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Bernardino Coelho da Silva

Jair Messias Bolsonaro


da Caserna ao Palácio do
Planalto
Jair Messias Bolsonaro
da Caserna ao Palácio do Planalto

2020
A imagem, o mito é uma coisa e o homem é
outra. É muito difícil viver no dia-a-dia essa
imagem, esse mito.
Elvis Presley
Introdução
Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e
sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o Universo conspira
a seu favor.
(Johann Goethe [1749-1832] autor e estadista alemão)

Barra da Tijuca (RJ), 6 de abril de 2014.


Era uma bela manhã; convidativa para um banho de
mar e sol. À mesa, o deputado federal e capitão da Reserva
do Exército Brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, tomava seu
café ‘preto’ tendo como acompanhamento pão francês
besuntado com leite condensado.
Como de costume, Bolsonaro iria sair para a
caminhada domingueira que fazia pelo calçadão das praias
cariocas, onde cumprimentava populares, parava para tirar
fotos com admiradores e aproveitava para reafirmar seu
compromisso com a Cidade Maravilhosa, em ritmo de
permanente campanha eleitoral.
Mas, um turbilhão de pensamentos fazia com que ele
demorasse mais tempo em seu café. Bolsonaro, tendo
completado 59 anos e alguns dias, achava que estava na
hora de dar um passo mais ousado em sua carreira política.
Com a testa franzida e a mão esquerda apoiando o queixo,
ele refletia solitário sobre como tornar realidade, o sonho de
se candidatar à Presidência da República, ainda naquele
ano em que o PT tentaria seu quarto mandato seguido.
Ele já tinha um primeiro grupo de apoiadores no
Facebook, com cerca de doze mil membros na página “Jair
Bolsonaro Presidente 2014”, criada por militantes de direita,
com o intuito de estimular a sua candidatura. Em sua página
oficial, também naquela rede social, o deputado tinha cerca
de 340 mil seguidores, embora ainda não tivesse publicado
nada sobre essa sua pretensão política.
Assim, a primeira pessoa com quem ele falaria sobre o
desejo de se lançar candidato à Presidência da República
foi com sua esposa, Michelle Bolsonaro que, de pronto,
respondeu-lhe:
- Você ficou louco?
E continuou a preparar o café para as filhas Laura e
Isabela, não dando atenção à conversa do marido, que ela
achava, no princípio, algo assustador, pelo receio que ele
fosse sofrer, durante eventual campanha eleitoral, um
verdadeiro massacre por parte de seus adversários políticos
e, claro, seria sofrimento para toda a família.
Ela se calou e seus temores foram deixados de lado,
mesmo que momentaneamente.
Talvez Michelle tivesse razão ao se espantar com a
pretensão do marido, mas Bolsonaro, quando encasqueta
com alguma coisa, não a abandona com uma simples
crítica. E o que ele queria não era coisa qualquer e, por isso
pretendia ouvir outras pessoas.
E, de volta à Brasília, Bolsonaro procurou o colega da
Câmara dos Deputados, Alberto Fraga - coronel reformado
da Polícia Militar do Distrito Federal -, a quem relatou o que
pretendia e pediu sua opinião:
- Fraga, eu vou tentar a Presidência. Sei que será
difícil, mas se eu tiver 10% dos votos estou satisfeito. O que
você acha?
- Bolsonaro, pensa bem. Se você quer um novo cargo,
então concorra ao Senado. Assim como eu, você sabe que
não pode ficar sem mandato, pois terá que responder a
muitos processos, pelas as inimizades feitas nesta Casa.
Nem a reação negativa da esposa e nem o conselho
do colega foram suficientes para demover Bolsonaro da
ideia de se candidatar ao cargo máximo do Executivo,
embora até ele, vez ou outra, chegasse a pensar: “Será,
meu Deus, que eu estou no caminho certo?”
Mas, por ser uma pessoa de natureza determinada e
muito otimista, sua decisão já estava tomada e ele seguiria
em frente com seus planos.
Então, cerca de duas semanas depois, o deputado
comunicou a direção do Partido Progressista (PP) sua
vontade de concorrer à indicação da legenda para disputar a
Presidência da República.
E Bolsonaro foi taxativo: “Eu espero ser atendido
neste meu pleito”.
Contudo, a direção do PP preferiu integrar a coligação
de nove partidos em torno da candidatura à reeleição da
petista Dilma Rousseff obrigando Bolsonaro a adiar seu
projeto de candidatura presidencial.
Mas ele não deixou por menos e disparou no Twitter:
- Mesmo sem deliberar através do voto a cúpula do PP
(Ciro Nogueira) resolveu, na mão grande (cheia de...) apoiar
a reeleição da Dilma. Agora, com o apoio do meu partido, a
quadrilha ganha 1 minuto e 20 segundos para contar suas
mentiras no horário eleitoral. Agradeço o apoio e a atenção
de vocês. Confesso que também tinha esperanças. O
sonho, por enquanto, fica adiado.
Um de seus milhares de seguidores, Pedro Nobre,
respondeu ao seu tuite:
- Não desista da Presidência! O senhor é um soldado
e irá sair vitorioso da guerra, com a nossa ajuda! Pode
contar com muitas pessoas que lhe admiram! Vamos
transformar o Brasil! Um soldado que desiste da guerra é
um covarde e nós não desistiremos, porque não somos
covardes e vamos conseguir transformar o Brasil. O senhor
precisa ganhar, custe o que custar, parece impossível, mas
nada é impossível; basta acreditar e batalhar, Caso o
senhor não ganhe, o Brasil estará perdido, mais perdido do
que já está... Está tão perto (na verdade não tão perto, mas
menos longe que nunca né?). Só mais um pouco; o senhor
consegue e nós também! O senhor é o presidente que o
Brasil precisa. O que eu e muitos outros pedimos por muito
tempo e finalmente apareceu! Apenas pense que o senhor
conseguirá, se tiver que trocar de partido, troque, mas
ganhe a eleição. O senhor será candidato porque o povo
quer (diferente de outros...). Não importa o que aconteça,
pois pode crer que muitos brasileiros estarão com o senhor!
Bolsonaro, é claro, não desistiria jamais.
Ir sempre em frente estava no DNA do capitão. E,
como ele estava em plena movimentação política, acabou
sendo, naquele ano, o deputado federal mais bem votado do
Rio de Janeiro, tendo recebido 464.572 votos ou 6,07% do
eleitorado fluminense.
Ainda em novembro, em visita à Academia Militar das
Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), Jair Bolsonaro
disse convicto aos novos cadetes:
- Eu estou disposto, em 2018 - seja lá o que Deus
quiser - tentar jogar pra direita esse nosso País. Tá ok?
No dia 14 de abril de 2015, Bolsonaro, discursando na
Convenção Nacional do Partido Progressista, pediu ao seu
presidente, senador Ciro Nogueira (PI), que o liberasse, sem
perda do mandato, para se transferir a outro partido, onde
pudesse construir a sua candidatura à Presidência da
República. “No partido onde estou dificilmente serei candidato
sequer para o Senado”, reclamou.
Mas os planos do capitão-deputado não foram levados
a sério, por seus colegas de Partido, diante da existência de
uma polarização ainda muito forte entre o Partido dos
Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), depois da disputa apertada, nas eleições
de 2014, quando saiu vitoriosa a petista Dilma Rousseff -
reeleita com 51,64% dos votos válidos.
Ainda em 2015, o deputado Jair Bolsonaro procurou o
general Antônio Hamilton Mourão, então secretário de
Economia e Finanças do Comando do Exército, e disse que
poderia precisar dele a qualquer momento “pois queria um
vice de absoluta confiança”. O general Hamilton Mourão
nada lhe respondeu, nem comentou o assunto com qualquer
de seus pares. “Fiquei quietinho”, revelaria o general
Mourão anos depois.
Contudo, para Mourão, o deputado Jair Bolsonaro
havia feito uma boa leitura dos resultados das urnas e estas,
com certeza, “haviam mostrado que a onda esquerdista
estava se esgotando e que as pessoas queriam um novo
jeito de fazer política”.
Era então esperar que o ano de 2018 chegasse...
Bolsonaro, na luta por viabilizar sua candidatura à
Presidência da República, conseguiu deixar o Partido
Progressista - sem perda de seu mandato -, em março de
2016, quando entrou em vigor a Emenda Constitucional nº
91, que criou a janela partidária ou também chamada
‘carinhosamente’ de “janela de traição consentida”. Assim,
aproveitando da oportunidade, ele se transferiu para o
Partido Social Cristão (PSC), presidido pelo pastor Everaldo
Dias Pereira, levando com ele os seus três filhos políticos.
A partir de então, Bolsonaro deu partida às suas
andanças pelo Brasil, para se apresentar como um futuro
postulante a candidato à Presidência da República, com a
pregação de ideais nacionalistas, centrado na necessidade
de retomada do crescimento econômico, da geração de
empregos e renda, da defesa da família, de uma educação
de qualidade e sem ideologia e outros temas caros para
grande parte da sociedade e que ele já tinha, há tempos, em
destaque na sua agenda na Câmara dos Deputados.
E Michelle Bolsonaro, que num primeiro momento
ficou assustada com a ideia do marido em se candidatar à
Presidência da República, passou a ser o seu grande apoio
e inspiração no projeto de se lançar candidato em 2018,
embora ela tenha se mantido, a maior parte do tempo,
discreta e longe dos holofotes e da movimentação política
em torno do deputado social cristão.
Bolsonaro, além da necessidade de se tornar mais
conhecido internamente, precisava também projetar sua
imagem no exterior junto aos milhões de brasileiros que
vivem fora do Brasil e também junto a governos e
organizações internacionais. Assim, em maio de 2016, ele
fez a sua primeira viagem ao exterior, para se mostrar como
potencial candidato ao Palácio do Planalto.
Como o Estado de Israel comemorava 68 anos de sua
fundação foi providencial o agendamento de uma visita
àquele País, tendo Bolsonaro seguido em uma pequena
comitiva chefiada pelo pastor Everaldo, presidente do PSC.
Mas não seria uma viagem das mais tranquilas,
porque parte da imprensa, não perdeu tempo e usou todos
os argumentos possíveis para tentar desqualificar sua ida a
Israel, como por exemplo, falar que ele foi batizado no dia
em que se votava o Impeachment da presidente Dilma,
embora tal votação fosse somente dos senadores, tendo
Bolsonaro votado na Câmara dos Deputados, quase um
mês antes, pela admissibilidade da abertura do processo
pelo Senado Federal.
Portanto, ele não tinha qualquer obrigação de estar no
Brasil naquele dia, além do que, ele estava viajando com
autorização da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados,
Casa Legislativa a que pertencia. Mas ele já estava calejado
deste tipo de implicância gratuita de parte da imprensa,
alinhada com a esquerda.
A convivência pacífica com o PSC, entretanto, duraria
pouco tempo. Jair Bolsonaro chegou até ser apresentado
pelo pastor Everaldo como pré-candidato do PSC à
Presidência da República, durante o ato de sua filiação ao
Partido, em março de 2016, mas Bolsonaro queria certeza
absoluta de que sairia candidato. Para tanto, ele precisava
de uma legenda sobre a qual tivesse poder de mando, o que
não conseguiu em seu novo partido.
Alheio à manifestação negativa de parte da mídia, mas
consciente da aceitação pública de sua candidatura -
medida pelas grandiosas recepções que sempre teve em
todas as cidades visitadas durante os anos de 2016 e 2017,
além de já contar com uma imensa rede de apoiadores
virtuais -, Bolsonaro então deixou o PSC, de forma
amigável, no dia 9 de agosto de 2017.
A desfiliação de Jair Bolsonaro aconteceu com a
bênção do presidente do Partido, pastor Everaldo Dias
Pereira, com a legenda se comprometendo a não pedir o
mandato do político de volta na Justiça.
Em princípio, a ideia era ir para o Partido Ecológico
Nacional (PEN), que mudaria o nome para Patriotas – o que
chegou a ser anunciado, porém não foi concretizada tal
transferência.
Em uma visita a Uberlândia (MG) ocorrida no dia 19
de outubro, Bolsonaro disse que estava “namorando o
Patriotas”, porém, não negou flertar com outros partidos
políticos, com o objetivo de fazer uma escolha definitiva:
- Sei que ele tem alguns problemas, mas estou junto
ao presidente Adilson Barroso para solucionar. Se não
solucionar, como sou paraquedista [ter de decidir onde cair
da melhor forma], já tenho outro em vista, afirmou.
E Bolsonaro acabou decidindo pelo Partido Social
Liberal (PSL), onde passou a ter poder de mando para
construir sua candidatura à Presidência da República.
Sua filiação simbólica ao PSL ocorreu no dia 7 de
março de 2018, ocasião em que o deputado confirmou sua
decisão de concorrer à Presidência da República pela nova
sigla partidária. O evento, que foi realizado no plenário 2 da
Câmara dos Deputados, contou com orações, choro e gritos
exaltados na plateia, inclusive pedindo a prisão do ex-
presidente Lula. Em frente ao Congresso Nacional, um
grande boneco de Jair Bolsonaro foi inflado.
Apesar do nome da legenda conter a expressão
“Social”, tanto Jair Bolsonaro, quanto o senador Magno
Malta (ES) e o presidente do PSL, Luciano Bivar (PE)
disseram que aquele momento marcava a “criação” do
primeiro partido oficialmente conservador, de direita, no
cenário político brasileiro.
Mesmo tendo que conviver com pequena resistência
interna inicial de parte de membros do novo partido,
Bolsonaro conseguiu superar os obstáculos e se colocar
como candidato à Presidência da República, o que foi
confirmado pela Executiva Nacional do PSL, em reunião
ocorrida no dia 22 de julho de 2018.
Ele sabia que não seria coisa fácil – um partido
nanico, quase sem tempo de propaganda no rádio e
televisão e com poucos recursos financeiros -, mas nada o
demoveu de seu objetivo, vindo a concorrer com fortes e
poderosos candidatos apoiados pela mídia e com fartos
recursos financeiros.
Mas, isto não era apenas por teimosia ou vaidade; Jair
Bolsonaro tinha algo que os demais candidatos não tinham:
a força das redes sociais e um batalhão de gente – milhões
de pessoas -, dispostas a trabalhar dia-e-noite para elegê-lo,
‘sem pão com mortadela’ – “eu vim de graça” -, como
gritavam nos comícios, nas manifestações de apoio à sua
candidatura e nas redes sociais.
O processo eleitoral, de outubro de 2018, foi realizado
em clima de grande tensão, diante de uma classe política
envolvida, quase que em sua completude, com o crime
organizado, com a corrupção, com a lavagem de dinheiro,
com a improbidade administrativa, com um sem fim de
deslizes morais e éticos que tem levado figurões da
República para a prisão.
Entretanto, por força do chamado “foro privilegiado”,
muitos ainda se mantêm à solta e permitindo ir à cata de
votos, centenas e centenas de malfeitores da vida pública,
que, através do sufrágio popular, costumam permanecer
sob as bênçãos da impunidade instituída, quase como
regra, pelo Supremo Tribunal Federal, onde ministros de
plantão agem contra a própria Justiça e em prol de seus
corruptos de estimação, já tendo ministro daquela corte
denunciado, em 2018, que no Supremo Tribunal Federal, se
distribui senha para ganhar habeas corpus de juízes amigos
do crime de colarinho branco.
Outro grande problema é que os caciques dos
partidos, normalmente com mandatos eletivos, têm
prioridade na formação das chapas concorrentes, além de
definirem quem vai ou não ser candidato e, com isto, eles
não permitem a entrada de concorrentes de peso para
tomar-lhes o lugar. Esta é uma grave distorção do sistema
eleitoral brasileiro e que não parece ter solução em breve
tempo, porque as leis são feitas por bandidos diretamente
interessados na manutenção do status quo.
Além de tudo isto, é relevante apontar que a
campanha eleitoral do adversário de Bolsonaro, Fernando
Haddad (PT-SP), foi comandada de dentro da carceragem
da Polícia Federal de Curitiba, onde o ex-presidente Lula,
condenado, em um primeiro julgamento, a doze anos e um
mês de prisão, em regime inicialmente fechado, por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, dava as cartas de
como seus asseclas “ainda soltos” deveriam agir e tocar a
campanha política, em grande parte, como se ele fosse o
real candidato, mascarando o jogo eleitoral.
Embora, infelizmente, sempre tem gente disposta a
conceder, a políticos corruptos, a imunidade, além das
distorções do sistema partidário e eleitoral apontados, nas
eleições de 2018, parte dos parlamentares foi trocada,
porque a população passou a se envolver mais com a
discussão de questões nacionais e decidiu não eleger
dezenas de políticos envolvidos com a corrupção, incluindo
a ex-presidente Dilma Rousseff, que se candidatou ao
Senado pelo Estado de Minas Gerais, depois do ministro do
STF, Ricardo Lewandowski, em conluio com o presidente do
Senado Federal, senador Renan Calheiros, ter rasgado a
Constituição Federal para dar a ela a elegibilidade, apesar
de ter sido cassada em processo de Impeachment.
Vale ressaltar que o Congresso Nacional nunca havia
experimentado uma renovação tão grande, como foi nas
eleições gerais de 2018. Na Câmara dos Deputados, a
renovação foi de 47,3% e no Senado Federal foi de mais de
85%. Mas, os números costumam enganar e essa mudança
não refletiria em melhora do perfil da categoria.
O deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PSL) foi o
grande vitorioso, tanto no primeiro turno, quando obteve
46,03% dos votos válidos e Fernando Haddad (PT) com
29,28%, quanto no segundo turno – ainda sem poder se
expor em público, por conta de seus problemas de saúde -,
quando ampliou a sua vantagem contra o petista, se
sagrando vencedor do pleito com 55,13% dos votos válidos,
tendo ficando Fernando Haddad com 44,87%.
Foi, com absoluta certeza, a vitória contra a corrupção
mais festejada de todos os tempos no Brasil e Bolsonaro
ganhou, além do direito à faixa Presidencial, a grande
responsabilidade de mudar os destinos de uma Nação,
atolada em sua maior crise política e econômica.
Pelo menos, era isto que estava na cabeça e no voto
da grande maioria de seus eleitores. Uma grande parte,
porque corroborava a agenda de direita defendida por
Bolsonaro, mas também, muitos eleitores que acreditavam
em sua promessa de lutar contra a corrupção e contra a
violência nas grandes cidades.
E Bolsonaro, aos 63 anos, se tornou o 38.º presidente
da República Federativa do Brasil, tendo sido diplomado
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 10 de
dezembro de 2018, com grandiosa posse ocorrida na tarde
do dia 1º de janeiro de 2019.
O sonho solitário de 6 de abril de 2014, finalmente, se
tornava realidade e tínhamos um novo sonho a sonhar.
O que você verá nesta obra é a trajetória de Jair
Bolsonaro até chegar aqui, através de muitos anos de
relatos coletados em milhares de reportagens, relatos
pessoais, documentos oficiais, voz e imagem e tudo o que
nos permitiu reconstituir a história pessoal e política do
capitão-presidente Jair Messias Bolsonaro.
Nosso propósito foi deixar transparente para todos os
brasileiros, eleitores ou não de Jair Bolsonaro, quem é o
novo presidente da República Federativa do Brasil (2019-
2022), sendo esta obra uma espécie de inventário de sua
vida como cidadão, militar e político.
Não tem maquiagem. Tudo que registramos foi sua
história e isto não pode ser apagado.
Esperamos que Bolsonaro procure corrigir as falhas,
principalmente, quanto a tanta polêmica e continue a
construção desta história, sempre se pautando pela
honestidade e simplicidade e também, que mire em seus
erros e, aprendendo com eles, contribua para uma definitiva
“virada de página” na história de nosso país, que merece
viver dias melhores de paz e prosperidade.
Como afirmou Jair Bolsonaro em sua diplomação e
posse, ele iria governar para todos, sem qualquer tipo de
distinção. E é o que todos esperamos e torcemos que
ocorra, embora até o final de seu primeiro ano de governo
isto não tenha ficado ainda muito claro, pois muitos tropeços
aconteceram e muitos conflitos desnecessários.
A intenção do livro não é atacar o presidente da
República, mas dizer que todos são falíveis, e que ele, como
mandatário máximo do país precisa estar ainda mais
preparado para enfrentar os problemas e dar a eles uma
saída que contemple a maioria e não somente quem votou
nele ou quem o bajule nas redes sociais ou na imprensa.
Afinal, o deputado federal Jair Messias Bolsonaro foi
eleito Presidente da República Federativa do Brasil!
E eu, que votei nele pela esperança de ver o combate
à corrupção ser uma tônica de governo, não me sentiria
nada satisfeito em vê-lo atropelar o agora ministro Sérgio
Moro e a Operação Lava Jato para proteger quem quer que
seja, mesmo o seu filho Flávio Bolsonaro, que deve
explicações à Justiça, assim como todo cidadão brasileiro.
O Brasil é maior do que seu núcleo familiar e ele não
pode desperdiçar a oportunidade que Deus lhe deu de
governar o Brasil e fazer deste nosso país, um lugar melhor
para se viver e criar nossos filhos.
Como ele mesmo diz: “Brasil acima de tudo e Deus
acima de todos”.
Direita, em frente!
Os Bolsominions
Quando a alma, ao termo de mil hesitações e desenganos, cravar
as raízes para sempre num ideal de amor e de verdade, podem
calcá-la e torturá-la, podem-na ferir e ensanguentar, que quanto
mais a calcam, mais ela penetra no seio ardente que deseja.
(Abílio Manuel Guerra Junqueiro – político e escritor português)

