Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANTROPOLOGIA
BÍBLICA
[Estudo da Doutrina
do Homem e do Pecado]
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 1/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 2
Índice
Índice ......................................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11
A DOUTRINA DO HOMEM NA SISTEMÁTICA............................................................. 12
PARTE 1 ................................................................................................................... 13
A CONDIÇÃO DO HOMEM ANTES DA QUEDA .......................................................... 13
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 14
A CRIAÇÃO DO HOMEM ........................................................................................... 14
ANTROPOGENIA ....................................................................................................... 14
Conceito Evolucionista da Origem do Homem ............................................................ 14
1. Evolucionismo Materialista ................................................................................ 14
2. Evolucionismo Teísta......................................................................................... 15
Conceito Criacionista da Origem do Homem .............................................................. 15
A Unidade da Raça ................................................................................................ 15
Criação Mediata ou Imediata? ............................................................................... 16
A criação do ser humano completo ........................................................................ 16
Distinções entre o Homem e os outros Animais Inferiores ....................................... 16
CAPÍTULO II ............................................................................................................. 18
A NATUREZA DO HOMEM ........................................................................................ 18
1. UM SER DEPENDENTE E RESPONSÁVEL ............................................................. 19
Livre Arbítrio & Livre Agência .................................................................................... 20
2. UM SER SANTO .................................................................................................... 22
Santidade Derivada e Finita ........................................................................... 24
CAPITULO III ............................................................................................................ 26
A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM ........................................................... 26
Base Escriturística da Natureza Constitucional do Homem ........................................ 26
1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser material ou físico) ............................. 27
2. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterial ou espiritual)........................ 29
A Unidade do Homem ............................................................................................... 29
A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE ENTRE CORPO- ALMA E/OU
CORPO-ESPÍRITO. ............................................................................................................... 30
(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO), ............................. 30
(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO): ................... 31
B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO, DISTINGUIR OS TERMOS ALMA E
ESPÍRITO. ........................................................................................................................... 32
C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS TERMOS ALMA E ESPIRITO
INDISTINTAMENTE.............................................................................................................. 33
(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma pessoa
desincorporada. ................................................................................................................ 33
(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a expressões de
emoção e de devoção. ....................................................................................................... 34
(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obra
redentora e santificadora de Cristo. .................................................................................. 37
3. O HOMEM É CORAÇÃO ........................................................................................ 39
A) A ABRANGÊNCIA DO SIGNIFICADO DO TERMO ―CORAÇÃO” NA ESCRITURA: . 39
(1) Referência a ―coração‖ no Livro de Provérbios ................................................ 39
(2) Referências a coração no uso de Jesus Cristo ................................................ 40
(3) Referências a ―coração‖ na mensagem de Paulo ............................................. 40
B) A ESCRITURA USA O TERMO CORAÇÃO COMO INDICATIVO DE: ..................... 40
1. Coração como Indicativo de Atividade Intelectual............................................ 41
2. Coração como Indicativo de Atividade Volitiva ................................................ 41
3. Coração como Indicativo de Atividade Emotiva ............................................... 41
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 2/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 3/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 4
CAPÍTULO VI ............................................................................................................ 61
O HOMEM NO PACTO DAS OBRAS ........................................................................... 61
Teologia do Pacto ou Teologia Federal ........................................................................ 61
O SIGNIFICADO DO TERMO ―PACTO‖ ....................................................................... 61
O NOME ―PACTO DAS OBRAS‖ ................................................................................. 62
EVIDÊNCIA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS ........................................................... 63
O PACTO DASdeu
1. Deus OBRAS
ao homemE A LEI uma DElei DEUS ..................................................................
natural. ............................................................ 64
2. Deus deu ao homem uma lei expressa em palavras. ....................................... 65
OS ELEMENTOS DO PACTO DAS OBRAS ................................................................. 65
1. Partes Contratantes .......................................................................................... 65
2. Promessa de Vida Condicionada à Obediência .................................................... 66
Este é o ensino de Moisés .................................................................................. 66
Este é o ensino de Davi ...................................................................................... 66
Este é o ensino de Paulo .................................................................................... 67
Este é o ensino de Jesus .................................................................................... 67
Este é o ensino dos Padrões de Fé de Westminster ............................................. 68
3. A Ameaça de Morte em Caso de Desobediência .................................................. 68
4. O Sacramento do Pacto ..................................................................................... 69
A VIOLAÇÃO DO PACTO DAS OBRAS ....................................................................... 70
A Gravidade da Violação do Pacto .......................................................................... 70
A IDÉIA DE REPRESENTATIVIDADE NO PACTO DAS OBRAS .................................... 70
Adão é o Cabeça Natural da Raça .......................................................................... 71
Adão é o Cabeça Representativo da Raça ............................................................... 71
Paralelo entre o Primeiro Adão e o Último Adão ...................................................... 72
FUNÇÃO ATUAL DO PACTO DAS OBRAS .................................................................. 74
Sentidos em que o Pacto das Obras Ainda Vigora ................................................... 74
O Pensamento Arminiano .................................................................................. 74
O Pensamento Reformado .................................................................................. 74
Sentidos em que o Pacto das Obras Não Mais Vigora .............................................. 75
PARTE 2 ................................................................................................................... 76
A CONDIÇÃO DO HOMEM E A QUEDA ..................................................................... 76
A LIBERDADE E A MUTABILIDADE PARA O PECADO ............................................... 77
CAPITULO VII ........................................................................................................... 79
A ORIGEM DO MAL MORAL ...................................................................................... 79
A) DADOS BÍBLICOS SOBRE A ORIGEM DO MAL ................................................. 79
Análise de Is 45.1-7 .................................................................................................. 80
B) DADOS BÍBLICOS SOBRE O CARÁTER DO PECADO ........................................ 85
1) O Pecado é uma classe específica de mal ........................................................ 85
2) O Pecado tem um caráter absoluto ................................................................. 85
3) O Pecado tem a ver com a transgressão da Lei ................................................ 86
C) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO ANGELICAL ............................................. 86
D) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO DOS HOMENS ......................................... 87
Análise de Gn 3.1-6 .................................................................................................. 87
PARTE 3 ................................................................................................................... 92
A CONDIÇÃO DO HOMEM DEPOIS DA QUEDA ......................................................... 92
(DOUTRINA DO PECADO) ......................................................................................... 92
CAPÍTULO VIII .......................................................................................................... 93
A TRANSMISSÃO DO PECADO .................................................................................. 93
CONEXÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DA POSTERIDADE .................................. 93
A. OS QUE NEGAM ESTA CONEXÃO..................................................................... 93
1) Os Pelagianos ................................................................................................ 93
2) Os Semi-Pelagianos ....................................................................................... 95
3) Os Arminianos Consistentes .......................................................................... 98
B. OS QUE AFIRMAM ESTA CONEXÃO ............................................................... 100
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 4/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 5
Análise O
doPrincípio
texto de da
Rom. 5.12-21: ...........................................................................
Representação na Escritura ................................................... 108 104
3) Os que Sustentam a Teoria da Imputação Mediata ....................................... 109
CAPITULO IX .......................................................................................................... 111
AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA VIDA DA RAÇA HUMANA ............................ 111
1. CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃO ....................................................................... 111
Análise de Gn 3.7-24........................................................................................... 112
2. CONSEQÚÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANA ..................................................... 117
CAPITULO X ........................................................................................................... 119
O PECADO ORIGINAL ............................................................................................. 119
1. CULPA ORIGINAL............................................................................................ 119
Reatus Culpae ................................................................................................. 119
Reatus Poenae ................................................................................................. 120
2. a)
CORRUPÇÃO
Ausência deORIGINAL ..................................................................................
Justiça Original ........................................................................ 120
Justiça ........................................................................................................ 120
Santidade .................................................................................................... 120
Conhecimento Verdadeiro ............................................................................ 121
b) Presença de um Mal Verdadeiro ....................................................................... 121
DEPRAVAÇÃO TOTAL ............................................................................................. 121
a) Descrição Bíblica da Corrupção do Pecado ....................................................... 121
b) Descrição Bíblica do Homem Corrupto ............................................................. 122
A DEPRAVAÇÃO DO CORAÇÃO HUMANO ............................................................... 122
OS VÁRIOS NOMES PARA DEPRAVAÇÃO NA ESCRITURA ....................................... 126
1. Corrupção do Coração ..................................................................................... 126
2. Cegueira do Coração ....................................................................................... 126
3. Dureza de Coração .......................................................................................... 127
4. Consciência Corrompida.................................................................................. 127
5. Escravidão do Pecado ...................................................................................... 128
6. Escravidão da Corrupção................................................................................. 129
7. Escravidão de Satanás .................................................................................... 129
CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃO .................................................................... 130
1. É comum a todos desde o Ventre Materno ....................................................... 130
2. Afeta a Totalidade do Ser Humano ................................................................... 132
A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL .................................................................. 133
Sobre o termo depravação ............................................................................ 133
Sobre o adjetivo "total" ................................................................................. 133
1. O CORPO ........................................................................................................ 133
2. ALMA .............................................................................................................. 134
a) Mente .......................................................................................................... 134
b) Emoções...................................................................................................... 137
C. Vontade ...................................................................................................... 141
A Vontade e os Motivos ................................................................................ 141
INCAPACIDADE TOTAL ........................................................................................... 144
1. O Homem é Incapaz de Sensibilidade Moral ................................................. 147
2. O Homem é Incapaz de Obediência Moral ..................................................... 149
3. O Homem é Incapaz de Amar a Deus ........................................................... 149
4. O Homem é Incapaz de Amar Aqueles que são de Deus ................................ 150
5. O Homem ê Incapaz de Perceber e Fazer as Coisas Santas ............................ 151
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 5/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 6
A Necessidade
O PACTO DA GRAÇAdo Estabelecimento
CONCEBIDO NAdoETERNIDADE Pacto da Graça .......................................... 156
..............................................
1. Este Pacto foi feito na Eternidade .................................................................... 156
2. Este Pacto foi feito entre o Pai e o Filho ............................................................ 157
3. Este Pacto teve Cristo como Fiador e Cabeça .................................................... 158
a) Cristo Como Fiador do Pacto .................................................................... 158
b) Cristo como Cabeça do Pacto ................................................................... 159
4. Este Pacto foi de Obras Para Cristo .................................................................. 159
5. Este Pacto possuía Requisitos e Promessas ...................................................... 159
a) Requisitos ................................................................................................ 159
b) Promessas ............................................................................................... 159
6. Este Pacto foi feito em favor do Pecador Eleito .................................................. 160
O PACTO DA GRAÇA REALIZADO NA HISTÓRIA ..................................................... 160
1. A Intervenção
2. Base para a Divina
Intervenção Graciosa
é Soberana de Deus ...................................................
e Incondicional ............................................. 160
161
AS PARTES CONTRATANTES .............................................................................. 161
AS PROMESSAS DO PACTO ................................................................................ 161
AS CARACTERÍSTICAS DO PACTO ...................................................................... 161
É um Pacto Gracioso ........................................................................................... 161
Com Origem Trinitária ........................................................................................ 161
Tem Conseqüências Eternas................................................................................ 161
Destinado a um Povo Especial ............................................................................. 161
É o mesmo em Ambas as Dispensações ............................................................... 161
O PAPEL DE CRISTO NA REALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PACTO ........................... 161
ASPECTOS DO PACTO............................................................................................ 161
Relação Legal ...................................................................................................... 161
Relação de Comunhão de Vida ............................................................................ 161
AS VÁRIAS DISPENSAÇÕES DO PACTO DA GRAÇA ................................................ 161
1. PACTO DE DEUS COM NOÉ ............................................................................... 162
Sua Relação com os outros Pactos ............................................................... 163
As Promessas do Pacto com Noé .......................................................................... 164
As Características do Pacto com Noé .................................................................... 165
2. PACTO DE DEUS COM ABRAÃO ......................................................................... 165
Partes Contratantes ............................................................................................ 165
Um Pacto Incondicional ....................................................................................... 165
Um Pacto Amoroso .............................................................................................. 165
Um Pacto Eterno ................................................................................................. 165
A Eternidade do Pacto Afirmada ................................................................... 165
A Eternidade do Pacto Demonstrada ............................................................ 166
As Promessas desse Pacto ................................................................................... 166
Promessas Gerais ................................................................................................ 166
Promessas Específicas ......................................................................................... 167
a) Promessa de Deus estar presente no meio do povo .................................... 167
É uma promessa de restauração ........................................................... 167
É uma promessa de comunhão ............................................................. 168
b) Promessa de Yehovah ser o Deus da Descendência de Abraão ................... 168
c) Promessa de a Descendência de Abraão ser Povo de Yehovah .................... 168
O Povo de Yehovah é um povo Santo ..................................................... 169
O Povo de Yehovah é um povo Peculiar ................................................. 169
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 6/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 7
O Pacto é quebrado
Renovado quando
quando há há aa desobediência
volta sincera para ao Senhor
o Senhor ...........................
....................... 170
A Singularidade do Pacto Sinaítico ...................................................................... 171
O Sacramento do Pacto Sinaítico ......................................................................... 171
Aspectos do Pacto Sinaítico ................................................................................. 171
O Pacto Sinaítico é uma continuação do Pacto Abraâmico ............................ 171
O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça ......................................................... 172
O Pacto Sinaítico é um Pacto Nacional ......................................................... 172
4. O PACTO DE DEUS COM OS LEVITAS ................................................................ 173
Tipo - Um Pacto Incondicional ............................................................................. 173
Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 173
Um Pacto Perpétuo .............................................................................................. 174
A Violação Pacto.................................................................................................. 174
5. PACTO DE DEUS COM DAVI .............................................................................. 175
Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 175
Aspectos do Pacto Davídico ................................................................................. 176
1. É uma Continuação do Pacto da Graça .................................................... 176
2. E um Pacto Eterno ................................................................................... 176
3. É um Pacto cumprido em Cristo ............................................................... 177
6. O NOVO PACTO .................................................................................................. 178
PARTES CONTRATANTES ................................................................................... 178
O ESTABELECIMENTO DO NOVO PACTO ........................................................... 178
TIPO - UM PACTO INCONDICIONAL .................................................................... 178
O TEMPO DO CUMPRIMENTO DO NOVO PACTO ................................................ 178
RELAÇÃO DO NOVO PACTO COM OS PACTOS ANTERIORES .............................. 179
Relação com o Pacto Abraâmico........................................................................... 179
Relação com o Pacto Sinaítico.............................................................................. 180
Relação com o Pacto Levítico ............................................................................... 180
Relação com o Pacto Davídico .............................................................................. 180
CONTRASTES ENTRE O VELHO PACTO E O NOVO PACTO ................................. 180
SEMELHANÇAS .................................................................................................. 181
Os dois pactos possuíam algumas promessas comuns ......................................... 181
Os dois pactos eram caracterizados pelo sacrifício de um Cordeiro ....................... 181
Os dois pactos são sancionados com sangue ........................................................ 181
Os dois pactos possuem o mesmo livro da lei ....................................................... 181
DIFERENÇAS ...................................................................................................... 181
1. O Antigo Pacto era Condicional e o Novo era Incondicional ............................... 181
2. O Novo Pacto ê superior ao Antigo Pacto .......................................................... 181
a) Superioridade quanto ao Sacerdócio ......................................................... 181
b) Superioridade quanto aos Sacrifícios ........................................................ 182
c) Superioridade quanto ao Lugar dos Sacrifícios .......................................... 182
c) Superioridade quanto à Administração da Lei: .......................................... 182
d) Superioridade quanto às Promessas ......................................................... 182
e) Superioridade quanto ao conceito de Redenção ......................................... 183
PROMESSAS DO NOVO PACTO ........................................................................... 183
1. A Promessa da doação de um novo coração ...................................................... 183
2. A Promessa da Interiorização da lei de Deus .................................................... 183
3. A Promessa de um Conhecimento Pessoal do Senhor ....................................... 185
a) É uma promessa de caráter pessoal.......................................................... 185
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 7/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 8
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 8/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 9
OSPecados
GRAUS de DOS PECADOS
Ignorância ATUAIS ........................................................................ 203
.........................................................................................
Pecados deliberados ............................................................................................ 204
A gravidade de ambos os pecados:................................................................ 204
DISTINÇÕES DOS PECADOS ATUAIS ..................................................................... 204
Pecados Remissíveis e Irremissíveis ..................................................................... 204
CAPITULO XV ......................................................................................................... 206
A PUNIÇÃO DO PECADO ........................................................................................ 206
A ORIGEM DA PUNIÇÃO ......................................................................................... 206
OS PROPÓSITOS DA PUNIÇÃO DIVINA ................................................................... 206
a) Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina ............................................................. 206
b) A Reforma do Pecador ..................................................................................... 206
c) Fazer com que os homens desistam de pecar .................................................... 206
TIPOS DE PUNIÇÃO DIVINA.................................................................................... 206
(a) Castigos Naturais ........................................................................................... 206
(b) Castigos Positivos ........................................................................................... 207
A PUNIÇÃO DE MORTE .......................................................................................... 207
O Conceito de Morte ............................................................................................ 207
O poder sobre a morte ......................................................................................... 207
A Causa Judicial da Morte .................................................................................. 207
PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA PRESENTE .................................................................... 208
1. MORTE ESPIRITUAL ....................................................................................... 208
A Natureza dessa morte....................................................................................... 208
O tempo dessa morte .......................................................................................... 209
O Modo que essa morte chegou até nós ............................................................... 209
A Inescapabilidade dessa morte ........................................................................... 209
A Duração dessa morte ....................................................................................... 210
2. OS SOFRIMENTOS DESTA VIDA ..................................................................... 210
Sofrimentos no ser material ................................................................................. 210
Sofrimentos no ser Imaterial................................................................................ 210
Sofrimentos do ser Social .................................................................................... 210
3. MORTE FÍSICA ............................................................................................... 211
A Natureza da Morte Física .................................................................................. 211
O Processo da Morte Física .................................................................................. 211
A Inescapabilidade da Morte Física ...................................................................... 212
A Morte Física do Cristão .................................................................................... 213
Diferença entre o Cristão e o Ímpio na morte Física .............................................. 215
PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA FUTURA ........................................................................ 215
4. MORTE ETERNA ............................................................................................. 215
O Lugar desse Castigo ......................................................................................... 215
O uso da palavra grega Hades ...................................................................... 215
O Uso do Termo Grego Gehenna .................................................................. 216
O Uso do Termo Grego Tártaro ..................................................................... 217
A plenitude desse castigo .................................................................................... 217
O Tempo desse castigo ........................................................................................ 217
A Duração desse castigo ...................................................................................... 218
O Sentido da palavra “eterno" ....................................................................... 218
As Teorias dos Adversários das Penas Eternas .............................................. 219
A teoria da Não-Punição ....................................................................... 219
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 9/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 10
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 10/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 11
INTRODUÇÃO
Não devemos confundir essa matéria com a antropologia cultural, ou a ciência da raça,
que inclui todas as outras ciências ligadas ao homem, como por exemplo: psicologia, sociologia,
lingüística, etc. Neste capitulo estudaremos uma antropologia bíblica e teológica, não uma
antropologia filosófica ou cultural. O homem sempre foi o centro das preocupações filosóficas,
mas não será esta a preocupação deste estudo. Veremos o homem à luz do que Deus pensa dele.
Esta é uma abordagem desafiadora, especialmente num tempo quando Deus não entra na conta
dos homens, quando estes se estudam a si mesmos.
Vamos analisar como o homem veio de Deus, qual foi seu comportamento no Éden, quais
foram as causas da sua queda, os resultados dela, e a redenção do homem em Cristo, no pacto da
graça, tudo com base na revelação de Deus como está nas Santas Escrituras.
Na antropologia bíblica vamos estudar o homem no seu relacionamento com Deus. É uma
tolice tentar conhecer o homem sem que o conheçamos à luz da revelação divina. Por causa da
tentativa de se estudar o homem à parte das informações que o próprio Deus dá do ser humano,
muitos erros são cometidos na avaliação do homem pelo homem. Portanto, o estudo da
antropologia tem que ser feito à luz da teologia que é baseada na revelação da Escritura.
O estudo da antropologia é extremamente importante, especialmente dentro da esfera
teológica. A teologia cristã foi elaborada quando, cientificamente, o homem pensava
geocêntricamente, isto é, que a terra era o centro de tudo. O grande astro girava em torno da
terra, e tudo servia a terra. Com a entrada de Nicolau Copérnico, o mundo passou a pensar
heliocentricamente. Com essa mudança do geocentrismo para heliocentrismo, diz Verduin, a
terra, a habitação do homem, pareceu muito menos importante. Com o advento do
heliocentrismo, com a revolução Copérnica, a terra perdeu o seu lugar central. ―Esta mudança
tendeu a diminuir o lugar e a importância do homem; esta mudança fé-lo sentir-se pequeno e
menos importante‖. 1 A enormidade do universo veio à tona com a implementação das
descobertas telescópicas. Cada vez mais a terra tornou-se menor, e menor ainda a importância
daquele que foi feito ―menor do que Deus‖. De lá para cá, pouca atenção tem sido dada ao estudo
do homem, como parte da criação de Deus.
A diminuição da importância do homem devido à descoberta do tamanho do universo, e o
empequenecimento de sua existência tão curta, em vista da suposta longa duração e existência
do universo material, não devem desanimar o homem no estudo sério das suas origens e do seu
comportamento. E este estudo tem crescido neste últimos dois séculos, mas sem as devidas
precauções. Os cientistas têm desprezado as informações que Deus dá das origens e do
comportamento dos homens na Sua Palavra. Isto tem levado a distorções sérias no estudo da
antropologia.
O estudo do homem deveria merecer uma atenção maior da parte de todos nós, não que o
homem seja o centro absoluto do universo, mas pela dedicação e atenção que o próprio Deus lhe
deu, quando o criou à sua própria imagem e semelhança. Essa atenção deveria ser dada, ao
menos, pelos psicólogos, antropólogos e outros cientistas cristãos. Deveríamos devolver ao
estudo da teologia, uma boa base de antropologia bíblica.
Fazemos jus a uma boa antropologia bíblica, quando estudamos as origens do homem
dentro da Escritura. Por essa razão, a primeira parte da antropologia tem a ver com a criação do
homem.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 11/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 12
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 12/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 13
PARTE 1
A CONDIÇÃO DO
HOMEM ANTES DA
QUEDA
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 13/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 14
CAPÍTULO 1
A CRIAÇÃO DO HOMEM
ANTROPOGENIA
O livro do Gênesis, que é o livro dos começos, não trata simplesmente da cosmogonia, que
é o vir à existência do cosmos material, mas também de antropogenia, que é o vir à existência do
ser humano. A criação do mundo material foi em função da criação do dominador dele. Deus
colocou o homem como governador e dominador de toda a criação, conforme nos diz o Salmo 8.
Depois do propósito da glória de Deus, todas as coisas foram feitas para que o homem
desfrutasse delas. O nosso planeta e o restante do cosmos foram designados para o bem-estar do
último dos seres criados, o homem. Por isso é dito do homem como sendo a coroa da criação. O
homem é apresentado na Escritura como o capeamento ou o acabamento da empreitada criadora
total do Todo-Poderoso. Da criação do homem Leonard Verduin diz: ―Antes do homem entrar em
cena, no fim de cada dia da atividade criadora de Deus, o Artífice Divino chama o produto da Sua
criação ―bom‖; mas só após o homem entrar em cena ele é chamado ―muito bom‖. 2
Contudo, ignorando em parte aquilo que a narrativa da criação diz nos primeiros
capítulos de Gênesis, no século passado alguns estudiosos tentaram derrubar tudo o que até
então havia sido crido pela igreja cristã. Levantou-se no seio da igreja, especialmente na Europa,
a doutrina do evolucionismo que permeou até os limites do cristianismo ortodoxo. O
evolucionismo da criação do homem teve um número crescente de adeptos até algumas décadas
1. Evolucionismo Materialista
Há muitas variações do evolucionismo, mas Berkhof resume dizendo que ―qualquer que
seja a diferença de opinião que possa haver nesse ponto, é seguro que, segundo a evolução
materialista, o homem descende dos animais inferiores no corpo e na alma, mediante um
processo natural de perfeição, controlado totalmente por energias inerentes.‖ 3
A doutrina do evolucionismo materialista é um ataque frontal às doutrinas da Escritura.
É uma negação de toda a história, como revelada por Deus, que é o fundamento de todo o
cristianismo. Se os animais e os homens evoluem, então não houve os primeiros pais, não houve
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 14/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 15
Paraíso, não houve queda. E se não houve queda, não houve necessidade de redenção. Jesus veio
ao mundo sem qualquer razão. O evolucionismo nega tudo o que aconteceu, que é fundamental
para a vida humana. O evolucionismo nega Deus.
2. Evolucionismo Teísta
O problema do cristianismo hoje não é somente o evolucionismo materialista, mas o
evolucionismo teísta,
teísta crê que há um que se um
Deus, temCriador
tornadopessoal
palatável
nasa vários teólogos
origens. modernos.
Deus criou O eevolucionismo
os céus a terra, mas
todas as coisas sofrem um desenvolvimento de acordo com certas leis inerentes criadas e
colocadas na matéria por Deus. E uma espécie de deísmo, onde Deus cria e solta as espécies, sem
intervir no seu desenvolvimento.
Há também uma pequena variação de evolucionismo teísta que diz que Deus criou a terra
original, mas então supõe que todas as plantas subsequentes e a vida animal evoluíram-se de
uma forma mais baixa para uma mais alta, sem qualquer ato criador separado de Deus para
cada espécie. E possível, portanto, ser um teísta, mas ao mesmo tempo sustentar o
desenvolvimento da vida de uma forma protozoária para uma forma bem superior de vida, até
chegar à vida humana. O problema é que a Escritura, que é fonte de autoridade para os cristãos
genuínos, diz que os insetos, os répteis, os anfíbios, os pássaros, os outros animais e os homens,
foram originados em atos distintos e separados de Deus, não um sendo o desenvolvimento ou a
evoluçãoOsdeevolucionistas
outro. teístas tentam mostram que não há qualquer contradição ou conflito
entre as narrativas do Gênesis e as teorias do evolucionismo.
Todavia, é impossível alguém ser um evolucionista e, ao mesmo tempo, crer nas
afirmações do Gênesis. Como pode alguém ser um evolucionista e ainda crer na criação de Deus
em seis dias, como a Escritura afirma? A única saída para os evolucionistas teístas é interpretar
o Gênesis alegoricamente. Nada da narrativa do Gênesis é literal, tudo é alegórico. O
evolucionista teísta crê que Deus criou alguma coisa no começo, mas Ele deixou o que criou
passar por um processo de evolução, como por exemplo uma célula viva que se desenvolveu até
chegar a um animal primitivo, e deste ao homem. E esse o teísmo evolucionista deles.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 15/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 16/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 17
mesmo: ―Eu sou um macaco‖, porque se isso acontecesse, ele deixaria de ser um macaco. Um
animal não distingue a si mesmo de suas sensações.
2. Um animal percebe, mas somente o homem concebe. Os animais conhecem as coisas
brancas, mas não sabe o que é a alvura. Ele lembra coisas, mas não as pensa. Só o homem tem
o poder de abstração, o poder de derivar idéias abstratas de coisas particulares ou da
experiência.
3. O animal não tem linguagem. Linguagem é a expressão de noções gerais através de
símbolos. As palavras são símbolos de conceitos. Onde não há conceitos, não há palavras. Visto
que a linguagem é sinal, ela pressupõe a existência de um intelecto capaz de entender o sinal. Por
que os animais não falam? Porque eles não têm nada a dizer. Eles não possuem idéias gerais que
possam ser expressas em palavras.
4. O animal não é capaz de estabelecer um julgamento. Não sabe diferenciar uma cousa
de outra. O animal não sabe associar idéias e nem tem senso do ridículo.
5. O animal não é capaz de raciocínio, de ligar os fatos, de saber que isto vem daquilo,
acompanhado de um sentimento de que a seqüência é necessária. A associação de idéias sem
juízo é o processo típico da mente animal.
6. O animal não é um ser religioso, não tem idéia para o sobrenatural, nem é um ser
moral.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 17/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 18
CAPÍTULO II
A NATUREZA DO HOMEM
A quem Adão era semelhante antes da queda? A única fonte de informação que
possuímos nesta matéria é a Escritura. Nenhuma outra fonte de informação confiável temos à
nossa disposição.
Segundo a Escritura, a condição de nossos primeiros pais era de perfeição natural. Estes
podiam perfeitamente cumprir todas as exigências de Deus. Adão, por um certo tempo, foi um
exemplo de vida natural perfeita e normal (relativo a norma), o que exatamente Deus queria de
todos os seus descendentes. A única cousa anormal no Paraíso foi o pecado. Pecar era
anormalidade,
anormalidade que e ainda o é, embora
Jesus Cristo teve que seja
vir aoextremamente comum.
mundo. Ser normal paraFoi por causa
o homem dessa
é estar em
Cristo, dizer o que Ele diz e fazer o que Ele faz.
O homem foi originalmente criado num estado de perfeição, maturidade e liberdade. Isso
não quer dizer que a humanidade em Adão, antes da queda, estava no seu mais alto estado de
excelência. É bem possível que o estado de maior excelência seja aquele em que os homens
estiverem após a completação da redenção deles, porque nem mesmo serão expostos ao pecado,
em virtude de sua união com Cristo. Serão os homens, certamente, elevados a uma condição de
maior glória do que aquela que Adão teve antes da queda. Contudo, é importante ter-se em mente
que essa glória futura do homem é devida à sua união com Cristo, o redentor dos filhos de Deus.
Quando dizemos que Adão foi criado num estado de maturidade, estamos dizendo que ele
não foi criado num estado de infância, como todos os outros seres humanos que vieram ao
mundo. Diferentemente dos outros humanos, Adão não teve um desenvolvimento de sua
inteligência
acrescentar ou de posteriormente.
nada outras das suas faculdades, como nós o temos. Deus fé-lo completo, sem lhe
Quando dizemos que Adão foi criado perfeito, estamos querendo dizer que ele era
perfeitamente adaptado ao fim para o qual foi criado e na esfera na qual foi designado viver. Seu
corpo e alma eram perfeitamente adaptados um ao outro. Adão era perfeito na sua criação. Era
livre de qualquer corrupção ou deficiência. Não havia nada na sua natureza que pudesse dar a
idéia de fraqueza ou falha.
O estado primeiro de nossa raça, não foi como os livros científicos dizem, de primitivismo
ou de barbarismo, que se evoluiu até se tornar o homo sapiens desenvolvido como o conhecemos
hoje. De forma alguma! Deus criou o homem perfeito que, com o passar dos tempos e levado pela
queda, veio a sofrer algum tipo de involução, passando a viver em estado de ―barbarismo‖.
Quando dizemos que Adão foi criado num estado de liberdade, estamos querendo dizer
que Ele possuía tanto a capacidade de permanecer na condição em que foi criado, isto é, santo,
mas de tal forma que também pudesse cair do estado em que foi criado, agindo contra a sua
natureza.
Adão era livre de qualquer corrupção, doença ou morte. Não havia nada na sua
constituição que pudesse denotar fraqueza ou falha. O estado primitivo de nossa raça, portanto,
não foi de barbarismo, ou o produto de um processo de desenvolvimento longo e gradual.
Pelo ensino geral das Santas Escrituras e das ciências, podemos concluir:
— que o homem foi criado na perfeição de sua natureza. Por perfeito não queremos dizer
num estado de pleno desenvolvimento, mas perfeito no sentido de não haver qualquer falha na
sua natureza. Esta é uma matéria decisiva para os cristãos;
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 18/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 19
— que as tradições de todas as nações falam de uma "era dourada", da qual os homens
caíram. Tem havido uma involução da raça, não uma evolução para um estado melhor. O estado
primitivo de homem segundo a narrativa da Escritura, está em harmonia com as melhores
tradições de nações antigas;
— que os mais antigos registros em escritos e monumentos têm demonstrado a existência
de nações no mais alto grau de civilização em períodos bem antigos da história humana;
A teoria de que a raça humana passou através da idade da pedra, bronze, ferro, estágios
de progresso do barbarismo para a civilização, é destituída de comprovado fundamento científico.
Tem sido crença universal de que o estado original do homem é aquele que a Bíblia
ensina. Seu mais alto estado começou no Éden. O que existe hoje são civilizações que vão se
deteriorando, como já aconteceu no passado com muitas delas.
E verdade que as civilizações mais modernas têm tido a oportunidade de desenvolver suas
potencialidades nas áreas das ciências e da filosofia, mas nunca houve um desenvolvimento na
personalidade ou nas faculdades da alma humana. O homem foi sempre o mesmo em todas as
épocas.
Não há Mas
nadacomo
que não
umaprecise
pessoada assistência
que é, o homemprovidencial de Deus.
tem um certo grau de independência,
―não uma independência absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser
capaz de fazer decisões, de estabelecer metas e de mover-se em direção às metas
estabelecidas. Isto significa possuir liberdade — ao menos no sentido de ser capaz
de fazer suas próprias escolhas. O ser humano não é um robot cujo curso é
totalmente determinado por forças externas. Ele tem o poder de
auto-determinar-se e de auto-dirigir-se‖.7
―Ser uma criatura, portanto, significa que eu não posso mover um dedo ou
emitir uma palavra sem a ajuda de Deus; Ser uma pessoa significa que quando
meus dedos são movidos, eu os movi, e quando as palavras são emitidas dos meus
lábios, eu as emiti. Ser criatura significa que eu sou barro e que Deus é o oleiro
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 19/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 20
(Rm 9.21); ser uma pessoa significa que somos aqueles que moldamos nossas
vidas pelas nossas decisões (Gl 6.7-8)‖.8
É importante que se faça essa distinção para que vejamos a grande diferença que há
entre nós e os seres irracionais, que agem instintivamente, e para que se tenha clara na mente a
idéia de que dependência e liberdade não são conceitos incompatíveis entre si. Os dois conceitos
estão
corretoclaramente presentes
entendimento do que na
sejaEscritura.
o homem.Estas duas
Alguns verdades
conceitos devem ser preservadas
antropológicos para
e soteriológicos sãoo
distorcidos justamente porque os estudiosos não distinguem corretamente o fato do homem ser
criatura e pessoa. Há que se guardar ambas as idéias juntas, em equilíbrio.
Se enfatizarmos em excesso o fato do homem ser criatura, subordinando sua
pessoalidade, haveremos de cair num determinismo, onde o homem não tem qualquer
participação na realização da sua própria história. Deus é o Senhor da história, mas os homens,
nesse caso, seriam meros robots. Nesse caso o homem ―é desumanizado‖. 9 Quando damos ênfase
exagerada na pessoalidade, em detrimento do caráter de criatura do homem, ―o homem é
divinizado e a soberania de Deus é comprometida.‖10 Neste caso a ênfase na pessoalidade faria
Deus um servo do homem. Estes extremos devem ser evitados. Temos que ter uma visão
equilibrada e bíblica da constituição da alma humana.
Estes conceitos são muito importantes para que compreendamos o problema da
responsabilidade do homem nos pecados e nos atos bons que são a expressão da santificação,
assunto esse que já vimos no estudo da providência de Deus.
8 Hoekema, 6.
9 Ver Hoekema, 7.
10 Ver Hoekema, 6
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 20/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 21
Adão possuiu essa capacidade de fazer tudo o que era justo e santo, mas também foi
dotado com a capacidade de fazer alguma coisa que era contrária à santidade com que foi
originalmente criado. Ele possuiu aquilo que ninguém hoje mais possui, isto é, a capacidade de
fazer algo que é contrário à sua natureza moral. Ele teve, nesse sentido, a capacidade para uma
escolha contrária, isto é, com natureza santa, escolheu o que era mau.
Livre Agência - Esta é uma capacidade que todos os seres humanos possuem. Ninguém
pode prescindir dela, pois esta é uma característica de um ser racional. E essencial no homem a
livre-agência. Sem ela o homem deixa de ser o que é: um ser racional. Homens e anjos agem de
acordo com a natureza deles, sendo para eles impossível agir de modo contrário a ela.
A livre agência, então, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres
racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para
qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo
que combina com a natureza deles.
A CFW traduz este pensamento nestas palavras:
―Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado para
o bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absoluta
de sua natureza.‖ (IX, 1)
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 21/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 22
diferentes
superficial,no
ouque dizvolitivo,
o ato respeito à capacidade com
é acompanhado paraeste
coisas contrárias.
poder; A atividade
a atividade central,
ou a inclinação, não é. O assassino pode refrear-se no ato de matar, por uma ação
volitiva, mas ele não pode refrear o seu desejo interior, o ódio que pode levar ao
assassinato. Uma volição pode parar uma outra volição, mas uma volição não
pode parar uma inclinação. Um homem pode reverter sua volição pecaminosa,
mas não pode reverter sua inclinação pecaminosa. 12
Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha
contrária, mas sim, que haja o poder de autodeterminação, que a ação seja nascida nas
inclinações do ser racional. ―A fim de responsabilizar o pecador por uma inclinação pecaminosa,
não é necessário que ele seja capaz de reverter sua inclinação pecaminosa. E necessário somente
que ele seja capaz de originar a ação, e que ele de fato a origine‖. 13
Para ser responsável por seus atos, portanto, o homem tem que simplesmente agir de
acordo com sua vontade, espontaneamente, sem ser forçado de fora por ninguém. Apenas ele age
de acordo com as suas disposições interiores.
Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência.
Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto
a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza pecaminosa.
2. UM SER SANTO
A Confissão de Fé de Westminster, com tradição Agostiniana14 e Calvinista, assevera que
o homem foi criado no estado de "inocência". Por inocência os padrões de Westminster querem
dizer que o homem, quando criado, não tinha qualquer mancha ou pecado, nem propensão para
pecar, embora pudesse cair do estado em que foi criado. 15 Shedd contesta que a palavra
inocência seja a melhor para explicar o estado de Adão antes da queda. Com precisão ele diz que
―santidade é mais do que inocência. Não é suficiente dizer que o homem foi
criado no estado de inocência. Isto seria verdadeiro, se ele houvesse sido
destituído de sua disposição moral, para o errado ou para o certo. O homem foi
criado não somente negativamente inocente, mas positivamente santo‖. 16
Deus fez o homem positivamente santo no seu caráter. Nada errado poderia ter saído das
mãos de Deus. Deus dotou os homens de ―inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 22/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 23
Sua própria imagem.‖17 Estas coisas têm sido cridas pelos grupos de tradição Agostiniana e
Calvinista, mas têm sido negadas em movimentos teológicos na história da Igreja, como o
Pelagianismo18 e o Semi-Pelagianismo.19 O Semi-Pelagianismo, que, com algumas variações, no
protestantismo assume o nome de Arminianismo, através de alguns de seus defensores, nega o
caráter original santo do homem por sustentar a tese do donum superadditum 20 à natureza
constitucional do homem.
O Calvinismo, contudo, afirma categoricamente a santidade original do homem, em
consonância com as Sagradas Escrituras.21 Para os Calvinistas em geral, a santidade original do
homem tem dois aspectos: 1) sua percepção e seu conhecimento; 2) sua inclinação e seu
sentimento.22
1) O conhecimento tem a ver com o entendimento. A fim de que o homem seja santo ele
tem que entender e apreender as coisas de Deus. O conhecimento que Adão e Eva possuíam
antes da queda era diferente daqueles que tiveram depois da queda. Isto é provado por Gn 2.5 –
―Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam‖. - Eles estavam
conscientes da sua santidade, e não possuíam nenhuma consciência de pecado. Mas quando
eles se apartaram de Deus, o conhecimento do mal veio. Gn 3.7 diz: ―Abriram-se, então, os olhos
de ambos; e, percebendo que estavam nus, colheram folhas de figueira, e fizeram cintas para si.‖
Deus, então, após a queda do homem disse em Gn 3.22: ―Eis que o homem se tornou
23
como um de nós, conhecedor
mal intuitivamente, através dedo bem
Sua e do mal‖. E Seu
onisciência. Deus conhece o bem
conhecimento do conscientemente, mas o
bem e do mal é perfeito,
embora Ele nunca tenha conhecido este último experimentalmente.
Antes da queda, contudo, o homem conhecia o bem conscientemente e o mal apenas
especulativa e teoricamente. Nesse sentido, o seu conhecimento do mal foi imperfeito, porque ele
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 23/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 24
não possuía a mesma onisciência de Deus. Depois da queda, contudo, o homem passou a
conhecer o mal conscientemente e o bem apenas especulativa e teoricamente (Gn 3.7-8; 1 Co
2.14). Com respeito ao conhecimento do pecado e da santidade no homem antes da queda e
depois dela, Shedd diz:
Na verdade, o homem santo não precisa de lei do mesmo modo que os caídos precisam. A
lei, no fundo, é dada para aqueles que estão no estado de desobediência, mas para os que estão
em santidade a lei e o desejo de cumprir a lei são a mesma coisa (Ver 1 Tm 1.8-9).
A santidade positiva, com que o homem foi capacitado na criação, consistia de um
entendimento iluminado no conhecimento espiritual de Deus e de Suas coisas, e uma vontade
totalmente inclinada para elas.
24 Shedd, vol. 2, p. 98
25 Shedd, vol. 2, p. .100.
26 Shedd, vol. 2, p. 98.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 24/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 25
tenha sido dada ao homem. Deus tem santidade essencial, sem a qual Ele não pode ser o que é.
