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Ho Chi Minh

Escritos
1919 - 1969

São Paulo. 1ª edição. 2018.


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EDIÇÕES CIÊNCIAS REVOLUCIONÁRIAS –


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Ho Chi Minh Escritos 1919-1969. 1ª Edição. 2018.

ISBN: 978-85-69401-20-9

Tradução: Editorial Maria da Fonte e Ciências Revolucionárias


Diagramação, Capa e Revisão: Klaus Scarmeloto

CIÊNCIAS REVOLUCIONÁRIAS
Rua Larival Gea Sanches, 150 A. Cep: 02409-000. São Paulo – SP.
Telefone: 55-11-9-8379-6236

Editores: Cleide Regina Scarmeloto - Editora, escritora, professora (Pedagogia,


Metodista). Klaus Scarmeloto (Direito, USJT).

Conselho Editorial:
João Rafael Chío Serra Carvalho: Mestre em História Social pela USP,
Doutorando em História Social da Cultura pela UFMG;
Apoena Canuto Cosenza: Mestre em História Econômica pela USP, Doutor
em História Econômica também pela USP;
Lucas Henrique Zubelli Del Giudice: Bacharel em Serviço Social pela UFF.
Klaus Scarmeloto: Bacharel em Direito pela USJT.

Direitos exclusivos para Língua Portuguesa cedidas à Editora Raízes da América.


Índice

Apresentação
Por Apena Canuto Cosenza

Ho Chi Minh – o nome de uma revolução............................................................... 10

Escritos de 1919 - 1969

Reivindicações do povo anamita ................................................................................ 21


Discurso no Congresso de Tours............................................................................... 23
Indochina........................................................................................................................ 25
Manifesto da “União Intercolonial’’ Associação dos indígenas de todas as colônias .... 27
Algumas Considerações sobre a Questão Colonial ............................................... 29
Doze recomendações ................................................................................................... 32
Em uma “Alta Civilização’’.......................................................................................... 35
Igualdade! ....................................................................................................................... 37
Ódio Racial..................................................................................................................... 39
Os Civilizadores ............................................................................................................ 41
A mulher anamita e a dominação francesa............................................................... 43
Civilização Assassina! A Resistência Antifrancesa .................................................. 47
Zoológico ....................................................................................................................... 49
O movimento dos trabalhadores do Extremo Oriente.......................................... 51
Lenin e os povos colonizados..................................................................................... 53
Intervenção Sobre a Questão Nacional e Colonial no 5º Congresso Mundial da
Internacional Comunista ............................................................................................. 55
Linchamentos: aspecto pouco conhecido da sociedade norte-americana ......... 67
Lenin e os Povos Coloniais ......................................................................................... 72
Apelo por ocasião da fundação do Partido Comunista da Indochina ................. 75
A linha do Partido durante o período da Frente Democrática ............................. 78
Carta ao Partido Comunista da Indochina ............................................................... 81
Carta do Estrangeiro .................................................................................................... 83
Diretrizes para Brigada de Propaganda Armada de Libertação do Vietnã......... 86
Apelo a Insurreição Geral ........................................................................................... 89
Carta aos mais velhos ................................................................................................... 91
Declaração da Independência da República Democrática do Vietnã .................. 92
Aos comitês do Vietnã do Norte, do Centro e do Sul, a todos os Comitês de
províncias, de distrito e de comuna ........................................................................... 99
Discurso no início da Guerra de Resistência no Sul do Vietnã...........................101
Apelo a Luta Contra a Fome .................................................................................... 103
Contra o Analfabetismo ............................................................................................ 105
Aos compatriotas do Nan Bo antes das negociações na França........................ 107
Apelo a Resistência Nacional ................................................................................... 108
Ao povo vietnamita, ao povo francês e aos povos aliados.................................. 109
Apelo de 19 de junho de 1947 ..................................................................................112
Aniversário da fundação do Exército de Libertação do Vietnã ..........................116
À conferência do Comitê Geral da Liga da Independência do Vietnã ..............121
Apelo a Emulação Patriótica .................................................................................... 123
À VI Conferência dos quadros do Partido ............................................................ 125
Aos Quadros Camponeses........................................................................................ 128
Carta aos Compatriotas Católicos ............................................................................131
Carta à Conferência dos Sindicatos......................................................................... 133
Resposta sobre a intervenção ianque na Indochina ............................................. 133
Por ocasião do 5º aniversário da Revolução de Agosto e da Festa Nacional... 136
Relatório Político ao II Congresso do Partido dos Trabalhadores do Vietnã . 140
Ao Congresso para a Fusão das Ligas Viet Minh e Lien Viet ............................ 163
Carta aos Pintores....................................................................................................... 165
Os imperialistas jamais escravizarão o povo vietnamita! ..................................... 167
Economizar e lutar contra a corrupção, o desperdício e a burocracia............. 179
Diretrizes quando de uma Conferência sobre a guerra de guerrilha ................. 188
Respostas a um jornalista sueco............................................................................... 195
Relatório apresentado à III Sessão da Assembleia Nacional ............................. 197
Felicitações ao Exército, aos dan cong, aos jovens voluntários e aos compatriotas
do Noroeste ................................................................................................................. 208
Relatório a VI Conferência do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores do
Vietnã............................................................................................................................ 209
VIII aniversário da Resistência Nacional ............................................................... 218
Discurso de encerramento do Congresso da Frente Nacional Única............... 219
O Leninismo e a Libertação dos Povos Oprimidos ............................................. 222
Mensagem à Nação .................................................................................................... 229
Orientações dadas à Conferência sobre educação de massas ............................. 231
Consolidação e desenvolvimento da unidade ideológica entre os partidos
marxista-leninistas ...................................................................................................... 237
Da Moralidade Revolucionária ................................................................................. 243
Relatório sobre o projeto de revisão da Constituição .......................................... 253
Trinta anos de Luta do Partido ................................................................................ 269
Discurso inaugural do III Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores do
Vietnã ........................................................................................................................... 283
O caminho que me levou ao Leninismo................................................................. 291
Alocução na primeira Conferência dos Ativistas da Cultura.............................. 293
A Revolução Chinesa e a Revolução Vietnamita.................................................. 295
Alocução no V Plenário do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores do
Vietnã ........................................................................................................................... 299
Alocução no VII Plenário do Comitê Central do Partido ................................... 301
Alocução na VI Sessão da Assembleia Nacional.................................................. 305
Relatório à Conferência Política Extraordinária ................................................... 308
Alocução por ocasião do XX Aniversário da fundação do Exército Popular.. 319
Alocução na Assembleia Nacional ........................................................................... 321
Apelo à Nação ............................................................................................................ 325
Palestra de um curso de aperfeiçoamento de dirigentes do escalão de distrito329
Mensagem ao Mestre Nguyen Huu Tho ............................................................... 339
A Grande Revolução de Outubro abriu a via para a libertação dos povos ...... 341
Apelo de 20 de julho de 1968 ................................................................................... 351
Votos de Ano Novo .................................................................................................. 354
Por ocasião do retorno às aulas ............................................................................... 355
Apelo à Nação ............................................................................................................ 357
Elevemos a nossa Moral Revolucionária, combatamos o Individualismo ....... 360
Mensagem de Ano Novo.......................................................................................... 363
Apelo de 20 de julho de 1969 .................................................................................. 363
Testamento .................................................................................................................. 367
POEMAS ..................................................................................................................... 371
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Apresentação

Ho Chi Minh – o nome de uma revolução

Por Apoena Canuto Cosenza


Tradicionalmente, o debate intelectual se faz em torno das gran-
des ideias, desenvolvidas por grandes nomes. Na esquerda marxista, isso
não é diferente. As obras de Marx, Engels, Lenin, Gramsci, Lukács, entre
tantos outros, são amplamente debatidas. Em alguns casos, como Stalin
e Mao Tse Tung, suas obras foram alvo de larga difamação. O resultado
é que entre a atual esquerda marxista, poucas pessoas leram Mao e Stalin.
Aqueles que não as leram, em geral o fizeram por preconceito ou puro
desprezo pelas figuras históricas que representaram. Mas, o pensamento
de Stalin e de Mao Tse Tung formaram a base teórica por trás de impor-
tantes movimentos comunistas na América Latina.
O resultado é que o pensamento marxista-leninista de Stalin, e o
pensamento maoísta, jamais desaparecem por completo do debate. No
entanto, quando se trata da discussão das contribuições teóricas e práti-
cas ao marxismo, os nomes de Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap são
injustificavelmente subestimados. Apesar de ser quase unânime que a
guerra entre o povo vietnamita e os Estados Unidos da América marcou
a história da humanidade, as contribuições daqueles revolucionários são
pouco conhecidas.
Em especial no Brasil. A vitória chocante do povo indochinês
contra a maior potência imperialista muitas vezes é tratada como fruto
do (a) esgotamento do próprio imperialismo (e, portanto, não teria sido
fruto do esforço do povo vietnamita); ou (b) fruto da aplicação compe-
tente do marxismo-leninismo, munido das contribuições do maoismo.
É surpreendente que, na América Latina, poucas pessoas reflitam seria-
mente sobre as bases da vitória de um povo contra o colonialismo e
imperialismo ocidental.
A própria escolha do termo Guerra do Vietnã demonstra a falta
de conhecimento que possuímos sobre a vitória do povo indochinês.
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Aquilo que chamamos de Guerra do Vietnã também se denomina de
Segunda Guerra de Libertação da Indochina, que resultou em vitórias
revolucionárias no Vietnã do Sul (e reunificação do Vietnã), no Laos, e
também no Camboja. A Segunda Guerra de Libertação da Indochina
foi, evidentemente, precedida pela Primeira Guerra de Libertação da In-
dochina. Ambas tiveram como arquitetos da vitória os grandes líderes
revolucionários Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap. Também não se deve
menosprezar o papel de um dos maiores discípulos de Ho Chi Minh:
Pham Van Dong. Ho foi uma dessas raras figuras históricas que serviu
de corpo físico para um processo histórico. Nas palavras de Tru’O’Ng
Chinh (que foi secretário geral do Partido Comunista do Vietnã entre
1940 e 1956), pela ocasião do 70o aniversário de Ho Chi Minh: “Na
história das nações, há grandes homens cujas vidas e obras estão intima-
mente ligadas a estágios gloriosos da história de seus respectivos países.
Tais homens simbolizam frequentemente as virtudes mais nobres de seu
povo; durante toda a sua vida, lutam pela liberdade e felicidade de seu
povo, cujas aspirações mais queridas e mais firmes revelam suas palavras
e ações. O Presidente Ho Chi Minh é um homem assim.”
Uma das características do trabalho do tio Ho (como ficou co-
nhecido) era o seu apreço à atenção cuidadosa com a preparação e es-
clarecimento das massas. Acreditava que um revolucionário deveria, ao
mesmo tempo, trabalhar pela elevação do nível de consciência do povo,
mas abraçando os costumes e tradições locais. Para ele, a revolução só
ocorreria se houvesse identidade direta entre o povo e os revolucioná-
rios. Ainda, tinha especial atenção com a adequação tática e estratégica
do movimento revolucionário à cada fase política da luta.
Entre 1919 e 1936, Ho Chi Minh atuou pela formação e conso-
lidação de um Partido Comunista na Indochina. Para atingir esse sucesso
primeiro formou as organizações “União Intercolonial”, Liga da Juven-
tude Revolucionária do Vietnã, e Liga dos Povos Oprimidos da Asia.
Em 1929, as primeiras organizações comunistas surgiram no Vietnã, e,
em 1930, foram unificadas no Partido Comunista do Vietnã, que mais
tarde se tornaria o Partido Comunista da Indochina. Nessa fase, Ho Chi
Minh defendia a formação de uma organização com forte disciplina, que
ao mesmo tempo tivesse um comando consolidado, mas com células
com liberdade de ação (caracterizada pela formulação de um plano de
ação), ao modelo de um exército. O programa da organização deveria
conter a defesa do confisco de terras e empresas dos imperialistas fran-
ceses.
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Dessa fase, são os textos “Algumas Considerações Sobre a Ques-
tão Colonial”, e o texto “12 recomendações”, ambos de 1922. No “Al-
gumas Considerações Sobre a Questão Colonial”, afirmava: “A mútua
ignorância dos dois proletariados resulta em preconceitos. Os trabalha-
dores franceses veem os nativos como humanos inferiores e insignifi-
cantes, incapazes de entender e muito menos de agir. Os nativos consi-
deram todos os trabalhadores franceses como exploradores perversos.”
No texto “12 recomendações”, recomendava à “todas as pessoas no
exército, na administração e nas organizações de massa”: nunca faltar
com a palavra; não ofender a fé e os costumes das pessoas; e mostrar às
pessoas que você é correto, diligente e disciplinado. Nota-se as caracte-
rísticas marcantes dos textos dessa fase de Ho Chi Minh, que eram de-
nunciar os males do colonialismo, ao passo que buscava atrair o apoio
dos setores progressistas dos países colonialistas. Ainda, se esforçava
para que os militantes anticolonialistas não incorressem no erro de se
afastar culturalmente da população local.
Pela ocasião da vitória da Frente Popular nas eleições parlamen-
tares na França, e mediante o acirramento das tensões intra-imperialistas
no mundo, Ho Chi Minh formulou uma mudança tática. Defendeu que
o Partido deveria atuar através de uma Frende Democrática da Indo-
china. Essa não deveria pautar a independência da indochina, 3mas sim
a conquista de direitos democráticos, que permitissem a atuação legal
dos partidos.
Ainda, entendia que os comunistas não deveriam exigir a lide-
rança da frente, mas deveriam se demonstrar como os mais aptos e de-
dicados membros. Ainda, a Frende Democrática deveria criar laços po-
líticos com a Frente Popular na França. Ho Chi Minh entendia que, na-
quele momento, uma eventual guerra civil na Indochina beneficiaria o
imperialismo japonês.
O texto “A Linha do Partido durante o período da Frente De-
mocrática”, de 1939, resume bem a posição política que Ho Chi Minh
defendeu. O texto afirmava, em seu primeiro parágrafo: “Atualmente, o
Partido não deve avançar pedidos demasiado exigentes (independência
do país, parlamento, etc.). Isso seria deixar-se cair nas armadilhas dos
fascistas. Deve formular exigências por direitos democráticos: liberdade
de expressão, anistia total para presos políticos; lutar pela legalização do
Partido.” Essa posição da Frente Democrática lhe rendeu o crédito de
ser racional e resoluto. Quando as tropas de Hitler invadiram a França,
e criou-se o regime fascista francês, a parcela da burguesia vietnamita
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que outrora colaborava com os franceses, mas eram simpáticos à ideia
de democracia, passaram para o lado dos revolucionários vietnamitas.
Em 1940, o Japão invadiu a indochina, criando uma situação única, onde
tanto os colonialistas franceses (agora sob um governo central títere ali-
ado à Hitler) quanto o imperialismo japonês não eram aceitos como al-
ternativa pelo povo vietnamita. Os anos seguintes foram marcados pela
formação das organizações revolucionárias pela libertação do Vietnã, in-
cluindo as brigadas de propaganda armada. Em 1945, as forças anti-ja-
ponesas foram vitoriosas na Indochina. Dado o papel de grande impor-
tância das forças de libertação da indochina, os franceses, que reivindi-
cavam direitos sobre aquela região, se viram forçados a negociar. Ho Chi
Minh elaborou a tese que o povo indochinês deveria aceitar concessões,
e participar como iguais na União Francesa. Essa posição moderada de
tio Ho mais uma vez se mostrou acertada. Quando os franceses passa-
ram a exigir concessões cada vez maior, Ho Chi Minh era a voz da razão.
Por isso, não havia dúvidas que ele estava sendo sincero quando dizia
que não era possível realizar qualquer acordo com os franceses. Em
1946, iniciou-se a Primeira Guerra de Libertação da Indochina, marcada
pela guerra entre a República Democrática do Vietnã e a União Francesa.
O Presidente da República Democrática do Vietnã, Ho Chi
Minh, apresentou a linha política que levaria o Vietnã à vitória: a resis-
tência prolongada ao colonialismo. Essa resistência prolongada dependia
da emulação patriótica, que se caracterizava pelo esforço da linha de
frente para aniquilar o inimigo, e o esforço da retaguarda para elevar a
produtividade e fornecer os meios materiais para que a resistência pro-
longada fosse possível. O pensamento revolucionário vietnamita, dessa
forma, se expressava por uma percepção da revolução e da guerra como
fenômenos totais. Em outras palavras, a revolução e a guerra de inde-
pendência deveriam ser travadas no campo político, no campo militar,
no campo cultural, e também no campo econômico e científico. As for-
ças revolucionárias do Viet Minh (Liga pela Independência do Vietnã)
dependiam das bases materiais fornecidas pelos seus apoiadores. Esse
foi um dos frutos do pensamento de Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap.
A Primeira Guerra do Vietnã se deu em três fases. A primeira
ocorreu entre 1945 e agosto de 1947, e se caracterizou pela organização
das forças do Viet Minh. Teve como principais marcos a resistência de
Dam Bô e a derrota da ofensiva francesa de Viet Bac. A segunda fase foi
de 1947 a 1950, tendo como principal esforço do Viet Minh a organiza-
ção do exército popular unificado. Durou da ofensiva de Viet Bac até as
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chamadas guerras fronteiriças. A terceira fase durou de 1950 (início das
guerras fronteiriças) até 1954 (tomada da guerra de Diem Biên Phú. O
período foi caracterizado pelo crescimento e consolidação do exército
popular, e resultou na vitória do Vietnã na Primeira Guerra de Indepen-
dência da Indochina. Na época, as forças libertadoras da indochina es-
tavam organizadas em três tipos do forças: os grupos de combate (de
menor porte), que eram os Ký Tap (grupos de combate corporal), e os
Vong Tap (grupos de combate armado); as Brigadas de Propaganda Ar-
mada, que eram as forças principais móveis da guerrilha de libertação,
os grupos de autodefesa, e as milícias regionais; e o Exército de Liberta-
ção, que era resultou da unificação das forças de libertação em uma es-
trutura hierárquica, com unidade de comando.
Durante o período da primeira guerra de independência da indo-
china, todas novas diretrizes do Partido eram transformadas em poemas
por Ho Chi Minh, visando a fácil memorização e divulgação da linha
política. A instrução e preparação da massa foi a chave para a vitória do
povo vietnamita. Não apenas pela capacidade de insuflar a população,
aumentando a capacidade combativa, como pela organização de todos
aspectos da vida do povo em torno de um objetivo nacional comum. Ho
Chi Minh acreditava que o movimento devia sempre estar preparado
para o pior cenário possível, e nunca deveria esperar apoio externo.
Como resultado, os apoiadores do Viet Minh mantinham oficinas de
produção de armamentos e explosivos. Cada oficina local se dedicava a
desenvolver e aprimorar novos equipamentos.
O esforço pelo aprimoramento da luta revolucionária se dava
em todos os campos. As células de propaganda desenvolviam teatros de
ruas, folhetins, e canções de guerra, etc. As experiências de maior êxito
também eram repassadas para outras células, que as adaptavam para as
realidades locais. Essa visão de Ho Chi Minh, de caráter prolongado e
total da guerra, pode ser encontrada de forma bem clara no texto “Apelo
de 19 de junho de 1947”, onde diz: “Eu dou a diretiva a todo o exército
para combater ainda com maior encarniçamento e lutar com firmeza
para arrasar o inimigo. Eu apelo a todos os nossos compatriotas a de-
senvolverem a produção, a armazenarem nossos cereais em lugar seguro
a fiscalizarem os diques e apoiarem o exército. Que os quadros políticos,
administrativos e técnicos redobrem esforços para ultrapassarem todas
as dificuldades, que corrijam os seus erros e se tornem exemplar.”
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Após a vitória da Primeira Guerra de Libertação da Indochina,
firmou-se a Conferência de Genebra (de 1954). Lá, houve reconheci-
mento formal que a antiga Indochina Francesa seria agora formada por
4 países: A República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte, socia-
lista); o Estado do Vietnã (Vietnã do Sul, aliado dos Estados Unidos da
América); o Reino do Laos (aliado dos EUA); e o Reino do Camboja
(neutro, inicialmente aliado dos EUA, posteriormente se aproximou da
República Democrática do Vietnã). Ainda, previa a existência de uma
eleição de reunificação entre os dois Vietnãs. Mas, o governo do Estado
do Vietnã se recusou a participar de uma eleição reunificadora. Ho Chi
Minh, na época, declarou que a luta pela reunificação do Vietnã seria
prolongada, assim como a guerra de resistência havia sido.
No interior da República Democrática do Vietnã, formou-se três
linhas de como deveria se proceder. Uma linha mais radical, que apon-
tava a necessidade da continuidade da guerra prolongada até a unificação
com o sul. Outra, defendia que a República Democrática do Vietnã de-
veria aceitar a divisão, e trabalhar pelo seu fortalecimento interno. Ho
Chi Minh defendeu, no período, a fusão cautelosa das duas linhas, en-
tendendo que era necessário fortalecer a República Democrática do Vi-
etnã, e organizar o trabalho político em todo Vietnã, preparando para
uma guerra futura. Como consequência dessa linha, o trabalho dos co-
munistas no Vietnã do Sul foi o de preparar a formação de uma frente
unificada, sem deflagrar a resistência imediata.
Por isso, em 1955, Ho Chi Minh afirmou, no texto Discurso de
encerramento do Congresso da Frente Nacional Única: “O Norte cons-
titui, por assim dizer, a base, a origem das forças de luta do nosso povo.
Uma casa só se mantém de pé se os seus alicerces forem sólidos.
Uma árvore só cresce bem se as suas raízes forem vigorosas. De-
vemos fazer tudo para consolidar o Norte em todos os domínios, re-
forçá-lo e fazê-lo progredir constantemente. Nem se põe a questão de
minimizar a importância desta tarefa. É tornando o Norte sólido e forte,
intensificando seus progressos que nós asseguraremos efetivamente os
interesses do Sul.”.
Enquanto o governo da República Democrática do Vietnã for-
talecia sua economia e fazia apelo pela realização da eleição reunifica-
dora, entre 1954 e 1956, o governo do Vietnã do Sul, perseguiu toda
espécie de oposição, em especial as seitas budistas que representavam
uma alternativa de poder. Ainda, os soldados do ditador Ngo Dihn
Diem punia as lideranças dos povoados que se recusavam a colaborar
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integralmente com o governo. Entre as punições aplicadas pelas tropas
de Diem constava o estupro e captura de jovens das aldeias. Até 1958,
apesar da repressão brutal, os comunistas conseguiram acalmar o ânimo
geral da população, explicando que o movimento não estava pronto para
uma guerra revolucionária. Mas, naquele ano, uma aldeia das regiões
montanhosas decidiu que era hora de iniciar o levante. Comunicou o
representante do Partido Comunista que se os comunistas não se levan-
tassem contra opressão, os povos iriam se levantar sem eles. Esponta-
neamente, foi iniciada a guerrilha contra o governo de Diem. Naquele
momento, Ho Chi Minh passou a defender que os comunistas não po-
diam deixar o povo lutar e sofrer sozinho. Formou-se uma aliança entre
as lideranças das aldeias sublevadas, seitas budistas rebeldes, e o Partido
Comunista do Vietnã, aliança que formou a Frente de Libertação Naci-
onal (Viet Cong). Teve início a Segunda Guerra de Libertação da Indo-
china, também conhecida como Guerra do Vietnã.
Essa guerra teve seis fases. Ho Chi Minh viveu e contribuiu para
a formulação da estratégia política geral do movimento revolucionário
na indochina durante as cinco primeiras fases. Na sexta, faleceu antes de
sua conclusão. As fases corresponderam aos períodos: (1) de 1956 a
1959, quando o governo de Diem esteve na ofensiva. Essa fase foi ca-
racterizada pela vantagem das forças pró-americanas no Sul; (2) de 1959
a 1961, período caracterizado pela vantagem do movimento guerrilheiro,
em fase defensiva; (3) de 1962 a 1963, que foi a fase da chamada guerra
especial, onde houve relocação em massa da população na tentativa de
desorganizar o movimento de independência do Vietnã. Apesar da apa-
rente vantagem dos governo títere do Vietnã do Sul nesse período, as
forças revolucionárias conseguiram se reorganizar de forma eficaz; (4)
de 1963 a 1965, que foi a fase de acirramento da guerrilha após a batalha
de Bihn-Gia. Nesse período, as ações dos Viet Cong ganharam maior
porte. Devido a desmoralização das forças do governo, ocorreu um
golpe militar contra Diem, inaugurando uma nova fase da guerra; (5) De
1965 a 1968, ocorreu a americanização da guerra, quando os EUA assu-
miram maior responsabilidade direta pelas ações contra a guerrilha. Foi
o período da tese do General Westmoreland, que defendia que a guerra
do Vietnã teria sua vitória medida no número de vietnamitas mortos.
Nesse período, houve aparente impasse entre as forças dos Viet Cong e
dos EUA; e (6) de 1968 a 1975, que foi a fase das ofensivas revolucio-
nárias. Essas ofensivas visavam colocar a capacidade militar das forças
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do Vietnã do Sul e dos EUA no limite. Nesse período, o Viet Cong co-
locou as forças estadunidenses em defensiva.
O resultado foi, que em 1973, após ter amargado duas grandes
ofensivas (do Têt, de 1968, e de Nguyen Huê, de 1972), ocorreu a “viet-
namização da guerra”. Era o início da retirada dos EUA da guerra.
Em 1975, ocorreu a ofensiva Ho Chi Minh, resultando na reuni-
ficação do Vietnã. A Segunda Guerra de Libertação da Indochina resul-
tou em:
(a) unificação da Vietnã, em 1975;
(b) derrubada do Reino do Laos criação da República Popular
Democrática do Laos (com regime socialista e aliada do Vietnã), em
1975;
(c) estabelecimento do Kampuchea Democrático, no Camboja
(socialista e aliado da China), em 1976.
Entre 1958 e 1964, a Segunda Guerra de Libertação da Indo-
china teve como principal palco o Vietnã do Sul. Mas, com a americani-
zação da guerra, os EUA passaram a bombardear massivamente o Vi-
etnã do Norte. Wilfred Burchett, jornalista que visitou os dois Vietnãs,
na época, descreveu a capacidade do povo vietnamita de resistir. No
norte, a guerra tinha dois principais aspectos. O primeiro aspecto era o
confronto direto, caracterizado pelo esforço para derrubar os aviões
americanos que realizavam o bombardeio. Em 1966, os vietnamitas já
haviam abatido quase mil aviões, o que fortalecia a moral do povo viet-
namita, e diminuía a moral dos pilotos americanos. Ainda assim, a des-
truição causada pelos bombardeios era grande. O segundo aspectos da
guerra no norte demonstra a justeza da linha política de Ho Chi Minh e
de seu núcleo político mais próximo. Tratava-se da guerra econômica e
social para o fortalecimento da República Democrática do Vietnã. Esse
fortalecimento se caracterizava pela divisa de se preparar para o pior ce-
nário, e agir rapidamente mediante a ação do inimigo. Desde o início do
conflito, houve um esforço para preparar materialmente a sociedade
para a guerra. Isso significou reorganizar as cidades, preparando abrigos
subterrâneos, e criando planos de evacuação massiva. Fábricas foram
desmontadas e remontadas em oficinas de baixo da terra. Até mesmo
hospitais e escolas foram descentralizados, para evitar que os EUA ti-
vessem a oportunidade de destruir alvos civis de grande porte.
A velocidade da descentralização exigiu do povo vietnamita
grande disciplina. O número de professores precisou ser aumentado ra-
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dicalmente, em pouco tempo. Isso exigiu um enorme esforço na forma-
ção de professores. Dada a escassez de recursos, para que isso fosse pos-
sível, adotou-se um modelo de educação contínua. Adultos que termi-
navam o curso complementares eram automaticamente candidatos para
curso universitário, por exemplo. Ho Chi Minh entendia que a formação
da população era essencial para assegurar a vitória na guerra prolongada.
A descentralização da produção também exigiu esforço cientí-
fico para o aumento da produtividade. Novas técnicas de produção eram
incentivadas, o que resultou na adoção do adubo verde a partir do limo,
na criação de abelhas dóceis e de maior capacidade de produção de mel,
novos sistemas de irrigação baratos e de fácil reparo, e maior mecaniza-
ção da agricultura. A tese adotada pela direção vietnamita era que a eco-
nomia do norte deveria ser organizada de tal forma que servisse de reta-
guarda tanto para os esforços militares da República Democrática do
Vietnã, como para futuras necessidades do esforço revolucionário no
sul. Para isso, cada região deveria atingir e superar a autossuficiência.
Todo desenvolvimento de técnicas locais, inclusive técnicas tradicionais
desenvolvidas isoladamente em cada região, deveria ser aprimorado e
socializado com o restante da nação.
No Sul, o pensamento revolucionário de Ho Chi Minh e de Vo
Nguyen Giap tiveram impacto similar. Além da divisão militar da guerra
em três escalas (formação de grupos de autodefesa nas vilas, grupos mó-
veis regionais, e divisões dos exército de libertação nacional), que já havia
se desenvolvido na época da primeira guerra de independência, novas
técnicas foram criadas para adequação de cada escala da guerra.
A guerra de autodefesa dependia da cuidadosa preparação do
terreno. Ainda, utilizava-se da chamada “guerra criativa”, com uso de
animais e plantas locais (incluindo montagem de armadilhas com abelhas
selvagens, por exemplo). Também se adotava a falsa colaboração com o
inimigo, para o confundir. Para o combate localizado, utilizava-se armas
de produção local (como o famigerado Rifle de 1000 utilidades, capaz
de disparar até bobina de bicicleta) ou armamento capturado do inimigo.
Ainda, era comum o uso de ações de propaganda, como teatros políti-
cos, e até uso de macacos com mensagens amarradas para passar pala-
vras de ordem.
Em 1967, Ho Chi Minh afirmou, pela ocasião da Palestra de um
curso de aperfeiçoamento e dirigentes do escalão de distrito: “Pelo Par-
tido e pelo povo, os quadros e os membros do Partido devem dispender
|20 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
os maiores esforços. Todos devem estudar a política, a economia, as ci-
ências e a técnica para elevarem suas capacidades a fim de poder desen-
volver a economia nacional, vencer no combate e melhorar cada vez
mais as condições do povo. Ainda há pessoas que pensam que é sabe-
doria a mais falar de ciências e de técnica. Mas se nós utilizaremos uma
linguagem corrente e simples, nossa linguagem de todos os dias, então
isto não tem nada de demasiado sábio, nem de inacessível”. Na visão de
Ho, o aperfeiçoamento profissional era parte da luta revolucionária.
Desde os primórdios da luta revolucionária, na ocasião de suas 12 reco-
mendações, já estava claro que ele entendia que o papel do revolucioná-
rio era também tornar a vida do povo melhor. Conforme o movimento
ganhava poder e influência, essa responsabilidade crescia. A luta revolu-
cionária dos povos depende da melhoria e preparação material para que
possa se passar de uma fase da luta para seguinte.
Vê-se que o pensamento de Ho Chi Minh e Vo Nguyen Giap
traz a percepção de que a guerra revolucionária é uma guerra total, com-
batida em todos os frontes. Não é apenas uma guerra militar, nem só
marcada pela insuflação política. Depende também da preparação cultu-
ral e científica do povo. Pensamentos complexos precisam ser elabora-
dos de tal forma que permitam ao povo entender sua essência. Ainda, os
revolucionários precisam se tornar um só com o povo. A identidade en-
tre o povo e a vanguarda revolucionária não é, no pensamento de Ho,
uma via de mão única. A própria direção precisa adotar costumes daque-
les que pretende dirigir. Precisa ter comportamento exemplar aos olhos
de seus irmãos de combate. Essa lição ainda não foi aprendida pelos
revolucionários brasileiros. Certamente, aqueles que estudarem os textos
de Ho Chi Minh estarão mais próximos de compreender as tarefas que
o futuro ainda reserva.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 21 |

Reivindicações do povo anamita

Depois da vitória dos Aliados, todos os povos escravizados vi-


bram de esperança diante da perspectiva da era do direito e da justiça
que deve abrir-se para eles em virtude dos compromissos formais e
solenes tomados diante do mundo inteiro pelas diferentes potências da
Entente na luta da civilização contra a barbárie.
Na esperança de que o princípio das nacionalizações passe do
domínio do ideal ao da realidade pelo reconhecimento efetivo do di-
reito sagrado para os povos de dispor de si próprios, o povo do antigo
império de Anam, hoje Indochina Francesa, apresenta aos respeitáveis
governos da Entente em geral e ao respeitável governo francês em par-
ticular as seguintes humildes reivindicações:

1) anistia geral em favor de todos os presos políticos indígenas;


2) reforma da justiça indochinesa pela concessão aos indígenas
das mesmas garantias jurídicas que aos europeus e a supressão com-
pleta e definitiva dos Tribunais de exceção que são instrumentos de
terrorismo e de opressão contra a parte mais honesta do povo anamita;
3) liberdade de imprensa e de opinião;
4) liberdade de associação e de reunião;
5) liberdade de emigração e de viajar pelo estrangeiro;
6) liberdade de ensino e criação em todas as províncias de es-
colas de ensino técnico e profissional no hábito dos Indígenas;
7) substituição do regime de decretos pelo regime de leis;
8) delegação permanente de indígenas eleitos junto do Parla-
mento francês para o ter à corrente das necessidades indígenas.

Às nossas reivindicações, juntamos as homenagens aos povos


e aos sentimentos humanistas.
|22 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Mas ao fim de um certo tempo de espera e de estudo, aperce-
bemo-nos de que a “doutrina de Wilson’’ não era mais do que uma
mistificação. A libertação do proletariado é a condição necessária da
libertação nacional. E ambos só poderão ser o resultado do comunismo
e da revolução mundial.

Para a Conferência de Paz de Paris em 1919,


após a Primeira Guerra Mundial
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 23 |

Discurso no Congresso de Tours

O Presidente: a palavra à Indochina. [aplausos] O Delegado da


Indochina - Camaradas, gostaria de vir hoje colaborar convosco na obra
da revolução mundial, mas é com a maior tristeza e a mais profunda
desolação que eu venho hoje, como socialista, protestar contra os crimes
abomináveis cometidos em meu país de origem. [muito bem!].
Sabeis que há meio século que o capitalismo francês se estabele-
ceu na Indochina; ele submeteu-nos com a ponta das baionetas e em
nome do capitalismo. Desde então, não só somos vergonhosamente
oprimidos e explorados, como também terrivelmente martirizados e en-
venenados pelo ópio, pelo álcool, etc. É impossível, em alguns minutos,
mostrar-lhes todas as atrocidades cometidas na Indochina pelos bandi-
dos do capital. Mais numerosas do que as escolas, as prisões estão sem-
pre abertas e horrivelmente povoadas. Todo o indígena conhecido por
ter ideias socialistas é aprisionado e por vezes fuzilado sem julgamento.
É a tal justiça dita indochinesa, pois lá funcionam dois pesos e duas me-
didas; os anamitas não têm as mesmas garantias que os europeus ou os
europeizados. A liberdade de imprensa e de opinião não existe para nós,
assim como a liberdade de reunião ou de associação. Não temos o direito
de emigrar ou de viajar para o estrangeiro; vivemos na mais brutal igno-
rância pois que não temos a liberdade de ensino. Na Indochina, faz-se
tudo o que se pode para nos intoxicar com o ópio e para nos embrutecer
com o álcool. Morreram vários milhares de anamitas e muitos milhares
de outros foram massacrados por defender interesses que não são os
deles. Eis, camaradas, como mais de vinte milhões de anamitas, que equi-
valem mais de metade da população da França, são tratados. E, contudo,
estes anamitas são protegidos da França. [aplausos] O Partido Socialista
deve conduzir uma ação eficaz de apoio aos indígenas oprimidos. Jean
Longuet: Intervenho para defender os indígenas.
O Delegado da Indochina: Impus, no início, a ditadura do silên-
cio... [risos] O Partido deve fazer uma propaganda socialista em todas as
colônias. Vimos na adesão à Terceira Internacional a promessa formal
|24 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
do Partido Socialista em dedicar, finalmente, às questões coloniais, a im-
portância que elas merecem. Temo-nos sentido muito felizes por parti-
cipar na criação de uma delegação permanente para a África do Norte e
sentir-nos-emos amanhã felizes se o Partido enviar um camarada socia-
lista estudar no próprio local, na Indochina, os problemas que se apre-
sentam e a ação a conduzir. Um delegado: Com o camarada Enver Pa-
cha? O delegado da Indochina: Silêncio, parlamentares! [aplausos] O
Presidente: E agora, silêncio aos outros delegados, mesmo não parla-
mentares! O delegado da Indochina: Em nome de toda a humanidade,
em nome de todos os socialistas, os da direita e os da esquerda, nós di-
zemo-lhes: camaradas, salvai-nos! [aplausos]O Presidente: O represen-
tante da Indochina pode ver pelos aplausos que lhe foram enviados, que
o Partido socialista por inteiro está com ele para protestar contra os cri-
mes da burguesia.

Extraído do Processo-verbal
Estenografado do Congresso
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 25 |

Indochina

Dizer que este país – com a população de mais de 20 milhões de


explorados – está prestes hoje a uma grande revolução, é falso; mas dizer
que não a deseja e está contente com o regime – como pretendem os
nossos patrões – seria ainda mais falso.
A verdade é que o indochinês não possui nenhum meio de edu-
cação e de ação.
A imprensa, as reuniões, as associações, as viagens são-lhe inter-
ditadas. A posse de jornais ou de periódicos estrangeiros que têm ideias
um pouco avançadas ou de um jornal pertencente à classe operária fran-
cesa é um verdadeiro crime.
O álcool e o ópio completam a obra do obscurantismo governa-
mental, assim como a imprensa vendida colonial, a soldo dos dirigentes.
A guilhotina e a prisão fazem o resto.
Assim, envenenados moral e fisicamente, amordaçados e subju-
gados, ter-se-ia podido crer que este rebanho humano está para sempre
destinado ao altar do bom deus capitalista, que já não vive, que já não
pensa e não influencia em nada na transformação social.
Não!
O indochinês não está morto, ele ainda vive, ele sempre viveu.
O envenenamento sistemático do capitalista colonial não chega ao ponto
de matar toda a sua vitalidade e menos ainda a sua consciência.
Os ventos vindos da Rússia proletária, da China revolucionária
ou da Índia combatente cura-o da intoxicação.
Ele não se educa – é uma verdade – por livros ou por discursos,
mas recebe a sua educação de outra forma.
O sofrimento, a miséria e a opressão brutal são os seus únicos
mestres e, se os socialistas negligenciam em dar-lhe educação, a burgue-
sia colonial e indígena – os mandarins – ocupam-se afetuosamente dela.
Ele progride maravilhosamente e saberá, quando a ocasião lhe
permitir, mostrar-se digno dos seus mestres.
|26 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Sob a máscara de uma docilidade passiva, esconde algo que ferve,
que cresce e que, chegado o momento, explodirá formidavelmente. É
altura de apressar este momento. A tirania do capitalismo preparou o
terreno; o socialismo não tem mais do que lançar neste campo fértil a
semente da emancipação.

Extrato De Um Artigo De Nguyen Ai Quoc,


Publicado Na Revista Soviética Comunista, Nº 14-1921.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 27 |

Manifesto da “União Intercolonial’’


Associação dos indígenas de todas as colônias

Irmãos das colônias! Em 1914, os poderes públicos, abraços com


um terrível cataclismo, voltaram-se para vós e pediram-lhes então o
vosso quinhão de sacrifício para a salvaguarda de uma pátria que diziam
ser vossa e da qual, até então, não conhecíeis senão o espírito do domí-
nio. Para convencer-lhes, não deixaram de acenar aos vossos olhos com
as vantagens que a vossa colaboração proporcionaria.
Porém, passada a tormenta, vós permaneceis, como antes, sub-
metidos ao regime do indigenato, aos tribunais de exceção, privados de
direitos que compõe a dignidade da pessoa humana: liberdade de asso-
ciação, de reunião, liberdade de imprensa, direito de circulação, mesmo
no vosso país, isto pelo lado político. No aspecto econômico, vós per-
maneceis submetidos ao impopular e pesado imposto de capitação e de
portagem, ao imposto sobre o sal, ao envenenamento e ao consumo for-
çado do álcool e do ópio, como na Indochina, à vigília noturna, como
na Argélia, para velar pelos bens dos tubarões coloniais. Em trabalho
igual, os vossos esforços são ainda menos remunerados que os dos vos-
sos camaradas europeus. Enfim, prometeram-vos mundos e fundos.
Vós apercebeis-vos agora que não eram senão mentiras. O que é preciso
fazer para chegar à vossa emancipação?
Aplicando a fórmula de Karl Marx, nós vos dizemos que a vossa
libertação não pode vir senão através dos vossos próprios esforços. É
para vos auxiliar nesta tarefa que a “União Intercolonial’’ foi fundada.
Ela agrupa, com o concurso de camaradas metropolitanos simpatizantes
da causa, todos os originários das colônias, residentes na França. Meios
de ação: para realizar esta obra de justiça, a U. I. pretende colocar o pro-
blema diante da opinião pública, com o auxílio da imprensa e pela pala-
vra (conferências, comícios, utilização das tribunas das assembleias deli-
berativas, pelos nossos amigos detentores de mandatos eletivos) e, en-
fim, por todos os meios ao nosso alcance. Irmãos oprimidos da metró-
pole! Logrados pela vossa burguesia, vós fostes os instrumentos da nossa
|28 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
conquista; praticando esta mesma política maquiavélica, vossa burguesia
pretende hoje servir-se de nós para reprimir na vossa terra toda a velei-
dade de libertação. Face ao capitalismo e ao imperialismo, nossos inte-
resses são idênticos; lembrai-vos das palavras de Marx: “Proletários de
todos os países, uni-vos!

A União Intercolonial
extrato do “Processo da Colonização Francesa’’,
escrito por Nguyen Ai Quoc, por volta de 1921-1925.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 29 |

Algumas Considerações sobre


a Questão Colonial

Desde que o Partido Socialista Francês aceitou as “21 condi-


ções” de Moscou e se integrou à Terceira Internacional, há entre os pro-
blemas que surgiram, um de especial delicadeza: a política colonial.
Diferentemente da Primeira e da Segunda Internacional, ele não
pode ser resolvido com expressões de posicionamento puramente sen-
timentais que não levam a nada. Ele deve ter um programa de trabalho
bem definido, uma política prática e efetiva. Nesse ponto, mais do que
em outros, o Partido se depara com várias dificuldades, sendo as maiores
delas as seguintes:

1. A enorme extensão das colônias


Contando agora com os novos “protetorados” adquiridos após a
guerra, a França possui: 450.000 km² na Ásia, 3.541.000 km² na África,
108.000 km² na América e 21.600 km² na Oceania, totalizando 4.120.000
km² (oito vezes seu território) com uma população de 48 milhões de ha-
bitantes. Essas pessoas falam mais de vinte línguas diferentes e a diversi-
dade traz dificuldades para a propaganda. À exceção de algumas antigas
colônias, um propagandista francês necessita de um intérprete para se fa-
zer entender. Entretanto, as traduções têm um valor limitado, e nesses
países de despotismo administrativo é um tanto difícil encontrar um in-
térprete para traduzir discursos revolucionários. Existem outras inconve-
niências: embora os nativos de todas as colônias sejam igualmente opri-
midos e explorados, seu desenvolvimento intelectual, econômico e polí-
tico difere fortemente de uma região para outra. Entre Anam e o Congo,
Martinica e Nova Caledônia, não há nada em comum, exceto a pobreza.

2. A indiferença do proletariado das metrópoles ante as colônias


Em suas teses sobre a questão colonial, Lenin afirma claramente
que “os trabalhadores dos países colonizados estão propensos a dar o
mais forte apoio aos movimentos de libertação dos países dominados”.
|30 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Para isso, os trabalhadores da metrópole devem saber o que é realmente
uma colônia; devem estar cientes sobre o que de fato acontece por lá e
do sofrimento – mil vezes mais intenso que o deles – imposto a seus
irmãos, os proletários coloniais. Em resumo, devem se interessar pela
questão. Infelizmente, existem militantes que ainda pensam que colônia
é nada mais do que um país com um monte de areia para andar e de sol
para queimar a cabeça, mais algumas poucas palmeiras e pessoas de cor,
e só. Não demonstram o menor interesse pelo assunto.

3. A ignorância dos nativos


Nos países colonizados – tanto na velha Indochina como no
novo Daomé – a luta de classes e a força proletária são fatores desco-
nhecidos pela simples razão de que lá não existem grandes indústrias ou
empresas comerciais, nem organizações de trabalhadores. Aos olhos dos
nativos, o bolchevismo – uma palavra bastante vívida e expressiva por
ser frequentemente utilizada pela burguesia – significa tanto a destruição
de tudo como a emancipação do domínio estrangeiro. A primeira acep-
ção da palavra afugenta a massa ignorante e temerosa de nós; a segunda
os orienta rumo ao nacionalismo. Ambos os sentidos são igualmente
perigosos. Apenas uma pequena fração da elite intelectual sabe o que
significa comunismo. Mas essa nata, por pertencer à burguesia nativa e
apoiar os colonizadores burgueses, não tem interesse de que a doutrina
comunista seja entendida e disseminada. Pelo contrário. Como o ca-
chorro da fábula, preferem ornar uma coleira e ter seu pedaço de osso.
Generalizando, as massas são profundamente rebeldes, mas completa-
mente ignorantes. Elas querem se libertar, mas não sabem como.

4. Preconceitos
A mútua ignorância dos dois proletariados resulta em preconcei-
tos. Os trabalhadores franceses veem os nativos como humanos inferi-
ores e insignificantes, incapazes de entender e muito menos de agir. Os
nativos consideram todos os trabalhadores franceses como exploradores
perversos. O imperialismo e o capitalismo não hesitam em tirar vanta-
gem dessa desconfiança mútua e dessa hierarquia racial artificial para
frustrarem a propaganda e dividirem as forças que deveriam se unir.

5. Ferocidade de repressão
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 31 |
Os colonizadores franceses podem não ter a habilidade de am-
pliar seus recursos coloniais, mas são mestres na arte da repressão selva-
gem e na sustentação de uma lealdade feita para quem os serve. Os Gan-
dhis e os De Valeras teriam ido para o paraíso há muito tempo se tives-
sem nascido em uma das colônias francesas. Cercado por todos os refi-
namentos de cortes marciais e tribunais especiais, um militante nativo
não pode educar seus irmãos oprimidos e ignorantes sem correr o risco
de cair nas garras de seus civilizadores.
Frente a tais dificuldades, o que o Partido deve fazer?
Intensificar a propaganda para superá-las.

Publicado No L'Humanite,
Em 25 De Maio De 1922
|32 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 33 |

Doze recomendações

As raízes da nação estão nas pessoas. Na guerra de resistência e


na reconstrução nacional, a força está no povo.Todas as pessoas no exér-
cito, na administração e nas organizações de massa que estão em contato
ou que convivem com o povo devem lembrar e levar consigo as seguin-
tes doze recomendações.

Seis proibições
1. Não danificar de maneira alguma a terra e as plantações ou as
casas e bens das pessoas;
2. Não insistir em comprar ou tomar emprestado o que as pes-
soas não desejam vender ou emprestar;
3. Não levar galinhas vivas para casas das pessoas nas montanhas;
4. Nunca faltar com a palavra;
5. Não ofender a fé e os costumes das pessoas (como mentir ante
ao altar, levantar os pés mais alto que o coração, tocar música em casa);
6. Não fazer ou falar coisas que façam as pessoas pensarem que
as desprezamos.

Seis permissões
1. Ajudar as pessoas em suas tarefas diárias (colher, juntar lenha,
carregar água, costurar, etc.);
2. Sempre que possível comprar mercadorias para aqueles que
vivem longe dos mercados (facas, sal, agulhas, fios, canetas, papel, etc.);
3. Nas horas livres, contar pequenas estórias divertidas e simples
úteis à resistência, mas não revelar segredos;
4. Ensinar à população a escrita nacional e a higiene básica;
5. Estudar os costumes de cada região para se familiarizar com
eles, de forma a criar uma atmosfera de simpatia no início e então expli-
car às pessoas gradualmente que diminuam suas superstições;
6. Mostrar às pessoas que você é correto, diligente e disciplinado.
|34 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Um poema estimulante
As doze recomendações acima expressas
São do alcance de todos.
Os que amam seu país
Nunca as esquecerão.
Quando as pessoas têm um hábito,
São todas como uma só,
Com bons combatentes e boas pessoas
Tudo será recompensado com o sucesso.
Apenas quando tem uma raiz firme pode uma árvore viver muito
E a vitória é construída com as pessoas como seu alicerce.

Publicado No L'Humanite,
25 De Maio De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 35 |

Em uma “Alta Civilização’’

O Sr. Albert Sarraut disse que o grupo colonial da Câmara de


Deputados que “está na esfera de atividades no exterior e que, fiéis à
esplêndida missão pela qual ela tem deslumbrado o mundo e a história,
a beneficente França está realizando um trabalho de progresso e jus-
tiça, de elevação das raças, da elevação da civilização, cuja nobreza vem
aumentando a cada dia a séculos o esplendor de sua tradição’’.
Agora, aqui é assim que este trabalho de progresso e justiça,
etc., é colocado em prática. Sob o pretexto de agir contra a vadia-
gem, os nativos de Madagascar são colocados em campos de traba-
lhos forçados.
Assim, atrás de uma folha de papel, que é o cartão de identidade
do nativo, existem pequenos quadrados que servem para serem preen-
chidos pelos patrões. No primeiro destes quadrados estão impressos
os elementos essenciais que devem ser autenticados pelo patrão:

Empregado pelo Sr....


Na....
De....
Para....
O empregador: (assinatura)

Qualquer nativo cujo cartão de identificação não estiver devi-


damente preenchido como o exemplo acima, é considerado um vaga-
bundo e é condenado de três meses a um ano de prisão e, depois de
cumprir sua sentença, é proibido de residir em determinadas áreas de
cinco a dez anos.
Agora deixem-nos ver como os trabalhadores nativos são tra-
tados por estes empregadores civilizadores.
Um deles escreveu para um capataz que havia perguntado a um
dos seus trabalhadores sobre uma dívida. “Diga para aquele porco para
ir comer barro, pois este será a única comida a disposição dele!’’
|36 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Outro, descobrindo que 5 mil francos haviam sido roubados de
sua casa, submeteu seus 8 empregados nativos a tortura com fios elétri-
cos para obter alguma confissão. Foi descoberto mais tarde que o ladrão
havia sido seu filho. O filho da civilização passou bem. O pai civilizató-
rio não se preocupa. Os afilhados afortunados da França ainda estão no
hospital de Antananarivo.

Publicado No La Vie Ouvriere,


Em 26 De Maio De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 37 |

Igualdade!

Para esconder a monstruosidade do regime de exploração crimi-


nosa, o capitalismo colonial sempre enfeita seu vil estandarte com o
mote idealista: Fraternidade, Igualdade, etc. Eis como esses defensores
da igualdade põem seu lema em prática.
Em um mesmo local de trabalho e pela mesma função, um tra-
balhador branco é algumas vezes mais bem pago que seu irmão de cor.
Nos escritórios administrativos, apesar da quantidade de serviço
e da habilidade reconhecida, um nativo é pago com salários miseráveis,
enquanto que o homem branco recém-chegado obtém um ordenado
maior trabalhando menos.
Depois de receber educação superior no estado natal e de obter
títulos como de doutor em Medicina ou em Direito, os jovens nativos
não podem exercer suas profissões em seu próprio país caso não sejam
naturalizados – e por quantas dificuldades e humilhações um nativo deve
passar para obter sua naturalização!
Deslocados de seus países e de seus lares, e coagidos a se alista-
rem no exército como “voluntários”, os nativos militarizados são ligeiros
em degustar o refinado significado da ilusória “igualdade” que estão de-
fendendo.
Com a mesma patente, um oficial branco não-comissionado é
quase sempre tratado como superior por seu colega nativo, que deve
saudá-lo e obedecê-lo.
Essa hierarquia “etno-militar” é ainda mais perceptível quando
soldados brancos e de cor viajam num mesmo trem ou embarcação.
Eis o exemplo mais recente.
Em maio, o S.S. Liger deixou a França rumo a Madagascar com
seiscentos soldados malgaxes a bordo.
Os oficiais malgaxes não-comissionados foram amontoados nos
porões, enquanto seus colegas brancos foram acomodados nas confor-
táveis cabines.
|38 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Que nossos irmãos negros, aquecidos pelas caldeiras do navio
(se não por um ideal), despertos pelo barulho dos propulsores (ou pela
voz em suas consciências), reflitam e compreendam sobre o fato de que
o bom capitalismo irá sempre considerá-los como mero olo maloto.

Publicado No L'Humanite,
Em 1º De Junho De 1922.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 39 |

Ódio Racial

Por ter discursado sobre luta de classes e igualdade entre os ho-


mens, e sob a acusação de haver pregado o ódio racial, o nosso camarada
Louzon foi condenado.
Vamos ver como o amor entre os povos tem sido compreendido
e aplicado na Indochina nos últimos tempos. Nós não vamos falar por
enquanto do envenenamento e degradação das massas pelo álcool e pelo
ópio do qual o governo colonial é culpado; nossos camaradas no grupo
parlamentar terão de lidar com este assunto um dia.
Todo mundo sabe os atos de bravura do administrador assassino
Darles. No entanto, ele está longe de deter o monopólio da selvageria
contra os povos nativos.
Um certo Pourcignon furiosamente partiu para cima de um ana-
mita do qual estava curioso e atrevido a ponto de olhar para esta casta
europeia por alguns instantes.
Ele derrotou o anamita e, finalmente, atirou na cabeça deste. Um
funcionário de ferrovia agrediu um tonquinês que era prefeito de uma
aldeia com uma bengala.
Sr. Beck quebrou o crânio dó seu motorista particular com um
golpe vindo de suas próprias mãos. Sr. Bres, empreiteiro, chutou um
anamita até à morte após ter amarrado seus braços e ter o deixado ser
mordido pelo seu cachorro.
Sr. Deffis, tesoureiro, matou seu servo anamita com um chute
fortíssimo nos rins. Sr. Henry, um mecânico de Haiphong, ouviu um
barulho na rua; quando abriu a porta de sua casa, uma mulher anamita
entrou, seguida de um homem. Henry, pensando que era uma persegui-
ção feita por um nativo depois de um ‘con-gai’, pegou seu rifle de caça
e atirou no elemento.
O homem, que caiu no chão duro como uma pedra era um eu-
ropeu. Questionado, Henry respondeu, “eu pensei que fosse um nativo”.
Um francês apresentou seu cavalo em um estábulo onde havia
uma égua que pertencia a um nativo.
|40 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
O cavalo empinou, deixando o francês furioso. Ele agrediu o na-
tivo, que sangrou pela boca e pelas orelhas; após isso, o francês amarrou
as mãos do nativo e o pendurou sob sua escada.
Um missionário (sim, um apóstolo muito bondoso!), suspei-
tando de um seminarista nativo por ter roubado 1.000 piastres dele, sus-
pendeu-o em um feixe e o agrediu fisicamente. O pobre companheiro
perdeu a consciência. Ele estava desmaiado.
Quando ele acordou, o missionário voltou a espancá-lo. Ele es-
tava morrendo ou, muito provavelmente, já está morto, etc. A justiça
puniu estes indivíduos, estes civilizadores? Alguns estão sendo absolvi-
dos e outros nem sequer estavam preocupados com a lei no fim das
contas. É isso. E agora. Acusado Louzon, é a sua vez de falar!

Publicado No Le Paria,
Em 1º De Julho De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 41 |

Os Civilizadores

Sob o título de “piratas coloniais”, nosso camarada Victor Meric


nos contou sobre a incrível crueldade perpetrada por um administrador
francês nas colônias que derramou borracha derretida na genitália de
uma mulher negra e pobre.
Depois, a fez carregar uma enorme pedra sobre a cabeça debaixo
do sol escaldante, até que ela morreu. O sádico oficial continua com seus
abusos, em outro distrito, mas ainda com a mesma patente.
Infelizmente, tais atos abomináveis não são raros na que a pre-
zada imprensa chama de “França ultramarina”.
Em março de 1922, um oficial de alfândega em Baria (na Co-
chinchina) simplesmente decretou a morte de uma carregadora de sal
anamita porque esta perturbou sua sesta por ter feito barulho do lado de
fora da varanda de sua casa.
O pior disso é que a mulher foi ameaçada de demissão do pátio
de construção onde trabalhava caso registrasse uma reclamação.
Em abril, outro oficial de alfândega que assumiu o lugar do ofi-
cial mencionado acima provou estar à altura de seu predecessor em ma-
téria de brutalidade.
Uma velha anamita, também carregadora de sal, discutiu com
uma supervisora sobre a suspensão de parte dos seus ganhos.
Ao ouvir a reclamação feita pela supervisora, o oficial, friamente,
assumiu a queixa e deu dois fortes tapas no rosto da carregadora. En-
quanto a pobre mulher curvava-se para pegar seu chapéu, o civilizador,
não satisfeito com os tapas, chutou furiosamente a parte inferior de seu
abdome, provocando, de imediato, uma hemorragia.
Quando a infeliz anamita caiu no chão, o colaborador do senhor
Sarraut1, ao invés de prestar-lhe socorro, chamou o prefeito da vila para
levá-la embora. Mas este nobre indivíduo recusou a fazê-lo.

1. Sarraut foi Governador-geral da Indochina entre 1912 e 1919 e também Ministro


das Colônias de 1920 até 1924. Mais tarde, foi Primeiro-Ministro da França em duas
ocasiões.
|42 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Então o oficial chamou o marido da vítima, que era cego, e or-
denou-lhe que levasse a esposa dali. A pobre senhora está agora no hos-
pital. É estranho como, da mesma forma que seu colega administrador
na África, nossos dois oficiais de alfândega não ficaram preocupados.
Eles podem até mesmo receber uma promoção.

Publicado No Le Paria,
Em 1º De Julho De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 43 |

A mulher anamita e a dominação francesa

A colonização é um ato de violência do mais forte sobre o mais


fraco. Tal ato torna-se ainda mais odioso quando é exercido sobre mu-
lheres e crianças. É irônico descobrir que a civilização — simbolizada
em várias formas, como liberdade, justiça, etc., pela imagem suave de
mulher e levado a cabo por uma categoria de homens bem conhecidos
por serem campeões da elegância — inflige a seu “emblema vivo” o tra-
tamento mais ignóbil e danifica-o em suas maneiras, em sua modéstia e
até mesmo em sua vida.
O sadismo colonial é de explícito e cruel, mas vamos nos limitar
a recordar casos observados e descritos por testemunhas consideradas
insuspeitas de parcialidade. Tais fatos permitirão que nossas irmãs oci-
dentais compreendam a natureza da “missão civilizadora” do capita-
lismo quanto os sofrimentos sentidos pelas irmãs delas nas colônias.
“Na chegada dos soldados, alega um colono, “a população fugiu;
só permaneceram dois velhos e duas mulheres: uma donzela e uma mãe
amamentando seu bebê e segurando uma menina de 8 anos de idade pela
mão. Os soldados pediram dinheiro, bebidas espirituosas e ópio”. (...)
Como eles não podiam fazer-se entender, um soldado ficou fu-
rioso e derrubou um dos homens velhos com coronhadas. Mais tarde, 2
deles, bêbados quando os outros soldados chegaram, se divertiam horas
ao queimar outro idoso em uma fogueira.
Enquanto isso, os demais estupraram as duas mulheres e a me-
nina de 8 anos. Então, cansados, assassinaram a menina. A mãe então
foi capaz de escapar com seu bebê e, a 100 metros de distância, escon-
dida em um arbusto, viu seu companheiro sendo torturado.
Ela não sabia o motivo pelo qual o assassinato foi perpetrado,
mas ela viu a menina deitada de costas, amarrada e amordaçada, en-
quanto um dos soldados, enfiava e retirava lentamente a baioneta em
seu estômago. Em seguida, cortou o dedo da menina morta para tomar
um anel e sua cabeça para roubar um colar”.
|44 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
“Os três cadáveres jazem sob o chão liso de um pântano de água
salgada: a menina de oito anos nua, a jovem mulher estripada após ter
erguido seu braço com o punho fechado para o céu indiferente e o velho,
horrível, nu como os outros, desfigurado pelas queimaduras, com a pele
da barriga derretida já em processo de coagulação, que se encontrava
inchada, grelhada e dourada, assim como a pele de um porco assado”.

Publicado No Le Paria,
Em Agosto De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 45 |

Uma carta ao Sr. Albert Sarraut, Ministro das


Colônias

Vossa Excelência, Sabemos bem de sua afeição pelos nativos; os


das colônias em geral e pelos anamitas é grande, e sob seu proconsulado
tiveram a verdadeira prosperidade e felicidade de ver um número cres-
cente que lojas de bebidas e de ópio por todo o país, com pelotões de
fuzilamento, prisões, a “democracia” e todo o aparelho da civilização
moderna, estão combinados para fazer dos anamitas os mais avançados
dos asiáticos e os mais felizes dos mortais. Esses atos de benevolência
nos salvaram de convocar os outros, com o recrutamento forçado e em-
préstimos, repressões sangrentas, destronamento e exílio dos reis, pro-
fanação de lugares sagrados, etc. Como um poema chinês diz: “o vento
da bondade segue o movimento de seu fã, e a chuva da virtude precede
as trilhas da sua carruagem”. Como você é agora o chefe supremo de
todas as colônias, seu cuidado especial pela Indochina aumentou seu
prestígio. Você criou em Paris um serviço que tem a tarefa especial –
com ênfase para a Indochina, de acordo com uma publicação colonial –
de vigiar os nativos, os anamitas, na França.
Porém “vigiar” parece para Sua Excelência, um pedido insufici-
ente, e que você queria fazer melhor. É por isso que já você concedeu a
cada anamita – querido anamita, como Vossa Excelência diz – assesso-
res. Embora iniciantes na arte de Sherlock Holmes, essas boas pessoas
são dedicadas e compreensivas. Temos logios para conceder a eles cum-
primentos a prestar ao seu patrão, Vossa Excelência. Estamos comovi-
dos com a homenagem que Vossa Excelência, com extrema bondade,
nos concedeu e nós teríamos aceito com toda a gratidão, se não pare-
cesse supérfluo e se não excitasse a inveja e o ciúme. Em um momento
em que o Parlamento tenta poupar dinheiro e reduzir o pessoal adminis-
trativo; quando há um grande déficit orçamentário; quando na agricul-
tura e na indústria falta de trabalho; quando as tentativas estão sendo
feitas para cobrar impostos sobre os salários dos trabalhadores; e em um
|46 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
momento em que o repovoamento exige a utilização de energias produ-
tivas: em tal momento nos parece antipatriótico aceitar favores que cau-
sam a perda dos poderes dos cidadãos condenados a ociosidade e cau-
sam gastos do dinheiro do proletariado. Em consequência, mantendo-
se obrigado a você, nós recusamos esta distinção lisonjeira para nós, mas
cara ao país. Se Vossa Excelência quer saber o que fazemos, nada é mais
fácil: vamos publicar todas as manhãs um boletim de nossos movimen-
tos e Vossa Excelência terá mais o problema da leitura. Nosso horário é
simples e quase imutável. Manhã: 8-12 no local de trabalho. Tarde: em
escritórios do jornal de esquerda ou na biblioteca. Noite: em casa ou em
palestras educativas. Domingos e feriados: visitando museus ou outros
locais de interesse. Na esperança de que este método prático e racional
vai dar satisfação a Vossa Excelência, pedimos para que permaneça...

Publicado No La Paria,
Em 1º De Agosto De 1922
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 47 |

Civilização Assassina!
A Resistência Antifrancesa

Há muito tempo divulgamos nesta plataforma uma série de as-


sassinatos perpetrados por nossos “civilizadores”, que continuam impu-
nes. A sombria e negra lista cresce a cada dia. Recentemente, um anamita
de 50 anos, empregado há 35 deles no Departamento Ferroviário da Co-
chinchina, foi assassinado por um oficial branco.
Aqui seguem os fatos. Le Van Tai tinha sob sua supervisão ou-
tros quatros anamitas, que trabalhavam para evitar que os trens cruzarem
uma ponte enquanto ela estivesse elevada, para a passagem de embarca-
ções. A função era fechar a ponte para a navegação dez minutos antes
dos trens sobre ela passarem.
No dia 2 de abril, às 16h30, um dos anamitas foi fechar a ponte
e abaixar a sinalização. Foi então que uma lancha do governo apareceu
com um oficial naval das docas, que retornava de uma caçada. A lancha
apitou. O empregado nativo foi até a metade da ponte e acenou com
uma bandeira vermelha para indicar ao barco que o trem estava para
passar e que a navegação, pois, estava suspensa.
Eis o que se sucedeu. A lancha se aproximou de um dos pilares
da ponte. O oficial saltou e foi atrás do empregado anamita. Prudente-
mente, este fugiu em direção à casa de Tai.
O francês o perseguiu, atirando-lhe pedras. Quando ouviu a agi-
tação, Tai saiu da casa para se encontrar com o representante da civili-
zação, que a ele se dirigiu assim: “seu troglodita estúpido, por que não
levantou a ponte?”. Em resposta, Tai – que não sabia francês – apontou
o sinal vermelho.
Este simples gesto deixou o colaborador do Sr. Long irritado,
que friamente saltou sobre Tai e, depois do espancamento, jogou-o den-
tro de um forno próximo.
Terrivelmente queimado, o funcionário anamita foi levado ao
hospital, onde morreu depois de seis dias de sofrimento atroz. O oficial
francês não foi processado.
|48 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Em Marselha, a prosperidade oficial da Indochina está em re-
levo; em Anam, as pessoas morrem de fome. Aqui a lealdade é louvada,
lá assassinatos são perpetrados. O que vocês nos dizem disso, ó mil ve-
zes grande Majestade Khai Dinh e Excellentissimo Sr. Sarraut?2
Após a Grande Guerra, as declarações “generosas’’ de Wilson
sobre o direito dos povos a disporem de si próprios puderam induzir em
erro o povo vietnamita assim como os outros povos. Um grupo de viet-
namitas de que eu fazia parte enviou as reivindicações seguintes ao Par-
lamento francês e a todas as delegações da Conferência de Versalhes.

Publicado No Le Paria,
Em 1º De Agosto De 1922
Extrato De Um Artigo
De Nguyen Ai Quoc,
Escritos Nos Anos De 1921-1926.

2PS: Embora a vida de um anamita não valha um centavo, por um arranhão no braço
o senhor inspetor geral Reinhardt recebeu 120 mil francos como compensação. Igual-
dade! Amada igualdade!
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 49 |

Zoológico

Temos gasto nossos cérebros amarelos em vão, mas não pode-


mos ter sucesso em descobrir a razão que levou os homens e as mulheres
da França a fundar a notável instituição chamada “Sociedade para Pre-
venção da Crueldade contra os Animais”. Primeiramente, a razão nos
escapa porque vemos ainda que há tanto seres humanos desafortunados
que apelam sem resultado por um pouco de cuidado. Então, porque to-
dos estes animais não merecem tanta benevolência e não são tão felizes
como todos estes. Com exceção do leão-negro que é útil às pessoas acos-
tumadas a envolver seus pés em pele de animais, a maioria dessas cria-
turas são má, muito más.
Não foi o bulldog – com seus dentes feios – que veio a rasgar
toda a estrutura da Conferência de Paris? Que obriga o macaco flamenco
e o galo gaulês a enfrentar a águia alemã do Ruhr sozinhos? Não foi o
tigre que, enquanto ainda estava acorrentado, devorou vários ministérios
da República? Não fora milhões e bilhões gastos inutilmente através da
agência dos nossos gloriosos amigos Kolchak e Wrangel para comprar
pelo de urso moscovita que, hoje mais do que nunca, não tem cabeça
para deixar as pessoas fazerem tudo a sua maneira? (Ah! Que animal!)
Qual dos nossos amigos na França não tem razão ao se queixar das más
ações dos abutres? Não são corvos desastradamente destrutivos no
campo moral?
E o que fazem os 'chat-fourrés' senão lucrar com as dissensões
e discórdias na sociedade? Não existe um animal que imprudentemente
permite aos despudorados genros chamar suas sogras pelo nome? Não
são pombinhos apaixonados que escurecem a felicidade conjugal de
muitas famílias? E não são gatunos os inimigos de longa data daqueles
que saem de casa? Sem contar com o fato de que o lobo mais forte está
sempre certo e que a ovelha negra são uma praga para a honesta socie-
dade, nós... mas vamos falar, antes de concluir, das bestas coloniais.
|50 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Apenas no momento em que M. Guinal está pronto para apre-
sentar à Academia de Ciências, por meio de M. Mangin, uma nota rela-
tiva à utilização de escama de tubarão, M. Albert Sarraut vai para Isle of
Dogs entregar alguns dos seus discursos ministeriais sobre o bacalhau
congelado de Saint-Pierre-et-Miquelon, e M. Citroen, por sua vez, lança
sua “lagarta” civilizadora pelo Saara. Ambas missões – oficiais e semi-
oficiais – muito provavelmente irão alcançar o resultado satisfatório que
aquelas pessoas têm o direito de esperar delas, ao menos, para saber
como fazer um rato produzir uma montanha e consolidar a posição dos
tubarões coloniais. Geralmente acredita-se que nossos protetores sem-
pre aplicam uma política de avestruz. Isto é um erro, meus amigos!
Aqui está a prova em contrário: por mero convite da sardinha no
“antigo porto”, o Governo Colonial não hesitou em gastar 3.190.846
francos na Indochina, 5.150.000 francos na África Ocidental francesa,
348.750 na África Equatorial francesa, 390.000 em Camarões, 1.873.600
no Madagascar, 108.300 em Martinica, 55.000 em Guadalupe, 62.500 na
Guiana, 75.000 na Nova Caledônia, 60.000 nas Ilhas Hébridas, 65.000
na Oceania, 135.000 nos assentamentos franceses na Índia, 97.000 na
Somália Francesa, 85.000 na Reunião e 14.000 em Saint-Pierre-et-Mi-
quelon, para trazer uns poucos camelos, vacas e crocodilos das colônias
para Marselha.
Nenhum esforço, deve-se admitir, foi poupado por nossos civi-
lizadores para decorar um punhado de pardais nativos – aqueles mais
obedientes e dóceis – com penas de pavão para transformá-los em pa-
pagaios ou cães domesticados.
E se os povos da África e da Ásia estão cientes desta “paz” e
desta “prosperidade”, quem, em seguida, são os castores ocupados, mas
aqueles “disseminadores incansáveis da democracia”?
Em suma, a maioria destes animais é relativamente fácil. Se os
membros dos altivos S.P.C.A. teve tempo de sobra, e talvez pudesse ter
realizado trabalho mais útil ao cuidar dos macacos martirizados pelo Dr.
Voronoff e as pobres ovelhas nativas que estão sempre sendo tosquiadas.

Publicado no Le Paria
Em 1º de fevereiro de 1923
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 51 |

O movimento dos trabalhadores


do Extremo Oriente

Osaka é um dos maiores centros industriais japoneses a perma-


necer intacta após o último terremoto.
A desgraça de outros japoneses passou a ser a boa fortuna dos
fabricantes desta cidade, que está no momento aproveitando uma pros-
peridade sem precedentes.
Apesar do rápido aumento no custo de vida, que pesa severa-
mente sob a magra renda dos trabalhadores, os salários permaneceram
os mesmos após a catástrofe.
Colocados nessa situação impossível e em face da recusa dos pa-
trões em realizar as melhorias exigidas, os trabalhadores das fábricas de
algodão estão em greve desde o fim de novembro.
As demandas da greve são:

1. Aumento de 20% nos salários;


2. Redução do preço das refeições oferecidas pela fábrica;
3. Melhorias nos refeitórios e vestiários;
4. Pagamento de 50% do salário aos trabalhadores ausentes em
decorrência de doença;
5. Recontratação dos trabalhadores recentemente demitidos;

Recentemente, trabalhadores da Oriental Hemp e Nagosi Co.


obtiveram um aumento nos salários por meio de uma greve. Os da Sen-
chu Co. obtiveram os mesmos ganhos assim que a greve foi comunicada
ao corpo gestor. Outras empresas resistiram, alegando que, apesar do
acúmulo de pedidos, não vêm conseguindo grandes lucros por conta do
aumento do preço das matérias primas e que, por outro lado, havendo
pouca oferta de algodão em rama, não estariam de modo algum preocu-
pados com a greve.
De fato, estão tomados pelo pânico. Tiveram a cidade ocupada
pela polícia local, reforçada por outras de cidades vizinhas. Eles tentaram
|52 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
enfraquecer o movimento ao prenderem o secretário-geral e muitos ou-
tros membros da Federação Sindical. Os resultados das tentativas dos
patrões são nulos porque a greve continua sendo conduzida com a
mesma energia que possuía em seu primeiro dia, e os trabalhadores estão
decididos a continuar lutando até o fim.
Eletricistas e mecânicos entraram em greve em solidariedade. Os
trabalhadores das fábricas estatais prometeram usar todos os meios dis-
poníveis na luta dos seus camaradas. Com tal apoio, os grevistas estão
cheios de ímpeto e não têm dúvida alguma da vitória.
Na luta entre o capital e o trabalho no Extremo Oriente, ocor-
rem coisas estranhas que são impossíveis de se entender nos países oci-
dentais, mas que não deixam de realmente acontecer. Por exemplo, para
impedir seus trabalhadores de juntarem-se aos seus camaradas em greve,
a Kishiwada Company simplesmente parafusou as portas da saída. A
Knawada Eletrical Engineering Work, incapaz de chegar a um acordo
com seu pessoal na questão dos salários, decidiu por um lockout. Mas
antes de demitir os trabalhadores, lhes pagou quatro dias inteiros de sa-
lário e mais dois de compensação!

Greve Antimilitarista
Para quebrar a organização que os trabalhadores recentemente
conseguiram, a gerência da Shuikaoshun Mines (China) chamou pelos
soldados do General Chao. Imediatamente após sua chegada, os mes-
mos começaram a ocupar o sindicato dos trabalhadores. Para protestar
contra este ato da tropa, três mil mineiros espontaneamente entraram
em greve. Eles cercaram os soldados e tentaram desarmá-los. Os solda-
dos atiraram contra eles, ferindo diversos grevistas. A coisa foi além do
que era desejado pela gerência, que então passou a pregar pela lei e pela
ordem. Mas os mineiros responderam que retomariam os seus trabalhos
apenas quando as compensações fossem garantidas para as vítimas, e
suas demandas – compostas por nove cláusulas – fosse aceita.

Publicado No La Vie Ouvriere,


Em 25 De Janeiro De 1924
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 53 |

Lenin e os povos colonizados

“Lenin está morto!”. Estas notícias deixaram os povos perple-


xos. E se espalharam a cada canto, das planícies férteis da África aos
verdejantes campos da Ásia.
É verdade que os povos africanos e asiáticos ainda não sabem
claramente que é Lenin ou onde se localiza a Rússia.
Os imperialistas deliberadamente os mantiveram neste estado de
ignorância. A ignorância é um dos mastros principais de sustentação do
capitalismo.
Mas todos eles, dos camponeses vietnamitas aos caçadores das
florestas no Dahomey, secretamente aprenderam que em uma distante
região do planeta uma nação obteve sucesso em derrubar seus explora-
dores e está gerenciando seu próprio país sem a necessidade de senhores
e Governadores Gerais.
Eles também ouviram que este país se chama Rússia e que lá
habita um corajoso povo e que, dentre este, o mais bravo de todos: Le-
nin. Isto era suficiente para preenchê-los com profunda admiração e ca-
lorosos sentimentos por este país e seu líder.
Mas isto não é tudo. Eles também aprenderam que este grande
líder, depois de haver libertado seu próprio povo, desejou libertar outros
povos. Ele convocou os povos para colaborarem com os asiáticos e com
os africanos para libertá-los do jugo dos seus agressores estrangeiros, de
todas as potências ocupantes, dos Governadores Gerais, etc.
E para atingir esta meta, delineou um programa definitivo. Inici-
almente eles não acreditaram que em algum lugar do mundo pudesse
existir um homem como tal e com tal programa.
Mas ouviram falar vagamente de partidos comunistas, de uma
organização chamada Internacional Comunista, que estava lutando pelos
povos explorados incluindo eles próprios. E aprenderam que Lenin era
o líder desta organização. E isto foi o bastante para fazer com que estes
povos – apesar de seus precários conhecimentos – fossem gratos e man-
tivessem afeição pelo respeitável Lenin. Eles olharam para Lenin como
|54 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
seu libertador. No entanto, com sua morte, surgem dúvidas: “Lenin está
morto, e agora, o que será de nós? Haverá outras pessoas corajosas e
generosas como Lenin que despenderão esforços para contribuir com
nossa libertação?” Eram as preocupações que se somavam com os po-
vos em regimes coloniais. Nós, profundamente comovidos por esta
perda irreparável, compartilhamos o luto com todos os povos como seus
irmãos e irmãs. Mas cremos que a Internacional Comunista e seus ramos,
que incluem ramificações nos países sob o regime colonial, irão triunfar
na implementação das lições e ensinamentos deixados por nosso líder.
Não é seguir seus conselhos a melhor maneira de demonstrar nosso
afeto por ele?
Durante sua vida, foi nosso pai, nosso mestre, camarada e con-
selheiro. Hoje é uma estrela iluminando o caminho da revolução socia-
lista. Lenin viverá eternamente em nosso trabalho!

Publicado No Pravda,
Em 27 De Janeiro De 1924
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 55 |

Intervenção Sobre a Questão Nacional


e a Questão Colonial no 5º Congresso Mundial
da Internacional Comunista

Com a Palavra o Camarada Nguyen Ai Quoc


Camaradas, gostaria somente de completar a crítica do camarada
Manuilski a propósito da nossa política na questão colonial. Mas, antes
de abordar o assunto, creio necessário avançar alguns números que nos
permitirão apreender toda a importância do problema.

METRÓPOLES COLÔNIAS
PAÍSES Superfície Superfície
População População
(km²) (km²)
Grã-Bretanha 151.000 45.500.000 34.910.000 403.600.00
França 536.000 39.000.000 10.250.000 55.600.000
100.000.00
EUA 9.420.000 1.850.000 12.000.000
0
Espanha 504.500 20.700.000 371.600 853.000
Itália 286.600 38.500.000 1.460.000 1.623.000
Japão 418.000 57.070.000 288.000 21.249.000
Bélgica 29.500 7.642.000 2.400.000 8.500.000
Portugal 92.200 5.545.000 2.062.000 8.738.000
Holanda 83.000 6.700.000 2.046.000 48.030.000

Assim, pois, nove países com a população de 320 milhões de


habitantes e com a superfície de 11.407.600 quilômetros quadrados, ex-
ploram colônias totalizando 560 milhões e 193 mil habitantes, divididos
por uma superfície de 55.637.000 quilômetros quadrados.
A superfície do conjunto dos territórios coloniais é cinco vezes
superior à das metrópoles cuja população total representa apenas 3/5
das colônias.
Estes números são ainda mais eloquentes se consideradas isola-
damente as maiores potências imperialistas. A população das colônias
|56 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
britânicas é oito vezes e meia superior à da Inglaterra e a sua superfície
total representa cerca de 252 vezes a da metrópole.
Quanto à França, ocupa territórios dezenove vezes maiores do
que ela e a população das suas colônias ultrapassa a sua em 16 milhões
e 600 mil habitantes. Pode-se, pois, dizer, sem exageros, que enquanto o
Partido Comunista Francês e o Partido Comunista Inglês não aplicarem
uma política verdadeiramente ativa nas questões coloniais e não estabe-
lecerem contatos com as massas das colônias, seus programas máximos
permanecerão sempre letra morta.
Estes programas permanecerão letra morta pois serão contrários
ao leninismo. Eu explico-me.
Na sua palestra sobre Lenin e a questão nacional, o camarada
Stalin sublinhou que os reformistas e os líderes da Segunda Internacional
não ousaram pôr no mesmo pé de igualdade os povos de raça branca e
os povos de raça negra, que Lenin rejeitou esta desigualdade e aniquilou
o obstáculo que separava os escravos civilizados do imperialismo e os
povos escravos “não civilizados”.
Segundo Lenin, o sucesso da revolução na Europa ocidental está
estritamente ligado ao movimento de libertação nacional e anti-imperia-
lista nas colônias e nos países submetidos e, como nos ensinou, a ques-
tão nacional é uma parte do problema geral da revolução proletária e da
ditadura do proletariado.
O camarada Stalin referiu-se ao ponto de vista segundo o qual
a vitória do proletariado seria possível sem uma aliança direta com o
movimento de libertação das colônias.
E acusou esta visão de contrarrevolucionária.
Todavia, se nós procedermos a um exame teórico a partir dos
fatos, temos o direito de considerar que à exceção do Partido russo, o
ponto de vista de que falava Stalin, subsiste ainda nos nossos grandes
partidos proletários, visto que eles não fazem absolutamente nada
neste domínio.
O que fez a burguesia dos países colonizadores para manter sob
a sua opressão as largas massas dos povos colonizados?
Tudo. Ela conduz uma propaganda ativa utilizando todas as pos-
sibilidades que lhe proporciona o seu aparelho de Estado.
Por todos os meios – pelas conferências, cinema, imprensa,
exposições, para não citar senão os mais importantes – ela organiza
junto aos povos metropolitanos uma lavagem cerebral sistemática
com ideias colonialistas fazendo faiscar a seus olhos as perspectivas
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 57 |
de uma vida plena de facilidades, de glória e de abundância que parece
esperá-los nas colônias.
Quanto aos nossos partidos comunistas da Inglaterra, da Ho-
landa, da Bélgica e de outros países cuja burguesia invadiu as colônias,
que fizeram eles?
O que realizaram desde que assimilaram as teses de Lenin para
educar o proletariado dos seus países no espírito do verdadeiro inter-
nacionalismo proletário e da aproximação com as massas trabalhadoras
das colônias?
Tudo o que os nossos partidos puderam fazer neste domínio não
foi muito longe.
Quanto a mim, cuja pátria é colonizada pela França, e que sou
membro do Partido Comunista Francês, lamento imensamente ter que
dizer que o nosso Partido fez muito pouco pelas colônias.
É dever da nossa imprensa comunista familiarizar os nossos mi-
litantes com os problemas coloniais, despertar as massas trabalhadoras
das colônias e as conquistar para a causa do comunismo.
O que nós fizemos sobre esta questão?
Absolutamente nada.
Se compararmos o lugar reservado nas suas colunas às questões
coloniais pelo L’Humanité, órgão central do nosso Partido, a que lhe con-
sagram os jornais de diversas tendências como Le Populaire e La Liberté, é
preciso reconhecer imediatamente que a comparação não nos é favorável.
O Ministro das Colônias elaborou um plano para converter vas-
tas superfícies da África em imensas concessões atribuídas a particulares
e os seus habitantes em verdadeiros escravos presos a terra dos novos
senhores e, todavia, a nossa imprensa não disse uma palavra.
Nas colônias da África ocidental francesa, recorreu-se a meios
sem precedentes para operar o recrutamento obrigatório e a nossa im-
prensa não reagiu.
Os governantes da Indochina, transformando-se em traficantes de
negros do novo gênero, venderam os tonquineses aos concessionários das
ilhas do Pacífico; aumentaram a duração do serviço militar para os indíge-
nas de dois para quatro anos; concederam a maior parte das terras da co-
lônia aos tubarões do capitalismo financeiro; aumentaram em 30% os im-
postos que já excediam as capacidades fiscais dos contribuintes e tudo isso
no preciso momento em que as populações indígenas eram arrastadas para
a falência e morriam de fome quando não de inundações.
|58 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
E, todavia, nossa imprensa guarda segredo. É, pois, de se espan-
tar que as populações indígenas se voltem para as organizações demo-
cráticas liberais, como a Liga dos Direitos do Homem e para outras or-
ganizações análogas, que se ocupam ou parecem ocupar-se delas?
Se nós levarmos as coisas um pouco mais longe, constataremos
pelos fatos que ultrapassam a imaginação e que levam a crer que o nosso
Partido despreza sistematicamente tudo o que diz respeito às colônias.
É assim, por exemplo, que o L’Humanité nunca pensou em inse-
rir o apelo que a Internacional camponesa lançou aos povos coloniais
por intermédio da Internacional Comunista.
Na sua tribuna de discussão nas vésperas do Congresso de Lyon,
publicou todas as teses, à exceção das teses sobre o problema colonial.
L’Humanité ressaltou muitas vezes as vitórias do boxeador senegalês Siki,
mas não levantou sua voz quando os estivadores do porto de Dakar,
irmãos de Siki, foram presos em pleno trabalho, lançados para cami-
nhões, conduzidos a prisão e depois a caserna onde os forçaram a vestir
o uniforme para se tornarem à força os “guardas da civilização”.
O órgão central do nosso Partido manteve cotidianamente os
seus leitores informados sobre as explorações do piloto de Oisy que fez
a primeira travessia França-Indochina.
Mas quando governantes colonialistas da Indochina pilham os
habitantes de Anam, extorquindo-lhes as suas terras para passá-las aos
especuladores franceses, quando eles se divertem ao fazer chover as
bombas sobre a cabeça dos pobres indígenas expropriados para tentar
conduzi-los à razão, não julga necessário informá-los acerca disso.
Camaradas, a imprensa burguesa sabe claramente que a questão
nacional e a questão colonial são inseparáveis uma da outra.
Mas isso, creio que o nosso partido não compreendeu ainda. A
lição da Ruhr quando os destacamentos de atiradores indígenas, envia-
dos para “consolar” os operários alemães esfomeados, cercaram compa-
nhias de soldados franceses suspeitos; o exemplo do Exército do Ori-
ente onde os atiradores indígenas receberam armas automáticas para “le-
vantar a moral” dos soldados franceses fatigados das dificuldades e do
prolongamento da guerra; os incidentes de 1917 nos acantonamentos
russos em França, os ensinamentos da greve dos operários agrícolas dos
Pirineus contra os quais os soldados indígenas se viram constrangidos a
desempenhar o vergonhoso papel de fura-greves e, por fim, a presença
de 207 mil soldados indígenas no próprio solo da França; todos estes
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 59 |
fatos não puderam ainda conduzir o nosso Partido a refletir, ver a ne-
cessidade de realizar uma política clara e enérgica nas questões coloniais.
Ele deixou escapar por diversas vezes boas oportunidades de
propaganda. Os novos órgãos de direção reconheceram a passividade do
partido nesse domínio. Eis um bom sinal, porque a partir do momento
em que os dirigentes do partido constatam e reconhecem esta falha na
sua política, cada qual tem o direito de esperar que doravante o Partido
se aplicará com todas as forças a corrigir seus erros.
Estou convencido de que este Congresso marcará uma mudança
e que impulsionará o nosso Partido a colmatar a passividade destes últi-
mos anos. Se bem que as considerações do camarada Manuilski sobre as
eleições argelinas sejam muito justas, devo, para maior objetividade, di-
zer que é precisamente nisso que o nosso partido errou, mas que em
seguida corrigiu, mandando apresentar uma lista de delegados coloniais
no distrito do Sena.
É pouco, certamente, mas isso pode ser um início.
Fico contente por constatar que o nosso Partido acaba de tomar
excelentes decisões, que está pleno de ardor – o que é uma coisa nova
para nós –, e que lhe basta traduzir tudo isso por atos para chegar a uma
política justa nas questões coloniais.
Neste caso, como passar à ação? Não basta, como se fez até aqui,
apresentar longas teses e adotar resoluções sonoras que se deixa ador-
mecer de seguida, depois do Congresso, no pó dos museus.
O que nos falta são medidas concretas. Eis o que eu proponho
sobre este assunto:

1. Abrir uma rubrica no L’Humanité (pelo menos duas colunas


por semana) para inserir artigos que tratem de questões coloniais;

2. Reforçar a nossa propaganda e recrutar novos aderentes ao


Partido entre os indígenas das coloniais, onde a Internacional Comunista
pode fundar células;

3. Enviar os nossos camaradas das colônias à Universidade do


Oriente em Moscou;

4. Estabelecermos relações com a Confederação Geral Uni-


tária dos Trabalhadores para organizar os trabalhadores coloniais emi-
grados em França;
|60 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

5. Dar a diretiva a todos os membros do Partido para se


familiarizarem cada vez mais com as questões coloniais.

