesa
4.1. Um direito inerente
No Caso Nicarágua, o TIJ deixou claro que há uma relação umbilical entre os
pressupostos de legítima defesa da CNU.
Por outro lado, afirmou que a CNU não regula exaustivamente a situação de
legítima defesa, pelo que, nada se opunha à aplicação do art. 51º CNU juntamente com
o direito consuetudinário.
4.2.2. Tendencial “aproximação” entre uso das força, ataque armado e agressão
Em tese, não se discute que o uso da legítima defesa deverá ser necessária.
Esta apreciação deverá ser verificada em concreto.
É ao Estado-vítima que deve demonstrar que não possui outra forma senão o uso
à força armada.
Notório é ainda o pressuposto das possibilidades de resolução pacífica do
conflito (ainda que na prática, tal não seja tão evidente).
Por conseguinte, é necessário seja essa legítima defesa seja imediata, e não
diferida no tempo.
O art. 51º CNU reconhece que um Estado possa sempre recorrer ao seu direito
de legitima defesa, não só pela Carta, mas como norma consuetudinária.
Postulado principal efeito é de que a legitima defesa possui um caráter
transitório, sendo a ação conduzida pelo CS – legitimidade institucional.
Essa legitimidade não assume apenas uma aprovação do CS, sendo também
preciso que as medidas adotadas sejam efetivas.
De referir que não existe uma obrigação internacional a participar numa legítima
defesa coletiva.
É a questão temporal que tem suscitado para zonas de tensão entre aquilo que
a CNU dispõe e a prática dos Estados.
Uma primeira questão será a legítima defesa preventiva – seria necessário
esperar pelo ataque armado para o exercício da LD?
Uma segunda questão seria a de saber qual o lapso temporal que permite o uso
da LG.
No seio da ONU, foi feita uma (re)leitura do art. 51º, em que se afirma que “[o]s
ataques iminentes estão plenamente cobertos pelo artigo 51, que salvaguarda o direito
de os Estados soberanos se defenderem de um ataque armado”. Porém, a simples
invocação não é suficiente, sendco necessário dever reforçado de prova.
Assim, há uma necessidade de adaptação (que foi conseguida) do sistema de
segurança coletiva de modo a tornar-se plenamente efetivo a novas circunstâncias.
Nesta hipótese, está em causa uma medida de legítima defesa sem ataque
armado.
Este costuma ser associado a ataques terroristas; porém, não da organização
terrorista em si, mas antes a do Estado que comete um facto ilícito de especial gravidade
por permitir que o seu território sirva de abrigo a uma ou mais organizações terroristas.
Existem cada vez mais situações em que os Estados invocam a legítima defesa
contra Estados que protegem organizações terroristas, acabando por adotar a esses
Estados represálias armadas.
do CS; além de que havia um comportamento de apoio à Al-Qaeda que punha em causa
a paz e seguranças internacionais.
De referir que o CS, nunca afirma que o Afeganistão é o autor dos atentados,
apenas fica sujeito à reação armada devido a uma série de omissões que lhe são
imputáveis, pelo CS.
Teoria dos dois conflitos: (defendida pelos EUA), há um primeiro conflito – com
a organização terrorista – que fica associado a um Estado que permite ou apoia essa
atividade.
Situação em que o Estado reclama legitimidade para usar a força contra autores
não estaduais – organizações terroristas, pirataria ou até formas extremas de crime
organizado.
Tratar-se-ão então de entidades que agem ilicitamente, em desacordo com o
Direito, por maioria de razão, Direito Internacional.
amotinado, devendo os seus atos serem “equiparados atos cometidos por um navio ou
aeronave privados”.
Isto é importante pois faz excluir a responsabilidade internacional do Estado em
questão.
A questão é que o art. 105º da Convenção em, nada se refere à utilização da
força, confinando apenas uma possibilidade de apresamento.
Ora, tendo em conta a gravidade dos ataques já sofridos recentemente (nos EUA,
Paris, Bruxelas, Madrid) afirmar-se-á que se podem equiparar a ataques armados.
Porém as questões suscitadas são:
1.º Saber se esse ataque pode ser qualificado com um “ataque armado”.