O homem originalmente possuía santidade, mas ele a perdeu, mas assim mesmo ele continuou
sendo exatamente o que é: homem. Ele não continuaria sendo homem se a santidade fosse
essencial nele.
É finita porque é santidade de criatura dependente. Por essa razão é uma santidade
mutável. A santidade no homem é dependente, em última instância, da ação do Criador. Deus a
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 25/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 26
CAPITULO III
Bíblia Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim que a
o apresenta.
Analisaremos o material bíblico debaixo dos seguintes tópicos:
1. O homem é Corpo (Adão foi criado um ser material)
27 Ensino retirado basicamente da Apostila não-publicada, preparada pelo Dr. Fred H. Klooster,
para seus alunos no calvin Seminary.
28 Berkhof, p. 225, (edição castelhana).
29 Berkhof, p. 225 (edição castelhana).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 26/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 27
a) Corpo rfpf(
VT — ('apar) = pó
Gn 3.19 — ―No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois
dela foste formado: porque tu és pó (rfpf() e ao pó tornarás.‖
Este outro verso de Gênesis mostra a materialidade que o homem é. Antes de botar a
―alma vivente‖ Deus fez o homem. Novamente posso afirmar que o autor quis mostrar a natureza
terrena do homem, não enfatizar que ele tem um corpo. Esse corpo (pó) é o homem. Esse
elemento de unidade não pode ser perdido de vista quando se estuda este verso.
Nesses textos acima, embora se esteja falando da parte física do homem, que é o seu
corpo, a ênfase é no homem como uma unidade.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 27/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 28
considerando-o como uma unidade. A verdade é que quem expira é o homem, não o corpo. A
morte é do homem, não do corpo.
Essa é a grande dificuldade que muitos ministros da Palavra enfrentam quando vão
oficiar uma cerimônia fúnebre. Partamos do pressuposto que a pessoa que morreu seja cristã. O
oficiante geralmente fala de Fulano que foi estar com Cristo, como se a pessoa consistisse
unicamente da sua alma. ―O corpo do Fulano‖, diz o oficiante, ―vai ser enterrado, mas o Fulano já
está no céu‖,
a morte como
separe se o corpo não
o homem fosse
(alma) de o homem,
si mesmo ou como
(corpo), se o homem
devemos semprenão fosseno
pensar corpo. Embora
ser humano
como uma unidade. Quem morre é o homem (não o corpo) e quem ressuscita é o homem (não o
corpo). A morte é a separação do homem de si mesmo, enquanto que a ressurreição é reunião do
homem consigo mesmo. Isto se dará somente no dia final, quando haverá a completação da
salvação do pecador.
que o ser
Mashumano é uma espirito
não é esta idéia queque tem um corpo,
a Escritura dá do ocorpo,
corpocomo
não tem muitaacima.
já vimos importância.
Quando a Bíblia ensina que Adão foi feito ―do pó da terra‖ (Gn 2.7), está claramente
afirmada a natureza material do homem. Desde o principio houve uma identificação, harmonia e
continuidade com este mundo. O homem é terreno.
Portanto, todas as noções gnósticas da criação material como pecaminosas, devem ser
terminantemente rejeitadas. Deus não somente declarou a criação material ―muito boa‖ (Gn
1.31), mas fez o homem de elemento material. Vários textos do NT São respostas às heresias
gnósticas, nas quais o universo material era mau. Veja a luta de Paulo e João contra as heresias
gnósticas
morte, diz em Cl 1.19;do2.9;
a respeito 1 JO
anelo 1.1; 4.2;
próprio 5.6-8.em
do crente Esta é a razão
assumir porquecorpo,
um outro Paulo, quando
porque falaalgo
seria da
anormal não querê-lo (2 Co 5). A morte é um estado anatural para o homem. E natural para o
homem sempre ser corpo. Na morte, o homem fica sem o que é muito importante nele, o corpo,
que é a devida expressão da alma. E de grande importância para nós o estado de Cristo
ressuscitado ser corporal, e o nosso estado final vai ser similar ao dEle. No novo céu e na nova
terra, viveremos em plenitude a nossa humanidade perfeita.
―O corpo não é para ser considerado, como os antigos filósofos pensaram dele,
como a prisão material, da qual o homem deveria ficar feliz se pudesse escapar na
morte. Ele (o corpo) é parte de si mesmo: uma parte integral de sua
personalidade total, e corpo e a alma em separação, não completam o homem.‖ 30
O ser humano não funciona melhor sem o corpo. O corpo é o veículo adequado para a
expressão da alma. Essas duas realidades São o homem e o homem é essas duas realidades. E
verdade que a criação material foi amaldiçoada por causa do pecado, tanto os elementos da
natureza como o corpo humano, mas não por causa da materialidade dele (porque os anjos foram
pecaminosos, sem terem qualquer forma corporal). A materialidade humana nunca deve ser
considerada (como infelizmente alguns o fazem) a parte mais baixa da natureza humana, e a
parte espiritual (imaterial) a mais elevada. Ambas as criações, material e espiritual, São
30 James Orr, God's Image in Man, (Grand Rapids: Eerdmans reprint, 1948), p. 251-52.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 28/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 29
igualmente boas e igualmente importantes, porque ambas vieram de Deus e vão para Deus (1Co
6.14-15). Ambas as partes, igualmente, foram corrompidas pelo pecado e têm que ser redimidas.
Freqüentemente, num pensamento pecaminosamente distorcido, o espiritual é
identificado com Deus e o material com o diabo. E bom ser lembrado que Satanás é espiritual
(imaterial), e que sua esfera de ação é no mundo material. A materialidade humana, portanto,
jamais deve ser identificada com o mal, pois a matéria não é má. Ela é criação de Deus.
Corpo
qualquer e espírito
conflito não São
entre esses dois antitéticos
aspectos da(isto é, opostos
natureza entre si). Não há necessariamente
humana.
A Unidade do Homem
A ênfase das Escrituras, contudo, é sobre a unidade desses elementos. O homem não é o
que é sem o corpo, e nem pode ser o que é sem a alma.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 29/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 30
É por isso que neste estudo preferiremos o termo duplo ou dúplex, ao nos referirmos à
natureza humana, ao invés da idéia tradicional da dicotomia. Os termos duplo ou dúplex
enfatizam a unidade dos elementos, antes que sua separação.
O número desses elementos que compõe a natureza humana é importante, por causa das
diferenças práticas que resultam em problemas sérios, dependendo da posição que se toma. O
psicólogo cristão Clyde Narramore, por exemplo, mostra que sua tricotomia o levou a um ponto
insustentável biblicamente. No aconselhamento ele diz que o corpo deve ser tratado pelo médico,
o espírito pelo pastor, e a alma pelo psicólogo. E estranha tal separação na Escritura.
A Escritura não permite a visão triplex (tríplice) do homem. Quando há separação é só por
causa da morte, mas a ênfase é sobre a unidade. Além disso, na separação da morte, só há dois
elementos. Em adição a Gn 2.7, examine Mt 10.28.
Nesse verso de Mateus, é ensinado que o todo (a totalidade) do homem sofre no inferno. A
verdadeira ênfase é sobre a totalidade (unidade) do homem sofrendo e não apenas o corpo ou a
alma. A afirmação "alma" e "corpo" mostra que a natureza humana é dúplex (veja outro exemplo
em 1 Co 7.34b).
Contudo, esta distinção só entrou em uso mais tarde, debaixo da filosofia grega. A idéia é
de que as duas partes formam uma unidade, um conjunto harmonioso — o homem, um ser que
vive.
Gn 3.19 — (após a queda com respeito à maldição) — ―...tu és pó e ao pó
tornarás.‖
A ênfase neste verso cai na parte física, mas o intento de Deus é tratar o ser humano como
uma unidade. O particular é tomado como sendo a totalidade.
Ec 12.7 — ―e o pó (rfpf( - corpo) volte à terra, com o era, e o espírito (axUr ) volte
31 James Denny, Studies in Theology, (Grand Rapids: Balcer repriflt, 1967), p. 76.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 30/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 31
Neste verso de Jó a ênfase cai sobre a parte material (corpo), que é chamada de ―homem‖.
Contudo, a parte imaterial, o espírito, foi colocado no homem por Deus. Portanto, este verso trata
da composição dúplex da natureza humana, embora dê mais força ao aspecto material. A mesma
ênfase vem neste verso seguinte, do mesmo autor: (Jó 33.4) – ―O Espírito de Deus me fez: e o
sopro do Todo-Poderoso me dá vida.‖
(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO):
A mesma ênfase dada no VT está agora no NT. A parte enfatizada aqui é o corpo porque
ela é chamada de ―homem‖ e que ― nele ‖ está o espírito. Contudo, o intento de Paulo é falar da
unidade, embora os dois elementos apareçam claramente nesse verso. Certamente o propósito de
Paulo é tratar da capacidade perscrutadora do espírito humano, mas deixa evidente a
composição dual da natureza humana.
Mt 10.28 – ―Não temais os que matam o corpo (soma) e não podem matar a
alma (yuxh\n) temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma
como o corpo.‖
Jesus Cristo está ensinando neste verso sobre o poder de Deus em contraste com o poder
dos homens. Obviamente, ele usa o linguagem comum das pessoas quando fala da morte do
corpo, pois o corpo fica inerte sem a presença da alma. Contudo, quando Deus exerce o seu poder
ele pode fazer perecer tanto o aspecto físico como o aspecto espiritual do homem. A idéia de morte
ai é de separação, não de extinção. O mesmo acontece se fala da morte do corpo: é a separação
dele da alma — por isso o homem fica sem vida. Sem entrar mais do mérito desta questão, o texto
mostra essa distinção entre as duas partes constituintes da natureza humana. E exatamente
essa mesma idéia que Tiago mostra no verso a seguir:
Tg 2.26 — ―Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a
fé sem as obras é morta.‖
Mesmo embora ele esteja falando da morte do corpo (que é a separação do homem de si
mesmo), o texto nos ensina sobre a composição dual da natureza humana.
A pureza de uma mulher, segundo Paulo, em qualquer estado civil que possa estar, deve
produzir
espiritual.uma vida que evidencie a santidade cristã na totalidade do seu ser: no material e no
Este verso de Paulo aos Coríntios e muitíssimo claro quanto à obra santificadora do
Senhor que é feita na totalidade do homem, isto é, na sua parte material como na imaterial. Deus
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 31/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 32
realiza a obra da redenção. Assim como a santificação é uma obra de Deus, também ela é um
dever do homem que deve ser puro tanto na sua natureza física quanto na sua natureza
espiritual.
A Palavra de Deus, a Escritura, é como uma espada aguda, de dois gumes, que penetra
bem fundo, ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas. Diz o tricotomista: ―Se a Bíblia
afirma a possibilidade de separar alma de espírito, por que não podemos fazer?‖ - O fato é que o
pensamento grego não está dizendo realmente isso. O problema não é de tradução. O texto grego
não diz que a alma é separada do espírito, ou que as juntas podem ser separadas das medulas.
Ao contrário, o que é dito é que a Palavra de Deus divide o espírito e também a alma, assim como
as juntas e as medulas. Os escritor, de mentalidade hebraica, está usando paralelismos,
utilizando-se de sinônimos para reforçar a idéia da natureza tanto material como espiritual do
homem. Ele fala de ―alma‖ e ―espírito‖ e de ―juntas‖ e ―medulas‖, mostrando a composição dual,
não tríplice da natureza humana.
Esse paralelismo também se evidencia na idéia básica do texto de que a Palavra de Deus
penetra profundamente, o suficiente para discernir no ser mais interior do homem, que é o
coração, onde o autor usa duas idéias similares - os seus pensamentos e propósitos (vv. 12c e 13).
O quadro aqui fala em dividir as juntas, medulas, alma e espírito. Observe que há duas
categorias básicas aqui: material (juntas e medulas) e imaterial (alma/espírito), não três.
Exatamente como os ―pensamentos e propósitos‖ do coração não podem ser divididos, mas São
colocados juntos, abrangentemente, a fim de expressar o aspecto total do intelecto, assim espírito
e alma São mencionados para mostrar que nenhum aspecto do interior do homem está além do
poder penetrante da palavra de Deus.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 32/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 33
―O mesmo Deus vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.‖
Novamente a ênfase do texto não está sobre o número dos elementos que compõe a
natureza humana, nem como podemos dividi-la. Antes, está sobre a totalidade do homem.
Poderíamos traduzir este verso, da seguinte maneira:
Paulo aqui não está dividindo, mas unindo. Se você não se conforma com essa
argumentação, mas crê que Paulo está somando ao corpo a alma e o espírito, formando três
partes, o que você faria com os seguintes textos: Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27? Estes textos
falam de alma, coração, força e entendimento. Você acresceria essas partes mencionadas à
composição do homem? Naturalmente que não!
A Escritura usa freqüentemente dois, três ou até quatro termos sobre a natureza
imaterial do homem, para enfatizar a idéia de totalidade. E necessário que observemos o sentido
da passagem à luz de toda a verdade, vê-la à luz de seu propósito e não daquilo que queremos que
o texto diga.
Todas as pessoas que morrem, isto é, que têm a sua natureza material separada da sua
natureza imaterial, São consideradas como ―espíritos‖. Na morte de qualquer ser humano,
aplica-se a velha máxima de sábio Salomão em Ec 7.12- ―E o pó ( 'apar) volte à terra, como o era,
e o espírito volte a Deus que o deu.‖ Tanto os homens comuns como o Salvador deles provaram a
mesma experiência:
Lc 23.46 — ―Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o
meu espírito! E, dito isto, expirou.‖
Desde a encarnação, o Redentor é vere Deus e vere homo, possuindo as duas naturezas —
a divina e a humana. Como homem, ele possuía os dois aspectos da natureza humana — o
material e o espiritual. Quando o Redentor morreu, seu corpo foi para a sepultura e o seu espírito
(que não é o Espírito Santo) voltou para Deus, até que ele ressurgiu ao terceiro dia. Nesse período
essa pessoa desincorporada era um espírito.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 33/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 34
Quem morreu apedrejado foi Estevão, seu corpo ficou inerte porque foi separado do seu
espírito. Essa parte, que veio diretamente de Deus, voltou para Deus onde goza da alegria até que
a redenção se complete. Mas é o espírito de Estevão que está com Deus.
Todos aqueles que fazem parte dos remidos, que já morreram com Cristo, estão na
presença de Deus gozando de suas delicias, sendo ―justos e aperfeiçoados‖, São chamados de
―espíritos ‖.
b) Nos textos abaixo uma pessoa desincorporada também é descrita na Escritura como
alma:
Esta observação cabe tanto aos homens comuns como ao Redentor deles.
At 2.27 — ―Porque não deixarás a minha alma (yuxh/n) na morte, nem
permitirás que o teu santo veja corrupção.‖
Como humano que também era, Jesus possuía o seu corpo que foi sepultado, separado de
sua alma até o terceiro dia. Perceba que o texto fala da morte da alma. Ora, morte significa
separação. O que o escritor bíblico profeticamente diz é que o Senhor Deus não haveria de deixar
a alma humana do Redentor no estado de morte, isto é, no estado de separação do seu corpo.
Nem o seu corpo haveria de experimentar corrupção. A razão dessa incorrupção física e da alma
não poder ficar par sempre no estado de morte é que ambos os aspectos da natureza humana do
Redentor estavam indissoluvelmente ligadas à sua natureza divina, ao Logos. Portanto, quando
houve a morte do Redentor, estando desincorporado, ele foi chamado de ―alma‖, que é a mesma
coisa que ―espírito‖.
Ap 6.9 — ―...vi as almas (yuxa\j) daqueles que tinham sido mortos por causa da
palavra de Deus.‖
Ap 20.4 — ―vi ainda as almas (yuxa\j) dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus...‖
Esses dois textos acima falam da situação dos remidos do Redentor. Quando eles
morrem, e nestes textos há o motivo de suas mortes, eles São separados de si mesmos. O físico
deles repousam na sepultura e espírito deles vai estar com Deus. No entanto, quando
desincorporados eles São chamados de ―almas‖, o que eqüivale a ―espíritos‖.
Obs.: a) Note que a Escritura apresenta a pessoa desincorporada como espírito que é,
auto-consciente,
5.1-10 cônscio
(especialmente de sua identidade pessoal: Lc 23.43; Lc 16.19-31; Fp 1.22-23; 2 Co
vv.6-8).
b) quando se fala de almas ou espíritos das pessoas desincorporadas, deve se ter em
mente que o escritor bíblico tem como meta falar de pessoas em sua unidade, não somente uma
das partes delas.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 34/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 35
(a) A Dor faz alusão tanto à alma como ao espírito: isto está claro nos ensinamentos sobre
a pessoa de Jesus Cristo:
Este ponto pode e deve tanto ser aplicado aos homens comuns como ao Redentor deles.
Vejamos primeiro sobre Jesus:
Jo 12.27 — ―Agora está angustiada a minha alma (yuxh/), e que direi eu?...‖
Jo 13.21 — (após lavar os pés dos discípulos) – ―Ditas estas cousas,
angustiou-se Jesus em espírito (pneu/mati).‖
Esses dois textos acima falam de uma situação de sofrimento angustiante de nosso
Redentor. De acordo com o ensino geral dos tricotomistas, somente a alma deveria ser a
portadora dessa angústia. Contudo, como esses termos São usados indistintamente, tratando da
mesma natureza espiritual do homem, é dito também que o espírito estava angustiado.
O mesmo caso se aplica nestes dois textos acima. A emoção chamada ―tristeza‖ que
normalmente é atribuída pelos tricotomistas à alma, a Escritura atribuí ao espírito, porque as
2 Pe 2.8 — (Sobre Ló em Sodoma) – ―Porque este justo, pelo que ouvia e via
quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa (yuxh\n dikai/na), cada dia,
por causa das obras iníquas daqueles.‖
Tanto Paulo como Ló, ao contemplar o mal, num reflexo da imagem de Deus que já havia
sido restaurada neles, pois eram justos, sentiram dor que lhes atormentava a ―alma‖ (ou
―espírito‖- pois essas duas palavras São usadas indistintamente) deles, pois é essa sensação
dolorida que o pecado causa na vida dos redimidos.
Veja-se ainda Sl 77.3; 142.3; 143.7 - aplicando a dor ou a tristeza ao espírito.
(b) Alegria Ação de Graças estão relacionadas tanto à alma como ao espírito:
O escritor sacro narra uma ocasião quando Maria deixa os tricotomistas numa situação
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 35/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 36
muito embaraçosa, pois ela inverte a ordem estabelecida por eles na distribuição dos elementos
distintos na natureza não material do homem. Veja o que Maria, a mãe do Redentor, diz:
Os textos abaixo criam uma dificuldade enorme para aqueles que possuem uma
mentalidade tricotomista, pois se a regra for aplicada literalmente, os tricotomistas não mais
poderiam ser tricotomistas, mas pentatomistas, pois o verso abaixo fala de cinco partes. Uma
dela obviamente, se refere ao corpo (―toda a tua força‖). As quatro restantes dizem respeito às
partes imateriais do homem que deveriam ser consideradas distintas se fôssemos aplicar a tese
tricotomista. Veja o texto:
Senhor teuentendimento
todo o teu Deus de todo o(dianoi/aj
teu coração
sou), e (de todasoua),tua
kardi/aj de toda
forçaa( i)sxu/oj
tua almasou).( yuxh=j sou), de
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 36/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 37
Note: de todas as referências à dor, alegria, adoração, perceba que o lugar dos exercícios
espirituais de um homem regenerado está, tanto na alma como no espírito. Nenhum exercício
espiritual da alma deve deixar de ser atribuído ao espírito, porque ambos os termos significam a
mesma coisa — o aspecto imaterial do ser humano.
E importante ser observado que é a alma que tem anelos de Deus em vários textos da
Escritura (Sl 42.1-2; 62.1, 5, 8; 84.2; 86.4; 130.5-6; 143.6; Is 26.9.).
Observe-se ainda que é a alma que é devota a Deus (S1103.1, 2, 22; 104.1, 35; 108.1;
119.175; 143.8).
(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obra
redentora e santificadora de Cristo.
Lc 12.20 — ―Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma
(yuxh/n), e o que tens preparado, para quem será?‖
Nos textos abaixo é dito que a existência em vida dos cristãos pertence à alma. E curioso
que, na concepção tricotomista, quem vai para o céu é o espírito, não a alma. No entanto, a
Escritura usa o termo alma como equivalente a espírito.
Hb 10.39 — ―Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição;
somos, entretanto, da fé para a conservaçao da alma (peripoi/hsin yuxh=j).‖
Tg 5.20 — ―Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado,
salvará a alma dele (yuxh\n au)tou=) e cobrirá multidão de pecados.‖
1 Pe 1.9 — ―Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas (u(mw=n
swthri/na yuxw=n).‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 37/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 38
alma (!:$:pan)).‖
Nos dois textos abaixo é mostrado que um cristão que morre vai para a vida com Jesus.
No entanto, a palavra usada aqui é ―espírito‖ não ―alma‖, como nos textos anteriores.
A salvação é alguma coisa que já aconteceu no passado, mas ainda é uma realidade
presente. Deus continua ainda a nos salvar. A isto a Escritura chama ―santificação‖. O processo
da santificação acontece com a totalidade do seu humano, tanto da sua parte material como da
imaterial. Escrevendo aos Coríntios, Paulo deixa bem claro esta verdade. A parte material ele
chama de ―carne‖ e a parte imaterial ele chama de ―espírito‖. Estes são os únicos dois elementos
que compõem a natureza humana.
2 Co 7.1 — ―Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda
impureza, tanto da carne (sarko\j), como do espírito (pneu/matoj ) aperfeiçoando a nossa
santidade no temor de Deus.‖
Pedro, no entanto usa, nos textos abaixo, a palavra ―alma‖ como sendo o locus da
santificação que Deus opera em nós, e que nós operamos mediante nossa obediência à verdade.
O ensino dos profetas do Antigo Testamento não é diferente dos escritores do Novo
Testamento. A contaminação da ―alma‖ torna necessária a purificação dela. Da mesma forma a
saúde do ―espírito‖ do homem depende da obra santificadora de Deus. Analise com propriedade
estes dois textos abaixo e verifique que alma ou espírito São o locus da obra santificadora de
Deus, pois são termos usados indistintamente.
Ez 4.14 — ―Então, disse eu: Ah! Senhor Deus! eis que a minha alma (yi$:pan)
não foi contaminada, pois desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal
morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na
minha boca.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 38/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 39
Na concepção tricotomista, o perdão de Deus deveria ser para o espírito humano, não
para a alma. Contudo, a Escritura diz em vários lugares que a alma humana é objeto da
compaixão perdoadora de Deus.
Sl 41.4 — ―Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma,
porque pequei contra ti.‖
Observe: É muito importante que se leve em conta que, quando a Escritura se refere ao
perdão da alma, ao fato dela ir para o céu, a
ênfase não está na divisão da pessoa,
mas na unidade dela. Portanto, é salutar pensar que Deus perdoa a
pessoa, e não apenas o lado imaterial dela; que é a pessoa que vai para o
céu, não um pedaço dela.
Explicação: O fato de que a Escritura usa alma e espírito indistintamente em muitos
contextos, como sinônimos básicos em tais contextos, não implica que não possa haver outro
sentido do seu uso em outros contextos; o mesmo acontece com carne e corpo.
3. O HOMEM É CORAÇÃO
Numa tentativa de compreender a doutrina bíblica do homem, atenção foi dada às
referências ao corpo, tanto quanto às variações no uso com respeito à alma e espírito. Entretanto,
a Escritura também apresenta o homem como coração. Este termo enfoca a unidade da natureza
básica do homem.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 39/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 40
H. Wheeler Robinson, em seu livro "Christian Doctrine of Man" resume o ensino de Paulo
como se segue:
15 vezes — Personalidade, ou vida interior em geral. Cf 1 Co 14.14, 24, 25 – ―Porém se
todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido, e por todos
julgado; tornam-se-lhes manifestos os segredos do coração e, assim, prostrando-se com a face
em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós.‖
13 vezes — lugar do estado emocional da consciência, cf Rm 9.1-3 ―Digo a verdade em
Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: que
tenho grande tristeza e incessante dor no coração, porque eu mesmo desejaria ser anátema,
separado de Cristo, por amor de vós, meus irmãos, meus compatriotas segundo a carne.‖
11 vezes — lugar das atividades intelectuais. Cf Rm 1.21-22 ―Porquanto, tendo
conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram
nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo- lhes o coração insensato. Inculcando-se por
sábios, tornaram - se loucos.‖
13 vezes — lugar da vontade. Cf Rm 2.4-5 ―Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e
tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo
ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus.‖
Pensamento = intelecto
Querer = vontade (volição)
Sentimento = emoção (afeições)
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 40/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 41
Dt 29.4 — ―Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem
ouvidos para ouvir, até o dia de hoje.‖
Lc 5.22 — ―Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: que arrazoais em
vossos corações? ‖
Jo 12.40 —
olhos, nem entendam ―Cegou-lhes os olhos
com o coração, e seeconvertam
endureceu-lhes o coração,
e sejam por mimpara que não vejam com os
curados.‖
At 8.22 — ―Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez que te seja
perdoado o pensamento (e)pi/noia ) do coração.‖
Ex 4.14 — ―Então se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita,
teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se
alegrará em seu coração. ‖
Ne 2.2 — ―O rei me disse: porque está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de ser
tristeza do coração. Então temi sobremaneira.‖
Sl 28.7 — ―O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia; nele fui
socorrido; por isso o meu coração exulta.‖
Jo 14.1 — ―Não se turbe o vosso coração....‖
At 2.26 — ―Por isso se alegrou o meu coração e a minha língua exultou...‖
2 Co 2.4 — ―Porque no meio de muitos sofrimentos e angústias do coração vos escrevi,
com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor
que vos consagro em grande medida.‖
Pv 6.14 — ―No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeando
contendas.‖
Pv 6.18 — ―Coração que trama projetos iníquos...‖
Pv 6.25 — ―Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender com as
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 41/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 42
suas olhadelas.‖
Pv 7.10 — ―Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta, e astuta de
coração.‖
Pv 12.20 — ―Há fraude no coração dos que maquinam o mal, mas alegria têm os que
aconselham a paz.‖
Pv 12.23 — ―O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos
proclama
Jr a17.9
estultícia.‖
— ―Enganoso é o coração; mais do que todas as coisas e desesperadamente
corrupto. Quem o conhecerá?‖
No Novo Testamento
Mc 7.21-23 — ―Porque de dentro, do coração dos homens, e que procedem os maus
desígnios, a prostituição, furtos, os homicídios, os adultérios....; ora, todos esses males vêm de
dentro e contaminam o homem.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 42/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 43
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 43/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 44
CAPITULO IV
Orígenes (séc. III) foi seu principal expoente. Esta teoria ensina que as almas dos homens
tiveram uma existência anterior à criação dos próprios homens. Alguns acontecimentos nesse
período pré-temporal determinaram a condição em que atualmente se encontram essas almas.
Houve uma espécie de queda pré-temporal. Orígenes considerou que a existência material
presente no homem, com todas as suas desigualdades e irregularidades físicas e morais, é um
castigo pelos pecados cometidos em uma existência anterior. O pecado, portanto, teve entrada no
mundo dos homens num estado pré-temporal, e isso fez com que o homem já entrasse no mundo
numa condição de pecado.
Objeções: a) É uma teoria sem base escriturística. Algumas de suas formas refletem uma
base filosófica pagã que aceita um dualismo, matéria-espírito, tornando um castigo para a alma
o fato dela ser unida ao corpo.
b) Faz com que o corpo seja meramente acidental. A princípio, a alma existia sem o corpo.
O homem estava completo sem o corpo. Isto apaga a distinção entre o homem e os anjos.
c) Destrói a unidade da raça humana, porque aceita que as almas individuais existiram
muito tempo antes de entrarem na vida presente. Não constituem uma raça.
d) Não tem apoio na consciência humana. O homem não tem uma consciência de uma
existência prévia, ou que o corpo seja uma espécie de prisão para a alma.
2. TRADUCIANISMO (ou PROPAGAÇÃO)34
Segundo o traducianismo, as almas dos homens se propagam juntamente com os corpos,
mediante uma geração ordinária, transmitida dos pais aos filhos.
Entre os Reformados há alguns que defendem a idéia traducianista. W.G.T. Shedd é o
principal expoente dessa corrente.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 44/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 45
— A criação da alma de Eva esteve incluída na de Adão, pois dele ela foi formada ( 2 Co
11.8; Gn 2.21-23). A mulher toda (por inteiro), e não somente o seu corpo, foi derivada de Adão.
Alma e corpo são propagados. Deus criou a natureza humana em Adão, e depois essa natureza
humana foi transformada em milhões de indivíduos por propagação sexual. A criação do ―Adão‖
(natureza humana) foi terminada e completada no sexto dia. Após isso, há somente a propagação
da raça.
— Deus
Gn 2.2 diz que
soprou Deus cessou
somente uma vezo trabalho da criação
nas narinas depois
do homem, de haver
e depois feito ofecundo
o tornou homem.para
a propagação da espécie (Gn 1.28; 2.7).
— Observe o uso da palavra ―carne‖ quando denota ―natureza humana‖ (corpo e alma), e
não apenas corpo (Jo 3.6; 1.14; Rm 1.3).
Estes textos parecem favorecer a posição traducianista, isto é, eles ensinam que o
indivíduo é propagado como um todo (consistindo de corpo e alma), e não somente em parte como
ensina o criacionismo.
(d) O Traducianismo oferece mais base para explicar a depravação moral e espiritual
porque este assunto é mais um assunto da alma do que do corpo.
OBS. - Para justificar os seus argumentos, os traducianistas se juntam ao realismo para
explicar o pecado original.
b) Objeções ao Traducianismo
Contra o traducianismo há varias objeções:
(a) Ele é contrario à doutrina filosófica da simplicidade da alma. A alma é uma substancia
espiritual pura que não admite divisão. A propagação da alma implicaria na divisão da alma, já
que a criança recebe a sua alma dos pais. O problema maior é: de quem procede a alma da
criança? da mãe ou do pai? Ou ela vem de ambos? Se é assim, não seria uma alma composta?
(b) A fim de evitar essa dificuldade supra-mencionada, os traducianistas têm que recorrer
a uma dessas três teorias a serem mencionadas: Primeira, que a alma da criança tem uma
existência prévia, uma espécie de pre-existencialismo; Segunda, que a alma está potencialmente
presente no sêmen do homem ou da mulher, ou em ambos, e isso e. materialismo; Terceira, que
a alma é produzida, isto é, ela é criada de algum modo, pelos pais, e isto os torna, de algum modo,
criadores.
(c) Os traducianistas dizem que, após a criação original, Deus somente obra
mediatamente. Após os seis dias da criação Sua obra criadora cessou, por isso Deus não pode
mais criar almas. Mas a pergunta a ser levantada é esta: Onde fica, então, a regeneração, que não
é efetuada através de causas secundarias? Ela é uma nova criação!
(d) Geralmente o traducianismo se une ao realismo para explicar o pecado da raça, isto é,
a culpa do homem. Fazendo isto, o traducianismo afirma a unidade numérica da substância de
todas as almas humanas, o que é uma posição insustentável. Além disso, o traducianismo falha
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 45/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 46
em explicar a culpa individual de cada homem nos outros pecados de Adão, e nos pecados dos
outros antepassados.
(e) O traducianismo tem dificuldades insuperáveis na Cristologia. Se em Adão a natureza
pecou como um todo, e que o pecado foi de cada parte da natureza, então, a conclusão é que a
natureza humana de Cristo foi também pecaminosa e culpada, pois ela fazia parte da raça criada
numericamente uma e a mesma em Adão.
3) CRIACIONISMO
Esta teoria considera que cada alma é uma criação imediata de Deus, possuindo sua
origem num ato criativo direto de Deus, no qual o tempo não pode ser precisamente determinado.
Supostamente, a alma é criada pura, pois Deus não poderia tê-la criado impura, e ela é unida a
um corpo depravado. Não deve ser crido que a alma é criada separadamente do corpo e que ela se
torna poluída em contato com o corpo, o que tornaria o pecado algo simplesmente físico. Deve ser
crido que a alma é criada pura, mas que Deus imputa a culpa de Adão a ela e, então, se torna
corrupta também.
A alma, que é produto de um ato criador direto de Deus, já está pré-formada na vida
psíquica do feto.
b) Objeções ao Criacionismo
(a) A objeção mais séria é a seguinte: a alma sendo depravada, ou possuindo tendências
depravadas, torna Deus o autor direto do mal. Se a alma foi criada pura, torna Deus o autor
indireto do mal, pois Deus a coloca num corpo que fatalmente a corromperá.
Este argumento é considerado pelos traducianistas como fatal para o criacionismo. Claro
que este é um tropeço a ser evitado. Para o criacionismo, o pecado original não é um problema
simplesmente de herança. Os descendentes de Adão são pecadores, não como resultado de
haverem sido postos em contato com um corpo pecador, mas em virtude do fato de Deus
imputar-lhes a desobediência original de Adão. Então, a justiça original é tirada, e a corrupção do
pecado, naturalmente, se desenvolve.
(b) O criacionismo considera os pais terrenos como gerando somente o corpo de seus
filhos, o que certamente não é a parte mais importante da criança e, portanto, não explica os
reaparecimentos de tendências mentais e morais dos pais nos filhos.
Até onde tenha a ver com as semelhanças mentais e morais dos pais e filhos, não
necessariamente precisam ser explicadas unicamente com base na herança. Nosso
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 46/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 47
conhecimento da alma é tão imperfeito para falar com absoluta segurança sobre esse ponto. Mas
esta semelhança, em parte, é explicada pelo exemplo dos pais, em parte pela influência do corpo
sobre a alma e, em parte, pelo fato de que Deus não cria todas as almas iguais, mas que cria em
cada caso particular uma alma adaptada ao corpo com o qual se unirá, e adaptada também às
complexas relações nos quais terá que ser introduzida.
(c) O criacionismo não está em harmonia com a relação atual de Deus com o mundo e com
sua maneira
ignora de trabalhar
que Deus não mais nele,
obra visto que ensina
diretamente, masuma atividade
somente criadora
por meio de Deussecundária.
de agência e, deste modo,
4) PONDERAÇÕES FINAIS
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 47/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 48
CAPITULO V
―Da doutrina de que o homem foi criado à imagem de Deus segue -se a
implicaçãoNada
inteireza. clarano
que a imagem
homem de Deus
é excluído da estende-se
imagem de ao homem
Deus. emastoda
Todas a sua
criaturas
revelam traços de Deus, mas somente o homem é a imagem de Deus. E ele é a
imagem totalmente, na alma e no corpo, em todas as faculdades e poderes, em
todas as condições e relacionamentos. O homem é a imagem de Deus porque e ao
grau em que ele é verdadeiro homem, e ele é homem, homem verdadeiro e real,
porque e ao grau em que ele é a imagem de Deus.‖ 36
Isto quer dizer que a imagem de Deus não é acidental, mas algo extremamente importante
e essencial à natureza humana. O homem não pode ser homem sem a imagem de Deus. Por isso
o homem é a imagem de Deus, não simplesmente a tem, como algo que foi acrescentado depois de
sua formação.
Quando criado, portanto, o homem era:
a) O espelho de Deus - Antes da queda, o homem refletia perfeitamente o seu Criador.
Bastava olhar para ele para ver a perfeição de Deus refletida nele. Tudo era harmonia. Hoekema
diz que
―Deus era o homem tornado visível na terra. Para ser exato, outras criaturas, e
mesmo os céus, declaram a glória de Deus, mas somente no homem Deus torna-se
visível. Os teólogos Reformados falam da revelação geral de Deus, na
qual Ele revela a Sua presença, poder e divindade através das obras de Suas mãos.
Mas na criação do homem, Deus revelou-Se a Si mesmo de um modo singular, por
tornar alguém que era uma espécie de espelho, uma imagem de Si próprio.
Nenhuma honra mais alta poderia ter sido dada ao homem do que a do privilégio
de ser a imagem de Deus que o fez‖.37
Esta imagem foi deformada pela queda, mas foi restaurada por Cristo, e será aperfeiçoada
até que volte de novo a ser como era.
b) O representante de Deus - O domínio que Deus deu ao homem sobre todas as obras de
Sua criação, indica que Deus deixou o homem como seu representante e governador da criação.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 48/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 49
Deus governa através do homem, a quem deu o domínio sobre tudo. Por essa razão, a
responsabilidade do homem aumenta, pois ele tem que fazer exatamente o que Deus faria, como
um embaixador de Deus que e.
A palavra hebraica para ―imagem‖ é {elec: (tselem ) derivada de uma raiz que significa
―esculpir‖ ou ―cortar‖. Portanto, podemos entender ―imagem‖ como sendo o homem uma
representação de Deus. 41
A palavra hebraica para ―semelhança‖ é "tUm:di (demuth ), que vem de uma raiz que
significa ―ser igual‖. ―Alguém poderia dizer que em Gn 1.26 a palavra imagem é igual a
semelhança, uma imagem que é igual à nossa. As duas palavras juntas dizem-nos que o homem
é uma representação de Deus, que é igual a Deus em certos aspectos.‖ 42
38 Irineu(175...) e Tertuliano (160-225) pensaram que ―imagem‖ e ―semelhança‖ fossem coisas
distintas. A primeira tinha a ver com as características físicas, enquanto que a segunda com a natureza
espiritual do homem;
Clemente de Alexandria (155-220) e Orígenes (185-254) pensaram que ―imagem” denotava as
características do homem como homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito ás qualidades essenciais
que não se podem perder ou cultivar;
Os escolásticos, com algumas variações, conceberam a ―imagem‖ como sendo as capacidades
intelectuais e da liberdade do homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito à justiça original. Num
desenvolvimento desse conceito, acrescentou-se posteriormente que a ―imagem‖ era um dom natural de
Deus ao homem, enquanto que a ―semelhança‖, ou a justiça original, é um dom sobrenatural que foi
acrescentado ao homem, para que fosse freio para a natureza baixa do homem. Este é o donum
superadditum.
39 Anthony Hoekema, Created in God‟s Image , (Eerdmans, 1986), p. 13.
40 Berkhof, p. 240, (edição em castelhano).
41 Hoekema, p.13.
42 Hoekema, p. 13.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 49/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 50
A relevância deste verso está no fato de Deus usar a expressão ―nós‖ , uma expressão
plural que anuncia o conselho triunitário da criação do homem. ―Isto‖, diz Hoekema, ―indica
novamente a singularidade da criação do homem‖. 43
Neste tópico, vamos analisar a imagem do homem teologicamente, tanto quanto possível,
baseado no ensino geral das Escrituras sobre o homem.
Reflexo 1
O homem reflete a imagem de Deus como um ser pessoal que é. Nesse sentido ele se
assemelha a Deus. Ele não pode viver isolado, como Deus não vive em solidão44, mas sempre em
relacionamento. Não existe a pessoalidade sem a noção de companheirismo. Foi por isso que
Deus fez uma companheira para o homem, pois como pessoa que ele é, não poderia ficar só.
Nessa capacidade de pessoalidade o homem reflete Aquele que o criou.
Reflexo 2
O homem reflete a imagem de Deus pela capacidade de domínio sobre as outras coisas
criadas. Esta é a indicação mais clara que a Escritura dá da imagem de Deus no homem.
Há divergência entre os teólogos sobre se o domínio da criação é parte essencial da
imagem de Deus. Alguns dizem que o domínio sobre a criação é resultado do homem ser criado à
imagem de Deus45, enquanto que outros afirmam que isso é essencial ao conceito de imagem de
Deus.46 Neste estudo, assumimos esta última posição.
O domínio do homem é parte essencial da sua natureza. A palavra domínio vem da
palavra latina dominus, que quer dizer ―Senhor‖. O homem foi colocado como o ―senhor‖ da terra.
Nesse sentido, ele é o imitador de Deus, como o Senhor absoluto e supremo. Deus, quando
estampou a Sua imagem no homem, colocou o senso de domínio sobre todas as obras da criação,
e ordenou esse domínio ao homem. Obviamente, é um domínio subordinado, não absoluto como
o do seu Senhor.
O texto de Gn 1. demonstra fartamente esta verdade:
imagemEste texto E
de Deus. deoGn 1.26-28
domínio do dá-nos
homemuma
sobreidéia vaga, mas
a criação, correspondente
especialmente sobre com a real,
os seres da
vivos.
43 Hoekema, p. 12.
44 Eternamente Deus é tripessoal. Antes de haver a criação, Ele já se comunicava consigo mesmo,
nas pessoas da Trindade. A prova disto está no fato de Deus usar a frase ― Façamos o homem ‖, numa espécie
de conselho, um acordo de pessoas que se entendem relacionando-se.
45 Vide J. Skinner, Critical and Exegetical Commentary on Genesis , (Nem York: Scribner, 1910), p.
32; Berkouwer, Man: The image of God, (Eerdmans, 1984), pp. 70-72.
46 Vide Berkhof, Systematics ; L. Verduin, Somewhat Less Than God , (Eerdmans, 1970), pp. 27-48.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 50/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 51
Quando o homem exerce devidamente esse domínio, ele está se portando como Deus, refletindo o
domínio que Deus tem sobre todas as coisas.
