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Índice
Conceitos bá sicos para a explicaçã o do mundo contemporâ neo: teorias do “imperialismo” e da
circulaçã o de capitais............................................................................................................................................................... 4
As teorias anteriores à s guerras mundiais – a exportaçã o de capitais como explicaçã o para a nova
ordem internacional................................................................................................................................................................. 6
John Hobson (1903)............................................................................................................................................................6
Rudolf Hilferding (1910)...................................................................................................................................................7
Rosa Luxemburgo (1913).................................................................................................................................................8
A distinçã o entre “imperialismo” e “impérios”...........................................................................................................10
As teorias do “imperialismo” depois de 1945: as causas do “subdesenvolvimento” e da
“dependência”........................................................................................................................................................................... 14
Imperialismos com Impérios Coloniais.........................................................................................................................16
Grã Bretanha........................................................................................................................................................................16
França..................................................................................................................................................................................... 18
A Alemanha pó s Bismarck.............................................................................................................................................19
O Império Russo.................................................................................................................................................................22
A emergência do Japã o – industrializaçã o e primeira expansã o continental – Guerra com a China
(1894-1895) e com a Rú ssia (1904-1905).............................................................................................................23
A emergência dos Estados Unidos - industrializaçã o e primeiras conquistas coloniais - guerra
com a Espanha (1898-1899) e construçã o do canal do Panamá (1901-1914)......................................26
O Império Otomano.......................................................................................................................................................... 29
Os conflitos imperialistas.....................................................................................................................................................31
Fatores de conflito entre as potências......................................................................................................................31
Fatores de aproximaçã o entre potências......................................................................................................................38
A disputa pela influência no Império Otomano e o petró leo do Médio Oriente – acordos anglo-
alemã es (1912-1914)...................................................................................................................................................... 38
Acordos anglo-alemã es sobre as coló nias portuguesas (1898; 1912-1914)...........................................40
A I Guerra Mundial.................................................................................................................................................................. 41
As operaçõ es militares.................................................................................................................................................... 41
O fracasso dos planos da guerra de curta duraçã o (1914)..............................................................................43
O alargamento das frentes e os impasses (1915-1916)...................................................................................44
A procura da "decisã o": guerra submarina alemã , revoluçõ es russas e intervençã o dos EUA
(1917)..................................................................................................................................................................................... 47
O ano de 1918: ofensivas militares finais e revoluçã o europeia...................................................................50
A ordem mundial do pó s I Guerra....................................................................................................................................52
Os Tratados de Paz............................................................................................................................................................54
A exportaçã o de capitais entre as guerras e a depressã o 1929-1933..............................................................60
O endividamento dos países europeus e os investimentos dos EUA na Europa....................................60
Os aumentos de produtividade e a fase de “prosperidade” da década de 1920....................................62
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A recessã o da década de 1930: a crise bolsista nos EUA (1929) e a sua transformaçã o em
recessã o mundial............................................................................................................................................................... 64
A recessã o e as alteraçõ es políticas – regimes antiparlamentares na Europa e no Mundo..............68
A II Guerra Mundial................................................................................................................................................................ 74
A hegemonia alemã até 1942.......................................................................................................................................78
O recuo alemã o depois de Estalinegrado e dos desembarques americanos...........................................80
A Guerra no Pacífico......................................................................................................................................................... 81
A passagem para a guerra nuclear.............................................................................................................................84
A ordem internacional apó s a II Guerra Mundial................................................................................................85
O fim dos impérios coloniais.........................................................................................................................................86
Factores para as políticas "anti-coloniais": a hegemonia EUA/URSS; a ONU; os novos organismos
multilaterais......................................................................................................................................................................... 87
As descolonizaçõ es asiá ticas (1947-1953)..................................................................................................................95
A descolonizaçã o da Índia Britâ nica e o conflito Índia-Paquistã o (1947-48).........................................95
A descolonizaçã o das Índias Holandesas e a Repú blica da Indonésia (1945-1950)............................99
A descolonizaçã o da Indochina francesa e a intervençã o dos EUA...........................................................100
A descolonizaçã o da Coreia e o primeiro grande conflito regional do pó s-II Guerra........................103
As descolonizaçõ es do Médio Oriente e da Á frica do Norte...............................................................................106
Os estados á rabes sob tutela britâ nica e francesa, o mandato da Palestina e a génese do conflito
israelo-á rabe..................................................................................................................................................................... 106
A evoluçã o do Egito – da independência formal de 1922 à Repú blica Á rabe Unida (1958)..........112
A guerra colonial na Argélia e o seu impacto em França (1954-1962)...................................................116
As descolonizaçõ es em Á frica – 1957-1990..............................................................................................................119
As descolonizaçõ es inglesas e francesas na Africa Ocidental e Oriental - 1957-1964......................119
A descolonizaçã o portuguesa - 1974-1975.........................................................................................................122
Os processos rodesiano e sul africano (1965-1990).......................................................................................127
A emergência da China....................................................................................................................................................... 131
A implantaçã o da Repú blica e a unificaçã o do nacionalismo chinês através do Kuo Min Tan –
1911 - 1927....................................................................................................................................................................... 132
O decénio de Nankin e a guerra civil – 1927-1937...........................................................................................134
Da invasã o japonesa à 2º reunificaçã o da China republicana – 1937-1949..........................................135
As dificuldades da industrializaçã o chinesa - o campesinato como base da acumulaçã o e as
hesitaçõ es do crescimento..........................................................................................................................................136
Os planos quinquenais até ao fim do "Grande salto em frente”..................................................................137
A rutura com a URSS e a “Revoluçã o Cultural”...................................................................................................139
A nova política de internacionalizaçã o..................................................................................................................141
Os equilíbrios mundiais na época da Guerra Fria...................................................................................................144
A URSS entre 1945-1964 – fragilidades do crescimento e alteraçõ es de políticas; a rutura sino-
soviética.............................................................................................................................................................................. 145
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A rutura sino-soviética.................................................................................................................................................148
A corrida ao armamento nuclear - bloqueios na acumulaçã o mundial para a URSS e para os EUA:
do míssil gap ao tratado de nã o proliferaçã o nuclear (1968).....................................................................148
A “détente”......................................................................................................................................................................... 151
O Acordo Salt 1.................................................................................................................................................................152
A Conferência de Helsínquia......................................................................................................................................154
A ú ltima fase da guerra fria (1979-1990)............................................................................................................154
A Ordem Mundial depois de 1991.................................................................................................................................159
Anexos....................................................................................................................................................................................... 162
Os obstá culos dos conflitos regionais....................................................................................................................162
Médio Oriente e a Guerra de Outubro de 1973............................................................................................162
América Latina e o golpe de Estado no Chile (1973).................................................................................163
A guerra civil em Angola (1974-1975)............................................................................................................165
A revoluçã o iraniana (1978)................................................................................................................................166
A invasã o soviética no Afeganistã o...................................................................................................................167
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Lenine
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Aqui reside a grande contribuiçã o de Hobson na discussã o teó rica sobre a natureza
do imperialismo. Ele identifica que o novo colonialismo tem motivaçõ es essencialmente
econó micas, relacionadas com o papel do capital financeiro nas sociedades capitalistas
modernas ("A raiz económica do imperialismo é o desejo de poderosos interesses financeiros
e industriais de assegurar mercados privados para os seus bens e capitais excedentes, às
custas do dinheiro público e da força pública").
Este autor tem uma visão do imperialismo muito parecida com a minha, com base
nos conhecimentos adquiridos. Efetivamente, o imperialismo responde a interesses sectoriais
das economias dos países ditos imperialistas. Eles complementam as suas economias graças
às colónias. Assim, são as motivações financeiras deles que estão na base da exportação de
capital e consequente “salvamento” dos países (através dos lucros gerados).
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Concordo parcialmente com a visão deste autor. É que ele mostra, corretamente, que
a expansão do imperialismo é uma consequência da expansão do capitalismo. Isto faz todo o
sentido. É que a expansão de capitais vai levar a um fenómeno de “aglomeração nacional” de
capitais e isto vai fomentar a exportação de capitais, logo, há necessidade de expansão
imperialista – exportar capitais para as colónias, para o alívio da asfixia da metrópole.
Porém, o autor não aprofunda as tão debatidas motivações e interesses económicos que os
países do centro (metrópoles) têm sobre os países da periferia (colónias).
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Esta autora tem uma visão parecida com a de Hilferding. Mas acabo por concordar
mais com ela, pois transmite uma visão mais completa daquilo que é o imperialismo. Tal
como o economista austríaco, Rosa Luxemburgo mostra que o imperialismo é uma
consequência do capitalismo na sua fase final. Mas vai mais avante e explica que também é
uma consequência de uma contradição entre a produção e os limites do mercado. Assim, a
acumulação dos capitais só é “salva” graças ao imperialismo, que se apropria das colónias e
das suas “economias naturais”. Então, a economia capitalista expandia os mercados até ao
ponto em que a exportação e acumulação excessiva de capitais levaria a uma Guerra
Mundial.
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capitais para o local. Nos séculos XX e XXI houve uma enorme massa de capitais
exportados. Esta prática era feita na expetativa de se receber mais do que o
investido. De outro modo, colocava-se riqueza para gerar mais riqueza. Os países
que começaram a ficar mais comprometidos com estes capitais procuravam
garantir que os países para onde enviavam os capitais eram os países que eles
esperavam (cumpriam as regras impostas). Assim, procuravam controlar os
governos dos países para onde exportavam.
Não era necessário que fosse uma relação colonial (China, Império Otomano
e América Latina pediam empréstimos aos grandes centros financeiros de Londres e
Paris, sendo países independentes). Então, o imperialismo do século XX não está
associado à criação de colónias (países como Portugal têm impérios coloniais mas
não são imperialistas; países como os EUA não têm impérios coloniais mas são
imperialistas). Esta relação podia ser feita entre dois países independentes [não
está associado à posse de colónias].
A exploraçã o de capitais pode ser feita de duas formas (inícios do século XX):
investimento direto ou investimento indireto. O investimento direto era feito diretamente
por empresas que se instalam no exterior (as multinacionais). Se os mercados nã o fossem
fechados seria mais fá cil aumentar a produçã o dentro já do país instalado. O capital em
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a grande corrida de expansã o colonial das grandes potências europeias nas três ú ltimas
décadas do século XIX.
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As teorias do “imperialismo” que surgem após a II Guerra Mundial, a meu ver, fazem
todo o sentido. Após a II Guerra Mundial, o imperialismo vai passar a ser explicado como um
fenómeno social que explicava as diferenças e o desfasamento de riqueza entre países
desenvolvidos e não-desenvolvidos. Aliás, para mim, isto nem é uma nova explicação; é mais
uma confirmação do que já se via anteriormente.
No meio disto tudo, o que acho mais “absurdo” é que os teóricos da dependência viam
desenvolvimento e subdesenvolvimento como posições funcionais dentro da economia
mundial, ao invés de estágios ao longo de uma escala de evolução das nações.
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Os teóricos da dependência
viam desenvolvimento e subdesenvolvimento como posições funcionais dentro da
economia mundial, ao invés de estágios ao longo de uma escala de evolução das
nações. A teoria da dependência trata do relacionamento das economias dos países
da periferia com as economias dos países do centro, e que estas relações
económicas "dependentes" por parte dos países periféricos em relação às
economias centrais, criavam redes de relações políticas e ideológicas que moldavam
formas determinadas de desenvolvimento político e social nos países
"dependentes" ou "periféricos".
Isto, para mim, seria piorar a situação e agravar o fosso entre os países desenvolvidos
e os não desenvolvidos, o que levaria à promoção de economias desequilibradas.
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Grã Bretanha
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Por outro lado, a região a sul do Egito, o Sudão, foi anexada mesmo antes dos
ingleses chegarem. O Egito era uma região desértica, mas muito populosa, e a sua
agricultura dependia do rio Nilo, que nascia na Etiópia, a sul do Sudão. Ora, o
governo egípcio instalou fortalezas militares no Sudão para que conseguisse
controlar o Vale do Nilo. É que, se os ingleses priorizavam a Índia, tinham de
priorizar o Egito; e se priorizavam o Egito, davam grande importância ao Vale do
Nilo. A partir do Egipto nasce a necessidade do controlo para Sul, para controlarem
as áreas do Nilo (Sudã o, Uganda, Rodésia, etc.) até à África do Sul (país com grande
investimento de capital e grandes reservas de ouro).
