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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 1

ANTROPOLOGIA

BÍBLICA 
[Estudo da Doutrina
do Homem e do Pecado] 

Heber Carlos de Campos

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Índice
Índice ......................................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11
A DOUTRINA DO HOMEM NA SISTEMÁTICA............................................................. 12
PARTE 1 ................................................................................................................... 13
A CONDIÇÃO DO HOMEM ANTES DA QUEDA .......................................................... 13
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 14
A CRIAÇÃO DO HOMEM ........................................................................................... 14
ANTROPOGENIA ....................................................................................................... 14
Conceito Evolucionista da Origem do Homem ............................................................ 14
1. Evolucionismo Materialista ................................................................................ 14
2. Evolucionismo Teísta......................................................................................... 15
Conceito Criacionista da Origem do Homem .............................................................. 15
A Unidade da Raça ................................................................................................ 15
Criação Mediata ou Imediata? ............................................................................... 16
A criação do ser humano completo ........................................................................ 16
Distinções entre o Homem e os outros Animais Inferiores ....................................... 16
CAPÍTULO II ............................................................................................................. 18
A NATUREZA DO HOMEM ........................................................................................ 18
1. UM SER DEPENDENTE E RESPONSÁVEL ............................................................. 19
Livre Arbítrio & Livre Agência .................................................................................... 20
2. UM SER SANTO .................................................................................................... 22
Santidade Derivada e Finita ........................................................................... 24
CAPITULO III ............................................................................................................ 26
A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM ........................................................... 26
Base Escriturística da Natureza Constitucional do Homem ........................................ 26
1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser material ou físico) ............................. 27
2. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterial ou espiritual)........................ 29
A Unidade do Homem ............................................................................................... 29
A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE ENTRE CORPO- ALMA E/OU
CORPO-ESPÍRITO. ............................................................................................................... 30
(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO), ............................. 30
(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO): ................... 31
B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO, DISTINGUIR OS TERMOS ALMA E
ESPÍRITO. ........................................................................................................................... 32
C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS TERMOS ALMA E ESPIRITO
INDISTINTAMENTE.............................................................................................................. 33
(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma  pessoa
desincorporada. ................................................................................................................ 33
(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a expressões de
emoção e de devoção. ....................................................................................................... 34
(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obra
redentora e santificadora de Cristo. .................................................................................. 37
3. O HOMEM É CORAÇÃO ........................................................................................ 39
A) A ABRANGÊNCIA DO SIGNIFICADO DO TERMO ―CORAÇÃO” NA ESCRITURA: . 39
(1) Referência a ―coração‖ no Livro de Provérbios ................................................ 39
(2) Referências a coração no uso de Jesus Cristo ................................................ 40
(3) Referências a ―coração‖ na mensagem de Paulo ............................................. 40
B) A ESCRITURA USA O TERMO CORAÇÃO COMO INDICATIVO DE: ..................... 40
1. Coração como Indicativo de Atividade Intelectual............................................ 41
2. Coração como Indicativo de Atividade Volitiva ................................................ 41
3. Coração como Indicativo de Atividade Emotiva ............................................... 41

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CAPÍTULO VI ............................................................................................................ 61
O HOMEM NO PACTO DAS OBRAS ........................................................................... 61
 Teologia do Pacto ou Teologia Federal ........................................................................ 61
O SIGNIFICADO DO TERMO ―PACTO‖ ....................................................................... 61
O NOME ―PACTO DAS OBRAS‖ ................................................................................. 62
EVIDÊNCIA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS ........................................................... 63

O PACTO DASdeu
1. Deus OBRAS
ao homemE A LEI uma DElei DEUS ..................................................................
natural. ............................................................ 64
2. Deus deu ao homem uma lei expressa em palavras. ....................................... 65
OS ELEMENTOS DO PACTO DAS OBRAS ................................................................. 65
1. Partes Contratantes .......................................................................................... 65
2. Promessa de Vida Condicionada à Obediência .................................................... 66
Este é o ensino de Moisés .................................................................................. 66
Este é o ensino de Davi ...................................................................................... 66
Este é o ensino de Paulo .................................................................................... 67
Este é o ensino de Jesus .................................................................................... 67
Este é o ensino dos Padrões de Fé de Westminster ............................................. 68
3. A Ameaça de Morte em Caso de Desobediência .................................................. 68
4. O Sacramento do Pacto ..................................................................................... 69
A VIOLAÇÃO DO PACTO DAS OBRAS ....................................................................... 70
A Gravidade da Violação do Pacto .......................................................................... 70
A IDÉIA DE REPRESENTATIVIDADE NO PACTO DAS OBRAS .................................... 70
Adão é o Cabeça Natural da Raça .......................................................................... 71
Adão é o Cabeça Representativo da Raça ............................................................... 71
Paralelo entre o Primeiro Adão e o Último Adão ...................................................... 72
FUNÇÃO ATUAL DO PACTO DAS OBRAS .................................................................. 74
Sentidos em que o Pacto das Obras Ainda Vigora ................................................... 74
O Pensamento Arminiano .................................................................................. 74
O Pensamento Reformado .................................................................................. 74
Sentidos em que o Pacto das Obras Não Mais Vigora .............................................. 75
PARTE 2 ................................................................................................................... 76
A CONDIÇÃO DO HOMEM E A QUEDA ..................................................................... 76
A LIBERDADE E A MUTABILIDADE PARA O PECADO ............................................... 77
CAPITULO VII ........................................................................................................... 79
A ORIGEM DO MAL MORAL ...................................................................................... 79
A) DADOS BÍBLICOS SOBRE A ORIGEM DO MAL ................................................. 79
Análise de Is 45.1-7 .................................................................................................. 80
B) DADOS BÍBLICOS SOBRE O CARÁTER DO PECADO ........................................ 85
1) O Pecado é uma classe específica de mal ........................................................ 85
2) O Pecado tem um caráter absoluto ................................................................. 85
3) O Pecado tem a ver com a transgressão da Lei ................................................ 86
C) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO ANGELICAL ............................................. 86
D) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO DOS HOMENS ......................................... 87
Análise de Gn 3.1-6 .................................................................................................. 87
PARTE 3 ................................................................................................................... 92
A CONDIÇÃO DO HOMEM DEPOIS DA QUEDA ......................................................... 92
(DOUTRINA DO PECADO) ......................................................................................... 92
CAPÍTULO VIII .......................................................................................................... 93
A TRANSMISSÃO DO PECADO .................................................................................. 93
CONEXÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DA POSTERIDADE .................................. 93
A. OS QUE NEGAM ESTA CONEXÃO..................................................................... 93
1) Os Pelagianos ................................................................................................ 93
2) Os Semi-Pelagianos ....................................................................................... 95
3) Os Arminianos Consistentes .......................................................................... 98
B. OS QUE AFIRMAM ESTA CONEXÃO ............................................................... 100

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1) Todos os que Sustentam a Teoria Realista .................................................... 100


2) Todos os que sustentam o Pacto das Obras .................................................. 101
a) A Relação Natural de Adão com a Raça ..................................................... 102
b) A Relação Pactual de Adão com a Raça ..................................................... 102
c) Distinção de sentido nas Palavras JUSTO e INJUSTO ............................... 103
d) A Base Bíblica da Imputação do Pecado de Adão ....................................... 104

Análise O
doPrincípio
texto de da
Rom. 5.12-21: ...........................................................................
Representação na Escritura ................................................... 108 104
3) Os que Sustentam a Teoria da Imputação Mediata ....................................... 109
CAPITULO IX .......................................................................................................... 111
AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA VIDA DA RAÇA HUMANA ............................ 111
1. CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃO ....................................................................... 111
Análise de Gn 3.7-24........................................................................................... 112
2. CONSEQÚÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANA ..................................................... 117
CAPITULO X ........................................................................................................... 119
O PECADO ORIGINAL ............................................................................................. 119
1. CULPA ORIGINAL............................................................................................ 119
Reatus Culpae  ................................................................................................. 119
Reatus Poenae  ................................................................................................. 120

2. a)
CORRUPÇÃO
Ausência deORIGINAL ..................................................................................
Justiça Original ........................................................................ 120
 Justiça ........................................................................................................ 120
Santidade .................................................................................................... 120
Conhecimento Verdadeiro ............................................................................ 121
b) Presença de um Mal Verdadeiro ....................................................................... 121
DEPRAVAÇÃO TOTAL ............................................................................................. 121
a) Descrição Bíblica da Corrupção do Pecado ....................................................... 121
b) Descrição Bíblica do Homem Corrupto ............................................................. 122
A DEPRAVAÇÃO DO CORAÇÃO HUMANO ............................................................... 122
OS VÁRIOS NOMES PARA DEPRAVAÇÃO NA ESCRITURA ....................................... 126
1. Corrupção do Coração ..................................................................................... 126
2. Cegueira do Coração ....................................................................................... 126
3. Dureza de Coração .......................................................................................... 127
4. Consciência Corrompida.................................................................................. 127
5. Escravidão do Pecado ...................................................................................... 128
6. Escravidão da Corrupção................................................................................. 129
7. Escravidão de Satanás .................................................................................... 129
CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃO .................................................................... 130
1. É comum a todos desde o Ventre Materno ....................................................... 130
2. Afeta a Totalidade do Ser Humano ................................................................... 132
A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL .................................................................. 133
Sobre o termo depravação ............................................................................ 133
Sobre o adjetivo "total" ................................................................................. 133
1. O CORPO ........................................................................................................ 133
2. ALMA .............................................................................................................. 134
a) Mente .......................................................................................................... 134
b) Emoções...................................................................................................... 137
C. Vontade ...................................................................................................... 141
A Vontade e os Motivos ................................................................................ 141
INCAPACIDADE TOTAL ........................................................................................... 144
1. O Homem é Incapaz de Sensibilidade Moral ................................................. 147
2. O Homem é Incapaz de Obediência Moral ..................................................... 149
3. O Homem é Incapaz de Amar a Deus ........................................................... 149
4. O Homem é Incapaz de Amar Aqueles que são de Deus ................................ 150
5. O Homem ê Incapaz de Perceber e Fazer as Coisas Santas ............................ 151

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6. O Homem é Incapaz de Vir a Cristo .............................................................. 153


PARTE IV ................................................................................................................ 155
A CONDIÇÃO DO HOMEM NO PLANO REDENTOR DE DEUS .................................. 155
(A DOUTRINA DO PACTO) ....................................................................................... 155
CAPITULO XVI ........................................................................................................ 156
O HOMEM NO PACTO DA GRAÇA ........................................................................... 156

A Necessidade
O PACTO DA GRAÇAdo Estabelecimento
CONCEBIDO NAdoETERNIDADE Pacto da Graça .......................................... 156
..............................................
1. Este Pacto foi feito na Eternidade .................................................................... 156
2. Este Pacto foi feito entre o Pai e o Filho ............................................................ 157
3. Este Pacto teve Cristo como Fiador e Cabeça .................................................... 158
a) Cristo Como Fiador do Pacto .................................................................... 158
b) Cristo como Cabeça do Pacto ................................................................... 159
4. Este Pacto foi de Obras Para Cristo .................................................................. 159
5. Este Pacto possuía Requisitos e Promessas ...................................................... 159
a) Requisitos ................................................................................................ 159
b) Promessas ............................................................................................... 159
6. Este Pacto foi feito em favor do Pecador Eleito .................................................. 160
O PACTO DA GRAÇA REALIZADO NA HISTÓRIA ..................................................... 160

1. A Intervenção
2. Base para a Divina
Intervenção Graciosa
é Soberana de Deus ...................................................
e Incondicional ............................................. 160
161
AS PARTES CONTRATANTES .............................................................................. 161
AS PROMESSAS DO PACTO ................................................................................ 161
AS CARACTERÍSTICAS DO PACTO ...................................................................... 161
É um Pacto Gracioso ........................................................................................... 161
Com Origem Trinitária ........................................................................................ 161
 Tem Conseqüências Eternas................................................................................ 161
Destinado a um Povo Especial ............................................................................. 161
É o mesmo em Ambas as Dispensações ............................................................... 161
O PAPEL DE CRISTO NA REALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PACTO ........................... 161
ASPECTOS DO PACTO............................................................................................ 161
Relação Legal ...................................................................................................... 161
Relação de Comunhão de Vida ............................................................................ 161
AS VÁRIAS DISPENSAÇÕES DO PACTO DA GRAÇA ................................................ 161
1. PACTO DE DEUS COM NOÉ ............................................................................... 162
Sua Relação com os outros Pactos ............................................................... 163
As Promessas do Pacto com Noé .......................................................................... 164
As Características do Pacto com Noé .................................................................... 165
2. PACTO DE DEUS COM ABRAÃO ......................................................................... 165
Partes Contratantes ............................................................................................ 165
Um Pacto Incondicional ....................................................................................... 165
Um Pacto Amoroso .............................................................................................. 165
Um Pacto Eterno ................................................................................................. 165
A Eternidade do Pacto Afirmada ................................................................... 165
A Eternidade do Pacto Demonstrada ............................................................ 166
As Promessas desse Pacto ................................................................................... 166
Promessas Gerais ................................................................................................ 166
Promessas Específicas ......................................................................................... 167
a) Promessa de Deus estar presente no meio do povo .................................... 167
É uma promessa de restauração ........................................................... 167
É uma promessa de comunhão ............................................................. 168
b) Promessa de Yehovah ser o Deus da Descendência de Abraão ................... 168
c) Promessa de a Descendência de Abraão ser Povo de Yehovah .................... 168
O Povo de Yehovah é um povo Santo ..................................................... 169
O Povo de Yehovah é um povo Peculiar ................................................. 169

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O Sacramento do Pacto com Abraão .................................................................... 169


3. O PACTO SINAÍTICO ........................................................................................... 169
Partes Contratantes ............................................................................................ 169
O Estabelecimento do Pacto Sinaítico .................................................................. 170
 Tipo - Um Pacto Condicional ............................................................................... 170
O Pacto é confirmado quando há a obediência ao Senhor .............................. 170

O Pacto é quebrado
Renovado quando
quando há há aa desobediência
volta sincera para ao Senhor
o Senhor ...........................
....................... 170
A Singularidade do Pacto Sinaítico ...................................................................... 171
O Sacramento do Pacto Sinaítico ......................................................................... 171
Aspectos do Pacto Sinaítico ................................................................................. 171
O Pacto Sinaítico é uma continuação do Pacto Abraâmico ............................ 171
O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça ......................................................... 172
O Pacto Sinaítico é um Pacto Nacional ......................................................... 172
4. O PACTO DE DEUS COM OS LEVITAS ................................................................ 173
 Tipo - Um Pacto Incondicional ............................................................................. 173
Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 173
Um Pacto Perpétuo .............................................................................................. 174
A Violação Pacto.................................................................................................. 174
5. PACTO DE DEUS COM DAVI .............................................................................. 175
Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 175
Aspectos do Pacto Davídico ................................................................................. 176
1. É uma Continuação do Pacto da Graça .................................................... 176
2. E um Pacto Eterno ................................................................................... 176
3. É um Pacto cumprido em Cristo ............................................................... 177
6. O NOVO PACTO .................................................................................................. 178
PARTES CONTRATANTES ................................................................................... 178
O ESTABELECIMENTO DO NOVO PACTO ........................................................... 178
 TIPO - UM PACTO INCONDICIONAL .................................................................... 178
O TEMPO DO CUMPRIMENTO DO NOVO PACTO ................................................ 178
RELAÇÃO DO NOVO PACTO COM OS PACTOS ANTERIORES .............................. 179
Relação com o Pacto Abraâmico........................................................................... 179
Relação com o Pacto Sinaítico.............................................................................. 180
Relação com o Pacto Levítico ............................................................................... 180
Relação com o Pacto Davídico .............................................................................. 180
CONTRASTES ENTRE O VELHO PACTO E O NOVO PACTO ................................. 180
SEMELHANÇAS .................................................................................................. 181
Os dois pactos possuíam algumas promessas comuns ......................................... 181
Os dois pactos eram caracterizados pelo sacrifício de um Cordeiro ....................... 181
Os dois pactos são sancionados com sangue ........................................................ 181
Os dois pactos possuem o mesmo livro da lei ....................................................... 181
DIFERENÇAS ...................................................................................................... 181
1. O Antigo Pacto era Condicional e o Novo era Incondicional ............................... 181
2. O Novo Pacto ê superior ao Antigo Pacto .......................................................... 181
a) Superioridade quanto ao Sacerdócio ......................................................... 181
b) Superioridade quanto aos Sacrifícios ........................................................ 182
c) Superioridade quanto ao Lugar dos Sacrifícios .......................................... 182
c) Superioridade quanto à Administração da Lei: .......................................... 182
d) Superioridade quanto às Promessas ......................................................... 182
e) Superioridade quanto ao conceito de Redenção ......................................... 183
PROMESSAS DO NOVO PACTO ........................................................................... 183
1. A Promessa da doação de um novo coração ...................................................... 183
2. A Promessa da Interiorização da lei de Deus .................................................... 183
3. A Promessa de um Conhecimento Pessoal do Senhor ....................................... 185
a) É uma promessa de caráter pessoal.......................................................... 185

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b) É uma promessa de caráter universal ....................................................... 185


c) É uma promessa de caráter nivelador ....................................................... 185
d) É uma promessa de caráter eficaz ............................................................ 186
e) É uma promessa de cumprimento pleno no futuro .................................... 186
4. A Promessa de Ser o Deus do Povo e deles serem Povo de Deus ........................ 186
"Eu serei o seu Deus" ........................................................................... 186

5. A Promessa "Elesdo serão o meu


Perdão dospovo" ........................................................................
Pecados .................................................................. 187
6. A Promessa deles terem o Temor de Deus no Coração ...................................... 188
7. A Promessa de Bênçãos Contínuas .................................................................. 189
8. A Promessa da Perseverança deles no Senhor .................................................. 189
9. A Promessa de terem para sempre o Tabernáculo do Senhor ............................ 190
10. A Promessa de prover o grande Pastor para o seu povo ................................... 190
a) Cristo é o Pastor Prometido ...................................................................... 191
b) Cristo é o Grande Pastor .......................................................................... 191
c) Cristo é o Único Pastor ............................................................................. 191
d) Cristo é o Pastor das Ovelhas ................................................................... 191
e) Cristo tornou-se Pastor Pelo Sangue do Pacto ........................................... 191
f) Cristo é o Pastor que venceu a morte ......................................................... 191
ASPECTOS DO NOVO PACTO ................................................................................. 191
1. É uma Continuação do Pacto da Graça ............................................................ 191
2. É um Pacto Eterno .......................................................................................... 192
3. É um Pacto que tem Jesus como o Fiador ........................................................ 192
4. É um Pacto que tem Jesus como Mediador ...................................................... 192
A CONTINUIDADE DO PACTO DA GRAÇA NO N.T. .................................................. 192
UNIDADE DO PACTO DA GRAÇA NOS DOIS TESTAMENTOS .................................. 192
1. A Expressão Resumida do Pacto é a Mesma nos dois Testamentos ................... 192
2. O Evangelho do Pacto é o mesmo nos dois Testamentos ................................... 192
3. O Modo da Recepção da Salvação é a mesma nos dois Testamentos ................. 193
4. O Mediador do Pacto é o mesmo em ambos os Testamentos ............................. 193
5. As promessas do Pacto são as mesmas em ambos os Testamentos ................... 193
a) A Promessa á Descendência de Abraão ser Povo de Deus no VT e NT ......... 193
Raça Eleita ........................................................................................... 194
Sacerdócio Real .................................................................................... 194
Nação Santa ......................................................................................... 194
Povo de Propriedade exclusiva de Deus ................................................. 194
Antes não éreis povo ............................................................................. 194
Agora sois povo de Deus ....................................................................... 195
b) A Promessa de Yehovah de ser o Deus da Descendência de Abraão no VT e no
NT .......................................................................................................................... 195
c) A Promessa da Posse da Terra no VT e NT................................................. 196
6. Os Sacramentos do Pacto da Graça são os mesmos em ambos os Testamentos . 196
CAPITULO XIII ........................................................................................................ 197
OS PECADOS ATUAIS............................................................................................. 197
A ORIGEM DOS PECADOS ATUAIS ......................................................................... 197
Veja o Ensino de Jesus ....................................................................................... 197
Veja o ensino de Paulo ........................................................................................ 198
Veja o ensino de Tiago ......................................................................................... 198
OS VÁRIOS NOMES DOS PECADOS ATUAIS ........................................................... 198
OS PECADOS ATUAIS E SUA RELAÇÃO COM A LEI DE DEUS ................................ 198
A MULTIPLICIDADE DOS PECADOS ATUAIS ........................................................... 198
OS OBJETOS DOS PECADOS ATUAIS .................................................................... 199
Pecados diretos contra Deus ................................................................................ 199
Pecados contra o próximo .................................................................................... 200
Pecados contra si próprio .................................................................................... 200

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OS MODOS DOS PECADOS ATUAIS ....................................................................... 201


Pecados Internos ................................................................................................. 201
Pecados Externos ................................................................................................ 201
AS PARTES DOS PECADOS ATUAIS ........................................................................ 202
Pecados de Omissão ............................................................................................ 202
Pecados de Comissão .......................................................................................... 202

OSPecados
GRAUS de DOS PECADOS
Ignorância ATUAIS ........................................................................ 203
.........................................................................................
Pecados deliberados ............................................................................................ 204
A gravidade de ambos os pecados:................................................................ 204
DISTINÇÕES DOS PECADOS ATUAIS ..................................................................... 204
Pecados Remissíveis e Irremissíveis ..................................................................... 204
CAPITULO XV ......................................................................................................... 206
A PUNIÇÃO DO PECADO ........................................................................................ 206
A ORIGEM DA PUNIÇÃO ......................................................................................... 206
OS PROPÓSITOS DA PUNIÇÃO DIVINA ................................................................... 206
a) Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina ............................................................. 206
b) A Reforma do Pecador ..................................................................................... 206
c) Fazer com que os homens desistam de pecar .................................................... 206
 TIPOS DE PUNIÇÃO DIVINA.................................................................................... 206
(a) Castigos Naturais ........................................................................................... 206
(b) Castigos Positivos ........................................................................................... 207
A PUNIÇÃO DE MORTE .......................................................................................... 207
O Conceito de Morte ............................................................................................ 207
O poder sobre a morte ......................................................................................... 207
A Causa Judicial da Morte .................................................................................. 207
PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA PRESENTE .................................................................... 208
1. MORTE ESPIRITUAL ....................................................................................... 208
A Natureza dessa morte....................................................................................... 208
O tempo dessa morte .......................................................................................... 209
O Modo que essa morte chegou até nós ............................................................... 209
A Inescapabilidade dessa morte ........................................................................... 209
A Duração dessa morte ....................................................................................... 210
2. OS SOFRIMENTOS DESTA VIDA ..................................................................... 210
Sofrimentos no ser material ................................................................................. 210
Sofrimentos no ser Imaterial................................................................................ 210
Sofrimentos do ser Social .................................................................................... 210
3. MORTE FÍSICA ............................................................................................... 211
A Natureza da Morte Física .................................................................................. 211
O Processo da Morte Física .................................................................................. 211
A Inescapabilidade da Morte Física ...................................................................... 212
A Morte Física do Cristão .................................................................................... 213
Diferença entre o Cristão e o Ímpio na morte Física .............................................. 215
PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA FUTURA ........................................................................ 215
4. MORTE ETERNA ............................................................................................. 215
O Lugar desse Castigo ......................................................................................... 215
O uso da palavra grega Hades  ...................................................................... 215
O Uso do Termo Grego Gehenna .................................................................. 216
O Uso do Termo Grego Tártaro  ..................................................................... 217
A plenitude desse castigo .................................................................................... 217
O Tempo desse castigo ........................................................................................ 217
A Duração desse castigo ...................................................................................... 218
O Sentido da palavra “eterno"  ....................................................................... 218
As Teorias dos Adversários das Penas Eternas .............................................. 219
A teoria da Não-Punição ....................................................................... 219

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A Teoria do Aniquilacionismo ................................................................ 219


A Teoria da Segunda Chance ................................................................ 219
A Teoria da Redenção Universal ............................................................ 219
Objeções a essas teorias .............................................................................. 220
A Condição em que se suporta esse castigo .......................................................... 220
Os sofrimentos desse castigo ............................................................................... 220

Os Objetos desse castigo


A Inescapabilidade desse .....................................................................................
castigo ......................................................................... 221 222

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 11

INTRODUÇÃO
Não devemos confundir essa matéria com a antropologia cultural, ou a ciência da raça,
que inclui todas as outras ciências ligadas ao homem, como por exemplo: psicologia, sociologia,
lingüística, etc. Neste capitulo estudaremos uma antropologia bíblica e teológica, não uma
antropologia filosófica ou cultural. O homem sempre foi o centro das preocupações filosóficas,
mas não será esta a preocupação deste estudo. Veremos o homem à luz do que Deus pensa dele.
Esta é uma abordagem desafiadora, especialmente num tempo quando Deus não entra na conta
dos homens, quando estes se estudam a si mesmos.
Vamos analisar como o homem veio de Deus, qual foi seu comportamento no Éden, quais
foram as causas da sua queda, os resultados dela, e a redenção do homem em Cristo, no pacto da
graça, tudo com base na revelação de Deus como está nas Santas Escrituras.
Na antropologia bíblica vamos estudar o homem no seu relacionamento com Deus. É uma
tolice tentar conhecer o homem sem que o conheçamos à luz da revelação divina. Por causa da
tentativa de se estudar o homem à parte das informações que o próprio Deus dá do ser humano,
muitos erros são cometidos na avaliação do homem pelo homem. Portanto, o estudo da
antropologia tem que ser feito à luz da teologia que é baseada na revelação da Escritura.
O estudo da antropologia é extremamente importante, especialmente dentro da esfera
teológica. A teologia cristã foi elaborada quando, cientificamente, o homem pensava
geocêntricamente, isto é, que a terra era o centro de tudo. O grande astro girava em torno da
terra, e tudo servia a terra. Com a entrada de Nicolau Copérnico, o mundo passou a pensar
heliocentricamente. Com essa mudança do geocentrismo para heliocentrismo, diz Verduin, a
terra, a habitação do homem, pareceu muito menos importante. Com o advento do
heliocentrismo, com a revolução Copérnica, a terra perdeu o seu lugar central. ―Esta mudança
tendeu a diminuir o lugar e a importância do homem; esta mudança fé-lo sentir-se pequeno e
menos importante‖. 1  A enormidade do universo veio à tona com a implementação das
descobertas telescópicas. Cada vez mais a terra tornou-se menor, e menor ainda a importância
daquele que foi feito ―menor do que Deus‖. De lá para cá, pouca atenção tem sido dada ao estudo
do homem, como parte da criação de Deus.
A diminuição da importância do homem devido à descoberta do tamanho do universo, e o
empequenecimento de sua existência tão curta, em vista da suposta longa duração e existência
do universo material, não devem desanimar o homem no estudo sério das suas origens e do seu
comportamento. E este estudo tem crescido neste últimos dois séculos, mas sem as devidas
precauções. Os cientistas têm desprezado as informações que Deus dá das origens e do
comportamento dos homens na Sua Palavra. Isto tem levado a distorções sérias no estudo da
antropologia.
O estudo do homem deveria merecer uma atenção maior da parte de todos nós, não que o
homem seja o centro absoluto do universo, mas pela dedicação e atenção que o próprio Deus lhe
deu, quando o criou à sua própria imagem e semelhança. Essa atenção deveria ser dada, ao
menos, pelos psicólogos, antropólogos e outros cientistas cristãos. Deveríamos devolver ao
estudo da teologia, uma boa base de antropologia bíblica.
Fazemos jus a uma boa antropologia bíblica, quando estudamos as origens do homem
dentro da Escritura. Por essa razão, a primeira parte da antropologia tem a ver com a criação do
homem.

1 Leonard Verdum, Somewhat Less than God, (Eerdmans, 1970), 9-10.

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A DOUTRINA DO HOMEM NA SISTEMÁTICA


E perfeitamente natural a transição do estudo do ser de Deus (Teontologia) para o estudo
do ser humano (Antropologia). Este não é somente a coroa da criação, mas é o objeto especial da
preocupação de Deus. A Escritura mostra essa preocupação de Deus nos muitos textos que
tratam da criação,
suas relações com da queda
Deus e da redenção
e, como do em
ato reflexo, homem.
suas Na Escritura,
relações com ooshomem sempre é visto
seus semelhantes. nas
Estas
relações mostram a grande importância para todos nós do estudo da antropologia.
A transição da teontologia para a antropologia é absolutamente necessária, porque a
primeira prepara o terreno para a segunda. A visão que temos do homem dependerá, em última
instância, do conceito que tivermos de Deus. Os departamentos da sistemática estão
absolutamente interligados, de tal forma que o conceito que temos de um, determina o conceito
de outro.

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PARTE 1

A CONDIÇÃO DO

HOMEM ANTES DA

QUEDA

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CAPÍTULO 1
A CRIAÇÃO DO HOMEM

ANTROPOGENIA
O livro do Gênesis, que é o livro dos começos, não trata simplesmente da cosmogonia, que
é o vir à existência do cosmos material, mas também de antropogenia, que é o vir à existência do
ser humano. A criação do mundo material foi em função da criação do dominador dele. Deus
colocou o homem como governador e dominador de toda a criação, conforme nos diz o Salmo 8.
Depois do propósito da glória de Deus, todas as coisas foram feitas para que o homem
desfrutasse delas. O nosso planeta e o restante do cosmos foram designados para o bem-estar do
último dos seres criados, o homem. Por isso é dito do homem como sendo a coroa da criação. O
homem é apresentado na Escritura como o capeamento ou o acabamento da empreitada criadora
total do Todo-Poderoso. Da criação do homem Leonard Verduin diz: ―Antes do homem entrar em
cena, no fim de cada dia da atividade criadora de Deus, o Artífice Divino chama o produto da Sua
criação ―bom‖; mas só após o homem entrar em cena ele é chamado ―muito bom‖. 2 
Contudo, ignorando em parte aquilo que a narrativa da criação diz nos primeiros
capítulos de Gênesis, no século passado alguns estudiosos tentaram derrubar tudo o que até
então havia sido crido pela igreja cristã. Levantou-se no seio da igreja, especialmente na Europa,
a doutrina do evolucionismo que permeou até os limites do cristianismo ortodoxo. O
evolucionismo da criação do homem teve um número crescente de adeptos até algumas décadas

atrás, mas o seu


anteriormente número
cridas, está decrescendo
no mundo ultimamente
científico, pelos devido
primeiros à queda de algumas das teorias
evolucionistas.

Conceito Evolucionista da Origem do Homem


Há dois tipos de evolucionismo ainda vigentes no mundo teológico e científico, que devem
ser analisados, mesmo que de maneira bastante superficial: o primeiro é o evolucionismo
materialista (dentro dos círculos não-cristãos), e o segundo é o evolucionismo teísta (dentro dos
círculos cristãos).

1. Evolucionismo Materialista
Há muitas variações do evolucionismo, mas Berkhof resume dizendo que ―qualquer que
seja a diferença de opinião que possa haver nesse ponto, é seguro que, segundo a evolução
materialista, o homem descende dos animais inferiores no corpo e na alma, mediante um
processo natural de perfeição, controlado totalmente por energias inerentes.‖ 3 
A doutrina do evolucionismo materialista é um ataque frontal às doutrinas da Escritura.
É uma negação de toda a história, como revelada por Deus, que é o fundamento de todo o
cristianismo. Se os animais e os homens evoluem, então não houve os primeiros pais, não houve

2 Leonard Verduin, Somewhat Less than God, (Eerdmans, 1970), 9. 


3 Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Grand Rapids: Tell, 1981) 216 (edição castelhana).

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Paraíso, não houve queda. E se não houve queda, não houve necessidade de redenção. Jesus veio
ao mundo sem qualquer razão. O evolucionismo nega tudo o que aconteceu, que é fundamental
para a vida humana. O evolucionismo nega Deus.

2. Evolucionismo Teísta
O problema do cristianismo hoje não é somente o evolucionismo materialista, mas o
evolucionismo teísta,
teísta crê que há um que se um
Deus, temCriador
tornadopessoal
palatável
nasa vários teólogos
origens. modernos.
Deus criou O eevolucionismo
os céus a terra, mas
todas as coisas sofrem um desenvolvimento de acordo com certas leis inerentes criadas e
colocadas na matéria por Deus. E uma espécie de deísmo, onde Deus cria e solta as espécies, sem
intervir no seu desenvolvimento.
Há também uma pequena variação de evolucionismo teísta que diz que Deus criou a terra
original, mas então supõe que todas as plantas subsequentes e a vida animal evoluíram-se de
uma forma mais baixa para uma mais alta, sem qualquer ato criador separado de Deus para
cada espécie. E possível, portanto, ser um teísta, mas ao mesmo tempo sustentar o
desenvolvimento da vida de uma forma protozoária para uma forma bem superior de vida, até
chegar à vida humana. O problema é que a Escritura, que é fonte de autoridade para os cristãos
genuínos, diz que os insetos, os répteis, os anfíbios, os pássaros, os outros animais e os homens,
foram originados em atos distintos e separados de Deus, não um sendo o desenvolvimento ou a
evoluçãoOsdeevolucionistas
outro. teístas tentam mostram que não há qualquer contradição ou conflito
entre as narrativas do Gênesis e as teorias do evolucionismo.
 Todavia, é impossível alguém ser um evolucionista e, ao mesmo tempo, crer nas
afirmações do Gênesis. Como pode alguém ser um evolucionista e ainda crer na criação de Deus
em seis dias, como a Escritura afirma? A única saída para os evolucionistas teístas é interpretar
o Gênesis alegoricamente. Nada da narrativa do Gênesis é literal, tudo é alegórico. O
evolucionista teísta crê que Deus criou alguma coisa no começo, mas Ele deixou o que criou
passar por um processo de evolução, como por exemplo uma célula viva que se desenvolveu até
chegar a um animal primitivo, e deste ao homem. E esse o teísmo evolucionista deles.

Conceito Criacionista da Origem do Homem


A Unidade da Raça
O Testemunho da Escritura: Além da narração do texto de Gênesis, há outras indicações
de que a raça humana tenha vindo de um só casal. Eles se multiplicaram e encheram a terra (Gn
1.28), como aconteceu com os animais. A raça humana não constitui somente uma unidade
racial, mas todos os homens vêm de um só tronco, sendo todos membros da mesma árvore
genealógica. Paulo, o apóstolo, ensinou isto claramente quando estava instruindo os sábios no
Areópago. Referindo-se ao ―Deus desconhecido‖ dos helênicos, ele apresentou o Deus verdadeiro
como sendo o Deus criador, que fez todas as cousas que há no mundo (At 17.24), o Deus
auto-suficiente (v.25) e, então, mostra a unidade da raça humana, dizendo: ―de um só fez toda
raça humana para habitar sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente
estabelecidos e os limites da sua habitação‖ (v.26). Citando provavelmente o poeta pagão Arato,
Paulo diz que ―Dele também somos geração. Sendo, pois geração de Deus...‖ (v.28b-29a). Há uma
ligação orgânica entre todos os membros da raça humana. Todos procedem de uma só raiz.
Há outros textos da Escritura que indicam que a humanidade toda veio de um só homem
(Rm 5.12,19; 1 Co 15.21-22).
O Testemunho da Ciência : —   As várias ciências têm corroborado para mostrar a
veracidade do testemunho das Santas Escrituras com respeito à unidade da raça humana.
O estudo da história  tem mostrado a veracidade da Escritura. Muitos grandes eruditos
têm crido que a civilização teve o seu começo nas terras mencionadas no Gênesis (região da
Mesopotâmia, Armênia, Babilônia, etc.). Todos os homens vieram de uma região somente, e que,

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8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

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A despeito de o homem ser considerado um animal, a diferença entre ele e os outros


animais é enorme, como conseqüência da maneira especial como Deus o criou.
As enormes diferenças entre eles podem ser consideradas desta forma:
1. O animal é consciente, mas não tem auto-consciência. O animal não reconhece-se a si
mesmo, não tem nenhum conceito sobre mesmo. Jamais qualquer macaco pensaria de si

mesmo: ―Eu sou um macaco‖, porque se isso acontecesse, ele deixaria de ser um macaco. Um
animal não distingue a si mesmo de suas sensações.
2. Um animal percebe, mas somente o homem concebe. Os animais conhecem as coisas
brancas, mas não sabe o que é a alvura. Ele lembra coisas, mas não as pensa. Só o homem tem
o poder de abstração, o poder de derivar idéias abstratas de coisas particulares ou da
experiência.
3. O animal não tem linguagem. Linguagem é a expressão de noções gerais através de
símbolos. As palavras são símbolos de conceitos. Onde não há conceitos, não há palavras. Visto
que a linguagem é sinal, ela pressupõe a existência de um intelecto capaz de entender o sinal. Por
que os animais não falam? Porque eles não têm nada a dizer. Eles não possuem idéias gerais que
possam ser expressas em palavras.
4. O animal não é capaz de estabelecer um julgamento. Não sabe diferenciar uma cousa
de outra. O animal não sabe associar idéias e nem tem senso do ridículo.
5. O animal não é capaz de raciocínio, de ligar os fatos, de saber que isto vem daquilo,
acompanhado de um sentimento de que a seqüência é necessária. A associação de idéias sem
 juízo é o processo típico da mente animal.
6. O animal não é um ser religioso, não tem idéia para o sobrenatural, nem é um ser
moral.

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CAPÍTULO II

A NATUREZA DO HOMEM

A quem Adão era semelhante antes da queda? A única fonte de informação que
possuímos nesta matéria é a Escritura. Nenhuma outra fonte de informação confiável temos à
nossa disposição.
Segundo a Escritura, a condição de nossos primeiros pais era de perfeição natural. Estes
podiam perfeitamente cumprir todas as exigências de Deus. Adão, por um certo tempo, foi um
exemplo de vida natural perfeita e normal (relativo a norma), o que exatamente Deus queria de
todos os seus descendentes. A única cousa anormal no Paraíso foi o pecado. Pecar era
anormalidade,
anormalidade que e ainda o é, embora
Jesus Cristo teve que seja
vir aoextremamente comum.
mundo. Ser normal paraFoi por causa
o homem dessa
é estar em
Cristo, dizer o que Ele diz e fazer o que Ele faz.
O homem foi originalmente criado num estado de perfeição, maturidade e liberdade. Isso
não quer dizer que a humanidade em Adão, antes da queda, estava no seu mais alto estado de
 
excelência. É bem possível que o estado de maior excelência seja aquele em que os homens
estiverem após a completação da redenção deles, porque nem mesmo serão expostos ao pecado,
em virtude de sua união com Cristo. Serão os homens, certamente, elevados a uma condição de
maior glória do que aquela que Adão teve antes da queda. Contudo, é importante ter-se em mente
que essa glória futura do homem é devida à sua união com Cristo, o redentor dos filhos de Deus.
Quando dizemos que Adão foi criado num estado de maturidade, estamos dizendo que ele
não foi criado num estado de infância, como todos os outros seres humanos que vieram ao
mundo. Diferentemente dos outros humanos, Adão não teve um desenvolvimento de sua
inteligência
acrescentar ou de posteriormente.
nada outras das suas faculdades, como nós o temos. Deus fé-lo completo, sem lhe
Quando dizemos que Adão foi criado  perfeito, estamos querendo dizer que ele era
perfeitamente adaptado ao fim para o qual foi criado e na esfera na qual foi designado viver. Seu
corpo e alma eram perfeitamente adaptados um ao outro. Adão era perfeito na sua criação. Era
livre de qualquer corrupção ou deficiência. Não havia nada na sua natureza que pudesse dar a
idéia de fraqueza ou falha.
O estado primeiro de nossa raça, não foi como os livros científicos dizem, de primitivismo
ou de barbarismo, que se evoluiu até se tornar o homo sapiens desenvolvido como o conhecemos
hoje. De forma alguma! Deus criou o homem perfeito que, com o passar dos tempos e levado pela
queda, veio a sofrer algum tipo de involução, passando a viver em estado de ―barbarismo‖. 
Quando dizemos que Adão foi criado num estado de liberdade, estamos querendo dizer
que Ele possuía tanto a capacidade de permanecer na condição em que foi criado, isto é, santo,
mas de tal forma que também pudesse cair do estado em que foi criado, agindo contra a sua
natureza.
Adão era livre de qualquer corrupção, doença ou morte. Não havia nada na sua
constituição que pudesse denotar fraqueza ou falha. O estado primitivo de nossa raça, portanto,
não foi de barbarismo, ou o produto de um processo de desenvolvimento longo e gradual.
Pelo ensino geral das Santas Escrituras e das ciências, podemos concluir:
 —  que o homem foi criado na perfeição de sua natureza. Por perfeito não queremos dizer
num estado de pleno desenvolvimento, mas perfeito no sentido de não haver qualquer falha na
sua natureza. Esta é uma matéria decisiva para os cristãos;

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 19

 —  que as tradições de todas as nações falam de uma "era dourada", da qual os homens
caíram. Tem havido uma involução da raça, não uma evolução para um estado melhor. O estado
primitivo de homem segundo a narrativa da Escritura, está em harmonia com as melhores
tradições de nações antigas;
 —  que os mais antigos registros em escritos e monumentos têm demonstrado a existência
de nações no mais alto grau de civilização em períodos bem antigos da história humana;
A teoria de que a raça humana passou através da idade da pedra, bronze, ferro, estágios
de progresso do barbarismo para a civilização, é destituída de comprovado fundamento científico.
 Tem sido crença universal de que o estado original do homem é aquele que a Bíblia
ensina. Seu mais alto estado começou no Éden. O que existe hoje são civilizações que vão se
deteriorando, como já aconteceu no passado com muitas delas.
E verdade que as civilizações mais modernas têm tido a oportunidade de desenvolver suas
potencialidades nas áreas das ciências e da filosofia, mas nunca houve um desenvolvimento na
personalidade ou nas faculdades da alma humana. O homem foi sempre o mesmo em todas as
épocas.

1. UM SER DEPENDENTE E RESPONSÁVEL


Esta parte trata do homem como criatura e como  pessoa. São dois aspectos distintos e
muito importantes para que compreendamos as peculiaridades da ―coroa da criação‖. Como
criatura o homem é dependente e como pessoa o homem é responsável. Esta matéria pode ser
desenvolvida da seguinte maneira:
Deus criou o homem à sua própria imagem e semelhança. Uma característica importante
dessa criação é que o homem é uma pessoa humana ―que não existe autonomamente ou
independentemente, mas como uma criatura de Deus‖. 5 
O fato de o homem ser uma criatura o torna absolutamente dependente. Para colocar de
uma forma diferente, Shedd diz: ―A natureza dependente da santidade finita implica que ela é
criada.‖6 Todas as coisas criadas têm um sentido de absoluta dependência do Criador (Ne 9.6).

Não há Mas
nadacomo
que não
umaprecise
pessoada assistência
que é, o homemprovidencial de Deus.
tem um certo grau de independência,

―não uma independência absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser
capaz de fazer decisões, de estabelecer metas e de mover-se em direção às metas
estabelecidas. Isto significa possuir liberdade —  ao menos no sentido de ser capaz
de fazer suas próprias escolhas. O ser humano não é um robot cujo curso é
totalmente determinado por forças externas. Ele tem o poder de
auto-determinar-se e de auto-dirigir-se‖.7 

O homem é, portanto, uma criatura e uma pessoa. Como criatura é dependente


totalmente de Deus, e como  pessoa possui uma independência relativa no sentido de poder
tomar decisões, que não é o caso de outra criatura não racional.

―Ser uma criatura, portanto, significa que eu não posso mover um dedo ou
emitir uma palavra sem a ajuda de Deus; Ser uma pessoa significa que quando
meus dedos são movidos, eu os movi, e quando as palavras são emitidas dos meus
lábios, eu as emiti. Ser criatura significa que eu sou barro e que Deus é o oleiro

5 Anthony Hoekema, Created in God's Image, (Grand Rapids: Eerdmans, 1986), 5.


6 W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, (Nashville: Thomas Nelson publishers, 1980 edition),
101.
7 Hoekema, 5.

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(Rm 9.21); ser uma pessoa significa que somos aqueles que moldamos nossas
vidas pelas nossas decisões (Gl 6.7-8)‖.8 

 
É importante que se faça essa distinção para que vejamos a grande diferença que há
entre nós e os seres irracionais, que agem instintivamente, e para que se tenha clara na mente a
idéia de que dependência e liberdade não são conceitos incompatíveis entre si. Os dois conceitos
estão
corretoclaramente presentes
entendimento do que na
sejaEscritura.
o homem.Estas duas
Alguns verdades
conceitos devem ser preservadas
antropológicos para
e soteriológicos sãoo
distorcidos justamente porque os estudiosos não distinguem corretamente o fato do homem ser
criatura e pessoa. Há que se guardar ambas as idéias juntas, em equilíbrio.
Se enfatizarmos em excesso o fato do homem ser criatura, subordinando sua
pessoalidade, haveremos de cair num determinismo, onde o homem não tem qualquer
participação na realização da sua própria história. Deus é o Senhor da história, mas os homens,
nesse caso, seriam meros robots. Nesse caso o homem ―é desumanizado‖. 9 Quando damos ênfase
exagerada na pessoalidade, em detrimento do caráter de criatura do homem, ―o homem é
divinizado e a soberania de Deus é comprometida.‖10 Neste caso a ênfase na pessoalidade faria
Deus um servo do homem. Estes extremos devem ser evitados. Temos que ter uma visão
equilibrada e bíblica da constituição da alma humana.
Estes conceitos são muito importantes para que compreendamos o problema da
responsabilidade do homem nos pecados e nos atos bons que são a expressão da santificação,
assunto esse que já vimos no estudo da providência de Deus.

Livre Arbítrio & Livre Agência


Quando estudamos sobre a responsabilidade do ser humano, não podemos deixar de
tocar no delicado assunto do livre-arbítrio. É uma pena que poucos volumes tocam seriamente
neste assunto, à luz da Escritura. Grande desentendimento tem havido entre os estudioso desta
matéria por causa da impropriedade no entendimento e no uso desses termos, mesmo nos
círculos Reformados.
Neste estudo fazemos uma diferença entre os dois termos usados acima. O primeiro foi
uma propriedade
os seres humanos. singular de nossos primeiros pais; o segundo é propriedade inalienável de todos
Livre Arbítrio   - Se por livre-arbítrio entende-se a liberdade que a vontade tem, sendo
independente dos outros movimentos da alma humana, ou seja, da razão e das afeições, devemos
negar a existência dele. A vontade, como uma das faculdades da alma humana, não é soberana
ou independente das outras, mas depende do julgamento da razão ou das disposições afetivas
que a influenciam. Uma pessoa não toma nenhuma decisão sem que seja levada pelo crivo da
razão ou das emoções.
Se por livre-arbítrio entende-se a escolha livre que a vontade faz, independente das outras
partes do alma humana, temos que negar esse livre-arbítrio, porque a vontade humana não
controla as outras faculdades, mas é serva delas. As decisões da vontade são sempre calcadas
nas disposições das outras faculdades.
Então, quer dizer que os Reformados negam a doutrina do livre-arbítrio? Não. A fé
Reformada não
entendimento quenega
temoso dele.
livre-arbítrio. A resposta
A fé Reformada afirma ao livre
essaarbítrio,
pergunta masdepende,
o entendeportanto, do
da seguinte
forma: é a capacidade que nossos primeiros pais tiveram, quando criados, de escolherem as
coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudessem escolher
aquilo que era contrário à sua natureza santa.
A Confissão de Fé de Westminster traduz essa idéia assim:

8 Hoekema, 6.
9 Ver Hoekema, 7.
10 Ver Hoekema, 6

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―O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer


e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que
pudesse decair dessa liberdade e poder.‖ (IX, 2) 

Adão possuiu essa capacidade de fazer tudo o que era justo e santo, mas também foi
dotado com a capacidade de fazer alguma coisa que era contrária à santidade com que foi
originalmente criado. Ele possuiu aquilo que ninguém hoje mais possui, isto é, a capacidade de
fazer algo que é contrário à sua natureza moral. Ele teve, nesse sentido, a capacidade para uma
escolha contrária, isto é, com natureza santa, escolheu o que era mau.
Livre Agência  - Esta é uma capacidade que todos os seres humanos possuem. Ninguém
pode prescindir dela, pois esta é uma característica de um ser racional. E essencial no homem a
livre-agência. Sem ela o homem deixa de ser o que é: um ser racional. Homens e anjos agem de
acordo com a natureza deles, sendo para eles impossível agir de modo contrário a ela.
A livre agência, então, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres
racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para
qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo
que combina com a natureza deles.
A CFW traduz este pensamento nestas palavras:

―Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para
o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta
de sua natureza.‖ (IX, 1) 

Os agentes livres agem espontaneamente, com a autodeterminação da vontade deles. Eles


não São seres amorais. Sempre penderão para um lado ou para outro, dependendo de como são
interiormente. Os seres racionais são seres morais que agem conforme as suas disposições
interiores. A vontade deles não age independentemente da natureza deles. A vontade deles é
sempre inclinada a pender para um lado ou para o outro em termos morais. Ela não existe num
equilíbrio de indiferença. Anselmo contende que ―se a vontade do homem ou de um anjo é
suposta ser criada num estado de indiferença, sem qualquer inclinação para nada, então, não
poderia começar qualquer ato de forma alguma. Ela permaneceria indiferente para sempre, e
nunca teria qualquer inclinação.‖11 Se a vontade do homem está em indiferença moral, nenhum
homem pode ser responsabilizado por nada do que faz, porque ele não começa nenhum ato. Mas
a Escritura apresenta o homem de uma outra maneira. Ele foi criado com disposição e com
inclinação, e sua disposição ou inclinação está sempre ligada à sua condição moral. Adão foi
criado não somente com a livre agência, mas também com o livre-arbítrio, com a capacidade de
escolha contrária que nenhum de seus descendentes veio a possuir. Ela foi perdida com a queda.
Nesse sentido, nossos primeiros pais foram singulares. Os seus descendentes, agora, não mais
podem agir de modo contrário à sua natureza.
Mas é importante que não percamos de vista este ponto: o ser racional é sempre movido
pelo seu ego. Nunca ele é movido por outra coisa que não seja por seu próprio ego. Quando ele faz
coisas pecaminosas, ele obedece ao seu ser interior pecaminoso. Quando ele faz coisas santas e
 justas, ele o faz mediante o seu eu interior que foi renovado pelo Espírito Santo. A
responsabilidade dele sempre estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos os
atos dele devem ser auto-inclinados e auto-determinados. O homem possui responsabilidade em
tudo que faz, porque tudo que faz é produto das disposições de sua natureza interior.
Para fins didáticos é bom que se distinga a inclinação do ato volitivo. Shedd faz essa
distinção que ajuda bastante:

A ação central da vontade está na pronta inclinação; e a ação superficial em

11 Citado por W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, p. 101.

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sua volição momentânea está num instância particular. O ódio de um assassino é


a atividade central da sua vontade; o ato do assassinato é superficial. Ambos São
auto-movidos, para que haja responsabilidade e culpa. E ambos São
auto-movidos. O assassino não é forçado a odiar. Ele é desejoso no seu ódio, e em
todos os seus desejos morais e sentimentos;...Todavia, enquanto a atividade
central e superficial são iguais no que diz respeito ao livre-movimento, elas são

diferentes
superficial,no
ouque dizvolitivo,
o ato respeito à capacidade com
é acompanhado paraeste
coisas contrárias.
poder; A atividade
a atividade central,
ou a inclinação, não é. O assassino pode refrear-se no ato de matar, por uma ação
volitiva, mas ele não pode refrear o seu desejo interior, o ódio que pode levar ao
assassinato. Uma volição pode parar uma outra volição, mas uma volição não
pode parar uma inclinação. Um homem pode reverter sua volição pecaminosa,
mas não pode reverter sua inclinação pecaminosa. 12 

Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o  poder de escolha
contrária, mas sim, que haja o  poder de autodeterminação, que a ação seja nascida nas
inclinações do ser racional. ―A fim de responsabilizar o pecador por uma inclinação pecaminosa,
não é necessário que ele seja capaz de reverter sua inclinação pecaminosa. E necessário somente
que ele seja capaz de originar a ação, e que ele de fato a origine‖. 13 
Para ser responsável por seus atos, portanto, o homem tem que simplesmente agir de
acordo com sua vontade, espontaneamente, sem ser forçado de fora por ninguém. Apenas ele age
de acordo com as suas disposições interiores.
Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência.
Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto
a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza pecaminosa.

2. UM SER SANTO
A Confissão de Fé de Westminster, com tradição Agostiniana14 e Calvinista, assevera que
o homem foi criado no estado de "inocência". Por inocência os padrões de Westminster querem
dizer que o homem, quando criado, não tinha qualquer mancha ou pecado, nem propensão para
pecar, embora pudesse cair do estado em que foi criado. 15  Shedd contesta que a palavra
inocência seja a melhor para explicar o estado de Adão antes da queda. Com precisão ele diz que

―santidade é mais do que inocência. Não é suficiente dizer que o homem foi
criado no estado de inocência. Isto seria verdadeiro, se ele houvesse sido
destituído de sua disposição moral, para o errado ou para o certo. O homem foi
criado não somente negativamente inocente, mas positivamente santo‖. 16 

Deus fez o homem positivamente santo no seu caráter. Nada errado poderia ter saído das
mãos de Deus. Deus dotou os homens de ―inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a

12 Shedd, vol. 2, p. 103-104.


13 Shedd, vol. 2, p. 105.
14 Agostinho disse: ―A natureza do homem, de fato, foi criada sem qualquer falha e sem nenhum
pecado; mas aquela natureza do homem na qual cada um é nascido de Adão, necessita agora do Médico,
porque ela não é sadia mais. (On Nature and Grace, 3, citado por Norman Geisler, What   Augustine Says,
(Baker, 1982), p. 96.
15 Ver CFW, IX, ii. 
16 W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980 edition),
p. 96.

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Sua própria imagem.‖17 Estas coisas têm sido cridas pelos grupos de tradição Agostiniana e
Calvinista, mas têm sido negadas em movimentos teológicos na história da Igreja, como o
Pelagianismo18 e o Semi-Pelagianismo.19 O Semi-Pelagianismo, que, com algumas variações, no
protestantismo assume o nome de Arminianismo, através de alguns de seus defensores, nega o
caráter original santo do homem por sustentar a tese do donum superadditum 20  à natureza
constitucional do homem.
O Calvinismo, contudo, afirma categoricamente a santidade original do homem, em
consonância com as Sagradas Escrituras.21 Para os Calvinistas em geral, a santidade original do
homem tem dois aspectos: 1) sua  percepção e seu conhecimento; 2) sua inclinação e seu
sentimento.22  
1) O conhecimento tem a ver com o entendimento. A fim de que o homem seja santo ele
tem que entender e apreender as coisas de Deus. O conhecimento que Adão e Eva possuíam
antes da queda era diferente daqueles que tiveram depois da queda. Isto é provado por Gn 2.5 –  
―Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam‖. - Eles estavam
conscientes da sua santidade, e não possuíam nenhuma consciência de pecado. Mas quando
eles se apartaram de Deus, o conhecimento do mal veio. Gn 3.7 diz: ―Abriram-se, então, os olhos
de ambos; e, percebendo que estavam nus, colheram folhas de figueira, e fizeram cintas para si.‖ 
Deus, então, após a queda do homem disse em Gn 3.22: ―Eis que o homem se tornou
23 
como um de nós, conhecedor
mal intuitivamente, através dedo bem
Sua e do mal‖. E Seu
onisciência. Deus conhece o bem
conhecimento do conscientemente, mas o
bem e do mal é perfeito,
embora Ele nunca tenha conhecido este último experimentalmente.
Antes da queda, contudo, o homem conhecia o bem conscientemente e o mal apenas
especulativa e teoricamente. Nesse sentido, o seu conhecimento do mal foi imperfeito, porque ele

17 CFW, IV, ii.


18 OsPelagianos não aceitam a santidade congênita do homem. A idéia do pelagianismo era que a
vontade do homem era neutra, sem qualidades morais em si mesma. Através de um ato da vontade, o
homem se torna bom ou mau. A neutralidade moral é característica do Pelagianismo. Shedd diz que ―a
posteridade de Adão é nascida como ele, sem santidade e sem pecado.‖ (Shedd, vol. 2, p. 96).
19 O Semi-Pelagianismo também sustenta quase a mesma posição, embora considere os efeitos da
queda, que o Pelagianismo não considera. O Semi-Pelagianismo crê que o homem tem a iniciativa nos atos
maus, tanto quanto nos bons. Nestes últimos, ele tem a cooperação conseqüente de Deus. Shedd diz que o
―Semi-Pelagiano assevera que a santidade, igual ao pecado, deve ser auto-originada em cada indivíduo. A
Antropologia Tridentina é uma mistura de Pelagianismo e Agostinianismo.‖ (Shedd, vol. 2, p. 96).
20 Qual é a razão desse posicionamento Semi-Pelagiano? A razão está no fato de a santidade ser algo
acrescido posteriormente à criação do homem, não fazendo parte originalmente dela. A isso eles chamam
―donum superadditum ‖. O que é o donum superadditum? E um dom gracioso de Deus que foi acrescido apôs
a criação, mas antes da queda. O conceito surge da dificuldade de se explicar o problema da capacidade
hipotética de Adão e Eva de reterem a sua justiça original. Sem essa graça adicional, Adão não seria capaz
de resistir no estado de retidão. Na verdade não houve uma concordância absoluta entre os teólogos
medievais sobre se o donum superadditum fazia parte da natureza original do homem. Tomás de Aquino
sustentava que o donum superadditum era parte da constituição original do homem, e que sua perda foi a
perda da capacidade original para a justiça. Visto que essa graça acrescentada não foi merecida no começo,
ela não poderia ser reconquistada por mérito após a queda. A teologia Franciscana, particularmente aquela
orientada no final da Idade Média por Scotus, argumentava que o donum superadditum não era parte da
constituição original do homem ou sua justiça original, mas foi considerado como um dom merecido pelo
primeiro ato de obediência da parte de Adão, apresentado por ele de acordo com sua capacidade puramente
natural. Visto que Adão podia, num ato finito ou mínimo, merecer o dom inicial da graça de Deus, o homem
caído deveria, por apresentar um ato mínimo, também merecer o dom da primeira graça (Richard A. Muíler,
Díctionary ofLatin and Greek Tkeological Terms, (Baker, 1986), p. 96.
21 Ver, como exemplo, Ec 7.29; cí 3.10.
22 Idéias tiradas de Shedd, vol. 2, pp. 97-98.
23 Através de Sua apostasia, Adão veio a ter um conhecimento do mal, similar ao de Deus (embora
Deus nunca tivesse pecado), e foi um conhecimento completo do pecado, pois ele o experimentou. Foi um
conhecimento do mal consciente e idêntico ao de Satanás, porque foi conhecimento experimental e
consciente.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 24

não possuía a mesma onisciência de Deus. Depois da queda, contudo, o homem passou a
conhecer o mal conscientemente e o bem apenas especulativa e teoricamente (Gn 3.7-8; 1 Co
2.14). Com respeito ao conhecimento do pecado e da santidade no homem antes da queda e
depois dela, Shedd diz:

Assim parece, que em Adão a consciência do conhecimento experimental da


santidade
pecado; e oimplicava somente
conhecimento em um conhecimento
experimental consciente inadequado e especulativo
do pecado implicou somentedo
num conhecimento especulativo e inadequado da santidade. O homem santo era
ignorante do pecado, e o pecador era ignorante da santidade. 24 

2) Por inclinação e sentimento, devemos entender a vontade e as emoções ou afeições. A


fim de que o homem seja santo, ele deve desejar e sentir prazer em Deus e nas coisas divinas.
Quando Deus criou a vontade no homem, Ele criou, portanto a inclinação, porque
vontade e inclinação são inseparáveis.

A vontade humana é por criação voluntária, como o entendimento humano


por criação é cognitivo. Quando Deus cria o entendimento, Ele o capacita com
idéias inatas,
inteligente. e leis
Este é o de pensamento,
conteúdo por virtude do
do entendimento. qual elaEle
E quando é uma faculdade
cria a vontade
humana, Ele a capacita com uma inclinação, ou disposição, ou uma
auto-determinação.. em virtude da qual ela é uma faculdade voluntária. 25 

Essa inclinação era originariamente santa. O homem não era


originariamente um ser moral neutro, mas possuía inclinações que
refletiam Aquele que o havia criado.

A inclinação e a disposição moral com a qual o homem foi criado, consistiam


numa harmonia perfeita de sua vontade com a lei Divina. A concordância era tão
perfeita
santo. A einclinação
total, queera
nãoum
havia distinção
dever, entre
e o dever era as duas
uma na consciência
inclinação... Numado Adão
perfeita
condição moral a lei e a vontade eram uma coisa só, como na esfera da natureza
física, as leis da natureza e as forças da natureza são idênticas. 26 

Na verdade, o homem santo não precisa de lei do mesmo modo que os caídos precisam. A
lei, no fundo, é dada para aqueles que estão no estado de desobediência, mas para os que estão
em santidade a lei e o desejo de cumprir a lei são a mesma coisa (Ver 1 Tm 1.8-9).
A santidade positiva, com que o homem foi capacitado na criação, consistia de um
entendimento iluminado no conhecimento espiritual de Deus e de Suas coisas, e uma vontade
totalmente inclinada para elas.

Santidade Derivada e Finita


A santidade em Deus é essencial e infinita. Diferentemente de Deus, a santidade no
homem é derivada e finita.
É  derivada porque não faz parte da essência do homem, embora originariamente ela

24 Shedd, vol. 2, p. 98
25 Shedd, vol. 2, p. .100.
26 Shedd, vol. 2, p. 98.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 25

tenha sido dada ao homem. Deus tem santidade essencial, sem a qual Ele não pode ser o que é.
O homem originalmente possuía santidade, mas ele a perdeu, mas assim mesmo ele continuou
sendo exatamente o que é: homem. Ele não continuaria sendo homem se a santidade fosse
essencial nele.
É  finita porque é santidade de criatura dependente. Por essa razão é uma santidade
mutável. A santidade no homem é dependente, em última instância, da ação do Criador. Deus a

deu às Suas criaturas


a santidade racionais,
neles é algo finito ehomens e anjos,
dependente de mas
umaeles
açãoa perderam voluntariamente,
direta, imediata do Criador.porque
Se o
Criador decide definitivamente não mantê-las em santidade, elas voluntariamente a perdem.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 26

CAPITULO III

A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM 27 


Houve sempre dois conceitos predominantes na história da igreja com respeito à
composição da natureza essencial do homem: dicotomia e tricotomia.
Historicamente, especialmente nos círculos cristãos, concebeu-se o homem composto de
duas partes: corpo e alma. No decorrer do desenvolvimento do pensamento cristão, contudo,
apareceu outro conceito que compunha o homem de três partes: corpo, alma e espírito  —   a
tricotomia.
Este último movimento apareceu com a influência da filosofia grega, que concebeu a
relação entre o corpo e o espírito ligados entre si por meio de uma terceira substância, ou um
terceiro elemento, que é a alma. A alma era considerada, por um lado, como imaterial quando
relacionada
forma mais com o espírito
familiar e maise,crua
por outro lado, material,
da tricotomia é a quequando
toma osecorpo
relacionava
como acom o corpo.
parte ―A
material
humana, a alma como o principio da vida animal, e o espírito como o elemento racional e imortal
que há no homem para relacionar-se com Deus.‖ 28 Berkhof ainda diz: ―A alma se apropriava do
―nous‖ (ou pneuma) se fosse considerada como imortal; mas se fosse relacionada com o corpo, ela
era carnal e mortal.‖ 29 
O pensamento tricotômico encontrou apoio em vários pais da igreja grega, nos primeiros
séculos da era cristã. O pensamento dicotômico já teve seus adeptos na igreja ocidental ou latina,
como por exemplo, em Agostinho. Na Idade Média, foi crença comum a dicotomia. Na Reforma
aconteceu o mesmo, exceto uns poucos estudiosos.

Base Escriturística da Natureza Constitucional do


Homem
A apresentação que a Escritura dá do homem não é a de uma tricotomia (embora haja
dois textos que pareçam favorecer essa corrente), nem da dicotomia (embora muito mais textos
favoreçam, como veremos, a apresentação dicotômica), mas é a da unidade do homem. Cada ato
do homem contempla-se como sendo um ato do homem completo. Não é a alma que peca, mas o
homem que peca; não é o corpo que morre, mas o homem que morre; não é a alma que Cristo
redime, mas o homem. O homem é uma unidade. Portanto, quando a Escritura fala do corpo, ela
está falando do homem; quando fala da alma, está falando do homem; ou quando fala do coração,
está falando do homem. A concentração das Escrituras não é nas partes que compõem o homem,
mas na unidade que cada parte apresenta.

Bíblia Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim que a
o apresenta.
Analisaremos o material bíblico debaixo dos seguintes tópicos:
1. O homem é Corpo (Adão foi criado um ser material)

27 Ensino retirado basicamente da Apostila não-publicada, preparada pelo Dr. Fred H. Klooster,
para seus alunos no calvin Seminary.
28 Berkhof, p. 225, (edição castelhana).
29 Berkhof, p. 225 (edição castelhana).

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 27

2. O homem é Alma (Adão foi criado um ser espiritual)


3) O homem é Coração.
Antes da exposição destes três tópicos, vejamos as palavras hebraicas e gregas usadas
para os termos:

a) Corpo rfpf(
VT —   ('apar) = pó

rf&fB (basar) = carne


hfl"b:n  (nebhlah) = corpo (cadáver) 
NT  —   sw=ma 
b) Alma VT —   $epeN (nephesh) 
NT —   yuxh\n 
c) Espírito VT —   axUr   (ruah) 
NT  —   pneu=ma 
d) Coração VT —   bfb"l (lebhabh) 
b"l (lebh) 
NT  —   kardi/a 

1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser


material ou físico) 

a)  Considere a ênfase sobre homem nos seguintes textos:

Gn 2.7 —   ―Então, formou o Senhor Deus ao homem do  pó (rfpf() da terra, e


lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem a passou a ser alma vivente.‖ 
Esta é a primeira informação a respeito da natureza constitucional do homem. Neste
verso é-nos dito que o ser humano possui uma natureza física ou material. Antes dele ser ―alma
vivente‖, já é dito que ele é homem. Contudo, quando o autor sagrado fala dessa natureza ele não
está pensando numa parte do homem, mas do homem na sua unidade.

Gn 3.19 —   ―No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois
dela foste formado: porque tu és pó  (rfpf() e ao pó tornarás.‖ 

Este outro verso de Gênesis mostra a materialidade que o homem é. Antes de botar a
―alma vivente‖ Deus fez o homem. Novamente posso afirmar que o autor quis mostrar a natureza
terrena do homem, não enfatizar que ele tem um corpo. Esse corpo (pó) é o homem. Esse
elemento de unidade não pode ser perdido de vista quando se estuda este verso.
Nesses textos acima, embora se esteja falando da parte física do homem, que é o seu
corpo, a ênfase é no homem como uma unidade.