O Salmo 8 é uma ―linguagem poética imponente‖47 que descreve o conteúdo de Gn 1.26,
mostrando o poder e o domínio do homem. ―O homem é um rei, e não um rei sem território; o
mundo em derredor, com as obras da sabedoria criadora que o enchem, é o seu reino‖. 48 Segundo
este Salmo, o homem foi feito, por um pouco, menor do que Deus, e foi coroado de glória e de
honra,
dele serpelo domínio
parecido comsobre
Deusa no
criação (vv.5-9).
domínio sobreAtoda
glória e honra do
a criação. homem
Nisto está, reflete
o homem na verdade, no fato
a imagem de
Deus, como nenhuma outra criatura racional, mesmo os próprios seres celestiais.
Esse domínio é chamado por alguns teólogos o ―mandato cultural‖, isto é, a ordenação
para o governo da terra no lugar de Deus, como representante de Deus.
Reflexo 3
O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que chamamos "essenciais" nele,
sem os quais ele não poderia continuar sendo o que é: Poder intelectual, afeições naturais,
liberdade moral, espiritualidade, imortalidade e o aspecto físico.
a) Por Poder Intelectual queremos dizer a faculdade do raciocínio, inteligência, e outras
capacidades intelectivas em geral, que refletem aquilo que Deus tem.
Se o homem perde as suas capacidades intelectivas, ele deixa de ser o que é. A
racionalidade é o aspecto distintivo dos outros seres criados. Estas capacidades foram afetadas,
mas não extintas pela Queda.
b) Por Afeições Naturais queremos dizer as capacidades que o homem tem de ligar-se
emocional e afetivamente a outros seres ou coisas. Deus tem essa capacidade e a passou para os
seres humanos.
c) Por Liberdade Moral queremos a capacidade que o homem tem de fazer todas as coisas
de acordo com os princípios morais que nele existem, de acordo com as leis que Deus implantou
no seu coração (Rm 2). Os teólogos também dizem que a liberdade moral está vinculada à
Libertas Naturae que o homem possui, independentemente de sua queda. Ele é capaz de agir
sempre de acordo com a sua natureza, também chamada de liberdade de agência. Essa é a
liberdade própria do ser humano, sem a qual ele não pode ser o que e.
d) Por Espiritualidade queremos dizer a natureza imaterial do homem, com a qual ele foi
criado. A Escritura diz que o homem foi feito ―alma vivente‖ (Gn 2.7). Deus é Espírito, e num certo
sentido, o homem tem traços dessa espiritualidade, embora ele não seja completo sem o corpo.
e) Por Imortalidade queremos dizer que o homem, depois de criado, não mais cessa de
existir. Não é somente a alma do homem que é imortal, mas o seu ser completo. A morte, não é
para o corpo, mas para o homem. Morte é separação, não cessação de existência. A imortalidade
é singular para Deus (1 Tm 6.16) no sentido de ser essencial para Ele. O homem a possui num
caráter secundário e derivado. A imortalidade é um dom que o homem recebe de Deus.
f) Por Aspecto Físico queremos nos reportar ao texto de Gn 9.6 que diz: ―Se alguém
derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem
segundo a sua imagem‖. Uma assassinato é a destruição do corpo, mas o texto diz que é a
destruição da imagem de Deus. ―Portanto, quando alguém mata o ser humano, não somente ele
tira a vida de uma pessoa, ele ofende o próprio Deus - o Deus que foi refletido naquele indivíduo.
Tocar na imagem de Deus é tocar no próprio Deus; matar a imagem de Deus é fazer violência ao
próprio Deus.‖49 Não podemos deduzir de Gn 9.6 que o Senhor Deus tenha uma aparência física,
mas temos que entender que quando a Escritura fala do corpo, do aspecto físico, ela está falando
do homem completo, que é a imagem de Deus. Hoekema diz com grande acerto que ―deveríamos
47 Esta é uma expressão usada por Franz Delitzsch, em seu comentário sobre o Salmo 8.7-9.
48 C. F. Keil and Franz Delitzsch, Commentary on the Old Testament, vol. 9, (Eerdmans, 1982), p.
155.
49 Hoekema, p. 16.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 51/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 52
dizer não somente que o homem tem a imagem de Deus, mas que o homem é a imagem de Deus.
Do ponto-de-vista do Antigo Testamento, ser humano e carregar consigo a imagem de Deus.‖ 50
Não podemos menosprezar a idéia do corpo, como sendo algo descartável, que não faz
parte da imagem de Deus. Quando Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, o corpo
estava incluso, porque o homem total é a imagem de Deus.
Reflexo 4
O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que consideramos ―não essenciais ” a
ele.
A rigor, o que não é essencial, é aquilo que alguém pode não ter, e mesmo assim,
continuar a ser o que é. Estes atributos dos quais vamos falar, o homem perdeu na queda e,
contudo, continuou a ser homem. O homem não poderia perder as faculdades que o fazem ser o
que é, mas perdeu as capacidades éticas de suas faculdades. Berkhof diz que o homem
―era, por natureza, dotado com aquela justiça original que é a glória
culminante da imagem de Deus e vivia, consequentemente, num estado de
santidade positiva. A perda dessa justiça significou a perda de algo que
correspondia à verdadeira natureza do homem em seu estado ideal. O homem
poderia perdê-la e continuar sendo homem, mas não poderia perdê-la e continuar
sendo homem no seu sentido ideal. Em outras palavras, sua perda significaria a
deterioração e ruína da natureza humana.‖ 51
1. A IMAGEM ORIGINAL
Neste ponto vamos falar de um aspecto extremamente importantíssimo, que os teólogos,
com o suporte das Escrituras, chamam de ―justiça Original‖.
Nesse tempo, antes da queda, no estado de integridade, o homem refletia perfeitamente a
imagem de Deus. Ele era capaz de viver perfeitamente de acordo com as prescrições de Deus.
Agostinho disse que ele era capaz de não pecar. A famosa frase latina posse non peccare expressa
bem a capacidade do homem em viver de acordo com a vontade preceptiva de Deus explicitada ali
no Éden.
Adão e Eva possuíam a justiça original. Esta justiça original é uma terminologia teológica,
que não é encontrada na Escritura para os nossos primeiros pais. Contudo, podemos deduzir
claramente do ensino bíblico que os nossos primeiros pais a possuíam, porque estas coisas
perdidas, são restauradas posteriormente.
a) ―Conhecimento verdadeiro‖
O NT indica que o conhecimento de Deus é restaurado no homem. Paulo, escrevendo a
50 Hoekema, p. 18.
51 Berkhof, p. 246 (edição castelhana)
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 52/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 53
pessoas nascidas de novo, diz: ―E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou‖ (Cl 3.10). Este conhecimento restaurado
no homem através de Cristo (2 Co 4.6), havia sido perdido na queda. Após o Éden, o homem
perdeu a comunhão e, portanto, o conhecimento de Deus, porque foi expulso do lugar que
revelava perfeitamente a presença de Deus.
b) ― Justiça‖ falando do novo homem, do homem renovado em Cristo, Paulo diz: ―E vos
Novamente,
revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade‖ (Ef
4.24). Por justiça, portanto, entendemos a conformidade com a lei divina. Antes da queda havia
uma harmonia perfeita entre a natureza moral do homem e todas as santas exigências da lei de
Deus. A regra de conduta estabelecida por Deus era cumprida perfeitamente antes da queda. A
Bíblia diz em Ec 7.29, que Deus fez o homem reto (justo), referindo-se à sua excelência moral.
c) ―Santidade‖
Aqui, santidade é sinônimo de ―retidão‖ de Ef 4.24. Essa santidade diz respeito à pureza
imaculada do ser humano quando criado. Ele possuía uma comunhão direta com o seu Criador.
A santidade não era simplesmente advinda da comunhão com Deus, mas uma qualidade moral
deles. Os nossos primeiros pais não eram apenas separados do mal, mas possuíam o bem. Eram
limpos de coração.
Esta é a imagem moral de Deus que foi perdida no Éden, mas o homem não deixou de ser
homem, por perdê-la.
O homem, portanto, por causa da imagem moral de Deus estampada nele, a justiça
original, possuía um relacionamento triplo perfeito:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 53/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 54
O casamento indica o melhor relacionamento que pode haver entre dois seres humanos, e
ilustra como podem ser os outros relacionamentos com os nossos semelhantes. O que queremos
dizer é que o ser humano não é completo sozinho. Ele precisa de outros seres humanos para se
realizar. O ser humano
nos fez pessoas, e estasnão
nãoalcança
podemaviver
sua plena satisfação Somos
em isolamento. sem o relacionamento, porque
seres psicológicos, Deuse
afetivos
sociais, diferentemente de outros seres criados. Não podemos viver sem as afeições do
relacionamento. E os primeiros seres humanos viviam em perfeito relacionamento entre si, antes
da queda. Quando Jesus estava tratando da quebra do casamento, do divórcio, em Mt 19, Ele
disse, em palavras bem claras: ―Não foi assim desde o princípio‖. Isso quer dizer que, no Éden,
havia um perfeito relacionamento entre os seres humanos.
Mas não
subsistência foi assim
do homem atéprejudicada
ficou o fim. O pecado fez com que
pela desarmonia essa
com harmonia fosse quebrada, e
a natureza.
O posse non peccare de Agostinho, era a condição natural do homem antes da queda. Ele
poderia perfeitamente viver sem transgredir as leis de Deus, porque ele possuía a habilidade para
tal. Ele não possuía natureza pecaminosa, e nada no seu interior que o levasse a pecar. A
obediência plena era perfeitamente possível para Ele. Ele poderia agir perfeitamente de acordo
com a sua natureza. Os escolásticos chamaram essa condição de libertas naturae. Adão possuía
o potentia non peccandi. No jardim, enquanto não pecou, Adão, portanto, refletia perfeitamente a
imagem de Deus, com a qual havia sido criado.
Mas o posse non peccare, não era uma condição imutável. Hoekema diz que –
―a integridade na qual Adão e Eva existiram, não foi um estado de perfeição
consumada e imutável. Para ser exato, o homem foi criado à imagem de Deus no
começo, mas ele não era ainda um ―produto terminado‖. Ele ainda necessitava
crescer e ser testado. Deus desejou determinar se o homem seria obediente a Ele
52 Hoekema, p. 77.
53 Hoekema, p. 79.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 54/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 55
É esta
inocência, também
tinha a opinião
a liberdade da Confissão
e o poder deeFé
de querer de Westminster:
fazer ―O homem,
aquilo que é bom em seu
e agradável estado
a Deus, de
mas
mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.‖ (IX, 2)
Adão foi criado de tal forma que pudesse cair desse estado. E foi exatamente isso o que
aconteceu, com todas as suas conseqüências.
A imagem de Deus permanece depois da queda, mesmo embora não vejamos mais os
vestígios da justiça original. Todas as suas capacidades intelectuais, afetivas, sua liberdade
moral, seu domínio sobre a criação, etc., foram afetados pela Queda, mas mesmo depois da
Queda, Aé condição
dito que oda
homem é a imagem
humanidade agoradecaída,
Deus portanto,
(Tg 3.9 e Gn
é a 9.6).
da impossibilidade de não pecar.
Neste estado o non posse non peccare é uma realidade indiscutível. Não há forças no pecador
para fugir do pecado. Nesse estado, é também dito que o homem tem impotentia bene agendi, isto
é, ele é incapaz de fazer o bem.
Calvino diz ―mesmo embora concedamos que a imagem de Deus não tenha sido
totalmente aniquilada e destruída no homem, ela foi tão corrompida que, qualquer coisa que
permaneça, é uma deformidade horrenda‖. 55 Possivelmente pensando na justiça original,
Calvino acrescenta:
idolatriaDepois
antigada
eraqueda, eleprimitiva,
bastante passou apois
adorar a criatura
o homem ao invés
adorava do de
estátuas Criador
barro,(Rm 1.20-23).
madeira, A
coisas
bastante rudimentares. Hoje, não existe diferença de idolatria, apenas a confecção mais
elaborada dos ídolos modernos. Hoje os homens fazem outros tipos de idolatria sem se
ajoelharem literalmente diante delas, mas têm o dinheiro, a fama, o poder, os prazeres, as
posses, etc., como objetos de culto. Não podemos, contudo, nos esquecer, de que mesmo nesta
54 Hoekema, p. 83.
55 Institutes, I, xv, 4.
56 Institutes, I, xv, 4.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 55/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 56
nossa sociedade contemporânea, ainda há idolatria à moda antiga, ou seja, o curvar-se diante de
ídolos feitos à imagem e semelhança de homens e animais.
O homem se esqueceu dAquele de quem foi feito imagem e semelhança.
Nesta altura o homem perdeu a capacidade de fazer o bem (o que é agradável a Deus).
Agora, escravo do pecado, faz com que o pecado seja uma necessidade nele. A condição
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 56/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 57
pecaminosa dele o obriga a pecar porque é a única coisa que ele sabe fazer, pois de agora em
diante, como um livre-agente que é, só poderá fazer o que está de acordo com a sua natureza.
Como ele só possui a natureza pecaminosa, ele só fará o que lhe é próprio. Por isso que ele não
tem capacidade de viver sem pecar. Daí a expressão latina non posse non peccare.
Os eleitos foram predestinados para se parecerem com Jesus Cristo, para refletirem a Sua
perfeita varonilidade, a humanidade plena de Jesus Cristo. Este texto de Romanos indica que
alguma
que coisa errada
precisava aconteceu
ser refeita. com a imagem
A conformidade com ade Deus de
imagem no Jesus
homem apóséaoqueda,
Cristo mesmoimagem
que ser essa
feito
à imagem de Deus. Jesus é a imagem e o reflexo exato do ser de Deus. A meta final da obra
redentora de Cristo é devolver ao homem aquilo que foi perdido na queda, isto é, a imagem de
Deus. Ser conformado à imagem de Jesus Cristo, é ser conformado à imagem de Deus. E é para
isso que fomos destinados de antemão. A completação da obra da redenção será o sermos
semelhantes a Cristo, nosso Redentor. Esta restauração da imagem já começou, mas ainda não
está completada. Ainda temos sementes do pecado em nós que impedem que a imagem de Deus
seja completamente vista em nós. À medida que Deus completa a sua salvação em nós,
restaurando-nos, Sua imagem será plenamente vista, e Cristo será visto em nós.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 57/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 58
dessa transformação.
Jesus, Embora
é dito que o Espírito nosotransforma
Pai nos tenha destinado
nesse paraprocesso.
continuado sermos conformes à imagem de
Com a imagem de Deus restaurada em nós, Cristo restaura também em nós os
relacionamentos perdidos:
Os textos analisados na seção anterior, Rm 8.29 e 2 Co 3.18 indicam que a queda causou
aos homens a necessidade de serem transformados para terem de volta aquilo que perderam
quando da sua criação. A meta final de Deus para os redimidos é a perfeição de Cristo.
Que esta condição se dará somente depois da nossa ressurreição, está claro de alguns
textos da Escritura.
―Terreno‖ aqui se refere ao primeiro Adão. ―Celestial‖ refere-se ao segundo Adão, Jesus
Cristo. O contexto dessa passagem está no ensino sobre a ressurreição. Somente depois da
completação de nossa salvação é que refletiremos a perfeição da imagem de Jesus Cristo. A
glorificação do homem é o estado final da redenção do pecador por quem Cristo morreu. Somente
no estado de glorificação é que o remido refletirá perfeitamente a imagem de Cristo. Por
enquanto, ele ainda está no processo, mas então, o processo já estará terminado. Nesse tempo,
até o corpo refletirá aquilo que Cristo já é. Teremos um corpo semelhante ao corpo de Sua glória
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 58/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 59
(Fp 3.21).
Hoje não somos o que seremos, mas quando Cristo se manifestar, isto é, na completação
de nossa salvação, haveremos de refletir perfeitamente Jesus Cristo. Por essa razão, João diz:
―ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é.‖ (1 Jo 3.2). A idéia de imagem
de Cristo, está perfeitamente delineada nesse verso. Após a nossa ressurreição, haveremos de
A reflexão da imagem de Cristo, nessa época, será vista na capacidade de não pecar. Não
teremos a impecabilidade61 de Cristo, porque continuaremos a ser homens, mas o Senhor Deus
nos livrará da presença do pecado e o non posse peccare de Agostinho, será uma grande e
maravilhosa realidade.
2) Socinianismo
Segundo os socinianos, a imagem de Deus consistia, quase que unicamente, do domínio
do homem sobre os outros elementos da criação.
Os socinianos, assim como os arminianos primitivos, descartam qualquer possibilidade
de o homem ter sido criado num estado de santidade. Eles não criam que o homem foi feito
pecador, mas não criam que a justiça original fizesse parte deles na criação. Eles apenas criam
que o homem foi criado num estado de neutralidade moral, capacitado com uma vontade livre,
para poder eles
essa razão, ir para qualquer
colocaram direção.de
a imagem O Deus
homem era inocente,
apenas na esferasem pecado, sobre
do domínio mas não santo. Por
a criação
3) Luteranismo
Os luteranos, às vezes, tentam distinguir a imagem de Deus num sentido mais estrito e
num mais amplo. No sentido mais estrito, o luteranismo viu a imagem de Deus como sendo a
61 Impecabilidade que advém do fato de Sua natureza humana estar inseparavelmente unida á
natureza divina.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 59/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 60
justiça original. Sendo assim, O homem perdeu totalmente a imagem de Deus, por causa do
pecado. No sentido mais amplo, a existência do intelecto e da vontade, que ainda existem no
homem, que o diferem dos outros seres animais, nada tem a ver com o religioso ou teológico. Por
essa razão Piepper diz que ―chamar a imagem de Deus porque ele possue razão e vontade é não
levar em consideração o que o homem está para se tornar em Cristo.‖ 62 Portanto, é muito mais
comum para os luteranos enfatizarem o aspecto justiça original do que os outros aspectos
geralmente considerados dentro da teologia Reformada.
―Os teólogos luteranos são concordes em que imagem de Deus, que consiste
no conhecimento de Deus, santidade da vontade, está faltando no homem depois
da queda... Eles diferem, contudo, sobre a questão se em Gn 9.6 a imagem divina
é ainda atribuída ao homem após a Queda.‖63
Lutero preferiu esta interpretação, de que a queda aniquilou a imagem de Deus, em seu
comentário sobre Gn 9.6.
4) Calvinismo
Há idéias diferentes entre os vários teólogos Reformados: Robert Dabney insiste ―que a
imagem
unicamentede Deus não consiste
em alguns de64 É
acidentes”. algo absolutamente
provável essencial
que Dabney à pensando
estivesse natureza do homem,
aqui somentemas
na
justiça original.
Alguns teólogos Reformados limitam a imagem de Deus apenas à justiça original,
enquanto que outros incluem toda a natureza racional e moral. Outros ainda incluem o corpo
como parte da imagem de Deus, como já vimos.
De qualquer modo, o conceito de imagem de Deus é extremamente importante para a
teologia reformada, porque essa imagem é o que há de mais distintivo no homem em sua relação
com Deus. O conceito reformado de imagem de Deus é muito mais abrangente e inclusivo do que
o luterano e o católico romano. O homem não perdeu a imagem de Deus, pois se a tivesse
perdido, haveria deixado de ser o que é — homem.
62 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.
520.
63 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.
518-19.
64 Systematic and Polemic Theology, p.293.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 60/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 61
CAPÍTULO VI
65 O termo Federal vem do latin 'foedus", que significa "pacto". A doutrina dofoedus operum
pressupõe que Adão conhecia a lei moral de Deus, tanto a da natureza (Iex naturalis que foi impressa no seu
coração desde sua criação) quanto àquela que foi expressamente ordenada por Deus (Iex paradísiaca, lei do
Paraíso).
66 O Palmer Robertson, The Christ of Covenants, (P&R, 1982), p 5.
67 Ibid., p. 4
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 61/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 62
sua ênfase sobre o efeito de um pacto como o que estabelece a paz entre as
partes.‖68
A quase identidade entre os termos pacto e juramento mostram estas duas palavras
enfatizam a idéia de relacionamento, de estreito vinculo, que é parte essencial do que a Escritura
chama de Pacto. As partes contratantes de um pacto estão profundamente comprometidas entre
si.
Na sua definição Robertson disse que pacto é "vinculko em sangue admistrado
soberanamente." A idéia de sangue é porque pacto sempre envolve uma questão de vida ou morte,
e quase que sempre mostra o derramamento de sangue de uma vitima.
―O primeiro pacto feito como o homem era um pacto de Obras; nesse pacto foi
a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita
68 Ver Charles Sherwood McCoy, The Covenant Theology of Johannes Coceius , (New Haven, 1965),
p. 166), citado por Robertson, p. 5, nota de rodapé 4.
69 Em quase todos os pactos estabelecidos por Deus há a menção de ―juramentos‖ de Deus, embora
esses juramentos formais não devam ser considerados como conditio síne qua non dos pactos. Robertson diz
que ―embora o juramento apareça repetidamente em relação a um pacto, não está claro que uma cerimonia
formal de tomada de juramento seja absolutamente essencial para o estabelecimento de um relacionamento
de pacto‖ Robertson, p. 6, nota de rodapé 7).
70 Robertson, p. 6, nota de rodapé 7.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 62/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 63
Nesse pacto de Obras Deus viu Adão, não como um indivíduo simplesmente, mas como o
―cabeça federal‖ de toda a humanidade, debaixo da obrigação de obedecer as leis estabelecidas
por Deus através da natureza e das Suas asseverações verbais. Tem sido chamado pacto das
obras para enfatizar a responsabilidade de Adão.
71 O. Palmer Robertson, The Christ of the Covenants , (P&R, 1982), p. 22. O texto ao qual Palmer
Robertson se refere de um transbordamento do Jordão está registrado em Josué 3. 15-16.
72 Ibid., p. 22.
73 Robertson argumenta que a Septuaginta traduz a expressão hebraica mfdf):K como w(j a)/nqrwpoj, o
que favorecia esta interpretação. Calvino também sugere esta interpretação em seu Commentaries on the
Twelve Minor Prophets , (Edinburgh, 1846), 1:233, 235. (Robertson, p. 23, nota de rodapé 4).
74 Ibid., p. 23.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 63/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 64
Ninguém duvida do pacto da graça, porque ele está afirmado explicitamente nas
Escrituras, mas porque não aparece explicitamente em Gênesis, há os que tentam destruir a
noção de pacto ali. Charles Hodge, um partidário da teologia do pacto, coloca nestes termos a sua
crença no pacto de obras feito entre Deus e Adão, por comparação ao que aconteceu no pacto da
graça:
75 Ibid., p. 24.
76 Systematic Theology, vol. II, 117.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 64/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 65
leis naturais são perfeitas, e Adão estava em posse dela. Ainda é possível perceber a impressão
delas na alma humana, embora os homens tenham sido afetados moralmente pela Queda,
mesmo os homens que vivem numa civilização muito distante daquela que conhecemos como
―civilização cristã ou ocidental‖. Todos eles têm noções básicas das leis morais de Deus, a quem
devem obedecer. Após a Queda, Paulo diz, essa lei tornou-se enferma por causa da natureza
pecaminosa do homem que obsta o homem de obedecê-la plenamente (Rm 8.3). A
inadequacidade
no texto: essa lei,não
se éobedecida,
da lei, mas daquele que
concederia se porque
vida, torna incapaz de obedecê-la, mas há algo claro
ela é espiritual.
Portanto, desde a sua criação, Adão tinha deveres de obediência, embora estas leis
impressas não revelem um caráter pactual.
1. Partes Contratantes
Sempre há o envolvimento de duas partes num pacto. Neste caso são Deus, como
soberano e supremo Senhor e Adão. Este foi feito à imagem e semelhança dAquele. Foi tornado
cabeça e representante de toda sua progênie.
Deus prescreveu todas as coisas a Adão com poder absoluto, de forma que todas as
condições e promessas do pacto foram unilaterais, estando Adão apenas na posição de aceitar e
obedecer todas as exigências de Deus. Deus estabelece todas as condições virtude da sua
absoluta soberania, supremacia, majestade e eminência, que São Seus atributos essenciais. O
profeta Jeremias mostra esses atributo de Deus de uma forma bem simples e resumida, que
colocam o homem na posição de obedecer todas as prescrições divinamente enviadas:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 65/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 66
o poder do teu nome. Quem te não temeria a ti, ó Rei das nações? pois isto é a ti
devido; porquanto entre todos os sábios das nações, e em todo o seu reino,
ninguém há semelhante a ti.‖
Dessa idéia de Deus, segue-se que o homem está sob o dever de obedecer todas as
estipulações. Adão acatou todas as exigências divinas e, como criatura finita, não discutiu as
exigências
mordomo do dejardim
Deus que
porque
Deusconhecia
lhe haviao confiado.
seu papel de criatura e das responsabilidades como
Essa
desejo de idéia deeterna
felicidade vida plena
é algoestá
que no bojo
está de todos
ainda os homens.
presente em todosEos
isso o que todos
homens, mesmodesejam. O
nos mais
ímpios. Todos eles sabem que a felicidade está vinculada ao fazer o que é bom como a infelicidade
no fazer o que é mau. E uma noção universal a idéia de recompensa para os que obedecem e
punição para os que não obedecem as leis estabelecidas. Isso advém das leis naturais impressas
na alma humana, sem que ninguém ensine aos homens.
Contudo, a noção de vida eterna é muito mais claramente percebida pela ordem dada por
Deus como expressão da Sua Soberania no Éden. Se o pagão ainda hoje tem a noção de
recompensa para os que fazem o bem e a punição para os que fazem o mal, quanto mais Adão!
Ele que possuía o conhecimento advindo dois tipos de lei que Deus lhe havida dado no Éden. O
seu conhecimento dessas leis era perfeito, então.
O ensino de que a vida eterna vem pela obediência é uma tônica de toda a Escritura.
Deus poderia ter retirado o mandado de ter vida pela obediência, pela simples razão de
que ele é o Senhor. No pacto das obras a ordem é ―Faze isto‖ e a promessa ―e viverás‖. Deus ainda
coloca uma ameaça: ―Se não fizeres isto, morreras‖.
77 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God na Man , vol. 1, (Phillispsburg, New
Jersy: Presbyterian and Reformed Publishing House, 1990), 75.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 66/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 67
conhecida nos salmos que escreveu. O Salmo 119 mostra o seu apego à lei de Deus. Veja também
como se porta falando sobre a perfeição da lei do Senhor:
S119.7- 11 — ―A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.. .Além disso, por
eles se admoesta o teu servo...; os preceitos do Senhor São retos... e em os guardar
há grande recompensa.‖
Todo homem que guarda perfeitamente a lei do Senhor é recompensado com a vida
eterna, com a comunhão imperdoável. Contudo, mesmo embora saibamos que a lei do Senhor é
perfeita, não existe perfeição em nós para que a guardemos perfeitamente, a fim de que
recebamos a recompensa da vida eterna.
Rm 10.5 — ―Ora, Moisés escreveu q ue o homem que praticar a justiça
decorrente da lei, viverá por ela.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 67/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 68/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 69/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 70
1Co 15.45-49 — ―Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito
alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o
espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, formado da
terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o
terreno, tais São também os demais homens terrenos; e como é o homem celestial,
tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno,
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 70/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 71
O v. 15
16 diz quedo―ofensa
trata pecadode―de
umum
só‖só‖,
causa a morte
e do de sua que
―julgamento posteridade;
derivou de uma só ofensa‖,
trazendo a condenação sobre a posteridade.
O v. 17 fala que ―pela ofensa de um, e por meio de um só‖, a morte veio a reinar sobre a
sua posteridade.
O v. 18 diz que o juízo de Deus veio sobre todos os da posteridade de Adão, por causa de
―uma só ofensa‖.
82 Há duas ressalvas a serem feitas nesta matéria: (1) Cristo não estava incluído nesta
representação. No texto de I Co 15.4549 Cristo está em oposição ao Primeiro Adão. Se Adão houvesse
guardado o pacto, Cristo não teria vindo, porque a Sua obra foi fazer exatamente o que o primeiro Adão não
fez — obedecer, para conseguir vida eterna para o seu povo. Embora Cristo seja, em última instância,
descendência natural de Adão, via Maria, Ele não é representado por Adão, não recebendo, portanto, a
culpa e a herança pecaminosa dele; (2) Não podemos afirmar de modo dogmático que Eva estava inclusa
nessa representação. Contudo, há indícios de que Adão era o cabeça da família, porque era o varão e o
primeiro a ser formado. Gn 2.16-17 dá-nos uma perfeita idéia de que o pacto foi feito com Adão, antes
mesmo de Eva ter sido formada. O pacto foi feito exclusivamente com Adão e Eva, ao que nos parece, foi
inclusa nessa representação. A razão disso está no fato de Eva ter pecado primeiro e Adão ter sido
responsabilizado por Deus. E verdade que ela caiu pela sua própria transgressão, mas a ruína da raça só
veio a ser anunciada depois de Adão caiu, porque o pacto havia sido estabelecido com ele. Adão foi o
primeiro a ser convicto do seu pecado, embora Eva fosse a primeira a ter caído. A culpa do pecado é
atribuído a Adão como representante da raça. Deus foi ajustar contas com ele, quando disse: ―Comeste da
arvore de que eu te ordenei que não comesses?‖ (Gn 3.11).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 71/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 72/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 73
O que é natural vem primeiro. O que é espiritual vem depois. Perceba que quando Paulo
fala do primeiro, o natural, ele está se referindo a um homem, não a um principio. Quando fala do
espiritual
ressurreiçãoa mesma coisa. antes
está a morte; Isto significa
do segundoque oantes da redenção
primeiro. estárepresentantes
Ambos São a queda; quedas
antes da
coisas
diametralmente opostas: o primeiro, do pecado e o segundo, da salvação.
É importante que se observe que assim como natural (v.46) está para terreno (v.48), o
espiritual (v.46) está para celestial (v.48).
v.48 – ―Como foi o primeiro homem, o terreno, tais São também os demais
homens terrenos; e como é o homem celestial, tais também os celestiais.‖
Isto significa que todos aqueles que estão em Cristo, estiveram em Adão. Certamente nem
todos os que estiveram em Adão vieram a estar em Cristo, pois este agiu somente em favor do Seu
povo, mas indubitavelmente, todos os que estão em Cristo hoje, já estiveram em Adão. Todos os
que possuem a imagem do que é celestial já refletiram a imagem do terreno. Usando o próprio
raciocínio de Paulo, posso concluir: todos os que São de Adão refletem a imagem das coisas
pecaminosas, assim como devem refletir a santidade de Cristo todos os que estão nele. A imagem
nossa reflete aquele de quem somos.
Rm 5.12-2183 - O verso 14 diz que Adão era tipo daquele que haveria de vir. Há um
paralelo perfeito entre ambos. Nos versos subsequentes, os dois aparecem em paralelo
representando cada um o seu povo. O primeiro Adão representando a velha humanidade, e o
último Adão, Cristo, representando a nova humanidade.
O primeiro Adão, foi tornado representante de todos por causa do pacto das obras; o
segundo Adão, Cristo, foi tornado representante por causa do pacto da graça. O primeiro
desobedeceu o pacto, o segundo obedeceu todas as prescrições estabelecidas pelo primeiro pacto.
Cristo cumpriu todas as exigências do pacto de obras, obedecendo em nosso lugar. E a
obediência dEle é considerada por Deus como nossa obediência, assim como a desobediência de
Adão também
por meio é considerada
de Jesus Cristo (pornossa
isso édesobediência. Nós recebemos
chamado de pacto da graça), todas as cousas
mas para Jesusgratuitamente
Cristo foi um
pacto de obras, porque Ele, como segundo Adão, teve que fazer todas as cousas por seu povo, que
o primeiro Adão não fez. Logo, assim como a culpa de Um é atribuída a todos, a justiça de Um
também atribuída a todos.
83 A análise deste texto aparecerá em detalhes quando tratarmos do capítulo sobre o Pecado
Original.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 73/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 74
O Pensamento Arminiano
O próprio Armínio afirma que os pecadores não têm mais nada a ver com o pacto das
obras. Eis alguns dos argumentos arminianos: 84
1) Quando o homem está no estado de pecado, ele não esta pactuado com Deus. Portanto,
não há mais nenhum contrato entre Deus e o homem, pelo qual Deus possa requerer obediência;
2) Deus tem privado o homem da capacidade e do poder de cumprir a lei, por causa do
pecado. Por essa razão, Deus não mais pode requerer do homem o cumprimento das exigências
do pacto, o que seria injustiça, a menos que Ele devolva ao homem a sua capacidade de
obedecê-lo;
3) Deus não pode exigir do pecador que ele O ame, respeite e O obedeça no estado de
maldição em que o pecador se encontra. Deus não pode exigir do pecador que cumpra algo, se o
pecador está fora do seu favor.
Basicamente por estas razões, todos os segmentos arminianos rejeitam a idéia de que o
pacto esta ainda em vigor.
O Pensamento Reformado
Respondendo as objeções arminianas, podemos dizer o seguinte:
1) Quanto ao primeiro argumento: o fato de uma das partes violar o contrato não implica
que o contrato deva ser desfeito. Num contrato humano a parte lesada por ou não desfazer o
contrato, não quem lesa. Muito mais sério é o pacto de Deus com a criatura. Acima de tudo isso,
porém, temos que considerar que a parte ofendida é Deus, o Supremo Legislador e Soberano. O
homem não pode afrontar o soberano e ainda ficar impune pela desobediência.
2) Quanto ao segundo argumento: o fato de o homem ficar impotente por causa do pecado
não retira de Deus o direito de continuar exigindo dele a obediência. A perda da capacidade de
obedecer não foi uma decisão arbitrária. Deus havia avisado ao homem que, se ele
desobedecesse, ele haveria de morrer. A impotência do homem é uma das conseqüências dessa
morte. Como a parte ofendida no pacto, Deus pode ainda exigir que o homem continue debaixo
da obrigação de obedecer. Deus não retirou essa exigência, mesmo embora os homens não mais
sejam capazes dela.
3) Quanto ao terceiro argumento: Novamente o argumento arminiano esbarra na idéia da
soberania divina. E bom que nos lembremos de que Deus é quem estabeleceu todas as condições
e estipulações do pacto. Somente ele pode pô-las ou retirá-las. Ninguém mais. Não é a situação
do homem que vai alterar as exigências de Deus.
Passemos agora à argumentação positiva que os Calvinistas fazem a respeito dos sentidos
em que o pacto das obras ainda vigora:
1) Deus ainda afirma que se alguém obedecer a lei de Deus obtém vida eterna. Deus não
retirou essa lei.
Lv 18.5 diz: ―Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo os
quais, o homem viverá por eles: Eu sou o Senhor‘. Deus poderia, se quisesse, ter retirado esta
obrigação, mas Ele não o fez. Os homens ainda podem obter vida eterna se obedecerem à lei.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 74/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 75
Embora os homens sejam incapazes de cumprir essa lei, Deus não a retirou. Paulo deixou este
ensino bem claro, quando recordou seus leitores dessa lei de Moisés (Rm 10.5; Gl 3.12).
2) Deus ainda afirma que os homens estão debaixo da obrigação de obedecer à Sua lei de
modo perfeito.
Mesmo depois da promulgação do evangelho da graça de Jesus Cristo, aqueles que
violaram o pacto das obras não estão livres de guardar toda a lei, se se aventuram a querer
guardar
causa daum só princípio
impotência para obter
do pecado, vida. Essa leia ser
eles continuaram exige deles absoluta
devedores de toda obediência,
a lei (Gl 5.3).eDeus
que, não
por
facultou aos homens guardarem apenas alguns dos Seus princípios, mas toda a lei.
3) Deus ainda afirma que o homem continua a morrer por causa da violação do pacto das
obras.
Paulo diz: ―E o mandamento que me fora dado para a vida, verifiquei que este mesmo se
me tornou para morte.‖ (Rm 7.10). Lembremo-nos de que Paulo está falando milênios depois do
evento do Éden. Ainda continua a lei de morte para o transgressor dos preceitos divinos. A Alma
que pecar ainda morre. A lei que originariamente foi dada para que, por sua obediência, houvesse
a vida eterna, continua matando os homens.
Portanto, diferentemente dos arminianos, os calvinistas afirmam que o pacto das obras
ainda vigora. Contudo, há
Sentidos
Há algumas emcoisas
que oque
Pacto das Obras
indicam Não Mais
que nenhum Vigora
homem mais pode ter vida eterna pelo pacto
das obras:
O Apóstolo Paulo declara que Deus, por enviar seu único Filho ao mundo, fê-lo porque a
lei não podia fazer mais nada pelo homem. Este tornou-se impotente para cumprir a lei. Por essa
razão, ―o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu
próprio Filho...‖ (Rm 8.3). Por ―carne‖, entenda-se a natureza pecaminosa. Por causa da ―carne‖,
o homem não mais pode observar todos os preceitos a lei. Por essa razão a lei é impotente para
dar vida. A vida que vem da lei depende da obediência absoluta do homem. Como isto é
impossível pela condição pecaminosa do homem, a lei torna-se ineficaz. Se não fosse pelo pecado,
todo homem poderia obedecer perfeitamente a lei e possuir vida eterna.
Se Adão houvesse obedecido a lei estabelecida por Deus, ele haveria de receber a herança
da vida eterna, que é equivalente à vida que Jesus Cristo nos traz. A lei sempre foi compatível
com a vida eterna. Paulo trata desse assunto, sem qualquer constrangimento:
Gl 3.21 – ―É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo
nenhum. Porque se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na
verdade seria procedente da lei.‖
Mas a justiça não procede realmente da lei, mas da obediência à lei, que o pecador não
mais tem condição de prestar. Por essa razão, não mais estão debaixo do pacto das obras para
conseguir a vida eterna aqueles em favor de quem Cristo obedeceu. Aqueles que São beneficiários
do pacto da graça, não mais estão na obrigação de guardar a lei perfeitamente para obterem vida,
pois Cristo já a obteve por eles e no lugar deles. Todas as obrigações que devíamos, Cristo as
satisfez por nós.
Daquele que está em Cristo já não mais se pode dizer que está sob o pacto das obras no
que concerne à obtenção da vida eterna.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 75/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 76
PARTE 2
A CONDIÇÃO DO
HOMEM E A QUEDA
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 76/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 77
Deus criou o homem com capacidade de auto determinar-se, um agente livre, para agir
sempre de acordo com as disposições do seu coração. Ele poderia fazer tanto o bem, que era
próprio de sua natureza, mas também poderia, mudavelmente, fazer o que era contrário à sua
natureza, pecando contra o Senhor Deus e Suas leis.
Novamente a CFW diz:
Deus criou o homem com uma santidade mutável. Como já foi dito acima, a santidade no
homem não era parte essencial nele, como o é em Deus. Santidade não é um atributo
constitucional do homem. A prova disso é que ele a perdeu e, ainda assim, continua sendo
homem. Deus é livre na expressão da Sua santidade, e ela é sempre a mesma, por causa da
própria natureza imutável de Deus. Deus nunca vai fazer alguma coisa diferente daquilo que Ele
é. Por isso Ele não pode pecar. Sua vontade quer sempre aquilo que a Sua natureza determina.
Na Sua infinitude há a exclusão da idéia de mudança na vontade. Deus não tem o poder de
escolha contrária, isto é, de fazer algo que vá de encontro à Sua natureza. Deus é um ser moral
livre, todavia só faz aquilo que é próprio da Sua natureza. Portanto, em Deus liberdade e
necessidade moral São a mesma coisa. Para que haja liberdade, não há a necessidade de haver o
poder de escolha contrária.
A liberdade em Deus é uma auto-determinação imutável, mas no homem, como ser finito
que é, a capacidade de auto-determinação ou seja, a capacidade de fazer as coisas de acordo com
a natureza, é mutável. Deus deu ao homem, no principio, aquilo que Ele próprio não possuía, a
capacidade de escolha contrária. O homem era livre para expressar a santidade com a qual Deus
o havia criado, mas de tal modo que pudesse também fazer algo contrário à sua santidade. Para
que Adão fosse livre, ele não precisava ter o poder de fazer algo revers o. ―O poder de reverter a
auto-determinação existente não é a substância da liberdade, mas é um acidente dela.‖ 85 Deus é
livre sem esse acidente. Mas Deus deu ã criatura essa capacidade de escolha contrária, e ela a
usou para a sua própria vergonha.
Por isso é possível entender como uma pessoa santa como Adão poderia fazer o que fez.
Ele usou a capacidade de escolha contrária que lhe foi dada por Deus.
Há que se olhar essa atitude de Adão de um outro prisma. Ele era Simplesmente uma
criatura perfeita. Como criatura, contudo, dependia de Deus para todas as coisas da vida
natural, como dependia de Deus para que sua vida de comunhão com Ele continuasse. E próprio
de toda a criação essa dependência de vida. Vida é algo que é dado, mantido e renovado por Deus.
E Adão era santo, mas apenas uma criatura, desprovida de qualquer senso de onisciência,
passível de ser enganada, que poderia pensar no mal como algo que não fosse tão mal assim.
Embora a condição moral do homem fosse de excelência, sem tendência para o mal, todavia,
poderia cair desse estado.
Toda a criatura tem algo que Deus não tem — mutabilidade. Esta é uma das grandes
distinções entre Deus e a criatura. Imutabilidade e impecabilidade são atributos do Criador, não
das criaturas, sejam elas homens ou anjos.