São, na minha opinião, propostas lógicas que caso forem adota-


das pela Internacional Comunista e pelo nosso Partido, a nossa delega-
ção, no próximo Congresso Mundial, estará no direito de declarar que a
frente unida do povo Francês e dos povos coloniais se tornou um fato.
Camaradas, na medida em que somos discípulos de Lenin, devemos con-
centrar nossas forças e nossas energias na questão colonial tal como em
outras questões, afim de traduzir em atos os seus ensinamentos.

O camarada Douglas (delegado inglês) [...]


O camarada Smeran [...]

O camarada Nguyen Ai Quoc


As colônias da França estendem-se por uma superfície de 10 mi-
lhões e 200 km², com a população de 55 milhões e 571 mil habitantes
divididos pelos quatro continentes.
A despeito das diferenças de raça, de clima, de costumes, de tra-
dições, de nível econômico e social, têm dois pontos comuns que podem
permitir-lhes marchar para a unidade, para lutar conjuntamente:

1. Em todas as colônias francesas, a indústria e o comércio, estão


muito pouco desenvolvidos e a população dedica-se quase exclusiva-
mente a agricultura, 95% dos indígenas são camponeses;

2. Em todas as colônias, os indígenas estão submetidos a uma


exploração permanente por parte dos imperialistas franceses.

O tempo é pouco para me entregar a uma análise aprofundada


da situação dos camponeses, em cada colônia particularmente. Limitar-
me-ei a alguns exemplos típicos para dar uma ideia geral da sua vida nas
colônias. Começarei pelo país que melhor conheço, o meu, a Indochina.
Durante a conquista, as operações militares expulsaram os nos-
sos camponeses das suas aldeias.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 61 |
No regresso aos seus lares, encontraram os seus arrozais entre as
mãos dos concessionários que vieram nos furgões dos exércitos de ocu-
pação e que não hesitaram em dividir entre eles as terras que os nossos
camponeses trabalharam há gerações.
De repente, os nossos camponeses tornaram-se servos reduzidos
à condição de trabalhar seus próprios arrozais por conta dos patrões es-
trangeiros. Muitos destes infelizes, incapazes de suportar as condições dra-
conianas impostas pelos seus espoliadores abandonaram as suas terras
para levar uma vida errante através do país, perseguidos pelos franceses
como se fossem piratas. Esta espoliação, como já dissemos, efetuou-se
por conta dos concessionários que bastava dizer uma palavra para obter
superfícies que ultrapassavam por vezes 20 mil ou 25 mil hectares.
Não satisfeitos em obter gratuitamente o solo, recebem ainda
gratuitamente todos os meios de produção para a sua exploração, com-
preendendo aí também a mão de obra.
A administração fornece-lhes um certo número de condenados
a trabalhos forçados que trabalham por nada, ou então obriga as comu-
nas a dar-lhes a mão de obra necessária.
Ao lado destes lobos do governo, convém assinalar o papel de-
sempenhado pela igreja. A missão católica possui um quarto das terras
aráveis da Cochinchina.
O meio de adquirir estas terras é muito simples: é a corrupção, a
chantagem, o constrangimento. Eis alguns exemplos esclarecedores.
A Missão aproveita-se das colheitas ruins para emprestar di-
nheiro aos camponeses obrigando-os a hipotecar suas terras como ga-
rantia. Sendo a taxa dos empréstimos exorbitante, os anamitas não po-
dem, dentro do prazo, liquidar a dívida, e as terras hipotecadas passam
para a Missão.
A igreja não recua perante nada para se apropriar de documentos
secretos comprometedores e é assim que ao fazer chantagem com os
oficiais, consegue fazê-los atender aos seus desejos. Ela associa-se à
grande finança para explorar as concessões adquiridas a títulos gratuito
e aos arrozais roubados dos camponeses. Ela tem homens que ocupam
postos no governo colonial.
Para a exploração das suas ovelhas, a Missão não se perde em
nada aos concessionários mais cruéis. Eis um outro dos seus comporta-
mentos. Ela reúne pobres para o arroteamento das terras e compromete-
se a distribuí-las em seguida.
|62 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Mas ao aproximar-se a época da colheita, reivindica a proprie-
dade desses domínios e expulsa aqueles mesmos que as valorizaram. Es-
poliados pelos seus “protetores’’ (religiosos ou laicos), nossos campone-
ses foram progressivamente impedidos de trabalhar em pequenos lotes
de terras restantes.
Mas isso não é tudo. O serviço de registro aumenta artificial-
mente a superfície das parcelas de terreno para coletar mais pesadamente
os contribuintes. A administração aumenta impostos de ano para ano.
Recentemente, depois de ter desapossado os anamitas da região alta de
milhares de hectares para os dar aos especuladores, as autoridades man-
daram sobrevoar a região com bombardeiros a fim de tirar aos expro-
priados a menor veleidade de rebelião.
Se estes camponeses espoliados, arruinados e perseguidos, en-
contram forma de arrotear terras incultas, a administração apropria-se
desses domínios, apesar de ter sido os camponeses que a valorizaram e
obriga-os a resgatar terras aos preços homologados.
Sem o que, serão expulsos. No último ano, os impostos sobre os
arrozais foram aumentados em 30% mesmo com o fato de que as inun-
dações tenham arrasado colheitas em todo o país.
Para além desses impostos injustos que os arrastaram para falên-
cia, nossos camponeses suportam ainda múltiplas cargas, particular-
mente as corveias, o imposto “per capita’’, a taxa sobre o sal, os emprés-
timos nacionais, a subscrições, os contratos desiguais que são obrigados
a assinar.
Os capitalistas franceses aplicam a mesma política de banditismo
e de espoliação na Argélia, na Tunísia e em Marrocos onde foram açam-
barcadas as terras mais férteis e melhor irrigadas.
Os indígenas expulsos dos seus lares tiveram que se instalar nas
regiões vizinhas às montanhas ou em terras ingratas para aí ganhar sua
vida. Associações financeiras, especuladores e altos funcionários repar-
tem entre si as terras destas colônias.
Em 1914, diversas transações trouxeram aos bancos da Argélia
e da Tunísia 12 milhões e 258 mil francos de lucros para um capital não
superior a 25 milhões de francos.
O Banco de Marrocos colocou em caixa, em 1921, 1 milhão e
753 mil francos de lucro para um capital de 15 milhões e 400 mil francos.
A Companhia Franco-argelina apropriou-se de 324 mil hectares
de terra entre as mais férteis do país.
A Companhia Argelina, de 100 mil hectares.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 63 |
Uma sociedade privada tornou-se proprietária a título gratuito de
50 mil hectares de floresta, enquanto que a Companhia de Fosfatos e de
Ferrovias de Capzer se apropriou de 50 mil hectares que contém ricas
jazidas e obteve um direito de propriedade sobre 25 mil hectares no en-
torno desta concessão.
Um antigo deputado atribuiu a si próprio um domínio de 1.125
hectares, rico em jazidas minerais, em um valor de 10 milhões de francos
e com rendimento anual de 4 milhões.
Quanto aos indígenas, donos incontestáveis dessas jazidas, cada
hectare não lhes rende mais do que um franco por ano. A política colo-
nial da França substitui a propriedade privada pela propriedade coletiva.
Ela liquidou igualmente a pequena propriedade privada em benefício da
grande apropriação latifundiária.
Retirou dos camponeses das colônias mais de 5 milhões de hec-
tares das melhores terras. No espaço de 15 anos, os camponeses de
Kabylie foram expropriados de 192.090 hectares. Desde 1913 que se
rouba todos os anos 12 mil e 500 hectares de terra aráveis aos campone-
ses marroquinos. Desde que a França ganhou a guerra “de direito’’, este
número subiu para 14 mil e 540 hectares. Atualmente, em Marrocos, 1
mil e 70 franceses são proprietários de 500 mil hectares.
Tal como seus irmãos de Anam, os camponeses da África leva-
ram uma vida inimaginável, são obrigados a múltiplos trabalhos obriga-
tórios e esmagados pelos impostos. A sua miséria é enorme.
Eles são obrigados a alimentar-se de grãos estragados, de ervas e
de plantas selvagens, e tornaram-se presa fácil do tifo e da tuberculose.
Mesmo nos anos de boa colheita vê-se, nas cidades, camponeses que
escavam nos montes de lixo e disputam sua alimentação com cães va-
dios. Nos anos de má colheita, os cadáveres cobrem as ruas e os campos.
As condições de vida das populações rurais da África Ocidental
e da África Equatorial francesa são ainda mais terríveis.
Quarenta companhias que repartem entre si essas colônias, apro-
priaram-se de quase todas as fontes de riqueza: terras, riquezas naturais,
e até da vida dos indígenas.
Estes já nem mesmo têm o direito de trabalhar por conta própria
e se veem obrigados a trabalhar para as companhias, sempre para as
companhias e nada mais do que para as companhias. Para não ter que
pagar a mão de obra, a sociedades não recuam perante nada.
|64 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Depois de ter apropriado das terras, só as fornecem em peque-
nos lotes àqueles que aceitam suas condições de trabalho. No segui-
mento da subalimentação, esses escravos de novo tipo são vítimas de
todas as espécies de doenças, a mortalidade fez entre eles, particular-
mente entre as crianças, estragos horríveis.
Além disso, as companhias obrigam os idosos, as mulheres e as
crianças a empregar-se como domésticos. Alojados em casebres, trata-
dos com desprezo e brutalidade, recebem rações de fome e as compa-
nhias não hesitam, se necessário, em liquidá-los.
Em certas localidades, os domésticos presos permanentemente
ao serviço dos patrões, para prevenir os delitos de fuga, são tão nume-
rosos como os operários agrícolas. Na época das lavras e da ceifa, os
indígenas não são autorizados a ocupar-se das suas terras antes de terem
assegurado o trabalho para as companhias. Daí, a fome e as epidemias
endêmicas que castigam rigorosamente as colônias.
Se algumas alcançam as florestas para se subtraírem à cruel ex-
ploração dos concessionários, são condenados a levar ali uma vida de
animal selvagem, alimentando-se de folhas e tubérculos, e são finalmente
ceifados pela malária que abunda nestes climas insalubres.
Enquanto isso, os patrões brancos arrasam seus campos e suas
vilas. Eis um estrato significativo do diário de um oficial que conta com
uma concisão das mais explícitas os procedimentos da repressão contra
os camponeses das colônias: (...) Operação de limpeza na vila de
Kolowau. Contra os Fans de Cuno, vila incendiada, plantações destruí-
das. Contra os Bekamis: vila de novo incendiada, 300 plátanos abatidos.
Contra a vila de Kua: vila incendiada, plantações arrasadas.
Contra Alcun, vila bombardeada, depois destruída junto às plan-
tações. Limpeza Esamfami: vila destruída. A região de Bome posta em
chamas e em sangue.
O mesmo regime de pilhagem, de espoliação, de massacre de
devastação abate-se nas possessões italianas, espanholas, inglesas e por-
tuguesas na África. No Congo Belga, a população diminuiu de 25 mi-
lhões em 1891 para 8,5 milhões em 1911.
Os hereros e os comards desapareceram completamente das
possessões alemãs da África, sendo 80 mil massacrados na ocupação
alemã e 15 mil na época da “pacificação’’ em 1914. Os 20 mil indígenas
que habitavam o Congo Francês em 1894, não eram mais do 9.700 em
1911. Uma província de 10 mil habitantes em 1910, não contava mais
do que 1.080, oito anos mais tarde. Em uma outra província de 40 mil
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 65 |
negros, 20 mil foram massacrados no espaço de dois anos, e 6 mil outros
mortos ou feridos nos seis meses seguintes.
Bastaram quinze anos para tornar desertas regiões ribeirinhas
onde viviam populações bastante densas. Os esqueletos dos indígenas
branqueiam o solo dos oásis e das vilas arrasadas.
Quanto aos sobreviventes, levam uma vida das mais trágicas: os
camponeses são desapossados dos pequenos pedaços de terra que ad-
quiriram com as suas economias, os artesãos perdem o seu ofício e os
pastores o seu gado.
Os grandes criadores de gado que são os matabéles, cujo arren-
damento de gado se elevava a 200 mil animais de chifres antes da che-
gada dos ingleses, não possuíam mais de 40.900 após dois anos de colo-
nização. Em 12 anos, os colonialistas alemães roubaram metade do mon-
tante de gado dos hereros que contavam com 90 mil cabeças de gado.
Tais fatos não têm conta nos países onde os negros entraram em
contato com civilização dos brancos.
Para concluir, citarei o testemunho de um negro, René Maran, o
autor de “Batouala’’. Lê-se sob a sua caneta: “a África Equatorial era uma
região populosa e rica em cauchu, onde se encontrava toda espécie de
pomares e de herdades para a criação de aves e de cabras.
Bastou sete anos para que tudo fosse arrasado.
As vilas foram destruídas, os jardins e as quintas abandonados,
as galinhas e as cabras desapareceram.
Os habitantes, esgotados por trabalhos extenuantes e não remu-
nerados, não possuem mais forças nem tempo para trabalhar a terra.
Desencadeiam-se epidemias, a fome faz estragos, a mortalidade sobe.
É preciso que se saiba, contudo, que estes homens descendem
de uma tribo de raça forte, cuja a resistência e combatividade já foram
provadas. Hoje nada mais há quem mereça o nome de civilização nestes
lugares’’. Para completar esse quadro já bastante trágico, acrescentarei
que o capitalismo francês não hesita em lançar regiões inteiras na miséria
e na fome se isso lhe for vantajoso.
Em numerosas colônias, na Reunião, na Argélia, em Madagascar,
etc., tende-se a substituir os cereais por culturas que interessem a indús-
tria francesa e que sejam mais lucrativos para os concessionários.
Daí resulta uma subida vertical do custo de vida nas colônias,
sendo a fome lá frequente. Em todas as colônias francesas, o desconten-
tamento sobe, paralelamente à miséria e à fome.
|66 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
A sublevação das colônias é eminente. Já se insurgiram em di-
versas colônias, mas em todas as vezes suas revoltas foram afogadas em
sangue. Se neste momento parecem resignados é devido unicamente à
falta de organização de dirigentes. A Internacional Comunista deve tra-
balhar para a sua união, fornecer-lhes os quadros dirigentes e guiá-los na
via da revolução e da libertação.

Extraído Do Processo Verbal


Estenografado Do Congresso.
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Linchamentos: aspecto pouco


conhecido da sociedade norte-americana

É bem conhecido o fato da raça negra ser a mais oprimida e a


mais explorada do gênero humano.
É bem conhecido que a expansão do capitalismo no mundo e a
descoberta do Novo Mundo tiveram como resultado imediato o renas-
cimento da escravidão que foi, por séculos, um flagelo para os negros e
uma terrível desgraça para a humanidade.
O que talvez nem todos saibam é que após 65 anos da dita eman-
cipação, os negros norte-americanos ainda enfrentam sofrimentos mo-
rais e materiais atrozes, dos quais o mais cruel e horrível é a prática do
linchamento.
A palavra “linchamento” vem de “Lynch”. Lynch era o nome de
um fazendeiro de Virginia, um latifundiário e juiz. Valendo-se dos pro-
blemas da Guerra de Independência, ele assumiu controle de todo o dis-
trito para si.
Ele praticava as punições mais selvagens, sem julgamento ou
processos legais. Graças aos comerciantes de escravos, Ku Klux Klan e
outras sociedades secretas a prática bárbara e ilegal do linchamento vem
se espalhando e prossegue amplamente nos Estados da União. Tornou-
se mais desumana desde a emancipação dos negros e se dirige especial-
mente contra estes últimos.
Imagine uma horda furiosa. Punhos cerrados, olhos vermelhos
de sangue, boca espumando, gritos, insultos, jogando pragas.
Esta horda é motivada pelo prazer selvagem de cometer um
crime sem risco nenhum. Estão armados com paus, tochas de fogo, re-
vólveres, facas, tesouras, ácido, punhais, com tudo que pode ser usado
para matar ou ferir alguém.
Imagine neste mar humano, carne negra sendo puxada, espan-
cada, pisoteada, rasgada, mutilada, jogada para lá e para cá, manchada de
sangue, morta. A horda são os linchadores. O farrapo humano é o negro,
a vítima.
|68 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Em uma onda de ódio e bestialidade, os linchadores levam o ne-
gro a uma árvore ou algum local público. Eles os amarram em uma ár-
vore, jogam querosene sobre seu corpo, o cobrem com material infla-
mável. Enquanto esperam o fogo acender, quebram seus dentes, um por
um. Então, arrancam seus olhos. Pequenos tufos de cabelo crespo são
arrancados de sua cabeça, levando pedaços de pele junto com eles, ex-
pondo um crânio sangrento. Pequenos pedaços de carne saem do seu
corpo, já contundido após os golpes.
O negro não pode mais gritar: sua língua foi inchada por um
ferro em brasa. Todo seu corpo murmura, tremendo, como uma cobra
esmagada. Uma facada: uma de suas orelhas cai no chão. Oh! Vejam
como ele é negro! Que terrível! E as senhoras choram em seu rosto...
“Acende!” – grita alguém – “o suficiente para cozinhá-lo bem
devagar”, outro acrescenta.
O negro é torrado, queimado, carbonizado. Mas ele merece mor-
rer duas vezes ao invés de uma. Portanto, ele é enforcado, ou para ser
mais exato, o que restou de seu corpo é enforcado. E todos aqueles que
não conseguiram ajudar a incendiá-lo, agora aplaudem.
Viva!
Quanto todos já se cansaram, o corpo é derrubado. A corda é
cortada em pedaços que serão vendidos cada um por três ou cinco dó-
lares. Lembranças e amuletos da sorte disputados entre as mulheres.
A “justiça popular”, como eles dizem, foi feita. Com tudo mais
calmo, a multidão parabeniza os “organizadores” e então anda de forma
leve e alegre, como se estivessem voltando de uma festa, fazendo co-
mentários uns com os outros sobre a próxima.
Enquanto isso, no chão, fedendo a gordura e fumaça, uma ca-
beça negra mutilada, queimada, deformada, ri sarcasticamente e aparenta
se perguntar ao sol se pondo: “é isto a civilização?”

Algumas estatísticas
De 1889 até 1919, 2 mil e 600 negros foram linchados, incluindo
51 mulheres e meninas e dez ex-soldados da Grande Guerra.
Entre os 78 negros que foram linchados em 1919, 11 foram quei-
mados vivos, três queimados após serem mortos, 31 baleados, três tor-
turados até a morte, um mutilado, um afogado, e 11 sentenciados à
morte por vários meios.
A Georgia lidera a lista, com 22 vítimas, Mississipi vem logo em
seguida, com 12. Ambos também têm na lista 3 soldados linchados. Dos
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 69 |
11 queimados vivos, o primeiro Estado tem 4 e o segundo, 2. Dos 34
casos de linchamentos sistemáticos, premeditados e organizados, ainda
é a Georgia que mantém o primeiro lugar com cinco. Mississipi vem
logo em seguida, com 3.
Entre as acusações levadas contra as vítimas de 1919, notamos:
1. Uma de ter sido membro da Liga dos não-Partisans (agricultores in-
dependentes); 2. Expressar muito livremente sua opinião sobre os lin-
chamentos; 3. Ter distribuído publicações revolucionárias; 4. Ter criti-
cado os confrontos entre brancos e negros em Chicago; 5. Ser conhecido
como líder da causa dos negros; 6. Não ter saído da rua e, portanto, ter
assustado uma criança branca que estava em um carro.
Em 1920, houve 50 linchamentos e em 1923, 28.
Estes crimes foram todos motivados pela cobiça econômica. Ou
os negros nos lugares eram mais prósperos que os brancos, ou os traba-
lhadores negros não se deixariam ser explorados completamente. De
qualquer forma, nunca acontecia nada aos principais culpados, pelo sim-
ples motivo de que eram sempre incitados, encorajados, estimulados e
depois protegidos pelos políticos, financistas e autoridades e, acima
tudo, pela imprensa reacionária.
Quando ia ocorrer ou tinha ocorrido um linchamento, a im-
prensa aproveitava aquilo como uma boa chance de aumentar as vendas.
O caso seria relatado com grande riqueza de detalhes. Sem a me-
nor condenação dos criminosos. Nenhuma palavra de piedade pelas ví-
timas. Nenhum comentário.
O New Orlean States de 28 de junho de 1919, publicou uma man-
chete na capa em letras grandes: “Hoje um negro será queimado por 3
mil cidadãos”. E imediatamente abaixo, em letras muito pequenas: “Sob
uma grande escolta, o Kaiser pegou o avião com o príncipe herdeiro”.
O Jackson Daily News do mesmo dia, publicou entre as duas pri-
meiras colunas de sua capa em letras grandes: “Negro J.H. a ser quei-
mado por multidão em Ellistown esta tarde, 5 p.m.”. O jornal apenas se
recusou a acrescentar “toda a população está encarecidamente convi-
dada a comparecer”. Mas o espírito disso está lá.

Alguns detalhes
“Esta tarde às 7:40 da noite, J.H. foi torturado com uma barra
de ferro em brasa vermelha, e depois queimado... Uma multidão de mais
de 2 mil pessoas, muitas sendo mulheres e crianças, estavam presentes
no ocorrido... Após o negro ser amarrado por trás, se acendeu o fogo.
|70 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Um pouco mais longe dali outro incidente com uma barra de ferro ocor-
ria. Quando a barra ficava vermelha, um homem pegava e a aplicava no
corpo do negro. O segundo, aterrorizado, pegava a barra com suas mãos
e enchia o ar com o odor de pele queimada. Com a barra de ferro quente
aplicada em várias partes de seu corpo, seus gritos e choros podiam ser
ouvidos de muito longe. Após vários minutos de tortura, homens mas-
carados despejaram gasolina nele e ateavam fogo em uma estaca. As cha-
mas subiam e cobriam o negro que implorava que o matassem. Suas
implorações provocaram gritos de escárnio”. (Chatanooga Time, 13 de feve-
reiro de 1918)
“15 mil pessoas, homens, mulheres e crianças, aplaudiram
quando gasolina foi derramada sobre o negro e o fogo ateado. Eles lu-
taram, gritaram e se empurraram para chegarem mais perto do negro...
Dois deles cortaram suas orelhas enquanto o fogo começava a queimá-
lo. Outro tentou cortar seus pés. A multidão surgiu e mudou de lugar
para que todos pudessem ver o negro queimar. Quando sua pele estava
inteiramente queimada, os ossos desnudados e o que tinha sido um ser
humano agora era um farrapo deformado e queimado, todos ainda esta-
vam lá observando”. (Memphis Press, 22 de maio de 1917)
“Homens de todas as classes sociais, mulheres e crianças estavam
presentes no cenário. Muitas mulheres da classe alta seguiram a multidão
de fora da prisão, outros se juntaram a ela de pátios vizinhos. Quando o
cadáver do negro caiu, os pedaços de corda foram calorosamente dispu-
tados”. (Vicheburg Evening Post, 4 de maio de 1919)
“Alguém cortou suas orelhas e outro removeu seu órgão sexual.
Ele tentou se agarrar à corda, seus dedos foram decepados. Enquanto
estava sendo içado à uma árvore, um homem enorme esfaqueou seu
pescoço; ele recebeu ao menos 25 golpes. (...) Ele foi içado várias vezes
e em seguida puxado para dentro de um fogareiro. Finalmente um ho-
mem o amarrou em um cavalo que arrastou o cavalo pelas ruas de Waco.
A árvore que havia ocorrido o enforcamento, estava bem debaixo de
uma janela da casa do prefeito. Enquanto a multidão agia, o prefeito
assistia. Por todo o caminho, todos tomavam parte no mutilamento do
negro. Alguns o feriam com pás, picaretas, tijolos, pedaços de pau. O
corpo ficou com marcas da cabeça aos pés. Um grito de alegria escapou
de milhares de gargantas quando atearam fogo no cadáver. Algum tempo
depois, o corpo foi jogado para o ar, para que todos o olhassem, o que
gerou grandes aplausos”. (Crisis, julho de 1916)
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Vítimas brancas dos linchamentos
Não são apenas os negros, mas também os brancos que ousam
defendê-los, como a Sra. Harriet Beecher Stowe – autora da Cabana do
Pai Tomás – que sofrem com isso. Elijah Lovejoy foi assassinado, John
Brown enforcado. Thomas Beach e Stephen Foster foram perseguidos,
atacados e presos. Aqui o que Foster escreveu na prisão: “quando eu
olho para meus membros danificados, eu penso que, para me manter
aqui, a prisão não será mais necessária por muito tempo. Nestes últimos
15 meses, abriram as grades para mim quatro vezes e por 24 vezes meus
compatriotas me expulsaram de suas igrejas, duas vezes me jogaram do
segundo andar de suas casas, causaram danos em meus rins; em outra
vez tentaram me marcar a ferro; outra vez 100 mil pessoas tentaram me
linchar, e deram 20 socos em minha cabeça, braços e pescoço”.
Em 30 anos, 708 brancos, incluindo 11 mulheres foram lincha-
dos. Alguns por terem organizado greves, outros por defenderem a
causa dos negros. Entre a coleção de crimes da “civilização” norte-ame-
ricana”, certamente o linchamento tem um lugar especial.

publicado no
La Correspondence Internationale, nº59, 1924
|72 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 73 |

Lenin e os Povos Coloniais

Lenin colocou as premissas de uma nova era, autenticamente re-


volucionária, nos países coloniais.
Foi o primeiro a criticar resolutamente os preconceitos que
nesta matéria ainda persistiam em numerosos revolucionários da Eu-
ropa e da América.
Todos conhecem as teses da Internacional Comunista acerca
da questão colonial.
Em todos os congressos da Internacional Comunista, dos sin-
dicatos internacionais da Juventude Comunista do mundo, a questão
colonial vinha à cabeça da ordem do dia.
Lenin foi o primeiro a considerar todo o alcance da questão que
consiste em levar os povos coloniais ao movimento revolucionário. Foi
o primeiro a mostrar que sem a participação dos povos coloniais não
poderia haver a revolução socialista.
Desenvolveu métodos eficazes no trabalho dos países coloniais
e pôs a tarefa de desenvolver o movimento revolucionário nacional.
Os delegados dos países coloniais presentes nos congressos da
Internacional Comunista recordam-se da atenção que Lenin prestava a
estes países.
Sabia aprofundar as condições de trabalho mais complexas e
que revestiam um caráter especificamente regional.
Cada um de nós tem agora tempo necessário para se convencer
da justeza das suas observações para dar-se conta do inestimado valor
dos seus ensinamentos com a habilidade inerente a estes métodos, des-
pertou as massas populares ainda inconscientes e extremamente atra-
sada das colônias.
Sua tática para este problema foi posta em prática pelos parti-
dos comunistas, os melhores elementos dos países coloniais.
O modo pelo qual Lenin resolveu a extremamente complexa
questão nacional na Rússia Soviética constituiu uma excelente arma de
propaganda para as colônias.
|74 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
No que diz respeito a história dos povos coloniais privados
dos seus direitos e fartos de sofrimentos, Lenin foi o criador de uma
nova vida, de uma nova possibilidade, o farol que ilumina a via de
libertação de toda humanidade oprimida.

Publicado Na Revista
Soviética Krasnui, Nº 2, 1925
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 75 |

Apelo por ocasião da fundação


do Partido Comunista da Indochina

Operários, camponeses, soldados, jovens, estudantes, compatri-


otas oprimidos e explorados, amigos, camaradas.
As contradições do capitalismo no seu estágio imperialista pro-
vocaram a guerra mundial de 1914-1918.
Depois desta horrível carnificina, o mundo dividiu-se em duas
frentes: de um lado, a frente revolucionária que engloba os povos
coloniais oprimidos e o proletariado mundial explorado, cuja van-
guarda é a URSS. Por outro lado, a frente contrarrevolucionária do
capitalismo internacional e do imperialismo, cujo Estado Maior é a
Sociedade das Nações.
Esta guerra causou aos povos perdas incalculáveis em homens e
bens. Foi o imperialismo francês quem teve maior perda. É por isso que,
a fim de restaurar as forças na França, os imperialistas franceses recor-
reram aos meios mais pérfidos para intensificar a exploração capitalista
na Indochina. Criam novas fábricas para explorar operários, pagando-
lhes um salário de fome. Roubam as terras dos camponeses para criar
plantações, tornando sua vida cada vez mais miserável. Esmagam sob
tributação exorbitante – e obrigam a comprar títulos de empréstimo. Em
resumo, encurralam o nosso povo para a miséria.
Eles aumentam suas forças militares. Em primeiro lugar, para
asfixiar a Revolução Vietnamita. Em segundo lugar, para preparar uma
nova guerra imperialista no Pacífico, para conquistar novas colônias.
Em terceiro lugar, com vista a reprimir a Revolução Chinesa.
Por fim, em quarto lugar, para atacar a União Soviética, porque
esta auxilia os povos oprimidos e o proletariado explorado a fazer a re-
volução. A Segunda Guerra Mundial rebentará.
É certo que os imperialistas franceses conduzirão então o nosso
povo a uma matança de um horror sem precedentes.
|76 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Se nós lhes deixássemos as mãos livres para preparar esta guerra,
se nós o deixarmos combater a Revolução Chinesa, atacar a URSS e de-
golar a Revolução Vietnamita, não seria isso deixá-los varrer a nossa raça
da face da Terra e afogar a nossa nação no oceano Pacífico?
Todavia, a opressão bárbara e a exploração feroz dos colonialis-
tas franceses despertaram a consciência dos nossos compatriotas.
Nós todos tomamos consciência de que só a revolução nos per-
mitirá viver e que sem a revolução, estamos condenados a uma morte
lenta, que o movimento revolucionário se desenvolve e se reforça todos
os dias: os operários fazem greve, os camponeses reclamam a terra, os
estudantes fazem a greve ás aulas e os comerciantes, a greve do mercado.
Por toda a parte, as massas se levantam contra os imperialistas franceses
que tremem diante da revolução crescente.
Por seu lado, utilizam, não só os feudais e os burgueses compra-
dores para oprimir e explorar os nossos compatriotas, como também
aterrorizam, lançam na prisão e massacram em massa os revolucionários
vietnamitas. Mas se julgam poder degolar a Revolução Vietnamita pelo
terror, cometem um erro grosseiro.
Em primeiro lugar, a Revolução Vietnamita não está isolada, se
beneficia do apoio do proletariado internacional e, particularmente, da
classe operária francesa.
Em segundo lugar, é precisamente no momento em que os co-
lonialistas redobram suas atividades terroristas que os comunistas viet-
namitas, antes divididos, se unem todos em um só partido, o Partido
Comunista Indochinês, para dirigir a luta revolucionária de todo o
nosso povo.
Operários camponeses, soldados, jovens, estudantes!
Compatriotas oprimidos e exploradores!
O Partido Comunista Indochinês está fundado.
É o partido da classe operária. Sob sua direção, o proletariado
dirigirá a revolução, no interesse de todos os oprimidos e explorados.
A partir de agora, nosso dever é aderir ao partido, ajudá-lo a re-
alizar as seguintes palavras de ordem:

1) Derrubar o imperialismo francês, o feudalismo e a burguesia


reacionária do Vietnã;
2) Conquistar a independência completa da Indochina;
3) Formar o governo dos operários, camponeses e soldados;
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 77 |
4) Confiscar os bancos e outras empresas imperialistas e colocá-
los sob o controle do governo dos operários, camponeses e sodados;
5) Confiscar todas as plantações e outras propriedades dos im-
perialistas e burgueses reacionários vietnamitas para distribuir aos cam-
poneses pobres;
6) Aplicar a jornada de trabalho de 8 horas;
7) Abolir os empréstimos forçados, a capitação e as taxas injustas
que se abatem sobre os pobres;
8) Efetivar as liberdades democráticas para as massas;
9) Conceder a instrução a todos;
10) Realizar a igualdade entre o homem e a mulher.

Entregue em Hong Kong,


Em 18 de fevereiro de 1930
|78 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 79 |

A linha do Partido durante o período da


Frente Democrática
1936-1939

1. Atualmente, o Partido não deve avançar pedidos demasiado


exigentes (independência do país, parlamento, etc.). Isso seria deixar-se
cair nas armadilhas dos fascistas. Deve formular exigências por direitos
democráticos: liberdade de expressão, anistia total para presos políticos;
lutar pela legalização do Partido.
2. Para atingir este objetivo, deve fazer todos os esforços para
organizar uma grande Frente Nacional Democrática. A frente deve com-
preender os indochineses e os franceses progressistas da Indochina, não
só as camadas trabalhadoras do país, como a burguesia nacional.
3. Com esta última, o Partido deve agir com muito cuidado e
flexibilidade; é preciso fazer tudo para atrair e reter na Frente, levá-la a
agir se possível, isolá-la se necessário. Não é conveniente deixá-la fora
da Frente. Deixá-la de fora da Frente seria empurrá-la para os braços de
reação, seria reforçar a reação.
4. Com os trotskistas, nenhum acordo, nenhuma concessão é
permitida. É preciso desmascarar por todos os meios estes agentes do
fascismo, é preciso exterminá-los politicamente.
5. Para desenvolver e consolidar suas forças, ampliar a influência
e tornar suas atividades ainda mais eficazes, a Frente Democrática Indo-
chinesa deve manter relações bastante estreitas com a Frente Popular
Francesa que também luta pelas liberdades democráticas e que pode
prestar-lhe auxílio preciosos.
6. O Partido não deve pretender ser o dirigente da Frente De-
mocrática; deve demonstrar-se como um dos partidos mais devotados,
ativos e sinceros. O lugar de dirigente virá quando, na luta e no trabalho
cotidiano, as largas massas reconheceram a justeza da sua política e da
sua capacidade de direção.
7. Para levar a bom termo estas tarefas, o Partido deve combater
impiedosamente o sectarismo e elevar o nível cultural e político dos seus
|80 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
membros através do estudo organizado e sistemático do marxismo-leni-
nismo, deve também ajudar a formar quadros entre os sem partido.
Deve manter relações estreitas com o Partido Comunista Francês.
8. O Comité Central deve fiscalizar os jornais do Partido, a fim
de evitar os erros técnicos e políticos (por exemplo: ao publicar a bio-
grafia do camarada R., o “Trabalho” relatou onde este camarada esteve,
como voltou, etc. O mesmo jornal publicou também, sem comentários,
a carta deste camarada, considerando trotskismo como produto da vai-
dade pessoal, etc.).

Extrato De Um Relatório Enviado


Por Nguyen Ai Quoc À
Internacional Comunista,
Em Julho De 1939.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 81 |

Carta ao
Partido Comunista da Indochina

Queridos camaradas!

No passado, segundo minha opinião e de um bom número de


camaradas, o trotskismo apareceu para nós como uma questão de luta
entre as tendências no seio do Partido Comunista da China. Por isso
quase não lhe dedicamos atenção. Mas, pouco antes do estalar da guerra,
mais exatamente desde o fim do ano de 1936 e, sobretudo durante a
guerra, 6a propaganda criminosa dos trotskistas fez com que nós abrís-
semos os olhos. Depois nos pusemos a estudar o problema. E nosso
estudo nos levou às seguintes conclusões:
1. O problema do trotskismo não é uma luta entre as tendências
no seio do Partido Comunista da China. Porque entre comunistas e
trotskistas não existe qualquer laço, absolutamente nenhum. Trate-se de
um tema que concerne ao povo inteiro: a luta contra a pátria.
2. Os fascistas japoneses e estrangeiros o conhecem. Por isso
buscam criar falácias para enganar a opinião pública e prejudicar o nome
dos comunistas, fazendo com que as pessoas pensem que comunistas e
trotskistas pertencem ao mesmo campo.
3. Os trotskistas chineses (assim como os trotskistas de outros
países) não representam um grupo, muito menos um partido político.
Não são mais do que uma corja de criminosos, de cães de caça do fas-
cismo japonês (e do fascismo internacional).
4. Em todos os países, os trotskistas se deram belos apelidos para
mascarar sua suja tarefa de bandidos. Por exemplo, na Espanha, se de-
nominavam Partido Operário de Unificação Marxista (POUM). Vocês
sabiam que são eles que constituem ninhos de espiões em Madrid, em
Barcelona e em outros lugares, a serviço de Franco? São eles que orga-
nizam a célebre “quinta coluna’’, um organismo de espionagem do exér-
cito dos fascistas italianos e alemães. No Japão, se denominam como
|82 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Liga Marx-Engels-Lenin (MEL). Os trotskistas japoneses atraem os jo-
vens para sua organização e logo os denunciam para a polícia. Buscam
penetrar no Partido Comunista Japonês com o objetivo de destruí-lo por
dentro. Segundo minha opinião, os trotskistas franceses, atualmente or-
ganizados em torno do grupo Revolução Proletária, estabeleceram como
meta sabotar a Frente Popular. Sobre este assunto, penso que vocês es-
tarão mais informados do que eu. Em nosso país, os trotskistas se agru-
pam em organizações tais como La Lutte, Guerra contra os Japoneses,
Cultura e Bandeira Vermelha.
5. Os trotskistas não são só inimigos do comunismo, mas tam-
bém inimigos da democracia e do progresso. São os traidores e os espi-
ões mais infames. Talvez tenham lido as atas de acusação dos processos
na União Soviética contra os trotskistas. Se vocês ainda não leram, acon-
selho a ler com seus amigos. É uma leitura muito útil. Ajudará vocês a
ver a verdadeira face repugnante do trotskismo e dos trotskistas. Aqui,
deixem-me extrair algumas passagens relacionadas diretamente a China.
A verdadeira face repugnante do trotskismo.
Ante o tribunal, o trotskista Rakovsky confessou que em 1934,
quando estava em Tóquio (como representante da Cruz Vermelha sovi-
ética) um membro do alto escalão do governo japonês lhe havia dito:
“temos o direito de esperar dos trotskistas uma mudança de estratégia.
Não quero entrar em detalhes. Só que eu queria dizer que espe-
ramos da parte dos trotskistas, ações que favoreçam nossa intervenção
nos assuntos da China’’. Respondendo a este japonês, Rakovsky dizia:
“vou escrever a Trotsky sobre disso’’. Em dezembro de 1935, Trotsky
enviou aos seus partidários na China, instruções em que enfatizava várias
vezes esta frase: “não criar obstáculos à invasão japonesa na China’’. E
como vem atuando os trotskistas da China? Estão com pressa de saber,
não é? Mas, amados camaradas, não poderei responder até minha pró-
xima carta. Vocês não me recomendaram escrever cartas curtas? Espero
vê-los em breve.

Correspondência enviada de Kwelin,


Em 10 de maio de 1939
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 83 |

Carta do Estrangeiro

Respeitáveis anciãos!

Personalidades patrióticas!

Intelectuais, camponeses, operários, comerciantes, soldados!

Caros compatriotas!

Desde que os franceses foram abatidos pelos alemães, as suas


forças desagregaram-se. Mas em relação ao nosso povo, prosseguem
com seus abomináveis procedimentos de pilhagem, sugam o nosso san-
gue e o aplicam abertamente uma política de massacre e de terror.
Pondo-se de joelhos diante do invasor, alienaram uma parte do nosso
país aos japoneses. O nosso povo geme sob um duplo jugo. Ele, que já
servia de besta de carga aos piratas franceses, eis que agora se torna es-
cravo dos piratas japoneses. Alto lá! Que crime cometeu o nosso povo
para suportar uma sorte tão infeliz? Mas nesta situação lamentável, vai o
nosso povo entregar-se de mãos e pés atados à morte?
Não! Nada disso! Mais de 20 milhões de descendentes dos Lac e
dos Hong estão decididos a não suportar mais esta vida de escravo, há
80 anos, mesmo sob o tacão de ferro nunca deixamos de combater pela
liberdade e independência nacional, custasse o que custasse. O espírito
de patriotismo e de valentia de nossos mais velhos como Pha Dinh
Phung, Hoang Hoe Tham, Luong Ngoc Quyen, os feitos gloriosos dos
heróis de Thay Nguyen, de Yen Bai, do Nghe Tinh, etc., estão sempre
vivos em nossa memória. As insurreições recentes do Nam Bo, do Do
luong, de Bac son, comprovam que os nossos compatriotas estão deter-
minados a seguir os caminhos gloriosos das gerações anteriores e conti-
nuar o heroico combate para aniquilar o inimigo. Se nossos esforços
ainda não alcançaram o seu objetivo final, isso não significa de modo
|84 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
algum que os colonialistas franceses sejam fortes, mas que as condições
não estavam amadurecidas e que a união nacional não estava ainda ple-
namente realizada em todo o país.
Hoje, a hora da libertação soou. A França revelou-se incapaz de
exercer por si só seu domínio sobre nosso país. Quanto aos japoneses,
atolados na China, travados pela ação dos Aliados, não podem empenhar
todas suas forças contra nós. Se nosso povo se unir em um só bloco,
poderemos derrotar os corpos expedicionários franceses e japoneses,
por melhor armados que estejam.
Caros compatriotas de todo o país! Levantai-vos! Sigamos o glo-
rioso exemplo do povo chinês! Organizemos sem tardar a Liga para a
Salvação Nacional contra os franceses e os japoneses!
Caros compatriotas, há centenas de anos, quando o nosso país
se encontrava diante da invasão mongol, os anciões do tempo do Tran
levantaram-se para conclamar ao povo a unir-se para derrubar os inva-
sores. O perigo foi repelido e a glória dos nossos defensores transmitiu-
se para a eternidade.
Os nossos anciãos e as nossas personalidades patrióticas devem
tomar sempre o exemplo dos nossos ilustres antepassados.
Nobres, ricos, soldados, operários, camponeses, comerciantes,
funcionários, jovens, mulheres, vós sois plenos de patriotismo! Atual-
mente, a libertação nacional está acima de tudo: Unamo-nos! Conjugue-
mos nossos esforços e com o mesmo espírito ardente, combatamos os
japoneses, os franceses e seus cães, para salvar nosso povo do abismo.

Caros compatriotas!

A salvação nacional é a obra comum de todo nosso povo. Cada


vietnamita deve dar seu contributo. Aquele que tem dinheiro darão seu
dinheiro, os homens fortes darão a força dos seus braços, os que têm
habilitações darão os seus talentos. Eu faço juramento de me doar com-
pletamente, por mais modestos que sejam as minhas capacidades, para
vos seguir no serviço da pátria, mesmo que para isto tenha que sacrificar
minha própria vida!

Combatentes da Revolução!
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 85 |
A hora soou! Levantai bem alto o estandarte de insurreição, di-
rigir nosso povo para derrubar os franceses e os japoneses! O apelo sa-
grado da pátria ecoa em vossos ouvidos: o sangue ardente dos nossos
antepassados heroicos ferve em vossos corações! O heroísmo de nosso
povo explode sob os vossos olhos! Unamo-nos, realizemos a unidade de
ação para derrubar os franceses e os japoneses!

A Revolução Vietnamita vencerá!

A Revolução Mundial vencerá!

Nguyen Ai Quoc
Correspondência De
6 De Julho De 1941
|86 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 87 |

Diretrizes sobre a formação da Brigada de


Propaganda Armada para Libertação do Vietnã

1. O nome “Brigada de Propaganda Armada” significa


que a ação política da brigada é mais importante do que seu es-
forço militar.

Ela ocupa-se, sobretudo, da propaganda. Para chegar a uma


ação eficaz, ou princípio fundamental a ser observado é o de concen-
tração das forças.
Por isso, conforme as novas diretrizes da nossa organização, é
preciso escolher, entre as formações de guerrilheiros de BAC CAN,
Lang Son, Ko bang, os elementos mais resolutos e mais energéticos
para constituir a nossa principal brigada. Esta será dotada da maior
parte das armas disponíveis.
Sendo a nossa resistência de caráter popular, devemos mobili-
zar e armar todo o povo. Ao concentrar as forças para constituir a pri-
meira brigada, deve-se pensar em conservar as forças regionais, coor-
denar a ação e ajudá-las em todos os aspectos.
Por seu lado, a brigada tem o dever de proteger os quadros mi-
litares regionais, ocupar-se da sua instrução, abastecê-los de arma-
mento se possível, fazer tudo que permite as forças regionais crescer
constantemente.

2. Acerca das forças regionais: reagrupar os quadros para


os instruir, e reenviá-los em seguida para as localidades, proce-
der as trocas de experiências, manter uma sólida ligação entre as
diversas unidades, coordenar a sua ação no combate;

3. Tática – praticar o método da guerrilha: segredo, rapi-


dez, iniciativa (hoje a leste, manhã a oeste);
|88 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
Aparecer e desaparecer de surpresa sem deixar marca.

A Brigada de Propaganda Armada para Libertação do Vietnã


foi chamada a tornar-se o primogênito de uma numerosa família. Que
possa vir o mais depressa possível o nascimento de novas brigadas que
a apoiarão. Modestos são sem dúvida os seus começos, mas ela, vê
abrir-se diante de si as mais gloriosas perspectivas.

Ele é o embrião do Exército de Libertação e tem a sua frente


como campo de ação todo o solo do Vietnã, de Norte a Sul.

Sobre A Formação Das Brigadas


Em 22 De Dezembro De 1944
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 89 |

Apelo a Insurreição Geral

Caros compatriotas! Há quatro anos, conclamei-vos a união, pois a


união faz força, e a força é a chave da conquista da independência e da liber-
dade do nosso país. Atualmente, as tropas japonesas, estão desagregadas.
O Movimento pela Salvação Nacional mobiliza todo o país.
A Liga para a Independência do Vietnã (Viet Minh) conta com
milhões de aderentes de todas as camadas sociais – intelectuais, campo-
neses operários comerciantes, soldados – e de todas as nacionalidades,
Tho, Nung, Nuong, Man.
Nas suas fileiras, os nossos compatriotas, jovens e idosos, homens
e mulheres, vão ombro a ombro sem distinção de religião e de fortuna.
A Liga convocou recentemente o Congresso Nacional do Povo
e este elegeu o Comitê de Libertação Nacional para dirigir todo o país
em sua firme luta pela independência.
Isso constituiu um grande passo à frente na história da luta con-
duzida pelo nosso povo há quase um século pela sua libertação.
É para os nossos compatriotas um poderoso estímulo e, para
mim, uma imensa alegria. Mas nós não podemos ficar por aqui.
A nossa luta será ainda dura e longa. A derrota dos japoneses
não nos torna por si só livres e independentes.
Temos de redobrar os esforços. É apenas graças a união e a luta
que nosso país poderá recuperar a sua independência.
O Viet Minh serve atualmente de base a União e a luta do nosso
povo. Associai-vos ao Viet Minh, levai-lhes o vosso apoio e fazei com
que eles se reforcem ainda mais.
O Comitê Nacional de Libertação do Vietnã equivale neste mo-
mento a um governo provisório.
Uni-vos em torno dele, vigiai para que sua política e ordens se-
jam executadas em todo o país.
Assim, infalivelmente, nossa pátria recupera a sua independência
e, o nosso povo, a sua liberdade.
|90 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Caros Compatriotas! Chegou a hora decisiva para os destinos


do nosso povo de pé! Compatriotas! Libertemo-nos por nossas pró-
prias forças!
Numerosos povos oprimidos no mundo inteiro lutam com a
ardor pela sua independência.
Nós não nos deixaremos ficar para trás. Avante, compatriotas!
Em frente corajosamente sob a bandeira do Viet Minh!

Escrito Em Agosto De 1945


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 91 |

Carta aos mais velhos

Caros anciãos!

Falo com um ancião assim como vocês.


Há um ditado que diz que “os talentos se esgotam ao envelhe-
cer” e nossos compatriotas mais velhos geralmente acreditam nisso.
O que quer que aconteça, eles dizem: “as pessoas mais velhas
devem viver em silêncio, nós somos velhos, nós Não temos mais ambi-
ções. Cabe aos nossos filhos lidar com temas atuais. Estamos próximos
da morte, não precisamos mais ser ativos”.
Não me agrada essa visão.
Os patriotas nunca viverão ociosos por conta da idade.
A China teve pessoas como Ma Fu Po.
Nosso país teve pessoas como Ly Thuong Kiet.
Ambos, à medida em que envelheciam, mais enérgicos e he-
roicos tornavam-se.
Hoje, nossa independência e nossa liberdade foram reconquista-
das, mas ainda teremos de enfrentar muitas dificuldades para consolidá-
las. Em razão disso, nosso povo, sejam jovens ou idosos, devem se em-
penhar em tomar parte desta responsabilidade.
Nossos filhos são jovens, farão o trabalho pesado.
Nós somos idosos, não podemos realizar o trabalhar duro, mas
nos apoiando em nossas bengalas tomaremos a iniciativa de encorajá-
los, passando a eles nossa experiência.
Nós somos idosos, devemos nos unir sinceramente para servir-
mos de exemplo para nossos filhos.
Espero que os anciãos de Hanoi sejam pioneiros na organização
da Associação da Salvação Nacional dos idosos, a fim de que os mais
velhos de todo o país contribuam para a conservação da nossa indepen-
dência nacional.

correspondência de 20 de setembro de 1945


|92 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 93 |

Declaração da Independência da República


Democrática do Vietnã

“Todos os homens nascem iguais. O criador deu-nos direitos


invioláveis, o direito de viver, o direito de ser livre e o direito de al-
cançar nossa felicidade”.
Essas palavras imortais são tiradas da declaração de indepen-
dência dos Estados Unidos da América em 1776.
Tomada num sentido mais lato, esta frase significa: todos os
povos existentes na terra nasceram iguais; todos os povos têm o di-
reito de viver, de serem felizes de serem livres.
A declaração dos direitos do homem e do cidadão da Revolu-
ção Francesa de 1791 proclama igualmente: “os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos”.
Estas são verdades inegáveis.
E, contudo, durante mais de 80 anos os franceses, passando
por cima da bandeira da liberdade, da igualdade e da fraternidade,
violaram nossa terra e oprimiam nossos compatriotas.
Seus atos vão diretamente contra os ideais de humanidade e de
justiça. No domínio político, eles, privaram-nos de todas as liberdades.
Impuseram-nos leis desumanas.
Constituíram três regimes políticos diferentes no Norte, no
Centro e no Sul do Vietnã para destruir a nossa unidade nacional e
impedir a união do nosso povo.
Constituíram mais prisões do que escolas.
Castigaram sem piedade os nossos patriotas.
Afogaram nossas revoltas em mares de sangue.
Subjugaram a opinião pública e praticaram uma política de
obscurantismo.
Impuseram-nos o uso do ópio e do álcool para enfraquecer a
nossa raça.
|94 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

No domínio econômico fomos explorados até a medula, re-


duziram nosso povo a mais profunda miséria e saquearam impiedo-
samente nosso país.
Eles espoliaram os nossos arrozais, as nossas minas, as nossas
florestas, as nossas matérias primas.
Obtiveram privilégio de emissão de dinheiro em papel e mo-
nopólio do comercio externo.
Inventaram certos impostos injustificáveis.
Encurralaram nossos compatriotas, sobretudo, camponeses e
comerciantes, de uma pobreza extrema.
Impediram nossa burguesia nacional de prosperar, exploraram
nossos operários do modo mais bárbaro.
No outono de 1940, quando os fascistas japoneses com a in-
tenção de combater os Aliados, invadiram a Indochina para organizar
novas bases militares, os colonialistas franceses ajoelharam-se para
entregar-lhes o nosso país.
Então nosso povo, sob o duplo jugo japonês e francês, foi
totalmente golpeado.
O resultado foi terrível.
Nos últimos meses do ano passado e no princípio deste ano,
de Quang Tri até o Vietnã do Norte, mais de dois milhões de compa-
triotas morreram de fome.
No dia 9 de março, os japoneses desarmaram as tropas francesas.
Os colonialistas franceses fugiram ou renderam-se.
Assim, em vez de nos “proteger”, no espaço de 5 anos vende-
ram por duas vezes nosso país aos japoneses.
Antes do dia 9, por diversas vezes, a Liga Viet Minh convidou
os franceses a juntarem-se à luta contra os japoneses.
Os colonialistas franceses, ao invés de corresponderem a este
apelo, reprimiram brutalmente os partidários do Viet Minh.
Quando da sua debanda chegaram ao ponto de assassinar um
grande número de presos políticos encarcerados em Yen Bay e em
Cao Bang.
Apesar de tudo isso, nossos compatriotas continuaram a ter
uma postura clemente e humana.
Depois dos acontecimentos de 9 de março, a Liga Viet Minh
ajudou grande número de franceses a ultrapassar a fronteira, salvou
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 95 |

outros das prisões nipônicas e protegeu a vida e os bens dos france-


ses. Com efeito, desde outubro de 1940, nosso país deixou de ser uma
colônia francesa para se tornar uma possessão nipônica.
Depois da rendição dos japoneses, todo o nosso povo se le-
vantou para reconquistar a sua soberania nacional e fundou a Repú-
blica Democrática do Vietnã.
A verdade é que nosso povo reconquistou nossa independên-
cia das mãos dos japoneses e não dos franceses.
Os franceses fogem, os japoneses rendem-se, o imperador
Bao Dai abdica.
O nosso povo aniquilou todas as cadeias que pesavam sobre
nós há quase um século para fazer do nosso Vietnã um país indepen-
dente.
O nosso povo destruiu o regime monárquico estabelecido há
dezenas de séculos, para fundar a República Democrática.
Por todas estas razões, nós, membros do governo provisório,
declaramos em nome do povo de todo Vietnã libertar completamente
o Vietnã de todas as relações coloniais com a França imperialista,
anular todos os tratados que a França assinou em relação ao Vietnã,
abolir todos os privilégios de que os franceses se arrogaram sobre o
nosso território.
Todo o povo do Vietnã animado com uma mesma vontade,
está determinado a lutar até o final contra qualquer tentativa de agres-
são dos colonialistas franceses.
Estamos convencidos de que os Aliados, que reconheceram
os princípios da igualdade dos povos nas conferências de Teerã3 e São
Francisco4.
Não podem deixar de reconhecer a independência do Vietnã.

3. Conferência das delegações da URSS, dos Estados Unidos e da Inglaterra realizada


de 28 de novembro a 1º de dezembro de 1943 em Teerã, capital do Irã. Adotou um
plano para arrasamento das forças armadas nazistas, uma resolução com o objetivo de
abrir uma segunda frente na Europa antes de 1º de maio de 1944 e uma resolução para
garantir uma paz durável no mundo após o fim das hostilidades, etc. Mas os meios
dirigentes estadunidense e inglês longe de por tais princípios em prática, fugiram das
duas responsabilidades.
4. Conferência realizada de 25 de abril a 26 de junho de 1945 com a participação de 50
nações por convocação da URSS, dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Chiang de
Chiang Kai-shek na cidade de São Francisco, nos EUA. Criou a Organização das Na-
ções Unidas.
|96 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Um povo que se opôs obstinadamente a dominação francesa


durante mais de 80 anos, um povo que durante estes últimos anos se
dispôs resolutamente ao lado dos Aliados a lutar contra o fascismo,
esse povo tem direito de ser livre, esse povo tem o direito de ser in-
dependente.
Por estas razões, nos membros do governo provisório da Re-
pública Democrática do Vietnã, proclamamos solenemente ao
mundo:
O Vietnã tem o direito de ser livre e independente e, com
efeito, tornou-se um país livre e independente.
Todo o povo do Vietnã está decidido a mobilizar todas suas
forças morais e materiais, a sacrificar a sua vida e seus bens para con-
servar seu direito à liberdade e à independência.

Declaração lida em 2 de setembro de 1945,


pelo presidente Ho Chi Minh no decorrer de um encontro
com meio milhão de pessoas na praça Ba Dinh,
em Hanoi.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 97 |

Aos compatriotas de Nan Bo

Caros compatriotas do Nan Bo, nosso país acaba de reconquistar


a sua independência e já é vítima de nova agressão. Quando o Japão de-
sencadeou a guerra, os colonialistas franceses renderam-se ou puseram-se
em fuga. Terminada a guerra vemo-los rondar de novo, procurando, se-
creta ou abertamente, retomar a nossa pátria; por duas vezes em quatro
anos, venderam o Vietnã, agora tentam impor-nos de novo seu domínio.
Compatriotas do Nan Bo confio, tal como toda a nação, do vosso
firme patriotismo. Lembremos das heroicas palavras de um grande revo-
lucionário francês: “antes morrer livre do que viver escravo”. Como to-
dos vocês, estou convencido de que o nosso governo e todos os nossos
compatriotas apoiaram os combatentes e o povo de Nan Bo que se
sacrificam neste momento para defender a nossa intendência nacional.
Tal como todos os nossos compatriotas, estou certo de que todos
os homens e os povos do mundo inteiro amantes da liberdade e da igual-
dade estão solidários conosco. Estamos certos da vitória porque temos a
força da união de todo o povo, estamos certos da vitória do que a nossa
causa é justa, queria apenas fazer-vos uma recomendação: no que diz res-
peito aos prisioneiros franceses, nós devemos mostrar-nos vigilantes e
guardá-los bem, mas, por outro lado, convém tratá-los com indulgência.
É preciso que o mundo todo, e antes de mais nada o povo fran-
cês, saibam que nós reclamamos apenas a independência e a liberdade, e
não estamos inspirados nem pelo ódio, nem pela vingança. Procedemos
de forma que o mundo inteiro saiba que nós somos um povo mais civi-
lizado do que os agressores que assassinam para conquistar o nosso país.

Viva a independência do Vietnã!

Viva os compatriotas do Nan Bo!

Discurso pronunciado em
26 de setembro de 1945
|98 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 99 |

Aos comitês do Vietnã do Norte, do Centro e do


Sul, a todos os Comitês de províncias, de distrito
e de comuna
Outubro de 1945

Caros amigos, nosso país viveu sob jugo dos colonialistas france-
ses durante mais de 80 anos e sob o dos fascistas japoneses durante quase
cinco anos.
Nosso povo sofreu fome e miséria difíceis de descrever. Só esta
lembrança faz despedaçar nosso coração. A união de todo povo e a sábia
direção do nosso governo permitiram-nos quebrar nossas cadeias e recon-
quistar a nossa liberdade e a nossa independência. Sem o povo, não há
forças, sem o governo, não há direção; povo e governo devem então for-
mar um bloco monolítico. Nós edificamos a República Democrática do
Vietnã. Mas, a independência não teria sentido se o povo não conhecesse
nem a felicidade, nem liberdade.
O governo se comprometeu a fazer tudo para que cada um tivesse
seu quinhão de felicidade. A reconstrução exigira tempo, não se fará em
um mês, nem em um ano, mas desde os primeiros passos, devemos enve-
redar pela via correta. Lembremo-nos que do escalão nacional ao escalão
comunal, os órgãos do governo estão a serviço do povo ou: eles devem
servir o povo ocupando-se do interesse público e não o esmagar como
era então sob os domínios francês e japonês. Para servir o povo, nós de
tudo faremos para o realizar. O que prejudicar os seus interesses nós de
tudo faremos para evitar. Amemos o povo se quisermos que o povo nos
ame e nos respeite. Eu não desconheço que muitos de entre vós aplicam
fielmente a política do governo e souberam ganhar a confiança do povo.
Outros, todavia, cometeram falhas muito graves, cujas principais são:
1. Violação da Legalidade: os traidores, contra quem foram levan-
tadas acusações formais, devem ser punidos, isto é evidente e ninguém
terá a coragem de contradizer. Mas, acontece que, por vingança pessoal,
se procede prisões e confiscações de bens que provocam descontenta-
mento da população.
|100 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

2. Abuso do poder: sob o pretexto de ser membro deste ou da-


quele comitê, zomba-se dos regulamentos e das pessoas, age-se arbitrari-
amente, despreza-se a opinião pública, já não se pensa no povo, esque-
cendo que foi eleito por ele para servi-lo, não para cometer abusos.
3. Corrupção de costumes: deseja-se aparecer, ser elegante, toma-se
cada vez mais gosto pelo luxo, gasta-se cada dia mais. De onde vem o di-
nheiro? Pior ainda, desviam-se bens públicos e despreza-se a integridade e
a virtude. O senhor membro do comitê faz uso do carro da administração,
depois sua esposa, em seguida suas filhas e seus filhos! Afinal, quem paga?
4. Favoritismo: fazem-se partidários e distribuem-se cargos a in-
capazes só porque são seus parentes e seus amigos; afastam-se homens de
valor, homens íntegros que não são bajuladores. Esquece-se que se trata
de um cargo público e não de assuntos pessoais.
5. Espírito divisionista: torna-se partido por um grupo contra ou-
tro ao invés de levar as diferentes camadas sociais a fazer concessões mú-
tuas e entender-se. Tem-se chegado, em certas localidades, a deixar até
terras sem cultivo, os camponeses queixam-se com razão. Esquece-se de
que a nossa tarefa atual é de unir todo povo sem distinção de idade ou de
fortuna, para salvaguardar a independência e combater o inimigo comum;
6. Orgulho: porque se somos membros de uma administração nos
julgamos semideuses, desprezamos o povo, apregoamo-nos a todo ins-
tante como “mandarim revolucionário”. Esquecem-se de que estas fan-
farronices nos farão perder a confiança do povo e prejudicarão o prestígio
do governo. Não devemos temer os erros, mas, uma vez revelados, é pre-
ciso corrigi-los a todo custo. Que aqueles que não cometeram estas faltas
as evitem e se esforcem para alcançar novos progressos; que aqueles que
os cometeram se corrijam resolutamente, senão o governo não perdoará.
Pela felicidade do povo e pelo interesse da nação que eu faço estas
observações. Temos o dever de gravar profundamente em nossos cora-
ções a justiça e o direito.
Confio que fareis progresso.

documento de outubro de 1945


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 101 |

Discurso no início da Guerra de


Resistência no Sul do Vietnã

Compatriotas!

Durante a Segunda Guerra Mundial, os franceses venderam duas


vezes nosso país aos japoneses.
Eles traíram as nações aliadas e ajudaram os japoneses a gerar
perdas aos aliados.
Enquanto isso, traíram nosso povo, nos expondo à destruição
de bombas e balas.
Os franceses se retiraram por vontade do lado aliado e rasgaram
os tratados que tinham nos compelido a assinar. Mesmo com a traição
dos franceses, nosso povo estava engajado a ficar do lado dos Aliados e
se opor aos invasores.
Quando os japoneses se renderam, nosso povo transformou
nosso país em uma República Democrática e elegeu um Governo Pro-
visório que deve preparar um Congresso Nacional e elaborar nosso pro-
jeto de Constituição.
Não apenas agimos alinhado com o Atlântico e com as cartas
patentes de São Francisco, proclamadas pelos Aliados, mas agimos con-
forme os princípios que o povo francês sustenta, ou seja, Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.É claro que no passado os colonialistas traíram
os Aliados e o nosso país ao se render aos japoneses.
À sombra das tropas britânicas e indianas e atrás dos soldados
japoneses, estão agredindo o Sul de nossa pátria. Sabotaram a paz que a
China, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Rússia conquistaram às
custas de milhões de vidas.
Violaram as promessas de democracia e liberdade que as potên-
cias aliadas proclamaram.
Por conta, deturparam os princípios de liberdade e igualdade. É
por uma causa justa, da justiça mundial e pelo povo e pátria do Vietnã
|102 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

que nossos compatriotas se levantaram para a luta e estão determinados


em manter sua independência.
Nós não odiamos o povo francês, nem a França. Estamos contra
a escravidão e a política do colonialismo francês.
Não estamos invadindo outro país. Apenas defendemos nosso
país contra os invasores franceses.
Não estamos sozinhos. Os países que amam a paz e a democra-
cia e as nações mais fracas simpatizam conosco. Com a unidade do povo
no país e simpatizantes afora, temos certeza da vitória.
Os franceses se comportaram no Sul do Vietnã ilegalmente por
quase um mês e meio.
Nossos compatriotas do Sul sacrificaram suas vidas em luta. A
opinião pública da China, dos Estados Unidos, da Rússia e da Inglaterra
apoiou nossa causa.
Compatriotas de todo o país!
Os que resistem no Sul darão seu melhor para resistir contra o
inimigo. Os que estão no Centro e no Norte se empenharão para ajudar
seus compatriotas do Sul e ficarão alertas.
Os colonialistas franceses deveriam saber que o povo vietnamita
não quer derramamento de sangue, que ama a paz.
Mas estamos determinados a sacrificar milhões de combatentes
e lutar uma longa guerra de resistência para defender a independência do
Vietnã e libertar seus filhos da escravidão.
Estamos certos que nossa resistência será vitoriosa!
Que todo o país se engaje na guerra de resistência! Viva o Vietnã
independente!

discurso pronunciado em novembro de 1945


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 103 |

Apelo a Luta Contra a Fome

Mais de dois milhões de nossos compatriotas no Bac Bo morre-


ram de fome durante os primeiros meses deste ano em consequência da
política bárbara dos colonialistas franceses: requisição do Paddy, cultura
forçada da juta, etc. A população sofreu ainda com inundações e secas.
Por outro lado, a guerra desencadeada pelos colonialistas franceses em
Nan Bo trava o transporte do arroz do Sul para o Norte. A fome é mais
perigosa ainda do que a guerra. Assim, em seis anos de guerra, a França
perdeu menos de um milhão de homens e Alemanha cerca de três mi-
lhões enquanto que a fome ceifou em seis meses mais de dois milhões
dos nossos compatriotas, que continuar a morrer à fome. Contra a
guerra é preciso mobilizar e organizar todas as forças do país para se
oporem ao agressor. Para acabar com a fome também é necessário mo-
bilizar e organizar todas as forças dos nossos compatriotas por todo país.
Entre nós, a fome castiga já com rigor; senão procurarmos com-
batê-la imediatamente por todos os meios, em alguns meses ela abater-
se-á com todo seu peso sobre o nosso povo. As medidas a serem toma-
das contra a fome são de várias ordens, pode ser a proibição de utilizar
o arroz e o milho na destilação do álcool, de confeccionar doces, etc.,
para economizar os cereais; pode ser ajuda que uma região levará as ou-
tras cedendo-lhes uma parte dos seus víveres, ou tomando-as sob a sua
proteção; pode ser desenvolvimento da cultura dos legumes, dos tubér-
culos, etc. Em resumo, é necessário empreender tudo que possa atenuar
a fome neste momento e impedir a falta de mantimentos que poderá
surgir na próxima campanha do arroz. A luta contra a fome, tal como as
outras tarefas importantes, exige para além da determinação, do esforço
dos sacrifícios a coesão moral de todo o povo. A proibição durante al-
guns meses de destilar álcool, de confeccionar doces, por exemplo. Le-
sará certamente os que exercem estes ofícios. Mas, esses estão certa-
mente prontos para sacrificar os seus interesses pessoais para salvar os
seus compatriotas da fome. Certamente ninguém se sentirá bem ao pen-
sar só no seu bem-estar deixando seus compatriotas morrer à fome. Tal
|104 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

como a nossa resistência à agressão estrangeira, a nossa luta contra a


fome será coroada de sucessos, pois todos os nossos compatriotas estão
plenos de ardor. Os comitês responsáveis das regiões devem fazer um
bom trabalho de propaganda e de esclarecimento junto da população
para que ela compreenda e execute as diretrizes sobre este assunto. Eles
devem dar provas de iniciativa para conduzir o trabalho a bom termo e
sem desagradar ao povo. Pelo que a divisa: trabalho-espírito de econo-
mia-integridade-justiça, devem ser os primeiros a aplicá-la para dar o
exemplo a população.
pronunciado feito em 1945
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 105 |

Contra o Analfabetismo

Cidadãos vietnamitas!

Os colonialistas franceses que nos governavam praticaram uma


política de obscurantismo: limitaram o número de escolas, não queriam
que nós nos instruíssemos a fim de poderem enganar-nos e explorar-nos
mais facilmente.
95% dos Vietnamitas não podiam frequentar a escola, o quer di-
zer que quase todos eram analfabetos.
Nestas condições, como falar em progresso? Agora que a inde-
pendência foi reconquistada, uma das tarefas urgentes é elevar o nível de
instrução.
O governo decidiu que daqui um ano, todos os vietnamitas sa-
beriam o quoc ngu, nossa escrita nacional romanizada.
Ele insistiu numa direção do ensino popular para este efeito.

Vietnamitas!

Para consolidar a independência nacional, para reforçar e enri-


quecer o país, é preciso que cada um de nós saiba exatamente quais são
seus direitos e deveres, que possua novos conhecimentos para poder
participar da edificação nacional. Antes do mais, é preciso que todos sai-
bam ler e escrever o quoc ngu.
Que aqueles que já o sabem, ensinem aos outros; que deem a sua
contribuição ao ensino popular.
Os analfabetos farão esforços para se instruir, o marido ensinará
a sua mulher, o mais velho ao mais novo, as crianças aos pais, o chefe
da família aos que vivem sob seu teto.
Os ricos instalarão nas suas casas aulas para os analfabetos.
Quanto as mulheres, devem estudar contanto mais ardor quanto
mais entraves as impediram até hoje de se instruir.
|106 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Chegou a hora em que elas se tornem iguais aos homens e se


tornam dignas de serem cidadãs integralmente. Espero que a nossa ju-
ventude, rapazes e moças, se empenhem nesta tarefa.

pronunciamento realizado em outubro de 1945


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 107 |

Aos compatriotas do Nan Bo antes


das negociações na França

Caros compatriotas do Nan Bo, a notícia da minha próxima via-


gem à França com a nossa delegação com vista a estabelecer conversa-
ções oficiais gerou muita inquietação entre nossos compatriotas, sobre-
tudo, no Sul do país; perguntais a vós próprios o que acontecerá ao Nan
Bo. Tranquilizai-vos, compatriotas.
Promete-vos que Ho Chi Minh não venderá sua pátria.
Compatriotas do Nan Bo vós haveis despendido sacrifícios e lu-
tado durante longos meses pela salvaguarda da todo o Vietnã.
Todo o país vos deve reconhecimento.
Compatriotas do Nan Bo, vós sois filhos queridos do Vietnã, os
rios podem secar, as montanhas desgastaram-se, mas esta verdade per-
manecerá para sempre imutável!
Aconselho-vos a unirem-se estreita e amplamente.
Os cinco dedos da mão são de diferentes comprimentos, mas
estão todos reunidos em uma mesma mão.
Os milhões de nossos compatriotas não são forçosamente todos
iguais, mas são todos descendentes dos mesmos antepassados.
Devemos dar prova da indulgência, reconhecer que os descen-
dentes dos Lac e dos Hong estão mais ou menos imbuídos com senti-
mentos patrióticos.
Em vez de os pôr de lado, devemos usar de persuasão, con-
quistá-los pela nossa afeição.
Assim nós poderemos realizar a união e com esta grande união,
estamos certos de um futuro glorioso.
Esta carta não pode transmitir todos os meus sentimentos, antes
de partir para a França, eu envio-vos a todos os caros compatriotas do
Nan Bo, as minhas calorosas saudações.

Correspondência de 31 de maio de 1946


|108 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Apelo a Resistência Nacional

Compatriotas de todo o país, por amor à paz, fizemos conces-


sões. Mas, quanto mais as fizemos, mais os colonialistas franceses se
aproveitam dela para usurparem nossos direitos.
A sua intenção evidente é reconquistar a todo o custo nosso país.
Não! Antes nos sacrificar do que perder o nosso país, do que
tornar a cair na escravatura!
Compatriotas, de pé!
Que todos os vietnamitas, homens e mulheres jovens e velhos,
sem distinção de religião de partido, de nacionalidade se levantem para
combater os colonialistas franceses para salvar a pátria!
Entrai na luta com todos os meios de que dispondes: que quem
tiver uma espingarda se sirva dela, que quem tiver uma espada se sirva
dela. E se não tiver uma espada, que se pegue em paus e picaretas!
Que cada um empregue todas as suas forças no combate ao co-
lonialismo para salvar pátria.
Combatentes do exército permanente, das formações de autode-
fesa das milícias populares!
Chegou a hora de nos erguermos, devemos sacrificar até a última
gota do nosso sangue para defender nosso país. Ousemos enfrentar as
mais duras privações e os piores sofrimentos, que estejamos prontos
para todos os sacrifícios.

Nós venceremos!

Viva o Vietnã independente e unificado!

Viva a resistência vitoriosa!

Pronunciado em
20 de dezembro de 1946
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 109 |

Ao povo vietnamita, ao povo francês


e aos povos aliados

O povo do Vietnã e seu governo estão resolvidos a lutar pela


independência e pela reunificação do país, mas prontos a colaborar ami-
gavelmente com o povo da França.
É por isto que assinamos a convenção preliminar de 6 de março
e o modus-vivendi de 14 de setembro de 1946.
Mas a reação colonialista francesa, faltando a sua palavra, consi-
derou estes acordos farrapos de papel.
No Nam Bo, os ultracolonialistas continuaram a prender e a
massacrar os patriotas vietnamitas e a fazer provocações.
Zombam dos franceses de boa vontade, defensores do respeito
à palavra dada.
Eles criaram, com todas as peças, um governo fantoche para se-
mear a divisão entre nós.
Ao sul da Trung Bo, prosseguem a repressão contra nossos com-
patriotas, as operações contra o exército vietnamita e a invasão do nosso
território.
Em Bac Bo, provocaram incidentes para se apoderarem de Bac
Ninh, Bac Giang, Lang Son e várias outras localidades.
Bloquearam o ponto de Haifong, paralisando assim as atividades
comerciais dos vietnamitas, dos chineses e dos outros cidadãos estran-
geiros, entre os quais, os próprios franceses.
Procuraram estrangular a nação vietnamita e quebrar nossa so-
berania nacional.
Puseram em ação os blindados, a aviação, a artilharia pesada e a
Marinha de guerra para massacrar nossos compatriotas e apoderar-se do
porto do Hi Fong, assim como outras cidades ribeirinhas. E não ficaram
por aí.
Puseram em ação as suas forças de terra, de mar e de ar envia-
ram-nos ultimatos.
|110 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Eles massacraram idosos, mulheres e crianças mesmo em pleno


coração de Hanoi.
Em 19 de dezembro de 1946, as 20 horas atacarem Hanoi, capital
do Vietnã.
Os colonialistas franceses pretendem reocupar nosso país. Isto é
evidente e inegável.
Atualmente, a nação vietnamita encontra-se perante duas alter-
nativas: cruzar os braços e baixar a cabeça para cair novamente na escra-
vidão ou lutar até o fim para reconquistar sua liberdade e sua indepen-
dência.
Não! A nação vietnamita não aceitará uma nova dominação!
Não! A nação vietnamita não aceitará cair de novo na escravidão.
Antes morrer do que perder a independência e a liberdade.
Povo Francês!
Nós somos teus amigos, nós desejamos colaborar sinceramente
no seio da União Francesa porque temos um mesmo ideal, liberdade,
igualdade e independência!
Foram os ultracolonialistas franceses que desonraram a França,
que procuravam dividir-nos, provocando a guerra.
Que a França demonstre compensação ante nossas aspirações a
independência e a reunificação; que retire os colonialistas belicistas e as
boas relações de colaboração reestabelecer-se-ão entre nossos dois povos.
Soldados Franceses!
Não há ódio entre nós; apenas interesses egoístas impeliram os
ultracolonialistas a provocar as hostilidades, para eles os lucros, para vós
os riscos e a morte!
As condecorações para os militares, para vós e, para as vossas
famílias, sofrimentos e a miséria. Reflita bem. Poderei aceitar de bom
grado vosso sangue pelos revolucionários?
Vinde para junto de nós e sereis recebidos de braços abertos
como amigos.
Povos dos países aliados!
Após a Segunda Guerra Mundial no momento em que as demo-
cracias sem empenhar para organizar a paz, os colonialistas franceses
tentam espezinhar a Carta do Atlântico e a Carta de São Francisco.
Desencadeiam no Vietnã uma guerra de agressão, da qual tem
inteira responsabilidade.
O povo vietnamita solicita vossa intervenção.
Compatriotas!
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 111 |

A nossa resistência será longa e penosa.


Quaisquer que sejam os sacrifícios, seja qual for a duração da
resistência, nós combateremos até o final, até o dia em que o Vietnã
esteja completamente independente e reunificado.
Somos 20 milhões contra 100 mil colonialistas.
A nossa vitória é certa. Em nome do governo da República De-
mocrática do Vietnã lanço esta diretiva ao exército, aos membros aos cor-
pos de autodefesa as milícias populares e a toda a população dos três Ky:
1. Se as forças francesas atacarem, contra-atacar energetica-
mente, com todos os meios de que dispõe. Que toda a nação vietnamita
se levante para defender a pátria!
2. Protegei a vida e os bens e os cidadãos estrangeiros e tratai
corretamente os prisioneiros de guerra;
3. Castigar quem oferecer assistência às forças inimigas. A pátria
mostrar-se-á reconhecida para com todos os que apoiam ou conduzem
o combate pela defesa do país.
Compatriotas!
A pátria está em perigo, todos de pé!
Viva o Vietnã independente e reunificado!
Viva a vitória a resistência!

pronunciamento realizado em 21 de dezembro de 1946


|112 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 113 |

Apelo de 19 de junho de 1947

Cidadãos, combatentes do exército nacional, da milícia popular


e das formações de autodefesa!
Os ultracolonialistas franceses puseram em ação dezenas de mi-
lhares de homens das forças de terra, de mar e de ar. As suas defesas
militares cotidianas cifram-se em dezenas de milhões de pilastras. Eles
contavam apropriar-se do nosso país em alguns meses lançando forças
massivas uma guerra relâmpago. Além disso contrataram um bando de
fantoches na esperança de sabotar a nossa resistência e dividir-nos, mas
as suas manobras, tanto militares como políticas foram um fracasso
completo. Atualmente, a resistência do Nan Bo dura há quase dois anos
e a nossa resistência nacional, há exatamente seis meses.
E nossas forças crescem, nossos sucessos acentuam-se.
Por quê?

a) Por que nós combatemos por uma causa justa.

Nós não fazemos mais do que defender o nosso país, nós luta-
mos apenas pela unidade e pela independência da nossa pátria os ultra-
colonialistas reacionária francesa pelo contrário propõe-se reconquistar
o nosso país, subjugar de novo nosso povo. A razão está do nosso lado.
A justiça vencerá.

b) Por que o nosso povo realizou a grande união.

Todos nós estamos animados de um único desejo: não tornar a


cair na escravatura. Nós só temos uma vontade: não perder a nossa pá-
tria. Nós prosseguimos num único objetivo: combater até o fim da uni-
dade e a independência nacional. Nossa unidade de pensamento formam
um escudo de bronze em torno da pátria, por mais feroz e pérfido que
seja o inimigo ele se despedaçará de encontro a ele.
|114 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

c) Por que nossos combatentes são valentes.

Se bem que o nosso equipamento seja ainda fraco e a nossa ex-


periência insuficiente, nossos combatentes pela sua firmeza em seu es-
pírito de sacrifício levaram a cabo gloriosos feitos militares e proezas
extraordinárias, vencendo a força brutal do inimigo.

d) Por que nossa estratégia é justa.

O inimigo quer conduzir uma guerra relâmpago para alcançar


uma vitória rápida. Mas, se o conflito durar as suas perdas aumentarão e
isto será a sua derrota. Usemos também a estratégia de resistência pro-
longada para desenvolver as nossas forças enriquecer a nossa experiên-
cia. A nossa tática e a da guerrilha que desgasta o inimigo, até ao dia em
que a contraofensiva geral o varrerá para sempre. A posição do inimigo
é a do fogo e a nossa é a da água. A água vencê-lo-á fatalmente. Além
disso, na nossa resistência prolongada, cada cidadão é um combatente,
cada vila é uma fortaleza, 20 milhões de vietnamitas estão decididos a
cortar em pedaços as poucas dezenas de milhares de colonialistas.

e) Por que os nossos amigos são numerosos.

A guerra de agressão empreendida pelos colonialistas é uma


guerra injusta. Todo mundo a detesta. A nossa resistência para salvação
da nossa pátria é uma causa justa. Deste modo, obtém numerosos
apoios. O povo Frances na sua maioria quer a paz e a amizade conosco.
Os povos colonizados estão inteiramente do nosso lado. Nós somos
apoiados pelos povos da Ásia e temos a opinião mundial ao nosso lado.
Assim, no plano moral, para o inimigo é já o fracasso absoluto. Para nós
a vitória total.

Cidadãos! Combatentes!

A nossa resistência de longa duração, atravessará ainda períodos


bastante difíceis. Nós devemos aceitar os sacrifícios, suportar as priva-
ções e sofrimentos, fazer os maiores esforços. Mas, estamos resolvidos
a suportar todos os sacrifícios durante os cinco anos, dez anos se neces-
sário para aniquilar estas amarras que nos mantiveram escravos durante
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 115 |

80 anos, e reconquistar para sempre o nosso direito a unidade e a inde-


pendência. Em nome do governo:
Eu dou a diretiva a todo o exército para combater ainda com
maior encarniçamento e lutar com firmeza para arrasar o inimigo. Eu
apelo a todos os nossos compatriotas a desenvolverem a produção, a
armazenarem nossos cereais em lugar seguro a fiscalizarem os diques e
apoiarem o exército. Que os quadros políticos, administrativos e técni-
cos redobrem esforços para ultrapassarem todas as dificuldades, que cor-
rijam os seus erros e se tornem exemplarem.
Unidos de coração e espírito, estamos certos da vitória.
Em frente!
Derrotemos os ultracolonialistas franceses!
Viva a amizade entre os povos vietnamita e francês. A resistência
prolongada vencerá!
Viva independência e unidade do Vietnã!