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França
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passou a controlar colónias em África, mas não foi exportadora de capitais, pois
queria garantir a protecção dos seus investimentos nas colónias. A Alemanha
constitui, então, um exemplo de uma nação que não era um império colonial, mas
que era uma nação imperialista. O império alemão não tinha qualquer objectivo
colonialista. Aspirava ser uma potência naval e possuir um domínio industrial. De
resto, teve um tardio e rápido desenvolvimento industrial no final do século XIX
(acabando até por ultrapassar a Inglaterra em muitos aspetos aquando da I GM), que teve
como causas a unificação do país, a formação de um mercado interno unificado, a
anexação da alsácia e de uma parte da Lorena, o reforço inegável da exploração da
classe operária e a aplicação das últimas técnicas e das novidades científicas.
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“Por que não haveria a Alemanha de adquirir um império ultramarino (…)? (…) o
poderio alemão e a sua expressão disparatada tornaram-se um – o – problema
europeu.”
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uma enorme rivalidade que, depois de um grande processo que levaria à formação de
alianças, viria a constituir um grande motivo da I Guerra Mundial.
O Império Russo
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Também houve uma colisão com o Japão, com quem a Rússia disputava
territórios, sobretudo a Manchúria. Aliás, em 1904-1905, dá-se a Guerra Russo-
Japonesa devido a interesses económicos nessa região (a Manchú ria possuía grandes
jazidas minerais). Desta guerra, sai vencedor o Japão, o qual acaba por ocupar a zona.
Depois desta derrota, a Rússia passa a concentrar os seus esforços nos Balcãs
(perdendo a influência quase total na zona do Pacífico Médio). A Rússia tinha um porto
(Pt. Arthur) praticamente em frente a Pequim. Se estivesse sozinha, teria feito da
China o mesmo que a zona da Ásia Central. Só que havia outras potências
interessadas.
Na minha opinião, o Império Russo até teve uma industrialização bastante rápida,
mas tinha dois grandes problemas: em primeiro lugar, a sua planície era gelada e, por esse
motivo, não podia ser uma potência naval como a Inglaterra; em segundo e último lugar, os
seus interesses colidiam sempre com os de outras potências, como a Inglaterra e o Japão. E
também teve problemas nos Balcãs com o Império Otomano.
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Houve também aqui uma mistura estranha entre capitalismo e feudalismo, pois
manteve uma grande aristocracia e mentalidade feudal, mas ao mesmo tempo adotou o
capitalismo. De resto, a indústria japonesa era controlada por proprietários que eram
nobres da aristocracia. Para a industrialização, o Japão aproveitou o facto de não ser
uma colónia como a China (era um arquipélago – fechava mais facilmente as portas
estrangeiras – e detinha um sistema feudal ser mais fraco do que o chinês) e aproveitou a
base da apropriação do excedente rural camponês e posterior transferência para a
indústria ou para o Estado, que depois arrendava a indústrias. Na Europa Ocidental,
a industrialização surge também através de excedentes agrícolas. O aumento da
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Do meu ponto de vista, o Japão teve uma industrialização surpreendente, que foi
muito ajudada pelo orgulho que caracteriza o país. Essa mesma industrialização também foi
inovadora, pois o Japão aproveitou o excedente agrícola para canalizar os investimentos na
indústria. Outro facto que mostra que o Japão se tornou numa grande potência foi a vitória
em duas guerras. Em primeiro lugar, derrotou a China. Mas a Rússia, que via a expansão
japonesa como um perigo, pressionou o Japão a devolver algumas áreas à China e este teve
de ceder, por temer a Rússia (também ajudada pela França e pela Inglaterra). Mas o Japão,
ambicioso, vingou-se na guerra russo japonesa, dez anos mais tarde, da qual saiu vitorioso.
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poucas importações). Até ao século XIX os EUA eram uma fortaleza comercial. Só no
princípio do século XX, quando já constituíam uma potência industrial e naval, é que
os EUA começaram a exportar capital e já eram capazes de ter a sua própria política
externa para a proteção dos capitais.
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todas as suas pretensões sobre a ilha de Cuba, entrando o seu império em declínio.
Os Estados Unidos passaram a ter interesses concretos no Pacífico e ganharam
várias posses insulares em todo o globo e um novo debate rancoroso sobre a
sabedoria do expansionismo.
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O Império Otomano
O Império Otomano foi criado no século XV. No século XVI, englobava toda a
bacia do Mediterrâ neo até à Argélia e do Danú bio (zona dos Balcãs). Englobava,
também, povoações muito diferentes a nível étnico e cultural. No século XVII chegou
a querer invadir Viena, mas depois, com a entrada da concorrência ocidental
(Inglaterra e França) no Mediterrâneo, começou a decair. No século XIX, vivia na
eminência de desagregação, mas manteve-se devido à incerteza de países rivais. Os
seus rivais não chegavam a acordo quanto a quem iria tirar partido dos seus
territórios e foi essa pressão que permitiu que o império otomano se mantivesse.
Por exemplo, a Inglaterra nã o tinha influência suficiente para desagregá -lo, mas tinha
poder para impedir que outros (nomeadamente a Rú ssia) o fizessem.
A sua estrutura era muito diferente dos outros impérios. A partir do século
XIX, houve um grande fluxo de capitais estrangeiros destinados ao império
otomano, nomeadamente provenientes da Grã-Bretanha e da França - empréstimos
para tentar modernizar-se. Em 1830/40, conheceu um grande número de reformas
políticas e económicas. O poder do sultã o foi enfraquecendo cada vez mais e, em 1908,
houve mesmo uma tentativa de instaurar uma monarquia constitucional.
A Alemanha era a potência que estava a ter mais hegemonia ao nível militar e
do investimento, havendo uma tentativa de unir, por caminho-de-ferro, Berlim a
Bagdad (The Berlin Bagdad-Railway), com investimento alemão e que atravessaria
regiões influenciadas pela Alemanha, um projeto que não se chegou a realizar antes
da I Guerra Mundial. Em 1914, o império otomano incluía a Bulgária, Anatólia e
partes da Península Arábica (exceto a extremidade sul e leste), indo até ao fim do
Golfo Pérsico. A zona entre o Mar Vermelho e o Golfo do Pérsico constituía o Médio
Oriente. Depois, havia o Extremo Oriente (como a China).
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O Império Otomano, a meu ver, teve um crescimento bastante paradoxal e não muito
feliz. No século XIX, vivia na iminência da desagregação e só não se dissolveu graças às
outras potências coloniais, que nele queriam exercer influência. A Alemanha lançou o projeto
do caminho-de-ferro; e a Inglaterra e a Rússia disputavam áreas de influência neste império.
Para mim, o Império Otomano era mais um palco de luta para potências que queriam
dominar as suas zonas.
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Os conflitos imperialistas
Fatores de conflito entre as potências
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por meio da utilização de toda a sua força internacional. Como exemplo, temos a
instalaçã o dos alemã es no Sudeste africano, que impediu a concretizaçã o do sonho
britâ nico de construir um Império do Cabo ao Cairo. Esta rivalidade não tinha
forçosamente de levar à Guerra nem a constituição de impérios coloniais era um
fator decisivo para a Guerra. Os problemas entre as grandes potências podiam ser
resolvidos com acordos, porque estas não dependiam dos mercados coloniais.
Aparentemente, as potências imperialistas ganhavam mais se não combatessem
mutuamente. Mas a tensão entre os impérios britânico e alemão aumentava dia
após dia. Apesar das vá rias tentativas entre Inglaterra e Alemanha para criar uma boa
relaçã o entre si (ambas nã o tinham interesses numa guerra mundial), a verdade é que
estes dois países não encontravam uma solução para os seus conflitos de interesses.
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Porém, o acordo entre a Alemanha e a Itália neste ponto era bem específico,
afirmando que o seu apoio não se estenderia na defesa contra um ataque vindo do
Reino Unido. A situação da Itália neste acordo era instável na medida em que sua
população era desfavorável ao estabelecimento de um acordo com o Império
Austro-Húngaro, antigo inimigo do processo de unificação da Itália. Além disso, os
territórios da Ístria, do Trentino e da Dalmácia, sob controlo da Áustria, tinham
também populações italianas (entre outras), que não tinham sido incorporadas na
Itália unificada.
A guerra não podia ser evitada. Quando se formaram estes dois sistemas de
aliados, a pressão mundial subiu e intensificou-se. Cada sistema de alianças tinham
tinha elementos que queriam derrotar algum elemento do outro sistema, e bastava
um pequeno conflito entre dois elementos para que se desencadeasse uma situação
objectivamente belicosa – todas as nações de cada aliança envolver-se-iam.
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húngaro englobava uma diversidade de culturas, sendo que o seu ponto fraco
residia na fronteira como os Balcãs. Em 1914, o arquiduque Francisco Fernando,
futuro imperador da Áustria-Hungria, visitava Sarajevo, a capital da Bósnia. Nesse
dia, um jovem nacionalista sérvio assassinou o arquiduque. Este atentado foi
considerado pela Áustria-Hungria como um ato de Guerra, o que levou o imperador
Francisco José da Áustria-Hungria a declarar guerra à Sérvia. A Rússia, por sua vez,
declarou guerra à Áustria-Hungria, invocando a defesa dos povos eslavos. A
Alemanha, ligada por um pacto militar à Áustria-Hungria, declarou guerra à Rússia.
Também declarou guerra à França, que já estava em mobilização. Logo, o Reino
Unido declarou guerra à Alemanha, também por esta violar a neutralidade da
Bélgica, etc. Em poucos dias todas as grandes potências europeias estavam em
guerra; a única que se proclamou formalmente neutral foi a Itália. Mas, um ano
depois, a Itália passou para o lado das potências centrais, britânicos e franceses. A
Triple Entente foi apoiada pela Sérvia, Bélgica, Japã o, Roménia, Portugal, Grécia, China. A
Tripla Aliança recebeu a ajuda do Império Otomano, da Bulgá ria. Era o fim da paz
armada e o início da 1ª Guerra Mundial.
A IGM era um fenómeno inevitável. Este conflito já se esperava desde a última década
do século XIX, com a escalada armamentista. Só não tinha acontecido antes, porque havia
um interesse em que se contivesse uma guerra que traria a destruição e que impediria a
transferência de capital para as colónias.
“Em 1913, a tensão racial e política estava a subir em toda a Europa, muito
especialmente no Império Austro-Húngaro. Este império dos Habsburgos
apresentava vários problemas. E um deles era o facto de ser composto por diversas
nações e etnias. Muitos desses grupos raciais desconfiavam uns dos outros, ou
odiavam-nos mesmo mais do que aos inimigos externos da Áustria”, acrescentando
na sua opiniã o, com a qual concordo, que “a complicar ainda mais esta mistura tão
instável estava o facto de dezenas de etnias diferentes no interior do império estarem
a ser apoiadas por países como a Rússia e a Alemanha”.
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Na minha opinião, a I Guerra Mundial foi, sem margem para dúvidas, um fenómeno
inevitável. A filosofia do imperialismo sugeria que a exportação contínua de capitais para as
colónias causava a necessidade absoluta de possuir territórios ultramarinos. Como todos os
impérios queriam alargar a sua zona de domínio, aconteceu, no início do século XX, uma
feroz competição entre eles O maior antagonismo era entre a Inglaterra e a Alemanha. Mas
esta rivalidade não tinha forçosamente de levar à Guerra. O que a originou foi o sistema de
alianças de ambos os países. Por outro lado, não creio que a eclosão da Grande Guerra tivesse
sido uma consequência direta do imperialismo. Para mim, as pretensões dos diversos países
podiam perfeitamente ser resolvidas através de acordos (caso do petróleo). Simplesmente,
isso não aconteceu, porque realmente não havia maneira nenhuma de se chegar a consensos.
E as guerras que diversos países travaram entre si no passado só vinham piorar a situação. O
desejo de vingança estava evidentemente presente. E, a partir do momento em que se
formaram os sistemas de aliados, a pressão mundial subiu e intensificou-se. Cada sistema de
alianças tinha elementos que queriam derrotar algum elemento do outro sistema, e bastava
um pequeno conflito entre dois elementos para que se desencadeasse uma situação
objetivamente belicosa – todas as nações de cada aliança envolver-se-iam. A Guerra não
podia ser evitada.
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Nesta altura, o petróleo não era valorizado, apesar de vir a ter mais potencial
do que o carvão. Até entã o, o carvã o era a matéria-prima mais usada para constituir-se
como o combustível dos navios. Mas, para as potências imperialistas, o poderio naval
era determinante e deste facto advém a importância do petróleo. É que os países
necessitavam de uma grande frota de Guerra e as frotas militares navais moviam-se
a vapor. Usavam carvão para produzir o vapor, que tinha de ser disponibilizado ao
longo do oceano, em ponto de apoio, para que os barcos não parassem.