A liberdade de Adão e Eva consistia no fato de fato deles poderem escolher ou abraçar
aquilo era bom e agradável ao seu entendimento, como Deus queria, ou para colocar de outro
modo, em recusar aquilo que era mau. Ele tinham o poder de continuar no estado em que foram
criados. Era só agirem de acordo com a natureza santa que Deus lhes havia dado. Mas não foi
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 77/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 78
assim que fizeram. Simplesmente puseram em ação a capacidade de fazer aquilo que era
contrairão à natureza deles. Contudo, desobedeceram a Deus, agindo voluntariamente,
constituindo-se numa situação singular em toda a história humana. Usaram da liberdade de
escolha contrária que tiveram para perderem-se a si mesmos, imergindo-se a si mesmos e toda a
raça na escravidão da miséria.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 78/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 79
CAPITULO VII
A ORIGEM DO MAL MORAL
O fato de Adão possuir a liberdade de escolha contrária, não explica todos os mistérios
relacionados ao problema da entrada do mal no mundo. Há que se pensar que o mal moral é
anterior ã queda do homem.
Há, na verdade, dois grandes problemas praticamente impossíveis de serem explicados: O
primeiro, que tem a ver com a entrada do mal no universo, é a dificuldade de entender a queda
dos anjos sem haver tentador externo e sem que tivessem natureza propensa para o mal; o
segundo, que tem a ver com a entrada do pecado no mundo dos homens, é a dificuldade de
explicar como Adão veio a pecar já que não possuía natureza pecaminosa. Este é um problema da
teodicéia, que estudaremos neste capítulo.
O problema da origem do mal tem sido considerado como um dos mais profundos dentro
da filosofia e da teologia. Não se pode fechar os olhos para o problema do mal que é universal. Ele
é uma mancha indelével que caiu sobre o universo e sobre a vida em todas as suas
manifestações, e tem sido a tônica diária de cada membro da raça humana. Os estudiosos têm
tentado encontrar um resposta para o problema do mal no universo, mas sem sucesso,
especialmente quando a resposta é procurada fora da esfera da revelação divina.
As grandes e freqüentes perguntas feitas são estas: ―Se Deus é bom como Ele permitiu a
entrada do mal no mundo? Se Deus é bom, por que Ele não tira todos as manifestações do mal no
mundo?‖
Há algumas respostas bíblicas e teológicas a essas perguntas, que são delineadas com o
maior temor diante de tão grande mistério, à luz de algumas sugestões que a Escritura dá sobre
o assunto.
―Pela Sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre
e imutável conselho da Sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as
coisas, para o louvor da glória da Sua sabedoria, poder, justiça, bondade e
misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as Suas criaturas, todas as
ações e todas as cousas, desde a maior até a menor‖ (V,1).
Este é um ponto-de-partida sem o qual vamos ter sérios problemas. Esta abordagem da
Confissão de Fé de Westminster é um ponto indispensável e a condição sine qua non para se ter
alguma luz sobre este assunto.
A Escritura ensina que Deus é bom, mas que também exerce a Sua soberania. Estas duas
coisas parecem não poder existir juntas na mente de muitos crentes, como se fossem atributos
incompatíveis. E por isso que esta pergunta surge freqüentemente: ―Se Deus é bom, como pode
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 79/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 80
deles temEscritura.
própria sido controlada
Isaías pelos seus pressupostos,
enfrentou a questão quesem que estes sejam
freqüentemente submetidos
nos ao crivoéda
assedia: ―Quem o
responsável pelo mal no mundo?‖ A resposta a essa pergunta vai, de algum modo, definir a nossa
teologia sobre quem Deus realmente é.
Análise de Is 45.1-7
Há algumas coisas preliminares que precisam ser ditas deste texto: Primeiro, Temos que
ver Quem é o autor destas palavras. Claramente Deus é o sujeito destas palavras e Ele fala, em
todos os versos, na primeira pessoa do singular; Segundo, a quem Deus se dirige. Ele se dirige a
Ciro, rei da Pérsia. Ele era um rei de uma terra onde se cria num dualismo, isto é, cria-se num
deus do bem e num deus do mal; terceiro, Deus está mostrando a Ciro que só existe um Deus
(v.5,
apraz6), isto inclusive
(v.7), é, que não háos
usa o chamado dualismo
homens ímpios parapersa, e que,
cumprir comopropósitos
os seus Deus, Ele (v.
faz1).
tudo o que Lhe
No ponto culminante desta passagem majestosa de Isaías, há um verso que trata de
frente o problema do mal, encarando-o à luz da soberania divina (v.7). Nada pode ser mais claro
do que este verso. Esta é uma palavra inspirada pelo Espírito Santo, palavra que Deus quis que
fosse registrada para o nosso conhecimento. O profeta narra aquilo que Deus quer que
enfrentemos com o maior santo temor: o problema do mal. Mesmo não compreendendo todas as
razões de Deus, porque Deus é, pelo que faz, um ―Deus misterioso‖ (v. 15), temos que admitir que
este texto lança alguma luz sobre o tão importante e incomodante problema do mal. O texto não
trata das razões últimas de Deus. Não podemos entender por quê Deus faz o que faz, mas
podemos crer que Ele faz o que faz.
Quando Deus fala que ―crio as trevas e faço o mal‖, Ele assume perfeitamente a
responsabilidade pela entrada do mal no mundo. Esta é uma revelação que não devemos
desprezar
encontro àpara
Sua justificar
revelação.a nossa teologia, porque, fazendo assim, estaremos andando de (não ao)
Nos capítulos 40 a 45, o tema de Isaías é a soberania divina. Aliás, este é um tema que
atravessa toda a Escritura, mas Isaías dá uma atenção especial a ele. Há um só Deus e Ele está
sobre todas as coisas.
Como Paulo, Isaías declarou todo o conselho de Deus e, fazendo isto, proclamou que Deus
está acima e sobre todas as coisas. A declaração pelo próprio Deus sobre a origem do mal nas
palavras do v.7, dá-nos algumas idéias sobre as quais passamos a discorrer: 86
Em que sentido Deus é o criador do mal?87 O que Ele quer dizer com Is 45.7? Será que o
mal do v.7 diz respeito apenas aos castigos, aos flagelos, às penalidades que Ele impinge aos
homens? Ou será muito mais que isso?
Não temos todas as respostas às perguntas sobre a origem do mal, mas cremos ser o mal
referido no texto de Isaías seja o problema do mal moral. De qualquer forma, de algumas coisas,
86 Fundamentalmente, essas idéias estão incluídas no livro de Willian Fitch, Deus e o Mal , (São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984), 9-21.
87 A expressão ―crio o mal‖ não deve ser entendida com a clássica frase que torna Deus ―o autor do
mal‖ ou ―o autor do pecado‖. Deus é santo e não pode pecar, não envolve-se pessoalmente com aquilo que é
moralmente mau. Nem mesmo Deus induz os homens ao pecado (Tg 1.13, 14). Is 45.7 não diz que Deus leva
o homem a pecar, tentando-o. Do Deus da Escritura não pode ser dito que faz coisas moralmente mas,
embora faça coisas que sejam contrárias à lei que Ele estabeleceu como regra de vida para nós, e Ele está
acima dessa lei, não sujeito a ela Se Ele viola uma dessas leis, Ele não se torna pecador, porque a lei é para
homens, e não para Ele.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 80/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 81
2Rs 19.25 – ―Acaso não ouviste que já há muito dispus eu estas cousas, já
desde os dias remotos o tinha planejado? Agora, porém, as faço executar, e eu quis
que tu reduzisses a montões de ruínas as cidades fortificadas.‖
Todas as cousas que Deus executa na história são produto de um plano previamente
estabelecido. Todos os eventos, os grandes e os pequenos, vêm como produto do cumprimento
dos desígnios eternos
A entrada de Deus.
do mal Não é diferente
no universo angelical com o decreto
e humano da para
serve entrado
um do pecado previamente
propósito no mundo.
estabelecido, especialmente se entendemos o plano da salvação que foi proclamado e anunciado
antes da fundação do mundo (Tt 1.2).
A segunda verdade neste assunto é que, no texto de Isaías,
Ele não conta as razões pelas quais ele responsabiliza-se pela presença do mal no mundo,
mas é obvio que Ele não foi apanhado de surpresa pela presença do pecado no Seu universo.
Com certeza, sabemos que Deus rejeita algumas idéias errôneas a respeito da
origem do mal:
a) Neste texto de Isaías Deus rejeita a doutrina do Dualismo. 88
O dualismo ensina sobre deuses rivais, de igual poder. Hughes define dualismo como ―a
teoria de que por dentro e por detrás de toda a realidade há a presença não de um, mas de dois
princípios eternos e absolutos que são irreconciliáveis, opostos um ao outro,‖89 especialmente
quando se trata do difícil problema da coexistência do bem com o mal neste mundo.
A presença do mal coexistindo com o bem teve uma solução simplista na teologia das
religiões do oriente. E assim que o livro sagrado do zoroastrismo, a mais elevada das religiões
não-bíblicas, contorna a dificuldade da presença do mal no universo. O zoroastrismo apregoa
dois deuses — Ormuz e Arimã. Ambos criaram o mundo. O bom deus Ormuz criou as coisas
boas; o mau Arimã criou todas as coisas más. O primeiro era o deus da luz, e o segundo o das
trevas, que sempre lutaram num conflito ininterrupto. Hughes nos diz que:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 81/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 82
Esse tipo de dualismo pairava na Pérsia, onde reinava o rei Ciro, quando Deus se lhe
dirigiu, porque este cria dualisticamente. Foi por essa razão que Deus disse várias vezes: ―Eu sou
Deus. Além de mim não há outro...‖.
Esta solução dualista para explicar a coexistência do bem com o mal é uma solução
anti-escriturística porque ata o princípio do mal como algo inseparável do universo que Deus fez.
Em última instância, a religião do dualismo nunca dará a vitória ao bem, porque os dois
princípios são eternos e igualmente poderosos. ―A religião dualista é uma religião sem esperança
da eliminação definitiva do mal e do triunfo do bem.‖ 91 A teoria dualista é absolutamente
incompatível com a teologia do cristianismo. Por essa razão, Deus rejeita a possibilidade do
dualismo. no texto de Isaías 45.
Este teoria da teodicéia de alguns estudiosos diz que o mal apareceu sem que alguém o
trouxesse à existência. Se o mal surgisse assim, Deus não teria tido qualquer controle sobre as
cousas deste mundo. O mal sendo gerado espontaneamente tira Deus do trono de sobre todas as
coisas. Mas Deus diz: ―Eu faço todas as coisas...‖.
c) Neste texto de Isaías Deus rejeita as idéias deterministas que apresentam o pecado
como uma necessidade inerente na natureza íntima de todas as coisas.
O filósofo alemão G. W. Leibniz (1646-1716) ensinou em sua teodicéia que existe uma
imperfeição metafísica que é inerente na real constituição de todas as cousas criadas. 92 A
presença do mal é parte constituinte e está embutida na estrutura de todas as cousas. Leibniz
admitiu claramente que ―há uma imperfeição original na criatura, mesmo antes de o pecado ser
cometido, porq ue a criatura é limitada em sua essência.‖ 93 Nesse ponto, Barth assimila algo de
Leibniz, porque sustenta que o problema do homem é o fato dele ser criatura. O pecado apenas
complica esse problema. O mal está inerente e necessariamente presente no mundo pelo fato dele
ser criação. Leibniz falou ainda do ―verdadeiro pecado necessário de Adão que é cancelado pela
morte de Cristo!‖94
Hegel sustenta que o aparecimento do mal é algo necessário para que o homem chegue à
sua humanidade plena. A idéia de Hegel é que ―a queda em si mesma foi um desenvolvimento
necessário para a realização pelo homem de sua humanidade autêntica.‖95 Hegel não nega que o
homem foi criado bom, mas afirma que a vinda do mal era necessária para que o homem se
tornasse completo. ―Assim, Hegel supôs que ambos, o bem e o mal, foram necessários se o
homem estava para desenvolver para a plenitude de sua humanidade, e que o alcance da síntese
fosse possível somente pelo modo da confrontação entre a tese e a antítese.‖ 96
90 Hughes, 85.
91 Hughes, 85.
92 Hughes, 93.
93 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of
Evil, (London, 1951), parágrafo 21-21.
94 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of
Evil, (London, 1951), parágrafo 40.
95 Hughes, 96.
96 Hughes, 97.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 82/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 83
Estas teorias tornariam Deus o autor direto do mal, porque Ele teria criado todas as
cousas como necessitadas do mal. A teodicéia cristão não pode admitir tais teorias. Deus criou
todas as cousas e disse que elas eram muito boas! ―E viu Deus tudo o que criou e disse: Eis que
tudo é muito bom‖ (Gn 1.31).
A idéia da eternidade do mal geralmente surge da idéia do dualismo dos deuses rivais.
Assim como houve sempre o bem, da mesma forma houve o mal.
Mas a Escritura rejeita essa teoria. O mal veio a existir no universo e no mundo dos
homens. Houve um ―tempo‖ quando não havia a presença do mal no universo criado. O mal
apareceu primeiro no mundo angelical e, depois, no mundo dos homens. O mal não é eterno.
Eterno é Aquele que é o bem.
Portanto, quando Deus diz que ―cria o mal‖, Ele está aceitando a responsabilidade pela
presença do mal no meio da Sua criação. Não basta dizer, como Calvino 97 e outros, que disseram
que o ―mal‖ mencionado por Isaías se refere aos males dos juízos e punições que Deus envia aos
homens. O texto parece ir muito mais profundo do que isso. A palavra usada para ―criar‖ aqui em
Isaías 45.7, é exatamente a mesma que foi usada em Gênesis, quando da criação das coisas sem
ter qualquer
fez material
com que ele viessepré-existente. Portanto,
ao mundo através Deus também
da agência chamouracionais,
das criaturas o mal à existência, mas
tanto anjos Ele
como
Adão e Eva, que agiram livremente, isto é, sem compulsão exterior alguma, apenas levados por
seus desejos e conveniências, incompreensivelmente nascidos numa natureza santa com a qual
foram criados.
Vejamos alguma coisa relacionada com o contraste entre as palavras usadas em Is 45.7.
Deus disse: ―Eu faço a paz e formo a luz‖. Não havia necessidade de Deus ―criar‖ a paz e a luz,
porque Deus é luz e paz (1 JO 4.5; Gl 5.22). Deus compartilha a Sua vida com os homens quando
lhes dá o dom da luz e da paz. Mas o mal é cousa muito diferente. Ele ainda não existia, e, por
razões desconhecidas de nós, Deus resolveu dar origem ao que não havia antes. Por isso, o mal
requer uma criação especial e, assim, as Escrituras inspiradas empregam a palavra )frfB, para
referir-se à criação do mal.
Todas as respostas não estão, obviamente, aqui, mas não podemos fugir do assunto que
97 Noseu comentário de Isaías, Calvino interpreta o mal como sendo ―aflições, guerras e outras
ocorrências adversas‖. Isto ele faz para livrar-se daqueles que ele chama de ―fanáticos, que torturam a
palavra mal, como se Deus fosse o autor do mal; mas é muito óbvio quão ridiculamente eles abusam desta
passagem do profeta… Deus é o autor do mal de punição, não do mal de culpa‖.(Ver John Calvin,
Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, (Baker, 1981 edition), p.403.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 83/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 84/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 85
natureza pecaminosa. O pecado já não mais tem domínio sobre nós (Rm 6.14). Essa é a promessa
que temos de que Deus está no trono, sendo vitorioso sobre o mal, proporcionando um escape
para ele. O pecado não mais reinará sobre os nossos corpos mortais, porque Cristo já conseguiu
a vitória por nós e no nosso lugar, e bem logo, veremos esta coisas claramente, quando o Senhor
Jesus se manifestar em glória.
A quinta verdade sobre esta matéria é que
5) Deus Insta aos Homens para que Fujam do Mal e se Refugiem nele.
Veja o que Deus diz nesse mesmo capítulo de Isaías:
―Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu sou
Deus e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é
justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo o
joelho, e toda língua. De mim se dirá: tão somente no Senhor há justiça e força; até
Ele virão e serão envergonhados todos os que se irritarem contra Ele. Mas no
Senhor será justificada toda a descendência de Israel, e nEle se gloriará.‖ (Is
45.23-25).
A verdade
e nele serão é vista de
justificados, forma
e os duplamente
ímpios completa:
haverão de prestar os do Seu
contas povo
a Ele detêm salvação
suas do mal
maldades, nele
porque
Ele é o Deus da justiça.
Deus continua no trono. E do Seu trono que Ele está falando aqui. E é para o Seu trono
que somos convocados a olhar. O homem terá que ser libertado do pecado, e isso acontecerá por
Jesus Cristo, em quem o homem deverá olhar com fé. A Escritura sempre encoraja os homens a
buscarem refúgio e socorro nele, afastando-se do mal. E isso que o Senhor deseja que façamos e,
para isso, necessitamos de Seu auxilio!
Muito se fala na atualidade a respeito do mal, mas pouco se tem dito a respeito do pecado.
Esta é uma palavra omitida na maioria das publicações ou conferências científicas que tratam
dos problemas da raça humana. Contrariamente, a Escritura fala muito a respeito do pecado,
que tem a ver com a transgressão de uma lei divina, mas é preciso ter em mente que nem todo o
mal é pecado. O pecado não deve ser confundido com os males físicos que provocam as
calamidades e prejuízos, que tantas dores têm trazido à raça humana. Estes últimos, na maioria
das vezes, vêm como manifestação do julgamento parcial de Deus sobre os pecados dos homens.
Aquele, entretanto, é um mal moral, porque afeta e viola uma lei moral de Deus, é uma oposição
deliberada àquilo que Deus estabeleceu. No seu cerne, o pecado é sempre um ato positivo de
oposição a Deus, que envolve culpabilidade pessoal, e é produto de uma ação voluntária da parte
do homem, como agente livre que é (Gn 3.1-6; Rm 1.18-32; 1 Jo 3.4).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 85/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 86
transição de um para o outro não é de caráter quantitativo, mas qualitativo. Um ser moral que é
bom não se converte em mau por diminuir a sua bondade, mas unicamente por uma mudança
qualitativa radical volvendo-se para o pecado. O pecado não é um grau menor de bondade, mas
um mal positivo. A Escritura não reconhece qualquer posição de neutralidade entre o bem e o
mal. O homem está do lado do justo ou do ímpio.
Mt 12.30 – ―Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta,
espalha.‖
O que Jesus está querendo dizer neste verso é que se Ele merece o nosso respeito, merece
que o recebamos de todo o coração. Se não rendemos todo o coração a Cristo, não lhe estamos
rendendo cousa alguma. Não existe a idéia de estar indiferente com respeito a Cristo. A
indiferença é considerada oposição a Ele. Ou Lhe damos a honra, a adoração e o amor que Ele
merece, ou O desonramos, cultuamos o demônio e odiamos ao Filho de Deus. Trata-se de ser oito
ou oitenta com Jesus. Não existe equilíbrio no sentido de ficar entre Jesus e Satanás. Não há
posição de indiferença ou neutralidade. Por isso, Ele disse: ―Quem não é por mim, é contra mim.‖
Não há forma de ser neutro nas coisas espirituais. Se alguém não é seguidor de Jesus
Cristo, certamente estará do lado do maligno. Aqueles que não estão fazendo a obra de Deus
estão fazendo as obras do diabo. Não estar do lado de Deus significa estar do lado de Satanás.
Não existe meio termo ou neutralidade na esfera espiritual.
A Bíblia deixa absolutamente claro que o pecado não começou no Éden, com a queda dos
nossos primeiros pais. O pecado vai além de Gn 3. Deus havia criado as hostes angelicais, e todos
as cousas que Deus fez eram boas quando vieram das mãos do seu Criador (Gn 1.31; 2.1).
2 Pe 2.4 diz que ―Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no
inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo‖. A queda dos anjos ocorreu
quando legiões deles ―abandonaram o seu estado original‖ (Jd 6). O tempo exato dessa queda não
se sabe, mas Jo 8.44 diz que o Diabo foi ―homicida desde o princípio‖, e 1 Jo 3.8 diz que ele vive
―pecando desde o princípio‖.
Estas passagens
eram santos, estado demostram que houve
criação esse um primeiro
que eles estado,Eles
abandonaram. um estado
caíramoriginal
e foramno tornados
qual eles
instrumentos de ruína para os outros seres racionais, os homens. A Escritura, contudo, não diz
quase nada sobre a queda dos anjos. E possível que o ―orgulho‖ tenha sido o pecado de
Satanás101, mas não há nenhuma outra indicação que nos dê mais luz sobre a queda de
Satanás.
101 Esta é uma referência sacada de 1 Tm 3.6, onde se supõe que Satanás é orgulhoso, soberbo,
porque quis ser igual a Deus. O mesmo pode deduzir-se das palavras que ele usou para tentar Eva, em Gn
3, onde ela a induziu a ser como Deus.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 86/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 87/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 88/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 89/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 90
Gn 3.5 — ―Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.‖
Eva, ao invés de fugir da conversa, continuou a dar ouvidos à fala de Satanás. Este não
somente sugeriu que ela não sofreria punição qualquer, com insinuou que ela se beneficiaria ao
comer do fruto, por três razões: Primeiro, por comer do fruto, a capacidade dela de discernimento
e o de percepção seriam sensivelmente aumentados. Este é o sentido de ―se vos abrirão os olhos‖.
Os olhos físicos de Eva e Adão já estavam abertos, portanto, esta referência deve ter sido aos
olhos do entendimento; Segundo, o seu poder seria aumentado, e sua posição melhorada. Eles
seriam como ―Deus‖ ou anjos; Terceiro, a sabedoria seria aumentada em muito, ―sendo
conhecedores do bem e do mal como Deus‖. Isto era algo altamente desejável!
É interessante que Satanás não dirigiu seus ataques aos apetites físicos de Eva, mas à
parte mais nobre do seu ser, isto é, aos apetites da alma humana — querer ser mais sábio,
inteligente, poderoso, ser uma criatura celestial, ser um ser independente, auto-suficiente, agir
independentemente de Deus.
De lá para cá, Satanás tem tentado fazer o mesmo com todos os homens, tentando-os a
tornarem-se independentes de Deus, o que é uma falácia, mas muitos têm caído nessa esparrela.
Gn 3.6 — ―Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos
olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e
deu também ao marido, e ele comeu.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 90/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 91
Gn 2.9 lemos: ―Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradável à vista e boa
para o alimento...‖ — Como o texto mostra, a árvore do conhecimento do bem e do mal não era
exceção. Toda a criação foi bela e agradável aos sentidos. Mas Eva, por entregar-se à tentação da
serpente, notou que aquela árvore era particularmente bela. Eva teve o desejo secreto e
cobiçou-a.
Se houvesse havido qualquer incerteza na mente de Eva, ela poderia ter consultado seu
marido. Segundo
―entendimento‖ a Escritura,
como Deus. Elaeste
fez oéjuízo
o dever
pelo eque
o privilégio
a serpentededisse,
uma eesposa.
não peloMas
queela quis
Deus ter
havia
dito ao seu marido. Ela preferiu a falsa esperança que o inimigo lhe havia dado, mas ela foi
enganada.
Primeiro, ela deu crédito ao ―é certo que não morrereis‖ (v.4); depois foi atraída pela
perspectiva de tornar-se igual a ―Deus‖ ou anjo. E, então, sob essa crença, comeu do fruto.
A palavra hebraica fdfm:xen:w para ―desejável‖ (v.6), tem a mesma raiz ( Dom:xat) em Ex
20.17, e é traduzida aqui por ―cobiça‖. A mesma palavra é chamada ―concupiscência‖ em Rm 7.8,
e ―cobiça‖ em Tg 1.15. De f ato, esta última passagem, de algum modo, traça o caminho em
detalhes da desobediência final de Eva, mesmo embora ela não possuísse natureza pecaminosa,
como nós hoje a possuímos.
O estatuto do Éden, tanto quanto o dos Dez Mandamentos, envolvia ambos, os desejos
interiores e os atos exteriores. Aquele que deseja o mal proibido, de fato já o escolheu, como
aquele que odeia antes de violar o sexto mandamento, embora nunca chegue a uma violência
física. Eva não poderia nem desejar o fruto, porque Deus a havia proibido de comê-lo. Ao invés de
desejá-lo, ela deveria fugir dele. Cobiçar o que Deus proíbe já é pecaminoso, é preferir a criatura
ao invés do Criador. Esta é a grande advertência para nós todos. Se estimamos coisas apenas
levados pelos sentidos, ou pelo que outros dizem delas, ao invés de aceitarmos o que Deus diz a
respeito, certamente erraremos em nosso juízo. Nada é bom para nós exceto aquilo que vem das
mãos de Deus.
Eva, então, ―tomou-lhe do fruto e comeu‖— sem consultar Adão. Tão forte foi o desejo do
seu coração, que ela não quis ouvir a opinião de ninguém. Assim, ela completou a transgressão.
A serpente não colocou o fruto na boca de Eva. O diabo pode tentar, mas não pode forçar
ninguém a pecar. Por sua própria determinação, obedecendo a desejos interiores, ela comeu do
fruto. Ela, e nem nós, podemos culpar quem quer que seja pelos nossos próprios atos
pecaminosos.
A essa altura, Adão juntou-se a Eva, porque é dito que Eva deu o fruto ao seu marido, ―e
ele comeu‖. Este é o progresso do pecado: alguém entrega-se à tentação e, então, torna-se o
tentador de outras pessoas. Ao invés de recusar o fruto, Adão comeu. O texto da Escritura diz
―que Adão não foi enganado‖ (1 Tm 2.14), o que o torna um maior culpado. Ele apenas ―atendeu
a voz de sua mulher‖ (Gn 3.17), e isto foi o bastante para ele apostatar de Deus. Foi uma revolta
contra o Criador, uma insurreição à Sua supremacia, uma rebelião contra a Sua autoridade.
Deliberadamente Adão resistiu à vontade revelada de Deus, desertou do Seu caminho. Em
conseqüência, ele perdeu sua primitiva excelência e toda a sua alegria. Assim, Adão lançou-se a
si mesmo, e a toda sua posteridade, na ruína espiritual. Esta foi a origem do pecado na raça
humana. Gn 3 dá-nos uma narrativa inspirada de como o pecado invadiu o território dos
homens, e também nos dá a única resposta para os males e as misérias que permeiam este nosso
mundo.
Resumo: A queda do ser humano foi ocasionada pela tentação da serpente, que semeou
na mente de nossos primeiros pais a desconfiança e da incredulidade. Ainda que, sem dúvida, o
propósito da serpente tenha sido o de fazer Adão cair, ele se dirigiu a Eva provavelmente pelas
razões que se seguem: a) Ela não era a cabeça do pacto e, portanto, não teria o mesmo sentido de
responsabilidade; b) Ela não havia recebido o mandato de Deus diretamente, mas de forma
indireta, através de Adão e, por conseguinte, seria mais suscetível ao argumento da dúvida; c)
Com segurança ela seria o agente mais eficaz para chegar ao coração de Adão.
Assim, portanto, deu-se a história da queda do homem, o inicio do pecado no mundo.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 91/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 92/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 93
CAPÍTULO VIII
A TRANSMISSÃO DO PECADO
O pecado original (que é a culpa e a conseqüente corrupção) tem sido a experiência de
todos os homens. Tanto a Biblia quanto a experiência humana têm mostrado a universalidade do
pecado. Segundo a Escritura, a origem disto tudo está na queda de Adão. Neste capitulo vamos
ver qual é a conexão que há entre o pecado de Adão com o da humanidade em geral.
E pensamento geral entre os Reformados a teoria da imputação. As palavras usadas nas
línguas originais que são traduzidas como ―imputação‖, são bo$:xay (Sl 32.2 do verbo hebraico
b$x)) e logi/shtai (Rm 4.8 do verbo logizomai ).105 A imputação é o método de Deus para explicar a
conexão do pecado de Adão com os nossos pecados, mas nem todos os cristãos têm concordado
nesta matéria.
Diferentes conceitos têm surgido no decorrer da história da igreja a respeito de como a
culpa de Adão passou até nós.
1) Os Pelagianos
Pelágio, monge inglês do séc. IV, adversário teológico de Agostinho, partiu do
ponto-de-vista da habilidade natural do homem. Seu axioma fundamental é: ―Deus mandou o
homem fazer o que é bom; disto, deduz-se que o homem deve ter a capacidade de fazê- lo.‖ Isto
quer dizer, na teologia de Pelágio, que todos os homens possuem o livre arbítrio, ou seja, a
vontade livre no sentido absoluto da palavra, de tal forma que é possível para eles irem tanto para
o mal quanto para o bem, como resultado da sua constituição natural. Na verdade, dentro do
conceito pelagiano, o homem é um ser moralmente neutro. Ele não tem tendência alguma. A
decisão do homem não depende do seu caráter moral, visto que a vontade do homem está
inteiramente
bem ou o mal,indeterminada tanto de de
dependerá unicamente dentro como delivre,
sua vontade fora.isto
Sejaé, odaque for quemoral
natureza o homem faça,
neutra o
dela.
Os atos bons ou maus são ações soltas do homem, não estão vinculadas à natureza moral do
homem. O pecado consiste de atos independentes ou soltos da sua vontade. A vontade não tem
conexão com o coração do homem. E nesse sentido que ele entende vontade livre. E a
independência da vontade. Não há uma natureza pecaminosa no homem que o leva a pecar. O
pecado é sempre uma escolha deliberada do homem, e ele peca porque ele resolve imitar Adão
que pecou. Segue-se, portanto, que Adão não foi criado num estado de verdadeira santidade, mas
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 93/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 94
em um equilíbrio moral. Sua condição era de neutralidade moral. Não era bom nem mau,
portanto, não possuía caráter moral. Escolheu livremente a carreira do mal, mas isto não fez que
seus descendentes nascessem pecaminosos.
Para o pelagianismo, não há nenhuma conexão entre o pecado de Adão e os pecados dos
descendentes. Não há o pecado original. As crianças nascem num estado de neutralidade,
começando exatamente onde Adão começou, exceto no sentido em que estão numa situação de
desvantagem,
resolvem imitarpois já nascem
Adão e, como com maus exemplos
conseqüência, ao de
o hábito seupecar
redor.
vaiOs
sehomens hoje pecam porque
formando.
O conceito de livre arbítrio de Pelágio , em algum sentido, foi tirado de um livro apócrifo
das Escrituras, o livro de Eclesiástico, que tem dado margem a alguns eruditos posteriores,
inclusive, Erasmo de Roterdã, a formularem sua teologia libertária.
Pelágio defendeu um libertarismo muito extremo. Ele creu que
―todo infante vem ao mundo na mesma condição que Adão estava antes da
queda. Seu princípio principal era que a vontade do homem era absolutamente
livre. Daí, segue-se que todos têm o poder, dentro deles mesmos, para crer no
evangelho tanto como para guardar perfeitamente a lei de Deus.‖ 106
Tm 2.4 – ―…que deseja que todos os homens sejam salvos‖, Pelágio diz: ―Disto é provado que
Deus não força ninguém a crer, nem que Ele tira a liberdade da vontade.‖ 109 Agostinho cita
Pelágio em sua obra On the Grace of Christ, capítulo XXIV: ―O homem que se apressa para o
Senhor e deseja ser dirigido por Ele, que faz sua própria vontade, depende do Senhor, que além
disso, apega-se tão proximamente ao Senhor tornando-se (como diz o apóstolo), ‗um espírito com
Ele‘, faz tudo isto por nada mais do que pela liberdade da vontade.‖ 110 ―Livre Arbítrio‖ era o
principal tema de Pelágio, e ele determinou a totalidade de seu sistema teológico nas áreas de
antropologia e soteriologia.111
106 David N. Steele, The Five Points of Calvinism , Philadelphia: Presbyterian and Reformad
Publishing107 Company,
Eclesiástico1967), p. 20.
15.14-18 (que diz: ―Ele mesmo fez o ser humano no princípio e, então, deixou-o livre
para fazer suas próprias decisões. Ele lhe deu mais os seus mandamentos, e os seus preceitos; se tu
quiseres observar estes mandamentos, e guardar sempre com fidelidade o que é do agrado de Deus, eles te
conservarão. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: lança a tua mão ao que quiseres. Diante do homem estão
a vida e a morte, o bem e o mal: o que lhe agradar, isso lhe será dado.‖) dá a base para muitos escritores
formularem sua concepção de livre-arbítrio. Juan P. Valero diz: ―Pelágio é um dos primeiros escritores
eclesiásticos, sem se exceptuarem Tertuliano e Orígenes, que se utilizou desta passagem como fundamento
da liberdade do homem "Las Bases Antropologicas de Pelagio, (Madrid, Publicaciones de La Universidad
Pontificia comilías, 1980), p. 315.
108 Ibid.
109 Alexander Souter. The Earliest Latin Commentaries on the Epistles of St. Paul, (Oxford: At the
Clarendon Press, 1927), p. 224.
110 Whitney J. Oates. (Editor) Basic Writings of Saint Augustine, vol. 1, (New York, Random House
Publishers, 1948), p. 599. Neste capítulo On the Grace of Christ , Agostinho cita diversas vezes o pensamento
de Pelágio sobre as capacidades da vontade livre do homem.
111 No século IV uma lista de erros pelagianos, que foi parte do credo Pelagiano, havia sido
apresentada pelo diácono Paulinus de Milão, em sua acusação a Celéstio, diante de Aurelius, bispo de
Cartago: 1) ―Adam mostalem factum, qui sive peccaret sive non peccaret, moriturus esset.‖ (De gestis
Pelagil, 11); 2) ―Quoniam peccatum Adae ipsum solum laeserit et non genus humanum.‖ (Ibid); 3) ―Quoniam
lex sic mittit ad regnum quemadmodum evangelium.‖(Ibid); 4) ―Quoniam ante adventum christi fuerunt
homines sine peccato.‖(Ibid); 5) ―Quoniam infantes nuper nati in illo statu sint, in quo Adam fuit ante
praevaricationem.‖ (Ibid); 6) ―Quoniam neque per mortem vel praevaricationem Adae omne genus hominum
moriatur, neque per resurrectionem Christi omne genus hominum resurgat.‖ (Ibid). (Chisholm. The
Pseudo-Augustinian Hypomnesticon Against the Pelagians and Celestians, p. 6-7).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 94/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 95
O princípio
— Ode Pelágio
pecado era: ―Se portanto,
consistia, eu devo, eu posso‖.
somente na escolha deliberada do mal. Ele pressupõe o
conhecimento daquilo que o mal é, mas o homem tem poder de escolhê-lo ou de rejeitá-lo.
— Não há pecado original, ou corrupção herdada. Todos os homens são nascidos na
mesma condição em que Adão foi criado.
— O pecado de Adão é apenas um mau exemplo que foi seguido por seus descendentes;
Pelágio negou que houvesse qualquer conexão de relação causal entre o pecado de Adão e o da
raça, ou que a morte tenha sido a pena do peado. Adão morreu por causa da constituição da sua
natureza, e isto aconteceria mesmo que ele não houvesse pecado.
— Adão não foi o representante da raça humana, nem o seu cabeça.
— Como o descendente de Adão vem ao mundo sem a contaminação do pecado, ele tem
pleno poder para fazer tudo o que Deus quer, inclusive viver sem pecar. Ele tem a possibilidade
de não pecar. Alguns pelagianos ensinaram que alguns homens não precisavam orar:
―Perdoa-nos as nossas dívidas‖.
— Uma conseqüência do ensino de Pelágio foi que ensinou-se que o homem poderia ser
salvo sem o evangelho. Com a vontade plenamente livre, ele poderia obedecer perfeitamente a lei
de Deus e ser salvo, e ter vida eterna. A única diferença é que, debaixo da luz do Evangelho, esta
perfeita obediência é tornada mais fácil.
— Pelágio nega a necessidade da graça como nós a entendemos, como a atuação
sobrenatural do Espírito Santo. Ele crê na graça, mas com uma outra conotação. Graça,
portanto, para Pelágio, e entendida como cada coisa que deriva da bondade de Deus. Nossas
faculdades naturais como a razão, o livre-arbítrio, revelação da verdade, etc., é que são a graça
divina.
2) Os Semi-Pelagianos
O Semi-Pelagianismo é a doutrina dos católicos-romanos desde o tempo em que a
igreja se posicionou entre Agostinho e Pelágio.
Após a controvérsia Agostinho-Pelagiana, a igreja cristã decidiu tomar um posição
mediana. Ela evitou os pontos extremos de Pelágio e de Agostinho. Esta posição é historicamente
conhecida como Semi-Pelagianismo que tomou elementos de ambos. Segundo George Smeaton,
João Cassiano (A.D. 360-435), um contemporâneo de Agostinho,
112 TheDoctríne of lhe Holy Spírít, (Edinburgh: T & T Clark, 1889), p. 338. N.P. Williams in The Grace
of God, (London: Hodder and Stoughton, 1966) pensa que ―seria mais justo descrever o sistema que
Cassiano advogou como ―Semi-Agostinianismo‖‖, porque Williams pensa que Cassiano crê em muitas coisas
a respeito do pecado original, como Agostinho, e Cassiano discordou somente sobre a "Irresistibílidade da
graça, que torna a vo1ição humana um mero modo dá auto-expressão da vontade divina.‖ (p. 54)
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 95/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 96
ele casa isto com uma certa admissão do poder cooperador da vontade livre do
homem. Isto se aplica mesmo à graça primeira, a graça da conversão... Para
Agostinho a primeira graça é estritamente preveniente, para Cassiano ela é, como
as outras graças, cooperante. 113
Ele diz em suas Collationes que a graça cooperante vem ―ajudar as fracas aspirações e
veleidades que são espontâneas ou movimentos não-causados da vontade humana.‖ 114 A
conclusão óbvia deste pensamento é que Cassiano não cria numa real depravação da alma
humana como o fez seu contemporâneo Agostinho. Sua concepção ―do estado presente da
natureza humana caída é perceptivelmente mais suave do que aquela sustentada por Santo
Agostinho.‖115
Agostinho, que havia sido vitorioso em sua controvérsia com Pelágio, não teria ficado
satisfeito com o caminho que a igreja tomou posteriormente. Um voluntarismo libertário triunfou
na teologia do Semi-Pelagianismo. A graça de Deus vinha conforme os méritos dos homens, isto
é, de acordo com o bom uso ou com a melhora correta dos poderes naturais da vontade livre,
mesmo embora o Semi-Pelagianismo tenha sido condenado pelo Sínodo de Orange (A.D. 529)116,
presidido pelo bispo de Arles, um teólogo agostiniano. O sumário da doutrina de Orange sobre a
capacidade do homem está asseverada na afirmação concludente como apêndice aos Cânones:
Isto nós devemos ambos pregar e crer - que através do pecado do livre arbítrio
do primeiro homem foi tão deformada e atenuada, que daí por diante nenhum
homem pode mesmo amar a Deus como ele deve, ou crer em Deus, ou apresentar
qualquer boa obra em nome de Deus, amenos que a graça da misericórdia divina
tenha se antecipado nele. 117
Muitos teólogos, contudo, não têm dado atenção nem a sã doutrina nem à condenação
pronunciada por Orange. Eles minimizaram a posição de Orange sobre a queda e as
conseqüências que foram óbvias: eles tiveram uma atitude benevolente em relação ao homem
não-regenerado, o que tornou fácil crer em qualquer espécie de liberdade da determinação,
ambos, OdaSemi-Pelagianismo,
influência externa e,com
especialmente,
sua teologiada interna. cruzou todos os períodos da igreja
sinergista,
cristã. Ele ganhou muitos seguidores, visto que esta é a posição da igreja de Roma até hoje,
mesmo embora ela não o declare oficialmente.
O voluntarismo libertário teve seu grande campeão na pessoa de Duns Scotus, perto do
113 Williams, p. 57.
114 Collationes XIII,
II (citado por Williams, p. 58).
115 Williams,
p. 58.
116 Alguns Canones de Orange que condenaram o Semi-Pelagianismo mostram a teologia em vigor
naquela época na Igreja Crista: ―Se qualquer um afirma que a totalidade do homem, alma e corpo, não tem
sido corrompida pela transgressão de Adão, mas que o corpo somente esta sujeito a corrupção, enquanto a
liberdade da alma permanece intacta, que tal pessoa, seduzida pelos erros de Pelágio, contradiz a Escritura
que diz: ―A alma que pecar, essa morrera.‖; ―4) Se qualquer homem afirma que Deus espera pela nossa
vontade de tal forma que nós podemos ser eximidos de pecar, e que não confessa que é devido a infusão e
operação do Santo Espírito sobre nós que nós desejamos ser limpos, ele resiste ao Espírito Santo...‖; ―6) Se
qualquer homem afirma que a misericórdia é comunicada a nós quando, sem a graça de Deus, cremos,
decidimos, desejamos, nos esforçamos, observamos e trabalhamos, oramos, procuramos e batemos, e que
não confessa que é pela inspiração e infusão do Espírito de Deus que nós cremos, desejamos.... - que
meramente afirma que a ajuda da graça é acrescentada à humildade e obediência do homem...‖; ―7) Se
qualquer homem afirma que pode, pela força da natureza, pensar qualquer coisa boa pertencente a salvação
da vida eterna.. .ou escolher ou consentir diante da pregação evangélica salvadora, sem a iluminação e
inspiração do Espírito Santo, que dá a todos o doce sabor em consentir e crer na verdade, ele esta enganado
por espírito herético....‖ (See Smeaton, pp. 340-42, e Williams, pp. 63-65).