Pronunciamento após seis meses de Resistência


|116 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 117 |

Aniversário da fundação do
Exército de Libertação do Vietnã

Das tropas de libertação do Exército de Defesa Nacional. O pri-


meiro destacamento das tropas de libertação não era senão uma pequena
semente que se desenvolveu para formar uma grande floresta que é o
Exército de Defesa Nacional de hoje. Um observador superficial ao as-
sistir ao nascimento das tropas de libertação teria comparado a um jogo
de crianças ou a uma invenção de alguns “utópicos”. E não teria deixado
de ironizar a este respeito: “um punhado de fedelhos estudantes ou cam-
poneses, uns Tho ou Nung, outros Trai ou Kinh armados com algumas
caçadeiras e uma dezena de algemas, e é isto que ousam chamar-se de
tropas com tarefas de libertar a nação”.
Mas o nosso partido estava decidido a realizar, custasse o que
custasse, o plano de formação das tropas de libertação e confiou a exe-
cução desta tarefa ao camarada Vo Nguyen Giap.
Os resultados obtidos comprovam a justeza desta política do
nosso partido, política justa porque nos inspiramos em uma das mais
simples realidade: a nação vietnamita deve ser e será libertada.
Para se libertar, deve combater os fascistas japoneses e franceses
e, para combater os fascistas, deve possuir forças armadas. Para ter tais
forças, deve organizá-las. E isso só se alcançará trabalhando com deter-
minação e método.
No princípio tudo faltava: os víveres, o armamento, o vestuário
e os medicamentos. Os combatentes eram obrigados a jejuar com fre-
quência, mas estavam sempre cheios de alento e de bom humor. Os seus
efetivos, de algumas dezenas de homens, elevaram-se a centenas. Os jo-
vens afluíam para pedir o seu alistamento, decididos a ajudar a tropa
compatriota do Viet Bac chegavam mesmo a vender seus búfalos e suas
terras. Os compatriotas de outras regiões também traziam o seu apoio.
Graças a esta ajuda e graças a suas próprias vitórias alcançadas ininter-
ruptamente, as nossas unidades viram aumentar constantemente seus
efetivos e seu poder. A zona libertada foi criada, foram edificadas bases
|118 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

por todos os lados. O ardor e a disciplina exemplar conquistaram a es-


tima e o carinho dos nossos compatriotas.
Na primeira etapa, a tarefa das tropas de libertação era contribuir
para fazer a Revolução de Agosto e para edificar a República Democrá-
tica. Na etapa seguinte, eles deixaram como legado ao Exército de De-
fesa Nacional, bons quadros que lhe transmitiram gloriosas tradições.
Ao comemorar hoje em plena resistência a fundação das tropas
de libertação, tiremos alguns ensinamentos:
1. O Exército de Defesa Nacional e as milícias de guerrilha de-
vem continuar a manter a disciplina de ferro a moral de bronze a deter-
minação de vencer e as outras virtudes de libertação, tais como a inteli-
gência a coragem, a integridade e a fidelidade.
2. Ainda a bem pouco tempo partindo do nada, nós consegui-
mos edificar forças de libertação bastante poderosas para derrubar os
agressores japoneses e franceses. Atualmente, só temos que defrontar
um único inimigo, os colonialistas reacionários agora que temos o Par-
tido, a Assembleia Nacional, a Frente, as imensas forças do Exército de
Defesa Nacional e as milícias de guerrilha. Nos beneficiamos, para além
disso, do apoio dos compatriotas e da opinião mundial.
É por isso que a nossa resistência vencerá.
Nesta ocasião, envio os meus agradecimentos aos nossos com-
patriotas do Viet Bac, pela ajuda que deram às Tropas de Libertação e
pelo seu apoio devotado à resistência na hora atual. Envio as minhas
calorosas saudações expressão da nossa determinação de vencer aos ve-
teranos as Tropas de Libertação que agora combatem corajosamente as
fileiras do Exército de Defesa Nacional.

Pronunciamento feito em
22 de dezembro de 1947
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 119 |

Ao Congresso Nacional
das Milícias Populares

Por ocasião do vosso congresso, envio aos senhores os meus


votos afetuosos de boa saúde e peço-vos para transmitirem as minhas
melhores saudações a todos os guerrilheiros das milícias populares.
Eis algumas ideias sobre os problemas que tendeis de discutir.
De um modo geral, as formações de guerrilheiros prestaram ser-
viços apreciáveis durante a resistência.
Em vários locais combateram o inimigo quer sozinhos, quer em
estreita cooperação com o exército regular.
No entusiasmo, redobraram suas energias, alcançando notáveis
sucessos na luta contra os espiões, os bandidos e os comandos, os con-
selhos de notáveis fantoches, na sabotagem das vias de comunicação, no
estado do alfabeto e na intensificação da produção.
Os guerrilheiros deram renome às aldeias que se tornaram céle-
bres pelo seu heroísmo, tais como Dinh Bang e tantas outras. Alguns
guerrilheiros distinguiram-se: Pham Van Trac, Le Binh, Nguyen Van Y,
Do Van Thin, Dang Van Gieng, Pham Van Man.
Prestemos igualmente nossa homenagem às unidades de guerri-
lheiros compostas de velhos ou de mulheres que se lançam heroicamente
ao assalto. Estes são os pontos fortes dos nossos guerrilheiros importa
leva-los ainda mais longe.
Por outro lado, existem ainda pontos fracos que se faz necessário
corrigir sem demora.
Em muitas localidades, ainda não foi percebido claramente e a
fundo o que deve ser a guerrilha.
Gosta-se das grandes batalhas, quer-se atacar pontos de apoio
sólidos: muitas tendências erradas. Além disso não se aplica efetivamente
a palavra de ordem: “abastecer-se e bastar-se pelos seus próprios meios”
e não se leva a sério a intensificação da produção.
Não se sabe cooperar estreitamente com o exército regular. Não
se sabe achar o inimigo, por sua iniciativa, para o combatê-lo.
|120 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Do ponto de vista da organização e da instrução, agarramo-nos


à forma e esquecemo-nos da realidade. É preciso remediar resoluta e
rapidamente este estado de coisas. Devemos:
1. Organizar e formar efetivamente guerrilheiros em todas as al-
deias. Por um lado, tomar como base as formações da milícia da aldeia,
por outro, consolidar as unidades de guerrilheiros isentos da produção;
2. Levar cada combatente a compreender convenientemente
onde residem nossas forças, dar-lhe confiança nestas e em nossos arma-
mentos rudimentares;
3. Fazer cooperar as milícias de guerrilheiros estreitamente com
o exército regular;
4. Fazer com que cada guerrilheiro compreenda profundamente
a sua nobre tarefa;
5. Fazer aprender a tática da guerrilha: ter sempre a iniciativa,
procurar o inimigo para o combater, importuná-lo, executar destruições,
acumular pequenos sucessos que acabarão por equivaler a grande vitória;
6. Pelo aumento efetivo da produção, levar à prática a palavra da
ordem: “abastecer se e bastar-se pelos seus próprios meios”;
7. Levar a prática para tal o estímulo: estímulo entre vilas, entre
distritos, entre províncias e entre zonas.
Prometo-vos que o governo recompensará os guerrilheiros e as
unidades que obtiverem os mais brilhantes sucessos no decurso deste
movimento de estímulo.
Estou certo de que com plano claro e realista que o Congresso
estabelecer, com a firmeza de toda formação de guerrilheiros e a ajuda
de nossos compatriotas, nossos guerrilheiros levarão a bom termo a sua
gloriosa tarefa: abater o maior número possível de inimigos, estocar o
maior número possível de armas, executar numerosas campanhas para
tornar mais próxima a data da vitória da resistência prolongada, data da
independência e da unidade nacional.
Envio-vos as minhas mais cordiais saudações. Venceremos.

Pronunciamento de
15 de abril de 1948
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 121 |

À conferência do Comitê Geral da


Liga da Independência do Vietnã
(Frente Viet Minh)

Caros camaradas!
Lamento que as minhas tarefas me impeçam de assistir vossa
conferência que se inicia hoje. Envio-vos os meus desejos de boa saúde
e os meus votos de bom sucesso. Julgo dever recordar-vos nesta ocasião
certo número de experiências. Se a Frente Viet Minh conseguiu alcançar
sucessos é porque sua política é justa.
A) Desde o princípio, sua política interna visava unir todos o
povo com vista a independência da pátria. Para atingir este objetivo de-
cidiu resolutamente combater, ao mesmo tempo, os japoneses e os fran-
ceses. No momento em que éramos mais do que um pequeno número
sem nada nas mãos, em que os japoneses e os franceses aliavam para
tentar asfixiar o movimento patriótico, esta decisão foi considerada por
alguns, uma ingenuidade. Contudo, os resultados provaram o contrário.
B) A política externa do viet minh foi a de se colocar ao lado do
campo democrático. Isto poderia parecer loucura pura e simples no mo-
mento em que os fascistas alemães, italianos e japoneses eram poderosos
em que os países democráticos sofriam derrotas atrás de derrotas. Não
obstante, o viet minh vaticinava que os aliados do campo democrático
acabariam infalivelmente por triunfar. Os resultados comprovaram a jus-
teza da política do viet minh.
C) Enquanto os colonialistas franceses colaboravam estreita-
mente com os fascistas japoneses, o viet minh previu que se trairiam
mutuamente um dia, que os japoneses seriam os primeiros a voltarem-
se contra os franceses. Por consequência, preparou um plano de ação
para aproveitar a ocasião favorável que ia se apresentar. Os resultados
mostraram a justeza destas perspectivas.
D) Desde o princípio que viet minh estava certo de reconquistar
a independência nacional. Decidiu também criar a zona livre, não só para
fazer dela uma base de resistência, mas também para ter um lugar seguro
|122 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

onde formar os quadros destinados ao exército e a administração de


amanhã. O sucesso confirmou igualmente a justeza de suas concepções.
E) Desde a vitória da revolução de agosto, quando o viet minh
tomou o poder, decidiu constituir um amplo governo agrupando todos
homens de valor para que assumissem cargos do estado. Mas, alguns
pensavam que não era certo que personalidades em vista aceitassem co-
laborar com o viet minh. Ora, foi precisamente o contrário que aconte-
ceu: ofereceram voluntariamente sua colaboração justamente porque o
viet minh punha os interesses da nação e do povo acima de tudo e tra-
balhava com espirito de justiça e desinteresse.
F) No momento em que era necessária uma união mais ampla
do povo o viet minh preconizou oportunamente a criação do “lien viet”5
e ajudou esta nova organização a tomar um enorme e rápido impulso, o
que contribuiu para o desenvolvimento e a consolidação do viet minh.
G) A política do viet minh era a paz. Contudo, quando era ne-
cessário resistir, fez tudo para apoiar a política de longa resistência pre-
conizada pelo governo. Vaticinou que a resistência seria vitoriosa, infa-
livelmente, vitoriosa. O que se realizou uma vez, realizar-se-á duas vezes.
Em resumo, a experiência mostrou que, desde a sua formação, a
Liga Viet Minh praticou sempre uma política justa. Importa sublinhar estes
sucessos e trabalhar para os desenvolver. Todavia, a organização da Liga
contém um erro: progrediu tão rapidamente que não teve tempo de educar
por toda a parte seus quadros. Por isso, em muitos lugares, estes aplicaram
mal a política geral. Alguns até se distinguiram pela irreflexão dos seus atos.
Importa, por um lado, que a Liga se dedique a educar os quadros a partir
do escalão comunal e, por outro lado, que os próprios quadros façam sua
autocrítica, para serem dignos da sua pesada, mas gloriosa missão. Os
membros da Liga deverão dar o exemplo no cumprimento das tarefas da
existência e da edificação nacional. Espero que a vossa conferência estabe-
leça planos práticos com vista ao desenvolvimento e a consolidação da Liga
por ocasião da campanha de estimulo patriótico.

As minhas cordiais saudações!


Correspondência enviada em
20 de abril de 1948

5. Liga Nacional do Vietnã: fundada em 29 de maio de 1946 por decisão do Partido e


do camarada Ho Chi Minh, para alargar o bloco de união de todo o povo e para reunir
patriotas não-membros do Viet Minh. Fundiu-se, a partir de 1951, com a Frente Viet
Minh, em uma única frente, a Frente Lien Viet.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 123 |

Apelo a Emulação Patriótica

O estimulo patriótico tem um triplo objetivo: vencer a fome;


vencer a ignorância, vencer o invasor, O meio, ei-lo: apoiar-se: nas for-
ças do povo. na moral do povo. Afim de criar: o bem-estar do povo.
É por isto que cada cidadão qualquer quer seja o seu ofício, quer
seja intelectual, camponês, artesão, comerciante ou combatente do exér-
cito, tem o dever de participar no estímulo para: fazer depressa/fazer
bem/fazer muito. Todo vietnamita independentemente da idade, do
sexo, da riqueza, da posição social, deve tornar-se um combatente em
uma dessas frentes, militar, econômica, política ou cultural. Cada um
deve colocar em prática a palavra de ordem: “resistência de todo o povo,
resistência total”.
No estímulo patriótico realizamos a reconstrução nacional para-
lelamente à resistência. Tanto quanto aos resultados do estímulo, ei-los:
Todo o povo se alimentará e se vestirá decentemente. Todo o
povo saberá ler e escrever Todo o exército terá víveres e armas para
derrotar o inimigo.
A nação ficará inteiramente independente e unificada, é assim
que obteremos: a independência pela nação, a liberdade para os cida-
dãos, o bem-estar para o povo.Para conseguir chegar a estes objetivos
radiosos, convido a participar no estímulo: Os velhos: que eles encora-
jem a juventude a participar com ardor em todos os trabalhos! As crian-
ças: que elas rivalizem entre si no trabalho da escola e na ajuda aos adul-
tos! Os comerciantes e os industriais: que eles desenvolvam os seus ne-
gócios! Os camponeses e operários: que eles desenvolvam a produção!
Os intelectuais: que eles criem! Os técnicos: que eles inventem! Os fun-
cionários: que eles sirvam o povo com toda a devoção! O exército regu-
lar e as formações de guerrilheiros: que inflijam as mais pesadas perdas
ao inimigo e apreendam um importante espólio de guerra!
Em resumo, toda a gente deve participar no estímulo, tomar
parte na existência e na reconstrução nacional. Quanto mais entusiasta
|124 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

for o movimento, mais o estímulo galvanizará nas camadas sociais e ga-


nhará em extensão e em profundidade em todos os domínios, nós po-
deremos transpor as dificuldades, aniquilar os projetos pérfidos do ini-
migo para chegar à vitória final! Com o espírito indomável e as imensas
forças do nosso povo, com o amor da pátria e a vontade resoluta do
povo e do exército, o nosso estímulo patriótico será um sucesso: nós
podemos e nós fá-lo-emos.Compatriotas e combatentes! Em frente!

pronunciamento de
11 de junho de 1948
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 125 |

À VI Conferência dos quadros do Partido

A conferência reuniu desta vez os delegados do Centro, do Sul e


do Norte e os quadros superiores do Partido que trabalharam na admi-
nistração, no exército, na economia, nas finanças, no aparelho do Par-
tido, nas organizações de massa, no controle, etc.
As questões inscritas na ordem do dia eram numerosas; mas to-
das elas convergiam para o mesmo fim: a vitória da resistência, na edifi-
cação da democracia nova para preparar a passagem para o socialismo.
Tendo sido traçada a rota, nós vamos segui-la e não deixaremos
de chegar ao final. Eis as nossas tarefas para o presente ano:
1. Impulsionar o esforço militar, pôr a resistência, a luta armada
acima de tudo. Tudo que fizermos deve visar a vitória da resistência.
2. Reajustar o aparelho do poder da base ao topo, a começar pela
comuna. Se organizarmos da base ao topo do topo a base, tudo sairá
bem de forma natural.
3. Produzir muito, gastar pouco, abster-se de gastar sem neces-
sidade. Esta é toda nossa política econômica e financeira.
4. Reajustar as organizações de massa. Os nossos sucessos de-
vem-se ao povo. Muitas organizações de massa são ainda muito fracas.
5. Para levar a bom termo estas tarefas, é necessário, antes de
tudo, aperfeiçoar a organização interna do Partido. É preciso distinguir
os problemas essenciais e concentrar neles nossas energias. O partido é
como um dínamo, as tarefas citadas são comparáveis a lâmpadas, se o
dínamo for potente o suficiente as lâmpadas ascenderão. Temos tarefas
urgentes para cumprir dentro do partido:
a) Faltam-nos muitos quadros. É necessário formá-los e educá-
los para obter progressivamente efetivo o suficiente. O Partido deve aju-
dar os quadros a estudarem por si próprios e ainda que o Partido nos
ajude, eles próprios devem fazer esforços. Muitos dos nossos camaradas
têm uma experiência prática muito rica, no entanto, quanto a cultura,
eles estão no ABC. Os camaradas intelectuais leram muito, mas não pos-
|126 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

suem experiência prática e não estão habituados aos métodos de traba-


lho do Partido. É preciso elevar o nível teórico dos quadros antigos e
exercitar os quadros intelectuais no trabalho de massas.
b) Neste momento, os métodos de trabalho têm duas lacunas: os
antigos quadros trabalham a maneira “artesanal”, os quadros novos tra-
balham de uma maneira científica mas exageram e não se adaptam a si-
tuação na resistência. É preciso corrigir nosso método de trabalho de
maneira a torná-lo nacional, adaptá-lo as nossas condições, não cair no
formalismo, nem no mecanicismo.
c) Perante as massas não é simplesmente escrevendo na testa A
palavra “comunista” que seremos amados. As massas só concedem sua
estima aos que são dignos por sua conduta e por suas virtudes. É neces-
sário dar o exemplo se quiser dirigir o povo. Muitos dos nossos camara-
das têm-se mostrado dignos a nossa estima. Porém, alguns ainda têm
costumes censuráveis. O Partido tem o dever de os ajudar a emendar-
se. Se quisermos exortar alguém a prática da economia é imprescindível,
primeiro observá-la conosco próprio. Os camaradas devem adquirir as
quatro virtudes revolucionárias: trabalho, economia, integridade e reti-
dão. Para fazer a revolução é necessário, antes de qualquer coisa, corri-
gir-se a si próprio.
d) Embora sejamos diferentes uns dos outros, pela nacionalidade
ou pela origem social, seguimos a mesma doutrina, almejamos o mesmo
objetivo, estamos juntos para a vida e para a morte, partilhamos as mes-
mas alegrias e as mesmas tristezas, assim, é necessário nos unir sincera-
mente. Para atingir o objetivo não basta organizar-se, é necessário ainda
ser profundamente sincero consigo próprio. Dispomos de dois meios
para realizar a unidade de pensamento e a coesão no seio do partido: a
crítica e a autocrítica. É necessário que, do topo à base, todos se utilizem
afim de se unir e de progredir cada vez mais.
e) Observar a disciplina. Embora sejamos muitos dentro do Par-
tido, marchamos para o combate como se fossemos um só homem. Esta
coesão deve-se a disciplina. A nossa disciplina é de ferro, isto é, severa e
consciente. Os nossos camaradas devem procurar segui-las com rigor.
A nossa conferência realiza-se no momento em que a revolução mundial
avança rapidamente, sobretudo, devida a vitória do povo e do Partido
Comunista da China.
Nós formamos o Partido Comunista Indochinês, mas temos
ainda o dever de dar nossa contribuição do sudeste asiático.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 127 |

Pois no que diz respeito a importância numérica, nós somos o


partido mais forte da Ásia. E no que diz respeito às realizações, nosso
partido é o primeiro que conquistou o poder no sudeste asiático. Nós
dizemos isto, não para nos envaidecermos, mas para nos esforçar para
conduzir a bom termo a tarefa.
O mundo conta com mais de 2 bilhões de homens e os partidos
comunistas com mais de 20 milhões de membros; em média, um comu-
nista para cada 100 habitantes. Segundo as estatísticas atuais, há na In-
dochina um comunista a cada 112 habitantes. Podemos felicitarmos por
isto. Se cada um cumprir seu dever, a resistência vencerá, a reconstrução
nacional completar-se-á.
Viva o Partido Comunista Indochinês.

Correspondência de
18 de janeiro de 1949
|128 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 129 |

Aos Quadros Camponeses

Nosso país é um país agrícola. Mais de 9/10 do nosso povo são


camponeses. Mais de 9/10 dos nossos camponeses são camponeses mé-
dios, camponeses pobres e camponeses sem terra. A grande maioria dos
combatentes do Exército Nacional, das unidades regionais e das forma-
ções de guerrilheiros são camponeses. São os camponeses que desenvol-
vem a produção agrícola para fornecer os víveres ao exército, aos ope-
rários e aos funcionários. A sabotagem para evitar os golpes do inimigo,
a reparação das estradas, das comunicações e dos transportes são ainda,
em grande parte assegurados pelos camponeses. Em resumo, os cam-
poneses constituem uma grande força da nação, um aliado muito fiel da
classe operária, para o sucesso da resistência e da reconstrução nacional,
para obter efetivamente a independência e a unidade nacional é absolu-
tamente necessário apoiarmo-nos no campesinato. Os camponeses
constituem uma força imensa, são ardentes patriotas, combativos pron-
tos a todos os sacrifícios. O trabalho político no campesinato deve ser:
organizar solidamente os camponeses; uni-los em um bloco único;
educá-los para despertar completamente sua consciência política, dirigi-
los em sua luta energética pelos seus interesses de classe e pelos seus
interesses da pátria.
A agitação política no campesinato, consiste em colocar em ação
todo o campesinato, em outras palavras, fazê-lo aprender quais seus in-
teresses de classe e os da nação. Fazê-los aderir em número à Associação
dos Camponeses para Salvação Nacional para lutarem por seus objeti-
vos. E para tomar parte na resistência e na reconstrução. Para chegar a
estes fins, os quadros camponeses devem combater o subjetivismo, o
formalismo e o burocratismo. Os quadros do escalão serão enviados aos
distritos e as comunas. Os dos distritos para os comunas e os lugarejos.
É preciso ir ao próprio local, verificar as coisas com seus próprios olhos,
escutar o que se diz, falar com as pessoas, trabalhar com suas próprias
mãos e pensar por si mesmo. Tudo isto para fazer inquéritos realistas,
levar uma ajuda efetiva aos camponeses. Controlar suas atividades, reco-
lher e transmitir as lições das experiências para ajudar os camponeses e
|130 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

fazer isso em seu benefício. É absolutamente necessária que os campo-


neses pobres e os camponeses sem terra participem efetivamente nos
órgãos do poder, assim como nos comitês diretivos da União Campo-
nesa. Que os nossos quadros (quadros camponeses ou quadros do go-
verno) trabalhem exatamente neste sentido, que se esforcem para não se
desviar nenhum milímetro, seja o que for o que façam: No estímulo pela
intensificação da produção, contra a fome. No estímulo do ensino do
quoc ngu contra a ignorância. No estímulo ao serviço ao exército regular
para preparação dos guerrilheiros contra a agressão estrangeira. Nós es-
tamos certos de obter brilhante sucesso.

pronunciamento de novembro de 1949


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 131 |

Carta aos Compatriotas Católicos

Caros, compatriotas!

Os invasores franceses e os fantoches paramilitares aterrissaram


em Phat Diem. Violaram a sagrada terra vietnamita. Isso é doloroso para
mim. Ainda além, os invasores franceses declararam de forma mentirosa
que vieram a convite dos católicos.
Fizeram isso com dois objetivos nefastos:
Primeiro, para manchar a imagem de nossos compatriotas cató-
licos e fazer o povo pensar que nossos compatriotas católicos estão
traindo sua pátria e indo a reboque dos colonialistas. Segundo, incendiar
uma guerra fratricida onde nós, irmãos, nos mataríamos uns aos outros
para o lucro deles.
Mas os invasores franceses não serão vitoriosos, porque nestes
últimos anos nossos compatriotas católicos entusiasticamente se junta-
ram à resistência pela salvação nacional, porque nestes últimos anos, em
várias regiões, os invasores franceses destruíram igrejas, maltrataram pa-
dres, estupraram freiras, massacraram e saquearam nossos compatriotas
católicos igual fizeram com os não católicos. Portanto, ainda, que em
um primeiro momento, finjam benevolência e tentam ludibriar e com-
prar nossos compatriotas católicos, estes estão determinados a não se-
rem enganados.
O Governo enviou tropas à Phat Diem para combater os inva-
sores colonialistas para salvar nossos compatriotas católicos desta região
das correntes destes diabos perversos.
Portanto, vocês devem se esforçar para ajudar nossos soldados
em cada aspecto, para esmagar o inimigo e salvar a si próprios e o país.
O fracasso dos invasores franceses é certo, porque em todo lugar
no Vietnã estão sofrendo fortes derrotas a cada dia que passa e na França
sua situação nacional se torna cada vez mais sem esperanças.
|132 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Eu espero que vocês mantenham rigorosamente seu espírito pa-


triótico e tenham força suficiente para se oporem aos invasores franceses
para cumprirem com seus deveres sagrados que são:

Servir a Deus, Servir à Pátria.

correspondência de 9 de dezembro de 1949


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 133 |

Resposta sobre a intervenção ianque na


Indochina

Pergunta: Senhor presidente, quereis informar o estado atual da


política de intervenção do imperialismo americano na Indochina?

Resposta: Desde muito tempo que os imperialistas americanos in-


terviram na Indochina. Os colonialistas franceses prosseguem a guerra
ao Vietnã, ao Camboja e ao Laos, sob as ordens americanas e graças aos
dólares e armas dos EUA. Mas, ao mesmo tempo, os imperialistas ame-
ricanos procuraram cada vez mais afastar os colonialistas franceses para
estabelecer sua dominação exclusiva na Indochina. Eles intervêm cada
vez mais direta e ativamente nos domínios: militar, político e econômico,
e é por isso que as contradições se multiplicam entre imperialistas ian-
ques e colonialistas franceses.

Pergunta: Sr. Presidente, quais são as consequências da interven-


ção americana para os povos da Indochina?

Resposta: Os imperialistas fornecem armas para massacrar os po-


vos da Indochina. Introduzem suas mercadorias afim de impedir o de-
senvolvimento da pequena indústria local. Propagam a sua cultura de-
pravada para envenenar nossa juventude na zona provisoriamente ocu-
pada. Praticam uma política de corrupção de promessas e de divisão.
Esforçam-se por arrastar criminosos para seus serviços, para empreen-
der conjuntamente a conquista do nosso país.

Pergunta: Qual será a nossa resposta, Sr. Presidente?

Resposta: Para reconquistar sua independência, os povos da Indo-


china devem estar dispostos a abater seu inimigo número um: os colo-
nialistas franceses. Ao mesmo tempo, devemos lutar contra os interven-
|134 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

cionistas americanos. Quanto mais reforçarem sua intervenção, mais de-


vemos unir-nos e combatê-los energeticamente. Devemos desmascarar
seus desígnios e mais particularmente na zona provisoriamente ocupada.
Devemos desmascarar os criminosos que se ofereceram como lacaios
dos imperialistas estadunidenses para procurar arrastar, enganar e dividir
o nosso povo. A união estreita entre o povo vietnamita e os irmãos do
Camboja e do Laos, dar-nos-á bastante força para destruir completa-
mente os colonialistas franceses e os intervencionistas.
Os imperialistas americanos fracassaram completamente na
China. Terão a mesma sorte na Indochina, nos chocamos com diferentes
dificuldades, mas venceremos.
publicada no Cuu Quoc, órgão da Frente Viet Minh, em 25 de ju-
lho de 1950.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 135 |

Carta à Conferência dos Sindicatos

Por ocasião da reunião da vossa conferência, envio os meus vo-


tos de boa saúde e de bom sucesso aos delegados.
Durante a resistência do nosso povo e a classe operária deu uma
importante contribuição e alcançou excelentes resultados. Doravante, a
nossa classe operária deverá redobrar de esforços. A meu ver, eis os ob-
jetivos principais da conferência:
- Organizar e educar os operários nas regiões libertadas e nas
regiões ainda controladas pelo inimigo.
- Dirigir o movimento de emulação patriótica dos operários, as-
sim como sua preparação na contraofensiva geral.
- Organizar todos os trabalhadores intelectuais e manuais.
- Ajudar e dirigir os operários em todos os domínios.
- Ligar-se intimamente à classe operária do mundo, antes de mais
nada, às classes operárias chinesas e francesas.
Na resistência à agressão estrangeira como quando da reconstru-
ção do país e da edificação de uma nova democracia, a classe operária
deve ser dirigente. É por isto que os operários devem fazer esforços nos
seus estudos para se aperfeiçoarem, tornarem-se exemplares em todos
os seus trabalhos, afim de cumprir a gloriosa tarefa de sua classe.
Saudações cordiais, venceremos!

correspondência de 23 de fevereiro de 1950


|136 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Por ocasião do 5º aniversário da


Revolução de Agosto e da Festa Nacional

A todos os cidadãos sobre o território nacional ou residentes no


estrangeiro, aos combatentes do Exército Nacional, unidades regionais
e formações de guerrilheiros, aos quadros do governo e organizações
populares, aos jovens e as crianças,
É o quinto aniversário da Revolução de Agosto e da Festa Naci-
onal da independência que nós celebramos hoje. A nossa resistência tem
cinco anos.
Passemos brevemente em revista a situação no decurso destes
cinco anos, para fixar as nossas tarefas no futuro.
Antes da Revolução de Agosto, nós tínhamos dois inimigos de-
clarados, os imperialistas e os colonialistas franceses, e um inimigo indi-
reto, os reacionários do Kuomintang chinês. As forças dos nossos ini-
migos eram consideráveis. Antes da Revolução de Agosto, nós não tí-
nhamos nem governo, nem exército permanente, a Frente Nacional era
ainda restrita e trabalhava na clandestinidade. Nossas forças eram insu-
ficientes. Mas, como soubemos explorar os acontecimentos internacio-
nais a realizar habilmente a união e a mobilização nacional do povo, nós
transformamos as nossas posições fracas em posições fortes, nós vence-
mos os nossos três inimigos, conduzimos nossa revolução a vitória.
Conquistamos a independência.

•••
Mal nosso país acabara de conquistar a independência, os colo-
nialistas franceses declaravam hostilidades. Com forças consideráveis
em homens, um comando qualificado e armas modernas, queriam con-
duzir a uma guerra relâmpago e obter uma rápida vitória.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 137 |

Não tendo senão tropas formadas recentemente e armas rudi-


mentares, resolvemos adotar a estratégia da resistência prolongada. Os
fatos provaram que a nossa estratégia ultrapassou a do inimigo.
Desde a abertura das hostilidades ao Vietnã, o governo francês
foi mudado mais de duas vezes. O Alto Comando francês teve que mu-
dar cinco ou seis vezes. O corpo expedicionário francês se deteriora a
cada dia. As finanças francesas esgotam-se. O movimento da oposição
do povo francês contra a guerra ganha todos os dias em amplitude.
Nosso povo está mais unido e resoluto na vitória. Atualmente, os colo-
nialistas franceses são obrigados a confessar-se publicamente que não
tem mais força e não poderiam prolongar a guerra sem ajuda americana.
Ao pedir a ajuda dos Estados Unidos eles receiam ser afastados
da Indochina pelos americanos como foram anos atrás pelos japoneses.
Desde o princípio da guerra, os americanos ajudaram os franceses tanto
quanto puderam. Mas, agora, vão mais longe ao intervirem diretamente
no Vietnã.
Assim, nós temos um inimigo principal, os colonialistas france-
ses, ao qual se veem juntar um outro inimigo, os intervencionistas ame-
ricanos. Quanto a nós, estes anos de existência valeram-nos o maior su-
cesso conhecido na história do Vietnã: as duas maiores nações do
mundo, a União Soviética e a República Popular da China, assim como
os outros países de Nova Democracia, reconheceram a República De-
mocrática do Vietnã e receberam-na em pé de igualdade no seio da
grande família democrática. Nós estamos, pois, definitivamente, coloca-
dos no campo democrático, integrados no bloco de 800 milhões de ho-
mens que lutam contra o imperialismo.
Este sucesso político dará certamente, novo entusiasmo aos nos-
sos futuros sucessores militares.
A União Soviética, país socialista, e os estados de Nova Demo-
cracia tornam-se cada vez mais fortes. A China venceu os intervencio-
nistas americanos e os reacionários do Kuomintang e está em vias de
pôr em prática a Nova Democracia. O povo coreano levantou-se para
combater os intervencionistas americanos e os seus satélites. É uma
força aliada considerável que ajuda a nossa resistência pela salvação na-
cional, particularmente, na sua luta contra intervencionistas americanos.
Os reacionários americanos chocaram-se com a força que repre-
sentava o povo chinês unido na luta. Depararam ainda com a união na
luta dos povos vietnamita, coreano e outros povos do mundo.
|138 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A experiência destes últimos anos mostra que nossa resistência


prolongada vencerá infalivelmente.
Isso não nos deixa absolutamente nenhuma dúvida. Mas, vitória
e tempo devem andar a par. Para ter bons frutos, é preciso plantar gran-
des árvores. Esta é uma verdade em todos os tempos.
As nossas tarefas urgentes são, pois, as seguintes: a grande união
de todo o povo que já estreita e deve estreitar-se ainda mais; todo o povo
deve realizar a grande união no movimento de estímulo para executar a
ordem de mobilização geral com vista a preparar rápida e completa-
mente a passagem à contraofensiva geral. Em primeiro lugar, é preciso
mobilizar as forças humanas e os víveres; todos os combatentes do
Exército Nacional, das unidades regionais e formação de guerrilha em-
penham-se no estímulo para realizar campanhas de aniquilamento do
inimigo; todos os operários e camponeses empenhar-se-ão no estímulo
para desenvolver a produção; todos os jovens empenhar-se-ão no estí-
mulo para puxar a fila em todas as tarefas: alistamento, produção, trans-
portes, estudos, etc.; todos os quadros administrativos e quadros das or-
ganizações populares empenhar-se-ão no estímulo para realizar a divisa:
“trabalho, economia, integridade, justiça”; todos os nossos compatriotas
das zonas provisoriamente ocupadas devem manter o estímulo para se
preparar para combater o inimigo e apoiar nossos combatentes.
Caros compatriotas, Caros combatentes,
A Revolução de Agosto conduziu-nos a independência e a uni-
dade em um momento em que, apesar do nosso espírito de união, as
nossas forças eram ainda mínimas e, contudo, nós triunfamos. Desen-
volvemos a resistência prolongada para defender a nossa unidade e a
nossa independência e dispomos neste momento de forças poderosas e
ainda nos beneficiamos de condições favoráveis, tanto no interior do
país como no plano internacional.
Venceremos! Mas devemos saber que: o inimigo atacará com
maior encarniçamento e crueldade. Poderá desdobrar-se ainda por nu-
merosos teatros de operações antes de ser finalmente derrotados; nós
teremos que passar por dificuldades e provas ainda mais numerosas an-
tes de chegar à vitória completa. Devemos também ser resolutos, manter
nosso sangue frio sobre os fracassos temporários, defender-nos de todo
o orgulho ganho nas grandes vitórias, de todo subjetivismo, de toda ten-
dência a subestimar o inimigo. Com a unanimidade no nosso governo,
no povo e no exército, com a união e o espírito indomável do nosso
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 139 |

povo, com o apoio de os países democráticos e das personalidades


amantes da justiça no mundo inteiro.
A nossa resistência prolongada vencerá! A unidade e a indepen-
dência nacionais realizar-se-ão!

Pronunciamento Realizado Em
2 De Setembro De 1950
|140 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 141 |

Relatório Político entregue ao


II Congresso Nacional do Partido
dos Trabalhadores do Vietnã

I. A situação no decurso desses últimos 50 anos


Estamos no ano de 1951, que concluiu a primeira metade do sé-
culo XX e inaugura a segunda, em um momento de extrema importância
na história da humanidade.
Estes últimos cinquenta anos viram transformações mais rápidas
e mais importantes do que vários séculos passados em seu conjunto.
Esta metade de século foi testemunha de numerosas invenções como o
cinema, o rádio, a televisão e a energia atômica. Assim, a humanidade
deu um grande passo no domínio das forças da natureza. Durante este
período da livre concorrência, o capitalismo passou ao monopolismo
açambarcador ao imperialismo.
Durante estes cinquenta anos, eclodiram duas guerras mundiais,
as duas guerras mais terríveis que a história conheceu, provocadas pelos
imperialistas. Ao mesmo tempo, em virtude destas conflagrações, os im-
perialismos russo, alemão e italiano foram arrasados, os impérios inglês
e francês caíram em decadência, enquanto que o capitalismo norte-ame-
ricano se tornou o chefe da fila do imperialismo, da reação.
Mas o acontecimento principal é a vitória da Revolução Russa
de Outubro. A União Soviética, estado socialista, viu o dia cobrindo a
sexta parte do globo. Quase metade da humanidade se comprometeu na
via da Nova Democracia; os povos oprimidos levantaram-se ano após
ano contra o imperialismo, reivindicando a independência e a liberdade.
A Revolução Chinesa triunfou. O movimento operário nos países impe-
rialistas cresce a cada dia.
No mesmo período, no Vietnã, o nosso Partido nasceu e tem
hoje 21 anos. Nosso país é independente há seis anos A nossa resistência
prolongada progrediu rapidamente e entra no seu quinto ano.
Em resumo, a primeira metade do século XX foi marcada por
acontecimentos de importância extrema. Mas podemos prever que com
|142 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

o esforço dos revolucionários, a segunda metade verá mudanças ainda


mais consideráveis e ainda mais gloriosas.

II. O nascimento do nosso Partido


Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), para compen-
sar suas pesadas perdas, os colonialistas franceses investiram no nosso
país importantes capitais para explorar e pilhar ainda mais nossas rique-
zas e intensificar a exploração da nossa mão de obra. Por outro lado, a
vitória da Revolução Russa e a ebulição da Revolução Chinesa tiveram
uma influência extremamente grande e profunda. Foi assim que a classe
operária do Vietnã ganhou maturidade, começou a tomar consciência de
si mesma, entrou na luta e sentiu necessidade de uma vanguarda, de um
estado maior para a direção do seu movimento.
No dia 6 de janeiro de 1930, o nosso Partido viu a luz do dia.6
Depois de um trinfo da Revolução Russa de Outubro, Lenin di-
rigiu a criação da Internacional Comunista. Desde então, o proletariado
mundial não foi mais do que uma grande família da qual nosso Partido
é um dos últimos filhos. O nosso Partido viu nascer a luz do dia em uma
situação muito dura, criada pela política selvagem de terror dos colonia-
listas franceses. Contudo, mal nasceu, dirigiu imediatamente contar estes
últimos uma luta feroz que atingiu o seu ponto culminante durante o
período dos sovietes do Nghe An.
Pela primeira vez, nosso povo tomava o poder no nível local e
começava a aplicar uma política democrática, embora com limites.
Apesar do seu fracasso, os sovietes de Nghe An tiveram um
grande alcance. O seu espírito heroico, que permaneceu sempre ardente
na alma das massas, abriu a via às vitórias ulteriores.
De 1931 a 1945, o movimento revolucionário no Vietnã, sempre
dirigido pelo nosso partido, teve altos e baixos. Estes quinze anos de luta
podem ser divididos em três períodos: 1) Período 1931-1935; 2) Período
1936-1939; 3) Período 1939-1945.

III. O Período 1931-1935


De 1931 a 1933, os colonialistas franceses exerceram um terror
selvagem. Os nossos quadros e os nossos compatriotas foram em grande
número presos e mortos e as organizações do Partido e de massas, quase

6. Uma resolução do III Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores do Vietnã


retificou a data da fundação do Partido Comunista Indochinês e fixou-a para 3 de fe-
vereiro de 1930.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 143 |

todas destruídas. Em decorrência disso, houve um recuo momentâneo


do movimento revolucionário. Graças à fidelidade e ao desenvolvimento
sem limites dos restantes camaradas, a determinação do Comitê Central,
a ajuda dos partidos amigos desde 1933, o movimento retomou, pouco
a pouco, sua marcha.
O nosso Partido ocupa-se então, por um lado, em consolidar as
organizações clandestinas e, por outro lado, em coordenar o trabalho
clandestino com as atividades legais, a propaganda e a agitação pela im-
prensa, os conselhos municipais, o conselho colonial, etc.
Em 1935, realizou-se o primeiro Congresso do Partido em Ma-
cau. Este fez o ponto de vista da situação no país e no mundo, procedeu
ao exame crítico do trabalho realizado e fixou um programa de trabalho
para os anos futuros.
Contudo, a política traçada pelo Congresso de Macau não estava
de acordo com o movimento revolucionário no mundo e no nosso país
nessa época (projetava distribuir terras aos operários agrícolas, não se via
a necessidade da luta contra o fascismo e o perigo da guerra fascista, etc.).

IV. O Período 1936-1939


Em 1939, quando o Primeiro Congresso Nacional do Partido, os
camaradas Le Hong Phong e Ha Huy Tap corrigiram estes erros e defi-
niram uma nova política baseada nas resoluções do 7º Congresso da In-
ternacional Comunista (criação da Frente Democrática, ativa semiclan-
destina, semilegal do Partido).
A Frente Popular detinha então o poder na França. O nosso Par-
tido iniciou uma campanha de ação democrática e fundou a Frente De-
mocrática Indochinesa. O movimento da Frente Democrática alarga-se
e ganhava força, o povo lutava na legalidade. Estava bem. Mas havia
lacunas; por vezes, o trabalho da direção não ligava bem com a realidade
e, em muitos locais, os quadros pecavam por estreiteza de espírito, ce-
diam a tendência para a ação legal, deixavam-se envaidecer por sucessos
parciais, negligenciando em consolidar as organizações clandestinas do
Partido. Este não explicou claramente sua posição sobre a questão de
independência nacional. Alguns camaradas colaboravam, violando os
princípios, com os trotskistas. Depois do fracasso da Frente Popular na
França e do rebentar da Segunda Guerra Mundial, o movimento da
Frente Democrática no nosso Partido encontrou-se, por algum tempo,
em uma situação embaraçosa.
|144 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Contudo, este movimento legou ao nosso Partido e a nossa atual


Frente Nacional preciosas experiências Ele nos ensinou que o que res-
ponde às aspirações do povo tem o apoio das massas populares, e estas
prosseguem energicamente só assim na luta se obtém um verdadeiro
movimento de massas. Ele nos ensinou também que é preciso fazer tudo
para evitar o subjetivismo, a estreiteza de espírito, etc.

V. O Período 1939-1945
As mudanças consideráveis sobrevindas no país e no mundo du-
rante este período não datam de mais de 10 anos. Muitos dentre nós
fomos testemunhas e numerosos são os que se lembram disso. Aqui,
limito-me a recordar os principais acontecimentos.

a. No mundo
Em 1939, estourou a Segunda Guerra Mundial. No começo, foi
uma guerra imperialista: os imperialistas fascistas alemães, italianos, ja-
poneses batiam-se contra os imperialistas ingleses, franceses e norte-
americanos.
Em junho de 1941, os fascistas alemães atacaram a União Sovi-
ética, que obrigada a defender-se, devia aliar-se com a Inglaterra e os
Estados Unidos contra o campo fascista. Desde então, a guerra tornava-
se uma guerra entre o campo democrático e o campo fascista.
Graças às forças imponentes do Exército Vermelho e do povo
soviético e à justa estratégia do camarada Stalin, a Alemanha foi derro-
tada em maio de 1945 e o Japão capitulou no mês de agosto do mesmo
ano. O campo democrático alcançava uma vitória total. Nessa vitória, a
maior parte – tanto nos aspectos militares e políticos, como no aspecto
moral – cabia à União Soviética. Foi graças à vitória da URSS que os
países da Europa Oriental – há pouco bases ou territórios da Alemanha
fascista – se tornaram países de Nova Democracia.
Foi graças à vitória da União Soviética que o movimento de li-
bertação nacional cresce cada vez mais nos países coloniais.
Os Estados Unidos ganharam do ponto de vista financeiro. En-
quanto que os outros países lançavam todas suas forças na guerra e eram
arrasados por esta, os EUA aproveitaram para amontoar somas fabulo-
sas.
Depois da guerra, os fascistas alemães, italianos e japoneses es-
tavam derrotados. Os impérios francês e inglês caíram em decadência A
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 145 |

União Soviética concluiu rapidamente sua restauração e retomou a cons-


trução do socialismo, enquanto que os EUA marchando nas pegadas dos
fascistas alemães, italianos, japoneses, se tornavam o chefe dos imperia-
listas fascistas de hoje.

b. Em nosso país
Depois da exploração da Segunda Guerra Mundial, o Comitê
Central do Partido, reunido em novembro de 1939, definiu a política do
Partido: criação da Frente Nacional Única contra os colonialistas fran-
ceses e contra a guerra imperialista, preparação da insurreição. Não se
avançava na palavra de ordem “confisco e distribuição das terras dos
latifundiários aos camponeses” para poder unir os latifundiários à Frente
Nacional.
Como os franceses capitularam perante os fascistas alemães, fo-
ram suplantados pelos japoneses na Indochina, que se serviram deles
para reprimir a revolução na nossa pátria.
Três sublevações populares demarcaram este período: as de Bac
Son, do Nam Ky e Do Luong.
Em maio de 1941, reuniu-se o 8º Plenário do Comitê Central.
Importava, em primeiro lugar, considerar a revolução no Vietnã como
sendo, no imediato, uma revolução de libertação nacional e criar a Liga
para a Independência Nacional (Frente Viet Minh). As principais pala-
vras de ordem eram: “unir todo o povo”, “resistir aos japoneses e aos
franceses”, “reconquistar a independência”, “adiar a revolução agrária”.
Liga para a independência do Vietnã, era um nome muito claro,
realista e conforme às aspirações de todo o povo. Além disso, o pro-
grama simples, realista e completo da Frente só compreendia dez pon-
tos, assim como o recorda a canção de propaganda: “O programa com-
posto por dez pontos: No interesse do país, e no interesse do povo”.
Entre os dez pontos, uns aplicavam-se a todo povo, outros diziam res-
peito à luta pelos interesses dos operários, dos camponeses e das outras
camadas sociais.
É isto que explica o caloroso acolhimento reservado ao Viet
Minh por todo o povo. E, graças aos esforços desenvolvidos pelos qua-
dros para se manterem em estreito contato com o povo, o Viet Minh
teve um desenvolvimento rápido e vigoroso. Este resultou de um
enorme impulso do Partido. Este ajudou os jovens intelectuais progres-
sistas a criar o Partido Democrático Vietnamita, para unir os jovens in-
|146 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

telectuais e os funcionários e apressar a desagregação do bando pró-ni-


pônico Dai Viet. No exterior, a URSS e os Aliados alcançavam vitórias
sobre vitórias. No país, japoneses e franceses entravam em conflito. A
Frente Viet Minh, dirigida pelo Partido, se reforçava. Nesta conjuntura,
em março de 1945, o Birô permanente do Comitê Central reuniu-se em
plenário. A principal resolução preconizava “impulsionar vigorosamente
o movimento antijaponês e preparar a insurreição geral”. Neste mo-
mento, os fascistas japoneses já tinham extorquido o poder dos coloni-
alistas franceses.
Em maio de 1945, os alemães capitularam. Em agosto foi a vez
dos japoneses. A URSS e os Aliados tinham alcançado a vitória total.
No princípio de agosto, reuniu-se a II Conferência Nacional do
Partido em Tan Trao, para se pronunciar sobre o programa de ação e a
participação na Assembleia dos Delegados da Nação convocada pelo
Viet Minh, no mesmo mês em Tan Trao. A Assembleia dos Delegados
adotou o programa do Viet Minh e a diretiva de insurreição geral, e ele-
geu o Comitê Central de Libertação Nacional que se tornaria, mais tarde,
no governo provisório do Vietnã.
Graças à justa política do Partido e a sua aplicação flexível e
oportuna, a insurreição geral de agosto foi coroada de êxito.

VI. Da Revolução de Agosto aos nossos dias


Graças à direção clarividente e enérgica do Partido, à união e à
firmeza de todo o povo – membros e não membros da Frente Viet Minh
– a Revolução de Agosto triunfou.
Camaradas:
Não só as classes trabalhadoras e o povo do Vietnã, mas também
as dos outros países oprimidos podem orgulhar-se de que, pela primeira
vez na história da revolução dos povos coloniais e semicolônias, um par-
tido que só tem 15 anos de existência dirigiu a revolução até à vitória e
tomou o poder em todos o país.
Pela nossa parte, não devemos esquecer que o sucesso se deve à
grande vitória alcançada pelo Exército Vermelho Soviético sobre os fas-
cistas japoneses, ao apoio fraternal do internacionalismo proletário, à es-
treita união de todo nosso povo, ao sacrifício heroico dos nossos prede-
cessores na revolução.
Os nossos camaradas: Tran Phu, Ngo Gia Tu, Le Hong Phong,
Nguyen Thi Minh Khai, Ha Huy Tap, Nguyen Van Cu, Hoang Van Thu
e muitos outros ainda, colocavam acima de tudo e em primeiro lugar o
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 147 |

interesse do Partido, da revolução, da classe, da nação. Eles nutriam uma


fé profunda e inabalável nas forças imensas e no futuro glorioso da classe
e da nação. Eles superaram com sucesso todos os sacrifícios, mesmo o da
sua vida pelo partido, pela classe, pela nação, eles regaram com seu sangue
a árvore da revolução que, graças a eles, ostenta hoje tão belos frutos.
Para sermos revolucionários dignos deste nome, devemos todos
seguir estes modelos de heroísmo, modelos de desapego total e de de-
voção absoluta ao interesse público.
A Revolução de Agosto derrubou a monarquia mais que milenar,
quebrou as velhas algemas colonialistas de quase um século, deu poder
ao povo, lançou os fundamentos da República Democrática do Vietnã
cuja divisa é: Independência-Liberdade-Felicidade.
Isto constituiu imensa transformação na história do nosso país.
Pela vitória da Revolução de Agosto, tornamo-nos membros da
grande família democrática mundial.
A Revolução de Agosto exerceu uma influência direta e conside-
rável sobre duas nações amigas: o Camboja e o Laos. Depois da sua vi-
tória, os povos cambojano e laosiano ergueram-se igualmente contra o
imperialismo e reivindicaram sua independência.
Em 2 de setembro de 1945, o governo da República Democrá-
tica do Vietnã proclamou perante o mundo inteiro a independência do
Vietnã e levou a cabo a consolidação das liberdades democráticas do
país. Aqui, convém sublinhar um ponto: no momento em que se orga-
nizava o governo provisório, camaradas membros do comitê central,
eleitos pela Assembleia dos Delegados da Nação, deveriam fazer parte
dela; mas, retiraram-se por sua própria vontade a favor de personalida-
des patrióticas não membros do Viet Minh. Foi um excelente gesto de
desinteresse da parte destes camaradas, que demonstraram não terem a
ambição dos altos postos hierárquicos, colocam o interesse da nação, da
união e do povo, acima do interesse pessoal. Foi um gesto digno de elo-
gios e de respeito que deve servir-nos de exemplo.

VII. As dificuldades do Partido e do Governo


Mal nasceu, o poder popular já se deparou imediatamente com
grandes dificuldades.
A política de pilhagem desavergonhada aplicada pelos japoneses
e pelos franceses que parasitavam o nosso povo até à medula, fez morrer
de fome em seis meses (de fins de 1944 até meados de 1945) mais de
dois milhões dos nossos compatriotas.
|148 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Não havia ainda decorrido de um mês desde a proclamação da


nossa independência quando as forças armadas dos imperialistas ingleses
invadiram o Sul do nosso país sob o pretexto de desarmar as tropas japo-
nesas, comportaram-se como verdadeiro corpo expedicionário dando um
golpe de mão aos colonialistas franceses na sua tentativa de reconquista.
No Norte, entravam as tropas do Kuomintang chinês. Sob este
mesmo pretexto de desarmar as tropas japonesas, elas tinham três obje-
tivos pérfidos: liquidar o nosso partido; aniquilar o Viet Minh; ajudar os
reacionários vietnamitas a derrubar o poder popular para instaurar no
seu lugar um governo reacionário de sua simpatia.
Face a esta difícil e urgente situação, o Partido recorreu à diversas
medidas para se manter, lutar e desenvolver para exercer uma direção
mais discreta e mais eficaz e ter tempo para reforçar progressivamente o
poder popular e a Frente Nacional Única.
O Partido não podia hesitar. Hesitar era comprometer tudo. Ele
tinha de decidir rapidamente, tomar as medidas – mesmo dolorosas –
próprias para salvar a situação.
A despeito das imensas e numerosas dificuldades, o Partido e o
governo dirigiram nosso povo e conduziram nosso país através de reci-
fes e escolhas perigosas, e assim realizaram numerosos pontos do pro-
grama da Frente Viet Minh.
- Organização das eleições gerais para Assembleia nacional, ela-
boração da Constituição;
- Edificação e consolidação do poder popular;
- Liquidação dos reacionários vietnamitas;
- Edificação e consolidação do Exército Popular;
- Realização da palavra de ordem “povo em armas”;
- Instituição da Legislação do trabalho;
- Redução das taxas de arrendamento e de juros;
- Desenvolvimento da cultura popular;
- Alargamento e consolidação da Frente Nacional Única (funda-
ção da Frente Lien Viet).
Aqui, importa recordar o acordo preliminar de 6 de março de
1946 e modus vivendi de 14 de setembro de 1946 que pareceram pouco
compreensíveis a poucas pessoas que os consideram como manifesta-
ções de uma política direitista. Contudo, nossos camaradas e nossos
compatriotas do Sul acharam esta política justa. Ela de fato o era, com
efeito, porque eles souberam aproveitar esta ocasião para se colocar de
pé e desenvolver as suas forças.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 149 |

Assim como disse Lenin: se fosse vantajoso para a revolução, ter


que transigir com os bandidos, o faríamos.
Tínhamos necessidade da paz para reconstruir nosso país para a
salvaguardar, fomos obrigados a fazer concessões. Ainda que os coloni-
alistas tivessem violado logo em seguida os compromissos firmados e
provocado a guerra após quase um ano de paz, deu-nos tempo de edifi-
car as nossas forças de base.
E, quando recomeçaram deliberadamente as hostilidades, nossa
paciência estava no fim: a resistência arrebentou em todo o país.

VIII. A resistência prolongada


O inimigo tentava travar uma guerra relâmpago. Queria comba-
ter rapidamente, vencer rapidamente, resolver rapidamente o problema.
Do nosso lado, o Partido e o governo lançaram a palavra de ordem:
“resistência prolongada”. O inimigo tentava dividir-nos, nós lançávamos
a palavra de ordem: “União de todo o povo”. Assim, desde o princípio,
nossa estratégia sobrepôs-se a do inimigo.
Para uma resistência prolongada, o exército tinha que estar sufi-
cientemente equipado, os soldados e o povo deviam ter o que comer e
vestir. Nosso país era pobre, nossa técnica, fraca, as nossas cidades por
pouco industrializados que elas fossem, estavam ocupadas pelo inimigo.
Nós devíamos suplantar a insuficiência material pelo ardor de
todo o povo. O Partido e o governo lançaram, desde então, a palavra de
ordem: estímulo patriótico. O estímulo alcança todos os aspectos, mas
visa três aspectos principais: liquidar a fome, liquidar o analfabetismo,
liquidar o invasor.
Os nossos operários entraram em estímulo para fabricar armas
destinadas ao exército. O exército fez todos os esforços para treinar e
vencer o inimigo; assim obteve resultados satisfatórios. Os nossos re-
centes sucessos provam-no. O nosso povo entrou em estímulo com en-
tusiasmo e obteve resultado apreciáveis: com uma economia atrasada,
resistimos há mais de quatro anos e continuamos a suportar esta prova,
sem sofrer demasiada fome ou falta de vestuário. A maioria da popula-
ção está liberta do analfabetismo, isto constitui um brilhante resultado
que tem a admiração do mundo inteiro. Proponho ao Congresso o envio
dos nossos afetuosos agradecimentos e as nossas felicitações ao exército
e à população.
|150 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Contudo, no que diz respeito à organização do estímulo, a seguir


os resultados, a troca de experiências e as lições tiradas, não somos bri-
lhantes. Está aí nosso erro. Se conseguirmos corrigir isso, nosso movi-
mento de estímulo alcançará ainda melhores frutos.
A atividade militar é a tarefa principal da resistência. No início
da resistência, o nosso exército estava ainda nos seus começos. Não lhe
faltava coragem, mas armas experiência, quadros e muitas outras coisas.
O exército inimigo tinha reputação no mundo. Dispunha de for-
ças navais, terrestres e aéreas. Além disso, era ajudado pelos imperialistas
ingleses e norte-americanos, sobretudo por estes últimos.
Em virtude deste desequilíbrio das forças, alguns consideravam, na
época, a nossa resistência como a luta do “gafanhoto contra o elefante”.
Para um olhar limitado, que não vê senão o lado material das
coisas e o seu aspecto momentâneo, a situação parecia ser assim mesmo.
Para resistir aos aviões e aos canhões do inimigo, não tínhamos mais do
que lanças de bambu. Mas nosso Partido é um partido marxista-leninista,
nós não vemos só o presente, mas também o futuro, nós pomos nossa
confiança na moral e na força das massas e do povo. Assim responde-
mos resolutamente aos hesitantes e aos pessimistas: “hoje é mesmo o
gafanhoto que se mete com o elefante; amanhã, o elefante deixará aí a
sua pele”.
A realidade demonstrou que o “elefante” colonialista começa a
perder a faculdade de respirar, enquanto que nosso exército se desen-
volve e se torna um tigre majestoso.
Ainda que no início o inimigo fosse tão poderoso e nossas forças
tão modestas, nós não o combatemos com menos energia e não alcan-
çávamos sobre ele menos sucessos, com a certeza de chegar à vitória
final. Por quê? Porque nossa era causa justa, nosso exército corajoso,
nosso povo unido é indomável, porque o povo francês e o campo mun-
dial da democracia nos apoiam. Mas é também porque nossa estratégia
é justa.
O Partido e o governo consideravam que a nossa resistência
comporta três fases: – 1ª fase: manter firme e desenvolver o exército
regular. Esta fase ia de 23 de setembro de 1945 ao fim da campanha do
Viet Bac, no outono/inverno de 1947; – 2ª fase: lutar energicamente pelo
equilíbrio das forças e preparar a contra-ofensiva geral. Esta fase come-
çou após a Campanha do Viet Bac (1947) e continua atualmente; –
3ªfase: contra-ofensiva geral.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 151 |

A respeito desta última fase, um certo número de camaradas tem


uma concepção errônea, pelo fato de não compreendem exatamente a
política do Partido e do governo. Uns consideram prematuro “prepa-
rarmo-nos para a contra-ofensiva geral”. Outros queriam saber a data e
a hora desta. Outros ainda pensaram que nós a poríamos em marcha
infalivelmente em 1950, etc. Estas concepções errôneas influíram de
forma negativa no nosso trabalho.
Em primeiro lugar, devemos ter em conta que a resistência será
prolongada e penosa, mas que vencerá.
A resistência deve ser prolongada porque nosso território é es-
treito, nosso povo pouco numeroso, nosso país, pobre; não devemos
fazer longos preparativos e todo o nosso povo deve estar pronto em
todos os domínios. Por outro lado, não esqueçamos que o agressor,
comparado conosco, é um inimigo bastante poderoso e se beneficia da
ajuda dos norte-americanos e dos ingleses.
O agressor francês é como a “pele espessa do mandarim” é-nos
preciso tempo para “afiar nossas garras” para rasgá-la em pedaços.
Nós devemos compreender ainda que cada fase da luta está di-
retamente ligada às outras, que uma continua a fase que a precede e cria
as premissas da que a segue.
Produzem-se transformações de uma fase para a outra.
Cada fase comporta também as suas próprias transformações. É
possível basear-se na situação geral para determinar cada fase impor-
tante, mas é impossível separar completamente as diversas fases como
se corta um bolo em várias partes. A duração de uma fase depende da
situação no país e no mundo, das mudanças intervenientes nas forças do
inimigo e nas nossas.
Nós devemos compreender que a resistência prolongada está es-
treitamente ligada à preparação da contraofensiva geral. Posto que a re-
sistência é prolongada, a preparação da contraofensiva também o é. O
fato desta surgir mais tarde ou mais cedo, isso depende das mudanças
intervenientes nas forças do inimigo e das mudanças que intervirem nas
forças do inimigo e nas nossas e, por outro lado, da evolução da conjun-
tura internacional.
De qualquer modo, quanto mais cuidada e completa for a prepa-
ração, mais a contraofensiva se beneficiará das condições favoráveis.
A palavra da ordem, “preparemo-nos para passar vigorosamente
à contraofensiva geral”, foi lançada no início de 1950. No discurso deste
ano, fizemos preparativos? Sim, o governo decretou a mobilização geral
|152 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

e apelou ao estímulo patriótico. O exército e o povo fizeram preparati-


vos intensos e obtiveram resultados satisfatórios como todos sabem.
Operamos, nós, esta passagem?
Sim. Começamos e estamos em vias de operar esta passagem.
Nossos excelentes sucessos diplomáticos (no início de 1950) e militares
(aproximadamente no fim de 1950) são provas evidentes disso.
Mas conduzimos já a contraofensiva geral?
Nós continuamos os preparativos, mas não desencadeamos
ainda a contraofensiva geral. Importa compreendê-lo bem.
Quando a preparação estiver verdadeiramente completa, desen-
cadear-se-á contraofensiva geral. Quanto mais completa estiver a prepa-
ração, mais cedo soará a hora da contraofensiva geral, e mais esta se
beneficiará de condições favoráveis. Devemos evitar toda precipitação,
toda impaciência.
O exército, o povo, os quadros, toda a gente, todos os ramos
devem rivalizar de ardor para uma preparação completa. Quando os pre-
parativos estiverem prontos, nós desencadearemos a contraofensiva ge-
ral e então, ela será necessariamente vitoriosa.

IX. Remediar as lacunas e os erros


O nosso Partido alcançou numerosos sucessos, mas não é isento
de erros. Devemos fazer autocrítica sinceramente para nos corrigirmos,
esforçarmo-nos por nos corrigirmos para progredir.
Antes de passar em revista os nossos erros e as nossas insufici-
ências, reconheçamos primeiramente que o nosso Partido conta – so-
bretudo na zona ocupada – com quadros muito corajosos e devotados
que se colocam sempre ao lado do povo apesar dos riscos e perigos, se
dedicam firmemente às tarefas que lhe são confiadas, não têm medo,
nunca se queixam de nada, sacrifica sua vida sem lamento. São dignos
combatentes do povo, dignos filhos do Partido.
De maneira geral, nosso Partido praticou uma política justa
desde a sua fundação até hoje. Senão, como teria podido obter sucessos
tão consideráveis? Contudo, teve erros e insuficiências: nossos estudos
teóricos são insuficientes, numerosos quadros não chegaram à maturi-
dade no plano ideológico e o seu nível permanece baixo. A aplicação da
política do Partido e do governo deu lugar a desvios de “esquerda” ou
de “direita” (por exemplo, na aplicação da política agrária, da política da
frente, das minorias nacionais, das religiões, do poder popular, etc.). O
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 153 |

trabalho de organização que permaneceu medíocre não pode garantir


sempre uma aplicação correta da política do Partido e do governo.
É por isso que estudar a teoria, aperfeiçoar-se no plano ideoló-
gico, elevar o nível teórico, retificar a organização são as tarefas urgentes.
Além disso, as diversas instâncias dos organismos dirigentes, o
estilo de trabalho, as medidas defendidas e a maneira de dirigir ainda
têm erros bastante disseminados e graves. Eles são: subjetivismo, bu-
rocracia, autoritarismo, estreiteza de espírito, defeito de se orgulhar dos
méritos passados.
O subjetivismo manifesta-se na tendência em acreditar que a re-
sistência prolongada pode tornar-se uma resistência de curta duração.
A burocracia manifesta-se no gosto pela papelada, pelo afasta-
mento das massas, pelo estudo insuficiente dos problemas, pela ausência
do controle na execução das tarefas, pela recusa de tirar a lição da expe-
riência das massas. O autoritarismo manifesta-se na tendência em
apoiar-se no poder para constranger o povo, negligenciando o trabalho
de propaganda e de esclarecimento para obter a colaboração consciente
e voluntária do povo.
A estreiteza de espírito manifesta-se em uma severidade exces-
siva face aos sem partido, na tendência em não lhes prestar nenhuma
atenção, em não discutir com eles, em não perguntar a sua opinião.
O exagero dos méritos pessoais traduz-se assim:
– Gabando-se dos serviços prestados, mostra-se orgulhoso e
presunçoso, considerar-se como “a providência” do povo, o “homem
de mérito” do Partido. Reclama-se para si postos importantes e honras.
Se bem que seja incapaz de cumprir tarefas importantes, não se pode
contentar com funções modestas. O exagero dos méritos pessoais é ex-
tremamente nocivo à união tanto no interior, como fora do Partido.
– Gabando-se da sua qualidade de membro do Partido, des-
preza-se a disciplina e a ordem hierárquica nas organizações populares e
nos organismos do governo. Os camaradas atingidos por este mal não
compreendem que cada militante deve ser exemplar na observação da
disciplina e da ordem hierárquica nas organizações populares e nos or-
ganismos do governo.
Os camaradas atingidos por este mal que cada militante deve ser
exemplar na observação da disciplina – não só do Partido, mas também
das organizações populares e dos organismos do poder revolucionário.
Estas doenças e ainda outras existem no Partido, o Comitê Cen-
tral tem uma parte de responsabilidade nisso, porque não prestou toda
|154 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

a atenção indispensável ao trabalho de controle. A educação ideológica


não foi feita nem em todo lado, nem de forma suficiente. A democracia
no Partido não foi realizada de forma bastante ampla, a crítica e a auto-
crítica não se tornarem um hábito.
Contudo procuramos remediar este estado de coisas. Os exames
de consciência e o movimento de crítica e de autocrítica empreendidos
nestes últimos tempos deram bons resultados, ainda que comportem,
por vezes, desvios. Tal como disse Stalin: “o Partido revolucionário tem
necessidade de crítica e de autocrítica como o homem tem necessidade
de ar. É um controle estreito permite evitar erros graves”.
Daqui para diante, o Partido deve procurar difundir amplamente
a doutrina para elevar a consciência política dos seus membros. É pre-
ciso pôr a tônica no estilo de trabalho coletivo, consolidar os elos entre
o Partido e as massas, elevar o sentido da disciplina, o respeito pelos
princípios, o espirito de partido, junto de cada membro. É preciso inten-
sificar o movimento de crítica e de autocrítica no seio do Partido, nos
serviços públicos, nas organizações, na imprensa e até no povo. A crítica
e a autocrítica devem ser feitas de cima para baixo e de baixo para cima.
Enfim, o Partido deve exercer um controle estreito.
Desta forma, os erros diminuirão e os progressos serão rápidos.

X. A nova situação e as tarefas


a. A nova situação
Todos sabem que na hora atual, o mundo está dividido em dois
campos nitidamente distintos.
O campo democrático dirigido pela União Soviética compreende
os país socialista e os países oprimidos em luta contra imperialismo
agressor, assim como as organizações democráticas e as personalidades
democráticas nos países capitalistas. O campo democrático é uma força
colossal que vai crescendo. Alguns pontos bastam para o demonstrar.
Vejamos o mapa do mundo. A União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas e os países de Nova Democracia formam, da Europa oriental
à Ásia oriental, um vasto bloco de 800 milhões de habitantes. Neste
bloco, os povos unidos seguem um mesmo objetivo, não estando divi-
didos por nenhuma contradição. Eles representam o progresso, o futuro
radioso da humanidade. Esta é uma força extremamente poderosa.
No decurso do 2º Congresso da Frente da Paz reunido em Var-
sóvia, em novembro de 1950, os delegados de 500 milhões de comba-
tentes da paz em 81 países juraram defender energicamente paz mundial
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 155 |

e combater a guerra imperialista. É a Frente Única mundial da paz e da


democracia. É uma força colossal que vai crescendo.
O campo antidemocrático é encabeçado pelos Estados Unidos.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA tornaram-se o chefe
de fila dos imperialistas e da reação internacional. A Inglaterra e a França
são, respectivamente, o seu braço direito e o seu braço esquerdo; os go-
vernos reacionários no Oriente e no Ocidente são bandos de piratas sob
comando dos americanos.
Com a ambição de assegurar a hegemonia sobre o globo, os Es-
tados Unidos agitam em uma mão o dólar para seduzir as pessoas, na
outra a bomba atômica para fazer pressão. Doutrina Truman7, Plano
Marshall8, Pacto do Atlântico9, Plano para o Sudeste Asiático são umas
quantas condutas americanas que visam preparar a Terceira Guerra
Mundial. As ambições dos EUA chocam com um sério obstáculo: o po-
tencial imenso da URSS, o movimento de democracia e de paz e o mo-
vimento de libertação nacional, em plena efervescência no mundo.
Atualmente, a política americana visa:
– Na Ásia, ajudar as claques reacionárias Chiang Kai Shek, Syng-
man Rhee, Bao Dai, etc., a ajudar os imperialistas ingleses a combater a
resistência vietnamita. Os Estados Unidos desencadeiam abertamente a
guerra de agressão na Coreia e ocupam Taiwan na esperança de sabotar
a Revolução Chinesa;

7. Visava a hegemonia americana no mundo. O seu programa em 4 pontos pretendia


dar uma “ajuda” aos países subdesenvolvidos, mas na realidade tendia a ingerir econô-
mica e politicamente nos assuntos internos destes países, a transformá-los em colônias
americanas. A Doutrina Truman foi adotada pelo Congresso dos EUA em 3 de junho
de 1950.
8. Plano de invasão econômica preconizado pelo secretário de Estado americano Mars-
hall em 5 de junho de 1947, sob a forma de “ajuda” econômica aos países da Europa
após a Segunda Guerra Mundial. Países da Europa Ocidental aceitaram este plano com
o compromisso de reconhecer aos EUA prerrogativas econômicas de acordo com as
suas exigências, de cortar todas as relações comerciais com a URSS e os países de de-
mocracia popular. Os EUA serviram-se do plano Marshall para ingerir nos assuntos
internos dos países da Europa Ocidental.
9. Ou Pacto do Atlântico Norte (OTAN). Assinado em 4 de abril de 1949, em Wa-
shington entre os Estados Unidos, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca, a França, a In-
glaterra, a Islândia, a Itália, o Luxemburgo, a Noruega, a Holanda e Portugal. Em 1952,
juntam-se mais dois signatários, a Grécia e a Turquia. Este pacto é uma aliança militar
dirigida pelos EUA, pretensamente para defender os países signatários mas, de fato,
para fazer a corrida armamentista, visar provocar uma nova guerra mundial, cercar e
atacar a URSS e os países socialistas.
|156 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

– Na Europa, realizar o embargo militar, político, econômico so-


bre os países da Europa Ocidental a favor do plano Marshall e do pacto
do Atlântico, e constrangê-los a servir de carne para canhão por conta
dos Estados Unidos. Assim um plano prevê a criação de 70 divisões na
Europa Ocidental, sob o alto comando de um americano.
Mas o campo americano apresenta bastantes fraquezas.
À potência do campo democrático junta-se para ele outra ame-
aça: a crise econômica.
Numerosas contradições internas despedaçam-no. Eis alguns
exemplos: o projeto americano de criação na Alemanha Ocidental de um
exército de 10 divisão encontra a oposição do povo francês. A Inglaterra
pratica uma oposição secreta frente aos EUA que ela considera como os
seus rivais para o petróleo no Oriente Próximo e para a esfera da in-
fluência no Extremo Oriente. Os povos, sobretudo, as camadas traba-
lhadoras dos países vítimas da “ajuda” americana, odeiam os EUA por-
que estes usurpam os seus interesses econômicos e tentam retirar-lhes a
independência nacional.
Os Estados Unidos alimentam a ambição desmedida de criar ba-
ses em todo o mundo; ajudam qualquer agrupamento, qualquer governo
reacionários. A frente que eles estabelecem é demasiado longa, demasi-
ado vasta, de forma que suas forças se encontram reduzidas. Tem-se a
prova palpável disso na Coréia onde os EUA e os seus quarentas vassa-
los fazem a guerra em um só país, e estão em vias de serem batidos. Os
EUA ajudam a reação chinesa, ou seja, o Kuomintang, mas isso não sal-
vou Chiang Kai Shek da derrota. Auxiliam os colonialistas franceses no
Vietnã, o que não impede que a resistência vietnamita vá de sucesso em
sucesso. Em resumo, nós podemos conjecturar, sem medo de erro, que
o campo imperialista reacionário caminhará necessariamente para a der-
rota, e que o campo e da paz e da democracia vencerá.
O nosso país, o Vietnã, faz parte do campo mundial da demo-
cracia. Atualmente, é um bastião contra o imperialismo, contra o campo
antidemocrático encabeçado pelos EUA.
Desde o início da resistência, a Inglaterra e os Estados Unidos
ajudaram os colonialistas franceses. Mas a partir de 1950, os Estados
Unidos interviram abertamente no nosso país.
No fim de 1950, a Inglaterra e a França preparavam-se para criar
uma Frente Única para conjugar suas forças contra a resistência malasi-
ana e a resistência vietnamita.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 157 |

Assim, a situação mundial tem relações estreitas com nosso país,


cada sucesso do campo democrático é igualmente nosso. Em contrapar-
tida, cada sucesso da nossa parte é também do nosso campo. Assim, a
nossa principal palavra de ordem na hora atual é a seguinte: “esmagar os
colonialistas franceses, derrotar os intervencionistas americanos, recon-
quistar a unidade e a independência total, salvaguardar a paz mundial”.

b. As novas tarefas
Os camaradas do Comitê Central vão se debruçar sobre questões
importantes como o programa, os estatutos, a situação militar, o poder
popular, a Frente Nacional Única, a economia, etc. O presente relatório
limita-se a sublinhar as tarefas principais entre as novas tarefas:
1. Conduzir a resistência à vitória total;
2. Organizar o Partido dos Trabalhadores do Vietnã;
a) Devemos nos empenhar no desenvolvimento das forças do
exército e do povo a fim de vencer ainda, de vencer sempre, e de avançar
para a contra-ofensiva geral.
Esta tarefa visa realizar os seguintes pontos principais:
– Na edificação e no desenvolvimento do exército, devemos nos
empenhar em acelerar a organização e em reforçar o trabalho político e
militar no nosso exército.
É preciso elevar a consciência política, aperfeiçoar a tática e a
técnica, reforçar a disciplina consciente e voluntária no nosso exército,
proceder de forma a que este se torne um verdadeiro exército do povo.
Ao mesmo tempo, é preciso desenvolver e consolidar as milícias
populares da guerrilha nos aspectos de organização, instrução, comando
e capacidade combativas.
Devemos proceder de forma que estas forças se tornem vastas e
sólidas armadilhas de aço armadas por todo o lado e nas quais o inimigo
cairá em todo o lado que se apresente.
– Desenvolver o patriotismo. O povo está animado com um ar-
dente patriotismo. É uma das nossas mais nobres tradições. Desde tem-
pos mais remotos, sempre que a Pátria era invadida, esta fé tornou-se
um vasto poderoso tsunami que, vencendo riscos e dificuldades, engoliu
traidores e agressores.
A nossa história conheceu muitos períodos de grandiosa resis-
tência que são testemunho do patriotismo do nosso povo. Nós temos o
direito de nos orgulhar das páginas gloriosas escritas pelas nossas heroí-
nas Trung, Trieu e pelos nossos heróis Tran Hung Dao, Le Loi, Quang
|158 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Trung. Lembremo-nos dos méritos destes heróis nacionais, eles são o


símbolo de um povo heroico.
Os nossos compatriotas, atualmente, são perfeitamente dignos
dos nossos antepassados. Dos velhos de cabelos brancos às crianças de
tenra idade, dos nossos exilados no estrangeiro aos nossos compatriotas
da zona ocupada, dos habitantes da região alta aos do delta, todos estão
animados com um patriotismo ardente, todos odeiam o inimigo.
Dos combatentes da primeira linha que suportam dias inteiros a
fome para perseguir o inimigo e arrasá-lo, aos funcionários que servem
na retaguarda e jejuam para oferecer os seus víveres ao exército, das mu-
lheres que aconselham os seus maridos e os seus filhos a se alistarem
enquanto elas próprias se oferecem como voluntárias para o serviço da
Frente como enfermeiras de guerra, que velam pelos nossos soldados,
como pelos seus próprios filhos; dos operários e operárias e camponeses
que rivalizam de ardor para desenvolver a produção, sem olhar à fadiga,
para dar sua contribuição à resistência, até aos proprietários de terras que
oferecem os seus arrozais ao governo.
Quantos nobres gestos, sem dúvida diferentes pela forma como
se manifestam e, contudo, todos idênticos pelo patriotismo ardente que
está na sua origem.
O patriotismo assemelha-se aos objetos precisos.
Ora expostos em vitrines, em recipientes de cristal, o vemos fa-
cilmente. Ora são encerrados cuidadosamente no fundo dos cofres e das
malas. Nosso dever é pôr a vista todos estes tesouros escondidos.
Quero dizer que é preciso esforçar-se por explicar, propagandear
a política do Partido, organizar, dirigir a execução desta política para que
o patriotismo de todos se possa reduzir por atos patrióticos nos traba-
lhos de resistência.
O patriotismo autêntico é absolutamente diferente do espírito
“chauvinista” da reação imperialista.
Este patriotismo faz parte integrante do internacionalismo.
Foi graças ao seu patriotismo que o exército e os povos da URSS
derrotaram os fascistas alemães e japoneses, defenderam solidamente a
pátria socialista e, por este fato, ajudaram a classe operária e os povos
oprimidos do mundo inteiro.
Foi graças ao seu patriotismo que o exército de libertação e os
povos da China derrotaram a claque do traidor Chiang Kai Shek e repe-
liram os imperialistas para fora do país.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 159 |

Foi graças ao seu patriotismo que o exército e o povo da Coreia,


lutando ombro a ombro com os voluntários chineses, estão em vias de
expulsar os imperialistas americanos e seus lacaios.
É graças ao patriotismo que nosso exército e nosso povo, há
muito tempo, suportaram milhares de provas e continuam determinados
a derrotar os colonialistas agressores e os traidores, e a edificar um Vi-
etnã independente, unificado, livre próspero, um Vietnã de tipo novo.
– Intensificar o estímulo patriótico.
O Exército deve rivalizar de ardor para derrotar o inimigo e
distinguir-se pelos seus feitos militares.
O povo deve rivalizar de ardor para intensificar a produção.
Nós devemos nos empenhar de corpo e alma para acelerar a
realização das duas tarefas.
– Na grande obra de resistência e de reconstrução nacional, a
Frente Única Lien Viet-Viet Minh, os sindicatos, a União Camponesa e
as organizações populares exerceram uma ação considerável.
Devemos ajudá-los a desenvolver-se, a consolidar-se e a militar-
se efetivamente.
– No que diz respeito à política agrária, na zona libertada, deve-
se levar à prática escrupulosamente a redução das taxas de arrendamento
e de juros, confiscar os arrozais dos colonialistas franceses e dos traido-
res para distribuir aos camponeses pobres e as famílias dos combatentes
a fim de melhorar a vida dos camponeses de exaltar o seu espírito e o
seu potencial de resistência.
– No que diz respeito à economia e às finanças, importa desen-
volver as bases da nossa economia e lutar contra o inimigo no campo
econômico. A fiscalização deve ser equilibrada e racional.
É preciso realizar o equilíbrio entre receitas e despesas para as-
segurar o reabastecimento do exército e do povo.
– Impulsionar o trabalho cultural a fim de formar homens novos
e quadros novos para a resistência e para reconstrução nacional.
É preciso eliminar radicalmente toda a sobrevivência do coloni-
alismo e toda a influência dominadora da cultura imperialista.
Simultaneamente, devemos desenvolver as nossas belas tradi-
ções e assimilar o que há de novo na cultura progressista mundial, a fim
de edificar uma cultura nacional, científica e popular para o Vietnã.
Graças às nossas vitórias, libertaremos pouco a pouco as zonas
provisoriamente ocupadas.
|160 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Devemos também despender todos os nossos esforços para nos


mantermos prontos para consolidar estas zonas sobre todos os aspectos,
logo que forem libertadas.
– A vida e os bens dos exilados estrangeiros que respeitem as leis
do Vietnã, devem ser protegidos.
Quanto aos exilados chineses é preciso encorajá-los a participar
da resistência vietnamita. Se eles se empenharem nisto terão os mesmos
direitos e obrigações que os cidadãos vietnamitas.
Nós resistimos, assim como os povos amigos, do Khmer e do
Laos, resistem.
Os colonialistas franceses e os intervencionistas americanos são
os nossos inimigos e também são os deles.
Assim, devemos nos esforçar para ajudar os nossos irmãos do
Khmer e do Laos em sua resistência e avançar na criação de uma Frente
Comum Vietnã-Khmer-Laos.
– A nossa resistência é vitoriosa, em parte graças a simpatia dos
países amigos e dos povos do mundo inteiro.
Devemos consolidar a amizade entre nosso país e os países ami-
gos, entre o nosso povo e os povos do mundo inteiro.
b) Para levar a prática todos estes pontos, devemos ter um par-
tido oficial, organizado de forma adequada a situação interna e interna-
cional, a fim de dirigir todo o povo na sua luta até a vitória.
Este partido tem o nome de Partido dos Trabalhadores do Vietnã.
Do ponto de vista de sua composição social, o Partido dos Tra-
balhadores do Vietnã acolherá em seu seio operários, camponeses, tra-
balhadores intelectuais verdadeiramente ativos e de grande consciência
revolucionária.
Em matéria de doutrina, o Partido dos Trabalhadores do Vietnã
adota o marxismo-leninismo.
No plano de organização, aplica o centralismo democrático.
Quanto a disciplina, observa uma disciplina de ferro que é, ao
mesmo tempo, uma disciplina livremente consentida.
Como lei de desenvolvimento, usará a crítica e a autocrítica para
educar os seus membros e as massas.
Como objetivos imediatos o Partido dos Trabalhadores do Vi-
etnã unirá e dirigirá todo o povo na resistência até a vitória, pare recon-
quistar a unidade e a independência total; dirigirá todo o povo para rea-
lizar a Nova Democracia, criar condições para avançar em direção ao
socialismo.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 161 |

O Partido dos Trabalhadores do Vietnã deve ser um grande


partido, poderoso, sólido, puro, revolucionário em toda a acepção da
palavra. O Partido dos Trabalhadores do Vietnã deve ser o dirigente
esclarecido, resoluto, fiel, da classe operária e do povo trabalhador, do
povo vietnamita, para unir e dirigir a nação na resistência até a vitória
total e para realizar a Nova Democracia.
No período atual, os interesses da classe operária e do povo tra-
balhador da nação são uma única vontade.
É porque o Partido dos Trabalhadores do Vietnã é o partido da
classe operária e do povo trabalhador que ele deva ser o partido da nação
vietnamita.
Atualmente, a tarefa principal, a tarefa urgente do nosso partido
é conduzir a resistência à vitória.
Todas as outras tarefas devem estar subordinadas a esta. A nossa
tarefa é imensa, o nosso futuro glorioso.
Mas, temos ainda de ultrapassar numerosas dificuldades.
A resistência tem suas dificuldades, a vitória também. Assim por
exemplo:
– No aspecto ideológico, os quadros, os membros do partido e
a população não estão bastante amadurecidos para fazer frente às diver-
sas mudanças que se operam no país e no mundo.
– Os imperialistas americanos podem ajudar ainda mais o agres-
sor francês e este, torna-se, por isso mesmo, ainda mais pertinente.
– As nossas tarefas aumentam cada vez mais. Ora, falta a nós
quadros, porque os nossos não têm capacidade e experiência.
– É preciso encontrar a solução racional mais adequada aos in-
teresses do povo para o problema econômico e financeiro.
Nós não tememos as dificuldades. Mas, devemos prevê-las com
justeza e nos preparar para resolvê-las.
Com a unidade, a unidade de pontos de vista e de ação, e a indo-
mável determinação do Partido, do governo e de todo o povo, vencere-
mos todas as dificuldades para chegar a vitória total.
A Revolução de Outubro triunfou. A edificação socialista na
União Soviética triunfou. A Revolução Chinesa triunfou. Estes resulta-
dos grandiosos abrigam a via para vitória da revolução no nosso país e
em outros países do mundo.
Nós temos um grande e poderoso partido. Grande e poderoso
graças ao marxismo-leninismo, aos esforços incansáveis de todos seus
membros, ao apoio, amor e confiança de todo o exército e de todo o povo.
|162 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Também estou convencido de que cumpriremos com sucesso a


nossa pesada, mas gloriosa tarefa: Edificar o Partido dos Trabalhadores
do Vietnã, fazendo dele um partido extremamente poderoso; Conduzir a
resistência à vitória total; Construir um Vietnã de Nova Democracia; Con-
tribuir para a defesa da democracia no mundo e para uma paz durável.

documento do II Congresso
do Partido dos Trabalhadores do Vietnã
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 163 |

Ao Congresso para a Fusão


das Ligas Viet Minh e Lien Viet

Senhores, caros delegados e caros amigos, Alegra-me bastante


assumir a tarefa de encerrar esta sessão de abertura do Congresso Naci-
onal para a fusão das duas ligas Viet Minh e Lien Viet.
Em primeiro Lugar, em nome do presidium, envio os meus afe-
tuosos cumprimentos aos combatentes, aos quadros da Frente Viet Minh
e da Frente Lien Viet e a minha simpatia aos compatriotas das zonas pro-
visoriamente ocupadas e aos que residem no estrangeiro. [aplausos].
A nossa alegria hoje é a alegria de todo o povo, a alegria do Con-
gresso, mas especialmente para mim, é uma alegria ao mesmo tempo
fácil de compreender e difícil de descrever. É a alegria de um homem
que militou muito tempo convosco pela grande união de todo o povo e
que vê hoje a floresta da unidade florir, dar os seus frutos [aplausos] e
mergulhar ampla e profundamente ruas raízes em todo o povo. Esta flo-
resta tem por futuro “uma primavera que dura e desafia os anos”. [risos]
A minha alegria é tanto maior quanto não é só o povo vietnamita
que realiza a sua união, mas igualmente os povos dos dois países irmãos
o Camboja e o Laos [aplausos prolongados]. A boa nova da unidade
entre estes dois povos foi a nós dada pelos representantes dos povos
cambojanos e laosianos.
Assim foram realizadas a grande união do povo vietnamita, a do
povo cambojano e a do povo laosiano. Estamos certos de chegar a formar
a grande união dos povos vietnamita, cambojano e laosiano. [aplausos]
Fortalecida com a solidariedade e a unidade das nossas três na-
ções, ultrapassaremos todas as dificuldades, derrotaremos os colonialis-
tas franceses, os intervencionistas e qualquer outro agressor. [aplausos]
No que diz respeito ao programa e aos estatutos da frente Lian
Viet, iremos discuti-los cuidadosamente e tomar decisões clarividentes
no decurso do Congresso. Levanto apenas algumas questões para vos
ajudar nos nossos debates:
|164 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

a) A Frente deve avançar cada vez mais na via democrática.


b) “Quem tudo quer, tudo perde”, a Frente deve centrar sua ativi-
dade no aspecto essencial: o estímulo patriótico.
c) Os partidos, organizações e personalidades da Frente devem
unir-se estreitamente, ajudar-se mutua e amigavelmente, sinceramente,
aprender uns com os outros o que a cada um tem de melhor e criticar-
se mutuamente, para fazerem progressos conjuntos.
Nesse Congresso, participam os representantes de todas as ca-
madas sociais, de todas as religiões e nacionalidades, de todas as idades
e dos dois sexos. É verdadeiramente uma grande família, onde reinam a
amizade e a solidariedade que se consolidarão e se estenderão a toda a
nação, ao povo dos países amigos, ao povo francês e aos povos amantes
da paz e da democracia do mundo inteiro. Esta solidariedade que cons-
titui uma força imensa nos ajuda não só a prosseguir vitoriosamente a
resistência e a reconstrução nacionais, mas também a levar a nossa con-
tribuição à defesa da paz e da democracia em todo o mundo. Senhores,
caros delegados, caros amigos,
No princípio do ano passado, obtivemos um grande sucesso po-
lítico: o reconhecimento do nosso governo pela URSS, pela China e pe-
las outras democracias populares e, a seguir, alcançamos grandes vitórias
na fronteira e na região média. O princípio deste foi confirmado por
outros sucessos políticos: a fundação do Partido dos Trabalhadores do
Vietnã e a fusão das Ligas Viet Minh e Lien Viet; desta forma alcançare-
mos, sem dúvidas, vitórias militares ainda mais brilhantes.
Viva a unidade Nacional!
Viva a Frente Lien Viet!
Viva a União dos três países: Vietnã-Camboja-Laos!
A resistência vencerá!
O Campo de paz e da democracia vencerá!