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Um outro fator que, a meu ver, poderia incitar a uma boa relação entre a Inglaterra
e a Alemanha eram os acordos anglo-alemães sobre as colónias portuguesas. Estes acordos
mostraram que ambas podiam manter boas relações e que podiam dividir colónias que
teriam grande interesse para ambos os lados. Mas, por outro lado, acho que estas duas
potências só queriam servir os seus interesses e aproveitar-se do facto de Portugal se
encontrar na ruína económico-financeira para este país lhes “fornecer” as suas colónias, caso
não tivesse mais dinheiro para pagar dívidas.
A I Guerra Mundial
As operações militares
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O conflito começou com os Balcã s, mas podia ter iniciado com outros conflitos
regionais (nomeadamente em Marrocos, na Á frica). Porém, as coló nias e os conflitos de
interesses com coló nias nã o eram meios suficientemente importantes para levarem a uma
guerra. Em poucos dias todas as grandes potências europeias estavam em guerra; a ú nica
que se proclamou formalmente neutral foi a Itá lia. Mas, um ano depois, a Itá lia passou para
o lado das potências centrais, britâ nicos e franceses. A Triple Entente foi apoiada pela
Sérvia, Bélgica, Japã o, Roménia, Portugal, Grécia, China. A Tripla Aliança recebeu a ajuda
do Império Otomano, da Bulgá ria. Era o fim da paz armada e o início da I Guerra Mundial,
um conflito que envolveu milhõ es de pessoas nos vá rios continentes.
A IGM era um fenó meno inevitá vel. Este conflito já se esperava desde a ú ltima
década do século XIX, com a escalada armamentista. Resulta de uma constante acumulaçã o
de tensã o permanente, na qual estã o presentes o nacionalismo, o desejo de expansã o
imperialista e a concorrência de economias nacionais de cará ter capitalista. Só nã o tinha
acontecido antes, porque havia um interesse em que se contivesse uma guerra que traria a
destruiçã o e que impediria a transferência de capital para as coló nias.
Nenhum dos lados estava preparado nem esperava uma guerra tão longa e
tão fatal como a I Guerra Mundial constituiu entre 1914 e 1918. Os Estados maiores
envolvidos na guerra achavam que esta iria durar meras semanas. Além disso, como
já referenciado, esta guerra nã o era desejada por nenhum governo, nem mesmo a
Inglaterra ou a Alemanha.
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Por outro lado o imperialismo britâ nico pretendia conservar e ampliar o seu
império colonial e debilitar a sua mais importante rival: a Alemanha. Já o imperialismo
francês lutava pela restituiçã o da Alsá cia e da Lorena, que a Alemanha recuperara em
1871 enquanto o Imperialismo russo aspirava varrer da Turquia e dos Balcã s a influência
alemã e austríaca e estabelecer aí a sua pró pria esfera de influência
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Mas em 1915 já não podia fazer nada contra o conjunto das forças armadas
austríaca e alemã. A partir deste ano, a guerra move-se mais para os países
balcânicos, que vão entrando nela consoante as promessas que as potências lhes
fazem. Os sérvios recuaram para a Grécia e, depois de receberem a ajuda dos aliados
franceses, reapareceram na batalha da frente no sudoeste. O adversário principal das
potências centrais no leste era, obviamente, a Rússia.
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Sabia de antemã o que uma vitória alemã na guerra levaria à perda de grande
parte dos seus territórios coloniais. Como tal, em Setembro de 1914 eram enviadas
as primeiras tropas para África onde as esperariam uma série de derrotas perante
os alemães, na fronteira do sul de Angola com o Sudoeste Africano Alemão (Desastre
de Naulila) e na fronteira norte de Moçambique com a África Oriental Alemã. Apesar
destes combates, a posiçã o oficial do Estado português era claramente ambígua. Os
partidos de cariz esquerdista estavam ao lado dos regimes da França e da Inglaterra,
enquanto os da direita simpatizavam-se com os regimes das potências centrais (Alemanha
e Austro Hungria). Porém, a questã o que se colocava era se Portugal entraria na guerra ou
nã o, já que a entrada de Portugal na guerra seria sempre ao lado da Inglaterra e França.
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Em abril de 1917, um em cada quatro navios de abastecimento que partiu do país jamais
retornou. No final desse mês, o país tinha um suprimento de grã os suficiente para apenas
seis semanas. Os Aliados tentaram defender os seus navios de abastecimento dotando-os
de armamentos e despachando-os em comboios, ou grupos, escoltados por navios de
guerra. No total, submarinos alemã es causaram a perda de cerca de 6 mil navios dos
Aliados. Só o Reino Unido perdeu 13 mil vidas nesses ataques.
Entretanto, na Rússia a situação estava cada vez mais complicada (tal como
foi referido anteriormente). Na verdade, a Rússia encontrava-se fraca e pouco capaz
de aguentar os esforços de guerra. Em 1917 a Rússia conheceu duas revoluções. A
primeira, a Revolução de Fevereiro, foi contra o regime vigente, causada pela
insatisfaçã o geral com o esforço de guerra. Essa revoluçã o derrubou o czar e proclamou a
repú blica, mas nã o alterou a situaçã o na frente. Dito de outro modo, a Rú ssia, a partir
dessa revolta, praticamente não combatia, o que se transformou num problema
grave para os franceses e britânicos que tinham, a partir de 1917, de defrontar-se
sozinhos com o todo-poderoso exército alemão. A Revolução Bolchevique de
Outubro de 1917 começou com Lenine que, estando na Finlâ ndia e ao analisar a situaçã o
da Rú ssia, achou que estava na hora de tomar o poder e por isso regressou e criou um
comité revolucioná rio junto do soviete de Petrogado, presidido por Trotsky. Na noite de
25 de Outubro, o II Congresso dos Sovietes, dominado pelos bolcheviques, legalizou a
revoluçã o e designou para governar o país um Conselho dos Comissá rios do Povo,
presidido por Lenine. O partido de Lenine vencia entã o a luta interna.
Para os alemães, era uma questão de tempo até que a guerra estivesse ganha:
a Inglaterra estava sem marinha de guerra (tenta isolar os impérios centrais dos
abastecimentos marítimos, afetando a indú stria militar alemã , mas os germâ nicos
intercetam os navios britâ nicos através de submarinos); a França estava a perder força;
e a Rússia encontrava-se inativa. O novo tipo de combate (numa única frente)
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dificultou ainda mais a situação militar franco-britânica, mas foi também a razão
formal para os EUA declararem guerra à Alemanha. A revolução Russa viria a
favorecer os Impérios Centrais e a entrada dos Estados Unidos viria a favorecer a
Entente.
Por outro lado, estes também queriam a luta pela liberdade, que passava por
combater a ditadura do Kaiser (imperador), como chamavam ao chefe do Estado
Alemão, Guilherme II. Como o regime da Alemanha era considerado pelos EUA como
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ou igualdade entre homens e mulheres); e o Isolacionismo: política externa eficaz e ú til (Doutrina
Monroe – potências europeias nã o interferiam no territó rio norte-americano e vice-versa).
Durante a maior parte dos mais de quatro anos em que o planeta se viu engolfado
na mais cá ustica batalha de sua histó ria, a Alemanha esteve sempre um passo adiante
dos seus oponentes. Nã o foram poucas as vezes em que o alto comando germâ nico, com
absoluta propriedade, pensou estar pró ximo de celebrar o triunfo definitivo contra a
aliança dos seus férreos antagonistas. Parecia que a Grã-Bretanha, a França e a Rússia,
mesmo abraçadas, seriam incapazes de conter o inigualável ímpeto ofensivo
alemão. Nem sequer o anúncio da entrada dos Estados Unidos nas hostilidades
refreou os ânimos dos oficiais alemães, confiantes no magnífico poderio de sua
máquina de guerra. Sem dúvida, a Alemanha ofereceu inúmeras demonstrações do
seu estarrecedor colosso militar. E, mesmo rodeada por aliados que se revelariam
pouco resilientes, ao final das contas, quase garantiu a vitória. Quase.
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Com o Final da I Guerra Mundial, era necessá rio agora fazer um balanço da mesma.
Em termos demográficos, a I Guerra Mundial ultrapassou todas as guerras anteriores
(em termos mais destrutivos), sendo catastrófica e destruindo toda ou quase toda a
capacidade militar efetiva. Era considerada a maior guerra existente até à altura (os
contemporâ neos pensavam de forma generalizada que esta seria a ú ltima guerra). Houve
uma mortalidade anormal, não só influenciada pela dita guerra, mas por
pneumonias, que mataram milhares de europeus (a gripe espanhola propagou-se
rapidamente devido ao enfraquecimento e à subnutriçã o das pessoas). Isto traduziu-se
numa totalidade de 20 milhões de perdas humanas/militares. As principais perdas
deram-se na Alemanha (país com maior nú mero de baixas), França (cerca de 14% da
populaçã o ativa) e Rússia (países diretamente envolvidos na guerra), bem como na
Bulgá ria, Sérvia e Turquia.
Em termos de capacidade destrutiva, foi uma evolução que foi usada para
fragilizar os países. A certa altura, deixou de poder ser usada em pleno; até aí, era uma
capacidade crescente, que permitia a evoluçã o da indú stria e o crescimento econó mico. É
que, nas economias capitalistas, em épocas de guerra, as indústrias doa armamento
desenvolvem-se e lucram mais do que em tempos anteriores, já que têm de produzir
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“A Grande Guerra e o modo como ela termina anunciam o declínio da Europa. (…) a
Europa (…) foi materialmente devastada e quase toda sangrada e empobrecida pelo
conflito militar. (…) na economia mundial o papel da Europa diminuiu, em proveito
(…) dos EUA (…) Uma potência extraeuropeia, os EUA, exerceu a influência decisiva
no fim do conflito e, em grande parte, impôs conceções e métodos novos para a
elaboração dos tratados de paz.”
Os Tratados de Paz
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(Vittorio Orlando). Algum tempo depois este conselho passaria a Conselho dos Três, apó s a
saída da Itá lia, que considerava que os seus interesses nã o estavam a ser ouvidos.
Para os alemã es, este nã o era um tratado, era, sim uma imposiçã o, um diktat. O
Tratado de Versalhes nunca foi aprovado pelos EUA, os quais optam por uma
política isolacionista e de neutralidade, deixando a Europa entregue a si própria e
às suas dificuldades. Já a França, grande rival da Alemanha, tencionava aplicar à
letra o Tratado de Versalhes. É nas condições deste tratado que estão as bases da II
Guerra Mundial.
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Reich alemão (para precaver uma futura aliança com a Alemanha) e limitou o exército
profissional a 30 mil soldados. Foram igualmente estabelecidas compensações
económicas pelos prejuízos causados pela guerra, embora o dinheiro nunca tenham
sido entregue.
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Jugoslá via (que integrava seis países: Sérvia, Croá cia, Eslovénia, Montenegro, Macedó nia e
Bó snia).
Estas cláusulas foram mal vistas pelos EUA e pela Inglaterra. Os primeiros
não concordaram especialmente com o Tratado de Versalhes, pois achavam as
decisões demasiado duras, tinham uma política de neutralidade (recusando-se a
associar-se a algum lado) e queriam que os pagamentos das reparações da Alemanha
fossem feitos muito faseadamente – para custar menos ao Estado Alemão e para não
prejudicar a importância alemã à Inglaterra e aos EUA, sob a consequência de gerar
uma recessão mundial. É que as empresas americanas começavam a estabilizar na
Europa e os EUA eram credores de muitos países europeus. Por outro lado, a França
foi a que mais concordou com estes tratados, pois a Alemanha era o seu maior rival,
e muitas das decisões iriam beneficiar os franceses. Portanto, contava com o
pagamento dos alemães e queria enfraquecê-los, tomando uma posição favorável à
entrada destes numa recessão.
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organização. Preferiam sufocar as suas atençõ es no Pacífico. O lugar dos EUA na SDN foi
preenchido pela China, que se foi juntar à França, Inglaterra, Itália e Japão. A SDN é
ignorada e, a partir de 1939, extingue-se lentamente, dissolvendo-se em 19 de Abril.
Enfrentando todas estas e outras questões às quais foi incapaz de reagir, a SDN
fracassa.