 Jó 34.15 —  ―Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó.‖ 

Novamente aqui a ênfase recai sobre o elemento físico ou material do homem,

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 28

considerando-o como uma unidade. A verdade é que quem expira é o homem, não o corpo. A
morte é do homem, não do corpo.
Essa é a grande dificuldade que muitos ministros da Palavra enfrentam quando vão
oficiar uma cerimônia fúnebre. Partamos do pressuposto que a pessoa que morreu seja cristã. O
oficiante geralmente fala de Fulano que foi estar com Cristo, como se a pessoa consistisse
unicamente da sua alma. ―O corpo do Fulano‖, diz o oficiante, ―vai ser enterrado, mas o Fulano já

está no céu‖,
a morte como
separe se o corpo não
o homem fosse
(alma) de o homem,
si mesmo ou como
(corpo), se o homem
devemos semprenão fosseno
pensar corpo. Embora
ser humano
como uma unidade. Quem morre é o homem (não o corpo) e quem ressuscita é o homem (não o
corpo). A morte é a separação do homem de si mesmo, enquanto que a ressurreição é reunião do
homem consigo mesmo. Isto se dará somente no dia final, quando haverá a completação da
salvação do pecador.

b) Considere a expressão: “O homem é espirito, mas ele tem um corpo”.  


Não seria mais próprio dizer que o ―homem é corpo‖? A Escritura indica que o corpo
representa o homem como uma unidade e também como um ser total, completo. O corpo não é
um mero acessório (apêndice, departamento), nem é a prisão da alma (ou espirito). Se dizemos

que o ser
Mashumano é uma espirito
não é esta idéia queque tem um corpo,
a Escritura dá do ocorpo,
corpocomo
não tem muitaacima.
já vimos importância.

c) Veja as seguintes observações sobre esta doutrina:

Quando a Bíblia ensina que Adão foi feito ―do pó da terra‖ (Gn 2.7), está claramente
afirmada a natureza material do homem. Desde o principio houve uma identificação, harmonia e
continuidade com este mundo. O homem é terreno.
Portanto, todas as noções gnósticas da criação material como pecaminosas, devem ser
terminantemente rejeitadas. Deus não somente declarou a criação material ―muito boa‖ (Gn
1.31), mas fez o homem de elemento material. Vários textos do NT São respostas às heresias
gnósticas, nas quais o universo material era mau. Veja a luta de Paulo e João contra as heresias
gnósticas
morte, diz em Cl 1.19;do2.9;
a respeito 1 JO
anelo 1.1; 4.2;
próprio 5.6-8.em
do crente Esta é a razão
assumir porquecorpo,
um outro Paulo, quando
porque falaalgo
seria da
anormal não querê-lo (2 Co 5). A morte é um estado anatural para o homem. E natural para o
homem sempre ser corpo. Na morte, o homem fica sem o que é muito importante nele, o corpo,
que é a devida expressão da alma. E de grande importância para nós o estado de Cristo
ressuscitado ser corporal, e o nosso estado final vai ser similar ao dEle. No novo céu e na nova
terra, viveremos em plenitude a nossa humanidade perfeita.

―O corpo não é para ser considerado, como os antigos filósofos pensaram dele,
como a prisão material, da qual o homem deveria ficar feliz se pudesse escapar na
morte. Ele (o corpo) é  parte de si mesmo: uma parte integral de sua
personalidade total, e corpo e a alma em separação, não completam o homem.‖ 30 

O ser humano não funciona melhor sem o corpo. O corpo é o veículo adequado para a
expressão da alma. Essas duas realidades São o homem e o homem é essas duas realidades. E
verdade que a criação material foi amaldiçoada por causa do pecado, tanto os elementos da
natureza como o corpo humano, mas não por causa da materialidade dele (porque os anjos foram
pecaminosos, sem terem qualquer forma corporal). A materialidade humana nunca deve ser
considerada (como infelizmente alguns o fazem) a parte mais baixa da natureza humana, e a
parte espiritual (imaterial) a mais elevada. Ambas as criações, material e espiritual, São

30 James Orr, God's Image in Man, (Grand Rapids: Eerdmans reprint, 1948), p. 251-52.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 29

igualmente boas e igualmente importantes, porque ambas vieram de Deus e vão para Deus (1Co
6.14-15). Ambas as partes, igualmente, foram corrompidas pelo pecado e têm que ser redimidas.
Freqüentemente, num pensamento pecaminosamente distorcido, o espiritual é
identificado com Deus e o material com o diabo. E bom ser lembrado que Satanás é espiritual
(imaterial), e que sua esfera de ação é no mundo material. A materialidade humana, portanto,
 jamais deve ser identificada com o mal, pois a matéria não é má. Ela é criação de Deus.

Corpo
qualquer e espírito
conflito não São
entre esses dois antitéticos
aspectos da(isto é, opostos
natureza entre si). Não há necessariamente
humana.

2. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterial


ou espiritual) 
Não podemos deixar de fazer referência a esse aspecto tão importante da composição da
natureza humana. Este é o outro lado da mesma moeda. Ambos os elementos, o material e o
imaterial, aparecem na narrativa da criação: Adão foi formado do pó da terra, mas somente
quando o espírito foi soprado é que Adão foi tor nado ―alma vivente‖. O fato de Adão ser ―alma
vivente‖ não foi único. Em Gn 1.21, 24 e 30 o mesmo é dito de outras criaturas vivas não -
humanas. O único ponto digno de nota na criação do homem é a maneira pela qual Deus fez
isso.: Ele soprou em Adão o espírito da vida. Este ato da parte de Deus foi pessoal, direto,
singular, que distinguiu a criação humana (e a vida humana) das outras vida animadas (Gn 2.7).
O homem pertence aos dois mundos, ao espiritual e ao físico.
O sopro da vida animada mostra que o homem é mais do que corpo. O próprio Deus deu
vida ao corpo por soprar o espírito nele. Este ato especial aponta para um caso especial. Este
soprar do espírito é a fonte da vida animada, e sem ela o homem propriamente pode ser chamado
de morto (Tg 2.26).
Há uma referência óbvia a Gn 2.7 em Ec 12.7 onde se lê: ―e o pó volte a terra como o era,
e o espírito volte a Deus, que o deu.‖ —   Está claro que o uso que o autor de Eclesiastes fez do
Gênesis refere-se à natureza dupla do homem. Diferentemente dos animais, Adão foi formado de
um elemento tomado da terra (pó) e um elemento que veio diretamente de Deus, que Ele ―deu‖.
Na morte, estes dois elementos novamente se tornam distintos, e retornam às suas fontes
distintas. Está claro também que o autor de Eclesiastes entendeu que a vida humana diferiu da
vida animal em sua fonte e composição. Ec 3.20-21 diz: ―Todos vão para o mesmo lugar; todos
procedem do pó, e ao pó tornarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige
para cima, e o dos animais para baixo, para a terra?‖ —   Aqui, o principio que anima é
mencionado e usado para ambos os casos, mas há uma clara distinção entre os dois, o homem e
os animais: o espírito do homem vai para cima, para Deus que o deu (Ec 12.7), enquanto que a
―alma‖ do animal desce para a terra, de onde veio (Gn 1.24  —   ―produza a terra seres viventes
(hfYah $epen) conforme a sua espécie...‖).O espírito humano, então, é separado do corpo humano
na morte por causa dos aspectos singulares que ele recebeu na criação (ele veio diretamente de
Deus, de cima), enquanto que o poder animador das outras criaturas é preso aos seus corpos, e
ambos deixam de existir como constituintes daquele animal, sendo sepultados na terra.
Este assunto, o da natureza dual do homem, tem conduzido os estudiosos àquilo que,
infelizmente, tem sido chamado de dicotomia e tricotomia.
A questão do número dos elementos distintos que compõe a natureza humana é muito
importante, mas o foco tem sido o da separação, como os termos dicotomia e tricotomia
claramente indicam.

A Unidade do Homem
A ênfase das Escrituras, contudo, é sobre a unidade desses elementos. O homem não é o
que é sem o corpo, e nem pode ser o que é sem a alma.

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―Corpo e alma existem somente em e um  para o outro; o corpo não é um


corpo, mas o corpo da alma; a alma não é uma   alma, mas a alma do corpo; na
nossa consciência do 'eu' os dois são um...O homem é uma unidade, não uma
 junção de duas partes separadas ou mesmo faculdades separadas, e a Bíblia trata
com ele como tal.‖ 31 

É por isso que neste estudo preferiremos o termo duplo ou dúplex, ao nos referirmos à
natureza humana, ao invés da idéia tradicional da dicotomia. Os termos duplo ou dúplex
enfatizam a unidade dos elementos, antes que sua separação.
O número desses elementos que compõe a natureza humana é importante, por causa das
diferenças práticas que resultam em problemas sérios, dependendo da posição que se toma. O
psicólogo cristão Clyde Narramore, por exemplo, mostra que sua tricotomia o levou a um ponto
insustentável biblicamente. No aconselhamento ele diz que o corpo deve ser tratado pelo médico,
o espírito pelo pastor, e a alma pelo psicólogo. E estranha tal separação na Escritura.
A Escritura não permite a visão triplex (tríplice) do homem. Quando há separação é só por
causa da morte, mas a ênfase é sobre a unidade. Além disso, na separação da morte, só há dois
elementos. Em adição a Gn 2.7, examine Mt 10.28.
Nesse verso de Mateus, é ensinado que o todo (a totalidade) do homem sofre no inferno. A
verdadeira ênfase é sobre a totalidade (unidade) do homem sofrendo e não apenas o corpo ou a
alma. A afirmação "alma" e "corpo" mostra que a natureza humana é dúplex (veja outro exemplo
em 1 Co 7.34b).

Vejamos este ensino de maneira sistemática:

A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE


ENTRE CORPO- ALMA E/OU CORPO-ESPÍRITO.
 
(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO),

Contudo, esta distinção só entrou em uso mais tarde, debaixo da filosofia grega. A idéia é
de que as duas partes formam uma unidade, um conjunto harmonioso —  o homem, um ser que
vive.

Gn 3.19  —   (após a queda com respeito à maldição)  —   ―...tu és  pó e ao pó
tornarás.‖ 

A ênfase neste verso cai na parte física, mas o intento de Deus é tratar o ser humano como
uma unidade. O particular é tomado como sendo a totalidade.

Ec 12.7 —  ―e o pó (rfpf( - corpo) volte à terra, com o era, e o espírito (axUr ) volte

a Deus, que o deu.‖ 


Este verso já mostra o homem com uma composição dúplex, mostrando a sua origem.
Ambas as partes, material e imaterial vieram de Deus.

 Jó 32.8  –   ―Na verdade há um espírito no homem (corpo), e o sopro do

31 James Denny, Studies in Theology, (Grand Rapids: Balcer repriflt, 1967), p. 76.

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 Todo-Poderoso o faz entendido.‖ 

Neste verso de Jó a ênfase cai sobre a parte material (corpo), que é chamada de ―homem‖.
Contudo, a parte imaterial, o espírito, foi colocado no homem por Deus. Portanto, este verso trata
da composição dúplex da natureza humana, embora dê mais força ao aspecto material. A mesma
ênfase vem neste verso seguinte, do mesmo autor: (Jó 33.4)  –   ―O Espírito de Deus me fez: e o
sopro do Todo-Poderoso me dá vida.‖ 
(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO):

1 Co 2.11 –  ―Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu


próprio espírito que nele (corpo) está?‖ 

A mesma ênfase dada no VT está agora no NT. A parte enfatizada aqui é o corpo porque
ela é chamada de ―homem‖ e que ― nele ‖  está o espírito. Contudo, o intento de Paulo é falar da
unidade, embora os dois elementos apareçam claramente nesse verso. Certamente o propósito de
Paulo é tratar da capacidade perscrutadora do espírito humano, mas deixa evidente a
composição dual da natureza humana.

Mt 10.28 –   ―Não temais os que matam o corpo (soma) e não podem matar a
alma (yuxh\n) temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma
como o corpo.‖ 

 Jesus Cristo está ensinando neste verso sobre o poder de Deus em contraste com o poder
dos homens. Obviamente, ele usa o linguagem comum das pessoas quando fala da morte do
corpo, pois o corpo fica inerte sem a presença da alma. Contudo, quando Deus exerce o seu poder
ele pode fazer perecer tanto o aspecto físico como o aspecto espiritual do homem. A idéia de morte
ai é de separação, não de extinção. O mesmo acontece se fala da morte do corpo: é a separação
dele da alma —  por isso o homem fica sem vida. Sem entrar mais do mérito desta questão, o texto
mostra essa distinção entre as duas partes constituintes da natureza humana. E exatamente
essa mesma idéia que Tiago mostra no verso a seguir:

 Tg 2.26 —  ―Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a
fé sem as obras é morta.‖ 

Mesmo embora ele esteja falando da morte do corpo (que é a separação do homem de si
mesmo), o texto nos ensina sobre a composição dual da natureza humana.

1 Co 7.34 —  ―.. Também a mulher, tanto a viúva quanto a virgem, cuida das


cousas do Senhor, para ser santo, assim no corpo como no espírito.‖ 

A pureza de uma mulher, segundo Paulo, em qualquer estado civil que possa estar, deve
produzir
espiritual.uma vida que evidencie a santidade cristã na totalidade do seu ser: no material e no

2 Co 7.1 —  ―Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda


impureza, tanto da carne (sarko\j) como do espírito (pneu/matoj) aperfeiçoando a
nossa santidade no amor de Deus.‖ 

Este verso de Paulo aos Coríntios e muitíssimo claro quanto à obra santificadora do
Senhor que é feita na totalidade do homem, isto é, na sua parte material como na imaterial. Deus

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realiza a obra da redenção. Assim como a santificação é uma obra de Deus, também ela é um
dever do homem que deve ser puro tanto na sua natureza física quanto na sua natureza
espiritual.

Mt 26.41 —  ―…o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.‖ 

 Jesus ensina sobre o dever de orar e vigiar e, ao fazê-lo, ensina sobre


a fraqueza da natureza humana. E provável que espírito esteja ligado com
uma nova natureza e que carne significa as fraquezas de nosso ser. Seja
como for, a idéia da composição dúplex não deve ser deixada de lado,
mesmo neste texto que pode ter dupla interpretação.

B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO,


DISTINGUIR OS TERMOS ALMA E ESPÍRITO.
Sem dúvida, há duas passagens que parecem contradizer a idéia da apresentação da
composição dual da natureza humana. São os dois únicos textos usados pelos chamados
tricotomistas: 1 Co 5.23 e Hb 4.12.
A pergunta levantada é esta: ―Não ensinam estes dois textos sobre a separação de alma e
espírito, o que indica uma tríplice concepção do homem?‖ A resposta é enfaticamente, ―não‖!!! 

a) Vejamos, primeiro, Hb 4.12

―Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer


espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito (yuxh=j kai\
pneu/matoj), juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e os
propósitos do coração.‖ 

A Palavra de Deus, a Escritura, é como uma espada aguda, de dois gumes, que penetra
bem fundo, ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas. Diz o tricotomista: ―Se a Bíblia
afirma a possibilidade de separar alma de espírito, por que não podemos fazer?‖ - O fato é que o
pensamento grego não está dizendo realmente isso. O problema não é de tradução. O texto grego
não diz que a alma é separada do espírito, ou que as juntas podem ser separadas das medulas.
Ao contrário, o que é dito é que a Palavra de Deus divide o espírito e também a alma, assim como
as juntas e as medulas. Os escritor, de mentalidade hebraica, está usando paralelismos,
utilizando-se de sinônimos para reforçar a idéia da natureza tanto material como espiritual do
homem. Ele fala de ―alma‖ e ―espírito‖ e de ―juntas‖ e ―medulas‖, mostrando a composição dual,
não tríplice da natureza humana.
Esse paralelismo também se evidencia na idéia básica do texto de que a Palavra de Deus
penetra profundamente, o suficiente para discernir no ser mais interior do homem, que é o
coração, onde o autor usa duas idéias similares - os seus pensamentos e propósitos (vv. 12c e 13).
O quadro aqui fala em dividir as juntas, medulas, alma e espírito. Observe que há duas
categorias básicas aqui: material (juntas e medulas) e imaterial (alma/espírito), não três.
Exatamente como os ―pensamentos e propósitos‖ do coração não podem ser divididos, mas São
colocados juntos, abrangentemente, a fim de expressar o aspecto total do intelecto, assim espírito
e alma São mencionados para mostrar que nenhum aspecto do interior do homem está além do
 poder penetrante da palavra de Deus.

b) Vejamos agora 1 Ts 5.23

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―O mesmo Deus vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.‖ 

Novamente a ênfase do texto não está sobre o número dos elementos que compõe a
natureza humana, nem como podemos dividi-la. Antes, está sobre a totalidade do homem.
Poderíamos traduzir este verso, da seguinte maneira:

―O mesmo Deus vos santifique em tudo (completamente); e o vosso ser total


(corpo, alma e espírito), seja conservado integro e irrepreensível na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo.‖ 

Paulo aqui não está dividindo, mas unindo. Se você não se conforma com essa
argumentação, mas crê que Paulo está somando ao corpo a alma e o espírito, formando três
partes, o que você faria com os seguintes textos: Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27? Estes textos
falam de alma, coração, força e entendimento. Você acresceria essas partes mencionadas à
composição do homem? Naturalmente que não!
A Escritura usa freqüentemente dois, três ou até quatro termos sobre a natureza
imaterial do homem, para enfatizar a idéia de totalidade. E necessário que observemos o sentido
da passagem à luz de toda a verdade, vê-la à luz de seu propósito e não daquilo que queremos que
o texto diga.

C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS


TERMOS ALMA E ESPIRITO INDISTINTAMENTE
(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma
 pessoa desincorporada.

a) Nos texto abaixo as pessoas desincorporadas São chamadas de espírito:

 Todas as pessoas que morrem, isto é, que têm a sua natureza material separada da sua
natureza imaterial, São consideradas como ―espíritos‖. Na morte de qualquer ser humano,
aplica-se a velha máxima de sábio Salomão em Ec 7.12- ―E o pó ( 'apar) volte à terra, como o era,
e o espírito volte a Deus que o deu.‖ Tanto os homens comuns como o Salvador deles provaram a
mesma experiência:

Lc 23.46 —   ―Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o
meu espírito! E, dito isto, expirou.‖ 

Desde a encarnação, o Redentor é vere Deus e vere homo, possuindo as duas naturezas —  
a divina e a humana. Como homem, ele possuía os dois aspectos da natureza humana  —   o
material e o espiritual. Quando o Redentor morreu, seu corpo foi para a sepultura e o seu espírito
(que não é o Espírito Santo) voltou para Deus, até que ele ressurgiu ao terceiro dia. Nesse período
essa pessoa desincorporada era um espírito.

At 7.59  —   ―E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus,


recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).‖ 

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 34

Quem morreu apedrejado foi Estevão, seu corpo ficou inerte porque foi separado do seu
espírito. Essa parte, que veio diretamente de Deus, voltou para Deus onde goza da alegria até que
a redenção se complete. Mas é o espírito de Estevão que está com Deus.

Hb 12.23 —  ―… e igreja dos primogênitos arrolados no céus, e a Deus, o juiz de


todos, e aos espíritos dos justos (pneu/masi dikai/wn) aperfeiçoados.‖ 

 Todos aqueles que fazem parte dos remidos, que já morreram com Cristo, estão na
presença de Deus gozando de suas delicias, sendo ―justos e aperfeiçoados‖, São chamados de
―espíritos ‖. 

b) Nos textos abaixo uma  pessoa desincorporada também é descrita na Escritura como
alma:

Esta observação cabe tanto aos homens comuns como ao Redentor deles.

At 2.27  —   ―Porque não deixarás a minha alma (yuxh/n)  na morte, nem
permitirás que o teu santo veja corrupção.‖ 

Como humano que também era, Jesus possuía o seu corpo que foi sepultado, separado de
sua alma até o terceiro dia. Perceba que o texto fala da morte da alma. Ora, morte significa
separação. O que o escritor bíblico profeticamente diz é que o Senhor Deus não haveria de deixar
a alma humana do Redentor no estado de morte, isto é, no estado de separação do seu corpo.
Nem o seu corpo haveria de experimentar corrupção. A razão dessa incorrupção física e da alma
não poder ficar par sempre no estado de morte é que ambos os aspectos da natureza humana do
Redentor estavam indissoluvelmente ligadas à sua natureza divina, ao Logos. Portanto, quando
houve a morte do Redentor, estando desincorporado, ele foi chamado de ―alma‖, que é a mesma
coisa que ―espírito‖. 

Ap 6.9 —  ―...vi as almas (yuxa\j) daqueles que tinham sido mortos por causa da
palavra de Deus.‖ 

Ap 20.4  —   ―vi ainda as almas (yuxa\j)  dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus...‖ 

Esses dois textos acima falam da situação dos remidos do Redentor. Quando eles
morrem, e nestes textos há o motivo de suas mortes, eles São separados de si mesmos. O físico
deles repousam na sepultura e espírito deles vai estar com Deus. No entanto, quando
desincorporados eles São chamados de ―almas‖, o que eqüivale a ―espíritos‖. 
Obs.: a) Note que a Escritura apresenta a  pessoa desincorporada como espírito que é,
auto-consciente,
5.1-10 cônscio
(especialmente de sua identidade pessoal: Lc 23.43; Lc 16.19-31; Fp 1.22-23; 2 Co
vv.6-8).
b) quando se fala de almas ou espíritos das pessoas desincorporadas, deve se ter em
mente que o escritor bíblico tem como meta falar de pessoas em sua unidade, não somente uma
das partes delas.

(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a


expressões de emoção e de devoção.

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Esta argumentação que se segue destrói qualquer possibilidade de alguém reivindicar a


tese tricotomista. A Escritura é a intérprete de si própria. Ela mesma dá as respostas às nossas
inquirições.

(a) A Dor faz alusão tanto à alma como ao espírito: isto está claro nos ensinamentos sobre
a pessoa de Jesus Cristo:  

Este ponto pode e deve tanto ser aplicado aos homens comuns como ao Redentor deles.
Vejamos primeiro sobre Jesus:

 Jo 12.27 —  ―Agora está angustiada a minha alma (yuxh/), e que direi eu?...‖ 

 Jo 13.21  —   (após lavar os pés dos discípulos)  –   ―Ditas estas cousas,
angustiou-se Jesus em espírito (pneu/mati).‖ 

Esses dois textos acima falam de uma situação de sofrimento angustiante de nosso
Redentor. De acordo com o ensino geral dos tricotomistas, somente a alma deveria ser a
portadora dessa angústia. Contudo, como esses termos São usados indistintamente, tratando da
mesma natureza espiritual do homem, é dito também que o espírito estava angustiado.

Mt 26.38 —  (No Getsêmani) –  ―Então lhes disse: a minha alma (yuxh/ mou) está


profundamente triste até a morte...‖ 

Mc 8.12 —  (quando os fariseus pediram um sinal) –  ―Jesus, porém, arrancou


do intimo do seu espírito (pneu/mati au)tou=) um gemido, e disse: por que pede esta
geração um sinal?...‖ 

O mesmo caso se aplica nestes dois textos acima. A emoção chamada ―tristeza‖ que
normalmente é atribuída pelos tricotomistas à alma, a Escritura atribuí ao espírito, porque as

duas palavras São indicativas


(Obs.: note da mesma
que o uso que Marcos coisa —  a natureza
faz de espírito imaterial
é menos do do
intenso homem.
que na situação de
Mateus, quando este usa a palavra alma. Isto é uma grande dificuldade para quem pensa
tricotomísticamente).
 Também no caso dos homens comuns, a dor é atribuída tanto a alma como ao espírito.

At 17.16 —   ―Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito (pneu=ma


au)tou= ) se revoltava em face da idolatria reinante na cidade.‖ 

2 Pe 2.8 —   (Sobre Ló em Sodoma) –   ―Porque este justo, pelo que ouvia e via
quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa (yuxh\n dikai/na), cada dia,
por causa das obras iníquas daqueles.‖ 

 Tanto Paulo como Ló, ao contemplar o mal, num reflexo da imagem de Deus que já havia
sido restaurada neles, pois eram justos, sentiram dor que lhes atormentava a ―alma‖ (ou
―espírito‖- pois essas duas palavras São usadas indistintamente) deles, pois é essa sensação
dolorida que o pecado causa na vida dos redimidos.
Veja-se ainda Sl 77.3; 142.3; 143.7 - aplicando a dor ou a tristeza ao espírito.

(b) Alegria Ação de Graças estão relacionadas tanto à alma como ao espírito:

O escritor sacro narra uma ocasião quando Maria deixa os tricotomistas numa situação

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muito embaraçosa, pois ela inverte a ordem estabelecida por eles na distribuição dos elementos
distintos na natureza não material do homem. Veja o que Maria, a mãe do Redentor, diz:

Lc 1.46-47- ―Então disse Maria: a minha alma (yuxh/ mou) engrandece ao


Senhor, e o meu espírito ( pneu=ma/ mou) exulta em Deus meu salvador.‖ 

Segundo a teoria geral dos tricotomistas, o que é próprio da alma é o sentimento, é


atribuído ao espírito  —   ―o meu espírito exulta em Deus meu salvador‖. E o que é próprio do
espírito, a adoração cristã, é atribuído a alma —  ―a minha alma engrandece ao Senhor‖. 
Por que Maria faz esse uso ―indevido‖ dessas palavras? Obviamente, não há uso indevido.
O que acontece é que não há nenhuma autorização nas Escrituras para considerarmos essas
duas palavras  —   alma e espírito  —   como elementos distintos na composição da natureza
humana.
Na adoração dos crentes comuns é muito usada a expressão do Salmista no Sl 42.1-2 —  
―Como a corça suspira pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A
minha alma (yi$:pan) tem sede de Deus, do Deus vivo...‖ —  Todos os verdadeiros cristãos adoram
a Deus com todos os anelos de sua alma. Eles poderiam perfeitamente usar duas outras palavras
para expressar a mesma idéia. Eles poderia dizer que suspiram pelo Senhor com todo o seu
coração ou com todo o seu espírito. São termos usados indistintamente para expressar o mesmo
sentimento de adoração num desejo ardente por Deus.
(c) Adoração e Devoção São também atribuídos a ambos: alma e espírito.

Os textos abaixo criam uma dificuldade enorme para aqueles que possuem uma
mentalidade tricotomista, pois se a regra for aplicada literalmente, os tricotomistas não mais
poderiam ser tricotomistas, mas pentatomistas, pois o verso abaixo fala de cinco partes. Uma
dela obviamente, se refere ao corpo (―toda a tua força‖). As quatro restantes dizem respeito às
partes imateriais do homem que deveriam ser consideradas distintas se fôssemos aplicar a tese
tricotomista. Veja o texto:

Mc 12.30 - (pergunta sobre o l.º grande mandamento)  –   ―Amarás, pois, o

Senhor teuentendimento
todo o teu Deus de todo o(dianoi/aj
teu coração
sou), e (de todasoua),tua
kardi/aj de toda
forçaa( i)sxu/oj
tua almasou).( yuxh=j sou), de

Observe os outros textos paralelos:


Mc 12.30 - coração, alma, entendimento, força
Mt 22.37 - coração, alma, entendimento,
Lc 10.27 - coração, alma, entendimento, força
Dt 6.5 - coração, alma, força
Obs.: Uma observação que não pode deixar de ser feita é esta: A parte mais importante no
nosso culto a Deus e na expressão de nosso amor a Deus, segundo o entendimento tricotomistas
é o espírito do homem. Contudo, a ausência de espírito nestes textos é um problema sério para o
tricotomista.
Perceba no verso abaixo que o que é dito de um (espírito) é dito do outro (alma) no que
respeita ao esforço do cristão em preservar o corpo de doutrinas que ele recebe, que aqui é
chamado de ―fé evangélica‖. Isto é assim porque não se trata de elementos distintos, mas do
mesmo elemento. Paulo, obviamente, está usando um paralelismo hebraico.

Fp 1.27 —  ―Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para


que, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais
firmes em um só espírito ( pneu/mati ),  com uma alma (yuxv=), lutando juntos pela fé
evangélica.‖ 

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Ef 6.5-6 —  ―Quanto a vós outros, servos, obedecei a vossos senhores, segundo


a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração ( kardi/aj u(mw=n) como a
Cristo, não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de
Cristo, fazendo de coração (e)k yuxh=j) a vontade de Deus.‖ 

Note: de todas as referências à dor, alegria, adoração, perceba que o lugar dos exercícios
espirituais de um homem regenerado está, tanto na alma como no espírito. Nenhum exercício
espiritual da alma deve deixar de ser atribuído ao espírito, porque ambos os termos significam a
mesma coisa —  o aspecto imaterial do ser humano.
E importante ser observado que é a alma que tem anelos de Deus em vários textos da
Escritura (Sl 42.1-2; 62.1, 5, 8; 84.2; 86.4; 130.5-6; 143.6; Is 26.9.).
Observe-se ainda que é a alma que é devota a Deus (S1103.1, 2, 22; 104.1, 35; 108.1;
119.175; 143.8).

(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obra
redentora e santificadora de Cristo.

(a)  Quem vai para o céu ou para o inferno é a alma ou o espírito.


A existência humana no futuro, seja em vida ou em morte, isto é, em comunhão com Deus
ou em separação de Deus, é dita pertencer à alma ou ao espírito.
Os dois textos paralelos abaixo demonstram que a existência em morte pertence à alma.

Mt 16.26  —   ―Pois que aproveitaria o homem se ganhar o mundo inteiro e


perder a sua alma (yuxh\n )?  Ou o que dará o homem em troca de sua alma (yuxh=j
au)tou= )?‖ (cf. Mc 8.36)

Lc 12.20  —   ―Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma
(yuxh/n), e o que tens preparado, para quem será?‖ 

Nos textos abaixo é dito que a existência em vida dos cristãos pertence à alma. E curioso
que, na concepção tricotomista, quem vai para o céu é o espírito, não a alma. No entanto, a
Escritura usa o termo alma como equivalente a espírito.

Lc 21.19 —  ―E na perseverança que ganhareis as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).‖ 

Hb 10.39  —   ―Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição;
somos, entretanto, da fé para a conservaçao da alma (peripoi/hsin yuxh=j).‖ 

 Tg 1.21  —   ―Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de


maldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa
para salvar as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).‖ 

 Tg 5.20 —   ―Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado,
salvará a alma dele (yuxh\n au)tou=) e cobrirá multidão de pecados.‖ 

1 Pe 1.9 —   ―Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas (u(mw=n
swthri/na yuxw=n).‖ 

Ez 3.19 —  ―Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade


e do seu caminho perverso, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu salvaste a tua

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alma (!:$:pan)).‖ 

Nos dois textos abaixo é mostrado que um cristão que morre vai para a vida com Jesus.
No entanto, a palavra usada aqui é ―espírito‖ não ―alma‖, como nos textos anteriores. 

At 7.59  —   ―E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus,


recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).‖ 
1 Co 5.5 —   ―... seja entregue a Satanás para a destruição da carne (sapko/j), a
fim de que o espírito (pneu=ma swqv=) seja salvo no dia do Senhor.‖ 

(b)  A Santificação é da alma (ou espírito).

A salvação é alguma coisa que já aconteceu no passado, mas ainda é uma realidade
presente. Deus continua ainda a nos salvar. A isto a Escritura chama ―santificação‖. O processo
da santificação acontece com a totalidade do seu humano, tanto da sua parte material como da
imaterial. Escrevendo aos Coríntios, Paulo deixa bem claro esta verdade. A parte material ele
chama de ―carne‖ e a parte imaterial ele chama de ―espírito‖. Estes são os únicos dois elementos
que compõem a natureza humana.
2 Co 7.1 —  ―Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda
impureza, tanto da carne (sarko\j), como do espírito (pneu/matoj ) aperfeiçoando a nossa
santidade no temor de Deus.‖ 

Pedro, no entanto usa, nos textos abaixo, a palavra ―alma‖ como sendo o locus da
santificação que Deus opera em nós, e que nós operamos mediante nossa obediência à verdade.

1 Pe 1.22 —  ―Tendo purificado as vossas almas (yuxa\j) pela vossa obediência à


verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos
outros, ardentemente.‖ 

1 Pe 2.11 —  ―Amados, exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vos


absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma ( yuxh=j).‖ 

Is 38.16-17  —   ―Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e


inteiramente delas depende o meu espírito ( yixUr ); portanto, restaura-me a saúde,
e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu,
porém, amas a minha alma ( yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque
lançaste para trás de ti todos os meus pecados.‖ 

O ensino dos profetas do Antigo Testamento não é diferente dos escritores do Novo
 Testamento. A contaminação da ―alma‖ torna necessária a purificação dela. Da mesma forma a
saúde do ―espírito‖ do homem depende da obra santificadora de Deus. Analise com propriedade
estes dois textos abaixo e verifique que alma ou espírito São o locus da obra santificadora de
Deus, pois são termos usados indistintamente.

Ez 4.14 —  ―Então, disse eu: Ah! Senhor Deus! eis que a minha alma (yi$:pan)
não foi contaminada, pois desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal
morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na
minha boca.‖ 

Is 38.16-17  —   ―Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e

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inteiramente delas depende o meu espírito ( yixUr ); portanto, restaura-me a saúde,


e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu,
porém, amas a minha alma ( yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porque
lançaste para trás de ti todos os meus pecados.‖  

(c) O Perdão de Deus é para a Alma

Na concepção tricotomista, o perdão de Deus deveria ser para o espírito humano, não
para a alma. Contudo, a Escritura diz em vários lugares que a alma humana é objeto da
compaixão perdoadora de Deus.

Sl 41.4  —   ―Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma,
porque pequei contra ti.‖ 

S1102.2-3  —   ―Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças de


nenhum só de seus benefícios. Ele é quem  perdoa todas as tuas iniquidades.‖ 

Observe: É muito importante que se leve em conta que, quando a Escritura se refere ao
perdão da alma, ao fato dela ir para o céu, a
ênfase não está na divisão da pessoa,
mas na unidade dela. Portanto, é salutar pensar que Deus perdoa a
pessoa, e não apenas o lado imaterial dela; que é a pessoa que vai para o
céu, não um pedaço dela.
Explicação: O fato de que a Escritura usa alma e espírito indistintamente em muitos
contextos, como sinônimos básicos em tais contextos, não implica que não possa haver outro
sentido do seu uso em outros contextos; o mesmo acontece com carne e corpo.

3. O HOMEM É CORAÇÃO
Numa tentativa de compreender a doutrina bíblica do homem, atenção foi dada às
referências ao corpo, tanto quanto às variações no uso com respeito à alma e espírito. Entretanto,
a Escritura também apresenta o homem como coração. Este termo enfoca a unidade da natureza
básica do homem.

A) A ABRANGÊNCIA DO SIGNIFICADO DO TERMO “ CORAÇÃO”   NA ESCRITURA:


O livro de Provérbios é abundantemente rico no uso do termo ―coração‖ especialmente
quando fala que ele é a sede da personalidade humana.

(1) Referência a “coração” no Livro de Provérbios

Pv 2.10  —   ―Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será


agradável à tua alma.‖ 
3.5  —   ―Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio
entendimento.‖ 
4.23 —  ―Sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as
fontes da vida.‖ 
12.25 —  ―A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra.‖ 
14.10 —  ―O coração conhece a sua própria amargura, e da sua alegria não participará o
estranho.‖ 

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14.13 —  ―Até no riso tem dor o coração, e o fim da alegria é a tristeza.‖ 


14.14 —  ―O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta...‖ 
15.13 —  ―O coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração, o espírito se
abate.‖ 
Ver também: 15.14; 15.30; 16.5; 18.12,15; 19.3; 23.17.

(2) Referências a coração no uso de Jesus Cristo

Mt 5.8 —  ―Bem aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.‖ 


Mt 5.28  —   ―Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção
impura, no coração já adulterou com ela.‖ 
Mt 15.19  —   ―Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.‖ 
Mt 22.37 —  ―Respondeu-lhes Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.‖ 
Lc 8.11-15 —  (Parábola do Semeador) ―A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido
de bom e reto coração, retém a palavra; estes frutificam com perseverança.‖ (v. 15). 

Observação: Há dezenas de outras referências de Jesus a coração como a essência da


natureza humana, como o âmago de nosso interior, e são referências usadas indistintamente
para descrever não somente toda a personalidade, mas as coisas da própria alma (ou espírito).

(3) Referências a “coração” na mensagem de Paulo

H. Wheeler Robinson, em seu livro "Christian Doctrine of Man" resume o ensino de Paulo
como se segue:
15 vezes —  Personalidade, ou vida interior em geral. Cf 1 Co 14.14, 24, 25  –   ―Porém se
todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido, e por todos
 julgado; tornam-se-lhes manifestos os segredos do coração e, assim,  prostrando-se com a face
em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós.‖ 
13 vezes —   lugar do estado emocional da consciência, cf Rm 9.1-3 ―Digo a verdade em
Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: que
tenho grande tristeza e incessante dor no coração, porque eu mesmo desejaria ser anátema,
separado de Cristo, por amor de vós, meus irmãos, meus compatriotas segundo a carne.‖ 
11 vezes —   lugar das atividades intelectuais. Cf Rm 1.21-22 ―Porquanto, tendo
conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram
nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo- lhes o coração insensato. Inculcando-se por
sábios, tornaram - se loucos.‖ 
13 vezes —   lugar da vontade. Cf Rm 2.4-5 ―Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e
tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo
ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus.‖ 

B) A ESCRITURA USA O TERMO CORAÇÃO COMO INDICATIVO DE:

Pensamento = intelecto
Querer = vontade (volição)
Sentimento = emoção (afeições)

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1. Coração como Indicativo de Atividade Intelectual

Dt 29.4 —  ―Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem
ouvidos para ouvir, até o dia de hoje.‖ 
Lc 5.22 —  ―Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: que arrazoais em
vossos corações? ‖ 
 Jo 12.40 — 
olhos, nem entendam ―Cegou-lhes os olhos
com o coração, e seeconvertam
endureceu-lhes o coração,
e sejam por mimpara que não vejam com os
curados.‖ 
At 8.22  —   ―Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez que te seja
perdoado o pensamento (e)pi/noia ) do coração.‖ 

2. Coração como Indicativo de Atividade Volitiva

Mt 15.19 —  ―Porque, do coração, procedem maus desígnios, homicídios, adultérios...‖ 


Ex 25.2 —  ―Fala aos filhos de Israel que me tragam ofertas; de todo homem cujo coração o
mover para isso, dele recebereis a minha oferta.‖ 
1 Cr 22.19 —  ―Disponde, pois, o vosso coração, e a vossa alma para buscardes ao Senhor
vosso Deus....‖ 
Dn 1.8 —  ―Daniel, porém, propôs no seu coração, não se contaminar com as finas iguarias
do rei…‖ 
At 11.23 —   ―Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se, e exortava a todos
que, com firmeza de coração, permanecessem firmes no Senhor.‖ 
1 Co 7.37  —   ―Todavia, o que está  firme no seu coração, não tendo necessidade, mas
domínio sobre o seu próprio arbítrio, e isto bem  firmado no seu ânimo (kardi/#), para conservar
virgem a sua filha, bem fará.‖ 

3. Coração como Indicativo de Atividade Emotiva

Ex 4.14 —  ―Então se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita,
teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se
alegrará em seu coração. ‖ 
Ne 2.2 —  ―O rei me disse: porque está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser
tristeza do coração. Então temi sobremaneira.‖ 
Sl 28.7 —  ―O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia; nele fui
socorrido; por isso o meu coração exulta.‖ 
 Jo 14.1 —  ―Não se turbe o vosso coração....‖ 
At 2.26 —  ―Por isso se alegrou o meu coração e a minha língua exultou...‖ 
2 Co 2.4 —   ―Porque no meio de muitos sofrimentos e angústias do coração vos escrevi,
com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor
que vos consagro em grande medida.‖ 

c) A ESCRITURA APRESENTA O CORAÇÃO COMO A SEDE DO PECADO


No Antigo Testamento

Pv 6.14 —  ―No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeando
contendas.‖ 
Pv 6.18 —  ―Coração que trama projetos iníquos...‖ 
Pv 6.25 —   ―Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender com as

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suas olhadelas.‖ 
Pv 7.10 —   ―Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta, e astuta de
coração.‖ 
Pv 12.20  —   ―Há fraude no coração dos que maquinam o mal, mas alegria têm os que
aconselham a paz.‖ 
Pv 12.23 —   ―O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos

proclama
 Jr a17.9
estultícia.‖ 
 —   ―Enganoso é o coração; mais do que todas as coisas e desesperadamente
corrupto. Quem o conhecerá?‖ 

No Novo Testamento

 Jesus é absolutamente claro quando trata da pecaminosidade que atribuída ao coração


humano:

Mc 7.21-23  —   ―Porque de dentro, do coração dos homens, e que procedem os maus
desígnios, a prostituição, furtos, os homicídios, os adultérios....; ora, todos esses males vêm de
dentro e contaminam o homem.‖ 

Paulo é o apóstolo que mais trata desta matéria:

Ef 4.17-18 —  ver outros textos sobre o coração endurecido.

Obs.: averiguar esta matéria no Livro de Provérbios.

D)A ESCRITURA APRESENTA TAMBÉM O CORAÇÃO COMO O CENTRO DA OBRA


REDENTORA DA GRAÇA.

Sl 51.10 —  ―Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito


reto.‖  Ez 36.26 —  ―Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo.‖ 
At 16.14 —   (Sobre Lídia) ―…e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que
Paulo dizia.‖ 
Rm 2.29 —  ―Porém justo é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração.‖ 
Rm 10.9-10 —  ―Porque, como coração se crê para a justiça...‖ 
Ef 3.17 —  ―E assim, habite Cristo em vossos corações, pela fé....‖ 

―O coração é o ponto de concentração, a raiz religiosa de nossa existência


humana total. Dele surgem todos os nossos pensamentos, ações, sentimentos e
desejos. Em nossos corações damos respostas às mais profundas e definitivas
questões, e em nossos corações o nosso relacionamento com Deus é determinado.
A regeneração, a renovação do coração pelo Espírito Santo, faz-nos voltar para
Deus e redirige-nos o coração do caminho da apostasia para Deus. O coração, ou
alma do homem, jamais pode ser identificado com qualquer outra função vital, tal
como sentimento ou fé. Ele é mais profundo do que qualquer outra função vital e
transcende o temporal. O coração é o ponto do homem que determina o seu
relacionamento com Deus. Não é possível dar uma conceituação ou uma definição
científica do coração, porque como o centro de nossa existência em seu todo, o
coração é a pressuposição mais profunda de nosso pensamento. Nós podemos
somente repetir através da fé o que Deus nos tem revelado em Sua Palavra a

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respeito do centro de nossa vida.‖ 32 

Resumo —   A fim de ajudar-nos a compreender melhor o significado bíblico de coração,


perguntamos: O que deve ser oposto ao coração, na Bíblia? A resposta é sempre, sem exceção,
aquilo que é visível, o homem exterior. A adoração que uma pessoa pode prestar com seus lábios
(exterior, visível, adoração audível), é contrastada com a adoração do coração (interior, invisível,
inaudível) ilustrada
16.7 –  ―aparência em Mt e15.8.
exterior‖ Uma (Rm
―coração‖ outra10.8-10).
maneira de se ver esse contraste é observar 1 Sm
Sempre a Escritura usa a palavra ―coração‖ para falar do interior do homem (ou do
homem interior - 1 Pe 3.4; 2 Co 4.16). O coração é a parte interior de nossa vida diante de Deus
e de si mesmo, uma vida desconhecida dos outros, porque ela é escondida deles (Mt 5.28).
E bom que se lembre aos tricotomistas de que tudo o que é dito da alma e do espírito, é
também dito do coração (Dt 11.13; Mt 22.37; 1 Rs 4.48; 1 Cr 22.19; At 4.32; Sl 32.2; Mc 14.38;
8.12; Ef 4.23; Hb 4.12-13; 1 Pe 3.4; S164.6; 13.2).
Pode haver alguma distinção entre alma e espírito? Por que essas duas palavras São
usadas para descrever uma só entidade? Como essas duas palavras estão ligadas a coração?
Como já foi visto, o coração é a parte interior, não-observável, imaterial do ser humano.
ALMA —  fala do homem em unidade dos elementos material e imaterial como um ser vivo
(1 Pe 3.20; Gn 46.22; alma também diz respeito ao ―eu‖ do homem (Sl 42.1; 103.1, etc.). 

corpo. OESPIRITO —    sempre


espírito fala pintadesincorporado.
do estado o aspecto imaterial
Deus,dapor
natureza humana,
exemplo, nuncafora da relação
é chamado do
Alma
(embora nephesh seja atribuída a Ele), mas sempre ele é chamado Espírito (Jo 4.24). A terceira
pessoa da Trindade é o Espírito Santo, não a Alma Santa. Quando Jesus disse que Deus é
Espírito, Ele enfatizou o fato de que a adoração requerida deveria ser mais do que exterior (física);
Deus deveria ser adorado em espírito e em verdade. Quando Cristo discutiu e definiu um espirito,
Ele disse: ―...apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, com vedes que
eu tenho‖ (Lc 24.39). Um espírito é uma pessoa sem o corpo. Assim, como a palavra alma (de uma
forma ou outra) sempre descreve o aspecto não-material da natureza humana em relação ao (ou
em unidade) material, assim a palavra espírito refere-se ao mesmo aspecto imaterial da natureza
humana, mas fora de sua ligação com o corpo (o material).
CORAÇÃO  —   refere-se ao aspecto imaterial do homem em contraste com o aspecto
material (usualmente enfatizando sobre a visibilidade deste último e a invisibilidade do primeiro).
São três palavras distintas, contudo, todas elas referem-se a mesma entidade: a pessoa
imaterial.

32 J. M. Spier, Na Introduction to Christian Philosophy, 15-16.

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CAPITULO IV

TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA ALMA HUMANA 


 Três teorias disputaram a opinião da igreja desde os primeiros séculos da igreja cristã,
com respeito à origem da alma:

1.  PRE-EXISTENCIALISMO 33 

Orígenes (séc. III) foi seu principal expoente. Esta teoria ensina que as almas dos homens
tiveram uma existência anterior à criação dos próprios homens. Alguns acontecimentos nesse
período pré-temporal determinaram a condição em que atualmente se encontram essas almas.
Houve uma espécie de queda pré-temporal. Orígenes considerou que a existência material
presente no homem, com todas as suas desigualdades e irregularidades físicas e morais, é um
castigo pelos pecados cometidos em uma existência anterior. O pecado, portanto, teve entrada no
mundo dos homens num estado pré-temporal, e isso fez com que o homem já entrasse no mundo
numa condição de pecado.
Objeções: a) É uma teoria sem base escriturística. Algumas de suas formas refletem uma
base filosófica pagã que aceita um dualismo, matéria-espírito, tornando um castigo para a alma
o fato dela ser unida ao corpo.
b) Faz com que o corpo seja meramente acidental. A princípio, a alma existia sem o corpo.
O homem estava completo sem o corpo. Isto apaga a distinção entre o homem e os anjos.
c) Destrói a unidade da raça humana, porque aceita que as almas individuais existiram
muito tempo antes de entrarem na vida presente. Não constituem uma raça.
d) Não tem apoio na consciência humana. O homem não tem uma consciência de uma
existência prévia, ou que o corpo seja uma espécie de prisão para a alma.
2. TRADUCIANISMO (ou PROPAGAÇÃO)34 
Segundo o traducianismo, as almas dos homens se propagam juntamente com os corpos,
mediante uma geração ordinária, transmitida dos pais aos filhos.
Entre os Reformados há alguns que defendem a idéia traducianista. W.G.T. Shedd é o
principal expoente dessa corrente.

a) Argumentos a favor do Traducianismo


Os traducianistas apresentam vários argumentos em favor de sua teoria:

(a) A Escritura parece favorecer a apresentação do traducianismo


A Bíblia ensina que o homem é uma espécie, e a idéia de espécie implica numa
propagação da totalidade do indivíduo, e não de uma parte apenas, ou seja, o corpo, como ensina
o criacionismo.
 —   Gn 1.26, 27; 5.2 ensinam que o homem e mulher são denominados ―homem‖. A
palavra ―Adão‖ não denota simplesmente o nome de um homem, mas da espécie. Quando Deus
criou Adão, ele não criou o indivíduo, mas a espécie.

33 Dados tirados de Berkhof, p. 232 (edição castelhana).


34 Argumentos tirados de Berkhof, p. 233-34 (edição castelhana)

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 —  A criação da alma de Eva esteve incluída na de Adão, pois dele ela foi formada ( 2 Co
11.8; Gn 2.21-23). A mulher toda (por inteiro), e não somente o seu corpo, foi derivada de Adão.
Alma e corpo são propagados. Deus criou a natureza humana em Adão, e depois essa natureza
humana foi transformada em milhões de indivíduos por propagação sexual. A criação do ―Adão‖
(natureza humana) foi terminada e completada no sexto dia. Após isso, há somente a propagação
da raça.

 —  Deus
Gn 2.2 diz que
soprou Deus cessou
somente uma vezo trabalho da criação
nas narinas depois
do homem, de haver
e depois feito ofecundo
o tornou homem.para
a propagação da espécie (Gn 1.28; 2.7).
 —  Observe o uso da palavra ―carne‖ quando denota ―natureza humana‖ (corpo e alma), e
não apenas corpo (Jo 3.6; 1.14; Rm 1.3).
Estes textos parecem favorecer a posição traducianista, isto é, eles ensinam que o
indivíduo é propagado como um todo (consistindo de corpo e alma), e não somente em parte como
ensina o criacionismo.

(b) Pelas leis naturais da vida vegetal e animal


O crescimento nesses remos não é por um crescente de criação imediata, mas por meio de
derivação natural de novos indivíduos procedentes de um tronco paterno (mas observe-se Si
104.30).

(c) As Leis genéticas favorecem o Traducianismo


A herança das peculiaridades mentais e tendências familiares são notáveis, traços físicos
e mentais que não são explicáveis nem pela educação, nem pelo exemplo.

(d) O Traducianismo oferece mais base para explicar a depravação moral e espiritual
porque este assunto é mais um assunto da alma do que do corpo.
OBS. - Para justificar os seus argumentos, os traducianistas se juntam ao realismo para
explicar o pecado original.

b) Objeções ao Traducianismo
 
Contra o traducianismo há varias objeções:
(a) Ele é contrario à doutrina filosófica da simplicidade da alma. A alma é uma substancia
espiritual pura que não admite divisão. A propagação da alma implicaria na divisão da alma, já
que a criança recebe a sua alma dos pais. O problema maior é: de quem procede a alma da
criança? da mãe ou do pai? Ou ela vem de ambos? Se é assim, não seria uma alma composta?
(b) A fim de evitar essa dificuldade supra-mencionada, os traducianistas têm que recorrer
a uma dessas três teorias a serem mencionadas: Primeira, que a alma da criança tem uma
existência prévia, uma espécie de pre-existencialismo; Segunda, que a alma está potencialmente
presente no sêmen do homem ou da mulher, ou em ambos, e isso e. materialismo; Terceira, que
a alma é produzida, isto é, ela é criada de algum modo, pelos pais, e isto os torna, de algum modo,
criadores.
(c) Os traducianistas dizem que, após a criação original, Deus somente obra
mediatamente. Após os seis dias da criação Sua obra criadora cessou, por isso Deus não pode
mais criar almas. Mas a pergunta a ser levantada é esta: Onde fica, então, a regeneração, que não
é efetuada através de causas secundarias? Ela é uma nova criação!
(d) Geralmente o traducianismo se une ao realismo para explicar o pecado da raça, isto é,
a culpa do homem. Fazendo isto, o traducianismo afirma a unidade numérica da substância de
todas as almas humanas, o que é uma posição insustentável. Além disso, o traducianismo falha

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em explicar a culpa individual de cada homem nos outros pecados de Adão, e nos pecados dos
outros antepassados.
(e) O traducianismo tem dificuldades insuperáveis na Cristologia. Se em Adão a natureza
pecou como um todo, e que o pecado foi de cada parte da natureza, então, a conclusão é que a
natureza humana de Cristo foi também pecaminosa e culpada, pois ela fazia parte da raça criada
numericamente uma e a mesma em Adão.

3) CRIACIONISMO
Esta teoria considera que cada alma é uma criação imediata de Deus, possuindo sua
origem num ato criativo direto de Deus, no qual o tempo não pode ser precisamente determinado.
Supostamente, a alma é criada pura, pois Deus não poderia tê-la criado impura, e ela é unida a
um corpo depravado. Não deve ser crido que a alma é criada separadamente do corpo e que ela se
torna poluída em contato com o corpo, o que tornaria o pecado algo simplesmente físico. Deve ser
crido que a alma é criada pura, mas que Deus imputa a culpa de Adão a ela e, então, se torna
corrupta também.
A alma, que é produto de um ato criador direto de Deus, já está pré-formada na vida
psíquica do feto.

a) Argumentos a favor do Criacionismo


(a) Ele é mais consistente com as apresentações dominantes da Escritura que o
traducianismo. O relato original da criação assinala uma distinção clara entre a criação do corpo
e da alma. O corpo foi tomado da terra e a alma vem diretamente de Deus. Em toda a Bíblia esta
distinção se conserva, onde a alma e o corpo não são somente substâncias diferentes, mas têm
origens diferentes (veja Ec 12.7; Is 42.5; Zc 12.1; Hb 12.9; Nm 16.22). Sobre o texto de Hebreus,
Delitzsch, um notável traducianista, disse: "Dificilmente pode encontrar-se um texto que dê
prova mais clássica a favor do criacionismo!"- O criacionismo é muito mais consistente com a
natureza da alma humana do que o traducianismo. A natureza individual da alma humana é
perfeitamente reconhecida pelo criacionismo. A teoria traducianista, por sua vez, implica. numa
separação e divisão da essência da alma.
(b) Evita os tropeços do traducianismo na Cristologia, e faz mais justiça à pessoa de Cristo
na Escritura. Cristo foi verdadeiramente homem, com verdadeira natureza humana, um corpo
verdadeiro e uma alma racional. Nasceu da mulher, foi feito semelhante a nós e, não obstante,
sem pecado. Diferentemente dos outros homens, não participou da culpa e corrupção da
transgressão de Adão, pois Deus não lhe imputou culpa. Isto foi possível porque Ele não
participou da mesma essência numérica dos que pecaram em Adão.

b) Objeções ao Criacionismo
(a) A objeção mais séria é a seguinte: a alma sendo depravada, ou possuindo tendências
depravadas, torna Deus o autor direto do mal. Se a alma foi criada pura, torna Deus o autor
indireto do mal, pois Deus a coloca num corpo que fatalmente a corromperá.
Este argumento é considerado pelos traducianistas como fatal para o criacionismo. Claro
que este é um tropeço a ser evitado. Para o criacionismo, o pecado original não é um problema
simplesmente de herança. Os descendentes de Adão são pecadores, não como resultado de
haverem sido postos em contato com um corpo pecador, mas em virtude do fato de Deus
imputar-lhes a desobediência original de Adão. Então, a justiça original é tirada, e a corrupção do
pecado, naturalmente, se desenvolve.
(b) O criacionismo considera os pais terrenos como gerando somente o corpo de seus
filhos, o que certamente não é a parte mais importante da criança e, portanto, não explica os
reaparecimentos de tendências mentais e morais dos pais nos filhos.
Até onde tenha a ver com as semelhanças mentais e morais dos pais e filhos, não
necessariamente precisam ser explicadas unicamente com base na herança. Nosso

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conhecimento da alma é tão imperfeito para falar com absoluta segurança sobre esse ponto. Mas
esta semelhança, em parte, é explicada pelo exemplo dos pais, em parte pela influência do corpo
sobre a alma e, em parte, pelo fato de que Deus não cria todas as almas iguais, mas que cria em
cada caso particular uma alma adaptada ao corpo com o qual se unirá, e adaptada também às
complexas relações nos quais terá que ser introduzida.
(c) O criacionismo não está em harmonia com a relação atual de Deus com o mundo e com

sua maneira
ignora de trabalhar
que Deus não mais nele,
obra visto que ensina
diretamente, masuma atividade
somente criadora
por meio de Deussecundária.
de agência e, deste modo,

4) PONDERAÇÕES FINAIS

a) Há que se ter prudência ao falar deste assunto


Deve admitir-se que os argumentos de ambas as partes, traducianismo e criacionismo,
estão equilibrados. A Escritura não faz uma afirmação direta a respeito da origem da alma no
homem em particular, exceto no caso de Adão. As poucas passagens da Bíblia que tratam do
assunto, só podem ser consideradas conclusivas por cada parte, já que algumas delas são
usadas pelas duas partes. Alguns teólogos são de opinião de que há verdades em ambas as
teorias.

b) Alguma forma de criacionismo merece preferência


Pelas seguintes razões:
(a) Não encontra dificuldade filosófica insuperável com a qual o traducianismo sofre;
(b) Evita os erros cristológicos que envolve o traducianismo;
(c) Está mais em harmonia com a nossa idéia de pacto.
Ao mesmo tempo, estamos convencidos de que a atividade criadora de Deus, ao formar as
almas humanas, deve ser concebida como muita estreitamente ligada ao processo natural de
geração dos indivíduos.
O criacionismo não evita todas as dificuldades, mas é uma garantia contra os seguintes
erros: (a) que a alma é divisível; (b) que todos os homens são meramente a mesma substância; (c)
que Cristo tomou aquela mesma natureza numérica que caiu em Adão.

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CAPITULO V

A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM


Hoekema diz que ―o conceito da imagem de Deus é o coração da antropologia cristã.‖ 35 
Essa doutrina é fundamental para o entendimento de outros aspectos da antropologia, como por
exemplo, o do efeito do pecado na vida do homem, especialmente quando estudamos a imagem de
Deus após a queda.
Segundo Herman Bavinck, o homem não carrega ou tem simplesmente a imagem de
Deus, mas ele é a imagem de Deus, e diz também que a imagem de Deus não é um acidente, mas
algo essencial a ele, sem a qual ele não pode ser o que e.

―Da doutrina de que o homem foi criado à imagem de Deus segue -se a
implicaçãoNada
inteireza. clarano
que a imagem
homem de Deus
é excluído da estende-se
imagem de ao homem
Deus. emastoda
Todas a sua
criaturas
revelam traços de Deus, mas somente o homem é a imagem de Deus. E ele é a
imagem totalmente, na alma e no corpo, em todas as faculdades e poderes, em
todas as condições e relacionamentos. O homem é a imagem de Deus porque e ao
grau em que ele é verdadeiro homem, e ele é homem, homem verdadeiro e real,
porque e ao grau em que ele é a imagem de Deus.‖ 36 

Isto quer dizer que a imagem de Deus não é acidental, mas algo extremamente importante
e essencial à natureza humana. O homem não pode ser homem sem a imagem de Deus. Por isso
o homem é a imagem de Deus, não simplesmente a tem, como algo que foi acrescentado depois de
sua formação.
Quando criado, portanto, o homem era:
a) O espelho de Deus - Antes da queda, o homem refletia perfeitamente o seu Criador.
Bastava olhar para ele para ver a perfeição de Deus refletida nele. Tudo era harmonia. Hoekema
diz que

―Deus era o homem tornado visível na terra. Para ser exato, outras criaturas, e
mesmo os céus, declaram a glória de Deus, mas somente no homem Deus torna-se
visível. Os teólogos Reformados falam da revelação geral de Deus, na
qual Ele revela a Sua presença, poder e divindade através das obras de Suas mãos.
Mas na criação do homem, Deus revelou-Se a Si mesmo de um modo singular, por
tornar alguém que era uma espécie de espelho, uma imagem de Si próprio.
Nenhuma honra mais alta poderia ter sido dada ao homem do que   a do privilégio
de ser a imagem de Deus que o fez‖.37 

Esta imagem foi deformada pela queda, mas foi restaurada por Cristo, e será aperfeiçoada
até que volte de novo a ser como era.
b) O representante de Deus - O domínio que Deus deu ao homem sobre todas as obras de
Sua criação, indica que Deus deixou o homem como seu representante e governador da criação.

35 AnthonyHoekema, Created God‟s Image , (Eerdmans, 1986), p.66.


36 HermanBavinck, Dogmatiek, 2:595-96, citado por Hoekema, p. 65.
37 Hoekema, p. 67.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 49

Deus governa através do homem, a quem deu o domínio sobre tudo. Por essa razão, a
responsabilidade do homem aumenta, pois ele tem que fazer exatamente o que Deus faria, como
um embaixador de Deus que e.

SOBRE O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS


“Imagem” e “Semelhança” 
As duas palavras aparecem juntas e Gn 1.26, mas não se referem a coisas diferentes,
como, por muito tempo, creu-se na história da igreja. 38 
As duas palavras, imagem e semelhança, são sinônimas e usadas indistintamente. Em
Gn 1.26 aparecem as duas palavras, enquanto que em Gn 5.1 aparece somente a ―semelhança‖,
e em Gn 5.3 as duas novamente. Em Gn 9.6 aparece somente a palavra ―imagem‖, como que
indicando a idéia total do homem. Hoekema assevera que ―se estas palavras pretendessem
descrever aspectos diferentes do ser humano, elas não seriam usadas, como as temos visto sendo
usadas, isto é, quase indistintamente‖. 39 Berkhof observa que

―a opinião corrente é que a palavra ‗semelhança‘ foi acrescentada à ‗imagem‘


para expressar a idéia de que a ‗imagem‘ foi extraordinariamente parecida, uma
imagem perfeita. A idéia é que, mediante a criação, aquilo que era arquetípico em
Deus, se transformou em cópia no homem. Deus foi o original de onde se tirou a
cópia que é o homem.‖ 40 

A palavra hebraica para ―imagem‖ é {elec: (tselem )  derivada de uma raiz que significa
―esculpir‖ ou ―cortar‖. Portanto, podemos entender ―imagem‖ como sendo o homem uma
representação de Deus. 41 
A palavra hebraica para ―semelhança‖ é "tUm:di  (demuth ), que vem de uma raiz que
significa ―ser igual‖. ―Alguém poderia dizer que em Gn 1.26 a palavra imagem é igual a
semelhança, uma imagem que é igual à nossa. As duas palavras juntas dizem-nos que o homem
é uma representação de Deus, que é igual a Deus em certos aspectos.‖ 42 

SOBRE A REFLEXÃO DA IMAGEM DE DEUS


Gn 1.26  —  ―Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...‖ 

38  Irineu(175...) e Tertuliano (160-225) pensaram que ―imagem‖ e ―semelhança‖ fossem coisas
distintas. A primeira tinha a ver com as características físicas, enquanto que a segunda com a natureza
espiritual do homem;
Clemente de Alexandria (155-220) e Orígenes (185-254) pensaram que ―imagem” denotava as
características do homem como homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito ás qualidades essenciais
que não se podem perder ou cultivar;
Os escolásticos, com algumas variações, conceberam a ―imagem‖ como sendo as capacidades
intelectuais e da liberdade do homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito à justiça original. Num
desenvolvimento desse conceito, acrescentou-se posteriormente que a ―imagem‖ era um dom natural de
Deus ao homem, enquanto que a ―semelhança‖, ou a justiça original, é um dom sobrenatural que foi
acrescentado ao homem, para que fosse freio para a natureza baixa do homem. Este é o donum
superadditum. 
39 Anthony Hoekema, Created in God‟s Image , (Eerdmans, 1986), p. 13.
40 Berkhof, p. 240, (edição em castelhano).
41 Hoekema, p.13.
42 Hoekema, p. 13.

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A relevância deste verso está no fato de Deus usar a expressão ―nós‖ , uma expressão
plural que anuncia o conselho triunitário da criação do homem. ―Isto‖, diz Hoekema, ―indica
novamente a singularidade da criação do homem‖. 43 
Neste tópico, vamos analisar a imagem do homem teologicamente, tanto quanto possível,
baseado no ensino geral das Escrituras sobre o homem.

De que consiste o reflexo da imagem de Deus?

Reflexo 1

O homem reflete a imagem de Deus como um ser pessoal que é. Nesse sentido ele se
assemelha a Deus. Ele não pode viver isolado, como Deus não vive em solidão44, mas sempre em
relacionamento. Não existe a pessoalidade sem a noção de companheirismo. Foi por isso que
Deus fez uma companheira para o homem, pois como pessoa que ele é, não poderia ficar só.
Nessa capacidade de pessoalidade o homem reflete Aquele que o criou.

Reflexo 2

O homem reflete a imagem de Deus pela capacidade de domínio sobre as outras coisas
criadas. Esta é a indicação mais clara que a Escritura dá da imagem de Deus no homem.
Há divergência entre os teólogos sobre se o domínio da criação é parte essencial da
imagem de Deus. Alguns dizem que o domínio sobre a criação é resultado do homem ser criado à
imagem de Deus45, enquanto que outros afirmam que isso é essencial ao conceito de imagem de
Deus.46 Neste estudo, assumimos esta última posição.
O domínio do homem é parte essencial da sua natureza. A palavra domínio vem da
palavra latina dominus, que quer dizer ―Senhor‖. O homem foi colocado como o ―senhor‖ da terra.
Nesse sentido, ele é o imitador de Deus, como o Senhor absoluto e supremo. Deus, quando
estampou a Sua imagem no homem, colocou o senso de domínio sobre todas as obras da criação,
e ordenou esse domínio ao homem. Obviamente, é um domínio subordinado, não absoluto como
o do seu Senhor.
O texto de Gn 1. demonstra fartamente esta verdade:

Gn 1.26-28  —   ―Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,


conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as
aves do céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os
répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes
disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os
peixes do mar, sobre as aves do céus, e sobre todo animal que rasteja pela terra‖. 

imagemEste texto E
de Deus. deoGn 1.26-28
domínio do dá-nos
homemuma
sobreidéia vaga, mas
a criação, correspondente
especialmente sobre com a real,
os seres da
vivos.

43 Hoekema, p. 12.
44 Eternamente Deus é tripessoal. Antes de haver a criação, Ele já se comunicava consigo mesmo,
nas pessoas da Trindade. A prova disto está no fato de Deus usar a frase ― Façamos o homem ‖, numa espécie 
de conselho, um acordo de pessoas que se entendem relacionando-se.
45 Vide J. Skinner, Critical and Exegetical Commentary on Genesis , (Nem York: Scribner, 1910), p.
32; Berkouwer, Man: The image of God, (Eerdmans, 1984), pp. 70-72.
46 Vide Berkhof, Systematics  ; L. Verduin, Somewhat Less Than God , (Eerdmans, 1970), pp. 27-48.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 51

Quando o homem exerce devidamente esse domínio, ele está se portando como Deus, refletindo o
domínio que Deus tem sobre todas as coisas.
O Salmo 8 é uma ―linguagem poética imponente‖47 que descreve o conteúdo de Gn 1.26,
mostrando o poder e o domínio do homem. ―O homem é um rei, e não um rei sem território; o
mundo em derredor, com as obras da sabedoria criadora que o enchem, é o seu reino‖. 48 Segundo
este Salmo, o homem foi feito, por um pouco, menor do que Deus, e foi coroado de glória e de

honra,
dele serpelo domínio
parecido comsobre
Deusa no
criação (vv.5-9).
domínio sobreAtoda
glória e honra do
a criação. homem
Nisto está, reflete
o homem na verdade, no fato
a imagem de
Deus, como nenhuma outra criatura racional, mesmo os próprios seres celestiais.
Esse domínio é chamado por alguns teólogos o ―mandato cultural‖, isto é, a ordenação
para o governo da terra no lugar de Deus, como representante de Deus.