Mito ou Bolsomito.
É assim que as centenas de milhares de seguidores
do capitão da Reserva, deputado federal e agora, presidente
da República, Jair Messias Bolsonaro, o reverenciam nas
redes sociais, em frente ao Palácio da Alvorada, onde o
esperam todos os dias, dezenas de fãs e em suas viagens
pelo país, onde sempre foi recebido como um verdadeiro
pop star.
E Bolsonaro, que disse ser “messias” apenas no
nome, como para tirar esta carga de responsabilidade que
seus admiradores depositam em suas costas, gosta, com
certeza, de todo esse carinho vindo daqueles que o
carregam nos ombros, querendo sempre uma selfie com ele
ou apenas tocá-lo, em suas aparições em aeroportos e
praças, como se ele fosse um semideus, um super-homem
que veio para resolver os grandes problemas do país, entre
os quais a corrupção, depois de décadas em que imperou a
roubalheira de políticos e partidos, especialmente, nos
últimos anos, sob o comando de governos petistas, tendo
sido o Brasil visto aqui e lá fora como uma cleptocracia –
Estado governado por bandidos.
A grande maioria da militância virtual de Bolsonaro -
os chamados pejorativamente de “bolsominions” -, sempre
foi muito barulhenta, não admitindo qualquer dúvida, por
menor que seja, ou discordância quanto à fala de Jair
Bolsonaro ou da convicção que têm de que a luta contra a
corrupção no Brasil só terá solução com ele no poder.
Isto - colocar a solução de todos os problemas do
Brasil nas mãos de uma única pessoa -, não parece ser
coisa razoável, mas é uma carência provocada pelo
descaso que os próprios políticos e governantes tiveram
para com a sociedade, preocupando-se, a maioria, durante
décadas e décadas, apenas em roubar o erário e se
enriquecerem.
Para se ter ideia da força deste contingente de apoio,
Jair Bolsonaro, em sua página oficial no Facebook tem mais
de 11,2 milhões de seguidores, o que representa cerca de
7% do eleitorado brasileiro, que não é pouca coisa.
E centenas de outras páginas e grupos avolumam
outros milhões de seguidores, não sendo difícil encontrar
grupos com 150, 300, 400 mil membros, e também tem
página com mais de 2 milhões de fiéis seguidores do
capitão.
Durante a campanha eleitoral, a loja “Camisetas
Bolsonaro Presidente” – como exemplo, porque tiveram
outras - produziu enorme quantidade de camisetas
masculinas, femininas e infantis com frases que refletem
bem a personalidade dos bolsominions, como: Canalhas
1000X, Hora de Militar, É Melhor Jair se Acostumando,
Finalmente encontrei uma namorada Direita, Orgulho de ser
Hetero, Caçador de Comunista, Viva Ustra, Procurando um
País Socialista que deu certo, Sou Feminista e apoio
Bolsonaro. Tem até camiseta feminina sendo vendida com a
frase “Quer ser o pai dos meus bolsominions?” E outra com
frase dirigida às mulheres e vestida por bolsominions
machos.
Mas era bom não criticar qualquer destas frases da
coletânea poética bolsonariana, porque você seria
impiedosamente massacrado, por algum seguidor de
plantão, que tem zero de tolerância para os que se
indispõem ou tenham pensamento divergente em relação a
qualquer assunto.
O nome mais educado que leria é F.D.P. E mais:
“comunista de merda”, “seu safado” e outros ataques
verbais do gênero. Aliás, é bom também não ficar usando a
palavra “gênero”, porque logo vão te chamar de
esquerdopata, que quer transformar “nossos filhos” em
gays.
Durante a campanha eleitoral, o “bolsominion” padrão
adorava compartilhar uma postagem de uma página, de um
rotulado esquerdista, falando mal do ‘mito’ e chamar outros
bolsominions para “oprimir”, geralmente, só indicando acima
“Vamos oprimir” ou até com mais sutileza “Já sabem, né?” e
esperava que o grupo desaguasse seu xingamento, o que
ocorria de pronto, sem que a maioria das pessoas tivessem
tido sequer o trabalho de acessar a postagem.
Aliás, a preguiça de ler é algo generalizado no Brasil e
não é – sejamos justos -, coisa apenas de direita e precisa
entrar no radar do Ministério da Educação, porque é um dos
pecados capitais da educação brasileira.
Mas o deputado Jair Bolsonaro, que sempre gostou de
todo este movimento em torno dele e de polêmicas, parecia
saber que iria precisar muito de seus bolsominions para
fazer frente ao poder de outras candidaturas, já que,
concorrendo por um partido nanico, que fechou 2017 com
apenas um deputado federal, com muito pouco dinheiro, não
poderia ter uma campanha de peso nas ruas. Além disso,
seu tempo de propaganda eleitoral gratuita, no primeiro
tempo, seria de apenas 8 segundos por aparição.
Soma-se a isto, o trauma que foi o ataque à faca
sofrido por Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), no dia 6
de setembro de 2018, que quase o levou a óbito, tendo sido
submetido a duas cirurgias e passado toda a campanha
eleitoral hospitalizado ou em home care (cuidados em casa
com profissionais de saúde), além da necessidade de uma
terceira cirurgia para fechamento da colostomia
(exteriorização do intestino para saída das fezes) agendada
para depois de sua posse em 1.º de janeiro de 2019.
Então, nós fomos buscar a origem de todo este
movimento em torno do capitão deputado e agora
presidente, Jair Messias Bolsonaro, e o que ele fez em sua
vida para criar esta aura de garra, que transfere aos seus
“soldados”, já que muitos de seus seguidores se consideram
verdadeiros soldados a seu serviço.
Não me falem mal pelo capítulo, pois não foi escrito
para diminuir e sim para demonstrar a força que foi a
participação de cada apoiador de Jair Bolsonaro em sua
difícil caminhada para o Palácio do Planalto.
Sem essa turma de brio e de muita disposição para
passar horas e horas na frente da telinha para trabalhar a
candidatura de Bolsonaro, seria difícil para ele conseguir
chegar onde chegou.
Todos estão de parabéns, mas é preciso dizer: todos
têm que ajudar a manter o foco e não afrouxar na cobrança
das promessas de campanha. Não dá, agora, deixar que
volte o “toma-lá-dá-cá” e afrouxar o combate à corrupção.
O Cidadão Jair Messias Bolsonaro
Em política, tal como na moral, é um grande mal não fazer bem, e
todo cidadão inútil deve ser considerado um homem pernicioso.
(Jean-Jacques Rousseau [1712-1778] filósofo e escritor sueco)

Aí meu pai gritou: é macho!


A pequena Glicério, cidade localizada na região de
Araçatuba, distante 488 km da capital paulista, amanhecia
chuvosa naquela segunda-feira, 21 de março de 1955. A
chuva estava miúda, mas muito fria, e persistia preguiçosa
durante quase todo o dia. Foi nesse clima que, por volta das
14h45, dona Olinda Bonturi Bolsonaro “dava a luz” ao seu
terceiro filho.
Não havia sido uma gravidez tranquila e dona Olinda
receava pela vida da criança que esperava e, por isso, dizia
que, se fosse homem, iria batizá-lo com o nome de Messias,
pois considerava que seria uma graça divina o terceiro filho
nascer com vida e com saúde, já que havia “perdido” a
última gestação.
E, desta vez, a sua fé em Deus ajudou a trazer ao
mundo um garoto saudável, que logo fez a festa de todos,
quando a parteira, dona Marieta Matos Nogueira, o levou à
sala, enrolado em um lençol, para mostrar ao pai coruja,
senhor Percy Geraldo Bolsonaro,1 que logo deixou de lado a
ansiedade e tratou de espalhar a notícia pela vizinhança.
Naquela época, nascer em Glicério era coisa rara, pois
a maioria das mulheres preferia ir para uma maternidade na
Cidade de Birigui ou em Penápolis, já que, em Glicério,
ainda não havia um hospital. Mas tudo transcorreu bem.

1 No dia 6 de dezembro de 2018, deputados da Assembleia Legislativa do

Rio de Janeiro (Alerj) aprovaram projeto de lei para homenagear o pai de


Jair Bolsonaro, falecido em 1995. O Colégio da Polícia Militar
construído em Duque de Caxias (RJ) e inaugurado no dia 17 de
dezembro de 2018, recebeu o nome de Percy Geraldo Bolsonaro, que
é natural de Campinas, tendo nascido no dia 25 de dezembro de
1927.
Poucos meses depois e, em consequência das
constantes e necessárias mudanças da família Bolsonaro,
devido à profissão do senhor Percy Geraldo – protético -, a
pequena cidade de Glicério, com menos de 5 mil habitantes
era deixada para trás e a família Bolsonaro mudou-se para
Campinas (SP), onde iria morar em uma casa muito
simples e antiga, ainda existente - fachada de blocos
vermelhos e detalhes arquitetônicos do período colonial -,
na Rua Barão Geraldo de Resende, n.º 151, bem de frente
à histórica Fábrica de Chapéus Cury, na Vila Itapura.
O registro e o batismo em Campinas
No dia 1.º de fevereiro de 1956, já com dez meses de
idade, foi registrado como natural de Campinas, Jair
Messias Bolsonaro, conforme assentado no livro A-135,
folha 292, n.º 35.041, do Ofício de Registro Civil do 2.º
subdistrito de Campinas, denominado Cartório Santa Cruz
de Registro Civil.
No dia seguinte – uma quinta-feira -, o pequeno
Bolsonaro era batizado na Catedral Metropolitana de
Campinas (Paróquia Nossa Senhora da Conceição) pelo
padre Haroldo Niero, tendo como padrinhos, os tios, João
Carlos Bolsonaro e Maria Elma Bolsonaro, que se
comprometeram a acompanhar o afilhado, recém-elevado a
membro da Igreja Católica, em seu crescimento, dando a
ele o exemplo e o incentivo para que vivesse a vida cristã.
Uma vida cigana e dura
Depois de sua família passar por outras cidades
pequenas, como Jacupiranga, Jundiaí e Sete Barras, Jair
Bolsonaro, em 1966, foi morar com os pais e irmãos em
Eldorado Paulista,2 no Vale da Ribeira, 248 km distante da
capital, onde estudou nas escolas estaduais Professora
Maria Aparecida Viana Muniz e Doutor Jayme Almeida
Paiva, ambas localizadas no centro da cidade.

2 Mesmo tendo morado em Eldorado Paulista, Bolsonaro, no dia 8 de

março de 1991, durante discurso proferido na Câmara dos Deputados,


para homenagear os 147 anos de emancipação de Eldorado Paulista (10
de março) disse não ter sido eleito por esta cidade. “Aos meus amigos de
Eldorado, deixo meus calorosos votos de felicitações por mais um 10 de
março, embora não tenha sido eleito por essa região, todo empenho farei
para torná-la ainda mais próspera”.
A partir dos 14 anos, ele passou a trabalhar na
extração de palmito selvagem – montado em pelo de burro -
, o que, juntamente com seu porte esguio e a pele muito
branca, lhe renderam o apelido de "parmito", em “paulistês”,
ou palmito. Ele também trabalhou na colheita de maracujá
“roxinho” e praticava a pesca, para conseguir ajudar no
sustento da família, grande e de parcos recursos.
A vida, naquela época, não era nada fácil, relatou
certa feita Jair Bolsonaro:
- Eu tenho uma foto com a minha família toda reunida.
Entre os seis filhos, só o meu irmão mais velho tinha tênis.
O tênis passava para os outros e, quando chegava ao
terceiro, se acabava. Era uma época em que não se tinha
essa demagogia toda que há hoje. Naquela época, o Estado
realmente ajudava os pais e a garotada com educação. Em
uma das áreas mais pobres do Estado de São Paulo, o Vale
do Ribeira e Eldorado Paulista, eu prestei concurso para a
Escola Preparatória de Cadetes do Exército e fui aprovado.
Logo depois, prestei concurso para a Academia Militar de
Agulhas Negras e fui aprovado.
Quando de suas viagens pelo Brasil, no início do
processo de divulgação de sua imagem para uma pretensa
candidatura à Presidência da República, Bolsonaro, explicou
ao site Carlinhos Sete, o significado do apelido da infância e
a relação com o ‘mito’ atualmente de que é chamado em
todos os locais em que aparece:
- Falando em popularidade, o senhor é o deputado,
hoje, mais popular nas redes sociais, amado e odiado por
muitos. O que o senhor acha disso?
- Muito mais amado do que odiado, tenho certeza
disso, porque afinal de contas, a gente está com a verdade
do nosso lado. E quem está com a verdade sempre acaba
vencendo, mais cedo ou mais tarde.
- E como é ser chamado de “mito”?
- Não... (riso contido) É porque eu tinha um apelido
quando moleque que era “parmito”, dadas as minhas
canelas brancas e de ser palmeirense. O “mito” veio daí,
com toda certeza. (risos para disfarçar)
Em agosto de 2018, depois de 63 anos, Jair Bolsonaro
voltava a Glicério, desta feita, como candidato à Presidência
da República. Durante o seu discurso, falou sobre a história
de seu nascimento e registro:
- Não há dúvidas que estou emocionado. Nasci aqui
no dia 21 de março de 1955. E a história que meu pai me
contava - faleceu tem vinte e poucos anos [1995] -, ele dizia
que, quando nasci, só se sabia o sexo quando a criança
nascia. O vizinho gritou, é homem ou mulher? Aí meu pai
gritou: é macho!
Quanto a ter sido registrado em Campinas, ele
revelou:
- Ele me levou para ser registrado em Campinas,
porque na época, se falava que só quem nascesse em
cidade grande teria futuro.
Bolsonaro também falou sobre a origem de seu
primeiro nome:
- Meu pai era torcedor do Palmeiras, onde Jair Rosa
Pinto foi meia-esquerda [camisa 10 da seleção brasileira de
1950] e também nasceu no dia 21 de março. Meu pai então
pôs Jair. Mas também foi por sugestão de um vizinho
palmeirense.
O ex-jogador do Palmeiras, Jair Rosa Pinto, foi um dos
maiores ídolos da história do clube. Marcou 71 gols em 241
jogos e conquistou, além do título intercontinental, o Paulista
(1950) e o Rio-SP (1951). Fora a genialidade com a bola
nos pés, ele também era considerado um grande líder da
equipe.
Jair Bolsonaro é o terceiro de seis filhos, três homens
(Jair, Ângelo Guido e Renato) e três mulheres (Maria
Denise, Solange e Vânia). Um sétimo filho do casal nasceu
prematuro e logo foi a óbito. Os pais, Percy Geraldo
Bolsonaro e de dona Olinda Bonturi Bolsonaro, ambos são
de ascendência italiana.
Com seus 15 anos, Bolsonaro conviveu com uma
tropa do Exército que estava na região onde morava, à
procura do militar e guerrilheiro de extrema esquerda,
Carlos Lamarca, na época, foragido e comandando um
campo de treinamento de guerrilheiros e ações de guerrilha,
pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) – que
também tinha Dilma Rousseff como membro -, no Vale do
Ribeira (Sul do Estado de São Paulo), quando teria ficado
fascinado pela disciplina militar, decidindo, então, que
seguiria essa carreira.

Bolsonaro (5 anos) com seu pai e uma traíra – cidade Ribeira/SP


Arquivo Pessoal

- Conheci o Exército porque Lamarca - militar desertor


- passou pela minha cidade, atirou em oito policiais militares
e feriu um civil. Ele se refugiou lá perto de Eldorado Paulista
(SP). O Exército chegou em 1970 e acampou nas margens
da cidade. Aos 15 anos, eu trabalhava tirando palmito por
ali. Como conhecia bem a região, costumava passar
algumas informações. Dois anos depois me inscrevi na
Escola Preparatória do Exército. Fui o primeiro militar da
família.
Além de suas atividades na colheita de palmito, à
noite, Bolsonaro e seu amigo Gilmar Alves, costumavam
pescar no Rio Ribeira de Iguape. Eles eram amigos
inseparáveis: eles estudavam sempre juntos e pescavam
todos os dias, com frio ou calor, e o produto da pesca era
vendido no dia seguinte.
O dinheiro auferido pela venda dos peixes era dividido
entre ambos, de forma igual. Era ao modo que eles tinham
de guardar algum dinheiro que pudesse ser usado para
estudar fora da cidade de Eldorado Paulista, ainda muito
atrasada.
“Enquanto isso, estudávamos. Precisávamos nos
esforçar muito porque, naquela época, Eldorado não tinha
bons professores: o de História dava aulas de Química, sem
saber muito”, disse Alves em entrevista ao El País. “Mas o
Jair é uma das pessoas mais obstinadas que conheci.
Estudava 24 horas por dia. Todo mundo ia aos bailes dos
clubes e nós ficávamos estudando”, completa Alves, que já
não faz mais parte do rol de amigos de Bolsonaro.

Gilmar Alves e Jair Bolsonaro com o produto de uma pescaria


Arquivo pessoal.

Para Jair Bolsonaro era quase uma obsessão a ideia


de se alistar no Exército porque, como ele já dizia naquela
época, de acordo com o testemunho de Alves, “os
presidentes eram todos militares e ele iria ser presidente”.
O jovem Jair Bolsonaro também gostava de jogar
futebol na rua com seus colegas, embora não fosse nenhum
grande craque, mas era bem aceito pela turma, que o
estimava muito, de acordo com sua mãe, Dona Olinda.
Na verdade, pelo seu porte físico esguio e magricela,
Jair Bolsonaro era muito desengonçado para a prática do
esporte, mas chegou a ser goleiro de um time amador que
havia em Eldorado, o Madureira, que disputava o
Campeonato Regional de Ribeira, embora, vez ou outra, ele
engolisse um frango.
Uma das diversões daquela época era caçar
passarinho, que existia em grande quantidade em qualquer
cidade do interior. Bolsonaro costumava praticar a caça
usando uma espingarda de chumbinho.
Para Dona Olinda ou Dona Olindinha, como costuma
ser carinhosamente chamada pelos amigos, Jair Bolsonaro
sempre foi um garoto “reservado, quieto, compreensivo”; um
filho, no conceito de mãe, “mesmo maravilhoso”. Para ela,
este jeitão explosivo dele de falar, não o desmerece como
uma boa pessoa. "É o jeito dele. Esse é o modo dele de
falar. Fica irritado, então, fala do jeito dele, irritado”,
complementa a mãe coruja em entrevista à imprensa.3

O peladeiro Jair Bolsonaro e seus companheiros do Madureira


Arquivo Pessoal

3 O pai de Jair Bolsonaro, senhor Geraldo Percy Bolsonaro foi monitorado


pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o Serviço Nacional
de Informação (SNI) e pelo Comando da Aeronáutica, em relação às suas
atividades políticas na década de 1970. Na ficha feita pelo Dops de
Santos (SP) consta, a descrição de suas atividades políticas em Eldorado
Paulista (SP). Além disso, o Dops anotou um indiciamento do pai de
Bolsonaro pela Polícia paulista. Na ficha de Geraldo, o Dops registrou:
“17.7.75 — Eleito vice-presidente do Diretório do MDB de Eldorado
Paulista”. Mais adiante: “Aclamado na Convenção do MDB/ELDORADO,
candidato a Prefeito nas eleições de novembro”.
De acordo com o blogueiro Maurício Pacheco Moreira,
no artigo “Conhecendo Jair Bolsonaro”, o irmão do
deputado, Renato Antônio Bolsonaro, também falou sobre a
vida que ele e seus irmãos tiveram quando jovens:
- Meu pai pingava de cidade em cidade. Quando
chegava à cidade, era o salvador. Tirava dente, fazia
dentadura, tratamento dentário. Ele era enérgico. Não
admitia que os filhos fizessem nada errado. Não permitia
que fumássemos ou bebêssemos. Jair também é enérgico,
chega a ter uma postura agressiva. Ele tem o
posicionamento dele, como político. Não tolera coisa errada.
Nós somos de formação militar, temos a disciplina
consciente. Aquela retidão de procedimentos, de coerência,
de não aceitar as coisas erradas. Se a gente vê uma fruta
na beira da estrada, não pegamos porque não é nossa.
E o jovem Jair Bolsonaro procurava de todas as
formas de ganhar seu próprio dinheirinho. E, para isso, ele
também trabalhou entregando - usando uma bicicleta -, o
jornal O Estado de S. Paulo, com 32 exemplares por dia,
que ele aproveitava para se informar. “Eu chegava da
escola à uma hora da tarde para fazer este trabalho”, contou
em entrevista ao jornalista Edmundo Leite.
Como forma de melhorar sua aptidão em Português –
disciplina que apanhava muito -, Bolsonaro desenvolveu a
habilidade de elaborar “palavras cruzadas”, tendo
contribuído com o envio das mesmas para o jornal Estado
de S. Paulo, que chegou a publicar 21 delas, em várias
oportunidades, entre os anos de 1971 e 1976. De acordo
com o jornalista Edmundo Leite, coordenador do Acervo
Estadão, as duas palavras mais usadas por Jair Bolsonaro
em suas palavras cruzadas eram “amar” e “rezar”.
Bolsonaro disse a Leite que, quando alguma de suas
cruzadinhas estava impressa no jornal do dia, ele fazia
questão de dizer aos assinantes e conhecidos que
“Eldorado Paulista estava presente naquela publicação”. E,
claro, isto também era motivo de muito orgulho para seus
pais, ao verem o nome do filho num dos jornais mais
importantes da capital paulista.
Jair Bolsonaro também era um frequentador assíduo
da biblioteca municipal, como forma de compensar o baixo
nível de ensino que tinha na escola. O ensino era, de fato,
muito deficiente. E, para conseguir passar no concurso para
a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Jair
Bolsonaro teve que estudar muito, “comer os livros”, e
deixando, muitas vezes, de ir divertir com os amigos, para
estudar até altas horas da noite.
Bolsonaro também, em 1971, fez dois cursos por
correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro, sendo
um de Eletricidade e o outro de Português.
Embora tenha lutado tanto para conseguir uma vaga
no Exército, Jair Bolsonaro quase desistiu de seguir a
carreira militar. O nível da exigência nos estudos era muitas
vezes maior do que ele estava acostumado nas escolas de
Eldorado e Bolsonaro estava se vendo em apuros na Aman
com Geometria Descritiva.
- No primeiro ano pedi desligamento. Não me adaptei.
Mas meu pai não deixou. Olhou para minha cara, levantou o
braço e disse: "Amanhã cedo você embarca num ônibus da
Viação 9 de Julho para São Paulo; pega o ônibus da
Cometa e desce em Resende. É isso ou vou te quebrar
todinho!".
[E levantou o braço direito com a mão fechada]. Aquilo
foi o suficiente...
Jair Bolsonaro raramente conversava com o pai e
isto, segundo ele, durou até os seus 28 anos. “Ele
bebia descaradamente e brigava muito em casa, com
minha mãe e os filhos. Mas nunca bateu em filho. Um
dia constatei que não iria mudá-lo. Resolvi pagar uma
pinga para ele. Daí nos tornamos grandes amigos”.

O primeiro casamento
Já no Exército, aos 23 anos, e residindo em Resende
(RJ), Jair Bolsonaro casou com Rogéria Nantes Braga
[Bolsonaro], natural de Magé (RJ).
Jair Bolsonaro, Rogéria e os filhos Flávio, Eduardo e Carlos.
Arquivo pessoal.

Jair Bolsonaro e Rogéria, que tiveram os filhos Flávio,


Carlos e Eduardo Nantes Bolsonaro, depois de 20 anos, se
separaram, de forma amigável, em 1998.

Bolsonaro e o amigo João Garcia durante uma pescaria - Tarituba/RJ


Arquivo Pessoal
Segundo “casamento”
Bolsonaro teve, como segunda experiência conjugal, uma
união estável com Ana Cristina Siqueira Valle. Segundo ela,
teria conhecido o deputado Jair Bolsonaro, no fim dos anos
1990, “quando ainda era estudante de Direito”:
Ana Cristina Siqueira Valle estava na Quadra 103, na Asa
Norte, em Brasília, quando viu o deputado Jair Messias
Bolsonaro pela primeira vez. Ele discursava com um
microfone na mão, equilibrado sobre um carro de som,
durante um movimento de mulheres de militares que
pediam aumento nos salários da caserna. Era final dos anos
90. (Época. 28 set. 2018)
A informação de Época, contudo, não guarda
coerência com outras fontes, inclusive com dados
assentados pela própria Ana Cristina em seu perfil
profissional. É uma história que agora se revela, depois de
tantos anos sendo mantida escondida à custa de muitas
meias verdades.
Um versículo bíblico dá o tom das revelações que se
seguem e é bem ao gosto do presidente Jair Messias
Bolsonaro:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”
(João 8.32).
Acompanhe o raciocínio e os fatos que embasam esta
revelação libertadora...
Ana Cristina afirma em seu perfil do Linkedin que foi
assessora parlamentar na Câmara dos Deputados entre os
anos de 1992 e 1995. Depois, ela trabalhou como secretária
do ministro da Integração Regional (1995-1996) e como
assessora da Presidência da República, entre os anos de
1996 e 1999.
Aqui começam a cair por terra as versões, digamos
desencontradas, sobre a relação de Jair Bolsonaro com Ana
Cristina.
A coluna “Informe JB”, do dia 25 de outubro de 1993,
assinada pelo jornalista Teodomiro Braga, trazia uma nota
explosiva sobre o deputado federal Jair Bolsonaro. Ela dizia
que a revista Interview brasileira, que chegaria às bancas
naquela semana, tinha uma reportagem bombástica,
intitulada “Gandaia Federal”. Era sobre os escândalos
sexuais em Brasília.
Um dos destaques da matéria seria a história da surra
que o capitão Bolsonaro teria levado de “um enciumado
coronel do Exército, cuja mulher trabalhava no gabinete do
deputado”. Segundo o jornalista, o deputado Jair Bolsonaro
teria terminado “o affair com o olho roxo”.
Registre-se que Ana Cristina Valle Siqueira, na época
dos fatos, era casada com um coronel da Reserva do
Exército e trabalhava na Câmara dos Deputados.
Pelo jeito, Ana Cristina conheceu o deputado federal
Jair Bolsonaro muito antes “do final dos anos 90”, quando,
segundo ela, o teria visto em uma manifestação [em
Brasília] por melhores salários dos militares.
No dia seguinte à nota divulgada pelo Jornal do Brasil,
o jornal Tribuna da Imprensa, em sua coluna “Fato do Dia”
trazia uma réplica do deputado Jair Bolsonaro, com o título:
“Nunca apanhei de corno”:
O deputado Jair Bolsonaro (PPR-RJ) ficou estarrecido com
a notícia de que teria sido vítima de um marido traído e
garantiu que o único homem que até então bateu nele foi
Percy Geraldo Bolsonaro. Seu pai. Segundo o deputado, a
absurda notinha publicada na edição do JB, não vai trazer
prejuízos para sua vida política, mas com certeza vai
provocar a ira da mulher, a vereadora Rogéria Bolsonaro.