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ainda a afetar, dadas as ligações comerciais com o velho continente. Era, por isso,
urgente reavivar a economia europeia, injetando capitais. Os EUA emprestaram
avultadas quantias à Inglaterra e Alemanha, permitindo aos alemães pagarem as
indeminizações de guerra à França e à Inglaterra, servindo-se estes países desses
capitais para pagar as dívidas que haviam contraído com os EUA.
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solução das grandes empresas supracitadas passava então por se instalarem nos
países europeus.
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Ora, percebe-se, assim que a crise teve origem, por um lado, na especulação
bolsista. As cotações das acções da bolsa, cada vez mais altas, não correspondiam à
situação real das empresas. A facilidade de recurso ao crédito mantinha os cidadãos
na ilusão de uma prosperidade interminável. Os bancos estimulavam esta
especulação bolsita, pois concediam créditos ao consumo privado de forma pouco
criteriosa e a pessoas que não possuíam capacidade de endividamento. Tratava-se
do recurso ao crédito para aplicação na compra de acções. Ora, quanto mais se
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nova guerra do que alemães ou japoneses, pois foram o país mais retardado na
contenção das despesas militares.
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economia de planeamento, controlada pelo governo, pelo partido único e pelo seu
líder. No plano externo, o fascismo teve um projecto de expansão territorial.
O fascismo surgiu primeiro em Itália, em 1919. Este país não ficou feliz com a
sua participação na Primeira Guerra Mundial, pois gastou imensos recursos e não
obteve compensações significativas. Nomeadamente a expansão territorial italiana
que ficou aquém do esperado e desejado. A não satisfação das suas reivindicações
na Conferência de Paz em 1919, deram à população uma “vitória incompleta”. A
Itá lia atravessava entã o uma grave crise moral e econó mica (posteriormente agravada
pela recessã o). Nesta situaçã o, a maioria da populaçã o estava recetiva a uma soluçã o
radical. Foi Benito Mussolini que tomou o poder em 1922. Foi o primeiro regime fascista a
ser implementado definitivamente. Este movimento só pô de ser implantado, porque
encontrou uma ampla base social de apoio e condiçõ es propícias ao seu desenvolvimento.
Na Alemanha, as suas ações têm como objetivo construir aquilo que Hitler
denomina por “Espaço Vital”. Esta teoria do Espaço Vital constituiu a
fundamentação ideológica de uma série de ocupações dos territórios vizinhos. Um
Estado dinâmico, com um grande crescimento económico, necessita de espaço. A
necessidade básica territorial de sobrevivência é considerada espaço vital, mas se a
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economia cresce, esse espaço deve ser alargado. Por outras palavras, as fronteiras
podem ser alteradas em conformidade com o aumento da força de um Estado. A
Alemanha estava em pleno crescimento económico, necessitava de território, de
que os outros Estados não iam desistir sem luta. Em 1935, o território do Sarre que,
de acordo com o Tratado de Versalhes ficava sob o controlo da SDN, passou para a
Alemanha. Em 1936, Hitler remilitariza a Renânia, desobedecendo ao Tratado de
Versalhes; celebrou com Mussolini o Eixo Roma-Berlim; Afirma com o Japão um
pacto, com o objectivo de combater o expansionismo do comunismo soviético. Esta
aproximação do Japão à Alemanha deve-se, essencialmente, à viragem da política
japonesa para uma direcção mais nacionalista e autoritária; Em 1938, Hitler anexou
a Áustria (Anchluss); no mesmo ano, anexou a região checa dos Sudetas; Em 1939,
Hitler, pretendendo evitar complicações a leste, celebra um pacto de não-agressão
com a URSS, que incluía a partilha da Polónia e a integração na URSS dos países
bálticos.
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A II Guerra Mundial
A II Guerra Mundial deu-se entre 1939 e 1945. Esta foi uma guerra essencialmente
ideoló gica, onde se verificou um conflito entre Liberalismo, Comunismo e Fascismo. Pode
dizer-se que as causas (além do surgimento dos regimes totalitá rios) desta guerra
estiveram nas determinaçõ es do Tratado de Versalhes. Este Tratado, assinado em 1919 e
que encerrou oficialmente a Primeira Grande Guerra, determinava que a Alemanha
assumisse a responsabilidade por ter causado a IGM e obrigava o país a pagar uma dívida
aos países prejudicados, além de outras exigências como o impedimento de formar um
exército reforçado e o reconhecimento da independência da Á ustria. Isso é claro, trouxe
revolta aos alemã es, que consideraram estas obrigaçõ es uma verdadeira humilhaçã o.
Para os alemã es, as fronteiras definidas pelo Tratado de Versalhes forneciam ainda
mais motivos para a existência de um nacionalismo xenó fobo. Alguns alemã es encaravam
desfavoravelmente a separaçã o entre os Austríacos de língua alemã e a Alemanha, bem
como o domínio dos checos sobre alemã es que se seguiu à queda da monarquia dos
Habsburgo e à criaçã o da Checoslová quia.
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A Itá lia entrou num processo de conquistas coloniais na década de 30. Em Outubro
de 1935, a Itá lia (cujos militares estavam instalados na Somá lia e na Eritreia) afirmou seu
imperialismo invadindo a Etió pia, país independente situado no nordeste da Á frica e que
constituía o ú nico Estado que ainda nã o tinha sido dividido. Este é o ponto de viragem na
política mundial estando na base da IIGM. A Inglaterra (que controlava o Nilo) nã o
aceitava que a França controlasse a Etió pia, pois isso iria pô r em causa o seu pró prio
controlo, e por isso, a SDN determinou que seus Estados membros restringissem o
comércio com a Itá lia.
Tal proibiçã o, no entanto, nã o chegou a afetar a Itá lia, porque naçõ es fortes como
os Estados Unidos e a Alemanha - que nã o faziam parte da SDN - continuaram a vender-lhe
matérias-primas essenciais, como petró leo e carvã o. A conquista da Etió pia pela Itá lia,
consumada em 1936, provou ao mundo que a SDN era incapaz de assegurar a paz mundial.
Isto provocou um ponto de rutura/colisã o entre Itá lia e a Entente Anglo-Francesa. A
Alemanha alia-se aos transalpinos e celebrava entã o um pacto com Mussolini (Eixo Roma-
Berlim), onde foram anexadas vá rias regiõ es que permitiam regular o comércio e a política
externa de países como a Á ustria e a Checoslová quia. O "Eixo Roma-Berlim" tornou-se
uma aliança militar em 1939 com o Pacto de Aço. Foi um acordo entre os governos da
Itá lia fascista e da Alemanha nazista, firmado em 1939, que estabelecia uma aliança em
caso de ameaças internacionais, bem como ajuda imediata e suporte militar em caso de
guerra e colaboraçã o na produçã o bélica e no campo militar. Além disso, nenhuma das
partes poderia firmar paz sem o consentimento da outra. As anexaçõ es territoriais da
Á ustria e da regiã o checa dos Sudetas foram realizadas pela Alemanha em 1938.
Posteriormente, em 1939 Mussolini anexa a Albâ nia.
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Roma-Berlim-Tó quio. Foi idealizado por Hitler para intimidar os EUA e tentar mantê-lo
como país neutro durante a guerra. Porém, na prá tica acabou legitimando a entrada
americana no conflito europeu, quando este declarou guerra ao Japã o, apó s o ataque
japonês a Pearl Harbor.
Perante o desrespeito das normas dos tratados de paz e dos termos do pacto da
SDN, as democracias ocidentais reagiram muito passivamente. A SDN manifestou uma
atitude displicente em relaçã o aos países que violaram as clá usulas do seu pacto. O Reino
Unido e a França nã o impediram Hitler de atuar logo em 1938 porque ambos nã o estavam
preparados para a guerra. A nível econó mico, financeiro e industrial eram muito mais
fracos do que a Alemanha. Para além disso, os britâ nicos e os franceses nã o tinham
nenhuma vontade psicoló gica de entrar numa nova guerra depois das terríveis perdas que
tiveram durante a IGM. Também, sem o apoio dos EUA, os exércitos francês e inglês
tinham poucas probabilidades de resistir perante as forças armadas de Hitler.
O ú ltimo obstá culo à guerra foi a posiçã o da URSS. A França já tinha tentado fazer a
Guerra e em 1934 ofereceu um lugar à Rú ssia na SDN. Esta ao início pensou em aceitar o
lugar, mas depois mudou de opiniã o por causa da Poló nia (um novo país criado na
sequência dos tratados e que ninguém queria), pois achava que tinha sido criada numa
á rea que já tinha influência (só aceitaria se tivesse livre acesso ao territó rio em questã o). A
França nã o quis sacrificar a aliança com a Poló nia e a URSS desistiu do seu possível lugar
na SDN e da sua aliança com a França.
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Fonte (?)
“Era imprescindível para o sucesso dos Nazis e para a eventual aceitação de Hitler
por parte dos Alemães, no que diz respeito à política externa, que o povo alemão
acreditasse que os seus infortúnios económicos e políticos eram uma consequência da
imposição e da aplicação do Tratado de Versalhes por parte dos predadores
estrangeiros. Poucos alemães sentiam qualquer «culpabilidade» especial em relação
à Primeira Guerra Mundial e não sentiam que as suas dolorosas consequências,
encarnadas no Tratado de Versalhes, representassem um castigo justificado.”
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Os comandantes polacos esperavam poder resistir aos ataques alemã es até que a
ofensiva francesa, com a qual contavam, fizesse recuar as tropas alemã s. Face a esta
invasã o, a Inglaterra e a França enviam ultimatos, exigindo a retirada imediata das forças
alemã s do territó rio polaco - dando-lhes um prazo de vinte quatro horas - findo os quais
automaticamente se declarariam em guerra com a Alemanha. A 3 de Setembro, chegam à
Chancelaria alemã as declaraçõ es de guerra. Apesar dos esforços, os polacos nã o têm
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condiçõ es de deter a poderosa má quina militar germâ nica. Em apenas três semanas, a
Poló nia caiu em poder dos alemã es, acabando por se render incondicionalmente.
Em junho de 1941, a guerra sofreu, pois, uma mudança radical. Hitler rompe o
pacto germano-soviética e as forças armadas deram início à invasã o da URSS. O ataque foi
fulminante. Perante um exército mal preparado e mal dirigido, a Wehrmacht (infantaria
alemã ), em menos de um mês, chegava à s portas de Leninegrado e, em mais de três meses,
instalava-se nos arredores de Moscovo. O pacto de nã o-agressã o, uma aliança entre dois
ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos -, que deveria possibilitar
aos dois parceiros conquistas territoriais e políticas de grandes proporçõ es e, ao mesmo
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tempo, mudar o equilíbrio político na Europa, é considerada por muitos uma má cula na
histó ria. Os alemã es nã o estavam interessados em conquistar grandes cidades russas,
queriam apenas alcançar grandes zonas petrolíferas dentro do territó rio para assim
controlarem o petró leo russo.
Verifica-se entã o uma hegemonia alemã , que rapidamente invadiu territó rios e
exerceu a sua força e poder, para alcançar mercados protegidos e expandir a sua base
nacional. Os alemã es nã o estavam interessados em conquistar grandes cidades russas,
queriam apenas alcançar grandes zonas petrolíferas dentro do territó rio para assim
controlarem o petró leo russo (este recurso era uma arma estratégica para os exércitos). A
Rú ssia era um reservató rio da produçã o industrial e energética e o segundo maior
produtor de petró leo mundial, que era proveniente do Azerbaijã o). Era uma regiã o
estratégica, pois dava ligaçã o ao Mar Cá spio e ao Médio Oriente. Se chegassem a esta zona,
teriam praticamente tudo sob controlo.
Face a esta invasã o, os russos sabiam que tinham algum tempo até que os alemã es
chegassem, e por isso prepararam tudo (transferiram grande parte das suas unidades
industriais para as zonas circundantes do rio Volga). A 17 de Julho de 1942 deu-se a
Batalha de Estalinegrado. Esta batalha realizada no Cá ucaso foi uma operaçã o militar
conduzida pelos alemã es e seus aliados contra as forças russas pela posse da cidade de
Stalingrado e durou até 1943. Os soviéticos, ajudados pelo seu vasto territó rio e
recorrendo a todo o tipo de recursos/mã o-de-obra que tinham, organizam um contra-
ataque ao exército alemã o, que perde milhares de militares e começa a recuar.