Reflexo 3

O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que chamamos "essenciais" nele,
sem os quais ele não poderia continuar sendo o que é: Poder intelectual, afeições naturais,
liberdade moral, espiritualidade, imortalidade e o aspecto físico.
a) Por Poder Intelectual queremos dizer a faculdade do raciocínio, inteligência, e outras
capacidades intelectivas em geral, que refletem aquilo que Deus tem.
Se o homem perde as suas capacidades intelectivas, ele deixa de ser o que é. A
racionalidade é o aspecto distintivo dos outros seres criados. Estas capacidades foram afetadas,
mas não extintas pela Queda.
b) Por Afeições Naturais queremos dizer as capacidades que o homem tem de ligar-se
emocional e afetivamente a outros seres ou coisas. Deus tem essa capacidade e a passou para os
seres humanos.
c) Por Liberdade Moral queremos a capacidade que o homem tem de fazer todas as coisas
de acordo com os princípios morais que nele existem, de acordo com as leis que Deus implantou
no seu coração (Rm 2). Os teólogos também dizem que a liberdade moral está vinculada à
Libertas Naturae que o homem possui, independentemente de sua queda. Ele é capaz de agir
sempre de acordo com a sua natureza, também chamada de liberdade de agência. Essa é a
liberdade própria do ser humano, sem a qual ele não pode ser o que e.
d) Por Espiritualidade queremos dizer a natureza imaterial do homem, com a qual ele foi
criado. A Escritura diz que o homem foi feito ―alma vivente‖ (Gn 2.7). Deus é Espírito, e num certo
sentido, o homem tem traços dessa espiritualidade, embora ele não seja completo sem o corpo.
e) Por Imortalidade queremos dizer que o homem, depois de criado, não mais cessa de
existir. Não é somente a alma do homem que é imortal, mas o seu ser completo. A morte, não é
para o corpo, mas para o homem. Morte é separação, não cessação de existência. A imortalidade
é singular para Deus (1 Tm 6.16) no sentido de ser essencial para Ele. O homem a possui num
caráter secundário e derivado. A imortalidade é um dom que o homem recebe de Deus.
f) Por Aspecto Físico queremos nos reportar ao texto de Gn 9.6 que diz: ―Se alguém
derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem
segundo a sua imagem‖. Uma assassinato é a destruição do corpo, mas o texto diz que é a
destruição da imagem de Deus. ―Portanto, quando alguém mata o ser humano, não somente ele
tira a vida de uma pessoa, ele ofende o próprio Deus - o Deus que foi refletido naquele indivíduo.
 Tocar na imagem de Deus é tocar no próprio Deus; matar a imagem de Deus é fazer violência ao
próprio Deus.‖49 Não podemos deduzir de Gn 9.6 que o Senhor Deus tenha uma aparência física,
mas temos que entender que quando a Escritura fala do corpo, do aspecto físico, ela está falando
do homem completo, que é a imagem de Deus. Hoekema diz com grande acerto que ―deveríamos

47 Esta é uma expressão usada por Franz Delitzsch, em seu comentário sobre o Salmo 8.7-9.
48 C. F. Keil and Franz Delitzsch, Commentary on the Old Testament,  vol. 9, (Eerdmans, 1982), p.
155.
49 Hoekema, p. 16.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 52

dizer não somente que o homem tem a imagem de Deus, mas que o homem é a imagem de Deus.
Do ponto-de-vista do Antigo Testamento, ser humano e carregar consigo a imagem de Deus.‖ 50 
Não podemos menosprezar a idéia do corpo, como sendo algo descartável, que não faz
parte da imagem de Deus. Quando Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, o corpo
estava incluso, porque o homem total é a imagem de Deus.

Reflexo 4

O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que consideramos ―não essenciais ” a
ele.
A rigor, o que não é essencial, é aquilo que alguém pode não ter, e mesmo assim,
continuar a ser o que é. Estes atributos dos quais vamos falar, o homem perdeu na queda e,
contudo, continuou a ser homem. O homem não poderia perder as faculdades que o fazem ser o
que é, mas perdeu as capacidades éticas de suas faculdades. Berkhof diz que o homem

―era,  por natureza, dotado com aquela justiça original que é a glória
culminante da imagem de Deus e vivia, consequentemente, num estado de
santidade positiva. A perda dessa justiça significou a perda de algo que
correspondia à verdadeira natureza do homem em seu estado ideal. O homem
poderia perdê-la e continuar sendo homem, mas não poderia perdê-la e continuar
sendo homem no seu sentido ideal. Em outras palavras, sua perda significaria a
deterioração e ruína da natureza humana.‖ 51 

OS ESTÁGIOS DA IMAGEM DE DEUS


Neste capítulo vamos tratar da imagem de Deus nos seus vários estágios, isto é, antes da
queda, depois da queda, depois da regeneração e no estado de glória.

1. A IMAGEM ORIGINAL
Neste ponto vamos falar de um aspecto extremamente importantíssimo, que os teólogos,
com o suporte das Escrituras, chamam de ―justiça Original‖. 
Nesse tempo, antes da queda, no estado de integridade, o homem refletia perfeitamente a
imagem de Deus. Ele era capaz de viver perfeitamente de acordo com as prescrições de Deus.
Agostinho disse que ele era capaz de não pecar. A famosa frase latina  posse non peccare expressa
bem a capacidade do homem em viver de acordo com a vontade preceptiva de Deus explicitada ali
no Éden.
Adão e Eva possuíam a justiça original. Esta justiça original é uma terminologia teológica,
que não é encontrada na Escritura para os nossos primeiros pais. Contudo, podemos deduzir
claramente do ensino bíblico que os nossos primeiros pais a possuíam, porque estas coisas
perdidas, são restauradas posteriormente.

Composição da Justiça Original

Essa justiça original que os nossos primeiros pais possuíram, é composta de:

a) ―Conhecimento verdadeiro‖ 
O NT indica que o conhecimento de Deus é restaurado no homem. Paulo, escrevendo a

50 Hoekema, p. 18.
51 Berkhof, p. 246 (edição castelhana)

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 53

pessoas nascidas de novo, diz: ―E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou‖ (Cl 3.10). Este conhecimento restaurado
no homem através de Cristo (2 Co 4.6), havia sido perdido na queda. Após o Éden, o homem
perdeu a comunhão e, portanto, o conhecimento de Deus, porque foi expulso do lugar que
revelava perfeitamente a presença de Deus.

b) ― Justiça‖  falando do novo homem, do homem renovado em Cristo, Paulo diz: ―E vos
Novamente,
revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade‖ (Ef
4.24). Por justiça, portanto, entendemos a conformidade com a lei divina. Antes da queda havia
uma harmonia perfeita entre a natureza moral do homem e todas as santas exigências da lei de
Deus. A regra de conduta estabelecida por Deus era cumprida perfeitamente antes da queda. A
Bíblia diz em Ec 7.29, que Deus fez o homem reto (justo), referindo-se à sua excelência moral.

c) ―Santidade‖ 
Aqui, santidade é sinônimo de ―retidão‖ de Ef 4.24. Essa santidade diz respeito à pureza
imaculada do ser humano quando criado. Ele possuía uma comunhão direta com o seu Criador.
A santidade não era simplesmente advinda da comunhão com Deus, mas uma qualidade moral
deles. Os nossos primeiros pais não eram apenas separados do mal, mas possuíam o bem. Eram
limpos de coração.
Esta é a imagem moral de Deus que foi perdida no Éden, mas o homem não deixou de ser
homem, por perdê-la.
O homem, portanto, por causa da imagem moral de Deus estampada nele, a justiça
original, possuía um relacionamento triplo perfeito:

Relacionamento Tríplice Perfeito

a) Relacionamento com Deus


A harmonia com Deus originalmente era patente. Ele respondia perfeitamente aos apelos
da revelação natural de Deus. A comunhão dele com Deus no Éden era perfeita. A Escritura diz
que
amavaDeus ―andava
a Deus no todas
―sobre jardimaspela viração
coisas‖, da tarde‖totalmente
e dependia (Gn 3.8). Não
dEle.háNoerro em dizer
sentido maisque Adão
pleno da
palavra, podemos dizer que Adão vivia coram Deo, isto é, na presença de Deus.
Deus criou o homem capaz de responder ao Seu amor e providência. E foi assim no Éden,
até que o homem decidiu voluntariamente desobedecer.
Esse relacionamento perfeito com Deus determinava os outros relacionamentos. Os
relacionamentos horizontais eram diretamente relacionados com o relacionamento vertical. Do
nosso relacionamento com Deus dependem todos os outros relacionamentos.

b) Relacionamento com o semelhante


Como um resultado de andar bem com Deus, era perfeito o relacionamento de Adão com
sua mulher. Gn 2.18 diz que não era bom para o homem viver só. Por isso Deus quis uma vida
ainda melhor para ele, uma vida que incluía o relacionamento com um semelhante. Certamente,
a vida com Eva foi de perfeição relacional. Este foi o propósito de Deus para os seres humanos.
Uma pessoa, como pessoa, não pode viver em isolamento e, por isso, Deus fez a mulher, para ser
sua companheira, sua ajudadora, seu par, de tal forma que um não seria completo sem o outro.
As palavras de Gn 2.18 indicam

―que a mulher complementa o homem, suplementa-o, completa-o, é forte onde


ele pode ser fraco, supre suas deficiências preenche suas necessidades. O homem
e, portanto, incompleto sem a mulher. Isto vale tanto para o homem quanto para a

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 54

mulher. A mulher também é incompleta sem o homem; o homem suplementa a


mulher, complementa-a, preenche suas necessidades, e é forte onde ela é fraca.‖ 52 

O casamento indica o melhor relacionamento que pode haver entre dois seres humanos, e
ilustra como podem ser os outros relacionamentos com os nossos semelhantes. O que queremos
dizer é que o ser humano não é completo sozinho. Ele precisa de outros seres humanos para se
realizar. O ser humano
nos fez pessoas, e estasnão
nãoalcança
podemaviver
sua plena satisfação Somos
em isolamento. sem o relacionamento, porque
seres psicológicos, Deuse
afetivos
sociais, diferentemente de outros seres criados. Não podemos viver sem as afeições do
relacionamento. E os primeiros seres humanos viviam em perfeito relacionamento entre si, antes
da queda. Quando Jesus estava tratando da quebra do casamento, do divórcio, em Mt 19, Ele
disse, em palavras bem claras: ―Não foi assim desde o princípio‖. Isso quer dizer que, no Éden,
havia um perfeito relacionamento entre os seres humanos.

c) Relacionamento com a natureza


Este também era perfeito. Gn 1.26-28 descreve como Deus quis que os seres humanos
vivessem com a natureza.
Deus colocou o homem no mundo para viver em perfeita harmonia com a sua criação.
Deus o colocou para ter domínio sobre a vida vegetal e animal. E isto o que está claro em Gn
1.28-29. Tudo estava colocado para o bem-estar do homem, que a tudo dominava. A natureza foi
feita para servir ao homem, e este deveria viver em perfeita harmonia com ela, cuidando dela. Do
cuidado dela dependeria toda a sua subsistência.

―O homem é chamado por Deus para desenvolver todas as potencialidades


encontradas na natureza e na raça humana como um todo. Ele deve procurar
desenvolver não só a agricultura, horticultura, afazeres domésticos com os
animais, mas também a ciência, tecnologia e arte. Em outras palavras, nós temos
aqui o que e freqüentemente chamado de mandato cultural: a ordem para
desenvolver uma cultura que glorifica a Deus.‖ 53 

Mas não
subsistência foi assim
do homem atéprejudicada
ficou o fim. O pecado fez com que
pela desarmonia essa
com harmonia fosse quebrada, e
a natureza.

Posse Non Peccare

O posse non peccare de Agostinho, era a condição natural do homem antes da queda. Ele
poderia perfeitamente viver sem transgredir as leis de Deus, porque ele possuía a habilidade para
tal. Ele não possuía natureza pecaminosa, e nada no seu interior que o levasse a pecar. A
obediência plena era perfeitamente possível para Ele. Ele poderia agir perfeitamente de acordo
com a sua natureza. Os escolásticos chamaram essa condição de libertas naturae. Adão possuía
o potentia non peccandi. No jardim, enquanto não pecou, Adão, portanto, refletia perfeitamente a
imagem de Deus, com a qual havia sido criado.
Mas o posse non peccare, não era uma condição imutável. Hoekema diz que –  
―a integridade na qual Adão e Eva existiram, não foi um estado de perfeição
consumada e imutável. Para ser exato, o homem foi criado à imagem de Deus no
começo, mas ele não era ainda um ―produto terminado‖. Ele ainda necessitava
crescer e ser testado. Deus desejou determinar se o homem seria obediente a Ele

52 Hoekema, p. 77.
53 Hoekema, p. 79.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 55

livre e voluntariamente, em face de real possibilidade de desobediência. Por esta


razão, Deus pôs Adão à prova (Gn 2.16-17). Se Adão e Eva houvessem guardado
aquela ordem, quem sabe igual a quê seria a história humana. Mas é triste dizer,
eles desobedeceram a ordem, e lançaram-se a si mesmos, e toda a raça humana
que veio depois, no estado de pecaminosidade.‖ 54 

É esta
inocência, também
tinha a opinião
a liberdade da Confissão
e o poder deeFé
de querer de Westminster:
fazer ―O homem,
aquilo que é bom em seu
e agradável estado
a Deus, de
mas
mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.‖ (IX, 2) 
Adão foi criado de tal forma que pudesse cair desse estado. E foi exatamente isso o que
aconteceu, com todas as suas conseqüências.

2.  A IMAGEM DESFIGURADA

A imagem de Deus permanece depois da queda, mesmo embora não vejamos mais os
vestígios da justiça original. Todas as suas capacidades intelectuais, afetivas, sua liberdade
moral, seu domínio sobre a criação, etc., foram afetados pela Queda, mas mesmo depois da
Queda, Aé condição
dito que oda
homem é a imagem
humanidade agoradecaída,
Deus portanto,
(Tg 3.9 e Gn
é a 9.6).
da impossibilidade de não pecar.
Neste estado o non posse non peccare é uma realidade indiscutível. Não há forças no pecador
para fugir do pecado. Nesse estado, é também dito que o homem tem impotentia bene agendi, isto
é, ele é incapaz de fazer o bem.
Calvino diz ―mesmo embora concedamos que a imagem de Deus não tenha sido
totalmente aniquilada e destruída no homem, ela foi tão corrompida que, qualquer coisa que
permaneça, é uma deformidade horrenda‖. 55  Possivelmente pensando na justiça original,
Calvino acrescenta:

―Agora, a imagem de Deus é a excelência perfeita da natureza humana que


brilhava em Adão antes da queda, mas que subseqüentemente foi viciada e quase
apagada, de tal forma que nada permanece após a ruína, exceto que ela e confusa,
mutilada e doentia.‖ 56 

Com a queda, a imagem ficou pervertida, e o homem quebrou os relacionamentos com os


quais Deus o havia dotado: O homem quebrou o relacionamento com Deus, com o seu
semelhante e com a natureza.

A Quebra do Relacionamento Tríplice

a) O Homem quebrou o relacionamento com Deus

idolatriaDepois
antigada
eraqueda, eleprimitiva,
bastante passou apois
adorar a criatura
o homem ao invés
adorava do de
estátuas Criador
barro,(Rm 1.20-23).
madeira, A
coisas
bastante rudimentares. Hoje, não existe diferença de idolatria, apenas a confecção mais
elaborada dos ídolos modernos. Hoje os homens fazem outros tipos de idolatria sem se
ajoelharem literalmente diante delas, mas têm o dinheiro, a fama, o poder, os prazeres, as
posses, etc., como objetos de culto. Não podemos, contudo, nos esquecer, de que mesmo nesta  

54 Hoekema, p. 83.
55 Institutes, I, xv, 4.
56 Institutes, I, xv, 4.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 56

nossa sociedade contemporânea, ainda há idolatria à moda antiga, ou seja, o curvar-se diante de
ídolos feitos à imagem e semelhança de homens e animais.
O homem se esqueceu dAquele de quem foi feito imagem e semelhança.

b) O homem quebrou o relacionamento com seu semelhante


Ao invés de ser bênção para o seu semelhante, agora o homem perdeu a verdadeira
comunhão com eles. Hoekema diz q ue ao invés de ser útil para eles, os ―homens caídos agora
usam o dom do relacionamento para manipular os outros como ferramentas para os seus
propósitos egoístas. Ele usa o dom da linguagem para falar mentiras ao invés da verdade, para
ferir o seu vizinho ao invés de ajudá-lo.‖57 

Os relacionamentos entre os caídos tornou-se altamente prejudicado. O amor não mais é


a tônica, e sim o ódio. O real interesse pelo bem estar dos outros tornou-se em indiferença e
descaso. Apenas nos interessamos pelos que são do sangue, e ainda assim quando eles não nos
decepcionam. Ninguém ama ninguém, porque a imagem de Deus está terrivelmente desfigurada.
Se as ciências dos homens estudassem o homem antes da queda, elas haveriam de
entender muito melhor os relacionamentos dos homens pós-queda. As ciências humanas que
não prestam atenção ao que Deus diz dos homens na Escritura, não são sábias, e podem
perfeitamente ser chamadas não-científicas, porque sempre ficarão sem analisar os verdadeiros
problemas dos homens. As antropologias que não estudam o homem à luz da revelação divina,
não são simplesmente não-cristãs, mas anti-cristãs.

―Todas as concepções do homem que não levam em conta o ponto-de-partida


da doutrina da criação e, que, portanto, olham para ele como um ser autônomo e
que pode chegar ao que é verdadeiro e reto totalmente à parte de Deus, ou da
revelação de Deus na Escritura, devem ser rejeitadas como falsas.‖ 58 

c) O homem quebrou o relacionamento com a natureza


Como os outros dois relacionamentos, este também é fácil de ser percebido. O homem foi
colocado
da queda,noomundo
mundopara
vemser o guardador
sendo estragadoda eterra
suasque belamente
riquezas temDeus
sido havia
usadascriado,
para mas depois
propósitos
tremendamente egoístas. A exploração das riquezas tem sido somente para o enriquecimento de
alguns mais ―espertos‖, em prejuízo da grande maioria de desfavorecidos. A natureza que deveria
ser para o bem de toda a humanidade, tem sido estragada para o beneficio de alguns
exploradores poderosos. Isso é tremendamente triste, porque o homem está se alienando de seu
próprio habitat. Modernamente, o homem pensa no futuro, mas não sem pensar antes em seus
próprios interesses, sem levar em conta os interesses do Criador. O interesse da humanidade
está aquém de Seus próprios interesses.
Embora possamos ver resquícios da imagem de Deus, é fácil perceber que ela está bem
distorcida, pervertida, desfigurada. E o homem revela muito bem essa condição de pecador com
a imagem de Deus desfigurada. Por isso uma grande Providência foi tomada para recuperar
aquilo que havia sido quase totalmente perdido.

Non Posse Non Peccare

Nesta altura o homem perdeu a capacidade de fazer o bem (o que é agradável a Deus).
Agora, escravo do pecado, faz com que o pecado seja uma necessidade nele. A condição

57 In God‘s Image, p. 84. 


58 Hoekema, p. 76.

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pecaminosa dele o obriga a pecar porque é a única coisa que ele sabe fazer, pois de agora em
diante, como um livre-agente que é, só poderá fazer o que está de acordo com a sua natureza.
Como ele só possui a natureza pecaminosa, ele só fará o que lhe é próprio. Por isso que ele não
tem capacidade de viver sem pecar. Daí a expressão latina non posse non peccare.

3.  A IMAGEM RESTAURADA

Cristo Jesus é considerado na Escritura a imagem perfeita de Deus. Em vários lugares é


dito que Ele reflete Seu Pai de maneira perfeita. 59 
Por isso é dito na Escritura que Deus nos predestinou para sermos ―conformes à imagem‖
de Jesus Cristo. Ser igual a Jesus é ter de volta a imagem de Deus.

Rm 8.29 —  ―Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou


 para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito
entre muitos irmãos.‖ 

Os eleitos foram predestinados para se parecerem com Jesus Cristo, para refletirem a Sua
perfeita varonilidade, a humanidade plena de Jesus Cristo. Este texto de Romanos indica que
alguma
que coisa errada
precisava aconteceu
ser refeita. com a imagem
A conformidade com ade Deus de
imagem no Jesus
homem apóséaoqueda,
Cristo mesmoimagem
que ser essa
feito
à imagem de Deus. Jesus é a imagem e o reflexo exato do ser de Deus. A meta final da obra
redentora de Cristo é devolver ao homem aquilo que foi perdido na queda, isto é, a imagem de
Deus. Ser conformado à imagem de Jesus Cristo, é ser conformado à imagem de Deus. E é para
isso que fomos destinados de antemão. A completação da obra da redenção será o sermos
semelhantes a Cristo, nosso Redentor. Esta restauração da imagem já começou, mas ainda não
está completada. Ainda temos sementes do pecado em nós que impedem que a imagem de Deus
seja completamente vista em nós. À medida que Deus completa a sua salvação em nós,
restaurando-nos, Sua imagem será plenamente vista, e Cristo será visto em nós.

2 Co 3.18 —   ―E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por


espelho (katoptrizo/menoi )  a glória do Senhor, somos transformados de glória em

glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espirito.‖ 


No tempo do VT as pessoas se aproximavam de Deus com o rosto vendado, para não
verem a glória de Deus. Opostamente, nos tempos do NT, as pessoas não mais precisam tapar os
seus rostos, como medo de verem a glória de Deus. Essa glória de Deus, de alguma forma, vai ser
revelada na vida dos crentes, que estão sendo transformados pela obra redentora de Cristo, para
refletirem, de novo, a imagem de Deus que foi desfigurada na queda.
Perceba-se que essa transformação é paulatina, pouco a pouco, ―transformados de glória
em glória‖, até que reflitamos perfeitamente, amanhã, a glória de Jesus Cristo. Ass im como
Cristo reflete a glória de Seu Pai, como Ele é a expressão exata do Seu Ser, também nós
haveremos de refletir perfeitamente a imagem daquele que nos redimiu.
Embora tenhamos a imagem do Senhor restaurada em nós, ainda não podemos vê-la
plenamente, porque há embaraços, há ainda pecaminosidade em nosso ser. Mas não podemos
negar que, de algum modo, já refletimos algo de nosso Senhor. O texto em português diz que nós
―com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor...‖ - Essa
tradução pode, às vezes, dar uma interpretação falseada. Ela pode dar-nos a impressão de que
por contemplarmos a glória é que somos transformados à imagem de Cristo. A idéia não é bem
esta. A melhor tradução do texto diz que nós estamos como que com ―o ro sto desvendado,
refletindo (katoptrizo/menoi ) a glória do Senhor, somos transformados... na sua própria imagem‖. Dr.
Hoekema diz que

59 Cl 1.15; Hb 1.3

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―A palavra grega é derivada de katoptron , que significa ―espelho‖. Literalmente,


portanto, katoptrizo/menoi significa espelhando. A palavra poderia significar tanto
―contemplando como num espelho‖ como ―refletindo como um espelho‖. Eu prefiro
o segundo significado, visto que ele se encaixa tão bem no contexto. A face de
Moisés estava refletindo a glória de Deus, após ele ter estado face a face, em
comunhão com Ele.
Israelitas olharem Visto
para ela, que estateve
.Moisés glória
que estava brilhante
esconder a face. demais para
Mas hoje, os
Paulo
aponta, nós podemos refletir a glória do Senhor Jesus Cristo, com as faces
desvendadas. E deste modo que vemos a superioridade do novo pacto sobre o
antigo.‖60 

O processo de transformação pelo qual passamos, até que reflitamos perfeitamente a


imagem de Cristo, é paulatino, pois o verbo grego metamorfou/meta  (―estamos sendo transformados‖)
indica essa idéia. O verbo dá a idéia de um processo continuo, ainda não acabado. Já refletimos
a imagem de Cristo, mas ainda não fomos transformados completamente a sua imagem.
O primeiro texto analisado, o de Rm 8.29, aponta a meta de Deus para nós - destinados
para refletir a imagem de Cristo; o segundo texto, o de 2 Co 3.18, indica o caráter progressivo

dessa transformação.
 Jesus, Embora
é dito que o Espírito nosotransforma
Pai nos tenha destinado
nesse paraprocesso.
continuado sermos conformes à imagem de
Com a imagem de Deus restaurada em nós, Cristo restaura também em nós os
relacionamentos perdidos:

a)  Restaura a nossa comunhão com Deus;

b)  Restaura a nossa comunhão com os semelhantes;

c) Restaura a nossa comunhão com a natureza.

Posse non p eccare (?)

4.  A IMAGEM APERFEIÇOADA

Os textos analisados na seção anterior, Rm 8.29 e 2 Co 3.18 indicam que a queda causou
aos homens a necessidade de serem transformados para terem de volta aquilo que perderam
quando da sua criação. A meta final de Deus para os redimidos é a perfeição de Cristo.
Que esta condição se dará somente depois da nossa ressurreição, está claro de alguns
textos da Escritura.

1 Co 15.49 —  ―E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos


trazer também a imagem do celestial‖. 

―Terreno‖ aqui se refere ao primeiro Adão. ―Celestial‖ refere-se ao segundo Adão, Jesus
Cristo. O contexto dessa passagem está no ensino sobre a ressurreição. Somente depois da
completação de nossa salvação é que refletiremos a perfeição da imagem de Jesus Cristo. A
glorificação do homem é o estado final da redenção do pecador por quem Cristo morreu. Somente
no estado de glorificação é que o remido refletirá perfeitamente a imagem de Cristo. Por
enquanto, ele ainda está no processo, mas então, o processo já estará terminado. Nesse tempo,
até o corpo refletirá aquilo que Cristo já é. Teremos um corpo semelhante ao corpo de Sua glória

60 Anthony Hoekema, In God‟s Image , p. 24.

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(Fp 3.21).
Hoje não somos o que seremos, mas quando Cristo se manifestar, isto é, na completação
de nossa salvação, haveremos de refletir perfeitamente Jesus Cristo. Por essa razão, João diz:
―ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é.‖ (1 Jo 3.2). A idéia de imagem
de Cristo, está perfeitamente delineada nesse verso. Após a nossa ressurreição, haveremos de

exibir tudo aquilo para o que fomos destinados de antemão.

Non Poss e Peccare

A reflexão da imagem de Cristo, nessa época, será vista na capacidade de não pecar. Não
teremos a impecabilidade61 de Cristo, porque continuaremos a ser homens, mas o Senhor Deus
nos livrará da presença do pecado e o non posse peccare de Agostinho, será uma grande e
maravilhosa realidade.

A IMAGEM DE DEUS NA TEOLOGIA CRISTÃ


1) Catolicismo
A justiça original dentro do catolicismo é uma espécie de donum superadditum, algo que
Deus acresceu ao homem depois da sua criação. O homem foi criado com uma justiça natural
(justitia naturalis), que é composta dos dons naturais que recebeu de Deus. Mas ainda assim,
com a justiça natural, o homem estava sujeito a paixões baixas e apetites indevidos. Esta
tendência é chamada concupiscência, que em si mesma, não é pecado, mas oferece elementos
para acontecer o pecado. Essa concupiscência é uma espécie de combustível para o pecado,
quando a ação se torna voluntária. Para refrear impulsos pecaminosos, Deus acrescentou, então,
aos dons naturais os dons sobrenaturais (dona supernaturalia), que inclui a justiça sobrenatural.
Este é o donum superadditum. Originalmente, portanto, a justiça original não fazia parte do
homem, mas foi acrescentada como uma recompensa pelo uso dos dons naturais. Mas esses
dons sobrenaturais, incluindo a justiça original, foram perdidos com a queda.
A dedução clara desse ensino é que o homem hoje é exatamente o mesmo que Adão antes
de receber a justiça original, ainda que agora tenha uma tendência muito mais forte em direção
ao mal, especialmente porque não tem o freio da justiça original, que é o donum superadditum.

2) Socinianismo
Segundo os socinianos, a imagem de Deus consistia, quase que unicamente, do domínio
do homem sobre os outros elementos da criação.
Os socinianos, assim como os arminianos primitivos, descartam qualquer possibilidade
de o homem ter sido criado num estado de santidade. Eles não criam que o homem foi feito
pecador, mas não criam que a justiça original fizesse parte deles na criação. Eles apenas criam
que o homem foi criado num estado de neutralidade moral, capacitado com uma vontade livre,
para poder eles
essa razão, ir para qualquer
colocaram direção.de
a imagem O Deus
homem era inocente,
apenas na esferasem pecado, sobre
do domínio mas não santo. Por
a criação

3) Luteranismo
Os luteranos, às vezes, tentam distinguir a imagem de Deus num sentido mais estrito e
num mais amplo. No sentido mais estrito, o luteranismo viu a imagem de Deus como sendo a

61 Impecabilidade que advém do fato de Sua natureza humana estar inseparavelmente unida á
natureza divina.

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 justiça original. Sendo assim, O homem perdeu totalmente a imagem de Deus, por causa do
pecado. No sentido mais amplo, a existência do intelecto e da vontade, que ainda existem no
homem, que o diferem dos outros seres animais, nada tem a ver com o religioso ou teológico. Por
essa razão Piepper diz que ―chamar a imagem de Deus porque ele possue razão e vontade é não
levar em consideração o que o homem está para se tornar em Cristo.‖ 62 Portanto, é muito mais
comum para os luteranos enfatizarem o aspecto justiça original do que os outros aspectos
geralmente considerados dentro da teologia Reformada.
―Os teólogos luteranos são concordes em que imagem de Deus, que consiste
no conhecimento de Deus, santidade da vontade, está faltando no homem depois
da queda... Eles diferem, contudo, sobre a questão se em Gn 9.6 a imagem divina
é ainda atribuída ao homem após a Queda.‖63 

Lutero preferiu esta interpretação, de que a queda aniquilou a imagem de Deus, em seu
comentário sobre Gn 9.6.

4) Calvinismo
Há idéias diferentes entre os vários teólogos Reformados: Robert Dabney insiste ―que a
imagem
unicamentede Deus não consiste
em alguns de64  É
acidentes”. algo absolutamente
provável essencial
que Dabney à pensando
estivesse natureza do homem,
aqui somentemas
na
 justiça original.
Alguns teólogos Reformados limitam a imagem de Deus apenas à justiça original,
enquanto que outros incluem toda a natureza racional e moral. Outros ainda incluem o corpo
como parte da imagem de Deus, como já vimos.
De qualquer modo, o conceito de imagem de Deus é extremamente importante para a
teologia reformada, porque essa imagem é o que há de mais distintivo no homem em sua relação
com Deus. O conceito reformado de imagem de Deus é muito mais abrangente e inclusivo do que
o luterano e o católico romano. O homem não perdeu a imagem de Deus, pois se a tivesse
perdido, haveria deixado de ser o que é —  homem.

62 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.
520.
63 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.
518-19.
64 Systematic and Polemic Theology, p.293.

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CAPÍTULO VI

O HOMEM NO PACTO DAS OBRAS

Teologia do Pacto ou Teologia Federal65 


A  Teologia Reformada é conhecida como a Teologia do Pacto, porque desde os seus
primórdios, creu-se no estabelecimento de pactos da parte de Deus. Do começo ao fim, a
Escritura mostra que Deus estabeleceu relacionamentos com os homens através de pactos. As
alianças de Deus com Israel é um tema dominante através de toda a Escritura.
Deus estabeleceu pactos para relacionar-se amorosamente com as Suas criaturas,
porque, doutra forma, não poderia haver ligação entre Ele e elas. Eis o que diz a Confissão de Fé
de Westminster:

―Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas


racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada
dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária
condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um
pacto.‖ (VII, 1). 

O SIGNIFICADO DO TERMO “PACTO”  


Não é  simples definir em nossa língua o termo hebraico tyir:b (berith), que traduzimos
como ―pacto‖. Etimologicamente é muito improvável que consigamos o seu significado
fundamental. Robertson diz que ―investigações extensivas na etimologia do  termo do Antigo
 Testamento para o termo ―pacto‖ (tyir:b) têm se provado inconclusivas na determinação do
significado da palavra.‖66 Ela tem muitas conotações dadas na própria Escritura.
Robertson define que ―pacto é um vínculo de sangue administrado soberanamente ‖.67  Ele
sempre contém a idéia de vínculo ou relacionamento, antes que a idéia de ―obrigação‖ ou
―compromisso‖. McCoy diz: 

―Enquanto os pactos divinos envolvem invariavelmente obrigações, o


propósito definitivo deles vai além do cumprimento garantido de um dever. Ao
invés disso, é uma interrelação pessoal de Deus com Seu povo que está no coração
do pacto. Este conceito do coração do pacto foi percebido na história dos
investigadores do pacto logo cedo no tempo de Coceius, como também foi visto por

65 O termo Federal vem do latin 'foedus", que significa "pacto". A doutrina dofoedus operum
pressupõe que Adão conhecia a lei moral de Deus, tanto a da natureza (Iex naturalis que foi impressa no seu
coração desde sua criação) quanto àquela que foi expressamente ordenada por Deus (Iex paradísiaca, lei do
Paraíso).
66 O Palmer Robertson, The Christ of Covenants, (P&R, 1982), p 5.
67 Ibid., p. 4

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sua ênfase sobre o efeito de um pacto como o que estabelece a paz entre as
partes.‖68 

Portanto, o estabelecimento de pacto é sempre o estabelecimento de um relacionamento


―em conexão com‖ ou ―entre‖ pessoas. O elemento essencial de um pacto é que alguém fica
vinculado a outrem pelo estabelecimento de um compromisso. O vinculo leva a obrigações
graciosas
último. da parte de Deus para com o homem, e de uma resposta obediente da parte deste
Essas obrigações ou compromissos são decorrentes do vinculo estabelecido. Por essa
razão, muitas vezes há a menção de ―juramentos‖69 nos pactos divinos. Um pacto faz com que
uma pessoa seja comprometida com outra. Isto mostra que um pacto é em essência um vinculo.
Robertson diz:

A Escritura sugere não meramente que um pacto geralmente contém um


 juramento. Ao invés disso, pode ser afirmado que um pacto é um juramento. O
compromisso da relação pactual liga as pessoas com a solidariedade equivalente
aos resultados alcançados pelo processo de uma estabelecimento formal de
 juramento. ―Juramento‖ adequadamente capta a relação efetuada pelo ―pacto‖ de
tal forma que os termos podem ser permutáveis (cf 51 89.3, 34 sgts; 105.8-10). O
processo de formalização da tomada de juramento pode estar ou não presentes.
Mas o compromisso pactual inevitavelmente resultará numa obrigação muito
solene.70 

A quase identidade entre os termos pacto e juramento mostram estas duas palavras
enfatizam a idéia de relacionamento, de estreito vinculo, que é parte essencial do que a Escritura
chama de Pacto. As partes contratantes de um pacto estão profundamente comprometidas entre
si.
Na sua definição Robertson disse que pacto é "vinculko em sangue admistrado
soberanamente." A idéia de sangue é porque pacto sempre envolve uma questão de vida ou morte,
e quase que sempre mostra o derramamento de sangue de uma vitima.

O NOME “PACTO DAS OBRAS” 


Vários nomes têm sido dados ao relacionamento entre Deus e o homem no Éden: Pacto da
Criação, Pacto da Natureza, Pacto Edênico, Pacto Adâmico, mas o que prevaleceu foi o nome
Pacto das obras. Embora não me agrade pessoalmente desse nome, vou usá-lo porque é este que
os nossos símbolos de fé usam.
Portanto, o primeiro dos pactos estabelecido historicamente, segundo os símbolos de
Westminster, é o pacto de obras.

―O primeiro pacto feito como o homem era um pacto de Obras; nesse pacto foi
a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita

68 Ver Charles Sherwood McCoy, The Covenant Theology of Johannes Coceius , (New Haven, 1965),
p. 166), citado por Robertson, p. 5, nota de rodapé 4.
69 Em quase todos os pactos estabelecidos por Deus há a menção de ―juramentos‖ de Deus, embora
esses juramentos formais não devam ser considerados como conditio síne qua non dos pactos. Robertson diz
que ―embora o juramento apareça repetidamente em relação a um pacto, não está claro que uma cerimonia
formal de tomada de juramento seja absolutamente essencial para o estabelecimento de um relacionamento
de pacto‖ Robertson, p. 6, nota de rodapé 7). 
70 Robertson, p. 6, nota de rodapé 7.

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obediência pessoal.‖ (VII, 2) 

Nesse pacto de Obras Deus viu Adão, não como um indivíduo simplesmente, mas como o
―cabeça federal‖ de toda a humanidade, debaixo da obrigação de obedecer as leis estabelecidas
por Deus através da natureza e das Suas asseverações verbais. Tem sido chamado pacto das
obras para enfatizar a responsabilidade de Adão.

EVIDÊNCIA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS


O termo ―pacto‖ (tyir:b) não aparece nos eventos do Éden. Isto tem dado motivo a alguns
teólogos Reformados para desistirem da teologia do pacto, tão fortemente sustentada pela
tradição Reformada. Contudo, há uma passagem na Escritura que considera o que se passou
entre Deus e Adão, como sendo um pacto. Oséias 6.7 diz: ―Mas eles transgrediram o pacto (tyir:b),
como Adão ({fdf):K); eles se portaram aleivosamente contra mim.‖ 
Alguns teólogos têm tentado dar uma outra interpretação a este texto, alterando o sentido
de ―como Adão‖ para ―em Adão‖. ―Adão‖ significaria o nome de uma cidade. Portanto, a idéia é a
de que os homens do tempo de Oséias transgrediram o pacto como os homens de Adão fizeram.
Isso altera o sentido do texto, invalidando assim, a doutrina do pacto lá no Éden. Esta
interpretação dificilmente encontraria apoio. Robertson diz:

―Somente uma pura suposição pode proporcionar uma ocasião concreta de


pecado nacional em Adão, localizada no Jordão, cerca de 12 milhas ao norte de
 Jericó. A narrativa de um transbordamento do Jordão a Adão não faz qualquer
menção de um pecado da parte de Israel.‖ 71 

Essa é uma interpretação tendenciosa. Há um único registro de uma cidade chamada


―Adão‖, mas não há nenhuma menção de os homens terem violado o pacto de Deus. ―Além disso,
esta interpretação pareceria requerer uma emenda ao texto massorético. Este verso não deve ser
traduzido ―em Adão‖, mas ―como Adão‖. 72 Há outros dois versos na Escritura que possuem a
mesma conotação e são traduzidos ―como Adão‖ (Jó 31.33 e 51 82.6-7), sem que alguém tente
afirmar que Adão ali signifique um lugar ou cidade.
Uma outra possibilidade de interpretação tem sido esta: que Israel tenha quebrado o
pacto ―como homem‖ ou ―igual a raça‖. 73 De qualquer forma, esta interpretação tem que estar
ligada à queda da raça ou do homem, o que não faz muita diferença se comparada com a
interpretação tradicional que assumimos neste trabalho.
 Tradicionalmente, os teólogos do pacto, sejam eles Reformados ou não, têm traduzido as
palavras hebraicas {fdf):K (―como Adão‖) relacionando-as ao pecado do primeiro homem. Esta é a
tradução que oferece menos dificuldade que as outras. ―Como Adão transgrediu os arranjos
pactuais estabelecidos pela criação, assim Israel tem transgredido o pacto designado no Sinai‖. 74 
De qualquer forma, as duas últimas interpretações falam de um pacto que foi quebrado
por um Adão indivíduo, ou por um Adão representativo da raça. Robertson diz:

―Se ‗Adão‘ é tomado genericamente, o termo se referiria a uma obrigação


pactual mais ampla que recai sobre o homem que lhe dá uma responsabilidade
solene no mundo de Deus pela criação. Em qualquer caso, Oséias 6.7 pareceria

71 O. Palmer Robertson, The Christ of the Covenants , (P&R, 1982), p. 22. O texto ao qual Palmer
Robertson se refere de um transbordamento do Jordão está registrado em Josué 3. 15-16.
72 Ibid., p. 22.
73 Robertson argumenta que a Septuaginta traduz a expressão hebraica mfdf):K como w(j a)/nqrwpoj, o
que favorecia esta interpretação. Calvino também sugere esta interpretação em seu Commentaries on the
Twelve Minor Prophets , (Edinburgh, 1846), 1:233, 235. (Robertson, p. 23, nota de rodapé 4).
74 Ibid., p. 23.

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referir-se a uma terminologia pactual na relação de Deus com o homem


estabelecida pela criação.‖75 

Ninguém duvida do pacto da graça, porque ele está afirmado explicitamente nas
Escrituras, mas porque não aparece explicitamente em Gênesis, há os que tentam destruir a
noção de pacto ali. Charles Hodge, um partidário da teologia do pacto, coloca nestes termos a sua
crença no pacto de obras feito entre Deus e Adão, por comparação ao que aconteceu no pacto da
graça:

―Embora a palavra  pacto não seja usada em Gênesis… o plano de salvação é


contentemente representado como o novo pacto, novo, não meramente em
antítese ao que foi feito no Sinai, mas novo em referência a todas os pactos legais
quaisquer que fossem.. Está claro que a Bíblia representa o arranjo feito com Adão
como uma transação verdadeiramente federal. A Escritura não conhece nenhum
outro além dos dois métodos de se obter a vida eterna: um é aquele que exige
perfeita obediência, e o outro é aquele que exige fé. Se o último é chamado pacto, o
primeiro é declarado ser da mesma natureza.‖ 76 

Portanto, queiramos reconhecer ou não, a idéia de pacto de obras está presente no


Gênesis, embora ali não esteja o termo próprio.

O PACTO DAS OBRAS E A LEI DE DEUS


Não há como se questionar que Deus deu lei para Adão. A lei  foi dada para Adão como um
principio regulativo para a sua vida. Ela declara ao homem o que é bom e o que não é bom e, por
virtude de ser de autoridade divina, ela obriga o homem à obediência.
A lei dada no Éden indica que o homem é um ser moral, não um ser moralmente neutro
ou indiferente.
Deus deu duas espécies de lei a Adão no Éden: a lei da natureza e a lei expressa em
palavras.

1. Deus deu ao homem uma lei natural.


Paulo nos diz que há uma lei impressa nos corações dos homens desde que foram criados
(Rm 2.14-15). Esta é a lei da natureza. Essas leis não foram escritas nos corações dos homens
depois da Queda, mas na criação do homem. Se o homem depois da Queda ainda possuem essas
leis, quanto mais o homem antes da Queda! Essas leis fazem parte da natureza constitucional do
homem, e o tornam um ser absolutamente moral, com padrões a serem seguidos.
Essas leis naturais refletem não somente o caráter moral de Adão, mas também a
natureza de Deus. A natureza de ambos exige a presença de leis, porque um reflete o primeiro
reflete
há a imagem
algumas do segundo.
normas Se Deus
dadas por Deuséque
um ser moral,a omoralidade
refletem homem também tem que
do Criador naser e, portanto,
criatura. Por
virtude de Sua natureza, Deus está acima da criatura e tem a prerrogativa de estabelecer leis
para ser obedecido. Deus é soberano e o homem é criatura dependente dEle em todas as coisas,
sendo sujeito a Ele em tudo.
Essas leis naturais são uma sombra daquilo que foi posteriormente dado em forma
escrita no tempo de Moisés. Elas refletem os 10 Mandamentos quase que na sua inteireza. Essas

75 Ibid., p. 24.
76 Systematic Theology, vol. II, 117.

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leis naturais são perfeitas, e Adão estava em posse dela. Ainda é possível perceber a impressão
delas na alma humana, embora os homens tenham sido afetados moralmente pela Queda,
mesmo os homens que vivem numa civilização muito distante daquela que conhecemos como
―civilização cristã ou ocidental‖. Todos eles têm noções básicas das leis morais de Deus, a quem
devem obedecer. Após a Queda, Paulo diz, essa lei tornou-se enferma por causa da natureza
pecaminosa do homem que obsta o homem de obedecê-la plenamente (Rm 8.3). A

inadequacidade
no texto: essa lei,não
se éobedecida,
da lei, mas daquele que
concederia se porque
vida, torna incapaz de obedecê-la, mas há algo claro
ela é espiritual.
Portanto, desde a sua criação, Adão tinha deveres de obediência, embora estas leis
impressas não revelem um caráter pactual.

2. Deus deu ao homem uma lei expressa em palavras.


Elas estão afirmadas nas proibições de Gn 2.15-17. A lei natural dada na criação
expressão o caráter moral de Deus. Estas leis são a expressão da Sua soberania que agora é
formalmente declarada. Elas são expressão de Sua soberania porque Ele não precisava dá-las se
não quisesse. Ao homem foi ordenado o cuidado do jardim e a proibição de não comer da árvore
do conhecimento do bem e do mal.
Por quê Deus deu esta ordem a Adão? Se Deus não a houvesse dado, Adão não teria
pecado. A resposta a esta objeção é que Deus não costuma dar justificativa de todos os Seus atos,
e Ele agiu assim conforme o conselho da Sua vontade. Além disso, uma lei não significa
necessariamente que alguém deva desobedecê-la.
De uma coisa podemos todos estar absolutamente certos: Com essa ordem Deus declara
formalmente a Sua soberania, que Ele era o Senhor, e que Ele requeria a obediência da criatura
de maneira inequívoca, sem que esta lhe pedisse qualquer justificativa. Era dever do homem
obedecer à lei e fazer a vontade de Deus desejosamente, pois esta era a maneira de continuar em
boas relações com o Criador. A alegria e a santa comunhão só poderiam continuar e tornar-se
ainda num grau maior e definitivo com a continuada obediência da lei. Isto significava que o
homem deveria estar contente com aquilo que o Criador lhe havia dado até então, sem desejar
qualquer coisa superior a ela.
A resposta à pergunta feita logo acima não pode, portanto, ser respondida, a menos que a
entendemos à luz da soberania divina, que faz todas as coisas segundo o conselho da sua
vontade.

OS ELEMENTOS DO PACTO DAS OBRAS


Embora no Éden não apareça o termo, os elementos do pacto estão presentes nos atos
reveladores de Deus. Há as partes contratantes, há a promessa de vida sob a condição de
obediência, e há a penalidade fixada no caso da desobediência à lei estabelecida.

1. Partes Contratantes
Sempre há o envolvimento de duas partes num pacto. Neste caso são Deus, como
soberano e supremo Senhor e Adão. Este foi feito à imagem e semelhança dAquele. Foi tornado
cabeça e representante de toda sua progênie.
Deus prescreveu todas as coisas a Adão com poder absoluto, de forma que todas as
condições e promessas do pacto foram unilaterais, estando Adão apenas na posição de aceitar e
obedecer todas as exigências de Deus. Deus estabelece todas as condições virtude da sua
absoluta soberania, supremacia, majestade e eminência, que São Seus atributos essenciais. O
profeta Jeremias mostra esses atributo de Deus de uma forma bem simples e resumida, que
colocam o homem na posição de obedecer todas as prescrições divinamente enviadas:

 Jr 10.6-7 —  ―Ninguém há semelhante a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é

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o poder do teu nome. Quem te não temeria a ti, ó Rei das nações? pois isto é a ti
devido; porquanto entre todos os sábios das nações, e em todo o seu reino,
ninguém há semelhante a ti.‖ 

Dessa idéia de Deus, segue-se que o homem está sob o dever de obedecer todas as
estipulações. Adão acatou todas as exigências divinas e, como criatura finita, não discutiu as
exigências
mordomo do dejardim
Deus que
porque
Deusconhecia
lhe haviao confiado.
seu papel de criatura e das responsabilidades como

2. Promessa de Vida Condicionada à Obediência


Nenhum pacto é estabelecido  por Deus sem promessas. A   promessa deste pacto das
obras é a de vida eterna, que está implícita no texto de proibição de comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal. No pacto das obras, ―a Adão foi prometida a mesma vida eterna
a ser obtida pela justiça que é da lei, da qual os crentes São tornados participantes através de
Cristo.‖77 A promessa de vida prometida no evangelho aos que crêem em Cristo é exatamente da
mesma natureza da que foi feita no Éden a Adão. Os dois tipos de vida prometidos São
absolutamente iguais. Quando Jesus disse: ―Aquele que crê em mim tem a vida eterna‖, é a
repetição da idéia que Moisés disse: ―Faze isso, e viverás‖.  

Essa
desejo de idéia deeterna
felicidade vida plena
é algoestá
que no bojo
está de todos
ainda os homens.
presente em todosEos
isso o que todos
homens, mesmodesejam. O
nos mais
ímpios. Todos eles sabem que a felicidade está vinculada ao fazer o que é bom como a infelicidade
no fazer o que é mau. E uma noção universal a idéia de recompensa para os que obedecem e
punição para os que não obedecem as leis estabelecidas. Isso advém das leis naturais impressas
na alma humana, sem que ninguém ensine aos homens.
Contudo, a noção de vida eterna é muito mais claramente percebida pela ordem dada por
Deus como expressão da Sua Soberania no Éden. Se o pagão ainda hoje tem a noção de
recompensa para os que fazem o bem e a punição para os que fazem o mal, quanto mais Adão!
Ele que possuía o conhecimento advindo dois tipos de lei que Deus lhe havida dado no Éden. O
seu conhecimento dessas leis era perfeito, então.
O ensino de que a vida eterna vem pela obediência é uma tônica de toda a Escritura.

Este é o ensino de Moisés


O pacto das obras, num sentido estrito, tem relação absoluta com a Lei de Deus. A vida
eterna de Adão, assim como de toda a sua posteridade, estava vinculada à sua obediência estrita
à lei estabelecida por Deus. Mesmo após a desobediência, Deus não retirou a idéia de que a vida
eterna vem pela mesma obediência. Veja algumas sugestões da Escritura no tempo em que o
homem já havia caído:

Lv 18.5  —   ―Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis;


cumprindo os quais, o homem viverá por eles: Eu sou o Senhor‖. 

Deus poderia ter retirado o mandado de ter vida pela obediência, pela simples razão de
que ele é o Senhor. No pacto das obras a ordem é ―Faze isto‖ e a promessa ―e viverás‖. Deus ainda
coloca uma ameaça: ―Se não fizeres isto, morreras‖. 

Este é o ensino de Davi


Davi é um outro famoso escritor sacro. A sua ênfase na importância da obediência à lei é

77 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God na Man , vol. 1, (Phillispsburg, New
 Jersy: Presbyterian and Reformed Publishing House, 1990), 75.

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conhecida nos salmos que escreveu. O Salmo 119 mostra o seu apego à lei de Deus. Veja também
como se porta falando sobre a perfeição da lei do Senhor:

S119.7- 11 —  ―A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.. .Além disso, por
eles se admoesta o teu servo...; os preceitos do Senhor São retos... e em os guardar
há grande recompensa.‖ 

 Todo homem que guarda perfeitamente a lei do Senhor é recompensado com a vida
eterna, com a comunhão imperdoável. Contudo, mesmo embora saibamos que a lei do Senhor é
perfeita, não existe perfeição em nós para que a guardemos perfeitamente, a fim de que
recebamos a recompensa da vida eterna.

Este é o ensino de Paulo


A mesma vida eterna que alguém recebe pela fé em Cristo é prometida àqueles que
obedecem perfeitamente à lei de Deus. Paulo reafirmou o pensamento de Moisés de que a vida
eterna vem pela obediência irrestrita à lei de Deus.

Rm 10.5  —   ―Ora, Moisés escreveu q ue o homem que praticar a justiça
decorrente da lei, viverá por ela.‖ 

Gl 3.12 —  ―Ora, a lei não procede da fé, mas: aquele que observar


os seus preceitos,  por eles viverá.”  
Rm 7.10 —  ―E o mandamento que me fora para a vida, verifiquei que
este mesmo se me tornou para morte.‖ 
Obviamente, Paulo sabe da impotência do pecador para cumprir a lei de Deus
perfeitamente. Por essa razão, ele trata abundantemente da justiça da fé (Rm 10.6-9). Ele ainda
argumenta
pecador emque, porque
cumprir ―ninguém
todos pode ser
os preceitos), justificado
Cristo teve quepelas
―nosobras da lei‖'
resgatar (pela impotência
da maldição de
da lei‖ (Gl
3.10-13). Paulo argumenta que a lei tornou-se impotente de dar vida ao homem, mas o problema
não estava na lei, mas na impotência humana (Rm 8.3-4).
Mas ninguém pode negar que a vida eterna de um homem vem pela obediência. Os
mesmos preceitos que Deus propôs a Adão, que produzem vida eterna, e sobre os quais o pacto
das obras está fundado, São repetidos e reforçados na Lei de Moisés. Há uma continuação entre
a lei dada a Adão e a lei repetida a Moisés. A mesma lei que estava em vigor no Éden, antes da
entrada do pecado no mundo, ainda permanece em vigor. Se devidamente observada, ela produz
vida. Basicamente é a mesma lei à qual todos os homens devem obediência, se querem ter vida
eterna.
Paulo confirmou isso, mas reconheceu a incapacidade humana dessa obediência
irrestrita a todos os preceitos da lei. Por essa razão, Cristo obedeceu perfeitamente todos os
preceitos,
fez: para
obedecer queconseguir
para Deus nos vida
concedesse vida eterna.
eterna para os seusCristo veio fazer o que o primeiro Adão não
representados.

Este é o ensino de Jesus


 Jesus confirmou o ensino do VT de que a vida eterna dos homens vem pelo cumprimento
da lei estabelecida por Deus no Éden e na confirmação dela por Moisés.
A lei natural dada no Éden era uma sombra da lei que haveria de ser dada de forma
escrita muito tempo depois, no Monte Sinai. E a lei dos 10 Mandamentos. Essa lei contém uma

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A VIOLAÇÃO DO PACTO DAS OBRAS


Alguns cristãos mal informados pensam que a transgressão de nossos Primeiros pais foi
algo sem muita importância, ou que Deus tenha sido muito severo no julgamento da atitude
deles. Precisamos estar de acordo com as Escrituras, sem tentar suavizar o que Deus considera
algo extremamente sério.

A Gravidade da Violação do Pacto


Os  6.7 diz  que Adão quebrou o pacto. Tratando dessa matéria, Paulo diz que o pecado
entrou no mundo através de um homem (Adão) e, por causa disso, a morte passou a todos os
homens. No texto de Rm 5.12-21, Paulo usa algumas expressões bastante fortes para expressar
o ato de Adão: Pecado (v. 12); transgressão (v. 13); ofensa (v.14,15,16,17,18, 20); desobediência
(v.19). Todas essas expressões mostram a gravidade do ato de Adão ao violar o pacto.

A Conseqüência da Violação do Pacto


A conseqüência imediata da violação do pacto foi a entrada do pecado no mundo (Rm
5.12).
Com a entrada do pecado no mundo a harmonia dele se foi. Até então, o mundo criado
havia considerado ―muito bom‖ por Deus, e não havia qualquer iniquidade nele. Havia perfeita
comunhão entre o universo criado e o homem, a criatura mais elevada de Deus, sob quem tornou
sujeitas todas as cousas. Quando o pecado entrou no mundo, essa harmonia absoluta entre as
cousas criadas desapareceu: Desapareceu a harmonia entre o homem e os animais; desapareceu
a harmonia entre o casal; desapareceu a harmonia entre irmãos carnais; desapareceu a
harmonia entre os próprios animais; mas acima de tudo desapareceu a harmonia entre a
criatura e o Criador.
Com a entrada do pecado no mundo apareceu a maldição de Deus sobre a natureza e
sobre o ser humano. A terra tornou-se maldita e agora o homem tinha que trabalhar com pesar
para ganhar o pão de cada dia, e a mulher haveria de sofrer dores para ter filhos, e as relações de
sexo ficaram prejudicadas, pois o prazer ficou mais voltado para o homem. Tudo por causa da
entrada do pecado no mundo.
Com a entrada do pecado no mundo não ficou ninguém sem ser afetado por ele. A morte
passou a todos os homens (Rm 5.12). A conseqüência mais séria do pecado, a morte, bateu à
porta de todos os homens, sem exceção.
A violação do pacto certamente foi um ato muito grave contra Deus para Ele mostrar tão
fortemente o seu desgosto contra o universo criado e, principalmente, contra o homem.

A IDÉIA DE REPRESENTATIVIDADE NO PACTO DAS


OBRAS
No pacto das obras Adão foi constituído uma pessoa pública, que agiu não somente em
seu próprio nome, mas foi considerado como agindo como representante de toda a raça.
A dedução desta matéria é claramente retirada do texto de Paulo aos Coríntios, onde fica
absolutamente evidente a presença de dois homens: o Primeiro Adão, e o Segundo Adão.

1Co 15.45-49 —   ―Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito
alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o
espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, formado da
terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o
terreno, tais São também os demais homens terrenos; e como é o homem celestial,
tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno,

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devemos trazer também a imagem do celestial.‖ 

Conforme o texto acima, Adão possui conosco um relacionamento duplo:

Adão é o Cabeça Natural da Raça


Dele todos os homens descendem. Ele é o primeiro duma série enorme, todos derivados
naturalmente dele por propagação. No discurso em Atenas Paulo disse: Deus ―de um só fez toda
a raça humana para habitar sobre toda a face da terra‖ (At 17.26) e, citando p rovavelmente o
poeta Arato, ele continua: ―Porque dele também somos geração‖ (At 17.28b). O livro de Gênesis
indica que Eva, a esposa de Adão (Gn 2.21-24), ―é a mãe de todos os seres humanos‖ (Gn 3.20).
Dessa forma, Adão foi o pai de todos os seres humanos.

Adão é o Cabeça Representativo da Raça


Contudo, Adão não foi somente o primeiro de uma série de indivíduos, que constituíram a
raça humana, mas ele foi o primeiro e o representante de todos eles, de tal forma que o ato dele foi
considerado o ato de todos. A posição de Adão foi única com relação aos seus descendentes. Ele
foi considerado uma pessoa pública e agiu no lugar de todos representando a todos. Toda a raça
humana foi representada por ele de forma que o seu ato foi considerado por Deus o ato de todos.
A Escritura mostra
considerado como seque Adão
todos elesagiu em favor
fizessem. 82  e no lugar de seus descendentes. O que ele fez foi

Não há nenhuma dúvida de que todos os descendentes do primeiro casal receberam a


culpa e a corrupção do pecado de Adão, que em teologia é conhecido como o pecado original.
Com base em qual critério os descendentes receberam a culpa de Adão? Pelo processo da
imputação de culpa do representante aos representados.
O texto de Rm 5.12 começa indicando que o pecado de um é o pecado de todos. O texto diz
―que todos pecaram‖. Este verso não pode indicar o pecado individual de cada um porque eles
ainda não existiam quando Adão pecou. A morte passou a todos os homens que ainda não eram
historicamente existentes. Mas o pecado deles está no pecado de um, Adão. Todos eles pecaram
em Adão, representativamente.
Os versos subsequentes de Rm 5 mostram que o ato do representante é considerado o ato
dos representados.

O v. 15
16 diz quedo―ofensa
trata pecadode―de
umum
só‖só‖,
causa a morte
e do de sua que
―julgamento posteridade; 
derivou de uma só ofensa‖,
trazendo a condenação sobre a posteridade.
O v. 17 fala que ―pela ofensa de um, e por meio de um só‖, a morte veio a reinar sobre a
sua posteridade.
O v. 18 diz que o juízo de Deus veio sobre todos os da posteridade de Adão, por causa de
―uma só ofensa‖. 

82  Há duas ressalvas a serem  feitas nesta matéria: (1) Cristo não estava incluído nesta
representação. No texto de I Co 15.4549 Cristo está em oposição ao Primeiro Adão. Se Adão houvesse
guardado o pacto, Cristo não teria vindo, porque a Sua obra foi fazer exatamente o que o primeiro Adão não
fez  —   obedecer, para conseguir vida eterna para o seu povo. Embora Cristo seja, em última instância,
descendência natural de Adão, via Maria, Ele não é representado por Adão, não recebendo, portanto, a
culpa e a herança pecaminosa dele; (2) Não podemos afirmar de modo dogmático que Eva estava inclusa
nessa representação. Contudo, há indícios de que Adão era o cabeça da família, porque era o varão e o
primeiro a ser formado. Gn 2.16-17 dá-nos uma perfeita idéia de que o pacto foi feito com Adão, antes
mesmo de Eva ter sido formada. O pacto foi feito exclusivamente com Adão e Eva, ao que nos parece, foi
inclusa nessa representação. A razão disso está no fato de Eva ter pecado primeiro e Adão ter sido
responsabilizado por Deus. E verdade que ela caiu pela sua própria transgressão, mas a ruína da raça só
veio a ser anunciada depois de Adão caiu, porque o pacto havia sido estabelecido com ele. Adão foi o
primeiro a ser convicto do seu pecado, embora Eva fosse a primeira a ter caído. A culpa do pecado é
atribuído a Adão como representante da raça. Deus foi ajustar contas com ele, quando disse: ―Comeste da
arvore de que eu te ordenei que não comesses?‖ (Gn 3.11). 

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que é natural e o que é espiritual (v.46).

v.46 –  ―Mas não é o primeiro o espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual.‖ 

O que é natural vem primeiro. O que é espiritual vem depois. Perceba que quando Paulo
fala do primeiro, o natural, ele está se referindo a um homem, não a um principio. Quando fala do

espiritual
ressurreiçãoa mesma coisa. antes
está a morte; Isto significa
do segundoque oantes da redenção
primeiro. estárepresentantes
Ambos São a queda; quedas
antes da
coisas
diametralmente opostas: o primeiro, do pecado e o segundo, da salvação.
É importante que se observe que assim como natural (v.46) está para terreno (v.48), o
espiritual (v.46) está para celestial (v.48).

3) A idéia de representação está patente no fato de Paulo estabelecer as


conseqüências para os naturais assim como para os espirituais (v.48)

v.48 –   ―Como foi o primeiro homem, o terreno, tais São também os demais
homens terrenos; e como é o homem celestial, tais também os celestiais.‖  

O estado do representante reflete o estado dos representados. Todos os da descendência


de Adão refletem a situação baixa dele. Os da progênie de Cristo refletem também o estado dEle.
Por isso que Paulo chama de terrenos os de Adão e celestiais os de Cristo. Isso indica que o que
Um é os outros São, seja do primeiro Adão ou do último Adão.

4) A idéia de representação está patente do fato de Paulo a nossa participação tanto


no natural como no celestial (v.49).

v.49 –  ―E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer


também a imagem do celestial.‖ 

Isto significa que todos aqueles que estão em Cristo, estiveram em Adão. Certamente nem
todos os que estiveram em Adão vieram a estar em Cristo, pois este agiu somente em favor do Seu
povo, mas indubitavelmente, todos os que estão em Cristo hoje, já estiveram em Adão. Todos os
que possuem a imagem do que é celestial já refletiram a imagem do terreno. Usando o próprio
raciocínio de Paulo, posso concluir: todos os que São de Adão refletem a imagem das coisas
pecaminosas, assim como devem refletir a santidade de Cristo todos os que estão nele. A imagem
nossa reflete aquele de quem somos.
Rm 5.12-2183  - O verso 14 diz que Adão era tipo daquele que haveria de vir. Há um
paralelo perfeito entre ambos. Nos versos subsequentes, os dois aparecem em paralelo
representando cada um o seu povo. O primeiro Adão representando a velha humanidade, e o
último Adão, Cristo, representando a nova humanidade.
O primeiro Adão, foi tornado representante de todos por causa do pacto das obras; o
segundo Adão, Cristo, foi tornado representante por causa do pacto da graça. O primeiro
desobedeceu o pacto, o segundo obedeceu todas as prescrições estabelecidas pelo primeiro pacto.
Cristo cumpriu todas as exigências do pacto de obras, obedecendo em nosso lugar. E a
obediência dEle é considerada por Deus como nossa obediência, assim como a desobediência de
Adão também
por meio é considerada
de Jesus Cristo (pornossa
isso édesobediência. Nós recebemos
chamado de pacto da graça), todas as cousas
mas para Jesusgratuitamente
Cristo foi um
pacto de obras, porque Ele, como segundo Adão, teve que fazer todas as cousas por seu povo, que
o primeiro Adão não fez. Logo, assim como a culpa de Um é atribuída a todos, a justiça de Um
também atribuída a todos. 

83   A análise deste texto aparecerá em detalhes quando tratarmos do capítulo sobre o Pecado
Original.

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FUNÇÃO ATUAL DO PACTO DAS OBRAS


Sentidos em que o Pacto das Obras Ainda Vigora
O Pacto
Contudo, dasé obras
esse não   não foi anulado.
o pensamento Sãopelos
sustentado evidentes as mostras de que   ainda ele vigora.
arminianos.

O Pensamento Arminiano
O próprio Armínio afirma que os pecadores não têm mais nada a ver com o pacto das
obras. Eis alguns dos argumentos arminianos: 84 
1) Quando o homem está no estado de pecado, ele não esta pactuado com Deus. Portanto,
não há mais nenhum contrato entre Deus e o homem, pelo qual Deus possa requerer obediência;
2) Deus tem privado o homem da capacidade e do poder de cumprir a lei, por causa do
pecado. Por essa razão, Deus não mais pode requerer do homem o cumprimento das exigências
do pacto, o que seria injustiça, a menos que Ele devolva ao homem a sua capacidade de
obedecê-lo;
3) Deus não pode exigir do pecador que ele O ame, respeite e O obedeça no estado de
maldição em que o pecador se encontra. Deus não pode exigir do pecador que cumpra algo, se o
pecador está fora do seu favor.
Basicamente por estas razões, todos os segmentos arminianos rejeitam a idéia de que o
pacto esta ainda em vigor.

O Pensamento Reformado
Respondendo as objeções arminianas, podemos dizer o seguinte:
1) Quanto ao primeiro argumento: o fato de uma das partes violar o contrato não implica
que o contrato deva ser desfeito. Num contrato humano a parte lesada por ou não desfazer o
contrato, não quem lesa. Muito mais sério é o pacto de Deus com a criatura. Acima de tudo isso,
porém, temos que considerar que a parte ofendida é Deus, o Supremo Legislador e Soberano. O
homem não pode afrontar o soberano e ainda ficar impune pela desobediência.
2) Quanto ao segundo argumento: o fato de o homem ficar impotente por causa do pecado
não retira de Deus o direito de continuar exigindo dele a obediência. A perda da capacidade de
obedecer não foi uma decisão arbitrária. Deus havia avisado ao homem que, se ele
desobedecesse, ele haveria de morrer. A impotência do homem é uma das conseqüências dessa
morte. Como a parte ofendida no pacto, Deus pode ainda exigir que o homem continue debaixo
da obrigação de obedecer. Deus não retirou essa exigência, mesmo embora os homens não mais
sejam capazes dela.
3) Quanto ao terceiro argumento: Novamente o argumento arminiano esbarra na idéia da
soberania divina. E bom que nos lembremos de que Deus é quem estabeleceu todas as condições
e estipulações do pacto. Somente ele pode pô-las ou retirá-las. Ninguém mais. Não é a situação
do homem que vai alterar as exigências de Deus.
Passemos agora à argumentação positiva que os Calvinistas fazem a respeito dos sentidos
em que o pacto das obras ainda vigora:
1) Deus ainda afirma que se alguém obedecer a lei de Deus obtém vida eterna. Deus não
retirou essa lei.
Lv 18.5 diz: ―Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo os
quais, o homem viverá por eles: Eu sou o Senhor‘. Deus poderia, se quisesse, ter retirado esta
obrigação, mas Ele não o fez. Os homens ainda podem obter vida eterna se obedecerem à lei.