2.º Saber se o Estado pode ser considerado “Estado-vítima” e invocar a LG
prevista no art. 51º CNU, não contra o Estado, mas contra um entidade
privada não-estadual.
LG através de dois títulos, ambos sustentados no art. 51º CNU: (i) contra a organização
terrorista, (ii) e contra o Estado que de certo modo apoiou essa organização terrorista.
A Resolução 2249: importante pois, após sucessivos ataques terroristas, e de
haver capacidade para serem exercidos mais, o CS não considerou que houvesse LG,
pois, no caso, o Daesh, possuía controlo de parte do território do Estado, na medida em
que o Daesh dominava parte do território, ainda que transitoriamente, e sujeito à
jurisdição do Estado, pelo que não se observa um comportamento ativo ou passivo do
Estado em causa; não obstante, o CS permitiu aos Estado que utilizassem a força contra
o Daesh.
Uma abordagem intermédia é aquela que refere que o art. 51º CNU refere-se,
no essencial, a um ataque armado por um autor estadual.
Porém, o critério da participação (adotado pela Resolução 3314) seria adotado
de uma forma mais ampla – passam a ser integradas as situações em que um Estado,
pela circunstância de apoiar o grupo terrorista, ver serem-lhe imputados os
comportamentos violentos que esse venha adotar.
Assim, a violência terrorista, quando equivalente à forma mais grave de uso da
força (ataque armado), passaria a ser imputada, quase que automaticamente, a um
Estado.
Fica por solucionar as situações em que a um Estado não pode ser atribuído
apoio ou tolerante relativamente à organização terrorista – casos em que é contra a
vontade do Estado, ou até sem o seu conhecimento.
Ora, desde logo, se houver consentimento do Estado, a ação, mesmo que militar,
em princípio será lícita, desde que respeite os próprios limites do consentimento.
Linha mais fina, serão as situações em que o Estado, ainda que não coopere com
a organização terrorista, não aceite que haja uso da força por Estado terceiro no seu
território.
Vários aspetos devem ter-se assentes:
1.º Ninguém contesta que o direito internacional teve que se adaptar a
ameaças novas.
Fica por apreciar situação em que os Estados territoriais não compactuam com a
organização terrorista e / ou os seus elementos; porém, também não possui capacidade
para a enfrentar.
Mas nestes casos, o Estado vítima, sempre que pretenda usar a força, poderá
sempre exigir que esse Estado coopere, ou que lhe permita, de forma circunscrita e
Cada vez são mais frequentes os casos em que um Estado se vê confrontado com
o perigo iminente a que estão os seus nacionais, noutro Estado.
Ainda hoje se mantêm os mesmos requisitos, apresentados por Waldock:
i. Ameaça iminente de lesão dos nacionais;
ii. Ausência de proteção ou incapacidade por parte do Estado
territorial;
iii. Medidas estritamente necessárias à proteção dos mesmos.
Será ainda necessário haver licitude e esta deverá ser enquadrada no instituto
da LD.
Também, será necessário serem um alvo específico do agressor.
Assim, um ataque aos nacionais de um Estado (população), será também um
ataque contra o Estado, podendo ser invocada a LD. Tanto é que, nada obsta que, em
situações de especial gravidade, os Estados possam defender os seus nacionais.
De referir que esta opinião não é partilhada pela maioria significativa dos
Estados; até porque teria que se qualificar esse ataque aos nacionais como um “ataque
armado”, e como tal, deverá ser feito um teste de gravidade.
Houve um caso em que se foi até ao fim, o CS conseguiu adotar uma Res. 1973,
em que o CS reage de forma decidida para enfrentar a situação na Líbia.
O Chefe de Estado Líbio (Gaddafi), que estava a utilizar forma brutal para
enfrentar grupos que procuravam derrubá-lo, isto levou a que o CS autorizasse a que
Estados pudessem usar a força para proteção da população civil, podendo usar força
aérea para destruir posições ou forças que não respeitavam a população civil.
Ponto de vista jurídico: é defensável que houve um uso da força que já desde o
início se pretendia que resultasse no derrube no governo de kadaffi. É verfade tb que a
russia defendeu uma interpretação muito mais restritiva das situações em que a força
podia ser legitima nos termos da Rel 1973.