Entretanto, em 1942, a Líbia e o Egito caem em poder dos alemã es. A guerra no
Mediterrâ neo intensificava-se com a ocupaçã o do Norte de Á frica pelos exércitos nazis,
com o objetivo de defender o Sul da Europa de uma possível invasã o por parte da
resistência aliada, que acabou por suceder. Quando os EUA entraram em Guerra,
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Histó ria do Mundo Contemporâ neo
A Guerra no Pacífico
No Mediterrâ neo, o avanço dos alemã es contava com o apoio dos exércitos de
Mussolini e com a ascensã o, por toda a Península Balcâ nica, de regimes conservadores.
Muitos deles, sob pressã o de Hitler, integraram também o Eixo Berlim-Roma-Tó quio,
entretanto constituído pelas potências totalitá rias. Portanto, sem só lidos apoios no Sul da
Europa, a força aérea inglesa, obrigada a utilizar as bases no Egito e na Líbia, encontrava
grandes dificuldades em suster a iminente entrada dos Alemã es no Norte de Á frica.
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O primeiro dos acordos firmados entre a Rú ssia (Josef Stalin), os EUA (Franklin
Delano Roosevelt) e a Inglaterra (Winston Churchill) ocorreram no ano de 1943, em
Teerã o. Além de lançarem bases quanto à s definiçõ es de partilhas, decidiu-se que as forças
anglo-americanas interviriam conjuntamente com as forças orientais soviéticas na França,
completando o cerco de pressã o à Alemanha (dia D). Deliberou-se ainda sobre a divisã o da
Alemanha e as fronteiras da Poló nia ao terminar a guerra, além de se formularem
propostas de paz com a colaboraçã o de todas as naçõ es. Os Estados Unidos e o Reino
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Unido reconheceram, ainda, a fronteira soviética no Ocidente, com a anexaçã o da Estó nia,
da Letó nia, da Lituâ nia e do Leste da Poló nia.
Faltava resolver uma outra guerra que se arrastava desde 1941: a Guerra do
Pacífico. Esta foi dividida em duas etapas. Entre 1937 e junho de 1942, quando o Japã o se
manteve na ofensiva e foi vitorioso na ocupaçã o de grande parte do territó rio chinês e
também na destruiçã o da frota americana em Pearl Harbor, assim como na tomada de
Hong Kong e Singapura, na invasã o e ocupaçã o da Tailâ ndia, Birmâ nia, Malá sia, Filipinas,
Nova Guiné, Índias Orientais Holandesas, Ilhas Salomã o e das bases americanas de Guam e
Wake.Já em 1942 tem-se a vitó ria da marinha e da aviaçã o norte-americana na batalha
naval de Midway, o que impediu o desembarque das tropas japonesas no atol e resultou na
destruiçã o dos quatro principais porta-aviõ es do Japã o. A ofensiva passou, entã o, para os
aliados, que, nos três anos seguintes reconquistariam todos os territó rios tomados,
através de grandes batalhas terrestres e navais (Guadalcanal, no Mar de Coral, Tarawa,
Golfo de Leyte, Filipinas, Saipan, Iwo Jima e Okinawa).
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e australianas. Era o tempo dos kamikazes, pilotos japoneses que lançavam os seus aviõ es
contra os alvos inimigos.
Em 1944, os japoneses já tinham sido expulsos de muitos territó rios asiá ticos.
Entretanto, alemã es e americanos desenvolveram muitos projetos ao longo da IIGM.
Separadamente, desenvolveram armas estratégicas novas, como o míssil e a arma nuclear
(bomba ató mica). Em fevereiro de 1945, os aliados desembarcavam no arquipélago
japonês.
O ataque a Hiroshima tinha sido decidido pelo presidente dos Estados Unidos
Truman, desejoso de acabar com o conflito tã o rapidamente quanto possível, ainda mais
porque a Alemanha já se tinha rendido em maio desse mesmo ano. O presidente foi
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informado do mais secreto projeto aliado durante a guerra, conhecido como projecto
«Manhattan», destinado a conseguir a cisã o do á tomo e assim dominar a tecnologia que
permitiria produzir um engenho explosivo ató mico
Pode dizer-se que foi praticada uma espécie de guerra total que visava
destruir todos os recursos do adversário para o derrotar igualmente dessa maneira.
Das vítimas civis, vale a pena destacar os milhões de civis que morreram nos
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campos de concentração. O Estado que sofreu mais baixas foi a URSS. Mais de 20
milhões de cidadãos da União Soviética morreram nos combates ou foram vítimas
da fúria alemã.
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Mas a II Guerra Mundial foi muito mais séria - a crise foi definitiva. A
correlação de forças entre a metrópole e as colónias alterou-se profundamente, pois
algumas metrópoles e colónias foram ocupadas pelo inimigo. Com o final da IIGM,
origina-se o colapso material dos países europeus. Como não tinha liquidez para a
manutenção dos impérios coloniais, dependiam das exportações americanas. A
perda de importância das outrora potências mundiais, que agora estavam
arruinadas, causou o fim desses impérios coloniais. Isto levou à reconfiguração dos
territórios a nível geográfico. Neste processo decorre o surgimento de novos países.
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muito maior que a IGM. O grande problema era descobrir como é que a recessão do
pós-guerra podia ser evitada.
Inglaterra e URSS tentaram negociar o crédito. Nas suas cimeiras com os EUA,
discutiram-se a recuperação europeia e o pós-guerra. Entre 1945 e 1947 verificou-
se que a Europa necessitaria muito mais de créditos a curto prazo e que os
americanos não se interessavam com muitos acordos bilaterais. Recorde-se que os
EUA tentavam evitar uma recessão, pois isso teria um forte impacto sobre a sua
economia. Os EUA necessitavam cada vez mais da Europa como mercado. Mas, com a
IGM, aprenderam que uma potência colonial não poderia sobreviver num espaço
económico fechado.
Com a derrota do Eixo, vieram ao de cima os antagonismos ideoló gicos que tinham
sido esquecidos durante a IIGM. Designou-se por Guerra Fria o ambiente de tensã o que
caracterizou as relaçõ es entre os governos americanos e soviéticos, desde o final da IIGM
em 1945 até à dissoluçã o da URSS em 1991. Diz-se guerra fria porque os países se
abstiveram de recorrer diretamente à s armas. Utilizavam formas de propaganda
ideoló gica, faziam corridas ao armamento, organizavam açõ es de espionagem, etc…
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É importante referir que ainda o fim da guerra estava longe de todas as previsõ es,
já as forças democrá ticas ocidentais representadas pela Inglaterra e EUA revelavam as
suas preocupaçõ es relativamente à definiçã o do novo quadro geopolítico do mundo pó s-
guerra, perante os sinais expansionistas evidenciados por Estaline.
Em relaçã o aos EUA e à URSS, o confronto ideoló gico entre as duas superpotências
materializou-se na organizaçã o de alianças entre os países de cada um dos blocos. A ruína
econó mica da Europa ocidental e o perigo de os países resvalarem para o campo
comunista, levou o presidente Truman a conceber um plano de recuperaçã o econó mica
europeia. O presidente norte-americano já havia anunciado, em março de 1947, um
programa de ajuda militar e econó mica à Grécia e à Turquia, ocasionado pelo inesperado
anú ncio do governo britâ nico, apenas duas semanas antes, de que já nã o podia suportar os
custos de apoiar aqueles dois países. O Plano Marshall (Economia Recovery Program),
anunciado em junho de 1947, foi proposto no sentido relançar imediatamente a economia
europeia, para permitir a posterior autonomia nacional de cada país. Mas era necessá rio
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Histó ria do Mundo Contemporâ neo
decidir quais os países que deveriam receber os empréstimos. Era preciso criar
mecanismos que permitissem o pagamento posterior desses capitais emprestados.
Entre 1945 e 1949, os EUA apareceram como uma potência “super imperialista”
numa época de necessidade e de carência econó mica e produtiva. Por outro lado, viam
agora nascer um novo rival econó mico e ideoló gico, capaz de contaminar a Europa que se
encontrava em ruínas, e, por isso, havia uma grande preocupaçã o em conter o avanço da
esfera soviética. Havia uma preocupaçã o, desde logo na Grécia, onde se temia que os
soviéticos avançassem, pois a Inglaterra nã o tinha forças para intervir e, caso nã o
houvesse uma substituiçã o por parte dos americanos, supunha-se que os soviéticos
avançassem. Neste período de recessã o econó mica, dada a grande influência da URSS,
França e a Itá lia faziam parte das grandes incertezas no que diz respeito ao benefício do
Plano Marshall - o comunismo estava muito presente e era capaz de ganhar as eleiçõ es,
pelo que os países estavam ainda em estudo. Em 1948, houve eleiçõ es em Itá lia, e os EUA
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Histó ria do Mundo Contemporâ neo
fizeram tudo para impedir a chegada do comunismo ao poder. Desta forma, foi possível
impedir o poder comunista e houve meios para dar ajuda aos italianos.
Com o Plano Marshall, os EUA conseguiriam ver quais os países que poderiam
servir de aliados e também encontrar destinos de exportaçã o de capital. Os americanos
nã o podiam abdicar da economia japonesa e foi, entã o, criado o Plano Dodge, com as
mesmas características do Marshall, para desenvolver o Japã o e para exportar o capital
americano.
A URSS ocupava também uma política anticolonial, mas ao mesmo tempo não
queria estragar as relações que tinha com os outros países. Nos anos 20 tinha
discutido a questão colonial, e uma maneira de dar resposta às guerras civis dentro
do seu território era levar a corrente comunista a esses governos, pelo que a URSS
apoiou também partidos comunistas aquando das eleições em países asiáticos. No
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entanto, caso houvesse outros movimentos com maior hipótese de sucesso, era
esses que a URSS apoiava. Os soviéticos tinham o facto de outros países não terem a
situação política definida para não fazerem muita pressão anticolonial. Eram países
com colónias, mas que hesitavam sobre o que fazer em termos de blocos. Um dos
exemplos é a Itália. Neste contexto, os soviéticos não queriam tomar uma postura
anticolonial, para não empurrar os países para fora da sua área de influência.
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Histó ria do Mundo Contemporâ neo
Inglaterra. A Inglaterra teve a ideia de formar uma organização para integrar esses
estados “livres”, a que Liga Árabe.
Por fim, o Movimento dos Não Alinhados. Foi um fenómeno acentuado nos
anos 50 e desenvolveu encontros regulares para servir de contrapesa às mais
poderosas metrópoles. A sua criaçã o remonta à Revoluçã o Russa: muitas das populaçõ es
asiá ticas que tinham sido conquistadas pelos bolcheviques decidiram organizar uma
assembleia – Congresso do Médio Oriente – em 1920. Isto deu origem a outras reuniões
e congressos que viriam a motivar o MNA. Este era formado por estados asiáticos e
africanos, por países recém-emancipados da dominação colonial e que tinham em
vista a denúncia e condenação do colonialismo. Mas muitos dos Estados ainda não
eram independentes. Quando se deu a independência de muitos desses, criou-se um
esboço para a primeira conferência: Asian Relations Conference, na Nova Deli,
mesmo antes da independência da Índia. Importa ressalvar que aquele dito
Movimento dos Não Alinhados surgiu em 1955, na Conferência de Bandung, com
estados, como já referi, independentes.
Como uma das consequências da II Guerra Mundial foram o fim dos Impérios
Coloniais, iniciou-se assim a época das descolonizações. Estas descolonizações
formais foram constituídas por 3 vagas:
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“ (…) os povos das colónias não querem mais viver como no passado. As classes
dominantes das metrópoles já não podem governar as colónias da mesma forma. As
tentativas de esmagamento dos movimentos de libertação nacional pela força militar
chocam (…) com uma residência armada crescente dos povos colonizados e
conduzem a guerras coloniais prolongadas: os Países Baixos, na Indonésia, a França,
no Vietname.”
Andrei Jdanov, secretá rio do Comité Central do Partido Comunista da URSS, em 1947
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Em meados do século XIX, praticamente todo o territó rio indiano estava sob
administraçã o inglesa, uns sob administraçã o direta e outros através do Rajput (os Rajá s
governavam mas atendiam à Inglaterra). Era uma manta de retalhos fiscalizada pelos
ingleses, pois estes controlavam a política externa e o essencial da política interna. Quase
metade do rendimento líquido indiano era canalizado para a Inglaterra. O mercado estava
protegido por ela.
Antes da I Guerra Mundial, o governo Inglês até chegou a fazer algumas concessõ es
à s regiõ es indianas, como a participaçã o de conselheiros locais nos conselhos
governativos. Mas isto era compensado com o aumento de impostos sobre a populaçã o.
Como nã o houve uma grande abertura política, o partido reorganizou-se e passou a ter
uma implantaçã o popular enorme.