117 Williams, p. 66.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 96/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 97
final da Idade Média. Ele ―representa um estágio de transição no movimento de uma teoria do
apetite da volição humana para a teoria da causa eficiente.‖ 118 Duns Scotus escreveu:
―Qual é a fonte desta escolha determinada? Ela pode vir somente de um poder
distinto da razão que é capaz de escolher. Porque a razão não é um fator
determinante, visto que ela tem a ver com os opostos com respeito ao qual ela não
pode determinar a si mesma, muito menos determinar alguma coisa além de si
mesma… Propriamente falando, o poder executivo não está num poder
contraditório ao efeito que ele carrega, visto que ele é racional por participação.
Mas o sentido pleno de um poder pelos opostos é encontrado formalmente na
vontade.‖119
Assim, então, é a teoria da liberdade como esboçada por Duns Scotus. Ela é
dominada por sua alta consideração pela vontade como a rainha e a soberana das
faculdades do homem. De fato, sua característica distintiva e a sua defesa da
soberania e autonomia absoluta da vontade. 124
118 J. Vernon Bourke. Will in Western Thought , (New York: Sheed and Ward, 1964), p. 84.
119 Duns Scotus, Duns Scotus on the Will and Morality , selected and translated with na introduction
by Allan B. Wolter, (Washington, D. C.: The Catholic University of America press, 1986), p. 161.
120 Bourke, p. 88.
121 Ibid.
122 Duns Scotus, ´quod nihil aliud a voluntate est causa totalis volitions in voluntate.‖ (Op. Ox. II,
25, q. 1, n.766), como está citado por Bourke, p. 98.
123 Josef Pieper. Scholasticism-Personalities and Problems of Medieval Philosophy, (New York:
Pantheon Books, 1960), p. 146.
124 Citado por Bourke, p. 88.
125 Ibid., p. 85.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 97/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 98
intelectualismo daquele período em diante, mesmo embora o intelectualismo tenha sido revivido
no período do neotomismo e no escolasticismo protestante. Mas a vontade nunca perdeu o seu
lugar de domínio porque isto foi fortemente favorecido pela tendência natural do homem. 126 E
natural para os seres humanos enfatizarem suas próprias capacidades espirituais. E natural
para eles desejarem ser participantes em sua própria salvação. Sinergismo, portanto, é o modo
natural dos seres humanos expressarem sua própria teologia.
Os Semi-Pelagianos,
incapacidade natural, mas queportanto, enfatizaram
não é responsável quede omaneira
por ela, homemque herdou
o homem de não
Adão uma
pode ser
culpado por ela. Portanto, não será condenado por causa dessa incapacidade natural. Alguns
chegam ao ponto de concluir que Deus, de alguma forma, está obrigado a proporcionar cura para
essa incapacidade.
Dentro do Semi-Pelagianismo do catolicismo, admitiu-se que a justiça original era um
dom sobrenatural, e que efeitos do pecado de Adão sobre a sua posteridade, foi a perda dessa
justiça. A alma, portanto, é deixada no estado em que foi originalmente criada, com a justiça
natural. Os homens hoje nascem do modo como Adão foi originalmente feito: com a justiça
natural. O pecado original, então, não está ligado à perda da justiça original. Não há nenhuma
corrupção hereditária inerente, nenhum caráter bom ou mau. De acordo com o
semi-pelagianismo, a perda da justiça original é apenas pena e não culpa.
Nesse mesmo lugar Armínio fez a distinção entre o "pecado atual" e "a causa dos outros
pecados". Fazendo isto, segundo Meeuwsen,129 Armínio quebrou a idéia da unidade adâmica.
Após analisar e citar os documentos dos Remonstrantes, Shedd assevera que
estes extratos são suficientes para provar que os teólogos Arminianos não
criam que a unidade entre Adão e sua posteridade, que eles asseveravam em sua
Confissão e Declaração, era de tal natureza que tornava o primeiro ato pecaminoso
de Adão, um ato comum da raça, e através disso justificam a imputação do pecado
original como verdadeira e propriamente pecado. Embora empregassem uma
fraseologia Agostiniana respeitando a conexão Adâmica, eles punham uma
126 Por tendências naturais eu quero dizer aquelas capacidades que o homem tem sem a
necessidade de um aprendizado especial. Faz parte do homem pensar o melhor de si mesmo, a menos que
ele seja o objeto da graça de Deus. O homem, sem a graça de Deus sobre si, nunca pensará
monergisticamente. Esta é uma tendência do pensamento do homem desde o começo dos estudos
teológicos. Somente uma compreensão correta da graça de Deus dá ao homem o senso de um monergismo
soteriológico.
127 Eu uso a expressão ―Arminianos Consistentes‖ porque há aqueles que são inconsistentes na sua
teologia, afirmando o livre-arbítrio, mas ao mesmo tempo a fé como um Dom de Deus, o que quebra a
harmonia deles. Este é apenas um exemplo.
128 Arminius, The Writings…, vol. 1, pp. 374-74.
129 Meeuwsen.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 98/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 99
pecado
disto — original ( peccatum
que ele não ) não
originis
é mal no sentido é um malem
de implicar em qualquer
culpa outro sentido
de abandono além
de punição
(malum culpae, aut malum poenae ), — está claro. 132
―Mas não há nenhuma base para a asserção de que o pecado de Adão foi
imputado á sua posteridade, no sentido de que Deus realmente julgou a
posteridade de Adão como culpada e acusável do mesmo crime (culpa) e pecado
que Adão havia cometido. Nem a Escritura, nem a verdade, nem a sabedoria, nem
a benevolência divina, nem a natureza do pecado, nem a idéia de justiça e
eqüidade, permitem que seja dito que o pecado de Adão foi, assim, imputado á sua
posteridade. A Escritura testifica que Deus ameaçou punir a Adão somente, e
impô-la sobre que
não permitem Adãoo somente;
pecado deauma
benevolência divina,
pessoa seja Sua veracidade
imputado, e sabedoria,a
estrita e literalmente,
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 99/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 100
Shedd assevera que, segundo o Arminianismo, ―não há qualquer base a asserção de que o
pecado de Adão tenha sido imputado à sua posteridade no sentido em que Deus realmente julgou
a posteridade de Adão como culpada dele, e acusada com o mesmo pecado e crime que Adão
havia cometido.‖135
Todos os Arminianos consistentes negam a imputação do pecado de Adão por três razões:
(1) Porque eles pensam que a doutrina da imputação é uma doutrina que rompe com os
princípios fundamentais da justiça eterna; (2) Porque eles dizem que a culpa pode ser atribuída
somente àqueles que pecam pessoal e voluntariamente; (3) Porque do conceito que eles possuem
de graça preveniente.
133 Episcopius in his Apology Pro Confessione Remonstrantium, cap. VII, (Ibid., pp. 183-84).
134 Meeuwsen, p. 23.
135 Shedd, pp. 183-84.
136 W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology , vol. II, p. 77.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 100/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 101/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 102/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 103
obediência, mas o direito de desfrutar da vida eterna para si e para os seus descendentes, como
em caso de desobediência a culpabilidade para si e para toda a raça. Seria absolutamente óbvio
que Adão obtivesse a promessa de vida, se obedecesse, pois a ameaça de morte (―no dia em que
comeres, certamente morrerás‖) implica necessariamente no reverso. E como se Deus lhe
houvesse dito: ―Se não comeres, não morrerás e, certamente, poderás comer da árvore da vida,
como recompensa por tua obediência‖ (ver Gn 3.22). A promessa de vida incluía muito mais do
que
povo,simplesmente
uma comunhãonãoimperdível
morrer. Adão
comhaveria de ter
Deus, uma vida eterna,
qualidade aquilo
de vida que Cristo
superior à queveio
Adãodarpossuía,
ao Seu
mesmo quando não havia pecado, uma qualidade de vida que Adão teria, se houvesse obedecido
e comido da árvore da vida.
Os 6.7 diz que houve um pacto que Adão transgrediu e, fazendo isso, imergiu a si mesmo
e toda a raça na desgraça e miséria, sujeitando todos os homens ao estado de culpados e
merecedores do castigo divino.
140 A. W. Pink, Gleanings from the Scriptures , (chicago: Moody Press, 1977), p. 43.
141 O termo ―federal‖ vem de foedus , uma palavra latina que quer dizer ―pacto‖. A teologia federal é
a teologia do pacto.
142 O texto clássico usado como base para o estabelecimento do pacto de Deus com Adão está em Os
6.7, que diz: ―Mas eles transgrediram o pacto como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim.‖ -
Qual é a objeção deles? Eles não discutem o termo pacto, mas a expressão ―como‖ que eles insistem em
traduzir ―em‖ (que é uma tradução possível), para justificar o fato de que eles transgrediram o pacto num
lugar chamado Adão. Adão, portanto, não seria uma pessoa nesse caso, mas uma cidade, onde um pacto foi
estabelecido.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 103/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 104/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 105
haveria de vir. Adão é chamado o primeiro Adão, e Cristo é chamado o segundo Adão. 143 Adão
prefigura Cristo. Do modo como vemos os homens em Jesus Cristo, deveríamos vê-los em Adão.
Adão, quando tentado, foi derrotado. Cristo, quando tentado, resistiu e venceu. O
primeiro foi amaldiçoado por Deus, e o último foi agradável a Deus. O primeiro foi a fonte do
pecado e da corrupção para toda a sua posteridade, mas o segundo foi a fonte de santidade para
todos os que pertenciam ao Seu povo. Através de Adão, a condenação veio, mas a redenção veio
através Em
de Jesus Cristo.Adão foi o tu/poj do Redentor? A palavra grega significa ―figura‖ ou ―tipo‖, e
que sentido
no significado escriturístico do termo, um tipo consiste de algo mais do que uma similaridade
causal entre duas pessoas, ou um paralelo incidental. Há algo mais que Deus queria nos
mostrar. E claro que desde a eternidade Deus preordenou que o primeiro homem deveria
prefigurar o Filho encarnado de Deus. Mas em que sentido? Certamente não na sua conduta. O
contexto de Romanos 5 torna claro que Adão se tornou o tipo de Jesus em uma posição oficial
que ele assumiu, isto é, como cabeça federal, como o representante legal de outros. Está claro de
Rm 5.12-19 que um age em favor (ou no lugar) de muitos, afetando o destino deles. O que um fez
é considerado a base judicial 40 para o que aconteceu a muitos. Como a desobediência e a culpa
de Adão trouxeram a condenação para todos que foram representados por ele, assim, a
obediência de Um, Cristo, garantiu a justificação de todos aqueles que foram representados por
Ele.
Assim,
eles foram a despeito
certamente de contraste de
representantes entre o tipo
dois e oOAnti-Tipo,
povos. Primeiro eles
Adãopossuíam algo em comum:
foi representante de cada
membro da raça, e o Segundo Adão foi o representante de cada membro do Seu povo. No primeiro
todos morrem, no segundo todos vivem; no primeiro todos são condenados, no segundo todos são
justificados, a justificação que traz vida.
Rm 5.12-19 mostra que todos os membros da raça experimentam o fato de que eles são
culpados por alguma coisa que eles não fizeram pessoalmente. Em Adão nós ofendemos a Deus
em sua ofensa, e cometemos a transgressão em sua transgressão.
A luz do que aconteceu em Gênesis 3, é estranho que Paulo tenha dito que o ―pecado
entrou no mundo por um só homem‖, quando é dito na Bíblia que Eva foi o primeiro ser humano
a pecar. Por que Paulo não disse: ―Portanto, assim como por uma só mulher entrou o pecado no
mundo‖? A resposta é totalmente óbvia: porque o pacto foi feito com Adão. Ele era o
representante da raça humana, não Eva. Foi Adão que recebeu a ordem de Deus, não Eva. Por
esta razão aprendemos a respeito do ―pecado de Adão‖, não a respeito do ―pecado de Eva‖. Paulo
não tratou do pecado de Eva, porque ele estava tratando da matéria da representação neste texto.
Uma outra palavra importante neste verso 12 é a(marti/a (pecado). Aqui, ―pecado‖ não
significa o ato de desobediência pessoal de Adão ou a depravação com a qual os homens são
nascidos. Aqui ele significa culpa. Paulo está tratando de matéria judicial, não simplesmente
dum ato pessoal de Adão. Ele está tratando da ira de Deus que vem sobre todos os homens
porque todos eles são culpados. O texto diz que ―a morte passou a todos os homens porque todos
pecaram‖. Paulo não está tratando dos pecados pessoais deles, mas da culpa que todos têm em
Adão. Murray diz que quando Paulo diz que ―um pecou‖ e ―todos pecaram‖, ele se refere ao
143 Ver 1 Co 15.45-49. Adão foi chamado o ―primeiro homem‖ não simplesmente porque ele foi o
primeiro a ser criado, mas porque ele foi o primeiro a agir como representante legal da raça humana. Neste
sentido, segundo a teologia Reformada, ele é o representante no pacto das obras. Cristo é chamado o
―segundo homem‖, mesmo embora ele tenha vivido muitos milêni os mais tarde, porque Ele foi o segundo
homem a agir como um representante legal. Ele é também chamado ―o último Adão‖ porque não haveria de
haver nenhum outro pacto. Neste sentido, segundo a teologia reformada, Ele é o representante do Pacto da
Graça, fazendo o que o primeiro homem Adão não fez, no chamado Pacto das Obras.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 105/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 106
mesmo pecado visto em seu aspecto duplo: como o pecado de Adão, e com o pecado de toda sua
posteridade.144 E um assunto judicial.
―Assim também a morte passou a todos os homens‖. A morte é uma conseqüência penal
para pessoas culpadas. A meta principal de Paulo era mostrar a conexão entre Adão e sua
posteridade. Todos são considerados culpados por causa da transgressão de um só homem. Por
esta razão Paulo diz em 1 Co 15.22 que ―em Adão todos morrem‖. Eles morrem em virtude de sua
relação
estamospactual,
unidos aaAdão
uniãonolegal
mesmoentre Adãoem
sentido e aque
raça, a quem
vivemos ele representa.
porque Morremos
estamos unidos porque
a Cristo, pelo
mesmo processo de representação. Todos os homens vêm ao mundo sem pecados pessoais, mas
porque eles são representados em Adão, eles são nascidos culpados, debaixo da ira de Deus.
Cada ser humano, seja homem, mulher ou criança, é considerado culpado diante de
Deus. A base de nossa condenação está extra nos 145 , mesmo embora não devamos nos esquecer
de que a Escritura diz que o pecado de Adão é nosso pecado. 1 Co 15.22 diz que ―em Adão todos
morrem‖. Murray assinala
que a morte é o salário do pecado (Rm 6.23) e que a morte não pode ser
concebida como existindo ou exercendo sua função à parte do pecado. Este é o
princípio Paulino: Quando ele diz que ―em Adão todos morrem‖ é impossível, sob
as premissas de Paulo, excluir a antecedência do pecado e o único modo no qual a
antecedência neste caso poderia obter, e que todos são concebidos dele são
considerados como tendo pecado nele. 146
Com isto, ele nega a doutrina da imputação. A única explicação para Godet, a respeito da
relação entre o indivíduo e a espécie é dizer que este ―é o mistério mais impenetrável na vida da
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 106/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 107
Apenas uma ofensa cometida por um homem traz condenação, uma sentença judicial, que
significa ―morte‖ ou ―condenação‖. O contraste é que Jesus Cristo morreu não simplesmente por
aquela única ofensa, mas também morreu por muitas ofensas, nossos pecados pessoais, que
tiveram o seu nascedouro naquela única ofensa. O que Paulo está dizendo aqui é que não há
necessidade alguma de pecados pessoais para que sejamos condenados, mesmo embora Deus
também condene os homens por causa de seus pecados pessoais. O pecado de Adão, a única
148 Ibid.
149 Calvinodiz: ―Todos nós, portanto, temos pecado, porque todos estamos revestidos de uma
corrupção natural, e assim nos tornamos pecaminosos…‖ (Commentary upon the Epistle of Saint Paul to the
Romans, Edinburg: printer for the Calvin Translation Society, 1844), p. 135. Ver também, Robert Haldane,
Commentary on Romans , (Grand Rapids: Kregel Publications, 1988 edition), p. 216.
150 Ver W. G. T. Shedd, Critical and Doctrinal Commentary upon the Epistle of St. Paul to the
Romans , (New York: Charles Scribner‘s Sons, 1879), pp. 127-28.
151 A Vulgata traduz ―in quo ‖ (em quem) e assim também fizeram Palágio e Agostinho. Outros
teólogos Reformados, como Beza e Owen, também traduziram a expressão grega acima como sendo
equivalente a ―em quem‖.
152 Godet, p. 208.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 107/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 108
Rm 5.17 — ―Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito
mais os que recebem a 8hundáncia da graça e o dom da justiça, reinarão em vida
por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.‖
Ambos,
sobre todos a morte por
os homens, e a vida,
causavem atravésdedeAdão.
do pecado um sóO homem.
texto diz A ―morte‖
que é areinou‖
a ―morte sentença
porjudicial
causa
de apenas uma ofensa. De um lado, todos os homens morrem porque eles receberam a
imputação da culpa. Do outro lado, se todos vivem, é por causa do ato de um só homem, Jesus,
que traz vida. Isto é também imputação, mas de justiça, porque para nós ela é o ―dom da justiça‖.
O modus operandi de Deus é o mesmo em ambas, a condenação e a justificação.
da justiça
pessoa de Cristoé se
justificada torna nossa
constituída é a pela
justa uniãoobediência
com Cristo.
deEm outras
Cristo, porpalavras:
causa da a
solidariedade estabelecida entre Cristo e a pessoa justificada. A solidariedade
constitui o laço pelo qual a justiça de Cristo se torna a do crente.‖153
E justo dizer que o mesmo em relação a Adão e sua posteridade. A solidariedade entre ele
e toda a raça é a base para a imputação do pecado. Ambos os atos, o de Adão e o de Cristo, são
imputados, isto é, eles são transferidos de uma pessoa para as outras. O mesmo principio está
evidente nos versos 18 e 19.
Nesta passagem de Paulo, portanto, podemos ver o princípio da representação e a
imputação conseqüente, em ambos os aspectos enfatizados nela: condenação e salvação. Nele
podemos ver a velha humanidade em Adão, e a nova humanidade em Cristo. Nele estão presentes
as duas principais personagens da história humana: Adão e Cristo, símbolos da desobediência e
da obediência, representantes de dois pactos, o das obras e o da graça.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 108/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 109/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 110
notar que a doutrina da imputação do pecado de Adão é mais clara no Catecismo Maior e Breve
do que na própria Confissão de Fé de Westminster.
Objeções:
(a) A corrupção é uma espécie de punição de Deus. Portanto, para que haja punição é
necessário primeiro, que haja culpa. A culpa precede a punição. A depravação (ou morte
espiritual) é a punição de Deus. Então, a imputação do primeiro pecado de Adão precede a
depravação,
(b) Seeessa
não teoria
é a conseqüência dela. deveria ensinar a imputação mediata dos pecados de
fosse consistente,
todas as gerações anteriores àquelas que lhes seguiram, porque a corrupção transmite-se por
meio de geração ordinária.
(c) Se a corrupção inerente que está presente nos descendentes pode ser considerada
como o fundamento legal para a explicação de alguma outra cousa, já não há necessidade de
qualquer imputação mediata.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 110/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 111
CAPITULO IX
Ninguém poderá encontrar a chave do mistério da miséria humana se não recorrer aos
ensinos das Sagradas Escrituras. Nenhuma ciência humana haverá de dar respostas às mais
cruciais perguntas feitas sobre a condição em que vive o ser humano desde que dele se tem
notícia da história. Se quisermos ter respostas, haveremos de encontrá-las somente na revelação
divina como
O queregistrada
aconteceunadoBiblia.
Éden é chave para entendermos a condição atual do homem. Neste
capítulo estudaremos sobre as terríveis conseqüências do pecado para Adão e para a sua
posteridade. Adão é considerado na Escritura o protótipo de toda a humanidade, e seu pecado
está intimamente relacionado com a sua descendência, pois ele agiu, não como um homem
particular, mas como o representante da raça, por causa da sua relação pactual. Se Adão não
houvesse sido o cabeça representativo da raça, os nossos pecados atuais não teriam qualquer
relação com Adão, apenas uma simples imitação, como pensam os pelagianos. Mas a Escritura
trata deste assunto muito seriamente, e não podemos fechar os olhos ao que ela nos diz.
As conseqüências do pecado para ele e para a sua posteridade:
―Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com
Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em
todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma‖ (V, ii).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 111/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 112
todas as vezes que se refere a Adão, tem uma palavra negativa de sua atitude. 154 Não há
nenhuma palavra elogiosa a ele, ou qualquer menção de seu arrependimento, muito menos o
registro de uma confissão sua. A contrário, quando acusado, tentou desculpar-se, colocando a
culpa na sua esposa. Nada na Escritura dá qualquer crédito a Adão, ou que ele tenha recebido a
misericórdia de Deus.
Vejamos agora, a análise do texto de Gênesis que é chave para a compreensão dos
Não percebemos mudança qualquer quando Eva comeu do fruto, mas quando Adão o
comeu, diz a Escritura que os ―os olhos de ambos foram abertos‖. Isto nos dá uma base bem forte
para mostrar que o pacto havia sido feito com Adão. Ele era o cabeça, e dele Deus cobra o pecado.
Adão era o representante legal de sua esposa, tanto quanto dos futuros filhos que viriam deles. E
por isso que até hoje conhecemos esse pecado como ―o pecado de Adão‖, não como ―pecado de
Eva‖.
O que significa ter os olhos abertos? Certamente aqui não se refere aos olhos físicos,
porque estes já estavam previamente abertos. Mas o texto se refere aos olhos do entendimento, ou
os olhos da consciência, que vêem, percebem, acusam e castigam.
O resultado de comerem o fruto proibido não foi a aquisição da sabedoria sobrenatural,
como Satanás
situação havia dito (v.5), mas foi a descoberta triste de que haviam sido reduzidos a uma
de miséria.
Agora perceberam que estavam ―nus‖, que tem um sentido bem diferente de Gn 2.25. Os
olhos deles ―foram abertos‖ e seria de se esperar que o texto dissesse: ―e viram eles que estavam
nus‖, mas ao invés disso o texto diz: ―e perceberam que estavam nus‖. Este verbo demonstra algo
mais do que simplesmente nudez física. O verbo ―perceber‖ aqui dá o sentido de ―sentir‖. Como a
abertura dos olhos se refere ―aos olhos do entendimento‖ (ou ―da consciência‖), concluímos que
eles discerniram o sentido de estarem ―nus‖. Eles perderam a sua inocência. Há a nudez da alma
que é muito pior do a de um corpo sem roupa, porque ela incapacita o homem de perceber a
presença de Deus. A nudez de Adão e Eva foi a perda da justiça original da imagem de Deus. Tal
é a condição em que todos os humanos são nascidos depois deles. E por isso que as Escrituras
falam sobre as ―vestiduras brancas‖ (Ap 3.18), ―vestidos de salvação‖ ou ―mantos de justiça‖ (Is
61.10), indicando uma justiça original que Cristo nos traz de volta.
154 Olhe o testemunho desta verdade no VT — Jó diz que Adão encobriu as suas transgressões (Jó
31.33); O Salmista Asafe (SI 82,7) diz que aqueles que julgam injustamente, morrem como Adão. Obs.: a
palavra hebraica para homem é A dão; observe o testemunho da mesma verdade no NT — Aqui Adão é
contrastado em detalhes consideráveis com cristo (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22, 4547; 1 Tm 2.14. Se Adão
tivesse sido salvo, a antítese falharia no seu ponto principal. como que aqueles que estavam em Adão foram
condenados se o próprio Adão foi salvo? Falharia Deus em Sua justiça?
155 Análise feita com base nas felizes observações de A. W. Pink, Gleanings , pp. 59-68.
156 Não há nenhum indicação na Escritura sobre o tempo em que Adão ficou no estado de inocência,
isto é, sem pecado.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 112/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 113
―Ele perceberam que estavam nus‖ — Perceberam que a sua situação física estava
espelhando a sua condição espiritual. Eles foram tornados dolorosamente conscientes do pecado
e de seus terríveis conseqüências.
2) A segunda conseqüência da transgressão deles foi esta: eles ocultaram o seu real
caráter.
Gn 3.7 — ―e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira, e
fizeram cintas para si.‖
Cosendo cintos para si, eles tentaram acalmar a própria consciência. Da mesma forma os
filhos de Adão fazem hoje. Eles têm mais medo em serem detectados nos seus erros do que
cometê-los, e mais preocupados estão ainda em parecerem bem diante dos homens do que
obterem a aprovação de Deus. O objetivo principal dos homens caídos é aquietar a própria
consciência culpada e parecerem bem diante dos vizinhos. Alguns até assumem o papel de
religiosos, fazendo os outros pensarem que andam decentemente, vestidos.
Até este ponto eles haviam estado preocupados somente consigo mesmos e com sua
vergonha, mas agora tinham Outro com quem se preocupar: o Juiz de toda a terra. Ao ouvirem a
voz de Deus, ao invés de darem boas-vindas a ela, ficaram terrificados e ―esconderam-se da
presença do Senhor‖. 157 Nesta tentativa percebemos a tolice deles. Quem pode esconder-se da
onipresença e da onisciência de Deus?
Quando
objeto da eles pecaram,
sua aversão eles cessaram
e desprazer. de de
Um senso amar a Deus e de
degradação confiar nele.
encheu-os Deus passou
e tiveram a ser
uma terrível
inimizade contra Deus. Assim, esconderam-se dele por causa do seu pecado, aterrorizados.
Temeram ouvir Deus pronunciar uma sentença formal de condenação sobre si mesmos, porque
sabiam bem o que mereciam.
Adão e Eva não somente trouxeram danos irreparáveis sobre si mesmos, mas
tornaram-se fugitivos do Todo Glorioso Criador. Este é puro e aqueles pecadores. Portanto, os
pecadores evitaram o que era puro. Não é assim que acontece com os homens hoje? Gostam eles
de ficar juntos dos que são genuinamente cristãos? Gostam eles da santidade?
Todos os homens têm que comparecer perante o Santo e prestar-lhe contas. Não poderia
deixar de ser assim com o primeiro homem. Só não prestarão contas pessoalmente a Deus
aqueles que tiveram as suas contas prestadas por Jesus Cristo. A menos que o sangue de Jesus
Cristo tenha expiado os nossos pecados, compareceremos perante o Juiz de toda a terra. ―Como
escaparemos nós as
cristão. Examine se suas
negligenciarmos
bases. Peça tão grande
a Deus salvação?‖
para (Hb 2.3).
que Ele sonde o seuNão presuma
coração e lheque você aé sua
mostre um
real condição.
Esta pergunta já era parte do juízo divino, para que Adão visse realmente o que havia
157 Ler Jr 23.24.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 113/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 114
feito. Foi uma pergunta para Adão perceber a distância de Deus que o pecado causou. O pecado
separa o homem de Deus. A ofensa de Adão provocou a perda da comunhão com Deus. Agora, a
pergunta de Paulo, vale claramente: ―Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? ou
que comunhão da luz com as trevas?‖ (2 Co 6.14).
Observe novamente que o Senhor ignorou Eva e dirigiu-se ao cabeça responsável. Deus
havia advertido a Adão a respeito do fruto proibido: ―No dia em que comeres, certamente
morrerás‖. Esta
separação do mortedo
homem não significa
Deus Santoaniquilação, mas
(Is 59.2), que alienação,
culmina comseparação. A morte
a morte eterna espiritual
(2 Ts 1.9). é a
Gn 3.10 — ―Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tive
medo e me escondi.‖
Observe quão incapaz é o pecador para encontrar-se diante da inquisição divina. Adão
não poderia oferecer nenhuma resistência adequada. Ouça a sua admissão: ―Tive medo‖. Sua
consciência o condenava. Agora era a dura presença de Deus que o incomodava. Deus que é o
refúgio para a alma do crente, torna-se o terror para a alma pecaminosa. Adão comparece diante
de Deus destituído de qualquer justiça, justiça essa que nós obtivemos de e em Cristo. Observe a
colocação de Adão: ―Por que eu estava nu, tive medo e me escondi‖. O coração de Adão estava
cheio de horror e terror. Os cintos de folhas de figueira não haviam adiantado nada. Isto acontece
quando
possamoso vestir,
Espírito Santo descobre
o Espírito a alma
nos convence humana.
da nossa A espiritual.
nudez despeito das roupas
Então, religiosas
a alma se encheque
de
temor e vergonha, e ela percebe que vai se haver com Aquele diante do qual ―todas as coisas estão
patentes e descobertas‖ (Hb 4.13).
A esta pergunta Adão não teve resposta. Ao invés de humilhar-se perante o seu Benfeitor,
Adão fracassou em responder. Apenas deu uma desculpa esfarrapada. Se as palavras de Adão no
v. 10 foram devidamente ponderadas, uma omissão grande e fatal deve ser observada: ele não
disse nada a respeito do seu pecado, mas mencionou apenas os efeitos dolorosos que ele
produziu. Mas Deus neste v. 11 dirige-se para a causa daqueles efeitos. Esta pergunta direta de
Deus abriu o caminho e tornou muito mais fácil para Adão reconhecer contritamente a sua
transgressão, embora sem o precioso senso de arrependimento.
Deus não fez estas perguntas porque queria ser informado, mas antes, para providenciar
a Adão uma ocasião de rever o que havia feito. Em sua recusa percebemos a quarta conseqüência
do seu pecado.
Não houve tristeza profunda por sua flagrante desobediência. Portanto, não houve
arrependimento.
Gn 3.12 — ―Então disse o homem: a mulher que deste por esposa, ela me deu
da árvore, e eu comi.‖
Este verso 12 é a resposta à segunda pergunta do verso anterior. Ele não assumiu as
próprias responsabilidades como chefe da família, nem como cabeça da mulher. Simplesmente
transferiu a culpa do pecado para ela. Nem se tocou de que ele era o principal responsável, e que
era dele que Deus cobrava. Esta é a conseqüência mais comum quando os homens pecam. Eles
sempre arranjam uma justificativa para os seus pecados. Esta foi a outra conseqüência.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 114/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 115
auto-justificaram.
Ele tentaram encontrar um culpado pelos seus próprios pecados. Ao invés de confessar a
sua impiedade, Adão tentou lançar a culpa em outro. A entrada do pecado na vida do homem
produz um coração enganoso e desonesto. Ao invés de culpar-se a Si mesmo, lançou a culpa na
mulher. E assim acontece também com todos os seus descendentes. Eles esforçam-se para tirar
a responsabilidade
alguma outra coisa, de sobre
como por os próprios
exemplo, ombros,
ao diabo. Istoatribuindo culpabilidade
é muito comum a para
acontecer outroseser ouda
fugir a
própria responsabilidade.
As palavras do v. 12 mostram quão insolente foi Adão com Deus. Ele não disse
simplesmente: ―A mulher deu-me do fruto e eu comi‖, mas disse ―a mulher que TU me deste...‖ —
Assim, abertamente, ele culpa ao Senhor pela transgressão dele. Em outras palavras, Adão disse:
―Se Tú não me tivesses dado essa mulher, eu não teria caído. Por que fizeste isso comigo?‖—
Observe o orgulho e a dureza de coração que caracterizam o demônio, agora fazem parte do reino
dos homens. E assim ainda hoje com os filhos dos homens. A diferença é que hoje eles são
tentados pela própria cobiça do coração pecaminoso (Tg 1.13). A natureza depravada da criatura
caída é sempre propensa a pensar que a melhor cousa é procurar abrigo na desculpa: ―Se Deus
tivesse feito de outra forma, eu não teria feito aquilo‖. Assim, em nossos esforços de
auto-justificação, desafiamos ao próprio Deus corrigindo-o naquilo que ele faz.
Pv 19.3 diz: ―A estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor que
seu coração se ira‖. Esta é uma das formas mais vis na qual a depravação do homem se
manifesta: após comportar-se como um tolo e de descobrir que o caminho da transgressão é
difícil, o homem murmura contra Deus ao invés de, mansamente, submeter-se à Sua vara. Após
pervertermos os nossos caminhos, não culpemos Deus pelos frutos amargos do nosso proceder.
Visto que somos os autores de nossa miséria, é razoável que fiquemos tristes conosco mesmos.
Mas o orgulho do coração é tal que, evidenciando a nossa inimizade contra Deus, ficamos irados
contra Ele, sendo que nós mesmos somos responsáveis por nossos pecados. E verdade o que a
Escritura diz: ―Não se colhe uvas de espinheiros e nem figos dos abrolhos!‖ - Não acusemos Deus
pelos frutos de nossa própria perversidade! Se fizermos assim, estaremos repetindo o mesmo
pecado de nossos primeiros pais.
A resposta do v. 12 mostra realmente o que aconteceu, mas esta atitude tornou ainda pior
o ato de Adão. Ele era o cabeça e protetor da mulher e, portanto, deveria cuidar dela melhor,
evitando que ela caísse em pecado. Quando ela foi enganada pela serpente, e ele o soube, ele não
deveria seguir o exemplo dela recusando a oferta.
Arão, embora tenha reconhecido o seu pecado, culpou o povo por ser pecaminoso,
tentando eximir-se de culpa (Ex 32.22-24); Assim também fez Saul (1 Sm 15.17-21); Pilatos deu
ordem para a crucificação de Jesus, e atribuiu o crime aos judeus (Mt 27.24).
deveria Arespeitar,
quebra da afeiçãoeentre
proteger amar.o homem e o seu próximo - neste caso sua esposa, a quem ele
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 115/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 116
mesmo curso de Adão. Ela não se humilhou diante do seu Criador, não deu qualquer sinal de
arrependimento, nenhum sentimento de tristeza ou confissão. Ele tratou de arranjar alguém
responsável pelo seu ato. Culpou a serpente. Foi uma desculpa fraca, porque Deus a capacitou
com entendimento para perceber a mentira, e com retidão de natureza para rejeitá-la
prontamente.
Os filhos de Adão fazem o mesmo hoje. E inútil dizer: ―Eu não tinha intenção de pecar,
mas o demônio
homem tentou-me‖. O demônio não pode forçar ninguém a pecar, nem prevalecer sobre o
seu consentimento.
Gn 3.14-14 — ―Então o Senhor Deus disse à serpente: Visto que fizeste isto,
maldita és entre todos os animais domésticos, e o és entre todos os animais
selváticos: rastejarás sobre o teu ventre, e comerás pó todos os dias da tua vida.
Porei inimizade ente ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente.
Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás calcanhar.‖
Antes de pronunciar sentença sobre Adão e Eva, Deus dirigiu-se à serpente, que foi a
causa instrumental da queda deles. Observe que nenhuma pergunta foi feita à serpente. Antes, o
Senhor a tratou como uma inimiga declarada. Sua sentença deve ser tomada literalmente com
relação à serpente, mas alegoricamente com relação à Satanás. Estas palavras de Deus implicam
numa punição
maldição visível,contra
foi dirigida que éoexecutada sobre a serpente,
tentador invisível, Satanás. como instrumento da tentação, mas a
Nestes versos há as sentenças que foram pronunciadas contra Adão, Eva e a terra: Eva foi
condenada a um estado de tristeza, sofrimento e servidão; Adão foi condenado a uma vida de
tristeza e cansaço; e a terra sofre a maldição que até hoje pesa sobre ela (Rm 8.20-23).
9) A nona conseqüência do pecado de nossos primeiro pais foi que o homem desceu ao
nível dos animais.
Gn 3.20-21 — ―E deu o homem o nome de Eva à sua mulher, por ser a mãe de
todos os seres humanos. Fez o Senhor Deus vestimentas de peles para Adão e sua
mulher, e os vestiu.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 116/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 117
Obs.: Moisés, o narrador destas cousas, recebeu de Deus alguns detalhes importantes
como estes do v.20: Eva ainda não havia dado à luz filhos, senão somente depois de serem
expulsos do Éden (isso ilustra o v.16). Adão deu prova do seu domínio sobre a criação (1.28),
conferindo nome à Eva.
Agora, ao invés, de serem como Deus, conhecedores do bem e do mal, foram colocados ao
nível das bestas-feras, tiveram que vestir-se à moda dos animais e comer as coisas que os
animais comiam, que originalmente não era próprio para eles: ―comer das ervas do campo‖.
Então, vem a maldição final:
Gn 3.23-24 — ―O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a
fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins
ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, para
guardar o caminho da árvore da vida.‖
Estar fora do jardim do Éden era o mesmo que estar longe da presença benévola,
reveladora e agradável de Deus. Ser expulso do jardim significa a expressão da ira de Deus pelo
descontentamento com o pecado de Adão. Este tornou-se estranho ao favor de Deus e à Sua
comunhão. Ele foi banido do lugar de prazer e gozo. Tornou-se errante e fugitivo. Assim como
lançou para fora da Sua habitação os anjos que pecaram (Jd 6), Deus também lançou o homem
para fora do lugar da Sua habitação, como prova do Seu desagrado com o pecado.
A CFW também mostra que todos os nossos pecados atuais têm nascedouro no pecado
original:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 117/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 118/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 119
CAPITULO X
O PECADO ORIGINAL
O que é o pecado original? O pecado original tem sido visto como o pecado herdado, mas
herança não explica tudo daquilo que chamamos peccatum oríginale. A culpa, por exemplo, não é
uma matéria de herança. Berkhof diz que este pecado se chama ―pecado original‖ por algumas
razões: 1) Por que se deriva do tronco original da raça humana; 2) Porque está presente na vida
de cada indivíduo desde o momento do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado
como resultado de imitação; 3) Por que é a raiz interna de todos atuais que mancham a vida do
homem‖.158 Berkhof ainda adverte que desse nome ―pecado original‖, jamais deve ser pensado
que ele pertença à natureza constitucional do homem, pois tornaria Deus o autor do homem
pecador.159
O pecado original pode ser dividido basicamente em dois elementos: Culpa Original e
Corrupção Original.
1. CULPA ORIGINAL
A palavra ―culpa‖ tem que ser corretamente entendida. Aqui, neste estudo, não
estudaremos nada a respeito do ―sentimento de culpa‖, que é um elemento emocional do pecado,
nem da imputação dela 160, mas estudaremos o aspecto judicial ou forense da palavra, ou ainda,
a relação que o pecado tem com a lei.
A culpa é o estado no qual se merece a condenação, ou na qual se sente merecer o castigo
pela violação da lei ou de qualquer exigência moral.
Podemos falar de culpa de dois modos:
Reatus Culpae
E a culpa de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Potencial. 161 E a culpa moral
intrínseca do pecador, inerente a ele, que não pode ser separada dele. Ela faz parte da essência
do pecado. Essa culpa nunca se encontra em alguém que não é pessoalmente pecador. Essa
culpa é permanente de tal forma que não é tirada nem com o perdão. Ela pertence à essência do
pecado e é parte inseparável do pecado. Pertence unicamente àqueles que são pessoalmente
pecadores, e lhes acompanha permanentemente. Os méritos de Jesus Cristo não tiram essa
culpa do pecador porque lhe é inerente. Mesmo tendo suas penas pagas, essa culpa ainda
permanece com o pecador. O fato de Jesus Cristo ter morrido pelo pecador, não o torna inocente,
apenas livre da penalidade da lei, justificado, portanto. Essa culpa não pode ser transferida para
outro.
Jesus Cristo nunca teve essa culpa, porque nunca foi pessoalmente pecador. Ela é
própria somente de nós. Mesmo quando entrarmos no céu, haveremos de ir com essa culpa,
embora sem os sentimentos dela. E essa idéia de culpados, que nos acompanha para sempre,
que nos fará adorar Jesus como nosso Redentor, eternamente.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 119/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 120
Reatus Poenae
E a pena de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Real 162 , que denota o castigo ou
pena que vem sobre o transgressor da lei. Ele tem a ver com o edito penal do Legislador que lixa
o castigo da culpa. Esta pena, ou castigo, não é inerente ao pecador. Ela pode ser paga pelo
próprio pecador ou removida pela misericórdia de Deus, através da remissão pelo Substituto dos
pecadores. Nessa culpa o pecador tem a obrigação de render satisfação à Justiça por causa da
violação da lei. Nesse sentido, a culpa não é a essência do pecado, mas antes, uma relação com a
sanção penal da lei.
E nesse sentido que Jesus levou as nossas culpas, isto é, pagando a penalidade do réu.
Nesse sentido, nunca mais seremos culpados, isto é, merecedores do castigo, porque não mais
temos dividas com a lei. Seremos santos e inculpáveis, porque essa culpa pode ser removida pela
satisfação da Justiça.
2. CORRUPÇÃO ORIGINAL
Por corrupção podemos entender a poluição ou contaminação inerente à qual todo o
pecador está sujeito. Esta é a mais inegável das verdades a respeito do ser humano caído: é o
estado pecaminoso que se torna a base do hábito pecaminoso, do qual surgem os atos
pecaminosos.
A corrupção pode também ser vista como uma conseqüência imediata da culpa com a
qual o indivíduo entra no mundo. Todo homem é culpável em Adão, como já vimos, e, portanto,
nascido com uma corrupção original.
A corrupção original do homem inclui duas coisas: a) A ausência da justiça original e b) A
presença de um mal verdadeiro.