84 Idéia retiradas de Witsius, p. 152.

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Embora os homens sejam incapazes de cumprir essa lei, Deus não a retirou. Paulo deixou este
ensino bem claro, quando recordou seus leitores dessa lei de Moisés (Rm 10.5; Gl 3.12).
2) Deus ainda afirma que os homens estão debaixo da obrigação de obedecer à Sua lei de
modo perfeito.
Mesmo depois da promulgação do evangelho da graça de Jesus Cristo, aqueles que
violaram o pacto das obras não estão livres de guardar toda a lei, se se aventuram a querer

guardar
causa daum só princípio
impotência para obter
do pecado, vida. Essa leia ser
eles continuaram exige deles absoluta
devedores de toda obediência,
a lei (Gl 5.3).eDeus
que, não
por
facultou aos homens guardarem apenas alguns dos Seus princípios, mas toda a lei.
3) Deus ainda afirma que o homem continua a morrer por causa da violação do pacto das
obras.
Paulo diz: ―E o mandamento que me fora dado para a vida, verifiquei que este mesmo se
me tornou para morte.‖ (Rm 7.10). Lembremo-nos de que Paulo está falando milênios depois do
evento do Éden. Ainda continua a lei de morte para o transgressor dos preceitos divinos. A Alma
que pecar ainda morre. A lei que originariamente foi dada para que, por sua obediência, houvesse
a vida eterna, continua matando os homens.
Portanto, diferentemente dos arminianos, os calvinistas afirmam que o pacto das obras
ainda vigora. Contudo, há

Sentidos
Há algumas emcoisas
que oque
Pacto das Obras
indicam Não Mais
que nenhum Vigora
homem mais pode ter vida eterna pelo pacto
das obras:
O Apóstolo Paulo declara que Deus, por enviar seu único Filho ao mundo, fê-lo porque a
lei não podia fazer mais nada pelo homem. Este tornou-se impotente para cumprir a lei. Por essa
razão, ―o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu
próprio Filho...‖ (Rm 8.3). Por ―carne‖, entenda-se a natureza pecaminosa. Por causa da ―carne‖,
o homem não mais pode observar todos os preceitos a lei. Por essa razão a lei é impotente para
dar vida. A vida que vem da lei depende da obediência absoluta do homem. Como isto é
impossível pela condição pecaminosa do homem, a lei torna-se ineficaz. Se não fosse pelo pecado,
todo homem poderia obedecer perfeitamente a lei e possuir vida eterna.
Se Adão houvesse obedecido a lei estabelecida por Deus, ele haveria de receber a herança
da vida eterna, que é equivalente à vida que Jesus Cristo nos traz. A lei sempre foi compatível
com a vida eterna. Paulo trata desse assunto, sem qualquer constrangimento:
Gl 3.21  –   ―É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo
nenhum. Porque se fosse  promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na
verdade seria procedente da lei.‖ 

Mas a justiça não procede realmente da lei, mas da obediência à lei, que o pecador não
mais tem condição de prestar. Por essa razão, não mais estão debaixo do pacto das obras para
conseguir a vida eterna aqueles em favor de quem Cristo obedeceu. Aqueles que São beneficiários
do pacto da graça, não mais estão na obrigação de guardar a lei perfeitamente para obterem vida,
pois Cristo já a obteve por eles e no lugar deles. Todas as obrigações que devíamos, Cristo as
satisfez por nós.
Daquele que está em Cristo já não mais se pode dizer que está sob o pacto das obras no
que concerne à obtenção da vida eterna.

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PARTE 2

A CONDIÇÃO DO

HOMEM E A QUEDA

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A LIBERDADE E A MUTABILIDADE PARA O PECADO

Deus criou o homem com capacidade de auto determinar-se, um agente livre, para agir
sempre de acordo com as disposições do seu coração. Ele poderia fazer tanto o bem, que era
próprio de sua natureza, mas também poderia, mudavelmente, fazer o que era contrário à sua
natureza, pecando contra o Senhor Deus e Suas leis.
Novamente a CFW diz:

O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e


fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que
pudesse decair dessa liberdade e poder. (IX.2)

Deus criou o homem com uma santidade mutável. Como já foi dito acima, a santidade no
homem não era parte essencial nele, como o é em Deus. Santidade não é um atributo
constitucional do homem. A prova disso é que ele a perdeu e, ainda assim, continua sendo
homem. Deus é livre na expressão da Sua santidade, e ela é sempre a mesma, por causa da
própria natureza imutável de Deus. Deus nunca vai fazer alguma coisa diferente daquilo que Ele
é. Por isso Ele não pode pecar. Sua vontade quer sempre aquilo que a Sua natureza determina.
Na Sua infinitude há a exclusão da idéia de mudança na vontade. Deus não tem o poder de
escolha contrária, isto é, de fazer algo que vá de encontro à Sua natureza. Deus é um ser moral
livre, todavia só faz aquilo que é próprio da Sua natureza. Portanto, em Deus liberdade e
necessidade moral São a mesma coisa. Para que haja liberdade, não há a necessidade de haver o
poder de escolha contrária.
A liberdade em Deus é uma auto-determinação imutável, mas no homem, como ser finito
que é, a capacidade de auto-determinação ou seja, a capacidade de fazer as coisas de acordo com
a natureza, é mutável. Deus deu ao homem, no principio, aquilo que Ele próprio não possuía, a
capacidade de escolha contrária. O homem era livre para expressar a santidade com a qual Deus
o havia criado, mas de tal modo que pudesse também fazer algo contrário à sua santidade. Para
que Adão fosse livre, ele não precisava ter o poder de fazer algo revers o. ―O poder de reverter a
auto-determinação existente não é a substância da liberdade, mas é um acidente dela.‖ 85 Deus é
livre sem esse acidente. Mas Deus deu ã criatura essa capacidade de escolha contrária, e ela a
usou para a sua própria vergonha.
Por isso é possível entender como uma pessoa santa como Adão poderia fazer o que fez.
Ele usou a capacidade de escolha contrária que lhe foi dada por Deus.
Há que se olhar essa atitude de Adão de um outro prisma. Ele era Simplesmente uma
criatura perfeita. Como criatura, contudo, dependia de Deus para todas as coisas da vida
natural, como dependia de Deus para que sua vida de comunhão com Ele continuasse. E próprio
de toda a criação essa dependência de vida. Vida é algo que é dado, mantido e renovado por Deus.
E Adão era santo, mas apenas uma criatura, desprovida de qualquer senso de onisciência,
passível de ser enganada, que poderia pensar no mal como algo que não fosse tão mal assim.
Embora a condição moral do homem fosse de excelência, sem tendência para o mal, todavia,
poderia cair desse estado.
 Toda a criatura tem algo que Deus não tem  —   mutabilidade. Esta é uma das grandes
distinções entre Deus e a criatura. Imutabilidade e impecabilidade são atributos do Criador, não
das criaturas, sejam elas homens ou anjos.
A liberdade de Adão e Eva consistia no fato de fato deles poderem escolher ou abraçar
aquilo era bom e agradável ao seu entendimento, como Deus queria, ou para colocar de outro
modo, em recusar aquilo que era mau. Ele tinham o poder de continuar no estado em que foram
criados. Era só agirem de acordo com a natureza santa que Deus lhes havia dado. Mas não foi

85 Shedd, vol. 2, p. 107.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 78

assim que fizeram. Simplesmente puseram em ação a capacidade de fazer aquilo que era
contrairão à natureza deles. Contudo, desobedeceram a Deus, agindo voluntariamente,
constituindo-se numa situação singular em toda a história humana. Usaram da liberdade de
escolha contrária que tiveram para perderem-se a si mesmos, imergindo-se a si mesmos e toda a
raça na escravidão da miséria.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 79

CAPITULO VII
A ORIGEM DO MAL MORAL
O fato de Adão possuir a liberdade de escolha contrária, não explica todos os mistérios
relacionados ao problema da entrada do mal no mundo. Há que se pensar que o mal moral é
anterior ã queda do homem.
Há, na verdade, dois grandes problemas praticamente impossíveis de serem explicados: O
primeiro, que tem a ver com a entrada do mal no universo, é a dificuldade de entender a queda
dos anjos sem haver tentador externo e sem que tivessem natureza propensa para o mal; o
segundo, que tem a ver com a entrada do pecado no mundo dos homens, é a dificuldade de
explicar como Adão veio a pecar já que não possuía natureza pecaminosa. Este é um problema da
teodicéia, que estudaremos neste capítulo.
O problema da origem do mal tem sido considerado como um dos mais profundos dentro
da filosofia e da teologia. Não se pode fechar os olhos para o problema do mal que é universal. Ele
é uma mancha indelével que caiu sobre o universo e sobre a vida em todas as suas
manifestações, e tem sido a tônica diária de cada membro da raça humana. Os estudiosos têm
tentado encontrar um resposta para o problema do mal no universo, mas sem sucesso,
especialmente quando a resposta é procurada fora da esfera da revelação divina.
As grandes e freqüentes perguntas feitas são estas: ―Se Deus é bom como Ele permitiu a
entrada do mal no mundo? Se Deus é bom, por que Ele não tira todos as manifestações do mal no
mundo?‖ 
Há algumas respostas bíblicas e teológicas a essas perguntas, que são delineadas com o
maior temor diante de tão grande mistério, à luz de algumas sugestões que a Escritura dá sobre
o assunto.

A) DADOS BÍBLICOS SOBRE A ORIGEM DO MAL


A primeira grande descoberta no tratamento deste assunto é reconhecer a nossa
pequenez diante de tão grande problema e, a segunda grande descoberta é reconhecer a
soberania divina em todas as coisas que existem no mundo em que Ele nos colocou.
A CFW diz categoricamente:

―Pela Sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre
e imutável conselho da Sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as
coisas, para o louvor da glória da Sua sabedoria, poder, justiça, bondade e
misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as Suas criaturas, todas as
ações e todas as cousas, desde a maior até a menor‖ (V,1). 

Este é um ponto-de-partida sem o qual vamos ter sérios problemas. Esta abordagem da
Confissão de Fé de Westminster é um ponto indispensável e a condição sine qua non para se ter
alguma luz sobre este assunto.
A Escritura ensina que Deus é bom, mas que também exerce a Sua soberania. Estas duas
coisas parecem não poder existir juntas na mente de muitos crentes, como se fossem atributos
incompatíveis. E por isso que esta pergunta surge freqüentemente: ―Se Deus é bom, como pode

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 80

permitir a entrada no mal no mundo?‖ 


Para que tenhamos resposta a perguntas como essa, precisamos ir ao profeta Isaías, no
capítulo 45, quando ele trata da soberania de Deus, onde o próprio Deus é quem Se dirige a Ciro,
o rei da Pérsia.
Neste capitulo, Isaías enfrentou corajosamente um assunto que muitos teólogos relutam
em aceitar hoje, mesmo depois de séculos de reflexão teológica, onde muitas vezes a teologia

deles temEscritura.
própria sido controlada
Isaías pelos seus pressupostos,
enfrentou a questão quesem que estes sejam
freqüentemente submetidos
nos ao crivoéda
assedia: ―Quem o
responsável pelo mal no mundo?‖ A resposta a essa pergunta vai, de algum modo, definir a nossa
teologia sobre quem Deus realmente é.

Análise de Is 45.1-7
Há algumas coisas preliminares que precisam ser ditas deste texto: Primeiro, Temos que
ver Quem é o autor destas palavras. Claramente Deus é o sujeito destas palavras e Ele fala, em
todos os versos, na primeira pessoa do singular; Segundo, a quem Deus se dirige. Ele se dirige a
Ciro, rei da Pérsia. Ele era um rei de uma terra onde se cria num dualismo, isto é, cria-se num
deus do bem e num deus do mal; terceiro, Deus está mostrando a Ciro que só existe um Deus
(v.5,
apraz6), isto inclusive
(v.7), é, que não háos
usa o chamado dualismo
homens ímpios parapersa, e que,
cumprir comopropósitos
os seus Deus, Ele (v.
faz1).
tudo o que Lhe
No ponto culminante desta passagem majestosa de Isaías, há um verso que trata de
frente o problema do mal, encarando-o à luz da soberania divina (v.7). Nada pode ser mais claro
do que este verso. Esta é uma palavra inspirada pelo Espírito Santo, palavra que Deus quis que
fosse registrada para o nosso conhecimento. O profeta narra aquilo que Deus quer que
enfrentemos com o maior santo temor: o problema do mal. Mesmo não compreendendo todas as
razões de Deus, porque Deus é, pelo que faz, um ―Deus misterioso‖ (v. 15), temos que admitir que
este texto lança alguma luz sobre o tão importante e incomodante problema do mal. O texto não
trata das razões últimas de Deus. Não podemos entender por quê Deus faz o que faz, mas
podemos crer que Ele faz o que faz.
Quando Deus fala que ―crio as trevas e faço o mal‖, Ele assume perfeitamente a
responsabilidade pela entrada do mal no mundo. Esta é uma revelação que não devemos
desprezar
encontro àpara
Sua justificar
revelação.a nossa teologia, porque, fazendo assim, estaremos andando de (não ao)
Nos capítulos 40 a 45, o tema de Isaías é a soberania divina. Aliás, este é um tema que
atravessa toda a Escritura, mas Isaías dá uma atenção especial a ele. Há um só Deus e Ele está
sobre todas as coisas.
Como Paulo, Isaías declarou todo o conselho de Deus e, fazendo isto, proclamou que Deus
está acima e sobre todas as coisas. A declaração pelo próprio Deus sobre a origem do mal nas
palavras do v.7, dá-nos algumas idéias sobre as quais passamos a discorrer: 86 
Em que sentido Deus é o criador do mal?87 O que Ele quer dizer com Is 45.7? Será que o
mal do v.7 diz respeito apenas aos castigos, aos flagelos, às penalidades que Ele impinge aos
homens? Ou será muito mais que isso?
Não temos todas as respostas às perguntas sobre a origem do mal, mas cremos ser o mal
referido no texto de Isaías seja o problema do mal moral. De qualquer forma, de algumas coisas,

86 Fundamentalmente, essas idéias estão incluídas no livro de Willian Fitch, Deus e o Mal , (São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984), 9-21.
87 A expressão ―crio o mal‖ não deve ser entendida com a clássica frase que torna Deus ―o autor do
mal‖ ou ―o autor do pecado‖. Deus é santo e não pode pecar, não envolve-se pessoalmente com aquilo que é
moralmente mau. Nem mesmo Deus induz os homens ao pecado (Tg 1.13, 14). Is 45.7 não diz que Deus leva
o homem a pecar, tentando-o. Do Deus da Escritura não pode ser dito que faz coisas moralmente mas,
embora faça coisas que sejam contrárias à lei que Ele estabeleceu como regra de vida para nós, e Ele está
acima dessa lei, não sujeito a ela Se Ele viola uma dessas leis, Ele não se torna pecador, porque a lei é para
homens, e não para Ele.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 81

temos absoluta certeza:

1) Deus não foi tomado de surpresa nela Presença do Mal no mundo


Não creio que Deus seja o autor do mal no sentido dele envolver-se pessoalmente no mal,
mas sabemos que o mal não é produto do acaso. Ele é parte de um plano maior de Deus, plano
esse que Ele não deu a conhecer em todos os seus detalhes. Com certeza, o decreto eterno de
Deus
existe tornou segura
nada que a entrada
acontece nestedo pecado
mundo nonão
que universo. Nada
seja parte é mais
dos verdadeiro
desígnios do que isso. Não
de Deus.
O que é dito pelo profeta para confortar Ezequias, que havia sido ameaçado pelo rei
Senaqueribe, serve para ilustrar que Deus faz todas as cousas na história do mundo como
produto de um plano previam ente traçado.

2Rs 19.25  –   ―Acaso não ouviste que já há muito dispus eu estas cousas, já
desde os dias remotos o tinha planejado? Agora, porém, as faço executar, e eu quis
que tu reduzisses a montões de ruínas as cidades fortificadas.‖ 

 Todas as cousas que Deus executa na história são produto de um plano previamente
estabelecido. Todos os eventos, os grandes e os pequenos, vêm como produto do cumprimento
dos desígnios eternos
A entrada de Deus.
do mal Não é diferente
no universo angelical com o decreto
e humano da para
serve entrado
um do pecado previamente
propósito no mundo.
estabelecido, especialmente se entendemos o plano da salvação que foi proclamado e anunciado
antes da fundação do mundo (Tt 1.2).
A segunda verdade neste assunto é que, no texto de Isaías,

2) Deus assume a Responsabilidade pela Presença do Mal no Mundo

Ele não conta as razões pelas quais ele responsabiliza-se pela presença do mal no mundo,
mas é obvio que Ele não foi apanhado de surpresa pela presença do pecado no Seu universo.
Com certeza, sabemos que Deus rejeita algumas idéias errôneas a respeito da
origem do mal:
a) Neste texto de Isaías Deus rejeita a doutrina do Dualismo. 88 

O dualismo ensina sobre deuses rivais, de igual poder. Hughes define dualismo como ―a
teoria de que por dentro e por detrás de toda a realidade há a presença não de um, mas de dois
princípios eternos e absolutos que são irreconciliáveis, opostos um ao outro,‖89 especialmente
quando se trata do difícil problema da coexistência do bem com o mal neste mundo.
A presença do mal coexistindo com o bem teve uma solução simplista na teologia das
religiões do oriente. E assim que o livro sagrado do zoroastrismo, a mais elevada das religiões
não-bíblicas, contorna a dificuldade da presença do mal no universo. O zoroastrismo apregoa
dois deuses —   Ormuz e Arimã. Ambos criaram o mundo. O bom deus Ormuz criou as coisas
boas; o mau Arimã criou todas as coisas más. O primeiro era o deus da luz, e o segundo o das
trevas, que sempre lutaram num conflito ininterrupto. Hughes nos diz que:

88 Dependendo do ponto-de-vista, vários ―dualismos‖ podem ser identificados na teologia. Um deles,


é o dualismo relacionado à matéria e ao espírito, muito comum no gnosticismo que a Escritura combateu,
logo no primeiro século da era cristã. Esta seita ensinava que havia dois poderes supremos, o da luz e o das
trevas. Ela ensinava que a luz não poderia abordar as trevas, que era irreconciliavelmente oposto a ela. A fim
de ligar esse abismo entre luz e trevas, tinha que haver seres intermediários. Jesus era um desses seres
intermediários (eons). Por ele ser da luz, ele não poderia ser matéria, não poderia ter vindo em carne. esse
tipo de erro que João combate na sua carta (1 JO 1.1-2).
89  Philip Edgcumbe Hughes, The True Image , (Grand Rapids: Willian Eerdmans Publishing
Company, 1989), 83.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 82

―foi este tipo de dualismo que tornou-se um elemento proeminente na filosofia


sincretista do Maniqueísmo, fundado por um persa chamado Mani, no terceiro
século da era cristã, pelo qual Agostinho sentiu-se muito atraído antes de sua
conversão para a fé cristã.‖90 

Esse tipo de dualismo pairava na Pérsia, onde reinava o rei Ciro, quando Deus se lhe
dirigiu, porque este cria dualisticamente. Foi por essa razão que Deus disse várias vezes: ―Eu sou
Deus. Além de mim não há outro...‖. 
Esta solução dualista para explicar a coexistência do bem com o mal é uma solução
anti-escriturística porque ata o princípio do mal como algo inseparável do universo que Deus fez.
Em última instância, a religião do dualismo nunca dará a vitória ao bem, porque os dois
princípios são eternos e igualmente poderosos. ―A religião dualista é uma religião sem esperança
da eliminação definitiva do mal e do triunfo do bem.‖ 91 A teoria dualista é absolutamente
incompatível com a teologia do cristianismo. Por essa razão, Deus rejeita a possibilidade do
dualismo. no texto de Isaías 45.

b) Neste texto de Isaías Deus rejeita a idéia da espontaneidade do mal.

Este teoria da teodicéia de alguns estudiosos diz que o mal apareceu sem que alguém o
trouxesse à existência. Se o mal surgisse assim, Deus não teria tido qualquer controle sobre as
cousas deste mundo. O mal sendo gerado espontaneamente tira Deus do trono de sobre todas as
coisas. Mas Deus diz: ―Eu faço todas as coisas...‖. 

c) Neste texto de Isaías Deus rejeita as idéias deterministas que apresentam o pecado
como uma necessidade inerente na natureza íntima de todas as coisas.

O filósofo alemão G. W. Leibniz (1646-1716) ensinou em sua teodicéia que existe uma
imperfeição metafísica que é inerente na real constituição de todas as cousas criadas. 92  A
presença do mal é parte constituinte e está embutida na estrutura de todas as cousas. Leibniz
admitiu claramente que ―há uma imperfeição original na criatura, mesmo antes de o pecado ser
cometido, porq ue a criatura é limitada em sua essência.‖ 93 Nesse ponto, Barth assimila algo de
Leibniz, porque sustenta que o problema do homem é o fato dele ser criatura. O pecado apenas
complica esse problema. O mal está inerente e necessariamente presente no mundo pelo fato dele
ser criação. Leibniz falou ainda do ―verdadeiro pecado necessário de Adão que é cancelado pela
morte de Cristo!‖94 
Hegel sustenta que o aparecimento do mal é algo necessário para que o homem chegue à
sua humanidade plena. A idéia de Hegel é que ―a queda em si mesma foi um desenvolvimento
necessário para a realização pelo homem de sua humanidade autêntica.‖95 Hegel não nega que o
homem foi criado bom, mas afirma que a vinda do mal era necessária para que o homem se
tornasse completo. ―Assim, Hegel supôs que ambos, o bem e o mal, foram necessários se o
homem estava para desenvolver para a plenitude de sua humanidade, e que o alcance da síntese
fosse possível somente pelo modo da confrontação entre a tese e a antítese.‖ 96 

90 Hughes, 85.
91 Hughes, 85.
92 Hughes, 93.
93 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of
Evil, (London, 1951), parágrafo 21-21.
94 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of
Evil, (London, 1951), parágrafo 40.
95 Hughes, 96.
96 Hughes, 97.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 83

Estas teorias tornariam Deus o autor direto do mal, porque Ele teria criado todas as
cousas como necessitadas do mal. A teodicéia cristão não pode admitir tais teorias. Deus criou
todas as cousas e disse que elas eram muito boas! ―E viu Deus tudo o que criou e disse: Eis que
tudo é muito bom‖ (Gn 1.31). 

d) Neste texto de Isaías Deus rejeita a idéia da eternidade do mal.

A idéia da eternidade do mal geralmente surge da idéia do dualismo dos deuses rivais.
Assim como houve sempre o bem, da mesma forma houve o mal.
Mas a Escritura rejeita essa teoria. O mal veio a existir no universo e no mundo dos
homens. Houve um ―tempo‖ quando não havia a presença do mal no universo criado. O mal
apareceu primeiro no mundo angelical e, depois, no mundo dos homens. O mal não é eterno.
Eterno é Aquele que é o bem.
Portanto, quando Deus diz que ―cria o mal‖, Ele está aceitando a responsabilidade pela
presença do mal no meio da Sua criação. Não basta dizer, como Calvino 97 e outros, que disseram
que o ―mal‖ mencionado por Isaías se refere aos males dos juízos e punições que Deus envia aos
homens. O texto parece ir muito mais profundo do que isso. A palavra usada para ―criar‖ aqui em
Isaías 45.7, é exatamente a mesma que foi usada em Gênesis, quando da criação das coisas sem

ter qualquer
fez material
com que ele viessepré-existente. Portanto,
ao mundo através Deus também
da agência chamouracionais,
das criaturas o mal à existência, mas
tanto anjos Ele
como
Adão e Eva, que agiram livremente, isto é, sem compulsão exterior alguma, apenas levados por
seus desejos e conveniências, incompreensivelmente nascidos numa natureza santa com a qual
foram criados.
Vejamos alguma coisa relacionada com o contraste entre as palavras usadas em Is 45.7.
Deus disse: ―Eu faço a paz e formo a luz‖. Não havia necessidade de Deus ―criar‖ a paz e a luz,
porque Deus é luz e paz (1 JO 4.5; Gl 5.22). Deus compartilha a Sua vida com os homens quando
lhes dá o dom da luz e da paz. Mas o mal é cousa muito diferente. Ele ainda não existia, e, por
razões desconhecidas de nós, Deus resolveu dar origem ao que não havia antes. Por isso, o mal
requer uma criação especial e, assim, as Escrituras inspiradas empregam a palavra )frfB, para
referir-se à criação do mal.
 Todas as respostas não estão, obviamente, aqui, mas não podemos fugir do assunto que

Deus aceita tratarverdade


A terceira abertamente, emboraapresentar
que devemos não nos revele
sobretodos os seus detalhes.
este assunto e:

3) Deus Restringe a Operação do Mal em Sua Criação


A Bíblia afirma que Deus restringe o pecado. Não há nenhum ponto nas Escrituras em
que a vitória seja concedida às forças das trevas. Muitos crentes podem até perguntar: ―Até
quando, Senhor, até quando o mal reinará?‖ —   Mesmo em suas horas mais sombrias, quando
das profundezas do seu ser eles suplicam ao Trono nas alturas, os filhos de Deus ainda se
mantém confiantes em que a justiça haverá de triunfar e que, finalmente, o bem será visto
claramente como o supremo vencedor, porque crêem que Deus é poder e justiça.
O livro do Apocalipse fala do sangue do martírio dos filhos do povo de Deus, fala da
mutilação dos corpos deles, mas de forma alguma esse livro profético fala da vitória e do domínio
do mal no universo de Deus. O universo é de Deus, não do diabo. Deus ainda está no trono. Deus
não perdeu
santos o controle
e eternos sobre nada.
propósitos, mesmoTudo
que o
asque acontece
razões de deles
últimas mal ésejam
para oescondidas
cumprimento dos Seus
de nós.
A Escritura acentua que Deus nunca permite que o mal Lhe escape das mãos. Ele o
controla, restringindo-o. Satanás não tem o poder de frustrar os desígnios de Deus. O inimigo dos

97 Noseu comentário de Isaías, Calvino interpreta o mal como sendo ―aflições, guerras e outras
ocorrências adversas‖. Isto ele faz para livrar-se daqueles que ele chama de ―fanáticos, que torturam a
palavra mal, como se Deus fosse o autor do mal; mas é muito óbvio quão ridiculamente eles abusam desta
passagem do profeta… Deus é o autor do mal de punição, não do mal de culpa‖.(Ver John Calvin,
Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, (Baker, 1981 edition), p.403.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 85

natureza pecaminosa. O pecado já não mais tem domínio sobre nós (Rm 6.14). Essa é a promessa
que temos de que Deus está no trono, sendo vitorioso sobre o mal, proporcionando um escape
para ele. O pecado não mais reinará sobre os nossos corpos mortais, porque Cristo já conseguiu
a vitória por nós e no nosso lugar, e bem logo, veremos esta coisas claramente, quando o Senhor
 Jesus se manifestar em glória.
A quinta verdade sobre esta matéria é que

5) Deus Insta aos Homens para que Fujam do Mal e se Refugiem nele.
Veja o que Deus diz nesse mesmo capítulo de Isaías:

―Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu sou
Deus e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é
 justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo o
 joelho, e toda língua. De mim se dirá: tão somente no Senhor há justiça e força; até
Ele virão e serão envergonhados todos os que se irritarem contra Ele. Mas no
Senhor será justificada toda a descendência de Israel, e nEle se gloriará.‖ (Is
45.23-25).

A verdade
e nele serão é vista de
justificados, forma
e os duplamente
ímpios completa:
haverão de prestar os do Seu
contas povo
a Ele detêm salvação
suas do mal
maldades, nele
porque
Ele é o Deus da justiça.
Deus continua no trono. E do Seu trono que Ele está falando aqui. E é para o Seu trono
que somos convocados a olhar. O homem terá que ser libertado do pecado, e isso acontecerá por
 Jesus Cristo, em quem o homem deverá olhar com fé. A Escritura sempre encoraja os homens a
buscarem refúgio e socorro nele, afastando-se do mal. E isso que o Senhor deseja que façamos e,
para isso, necessitamos de Seu auxilio!

B) DADOS BÍBLICOS SOBRE O CARÁTER DO PECADO

1) O Pecado é uma classe específica de mal 99 

Muito se fala na atualidade a respeito do mal, mas pouco se tem dito a respeito do pecado.
Esta é uma palavra omitida na maioria das publicações ou conferências científicas que tratam
dos problemas da raça humana. Contrariamente, a Escritura fala muito a respeito do pecado,
que tem a ver com a transgressão de uma lei divina, mas é preciso ter em mente que nem todo o
mal é pecado. O pecado não deve ser confundido com os males físicos que provocam as
calamidades e prejuízos, que tantas dores têm trazido à raça humana. Estes últimos, na maioria
das vezes, vêm como manifestação do julgamento parcial de Deus sobre os pecados dos homens.
Aquele, entretanto, é um mal moral, porque afeta e viola uma lei moral de Deus, é uma oposição
deliberada àquilo que Deus estabeleceu. No seu cerne, o pecado é sempre um ato positivo de
oposição a Deus, que envolve culpabilidade pessoal, e é produto de uma ação voluntária da parte
do homem, como agente livre que é (Gn 3.1-6; Rm 1.18-32; 1 Jo 3.4).

2) O Pecado tem um caráter absoluto 100 


Na esfera ética o contraste entre o bem e o mal é   absoluto. Não há um intervalo de
neutralidade entre ambos. Ainda que haja graus em ambos, não há grau entre um e outro. A

99 Ver Berkhof, p. 276 (edição castelhano).


100 Ver Berkhof, p. 277 (edição em castelhano).

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 86

transição de um para o outro não é de caráter quantitativo, mas qualitativo. Um ser moral que é
bom não se converte em mau por diminuir a sua bondade, mas unicamente por uma mudança
qualitativa radical volvendo-se para o pecado. O pecado não é um grau menor de bondade, mas
um mal positivo. A Escritura não reconhece qualquer posição de neutralidade entre o bem e o
mal. O homem está do lado do justo ou do ímpio.

Mt 12.30 –  ―Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta,
espalha.‖ 

O que Jesus está querendo dizer neste verso é que se Ele merece o nosso respeito, merece
que o recebamos de todo o coração. Se não rendemos todo o coração a Cristo, não lhe estamos
rendendo cousa alguma. Não existe a idéia de estar indiferente com respeito a Cristo. A
indiferença é considerada oposição a Ele. Ou Lhe damos a honra, a adoração e o amor que Ele
merece, ou O desonramos, cultuamos o demônio e odiamos ao Filho de Deus. Trata-se de ser oito
ou oitenta com Jesus. Não existe equilíbrio no sentido de ficar entre Jesus e Satanás. Não há
posição de indiferença ou neutralidade. Por isso, Ele disse: ―Quem não é por mim, é contra mim.‖ 
Não há forma de ser neutro nas coisas espirituais. Se alguém não é seguidor de Jesus
Cristo, certamente estará do lado do maligno. Aqueles que não estão fazendo a obra de Deus
estão fazendo as obras do diabo. Não estar do lado de Deus significa estar do lado de Satanás.
Não existe meio termo ou neutralidade na esfera espiritual.

3) O Pecado tem a ver com a transgressão da Lei


A Escritura afirma categoricamente que o pecado ―é a transgressão da lei‖ (1Jo 3.4). O
pecado propriamente não existiria para o homem se não houve uma lei estabelecida. Desde o
começo do mundo, no pacto de obras do Éden, Deus estabeleceu leis para serem cumpridas pela
sua criatura racional. Para que não houvesse dúvida quanto ao conceito de que pecado tem a ver
com a lei, Deus colocou duas leis para o homem: uma interna, quando imprimiu as suas leis nos
corações deles (Rm 2.12-15); a outra ele a transmitiu em palavras, quando no jardim deu as
devidas ordens (Gn 2.15-16). Posteriormente, Deus formalizou essas leis gravando-as em tábuas
no tempo de Moisés, para que ninguém pudesse alegar falta de conhecimento.
Portanto, quando o homem peca, ele transgride uma lei que Deus estabeleceu.
C) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO ANGELICAL

A Bíblia deixa absolutamente claro que o pecado não começou no Éden, com a queda dos
nossos primeiros pais. O pecado vai além de Gn 3. Deus havia criado as hostes angelicais, e todos
as cousas que Deus fez eram boas quando vieram das mãos do seu Criador (Gn 1.31; 2.1).
2 Pe 2.4 diz que ―Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no
inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo‖. A queda dos anjos ocorreu
quando legiões deles ―abandonaram o seu estado original‖ (Jd 6). O tempo exato dessa queda não
se sabe, mas Jo 8.44 diz que o Diabo foi ―homicida desde o princípio‖, e 1 Jo 3.8 diz que ele vive
―pecando desde o princípio‖. 

Estas passagens
eram santos, estado demostram que houve
criação esse um primeiro
que eles estado,Eles
abandonaram. um estado
caíramoriginal
e foramno tornados
qual eles
instrumentos de ruína para os outros seres racionais, os homens. A Escritura, contudo, não diz
quase nada sobre a queda dos anjos. E possível que o ―orgulho‖ tenha sido o pecado de
Satanás101, mas não há nenhuma outra indicação que nos dê mais luz sobre a queda de
Satanás.

101 Esta é uma referência sacada de 1 Tm 3.6, onde se supõe que Satanás é orgulhoso, soberbo,
porque quis ser igual a Deus. O mesmo pode deduzir-se das palavras que ele usou para tentar Eva, em Gn
3, onde ela a induziu a ser como Deus.

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desafiar Deus ficando impunes (veja Dt 29.19).

Gn 3.5 —  ―Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.‖  

Eva, ao invés de fugir da conversa, continuou a dar ouvidos à fala de Satanás. Este não
somente sugeriu que ela não sofreria punição qualquer, com insinuou que ela se beneficiaria ao
comer do fruto, por três razões: Primeiro, por comer do fruto, a capacidade dela de discernimento
e o de percepção seriam sensivelmente aumentados. Este é o sentido de ―se vos abrirão os olhos‖.
Os olhos físicos de Eva e Adão já estavam abertos, portanto, esta referência deve ter sido aos
olhos do entendimento; Segundo, o seu poder seria aumentado, e sua posição melhorada. Eles
seriam como ―Deus‖ ou anjos; Terceiro, a sabedoria seria aumentada em muito, ―sendo
conhecedores do bem e do mal como Deus‖. Isto era algo altamente desejável!
É interessante que Satanás não dirigiu seus ataques aos apetites físicos de Eva, mas à
parte mais nobre do seu ser, isto é, aos apetites da alma humana  —   querer ser mais sábio,
inteligente, poderoso, ser uma criatura celestial, ser um ser independente, auto-suficiente, agir
independentemente de Deus.
De lá para cá, Satanás tem tentado fazer o mesmo com todos os homens, tentando-os a
tornarem-se independentes de Deus, o que é uma falácia, mas muitos têm caído nessa esparrela.

Gn 3.6 —  ―Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos
olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e
deu também ao marido, e ele comeu.‖ 

Antes de examinar os detalhes deste trágico verso, analisemos cuidadosamente duas


perguntas:
Primeira: Por que a soberania da divina ameaça em Gn 2.17 não deteve Eva? Davi
declarou: ―Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti‖ (S1119.11). E claro de
Gn 3.3 que a palavra de Deus estava na mente de Eva ao menos, quando ela foi acossada por
Satanás. Como, então, se explica que ela não se preservou de pecar? Certamente, a resposta é
que ela não fez uso da Palavra, mas namorou com a tentação, parlamentou como inimigo de
Deus, e acabou crendo na sua mentira. Aqui está a mais solene advertência para nós: se
desejamos que Deus nos liberte do tentador, devemos evitar toda ocasião do mal e, como José do
Egito, fugir da tentação. Então, poderemos livremente, orar: ―Não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal.‖ 
―Eva viu que a árvore era boa para se comer (porque provavelmente Satanás a tinha
comido na frente dela) e que ela era ―agradável aos olhos‖. 
Observemos a ordem das duas cláusulas: esperaríamos encontrar, pela lógica, a frase
―agradável aos olhos‖ primeiro que ―boa para se comer‖. Por que estariam elas mencionadas
inversamente?
Isto capacita-nos a entender melhor o significado da frase ―vendo a mulher que a árvore
era boa para se come‖. O elemento tempo não pode ser ignorado aqui. Cremos, porque está
implícito, que a serpente comeu do fruto na presença de Eva. Como ela poderia perceber que a
árvore era ―boa para se comer‖, se alguém não a tivesse provado? Como Eva poderia saber que o
fruto era ―desejável para dar entendimento‖ a menos que alguém t ivesse previamente
testemunhado através de uma demonstração visual do fato?
É evidente que as palavras ―vendo a mulher que a árvore era boa para se comer‖
significam que ela havia visto a serpente comê-la sem morrer ou sofrer qualquer punição. Então,
ela seguiu o exemplo da serpente. Este fato interferiu no raciocínio de Eva. Ao invés de crer na
Palavra de Deus, Eva andou pelo que viu —   como seus filhos e filhas fazem ainda hoje  —   e as
aparências enganam.
Eva viu que a árvore ―era agradável aos olhos‖. Não havia nada na aparência exterior do
fruto que indicasse que ele era impróprio para ser comido. Ao contrário, ele parecia atraente. Em

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Gn 2.9 lemos: ―Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradável à vista e boa
para o alimento...‖ —  Como o texto mostra, a árvore do conhecimento do bem e do mal não era
exceção. Toda a criação foi bela e agradável aos sentidos. Mas Eva, por entregar-se à tentação da
serpente, notou que aquela árvore era particularmente bela. Eva teve o desejo secreto e
cobiçou-a.
Se houvesse havido qualquer incerteza na mente de Eva, ela poderia ter consultado seu

marido. Segundo
―entendimento‖ a Escritura,
como Deus. Elaeste
fez oéjuízo
o dever
pelo eque
o privilégio
a serpentededisse,
uma eesposa.
não peloMas
queela quis
Deus ter
havia
dito ao seu marido. Ela preferiu a falsa esperança que o inimigo lhe havia dado, mas ela foi
enganada.
Primeiro, ela deu crédito ao ―é certo que não morrereis‖ (v.4); depois foi atraída pela
perspectiva de tornar-se igual a ―Deus‖ ou anjo. E, então, sob essa crença, comeu do fruto.
A palavra hebraica fdfm:xen:w para ―desejável‖ (v.6), tem a mesma raiz ( Dom:xat) em Ex
20.17, e é traduzida aqui por ―cobiça‖. A mesma palavra é chamada ―concupiscência‖ em Rm 7.8,
e ―cobiça‖ em Tg 1.15. De f ato, esta última passagem, de algum modo, traça o caminho em
detalhes da desobediência final de Eva, mesmo embora ela não possuísse natureza pecaminosa,
como nós hoje a possuímos.
O estatuto do Éden, tanto quanto o dos Dez Mandamentos, envolvia ambos, os desejos
interiores e os atos exteriores. Aquele que deseja o mal proibido, de fato já o escolheu, como
aquele que odeia antes de violar o sexto mandamento, embora nunca chegue a uma violência
física. Eva não poderia nem desejar o fruto, porque Deus a havia proibido de comê-lo. Ao invés de
desejá-lo, ela deveria fugir dele. Cobiçar o que Deus proíbe já é pecaminoso, é preferir a criatura
ao invés do Criador. Esta é a grande advertência para nós todos. Se estimamos coisas apenas
levados pelos sentidos, ou pelo que outros dizem delas, ao invés de aceitarmos o que Deus diz a
respeito, certamente erraremos em nosso juízo. Nada é bom para nós exceto aquilo que vem das
mãos de Deus.
Eva, então, ―tomou-lhe do fruto e comeu‖—  sem consultar Adão. Tão forte foi o desejo do
seu coração, que ela não quis ouvir a opinião de ninguém. Assim, ela completou a transgressão.
A serpente não colocou o fruto na boca de Eva. O diabo pode tentar, mas não pode forçar
ninguém a pecar. Por sua própria determinação, obedecendo a desejos interiores, ela comeu do
fruto. Ela, e nem nós, podemos culpar quem quer que seja pelos nossos próprios atos
pecaminosos.
A essa altura, Adão juntou-se a Eva, porque é dito que Eva deu o fruto ao seu marido, ―e
ele comeu‖. Este é o progresso do pecado: alguém entrega-se à tentação e, então, torna-se o
tentador de outras pessoas. Ao invés de recusar o fruto, Adão comeu. O texto da Escritura diz
―que Adão não foi enganado‖ (1 Tm 2.14), o que o torna um maior culpado. Ele apenas ―atendeu
a voz de sua mulher‖ (Gn 3.17), e isto foi o bastante para ele apostatar de Deus. Foi uma revolta
contra o Criador, uma insurreição à Sua supremacia, uma rebelião contra a Sua autoridade.
Deliberadamente Adão resistiu à vontade revelada de Deus, desertou do Seu caminho. Em
conseqüência, ele perdeu sua primitiva excelência e toda a sua alegria. Assim, Adão lançou-se a
si mesmo, e a toda sua posteridade, na ruína espiritual. Esta foi a origem do pecado na raça
humana. Gn 3 dá-nos uma narrativa inspirada de como o pecado invadiu o território dos
homens, e também nos dá a única resposta para os males e as misérias que permeiam este nosso
mundo.
Resumo: A queda do ser humano foi ocasionada pela tentação da serpente, que semeou
na mente de nossos primeiros pais a desconfiança e da incredulidade. Ainda que, sem dúvida, o
propósito da serpente tenha sido o de fazer Adão cair, ele se dirigiu a Eva provavelmente pelas
razões que se seguem: a) Ela não era a cabeça do pacto e, portanto, não teria o mesmo sentido de
responsabilidade; b) Ela não havia recebido o mandato de Deus diretamente, mas de forma
indireta, através de Adão e, por conseguinte, seria mais suscetível ao argumento da dúvida; c)
Com segurança ela seria o agente mais eficaz para chegar ao coração de Adão.
Assim, portanto, deu-se a história da queda do homem, o inicio do pecado no mundo.

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CAPÍTULO VIII

A TRANSMISSÃO DO PECADO
O pecado original (que é a culpa e a conseqüente corrupção) tem sido a experiência de
todos os homens. Tanto a Biblia quanto a experiência humana têm mostrado a universalidade do
pecado. Segundo a Escritura, a origem disto tudo está na queda de Adão. Neste capitulo vamos
ver qual é a conexão que há entre o pecado de Adão com o da humanidade em geral.
E pensamento geral entre os Reformados a teoria da imputação. As palavras usadas nas
línguas originais que são traduzidas como ―imputação‖, são bo$:xay (Sl 32.2 do verbo hebraico
b$x)) e logi/shtai (Rm 4.8 do verbo logizomai ).105 A imputação é o método de Deus para explicar a
conexão do pecado de Adão com os nossos pecados, mas nem todos os cristãos têm concordado
nesta matéria.
Diferentes conceitos têm surgido no decorrer da história da igreja a respeito de como a
culpa de Adão passou até nós.

CONEXÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DA


POSTERIDADE
A. OS QUE NEGAM ESTA CONEXÃO
Houve alguns movimentos na história da igreja que tentaram negar a conexão entre o
pecado do primeiro pai e os pecados dos seus descendentes. A negação é total no primeiro grupo
e parcial no segundo e terceiro.

1) Os Pelagianos
Pelágio, monge inglês do séc. IV, adversário teológico de Agostinho, partiu do
ponto-de-vista da habilidade natural do homem. Seu axioma fundamental é: ―Deus mandou o
homem fazer o que é bom; disto, deduz-se que o homem deve ter a capacidade de fazê- lo.‖ Isto
quer dizer, na teologia de Pelágio, que todos os homens possuem o livre arbítrio, ou seja, a
vontade livre no sentido absoluto da palavra, de tal forma que é possível para eles irem tanto para
o mal quanto para o bem, como resultado da sua constituição natural. Na verdade, dentro do
conceito pelagiano, o homem é um ser moralmente neutro. Ele não tem tendência alguma. A
decisão do homem não depende do seu caráter moral, visto que a vontade do homem está
inteiramente
bem ou o mal,indeterminada tanto de de
dependerá unicamente dentro como delivre,
sua vontade fora.isto
Sejaé, odaque for quemoral
natureza o homem faça,
neutra o
dela.
Os atos bons ou maus são ações soltas do homem, não estão vinculadas à natureza moral do
homem. O pecado consiste de atos independentes ou soltos da sua vontade. A vontade não tem
conexão com o coração do homem. E nesse sentido que ele entende vontade livre. E a
independência da vontade. Não há uma natureza pecaminosa no homem que o leva a pecar. O
pecado é sempre uma escolha deliberada do homem, e ele peca porque ele resolve imitar Adão
que pecou. Segue-se, portanto, que Adão não foi criado num estado de verdadeira santidade, mas

105 Ver também 2 Co 5.19; Gl 3.6; Tg 2.23.

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em um equilíbrio moral. Sua condição era de neutralidade moral. Não era bom nem mau,
portanto, não possuía caráter moral. Escolheu livremente a carreira do mal, mas isto não fez que
seus descendentes nascessem pecaminosos.
Para o pelagianismo, não há nenhuma conexão entre o pecado de Adão e os pecados dos
descendentes. Não há o pecado original. As crianças nascem num estado de neutralidade,
começando exatamente onde Adão começou, exceto no sentido em que estão numa situação de

desvantagem,
resolvem imitarpois já nascem
Adão e, como com maus exemplos
conseqüência, ao de
o hábito seupecar
redor.
vaiOs
sehomens hoje pecam porque
formando.
O conceito de livre arbítrio de Pelágio , em algum sentido, foi tirado de um livro apócrifo
das Escrituras, o livro de Eclesiástico, que tem dado margem a alguns eruditos posteriores,
inclusive, Erasmo de Roterdã, a formularem sua teologia libertária.
Pelágio defendeu um libertarismo muito extremo. Ele creu que

―todo infante vem ao mundo na mesma condição que Adão estava antes da
queda. Seu princípio principal era que a vontade do homem era absolutamente
livre. Daí, segue-se que todos têm o poder, dentro deles mesmos, para crer no
evangelho tanto como para guardar perfeitamente a lei de Deus.‖ 106 

tem quePelágio ―vê a liberdade


ser buscada humana
na Escritura como um
Sagrada. E dom de Deus.passagem
a conhecida Portanto, adeprova
Ecclidesta
XV, liberdade
17107 que
proporcionou a Pelágio a mais exata definição da liberdade da vontade.‖  Comentando sobre 1
108

 Tm 2.4 –   ―…que deseja que todos os homens sejam salvos‖, Pelágio diz:  ―Disto é provado que
Deus não força ninguém a crer, nem que Ele tira a liberdade da vontade.‖ 109 Agostinho cita
Pelágio em sua obra On the Grace of Christ, capítulo XXIV: ―O homem que se apressa para o
Senhor e deseja ser dirigido por Ele, que faz sua própria vontade, depende do Senhor, que além
disso, apega-se tão proximamente ao Senhor tornando-se (como diz o apóstolo), ‗um espírito com
Ele‘, faz tudo isto por nada mais do que pela liberdade da vontade.‖ 110  ―Livre Arbítrio‖ era o
principal tema de Pelágio, e ele determinou a totalidade de seu sistema teológico nas áreas de
antropologia e soteriologia.111 

106  David N. Steele, The Five Points of Calvinism , Philadelphia: Presbyterian and Reformad
Publishing107 Company,
Eclesiástico1967), p. 20.
15.14-18 (que diz: ―Ele mesmo fez o ser humano no princípio e, então, deixou-o livre
para fazer suas próprias decisões. Ele lhe deu mais os seus mandamentos, e os seus preceitos; se tu
quiseres observar estes mandamentos, e guardar sempre com fidelidade o que é do agrado de Deus, eles te
conservarão. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: lança a tua mão ao que quiseres. Diante do homem estão
a vida e a morte, o bem e o mal: o que lhe agradar, isso lhe será dado.‖) dá a base para muitos escritores
formularem sua concepção de livre-arbítrio. Juan P. Valero diz: ―Pelágio é um dos primeiros escritores
eclesiásticos, sem se exceptuarem Tertuliano e Orígenes, que se utilizou desta passagem como fundamento
da liberdade do homem "Las Bases Antropologicas de Pelagio, (Madrid, Publicaciones de La Universidad
Pontificia comilías, 1980), p. 315.
108 Ibid.
109 Alexander Souter. The Earliest Latin Commentaries on the Epistles of St. Paul, (Oxford: At the
Clarendon Press, 1927), p. 224.
110 Whitney J. Oates. (Editor) Basic Writings of Saint Augustine, vol. 1, (New York, Random House
Publishers, 1948), p. 599. Neste capítulo On the Grace of Christ , Agostinho cita diversas vezes o pensamento
de Pelágio sobre as capacidades da vontade livre do homem.
111  No século IV uma lista de erros pelagianos, que foi parte do credo Pelagiano, havia sido
apresentada pelo diácono Paulinus de Milão, em sua acusação a Celéstio, diante de Aurelius, bispo de
Cartago: 1) ―Adam mostalem factum, qui sive peccaret sive non peccaret, moriturus esset.‖ (De gestis
Pelagil, 11); 2) ―Quoniam peccatum Adae ipsum solum laeserit et non genus humanum.‖ (Ibid); 3) ―Quoniam
lex sic mittit ad regnum quemadmodum evangelium.‖(Ibid); 4) ―Quoniam ante adventum christi fuerunt
homines sine peccato.‖(Ibid); 5) ―Quoniam infantes nuper nati in illo statu sint, in quo Adam fuit ante
praevaricationem.‖ (Ibid); 6) ―Quoniam neque per mortem vel praevaricationem Adae omne genus hominum
moriatur, neque per resurrectionem Christi omne genus hominum resurgat.‖ (Ibid). (Chisholm. The
Pseudo-Augustinian Hypomnesticon Against the Pelagians and Celestians, p. 6-7).

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Os modernos pelagianos foram ressuscitados especialmente no tempo de Jean J.


Rousseau, que dizia que as crianças são uma espécie de tabula rasa, ou um papel branco, que vai
se sujando ou manchando pela influência externa.
Vejamos este ensinamento colocado numa forma mais sistemática:
 —   Pelágio enfatizou a plena liberdade da vontade, a vontade como independente das
outras faculdades da alma humana. A vontade possuía plena liberdade para querer e para fazer.

O princípio
 —  Ode Pelágio
pecado era: ―Se portanto,
consistia, eu devo, eu posso‖. 
somente na escolha deliberada do mal. Ele pressupõe o
conhecimento daquilo que o mal é, mas o homem tem poder de escolhê-lo ou de rejeitá-lo.
 —   Não há pecado original, ou corrupção herdada. Todos os homens são nascidos na
mesma condição em que Adão foi criado.
 —  O pecado de Adão é apenas um mau exemplo que foi seguido por seus descendentes;
Pelágio negou que houvesse qualquer conexão de relação causal entre o pecado de Adão e o da
raça, ou que a morte tenha sido a pena do peado. Adão morreu por causa da constituição da sua
natureza, e isto aconteceria mesmo que ele não houvesse pecado.
 —  Adão não foi o representante da raça humana, nem o seu cabeça.
 —  Como o descendente de Adão vem ao mundo sem a contaminação do pecado, ele tem
pleno poder para fazer tudo o que Deus quer, inclusive viver sem pecar. Ele tem a possibilidade
de não pecar. Alguns pelagianos ensinaram que alguns homens não precisavam orar:
―Perdoa-nos as nossas dívidas‖. 
 —   Uma conseqüência do ensino de Pelágio foi que ensinou-se que o homem poderia ser
salvo sem o evangelho. Com a vontade plenamente livre, ele poderia obedecer perfeitamente a lei
de Deus e ser salvo, e ter vida eterna. A única diferença é que, debaixo da luz do Evangelho, esta
perfeita obediência é tornada mais fácil.
 —   Pelágio nega a necessidade da graça como nós a entendemos, como a atuação
sobrenatural do Espírito Santo. Ele crê na graça, mas com uma outra conotação. Graça,
portanto, para Pelágio, e entendida como cada coisa que deriva da bondade de Deus. Nossas
faculdades naturais como a razão, o livre-arbítrio, revelação da verdade, etc., é que são a graça
divina.

2) Os Semi-Pelagianos
O Semi-Pelagianismo é a doutrina dos católicos-romanos desde o tempo em que a
igreja se posicionou entre Agostinho e Pelágio.
Após a controvérsia Agostinho-Pelagiana, a igreja cristã decidiu tomar um posição
mediana. Ela evitou os pontos extremos de Pelágio e de Agostinho. Esta posição é historicamente
conhecida como Semi-Pelagianismo que tomou elementos de ambos. Segundo George Smeaton,
 João Cassiano (A.D. 360-435), um contemporâneo de Agostinho,

foi o fundador dessa posição mediana, que veio a ser chamada


SEMI-PELAGIANISMO, porque ela ocupou um terreno intermediário entre
Pelagianismo e Agostinianismo, e tomou elementos de ambos. Ele reconheceu que
o pecado de Adão estendeu-se a sua posteridade, e que a natureza humana era
corrompida pelo pecado original. Mas, por outro lado, ele sustentou um sistema de
graça universal para todos os homens igualmente, fazendo com que a decisão final
no caso de cada indivíduo fosse dependente do exercício do livre arbítrio.112 

Cassiano, como Agostinho, viu a universalidade da graça, mas

112 TheDoctríne of lhe Holy Spírít, (Edinburgh: T & T Clark, 1889), p. 338. N.P. Williams in The Grace
of God, (London: Hodder and Stoughton, 1966) pensa que ―seria mais justo descrever o sistema que
Cassiano advogou como ―Semi-Agostinianismo‖‖, porque Williams pensa que Cassiano crê em muitas coisas
a respeito do pecado original, como Agostinho, e Cassiano discordou somente sobre a "Irresistibílidade da
graça, que torna a vo1ição humana um mero modo dá auto-expressão da vontade divina.‖ (p. 54)

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ele casa isto com uma certa admissão do poder cooperador da vontade livre do
homem. Isto se aplica mesmo à graça primeira, a graça da conversão... Para
Agostinho a primeira graça é estritamente preveniente, para Cassiano ela é, como
as outras graças, cooperante. 113 

Ele diz em suas Collationes que a graça cooperante vem ―ajudar as fracas aspirações e
veleidades que são espontâneas ou movimentos não-causados da vontade humana.‖ 114  A
conclusão óbvia deste pensamento é que Cassiano não cria numa real depravação da alma
humana como o fez seu contemporâneo Agostinho. Sua concepção ―do estado presente da
natureza humana caída é perceptivelmente mais suave do que aquela sustentada por Santo
Agostinho.‖115 
Agostinho, que havia sido vitorioso em sua controvérsia com Pelágio, não teria ficado
satisfeito com o caminho que a igreja tomou posteriormente. Um voluntarismo libertário triunfou
na teologia do Semi-Pelagianismo. A graça de Deus vinha conforme os méritos dos homens, isto
é, de acordo com o bom uso ou com a melhora correta dos poderes naturais da vontade livre,
mesmo embora o Semi-Pelagianismo tenha sido condenado pelo Sínodo de Orange (A.D. 529)116,
presidido pelo bispo de Arles, um teólogo agostiniano. O sumário da doutrina de Orange sobre a
capacidade do homem está asseverada na afirmação concludente como apêndice aos Cânones:
Isto nós devemos ambos pregar e crer - que através do pecado do livre arbítrio
do primeiro homem foi tão deformada e atenuada, que daí por diante nenhum
homem pode mesmo amar a Deus como ele deve, ou crer em Deus, ou apresentar
qualquer boa obra em nome de Deus, amenos que a graça da misericórdia divina
tenha se antecipado nele. 117 

Muitos teólogos, contudo, não têm dado atenção nem a sã   doutrina nem à condenação
pronunciada por Orange. Eles minimizaram a posição de Orange sobre a queda e as
conseqüências que foram óbvias: eles tiveram uma atitude benevolente em relação ao homem
não-regenerado, o que tornou fácil crer em qualquer espécie de liberdade da determinação,

ambos, OdaSemi-Pelagianismo,
influência externa e,com
especialmente,
sua teologiada interna. cruzou todos os períodos da igreja
sinergista,
cristã. Ele ganhou muitos seguidores, visto que esta é a posição da igreja de Roma até hoje,
mesmo embora ela não o declare oficialmente.
O voluntarismo libertário teve seu grande campeão na pessoa de Duns Scotus, perto do

113 Williams, p. 57.
114 Collationes  XIII,
II (citado por Williams, p. 58).
115 Williams,
p. 58.
116 Alguns Canones de Orange que condenaram o Semi-Pelagianismo mostram a teologia em vigor
naquela época na Igreja Crista: ―Se qualquer um afirma que a totalidade do homem, alma e corpo, não tem
sido corrompida pela transgressão de Adão, mas que o corpo somente esta sujeito a corrupção, enquanto a
liberdade da alma permanece intacta, que tal pessoa, seduzida pelos erros de Pelágio, contradiz a Escritura
que diz: ―A alma que pecar, essa morrera.‖; ―4) Se qualquer homem afirma que Deus espera   pela nossa
vontade de tal forma que nós podemos ser eximidos de pecar, e que não confessa que é devido a infusão e
operação do Santo Espírito sobre nós que nós desejamos ser limpos, ele resiste ao Espírito Santo...‖; ―6) Se
qualquer homem afirma que a misericórdia é comunicada a nós quando, sem a graça de Deus, cremos,
decidimos, desejamos, nos esforçamos, observamos e trabalhamos, oramos, procuramos e batemos, e que
não confessa que é pela inspiração e infusão do Espírito de Deus que nós cremos, desejamos.... - que
meramente afirma que a ajuda da graça é acrescentada à humildade e obediência do homem...‖; ―7) Se
qualquer homem afirma que pode, pela força da natureza, pensar qualquer coisa boa pertencente a salvação
da vida eterna.. .ou escolher ou consentir diante da pregação evangélica salvadora, sem a iluminação e
inspiração do Espírito Santo, que dá a todos o doce sabor em consentir e crer na verdade, ele esta enganado
por espírito herético....‖ (See Smeaton, pp. 340-42, e Williams, pp. 63-65).
117 Williams, p. 66.

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final da Idade Média. Ele ―representa um estágio de transição no movimento de uma teoria do
apetite da volição humana para a teoria da causa eficiente.‖ 118 Duns Scotus escreveu:

―Qual é a fonte desta escolha determinada? Ela pode vir somente de um poder
distinto da razão que é capaz de escolher. Porque a razão não é um fator
determinante, visto que ela tem a ver com os opostos com respeito ao qual ela não
pode determinar a si mesma, muito menos determinar alguma coisa além de si
mesma… Propriamente falando, o poder executivo não está num poder
contraditório ao efeito que ele carrega, visto que ele é racional por participação.
Mas o sentido pleno de um poder pelos opostos é encontrado formalmente na
vontade.‖119 

E fácil perceber nesta citação o voluntarismo de Scotus. Toda determinação vem da


vontade sem qualquer ligação com os poderes intelectuais. A vontade tem a primazia sobre todas
as outras faculdades do homem e tem conotação libertária. Aqui o voluntarismo libertário de
Scotus triunfou sobre o intelectualismo em vigor em seus dias.
Com Duns Scotus o intelectualismo de Tomás de Aquino, que ensinou que a vontade é
um apetite racional, é ―descartado e substituído (durante o século XIV e até o tempo presente) na
maioria dos escritos dos filósofos e teólogos católicos.‖ 120  Uma nova ênfase foi posta nas
capacidades da vontade humana, mesmo embora não tenha sido uma volta completa aos ensinos
de Pelágio. Bourke diz que a teoria do ―livre-arbítrio‖ é basicamente Scotista. 121 Nada pode
causar a ação da vontade, exceto ela mesma. Como ele próprio diz: ―Nada além da própria
vontade é a causa total da volição na vontade.‖ 122  A senha de Duns Scotus é, portanto,
liberdade.123 Dessa forma, Berard Vogt concluiu corretamente um estudo das idéias de Duns
Scotus com estas palavras:

Assim, então, é a teoria da liberdade como esboçada por Duns Scotus. Ela é
dominada por sua alta consideração pela vontade como a rainha e a soberana das
faculdades do homem. De fato, sua característica distintiva e a sua defesa da
soberania e autonomia absoluta da vontade. 124 

Duns Scotus introduziu em sua teologia a

noção interessante de  prima indifferentía para explicar a condição inicial da


vontade quando ela está livre. O primeiro ato do entendimento não é livre, mas
uma vez que um objeto intelectual seja apresentado à vontade, a vontade é
indiferente (i.e., não determinado de qualquer modo) em direção a este objeto. A
vontade pode dirigir o intelecto para considerar este objeto ou outro, e a vontade
pode aceitá-lo ou rejeitá-lo.125 

Assim, o voluntarismo libertário do Semi-Pelagianismo ganhou a batalha contra o

118 J. Vernon Bourke. Will in Western Thought , (New York: Sheed and Ward, 1964), p. 84.
119 Duns Scotus, Duns Scotus on the Will and Morality , selected and translated with na introduction
by Allan B. Wolter, (Washington, D. C.: The Catholic University of America press, 1986), p. 161.
120 Bourke, p. 88.
121 Ibid.
122 Duns Scotus, ´quod nihil aliud a voluntate est causa totalis volitions in voluntate.‖ (Op. Ox. II,
25, q. 1, n.766), como está citado por Bourke, p. 98.
123  Josef Pieper. Scholasticism-Personalities and Problems of Medieval Philosophy, (New York:
Pantheon Books, 1960), p. 146.
124 Citado por Bourke, p. 88.
125 Ibid., p. 85.

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intelectualismo daquele período em diante, mesmo embora o intelectualismo tenha sido revivido
no período do neotomismo e no escolasticismo protestante. Mas a vontade nunca perdeu o seu
lugar de domínio porque isto foi fortemente favorecido pela tendência natural do homem. 126 E
natural para os seres humanos enfatizarem suas próprias capacidades espirituais. E natural
para eles desejarem ser participantes em sua própria salvação. Sinergismo, portanto, é o modo
natural dos seres humanos expressarem sua própria teologia.
Os Semi-Pelagianos,
incapacidade natural, mas queportanto, enfatizaram
não é responsável quede omaneira
por ela, homemque herdou
o homem de não
Adão uma
pode ser
culpado por ela. Portanto, não será condenado por causa dessa incapacidade natural. Alguns
chegam ao ponto de concluir que Deus, de alguma forma, está obrigado a proporcionar cura para
essa incapacidade.
Dentro do Semi-Pelagianismo do catolicismo, admitiu-se que a justiça original era um
dom sobrenatural, e que efeitos do pecado de Adão sobre a sua posteridade, foi a perda dessa
 justiça. A alma, portanto, é deixada no estado em que foi originalmente criada, com a justiça
natural. Os homens hoje nascem do modo como Adão foi originalmente feito: com a justiça
natural. O pecado original, então, não está ligado à perda da justiça original. Não há nenhuma
corrupção hereditária inerente, nenhum caráter bom ou mau. De acordo com o
semi-pelagianismo, a perda da justiça original é apenas  pena e não culpa.

3) Os Arminianos Consistentes 127 


Os arminianos consistentes são aqueles que ensinam quase a mesma coisa que o
semi-pelagianismo ensina dentro do catolicismo.
O próprio fundador do movimento que leva o seu nome, teve muita dificuldade de admitir
a idéia de que o nosso pecado tem conexão com o de Adão, manifestando enorme indecisão
quando tratou da matéria de imputação.

É passível de discussão se Deus poderia ficar irado por causa do pecado


original que foi nascido conosco, visto que pareceu ser inflingido sobre nós pelo
próprio Deus, como uma punição pelo pecado atual que havia sido cometido por
Adão e por nós nele. 128 

Nesse mesmo lugar Armínio fez a distinção entre o "pecado atual" e "a causa dos outros
 pecados". Fazendo isto, segundo Meeuwsen,129 Armínio quebrou a idéia da unidade adâmica.
Após analisar e citar os documentos dos Remonstrantes, Shedd assevera que

estes extratos são suficientes para provar que os teólogos Arminianos não
criam que a unidade entre Adão e sua posteridade, que eles asseveravam em sua
Confissão e Declaração, era de tal natureza que tornava o primeiro ato pecaminoso
de Adão, um ato comum da raça, e através disso justificam a imputação do pecado
original como verdadeira e propriamente pecado. Embora empregassem uma
fraseologia Agostiniana respeitando a conexão Adâmica, eles punham uma

126  Por tendências naturais eu quero dizer aquelas capacidades que o homem tem sem a
necessidade de um aprendizado especial. Faz parte do homem pensar o melhor de si mesmo, a menos que
ele seja o objeto da graça de Deus. O homem, sem a graça de Deus sobre si, nunca pensará
monergisticamente. Esta é uma tendência do pensamento do homem desde o começo dos estudos
teológicos. Somente uma compreensão correta da graça de Deus dá ao homem o senso de um monergismo
soteriológico.
127 Eu uso a expressão ―Arminianos Consistentes‖ porque há aqueles que são inconsistentes na sua
teologia, afirmando o livre-arbítrio, mas ao mesmo tempo a fé como um Dom de Deus, o que quebra a
harmonia deles. Este é apenas um exemplo.
128 Arminius, The Writings…, vol. 1, pp. 374-74.
129 Meeuwsen.

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interpretação diferente daquela que é encontrada nos símbolos de ambas as


tradições, Luterana e Reformada. A objeção deles à doutrina de que o pecado
original é a culpa, procede da suposição de que o ato de apostasia de Adão foi
puramente individual, e que a posteridade não estava no progenitor em nenhum
sentido real como a fraseologia de suas próprias afirmações doutrinárias
implicariam, se tomadas em sua aceitação estrita e literal. 130 

Por esta razão, George Curtiss diz que

como relação ao pecado original, Armínio ensina que o homem, descendendo


de Adão, foi corrompido pelo pecado de Adão, mas não é culpado. Adão foi tanto
culpado como corrupto. Ninguém jamais estará na condição de perdição por causa
da transgressão de Adão, mas todos estão na escravidão da corrupção, por causa
do cabeça federal da raça. 131 

Eu não estou absolutamente certo de que a opinião de Curtiss encaixa exatamente na


própria teologia de Armínio, porque ele não foi claro na sua exposição, e ele não deu nenhuma
explicação dos termos que ele empregou. Todavia, esta observação de Curtiss certamente está
bem de acordo com a teologia dos seguidores de Armínio.
Os teólogos Remonstrantes negaram, em sua antropologia, qualquer conexão federal real
entre Adão e sua posteridade de tal modo, que não pode haver qualquer imputação do primeiro
ato de Adão à raça. O pecado de Adão não foi o pecado da raça, segundo a teologia dos
Remonstrantes, porque não havia nenhuma base Bíblica ou teológica para Deus imputar lhes o
pecado do nosso primeiro pai.
Episcopius, um dos formuladores da Confessio Remonstrantium, Arminiana, revelou suas
opiniões a respeito do pecado original na Apologia. Ele disse:

Os Remonstrantes não consideram o pecado original como é propriamente


chamado, que torna a posteridade de Adão merecedora do ódio de Deus; nem o
consideram como um mal que, pelo método de punição propriamente chamado
( per modo proprie dictae poenae ) passa de Adão para sua posteridade; . . Mas que o

pecado
disto —  original ( peccatum
que ele não ) não
originis 
é mal no sentido é um malem
de implicar em qualquer
culpa outro sentido
de abandono além
de punição
(malum culpae, aut malum poenae ), —  está claro.   132

Um pouco mais tarde, Episcopius continua:

―Mas não há nenhuma base para a asserção de que o pecado de Adão foi
imputado á sua posteridade, no sentido de que Deus realmente julgou a
posteridade de Adão como culpada e acusável do mesmo crime (culpa) e pecado
que Adão havia cometido. Nem a Escritura, nem a verdade, nem a sabedoria, nem
a benevolência divina, nem a natureza do pecado, nem a idéia de justiça e
eqüidade, permitem que seja dito que o pecado de Adão foi, assim, imputado á sua
posteridade. A Escritura testifica que Deus ameaçou punir a Adão somente, e
impô-la sobre que
não permitem Adãoo somente;
pecado deauma
benevolência divina,
pessoa seja Sua veracidade
imputado, e sabedoria,a
estrita e literalmente,

130 Shedd, pp. 185-86.


131 George L. Curtiss. Arminianism in History, (New York: Hunt and Eaton, 1894), p. 12. O termo
―federal‖ é relacionado com pacto. A palavra latina para pacto é foedus. Assim, ‗federal‖ é derivativo de
 foederatus confederado, uma parte no pacto. Uma conexão federal é o mesmo que uma conexão de pacto.
Ver Richard A. Muller. Dictionary of Latin and Greek Theological Terms, (Grand Rapids: Baker, 1985), pp.
119-22.
132 Citado por Shedd, pp. 181-82.