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escala. Quando a Inglaterra os quis reunir, já nã o havia relaçõ es amigá veis entre as duas
organizaçõ es. O Partido do Congresso, das elites hindus (unidade cultural, cuja base era
religiosa), liderado por Gandhi e Nehru, mostrou-se favorá vel à manutençã o da uniã o
indiana, uma ideia contrariada pela Liga Muçulmana, de Muhammad Ali, que propô s a
divisã o do territó rio em duas partes. O partido indiano foi forçado a ceder e a aceitar a
divisã o. Colocou-se a questã o de potenciar a independência de dois territó rios, proposta
que nã o foi aceite pelo partido do Congresso. Mountbatten propô s entã o aos Rajá s que
escolhessem em qual dos dois países que daí iriam surgir é que queriam viver. No fundo,
que certas localidades pudessem escolher as suas preferências.
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Nos finais da década de 90 houve um agravamento das relaçõ es, já tensas, entre a
Índia e o Paquistã o por ocasiã o da corrida à s armas nucleares e, mais tarde, da eclosã o de
um quarto conflito armado (a Guerra de Kargil). De facto, esta guerra deve ser analisada
tendo em conta três fases sequenciais. Em primeiro lugar, a “captura” paquistanesa de
territó rios estrategicamente vitais pertencentes à Caxemira indiana. À medida que as
semanas iam passando, variadíssimas operaçõ es eram postas em prá tica em Kargil pelos
respetivos infiltradores, no sentido de desafiar o domínio indiano na regiã o, tentando
derrubá -lo de vez. Quando, em maio de 1999, Atal B. Vajpayee teve conhecimento deste
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processo infiltrador, foi lançada uma outra operaçã o (a Operaçã o Badr), de maior
dimensã o, que acabou por dar início à quarta guerra indo-paquistanesa. Em segundo
lugar, as forças indianas protegeram estradas de grande importâ ncia estratégica. Por fim,
houve o recuo das tropas paquistanesas e dos respetivos infiltradores da regiã o.
Coló nia holandesa desde o século XVII, o vasto arquipélago indonésio foi ocupado
pelos japoneses durante a II GM, dada a sua riqueza em matérias-primas. O Japã o teve um
grande efeito dissolvente na Á sia colonial e queria estimular o nacionalismo local, de
modo a que a regiã o indiana se pudesse desligar das antigas metró poles. Para tal,
conseguiu o apoio de homens importantes (pertencentes a algumas elites) com a
promessa de independência – 1945. Aparecia como libertador do colonialismo ocidental,
embora tenha feito recrutamento de capital humano para força de trabalho e de guerra.
Os laços de uniã o entre a Holanda e a Insulíndia encontravam-se num ponto tal por
esta altura que, dois dias depois da capitulaçã o do Japã o, os nipó nicos nã o cumpriram a
promessa, pelo que a Indonésia alcançou a independência sozinha e instaurou a repú blica
em agosto de 1945 por Sukarno e Hatta. Depois, os japoneses tentaram recuperar algumas
ilhas, mas já que eram independentes, os indonésios nã o o permitiram. No entanto,
acabaram por ceder-lhe algumas ilhas para que tivessem acesso a matérias-primas.
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Entre estes territó rios e a Birmâ nia, estava um outro que nenhuma das potências
havia ocupado: o Siã o (actual Tailâ ndia), que serviu de “tampã o” entre uma zona e outra.
Mais tarde, viria a ser acordada a criaçã o de uma zona republicana no Norte do
Vietname e, no Sul, uma zona de controlo colonial francês. Os EUA, que sempre se
declararam anticolonialistas, nã o queriam que o Movimento Nacionalista invadisse a á rea
colonial francesa, e tudo fizeram para que isso nã o acontecesse. Mas tal nã o aconteceu.
Houve uma violenta guerra civil entre 1946 e 1954 (a Guerra da Indochina). Aliá s, as
políticas dos franceses e dos vietnamitas eram inconciliá veis, já que a França queria
restabelecer o regime colonial. Os EUA intervieram e envolveram-se na Guerra, pelo lado
da França, nã o querendo igualmente a independência do Vietname. Já os vietnamitas eram
representados pelos nacionalistas (apoiados por chineses e soviéticos).
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Em 1954, realizou-se, no final da Guerra com vitó ria para os vietnamitas, uma
conferência em Genebra que dividiu oficialmente o Vietname em duas zonas distintas:
Vietname do Sul, que seria regido pelos EUA; e Vietname do Norte, que seria
independente.
A descolonizaçã o da Á sia durou de 1947 até 1954, e foi a partir destes conflitos
houve uma crescente preocupaçã o da ONU em intervir nas seguintes descolonizaçõ es.
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A partir do séc. XVI, a Coreia foi alvo de incursõ es estrangeiras: China, Japã o,
Rú ssia e potências ocidentais. A partir do séc. XX, o Japã o tornou-se dono da península da
Coreia, anexando-a definitivamente em 1910. Como resposta a este ato, formou-se, em
seguida, uma resistência nacionalista contra a ocupaçã o japonesa.
Durante a 2ªG.M., essa resistência foi liderada por comunistas, com o apoio da
URSS. Isso fez com que os aliados aprovassem e apoiassem a Independência da Coreia.
Quando o Japã o abandonou a Coreia, em 1945, os americanos pretendiam que os
soviéticos declarassem guerra à China, o que levou à sua instalaçã o na Manchú ria. Os dois
grandes vencedores, os EUA e a URSS, optaram por ocupar e dividir a Coreia pelo paralelo
38 (segundo a Conferência de Postsdam), até que fossem realizadas eleiçõ es e o povo
decidisse livremente o seu destino. Cada parte da Coreia realizou eleiçõ es. No territó rio
controlado pelos soviéticos venceu o partido comunista, enquanto no Sul, controlado pelos
norte-americanos, venceram os liberais. O pretexto era garantir a liberdade da Coreia,
eliminando-se por completo a presença japonesa.
O acordo era que, depois das eleiçõ es, as tropas soviéticas e americanas retirar-se-
iam. As forças de ocupaçã o da URSS saíram em janeiro de 1949, deixando ao governo do
norte um significativo arsenal de armas.
O acordo era que, depois das eleiçõ es, as tropas soviéticas e americanas retirar-se-
iam. As forças de ocupaçã o da URSS saíram em janeiro de 1949, deixando ao governo do
norte um significativo arsenal de armas. A 24 de janeiro de 1950, os norte-coreanos
exigiram a retirada dos norte-americanos do territó rio sul. Como estes nã o o fizeram,
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iniciou-se uma campanha militar. Três dias depois, os norte-coreanos conseguiram ocupar
Seul, capital do sul.
A URSS pensou que os EUA nã o iam defender a Coreia do Sul, porque o secretá rio
de Estado da administraçã o Truman tinha definido, no início de janeiro de 1950, as zonas
de defesa da política da contençã o, ou seja, Estaline concluiu que os norte-americanos
iriam deixar essas zonas ao domínio soviético. Mas, contrariamente ao que o líder
soviético tinha pensado, Truman autorizou as suas tropas a apoiar a Coreia do Sul. Apesar
disso, a açã o militar teve limites. O presidente norte-americano estava preparado para
conter o avanço comunista, mas nã o estava pronto para uma guerra ató mica.
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Até à I Guerra Mundial, grande parte do Médio Oriente estava sob o poder do
Império Otomano. Era uma divisã o administrativa do Império Otomano, sendo gerida por
governantes locais e organizada em províncias cujas delimitaçõ es físicas eram mutá veis.
Para os europeus é uma expressã o que representa a zona intermediá ria entre o Pró ximo
Oriente (península balcâ nica) e o Extremo Oriente (Coreias, Japã o e China). Ao longo dos
anos, o Império Otomano perdeu alguns territó rios e dividiu-se devido à s potências
imperialistas, nomeadamente a França e a Inglaterra. Nas vésperas da IGM, este império
englobava uma parte maioritariamente de língua turca e compreendia todas as regiõ es
á rabes. A Alemanha era a potência com mais influência na política otomana. Portanto, era
inevitá vel que o Império Otomano entrasse na IGM ao lado da Alemanha. Isso acabou por
trazer vá rias complicaçõ es.
Os ingleses (instalados no Egito desde o século XIX), para abrir uma frente militar
na guerra, pensaram nas elites á rabes que se manifestavam contra a independência do
Império Otomano. Os aliados exploraram esta situaçã o e, em 1916, é organizada a Revolta
Á rabe contra o Império Otomano. Os ingleses convenceram o xerife Sharif Hussein a
organizar, fomentar e dirigi uma revolta dentro do pró prio Império Otomano, com a
promessa de que no final da guerra toda aquela zona seria um califado á rabe. Era a
primeira promessa inglesa para levar os á rabes a lutar contra os otomanos. Os otomanos
acabaram por ser expulsos.
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Com isto, conseguiu-se abrir uma frente até ao territó rio turco e vencer as forças
militares do Império Otomano. No entanto, era necessá rio cumprir a promessa feita aos
á rabes: a criaçã o de um grande Império Á rabe. Esta promessa nã o era compatível com o
acordo de Sykes-Picot. Uma outra promessa dos ingleses foi feita ao Movimento Sionista e
foi a criaçã o de um destino de emigraçã o da populaçã o para a zona da Palestina. O
Sionismo era um movimento de cariz religioso e político que defendia a fundaçã o de um
Estado judeu na Palestina, uma regiã o com populaçã o maioritariamente á rabe. Nasceu no
final do século XIX na Europa Central e Oriental como um movimento de revitalizaçã o
nacional. Os sionistas queriam, entã o, um territó rio autó nomo na Palestina. O movimento
defende a manutençã o da identidade judaica, opondo-se à assimilaçã o dos judeus pelas
sociedades dos países em que viviam.
Porém, esta declaraçã o inglesa iria aumentar as questõ es problemá ticas na regiã o.
Estava, entã o, previsto um conjunto de cená rios (Declaraçã o de Balfour; Grande Império
Á rabe; e Acordo Sykes-Picot) que nã o era possível acontecerem em simultâ neo.
A soluçã o foi cumprir o que era possível (com base no Tratado de Versalhes), por
forma a manter todos os envolvidos satisfeitos. No final da IGM, do acordo Sykes-Picot,
surgiu a criaçã o de pequenos estados, ao invés de duas grandes zonas: a Inglaterra ficava
com o Iraque (englobava duas grandes reservas de petró leo, uma a norte [curda] e outra a
sul [xiita], o que levou ao estabelecimento de uma fronteira com a Turquia) e com a
Transjordâ nia. Dentro da zona francesa, os ingleses tinham prometido o reino á rabe. A
Síria ficou sob administraçã o francesa, tal como o Líbano (novo Estado criado e que
mesclava bastantes religiõ es).
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A regiã o entre a Península do Sinai, o Líbano, a Síria e a Transjordâ nia era uma
zona bastante problemá tica. Entre 1919 e 1920, criou-se a Palestina, que ficou com o
estatuto de mandato da SDN, confiado aos ingleses. Na Ará bia Saudita, os saudis
derrubaram os axumitas no final dos anos 20.
Este era o contexto das comunidades da Palestina, Síria, Líbano e da Mesopotâ mia,
doravante separadas do Império Otomano e administradas por mandatá rios enviados por
Londres e Paris. Assim, no final da guerra a parte á rabe foi dividida em vá rios territó rios
sob influência inglesa e francesa, potências imperialistas ocidentais que se encontravam
em declínio, apesar do domínio sobre esta regiã o que foi fornecido pelo final da IGM.
Com isto, a criaçã o de um grande Império Á rabe foi anulada. Para manter todos
contentes, os Ingleses cederam o reino da Transjordâ nia e o Iraque aos filhos do Xerife de
Meca, família Hussein. A Inglaterra esperava que estas dinastias ficassem pró -inglesas,
juntamente com as dinastias da Ará bia, que foram mais tarde substituídas pela família
Saud.