Pronunciamento Realizado no
Congresso em Março de 1951
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 165 |

Carta aos Pintores

Caros amigos!

Tomei conhecimento de que se ia abrir uma exposição de


pintura e lamento que as minhas ocupações me impeçam de assistir.
Envio a expressão de meus sentimentos afetuosos.
Nesta ocasião, darei algumas ideias sobre a arte; espero que
eles possam ser úteis.
A literatura e a arte constituem também uma frente e vocês
são os combatentes dela.
Como os outros combatentes, os da arte tem a sua missão:
servir à resistência, servir à pátria, servir ao povo e, em primeiro
lugar, os operários, os camponeses e os soldados.
Para cumprir devidamente sua tarefa, os combatentes da arte
devem ter uma posição política sólida, uma ideologia justa.
Em resumo, eles devem colocar, antes de mais e acima de
tudo, os interesses da resistência, da pátria e do povo.
Para criar, importa que os artistas se ponham em contato com
o povo, penetrem profundamente na sua vida e a conheçam a fundo.
Só nesta condição é que poderão pôr em destaque todo o
heroísmo e toda a firmeza dos nossos combatentes e do no povo.
A resistência avança rapidamente. Nosso exército e nosso
povo fazem progressos vigorosos e contínuos: é preciso, pois, que
os artistas, pelo seu lado, pratiquem a crítica e a autocrítica, para que
avancem também continuamente.
Haverá sem dúvida, pessoas que pensam: “o presidente Ho
Chi Minh quer ligar a arte à política”.
É justo: a cultura, a arte, tal como outros ramos da atividade
não podem ficar fora da economia e da política, devem incluir-se. O
futuro do nosso povo é radioso, o da arte vietnamita é imenso.
|166 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Desejo-vos, meus caros amigos, uma boa saúde, grandes pro-


gressos e bons sucessos!
Envio-vos as minhas cordiais saudações.
Venceremos!

Por Ocasião de uma exposição


De pintura em 10 de Dezembro de 1951
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Os imperialistas jamais escravizarão o povo


vietnamita!

Aproveito o feriado de Ano Novo para escrever estas linhas.


Com mais sorte do que os outros povos, os vietnamitas, os povos chi-
neses e coreanos, se felicitam com duas festas de Ano Novo a cada ano.
Um dia do Ano Novo é celebrado de acordo com o calendário gregori-
ano e cai no 1º dia de janeiro.
No dia do Ano Novo oficial, apenas funcionários do governo
mandam saudações uns para os outros.
Outra data, o Tét, se observa de acordo com o calendário lunar
e, neste ano, cai em um dia da última semana de janeiro.
Este Ano Novo tradicional, celebrado pelo povo, normalmente
dura de três a sete dias em tempos de paz.
Em nosso país, a Primavera começa nos primeiros dias de ja-
neiro. Atualmente, uma esplêndida primavera permeia todo o país.
Os radiantes raios de sol trazem com eles, uma vida feliz e sau-
dável. Como um enorme tapete verde, as jovens plantas de arroz cobrem
os campos, anunciando a vinda da safra.
Os pássaros gorjeiam alegremente em arbustos verdes. Aqui o
inverno dura apenas alguns dias e raramente o termômetro cai para
10°C. No que diz respeito à neve, de modo geral é desconhecida pelo
nosso povo.
Antes, durante o Festival do Primeiro Dia (Tét), retratos e sau-
dações escritas em papel vermelho podiam ser vistas enduradas na en-
trada das portas de palácios, bem como em pequenas cabanas de palha.
Hoje estas saudações e retratos foram substituídos por palavras de or-
dem exaltando a luta e o trabalho, como “intensificar o estímulo à luta
armada, produção e desenvolvimento econômico!”, “a guerra de resis-
tência será vitoriosa!”, “combater a corrupção, o desperdício e a buro-
cracia!”, “a construção nacional certamente será coroada com o su-
cesso!”. Durante o Festival do Primeiro Dia, as pessoas estão vestidas
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em suas mais belas peças de vestuário. Em cada família, os mais delicio-


sos alimentos são preparados. Tradições religiosas são ritualizadas na
frente dos altares ancestrais. Se realizam visitas entre parentes e amigos
para trocar saudações. Os adultos presenteiam os filhos; civis enviam
presentes para os soldados. Podemos dizer que é um festival de prima-
vera. Antes de vos contar a situação do Vietnã, deixem-me enviar a vocês
e a todos os nossos camaradas, minhas calorosas saudações!
Vamos rever a situação do Vietnã em 1951. Após a sua derrota
na guerra da fronteira da China e Vietnã em outubro de 1950, – maior
contragolpe que já sofreram em toda a história de suas guerras coloniais,
que implicou a perda de cinco províncias de uma vez: Cao Bang, Lang
Son, Lao Cat, Thai Nguyen e Hoa Binh – os colonialistas franceses co-
meçaram o ano de 1951 com o General de Lattre de Tassigny sendo
enviado para o Vietnã. Eles recorreram à guerra total. Sua manobra foi
consolidar o governo fantoche de Bao Dai, organizar tropas fantoches e
redobrar atividades de espionagem. Montaram terras-de-ninguém com
cerca de cinco a dez quilômetros de largura em torno de áreas sob seu
controle e reforçaram o delta do Rio Vermelho com uma rede de 2 mil
e 300 bunkers. Intensificaram operações de varredura à nossa borda, efe-
tuaram a política de aniquilação e destruição indiscriminada de nosso
poderio humano e recursos potenciais ao assassinaram nossos compa-
triotas, devastarem nosso campo, queimarem nossos arrozais, etc. Para
resumir, seguiram a política de “usarem os vietnamitas para combater os
vietnamitas, alimentar a guerra por meios de guerra”. É a mando de e
com a ajuda dos seus mestres, os intervencionistas norte-americanos,
que os colonialistas franceses realizarem os feitos mencionados acima.
Entre os primeiros norte-americanos que hoje vivem no Vietnã
(claro, em áreas sob controle dos franceses), há um espião bastante no-
tável, Donald Heat, embaixador autorizado juntamente ao governo fan-
toche e um general, chefe da missão militar dos Estados Unidos.
Em setembro de 1951, de Lattre de Tassigny foi à Washington
para fazer seu relatório e implorar por ajuda. Em outubro, General Col-
lins, Chefe do Estado Maior do Exército dos EUA, chegou ao Vietnã
para inspecionar o corpo expedicionário francês e as tropas fantoches.
Para mostrar a seus mestres norte-americanos que a ajuda dos
Estados Unidos é usada de forma que valha a pena, atualmente, bem
como fará no futuro, em novembro, de Lattre de Tassigny atacou a
capital da província de Hoa Binh. O resultado desta “ofensiva de dis-
paros” que a imprensa reacionária na França e no mundo comentaram
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estrondosamente, foi que o Exército Popular do Vietnã conseguiu cap-


turar a esmagadora maioria das tropas inimigas em emboscada e as ani-
quilou. Mas isto não impediu que Lattre de Tassigny e seus asseclas
cantassem vitória!
No começo da guerra, os norte-americanos ajudaram a França
com dinheiro e armamentos. Para tomar como exemplo, 85% das armas,
materiais bélicos e mesmo comida enlatada que nossas tropas captura-
vam, tinham o rótulo de “made in USA”. Esta ajuda foi intensificada
ainda mais rapidamente a partir de junho de 1950, quando os EUA co-
meçaram a interferir na Coreia. A ajuda aos invasores franceses consistia
em barcos, caminhões, equipamentos militares, bombas de napalm, etc.
Enquanto isso, os norte-americanos compeliam aos colonialistas
franceses a intensificarem a organização de quatro divisões de tropas
fantoches, com cada uma das partes pagando metade da conta. Natural-
mente, este conluio entre os agressores franceses e norte-americanos e
a claque fantoche foi repleta de contradições e disputas.
Os colonialistas franceses agora estão enterrados em um dilema:
ou recebem ajuda dos Estados Unidos para, em seguida, serem substitu-
ídos por seus “aliados” da América, ou não recebem nada, e assim serem
derrotados pelo povo vietnamita. Organizar o exército fantoche medi-
ante alistamento forçado da juventude em regiões sob seu controle seria
o equivalente a engolir uma bomba quando se está com fome: virá o dia
em que, finalmente, a bomba explode por dentro. No entanto, não or-
ganizar o exército desta forma significaria morte instantânea para o ini-
migo, porque mesmo os estrategistas franceses têm que admitir que o
corpo expedicionário francês fica cada vez mais débil e está à beira de
um colapso.
Mais além, a ajuda dos Estados Unidos tem um custo muito
alto. Nas áreas controladas pelo inimigo, o capitalismo francês é var-
rido pelo capitalismo norte-americano. Os interesses norte-americanos
como da Petroleum Oil Corporation, Caltex Oil Corporation, Bethlem
Steel Corporation, Florid Phosphate Corporation e outras, monopoli-
zam borracha, minérios e outros recursos naturais do nosso país. Os
produtos dos Estados Unidos entopem os mercados. A imprensa rea-
cionária francesa, principalmente o Le Monde é obrigado a reconhecer
tristemente que o capitalismo francês agora está dando lugar ao capi-
talismo norte-americano.
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Os intervencionistas norte-americanos têm alimentado os agres-


sores franceses e os fantoches vietnamitas, mas o povo vietnamita não
deixará ninguém o iludir e escravizar.
A China Popular é nossa vizinha. Seu brilhante exemplo nos ofe-
rece grande ímpeto. Não muito tempo atrás, o povo chinês derrotou o
imperialismo norte-americano e conquistou uma vitória histórica.
O execrado Chiang Kai-shek foi expulso do território chinês,
embora seja mais esperto do que Bao Dai.
Podem os intervencionistas norte-americanos, que foram expul-
sos da China e agora sofrem fortes derrotas na Coreia, dominar o Vietnã?
Claro que não!

Cruéis crimes dos intervencionistas norte-americanos


Derrotados no campo de batalha, os colonialistas franceses vin-
garam-se contra pessoas desarmadas e cometeram crimes abomináveis.
Abaixo vão alguns exemplos:
Como em todo lugar nas áreas controladas pelo inimigo, em 15
de outubro de 1951 em Ha Dong, soldados franceses abordaram jovens
até nas ruas e os forçaram a entrar no exército fantoche. E lá como em
todo lugar, as pessoas protestaram contra tais atos. Três jovens meninas
ficaram paradas em linha no meio da rua em frente aos caminhões que
carregavam os jovens para impedi-los de ser mandados para campos de
concentração. Estes atos de coragem eram dignos da heroína Raymone
Dien10. Os colonialistas franceses ligaram o motor e, em fração de se-
gundos, três jovens patriotas foram atropeladas.
Em outubro de 1951, os invasores fizeram incursão em grande
escala na província de Thai Binh. Eles capturaram mais de 16 mil pessoas
– a maioria dos quais eram idosos, mulheres e crianças – e os jogaram
em um campo de futebol cercados por arame farpado e guardado por
soldados e cães. Por quatro dias, os prisioneiros foram expostos ao sol e
à chuva, com os tornozelos presos na lama. Não recebiam nem comida,
nem água. Cerca de 300 deles morreram de exaustão e doenças.

10. Raymonde Dien era uma patriota francesa e foi membro do Partido Comunista
Francês. Em 13 de fevereiro de 1950, deitou em uma ferrovia para impedir a circulação
de um trem que transportava armamentos e tanques para os colonialistas franceses
para combater o povo vietnamita na Indochina. Ela foi condenada por um tribunal
reacionário francês a um ano de prisão, mas devido à pressão da opinião pública e da
luta travada pelas massas, o governo francês foi obrigado a libertá-la a novembro de
1950, antes de sua sentença expirar.
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Os parentes e amigos que traziam comida aos presos eram rude-


mente maltratados e a comida era jogada na lama e pisoteada. Sr. Phac,
um cirurgião de 70 anos, que tentou salvar as vidas das vítimas, foi morto
a tiros no local, como também um número de mulheres grávidas.
Enfurecidos por estes atos bárbaros, os moradores da cidade fi-
zeram uma greve e procuram formas e meios para ajudar os internados.
A determinação da população obrigou os colonialistas franceses a deixar
a comida entrar, mas por ordem do Cel. Charton do Corpo Expedicio-
nário Francês, foi declarado ser uma doação dos Estados Unidos.
Em outubro de 1951, Le Van Lam, de 27 anos, de Ha Coi, um
soldado fantoche que foi salvo do afogamento por um velho pescador
em Do Son, disse após sua vinda: “em outubro, os franceses me manda-
ram para um navio junto com cem outros homens feridos a bordo de
um navio, dizendo que nos mandariam para Saigon para cuidados médi-
cos. À noite, quando o navio estava a alto-mar, nos jogaram um por um
na água. Com sorte, eu consegui agarrar um pedaço de madeira flutuante
e nadei até a praia. Eu estava inconsciente quando eu fui salvo”.
Segue a confissão de Chaubert, um capitão francês capturado em
Tu Ky em novembro de 1951: “O Alto Comando Francês nos deu a
ordem de destruir tudo, para transformar esta região em um deserto”,
disse ele. “Esta ordem foi seguida ao pé da letra. Casas foram queimadas.
Animais e aves domésticas foram mortos. Havoc teve para jardins varri-
dos e plantas e árvores foram cortadas. Atearam fogo em arrozais e plan-
tações. Muitos dias a fio, fumaça negra cobria o céu e não havia uma
única alma viva, com exceção dos soldados franceses. A conflagração
durou até 25 de novembro, quando o Exército Popular do Vietnã ines-
peradamente atacou e aniquilou a nossa unidade”.
Os exemplos citados acima podem ser contados aos milhares e
são provas suficientes para fundamentar a essência da “civilização” dos
colonialistas franceses e dos intervencionistas norte-americanos.

Conquistas da República Democrática do Vietnã


Em 1951, o povo vietnamita deu um grande passo. No campo
político, a fundação do Partido dos Trabalhadores do Vietnã, a fusão do
Viet Minh e Lien Viet, a criação do Comitê de Ação para o Vietnã, Cam-
boja e Laos, consolidando a unidade e elevando a confiança do povo
vietnamita; fortaleceram a aliança entre os três países fronteiriços em sua
luta contra os inimigos comuns – os colonialistas franceses e os inter-
vencionistas norte-americanos – a fim de alcançar seu objetivo comum,
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isto é, a independência nacional. Então conseguimos frustrar a política


aplicada pelo inimigo de “dividir e conquistar”.
No campo econômico, o Banco Nacional do Vietnã foi criado,
nossas finanças colocadas sob supervisão centralizada e unificada, e as
comunicações foram reorganizadas.
Anteriormente, destruímos para verificar o avanço do inimigo;
agora a consertamos para conduzir o inimigo a uma derrota antecipada.
Anteriormente, demos o nosso melhor para danificar as estradas, agora
encontramos grandes dificuldades em repará-las, mas conseguimos
completar o trabalho rapidamente. Trata-se de um trabalho difícil, prin-
cipalmente quando nos faltam máquinas. No entanto, graças ao entusi-
asmo e o espírito de sacrifício do nosso povo, este trabalho foi levado a
cabo. Para evitar ataques aéreos inimigos, os trabalhadores fizeram isso
à noite, mesmo com seus joelhos debaixo da água. À luz da tocha bri-
lhante, centenas de homens, mulheres e jovens cavaram a terra para pre-
encher as lacunas nas estradas, pedras quebradas, árvores derrubadas e
pontes construídas. Como em qualquer outro trabalho, aqui o entusi-
asmo dos trabalhadores foi despertado por unidades de estímulo. Estou
certo que vocês ficariam surpresos em ver equipes de voluntários com
idades de 60 a 80 anos competindo com equipes de jovens trabalhadores.
Aqui deve ser apontado que nas zonas livres, a maior parte do
trabalho é feito à noite – crianças vão à escola, donas de casa vão ao
mercado e guerrilhas atacam o inimigo...
Grandes sucessos foram conquistados na elaboração do imposto
agrícola. Anteriormente, os camponeses eram obrigados a pagar impos-
tos de vários tipos e dar muitas outras contribuições; hoje em dia, só têm
de pagar um imposto uniforme em espécie. Famílias cuja produção não
exceda 60 quilos de arroz com casca por ano, estão isentos de imposto.
As famílias que colhem maior quantidade têm que pagar um imposto
graduado. De modo geral, os impostos a serem pagos não excedem 20%
do valor total da produção anual. Para a coleta de impostos em tempo,
o Partido, a Frente Única Nacional e o Governo têm mobilizado grande
número de quadros para examinar o novo imposto a partir dos pontos
de vista político e técnico. Após o estudarem, estes quadros vão para o
campo e organizam conversas e reuniões para trocar pontos de vista com
os camponeses e explicar-lhes a nova política de impostos.
Após este período preparatório, os camponeses de ambos os se-
xos nomeiam um comitê composto por representantes da administração
e várias organizações populares cujo dever é estimar a produção de cada
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família e fixar o imposto a ser pago, após a aprovação por um Congresso


em que todos os camponeses participam.
Esta reforma foi bem recebida pela população que entusiastica-
mente participou nesta cobrança de impostos.
O imposto agrícola foi estabelecido simultaneamente junto com
o movimento pelo aumento da produção. Atualmente o governo possui
reservas adequadas de alimentos para atender os soldados e trabalhado-
res. Assim, frustramos a ardilosa campanha do inimigo de nos bloquear
para nos jogar à fome.
No que tange a educação em massa, em 1951 tivemos resultados
muito válidos. Ainda que grandes dificuldades tenham sido criadas pela
guerra, como frequentes mudanças de lugar da escola, aulas no período
da noite, falta de material escolar, o número de escolas cresceu de 2.712
em 1950 para 3.591 em 1951, com frequência de 293.256 e 411.038 alu-
nos em cada ano.
No Sul do Vietnã, a situação é ainda mais delicada. Ali, as zonas
livres existem em todo lugar, mas não estão seguras. As crianças vão para
suas salas de aula – na verdade existem apenas salas de aulas individuais
e não escolas no sentido estrito da palavra – com a mesma vigilância que
seus pais e irmãos têm na guerrilha.
Apesar disso, atualmente, no Sul do Vietnã existem 3.332 salas
de aulas com 111.700 alunos frequentando-as. A eliminação do analfa-
betismo está sendo realizada ativamente. Na primeira metade de 1951,
havia na zona III, Zona V e zona de Viet Bac, 324 mil pessoas que se
livraram do analfabetismo e 350 mil outras que estavam começando o
aprendizado. No mesmo período, o analfabetismo foi eliminado em 53
vilas e 3 distritos (um distrito é composto de cinco a dez vilas).
As organizações populares abriram 837 salas com a participação
de 9.800 funcionários públicos. O Partido, a Frente Única Nacional, o
Governo, a Confederação Geral do Trabalho e o Exército periodica-
mente abriram cursos curtos de formação política (duração de cerca de
uma semana).
Em resumo, grandes esforços estão sendo desenvolvidos para a
educação de massas.

Desenvolver e fortalecer as Relações Internacionais


Em 1951, as relações entre o povo vietnamita e os países estran-
geiros foram desenvolvidas e fortalecidas.
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Pela primeira vez, em 1951, várias delegações do povo vietnamita


visitaram a China Popular e a heroica República Popular Democrática da
Coreia. Por meio destas, a amizade de longa data entre nossos três países
foi fortalecida.
A delegação da Juventude Vietnamita ao Festival da Juventude
em Berlim, a delegação da Confederação Geral do Trabalho do Vietnã
ao Congresso da Federação Mundial de Sindicatos em Varsóvia e a de-
legação à Conferência da Paz Mundial em Viena, retornaram ao Vietnã,
repletas de entusiasmo e confiança. Nos inúmeros encontros e na im-
prensa, membros destas delegações falaram ao povo vietnamita do tre-
mendo progresso que haviam testemunhado nas democracias populares
e a amizade calorosa demonstrada pelos países irmãos ao povo do Vi-
etnã, este último que luta arduamente pela libertação e independência
nacional. Destes delegados, os que tiveram a oportunidade de visitar a
União Soviética estão cheios de alegria porque puderam nos contar so-
bre o grande triunfo do socialismo e sobre a felicidade cada vez maior
de que gozam os cidadãos soviéticos.
Ao retornar do Festival da Juventude, Truong Thi Xin, uma jo-
vem mulher operária disse que “a juventude da União Soviética nos re-
cebeu carinhosamente durante a nossa estadia naquele grande país”.
As conversas feitas por estes delegados são lições de vida extre-
mamente úteis para a construção do internacionalismo.
“Paz no Vietnã!” e “Recolher as tropas estrangeiras do Vietnã!”,
foram as palavras de ordem formuladas em uma resolução passada pela
sessão plenária do Conselho de Paz Mundial realizado em Viena, pala-
vras estas que tem dado grande entusiasmo ao povo vietnamita.

Os Intervencionistas Sofrem Derrota Atrás de Derrota


Ano passado foi um ano de grandiosas vitórias para o nosso
Exército Popular e um ano de duríssimas perdas e derrotas materiais
para os invasores. De acordo com dados incompletos e, excluindo a cam-
panha da fronteira China-Vietnã em outubro de 1950, durante a qual o
exército francês perdeu mais de 7 mil homens (aniquilados e captura-
dos), em 1951, o inimigo sofreu perdas de 37.700 oficiais e homens, (in-
cluso prisioneiros de guerra). Nunca esquecerão a Vinh Yen – Campa-
nha Phuc Yen (no Norte do Vietnã) em janeiro do ano passado, na qual
os invasores receberam um golpe mortal, executado pelo Exército Po-
pular do Vietnã. Jamais vão esquecer dos pontos estratégicos em Quang
Yen (estrada número 18), Ninh Binh, Phu Ly e em Nghia Lo no Norte
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do Vietnã, onde nossos valorosos combatentes fizeram pedaços dos in-


vasores em março, maio, junho e setembro. Mas a batalha mais impres-
sionante foi travada em dezembro, na região de Hoa Binh, onde o Exér-
cito Popular vietnamita deixou ao inimigo não mais de 8 mil homens
vivos. Nossos heroicos milicianos e guerrilheiros que operaram no
Norte, Centro e Sul do Vietnã, causaram grandes perdas ao inimigo.
Desde o início da guerra de agressão desencadeada pelos franceses, as
tropas expedicionárias destes perderam 170 mil homens (mortos, feridos
e capturados), enquanto que o exército regular do Vietnã e as unidades
guerrilheiras têm crescido sem cessar.
A guerra de guerrilhas está no processo de intensificação e am-
pliação nas áreas controladas pelo inimigo, especialmente no delta do
Rio Vermelho. Nossas guerrilhas são particularmente ativas nas provín-
cias de Bac Giang, Bac Ninh, Ha Nam, Ninh Binh, Ha Dong, Hung Yen,
e em Thai Binh. A seguir, estão alguns fatos.
Em meados de outubro de 1951, 14 regimentos inimigos leva-
ram a cabo um assalto em larga escala nos distritos de Duyen Ha, Hung
Nhan, and Tien Hung. De 1º a 4 de outubro, nossos combatentes guer-
rilheiros se envolveram em grandes combates. Em três pontos (Cong
Ho, An My e An Binh) foram aniquilados 500 soldados franceses. Todas
estas vitórias foram graças ao heroísmo dos nossos soldados e guerri-
lheiros e ao sacrifício de todo povo vietnamita. Em cada campanha, de-
zenas de milhares de trabalhadores voluntários de ambos os sexos aju-
daram nossos combatentes. Tais elementos trabalharam em condições
extremamente difíceis como chuvas torrenciais, lamacentas e íngremes
trilhas de montanhas, etc.
Milhares de patriotas tiveram que permitir o inimigo controlar
certas áreas para tomar parte nas supracitadas tarefas. Vale a pena men-
cionar aqui que os jovens criaram muitas unidades de choque.
O exemplo a seguir irá ilustrar o grande patriotismo e iniciativa
de nosso povo:
Na campanha de Hoa Binh, nosso exército teve de cruzar o Rio
Lo. Tropas francesas estavam estacionadas na margem direita do rio, en-
quanto os barcos deles patrulhavam o rio continuamente. Nestas condi-
ções, como a travessia do rio poderia ser realizada sem que o inimigo
pudesse nos notar?
A população local descobriu um modo. Em uma localidade a al-
gumas dezenas de quilômetros do Rio Lo, o povo local nos trouxe um
|176 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

grande número de embarcações e, através de caminhos sinuosos, leva-


ram nossas tropas para o local designado no horário agendado. Assim
que nossas tropas atravessaram o rio, os habitantes locais retornaram e
guardaram as embarcações o mais rápido possível, para manter o sigilo
e evitar ataques aéreos do inimigo.
Aqui gostaria de falar sobre as mulheres que deram suporte aos
soldados. A maioria é de velhas camponesas; muitas possuem netos. Aju-
daram nossos oficiais e homens, cuidaram dos feridos como se fossem
seus próprios filhos. Como “deusas que protegem nossas vidas”, elas
tomaram conta daqueles nossos soldados que trabalharam em regiões
controladas pelo inimigo. Seus feitos são altamente estimados e aprecia-
dos. Assim como foi dito anteriormente, os colonialistas franceses são
forçados a instalar mais tropas marionetes, a fim de compensar as perdas
sofridas pelo corpo expedicionário francês. Mas este é um método peri-
goso para o inimigo. Primeiro: em todos os lugares controlados pelo
inimigo, a população luta ferozmente contra este, que força os jovens a
ingressarem em seu exército. Segundo: o povo está tão mobilizado que
estão recorrendo a ações de sabotagem. Tomemos como exemplo: uma
vez, Quisling, governador de Tonking, que se autoproclamou o “senhor
da juventude”, realizou uma visita a Escola de Treinamento de Oficiais
do Segundo Grau, em Nam Dinh. Ao ouvir esta notícia, os cadetes pre-
pararam em homenagem ao governador uma recepção “digna” e escre-
veram nos muros da escola as palavras de ordem “Abaixo Bao Dai!”,
“Abaixo a camarilha de fantoches!”, enquanto o nome de Bao Dai foi
dado ao banheiro da instituição.
Durante esta visita, os cadetes fizeram tanto barulho que o go-
vernador foi incapaz de falar. Eles então fizeram a ele uma pergunta
como: “Querido Senhor! Por que você quer nos usar como bucha de
canhão dos colonialistas franceses?”. Um grupo de cadetes tentaram
contemplarem-no com uma surra, mas ele conseguiu fugir do local como
cachorro covarde. Muitas unidades do exército fantoche enviaram cartas
secretamente ao presidente Ho Chi Minh, dizendo que estavam à espera
de uma ocasião propícia para “passar para o lado da Pátria” e que esta-
vam prontos para “proceder com todas as ordens emitidas pela resistên-
cia, apesar do perigo que podem encontrar”.

Fracasso total dos colonialistas franceses


Assim que De Lattre de Tassigny pôs o pé no Vietnã no início
de 1951, se gabou das eventuais vitórias das tropas francesas.
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Depois da sua derrota e desilusão no início de 1952, logo perce-


beu que seu encontro com a derrota completa seria inevitável.
O destino da política dos colonialistas franceses trouxe dúvidas
aos círculos mais reacionários na França.
No jornal Information emitido em 22 de outubro de 1951, Dala-
dier, um dos “criminosos” na questão Munique, escreveu, “investigando
a verdadeira razão de nossa situação financeira desesperadora, veremos
que uma das causas subjacentes foi a falta de consideração madura de
nossa política sobre a Indochina. Em 1951, uma despesa de mais de 330
milhões de francos foi reservada oficialmente para o orçamento indo-
chinês. Devido ao aumento constante nos preços das commodities e no
crescimento dos estabelecimentos do Corpo Expedicionário Francês,
que o número é de 180 mil no momento, deve-se esperar que em 1952
tal despesa aumente em 100 milhões de francos. Nós temos a impressão
de que a guerra na Indochina causou um extremamente grave perigo
para nossa situação financeira, bem como militar. É impossível prever
uma vitória rápida em uma guerra que já dura cinco anos e em muitos
aspectos lembra a guerra desencadeada por Napoleão contra a Espanha
e a expedição contra o México durante o Segundo Império”.
Na sua edição de 13 de dezembro de 1951, o jornal Intransigeant
escreveu, “a França está paralisada pela guerra na Indochina. Temos
gradualmente perdido a iniciativa da operação porque nossas principais
forças estão sendo agora derrotadas nas planícies do norte de Vietnã.
Em 1951, 330 milhões de francos foram destinados para o orçamento
militar da guerra na Indochina, enquanto que de acordo com os núme-
ros oficiais, nossas despesas ascenderam a mais de 350 milhões. Um
crédito de 380 mil milhões de francos será atribuído ao orçamento em
1952, mas com toda a probabilidade de que será atingida a marca de
500 milhões. Essa é a verdade. Toda vez que a França tenta tomar al-
guma medida, bem, ela imediatamente percebe que está paralisada pela
guerra na Indochina”.
Em seu número de 16 de dezembro de 1951, Franc Tireur escre-
veu: “batalhões do general Giap, que dizem ter sido aniquilados e que
estão com moral abalada, neste exato momento executam contraofensi-
vas na região de Hanoi. É cada vez mais óbvio que a política que temos
seguido até ao presente momento, falhou. Hoje está claro que se deparou
com o completo fracasso”.
A seguir temos um excerto de uma carta enviada aos seus colegas
pelo Capitão Gazignoff, do Corpo Expedicionário Francês, que fora
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capturado por nós a 7 de janeiro de 1952, na batalha de Hoa Binh. “Feito


prisioneiro faz alguns dias, eu estou muito surpreso pela atitude gentil e
correta dos homens do Exército Popular do Vietnã em relação a mim.
As tropas vietnamitas certamente conquistarão a vitória final, porque lu-
tam por um nobre ideal, uma causa comum e seguem uma disciplina
auto imposta. É tão claro como a luz do dia que o Exército Popular do
Vietnã esmagará o Corpo Expedicionário Francês e está preparado para
receber qualquer um que queira passar para o lado deles. Oficiais fran-
ceses, oficiais não-comissionados e homens que queiram se juntar ao
Exército Popular do Vietnã serão considerados amigos e serão postos
em liberdade”.

O povo vietnamita vencerá


Em 1952, o Vietnã embarcará em um programa que inclui os
seguintes pontos: trabalhar arduamente na produção e consolidar a eco-
nomia nacional; combater e aniquilar as forças inimigas. Intensificar a
guerra de guerrilhas; expor por todos os meios a política inimiga de “usar
o vietnamita para combater o vietnamita, e “curar” a guerra por meio da
guerra”; vincular intimamente o patriotismo com o internacionalismo;
combater energicamente a burocracia, a corrupção e o desperdício.
O patriotismo e o heroísmo do povo vietnamita nos permitem
ter uma firme confiança na vitória final.
∙∙∙
O futuro do povo vietnamita é brilhante, assim como o sol na
primavera. Cheios de alegria com o brilho do sol na primavera, vamos
lutar para o futuro esplêndido do Vietnã, para o futuro da democracia,
da paz mundial e do socialismo. Nós triunfamos no presente momento
e nós triunfaremos no futuro, porque o nosso caminho é iluminado pela
grande doutrina marxista-leninista.

Publicado No
Review For A Lasting Peace,
For A People’s Democracy
Em 4 De Abril De 1952
Sob O Pseudônimo Din
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 179 |

Economizar e lutar contra a corrupção,


o desperdício e a burocracia

Camaradas!

O programa de atividade do nosso governo e do nosso partido


para este ano resume-se nestas oito palavras: “resistência prolongada,
contar com suas próprias forças”.
Para realizar integralmente este programa o governo e o partido
avançam os seguintes pontos principais: rivalizar de ardor para derrotar
o inimigo, para desenvolver a produção, para fazer economias; combater
a corrupção; combater o desperdício; combater a burocracia;
No que diz respeito ao movimento de estímulo para derrotar o
inimigo e distinguir-se por feitos militares, o alto comando elaborou um
plano completo que foi comunicar às instâncias do partido e a todos os
combatentes do Exército Nacional das forças regionais, das milícias po-
pulares e a todos os guerrilheiros para que cada pudesse estudá-lo, assi-
milá-lo e levá-lo à prática.
Quanto ao movimento de estímulo de desenvolvimento da pro-
dução, o governo elaborou um plano de conjunto completo. Os diversos
ramos, as diversas localidades e cada família o tomarão como base para
estabelecer seus próprios planos de forma realista e coordenando com o
plano do Estado, e deverão levá-los à prática custe o que custar. Os ca-
maradas responsáveis irão expor claramente essas duas questões. Aqui
me limito a falar do problema do estímulo a fazer economias e lutar
contra a corrupção, o desperdício e a burocracia.

I. Fazer economia
Em primeiro lugar coloquemos algumas questões:

– O que se deve entender por economias?


– Por que devemos economizar?
– O que devemos economizar?
|180 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

– Quem deve economizar?

1. Economizar não significa ser avarento, “considerar” uma mo-


eda como um tesouro, abster-se até de fazer o que deve ser feito, recusar
despesas necessárias; economizar não significa privar os exércitos e o
povo de alimentação e vestuário, ao contrário, as economias têm como
objetivo ajudar a desenvolver a produção e desenvolver a produção para
elevar o nível de vida do exército, dos quadros e do povo.
Para falar em linguagem científica, a prática da economia é um
ato positivo e não negativo.
2. Durante 80 anos, o nosso país foi pilhado pelos imperialistas
franceses, depois pelos imperialistas japoneses e, por isto, nossa econo-
mia é pobre e atrasada. Hoje, nós temos necessidade de uma economia
bastante sólida para prosseguir a resistência e a edificação nacionais. Para
a reconstrução econômica é preciso fundos em dinheiro e em bens na-
turais. Para se procurar fundos, os países capitalistas usam três meios: 1)
pedir emprestado ao estrangeiro; 2) pilhar colônias; e, 3) explorar os
camponeses e os operários. Nós não recorreremos a tais meios. Nós só
podemos, por um lado, desenvolver a produção e, por outro lado, fazer
economias, para acumular mais fundos com vista à edificação e ao de-
senvolvimento econômico do nosso país.
3. Nós devemos economizar nosso tempo. Por exemplo: um tra-
balho que, antes demorava dois dias, pode-se agora fazer em um dia,
graças a uma organização e uma disposição das forças mais sensatas.
Nós devemos economizar nosso dinheiro. Um trabalho que an-
tes precisava de muita mão de obra e de muito tempo, custava 20 mil
dongs. Agora, economizando a mão de obra, o tempo e as matérias-
primas, nós não gastamos mais do que 10 mil dongs.
Em resumo: é necessário chegar a uma organização apropriada
para que uma pessoa possa fazer o trabalho de duas, que um dia de tra-
balho valha dois, que um dong valha dois.
4. Todos devem economizar. Em primeiro lugar, os serviços pú-
blicos, o exército, as empresas. Alguns dizem: o exército não pensa se-
não em derrotar o inimigo e realizar proezas, não é um organismo de
produção, como poderia economizar?
O Exército compreende a administração, o armamento, os trans-
portes, etc., que são organismos para os quais a prática da economia é
necessária. Por exemplo: antes, um combatente devia utilizar, em média,
60 balas para abater um soldado inimigo. Hoje, graças a um treino mais
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 181 |

cuidado, que permite melhorar o tiro, basta, em média, 10 balas para


obter o mesmo resultado. Assim, o combatente economiza 80% de ba-
las. Daí a economia de matérias-primas e de mão de obra, as quais po-
dem então servir para fabricar outras armas. Antes, o serviço dos trans-
portes tinha de fazer 100 carregamentos de munições, agora só tem que
fazer 20. Disso a economia de carros, carburante e lubrificante. E, como
os carros andam menos, há a necessidade de fazer menos reparações de
estradas, e daí a economia de energia para os trabalhadores voluntários.
No decurso das operações militares, conseguimos um impor-
tante espólio de guerra (munições, víveres, armamentos). Saber tê-lo em
conta, usando-o com cuidado para o voltá-lo contra o inimigo, é também
desenvolver a produção.
Qualquer serviço público deve e pode economizar. Exemplo: to-
dos os serviços públicos utilizam envelopes. Se cada um economizar,
utilizando 2 ou 3 vezes o mesmo envelope, o governo pode economizar
todos os anos dezenas de toneladas de papel. Se os quadros judiciais
aumentarem o seu rendimento, ajudarão os compatriotas que têm de
utilizar estes serviços, a economizar o seu tempo e a consagrá-lo ao de-
senvolvimento da produção.
5. Os resultados da prática da economia. Os exemplos acima ci-
tados demonstram que se soubermos economizar a nossa mão de obra,
os nossos bens e o nosso tempo poderemos, com o que dispomos, mul-
tiplicar a nossa produção e a nossa possibilidade em todos os domínios.
Na URSS, graças às economias, os fundos de investimentos para
o plano quinquenal (1946-1950) aumentaram em 26 bilhões de rublos,
ou seja, um terço. Por exemplo: uma fábrica de confecções em Moscou
economizou em 1948 mais de 34 mil metros de tecido, isto é, o necessá-
rio para fazer 20 mil camisas.
O aumento da produtividade permite economizar muito tempo.
Assim, outrora, para fabricar um grande avião, eram necessárias 20 mil
horas de trabalho, hoje não são necessárias mais do que 12 mil e 700.
Outrora, para fabricar um grande carro, eram precisas 8 mil horas de
trabalho, hoje não são necessárias mais do que 3 mil e 700.
Na China, em 1951, a produção da zona do Nordeste pode, gra-
ças a uma maior produtividade e às economias, produzir mais de 14 mi-
lhões de toneladas de víveres. Neste ano, os operários e a produção desta
zona prometeram ao presidente Mao Tsé-tung economizar, custasse o
que for, 22 milhões de toneladas. Graças às economias, a zona do No-
|182 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

roeste dispôs de mais de milhão de toneladas de viveres, de 600 mil quin-


tas de algodão, de 350 mil cabeças de gado bovino, etc. Isso também se
passa em outras zonas.
A economia do tempo aumenta paralelamente com a produtivi-
dade. Antes, em 2 horas um tecelão dava mais de 5 mil e 200 passos no
decurso do seu trabalho. Hoje as fábricas difundiram o método Xich
Kien Tu, segundo o qual não se dá mais que 2 mil e 300. Assim, a fadiga
dos operários diminui enquanto que o rendimento do seu trabalho au-
menta. Xich Kien Tu, a quem se deve este método racional, é um jovem
operário de 17 anos.
O povo soviético desenvolve o estímulo simultaneamente na
produção e na prática da economia.
Assim, cinco anos após a Segunda Guerra Mundial, seu desen-
volvimento econômico ultrapassou as normas previstas. Enquanto que
o custo de vida sobe nos países capitalistas e o povo tem que suportar
cada vez mais privações, os preços já baixaram quatro vezes na URSS
onde o Bem-estar da população cresce cada vez mais.
O triunfo da Revolução Chinesa data de apenas alguns anos.
Ora, na China, graças ao desenvolvimento da produção e à rea-
lização de economias, a situação econômica progride, as finanças são
unificadas, os preços estabilizam-se, as condições de vida do povo me-
lhoram rapidamente.
O nosso país prossegue a resistência, ele encontra-se em condi-
ções muito difíceis. Mas, estando como nós estamos decididos a desen-
volver a produção e a praticar a economia, nós ultrapassaremos certa-
mente as limitações.

II. Extirpar a corrupção, o desperdício e a burocracia


Para que o arroz cresça como se deve, é preciso tirar cuidadosa-
mente as ervas do arrozal. Do contrário, mesmo que seja lavrado o gra-
dado cuidadosamente e adubado abundantemente, o arrozal cresce
pouco porque é invadido por ervas. Para conseguir desenvolver a pro-
dução e praticar a economia é necessário, igualmente, tirar as ervas com
cuidado, quer dizer, arrancar até a raiz a corrupção, o desperdício e a
burocracia. Senão estes prejudicarão nosso trabalho.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 183 |

A. O que é a Corrupção?
– Do lado dos quadros, a corrupção consiste em: Apoderar-se
do bem público para fazer dele bem privado, esmagar o povo com im-
postos, roubar o dinheiro do exército, faturar para além das despesas
efetivas. Apropriar-se dos bens públicos e dos do Estado para fazer deles
bens particulares da sua localidade, da sua unidade, é também prevaricar.
– Do lado da população, a corrupção consiste em: roubar os
bens do povo, fazer falsas declarações coletivas.

B. O que é Desperdício?
O desperdício apresenta-se sob diversas formas:
1. Desperdício da mão de obra: por causa de um insuficiente sen-
tido das responsabilidades, de uma organização defeituosa e de uma má
distribuição das tarefas, empregam-se muitas pessoas em um trabalho que
necessita de poucas.
Este erro nota-se no exército, nos serviços públicos, nas empresas.
Assim, por exemplo, na reparação de estradas e pontes e nos transportes
militares, desperdiçou-se muita mão de obra voluntária.
2. Desperdício de tempo: arrasta-se durante dias inteiros um tra-
balho que normalmente, não demoraria mais do que um dia ou um meio
dia. Por exemplo: uma reunião dura de 3 a 5 dias ao invés de 1 porque o
responsável da organização não preparou bem o programa e porque os
participantes não se prepararam suficientemente para a reunião.
3. Desperdício do Tesouro Público: existem numerosas formas,
eis alguns exemplos: os serviços públicos desperdiçam material; as em-
presas usam mais máquinas e material que aquele que lhes faz falta; o
serviço de transportes não assegura tão escrupulosamente como deveria
a conservação dos veículos e a economia das carburantes e dos lubrifi-
cantes; o serviço de armazenagem do paddy, por falta de precaução na
construção dos armazéns, os guardas dos armazéns, por falta de sentido
dos das responsabilidades, deixaram apodrecer o paddy, logo houve uma
perda considerável; o comercio do Estado, por erros de cálculo, por ca-
rência, deixa as mercadorias perderem-se, o que resulta prejuízo; a banca
do Estado não sabe utilizar convenientemente os seus fundos em di-
nheiro líquido, e não os põe à serviço do desenvolvimento da produção.;
os organismos econômicos elaboram planos, pouco realistas, não adap-
tados à situação, do que resultam perdas para a revolução; o povo deixa
terras incultas, queima boletins de voto, hipoteca búfalos e vende os ar-
rozais para casamentos e enterros, etc.
|184 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

O desperdício não é roubo ou banditismo como a corrupção.


No entanto, não é menos nefasto para o povo e para o governo e, por
vezes, é ainda mais prejudicial do que a corrupção.
E se a corrupção e o desperdício existem, é devido a burocracia.
Isto porque os dirigentes e os organismos da direção, do topo à
base, não abrangem a realidade dos fatos, não seguem de perto e não
educam os quadros não se mantêm em contato estreito com as massas,
agarram-se à forma, mas não estudam os problemas sob todos os seus
aspectos e não se aprofundam, limitam-se a ter reuniões, a redigir ins-
truções, a ler relatórios, não controlam nada a fundo.
Em resumo, por causa da burocracia que atinge os dirigentes e
os organismos de direção, seus olhos não veem tudo, seus ouvidos não
escutam tudo, os regulamentos não são escrupulosamente seguidos, a
disciplina não é totalmente assegurada. Segue-se que maus elementos, os
quadros irresponsáveis, roubam e desperdiçam o que querem.
Assim, a burocracia cobre, favorece e protege a corrupção e o
desperdício. Para se desembaraçar completamente da corrupção e do
desperdício é preciso, em primeiro lugar, desembaraçar-se da burocracia.

III. A corrupção e o desperdício são Inimigos do Povo

A) A corrupção, o desperdício e a burocracia são inimigos do


povo, do exército e do governo
São inimigos perigosos. Eles não estão armados com espingardas
e com espadas, mas instalam-se no seio das nossas organizações para
sabotar nosso trabalho.
Conscientes ou não, a corrupção, o desperdício e a burocracia
são aliados dos colonialistas e dos feudais.
Eles atrasam a nossa resistência e a nossa edificação nacional,
tentam atingir a pureza dos nossos quadros e a sua vontade de ultrapas-
sar as dificuldades, atacam as nossas virtudes revolucionárias: trabalho,
espírito de economia, integridade e justiça.
Pela vitória da resistência pelo sucesso da reconstrução, os nos-
sos combatentes dão a vida, os nossos compatriotas, o seu suor.
Os corruptos, os desperdiçadores e os burocratas destroem a
moral, dissipam as forças e arruínam os bens do governo e do povo.
O seu crime é tão grave como o dos traidores e espiões.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 185 |

Por esta razão, a luta contra a corrupção, o desperdício e a buro-


cracia é tão imperiosa e importante quanto o combate conduzido face
ao agressor. Trata-se, neste aspecto, da frente ideológica e política.
Como nas outras frentes, para vencer é preciso ter o seu plano e
organizar-se, é necessário uma direção e militantes.

B) A luta contra a corrupção, o desperdício e a burocracia


é uma ação revolucionária
Fazer a revolução é destruir aquilo que é mau, edificar o que é
bom. Nós fazemos a revolução para aniquilar completamente o regime
colonial e feudal, para construir a Nova Democracia.
Se o colonialismo e o feudalismo são aniquilados e se os seus
vícios (corrupção, desperdício e burocracia) subsistem, a revolução não
está ainda inteiramente coroada de êxito, pois seus vícios entravam e
minam sorrateiramente a obra construtiva da revolução.
Há homens que durante a luta, se sobressaem pelo seu ardor e
sua fidelidade; não temem o perigo, nem as privações, nem o inimigo.
Em outras palavras, foram dignos da revolução.
No entanto, assim que detém algum poder, tornam-se orgulho-
sos, como uma burocracia inconsciente.
Eles tornam-se réus frente à revolução. Nós devemos salvá-los,
ajudá-los a reconquistar suas virtudes revolucionárias.
Existem outros que declaram servir a pátria, servir ao povo,
mas caem na corrupção, no desperdício e prejudicam a pátria e o povo.
Nós devemos educá-los para conduzi-los à via revolucionária.
A corrupção, o desperdício e a burocracia são vícios da antiga
sociedade burguesa.
Eles provêm do apego ao interesse pessoal, do amor próprio em
detrimento de outrem.
Eles derivam do regime da “exploração do homem pelo ho-
mem”. Nós queremos construir uma nova sociedade, uma sociedade li-
vre onde os homens sejam iguais, uma sociedade onde reinam o traba-
lho, o espírito de economia, a integridade e a justiça, devemos também
extirpar completamente o vício da antiga sociedade.

C) A luta contra a corrupção e o desperdício é tarefa democrática


Para salvar a pátria, o exército não teme perder o seu sangue,
nem a população perder o seu suor.
|186 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Para conduzir a resistência e reconstruir o país os nossos com-


batentes põe a sua vida, os nossos compatriotas põe as suas forças, os
seus bens entre as mãos do governo e do Partido. Isto é, uma forma
do centralismo democrático.
O governo e o partido delegam seus poderes nos quadros para
que eles dirijam o exército, disponham dos bens públicos para a resis-
tência e a edificação nacional.
Os quadros devem vigiar cada combatente e rodeá-lo de cari-
nho; devem respeitar economizar todas as moedas, todas as tigelas de
arroz, todas as horas de trabalho dos nossos compatriotas
Os nossos combatentes e os nossos compatriotas têm o direito
de exigir que os quadros cumpram bem a sua tarefa, têm o direito de
criticar aqueles que, entre eles, não se mostram à altura.
Ser democrático é apoiar-se nas massas, seguir exatamente a li-
nha de massas. Assim, para triunfar, o nosso movimento de luta contra
a corrupção, o desperdício e a burocracia, necessariamente tem que se
apoiar na força das massas.
As massas são o conjunto de combatentes do exército, o con-
junto dos empregados em um serviço público, etc., enfim, são um povo
inteiro. Para esta luta, tal como para todas as coisas, é preciso mobilizar
as massas, respeitar a democracia, fazer as massas compreenderem bem
do que se trata, provar sua participação entusiástica. É assim que o
sucesso é certo. Quanto mais as massas participarem em um grande
número, mais complexo e rápido será o triunfo.
O dever das massas é participar com o ardor na luta contra a
corrupção, o desperdício, a burocracia. O combatente oferece as suas
campanhas e o povo oferece seus bens na luta contra o inimigo pela
salvação da pátria. A corrupção, o desperdício e a burocracia consti-
tuem um “inimigo oculto no interior”. Se os combatentes e o povo se
aplicarem na luta contra o invasor estrangeiro, mas se esquecerem de
combater o inimigo interno, não cumprem ainda inteiramente a sua
tarefa. Eles também devem participar com ardor no movimento de luta
contra este inimigo.
Em todos os escalões, devemos nos unir e conjugar nossas for-
ças para vencer nesta luta.
Os nossos sucessos ajudarão a nos unir mais, a elevar ainda
mais nosso rendimento.
Ajudarão aos nossos quadros a reeducarem-se ideologicamente,
a elevar sua consciência, a penetrar-se da moral revolucionária, a servir
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sinceramente o exército e o povo. Ajudarão nosso poder a adquirir a


pureza, a merecer a confiança e os sacrifícios dos nossos combatentes
e dos nossos compatriotas.
Ajudarão a realizar completamente o plano de desenvolvi-
mento da produção e da prática da economia estabelecida pelo governo
e pelo Partido. Nos ajudarão a completar nossos preparativos para pas-
sar a contraofensiva geral.

Pronunciamento Realizado Em 1952


|188 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
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Diretrizes quando de uma Conferência


sobre a guerra de guerrilha

I. As minhas irmãs e irmãos aqui presentes tem-se todos mais ou


menos se esforçado, conquistado méritos e suportado privações.
É louvável. Mas, não esqueceis que estes méritos não são pesso-
ais, que eles pertencem ao conjunto das nossas tropas e dos nossos com-
patriotas. Sem a ajuda das nossas tropas e dos nossos compatriotas, nos-
sos talentos não podem ser empregados.
II. Desde a campanha de Hoa Binh, a guerrilha nas retaguardas
do inimigo teve um impulso notável; nomeadamente os nossos compa-
triotas e os nossos quadros têm uma maior confiança neles próprios para
vencer o inimigo.
É muito justo e é uma mudança muito favorável. Vocês devem
saber que nossa resistência será prolongada e violenta, mas necessaria-
mente vitoriosa. Prolongada porque deve ser conduzida até a derrota do
inimigo, até o momento de sua rendição.
A opressão que os imperialistas franceses faziam pesar sobre nós
há mais de 80 anos é como uma doença crônica grave, não se pode curar
em um dia, ou cairíamos no subjetivismo.
A resistência prolongada implica privações e sacrifícios, mas ela
triunfará. É preciso conduzir esta resistência prolongada e dura, nos
apoiando em nossas forças. Nós devemos nos ater, de forma particular,
na observação deste princípio, nas retaguardas do inimigo.
A ajuda dos países amigos é certamente importante, mas não é
permitido repousar sobre outros, descansar à espera da sua assistência.
Um povo que não conta com suas próprias forças e não faça mais do
que esperar ajuda dos outros, não merece ser independente.
Nessa resistência prolongada, que devem fazer as milícias de
guerrilha nas retaguardas do inimigo?
Qual é a sua tarefa?
Eles devem resistir prolongadamente. Frustrar o desígnio do ini-
migo de alimentar a guerra pela guerra, de combater os vietnamitas pelos
|190 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

vietnamitas. Não podendo apoderar-se das fontes humanas e materiais


das nossas zonas libertadas, o inimigo saqueia-as nas suas retaguardas.
Nós devemos impedi-lo. Ao frustrar seu desígnio, nós participaremos
de forma eficaz na preparação da contraofensiva geral, e assim o inimigo
encontrar-se-á cada vez mais enfraquecido e acabará por ser vencido.
III. Nas retaguardas do inimigo vocês tem demonstrado muitas
qualidades, abnegação, coragem, união. Eu passo das qualidades para fa-
lar dos principais erros que todos devemos corrigir:
1. Os quadros do Exército, das organizações populares, da ad-
ministração e do Partido não estudam bastante minuciosamente as dire-
tivas e as ordens do Comitê Central e do Governo. Isso é uma grave
lacuna. O Comitê Central e o governo têm uma visão ampla e é depois
de ter estudado a situação e tirado lição da experiência adquirida nas
diferentes regiões do país que elaboram suas diretivas. Os nossos qua-
dros devem estudar cuidadosamente as diretivas para aplicar de forma
apropriada à situação concreta de cada localidade. As regiões não vêm
de longe, eles veem as árvores e não a floresta, a parte e não o todo; um
trabalho que tal região considera como um sucesso pode ser na realidade
um revés se o inserirmos numa situação de conjunto. Isso acontece
quando não se estudou profundamente as diretivas do governo e do Co-
mitê Central.
2. Não é bom que as unidades regulares, as formações regionais
e as milícias de guerrilha só saibam combater: saber combater, é bom;
mas não saber senão combater, negligenciando a política, a economia, a
propaganda e a educação da população, é conhecer apenas um aspecto
das coisas, pois o combate não pode ser divorciado da política e da eco-
nomia. Ao combater sem pensar na economia, acontece que não se terá
mais arroz, que não se poderá combater mais. Assim, combater-se-á,
certamente, mas será também preciso pensar nos outros problemas.
3. Outro erro: as unidades regulares, as formações regionais e as
milícias de guerrilha querem entregar-se a grandes combates, alcançar
grandes vitórias, em lugar de proceder a um estudo minucioso da situa-
ção, das nossas possibilidades e das possibilidades do inimigo para fixar
a forma apropriada, os objetivos a atingir e a maneira de combater. Tam-
bém, na prática, cometemos vários erros em vários aspectos. Onde quer
que seja, só se ataca quando se está seguro de ganhar, senão, nos abste-
mos, sobretudo quando estamos cercados pelo inimigo.
4. Os quadros militares apenas conhecem os assuntos militares,
os quadros administrativos, os assuntos administrativos, e os quadros do
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 191 |

Partido, os assuntos do Partido, são como um homem que se mantém


só sobre um pé.
É perigoso que o quadro não conheça, assim, mais do que um
único domínio, pois não seria completo, e o bloco formado pelos diver-
sos elementos militar, popular, administrativo e do partido, não seria po-
deroso e compacto se lhe faltasse somente um destes elementos.
Ora, os quadros do partido e da administração deixam quase in-
teiramente aos quadros militares a tarefa de combater o agressor, não
sabem que a direção do Partido, se estende a todos os domínios, que
uma batalha não pode ser ganha senão mediante uma ação coordenada
em todos os domínios.
5. No que diz respeito aos quadros do Partido, em virtude das
dificuldades engendradas pela situação e, sobretudo, pelo fato de que
eles não sabem assegurar firmemente na mão o principal elo da corrente,
quer dizer, o alicerce da organização do Partido, atualmente, na zona
provisoriamente ocupada, as bases do Partido ainda não são sólidas, sai-
bamos que com uma forte organização do Partido, tudo marchará bem.
6. A luta contra a espionagem deixa ainda a desejar, o segredo
não é ainda bem guardado.
7. O trabalho de agitação junto das tropas fantoches conseguiu
sucessos, mas não em todo os lados.
Bem cumprido nos locais onde os quadros têm iniciativa, é feito
em outros sítios com indolência.
O inimigo prende uma guarda rural e um guarda civil. É preciso
ultrapassar todos estes espinhos. Vocês devem trocar suas experiências
para fazer progredir seu trabalho de agitação.
8. Quanto a propaganda nas retaguardas do inimigo, a fizemos
com sucesso antes da Revolução de Agosto graças as nossas iniciativas,
apesar da presença dos japoneses, dos franceses e dos traidores: a pro-
paganda fazia-se oralmente e pelos jornais.
Agora o Comitê Central do Partido e o governo fazem o seu
melhor para introduzir os jornais Cuu Quoc (“Salvação Nacional”) e Nhan
Dan (“O Povo”) na zona sob controle inimigo, mas isso ainda não é
suficiente e não marcha sem dificuldades.
Nas retaguardas do inimigo, é preciso criar jornais litografados
ou impressos sobre greda: não é necessário um grande formato, nem
frequência cotidiana, se puder difundir a linha e a política do governo,
fazer compreender a população o sentido dos nossos sucessos, assim
|192 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

como os reveses e os crimes do agressor. É nisso que reside o trabalho


de educação do Partido.

IV. Agora falemos do que nos falta fazer:


1. Em primeiro lugar é preciso realizar uma união em nossas fi-
leiras, quer dizer, entre o exército, as organizações populares, a adminis-
tração e o Partido.
Para cada trabalho, é preciso discutir cuidadosamente, repassar
os prós e os contras, realizar a unidade de pensamento e de ação, ajudar-
se mutuamente, praticar a crítica e a autocrítica de forma sincera para
progredir todos em conjunto.
2. É preciso estudar minuciosamente as diretivas e ordens do
Comitê Central e do governo, aplicá-las de forma correta e executá-las
de forma integral.
3. Um ponto essencial: as tropas – regulares, regionais ou de
guerrilha – devem permanecer estreitamente unidas à população. Se es-
tiverem isolados dela, conhecerão a derrota.
Permanecer estreitamente unido à população é trabalhar para
conquistar o seu carinho, a sua confiança, é atuar de forma que ela os
estime e os ame.
Nessa condição, todo trabalho, por mais difícil que seja, poderá
ser conduzido a bom termo e alcançaremos uma vitória certa. Para isso,
é preciso defender a população, ajudá-la e educá-la.
Educar a população não quer dizer remeter-lhe livros e obriga-
los a estudá-los. Se vocês agirem dessa forma, ireis contra os seus inte-
resses, os da revolução.
Isso seria burocracia e autoritarismo. É preciso exortar a popu-
lação a fazer de bom grado o que lhe pedirmos; ao usar o constrangi-
mento só se poderá obter resultados momentâneos e não sólidos.
4. As unidades regulares que operam na retaguarda do inimigo
têm o dever de ajudar, sob todos os aspectos, as formações regionais e
as milícias da guerrilha para sua organização e instrução, deve de os aju-
dar e não de fazer tudo em seu lugar. Devem também prestar assistência
à população. Certas unidades realizaram-no bem, outras têm ainda, in-
suficiência. Um proverbio vietnamita diz: “arredonda-se em uma cabeça,
estende-se em um cano”. Isso significa que na zona que está sob controle
do inimigo é preciso aplicar a técnica de guerrilha e não a tática da guerra
popular como na zona libertada. É preciso evitarmos completamente
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 193 |

empreender grandes combates, querer alcançar grandes vitórias, exceto


nos casos em que o sucesso está 100% assegurado.
5. A guerrilha não tem como objetivo ganhar grandes batalhas,
mas antes destruir progressivamente as forças do inimigo, cortar-lhes o
apetite e o sono.
Atuar de tal forma que, em todo o lado onde o inimigo coloque
seus pés, esteja a contas com nossos guerrilheiros, que caiam sobre uma
mina, sofram algumas cargas de fogo.
Eis o que os soldados franceses escrevem nas suas cartas “no
Vietnã, a morte nos espreita em cada buraco da rocha, em cada moita,
em cada charco”.
Se vocês conseguirem corrigir os erros que cometemos e fazer
nosso trabalho como acabo de lhes dizer, triunfarão. Mas, enquanto per-
manecer um único agressor, sobre o nosso solo, não poderemos dizer que
já alcançamos a vitória.
Se o inimigo, mais forte do que nós em armamento e no plano da
experiência, suportou sempre reveses, é porque peca por subjetivismo.
Cuide-se para não cair no subjetivismo, de subestimar o inimigo,
e o sucesso lhe pertencerá.
Na volta aos nossos lares, há de se falar aos nossos combatentes,
aos nossos compatriotas para se dedicar arduamente em todos os domínios.
Trata-se de cumprir campanhas no combate, de organizar a agita-
ção junto aos soldados inimigos e fantoches, aumentar a produção e fazer
economias.
“O exército é forte quando come até a satisfação”. Sem o cresci-
mento da população e a prática da economia, não se terá víveres suficien-
tes para travar a guerra; prometem fazê-lo?
Todos respondem com um “sim” ressoante. Todos prometeram,
agora se deve realizá-lo a todo custo.
Ainda este ponto: todos devem ter em conta os méritos das nossas
tropas e dos nossos compatriotas para que o Comitê Central e o governo
nos felicitem por isso.
As citações e as recompensas constituem um meio disso aconte-
cer. Elas constituem os mais merecedores e ajudam os outros a seguir o
exemplo. Até aqui, as instâncias locais produziram muito poucos relató-
rios, é necessário remediar esta lacuna.
|194 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Peço a vocês finalmente para transmitirem aos nossos compatri-


otas, aos nossos quadros e combatentes, em particular, aos velhos guerri-
lheiros, às guerrilheiras e às crianças resistentes, a expressão da minha es-
tima, da do Comitê Central e do governo.
O Comitê Central do Partido, o governo e eu próprio estamos
certos e satisfeitos de que as nossas tropas e os nossos compatriotas apli-
carão concretamente, nas retaguardas do inimigo, a linha e as diretrizes de
resistência para chegar rapidamente à vitória.

diretivas de julho de 1952


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 195 |

Respostas a um jornalista sueco

Pergunta: o debate no parlamento Francês provou que grande


número de políticos franceses são partidários de um acordo pacífico
do conflito no Vietnã por meio de negociações diretas com o governo
vietnamita. Este desejo conquista, cada vez mais, o povo francês. Isto
seria aprovado por vocês e pelo seu governo?

Resposta: A guerra no Vietnã foi provocada pelo governo Fran-


cês. Há 8 anos os povos vietnamitas foram obrigados a pegar em armas
para conduzir um combate heroico contra os invasores para defender a
sua independência, a sua liberdade e o seu direito de viver em paz. Se os
colonialistas prosseguirem sua guerra de agressão, o povo vietnamita
está determinado a continuar sua guerra patriótica até a vitória final. Mas,
se o governo francês tirou a lição destes anos de guerra e manifesta o
desejo de chegar a um armistício por meio de negociações e uma solução
pacífica do problema vietnamita o povo e o governo da República De-
mocrática do Vietnã estão prontos a ir ao encontro deste desejo.

Pergunta: Seria possível o cessar-fogo ou armistício?

Resposta: Basta que o governo Francês ponha fim a guerra de


agressão para que o armistício se realize no Vietnã, este será possível
com base no respeito sincero da França pela independência efetiva
do Vietnã.

Pergunta: Aceitaria que um país neutro se oferecesse como medi-


aneiro para organizar um encontro entre vós e os representantes man-
datários da parte adversária? Concordaria com a mediação da Suécia?

Resposta: Se países neutros empregarem esforços para apressar


o fim das hostilidades no Vietnã por meio de negociações, nós daremos
bom acolhimento à iniciativa, todavia, a negociação do armistício diz
|196 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

respeito essencialmente ao governo da República Democrática do Vi-


etnã e ao governo francês.

Pergunta: Na sua opinião, haveria outro meio de pôr fim à guerra?

Resposta: A Guerra no Vietnã causou muita infelicidade ao povo


vietnamita e muitos sofrimentos ao povo francês. É por isso que este
último luta para fazer cessar. Há longo tempo tenho vindo a testemu-
nhar a minha simpatia e estima para com o povo francês e para com
os combatentes franceses da paz. Hoje, não é só a independência do
povo vietnamita que é vítima de uma agressão, é também a indepen-
dência da França que está seriamente ameaçada. Os imperialistas ame-
ricanos ameaçam o povo francês. É por isso que luta ao lado dos co-
lonialistas franceses para prosseguir e intensificar a guerra de agressão
ao Vietnã, contando enfraquecer progressivamente a França, na espe-
rança de a substituir na Indochina. Por outro lado, eles forçam a França
a ratificar o pacto de defesa na Europa, o que acaba por deixar renascer
o militarismo alemão. É por esta razão que a luta do povo francês pela
independência, pela democracia, pela paz e pelo fim das hostilidades
no Vietnã é um dos fatores importantes para a conclusão pacífica do
problema vietnamita.

Excerto de Entrevista Realizada


Em Novembro De 1953
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 197 |

Relatório apresentado à
III Sessão da Assembleia Nacional
17 de dezembro de 1953

Senhores deputados!

Em nome do governo, estou contente por desejar as boas vindas


por ocasião desta sessão especial de Assembleia Nacional. Envio a ex-
pressão dos meus afetuosos pensamentos aos deputados que não pude-
ram vir em virtude das suas tarefas na resistência. Em nome do governo,
inclino-me respeitosamente perante a memória dos deputados que se
sacrificaram heroicamente pela pátria. Em nome do governo, fico con-
tente por desejar as boas-vindas aos delegados da Frente que trazem sua
saudação à nossa assembleia.

Senhores deputados!

Há oito anos nosso povo assumiu uma grande tarefa central: a


resistência. Daqui em diante, nós temos que concluir ainda uma outra
tarefa central: a reforma agrária. É preciso impulsionar energicamente a
resistência para assegurar o sucesso da reforma agrária. É preciso nosso
esforço para realizar a reforma agrária para assegurar a vitória completa
da resistência.
No decurso desta sessão especial, a Assembleia Nacional se de-
bruçará sobre o relatório acerca da resistência conduzida durante os anos
passados e discutirá sobre a política de reforma agrária. Ela irá, ao final,
adotar a lei sobre esta reforma.
O nosso país faz parte do mundo. A situação do nosso país tem
influência no mundo, tal como a situação mundial tem repercussões em
nosso país. Assim, antes de falar da resistência e da política de reforma
agrária, vou apresentar sucintamente a situação no mundo e no país.
Para já podermos dizer, o nosso campo é cada vez mais forte, o
campo inimigo é cada vez mais fraco.
|198 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A União soviética, baluarte da paz e da democracia no mundo,


progride vigorosamente do socialismo para o comunismo. O desejo de
felicidade alimentado pela humanidade há tantos séculos realiza-se,
pouco a pouco, em um sexto do globo. Para a salvação da paz mundial,
a URSS dispõe da bomba atômica e da bomba de hidrogênio, mas pro-
põe sempre aos outros países a proibição do uso destas armas.
Com a ajuda da devota União Soviética, os países de democra-
cia popular da Europa Ocidental redobram atualmente todos seus es-
forços para edificar o socialismo. A China alcançou sucessos conside-
ráveis na luta contra os imperialistas norte-americanos para ajudar a
Coreia; obteve numerosos e notáveis resultados na execução da pri-
meira etapa anual de seu plano quinquenal e em todas as suas tarefas
de reconstrução.
As vitórias eleitorais dos partidos comunistas francês e italiano,
as greves colossais de agosto e setembro de 1953 nestes países, as lutas
das classes trabalhadoras no mundo e o movimento de libertação dos
povos na Malásia, nas Filipinas, na África do Norte, na África Central,
na Guiana, etc., põe a nu o impulso contínuo do movimento de luta dos
povos na arena internacional.
A Conferência da Paz na Ásia e no Pacífico, em outubro de 1952,
e a Conferência Mundial pela Defesa da Paz, em novembro de 1952,
fizeram ressaltar as imensas forças do campo de paz e da democracia
cuja maior vitória durante o período decorrido foi o armistício na Coreia.
O exército e o povo da Coreia, assim como os voluntários chi-
neses, em uma luta extraordinariamente heroica, aniquilaram mais de um
milhão de soldados e de oficiais do exército dos Estados Unidos e dos
países do seu campo. Por seu lado, as forças mundiais da democracia e
da paz são extremamente poderosas. Estas duas forças como as duas
mandíbulas de um torno, estreitaram-se sobre os imperialistas america-
nos e aliados, os obrigando a assinar o armistício na Coreia.
Em outubro último, o 3° Congresso Mundial dos Sindicatos, re-
presentado por 88 milhões de operários de 79 países, decidiu fazer do
dia 19 de dezembro deste ano a “jornada da unidade com o heroico povo
do Vietnã e de luta pelo cessar da guerra de agressão ao Vietnã”. Tal é o
testemunho do caloroso espírito internacionalista, de uma enérgica ami-
zade da classe que imprime ao nosso povo ainda mais ardor pela resis-
tência e ainda mais fé na vitória final. Tal é, em resumo, a situação no
nosso campo.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 199 |

E qual é a situação no campo imperialista conduzido pelos ame-


ricanos? Os estados Unidos e seus 16 países lacaios (entre os quais, a
Inglaterra e a França) sofreram uma derrota humilhante na Coreia.
Desde o fim do século 19 que os EUA enriqueceram graças à guerra que
lhes permitiu ocupar um lugar de chefe de fila no mundo capitalista.
Foi a primeira vez – mas não é a última – que sofreram uma
pesada derrota; perdas em homens (mais de 390 mil soldados e oficiais
mortos e feridos), e perdas financeiras (mais de 20 bilhões de dólares),
além de perdas de prestígio perante outros países. A influência americana
enfraquece a cada dia na ONU, o campo imperialista está cada vez mais
desunido e dividido, a economia americana conhece uma crise crescente.
Os países capitalistas dependentes dos Estados Unidos, como
a Inglaterra e a França encontram a cada dia novas dificuldades econô-
micas e políticas no decurso da sua política armamentista, do movi-
mento popular no seu interior e do movimento de libertação nacional
nas colônias.
O brutal objetivo alimentado atualmente pelos Estados Unidos
é provocar a guerra na esperança de conquistar hegemonia mundial.
Na Ásia, sabotam a convocação da conferência política, na espe-
rança de reascender a guerra na Coreia, rearmam o Japão e boicotam a
entrada da China na ONU.
Intervêm cada vez mais na guerra no Vietnã, no Camboja e no
Laos. Na Europa, sabotam a reunificação da Alemanha, rearmam a Ale-
manha Ocidental como o pilar do “exército europeu”.
O nosso campo é a cada dia mais poderoso, mais unido na frente
da democracia e da paz dirigida pela União Soviética:
Atualmente nosso principal objetivo é atenuar a tensão no
mundo; nós preconizamos a resolução das divergências internacionais
pela via das negociações.
A tarefa atual dos povos do mundo consiste em consolidar os
sucessos adquiridos, em impedir as manobras norte-americanas, em dar
um vigoroso impulso ao movimento mundial da paz. A conjuntura in-
ternacional nos é favorável.
Mas, ao sustentar o movimento da paz, não nos iludimos, sabe-
mos que a paz só se conquista com duras lutas.
Enquanto os colonialistas franceses e os intervencionistas ame-
ricanos prosseguirem a guerra de agressão contra nosso país, nós deve-
mos ultrapassar todas as dificuldades, procurar bastar-nos a nós próprios
e impelir a resistência até a vitória.
|200 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A Situação Do País

A. Do lado do inimigo
Situação militar: as forças do inimigo foram serialmente atingidas
(perda de 320 mil homens em meados de novembro de 1953). A penúria
dos efetivos europeus e africanos faz-se sentir cada vez mais. Na frente
principal, o inimigo é forçado a uma posição cada vez mais passiva. Re-
centemente, conquistou posições na região libertada da 3º interzona,
mas, no essencial, está condenado a passividade. Todavia, suas forças
são muito poderosas. Não devemos subestimá-las.
Situação política: as contradições são, cada vez mais, agudas en-
tre imperialistas americanos e imperialistas franceses, entre imperialistas
francês e fantoches, entre fantoches pró-franceses e pró-americanos.
Nas regiões provisoriamente ocupadas sua política de intimidação
de exploração encontra pela frente a oposição resoluta de nosso povo.
Na França, o movimento antibelicista intensifica-se cada vez mais.
Situação econômica e financeira: A guerra impôs ao inimigo des-
pesas crescentes (3 trilhões de francos desde 1946 até nossos dias).
Contudo, consegue ainda apropriar-se do caucho e da hulha, ex-
portar certa quantidade de arroz pilhando as regiões provisoriamente
ocupadas. Além disso, se beneficia da “ajuda” americana.
Por outro lado, esforça-se para destruir nossa produção e nossas
vias de comunicação na zona libertada, nas bases e nas regiões de guerrilha.
Situação cultural e social: Nas regiões provisoriamente ocupadas,
o inimigo se esforça para propagar uma cultura corrupta e costumes de
gangster para intoxicar moralmente o povo, sobretudo nossa juventude;
serve-se também da religião para procurar dividir-nos. O teu desígnio é
“lançar vietnamitas contra vietnamitas, manter a guerra com a guerra”.

•••
Atualmente, que faz o inimigo, e que pensa fazer?
Os imperialistas americanos intensificam sua intervenção na
guerra do Vietnã, no Camboja e no Laos, financiam e armam ainda mais
os imperialistas franceses e seus fantoches. Eles compram os fantoches e
aceleram a organização das forças de reserva. Obrigam os imperialistas
franceses a fazer concessões aos fantoches, o que acaba por ser o mesmo
que fazer concessões a si próprios. Ao projetar e suplantar, por etapas, os
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 201 |

imperialistas franceses, continuam a servir-se destes últimos como agentes


de sua política de guerra. Com a política de exportação e de pilhagem eco-
nômica os imperialistas franceses e americanos praticam uma política de
“blefe” da qual eis alguns aspectos: Declaração de “pseudo-independên-
cia” e “pseudo-democracia”, organização de eleições falsificadas; Aplica-
ção de uma pretensa “reforma agrária” para enganar os camponeses; Or-
ganização de sindicatos “amarelos” para iludir os operários.
– Propaganda sobre uma paz falaciosa para dissimular a verdade
ao povo francês e aos povos do mundo, para enganar o nosso povo.
Paralelamente a estas manobras, o general Navarre reúne febril-
mente as duas forças motorizadas para nos atacar, importunar as nossas
retaguardas, intensificar operações e desenvolver a espionagem.
Em resumo, os imperialistas franceses e americanos esforçam-se
por estender a guerra “lançando vietnamitas contra vietnamitas, man-
tendo a guerra com a guerra”.
Não sejamos subjetivistas subestimando o inimigo. Pelo contrá-
rio sejamos sempre clarividentes, estejamos sempre atentos e prontos a
aniquilar todas as atividades. Nós podemos, contudo, afirmar que a suas
atividades são mais prova da sua fraqueza do que da sua força. Receia a
nossa política de resistência prolongada e o movimento da paz no
mundo. Para aniquilar as suas maquinações, devemos impulsionar vigo-
rosamente a resistência. Para isso devemos realizar a reforma agrária.

B. Do nosso lado
Situação militar: desde o outono/inverno de 1950 que alcança-
mos grandes sucessos em sete campanhas e mantivemos a iniciativa das
operações na frente principal. Libertamos a maior parte da vasta região
do Noroeste. O movimento de guerrilha cresce por todo o lado. Os cur-
sos de retificação ideológica e de formação militar no exército obtiveram
bons resultados. O nosso exército desenvolveu-se rapidamente em efe-
tividade e qualidade. Numerosas unidades do exército permanente, tro-
pas regionais e formações de guerrilheiros cumpriram notáveis feitos.
Situação política: os cursos de retificação ideológica para os mi-
litantes do partido e os quadros não membros do partido tiveram bons
resultados (mais de 15 mil quadros dos serviços do governo até ao esca-
lão comunal se beneficiaram deles). A frente de Unidade Nacional (Lien
Viet) reforçou-se e alargou-se. A aliança Vietnã-Camboja-Laos se torna
cada vez mais estreita. A atividade diplomática do nosso governo e do
|202 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

nosso povo ampliou-se e conquistou aprovação e o apoio dos povos do


mundo, sobretudo dos povos dos países amigos e do povo francês.
Situação econômica e financeira: nosso povo superou múltiplas
dificuldades, se dedicou fortemente na produção e deu à resistência uma
contribuição considerável em bens e em homens. As nossas finanças es-
tabilizaram progressivamente. Estabelecemos relações comerciais com a
China, o que é muito útil ao nosso povo.
Situação cultural e social: Os trabalhadores têm, cada vez mais,
sede de instrução, entregam-se, cada vez em maior número, ao estudo.
O número de escolas de ensino geral e os efetivos escolares foram au-
mentados consideravelmente. A formação dos quadros especializados
foi reorganizada e ampliada por etapas.
A comparação permite ver que em todos os aspectos a posição
do inimigo enfraquece a cada dia enquanto que a nossa se torna cada vez
mais forte.
Tais são, em resumo, os resultados obtidos pelo nosso povo,
pelo governo e pelo Partido; eles são apreciáveis. Todavia, nossa ação
teve lacunas: por exemplo, no primeiro período da nossa política agrária,
tendemos para a unidade com os proprietários latifundiários sem prestar
suficiente importância a questão do campesinato e das terras.
Recentemente o governo e o Partido cobriram esta lacuna e fi-
zeram progressos mais reais neste assunto. Porém, em certas localidades,
não observou estritamente a política do Comitê Central. Um certo nú-
mero de quadros não pensa e não age segundo a política do governo e
do Partido, a eles faz falta o sentido da organização e da disciplina. Ou-
tros dedicam-se exclusivamente a combater o feudalismo, negligenci-
ando assim a luta contra o imperialismo.
Importa que combatemos estas lacunas e evitemos todo o desvio
de esquerda ou de direita.

