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Colégio Estadual do Paraná Data: Outubro de 2020

Nome: Vinícius Gandolfi de Morais N° 32 Turma: 3°G


Matéria: Filosofia Professora: Vilma Luzia Dolinski

Visão de Nietzsche da Arte


Ler o texto em anexo e responder:

1) O que é a verdade para Nietzsche?


R: Em seu texto “Sobre a Verdade e a Mentira no Sentido Extra-
Moral” Friedrich Nietzsche (1844-1900) nos leva em suas denominações
de verdade e como ela aparece no mundo em que vivemos. No entanto,
primeiramente, o autor faz uma diferenciação da verdade que serve de
base para o texto. A verdade no sentido moral é aquela que vemos no
meio social, cotidiano e familiar, criada para que as pessoas se
satisfaçam e se sintam bem, garantindo suas sobrevivências. Em
contrapartida, a verdade no sentido extra-moral é aquela pura e sem
conseqüências, que não afeta a sobrevivência dos indivíduos, as
verdades de cunho filosófico e científico, e é essa que o filósofo está
interessado em discutir e debater a respeito de como ela é formada e
construída.
Antes de tudo, Nietzsche delineia o papel do homem no cosmos,
que desde que adquiriu o poder do intelecto acha que entrou em
consonância com a própria existência do universo e, portanto, se tornou
o centro dele. No entanto, para ele, o ser humano não se compara com
a imensidão, a abrangência e a atemporalidade do universo, sendo
insignificante ao todo. Seu intelecto é então usado apenas como arma
para fins de sobrevivência, com o conhecimento dando origem à
instrumentos para que ele pudesse seguir sua vida na natureza, tal qual
usando aviões para voar como os pássaros que possuem asas para isso
ou na criação de automóveis para se locomoverem mais rápido como já
é natural dos grandes felinos conseguirem correr por grandes distâncias.
O intelecto então nada mais é do que usado na forma de
máscaras e disfarces e sendo assim, seguindo com seus pensamentos,
Nietzsche chega à conclusão que as verdades são apenas ilusões, pois
elas são advindas de um longo processo de discursos, metaforização,
elaboração de conceitos e interferência da linguagem, desde a aurora do
homem primitivo até o homem contemporâneo. Todos esses elementos
constituem meras encenações do real.
A filosofia trabalha muito com a linguagem, mas ela é apenas
uma relação contratual e de troca de informações que se apossou das
sociedades humanas. Por sua vez, as palavras vistas na linguagem dão
origem aos conceitos, meras metáforas do que realmente existe e que
são reproduzidas por meio de discursos. As particularidades e
generalizações encontradas nesse ciclo impedem a chegada à
verdadeira essência das coisas. A palavra “árvore” a exemplo apenas
exprime uma idealização mental em cada pessoa, sem levar em conta a
pluralidade de árvores que encontramos na natureza, todas diferentes
em suas formas, cores, tipos e tamanhos, em uma completa igualação
do não-igual. As sensações que sentimos e experimentamos em
conceitos de duro, mole, azedo, amargo, complicado, justo, honesto, etc,
podem trazer sensações diferentes para outros seres. Se essas
verdades não abrangem o todo e o eterno, logo não são verdades reais,
apenas ficção delas.
Finalizando, o pensamento nietzschiano não é contra a existência
dessas verdades ilusórias e ficcionais em nossas sociedades, mas a
forma como construímos uma estrutura social baseada nessas verdades
que acreditamos ser absolutas ou pelo menos esquecendo e fingindo
não lembrar que se trata de meras metáforas, de forma análoga a uma
imagem refletida de um espelho.

2) O que é arte para Nietzsche?