Os primeiros passos deste princípio foram dados pola Assembleia Geral da ONU
– nomeadamente através da Resolução 2625, de 1970.
considera que o DAP “é uma condição fundamental para a garantia efetiva e para a
observância de direitos humanos e para a preservação e promoção desses direitos”,
sendo que se amplia em bastante o seu alcance, atribuindo-se uma função cúpula de
relevo no sistema jurídico-internacional e, por outro lado, será uma expressão tanto
coletiva como individual.
Relativamente ao art. 73º CNU, que trata a situação do território não autónomo,
permite que os Estados assumam responsabilidade pela a administração de territórios
cujos povos ainda não se governem completamente a si mesmos.
Problema deste artigo: nunca foi de grande proveito; isto porque os Estados
coloniais não queriam, evidentemente, sujeitar-se a um controlo internacional e, por
outro lado, não queriam uma obrigação de acesso daqueles territórios à independência.
3. A autodeterminação-descolonização
Caso Muro da Palestina: TIJ afirmou “no que se refere ao princípio do DAP”, “a
existência de um ‘povo palestiniano’ já não é posta em causa” – é um argumento
perplexo, até porque se estava a discutir se existiam dois Estados (Israel e Palestina).
Doc. 354
Uma das questões resolvidas foi, que durante este período de descolonização, o
povo colonial deveria ser representado internacionalmente através de movimentos de
lobertação nacionais (MLN).
No caso da descolonização africana, este processo afirma-se em dois níveis:
1. Reconhecimento pela organização regional respetiva – a Organização da
Unidade Africana (OUA).
2. Reconhecimento pelas Nações Unidas, através da Assembleia Geral.
Isto reconhecimento por entes internacionais impedia, ou tinha o objetivo de
impedir, disputa entre vários movimentos de libertação nacional, sendo apenas legítimo
um (em princípio o “mais forte”).
Ora, a relação entre MLN e de DAP não é automática; isto porque, por um lado
existem movimentos que efetivamente lutaram pela independência, noutros casos,
foram autodesignados MLN, que nem sempre representavam a generalidade da
população.
Por outro lado, na verdade, não é necessário reconhecimento pela ONU; porém,
esse reconhecimento facilita a legitimidade, deixando de ser tão fáctica, e sendo mais
jurídico-política, deixando de ser necessário reconhecimentos individuais.
De qualquer modo, estas situações são raras, e acontecem mais em casos de
secessão, como no caso do Kosovo.
Caso da Índia, houve um confronto entre uma tese muito restritiva do DAP
contemporâneo.
O que é certo é que um Estado é um “pilar fundamental”, pelo que para sua
proteção, não se poderia permitir o acesso à estadualidade de qualquer fragmento,
como grupo minoritário, étnico, religioso ou linguístico. Isto foi dito na Agenda para a
paz, de 1992.
5.1. As hipóteses
Duas décadas depois desta resolução, não parece que se tenha consolidado um
verdadeiro direito à democracia de que seja titular o povo dentro de um Estado – isto
até porque poderia traduzir-se em processos disruptivos ou, no limite, numa tolerância
tácita da secessão ou de apoio à ingerência externa.
Nota: não será coincidência que a doutrina defensora de um direito à
democracia, seja a mesma que defende para a aceitação da intervenção militar
democrática.
Ora se o direito de autodeterminação dos povos tem expressões que vão para lá
das relações coloniais, não integra na sua esfera um direito de separação unilateral, ou
seja, um “direito” de secessão.
Direito da figura da secessão, é o direito de separação, fundado no direito
internacional.
O separatismo não envolve em si uma separação de território, mas pode ter que
ver com reivindicações, por exemplo, de mais autonomia local e/ou territorial.
De referir que este não é único instrumento jurídico que aborda a temática da
responsabilidade internacional por factos ilícitos; temos ainda outros instrumentos
como a Responsabilidade Internacional das Organizações Internacionais relativamente
à qual a Comissão de Direito Internacional produziu também um projeto de artigos.
Por outro lado, também não se encontram esgotados os mecanismos em matéria
de responsabilidade, até pela existência de outros regimes jurídicos internacionais que
adotam outras consequências e procedimentos distintos – por exemplo: Direito
Internacional dos Direitos Humanos e a Convenção Europeia dos Direitos Homem, etc..