A Reforma Agrária
Limitando-se a expor de maneira sucinta alguns aspectos princi-
pais deste problema:
Significado da reforma agrária: A nossa revolução é uma revolução
nacional democrática popular contra o imperialismo agressor e contra o
feudalismo, seu ponto de apoio.
A nossa palavra de ordem na resistência é: “tudo pela Frente,
tudo pela vitória”. Ao desenvolver-se, a resistência pede, cada vez mais,
forças humanas e contribuições materiais. Os camponeses forneceram
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 203 |

mais do que as outras classes. É preciso libertá-los do jugo feudal, ali-


mentar as suas forças para conseguir mobilizar inteiramente a conside-
rável força que representam, lançá-la na resistência para obter a vitória.
A chave dos sucessos da resistência reside na consolidação e na
ampliação da Frente Única Nacional, no reforço da sua direção em todos
os domínios. Para levar a bom termo estas tarefas é absolutamente ne-
cessário mobilizar as massas para realização da reforma agrária.
O inimigo esforça-se para lançar os vietnamitas contra os viet-
namitas e para manter a guerra com a guerra, eles se esforçam para ble-
far, dividir e explorar nosso povo. Ao promover a reforma agrária, in-
fluenciaremos os nossos compatriotas camponeses que vivem nas reta-
guardas do inimigo, encorajaremos a lutar ainda mais vigorosamente
para se libertar e para apoiar mais ardentemente o governo democrático
da resistência. Nós provocaremos desta forma a desagregação das for-
mações de reserva cuja maioria é composta de camponeses que vivem
em zonas ocupadas.
O nosso povo é constituído quase inteiramente por camponeses.
É graças às forças do campesinato que nestes últimos anos nós resisti-
mos vitoriosamente. Será graças a estas mesmas forças que amanhã a
resistência vencerá e que a reconstrução nacional será concluída. Os nos-
sos camponeses, que representam quase 90% da população não pos-
suem mais de cerca de 3/10 das terras, sofrem durante todo o ano e
levam uma vida de miséria.
Os proprietários feudais não atingem 5% da população, mas com
a ajuda dos colonialistas, apropriam-se de cerca de 70% dos arrozais para
levarem uma vida ociosa e fácil. Esta situação é de uma injustiça revol-
tante. É a razão pelo qual nosso país perdeu sua independência e o nosso
povo se encontra atrasado e na miséria.
Durante a resistência, o governo ordenou a redução da taxa de
arrendamento, o reembolso das cobranças exageradas, a atribuição aos
camponeses dos arrozais pertencentes aos colonialistas e aos traidores e
a entrega provisória dos arrozais comunais aos camponeses na zona li-
bertada. O problema central continua sempre sem solução, as massas
camponesas não têm arrozais ou se tem, não são em quantidades sufici-
entes. Esta situação influi nas forças que participam na resistência e na
atividade produtiva dos camponeses.
A reforma agrária dará terra aos que a trabalham, libertará as for-
ças produtivas do campo dos entraves impostos pelos senhores feudais.
|204 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Só ela poderá colocar fim à miséria e ao atraso dos camponeses,


mobilizar a força imponente que eles representam para desenvolver a
produção e conduzir a resistência à vitória.
Objetivos da reforma agrária: suprir o regime feudal de apropriação
dos arrozais levar à prática a palavra de ordem: “a terra para quem nela
trabalha”; libertar as forças produtivas no campo, desenvolver a produ-
ção, impulsionar vigorosamente a resistência.
Linha política geral: apoiar-se sem reserva nos camponeses pobres
e nos camponeses sem terra, unir-se estreitamente aos camponeses mé-
dios, estabelecer relações com os camponeses ricos, suprimir por etapas
e discriminadamente o regime de exploração feudal, desenvolver a pro-
dução e impulsionar a resistência. Para satisfazer as exigências da resis-
tência e da Frente Única Nacional que visam tanto dar a terra aos cam-
poneses como consolidar e desenvolver a frente, no interesse da resis-
tência e da produção nós devemos fazer um destrinchamento entre os
proprietários de terra segundo a nossa posição política. Por outras pala-
vras, aplicar segundo os casos, a confiscação, a requisição ou a compra
administrativa em lugar da confiscação e da requisição sistemáticas.
Principal diretriz da reforma agrária: proceder a uma ampla mobili-
zação político-ideológica dos camponeses, apoiar-se nas massas, seguir
a linha de massas, organizar e educar as massas camponesas, fazê-las
lutar segundo um plano, por etapas sucessivas, organizadamente sob
uma direção rigorosa. É declarada ilegítima a posse das terras que os
proprietários de terra repartiram após a promulgação do decreto de 14
de julho de 1949, tendo redução das taxas de arrendamento (salvo ca-
sos excepcionais mencionados na circular de 1º de junho de 1953 da
Presidência do Conselho). Os arrozais confiscados, requisitados ou
comprados pela administração serão dados de forma definitiva aos
camponeses sem terra ou com pouca terra, que tenha um rendimento
de propriedade sobre elas.
Princípios a observar para atribuição das terras: tomar a comuna como
divisão administrativa para a divisão. Atribuir a terra nas bases do lotea-
mento existente, procurando igualar os lotes sob diversos aspectos da
quantidade e da qualidade e da localização, e deixando tanto quanto pos-
sível cada um as terras que cultivarem antes da reforma. Entre os ele-
mentos recalcitrantes, traidores, reacionários, tiranos ávidos e cruéis, os
que foram condenados a 5 ou mais anos de prisão verão ser retirado seu
direito à atribuição as terras.
•••
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 205 |

A mobilização das massas empreendida este ano, servirá de expe-


riência e preparação para reforma agrária a ser levada a cabo no próximo
ano. Desta experiência tiramos certo número de ensinamentos. Onde a
política do Partido e do governo foi bem compreendida e a linha de mas-
sas observada devidamente, os resultados foram bons em seu conjunto.
Mas o fracasso se registrou onde as autoridades locais agiam pre-
maturamente e por conta própria, antes de receber a ordem do Comitê
Central do Partido e do governo.
A reforma agrária é uma política comum a todo o país, mas deve
ser realizada por etapas, variando a ordem de realização de uma região
para outro segundo as condições locais.
Depois da adoção da lei sobre a reforma agrária, o governo indi-
cará nos próximos anos as próximas localidades da zona libertada onde
será empreendida e o tempo previsto para sua conclusão. O governo
decidirá as medidas a tomar nas zonas das minorias nacionais, na quinta
interzona, no Nan Bo e nas bases de guerrilha.
A política agrária será aplicada nas zonas de guerrilha e nas zonas
ocupadas, assim que forem libertadas.
Nas localidades onde a mobilização de massas por redução rigo-
rosas das taxas de arrendamento ainda não foi desencadeada, será abso-
lutamente necessário passar por esta primeira etapa. Isso permitirá orga-
nizar os camponeses, elevar a sua consciência política, assegurar sua pre-
ponderância política no campo e, ao mesmo tempo, formar os quadros
reajustar a organização e preparar as condições políticas para reforma
agrária. Onde não foi dada a diretriz do governo para mobilização das
massas é absolutamente proibido as autoridades locais desencadeá-la por
sua própria iniciativa.
A reforma agrária é uma revolução camponesa, uma luta de
classe no campo, luta vasta, árdua e complexa. Os preparativos também
devem ser minuciosos, o plano preciso, a direção estreita, as localidades
cuidadosamente escolhidas, a duração fixada com exatidão, a execução
realizada pontualmente. Estas são as condições do sucesso. A experiên-
cia internacional nos demostra que uma correta realização na reforma
agrária ajuda a superar muitas dificuldades e a resolver problemas. No
domínio militar, os camponeses mostrarão mais entusiasmo em partici-
par da resistência. O que permitirá engrossar os efetivos do exército e
mobilizar trabalhadores voluntários. Nossos combatentes tranquilos
quanto a sorte de suas famílias, lutarão com mais encarniçamento.
|206 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

No domínio político, o poder político e econômico no campo es-


tará nas mãos dos camponeses, a ditadura da democracia popular torna-
se uma realidade e a aliança dos operários e camponeses será consolidada
na Frente. A Frente Única Nacional englobará mais de 90% da população
do campo e se tornará ampla e poderosa.
No domínio econômico os camponeses libertos do jugo dos pro-
prietários feudais se entregarão com vontade ao trabalho da produção e
farão de bom grado economias. O crescimento do seu poder de compra
permitirá o desenvolvimento da indústria, do comércio e do conjunto da
economia nacional. Graças ao aumento da produção e às condições de
vida dos camponeses dos operários, do exército e dos quadros, poderão
melhorar rapidamente.
No domínio cultural e social, a grande maioria do povo, tendo o
suficiente para se alimentar e vestir-se, procurará com mais frequência
instruir-se porque quem tem comida, pensa na sabedoria. Tal como os
bons hábitos, também os excelentes costumes se desenvolverão.
Verificou-se que nas localidades onde se faz as mobilizações das
massas, as pessoas apaixonam-se e os intelectuais tem muitas ocasiões
de servir ao povo. Como já o disse mais acima, a reforma agrária é uma
ampla luta de classes, complexa e árdua, tanto mais por estarmos em
pleno período de resistência.
Mas, é precisamente para conduzir energicamente a resistência
até a vitória que estamos resolvidos a empreender com sucesso a re-
forma agrária. Posto que a reforma agrária é uma luta complexa, alguns
erros e desvios poderão nascer no pensamento ou ação de um certo nú-
mero de quadros (membros ou não do partido).
No decurso da sua aplicação, para evitar isso devemos seguir
convenientemente a política do Partido e do governo, nos apoiaremos
sem reserva nas massas, e assim seguir corretamente a linha das massas.
O governo e Partido conclama todos os quadros e militantes a
observar escrupulosamente a política adotada, submeterem-se a disci-
plina, colocarem-se sem reticências do lado dos camponeses, dirigi-los
para luta e, quando surgir uma contradição entre o interesse individual e
da família e o interesse geral da resistência e das massas, sacrificarem
deliberadamente o particular ao interesse geral.
Nós devemos mobilizar o partido, o exército e o povo inteiro
para realizar a reforma agrária, para cumprir esta grande tarefa.
Para os membros do partido e os quadros, para os partidos de-
mocratas e as personalidades patrióticas, isso será uma difícil prova.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 207 |

Nós temos o dever de vencer essa prova, tal como estamos em


via de vencer nesta outra prova, que é a resistência ao imperialismo
agressor. Assim, as duas tarefas chaves do ano que vem são: combater
os invasores e realizar a reforma agrária. Combater o inimigo nas diver-
sas frentes, destruir o máximo possível suas forças vivas, aniquilar toda
nova manobra militar de sua parte.
Desencadear a mobilização das massas para realizar a reforma
agrária nas regiões escolhidas pelo governo. Nós realizaremos a reforma
agrária para assegurar a vitória da resistência. Nós combateremos o ini-
migo e destruiremos o máximo das suas forças para assegurar o sucesso
da reforma agrária. Aumentar as forças armadas (exército regular, uni-
dades regionais, formação de guerrilheiros) em todos aspectos: organi-
zação, instrução, elevação continua da resistência política, do nível téc-
nico e potencial de combate.
Paralelamente, desenvolver a formação ideológica dos quadros,
colocá-los nos postos mais convenientes e reorganizar as bases do par-
tido no campo. Intensificar a produção agrícola para cobrir as necessi-
dades da resistência e assegurar o reabastecimento da população, dar um
poderoso impulso à economia nacional. A realização destas duas tarefas
centrais e destes três grandes trabalhos assegurará mais condições favo-
ráveis para realizar outros trabalhos tais como a manutenção e o desen-
volvimento da luta nas retaguardas do inimigo, a consolidação do poder
popular nas comunas, a reorganização dos serviços de segurança, o de-
senvolvimento e a consolidação da Frente Única, a cobrança do imposto
agrícola, o desenvolvimento da economia e das finanças, a propaganda,
o ensino, a cultura e a assistência social.
A nossa força reside nas dezenas de milhões dos nossos compa-
triotas camponeses trabalhadores, prontos para organizarem-se sob a di-
reção do governo e do Partido e se erguerem para aniquilar o jugo feudal
e colonialista. Bem organizada e bem dirigida, esta força é capaz de fazer
tudo para atingir seus objetivos, abater os colonialistas e os elementos
feudais. Podemos concluir que, sob a justa direção do governo e do Par-
tido, com a devotada ajuda da Assembleia Nacional e da Frente e a re-
forma agrária levada a cabo corretamente é um grande passo para a vi-
tória da resistência e para a edificação nacional.

Documento de
1º de dezembro de 1953
|208 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Felicitações ao Exército, aos dan cong, aos


jovens voluntários e aos compatriotas do
Noroeste

O nosso exército libertou Dien Bien Phu. O governo e eu envi-


amos as nossas cordiais felicitações aos quadros, combatentes dan
cong11, jovens voluntários e compatriotas da região, pela maneira bri-
lhante como cumpriram suas tarefas.
A nossa vitória é enorme, mas ainda não é definitiva. Não deve-
mos nos envaidecer dos nossos sucessos, nem nos mostrar subjetivistas,
subestimando inimigo. Conduzimos com determinação a resistência
para reconquistar a independência, a unidade, a democracia e a paz. Pelas
armas ou pela diplomacia, devemos conduzir uma luta prolongada e dura
para alcançar vitória completa.
O governo e eu recompensaremos os quadros e combatentes, os
trabalhadores voluntários, os jovens voluntários e os compatriotas da
região que se distinguiram pelos brilhantes feitos.
Saudações cordiais.
Nós venceremos.

Por ocasião da vitória de


Dien Bien Phu
8 de maio de 1954

11. Trabalhadores voluntários.


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 209 |

Relatório a VI Conferência
do Comitê Central do Partido
dos Trabalhadores do Vietnã

A VI Conferência do Comitê Central do Partido está aberta a


certo número de quadros do escalão superior para deliberar sobre a si-
tuação atual e as novas tarefas.
Em nome do Comitê Central, envio minhas afetuosas saudações
aos combatentes e aos quadros de todas as frentes, os meus conselhos
aos nossos compatriotas da zona libertada e da zona recentemente liber-
tada, toda a minha simpatia aos nossos compatriotas da zona ainda ocu-
pada.
Em nome do Comitê Central, agradeço aos partidos irmãos e aos
povos dos países amigos por nos terem ajudado em nossa resistência e
em nossa luta pela paz. Os meus agradecimentos vão também para os
povos amantes da paz no mundo que nos deram o seu apoio.
E agora faço o resumo da situação e das novas tarefas.

I. Nova Situação

1. Situação do mundo
Tal como a União Soviética, a China e os países de democracia
popular desenvolvem-se, consolidam-se e progridem em todos os domí-
nios, o movimento mundial da paz e da democracia cresce cada vez mais.
Como consequência da sábia e da justa política externa da URSS, os im-
perialistas e, em primeiro lugar, os imperialistas norte-americanos, vi-
ram-se obrigados a participar das conferências de Berlim e de Genebra.
O simples fato de se reunirem nestas duas conferências já foi uma vitória
para o nosso campo e uma derrota para o campo imperialista. No campo
imperialista, com os EUA à cabeça, as contradições se aprofundam e
aumentam cada vez mais. Eis alguns exemplos:
Contradições entre ingleses e americanos: traduzem-se pelo con-
flito de interesses que divide os Estados Unidos e a Grã-Bretanha no
|210 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Mediterrâneo e no Oriente Próximo e Médio. Os americanos atraiam


para si o Paquistão, a Nova Zelândia e a Austrália, que pertencem ao
grupo inglês. No extremo Oriente, a política inglesa e americana face à
China e ao Japão se opõem, etc.
Contradições entre franceses e americanos: os americanos dão
auxílio aos franceses, mas para fazer dele um meio de pressão. Os Esta-
dos Unidos fazem de tudo para forçar a França a assinar o tratado
franco-alemão e o tratado sobre a organização de um exército europeu.
O acordo da França equivaleria ao seu próprio suicídio. No que diz res-
peito à Indochina, os franceses e os americanos parecem estar de acordo
sobre a guerra no Vietnã. Na realidade, os segundos querem colocar a
mão sobre os fantoches para afastar os primeiros e entregarem o poder
fantoche a Ngo Dinh Diem, seu fiel lacaio.
A política americana no que diz respeito ao “tratado militar de
defesa europeia” semeou a discórdia entre os países da Europa Ociden-
tal e no interior destes países. As populações se opõem aos governos
pró-americanos e há contradições que dividem os capitalistas pró-ame-
ricanos daqueles que não o são. Na Ásia, os americanos propõem-se a
criar um pacto “SEATO” com vista a combater os asiáticos pelos asiá-
ticos. A sua política é extremamente reacionária, mas eles sofrem nume-
rosos reveses. Empregam a “política da força”, bradam a ameaça de
bombas A e H. Mas, o movimento da paz que se opõe a política de
violência e ao emprego das armas atômicas, intensifica-se a cada dia. O
próprio Papa é obrigado a condenar sua política de utilização destes en-
genhos de destruição massiva. O movimento da paz ganhou a grande
maioria dos povos, um grande número de membros da burguesia de di-
ferentes países e até o chefe da Igreja Católica Apostólica Romana.
Antes da Conferência de Genebra e antes da vitória de Dien Bien
Phu, os Estados Unidos propunham-se a estabelecer uma “declaração
comum” entre eles, mas a França, a Inglaterra e alguns outros países não
deram seu apoio. Eles preconizam então uma “ação comum”, com vista
a levar socorros aos franceses em Dien Bien Phu. Novo revés: seu pro-
jeto não recebeu e aprovação da Inglaterra, nem dos outros países. Eles
fazem tudo para sabotar a Conferência de Genebra. Isto é, para boicotar
a paz. O secretário de Estado dos EUA fugiu, depois de ter assistido,
por alguns dias, à Conferência. As delegações dos outros países não dei-
xaram, apesar disso, de participar dos trabalhos e a conferência deu re-
sultados.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 211 |

A despeito das suas derrotas, os imperialistas norte-americanos


não se dão por vencidos. Eles empenham-se ativamente para erguer o
pretenso bloco para a defesa do Sudeste Asiático. São o principal inimigo
da paz mundial e nós devemos concentrar nossas forças contra eles.

2. Situação no país
O Vietnã, o Camboja e o Laos estão unidos e sua resistência in-
tensifica-se cada vez mais. As nossas forças de guerrilha no Sul, no Cen-
tro e no Norte, além de serem sólidas, tomam cada vez mais um ímpeto
mais poderoso. Desde a Campanha da fronteira à de Hoa Binh e do
Noroeste, etc., nosso exército regular conquistou vitórias sobre vitórias.
Estas vitórias, às quais se somou à de Dien Bien Phu, causaram mudança
considerável na situação do país. Fizemos fracassar o plano Navarre e,
por isso, derrubamos o gabinete Laniel-Bidault e forçámos o corpo ex-
pedicionário francês a reduzir suas zonas de ocupação.
As nossas vitórias se devem à justa política do nosso Partido e
do nosso governo, ao heroísmo do nosso exército e do nosso povo, ao
apoio dos povos dos países amigos e dos povos do mundo inteiro. São
também as vitórias do movimento mundial da paz e da democracia.
Junto aos nossos sucessos no domínio militar, começamos a al-
cançar outros na frente antifeudal. Se os primeiros tiverem bons efeitos
na mobilização das massas para realização da reforma agrária, os segun-
dos influenciaram de forma positiva a luta anti-imperialista. Nossos su-
cessos entusiasmam nosso povo e outros povos do mundo, consolidam
a nossa posição diplomática em Genebra, obrigando nossos inimigos a
negociar. A atitude dos franceses mudou de forma notável em relação as
condições apresentadas por Bollaert, em 1947. Desde o início da resis-
tência, nossa posição reforçou-se, cada vez mais, enquanto que o a do
inimigo enfraqueceu a cada dia. Mas, não esqueçamos que estas forças
são apenas relativas e não absolutas. Não devemos cair no subjetivismo,
subestimando o inimigo. As nossas várias vitórias despertaram os ame-
ricanos. Depois de Dien Bien Phu, modificaram seus planos de inter-
venção para prolongar e internacionalizar a guerra na Indochina, sabotar
a Conferência de Genebra, tentar, por todos os meios, afastar os france-
ses, apoderar-se do Vietnã, do Camboja e do Laos, subjugar estes três
povos e aumentar a tensão internacional. Os americanos, inimigos dos
povos do mundo, estão prestes a tornarem-se os inimigos principais dos
povos do Vietnã, do Laos e do Camboja.
|212 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A Conferência de Genebra se reuniu após estas modificações so-


brevindas a esta situação mundial e nacional. Ela vê acentuar ainda mais
as contradições entre os imperialistas: se os franceses desejam negociar,
os ingleses permanecem equivocados e os americanos pretendem sabo-
tar. No momento atual, estes últimos estão cada vez mais isolados.
Pelo contrário, o Vietnã, a China e a União Soviética estão mais
unidos do que nunca. Como consequência das contradições entre os im-
perialistas e graças aos nossos esforços e aos do nosso campo consegui-
mos alguns acordos bastante importantes. Estando atualmente o go-
verno francês nas mãos dos defensores da paz, nos são oferecidas opor-
tunidades para obter o fim das hostilidades na indochina.
Durante a suspensão provisória da conferência de Genebra, os
chefes das delegações regressão aos seus países, depois de terem confi-
ado seus poderes a seus adjuntos. Aproveitando esta ocasião, o camarada
Chu En-Lai, primeiro-ministro da República Popular da China, visitou a
Índia e a Birmânia. Ele assinou duas declarações comuns sobre a paz.
Cinco princípios enunciados nestas declarações são breves, mais impor-
tantes, claros e justos. Bem acolhidos pelos povos do mundo inteiros,
particularmente pelos da Ásia eles cercearam as manobras americanas
que visavam semear a discórdia entre os povos asiáticos. Eis o texto:

1. Respeito mútuo de soberania e de integridade territorial.


2. Não agressão.
3. Não ingerência nas ações internas de cada país.
4. Relações de amizade e de igualdade.
5. Coexistência pacífica.

A minha entrevista com o camarada Chu En-Lai deu bons resul-


tados. Seus amigáveis encontros com os representantes da Índia, da Bir-
mânia e do Vietnã estreitaram a unidade entre os povos da Ásia. Isso foi
mais um sucesso para o ativo do nosso campo.
A situação no mundo, no nosso país e na Ásia faz com que nós
alcancemos a paz, mas os Estados Unidos multiplicam suas atividades
de sabotagem. A fração belicista ainda existe na França e os fantoches
pró-americanos, por seu lado, fazem tudo para sabotar. É por isto que é
possível que a guerra se prolongue. Esta é a situação.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 213 |

II. As nossas novas tarefas


A situação impõe novas tarefas, implica novas diretrizes e uma
nova tática. No decurso destes nove anos de resistência e de luta heroica
sob direção do Partido e do governo e à custa de mil dificuldades, nosso
exército e nosso povo conquistaram brilhantes vitórias. As nossas forças
cresceram sob todos os pontos de vista. Os sucessos obtidos devem-se
a justa política do Partido e do governo. Atualmente, tendo a situação
tomada nova disposição, e não sendo as tarefas inteiramente as mesmas,
nossas políticas e nossas palavras de ordem devem ser modificadas igual-
mente, por consequência. Até aqui, concentramos nossas forças para
aniquilar as dos franceses agressores. Presentemente, os franceses en-
tram em negociação conosco, enquanto que os imperialistas americanos
estão prestes a tornarem-se nossos inimigos principais e diretos. É con-
tra estes últimos que deve ser dirigido nosso golpe principal.
De hoje até o restabelecimento da paz, continuaremos a comba-
ter os franceses. Mas é contra os americanos que devem convergir nos-
sos esforços de luta tal como os esforços os dos povos do mundo in-
teiro. A política dos EUA é estender e internacionalizar a guerra na In-
dochina, a nossa, é lutar pela paz, contra a política de guerra dos ameri-
canos. Há 9 anos, o programa do nosso Partido salientou os seguintes
objetivos: o Vietnã, o Camboja e o Laos devem ser completamente in-
dependentes e libertados do jugo francês, não aceitação da União Fran-
cesa, expulsão do corpo expedicionário francês da Indochina, aniquila-
ção do poder e do exército fantoche, confisco dos bens dos imperialistas
e dos traidores, trabalho de agitação para a redução das taxas de arre-
dondamento e de juros com vista à reforma agrária, realização da demo-
cracia em todo os país, resistência até a vitória final. Este programa ob-
teve inúmeros sucessos, revelou-se justo.
Mas, perante a nova situação, não pode ser mantido tal como
está. A antiga palavra de ordem “resistência até o fim” deve ser substi-
tuída por “paz, unidade nacional, independência e democracia”. Contra
a política americana de intervenção, de prolongamento e de ampliação
de guerra na Indochina, devemos segurar com firmeza a bandeira da paz.
Por consequência, nossa política deve ser modificada, anteriormente era
a confiscação dos bens dos imperialistas franceses, no presente, como
eles entram em negociações conosco, poderão, sob o princípio da igual-
dade e das vantagens recíprocas, conservar interesses econômicos e cul-
turais no nosso país. Quando se entra em negociação, devem-se fazer
|214 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

concessões recíprocas razoáveis. No passado, dizíamos: perseguir e des-


truir totalmente o corpo expedicionário francês; agora, com as negocia-
ções, reclamamos, e os franceses aceitaram a retirada do seu exército em
uma data determinada. Anteriormente, nós propúnhamos aniquilar o
exército e o poder fantoche com vista à unidade nacional; agora, avan-
çamos com uma medida generosa, a reunificação nacional pela via das
eleições gerais em todo o país.
Para estabelecer a paz, é preciso colocar fim à guerra, chegar a
um cessar fogo. Para colocar em prática o cessar fogo, há que delimitar
as zonas de concentração. O exército inimigo deve reagrupar-se em uma
zona com vista a sua retirada progressiva. O nosso deve reunir-se em
outra. É necessário para nós, uma vasta região reunindo as condições
necessárias à edificação, à consolidação e ao desenvolvimento das nossas
forças, cuja influência sobre as outras regiões levará a reunificação naci-
onal. Delimitar as zonas de concentração não quer dizer dividir o país, é
uma medida provisória para chegar a reunificação da pátria. Com a de-
terminação e a troca das zonas de reagrupamento, nossos compatriotas,
habitantes da região até aqui livres que o inimigo virá a ocupar poderão
ter motivos de descontentamento e de decepção, e deixar-se explorar
pelo adversário. Devemos fazê-los compreender que no interesse de
todo o país, no interesse durável, é preciso saber ter paciência, que será
honroso fazê-lo e a nação reconhecerá isto. Devemos proceder de forma
que seja banido todo pessimismo negativo, todos devem continuar a em-
pregar todas forças para exigir dos franceses a retirada das tropas, para
começarmos a independência do país.
Delimitar as zonas para atingir a paz, efetuar as eleições gerais
em todo o país para conseguir a reunificação nacional, é nosso princípio.
Nós conduzimos a resistência pela independência, a unidade, a demo-
cracia e a paz. Restabelecer a paz, tendo também como objetivo alcançar
a independência, a unidade e a democracia. A nova situação exige uma
nova linha política para a nova conquista e novos sucessos.
Mas, quer se trate de trabalhar em paz ou prosseguir a guerra,
devemos conservar a iniciativa, prever e preparar o futuro.
Ganhar a paz não é coisa fácil. É uma luta prolongada, dura e
complexa, que tem dificuldades e fatores favoráveis. Os países amigos e
os povos do mundo nos apoiam, nosso povo está fortemente convicto
em nosso Partido e em nosso governo; sob uma sábia direção, ele se
unirá à luta tanto na paz, como na guerra de resistência, estes são os
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 215 |

fatores que não são favoráveis. E eis as nossas dificuldades: os america-


nos empenham-se em sabotar a paz na Indochina, os partidários da paz
na França permanecem sob a influência ianque.
A nova situação revela-se difícil e complexa. Exige que tomemos
medidas distintas para regiões recentemente libertadas e aquelas livres
há mais tempo, para nossa zona livre e para a que é reservada provisori-
amente ao reagrupamento das forças inimigas. Anteriormente, tínhamos
apenas tarefas rurais; agora é preciso ter uma política para as cidades.
A respeito dos franceses, nossa política também não será a
mesma do passado. Da mesma maneira, deve ser diferente conforme se
trata de traidores pró-americanos e pró-franceses. No passado, nós não
tínhamos senão a política interna e as relações diplomáticas com os paí-
ses amigos; no presente, as nossas relações diplomáticas estendem-se a
outros países...
É necessário fazermos uma distinção entre o interesse imediato
e interesse a longo prazo, entre o interesse local e o interesse geral.
A situação, complexa e difícil, está em plena evolução. Disso re-
sulta que se faça mudanças também no espirito da população e dos qua-
dros. Na falta de uma preparação suficiente e de direção oportuna, pode-
se dar origem a confusão do pensamento e na ação de alguns. Pode-se
praticar os seguintes erros: desvio de esquerda – alguns embriagados pe-
las nossas vitórias sucessivas vão querer combater a todo o custo, com-
bater até o fim como um homem que vê a árvore, sem ver a floresta,
verificam o recuo do inimigo sem prestar atenção a sua manobra, veem
os franceses sem ver os americanos, apaixonam-se pela paixão militar,
subestimando a diplomacia.
Não compreendem que, paralelamente à luta armada, conduzi-
mos a luta nas conferências internacionais, visando o mesmo objetivo.
Se opõem às novas palavras de ordem que consideram como manifesta-
ções direitistas, como concessões irrefletidas. Impõem condições exces-
sivas, inaceitáveis para o adversário. Querem precipitar tudo se não dão
conta da luta pela paz que é dura e complexa, que se excedermos ao
esquerdismo, ficamos isolados, desligados do nosso povo e dos povos
do mundo e assim acabaremos por fracassar. O desvio de direita traduz-
se por um pessimismo negativo e por concessões sem princípios. Não
tendo fé na força do povo, os direitistas enfraquecem seu espírito de
luta. Eles perdem o hábito do sofrimento e já não aspiram senão a uma
vinda calma e fácil.
|216 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Esquerdismo e direitismo são, ambos, erros. Serão igualmente


explorados pelo inimigo, que se aproveitará deles, sendo ambos nocivos.

Tarefas e trabalhos concretos


A situação impõe três novas tarefas:

1) Conquistar e consolidar a paz, acabar de realizar a unidade


nacional, assim como independência em todo o país;
2) Desenvolver as forças armadas do povo, edificar um exército
popular poderoso que responda às exigências da nova situação;
3) Continuar a realizar a palavra de ordem: “a terra a quem a
trabalha”; empenhar-se em reconstruir a produção e em preparar as con-
dições para a construção nacional.

Estas três tarefas exigem dez trabalhos:

1) realizar as unidades de ponto de vista em todo o partido, em


todo o povo sobre a situação e as novas tarefas;
2) reforçar a direção da luta diplomática; 3) aumentar as forças
do Exército Popular;
4) Tomar a cargo e dirigir as regiões recentemente libertadas,
particularmente nas cidades;
5) modificar a orientação da zona de trabalho e concentração das
tropas inimigas;
6) continuar e consolidar a antiga zona livre;
7) impulsionar vigorosamente a mobilização das massas para a
realização da reforma agrária;
8) reforçar o trabalho econômico e financeiro; preparar condi-
ções para a construção nacional;
9) contribuir para o movimento de libertação nacional dos povos
do Camboja e do Laos;
10) prosseguir o trabalho de retificação ideológica do Partido;
reorganizar o Partido nas regiões recém libertadas.

O conjunto destes dez trabalhos será dirigido pelo Comitê Cen-


tral. Cada localidade e cada ramo não terão que empreender todos estes
dez trabalhos, mas apenas um número determinado deles.
De todos estes trabalhos, a direção ideológica é mais impor-
tante. Compreender a situação e as novas tarefas é a condição para que,
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 217 |

no Partido e fora dele, se alcance a unidade de pontos de vista e a uni-


dade de ação.
As nossas tarefas e os nossos trabalhos por mais pesados, difíceis
e complexos que sejam, serão coroados de êxito se a unidade de pontos
de vista e a unidade de ações se realizem da base ao topo da hierarquia,
dentro e fora do Partido.
Neste momento, o imperialismo americano, inimigo dos povos
de todo o mundo, tornou-se inimigo principal e direto dos povos da
Indochina; é por isso que todas nossas ações deve ter em vista combatê-
lo. Todas as pessoas, todos os países, que não sejam pró-americanos,
poderão, ainda que provisoriamente, formar uma frente única conosco.
Os nossos objetivos imutáveis continuam a ser a paz, a indepen-
dência, a unidade e a democracia. Permaneceremos firmes em nossos
princípios, mas nossa tática será flexível.
Os diferentes trabalhos devem coordenar-se para estar ligados
uns aos outros, a parte deve integrar-se no todo. Cada trabalho deve
corresponder exatamente a uma localidade, a um momento e a uma si-
tuação determinada. Com a justa direção do Partido e do governo, a
união e esforço de todos os quadros e do povo, e a aprovação dos povos
amigos e dos povos do mundo amantes da paz, realizaremos com su-
cesso as três tarefas e os três trabalhos que acabo de indicar.

documento de 15 de julho de 1954


|218 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

VIII aniversário da Resistência Nacional

Compatriotas,
Combatentes e quadros no país,
Compatriotas no estrangeiro,
Depois de nove meses de uma resistência extremamente dura
e heroica, alcançamos uma gloriosa vitória. Com o restabelecimento
da paz, nos beneficiamos de circunstâncias favoráveis para recons-
truir o país.
Hoje, pela primeira vez, comemoramos, em paz, o desencadear
da resistência nacional. Não esqueçamos, contudo, que, assim como a
luta armada na resistência, a luta política na paz é igualmente prolongada
e árdua; esta é mesmo mais difícil e complexa.
O nosso povo, as nossas forças armadas e os nossos quadros
não devem adormecer à sombra dos louros conquistados mas preservar
intactos sua vontade de combater e seu espírito heroico.
Foi graças à união, à luta, à vigilância e à confiança em nós pró-
prios que vencemos na resistência; na hora atual é preciso realizar uma
ampla união nacional, reforçar nossa união com os povos amantes da
paz no mundo, consolidar ainda mais a nossa vontade de combater, au-
mentar a nossa vigilância, reforçar a nossa confiança em nós próprios e
a nossa fé no futuro glorioso da nossa nação. Deste modo, nós seremos
bem-sucedidos no nosso trabalho de consolidação da paz, de realização
da reunificação, de concretização da independência e da democracia em
todo o país.

Cordiais saudações.

Nós venceremos.

19 de dezembro de 1954
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 219 |

Discurso de encerramento do
Congresso da Frente Nacional Única12

Senhores membros do Presidium, Senhores delegados. Depois


destes dias de trabalho intenso e de apaixonadas discussões, o Congresso
adotou por unanimidade o novo Programa da Frente. Isto é um sucesso.
Podemos afirmar que temos um programa de ampla união, cujo objetivo
é lutar pela paz, pela unificação, pela independência e pela democracia
em todo o país.
Aos olhos de todos, o Programa da Frente apresenta-se bastante
realista, muito sólido e muito amplo. É realista porque responde perfei-
tamente às aspirações profundas dos nossos compatriotas do Norte ao
Sul. À exceção de um punhado de pessoas que se venderam aos imperi-
alistas estadunidenses, todos os vietnamitas desejam a reunificação naci-
onal e a reunificação pela via pacífica. Desta forma, este programa obterá
acolhimento e apoio calorosos da imensa maioria da população se os
membros da Frente se esforçarem por fazer compreender aos nossos
compatriotas por meio de propaganda e de esclarecimentos.
Este programa é amplo porque a Frente está pronta a acolher em
seu seio todos aqueles que aprovem sinceramente a reunificação nacio-
nal e se oponham às manobras separatistas dos americanos e de Ngo
Dinh Diem. A Frente está pronta a unir-se a todos aqueles que amam o
seu país, sem distinção de tendência política e de crença religiosa, etc.
Englobará, pois, todas as pessoas dispostas a servir a pátria, qualquer
que seja sua antiga vinculação política.
Este programa é sólido porque se apoia nos operários e campo-
neses, que constituem a imensa maioria da população, ocupando-se de
todas as outras camadas sociais.A Frente é apoiada no país pela grande
maioria da população. No mundo, terá o apoio dos povos amantes da

12. O Congresso da Frente Nacional Única do Vietnã: realizou-se em Hanói de 5 a 10


de setembro de 1955. Fundou a Frente da Pátria do Vietnã e adotou seu programa e
seus estatutos. A criação da Frente da Pátria alargou e consolidou a união nacional.
|220 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

paz. Ela terá, sem dúvida, um belo futuro pelo caráter realista, amplo e
sólido do seu programa.
Agora comunico-vos algumas reflexões:
— A Frente elaborou um programa justo. Isto é muito bom para
a luta no futuro. Mas não é senão um primeiro passo na via que conduz
à vitória. Nós devemos lutar pela realização deste programa. A nossa luta
será complexa e dura. Esta exige muita tenacidade e determinação. Nós
devemos, antes de tudo e urgentemente, fazer compreender a todos este
programa; é preciso uma vasta propaganda de Norte e Sul, para explicá-
lo convenientemente e levar as pessoas a apreender seu espírito e seu
conteúdo, a fim de que possam apoiá-lo logo em seguida com firmeza.
— O Norte constitui, por assim dizer, a base, a origem das forças
de luta do nosso povo. Uma casa só se mantém de pé se os seus alicerces
forem sólidos. Uma árvore só cresce bem se as suas raízes forem vigo-
rosas. Devemos fazer tudo para consolidar o Norte em todos os domí-
nios, reforça-lo e fazê-lo progredir constantemente. Nem se põe a ques-
tão de minimizar a importância desta tarefa.
É tornando o Norte sólido e forte, intensificando seus progres-
sos que nós asseguraremos efetivamente os interesses do Sul.
— Alguns perguntam: a Frente tem, certamente, um bom pro-
grama, mas se os americanos e Ngo Dinh Diem opuserem a sua inércia?
Nós respondemos: o rochedo é, por natureza, inerte.
Mas por maior e pesado que seja, rolará se o povo conjugar as
suas forças para o arrastar.
Nós unimos nossos corações e nossas energias, decididos a con-
solidar o Norte, a realizar o programa da Frente da Pátria, e isto constitui
uma alavanca extraordinariamente poderosa. Diem e seus patrões esta-
dunidenses quererão opor-lhe a sua inércia, mas não o conseguirão. Eles
não querem “rolar”, mas serão forçados a fazê-lo. É por isso que não é
preciso perguntar “e se os estadunidenses e Ngo Dinh Diem opuserem
a sua inércia?”. Cada um de nós deve perguntar antes “que esforço fiz e
em que medida para cumprir a minha tarefa?”. Sob o impulso dos nossos
esforços para consolidar o Norte e realizar o Programa da Frente, e sob
a pressão dos povos amantes da paz no mundo, os americanos e Ngo
Dinh Diem “rolarão” sem falta.
Senhores delegados!
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 221 |

A história dos últimos anos mostrou que a força da unidade do


nosso povo é invencível, e que a Frente Nacional Única alcançou fre-
quentes sucessos. A Frente Viet Minh ajudou ao triunfo da Revolução
de Agosto.
A Frente Viet Minh-Lien contribuiu para a vitória da resistência.
Podemos ter a certeza de que graças aos esforços de todos e ao
apoio do povo inteiro, a Frente da Pátria cumprirá sua gloriosa tarefa:
ajudar a edificar um Vietnã pacífico, reunificado, independente, demo-
crático e próspero.
Peço-vos o favor de transmitirem as saudações afetuosas do Go-
verno e as minhas próprias saudações a todos os nossos compatriotas
em todo o país e particularmente aos do Sul que conduzem atualmente
uma luta heroica.

10 de setembro de 1955
|222 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 223 |

O Leninismo e a
Libertação dos Povos Oprimidos

Em 22 de Abril de 1870, na velha Rússia despótica, nasceu o


futuro dirigente e talentoso mestre das massas trabalhadoras e dos po-
vos oprimidos de todo o mundo, Vladimir Illich Lenin. No final do
século XIX e início do século XX, o capitalismo alcançou seu mais alto
e último desenvolvimento, o do imperialismo e entrou na era da revo-
lução proletária. O homem que continuou o grande labor de Marx e
Engels nas novas condições históricas foi V. I. Lenin. Lutando sem
trégua contra os reformistas e todo o tipo de deformadores do mar-
xismo, Lenin levou o socialismo científico a uma nova etapa. Enrique-
ceu o marxismo, a grande arma ideológica do proletariado, e contribuiu
grandemente para formular a teoria da ditadura do proletariado. De-
senvolveu o princípio marxista na aliança operário-camponesa, na
questão nacional e colonial, no internacionalismo proletário, na cons-
trução e fortalecimento de um novo tipo de partido proletário que é a
única organização capaz de dirigir a luta multiforme da classe operária
e dos povos escravizados. Lenin estabeleceu uma nova teoria da revo-
lução socialista e mostrou as possibilidades do triunfo do socialismo
em um só país.
Lenin ajudou os trabalhadores que sofriam pela opressão im-
perialista a realizarem em uma forma mais compreensível a lei do de-
senvolvimento social, os requisitos e as condições objetivas da luta po-
lítica em cada etapa da revolução proletária e todo o movimento de
libertação. Permitiu às massas oprimidas que se inteirassem dos intrin-
cados e complexos desenvolvimentos do nosso tempo, deu-lhes uma
arma milagrosa para lutar pela sua emancipação: a teoria e táticas do
bolchevismo. O Partido Comunista russo, fundado por Lenin, deu um
luminoso exemplo aos povos do mundo. Sob a direção esclarecida do
grande Lenin, o talentoso estrategista e táctico, o Partido Comunista
levou o proletariado russo à tomada do poder e estabeleceu o primeiro
|224 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Estado das massas trabalhadoras; a fundação deste Estado levou a his-


tória da humanidade a uma nova era. Para os povos amantes da paz e
a democracia, a União Soviética é um baluarte inamovível da indepen-
dência e da liberdade. Depois da Segunda Guerra Mundial o todo po-
deroso campo de paz, democracia e socialismo, dirigido pela União
Soviética tomou forma em oposição ao imperialismo.
A popularidade e a doutrina de Lenin estão estreitamente liga-
das a todos os êxitos do campo da paz e da democracia, que se estende
do rio Elba ao Oceano Pacífico, e do polo Ártico aos trópicos. Por
isto, todos os povos oprimidos e desafortunados olham o estandarte
de Lenin, que os comunistas de todos os países do mundo sustentam
no alto como um símbolo de fé e um feixe de esperança. A heroica luta
sustentada pelo povo soviético para construir o comunismo dá agora
ânimos a todos os povos e mostra-lhes o caminho para obter um modo
de vida digno do homem. A consistente política pacífica do governo
soviético, claramente formulada no decreto assinado por Lenin, e pro-
mulgada imediatamente depois do triunfo da revolução socialista, esti-
mula agora as amplas massas a lutar para defender e fortalecer a paz
contra os mercadores da guerra dirigidos polos imperialistas dos Esta-
dos Unidos. Os princípios estabelecidos por Lenin sobre os direitos
dos povos à autodeterminação, à coexistência pacífica, à não interven-
ção nos assuntos internos de outros países – a igualdade e as relações
benéficas para as partes interessadas, princípios que são base da política
estrangeira da União Soviética – indicam agora aos povos dos países
coloniais independentes o caminho da luta para a reunificação nacional
e a independência.
Para os povos da Ásia, assim como para povos de todo o
mundo que lutam pela paz, a independência, a democracia e o socia-
lismo, o leninismo é como o sol que traz consigo uma vida alegre. Le-
nin atribuía sempre uma importância ao movimento de libertação na-
cional sustentado pelos povos da Ásia e considerava-o parte da luta
empreendida pelas massas trabalhadoras do mundo contra os opresso-
res imperialistas. Lenin assinalou que o acordar da Ásia e a primeira
luta mantida pelo proletariado avançado na Europa para a tomada do
poder marcava uma nova era na história do mundo, uma era que co-
meçou com o século XX. Em 1913, V. I. Lenin escreveu: “toda a Eu-
ropa toma o papel preponderante; toda a burguesia da Europa está co-
ligada com todas forças reacionárias e medievais na China. Mas toda a
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 225 |

parte jovem da Ásia, quer dizer, centenas de milhões de massas traba-


lhadoras na Ásia, possuem como firme aliado o proletariado de todos
os países civilizados. Não existe força no mundo capaz de impedir a
vitória do proletariado na libertação dos povos europeus e asiáticos”.
Agora, a meados do século XX, a “jovem Ásia” à qual se referia
Lenin é precisamente a República Popular da China, a República Po-
pular da Mongólia, a República Democrática Popular da Coreia e a Re-
pública Democrática do Vietnã.
Em outras regiões da Ásia estão se levantando jovens forças
similares para lutar pela libertação nacional. Estas previsões científicas
do grande estrategista revolucionário verificaram-se tão rapidamente
que o campo imperialista tornou ansioso e temeroso. Se os povos es-
cravizados da Ásia, sob a direção dos partidos marxista-leninistas, con-
seguiram êxitos, é porque seguiram ensinamentos de Lenin.
No seu chamado aos revolucionários de Oriente, Lenin escre-
veu: “Tendes ante vós uma tarefa desconhecida para os comunistas do
mundo: apoiados na teoria e a prática comum do comunismo e apli-
cando-as a condições específicas que não existem na Europa, deverdes
saber como empregá-las nas condições específicas onde o campesinato
é a massa básica e a tarefa não é a luta contra o capitalismo, mas contra
os vestígios medievais”.
Trata-se de uma lição muito valiosa para um país como o nosso,
no qual 90% da população vive da agricultura e onde ainda existem
grande quantidade de vestígios do feudalismo decadente e do manda-
rinato. Sob a direção do glorioso Partido Comunista chinês e do cama-
rada Mao Tsé-tung, o seu dirigente esclarecido, a vitória da grande Re-
volução Chinesa foi o triunfo do pensamento leninista.
É precisamente por esta razão que o camarada Mao Tsé-tung
disse que a Revolução de Outubro levara o marxismo-leninismo à
China e libertado de uma vez por todas 600 milhões de pessoas das
garras do imperialismo.
Aplicando o leninismo ao internacionalismo, a União Soviética,
onde triunfou o socialismo, deu constantemente uma grande assistên-
cia moral ao movimento de libertação nacional nos países coloniais e
dependentes. Em particular com sua política consistente de paz e de-
vido ao seu grande prestígio no mundo, a União Soviética ajudou enor-
memente os povos da Coreia e o Vietnã na defesa das suas pátrias con-
|226 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

tra o perigo forjado polos imperialistas dos Estados Unidos e seus ali-
ados. As atividades diplomáticas da União Soviética foram um fator
decisivo para levar ao seu fim as guerras na Coreia e no Vietnã.
O povo vietnamita, educado no espírito do internacionalismo
proletário, aprecia altamente o apoio moral dos povos de todo o
mundo, incluindo o dos trabalhadores franceses que lutaram para dar
fim à guerra na Indochina. Lenin legou-nos, como a todos os partidos
comunistas-operários, o inapreciável tesouro da sua ideologia: os prin-
cípios organizativos, a teoria e a tática de um partido revolucionário.
O leninismo é uma poderosa força ideológica que guia nosso
partido e torna possível que este seja a mais alta organização das massas
trabalhadoras e a personificação da inteligência, a dignidade e a cons-
ciência do nosso povo. Sob a bandeira do leninismo, o Partido dos
Trabalhadores do Vietnã ganhou a confiança do nosso povo e está
considerado como seu partido de vanguarda. O nosso partido soube
utilizar as capacidades a iniciativa criadora do nosso povo, que nunca
se resignou a suportar a escravidão e o colonialismo.
Lenin personificou a unidade de mente dentro do partido, a
solidariedade das suas fileiras, o respeito à disciplina revolucionária, a
fé inquebrantável na grande causa do comunismo e a firme confiança
na vitória final. Todo isto é agora um estímulo para o Partido dos Tra-
balhadores do Vietnã, que aplicou dia após dia e hora após hora o prin-
cípio da crítica e da auto-crítica, e considerou-o como o método mila-
groso para corrigir os erros e fraquezas e para lutar contra as manifes-
tações do subjetivismo e da complacência.
O nosso partido não tem outros interesses que os do nosso
povo e da nossa pátria por isso dá uma grande importância a elevar o
nível do seu trabalho. O nosso partido, enquanto faz o indizível para
cumprir com suas tarefas, estuda constantemente o leninismo para me-
lhorar a sua combatividade, o seu dinamismo político, a unidade na
organização e o nível ideológico dos membros do Partido.
O nosso povo e os membros do Partido foram forjados no
curso da longa e dura luta para a salvação nacional e suportaram penas
e sofrimentos indescritíveis. Por mais de oito anos, nosso povo e nosso
partido mantiveram uma luta heroica que findou vitoriosamente a fa-
vor do povo vietnamita e do restabelecimento da paz na Indochina.
Os acordos de Genebra demonstraram que a luta de libertação
nacional mantida pelo povo vietnamita e pelos povos irmãos do Laos
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 227 |

e Camboja e o seu alto sacrifício e heroísmo foram reconhecidos inter-


nacionalmente. O nosso partido pode estar orgulhoso de ter sido du-
rante estes anos destemido e perseverante e de ter levado o povo à luta
com um grande espírito de sacrifício.
Atualmente, ao tempo que se restaura a paz, seguimos lutando
para a instrumentação correta dos acordos de Genebra. De acordo com
números já retificados, afirmamos recentemente que o bando contrário
violou os acordos 2.114 vezes, incluindo 46 vezes no sul do Vietnã. Eis
algumas cifras assombrosas: 806 mortos, 3.801 feridos e 12.741 pes-
soas detidas sem motivo.
Em setembro do ano passado, o Partido dos Trabalhadores do
Vietnã tomou muitas resoluções sobre a ação do nosso povo, com o
propósito de instrumentalizar estritamente os acordos de Genebra e
opor-se a todas a manobras de sabotagem.
As nossas principais tarefas são: consolidar a paz, completar a
reforma agrária, trabalhar com todos nossos esforços para melhorar o
nível econômico, estabilizar o nosso nível de vida em todos aspectos
no território a norte do paralelo 17 e continuar avante na luta política
sustentada por todo o povo. Lançamos as palavras de ordem para
nossa luta: consolidar a paz, alcançar a reunificação nacional, obter a
independência total e estender a democracia a todo o país.
Na atualidade, lutamos para levar a termo estas tarefas funda-
mentais. Contudo, não podemos ignorar que depois das conferências
celebradas polos imperialistas em Manila e Bangkok surgiu uma nova
situação na Ásia. Hoje, os Estados Unidos intervêm abertamente nos
assuntos da Indochina e levaram adiante muitas outras manobras para
sabotar os acordos de Genebra.
Para realizar a sua meta, os imperialistas e seus lacaios de todos
os tipos estão a fomentar o escuso plano de dividir permanentemente
nosso país, colocando o sul do Vietnã sob sua influência, controlando
todas as forças democráticas e sabotando as eleições gerais de 1956.
Nestas condições, a nossa luta modifica-se agora da etapa do armistício
à da luta política, a fim de controlar o complô do inimigo para reanimar
a guerra e lograr a reunificação nacional com as eleições a nível nacional
planejadas para julho de 1956.
A paz, a reunificação, a independência nacional e a democracia
são problemas estreitamente ligados entre si. Se não se consolidar a
paz, não haverá possibilidades de reunificar o Vietnã através das elei-
ções gerais. Inversamente, se não houver reunificação nacional por
|228 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

meio das eleições gerais, não será possível estabelecer uma base firme
para a paz. Os recentes desenvolvimentos e a consideração da situação
política permitem ao nosso partido ver claramente que a luta pela paz,
a independência e a democracia mantida pelo povo vietnamita será
dura, e que sobre este caminho o povo vietnamita encontrará muitas
dificuldades. Porém, nosso partido tem uma firme confiança na vitória
final. Obtemos uma grande força da toda poderosa doutrina leninista
para cumprir nossa tarefa sagrada de assegurar a paz, a reunificação, a
independência e a democracia e de ganhar para o socialismo a vitória.

artigo publicado no Pravda, de 18 de abril de 1955


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 229 |

Mensagem à Nação

Caros compatriotas!

Durante quase um século, o nosso povo conduziu uma luta he-


roica contra os colonialistas que levou ao triunfo da Revolução de
Agosto e à fundação da República Democrática do Vietnã.
Mas os pérfidos colonialistas provocaram a guerra, na espe-
rança de impor-nos seu jugo. Depois de nove anos de uma luta nacio-
nal extremamente heroica e difícil, nosso povo pôde conduzir a resis-
tência à vitória. Os acordos de Genebra, ao restabelecer a paz, reco-
nheceram a independência, a soberania, a unidade e a integridade ter-
ritorial do Vietnã e estipularam que as eleições gerais livres terão lugar
em julho de 1956 para reunificar o país.
Na execução destes acordos, o nosso governo propôs por vá-
rias vezes às autoridades do Sul a abertura de uma conferência consul-
tiva para discutir as modalidades das eleições.
Mas querendo perpetuar a divisão do nosso país, imperialistas
estadunidenses e a administração pró-americana do Sul fazem de tudo
para impedir a realização das eleições gerais. Eles vão assim contra os
interesses da nossa pátria e as aspirações do nosso povo.
A nossa tarefa sagrada é prosseguir resolutamente a luta pela
execução dos Acordos de Genebra, para a reunificação pacífica do país
com base na independência e na democracia e pala conclusão da obra
gloriosa da libertação nacional. A linha da nossa luta é a seguinte: todo
o povo, do Norte ao Sul, ampla e estreitamente unido no seio da Frente
da Pátria do Vietnã, empenha-se em fazer do Norte uma base sólida e
poderosa no combate pela reunificação.
Não há dúvidas de que todo vietnamita honesto aprova e apoia
a realização deste nobre objetivo. Nós preconizamos também uma am-
pla união de todos os vietnamitas patriotas, no país e no estrangeiro,
amantes da paz e a favor da reunificação. Fortalecidos com esta união,
|230 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

nós trabalhamos sem cessar pela aproximação do Norte e do Sul, luta-


mos resolutamente pela consolidação da paz, pela reunificação, pela
independência e pela democracia em todo o país.
A nossa luta política atual é uma luta longa, árdua e complexa,
mas necessariamente vitoriosa.
Com efeito, nossa causa é justa, nosso povo está unido, nossos
compatriotas do Norte e do Sul combatem com heroísmo, os povos
do mundo apoiam-nos e o movimento mundial da paz torna-se cada
vez mais poderosos enquanto que os desígnios dos imperialistas beli-
cistas experimentam fracassos cada vez maiores.
Afim de responder às exigências imperiosas do nosso povo
com respeito à consolidação da paz e à reunificação do país baseada
nos acordos de Genebra, o governo da República Democrática do Vi-
etnã propôs-se tomar as seguintes medidas concretas:

1. Restabelecer as relações normais e a liberdade de circulação


entre as duas zonas, criar condições que permitam contatos entre suas
organizações políticas, econômicas, culturais e sociais.
2. Reunir uma conferência consultiva que compreenda os delega-
dos das administrações das duas zonas para discutir sobre as eleições ge-
rais livres a fim de reunificar o país com base nos Acordos de Genebra.

Compatriotas no país e residentes no estrangeiro!

O nosso país será reunificado. Os nossos compatriotas, de Norte


a Sul, serão reunidos. Compatriotas, realizai uma ampla e estreita união
baseando-vos no programa da Frente da Pátria, empregai todos vossos
esforços para vos dedicar à emulação patriótica, para consolidar o Norte,
e edificar, por uma luta enérgica e tenaz, um Vietnã pacífico, reunificado,
independente, democrático e próspero. A reunificação é a via da nossa
salvação. A nossa grande união nacional é uma força invencível. Graças
a ela, nossa revolução e nossa resistência triunfaram. É a garantia da vi-
tória da nossa atual luta política e da reunificação nacional.

6 de julho de 1956
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 231 |

Orientações dadas à Conferência


sobre educação de massas

Em nome do Partido e do Governo, pergunto a vocês sobre


sua saúde – quadros e lutadores da educação de massas – e parabenizo
a educação de massas em suas conquistas durante os primeiros seis
meses deste ano.
Nos últimos seis meses, 2,1 milhões de pessoas assistiram às
aulas. Isto é uma enorme conquista. Anteriormente, nos tempos de
imperialismo e do feudalismo, cerca de 90% da nossa população era
analfabeta. Mais tarde, o falecido Sr. Nguyen Van To e uma gama de
progressistas trabalharam pela popularização da escrita nacional.
Fizeram grandes esforços, mas apenas 5 mil pessoas por ano
iam às aulas. Nos primeiros seis meses deste ano, haviam cerca de dois
milhões de alunos. É uma grande conquista, mas não devemos consi-
derar como suficiente, deveríamos fazer maiores esforços e evitar a
auto presunção e complacência.
Após sete dias de discussões e troca de experiências, vocês
agora provavelmente são mais experientes do que eu. Mas eu gostaria
de contribuir com algumas de minhas experiências:

1) A fim de eliminar o analfabetismo entre as vastas mas-


sas, onde a esmagadora maioria são camponeses, o movimento
de educação deve ser um movimento de massas.

Devemos ficar junto às massas, debater com elas, aplicar for-


mas e métodos que se apliquem na vida delas, e confiar nelas para pro-
mover o movimento. Anteriormente, uma gama de outros quadros e
eu realizamos atividades revolucionárias clandestinas em Cao Bang. A
maioria dos nossos compatriotas ali eram Nung, Man e Tho, que sa-
biam pouco de vietnamita, viviam dispersos nas montanhas, longes
umas das outras, e estavam ocupados com seus trabalhos e tanto ensi-
nar como estudar tinha que ser feito secretamente. Levamos a cabo a
|232 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

educação de massas em dificílimas condições, mas conseguimos. Os


quadros elaboraram um plano, em consulta com nossos compatriotas,
e estes últimos falaram o que fazer. Os letrados ensinavam os iletrados,
aqueles que sabiam muito, ensinavam aqueles que sabiam pouco. As
aulas eram dadas nas cavernas; cada aldeia enviava uma pessoa para
estudar por alguns dias e então este voltava e ensinava os outros da
aldeia. Quando seu conhecimento se esgotava, voltava para as aulas e
aprendia um pouco mais, enquanto ensinavam outros, professores
também aprendiam eles mesmos.
Foi assim o método que adotamos para o trabalho de educação
e massas e para seu desenvolvimento em um movimento.
Naquela época, apesar das restrições do inimigo e contínuas
perseguições, nossos compatriotas eram muito estudiosos, mulheres e
crianças sendo mais estudiosas que homens. Atualmente, em minhas
visitas às aulas, eu também vejo que há mais mulheres e crianças do
que homens. Muitos dos homens ainda não assistiram às aulas. Na
época não haviam salas ou escolas; as pessoas que iam trabalhar na
terra ou recolher vegetais apontavam um lugar e iam para lá para ensi-
nar alguém. Meninos montadores de búfalos se reuniam em um deter-
minado lugar e aprendiam uns com os outros.
Quadros que iam para os campos para trabalhar eram frequen-
temente interrompidos pelos moradores e pediam para os ouvirem re-
citar lições; se as lições fossem indevidamente lidas, os quadros os cor-
rigiam; se tivessem sido bem aprendidas, os quadros seriam convidados
a dar uma nova lição. Operários e camponeses tem muito trabalho a
fazer. Se o método de ensinamento não se aplica a quem está apren-
dendo, a seu trabalho e modo de vida, se esperamos aulas com mesas
e bancos, não podemos ser bem-sucedidos.
A organização de como lecionar deve estar conforme as condi-
ções de vida dos estudantes, e assim o movimento irá durar e gerar
bons resultados. Nossos compatriotas ainda são pobres e não podem
não podem pagar por papel e canetas, portanto, um pequeno livro de
exercícios de bolso é suficiente para cada um. Exercícios de ler e escre-
ver podem ser feitos em qualquer lugar, usando carvão vegetal, o chão
ou folhas de bananeira como canetas e papel.
Quadros clandestinos iam para lá para ensinar e fazer uma pes-
soa letrada a cada três meses. Naquele tempo, não havia nenhuma ajuda
do governo, nenhum Ministério, ou departamento encarregado dos
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 233 |

problemas educacionais, mas em condições tão precárias, o movi-


mento continuava evoluindo e crescendo, como petróleo jorrando, os
letrados ensinando os iletrados. Tanto no aprender como no ensinar, a
juventude é a força principal do movimento de educação de massas.
Em todo lugar, devemos fazer com que a juventude compreenda esta
tarefa. Tanto no ensinar como no estudar a juventude deve sempre
estar na vanguarda.
2) O trabalho de educação também é o trabalho de lecionar,
mas não em escolas ou aulas com lâmpadas e livros como geralmente
acontece em escolas.
É um movimento amplo, complexo e autossuficiente.
As escolas em geral se dividem em primeiras, segundas, tercei-
ras e quartas classes, mas na educação de massas, há estudantes de to-
dos os tipos, jovens, velhos, alguns sabem muito, outros sabem pouco,
alguns assimilam bem rapidamente, outros lentamente, portanto, é uma
tarefa dura que demanda muita paciência e esforços.
O medo das dificuldades não é admissível na educação de mas-
sas. Algumas vezes, temos que ir e ensinar uma mãe de vários filhos na
sua própria casa.
Com os idosos que tem relutância para assistir às aulas, deve-
mos pacientemente convencê-los a ir para as aulas, ou algumas vezes
ensiná-los em suas casas.
A fim de eliminar o analfabetismo entre o povo, a diligência é
indispensável, o burocratismo e ordens pelo alto são impossíveis.
O trabalho é inconveniente e difícil, e não dá nenhuma popu-
laridade. Na guerra de Resistência, se conseguíssemos eliminar vários
inimigos poderíamos nos tornar combatentes modelo ou heróis; traba-
lhando nas fábricas, se fazemos muitas inovações ou ultrapassamos
metas de produção, também nos tornamos trabalhadores destacados
ou heróis operários.
O trabalho de educação de massas, apesar de não nos dar fama,
e nem ser um trabalho visível, é bem glorioso.
Não devemos estar em um lugar e desejar estar em outro; não
devemos nutrir a intenção errada de desistir do trabalho de educação
de massas e entrar em uma escola técnica, ou dar aulas em uma escola
tradicional ou ir para outra profissão. Na vida social há muitas profis-
sões, uma divisão do trabalho é então, inevitável. Eu faço um trabalho,
você faz outro.
|234 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

O trabalho de educação de massas é um trabalho importante,


tendo grande responsabilidade na nação e sociedade, e também na
construção de nossa pátria. Ainda que não seja bem visto, famoso ou
um trabalho espetacular que faz as pessoas serem vistas como heróis,
é de fato um trabalho muito importante.
Uma pessoa que hoje trabalha na educação de massas deve abs-
ter-se do desejo de praticar outra profissão.
3) O trabalho de educação de massas também se coloca sob
liderança, Temos o Ministério, o Departamento, os serviços provinci-
ais e zonais. Liderar não é sentar e escrever notas em uma mesa de
escritório.
Nos tempos de resistência, haviam quadros que poderiam ela-
borar um bom programa de educação secundária, mas não eram capa-
zes de assumir o comando de uma sala de educação de massas porque
passavam todo seu tempo em escritórios.
Os líderes devem se unir estreitamente com os quadros e os
ajudá-los a superar as dificuldades; burocratismo e ordens pelo alto de-
vem ser evitados.
Em qualquer trabalho, a conexão íntima com o povo é essen-
cial, os trabalhadores da educação de massas em todos os níveis devem
corrigir seus próprios erros caso houver, e aprender das experiências
de outros.
4) Anteriormente, pobres, operários e camponeses não podiam
enviar seus filhos para a escola; apenas um pequeno número de criança
podia ir à escola, a maioria destas eram de famílias prósperas que pos-
suíam dinheiro suficiente para comida.
No campo, apenas os filhos dos latifundiários e dos campone-
ses ricos iam à escola. Alguns quadros levantam o problema de que se
os filhos dos latifundiários e camponeses ricos deveriam poder lecionar
na educação de massas.
Isto é colocar a questão de forma incorreta.
Qualquer jovem, homem ou mulher, se recebe esta tarefa, é
porque ele ou ela é bom ou boa, caso contrário o trabalho não seria
entregue a estes.
Um jovem digno que não aprova a exploração dos seus pais e
não fica do lado deles para agir contra o povo, será aceito como pro-
fessor ou professora em uma sala de educação de massas. Caso ele ou
ela vir a cometer erros graves, o trabalho não será dado a eles, seja na
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 235 |

educação de massa, seja em quaisquer outros trabalhos. Se um deter-


minado jovem cujos pais sejam latifundiários culpados, não seguir seus
pais, ele ou ela não é culpado e pode manter os direitos de cidadão
como qualquer outro jovem. Ele ou ela podem assistir às aulas ou to-
mar parte no trabalho público ou entrar em organizações populares.
Este ponto deve ser bem compreendido e corretamente aplicado por
vocês que vivem no campo.
5) O trabalho de educação de massas, ainda que aparentemente
não seja heroico, pode ser de grande serviço para a nação caso possa
varrer o analfabetismo entre o povo em três anos.
Nosso país estaria orgulhoso de ter eliminado rapidamente o
analfabetismo. Nos países ditos civilizados tais como Estados Unidos,
Grã-Bretanha e França, ainda existem alguns analfabetos.
Eliminar o analfabetismo em dois ou três anos é uma vitória
espetacular. Devemos efetuar isto e ir avançando.
Fazendo assim, não será um ou uma jovem que se tornará he-
rói, mas todos os quadros e professores trabalhando por educação de
massas serão heróis; e os heróis coletivos são os melhores.
Caso o analfabetismo seja eliminado em três anos, serão postas
novas tarefas para o Governo, para o Ministério da Educação e Minis-
tério da Cultura; vocês também se depararão com novas tarefas.
Não significa que quando todos souberem como ler e escrever
vocês terão cumpridos todas suas tarefas e poderão descansar ou ir
para outro trabalho.
Pessoas iletradas devem aprender a se tornar letradas. Quando
aprenderam a ler, devem avançar ainda mais em seus estudos. Pessoas
letradas se tornarão novamente analfabetas caso não tenham materiais
de leitura.
O Governo e o Ministério da Educação possuem, portanto, a
tarefa de providenciarem livros e jornais que sejam adequados para os
padrões destes leitores.
Vocês têm a tarefa de ajudar nossos compatriotas analfabetos
a virarem letrados, para então avançarem nos estudos. Então vocês
próprios deverão avançar seus estudos para conseguirem lecionar a um
nível superior.
Nossa nação avança, quadros também devem avançar. Devem
marchar na vanguarda a fim de assegurar o contínuo progresso da na-
ção. A fins de conclusão, o Partido e o Governo premiarão as comunas
que derrubarem o analfabetismo primeiro em um distrito, os distritos
|236 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

que chegarem ao mesmo em uma província e as províncias que assim


fizerem em todo o país.
Caso queira ser recompensado, deve-se fazer esforços. Fazer
esforços não significa a emissão de pedidos e convencer as pessoas a
estudar, ou forçá-los a estudar para além das suas capacidades; você
deve ser diligente, e fazer esforços, de acordo com a linha de massas.
Nossos compatriotas são muito dedicados aos estudos, já vi-
venciamos isso. Se nossos quadros se esforçarem para enriquecer suas
experiências, partilhar suas visões, e discutirem as questões uns com os
outros, o trabalho certamente será bem-sucedido. Distribuirei a vocês
15 emblemas como recompensas para aqueles quadros que tiverem ob-
tido bons resultados.

16 de julho de 1956
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 237 |

Consolidação e desenvolvimento da unidade


ideológica entre os partidos marxista-leninistas

O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética foi


recebido calorosamente na República Democrática do Vietnã como em
todos os outros países e considerado como um evento histórico impor-
tante. As novas medidas tomadas após o Congresso internamente e as
políticas externa da União Soviética, o desenvolvimento da energia revo-
lucionária das massas apontado pelo Congresso, demonstram que o signi-
ficado do Congresso dos construtores do comunismo não pode ser total-
mente estimado.
É inquestionável que o programa traduzido nas metas do 6º Plano
Quinquenal, o aumento das forças políticas, econômicas e sociais do país
como colocado no Congresso, a investigação sobre o culto à personali-
dade e as suas consequências, são brilhantes sucessos realizados pela
URSS, que nos permitem olhar para a frente a novas grandes conquistas
no futuro próximo.
Os importantes princípios teóricos estabelecidos pelo XX Con-
gresso do PCUS sobre a coexistência pacífica entre países com diferentes
sistemas, sobre a possibilidade de evitar a guerra na etapa atual, sobre o
caráter multiforme do período de transição para o socialismo em vários
países, todos estes princípios contribuíram para a consolidação das forças
da paz, democracia e do socialismo em todo o mundo.
O Congresso também revelou novas possibilidades e abriu novas
perspectivas para o movimento da classe operária pelo socialismo e para
todos os povos que estão em defesa de sua independência nacional.
A luta eficaz contra o culto à personalidade como aprovado por
unanimidade pelo XX Congresso do PCUS exerce grande influência no
movimento comunista mundial. A Resolução de 30 de junho de 1956 do
Comitê Central nos ajuda a compreender mais profundamente a questão
do culto à personalidade, e de como superar suas consequências.
Ao falar sobre as condições exigidas para a admissão de vários
partidos na Internacional Comunista, Lenin apontou que “na etapa atual,
|238 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

de feroz guerra interna, o Comitê Central pode cumprir a sua tarefa apenas
organizado da forma mais centralizada, se há uma disciplina partidária de
ferro, quase tão rigorosa quanto a disciplina militar, e se o órgão central
do Partido é influente e goza da estima geral de todos os seus membros”.
Obviamente, Lenin quis dizer que o palco de uma guerra civil fe-
roz e a restrição da democracia imposta sobre o povo soviético têm caráter
provisório e tem que ser abolida tão rapidamente quanto o novo regime
se consolidar.
Entretanto, nossos inimigos esperavam minar o campo socialista
desde dentro.
Cometeram um grande erro ao pensar que suas esperanças se tor-
nariam realidade, confundindo o desenvolvimento da democracia socia-
lista com o começo da desordem e perda absoluta do espírito de organi-
zação e disciplina partidária entre os partidos marxista-leninistas.
É claro como água que uma vez vitorioso, o socialismo nunca
pode tolerar culto à personalidade e suas consequências danosas.
As medidas enérgicas tomadas pelo Comitê Central do PCUS para
acabar com o culto à personalidade e suas consequências, de um brilhante
exemplo de ousadia política sem precedentes na história.
A rigorosa aplicação destas medidas de maneira nenhuma enfra-
quece, mas consolida a solidariedade ideológica entre os construtores do
comunismo, centrada em torno do núcleo dirigente leal a Lenin.
O prestígio absoluto do Partido Comunista da URSS é mais e mais
fortalecido e consolidado.
Começando da posição de Lenin sobre a questão da crítica e
autocrítica, o Comitê Central do PCUS afirma que tem preocupações
com a necessidade de corrigir erros e educar o partido da classe ope-
rária e das massas populares, do que com a pergunta de “o que os
reacionários diriam?”.
Lenin colocou como critério de um Partido sério e correto que
está claramente ciente de sua responsabilidade e apreende o fato de que
futuros interesses do movimento devem vir antes de tudo.
Tal política certamente fortalece agora, como no futuro o prestígio
do PCUS no campo socialista, como entre as massas dos países capitalistas
e dependentes.
Uma campanha ruidosa de calúnia, lançado pelos nossos inimigos
no Partido Comunista da URSS por ter trabalhado medidas para liquidar
a consequências do culto à personalidade, prova que eram cegos politica-
mente; a história vai confirmar isso antes do tempo.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 239 |

O PCUS novamente demonstra que o aspecto mais importante


da autocrítica é efetivamente na prática corrigir os erros. A análise cientí-
fica das condições que engendram erros tem efeito de evitar que estes er-
ros ocorram novamente.
Todos os partidos fraternos podem tirar lições valiosas dos docu-
mentos do XX Congresso, para elevar o desenvolvimento do marxismo-
leninismo.
É inquestionável que as resoluções do XX Congresso irão ajudar
partidos irmãos a corrigir erros e melhorar seu trabalho.
Na luta para construir um Vietnã pacífico, unificado, indepen-
dente, democrático, próspero e forte, o Partido dos Trabalhadores do Vi-
etnã sempre compreendeu a identidade entre os interesses da luta pela
libertação de todos os povos do jugo imperialista e daqueles da luta pela
libertação das massas trabalhadoras do capitalismo explorador.
Portanto, foi capaz de estabelecer as bases para uma sólida ami-
zade entre o povo vietnamita e outros povos como os do Camboja, Laos
e os franceses.
Em um sentido mais amplo, na luta pela reunificação nacional, o
Partido dos Trabalhadores do Vietnã nunca se isolou dos partidos frater-
nos, em toda sua prática, provou que o genuíno patriotismo nunca pode
ser separado do internacionalismo proletário, e que esta aliança fraterna
entre todos os combatentes por uma causa comum – a libertação da hu-
manidade, construção de uma sociedade sem classes, coexistência pacífica
e paz duradouras – é inabalável.
Enquanto os imperialistas aumentaram sua organização e estabe-
leceram blocos internacionais agressivos como o SEATO, OTAN, Pacto
de Bagdad, o Partido dos Trabalhadores do Vietnã nunca se distanciou de
sua política de cimentar relações com os partidos irmãos.
O Partido está consciente que a reação internacional está cho-
cando grandes esquemas, principalmente no Vietnã do Sul e em todo a
“Ásia-Pacífico” (Taiwan, Coreia do Sul).
Também estamos cientes que através destes esquemas, a reação
internacional está mirando suas forças no movimento de libertação naci-
onal, na classe operária e nos camponeses da Ásia; que enquanto leva a
cabo estes esquemas, o imperialismo busca todos os meios para enfraque-
cer a unidade ideológica e a solidariedade fraternal entre os partidos mar-
xista-leninistas em vários países.
|240 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Na conjuntura internacional atual, os aspectos nacionais e as con-


dições peculiares de cada país se tornaram um fator cada vez mais impor-
tante na elaboração das políticas de cada partido operário e comunista.
Ao mesmo tempo, o marxismo-leninismo permanece a base ina-
balável da luta comum de todos os partidos, troca de experiências sobre
esta luta permanece com seu significado pleno e as questões suscitadas
por este ou aquele partido é de modo algum a “preocupação própria”
deste ou daquele partido, mas algo que tem uma ligação vital com o pro-
letariado internacional como um todo.
Nós, o povo vietnamita, não temos que definir nossos métodos e
medidas na luta contra os esquemas de perpetuar a divisão de nosso país
por parte do imperialismo estadunidense e da administração do Vietnã do
Sul e em nossa luta para gradualmente avançar para o socialismo – isto é
óbvio – contudo, nosso Partido compreende que nossas atividades hoje e
no período que virá não podem ser confinadas no mero limite nacional,
que estas atividades estão conectadas por milhares de laços com a luta
genial levada a cabo pelo mundo progressista, e que a genuína solidarie-
dade demonstrada pelo campo socialista e povos amantes da paz pelo
mundo é tão necessária para nós como foi no passado, durante a guerra
de resistência do povo vietnamita pela salvação nacional. A 9ª sessão ple-
nária do Comitê Central de nosso Partido, realiza de 19 a 24 de abril em
1956, fez um estudo profundo dos documentos do XX Congresso do
PCUS. Participando do trabalho da sessão estavam membros do CC, se-
cretários dos comitês partidários de zonas, províncias e importantes cida-
des e vários quadros responsáveis em órgãos centrais.
O Partido dos Trabalhadores do Vietnã registrou grandes resulta-
dos na aplicação criativa do marxismo-leninismo à realidade do Vietnã.
Nosso povo teve grandes vitórias durante e após a guerra, na consolidação
do Norte completamente libertado, nas esferas política, econômica e so-
ciais. Além disso, o Partido pôde juntar todos os patriotas que lutam pela
independência e reunificação nacional por meios pacíficos na Frente da
Pátria do Vietnã.
As resoluções da 9ª sessão plenária do Comitê Central do Partido
dos Trabalhadores do Vietnã também enfatizaram o significado dos prin-
cípios da liderança coletiva na construção e consolidação do Partido, a
importância pela qual se destacou no XX Congresso do PCUS.
Em geral, nosso partido realizou os princípios da liderança cole-
tiva. No entanto, um estudo profundo destacou muitas deficiências.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 241 |

Devemos admitir que o culto à personalidade também existiu em


alguma medida no Vietnã, dentro e fora do Partido.
Ainda que não tenha levado a erros sérios, limitou a iniciativa e o
espírito combatente dos elementos ativos e do povo.
Encontramos manifestações de culto à personalidade tanto no nú-
cleo dirigente central, como nos órgãos locais; para superar estas dificul-
dades, decidimos fortalecer o trabalho ideológico dentro do Partido e en-
tre o povo.
Em sessão recente, o Conselho de Ministros destacou as realiza-
ções feitas na realização da reforma agrária e na reabilitação econômica,
para elevar os padrões de vida das pessoas e na consolidação política do
Estado democrático do nosso povo.
O Congresso também indicou muitas falhas e erros na implanta-
ção da política de aliança contra a influência feudal no campo, em méto-
dos de luta contra o inimigo da classe operária, na implantação da política
de finanças e no reajustamento da organização.
Na mídia e nas reuniões do Partido, chamamos a todos os mem-
bros do Partido para fortalecer suas ligações com as massas e levar em
conta a situação no Sul, enquanto levam e realizam as políticas do Partido.
Nossa luta não acabou.
Precisamos superar dificuldades, aquelas que surgem da divisão
do nosso país e na execução errada de políticas corretas.
Estamos firmemente convencidos que estas dificuldades podem
ser superadas e que devemos ser vitoriosos, porque nosso Partido goza da
confiança do povo, do apoio dos países socialistas e da simpatia das forças
progressistas de todo o mundo.
Ao criticar severamente os erros de Stalin e lançar uma luta reso-
luta contra o culto à personalidade, o XX Congresso do PCUS deu um
brilhante exemplo de audácia política e profunda confiança no povo.
O Partido dos Trabalhadores do Vietnã considera a crítica ao
culto à personalidade como uma prova eloquente de força, e também uma
grande vitória do PCUS e do movimento revolucionário mundial.
Nosso inimigo tentou usar a crítica ao culto à personalidade para
atenuar a influência dos grandes êxitos da URSS e para manchar o movi-
mento revolucionário que vem ganhando mais vitórias.
Tentam semear confusão entre os partidos operários e comunistas
e dividir as fileiras do povo trabalhador. Mas seus esforços serão em vão.
Como outros partidos irmãos, o Partido dos Trabalhadores do Vietnã tem
consciência de que a luta do PCUS e sua ajuda fraterna tem significado
|242 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

para a libertação de todos os povos. Todas as manobras dos inimigos do


comunismo para manchar a URSS e seu Partido Comunista certamente
falharão.
Temos que os clamores de nosso inimigo comum apenas revelam
seu medo das novas forças e novas vitórias.
Deparados com os esquemas mais cada vez mais pérfidos da in-
fluência reacionária imperialista, agora mais do que nunca, devemos for-
talecer e desenvolver a unidade ideológica, a solidariedade entre os parti-
dos comunistas e operários, e luta incansavelmente para defender a pureza
do marxismo-leninismo, que é o nosso tesouro comum; estudar e aplicar
corretamente princípios do marxismo-leninismo às realidades de cada
país. Estamos confiantes que sob a bandeira do marxismo-leninismo, a
vitória certamente será nossa.

artigo publicado no Pravda, em 3 de agosto de 1956


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 243 |

Da Moralidade Revolucionária

Desde o começo de sua existência, a humanidade foi obrigada a


lutar contra a natureza para subsistir: luta contra as feras, contra as in-
tempéries. Para vencer nesta luta, cada homem deve apoiar-se na força
do número, ou seja, na força da coletividade, da sociedade. Reduzido
unicamente a suas forças, o indivíduo não poderia dominar a natureza,
nem mesmo sobreviver. A humanidade deve ainda produzir para ter o
necessário para alimentar-se e vestir-se. Mas a produção também deve
apoiar-se na força da coletividade, da sociedade. O indivíduo sozinho
não pode produzir nada. Nossa época é uma época civilizada, uma época
revolucionária. Em todos os aspectos, devemos, com maior razão,
apoiar-nos na coletividade, na sociedade. O indivíduo não poderia per-
manecer isolado, devendo integrar-se à coletividade, à sociedade. É nisso
que o individualismo se opõe ao coletivismo. O coletivismo e o socia-
lismo vencerão, enquanto o individualismo será infalivelmente aniqui-
lado. O modo de produção e as forças produtivas se desenvolvem e
transformam-se continuamente, provocando o desenvolvimento e mu-
danças no pensamento dos homens, nos regimes sociais, etc. Todos sa-
bemos que, desde os tempos antigos até nossos dias, a produção se fazia
no começo com paus e com machados de pedra e que depois se desen-
volveu empregando a máquina, a eletricidade, a energia atômica. O re-
gime social evoluiu também; passou do comunismo primitivo à escrava-
tura, depois ao feudalismo e ao capitalismo, e hoje quase a metade da
humanidade encaminha-se em direção ao socialismo, ao comunismo.
Esta evolução e este progresso ninguém pode impedi-los. Com
o aparecimento da propriedade privada, a sociedade dividiu-se em clas-
ses, classes exploradoras e classes exploradas, quando surgem as contra-
dições sociais e a luta de classes. Desde então, todos pertencem a uma
ou a outra classe, ninguém está fora das classes. E cada um exprime a
ideologia da sua própria classe. Na sociedade antiga, os feudalistas e os
latifundiários, os capitalistas e os imperialistas oprimiam e exploravam
|244 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

sem piedade as demais camadas sociais, sobretudo operários e campo-


neses. Eles monopolizavam os bens públicos, produzidos pela socie-
dade, para levar uma vida ociosa e dourada. Mas falavam o tempo todo
somente de “moralidade”, de “liberdade”, de “democracia”, etc. Cansa-
dos da opressão e da exploração, os operários, os camponeses e os ou-
tros trabalhadores levantaram-se para fazer a revolução para libertarem-
se e transformar a antiga sociedade, tão disforme, em uma sociedade
nova, melhor, em que todos trabalhadores conhecerão uma vida feliz e
da qual a exploração do homem pelo homem será banida.
Para triunfar, a revolução deve ser dirigida pela classe operária, a
classe mais avançada, mais consciente, mais decidida, mais disciplinada
e mais solidamente organizada. E o partido proletário é o estado-maior
da classe operária. A revolução na União Soviética e nos outros países
do campo socialista comprovou-o de maneira incontestável. Fazer a re-
volução para transformar a sociedade antiga em uma nova sociedade é
uma obra gloriosa, mas também uma tarefa pesada, uma luta extrema-
mente complexa, longa e árdua. É preciso ser forte para poder levar
grandes cargas e ir longe. Somente tendo a moralidade revolucionária
como fundamento é que o revolucionário pode cumprir sua tarefa de
maneira honrosa. Tendo nascido na sociedade antiga, cada um de nós
conserva em si mais ou menos sequelas dessa sociedade do ponto de
vista da ideologia, dos costumes, etc. O aspecto mais negativo e mais
perigoso é o individualismo. O individualismo é o antípoda da moral
revolucionária. Por menos que reste ainda na pessoa, o individualismo
espera a ocasião propícia para desenvolver-se e eclipsar a moral revolu-
cionária, para impedir-nos a inteira devoção à luta pela causa revolucio-
nária. O individualismo é uma coisa astuta e pérfida: atrai insidiosamente
o homem para uma queda fatal. Sabemos que descer uma ladeira é mais
fácil do que subir novamente, e é por isto que o individualismo é ainda
mais perigoso.
Para eliminar as sequelas da antiga sociedade, para forjarmos em
nós uma virtude revolucionária, devemos estudar, aperfeiçoar-nos, re-
modelar-nos para progredir sem cessar. Se não nos esforçássemos por
progredir, regrediríamos e ficaríamos atrasados. Ora, o homem demo-
rado, o homem atrasado será rejeitado pela sociedade que progride. Não
é apenas indo à escola ou assistindo aos cursos de formação que se pode
estudar, aperfeiçoar-se, forjar-se e transformar-se. Em todas as ativida-
des revolucionárias, poderemos e deveremos todos estudar e corrigir nós
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 245 |

mesmos nossos erros. O trabalho revolucionário clandestino, a insurrei-


ção geral, a resistência contra os colonialistas franceses e, hoje, a edifica-
ção do socialismo no Norte e a luta pela reunificação do país são escolas
muito boas onde podemos forjar nossa moral revolucionária. Aquele
que possui a moral revolucionária não tem medo, não se deixa intimidar
e não recua diante das dificuldades, das provações e dos fracassos. Pelo
interesse comum do Partido, da revolução, da classe, do povo e da hu-
manidade, não hesita em sacrificar todo e qualquer interesse pessoal. Se
for preciso, sacrificará sua vida sem lamentar-se. Esta é a manifestação
mais evidente, mais nobre, da moral revolucionária. No nosso Partido,
Tran Phu, Ngo Gia Tu, Le Hong Phong, Nguyen Van Cu, Hoang Van
Thu, Nguyen Thi Minh Khai e inúmeros outros camaradas, que se sa-
crificaram heroicamente pelo povo e pelo Partido, nos oferecem exem-
plos brilhantes de virtude revolucionária, de abnegação total.
Aquele que possui virtude revolucionária permanece simples,
modesto, pronto para aceitar novas provações, mesmo que as circuns-
tâncias lhe sejam favoráveis ou que obtenha êxitos. “Preocupar-se com
tarefas antes dos outros, descansar após os outros”, preocupar-se em
cumprir bem sua tarefa e não se mostrar ciumento de direitos e privilé-
gios concedidos aos outros, não cair no narcisismo, na burocracia, no
orgulho, na depravação, tudo isto constitui demonstração da moral re-
volucionária. Em resumo, a moralidade revolucionária consiste em: Lu-
tar toda a vida pelo Partido e pela revolução. Este trata-se do ponto fun-
damental. Trabalhar com todas as forças pelo Partido, manter firme a
disciplina, aplicar corretamente sua linha e sua política. Colocar o inte-
resse do Partido e do povo trabalhador antes e acima do interesse pes-
soal. Servir o povo de todo coração e com todas as forças. Lutar com
abnegação. No interesse do Partido e do povo, mostrar-se exemplar sob
todos os pontos de vista.Estudar com aplicação o marxismo-leninismo,
servir-se constantemente da crítica e da autocrítica para elevar seu nível
ideológico, melhorar seu trabalho e progredir junto com os camaradas.
Cada revolucionário deve compreender profundamente que
nosso Partido é a vanguarda, a organização mais sólida da classe operá-
ria, o dirigente da classe operária e do povo trabalhador. Atualmente,
apesar de não ser ainda muito numerosa, nossa classe operária se desen-
volve cada dia mais. No futuro, as cooperativas estarão organizadas em
toda parte, utilizando muitas máquinas no campo, e os camponeses se
transformarão em operários. Aos poucos, os intelectuais farão trabalho
|246 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

manual, e a distinção entre operários e intelectuais se apagará progressi-


vamente. A indústria de nosso país desenvolve-se constantemente. É
por isto que os operários serão cada vez mais numerosos, e suas forças
cada vez mais poderosas; o futuro da classe operária é grande e glorioso.
Reconstrói o mundo ao mesmo tempo em que aprimora a si mesma. O
revolucionário deve ter isto bem presente e manter-se firme nas posições
da classe operária para lutar com todas as forças pelo socialismo e pelo
comunismo, pela classe operária e por todo o povo trabalhador. A moral
revolucionária é a fidelidade absoluta ao Partido e ao povo. O único in-
teresse que nosso Partido tem de servir é o interesse da classe operária e
do povo trabalhador; seu objetivo imediato é lutar pelo encaminha-
mento do Norte ao socialismo e pela reunificação da pátria.
Sob a direção do Partido, nosso povo, lutando heroicamente, sa-
cudiu o jugo dos colonialistas e libertou completamente o Norte do país.
Esta é uma grande vitória, mas a revolução não está ainda completa,
sendo o objetivo atual do Partido lutar pela reunificação do país, pela
realização de um Vietnã pacífico, reunificado, independente, democrá-
tico e próspero, de modo que não reste, em todo o país, ninguém que
seja submetido à exploração, e que o país inteiro construa uma sociedade
nova onde todos terão uma vida de felicidade.
Nossa indústria está ainda atrasada. Graças à ajuda desinteres-
sada dos países irmãos, em primeiro lugar da URSS e da China Popular,
estamos desenvolvendo nossa indústria. Para que esta empresa seja co-
roada de êxito, nossos operários devem rivalizar em ardor para produzir
muito e rapidamente artigos de boa qualidade e baratos, observar rigo-
rosamente a disciplina do trabalho, participar ativamente na gestão das
empresas, lutar contra o desperdício e a prevaricação. Nossos quadros
devem mostrar-se trabalhadores e econômicos, dar provas de integri-
dade e retidão e participar no trabalho dos operários.
Nossos camponeses receberam terras partilhadas, e sua vida co-
meça a melhorar. Mas seu modo de produção é ainda disperso e atra-
sado, seus rendimentos não aumentam bastante e a melhora de sua vida
ainda é pouca. É preciso ampliarmos firmemente o movimento pela
constituição de grupos de intercâmbio de trabalho e de cooperativas para
aumentar a produção. Nossos camponeses poderão assim libertar-se da
miséria e conhecer uma vida melhor. Por isso, a moral revolucionária
consiste em lutar com todas as forças para realizar o objetivo do Partido,
em devotar-se inteiramente e sem hesitação nenhuma à causa da classe
operária e do povo trabalhador. A maioria dos membros do Partido e da
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 247 |

