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Resumo
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Introdução
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estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da histó-
ria deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós
vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que
acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele
gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas
uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta
força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresisti-
velmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado
de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.
(Benjamin, 1987, p. 225)
2 A interpretação de Walter Benjamin sobre o anjo de Klee teria feito com que ele
se tornasse um ícone da esquerda (Werckmeister, 1997).
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cos nas sociedades ocidentais modernas, ocasionou uma das bases mais
significativas para a percepção de que mudanças (nem sempre bem vis-
tas) estavam em curso na esfera dos costumes.
Esses períodos frios de mudanças são vistos por Durkheim como
existencial e moralmente perturbadores para os indivíduos. Neles deve-
ríamos guardar especial atenção aos sentimentos públicos emergentes
tais como medos e sensações difusas de ameaças. Charles W. Mills, nesta
mesma linha, décadas depois, conclui que:
Quando as pessoas estimam certos valores e não sentem que sobre eles
pesa qualquer ameaça, experimentam o bem-estar. Quando os estimam,
mas sentem que estão ameaçados, experimentam uma crise – seja como
problema pessoal ou questão pública. E se todos os seus valores estiverem
em jogo, sentem a ameaça total do pânico” (Mills 1969, p.17-18).
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5 Em Vital da Cunha (et al. 2017) ver com mais detalhes os dados da pesquisa
mencionada.
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6 Para acessar o conteúdo das entrevistas gravadas com Zequinha Marinho (PSC-
PA), Geraldo Pudim (PMDB-RJ) e outros parlamentares ver Vital da Cunha 2017b.
7 Para acessar um breve histórico sobre o Estatuto da Família e seu apoio parla-
mentar entre católicos e evangélicos ver Carranza e Vital da Cunha 2018.
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9 Com destaque para Vital da Cunha 2018. Excelentes análises também foram tra-
zidas por Sant’Ana (2018); Carly Machado (2013), Mafra (2001), entre outros.
10 http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/ Acesso em 02 de outubro de 19.
11 Almeida (2019) vem refletindo sobre a formação de uma onda conservadora na
qual os evangélicos teriam uma incidência fundamental. Na formulação de seu
argumento elabora que esta onda se apresenta em algumas linhas de força que
guardam um paralelo importante sobre estes sentimentos públicos de ameaça
sobre os quais venho refletindo.
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12 O intenso jogo de marketing que tornou vitoriosa esta estratégia política é, se-
gundo Jeffrey Alexander (2014), elemento central na dinâmica política democrá-
tica da metade do século passado para cá.
13 Para saber mais sobre situações que produzem o imaginário da “violência urbana”
e da “metáfora da guerra” que justificariam publicamente o uso extremo da força
pelos agentes do Estado ver Machado da Silva (2008); Leite 2001 entre outros.
14 A noção de autoridade passou a ser uma demanda importante da população para
o exercício político no contexto americano pós derrubada das Torres Gêmeas nos
EUA em 11 de setembro de 2001 foi analisada por Fraser e vem contribuindo em
minhas análises junto com a categoria “enérgico”, mais local e difundida na segu-
rança pública do Estado do Rio de Janeiro. Para acessar uma reflexão endógena
sobre a categoria ver Laranjeira (2004).
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nal, nos termos de Moacir Palmeira (1996)15. Exemplo disso era a compo-
sição do primeiro e segundo escalões do governo federal. As justificativas
para o aceite aos convites feitos e a motivação das indicações, por outro
lado, passavam, com grande ênfase, pela publicização de uma fidedigni-
dade do convidado à persona de Bolsonaro, com algumas poucas exce-
ções. A fidedignidade ao grupo ou ao seu líder é mais valiosa nesta tática
do que partilha de sentidos do que é a vida pública, o que seja a política ou
ideologias que as sustentariam. O apoio fiel, mais do que a coerência com
trajetórias políticas e intelectuais seria a base desta relação.
Palavras finais
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Referências
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