Todos estes possuem regimes e consequências distintos.
Por outro lado, existem situações em que há responsabilidade dos Estados por
danos causados por atos não proibidos pelo Direito (cfr: projetos de prevenção de Danos
Transnacionais derivados de atividades perigosas e Responsabilidade internacional no
caso de danos provocados por atividades perigosas).
Art. 4º/1 PARI: dois aspetos específicos deste artigo. Em primeiro lugar, os
diferentes domínios de ação de um Estado são igualmente relevantes; em segundo
lugar, não interessará a organização do Estado.
Estes dois aspetos concretizam o princípio da unidade do Estado; pelo que, o
Estado é responsabilidade como uma unidade, pelo que não serão uns órgãos
responsabilizados e outros não.
Art. 4º/2 PARI: estabelece uma presunção de que se o Estado reconhece um
órgão como parte integrante do Estado, é automaticamente estadual.
Porém, o art. 5º PARI não define o que são prerrogativas de autoridade pelo que
deverá ser analisado em particular caso a caso.
O art. 7º PARI, desde logo, não poderá ser aplicado isoladamente, devendo estar
em consonância com os artigos anteriores, consoante cada caso. Assim “o
comportamento de um órgão do Estado ou de uma pessoa ou entidade a que seja
conferida a faculdade para exercer poderes de autoridade pública considerar-se-á facto
do Estado segundo o direito internacional se o órgão, pessoa ou entidade tiver atuado
nessa qualidade mesmo que tenha excedido as suas competências ou desrespeitado
instruções relativas ao seu exercício”.
Há uma atuação de um órgão, entidade ou pessoa que exerçam poderes de
autoridade, em excesso de poder ou contra instruções, sendo que essa atuação será
imputável ao Estado.
Finalidade: proibir que o Estado se exima de responsabilidade.
Art. 8º PARI: sempre que uma pessoa ou grupo de pessoas tiver atuado, de facto,
sob as instruções ou sob direção ou controlo de um Estado, então, essa atuação será
imputada ao Estado. Tal tem suscitado divergências jurisprudenciais e doutrinais,
essencialmente no significado das expressões “sob as instruções”, “sob direção” e “sob
controlo”.
No caso, ainda que os EUA estivessem a financiar os contra, o TIJ considerou que
seria necessário estes atuarem sob instruções dos EUA. Devendo haver, na verdade, um
controlo efetivo.
O TIJ conclui que não podem esses ataques serem imputados aos EUA por faltar
esse elemento; não obstante, não retirou a hipótese de os EUA serem responsabilizados
por ingerência nos assuntos internos de um Estado.
No Caso Tadic, o TPEJ (Tribunal Penal Especial para a Ex-Jugoslávia) contradiz o
TIJ: dizendo que “basta provar o apoio financeiro, logístico e outro tipo de assistência
[...]”, não havendo necessidade de haver um controlo efetivo.
No Caso do Genocídio, por haver a divergência mencionada, o TIJ é novamente
chamado para debruçar-se sobre a questão.
O TIJ, aqui, distinguiu três situações diferentes:
1.º As pessoas quer praticaram os atos tinham, de acordo com o direito
interno do Estado, estatuto de seus órgãos;
2.º Apesar de não gozarem desse estatuto de acordo com o direito
interno, podiam ser consideradas órgãos de facto do Respondente;
3.º Essas pessoas não sendo órgãos do Estado, de direito ou de facto,
atuaram sob instruções, ou sob direção, ou sob controlo do
Respondente.
Utilizando este último critério, o TIJ conclui que a Sérvia não foi responsável pela
comissão de genocídio, nem através dos seus órgãos, nem daqueles que poderiam. Estar
em seu controlo, direção ou instrução.
Notas importantes:
• O TIJ afirmou que a responsabilidade deve-se ao facto de terem dado as
instruções, ordens ou controlo da atividade; porém, não seria isso que se
Se uma pessoa ou grupo de pessoas que (i) não tem qualquer ligação ao Estado,
(ii) exercem poderes de autoridade pública, (iii) na ausência ou carência de autoridades
oficiais, (iv) em circunstâncias que justifiquem o exercício dessas prerrogativas, esse
comportamento será considerado um comportamento estadual – art. 9º PARI (4
requisitos).