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uma outra pessoa.‖ 133 

Os Remonstrantes aceitaram a transmissão do pecado através da propagação. A


posteridade de Adão herda a sua condição maligna. Ela herda os efeitos da natureza caída, mas
não a imputação do pecado. A posteridade de Adão não é culpada por causa do pecado de Adão,
mas recebe a conseqüência de seu pecado, sendo a posteridade do pai da raça. Isto parece soar
igual à imputação do pecado, mas a teoria da imputação de Armínio parece ser
imputação somente no sentido em que Deus quis que os descendentes de
Adão fossem sujeitos ao mesmo mal ao qual Adão sujeitou-se através de uma
participação deliberada no pecado. E pecado somente na medida em que o mal é
permitido. Deus permite uma tendência má a ser imputada. Isto é a mesma coisa
que foi imposta sobre o primeiro homem como punição, mas que é transmitida à
sua posteridade na forma de um mal propagado, não como verdadeira punição em
qualquer sentido da palavra. 134 

Shedd assevera que, segundo o Arminianismo, ―não há qualquer base a asserção de que o
pecado de Adão tenha sido imputado à sua posteridade no sentido em que Deus realmente julgou
a posteridade de Adão como culpada dele, e acusada com o mesmo pecado e crime que Adão
havia cometido.‖135 
 Todos os Arminianos consistentes negam a imputação do pecado de Adão por três razões:
(1) Porque eles pensam que a doutrina da imputação é uma doutrina que rompe com os
princípios fundamentais da justiça eterna; (2) Porque eles dizem que a culpa pode ser atribuída
somente àqueles que pecam pessoal e voluntariamente; (3) Porque do conceito que eles possuem
de graça preveniente.

B. OS QUE AFIRMAM ESTA CONEXÃO


 Todos os sinergistas, de alguma forma, negam que haja conexão entre o pecado de Adão e
o da posteridade, mas todos os de tendência Luterana e Reformada afirmam essa conexão
inequivocamente, mas a diferença entre os Reformados está no processo que Deus usou para
estabelecer essa conexão. Há, pelo menos, três teorias nos círculos Reformados, que tem
vigorado até agora:

1) Todos os que Sustentam a Teoria Realista


O método primitivo para se  explicar a conexão entre o pecado de Adão com a culpa e a
corrupção de sua posteridade foi a teoria realista.
Segundo W.G. T. Shedd, ―o Realismo foi a filosofia adotada pela Igreja, quando ela
construiu as doutrinas da Trindade e do Deus-Homem. O traducianismo faz a mesma distinção
em antropologia. O homem foi originalmente uma única natureza humana que, por propagação,
tornou-se milhões de pessoas‖. 136 
O Realismo supõe que a humanidade, a natureza humana como principio geral ou uma
forma de vida, existe antecedentemente (cronológica ou logicamente) aos homens individuais. A
―humanidade (ou gênero humano) existe antes das gerações da humanidade. A natureza é
anterior aos indivíduos produzidos dela.‖ A natureza existe também independente e fora dos
indivíduos. A humanidade existe antes dos indivíduos e independentemente deles, como a
eletricidade existe mesmo antes dela ser coletada e usada.
Conforme os primitivos realistas, o indivíduo é somente um modus exístendi

133 Episcopius in his Apology Pro Confessione Remonstrantium, cap. VII, (Ibid., pp. 183-84).
134 Meeuwsen, p. 23.
135 Shedd, pp. 183-84.
136 W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology , vol. II, p. 77.

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obediência, mas o direito de desfrutar da vida eterna para si e para os seus descendentes, como
em caso de desobediência a culpabilidade para si e para toda a raça. Seria absolutamente óbvio
que Adão obtivesse a promessa de vida, se obedecesse, pois a ameaça de morte (―no dia em que
comeres, certamente morrerás‖) implica necessariamente no reverso. E como se Deus lhe
houvesse dito: ―Se não comeres, não morrerás e, certamente, poderás comer da árvore da vida,
como recompensa por tua obediência‖ (ver Gn 3.22). A promessa de vida incluía muito mais do

que
povo,simplesmente
uma comunhãonãoimperdível
morrer. Adão
comhaveria de ter
Deus, uma vida eterna,
qualidade aquilo
de vida que Cristo
superior à queveio
Adãodarpossuía,
ao Seu
mesmo quando não havia pecado, uma qualidade de vida que Adão teria, se houvesse obedecido
e comido da árvore da vida.
Os 6.7 diz que houve um pacto que Adão transgrediu e, fazendo isso, imergiu a si mesmo
e toda a raça na desgraça e miséria, sujeitando todos os homens ao estado de culpados e
merecedores do castigo divino.

―O fato de Adão ter permanecido como o cabeça da raça no relacionamento de


pacto, é demonstrado conclusivamente pelos males penais que vieram sobre seus
filhos, em conseqüência de sua queda. Da maldição terrível que cai sobre todos os
seus descendentes, somos compelidos a inferir a relação pactual que existia entre
ele e eles; porque o Juiz de toda a terra, sendo justo, nunca punirá onde não há
crime. ―Em Adão todos morrem‖ porque nele todos pecaram.‖ 140 
A culpa do pecado de Adão foi imputada a toda a sua posteridade. O princípio da
imputação permeia toda a Escritura. Se alguém age em favor ou em nome de outros, então estes
estão legalmente representados, e são também contados como responsáveis nos atos de quem os
representou, e sofrem as conseqüências da conduta dele, seja ela boa ou má.
Os teólogos Reformados, em geral, aceitam a teologia federal 141  mas há aqueles que
relutam aceitar o fato de que Deus estabeleceu um pacto com Adão142 no Éden. A teologia federal
é perfeitamente passível de ser sustentada, pois há diversos elementos na Escritura que nos
autorizam a elaborar uma teologia pactual que dá base para a representatividade de Adão.

c) Distinção de sentido nas Palavras JUSTO e INJUSTO


Algumas vezes essas duas palavras expressam o caráter moral das pessoas. Um homem
 justo é um homem reto, honrado, bom. Outras vezes, estas palavras expressam não
simplesmente o caráter moral, mas relação de justiça.
Nesse sentido, um homem justo é aquele com quem as demandas da justiça são
satisfeitas. Ele pode ser pessoalmente um injusto e legalmente  justo. Se isto não fosse assim,
nenhum pecador poderia ser salvo. Não há um crente na face da terra que não tenha sido
pessoalmente injusto, merecedor da ira de Deus. Sendo ele, portanto, injusto, Deus, através da
obra expiatória de Cristo, declara-o legalmente justo, não moralmente, à vista de Sua justiça.
Quando, portanto, Deus declara o injusto justo, Ele não o declara ser o que, na realidade,
ele não é, mas simplesmente declara que o débito dele, com relação à justiça, foi pago por Outro.
Portanto, quando é dito que o pecado de Adão é imputado à sua posteridade, não quer
dizer que a humanidade toda estava presente pessoalmente quando Adão pecou, ou que

140 A. W. Pink, Gleanings from the Scriptures , (chicago: Moody Press, 1977), p. 43.
141 O termo ―federal‖ vem de foedus , uma palavra latina que quer dizer ―pacto‖. A teologia federal é
a teologia do pacto.
142 O texto clássico usado como base para o estabelecimento do pacto de Deus com Adão está em Os
6.7, que diz: ―Mas eles transgrediram o pacto como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim.‖ -
Qual é a objeção deles? Eles não discutem o termo pacto, mas a expressão ―como‖ que eles insistem em
traduzir ―em‖ (que é uma tradução possível), para justificar o fato de que eles transgrediram o pacto num
lugar chamado Adão. Adão, portanto, não seria uma pessoa nesse caso, mas uma cidade, onde um pacto foi
estabelecido.

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haveria de vir. Adão é chamado o primeiro Adão, e Cristo é chamado o segundo Adão. 143 Adão
prefigura Cristo. Do modo como vemos os homens em Jesus Cristo, deveríamos vê-los em Adão.
Adão, quando tentado,  foi derrotado. Cristo, quando tentado, resistiu e venceu. O
primeiro foi amaldiçoado por Deus, e o último foi agradável a Deus. O primeiro foi a fonte do
pecado e da corrupção para toda a sua posteridade, mas o segundo foi a fonte de santidade para
todos os que pertenciam ao Seu povo. Através de Adão, a condenação veio, mas a redenção veio
através Em
de Jesus Cristo.Adão foi o tu/poj do Redentor? A palavra grega significa ―figura‖ ou ―tipo‖, e
que sentido
no significado escriturístico do termo, um tipo consiste de algo mais do que uma similaridade
causal entre duas pessoas, ou um paralelo incidental. Há algo mais que Deus queria nos
mostrar. E claro que desde a eternidade Deus preordenou que o primeiro homem deveria
prefigurar o Filho encarnado de Deus. Mas em que sentido? Certamente não na sua conduta. O
contexto de Romanos 5 torna claro que Adão se tornou o tipo de Jesus em uma posição oficial
que ele assumiu, isto é, como cabeça federal, como o representante legal de outros. Está claro de
Rm 5.12-19 que um age em favor (ou no lugar) de muitos, afetando o destino deles. O que um fez
é considerado a base judicial 40 para o que aconteceu a muitos. Como a desobediência e a culpa
de Adão trouxeram a condenação para todos que foram representados por ele, assim, a
obediência de Um, Cristo, garantiu a justificação de todos aqueles que foram representados por
Ele.
Assim,
eles foram a despeito
certamente de contraste de
representantes entre o tipo
dois e oOAnti-Tipo,
povos. Primeiro eles
Adãopossuíam algo em comum:
foi representante de cada
membro da raça, e o Segundo Adão foi o representante de cada membro do Seu povo. No primeiro
todos morrem, no segundo todos vivem; no primeiro todos são condenados, no segundo todos são
 justificados, a justificação que traz vida.
Rm 5.12-19 mostra que todos os membros da raça experimentam o fato de que eles são
culpados por alguma coisa que eles não fizeram pessoalmente. Em Adão nós ofendemos a Deus
em sua ofensa, e cometemos a transgressão em sua transgressão.

Rm 5.12  –   ―Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no


mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens
porque todos pecaram.‖ 

A luz do que aconteceu em Gênesis 3, é estranho que Paulo tenha dito que o ―pecado
entrou no mundo por um só homem‖, quando é dito na Bíblia que Eva foi o primeiro ser humano
a pecar. Por que Paulo não disse: ―Portanto, assim como por uma só mulher entrou o pecado no
mundo‖? A resposta é totalmente óbvia: porque o pacto foi feito com Adão. Ele era o
representante da raça humana, não Eva. Foi Adão que recebeu a ordem de Deus, não Eva. Por
esta razão aprendemos a respeito do ―pecado de Adão‖, não a respeito do ―pecado de Eva‖. Paulo
não tratou do pecado de Eva, porque ele estava tratando da matéria da representação neste texto.
Uma outra palavra importante neste verso 12 é a(marti/a (pecado). Aqui, ―pecado‖ não
significa o ato de desobediência pessoal de Adão ou a depravação com a qual os homens são
nascidos. Aqui ele significa culpa. Paulo está tratando de matéria judicial, não simplesmente
dum ato pessoal de Adão. Ele está tratando da ira de Deus que vem sobre todos os homens
porque todos eles são culpados. O texto diz que ―a morte passou a todos os homens porque todos
pecaram‖. Paulo não está tratando dos pecados pessoais deles, mas da culpa que todos têm em
Adão. Murray diz que quando Paulo diz que ―um pecou‖ e ―todos pecaram‖, ele se refere ao

143 Ver 1 Co 15.45-49. Adão foi chamado o ―primeiro homem‖ não simplesmente porque ele foi o
primeiro a ser criado, mas porque ele foi o primeiro a agir como representante legal da raça humana. Neste
sentido, segundo a teologia Reformada, ele é o representante no pacto das obras. Cristo é chamado o
―segundo homem‖, mesmo embora ele tenha vivido muitos milêni os mais tarde, porque Ele foi o segundo
homem a agir como um representante legal. Ele é também chamado ―o último Adão‖ porque não haveria de
haver nenhum outro pacto. Neste sentido, segundo a teologia reformada, Ele é o representante do Pacto da
Graça, fazendo o que o primeiro homem Adão não fez, no chamado Pacto das Obras.

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mesmo pecado visto em seu aspecto duplo: como o pecado de Adão, e com o pecado de toda sua
posteridade.144 E um assunto judicial.
―Assim também a morte passou a todos os homens‖. A morte é uma conseqüência penal
para pessoas culpadas. A meta principal de Paulo era mostrar a conexão entre Adão e sua
posteridade. Todos são considerados culpados por causa da transgressão de um só homem. Por
esta razão Paulo diz em 1 Co 15.22 que ―em Adão todos morrem‖. Eles morrem em virtude de sua
relação
estamospactual,
unidos aaAdão
uniãonolegal
mesmoentre Adãoem
sentido e aque
raça, a quem
vivemos ele representa.
porque Morremos
estamos unidos porque
a Cristo, pelo
mesmo processo de representação. Todos os homens vêm ao mundo sem pecados pessoais, mas
porque eles são representados em Adão, eles são nascidos culpados, debaixo da ira de Deus.
Cada ser humano, seja homem, mulher ou criança, é considerado culpado diante de
Deus. A base de nossa condenação está extra nos 145 , mesmo embora não devamos nos esquecer
de que a Escritura diz que o pecado de Adão é nosso pecado. 1 Co 15.22 diz que ―em Adão todos
morrem‖. Murray assinala 

que a morte é o salário do pecado (Rm 6.23) e que a morte não pode ser
concebida como existindo ou exercendo sua função à parte do pecado. Este é o
princípio Paulino: Quando ele diz que ―em Adão todos morrem‖ é impossível, sob
as premissas de Paulo, excluir a antecedência do pecado e o único modo no qual a
antecedência neste caso poderia obter, e que todos são concebidos dele são
considerados como tendo pecado nele. 146 

A corrupção interior e a alienação de Deus que nós experimentamos, são meramente a


conseqüência e não a causa de nossa condenação. A causa é o fato de nossa culpa em Adão.
Antes de qualquer ato pessoal, todos nós somos amaldiçoados pela lei de Deus. Visto que a morte
veio como resultado do ―pecado‖, porque o primeiro é a conseqüência penal do segundo, esta
sentença pode somente ser imposta sobre pessoas culpadas. Se a morte ―passou‖ a todos os
homens, é porque todos eles são culpados, todos deles participaram legalmente (judicialmente)
do pecado de Adão. A base de nossa condenação está extra nos no sentido de que nós não
pecamos voluntariamente nem pessoalmente em Adão.
Paulo afirma que ―a morte passou a todos os homens porque todos pecaram‖. As palavras
gregas e)f %( são costumeiramente traduzidas como ―porque‖, e os comentadores Arminianos, a
fim de negar a imputação imediata, usualmente tratam desta matéria dizendo que todos morrem
por causa de seus pecados pessoais, não porque eles estão representados em Adão. Godet não
toca na matéria da imputação, porque ele sustenta uma espécie de posição Arminiana. Ao invés
de tratar da imputação, ele diz que

a solidariedade dos indivíduos com o cabeça da primeira humanidade não se


estende além do domínio da vida natural. Aquilo que pertence à vida mais alta do
homem, sua existência espiritual e eterna, não é uma matéria de espécies, mas de
indivíduos.147 

Com isto, ele nega a doutrina da imputação. A única explicação para Godet, a respeito da
relação entre o indivíduo e a espécie é dizer que este ―é o mistério mais impenetrável na vida da

144 Murray, first article, p. 164.


145 Ambos, a base de nossa condenação (o pecado de Adão) e a base de nossa salvação (a obra de
Cristo) estão fora de nós ( extra  nos ). O processo é o mesmo. É obvio que Jesus Cristo também morreu por
nossos pecados atuais, e aqueles que não crêem em Cristo já estão condenados também por seus pecados
pessoais, mas a culpa de Adão imputada aos homens é bastante para condená-los.
146 John Murray. ―The Imputation of Sin‖, third article, The Westminster Theological journal , 19,
(May 1957), p. 168.
147 Frederic Louis Godet, Commentary on Romans , (Grand Rapids: Kregel Publications, 1977), p.
209.

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natureza.‖148 Alguns outros comentadores, incluindo Calvino, tendem a interpretar este verso


dizendo que todos morrem por causa de sua corrupção natural. Eles enfatizam a corrupção mais
do que a culpa.149 Outros comentadores adotam uma idéia realista-traducianista, como já vimos
anteriormente.150 
A razão pela qual todos morrem é que todos pecaram. Novamente, Paulo não está levando
em conta os pecados individuais deles, mas o pecado deles em Adão. A fim de provar isto, não
precisamos traduzir e)f %( como ―em quem‖, do modo como alguns escritores antigos fizeram. 151 
A idéia de imputação está clara neste texto.
O que Paulo tem em mente é a idéia de um homem. Corretamente Godet assevera: ―Deve
ser permitido que a idéia de di e(no\oj a)nqrw/pou, ―por um só homem‖, com que o verso começa,
controla assim a mente do apóstolo, de tal forma que ele não vê necessidade de repeti-la
expressamente‖. 152  A idéia de um homem controla o pensamento de Paulo através de seu
argumento todo. Ele quer enfatizar a idéia de representação. Mesmo embora Paulo creia que os
homens sejam culpados por causa de seus pecados pessoais, ele não está dizendo neste texto que
―todos os homens‖ tenham pecado pessoalmente, mas representativamente. A maldição da lei cai
sobre eles, não (somente) porque eles sejam pessoalmente  pecaminosos, mas porque
eles são (também) federalmente culpados, quando o cabeça de pacto deles
pecou.Se aceitamos a crença de que a ―morte‖ é o resultado de nossos pecados pessoais (o que se
pode dizer a respeito da morte das criancinhas no ventre de suas mães?), nós destruímos a idéia
de que Adão era o ―tu/poj ‖ dAquele que haveria de vir mais tarde. Se todos morrem porque eles
pecaram pessoalmente, deveria eu crer que todos vivem porque ele são justos pessoalmente?
Absolutamente, não! E fácil observar em Cristo o mesmo princípio de representação. Se todos nós
fomos salvos é porque todos estávamos representados em Cristo; do mesmo modo todos os
homens morrem porque eles estão representados em Adão.
O principio da representação está claramente expresso neste texto. Isto forma a base para
a imputação do pecado. O método de imputação controla, em algum sentido, a antropologia
cristã e a soteriologia. Vejamos: O pecado de Adão é imputado a nós; nossos pecados são
imputados a Cristo; e a justiça de Cristo é imputada a nós. O principio é o mesmo nos três
exemplos.
Se continuamos na análise deste texto pode ver o mesmo principio ilustrado:
Rm 5.16  —   ―O dom, entretanto, não é  como no caso em que somente um
pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a
graça transcorre de muitas ofensas, para a justificação.‖ 

Apenas uma ofensa cometida por um homem traz condenação, uma sentença judicial, que
significa ―morte‖ ou ―condenação‖. O contraste é que Jesus Cristo morreu não simplesmente por
aquela única ofensa, mas também morreu por muitas ofensas, nossos pecados pessoais, que
tiveram o seu nascedouro naquela única ofensa. O que Paulo está dizendo aqui é que não há
necessidade alguma de pecados pessoais para que sejamos condenados, mesmo embora Deus
também condene os homens por causa de seus pecados pessoais. O pecado de Adão, a única

148 Ibid.
149  Calvinodiz: ―Todos nós, portanto, temos pecado, porque todos estamos revestidos de uma
corrupção natural, e assim nos tornamos pecaminosos…‖ (Commentary upon the Epistle of Saint Paul to the
Romans, Edinburg: printer for the Calvin Translation Society, 1844), p. 135. Ver também, Robert Haldane,
Commentary on Romans , (Grand Rapids: Kregel Publications, 1988 edition), p. 216.
150  Ver W. G. T. Shedd, Critical and Doctrinal Commentary upon the Epistle of St. Paul to the
Romans , (New York: Charles Scribner‘s Sons, 1879), pp. 127-28.
151  A Vulgata traduz ―in   quo ‖ (em quem) e assim também fizeram Palágio e Agostinho. Outros
teólogos Reformados, como Beza e Owen, também traduziram a expressão grega acima como sendo
equivalente a ―em quem‖. 
152 Godet, p. 208.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 108

ofensa, é o bastante. Mas a nossa salvação transcorre de ―muitas ofensas‖. 

Rm 5.17 —  ―Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito
mais os que recebem a 8hundáncia da graça e o dom da justiça, reinarão em vida
por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.‖ 

Ambos,
sobre todos a morte por
os homens, e a vida,
causavem atravésdedeAdão.
do pecado um sóO homem.
texto diz A ―morte‖
que é areinou‖
a ―morte sentença
porjudicial
causa
de apenas uma ofensa. De um lado, todos os homens morrem porque eles receberam a
imputação da culpa. Do outro lado, se todos vivem, é por causa do ato de um só homem, Jesus,
que traz vida. Isto é também imputação, mas de justiça, porque para nós ela é o ―dom da justiça‖.
O modus operandi de Deus é o mesmo em ambas, a condenação e a justificação.

―O uso da linguagem de imputação, não é por imputação mediata que os


crentes entram em posse da justiça de Cristo na justificação. Seria contraditória
da doutrina da justificação de Paulo, supor que a justiça e obediência de Cristo se
tornassem nossas para a justificação por causa da santidade que é comunicada a
nós da parte de Cristo ou que a justiça de Cristo é mediada a nós através da
santidade gerada em nós pela regeneração. A única base sobre a qual a imputação

da justiça
pessoa de Cristoé se
justificada torna nossa
constituída é a pela
justa uniãoobediência
com Cristo.
deEm outras
Cristo, porpalavras:
causa da a
solidariedade estabelecida entre Cristo e a pessoa justificada. A solidariedade
constitui o laço pelo qual a justiça de Cristo se torna a do crente.‖153 
E justo dizer que o mesmo em relação a Adão e sua posteridade. A solidariedade entre ele
e toda a raça é a base para a imputação do pecado. Ambos os atos, o de Adão e o de Cristo, são
imputados, isto é, eles são transferidos de uma pessoa para as outras. O mesmo principio está
evidente nos versos 18 e 19.
Nesta passagem de Paulo, portanto, podemos ver o princípio da representação e a
imputação conseqüente, em ambos os aspectos enfatizados nela: condenação e salvação. Nele
podemos ver a velha humanidade em Adão, e a nova humanidade em Cristo. Nele estão presentes
as duas principais personagens da história humana: Adão e Cristo, símbolos da desobediência e
da obediência, representantes de dois pactos, o das obras e o da graça.

O Princípio da Representação na Escritura

O princípio representativo pervade toda a Escritura. A imputação do pecado de Adão não


um fato isolado. Ele é somente uma ilustração de como Deus trata os outros assuntos. Vejamos
alguns exemplos do princípio da representação que tornam possível a imputação:
 —  Por causa de Esaú, no caso do direito da primogenitura, toda a sua descendência ficou
fora das promessas do pacto (Gn 25.27-34). Jacó recebeu os benefícios de filho mais velho, e sua
descendência foi abençoada, enquanto que a de Esaú ficou fora dos privilégios pactuais (Gn 27).
 —   Os filhos de Moab e Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre,
porque seus ancestrais se opuseram aos israelitas quando eles saíram do Egito (Dt 23.3-4).
 —   Por causa do pecado de Acã, toda a família, inclusive as criancinhas, foi morta (Js
7.24-26).
 —  Por causa dos pecados de Coré, Datã e Abirão, pereceram muitas pessoas, sobretudo
mulheres e crianças. Deus imputou a culpa dos lideres nos liderados (Nm 16.22-33).
 —  Por causa da maldade dos pais, as gerações dos filhos, especialmente os pequeninos de
peito, sofrem as conseqüências (Dt 32.18-25).
 —   Por causa do pecado de Davi com Batseba e Urias, Deus disse: ―Agora, pois, não se

153 Murray, third article, p. 169.

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notar que a doutrina da imputação do pecado de Adão é mais clara no Catecismo Maior e Breve
do que na própria Confissão de Fé de Westminster.
Objeções:
(a) A corrupção é uma espécie de punição de Deus. Portanto, para que haja punição é
necessário primeiro, que haja culpa. A culpa precede a punição. A depravação (ou morte
espiritual) é a punição de Deus. Então, a imputação do primeiro pecado de Adão precede a

depravação,
(b) Seeessa
não teoria
é a conseqüência dela. deveria ensinar a imputação mediata dos pecados de
fosse consistente,
todas as gerações anteriores àquelas que lhes seguiram, porque a corrupção transmite-se por
meio de geração ordinária.
(c) Se a corrupção inerente que está presente nos descendentes pode ser considerada
como o fundamento legal para a explicação de alguma outra cousa, já não há necessidade de
qualquer imputação mediata.

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CAPITULO IX

AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA VIDA DA RAÇA


HUMANA

Ninguém poderá encontrar a chave do mistério da miséria humana se não recorrer aos
ensinos das Sagradas Escrituras. Nenhuma ciência humana haverá de dar respostas às mais
cruciais perguntas feitas sobre a condição em que vive o ser humano desde que dele se tem
notícia da história. Se quisermos ter respostas, haveremos de encontrá-las somente na revelação
divina como
O queregistrada
aconteceunadoBiblia.
Éden é chave para entendermos a condição atual do homem. Neste
capítulo estudaremos sobre as terríveis conseqüências do pecado para Adão e para a sua
posteridade. Adão é considerado na Escritura o protótipo de toda a humanidade, e seu pecado
está intimamente relacionado com a sua descendência, pois ele agiu, não como um homem
particular, mas como o representante da raça, por causa da sua relação pactual. Se Adão não
houvesse sido o cabeça representativo da raça, os nossos pecados atuais não teriam qualquer
relação com Adão, apenas uma simples imitação, como pensam os pelagianos. Mas a Escritura
trata deste assunto muito seriamente, e não podemos fechar os olhos ao que ela nos diz.
As conseqüências do pecado para ele e para a sua posteridade:

1. CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃO


A Confissão de Fé de Westminster diz da conseqüência do pecado dos primeiros pais para
eles próprios:

―Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com
Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em
todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma‖ (V, ii). 

Consideraremos aqui apenas as conseqüências imediatas do pecado na vida de nossos


primeiros pais. A ofensa de Adão não deve ser medida pelo ato externo de comer do fruto
proibido, mas pela afronta terrível que foi feita à Majestade de Deus.
Nesse único pecado de nossos primeiros pais houve uma ramificação de crimes: Houve
ingratidão contra Aquele que os havia abençoado e capacitado para exercer a grande obra de
cuidar de toda a criação; houve incredulidade na verdadeira palavra de Deus que havia sido
claramente dirigida a Adão, e uma certa crença na palavra de Satanás; houve o repúdio das
obrigações impostas por Deus; houve insatisfação pelo modo como Deus os havia feito; houve o
orgulho em querer ser igual ou maior do que Deus; houve um desafio à solene ameaça de Deus;
e por fim, a desobediência que foi a reta final do pecado de nossos primeiros pais.
Segundo o que a Escritura indica, Adão pereceu por causa do seu pecado. Não
compartilho da idéia popular de alguns teólogos de que o Senhor salvou a Adão após a queda.
Não há qualquer base escriturística para se afirmar tal cousa. Muito ao contrário. As Escrituras,

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todas as vezes que se refere a Adão, tem uma palavra negativa de sua atitude. 154  Não há
nenhuma palavra elogiosa a ele, ou qualquer menção de seu arrependimento, muito menos o
registro de uma confissão sua. A contrário, quando acusado, tentou desculpar-se, colocando a
culpa na sua esposa. Nada na Escritura dá qualquer crédito a Adão, ou que ele tenha recebido a
misericórdia de Deus.
Vejamos agora, a análise do texto de Gênesis que é chave para a compreensão dos

resultados imediatos do pecado na vida de nossos primeiros pais.


Análise de Gn 3.7-24155 
Quando Deus colocou Adão do Éden, ele parecia ser cheio de veneração para com seu
Criador, e parecia amá-lo pelo que Ele lhe havia dado. Mas parece-nos, esse estado de
bem-aventurança não durou muito tempo. 156 Sua vontade que havia sido sujeita ao Criador,
agora se rebela inexplicavelmente. Sua constituição moral ficou altamente prejudicada, com
tendência para a perversão. A vida de comunhão com Deus havia sido perdida. E isto que fica
evidente dos versos que vamos analisar:
1) O primeira conseqüência da transgressão dos nossos primeiros pais foi: tiveram a
consciência culpada, e um senso de vergonha se apoderou deles.

Gn 3.7 —  ―Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam


nus...‖ 

Não percebemos mudança qualquer quando Eva comeu do fruto, mas quando Adão o
comeu, diz a Escritura que os ―os olhos de ambos foram abertos‖. Isto nos dá uma base bem forte
para mostrar que o pacto havia sido feito com Adão. Ele era o cabeça, e dele Deus cobra o pecado.
Adão era o representante legal de sua esposa, tanto quanto dos futuros filhos que viriam deles. E
por isso que até hoje conhecemos esse pecado como ―o pecado de Adão‖, não como ―pecado de
Eva‖. 
O que significa ter os olhos abertos? Certamente aqui não se refere aos olhos físicos,
porque estes já estavam previamente abertos. Mas o texto se refere aos olhos do entendimento, ou
os olhos da consciência, que vêem, percebem, acusam e castigam.
O resultado de comerem o fruto proibido não foi a aquisição da sabedoria sobrenatural,

como Satanás
situação havia dito (v.5), mas foi a descoberta triste de que haviam sido reduzidos a uma
de miséria.
Agora perceberam que estavam ―nus‖, que tem um sentido bem diferente de Gn 2.25. Os
olhos deles ―foram abertos‖ e seria de se esperar que o texto dissesse: ―e viram eles que estavam
nus‖, mas ao invés disso o texto diz: ―e  perceberam que estavam nus‖. Este verbo demonstra algo
mais do que simplesmente nudez física. O verbo ―perceber‖ aqui dá o sentido de ―sentir‖. Como a
abertura dos olhos se refere ―aos olhos do entendimento‖ (ou ―da consciência‖), concluímos que
eles discerniram o sentido de estarem ―nus‖. Eles perderam a sua inocência. Há a nudez da alma
que é muito pior do a de um corpo sem roupa, porque ela incapacita o homem de perceber a
presença de Deus. A nudez de Adão e Eva foi a perda da justiça original da imagem de Deus. Tal
 
é a condição em que todos os humanos são nascidos depois deles. E por isso que as Escrituras
falam sobre as ―vestiduras brancas‖ (Ap 3.18), ―vestidos de salvação‖ ou ―mantos de justiça‖ (Is
61.10), indicando uma justiça original que Cristo nos traz de volta.

154 Olhe o testemunho desta verdade no VT —  Jó diz que Adão encobriu as suas transgressões (Jó
31.33); O Salmista Asafe (SI 82,7) diz que aqueles que julgam injustamente, morrem como Adão. Obs.: a
palavra hebraica para homem é A dão; observe o testemunho da mesma verdade no NT  —   Aqui Adão é
contrastado em detalhes consideráveis com cristo (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22, 4547; 1 Tm 2.14. Se Adão
tivesse sido salvo, a antítese falharia no seu ponto principal. como que aqueles que estavam em Adão foram
condenados se o próprio Adão foi salvo? Falharia Deus em Sua justiça?
155 Análise feita com base nas felizes observações de A. W. Pink, Gleanings , pp. 59-68.
156 Não há nenhum indicação na Escritura sobre o tempo em que Adão ficou no estado de inocência,
isto é, sem pecado.

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―Ele perceberam que estavam nus‖ —   Perceberam que a sua situação física estava
espelhando a sua condição espiritual. Eles foram tornados dolorosamente conscientes do pecado
e de seus terríveis conseqüências.

2) A segunda conseqüência da transgressão deles foi esta: eles ocultaram o seu real
caráter.

Eles estavam mais preocupados em salvar as aparências do que realmente procurar o


perdão de Deus.

Gn 3.7  —   ―e, percebendo que estavam nus, coseram folhas  de figueira, e
fizeram cintas para si.‖ 

Cosendo cintos para si, eles tentaram acalmar a própria consciência. Da mesma forma os
filhos de Adão fazem hoje. Eles têm mais medo em serem detectados nos seus erros do que
cometê-los, e mais preocupados estão ainda em parecerem bem diante dos homens do que
obterem a aprovação de Deus. O objetivo principal dos homens caídos é aquietar a própria
consciência culpada e parecerem bem diante dos vizinhos. Alguns até assumem o papel de
religiosos, fazendo os outros pensarem que andam decentemente, vestidos.

3) A terceira conseqüência da transgressão deles foi esta: tiveram medo de Deus.

Gn 3.8 —  ―Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela


viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor, o homem e sua mulher, por
entre as árvores do jardim.‖ 

Até este ponto eles haviam estado preocupados somente consigo mesmos e com sua
vergonha, mas agora tinham Outro com quem se preocupar: o Juiz de toda a terra. Ao ouvirem a
voz de Deus, ao invés de darem boas-vindas a ela, ficaram terrificados e ―esconderam-se da
presença do Senhor‖. 157 Nesta tentativa percebemos a tolice deles. Quem pode esconder-se da
onipresença e da onisciência de Deus?
Quando
objeto da eles pecaram,
sua aversão eles cessaram
e desprazer. de de
Um senso amar a Deus e de
degradação confiar nele.
encheu-os Deus passou
e tiveram a ser
uma terrível
inimizade contra Deus. Assim, esconderam-se dele por causa do seu pecado, aterrorizados.
 Temeram ouvir Deus pronunciar uma sentença formal de condenação sobre si mesmos, porque
sabiam bem o que mereciam.
Adão e Eva não somente trouxeram danos irreparáveis sobre si mesmos, mas
tornaram-se fugitivos do Todo Glorioso Criador. Este é puro e aqueles pecadores. Portanto, os
pecadores evitaram o que era puro. Não é assim que acontece com os homens hoje? Gostam eles
de ficar juntos dos que são genuinamente cristãos? Gostam eles da santidade?
 Todos os homens têm que comparecer perante o Santo e prestar-lhe contas. Não poderia
deixar de ser assim com o primeiro homem. Só não prestarão contas pessoalmente a Deus
aqueles que tiveram as suas contas prestadas por Jesus Cristo. A menos que o sangue de Jesus
Cristo tenha expiado os nossos pecados, compareceremos perante o Juiz de toda a terra. ―Como
escaparemos nós as
cristão. Examine se suas
negligenciarmos
bases. Peça tão grande
a Deus salvação?‖
para (Hb 2.3).
que Ele sonde o seuNão presuma
coração e lheque você aé sua
mostre um
real condição.

Gn 3.9 —  ―E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: onde estás?‖ 

Esta pergunta já era parte do juízo divino, para que Adão visse realmente o que havia

157 Ler Jr 23.24.

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feito. Foi uma pergunta para Adão perceber a distância de Deus que o pecado causou. O pecado
separa o homem de Deus. A ofensa de Adão provocou a perda da comunhão com Deus. Agora, a
pergunta de Paulo, vale claramente: ―Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? ou
que comunhão da luz com as trevas?‖ (2 Co 6.14). 
Observe novamente que o Senhor ignorou Eva e dirigiu-se ao cabeça responsável. Deus
havia advertido a Adão a respeito do fruto proibido: ―No dia em que comeres, certamente

morrerás‖. Esta
separação do mortedo
homem não significa
Deus Santoaniquilação, mas
(Is 59.2), que alienação,
culmina comseparação. A morte
a morte eterna espiritual
(2 Ts 1.9). é a

Gn 3.10 —  ―Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tive
medo e me escondi.‖ 

Observe quão incapaz é o pecador para encontrar-se diante da inquisição divina. Adão
não poderia oferecer nenhuma resistência adequada. Ouça a sua admissão: ―Tive medo‖. Sua
consciência o condenava. Agora era a dura presença de Deus que o incomodava. Deus que é o
refúgio para a alma do crente, torna-se o terror para a alma pecaminosa. Adão comparece diante
de Deus destituído de qualquer justiça, justiça essa que nós obtivemos de e em Cristo. Observe a
colocação de Adão: ―Por que eu estava nu, tive medo e me escondi‖. O coração de Adão estava
cheio de horror e terror. Os cintos de folhas de figueira não haviam adiantado nada. Isto acontece
quando
possamoso vestir,
Espírito Santo descobre
o Espírito a alma
nos convence humana.
da nossa A espiritual.
nudez despeito das roupas
Então, religiosas
a alma se encheque
de
temor e vergonha, e ela percebe que vai se haver com Aquele diante do qual ―todas as coisas estão
patentes e descobertas‖ (Hb 4.13). 

Gn 3.11 —  ―Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste


da árvore de que te ordenei que não comesses?‖ 

A esta pergunta Adão não teve resposta. Ao invés de humilhar-se perante o seu Benfeitor,
Adão fracassou em responder. Apenas deu uma desculpa esfarrapada. Se as palavras de Adão no
v. 10 foram devidamente ponderadas, uma omissão grande e fatal deve ser observada: ele não
disse nada a respeito do seu pecado, mas mencionou apenas os efeitos dolorosos que ele
produziu. Mas Deus neste v. 11 dirige-se para a causa daqueles efeitos. Esta pergunta direta de
Deus abriu o caminho e tornou muito mais fácil para Adão reconhecer contritamente a sua
transgressão, embora sem o precioso senso de arrependimento.
Deus não fez estas perguntas porque queria ser informado, mas antes, para providenciar
a Adão uma ocasião de rever o que havia feito. Em sua recusa percebemos a quarta conseqüência
do seu pecado.

4) A quarta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi esta: o


endurecimento do coração pelo pecado.

Não houve tristeza profunda por sua flagrante desobediência. Portanto, não houve
arrependimento.

Gn 3.12 —  ―Então disse o homem: a mulher que deste por esposa, ela me deu
da árvore, e eu comi.‖ 
Este verso 12 é a resposta à segunda pergunta do verso anterior. Ele não assumiu as
próprias responsabilidades como chefe da família, nem como cabeça da mulher. Simplesmente
transferiu a culpa do pecado para ela. Nem se tocou de que ele era o principal responsável, e que
era dele que Deus cobrava. Esta é a conseqüência mais comum quando os homens pecam. Eles
sempre arranjam uma justificativa para os seus pecados. Esta foi a outra conseqüência.

5) A quinta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi que eles se

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auto-justificaram.

Ele tentaram encontrar um culpado pelos seus próprios pecados. Ao invés de confessar a
sua impiedade, Adão tentou lançar a culpa em outro. A entrada do pecado na vida do homem
produz um coração enganoso e desonesto. Ao invés de culpar-se a Si mesmo, lançou a culpa na
mulher. E assim acontece também com todos os seus descendentes. Eles esforçam-se para tirar
a responsabilidade
alguma outra coisa, de sobre
como por os próprios
exemplo, ombros,
ao diabo. Istoatribuindo culpabilidade
é muito comum a para
acontecer outroseser ouda
fugir a
própria responsabilidade.

6) A sexta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais  foi o insolente desafio


ao próprio Deus.

As palavras do v. 12 mostram quão insolente foi Adão com Deus. Ele não disse
simplesmente: ―A mulher deu-me do fruto e eu comi‖, mas disse ―a mulher que TU me deste...‖ —  
Assim, abertamente, ele culpa ao Senhor pela transgressão dele. Em outras palavras, Adão disse:
―Se  Tú não me tivesses dado essa mulher, eu não teria caído. Por que fizeste isso comigo?‖—  
Observe o orgulho e a dureza de coração que caracterizam o demônio, agora fazem parte do reino
dos homens. E assim ainda hoje com os filhos dos homens. A diferença é que hoje eles são
tentados pela própria cobiça do coração pecaminoso (Tg 1.13). A natureza depravada da criatura
caída é sempre propensa a pensar que a melhor cousa é procurar abrigo na desculpa: ―Se Deus
tivesse feito de outra forma, eu não teria feito aquilo‖. Assim, em nossos esforços de
auto-justificação, desafiamos ao próprio Deus corrigindo-o naquilo que ele faz.
Pv 19.3 diz: ―A estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor que
seu coração se ira‖. Esta é uma das formas mais vis na qual a depravação do homem se
manifesta: após comportar-se como um tolo e de descobrir que o caminho da transgressão é
difícil, o homem murmura contra Deus ao invés de, mansamente, submeter-se à Sua vara. Após
pervertermos os nossos caminhos, não culpemos Deus pelos frutos amargos do nosso proceder.
Visto que somos os autores de nossa miséria, é razoável que fiquemos tristes conosco mesmos.
Mas o orgulho do coração é tal que, evidenciando a nossa inimizade contra Deus, ficamos irados
contra Ele, sendo que nós mesmos somos responsáveis por nossos pecados. E verdade o que a
Escritura diz: ―Não se colhe uvas de espinheiros e nem figos dos abrolhos!‖ - Não acusemos Deus
pelos frutos de nossa própria perversidade! Se fizermos assim, estaremos repetindo o mesmo
pecado de nossos primeiros pais.
A resposta do v. 12 mostra realmente o que aconteceu, mas esta atitude tornou ainda pior
o ato de Adão. Ele era o cabeça e protetor da mulher e, portanto, deveria cuidar dela melhor,
evitando que ela caísse em pecado. Quando ela foi enganada pela serpente, e ele o soube, ele não
deveria seguir o exemplo dela recusando a oferta.
Arão, embora tenha reconhecido o seu pecado, culpou o povo por ser pecaminoso,
tentando eximir-se de culpa (Ex 32.22-24); Assim também fez Saul (1 Sm 15.17-21); Pilatos deu
ordem para a crucificação de Jesus, e atribuiu o crime aos judeus (Mt 27.24).

7) A sétima conseqüência do pecado de nossos primeiros pais foi a quebra da afeição.

deveria Arespeitar,
quebra da afeiçãoeentre
proteger amar.o homem e o seu próximo - neste caso sua esposa, a quem ele

Gn 3.13 —  ―Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu


a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.‖ 

O Senhor perguntou, não propriamente como um juiz, não apontando


condenatoriamente, mas, parece-nos, para dar uma oportunidade a Eva para defender-se ou
confessar o seu pecado. Mas Eva portou-se exatamente como seu marido. Seguiu exatamente o

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mesmo curso de Adão. Ela não se humilhou diante do seu Criador, não deu qualquer sinal de
arrependimento, nenhum sentimento de tristeza ou confissão. Ele tratou de arranjar alguém
responsável pelo seu ato. Culpou a serpente. Foi uma desculpa fraca, porque Deus a capacitou
com entendimento para perceber a mentira, e com retidão de natureza para rejeitá-la
prontamente.
Os filhos de Adão fazem o mesmo hoje. E inútil dizer: ―Eu não tinha intenção de pecar,

mas o demônio
homem tentou-me‖. O demônio não pode forçar ninguém a pecar, nem prevalecer sobre o
seu consentimento.

Gn 3.14-14 —   ―Então o Senhor Deus disse à serpente: Visto que fizeste isto,
maldita és entre todos os animais domésticos, e o és entre todos os animais
selváticos: rastejarás sobre o teu ventre, e comerás pó todos os dias da tua vida.
Porei inimizade ente ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente.
Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás calcanhar.‖ 

Antes de pronunciar sentença sobre Adão e Eva, Deus dirigiu-se à serpente, que foi a
causa instrumental da queda deles. Observe que nenhuma pergunta foi feita à serpente. Antes, o
Senhor a tratou como uma inimiga declarada. Sua sentença deve ser tomada literalmente com
relação à serpente, mas alegoricamente com relação à Satanás. Estas palavras de Deus implicam
numa punição
maldição visível,contra
foi dirigida que éoexecutada sobre a serpente,
tentador invisível, Satanás. como instrumento da tentação, mas a

8) A oitava conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi tristeza, sofrimento


e morte.

Gn 3.16-19 —   ―E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da


tua gravidez; em meio a dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará. E a Adão disse: Visto que atendeste à voz de tua
mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra
por tua causa. Em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida. Ela
produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do
rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu
és pó e ao pó tornarás.‖ 

Nestes versos há as sentenças que foram pronunciadas contra Adão, Eva e a terra: Eva foi
condenada a um estado de tristeza, sofrimento e servidão; Adão foi condenado a uma vida de
tristeza e cansaço; e a terra sofre a maldição que até hoje pesa sobre ela (Rm 8.20-23).

9) A nona conseqüência do pecado de nossos primeiro pais foi que o homem desceu ao
nível dos animais.

Gn 3.20-21 —  ―E deu o homem o nome de Eva à sua mulher, por ser a mãe de
todos os seres humanos. Fez o Senhor Deus vestimentas de peles para Adão e sua
mulher, e os vestiu.‖ 

Adão e Eva foram vestidos como os animais se vestem...


Alguns intérpretes das Escrituras entendem o v.2 1 como sendo uma provisão de Deus
que indica o sacrifício de um animal para vestir o homem, apontando para o sacrifício do
Cordeiro. Se isto é assim, podemos inferir que Deus tratou os nossos pais com misericórdia, o
que elimina a condenação deles. As roupas de peles tipificam as vestimentas de justiça, as
mesmas que Jesus Cristo cobre os Seus, sendo vestes de salvação. Mas parece não haver
nenhuma provisão de salvação no Éden. Creio que seria forçar o texto. Se Deus quisesse falar de
salvação a Adão, ele teria feito claramente, como quando anunciou o proto-evangelho em 3.15.

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Obs.: Moisés, o narrador destas cousas, recebeu de Deus alguns detalhes importantes
como estes do v.20: Eva ainda não havia dado à luz filhos, senão somente depois de serem
expulsos do Éden (isso ilustra o v.16). Adão deu prova do seu domínio sobre a criação (1.28),
conferindo nome à Eva.

10) A décima conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais: eles foram

lançados para fora da presença de Deus.


Antes de lançá-los para fora do jardim, Deus usou uma linguagem irônica e sarcástica a
respeito do resultado do pecado de comer o fruto de Adão: A promessa de Satanás no v.5 era que
eles seriam "como Deus".

Gn 3.22 —  ―Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um


de nós, conhecedor do bem e do mal...‖ 

Agora, ao invés, de serem como Deus, conhecedores do bem e do mal, foram colocados ao
nível das bestas-feras, tiveram que vestir-se à moda dos animais e comer as coisas que os
animais comiam, que originalmente não era próprio para eles: ―comer das ervas do campo‖. 
Então, vem a maldição final:
Gn 3.23-24 —   ―O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a
fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins
ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, para
guardar o caminho da árvore da vida.‖ 

Estar fora do jardim do Éden era o mesmo que estar longe da presença benévola,
reveladora e agradável de Deus. Ser expulso do jardim significa a expressão da ira de Deus pelo
descontentamento com o pecado de Adão. Este tornou-se estranho ao favor de Deus e à Sua
comunhão. Ele foi banido do lugar de prazer e gozo. Tornou-se errante e fugitivo. Assim como
lançou para fora da Sua habitação os anjos que pecaram (Jd 6), Deus também lançou o homem
para fora do lugar da Sua habitação, como prova do Seu desagrado com o pecado.

2. CONSEQÚÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANA


As conseqüências do triste evento do Éden não trouxeram conseqüências simplesmente
para os nossos primeiros pais, mas para toda a raça humana. A condição com que nascem todos
os homens, isto é, em condição pecaminosa, é chamada na teologia  peccatum oríginale. É uma
mancha que atinge a todos sem exceção.
A Confissão de Fé de Westminster mostra que o pecado dos nossos primeiros pais trouxe
conseqüência para toda a raça, porque o pecado deles é imputado, pela relação pactual, a toda a
posteridade dele.

Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delitos de seus pecados foi


imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza
corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por
geração ordinária (V, iii).

A CFW também mostra que todos os nossos pecados atuais têm nascedouro no pecado
original:

Desta corrupção total pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a


todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as
transgressões atuais. (V, iv).

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 119

CAPITULO X
O PECADO ORIGINAL
O que é o pecado original? O pecado original tem sido visto como o pecado herdado, mas
herança não explica tudo daquilo que chamamos peccatum oríginale. A culpa, por exemplo, não é
uma matéria de herança. Berkhof diz que este pecado se chama ―pecado original‖ por algumas
razões: 1) Por que se deriva do tronco original da raça humana; 2) Porque está presente na vida
de cada indivíduo desde o momento do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado
como resultado de imitação; 3) Por que é a raiz interna de todos atuais que mancham a vida do
homem‖.158 Berkhof ainda adverte que desse nome ―pecado original‖, jamais deve ser pensado
que ele pertença à natureza constitucional do homem, pois tornaria Deus o autor do homem
pecador.159 
O pecado original pode ser dividido basicamente em dois elementos: Culpa Original e
Corrupção Original.

1. CULPA ORIGINAL
A palavra ―culpa‖ tem que ser corretamente entendida. Aqui, neste estudo, não
estudaremos nada a respeito do ―sentimento de culpa‖, que é um elemento emocional do pecado,
nem da imputação dela 160, mas estudaremos o aspecto judicial ou forense da palavra, ou ainda,
a relação que o pecado tem com a lei.
A culpa é o estado no qual se merece a condenação, ou na qual se sente merecer o castigo
pela violação da lei ou de qualquer exigência moral.
Podemos falar de culpa de dois modos:

Reatus Culpae
E a culpa de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Potencial. 161 E a culpa moral
intrínseca do pecador, inerente a ele, que não pode ser separada dele. Ela faz parte da essência
do pecado. Essa culpa nunca se encontra em alguém que não é pessoalmente pecador. Essa
culpa é permanente de tal forma que não é tirada nem com o perdão. Ela pertence à essência do
pecado e é parte inseparável do pecado. Pertence unicamente àqueles que são pessoalmente
pecadores, e lhes acompanha permanentemente. Os méritos de Jesus Cristo não tiram essa
culpa do pecador porque lhe é inerente. Mesmo tendo suas penas pagas, essa culpa ainda
permanece com o pecador. O fato de Jesus Cristo ter morrido pelo pecador, não o torna inocente,
apenas livre da penalidade da lei, justificado, portanto. Essa culpa não pode ser transferida para
outro.
 Jesus Cristo nunca teve essa culpa, porque nunca foi pessoalmente pecador. Ela é
própria somente de nós. Mesmo quando entrarmos no céu, haveremos de ir com essa culpa,
embora sem os sentimentos dela. E essa idéia de culpados, que nos acompanha para sempre,
que nos fará adorar Jesus como nosso Redentor, eternamente.

158 Berkhof,p. 291 (edição castelhana).


159 Berkhof,p. 291 (edição castelhana).
160  O assunto da culpa já foi estudada em capítulos anteriores, quando se estudou sobre a
―Imputação Imediata‖ (paginas ?) 
161 Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology , vol. 1, (New Jersey: Presbyterian & Reformed,
1992 edition), p. 595.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 120

Reatus Poenae
E a pena de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Real 162 , que denota o castigo ou
pena que vem sobre o transgressor da lei. Ele tem a ver com o edito penal do Legislador que lixa
o castigo da culpa. Esta pena, ou castigo, não é inerente ao pecador. Ela pode ser paga pelo
próprio pecador ou removida pela misericórdia de Deus, através da remissão pelo Substituto dos
pecadores. Nessa culpa o pecador tem a obrigação de render satisfação à Justiça por causa da
violação da lei. Nesse sentido, a culpa não é a essência do pecado, mas antes, uma relação com a
sanção penal da lei.
E nesse sentido que Jesus levou as nossas culpas, isto é, pagando a penalidade do réu.
Nesse sentido, nunca mais seremos culpados, isto é, merecedores do castigo, porque não mais
temos dividas com a lei. Seremos santos e inculpáveis, porque essa culpa pode ser removida pela
satisfação da Justiça.

2. CORRUPÇÃO ORIGINAL
Por corrupção podemos entender a poluição ou contaminação inerente à qual todo o
pecador está sujeito. Esta é a mais inegável das verdades a respeito do ser humano caído: é o
estado pecaminoso que se torna a base do hábito pecaminoso, do qual surgem os atos
pecaminosos.
A corrupção pode também ser vista como uma conseqüência imediata da culpa com a
qual o indivíduo entra no mundo. Todo homem é culpável em Adão, como já vimos, e, portanto,
nascido com uma corrupção original.
A corrupção original do homem inclui duas coisas: a) A ausência da justiça original e b) A
presença de um mal verdadeiro.

a) Ausência de Justiça Original


E a perda da imagem moral de Deus, com a qual o homem foi originalmente criado. A
 justiça original do homem consistia de três coisas mencionadas na Escritura (Ef 4.24; Cl 3.10),
que foram completamente perdidas na queda:

Justiça

Ela diz respeito à conformidade com a lei divina. Antes da queda havia total harmonia
entre a natureza moral do homem e todas as exigências da lei de Deus, que sempre foi ―santa,
 justa e boa‖ (Rm 7.12). Havia concordância perfeita entre a constituição natural de nossos
primeiros pais e a regra de vida estabelecida por Deus para as Suas criaturas. Na parte mais
interior do ser humano havia uma santa inclinação. A Escritura diz que Deus ―fez o homem reto‖
(Ec 7.29), referindo-se à sua natureza moral, mas esta retidão moral foi perdida pela queda.
 Todavia, ela vem a ser restaurada na regeneração do Espírito, mas todos os descendentes de
Adão já nascem sem ela.

Santidade
Esta diz respeito à pureza imaculada do ser que Deus criou. Como a justiça estava em
relação à lei divina, a santidade era a relação direta com o Criador. Nossos primeiros pais
possuíam comunhão plena com Deus. A santidade não era advinda somente da comunhão com
Deus, mas era a natureza moral deles. Não era uma simples separação do mal, mas uma
santidade positiva, uma possessão de tudo o que é bom. No verdadeiro sentido, nossos pais eram

162 Turretin, p. 595.

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câncer. A única maneira de resolver a situação é através de uma operação sobrenatural. O


pecado está tão profundamente enraizado na alma humana que o homem não pode ter a sua
condição alterada, ou reformada. O pecado é igual ao negrume do etíope que não pode ter a cor
da sua pele mudada (Jr 13.23).

b) Descrição Bíblica do Homem Corrupto

surpresaA inclusive
descriçãonosquecristãos
a Escritura dáestão
que não do homem debaixo da queda
muito familiarizados é estonteante e causa
com ela.
A Bíblia diz: ―Viu o Senhor que a maldade do homem havia se multiplicado na terra, e que
era continuamente mau todo o desígnio do seu coração‖ (Gn 6.5). Estas palavras são graves e
extremamente solenes, especialmente se comparadas com a congratulação de Deus consigo
mesmo, quando da criação do homem: ―Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom‖
(Gn 1.31). Qual é a causa dessa desordem total no interior do homem? E o pecado de Adão, o
pecado da raça. Os desígnios do coração do homem estão totalmente corruptos, e Deus tem olhos
de ira sobre a maldade humana.

A DEPRAVAÇÃO DO CORAÇÃO HUMANO


O coração é o órgão central da personalidade humana 164, de onde emanam todas as
coisas. Se boas ou ruins, elas dependem da natureza do coração. Mas como o coração dos
homens é mau, e desesperadamente corrupto, que o próprio homem não conhece, pois é sempre
enganado por ele (Jr 17.9).
O Velho Testamento tem um ensino bastante abundante sobre a condição do coração
humano, após a Queda.
Há muitíssimos textos na Escritura que descrevem a depravação do homem. Eis apenas
alguns, por ora:

Gn 6.5 —   ―Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na


terra, e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração.‖ 

Observe que o texto diz que ― todo desígnio é mau‖165 Não há pensamentos e decisões de
santidade no homem não redimido, ainda sob os efeitos da queda. Os pensamentos e os atos
maus têm nascedouro no coração que está infectado de pecado. As disposições que o coração
humano possuem são disposições miseráveis, todas fermentadas pelo pecado. As afeições dos
homens são desordenadas porque provém de um coração envenenado pelo pecado. O
desequilíbrio no homem é generalizado. ―Não há parte sã na sua carne‖. E por essa razão que
―eles fazem o mal continuamente ‖, todos os dias de sua vida, até que sejam renovados pela obra
graciosa do Espírito Santo.

Gn 8.21 —   ―E o Senhor aspirou o suave cheiro, e disse consigo mesmo: não


tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio intimo

164 LerPv 27.19.
165 Pinkdiz que ―a palavra hebraica para ―desígnio do coração‖ significa a matriz, a estrutura na
qual todos os nossos pensamentos são lançados. Observe que ―todo desígnio‖ é mau, nenhuma boa idéia
acompanha. Toda a maldade é sem alívio. Tudo está contaminado, não somente os atos exteriores, mas os
primeiros movimentos da alma em direção a um objeto. No coração nós temos a fonte de todas as
impiedades que procedem do homem. A lama corrupta dentro de nós está em constante fermentação. O
coração do homem é de tal forma que, entregue a si mesmo, sempre estará produzindo afeições e emoções
desordenadas. Os homens são ―somente mal‖ sem exceção, totalmente assim; não há nada simplesmente
virtuoso entre os homens. Além disso, eles são ―o mal continuamente‘, sem intervalo, todos os dias de suas
vidas, portanto, todas as suas obras são más e infrutuosas.‖ (p. 121).

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do homem desde a sua mocidade: nem tornarei a ferir todo o vivente, como fiz.‖ 

Esta é a descrição do homem antes do dilúvio. Mas a situação não mudou após o dilúvio.
O coração do homem é sempre o mesmo. Mesmo as águas do dilúvio não foram suficientemente
capazes de lavar a malignidade e o engano do coração do homem. Do começo da sua vida até o
fim, o coração do homem é a manifestação de coisas más. Desde o começo da vida, o coração do
homem já é manchado pelo pecado. Se alguém quer uma prova dessa verdade, ele a pode ver na
criação de nossos filhos. Desde o começo de suas vidas eles revelam uma tendência para as
coisas más. Todas as coisas más têm o seu nascedouro na coração de nossos filhos, desde a sua
concepção.

 Jó 15.15-16 —  Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são
puros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que
bebe iniquidade como água?‖ 

Que terrível descrição da condição humana! Diante de Deus a nossa natureza


pecaminosa é detestável. Mesmo os crentes e a natureza criada ainda sofrem os efeitos da queda
(veja Rm 8.19-21). Que se dirá dos homens que ainda não são renovados pelo Espírito Santo?
Eles são corruptos e abomináveis! Por essa razão sorvem o pecado como o fazem com a água.
Apenas o sangue de Jesus pode limpá-los de sua imundície.

Ec 8.11  —   ―Visto como não se executa logo a sentença sobre a má obra, o
coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mar‖. 

 Tal é a perversidade do coração corrupto dos homens que eles abusam da paciência e da
tolerância de Deus. Visto que o julgamento de Deus sobre os homens nem sempre é imediato ao
pecado deles, estes se dispõe a cometer toda sorte de maldade e coisas vergonhosas. Assim
aconteceu nos tempos de Noé. Quanto mais Noé pregava, mais zombadores e violentos eles
foram. Assim também acontece nos dias de hoje. Quanto mais Deus retarda a manifestação da
Sua
paraira, mais os ohomens
praticarem mal. Aoseinvés
afundam nos seus pecados,
de voltarem-se tendo
para Deus, elesocontinuamente
coração cada vez
se mais disposto
apartavam de
Deus, portando-se cada vez mais corruptamente em seu estilo de vida. A atitude deles não é
diferente hoje. Os homens são sempre os mesmos. Enquanto o coração deles não é mudado pelo
Deus Todo-Poderoso, sempre ele será pervertido e praticará coisas más.

Ec 9.3 —  ―Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos


sucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio de maldade, nele há
desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.‖ 

Ninguém escapa desta terrível condição. Este é o grande mal debaixo do sol, diz o
Pregador. Por natureza, todos os homens são injustos e cheios de impiedade. O escritor bíblico
aponta que a prática
é essencialmente do mal conduz
diferente ― ao desvario
da sociedade ‖. Nossa sociedade
do coração 
do tempo de Salomão, moderna,
é um exemplo claroque não
desse
desvario do coração. Há muitos modos modernos de se expressar a pecaminosidade do homem
(de fato, os pecados são sempre os mesmos, apenas as formas é que variam). Pink diz que ―os
homens são tão enfatuados a ponto de procurarem os seus prazeres nas coisas que Deus odeia.
Eles abandonam todas as restrições da razão e da consciência, enquanto suas paixões violentas
os pressionam em direção ao pecado.‖ 166 Eles não estão satisfeitos com ―os velhos métodos‖ de

166 Pink, p.122.

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pecar. Em sua loucura de coração, eles procuram modos diferentes para expressarem a sua
pecaminosidade, iguais pessoas dementes sem controle sobre si mesmas. Eles são extravagantes
na procura de novas maneiras de pecar. Seus corações estão cheios de desvarios enquanto
vivem. Isto quer dizer que eles pecam desenfreadamente a vida inteira.
Estas manifestações de pecaminosidade só terminarão quando Deus manifestar o seu
 julgamento final, ou quando Ele resolver tirar homens ―do império das trevas para colocá-los

debaixoEstes
do reino
são do filho do
apenas Seu amor‖
alguns versos (Cl 1.13).  da corrupção do coração, dentro as centenas
a respeito
que existem nas Santas Escrituras do Antigo Testamento.
O Novo Testamento não tem uma imagem melhor do coração humano do que a imagem
apresentada pelo VT. O quadro da condição humana não é alterado quando examinamos
detidamente os vários autores neo-testamentários. Em um sentido, os textos do NT pintam a
condição do homem em cores mais escuras ainda.

1. Veja o que Pedro diz da depravação do coração humano

2 Pe 2.14 —  diz que os homens têm ―os olhos cheios de adultério e insaciáveis


no pecado, engodam almas inconstantes, têm o coração exercitado na avareza,
filhos malditos‖. 

Eles não podem parar de pecar por causa do coração pecaminoso deles. Eles são escravos
da corrupção. Esta é a conclusão que o próprio Pedro chega a respeito deles: Pedro diz que eles
engodam as almas ―prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção,
pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.‖ (2 Pe 2.19). Eles são vencidos pela sua
própria natureza pecaminosa. Eles procuram satisfação para os seus desejos, mas nunca se
cansam de pecar. São insaciáveis. Vivem sempre com sede de pecado, e têm prazer na
iniquidade. E por isso que Pedro diz que eles são ― filhos malditos ‖ (1 Pe 2.14). Assim são todos os
homens, embora nem todos manifestem sua depravação da mesma forma e com a mesma
intensidade.

2. Veja o que Paulo diz da depravação do coração humano

3. Veja o que Jesus diz da depravação do coração humano


Esta tarefa de mostrar a condição do homem é perfeitamente apoiada pelo Inspirador do
Antigo Testamento. O próprio Jesus Cristo lança luz sobre esta matéria tão importante.
 Jesus também ensinou que o coração é o centro moral do homem, e que somente Ele
conhece a profundidade da corrupção do coração. Foi por isso que somente Jesus, o conhecedor
dos corações, pode descrever, de forma maravilhosamente correta, aquilo que provoca a
contaminação do homem. Diz Ele:

Mc 7.20-23 —  ―Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não


o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para
lugar escuso? E assim considerou Ele puros todos os alimentos. E dizia: O que sai
do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é
que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a
soberba, a loucura: Ora, todos esses males vem de dentro e contaminam o
homem‖. 

O coração é a matriz de todos os nossos pensamentos, atitudes e afeições. Nada escapa da


contaminação do coração. Se a fonte é suja, sujos serão todos os regatos que saem dela. O pecado
da raça humana, o pecado original, tem causado um efeito devastador nas partes mais interiores
do ser humano, de tal forma que tudo o que sai do ser mais interior, o coração, é totalmente

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estão familiarizados com a idéia de que Deus é amor, misericórdia, e assim por diante. Contudo,
eles não estão envolvidos com Deus, nem comprometidos com Ele. Eles não O adoram
espiritualmente nem verdadeiramente, como Ele requer. Seus corações estão longe dEle porque,
mesmo conhecendo muitas coisas sobre religião, eles estão cegos e ainda andam em trevas,
sendo enganados por Satanás. É possível ver muitos milhões deles em nosso mundo ocidental,
onde a ―civilização cristã‖ foi implantada. 
170  
tipo de Segundo, há a cegueira
cegueira pode ser visto daqueles não vivemEssas
mais claramente. debaixo da pregação
pessoas do evangelho.
são ignorantes Este
das verdades
espirituais, e não possuem idéia qualquer de quem Deus realmente é. Eles têm suas próprias
religiões pagãs com as suas formas mais primitivas de adoração da criatura, ao invés da
adoração ao Criador.
Ambas espécies de cegueira são evidência de que os homens estão debaixo do mesmo
domínio do pecado, mesmo embora alguns manifestem mais iniquidade do que outros, devido a
ausência da pregação do evangelho. A cegueira do coração deles é a mesma em ambos os casos,
mesmo embora uns tenham mais informação a respeito da Sua Palavra do que outros. Ambas as
cegueiras impedem o amor a Jesus Cristo.

3. Dureza de Coração
Este é um outro nome para a cegueira do coração. A natureza do coração do homem
natural é dita ser igual ―pedra‖. Ezequiel 11.19 e 36.26 mostram que esta figura é muito
apropriada para caracterizar todos os homens naturais. A tendência do coração dos homens é
inclinada somente para as coisas deste mundo presente, para coisas más, porque o coração
humano é insensível ás coisas espirituais. 171 
Zacarias disse que

―eles, porém, não quiseram atender, e rebeldes me deram as costas, e


ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seus
corações duros como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que
o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito mediante os profetas que nos
precederam; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos‖ (7.11-12).

Nada é mais duro que o ―diamante‖. Esta comparação é muito forte, mas absolutamente
adequada, porque ela mostra a obstinação do coração em fazer o mal. 172 Esta obstinação é
manifesta pela ausência da sensibilidade espiritual. Os homens não estão nem mesmo temerosos
da ira de Deus, porque eles não têm nem idéia do que ela realmente significa. Eles não possuem
senso de culpa de terem ofendido ao Senhor. Por esta razão, eles vivem na prática dos pecados
sem qualquer temor. Pecar é um prazer para eles.
Esta dureza de coração causa no homem uma falta total de interesse em matéria
espiritual. Deus diz a Ezequiel: ―Mas a casa de Israel não te dará ouvidos, porque não me quer
dar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração‖ (Ez 3.7).
Eles odeiam a Palavra de Deus e são inconstantes e infiéis em seu coração. 173 

4. Consciência Corrompida
Muitos defensores do Arminianismo tentam apelar para a voz da consciência para indicar
que alguma coisa boa ainda permanece no homem. E verdade que o homem, em geral, ainda é

170 Ef 2.12; 4.17, 18; 5.8.


171 Jr 3.17; 7.24; 9.14; 11.8; 13.10; 16.12; 18.12; 23.17; Mt 19.8; Mc 3.5; Ef 4.18.
172 Is 46.12; 48.4-8.
173 Sl 78.8. Observe os textos que falam a respeito de ― povo obstinado ‖ (Ex 32.9; 33.3,5; 34.9); ―dura
cerviz ‖ (Dt 9.6, 13; 31.27); ou ― coração incircunciso ‖ (Jr 9.26; Ez 44.7, 9; At 7.51). Todas estas expressões são
equivalentes à idéia de cegueira, porque os resultados são os mesmos em todos os casos. Incircunsisão de
coração significa impureza e sujeira, das quais o coração estás cheio, e tudo isto está relacionado à cegueira
e insensibilidade.