União da Juventude Trabalhadora, a maioria de nossos quadros agem


em acordo com esses princípios, mas existem outros que não o fazem.
Estes acreditam equivocadamente que, já que não existe mais o colonia-
lismo e os feudalistas no Norte, a revolução já conseguiu seus objetivos.
Daí se manifesta neles o individualismo. Reclamam recompensas e re-
pouso, pedem um trabalho conforme seus desejos, e não querem aquele
que lhes é confiado. Manobram para obter postos importantes, mas te-
mem responsabilidades. Aos poucos, seu espírito combativo e seu dina-
mismo decaem, a força de alma e as belas qualidades revolucionárias al-
teram-se também neles; esquecem que o critério número um do revolu-
cionário é lutar decididamente a vida toda pelo Partido e pela revolução.
Devemos compreender que os êxitos obtidos são apenas os primeiros
passos de um percurso de dez mil léguas. Devemos avançar, a revolução
deve progredir ainda, senão retrocederemos e nossos êxitos não poderão
consolidar-se e, menos ainda, multiplicar-se.
A luta para chegar ao socialismo é longa e árdua. Exige revoluci-
onários porque ainda existem inimigos da revolução. Estes últimos são
de três tipos: O capitalismo e os imperialistas revelam-se inimigos peri-
gosos. Os usos e costumes atrasados são também grandes inimigos, pois
entravam dissimuladamente o progresso da revolução. Mas não pode-
mos reprimi-los, sendo melhor corrigi-los com precaução e perseverança
e durante muito tempo. A terceira categoria de inimigos é o individua-
lismo, a mentalidade pequeno-burguesa que ainda se esconde ainda no
interior de cada um. Este inimigo espera a oportunidade – de fracasso
ou vitória – para erguer novamente a cabeça. É aliado dos inimigos das
outras duas categorias. A moral revolucionária consiste em lutar decidi-
damente em todas as circunstâncias contra os inimigos, quaisquer que
sejam; consiste em estar sempre vigilante, em manter-se pronto para
combater, em dar provas de ser indomável. Somente sob estas condições
pode-se dominar o inimigo e cumprir a tarefa revolucionária.Graças a
sua política justa e a sua direção unificada é que nosso Partido está em
condições de dirigir nossa classe operária e todo o nosso povo, encami-
nhando-os em direção ao socialismo. E sua direção é unificada graças à
unidade de opinião e de ação de todos os seus membros.
Sem a unanimidade de opinião e de ação, os membros seriam
elementos discordantes, puxando para todos os lados. Não seria possível
dirigir as massas nem fazer a revolução. As palavras e os atos dos mem-
bros do Partido repercutem na luta revolucionária, pois influenciam
|248 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

muito as massas. Por exemplo, a política atual de nosso Partido é orga-


nizar em todo lugar e de maneira sólida grupos de intercâmbio de traba-
lho e cooperativas, realizar a cooperação agrícola. Mas existem membros
do Partido e da União da Juventude Trabalhadora que não aderem a eles,
ou que aderem, mas não participam ativamente na sua edificação e con-
solidação. O individualismo levou estes camaradas a agir de maneira li-
bertária, a infringir as prescrições e a disciplina do Partido. Queiram ou
não, seus atos prejudicam o prestígio do Partido e colocam obstáculos a
sua obra e aos progressos da revolução.
As medidas políticas e as resoluções do Partido inspiram-se no
interesse do povo. Por isso, a moralidade revolucionária consiste, para
um membro do Partido, em agir decididamente de acordo com as me-
didas políticas e as resoluções do Partido, em dar bom exemplo às mas-
sas, quaisquer que sejam as dificuldades. Todos os membros do Partido
devem elevar seu senso da responsabilidade diante do povo, diante do
Partido, devem estar vigilantes contra o individualismo e combatê-lo de-
cididamente. Nosso Partido representa o interesse da classe operária e
de todo o povo trabalhador, e não apenas o interesse de um grupo ou
de um indivíduo. Todos sabem disso. A classe operária luta não só por
sua própria libertação, mas para libertar a humanidade inteira da opres-
são e da exploração. Por isso, o interesse da classe operária se identifica
com o interesse do povo.
O membro do Partido representa, em nome deste, o interesse da
classe operária e do povo trabalhador. É por isto que o interesse do
membro do Partido deve integrar-se ao interesse do Partido e da classe
e não pode colocar-se fora dele. Os êxitos e o triunfo do Partido e da
classe pertencem também ao militante. Separado do Partido e da classe,
o indivíduo não pode fazer nada de bom, por mais talentoso que seja. A
moralidade revolucionária, para um membro do Partido, consiste em co-
locar em qualquer circunstância o interesse do Partido acima de tudo.
Quando o interesse do Partido está em contradição com o interesse pes-
soal, este último deve subordinar-se ao primeiro.
Por não ter ainda eliminado em si mesmos o individualismo, al-
guns falam ainda de “seus méritos” com relação ao Partido. Querem que
o Partido lhes “agradeça”. Reivindicam um tratamento privilegiado,
honrarias, postos importantes. Reivindicam vantagens. Como suas exi-
gências não são satisfeitas, zangam-se com o Partido, queixam-se di-
zendo que não têm futuro, que são “sacrificados”. Afastam-se aos pou-
cos do Partido e chegam inclusive a sabotar sua política e sua disciplina.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 249 |

Muitos quadros e combatentes se sacrificaram heroicamente durante o


período de luta clandestina e durante a resistência; os heróis do trabalho
e os trabalhadores de elite empenham todas as forças para aumentar a
produção; não reclamam postos importantes nem honrarias, não pedem
agradecimentos ao Partido. Nosso Partido tem caráter de massa, conta
com centenas de milhares de membros. Em razão das condições con-
cretas do nosso país, a maioria dos membros provém da pequena-bur-
guesia. Isto não tem nada de surpreendente.
Forjados no crisol da revolução e da resistência, os membros do
Partido, em geral, são bons, fiéis ao Partido e à revolução, ainda que, no
começo, sob a influência da ideologia burguesa, faltasse firmeza a sua
plataforma, clareza as suas concepções e correção a sua ideologia. Estes
camaradas compreenderam bem que, quando cometem faltas, devem
corrigi-las de bom grado e em tempo, que não devem deixá-las acumu-
lar-se e agravar-se. Praticam sinceramente a autocrítica e a crítica, o que
lhes permite avançar com os outros camaradas. Isso coincide com a
moralidade revolucionária. Se nosso Partido, mesmo perseguido pelo
implacável terror dos colonialistas e enfrentando múltiplas dificuldades
e perigos durante os anos de luta clandestina, tornou-se cada dia mais
forte, e se levou a revolução e a resistência à vitória, é porque soube
utilizar essa arma de aço: a crítica e a autocrítica.
Mas um pequeno número de membros do Partido, prisioneiros
de seu individualismo, tornaram-se altivos, demasiado orgulhosos de
seus méritos e passaram a ter opinião boa demais de si mesmos. Criticam
os outros, mas não querem ser criticados; não praticam a autocrítica ou
praticam-na sem sinceridade, nem seriedade. Temem perder prestígio,
desacreditar-se. Não dão atenção às opiniões das massas, fazem pouco
caso dos quadros sem partido. Não compreendem que é muito difícil
não cometer erros quando se milita. Não temamos em reconhecer nos-
sos erros; o que devemos temer é não estarmos decididos a corrigi-los.
Para isto é preciso prestar-se de bom grado à crítica das massas e praticar
sinceramente a autocrítica. Rejeitar isto conduzirá infalivelmente à de-
gradação moral, ao retrocesso. E aquele que cair nisto será rejeitado pe-
las massas. É uma consequência inevitável do individualismo.
As forças da classe operária são imensas, ilimitadas. Mas, para
estar certas da vitória, devem ser dirigidas pelo Partido. Quanto ao Par-
tido, deve estar estreitamente ligado às massas, saber organizá-las e di-
rigi-las para fazer triunfar a revolução. A moralidade revolucionária con-
siste em unir-se às massas, em ter confiança nelas, em compreendê-las,
|250 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

em escutar atentamente suas opiniões. Por suas palavras e seus atos, os


membros do Partido, da União da Juventude Trabalhadora e os quadros
ganham a confiança, a admiração e o afeto do povo, realizam a união
estreita das massas em torno do Partido, organizam-nas, fazem a propa-
ganda, mobilizam-nas, para aplicar com entusiasmo a política e as reso-
luções do Partido. Foi como agimos no decorrer da revolução e da re-
sistência. Mas, hoje, o individualismo persegue alguns de nossos cama-
radas. Pretendendo ser muito bons em tudo, afastam-se das massas, não
desejam aprender com elas, querem somente ser seus mestres. Opõem-
se ao cumprimento do trabalho de organização, de propaganda e de edu-
cação dedicado às massas. Caem na burocracia e no autoritarismo. Re-
sultado: as massas não têm confiança neles, não os admiram e os amam
ainda menos. No final, eles não podem fazer nada de bom.
O Norte de nosso país encaminha-se, aos poucos, em direção ao
socialismo. Essa é uma exigência premente de dezenas de milhões de
trabalhadores. É a obra coletiva das massas laboriosas sob a direção do
Partido. O individualismo constitui um grande obstáculo para a edifica-
ção do socialismo. Por isso, a vitória do socialismo não pode estar dis-
sociada do êxito obtido na luta contra o individualismo. Combater o in-
dividualismo não significa pisotear o interesse pessoal. Cada homem
possui sua personalidade, seus pontos fortes, sua vida privada e familiar.
Os interesses pessoais que não estão em contradição com os da coleti-
vidade não são interesses ilegítimos. Mas é necessário dizer a si mesmo
que apenas sob o regime socialista cada um tem a possibilidade de me-
lhorar suas condições de vida, de desenvolver seus pontos fortes e sua
personalidade.
Nenhum regime social pode igualar-se ao socialismo e ao comu-
nismo quanto ao respeito pelo homem e à atenção dada ao exame e à
satisfação de seus legítimos interesses. Na sociedade dominada pelas
classes exploradoras, só interesses pessoais de uma pequena minoria são
satisfeitos, enquanto os das massas laboriosas são pisoteados. Ao con-
trário, sob os regimes socialista e comunista, o povo trabalhador é quem
governa, cada homem é parte integrante da coletividade, desempenha
um papel determinado e participa na edificação da sociedade. Isto por-
que o interesse pessoal se acha contido no interesse coletivo, do qual é
parte integrante. O interesse pessoal de cada um só pode ser satisfeito
quando o interesse coletivo estiver assegurado. O interesse pessoal está
ligado ao interesse coletivo. Se o interesse pessoal está em contradição
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 251 |

com o interesse coletivo, a moralidade revolucionária manda que o pri-


meiro seja subordinado ao segundo. A revolução e o Partido estão em
constante progresso. O revolucionário também deve progredir sem ces-
sar. O movimento revolucionário arrasta milhões e milhões de pessoas.
O trabalho revolucionário comporta mil aspectos difíceis e complexos.
Para pesar os prós e os contras em todas as situações, para compreender
todas as contradições existentes e resolver corretamente todos os pro-
blemas, devemos esforçar-nos em estudar o marxismo-leninismo.
Desta maneira, podemos fortalecer nossa moral revolucionária,
manter firme nossa plataforma, elevar nosso nível teórico e político e
prosseguir no trabalho confiado pelo Partido.
Estudar o marxismo-leninismo é procurar aprender a maneira de
resolver cada problema da existência, a maneira de comportar-se em to-
das as situações, em relação aos outros e a si mesmo; é assimilar os prin-
cípios gerais do marxismo-leninismo, para aplicá-los criativamente às re-
alidades de nosso país. Estudamos para agir.
Nossos estudos teóricos devem ir de par com as atividades prá-
ticas. Certos camaradas aprendem de cor livros inteiros que tratam de
marxismo-leninismo. Pretendem saber esta doutrina melhor que nin-
guém. Mas, na prova da prática, ou mostram-se incapazes de criar, ou
ficam embaraçados. Suas palavras e seus atos se contradizem.
Estudam livros de marxismo-leninismo, mas não conseguem ad-
quirir o espírito marxista-leninista. Estudam para exibir seus conheci-
mentos e não para aplicá-los aos problemas da revolução. Isso também
se trata de individualismo.
O individualismo gera centenas de doenças perigosas: burocra-
cia, autoritarismo, fracionismo, subjetivismo, prevaricação, desperdício,
etc. O individualismo amarra suas vítimas, venda-lhes os olhos; elas se
deixam guiar por suas ambições e seus interesses pessoais e não pensam
no bem-estar da classe operária e do povo.
O individualismo é um inimigo cruel do socialismo. O revoluci-
onário deve aniquilá-lo.
A tarefa atual de todo nosso Partido e de todo nosso povo con-
siste em efetuar os maiores esforços para aumentar a produção e econo-
mizar, visando edificar o Norte, encaminhá-lo ao socialismo e fazer
deste uma base sólida para a reunificação do país.
Esta é uma tarefa das mais gloriosas. Que todos os membros do
Partido e da União da Juventude Trabalhadora, que todos os quadros,
do Partido e sem partido, estejam decididos a servir durante toda sua
|252 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

vida ao Partido e ao povo. Aí está o grande valor moral do revolucioná-


rio, sua moral, seu espírito de partido, seu espírito de classe, garantias da
vitória do Partido, da classe operária e do povo.
A moralidade revolucionária não cai do céu. Ela desabrocha e se
consolida no crisol de uma luta cotidiana e tenaz.
É como uma pérola que brilha mais vivamente quanto mais é
polida, ou como o ouro que se purifica ainda mais no longo contato com
o fogo.
Nada é mais glorioso, nem dá tanta felicidade como cultivar sua
moral revolucionária para dar uma digna contribuição à edificação do
socialismo e à libertação da humanidade!
Desejo que todos os camaradas, membros do Partido e da União
da Juventude, quadros do Partido e quadros sem partido, redobrem seus
esforços e façam progressos.

Texto do ano de 1958.


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 253 |

Relatório sobre o projeto


de revisão da Constituição

Senhores membros do Presidium, Senhores Deputados!

No decurso da sua 6ª sessão, a Assembleia Nacional decidiu a


revisão da Constituição de 1946 e nomeou uma Comissão encarregada
de preparar e de apresentar um projeto de revisão da Constituição.
Uma tal redação é um trabalho de longa duração que exige pre-
paração e estudo sérios. Um primeiro projeto foi estabelecido e subme-
tido em julho de 1958 à discussão dos quadros dos escalões médios e
superiores do exército, das organizações populares, dos serviços admi-
nistrativos e do Partido. Este projeto foi tornado público para ser discu-
tido por todo o povo que deve contribuir com as suas ideias. Esta ampla
consulta durou quatro meses. Por todo lado, tanto no campo como nas
cidades, nos serviços públicos, nas empresas, nas escolas e nas organiza-
ções populares, assistiu-se a um vasto movimento que levou todas as
camadas do povo a estudar e a discutir este documento com ardor. Na
imprensa, tiveram lugar debates apaixonantes e cheios de interesse. Além
disso, a Comissão recebeu numerosas cartas onde particulares e coleti-
vidades, entre os quais os nossos caros compatriotas do Sul e vietnamitas
residentes no estrangeiro, apresentaram as suas sugestões.
As opiniões recolhidas foram seriamente estudadas e discutidas
pela Comissão que, com base nos resultados obtidos, reviu mais uma
vez o seu trabalho. Em nome da Comissão, tenho a honra de submeter
ao vosso exame o novo projeto.

I. O importante significado da Constituição revista

A nossa pátria, o Vietnã, edificou-se no transcurso de milênios


de trabalho persistente e de lutas heroicas do nosso povo.
Em meados do século XIX, os imperialistas franceses iniciaram
a conquista do nosso país. Os reis e mandarins feudais capitularam e
|254 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

entregaram o Vietnã ao agressor. Durante quase um século, imperialistas


franceses entraram em coligação com a classe dos feudais para subjugar
nosso país de um modo atroz. Desde os primeiros dias, nosso povo le-
vantou-se contra o inimigo para reconquistar a independência nacional.
Graças ao seu espírito de luta e de sacrifício, o movimento de libertação
desenvolveu-se ininterruptamente. Contudo, ao fim de quase meio sé-
culo, a dominação imperialista e feudal não estava ainda derrubada e
nosso país continuava sob o jugo da escravidão.
Foi então que a Revolução de Outubro rebentou e triunfou bri-
lhantemente. A União Soviética foi fundada, o sistema colonial do im-
perialismo começou a desmoronar-se. A URSS trouxe aos povos opri-
midos um modelo de relações de igualdade entre as nações. Os povos
oprimidos compreenderam que o aniquilamento dos imperialistas e a
conquista da independência total e da igualdade real entre as nações só
são possíveis apoiando-se no movimento da revolução socialista e se-
guindo a via da classe operária. A Revolução de Outubro associou es-
treitamente a revolução socialista e a revolução de libertação nacional
em uma mesma frente anti-imperialista.
No Vietnã, desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a burguesia
nacional e a pequena burguesia foram incapazes de levar até ao fim o
movimento de libertação nacional. À luz da Revolução de Outubro, a
nossa classe operária traçou a via da Revolução Vietnamita. Em 1930, o
Partido Comunista Indochinês – partido da classe operária – foi fun-
dado; mostrou claramente que esta revolução devia passar por duas eta-
pas: a revolução nacional democrática e a revolução socialista. Pela pri-
meira vez, a Revolução Vietnamita foi dotada de um programa política
de conjunto traçado pelo partido da classe operária. Desde então, sob a
direção unificada da classe operária e do seu partido, desenvolveu-se de
forma rápida e segura.
Os sovietes do Nghe Na e do Há Tinh em 1930 assim como o
movimento de ação democrática de 1936-1939 conduziram a Revolução
Vietnamita a um grau de potência cada vez mais elevado e reforçaram
cada vez mais as relações entre a classe operária e o seu partido por um
lado, e por outro, os camponeses e as outras camadas populares do país.
Em 1939, rebentou a Segunda Guerra Mundial. O imperialismo
francês e o militarismo japonês acordaram entre si para dominar o nosso
país. Sob a direção do Partido, o nosso povo sublevou-se heroicamente
contra os imperialistas agressores.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 255 |

As insurreições de Bac Son e da Conchinchina foram os primei-


ros prenúncios de um vasto movimento revolucionário.
Em 1941, o Partido fundou a Frente Viet Minh e propôs-se
como objetivo “expulsar os franceses e os japoneses para reconquistar a
independência total do país e fundar a república Democrática do Vi-
etnã”. Em 1945, a URSS e as forças democráticas mundiais venceram os
fascistas e puseram fim à Segunda Guerra Mundial.
Aproveitando a ocasião favorável, o Partido dirigiu a Revolução
de Agosto e conduziu à vitória.
A dominação imperialista e feudal foi aniquilada, o poder popu-
lar fundado em todo o país.
No dia 2 de setembro de 1945, a República Democrática foi ins-
taurada e a independência do Vietnã solenemente proclamada perante o
mundo inteiro.
Após aproximadamente um século de escravidão, nosso país era
libertado, nosso povo tinha reconquistado sua liberdade, uma página in-
finitamente gloriosa tinha-se aberto na história da nossa nação.
No dia seguinte à vitória, nosso povo começou a edificação do
país para consolidar e desenvolver as conquistas da revolução.
No dia 6 de janeiro de 1946, por eleições gerais livres, ele elegeu
a primeira Assembleia Nacional. No dia 9 de novembro, esta adotou a
primeira Constituição.
Esta sublinhou no seu preâmbulo: “A tarefa do nosso povo na
etapa atual é salvaguardar a integridade territorial, conquistar a indepen-
dência nacional completa e construir o país numa base democrática.
A Constituição do Vietnã deve mencionar as conquistas glorio-
sas da revolução e fundar-se sobre o princípio da unidade nacional, ga-
rantir as liberdades democráticas, instituir um poder poderoso nas mãos
do povo”.
O regime consagrado pela Constituição de 1946 garantia a inde-
pendência nacional e uma ampla democracia ao povo.
Logo depois da sua fundação, sob a direção do Partido, o poder
popular promulgou a legislação do trabalho, aplicou a redução das taxas
de arrendamento e procedeu à confiscação das terras que pertenciam aos
colonialistas franceses e aos traidores vietnamitas, para distribui-las aos
camponeses.
O direito de eleição e de elegibilidade e o direito de participação
na gestão do Estado foram garantidos ao povo, as liberdades democrá-
ticas foram aplicadas. Era o regime da nova democracia.
|256 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Mas os imperialistas franceses desencadearam uma nova guerra


de agressão com vista a reconquistar o Vietnã.
Estreitamente unido à volta do Partido e do governo, nosso
povo conduziu uma longa e dura resistência, resolvido a aniquilar as ma-
nobras de submissão dos imperialistas e dos traidores a seu soldo.
Em 1953, enquanto que o nosso povo prosseguia a luta armada,
a Assembleia Nacional adotou a lei sobre a reforma agrária que aplicava
rigorosamente o princípio: “a terra a quem a trabalha”.
A vitória de Dien Bien Phu e o sucesso da Conferência de Ge-
nebra pôs fim de forma gloriosa à resistência heroica conduzida pelo
nosso povo. Todo o Norte foi completamente libertado.
Pela primeira vez na história, uma nação oprimida repeliu vitori-
osamente a agressão de uma potência imperialista, reconquistou a sua
independência, distribuiu a terra aos camponeses, concedeu as liberda-
des verdadeiramente democráticas ao povo.
Estas vitórias deveram-se ao patriotismo e à combatividade do
nosso exército e do nosso povo, à coesão deste último no seio da Frente
Nacional Única, ao fato de que o poder popular se apoiou na aliança dos
operários e dos camponeses sob direção da classe operária e do seu par-
tido, ao apoio dos países irmãos do campo socialista e das forças da paz
e da democracia no mundo inteiro.
O triunfo da Revolução de Agosto e da grande guerra de resis-
tência prova que apesar da sua fraqueza numérica, a Frente Nacional
pode vencer infalivelmente o imperialismo agressor, com a condição de
realizar uma estreita união sob direção da classe operária assim como do
seu partido e de seguir exatamente a linha marxista-leninista.
Uma vez a resistência vitoriosa e a paz restabelecida, a Revolução
Vietnamita passou a uma nova etapa.
Sob o regime da democracia popular, o Vietnã do Norte com-
pletamente libertado, empenhou-se na etapa de transição para o socia-
lismo. Embora o Sul se encontra ainda sob a dominação dos imperialis-
tas e dos feudais, nosso povo deve prosseguir a revolução democrática
nacional nas novas condições do país.
O Norte, uma vez libertado, fez progressos rápidos em todos os
domínios. Em três anos, de 1955 a 1957, nós reconstruímos as ruínas da
guerra e restauramos a economia. Em 1958, começamos a realização do
plano trienal de desenvolvimento e de transformação da economia naci-
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 257 |

onal seguindo a via socialista. No decurso do seu XIV Plenário, o Co-


mitê Central do Partido considerou que “atualmente, as forças do soci-
alismo no Norte são nitidamente superiores às do capitalismo”.
Sob o ponto de vista econômico e cultural, fizemos grandes pro-
gressos: Na agricultura, a produção do paddy que era de 3.600.000 tone-
ladas em 1955 passou para 5.200.000 toneladas1959. No domínio indus-
trial, temos em 1959 107 empresas de Estado contra 17 em 1955.
As cooperativas de produção agrícola do grau inferior agrupam
43,9% da totalidade dos lares camponeses. A maioria dos lares ainda não
cooperadores aderiram aos grupos de ajuda mútua.
53% dos artesãos fazem parte das organizações cooperativas.
Sob o ponto de vista cultural, o analfabetismo está, no essencial,
liquidado. O efetivo de alunos do ensino geral duplicou em relação a
1955. O das escolas profissionais do ensino médio sextuplicou, o nú-
mero de estudantes das escolas superiores aumento 7 vezes, e o dos dou-
torados em medicina 80%, etc.
Progredimos rumo à economia socialista. Paralelamente aos su-
cessos que tenho vindo a enumerar, operam-se modificações nas rela-
ções de classe. A classe dos proprietários de bens de raiz foi derrubada.
A classe operária aumenta a cada dia e reforça sua direção face ao Es-
tado. Os nossos camponeses estão empenhados na via da cooperação.
A aliança dos operários e dos camponeses estreita-se cada dia mais.
Os intelectuais revolucionários dão a sua contribuição à edifica-
ção nacional. Os burgueses nacionais, em geral, aceitam a transformação
socialista. As diversas camadas da população unem-se ainda mais no seio
da Frente Nacional Única. Se se comparar a situação atual à de 1946, no
momento em que a primeira Constituição foi adotada, verificam-se gran-
des e excelentes modificações no Norte.
Enquanto o Norte marcha rumo ao socialismo, os imperialistas
estadunidenses e seus lacaios sabotam os Acordos de Genebra no Sul,
recusam a Conferência consultiva com vista às eleições gerais para a reu-
nificação do país.
Eles praticam uma política de ditadura de uma crueldade ex-
trema, pilham os bens da população, exercem sobre esta uma opressão
e um terrorismo de uma selvageria inaudita. Eles manobram para perpe-
tuar a divisão do nosso país e transformar o Sul em uma colônia e em
uma base militar americanas com vista a uma nova guerra na Indochina.
Porém, com um heroísmo sem igual, nossos compatriotas do Sul
mantiveram o movimento revolucionário e intensificaram-no.
|258 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Reclamam a melhoria das suas condições de vida, o desenvolvi-


mento da economia nacional, as liberdades democráticas, a paz e a reu-
nificação, eles lutam contra a opressão, a exploração, a “ajuda ameri-
cana”, o terrorismo, os massacres, a intensificação do potencial militar e
a preparação para a guerra.
A marcha do Norte rumo ao socialismo impulsiona vigorosa-
mente o movimento patriótico do Sul. Nossos compatriotas do Sul vol-
tados sem cessar para o Norte, para o nosso governo, estão cada dia
mais confiantes na reunificação da pátria.
Breve, a Revolução Vietnamita passará a uma nova etapa. Apre-
sentam-se novas tarefas. A conjuntura nacional e internacional atual nos
é favorável.
A Constituição de 1946, a primeira Constituição democrática do
Vietnã, respondia efetivamente à situação e às tarefas revolucionárias
dessa altura. Esta cumpriu sua missão. Mas já não corresponde à situação
e aos imperativos da hora atual. É por isso que devemos revê-la. O pre-
sente projeto consagra os brilhantes sucessos conquistados por nosso
povo no decorrer dos últimos anos e define nossas tarefas revolucioná-
rias na nova etapa histórica.

II. Os pontos essenciais do projeto de revisão da constituição

Vou agora apresentar-vos sucintamente os pontos essenciais do


projeto de revisão da Constituição.

1. O caráter da República Democrática do Vietnã


O caráter do Estado é a questão fundamental da Constituição. É
a questão do conteúdo de classe do poder do Estado. Este está nas mãos
de quem e a quem serve? Esta é a questão que determina o conjunto do
conteúdo da Constituição.
O Estado vietnamita, fundado a seguir à Revolução de Agosto,
é um Estado democrático popular sob direção da classe operária.
O preâmbulo do presente projeto precisa: “o nosso Estado é um
Estado de democracia popular apoiando-se na aliança dos operários e
dos camponeses, sob direção da classe operária”. A fim de edificar o
socialismo e de conduzir a luta pela reunificação nacional, devemos re-
forçar incessantemente a direção da classe operária face ao Estado de-
mocrático popular.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 259 |

A aliança dos operários e dos camponeses constitui a base da


República Democrática do Vietnã. Os nossos camponeses constituem,
ao mesmo tempo, uma força produtiva e uma força revolucionária con-
sideráveis. No decurso da revolução nacional democrática popular, eles
seguiram o Partido com entusiasmo e ergueram-se lado a lado com a
classe operária para derrubar o jugo imperialista e feudal. Agora, com-
prometem-se com ardor na via da cooperação agrícola. Isto é o fruto do
seu dinamismo revolucionário e do paciente trabalho de educação con-
duzido de forma constante pelo Partido e pela classe operária. Também
na edificação do socialismo, o nosso Estado dedica-se a ajudar os cam-
poneses e a reforçar a aliança dos operários e dos camponeses.
A classe operária uniu-se aos artesãos e aos pequenos comerci-
antes porque são trabalhadores e entram de bom grado na via da coope-
ração, aprovam e apoiam a revolução socialista.
A revolução socialista está indissoluvelmente ligada ao impulso
das ciências, da técnica e da cultura no seio do povo. Os nossos intelec-
tuais contribuíram dignamente para a resistência. São auxiliados cons-
tantemente pelo Partido, que lhes permite fazer progressos. É por isto
que eles aderem ao socialismo. A classe operária une-se estreitamente a
estes para os ajudar a servir a revolução, a servir ao socialismo.
Sob a direção da classe operária, a burguesia nacional vietnamita
apoiou a revolução nacional democrática popular depois de restabelecida
a paz, deu sua contribuição para a restauração econômica. Hoje nós te-
mos as condições necessárias para a transformar seguindo a via socia-
lista, No Norte do país, as forças econômicas socialistas são claramente
superiores às forças econômicas capitalistas. Nós temos o poder demo-
crático popular e o movimento de luta revolucionária das massas traba-
lhadoras intensifica-se cada vez mais. A burguesia nacional está pronta
para aceitar a sua transformação para contribuir ativamente na constru-
ção nacional e na edificação do socialismo.
O Vietnã é um Estado multinacional unido.
Todas as nacionalidades que vivem em território vietnamita são
iguais em direitos e deveres.
Elas estão fraternalmente unidas em um mesmo território, e no
transcurso de uma longa história, trabalharam e lutaram juntas para
construírem nossa bela pátria.
Os imperialistas e os feudais tentaram sabotar a união e a igual-
dade entre as nacionalidades, semearam ódio entre estas, aplicando a po-
lítica de “dividir para reinar”. O nosso Partido e o nosso governo não
|260 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

pararam de conclamar as nacionalidades a liquidar todas discórdias cria-


das pelos imperialistas e pelos feudais, e a unirem-se com base na igual-
dade em direitos e deveres. As minorias nacionais lutaram ao lado da
nacionalidade maioritária contra o inimigo comum para conduzir a Re-
volução de Agosto e a resistência à vitória. Restabelecida a paz, o nosso
Estado ajudou as nacionalidades irmãs a fazerem progressos nos domí-
nios econômico, cultural e social. A zona autônoma de Viet Bac e do
Nordeste foram fundadas. Estreitamente unidas sob direção do Partido
e do Estado, as nacionalidades rivalizam com ardor para efetivar a edifi-
cação do país.
A nossa política visa a realização da igualdade e da ajuda mútua
entre as nacionalidades para permitir-lhes progredir conjuntamente para
o socialismo. As regiões onde as nacionalidades pouco numerosas vivem
em grupos compactos podem ser erigidas em zonas autônomas.

2. A linha geral para a marcha rumo ao socialismo


Durante aproximadamente um século, o Vietnã foi uma colônia
e um país semifeudal. A sua economia estava muito atrasada e dispersa,
as suas forças produtivas estavam pouco desenvolvidas, o nível de vida
material e cultural do povo era muito baixo. Para sair deste estado de
pobreza, o Norte deve marchar em direção ao socialismo.
O artigo 9 do projeto de revisão da Constituição definiu assim a
linha geral para a marcha rumo ao socialismo: “a República Democrática
do Vietnã elevar-se-á gradualmente do regime da democracia popular
para o socialismo pelo desenvolvimento e transformação socialista da
economia nacional que, de uma economia atrasada, passará a uma eco-
nomia socialista dotada de uma indústria e de uma agricultura modernas,
com uma ciência e uma técnica avançadas. O objetivo da política da Re-
pública Democrática do Vietnã é o desenvolvimento ininterrupto da
produção a fim de elevar constantemente o nível de vida material e cul-
tural do povo”.
Eis, atualmente, as principais formas de propriedade dos meios
de produção no país: propriedade do Estado, quer dizer, de todo o povo;
propriedade das cooperativas, isto é, propriedade coletiva dos trabalha-
dores; propriedade dos trabalhadores individuais; propriedade dos bur-
gueses e pequenos burgueses nacionais englobando pequeno número de
meios de produção.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 261 |

O nosso regime social visa a abolição das formas de propriedade


não socialistas e a transformação da economia dispersa em uma econo-
mia homogênea assente na propriedade de todo o povo e na propriedade
coletiva. Em conformidade com o artigo 12 do projeto, o setor do Es-
tado da economia depende da propriedade de todo o povo, desempenha
um papel dirigente na economia nacional e o Estado assegura-lhe um
desenvolvimento prioritário.
Segundo o artigo 13, o setor da economia cooperativa depende
da propriedade coletiva dos trabalhadores; o Estado encoraja, guia e
ajuda muito particularmente a cooperação agrícola ao sucesso.
Nós devemos desenvolver o setor do Estado para fazer dele a
base material do socialismo e impulsionar a transformação socialista.
— A cooperação agrícola é o elo principal para acelerar a trans-
formação socialista no Norte.
A experiência prova que entre nós a cooperação agrícola deve
passar pelos grupos de ajuda mútua e pelas cooperativas de produção
agrícola. Isto é uma necessidade. O desenvolvimento a passos seguros
dos grupos de ajuda mútua e das cooperativas conduzirá infalivelmente
a cooperação agrícola ao sucesso.
— Com respeito aos artesãos e a outros trabalhadores individu-
ais, o estado protege o seu direito de propriedade sobre os seus meios
de produção, dirige-os e ajuda-os ativamente a aperfeiçoarem a sua
forma de trabalho e encoraja-os a organizarem-se em cooperativas de
produção segundo o princípio do livre consentimento.
— Face aos burgueses comerciantes e industriais, o Estado não
abole o seu direito de propriedade sobre os seus meios de produção e
outros bens; ele empenha-se antes em orientar as suas atividades no sen-
tido do interesse nacional e do bem-estar geral combinando-os com o
plano econômico do Estado. Ao mesmo tempo, ele ajuda-os a transfor-
marem-se no sentido socialista pela criação de empresas mistas Estado-
capital privado e por outras formas de transformação.
Conforme o artigo 10, o Estado dirige as atividades econômicas
segundo um plano unificado.
Ele utiliza seus próprios organismos e apoia-se nas organizações
sindicais, nas cooperativas e noutras organizações das massas trabalha-
doras para estabelecer e realizar o plano econômico.
Desde o restabelecimento da paz, no momento em que começá-
vamos a restauração econômica, encaminhamos progressivamente a
|262 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

economia do Norte para a via do desenvolvimento planificado. Segui-


mos o programa trienal de restauração econômica (1955-1957).
Agora realizamos um plano trienal para pormos em marcha o
desenvolvimento da economia e da cultura, preparando as condições
para o primeiro plano quinquenal.
O atual plano trienal visa particularmente acelerar a transforma-
ção socialista da economia individual dos camponeses, dos artesãos e de
outros trabalhadores individuais, assim como da economia capitalista
privada. Ao mesmo tempo, tem por objetivo o desenvolvimento e o re-
forço do setor da economia do Estado assim como o impulso da econo-
mia no sentido socialista.

3. A organização do Estado: República Democrática do Vietnã


Para cumprir devidamente suas tarefas revolucionárias, o Estado
deve alargar os direitos democráticos e desenvolver as atividades políti-
cas do povo para fazer desabrochar seu dinamismo e seu espírito criador,
a fim de permitir a todos os cidadãos vietnamitas a participação efetiva
na gestão do Estado e a inteira devoção à edificação do socialismo e à
luta pela reunificação nacional.
O nosso poder revolucionário foi instaurado há aproximada-
mente quinze anos.
A Constituição de 1946 criou o “Parlamento Popular” e os
“Conselhos Populares” nos diversos escalões.
A Assembleia Nacional, é o Conselho Popular de toda a nação.
Nas localidades, existem conselhos populares locais. A Assembleia Na-
cional e os conselhos populares locais são compostos por membros elei-
tos pelo povo por sufrágio universal.
A Assembleia Nacional decide sobre os assuntos mais importan-
tes do Estado, e os conselhos populares sobre os das localidades.
Durante a resistência, a Assembleia Nacional e o Governo uni-
ram e guiaram o povo, permitindo-lhe conduzir a guerra patriótica e anti-
imperialista a uma vitória brilhante.
A Assembleia Nacional adotou a lei sobre a reforma agrária com
vista a conclusão da revolução antifeudal. Nas localidades, os conselhos
populares conclamaram o povo a participar ativamente da revolução
anti-imperialista e antifeudal.
Restabelecida a paz, a Assembleia Nacional adotou o plano trie-
nal de restauração econômica e o plano trienal para iniciar o desenvolvi-
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 263 |

mento da economia e da cultura, assim como a política sobre o desen-


volvimento e às transformações econômicas seguindo a via socialista, as
leis sobre as liberdades, etc.
Estas são algumas questões de alta importância para o interesse
nacional e para a vida do povo.
Conforme o artigo 4 do projeto de revisão da Constituição, todo
o poder na República Democrática do Vietnã pertence ao povo, que o
exerce por intermédio da Assembleia Nacional e dos Conselhos Popu-
lares dos diversos escalões, eleitos por este e responsáveis perante este.
Nosso sistema eleitoral realiza a democracia e, ao mesmo tempo,
a unidade nacional. Todos os cidadãos a partir dos 18 anos são eleitores
e a partir dos 21 anos, elegíveis.
As eleições fazem-se por sufrágio universal, igual, direto e se-
creto. Os deputados à Assembleia Nacional e os delegados aos conse-
lhos Populares podem ser revogados pelo povo quando já não mereçam
a sua confiança. Isto é uma garantia do seu direito de controle em relação
aos seus representantes.
Está estipulado no artigo 6 que todos os órgãos do Estado se
devem apoiar no povo, permanecer em estreita ligação com este, escutar
suas opiniões e submeter-se ao seu controle.
A Assembleia Nacional elege o Presidente da República, o Co-
mitê Permanente da Assembleia Nacional e o Conselho do Governo.
Este último é o órgão encarregado da execução das leis e decisões da
Assembleia Nacional e o órgão administrativo supremo do Estado.
Ele é responsável perante a Assembleia Nacional e presta-lhe
conta da sua atividade. Nos intervalos entre as sessões, ele é responsável
perante o Comitê permanente da Assembleia Nacional e presta-lhe con-
tas da sua atividade.
A Assembleia Nacional é o único órgão com poder legislativo.
Esta decide sobre as questões mais importantes do Estado, no plano
nacional. Os Conselhos Populares nos mais diversos escalões elegem os
seus comitês administrativos. Estes, enquanto órgãos executivos dos
Conselhos Populares, são responsáveis perante eles e prestam contas da
sua atividade. Eles ficam simultaneamente sob a direção imediata dos
comitês administrativos dos escalões superiores e sob a direção unificada
do Conselho do Governo.
Os assuntos locais mais importantes são submetidos à decisão
dos Conselhos Populares.
|264 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

O nosso regime econômico e social visa a realização plena dos


direitos democráticos do povo com base no desenvolvimento constante
da economia socialista, da abolição progressiva da exploração capitalista
e do melhoramento gradual das condições de vida material e cultural da
população. Daqui resulta que o povo goza de todas as condições neces-
sárias para participar efetivamente na gestão do Estado.

●●●

É precisado no artigo 4 do projeto de revisão da Constituição


que o centralismo democrático é o princípio de organização do nosso
Estado. A Assembleia Nacional, os Conselhos Populares, o governo
central e os outros órgãos do Estado regem-se por este princípio.
Sendo de caráter popular, nosso Estado desenvolve ao máximo
a democracia. Só assim é possível mobilizar todas as forças do povo para
promover a revolução. Ao mesmo tempo, é preciso praticar o centra-
lismo ao máximo para unificar a direção face ao povo para edificar o
socialismo.

4. Direitos e deveres fundamentais dos cidadãos


O projeto de revisão da Constituição precisa os direitos e os de-
veres fundamentais dos cidadãos. Estas disposições mostram que o
nosso regime é autenticamente democrático.
Os capitalistas costumam vangloriar-se de que a sua Constituição
garante a liberdade individual, as liberdades democráticas, os direitos e
os interesses de todos os cidadãos. Na realidade, somente a burguesia se
beneficia dos direitos enunciados em sua Constituição. O povo traba-
lhador não goza efetivamente das liberdades democráticas; este é explo-
rado durante toda a sua vida e precisa suportar pesados sofrimentos para
servir a classe exploradora.
Os capitalistas costumam caluniar-nos pretendendo que o soci-
alismo não respeita os direitos individuais dos cidadãos. Mas com efeito,
o nosso regime é o único que serve realmente aos interesses do povo,
particularmente, do povo trabalhador; garante seus direitos e desenvolve
a democracia para permitir ao povo participar efetivamente na gestão do
Estado. É por isto que nosso povo emprega todas as suas capacidades
para cumprir seu dever de dono do país com vista a edificar o socialismo
e a fazer do nosso país para edificar o socialismo e a fazer do nosso país
um país forte, e do nosso povo um povo rico.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 265 |

No projeto é destacado: “os cidadãos da República do Vietnã


usufruem do direito ao trabalho, ao descanso e à instrução, eles disfru-
tam da liberdade pessoal, da liberdade de opinião, de imprensa, de reu-
nião, de associação, de manifestação, de crença, quer pratiquem uma re-
ligião, quer não pratiquem nenhuma, do direito de eleição e de elegibili-
dade, etc.”.
Todos os cidadãos são iguais perante a lei. A mulher é igual ao
homem dos pontos de vistas político, econômico, cultural, social e fami-
liar. O Estado dedica-se particularmente à educação moral, intelectual e
física da juventude.
Em virtude do próprio caráter do nosso Estado e do nosso re-
gime econômico e social, o Estado não consagra somente os direitos e
os interesses dos cidadãos, também desenvolve as condições materiais
necessárias que lhes permita usufrui-las efetivamente.
O Estado garante aos cidadãos as liberdades democráticas, mas,
tal como é sublinhado no projeto de revisão da Constituição no seu ar-
tigo 38, proíbe-lhes rigorosamente de abusarem destas e atentarem con-
tra os seus interesses e o do povo.
Sob nosso regime, os interesses do Estado confundem-se com
os da coletividade e do indivíduo. É por isto que, enquanto os cidadãos
usufruem dos direitos que lhes são concedidos pelo Estado e pela cole-
tividade, devem cumprir de bom grado os seus deveres para com estes.
Eles têm, pois, de respeitar a Constituição, as leis, a disciplina do
trabalho, a ordem pública, as regras da vida social e os bens públicos;
devem pagar seus impostos em conformidade com a lei, cumprir suas
obrigações militares e assegurar a defesa da Pátria.
Só sob o regime socialista é que os direitos do indivíduo se con-
fundem com os do Estado e os da coletividade. É por isto que, só uma
Constituição socialista pode suscitar nos cidadãos um ardor que lhes per-
mita cumprir seus deveres para com a sociedade e a pátria.

III. As opiniões que contribuíram para emendar


o projeto de revisão da constituição

O projeto de revisão da Constituição submetido por duas vezes


ao exame das massas suscitou discussões apaixonadas. A população
usou com ardor seus direitos democráticos para participar na elaboração
da Constituição. Os cidadãos das diversas localidades, dos diversos ser-
viços, grupos populares, unidades do exército, os conselhos populares,
|266 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

unidades do exército, os conselhos populares das províncias, muitos dos


nossos compatriotas do Sul, ou residentes no estrangeiro, os órgãos da
imprensa, deram numerosas opiniões.
A Comissão de Revisão estudou-as cuidadosamente. Cabe-lhe
neste momento, enviar suas felicitações a todos os que deste modo de-
ram sua contribuição para a preparação deste projeto. Eis, em breve re-
sumo, as principais sugestões dos nossos compatriotas:
1. Adotando uma ideia proposta pela população, a Comissão de
Revisão completou o projeto de preâmbulo para fazer realçar melhor as
conquistas da revolução, a situação e as tarefas revolucionárias atuais, a
luta heroica dos nossos compatriotas do Sul e a certeza da vitória da
revolução socialista no Norte e da reunificação nacional.
2. O artigo 1º do projeto recebeu uma aprovação total e unâ-
nime, porque destaca mesmo no princípio da Constituição que nosso
país é uno e indivisível. Apesar do estado de divisão provisória no qual
se encontra atualmente nosso país, nosso povo inteiro, tanto no Sul
como no Norte, tem uma fé inabalável na reunificação inevitável do
nosso território nacional. Temos, pois, inteira razão em afirmar a nossa
unidade nacional desde o primeiro artigo do projeto.
3. Muitas pessoas propõem para precisar que o nosso Estado se
apoia na aliança dos operários e dos camponeses, sob direção da classe
operária, porque esta é uma grande verdade histórica que traz ao nosso
povo imensas vitórias revolucionárias, e garante a realização das tarefas
da revolução na nova etapa. Mas basta dizer no artigo 2 que a República
Democrática do Vietnã é um Estado de democracia popular.
4. É dito particularmente no artigo 3 que o Vietnã é um Estado
multinacional unido e que o Estado tem o dever de manter e desenvolver
a união entre as nacionalidades.
5. O centralismo democrático é o princípio de organização fun-
damental dos organismos do Estado sob nosso regime. Foi materiali-
zado na organização do nosso Estado. De igual modo, inúmeras pessoas
propuseram que o precisássemos na nossa Constituição. Nós completa-
mos o artigo 4 neste sentido.
6. Outras pessoas propõem que se precise a via a ser seguida por
nosso país e as perspectivas de desenvolvimento da economia nacional.
O artigo 9 foi completado para indicar claramente que nosso país será
dotado de uma economia socialista, com uma indústria e uma agricultura
modernas, uma ciência e uma técnica avançadas.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 267 |

7. Muitos dos nossos compatriotas propõem que a idade mínima


para ser elegível deve ser superior à exigida para os eleitores. Modifica-
mos o artigo 3 neste sentido, fixando em 18 anos a idade mínima para o
eleitorado e em 21 anos para a elegibilidade.
8. Nós estamos de acordo sobre as propostas relativas à criação
de um Conselho de Defesa Nacional. O novo projeto contém que o
Presidente da República Democrática Nacional. O Vice-Presidente e os
outros membros deste Conselho são eleitos pela Assembleia Nacional
sob proposta do Presidente.
9. Certas pessoas propõem que se precise na Constituição as co-
missões que serão criadas pela Assembleia Nacional. Somos de opinião
que se pode mencionar a Comissão de controle dos mandatos dos de-
putados, a Comissão dos projetos de lei, a Comissão do planejamento e
do orçamento. É estipulado, além disso, que a Assembleia Nacional po-
derá instituir, quando o julgar necessário, outras comissões para assistir
a ela e ao seu Comitê Permanente.
10. Numerosas pessoas são de opinião que se mencione no pro-
jeto o direito do Presidente da República de assistir às sessões do Con-
selho de Governo e de presidi-las sempre que julgue necessário. Nós
acrescentamos este ponto no artigo 66.
Para além das sugestões que a Comissão de Revisão aprovou e
sobre as quais se fundamentou para aprontar este projeto, recebemos
propostas de ordem menos geral que são da competência da legislação
ou dos organismos do Estado. Encarregar-nos-emos de as transmitir aos
órgãos responsáveis para que sejam estudadas.
Senhores Deputados!
Há 14 anos, nosso povo acolhia com alegria a nossa primeira
Constituição. Hoje, uma vez mais ele empreendeu com ardor discussões
apaixonadas sobre o projeto de revisão da Constituição.
No decurso destas discussões, viu claramente todas as dificulda-
des que nós ultrapassamos e está pleno de entusiasmo perante as bri-
lhantes vitórias que alcançamos: libertação completa do Norte, tomada
efetiva do poder pelo povo, desenvolvimento rápido da economia soci-
alista, melhoramento das condições de vida materiais e culturais do
povo, desabrochar das virtudes revolucionárias, reforço da sua unidade,
intensificação das suas atividades democráticas. Em uma palavra, o povo
é efetivamente o dono do país.
|268 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

De Norte a Sul, as diversas camadas sociais acolhem com alegria


o projeto de revisão da Constituição. A nação inteira tem fé na reunifi-
cação do Norte e do Sul em uma única e grande família.
Os nossos irmãos do Sul entusiasmar-se-ão com a nova Consti-
tuição: darão ainda mais atenção à Assembleia Nacional e ao Governo,
e lutarão com mais ardor ainda pela reunificação da pátria. A nação in-
teira compreende que o presente projeto, se deve ao Partido, o organi-
zador e o dirigente de todos nossos gloriosos sucessos, o garante seguro
das nossas vitórias futuras. Ela deve-o igualmente à união de todo o
nosso povo, à sua luta heroica para edificar o país segundo a via traçada
pelo Partido.
Desde que nossa Comissão foi encarregada pela Assembleia Na-
cional de elaborar o presente projeto, trabalhou continuamente e reuniu-
se 27 vezes. Apresentamos hoje ao vosso exame o resultado dos nossos
esforços. Fizemos todo o possível, mas não podemos pretender a per-
feição. Esperamos que deem novas ideias quando da discussão e da As-
sembleia Nacional votar o projeto.
Uma vez adotado, este texto será a nova Constituição do nosso
país. Esta exaltará mais no povo o amor à pátria e ao socialismo, incitá-
lo-á a reforçar sua união e estimulará ainda mais seu espírito para a cons-
trução de um Vietnã pacífico, reunificado, independente, democrático,
poderoso e próspero.

apresentado no dia 18 de dezembro de 1959


perante a Assembleia Nacional (1ª legislatura – 11ª sessão)
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 269 |

Trinta anos de Luta do Partido

O nosso Partido festeja este ano o seu 30º aniversário. Durante


estes trinta anos, suportou a prova de lutas heroicas e conquistou bri-
lhantes vitórias. Por ocasião deste aniversário, queremos deitar um olhar
retrospectivo sobre o caminho percorrido, a fim de recolher daí ensina-
mentos preciosos e determinar corretamente as tarefas revolucionárias
que se colocam na hora atual e no futuro próximo, para marchar rumo
a maiores e mais brilhantes vitórias.
Da mesma forma que as grandes modificações surgidas no nosso
país são inseparáveis da evolução geral do mundo, o crescimento do
nosso Partido está intimamente ligado ao dos partidos irmãos.
A vitória da grande Revolução de Outubro na Rússia, ao destruir
uma parte importante das forças do capitalismo abrira o caminho da li-
bertação à classe operária e aos povos oprimidos do mundo inteiro. Em
1919, sob a direção de V. Lenin, os verdadeiros revolucionários de todos
os países fundavam a III Internacional e, desde então, foram criados
partidos comunistas em numerosos países. No começo, é graças à ajuda
direta do Partido Comunista da China e do Partido Comunista da França
que o marxismo-leninismo e a influência da Revolução de Outubro ras-
garam a cortina de ferro do colonialismo francês para atingir o Vietnã.
A partir de 1924, assistiu-se ao crescimento do movimento revo-
lucionário no Vietnã, nossos operários levaram a cabo uma série de
ações sucessivas e passavam rapidamente das lutas econômicas às lutas
políticas.
A aliança do marxismo-leninismo com o movimento operário e o
movimento patriótico devia conduzir à criação do Partido Comunista
Indochinês13 no início do ano de 1930.
Este acontecimento marcou uma viragem de extrema importân-
cia na história da revolução do nosso país.

13. A partir de março de 1951, passou a se chamar Partido dos Trabalhadores do Vi-
etnã.
|270 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Ele provou que a nossa classe operária tinha crescido e era capaz
de tomar nas suas mãos a direção da revolução.
Em linhas gerais, a história do nosso Partido passou por vários
períodos: período de atividades clandestinas; período de direção do
movimento revolucionário que conduziu ao triunfo da Revolução de
Agosto; período de direção da guerra patriótica até à vitória; e a fase
atual de direção da revolução socialista no Norte e da luta pela reunifi-
cação da pátria e pela conclusão da revolução nacional democrática em
todo o país.
No início, durante quase quinze anos, nosso Partido teve que
trabalhar na clandestinidade. A todo instante, tinha de fazer frente à sel-
vagem repressão do colonialismo francês. As prisões de Poulo Condore,
de Lao Bao, de Son La e tantas outras prisões abarrotavam de comunis-
tas. Um grande número de dirigentes e de militantes sacrificaram heroi-
camente a sua vida. Nós tínhamos, contudo, uma confiança inabalável
na vitória final do Partido e da revolução, e as nossas fileiras engrossa-
vam e reforçavam-se incessantemente.
Desde os primeiros dias da sua existência, o Partido ergueu a
bandeira da revolução nacional democrática e tomou a direção do mo-
vimento de libertação nacional. Nessa época, a classe feudal tinha capi-
tulado perante o imperialismo; a burguesia, estando fraca, não esperava
mais nada do que um entendimento com o imperialismo para encontrar
uma saída que lhe permitisse sobreviver. As camadas pequeno-burguesas
apesar da sua efervescência estavam encurraladas em um impasse. Só a
classe operária, a mais heroica e a mais revolucionária de todas, resistia
sempre ferozmente aos imperialistas colonialistas. Armada com a teoria
revolucionária de vanguarda e com as experiências do movimento pro-
letário internacional, mostrava-se o dirigente mais capaz e mais digno da
confiança do povo do Vietnã. No espírito do marxismo-leninismo do
qual estava impregnado, o Partido avançou a uma linha revolucionária
justa. Já no seu programa sobre a revolução democrática burguesa ela-
borado em 1930, definiu claramente seus objetivos anti-imperialistas e
antifeudais, para a realização da independência nacional e da palavra de
ordem “a terra aos camponeses”. Este programa respondia perfeita-
mente às profundas aspirações dos camponeses que formam a grande
maioria do nosso povo.
O partido pôde assim realizar a união das grandes forças revolu-
cionárias em torno da classe operária, ao passo que os partidos das ou-
tras classes faliram ou ficaram isolados. O papel da direção do nosso
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 271 |

Partido – o Partido da classe operária – não cessava de confirmar-se e


ampliar-se. No dia imediato à sua fundação, organizava e dirigia um mo-
vimento de massas de uma amplitude sem precedentes no nosso país, o
movimento dos sovietes do Nghe Tinh em 1930. As massas operárias e
camponesas das duas províncias do Nghe An e do Ha Tinh sublevavam-
se, derrubavam a dominação imperialista e feudal, estabeleciam o poder
soviético dos operários, dos camponeses e dos soldados e proclamavam
as liberdades democráticas para o povo trabalhador.
Ainda que afogado em um mar de sangue pelo imperialismo, o
movimento dos sovietes do Nghe Tinh testemunhou o heroísmo e o
poder revolucionário das massas trabalhadoras do Vietnã. Apesar da sua
derrota, não deixava de temperar as forças que deviam triunfar por sua
vez na Revolução de Agosto.
Quando, em 1936, o perigo fascista e a ameaça de uma guerra
mundial se precisaram, nosso Partido aliando-se à Frente Democrática
Antifascista Mundial e à Frente Popular Francesa, desencadeou um am-
plo movimento de massas pela Frente democrática contra o fascismo e
a reação colonialista na Indochina. Ele dirigiu a ação reivindicativa das
massas populares pelas liberdades democráticas e o melhoramento das
condições de vida. Este movimento englobou milhões de pessoas e ele-
vou sua consciência política. O prestígio do Partido estendeu-se e refor-
çou-se entre as massas trabalhadoras.
Pouco depois do início da Segunda Guerra Mundial, os imperia-
listas japoneses invadiam o Vietnã e reuniam-se com os colonialistas
franceses, para estabelecer sua dominação sobre o nosso país. O Partido
soube modificar a tempo sua ação. Fundou a Liga Viet Minh e organi-
zações de massas para a salvação nacional (1941), para unir estreitamente
todas forças patrióticas em um único bloco contra o fascismo e coloni-
alismo. Adiou provisoriamente a palavra de ordem da revolução agrária,
limitando-se a preconizar a diminuição das taxas de arrendamento e de
juros e a confiscação das terras dos imperialistas e dos traidores para as
entregar aos camponeses. Fazendo isto, procurava reunir todas as forças
na luta contra os imperialistas e os lacaios, ganhar elementos patriotas
entre os latifundiários, ampliar a frente nacional para a salvação da pátria.
Esta justa política do Partido provocou um recrudescimento do
movimento revolucionário. Criaram-se bases de resistência. Fundaram-
se os primeiros destacamentos do exército de libertação do Vietnã. Em
coordenação com a guerra dos povos do mundo contra o fascismo, o
Partido desencadeava a guerrilha contra os japoneses.
|272 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Criaram-se assim as condições que permitiram ao Partido, no


momento em que o glorioso Exército Vermelho esmagou o fascismo,
desencadear por volta de agosto de 1945 a insurreição geral para a to-
mada do poder.
A Revolução de Agosto triunfava. Tinha nascido a República
Democrática do Vietnã.
Fundado a partir de alguns núcleos de militantes, forjado e tem-
perado em lutas extremamente duras, o Partido em 1945 ainda não pos-
suía senão cerca de 5 mil militantes (dos quais um certo número se en-
contrava sempre nas prisões imperialistas). No entanto, tinha podido re-
alizar com estes efetivos bastante limitados a união de todo o povo e
tomar a direção da insurreição nacional e conduzi-la à vitória.
Esta grande vitória do povo vietnamita é igualmente a primeira
vitória do marxismo-leninismo em um país colonizado.
Quase a seguir à vitória da Revolução de Agosto, o governo fran-
cês traiu acordos que havia assinado conosco e desencadeou a guerra de
agressão.
Nessa época, nosso país encontrava-se a contas com enormes
dificuldades. O nosso povo não estava ainda plenamente recomposto da
terrível fome provocada pelo imperialismo francês e pelo fascismo japo-
nês. O inimigo dispunha largamente de forças armadas modernas, de
terra, de mar e de ar, enquanto que nós tínhamos apenas alguns regi-
mentos de infantaria recentemente organizados, sem grande experiência
e com falta de tudo. A despeito destas extremas dificuldades, o Partido
decidiu resistir resolutamente, preocupando-se, ao mesmo tempo, em
dirigir a luta patriótica e em consolidar as forças populares.
No início da resistência, o Partido prosseguiu a execução do seu
programa pela diminuição das taxas de arrendamento e de juro usuário.
Contudo, desde que a resistência ganhou amplitude, fez-se sentir a ne-
cessidade de consolidar ainda mais as forças populares, principalmente
o campesinato; nosso Partido empreendeu então resolutamente a mobi-
lização da população pela reforma agrária, a fim de realizar inteiramente
a palavra de ordem: “a terra aos camponeses”. Esta justa política provo-
cou um novo impulso das forças da resistência que avançaram, sucessi-
vamente de vitória em vitória.
Durante aproximadamente 80 anos, nosso povo tinha sido opri-
mido e explorado até à última gota de sangue pelos colonialistas france-
ses. O nosso exército, formado originalmente por pequenas seções das
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 273 |

quais várias não dispunham senão de setas de bambu, forjara-se nas pro-
vações de nove anos de resistência. O nosso povo soldara-se em um
bloco de aço inquebrantável. As nossas formações de guerrilha e as nos-
sas milícias populares transformaram-se em tropas de heróis, resolutas
no combate, determinadas a vencer.
Foi esta sólida coesão, heroísmo, espírito de sacrifício de todo o
exército e de todo nosso povo, que estiveram na origem da grande vitó-
ria de Dien Bien Phu em maio de 1954. As forças armadas do imperia-
lismo francês incapazes de se reerguer, tiveram que aceitar o armistício.
Os acordos assinados em Genebra restabeleciam a paz com base no re-
conhecimento da independência, da soberania e da integridade territorial
de todos os povos indochineses.
Pela primeira vez na história, um pequeno país colonizado triun-
fava sobre uma grande potência colonialista. Esta gloriosa vitória não
era apenas a vitória do nosso povo, mas também a das forças da paz, da
democracia e do socialismo do mundo inteiro.
Uma vez mais, o marxismo-leninismo havia iluminado o cami-
nho da classe operária e do povo vietnamita e conduzira-os à vitória sua
resistência pela salvação da pátria e pela garantia das realizações da re-
volução.
Desde o restabelecimento da paz, o Vietnã encontra-se frente a
uma nova situação, estando o país provisoriamente dividido em duas
zonas. O Norte, inteiramente libertado, edifica o socialismo, enquanto
que os imperialistas estadunidenses e seus lacaios mantém sua domina-
ção no Sul. Procuram transformá-lo em uma colônia e em uma base mi-
litar americana para provocar uma nova guerra, e entregam-se a uma re-
pressão de sangrenta selvageria contra os patriotas. Violam cinicamente
os Acordos de Genebra e opõem recusa sistemática à conferência con-
sultiva para a discussão das eleições gerais livres e da reunificação pací-
fica do país. Eles são os inimigos mais ferozes do nosso povo.
Como consequência desta situação, a revolução vietnamita deve
atualmente levar por diante duas tarefas: edificar o socialismo no Vietnã
do Norte; completar a revolução nacional democrática no Sul.
Estas duas tarefas visam ambas o mesmo objetivo: a consolida-
ção da paz, a reunificação do país com base na independência e na de-
mocracia.
Na resolução da XV sessão, o Comitê Central do nosso Partido
definiu as tarefas comuns a todo o país: “reforçar a união nacional, lutar
energicamente pela reunificação da pátria com base na independência e
|274 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

na democracia, concluir a revolução nacional democrática em todo o


país, consolidar, custe o que custar, o Norte e fazê-lo avançar rumo ao
socialismo; edificar um Vietnã pacífico, reunificado, independente, de-
mocrático e próspero; contribuir ativamente para a salvaguarda da paz
na Indochina, no Sudeste Asiático e no mundo”.
O Vietnã do Norte deve absolutamente marchar em direção ao
socialismo. E a característica mais importante deste período de transição
no Vietnã é precisamente esta passagem direta ao socialismo de um país
agrícola atrasado, sem atravessar a etapa capitalista.
Os imperialistas franceses legaram-nos uma economia das mais
miseráveis. A pequena produção representa a maior parte de uma agri-
cultura excessivamente atrasada. A indústria é insignificante. A agricul-
tura e a indústria ficaram gravemente devastadas por quinze anos de
guerra. E mais ainda, os colonialistas franceses juntaram-lhe ainda os
malefícios da sabotagem econômica quando deviam evacuar o Vietnã do
Norte.
Nestas circunstâncias, a nossa tarefa mais importante é edificar
a base material e técnica do socialismo, fazer avançar progressivamente
o Vietnã do Norte, dotá-lo de uma indústria e de uma agricultura mo-
dernas, dar-lhe uma base cultural e científica de vanguarda. Nesta revo-
lução socialista em que temos que transformar a velha economia e cons-
truir uma nova, o trabalho de edificação é tarefa essencial e a longo
prazo.
De 1955 a 1957, tínhamos como tarefa principal a restauração
econômica em que estávamos essencialmente empenhados em restaurar
a agricultura e as bases industriais para curar as feridas da guerra, estabi-
lizar a economia e começar a melhorar as condições de vida do povo.
Graças aos esforços conjugados de todo o Partido e de todo o
povo, graças à ajuda fraternal do campo socialista, no final de 1957 esta
tarefa estava, no essencial, realizada com sucesso. O nível da produção
industrial e agrícola atingiu aproximadamente o de 1939. Os resultados
eram particularmente brilhantes para as culturas alimentares: o Vietnã
do Norte que não produzia 2,5 milhões de toneladas de paddy em 1939,
produziu mais de 4 milhões em 1956.
No transcurso deste período, as relações de produção sofreram
importantes modificações, novas relações de produção substituíram
progressivamente as antigas. A reforma agrária que se acabava de com-
pletar abolia definitivamente o regime de propriedade feudal e libertava
as forças de produção no campo; uma dúzia de milhões de camponeses
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 275 |

viam realizar o seu sonho: a divisão das terras. O monopólio econômico


dos capitalistas estava liquidado.
O nosso Estado tomava em suas mãos todas as alavancas eco-
nômicas, edificava uma economia de Estado de caráter socialista e asse-
gurava a direção de toda a economia nacional. Graças à ajuda generosa
e desinteressada dos países irmãos, em primeiro lugar da União Soviética
e da China, restaurávamos 29 empresas industriais antigas e edificáva-
mos 55 novas.
Em muitas regiões, os camponeses organizaram-se em grupos
de ajuda mútua contendo embriões do socialismo. Foram criadas coo-
perativas agrícolas a título de experiência. Muitos artesãos aderiram a
grupos de produção.
A indústria e o comércio capitalistas privados começavam a em-
penhar-se na via do capitalismo de Estado sob formas inferiores e mé-
dias: encomendas executadas para o Estado, fornecendo este as maté-
rias-primas, organização de retalhistas privados em depositários dos ar-
mazéns de Estado, etc.
Tendo sido concluída com sucesso a restauração econômica, o
Partido dirige atualmente a realização do plano trienal (1958-1960). Este
apoia-se na transformação socialista da agricultura, do artesanato, da in-
dústria e do comércio capitalistas privados, sendo o elo principal a trans-
formação socialista, e o desenvolvimento da agricultura. É necessário
transformar e desenvolver a agricultura para criar as condições da indus-
trialização do país. O desenvolvimento da indústria e das nossas expor-
tações só é possível com base em uma agricultura socialista e próspera.
No plano trienal, a transformação socialista constitui o problema
chave. E nós concentramos os nossos esforços na conclusão das refor-
mas, precisamente para criar as condições favoráveis a uma rápida edifi-
cação do socialismo.
A linha do Partido para a transformação socialista da agricultura
visa fazer passar, pouco a pouco, os camponeses individuais a grupos de
ajuda mútua portadores de embriões do socialismo, a cooperativas agrí-
colas de tipo inferior (semissocialistas), seguidamente a cooperativas
agrícolas de tipo superior (socialistas).
Em nossos campos, uma população muito densa vive em super-
fícies de terra restritas; as técnicas agrícolas são ainda antiquadas e a pro-
dutividade continua a um nível muito baixo. O simples fato de se rea-
grupar, de melhorar os métodos de cultura e de gestão assegura desde já
uma produtividade mais elevada à das explorações individuais. Foi o que
|276 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

nossos camponeses compreenderam. Eles têm, por outro lado, tradições


revolucionárias, uma profunda confiança no Partido e estão prontos a
responder aos seus apelos. Eles também aderem com entusiasmo aos
grupos de ajuda mútua e às cooperativas agrícolas, empenhando-se na
via do socialismo. Atualmente, já mais de 40% de famílias camponesas
entraram para as cooperativas.
A consolidação das relações de produção socialistas provocará
necessariamente um bom desenvolvimento da agricultura. O que facili-
tará o crescimento da indústria. E por sua vez, o crescimento da indústria
fornecerá à agricultura os meios hidráulicos, os adubos, os novos instru-
mentos agrícolas, a energia elétrica e as máquinas agrícolas de que ela
necessita.
A transformação socialista pacífica da burguesia nacional é uma
outra tarefa de primeira necessidade. No plano econômico, nós não con-
fiscamos seus meios de produção, mas aplicamos uma política de remis-
são. No plano político, continuamos a conceder-lhes direitos razoáveis
e o lugar que ocupa no seio da Frente da Pátria.
Devido ao caráter colonial do nosso país, nossa burguesia naci-
onal constituiu sempre uma classe pouco importante, travada no seu de-
senvolvimento pelos colonialistas e pelos feudais que a impediam de er-
guer a cabeça. É por isso que grande número dos seus membros se jun-
taram ao povo na luta anti-imperialista e antifeudal e participaram da
guerra patriótica.
Este é seu aspecto positivo. Todavia, devido ao seu caráter de
classe, não querem abandonar a exploração e nutrem a esperança de po-
derem continuar a desenvolver-se na via do capitalismo. Mas no quadro
da marcha do Vietnã do Norte para o socialismo, tais aspirações não
poderiam de forma nenhuma realizar-se.
Eles percebem-se que devem aceitar as reformas socialistas, por-
que não podem fixar-se fora da grande família vietnamita. E em sua
grande maioria, e compreenderam bem a necessidade de aceitar sincera-
mente esta transformação socialista. Perceberam-se de que este é, para
eles, o único caminho de honra e de futuro.
No domínio da cultura e da educação, também alcançamos gran-
des sucessos. Sob a dominação francesa, mais de 95% da população vi-
etnamita não sabia ler, nem escrever. Hoje, no Norte, o analfabetismo
encontra-se, no essencial, aniquilado.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 277 |

Eis alguns números sobre os efetivos escolares:

1939 1959-1960
(Toda a Indochina) (Só o Vietnã do Norte)
Universidades 582 7.518
Escolas técnicas 438 18.100
Escolas de ensino geral 540.000 1.522.200

E alguns dados estatísticos respeitantes ao serviço sanitário:

1939 1959
(Vietnã do Norte (Só o Vietnã do
e do Centro) Norte)
Hospitais 54 138
Dispensários de aldeias 138 1.500
Médicos 86 292
Enfermeiros 968 6.020
Quadros sanitários nas aldeias - 169.000

Para falar simples e sumariamente, pode-se dizer que o socia-


lismo visa antes de tudo libertar o povo trabalhador do flagelo da misé-
ria, dar trabalho a toda a gente, colocar cada um ao abrigo das necessi-
dades e proporcionar-lhe o bem-estar e a felicidade. Todo o Partido e
todo o povo devem contribuir para o aumento da produção, para a prá-
tica de economias e para a aplicação em todas suas atividades da con-
signa: produzir a um ritmo rápido assegurando a qualidade e baixando o
preço de revenda.
Com base nos sucessos alcançados até aqui, devemos empreen-
der uma séria preparação para iniciar os planos ulteriores a longo prazo.

Por que é que alcançamos estes sucessos?

1. Porque o nosso Partido, sempre firme na sua posição de classe


proletária, sempre fiel aos interesses da sua classe e do povo, soube adap-
tar o marxismo-leninismo às realidades do nosso país e avançar progra-
mas políticos justos. Nosso Partido dirigiu uma luta incessante contra as
tendências reformistas da burguesia e o aventureirismo político das ca-
madas pequeno-burguesas no movimento nacional, contra a fraseologia
|278 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

“esquerdista” dos trotskistas no movimento operário, contra as tendên-


cias de direita e de esquerda no seio do Partido, tanto na determinação,
como na execução da estratégia e da tática revolucionária nas diferentes
etapas. O marxismo-leninismo ajudou-nos a superar estas provas. Foi o
que permitiu ao nosso Partido tomar não somente a direção do movi-
mento revolucionário em todo o país, mas ainda mantê-la solidamente
em suas mãos em todos os domínios e frustrar todas as manobras da
burguesia que procurava disputar-nos a direção.

2. Graças ao marxismo-leninismo, nosso Partido pôde compre-


ender que nas condições de um país agrícola atrasado como o nosso, a
questão nacional é no fundo, a questão camponesa, a revolução nacional
é essencialmente uma revolução de camponeses sob direção da classe
operária, e o poder popular é essencialmente um poder operário e cam-
ponês. É por isto que em cada fase da sua história, nosso Partido apren-
deu e resolveu corretamente o problema camponês e consolidou a ali-
ança dos operários e dos camponeses. Lutou com tenacidade contra os
desvios de direita e de esquerda que subestimam o papel dos campone-
ses na revolução, ignoram que estes constituem o grosso das forças da
revolução, que são o aliado principal e o mais digno da confiança da
classe operária, força fundamental que deve construir o socialismo de
acordo com a classe operária. Estes desvios não compreendem que a
aliança dos operários e dos camponeses é a própria base da Frente Na-
cional e do poder popular. A experiência adquirida pelo nosso Partido
em sua ação revolucionária mostrou-nos que cada vez que os nossos
quadros davam justa solução às aspirações mais ardentes dos campone-
ses e aplicavam devidamente o princípio da aliança dos operários e dos
camponeses, a revolução dava um rápido salto em frente.

3. O nosso Partido soube reunir todas as forças patrióticas e pro-


gressistas no seio da Frente Nacional e realizar a união nacional na luta
anti-imperialista e antifeudal. Sendo os operários e os camponeses a
força essencial do bloco de união nacional, sua aliança é a base sobre a
qual assenta a Frente Nacional. Na formação, na consolidação e no de-
senvolvimento da Frente Nacional, o nosso Partido combateu sempre o
sectarismo e o isolacionismo, assim como as tendências para a união sem
princípios no seio da Frente. Trinta anos de experiência no trabalho de
união nacional provaram ao nosso Partido que é necessário lutar contra
estes desvios para assegurar seu papel dirigente na Frente Nacional e
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 279 |

para consolidar a base operária e camponesa, que permitiu à Frente Na-


cional alargar-se e consolidar-se.

4. O nosso Partido cresceu na conjuntura internacional favorável


criada pela grande vitória da Revolução Socialista Russa de Outubro. Os
sucessos do nosso Partido e do nosso povo não se podem dissociar do
apoio fraternal da União Soviética, da China Popular e do campo socia-
lista, do movimento comunista e operário internacional, do movimento
de paz e de libertação nacional do mundo inteiro. Se o nosso Partido
pôde ultrapassar todas as dificuldades, conduzir nossa classe operária e
nosso povo aos gloriosos sucessos de hoje, é precisamente porque sabe
ligar o movimento revolucionário do nosso país ao movimento revolu-
cionário da classe operária mundial e dos povos oprimidos.

Nós estamos sinceramente reconhecidos ao Partido Comunista


da União Soviética e ao Partido Comunista da China que ajudaram nosso
Partido a forjar-se em um partido da classe operária de tipo novo.
Guardamos sempre na memória os grandes serviços que o Par-
tido Comunista da União Soviética, o Partido Comunista da China e o
Partido Comunista da França prestaram generosamente ao nosso Par-
tido e ao nosso povo durante a luta revolucionária.
De hoje em diante, no caminho que conduz a novos sucessos,
na edificação do socialismo no Vietnã do Norte e na luta pela reunifica-
ção da pátria, o nosso Partido aplicar-se-á ativamente a desenvolver a
solidariedade internacional da classe operária.
Contribuirá ativamente para fortalecer o poderio do campo so-
cialista com a União Soviética à cabeça, fará o máximo de esforços para
inculcar profundamente no nosso povo o sentido do internacionalismo
socialista estreitamente ligado com o verdadeiro patriotismo; reforçará
os estreitos laços já existentes entre o movimento revolucionário no
nosso país e o movimento dos trabalhadores e dos povos oprimidos do
mundo inteiro em luta pela paz, pela democracia, pela independência
nacional e pelo socialismo.
Durante os três últimos decênios, sobrevieram no mundo modi-
ficações extremamente importantes. O mesmo aconteceu no nosso Par-
tido e no nosso povo.
|280 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Há 30 anos, nosso povo vivia sob a mais dura dominação colo-


nialista. O nosso Partido que acabava de ser fundado era heroico, con-
tudo ainda fraco. A URSS, então único país socialista, estava submetido
ao cerco imperialista.
O Partido Comunista da China e o seu Exército Vermelho foram
objeto de ataques raivosos da parte dos nacionalistas reacionários. Os
outros partidos irmãos estavam ainda no seu começo.
O imperialismo punha e dispunha de 5/6 da terra e estava com-
prometido na via do fascismo.
Rapidamente, nesta época, a maior parte da humanidade sufo-
cava sob a odiosa opressão capitalista. A situação internacional mudou
então completamente e hoje é rica em perspectivas.
A URSS, uma das maiores potências do mundo, está em vias de
edificar o comunismo; tornou-se, ao mesmo tempo, a cidadela inabalável
da paz mundial.
O socialismo é agora um sistema mundial, imenso e forte, esten-
dendo-se da Europa até à Ásia, englobando mais de um bilhão de habi-
tantes. Existem agora no mundo 85 partidos comunistas e operários com
um efetivo de 35 milhões de combatentes resolvidos a lutar pela paz,
pelo socialismo e pelo comunismo.
Numerosas colônias tornaram-se Estados independentes. O mo-
vimento de libertação nacional rompe impetuosamente por todo lado:
na Ásia, na África e na América Latina. O imperialismo afunda-se.
O Vietnã do Norte está inteiramente liberto e a República De-
mocrática do Vietnã está orgulhosa de pertencer à grande família socia-
lista, tendo à cabeça a União Soviética.
O nosso Partido, com centenas de milhares de membros, orga-
niza e dirige nosso povo na edificação do socialismo no Norte e na luta
pela reunificação do país.
O nosso Partido está na frente da luta revolucionária de todo o
nosso povo. Erguendo bem alto o estandarte do patriotismo e do soci-
alismo, dirige resolutamente nosso povo na luta pela edificação de um
Vietnã pacífico, reunificado, independente, democrático e próspero,
contribuindo para a salvaguarda da paz no Sudeste Asiático e no mundo.
Para levar a bom termo esta tarefa tão pesada quanto gloriosa, é
dever do nosso Partido realizar os seguintes objetivos:

1. Reforçar-se no plano ideológico e aperfeiçoar sua organização.


Deve alargar as suas organizações nas massas de uma forma segura e o
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 281 |

mais amplamente possível, principalmente nas massas operárias, para re-


forçar o elemento proletário no seu seio.

2. Todos os militantes devem esforçar-se no estudo do mar-


xismo-leninismo, reforçar seu espírito de classe proletária e assimilar
bem as leis do desenvolvimento da Revolução Vietnamita. Eles devem
mostrar-se à altura das exigências da moral revolucionária, lutar energi-
camente contra o individualismo, reforçar neles o senso coletivista pro-
letário, mostrar-se laborioso e poupado para a edificação da pátria, ligar-
se estreitamente às massas trabalhadoras, entregar-se sem reserva aos in-
teresses superiores da revolução e da pátria.

A edificação do socialismo no Vietnã do Norte exige do nosso


Partido que ele possua a ciência e a técnica e, por conseguinte, que os
seus membros façam todos os esforços para elevar o seu nível cultural,
científico e técnico. O nosso Partido deve reforçar sua direção em todos
os domínios:

• A União da Juventude Trabalhadora deve ser o braço di-


reto do Partido na organização e educação da juventude
e das crianças para fazer destes, no futuro, militantes de
fidelidade absoluta à obra da edificação do socialismo e
do comunismo;
• Os sindicatos devem tornar-se, de fato, para nossa classe
operária, a escola de gestão do Estado, de direção eco-
nômica e cultural;
• A União das Mulheres deve constituir uma força pode-
rosa, ajudando o Partido a mobilizar, organizar e dirigir
as mulheres na marcha rumo ao socialismo;
• As cooperativas agrícolas, sob direção do Partido, devem
tornar-se as brigadas de estímulo de mais de dez milhões
de camponeses trabalhadores, no desenvolvimento da
produção, na elevação do nível de vida e na edificação de
uma agricultura vietnamita próspera e socialista;
• O nosso exército popular deve elevar sem cessar seu ní-
vel político e tornar-se mestre na técnica, para tornar-se
uma força cada vez mais potente, sempre pronta a de-
fender a independência da nossa pátria e o trabalho de
edificação pacífica do nosso povo.
|282 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

É sob a bandeira do marxismo-leninismo que o nosso Partido,


heroico exército invencível e seguro do nosso povo, cerra ainda mais
estreitamente as suas fileiras. Avança corajosamente na condução dos
trabalhadores do nosso país a novos sucessos na luta pela edificação do
socialismo do Vietnã do Norte e pela reunificação da nossa pátria.

Viva o Partido dos Trabalhadores do Vietnã!


Viva o Vietnã pacífico, reunificado,
independente, democrático e próspero!
Viva o socialismo! Viva a paz mundial!

artigo escrito pela revista Problemas da Paz e do Socia-


lismo nº 2, por ocasião do 30º aniversário da fundação do nosso
Partido.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 283 |

Discurso inaugural do III Congresso Nacional


do Partido dos Trabalhadores do Vietnã

Caros camaradas!

Abre-se hoje o nosso III Congresso Nacional, ao mesmo


tempo que nosso povo festeja com alegria o 15º aniversário da fun-
dação da República Democrática do Vietnã.
Estamos aqui mais de 500 delegados, representando os 500
mil membros do Partido em todo o país e simbolizando suas heroi-
cas tradições de luta no transcurso destes trinta anos.
Em nome do Comitê Central, saúdo afetuosamente os cama-
radas delegados, todos os membros do nosso Partido que nos são
tão queridos, os representantes do Partido Socialista, do Partido De-
mocrata e das organizações de massa no seio da Frente da Pátria.
O nosso Congresso aclama com a maior alegria e o maior
entusiasmo os camaradas delegados do Partido Comunista da União
Soviética, do Partido Comunista Chinês, do Partido do Trabalho da
Albânia, do Partido Comunista Búlgaro, do Partido Operário Polo-
nês, do Partido Socialista Unificado Alemão, do Partido Socialista
Operário Húngaro, do Partido Popular Revolucionário Mongol, do
Partido Operário Romeno, do Partido do Trabalho da Coreia, do
Partido Comunista Tchecoslovaco, do Partido Comunista Francês,
do Partido Comunista Indiano, do Partido Comunista Indonésio, do
Partido Comunista Japonês, do Partido Comunista Canadense, e ou-
tros partidos comunistas irmãos.
Foi impregnado do mais nobre espírito internacionalista que
viesteis tomar parte nos nossos trabalhos e trazer-nos a expressão
dos sentimentos afetuosos dos partidos irmãos.
Na verdade, pode dizer-se:
Para lá de montes e desfiladeiros, para lá de milhares de lé-
guas, um mesmo teto.
Nos quatro horizontes, todos os proletários são irmãos.
|284 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Em nome do Congresso, felicito afetuosamente os operários,


os camponeses, os intelectuais, homens e mulheres, as unidades do
exército, os quadros dos diferentes organismos, os jovens e as cri-
anças, meus sobrinhos, que se lançaram em ardente emulação para
realizar proeza em honra do Congresso do Partido e do 15º aniver-
sário de nossa Festa Nacional.

Caros camaradas!

Nos últimos 30 anos, muitos dos nossos camaradas e nossos


compatriotas sacrificaram-se heroicamente pela causa da revolução.
Ao longo da guerra de resistência, quantos combatentes de-
ram sua vida pela Pátria! Nestes últimos seis anos, no Sul, quantos
valentes combatentes tombaram pela nação!
O nosso Partido e os nossos compatriotas recordar-se-ão
para sempre destes filhos, os melhores dentre os melhores que com-
bateram até ao fim pela libertação nacional e o ideal comunista.
Passaram-se mais de nove anos, após o nosso II Congresso.
Durante estes nove anos, aplicando a linha definida pelo seu
II Congresso, o Partido dirigiu nosso povo em uma guerra de resis-
tência árdua e heroica.
A grande e gloriosa vitória de Dien Bien Phu pôs fim à guerra
de agressão levada a cabo pelos colonialistas franceses com o apoio
dos imperialistas estadunidenses.
Os Acordos de Genebra foram assinados, a paz restabelecida
na Indochina com base no reconhecimento internacional da sobera-
nia, da independência, da unidade e da integridade territorial do
nosso país. O Vietnã do Norte foi inteiramente libertado.
Mas passaram seis anos e o nosso país não está, contudo,
reunificado, a despeito do estipulado nos Acordos de Genebra.
O nosso governo e o nosso povo mantiveram-se sempre a
uma rigorosa aplicação dos acordos assinados.
Porém, pelo contrário, os imperialistas estadunidenses e Ngo
Dihn Diem empenharam-se deliberadamente a manter a divisão do
nosso país e a sabotar desavergonhadamente os Acordos de Gene-
bra, de modo que o Vietnã do Sul suporta ainda uma vida de sofri-
mento e de miséria sob a sua bárbara dominação.
E por isto que o nosso povo não cessou de lutar para realizar
a reunificação pacífica do país, para livrar o Sul desta atuação atroz.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 285 |

A luta revolucionária dos nossos compatriotas do Sul prossegue


cada dia mais ampla e mais possante.
O Sul merece inteiramente o seu título de “Muralha de
bronze da Pátria”.
Desde o restabelecimento da paz, o Norte inteiramente li-
bertado passou à etapa da revolução socialista.
Eis assim uma mudança plena de significado para a Revolu-
ção Vietnamita.
Sob a direção do Partido, a reforma agrária foi realizada com
sucesso, libertou os nossos compatriotas camponeses trabalhadores,
realizando assim a palavra de ordem: “a terra a quem a trabalha”.
Nós conduzimos a bom termo a restauração econômica, e
estamos em vias de realizar vitoriosamente o plano trienal de desen-
volvimento econômico e cultural.
Conquistamos sucessos de um carácter decisivo na transfor-
mação socialista da agricultura, do artesanato, da indústria e do co-
mércio capitalistas privados.
Obtivemos muitos resultados brilhantes na frente da produ-
ção agrícola e industrial, no trabalho cultural e educativo, a avança-
mos decididamente na elevação do nível de vida do nosso povo.
O Norte vai-se consolidando cada dia mais e torna-se um
sólido apoio para a luta com vista à reunificação de pais.
Os grandes sucessos alcançados ao longo destes nove anos
testemunham a justeza da linha e a firmeza da direção do nosso
Partido na causa socialista.
Isto é um triunfo do marxismo-leninismo, em um país opri-
mido e explorado pelos imperialistas.
O nosso Partido é digno da confiança do nosso povo do
Norte ao Sul.

Caros Camaradas!

O nosso Partido não conseguiu sozinho todas estas vitórias.