Justiça
Ela diz respeito à conformidade com a lei divina. Antes da queda havia total harmonia
entre a natureza moral do homem e todas as exigências da lei de Deus, que sempre foi ―santa,
justa e boa‖ (Rm 7.12). Havia concordância perfeita entre a constituição natural de nossos
primeiros pais e a regra de vida estabelecida por Deus para as Suas criaturas. Na parte mais
interior do ser humano havia uma santa inclinação. A Escritura diz que Deus ―fez o homem reto‖
(Ec 7.29), referindo-se à sua natureza moral, mas esta retidão moral foi perdida pela queda.
Todavia, ela vem a ser restaurada na regeneração do Espírito, mas todos os descendentes de
Adão já nascem sem ela.
Santidade
Esta diz respeito à pureza imaculada do ser que Deus criou. Como a justiça estava em
relação à lei divina, a santidade era a relação direta com o Criador. Nossos primeiros pais
possuíam comunhão plena com Deus. A santidade não era advinda somente da comunhão com
Deus, mas era a natureza moral deles. Não era uma simples separação do mal, mas uma
santidade positiva, uma possessão de tudo o que é bom. No verdadeiro sentido, nossos pais eram
162 Turretin, p. 595.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 120/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 121/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 122
surpresaA inclusive
descriçãonosquecristãos
a Escritura dáestão
que não do homem debaixo da queda
muito familiarizados é estonteante e causa
com ela.
A Bíblia diz: ―Viu o Senhor que a maldade do homem havia se multiplicado na terra, e que
era continuamente mau todo o desígnio do seu coração‖ (Gn 6.5). Estas palavras são graves e
extremamente solenes, especialmente se comparadas com a congratulação de Deus consigo
mesmo, quando da criação do homem: ―Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom‖
(Gn 1.31). Qual é a causa dessa desordem total no interior do homem? E o pecado de Adão, o
pecado da raça. Os desígnios do coração do homem estão totalmente corruptos, e Deus tem olhos
de ira sobre a maldade humana.
Observe que o texto diz que ― todo desígnio é mau‖165 Não há pensamentos e decisões de
santidade no homem não redimido, ainda sob os efeitos da queda. Os pensamentos e os atos
maus têm nascedouro no coração que está infectado de pecado. As disposições que o coração
humano possuem são disposições miseráveis, todas fermentadas pelo pecado. As afeições dos
homens são desordenadas porque provém de um coração envenenado pelo pecado. O
desequilíbrio no homem é generalizado. ―Não há parte sã na sua carne‖. E por essa razão que
―eles fazem o mal continuamente ‖, todos os dias de sua vida, até que sejam renovados pela obra
graciosa do Espírito Santo.
164 LerPv 27.19.
165 Pinkdiz que ―a palavra hebraica para ―desígnio do coração‖ significa a matriz, a estrutura na
qual todos os nossos pensamentos são lançados. Observe que ―todo desígnio‖ é mau, nenhuma boa idéia
acompanha. Toda a maldade é sem alívio. Tudo está contaminado, não somente os atos exteriores, mas os
primeiros movimentos da alma em direção a um objeto. No coração nós temos a fonte de todas as
impiedades que procedem do homem. A lama corrupta dentro de nós está em constante fermentação. O
coração do homem é de tal forma que, entregue a si mesmo, sempre estará produzindo afeições e emoções
desordenadas. Os homens são ―somente mal‖ sem exceção, totalmente assim; não há nada simplesmente
virtuoso entre os homens. Além disso, eles são ―o mal continuamente‘, sem intervalo, todos os dias de suas
vidas, portanto, todas as suas obras são más e infrutuosas.‖ (p. 121).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 122/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 123
do homem desde a sua mocidade: nem tornarei a ferir todo o vivente, como fiz.‖
Esta é a descrição do homem antes do dilúvio. Mas a situação não mudou após o dilúvio.
O coração do homem é sempre o mesmo. Mesmo as águas do dilúvio não foram suficientemente
capazes de lavar a malignidade e o engano do coração do homem. Do começo da sua vida até o
fim, o coração do homem é a manifestação de coisas más. Desde o começo da vida, o coração do
homem já é manchado pelo pecado. Se alguém quer uma prova dessa verdade, ele a pode ver na
criação de nossos filhos. Desde o começo de suas vidas eles revelam uma tendência para as
coisas más. Todas as coisas más têm o seu nascedouro na coração de nossos filhos, desde a sua
concepção.
Jó 15.15-16 — Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são
puros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que
bebe iniquidade como água?‖
Ec 8.11 — ―Visto como não se executa logo a sentença sobre a má obra, o
coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mar‖.
Tal é a perversidade do coração corrupto dos homens que eles abusam da paciência e da
tolerância de Deus. Visto que o julgamento de Deus sobre os homens nem sempre é imediato ao
pecado deles, estes se dispõe a cometer toda sorte de maldade e coisas vergonhosas. Assim
aconteceu nos tempos de Noé. Quanto mais Noé pregava, mais zombadores e violentos eles
foram. Assim também acontece nos dias de hoje. Quanto mais Deus retarda a manifestação da
Sua
paraira, mais os ohomens
praticarem mal. Aoseinvés
afundam nos seus pecados,
de voltarem-se tendo
para Deus, elesocontinuamente
coração cada vez
se mais disposto
apartavam de
Deus, portando-se cada vez mais corruptamente em seu estilo de vida. A atitude deles não é
diferente hoje. Os homens são sempre os mesmos. Enquanto o coração deles não é mudado pelo
Deus Todo-Poderoso, sempre ele será pervertido e praticará coisas más.
Ninguém escapa desta terrível condição. Este é o grande mal debaixo do sol, diz o
Pregador. Por natureza, todos os homens são injustos e cheios de impiedade. O escritor bíblico
aponta que a prática
é essencialmente do mal conduz
diferente ― ao desvario
da sociedade ‖. Nossa sociedade
do coração
do tempo de Salomão, moderna,
é um exemplo claroque não
desse
desvario do coração. Há muitos modos modernos de se expressar a pecaminosidade do homem
(de fato, os pecados são sempre os mesmos, apenas as formas é que variam). Pink diz que ―os
homens são tão enfatuados a ponto de procurarem os seus prazeres nas coisas que Deus odeia.
Eles abandonam todas as restrições da razão e da consciência, enquanto suas paixões violentas
os pressionam em direção ao pecado.‖ 166 Eles não estão satisfeitos com ―os velhos métodos‖ de
166 Pink, p.122.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 123/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 124
pecar. Em sua loucura de coração, eles procuram modos diferentes para expressarem a sua
pecaminosidade, iguais pessoas dementes sem controle sobre si mesmas. Eles são extravagantes
na procura de novas maneiras de pecar. Seus corações estão cheios de desvarios enquanto
vivem. Isto quer dizer que eles pecam desenfreadamente a vida inteira.
Estas manifestações de pecaminosidade só terminarão quando Deus manifestar o seu
julgamento final, ou quando Ele resolver tirar homens ―do império das trevas para colocá-los
debaixoEstes
do reino
são do filho do
apenas Seu amor‖
alguns versos (Cl 1.13). da corrupção do coração, dentro as centenas
a respeito
que existem nas Santas Escrituras do Antigo Testamento.
O Novo Testamento não tem uma imagem melhor do coração humano do que a imagem
apresentada pelo VT. O quadro da condição humana não é alterado quando examinamos
detidamente os vários autores neo-testamentários. Em um sentido, os textos do NT pintam a
condição do homem em cores mais escuras ainda.
Eles não podem parar de pecar por causa do coração pecaminoso deles. Eles são escravos
da corrupção. Esta é a conclusão que o próprio Pedro chega a respeito deles: Pedro diz que eles
engodam as almas ―prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção,
pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.‖ (2 Pe 2.19). Eles são vencidos pela sua
própria natureza pecaminosa. Eles procuram satisfação para os seus desejos, mas nunca se
cansam de pecar. São insaciáveis. Vivem sempre com sede de pecado, e têm prazer na
iniquidade. E por isso que Pedro diz que eles são ― filhos malditos ‖ (1 Pe 2.14). Assim são todos os
homens, embora nem todos manifestem sua depravação da mesma forma e com a mesma
intensidade.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 124/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 125/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 126/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 127
estão familiarizados com a idéia de que Deus é amor, misericórdia, e assim por diante. Contudo,
eles não estão envolvidos com Deus, nem comprometidos com Ele. Eles não O adoram
espiritualmente nem verdadeiramente, como Ele requer. Seus corações estão longe dEle porque,
mesmo conhecendo muitas coisas sobre religião, eles estão cegos e ainda andam em trevas,
sendo enganados por Satanás. É possível ver muitos milhões deles em nosso mundo ocidental,
onde a ―civilização cristã‖ foi implantada.
170
tipo de Segundo, há a cegueira
cegueira pode ser visto daqueles não vivemEssas
mais claramente. debaixo da pregação
pessoas do evangelho.
são ignorantes Este
das verdades
espirituais, e não possuem idéia qualquer de quem Deus realmente é. Eles têm suas próprias
religiões pagãs com as suas formas mais primitivas de adoração da criatura, ao invés da
adoração ao Criador.
Ambas espécies de cegueira são evidência de que os homens estão debaixo do mesmo
domínio do pecado, mesmo embora alguns manifestem mais iniquidade do que outros, devido a
ausência da pregação do evangelho. A cegueira do coração deles é a mesma em ambos os casos,
mesmo embora uns tenham mais informação a respeito da Sua Palavra do que outros. Ambas as
cegueiras impedem o amor a Jesus Cristo.
3. Dureza de Coração
Este é um outro nome para a cegueira do coração. A natureza do coração do homem
natural é dita ser igual ―pedra‖. Ezequiel 11.19 e 36.26 mostram que esta figura é muito
apropriada para caracterizar todos os homens naturais. A tendência do coração dos homens é
inclinada somente para as coisas deste mundo presente, para coisas más, porque o coração
humano é insensível ás coisas espirituais. 171
Zacarias disse que
Nada é mais duro que o ―diamante‖. Esta comparação é muito forte, mas absolutamente
adequada, porque ela mostra a obstinação do coração em fazer o mal. 172 Esta obstinação é
manifesta pela ausência da sensibilidade espiritual. Os homens não estão nem mesmo temerosos
da ira de Deus, porque eles não têm nem idéia do que ela realmente significa. Eles não possuem
senso de culpa de terem ofendido ao Senhor. Por esta razão, eles vivem na prática dos pecados
sem qualquer temor. Pecar é um prazer para eles.
Esta dureza de coração causa no homem uma falta total de interesse em matéria
espiritual. Deus diz a Ezequiel: ―Mas a casa de Israel não te dará ouvidos, porque não me quer
dar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração‖ (Ez 3.7).
Eles odeiam a Palavra de Deus e são inconstantes e infiéis em seu coração. 173
4. Consciência Corrompida
Muitos defensores do Arminianismo tentam apelar para a voz da consciência para indicar
que alguma coisa boa ainda permanece no homem. E verdade que o homem, em geral, ainda é
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 127/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 128
capaz de distinguir o que é certo e o que é errado, mas somente nas ―coisas terreais‖, em matérias
do relacionamento entre seres humanos, não com referência às ―coisas celestiais‖. 174
Mesmo a consciência humana não escapa aos terríveis efeitos do pecado. Paulo, falando a
respeito da consciência dos crentes, diz que ela pode ser ―fraca‖ (1 Co 8.12). A respeito daqueles
que desprezam a Palavra, Paulo diz que eles têm a consciência ―cauterizada‖ (1 Tm 4.2), e
consciência ―corrupta‖ (Tt 1.15). O escritor aos Hebreus também fala da ―consciência má‖
(10.22). Todos
manifestem os julgamento
bom homens naturais possuem
nas ―coisas consciência
terreais‖, ―má‖
mas eles sãoeincapazes
―corrupta‖,
demesmo embora eles
tratar devidamente
com as ―coisas celestiais‖. A consciência do homem natural não tem luz para agir de acordo com
os padrões de Deus. Ao invés de guiar os sentidos do homem, a sua consciência o confunde e ela
não é capaz de dar-lhe uma direção correta. A consciência corrompida tem conduzido os seres
humanos a inventar e a propagar as mais ímpias representações de divindades.
A consciência corrupta não é capaz de dar ao pecador uma atitude positiva para com
Deus. Mesmo embora ela tenha alguma resistência à prática de alguns pecados crassos (e a razão
disto é a opinião pública ou outro interesse qualquer), ela não faz oposição em relação aos
terríveis pecados secretos que manifestam a corrupção interior do coração.
A consciência corrupta é parcial. Freqüentemente, ela toma em consideração grandes
pecados, mas faz oposição aos terríveis pecados comuns que perturbam os homens. Ela ignora
grandes pecados e se preocupa somente com os menores. 175
A consciência
convencer o homem docorrupta nãoAdão
pecado de é capaz
e de de
suaconduzir os homens
necessidade de JesusaoCristo.
arrependimento ou de
As acusações de
uma consciência corrupta não são bastante para produzir bons frutos ou um genuíno
arrependimento, mas são capazes de causar aversão e ódio a Deus.
A consciência do homem natural não é confiável porque o ser interior do pecador é
corrupto. O padrão de conduta da consciência corrupta nunca será o da Palavra de Deus.
5. Escravidão do Pecado
Todos os que estão debaixo do Pacto das Obras também estão debaixo da escravidão do
pecado. Jesus disse: "Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que comete pecado é escravo
do pecado" (Jo 8.34). Ora, se alguém é escravo do pecado, o pecado é o seu senhor. Mas a
Escritura diz que esta escravidão é voluntária. O homem não é forçado de fora a pecar. Ele peca
porque ele quer. Pelo menos, é isso o que Paulo ensina:
―Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência,
desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da
obediência para a justiça?‖ (Rm 6.16)
Ninguém força o homem a pecar. O homem não peca contra a sua vontade. Apenas o
homem obedece às inclinações de sua própria natureza. O domínio do pecado vem de dentro do
próprio homem. Este domínio é natural e congênito, e controla o ser total do homem, porque ele
pervade todas as partes do ser humano, desde a queda.
O pecado é chamado um ―reino‖ na Escritura,176 e reina sobre todos os homens, porque a
posteridade de Adão está sob seu domínio. O pecado está no centro da personalidade humana e
polue e envenena tudo que procede do coração. Este controle poderoso sobre todas as faculdades
da alma humana é vencido somente quando a obra regeneradora do Espírito Santo pára os
efeitos da morte no homem. Antes dessa maravilhosa obra, o homem permanece escravo do
pecado. Rm 6.1-23 é a descrição da escravidão do pecado do homem.
174 Estasexpressões ―coisas terreais‖ e ―coisas celestiais‖ são típicas de Calvino em suas Institutas.
175 Porexemplo: Saul, em 1 Sm 14.33, 34 condenou o povo porque ele havia transgredido um
preceito da Lei, mas ele não teve nenhum problema em matar 85 profetas de Senhor. Aqueles que procuram
matar Jesus Cristo justificaram-se a si mesmos diante da Lei (Jo 19.7). sobre eles está a sentença de Deus
(Is 5.20).
176 Rm 5.21.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 128/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 129
6. Escravidão da Corrupção
Tudo na criação, não somente as criaturas racionais, está debaixo da escravidão da
corrupção. Rm 8.20-21 diz que
―a criação está sujeita á vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele
que a sujeitou,
corrupção, parana esperançada
a liberdade deglória
que ados
própria criação
filhos será redimida do cativeiro da
de Deus.‖
Pedro afirma categoricamente que os homens ― são escravos da corrupção, pois aquele que
é vencido fica escravo do vencedor‖ (2 Pe 2.19). Ninguém está livre desta condição maldita, nem
mesmo os elementos da natureza. A maldição do pecado é a escravidão da corrupção. Esta
verdade a respeito do homem o humilha. Por esta razão, algumas teologias tentam minimizar os
efeitos da depravação do homem.
7. Escravidão de Satanás
Esta verdade bíblica é um das coisas mais terríveis que o Senhor Jesus disse aos homens.
Ele lhes disse que eles eram filhos do diabo e, consequentemente, escravos dele. Esta conclusão
é fácil de ser tirada de Jo 8.44: ―Vos sois filhos do diabo que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes
os desejos.‖177 Todos
os que não eram crentes em Jesus eram obedientes aos ditames do diabo.
Eles não estavam conscientes de sua condição, mas Jesus fê-los saber quem eles eram.
A Escritura diz que todos os homens naturais são filhos do diabo.178 Aqueles que não são
filhos de Deus são, automaticamente, filhos do diabo, porque só há dois tipos de filhos neste
mundo. Não há alternativa. Todo mundo é filho de alguém. Espiritualmente os homens sempre
são filhos de alguém, Deus ou o diabo. E os filhos devem obedecer a seu pai. Por esta razão, Jesus
disse que os homens obedecem os desejos de seu pai, que é o diabo.
Mas a Escritura vai mais longe. Ela diz que o homem natural está
sob th=j e)cousi/aj tou= Satana= (potestade de Satanás)179 e, por esta razão, eles
são ―cativos de Satanás (diabo/lou) para fazer a sua vontade‖. 180
12.26), O
e coração
todos osdo homemnaturais
homens caído, não-regenerado, é o trono de
são servos ou escravos Satanás.
dele. Paulo éEste temclaro
muito um reino (Mt
quando
dirige-se aos ex-escravos de Satanás, dizendo:
O reino de Satanás é um reino de usurpação, porque ele não tem direito algum sobre as
vidas dos homens, mas é um reino, e todos os homens naturais estão sob o seu domínio. Por esta
razão, João disse que, em contraste com os crentes, ―o mundo inteiro jaz no maligno ‖ (1 Jo 5.19).
Desde a queda do mundo houve duas espécies de pessoas: os que pertencem a Deus, e os
outros que estão sob o domínio de Satanás. Deus disse à Serpente: ―Eu porei i nimizade entre ti
(Satanás) e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente (Cristo). Este te ferirá a
177 Este
verso pode ser aplicado a todos os homens naturais porque todos eles encaixam nas
condições daqueles judeus que não criam em Jesus.
178 1 Jo 1.10. Este verso mostra que todos os homens que não praticaram a justiça são filhos do
diabo.
179 At 26.18.
180 2 Tm 2.26.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 129/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 130
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar‖ (Gn 3.15). Estas duas posteridades foram mencionadas por
Jesus Cristo nas parábolas do reino, como sendo ―os filhos do reino‖ e os ―filhos do maligno‖ (Mt
13.38).
Satanás, o deus deste século, pega os homens que vivem escravos do pecado, e tira
vantagem da sua natureza pecaminosa, fazendo-os seus escravos. Paulo diz que o diabo ― cegou
os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃO
Há, todavia, algumas outras verdades a respeito da depravação total do homem que
precisam ser estudadas à luz da Escritura:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 130/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 131
O verso anterior trata da concepção de uma criança. Neste fala da parte seguinte do
processo: o nascimento dela. Mas a idéia fundamental do texto é a mesma. Tanto a concepção
como o nascimento de Davi foram em pecado. Davi não era o único que possuía esta triste
situação.
Esta é uma confissão que bem caberia na boca de todos os humanos. A nossa corrupção
vem do começo da nossa existência, pois a recebemos, de alguma forma, de nossos pais. Pelo fato
de sermos filhos de Adão, todos nascemos depravados. Davi era filho de um casamento digno e
honrado, todavia, recebeu de seus pais a herança maldita da corrupção, com todas as suas más
disposições. Observe, como já vimos, que a culpa é imputada, mas a corrupção não. Ela é
recebida pelo fato de sermos culpados em Adão, mas a recebemos via nossos pais, por geração
natural.
Para entendermos esta verdade, vejamos a antítese dela: Por quê foi necessário para
Cristo ser encarnado sobrenaturalmente pelo milagre do nascimento virginal? Essa era a única
maneira de haver dentro de Maria um ― ente santo ‖ (Lc 1.35), pois se fosse por geração ordinária,
Cristo herdaria a natureza pecaminosa. O que Deus fez? Deus não imputou a culpa de Adão a
Cristo, fé-lo ser concebido sobrenaturalmente, e o livrou da corrupção. Ele não nasceu na
iniquidade porque não teve a imputação e a geração ordinária, não foi contado como
descendência de Adão. Ficou livre da culpa e, consequentemente, da corrupção.
Mas não é assim com os filhos de Adão. Estes já são concebidos e nascidos em corrupção,
poluição moral e espiritual, coisas essas que se externalizam à medida que eles
entram em comunicação com o mundo externo, onde vivem.
Isaías 48.8 diz que somos chamados transgressores ― desde o ventre materno ‖. Por essa
razão é que, quando nascemos, ―já nos desencaminhamos proferindo mentiras‖ (Sl 58.3). Você já
viu, porventura, um pai decente ensinando mentiras aos seus filhos? Nunca! Todavia, os filhos
desse pai mentem, sem nunca terem aprendido a mentir. Essa é uma terrível capacidade
herdada, com a qual vimos ao mundo.
Estultícia é igual tolice. Essa tolice não é meramente uma ignorância intelectual, mas um
princípio positivo para o mal, porque no Livro de Provérbios, o "tolo" não é um idiota, mas um
pecador. A corrupção está profundamente enraizada no coração da criança. O texto diz que a
estultícia está ligada ao coração da criança. Isso significa que o pecado está amarrado, preso,
atado, anexado ao coração. Não existe uma criança sequer livre dessa estultícia.
É por essa razão que ninguém precisa ensiná-la a pecar. Basta que os pais tirem o freio
dela e, então, a corrupção se manifestará em maior ou menor grau. Nessa hora é que um pai vê a
dor que um filho lhe traz e a mãe vem a ser envergonhada por causa daquilo que ele faz (Pv
29.15).
Nosso coração, que é a sede de nosso ser moral, é corrompido desde o ventre materno, e
as nossa iniqüidades estão ligadas a ele. Portanto, somos transgressores desde o ventre materno
por disposição interna antes de sermos por atos externos. Os atos são apenas manifestações de
disposições interiores.
Ef 2.1-3 — ―Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados,
nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os
quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza,
filhos da ira, como também os demais‖.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 131/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 132
Talvez esta expressão seja mais forte ainda do que Sl 58.3, porque ensina que não
somente somos nascidos no mundo com uma constituição corrupta, mas que somos vistos como
criminosos à vista de Deus. A depravação de nossa natureza não é um mero infortúnio: se assim
fosse, despertaria misericórdia e não ira. Os ―filhos da ira‖ são aqueles que merecem a ira,
herdeiros da ira. Eles não são somente criaturas corruptas e manchadas, mas objetos da
indignação judicial de Deus.
culpadas e merecedoras Por que? Porque
da manifestação o pecado
judicial da ira de
do Adão
Deus foi imputado a elas, e elas são
justo.
Igualmente forte é a expressão ― por natureza ‖. Muitos têm negado a corrupção inata,
insistindo no fato dela ser adquirida pelo contato com o mundo mau, e que seus hábitos também
são adquiridos. Alguns crêem que os seres humanos são depravados por um processo de
desenvolvimento, não por causa de uma natureza pecaminosa inata. Mas a Escritura é
absolutamente inamovível na sua idéia de que a gênesis da depravação é a própria natureza com
a qual os homens são gerados e nascidos. A Escritura não negocia esta verdade. Desde o ventre
materno os homens já são objetos da ira divina, por causa da natureza congênita deles. E essa
natureza corrompida deles é um mal penal, em virtude do fato de sermos culpados em Adão.
Justamente o fato de os infantes morrerem na sua infância, mostra que a sujeição á
morte tem algo a ver com a natureza inata deles. A morte, queiramos admitir ou não, é o
resultado da corrupção que afeta todo o nosso ser, desde que nascemos. Se em Adão as crianças
não houvessem
comunicada pecado,
a elas, não elas não mortalidade
haveria estariam sujeitas à morte.
infantil 181. Se a culpa de Adão não houvesse sido
Portanto, desde o ventre materno, os homens têm sido afetados pela corrupção maldita
que os acompanha até o fim de suas vidas, mesmo naqueles que Jesus Cristo salva, através do
lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Quando o Espírito nos regenera, ele não elimina
de um vez para sempre os resultados da corrupção. Ele planta, sim, vida na alma, onde havia
somente morte. Então, essa vida, dom divino, vai se impondo, à medida que crescemos no
conhecimento de Cristo Jesus. E experiência de todos nós, mesmo os crentes mais maduros, o
convívio com o pecado que em nós habita. Triste, mas uma verdade bastante palpável, até que o
Senhor nos leve para o Seu reino e glória.
181 O
fato de uma criança morrer na infância, não significa que ela esteja irremediavelmente
perdida, eternamente. É evidente que todas as crianças que são nascidas neste mundo sejam
espiritualmente mortas, alienadas da vida de Deus, mas se elas estão para herdar a vida eterna, é
necessário que elas sejam renovadas no coração pelo Santo Espírito, que opera independentemente da fé
delas, para que sejam salvas, porque ninguém verá o reino de Deus sem ser nascido de novo. A obra do
Espírito Santo no coração de uma criança é absolutamente necessária para que ela venha a herdar e
desfrutar da vida eterna. Obviamente, o Espírito Santo aplica nela a redenção que há em Cristo Jesus, que
por ela morreu. Portanto, se os infantes estão para ser salvos, é por causa da Eleição do Pai, da Redenção do
Filho e da Regeneração do Espírito. Sem isso, jamais alguém será salvo!
Há os que insistem dogmaticamente no fato de que Jesus Cristo fez expiação pelo pe cado original,
de tal modo que a culpa de nossos primeiros pais não mais está sobre os seus descendentes. Mas este
pensamento é contra a evidência de todos os fatos. Apenas um argumento contrário a ele: obviamente, esse
ponto de vista Arminiano não pode prevalecer porque, se assim fosse, isto é, se a culpa do pecado original
tivesse sido removida por Jesus Cristo, os efeitos dela não mais poderiam continuar, já que a corrupção da
natureza humana é conseqüência da culpa humana. Se Cristo removeu a culpa dos homens do pecado
original, então a raça toda deveria voltar ao estado em que originalmente foi criada.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 132/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 133
"Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a
cabeça está doente e todo o coração enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça
não há nele cousa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e
outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo." (1.5-6)
Paulo mostra a imundície generalizada do homem de outra maneira, quando insta-os a
serem purificados dela, dizendo: "Tendo, pois, amados tais promessas, purifiquemo-nos de toda
a impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus"
(2 Co 7.1). Corpo (carne) e alma (ou espírito) indicam o homem total, que está corrupto. Esta
poluição moral estende-se aos pensamentos e imaginações, assim como às palavras e às ações.
Quando dizemos que essa depravação total afeta a totalidade do ser humano, estamos
dizendo que cada elemento constituinte da natureza humana, isto é, o corpo e as faculdades da
alma, sofrem a poluição do pecado; estamos dizendo que não há nenhuma
parte sã no homem, que não há nenhum bem espiritual nele.
Esta depravação afeta:
1. O CORPO
A queda do homem trouxe conseqüências sérias para o nosso organismo físico. A vida
física do homem é cheia de fraquezas e enfermidades. Estas são a grande angústia do ser
humano, desde a queda. Estas são a maior luta da humanidade e seu maior fardo, porque
resultam em tremendos desconfortos e, freqüentemente, em dores agonizantes. Essas coisas não
aconteciam no Éden, nem teriam acontecido se não fosse a queda. Quando da redenção final,
édito que o homem não mais terá incômodos, dores não haverá, nem lágrimas, morte, etc. 182 As
182 Ap 21.4 diz: E Deus ―lhes enxugará dos olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, já não
haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram‖; Ap 22.2 diz: ―No meio da sua
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 133/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 134/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 135/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 136/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 137/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 138
fascinam e dispõem a alma a favor ou contra qualquer atitude ou pessoa. As disposições afetivas
são controladas por essa faculdade de nossa personalidade. E somos seres extremamente
conduzidos por nossas emoções. As coisas tornam-se agradáveis ou desagradáveis através dessa
faculdade que tem um grande controle sobre os nossos sentidos físicos.
Na verdade, os juízos do intelecto e as sensações das afeições é que determinam, em
alguma medida, as decisões da vontade do homem.
a alma No princípio,
humana Deuso criou
possuía o homem correto,
entendimento à Sua própria imagem
as afeições e semelhança,
ordenadas, de tal modo
e a vontade que
fazendo o
que devia. Todo o complexo do ser humano era voltado direta e corretamente para Deus. Mas
quando houve a queda, tanto o seu entendimento como a vontade e as afeições ficaram afetados
seriamente, divorciados de Deus.
Originalmente, as afeições humanas eram direcionadas e ordenadas devidamente. Com a
queda, nossos pais começaram a desejar somente aquilo que era contra a vontade de Deus. A
alegria deles não mais era o Senhor, mas a própria criatura. De lá para cá, a posteridade de Adão
tem seguido o mesmo caminho, tendo afeições mais elevadas para com a criatura ao invés de
tê-las com o Criador. Houve rebelião e reversão das santas afeições da alma. Então, o prazer dos
filhos de Adão concentrou-se não mais na lei do Senhor, mas nos apetites desordenados das
próprias afeições.
Essa reversão das afeições mostra que o homem está sem paz, inquieto, sem repouso,
sem morte, sem razão de existência. Isto porque ele está apartado de Deus, por causa da
perversidade do coração (Hb 3.12). O homem não é feliz no que é e no que faz. Ele não mais
conheceu o que é a alegria do Senhor. Somente depois de tê-la, e de perdê-la temporariamente,
por causa de seus pecados, é que Davi reconheceu: "Volta, minha alma ao teu sossego, pois o
Senhor tem sido generoso para contigo" (Sl 116.7). Deus não era somente o prazer daqueles a
quem havia feito à Sua própria imagem, mas também era o fim principal dos motivos e ações dos
homens. Mas estes "se esqueceram do manancial de águas vivas" (Jr 2.13), a fonte perpétua de
seu conforto e gozo. Agora, após o incidente edênico, o prazer dos homens não mais é Deus. As
afeições deles estão desordenadas, e os seus gostos reversos, porque andam agora "segundo as
suas ímpias paixões".
As afeições que deveriam estar em harmonia com a criação original, estão agora todas
fora da sua forma original. O homem não mais é guiado por uma razão correta, mas por suas
afeições desordenadas. Isso fica muito evidente na maneira contemporânea de agir: os homens
agem hoje pelos sentimentos. Isto é claro até nas formas de culto e das suas avaliações
teológicas. A frase mais comum hoje é: "Eu sinto bem fazendo isto". O homem hoje é controlado
pelos sentimentos, em detrimento de outras partes da faculdade humana, que devem viver, em
equilíbrio e interrelacionadas. As emoções e os sentimentos estão no trono do ser humano. Não
seria mal se as nossas afeições fossem santas afeições, em equilíbrio com a verdade de Deus, mas
esse é o grande problema. Tudo está desordenado. Deus colocou um anelo de paz e alegria no
coração do homem, mas que estas coisas pudessem ser encontradas somente nele, mas os
homens não O querem e, como conseqüência, essas belas afeições ordenadas não estão
presentes no ser humano. Este perdeu todas as santas capacidades afetivas para com o seu
Criador, tendo prazer somente nas coisas terrenas. Nunca o seu prazer estará na lei do Senhor,
nem meditará nela, até que suas afeições sejam reordenadas pela divina obra redentora.
O homem caído tem afeições pela riqueza, pelo prazer sensual, pelo poder, pela honra,
mas nunca no evangelho, porque este não lhe oferece estas coisas. Veja que inversão de afeições!
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 138/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 139/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 140
As paixões dos homens são as correntes imundas que procedem da fonte poluída dos
corações dos homens. Elas são os primeiros movimentos pecaminosos da alma que acabam por
conduzir aos atos pecaminosos abertos. Eles são os primeiros movimentos ilegais de nossos
anseios pecaminosos que precedem os pensamentos estudados e deliberados da mente.
Veja o texto de Rm 7.8 - "Mas o pecado (que é a fonte inerentemente corrompida),
tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim (esse "despertou" sugere a idéia de uma
disposição
inerente é poluída ou uma
um princípio propensão
poderoso, para
que o mal, distintaexerce
constantemente dos atos queinfluência
uma ela produziu.
má, Oestimula
pecado
afeições impuras), toda sorte de concupiscência (desejo lascivo, luxuria, sensualidade); porque
sem lei está morto o pecado."
A depravação do próprio coração é que induz o homem a ouvir os cochichos de Satanás.
Se assim não fosse, nenhuma solicitação para fazer qualquer coisa errada vingaria, ou teria
qualquer força n~ vida dos homens. A disposição interior das afeições é que facilitam aos apelos
externos serem realizados. A eficácia de uma tentação está diretamente vinculada à
predisposição do coração concupiscente, na propensão da natureza caída. Quando a nossa
corrupção nativa é convidada a fazer algo externo que promete lucro e prazer, e as paixões são
atraídas por esse algo, então a tentação começa e o coração vai atrás. Visto que os caídos são
influenciados por sua concupiscência, esta domina a ambos, a mente e a vontade, de quem elas
são, em algum sentido, servas. E por isso que Paulo fala: "vejo nos meus membros outra! lei" (Rm
7.23). E uma lei imperiosa, forte, que tem domínio sobre o homem total.
Tg 1.13-15 - "Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque
Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário,
cada um é tentado por sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a
cobiça, depois de haver concebido, dá á luz o pecado; e o pecado uma vez
consumado, gera a morte."
Estes versos delineiam a origem de todo nosso pecado. Estas palavras mostram que o
pecado invade o nosso ser interior gradativamente; elas descrevem os diversos estágios antes de
o homem pecar exteriormente; elas revelam uma causa geradora de todo o pecado. Os nossos
pecados descansam no pecado que habita em nós, isto é, na nossa concupiscência. A
concupiscência é o ventre e a raiz de todas as nossas manifestações de maldade.
O texto
de nossos diz que
pecados "cada ou
no diabo, umemé tentado por
Deus. De suaa própria
fato, culpa decobiça"
nossosNão podemos
pecados está colocar o ônus
dentro de nós.
Não podemos desprezar nunca o que há dentro dos corações dos homens, suas afeições sujas,
suas inclinações corruptas, sendo devidamente conduzidas por Satanás, que nos conhecem
muito bem, pelo simples fato de lidar com a natureza pecaminosa por milênios. Ele sabe o
trabalhar conosco, mas a culpa do pecado é nossa. A "cobiça" é nossa, de ninguém mais. A
palavra "cobiça" no texto significa "um anelo por", um "desejo de obter algo". Ela é tão forte que
leva a alma aos objetos proibidos. Ela é tão forte que o texto diz que "a cobiça o atrai e seduz". A
cobiça alicia, induz, porque não há forças no homem que o levem a combatê-la. Nada no homem
obsta o caminho que a cobiça traça. Então, o homem cai. E porque o homem falha em resistir, é
que o pecado se torna mais atraente, e a sedução é mais fácil. Isto quer dizer que a cobiça impele
com força. Ela empurra o homem para a consecução do pecado. A força impetuosa desse desejo
exige a realização dele. As paixões, a concupiscência interna (que é a cobiça), levam a vontade do
homem"Então
ao controle e, o pior
a cobiça, de tudo,
depois é que
de haver ele sempre haverá
concebido..." - O ato de sentir culpa
pecaminoso pelo
está que faz.
embrionário, lá
bem dentro do coração. Então, as outras faculdades da alma começam a trabalhar para fazer
nascer aquilo que foi concebido. Então, a mente trabalha e a vontade passa a funcionar,
querendo o término daquilo que foi começado. "E o pecado, uma vez consumado, gera a morte"-
Esta é o salário e a colheita daquilo que foi plantado. Este é o progresso dentro de nós.
Da queda para cá, os homens todos já vem governados pelas afeições indevidas. As
faculdades da alma não mais andam em equilíbrio. As emoções controlam o homem moderno de
tal forma que um sentimentismo ("feelism") determina todas as coisas presentemente. As
"paixões" desordenadas, descontroladas pelo ser interior, são os órgãos comandantes do ser
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 140/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 141/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 142/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 143/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 144
écorrupção da vontade
a faculdade do homem,
executiva de tudo não crêem
o que estána depravação
dentro total. Temos
do homem. que crer que
Ela meramente a vontade
apresenta os
ditames do ser mais interior do homem. Ela é uma escrava da condição do homem.
Se alguém crê que a razão humana pode entender perfeitamente a vontade de Deus; se
alguém crê que as afeições estão perfeitamente dirigidas para Deus, então ele pode crer que a
vontade é capaz de apresentar "coisas celestiais". Mas esta não é a condição do homem. O
coração é desesperadamente corrupto e tem aversão ás coisas espirituais.
Pink corretamente diz: "A queda tem cegado a mente do homem, endurecido o seu
coração, desordenado suas afeições, corrompido a sua consciência, e incapacitado a sua
vontade"197, de tal modo que "desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa Sã, senão
feridas, contusões, e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem
amolecidas com óleo" (Is 1.6).
A vontade simplesmente obedece a própria natureza pecaminosa do homem. Portanto, a
vontade está sempre pronta a fazer coisas más. Ela está amarrada à condição depravada do
coração do homem. A dependência da vontade das outras faculdades e do coração não é somente
um ensino lógico, mas é fácil de encontrar provas disto na Escritura. Este ponto será
tratado na próxima parte deste trabalho. Porque todas as faculdades da
alma humana São corruptas, por virtude da corrupção do coração, o
homem está totalmente paralisado, incapaz de dar qualquer passo em
direção ãs coisas espiritualmente boas, isto é, agradáveis a Deus. Esta
doutrina é chamada incapacidade moral ou incapacidade total do homem.
INCAPACIDADE TOTAL
A doutrina da incapacidade total é o resultado da depravação total. Já explicamos a
depravação do coração do homem e de todas as suas faculdades.
Agora a questão a ser feita é esta: Como pode a vontade humana decidir apresentar atos
espiritualmente bons, ou ter a capacidade de escolha contrária, se ela é determinada pela
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 144/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 145
condição do coração? Tem o homem poder moral para apresentar atos contrários ã sua natureza?
Aqueles que tentam estudar sobre a capacidade moral do homem, sem levar em conta a
depravação total do homem, cometem um sério engano.
Após 1618, quando os Remonstrantes tiveram sua proposta rejeitada pelo Sínodo de
Dort, a causa que eles defenderam começou a expandir e a se espalhar através de todo o mundo
cristão protestante. Hoje, a grande maioria dos cristãos não católicos, sustenta a posição de que
a vontade odomelhor
pensarem homem é capaz
sobre de apresentar
si mesmos, atos moralmente
e se esquecerem do que abons. E natural
Escritura para
diz que elesos homens
são, e sua
conseqüente incapacidade espiritual. Os Arminianos tentaram diminuir a natureza do estrago
causado pela queda, sustentando uma capacidade moral que, na verdade, foi perdida no Éden.
Em geral os Arminianos, que São uma versão similar, mas modificada, do
Semi-Pelagianismo, dentro dos círculos Protestantes, espalhados por todas as denominações,
afirmam com o metodista Wakefield que "as volições São perfeitamente livres de toda coação, seja
de fora ou de dentro." 198 Wakefield está absolutamente certo quando assevera que nada de fora
força o homem a tomar qualquer atitude, mas ele está totalmente enganado em relação ao de
dentro. Há alguma coisa na natureza humana que impede o homem de agir moralmente bem, ou
contrário à sua própria natureza. Mas Wakefield insiste que as volições dos homens podem ser
diferentes daquilo que o homem é. Criticando aqueles a quem ele considera partidários do
―necessitarianismo‖ (Lutero, Calvino e Jonathan Edwards), ele diz:
Vejamos dois enganos importantes nesta citação: 1) Ele assevera de um modo negativo
que o homem é capaz de apresentar atos que São contrários a sua natureza; 2) Ele deduz que o
homem é considerado responsável somente quando ele apresente uma ação independente de sua
própria natureza, sem ser forçado de dentro. Portanto, ele crê que a vontade é independente da
condição do coração humano e das outras faculdades. Uma pessoa só pode ser considerada
culpada se ela pratica atos com sua vontade independente. De outra forma, ela é inocente.
Como Wakefield, assim pensa a grande maioria dos Arminianos. Eles se esquecem de que
a vontade está debaixo da influência da razão e das emoções, e debaixo do controle da ser mais
interior do homem, que é seu coração ou natureza. E uma questão de necessidade de
imutabilidade,200 isto é, os atos do homem não podem ser diferente daquilo que ele é, porque ele
está condicionado por sua natureza pecaminosa.
A descrição da natureza corrupta do homem não é precisa no Arminianismo. Eles crêem,
com a Escritura, que o homem está espiritualmente morto, mas o problema é saber o que eles
entendem por "morte", porque eles asseveram que o homem é moralmente capaz de dar o
primeiro passo com relação a Deus (como fazem os Semi-Pelagianos) ou responder positivamente
à chamada do evangelho, tomando uma decisão a respeito de sua própria salvação, sem ter a
necessidade de serem primeiro regenerados pelo Espírito Santo.
Se o homem fosse capaz, através de sua própria capacidade moral, de exercer um
julgamento moral com
agindo de acordo correto,
essapor que desde aSeQueda
"capacidade"? temostem
o homem a grande maioria dos
esta capacidade homens
moral, não
por que
muitos deles não vêm a Cristo? Pensam eles que este assunto é apenas uma matéria de
198 Samuel Wakefield. A Complete System of Christian Theology , (Cincinnati: Walden and Stowe,
1868), p. 317.