3.3. A ilicitude
3.3.1. Desconformidade com obrigação jurídico-internacional
A reparação do prejuízo tem que ser integral – art. 31º/1 PARI – incluindo todos
os danos, nomeadamente morais – art. 31º/2 PARI – podendo ainda incluir lucro
cessante – art. 35º/2 PARI.
Esta reparação integral pode assumir três formas – art. 34º PARI.
Restituição – art. 35º PARI: restituição da situação que existia antes do ilícito;
sendo assim, é a forma prioritária de restituição, na medida em que é devida sempre e
na medida em que essa restituição: (a) não seja materialmente impossível, (b) não
implique um encargo desproporcional relativamente ao benefício que resultaria da
restituição em vez da indemnização.
Ora, nos casos em que é materialmente impossível e nos casos em que é possível,
mas consubstancia um encargo desproporcional para o infrator, a restituição terá lugar
através da indemnização – art. 35º/1 PARI.
Indemnização: consiste na forma de reparação do dano quando a restituição não
é materialmente possível ou é excessivamente desproporcional e quando o dano é
suscetível de ser avaliado pecuniariamente – art. 35º/2, 1ª parte, PARI.
Duas notas:
i. Há lugar a indemnização quando a restituição é demasiado onerosa,
ainda que seja possível;
ii. A indemnização pode ser cumulada com a restituição, quando esta se
afigura insuficiente a reparar o dano causado.
Satisfação: será a forma de reparação nos casos em que o dano causado não
possa ser reparado através de restituição ou indemnização – art. 37º/1 PARI – podendo
consistir num reconhecimento da violação, numa expressão de pesar, num pedido de
desculpas formal ou em qualquer outra forma adequada – art. 37º/2 PARI.
Nos termos dos arts. 35º e 35º PARI, conclui-se que a vocação própria da
satisfação é a reparação do dano moral (que não seja avaliado pecuniariamente).
De qualquer modo, não pode assumir uma forma humilhante para o Estado
responsável pelo ilícito – art. 37º/3 PARI.
Nota final: por um lado, são devidos juros na reparação do prejuízo, por outro
lado, poderá ser descontado caso o Estado tenha contribuído para o seu próprio
prejuízo, ou seja, se o Estado tiver de alguma forma contribuído, por ação ou omissão,
intencional ou negligência, tiver contribuído para o dano / prejuízo, então é feita uma
espécie de acerto de contas pelo que o estado infrator não deverá ser onerado na
medida em que o próprio estado lesado tenha contribuído para o seu próprio prejuízo
ou dano.
Definição:
1. Ação ou omissão;
2. Atribuível ao Estado de acordo com o direito internacional;
3. Comportamento que consiste numa violação internacional (independente de
natureza, conteúdo normativo, qualificação de acordo com hierarquia).
Requisitos:
1. Norma ser imperativa de direito internacional – jus cogens.
2. Violação em causa é uma violação grave – art. 40º/2 PARI – incumprimento
flagrante (tem que ver com a intensidade) e sistemático (levado de forma
organizada e deliberada).
Assim, esta obrigação, não criada por esses Estados, vai criar obrigações para
esses; razão: reside no interesse tutelado por toda a comunidade internacional.
As obrigações impostas ao Estado infrator não irão variar muito para além
daquelas impostas a todos os Estados da comunidade internacional – art. 41º/3 PARI.
Porém, surgem uma consequência inevitável, o isolamento do Estado infrator.
Problema: o PARI define o que é uma violação grave uma norma imperativa
internacional e estabelece as suas consequências, porém, não define quem é
competente para determinar e julgar a questão. Falta a questão da competência.
A qualificação pode ser determinada tanto em justiça pública como privada.
Assim, seriam competentes órgãos como o Conselho de Segurança, o TIJ ou outros
tribunais internacionais, ou pela Assembleia Geral das Nações Unidas; podendo, por
outro lado, essa qualificação ser feita unilateralmente por um Estado.