Isto levantou cada vez mais a tensã o social, e o dirigente religioso Al-Hussein
começou a centrar à sua volta os colonos sionistas, que compravam terras tendo em vista
o seu plano de instaurar um Estado Judaico na Palestina, como já foi referido. Foi desta
forma que, nos anos 20, foram criadas organizaçõ es palestinianas que tinham como
objectivo criar um referendo, e assim acabar com o mandato, ou seja, teriam que arranjar
outra soluçã o política para a Palestina. Criou-se assim o Conselho Nacional Palestiniano
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Ao chegar a II Guerra Mundial, os ingleses já viam que só havia uma hipó tese de
contornar estes conflitos e parar as guerras: ou criar dois estados na Palestina ou parar as
emigraçõ es sionistas para a Palestina. Assim, em 1936, os britâ nicos nomearam a
Comissã o Peel, destinado a unir esforços diante da liderança judaica
Optaram, entã o, por criar dois Estados, um para os á rabes e outros para os
sionistas, o que pô s fim ao mandato britâ nico. Esta soluçã o política foi muito difícil de pô r
em prá tica: a zona á rabe ficava separada em dois territó rios no meio de todo o territó rio
judaico. Esta soluçã o nã o era aceite por ninguém – os á rabes nã o queriam a divisã o da
Palestina e judeus nã o queriam a coexistência com um Estado á rabe. (Zona Á rabe – actual
Cisjordâ nia + territó rio conhecido Faixa de Gaza).
A guerra nã o foi justa para ambas as partes, já que os sionistas tinham o apoio dos
EUA e possuíam treino militar profissional, enquanto as tropas á rabes eram muito mais
fracas em armamento e inteligência militar.
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Desta guerra resultou um fenó meno irreversível e que é algo em vigor ainda hoje:
expulsã o da populaçã o á rabe do territó rio da Palestina. Cerca de 700 mil palestinianos
á rabes foram recambiados para campos de refugiados.
Tudo isto trouxe dificuldades. Desde 1960 que os palestinianos nunca conseguiram
nada a nível político.
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Os ingleses ocuparam o Egito em 1882, como estratégia para chegar à Índia. Desde
esse ano até ao fim da I Guerra Mundial que o Egito era um condomínio anglo-egípcio.
Depois da Guerra, e dada a situaçã o inglesa, a Inglaterra teve de fazer concessõ es aos
egípcios, a nível político. O movimento nacionalista egípcio ganhou a maioria da
assembleia legislativa local. Perante o exílio do líder do partido, o país levantou-se na
primeira revolta da sua histó ria moderna. As constantes rebeliõ es por todo o país levaram
a Grã -Bretanha a proclamar, unilateralmente, a independência do Egipto, em 1922.
Declarou-se terminado o protectorado e deu a independência nominal ao país. Foi criado
um reino, governado pelo Rei Fuad I.
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Nasser aumentou muito a sua base de apoio, porque tinha uma visã o de
desenvolvimento do país. Levou a cabo uma reforma agrá ria, projecto que fez com que a
junta militar ganhasse muita popularidade entre os nacionais e, até mesmo, estrangeiros.
Em 1957, dá -se a Crise do Suez e isto foi o que deu mais visã o a Nasser para o projecto de
desenvolvimento do país. Nasser queria melhorar a agricultura e desenvolver a Indú stria.
A agricultura egípcia estava muito dependente das cheias do Nilo e também a Indú stria
poderia vir a depender muito do rio, através da criaçã o de electricidade gerada por uma
barragem. Era para essa infraestrutura que Nasser precisava de adquirir recursos – podia
pedir ajuda à Inglaterra, mas isso nã o seria fá cil de obter dignamente. Os ingleses estavam
de saída, mas nã o queriam perder as suas posiçõ es no Médio Oriente. Influenciaram os
americanos a nã o emprestarem capital aos egípcios.
Entã o, Nasser nacionalizou, sem indemnizaçõ es, o Canal do Suez. O recurso que
apresentava para gerar dinheiro era o
Canal do Suez, companhia privada do século XIX e que constituía o principal ativo do Egito.
No fundo, esta açã o de Nasser tratava-se de uma declaraçã o de guerra a ingleses e
franceses.
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Isto, como seria de esperar, desagradou aos ingleses e foi daí que surgiu uma crise entre a
Inglaterra e o Egito. Isto convenceu os ingleses de que nã o havia condiçõ es para manter o
Canal, e decidiram dedicar-se a derrubar Nasser.
Além disso, também a França queria ver o Egito derrotado, já que o país dava apoio
aos Movimentos pela independência da Argélia. Havia também um grupo de irmã os
muçulmanos que queriam derrubar Nasser, e a Inglaterra sabia que o apoio destes dois
seria indispensá vel.
Para tentar derrubar Nasser, Inglaterra planeou uma ofensiva militar coordenada.
O plano era Israel fazer um ataque preventivo ao Sinal (Estado Egípcio) e formar um corpo
expedicioná rio franco-britâ nico; depois, com o pretexto de proteger o Canal, os franceses e
ingleses ocupariam o Suez. Israel invadiu, entã o, o Estado egípcio do Sinai e, três dias
depois, os franceses e os ingleses invadiram e ocuparam o controlo do Canal do Suez –
1956. Isto gerou uma guerra política sem precedentes, a Crise do Suez.
Num primeiro momento, Israel hesitou, pois tinha a consciência de que estava a
ser usado pelos interesses imperialistas das potências. No entanto, a razã o da sua
aprovaçã o ao convite dos ingleses e franceses prendeu-se com a entrada de reatores para
aquecer o urâ nio.
Em 1957, dá -se a Crise do Suez e isto foi o que deu mais visã o a Nasser para o
projecto de desenvolvimento do país. A tentativa de forçar o Egito a assinar um ultimato
fracassou. Como tal, os britâ nicos resolveram bombardear os campos aéreos egípcios. Os
EUA viriam a entrar nestes conflitos como aliados do Egito, já que nã o lhes convinha ser
contra os á rabes devido à sua posiçã o relativamente ao Médio Oriente. Confrontados com
a possibilidade de os soviéticos apoiarem os egípcios, os EUA patrocinaram o debate de
uma resoluçã o pacífica. Por outro lado, aos ingleses nã o convinha entrar numa guerra
nuclear com os EUA. O cessar-fogo tornara-se inevitá vel pelo desgaste das forças
britâ nicas. A 5 de Novembro os combates cessaram, e no ano seguinte (1957) o primeiro-
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ministro inglês abandonava as suas funçõ es, perante uma derrota inequívoca. A Inglaterra
e França perderam a sua influência, sendo humilhados com a expulsã o do Egito. Foi o fim
da influência europeia no Médio Oriente, consolidando a influência de Nasser. Israel ficou
totalmente associado ao bloco ocidental, havendo um aumento da influência dos EUA e da
URSS.
Depois desta crise, Nasser saiu como heró i dos á rabes. Isto deu-lhes a esperança
novamente da criaçã o de um grande Império Á rabe no Médio Oriente, englobando agora o
Egito (principal país á rabe). De resto, entre 1922 e 1952 houve, no Egito, uma discussã o
relativamente à identidade do povo egípcio: devia ser á rabe no sentido religioso
(somente) ou á rabe no sentido cultural, laico e político?
No Médio Oriente, havia a ideia de criar uma aliança defensiva, que tinha sido
lançada pelos ingleses para defender o Médio Oriente dos eventuais ataques do Egito. Os
povos á rabes do MO nã o queriam fazê-lo, já que a aliança seria patrocinada por um país
estrangeiro do Ocidente. (Médio Oriente – Turquia, Jordâ nia, Iraque e Irã o).
Conclui-se assim que a maior oposiçã o ao colonialismo britâ nico veio do Egipto,
que conseguiu a independência em 1953 depois de alguns anos de confronto entre a
resistência nacionalista e as tropas moná rquicas. A luta dos egípcios foi determinante para
a descolonizaçã o do mundo africano, uma vez que serviu de exemplo para países como o
Sudã o, que rapidamente se empenhou na conquista da independência (1956).
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A actual revoluçã o na Líbia tem origens anti arabistas – Kadhafi é Nasserista – pan-
arabista. Daqui é possível perceber a influência que Nasser teve e ainda tem na Política
Norte Africana/Á rabe. Os países ocidentais desde sempre viram o Movimento pan-
arabista como uma ameaça.
A Argélia era a ú nica coló nia francesa – o resto eram protectorados. A França dizia
que o territó rio argelino era uma extensã o mediterrâ nica do territó rio francês, tendo em
conta o clima e as condiçõ es idênticas.
Entre as duas guerras, esta regiã o foi administrada sem grandes problemas (com a
exceçã o do Egito). Nos anos de 1930 havia já uma burguesia argelina, um Partido Popular
Argelino (apoiado pela URSS) e movimentos independentes (liderados por Messali Hadj e
Ferhat Abbas).
É importante ter em conta que, entre 1945 e 1954, nada aparente ocorreu na
Argélia: nada mudou politicamente; o PPA transformou-se no MTLD (Movimento para o
Triunfo e Liberdade Diplomá ticos) tendo como grande figura Messali Hajd que, ao ver que
a influência do MTLD era quase nula, criou o CRUA, um Movimento clandestino; dentro do
CRUA, foi criado um braço, a Frente de Libertaçã o Nacional, que atacava exploraçõ es
agrícolas francesas na Argélia – FLN começou a ser apoiada, nã o publicamente, pelo Egito.
Criou-se no Cairo um grande Movimento pan-arabista anticolonial: o Comité de
Mobilizaçã o do Magrebe.
Com a colonizaçã o, a Argélia criou duas grandes cidades que baseavam a sua
economia no comércio de exportaçã o: Argel e Oran. A FLN começou a tentar fechar as
fronteiras ao exército francês – começou a guerrilhar em finais de 1954: nesta altura, já a
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Em virtude da derrota italiana na IIGM, a Líbia, outrora coló nia italiana, passou
para mandato da ONU. Restava o caso da Argélia, a primeira coló nia francesa, do ponto de
vista cronoló gico e da implantaçã o dos interesses franceses. Tinha mais de um milhã o de
colonos franceses, que se tinham apropriado das mais profícuas terras do litoral. Os
franceses tinham um grande interesse pelo facto de terem sido descobertas grandes
reservas de petró leo e gá s natural na zona saariana da Argélia. Portanto, nã o estavam
dispostos a abdicar da Argélia sem as devidas contrapartidas.
Era um clima insustentá vel para as populaçõ es á rabes. O francês era a língua
administrativa, mas a língua principal é o Amazigh. A partir de 1954 (até 1962), os
franceses começam uma guerra anticolonial na Argélia (primeira grande guerra colonial
em Á frica, uma das mais violentas). A Argélia é, deste modo, obrigada a enfrentar uma
guerra prolongada de libertaçã o em virtude da resistência dos colonos franceses, que
dominam as suas melhores terras. A opiniã o pú blica sofreu negativamente o efeito
antiguerra – o recrutamento militar era obrigató rio em França, pelo que as suas tropas
foram mobilizadas para a Argélia. O exército francês bem fazia força para que se
resolvesse a situaçã o através do meio militar, para que assim se pudesse redimir da
Guerra do Vietname. Os franceses, que tinham perdido a Indochina, nã o queriam perder a
Argélia.
A FLN tinha o apoio do Nasser e resolveu levar a guerra para as duas principais
cidades: Argel e Oran. Fizeram isto estrategicamente, para que os colonos (os franceses)
nã o se pudessem esconder nas cidades.
Apesar dos esforços e dos progressos na contençã o de revoluçõ es, era impossível
controlar a situaçã o. Os governos caíam e chegou-se a um ponto em que se resolveu
chamar o militar que sempre criticou a IV Repú blica Francesa para pô r ordem a Argélia.
De Gaulle formou um governo em 1958, mas exigiu a mudança na Constituiçã o Francesa -
foi votada uma constituiçã o presidencialista, desistindo do regime parlamentar. Isto foi
uma consequência direta da crise na Argélia que, na altura, estava longe de acabar.
De Gaulle achava que a França tinha um problema com a imposiçã o de poder. Foi à
Argélia, onde achavam também que ele era melhor hipó tese para a satisfaçã o dos
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Depois dos acordos de Evian, em julho de 1962, a situaçã o caó tica voltou à Argélia.
Houve uma guerra, na qual morreram 30 mil franceses e cerca de 250 mil ará bes. A
situaçã o era insustentá vel para a Vª Repú blica francesa e para a FLN.
Nesta altura, tentaram matar de Gaulle, no verã o de 1962, numa operaçã o levada a
cabo pela OAS – Organization Armée Secrete. A França começou a evacuar a Argélia, epois
de vá rios atentados, a ataques bombistas e guerrilhas. Os colonos franceses começaram a
sair do territó rio argelino e eram rejeitado pelos “verdadeiros” franceses, que lhes
chamavam Pieds Noirs.
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e polos de industrializaçã o). Como tal, nos anos 60, Angola tinha uma taxa de crescimento
muito alta enquanto a Á frica do Sul era um país desenvolvido.