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capaz de distinguir o que é certo e o que é errado, mas somente nas ―coisas terreais‖, em matérias
do relacionamento entre seres humanos, não com referência às ―coisas celestiais‖. 174 
Mesmo a consciência humana não escapa aos terríveis efeitos do pecado. Paulo, falando a
respeito da consciência dos crentes, diz que ela pode ser ―fraca‖ (1 Co 8.12). A respeito daqueles
que desprezam a Palavra, Paulo diz que eles têm a consciência ―cauterizada‖ (1 Tm 4.2), e
consciência ―corrupta‖ (Tt 1.15). O escritor aos Hebreus também fala da ―consciência má‖
(10.22). Todos
manifestem os julgamento
bom homens naturais possuem
nas ―coisas consciência
terreais‖, ―má‖
mas eles sãoeincapazes
―corrupta‖,
demesmo embora eles
tratar devidamente
com as ―coisas celestiais‖. A consciência do homem natural não tem luz para agir de acordo com
os padrões de Deus. Ao invés de guiar os sentidos do homem, a sua consciência o confunde e ela
não é capaz de dar-lhe uma direção correta. A consciência corrompida tem conduzido os seres
humanos a inventar e a propagar as mais ímpias representações de divindades.
A consciência corrupta não é capaz de dar ao pecador uma atitude positiva para com
Deus. Mesmo embora ela tenha alguma resistência à prática de alguns pecados crassos (e a razão
disto é a opinião pública ou outro interesse qualquer), ela não faz oposição em relação aos
terríveis pecados secretos que manifestam a corrupção interior do coração.
A consciência corrupta é parcial. Freqüentemente, ela toma em consideração grandes
pecados, mas faz oposição aos terríveis pecados comuns que perturbam os homens. Ela ignora
grandes pecados e se preocupa somente com os menores. 175 
A consciência
convencer o homem docorrupta nãoAdão
pecado de é capaz
e de de
suaconduzir os homens
necessidade de JesusaoCristo.
arrependimento ou de
As acusações de
uma consciência corrupta não são bastante para produzir bons frutos ou um genuíno
arrependimento, mas são capazes de causar aversão e ódio a Deus.
A consciência do homem natural não é confiável porque o ser interior do pecador é
corrupto. O padrão de conduta da consciência corrupta nunca será o da Palavra de Deus.

5. Escravidão do Pecado
 Todos os que estão debaixo do Pacto das Obras também estão debaixo da escravidão do
pecado. Jesus disse: "Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que comete pecado é escravo
do pecado" (Jo 8.34). Ora, se alguém é escravo do pecado, o pecado é o seu senhor. Mas a
Escritura diz que esta escravidão é voluntária. O homem não é forçado de fora a pecar. Ele peca
porque ele quer. Pelo menos, é isso o que Paulo ensina:

―Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência,
desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da
obediência para a justiça?‖ (Rm 6.16) 

Ninguém força o homem a pecar. O homem não peca contra a sua vontade. Apenas o
homem obedece às inclinações de sua própria natureza. O domínio do pecado vem de dentro do
próprio homem. Este domínio é natural e congênito, e controla o ser total do homem, porque ele
pervade todas as partes do ser humano, desde a queda.
O pecado é chamado um ―reino‖ na Escritura,176 e reina sobre todos os homens, porque a
posteridade de Adão está sob seu domínio. O pecado está no centro da personalidade humana e
polue e envenena tudo que procede do coração. Este controle poderoso sobre todas as faculdades
da alma humana é vencido somente quando a obra regeneradora do Espírito Santo pára os
efeitos da morte no homem. Antes dessa maravilhosa obra, o homem permanece escravo do
pecado. Rm 6.1-23 é a descrição da escravidão do pecado do homem.

174 Estasexpressões ―coisas terreais‖ e ―coisas celestiais‖ são típicas de Calvino em suas Institutas. 
175  Porexemplo: Saul, em 1 Sm 14.33, 34 condenou o povo porque ele havia transgredido um
preceito da Lei, mas ele não teve nenhum problema em matar 85 profetas de Senhor. Aqueles que procuram
matar Jesus Cristo justificaram-se a si mesmos diante da Lei (Jo 19.7). sobre eles está a sentença de Deus
(Is 5.20).
176 Rm 5.21.

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6. Escravidão da Corrupção
 Tudo na criação, não somente as criaturas racionais, está debaixo da escravidão da
corrupção. Rm 8.20-21 diz que

―a criação está sujeita á vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele
que a sujeitou,
corrupção, parana esperançada
a liberdade deglória
que ados
própria criação
filhos será redimida do cativeiro da
de Deus.‖ 

Pedro afirma categoricamente que os homens ― são escravos da corrupção, pois aquele que
é vencido fica escravo do vencedor‖ (2 Pe 2.19). Ninguém está livre desta condição maldita, nem
mesmo os elementos da natureza. A maldição do pecado é a escravidão da corrupção. Esta
verdade a respeito do homem o humilha. Por esta razão, algumas teologias tentam minimizar os
efeitos da depravação do homem.

7. Escravidão de Satanás
Esta verdade bíblica é um das coisas mais terríveis que o Senhor Jesus disse aos homens.
Ele lhes disse que eles eram filhos do diabo e, consequentemente, escravos dele. Esta conclusão
é fácil de ser tirada de Jo 8.44: ―Vos sois filhos do diabo que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes
os desejos.‖177 Todos
  os que não eram crentes em Jesus eram obedientes aos ditames do diabo.
Eles não estavam conscientes de sua condição, mas Jesus fê-los saber quem eles eram.
A Escritura diz que todos os homens naturais são filhos do diabo.178 Aqueles que não são
filhos de Deus são, automaticamente, filhos do diabo, porque só há dois tipos de filhos neste
mundo. Não há alternativa. Todo mundo é filho de alguém. Espiritualmente os homens sempre
são filhos de alguém, Deus ou o diabo. E os filhos devem obedecer a seu pai. Por esta razão, Jesus
disse que os homens obedecem os desejos de seu pai, que é o diabo.
Mas a Escritura vai mais longe. Ela diz que o homem natural está
sob th=j e)cousi/aj tou= Satana=  (potestade de Satanás)179 e, por esta razão, eles
são ―cativos de Satanás (diabo/lou) para fazer a sua vontade‖. 180 
12.26), O
e coração
todos osdo homemnaturais
homens caído, não-regenerado, é o trono de
são servos ou escravos Satanás.
dele. Paulo éEste temclaro
muito um reino (Mt
quando
dirige-se aos ex-escravos de Satanás, dizendo:

―nos quais (delitos e pecados) andastes outrora, segundo o curso deste


mundo, segundo o príncipe da potestade do ar; do espírito que agora atua nos filhos
da desobediência, entre os quais todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos...‖ (Ef
2.2-3)

O reino de Satanás é um reino de usurpação, porque ele não tem direito algum sobre as
vidas dos homens, mas é um reino, e todos os homens naturais estão sob o seu domínio. Por esta
razão, João disse que, em contraste com os crentes, ―o mundo inteiro jaz no maligno ‖ (1 Jo 5.19).
Desde a queda do mundo houve duas espécies de pessoas: os que pertencem a Deus, e os
outros que estão sob o domínio de Satanás. Deus disse à Serpente: ―Eu porei i nimizade entre ti
(Satanás) e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente (Cristo). Este te ferirá a

177   Este
verso pode ser aplicado a todos os homens naturais porque todos eles encaixam nas
condições daqueles judeus que não criam em Jesus.
178 1 Jo 1.10. Este verso mostra que todos os homens que não praticaram a justiça são filhos do
diabo.
179 At 26.18.
180 2 Tm 2.26.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 130

cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar‖ (Gn 3.15). Estas duas posteridades foram mencionadas por
 Jesus Cristo nas parábolas do reino, como sendo ―os filhos do reino‖ e os ―filhos do maligno‖ (Mt
13.38).
Satanás, o deus deste século, pega os homens que vivem escravos do pecado, e tira
vantagem da sua natureza pecaminosa, fazendo-os seus escravos. Paulo diz que o diabo ― cegou
os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de

Cristo, oÉ qual é a imagem


espantoso que osdeArminianos
Deus‖ (2 Codigam
4.4). que estes homens, tendo ―consciência corrupta‖,
―cegueira de coração‖, sendo ―escravos do pecado‖, ―escravos da corrupção‖ e ―escravos do
diabo‖, ainda tenham liberdade de vontade para ver e para escolher as coisas espiritualmente
boas!

CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃO
Há, todavia, algumas outras verdades a respeito da depravação total do homem que
precisam ser estudadas à luz da Escritura:

1. É comum a todos desde o Ventre Materno


É um erro de origem Pelagiana o fato de ser pensar que os pequeninos, os infantes, sejam
inocentes ou que sejam uma espécie de tabula rasa quando nascem, destituídos de qualquer
mancha pecaminosa em suas almas. Este ponto-de-vista tem sido, embora de Pelágio, tem sido
sustentado por cristãos de todas as tradições, sem pensarem nas conseqüências sérias trazidas
por essa teologia. Não é o meio ou a educação que tornam a criança pecaminosa, mas a
pecaminosidade dela apenas se manifesta quando ela começa a dar os primeiros sinais de
comunicação. Nenhuma delas escapa a uma maldade interior, mesmo que se manifeste das mais
variadas maneiras. Todas as crianças já nascem no mundo culpadas e, portanto, com as terríveis
marcas da corrupção em todo o seu ser.
 Todos os filhos de Adão estão igualmente afetados pela sentença de Deus que é a
corrupção. Esta já é um castigo divino por causa do fato de todos serem culpados em Adão.
 Toda criança já é nascida culpada neste mundo e, como conseqüência, corrupta. Todas
as crianças são nascidas debaixo de condenação e com suas naturezas depravadas, e com uma
completa incapacidade de alma para mudarem a situação com a qual nasceram.
Há alguns textos da Escritura que nos ajudam a entender esta matéria tão difícil e tão
dolorida, especialmente quando pensamos que os nossos pequeninos têm estas coisas, mas não
podemos fugir da verdade de Deus.

Sl 58.3  —   ―Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se


desencaminham, proferindo mentiras.‖ 

Desde o momento em que são concebidas, as crianças são moral e espiritualmente


separadas de Deus —   pecadoras sujeitas à condenação. Elas já nascem alienadas de Deus, de
Seus princípios, de Seus poderes e de Suas bênçãos. A natureza delas é inclinada à impiedade
somente, e se Deus deixá-las entregues a si mesmas, elas nunca sairão desse estado. Logo que
elas começam a entender as coisas, a inclinação delas é para a desobediência às leis que lhe são
colocadas em casa. Perceba que ninguém precisa ensinar aos filhos a desobediência. Não há
necessidade de ser ter um professor para o mal. Isso é natural neles. E só deixá-los entregues a si
mesmos, porque a malignidade está atada ao coração da criança, evidenciando a sua corrupção.
 Tem que haver a disciplina para que os nossos filhos venham a aprender a obedecer. Do
contrário, eles sempre dirão ―não‖ às leis que lhes impomos. 
É bom lembrar que os nossos filhos já são desviados ou separados de Deus desde que
eles são concebidos no ventre da mãe deles. Essa separação de Deus não vem com o tempo, com
o contato com os adultos ou com a sociedade corrompida. Não! E uma séria enfermidade
congênita a corrupção do coração.

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Sl 51.5 —  ―Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.‖ 

O verso anterior trata da concepção de uma criança. Neste fala da parte seguinte do
processo: o nascimento dela. Mas a idéia fundamental do texto é a mesma. Tanto a concepção
como o nascimento de Davi foram em pecado. Davi não era o único que possuía esta triste

situação.
Esta é uma confissão que bem caberia na boca de todos os humanos. A nossa corrupção
vem do começo da nossa existência, pois a recebemos, de alguma forma, de nossos pais. Pelo fato
de sermos filhos de Adão, todos nascemos depravados. Davi era filho de um casamento digno e
honrado, todavia, recebeu de seus pais a herança maldita da corrupção, com todas as suas más
disposições. Observe, como já vimos, que a culpa é imputada, mas a corrupção não. Ela é
recebida pelo fato de sermos culpados em Adão, mas a recebemos via nossos pais, por geração
natural.
Para entendermos esta verdade, vejamos a antítese dela: Por quê foi necessário para
Cristo ser encarnado sobrenaturalmente pelo milagre do nascimento virginal? Essa era a única
maneira de haver dentro de Maria um ― ente santo ‖ (Lc 1.35), pois se fosse por geração ordinária,
Cristo herdaria a natureza pecaminosa. O que Deus fez? Deus não imputou a culpa de Adão a
Cristo, fé-lo ser concebido sobrenaturalmente, e o livrou da corrupção. Ele não nasceu na
iniquidade porque não teve a imputação e a geração ordinária, não foi contado como
descendência de Adão. Ficou livre da culpa e, consequentemente, da corrupção.
Mas não é assim com os filhos de Adão. Estes já são concebidos e nascidos em corrupção,
poluição moral e espiritual, coisas essas que se externalizam à medida que eles
entram em comunicação com o mundo externo, onde vivem.
Isaías 48.8 diz que somos chamados transgressores ― desde o ventre materno ‖. Por essa
razão é que, quando nascemos, ―já nos desencaminhamos proferindo mentiras‖ (Sl 58.3). Você já
viu, porventura, um pai decente ensinando mentiras aos seus filhos? Nunca! Todavia, os filhos
desse pai mentem, sem nunca terem aprendido a mentir. Essa é uma terrível capacidade
herdada, com a qual vimos ao mundo.

Pv 22.15  —   ―A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da


disciplina a afastará dela.‖ 

Estultícia é igual tolice. Essa tolice não é meramente uma ignorância intelectual, mas um
princípio positivo para o mal, porque no Livro de Provérbios, o "tolo" não é um idiota, mas um
pecador. A corrupção está profundamente enraizada no coração da criança. O texto diz que a
estultícia está ligada ao coração da criança. Isso significa que o pecado está amarrado, preso,
atado, anexado ao coração. Não existe uma criança sequer livre dessa estultícia.
É por essa razão que ninguém precisa ensiná-la a pecar. Basta que os pais tirem o freio
dela e, então, a corrupção se manifestará em maior ou menor grau. Nessa hora é que um pai vê a
dor que um filho lhe traz e a mãe vem a ser envergonhada por causa daquilo que ele faz (Pv
29.15).
Nosso coração, que é a sede de nosso ser moral, é corrompido desde o ventre materno, e
as nossa iniqüidades estão ligadas a ele. Portanto, somos transgressores desde o ventre materno
por disposição interna antes de sermos por atos externos. Os atos são apenas manifestações de
disposições interiores.

Ef 2.1-3 —  ―Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados,
nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os
quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza,
 filhos da ira, como também os demais‖. 

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 Talvez esta expressão seja mais forte ainda do que Sl 58.3, porque ensina que não
somente somos nascidos no mundo com uma constituição corrupta, mas que somos vistos como
criminosos à vista de Deus. A depravação de nossa natureza não é um mero infortúnio: se assim
fosse, despertaria misericórdia e não ira. Os ―filhos da ira‖ são aqueles que merecem a ira,
herdeiros da ira. Eles não são somente criaturas corruptas e manchadas, mas objetos da
indignação judicial de Deus.
culpadas e merecedoras Por que? Porque
da manifestação o pecado
judicial da ira de
do Adão
Deus foi imputado a elas, e elas são
justo.
Igualmente forte é a expressão ― por natureza ‖. Muitos têm negado a corrupção inata,
insistindo no fato dela ser adquirida pelo contato com o mundo mau, e que seus hábitos também
são adquiridos. Alguns crêem que os seres humanos são depravados por um processo de
desenvolvimento, não por causa de uma natureza pecaminosa inata. Mas a Escritura é
absolutamente inamovível na sua idéia de que a gênesis da depravação é a própria natureza com
a qual os homens são gerados e nascidos. A Escritura não negocia esta verdade. Desde o ventre
materno os homens já são objetos da ira divina, por causa da natureza congênita deles. E essa
natureza corrompida deles é um mal penal, em virtude do fato de sermos culpados em Adão.
 Justamente o fato de os infantes morrerem na sua infância, mostra que a sujeição á
morte tem algo a ver com a natureza inata deles. A morte, queiramos admitir ou não, é o
resultado da corrupção que afeta todo o nosso ser, desde que nascemos. Se em Adão as crianças
não houvessem
comunicada pecado,
a elas, não elas não mortalidade
haveria estariam sujeitas à morte.
infantil 181.  Se a culpa de Adão não houvesse sido
Portanto, desde o ventre materno, os homens têm sido afetados pela corrupção maldita
que os acompanha até o fim de suas vidas, mesmo naqueles que Jesus Cristo salva, através do
lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Quando o Espírito nos regenera, ele não elimina
de um vez para sempre os resultados da corrupção. Ele planta, sim, vida na alma, onde havia
somente morte. Então, essa vida, dom divino, vai se impondo, à medida que crescemos no
conhecimento de Cristo Jesus. E experiência de todos nós, mesmo os crentes mais maduros, o
convívio com o pecado que em nós habita. Triste, mas uma verdade bastante palpável, até que o
Senhor nos leve para o Seu reino e glória.

2. Afeta a Totalidade do Ser Humano


Esta é  uma outra terrível verdade sobre a corrupção do ser humano. A chamada
―depravação total‖ tem sido muito mal compreendida, mesmo nos círculos Calvinistas. E  
necessário, portanto, que algumas coisas sejam ditas sobre a expressão ―depravação total‖, antes
que argumentemos sobre ela na Escritura.

181   O
fato de uma criança morrer na infância, não significa que ela esteja irremediavelmente
perdida, eternamente. É evidente que todas as crianças que são nascidas neste mundo sejam
espiritualmente mortas, alienadas da vida de Deus, mas se elas estão para herdar a vida eterna, é
necessário que elas sejam renovadas no coração pelo Santo Espírito, que opera independentemente da fé
delas, para que sejam salvas, porque ninguém verá o reino de Deus sem ser nascido de novo. A obra do
Espírito Santo no coração de uma criança é absolutamente necessária para que ela venha a herdar e
desfrutar da vida eterna. Obviamente, o Espírito Santo aplica nela a redenção que há em Cristo Jesus, que
por ela morreu. Portanto, se os infantes estão para ser salvos, é por causa da Eleição do Pai, da Redenção do
Filho e da Regeneração do Espírito. Sem isso, jamais alguém será salvo!
Há os que insistem dogmaticamente no fato de que Jesus Cristo fez expiação pelo pe cado original,
de tal modo que a culpa de nossos primeiros pais não mais está sobre os seus descendentes. Mas este
pensamento é contra a evidência de todos os fatos. Apenas um argumento contrário a ele: obviamente, esse
ponto de vista Arminiano não pode prevalecer porque, se assim fosse, isto é, se a culpa do pecado original
tivesse sido removida por Jesus Cristo, os efeitos dela não mais poderiam continuar, já que a corrupção da
natureza humana é conseqüência da culpa humana. Se Cristo removeu a culpa dos homens do pecado
original, então a raça toda deveria voltar ao estado em que originalmente foi criada.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 133

A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL


Sobre o termo depravação
Por depravação não se quer dizer que o ser humano não possa fazer nada que não seja
reconhecidamente entre os homens considerado como bom; não quer dizer que o pecador não
tenha qualquer conhecimento inato daquilo que é bom e do que não é bom;
não quer
que ele não saiba distinguir o que convém e o que não convém; não dizer
quer
dizer que o homem não seja capaz de admirar as virtudes e ações virtuosas
em outras pessoas; ou que ele não tenha afeições desinteressadas com
relação a outras pessoas; nem quer dizer que o homem não-regenerado,
em virtude de sua pecaminosidade inerente, tenha que suportar ou dar
apoio a toda espécie de pecado, ou que não tenha nenhum código ético.
A depravação está intimamente ligada à tendência para o mal, uma pré-indisposição
contra as coisas das quais Deus se agrada. Existe uma indisposição natural para com Deus e
para com as coisas deles.

Sobre o adjetivo "total"


O adjetivo "total" tem a ver com a extensão da corrupção. Ele significa que o ser humano
por completo foi afetado pela queda. Nada do seu ser escapou dos efeitos do pecado. O pecado
atingiu todas as faculdades da personalidade humana, inclusive o seu corpo. O pecado é um
câncer com metástase, isto é, uma doença mortal que infectou todo o ser. Para usar outra
linguagem médica, podemos dizer que o pecado é uma espécie de septicemia, uma infecção
generalizada no sangue que, por sua vez, conduz o sangue a todas as partes do organismo, e
infecta tudo. O homem esta no seu ser total infectado pelo veneno do pecado. O profeta Isaías
mostra esta realidade de forma muito clara:

"Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a
cabeça está doente e todo o coração enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça
não há nele cousa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e
outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo." (1.5-6)
Paulo mostra a imundície generalizada do homem de outra maneira, quando insta-os a
serem purificados dela, dizendo: "Tendo, pois, amados tais promessas, purifiquemo-nos de toda
a impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus"
(2 Co 7.1). Corpo (carne) e alma (ou espírito) indicam o homem total, que está corrupto. Esta
poluição moral estende-se aos pensamentos e imaginações, assim como às palavras e às ações.  
Quando dizemos que essa depravação total afeta a totalidade do ser humano, estamos
dizendo que cada elemento constituinte da natureza humana, isto é, o corpo e as faculdades da
alma, sofrem a poluição do pecado; estamos dizendo que não há nenhuma
parte sã no homem, que não há nenhum bem espiritual nele.
Esta depravação afeta:

1. O CORPO
A queda do homem trouxe conseqüências sérias para o nosso organismo físico. A vida
física do homem é cheia de fraquezas e enfermidades. Estas são a grande angústia do ser
humano, desde a queda. Estas são a maior luta da humanidade e seu maior fardo, porque
resultam em tremendos desconfortos e, freqüentemente, em dores agonizantes. Essas coisas não
aconteciam no Éden, nem teriam acontecido se não fosse a queda. Quando da redenção final,
édito que o homem não mais terá incômodos, dores não haverá, nem lágrimas, morte, etc. 182 As

182 Ap 21.4 diz: E Deus ―lhes enxugará dos olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, já não
haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram‖; Ap 22.2 diz: ―No meio da sua

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fascinam e dispõem a alma a favor ou contra qualquer atitude ou pessoa. As disposições afetivas
são controladas por essa faculdade de nossa personalidade. E somos seres extremamente
conduzidos por nossas emoções. As coisas tornam-se agradáveis ou desagradáveis através dessa
faculdade que tem um grande controle sobre os nossos sentidos físicos.
Na verdade, os juízos do intelecto e as sensações das afeições é que determinam, em
alguma medida, as decisões da vontade do homem.

a alma No princípio,
humana Deuso criou
possuía o homem correto,
entendimento à Sua própria imagem
as afeições e semelhança,
ordenadas, de tal modo
e a vontade que
fazendo o
que devia. Todo o complexo do ser humano era voltado direta e corretamente para Deus. Mas
quando houve a queda, tanto o seu entendimento como a vontade e as afeições ficaram afetados
seriamente, divorciados de Deus.
Originalmente, as afeições humanas eram direcionadas e ordenadas devidamente. Com a
queda, nossos pais começaram a desejar somente aquilo que era contra a vontade de Deus. A
alegria deles não mais era o Senhor, mas a própria criatura. De lá para cá, a posteridade de Adão
tem seguido o mesmo caminho, tendo afeições mais elevadas para com a criatura ao invés de
tê-las com o Criador. Houve rebelião e reversão das santas afeições da alma. Então, o prazer dos
filhos de Adão concentrou-se não mais na lei do Senhor, mas nos apetites desordenados das
próprias afeições.
Essa reversão das afeições mostra que o homem está sem paz, inquieto, sem repouso,
sem morte, sem razão de existência. Isto porque ele está apartado de Deus, por causa da
perversidade do coração (Hb 3.12). O homem não é feliz no que é e no que faz. Ele não mais
conheceu o que é a alegria do Senhor. Somente depois de tê-la, e de perdê-la temporariamente,
por causa de seus pecados, é que Davi reconheceu: "Volta, minha alma ao teu sossego, pois o
Senhor tem sido generoso para contigo" (Sl 116.7). Deus não era somente o prazer daqueles a
quem havia feito à Sua própria imagem, mas também era o fim principal dos motivos e ações dos
homens. Mas estes "se esqueceram do manancial de águas vivas" (Jr 2.13), a fonte perpétua de
seu conforto e gozo. Agora, após o incidente edênico, o prazer dos homens não mais é Deus. As
afeições deles estão desordenadas, e os seus gostos reversos, porque andam agora "segundo as
suas ímpias paixões".
As afeições que deveriam estar em harmonia com a criação original, estão agora todas
fora da sua forma original. O homem não mais é guiado por uma razão correta, mas por suas
afeições desordenadas. Isso fica muito evidente na maneira contemporânea de agir: os homens
agem hoje pelos sentimentos. Isto é claro até nas formas de culto e das suas avaliações
teológicas. A frase mais comum hoje é: "Eu sinto bem fazendo isto". O homem hoje é controlado
pelos sentimentos, em detrimento de outras partes da faculdade humana, que devem viver, em
equilíbrio e interrelacionadas. As emoções e os sentimentos estão no trono do ser humano. Não
seria mal se as nossas afeições fossem santas afeições, em equilíbrio com a verdade de Deus, mas
esse é o grande problema. Tudo está desordenado. Deus colocou um anelo de paz e alegria no
coração do homem, mas que estas coisas pudessem ser encontradas somente nele, mas os
homens não O querem e, como conseqüência, essas belas afeições ordenadas não estão
presentes no ser humano. Este perdeu todas as santas capacidades afetivas para com o seu
Criador, tendo prazer somente nas coisas terrenas. Nunca o seu prazer estará na lei do Senhor,
nem meditará nela, até que suas afeições sejam reordenadas pela divina obra redentora.
O homem caído tem afeições pela riqueza, pelo prazer sensual, pelo poder, pela honra,
mas nunca no evangelho, porque este não lhe oferece estas coisas. Veja que inversão de afeições!

O evangelho indica o caminho da santidade, da mortificação da carne, das


alegrias Ser
em
objetos diferentes. Por isso o evangelho não é bem-vindo ao pecador!
dependente de Deus para ser feliz e realizado é uma pancada nos
sentimentos orgulhosos do pecador.
 Tanto a razão como as afeições do pecador estão corruptas. Isto é fácil de ser percebido,
mesmos nos nossos pequeninos filhos. Eles respondem imediatamente diante de uma diversão
violenta, que evidencia a força e a esperteza das pessoas, mas respondem muito lentamente à
diversão que a faz refletir, pensar e agir corretamente. Em geral, elas não gostam das diversões
que as levam a aperfeiçoar os seus sentimentos e intelecto. Elas facilmente caem para o lado das

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As paixões dos homens são as correntes imundas que procedem da fonte poluída dos
corações dos homens. Elas são os primeiros movimentos pecaminosos da alma que acabam por
conduzir aos atos pecaminosos abertos. Eles são os primeiros movimentos ilegais de nossos
anseios pecaminosos que precedem os pensamentos estudados e deliberados da mente.
Veja o texto de Rm 7.8 - "Mas o pecado (que é a fonte inerentemente corrompida),
tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim (esse "despertou" sugere a idéia de uma

disposição
inerente é poluída ou uma
um princípio propensão
poderoso, para
que o mal, distintaexerce
constantemente dos atos queinfluência
uma ela produziu.
má, Oestimula
pecado
afeições impuras), toda sorte de concupiscência (desejo lascivo, luxuria, sensualidade); porque
sem lei está morto o pecado."
A depravação do próprio coração é que induz o homem a ouvir os cochichos de Satanás.
Se assim não fosse, nenhuma solicitação para fazer qualquer coisa errada vingaria, ou teria
qualquer força n~ vida dos homens. A disposição interior das afeições é que facilitam aos apelos
externos serem realizados. A eficácia de uma tentação está diretamente vinculada à
predisposição do coração concupiscente, na propensão da natureza caída. Quando a nossa
corrupção nativa é convidada a fazer algo externo que promete lucro e prazer, e as paixões são
atraídas por esse algo, então a tentação começa e o coração vai atrás. Visto que os caídos são
influenciados por sua concupiscência, esta domina a ambos, a mente e a vontade, de quem elas
são, em algum sentido, servas. E por isso que Paulo fala: "vejo nos meus membros outra! lei" (Rm

7.23). E uma lei imperiosa, forte, que tem domínio sobre o homem total.
 Tg 1.13-15 - "Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque
Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário,
cada um é tentado por sua  própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a
cobiça, depois de haver concebido, dá á luz o pecado; e o pecado uma vez
consumado, gera a morte."

Estes versos delineiam a origem de todo nosso pecado. Estas palavras mostram que o
pecado invade o nosso ser interior gradativamente; elas descrevem os diversos estágios antes de
o homem pecar exteriormente; elas revelam uma causa geradora de todo o pecado. Os nossos
pecados descansam no pecado que habita em nós, isto é, na nossa concupiscência. A
concupiscência é o ventre e a raiz de todas as nossas manifestações de maldade.
O texto
de nossos diz que
pecados "cada ou
no diabo, umemé tentado por
Deus. De suaa própria
fato, culpa decobiça"
nossosNão podemos
pecados está colocar o ônus
dentro de nós.
Não podemos desprezar nunca o que há dentro dos corações dos homens, suas afeições sujas,
suas inclinações corruptas, sendo devidamente conduzidas por Satanás, que nos conhecem
muito bem, pelo simples fato de lidar com a natureza pecaminosa por milênios. Ele sabe o
trabalhar conosco, mas a culpa do pecado é nossa. A "cobiça" é nossa, de ninguém mais. A
palavra "cobiça" no texto significa "um anelo por", um "desejo de obter algo". Ela é tão forte que
leva a alma aos objetos proibidos. Ela é tão forte que o texto diz que "a cobiça o atrai e seduz". A
cobiça alicia, induz, porque não há forças no homem que o levem a combatê-la. Nada no homem
obsta o caminho que a cobiça traça. Então, o homem cai. E porque o homem falha em resistir, é
que o pecado se torna mais atraente, e a sedução é mais fácil. Isto quer dizer que a cobiça impele
com força. Ela empurra o homem para a consecução do pecado. A força impetuosa desse desejo
exige a realização dele. As paixões, a concupiscência interna (que é a cobiça), levam a vontade do
homem"Então
ao controle e, o pior
a cobiça, de tudo,
depois é que
de haver ele sempre haverá
concebido..." - O ato de sentir culpa
pecaminoso pelo
está que faz.
embrionário, lá
bem dentro do coração. Então, as outras faculdades da alma começam a trabalhar para fazer
nascer aquilo que foi concebido. Então, a mente trabalha e a vontade passa a funcionar,
querendo o término daquilo que foi começado. "E o pecado, uma vez consumado, gera a morte"-
Esta é o salário e a colheita daquilo que foi plantado. Este é o progresso dentro de nós.
Da queda para cá, os homens todos já vem governados pelas afeições indevidas. As
faculdades da alma não mais andam em equilíbrio. As emoções controlam o homem moderno de
tal forma que um sentimentismo ("feelism") determina todas as coisas presentemente. As
"paixões" desordenadas, descontroladas pelo ser interior, são os órgãos comandantes do ser

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disposições interiores deles.


Portanto, a vontade humana esta sempre recebendo a influência das outras faculdades e
do coração. E sem base crer na liberdade ou independência da vontade, como os arminianos
consistentes ensinam. A vontade do homem nunca será livre da condição
interior do homem. E verdade que Deus nunca é influenciado por nada de
fora, porque Ele é onipotente, mas este não é o caso do homem. Este é
finito, influenciado e estimulado por motivos externos, mas a
determinação do motivo sempre estará dependente da inclinação do seu
coração.
A vontade não controla o homem, como os arminianos erroneamente ensinam. A vontade
do homem não é auto-motivada, não é espontânea no sentido de que as decisões são originadas
somente nela, sem qualquer dependência das outras faculdades e da condição interior do
homem, o coração. A Escritura diz que o homem é um escravo do pecado. 196 A vontade do
homem não pode non peccare. As decisões do homem serão sempre afetadas pelo que ele é
internamente.
Neste sentido, a vontade nunca foi livre, mesmo antes da queda. Ela nunca foi um
mecanismo independente das outras engrenagens da alma humana. Aqueles que negam a

écorrupção da vontade
a faculdade do homem,
executiva de tudo não crêem
o que estána depravação
dentro total. Temos
do homem. que crer que
Ela meramente a vontade
apresenta os
ditames do ser mais interior do homem. Ela é uma escrava da condição do homem.
Se alguém crê que a razão humana pode entender perfeitamente a vontade de Deus; se
alguém crê que as afeições estão perfeitamente dirigidas para Deus, então ele pode crer que a
vontade é capaz de apresentar "coisas celestiais". Mas esta não é a condição do homem. O
coração é desesperadamente corrupto e tem aversão ás coisas espirituais.
Pink corretamente diz: "A queda tem cegado a mente do homem, endurecido o seu
coração, desordenado suas afeições, corrompido a sua consciência, e incapacitado a sua
vontade"197, de tal modo que "desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa Sã, senão
feridas, contusões, e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem
amolecidas com óleo" (Is 1.6).
A vontade simplesmente obedece a própria natureza pecaminosa do homem. Portanto, a
vontade está sempre pronta a fazer coisas más. Ela está amarrada à condição depravada do
coração do homem. A dependência da vontade das outras faculdades e do coração não é somente
um ensino lógico, mas é fácil de encontrar provas disto na Escritura. Este ponto será
tratado na próxima parte deste trabalho. Porque todas as faculdades da
alma humana São corruptas, por virtude da corrupção do coração, o
homem está totalmente paralisado, incapaz de dar qualquer passo em
direção ãs coisas espiritualmente boas, isto é, agradáveis a Deus. Esta
doutrina é chamada incapacidade moral ou incapacidade total do homem.

INCAPACIDADE TOTAL
A doutrina da incapacidade total é o resultado da depravação total. Já explicamos a
depravação do coração do homem e de todas as suas faculdades.
Agora a questão a ser feita é esta: Como pode a vontade humana decidir apresentar atos
espiritualmente bons, ou ter a capacidade de escolha contrária, se ela é determinada pela

196 Rm 6.16-18, 20.


197 Gleanings, p. 152.

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condição do coração? Tem o homem poder moral para apresentar atos contrários ã sua natureza?
Aqueles que tentam estudar sobre a capacidade moral do homem, sem levar em conta a
depravação total do homem, cometem um sério engano.
Após 1618, quando os Remonstrantes tiveram sua proposta rejeitada pelo Sínodo de
Dort, a causa que eles defenderam começou a expandir e a se espalhar através de todo o mundo
cristão protestante. Hoje, a grande maioria dos cristãos não católicos, sustenta a posição de que

a vontade odomelhor
pensarem homem é capaz
sobre de apresentar
si mesmos, atos moralmente
e se esquecerem do que abons. E natural
Escritura para
diz que elesos homens
são, e sua
conseqüente incapacidade espiritual. Os Arminianos tentaram diminuir a natureza do estrago
causado pela queda, sustentando uma capacidade moral que, na verdade, foi perdida no Éden.
Em geral os Arminianos, que São uma versão similar, mas modificada, do
Semi-Pelagianismo, dentro dos círculos Protestantes, espalhados por todas as denominações,
afirmam com o metodista Wakefield que "as volições São perfeitamente livres de toda coação, seja
de fora ou de dentro." 198 Wakefield está absolutamente certo quando assevera que nada de fora
força o homem a tomar qualquer atitude, mas ele está totalmente enganado em relação ao de
dentro. Há alguma coisa na natureza humana que impede o homem de agir moralmente bem, ou
contrário à sua própria natureza. Mas Wakefield insiste que as volições dos homens podem ser
diferentes daquilo que o homem é. Criticando aqueles a quem ele considera partidários do
―necessitarianismo‖ (Lutero, Calvino e Jonathan Edwards), ele diz:

Mas se a doutrina da necessidade moral fosse verdadeira, que as volições e


ações dos homens não pudessem ser diferentes daquilo que eles são, todos os
homens seriam perfeitamente inocentes; porque certamente ninguém em sua
mente sã suporá que os homens possam ser culpados e, entretanto, serem
punidos justamente, se as ações deles e suas volições São necessárias e
inevitáveis.199 

Vejamos dois enganos importantes nesta citação: 1) Ele assevera de um modo negativo
que o homem é capaz de apresentar atos que São contrários a sua natureza; 2) Ele deduz que o
homem é considerado responsável somente quando ele apresente uma ação independente de sua
própria natureza, sem ser forçado de dentro. Portanto, ele crê que a vontade é independente da
condição do coração humano e das outras faculdades. Uma pessoa só pode ser considerada
culpada se ela pratica atos com sua vontade independente. De outra forma, ela é inocente.
Como Wakefield, assim pensa a grande maioria dos Arminianos. Eles se esquecem de que
a vontade está debaixo da influência da razão e das emoções, e debaixo do controle da ser mais
interior do homem, que é seu coração ou natureza. E uma questão de necessidade de
imutabilidade,200 isto é, os atos do homem não podem ser diferente daquilo que ele é, porque ele
está condicionado por sua natureza pecaminosa.
A descrição da natureza corrupta do homem não é precisa no Arminianismo. Eles crêem,
com a Escritura, que o homem está espiritualmente morto, mas o problema é saber o que eles
entendem por "morte", porque eles asseveram que o homem é moralmente capaz de dar o
primeiro passo com relação a Deus (como fazem os Semi-Pelagianos) ou responder positivamente
à chamada do evangelho, tomando uma decisão a respeito de sua própria salvação, sem ter a
necessidade de serem primeiro regenerados pelo Espírito Santo.
Se o homem fosse capaz, através de sua própria capacidade moral, de exercer um
 julgamento moral com
agindo de acordo correto,
essapor que desde aSeQueda
"capacidade"? temostem
o homem a grande maioria dos
esta capacidade homens
moral, não
por que
muitos deles não vêm a Cristo? Pensam eles que este assunto é apenas uma matéria de

198 Samuel Wakefield. A Complete System of Christian Theology , (Cincinnati: Walden and Stowe,
1868), p. 317.
199 Wakifield, p. 320.
200 Martinho Lutero havia feito a distinção entre Necessidade e Compulsão em sua disputa com
Erasmo: ―Por necessidade eu não quero dizer compulsão ; mas (como eles a denominam) a necessidade de
imutabilidade”. The Bondage of the Will, (Grand Rapids: William Eerdmans Publishing Co., 1931), p. 72.

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capacidade de distinguir corretamente entre o que é bom e o mal, o verdadeiro e o falso, Deus e as
outras deidades. A incapacidade moral causa no homem uma indisposição para com os padrões
de Deus para si próprio, mesmo embora ele seja capaz de admirar as qualidades boas em outros
homens.204 
A capacidade moral, por outro lado, "não é nada mais nada menos do que uma santa
natureza com santas disposições; é a percepção da beleza de Deus e a resposta do coração à
205 
excelência
Emeque
glória de Deus."
sentido Estanatural
é o homem capacidade o homem
moralmente perdeu com
incapaz? o pecado.
A resposta a esta pergunta é
muito longa. O homem pode manifestar sua incapacidade de várias maneiras. A Escritura é
muito clara e rica em textos sobre este assunto, e os Arminianos têm enormes dificuldades para
explicá-los. Esta matéria é uma espécie de golpe mortal para a teologia Arminiana. Por esta
razão, eles a odeiam, e acusam o Calvinismo de negar a responsabilidade humana.
Primeiro, vamos analisar aquilo que é relacionado com assuntos éticos:

1. O Homem é Incapaz de Sensibilidade Moral


Um dos resultados mais terríveis da queda é que o homem não é consciente do que
aconteceu dentro do seu coração. Mesmo se alguém diz em detalhes o que aconteceu, o pecador
não tem sensibilidade para perceber os efeitos do pecado. Suas capacidades sensitivas estão
paralisadas neste sentido. Pink observa que

há uma diferença entre ser totalmente ignorante de nossa condição e ser


insensível a ela. Os irregenerados podem adquirir um conhecimento teórico da
depravação total do homem, todavia, eles estão totalmente sem qualquer
sentimento dessa depravação neles próprios. 206 

Ele não tem senso de pecado, nem sente o peso dele. Esta insensibilidade moral é comum
a todos os homens naturais. Se não fosse assim, isto é, se todos os homens tivessem uma
consciência e sentissem dor por causa do fato deles estarem perdidos, e sujeitos à condenação,
todos eles estariam em desespero, procurando por uma solução para seus problemas em Cristo.
Mas eles não possuem esta sensibilidade moral. Não estão cônscios de sua depravação e estão
satisfeitos com a condição nas quais vivem, e eles não possuem nenhum interesse em ter uma
natureza diferente,
algumas virtudes dosdiferentemente daqueles que eles
cristãos, mas curiosamente Sãonão
cristãos. Eles para
as querem São capazes de Eles
si mesmos. admirar
não
querem ser cristãos. Por essa razão, eu creio que eles gostam da condição em que
vivem, porque ela se encaixa na disposições dos corações deles.
Se alguém diz que Jesus Cristo morreu sobre a cruz pelos pecados deles, isto não causa
nenhum impacto ou senso de culpa neles porque, de acordo com seus corações, o que aconteceu
na cruz não tem nada a ver com eles. Eles não possuem qualquer espécie de sentimentos
relacionados aos padrões de Deus. Eles não se preocupam em obedecer às leis de Deus porque
eles servem de lei para si mesmos. Eles criam seu próprio estilo de vida.
A insensibilidade deles está ligada à dureza de seus próprios corações. Paulo diz que eles
vivem com seus corações endurecidos e que eles "se tornaram insensíveis" 207  a respeito de
apresentarem qualquer espécie de pecado. A Escritura diz que eles possuem um "coração de

204 Um exemplo é Herodes, um homem sem capacidade moral que, contudo, admirava João Batista,
por suas boas qualidades, personalidade e pregação (Mc 6.20).
205 Pink, p. 236.
206 Pink, p. 168.
207 Ef 4.19. O verbo grego para ―tornaram-se insensíveis‖ é a\phlghko/tej , apontando que os homens a
quem Paulo se refere, ―haviam cessado de preocupar-se‖, isto é, eles não possuíam qualquer sensibilidade
por coisas espirituais. A conseqüência é que eles acabaram se entregando à sensualidade cometeram toda
sorte de impureza. ―Quando as pessoas continuam em pecado e apartam-se da vida de Deus, eles se tornam
apáticos e insensíveis a respeito de coisas morais e espirituais‖ (Charles Hodge. A Commentary on the
Epistle to the Ephesians, (Nem York: Robert Carter and Brothers, 1856)), p. 254.

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que eles estão seguindo. Esta conduta é chamada insensibilidade moral.

2. O Homem é Incapaz de Obediência Moral


Há muitas leis que qualquer ser humana, regenerado ou não, é capaz de cumprir,
simplesmente pelo fato de que ele possui capacidade física e intelectual. A queda trouxe dano
sobre o corpo e a mente, mas todos os homens ainda podem fazer muitas coisas com eles. O
corpo e a alma com
desapareceram foram seriamente
ela. Elas foramafetados pela danificadas,
meramente queda, mas mas
há capacidades naturais Elas
não desapareceram. que não
são
capacidades sem as quais o homem não podem ser o que São, nem podem viver sem elas no
mundo. Eles possuem capacidade de obedecer as leis da vida natural, leis de companheirismo,
leis do relacionamento horizontal.
Contudo, quando tratamos das leis verticais, das leis vinculadas ao relacionamento com
Deus, o quadro muda de figura. Nesse sentido, nossos poderes intelectivo-espiritual foram
profunda e mortalmente feridos. Paulo diz que os homens estão "obscurecidos de entendimento,
alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza dos seus corações" (Ef
4.18).
Com seus entendimentos obscurecidos, eles não podem entender o significado real da lei
de Deus. O entendimento das coisas do Espírito Santo está além da capacidade e, portanto, eles
não podem obedecê-los. Eles não podem produzir obediência moral, a menos que o Espirito
Santo
diz emabra-lhes o próprio entendimento, a fim de que possam ser iluminados. É isto o que Paulo
Ef 1.17-18:

"...para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda
o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os
olhos dos vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança nos santos..."

Segundo Pink,

Os poderes morais da alma humana estão paralisados pela queda. Escuridão


sobre o entendimento, ignorância na mente, corrupção das afeições, devem de
necessidade afetar radicalmente os motivos e a escolha. Insistir que a mente ou a
vontade tem um poder de agir contrariamente ao motivo, é um absurdo manifesto,
porque no caso não seria uma ato moral, de forma alguma. A verdadeira essência
da moralidade é uma capacidade de ser influenciada pelas considerações sejam
corretas ou errôneas. 213 

O homem reteve todas as coisas necessárias a fim de continua sendo um ser humano,
isto é, sua racionalidade, responsabilidade e uma constituição moral. Mas ele perdeu
completamente o grande principio da santidade e da retidão moral. Ele perdeu sua justiça
original, que o capacitaria a obedecer moralmente.

3. O Homem é Incapaz de Amar a Deus


Perdendo a capacidade de obedecer moralmente, o homem perdeu uma outra capacidade
importantíssima:
maior mandamento. Ele Esta
tornou-se incapaz
é a mais de amar lei
importante a Deus
moralsobre
que todas as coisas,na
está afirmada que o primeiro
Escritura (Mte
22.34-40). Mesmo embora ele seja capaz de mostrar afeição e amor por outros seres humanos,
ele é incapaz de amar a Deus. O amor pelo Senhor, Criador e Redentor, é contrário à sua  
natureza pecaminosa.
A falta de amor por Deus é uma inimizade contra Ele. Não existe qualquer intervalo entre
amor e ódio. Amamos ou odiamos. E a Escritura diz que a propensão por coisas da carne é
inimizade contra Deus.

213 Pink, p. 235.

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Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e


paz. Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito ã lei
de Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.6-7).

Essas pessoas, com o pendor da carne, não possuem a habilidade para amar a Deus e à  
Sua Palavra, a menos que a Graça intervenha.

Diversas vezes Jesus disse que as pessoas O odiavam, 214 mas certa vez Ele disse, com
profunda tristeza de alma: "Eles odiaram-me sem motivo" (Jo 15.25). Jesus não havia feito nada
errado para receber esse ódio. A causa do ódio estava dentro do coração deles. Onde o ódio está,
há a impossibilidade de haver amor. Ambas as coisas não podem coexistir. Este ódio foi
manifesto na rejeição dele: "Mas os seus concidadãos O odiavam, e enviaram após ele uma
embaixada, dizendo: Não queremos que este reino sobre nós" (Lc 19.14). Jesus contou esta
parábola para ilustrar o ódio deles pelo grande Rei. Era um ódio voluntário, deliberado, que se
evidenciava numa rejeição propositada. Eles perderam a capacidade de amor Aquele que tanto
amou pecadores! Isto é incapacidade moral!

4. O Homem é Incapaz de Amar Aqueles que são de Deus


Se isto parece um exagero, é necessário verificar esta verdade na Escritura e na própria
experiência humana. O homem natural tem a capacidade de amor outras pessoas simplesmente
porque elas são seres humanos. E uma espécie de senso de solidariedade humana ainda
presente nas vidas dos homens, porque sem ela, seria impossível para as pessoas viverem juntas.
Mas, se você quer ver a veracidade deste ponto, coloque um cristão genuíno no meio de homens
naturais. Estes são capazes de amar um ser humano, como já foi dito, mas incapazes de amar
aquele ser humano porque ele é um cristão. Ele pode até possuir admiração pelas qualidades do
cristão, mas ele o odeia. Onde está a prova disso?
 Jesus disse-nos o que iria acontecer. Eis suas palavras em Jo 15.20-21:

Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se
guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos
farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. 215 

Por que os fariseus, que odiaram Cristo, perseguiram Pedro e João, colocando-os na
prisão? Por que eles perseguiram Estevão até a morte? O ódio que eles tiveram para com aqueles
que eram filhos de Deus foi, em última instancia, um ódio contra Deus. Por essa razão Jesus
disse ao perseguidor dos cristãos: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
(At 9.4). Se um homem natural não tem qualquer amor pelos cristãos, é
porque eles odeiam ao Salvador deles. É impossível para o homem natural
amar aqueles que pertencem Aquele a quem odeiam. Pelo simples e
glorioso
conhece",fato
e de que somos
o mundo não chamados filhos
nos conhece de Deus,
"porque nãoo mundo "não
conheceu a nos
Ele
mesmo".  216
Quando o homem natural, que não tem o amor pelo Senhor, está envolvido com os

214 Jo15.18, 24.
215 Vejatambém Mt 5.11-12; 10.22; 24.9; Mc 13.13; Lc 21.12, 17; Jo 15.18, 19; 17.14; 1 Jo 3.13.
216 1 Jo 3.1  –   É justíssimo interpretar este verbo ―conhecer‖ hebraisticamente, significando uma
relação de intimidade, de preocupação especial, uma relação de amor.

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"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem é


que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o
qual é a imagem de Deus." (2 Co 4.3-4).

 
Esta é uma incapacidade natural. É espantoso que alguns cristãos ainda digam que o
homem seja capaz de responder ao chamando de Deus no evangelho sem primeiro ser renovado
pelo Espírito Santo!

6. O Homem é Incapaz de Vir a Cristo


Em pregação ouvimos freqüentemente que os pecadores não São somente convidados a
vir a Cristo, mas que eles têm a capacidade de vir. Conforme a antropologia Arminiana, a vontade
humana é capaz de dizer "sim" á chamada do evangelho. Como vimos antes, segundo a teologia
libertária, a vontade do homem não é tão afetada pelo pecado que chegue a ser surda às verdades
espirituais ou que seja totalmente corrupta. A pregação da maioria dos
pregadores arminianos assevera que a palavra final em matéria de
salvação pertence ao uso correto que o homem faz da sua vontade.
Mas Jesus, o Salvador, tem uma opinião totalmente diferente da condição do homem.
Segundo Ele, o homem é totalmente incapaz de vir a Ele. Veja o Seu ensino a respeito deste
terrível assunto: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia" (Jo 6.44).
O homem é um escravo de sua própria natureza, e ele tem que ser liberto dela por uma
obra sobrenatural. Até que esta obra aconteça em sua vida, ele continuará a ser um escravo do
pecado.219 Ele não pode vir a Jesus. Jesus deixou isto absolutamente claro, mas este ensino
causou problemas na mente de vários de seus discípulos. Provavelmente, como uma reação
natural de sua má formação teológica, eles desgostaram do ensino de Jesus a respeito da
incapacidade natural do homem.
Após a repetição da idéia da incapacidade do homem de vir a Ele (em Jo 6.64-65), "muitos
dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele" (6.66). Isto é o que os Arminianos
fazem. Quando
congregação a verdade
diferente a respeito
onde a incapacidade
podem partilhar do homem
sua própria é ensinada,
teologia libertária.eles
Elesprocuram umao
abandonam
lugar onde a verdade sobre o homem é ensinada. Esta é uma reação natural à verdade de Deus.
Por que o homem natural é incapaz de vir a Cristo? Porque ele não tine inclinação por
 Jesus e por Suas verdades. O ensino de Cristo lhe causa repugnância, porque "a alma do
perverso deseja o mal".220 Se isto é assim, como ele pode ter desejos de Cristo? Como ele pode vir
a Jesus sem possuir uma natureza disposta para isso?
De qualquer forma, é importante observar que há uma combinação perfeita das obras de
Deus na economia da salvação. A obra de salvação está totalmente presa ao desempenho da
 Trindade Santa. O Filho disse: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim" (Jo 14.6), e também disse
"Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (Jo 6.44). E o Espírito Santo
aplica estas coisas a nós pessoalmente. Oh, que obra graciosa e gloriosa é apresentada em favor
de homens caídos e impotentes!
Este é o único modo de vencer a impotência humana - a obra do gracioso Triúno Deus!
Fora de sua obra, o homem será sempre corrupto, manifestando sua depravação e incapacidade
espiritual.
Por esta razão, na fé Reformada a concepção de salvação está ligada intimamente à  
doutrina do pecado do homem. Como foi dito antes, é impossível entender a assim chamada "tão
grande salvação" a menos que se entenda a doutrina da "tão grande perdição". O entendimento

219 Jo 8.32, 34, 36.


220 Pv 21.10.

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PARTE IV 

A CONDIÇÃO

DO HOMEM NO
PLANO REDENTOR
DE DEUS 

(A DOUTRINA DO PACTO)

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o chama de "pacto eterno" (Hb 13.20).


A eternidade desse pacto se evidencia nas providências salvadoras tomadas por Deus
antes da criação do mundo (Ef 1.4, 7-11; 3.8-11; 2 Tm 1.9; 1 Pe 1.19-20; Ap 13.8; 17.8).

2. Este Pacto foi feito entre o Pai e o Filho


Quando falamos desse pacto entre o Pai e o Filho, estamos falando da vontade do Pai e da

disposição
Não deve ser doesquecido
Filho em realizar todas astoda
que a Trindade cousas propostas
participa destepor Deus
pacto, para
pois a salvação
Is 48.16-17 dádo pecador.
a entender
que o Espirito Santo também é enviado do Pai para realizar a Sua vontade neste mundo,
 juntamente com o Filho. Contudo, é mais comum dos textos a idéia de um pacto onde o Filho e o
Pai são as partes contratantes mais expoentes. O próprio Jesus Cristo falou que o Pai entrou em
pacto com ele, embora as nossas traduções não deixem a idéia clara. Veja o texto de Lc 22.29
"Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio." No grego, contudo, a idéia é
diferente. A palavra traduzida como "confiou e o verbo que significa "entrar num pacto". O verbo
grego é diati/qemai  de onde vem a palavra "pacto" –   diaqh/kh. Deus pactuou com Cristo para lhe dar
um reino, e nós somos parte desse reino, portanto, parte da herança que Deus deu a Cristo.
Deus, ante a incapacidade do homem de expiar os seus próprios pecados, fez um pacto
com Cristo de salvar alguns membros da raça caída em Adão. O próprio Deus, na pessoa de Seu
Filho, compromete-se a realizar e tornar eficaz esse pacto. O Filho seria o Mediador, a vítima
expiatória, o resgate e o Salvador dos beneficiários históricos do pacto.
O Pai e o Filho tomam a decisão comum de salvar criaturas caídas. O Pai seria o
representante da Trindade e o Filho o representante dos caídos, mas eleitos.
A Escritura mostra de maneira inequívoca que o Filho veio ao mundo para realizar uma
tarefa que o Pai lhe havia entregue, uma obra em favor dos homens, realizando a vontade de Seu
Pai.
Vejamos a análise de alguns textos:

Is 48.16-17 - "Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o


princípio; desde o tempo em que isto vem acontecendo tenho estado lá. Agora o
Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito. Assim diz o Senhor, o teu Redentor,
o Santo de Israel: Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia
pelo caminho em que deves andar."

Estas palavras são como que colocadas nos lábios de Cristo, como fizeram outros
escritores do VT. O Verbo é eterno. Num tempo quando ainda não havia tempo, a Trindade
entabulou um acordo. Desse acordo surgiu a decisão de enviar o Filho para a Redenção do
pecador e o Espírito para aplicá-la. Por isso que é dito que «o Senhor Deus me enviou a mim e o
seu Espírito." O Filho e o Espírito são enviados ao mundo para cumprir um propósito redentor da
Divindade. O texto diz que essas pessoas são enviadas, o que indica um acordo prévio entre elas.

 Jo 5.30 –  ―Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma porque ouço, julgo. O
meu juízo é justo  porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele
que me enviou.‖ 

vontade Édeclaro desteVoluntariamente


Seu Pai. verso que JesusEle
veio ao mundo aà mandado
submeteu-se de Seu aPai,
vontade dAquele queme para realizarfoi
Ele sempre a
submisso como Filho. Mas essa submissão indica que Eles tiveram um acordo antes de haver
história. Cristo foi enviado pelo Pai como produto de um pacto, como veremos adiante.

 JO 6.38-40 –  ―Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade;
e, sim, a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é
esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que

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Ele necessitava para executar o Pacto da Redenção.


(a) O Pai deveria dar ao Filho um corpo para começar a executar a sua obra redentiva (Lc
1.35; Hb 10.5).
(b) O Pai daria ao Filho todo o amparo necessário para a realização da obra da redenção
(Is 49.8; 61.1) e o tornaria vitorioso sobre a morte (5116.8-10, cf At 2.25-28) e sobre o diabo (Hb
2.14).

(c) O Pai
dar proteção ao daria
corpo ao
de Filho,
Cristo,como
Sua recompensa por Sua
Igreja (Jo 14.26; obra
15.26; perfeita, At
16.13-14; o Espírito
2.33). Santo que iria
(d) O Pai daria ao Filho uma semente numerosa, como recompensa por Sua obra
cumprida. Essa semente é de uma multidão numerosa que ninguém pode contar. Virão pessoas
de todas as terras, povos, línguas e nações (Si 22.27; 72.17; Ap 7.9-10; Mt 8.11).
(e) O Pai daria ao Filho toda a autoridade e poder nos céus e na terra para o governo do
mundo e de Sua igreja (Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.9-11; Hb 2.9; JO 17.5).

6. Este Pacto foi feito em favor do Pecador Eleito


Este pacto tem como objetivo a salvação dos caídos que foram entregues ao Filho. Não
havendo redenção, a escravidão haveria de continuar, e a sentença de morte seria posta em vigor.
A cruz de Jesus é a vitória sobre o pecado, a redenção completa.
Por causa da cruz, os condenados saem livres (1 Co 6.20). Todos os substituídos por
 Jesus deixam de ser pessoalmente malditos de Deus (Gl 3.13), porque Cristo levou pessoalmente
a maldição deles sobre Si.
O sangue de Jesus foi derramado para limpar os pecados dos filhos de Deus, as ovelhas
de Deus, aqueles que o Pai tinha entregue a Cristo (Hb 2.12-14, 15-18; Jo 17.2,3,6,8,9,10; Jo
10.11.14,15,16,27,28).

O PACTO DA GRAÇA REALIZADO NA HISTÓRIA


O Pacto da redenção foi estabelecido na eternidade, mas tão logo houve queda, Deus já
começou a anunciar redenção que, tempos depois, foi sabida ser nascida numa relação pactual
entre Deus e o homem, um anúncio histórico do que havia sido celebrado na eternidade entre o
Pai e o Filho.
Pordovárias
iniciativa pactovezes Deus anuncia
e convidou o homemseu pacto nesse
a entrar no decorrer da história.
pacto com Ele. Deus sempre tomou a

1. A Base para a Intervenção Graciosa de Deus


Está no anúncio da redenção prometido logo após a queda do Éden, em Gn 3.15. Se Deus
fosse apenas agir com justiça, Ele haveria de deixar o homem no estado de miséria e perdição,
mas Ele dignou-se anunciar a redenção tão logo houve queda.
O anúncio da redenção deu-se no que chamamos de  proto-evangelho, conforme
registro de Gn 3.15. Ali o Redentor é anunciado de maneira inequívoca. O primeiro Adão não fez
o que deveria fazer e lançou o homem na miséria. O segundo Adão agora é prometido, e Ele é
anunciado para revelar o plano que Deus possuía de glorificar-Se a Si mesmo na redenção dos
pecadores. Estas palavras de Gênesis são o evangelho como revelado no Paraíso.
A base para o estabelecimento do pacto é o anúncio soberano de Deus que resolve intervir
no assunto da miséria humana. E Ele resolve fazer isso de uma maneira graciosa e
misericordiosa.
Esta promessa de Gn 3.15 é uma promessa incondicional envolvendo a vitória da
Semente da mulher sobre a semente 4.a serpente. E uma promessa que enfoca a constante lute
entre as duas sementes, mas que afirma categoricamente a vitória da Vida sobre a morte. Deus,
portanto, em graça anuncia a salvação incondicional daqueles que estão sob a proteção da
semente da mulher.
A promessa graciosa, portanto,. está presente em Gn 3.15, mas a apresentação pactual
da graça vem posteriormente, mas o fundamento do pacto da graça está na soberania de Deus

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 161

que anuncia a redenção logo imediatamente após a queda.

2. A Intervenção Divina é Soberana e Incondicional


Deus diz: "Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar"(Gn 3.15).
Este não é um simples anúncio de inimizade entre a serpente e a mulher, mas produto da

imposição
‗ebhah) só édivina
sobre
aplicável
as criaturas
a seres racionais,caídas.
A palavra
não a animais. É ahebraica
para
inimizade
―inimizade‖
entre
 (
hfby")
seres morais
  –  
que são
livres agentes. Deus não instiga ou simplesmente promova a inimizade, mas decreta a existência
dela, fazendo com que os laços entre as duas sementes sejam quebrados.
Após a imposição da penalidade sobre a serpente e a mulher, Deus anuncia a vitória da
semente da mulher sobre a semente da serpente. E uma promessa divina que é imposta
soberanamente, onde Deus resgata e traz o homem novamente em misericórdia e graça.
Esta promessa graciosa de Deus é incondicional. Deus simplesmente impõe todas as
condições para o cumprimento dessa promessa. Toda a história da redenção está amarrada a
esta promessa e todos os eventos redentivos mostram como Deus interveio sobrenatural e
soberanamente na vida dos homens.
Aliás, Deus quase que sempre interviu incondicionalmente em matéria pactual. Foi assim
que Ele fez com Noé, Abraão, Jacó, Davi, etc.

AS PARTES CONTRATANTES
No aspecto eterno do pacto da graça o pacto é entre o Pai e o Filho, e na revelação histórica
dele, Deus entra em acordo com o pecador eleito em Cristo Jesus.
Definição: ―O pacto da graça é um acordo entre Deus e o pecador eleito; de sua parte,
Deus declara sua livre boa-vontade a respeito da salvação eterna, e todas as cousas relativas a
ela, que livremente são dadas aos que estão no pacto através de Cristo, o Mediador; por sua vez,
o homem mostra sua boa-vontade através de uma fé sincera.‖ 226 

AS PROMESSAS DO PACTO
AS CARACTERÍSTICAS DO PACTO
É um Pacto Gracioso

Com Origem Trinitária


Tem Conseqüências Eternas
Destinado a um Povo Especial
É o mesmo em Ambas as Dispensações 
O PAPEL DE CRISTO NA REALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PACTO

ASPECTOS DO PACTO
Relação Legal
Relação de Comunhão de Vida

AS VÁRIAS DISPENSAÇÕES DO PACTO DA GRAÇA

226 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God and Man, vol. 1, 164.

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1. PACTO DE DEUS COM NOÉ


 Textos para estudo - Gn 6.17-22; 8.20-22; 9.1-7; 9.8-17
Partes Contratantes - Deus fez este pacto com um homem "justo" (Gn 6.9), Noé, e com os
seus descendentes (Gn 9.9) envolvendo todos os seres vivos sobre a terra, isto é, todos os seres
debaixo da jurisdição do homem (Gn 9.10, 12, 15, 16, 17).
Tipo - Um Pacto Incondicional, contendo uma promessa incondicional dizendo que a
terra e os elementos vivos nunca mais haveriam de ser destruídos por catástrofe da natureza (Gn
9.9-10). Este pacto contém um compromisso divino claro de executar suas promessas, sem que
houvesse qualquer envolvimento de obrigação da parte da criatura humana. O cumprimento
dessas promessas independe da atitude dos homens para com Deus, mas somente do bom
prazer de Deus de realizar os seus propósito de preservação da sua criação. Visto que este pacto
abarca todas as criaturas vivas, tanto homens como animais, e estes últimos não possuem
qualquer condição de obediência ou obrigação para com Deus, pois não são agentes racionais,
Deus decidiu sozinho cumprir todas as obrigações que impôs sobre Si próprio, preservando a
terra, nunca mais a destruindo com água.
A incondicionalidade deste pacto está evidente do fato de não haver nenhum
mandamento para que o homem obedeça para que as promessas de Deus sejam cumpridas. Não
nenhuma sugestão de que as bênçãos prometidas sejam canceladas pela infidelidade do homem.
Não há como o homem possa quebrar esse pacto, pois ele é incondicional em suas promessas.
A incondicionalidade desse pacto está no fato dele ser um pacto eminentemente
monergistico. O selo mostrado no céu, o arco, é uma atestação de que Deus estabelece todas as
regras e Ele mesmo as cumpre. Somente Deus tem o controle sobre os elementos da natureza.
Não há nada que o homem possa fazer para evitar uma catástrofe. Somente Deus pode
estabelecer todas as promessas porque só Ele tem as condições de cumpri-las.
Um Pacto Eterno - O pacto é eterno no sentido popular do termo, que tem duração sem
fim. Ela continua através de todas as gerações subsequentes. O texto de Gn 9.9 diz que o pacto
seria com Noé e com a sua descendência após ele, "para gerações perpétuas" (9.12). e Gn 9.16
acrescenta: "O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e
todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra." A perpetuidade ou eternidade deste
pacto existe em razão do fato de Deus ter estabelecido o pacto, de seu aspecto monergistico e
unilateral. Porque tudo está nas mãos de Deus o pacto é eterno. A eternidade dele tem a ver
também com a incondicionalidade dele.
Um Pacto Amoroso - Este pacto revela a preocupação amorosa de Deus com a
preservação da Sua criação. Enquanto o mundo enfrenta o justo juízo de Deus, aqueles em quem
Deus pôs coração recebem o carinho especial de Deus, a promessa de um novo começo, um
estabelecimento novo de todas as coisas. Em Gn 3.15 Deus havia dito que da semente da mulher
haveria de nascer Aquele que esmagaria a cabeça da serpente. Foi através da preservação da raça
no pacto com Noé que aquela promessa foi possível. A destruição da descendência da serpente,
isto é, a humanidade apóstata, foi concomitante com a salvação de uma família e da preservação
dos representantes de cada espécie de animal, para o beneficio da própria nova humanidade que
haveria de surgir da família de Noé. Deus castigou a sua criação, mas não a destruiu por
completo. Deixou semente para um novo começo. A continuação da sua criação está no fato de
que a terra emerge novamente das águas do dilúvio, enquanto que a arca leva consigo a salvo a
raça humana representativa e a representação da vida animal. Não foi uma aniquilação da raça,
mas uma continuação, um novo começo. Observe-se também que a semente do pecado não foi
extirpada. A arca também carregou consigo filhos de Noé que vieram a se rebelar com Deus
posteriormente, na sua descendência. Cada pacto estabelecido por Deus é o estabelecimento de
um novo começo de Deus, para a limpeza da raça. Até que Deus complete a salvação do pecador,
o elemento de pecado sempre estará presente no meio da raça preservada por Deus.
A característica de um novo começo deste pacto fica evidenciada nos seguintes fatos:
a) Ordenanças com respeito á Propagação da Vida.
Visto que a raça humana havia sido reduzida à família de Noé, então podemos ouvir uma
repetição de algumas ordenanças originais da criação (veja-se Gn 9.1,7 cf Gn 1.28).

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 164

Neste pacto Deus resolve preservar o homem e as espécies (Gn 6.18-20) para estabelecer
um novo começo. Por esta razão, Noé e sua família são exortados a fazer o mesmo que foi
ordenado aos nossos primeiros pais e às espécies: "Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e lhes
disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra" (Gn 9.1,7).
Aquilo que foi prometido a Adão no Éden, isto é, a capacidade de dominar sobre os
animais (Gn 1.28), tem o paralelo no Pacto com Noé. Robertson diz que

"o juízo de Deus sobre o pecado trouxe uma desarmonia no papel de


dominador do homem sobre a criação. Como uma conseqüência, e temor e o terror
do homem desapareceu dos animais, dos pássaros e dos peixes da criação (Gn
9.2). O domínio do homem será exercido em um contexto anatural de terror e
medo".229 

Mas ainda assim o homem continuaria a ter o domínio sobre os animais, não somente
porque isto é parte da imagem de Deus nele, mas como produto também de uma relação pactual.
Se, por um lado, o pacto com Noé estabelece a ligação com o pacto da criação, por outro,
ele também nos conecta aos pactos redentivos subsequentes, quando nos aponta para a
libertação que Deus nos dá da morte e da destruição. A redenção para a qual este pacto aponta é

muito mais
redenção do ampla
cosmos,doo que inclue
simplesmente a salvação da alma do pecador. Ele aponta para a
o homem.
O pacto com Noé é uma antecipação da redenção futura e final do povo de Deus. O profeta
Oséias, quando fala da redenção final do povo, usa praticamente as mesmas idéias contidas
basicamente no pacto de Deus com Noé (cf Os 2.18 com Gn 6.20; 8.17; 9.9,10).
O pacto com Noé, portanto, é o elo de ligação entre a criação caída e o indício da criação
redimida.