Ana Cristina começou a trabalhar na Câmara dos


Deputados em abril de 1992, no gabinete do deputado
Mendonça Neto (PDT-AL), onde ficou até agosto do mesmo
ano. Depois disso ela assumiu cargo no Gabinete da
liderança do PDC, Partido pelo qual Jair Bolsonaro cumpria
seu primeiro mandato de deputado.
Entre agosto de 1993 e maio de 1994, Ana Cristina
atuou como secretária parlamentar no Gabinete onde
atuava o assessor parlamentar Jonival Lucas (BA), segundo
ela própria, correligionário do deputado Jair Bolsonaro.
Embora conste do perfil de Ana Cristina no Linkedin
que, entre 1996 e 1999, ela tenha atuado como assessora
da Presidência da República, no portal do Senado Federal,
em reportagem de O Globo, de 3 de dezembro de 2017, é
afirmado que:
A partir de 1995, ela [Ana Cristina] passou a trabalhar no
Executivo — na Casa Civil e na Integração Regional —, e
só voltou à Câmara no fim de 1998, quando seu filho não
tinha ainda completado um ano, e foi lotada no gabinete da
liderança do PPB, partido pelo qual Bolsonaro acabara de
ser reeleito.
Em resposta ao O Globo, Bolsonaro afirmou:
Mantive, do final de 1997, até o início de 2007, união
estável com a Senhora Ana Cristina Siqueira Valle que já
havia exercido atividades de assessoramento a dois
parlamentares e Comissões da Câmara dos Deputados,
ressaltando que nunca foi comissionada em meu Gabinete.
Ana Cristina confirmou à Época que ela e Bolsonaro
ainda eram casados quando se apaixonaram. “Foi um
pouquinho antes de ele se separar e eu me separar de meu
marido”.
Mas com base nos relatos anteriores, não foi nada de
um pouquinho assim, porque o deputado Jair Bolsonaro só
iria se separar de sua primeira esposa, Rogéria Nantes
Braga Bolsonaro, em 1998, ou seja, Bolsonaro manteve um
relacionamento “extraconjugal” com Ana Cristina Siqueira
Valle de, pelo menos, alguns anos, num total de dez anos
que eles admitem publicamente, embora, talvez por um
deslize ou malícia, ela tenha dito à Época que ficou com
Bolsonaro por dezesseis anos. Então, alguns anos poderiam
ter sido cinco...
“Ana nunca foi casada com Bolsonaro. Do namoro ao
término de uma união estável, contudo, foram 16 anos
juntos”, conclui a reportagem da revista Época, com base na
entrevista concedida por Ana Cristina. Ou seja, a revista
confirma, neste trecho, que eles viveram um bom tempo
escondendo de seus cônjuges a relação paralela que
mantiveram.
Ana Cristina disse que conheceu Jair Bolsonaro
quando ele discursava em cima de um caminhão, durante
uma manifestação por melhores salários para os militares.
Muito provavelmente, isto ocorreu no dia 10 de abril de
1992, durante um ato preparatório para o evento “Marcha
pela Dignidade da Família Militar”, manifestação que seria
feita por mulheres de militares e militares da reserva, no dia
27 de abril de 1992 e coordenada pelo deputado Jair
Bolsonaro. Neste dia, Bolsonaro foi impedido de “conduzir
uma reunião com mulheres de militares na Superquadra 113
da Asa Sul” (Ver no Capítulo “Um novato no Planalto
Central”).
Coincidentemente, poucos dias depois, Ana Cristina
começou a trabalhar na Câmara dos Deputados, em
Gabinete ligado ao Partido de Bolsonaro.
No final de 1998, Ana Cristina se mudou com o filho
Jair Renan Valle Bolsonaro, para o Rio de Janeiro e a
relação com Jair Bolsonaro passou a ser pública, já que
ambos estavam separados e com um filho com quase um
ano de idade.
Instalada no Rio de Janeiro, Ana Cristina, por incentivo
de Jair Bolsonaro, ingressou no início de 1999, no curso de
Direito, na Universidade Estácio de Sá, tendo concluído sua
graduação no final de 2004. Portanto, ela não iria conhecer
Bolsonaro “quando ainda era estudante de Direito”,
conforme a Época relatou.
Em 2008, Ana Cristina impetrou uma Ação de
Reconhecimento de União Estável e Separação Judicial de
Bolsonaro, no Rio de Janeiro, onde morava com o filho Jair
Renan Valle Bolsonaro.
Portanto, esta é a história amorosa da vida de
Bolsonaro, que ele conseguiu manter encoberta por mais de
26 anos e que acaba de ser dissecada. Que a verdade,
embora tardia, consiga, finalmente, libertá-los!
Mas voltemos a um detalhe do primeiro casamento de
Jair Bolsonaro.
Aproveitando o bom nome que construiu junto aos
militares e seus familiares no Rio de Janeiro e, já estando
em Brasília eleito como deputado federal, Jair Bolsonaro
apostou em sua mulher, Rogéria Nantes Bolsonaro, como
política, a lançando, em 1992, como candidata a vereadora,
tendo ela atuado na vereança fluminense entre os anos de
1993 e 2001.
Quando os dois se separaram, Jair Bolsonaro disse
que a ex-mulher havia deixado de seguir suas orientações
nas votações na Câmara Municipal, pois ele exigia que ela
votasse de acordo com sua orientação, lá de Brasília. Com
esta alegação, ele retirou o apoio a ela, que não conseguiu
se reeleger nas eleições de 2000, quando seu cacife político
foi transferido para o filho Carlos Nantes Bolsonaro, então
com 17 anos e que foi eleito pela primeira vez.
Os reais motivos da separação não foram divulgados
pelo casal, embora a imprensa tenha se esforçado muito
para saber das fofocas. Mas, Rogéria, de certa forma,
corroborou a fala de Jair Bolsonaro, pois, logo que foi
reeleita vereadora, ela disse à imprensa que somente se
candidatou em 1992 “para que o marido tivesse uma
extensão no Rio de Janeiro, de seu Gabinete em Brasília”. E
concluiu dizendo que antes ela “era apenas dona de casa e
mãe-coruja”.
Questionado se esta sua posição de exigir da ex-
mulher coerência com o que ele pensava e que isto não
seria uma atitude impositiva, Bolsonaro respondeu que não,
já que havia sido um compromisso firmado com ela e
entendia que Rogéria tinha que seguir sua orientação. “Acho
que sempre fui muito paciente e ela não soube respeitar o
poder e a liberdade que lhe dei. Mas estou muito feliz na
minha segunda relação. Vivo muito bem com a Cristina”.
O jornalista Luiz Maklouf Carvalho, escrevendo para o
Estadão, no dia 15 de abril de 2018, relembra o caso e
resgata uma nota divulgada na imprensa na época da
separação do casal (1998), que também pode servir para
confirmar a tese de que a Jair Bolsonaro e Ana Cristina
tiveram uma união estável além do que até agora arriscaram
confessar.
A desavença conjugal ocorreu no começo deste segundo
mandato de Rogéria, ambos insatisfeitos com as
infidelidades de cada um. Quem viveu de perto – e não fala
abertamente, com medo do quem sabe futuro presidente da
República – relata que Bolsonaro teve enorme dificuldade
de já ir se acostumando. Finalmente separados, ambos
assumiram os relacionamentos já existentes. Vida que
segue, como no jogo. Até a eleição de 2000.

Ponto Final.
Ana Cristina trabalhou entre 1999 e 2001, como
secretária da Presidência do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), no Rio de Janeiro. Entre os
anos de 2002 e 2008, ela foi chefe de Gabinete Parlamentar
dos filhos de Jair Bolsonaro, na Câmara de Vereadores
(Carlos) e na Assembleia Legislativa (Flávio) do Rio de
Janeiro.
O filho, Jair Renan Valle Bolsonaro estudava Direito
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) antes de
mudar para Brasília, em início de 2019, mas trancou a
faculdade de Direito para estudar Tecnologia da Informação
em Brasília. “Mudei para investir nessa área de games
e streaming, quero me especializar nisso”, disse Renan à
Jovem Pan. Ele também deve se preparar para ingressar na
carreira política seguindo os passos dos irmãos mais velhos.
O nome Jair Renan, de acordo com sua mãe, foi uma
imposição de Jair Bolsonaro, já que ela queria apenas
Renan. Ana Cristina chegou a ir ao Cartório fazer o registro,
enquanto Bolsonaro estava em Brasília e sem acrescentar o
sobrenome Bolsonaro, omitindo assim o nome do pai na
certidão de nascimento. Então o capitão, segundo ela,
“voltou e modificou”. O feito foi o reconhecimento de
paternidade, omitida no primeiro registro.
Em uma entrevista no ano 2000 à revista Isto É Gente,
o deputado Jair Bolsonaro falou que o aborto “tem de ser
uma decisão do casal”. E aproveitou para confessar que
chegou a cogitar com Ana Cristina o aborto, quando esta
engravidou. “Passei para a companheira. E a decisão dela
foi manter”, disse.
O fim do casamento e alguns entreveros
Em 2007, Jair Bolsonaro e Ana Cristina entraram na
fase de esgotamento do relacionamento. Ele alegou que os
entreveros com a companheira começaram quando ela
comprou um apartamento em um hotel em construção na
Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, sem tê-lo
consultado. Para ela, isso era dispensável, pois o dinheiro
era de conta conjunta mantida com o marido.
Bolsonaro então propôs a Ana Cristina a separação e
divisão dos bens, com base no que ele havia declarado ao
Tribunal Superior Eleitoral na inscrição de candidatura para
a campanha eleitoral de 2006, ou seja, R$ 433.934,00.
Ana Cristina Valle Siqueira Mendes – arquivo pessoal

Ana Cristina, contudo, alegando que Jair Bolsonaro


não estava sendo justo ao fazer a partilha de bens, entrou
com uma ação na 1.ª Vara de Família do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro, na qual anexou uma lista de bens mais
extensa do que a declarada pelo deputado federal, que
peritos do Tribunal de Justiça calcularam em R$ 4,001
milhões, quase dez vezes mais do que ele havia declarado,
à Justiça Eleitoral, ter como patrimônio.
A lista apresentada por Ana Cristina incluía 17 bens,
sendo três casas, três salas, um apartamento, três lotes,
cinco veículos e uma moto-aquática. Ainda no referido
processo de separação judicial, Ana Cristina afirmou que
Jair Bolsonaro tinha uma próspera condição financeira e que
a renda mensal dele chegava a R$ 100 mil Reais, muito
superior ao que ganhava como deputado federal e como
militar da Reserva.
Ela também registrou um Boletim de Ocorrência na 5.ª
Delegacia de Polícia Civil, no centro do Rio de Janeiro,
acusando Jair Bolsonaro de ter furtado R$ 200 mil e US$ 30
mil em espécie e joias avaliadas em R$ 600 mil de um cofre
mantido por ela em uma agência do Banco do Brasil,
também no Centro.
Não se sabe o nível de acordo feito por Ana Cristina
com Bolsonaro, para que ela não comparecesse a duas
intimações para depor no inquérito policial que investigava o
sumiço do cofre, e o mesmo foi encerrado sem
esclarecimento.
Em 2009 – separada de Bolsonaro -, Ana Cristina
deixou o cargo de assessoria parlamentar de seus filhos e
se mudou para Oslo, na Noruega, tendo registrado em seu
perfil profissional que teria atuado neste período, como
advogada na empresa Valle
Advogados e Consultoria de Serviços de Seguro, estratégia
para não deixar um vácuo no currículo, embora não seja
verdadeiro.
Em 2011, o deputado Jair Bolsonaro recorreu à Polícia
Federal e ao Itamaraty para reclamar de sua ex-
companheira, Ana Cristina, alegando que ela teria
“sequestrado” seu filho de 13 anos (2009) e o levado para a
Noruega, já que ele não fora avisado da viagem e não havia
dado autorização para que o garoto fosse levado embora do
Brasil para morar no exterior.
Para conseguir isto, Ana Cristina requereu passaporte
para o filho usando aquela sua primeira Certidão de
Nascimento - antes que Jair Bolsonaro fosse ao Cartório
fazer o reconhecimento da paternidade e de alterar o nome
de Renan para Jair Renan e acrescentar o Bolsonaro -, o
que até poderia configurar crime de falsidade ideológica,
caso comprovado o dolo.
Bolsonaro alegava que Ana Cristina, além de ter
levado o filho para o exterior sem a sua anuência, ainda
havia condicionado o retorno do menor ao Brasil à
devolução do dinheiro e das joias que ela o acusava de ter
furtado do cofre que ela mantinha no Banco do Brasil.
No processo de separação que tramitou no Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro, a defesa de Jair Bolsonaro fez
juntar um depoimento no qual o deputado federal acusava a
ex-mulher de sequestro e chantagem.
“Depois de uma intrincada negociação, Ana Cristina
devolveu o garoto para o pai”, segundo publicou o jornalista
Ancelmo Góis, em sua coluna do dia 12 de agosto de 2011.
Jair Renan morou com o pai até ele completar o ensino
médio, quando voltou para a casa da mãe, agora no Rio de
Janeiro.
Telegrama diplomático do Itamaraty e oriundo da
embaixada brasileira em Oslo (Noruega), afirma que Ana
Cristina teria dito em sua defesa, ao vice-cônsul brasileiro,
Mateus Henrique Zóqui, que ela havia deixado o Brasil em
2009 “por ter sido ameaçada de morte pelo pai do menor”. A
mensagem oficial emitida pelo embaixador brasileiro, Carlos
Henrique Cardim, ainda afirma: “Aduziu ela que tal
acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país
[Noruega]”.
De acordo com a Folha “Em outro trecho do
documento, Ana Cristina disse considerar que, ao procurá-
la, o vice-consulado do Brasil na Noruega estava agindo em
nome do deputado federal Jair Bolsonaro”.
Isto se explica, pelo seguinte: Bolsonaro, em 2011,
pediu ao Itamaraty, na qualidade de deputado federal, “para
que o órgão intercedesse em seu favor depois que Ana
Cristina viajou para a Noruega com o filho do casal”.
É política expressa do Itamaraty “não interferir em
assuntos pessoais de brasileiros no exterior”. No entanto,
em julho de 2011, atendendo ao pedido de Bolsonaro, a
Embaixada brasileira em Oslo localizou e manteve contato
com Ana Cristina, conforme a Folha.
A reportagem assinada pelos jornalistas Rubens
Valente e Marina Dias afirma que “o mesmo telegrama havia
sido liberado à Folha pela Lei de Acesso à Informação,
porém com esses e outros trechos cobertos por tarja preta”.
Para ser possível conhecer o teor da mensagem, a Folha
recorreu a duas fontes, mais o então embaixador do Brasil
em Oslo, Carlos Henrique Cardim, que confirmaram ao
jornal a íntegra dos documentos.
A Folha também ouviu Cardim sobre a intervenção
que a Embaixada teria feito para atender à demanda de
Bolsonaro na Noruega. Segundo o jornal, Cardim disse que
“a praxe é apenas ouvir o que ele [brasileiro] vai dizer,
explicar a situação, que leis existem na Noruega sobre o
assunto e as leis brasileiras. [...] O consulado não sai atrás
das pessoas, as pessoas vão até o consulado”.
Isto fica confirmado com a Folha afirmando que o vice-
cônsul brasileiro na Noruega telefonou para a casa onde
estava residindo Anda Cristina com o filho de 12 anos e seu
marido norueguês, que foi quem atendeu o telefonema e
repassou a Ana Cristina a conversa e esta, posteriormente,
compareceu à Embaixada brasileira e prestou
esclarecimentos sobre a viagem com o filho para a Noruega,
sem o conhecimento do pai.
Em setembro de 2018, questionada pela Folha, ela
deu a seguinte explicação:

A briga foi que ele [Bolsonaro] não queria nem que o


menino passasse férias comigo lá. O menino sentia a minha
falta, ‘mãe, eu quero ir com você’. Eu fiz o que meu filho
pediu, levei. Depois eu comuniquei [a viagem]”. Ela disse
que ficou com o filho na Noruega não mais que 20 dias.

O Correio Braziliense, no dia 25 de setembro de 2018,


deu ampla repercussão ao fato e também ouviu Ana
Cristina, então candidata a deputada federal, que deu nova
roupagem ao conflito:

Nunca fui ameaçada de morte por ele. Eu não fui contatada


pela embaixada na época. O governo da Noruega que ligou
para o meu marido, que hoje mora comigo aqui no Brasil,
disse, destacando que mantém uma boa relação com
Bolsonaro hoje.

Ao retornar ao Brasil, em 2013, Ana Cristina


reassumiu a atividade de assessoria parlamentar.
Entretanto, ela omite, em seu perfil profissional, o que fez
entre 2013 e 2016. Desde janeiro de 2017 até atualmente,
ela atua como chefe de Gabinete do vereador Renan
Marassi (PPS), em Resende (RJ).
Em setembro de 2018, Ana Cristina contou a Época
uma história bem diversa, o que coloca em dúvida todas as
acusações feitas a Jair Bolsonaro, inclusive a de que teria
saído do Brasil porque ela a teria ameaçado de morte:
Em entrevista a Época nove anos depois de transferir-se
para o país europeu, Ana alegou motivo diferente da
ameaça de morte relatada ao vice-cônsul para mudar de
ares. Disse ter sido convidada por um amigo norueguês
para passar um tempo sabático no país, uma maneira de
aplacar a dor da separação. “Fui com a intenção de férias,
de passar um tempo, porque a separação foi muito difícil.
Eu era tipo uma baby-sitter. Ficava em minha casa, e
levavam a criança para eu cuidar. Não gosto de criança
muito grande, não. Gosto de bebê. Aí depois conheci meu
marido [Jan Raymond Hansen], nos casamos e fomos
morar em Halden [Noruega]. Só casei com meu marido
norueguês por causa do visto e da cidadania. Também era
obrigada a ir para a escola porque não conseguiria minha
cidadania sem falar o idioma. Eu a consegui neste ano”,
disse. (ABBUD, Bruno. Época. 26/9/2018).

Ana Cristina, aparentemente, parecia ter se


arrependido de tanta briga na separação, ao dizer, em
entrevista a Época, ter sido uma “coisa de doido”, mas, na
ocasião, ela chegou a acusar Bolsonaro de “comportamento
explosivo” e “desmedida agressividade” no relacionamento.
A Época, na mesma reportagem, dá pistas de que o
acordo entre Bolsonaro e Ana Cristina, para que ela saísse
candidata nas eleições de 2018 utilizando o nome dele
unido ao seu (Cris Bolsonaro), em reunião realizada no
gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro, cheirava a chantagem, com fatos obscuros e
“picantes” envolvendo Jair Bolsonaro:
Ana recebeu ‘Época’ no dia seguinte ao encontro com
Bolsonaro na Alerj, em 5 de junho [de 2018], no gabinete do
vereador [Renan] Marassi. Aos 52 minutos da conversa, o
vereador, que acompanhava a entrevista, pediu ao repórter:
‘Pode desligar o gravador rapidinho?’. O pedido foi
atendido. Ana então prosseguiu: ‘Tenho algumas coisas
picantes para falar sobre o Jair’, disse. “Mas vamos ver
antes se ele vai me dar apoio na minha campanha, se não,
te chamo aqui e te conto. Não posso falar o que é, mas é
picante, é da época em que eu ainda estava com ele.”

Depois da revelação dos telegramas diplomáticos, em


que Ana Cristina acusava Jair Bolsonaro de tê-la ameaçado
de morte, a reportagem de Época tentou falar com ela, que
não atendeu. Em conversa telefônica com o vereador Renan
Marassi, o repórter ouviu apenas que os fatos “picantes”
aventados por Ana Cristina, não tinha nada a ver com o
telegrama diplomático. “Não, não era isso, não”, disse ele.
Mas, apesar das tranqueiras da vida conjugal, a fila
continua andando...
O terceiro casamento
Em 2007, o deputado Jair Bolsonaro conheceu a
brasiliense Michelle de Paula, na Câmara dos Deputados,
onde ela atuava como secretária parlamentar. Michelle, de
origem humilde e filha de migrantes cearenses (Crateus-CE)
nasceu em Ceilândia (DF), onde viveu sua infância e
adolescência.
Michelle trabalhou como funcionária da Câmara entre
os anos de 2006 e 2008, tendo, nesse período, ocupado o
cargo de secretária nos gabinetes dos ex-deputados
Vanderlei Assis (PP-SP) e Dr. Ubiali (PSB-SP).
Michelle foi nomeada secretária na liderança do PP,
na qual permaneceu entre junho e setembro. Em 18 de
setembro de 2007, ela foi para o gabinete de Jair Bolsonaro,
também como secretária parlamentar:
PORTARIA CD-CC-SP-14838/2007 A Diretora da
Coordenação de Secretariado Parlamentar, no uso das
atribuições que lhe foram delegadas pelo artigo 1º da
Portaria n.º 53, de 2002, do Senhor Diretor Administrativo,
resolve NOMEAR MICHELLE DE PAULA FIRMO
REINALDO para exercer, no gabinete do Senhor Deputado
JAIR BOLSONARO, o cargo em comissão de
SECRETÁRIA PARLAMENTAR SP-26, do Quadro de
Pessoal da Câmara dos Deputados, transformado pelo
artigo 61 da Resolução n.º 30 de 1990.