Notas:
i. O art. 41º/3 PARI deixa “porta aberta” a outras consequências para
determinadas violações de normas jus cogens.
ii. A situação passa a ser multilateral, invés de bilateral.
iii. Afastou-se o instituto do crime internacional.
5. A implementação da responsabilidade
estamos perante obrigações coletivas, esse Estado é afetado pela violação de forma
distinta dos restantes Estados, sendo que também a esses Estados a obrigação é
igualmente devida.
Na segunda categoria – al. b), ii) – a obrigação violada (que origina a ilicitude) é
uma obrigação interdependente. Deste modo, o(s) Estado(s) a quem tal obrigação é
devida, é considerado lesado. Note-se que não basta que a norma tenha natureza erga
omnes, terá de ter uma natureza própria.
Art. 43º PARI: o Estado lesado que invoca a responsabilidade deverá notificar o
Estado infrator identificando o ilícito que está na origem daquela reclamação e também
a forma de reparação que considera adequada à reparação devida.
Tem de ser respeitadas as regras de nacionalidade e esgotadas as vias de recurso
internas, caso contrário é inadmissível essa reclamação – art. 44º PARI.
Art. 45º PARI: situações de renúncia do direito de invocar responsabilidade –
expressa ou tácita.
Em suma, para que possam ser adotadas estas contramedidas, será necessário
um ilícito prévio e que o Estado infrator não cumpra com as obrigações jurídicas de
cessar o ilícito, prestação de garantias de não repetição e reparação do dano; só assim
pode ser utilizada a contramedida enquanto autotutela.
O art. 48º PARI estabelece que quando a norma violada pelo facto
internacionalmente ilícito for uma norma erga omnes ou erga omnes interpartes, é
possível a invocação da responsabilidade por parte do infrator por um outro Estado que
não o Estado lesado.
Duas situações de aplicação:
1. Violação existe em relação a um grupo de Estados; inclui esse Estado terceiro;
sendo que a norma foi estabelecida para proteção de um interesse coletivo
– art. 48º/1 al. a) PARI;
2. Obrigação violada existe em relação à comunidade internacional no seu
conjunto – art. 48º/2 al. b) PARI.
Assim, o Estado terceiro que não foi lesado pode exigir a cessação do ilícito,
prestação de garantias de não repetição, bem como a reparação do dano – art. 48º/2
PARI.
Na verdade, o que acontece é que há uma tutela em que o Estado terceiro não
lesado pode invocar a responsabilidade do infrator em nome do Estado lesado ou do
beneficiário da norma violada (e não em nome próprio como acontece com os Estados
lesados).
Relativamente à norma erga omnes não existe nenhum requisito adicional;
porém, quando estamos perante uma norma erga omnes interpartes será necessária
uma maior exigência, uma vez que a norma tem como objetivo a proteção de um
interesse coletivo das partes. A atuação deste será enquanto membro do grupo de
Estados aos quais essa obrigação é devida, ou enquanto representante da comunidade
internacional.
A solução consagrada no art. 43º/3 PARI é a possibilidade de um Estado terceiro
não lesado poder invocar a responsabilidade do Estado infrator, direito esse que tem
como finalidade reforçar indiretamente a posição do lesado perante o infrator, sendo
então exercido em favor ou benefício do Estado lesado.
Ora, convém ainda salientar que uma norma jus cogens é sempre erga omnes;
porém, uma norma erga omnes não é sempre uma norma jus cogens.
Enquanto que uma violação grave de uma norma jus cogens aplicar-se-á o regime
dos arts. 40º e 41º PARI; enquanto que nestes casos, aplicar-se-á o regime dos arts. 42º
e 48º PARI.
Neste contexto, é importante verificar-se o art. 54º PARI – Medidas adotadas por
outros Estados que não o Estado lesado.
De acordo com este preceito, os Estados terceiros que não lesados, poderão
sempre adotar medidas lícitas contra o infrator, no sentido de o levar a cessar e a
reparar no interesse do Estado lesado ou dos beneficiários da obrigação violada.
Assim, o Estado terceiro terá que ter um interesse jurídico na norma violada, podendo
agir, utilizando medidas lícitas, em nome do Estado lesado ou de beneficiários da norma
violada.