199 Wakifield, p. 320.
200 Martinho Lutero havia feito a distinção entre Necessidade e Compulsão em sua disputa com
Erasmo: ―Por necessidade eu não quero dizer compulsão ; mas (como eles a denominam) a necessidade de
imutabilidade”. The Bondage of the Will, (Grand Rapids: William Eerdmans Publishing Co., 1931), p. 72.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 145/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 146/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 147
capacidade de distinguir corretamente entre o que é bom e o mal, o verdadeiro e o falso, Deus e as
outras deidades. A incapacidade moral causa no homem uma indisposição para com os padrões
de Deus para si próprio, mesmo embora ele seja capaz de admirar as qualidades boas em outros
homens.204
A capacidade moral, por outro lado, "não é nada mais nada menos do que uma santa
natureza com santas disposições; é a percepção da beleza de Deus e a resposta do coração à
205
excelência
Emeque
glória de Deus."
sentido Estanatural
é o homem capacidade o homem
moralmente perdeu com
incapaz? o pecado.
A resposta a esta pergunta é
muito longa. O homem pode manifestar sua incapacidade de várias maneiras. A Escritura é
muito clara e rica em textos sobre este assunto, e os Arminianos têm enormes dificuldades para
explicá-los. Esta matéria é uma espécie de golpe mortal para a teologia Arminiana. Por esta
razão, eles a odeiam, e acusam o Calvinismo de negar a responsabilidade humana.
Primeiro, vamos analisar aquilo que é relacionado com assuntos éticos:
Ele não tem senso de pecado, nem sente o peso dele. Esta insensibilidade moral é comum
a todos os homens naturais. Se não fosse assim, isto é, se todos os homens tivessem uma
consciência e sentissem dor por causa do fato deles estarem perdidos, e sujeitos à condenação,
todos eles estariam em desespero, procurando por uma solução para seus problemas em Cristo.
Mas eles não possuem esta sensibilidade moral. Não estão cônscios de sua depravação e estão
satisfeitos com a condição nas quais vivem, e eles não possuem nenhum interesse em ter uma
natureza diferente,
algumas virtudes dosdiferentemente daqueles que eles
cristãos, mas curiosamente Sãonão
cristãos. Eles para
as querem São capazes de Eles
si mesmos. admirar
não
querem ser cristãos. Por essa razão, eu creio que eles gostam da condição em que
vivem, porque ela se encaixa na disposições dos corações deles.
Se alguém diz que Jesus Cristo morreu sobre a cruz pelos pecados deles, isto não causa
nenhum impacto ou senso de culpa neles porque, de acordo com seus corações, o que aconteceu
na cruz não tem nada a ver com eles. Eles não possuem qualquer espécie de sentimentos
relacionados aos padrões de Deus. Eles não se preocupam em obedecer às leis de Deus porque
eles servem de lei para si mesmos. Eles criam seu próprio estilo de vida.
A insensibilidade deles está ligada à dureza de seus próprios corações. Paulo diz que eles
vivem com seus corações endurecidos e que eles "se tornaram insensíveis" 207 a respeito de
apresentarem qualquer espécie de pecado. A Escritura diz que eles possuem um "coração de
204 Um exemplo é Herodes, um homem sem capacidade moral que, contudo, admirava João Batista,
por suas boas qualidades, personalidade e pregação (Mc 6.20).
205 Pink, p. 236.
206 Pink, p. 168.
207 Ef 4.19. O verbo grego para ―tornaram-se insensíveis‖ é a\phlghko/tej , apontando que os homens a
quem Paulo se refere, ―haviam cessado de preocupar-se‖, isto é, eles não possuíam qualquer sensibilidade
por coisas espirituais. A conseqüência é que eles acabaram se entregando à sensualidade cometeram toda
sorte de impureza. ―Quando as pessoas continuam em pecado e apartam-se da vida de Deus, eles se tornam
apáticos e insensíveis a respeito de coisas morais e espirituais‖ (Charles Hodge. A Commentary on the
Epistle to the Ephesians, (Nem York: Robert Carter and Brothers, 1856)), p. 254.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 147/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 148/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 149
"...para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda
o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os
olhos dos vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança nos santos..."
Segundo Pink,
O homem reteve todas as coisas necessárias a fim de continua sendo um ser humano,
isto é, sua racionalidade, responsabilidade e uma constituição moral. Mas ele perdeu
completamente o grande principio da santidade e da retidão moral. Ele perdeu sua justiça
original, que o capacitaria a obedecer moralmente.
213 Pink, p. 235.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 149/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 150
Essas pessoas, com o pendor da carne, não possuem a habilidade para amar a Deus e à
Sua Palavra, a menos que a Graça intervenha.
Diversas vezes Jesus disse que as pessoas O odiavam, 214 mas certa vez Ele disse, com
profunda tristeza de alma: "Eles odiaram-me sem motivo" (Jo 15.25). Jesus não havia feito nada
errado para receber esse ódio. A causa do ódio estava dentro do coração deles. Onde o ódio está,
há a impossibilidade de haver amor. Ambas as coisas não podem coexistir. Este ódio foi
manifesto na rejeição dele: "Mas os seus concidadãos O odiavam, e enviaram após ele uma
embaixada, dizendo: Não queremos que este reino sobre nós" (Lc 19.14). Jesus contou esta
parábola para ilustrar o ódio deles pelo grande Rei. Era um ódio voluntário, deliberado, que se
evidenciava numa rejeição propositada. Eles perderam a capacidade de amor Aquele que tanto
amou pecadores! Isto é incapacidade moral!
Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se
guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos
farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. 215
Por que os fariseus, que odiaram Cristo, perseguiram Pedro e João, colocando-os na
prisão? Por que eles perseguiram Estevão até a morte? O ódio que eles tiveram para com aqueles
que eram filhos de Deus foi, em última instancia, um ódio contra Deus. Por essa razão Jesus
disse ao perseguidor dos cristãos: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
(At 9.4). Se um homem natural não tem qualquer amor pelos cristãos, é
porque eles odeiam ao Salvador deles. É impossível para o homem natural
amar aqueles que pertencem Aquele a quem odeiam. Pelo simples e
glorioso
conhece",fato
e de que somos
o mundo não chamados filhos
nos conhece de Deus,
"porque nãoo mundo "não
conheceu a nos
Ele
mesmo". 216
Quando o homem natural, que não tem o amor pelo Senhor, está envolvido com os
214 Jo15.18, 24.
215 Vejatambém Mt 5.11-12; 10.22; 24.9; Mc 13.13; Lc 21.12, 17; Jo 15.18, 19; 17.14; 1 Jo 3.13.
216 1 Jo 3.1 – É justíssimo interpretar este verbo ―conhecer‖ hebraisticamente, significando uma
relação de intimidade, de preocupação especial, uma relação de amor.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 150/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 151/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 152/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 153
Esta é uma incapacidade natural. É espantoso que alguns cristãos ainda digam que o
homem seja capaz de responder ao chamando de Deus no evangelho sem primeiro ser renovado
pelo Espírito Santo!
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 153/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 154/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 155
PARTE IV
A CONDIÇÃO
DO HOMEM NO
PLANO REDENTOR
DE DEUS
(A DOUTRINA DO PACTO)
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 155/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 156/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 157
disposição
Não deve ser doesquecido
Filho em realizar todas astoda
que a Trindade cousas propostas
participa destepor Deus
pacto, para
pois a salvação
Is 48.16-17 dádo pecador.
a entender
que o Espirito Santo também é enviado do Pai para realizar a Sua vontade neste mundo,
juntamente com o Filho. Contudo, é mais comum dos textos a idéia de um pacto onde o Filho e o
Pai são as partes contratantes mais expoentes. O próprio Jesus Cristo falou que o Pai entrou em
pacto com ele, embora as nossas traduções não deixem a idéia clara. Veja o texto de Lc 22.29
"Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio." No grego, contudo, a idéia é
diferente. A palavra traduzida como "confiou e o verbo que significa "entrar num pacto". O verbo
grego é diati/qemai de onde vem a palavra "pacto" – diaqh/kh. Deus pactuou com Cristo para lhe dar
um reino, e nós somos parte desse reino, portanto, parte da herança que Deus deu a Cristo.
Deus, ante a incapacidade do homem de expiar os seus próprios pecados, fez um pacto
com Cristo de salvar alguns membros da raça caída em Adão. O próprio Deus, na pessoa de Seu
Filho, compromete-se a realizar e tornar eficaz esse pacto. O Filho seria o Mediador, a vítima
expiatória, o resgate e o Salvador dos beneficiários históricos do pacto.
O Pai e o Filho tomam a decisão comum de salvar criaturas caídas. O Pai seria o
representante da Trindade e o Filho o representante dos caídos, mas eleitos.
A Escritura mostra de maneira inequívoca que o Filho veio ao mundo para realizar uma
tarefa que o Pai lhe havia entregue, uma obra em favor dos homens, realizando a vontade de Seu
Pai.
Vejamos a análise de alguns textos:
Estas palavras são como que colocadas nos lábios de Cristo, como fizeram outros
escritores do VT. O Verbo é eterno. Num tempo quando ainda não havia tempo, a Trindade
entabulou um acordo. Desse acordo surgiu a decisão de enviar o Filho para a Redenção do
pecador e o Espírito para aplicá-la. Por isso que é dito que «o Senhor Deus me enviou a mim e o
seu Espírito." O Filho e o Espírito são enviados ao mundo para cumprir um propósito redentor da
Divindade. O texto diz que essas pessoas são enviadas, o que indica um acordo prévio entre elas.
Jo 5.30 – ―Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma porque ouço, julgo. O
meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele
que me enviou.‖
JO 6.38-40 – ―Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade;
e, sim, a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é
esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 157/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 158/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 159/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 160
(c) O Pai
dar proteção ao daria
corpo ao
de Filho,
Cristo,como
Sua recompensa por Sua
Igreja (Jo 14.26; obra
15.26; perfeita, At
16.13-14; o Espírito
2.33). Santo que iria
(d) O Pai daria ao Filho uma semente numerosa, como recompensa por Sua obra
cumprida. Essa semente é de uma multidão numerosa que ninguém pode contar. Virão pessoas
de todas as terras, povos, línguas e nações (Si 22.27; 72.17; Ap 7.9-10; Mt 8.11).
(e) O Pai daria ao Filho toda a autoridade e poder nos céus e na terra para o governo do
mundo e de Sua igreja (Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.9-11; Hb 2.9; JO 17.5).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 160/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 161
imposição
‗ebhah) só édivina
sobre
aplicável
as criaturas
a seres racionais,caídas.
A palavra
não a animais. É ahebraica
para
inimizade
―inimizade‖
entre
(
hfby")
seres morais
–
que são
livres agentes. Deus não instiga ou simplesmente promova a inimizade, mas decreta a existência
dela, fazendo com que os laços entre as duas sementes sejam quebrados.
Após a imposição da penalidade sobre a serpente e a mulher, Deus anuncia a vitória da
semente da mulher sobre a semente da serpente. E uma promessa divina que é imposta
soberanamente, onde Deus resgata e traz o homem novamente em misericórdia e graça.
Esta promessa graciosa de Deus é incondicional. Deus simplesmente impõe todas as
condições para o cumprimento dessa promessa. Toda a história da redenção está amarrada a
esta promessa e todos os eventos redentivos mostram como Deus interveio sobrenatural e
soberanamente na vida dos homens.
Aliás, Deus quase que sempre interviu incondicionalmente em matéria pactual. Foi assim
que Ele fez com Noé, Abraão, Jacó, Davi, etc.
AS PARTES CONTRATANTES
No aspecto eterno do pacto da graça o pacto é entre o Pai e o Filho, e na revelação histórica
dele, Deus entra em acordo com o pecador eleito em Cristo Jesus.
Definição: ―O pacto da graça é um acordo entre Deus e o pecador eleito; de sua parte,
Deus declara sua livre boa-vontade a respeito da salvação eterna, e todas as cousas relativas a
ela, que livremente são dadas aos que estão no pacto através de Cristo, o Mediador; por sua vez,
o homem mostra sua boa-vontade através de uma fé sincera.‖ 226
AS PROMESSAS DO PACTO
AS CARACTERÍSTICAS DO PACTO
É um Pacto Gracioso
ASPECTOS DO PACTO
Relação Legal
Relação de Comunhão de Vida
226 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God and Man, vol. 1, 164.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 161/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 162
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 162/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 163/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 164
Neste pacto Deus resolve preservar o homem e as espécies (Gn 6.18-20) para estabelecer
um novo começo. Por esta razão, Noé e sua família são exortados a fazer o mesmo que foi
ordenado aos nossos primeiros pais e às espécies: "Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e lhes
disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra" (Gn 9.1,7).
Aquilo que foi prometido a Adão no Éden, isto é, a capacidade de dominar sobre os
animais (Gn 1.28), tem o paralelo no Pacto com Noé. Robertson diz que
Mas ainda assim o homem continuaria a ter o domínio sobre os animais, não somente
porque isto é parte da imagem de Deus nele, mas como produto também de uma relação pactual.
Se, por um lado, o pacto com Noé estabelece a ligação com o pacto da criação, por outro,
ele também nos conecta aos pactos redentivos subsequentes, quando nos aponta para a
libertação que Deus nos dá da morte e da destruição. A redenção para a qual este pacto aponta é
muito mais
redenção do ampla
cosmos,doo que inclue
simplesmente a salvação da alma do pecador. Ele aponta para a
o homem.
O pacto com Noé é uma antecipação da redenção futura e final do povo de Deus. O profeta
Oséias, quando fala da redenção final do povo, usa praticamente as mesmas idéias contidas
basicamente no pacto de Deus com Noé (cf Os 2.18 com Gn 6.20; 8.17; 9.9,10).
O pacto com Noé, portanto, é o elo de ligação entre a criação caída e o indício da criação
redimida.
"o pacto com Noé permanece em sua infalibilidade como um tipo de uma
perpetuidade ainda maior da promessa do juramento de redenção feito por Deus.
A promessa a Noé tem seu limite na crise escatológica que trará o céu e a terra a
um fim, mas embora naquela catástrofe final as montanhas fujam e os montes
sejam removidos, todavia ainda assim a amabilidade de Deus nunca se apartaria
de Israel, nem o pacto da sua paz seria removido." 231
A cessação das estações só acontecerá com a catástrofe final narrada em 2 Pe 3.10, onde
todos os elementos serão destruídos, mas enquanto esta terra durar, isto é, enquanto ela estiver
nas condições em que está agora, as estações continuarão, como produto da fidelidade de Deus
para com Sua promessa.
229 Robertson, p. 110.
230 Vos, Biblical Tehology, p. 66.
231 Vos, p. 66.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 164/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 165
níveis de corrupção
dos outros homens doque seus
seu contemporâneos.
tempo, Se ele "andava
é porque ele "encontrou graçacom Deus"
da parte de(v.9),
Deus".diferentemente
Não há outra
explicação para tal comportamento. Deus interviu graciosamente com Noé e sua família. Quando
todos os homens encontraram o juízo de Deus por causa de seus pecados (v.5-7), Noé encontrou
o favor do Senhor. Não há base para se dizer que o pacto de Deus com Noé foi por causa da justiça
de Noé, mas produto unicamente da bondade de Deus.
As Características do Pacto com Noé
(ver Palmer Robertson p.1 10-ss)
Partes Contratantes
Deus fez este pacto com um homem "justo", porque a Escritura diz que "Abrão creu em
Deus e isto lhe foi imputado como justiça" (Gn 15.6), e também com a sua descendência (v.18).
Todavia, a menção direta de um pacto é feita em Gn 17.1-8. Foi um pacto concebido,
nascido, determinado, estabelecido, confirmado e dispensado pelo próprio Deus, como todos os
outros pactos. A Abraão coube a tarefa de ser obediente em todas as cousas.
Um Pacto Incondicional
Este pacto mostra uma unilateridade incrível, pois Deus simplesmente chama Abraão e
lhe dá um ordem para sair da terra e ir para uma outra terra, e cumprir todas as suas promessas
nele. Deus não sugere que se Abrão obedecesse, Deus cumpriria tudo o que havia prometido,
sem qualquer condição preenchida da parte de Abraão (Gn 17.1-8).
Um Pacto Amoroso
Um Pacto Eterno
- quando
circuncidado fala da
o nascido em circuncisão,
tua casa, e o que é o selo
comprado por do
teupacto, Deus
dinheiro; diz: "Com
a minha efeito,
aliança estaráserá
na
vossa carne e será aliança perpétua" (Gn 17.13);
- quando fala da descendência prometida a Abraão, Deus diz: "De fato, Sara, tua mulher, te dará
um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua
para a sua descendência" (Gn 17.19).
A idéia de "eternidade" ou "perpetuidade" deste pacto não significa apenas um longo
tempo. A idéia da eternidade deste pacto significa que ele nunca mais será desfeito. A eternidade
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 165/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 166/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 167
Promessas Específicas
Até esse ponto de Gn 12 não há ainda o que formalmente chamamos "pacto". Somente
mais tarde, com o surgimento de algumas incertezas da parte de Abraão, é que Deus confirmou
as promessas com um juramento. A palavra "pacto" aparece pela primeira vez com Abraão em
15.18.
As três promessas, que chamo de promessas específicas do pacto da graça, estão
claramente colocadas por Deus ao povo de Israel, mas que têm o seu gérmen nas promessas
feitas a Abraão, muitos anos antes.
Lv 26.12: ―Andarei entre vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 167/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 168
Essa promessa ao povo de Israel no deserto é um eco da promessa de Deus feita a Abraão,
séculos antes:
Deus faz uma promessa de natureza espiritual bastante especifica: Deus promete ser
para sempre o Deus de Abraão e da descendência dele.
Deus não somente prometeu que seria o Deus da descendência de Abraão, mas que
também a sua descendência seria povo dEle. Em outras palavras, Deus está dizendo: ―Vocês são
meus‖. O povo no meio do qual Yehovah anda, e de quem é o único Deus, é também propriedade
do Senhor. Moisés disse ao povo no meio do deserto:
Dt 14.1a - "Filhos, vós sois do Senhor vosso Deus". Isto significa que eles não mais
pertenciam
mas sempreapresos
si mesmos,
agoraeàs
que não poderiam
ordenanças fazer nada
do Senhor. Elesdenão
acordo
maiscom as donos
eram suas próprias idéias,
de si mesmos,
entregues às suas próprias paixões, como os outros eram, mas eles deveriam seguir os preceitos
dAquele a quem pertenciam.
Deus lhes deu as proibições para fazer as cousas que os outros povos faziam. Agora os
israelitas eram de Deus, e teriam que cumprir somente as cousas próprias dAquele que os havia
chamado. O povo do pacto, que tinha a comunhão com Yehovah, não poderia quebrar os
mandamentos já previamente estabelecidos.
Dt 14.2 diz: "Porque sois povo santo ao Senhor vosso Deus, e o Senhor vos
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 168/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 169/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 170/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 171/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 172
deles"(Ex 2.25-26).
Assim, a libertação do povo de Israel do Egito tem a ver com as bênçãos prometidas a
Abraão.
Ler S1105.8-12, 42-45; 106.1-5, 43-48
Não podemos isolar o pacto sinaítico do pacto abraâmico, porque haveríamos de fazer
uma injustiça com a Escritura.
O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça
Ele é um pacto gracioso e espiritual antes que uma formulação legal, onde se ganha a
redenção por meio da obediência à lei. Embora haja aspectos legais e cerimoniais que são
estabelecidos pelo próprio Deus para uma nação, todavia, essas prescrições legais e cerimoniais
são indicativas de uma realidade superior futura. Não há nenhuma diferença essencial entre o
pacto da graça debaixo da administração abraâmica e a mosaica.
A promessa principal encontrada no pacto abraâmico é exatamente a mesma encontrada
no Sinaítico: ―Tomar-vos-ei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor
vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito‖ (Ex 6.7). Observe a identidade do pacto
da graça com Abraão com o Sinaítico, no texto seguinte: Dt 29.12-13 - "...para que entres na
aliança do Senhor teu Deus, e no seu juramento que hoje o Senhor teu Deus faz contigo; para que
hoje te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teus
pais, Abraão, Isaque e Jacó."
A promessa principal feita a Abraão nunca foi anulada pelo estabelecimento do pacto
Sinaítico. Ao contrário, ela foi confirmada, como demonstra Paulo: Gl 3.17-18 – ―E digo isto: uma
aliança anteriormente confirmada, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode
ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque se a herança provem de lei, já não
decorre da promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão". A
promessa feita a Abraão é reafirmada em cada uma das dispensações do pacto da graça. Além
disso, temos que observar que a ênfase que é dada no pacto sinaítico é a de que ele é espiritual,
embora não exclua as bênçãos materiais, que são indicativas de cousas superiores. As bênçãos
materiais são, em si mesmas, sinais do Deus gracioso que se une pactualmente a Israel. Todavia,
o cumprimento da lei mosaica é, em si mesmo, puramente espiritual, porque ela se resume no
amor a Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a si mesmo (Dt 6.4-8; Lv 19.18 cf. Mt
22.37-39).
A gratuidade do pacto sinaítico fica evidente do fato de Deus institui-lo, iniciá-lo,
estabelecê-lo, confirmá-lo e cumpri-lo soberanamente. John Murray chama isto de "uma
administração monergistica da graça‖. 233
É um pacto gracioso porque ele é administrado e selado com sangue (Ex 24.6-8) que é
típico do sangue de Cristo, que é chamado de sangue do pacto (Mt 26.26).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 172/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 173
falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente." Deus,
então, em misericórdia, renova o pacto ali com Moisés, após dar as Tábuas a Lei novamente (Ex
32.14; 34.10).
2) O Pacto foi renovado com a geração seguinte, que havia nascido no deserto, nas
planícies de Moab.
Dt 29.1 - "São estas as palavras da aliança que o Senhor ordenou a Moisés fizesse com os
filhos deNessa
Israelrenovação
na terra dedo
Moabe,
pactoalém da aliança
condicional foique fizera comnovamente
reafirmada ele em Horebe."
a necessidade de
obediência da parte do povo, para que participasse do pacto e dos benefícios das promessas dele
(Dt 29.9-29).
3) O Pacto foi relembrado por Deus a Josué, na posse da terra, quando Deus ordenou que
os dois sacramentos do pacto da graça fossem administrados.
Josué circuncida a segunda geração dos filhos de Israel que não haviam sido
circuncidados no deserto Js 5.1-8).
Josué celebra a páscoa com a segunda geração pela primeira vez desde que entraram na
terra (Js 5.10-12). É curioso observar que a administração da circuncisão foi pré-requisito para a
administração da páscoa (Ex 12.43-49).
4) O Pacto foi lembrado outra vez antes da morte de Josué (Js 23.6-16), na região de
Siquém.
Antes um pouco de morrer, Josué reúne o povo e lhes relembra o Pacto de Deus com
Abraão, Isaque e Jacó, e o pacto com Moisés (Js 24.2-7). Então apela para a renovação que ele
próprio faz do pacto (v. 14-15), provocando a resposta do povo em disposição de obediência (v.
17-24). E o texto continua, no v.25 - "Assim, naquele dia fez Josué aliança com o povo, e lha pôs
por estatuto e direito em Siquém," estabelecendo, em seguida um documento formal de
obediência aos estatutos do Senhor (v.26-27).
5) O Pacto é violado durante o período dos Juizes
Deus nunca havia invalidado a sua aliança com o seu povo (Jz 2.1), mas continuava a
pedir a fidelidade do povo (Jz 2.2). Após a morte de Josué e de todos os de sua geração (que foram
fiéis ao pacto Jz 2.8-10), levantou-se uma outra geração que não guardou a aliança, tornando-se
idólatra (Jz 2.10-13). Deus levantou-lhes juizes, mas eles não os obedeceram (v. 16). A despeito
dessa desobediência, o Senhor era gracioso com eles, compadecendo-se deles (v. 18), mas tão
logo o Senhor os livrava dos inimigos, eles voltavam-se para a idolatria novamente. Nesse
período, por causa da sua promessa de castigo pela violação do pacto, Deus entregou-os nas
mãos de povos que acabaram habitando na terra que Deus prometera dar somente a eles
(v.19-23). O período dos juizes, portanto, foi um tempo de desordem e de falta de real autoridade.
O próprio livro termina, dizendo: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que
achava mais reto"(Jz 21.25).
Finéias Anapromessa
linhagemdosacerdotal.
sacerdócioÉé uma
uma promessa
promessa implícita
divina incondicional de manter
com juramento de que,a em
família de
Israel,
nunca haveria de faltar um sacerdócio fiel.
Estabelecimento do Pacto
Este pacto tem sido um dos mais negligenciados dentro da teologia Reformada. A própria
Escritura fala relativamente pouco dele, embora haja algumas referências diretas e outras
indiretas a ele. É até surpreendente que a Carta aos Hebreus, que trata do sacerdócio, não o
mencione, nem o compare ao sacerdócio de Cristo ou de Melquisedeque.
A maior referência deste pacto está registrada em Nm 25.1-31, que analiso rapidamente:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 173/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 174/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 175
Davi. O Salmo 89, na sua totalidade, lembra de maneira inequívoca o pacto de Deus feito com
O cumprimento do pacto com Davi foi cumprido com o levantamento do reino de Salomão
(l Rs 8.20, 23-26), a quem Davi ordena obediência às palavras do Senhor (2 Rs 2.1-4). Deus
reconfirma com Salomão o pacto feito com Davi (l Rs 9.5)
Tipo - Um Pacto Incondicional - Esse pacto é ratificado ou confirmado por Davi.
Simplesmente Deus estabelece soberanamente o pacto. John Murray diz que o pacto ―é uma
dispensação soberana, divino em sua origem, estabelecimento, confirmação e cumprimento". 235
Após fazer uma análise dos dados da Escritura sobre esse pacto, Murray conclui:
Nesse pacto, Deus faz uma promessa incondicional de estabelecer e manter a dinastia
davídica no trono de Israel. Em Israel nunca haveria de faltar um rei que ocupasse o lugar de
Davi.
Semelhantemente ao pacto abraâmico, Deus fez exigências que deveriam ser obedecidas
pelos descendentes de Davi (l Rs 9.4-9). A responsabilidade pactual não está ausente. Davi viveu
em fidelidade pactual, como o próprio Deus declara. Não aconteceu o mesmo com Salomão e com
o restante da descendência de Davi.
Esse pacto divinamente estabelecido é incondicional. Contudo, para que houvesse
apropriação pessoal das promessas dele, as pessoas tinham que obedecer as suas prescrições,
que eram as mesmas relacionadas aos pactos anteriores. Muitos dos descendentes de Davi não
obedeceram as prescrições divinas, e perderam o reino, mas nunca faltou alguém que se
assentasse no lugar de Davi. Não obstante os pecados de Davi e dos seus filhos, o pacto
permaneceria (l Rs 11.1-3,9-13; 2 Cr 21.7). Deus enviou os castigos aos descendentes infiéis de
Davi, como Deus justo que é. Contudo, os pecados dos homens não haveriam de anular o pacto
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 175/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 176
fidelidade.
proferiram. Não
Umaviolarei a minha
vez jurei aliança,
por minha nem modificarei
santidade (e serei euofalso
que aosDavi?):
meus lábios
a sua
posteridade durará para sempre, e o seu trono como o sol perante mim.
O Salmo 132 também é um eco do pacto feito com Davi, onde Deus promete
incondicionalmente se interpôs com juramento para abençoar a sua casa e erigir o seu trono.
2. E um Pacto Eterno
Um pacto pode ser incondicional e não ser eterno. Mas com Davi Deus prometeu algo que
durará para sempre. Antes de morrer> Davi falou palavras que evidenciam a eternidade do pacto
que Deus havia feito consigo: 2 Sm 23.5 - "Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo
bem definida e segura.‖
Sl 89.28-29 - "Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e firme com a minha aliança.
Farei durar para sempre a sua descendência, e o seu trono como os dias do céu.‖
O texto de Lc 1.32-33, já mencionado acima, mostra claramente a eternidade do pacto
davídico.
A inviolabilidade e a eternidade do pacto davídico é enfatizada pela indicação de que ele é
tão certo quanto é certo o pacto que Deus fez com Noé do dia com a noite.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 176/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 177/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 178
6. O NOVO PACTO
Texto para estudo - Jr 31-31-33; 32.38-40; Hb 8.
PARTES
Um pactoCONTRATANTES
feito entre Deus e o Israel rebelde, a quem Ele chama de "casa de Israel e casa
de Judá" (Hb 8.8). 237
É uma promessa incondicional feita a um Israel rebelde que consiste no perdão de seus
pecados e na re-estabelecimento da comunhão de Israel com Deus numa nova base, onde Deus
haveria de inscrever nos corações deles a Sua lei - um pacto de pura graça,
mediante a vinda do Renovo.
A incondicionalidade do pacto está patente no modo como Deus o estabelece. Ele diz: ―Eu
firmarei um pacto.. ."(Hb 8.10). Nessa maneira de falar, Deus expressa a Sua soberania de
autoridade, de poder, de veracidade e, ao mesmo tempo de Sua graça. Ele é a causa única e o
autor único do novo pacto.
237 Essa divisão da posteridade de Abraão deu-se somente nos dias do rei Roboão. Antes dessa
divisão, essa posteridade era chamada simplesmente de ―casa de Israel‖. É por essa razão que, na maioria
dos casos aparece unicamente a expressão ―casa de Israel‖ (Hb 8.10).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 178/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 179/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 180/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 181/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 182
que não podiam fazer nada em favor daqueles por quem intercediam, mas o Sacerdócio do Novo
Pacto era poderoso para salvar os pecadores (Hb 7.25).
O sacerdócio do antigo pacto era composto de pecadores que tinham que oferecer
sacrifícios por si mesmos, enquanto que o sacerdote do Novo Pacto era sem mácula, separado dos
pecadores (Hb 7.26-27).
O sacerdócio levítico era imperfeito (Hb 7.11); o sacerdócio segundo a ordem de
Hb 8.6 - "Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente,
quando é ele também mediador de superior aliança instituída com base em
superiores promessas."
As promessas do pacto sinaítico apenas apontava para cousas futuras que eram
superiores em conteúdo.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 182/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 183
Hb 9.11-12 –
realizados, ―Quando,
mediante o maiorporém,
e mais veio Cristo
perfeito como sumo
tabernáculo, sacerdote
não feito por dos bens
mãos, já
quer
dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo
seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido
eterna redenção."
— A redenção do sangue da velha aliança purificava as cousas físicas da carne, ou cousas
terrenas, enquanto que a redenção do novo pacto purificava interiormente, a consciência.
Jr 31.33 - "Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois
daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no
coração lhas inscreverei...”
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 183/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 184/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 185
Essa promessa é exatamente decorrente da segunda, porque não pode haver nenhum
conhecimento de Deus, a menos que Deus tome a iniciativa de interiorizar as Suas leis nas
mentes e nos corações dos homens.
O conhecimento de Deus foi algo que Deus sempre quis que o seu povo tivesse de Si.
Desde o começo das suas alianças Deus prometeu que o povo o conheceria. Ele deu-se a
conhecer através das suas leis escritas, no pacto sinaítico, mas eles não conheceram o Senhor.
Ele queria que as suas leis estivessem dentro dos corações dos homens. Por essa razão, Ele deu
certas prescrições estabelecidas muito claramente (Dt 6.5-9). Mas o conhecimento de Deus no
coração dependia do estudo, de colocar na mente pelo constante contato com as leis. O homem
não deu conta de internalizar as leis de Deus, pois a internalização dependia do esforço pessoal.
A impotência do homem para essas coisas sempre foi algo tristemente notável. Que fez> então,
Deus? Deus prometeu que Ele mesmo haveria de tornar essas leis interiorizadas, fazendo com
que Ele fosse realmente conhecido> dando-lhes um coração novo. Observe a Sua promessa: Jr
24.7 - "Dar-lhes-ei coração novo para que me conheçam, que eu sou o Senhor; eles serão o meu
povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.>' Com a doação
de um novo coração, então, o homem pode chegar a um verdadeiro conhecimento de seu Deus.
Essa promessa é gloriosamente linda, porque ela é cumprida em Cristo Jesus e tornada
eficaz pelo Espírito Santo (Jo 17.3). O real conhecimento de Deus é o alvo de todos os filhos do
povo de Deus! Conhecer Deus é ter a comunhão imperdível com Ele! É bom ser observado que as
pessoas destituídas desse conhecimento salvador de Deus estão fora do novo pacto.
Essa promessa do conhecimento do Senhor tem algumas características:
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 185/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 186
Essa promessa está anunciada por quase todos os escritores que tratam do pacto,
incluindo especialmente Jeremias e Ezequiel (cf. Ez 11.20; Ez 37.26-27; Hb 8.10).
Esta é a promessa do pacto da graça que atravessa toda a Escritura. Ela foi
primeiramente
novo pacto. feita a Abraão e, então, passa praticamente por todos os pactos, e culmina no
É verdade que Yahvéh é Deus do mundo inteiro, porque Deus criou a todos e a todos
sustenta, mas Ele é Deus de maneira especial e relacional somente dos que estão incluídos no
pacto da graça. Como conseqüência de Yehovah ser o Deus deles, eles passam a ser um povo
peculiar de Deus, como nenhum povo veio a ser.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 186/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 187/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 188
o pacto sinaítico, que é aliança que Deus havia feito nos dias da mocidade do povo, ainda no
deserto. Eles transgrediram a aliança feita no passado. Deus, então, olhando para o pacto
passado, diz de um pacto eterno que haveria de estabelecer com o povo. Seria uma aliança
estabelecida em dias ainda distantes, mas na história da sua revelação, quando a plenitude dos
tempos chegasse.
Depois, então, fala sobre os acontecimentos futuros de arrependimento do seu povo,
O perdão de Deus é algo que vem tendo como base o novo pacto do qual Jesus é o fiador.
Se uma pessoa não tem o perdão de Deus, certamente ela não faz parte do pacto.
Por causa da impotência do seu povo em obedecer todas as prescrições da Lei, Deus
enviou o seu Filho para morrer pelos pecados do povo, a fim de que o seu povo recebesse o seu
perdão. Embora
Cristo, que pagouDeus sempre
pelas penas.tenha perdoado
Por causa o seu povo,dea Jesus,
do pagamento base desse
Deusperdão está nenhuma
não impõe em Jesus
pena sobre nós, cancelando a nossa divida. Isso é perdão!
Ezequiel ainda pinta em cores vividas o perdão que aconteceria quando o novo pacto fosse
estabelecido plenamente. Intimamente associada com a obra interior do espírito, dando um novo
coração, está a promessa do perdão dos pecados:
Ez 36.31 - «Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossos
feitos, que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas
iniqüidades e das vossas abominações."
Esta é a primeira cousa que acontece depois que Deus bota um novo coração em nós:
temos a convicção de nossa imundície. O segundo passo é o perdão de Deus do qual tomamos
posse, que evidencia-se na limpeza de nosso coração:
Ez 37.33 – ―Assim diz o Senhor Deus: no dia em que eu vos purificar de todas
as vossas iniqüidades, então farei que sejam habitadas as cidades e sejam
edificados os lugares desertos."
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 188/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 189
Jr 32.40-42 – ―Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não dei xarei de
lhes fazer o bem, Alegrar-me-ei por causa deles, e lhes farei bem . Porque assim diz
o Senhor: assim como fiz vir sobre este povo todo este grande mal, assim lhes trarei
todo o bem que lhes estou prometendo.‖
Por causa da fidelidade às suas promessas pactuais, Deus nunca dá Suas bênçãos pelas
metades.
o fim. Ele sempre vai até o fim na concessão de Suas graças. A quem Deus ama, Ele ama até
Deus promete-lhes fazer o bem continuamente porque Deus regozija-se neles> porque
eles lhe são caros. Deus se alegra em fazer lhes o bem. Por essa razão, Deus entrou em pacto com
eles de lhes fazer o bem. Deus se afeiçoou ao Seu povo, não por causa do que eles faziam, mas
para que eles viessem a fazer alguma cousa boa posteriormente. Por causa da Sua afeição a eles,
Deus reluta repreendê-los, mas tem enorme prazer em recebê-los de volta. Estas coisas são
expressas pelo profeta Isaías. Temporariamente Deus pode relutantemente disciplinar o seu povo
deixando-o à mercê de problemas, mas é somente por um momento do seu desprazer com nossos
pecados, mas as Suas bondades não param nunca de vir sobre nós. Através de Isaías Deus
expressou essa verdade, da seguinte forma:
Todos os filhos de Deus têm sido objeto dessa bondade continuada de Deus, bondade que
não tem fim. Deus nunca deixou de fazer o bem ao seu povo em virtude do pacto. Rendamos
graças a Deus porque Ele tem sido fiel também a essa promessa.
Jr 32.40 – ―Farei com eles aliança eterna... e porei o meu temor no coração
deles para que nunca se apartem de mim.”
Deus coloca o Seu temor no coração dos filhos do Seu povo para uma finalidade
específica: "Para que nunca se apartem de mim". Deus não somente começa a boa neles, mas faz
com que eles andem em novidade de vida até o final. Nunca os filhos do povo de Deus haverão de
abandonar ao Senhor. Eles haverão de perseverar até o fim. Nesse sentido o pacto é também de
duração perpétua.
A promessa de que eles nunca haveriam de se apartar do Senhor também é obra da
bondade graciosa de Deus. Nunca os filhos de Deus abandonam o Senhor porque o Senhor
239 Na Exp[osition of the New Testament, vol. V (London: James Nisbet and Co., 1856), 616.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 189/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 190
Em da
fisionomia outras
terra,palavras,
mas nãoooprofeta estádedizendo
propósito que
Deus de todas as cousas
permanecer com o pode mudar,
seu povo. mesmo
Deus a
haverá
sempre de estar unido ao Seu povo. Faz parte do pacto de Deus conosco nunca se apartar de nós.
O reflexo dessa bondade irretirável é a nossa permanência nEle. Por essa razão, nunca os Seus se
apartam de Si. Esta resposta do homem de perseverar no Senhor também é uma promessa de
Deus no novo pacto.
Não temos motivo qualquer para desconfiar da fidelidade de Deus em não se apartar do
Seu povo, mas temos todas as razões possíveis para duvidar da nossa permanência nEle. Somos
fracos e inconstantes, mas é uma promessa dEle que Ele próprio realiza em nós, a de que
haveremos de sempre permanecer firmes nEle, nunca nos apartando dEle. A nossa perseverança
nEle está embasada na perseverança dEle em permanecer em nós, causando a resposta positiva
para com Ele. Isso é graça abundante. Por isso o pacto é chamado ―novo‖, em contraste
com o antigo" que era ineficaz porque a lei de Deus não podia ser
interiorizada. Somente com a interiorização da lei é que podemos ficar
firmes no Senhor, obedecendo-Lhe os preceitos. Não há forma de não
apartar-se do Senhor sem que a Sua Palavra esteja em nosso coração!
Ez 37.26-27 – ―Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua.
Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para
sempre. O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus e eles serão o meu
povo.‖
Esta promessa do novo pacto nunca deve ser entendida literalmente, como se referindo à
reconstrução do templo de Jerusalém, ensinada pelos dispensacionalistas. A própria Escritura
interpreta-se a si mesma. Esta promessa está relacionada à nova terra, quando a presença de
Deus estará para sempre conosco, e nós seremos o tabernáculo dele. Contudo, ele já começou a
erigir o seu tabernáculo, que é a Igreja, e nele já está habitando. A sua forma final, entretanto, se
dará no estabelecimento de todas as cousas novas, como declara Jesus Cristo a João em Ap 21.3
- "Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus
habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles." Perceba que a
promessa de ser o Deus do povo está contida tanto em Ezequiel como no Apocalipse, dentro do
contexto geral do pacto da graça e no contexto específico do novo pacto.
10. A Promessa de prover o grande Pastor para o seu povo
EzDavi
servo 34.23,25 - "Suscitarei
é que as para
apascentará; eleelas
lhesum só pastor,
servirá e ele as
de pastor... apascentará;
Farei o meu
com elas aliança
de paz, e acabarei com as bestas-feras da terra; seguras habitarão no deserto, e
dormirão nos bosques."
Ez 37.24 - "O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor,
andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão.
Hb 13.20 - "Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus
nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança."
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 190/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 191
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 191/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 192/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 193
Qual era o conteúdo desse evangelho. Exatamente a promessa do pacto abraâmico. Todas
as famílias da terra seriam abençoadas com o crente Abrão. Isto significa que a boa-nova de
salvação haveria de atingir todas as terras, e não ficar somente nos limites de Israel.
Jesus Cristo, de uma maneira indireta, falando da revelação da sua vontade, disse a
respeito de Abraão: "Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se" (Jo
8.56). Pela fé Abraão contemplou o seu descendente e alegrou-se nele. Deus deu de uma forma
concreta
período dopromessas
NT. ao povo do VT que são as mesmas promessas de redenção que temos no
preanunciou
Jesus Cristo, oa fim
evangelho
de que arecebêssemos
Abraão… para que
pela fé oa Espírito
bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
prometido.‖
Como recebemos Cristo pela fé e também o seu Espírito, assim acontecia nos tempos do
VT. A fé sempre foi o meio que Deus estabeleceu para que nos apossássemos de Suas bênçãos
salvadoras. Como o pacto é o mesmo em ambos os testamentos, o modo de recepção da salvação
não poderia ser diferente.