E Bolsonaro, novamente solteiro, tinha olhos somente


para Michelle. Ela, contudo, definiu como condição para que
o relacionamento se tornasse sério, que os dois se
casassem no papel. Outra exigência foi que Bolsonaro
revertesse a vasectomia que havia feito, pois ela tinha o
desejo de ser mãe novamente.
Após seis meses de namoro, Bolsonaro pediu Michelle
em noivado e, passados mais 90 dias, os dois casaram-se
no civil, isto, em novembro de 2008, mesmo mês em que o
Supremo Tribunal Federal emitiu uma Súmula (Interpretação
Majoritária) proibindo a contratação de parentes até o
terceiro grau, quando então ela teve de ser exonerada.
Bolsonaro e sua filha Laura jogando xadrez – Arquivo Pessoal

A filha, a quem deram o nome de Laura, nasceu em


31 de outubro de 2011, mas o casamento religioso só
ocorreu no dia 21 de março de 2013, quando Jair Bolsonaro
completava 58 anos e era véspera do aniversário de
Michelle (32).
A cerimônia religiosa foi realizada na Casa de Festas
Mansão Rosa, no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em
cerimônia ministrada pelo pastor Silas Malafaia, já que
Michelle é evangélica.
O casamento contou com cerca de 100 convidados,
tendo sido o evento coordenado pela cerimonialista Elenita
Teixeira Lobo. O evento foi realizado em uma ambientação
bem simples, sem luxo e sofisticação, mas decorado com
cores quentes e alegres: laranja, amarelo e rosa chá,
escolhidas pela noiva. Ela também fez questão de pedir que
não se usasse a cor vermelha.
Bolsonaro começou a se emocionar quando, ao lado
da mãe, Dona Olinda, iniciou sua caminhada para o altar; foi
quando seus olhos se encheram de lágrimas. Antes,
Bolsonaro havia alertado sua mãe, em tom de brincadeira:
“Não vá chorar, mãe!”.
De acordo com o IG Ultimo Segundo, na cerimônia de
casamento “Bolsonaro deixou aflorar seu lado mais
sensível, menos conhecido do grande público – acostumado
a sua imagem de durão”.
Na verdade, Bolsonaro chorou em diversos momentos
da cerimônia e fez declarações de amor à mulher, Michelle.
“Não vou dizer que te amo porque seria um pleonasmo,
Michelle. Você é um pedaço de mim”, afirmou.
O pastor Silas Malafaia deu destaque em sua fala na
cerimônia à família e frisou sua oposição à união de
pessoas do mesmo sexo:
O primeiro princípio é que Deus fez macho e fêmea. (...)
Toda a história da civilização humana está sustentada no
homem, na mulher e em sua prole. Deus só criou duas
instituições na Terra: família e igreja. Família é homem,
mulher e sua prole. Para a perpetuação da espécie,
completude desse ser (...), o homem só se completa na
mulher e a mulher só se completa no homem. O resto é
blábláblá. Nada mais e nada menos, disse o pastor.

O casal trocou alianças ao som da cantata 147 de


Bach “Jesus, Alegria dos Homens”. Bolsonaro também
demonstrou certo constrangimento diante do pedido de
Malafaia para que beijasse a noiva.
De acordo com a jornalista Juliana Linhas, escrevendo
para a Folha, apesar da grande diferença de idade entre os
dois (27 anos) Bolsonaro e Michelle formam um casal que
anda de mãos dadas e trocam selinhos em públicos “muitos
deles disparados por ela”. E exemplifica o beijo do
casamento:
Letícia Aguiar (filha de Michelle), Michelle, Bolsonaro e Laura
arquivo pessoal.

Bolsonaro, mãe e irmãos, em 2018 – Arquivo Pessoal.


Foi assim, por exemplo, na festa de casamento, quando
Malafaia disse que os noivos podiam se beijar. Bolsonaro,
com a cara lavada de choro (sim, senhoras e senhores),
sorria frouxo e não se manifestava. O pastor acelerou num
“Bora, rapaz”, mas foi uma sorridente Michelle quem tascou-
lhe o beijo.

Depois da cerimônia de casamento, Flávio Bolsonaro,


comentou sobre o pai:
Depois que Laura nasceu ele ficou mais emotivo: ele chora,
às vezes. Aquilo [a imagem pública, belicosa] é um
personagem. Lá em casa, ele nunca levantou a mão para a
gente, era minha mãe quem brigava conosco, e a gente
corria para debaixo das pernas dele para se proteger: ele
nos deseducava.

Jair Bolsonaro e sua esposa Michelle – Arquivo Pessoal

Até a transferência para Brasília com a família, para


ocupar o Palácio da Alvorada, como residência oficial, Jair
Bolsonaro, Michelle e as duas filhas moravam no
Condomínio Vivendas da Barra – de casas -, na Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro, onde também ela frequentava a
Igreja Batista da Atitude, trabalhando na educação de
surdos e mudos, inclusive, atuando na tradução simultânea
dos cultos para Libras, a linguagem das mãos. Este
trabalho, que ela faz há muitos anos, é, segundo diz, uma
missão, que continuará exercendo.
Todos os irmãos do presidente Jair Bolsonaro
continuam morando na região do Vale do Ribeira, nas
cidades de Eldorado e Registro. A irmã de Jair Bolsonaro,
moradora de Eldorado Paulista, Maria Denise Bolsonaro, é
uma das produtoras de banana da região.
Carreira no Exército Brasileiro
O sucesso não acontece por acaso.
É trabalho duro, perseverança, aprendizado, estudo,
sacrifício e, acima de tudo, amor pelo que você está fazendo
ou aprendendo a fazer.
(Edson Arantes do Nascimento [Pelé] ex-jogador de futebol)

Hora de iniciar a carreira


Perto de completar dezoito anos de idade, lá estava o
nome do jovem Jair Messias Bolsonaro entre os 250
aprovados no exame de escolaridade e aptos a fazer os
testes complementares para o ingresso na Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), marcadas
para 1.º de fevereiro de 1973.
A lista dos vitoriosos, em tão difícil concurso, foi
divulgada pelo Departamento de Ensino e Pesquisa do
Ministério do Exército, no dia 12 de janeiro de 1973.

Bolsonaro, em pé e à direita, em 1974, na Aman – Arquivo pessoal.

Bolsonaro já tinha o 2.º grau completo e, tendo sido


aprovado nos testes finais, ele ingressou na Escola
Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas (SP), no
dia 19 de março de 1973.
Na realidade, ele deveria ter feito inscrição para a
Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), localizada em
Resende (RJ) e considerada a “Faculdade do Exército”.
Mas, depois de um ano de estudos na EsPCEx, ele foi
aprovado no concurso de Admissão da Aman e, em 1.º de
março de 1974, foi matriculado na Academia Militar, com
mais 37 outros aprovados entre 40 mil concorrentes.
Quando questionado do por que decidiu ser militar,
Bolsonaro explica, quase sempre, desta forma, sobre sua
decisão em entrar para o Exército:
- Por causa do Lamarca. Eu tinha 15 anos de idade
[usava cabelo com gumex, calça boca-de-sino e sapato
cavalo-de-aço], quando o Lamarca passou por Eldorado
Paulista (...).

Jair Bolsonaro ao lado do soldado Cristaldo, durante exercícios


Arquivo Pessoal

Durante a perseguição dos militares ao guerrilheiro


Carlos Lamarca, Jair Bolsonaro dava algumas dicas – de
forma discreta -, para os militares, sobre as trilhas
existentes, que permitiriam que eles se embrenhassem
naquelas matas à caça do capitão, que havia desertado do
Exército para integrar-se à luta armada contra o Regime
militar. E foi um soldado desta tropa que entregou a
Bolsonaro o folheto com as instruções para ingressar na
carreira militar.
Ele foi um cadete destacado entre seus quase 400
companheiros de turma, tendo recebido o apelido de
“cavalão”, porque tinha um vigor-físico acima da média e era
um dos atletas de ponta da Academia Militar das Agulhas
Negras, principalmente da parte referente ao pentatlon
militar.
De acordo com Época, Bolsonaro tinha um bom
desempenho como atleta e sua ficha escolar de 1976
registra que o aluno “evidenciou sua qualidade de atleta e
desportista, competindo com atletas mais experimentados,
conseguiu o 3.º lugar individual, na difícil modalidade que é
o pentatlo militar”.
Jair Bolsonaro, tendo concluído o curso de formação
de oficiais, que representa quatro anos de estudos
acadêmicos e militares, com sólida formação em ciências
exatas, com base similar a um curso de Engenharia - 3.º
Grau - foi declarado aspirante-a-Oficial de Artilharia, em 15
de dezembro de 1977.

Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) –


Arquivo Pessoal.
Jair Bolsonaro fez, em 1977,
o curso de Paraquedismo Militar
na Brigada Paraquedista do Rio de
Janeiro. Conhecida como “Ninho
das Águias” e “Sentinela da
Pátria”, a Brigada de Infantaria
Paraquedista é uma tropa de
elite do Exército, de emprego
estratégico, podendo atuar em
qualquer parte do território
nacional em até 24 horas. Sua
turma começou com 250
militares e apenas 35 concluíram
o curso.
O Portal da Cidade de Vassouras publicou extensa
matéria sobre Bolsonaro, onde ouviu o coronel Guilherme
Henrique dos Santos Hudson, antigo companheiro de
Bolsonaro que fala sobre ele na Academia:
O Jair Bolsonaro sempre foi um cadete de destaque. A
gente até brincava um pouco com o apelido que a turma de
1977 colocou nele: 'cavalão'. Porque realmente tinha um
vigor-físico absurdo e era um dos atletas de ponta da Aman,
principalmente da parte referente ao Pentatlon.

Ele foi promovido ao posto de 2.º tenente da Artilharia,


no dia 31 de agosto de 1978, através de decreto assinado
pelo presidente da República Ernesto Geisel e pelo ministro
do Exército, general Fernando Belford Bethlem.
Em abril de 1978, Jair Bolsonaro participou do
campeonato de Pentatlon Militar, que foi realizado em Belo
Horizonte (MG). A Marinha saiu vencedora e o Exército ficou
em segundo lugar, na competição por equipes, em que
Bolsonaro não participou. A equipe do Exército era formada
por Souza, Monte, Freire e Lima. Bolsonaro, contudo, ficou
em 10.º lugar na classificação geral na competição
individual, quando participaram quinze atletas.
Bolsonaro participa de treinamento em Pentatlon – 1977 Arquivo
Pessoal.

Jair Bolsonaro quando servia no 9.º GAC de Nioaque – MS Arquivo


Pessoal.

Jair Bolsonaro em treinamento da Brigada Paraquedista (1980) –


Arquivo pessoal.
Dois anos depois, em 25
de dezembro de 1979,
Bolsonaro, que estava lotado
na Arma de Artilharia, foi
promovido à primeiro-tenente,
juntamente com mais 652
oficiais de armas e serviço,
através de Portaria assinada
pelo ministro do Exército,
general Walter Pires, e pelo
chefe do Departamento Geral
de Pessoal, general Antônio
Carlos de Andrada Serpa.
Ele servia, desde 1978,
no 21.º Grupo de Artilharia de
Campanha (21.º GAC), no
bairro de São Cristóvão, onde
passou a exercer as funções
de encarregado da Seção de
Pessoal e chefe da Seção Mobilizadora e oficial de ligação.
De 1979 a 1982, o então primeiro-tenente do Exército
(promovido em dezembro de 1979), Jair Messias Bolsonaro,
serviu no 8.º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista
onde exercia a função de comandante da Bateria de Serviço
e Fiscal Administrativo.
Numa ocasião em que participava de um treinamento
de Salto Livre da Brigada Paraquedista, Bolsonaro saltou de
um teco-teco, como outros já o haviam feito, mas se deu
mal. Por conta de uma ventania não prevista no local de
pouso, ele não conseguiu controlar o paraquedas e foi
arrastado pelo mesmo sobre a Avenida das Américas, na
Barra da Tijuca (RJ) e foi arremessado contra um prédio,
caindo depois de uma altura de oito metros, que lhe custou
fratura nos braços e em um dos calcanhares. Mas nada de
muito grave.
Ainda como oficial subalterno, Jair Bolsonaro atuou no
9.º Grupo de Artilharia de Campanha (9.º GAC), em Nioaque
(MS) e exerceu as funções de chefe de Linha de Fogo;
encarregado da Seção de Pessoal; adjunto da Seção de
Operações; e comandante4 da 2.ª Bateria de Obuses.
Em 1982, o 1.º tenente Bolsonaro entrou para a
Escola de Educação Física do Exército, depois de ficar
classificado, nas provas de seleção, em primeiro lugar, entre
45 outros concorrentes, entre tenentes e capitães.
Ele formou-se em Educação Física, em 1983, também
em primeiro lugar, e ainda tornou-se, naquele ano,
mestre em saltos pela Brigada Paraquedista do Rio de
Janeiro, quando foi promovido a capitão (25/12).
Sempre querendo mais, o irrequieto capitão fez o
curso de mergulhador autônomo no Grupo de Busca e
Salvamento do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do
Rio de Janeiro, situado na Barra da Tijuca, em 1985, tendo
ficado em primeiro lugar da turma de 13 treinandos.
Atuando como instrutor no 8.º Grupo de Artilharia de
Campanha Paraquedista, Bolsonaro participou, em 1986, da
equipe de paraquedistas que realizou uma série de
demonstrações em Brasília por ocasião da Semana do
Exército, inclusive no Dia do Soldado, comemorado no dia
25 de agosto, durante a cerimônia militar, no Setor Militar
Urbano, que teve presença do presidente José Sarney e
membros do Alto Comando das Forças Armadas.
Jair Bolsonaro sempre foi um oficial brilhante, com
uma folha invejável de serviços prestados ao Exército
Brasileiro, admirado e reverenciado por todos os colegas de
Arma e respeitado por seus superiores, como sendo uma
grande liderança militar, recebendo elogios por desempenho
– uma marca de sua trajetória no Exército, como registram
os assentamentos militares.
Em 1987, como capitão, Bolsonaro concluiu o curso
[EAD] que o habilitou a se tornar oficial superior,
frequentando por mais um ano a Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais, também conhecida como a “Casa do Capitão”.
Na ocasião, Bolsonaro “recebeu elogios formais por
autoconfiança, combatividade, coragem, idealismo,
indivíduo de ideias e de juízo, iniciativa e vigor físico”.

4 De acordo com o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE),


vigente à época, a palavra comandante, “quando usada
genericamente” englobava também os cargos de diretor e chefe.
Bolsonaro em jogo de basquetebol com companheiros de Arma –
Arquivo pessoal

Em sua formação como oficial superior, o capitão


Bolsonaro recebeu o título de Aperfeiçoamento em
Operações Militares, como Pós-Graduação em Ciências
Militares feita na EsAO. Posteriormente, em 1999, este
curso passou a ser enquadrado como Especialização
(Mestrado) Stricto Sensu e, devidamente, reconhecida pelo
Ministério de Educação e Cultura – MEC.

Jair Messias Bolsonaro recebendo o diploma “atualizado” de Mestre


em Operações Militares (Stricto Sensu) obtido na EsAO - 30 nov.
2018 - Reprodução.

A partir de sua diplomação no cargo de vereador do


Rio de Janeiro (1988), quando ainda servia no 31.º Grupo
de Artilharia de Campanha (31.º GAC Es), ele foi integrado
à Reserva Remunerada, isto em 31 de dezembro de 1988.
Sobraram as boas lembranças e o velho uniforme como lembrança –
Arquivo Pessoal
O Diário Oficial da União, do dia 8 de fevereiro de
1989 trouxe o ato de transferência do capitão Jair Messias
Bolsonaro para a Reserva:5

O Chefe do Departamento Geral do Pessoal, em


conformidade com a Portaria Ministerial n9 1.167, de 5 de
dezembro de 1985, e de acordo com o art. 96 item II, por ter
incidido no art. 98 item XVI, ambos os artigos da Lei n.º
6.880, de 9 de dezembro de 1980, resolve: Transferir para a
Reserva Remunerada, a contar de 22 de dezembro de
1988, o Capitão da Arma de Artilharia (020935882-9) JAIR

5 No dia 30 de novembro de 2018, em cerimônia realizada na Escola


Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), o presidente eleito Jair
Messias Bolsonaro, que concluiu o curso de pós-graduação em ciências
militares, em 1987, recebeu seu diploma atualizado, conforme norma de
1999, emitida pelo Exército, que determinava aos comandantes da
unidades militares, que providenciassem a expedição do novo diploma
(suprimento de título), o que foi feito, no caso de Bolsonaro, apenas
agora. Desta forma, Bolsonaro passou a ter, oficialmente, o título
acadêmico, de Mestre em Ciências Militares.
MESSIAS BOLSONARO, com a remuneração a que faz jus,
(...).

Portanto, sua passagem para a Reserva se deu


porque todo militar, com cinco ou mais anos de serviço, se
eleito e com o ato da diplomação, é transferido para a
Reserva Remunerada, percebendo uma remuneração
proporcional ao tempo de serviço prestado.
Bolsonaro, o garimpeiro.
O garimpo é um estado natural de sonhos, que permite o
arrojo das tentativas, explica o esbanjamento da sua
efêmera fortuna e o orgulho consolador, que de uma hora
para a outra, tudo pode melhorar.
(Belmiro Luiz Nascimento - garimpeiro)

“De garimpeiro [de sonhos] tornei-me poeta. Exploro


sentimentos. Meu maior tesouro, minha pedra preciosa,
chama-se saudade”. Assim o poeta paulista Ari Mota se
expressa em seu poema “O Garimpeiro Poeta” em relação à
eterna procura pelo amor e pela felicidade, buscados em
uma pessoa idealizada.
Assim como na poesia de Ari Mota, em que a vida,
para ele, costuma ter “dias duros [e] noites em claro”,
também o garimpo real costuma ser algo muito rude, onde
só sobrevivem os fortes e, nem sempre, com os tesouros
sonhados.
Mas, para Jair Bolsonaro, o garimpo é algo ainda
maior; está no sangue. E ele cita seu pai, Percy Geraldo
Bolsonaro, como alguém que, sempre que podia, pegava a
bateia e ia para o rio “faiscar”, como quase num vício por
procurar, perdido em toneladas de areia e cascalho, um
grama sequer de metal.
- O garimpo, de vez em quando, eu pratico ainda. Não
causo nenhum crime ao meio ambiente. O garimpo é um
negócio que está no sangue das pessoas, afirmou Jair
Bolsonaro em entrevista à Folha, em maio de 2017.
Embora o garimpo possa ser uma prática lícita, se
autorizada pelos órgãos responsáveis, Jair Bolsonaro, em
1983, foi submetido a um Conselho de Justificação,6 porque
saiu de férias e, na companhia de três tenentes e dois

6 O Conselho de Justificação é processo especial instaurado nas Forças


Armadas, com a finalidade de julgar “da incapacidade do oficial para
permanecer na ativa”, permitindo-lhe também “condições para se
justificar”. Preponderantemente previsto para o Oficial de carreira do
serviço ativo, é também cabível para o oficial da reserva remunerada ou
reformado.
sargentos – dois militares sob o seu comando - foi garimpar
na cidade de Saúde, próximo de Jacobina, na Bahia.
Durante a Sindicância, Bolsonaro confirmou toda a
história, mas disse que não teve lucro e classificou a
atividade como "hobby ou higiene mental".
O coronel Carlos Alfredo Pellegrino, superior de
Bolsonaro, também foi ouvido pelo Conselho de Justificação
e disse que tentou demovê-lo da ideia de ir garimpar, mas
conheceu "pela primeira vez sua grande aspiração em poder
desfrutar das comodidades que uma fortuna pudesse
proporcionar".
O coronel Pellegrino também disse ao Conselho de
Justificação que tão logo Bolsonaro regressou da aventura
garimpeira, o teria procurado para se justificar por ter ido e
não ter seguido seus conselhos. Mas, para ele, Bolsonaro
teria "confirmado sua ambição de buscar por outros meios a
oportunidade de realizar sua aspiração de ser um homem
rico".
Em 1983, a Diretoria de Cadastro e Avaliação do
Ministério do Exército assentou em “Ficha de Informações”
do então tenente Jair Bolsonaro, que este havia dado
“mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento
de garimpo de ouro”. E mais: “Necessitava ser colocado em
funções que exijam esforço e dedicação, a fim de reorientar
sua carreira. Deu demonstrações de excessiva ambição em
realizar-se financeira e economicamente”.
Em sua decisão final, o Conselho de Justificação
concordou com o escrito em sua ficha e acrescentou que "A
imaturidade é de um profissional que deveria estar dedicado
ao seu aprimoramento militar, através do adestramento,
leitura e estudos, e não aventurar-se em conseguir
riquezas".
No dia 12 de abril de 2018, na cidade de Boa Vista,
durante pré-campanha que fazia na capital de Roraima, o
deputado Jair Bolsonaro defendeu a exploração de terras
indígenas e foi aplaudido. Ele chamou as reservas - terras
da União destinadas aos índios -, de “política separatista”.
- Por que, no Brasil, o nosso índio tem que ficar
confinado num pedaço de terra? Aquele pedaço de terra é
dele? É. Alguém quer tomar? Não. Mas ele tem que ter o
direito de explorar a sua terra, até mesmo se quiser vender
uma parte dela, que o faça, para o seu bem, para o bem se
sua geração. Não podemos aceitar essa política separatista
entre nós, afirmou Bolsonaro.
Como já disse Bolsonaro: o garimpo está no sangue.
E, sabendo disso, garimpeiros, que ainda sonham em
retomar a exploração de ouro em Serra Pelada,
encaminharam a ele, em julho de 2018, um abaixo-assinado
com mais de 500 assinaturas pedindo seu apoio para o
almejado retorno às atividades de lavra, por acreditarem que
ainda podem explorar o ouro de Serra Pelada.
O documento foi entregue a Bolsonaro pelo garimpeiro
Jonas Andrade, que conseguiu gravar um vídeo, no qual
Bolsonaro fala aos interessados:
- O que eu posso falar é o seguinte: meu pai garimpou
por muito tempo [inclusive no Garimpo de Serra Pelada nos
anos 1980] e, logicamente, isto está no sangue da gente. Eu
sempre tive no meu carro um jogo de peneira e uma bateia
e, sempre que possível, eu parava num canto qualquer para
dar uma faiscada. Eu sei que não é fácil a vida de vocês, eu
reconheço, sim, que nós devemos tudo que temos a oeste
do então Tratado de Tordesilhas, a pessoas com o espírito
de vocês. Então, o garimpeiro é um trabalhador, é um ser
humano, e não pode continuar sendo tratado como se fosse
algo de terceira ou quarta categoria. Se Deus quiser, vamos
buscar meios para que vocês possam trabalhar com
dignidade e com segurança. Tivemos experiência do
passado, lá em Serra Pelada, com o major Curió, que foi
deputado e que eu conheci também e são esses exemplos
que nós podemos aperfeiçoar em alguma coisa e tocar pra
frente. Afinal de contas, esse Brasil é muito rico e você
garimpeiro, ser humano, cidadão, está em primeiro lugar
nestas questões.
Jair Bolsonaro já afirmou, em outras oportunidades,
ser a favor da liberação da extração de riquezas minerais
por parte de brasileiros:
- O que seria do Brasil sem os bandeirantes que
exploraram os diamantes? Teríamos um terço do território
atual se não fossem eles. É preciso parar de tratar o
garimpeiro como bandido no Brasil.
Por ocasião da comemoração da Semana dos Povos
Indígenas, realizada na comunidade Indígena São Francisco
(Terra Indígena Raposa Serra do Sol), foi emitida uma carta
aberta, datada de 26 de abril de 2018, com alguns itens
dedicados a protestar contra as pretensões de Jair
Bolsonaro em liberar a exploração de riquezas nas terras
indígenas.
A carta emitida em nome dos povos indígenas Macuxi,
Taurepang, Wapichana, Patamona e Ingaricó, com reflexões
sobre fatos marcantes para a história desse povo, como os
13 anos da homologação da Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, enumerava o que aqueles povos eram contrários:

a) Somos contra qualquer medida que venha pôr em risco


os nossos Direitos Indígenas como a PEC 215, Portaria
303 da AGU, Marco Temporal, a PL 1610 - de autoria do
senador Romero Jucá, que autoriza a mineração em
terras indígenas, bem como a proposta de construção de
hidrelétricas, principalmente, o Parecer 001/017 da AGU
que afronta absurdamente os nossos direitos
constitucionais originários;
b) O Estado brasileiro não pode utilizar nossas terras
indígenas como moeda de troca como vimos nos últimos
tempos, o próprio presidente Michel Temer, tentando a
qualquer custo entregar as Terras Indígenas para o
agronegócio e mineradoras em troca de apoio
parlamentar. Citamos o desmonte do nosso único órgão
do Estado brasileiro, a Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), que está totalmente entregue a parlamentares
ruralistas, inclusive em Roraima, que virou gabinete de
parlamentares que comandam a instância indigenista;
c) O garimpo em terras indígenas só traz destruição e
morte. Por exemplo, a terra Indígena Yanomami que,
comprovadamente, já está afetada com a contaminação
dos rios e até dos próprios indígenas Yanomami que
consome água e peixe infectados por metais pesados
jogados pelo garimpo ilegal;
d) A entrada de parlamentares em nossas terras
(deputados e senadores) que são contra os Povos
Originários, não são bem vindos em nossa Terra, uma
vez que não tem o consentimento das comunidades
Indígenas, pois estes vem pregando falsas promessas e
que só aparecem nas comunidades indígena em
períodos eleitorais;
e) Também não concordamos com a entrada do deputado
federal Jair Bolsonaro em nossas terras indígenas, bem
como seus seguidores, apoiadores (pré-candidatos ao
Senado e Governo), sobretudo neste ano político. Jair
Bolsonaro denunciado ao Supremo Tribunal Federal
(STF) por racismo e discriminatório pelos quilombolas, já
fez várias declarações contra os povos indígenas.