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A França ficou desligada das suas coló nias durante a II GM. Nã o estava disposta a
ter mais guerras coloniais e nã o tinha qualquer interesse em manter o controlo sob as suas
regiõ es na Á frica Subsariana. Apenas queria manter a sua rede de influência na AEF e na
AOF.
Logo a seguir à Guerra, já na IVª Repú blica, houve grandes mudanças na forma de
administraçã o das coló nias. Houve um grande crescimento econó mico: os países atingidos
pela Guerra estavam a reindustrializar-se e as matérias-primas tornaram-se muito caras:
as metró poles tentaram valorizar os seus territó rios coloniais com investimentos em
infraestruturas, administraçã o, etc.; enquanto antes da guerra as coló nias tinham que
pagar as pró prias despesas, agora as metró poles investiam muito capital nelas, para
lucrarem mais depois; para as metró poles, havia sistemas políticos diferentes entre elas e
as suas coló nias, e por isso achavam que as coló nias necessitavam de leis diferentes; tudo
o que aconteceu aquando e depois da guerra fez com que houvesse uma mudança na
forma de tratamento das coló nias, por parte das metró poles.
No entanto, a França fez uma federaçã o com governos pró prios e a devida divisã o
dos territó rios que aceitaram ser autó nomos dentro da comunidade francesa. Para muitos
dirigentes africanos, isto representava uma divisã o de fronteiras. Começou a existir uma
fixaçã o de fronteiras que a maior parte dos países nã o queria. Portanto, nã o aceitavam a
divisã o territorial. Um deles foi a Costa do Marfim, uma coló nia bastante rica e que se
tornou na maior exportadora de cacau. Esta naçã o exigia fronteiras mais pequenas, visto
que o territó rio que a rodeava era pobre e em nada lhe favorecia. Quando alguns deles
viram que nã o era bom fazer parte da federaçã o, entre 1958 e 1960 começam a pedir
unilateralmente a independência. Em 1960 (o ano de Á frica), praticamente todos tinham
encontrado os caminhos da independência, rompendo os laços políticos com França.
Assim, os países finalmente puderam fazer as suas pró prias fronteiras. Desta forma, os
países ricos nã o se prejudicavam e deixavam de estar ligados aos outros países pobres da
Á frica Ocidental.
Em 1971, a situaçã o de Á frica era semelhante à de 1964. Ainda assim, foi na Á frica
Austral que se deu a terceira fase das descolonizaçõ es. A situaçã o nã o estava normalizada
nas coló nias portugueses, na Rodésia e na Á frica do Sul. Os territó rios da Á frica Austral sã o
considerados mais desenvolvidos Eram zonas onde havia zonas mineiras, grandes
investimentos externos, populaçã o europeia e industrializaçã o. Como suscitavam mais
interesses e as metró poles nã o estavam dispostas a abdicar deles, existiram grandes
obstá culos a um processo de independência pacífico. Este foi, portanto, mais complexo e
mais tardio do que os restantes países de Á frica.
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Portugal teve três impérios coloniais: nos séculos XVI e XVII, tinha a Índia e o
Oriente; no século XVIII, tinha o Brasil; e nos séculos XIX e XX, tinha a Á frica – Guiné,
Angola, Moçambique, Cabo Verde e Sã o Tomé e Príncipe). Os regimes políticos
portugueses foram determinados pelo factor colonial. No terceiro e ú ltimo império
colonial, Portugal ainda possuía “restos” de territó rios coloniais na Á sia: Índia (Goa,
Damã o e Diu), Indonésia (parte da ilha de Timor) e China (Macau). Estes territó rios,
organizados pela Iª Repú blica, foram depois reorganizados pelo Estado Novo. Criou-se um
documento chamado Ato Colonial, que propunha uma Repú blica Administrativa
Ultramarina. A aprovaçã o do Ato Colonia evidencia bem as preocupaçõ es com a política
colonial. Efetivamente, o Ato Colonial de 1930 definia a posiçã o política do regime em
relaçã o à s coló nias portuguesas. A Repú blica Administrativa Ultramarina completava,
também, o estatuto de indigenato. Os portugueses precisavam de força de trabalho e
criaram um estatuto diferente para os trabalhadores africanos. O Estatuto só se aplicava à s
coló nias africanas e chegou a ser actualizado nos anos 60, vindo, mais tarde, a ser anulado.
Nos anos 50, Angola começou a articular-se uma resistência multifacetada contra o
domínio colonial, impulsionada pela descolonizaçã o que se havia iniciado no continente
africano, depois do fim da IIGM. Esta resistência, que visava a transformaçã o da coló nia de
Angola num país independente, desembocou a partir de 1961 num combate armado
contra Portugal. Dá -se início à guerra de libertaçã o pelas forças da UPA/FLNA (apresenta
vínculos com o Congo, EUA e Zaire). Mais tarde, a luta estender-se-ia a todo o territó rio
angolano por açã o do MPLA (cuja principal base social eram os Ambundu e a populaçã o
mestiça bem como partes da inteligência branca, e que tinha laços com partidos
comunistas em Portugal, a URSS e países escandinavos) e da UNITA (socialmente
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enraizada entre os Ovimbundu e beneficiá ria de algum apoio por parte da China):
Logo depois do início do conflito armado, uma "ala liberal" no seio da política
portuguesa impô s uma reorientaçã o incisiva da política colonial. Revogando já em 1961 o
Estatuto do Indigenato e outras disposiçõ es discriminató rias, Portugal concedeu direitos
de cidadã o a todos os habitantes de Angola. A finalidade desta reorientaçã o foi a de ganhar
"mentes e coraçõ es" das populaçõ es angolanas para o modelo de uma Angola multirracial
que continuasse a fazer parte de Portugal, ou ficar estreitamente ligado à metró pole.
Esta opçã o foi, no entanto, rejeitada pelos três movimentos de libertaçã o, que
continuaram a sua luta. A frente do exército colonial de Angola, constituído por MPLA e
UNITA, controlou o país. Nos primeiros anos da década de 70, as hipó teses de conseguir a
independência pelas armas tornaram-se muito fracas. Na maior parte do territó rio a vida
continuou com a normalidade colonial. Do ponto de vista militar a situaçã o de Angola
estava está vel, ao contrá rio do ponto político, que nã o tinha uma soluçã o. Este conflito já
estava internacionalizado em 1965. Apesar de nã o concordarem com a política colonial de
Portugal, os EUA mantiveram-se quase “calados”, insistindo apenas em pequenas
reformas. Os americanos queriam que o acordo com Portugal relativamente à base das
Lajes fosse renovado e, para isso acontecer, nã o insistiam muito para Portugal fazer algo
que nã o quisesse. No entanto, os EUA queriam também manter boas relaçõ es com os
movimentos africanos.
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iniciados nas outras coló nias portuguesas da Á frica Ocidental Portuguesa (Angola) e da
Guiné, tornou-se parte da chamada Guerra Colonial Portuguesa (1961- 1974). Do ponto de
vista militar, o exército português manteve o controlo dos centros populacionais,
enquanto as forças de guerrilha procuraram espalhar a sua influência em á reas rurais no
norte e no oeste do país. A primeira vaga de retornados data de 1964.
As três frentes tiveram, ao longo dos 14 anos da guerra, diferentes evoluçõ es. No
princípio de 1970, a situaçã o colonial portuguesa estava mais ou menos controlada. A
guerra em Á frica acabou por ter uma saída. As exportaçõ es faziam-se principalmente para
a Europa e baseavam-se no têxtil e na agricultura. Era, portanto, fundamental assegurar os
mercados europeus. Nos anos de 1970, para entrar na Uniã o Europeia, Portugal tinha de
resolver a guerra em Á frica. Isto levou ao golpe militar de 1974, que tinha como objetivos
o cumprir o famoso movimento dos 3D’s: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar.
Neste processo foram libertadas todas as ex-coló nias portuguesas, exceto Timor.
Em circunstâ ncias dramá ticas, voltaram para Portugal cerca de um milhã o de portugueses
que se tinham fixado no Ultramar. Em 1974, Portugal negociou um acordo com o PAIGC
para a independência da Guiné-Bissau. Este movimento tinha uma particularidade, pois
reivindicava a independência de Cabo Verde, algo que o governo português nã o queria.
Portanto, foi negociado a realizaçã o de um referendo em Cabo Verde. Entretanto, formou-
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se um governo que dominou a Guiné-Bissau e Cabo Verde, antes deste ú ltimo país se
tornar independente em 1975. Os grandes problemas passavam por Moçambique e em
Angola.
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O estrangeiro tratou de dar todo o apoio ao MPLA por causa do petró leo angolano,
que já tinha potencial. Nos anos 80, com a Á frica do Sul, chegou-se à primeira soluçã o
política, em que se previa a retirada dos cubanos e dos sul-africanos e chegou-se a acordo
político para eleiçõ es – acordo Bicesse. Este acordo implicou a desmobilizaçã o da UNITA e
do MPLA e a formaçã o de um governo conjunto. O MPLA ganhou, a UNITA começou uma
guerra civil em 1992 (demorou dez anos). Nesta altura, nã o havia nem apoio russo nem
americano.
A Rodésia do Sul era uma coló nia britâ nica, que desde o século XIX era um país
com colonos europeus. Foi por este motivo que, quando se começou a exigir a
independência, a populaçã o branca, que possuía grande poder naquele local, nã o estava
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Depois de cessar relaçõ es, os ingleses descobriram um país controlado pelo povo
Matabete quando chegaram à Rodésia do Sul. Moçambique entrou em guerra com a
Rodésia e com a Á frica do Sul e deu-se uma guerra civil com uma resistência, a RENAMO,
em 1977. As coisas só melhoraram no final da década. Em 1979, a Inglaterra conseguiu
convencer a Rodésia do Sul a integrar o Sufrá gio Universal, marcado para 1980. Nessas
eleiçõ es, ganhou o partido de Robert Mugabe. Em 1980, a Rodésia do Sul foi reconhecida
como Estado independente, passando a designar-se Zimbabwe. Com a descolonizaçã o
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A Á frica do Sul era uma reuniã o de vá rios estados autó nomos. Os ingleses
instalaram-se no século XIX. No Cabo cria-se uma coló nia inglesa. Por outro lado, nã o
distante do Cabo e do Natal, ficavam as terras povoadas por colonos vindos da Holanda, no
século XVII, e que recebiam o nome de boers. Estas populaçõ es começaram a migrar para
outras zonas da Á frica Austral, estabelecendo outras repú blicas bó er a norte e a leste.
Deste modo, a Á frica do Sul englobava uma populaçã o heterogénea e ficou dividida em
quatro grandes territó rios: Cabo, Natal, Orange e Transval (continha uma zona mineira).
Joanesburgo era uma cidade que permitia um fluxo mineiro entre o sul do Moçambique e o
Transval. Ao longo do século XIX, os ingleses anexaram essas regiõ es, antes de estalar a
Guerra dos Boers.
Oito anos apó s o fim da Segunda Guerra dos Boeres e apó s quatro anos de
negociaçã o, uma lei do parlamento britâ nico criou em 1910 a Uniã o Sul-Africana. A Uniã o
era um estado unilateral de domínio britâ nico que incluía as antigas coló nias holandesas
do Cabo e de Natal, bem como as repú blicas do Estado Livre de Orange e do Transvaal. Os
brancos pobres correspondem aos boers agricultores.
Quando a Á frica do Sul se torna numa zona industrial, a populaçã o bó er, dentro da
europeia, era a maia pobre. Os interesses estrangeiros passavam por um bom
funcionamento da economia sul-africana. Em 1948, o partido nacionalista boer foi eleito
com maioria e chegou ao poder. Este grupo político reforçou a segregaçã o racial, que já
tinha começado sob o domínio colonial holandês e britâ nico. O Governo Nacionalista
classificou todos os povos em três raças, com direitos e limitaçõ es desenvolvidas para cada
uma. A minoria branca controlava a muito maior maioria negra. A segregaçã o legalmente
institucionalizada ficou conhecida como Apartheid. Enquanto a minoria branca sul-
africana usufruía do mais alto padrã o de vida de toda a Á frica (compará vel aos de naçõ es
de países desenvolvidos ocidentais), a maioria negra ficou em desvantagem em quase
todos os aspetos.
Entretanto, o ANC (African National Congress) era um partido que crescia para
combater o regime instaurado. Nos anos 60 e 70, a situaçã o social e política da Á frica do
Sul foi-se degradando cada vez mais. Entretanto, a descolonizaçã o portuguesa tinha um
efeito de contá gio. Fazia-se grande pressã o diplomá tica contra Asul, que continuava a
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