Abraão é considerado o ―Pai dos Crentes‖ (Rm 4.16). A lei, que veio 430 anos depois da
promessa feita a Abraão não pode cancelar as promessas que lhe foram feitas, pois elas são parte
integrante e imutável do pacto da graça (Hb 6.13-18).
Como no tempo de Abraão, o homem ainda continua a ser justificado pela fé. Os cristãos
de hoje são chamados "filhos e herdeiros de Abraão", porque a mesma promessa feita a Abraão é
para nós outros hoje (Gl 3.29).
1 Pe 2.9-10 - "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real> nação santa, povo
de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis
povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas
agora alcançastes misericórdia."
Pedro não está escrevendo simplesmente a judeus da Ásia Menor, mas aos eleitos de
Deus que haviam sido dispersos por causa da sua fé em Cristo Jesus. A "dispersão" (v.1) não foi
de judeus, mas de cristãos.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 193/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 194
Raça Eleita
Esta referência, como todas as outras analisadas abaixo, tem uma conotação primária
referindo-se ao povo do VI'. O sabor dessas expressões é sempre judaico. Mas Pedro reinterpreta
essa expressão. Aqui ele se refere à igreja de Jesus Cristo de todos os tempos, que é o povo eleito
de Deus por quem Cristo deu a Sua vida. Essa raça eleita, que é o povo de Deus, compreende
gente de toda a parte, "dos quatro ventos da terra" (Mt 24.31), a quem os anjos virão buscar, para
levá-la para o seu destino eterno com Deus.
Sacerdócio Real
Novamente, o pano-de-fundo do pensamento petrino é a teologia do VI'. Contudo, Pedro
fala de um sacerdócio diferente, que não é restrito à tribo de Levi, mas composto de todos aqueles
que vieram a ter acesso a Deus pela mediação única, perfeita e definitiva de Jesus Cristo. Todos
os que Cristo remiu vêm a ser sacerdotes do Altíssimo, para reinarem com Ele, como nação
santa, no meio deste mundo. E essa a idéia que João passa quando escreve em Ap 1.5-6 – ―…
Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino,
sacerdotes, para o seu Deus e Pai…‖. Deus, por meio de Cristo, nos constituiu seus sacerdotes,
isto é, nos separou para o seu serviço, tornando-nos consagrados para Ele.
Nação Santa
O povo de Deus no VT se restringia basicamente à nação de Israel. A base dessa afirmação
de Pedro tem raízes na sua origem hebréia. E perfeitamente compreensível que Pedro tivesse em
mente alguns textos do VI' em mente, quando falou essas cousas (Ex 19.6; Dt 14.2). Contudo, o
pensamento de Pedro não se restringe simplesmente ao povo do VI', mas aplica-o ao povo do NT.
A "nação santa" da qual Pedro fala não é mais a nação israelita. Ele tem em mente algo bem mais
amplo. Ele está pensando em todos, incluindo judeus e gentios, que eram separados do mundo,
sendo consagrados inteiramente a Deus. Por essa razão, Pedro fala em 1 Pe 1.2 que eram eleitos
de Deus e santificados pela obra do Espírito. Agora não eram mais judeus ou gentios. Essa
qualificação era secundária. O que importava é que eram, agora, devotados a Deus, separados
para o Seu serviço. Eram totalmente de Deus. Como nação santa, haveriam de testificar aos do
mundo quem Cristo era e o que Ele lhes havia feito.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 194/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 195/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 196/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 197
CAPITULO XIII
OS PECADOS ATUAIS
dos nossos
direta pais, por
do pecado de geração
Adão. Porordinária,
geração oordinária,
que não éentão,
o casotoda
da culpa,
a raçapois ela vem
humana é por imputação
infectada pelo
pecado original, que é a origem e a fonte de todos os nossos pecados atuais. É do pecado que vêm
os pecados que cometemos consciente ou inconscientemente. A fonte dos pecados está em nossa
natureza corrupta.
Com razão, Paulo fala delas como sendo as "obras da carne", isto é, as obras nascidas em
nossa natureza pecaminosa, em contraste com o fruto do Espírito, que é nascido em nossa nova
natureza, renovada pelo próprio Espírito Santo (Gl 5.17-22).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 197/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 198
de contamina tudo o que sai dela. Todos os nossos pecados atuais, segundo Jesus Cristo, vêm de
dentro, do coração dos homens.
O pecado original enraizado no coração corrupto é a fonte de onde procedem todas as
correntes poluídas. Se a fonte é amarga, amargas serão todas as correntes que se originam nela.
Os frutos são de acordo com a natureza da árvore. E este o ensino de Jesus Cristo sobre
os nossos pecados atuais (Mt 7.16-20; 15.18-20; 12.33-35).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 198/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 199
pecadosEm última
contra instância,
Deus, todos eles
porque todos os pecados mesmo os
estão vinculados cometidos
com contra da
a transgressão os Sua
homens, são
lei. Certa
feita, José foi convidado pela mulher de Potifar a deitar-se com ela. Ao receber essa proposta,
José reagiu de maneira corretíssima porque entendeu que os nossos pecados ofendem a Deus,
antes que aos homens (Gn 39.7-9). Davi também possuía consciência absoluta dessa verdade.
Quando pecou contra Betsabá e contra Urias, ele reconheceu que, antes de pecar contra eles, ele
havia pecado contra Deus. Por essa razão, ao escrever o Salmo 51, disse: "Pequei contra ti, contra
ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos..."
Todavia, há certos pecados que são cometidos de uma maneira direta contra o Ele. São
pecados atrevidos, que mostram a irreverência e o destemor de Deus.
Muitos homens há que perderam todo o senso de temor a Deus e mostram seus pecados
atrevidamente. Em Jó 15.25, Elifaz descreve que o ímpio "estendeu a sua mão contra Deus e
desafiou o Todo-Poderoso". A Escritura é farta de exemplos desses pecados diretos contra Deus.
Referindo-se
que eles «motejam eà falam
atitudemaliciosamente;
atrevida e maldosa dos ímpios
da opressão que com
falam prosperam,
altivez. oContra
Salmista
os disse
céus
desandam a boca, e a sua língua percorre a terra" (Sl 73.8-9)
A maldade e ingratidão de Israel fé-lo portar-se de maneira absolutamente petulante
contra Deus, pois Isaías menciona a hediondez desse pecado, dizendo que
240 Diante da acusação dos protestantes, os da tradição Católica tentam fazer uma distinção entre
latre/ia (latréia, que é o culto que se presta a Deus) e doule/ia (douléia, que é reverência ou culto que se presta
aos santos), para justificar as suas atitudes cúlticas. Contudo, não é uma distinção justa, pois ambos
termos etmologicamente podem ser usados indistintamente, tanto aplicando-se ao Criador como às
criaturas (cf. At 20.19; Rm 12.11; At 7.42; Rm 1.25). a Escritura não conhece nada desta distinção.
Portanto, não podemos aceitar a justificativa dessa tradição do cristianismo.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 199/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 200/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 201/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 202
descobertos facilmente. Podem ser feitos diretamente contra Deus e contra os homens. Contra
Deus em forma de adoração errônea e inaceitável; contra os homens ele encontra múltiplas
formas.
Os pecados interiores são os mais numerosos. Contudo, os que São considerados de
grande magnitude São os atos, aqueles que os homens podem ver. A razão dessa magnitude é
porque eles estão combinados com os pensamentos e, freqüentemente, com as palavras deles.
não apresentação
prestem atençãodaquilo que
a esse está ordenado
pecado, porquanto
é tão grave Deus. os
Embora
pecadosmuitos
de
comissão, porque procede da indisposição em fazer a vontade preceptiva
de Deus. Tiago menciona claramente esse tipo de pecado quando diz: Tg 4.
17 – ―Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está
pecando‖.
Os pecados de omissão São freqüentes, embora ignorados, pois a atenção dos homens
está mais ligada aos pecados de comissão que, em geral, São considerados mais graves. Mas
Jesus mostra que a omissão daquilo que é bom é tão grave como o fazer daquilo que é mau.
Nos seus vários ―ais‖, um deles é dirigido aos que pecavam por omissão:
Eles
para que nãoSão muitíssimo
sejamos pegos mais comum
deixando do que
de fazer pensamos
o que em nossa
deveríamos fazer! vida. Tenhamos cuidado
Pecados de Comissão
O pecado de comissão tem a ver com o fazer aquilo que a lei proíbe, ou com a feitura
daquilo que é bom, mas com motivo sujo ou impuro. Em algum sentido já tratamos deles em
partes anteriores deste capítulo.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 202/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 203
O rigor maior e o menor estão vinculados à gravidade de pecados cometidos á luz das
oportunidades recebidas.
Pecados de Ignorância
Há um sentido em que todos os pecados São cometidos na ignorância, se por ignorância
entendemos que o indivíduo está em trevas espirituais. Embora culpados, aqueles que
crucificaram Jesus Cristo, o fizeram na ignorância. Não é de estranhar, pois, que Paulo tenha
dito:
1 Co 2.8 – ―… sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século
conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da
glória.‖
Por esta razão, depois de pecarem, essas pessoas não possuem qualquer reconhecimento
de pecado, nem remorso ou qualquer outro tipo de tristeza. E porque desconhecem os preceitos
estatuídos por Deus na sua lei. Paulo fez tudo o que fez sem sentir qualquer remorso, e fez
pensando estar fazendo o que devia fazer. Ele não se desculpa na ignorância, mas mostra que a
ignorância é a causa de muitos pecados. Ei-lo, argumentando:
L Tm 1.13 – ―a mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente.
Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.”
Paulo ainda não possuía a luz. Andava em trevas e praticava todas as blasfêmias e
insolência, em nome de Deus, pensando estar agradando a Deus, a quem, a seu modo, ele servia.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 203/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 204
Pecados deliberados
Embora a maioria dos pecados seja cometida na ignorância, há muitos deles que são
cometidos deliberadamente. Em geral, os homens conhecem as leis gerais de Deus, mas São
atrevidos e pecam conscientemente, sabendo que estão afrontando a Sua lei. Estes pecados são
de maior gravidade. A gravidade e a seriedade desses pecados é mostrada pelo escritor da Carta
aos Hebreus:
2 Pe 3.3-5 – ―Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão
escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as suas próprias
paixões, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais
dormiram, todas as
deliberadamente cousas permanecem
esquecem como
que, de longo desde
tempo, o princípio
houve da criação
céus bem Porque
como terra, a
qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus.‖
não Lc
se 12.47-48 – ―Aquele
aprontou, nem servo, porém,
fez segundo que conheceu
a sua vontade, a vontade
será punido comdomuitos
seu senhor e
açoites.
Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor, e fez cousas dignas de
reprovação, levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe
será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lh e pedirão.‖
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 204/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 205
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 205/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 206
CAPITULO XV
A PUNIÇÃO DO PECADO
A ORIGEM DA PUNIÇÃO
Berkhof diz que os castigos tem "a sua origem na retidão, isto é, na justiça punitiva de
Deus, por meio da qual Ele se sustém como o Santo e necessariamente exige santidade e retidão
241
de por
e, todas as Suas
causa da criaturas
santidaderacionais." O pecado
divina, merece é a violação
ser punido. das leis
Portanto, divinamente
a punição estabelecidas
denota um castigo
imposto por Deus aos infratores da sua lei.
O pecado não pode ficar sem punição justamente por causa da santidade e da justiça de
Deus. Porque a Sua lei foi infringida, Ele, de necessidade, tem que punir o pecado.
b) A Reforma do Pecador
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 206/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 207
(b) Castigos Positivos
Estes castigos não pressupõem simplesmente as leis naturais da vida, mas revelam uma
atitude positiva do Santo Legislador. São imposições judiciais de Deus sobre o pecador nesta
vida. Eles São a expresSão do caráter moral de Deus, que se ira contra aqueles que violam as
Suas leis claramente estabelecidas (Lv 26.21; Nm 15.30-31; 1 Cr 10.13; S175.8; Is 1.24, 28, etc.
Estes
não. castigos São uma imposição direta de Deus sobre os homens, sejam eles Seus servos ou
A PUNIÇÃO DE MORTE
A morte é uma penalidade imposta por Deus por causa do pecado, embora esta idéia
tenha sido contestada na história da Igreja cristã. Os pelagianos pensaram que a morte não tinha
nada a ver com o pecado. Os homens morreriam de qualquer forma. A razão da morte dos
homens estaria na sua finitude. Portanto, a morte era parte da natureza criada, não penalidade
pelo pecado.
Entretanto, a Escritura afirma expressamente que a morte tem necessariamente a ver
com o pecado. Ela é punição do Santo Legislador sobre os infratores da Sua Lei. A morte é o
julgamento de Deus sobre o pecador (Ez 18.4; Rm 6.23).
O Conceito de Morte
Antes de tudo, é necessário entender a idéia de morte. Morte não é extinção, não é
aniquilamento, nem cessação de existência, mas separação.
O homem foi criado imortal. Quando ele pecou, ele não deixou de ser imortal, se por
imortalidade entendemos a existência continuada, mas ele morreu, isto é, ele ficou separado de si
mesmo pela morte física e separado de Deus pela morte espiritual.
respondida com muita cautela. A resposta depende do entendimento que temos sobre o que
significa ―poder‖.
Embora a morte seja o resultado de um pronunciamento judicial de Deus (como veremos
abaixo), há certas passagens que parecem indicar que a morte tem algo a ver com a hegemonia de
Satanás com a morte (Hb 2.14-15). Se nós distinguimos entre a morte como um evento e morte
como um estado, o conflito aparente é resolvido. 243 A Escritura uniformemente coloca a morte
como um evento nas mãos de Deus. Deus tem o poder da morte em Suas mãos (Ap 1.18; Lc 12.5),
porque é Ele quem concede a vida. Quem tem o poder de dar a vida, também tem o poder de
tirá-la. Quem paga o salário da morte é Deus, não o diabo. Contudo, temos que entender que
Satanás reina no estado de morte, estando, todavia, sob o domínio de Deus. Satanás não tem
poder de impingir morte sobre ninguém, mas as pessoas que morrem estão sob o domínio dele,
até que esse domínio seja retirado dele, e ele também enfrente o juízo de Deus no final.
A Causa Judicial
A Escritura diz queda"aMorte
morte é o salário do pecado" (Rm 6.23).
A morte é o resultado judicial do pecado, não o resultado natural do pecado do homem.
Também não podemos crer que o homem morreria de qualquer maneira. A morte não é parte da
natureza humana, nem o homem não foi criado para existir em um estado de morte.
Os Pelagianos afirmaram que o homem morreria de qualquer forma> mesmo que não
houvesse pecado. A morte faz parte da criação. Para o pelagiano a morte é o seguimento natural
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 207/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 208
na vida do ser humano. Para os pelagianos "as referências bíblicas sobre a morte como
conseqüência do pecado São entendidas como referências à morte espiritual, separação de Deus,
antes do que à morte física." 244 Alguns discípulos de Barth diriam que o problema da morte está
vinculado ao fato do homem ser finito. O pecado apenas complica o problema da finitude do
homem. Embora Pelágio pensasse que o homem morreria de qualquer forma, mesmo que não
houvesse pecado, e que Barth tenha pensado que a morte seja um problema da finitude do
homem, é geralmente aceito entre os cristãos que a morte é anatural,
sendo uma imposição penal de Deus sobre os pecadores. Os Calvinistas,
contudo, afirmam categoricamente que a morte é uma imposição judicial
de Deus sobre o homem pecador.
Desde os primeiros concílio regionais da igreja Cristã tem-se defendido que a morte é
castigo, sendo um elemento anatural na existência humana. Num dos Concílios de Cartago,
lutando contra um pelagianismo presente na vida da igreja, foi dito: ―Se alguém disser que Adão
foi criado mortal de tal forma que ele teria morrido no corpo se tivesse pecado ou não, seja
anátema.‖245 Portanto, não podemos aceitar a morte como natural, mas como uma imposição
judicial de Deus por causa do pecado. Lutero foi veemente na sua idéia da causa da morte:
"A morte
morrem dos seres
por causa humanos
da lei é, portanto,
da natureza. Nem édiferente
a morte da
domorte
homemdosum
animais.
eventoEste
que
ocorre acidentalmente ou que tenha meramente um aspecto de temporalidade. Ao
contrário, a morte do homem, se assim posso falar, foi ameaçada por Deus e é
causada por um Deus encolerizado e estranho. Se Adão não houvesse comido da
árvore proibida, ele teria permanecido imortal. Mas porque ele pecou pela
desobediência, ele sucumbe à morte como os animais que estão sujeitos a ele.
Originalmente, a morte não foi parte de sua natureza. Ele morre porque provoca a
ira de Deus. A morte é, em seu caso, a conseqüência merecida inevitável de seu
pecado e desobediência."246
A morte do homem, portanto, tem conexão com a justiça divina. Não somente é uma
tragédia, mas uma penalidade, uma imposição judicial da qual nenhum pecador foge.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 208/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 209
Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz" (Rm 8.5-6).
Aquele que está morto espiritualmente está sem a vida de Deus.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 209/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 210
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 210/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 211
3. MORTE FÍSICA
Esta morte é a mais conhecida, experimentada e lamentada por todos os homens, porque
todos podem vê-la como uma experiência constante e palpável. Ela é a que mais afeta
emocionalmente as pessoas e é dela que todos têm medo, porque pensam que ela é o pior que
lhes pode acontecer. Em geral, as pessoas não conseguem ver a morte física como parte da
punição divina,a pois
freqüentemente não levam
mais temida a ela
porque sério as advertências
separa da das
as pessoas umas Escritura.
outras, oA que
morte física
causa é
muita
dor, mas não é este o verdadeiro significado dela. A conseqüência maior é para a pessoa que
morre, pois ela é a separação que acontece na própria pessoa, como veremos logo abaixo.
"A morte não é um processo natural, mas algo totalmente anatural - uma
violenta separação das duas partes do seu ser que Deus nunca quis que fossem
separadas; uma ruptura, um despedaçar, uma mutilação de sua
personalidade."250
No estudo sobre a constituição original do homem, vimos que o corpo é visto como sendo
o próprio homem, não um acessório temporal que é descartável. Quando o corpo se separa da
alma, costumamos dizer que o corpo morreu, mas essa não é a verdade. E verdade que o corpo se
tornou inerte, sem anima, sem vida, mas ele nunca cessa de existir, mesmo que no pó de onde
veio. A imortalidade é algo próprio do homem como um todo. Não somente a sua alma, mas
também o seu corpo é imortal. Portanto, é muito melhor dizer que o homem morreu, porque no
momento do desenlace, o homem (corpo) é separado de si mesmo (alma). Ambas as partes
constituintes da natureza humana vão para lugares diferentes até o tempo da ressurreição.
Tanto o corpo quanto a alma não cessam de existir, apenas ficam separados como uma forma de
castigo de Deus sobre eles. Esse é o estado de morte que o homem fica até que o dia do juízo
chegue.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 211/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 212
morte começou a fazer parte da existência física do homem. Esta idéia é refletida na esperança de
Paulo, assim como na esperança de todos os filhos de Deus, que experimentam os efeitos dessa
morte. Em 2 Co 5.1-5 Paulo fala da ânsia de ser revestido de uma nova habitação, isto é, de ser
revestido de um novo tabernáculo, um corpo novo, uma nova qualidade de vida física, que se
dará na ressurreição. Este corpo que é mortal, isto é, que experimenta os efeitos da morte, vai ser
renovado, ser revestido da vida na ressurreição. Não anelamos pela morte, mas pelo revestimento
que caracterizar-se-á
restaurada em forma
na completação de salvação.
de nossa vida plena. A énossa
Esta natureza
a esperança plena, ecorpo
de Paulo, nossa.e Mas
alma,
atéserá
que
isso aconteça, estaremos ainda sob o efeito da morte em nós.
Enquanto a morte espiritual foi um evento, a morte física é um processo. O homem não
morre de uma vez, mas ele morre lentamente, até que o corpo seja separado da alma, no suspiro
final.
Desde que nascemos, já sentimos os efeitos do pecado em nosso corpo: as doenças logo
aparecem e, depois de alguns anos, o processo de queda já se torna evidente. Nós morremos aos
poucos. Custance disse:
O ser humano não tem morte física instantânea pelo fato de ser pecador, mas porque a
raça precisa ser preservada, e porque assim Deus determinou em virtude de Sua longanimidade
para com os homens. Por causa da Sua natureza, Deus não destrói o homem de uma só vez.
Custance disse: "A penalidade de comer do fruto não foi o encurtamento de uma vida que possuía
um término determinado de qualquer modo, mas a introdução de uma experiência totalmente
nova - a morte física." 253 A morte física também começou quando o pecado entrou na vida
humana. A consumação da morte física foi apenas uma questão de tempo.
A Inescapabilidade
A Escritura da Morte
diz que Jesus CristoFísica
morreu voluntariamente (Jo 10.18). Jesus escolheu não
somente o tempo de Sua morte, mas a morte em si. Ele ofereceu-Se à morte. A morte para Ele foi
algo ativo. Não foi algo que Ele sofreu, impossível de ser evitado. Ele não precisava morrer, se não
quisesse. Ele não era pecador e, portanto, ele não devia morrer de necessidade. Contudo, Ele
voluntariamente entregou-se à morte, mas os homens pecadores não possuem essa escolha.
A Escritura diz de maneira clara em Hb 9.27 diz que "aos homens está destinado
morrerem uma só vez, e depois disso o juízo". Esse é um decreto divino que está sobre pecadores.
Está ordenado que todos os pecadores venham infalivelmente à morte, porque ela é o "salário do
pecado". Todos os homens morrem fisicamente. Deste fato ninguém escapa, exceto aqueles
cristãos que viverem na parousia de Jesus Cristo, porque eles não estarão debaixo da
necessidade de morrer. Sobre isto falaremos mais tarde.
A morte é algo passivo para nós homens, não algo ativo com foi para Cristo. Não
escolhemos
de morrer.com
uma sentença Simplesmente morremos
base na violação da infalivelmente.
lei estabelecidaEpelo
algo santo
que sofremos, umaAexecução
Legislador. morte é
inevitável para o pecador. Os pecadores todos estão sujeitos à morte. Cristo humilhou-Se a Si
mesmo (Fp 2.8), mas os seres humanos pecadores são humilhados pela morte. Ele
escolheu a morte, e a morte tem colhido todos os homens. Por quê? Porque
está ordenado aos homens morrerem (Hb 9.27). Não há alternativa para os
252 Arthur C. Custance, The Seed of the Woman, (Ontario: Doorway Publications, 1980), p. 86.
253 Custance, The Seed of the Woman, p. 161.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 212/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 213
254 Nem todos os cristãos têm que morrer necessariamente. Paulo diz aos Tessalonicenses (1 Ts
4.13-18) que os crentes que estiverem vivendo na vinda ( parousia ) de Cristo não morrerão, mas todos serão
transformados, o que não significa morte. A morte para eles não é necessária, porque Jesus Cristo já pagou
as dívidas deles, e este pagamento inclui a morte física. E esta verdade é um consolo para eles. Morte como
necessidade, não mais! Todavia, há aqueles que têm que enfrentar a morte como penalidade. É destes que
este capítulo trata mais detidamente.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 213/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 214
representados pagarem. Nenhuma penalidade cai sobre eles porque por eles todos Ele
entregou-Se a Si mesmo. Através do Seu sacrifício, Deus foi plenamente reconciliado com o Seu
povo e o povo vem sendo reconciliado com Deus. Se Deus tivesse que punir o seu povo por causa
de seus pecados, a obra redentora de Jesus Cristo não seria completa. Na verdade não seria
redenção! Mas Deus removeu toda a penalidade do pecador e lançou-a sobre o representante
deles, Jesus Cristo.
negando b) que
Se os
a sofrimentos físicos
punição divina e a morte
é muito maisfísica
sériasão
do punição de Deus pelos
que os sofrimentos ou pecados, estamos
a morte física. A
justiça de Deus exige muito mais do que os sofrimentos desta vida ou a morte física. Se essas
duas cousas são punição divina para o cristão, ele está cooperando no pagamento que Cristo fez,
que é incompleto. Se a morte física é pagamento, a justiça de Deus é pouco exigente. Por que
Cristo haveria de nos livrar somente de parte da punição e não dela toda? Se estas cousas são
penalidade, Cristo deixou algumas contas para serem pagas, o que diminui o valor da obra de
Cristo.
e) Se os sofrimentos físicos e a morte do cristão São punição pelos pecados, essa punição
varia muito na vida dos homens, independentemente dos seus pecados. Os sofrimentos
temporais e a morte têm tido uma variação muito grande na existência dos cristãos. Uns pecam
mais e sofrem menos e têm até morte calma e sem sofrimento, enquanto que outros crentes
sofrem muito e ainda têm morte terrivelmente dolorosa. Se estas cousas são pagamento de
penalidade, alguma cousa anda errado com os efeitos da morte de Cristo, uns estão pagando
menos que outros.
d) Se os sofrimentos e a morte física são punição de Deus, podemos concluir que o homem
tem condição de render satisfação a Deus por seus pecados. O pecador não-remido pode sofrer a
penalidade de seus pecados, mas não pode ser remido do sofrimento. Se cremos que a morte do
cristão é penalidade, ele está participando do pagamento para ser remido, o que implica na
cooperação humana da sua própria redenção. Se objeta que participamos de nossa redenção, por
quê se entende que a morte é pagamento? Contudo, se o homem é capaz de render satisfação
pelos seus pecados, pagando com a morte física, ele poderia, se sofresse um pouco mais, de
render satisfação completa por seus pecados, desfrutando da vida eterna, o que gera um absurdo
teológico inominável!
e) Se a morte fosse um pagamento de penalidade, Enoque e Elias não a teriam sofrido.
Isso implica que eles foram melhores ou que Deus fez vista grossa aos pecados deles, o que
também é absurdo. Se considerarmos a razão da morte dos mártires da igreja tanto do VT como
do NT, haveremos de perceber que não foi o pecado a causa dela, mas o comprometimento deles
com o reino de Deus.
f) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, temos que chegar a uma de
duas conclusões: que o sofrimento físico de Cristo e sua morte física foram em vão e ineficazes (o
que é uma inverdade), ou que Ele removeu a punição temporal (o que é uma verdade). Quando
Cristo sofreu essas cousas, Ele as retirou de nós como punição. "Pelas Suas pisaduras fomos
sarados" (Is 53.5). Não sofremos mais punição. Apenas temos os sofrimentos e a morte física
porque ainda vivemos num ambiente onde estas coisas persistem, até que a redenção seja
completada e o ambiente seja mudado, o que se dará na nova terra.
g) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, teríamos que crer que
Deus pune os membros do corpo de Cristo, porque Ele ainda está irado com eles. Tal pensamento
é uma injustiça ao amor redentor de Deus e à justiça de Deus demonstrada em Cristo Jesus. Nós
somos santuário do Espírito Santo, e Deus não haveria de despejar a Sua ira contra os membros
do corpo do Seu Filho (1 Co 6.15-20).
h) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade dos pecados, teríamos
também que considerar as angústias e ansiedades da alma como castigo de Deus por causa do
pecado, também, porque em todos os sofrimentos do corpo a alma sofre igualmente, porque
existe uma interpenetração de influências. Se isto é verdade, o que Jesus fez pelos pecadores não
resultou em muitas cousas positivas, pois temos muito sofrimento nesta vida. Os benefícios da
obra de Cristo só serão percebidos depois da morte, o que mostra que ainda somos os mais
infelizes dos homens! Mas tal pensamento é tolice. Mesmo que sob os efeitos do mundo em
queda, ainda somos os mais felizes dos homens, por causa de Jesus Cristo!
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 214/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 215
A morte dos filhos de Deus é, na verdade, a entrada deles no reino dos céus de maneira
plena! Nunca ela deve ser vista neles como pagamento de penalidade!
irregenerado.
céu; a morte Todavia,
para o aímpio
mor teé para o cristão
a porta é a porta
através através
da qual ele da
já qual
tomaeleposse
tem acesso ao reino da
parcialmente do
condenação. Na morte o cristão entra na companhia dos remidos glorificados, enquanto que os
ímpios já começam a sofrer a companhia dos pecadores, os que colhem a maldição. Na morte o
cristão entra na plenitude de alegria, e o ímpio na plenitude da tristeza. A morte faz uma grande
diferença entre eles. Os caminhos deles nesta vida são diferentes, e o destino deles é
absolutamente diferente. O ímpio anda em seus próprios caminhos (Pv 14.14), caminhando para
a condenação, tendo a sua vida escondida no Maligno. O cristão anda nos caminhos do Senhor
(511.1; 51119.1), o caminho da negação e da renúncia do pecado e do "eu", tendo a sua vida
oculta em Cristo Jesus. Por essa razão, o fim deles é diferente. E a diferença entre luz e trevas,
como o céu é diferente do inferno.
A morte vem para ambos, mas sela o fim diferente deles. Ela é portal de separação para os
ímpios e portal de vida para os cristãos. A morte em si mesma é o pior pedaço para o cristão,
enquanto que para o ímpio ela é apenas o começo. O pior ainda está por vir. O primeiro é
confortado na morte, enquanto que o último é atormentado nela. Por causa do seu sofrimento o
cristão pode ter o seu inferno na terra, e o seu céu está por vir. Opostamente, o ímpio pode ter o
seu "céu" aqui na terra (S173), enquanto que o seu inferno está determinado depois da morte. O
"inferno" do cristão limita-se apenas aos sofrimentos desta vida, enquanto que o do ímpio os
sofrimentos desta não são para comparar com os que vêm depois da morte.
4. MORTE ETERNA
Esta morte eterna tem alguns nomes na Escritura: "Lago de Fogo" (Ap 19.20) e "segunda
morte" (Ap 2.11; 20.6, 14-15; 21.8); "condenação do inferno" (Mt 23.33); "lugar de tormento" (Lc
16.28); "inferno de fogo" (Mt 5.22); "fogo eterno" (Mt 25.41).
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 215/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 216
Na literatura grega, a palavra hades era descritiva de um mundo inferior, o reino dos
mortos, fossem eles bons ou maus. O Hades era descritivo de uma esfera divida em duas
categorias: a do elysium (para onde iam os bons, e a do tartaro (para onde iam os maus). Embora
alguns cristãos tenham assimilado a noção grega de hades, não há uma autorização da Escritura
para esse entendimento. A origem dessa divisão em compartimentos veio também de escritos da
literatura judaica não canônica, onde os justos estão em lugar separado dos ímpios, nos quais
255
cada um deles experimenta
Usualmente um
a palavra antegosto
hebraica do seu
sheol, quedestino
apareceeterno.
muitas vezes do VT, é traduzida pela
LXX como Hades. "O VT oferece apenas umas poucas informações a respeito do eterno destino do
indivíduo, e maior parte da sua preocupação é com o futuro dos justos antes do que dos
ímpios."256 Portanto, não é absolutamente claro nem único o uso que o VT faz da palavra sheol.
No Novo Testamento a palavra Hades se encontra Mt 16.18 como indicativa do lugar onde
Satanás reina, pois Jesus disse que as "portas do inferno ( a)/dhj) não prevalecem contra ela
(igreja)" (Mt 16.18).
Ela também aparece em Lc 16.23, onde fala que o rico estava no "inferno" (a)/dhj ), o lugar
próprio para onde vão aqueles que não temem a Deus. Ela é usada para denotar provavelmente o
lugar temporário para onde vão os mortos ímpios que, posteriormente São levados para o seu
destino final, que é o lago de fogo, a segunda morte.
Ap 20.13-14 também menciona o termo hades, que é traduzido na versão Revista e
Atualizada de Almeida
texto de Apocalipse comofortemente
sugere "além» no que
v. 13. No v.se14refere
hades hadesaoélugar
traduzido já como "inferno".
intermediário onde estãoEste
os
espíritos desincorporados, antes de entrarem no estado absolutamente final, que e o ―lago de
fogo‖.257
255 Observação de Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith , editado por
Carl F. Henry, (Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238. Verificar no livro de Enoch xxii. 1-14.
256 Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith, editado por Carl F. Henry,
(Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238.
257 Ibid. 238.
258 Gehenna aparece 12 vezes no NT.
259 Das 12 vezes que esta expressão aparece no NT, 11 delas estão contidas no ensino de Cristo.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 216/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 217
um lugar onde os impenitentes haverão de passar eternamente. E bom recordar que embora os
tormentos do inferno sejam absolutamente reais, devemos entender que alguns nomes usados
(como "fogo" ou "verme") usados metaforicamente, não com sentido absolutamente literal.
"aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão;
morreu também o rico, e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou
os olhos e viu ao longe a Abraão e a Lázaro no seu seio" (Lc 16.22-23).
Com clareza o texto afirma que o rico foi sepultado (v.22) e, imediatamente, afirma que ele
estava no inferno, em tormentos. Isso demonstra que, ao mesmo tempo em que os justos vão
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 217/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 218
imediatamente para o gozo de Deus (que é o caso de Lázaro - v.22), o rico foi imediatamente para
os tormentos sem fim, apenas esperando o juízo do grande dia.
Contudo, é preciso lembrar que os ímpios sofrem esse castigo
parcialmente, apenas no espírito, pois o corpo deles ainda não participa
dele, pois está no pó. Após a ressurreição final, que é a ressurreição para a
vergonha e horror
nesse lago, eterno
onde estão (Dn 12.2), oosdiabo
juntamente ímpios impenitentes
e seus anjos. serão lançados
A Escritura diz que após a morte e ressurreição dos ímpios eles entrarão no juízo final,
"porque está ordenado aos homens morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hb 9.27).
A razão dessa punição eterna pelo pecado é porque o pecado é cometido contra um Deus
eterno e infinito (l Tm 1.17), que requer uma satisfação infinita e, portanto, eterna. Porque o
ímpio pecou contra um Deus infinito, a sua punição, portanto, é reconhecida como infinita.
Nunca o homem terminará de pagar a sua dívida com Deus, porque é dívida de alguém que
continua pecador. O débito do pecador não pode nunca ser saldado porque somente a obediência
a Deus poderia satisfazer a justiça divina. Todavia, ainda lã, no inferno, na condenação, o homem
haverá de estar contra Deus, insurgindo-se contra a sua lei. No estado futuro, os ímpios haverão
de pecar. Quando mais pecado, mais ódio contra Deus. João, no Apocalipse, dá uma idéia do que
acontecerá no destino eterno de ambos, dos justos e dos injustos: "Continue o injusto fazendo
injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o
santo continue a santificar-se" (Ap 22.11). Os ímpios pagarão pelos seus pecados, mas nunca
terminarão de pagar porque para sempre se rebelarão contra o Senhor.
A palavra grega gee/nna que sempre é traduzida como inferno nas nossas versões, nunca se
refere ao tormento do estado intermediário, mas sempre à punição eterna.
O Sentido da palavra “eterno"
respeitoAàpalavra
vida e àgrega
morte. Qual, que é traduzida como "eterno" aparece diversas vezes no NT com
ai)w/nion
é o sentido dessa palavra grega? No caso de combinação com a
palavra "vida", o termo ai)w/nion tem a conotação de "vida imperdível". O sentido, todavia, é mais do
que de quantidade. Ela é a vida plena da bondade de Deus, plena da comunhão com Deus.
Contudo, não se pode esquecer que ela contém a idéia de duração sem fim. Observe-se que em 1
Co 15.53, as palavras imperecível (ou incorruptível) e imortal são sinônimas.
No caso de combinação com a idéia de "morte", há a mesma conotação qualitativa e
quantitativa. Estes dois aspectos não podem ser esquecidos.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 218/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 219
A teoria da Não-Punição
Os defensores dessa teoria não crêem numa punição futura, porque eles não crêem em
qualquer espécie de existência futura. Tudo termina por aqui. Esses são os materialistas puros.
Eles crêem que a alma, se há alguma, é apenas uma função do cérebro, ou uma parte de todo o
complexo do organismo humano. Quando o homem morre, tudo se acaba. Nem a recompensa
futura existe, na conta deles. Na verdade, esses não são cristãos. Então, eles não causam um
problema maior, exceto se estivermos em lugares de grande concentração de materialistas.
A Teoria do Aniquilacionismo
Há outros que pensam que o pecado deve ser punido, mas eles são incapazes de admitir a
idéia de uma punição sem fim. Admitem uma recompensa de bem-aventurança eterna. Eles são
chamados de aniquilacionistas. Eles crêem numa ressurreição geral final, numa vida futura de
gozo, que é o céu. Segundo eles, somente os cristãos recebem uma existência eterna. Contudo, os
ímpios serão destruídos após a ressurreição final. A punição deles está em não poderem mais
existir.
qualquerHáforma
alguns
ele aniquilacionistas
morreria. O pecado que sustentam
veio que o homem
somente complicar a sua foi feito um
finitude. ser eterna
A vida mortal. De
é um
dom que Deus da aos que crêem e vivem piedosamente neste mundo. A punição dos ímpios,
contudo, é o fato de Deus se recusar dar-lhes a vida eterna. A punição, então, é a privação da vida
eterna, mas não há um castigo positivo. Apenas a privação do que é bom.
Há ainda outros aniquilacionistas que admitem uma certa punição, não aceitando,
todavia, a punição sem fim. Esses são cristãos que aceitam todas as outras verdades do
cristianismo, exceto esta. Eles dizem que a doutrina da punição eterna não está em consonância
com o caráter de Deus.
Para eles, o adjetivo "eterno" em relação à punição não deve ser tomado literalmente, mas
somente como indicação de um longo período de tempo. O outro argumento usado por eles é que
as palavras "destruição" e "morte" implicam numa cessação de existência.
A Teoria
Esta da Segunda
teoria é uma Chance
outra forma de aniquilacionismo. Após a morte, no estado
intermediário, aqueles que rejeitaram a verdade recebem a outra oportunidade de fazer as
escolhas certas. Porque Deus é um ser muito amoroso, aqueles que morrem sem se arrepender,
terão uma outra chance na existência futura. Os que se recusam a isso na segunda chance, serão
aniquilados, sendo lançados na gehenna, o fogo que consome, ou poderão ter uma forma mais
baixa de existência eterna. No fundo, segundo essa teoria, Deus vai fazendo tentativas para tirar
o máximo de pessoas da destruição. A teoria do purgatório, no catolicismo romano, é um exemplo
bastante claro dessa idéia, mesmo embora, no purgatório as pessoas não se arrependem, mas
completam o sofrimento de Cristo, tendo a chance de purgar os seus próprios pecados.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 219/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica 220
1) Embora o termo grego ai)w/nioj (que é traduzido em nossas versões como "eterno") não
signifique literalmente "um tempo interminável", contudo, quando usado em contraste com "vida
eterna", não pode significar outra coisa que não "duração sem fim". Este argumento está
absolutamente claro em Mt 25.46 "E estes irão para o castigo eterno, porém os justos para a vida
eterna". A menos que neguemos a duração sem fim da bem-aventurança, teremos que aceitar a
eternidade, ou a duração sem fim da punição.
O texto de Ap 14.11 mostra uma outra conotação de eternidade de uma outra forma,
combinada com outras expressões: A expressão "Tormento pelos séculos dos séculos "é a
tradução da expressão grega ei)j ai)w=nas ai)w/nwn - Esta expressão grega fala da duração da punição
da besta e de todos os seus adoradores, os ímpios, que é seguida de duas outras expressões que
reforçam a idéia de eternidade.
Ap 14.11 - "A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não
tem descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua
imagem, e quem quer que receba a marca do seu nome."
Ap 20.10 - "O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e
enxofre, onde também se encontram não só a besta como o falso profeta e serão
atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos."
Há uma outra expressão da Escritura, que não ~ que evidencia que a punição tem um
caráter sem fim.
A expressão bíblica usada é Fogo Inextinguível - O texto de Mc 9.43, diz: "E se a tua mão te
faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires
para o inferno (gee/nan), para o fogo inextinguível." 260 Observe que gehenna é sempre conectado
com penas eternas, nunca com o sofrimento do período intermediário. Confira este texto com Mt
3.12. 2) As palavras ―destruição‖ e "morte", usadas pelos três teorias acima para negar as penas
eternas não é um argumento sustentável. A palavra "destruição" (2 Ts 1.9) não pode nunca
significar aniquilação porque é alguma coisa que acontece eternamente. Além disso, e uma
expressão que pode indicar a qualidade da existência sem Deus e sua graça. A palavra ―morte‖
(Ap 2.11; 20.14 e 21.8) também é indicativa de qualidade de existência sem Deus. Por essa razão,
não pode significar aniquilamento.
A Condição em que se suporta esse castigo
Além de ser um sofrimento de caráter perene, a Escritura dá-nos a entender que ele será
suportado de forma consciente. O texto de Lc 16.19-31, que narra a parábola do rico e de Lázaro,
ilustra de modo inequívoco a consciência em que vivia nos tormentos do inferno (v.23-24). A
conversa do ímpio em tormento com Deus (v.25-31) reforça a idéia de o ímpio estar na plenitude
de suas faculdades mentais, a despeito da ausência do corpo.
260 Os textos de Mc 9.44, 46 e 48 não se encontram nos melhores Manuscritos mais antigos. Por
essa razão, não usaremos como textos-prova do nosso argumento, a fim de não sermos contestados pelos
adversários das penas eternas.
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 220/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 221/222
8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica
http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 222/222