Destruição provocada por garimpo irregular em terras indígenas –


Crédito: Cimi.

Quando esteve em Parauapebas, no interior do Pará,


no dia 13 de julho de 2018, Jair Bolsonaro prometeu em seu
discurso que, se fosse eleito, iria levar “progresso” a
aldeias indígenas. Ele também declarou que iria permitir que
quilombolas abrissem garimpo em suas terras ou que até
pudesse vendê-las para quem quiser nelas extrair minerais.
- No meu governo, o progresso vai entrar nas terras
indígenas, como vai entrar nos quilombolas também. O
quilombola que quiser garimpar na sua terra vai garimpar.
Se quiser vender sua terra, vai vender também. O que a
comunidade indígena quer é se integrar cada vez mais à
nossa sociedade.
Já eleito e conduzindo o processo de transição de
governo, Bolsonaro reafirmou sua disposição, caso tenha
amparo legal, de dar autonomia aos indígenas e interromper
o processo de demarcação de terras indígenas:
- O índio não pode continuar sendo preso, dentro de
uma área demarcada, como se fosse um animal dentro de
um zoológico. As reservas foram superdimensionadas. O
que eu pretendo - se houver amparo legal - é que como o
índio é um ser humano igual a nós, ele quer evoluir, ter
energia elétrica, médico, dentista, internet, jogar um futebol,
ter um carro, quer viajar de avião, porque ele quando tem
contato com a civilização ele rapidamente vai se moldando à
nova maneira de viver que é bem diferente e melhor do que
a dele.
Bolsonaro determinou a elaboração de proposta
ministerial para a “regulamentação da exploração de
recursos hídricos, potenciais energéticos e lavra de riquezas
minerais em terras indígenas”, de acordo com o Estadão, e
avisou aos governadores: “Se, hoje, é ilegal queremos
legalizar, ouvir o Parlamento. Isso daí está bastante
avançado no Ministério de Minas e Energia. Pretendemos
apresentar brevemente essa proposta”, disse.
Mas este é um assunto delicado e que não tramita
com consenso; pelo contrário, nem no meio indígena isso é
bem visto, porque o garimpo tem dado mostras suficientes
de que é uma atividade altamente destrutiva da natureza e
de cursos d’água utilizados por tribos indígenas.

Ibama faz operação em garimpo da área indígena Kayapó, no Pará


agosto de 2019

De acordo com pesquisa do Datafolha, a mineração


em terras indígenas é reprovada por 86% dos brasileiros. O
levantamento, contratado pela ONG Instituto Socioambiental
(ISA), mostrou que a rejeição à entrada de empresas de
exploração nessas reservas — prática, hoje, ilegal — é de,
no mínimo, 80% em todas as regiões, escolaridades,
idades, sexos, faixas de renda e ocupações.
De acordo com o Datafolha, a reprovação da atividade
é de 80% nas regiões Norte e Centro-Oeste, que
concentram a maior parte das terras indígenas do Brasil e,
por isso, seriam alvos principais da proposta.
A maior rejeição à regulamentação da atividade
garimpeira em terras indígenas foi registrada no Sudeste:
88% dos entrevistados discordaram de que "o governo deve
permitir a entrada de empresas de mineração para explorar
as terras indígenas". Apenas 14% das pessoas ouvidas na
pesquisa afirmaram concordar com esta afirmação — 7%
totalmente e 7%, em parte.
A luta por melhores salários dos militares
Mais um dia de trabalho querido diário. Eu ralo feito otário e
ganho menos do que eu valho, mas necessito de salário que
é bem menos que o necessário...
(Gabriel Contino [Gabriel O Pensador] – rapper, compositor e escritor)

O miserê é geral, mas para uns é mais do que para


outros. O caso mais emblemático dos últimos tempos
aconteceu em Minas Gerais, onde o procurador de Justiça
Leonardo Azeredo dos Santos. Durante a reunião em que
Santos reclamou do salário de R$ 24 mil, classificado por
ele como “miserê” e de dizer que teria que reduzir o "estilo
de vida", ele afirmou que faz uso de remédios controlados e
antidepressivos para "aguentar o miserê atual".
Viver de salário sempre foi um problema,
principalmente para quem ganha o mínimo ou para quem
gasta tudo o que ganha; estará sempre passando aperto,
pois a grana só dá para os primeiros dias do mês. Claro, um
salário de R$ 24 mil não é nenhum miserê e o procurador
mineiro tratou de sair de cena com uma licença médica,
para fugir do assédio da imprensa.
Mas vamos aos tempos em que Bolsonaro ganhava
um miserê...
O capitão poderia ter feito como outros de seus
companheiros que deixaram, em 1986, o Exército e foram
para a iniciativa privada, que pagava maiores salários e não
sofriam tanto com os efeitos da inflação desenfreada ou
abafada por planos econômicos mal sucedidos.
Mas, Bolsonaro havia entrado no Exército por
idealismo e não queria deixar para trás o desejo de se tornar
um oficial de destaque nas Forças Armadas e, quem sabe,
um dia, realizar o sonho de sua infância e adolescência:
chegar ao cargo de presidente da República.
Embora toda a dedicação no dia-a-dia do quartel, o
capitão Bolsonaro se via impelido, pela sua natural
impulsividade “genética”, a não aceitar calado o que o
governo federal impingia de sofrimento à família militar, com
soldos que não davam para se ter uma vida decente, nem
para os militares da Ativa e, muito menos, a tinham as
viúvas pensionistas de militares.
Assim, foi que ele, como que colocando o fígado à
frente da disciplina castrense fez chegar à Redação de Veja
o artigo “O salário está baixo”, que a revista fez publicar no
dia 3 de setembro de 1986, na coluna “Ponto de Vista”,
assinado pelo capitão Jair Messias Bolsonaro.
No referido artigo ele relatava a precária situação
salarial dos militares e desmentia notícias veiculadas pela
imprensa, de que a evasão de pessoal, que ocorria, naquele
momento entre cadetes da Academia Militar das Agulhas
Negras (Aman), era motivada por homossexualismo,
consumo de drogas, falta de vocação para a carreira e
indisciplina.
Contrariando inclusive a Veja, Bolsonaro afirmou em
seu artigo que 90% das evasões entre os cadetes da Aman
haviam ocorrido pela falta de “perspectiva profissional”,
diante dos baixos soldos pagos à tropa e procurava
demonstrar o quanto os salários pagos aos militares
estavam defasados da realidade, se comparados com
funcionários públicos civis e de estatais.
O que o capitão Jair Bolsonaro reivindicava, em nome
de seus colegas de farda, não era aumento salarial, mas um
vencimento justo – isonomia com outras carreiras de Estado
-, que permitisse aos militares constituírem e tratarem com
dignidade suas famílias.
Bolsonaro já havia reclamado isto abertamente, por
diversas vezes, dentro do quartel e chegou a ser
repreendido por seus superiores, já que esta sua atitude
contrariava o regime de disciplina que deveria imperar na
instituição militar.
Antes de entrar nas consequências advindas deste
artigo assinado pelo capitão Bolsonaro é preciso conhecer o
histórico da inflação do período e os reajustes aplicados aos
soldos do militares, conforme a tabela a seguir:
Reajuste de militares (%)
Inflação acumulada em
Ano 1.º 2.º
12 meses (%)
semestre semestre
1982 99,70 58,00 30,00
1983 211,00 58,00 30,00
1984 223,80 65,00 65,00
1985 235,10 127,50 89,20
1986 65,00 89,35 - 1,10
1987 415,80 116,00 112,30
Fontes: FGV-IGP / Remuneração e Previdência dos Militares
(Vanderlei de Oliveira)

No artigo, o capitão Bolsonaro reclamava da forma


como os soldos eram corrigidos e deu como exemplo a
correção praticada em 1984 que, de acordo com a tabela,
foi feita em duas parcelas de 65% para cobrir uma inflação
de 223,80%, causando uma clara perda do poder aquisitivo
dos soldos, que deixaram de ser reajustados em 51,6%.
Imediatamente à divulgação da revista, houve grande
repercussão favorável na grande maioria do público interno
do Comando Militar do Leste, inclusive chegou a ser
marcada uma reunião de oficiais da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (ECEME) para tratar do assunto
salarial, que tanto os afligia, mas tal encontro foi suspenso
por ordem do comandante da Escola.
Entretanto, em relatório reservado (secreto) mandado
elaborar, em 1990, pelo ministro-chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas, general do Exército Jonas Morais de
Correia Neto, sobre a vida do capitão Bolsonaro, foi
assentado:
Na BDA PQDT [Brigada Paraquedista] seus integrantes
apoiaram ostensivamente as declarações do referido oficial,
havendo comentários como “ALGUÉM TINHA QUE
FALAR”. Houve também reações contrárias á maneira pela
qual o nominado divulgou suas declarações, isto é, através
da revista Veja. Causou repercussão no público interno o
artigo do epigrafado, publicado na revista Veja desta
semana, provocando, além dos naturais comentários
decorrentes, um acentuado realce às dificuldades
financeiras do pessoal militar.
Para uma melhor compreensão do problema, é
importante entender que à época, o Brasil vivia uma
situação caótica em termos de inflação e os reajustes
salariais passaram a ser feitos - a título de antecipação -,
mensalmente, a partir da aprovação do DL n.º 2.335, de 12
de junho de 1987.
O DL n.º 2.335 revogou o Decreto-Lei n.º 2.302, de 21
de novembro de 1986, mas manteve os reajustes de
salários até o percentual de 20%, o que logo estaria
totalmente incompatível com a aceleração da inflação:
Art. 1.º - Os salários, vencimentos, soldos, pensões,
proventos de aposentadoria e remunerações serão
reajustados, automaticamente, pela variação acumulada do
IPC, toda vez que tal acumulação atingir 20% (vinte por
cento), no curso do período de 12 (doze) meses, contados a
partir da última data-base ocorrida após 28 de fevereiro de
1986.
Parágrafo Único - O reajuste, de que trata este artigo, não
excederá a 20% (vinte por cento), ainda que a variação
acumulada do IPC, no período fixado, supere esse
percentual, hipótese em que o excedente será computado
nos cálculos subsequentes.

Em fevereiro de 1987, um ano após o anúncio do


plano Cruzado, que congelou preços e salários, o governo
decretou a moratória do pagamento dos juros da dívida
externa [Governo José Sarney], o que causou enormes
dificuldades para o país, tendo perdurado por muito tempo.
O ano de 1987 não seria nada fácil, tendo chegado o
mês de abril, com o Brasil experimentando, talvez, a sua
mais grave crise financeira e econômica, tendo o governo,
no dia 12 de junho, colocado em vigor o Plano Bresser, que
implantou, entre outras medidas - que visavam a contenção
da inflação -, o congelamento de preços e a desvalorização
do cruzado.
No geral, a alta desenfreada da inflação e o
desabastecimento do mercado, depois do congelamento de
preços, causaram descontentamento geral na população e
também entre os militares que, infelizmente, não podiam
reclamar, por conta de o Regulamento Disciplinar proibir tais
manifestações.
Mas o capitão Jair Bolsonaro não se intimidou e teve a
coragem de falar em nome de seus colegas, usando da
liderança que tinha, junto ao oficialato do Exército Brasileiro.
Ele também teve que assumir os riscos de uma eventual
prisão ou até mesmo, o encerramento de sua carreira
militar.
“Como capitão do Exército Brasileiro, da ativa, sou
obrigado, pela minha consciência, a confessar que a tropa
vive uma situação crítica no que se refere a vencimentos”,
afirmava Jair Bolsonaro, em seu artigo em Veja.
Para exemplificar, ele citou o caso de um capitão que,
incluindo “soldo, quinquênio, habitação militar, indenização
de tropa e representação, descontado o fundo de saúde e a
pensão militar” recebia exatos 10.433 cruzados [Em 2019
seria pouco mais de R$ 2,1 mil]. Ele citava ainda o caso de
um terceiro-sargento do Exército que recebia 4.134
cruzados, o que equivaleria em 2019 a menos de 1 salário-
mínimo.
De acordo com o jornalista Hélio Fernandes, do jornal
Tribuna da Imprensa, havia um clima generalizado de
insatisfação nas Forças Armadas com relação aos baixos
salários recebidos. E levantou o problema salarial dos
cadetes da Aman, dizendo que, entre aqueles que haviam
pedido desligamento, estava um dos mais brilhantes,
“prestes a sair oficial, pois estava no 4.º ano, pediu
desligamento voluntário inesperadamente”.
Conforme o jornalista, o tal cadete – que ele omitiu o
nome - “mandou uma carta-ofício ao comandante, juntando
o contracheque de um motorista de ônibus interestadual de
luxo. Por esse contracheque, o salário do motorista havia
chegado a 12 mil cruzados”, que superava o salário de um
capitão. Ainda de acordo com Fernandes, tal carta havia
chegado às mãos do ministro do Exército, general Leônidas
Pires Gonçalves, que teria ficado furioso.
“Esse quadro é a causa sem retoques da evasão, até
agora, de mais de 80 cadetes da Aman. Eles solicitaram
desligamento. Não foram expulsos, como sugere o
noticiário”, afirmava ainda o capitão Jair Bolsonaro em seu
artigo.
Pelo que se pode ver a postura do capitão Jair
Bolsonaro só estava incorreta com base no Regulamento
Disciplinar do Exército, mas tinha ampla repercussão entre
os militares da ativa e também entre os inativos, pois, como
qualquer trabalhador, numa época de inflação fora de
controle, lutava por ver, minimamente, recomposto o poder
de compra de seus vencimentos.
Ele inclusive reconheceu, no próprio artigo, que corria
o risco de ver sua “carreira de devoto militar seriamente
ameaçada”, mas considerava mais grave a falta de
perspectiva e a crise econômica. “Amo o Brasil e não sofro
de nenhum desvio vocacional. Brasil acima de tudo”. Com
essas palavras, o capitão Jair Bolsonaro encerrou o artigo-
denúncia publicado por Veja.
Cópias do artigo foram distribuídas entre civis e
militares, através da ação de grande número de pessoas
que admiravam o capitão Bolsonaro e aprovavam as
denúncias feitas por ele. Afinal de contas, era a primeira
manifestação pública sobre a preocupante questão salarial
dos militares e também sobre as injustiças na redistribuição
de renda no país.
No dia seguinte à circulação da revista, o ministro do
Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, teve uma longa
reunião em seu gabinete com o ministro da Justiça, Paulo
Brossard, avaliando as possíveis consequências da
eventual decretação de prisão do indisciplinado capitão
paraquedista.
Conforme relatou o jornalista Hélio Fernandes, o artigo
assinado por Bolsonaro havia sido “minuciosamente
analisado por especialistas do Ministério do Exército.
Reconheceram que ele foi muito bem feito e que algumas
coisas foram colocadas simplesmente para despistar”.
Os especialistas do Ministério chegaram a admitir que
o movimento reivindicatório surgido na Vila Militar não era
isolado e que “o capitão Jair Bolsonaro tinha uma grande
liderança e comando, e que era seguido por muitos oficiais”.
Ainda segundo análise de tais especialistas, uma parte
alarmante de oficiais, de tenente-coronel ‘para baixo’ até
tenente, vivia em estado constante de insatisfação.
Ato contínuo à realização da reunião entre os ministro
do Exército e da Justiça foi determinada a prisão do capitão
Bolsonaro. Esta decisão estava embasada por um estudo
completo da situação e os especialistas do Ministério do
Exército, diante do impasse surgido, levaram o problema
para análise e decisão do ministro da pasta, que já havia
manifestado, no dia em que Veja circulou, que aquilo teria
sido “um ato de indisciplina inadmissível”.
O tal impasse se referia, às possíveis consequências
que poderia haver entre decidir pela prisão de Bolsonaro ou
não prendê-lo. A prisão do capitão, na opinião de
assessores do Ministério, poderia deflagrar um amplo
movimento de solidariedade “por causa de sua invulgar
liderança”.
Entretanto, esses mesmos assessores entendiam que
“não puni-lo seria estimular outras denúncias, demonstrar
medo ou falta de condições para uma iniciativa que sempre
deu resultados contrários no passado”.
O Diário de Natal publicou um excelente artigo sobre o
tema, intitulado: “Matéria publicada em revista é distribuída”,
em que fala da iniciativa de civis e militares que
providenciaram cópias do artigo de Veja e trataram de fazer
uma generosa distribuição entre militares e seus familiares.
O jornal também discutia a questão da
profissionalização das forças militares, anseio do ministro do
Exército, que via nisso uma forma de afastar o militar do dia-
a-dia da política. Entretanto, o Diário de Natal alertava para
o fato de que isto poderia, em contrapartida, “significar o
alheamento político de oficiais que também aspiram por
mudanças no país, como também, os militares jamais se
afastaram de todo o eixo das discussões políticas”.
E citava ainda o caso dos assessores parlamentares
das três armas no Congresso, que eram oficiais preparados
e diligentes e que conheciam a fundo todos os
parlamentares, além do que eles participavam “de todas as
reuniões políticas partidárias, e integravam o cotidiano das
conversas e trocas de opiniões com os jornalistas e os
demais assessores”.
Embora todas essas considerações e discussões
realizadas entre os técnicos do Ministério do Exército, uma
coisa era clara: de acordo com o Regulamento Disciplinar
do Exército (RDE), o capitão Bolsonaro havia infringido
dispositivos legais que o proibiam de manifestar, fora das
dependências militares, críticas à organização a que servia.
Portanto, ele estava sujeito a uma pena que variava
de advertência, repreensão, detenção, prisão domiciliar ou
no próprio quartel (não era encarceramento, mas
cerceamento da liberdade), licenciamento e exclusão a bem
da disciplina, podendo receber a visita de familiares.
No caso de prisão, o militar detido poderia comparecer
a todos os atos de instrução e serviço interno, exceto ao
serviço de escala externa. Uma decisão sobre o quantum da
pena deveria ser tomada pelo ministro do Exército, general
Leônidas Pires Gonçalves.
Tendo o Conselho de Justificação que julgou
Bolsonaro, decidido que o capitão havia infringido artigos do
RDE, ele deveria ser preso por 15 ou 20 dias, por ter sua
atitude sido considerada grave e por "ter ferido a ética,
gerando clima de inquietação na organização militar" e "por
ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter
oficial, comprometendo a disciplina", conforme decisão
exarada pelo Conselho. Esta foi a decisão final do Ministério
do Exército.
Com base nesta decisão, o general Acrísio Figueira,7
então comandante da Brigada Paraquedista, convocou o
capitão Bolsonaro em sua sala.
- Capitão Bolsonaro, tudo bem com o senhor?
Aquele tipo de tratamento - ser chamado de senhor -
não era um bom sinal. E Bolsonaro relataria mais tarde o
teor desta conversa com o general Figueira.8
- Sente-se aí. O senhor sabe o que fez?
- Sim, senhor.

7 No dia 6 de julho de 2018, a Brigada de Infantaria Paraquedista


homenageou o general Acrísio Figueira (Águia Uno 16) por ter
completado no dia 5 de Junho 90 anos de idade.
8 No dia 27 de julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro participou, na
Vila Militar, da Cerimônia de brevetação dos novos paraquedistas,
ocasião em que ele se lembrou deste fato: “A minha vida foi marcada
pelos quatro anos que passei aqui dentro. Tive como comandante nos
idos anos 80, o general Acrísio Figueira. Eu o jovem capitão, ele um
vibrante comandante da nossa brigada. Tivemos um momento bastante
tenso entre nós, mas preservou a lealdade e a verdade. E nele, nas suas
palavras, naquele momento, fizeram um marco na minha vida. E esse
marco, esse momento, fez com que um paraquedista alcançasse a
presidência da República”. (Planalto. Legado. Brasília. 27 jul. 2019).
- O senhor já leu a Sindicância?
- Sim, senhor.
- Alguma coisa de errado?
- Não, senhor.
- O senhor vai ficar preso disciplinarmente por 15 ou
20 dias. Quantos dias de prisão o senhor acha que merece?
- General, eu mereço 20 dias.
- Como você está sendo sincero, vou te dar apenas 15
dias.
A pena de 15 dias de recolhimento, cumprida no 8.º
Grupo de Artilharia de Campanha, em Marechal Hermes,
onde Bolsonaro servia - a partir do dia 4 de setembro de
1986 -, foi determinada, em boletim interno, pelo
comandante da Brigada Paraquedista do Exército, no Rio de
Janeiro, general Acrísio Figueira, e referendada,
posteriormente, pelo general Mário Brun Negreiros, do
Comando Militar do Leste, que estava por sua vez alinhado
com o ministro do Exército, general Leônidas Pires
Gonçalves.
O general Figueira, em conversa com pessoal de
imprensa que cobria o caso, disse que o capitão Jair
Bolsonaro havia sido preso por transgredir o Regulamento
Disciplinar do Exército, que proíbe ao militar da ativa emitir
opinião pública sobre problema interno da Força, como foi o
caso, já que discutir política salarial era o mesmo que
discutir a política do governo, a quem as Forças Armadas
estavam submetidas, a partir da redemocratização do país.
Entre as razões da “transgressão grave” estava “a de
ter elaborado e feito publicar em revista semanal de tiragem
nacional, sem conhecimento e autorização de seus
superiores, artigo em que fez comentários sobre a política
de remuneração do pessoal civil e militar da União”. E,
também, “a de ter ferido a ética gerando clima de
inquietação no âmbito da Organização Militar”.
Mas, para o general Figueira, o caso estava encerrado
e afirmou que, em conversa com o capitão Jair Bolsonaro,
havia ouvido dele que já estava ciente das prováveis
consequências de seu ato.
- Dentro de dez anos, o capitão poderá pedir que a
punição não seja mais mencionada em sua ficha. Apesar de
Bolsonaro ter ferido os regulamentos, seu artigo pareceu
ponderado e sem critica a seus superiores. Na verdade, ele
parece ter querido assumir a defesa da Academia Militar
enquanto instituição, afirmou o general Figueira.
Nos registros oficiais do Exército que Bolsonaro teria
sido preso por "ter ferido a ética, gerando clima de
inquietação na organização militar" e "por ter sido indiscreto
na abordagem de assuntos de caráter oficial,
comprometendo a disciplina".