As Promessas do Pacto com Noé


a) A promessa de não mais amaldiçoar a terra por causa do homem (Gn 8.21; 9.11).
Após o dilúvio Noé prestou culto a Deus com oferta de sacrifícios e Deus, como parte de
sua promessa pactual, decide não mais amaldiçoar a natureza por causa do homem (Gn
8.20-21). Ele já havia amaldiçoado a terra duas vezes: a primeira no Éden, após a queda, e agora

com a destruição da natureza


b) A promessa pelo dilúvio.
da preservação da regularidade das estações (Gn 8.22).
Há um paralelo desta promessa em Jr 33.20-25. Gerhardus Vos sugere que seja possível
que haja "mais do que uma introdução comparativa à idéia de berith; uma referência real ao
episódio do tempo de Noé é pretendida aqui." 230 Outro paralelo está em Is 54.9-10. Vos observa
ainda que

"o pacto com Noé permanece em sua infalibilidade como um tipo de uma
perpetuidade ainda maior da promessa do juramento de redenção feito por Deus.
A promessa a Noé tem seu limite na crise escatológica que trará o céu e a terra a
um fim, mas embora naquela catástrofe final as montanhas fujam e os montes
sejam removidos, todavia ainda assim a amabilidade de Deus nunca se apartaria
de Israel, nem o pacto da sua paz seria removido." 231 

A cessação das estações só acontecerá com a catástrofe final narrada em 2 Pe 3.10, onde
todos os elementos serão destruídos, mas enquanto esta terra durar, isto é, enquanto ela estiver
nas condições em que está agora, as estações continuarão, como produto da fidelidade de Deus
para com Sua promessa.

229 Robertson, p. 110.
230 Vos, Biblical Tehology, p. 66.
231 Vos, p. 66.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 165

c) A promessa de Salvação de Noé e de sua Família (2 Pe 2.5).


Essa salvação da família de Noé é típica da salvação da destruição do povo de Deus 1 Pe
3.20-21). No meio da escuridão e corrupção dos homens, Deus resolveu mostrar sua graça a um
homem e sua família. A Escritura diz que Noé "achou graça diante do Senhor" (Gn 6.8). O fato de
Noé ser um homem "justo e íntegro entre os seus contemporâneos‖ (v.9) é produto da graça de
Deus sobre ele. Se ele não houvesse sido agraciado por Deus, por certo, estaria nos mesmos

níveis de corrupção
dos outros homens doque seus
seu contemporâneos.
tempo, Se ele "andava
é porque ele "encontrou graçacom Deus"
da parte de(v.9),
Deus".diferentemente
Não há outra
explicação para tal comportamento. Deus interviu graciosamente com Noé e sua família. Quando
todos os homens encontraram o juízo de Deus por causa de seus pecados (v.5-7), Noé encontrou
o favor do Senhor. Não há base para se dizer que o pacto de Deus com Noé foi por causa da justiça
de Noé, mas produto unicamente da bondade de Deus.
As Características do Pacto com Noé  
(ver Palmer Robertson p.1 10-ss)

2. PACTO DE DEUS COM ABRAÃO


 Textos para estudo - Gn 15.9-21; 17

Partes Contratantes
Deus fez este pacto com um homem "justo", porque a Escritura diz que "Abrão creu em
Deus e isto lhe foi imputado como justiça" (Gn 15.6), e também com a sua descendência (v.18).
 Todavia, a menção direta de um pacto é feita em Gn 17.1-8. Foi um pacto concebido,
nascido, determinado, estabelecido, confirmado e dispensado pelo próprio Deus, como todos os
outros pactos. A Abraão coube a tarefa de ser obediente em todas as cousas.
Um Pacto Incondicional
Este pacto mostra uma unilateridade incrível, pois Deus simplesmente chama Abraão e
lhe dá um ordem para sair da terra e ir para uma outra terra, e cumprir todas as suas promessas
nele. Deus não sugere que se Abrão obedecesse, Deus cumpriria tudo o que havia prometido,
sem qualquer condição preenchida da parte de Abraão (Gn 17.1-8).
Um Pacto Amoroso
Um Pacto Eterno

A Eternidade do Pacto Afirmada


O capítulo 17 de Gênesis fala da eternidade desse pacto. Deus não nenhuma dúvida com
respeito à duração desse pacto. Ele repete várias vezes a mesma expressão no capítulo 17  –  
―Aliança Perpétua": 
- quando fala do pacto em si mesmo, ele diz: "Estabelecerei a minha aliança entre mim e
ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua..." (Gn 17.7);
- quando fala da posse da terra, Deus diz: "Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas
peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua..." (Gn 17.8);

- quando
circuncidado fala da
o nascido em circuncisão,
tua casa, e o que é o selo
comprado por do
teupacto, Deus
dinheiro; diz: "Com
a minha efeito,
aliança estaráserá
na
vossa carne e será aliança perpétua" (Gn 17.13);
- quando fala da descendência prometida a Abraão, Deus diz: "De fato, Sara, tua mulher, te dará
um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua
para a sua descendência" (Gn 17.19).
A idéia de "eternidade" ou "perpetuidade" deste pacto não significa apenas um longo
tempo. A idéia da eternidade deste pacto significa que ele nunca mais será desfeito. A eternidade

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Abraão ali habitasse (Gn 15.18-21).


Abraão propriamente dito não se apossou daquela terra, pois por causa da fome ali
reinante, desceu para o Egito para ali se abastecer (Gn 12.10). E curioso que o texto de At 7
afirma que Abraão mesmo não tomou posse de nenhum pé da terra que o Senhor havia
prometido (At 7.5).
Observe-se que mais tarde, quando voltou do Egito, depois da contenda com Ló, o Senhor

lhe relembra a promessa


Observe-se daquele grande
que a promessa pedaço
da terra de do
é parte terra (Gn(Gn
pacto 13.14-15).
15.18).
2.0 Filho Prometido - Deus havia prometido fazer dele uma grande nação (Gn 12.2), e sem
ter filho algum Deus lhe promete uma descendência extremamente numerosa (Gn 13.16; 15.1-5).
As preocupações humanas da esterilidade fizeram com que Sara humilhasse a escrava
Hagar (Gn 16.1-6). Abraão queria ver a sua descendência. Nasce Ismael (16.16-16), mas Deus
mostrou a Abraão que a sua descendência viria de Sara, mesmo Abraão tendo 100 anos e Sara 90
(Gn 17.1, 17), e que Isaque seria o filho da promessa (cf 17.2, 4, 7-8, 19-21).
3. A Bênção Prometida para todas as Famílias da Terra - Esta promessa encontra-se em
Gn 12.2b-3 -
Esta promessa fala-nos alguma coisa da universalidade das bênçãos de Deus. Todas
as famílias da terra haveriam de ser abençoadas em Abraão. Deus havia escolhido uma família
que haveria de ser o canal de bênçãos para todas as famílias da terra. Gerhaardus Vos diz que "a
eleição de Abraão, assim como o desenvolvimento posterior da coisas de Israel, foi significando
um meio particularista para um fim universalístico". 232 
O eco desta promessa é repetido várias vezes a Abraão (Gn 15.18; 17.8; 18.17-19;
22.15-18) relembrada a Isaque (26.2-5) e a Jacó (28.10-15). O eco forte desta promessa atravessa
o VT e chega ao NT (At 3.25-26; Gl 3.8-9).
É importante observar que estas três promessas: terra, descendência e bênção sobre toda
a terra, estão intimamente ligadas, e têm seu foco principal em Cristo, e são o instrumento para
que a promessa mãe de Gn 3.15 seja plenamente cumprida.

Promessas Específicas
Até esse ponto de Gn 12 não há   ainda o que formalmente chamamos "pacto". Somente
mais tarde, com o surgimento de algumas incertezas da parte de Abraão, é que Deus confirmou
as promessas com um juramento. A palavra "pacto" aparece pela primeira vez com Abraão em
15.18.
As três promessas, que chamo de promessas específicas do pacto da graça, estão
claramente colocadas por Deus ao povo de Israel, mas que têm o seu gérmen nas promessas
feitas a Abraão, muitos anos antes.

Lv 26.12: ―Andarei entre vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.‖  

a) Promessa de Deus estar presente no meio do povo

Lv 26.12 –  ―Eu andarei no meio de vós‖ 

É uma promessa de restauração


Não podemos nos esquecer de que, quando Deus criou Adão, Ele andava com o homem no
 jardim, fazendo-lhe companhia (Gn 3.8) Havia perfeita comunhão entre o Criador e a criatura.
Eles andavam juntos porque Deus estava presente no jardim. Quando o pacto das obras foi
quebrado no jardim do Éden, o homem ficou privado da companhia divina. Adão foi expulso da

232 Ver Vos pp. 89-92.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 168

presença de Deus, perdendo todos os privilégios da sua companhia.


O pacto da graça, formalizado historicamente com Abraão, traz de volta essa promessa de
o povo ter novamente a presença de Deus no meio dele. Deus traz de volta a sua presença perdida
no Éden por causa do pecado. O pacto da graça feito com Abraão é uma iniciativa unicamente
divina, que inclui a retirada da barreira que separava Deus do homem.

É uma promessa de comunhão


―Eu andarei no meio de vós‖ - E altamente consoladora essa promessa, porque devolve ao
homem parcialmente a sua condição original de gozo da presença de Deus. A comunhão com
Deus sempre foi o anelo do seu povo. Davi expressa essa sede e a necessidade dela dizendo:
"Quem mais tenho eu no céu Não há outro em quem eu me compraz na terra. Ainda que a minha
carne e o meu coração desfalecem, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para
sempre" (Sl 73.25-26). E esse o tipo de anelo que todos temos na alma: a sede da comunhão
plenamente restaurada com Deus.
Deus promete ao seu povo essa bênção maravilhosa e a cumpre plenamente no período do
NT. Por essa razão, João nos diz que «a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo" (1 Jo 1.3b). A comunhão perdida no Éden é restaurada através da vida e obra de Jesus
Cristo em favor do povo de Deus.

b) Promessa de Yehovah ser o Deus da Descendência de Abraão

Lv 26.12 - "Eu serei o vosso Deus..."

Essa promessa ao povo de Israel no deserto é um eco da promessa de Deus feita a Abraão,
séculos antes:

Em Gn 17.7-8 - "Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua


descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua,  para ser o teu
Deus, e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência, a terra das tuas
peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus."

Deus faz uma promessa de natureza espiritual bastante especifica: Deus promete ser
para sempre o Deus de Abraão e da descendência dele.

c) Promessa de a Descendência de Abraão ser Povo de Yehovah

Lv 26.12 - "...E vós sereis o meu povo."

Deus não somente prometeu que seria o Deus da descendência de Abraão, mas que
também a sua descendência seria povo dEle. Em outras palavras, Deus está dizendo: ―Vocês são
meus‖. O povo no meio do qual Yehovah anda, e de quem é o único Deus, é também propriedade
do Senhor. Moisés disse ao povo no meio do deserto:
Dt 14.1a - "Filhos, vós sois do Senhor vosso Deus". Isto significa que eles não mais
pertenciam
mas sempreapresos
si mesmos,
agoraeàs
que não poderiam
ordenanças fazer nada
do Senhor. Elesdenão
acordo
maiscom as donos
eram suas próprias idéias,
de si mesmos,
entregues às suas próprias paixões, como os outros eram, mas eles deveriam seguir os preceitos
dAquele a quem pertenciam.
Deus lhes deu as proibições para fazer as cousas que os outros povos faziam. Agora os
israelitas eram de Deus, e teriam que cumprir somente as cousas próprias dAquele que os havia
chamado. O povo do pacto, que tinha a comunhão com Yehovah, não poderia quebrar os
mandamentos já previamente estabelecidos.
Dt 14.2 diz: "Porque sois povo santo ao Senhor vosso Deus, e o Senhor vos

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deles"(Ex 2.25-26).
Assim, a libertação do povo de Israel do Egito tem a ver com as bênçãos prometidas a
Abraão.
Ler S1105.8-12, 42-45; 106.1-5, 43-48

Não podemos isolar o pacto sinaítico do pacto abraâmico, porque haveríamos de fazer
uma injustiça com a Escritura.
O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça
Ele é um pacto gracioso e espiritual antes que uma formulação legal, onde se ganha a
redenção por meio da obediência à lei. Embora haja aspectos legais e cerimoniais que são
estabelecidos pelo próprio Deus para uma nação, todavia, essas prescrições legais e cerimoniais
são indicativas de uma realidade superior futura. Não há nenhuma diferença essencial entre o
pacto da graça debaixo da administração abraâmica e a mosaica.
A promessa principal encontrada no pacto abraâmico é exatamente a mesma encontrada
no Sinaítico: ―Tomar-vos-ei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor
vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito‖ (Ex 6.7). Observe a identidade do pacto
da graça com Abraão com o Sinaítico, no texto seguinte: Dt 29.12-13 - "...para que entres na
aliança do Senhor teu Deus, e no seu juramento que hoje o Senhor teu Deus faz contigo; para que
hoje te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teus
pais, Abraão, Isaque e Jacó."
A promessa principal feita a Abraão nunca foi anulada pelo estabelecimento do pacto
Sinaítico. Ao contrário, ela foi confirmada, como demonstra Paulo: Gl 3.17-18 –  ―E digo isto: uma
aliança anteriormente confirmada, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode
ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque se a herança provem de lei, já não
decorre da promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão". A
promessa feita a Abraão é reafirmada em cada uma das dispensações do pacto da graça. Além
disso, temos que observar que a ênfase que é dada no pacto sinaítico é a de que ele é espiritual,
embora não exclua as bênçãos materiais, que são indicativas de cousas superiores. As bênçãos
materiais são, em si mesmas, sinais do Deus gracioso que se une pactualmente a Israel. Todavia,
o cumprimento da lei mosaica é, em si mesmo, puramente espiritual, porque ela se resume no
amor a Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a si mesmo (Dt 6.4-8; Lv 19.18 cf. Mt
22.37-39).
A gratuidade do pacto sinaítico fica evidente do fato de Deus institui-lo, iniciá-lo,
estabelecê-lo, confirmá-lo e cumpri-lo soberanamente. John Murray chama isto de "uma
administração monergistica da graça‖. 233 
É um pacto gracioso porque ele é administrado e selado com sangue (Ex 24.6-8) que é
típico do sangue de Cristo, que é chamado de sangue do pacto (Mt 26.26).

O Pacto Sinaítico é um Pacto Nacional


Ele foi estabelecido com a nação de Israel quando ela estava no Sinai, após ter sido
libertada do Egito, onde permanecera por cerca de quatrocentos anos. Esse pacto foi renovado
algumas vezes com a nação durante os tempos de peregrinação no deserto:
1) O Pacto foi renovado após o grave pecado da adoração do bezerro de ouro.
A idolatria com Arão mostra que o povo não havia respondido positivamente ao pacto feito
com o povo. Do povo Deus disse a Moisés: Ex 32.7-8 - "porque o teu povo, que fizeste sair do
Egito, se corrompeu, e depressa se desviou do caminho que lhes havia eu ordenado; fizeram para
si um bezerro fundido, e o adoram, e lhe sacrificam, e dizem: São estes, ó Israel, os teus deuses,
que te tiraram da terra do Egito.‖ Percebendo a ira iminente de Deus, Moisés intercede pelo povo,
lembrando ao Senhor o pacto feito no passado: Ex 32.13 - "Lembra-te de Abraão, de Isaque e de
Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste:
Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas do céu, e toda esta terra de que tenho

233 The Covenant of Grace, p. 21.

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falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente." Deus,
então, em misericórdia, renova o pacto ali com Moisés, após dar as Tábuas a Lei novamente (Ex
32.14; 34.10).
2) O Pacto foi renovado com a geração seguinte, que havia nascido no deserto, nas
planícies de Moab.
Dt 29.1 - "São estas as palavras da aliança que o Senhor ordenou a Moisés fizesse com os

filhos deNessa
Israelrenovação
na terra dedo
Moabe,
pactoalém da aliança
condicional foique fizera comnovamente
reafirmada ele em Horebe."
a necessidade de
obediência da parte do povo, para que participasse do pacto e dos benefícios das promessas dele
(Dt 29.9-29).
3) O Pacto foi relembrado por Deus a Josué, na posse da terra, quando Deus ordenou que
os dois sacramentos do pacto da graça fossem administrados.
 Josué circuncida a segunda geração dos filhos de Israel que não haviam sido
circuncidados no deserto Js  5.1-8).
 Josué celebra a páscoa com a segunda geração pela primeira vez desde que entraram na
terra (Js 5.10-12). É curioso observar que a administração da circuncisão foi pré-requisito para a
administração da páscoa (Ex 12.43-49).
4) O Pacto foi lembrado outra vez antes da morte de Josué (Js 23.6-16), na região de
Siquém.
Antes um pouco de morrer, Josué reúne o povo e lhes relembra o Pacto de Deus com
Abraão, Isaque e Jacó, e o pacto com Moisés (Js 24.2-7). Então apela para a renovação que ele
próprio faz do pacto (v. 14-15), provocando a resposta do povo em disposição de obediência (v.
17-24). E o texto continua, no v.25 - "Assim, naquele dia  fez Josué aliança com o povo, e lha pôs
por estatuto e direito em Siquém," estabelecendo, em seguida um documento formal de
obediência aos estatutos do Senhor (v.26-27).
5) O Pacto é violado durante o período dos Juizes
Deus nunca havia invalidado a sua aliança com o seu povo (Jz 2.1), mas continuava a
pedir a fidelidade do povo (Jz 2.2). Após a morte de Josué e de todos os de sua geração (que foram
fiéis ao pacto Jz 2.8-10), levantou-se uma outra geração que não guardou a aliança, tornando-se
idólatra (Jz 2.10-13). Deus levantou-lhes juizes, mas eles não os obedeceram (v. 16). A despeito
dessa desobediência, o Senhor era gracioso com eles, compadecendo-se deles (v. 18), mas tão
logo o Senhor os livrava dos inimigos, eles voltavam-se para a idolatria novamente. Nesse
período, por causa da sua promessa de castigo pela violação do pacto, Deus entregou-os nas
mãos de povos que acabaram habitando na terra que Deus prometera dar somente a eles
(v.19-23). O período dos juizes, portanto, foi um tempo de desordem e de falta de real autoridade.
O próprio livro termina, dizendo: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que
achava mais reto"(Jz 21.25).

4. O PACTO DE DEUS COM OS LEVITAS


Partes Contratantes - Finéias e os seus descendentes de linhagem levítica (Lv 25.12).

Tipo - Um Pacto Incondicional

Finéias Anapromessa
linhagemdosacerdotal.
sacerdócioÉé uma
uma promessa
promessa implícita
divina incondicional de manter
com juramento de que,a em
família de
Israel,
nunca haveria de faltar um sacerdócio fiel.

Estabelecimento do Pacto
Este pacto tem sido um dos mais negligenciados dentro da teologia Reformada. A própria
Escritura fala relativamente pouco dele, embora haja algumas referências diretas e outras
indiretas a ele. É até surpreendente que a Carta aos Hebreus, que trata do sacerdócio, não o
mencione, nem o compare ao sacerdócio de Cristo ou de Melquisedeque.
A maior referência deste pacto está registrada em Nm 25.1-31, que analiso rapidamente:

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5. PACTO DE DEUS COM DAVI


Partes Contratantes - Deus estabeleceu este pacto com o fiel rei Davi após a sua devoção
a Deus como rei de Israel e como o vassalo ungido (2 Sm 7.5-16; 51 89.1-3)
Estabelecimento do aPacto
Davi já havia trazido Arca da Aliança de volta para o tabernáculo em Jerusalém (l Cr
15.25-29). Então, segue-se o estabelecimento do pacto.

2 Sm 7.12-16  –   ―Quando teus dias te cumprirem, e descansares com teus


pais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e
estabelecerei o teu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei
para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se
vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens, e com açoites de filhos de
homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a
quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para
sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre." (cf l Cr 17.11-14)

Davi. O Salmo 89, na sua totalidade, lembra de maneira inequívoca o pacto de Deus feito com
O cumprimento do pacto com Davi foi cumprido com o levantamento do reino de Salomão
(l Rs 8.20, 23-26), a quem Davi ordena obediência às palavras do Senhor (2 Rs 2.1-4). Deus
reconfirma com Salomão o pacto feito com Davi (l Rs 9.5)
 Tipo - Um Pacto Incondicional - Esse pacto é ratificado ou confirmado por Davi.
Simplesmente Deus estabelece soberanamente o pacto. John Murray diz que o pacto ―é uma
dispensação soberana, divino em sua origem, estabelecimento, confirmação e cumprimento". 235 
Após fazer uma análise dos dados da Escritura sobre esse pacto, Murray conclui:

―Um estudo destas passagens mostrará que o aspecto mais marcante é a


segurança, a determinação e a imutabilidade da promessa divina.. .A certeza do
cumprimento surge da promessa e do juramento de Deus... Nenhum exemplo de
pacto do VI' dá um apoio mais claro à tese de que um pacto é promessa soberana,
uma promessa solenizada pela santidade de um juramento, imutável em sua
segurança e divinamente confirmado no que respeita à certeza de seu
cumprimento."236 

Nesse pacto, Deus faz uma promessa incondicional de estabelecer e manter a dinastia
davídica no trono de Israel. Em Israel nunca haveria de faltar um rei que ocupasse o lugar de
Davi.
Semelhantemente ao pacto abraâmico, Deus fez exigências que deveriam ser obedecidas
pelos descendentes de Davi (l Rs 9.4-9). A responsabilidade pactual não está ausente. Davi viveu
em fidelidade pactual, como o próprio Deus declara. Não aconteceu o mesmo com Salomão e com
o restante da descendência de Davi.
Esse pacto divinamente estabelecido é incondicional. Contudo, para que houvesse
apropriação pessoal das promessas dele, as pessoas tinham que obedecer as suas prescrições,
que eram as mesmas relacionadas aos pactos anteriores. Muitos dos descendentes de Davi não
obedeceram as prescrições divinas, e perderam o reino, mas nunca faltou alguém que se
assentasse no lugar de Davi. Não obstante os pecados de Davi e dos seus filhos, o pacto
permaneceria (l Rs 11.1-3,9-13; 2 Cr 21.7). Deus enviou os castigos aos descendentes infiéis de
Davi, como Deus justo que é. Contudo, os pecados dos homens não haveriam de anular o pacto

235 The Covenant of Grace, 22.


236 The Covenant of Grace, 23.

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de Deus, que é absolutamente incondicional.

Sl 89.30-36 –  ―Se os seus filhos desprezarem a minha lei, e não andarem nos


meus juízos, se violarem os meus preceitos, e não guardarem os meus
mandamentos, então punirei com vara as suas transgressões, e com açoites a sua
iniquidade. Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha

 fidelidade.
 proferiram. Não
Umaviolarei a minha
vez jurei aliança,
por minha nem modificarei
santidade (e serei euofalso
que aosDavi?):
meus lábios
a sua
posteridade durará para sempre, e o seu trono como o sol perante mim.

O Salmo 132 também é um eco do pacto feito com Davi, onde Deus promete
incondicionalmente se interpôs com juramento para abençoar a sua casa e erigir o seu trono.

Aspectos do Pacto Davídico

1. É uma Continuação do Pacto da Graça


Este pacto é uma continuação do pacto da graça, que começou a ser anunciado com
Abraão, continuou com Moisés no Sinai, e continua através de todo o VT, chegando ao tempo de
Davi. Há algumas indicações de que o pacto é o mesmo:
A despeito da desobediência de muitos reis, sucessores de Davi, Deus não destruiu o povo
por causa da sua promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó (2 Rs 13.22-23);
As tábuas da Aliança às quais Salomão se refere, são as mesmas que Deus deu a Moisés
(l Rs 8.21). As prescrições de Deus para todas as dispensações velho-testamentárias do pacto são
as mesmas.
A promessa de ser o Deus do povo é a mesma ( ).
Contudo, com Davi o pacto tem um aspecto novo, que é a promessa da Realeza do
Redentor do pacto. Davi faz menção dessa aliança num salmo que esta- registrado em l Cr
16.14-22.

2. E um Pacto Eterno
Um pacto pode ser incondicional e não ser eterno. Mas com Davi Deus prometeu algo que
durará para sempre. Antes de morrer> Davi falou palavras que evidenciam a eternidade do pacto
que Deus havia feito consigo: 2 Sm 23.5 - "Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo
bem definida e segura.‖ 
Sl 89.28-29 - "Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e firme com a minha aliança.
Farei durar para sempre a sua descendência, e o seu trono como os dias do céu.‖ 
O texto de Lc 1.32-33, já mencionado acima, mostra claramente a eternidade do pacto
davídico.
A inviolabilidade e a eternidade do pacto davídico é enfatizada pela indicação de que ele é
tão certo quanto é certo o pacto que Deus fez com Noé do dia com a noite.

 Jr 33.20-26 –  ―Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com


o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite
a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo,
para que não tenha filho que reine no seu trono.. .v.25 - Assim diz o Senhor: Se a
minha aliança com o dia e com a noite não permanecer, e eu não mantiver as leis
fixas dos céus e da terra, também rejeitarei a descendência de Jacó, e de Davi,
meu servo, de modo que não tome de sua descendência quem domine sobre a
descendência de Abraão, Isaque e Jacó; porque lhes restaurarei a sorte e deles me
apiedarei."

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6. O NOVO PACTO
 Texto para estudo - Jr 31-31-33; 32.38-40; Hb 8.

PARTES
Um pactoCONTRATANTES
feito entre Deus e o Israel rebelde, a quem Ele chama de "casa de Israel e casa
de Judá" (Hb 8.8). 237 

O ESTABELECIMENTO DO NOVO PACTO


 Jr 31.31 - "Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e
com a casa de Judá"
Ez 16.60-63 -
Ez 37.26 - "Farei com ele aliança de paz; será uma aliança perpétua. Estabelecê-los-ei e
os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para sempre."

TIPO - UM PACTO INCONDICIONAL

É uma promessa incondicional feita a um Israel rebelde que consiste no perdão de seus
pecados e na re-estabelecimento da comunhão de Israel com Deus numa nova base, onde Deus
haveria de inscrever nos corações deles a Sua lei - um pacto de pura graça,
mediante a vinda do Renovo.
A incondicionalidade do pacto está patente no modo como Deus o estabelece. Ele diz: ―Eu
firmarei um pacto.. ."(Hb 8.10). Nessa maneira de falar, Deus expressa a Sua soberania de
autoridade, de poder, de veracidade e, ao mesmo tempo de Sua graça. Ele é a causa única e o
autor único do novo pacto.

O TEMPO DO CUMPRIMENTO DO NOVO PACTO


 Jr 31.31; Hb 8.8  –  ―Eis aí vem dias... 
 Jr
Há31.33 – 
 ―...depois
algumas daqueles
idéias na dias...." 
tentativa de explicar o significado das palavras "depois daqueles
dias".
1) Uns pensam que a expressão «depois daqueles dias" se refira ao tempo imediato ao
Cativeiro da Babilônia, referindo-se especificamente à volta dos cativos para a terra, porque uma
das promessas tinha a ver com a volta do povo à terra de Israel e a reconstrução da cidade (Jr
31.38-40).
Contudo, essa idéia não pode ser aceita porque os Israelitas voltaram do cativeiro,
construíram os muros e a cidade, mas o pacto não foi feito naqueles dias. Após a volta do
cativeiro, eles não foram os donos e os governadores da terra. Outros povos dominaram sobre
eles, até o estabelecimento do novo pacto, séculos mais tarde.
2. Outros pensam que a expressão «aqueles dias" se refere à completação dos dias da
revelação velho-testamentária, ou da dispensação da Velha Aliança, que haveria de vigorar até o
advento do
reforma" (HbMessias.
9.~10), oOtempo
escritor aos Hebreus
quando chamaria
as cousas "aqueles dias"
novas haveriam de «o tempo oportuno da
de aparecer.
Certamente, Jeremias está tratando de dias específicos, limitados e futuros, mas ainda
indeterminados. Jeremias não sabia precisamente de que tempos estava falando. Todavia, para
nós, hoje, não é dificil precisar que dias seriam aqueles, pois temos a história da redenção diante
de nós de uma maneira patente.

237 Essa divisão da posteridade de Abraão deu-se somente nos dias do rei Roboão. Antes dessa
divisão, essa posteridade era chamada simplesmente de ―casa de Israel‖. É por essa razão que, na maioria
dos casos aparece unicamente a expressão ―casa de Israel‖ (Hb 8.10). 

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que não podiam fazer nada em favor daqueles por quem intercediam, mas o Sacerdócio do Novo
Pacto era poderoso para salvar os pecadores (Hb 7.25).
O sacerdócio do antigo pacto era composto de pecadores que tinham que oferecer
sacrifícios por si mesmos, enquanto que o sacerdote do Novo Pacto era sem mácula, separado dos
pecadores (Hb 7.26-27).
O sacerdócio levítico era imperfeito (Hb 7.11); o sacerdócio segundo a ordem de

Melquisedeque, que é levítico


Os sacerdócio Cristo, era
é perfeito (Hb 7.28).
constituído sem juramento (Hb 7.20), enquanto que o Sacerdote
do novo pacto foi constituído por Deus com juramento (Hb 7.21). Por essa razão, ele permaneceu
para sempre.

b) Superioridade quanto aos Sacrifícios


Os sacerdotes do pacto sinaítico ofereciam um cordeiro macho, sem defeito (ou sangue de
bodes e touros) que era ineficaz. O Sacerdote do Novo pacto oferecia um Cordeiro perfeito, sem
mácula, separado dos pecadores, de superioridade inquestionável.
Os sacerdotes do pacto sinaítico ofereciam sacrifícios que eram repetidos todos os dias,
devido à imperfeição deles. Os sacrifícios do antigo pacto eram apenas simbólicos e indicativos do
sacrifício perfeito, que foi oferecido uma vez para sempre (Hb 7.27; 9.24-26).
Os eram
9.1-6) que sacrifícios da primeira
ineficazes aliança (aaqueles
para aperfeiçoar sinaítica)
quepossuía os rituais
prestavam do 9.9),
culto (Hb cultoenquanto
sagrado que
(Hb
o único sacrifício da nova aliança tornava santificados os adoradores (Hb 2.11; 9.11-14; 10.14).
Os sacerdotes da antiga aliança ofereciam sacrifícios que eram fora deles mesmos,
alguma coisa que eles possuíam, enquanto que o Sacerdote da nova aliança oferece-se a Si
mesmo pelos pecados do povo.

c) Superioridade quanto ao Lugar dos Sacrifícios


Os sacerdotes do velho pacto assentavam-se no tabernáculo terreno, construído por
homens, enquanto que o Sumo-Sacerdote do novo pacto adentrou um santo dos santos
diferente, superior. "Ele assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do
santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem" (Hb 8.1-2).
Hb 9.24 - "Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus."

c) Superioridade quanto à Administração da Lei:


A velha aliança era caracterizada pela doação da lei objetivamente aos filhos de Israel; a
nova aliança tem a mesma lei, mas ela é tornada interior, gravada no coração.

d) Superioridade quanto às Promessas


O escritor aos Hebreus deixa bem claro que as promessas do novo pacto são bem
superiores às do pacto sinaítico:

Hb 8.6 - "Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente,
quando é ele também mediador de superior aliança instituída com base em
superiores promessas."

As promessas do pacto sinaítico apenas apontava para cousas futuras que eram
superiores em conteúdo.

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e) Superioridade quanto ao conceito de Redenção


 —   A redenção conseguida no pacto sinaítico era apenas terrena, do jugo do domínio do
Egito; a redenção conseguida pelo novo pacto é redenção do pecado.
 —   A redenção conseguida no pacto sinaítico era temporal, enquanto que a redenção
obtida no novo pacto é eterna

Hb 9.11-12 – 
realizados,   ―Quando,
mediante o maiorporém,
e mais veio Cristo
perfeito como sumo
tabernáculo, sacerdote
não feito por dos bens
mãos, já
quer
dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo
seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido
eterna redenção."

 —  A redenção do sangue da velha aliança purificava as cousas físicas da carne, ou cousas
terrenas, enquanto que a redenção do novo pacto purificava interiormente, a consciência.

Hb 9.13-14 ―Portanto, se o sangue de bodes e de touros, e a cinza de uma


novilha, aspergida sobre os contaminados, os santifica, quanto à  purificação da
carne, muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se
ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para
servirmos ao Deus vivo!

PROMESSAS DO NOVO PACTO

1. A Promessa da doação de um novo coração


Essa promessa não entra explicitamente no novo pacto, mas é fácil perceber pelo contexto
de Jeremias e Ezequiel que ela é parte integrante desse pacto gracioso.

Ez 36.25-27a - "Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados;


de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.
Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração
de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito..." (cf Ez
11.19)
Esta não é a primeira promessa do novo pacto, mas é a mais importante, porque sem ela,
as outras promessas de aplicação pessoal da redenção não podem ser cumpridas.
Do novo pacto faz parte a promessa da renovação do coração, que é a mesma coisa que a
implantação da vida, ou regeneração. E uma promessa de dar um coração «de carne", isto é,
sensível em contraposição ao coração endurecido, «de pedra".
O coração de pedra, isto é, endurecido, é o lugar de toda a corrupção. Os filhos do povo de
Deus recebem um coração sensível, agora pronto para receber a lei de Deus dentro dele. Então, a
alienação de Deus é retirada, e os filhos do povo de Deus passam a ter santas disposições para
com a lei de Deus.

2. A Promessa da Interiorização da lei de Deus


Essa promessa é a conseqüência natural da primeira. Somente um coração renovado pelo
Espírito pode ter dentro de si as leis de Deus inscritas. A lei de Deus tem que ser interiorizada no
coração, porque ali é a sede de todos nos nossos pecados e precisa ser limpa pela Palavra de
Deus.

 Jr 31.33 - "Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois
daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no
coração lhas inscreverei...”  

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3. A Promessa de um Conhecimento Pessoal do Senhor


 Jr 31.34 - "Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu
irmão, dizendo: Conhece ao Senhor,  porque todos me conhecerão, desde o menor
até ao maior deles, diz o Senhor.‖ 

Essa promessa é exatamente decorrente da segunda, porque não pode haver nenhum
conhecimento de Deus, a menos que Deus tome a iniciativa de interiorizar as Suas leis nas
mentes e nos corações dos homens.
O conhecimento de Deus foi algo que Deus sempre quis que o seu povo tivesse de Si.
Desde o começo das suas alianças Deus prometeu que o povo o conheceria. Ele deu-se a
conhecer através das suas leis escritas, no pacto sinaítico, mas eles não conheceram o Senhor.
Ele queria que as suas leis estivessem dentro dos corações dos homens. Por essa razão, Ele deu
certas prescrições estabelecidas muito claramente (Dt 6.5-9). Mas o conhecimento de Deus no
coração dependia do estudo, de colocar na mente pelo constante contato com as leis. O homem
não deu conta de internalizar as leis de Deus, pois a internalização dependia do esforço pessoal.
A impotência do homem para essas coisas sempre foi algo tristemente notável. Que fez> então,
Deus? Deus prometeu que Ele mesmo haveria de tornar essas leis interiorizadas, fazendo com
que Ele fosse realmente conhecido> dando-lhes um coração novo. Observe a Sua promessa: Jr
24.7 - "Dar-lhes-ei coração novo para que me conheçam, que eu sou o Senhor; eles serão o meu
povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.>' Com a doação
de um novo coração, então, o homem pode chegar a um verdadeiro conhecimento de seu Deus.
Essa promessa é gloriosamente linda, porque ela é cumprida em Cristo Jesus e tornada
eficaz pelo Espírito Santo (Jo 17.3). O real conhecimento de Deus é o alvo de todos os filhos do
povo de Deus! Conhecer Deus é ter a comunhão imperdível com Ele! É bom ser observado que as
pessoas destituídas desse conhecimento salvador de Deus estão fora do novo pacto.
Essa promessa do conhecimento do Senhor tem algumas características:

a) É uma promessa de caráter pessoal


É importante reconhecer que esse conhecimento do Senhor é uma promessa de caráter
pessoal. Não somente os filhos do pacto haveriam de conhecer as leis do Senhor no coração,
como também conheceriam ao Senhor pessoalmente. O texto diz que “cada um" conhecerá ao
Senhor.

b) É uma promessa de caráter universal


O texto diz que ― todos me conhecerão". Por universal entenda-se pessoas de todas as
partes do mundo, desde os pequenos até os maiores. Não deve entender-se esta expressão como
indicativo de universalismo salvador. Na palavra ―todos‖ estão incluídos os parentes, vizinhos, e
todos os outros que vierem a fazer parte do pacto, onde estiverem.

c) É uma promessa de caráter nivelador


―porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior".
A expressão 'desde o menor até o maior' é um provérbio conhecido naquela época (cf. Jr
6.13; 8.10; 42.1; 44.12 e Jn 3.5). Contudo, esta expressão não significa literalmente crianças e
adultos (embora a idéia esteja incluída), mas especificamente gentes de todas as classes. Não
haverá diferença de classes nesse tipo de conhecimento. Tanto os pequenos quanto os grandes
virão a conhecer ao Senhor. Todas as classes de pessoas, quer sejam importantes ou sem
importância; bajulados pelos homens ou não, sejam os ricos ou os párias da sociedade. Por sua
promessa pactual, Deus se dará a conhecer a todas as classes de pessoas. As pessoas serão
abençoadas pelo conhecimento de Deus, não por causa das suas categorias, mas a despeito

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 186

delas. Como as outras, esta também é uma promessa da graça!

d) É uma promessa de caráter eficaz


―porque todos me conhecerão...”  
A promessa gloriosa é que todos os do seu povo conhecerão ao Senhor. Não é um
conhecimento
pelo acúmulo dedeinformação,
informaçãomas
que um
uma lei escrita dá,
conhecimento quando estudada.
experimental! Não
Todos os doéseu
o conhecimento
povo, desde o
menor ao maior, desde o mais imaturo ao mais maduro, haverão de ter, na completação de todas
as cousas, um conhecimento adequado de Deus, isto é, um conhecimento que reflita a realidade.
Esse conhecimento não virá necessariamente pelo ensino dos mestres da igreja (que não devem
nunca ser descartados), mas pela obra do Senhor dentro do coração deles, aplicando-lhes a lei
anteriormente escrita na pedra, colocando-a nos seus corações. A eficácia do conhecimento do
Senhor não vem pelo ensino dos homens, mas pela obra interior de Deus no coração dos homens,
que é parte da promessa desse novo pacto.
Esse conhecimento é eficaz porque é conhecimento salvador de Deus. Ele não vem pelo
ensino, mas pelo próprio Senhor. E um conhecimento experimental de Deus, onde não somente
somos confrontados com as verdades de Deus, mas com a própria pessoa de Deus.
Depois que o Espírito de Deus habilita o seu povo com a internalização das leis, então,
eles podem do
combinação vir estudo
a conhecer
da suaquem realmente
revelação com a o Senhor ~!preveniente
capacidade O conhecimento do Senhor
que o Senhor é uma
dá pelo doar
do novo coração e com a interiorização da sua palavra. Não há modo de se conhecer ao Senhor,
sem que estas coisas estejam juntas.

e) É uma promessa de cumprimento pleno no futuro


O cumprimento pleno desta promessa só se dará na ordem eterna das cousas, pois nessa
época não mais necessitaremos de mestres deste mundo. E também uma promessa de
cumprimento pleno no futuro, pois o tempo verbal é futuro. Por isso, o texto diz que «não
ensinará jamais cada um o seu próximo, porque todos me conhecerão..." Quando toda a redenção
do novo pacto se completar, todos haverão de ter conhecido plenamente o Senhor. E por causa
disso que o profeta diz que naquela época o conhecimento de Deus na terra será pleno porque,
então, a terra «estará cheia do conhecimento do Senhor" (Is 11.9),' exatamente no tempo em que
o Senhor reinará em plenitude sobre o Seu povo. Este será o tempo dos ―novos céus e da nova
terra‖. 

4. A Promessa de Ser o Deus do Povo e deles serem Povo de Deus 


 Jr 31.33 –  ―Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel:...eu serei
o seu Deus e eles serão o meu povo”. 

Essa promessa está anunciada por quase todos os escritores que tratam do pacto,
incluindo especialmente Jeremias e Ezequiel (cf. Ez 11.20; Ez 37.26-27; Hb 8.10).
Esta é a promessa do pacto da graça que atravessa toda a Escritura. Ela foi
primeiramente
novo pacto. feita a Abraão e, então, passa praticamente por todos os pactos, e culmina no
É verdade que Yahvéh é Deus do mundo inteiro, porque Deus criou a todos e a todos
sustenta, mas Ele é Deus de maneira especial e relacional somente dos que estão incluídos no
pacto da graça. Como conseqüência de Yehovah ser o Deus deles, eles passam a ser um povo
peculiar de Deus, como nenhum povo veio a ser.

"Eu serei o seu Deus"


 —   Quando Deus, em pacto, prometeu que seria o Deus do seu povo, Ele estava

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o pacto sinaítico, que é aliança que Deus havia feito nos dias da mocidade do povo, ainda no
deserto. Eles transgrediram a aliança feita no passado. Deus, então, olhando para o pacto
passado, diz de um pacto eterno que haveria de estabelecer com o povo. Seria uma aliança
estabelecida em dias ainda distantes, mas na história da sua revelação, quando a plenitude dos
tempos chegasse.
Depois, então, fala sobre os acontecimentos futuros de arrependimento do seu povo,

como produto dessa nova pacto, dizendo:


Ez 16.61-63  –   ―Então te lembrarás dos teus  caminhos, e te envergonharás
quando receberes as tuas irmãs, assim as mais velhas como as mais novas, e tas
darei por filhas, mas não pela tua aliança. Estabelecerei a minha aliança contigo, e
saberás que eu sou o Senhor; para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais
fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver
 perdoado tudo quanto fizeste, diz o Senhor Deus.‖ 

O perdão de Deus é algo que vem tendo como base o novo pacto do qual Jesus é o fiador.
Se uma pessoa não tem o perdão de Deus, certamente ela não faz parte do pacto.
Por causa da impotência do seu povo em obedecer todas as prescrições da Lei, Deus
enviou o seu Filho para morrer pelos pecados do povo, a fim de que o seu povo recebesse o seu
perdão. Embora
Cristo, que pagouDeus sempre
pelas penas.tenha perdoado
Por causa o seu povo,dea Jesus,
do pagamento base desse
Deusperdão está nenhuma
não impõe em Jesus
pena sobre nós, cancelando a nossa divida. Isso é perdão!
Ezequiel ainda pinta em cores vividas o perdão que aconteceria quando o novo pacto fosse
estabelecido plenamente. Intimamente associada com a obra interior do espírito, dando um novo
coração, está a promessa do perdão dos pecados:

Ez 36.31 - «Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossos
feitos, que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas
iniqüidades e das vossas abominações."

Esta é a primeira cousa que acontece depois que Deus bota um novo coração em nós:
temos a convicção de nossa imundície. O segundo passo é o perdão de Deus do qual tomamos
posse, que evidencia-se na limpeza de nosso coração:
Ez 37.33 –  ―Assim diz o Senhor Deus: no dia em que eu vos purificar de todas
as vossas iniqüidades, então farei que sejam habitadas as cidades e sejam
edificados os lugares desertos."

6. A Promessa deles terem o Temor de Deus no Coração


 Jr 32.39-40 - "Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os
dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna... e porei o meu temor no
coração deles..."
Por causa do novo coração que Deus coloca nos filhos do Seu povo, eles também recebem
a capacidade de temer ao Senhor. E exatamente isto que Deus requer de todos aqueles com quem
entra em pacto. Deus requer deles a reverência devida à Sua majestade, o respeito à Sua
santidade, honra à Sua autoridade, e a glória devida ao Seu nome.
A beleza da graça divina é que Ele nunca exige dos filhos do Seu povo aquilo que Ele
mesmo não providencie. Os homens, por si próprios, nunca haveriam de ter o tipo de temor que
Deus requer deles. Então, ao mesmo tempo Ele exige esse temor, Ele próprio toma providências
para que isso seja possível. Deus prometeu primeiro um coração novo e, em seguida, ele
prometeu aquilo que sempre requereu de Seus filhos: «eu porei o meu temor no coração deles".
Os nossos mestres podem ensinar sobre o temor de Deus, mas eles não são capazes de fazer com
que temamos a Deus. Matthew Henry disse que ―os mestres podem colocar boas cousas em
nossas mentes, mas somente Deus pode fazer descê-las aos nossos corações, sendo Aquele que

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pode operar em nós ambos, o querer e o realizar.‖ 239 


Pensando nessa maravilhosa graça é que Davi suplicou ao Senhor para que o seu coração
temesse somente o nome do Senhor (Sl 86.11). Davi queria ter o coração voltado somente para o
Senhor, mas essa promessa não havia ainda sido explicitada pelo Senhor, pois os tempos de
 Jeremias foram bem posteriores. Contudo, como um homem ―segundo o coração de Deus‖ que
era, Davi entendeu que esse temor somente ao nome do Senhor seria uma obra exclusiva do
Senhor. Nunca eleo partiria
orou: ―Dispõe-me coraçãodo coração
para temerhumano,
somente osem
teuque a Graça operasse. Por essa razão, ele
nome‖. 
Essas santas disposições que Deus coloca em nossos corações, são maravilhas da Sua
graça!

7. A Promessa de Bênçãos Contínuas

 Jr 32.40-42 –   ―Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não dei xarei de
lhes fazer o bem, Alegrar-me-ei por causa deles, e lhes farei bem . Porque assim diz
o Senhor: assim como fiz vir sobre este povo todo este grande mal, assim lhes trarei
todo o bem que lhes estou prometendo.‖ 

Por causa da fidelidade às suas promessas pactuais, Deus nunca dá Suas bênçãos pelas
metades.
o fim. Ele sempre vai até o fim na concessão de Suas graças. A quem Deus ama, Ele ama até
Deus promete-lhes fazer o bem continuamente porque Deus regozija-se neles> porque
eles lhe são caros. Deus se alegra em fazer lhes o bem. Por essa razão, Deus entrou em pacto com
eles de lhes fazer o bem. Deus se afeiçoou ao Seu povo, não por causa do que eles faziam, mas
para que eles viessem a fazer alguma cousa boa posteriormente. Por causa da Sua afeição a eles,
Deus reluta repreendê-los, mas tem enorme prazer em recebê-los de volta. Estas coisas são
expressas pelo profeta Isaías. Temporariamente Deus pode relutantemente disciplinar o seu povo
deixando-o à mercê de problemas, mas é somente por um momento do seu desprazer com nossos
pecados, mas as Suas bondades não param nunca de vir sobre nós. Através de Isaías Deus
expressou essa verdade, da seguinte forma:

Is 54.7-8 - "Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias


torno a acolher-te; num ímpeto de indignação escondi de ti a minha face por um
momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teu
Redentor."

 Todos os filhos de Deus têm sido objeto dessa bondade continuada de Deus, bondade que
não tem fim. Deus nunca deixou de fazer o bem ao seu povo em virtude do pacto. Rendamos
graças a Deus porque Ele tem sido fiel também a essa promessa.

8. A Promessa da Perseverança deles no Senhor

 Jr 32.40  –   ―Farei com eles aliança eterna... e porei o meu temor no coração
deles para que nunca se apartem de mim.”  

Deus coloca o Seu temor no coração dos filhos do Seu povo para uma finalidade
específica: "Para que nunca se apartem de mim". Deus não somente começa a boa neles, mas faz
com que eles andem em novidade de vida até o final. Nunca os filhos do povo de Deus haverão de
abandonar ao Senhor. Eles haverão de perseverar até o fim. Nesse sentido o pacto é também de
duração perpétua.
A promessa de que eles nunca haveriam de se apartar do Senhor também é obra da
bondade graciosa de Deus. Nunca os filhos de Deus abandonam o Senhor porque o Senhor

239 Na Exp[osition of the New Testament, vol. V (London: James Nisbet and Co., 1856), 616.

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nunca os abandona. O profeta Isaías deixa este ensino bem claro:

Is 54.10 –  ―Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas


a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será
removida, diz o Senhor, que se compadece de ti.‖ 

Em da
fisionomia outras
terra,palavras,
mas nãoooprofeta estádedizendo
propósito que
Deus de todas as cousas
permanecer com o pode mudar,
seu povo. mesmo
Deus a
haverá
sempre de estar unido ao Seu povo. Faz parte do pacto de Deus conosco nunca se apartar de nós.
O reflexo dessa bondade irretirável é a nossa permanência nEle. Por essa razão, nunca os Seus se
apartam de Si. Esta resposta do homem de perseverar no Senhor também é uma promessa de
Deus no novo pacto.
Não temos motivo qualquer para desconfiar da fidelidade de Deus em não se apartar do
Seu povo, mas temos todas as razões possíveis para duvidar da nossa permanência nEle. Somos
fracos e inconstantes, mas é uma promessa dEle que Ele próprio realiza em nós, a de que
haveremos de sempre permanecer firmes nEle, nunca nos apartando dEle. A nossa perseverança
nEle está embasada na perseverança dEle em permanecer em nós, causando a resposta positiva
para com Ele. Isso é graça abundante. Por isso o pacto é chamado ―novo‖, em contraste
com o antigo" que era ineficaz porque a lei de Deus não podia ser
interiorizada. Somente com a interiorização da lei é que podemos ficar
firmes no Senhor, obedecendo-Lhe os preceitos. Não há forma de não
apartar-se do Senhor sem que a Sua Palavra esteja em nosso coração!

9. A Promessa de terem para sempre o Tabernáculo do Senhor

Ez 37.26-27  –   ―Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua.
Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e  porei o meu santuário no meio deles para
sempre. O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo.‖ 

Esta promessa do novo pacto nunca deve ser entendida literalmente, como se referindo à
reconstrução do templo de Jerusalém, ensinada pelos dispensacionalistas. A própria Escritura
interpreta-se a si mesma. Esta promessa está relacionada à nova terra, quando a presença de
Deus estará para sempre conosco, e nós seremos o tabernáculo dele. Contudo, ele já começou a
erigir o seu tabernáculo, que é a Igreja, e nele já está habitando. A sua forma final, entretanto, se
dará no estabelecimento de todas as cousas novas, como declara Jesus Cristo a João em Ap 21.3
- "Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus
habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles." Perceba que a
promessa de ser o Deus do povo está contida tanto em Ezequiel como no Apocalipse, dentro do
contexto geral do pacto da graça e no contexto específico do novo pacto.
10. A Promessa de prover o grande Pastor para o seu povo

EzDavi
servo 34.23,25 - "Suscitarei
é que as para
apascentará; eleelas
lhesum só pastor,
servirá e ele as
de pastor... apascentará;
Farei o meu
com elas aliança
de paz, e acabarei com as bestas-feras da terra; seguras habitarão no deserto, e
dormirão nos bosques."

Ez 37.24 - "O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor,
andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão.

Hb 13.20 - "Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus
nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança."

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 191

Há algumas verdades que podem ser arrancadas destes dois versos:

a) Cristo é o Pastor Prometido


Obviamente, a referência a Davi diz respeito a Jesus Cristo, mesmo porque Davi vivera
séculos atrás. Ele é prometido no VI, sendo objeto de fé e de esperança da igreja em todas as
épocas.
b) Cristo é o Grande Pastor
Ele é o grande pastor em vários sentidos:
(a) Ele é grande em sua Pessoa, porque Ele é o eterno Filho de Deus. Ele teve poder sobre
a própria morte, vencendo-a;
(b) Ele é grande no seu Poder Ele é capaz de pastorear muitas ovelhas de uma só vez. Ele
preserva uma multidão inumerável de ovelhas espalhadas ao redor do mundo inteiro, livrando-as
dos lobos vorazes e das bestas-feras da terra;
(c) Ele é grande na sua Tarefa. Ele tem que alimentar, instruir e proteger todas as suas
ovelhas;
(d) Ele é grande na Sua Glória. Ele é um pastor exaltado que está acima de todas as
cousas criadas.

c) Cristo é o Único Pastor


 Jo 10.16 -

d) Cristo é o Pastor das Ovelhas


Ele foi prometido no VT para ser o pastor do seu próprio rebanho. Is 40.11 - "Como pastor
apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio; as
que amamentam, ele guiará mansamente." No NT, Ele próprio confirmou esta verdade do VT. Ele
é pastor das "suas próprias ovelhas" (Jo 10).

e) Cristo tornou-se Pastor Pelo Sangue do Pacto


Cristo, como o grande pastor das ovelhas, foi trazido ao estado de morte pela sentença
 judicial de Deus,
haviam violado porque
a santa lei.ele tornou-se
A lei o representante
exigia que alguém paguedos pecadoresdos
a penalidade pelos quais Jesus
pecados. morreu, que
Cristo
assumiu voluntariamente a tarefa de morrer pelas Suas ovelhas. Aí é que Ele tornou-se pastor
delas. É por isso que o sangue de Jesus é chamado de o "sangue da eterna aliança".
A Escritura afirma de maneira categórica que Cristo, o bom pastor, "dá a sua vida pelas
ovelhas" (Jo 10.11, 14-15). É um pastor que ao mesmo tempo se sacrifica por Suas ovelhas e
recebe seu pastorado em virtude do sacrifício feito. O escritor aos Hebreus diz que Jesus Cristo ―é
o grande pastor das ovelhas pelo sangue da eterna aliança ‖ (13.20).

f) Cristo é o Pastor que venceu a morte


O texto de Hb 13.20 diz que o ―grande Pastor das ovelhas‖ foi trazido da morte. Ao mesmo
tempo em que é dito que Jesus Cristo foi ressuscitado por Deus, é dito pelo próprio Jesus que Ele
mesmo, por seu próprio poder, haveria de ressuscitar dentre os mortos (Jo 10.17-18).

ASPECTOS DO NOVO PACTO


1. É uma Continuação do Pacto da Graça
 Jr 32.38-40 -
As promessas feitas a Abraão são relembradas no Novo Pacto, porque este é uma
continuação daquele. Na verdade, este pacto é o aspecto final daquele.

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8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 193

Qual era o conteúdo desse evangelho. Exatamente a promessa do pacto abraâmico. Todas
as famílias da terra seriam abençoadas com o crente Abrão. Isto significa que a boa-nova de
salvação haveria de atingir todas as terras, e não ficar somente nos limites de Israel.
 Jesus Cristo, de uma maneira indireta, falando da revelação da sua vontade, disse a
respeito de Abraão: "Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se" (Jo
8.56). Pela fé Abraão contemplou o seu descendente e alegrou-se nele. Deus deu de uma forma

concreta
período dopromessas
NT. ao povo do VT que são as mesmas promessas de redenção que temos no

3. O Modo da Recepção da Salvação é a mesma nos dois Testamentos


 Todas as promessas feitas por Deus têm que ser recebidas pela fé. Foi assim nos dois
testamentos. Abraão creu em Deus, e se apossou daquilo que podia ser apossado na época.
Rm 4.2-5 –  ―Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não
diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? „Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
 justiça‟ . Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida. Mas ao
que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.‖ 
Abraão apossou-se das bênçãos salvadoras do mesmo modo que hoje nós nos apossamos
- pela fé.
Gl 3.8  –   ―Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios,

preanunciou
 Jesus Cristo, oa fim
evangelho
de que arecebêssemos
Abraão… para que
pela fé oa Espírito
bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
prometido.‖ 
Como recebemos Cristo pela fé e também o seu Espírito, assim acontecia nos tempos do
VT. A fé sempre foi o meio que Deus estabeleceu para que nos apossássemos de Suas bênçãos
salvadoras. Como o pacto é o mesmo em ambos os testamentos, o modo de recepção da salvação
não poderia ser diferente.
Abraão é considerado o ―Pai dos Crentes‖ (Rm 4.16). A lei, que veio 430 anos depois da
promessa feita a Abraão não pode cancelar as promessas que lhe foram feitas, pois elas são parte
integrante e imutável do pacto da graça (Hb 6.13-18).
Como no tempo de Abraão, o homem ainda continua a ser justificado pela fé. Os cristãos
de hoje são chamados "filhos e herdeiros de Abraão", porque a mesma promessa feita a Abraão é
para nós outros hoje (Gl 3.29).

4. O Mediador do Pacto é o mesmo em ambos os Testamentos

5. As promessas do Pacto são as mesmas em ambos os Testamentos

a) A Promessa á Descendência de Abraão ser Povo de Deus no VT e NT


Em Lv 26.12 Deus promete que o povo de Israel seria o seu povo. Será que essa promessa
é válida para nós hoje, os que vivemos após a revelação neo-testamentária? A resposta é positiva.
Quem a coloca em termos absolutamente claros é Pedro, aquele mesmo discípulo que possuía
anteriormente uma visão bastante judaizante de "povo de Deus".

1 Pe 2.9-10 - "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real> nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis
 povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas
agora alcançastes misericórdia."

Pedro não está escrevendo simplesmente a judeus da Ásia Menor, mas aos eleitos de
Deus que haviam sido dispersos por causa da sua fé em Cristo Jesus. A "dispersão" (v.1) não foi
de judeus, mas de cristãos.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 194

Raça Eleita
Esta referência, como todas as outras analisadas abaixo, tem uma conotação primária
referindo-se ao povo do VI'. O sabor dessas expressões é sempre judaico. Mas Pedro reinterpreta
essa expressão. Aqui ele se refere à igreja de Jesus Cristo de todos os tempos, que é o povo eleito
de Deus por quem Cristo deu a Sua vida. Essa raça eleita, que é o povo de Deus, compreende
gente de toda a parte, "dos quatro ventos da terra" (Mt 24.31), a quem os anjos virão buscar, para
levá-la para o seu destino eterno com Deus.
Sacerdócio Real
Novamente, o pano-de-fundo do pensamento petrino é a teologia do VI'. Contudo, Pedro
fala de um sacerdócio diferente, que não é restrito à tribo de Levi, mas composto de todos aqueles
que vieram a ter acesso a Deus pela mediação única, perfeita e definitiva de Jesus Cristo. Todos
os que Cristo remiu vêm a ser sacerdotes do Altíssimo, para reinarem com Ele, como nação
santa, no meio deste mundo. E essa a idéia que João passa quando escreve em Ap 1.5-6  –   ―…
Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino,
sacerdotes, para o seu Deus e Pai…‖. Deus, por meio de Cristo, nos constituiu seus sacerdotes,
isto é, nos separou para o seu serviço, tornando-nos consagrados para Ele.

Nação Santa
O povo de Deus no VT  se restringia basicamente à nação de Israel. A base dessa afirmação
de Pedro tem raízes na sua origem hebréia. E perfeitamente compreensível que Pedro tivesse em
mente alguns textos do VI' em mente, quando falou essas cousas (Ex 19.6; Dt 14.2). Contudo, o
pensamento de Pedro não se restringe simplesmente ao povo do VI', mas aplica-o ao povo do NT.
A "nação santa" da qual Pedro fala não é mais a nação israelita. Ele tem em mente algo bem mais
amplo. Ele está pensando em todos, incluindo judeus e gentios, que eram separados do mundo,
sendo consagrados inteiramente a Deus. Por essa razão, Pedro fala em 1 Pe 1.2 que eram eleitos
de Deus e santificados pela obra do Espírito. Agora não eram mais judeus ou gentios. Essa
qualificação era secundária. O que importava é que eram, agora, devotados a Deus, separados
para o Seu serviço. Eram totalmente de Deus. Como nação santa, haveriam de testificar aos do
mundo quem Cristo era e o que Ele lhes havia feito.

Povo de Propriedade exclusiva de Deus


Esta é uma outra expressão com sabor judaico, mas com conotação diferente do
exclusivismo anteriormente assumido por Pedro. Esta expressão está carregada do tempero
 judaico, pois o pano de fundo da mentalidade de Pedro era velho-testamentário. Mas agora, com
a nova visão que Cristo lhe havia dado, Pedro conseguia enxergar essa matéria com uma outra
cosmovisão. "Povo de Deus" passou a ser uma expressão com significado bastante ampliado.
Assim como nos tempos do VI' Israel era o povo exclusivo de Deus, assim o povo crente de todas
as épocas veio a ser esse "povo de propriedade exclusiva de Deus". Esse "povo" havia sido
batizado pelo sangue de Jesus Cristo (1 Pe 1.2). Cristo fazia a enorme diferença. Não um Cristo
somente de Judeus, mas o Cristo de toda a descendência de Abraão, isto é, daqueles todos que
criam nEle.
O fato de os crentes de todas as épocas, sejam judeus ou gentios, estarem incluídos nesse
"povo de propriedade exclusiva de Deus" está patente em 1 Pe 2.10: "Vós que antes não éreis

povo, mas agora


alcançastes sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora
misericórdia."

Antes não éreis povo


Esta expressão é sacada de Oséias 1.9. Observe que essa linguagem tem o sabor de Gn
17.7.0 povo de Israel no passado foi deixado de lado, por causa de seu adultério espiritual. Deus
não mais o considerou seu povo por causa da pecaminosidade dele. Por causa de seus pecados,
eles foram cortados dos privilégios do pacto, porque o que Deus queria era a fidelidade a Ele, e o
fato de serem descendentes físicos de Abraão não tinha importância. Deus havia dito a Abraão
que a descendência dele seria suscitada de todas as famílias da terra, não unicamente da nação

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CAPITULO XIII
OS PECADOS ATUAIS

A ORIGEM DOS PECADOS ATUAIS


É crença generalizada entre os Reformados que herdamos a corrupção do pecado através

dos nossos
direta pais, por
do pecado de geração
Adão. Porordinária,
geração oordinária,
que não éentão,
o casotoda
da culpa,
a raçapois ela vem
humana é por imputação
infectada pelo
pecado original, que é a origem e a fonte de todos os nossos pecados atuais. É do pecado que vêm
os pecados que cometemos consciente ou inconscientemente. A fonte dos pecados está em nossa
natureza corrupta.
Com razão, Paulo fala delas como sendo as "obras da carne", isto é, as obras nascidas em
nossa natureza pecaminosa, em contraste com o fruto do Espírito, que é nascido em nossa nova
natureza, renovada pelo próprio Espírito Santo (Gl 5.17-22).

Veja o Ensino de Jesus


 Jesus ensina com extrema propriedade a respeito do nascedouro dos nossos pecados
atuais. A lista de pecados que Ele apresenta é apenas uma demonstração clara de que eles são
nascidos numa natureza pecaminosa que infectou a parte mais interior do ser humano, que é o
coração.
Mc 7.15-23 - "Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa
contaminar; mas, o que sai do homem é o que o contamina. Se alguém tem
ouvidos para ouvir, ouça. Quando entrou em casa, deixando a multidão, os seus
discípulos o interrogaram acerca desta parábola. Então lhes disse: Assim também
vós não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não
o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para
lugar escuso? E assim considerou ele puros todos os alimentos. E dizia: O que sai
do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é
que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a
soberba, a loucura: Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o
homem."
 Jesus começou ensinando que nada que vem de fora do homem pode causar-lhe
contaminação, porque, para contaminar o homem tem contaminar o seu ser mais interior, que é
o coração. Somente o mais interior pode infectar todo o ser humano.
Quando a fonte esta poluída, tudo o que vem dela também sai poluído. O ser mais interior
do homem esta contaminado e como todas as cousas vêm do coração, todas elas estão também
infectadas. Não há como fugir deste raciocínio que o próprio Senhor nos ensinou. Os pecados que
cometemos são nascidos numa natureza mais interior que é maculada indelevelmente de forma

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de contamina tudo o que sai dela. Todos os nossos pecados atuais, segundo Jesus Cristo, vêm de
dentro, do coração dos homens.
O pecado original enraizado no coração corrupto é a fonte de onde procedem todas as
correntes poluídas. Se a fonte é amarga, amargas serão todas as correntes que se originam nela.
Os frutos são de acordo com a natureza da árvore. E este o ensino de Jesus Cristo sobre
os nossos pecados atuais (Mt 7.16-20; 15.18-20; 12.33-35).

Veja o ensino de Paulo


Rm 7.5

Veja o ensino de Tiago


Os pecados atuais são gerados em nossa natureza corrupta, como demonstra Tiago:
1.14-15 - "Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
Então a cobiça, depois de haver concebido, da á luz o pecado; e o pecado uma vez consumado,
gera a morte."

OS VÁRIOS NOMES DOS PECADOS ATUAIS


Os pecados atuais, isto é, os pecados que cometemos, tendo como nascedouro a nossa
velha natureza, têm vários nomes da Escritura.
 —  Eles são equivalentes às "obras da carne" de Gálatas 5.
 —   Eles são equivalentes às "inclinações da nossa carne" e a vontade da carne e dos
pensamentos" de Ef 2.3.
 —  Eles também são chamadas de "os feitos do corpo" (Rm 8.13), porque a nossa natureza
velha é chamada de "corpo do pecado" (Rm 6.6). Os "feitos do corpo" são nascidos no "corpo do
pecado", porque os pecados são originados no pecado que habita em nós.

OS PECADOS ATUAIS E SUA RELAÇÃO COM A LEI


DE DEUS
 Todos eles têm a ver com a "transgressão da lei" (1 Jo 3.4). Uma ação é boa ou má
dependendo da sua concordância ou discordância da lei de Deus. Sempre uma ação deve estar
em conformidade ou desconformidade com ela. A lei divina é o paradigma de comportamento do
ser humano. Ela é o único norte que o homem tem para guiar-se. Portanto, não há forma de se
escapar da lei moral de Deus. Por essa razão, nunca uma ação humana é moralmente neutra.
Não existem ações neutras. Todas elas estão, de algum modo, vinculadas à lei que Deus
estabeleceu. Deus criou o mundo moral de forma que nada escapa às leis morais estabelecidas
por Ele. Portanto, todas as ações dos homens devem ser consideradas à luz do relacionamento
delas com a lei estabelecida. Portanto, não há neutralidade alguma nas ações dos homens.