Elas são o feito comum de todos os nossos compatriotas no con-
junto do país. A revolução é obra das massas e não de um herói
individual.
Se o nosso Partido obteve sucesso, é porque soube organizar
e exaltar a inesgotável energia revolucionária do povo, é porque
|286 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

soube dirigi-lo em sua luta sob a bandeira vitoriosa do marxismo-


leninismo.
O sucesso da Revolução Vietnamita deve-se ainda à ajuda
devotada dos povos dos países socialistas irmãos, sobretudo da
URSS e da China.
Nesta ocasião, por ventura, exprimimos-nos calorosamente
nossa gratidão para com os países socialistas irmãos tendo a cabeça
a grande URSS.
Exprimimos também sinceramente nossa gratidão para com
os outros partidos irmãos, nomeadamente para com o Partido Co-
munista Francês, que apoiou ativamente a justa luta do nosso povo.
Agradecemos sinceramente aos povos das colônias e aos po-
vos amantes da paz no mundo inteiro, que nunca deixaram de nos
aprovar e de nos apoiar.
Um ensinamento se destaca da história dos 30 anos de luta
do nosso Partido.
Impregnar-se do marxismo-leninismo, guardar uma absoluta
fidelidade aos interesses do proletariado e de nação, preservar a uni-
dade e a coesão no seio do Partido, a unidade e a coesão entre os
partidos comunistas, entre os países pertencentes à grande família
socialista, é a mais sólida garantia do sucesso da revolução.
Até hoje, nosso Partido agiu neste sentido. Sem dúvida que
no futuro ele continuará a fazer o mesmo.

Caros camaradas!

O nosso Partido alcançou grandes sucessos, mas não está


isento de erros.
Todavia, nós nunca os escondemos; pelo contrário, fizemos
uma autocrítica sincera e aplicamo-nos ativamente para os corrigir.
O sucesso não nos embriagou, nem nos envaideceu ou cegou
de modo algum.
Hoje, vigorosos com nossa própria experiência e com a dos
partidos irmãos, estamos determinados a trabalhar para avançar
ainda mais, avançar sempre.
A tarefa atual de Revolução Vietnamita é encaminhar o
Norte em direção ao socialismo e lutar pela reunificação pacífica da
Pátria, pelo cumprimento da revolução nacional democrática popu-
lar em todo o país.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 287 |

As decisões do Congresso guiarão todo o Partido e todo o


nosso povo na edificação vitoriosa do socialismo do Norte, que será
dotado de uma indústria e de uma agricultura moderna, de uma cul-
tura e de uma ciência de vanguarda. O povo conhecerá aí cada vez
mais bem-estar, uma vida radiosa.
O nosso II Congresso foi o da resistência.
Este Congresso é o da edificação do socialismo no Norte e da
reunificação pacífica do país.
O nosso povo que se mostrou heroico na resistência, conti-
nua a sê-lo no trabalho para a reconstrução da Pátria.
Não há dúvida de que conseguiremos edificar o socialismo
glorioso no Norte do nosso país. O Norte, próspero, constitui um
firme apoio à nossa luta com vista à reunificação.
O presente Congresso iluminará ainda mais o caminho do
nosso povo na sua luta revolucionária para a reunificação do país.
A nossa nação é uma, o Vietnã é um. O nosso povo saberá
ultrapassar todas as dificuldades e realizar a todo o custo a nossa
divisa: “reunificar o país, Norte e Sul sob o mesmo teto”.

Caros Camarada!

A Revolução Vietnamita é parte integrante das forças da paz,


da democracia e do socialismo no mundo. A República Democrática
do Vietnã é membro da grande família socialista encabeçada pela
grande URSS.
Incumbe-nos manter firme nossa posição de posto avançado
do socialismo do Sudeste Asiático.
Devemos fazer de tudo para contribuir com o aumento do
poder do campo socialista e defender a paz no Sudeste da Ásia e no
mundo todo.
O socialismo tornou-se hoje um poderoso sistema mundial,
inabalável como uma parede de bronze, uma muralha de aço.
O nosso povo levantou-se entusiasmado pelos sucessos
grandiosos da União Soviética na edificação do comunismo e pelas
grandes realizações da China e dos outros países socialistas irmãos
na edificação do socialismo.
Ele apoia ardentemente a política externa de paz da União
Soviética e dos outros países do campo socialista, assim como suas
propostas de desarmamento.
|288 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Congratula-se, também, de todo o coração pelas vitórias das


nações da Ásia, da África e da América Latina na sua luta gigantesca
contra os imperialistas, nomeadamente e acima de tudo os imperia-
listas estadunidenses.
É manifesto que as forças mundiais da paz, da democracia,
da independência nacional e do socialismo sobrepõem-se já, nitida-
mente, ao campo imperialista.
Não há dúvida de que unindo-se estreitamente e lutando ati-
vamente, os povos do mundo têm a possibilidade de conjurar uma
nova guerra mundial e realizar uma paz durável.
Não há dúvida de que a luta decidida das nações oprimidas
conduzirá a vitória sobre os imperialistas colonialistas. Não há dú-
vida de que finalmente o socialismo conquistará por toda a parte
uma vitória total através do mundo inteiro.
Nesta luta gigantesca, a união das forças dos países socialis-
tas e a unidade e a coesão dos partidos comunistas e operários de
todos os países revestem significado importante.
Estamos convencidos de que, assim como o indica o Comu-
nicado da Conferencia de Bucareste, “os Partidos Comunistas e
Operários continuarão a consolidar a solidariedade dos países do
sistema socialista mundial e a preservá-la, como à menina dos seus
olhos, na luta pela paz e segurança de todos os povos, pelo triunfo
da grande causa do marxismo-leninismo”.
Hoje, os imperialistas já não podem pôr e dispor como antes.
No entanto, enquanto houver imperialismo, o perigo de
guerra persiste.
A Declaração da Conferencia dos representantes dos Parti-
dos Comunistas e Operários dos países socialistas, realizada em
Moscou em 1957, recordou-nos que: “os partidos comunistas con-
sideram a luta pela paz como a tarefa primordial.
Os povos de todos os países devem exercer sua maior vigi-
lância face ao perigo da guerra, criado pelo imperialismo”.
E é muito importante recordar-se que “quanto mais ampla e
sólida é a união das forças patrióticas e democráticas, mais certa é a
vitória na luta comum”.
O nosso povo que sofreu a ação dos imperialistas sofre ainda
hoje a divisão do país; perpetuada pelos EUA e por Ngo Dinh Diem.
Enquanto o povo não tiver expulsado os imperialistas esta-
dunidenses, enquanto não se tiver libertado do jugo cruel de Ngo
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 289 |

Dinh Diem e dos seus patrões americanos, não poderá dormir tran-
quilo e livre.
Eis porque a luta pela salvaguarda da paz e a reunificação do
país é indissolúvel da luta contra os imperialistas norte-americanos.
Na luta comum pela defesa da paz e da independência naci-
onal na Indochina, o povo vietnamita apoia, resolutamente, sem fra-
quejar, a valente luta conduzida pelo povo laosiano contra os impe-
rialistas americanos.
Almejamos integrar o Laos na via da concórdia nacional, da
independência, da unidade, da paz e da neutralidade.
Nós desejamos de todo o coração que se estabeleçam e de-
senvolvam favoravelmente relações de amizade entre nós e os nos-
sos vizinhos, em primeiro lugar o Camboja e o Laos.
Caros camaradas!
Esta contribuição para a salvaguarda da paz no Sudeste Asi-
ático e no mundo que são a revolução socialista do Norte e a luta
pela reunificação do Vietnã assinala ao nosso Partido na hora atual
tarefas tão pesadas como gloriosas.
Para garantir a vitória da revolução, a questão decisiva é a de
elevar ainda mais o poder de combate do nosso Parido e de acentuar
o seu papel dirigente em todos os domínios.
Até este dia, o nosso Partido esforçou-se por ligar estreita-
mente o marxismo-leninismo à realidade da Revolução Vietnamita.
Os seus quadros e os seus membros têm, no conjunto, uma
boa tempera revolucionária.
Nós temos ainda, no entanto, bastantes pontos fracos: sub-
jetivismo, dogmatismo, empirismo, burocratismo, individualismo...
estas insuficiências opõem-se ao progresso dos nossos camaradas.
Para as combater devemos estudar o marxismo-leninismo,
reforçar a educação ideológica no Partido.
Realçar ainda mais o carácter de classe e de vanguarda do
Partido, reforçar sem descanso a ligação com as massas; devemos
saber unir todos os patriotas e progressistas para construir vitorio-
samente o socialismo e lutar pela reunificação nacional.
Devemos assimilar de maneira criadora a experiência dos
partidos irmãos. Defendamo-nos do orgulho e da autossuficiência;
sejamos modestos como ensinou Lenin.
O presente Congresso vai eleger o novo Comitê Executivo
Central do Partido, em torno do qual, estamos certos, o Partido se
|290 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

unirá mais estreitamente e arrastará ainda mais vigorosamente o


nosso povo de uma ponta à outra do Vietnã para atingir este obje-
tivo fundamental imediato: a edificação do socialismo no Norte e a
reunificação pacífica do país.

Viva o marxismo-leninismo!
Viva a valente classe operária e o valente povo do Vietnã!
Viva o Partido dos Trabalhadores do Vietnã!
Viva a solidariedade e a coesão dos partidos irmãos, a solidarie-
dade e a coesão da grande família socialista, tendo à cabeça e grande
URSS!
Viva o Vietnã pacífico, reunificado, independente,
democrático e próspero!
Viva a paz mundial!
5 de outubro de 1960
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 291 |

O caminho que me levou ao Leninismo

Após a Primeira Guerra Mundial, eu levava minha vida em Paris,


ora como retocador de fotografias, ora como pintor de “antiguidades
chinesas” (feitas na França). Também distribuía panfletos denunciando
os crimes cometidos pelos colonizadores franceses no Vietnã.
Naquele tempo, eu apoiava a Revolução de Outubro apenas por
intuição, não tendo em mente ainda toda sua importância histórica. Eu
amava e admirava Lenin porque ele era um grande patriota que libertara
seus compatriotas; até então, eu não havia lido nenhum de seus livros.
A razão para eu ter me unido ao Partido Socialista Francês foi
porque essas “damas e cavalheiros” – como eu chamava meus camara-
das na época – demonstraram sua simpatia por mim, pela luta dos povos
oprimidos. Mas eu não entendia o que era um partido, um sindicato,
tampouco o que era socialismo ou comunismo.
Discussões acaloradas aconteciam nos comitês do Partido Soci-
alista sobre a dúvida sobre se deveríamos continuar na Segunda Interna-
cional, se deveria ser fundada uma Segunda Internacional e Meia ou se
o Partido deveria se juntar à Terceira Internacional de Lenin. Eu com-
parecia aos encontros com frequência, duas ou três vezes por semana, e
ouvia atentamente a discussão. No início, eu não conseguia entender o
assunto por completo. Por que os debates eram tão acalorados? Seja com
a Segunda, a Segunda e Meia ou a Terceira Internacional, a revolução
poderia ser alcançada. Qual o objetivo de discutir sobre isso? E a Pri-
meira Internacional, o que aconteceu com ela?
O que eu mais queria saber – e o que justamente não era debatido
nos encontros –: qual Internacional está do lado dos povos das colônias?
Eu levantei essa dúvida – a mais importante em minha opinião
– no encontro. Alguns camaradas responderam: é a Terceira Internacio-
nal, não a Segunda. E um camarada me deu para ler a “Tese sobre as
questões nacionais e coloniais” de Lenin, publicadas pela L’Humanité.
Havia termos políticos difíceis de entender nesta tese. Mas por
meio do esforço de lê-la e relê-la pude finalmente apreender a maior
parte deles. Que emoção, entusiasmo, esclarecimento e confiança essa
|292 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

obra provocou em mim! Eu me regozijava em lágrimas. Embora esti-


vesse sentado sozinho em meu quarto, eu gritei fortemente, como se me
dirigisse a grandes multidões: “Caros mártires compatriotas!
É disso que precisamos, este é o caminho para nossa libertação!”
A partir dali, tive plena confiança em Lenin e na III Internacional.
Formalmente, durante os encontros no comitê do Partido, ape-
nas escutava a discussão; tinha uma crença vaga de que tudo era lógico,
e não conseguia diferenciar quem estava certo de quem estava errado.
Mas a partir daquele momento, passei a me envolver nos debates e a
discutir com fervor. Ainda que me faltassem palavras em francês para
expressar todas as minhas ideias, eu rebatia energicamente os ataques
feitos a Lenin e a Terceira Internacional. Meu único argumento era: “se
vocês não condenam o colonialismo, se vocês não estão alinhados com
a população das colônias, que tipo de revolução vocês estão buscando?”
Eu não apenas participava dos encontros do meu comitê do Par-
tido, mas também ia às reuniões dos outros comitês para reafirmar “mi-
nha posição”. Devo dizer que mais uma vez meus camaradas Marcel
Cachin, Vaillant-Couturier, Monmousseau e muitos outros me ajudaram
a expandir meu conhecimento. Por fim, no Congresso de Tours, eu votei
junto com eles por nossa adesão a Terceira Internacional.
Em primeiro lugar, foi o patriotismo, e não o comunismo, que
me levaram a acreditar em Lenin e na Terceira Internacional. Aos pou-
cos, durante a luta e enquanto estudava o marxismo-leninismo paralela-
mente às minhas participações nas atividades práticas, eu me dei conta
gradualmente de que somente o socialismo e o comunismo poderiam
libertar as nações oprimidas e o povo trabalhador ao redor do mundo
da escravidão.
Existe uma lenda, tanto em nosso país como na China, sobre o
milagroso “Livro da sabedoria”. Ao se deparar com grandes dificulda-
des, pode-se abrir o livro e encontrar a solução. O leninismo não é ape-
nas um milagroso “livro da sabedoria”, um compasso para nós revolu-
cionários e cidadãos vietnamitas: é também o fulgurante sol iluminando
nosso caminho para a vitória final, ao socialismo e ao comunismo.

Publicado No Informe Soviético “Problemas Do Oriente”,


Por Ocasião Dos 90 Anos De Nascimento De V.I. Lenin,
Em Abril De 1960
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 293 |

Alocução na primeira Conferência


dos Ativistas da Cultura

Para progredir em direção ao socialismo, devemos desenvolver


a economia e a cultura. Porque é que eu não disse: desenvolver a cultura
e a economia?
Porque um dos nossos ditados afirma: “para pensar na moral é
preciso antes ter que comer”.
Assim, a economia deve passar para o primeiro lugar.
Mas, por que desenvolver a economia e a cultura?
É para elevar o nível de vida material e cultural do povo.
E é muito que que estejais plenos de ardor no vosso trabalho de
produção e nas vossas atividades culturais.
A cultura deve servir o povo, contribuir para elevar o nível de
vida das massas, tornar a sua vida mais sã, mais radiosa. Ela deve ter um
conteúdo educativo.
É preciso por exemplo ensinar aos nossos compatriotas o que é
a vida nova, o que é a moral revolucionária. Por ocasião do “Têt consa-
grado à plantação de árvores”, é necessário popularizar o modo de plan-
tação de árvores, de tratá-las e de fazê-las crescer.
Em muitos lugares, compusestes poemas, canções tratando des-
tas questões de forma prática e com um bom conteúdo.
Eu felicito-vos por isso.
É preciso ligar a cultura ao trabalho cotidiano e à produção. Uma
cultura que se divorcia da vida, que se afasta do trabalho é uma cultura
sem efeito. A tarefa do quadro cultural é utilizar a cultura para ensinar a
aplicação ao trabalho e à poupança quando da reconstrução nacional, da
edificação do socialismo e da luta para a reunificação pacífica do país.
Assim o trabalho cultural deve servir para propagar e inculcar nos cam-
poneses cooperadores o amor pelo trabalho e pela economia na edifica-
ção das cooperativas, fazê-los amar a cooperativa como ao seu próprio
lar, combater a tendência para a economia individual e as ideias atrasadas
que entravam a consolidação e o desenvolvimento das cooperativas. Nas
|294 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

empresas, o trabalho cultural deve servir para propagar e inculcar nos


operários a consciência de serem o mestre coletivo, impulsionar o mo-
vimento de emulação para completar o plano do Estado, a edificação da
nossa indústria pelo trabalho e economia, a luta contra a depredação pelo
trabalho e pela economia, a luta contra os roubos e o desperdício, etc.
Em uma palavra, para servir à revolução socialista, a cultura deve
ser socialista quanto ao conteúdo e nacionalista quanto à forma. Estais
resolvidos a fazê-lo?
Na hora atual, debatemo-nos ainda com numerosas dificuldades;
o nível cultural dos quadros e da população é ainda baixo, o que limita
os resultados do nosso trabalho e da nossa produção. Deveis desenvol-
ver ainda mais os esforços para contribuirdes para a elevação do nível
cultural do povo.

11 de fevereiro de 1960
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 295 |

A Revolução Chinesa
e a Revolução Vietnamita

O triunfo da Revolução de Outubro abalou o mundo inteiro.


O marxismo-leninismo começou a propagar-se na China, um
dos maiores países do mundo, que os imperialistas qualificavam com
desprezo de “leão adormecido”.
No dia 1º de julho de 1921, em um pequeno quarto da luxu-
osa cidade de Xangai, 12 revolucionários – entre os quais se encon-
trava o camarada Mao Tsé-tung – reuniram-se para fundar o Partido
Comunista Chinês, que contava então com 50 membros (parar um
efetivo atual de 17 milhões).
Desde então, os destinos da China começaram a mudar.
Após 28 anos de uma luta das mais heroicas sob a direção do
Parido Comunista, tendo à cabeça o camarada Mao-Tsé-tung.
O Exército de Libertação aniquilou mais de 8 milhões de ho-
mens das tropas de Chiang Kai-shek, equipadas pelos Estados Uni-
dos e expulsou os imperialistas estadunidenses do território chinês.
Em 1949, a República Popular da China viu a luz do dia.
Em 12 anos de edificação sob a direção do Partido Comu-
nista da China, os 650 milhões de chineses rivalizando de ardor e
trabalhando com abnegação, fizeram da China, anteriormente agrí-
cola e atrasada 14, um país socialista poderoso.
40 anos gloriosos, 40 anos de vitórias. Numerosos camaradas
escreveram sobre a grandiosa história do irmão Partido Comunista
da China. Quanto a mim, queria apenas referir o seguinte:
O Vietnã e a China são dois países vizinhos, que há séculos
têm relações estreitas entre si.
É evidente que existem igualmente laços particularmente es-
treitos entre a Revolução Chinesa e a Revolução Vietnamita.

14. “Uma pobreza, duas ausências”: provérbio chinês, para caracterizar o país antes da
Revolução. Economia: pobre. Cultura e ciências modernas: ausentes.
|296 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

- Foi por intermédio da China que a influência da Revolução


de Outubro e o marxismo-leninismo se propagaram até ao Vietnã.
- Foi na China que foram organizadas, com a ajuda devotada
dos camaradas chineses, a Associação da Juventude Revolucionária
do Vietnã (1925), a Conferência de Unificação dos diferentes grupos
comunistas do Vietnã em um partido marxista-leninista (1930), o
primeiro Congresso do Parido Comunista Indochinês (1935).
- O esmagamento pela URSS dos militares japoneses no Nor-
deste contribuiu para a vitória da resistência chinesa, e a vitória da
resistência chinesa criaram as condições favoráveis que permitiram
a Revolução de Agosto triunfar no Vietnã.
- A partir de 1946, o Partido Comunista da China necessitou
de conduzir uma luta contínua contra as tropas reacionárias de Chi-
ang Kai-shek ajudadas pelos Estados Unidos (desde o início da
guerra civil, os estadunidenses equiparam os 4 milhões e 300 mil
homens de Chiang Kai-shek com armas modernas, além das que fo-
ram tiradas a um milhão de soldados japoneses).
Em 1947, Chiang Kai-shek apoderou-se de Yenan.
Em condições tão difíceis, o Partido Comunista e o povo
chinês apoiaram nossa resistência nacional de todo o seu coração
até à vitória total.
- Na hora atual, em conjunto com a União Soviética e os
outros países irmãos, a China dá-nos uma assistência devotadas para
nossa edificação do socialismo no Norte a fim de constituir uma
base poderosa para a reunificação pacífica do país.
As relações existentes entre a revolução chinesa e a revolu-
ção vietnamita assenta em mil laços estabelecidos pelo dever, a gra-
tidão e a afeição. Viva a gloriosa amizade que nos une!
Pessoalmente tive por duas vezes a honra de militar no seio
do Partido Comunista Chinês.
Encontrando-me Kwang-Chou de 1924 a 1927, dedicava-me
a seguir o movimento revolucionário no nosso país ao mesmo
tempo que cumpria as tarefas confiadas pelo Parido Comunista Chi-
nês.
Na China, o movimento operário e camponês estava em
plena efervescência. A partir de maio de 1925, rebentaram greves
políticas em quase todas as grandes cidades.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 297 |

A mais importante foi a greve contra os imperialistas britâ-


nicos, em Hong Kong, na qual participaram mais de 250 mil operá-
rios e que durou 16 meses.
O movimento camponês começava a alargar-se, sobretudo
em Yunan (graças ao trabalho de organização do camarada Mao-
Tsé-tung) e em Kouang-tung (sob a direção do camarada Pung Bai).
Para impulsionar o movimento camponês, o camarada Mao
organizou cursos de formação de quadros de propaganda chamados
a militar entre os camponeses nas 19 províncias do país.
Eu participava na tradução de documentos para o trabalho
no país assim como na propaganda para o estrangeiro, isto é, escre-
via artigos sobre o movimento operário e camponês para um jornal
de língua inglesa.
A segunda vez que fui à China (fins de 1938), estava-se em
plena resistência antijaponesa. Como soldado de 2ª classe do VII
Exército de Marcha, eu assumia as funções de responsável do clube
de uma unidade em Guilin.
Em seguida, fui eleito secretário de célula do Partido (e en-
carregado, além disso, da escuta do rádio) de uma unidade em Hen-
gyang...
(Assim, pude adquirir um pouco de experiência em matéria
de edificação do Partido na URSS, em matéria de luta contra o ca-
pitalismo na França e contra os colonialistas e os feudais na China).
Entretanto, os camaradas chineses ajudaram-me a estabele-
cer a ligação com o nosso país.
O nosso Comitê Central enviou um camarada para se encon-
trar comigo em Long-tchau. Completamente deslastrado por um
“amigo”, X. teve de regressar ao país antes da minha chegada a esta
cidade.
Pouco depois, camaradas chineses conseguiram ajudar-me a
estabelecer a ligação e a regressar ao país para continuar minhas ati-
vidades.
Assim, os comunistas do mundo inteiro prosseguem um
mesmo e nobre objetivo, unem-se estreitamente, e baseando-se no
marxismo-leninismo e no internacionalismo proletário, estão liga-
dos por uma afeição fraternal.
|298 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Aproveito esta ocasião para enviar em nome do Partido, do


governo e do nosso povo, as minhas mais afetuosas e calorosas sau-
dações ao grande Partido Comunista da China, tendo à cabeça o
amado camarada Mao Tsé-tung.

Artigo Escrito Por Ocasião


Do 40º Aniversário Da Fundação
Do Partido Comunista Chinês
Em 1º De Julho De 1961
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 299 |

Alocução no V Plenário do Comitê Central do


Partido dos Trabalhadores do Vietnã

Caros camaradas!

Podemos dizer que este Plenário do Comitê Central deu bons re-
sultados. E isto porque somos guiados pelo nosso III Congresso Nacio-
nal, porque acabamos de passar por uma retificação ideológica, porque as
discussões foram amplas e centradas num único objetivo. Devemos, com
todas as nossas forças, desenvolver rapidamente a agricultura, com vigor
e a passos seguros, porque: primeiras necessidades, há que trabalhar de
forma a que o povo seja cada vez melhor alimentado e vestido; a agricul-
tura deve assegurar um abastecimento suficiente em viveres e em maté-
rias-primas para o desenvolvimento da indústria e para assegurar a indus-
trialização socialista; com uma boa agricultura e uma boa indústria, a edi-
ficação socialista será conduzida a bom termo no Norte, base sólida da
luta pela reunificação pacífica do país.
Nós somos unânimes em considerar que a cooperação agrícola, em
seu conjunto, é boa. Nós verificamos, ao mesmo tempo, que está cravejada
de defeitos que importa corrigir. São defeitos de crescimento. É como uma
criança que cresce demasiado depressa e cujos vestidos se rasgam por todas
as costuras. O defeito mais vulgar de numerosos comitês é pensar que a
concórdia reinará entre os cooperadores, podendo progredir segundo o
ritmo de desenvolvimento das cooperativas. É como se pedíssemos a che-
fes de grupo para comandar companhias ou batalhões. Devemos ajuda-los
a fim de que estes estejam à altura das suas tarefas. É conveniente, segundo
meu ponto de vista, ressaltar os pontos: a linha, os princípios orientadores
e a política do Partido não visam senão elevar o nível de vida do povo em
geral e dos camponeses em particular. Por isso, é absolutamente necessário
consolidar e desenvolver ao máximo as cooperativas, aumentar sem cessar
seus rendimentos. É importante insistir neste ponto e pô-lo em evidência,
pois ainda há pessoas que pensam que se o Partido encoraja a produção,
isto não é de modo nenhum no interesse dos camponeses, mas sim para
que tenham mais víveres para vender ao Estado.
|300 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

É necessário consolidar as células do Partido do campo. O Comitê


de Gestão da cooperativa só é bom se a célula do Partido for boa. E só
com bom comitê é que a concórdia reinará entre cooperadores, estes terão
amor à obra e a cooperativa consolidar-se-á e desenvolver-se-á.
É igualmente importante definir qualidades requeridas e atribui-
ções dos membros do Comitê de Gestão. Por exemplo: cooperadores em
assembleia geral elegem os membros do Comitê e têm o direito de desti-
tuir o membro que se apresente incapaz; os membros do Comitê devem
dar provas de dedicação, justiça e desinteresse; a contabilidade da coope-
rativa deve ser pública, etc. Deve-se agir de forma a que cada cooperador
tenha a consciência de ser o dono, de forma que seja guiado pelo amor ao
trabalho e pelo espírito de economia na edificação da cooperativa. Im-
porta reforçar o trabalho de controle e de emulação para descobrir e pro-
pagar as experiências positivas, corrigir a tempo as fraquezas e os defeitos
das cooperativas.
O Comitê Central foi unânime quanto à linha, às políticas concre-
tas, índices, meios de ações, etc. É-nos preciso transformar esta unidade
de pontos de vista em uma determinação, insuflar esta unidade de pontos
de vista e esta determinação em cada quadro, em cada cooperador, fazer
de forma a que todo nosso Partido, todo nosso povo transformem esta
resolução do Comitê Central em um vigoroso movimento de emulação
na produção e na prática de economia a fim de elevar constantemente o
nível de vida do povo. No final desta conferência, os ministérios e os di-
versos departamentos do escalão central, devem estabelecer um plano
para servir de forma eficaz a produção agrícola. Os quadros do escalão da
província e do distrito têm de expor e de explicar por todo o lado e de
forma muito clara a resolução do Comitê Central, a fim de que cada qua-
dro, cada cooperador rivalize de ardor e de afinco para pô-la em execução.
Trata-se para já de assegurar uma boa colheita do arroz do 10º mês. Os
nossos compatriotas camponeses são tradicionalmente laboriosos e entu-
siastas no trabalho. Imbuídos do espírito da resolução do Comitê Central,
serão ainda mais entusiastas e operar-se-á uma grande transformação na
produção agrícola.
Aproveito esta ocasião para felicitar, em nome do Comitê Central,
a cooperativa de Dai Phong e o movimento de emulação com Dai Phong,
e recomendo aos quadros, assim como aos sucessos conquistados, mas a
multiplicarem os seus esforços para conseguir maiores sucesso ainda.

julho de 1961
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 301 |

Alocução no VII Plenário


do Comitê Central do Partido

Camaradas!

Nosso país é quente e de clima benéfico. Suas florestas valem


ouro, seus mares prata, seu solo é fecundo.
Nosso povo é corajoso, trabalhador econômico. Os países ir-
mãos dão-nos uma ajuda substancial.
Assim dispomos destas três condições propícias: clima, terra e
fator humano favoráveis para a edificação do socialismo, ou seja, para a
edificação de uma vida feliz para o nosso povo.
Importa que nosso Partido e todo nosso povo façam o seu me-
lhor para combinar estas três condições e que as apliquem habilmente à
edificação econômica do Norte do nosso país.
O III Congresso Nacional do Partido definiu claramente nas
suas resoluções a nossa linha geral de desenvolvimento econômico.
A 5ª Sessão do Comité Central aprovou uma resolução sobre o
desenvolvimento da agricultura e a 7ª sobre o da indústria.
Assim nós tomamos uma clara orientação e medidas concretas.
Vou expor algumas ideias, úteis a todos os fins.
Ventre esfomeado não tem orelhas, diz um dos nossos ditados
populares. E um provérbio chinês diz: Para o povo, a alimentação está
à frente de tudo.
Na sua simplicidade, estes dois provérbios são muito justos.
Para elevar o nível de vida do povo, é preciso antes de tudo resolver
devidamente o problema da alimentação (o vestuário e outras questões
só vêm depois).
É preciso proceder de modo a que hajam víveres suficientes.
Ora, os víveres provêm da agricultura, e desenvolver a agricultura é de
extrema importância.
|302 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Nos países frios, por causa da neve e gelo, só se pode fazer uma
colheita por ano. O clima quente do nosso país permite efetuar as cultu-
ras todo o ano e as colheitas em todas as estações. Temos, pois, um clima
muito favorável.
No delta do Norte, os arrozais são pouco extensos e a população
é numerosa; mas nós intercalamos as culturas e multiplicamos as reco-
lhas de modo que cada hectare valha dois.
Quanto à região alta, que compreende superfícies imensas e fér-
teis, podemos arrotear tanto quanto quisermos. Pois a terra é-favorável.
A terra pertence aos camponeses. Mais de 85% entre estes ade-
riram às cooperativas (35% são ao nível da aldeia).
Daqui a pouco, o sistema das cooperativas englobará a quase to-
talidade dos camponeses. Uma dezena de milhões de camponeses orga-
nizados, eis uma força susceptível de “nivelar as montanhas e atulhar os
mares”. O fator humano nos é, pois, muito propício. Para desenvolver
a agricultura, o mais importante na hora é aperfeiçoar os comitês de ges-
tão das cooperativas.
Com bons comitês, teremos boas cooperativas. E com boas co-
operativas a agricultura terá um impulso notável.
A indústria e agricultura, eis os “dois pés” da economia. A agri-
cultura deve desenvolver-se para fornecer viveres à população, matérias-
primas (algodão, cana-de-açúcar, chá), às fabricas, produtos agrícolas
(amendoins, feijões, juta) para exportação em troca de máquinas.
A indústria deve desenvolver-se para poder fornecer artigos de
consumo à população, em primeiro lugar aos camponeses: fornece-lhes
bombas de rega, adubos químicos inseticidas, dar um forte impulso a
agricultura; e equipar as cooperativas agrícolas com arados e transplan-
tadores mecânicos.
O desenvolvimento da indústria condiciona o da agricultura, de-
vem se completar.
Desenvolver ambas, assemelhando-se aos nossos dois pés que,
se marcham e de forma harmoniosa, permitem-nos avançar e atingir o
nosso objetivo nós realizaremos a aliança dos operários e dos campone-
ses, edificaremos o socialismo, oferecer ao nosso povo uma vida fecunda
e feliz. Graças aos nossos esforços e à ajuda dos países irmãos, da União
Soviética e da China, nossa indústria desenvolve-rápido.
Assim, em 1955, no valor global da produção industrial e agrí-
cola, a parte da indústria era apenas de 17%. Em 1961, ela eleva-se já a
mais de 43%, a produção industrial é inferior às necessidades.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 303 |

A produção de energia elétrica, de ferro e de aço, de máquinas,


de produtos químicos, não responde às necessidades da agricultura e dos
outros ramos da economia.
Os artigos produzidos são de qualidade medíocre e seu preço
continua elevado.
Para atingir nosso objetivo, a industrialização socialista, o Par-
tido e o povo inteiro devem dispender grandes esforços para executar as
resoluções do 7º Plenário do Comitê Central.
A meu ver, o aperfeiçoamento dos Comitês de Gestão das coo-
perativas é a chave do desenvolvimento da agricultura.
A chave do desenvolvimento da indústria reside na melhoria da
gestão das empresas enquanto que os quadros e operários devem apren-
der a dominar a técnica e os órgãos de direção devem ter contatos es-
treitos com bases e servir convenientemente a produção.
Na edificação do socialismo, nós encontramos certas dificulda-
des. Transformar uma velha sociedade em uma sociedade nova não é de
modo nenhum uma coisa fácil. Mas estas são dificuldades de cresci-
mento. Elas serão ultrapassadas se todo o Partido e todo o povo estive-
rem unidos e conjugarem seus esforços.
Aliás, nós beneficiamos de condições muito favoráveis quanto
ao clima, à terra e ao fator humano.
O nosso movimento de emulação patriótica provou-o, sobre-
tudo após 1961.
Os nossos operários, os nossos camponeses e os nossos quadros
tomaram milhares e milhares de iniciativas para vencer as dificuldades,
aumentar a produção e fazer economias.
Neste movimento revelaram-se dezenas de heróis do trabalho,
milhares de trabalhadores de vanguarda e centenas de equipes e de bri-
gadas de trabalho socialistas.
Estas são alavancas extremamente potentes.
Sob a direção do Partido, combinado o movimento de emulação
patriótica com a campanha contra corrupção, desperdício e burocracia
para inculcar em cada pessoa a consciência de ser dono do país e o espí-
rito de economia quando da edificação nacional, nós teremos êxito, sem
dúvida, na industrialização do Norte, base sólida de nossa luta para a
reunificação pacífica do país.
|304 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Espero que estudeis com cuidado a 5ª, e a 7ª, resoluções do Co-


mitê Central, que as difundeis muito amplamente e as apliqueis estreita-
mente, para que a determinação do Partido se torne a determinação das
massas. Graças a isto, ser-nos-á assegurado o sucesso.

20 de junho de 1962
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 305 |

Alocução na VI Sessão
da Assembleia Nacional

Camaradas deputados!

Acabo de receber uma notícia que muito me comove e me enche


de alegria: a Assembleia Nacional propõe-se a condecorar-me com a Or-
dem da Estrela de Ouro, a mais alta distinção do nosso país.
Exprimo a minha gratidão à Assembleia.
Mas que a Assembleia me autorize a adiar a recepção desta con-
decoração. Por qual razão? Pela simples razão de que condecorações são
destinadas a recompensar pessoas merecedoras, ora eu penso que não
mereço ainda a alta distinção que a Assembleia Nacional me concede.
A nossa Pátria está provisoriamente dividida em duas. Os impe-
rialistas estadunidenses, atualmente intensificam sua guerra de agressão
contra o Sul do nosso país. Os nossos compatriotas do Sul suportam mil
sofrimentos sob o bárbaro regime dos americano-diemistas. Não se
passa um dia sem que estes últimos não se dediquem aos saques, ao ter-
ror e ao massacre dos habitantes, não incendeiem as aldeias, não espa-
lhem produtos químicos para destruir cultivos, não encerrem à força dos
nossos compatriotas nos campos de concentração, esses infernos bati-
zados de “aldeias estratégicas”.
Na fornalha da guerra, os nossos compatriotas derramam todos
os dias e a toda hora seu sangue, lutam com coragem e energia contra os
agressores estrangeiros e os traidores para conquistarem a sua liberdade
e o seu direito de viver. Estreitamente unidos em torno da Frente Naci-
onal e Libertação, nossos compatriotas, sem distinção de idade, de sexo,
de origem social e de nacionalidade, como um só coração e uma com-
pleta unidade de pensamento, superam todas as dificuldades e provoca-
ções, resolvidos a combater até à vitória final.
Se o Norte rivaliza de ardor na edificação do socialismo para
apoiar os nossos compatriotas do Sul, estes combatem com heroísmo
|306 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

para defender a obra pacífica de edificação no Norte. Também a popu-


lação do Norte, pensa a toda a hora e a todo o momento nos compatri-
otas do Sul.
Há aproximadamente vinte anos, combatendo sucessivamente
os colonialistas franceses e os americano-diemista, nossos compatriotas
do Sul afirmaram-se como filhos heroicos do povo vietnamita. O Sul é
verdadeiramente digno do nome “Cidadela de bronze da Pátria” e me-
rece plenamente ser honrado com a mais alta distinção. Por estas razões
eu peço à Assembleia Nacional para subscrever o seguinte: Vamos espe-
rar até o dia em que o Sul será completamente libertado, em que nossa
Pátria reencontrará a paz e será reunificada, em que o Sul e o Norte
estarão reunidos sob o mesmo teto. A Assembleia Nacional autorizará
então nossos compatriotas do Sul a entregarem-me a alta condecoração.
Assim, é o nosso povo inteiro que ficará feliz com isto.
Nessa ocasião, eu desafio o presidente John F. Kennedy a res-
ponder a estas questões:
- O Vietnã encontra-se a uma dezena de milhares de milhas dos
Estados Unidos, o povo vietnamita e o povo estadunidense não nutrem
nenhuma espécie de ódio um pelo outro, que razão tendes para desen-
cadear uma guerra de agressão ao Vietnã do Sul, desperdiçando bilhões
de dólares do povo americano para apoiar uma administração corrupta
e ditatorial, odiada pela população sul-vietnamita? Com que direito cons-
trangeis milhares e milhares de jovens americanos a irem massacrar sul-
vietnamitas inocentes e a encontrarem eles próprios a morte nesta guerra
injusta e sórdida?
- Em 1954, enquanto membro do Congresso dos Estados Uni-
dos, haveis criticado nos seguintes termos o presidente Eisenhower:
“lançar dinheiro, armas e tropas na selva da Indochina sem a mínima
perspectiva de vitória, pode ser uma coisa perigosa e inútil, um ato de
suicídio...
Eu creio sinceramente que nenhum aumento de ajuda militar
americana na Indochina poderia derrotar um inimigo que se encontra
em todo lado e que não é visível em lugar nenhum, um inimigo... que
beneficia da simpatia, do apoio e da proteção do povo”. Porque é que o
presidente Kennedy comete cegamente um ato suicida contra o qual o
senador Kennedy alertou de forma tão clarividente?
- A opinião legítima do povo dos Estados Unidos a qual as per-
sonalidades estadunidenses constaram em sua mensagem ao presidente
(1º de março de 1963), deseja a cessação da intervenção militar no Vietnã
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 307 |

do Sul e a convocação duma conferência internacional para encontrar


uma solução pacifica para problema vietnamita.
O presidente Kennedy deseja ou não deseja agir no sentido da
opinião legítima do povo americano?
O presidente Kennedy deve conhecer bem a História. Ora a His-
tória comprova que quando um povo, forte na sua união e na sua uni-
dade de pensamento, luta para conquistar a sua independência e a sua
liberdade, como o fizeram os antepassados do presidente e como o faz
a população do Vietnã do Sul, este vencerá inevitavelmente. Assim é
também certo e seguro que:
Os nossos compatriotas do Sul vencerão.
O Sul e o Norte serão reunidos sob o mesmo teto.
A nossa Pátria bem-amada reencontrará a paz e será reunificada.
Uma vez mais, os meus agradecimentos à Assembleia Nacional.

8 de maio de 1963
|308 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 309 |

Relatório à Conferência Política Extraordinária15

Senhores e caros camaradas!

Passaram-se dez anos, após o restabelecimento da paz. Impor-


tantes modificações sobrevieram em nosso país e no mundo. Esta Con-
ferência Política Extraordinária proporciona-nos uma boa ocasião para
fazermos o ponto da situação e discutirmos os problemas em perspec-
tiva. A década que passou foi para o nosso povo uma década de luta e
de edificação no decurso do qual pode superar numerosas dificuldades
e obter inúmeros sucessos.
Há dez anos, a vitória de Dien Bien Phu coroou a resistência
prolongada, árdua e heroica de todo nosso povo contra a agressão dos
colonialistas franceses e do imperialismo estadunidense.
Foi uma grande vitória para todos os povos oprimidos do
mundo. Ilustra brilhantemente esta verdade do marxismo-leninismo, em
nossa época, a saber, que as guerras de agressão imperialistas estão ine-
vitavelmente fadadas ao fracasso e que as revoluções de libertação naci-
onal vencerão.
Dien Bien Phu permitiu o sucesso da Conferência de Genebra
de 1954 sobre a Indochina e os Acordos de Genebra reconheceram so-
lenemente a independência, a unidade e a integridade territorial do Vi-
etnã, assim como dos países irmãos do Laos e do Camboja.
Os países ocidentais participantes nesta conferência, a saber, os
Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França, comprometeram-se todos

15. Conferência Política Extraordinária: convocada pelo presidente Ho Chi Minh.


Inaugurada em 27 de março de 1964 na Sala de Reuniões Ba Dinh, em Hanói.
Assistiram a esta conferencia o Presidente Ho Chi Minh, a Vice-Presidente Ton Duc
Thang, os camaradas Le Duan, Truong Ching, o Primeiro-Ministro Phan Van Dong, o
general Vo Nguyen Giap e mais 300 representantes (veteranos revolucionários, homens
políticos, representantes de diversas camadas e ramos, heróis e combatentes de
emulação, intelectuais progressistas, celebridades patriotas, etc.).
|310 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

a respeitar estes direitos nacionais inalienáveis. No entanto, imediata-


mente após a Conferência, os países imperialistas às ordens dos Estados
Unidos ergueram a autodenominada Organização de Defesa do Sudeste
Asiático, que, com efeito, é um bloco de agressão.
Desde então, os imperialistas estadunidenses interviram cada vez
mais impunemente no Sul do nosso país e no Laos para provocarem
guerras fratricidas.
Recorrem às manobras mais pérfidas para ameaçar a paz e a neu-
tralidade do Camboja. Servem-se da Tailândia como trampolim de agres-
são. De conluio com os imperialistas britânicos, criaram recentemente a
“Federação da Malásia” para exercer uma ameaça sobre a República da
Indonésia. Eles tentam jugular os povos libertados e transformar um
certo número de países do Sudeste Asiático em bases militares destina-
das a perpetrar agressões contra os países socialistas.
Mas suas manobras pérfidas chocam com uma firme posição da
parte dos povos do Vietnã, do Laos, do Khmer e da Indonésia e estão
votados ao fracasso.
Após a Conferência de Genebra, nosso povo poderia disfrutar
de uma vida sossegada e consagrar-se à edificação nacional.
Mas, os imperialistas estadunidenses e seus agentes, sabotando
estes acordos, dividiram nosso país e provocaram uma guerra sangrenta
no Sul. Cometeram crimes atrozes: incêndios de aldeias, massacres das
populações, violações, prisões, torturas bárbaras que não poupavam
nem crianças, nem velhos.
Os seus crimes imundos revoltaram toda a humanidade civili-
zada. E nossos 14 milhões de compatriotas do Sul estão firmemente de-
cididos a combatê-los até o fim.
A população do Norte, profundamente sensível aos sofrimentos
dos nossos irmãos, tem olhos constantemente voltados para o Sul he-
roico e não abandona por um só instante sua luta pela reunificação na-
cional. No transcurso da última década, os 17 milhões dos nossos cam-
poneses viviam de penar todo ano.
Hoje, o trabalho coletivo desenvolve-se em pleno nas aldeias e
nos lugares onde, em todo lado, surgem escolas, creches, maternidades,
refeitórios, silos de cooperativas, novas habitações para os habitadores.
A vida material melhora e o nível da vida cultural eleva-se todos
os dias. O movimento para o melhoramento da gestão das cooperativas
e a renovação da técnica mobiliza milhões de camponeses. Participam
nos debates sobre a orientação e a planificação da produção e sobre a
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 311 |

renovação das técnicas agrícolas, marcando uma nova viragem na agri-


cultura e criando um novo espírito e uma nova atmosfera no campo.
Nas empresas industriais, nos estaleiros e nas outras instituições
econômicas, os nossos operários e os nossos quadros, verdadeiros mes-
tres coletivos, participam com ardor na emulação, nomeadamente no
movimento para as inovações.
Aplicam-se em realizar progressivamente a revolução técnica
com vista a aumentar a qualidade dos produtos e a reduzir os preços de
revenda. Por outro lado, ativa-se o movimento dos “três pró e três con-
tra” (para o aumento dos sentidos das responsabilidades, o melhora-
mento da gestão, a renovação das técnicas; contra o roubo, o desperdí-
cio, a burocracia).
Estes movimentos, de um grande significado revolucionário vi-
sam favorecer uma produção abundante e de boa qualidade, com eco-
nomia de tempo e a bom preço, assim como o cumprimento do plano
do Estado.
Eles não deixarão de imprimir um poderoso impulso à economia
nacional contribuindo assim com uma parte importante para a realização
progressiva da industrialização socialista e para o aumento do nível de
vida do nosso povo.
Os trabalhadores intelectuais entregam-se com ardor aos traba-
lhos de pesquisa e a outras atividades no domínio da ciência, da técnica,
do ensino e da arte.
Eles contribuíram grandemente para o desenvolvimento da eco-
nomia e da cultura, para a prosperidade do país, para a preparação de
quadros futuros. O exército e as forças armadas populares, a um passo
de se tornar forças regulares e modernas, forjam-se no espírito revoluci-
onário, elevam sua consciência socialista e aperfeiçoam seus conheci-
mentos táticos e técnicos. Estão prontos a defender a Pátria, a manter a
ordem e a segurança, e estão resolvidos a esmagar qualquer manobra de
sabotagem da parte dos imperialistas estadunidenses e seus agentes. Os
nossos compatriotas residentes no estrangeiro têm sempre o coração
voltado para a Pátria. De regresso ao país natal, contribuem com entusi-
asmo para a obra de edificação nacional.
Os nossos amigos chineses residentes no Vietnã, colaboraram
ativamente na edificação do socialismo no Norte, reforçando ainda mais
os laços de amizade entre o Vietnã e a China. Em todas as esferas de
atividade no Vietnã do Norte, o movimento de emulação patriótica es-
timula nosso povo a desenvolver seu ardor revolucionário e seu trabalho
|312 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

criador. Milhares de equipas e de brigadas de trabalho socialista conclu-


íram realizações notáveis em todos os ramos, esforçando-se assim por
cumprir vitoriosamente o plano de 64 e o primeiro quinquênio. Estes
últimos dez anos foram para nós dez anos de luta extremamente dura e
gloriosos sucessos. Estes magníficos resultados devem-se à direção do
Partido e do governo, à coragem do nosso povo, e igualmente a ajuda
calorosa dos países irmãos, em particular da União Soviética e da China.
Nesta ocasião, em nome de nosso povo, do Partido e do governo envio
nossos sinceros agradecimentos aos países irmãos. Os grandes sucessos
que obtivemos enchem-nos de entusiasmo. Todavia não podemos per-
der de vista as grandes dificuldades do processo de desenvolvimento re-
volucionário, tampouco os erros e as fraquezas que teremos que vencer:
insuficiências na gestão da economia e no sentido das responsabilidades,
medíocre qualidade dos produtos, burocracia, desperdício e roubo...
No entanto, com os esforços do Partido e do povo inteiro, com
o desenvolvimento da crítica e da autocrítica, e movidos pelo espírito de
união, conjugando estreitamente nossos esforços e determinados a se-
guir em frente, venceremos as dificuldades e alcançaremos sucessos mai-
ores. Nós não esqueceremos nem um só momento enquanto que no
Norte, nós edificamos uma nova vida em paz, nossos compatriotas do
Sul têm que sustentar uma luta plena de sacrifícios e de heroísmo contra
os imperialistas estadunidenses e seus agentes. Cada um de nós deve tra-
balhar por dois a fim de ser digno dos nossos queridos compatriotas.
Senhores e caros camaradas, Estamos infinitamente orgulhosos
dos nossos compatriotas do Sul. Para eles, os últimos dez anos foram
dez anos de lutas gloriosas e brilhantes vitórias. Há vinte anos, não ces-
saram de lutar para defender a Pátria, primeiro contra os colonialistas
franceses e em seguida contra os imperialistas estadunidenses. As forças
patrióticas do Sul superaram todas as dificuldades e quanto mais inten-
sificam sua luta, mais vitórias alcançam. O Sul merece ser chamado de
“A muralha de bronze da Pátria”.
Atualmente, os povos do mundo e mesmo a opinião americana
sabem que a guerra de agressão ao Vietnã do Sul está irremediavelmente
condenada ao fracasso. Mais ainda, certas personalidades dos meios go-
vernamentais americanos começam a compreender que os Estados Uni-
dos e seus lacaios já se encontram encostados na parede. Os imperialistas
introduziram no Vietnã do Sul bilhões de dólares, dezenas de milhares
de toneladas de armamentos e mais de 200 mil conselheiros militares
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 313 |

para comandar mais de meio milhão de homens da administração fan-


toche e conduzir uma guerra feroz contra nossos compatriotas. Resul-
tado: quanto mais eles intensificam suas guerras, mais sofrem derrotas e
se atolam. Por que este fiasco? Os imperialistas estadunidenses lamen-
tam da incapacidade de seus agentes. E creem poder remediar a situação
por meio de mudanças de “montagem”. Mas só tornam sua situação
mais crítica.
Eles atribuem responsabilidade ao fato de que as tropas sul-viet-
namitas não querem combater, o que é exato. Os soldados sul-vietnami-
tas têm sangue vietnamita nas veias. Como conceber que eles obedeçam
aos imperialistas estadunidenses e disparem sobre seus compatriotas?
Com o tempo, estes tomam consciência e procuram oportunidades para
voltar as armas contra os invasores e os traidores. Os agressores estadu-
nidenses e seus agentes acusam caluniosamente o Vietnã do Norte de
abastecer as forças patrióticas do Sul. No entanto, ninguém ignora que
as armas usadas por estas são simplesmente fornecidas pelas tropas mer-
cenárias. A própria imprensa estadunidense teve que reconhecer que, só
no último ano, os guerrilheiros do Sul puderam equipar-se com mais de
800 armas capturadas. De novo, os belicistas americanos e os seus cães
fazem barulho em torno de uma “marcha sobre o Norte”. Mas eles de-
vem compreender que se alguma vez ousarem pôr em execução esta
ação criminosa, serão empurrados para um humilhante fracasso: todo o
nosso povo se levantará como um só homem para lhe opor a mais feroz
resistência, os países socialistas e as forças progressistas do mundo in-
teiro prestar-nos-ão seu mais completo apoio, mesmo o povo estaduni-
dense e os países aliados dos EUA protestarão. A situação atual no Sul
mostra que o fracasso dos imperialistas em sua “guerra especial” é ine-
vitável. Eles fracassaram na guerra especial experimentada no Vietnã do
Sul no que diz respeito ao movimento de libertação nacional no mundo.
Em uma tal conjuntura, a opinião mundial, inclusive a opinião estaduni-
dense, está ativamente interessada em encontrar uma solução para a
guerra no Vietnã do Sul.
No que nos diz respeito, nunca deixávamos de afirmar que a
única solução correta para o problema vietnamita consiste em uma rigo-
rosa execução das cláusulas fundamentais dos Acordos de Genebra de
1954 sobre a Indochina. Em outras palavras, os países participantes na
Conferência de Genebra, entre os quais os Estados Unidos, devem agir
conforme os seus compromissos, respeitar a soberania, a independência,
a unidade e a integridade territoriais do Vietnã e não intervir nos seus
|314 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

assuntos internos. A administração de Saigon deve, à semelhança do go-


verno da República Democrática do Vietnã, executar corretamente as
cláusulas essenciais dos acordos: não participar em nenhuma aliança mi-
litar com um país estrangeiro, não permitir a um país estrangeiro instalar
bases militares e introduzir pessoal militar no seu território.
Nós apoiamos totalmente as justíssimas propostas avançadas
pela Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul reclamando o ces-
sar da intervenção americana e a retirada das tropas e dos armamentos,
para permitir à população do Vietnã do Sul dirigir ela própria seus pró-
prios assuntos em conformidade com o espírito do programa da Frente.
No que diz respeito à reunificação pacífica do país, nosso governo já,
por várias vezes, exprimiu seu ponto de vista com base no programa da
Frente da Pátria do Vietnã e no da Frente Nacional de Libertação do
Vietnã do Sul. Apoiamos totalmente o ponto 9 do programa da Frente
Nacional de Libertação que diz expressamente: “A reunificação pacífica
do pais é uma ardente aspiração de todos os nossos compatriotas. A
FNL do Vietnã do Sul preconiza a reunificação progressiva por meios
pacíficos segundo o princípio das negociações entre as duas zonas para
discutir as formas e as medidas a aplicar no interesse do povo e da Pátria.
Até a reunificação, os governos das duas zonas encetarão conversações,
comprometer-se-ão a não fazer nenhuma propaganda que vise dividir o
povo, nenhuma propaganda de guerra, e comprometer-se-ão a não re-
correr à força armada em suas relações. Serão estabelecidas trocas eco-
nômicas e culturais entre as duas zonas. Permitir-se-á às populações das
duas zonas circularem livremente nos dois sentidos, estabelecerem rela-
ções comerciais assim como trocas de correspondência e visitas”.
O povo vietnamita exprime seu sincero reconhecimento aos po-
vos dos países socialistas e aos outros povos do mundo pelo firme apoio
que concederam à justa luta dos nossos compatriotas do Sul e de todo o
nosso povo para a reunificação pacífica do Vietnã. Ao povo estaduni-
dense, gostaria de dizer o seguinte: a guerra injusta empreendida neste
momento pelo governo dos Estados Unidos no Sul do nosso país, cus-
tou ao povo americano muito dinheiro e muitas vidas humanas; man-
chou a honra dos Estados Unidos. Já é tempo de o povo deste país lutar
mais energicamente ainda para pôr termo a esta suja guerra, salvar a
honra dos Estados Unidos e estabelecer laços de amizade entre nossos
dois povos.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 315 |

Senhores e caros camaradas, No decurso dos últimos dez anos


sobrevieram no mundo grande transformações revolucionárias favorá-
veis à luta pela paz, pela independência nacional e pelo socialismo.
Há um século, Marx apelou o proletariado mundial a unir-se para
fazer a revolução. Há meio século, Lenin apelou o proletariado e os po-
vos oprimidos a unir-se para derrubar o imperialismo. Sob a direção de
Lenin e do Grande Partido Comunista Bolchevique, a Revolução de Ou-
tubro triunfou gloriosamente, foi fundada a poderosa União Soviética,
inaugurando uma nova era da história da humanidade, a era da vitória
do socialismo.
Quando da Segundo Guerra Mundial, a URSS aniquilando as
tropas fascistas, salvou a humanidade da sua dominação bárbara e criou
uma ocasião favorável à vitória da revolução em numerosos países.
Com o triunfo da Revolução Chinesa e a fundação da República
Popular da China, a balança das forças na arena internacional pendeu
nitidamente a favor da revolução, estimulando fortemente a luta dos po-
vos oprimidos e dos trabalhadores no mundo inteiro. O campo socialista
que nasceu, reforça-se constantemente e torna-se um fato determinante
da evolução da sociedade humana, um sólido apoio da luta de libertação
nacional na Ásia, na África e na América Latina.
Quanto mais o imperialismo sofre fortes fracassos e caminha
para seu declínio, mais feroz e aventureiro se torna. Todos os povos
percebem atualmente a natureza odiosa do imperialismo estadunidense,
agressor e belicista, que põe em execução pérfidos planos contra os pa-
íses socialistas, contra a independência e a soberania dos povos, contra
a paz e a segurança mundiais. Em todo lado, na Ásia, na África e na
América Latina, os povos ergueram-se para conduzir uma luta encarni-
çada contra os imperialistas, que tem à cabeça os Estados Unidos, e con-
quistaram gloriosas vitórias. A política externa do nosso Partido e do
nosso Estado visa a reforçar nossa solidariedade com os países socialis-
tas irmãos na base do marxismo-leninismo e do internacionalismo pro-
letário, a lutar resolutamente contra a política de agressão e de guerra do
imperialismo, a realizar a coexistência pacífica entre os países de regime
político e sociais diferentes, a apoiar energicamente o movimento de luta
para a libertação nacional e a defesa da independência nacional, a apoiar
o movimento de luta da classe operária e dos povos do mundo pela paz,
pela independência nacional, pela democracia e pelo socialismo. A reali-
dade destes últimos anos comprovou a absoluta justeza desta política
que obteve grandes sucessos. A posição internacional do nosso país não
|316 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

cessou de se afirmar. Nos beneficiamos da aprovação e do apoio cada


vez mais amplo e mais vigoroso dos países irmãos e de todos os outros
povos para a edificação do socialismo no Norte, para a luta de libertação
dos nossos compatriotas do Sul e para a luta de todo nosso povo pela
reunificação pacífica da Pátria.
Como parte integrante do Sudeste Asiático, nós apoiamos de
todo coração a luta dos povos deste setor contra a política de agressão e
de subjugação empreendida pelo imperialismo assim como pelo velho e
novo colonialismo.
Em relação ao Reino do Laos, nosso vizinho, empenhámo-nos
sempre em desenvolver relações de amizade em todos os domínios.
Apoiamos sem reserva a justa luta do povo laosiano contra a agressão
estadunidense, apoiamos os esforços despendidos pelo governo de uni-
dade nacional laosiana e pelo príncipe Souvanna Phouma, primeiro-mi-
nistro, na execução dos Acordos de Genebra de 1962 sobre o Laos e na
salvaguarda da paz e da neutralidade do Laos. Desejamos sinceramente
ao governo de unidade nacional laosiano uma rápida realização da con-
córdia nacional, rápida estabilização da situação para a edificação de um
Laos próspero. Em relação ao Reino do Camboja, preconizamos sem-
pre o estabelecimento de relações de boa vizinhança.
Nós apoiamos inteiramente a atitude do governo do Camboja
face às provocações e ameaças de agressão dos imperialistas estaduni-
denses e dos seus lacaios. Por várias vezes declaramos apoiar a proposta
do príncipe Sihanouk de reunir uma conferência internacional para ga-
rantir a neutralidade e a integridade territorial do Camboja, conferência
na qual nós estamos prontos a participar.
Nós temos a firme convicção de que com o apoio vigoroso dos
povos do mundo, o povo cambojano preservará sua independência e sua
soberania nacionais, sua neutralidade e sua integridade territorial, contri-
buindo dignamente para a salvaguarda da paz e da segurança neste setor.
Nós apoiamos inteiramente o povo da Indonésia que, sob a direção do
presidente Soekano, luta resolutamente contra o bloco da “grande Ma-
lásia”, criado pelos imperialistas para manter seus privilégios e prerroga-
tivas no Sudeste Asiático e ter um trampolim para suas ofensivas contra
o movimento de libertação nacional. O plano dos imperialistas está vo-
tado ao fracasso e a justa luta do povo da indonésia vencerá. No interesse
comum do movimento revolucionário mundial e da luta contra o impe-
rialismo, faremos o melhor possível para contribuirmos para a salva-
guarda e o reforço da união no seio do campo socialista e do movimento
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 317 |

comunista internacional. Com base na resolução do nono Plenário do


Comitê Central do Partido nós comprometemo-nos a prosseguirmos re-
solutamente com os partidos marxista-leninistas irmãos, a luta pela sal-
vaguarda da pureza do marxismo-leninismo e dos princípios revolucio-
nários estabelecidos pelas declarações de Moscou. Nós temos a plena
convicção de que as divergências de opiniões no movimento comunista
internacional serão eliminadas. O marxismo-leninismo vencerá, o
campo socialista e o movimento comunista internacional cerrarão ainda
mais sua unidade, reforçarão sua potência, e dando um vigoroso impulso
à luta revolucionária da classe operária e dos povos do mundo, alcança-
rão sucessos cada vez maiores a favor da paz, da independência nacional,
da democracia e do socialismo.
Senhores e caros camaradas, Estes são os grandes acontecimen-
tos que marcaram o último decénio no nosso país e no mundo. O nosso
povo cresceu, tornou-se mais forte e mais rico em experiência. Nós
avançamos a passos mais seguros no caminho da conclusão das nossas
tarefas revolucionárias: edificação do socialismo e de uma vitória nova
no Norte, apoio à luta patriótica dos nossos compatriotas do Sul, reali-
zação de um Vietnã pacífico, reunificado, independente, democrático e
próspero, contribuição para manutenção da paz no Sudeste Asiático e
no mundo. A fim de atingirmos estes importantes objetivos devemos de
imediato cumprir as seguintes tarefas:
1. Que todo nosso Partido, todo nosso povo e todo nosso exér-
cito fortaleçam ainda mais sua união. Que todos exaltem sua vontade de
luta, o espírito revolucionário, espírito que leva a desafiar privações e difi-
culdades, elevar a consciência de ser o dono coletivo, ousar pensar e ousar
agir, avançar ardentemente pelo cumprimento das suas tarefas, pela con-
clusão vitoriosa do plano do Estado deste ano e do primeiro quinquênio.
2. Conduzamos com êxito a campanha para o melhoramento da
gestão e da técnica, o desenvolvimento da gestão agrícola em todos aspec-
tos, com vigor e segurança assim como a campanha dos “3 prós e 3 con-
tras” na indústria e nos demais ramos da economia. Imprimamos um forte
impulso ao movimento para a participação dos habitantes da planície no
desenvolvimento econômico e cultural da região alta. Reforcemos a emu-
lação patriótica, realizemos um bom desenvolvimento dos grupos e das
brigadas de trabalho socialistas e das cooperativas agrícolas de vanguarda.
3. Reforcemos incessantemente o poder popular. Apliquemos
corretamente a democracia para o povo e a ditadura para o inimigo.
|318 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Observemos estritamente as leis e regulamentos do Estado. Organize-


mos devidamente as próximas eleições para a Assembleia Nacional
(terceira legislatura). Consolidemos as forças de defesa nacional, man-
tenhamos a ordem e a segurança, estejamos alerta, prontos a esmagar
todas as provocações e atos de sabotagem dos imperialistas americanos
e dos seus lacaios.
4. Ajudemos de todo o coração e com todas nossas forças a luta
patriótica dos nossos compatriotas do Sul. Que cada um trabalhe com
ardor para contribuir efetivamente para a edificação do socialismo no
Norte e para a luta para a reunificação pacífica do país.
5. Exaltemos o internacionalismo proletário, mantenhamos e de-
senvolvamos a amizade com países socialistas irmãos, apoiemos de todo
o coração o movimento de libertação dos povos, unamo-nos à classe
operária e aos povos do mundo na sua luta contra o imperialismo enca-
beçado pelos EUA, pela paz, pela independência, pela democracia e pelo
socialismo. A revolução é uma obra de longa duração e árdua, mas ne-
cessariamente vitoriosa.
Que cada um de nós, sejam quais forem seu trabalho e sua situ-
ação, seja um valente combatente nesta luta gloriosa. Que os quadros do
Partido, do Estado e das organizações populares, os membros do Par-
tido e da União da Juventude Trabalhadora sejam exemplares na produ-
ção e no trabalho, servindo o povo de todo coração e com todas as suas
forças, elevando constantemente as suas virtudes revolucionárias de tra-
balho, de economia, de integridade e de justiça.
Façamos desabrochar as tradições de heroísmo do nosso povo,
estejamos prontos a fazer todos os sacrifícios, lutar pelo interesse su-
premo da pátria, do povo e da revolução mundial. Esperam-nos grandes
e gloriosas vitórias.
Que todo nosso Partido, todo nosso povo avance corajosamente!
Senhores e caros camaradas!
Acabo de vos expor alguns pontos de vista. Espero que os dis-
cutíeis e os completeis.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 319 |

Alocução por ocasião do XX Aniversário


da fundação do Exército Popular

Camaradas!

Por ocasião do 20º aniversário da fundação do Exército Popular


do Vietnã, em nome do Comitê Central do Partido e do governo, felicito
afetuosamente as forças regulares, as forças regionais, as forças de segu-
rança popular armadas, as milícias populares em todo o país pelos seus
méritos, pelos seus sucessos nos combates, pelos seus progressos nos
estudos assim como no trabalho e na produção.
Estou feliz por desejar boas-vindas ao general Kim Tsang Bom
e aos camaradas da delegação militar da irmã República Popular Demo-
crática da Coréia e desejo bons resultados a sua visita de amizade.
O nosso exército é o exército heroico de um povo heroico.
Desde sua nascença, munido simplesmente de paus e mosquetes, com-
bateu conjuntamente com o povo os agressores franceses, depois os
agressores japoneses e conduziu a Revolução de Agosto à vitória. Há
dez anos, conjuntamente com o povo alcançou a vitória de Dien Bien
Phu e levou ao fracasso a guerra de agressão do imperialismo francês
ajudado pelo imperialismo estadunidense.
Valente na guerra de resistência, ele o é igualmente em tempos
de paz. Defendeu com êxito o Norte, aniquilando todos os atos de pro-
vocação e sabotagem dos imperialistas estadunidenses e dos seus agen-
tes. Ele ripostou vigorosamente aos imperialistas estadunidenses, como
na jornada de 5 de agosto.
Contribuiu também de forma ativa para a edificação econômica
e para o desenvolvimento cultural, desempenhando igualmente bem as
tarefas que incubem a um exército revolucionário.
O nosso Exército fiel ao Partido e dedicado ao povo está pronto
a sacrificar-se pela independência e pela liberdade da Pátria e pelo soci-
alismo, a cumprir devidamente todas as tarefas, ultrapassar qualquer di-
ficuldade, vencer qualquer inimigo.
|320 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Quadros e combatentes estimam-se como irmãos e comparti-


lham tristezas e alegrias. Exército e povo são como unha e carne; estrei-
tamente unidos, aprendem um com o outro e ajudam-se mutuamente.
O nosso Exército animado de um autêntico patriotismo e de um
elevado internacionalismo proletário, fortalece constantemente sua
união com os povos e os exércitos dos países socialistas irmãos, com os
povos dos países em luta pela sua libertação nacional e com os povos
amantes da paz no mundo.
O nosso Exército é invencível porque é um exército popular,
fundado, educado e dirigido pelo nosso Partido.
Os nossos quadros combatentes devem ser sempre modestos,
procurar ultrapassar-se, desenvolver as suas qualidades e as suas tradições
revolucionárias, seguir o exemplo da vontade de combater e vencer das
forças armadas e da heroica população do Sul em sua luta patriótica contra
os imperialistas estadunidenses agressores e a claque dos seus lacaios.
O inimigo nutre sempre fins pérfidos. Nosso povo e nossas for-
ças armadas devem exercer toda sua vigilância, manter-se prontos para
combater, participar com ardor do movimento de emulação patriótica
no espírito de “cada um trabalha por dois” para edificar e defender o
Norte socialista para torná-lo uma base sólida para a libertação do Sul e
a reunificação pacífica da Pátria.
A vitória será nossa.

23 de dezembro de 1964
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 321 |

Alocução na Assembleia Nacional

Camaradas!

A presente sessão da Assembleia Nacional desenrola-se em uma


situação muito mais tensa, mas também em maior entusiasmo e na maior
confiança. A resistência patriótica à agressão ianque atinge o seu auge
em todo o país. Tanto no Norte quanto no Sul do Vietnã, nós conquis-
tamos grandes vitórias.
Há mais de dez anos, os imperialistas estadunidenses conduzem
uma guerra atroz, semeando o luto e as ruínas no Sul. Nestes últimos
meses, estenderam de maneira desenfreada a guerra no Norte. Despre-
zando os acordos de Genebra de 1954 e as convenções internacionais,
centenas e aviões e dezenas de navios de guerra dos Estados Unidos
bombardearam continuamente numerosas localidades do Norte. Os im-
perialistas norte-americanos entregam-se assim a uma agressão cínica
contra o nosso país, desmascarando sua face de salteadores. Eles pensam
submeter 31 milhões de vietnamitas pela força das armas. Enganam-se
profundamente e espera-os uma pesada derrota. O nosso povo é um
povo heroico. Há mais de dez anos que os 14 milhões dos nossos com-
patriotas do Sul combateram com uma coragem prodigiosa, suportando
os piores sacrifícios e consentindo os maiores sofrimentos. Com as mãos
vazias, arrancaram as armas aos inimigos para voltá-las contra eles, con-
quistaram vitórias após vitórias, conduziram uma ofensiva contínua, in-
fligiram aos invasores e aos traidores derrotas cada vez mais pesadas que
os levam a atolarem-se cada vez mais. Vencido, o inimigo recorreu às
máquinas de destruição mais bárbaras, napalm e gases tóxicos, visando
exterminar nossos compatriotas do Sul. Procurando salvar-se de seu
naufrágio no Sul, lança ataques furiosos contra o Norte.
|322 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Tal como o bandido que repreende o ladrão, os imperialistas es-


tadunidenses agressores acusam com cinismo o Vietnã do Norte de “in-
vadir” o Sul. Eles sabotam a paz e os Acordos de Genebra e declaram
desavergonhadamente que é para salvaguardar a paz e defender estes
acordos que suas tropas vieram a nossa pátria e se entregam aí a morti-
cínios e destruições. Arrasaram nosso país e massacraram nossos com-
patriotas, e proclamam hipocritamente que estão prontos a conceder ao
povo vietnamita e aos outros países do Sudeste Asiático uma ajuda de
um bilhão de dólares para “desenvolver” sua economia e aumentar o
nível de vida da sua população.
O Presidente Johnson ameaça empregar a força para subjugar-
nos. Isto é pura loucura pois nosso povo nunca se deixará subjugar.
O plano Taylor foi um fiasco e o Plano McNamara fracassou. A
escalada que os imperialistas estadunidenses tentam no Vietnã do Norte
terá a mesma sorte. Mesmo que ainda enviem centenas de milhões de
GIs, e procurem arrastar para esta guerra criminosa novos soldados dos
países satélites, nossas forças armadas e nosso povo mantêm-se deter-
minados e combatê-los e vencê-los.
A declaração da Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul
proclamou abertamente esta heroica vontade. O apelo da Frente da Pá-
tria do Vietnã vibra inteiramente com esta vontade inabalável. Nós ama-
mos a paz, mas a guerra não nos mete medo. Nós estamos determinados
a expulsar os invasores estadunidenses para preservar nossa liberdade,
nossa independência e nossa integridade territorial.
O nosso povo tem a firme convicção de que, graças a sua união
na luta, a sua coragem, a sua inteligência criadora, e fortalecido com a
aprovação e o apoio dos povos do mundo, conduzirá seguramente esta
grande guerra de resistência até a vitória final. O povo vietnamita ex-
prime a mais profunda gratidão e a mais alta consideração pela solidari-
edade fraternal e pela ajuda devotada dos países socialistas, em primeiro
lugar da União Soviética e da República Popular da China e dos povos
do mundo que apoiam ativamente a sua luta contra o imperialismo esta-
dunidense, inimigo número um da humanidade.
Nós reforçamos nossa união com os povos do Laos e do Cam-
boja e prestamos-lhes um apoio total na corajosa luta que estes condu-
zem contra os imperialistas estadunidenses e seus lacaios. Nós aclama-
mos calorosamente os jovens voluntários dos diferentes países que ex-
primiram seu desejo de combater nas nossas fileiras.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 323 |

O povo estadunidense é enganado por seu governo que lhe


rouba bilhões de dólares para gastar na voragem da guerra. Milhares de
jovens americanos foram mortos ou feridos de forma trágica nos cam-
pos de batalha do Vietnã, a dezenas de milhares de milhas do seu país.
Inúmeras organizações e personalidades dos Estados Unidos exigem do
seu governo o cessar desta guerra injusta e a retirada imediata das tropas
no Vietnã do Sul. Nosso povo está determinado a expulsar os imperia-
listas estadunidense, nosso inimigo mortal. Mas nós não deixaremos de
registrar nossa simpatia ao povo progressista dos EUA.
O governo da República Democrática do Vietnã reafirma sole-
nemente a sua posição inabalável: Ele está decidido a salvaguardar a in-
dependência, a soberania, a unidade e a integridade territorial do país. O
Vietnã é um, a nação vietnamita é una. Nada pode atingir estes direitos
sagrados do nosso povo. Os imperialistas americanos devem respeitar
os Acordos de Genebra, retirar-se do Vietnã do Sul e cessar imediata-
mente os ataques contra o Vietnã do Norte. Este é o único meio de
resolver o problema vietnamita, de assegurar a aplicação dos Acordos de
Genebra de 1954, de preservar a paz na Indochina e no Sudeste Asiático.
Não há outra solução. Esta é a resposta de nosso povo e do nosso go-
verno aos imperialistas estadunidenses.

Camarada!

Vivemos em uma época infinitamente gloriosa de nossa história.


Cabe-nos a honrosa insígnia de estarmos em posição avançada do
campo socialista e dos povos em luta contra o imperialismo, contra o
colonialismo e o neocolonialismo.
Nós combatemos e consentimos sacrifícios pela nossa liberdade
e pela nossa independência, e também pela liberdade e pela independên-
cia dos outros povos, assim como pela paz do mundo.
Fazendo isto, nós cumprimos uma tarefa muito pesada, mas in-
finitamente gloriosa.
Combater os imperialistas estadunidense para a salvação da Pá-
tria é o dever mais sagrado de cada vietnamita patriota. Sob a direção da
Frente Nacional de Libertação, único representante autêntico do povo
sul-vietnamita, o povo e o exército do Sul heroico marcham rumo a vi-
tória cada vez maior, para libertar o Sul e defender o Norte.
|324 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

No Norte, nosso povo e seu exército redobram os esforços para


construírem o socialismo, combatendo de forma corajosa para defender
o Norte e dar apoio mais devotado aos compatriotas do Sul.
Proponho à Assembleia Nacional aclamar calorosamente a De-
claração da Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul e o Apelo
da Frente da Pátria do Vietnã. Saudemos calorosamente os compatriotas
e os combatentes do Sul heroico! Enviemos nossas felicitações mais ca-
lorosas ao povo e ao Exército do Norte pelos seus esforços na produção
e pelos seus feitos na luta patriótica.
Apelo aos nossos compatriotas e aos nossos combatentes:
Erguei bem alto o vosso heroísmo revolucionário, redobrai de
vigilância e de combatividade!
Ativai o movimento de emulação de “que cada um trabalhe por
dois”, estejais determinados a ultrapassar todas as dificuldades, a dispen-
sar todos os esforços para a edificação e defesa do Vietnã do Norte so-
cialista, a apoiar de todo coração a luta patriótica dos nossos compatri-
otas do Sul. Reforcemos nossa unidade! Que nossos milhões de corações
batam em uníssono! Estejamos decididos a vencer os imperialistas esta-
dunidenses agressores! Pelo futuro da Pátria e pela felicidade do povo,
compatriotas e combatentes em todo o país, avançai corajosamente!

1º de abril de 1965
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 325 |

Apelo à Nação

Compatriotas e combatentes de todo país!

Os imperialistas estadunidenses desencadearam da maneira mais


bárbara uma guerra de agressão para conquistar o nosso país, mas eles
estão prestes a sofrer grandes derrotas.
Eles enviaram um maciço corpo expedicionário de cerca de 300
mil homens para o sul do nosso país. Sustentam uma administração e
um exército fantoches, instrumentos da sua política de agressão. Utili-
zam meios de guerra extremamente selvagens, bombas de napalm, pro-
dutos químicos tóxicos, etc. Sua política consiste em incendiar tudo.
Com estes crimes, pensam vergar os nossos compatriotas Sul.
Mas sob a firme e hábil direção da Frente Nacional de Liberta-
ção, o exército e a população do Sul, estreitamente unidos e combatendo
com heroísmo, alcançaram gloriosas vitórias e estão determinados a
combater até a vitória total para libertar o Sul, defender o Norte e avan-
çar à reunificação do país.
Os agressores estadunidenses lançaram descaradamente ata-
ques aéreos contra o Norte do nosso país na esperança de saírem da
sua desastrosa situação do Sul e de impor-nos “negociações” sob
suas condições.
Mas o Norte permanece inabalável. O nosso exército e o nosso
povo redobraram o seu ardor para produzir e combater com heroísmo.
Até hoje, abatemos mais de 1200 aviões inimigos. Estamos determina-
dos a aniquilar a guerra de destruição do inimigo e a apoiar com todas
as nossas forças os nossos irmãos do sul. Ultimamente, os agressores
estadunidenses galgaram um perigoso degrau na sua escalada. Eles ata-
caram a periferia de Hanoi e Haifong. Isto é um ato de desespero, o
sobressalto de uma fera mortalmente ferida.
Johnson e os seus acólitos que o digam: podem mandar 500 mil
homens, um milhão, ou mesmo mais, para intensificar a guerra de
|326 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

agressão no Vietnã do Sul; podem utilizar milhares de aviões para mul-


tiplicar os ataques contra o Norte, mas jamais poderão abalar a nossa
vontade de ferro de combater a agressão americana para a salvação na-
cional. Quanto mais se mostram agressivos, mais agravam o seu crime.
A guerra poderá durar ainda cinco anos, dez anos, vinte anos ou mais,
Hanoi, Haifong assim como um certo número de outras cidades e em-
presas poderão ser destruídas, o povo vietnamita não se deixará intimi-
dar. Não há nada mais precioso do que a independência e a liberdade.
Após a vitória, nosso povo reconstruirá o país, tornando-o melhor,
maior e mais belo.
É notório que cada vez que se preparam para intensificar sua
criminosa guerra, os agressores estadunidenses recorrem sempre ao em-
buste das “negociações de paz” na esperança de enganar a opinião mun-
dial e de acusar o Vietnã de não querer “negociações de paz”.
Quem sabotou os acordos de Genebra que garantem a sobera-
nia, a independência, a unidade e a integridade territoriais do Vietnã? As
tropas vietnamitas invadiram os Estados Unidos e massacraram os ame-
ricanos? Não, foi o governo dos Estados Unidos que enviou tropas es-
tadunidenses invadir o Vietnã e massacrar os vietnamitas? Respondei,
presidente Johnson, a estas perguntas, publicamente perante o povo dos
Estados Unidos e os povos do mundo!
Que os Estados Unidos terminem sua guerra de agressão ao Vi-
etnã e retirem todas suas tropas e as dos países satélites e a paz voltará
imediatamente. A posição do Vietnã é clara: consiste nos quatro pontos16

16. Os 4 pontos da República Democrática do Vietnã: 1) Reconhecimento dos direitos


nacionais fundamentais do povo vietnamita: paz, independência, soberania, unidade e
integridade territorial. Conforme os acordos de Genebra, o governo dos EUA deve
retirar suas tropas, pessoal militar e armas de todas espécies para fora do Vietnã do Sul,
liquidar bases militares que estabeleceu e abolir sua “aliança militar” com Saigon. O
governo estadunidense deve pôr fim a sua política de intervenção e de agressão ao
Vietnã do Sul. Conforme os acordos de Genebra, o governo americano deve pôr fim
aos seus atos de guerra contra o Vietnã do Norte, cessar imediatamente todo e qualquer
atentado contra o território e contra a soberania da República Democrática do Vietnã.
2) Até a realização da reunificação do Vietnã por meios pacíficos, e enquanto nosso
país continuar provisoriamente dividido em duas zonas, é preciso respeitar disposições
militares dos Acordos de Genebra de 1954 sobre o Vietnã, tais como a abstenção para
as duas zonas em participar em qualquer aliança militar com um país estrangeiro, a
interdição de estabelecer bases militares, de introduzir tropas e pessoal militar estran-
geiro em nosso território. 3) Os assuntos do Vietnã do Sul devem ser regulados pelo
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 327 |

do Governo da República Democrática do Vietnã e nos cinco pontos17


da Frente de Libertação do Vietnã do Sul. Não há outra via! O povo
vietnamita ama profundamente a paz, uma paz verdadeira, a paz na in-
dependência e na liberdade e não uma falsa paz, uma “paz americana”.
Para a independência da Pátria, para cumprir nosso dever pe-
rante os povos em luta contra o imperialismo americano, o nosso povo
e o nosso exército, unidos como um só homem combaterá resoluta-
mente até a vitória final, sejam quais forem os sacríficos e as privações.
Ainda há pouco, em condições muito mais difíceis, nós vencemos os
fascistas japoneses e os colonialistas franceses. Hoje, as condições naci-
onais e internacionais são mais favoráveis, a luta do nosso povo contra
a agressão americana pela salvação nacional será certamente vitoriosa.

●●●

Caros compatriotas e combatentes!

Estamos certos da justeza da nossa causa, da nossa união nacio-


nal de Norte a Sul, da nossa tradição de luta indomável, da simpatia e do
amplo apoio dos países socialistas irmãos e dos povos progressistas do
mundo inteiro.

Venceremos!

seu povo, segundo o programa político da Frente Nacional de Libertação, sem inter-
venção estrangeira. 4) A reunificação do Vietnã por meios pacíficos será assunto da
população das duas zonas sem ingerência estrangeira.
17. Os cinco pontos da Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul: 1) O sabotador
dos Acordos de Genebra, o favorecido da guerra o agressor, descarado, inimigo jurado
do povo vietnamita é o imperialismo ianque. 2) O povo heroico do Vietnã do Sul está
decidido a expulsar os imperialistas estadunidenses para libertar o seu território, fundar
um Vietnã do Sul independente, democrático, pacifico e neutro, encaminhando-se
rumo a reunificação da pátria. 3) O povo e as forças de libertação do heroico Vietnã
do Sul estão decididos a realizar da forma mais completa a missão sagrada que lhes está
destinada: expulsar os imperialistas estadunidenses para libertar o Sul e preservar o
Vietnã do Norte. 4) O povo do Vietnã do Sul exprime o seu profundo reconhecimento
aos povos amantes da paz e da justiça do mundo inteiro pelo seu apoio caloroso a
declarar-se pronto a aceitar toda a ajuda, incluindo a ajuda em armamento ou outros
meios de guerra dos seus amigos dos cinco continentes. 5) Formando um só bloco,
nosso povo em armas continua a avançar heroicamente, decidido a combater e a vencer
os piratas americanos e os traidores, seus lacaios.
|328 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Perante a situação que acaba de se criar, estamos unanimemente


determinados a suportar todas as privações e a consentir todos os sacri-
fícios para levar a bom termo a gloriosa tarefa histórica que cabe ao
nosso povo: vencer os agressores estadunidenses!
Em nome do povo vietnamita, aproveito esta ocasião para agra-
decer calorosamente aos povos dos países socialistas e aos povos pro-
gressistas do mundo, incluso o povo estadunidense, por seu apoio e seu
auxílio devotados. Perante as novas intrigas e os novos crimes dos im-
perialistas americanos, estou convencido de que os povos e os governos
dos países socialistas irmãos, dos países amantes da paz e da justiça no
mundo apoiarão e ajudarão ainda mais vigorosamente o povo vietnamita
em sua luta patriótica contra a agressão americana até a vitória total. O
povo vietnamita vencerá!

Os agressores americanos serão vencidos!

Compatriotas e combatentes em todo país, avançai corajosamente!

Viva o Vietnã pacifico, reunificado, independente, democrático


e próspero!

17 de julho de 1966
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 329 |

Palestra de um curso de aperfeiçoamento de


dirigentes do escalão de distrito

Caros amigos!

Estou hoje muito feliz, pois acontece raramente encontrar-me


com tantos camaradas dos comitês de distrito.

Quantos somos nesse curso?

— No total somos 288, Tio, dos quais 131 são do escalão de


distrito. Quantas mulheres?

— Seis, meu Tio.

É muito pouco, e isto é uma lacuna dos camaradas responsáveis


pelo curso.
Eles não dão ainda atenção suficiente ao aperfeiçoamento dos
quadros femininos. Mas, é também uma lacuna geral do Partido.
Não se aprecia devidamente as capacidades das mulheres, dão-
se frequentes provas de preconceitos e de estreiteza de espíritos em
relação às mulheres. Isto é um grande erro.
Atualmente, numerosas mulheres participam do trabalho de di-
reção nas bases. Muitas dentre elas demonstraram-se muito capazes.
Jovens meninas são dirigentes de cooperativas ao nível de toda a aldeia;
são plenas de ardor e fazem muito bem o seu trabalho.
As mulheres nas cooperativas têm muitas qualidades: ao contrário
dos homens, raramente caem na corrupção e no desperdício, não gostam
de fazer festins, são pouco dadas ao autoritarismo, não é verdade?

Se achardes que estou errado, diga!


|330 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Desejo que vos cureis de preconceitos e de toda estreiteza de


espírito em relação às mulheres.
Vós, mulheres, sobretudo as do escalão de distrito, deveis lutar
energicamente. Se não o fizerdes, não espereis que os homens se cor-
rijam tão depressa.

●●●

Este curso visa fazer-vos compreender a linha de luta patriótica


contra a agressão estadunidense, a linha de edificação do socialismo no
Norte do nosso país, a linha da guerra do povo, a orientação no desen-
volvimento da agricultura, assim como a do trabalho do Partido e do
trabalho junto das massas na conjuntura atual, para permitir que se cum-
pra melhor vossa tarefa no combate, na produção, no melhoramento na
vida do povo, e na edificação das organizações de base, a fim de que o
comitê de distrito do Partido satisfaça os critérios dos 4 “bem”.
Na conjuntura atual, tal objetivo e tal conteúdo do curso tão
completamente realistas. Os camaradas do Comitê Central fizeram-vos
algumas conferências. Compreenderam-nas?