E, como já era aguardado pelo comando militar, o


capitão Jair Bolsonaro, imediatamente recebeu a
solidariedade de oficiais e familiares, tendo sido uma grande
fonte de preocupação para o Palácio do Planalto, pois
poderia, caso não contido, gerar um grave movimento
adesista nas fileiras do Exército.
No mesmo dia em que Bolsonaro foi preso, mais de
300 capitães assinaram um manifesto de protesto contra
sua prisão e o Exército teve que fazer malabarismos para
evitar que tal protesto circulasse no Rio de Janeiro.
O relatório citado anteriormente, feito sobre Bolsonaro
em 1990, relatava o ambiente que se criou na Vila Militar em
solidariedade ao capitão preso:
03 set. 1986: Telex - As esposas dos oficiais da EsAO
reuniram-se hoje, na quadra de esporte do conjunto
residencial daquela escola. Entre os assuntos abordados
destacam-se: o enaltecimento do epigrafado, citado como
exemplo para a continuação da campanha em prol de
melhores vencimentos e a crítica aos oficiais generais do
Exército que, segundo elas, “não estão ligando para a
situação aflitiva dos capitães, porque vivem com muitas
mordomias e vantagens”.
05 set. 1986: Telex – Realizou-se hoje, na Praça General
Tibúrcio/RJ, uma reunião de mulheres, esposas de
militares. Foram lideradas por Adélia Perruti Gomes Reis
(ex-esposa do tenente-coronel Dulene Aleixo Garcez) e por
Raquel Martins de Abreu Silvano (ex-esposa do capitão
Silvano de tal). O assunto tratado foi, essencialmente, o de
vencimentos dos militares e apoio ao nominado.

Uma dor de cabeça foi tentar convencer as mulheres


de oficiais da EsAO que não levassem avante a ideia de
realizar uma passeata no interior da Vila Militar. Ao final, foi
realizada a passeata, mas sem o panelaço prometido, pois
se temia o agravamento da já tensa situação interna.
Em solidariedade a Bolsonaro, o senador Moacyr
Duarte (PDS-RN) usou a tribuna do Senado Federal para ler
o artigo de Veja na íntegra e defender o capitão da punição
sofrida, dizendo em alto e bom som: “Não há disciplina, por
mais enérgica e draconiana que seja, que possa fazer calar
os reclamos do estômago vazio”.
Em sua fala, o senador Moacyr Duarte fez as
seguintes considerações:
Senhor Presidente, o autor deste artigo, por força do
Regulamento Militar, foi punido. Certamente, o oficial que
executou a ordem punitiva pensa da mesma forma que o
articulista, porque é de uma verdade inconteste o que o
capitão Jair Messias Bolsonaro testemunha. Acredito que se
a grande maioria ou a quase unanimidade dos sargentos e
dos oficiais do Exército calam sobre as suas agruras, as
suas necessidades mais imediatas, fazem-no jungidos pela
força das normas disciplinares. Mas a essas normas não
estão subordinadas as suas esposas, ou seus filhos e os
seus dependentes, que devem viver o drama crucial de um
orçamento doméstico defasado. Interiormente, todos
pensam como o autor do artigo, mas calam e padecem
silentes, por força da disciplina militar. Daí por que iniciei
estas minhas breves palavras afirmando que o que acabo
de ler merece reflexão e meditação, porque não existe
patriotismo de estômago vazio, e não há sequer qualquer
disciplina, por mais enérgica e draconiana que seja, que
possa fazer calar os reclamos de uma mesa sem comida.
Senhor Presidente, alguns segmentos sociais, muitos deles
até privilegiados, reclamam diuturnamente o achatamento
dos seus salários. Não sou daqueles que desejam ou que
querem jogar pedras no Plano Cruzado, preconizado e
executado pela Nova República, quem sabe, de Platão!
Mas, quando muitos louvavam a adoção das medidas
governamentais, quando muitos cantavam hosanas à nova
política econômico-financeira ao Governo, quando o líder do
partido majoritário discursava nesta Casa, criando um clima
psicológico favorável à medida que o Governo acabara de
adotar, permiti-me numa modesta intervenção, vaticinar que
o Plano Cruzado do Governo e que Deus o protegesse e o
fizesse tão exitoso quanto todos nós o desejávamos deveria
se cuidar para que, à sua sombra, o câmbio negro não
viesse a vicejar e os gêneros de primeira necessidade não
desaparecessem, como por encanto, das prateleiras dos
supermercados.
Lamentavelmente, o vaticínio-, que não foi agourento, se
confirmou, e o que vemos hoje é o desaparecimento, quase
total, das prateleiras, dos gêneros de primeira necessidade.
E as donas de casa, em sua grande maioria, têm que
recorrer ao ágio e ao câmbio negro para suprirem as suas
necessidades domésticas.
Mas, Senhor Presidente, quem não dispõe de recursos
complementares ou suplementares, para levar aos seus
filhos e à sua família o mínimo do necessário à sua
sobrevivência, como, por exemplo, os sargentos e os
oficiais do Exército e, acredito, que das duas outras Armas,
como deverão fazer, ou proceder senão desabafar através
de um clamor e de um protesto como o que eu acabo de ler
no artigo de autoria do capitão do Exército punido por força
do regulamento militar apenas porque teve a coragem de
proclamar a verdade e de abrir os olhos da opinião pública
para uma realidade palpável e incontrastável? Deixo a
interrogação na consciência de todos, porque até nós,
senadores da República, que não somos dos menos
aquinhoados nos nossos proventos, nos nossos subsídios e
vantagens, às vezes reclamamos que o que recebemos é
insuficiente para o atendimento do padrão de vida e do
status social que, por força do cargo, somos obrigados a ter.
E um sargento do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica a
quem deve reclamar? Se aos superiores, será punido por
isso. Se falam de público das suas vicissitudes, também são
punidos, mas, certamente, aqueles que determinam a
punição comungam com o mesmo pensamento.
Senhor Presidente, Senhores senadores, não querendo ser
repetitivo, este artigo merece meditação e reflexão, porque
espelha o estado de espírito daqueles que fazem parte,
com honradez e com patriotismo, de uma das maiores
instituições da vida republicana nacional, que é o Exército
Brasileiro, ao qual rendo as minhas homenagens.

Em seguida, o senador Ivan Bonato (PDS-SC) fez a


seguinte intervenção ao discurso proferido pelo senador
Moacyr Duarte:
Meu caro senador, ouvi com atenção o artigo lido por V.
Excia e os comentários feitos a posteriori, que nos deixam
realmente chocados. Não tenho vivência nenhuma na área
militar. A minha formação é empresarial. E quem tem
formação empresarial sabe que, para manter uma equipe
coesa, uma equipe leal, uma equipe que se preocupa com a
produtividade - e à semelhança deve ser o nosso Exército -
precisa manter essa equipe com moral elevada, e que essa
equipe de trabalhadores só retribui com a produtividade
quando tem o mínimo em seu lar para sobrevivência de sua
família. Realmente, os números que foram apresentados
são preocupantes. Que a coragem deste militar e o assunto
que V. Excia trouxe a este Senado sirva de alerta ao Poder
Executivo que, apesar dos esforços para manter o plano de
estabilização econômica com sucesso, precisa ter o apoio e
mesmo o sacrifício de todos os brasileiros, mas que esse
sacrifício não venha a atingir uma instituição como é o
Exército. Este momento é o de se meditar e de se chamar a
atenção, como disse, do Poder Executivo para que, através
dessa punição por um ato de coragem, seja estudada um
fórmula, para que a situação não fique deteriorada e possa,
mais tarde, nós brasileiros nos arrependermos de não haver
tomado uma decisão na hora que deveria ter sido tomada.
Realmente, é de se preocupar a todos nós e eu estou
meditando sobre isto. Dou parabéns ao nobre senador por
trazer este assunto, de tão grande importância, que, por
certo, irá fazer com que os responsáveis pensem
seriamente nisso; como nós na área privada temos que
pensar no bem-estar daqueles que servem as empresas. O
Exército merece muito mais do que isso.

Também usou a tribuna da Câmara dos Deputados,


no dia 4 de setembro de 1986, com bastante veemência, o
deputado Sebastião Curió (PDS-PA), que era coronel da
Reserva do Exército e ex-agente do Serviço Nacional de
Informações (SNI), para defender o capitão Jair Bolsonaro e
falar do clima de insatisfação que reinava dentro das Forças
Armadas por conta dos baixos salários.
Sebastião Curió leu trechos do artigo assinado pelo
capitão Jair Bolsonaro e pediu que o artigo fosse transcrito
na íntegra para os anais daquela Casa legislativa. Elogiou
Bolsonaro pela sua “hombridade moral e por ter tido a
coragem de publicar tal artigo, mesmo sabendo que poderia
ser preso” pela ousadia de transgredir o regulamento
disciplinar em defesa de melhores salários para a categoria
militar.
Curió atacou o ex-presidente João Baptista de
Figueiredo, por não ter tido a coragem de resolver o
problema salarial das Forças Armadas, mantendo os
salários achatados. Mas, de certa forma, o deputado
Sebastião Curió iria deixar “com uma pulga atrás da orelha”
os cinco deputados presentes no plenário e os repórteres
que cobriam a sessão, com a seguinte narrativa:
- Se esses homens passam fome, acionarão o dedo
no gatilho para corrigir as injustiças. Aí, sim, derrubando
governos oportunistas, que veem somente seus interesses
próprios e os de pequenos grupos que os cercam.
Claro, ele falava do governo do presidente José
Sarney que, à época, notabilizava-se por acusações
de corrupção endêmica em todas as esferas da
administração federal, tendo sido o próprio presidente
denunciado, embora as acusações não tenham sido levadas
à frente pelo Congresso Nacional.
O deputado também disse que, a despeito de notícias
veiculadas pela imprensa, a pena do capitão Jair Bolsonaro
não seria agravada com aumento da penalidade a ele
imposta e que ele havia reafirmado, diante de seus
superiores, todas as declarações que fez para a revista Veja
e concluiu:
- Eu somente não serei preso por estas minhas
declarações porque tenho isso (pegando no colarinho do
paletó), que caracteriza a condição de parlamentar, coberto
pela imunidade e também pela lei que foi aprovada dando
ao militar da Reserva o direito de se expressar livremente,
como “cidadão-soldado”.
Já o segundo-sargento Marco Pollo Giordani, ex-
integrante do DOI do 3.º Exército, entre os anos de 1976 e
1980 e ex-integrante da 2.ª Seção (Serviço Secreto) do
Comando Militar do Sul, também autor do livro “Brasil
Sempre” afirmou, em entrevista ao Jornal do Brasil, que a
posição do capitão Bolsonaro era “honesta, inteligente e
oportuna” e citou o seu próprio caso, que depois de dezoito
anos no Exército ganhava 5.600 cruzados.
Giordani, além de reclamar dos baixos salários
praticados no Exército e apoiar abertamente a atitude do
capitão Bolsonaro, disse ter paixão pelo Exército e somente
se expressava contrário aos salários praticados. Ele disse
ainda considerar o regulamento da Arma “muito rígido”.
Segundo sua opinião, o regulamento impedia a tropa de
“assumir contas e compromissos além da posse” de cada
um, impedindo que os militares tivessem “poder aquisitivo”.
Giordano disse uma coisa muito séria e que merece
reflexão, embora estejamos a mais de 30 anos distantes e
muita coisa mudou de lá para cá: “a população formou uma
ideia errada de que os militares, por terem controlado o país
por 20 anos, teriam enriquecido, o que não é verdade”.
Uma semana depois da prisão do capitão Jair Messias
Bolsonaro, o sentimento de revolta por sua prisão tinha
diminuído, mas ficou o sentimento de grandeza de sua
atitude, que ficava preso e calado, mas seu silêncio refletia
o sentimento de honra que deve sempre motivar a família
militar.
Até a imprensa ficou menos passional, destilando
menos veneno contra Bolsonaro. Por exemplo, o Jornal do
Brasil na edição de 14 de setembro de 1986 iniciou assim o
artigo ‘Militar reclama, mas ganha mais que servidor civil’:
“Abaixo o Funaro, viva o Bolsonaro”.
O jornalista João Alberto Ferreira atribuiu esta frase a
uma saudação de um coronel do Estado-Maior a um major
do Ministério do Exército, antes de iniciarem uma discussão
sobre o artigo do capitão Bolsonaro. Mas segundo ele, logo
o coronel deixou a brincadeira de lado e disse que
“funcionários federais, civis e militares, ganham salários
baixos, mas congelados pela lei, a qual cabe às Forças
Armadas proteger. Portanto, Bolsonaro foi indisciplinado”.
Mas a missão dada pelo Jornal do Brasil ao jornalista
João Alberto Ferreira era desmistificar o papel do capitão
Jair Bolsonaro em defesa dos salários dos militares, embora
tivesse poucos argumentos para tal, como afirmar que o
militar e sua família dispunham de 22 hospitais e policlínicas
espalhadas pelo país e que toda unidade militar tinha seu
médico que atendia militares e seus familiares, embora isso
não fosse sua obrigação.
Citava também que “o capitão ganha mal, mas tem
alta chance de morar em uma casa funcional em troca de
uma taxa irrisória”.
E fala mais:
(...) No Exército, a lei de promoções certamente levará o
capitão Bolsonaro a coronel, se até lá ele não trocar a
caserna pela iniciativa privada, que tanto pode levá-lo à
falência como à fortuna. Se optar pela caserna poderá
chegar a capitão, ganhando, em média, Cz$ 18 mil líquidos.
Quando passar para a Reserva, a lei lhe dará um soldo de
general-de-brigada (a patente seguinte) mais as vantagens
que aumentam seu salário – o fato de ser paraquedista lhe
dá 40% a mais – e que continuarão incidindo sobre o
vencimento de seu último posto no Exército.

E Ferreira também criticou a Escola de


Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) que, fica na Vila Militar.
Para ele, a EsAO era “um templo de fofoca. Quer soltar uma
bomba? É só ir lá”, atribuindo tal fala a “um coronel do
Estado-Maior do Exército” e ex-aluno da escola.
Ainda de acordo com o jornalista, a Vila Militar tinha
tradição, pois teria sido de lá que havia saído um dos mais
violentos manifestos em favor do movimento de 1964.
Segundo Ferreira, mas creditando a fala a suposto coronel
paraquedista da Reserva, “aquele tempo era difícil. Tinha
um companheiro que nas horas de folga era bombeiro
hidráulico para sobreviver”.
A insatisfação com os baixos soldos não era somente
da Vila Militar, o que fez os chefes militares olharem a crise
desencadeada pelo protesto do capitão Jair Bolsonaro “com
olhos mais atentos e menos benevolentes”, como afirmou a
IstoÉ, de 1.º de outubro de 1986.
A revista trouxe à baila o caso do coronel Walter
Bazarov Cardoso Pinto, que no dia 18 de setembro havia
sido exonerado do cargo de comandante do 9.º Batalhão de
Infantaria Motorizada por declarar apoio à sua mulher,
Martha Laetícia Cattani Pinto, que publicou uma carta no
jornal Zero Hora em solidariedade ao capitão Jair Bolsonaro
e também reclamando dos baixos salários recebidos pelos
militares.
O coronel Bazarov também foi levado à prisão em
Porto Alegre, 255 km distante de onde residia para cumprir
punição de 10 dias, tendo sua pena, posteriormente, sido
agravada em mais oito dias, porque ele voltou a afirmar que
os salários dos militares eram baixos.
A prisão do coronel Bazarov provocou a mobilização
da comunidade de Pelotas, onde situava o 9.º Batalhão de
Infantaria Motorizada, tendo sido divulgadas notas de
solidariedade ao militar, pela Associação Comercial, pela
Câmara dos Vereadores, Centro das Indústrias e o Rotary
Clube.
Dois dias depois da prisão do coronel, o comandante
Militar do Sul, general Edson Boscacci Guedes, divulgou
nota afirmando que a punição não era porque Bazarov
manifestou apoio à carta publicada por sua mulher, mas
pela nota que ele distribuiu à imprensa, depois de ter sido
exonerado. “Saibam os senhores chefes que essas
reivindicações são mais graves porque justas, mais
importantes, porque sinceras e são mais tristes, porque
silenciosamente ordeiras”, foi um trecho da referida nota,
que foi mal vista pelo comandante Militar do Sul, por ter feito
uso de termos “inverídicos, injustos e ofensivos”, o que
configurava transgressão ao Regulamento Disciplinar do
Exército.
Mas a questão dos aumentos salariais reivindicados
pelos militares era uma constante preocupação para o
primeiro governo da nova República, pois o país estava
reaprendendo sobre a convivência democrática, coisa ainda
muito insipiente naqueles tempos nebulosos e de sofrimento
da população, diante do descontrole da inflação e dos
planos econômicos desastrosos do Governo do presidente
José Sarney, que poucos resultados apresentavam, pois os
salários estavam congelados e a escassez de gêneros
alimentícios, com destaque para a carne – devido ao
congelamento de preços - era algo preocupante.
Para assessores próximos do presidente da
República, José Sarney, a denúncia do capitão Jair
Bolsonaro não era um fato isolado e apenas refletia o que
ele vivenciava na caserna, o que também podia ser
verificado “em outros segmentos das Forças Armadas”.
Por ocasião de sua prisão, o general da Reserva,
Newton Cruz, mandou ao capitão Bolsonaro o seguinte
telegrama:
Na qualidade de general da Reserva, cidadão e político,
expresso meu acordo e minha tristeza com as dificuldades
econômicas a que estão submetidos os militares relatados
em seu artigo na Veja. A grandeza e os sacrifícios da vida
do soldado exigem tratamento condigno. Espero que, neste
caso, os chefes militares e o Comandante Supremo das
Forças Armadas, sensibilizados para o problema, adotem
urgentes providências administrativas que o caso requer.

As manifestações de solidariedade ao capitão Jair


Bolsonaro vinham de todos os cantos do Brasil. Somente
cartas assinadas por oficiais chegaram ao quartel da Vila
Militar, mais de 150 delas, embora isto tenha sido
considerado inexpressivo por membros do gabinete militar
do Ministério do Exército, que informou que a Arma tinha
mais de 90 mil oficiais e que 150 manifestações
representavam muito pouco do que era a corporação.
Mas a coisa não era tão tranquila assim, como
manifestou o Ministério do Exército, porque a situação
esteve a ponto de fugir ao controle. Veja o que foi registrado
pelo serviço de informação do Exército:
19 set. 1986: Informe (A-1) – Como desdobramento
previsível das declarações do epigrafado, do 8.º
GAC/PQDT, na revista “Veja”, tem surgido algumas
manifestações de solidariedade por parte de militares, civis
e até políticos interessados em conturbar o ambiente
castrense.
No público interno, além das declarações do cap. Arthur
Teixeira Barbosa Filho, do IME [Instituto Militar de
Engenharia], surgiram as manifestações ostensivas de dois
oficiais do CPOR/PA, cap. eng. Hiran Reis e Silva e cap. art.
Luiz Jorge Saliba. Há também as declarações do ten. QAD
Ailton Fogos, do 38.º BIMTZ e velada solidariedade do ten.
cav. José Ronaldo Tavares de Vasconcelos Júnior, também
do CPOR/PA, que teria enviado uma carta ao epigrafado.
(...) Em decorrência, o CMT do CPOR/PA puniu com 04
(quatro) dias de prisão os dois capitães em apreço.

Diante da possibilidade de agravamento da crise, os


três ministros militares (Exército, Marinha e Aeronáutica)
emitiram Ordem de Serviço conjunta proibindo todos os
militares da Ativa de expressarem opiniões publicamente, a
respeito do tema salarial.
Já o ministro da Aeronáutica, tenente-brigadeiro
Moreira Lima, via uma conspiração contra o Estado de
Direito e se dirigiu diretamente aos seus comandados com
uma nota, alertando-os “para as sementes da discórdia”
plantadas por aqueles que se negavam a conviver com o
regime democrático.
“Alguns vêm tentando inviabilizar o Estado de Direito”,
afirmava a nota distribuída em todas as unidades da Força
Aérea Brasileira, que também apontava que, por não
conseguirem este feito pelos “métodos tradicionais, se
aproveitavam da questão do soldo militar na esperança de
levar as Forças Armadas a romper o compromisso que
assumiram de assegurar o pleno exercício dos poderes
democráticos constituídos”.
Embora tenha gerado tanta polêmica o artigo
publicado por Veja, relatório do serviço de informação do
Exército, de 25 de setembro, via algo de positivo no mesmo:
“O artigo do epigrafado (...) relativo aos vencimentos dos
militares, colaborou, de certa forma, para desfazer, junto ao
público externo, uma antiga ideia de que os militares são
bem remunerados e gozam de mordomias”.
No dia 6 de novembro de 1986, o então deputado
federal Sebastião Curió encaminhou carta ao capitão Jair
Bolsonaro. Pelo seu teor, que beira a uma profecia, vale a
pena transcrever alguns trechos:
(...) Já fui capitão como você, tendo frequentado até a área
de estágio dessa briosa brigada de paraquedista. Não quis
Deus que eu ostentasse no peito o brevê que você tem a
hora de ostentar. Mas trilhei - meu jovem companheiro -,
com dignidade e orgulho o difícil percurso da carreira das
Armas. (...)
Bolsonaro, fala o coração do companheiro mais velho, mais
sofrido, mais vivido, que lutou por ideais nobres, ombro a
ombro com outros companheiros corajosos como você para
garantirmos a integridade da Pátria, tentando evitar que
sobre ela caíssem os tentáculos vermelhos da maior das
ditaduras do mundo – a comunista. Um companheiro que
perdeu companheiros nesta luta, foi ferido e que hoje, no
fim desta corrida desesperada de 4 x 100 metros lhe passa
o bastão. Um bastão pesado, manchado de suor, sangue e
lágrimas. Ele não pode cair! Mas que ironia do destino, meu
amigo. Faço-lhe essa afirmação e pergunto-me: valeu a
pena tanta luta? Os comunistas falam alto nesta República
e participam do seu Governo. O povo fardado sofre
privações de ordem financeira e moral carregando uma
pesada carga, consequência de desacertos políticos e
administrativos a nós imputados que, bem intencionados,
nós permitimos que acontecessem. O povo sem farda
também sofre as consequências da irresponsabilidade do
Governo que, por ambição e incompetência, o arrastou para
um abismo, tentado demagogicamente convencê-lo de que
vivemos em um país maravilhoso. Vivemos, isto sim, à
semelhança daquele seriado “A Ilha da Fantasia”.
Descrentes poderão agarrar-se a ideologias adversas
levando este país ao caos ideológico, uma vez que já se
encontra no econômico.
Competirá a você, meu jovem companheiro, carregar este
bastão, levando-o à vitória, com a graça de Deus e a ajuda
dos homens de bem desta Nação. Nossos filhos, nossa
gente, nossa Pátria estão nele.
Quando falha a diplomacia, as armas decidem. A
diplomacia está moribunda, meu amigo, pela
incompetência, pela ambição de pequenos grupos que
usufruíram e usufruem do Poder em detrimento do povo.
Queira Deus, e isto desejo-lhe de coração, que você, se
chegar exausto ao fim da faixa dos 100 metros não respire
amargurado como eu e pergunte a si mesmo: Valeu a
pena? (Sebastião Curió – deputado federal).

Como paliativo para a situação, o que as Forças


Armadas fizeram foi incluir um penduricalho no soldo dos
militares, um auxílio à título de Complemento Indenizatório
de Moradia. O oficial da Reserva José Nilo Batista, do Rio
de Janeiro, teve publicada sua carta de protesto pela
Tribuna da Imprensa no dia 18 de novembro de 1986:
Aumento “Bolsonaro”
Finalmente consumou-se mais uma discriminação na
legislação militar referente aos salários dos militares. Não
contente com a penca existente, acrescentou-se mais uma
para aumentar o elenco. Até quando vão pendurar
penduricalhos na legislação básica para atender
determinadas pressões, quando o mais lógico seria
expurgar da legislação os inúmeros casuísmos nela
existentes, que lhe comprometem como um ordenamento
jurídico, para torná-la uma grande colcha de retalhos?
Até quando os inativos serão preteridos quando as suas
necessidades são idênticas às do pessoal da ativa?
O argumento do aluguel não convence ninguém, mesmo
que, aquele que têm casa própria, portanto, não pagando
aluguel, vão receber também o complemento indenizatório
de moradia, daí porque este argumento não serve para
nada, salvo para acabar com o pequeno resíduo de
credibilidade que ainda deve existir nas autoridades. Melhor
seria não argumentar ou arranjar um argumento mais
inteligente, porque este, evidentemente, não consegue
enganar a ninguém, nem mesmo os mais crédulos.
A pobreza do argumento corre parelha com a omissão das
autoridades ao que se refere aos salários dos militares. Não
foi isto que o capitão Bolsonaro reivindicou e, acredito
mesmo, que todos os militares estejam decepcionados com
o aumento “Bolsonaro”. Ele reivindicou um vencimento
compatível com a dignidade do militar e este é exatamente
o contrário, até na forma dissimulada como foi dado, usando
um argumento para o publico inteiramente divorciado da
realidade.