A MULTIPLICIDADE DOS PECADOS ATUAIS


São inúmeras as formas em que os pecados atuais se manifestam. "As obras da carne"
mencionadas por Paulo em Gl 5.19-21 podem ser divididas da seguinte maneira:
Pecados sexuais - Prostituição, impureza e lascívia
Pecados da religião - idolatria e feitiçarias
Pecados de relacionamento - inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções e invejas.
Pecados da incontinência - bebedices e glutonarias

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OS OBJETOS DOS PECADOS ATUAIS


Pecados diretos contra Deus

pecadosEm última
contra instância,
Deus, todos eles
porque todos os pecados mesmo os
estão vinculados cometidos
com contra da
a transgressão os Sua
homens, são
lei. Certa
feita, José foi convidado pela mulher de Potifar a deitar-se com ela. Ao receber essa proposta,
 José reagiu de maneira corretíssima porque entendeu que os nossos pecados ofendem a Deus,
antes que aos homens (Gn 39.7-9). Davi também possuía consciência absoluta dessa verdade.
Quando pecou contra Betsabá e contra Urias, ele reconheceu que, antes de pecar contra eles, ele
havia pecado contra Deus. Por essa razão, ao escrever o Salmo 51, disse: "Pequei contra ti, contra
ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos..."
 Todavia, há certos pecados que são cometidos de uma maneira direta contra o Ele. São
pecados atrevidos, que mostram a irreverência e o destemor de Deus.
Muitos homens há que perderam todo o senso de temor a Deus e mostram seus pecados
atrevidamente. Em Jó 15.25, Elifaz descreve que o ímpio "estendeu a sua mão contra Deus e
desafiou o Todo-Poderoso". A Escritura é farta de exemplos desses pecados diretos contra Deus.
Referindo-se
que eles «motejam eà falam
atitudemaliciosamente;
atrevida e maldosa dos ímpios
da opressão que com
falam prosperam,
altivez. oContra
Salmista
os disse
céus
desandam a boca, e a sua língua percorre a terra" (Sl 73.8-9)
A maldade e ingratidão de Israel fé-lo portar-se de maneira absolutamente petulante
contra Deus, pois Isaías menciona a hediondez desse pecado, dizendo que

Is 3.8 - "Jerusalém esta arruinada, e Judá caída; porquanto a sua língua e as


suas obras são contra o Senhor; para desafiarem a sua gloriosa presença."

Os pecados cometidos diretamente contra o Senhor estão enquadrados na primeira tábua


da lei:
1) O pecado de criar outros deuses - Este é o pecado contra o primeiro mandamento (Ex
20.2). Desde a queda os pecadores procurar criar deuses, segundo a sua própria imagem e
semelhança, para poderem adorar. Uma das primeiras providências dos pecadores rebelados
contra o verdadeiro Deus foi arranjar outros diante de quem pudessem dobrar-se. Por essa razão,
esse é o primeiro mandamento divino: "Não terás outros deuses diante de mim". Ninguém deveria
curvar-se diante de outro ser que não o Yavéh. Somente Ele é o Senhor. Este pecado contra o
primeiro mandamento é uma violência direta contra o Senhor. A violência desse pecado é maior
porque os homens fazem isso na presença do Senhor. Diante do verdadeiro Deus os homens, e
até os do seu povo, erigiram imagens de escultura a quem adoraram.
2) O pecado da idolatria - Este é o pecado contra o segundo mandamento (Ex 20.4-5).
Moisés repete este ensino de maneira mais detalhada em Dt 4.12, 14-19). O ensino deste texto
ensina que o próprio Deus não pode ser adorado com uma representação. Deus proíbe
terminantemente a construção de representações da divindade. Deus pergunta: ―Com quem
comparareis a Deus? ou que cousa semelhante confrontareis com ele?" (Is 40.18). Então, Isaías
passa a descrever a respeito da idolatria, que o Senhor abomina (v. 19-20). A ereção de imagens
para adoração é uma ofensa direta ao Senhor dos céus. Este é um pecado muito comum em
culturas não cristãs, e uma tendência, mesmo que disfarçada em meios cristãos. 240 A idolatria é,
de certa forma, uma conseqüência dos homens suprimirem a verdade de Deus pela injustiça (Rm

240 Diante da acusação dos protestantes, os da tradição Católica tentam fazer uma distinção entre
latre/ia (latréia, que é o culto que se presta a Deus) e doule/ia (douléia, que é reverência ou culto que se presta
aos santos), para justificar as suas atitudes cúlticas. Contudo, não é uma distinção justa, pois ambos
termos etmologicamente podem ser usados indistintamente, tanto aplicando-se ao Criador como às
criaturas (cf. At 20.19; Rm 12.11; At 7.42; Rm 1.25). a Escritura não conhece nada desta distinção.
Portanto, não podemos aceitar a justificativa dessa tradição do cristianismo.

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descobertos facilmente. Podem ser feitos diretamente contra Deus e contra os homens. Contra
Deus em forma de adoração errônea e inaceitável; contra os homens ele encontra múltiplas
formas.
Os pecados interiores são os mais numerosos. Contudo, os que São considerados de
grande magnitude São os atos, aqueles que os homens podem ver. A razão dessa magnitude é
porque eles estão combinados com os pensamentos e, freqüentemente, com as palavras deles.

todas asContudo, daque


obras até mesma forma
as que que
estão os pensamentos
escondidas, e as palavras,
quer sejam ―Deus
boas, quer hámás‖
sejam de trazer à juízo
(Ec 12.14).
Então, Jesus conclui: «Apartai-vos de mim todos vós que praticais a iniquidade" (Mt 7.23).
Uma outra divisão muito comumente encontrada para esses modos de pecados é:
pecados por pensamentos, palavras e ações.

AS PARTES DOS PECADOS ATUAIS


Pecados de Omissão
O pecado de omissão diz respeito àquilo que deveria ser feito e que não o foi. E a

não apresentação
prestem atençãodaquilo que
a esse está ordenado
pecado, porquanto
é tão grave Deus. os
Embora
pecadosmuitos
de
comissão, porque procede da indisposição em fazer a vontade preceptiva
de Deus. Tiago menciona claramente esse tipo de pecado quando diz: Tg 4.
17 –  ―Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está
pecando‖. 
Os pecados de omissão São freqüentes, embora ignorados, pois a atenção dos homens
está mais ligada aos pecados de comissão que, em geral, São considerados mais graves. Mas
 Jesus mostra que a omissão daquilo que é bom é tão grave como o fazer daquilo que é mau.
Nos seus vários ―ais‖, um deles é dirigido aos que pecavam por omissão: 

Mt 23.23 –  ―Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da


hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais
importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas
coisas, sem omitir aquelas.‖ 

A gravidade do pecado de omissão está patente no fato de Jesus mencioná-los como


motivo de condenação dos homens:

Mt 25.42-43 –  ―Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me


destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me
vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes verme.‖ 

Eles
para que nãoSão muitíssimo
sejamos pegos mais comum
deixando do que
de fazer pensamos
o que em nossa
deveríamos fazer! vida. Tenhamos cuidado

Pecados de Comissão
O pecado de comissão tem a ver com o fazer aquilo que a lei proíbe, ou com a feitura
daquilo que é bom, mas com motivo sujo ou impuro. Em algum sentido já tratamos deles em
partes anteriores deste capítulo.

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OS GRAUS DOS PECADOS ATUAIS


Não existe diferença de grau nos pecados atuais se nós os entendermos do ponto de vista
da sua natureza. Todo pecado é uma ―transgressão da lei" de Deus. Nesse sentido, todos eles São
iguais.
Contudo, há pecados muito mais sérios que outros pelo estrago que causam na família ou
na comunidade maior pela hediondez deles. O estrago tem a ver com os homens e a hediondez
com Deus. Os pecados diretos contra Deus São os mais ofensivos do que os cometidos contra os
homens. Os pecados da primeira tábua São mais ofensivos do que o da segunda.
 Jesus deixou claro que há pecados onde alguns homens São mais culpáveis que outros.
Quando Pilatos falou a Jesus da sua autoridade de prender e de soltar, Jesus disse que Pilatos
tinha culpa do seu pecado, mas disse que quem O havia entregue a Pilatos tinha um pecado
maior (Jo 19.11). Há pecados mais graves que outros porque alguns São cometidos
deliberadamente, atrevidamente, insolentemente contra o Senhor.
Os graus de pecados atuais estão em proporção às diferentes espécies de punições
estabelecidas por Deus. Jesus Cristo disse com respeito aos pecados de algumas cidades
 judaicas, após ter feito milagres do meio delas:

Mt 11.21-24 - "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque se em Tiro e em


Sidom
se se tivessem
teriam operado
arrependido com os milagres
pano que
de saco em vósEse
e cinza. fizeram,vos
contudo hádigo:
muitoNoque
diaelas
do
 juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros. Tu,
Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até o céu? Descerás até o inferno; porque se
em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela
permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém que menos rigor haverá no dia do
 juízo para com a terra de Sodoma, do que para contigo".

O rigor maior e o menor estão vinculados à gravidade de pecados cometidos á luz das
oportunidades recebidas.

Pecados de Ignorância
Há um sentido em que todos os pecados São cometidos na ignorância, se por ignorância
entendemos que o indivíduo está em trevas espirituais. Embora culpados, aqueles que
crucificaram Jesus Cristo, o fizeram na ignorância. Não é de estranhar, pois, que Paulo tenha
dito:

1 Co 2.8  –   ―… sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século
conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da
glória.‖ 

Por esta razão, depois de pecarem, essas pessoas não possuem qualquer reconhecimento
de pecado, nem remorso ou qualquer outro tipo de tristeza. E porque desconhecem os preceitos
estatuídos por Deus na sua lei. Paulo fez tudo o que fez sem sentir qualquer remorso, e fez
pensando estar fazendo o que devia fazer. Ele não se desculpa na ignorância, mas mostra que a
ignorância é a causa de muitos pecados. Ei-lo, argumentando:
L Tm 1.13 –  ―a mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente.
Mas obtive misericórdia,  pois o fiz  na ignorância, na incredulidade.”  

Paulo ainda não possuía a luz. Andava em trevas e praticava todas as blasfêmias e
insolência, em nome de Deus, pensando estar agradando a Deus, a quem, a seu modo, ele servia.

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Pecados deliberados
Embora a maioria dos pecados seja cometida na ignorância, há muitos deles que são
cometidos deliberadamente. Em geral, os homens conhecem as leis gerais de Deus, mas São
atrevidos e pecam conscientemente, sabendo que estão afrontando a Sua lei. Estes pecados são
de maior gravidade. A gravidade e a seriedade desses pecados é mostrada pelo escritor da Carta
aos Hebreus:

Hb 10.26 - "Porque, se vivemos deliberadamente em pecado, depois de termos


recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados."

Provavelmente, o autor sacro esteja se referindo ao conhecimento da doutrina, criticando


aqueles que conscientemente pecam contra Deus conhecendo a verdade de Deus.
Nestes últimos dias têm havido pessoas que pecam contra Deus de um modo deliberado
esquecendo-se da verdade de que o universo veio à existência pela palavra de Deus. Por essa
razão, eles zombam de Deus, andando em paixões ímpias.

2 Pe 3.3-5  –   ―Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão
escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as suas próprias
paixões, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais
dormiram, todas as
deliberadamente cousas permanecem
esquecem como
que, de longo desde
tempo, o princípio
houve da criação
céus bem Porque
como terra, a
qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus.‖ 

Os homens se esquecem destas verdades propositadamente. Eles já foram informados


que o Senhor é o Criador e que Ele há de voltar para julgar o mundo, mas abusadamente ignoram
a verdade de Deus. Isto é grave abominação ao Senhor.

A gravidade de ambos os pecados:


A gravidade de um pecado tem a ver, em alguma medida, com o fato dele ser feito
deliberada ou ignorantemente. Veja o que Jesus diz sobre eles:

não Lc
se 12.47-48 –  ―Aquele
aprontou, nem servo, porém,
fez segundo que conheceu
a sua vontade, a vontade
será punido comdomuitos
seu senhor e
açoites.
Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor, e fez cousas dignas de
reprovação, levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe
será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lh e pedirão.‖ 

 Tanto o pecado cometido conhecendo a lei como desconhecendo-a São passíveis de


punição, mas a severidade da punição é que varia. A ignorância não desculpa ninguém.

DISTINÇÕES DOS PECADOS ATUAIS


Pecados Remissíveis e Irremissíveis
 Todos os pecados do povo de Deus são remissíveis. Deus perdoa todas as suas
iniqüidades, e sara todas as suas enfermidades, com base naquilo que o Salvador deles fez na
cruz.
Contudo, há os pecados daqueles que foram deixados em seus delitos e pecados. Estes
pecados não foram remidos. Eles receberão o salário do pecado deles, que é a morte
(condenação), e não a vida eterna. Esses pecadores sofrerão pessoalmente a punição de Deus por
causa dos seus pecados, mas não serão remidos deles.
Há ainda, na Escritura, a menção de um outro pecado atual, nascido na natureza

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pecaminosa do homem, que é chamado em teologia de  pecado imperdoável, constituindo-se na


blasfêmia contra o Espírito Santo. Essa blasfêmia não pode ser perdoada nem neste mundo, nem
no porvir (Mt 12.31-32).

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CAPITULO XV
A PUNIÇÃO DO PECADO

A palavra "pena" (penalidade) deriva do latim poena, aparecendo já na Idade Média, como


um conceito teológico para denotar a punição por causa do pecado original.

A ORIGEM DA PUNIÇÃO
Berkhof diz que os castigos tem "a sua origem na retidão, isto é, na justiça punitiva de
Deus, por meio da qual Ele se sustém como o Santo e necessariamente exige santidade e retidão
241
de por
e, todas as Suas
causa da criaturas
santidaderacionais."  O pecado
divina, merece é a violação
ser punido. das leis
Portanto, divinamente
a punição estabelecidas
denota um castigo
imposto por Deus aos infratores da sua lei.
O pecado não pode ficar sem punição justamente por causa da santidade e da justiça de
Deus. Porque a Sua lei foi infringida, Ele, de necessidade, tem que punir o pecado.

OS PROPÓSITOS DA PUNIÇÃO DIVINA 242 


a) Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina

b) A Reforma do Pecador

c) Fazer com que os homens desistam de pecar

TIPOS DE PUNIÇÃO DIVINA


 Teologicamente, costuma-se falar de dois tipos de castigos que o pecado traz:

(a) Castigos Naturais


Destes castigos os homens não podem livrar-se nem pelo arrependimento nem pelo
perdão de Deus. Esse tipo de castigo é o resultado natural do pecado. Há várias maneiras de se
ilustrar os castigos naturais: Um homem promíscuo sexualmente, fatalmente haverá de
transmitir as suas
profundamente doenças
de sua venéreas aos
vida promíscua; Umseus filhos,
homem mesmo haverá
preguiçoso que ele de
tenha
levarse arrependido
à penúria sua
família, mesmo que chore ou que Deus perdoe a sua negligência de trabalho (Pv 6.6-11; 13.4;
19.15; 21.25; Ec 10.18); Um homem beberrão trará ruína sobre si e sobre sua família (Pv 23.21,
29-35). A inevitabilidade desse tipo de castigo natural é algo incontestável!
A Escritura tem alguns exemplos do fato do homem ceifar aquilo que ele planta: Jó 4.8;
S19.15; 94.23; Pv 5.22

241 Berkhof, Teologia Sistemática , p. 307 (edição castelhana).


242 Idéias tiradas de Berkhof, pp. 307-309.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 207

(b) Castigos Positivos
Estes castigos não pressupõem simplesmente as leis naturais da vida, mas revelam uma
atitude positiva do Santo Legislador. São imposições judiciais de Deus sobre o pecador nesta
vida. Eles São a expresSão do caráter moral de Deus, que se ira contra aqueles que violam as
Suas leis claramente estabelecidas (Lv 26.21; Nm 15.30-31; 1 Cr 10.13; S175.8; Is 1.24, 28, etc.
Estes
não. castigos São uma imposição direta de Deus sobre os homens, sejam eles Seus servos ou

A PUNIÇÃO DE MORTE
A morte é uma penalidade imposta por Deus por causa do pecado, embora esta idéia
tenha sido contestada na história da Igreja cristã. Os pelagianos pensaram que a morte não tinha
nada a ver com o pecado. Os homens morreriam de qualquer forma. A razão da morte dos
homens estaria na sua finitude. Portanto, a morte era parte da natureza criada, não penalidade
pelo pecado.
Entretanto, a Escritura afirma expressamente que a morte tem necessariamente a ver
com o pecado. Ela é punição do Santo Legislador sobre os infratores da Sua Lei. A morte é o
 julgamento de Deus sobre o pecador (Ez 18.4; Rm 6.23).

O Conceito de Morte
Antes de tudo, é necessário entender a idéia de morte. Morte não é extinção, não é
aniquilamento, nem cessação de existência, mas separação.
O homem foi criado imortal. Quando ele pecou, ele não deixou de ser imortal, se por
imortalidade entendemos a existência continuada, mas ele morreu, isto é, ele ficou separado de si
mesmo pela morte física e separado de Deus pela morte espiritual.

O poder sobre a morte


Quem tem o poder da morte? Deus ou o Diabo? Esta é uma pergunta que tem que ser

respondida com muita cautela. A resposta  depende do entendimento que temos sobre o que
significa ―poder‖. 
Embora a morte seja o resultado de um pronunciamento judicial de Deus (como veremos
abaixo), há certas passagens que parecem indicar que a morte tem algo a ver com a hegemonia de
Satanás com a morte (Hb 2.14-15). Se nós distinguimos entre a morte como um evento e morte
como um estado, o conflito aparente é resolvido. 243 A Escritura uniformemente coloca a morte
como um evento nas mãos de Deus. Deus tem o poder da morte em Suas mãos (Ap 1.18; Lc 12.5),
porque é Ele quem concede a vida. Quem tem o poder de dar a vida, também tem o poder de
tirá-la. Quem paga o salário da morte é Deus, não o diabo. Contudo, temos que entender que
Satanás reina no estado de morte, estando, todavia, sob o domínio de Deus. Satanás não tem
poder de impingir morte sobre ninguém, mas as pessoas que morrem estão sob o domínio dele,
até que esse domínio seja retirado dele, e ele também enfrente o juízo de Deus no final.

A Causa Judicial
A Escritura diz queda"aMorte
morte é o salário do  pecado" (Rm 6.23).
A morte é o  resultado judicial do pecado, não o resultado natural do pecado do homem.
 Também não podemos crer que o homem morreria de qualquer maneira. A morte não é parte da
natureza humana, nem o homem não foi criado para existir em um estado de morte.
Os Pelagianos afirmaram que o homem morreria de qualquer forma> mesmo que não
houvesse pecado. A morte faz parte da criação. Para o pelagiano a morte é o seguimento natural

243 The Encyclopedia of Christianity , vol. III, 333.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 208

na vida do ser humano. Para os pelagianos "as referências bíblicas sobre a morte como
conseqüência do pecado São entendidas como referências à morte espiritual, separação de Deus,
antes do que à morte física." 244 Alguns discípulos de Barth diriam que o problema da morte está
vinculado ao fato do homem ser finito. O pecado apenas complica o problema da finitude do
homem. Embora Pelágio pensasse que o homem morreria de qualquer forma, mesmo que não
houvesse pecado, e que Barth tenha pensado que a morte seja um problema da finitude do
homem, é geralmente aceito entre os cristãos que a morte é anatural,
sendo uma imposição penal de Deus sobre os pecadores. Os Calvinistas,
contudo, afirmam categoricamente que a morte é uma imposição judicial
de Deus sobre o homem pecador.
Desde os primeiros concílio regionais da igreja Cristã tem-se defendido que a morte é
castigo, sendo um elemento anatural na existência humana. Num dos Concílios de Cartago,
lutando contra um pelagianismo presente na vida da igreja, foi dito: ―Se alguém disser que Adão
foi criado mortal de tal forma que ele teria morrido no corpo se tivesse pecado ou não, seja
anátema.‖245 Portanto, não podemos aceitar a morte como natural, mas como uma imposição
 judicial de Deus por causa do pecado. Lutero foi veemente na sua idéia da causa da morte:

"A morte
morrem dos seres
por causa humanos
da lei é, portanto,
da natureza. Nem édiferente
a morte da
domorte
homemdosum
animais.
eventoEste
que
ocorre acidentalmente ou que tenha meramente um aspecto de temporalidade. Ao
contrário, a morte do homem, se assim posso falar, foi ameaçada por Deus e é
causada por um Deus encolerizado e estranho. Se Adão não houvesse comido da
árvore proibida, ele teria permanecido imortal. Mas porque ele pecou pela
desobediência, ele sucumbe à morte como os animais que estão sujeitos a ele.
Originalmente, a morte não foi parte de sua natureza. Ele morre porque provoca a
ira de Deus. A morte é, em seu caso, a conseqüência merecida inevitável de seu
pecado e desobediência."246 

A morte do homem, portanto, tem conexão com a justiça divina. Não somente é uma
tragédia, mas uma penalidade, uma imposição judicial da qual nenhum pecador foge.

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA PRESENTE


1. MORTE ESPIRITUAL

A Natureza dessa morte


Quando Adão foi criado, ele vivia em perfeita harmonia com Deus, possuindo uma vida
natural perfeita. Havia comunhão da criatura com o Criador. Todavia, quando Adão
desobedeceu, a morte veio sobre ele. Essa morte espiritual é a ausência da vida, ou seja, a
ausência da comunhão com Deus. Por causa do fato de todos estarem incluídos no pacto das
obras, todos eles recebem a imputação da culpa de Adão, vindo a este mundo na condição de
mortos espirituais. Exceto Cristo, todos os seres humanos São concebidos em estado de morte.
 Todos vêm ao mundo separados de Deus, sem a vida dEle. Todos nascem com inclinação
contrária aos preceitos de Deus. Paulo fala claramente que aqueles "que se inclinam para a carne
cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das cousas do Espírito.

J. Erickson, Christian Theology, (Baker, 1990), p. 612.


244 Millard
por Custance, The Seed of the Woman , p. 87.
245 Citado
246  Martin Luther, Luther‟s Works  –   Selected Psalms II, edited by Jeroslav Pelikan, (St Louis:
Concordia Publishing House, 1965), vol. 13, pp. 94-95, 96.

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Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz" (Rm 8.5-6).
Aquele que está morto espiritualmente está sem a vida de Deus.

O tempo dessa morte


Além de Cristo Jesus, Adão foi o único ser humano que veio ao mundo sem esta morte.
Ele veio a morrer depois que ele pecou contra o Senhor Deus. Deus lhe disse: No dia em que
comeres, certamente
não a física. morrerás"
Esta última (Gn 2.17). Esta
veio posteriormente, morteséculos
alguns da qualmais
Deustarde.
falou Contudo,
é a morteno
espiritual,
momentoe
em que Adão pecou, ele perdeu a comunhão com Deus.
Mas quando tratamos da progênie de Adão, a situação é diferente. Lógica e
temporalmente, esta é a primeira morte que acontece nos descendentes de Adão, por causa do
pecado. O ser humano já é concebido com ela. Por natureza, o homem é um natimorto, isto é, ele
vem ao mundo sem qualquer comunhão com Deus, porque ele é contado entre os que estão em
Adão. Quando o ser humano é concebido, ele já é separado de Deus, porque, por natureza ele já
e "filho da ira" (Ef 2.2), separado do favor e do amor do Senhor.

O Modo que essa morte chegou até nós


Dentro da história da igreja alguns vieram a crer que Adão foi um exemplo para todos os
homens, de forma que todos os que o imitaram, vieram a morrer como ele. Assim pensaram os
pelagianos; outros vieram a crer que Adão transmitiu a nós, por geração ordinária, isto é, de pai
para filho, uma natureza enfraquecida, mas não pecaminosa em si mesma. Cada um,
individualmente, vem a morrer por causa dos pecados feitos voluntária e pessoalmente. Assim
pensaram os arminianos247; uma outra linha de pensamento foi a dos realistas que ensinaram
que a morte espiritual é transmitida pelo fato de todos terem estado seminalmente em Adão.
Quando Adão morreu, todos morreram, porque todos estavam voluntariamente presentes no
Éden quando Adão foi criado e caiu 248; Os Reformados ensinam que esta morte espiritual vem
pelo fato de todos os homens, exceto Jesus Cristo, estarem incluídos no pacto das obras,
estando, portanto, representados pelo primeiro Adão. O texto de Rm 5.12-21, que trata da
imputação de pecado, explica como a morte de Adão passou a ser também a nossa morte.

A Inescapabilidade dessa morte


Não há ninguém que esteja em Adão que não receba esse tipo de morte. Não há como
evitá-la. Quando Deus disse a Adão "No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gn
2.17), a morte realmente aconteceu. Não houve morte física imediata, mas morte espiritual. Os
nossos primeiros pais perderam a sua comunhão com Deus, e até fugiram de Sua presença. O
texto diz: "Naquele dia certamente morrerás". Não há como evitar a literalidade deste verso. 249 
Adão e sua companheira, de fato, morreram naquele dia.
A ênfase de Gn 2.17 é na inescapabilidade dessa morte, não no fato dela ser imediata.
Quando Adão pecou, o veneno do pecado o infectou e ele morreu. Com a sua morte, toda a sua
progênie nasce na mesma condição de morte.
Essa é a única morte que o crente experimenta inescapavelmente, pois o fato de sermos
eleitos de Deus não nos isenta dela. Como veremos adiante, poderemos ser livres da morte física
como pagamento de penalidade; poderemos ser livres da morte eterna, mas não de morrer
espiritualmente. Vimos ao mundo com esta condição, e ninguém escapa de sofrer essa morte,

embora possa vir


graça divina. a escapar de ser morto espiritualmente para sempre, por

Orton Wiley, Christian Theology, 125.


247 Ver
W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology , vol. II, 30 sgts.
248 Ver
249 Há um exemplo paralelo que trata da morte física de Simei, mas a idéia ―daquele dia‖ é similar à
de Gênesis 2.17 (ver 1 Rs 2.36-46).

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A Duração dessa morte


Não podemos evitar ser mortos espiritualmente, mas podemos ser livres desse estado de
morte, quando recebemos a vida nova implantada em nós através da obra regeneradora do
Espírito Santo. Portanto, essa morte dura até que a pessoa seja tirada dela pela ação renovadora
do Espírito Santo. Paulo disse: "E estando nós mortos em nossos delitos e pecados, (Ele) nos deu
vida juntamente com Cristo —  pela graça sois salvos" (Ef 2.5). Nós somos libertos desse estado de

morte quando saímos


imediatamente o Espírito nos conecta
do estado de morte,com a vida.
porque Quandodizessa
a Escritura obra espiritual
que aquele acontece,
"que está em Cristo
é nova criatura", que passou da morte para a vida.

2. OS SOFRIMENTOS DESTA VIDA


Os sofrimentos desta vida são conseqüência de os homens serem concebidos no estado de
morte espiritual. Eles sofrem as conseqüências externas e internas da morte espiritual. Os
sofrimentos desta vida afetam a totalidade da personalidade do homem, seu corpo e todas as
faculdades de sua alma. O pecado trouxe uma afetação para o ser humano por inteiro. Tudo
virou desordem depois da queda.

Sofrimentos no ser material


Os hospitais, as prisões, os manicômios, os asilos e as casas de recuperação São apenas
algumas amostras do sofrimento da raça humana que, em última análise, se reporta ao pecado
humano.
Corpo - Desde que vimos ao mundo, todos somos nascidos em pecado e, portanto, em
miséria física, sujeito às enfermidades desde o ventre materno. Alguns já herdam males de seus
pais, males que haverão de acompanhá-los por toda a existência terrena. A debilidade física que
dia a dia afeta mais duramente o nosso organismo é uma das humilhações mais duras que o ser
humano experimenta.
Há alguns casos onde as doenças físicas vêm por causa do pecado, como o próprio Senhor
 Jesus afirmou (Jo 5.14), embora nem sempre seja esse o caso (Jo 9.2).

Sofrimentos no ser Imaterial


Mente - Depois da queda, a mente humana ficou afetada e já não consegue raciocinar
corretamente, ficando sujeita a distúrbios dos mais variados. A grande maioria das nossas
doenças somáticas tem nascedouro em nossas problemas mentais. Infelizmente não há a
aceitação dessa triste verdade: grande parte dos humanos sofre de qualquer distúrbio mental,
tudo provocado pelos incômodos desta vida que, numa conclusão bem refletida, reconhece-se
que é por causa da maldade humana, o pecado.
Vontade - A capacidade decisória do homem é afetada pelos distúrbios mentais, onde a
mente já não sabe julgar direito. Portanto, suas decisões são loucas e insensatas.
Emoções - Por causa da afetação da mente, as afeições do homem estão desordenadas, e
os desequilíbrios emocionais tornaram-se cada vez mais constantes. As clinicas de distúrbios
emocionais não caberiam se todos reconhecessem seu sofrimento afetivo-emocional. Cada vez
mais o nosso mundo pecaminoso tende a tornar mais infeliz a vida dos homens.
A corrupção se dirigiu a todas as parte do ser humano. E isto é um sofrimento terrível do
qual todos desejam escapar.
Estes sofrimentos são causados pelo fato do homem estar mergulhado no pecado, fato
que tem a ver com a morte do homem, assunto a ser tratado posteriormente. É a separação do
homem de Deus e de si mesmo que causam esses sofrimentos e distúrbios na totalidade da vida
humana.

Sofrimentos do ser Social


Por causa dos pecados toda a sociedade sofre. Os relacionamentos ficam quebrados e as
pessoas tornam-se inimigas umas das outras com a maior facilidade.
Segundo a Escritura, há outras duas punições por causa do pecado, em forma de morte:
a morte física e a morte eterna.

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3. MORTE FÍSICA
Esta morte é a mais conhecida, experimentada e lamentada por todos os homens, porque
todos podem vê-la como uma experiência constante e palpável. Ela é a que mais afeta
emocionalmente as pessoas e é dela que todos têm medo, porque pensam que ela é o pior que
lhes pode acontecer. Em geral, as pessoas não conseguem ver a morte física como parte da
punição divina,a pois
freqüentemente não levam
mais temida a ela
porque sério as advertências
separa da das
as pessoas umas Escritura.
outras, oA que
morte física
causa é
muita
dor, mas não é este o verdadeiro significado dela. A conseqüência maior é para a pessoa que
morre, pois ela é a separação que acontece na própria pessoa, como veremos logo abaixo.

A Natureza da Morte Física


Lógica e temporalmente, esta é a morte que se segue à morte espiritual. A morte física é a
separação temporária entre o corpo e a alma. E nessa morte que nós somos separados de nós
mesmos, isto é, o nosso eu material é separado do nosso eu imaterial.
A morte física é uma violência grande e justa da parte de Deus sobre o homem pecador.

"A morte não é um processo natural, mas algo totalmente anatural - uma
violenta separação das duas partes do seu ser que Deus nunca quis que fossem
separadas; uma ruptura, um despedaçar, uma mutilação de sua
personalidade."250 

No estudo sobre a constituição original do homem, vimos que o corpo é visto como sendo
o próprio homem, não um acessório temporal que é descartável. Quando o corpo se separa da
alma, costumamos dizer que o corpo morreu, mas essa não é a verdade. E verdade que o corpo se
tornou inerte, sem anima, sem vida, mas ele nunca cessa de existir, mesmo que no pó de onde
veio. A imortalidade é algo próprio do homem como um todo. Não somente a sua alma, mas
também o seu corpo é imortal. Portanto, é muito melhor dizer que o homem morreu, porque no
momento do desenlace, o homem (corpo) é separado de si mesmo (alma). Ambas as partes
constituintes da natureza humana vão para lugares diferentes até o tempo da ressurreição.
 Tanto o corpo quanto a alma não cessam de existir, apenas ficam separados como uma forma de
castigo de Deus sobre eles. Esse é o estado de morte que o homem fica até que o dia do juízo
chegue.

O Processo da Morte Física


O texto de Gn 2.17 diz: "No dia em que comeres certamente morrerás". Não houve uma
morte imediata do corpo, mas a semente da morte foi plantada no homem. Após o comer do fruto
proibido, Deus retardou a punição da morte física de Adão, que veio a
acontecer alguns séculos mais tarde, pois Adão viveu mais de novecentos
anos. Esse retardamento da punição da morte física é um ato da bondade
de Deus com a sua primeira criatura, e com todas as outras que já nascem
espiritualmente mortas.
sobre o Stephen Charnock,
texto de Gênesis, o grande
disse: pregador
"Assim, deve serpresbiteriano-puritano de Londres,
entendido, não como uma comentando
morte real do corpo,
mas como o merecimento da morte, e a necessidade da morte." 251 O homem tinha que sofrer a
punição dos seus pecados, também no corpo.
Após a queda, não somente houve a morte espiritual, mas o veneno de morte foi injetado
no corpo humano. A partir do seu ato pecaminoso, Adão começou a morrer. Após o pecado, a

250 James Orr, God‟s Image in Man, (Eerdmans reprint, 1948), p. 251-252.


251 Citado por W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 3, p. 336.

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morte começou a fazer parte da existência física do homem. Esta idéia é refletida na esperança de
Paulo, assim como na esperança de todos os filhos de Deus, que experimentam os efeitos dessa
morte. Em 2 Co 5.1-5 Paulo fala da ânsia de ser revestido de uma nova habitação, isto é, de ser
revestido de um novo tabernáculo, um corpo novo, uma nova qualidade de vida física, que se
dará na ressurreição. Este corpo que é mortal, isto é, que experimenta os efeitos da morte, vai ser
renovado, ser revestido da vida na ressurreição. Não anelamos pela morte, mas pelo revestimento

que caracterizar-se-á
restaurada em forma
na completação de salvação.
de nossa vida plena. A énossa
Esta natureza
a esperança plena, ecorpo
de Paulo, nossa.e Mas
alma,
atéserá
que
isso aconteça, estaremos ainda sob o efeito da morte em nós.
Enquanto a morte espiritual foi um evento, a morte física é um  processo. O homem não
morre de uma vez, mas ele morre lentamente, até que o corpo seja separado da alma, no suspiro
final.
Desde que nascemos, já sentimos os efeitos do pecado em nosso corpo: as doenças logo
aparecem e, depois de alguns anos, o processo de queda já se torna evidente. Nós morremos aos
poucos. Custance disse:

"Assim a Adão e aos seus descendentes imediatos deve ser permitido


sobreviverem o tempo suficiente para o estabelecimento da raça humana. Mas,
uma vez estabelecida, daí por diante a longevidade poderia ser reduzida em nome
da segurança dapara
potencialidade raçainvenções
que, por sua vez uma
ímpias quevez mais se
o fator dadestrói a si mesma
vida longa tornoupor sua
muito
provável."  
252

O ser humano não tem morte física instantânea pelo fato de ser pecador, mas porque a
raça precisa ser preservada, e porque assim Deus determinou em virtude de Sua longanimidade
para com os homens. Por causa da Sua natureza, Deus não destrói o homem de uma só vez.
Custance disse: "A penalidade de comer do fruto não foi o encurtamento de uma vida que possuía
um término determinado de qualquer modo, mas a introdução de uma experiência totalmente
nova - a morte física." 253   A morte física também começou quando o pecado entrou na vida
humana. A consumação da morte física foi apenas uma questão de tempo.

A Inescapabilidade
A Escritura da Morte
diz que Jesus CristoFísica
morreu voluntariamente (Jo 10.18). Jesus escolheu não
somente o tempo de Sua morte, mas a morte em si. Ele ofereceu-Se à morte. A morte para Ele foi
algo ativo. Não foi algo que Ele sofreu, impossível de ser evitado. Ele não precisava morrer, se não
quisesse. Ele não era pecador e, portanto, ele não devia morrer de necessidade. Contudo, Ele
voluntariamente entregou-se à morte, mas os homens pecadores não possuem essa escolha.
A Escritura diz de maneira clara em Hb 9.27 diz que "aos homens está destinado
morrerem uma só vez, e depois disso o juízo". Esse é um decreto divino que está sobre pecadores.
Está ordenado que todos os pecadores venham infalivelmente à morte, porque ela é o "salário do
pecado". Todos os homens morrem fisicamente. Deste fato ninguém escapa, exceto aqueles
cristãos que viverem na  parousia de Jesus Cristo, porque eles não estarão debaixo da
necessidade de morrer. Sobre isto falaremos mais tarde.
A morte é algo passivo para nós homens, não algo ativo com foi para Cristo. Não
escolhemos
de morrer.com
uma sentença Simplesmente morremos
base na violação da infalivelmente.
lei estabelecidaEpelo
algo santo
que sofremos, umaAexecução
Legislador. morte é
inevitável para o pecador. Os pecadores todos estão sujeitos à morte. Cristo humilhou-Se a Si
mesmo (Fp 2.8), mas os seres humanos pecadores são humilhados pela morte. Ele
escolheu a morte, e a morte tem colhido todos os homens. Por quê? Porque
está ordenado aos homens morrerem (Hb 9.27). Não há alternativa para os
252 Arthur C. Custance, The Seed of the Woman, (Ontario: Doorway Publications, 1980), p. 86.
253 Custance, The Seed of the Woman,  p. 161.

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seres humanos caídos. Todos eles morrem, pessoal ou vicariamente 254,


porque todos os pecados deles têm que ser punidos, por causa da
necessidade da justiça divina ser exercida.
Uns morrem mais cedo, prematuramente (em nossa ótica); outros mais tarde, no tempo
conhecido como próprio, mas para todos é apenas uma questão de tempo. Ninguém escapa dela.

A Morte Física do Cristão


É justo  dizer que a morte do cristão é um pagamento de penalidade também? Quando o
cristão morre ele está sofrendo o  castigo pelos seus pecados?
Para se responder a esta pergunta, é necessário que tenhamos uma exata idéia da morte
substitutiva de Jesus Cristo.
O cristão, quando morre, já não mais está pagando a penalidade de seus pecados, mas
morre como uma conseqüência inevitável do estado de pecado em que este mundo se encontra.
Ele morre porque ele tem que desfrutar todos os benefícios da salvação que não podem ser
desfrutados plenamente nesta vida, por causa dos efeitos do pecado, ainda permanentes neste
universo de Deus. Temos ainda as doenças, as tristezas, as angústias, etc., que São
conseqüências do pecado em nossa raça, mas Deus nos livrará desse tipo de morte, desse
estigma que nos afeta a todos os seres humanos, sem exceção. Até que a redenção se complete no
final,
física ainda sofreremos
dos redimidos por os resultados
Cristo do pecado
seja o salário no mundo.
de seus pecadosMas não6.23),
(cf Rm podemos dizer
porque queCristo
Jesus a mortejá
pagou a morte por eles. A morte deles é apenas o fim das dores e das tristezas da vida presente.
A morte para eles é a porta da comunhão perene com Deus, a porta da vida plena, é o acesso
direto à presença do Salvador deles, na plenitude da comunhão imperdível, que é a vida eterna.
Enquanto o corpo dos redimidos espera receber anima (o que se dará na ressurreição final), a
alma dos redimidos já goza da redenção, mas não em plenitude, até que a salvação se complete
na redenção do corpo.
A morte do cristão, portanto, não deve ser considerada como uma obra judicial de Deus,
pois Deus é justo e não faria com que Seus filhos pagassem novamente aquilo que já foi pago pelo
Seu Filho, o Redentor deles. Os crentes ainda morrem, mas a morte deles não é mais um
 julgamento de Deus. Jesus disse que aqueles que estão em Cristo ―já passaram da morte para a
vida‖ (Jo 5.24). Consolando as irmãs, Marta e Maria, que haviam perdido o irmão Lázaro, Jesus
disse: "Euem
vive e crê sou a ressurreição
mim, e aeternamente.
não morrerá, vida. Quem crê emisto?"
Crês mim,(Jo
ainda que morra,
11.25-26). viverá;
Lázaro apenase todo o que
"dormiu",
segundo Jesus. A sua morte foi apenas um descanso das fadigas desta vida, mas Lázaro "vivia
mesmo no estado de morte, não uma morte judicial, mas com o sabor de alívio do estado em que
vivia, até que a redenção dele fosse completada.
Houve casos de pessoas de Deus que não experimentaram a morte, como a entendemos
hoje, como o de Enoque, Elias, e todos aqueles que estiverem presentes na geração da segunda
vinda do Senhor Jesus Cristo (1 Ts 4.13 sgts). Não há necessidade da morte deles, porque Jesus
Cristo já pagou a penalidade no seu lugar.
Aqueles que não tiveram seus pecados pagos pelo Redentor é que morrerão como uma
penalidade por seus pecados, "porque está destinado aos homens morrerem uma só vez, e depois
disto o juízo" (Hb 9.27). A morte física deles já é parte do juízo, embora não do juízo final de Deus.
Há algumas razões para se afirmar que a morte do cristão não é parte da punição divina:
a) Se
que Cristo fezosuma
sofrimentos físicos e completa.
obra de salvação a morte física São castigo pelos pecados, estamos negando
Ao contrário, Sua obra foi de tal forma que Ele não deixou nada para os seus

254 Nem todos os cristãos têm que morrer necessariamente. Paulo diz aos Tessalonicenses (1 Ts
4.13-18) que os crentes que estiverem vivendo na vinda ( parousia ) de Cristo não morrerão, mas todos serão
transformados, o que não significa morte. A morte para eles não é necessária, porque Jesus Cristo já pagou
as dívidas deles, e este pagamento inclui a morte física. E esta verdade é um consolo para eles. Morte como
necessidade, não mais! Todavia, há aqueles que têm que enfrentar a morte como penalidade. É destes que
este capítulo trata mais detidamente.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 214

representados pagarem. Nenhuma penalidade cai sobre eles porque por eles todos Ele
entregou-Se a Si mesmo. Através do Seu sacrifício, Deus foi plenamente reconciliado com o Seu
povo e o povo vem sendo reconciliado com Deus. Se Deus tivesse que punir o seu povo por causa
de seus pecados, a obra redentora de Jesus Cristo não seria completa. Na verdade não seria
redenção! Mas Deus removeu toda a penalidade do pecador e lançou-a sobre o representante
deles, Jesus Cristo.

negando b) que
Se os
a sofrimentos físicos
punição divina e a morte
é muito maisfísica
sériasão
do punição de Deus pelos
que os sofrimentos ou pecados, estamos
a morte física. A
 justiça de Deus exige muito mais do que os sofrimentos desta vida ou a morte física. Se essas
duas cousas são punição divina para o cristão, ele está cooperando no pagamento que Cristo fez,
que é incompleto. Se a morte física é pagamento, a justiça de Deus é pouco exigente. Por que
Cristo haveria de nos livrar somente de parte da punição e não dela toda? Se estas cousas são
penalidade, Cristo deixou algumas contas para serem pagas, o que diminui o valor da obra de
Cristo.
e) Se os sofrimentos físicos e a morte do cristão São punição pelos pecados, essa punição
varia muito na vida dos homens, independentemente dos seus pecados. Os sofrimentos
temporais e a morte têm tido uma variação muito grande na existência dos cristãos. Uns pecam
mais e sofrem menos e têm até morte calma e sem sofrimento, enquanto que outros crentes
sofrem muito e ainda têm morte terrivelmente dolorosa. Se estas cousas são pagamento de
penalidade, alguma cousa anda errado com os efeitos da morte de Cristo, uns estão pagando
menos que outros.
d) Se os sofrimentos e a morte física são punição de Deus, podemos concluir que o homem
tem condição de render satisfação a Deus por seus pecados. O pecador não-remido pode sofrer a
penalidade de seus pecados, mas não pode ser remido do sofrimento. Se cremos que a morte do
cristão é penalidade, ele está participando do pagamento para ser remido, o que implica na
cooperação humana da sua própria redenção. Se objeta que participamos de nossa redenção, por
quê se entende que a morte é pagamento? Contudo, se o homem é capaz de render satisfação
pelos seus pecados, pagando com a morte física, ele poderia, se sofresse um pouco mais, de
render satisfação completa por seus pecados, desfrutando da vida eterna, o que gera um absurdo
teológico inominável!
e) Se a morte fosse um pagamento de penalidade, Enoque e Elias não a teriam sofrido.
Isso implica que eles foram melhores ou que Deus fez vista grossa aos pecados deles, o que
também é absurdo. Se considerarmos a razão da morte dos mártires da igreja tanto do VT como
do NT, haveremos de perceber que não foi o pecado a causa dela, mas o comprometimento deles
com o reino de Deus.
f) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, temos que chegar a uma de
duas conclusões: que o sofrimento físico de Cristo e sua morte física foram em vão e ineficazes (o
que é uma inverdade), ou que Ele removeu a punição temporal (o que é uma verdade). Quando
Cristo sofreu essas cousas, Ele as retirou de nós como punição. "Pelas Suas pisaduras fomos
sarados" (Is 53.5). Não sofremos mais punição. Apenas temos os sofrimentos e a morte física
porque ainda vivemos num ambiente onde estas coisas persistem, até que a redenção seja
completada e o ambiente seja mudado, o que se dará na nova terra.
g) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, teríamos que crer que
Deus pune os membros do corpo de Cristo, porque Ele ainda está irado com eles. Tal pensamento
é uma injustiça ao amor redentor de Deus e à justiça de Deus demonstrada em Cristo Jesus. Nós
somos santuário do Espírito Santo, e Deus não haveria de despejar a Sua ira contra os membros
do corpo do Seu Filho (1 Co 6.15-20).
h) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade dos pecados, teríamos
também que considerar as angústias e ansiedades da alma como castigo de Deus por causa do
pecado, também, porque em todos os sofrimentos do corpo a alma sofre igualmente, porque
existe uma interpenetração de influências. Se isto é verdade, o que Jesus fez pelos pecadores não
resultou em muitas cousas positivas, pois temos muito sofrimento nesta vida. Os benefícios da
obra de Cristo só serão percebidos depois da morte, o que mostra que ainda somos os mais
infelizes dos homens! Mas tal pensamento é tolice. Mesmo que sob os efeitos do mundo em
queda, ainda somos os mais felizes dos homens, por causa de Jesus Cristo!

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 215

A morte dos filhos de Deus é, na verdade, a entrada deles no reino dos céus de maneira
plena! Nunca ela deve ser vista neles como pagamento de penalidade!

Diferença entre o Cristão e o Ímpio na morte Física


O cristão é um ganhador e o ímpio é um perdedor. Ambos morrem. Nenhum deles escapa
da morte. O Senhor é o mensageiro da morte para ambos. Ela vem para o regenerado e para o

irregenerado.
céu; a morte Todavia,
para o aímpio
mor teé para o cristão
a porta é a porta
através através
da qual ele da
já qual
tomaeleposse
tem acesso ao reino da
parcialmente do
condenação. Na morte o cristão entra na companhia dos remidos glorificados, enquanto que os
ímpios já começam a sofrer a companhia dos pecadores, os que colhem a maldição. Na morte o
cristão entra na plenitude de alegria, e o ímpio na plenitude da tristeza. A morte faz uma grande
diferença entre eles. Os caminhos deles nesta vida são diferentes, e o destino deles é
absolutamente diferente. O ímpio anda em seus próprios caminhos (Pv 14.14), caminhando para
a condenação, tendo a sua vida escondida no Maligno. O cristão anda nos caminhos do Senhor
(511.1; 51119.1), o caminho da negação e da renúncia do pecado e do "eu", tendo a sua vida
oculta em Cristo Jesus. Por essa razão, o fim deles é diferente. E a diferença entre luz e trevas,
como o céu é diferente do inferno.
A morte vem para ambos, mas sela o fim diferente deles. Ela é portal de separação para os
ímpios e portal de vida para os cristãos. A morte em si mesma é o pior pedaço para o cristão,
enquanto que para o ímpio ela é apenas o começo. O pior ainda está por vir. O primeiro é
confortado na morte, enquanto que o último é atormentado nela. Por causa do seu sofrimento o
cristão pode ter o seu inferno na terra, e o seu céu está por vir. Opostamente, o ímpio pode ter o
seu "céu" aqui na terra (S173), enquanto que o seu inferno está determinado depois da morte. O
"inferno" do cristão limita-se apenas aos sofrimentos desta vida, enquanto que o do ímpio os
sofrimentos desta não são para comparar com os que vêm depois da morte.

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA FUTURA


Os castigos até agora analisados têm a ver com esta presente existência, mas a morte
eterna é o único e o mais terrível de todos eles, pois trata-se da plenitude da punição divina sobre
os pecadores, que vem acontecer na existência futura dos ímpios impenitentes.
Contudo,
Cristo, já antesdebaixo
se encontra que a de
morte eterna
punição, dese manifeste,
maneira aquele esperando
provisória, que morreu fisicamente
a sentença finalsem
de
Deus sobre ele. Enquanto a ressurreição dos ímpios não acontece, o corpo deles está sob a terra,
e a alma deles já se encontra sob castigo de Deus, mas não desfrutando ainda a plenitude dele.
Esta verdade é ilustrada na parábola do rico e de Lázaro. O texto sagrado diz que o rico, "no
inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio (Lc
16.23). O tormento final, todavia, dar-se-á depois da ressurreição dos ímpios, quando forem
lançados no lugar próprio e definitivo dos condenados.

4. MORTE ETERNA
Esta morte eterna tem alguns nomes na Escritura: "Lago de Fogo" (Ap 19.20) e "segunda
morte" (Ap 2.11; 20.6, 14-15; 21.8); "condenação do inferno" (Mt 23.33); "lugar de tormento" (Lc
16.28); "inferno de fogo" (Mt 5.22); "fogo eterno" (Mt 25.41).

O Lugar desse Castigo


Não sabemos exatamente onde é o lugar desse castigo, onde os condenados haverão de
existir para sempre em sofrimento. Contudo, usualmente, o lugar desse castigo é chamado na
Escritura de "inferno". Há três palavras gregas na Escritura que são traduzidas em nossas
versões da Bíblia como inferno:

O uso da palavra grega Hades


1) A palavra grega a(/dhj (hades), também é usada pelos pagãos para descrever inferno.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 216

Na literatura grega, a palavra hades era descritiva de um mundo inferior, o reino dos
mortos, fossem eles bons ou maus. O Hades era descritivo de uma esfera divida em duas
categorias: a do elysium (para onde iam os bons, e a do tartaro (para onde iam os maus). Embora
alguns cristãos tenham assimilado a noção grega de hades, não há uma autorização da Escritura
para esse entendimento. A origem dessa divisão em compartimentos veio também de escritos da
literatura judaica não canônica, onde os justos estão em lugar separado dos ímpios, nos quais
255
cada um deles experimenta
Usualmente um
a palavra antegosto
hebraica do seu
sheol, quedestino
apareceeterno.  
muitas vezes do VT, é traduzida pela
LXX como Hades. "O VT oferece apenas umas poucas informações a respeito do eterno destino do
indivíduo, e maior parte da sua preocupação é com o futuro dos justos antes do que dos
ímpios."256 Portanto, não é absolutamente claro nem único o uso que o VT faz da palavra sheol.
No Novo Testamento a palavra Hades se encontra Mt 16.18 como indicativa do lugar onde
Satanás reina, pois Jesus disse que as "portas do inferno ( a)/dhj) não prevalecem contra ela
(igreja)" (Mt 16.18).
Ela também aparece em Lc 16.23, onde fala que o rico estava no "inferno" (a)/dhj ), o lugar
próprio para onde vão aqueles que não temem a Deus. Ela é usada para denotar provavelmente o
lugar temporário para onde vão os mortos ímpios que, posteriormente São levados para o seu
destino final, que é o lago de fogo, a segunda morte.
Ap 20.13-14 também menciona o termo hades, que é traduzido na versão Revista e
Atualizada de Almeida
texto de Apocalipse comofortemente
sugere "além» no que
v. 13. No v.se14refere
hades hadesaoélugar
traduzido já como "inferno".
intermediário onde estãoEste
os
espíritos desincorporados, antes de entrarem no estado absolutamente final, que e o ―lago de
fogo‖.257 

O Uso do Termo Grego Gehenna


A segunda palavra grega que trata do castigo final é gee/nna (gehenna), que é usada
somente na Escritura.258 Seu uso no NT não é descritivo dos tormentos presentes do estado
intermediário, mas refere-se aos tormentos do estado final. E Jesus Cristo quem faz um uso
abundante dessa palavra, todas as vezes em conexão com os tormentos eternos. O uso dela é
derivado do ensino sobre o "vale dos filhos de Hinnom", que era um lugar maldito onde os
israelitas queimavam seus filhos no fogo, em honra ao deus Moloque, e que Josias transformou
num vale de horror por causa da abominação ali cometida (2 Rs 23.10).
 Jesus usa a palavra gehenna em Mt 5.22 (ge/ennan tou= puro/j) traduzida como "inferno de
fogo"; a mesma palavra aparece também em Mt 5.29-30, sempre traduzida como "inferno".259 Em
Mt 18.8-9 Jesus torna a expressão grega th\n ge/enan tou= puro/j ("inferno de fogo" - v.9) equivalente á
outra expressão grega pu=r to\ ai)w/nion ("fogo eterno"- v.8), e contrasta estas duas expressões à idéia
de "entrares na vida" (v.8-9).
A idéia de sofrimento eterno dos ímpios está ainda mais clara no ensino de Jesus em Mc
9.43-48. A expressão grega usada por Jesus, que é traduzida como ―inferno‖ é gehenna
(v.43,45,47). Você deve ser recordar do Vale dos filhos de Hinnon, e da idéia de fogo. Jesus diz
com muita clareza que o fogo do Gehenna é inextinguível (v.43, 48). Novamente estar no gehenna
é contrastado com "entrares na vida" (v.43, 45) e "entrares no reino de Deus"(v.47)
Em Mt 23 Jesus adverte os fariseus por causa da sua hipocrisia e iniquidade. Então,
faz-lhes uma ameaça, usando para palavra gehenna para mostrar a inexcapabilidade desse
tormento: "Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno
(gehenna)?"(v.33).
Não há como escapar ao fato de que estas passagens ensinam claramente a realidade de

255 Observação de Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith , editado por
Carl F. Henry, (Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238. Verificar no livro de Enoch xxii. 1-14.
256 Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith, editado por Carl F. Henry,
(Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238.
257 Ibid. 238.
258 Gehenna aparece 12 vezes no NT.
259 Das 12 vezes que esta expressão aparece no NT, 11 delas estão contidas no ensino de Cristo.

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um lugar onde os impenitentes haverão de passar eternamente. E bom recordar que embora os
tormentos do inferno sejam absolutamente reais, devemos entender que alguns nomes usados
(como "fogo" ou "verme") usados metaforicamente, não com sentido absolutamente literal.

O Uso do Termo Grego Tárt ar o


A terceira palavra grega que trata do castigo final é ta/rtarw (tártaro –   2 Pe 2.4) que, na
linguagem pagã
hades pagão, também
o lugar era conhecida
próprio dos maus.como o lugar para onde vão os ímpios, uma subdivisão do
É importante que se creia que o inferno é um lugar real, não apenas um estado, ou um
ensino produto de uma ficção da igreja no decorrer dos séculos, especialmente no período da
Idade Média. Deus criou um lugar especialmente para o diabo e seus anjos, mas para lá envia
todos os ímpios impenitentes (Mt 25.41), embora não saibamos a localização dele. O inferno é
mais do que um estado. E um lugar, como o céu! Tem que ser um lugar, pois para lá vão pessoas
completas, isto é, pessoas físicas, que ocupam espaço. Não será um simples mundo espiritual,
mas um mundo físico, criado especificamente por Deus para ser o lugar de habitação dos ímpios,
 juntamente com o diabo e seus anjos.

A plenitude desse castigo


No inferno o homem total sofrerá a manifestação plena da ira de Deus. O corpo e alma
humanos sofrerão
que pode fazer a pena
"perecer nodos pecados.
inferno tantoJesus
a almadisse queoDeus
quanto deve
corpo" (Mtser temido,
10.28). Istopois
querEle é o único
dizer que a
segunda morte é a morte do homem total. É a separação final do homem completo de Deus.
É costume dizer que inferno é a ausência de Deus. Ao contrário. Deus estará presente no
inferno, mas será uma presença que infunde terror e ira (Ap 14.11). É significativo que é dito que
o Cordeiro estará presente, com uma presença de juízo, no lago de fogo, onde existe o sofrimento
eterno. É verdade que o texto da Escritura diz que os ímpios "sofrerão penalidade de eterna
destruição, (sendo) banidos da face do Senhor e da glória do seu poder" (l Ts 1.9), mas eles serão
banidos de uma presença santificante e abençoadora. Deus estará presente diante deles, porque
eles poderão olhar para Deus (Lc 16.23-24), mas terão sofrimento terrível pela presença
aterradora de Deus. Ali não haverá qualquer coisa doce ou consoladora, para aliaviar-lhes. Eles
estarão privados da doce companhia de Deus. A companhia deles será de demônios e de outros
espíritos condenados, e todos juntos sofrerão a penalidade que lhes está reservada, produto da
ira divina
cheio sobre
de ira, eles,
dirá: por causade
"Apartai-vos demim,
seus malditos,
pecados. Aos
paraímpios, Jesus Cristo,
o fogo eterno, o Cordeiro
preparado para o de Deus
diabo e
seus anjos" (Mt 25.41).

O Tempo desse castigo


A semelhança da morte física, esta morte eterna também é
retardada, reservando somente para o tempo do fim, depois que Deus
colocar um final na ordem presente das cousas.
Contudo, há um sentido em que os ímpios já assumem o castigo eterno logo após a morte
física, indo para a condenação, à semelhança dos anjos maus. O texto é claro quando diz que os
anjos maus ficarão em "algemas eternas para o juízo do grande dia" (Jd 1.6-7). Os homens
também experimentarão o mesmo tormento, já de caráter eterno, esperando apenas a
completação dele que se dará no grande dia final.
Esta verdade é ilustrada na parábola do rico e de Lázaro. O texto da Escritura diz que

"aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão;
morreu também o rico, e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou
os olhos e viu ao longe a Abraão e a Lázaro no seu seio" (Lc 16.22-23).

Com clareza o texto afirma que o rico foi sepultado (v.22) e, imediatamente, afirma que ele
estava no inferno, em tormentos. Isso demonstra que, ao mesmo tempo em que os justos vão

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imediatamente para o gozo de Deus (que é o caso de Lázaro - v.22), o rico foi imediatamente para
os tormentos sem fim, apenas esperando o juízo do grande dia.
Contudo, é preciso lembrar que os ímpios sofrem esse castigo
parcialmente, apenas no espírito, pois o corpo deles ainda não participa
dele, pois está no pó. Após a ressurreição final, que é a ressurreição para a
vergonha e horror
nesse lago, eterno
onde estão (Dn 12.2), oosdiabo
juntamente ímpios impenitentes
e seus anjos. serão lançados
A Escritura diz que após a morte e ressurreição dos ímpios eles entrarão no juízo final,
"porque está ordenado aos homens morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hb 9.27).

A Duração desse castigo


As tristes perdas dos ímpios serão para sempre. Eles não serão somente miseráveis, mas
miseráveis eternamente. Tanto os homens quanto os seres espirituais caídos haverão de
experimentar eternamente esse sofrimento, que é a morte eterna, que não pode ser destruída (Ap
14.10-11; 20.10; Mt 25.41, 46; Mc 9.43-48; 2 Ts 1.9; Hb 6.2; Jd 1.6-7; Ap 14.11).
 Judas fala daqueles que são impenitentes como experimentando o amargor do sofrimento
como uma experiência infindável, sendo "duplamente mortos":

"Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade,


banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se
apascentam; nuvens sem água impelidas pelo vento; árvore em plena estação dos
frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do
mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais
tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre" (Jd 12-13).

A razão dessa punição eterna pelo pecado é porque o pecado é cometido contra um Deus
eterno e infinito (l Tm 1.17), que requer uma satisfação infinita e, portanto, eterna. Porque o
ímpio pecou contra um Deus infinito, a sua punição, portanto, é reconhecida como infinita.
Nunca o homem terminará de pagar a sua dívida com Deus, porque é dívida de alguém que
continua pecador. O débito do pecador não pode nunca ser saldado porque somente a obediência
a Deus poderia satisfazer a justiça divina. Todavia, ainda lã, no inferno, na condenação, o homem
haverá de estar contra Deus, insurgindo-se contra a sua lei. No estado futuro, os ímpios haverão
de pecar. Quando mais pecado, mais ódio contra Deus. João, no Apocalipse, dá uma idéia do que
acontecerá no destino eterno de ambos, dos justos e dos injustos: "Continue o injusto fazendo
injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o
santo continue a santificar-se" (Ap 22.11). Os ímpios pagarão pelos seus pecados, mas nunca
terminarão de pagar porque para sempre se rebelarão contra o Senhor.
A palavra grega gee/nna que sempre é traduzida como inferno nas nossas versões, nunca se
refere ao tormento do estado intermediário, mas sempre à punição eterna.  
O Sentido da palavra “eterno"  

respeitoAàpalavra
vida e àgrega
morte. Qual, que é traduzida como "eterno" aparece diversas vezes no NT com
ai)w/nion
é o sentido dessa palavra grega? No caso de combinação com a
palavra "vida", o termo ai)w/nion  tem a conotação de "vida imperdível". O sentido, todavia, é mais do
que de quantidade. Ela é a vida plena da bondade de Deus, plena da comunhão com Deus.
Contudo, não se pode esquecer que ela contém a idéia de duração sem fim. Observe-se que em 1
Co 15.53, as palavras imperecível (ou incorruptível) e imortal são sinônimas.
No caso de combinação com a idéia de "morte", há a mesma conotação qualitativa e
quantitativa. Estes dois aspectos não podem ser esquecidos.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 219

As Teorias dos Adversários das Penas Eternas

A teoria da Não-Punição
Os defensores dessa teoria não crêem numa punição futura, porque eles não crêem em
qualquer espécie de existência futura. Tudo termina por aqui. Esses são os materialistas puros.
Eles crêem que a alma, se há alguma, é apenas uma função do cérebro, ou uma parte de todo o
complexo do organismo humano. Quando o homem morre, tudo se acaba. Nem a recompensa
futura existe, na conta deles. Na verdade, esses não são cristãos. Então, eles não causam um
problema maior, exceto se estivermos em lugares de grande concentração de materialistas.

A Teoria do Aniquilacionismo
Há outros que pensam que o pecado deve ser punido, mas eles são incapazes de admitir a
idéia de uma punição sem fim. Admitem uma recompensa de bem-aventurança eterna. Eles são
chamados de aniquilacionistas. Eles crêem numa ressurreição geral final, numa vida futura de
gozo, que é o céu. Segundo eles, somente os cristãos recebem uma existência eterna. Contudo, os
ímpios serão destruídos após a ressurreição final. A punição deles está em não poderem mais
existir.

qualquerHáforma
alguns
ele aniquilacionistas
morreria. O pecado que sustentam
veio que o homem
somente complicar a sua foi feito um
finitude. ser eterna
A vida mortal. De
é um
dom que Deus da aos que crêem e vivem piedosamente neste mundo. A punição dos ímpios,
contudo, é o fato de Deus se recusar dar-lhes a vida eterna. A punição, então, é a privação da vida
eterna, mas não há um castigo positivo. Apenas a privação do que é bom.
Há ainda outros aniquilacionistas que admitem uma certa punição, não aceitando,
todavia, a punição sem fim. Esses são cristãos que aceitam todas as outras verdades do
cristianismo, exceto esta. Eles dizem que a doutrina da punição eterna não está em consonância
com o caráter de Deus.
Para eles, o adjetivo "eterno" em relação à punição não deve ser tomado literalmente, mas
somente como indicação de um longo período de tempo. O outro argumento usado por eles é que
as palavras "destruição" e "morte" implicam numa cessação de existência.

A Teoria
Esta da Segunda
teoria é uma Chance
outra forma de aniquilacionismo. Após a morte, no estado
intermediário, aqueles que rejeitaram a verdade recebem a outra oportunidade de fazer as
escolhas certas. Porque Deus é um ser muito amoroso, aqueles que morrem sem se arrepender,
terão uma outra chance na existência futura. Os que se recusam a isso na segunda chance, serão
aniquilados, sendo lançados na gehenna, o fogo que consome, ou poderão ter uma forma mais
baixa de existência eterna. No fundo, segundo essa teoria, Deus vai fazendo tentativas para tirar
o máximo de pessoas da destruição. A teoria do purgatório, no catolicismo romano, é um exemplo
bastante claro dessa idéia, mesmo embora, no purgatório as pessoas não se arrependem, mas
completam o sofrimento de Cristo, tendo a chance de purgar os seus próprios pecados.

A Teoria da Redenção Universal


Estes crêem que no final todos haverão de ser redimidos. Esta é uma das teorias mais
antigas, vindo desde Orígenes, alguns anabatistas e muitos teólogos do séc. XIX e, em geral, pela
teologia moderna, que evita qualquer noção de punição eterna.
Em geral, essas três últimas teorias usam argumentos como os que se seguem:
1) O adjetivo eterno na Escritura, quando usado em conexão com punição, não deveria
nunca ser tomado literalmente, mas somente como uma indicação de um tempo muito longo;
2) Tais palavras como "morte" e "destruição" implicam numa cessação de existência;
3) A linguagem universalística é freqüentemente usada nas Escrituras.
4) A condenação eterna é contrária ao próprio ser de Deus, especialmente o seu amor.

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8/9/2019   Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 220

Objeções a essas teorias

1) Embora o termo grego ai)w/nioj (que é traduzido em nossas versões como "eterno") não
signifique literalmente "um tempo interminável", contudo, quando usado em contraste com "vida
eterna", não pode significar outra coisa que não "duração sem fim". Este argumento está
absolutamente claro em Mt 25.46 "E estes irão para o castigo eterno, porém os justos para a vida
eterna". A menos que neguemos a duração sem fim da bem-aventurança, teremos que aceitar a
eternidade, ou a duração sem fim da punição.
O texto de Ap 14.11 mostra uma outra conotação de eternidade de uma outra forma,
combinada com outras expressões: A expressão "Tormento  pelos séculos dos séculos "é a
tradução da expressão grega ei)j ai)w=nas ai)w/nwn - Esta expressão grega fala da duração da punição
da besta e de todos os seus adoradores, os ímpios, que é seguida de duas outras expressões que
reforçam a idéia de eternidade.

Ap 14.11 - "A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não
tem descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua
imagem, e quem quer que receba a marca do seu nome."

Um outro texto de Apocalipse repete as mesmas palavras e as mesmas idéias, enfatizando


a continuidade indefinida do tormento:

Ap 20.10 - "O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e
enxofre, onde também se encontram não só a besta como o falso profeta e serão
atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos."

Há uma outra expressão da Escritura, que não ~ que evidencia que a punição tem um
caráter sem fim.
A expressão bíblica usada é Fogo Inextinguível - O texto de Mc 9.43, diz: "E se a tua mão te
faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires
para o inferno (gee/nan), para o  fogo inextinguível." 260  Observe que gehenna é sempre conectado
com penas eternas, nunca com o sofrimento do período intermediário. Confira este texto com Mt
3.12. 2) As palavras ―destruição‖ e "morte", usadas pelos três teorias acima para negar as penas
eternas não é um argumento sustentável. A palavra "destruição" (2 Ts 1.9) não pode nunca
significar aniquilação porque é alguma coisa que acontece eternamente. Além disso, e uma
expressão que pode indicar a qualidade da existência sem Deus e sua graça. A palavra ―morte‖
(Ap 2.11; 20.14 e 21.8) também é indicativa de qualidade de existência sem Deus. Por essa razão,
não pode significar aniquilamento.
A Condição em que se suporta esse castigo
Além de ser um sofrimento de caráter perene, a Escritura dá-nos a entender que ele será
suportado de forma consciente. O texto de Lc 16.19-31, que narra a parábola do rico e de Lázaro,
ilustra de modo inequívoco a consciência em que vivia nos tormentos do inferno (v.23-24). A
conversa do ímpio em tormento com Deus (v.25-31) reforça a idéia de o ímpio estar na plenitude
de suas faculdades mentais, a despeito da ausência do corpo.

Os sofrimentos desse castigo


Mt 7.23; Lc 13.27-28;
Lc 16.19-31 - Este texto da parábola de Jesus parece indicar que parte do tormento do
ímpio é ver o gozo dos remidos de Deus (ver também Lc 13.27-28). A condenação tem a ver com
uma espécie de privatio boni, a ausência do bem, ou seja, a ausência dos benefícios da presença

260 Os textos de Mc 9.44, 46 e 48 não se encontram nos melhores Manuscritos mais antigos. Por
essa razão, não usaremos como textos-prova do nosso argumento, a fim de não sermos contestados pelos
adversários das penas eternas.

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