— Sim, querido Tio.

A propósito de estudo, vou contar-vos uma história que já re-


peti muitas vezes. Foi na altura da resistência contra os colonialistas
franceses. Uma vez, regressando de uma visita de trabalho, vi alguns
camaradas prestes a repousar a sombra de uma grande figueira.

— Donde vindes, meus irmãos e irmãs, perguntei eu.


— Regressamos de um curso.
— O que é que estudastes?
— Karl Marx.
— Isto é interessante?
— Muito interessante.
— E vós compreendestes?
Embaraçados, eles responderam-me:
— Querido Tio, há coisas difíceis, que não podemos compreender.

Tais estudos não são realistas.


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 331 |

Eis outra história. Foi antes da Revolução de Agosto, na zona


libertada, em Tan Trao. Um dia, dois quadros, um homem e uma mu-
lher, vieram fazer umas conferências em uma associação cultural.
Como falavam de forma copiosa, eu perguntei a um dos meus vizinhos
se ele compreendia alguma coisa do que diziam. Ele abanou a cabeça e
disse-me que não. Isto era de prever, pois os camaradas falavam muito
e empregavam palavras demasiado eruditas. O nível de instrução dos
nossos compatriotas nesta época era ainda bastante baixo para com-
preenderem termos tais como “subjetividade”, “objetividade”, “posi-
tivo”, “negativo” e etc.
Contei-vos algumas histórias para explicar-vos que hoje nossos
estudos devem ser realistas e devem permitir-nos realizarmos melhor
o nosso trabalho. Quando tiverdes de iniciar cursos para os quadros e
os membros do Partido nas comunas, é preciso inspirar-vos no espírito
do curso que seguis aqui.
O vosso curso está no fim. Eu tenho de vos fazer recomendações:
1. Importa assimilar bem a linha e as políticas concretas do Par-
tido, esforçar-se por garantir um contato estreito com a base e as coo-
perativas para estar à par da situação na produção e na vida da popula-
ção, da situação das células do Partido e das organizações de massa.
Isto permitirá tomar oportunamente decisões e medidas justas.
Isto talvez vós já o sabeis. Eu recordo-vos apenas que é neces-
sário estar em contato estreito com a base, permanecer aí para assegu-
rar a direção do movimento e evitar ter apenas contatos intermitentes.
Isto parece fácil, mas a aplicação deixa ainda a desejar. Certos camara-
das dos comitês de distrito não se dedicam ainda de corpo e alma às
organizações de base, deixam-se desanimar pelas dificuldades e pelas
privações, e também não tem a noção exata da situação concreta a lo-
calidade que tem a cargo.
Cada comitê de distrito conta hoje com de quinze a vinte ca-
maradas. Deveis repartir a tarefa, tomando cada um a seu cargo uma
ou duas comunas para aproximá-las. Ligar-se a realidade para conhecer
a situação das cooperativas, mas ainda das famílias, nos pontos de vista
da alimentação, habitação, estudos, saúde. Se não estais em contato
estreito com a base, se não conheceis a situação da produção e a vida
do povo, como podeis aplicar judiciosamente a linha e as políticas con-
cretas do Partido, aplicar as decisões do escalão provincial às condições
do vosso distrito?
|332 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

2. Velai pela boa edificação das cooperativas, das células do


Partido, da União da Juventude, da União das mulheres.
A célula constitui o alicerce do Partido. Se esta é boa, tudo corre
bem. É por isto que deveis ter no coração edificar bem a célula, fazer
de forma a que responda ao critério dos 4 “bem”. Trabalhai de forma
eficaz, evitai todo o formalismo, evitai fazer relatórios inexatos.
Para que a célula responda ao critério dos 4 “bem”, é necessário
antes de mais nada que seus membros se demonstrem exemplares, apli-
quem estritamente a política do Partido, respeitem efetivamente o di-
reito do povo de ser dono do seu próprio destino, se mostrem atentos
à opinião das massas; só assim podem ganhar a confiança, respeito e
afeto da população. Nesta condição, tarefas mais árduas podem ser le-
vadas a bom termo.
Os membros da União da Juventude e das Brigadas de Juven-
tude de Choque devem ser os braços da célula, os elementos da van-
guarda na produção e no combate. Os comitês de gestão das coopera-
tivas devem das provas de democracia e lutar contra a corrupção e o
desperdício. A corrupção é ainda frequente nas cooperativas. Quem
deve arcar com a responsabilidade? É o distrito? Entre os quadros de
distrito, os que caem na corrupção, no autoritarismo? Compete-vos
controlar isso severamente.
3. Os quadros e os membros do Partido devem estar unidos,
fazer reinar a democracia e a disciplina no seio do Partido. Velhos ou
novos, homens ou mulheres, todos devem estimar-se, ajudar-se mutu-
amente, a fim de progredirem juntos. Entre os quadros do Partido há
quadros velhos e há quadros jovens. Os velhos são um capital precioso
para o Partido, tem a experiência da direção, a luta temperou-os. Mas
certos veteranos, em um dado momento, não podem progredir mais;
eles vacilam, agarram-se ao velho, já não são permeáveis ao novo. Os
quadros jovens, pelo contrário, se lhes faltam algumas qualidades dos
velhos, estão plenos de ardor e são muito sensíveis a tudo o que é novo;
preocupam-se em estudar e fazem progressos muito rápidos.
O nosso Partido deve associar habilmente os jovens e os vete-
ranos. Evitemos subestimar os jovens. Certos quadros antigos são ple-
nos de suficiência e vem em si próprio demasiado mérito, mostram-se
paternalistas em relação aos principiantes, não querem ouvir nada do
que dizem os jovens membros do Partido, achando que eles querem
sobrepor-se aos seus mestres. Na nossa época prodigiosa, a sociedade,
o mundo, evolui muito rapidamente. Os quadros mais velhos erram ao
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 333 |

dar pouca importância aos jovens quadros. Por seu lado, os jovens de-
vem evitar cair no orgulho, devem pelo contrário aprender com mo-
déstia junto dos camaradas mais experientes.
Pelo Partido e pelo povo, os quadros e os membros do Partido
devem dispender os maiores esforços. Todos devem estudar a política,
a economia, as ciências e a técnica para elevarem suas capacidades a
fim de poder desenvolver a economia nacional, vencer no combate e
melhorar cada vez mais as condições do povo. Ainda há pessoas que
pensam que é sabedoria a mais falar de ciências e de técnica. Mas se
nós utilizaremos uma linguagem corrente e simples, nossa linguagem
de todos os dias, então isto não tem nada de demasiado sábio, nem de
inacessível. Assim a cultura da azolha é ciência e técnica. Do mesmo
modo, a preparação do estrume. A ciência e a técnica são isto. Se não
nos dermos ao trabalho de estudar, não poderemos dirigir a produção
e elevar o rendimento das culturas.
4. Para desencadear um grande movimento na produção e no
combate é necessário apoiar-se nas massas, de forma a que eles sejam
sempre entusiastas e confiantes.
No quer que se faça, é necessária a participação das massas.
Sem elas, nada se pode fazer. Ultimamente, o Nhan Dan (O Povo) re-
latou uma história de defesa aérea.
Os quadros de uma comuna reuniram-se para discutir a cons-
trução de abrigos.
Isto exigia dezenas de milhares de tijolos, milhares de bambus
e centenas de milhares de dongs. Era uma despesa enorme e um traba-
lho de difícil realização.
Uma jovem engenheira propôs expor o problema à população. Re-
uniu-se então as pessoas para se lhes expuserem a tática do inimigo que
metralhas às cegas, e a necessidade para nós de escavar abrigos e proteção.

Como fazê-lo?

Ofereceram-se algumas tábuas, umas dezenas de tijolos, alguns


bambus. Em dois dias, todos os abrigos estavam construídos. Na pro-
víncia de Quang Bihn, e na região de Linh Vihn, por se ter seguido a
linha de massas e se ter apoiado na população, conseguiu-se escavar
milhares de quilômetros de corredores e trincheiras e centenas de mi-
lhares de abrigos. Assim, com a participação das massas, a tarefa mais
árdua torna-se mais fácil e pode ser levada a bom termo. Os camaradas
|334 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

da província de Quang Bihn sempre dizem com razão: “Sem o povo,


não se poderia cumprir a tarefa mais simples. Com o povo pode-se
chegar ao fim da tarefa ais árdua”.
Nas províncias de Thai Bihn e de Quang Bihn e em outros lu-
gares, está-se em vias de fazer o “bao cong”18 e o “binh cong”19. Toda
a gente pode ver quem trabalha bem e quem não trabalha ou trabalha
mal. Isto é democrático e é uma excelente forma de crítica e de auto-
crítica. Desta forma, as pessoas educam-se entre si e até educam os
quadros. Pois se existem bons quadros que juntam o ato a palavra, ou-
tros há que não trabalham e contentam-se em dar ordens. O “binh
cong” e o “bao cong” constituem ainda um meio prático para encon-
trar bons elementos que poderemos educar admitir no Partido e aper-
feiçoar para torná-los quadros. Desta forma, nunca nos faltarão qua-
dros. Eis uma excelente maneira de edificar o Partido.
Mas há camaradas que não agiram desta forma. Até agora, em
certos lugares, as pessoas não formularam ainda sua opinião ou não
ousaram fazê-lo com medo de provocar o rancor dos quadros ou de
lhe ser colocada esta ou aquela etiqueta. Em geral, os quadros que tem
defeitos tem medo de que as pessoas falem. Mas se for sincero para
com o povo, se reconhecer os erros e se pedir desculpa, o povo estará
disposto a desculpar. A nossa população é muito valente, ama muito
Partido e os quadros. Se nós reconhecermos nossos erros, ela não nos
detestará, nem nos desprezará, como nos amará e estimará ainda mais,
concedendo-nos uma maior confiança.
5. De imediato, a campanha do arroz do inverno-primavera exige
trabalhos urgentes. Importa conclui-los a tempo. Tratar dos búfalos e
dos bois. Alimentá-los bem, não os deixar sofrer com o frio. Deveis in-
culcar nas pessoas o espirito da economia. Que evitem festejar por tudo
e por nada. E necessário proibir a fabricação de álcool de contrabando,
o abate de porcos e de bois para fazer festins. Os camaradas responsá-
veis do escalão de distrito devem ir junto das comunas observar e con-
trolar. Que evitem agir de forma burocrática, contentando-se em trans-
mitir às comunas as papeladas recebidas da província. As papeladas ao
poderão preservar o gado do frio. Se os animais emagrecerem por causa
do frio e da fome, isso será nefasto para a produção.

18. Falar dos seus méritos.


19. Avaliar os méritos.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 335 |

E de resto tratar do gado, é para servir a produção e não para


se divertir! Eis que se aproxima o Têt 20 e é preciso pensar em ser eco-
nômico. O escalão central não cessou de relembrar “dispendamos to-
dos os nossos esforços na produção e na prática da economia”. Nu-
merosas regiões aplicaram corretamente essa diretiva. Mas em certos
locais as palavras, digamos que sofreram um desvio na sua rota, e “tiet
kiem”21 transformou-se em “tiet canh”.22
Tenho provas para apoiar o que digo. Eis uma passagem reti-
rada de um jornal de Haifong: “Porque os quadros dão o mau exemplo,
o abate abusivo de porcos é ainda frequente na comuna de My Phuc.
Abatem-se dois porcos para inaugurar uma estação de motores
de rega, quatro porcos quando a cooperativa faz o balanço de suas ati-
vidades, um porco porque uma equipe de produção organiza uma re-
feição comum, etc.”.
Eis outra passagem: “as comunas de Doan ket e Ngo Quyen
do distrito de Thanh Mien abateram ilegalmente vários porcos, bois e
búfalos para fazer uma patuscada”.
Os quadros e os membros do Partido que agem desta forma
dão um mau exemplo. Se isto se passar assim é porque não há demo-
cracia. Os membros do Partido não ousam falar, a população não ousa
falar. Como quereis vós que os cooperadores não tenham motivo de
queixa e que a cooperativa possa progredir? Enquanto a população tra-
balha dia e noite, um punhado de gente não procura senão fazer paró-
dias, e ainda mais paródias.
Isto são mãos exemplos. Mas há também localidades onde as
coisas são feitas corretamente. A comuna D. da província Thai Nhuyen
tem uma população numerosa e dispões de poucos arrozais; a produ-
ção sofreu uma série de dificuldades.
Há mais de uma que os aviões estadunidenses vêm abater-se
sobre a comuna. Mas sua população continua valentemente a trabalhar,
organizando a sua existência de forma apropriada ao tempo de guerra
e desenvolvendo a produção para servir a resistência e contribuir para
a edificação do socialismo.
A colheita do 10º mês de 1965 não foi muito boa, os coopera-
dores viram baixar a sua receita. Mas a população entusiasmou-se em

20. Têt: Ano Novo, segundo a tradição vietnamita.


21. Economia
22. Aperitivos preferidos dos vietnamitas
|336 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

produzir mais para se bastar em víveres em vez de se deixar ficar à


custa do Estado.
Esta ultrapassou todas as dificuldades para elevar a níveis sem
precedentes as superfícies cultivadas, o rendimento e a produção da
campanha do 5º mês. Os legumes e as culturas secas acusaram aumen-
tos de 10 a 100%.
Cada família tem seu quadro de legumes. Graças ao controle
do consumo das culturas secas, a cooperativa pode reabastecer as fa-
mílias necessitadas no período de escassez.
Abandonou-se o costume de fazer grandes banquetes por oca-
sião de casamentos e de cerimônias de culto. As pessoas calculam o
que necessitam de víveres cada mês, consomem víveres de reserva e
economizam o arroz para este durar até o período de escassez.
Graças a pratica da economia e a uma ampliação justa da pro-
dução, a comuna D. não só pode bastar-se de víveres mas ultrapassou
ainda suas remessas de paddy do Estado, enquanto que muitas outras
comunas tiveram de pedir ao governo que as reabastecesse de arroz.
Assim, ainda que a comuna D. tenha sofrido calamidades natu-
rais e destruições causadas pelo inimigo, sua população pode mesmo
assim produzir o suficiente para bastar as suas necessidades e efetuar
as suas remessas do Estado.
Em 1966, ela fez uma colheita do 10º mês de uma qualidade
excepcional, apesar dos ataques aéreos, da seca e das doenças bastante
graves que atacaram as plantas.
O rendimento de arroz por hectare aumentou de 4 a 7 quintais
em relação aos anos precedentes.
Os cooperadores escolhem boas sementes, secaram-nas bem,
peneiraram-nas, conscienciosamente para entregá-las logo em seguida
ao Estado. Após a dedução da quantidade necessária à subsistência dos
cooperadores, vendeu-se em excesso ao Estado 5 quintais de paddy a
preços encorajadores.
Os milicianos de cabelos brancos das cooperativas Minh Hoa e
Thong Nhat arrotearam as terras e puderam obter colheitas de arroz
que venderam ao Estado. Cada um inspira-se na palavra de ordem:
economizar um grão de arroz é fornecer às nossas tropas uma bala para
meter na cabeça dos ianques.
Os aviões inimigos vieram bombardear e metralhar dez vezes,
danificando casas e destruindo os bens da população.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 337 |

Mas graças a uma boa organização da defesa, a comuna não


teve nenhum morto ou ferido.
As pessoas dizem: “enquanto houver homens, haverá bens”, e
partilham-se víveres, vestuários, utensílios de cozinha, loiças, toalhas,
mosqueteiros, sem que seja preciso pedir um dong ao Estado.
Há mais de 10 anos a comuna D., na província de Thai Nguyen,
está à cabeça do movimento de poupança. Em 1965, cada habitante
confiou em média ao fundo de poupança 13 dongs e 20 cêntimos. No
fim de novembro de 1966, a comuna pode organizar 42 mil dongs, sem
contar as somas dedicadas à produção. Em média, cada habitante eco-
nomizou 31 dongs.
O comitê do Partido, militantes e quadros deram belos exem-
plos na prática da poupança. Numerosos camaradas, quando vendem
porcos, a criação, os produtos agrícolas, põem todo o dinheiro na Caixa
de Crédito Agrícola da comuna, guardando apenas a soma estritamente
necessária às suas despesas.
Os fundadores também fizeram economias, entregaram ao Cré-
dito Agrícola 1000 dongs, contribuindo para engrossar o capital da coo-
perativa destinado à produção. Muitas pessoas, como por exemplo, a
Sra. Le Thi Thu, puderam economizar até 2000 dongs.
Graças às somas economizadas, as cooperativas têm mais
meios para desenvolver a produção a melhorar as condições de vida
dos cooperadores.
Este ano, o Crédito Agrícola da comuna emprestou ás coope-
rativas 2000 dongs para a aquisição de meios de produção, (debulhado-
ras-mecânicas e 120 porcos para criação) e para ajudar as famílias atin-
gidas pelos bombardeamentos.
A comuna D. merece ser citada como exemplo pela sua econo-
mia, pela sua união e a sua ajuda mútua. As outras comunas fariam bem
em segui-la como modelo. Estes bons exemplos, nós devemos segui-
los. Quanto aos maus exemplos, há que evitá-los.
Nós devemos esforçarmo-nos para efetuar um bom trabalho
de defesa aérea, escavar mais abrigos e túneis.
Ajudar nossos compatriotas, sobretudo velhos e crianças a ser
evacuados das aglomerações. Ajudar as famílias atingidas pelos bom-
bardeamentos, as famílias dos feridos de guerra, dos combatentes mor-
tos pela Pátria e as famílias dos soldados em geral.
Para terminar, peço-vos irmãs e irmãos, para transmitirem as mi-
nhas saudações, as dos camaradas do Comitê Central e do Governo, aos
|338 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

nossos compatriotas, quadros, soldados, milicianos, aos nossos jovens e


às nossas crianças. Quanto a vós, encarregai-vos de trabalhar bem para
que vossos distritos se transformem em distritos dos 4 “bem”.
Dentre alguns dias, será o Têt, um Têt de resistência à agressão
estadunidense, pela salvação nacional. Será preciso organizá-lo de forma
a que seja alegre e ao mesmo tempo econômico. Prometem-me fazê-lo?
(Todos respondem em coro: nós prometemos, querido Tio!).

18 de janeiro de 1967
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 339 |

Mensagem ao Mestre Nguyen Huu Tho

Caro camarada!

Presidente e membros do Comitê Central da Frente Nacional de


Libertação.

Caros compatriotas, combatentes e quadros do Vietnã do Sul.

A Frente Nacional de Libertação do Vietnã acaba de publicar seu


Programa Político, no momento em que a população das duas zonas,
Norte e Sul, do nosso país e suas forças armadas conquistam consecuti-
vos e brilhantes sucessos na luta patriótica contra os americanos. É um
programa de ampla união nacional, um programa que assinala a firme
resolução de alcançar a vitória total sobre os agressores estadunidenses
e os traidores à Pátria, seus lacaios.
No transcurso dos últimos sete anos, sob a direção clarividente
da Frente, nossos compatriotas e combatentes do Sul heroico, estreita-
mente unidos, lutaram com coragem para fazer malograr todos os planos
de agressão ao inimigo. Eles infligiam pesadas derrotas a um milhão de
soldados americanos, fantoches e satélites, empurrando o agressor para
o fracasso e para o impasse. Na sequência das suas vitorias, conduziram
ataques sobre ataques por todo lado e em todos os domínios. Estes su-
cessos gloriosos reforçaram e aumentaram cada dia mais, no país e no
mundo, o prestígio da Frente Nacional de Libertação, único represen-
tante autêntico da população do Sul. O povo vietnamita e a pátria estão
orgulhosos o Sul, heroico, “bastião de bronze da Pátria”.
Para sair do seu isolamento, os agressores estadunidenses inten-
sificam a guerra do Sul desenvolvendo a “escalada” dos bombardeamen-
tos do Norte. Ao mesmo tempo, repetem suas fraudulentas propostas
de paz. Mas as bombas e as granadas não conseguiram intimidar nossos
|340 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

compatriotas. As palavras pérfidas não conseguem enganá-los. Nós es-


tamos decididos a combater até que não reste a sombra de um só agres-
sor estadunidense sobre o solo bem-amado da pátria.
A união torna-nos invencíveis. O Programa Político da Frente é
o símbolo da grande união da população do Sul, no combate comum
pela salvação nacional contra a agressão estadunidense. Que o nosso
povo já unido, alargue e fortaleça ainda mais sua união com os irmãos e
os amigos em todo mundo, incluso o povo americano progressista, que
nos apoiam! A grande força emanada da nossa união permitirá vencer
os agressores estadunidenses seja qual for a sua crueldade.
Os nossos compatriotas, combatentes e quadros do Sul, solidá-
rios e heroicos, conquistaram grandes vitórias. Toda a nossa população
única como um só homem e reforçando ainda mais sua união, realizando
ainda mais completamente o Programa Político da Frente, ao levar ao
mais alto grau o seu heroísmo, saberá conduzir a bom termo a tarefa de
libertar o Sul, de salvaguardar o Norte, a fim de avançar rumo à reunifi-
cação pacífica da pátria.
Determinados a vencer a agressão estadunidense, os 17 milhões
dos nossos compatriotas do Norte empenham-se em elevar o seu entu-
siasmo a fim de produzir e de combater para cumprir seu sagrado dever
para com seus irmãos do Sul. Graças à força invencível da nossa grande
união, nós venceremos!
Na hora da reunificação, nós teremos a felicidade de ver o Norte
e o Sul sob o mesmo teto!
Nesta ocasião, eu abraço afetuosamente nossos velhos, nossas
madrinhas de guerra, nossos quadros e combatentes, nossos heróis e
combatentes valorosos, nossos sobrinhos, jovens e as crianças.
Envio aos camaradas, Presidente e membros do Comitê Central
da Frente Nacional de Libertação as minhas saudações dizendo-lhes:
“Estejamos determinados a vencer”.

6 de março de 1967
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 341 |

A Grande Revolução de Outubro


abriu a via para a libertação dos povos

Com o povo soviético e as populações laboriosas do mundo


inteiro, o povo vietnamita festeja com alegria imensa o 50º aniversário
da Grande Revolução Russa de Outubro.
No auge do seu combate contra a agressão estadunidense e pela
salvação nacional, firmemente decidido a vencer os agressores ameri-
canos e a conduzir a bom termo a edificação do socialismo em seu país,
o povo vietnamita, com o coração pleno de gratidão e de confiança,
dirige ardentemente sua atenção para a URSS, a pátria do grande Lenin
e da gloriosa Revolução de Outubro.
Como um sol radioso, a Revolução de Outubro ilumina o uni-
verso com sua luz e desperta milhões e milhões de oprimidos e explo-
rados no mundo.
Nunca houve na história da humanidade uma revolução de tão
grande e tão profundo significado.
A Revolução de Outubro foi a primeira vitória do marxismo e
das teorias leninistas em um grande país, a União Soviética, cujo terri-
tório cobre a sexta parte do globo.
É a maior vitória alcançada pela classe operária, as populações
laboriosas e os povos oprimidos sob a direção da classe operária e da
sua vanguarda, o Partido Bolchevique.
Usando a violência revolucionária para derrubar a burguesia
e a classe feudal dos proprietários de bens fundiários, a Revolução
de Outubro instaurou o poder dos trabalhadores, ergueu uma soci-
edade absolutamente nova onde a exploração do homem pelo ho-
mem foi banida.
A Revolução de Outubro abriu a via à libertação nacional dos
povos, à libertação da humanidade inteira.
Marca o início de uma nova época histórica, a da passagem do
capitalismo ao socialismo à escala mundial.
|342 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Sobre o alcance histórico da Revolução de Outubro, Lenin


disse: “nós temos razão para estarmos orgulhosos, estamos de fato, de
nos ter pertencido a felicidade de começar a edificação do Estado So-
viético, de inaugurar assim uma nova época na história mundial, época
do domínio de uma classe, oprimida em todos os países capitalistas e
encaminhando-se por todo lado para uma vida nova, para a vitória so-
bre a burguesia, para a ditadura do proletariado, para a libertação da
humanidade do jugo do capital e das guerras imperialistas”. 23
A evolução do mundo há 50 anos provou de forma eloquente
a justeza da comprovação genial de Lenin. Com efeito, após o aconte-
cimento da Revolução de Outubro, o mundo conheceu grandiosas mo-
dificações revolucionárias!
A URSS, primeiro Estado da ditadura do proletariado, testemu-
nhou a sua extraordinária força.
Desde sua fundação não somente destruiu a resistência dos
contrarrevolucionários no país, como ainda esmagou a intervenção ar-
mada de 14 potências imperialistas; após menos de 30 anos, pela sua
vitória completa sobre os fascistas alemães, italianos e japoneses em
conluio, não apenas salvaguardou o Estado soviético, mas contribuiu
consideravelmente para a libertação de outras nações e salvou a huma-
nidade inteira do jugo fascista.
Apesar das enormes devastações da guerra, apesar das numero-
sas privações e sacrifícios (20 milhões de mortos, 1710 cidades destruí-
das e mais de 30 mil fábricas danificadas) sob a justa direção do Partido
e graças aos esforços inauditos de todo seu povo, a União Soviética
pode, em uma luta extremamente heroica, curar suas feridas em alguns
anos, levar a bom termo a edificação do socialismo e passar à edificação
material e técnica do comunismo.
Tornou-se uma grande potência industrial dotada de uma base
científica e técnica das mais modernas do mundo e encontra-se entre os
pioneiros da conquista do cosmos.
Após a Revolução Russa de Outubro, o trinfo da Revolução Chi-
nesa foi igualmente de imenso alcance internacional.
É uma nova grande vitória do marxismo-leninismo em um país
semicolonial e semifeudal de 700 milhões de habitantes, alcançada sob a
direção do Partido Comunista Chinês.

23. Lenin, Obras Completas, tomo 32, pág. 47.


| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 343 |

Em menos de vinte anos, de um país agrícola atrasado dura-


mente oprimido e explorado pelos imperialistas estrangeiros, pela bur-
guesia burocrática e pelos senhores feudais, a China ergueu-se para re-
conquistar e consolidar sua independência nacional, construir o socia-
lismo, para se tornar hoje uma grande potência dotada de uma indústria
moderna, de uma agricultura próspera, de uma base científica e técnica
de vanguarda.
O triunfo das revoluções de libertação nacional e das revoluções
socialistas na Polônia, Bulgária, República Democrática Alemã, Hungria,
Romênia, Tchecoslováquia, Albânia, Mongólia, Coréia, em Cuba e no
Vietnã foram igualmente de um enorme alcance histórico.
Graças a todas estas vitórias, se constituiu um sistema socialista
mundial que se estende ininterruptamente da Europa Central ao Sudeste
Asiático, com um primeiro posto avançado na América Latina.
O campo socialista tomou corpo e sua força cresce cada vez
mais. Este é o fator determinante ao desenvolvimento da revolução
mundial e o futuro radioso da humanidade.
Estimulados e apoiados pelo triunfo da Revolução de Outubro
e das revoluções nos países socialistas, o movimento revolucionário da
classe operária dos países capitalistas e o movimento de libertação naci-
onal das colônias aumentam impetuosamente e atingem uma escala
nunca antes vista.
Na Ásia, na África e na América Latina o movimento de liberta-
ção nacional desencadeia-se como uma tempestade e faz desmoronar,
pouco e pouco, o sistema colonial do imperialismo, libertando centenas
de milhões de homens das algemas da escravidão, abrindo-lhes a via para
a independência e para a liberdade.
O campo socialista, o movimento de luta da classe operaria nos
países capitalistas e o movimento revolucionário de libertação nacional,
conjugando suas imensas forças, constitui uma força formidável cons-
tantemente lançada contra os bastiões do imperialismo encabeçado pelo
imperialismo estadunidense.
No campo de batalha do mundo, as forças revolucionárias e da
paz na hoje levam a melhor sobre as forças imperialistas, reacionárias e
belicistas. No conjunto, a revolução mundial encontra-se em posição de
ofensiva e de vitória e vê crescer a sua força.
Pelo contrário, o imperialismo e as outras forças reacionárias es-
tão encurralados na defensiva, no declínio, na derrota e caminham para
o seu aniquilamento.
|344 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

O socialismo, o comunismo, bons sonhos da humanidade, tor-


naram-se após a Revolução de Outubro, uma realidade social dotada de
uma imensa força capaz de mobilizar centenas de milhões de homens na
luta revolucionaria pela paz, a independência nacional, a democracia e o
progresso social.
A grande vitória da Revolução de Outubro deu à classe operária,
às populações trabalhadoras e aos povos oprimidos do mundo inúmeros
ensinamentos preciosos, que garantem o sucesso da libertação completa
da classe operária e o povo do Vietnã aprendem cada vez, mas os ensi-
namentos de Lenin e as grandes lições tiradas da Revolução de Outubro.
— A necessidade de um autêntico partido revolucionário da
classe operária, devotado de corpo e alma ao povo.
Só a direção de um partido capaz de aplicar de maneira criadora
o marxismo-leninismo nas condições concretas de um país, pode con-
duzir a revolução de libertação nacional e a revolução socialista à vitória.
— Realizar, custe o que custar, a aliança dos operários e dos
camponeses, pois é a mais segura garantia da vitória da revolução.
Só esta aliança, sob a direção da classe operária, permite aniquilar
resoluta e totalmente as forças contrarrevolucionárias, conquistar e con-
solidar o poder das massas laboriosas, levar a bom termo a missão his-
tórica da revolução nacional democrática e marchar rumo ao socialismo.
— Sob direção da classe operária e com base na aliança sempre
consolidada entre operários e camponeses, é necessário em cada etapa
revolucionária agrupar todas as forças revolucionárias e progressistas em
uma ampla frente, realizar sua unidade de ação contra o inimigo comum
das mais variadas formas.
— Na áspera luta contra o inimigo de classe e da nação, é neces-
sário opor a violência revolucionária à violência contrarrevolucionária
para a conquista e a salvaguarda do poder.
Há que se ter em conta a situação concreta para adotar formas
de luta revolucionária adequadas, empregar de forma judiciosa e combi-
nar habilmente a luta armada e a luta política para assegurar o sucesso
da revolução.
— Reforçar e consolidar sem cessar a ditadura do proletariado.
Após a conquista do poder, a tarefa primordial da classe operária é re-
forçar a ditadura do proletariado para levar a bom termo as tarefas his-
tóricas da revolução, abolir radicalmente a exploração do homem pelo
homem, estabelecer relações de produção socialista, construir o socia-
lismo para a independência nacional e pelo socialismo.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 345 |

— Na luta de morte travada entre classe operária, populações


laboriosas e povos oprimidos de um lado, e imperialistas e seus lacaios,
traidores à pátria, senhores feudais e burgueses reacionários de outro, os
povos dos diferentes países devem dar provas de espírito revolucionário
radical, erguer bem alto a bandeira do heroísmo revolucionário e lutar
com resolução até o fim, sem recuar ante provas e sacrifícios, pela inde-
pendência nacional e pelo socialismo.
— Aliar estreitamente o patriotismo ao internacionalismo prole-
tário no decurso tanto da revolução de libertação nacional, como na re-
volução socialista. Em nossa época, a revolução de libertação nacional é
parte integrante da revolução proletária em escala mundial.
Para triunfar completamente, a revolução de libertação nacional
deve conduzir à revolução socialista.
A vitória da luta pela independência e pela liberdade dos povos
está ligada à ajuda e ao apoio ativos do campo socialista e do movimento
operário dos países capitalistas.
“Proletários de todos os países e povos oprimidos, uni-vos!”.
Este apelo sagrado de Lenin ecoa sempre em nossos ouvidos e
nos recorda que é preciso preservar e reforçar permanentemente a
grande união das forças revolucionárias para o bem dos interesses co-
muns da classe operária e da humanidade.
Estas estão em poucas palavras as experiências tiradas da pratica
da nossa revolução vietnamita.
Um ditado vietnamita recomenda: “ao beber água, pensai na fonte”.
Recordando-se das humilhações dos dias nos quais perderam sua
independência, relembrando as diferentes etapas da luta revolucionária
plena de privações e de sacrifícios, mas repleta de vitórias gloriosas, a
classe operária e o povo do Vietnã não podem deixar de pensar com
gratidão em tudo o que eles devem a Lenin e à Revolução de Outubro.
Antes da Revolução de Outubro, o povo do Vietnã que os im-
perialistas e colonialistas tinham amordaçado e cegado, ignorava total-
mente o marxismo e nunca havia ouvido falar de Lenin.
Com o triunfo retumbante da Revolução de Outubro, o mar-
xismo-leninismo começou a propagar-se no nosso país.
No começo de 1930, o Partido Comunista Indochinês (atual-
mente Partido dos Trabalhadores do Vietnã) nasceu e colocou-se à ca-
beça da luta revolucionária.
Um movimento de libertação nacional desenvolveu-se impetuo-
samente e atingiu o seu ponto culminante com a criação dos sovietes do
|346 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Nghê Tinh (1930-1931). Desde então, a classe operária e o povo do Vi-


etnã descobriram a via da sua libertação. A despeito da repressão san-
grenta dos colonialistas, o povo vietnamita avançava com determinação.
Em agosto de 1945, aproveitando o fato de o heroico exército
soviético ter derrotado sucessivamente os fascistas alemães e japoneses,
o Partido Comunista Indochinês tomou a direção duma insurreição geral
para conquistar o poder à escala nacional, derrubar os fascistas japoneses
assim como os seus lacaios e fundar a República Democrática do Vietnã.
A Revolução de Agosto no Vietnã foi a primeira revolução nacional de-
mocrática popular a triunfar no Sudeste Asiático.
O jovem poder não tinha ainda um mês de existência, suas forças
não tinham ainda podido ser erguidas e consolidadas e, no entanto, o
povo vietnamita, armado de lanças de bambu, empreendeu uma longa e
heroica resistência contra a agressão dos colonialistas franceses apoiados
pelos imperialistas estadunidenses, conseguiu finalmente conquistar a
grande vitória de Dien Bien Phu e libertar completamente o Norte do
país. Os acordos concluídos em 1954, em Genebra, reconheceram ofi-
cialmente os direitos fundamentais do povo vietnamita: independência,
soberania, unidade e integridade territorial.
Desde 1954, nosso povo empreendeu duas missões revolucioná-
rias de caráter estratégico: transformação socialista e edificação socialista
no Norte, e simultaneamente, luta patriótica para libertar o Sul do jugo
dos imperialistas estadunidenses, assim como dos seus lacaios e encami-
nhar-se rumo à reunificação do nosso país.
A revolução socialista do Norte alcançou grandes sucessos. Após
ter levado a bom termo a reforma agrária, o Partido dos Trabalhadores
do Vietnã guiou o povo na transformação socialista da agricultura, do
artesanato, do comércio e da indústria capitalistas, assim como do pe-
queno negócio, estabeleceu novas relações de produção, aboliu a explo-
ração do homem pelo homem.
As bases materiais e técnicas do socialismo estão em plena edifi-
cação, a produção agrícola e industrial toma um impulso contínuo, o
nível de vida da população não cessa de aumentar.
No domínio cultural, o analfabetismo está liquidado e a educação
desenvolve-se.
Durante todos estes anos, apesar do terror e dos massacres bár-
baros perpetrados pelos imperialistas estadunidenses e os traidores,
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 347 |

seus lacaios, no Vietnã do Sul, nossos compatriotas, longe de se sub-


meterem, prosseguirem uma luta política e uma luta armada extrema-
mente heroica.
A população do Vietnã do Sul aniquilou a “guerra especial” dos
estadunidenses e está em vias de fazer malograr a “guerra local”, guerra
de agressão de uma ferocidade inaudita empreendida por mais de um
milhão de homens – perto de 50 mil soldados do corpo expedicionário
US e mais de meio milhão de soldados do exército fantoche e dos países
satélites – milhares de aviões, centenas de navios de guerra, milhões de
toneladas de armamento moderno e os meios de guerra mais bárbaros,
tais como produtos químicos e gases tóxicos, napalm, bombas, etc.
Mais ferozes do que os fascistas hitleristas no seu tempo, os
agressores aplicam por todo o lado a política que consiste em queimar
tudo, destruir tudo e massacrar tudo.
Para sair do seu atolamento no Vietnã do Sul, desencadearam
uma guerra de destruição aérea e naval cada vez mais encarniçada contra
o Norte do nosso país.
Bombardearam nossas vias de comunicação, nossas zonas indus-
triais, nossas regiões populosas, tanto nas cidades como nos campos,
nossos hospitais, escolas, igrejas, templos e pagodes, diques e obras hi-
dráulicas, etc.
Eles pensam erradamente poder, com as bombas e as granadas,
abalar o patriotismo e sabotar a sagrada união militante do nosso povo
nas duas zonas, Norte e Sul.
Pela independência e a liberdade da sua pátria, os 31 milhões de
vietnamitas continuam unidos como um só homem em um combate re-
soluto contra o imperialismo estadunidenses, para a salvação nacional e
estão inteiramente determinados a vencer os agressores.
A resistência patriótica do povo vietnamita à agressão estaduni-
dense conquistou grandes vitórias. No teatro das operações no Vietnã
do Sul, apenas durante as duas últimas estações de seca24, as perdas do
inimigo elevam-se a 290 mil homens, dos quais 128 mil foram soldados
dos países satélites.
Durante a primeira campanha da estação de seca (1965-1966) em
um total de 700 mil soldados estadunidenses, fantoches e satélites, o
exército de libertação e as forças de guerrilha do Vietnã do Sul puseram
fora de combate 114 mil homens.

24. A estação se seca dura sete meses: de outubro a abril.


|348 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Durante a estação de seca de 1966-1967, de um total de 1,2 mi-


lhão de inimigos, 175 mil foram postos fora de combate.
No Norte, de agosto de 1964 e setembro de 1967, mais de 2.300
aviões US foram abatidos.
É, então, claro que quanto mais os imperialistas estadunidenses
aumentam o efetivo do seu corpo de invasão, mais pesadas serão suas
perdas. Se bem que nos esperem ainda numerosos sacrifícios e priva-
ções, o povo vietnamita vê aumentar suas forças no seguimento dos
combates e alcançará sem dúvida a vitória total.
Por que a revolução vietnamita conquistou sucessos tão consi-
deráveis? Porque o povo vietnamita vencerá infalivelmente os agressores
estadunidenses muito melhor armados e equipados? Foi graças à justa
direção do Partido dos Trabalhadores do Vietnã e da Frente Nacional
de Libertação do Vietnã do Sul.
Ao estabelecer sua linha política, o Partido dos Trabalhadores do
Vietnã esforçou-se sempre para aliar os princípios gerais do marxismo-
leninismo à realidade da Revolução Vietnamita e, ao mesmo tempo,
aprender com modéstia as preciosas experiências dos partidos irmãos.
O nosso Partido preocupou-se sempre em educar os seus qua-
dros, os seus membros e o seu povo de forma a dar-lhes uma alta cons-
ciência revolucionária, a elevar sua coragem e seu espírito de sacrifício
no interesse da classe operária e da nação.
O nosso Partido vela constantemente para manter estreitas rela-
ções com as massas.
É por isto que se beneficia sem reservas da confiança, dedicação
e apoio do nosso povo; a linha e as medidas políticas que preconiza são
ativamente postas em prática pelas massas.
Nosso Partido conseguiu fundar um Frente Nacional Única anti-
imperialista com base na aliança operário-camponesa.
Esta Frente inclui os partidos políticos democráticos, as organi-
zações de massas, as congregações religiosas e as diferentes nacionalida-
des lutando em conjunto sob a direção do Partido dos Trabalhadores do
Vietnã para realizar o programa comum da Frente e edificar um Vietnã
pacífico, reunificado, independente, democrático e próspero.
Nosso Partido sabe utilizar diferentes formas de luta revolucio-
nária, segundo a amplitude do movimento, nomeadamente ao combinar
a luta armada com a luta política, para derrotar os agressores em uma
guerra popular prolongada, árdua e heroica.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 349 |

Nosso Partido sempre inculcou nos seus quadros, nos seus


membros e nas massas populares o patriotismo autêntico e o internaci-
onalismo proletário, reforçando constantemente os seus laços de solida-
riedade e de amizade com a União Soviética, a República Popular da
China e os outros países socialistas irmãos.
Preconiza que se conte essencialmente com as suas próprias for-
ças procurando, simultaneamente, a ajuda e o apoio ativo dos países so-
cialistas irmãos e dos povos amantes da paz e da justiça em todo mundo,
inclusive do povo progressista dos Estados Unidos.
Baseando-se em sua própria experiência, o povo vietnamita está
profundamente convicto de que na conjuntura atual favorável ao movi-
mento revolucionário, qualquer povo, mesmo pequeno, é capaz de ven-
cer todo agressor imperialista, mesmo seu chefe de fila, os estaduniden-
ses, se estiver estreitamente unido, se combater resolutamente, seguindo
uma linha política e militar justa e beneficiar da ajuda e do apoio ativos
do campo socialista e dos povos revolucionários do mundo.

●●●

Seguindo a via traçada por Lenin, a da Revolução de Outubro, o


povo vietnamita alcançou grandes vitórias.
É justamente a razão pela qual sua estima e sua gratidão com a
gloriosa Revolução de Outubro, o grande Lenin e o povo soviético, são
muito profundas.
Recorda-se constantemente de que suas vitórias são inseparáveis
da ajuda considerável que recebe da União Soviética e da República Po-
pular da China e dos outros países socialistas irmãos, assim como do
apoio ativo dos povos progressistas do mundo inteiro.
Por ocasião do 50º aniversário da gloriosa Revolução de Outu-
bro, em nome de todo o povo vietnamita, exprimo meu profundo reco-
nhecimento ao Partido de Lenin e o povo soviético irmão pela ajuda
devotada à nossa resistência contra a agressão estadunidense, para salva-
ção nacional.
Na alegria geral experimentada pela classe operária, pelas popu-
lações laboriosas e pelos povos oprimidos do mundo ao festejarem o
50º aniversário da grande Revolução de Outubro, o povo vietnamita en-
via ao povo soviético irmão seus votos de brilhantes conquistas na edi-
ficação da base material e técnica do comunismo e desejar-lhes o reforço
|350 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

constante do seu papel na luta dos povos do mundo contra o imperia-


lismo, pela paz, a independência nacional, a democracia e o socialismo.

Viva o marxismo-leninismo!

Viva a solidariedade fraterna dos povos vietnamitas e soviético!

Viva a solidariedade fraterna dos países da grande família socia-


lista e das forças do movimento comunista internacional!

Artigo Escrito Para


O Pravda Por Ocasião Do
50º Aniversário
Da Grande Revolução De Outubro
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 351 |

Apelo de 20 de julho de 1968

Compatriotas e combatentes em todo país!


Há quatorze anos, na sequência da grande vitória de Dien Bien
Phu, foram concluídos os Acordos de Genebra, reconhecendo a inde-
pendência, a soberania, a unidade e a integridade territorial do Vietnã. O
nosso povo teria podido desde julho de 1956, proceder a eleições gerais;
nosso país teria desde então recuperado sua independência total e sua
liberdade, a paz e a unidade; o Norte e o Sul poderiam ter se reunido no
seio da mesma família.
Contudo, os imperialistas estadunidenses belicistas, faltando aos
seus compromissos, sabotaram desavergonhadamente os Acordos de
Genebra. Eles puseram de pé uma administração fantoche traidora à Pá-
tria e conduziram uma guerra de agressão contra o Vietnã do Sul, mas
chocaram com uma resistência extremamente heroica dos nossos com-
patriotas e combatentes e sofreram pesadas derrotas. Na esperança de
saírem da sua passividade e do seu atolamento no Sul, há mais de 3 anos
que bombardeiam freneticamente o Vietnã do Norte. Sabotaram a inde-
pendência, a paz e a neutralidade do Laos e provocaram e ameaçaram
incessantemente o Reino do Camboja. A guerra de agressão levada a
cabo no nosso país pelos Estados Unidos é a guerra mais bárbara que a
História conheceu. Os agressores se enganam, contudo, se imaginam
poder subjugar nosso povo com um exército de mais de um milhão de
homens dos quais mais de 500 mil GI’s e com a força das armas moder-
nas. A realidade é completamente diferente. Nossos valentes compatri-
otas e combatentes do Sul, o heroico povo de todo o Vietnã unido como
um só homem, ergueram-se resolutamente e combateram com valentia
extrema, pondo por terra todos os planos militares e políticos do ini-
migo, e conquistando vitórias cada vez maiores.
Desde a primavera de 1968, a resistência no Vietnã do Sul entrou
em um novo período: nossos compatriotas e combatentes desencadea-
ram uma ofensiva generalizada e sublevações simultâneas em diversos
centros urbanos e realizaram feitos brilhantes que sacodem os Estados
|352 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Unidos e abalam os cinco continentes. A fundação da Aliança das Forças


Nacionais, Democráticas e da Paz é um grande sucesso da política de
união nacional contra agressão, destacou com maior precisão a natureza
de agressor e de traidor dos americanos-fantoches e ampliou seu isola-
mento. No Vietnã do Norte, mais de 3 mil aviões ianques foram abati-
dos. Assim, as “duas zonas Sul e Norte combatem com êxito”. Os “im-
perialistas estadunidenses sofrem derrotas cada vez maiores, eles serão
sem dúvida vencidos”.
Contudo, como lobos que morrem na pele, os estadunidenses
teimam em sua agressão.
Continuam a intensificar a guerra no Sul, atacando de forma sel-
vagem os centros urbanos, arrasando numerosas regiões rurais; ao
mesmo tempo, bombardearam raivosamente as províncias meridionais
do Norte. Nas conversações de Paris, perante nossa atitude séria e nossa
posição justa, eles persistem em exigir de forma descarada e absurda a
“reciprocidade”. É claro que ainda não renunciaram a sua guerra de
agressão criminosa e que procuram constantemente agarrar-se ao Vietnã
do Sul para prolongar a divisão do nosso país. Perante esta grave situa-
ção, todo nosso povo deve perseverar na sua resistência patriótica e in-
tensificá-la. Pela independência e pela liberdade os nossos 31 milhões de
compatriotas estão decididos a superar todas as provas e a consentir to-
dos os sacrifícios para combater e vencer o inimigo.
Os agressores estadunidenses, reduzidos a uma passividade cada
vez mais notória e sofrendo derrotas cada vez mais pesadas, estão atual-
mente em um impasse total. As forças armadas e a população de todo
país detêm a iniciativa das operações e estão em uma situação favorável
à ofensiva; e com quanto mais força combatem, maiores são suas vitó-
rias. Nossos compatriotas e combatentes do Sul, estreitamente unidos
em uma ampla frente sob a bandeira gloriosa da Frente Nacional de Li-
bertação, lutarão com maior firmeza e alcançarão vitórias maiores. Nos-
sos compatriotas e combatentes do Norte devem redobrar a vigilância,
lutar com coragem, rivalizar de ardor na produção, desmantelar a guerra
de destruição do inimigo, manter-se prontos para frustrar todas as novas
manobras de escalada, e fazer seu melhor para ajudar os compatriotas
do Sul, para desempenhar seu dever de grande retaguarda em relação à
grande frente. Com o Norte e o Sul unidos em um só coração o povo
de todo o país está decidido a conduzir a resistência, vencer os agressores
estadunidenses para libertar o Sul, defender o Norte e encaminhar-se
para a reunificação da Pátria.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 353 |

Nosso povo ama profundamente a paz, mas não pode haver paz
autêntica sem independência e liberdade verdadeiras. A nossa posição é
justa e clara: a paz será restabelecida desde que os estadunidenses po-
nham fim a sua guerra de agressão contra nosso país, cessem os bom-
bardeios no Vietnã do Norte, retirem do Vietnã do Sul as suas tropas e
as dos seus satélites, e deixem nosso povo dirigir livremente seus pró-
prios assuntos. Esta é a aspiração do nosso povo e também a aspiração
dos americanos progressistas e dos povos amantes da paz e da justiça no
mundo. O único meio de restabelecer a paz é a retirada das tropas esta-
dunidenses e seus satélites para os seus países. O Vietnã para os vietna-
mitas! Caros compatriotas e combatentes!
Nosso povo conduz atualmente a maior guerra de resistência da
sua história. Pela independência e pela liberdade da Pátria, pelos interes-
ses do campo socialista, dos povos oprimidos e de toda a humanidade
progressista, nós estamos prestes a combater e a vencer o inimigo mais
cruel do mundo. Sobre o solo do nosso país desenrola-se um combate
encarniçado entre uma causa justa e outra injusta. Entre a civilização e a
barbárie. Os povos dos países socialistas irmãos e os povos progressistas
do mundo inteiro interessam-se cada vez mais pelo Vietnã, felicitando
calorosamente nossos compatriotas e combatentes. Nesta ocasião, em
nome do povo vietnamita, eu agradeço sinceramente aos países socialis-
tas irmãos e a todos nossos amigos dos cinco continentes que nos aju-
daram de todo coração na nossa luta sagrada contra os agressores pela
salvação nacional.
O nosso povo é heroico. A nossa linha é justa. Nós combatemos
por uma causa justa, nossa vontade é inabalável, estamos decididos a com-
bater e a vencer. Nós temos a força invencível da união de todo o povo e
disfrutamos da simpatia e do apoio de toda a humanidade progressista.

Os imperialistas estadunidenses serão derrotados!

O nosso povo vencerá!

Compatriotas e combatentes em todo país, avancemos!


|354 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Votos de Ano Novo

Caros compatriotas e caros combatentes!

Desde 1965 que o imperialismo estadunidense envia centenas de


milhares de soldados para uma agressão direta contra o Sul do nosso
país e desencadeia uma guerra de destruição contra o Norte. Nosso
povo, com um só homem e determinado a combater o agressor ianque,
para salvar, conquistar numerosos e brilhantes sucessos.
No final de 1967, as forças armadas e a população do Sul heroico
derrotaram, feriram e provocaram o desmembramento de centenas de
milhares de homens das tropas americanas, fantoches e satélites.
As forças armadas e a população do Norte heroico abateram
2680 aviões dos agressores americanos.
Este ano, os estadunidenses afundam-se ainda mais na passivi-
dade e seu embaraço não para de crescer enquanto que nossas forças
armadas e nossa população, avançando para novas vitórias, conquistarão
indubitavelmente sucessos cada vez maiores e mais numerosos.
Por ocasião do Ano Novo, envio, em nome de todos os nossos
compatriotas e de todos os nossos combatentes, nossos melhores votos
aos países socialistas irmãos, aos países amigos, a todos os povos do
mundo, incluindo a população progressista dos Estados Unidos, que
apoiaram calorosamente a justa luta do nosso povo.
Aos nossos compatriotas no estrangeiro eu desejo novas forças
e novos progressos.
Aos nossos compatriotas e aos nossos combatentes em todo o
país, eis os meus votos de Ano Novo:
Esta primavera ultrapassará todas as primaveras passadas.
O anúncio da vitória enche de alegria todo país.
Norte e Sul, rivalizemos de ardor, expulsemos o ianque!
Em frente! A vitória será nossa!

Primavera de 1968
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 355 |

Por ocasião do retorno às aulas

Caros amigos e caros jovens!

Por ocasião da reabertura das aulas do quarto ano sob a palavra


de ordem da luta patriótica contra a agressão estadunidense, eu envio-
vos as minhas mais afetuosas saudações.
Se bem que todo nosso país esteja em guerra, nossa obra de edu-
cação desenvolveu-se mais rapidamente e com maior vigor do que
nunca. Estou feliz por ver que apesar das dificuldades, o Norte possui
atualmente 12 mil escolas de ensino geral (cada aldeia tem uma escola
do primeiro grau, numerosas aldeias têm escolas do segundo grau e cada
circunscrição tem ao menos uma escola do terceiro grau).
O efetivo de alunos atinge mais de 6 milhões, dos quais mais de
um milhão são quadros ou operários e camponeses, que seguem o en-
sino complementar.
O número de alunos das escolas superiores e profissionais quase
que triplicou em relação aos anos anteriores à guerra contra a agressão
estadunidense, mais de 30 escolas superiores e 200 escolas profissionais,
trabalhando em coordenação estreita com os outros ramos e as diferen-
tes localidades, intensificaram a formação de quadros destacados ou não
dos seus serviços.
As escolas dispenderam grandes esforços no movimento de emu-
lação “bem ensinar e bem estudar”, para garantir a segurança dos profes-
sores e dos alunos, elevando assim o nível de vida material e espiritual.
Os agressores estadunidenses empreenderam encarniçados ata-
ques de surpresa sobre o Vietnã do Norte, mas eles sofreram grandes
derrotas nas frentes política e militar. E perderam até mesmo na frente
da educação e da formação de quadros.
Foi graças à linha política justa do nosso Partido, ao heroísmo
do nosso exército e do nosso povo, aos vossos próprios esforços para
superar as dificuldades e para levar a bom termo vossa tarefa que nós
obtivemos estes resultados.
Nesta ocasião, eu felicito-vos pelos vossos esforços e sucessos.
|356 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Mas o imperialismo estadunidense continua obstinado. A nossa


revolução tem ainda de superar muitas dificuldades e privações antes de
alcançar a vitória completa. Atualmente, o Partido e o povo confiam-
nos tarefas ainda mais importantes. É por isto que eu quero fazer-vos as
seguintes recomendações:
— Professores e alunos, deveis elevar constantemente vosso
amor pela pátria e pelo socialismo, reforçar vossos sentimentos revolu-
cionários para com os operários e camponeses, vossa fidelidade à revo-
lução, vossa confiança na direção do Partido. Estejais prontos para a
realização de todas as tarefas que o Partido e o povo poderão encarregar-
vos. Sede dignos dos nossos compatriotas do Sul heroico.
— Quaisquer que sejam as dificuldades, deveis participar cons-
tantemente no movimento de emulação “ensinar bem e estudar bem”.
Com base em uma boa educação política e em uma boa direção ideoló-
gica, fazei todos os esforços para elevar vosso nível de conhecimentos
gerais e profissionais para responder às exigências da revolução, para
atingir rapidamente os altos cumes da ciência e da técnica.
— Deveis organização e gerir cada vez melhor a vida material e
espiritual nas escolas, melhorar a proteção da saúde e da segurança.
— A vossa tarefa é muito importante e muito gloriosa.
— Como a educação é obra das massas, é necessário, para ter-
mos êxito, desenvolver plenamente a democracia socialista, estabelecer
uma boa ligação e uma boa união estreita entre os professores, entre os
professores e os alunos, entre os alunos, entre os quadros, entre o pes-
soal das escolas e a população.
O objetivo da educação é formar continuadores da grande revo-
lução empreendida pelo nosso Partido e pelo nosso povo.
Os distintos ramos de atividade do país, diferentes escalões do
Partido e administrações regionais devem interessar-se ainda mais por
esta obra, rodear as escolas de atenções em todos os domínios, fazer
com que nossa educação tome nossos desenvolvimentos.
Eu espero felicitar-vos brevemente pelos vossos bons resulta-
dos. Saudações cordiais. Nós venceremos.

outubro de 1968
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 357 |

Apelo à Nação

Compatriotas e combatentes em todo o país!

Perante as grandes vitórias das nossas forças armadas e do nosso


povo nas duas zonas, em primeiro lugar as vitórias alcançadas no Sul
desde a primavera, o governo dos EUA viu-se obrigado em 1º de no-
vembro de 1968 a cessar sem condições os bombardeamentos e os tiros
de artilharia em todo o território da República Democrática do Vietnã.
Assim, após quatro anos de uma luta extremamente heroica, as
nossas forças armadas e o nosso povo alcançaram uma vitória gloriosa,
tendo abatido mais de 3200 aviões, incendiado centenas de navios gran-
des e pequenos, e vencido a guerra de destruição empreendida pelos im-
perialistas estadunidenses contra o Norte do nosso país.
Esta é uma vitória de significado imensurável na grandiosa luta
do nosso povo contra a agressão estadunidense, pela salvação nacional.
Os imperialistas estadunidenses enganaram-se ao pensar que
suas bombas e as suas granadas iriam enfraquecer o Norte e impedir a
grande base de retaguarda de avançar em auxílio da grande frente, que
poderiam diminuir assim o potencial de luta do Sul.
A realidade foi diferente: quanto mais o Norte combate a agres-
são estadunidense, mais se consolida em todos os aspectos e apoio de
todo coração e com todas suas forças a luta de libertação do heroico Sul.
E quanto mais combatem a agressão estadunidense, mais nossos
compatriotas do Sul fortalecem a sua união, aumentam suas forças e al-
cançam sucessos.
Eis uma vitória devida à justa linha revolucionária do nosso Par-
tido, uma vitória devido ao ardente patriotismo e à força do nosso povo
unido e determinado a combater e a vencer, uma vitória devida ao re-
gime socialista rico de promessas.
É uma vitória comum das nossas forças armadas e do nosso
povo do Norte e do Sul.
|358 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

É igualmente uma vitória dos povos dos países irmãos e dos nos-
sos amigos dos cinco continentes.
Nesta ocasião, em nome do Partido e do governo, felicito calo-
rosamente nossos compatriotas e nossos combatentes em todo o país e
agradeço sinceramente aos países socialistas irmãos, aos países amigos
próximos e longínquos, e aos povos do mundo inteiro, incluindo o povo
progressista dos Estados Unidos, pela sua ajuda considerável, sua sim-
patia e seu apoio.
Caros compatriotas e combatentes, Venceremos a guerra de des-
truição levada a cabo pelos imperialistas estadunidenses contra o Norte.
Mas, isto não é senão um primeiro passo. Os imperialistas são
muito pérfidos e obstinados nos seus objetivos. Eles falam de “paz”, de
“negociações”, mas jamais renunciam nem por um momento aos seus
intentos de agressão.
Mais de um milhão de soldados estadunidenses, fantoches e de
países satélites continuam a perpetrar diariamente inumeráveis crimes
contra os compatriotas do Sul.
É por isto que a tarefa sagrada que cabe a todo nosso povo no
presente momento é a de elevar nossa determinação de combater e de
vencer, de libertar o Sul, defender o Norte e preparar a via para a reuni-
ficação pacífica da pátria.
Enquanto existir um agressor em nosso solo, devemos continuar
combatendo-o até que ele seja expulso de nosso país.
Os nossos compatriotas e combatentes do Sul heroico sob a ban-
deira gloriosa da Frente Nacional de Libertação atacam e erguem-se sem
parar, avançam resolutamente rumo à vitória final.
As nossas forças armadas e o nosso povo, no Norte, rivalizam
de patriotismo, determinados a impulsionar a edificação do socialismo,
cumprir seu dever para com seus compatriotas do Sul, a elevar sem ces-
sar sua vigilância e sua vontade de contar essencialmente com suas pró-
prias forças, a reforçar seu potencial militar e a manter-se prontos a com-
bater, assim como fazer malograr qualquer novo complô do inimigo.
Nós estamos convencidos de que nossa luta patriótica contra a
agressão estadunidense se beneficia da simpatia, do apoio e da ajuda cada
vez mais importante dos países irmãos e dos povos do mundo, incluindo
o povo progressista dos Estados Unidos.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 359 |

Tendo suportado perto de um século de dominação colonialista


e suportado o peso de mais de 20 anos de guerra contra a agressão im-
perialista, mais do que ninguém, nosso povo aspira profundamente a paz
a fim de poder edificar sua pátria.
Mas é necessário que esta seja uma paz verdadeira, na indepen-
dência e na liberdade. É por isso que exigimos firmemente:
- Que o governo estadunidense ponha fim à guerra de agressão
contra o Vietnã. Que renuncie definitivamente a todo atentado contra a
soberania e a segurança da República Democrática do Vietnã.
- Que todas as tropas estadunidenses e as dos países satélites se-
jam retiradas do Vietnã do Sul.
- Que todos os assuntos internos do Vietnã do Sul sejam dirigi-
dos pela população sul-vietnamita segundo as disposições do Programa
Político da Frente Nacional de Libertação sem ingerência estrangeira.
- Que a questão da reunificação do Vietnã seja regulada pela po-
pulação do Norte e do Sul sem ingerência estrangeira.
Caros compatriotas e combatentes, Esperam-nos inumeráveis
dificuldades e sacrifícios, mas a luta grandiosa do nosso povo contra a
agressão estadunidense, para a salvação nacional, conduz-nos a passos
largos em direção à vitória. A Pátria chama-nos a avançar resolutamente
e a vencer por completo a agressão dos Estados Unidos.
Os imperialistas estadunidenses serão derrotados!
O nosso povo vencerá!

3 de novembro de 1968
|360 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 361 |

Elevemos a nossa Moral Revolucionária,


combatamos o Individualismo

Nossos compatriotas têm o hábito de dizer: os membros do


Partido dão o exemplo, a população segue-os.
É um elogio sincero aos membros e aos quadros do Partido.
Por já ter mantido já 39 anos de uma luta heroica, assegurado
o triunfo da Revolução de Agosto, assim como a vitória da primeira
resistência, e conduzido hoje, simultaneamente, a edificação do socia-
lismo no Norte e a luta patriótica contra a agressão estadunidense,
nosso povo deu-se conta de que a direção do nosso Partido é muito
clarividente, que esta conduziu nossa nação de vitória em vitória a ca-
minho do progresso.
Na luta do Partido, como na vida cotidiana, sobretudo nas fren-
tes de combate e da produção, inúmeros quadros e militantes mostram-
se valentes e exemplares; os primeiros na tarefa e os últimos na honra,
puderam cumprir um trabalho glorioso.
Nosso Partido formou uma geração revolucionária, moças e rapa-
zes plenos de entusiasmo e coragem no cumprimento das suas tarefas.
São flores resplandecentes saídas do heroísmo revolucionário.
O nosso povo e o nosso Partido estão orgulhosos destes filhos dignos.
Mas a par destes bons elementos, há ainda quadros e membros
do Partido cuja moral deixa a desejar.
Dominados pelo individualismo, em todas as coisas eles pen-
sam, antes de tudo, nos seus próprios interesses. A palavra de ordem
não é “um por todos”, mas “todos por mim”.
Individualistas, temem as privações e as dificuldades, caem na
avidez, na corrupção, no desperdício, no luxo.
Eles correm atrás das honrarias e do lucro, dos títulos e do po-
der. Seu orgulho faz com que não prestem atenção à coletividade; des-
prezam as massas, mostram-se arbitrários e autoritários.
Desligando-se das massas e da realidade, caem na burocracia e
no autoritarismo.
|362 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Eles perdem o gosto pelo esforço no trabalho e no estudo e


não procuram sequer corrigir-se.
Também por causa do seu individualismo, provocam a desu-
nião, faltam aos princípios da organização, à disciplina, as suas respon-
sabilidades. Eles não aplicam seriamente a linha e a política do Partido
e do Estado, prejudicam os interesses da revolução e do povo.
Em resumo, o individualismo conduz a muitas faltas e erros.
Para tornar seus quadros e seus membros dignos de ser com-
batentes revolucionários, nosso Partido deve prodigalizar todos seus
esforços para inculcar-lhes o ideal comunista.
Nosso partido deve fazer-lhes compreender e aplicar sua linha
e sua política, iluminá-los nas suas tarefas e na moral do militante.
A crítica e a autocrítica devem ser praticadas seriamente no seio
do Partido.
É preciso aceitar e encorajar as críticas sinceras feitas pelas
massas. A vida da célula deve ser estritamente regulamentada, a disci-
plina do Partido imparcial e justa, o trabalho de controle, rigoroso.
Cada quadro, cada membro do Partido deve colocar os interes-
ses da revolução, do Partido e do povo acima de tudo e antes de tudo.
É preciso combater energicamente o individualismo e elevar a
nossa moral revolucionária, cultivar o espírito coletivo, o espírito de
união, o respeito pela organização e o sentido da disciplina.
Nós devemos seguir de perto a realidade, consultar as massas,
respeitar e fazer vingar o direito do povo de ser o dono de seu próprio
destino.
Devemos esforçarmo-nos para estudar, elevar o nível dos nos-
sos conhecimentos para podermos levar a bom termo todas as nossas
tarefas.
Esta é uma forma realista de celebrar o aniversário da fundação
do Partido, o grande Partido da nossa classe operária e do nosso povo.
É também um trabalho necessário para ajudar os quadros e os
militantes a progredirem, a contribuírem mais eficazmente na luta pa-
triótica contra a agressão estadunidense, e na edificação vitoriosa do
socialismo.

escrito por ocasião do 39º aniversário


do Partido dos Trabalhadores do Vietnã
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 363 |

Apelo de 20 de julho de 1969

Caros combatentes e compatriotas em todo o país!


Há 15 anos, após a gloriosa vitória de Dien Bien Phu, os Acordos
de Genebra sobre o Vietnã reconheceram os direitos fundamentais do
nosso povo, a saber, a independência, a soberania, a unidade e a integri-
dade territorial. Estes acordos estipularam a realização em julho de 1956
das eleições gerais livres para a reunificação de todo o Vietnã. Mas os
imperialistas estadunidenses sabotaram descaradamente os Acordos de
Genebra, cometeram uma agressão contra o nosso país e declararam a
guerra colonial mais atroz da história.
Ao longo dos últimos 15 anos, nossas forças armadas e nosso
povo em todo o país, unidos como um só, desafiando os sacrifícios e as
privações, combateram com heroísmo sublime contra os agressores es-
tadunidense para salvar o país. Os planos de agressão dos imperialistas
estadunidenses falharam um após o outro, as derrotas destes tornaram-
se cada vez mais pesadas; nosso povo avançou de sucesso em sucesso e
alcançará infalivelmente a vitória total.
As forças armadas e a população do Norte reduziram a pó esta
guerra de destruição levada a cabo pelos agressores estadunidenses. As
forças armadas e a população do Sul estão em vias de lançar por terra
sua “guerra local”. Desde a primavera do ano Mau Than, a situação mu-
dou radicalmente a nosso favor, em desvantagem para o inimigo. Os 4/5
do território do Vietnã do Sul englobando os 3/4 da sua população fo-
ram libertados. Foi nestas condições de vitória que se realizou o Con-
gresso dos Representantes do Povo do Vietnã do Sul, que elegeu por
unanimidade o Governo Revolucionário Provisório da República do Vi-
etnã do Sul e o Conselho Consultivo. Este governo foi imediatamente
reconhecido por mais de 20 países amigos e acolhido calorosamente pe-
los povos.
Traindo os interesses do seu povo, o presidente Nixon continua
a acentuar a guerra de agressão no Sul de nosso país, a intensificar os
|364 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

ataques por B-52 e a disseminação de produtos químicos tóxicos, a bom-


bardear aldeias e cidades, a massacrar nossos compatriotas, perpetrando
novos crimes de uma selvageria inaudita. Nixon empreende a “desame-
ricanização” da guerra, na esperança de usar o exército fantoche para
combater o Vietnã do Sul.
Na Conferência de Paris, os imperialistas estadunidenses teimam
em avançar exigências absurdas; recusam-se a discutir seriamente a so-
lução global em 10 pontos, razoável e lógico, que preconizam a Frente
Nacional de Libertação e o Governo Revolucionário Provisório da Re-
pública do Vietnã do Sul. Nixon propõe-se a retirar 25 mil GI’s para
apaziguar a opinião pública estadunidense e mundial. É uma manobra
enganadora.
O povo vietnamita exige firmemente a retirada das tropas dos
Estados Unidos e dos seus satélites, não uma retirada de 250 mil ou 500
mil homens, mas a retirada total, completa, incondicional. Esta é a única
forma de recuperar a honra dos EUA e evitar a centenas de milhares de
jovens uma morte inútil no Vietnã do Sul, assim como a dor e luto de
milhares de famílias estadunidenses.
Após a retirada de todas as tropas, estadunidenses e satélites, e a
libertação completa do Vietnã do Sul, o Governo de Coligação Provisó-
rio, assim como previu na Solução Global em 10 pontos, organizará elei-
ções gerais livres e democráticas para permitir à população sul-vietna-
mita determinar ela própria seu regime político, eleger uma Assembleia
Constituinte, elaborar uma Constituição e formar o Governo de Coliga-
ção Oficial do Vietnã do Sul, fora de toda ingerência estrangeira. En-
quanto as tropas estadunidenses e a administração fantoche subsistirem
no Vietnã do Sul, as eleições gerais verdadeiramente livres e democráti-
cas serão absolutamente impossíveis.
A derrota dos imperialistas estadunidenses é já evidente, mas eles
não renunciaram, por enquanto, ao seu desejo de apoderar-se do Sul de
nosso país. As nossas forças armadas e todo o nosso povo, unido como
um só, dando provas do seu heroísmo revolucionário e não temendo
nem os sacrifícios e privações, estão determinados a prosseguir com per-
severança e a impulsionar a resistência, até à retirada total das tropas
estadunidenses e ao desmoronamento completo do exército e da admi-
nistração fantoches, para libertar o Sul, defender o Norte e caminhar
rumo à reunificação pacífica do país.
Aproveito esta ocasião para expressar, em nome das nossas for-
ças armadas e nosso povo, nossos sinceros agradecimentos pelo apoio e
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 365 |

ajuda consideráveis que encontramos junto de todos; estou convencido


de que os países socialistas irmãos, governos e povos amantes da paz e
da justiça, inclusive o povo progressista dos EUA, reforçarão seu apoio
e sua ajuda ao povo vietnamita na sua luta contra a agressão ianque, para
a salvação nacional até à vitória.
Combatentes e compatriotas de todo país, avançai resoluta-
mente! Os imperialistas agressores estadunidenses serão derrotados! O
povo vietnamita vencerá!
|366 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Mensagem de Ano Novo

Caros compatriotas e combatentes!

1968 foi para nossas forças armadas e para nosso povo em todo
o país um ano de grandes e retumbantes vitórias. Os imperialistas ian-
ques foram obrigados a cessar incondicionalmente a guerra de destrui-
ção no Vietnã do Norte.
Desde o princípio da primavera de 1968, pelos seus ataques e
sublevações ininterruptas, nossos compatriotas e combatentes do Sul
heroico registraram gloriosos sucessos.
Está fora de dúvida que os agressores estadunidenses sofreram
uma derrota completa. Nossas forças armadas e nosso povo em todo o
país, na sequência das suas vitórias, conquistarão certamente a vitória
total.
Por ocasião deste Ano Novo de 1969, em nome de todo o povo
vietnamita, eu saúdo e agradeço calorosamente aos países socialistas ir-
mãos, aos países amigos e aos povos amantes da paz e da justiça no
mundo, incluindo os progressistas que vivem nos Estados Unidos que
apoiaram e ajudaram de todo coração a luta patriótica do povo vietna-
mita contra a agressão estadunidense.
Desejo afetuosamente aos nossos compatriotas, aos nossos
combatentes e aos nossos quadros, assim como aos residentes chineses
nas duas zonas Norte e Sul e aos nossos compatriotas residentes no es-
trangeiro, um Ano Novo de união, de combate e de vitória. Eis os meus
votos de Ano Novo:
No ano passado, gloriosas foram as nossas vitórias,
Este ano verá certamente vitórias ainda maiores
Pela independência, pela liberdade,
Combatamos para colocar em retirada os ianques e abater todos
seus fantoches.
Em frente! Combatentes, compatriotas!
Norte e Sul reunidos, haverá uma primavera mais bela?

Primavera de 1969
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 367 |

Testamento

República Democrática do Vietnã


Independência – Liberdade – Felicidade

Ainda que a luta do nosso povo contra a agressão dos Estados


Unidos e pela salvação nacional deva passar por mais dificuldades e sa-
crifícios, estamos decididos a conquistar a vitória total.
Isto é certo.
Pretendo, assim que isto se resolva, viajar tanto ao Norte,
quanto ao Sul para felicitar nossos heroicos camponeses, quadros mi-
litares e combatentes, assim como visitar aos anciãos e nossas amadas
crianças e jovens.
Assim, em nome de nosso povo, irei aos países irmãos do campo
socialista e aos países amigos de todo o mundo para agradecer seu apoio
de coração e a ajuda que deram à luta patriótica de nosso povo contra a
agressão dos EUA.

●●●

Tu Fu, o famoso poeta do período Tang na China escreveu: “em


todas as épocas, poucos são os que alcançam 70 anos de idade”.
Este ano, levando em consideração que tenho 79, posso con-
siderar-me entre esses “poucos”. Ainda assim, minha mente se con-
serva perfeitamente lúcida, ainda que a saúde tenha se debilitado um
pouco em comparação aos últimos anos.
Quando alguém vivencia mais de 70 primaveras, a saúde se
deteriora com a idade. Isto não é lá uma maravilha.
Mas quem pode dizer quanto tempo mais serei capaz de servir à
revolução, à pátria e ao povo?
Portanto, deixo essas linhas antecipando o dia em que irei reunir-
me com Karl Marx, V. I. Lenin e outros líderes revolucionários. Assim,
nosso povo em todo o país, nossos camaradas no Partido e nossos ami-
gos no mundo não serão pegos de surpresa.
|368 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Primeiramente, falarei sobre o Partido: graças a sua estreita uni-


dade e dedicação total à classe operária, ao povo e à Pátria, nosso Partido
foi capaz, desde sua fundação, de unir, organizar e dirigir nosso povo,
de êxito em êxito, em uma firme luta.
A unidade é uma tradição extremamente preciosa de nosso Par-
tido e do povo. Todos os camaradas, do Comitê Central até as células
devem preservar a unidade e a união do pensamento no Partido como a
menina dos olhos.
No interior do Partido, estabelecer uma ampla democracia e pra-
ticar a autocrítica e a crítica de maneira regular e séria é a melhor forma
de consolidar e desenvolver a solidariedade e a unidade.
O afeto e a camaradagem devem prevalecer.
O nosso Partido é um partido no poder. Cada membro do par-
tido, cada quadro deve estar profundamente inspirado pela moral revo-
lucionária e demonstrar laboriosidade, frugalidade, integridade, probi-
dade, dedicação total ao interesse público e completo altruísmo.
Nosso Partido deverá preservar a pureza absoluta e provar-se
digno do seu papel de condutor e servidor legal do povo.
Os membros da União de Jovens Operários e nossa juventude
em geral são bons, sempre estão preparados para se oferecer, sem temer
as dificuldades, ansiosos pelo progresso.
O Partido deve fomentar suas virtudes revolucionárias e pre-
pará-los para que sejam nossos sucessores, tanto “vermelhos”, como
“experientes”, na construção do socialismo.
A preparação e a educação das futuras gerações de revolucioná-
rios são de grande importância e necessidade.
Nossos trabalhadores, nas planícies e montanhas, resistiram du-
rante gerações a penúrias, opressão e exploração feudal e colonial. Além
disso, experimentaram muitos anos de guerra.
Porém, nosso povo também mostrou grande heroísmo, valor,
entusiasmo e trabalho. Sempre seguiu o Partido com lealdade incondici-
onal desde que veio à luz.
O Partido deve ter planos eficazes para o desenvolvimento eco-
nômico e cultural para melhorar constantemente a vida do nosso povo.
A guerra de resistência contra a agressão dos Estados Unidos
pode se prolongar. Nosso povo pode enfrentar novos sacrifícios huma-
nos e materiais.
Não importa o que passe, devemos manter nossa decisão de
combater os agressores ianques até alcançarmos a vitória total.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 369 |

Nossas montanhas sempre existirão, nossos rios sempre existi-


rão, nosso povo sempre existirá.
Com a derrota dos invasores norte-americanos reconstruiremos
nossa terra até fazê-la dez vezes mais bonita.
Independentemente das dificuldades e dos contratempos que
surjam, nosso povo está confiante de que obterá a vitória total.
Os imperialistas dos Estados Unidos certamente terão que re-
nunciar. Nossa pátria certamente será unificada.
Nossos compatriotas no Sul e no Norte certamente serão reuni-
dos sob o mesmo céu.
Nós, que somos uma nação pequena, obtemos a mais honrosa
medalha por haver derrotado, através de uma heroica luta, dois grandes
imperialismos: o francês e o estadunidense, assim como por termos dado
uma valiosa contribuição ao movimento mundial de liberação nacional.
Sobre o movimento comunista mundial, o fato de ter sido um
homem que dedicou toda sua vida à revolução me faz sentir ainda mais
orgulho do crescimento do comunismo internacional e dos movimentos
operários, ainda que me doa a divergência que atualmente existe entre
os Partidos irmãos.
Espero que nosso Partido faça todos os esforços possíveis para
contribuir na restauração da unidade entre os Partidos irmãos que têm
por base o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário na ra-
zão e no sentimento. Confio plenamente que os Partidos e países irmãos
irão se unir novamente.
No que diz respeito aos assuntos pessoais, por toda a minha vida
servi à minha Pátria, à revolução e ao povo com todas as minhas forças
e com todo meu coração.
Se agora devo deixar esse mundo, não tenho nada de que me
lamentar, exceto de não ter sido capaz de servir mais e melhor.
Quando já tiver ido, para não desperdiçar o tempo e o dinheiro
do povo, devem evitar um funeral oneroso.

●●●

Por fim, a todo o povo, a todo o Partido, a todo o exército, a meus


sobrinhos e sobrinhas, aos jovens e crianças, deixo meu amor ilimitado.
Também transmito minhas cordiais saudações a nossos camara-
das e amigos, a juventude e a infância de todo o mundo.
|370 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Meu maior desejo é que nosso Partido e nosso povo, unindo


estreitamente seus esforços, construam um Vietnã pacífico, reunificado,
independente, democrático, próspero e que dê uma valiosa contribuição
à revolução mundial.

Hanoi, 10 de maio de 1969


Ho Chi Minh
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 371 |

POEMAS
|372 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 373 |

Diário da Prisão

É teu corpo o que está na prisão:


teu espírito não pode ser encarcerado.
Quanto mais alta põe sua meta no coração,
tanto mais há de estar melhor temperado.

Primeira Página

Fazer versos nunca foi para mim uma paixão


Mas contra o horrível tédio da reclusão lutando,
rimando farei mais curtos os dias na prisão
e esperarei que chegue minha liberdade cantando

Ingressando na prisão de Tsing Si

Na prisão os velhos acolhem ao que ingressa.


Brancas nuvens perseguem as nuvens de tormenta
E pelo céu, todas, livremente se afastam.
Um homem livre, sozinho, permanece na cela.
|374 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

O caminho da vida

Íngremes montanhas, riscos, desfiladeiros, sem perigo passei,


e agora no chão encontro difícil o caminho.
Ao tigre das cimeiras sem temor enfrentei,
me encontro com um homem e no cárcere me prende.

Eu do novo Vietnã sou o representante,


que em visita aos chefes deste país irmão
(acaso terra e mares de lugar foram mudados?)
se vê fazer as honras em prisão fechado.

Um homem honesto sou, de consciência tranquila,


E suspeitam que seja um tenebroso que espia.
É sempre perigosa a andança da vida,
Mas nunca como hoje tão escabrosa via.

A manhã

Na manhã o sol, subindo pelo muro, chega a porta e chama.


Mas a porta permanece fechada. Na prisão a noite continua,
mas aí está, muito próxima, a luz da manhã.

À caça de piolhos, os reclusos, despertando se lançam.


Dão 8: o sinal que a comida chama.
Animo, camarada! Há que comer.
Os que tanto sofremos,
Devemos resistir até que chegue a alvorada.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 375 |

Noite de outono

Frente ao porto em guarda com seu rifle


Acima, as nuvens desordenadas se levam à lua.
Os percevejos rondam como tanques em manobras
Enquanto que os mosquitos formam esquadrões,
Atacando como aviões de guerra.
Meu coração viaja mil quilômetros até minha terra natal.
Meu sonho se entrelaça com penas como um novelo de mil fios.
Inocente, suportei um ano completo na prisão.
Usando minhas lágrimas como tinta, transformo meus pensamentos
em versos.

Luz do luar

Que fazer na prisão, sem bebida nem flores,


em noite tão radiante, luminosa e serena?
Observa o homem à lua que esplendorosa se levanta.
A lua observa o poeta através da grade.
|376 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A visita da mulher do preso

Ele atrás das grades, ela do outro lado


Tão próximos ambos estão e contudo
como o céu e a terra separados.
O que os lábios calam, o dizem
os olhos desolados. Os olhos, ó dor,
que antes de falar já estavam
de lágrimas molhados.

A si mesmo

Sem o glacial inverno,sem o luto e a morte,


quem apreciar poderia, Primavera, tua glória?
São um crisol as penas que meu espírito tempera
e com aço puro o coração me forja.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 377 |

Translado do preso ao amanhecer

Cantou o galo uma vez: ainda é noite fechada.


Com sua escolta de estrelas, a lua lentamente
ascende até as cristas dos montes de outono.
Já está no caminho aquele que inicia uma larga viagem.
Golpeia o vento os rostos com ares gelados.

Avermelha a luz pelo Oriente


e as últimas sombras noturnas são varridas.
Por todo o universo, o calor da vida já se estende.
Desperta no viajante o poeta que dormia.

No caminho

Uma corda amarraram as minhas pernas e os braços me ataram.


Mas o suave perfume das flores e o canto dos pássaros, desde o bosque
me chegam.
Como impedir poderiam que esta me acompanhara?
Agora, nem é tão longo o caminho, nem estou sozinho.
|378 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

A manta de papel do companheiro de prisão

De livros velhos e de livros novos, as páginas unidas e coladas fazem


sua manta.
É de papel, mas é melhor do que nada.
Aqueles que abrigados, entre sedas, dormem em fina cama:
são muitos na prisão os que não dormem, sem abrigo nem manta.

Noite fria

Noite gelada de outono, sem manta nem colchão.


Curva as costas e as pernas dobro, buscando em vão o sonho.
O reflexo lunar sobre as bananas, faz sentir mais frio.
Através da grade, na janela, vejo a Ursa Maior que se desloca.

Atados pés e mãos

Largo dragão enlaça minhas pernas e meus braços.


Não há general que tenha mais belas tranças de ouro!
Os deles são tecidos de fino fio dourado,
enquanto os que eu levo são de corda de cânhamo.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 379 |

A mulher do desertor

Meu esposo se foi e não regressará.


Nosso quarto era triste para minha solidão.
Ao nobre mandarim minha pena comoveu
e alojar-me no cárcere me convidou.

Ironizando

Generoso o Estado que me alimenta e hospeda em seus palácios


e me põe sua escolta. Aliviando-se, seus guardas me acompanham
enquanto eu passeio, admirando a paisagem.
Ante tantas honras já não duvido:
sou um homem importante.

Meus guardiões levam um porco

Com uma corda amarrada meus guardiões me levam enquanto carre-


gam um porco. Ao homem se arrasta
mas se carrega o porco. Quando perde sua liberdade
vale menos o homem que o suíno.

Na vida há mil males e dez mil amarguras.


Perder sua liberdade é a prova mais dura.
Quando lhe confiscam movimento e palavras ao homem, cavalo e bú-
falo, a corda os iguala.
|380 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Tristeza

Se alçam por todas as partes as chamas da guerra subindo


ao céu azul.
Por ir combater, os homens rivalizam.
Quanto sobre mim pesa a inação da cela!
Minhas nobres ambições, parece que não valem uma má moeda.

Insônia

As horas da noite passam intermináveis.


O sonho me é negado e me agito angustiado.
Uma hora e outra mais. Não sei se durmo ou velo
Sobre uma estrela de ouro giram meus pensamentos.

O canto do arroz no pilão

No pilão os golpes sofrem o grão de arroz


mas termina o castigo em admirável brancura!
Igual sucede ao homem no decorrer da vida:
o pilão da dor o pole e dignifica.
| Obras Escolhidas | Ho Chi Minh | 381 |

O 11 de novembro

No passado, o fim da Primeira Guerra Mundial em 11 de novembro a


Europa celebrava.
Hoje outra vez em cinco continentes, árduas lutas se engajam,
e no crimes os nazistas se satisfazem e eriçam.

Seis anos já faz que a China luta. Suas heroicas façanhas


conhece o mundo, e já os chineses tem a vitória em um punho.
Mas o golpe final para o triunfo
reclama todavia um esforço maiúsculo.

Hoje as bandeiras antijaponesas, por toda a Ásia se alça.


Há bandeiras grandes e há bandeiras pequenas.
Não são todas iguais, desde logo. Mas si as grandes
necessárias nos são, também necessitamos
das pequenas bandeiras.

Alerta no Vietnã

Preferível é morrer do que viver como escravo!


Enquanto que em todas as partes nossas bandeiras vermelhas
de liberdade se erguem, minha miséria no cárcere me retém
e, ao campo de batalha, ir ocupar meu posto não me deixa.
|382 |Obras Escolhidas| Ho Chi Minh |

Sobre a leitura de
“Antologia de Mil Poetas”

Aos antigos lhes apetecia cantar a beleza natural:


Neves e flores, lua e vento, neblina, montanhas e rios.
Hoje deveremos fazer poemas que incluam ferro e aço,
E o poeta também deveria saber conduzir um ataque.

Gravemente doente

Os caprichos do céu da China, meu corpo está quebrantado.


Os grandes sofrimentos de minha pátria, rompem meu coração.
A doença é sempre para o preso a maior amargura.
O natural seria chorar, mas prefiro cantar.

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