Mas a questão salarial dos militares não podia ser


reduzida assim de forma tão simplória, como classificar a
insatisfação silenciosa na caserna e nas vilas militares, a um
complô de “saudosistas do regime militar”. E esta
insatisfação iria atingir a 5.ª Região Militar, em Curitiba (PR),
onde o coronel da Reserva, Ênio Maia Chagas, deu uma
entrevista à Folha de Londrina, que circulou no dia 15 de
novembro de 1987, o que também lhe valeu uma prisão de
15 dias, por transgressão disciplinar.
Na entrevista, o coronel Chagas falou das doações
que ele e colegas estavam fazendo para pagar a defesa do
capitão Luiz Fernando Walther de Almeida, que estava
preso há um mês no 2.º Batalhão de Infantaria Blindada, em
Curitiba, por ter liderado a invasão da Prefeitura Municipal
de Apucarana, no dia 22 de outubro de 1987, com cinquenta
de seus homens fortemente armados, em protesto contra os
baixos salários dos militares.
Para o coronel Chagas, teria sido um ato heroico o
protesto que tinha por finalidade divulgar os problemas
salariais da tropa que, principalmente, atingiam com maior
rigor os militares não graduados e os oficiais subalternos.
O coronel acusou o ministro do Exército, Leônidas
Pires Gonçalves de estar pensando no Exército do ano 2000
e em equipamentos estratégicos, deixando de levar em
conta o ser humano, principal ativo das Forças Armadas. E
ainda afirmou, em relação ao ministro do Exército, que ele
era “um deslumbrado [com o poder] que queria aparecer”.
O coronel da Reserva, Geraldo Lesbat Cavagnari
Filho, engrossou o coro contra os baixos salários, em
matéria divulgada pelo Jornal do Brasil. Em decorrência
disso, ele foi detido e levado para a unidade militar de
Campinas (SP), para cumprir pena de reclusão de dez dias.
O coronel Cavagnari somente assumiu tal posição
contra os baixos salários praticados pelo Exército em
solidariedade a seus colegas de Arma, embora estivesse na
Reserva Remunerada e atuando como professor da
Universidade de Campinas (Unicamp), tendo sido o
responsável por introduzir os estudos estratégico-militares
no Ensino Superior brasileiro.
No mesmo dia, o ministro do Exército, Leônidas Pires
Gonçalves, afirmou em entrevista coletiva dada no Palácio
do Planalto, logo depois de se encontrar com o presidente
da República, que nada iria por em risco o processo de
transição democrática e que, para isto, as Forças Armadas
estavam coesas, chegando a desafiar membros da Força
“Quem duvidar que tente”. Em defesa do coronel Cavagnari
falou o professor Clóvis Brigagão:
- A punição do coronel Cavagnari foi uma atitude
sobre a opinião de um expert de estudos estratégicos. Ao
contrário de punições, dever-se-ia estimular instituições e
cientistas a estudarem a conduta das Forças Armadas. O
debate e o conhecimento devem ser produtos da
democracia política.
Embora fossem casos isolados, a atitude de um militar
em reivindicar, à sua maneira, a melhoria dos salários pagos
à categoria, sempre representava certo risco à organização
das fileiras militares, já que tal pessoa fala em nome de
seus colegas de farda e a prisão era a forma do comando
tentar estancar a insatisfação pelos baixos soldos.
Também no dia 22 de outubro de 1987, o capitão
Sandon Pereira Filho foi preso por ordem do comando da
Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), no
Rio de Janeiro, depois que ele entregou a seus superiores
uma carta reivindicando melhores salários para a tropa e
criticando a política salarial do governo federal.
Operação Beco Sem Saída
A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que
se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter
uma influência realmente maravilhosa sobre o País.
Acho que uma das grandes culpadas das condições do
País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é
nossa imprensa.
(Millôr Fernandes [1923-2012] desenhista, humorista, escritor, poeta)

No dia 24 de outubro de
1987, a revista Veja começava a
circular, ainda entre assinantes,
com uma matéria da repórter
Cássia Maria Rodrigues intitulada
“Pôr bombas nos quartéis, um
plano da Esao”, em que ela
afirmava ter tomado conhecimento
de que um grupo de oficiais da
Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO) explodiria bombas
– um plano chamado de “Beco sem Saída” -, em diversas
Unidades da Vila Militar, no Rio de Janeiro, caso o aumento
salarial dos militares fosse inferior a 60%.
Segundo a repórter, a revelação deste plano teria sido
feita pelo capitão Jair Bolsonaro e por outro oficial a quem
ela chamou pelo codinome “Xerife”, mas que depois se ficou
sabendo tratar-se do capitão Fábio Passos da Silva,
conhecido pelos companheiros como xerife, por ser o mais
velho do grupo e por agir também como uma espécie de
conselheiro.
É uma história confusa e, de certa forma, um tanto
nebulosa e até mesmo o ministro do Exército, general
Leônidas Pires Gonçalves, que supostamente teria sido
atacado pelo capitão Jair Bolsonaro, disse à imprensa, dois
dias depois de Veja divulgar o fato, que não acreditava
nessa história de bombas e acusou a revista de fraudar os
fatos para criar a reportagem.
- Os dois oficiais envolvidos negaram,
peremptoriamente, de maneira mais veemente, por escrito,
do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação.
Quando alguém desmente – peremptoriamente -, e é um
membro da minha instituição e assina embaixo, em quem
vou acreditar? Nesse que é componente da minha
instituição – eu sei quem é minha gente, concluiu o ministro
do Exército, dando a discussão com a imprensa por
encerrado.
Interessante neste episódio envolvendo o capitão
Bolsonaro é que, apesar de Veja continuar mantendo acesa
a discussão sobre a história das bombas, demitiu a repórter
Cássia Maria, que a partir de 11 de janeiro de 1988 passaria
a integrar a Sucursal de Brasília, do Jornal do Brasil que
pegou carona no que a revista continuava a publicar,
tentando tornar verídica uma pseudofraude, de acordo com
acusação do ministro do Exército.
Mas é importante conhecer o que a Veja publicou na
referida reportagem para entender melhor porque, afinal de
contas, os capitães Jair Messias Bolsonaro e Fábio Passos
da Silva, depois de submetidos a longo e desgastante
processo disciplinar, foram absolvidos, por maioria de votos,
pelos ministros do Superior Tribunal Militar (STM), em
julgamento ocorrido em 1988.
Eis o relato inicial da repórter Cássia Maria Rodrigues:
- Fui recebida no apartamento 101 do prédio n.º 865
da Avenida Duque de Caxias, por Lígia, mulher do capitão
que se identificou apenas como ‘Xerife’. Ele chegou poucos
minutos depois, perto das 5 horas da tarde, contou que sua
participação no grupo de oficiais da EsAO que lidera o
movimento por aumento estava sendo investigada pelo
serviço de informações do Exército e que logo eu teria
novidades sobre o assunto.
Apenas por este primeiro parágrafo já dá para
perceber que a construção da reportagem parece ter sido
algo feito sem os cuidados profissionais mínimos. A repórter
diz que foi recebida em um determinado apartamento da
Vila Militar por uma mulher que ela somente sabia o primeiro
nome e por um militar que ela conhecia apenas pelo
apelido.
Depois entra em cena o capitão Jair Bolsonaro.
- Pouco mais tarde, chegou o capitão Jair Messias
Bolsonaro que, em setembro do ano passado, assinou um
artigo protestando contra os baixos salários dos militares em
Veja. Na ocasião, ele acabou preso por 15 dias e houve
uma onda de protestos de mulheres de oficiais contra sua
punição.
“São uns canalhas”, teria afirmado Bolsonaro, ao
comentar a prisão havida naquele dia do capitão Sadon
Pereira Filho. “Terminaram as aulas de hoje mais cedo para
que a maioria dos alunos estivesse fora da escola na hora
de prenderem nosso companheiro”.
Em seguida, Bolsonaro contou, segundo a revista, que
os alunos da EsAO, onde estudavam 350 capitães,
planejavam ficar nos quartéis durante os dois dias da prisão
do capitão Sadon, em protesto.
Atente que no caso de Bolsonaro, a repórter justificou
conhecê-lo pelo nome completo, porque o mesmo havia
assinado, pouco mais de um ano antes, um artigo na revista
Veja e já entra - com uma fala atribuída ao capitão Jair
Bolsonaro -, em flagrante tentativa de indispô-lo contra o
comando da EsAO, pois, com certeza, se, de fato, houve
esta fala “São uns canalhas”, o capitão Jair Bolsonaro não
iria querer que fosse reproduzida, mesmo porque, a própria
revista afirmava que a conversa era em caráter sigiloso.
Continua a reportagem de Veja:
- Nesse momento, a campainha tocou novamente. Fui
levada para um dos quartos, por Lígia, para que não visse o
oficial que acabava de chegar. Nos poucos minutos que
ficamos ali, Lígia revelou-me alguns detalhes da Operação
Beco sem Saída. O plano consistia num protesto à bomba
contra o índice de aumento para os militares que o governo
anunciaria nos próximos dias. Caso o reajuste ficasse
abaixo de 60%,9 algumas bombas seriam detonadas nos
banheiros da Esao, sempre com a preocupação de que não
houvesse feridos.

9 A reportagem cita o reajuste abaixo de 60% como sendo o estopim para


o tal protesto com bombas. Entretanto, no ano de 1987 os militares
receberam reajustes em nove oportunidades. Neste ano, a inflação
acumulada no período de 12 meses ficou em 415,80% e os reajustes
salariais totalizaram, considerando um sobre o outro, 116,00% nos cinco
primeiros meses do ano e em 112,31% nos últimos sete meses do ano.
E teria dito ainda Lígia: “Simultaneamente, haveria
explosões na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman)
e em outras Unidades do Exército”.
- Não haverá perigo. Serão apenas explosões
pequenas, para assustar o ministro. Só o suficiente para o
presidente José Sarney entender que o general Leônidas
não exerce nenhum controle sobre sua tropa, teria afirmado
Lígia.
- Lígia pediu-me que jurasse não comentar o assunto
com Bolsonaro e Xerife.

Reajuste salarial dos militares no ano de 1987


Período (%) Decreto
Decreto-Lei n.º 2.310, de
1.º/jan a 28/fev 25,00
22/12/86
Portaria n.º 752-CELRM de
1.º a 31/mar 20,00
13/3/87
Decreto-Lei n.º 2.302, de
1.º a 30/abr 20,00 21/11/86 e Portaria n.º 1.215
CELRM, de 15/4/87
Portaria n.º 1.524 CELRM, de
1.º a 31/mai 20,00
18/5/87
1.º/jun a Portaria n.º 1.901 CELRM, de
20,00
31/ago 16/6/87
Portaria n.º 2.822/SC-5, de
1.º a 30/set 6,27
04/9/87
Portaria n.º 3.197/SC-5, de
1.º a 31/out 41,34 05/10/87 e Portaria n.º
3.564/SC-5, de 06/11/87
Portaria n.º 3.608/SC-5, de
1.º a 30/nov 6,27
09/11/87
Decreto-Lei n.º 2.335, de
1.º a 31/12 10,84 12/6/87 e Portaria n.º
3.911/SC-5, de 01/12/87.
Fonte: http://www.conint.com.br/livro/tab.htm

A reportagem de Veja dava continuidade ao assunto:


- De volta à sala, depois que o terceiro oficial se
retirou, o assunto girou em torno do ministro Leônidas Pires
Gonçalves, do Exército. “Temos um ministro incompetente e
até racista”, teria dito Bolsonaro a certa altura. ‘Ele disse,
em Manaus, que os militares são a classe de vagabundos
mais bem remunerada no País. Só concordamos em que ele
está realmente criando vagabundos, pois hoje em dia o
soldado fica um ano inteiro pintando de branco o meio-fio
dos quartéis, esperando a visita dos generais ou fazendo
faxina e dando plantão’. Perguntei então se pretendiam
realizar alguma operação maior nos quartéis. “Só a
explosão de algumas espoletas”, teria brincado Bolsonaro.
Continua: Depois, sérios, confirmaram a operação que
Lígia chamara de Beco sem Saída. “Falamos, falamos, e
eles não resolveram nada’, disseram. ‘Agora o pessoal está
pensando em explorar alguns pontos sensíveis”.
Sem o menor constrangimento, o capitão Bolsonaro
deu uma detalhada explicação sobre como construir uma
bomba-relógio. O explosivo seria o trinitrotolueno, o TNT, a
popular dinamite (sic). O plano dos oficiais foi feito para que
não houvesse vítimas. A intenção era demonstrar a
insatisfação com os salários e criar problema para o ministro
Leônidas.
De acordo com Bolsonaro, se algum dia o ministro do
Exército resolvesse articular um novo golpe militar, ‘ele é
que acabaria golpeado pela sua própria tropa, que se
recusaria a obedecê-lo’. Nosso Exército é uma vergonha
nacional, e o ministro está saindo como um segundo
Pinochet’, teria afirmado Bolsonaro.
No último parágrafo da reportagem de Cássia Maria,
ela envolve o nome do ex-presidente João Baptista de
Figueiredo.
- Nossa conversa durou 2 horas. Nesse tempo,
falamos também sobre os planos do ex-presidente João
Figueiredo de candidatar-se à sucessão de Sarney. ‘Ele
poderia contar com grande apoio’, disse Xerife. ‘Nós
daríamos ao Figueiredo a oportunidade de terminar o que
não conseguiu completar’, afirmou o militar, sem explicar a
que obra do ex-presidente se referia. À contragosto,
Bolsonaro contou também um pouco de suas relações
formais com o general Newton Cruz, ex-chefe da Agência
Central do SNI.
E continua a reportagem:
- Segundo o capitão, ele e Cruz falam-se
frequentemente ao telefone e o capitão espera que o
general promova um encontro com Figueiredo, talvez no
próximo mês. O Plano Beco sem Saída foi confirmado
também por um oficial, que não integra a EsAO.
Ainda segundo a repórter, a Operação Beco sem
Saída teria sido confirmada por outro oficial que não
pertencia aos quadros da EsAO, sem citar seu nome.
Vamos ao fechamento da reportagem de Veja:
- Na quinta-feira, num contato telefônico com
Bolsonaro, perguntei se o anúncio do presidente cancelava
a operação Beco sem Saída. ‘O pessoal está pensando em
esperar até novembro para ver o que acontece’, explicou o
capitão. ‘Mas se esperarem muito acabará não fazendo
nada’. Nesse telefonema, Bolsonaro esclareceu: ‘Eu estou
fora disso’.
E reafirmou: ‘São apenas algumas espoletas. Não
íamos fazer isto correndo o risco de perder uma parte de
nossos corpos’.
- Sobre o capitão Luiz Fernando Walter de Almeida,
que tomou a Prefeitura de Apucarana, Bolsonaro contou ter
estudado com ele. ‘A tropa que o acompanhou no protesto
não é ingênua’. ‘Eles sabiam onde estavam indo’. Nervoso,
Bolsonaro advertiu-me, mais uma vez, para não publicar
nada sobre a nossas conversas. ‘Você sabe em que terreno
está entrando, não sabe?”. Teria perguntado Bolsonaro,
segundo Cássia Maria. E ela afirma na reportagem ter
respondido: “Você não pode esquecer que eu sou uma
profissional".
A justificativa dada por Veja para a divulgação da
reportagem era que, mesmo tendo um acordo de sigilo com
as fontes, não poderia deixar aquilo encoberto pela
gravidade dos fatos.
A pendenga envolvendo os capitães Jair Messias
Bolsonaro e Fábio Passos da Silva (Xerife) teria
continuidade, tanto nos meios militares e jurídicos, quanto
na imprensa, já que o Jornal do Brasil, que havia contratado
a demitida repórter de Veja, Cássia Maria, dava
continuidade à cobertura do caso.
Entretanto, o que, de fato motivou o pedido de
condenação de Jair Bolsonaro pelo Conselho de
Justificação – não aceito pelo STM -, foi explicado em
entrevista dada pelo capitão-vereador em ampla reportagem
do Jornal do Commércio, publicada no dia 5 de agosto de
1990:
- Eu enfrentei um processo por oito meses e um
Conselho que o ministro Leônidas escolheu. Aliás, uma
coisa que eu pretendo é que as indicações para os
Conselhos [de Justificação] sejam feitos por sorteio e não
por escolha. Aquele grupo, no meu entender, recebeu a
missão de me colocar para fora. Eu era discriminado por
todos e sofria muito. Alguns colegas se afastaram por medo,
já que a vigilância sobre mim era constante.
Desdobramento da reportagem de Veja
Somos, nem tanto por burrice, mais por reflexo
condicionado, prisioneiros do julgamento alheio. Tememos
outras alternativas que não sejam as já testadas e
aprovadas. Os diferentes abrem caminhos, criam opções,
sobrevivem da própria independência, enquanto os outros
vêm atrás concorrendo ao título de melhores ou piores em
repetição.
(Martha Medeiros – escritora, cronista e poetisa)

Um dia depois de iniciar a circulação de Veja com a


denúncia da intitulada “Operação Beco sem Saída”, o
Centro de Comunicação Social do Exército informou que a
EsAO iria proceder à apuração das denúncias da revista.
Assim, os capitães Jair Bolsonaro e Fábio Passos
foram ouvidos no Comando Militar do Leste, que
descartaria, posteriormente, em nota oficial, levar em
consideração a reportagem divulgada pela revista.
26 out. 87: Telex – Ao tomar conhecimento da reportagem
da revista “Veja” n.º 999, de 28 de outubro de 87, nas
páginas 40 e 41, o nominado declarou ao coronel Adilson
Garcia do Amaral, eu considerava uma fantasia a matéria
publicada. O referido oficial declara que conhece a repórter
Cássia, tendo-a visto algumas vezes na Vila Militar/RJ,
sendo por ela abordado somente uma vez, ocasião em que
orientou que a mesma procurasse o general comandante da
EsAO e o entrevistasse a respeito dos oficiais. Nega
qualquer participação em reunião na casa do capitão Fábio
com a repórter Cássia. Acredita que o real objetivo da
matéria publicada, seja de procurar vender a revista “doa a
quem doer”. Desconhece qualquer grupo de movimento por
aumento salarial, supostamente existente na escola. (Fonte:
Relatório Confidencial do Exército)

O tenente-coronel-oficial de Relações Públicas do


Comando Militar do Leste, Luiz Cesário da Silveira Filho, fez
distribuir à imprensa, às 20h30, no 8.º andar do prédio do
antigo Ministério da Guerra, na Central do Brasil, no Rio de
Janeiro uma nota que tinha um tom taxativo:
Sem dúvida alguma, notícias desse teor servem para
intranquilizar a opinião pública e procuram retratar um
quadro que, absolutamente inexiste no âmbito do Comando
Militar do Leste, que se encontra voltado para suas
atividades profissionais e ao exato cumprimento de seus
deveres constitucionais.

A nota afirmava ainda que no sábado, dia 24, quando


a revista ainda circulava apenas entre assinantes, os
capitães Jair Messias Bolsonaro e Fábio Passos da Silva
haviam sido chamados pelo subcomandante da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais para prestarem declarações
sobre o que teriam dado à repórter daquela revista, Cássia
Maria, completando a informação com os depoimentos dos
capitães Fábio...
- A repórter afirma que esteve em minha residência,
situada à Avenida Duque de Caxias, 865, apto 101, e que
esteve circulando em um dos quartos. Nego,
veementemente, o teor da reportagem, bem como nego que
a conheço pessoalmente. Afirmo que a mesma nunca
esteve em minha residência. Considero tal reportagem e as
declarações nela contidas como obra de ficção, declarou o
capitão Fábio Passos da Silva.
...e Bolsonaro:
- Ao tomar conhecimento da referida reportagem e
após ler a matéria acima respondo o seguinte: considero
uma fantasia o publicado. Já vi a repórter Cássia algumas
vezes na Vila Militar, sendo que uma vez abordado por ela,
mandei que procurasse o general comandante da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais para providências, ou melhor,
entrevistá-lo a respeito dos oficiais. Nego ter recebido ou
participado de reunião na casa do capitão Fábio com a
repórter Cássia, foi categórico o capitão Jair Bolsonaro.
Entretanto, a nota só trazia trechos do que os oficiais
afirmaram e a omissão da declaração completa serviu de
pretexto para que Veja voltasse ao assunto em sua edição
posterior, com a desculpa de que Bolsonaro teria mentido
ao dizer que não havia estado com a repórter Cássia Maria.
Como dissera o chefe da Sucursal do Rio de Janeiro
de Veja, o jornalista Alessandro Porro, a revista não retirava
nem uma vírgula do que havia publicado e que, na próxima
edição daria resposta à nota da EsAO.
Fonte: Revista Veja, edição n.º 1.000, de 4 de novembro de 1987

Assim, Veja em sua edição de n.º 1.000, voltou a


pressionar o ministro Leônidas Pires Gonçalves, acusando-o
de ter optado em ficar com o joio, quando deveria ter, no
caso dos capitães Fábio e Bolsonaro, separado o trigo - que
seria a oficialidade do Exército, do joio – que seriam, nas
palavras da revista “dois capitães que, além de estarem
envolvidos no planejamento de atos de indisciplina e de
crimes contra a instituição militar e suas instalações,
estavam também mentindo”. E a revista divulgou dois
croquis, que segundo a repórter Cássia Maria teriam sido
feitos pelo capitão Jair Bolsonaro.
Além disso, a editoria de Veja informou que “o
fotógrafo Ricardo Chvaicer e o motorista Luiz Antônio da
Silva Coelho, em duas oportunidades, ouviram o capitão Jair
Bolsonaro contar à repórter Cássia Maria o plano de
explodir bombas nos quartéis”.
O Jornal do Brasil, do dia 1.º de novembro de 1987,
ecoando o caso, afirmou que o capitão Fábio Passos
também teria mentido em suas declarações a seus
superiores, porque a repórter de Veja, Cássia Maria, teria
sido recebida por ele “duas vezes em casa chegando a lhe
entregar um documento. Ela, em companhia do motorista da
revista e de uma pessoa de confiança do capitão foi tirar
Xerox do papel e voltou à casa para devolver o original ao
militar”.
A aposta da revista Veja era criar um “beco sem
saída” para o ministro do Exército, general Leônidas Pires
Gonçalves, em relação à opinião pública, obrigando-o a
assumir uma investigação contra os capitães Bolsonaro e
Fábio.
Mas a revista também apostava naqueles que se
contentam apenas em ver as figuras e ler os títulos.
Observe que na ilustração anterior, cuja autoria foi atribuída
pela reportagem ao capitão Jair Bolsonaro, é também
colocada a foto ao lado, assim identificada: “Bolsonaro, a
adutora de Guandu que abastece de água o Rio de Janeiro
(também com foto montada pela revista) e seu croqui da
bomba junto à tubulação: veemente, por escrito, do próprio
punho”.
Para evitar possível consequência jurídica em torno da
reportagem, a revista escreveu em outra página, que não a
do croqui, talvez como possível álibi:
Veja não publicou este croqui em sua reportagem da
semana passada porque Bolsonaro não deu a impressão de
que estivesse realmente disposto a explodir o Guandu, e
sim de que fazia uma exibição do mecanismo de
funcionamento de um petardo – algo que não chega a ser
notícia. Em todas as ocasiões que a repórter Cássia Maria
ouviu referências às bombas da Operação Beco sem Saída,
elas vieram acompanhadas da ressalva de que não se
destinavam a ferir ninguém. Assim, o croqui de Bolsonaro,
caso fosse publicado junto com a reportagem, resultaria em
exagero.