R: Ciente do conceito de verdade para Nietzsche podemos agora
saber o que seria a arte para o filósofo. Se a verdade extra-moral,
aquela pautada na filosofia, no cientificismo e no racionalismo como se a
Terra é plana ou não, é uma verdade ilusória que apenas se aproxima
do real, o conhecimento intuitivo e sensível que presenciamos nas
manifestações artísticas desenvolveria qual tipo de relação com isso.
Nietzsche no diz que temos esse impulso à verdade,
simplesmente, por exemplo, ao freqüentarmos a escola, local onde o
conhecimento racional é divulgado. Ao mesmo tempo também muitos
precisam de uma terceira perna, um terceiro olho, uma terceira visão de
mundo, como são o caso dos mitólogos, pessoas que criam mitos e
crêem em religiões com histórias fantásticas, e dos artistas, ao
expressarem em suas obras aquilo que adquiriram no decorrer de sua
vida, por meio da sensibilidade e da experiência sensível ao todo. Pois
se levarmos em conta o que foi dito na primeira questão, as verdades
ilusórias são justamente isso, construídas com base em nossa
experiência de vida, desde que aprendemos a falar e escrever por meio
das linguagens e dos discursos até chegar em nossa capacidade de
entender conceitos e produzir metáforas.
Em Filosofia da Ciência, descobrimos e aprendemos sobre o
método científico e como a ciência, a filosofia e o conhecimento racional
ao todo se apóiam nele para disseminar e projetar seus ideais. Mas é aí
que reside sua prisão da verdade: ele se encontra preso ao método e às
regras da lógica, escravo daquilo que é apenas racional. Em
contrapartida, na arte, o que vemos é a criatividade, a capacidade de
criar coisas, muito mais livre, solto e desprendido do que qualquer coisa
e assim, conseguindo se aproximar ainda mais do real e da verdade.
No final das contas, tudo então seria arte. Se a natureza nos deu
o intelecto para criar disfarces, podemos enxergar isso na ciência por
meio das teorias científicas e inovações tecnológicas, não apenas
através dos quadros e esculturas apreciadas na arte, sendo isso a
criatividade em suas múltiplas formas. Ambos, racionalismo e intuição,
criam metáforas. A metáfora artística acaba sendo apenas mais livre e
dessa forma, se aproximando ainda mais da verdade ilusória, que é o
máximo que conseguimos chegar da essência da “coisa em si” como
diria Immanuel Kant (1724 - 1804). É a arte e o seu impulso à criação
que estimulam nossa vida e caminhar e o eterno viver, sendo ela o único
lugar onde reside a verdade e não em outro lugar.
3) Compare a relação da arte com a verdade em Platão com a que
Nietzsche estabelece. Comente.
R: Sendo conhecido como o anti-filósofo, as obras de Nietzsche
não se cansam de discordar do pensamento platônico em todos os
pontos possíveis, com o autor mesmo dizendo que seu conhecimento se
trata de um platonismo invertido. Quando teceu seus ideais da vida, da
sociedade e da existência há mais de dois mil anos atrás, Platão
estabeleceu uma nova mudança paradigmática nos moldes
educacionais até então vigentes. É então no século XIX que Nietzsche,
junto não apenas de outros pensadores como do próprio contexto
histórico em que vivia, que ajudou para a quebra desse paradigma e a
instauração de um novo, com “Sobre Verdades e Mentiras no Sentido
Extra-Moral” sendo uma grande contribuição disso ao apresentar uma
relação totalmente oposta da forma como o pensamento platônico
diverge do pensamento nietzschiano em relação à arte e a verdade.
Em sua Teoria das Ideias, Platão estabelece a fragmentação do
mundo em dois: mundo sensível e mundo inteligível. O primeiro sendo
falso, mentiroso, corruptível, passageiro e ilusório, sendo aquele em que
vivemos, e o segundo sendo perfeito, verdadeiro e eterno, lugar da
verdade. Apesar de vivermos no mundo sensível, poderíamos chegar ao
inteligível por meio da racionalidade e ter acesso à verdadeira essência
de tudo e todas as coisas. Com isso, conforme vai desenvolvendo seu
pensamento, Platão chega à conclusão que a arte é apenas uma cópia
da cópia, uma imitação por seu caráter de conhecimento intuitivo, e não
racional, afastada a três graus da verdade e do mundo inteligível, sendo
apenas uma brincadeira de criança do mundo sensível. Os artistas
seriam então meros imitadores e apresentadores dessa falsa realidade
e, portanto, deveriam ser invalidados e nem teriam espaço para viverem
na república perfeita dos moldes platônicos.
Como vemos nas questões anteriores, Nietzsche contradiz tudo
isso. Não há essa dualidade de mundo em seus pensamentos, existe
apenas um, esse em que vivemos e não outro, sem ele não existiríamos
mais. Consequentemente a isso, o autor nos diz que a verdade não está
em nenhuma realidade metafísica como o mundo inteligível, mas
localizada aqui mesmo, apesar de se apresentar na forma ilusória. Não
há mais uma viagem ao mundo inteligível para se chegar à verdade, ela
faz parte de nossa experiência de vida.
Platão ainda nos traz o conceito de alma aos seres humanos,
nos diferenciando e nos endeusando perante aos demais seres vivos.
Com Nietzsche não há isso. Ao concordar com “A Origem das Espécies”
de Charles Darwin, somos apenas animais inteligentes que evoluíram e
adquiriram a capacidade de intelecto para sobrevivermos no ambiente
por meio de disfarces.
Se com o pensamento platônico conseguíamos chegar à
verdadeira essência das coisas ao atingirmos o mundo inteligível, o
pensamento nietzschiano discorda ao trazer à tona que apenas
chegamos perto disso, afinal tudo à nossa volta é moldado por nossas
próprias convenções sociais construídas ao longo da história através de
conceitos, linguagens, metáforas e discursos. Entra nesse âmbito
também, a questão da pluralidade das coisas, onde se para Platão havia
apenas uma forma para todas as coisas que se apresentavam de
múltiplos jeitos, para Nietzsche não há, apenas não somos capazes de
englobar o todo e para tanto tratamos as várias espécies de cachorros,
árvores, cobras, minérios, etc, no singular.
Com isso tudo, a arte vista por meio da visão platônica é
totalmente diferente vista da ótica nietzschiana. Se antes ela era o
sinônimo daquilo que há de mais falso, ilusório, mentiroso, corruptível e
feito de sombras que existia em nossa realidade, totalmente afastada da
verdade, agora, sob o niilismo de Nietzsche, ela é a mais pura e singela
demonstração da verdade no meio em que vivemos, se fazendo em tudo
e todas as coisas, se manifestando de várias formas e sendo ela a única
razão e o estímulo que nos segue para vivermos. Se somos seres
dotados de intelecto, e é ele que nos diferencia dos demais animais, por
nossa capacidade de criamos e se cobrirmos de máscaras e disfarces, é
justamente por nossa criatividade em produzirmos arte.

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