Mas o estrago havia sido feito. E a revista ainda


insistiu em que a publicação do croqui era para provar que o
capitão Bolsonaro estivera com a repórter e que mentira ao
dizer o contrário, além do ministro do Exército, general
Leônidas Pires Gonçalves ter se precipitado em acreditar
nele.
O serviço de inteligência do Exército, depois das
devidas averiguações, não conseguiu detectar qualquer
ação criminosa por parte de Bolsonaro. Entretanto,
recomendou que o mesmo fosse submetido a um Conselho
de Justificação:
16 nov. 87: documento – Considera que as averiguações
realizadas não conseguiram elidir a dúvida que paira sobre
a conduta do nominado, embora não existam elementos
para a abertura de IPM (indícios de crime militar). Sugere a
submissão do nominado a Conselho de Justificação.
(Prontuário Confidencial)

A partir desta segunda reportagem, se sentindo


acossado pela imprensa em nível nacional, o ministro do
Exército determinou a submissão dos capitães Jair Messias
Bolsonaro e Fábio Passos da Silva a um Conselho de
Justificação, conforme consta do Prontuário Confidencial do
capitão Bolsonaro: “18 nov. 87: Telex – Informa que o
senhor ministro do Exército determinou que o nominado seja
submetido a Conselho de Justificação”, de acordo com a Lei
n.º 5.836, de 5 de dezembro de 1972, conforme Artigo 1.º e
outros, além do Código de Processo Penal Militar.

Art. 1.º - O Conselho de Justificação é destinado a julgar,


através de processo especial, da incapacidade do oficial
das Forças Armadas - militar de carreira - para permanecer
na ativa, criando-lhe, ao mesmo tempo, condição para se
justificar.

O Conselho de Justificação, [10] espécie de inquérito


militar, foi formado por três membros, encarregados de

10
O Conselho de Justificação, formado por três oficiais escolhidos
aleatoriamente, é um tribunal de honra, em que o militar é julgado por
seus pares “por motivo de ordem exclusivamente moral”. O Conselho tem
por função “julgar, através de processo especial, a capacidade ou não do
oficial das Forças Armadas, militar de carreira, para permanecer no
serviço ativo, criando-lhe, ao mesmo tempo, condições para justificar-se".
De acordo com a Lei n.º 5.836, de 5 de dezembro de 1972 (ainda em
vigor), o oficial pode ser submetido ao Conselho de Justificação a pedido
próprio ou ex-offício (no caso dos capitães Bolsonaro e Fábio) e suas
deliberações devem ser remetidas ao ministro Militar. Após análise do
processo, o ministro pode optar pelo seu arquivamento, se considerar que
a justificação procede (aceita a justificativa do justificante), aplicar sanção
disciplinar, caso considere contravenção ou transgressão disciplinar a
razão pela qual o justificante foi julgado culpado ou transferi-lo para a
Reserva, se o oficial for considerado não habilitado para promoção em
caráter definitivo. Neste caso, o justificante vai a julgamento no Superior
Tribunal Militar (STM) e, se for considerado indigno do oficialato, perde o
posto e a patente, ou então terá sua reforma determinada pelo Tribunal.
investigar as denúncias apresentadas pela revista que, de
acordo com a Lei n.º 5.836, artigo 2.º, inciso I,
Art. 2º É submetido a Conselho de Justificação, a pedido ou
"ex-offício" o oficial das forças armadas:
I - acusado oficialmente ou por qualquer meio lícito de
comunicação social...

Mas o ministro do Exército não queria um Conselho de


Justificação qualquer; ele queria colocar para fora das
fileiras da Arma o capitão Bolsonaro, que tanto o atacava da
tribuna da Câmara dos Deputados, por conta dos baixos
salários dos militares. Para isso, mandou que toda a vida do
capitão fosse vasculhada.
Ainda no dia 18 de novembro, o serviço de Inteligência
pedia à Academia Militar das Agulhas Negras informações
sobre fatos pregressos praticados pelo capitão Bolsonaro:
“Solicita informar o que consta sobre o envolvimento do
nominado, no ano de 1983, com relação a transações no
garimpo de ouro”.
Como Bolsonaro já havia respondido por este caso e
justificado não ter obtido qualquer lucro com a aventura
feita, em período de férias, ao garimpo referido, o que
também foi confirmado por seus companheiros de aventura,
a Aman informou nada haver a este respeito até aquele
momento.
Além de determinar a criação do Conselho de
Justificação, o ministro do Exército, general Leônidas Pires
Gonçalves, ainda fez publicar um editorial intitulado
“Caserna, lugar de honra” no “Noticiário do Exército”,
através do qual, de forma velada, considerava os dois
capitães indignos do oficialato, ao condenar a mentira como
um vírus maligno que corrói a camaradagem. E o editorial
batia firme no capitão Bolsonaro, como neste trecho:
Quem não tem coragem para assumir as responsabilidades
pelos atos que praticou e falseia a verdade para fugir a este
dever dá abominável exemplo e demonstra, de modo
inequívoco, que não está à altura dos valores que são a
marca, a força e o orgulho de nossa profissão.

Durante entrevista à imprensa, confirmou sua posição,


o que era, na verdade, uma condenação prévia, indicando
ao Conselho de Justificação, o resultado que ele esperava
de sua investigação dos fatos. “A Veja estava certa e o
ministro errado. Lamentavelmente, tenho que dizer aos
senhores: quem pensa que está sempre certo, talvez seja a
Veja. Eu reconheço que estava errado”, disse.
O Conselho de Justificação responsável pelo caso do
capitão Bolsonaro foi instalado no dia 8 de dezembro e era
composto pelo coronel Marcos Bechara Couto, presidente, e
pelos tenentes-coronéis Nilton Correa Lampert, interrogante
e relator, e Carlos José do Couto Barroso, escrivão.
Com a instalação do Conselho de Justificação,
nomeados no dia anterior, através de Portaria Reservada do
Ministério do Exército, era formalizada a acusação de
“conduta irregular, ter praticado atos que afetam a honra
pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe”.
O Conselho ouviu o capitão Jair Bolsonaro diversas
vezes, quando a negativa sobre a autoria do planejamento
de atentados a bomba foi mantida. O Conselho também
ouviu jornalistas e o editor de Veja, oficiais do Exército que
eram vizinhos de Bolsonaro, as esposas de alguns deles,
incluindo Rogéria, mulher do capitão Jair Bolsonaro e Lígia,
esposa do capitão Fábio Passos. O Conselho também ouviu
generais – entre eles o general Newton Cruz.
Desde o dia 28 de dezembro de 1987, a repórter
Cássia Maria Rodrigues, que havia sido despedida, estava
com escolta de três militares, 24 horas por dia, pois seu
advogado, Márcio Donnicci, peticionou junto ao Conselho de
Justificação, alegando que ela havia sido ameaçada de
morte pelo capitão Jair Bolsonaro, justificando que Cássia
Maria aguardava na antessala do coronel Marcos Bechara,
que presidia o Conselho de Justificação, quando o capitão
Bolsonaro lhe fizera um gesto com as mãos “como se
estivesse disparando um revólver contra a jornalista”. (gesto
característico de Bolsonaro até hoje).
Mas, Cássia Maria, acrescentou que, diante deste
gesto, ela teria perguntado a Bolsonaro se era uma ameaça
de morte e que ele lhe respondeu que não, mas que ela
“poderia se dar mal se continuasse com aquela história”.
No dia seguinte, a repórter Cássia Maria depôs no
Conselho de Justificação, em sessão que durou cerca de
três horas, voltando a reafirmar os dados da reportagem de
Veja, além de citar nomes de outros oficiais que saberiam,
segundo ela, da existência do plano de detonar bombas nos
quartéis e teria entregado documentos que a revista não
tinha usado nas publicações.
Durante oito horas, o Conselho de Justificação, no dia
6 de janeiro de 1988, realizou na Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais e na Primeira Divisão do
Exército, na Vila Mariana, acareação entre a repórter Cássia
Maria Rodrigues e os capitães Jair Bolsonaro e Fábio
Passos. Participaram ainda da acareação os motoristas da
revista, Francisco Carlos Macedo Sodré e Luiz Antônio da
Silva Coelho e o fotógrafo Ricardo Chvaicer.
Na oportunidade, os capitães voltaram a negar - como
o fizeram logo depois da publicação da primeira reportagem
da revista - terem prestado qualquer declaração à repórter
ou mesmo que a tivessem encontrado.
O capitão Fábio Passos disse em sua defesa, que no
dia 21 de outubro – data em que a repórter afirmou ter
estado em seu apartamento, ele e sua esposa lancharam na
casa de uma vizinha de nome Luíza, esposa de um oficial
militar.
Lígia, esposa do capitão Fábio Passos passou a maior
parte do tempo nervosa e chorando muito. Em sua vez de
ser inquirida, Lígia disse que não conhecia e que nunca
havia falado com a repórter Cássia Maria, confirmando
como sendo de sua residência o número de telefone exibido
pela repórter, como indício de que já havia telefonado para a
esposa do capitão, mas que não configurava qualquer tipo
de prova do que afirmava, pois números de telefones eram
facilmente acessíveis.
A esposa do capitão Bolsonaro, Rogéria Nantes
Bolsonaro, durante todo o tempo de acareação, manteve-se
calada, não respondendo a qualquer pergunta formulada por
membros do Conselho de Justificação.
Por seu turno, Jair Bolsonaro chamou a repórter
Cássia Maria de mentirosa por dizer ter sido convidada a ir à
sua residência e disse que ela havia chegado lá de surpresa
e que ele somente a recebera por cortesia. Além disso,
Bolsonaro disse que a presença dela teria criado mal-estar
com o capitão Júlio Lemos, que o visitava e que não gostou
da presença da repórter.
De acordo com Bolsonaro, por ter ficado aborrecido
em ver Cássia Maria adentrando o apartamento, o capitão
Júlio Lemos teria “feito um discurso contra o que ele
chamou de imprensa sensacionalista”.
Apesar de todas as negativas dos capitães Bolsonaro
e Fábio Passos sobre terem dado informações à repórter e
até mesmo de afirmarem não conhecer Cássia Maria, a
acareação terminou com os advogados da revista, Virgílio
Donnici e Márcio Donnici (filho do primeiro), exultantes,
porque, para eles, o caso estava devidamente
caracterizado.
- Cada motorista sabe de um fato diferente do outro,
assim como o fotógrafo sabe de outro detalhe. Juntando-se
tudo, confirmou-se a matéria de Cássia e a veracidade dos
fatos contidos nela, afirmou Virgílio.
Em sessão ocorrida no dia 25 de janeiro de 1988, o
Conselho de Justificação decidiu, por unanimidade,
considerar Bolsonaro culpado:

O justificante [Jair Messias Bolsonaro] mentiu durante todo


o processo, quando negou a autoria dos esboços
publicados na revista Veja, como comprovam os laudos
periciais do Instituto de Criminalística da Polícia Federal e
do 1.º Batalhão de Polícia do Exército.

Além disso, o Conselho indicou em sua decisão que o


capitão Bolsonaro apresentava “desvio grave de
personalidade, deformação profissional e falta de coragem
moral para sair do Exército”. Por esta decisão, de acordo
com a legislação militar (Lei n.º 5.836, de 5 de dezembro de
1972), que definia o campo administrativo, como o de
atuação do Conselho de Justificação, o seu parecer deveria
ser encaminhado, obrigatoriamente, ao ministro Leônidas
Pires Gonçalves, que poderia acatá-lo ou recusá-lo.
No dia 26 de fevereiro de 1988, o ministro do Exército,
general Leônidas Pires Gonçalves, depois de mais de 20
dias de “cautelosa análise”, acolheu sugestão do Conselho
de Justificação, decidiu afastar os capitães Jair Messias
Bolsonaro e Fábio Passos da Silva, pois segundo disse o
ministro, na ocasião, com a imprensa, eles haviam faltado
com “a honra e a verdade” – conceitos basilares da
instituição -, ao não admitirem a autoria do plano
denunciado por Veja diante do Conselho de Justificação.
- Honra e verdade. Esta é a base na qual espelhamos
todos os critérios para punir esses jovens capitães, que
esqueceram uma coisa basilar para nós, que é a verdade. O
primeiro item do RDE - Regulamento Disciplinar do Exército
diz que não se deve faltar com a verdade, que é a própria
honra dos militares.
O Conselho de Justificação emitiu, então, o devido
libelo acusatório e a questão foi remetida ao Superior
Tribunal Militar (STM).
- Fizemos um Conselho de Justificação, que decidiu
indicar o afastamento destes capitães das Forças Armadas.
Eu acolhi a sugestão - afirmou o ministro do Exército -, e
remeti ao Superior Tribunal Militar para deliberação.
Ainda no dia 26 de fevereiro, o Superior Tribunal
Militar, então presidido pelo brigadeiro Antônio Geraldo
Peixoto, realizou uma sessão pública para sortear o relator e
o revisor para o processo, tendo sido, no caso do capitão
Jair Bolsonaro, sorteado para relator o general Sérgio Ary
Pires e para revisor, o ministro Aldo Fagundes (civil).
De acordo com o brigadeiro Peixoto, o trabalho do
Tribunal Militar “era uma tarefa muito árdua, pois se trata da
vida de um militar que pode ter sua patente cassada ou
passar para a reserva”.
Embora de posse de toda a documentação que
embasou a decisão do Conselho de Justificação, inclusive
laudos periciais do Exército – que isentavam Bolsonaro de
ter feito os croquis -, e laudos periciais da Polícia Federal
que colocava em dúvida a autoria dos croquis, o Superior
Tribunal Militar tinha total liberdade para o julgamento e até
mesmo recomeçar toda a investigação.
Dois dias depois, durante cerimônia de inauguração
de novos pavilhões para a Academia Militar de Agulhas
Negras (Aman), em Resende (RJ), um oficial ligado ao
Ministério do Exército disse que o Exército iria punir “com
rigor” todo oficial da ativa ou da reserva, “que por meio de
suas declarações” atingissem a instituição militar, desviando
assim “da orientação profissional adotada”.
Entretanto, o mesmo oficial disse que fatos de
indisciplina ocorridos na Arma não era motivo de
preocupação, corroborando fala do próprio ministro, general
Leônidas Pires Gonçalves, para o qual meia dúzia ou mais
de indisciplinados não abalariam a instituição militar que
detinha um quadro de 211 mil homens.
Apesar de ter sido dito pelo ministro do Exército,
general Leônidas Pires Gonçalves, que os dois capitães
seriam afastados do serviço para responderem a processo
no STM, isso não aconteceu e eles continuaram cumprindo,
normalmente, suas rotinas de alunos da Escola Superior de
Aperfeiçoamento de Oficiais. E isto, porque o STM indeferiu
o pedido do ministro do Exército de afastamento dos
capitães.
Esta decisão do STM parecia ser uma afronta para a
editoria do Jornal do Brasil, que foi cobrar uma explicação
junto ao Superior Tribunal Militar (STM).
- Eles podem, inclusive, ser promovidos, já que até
agora não se encontram sub judice. Somente depois de
julgados pelo STM, os capitães, se forem condenados,
começarão a sofrer as punições. Se forem condenados,
poderão passar para a reserva com vencimentos ou, na pior
das hipóteses, ter suas patentes caçadas, disse ao jornal
um assessor do Tribunal Militar.
Em defesa da posição do ministro Leônidas Pires
Gonçalves em atacar o capitão Jair Bolsonaro por
indisciplina, o jornalista A. C. Scartezini escreveu para o
Correio Braziliense, no dia 29 de fevereiro de 1988, o artigo
“Contragolpe”, que foi publicado na página 2 do jornal:

(...) Seja qual for a posição da Justiça Militar, o Ministro do


Exército percorre os caminhos legais para expor
publicamente a ação dos capitães que tramam contra o
poder civil e, no caso da Vila [Militar], mentem ao superior,
como se comprovou em processo. Poderia o general
Leônidas encaminhar os capitães aos desvios comuns da
carreira militar para congelar os indesejáveis. Prefere o
processo público e formal.
É o contragolpe do general Leônidas contra o golpismo e o
terrorismo dos inconformados com a ordem institucional.
Dentro do rigor da lei e da disciplina, corta os caminhos dos
futuros generais Noriega brasileiros, a derrubar presidente,
escolher seus sucessores e impor o rumo das instituições
como se nação fosse deles uma propriedade privada.
Recebem os acusados o rigor e os benefícios da lei.
Prestam conta de seus atos e recebem a oportunidade de
defesa, como os acusados de crimes comuns, sem
contemporizações ou privilégios. Não há risco a correr
nesse processo, a não ser o de prevalência da anarquia –
no caso de omissão.

No dia seguinte, o Correio voltava ao assunto:

A prevalecer no julgamento do Superior Tribunal Militar o


parecer do ministro Leônidas Pires Gonçalves, que ratificou
a posição do Conselho de Justificação, os capitães Jair
Messias Bolsonaro e Fábio Silva, serão excluídos do
Exército com a perda da patente, por terem faltado com a
verdade para com o ministro do Exército na entrevista
concedida à revista Veja, onde os oficiais criticaram
veementemente a instituição militar a que pertence.

O jornal também dizia que havia uma expectativa


entre os ministros militares de que todos os ministros do
STM votariam “pela exclusão dos dois oficiais”, mas também
havia “a possibilidade de um consenso entre eles no sentido
de reformá-los no posto”.
O capitão Bolsonaro, durante os quatro meses que
durou a Instrução Criminal Militar, não requereu ou aceitou
advogado indicado, tendo ele próprio feito sua defesa
escrita. Somente no julgamento, é que ele foi defendido pela
advogada Elizabeth Diniz Martins Souto.
Dos quinze ministros do Superior Tribunal Militar
(STM) apenas dois – general Jorge Sant’ana e brigadeiro
Jorge de Carvalho -, não participaram do julgamento dos
capitães Jair Bolsonaro e Fábio Passos.
O plenário do Tribunal foi composto pelos generais
Sérgio de Ari Pires (relator do processo do capitão Jair
Bolsonaro), Ericssen da Fonseca (relator do processo do
capitão Fábio Passos) e Auzir Chaloub; brigadeiros Belham
da Mota e Antônio Geraldo Peixoto (presidente); almirantes
Rafael de Azevedo Branco, Lael Ferreira e Andersen
Cavalcante; ministros civis Paulo César Cataldo, Aldo
Fagundes, José Luiz Clerot, Rui Pessoa e Antônio Carlos
Seixas Teles.
A sessão de julgamento ocorrida no dia 16 de junho
de 1988, teve início com a leitura do relatório do general
Sérgio de Ari Pires, que discorreu sobre o libelo acusatório
do primeiro Conselho de Justificação. Depois, muito tempo
se perdeu devido a uma questão de ordem, onde se discutia
se o representante do Ministério Público Militar poderia ou
não falar, tendo sido definido, ao final do imbróglio, que não
lhe seria permitida a palavra.
Continuando a sessão, o general Sérgio de Ari Pires
apresentou seu voto, começando por analisar as
Preliminares de Nulidade arguidas pela defesa do capitão
Bolsonaro, que não foram acolhidas por ele.
Senhor presidente. Senhores ministros,
O exame atendo dos autos do presente Conselho de
Justificação permite as seguintes conclusões:
1.º - As preliminares de nulidade arguidas pela defesa,
salvo melhor juízo, não merecem ser acolhidas por esta
Egrégia Corte. A este respeito, perfilhamos integralmente os
argumentos constantes do parecer do ilustre subprocurador
da Justiça Militar, Dr. Milton Menezes da Costa filho, que
sintetizamos a seguir:
Quanto à Preliminar de Nulidade, por não ter sido permitida
a presença de advogado de defesa em nenhuma das
sessões do Conselho até 28 de dezembro de 1987, o que
constitui “gritante cerceamento do direito de defesa”, a
Procuradoria-Geral da Justiça Militar declara que, só agora,
ultrapassada a fase administrativa é que o Justificante se
contrapõe à ausência de seu advogado, tendo permanecido
silente nas respectivas assentadas, quando poderia
providenciar para que a ausência constasse das atas, até
mesmo na oportunidade de sua defesa escrita perante o
Conselho. Que a natureza sui generis do Conselho de
Justificação permite o exercício do direito de defesa pelo
próprio Justificante, aliás, que perante a esta Corte formulou
suas razões de defesa, sem qualquer assistência de
advogado. Desse modo, diante do silêncio do Justificante
na oportunidade, os atos anteriores a 28 de dezembro de
1987 não podem ser inquinados de viciados, à luz do artigo
505 do Código de Processo Penal, que elucida a questão.
Quanto ao argumento de que o Conselho não deu vista nos
autos ao Justificante declara o ilustre representante da
Procuradoria-Geral da Justiça Militar que “de efetivo, o
mesmo deveria ter tido ciência do conteúdo da prova
pericial, o que poderia justificar, inclusive, requerimento,
justificando a oitiva de peritos para esclarecimentos
complementares. Considera que a fase judiciária do
Conselho possibilita que qualquer providência possa ser
tomada, se necessária, para a apuração da verdade. Que
esta Egrégia Corte analisa a fase administrativa, não como
duplo grau jurisdicional, mas sim, como grau único, a decidir
a demanda, razão pela qual, não se pode arguir nulidade de
procedimento, por falta de vista, pois esta é dada ao
Justificante perante esta Corte. Por estas razões, entende
não merecer acolhida, as Preliminares de Nulidade
apresentadas pela defesa”.

Em seguida, o general Sérgio de Ari Pires passou a


apresentar o exame que fez do mérito da acusação, através
do exame “atento dos autos”. Em primeiro lugar, ele
analisou o item “a” do Libelo Acusatório, que dizia respeito a
fato anterior, ocorrido em 1983, quando Bolsonaro e outros
militares, aproveitando de suas férias, foram a um garimpo
no sul da Bahia, na Cidade de Saúde.
Essa acusação foi rechaçada pelo relator da ação, que
considerou que as conclusões do Conselho estavam
“procurando caracterizar o fato como indício de desvio
vocacional ou desmedida ambição por riqueza,
relacionando-o a insatisfação pelos baixos salários”, o que
não merecia ser acolhido, mesmo porque na própria ficha
funcional de Bolsonaro estava assentado que “após feita a
análise dos fatos com o subcomandante, concluiu-se que
não era aplicada sanção, por não configurarem infrações às
normas disciplinares”:
A acusação constante do item ‘a’ do libelo acusatório, de
folhas 287 e 288, “já havia dado mostras de imaturidade,
por ter ido a um garimpo no sul da Bahia”, teve origem na
observação do comandante aposta na ficha de informações,
referente ao segundo semestre de 1983, quando o
Justificante era 1.º tenente. O próprio autor do registro
negativo, coronel Pellegrino, elogiou o Justificante no
mesmo período pela dedicação ao serviço e pela sua
competência profissional, além de ter declarada à folha 511
que “após feita a análise e a avaliação dos fatos com o
subcomandante, concluiu-se que não era aplicada sanção,
por não configurarem infrações às normas disciplinares”.
Considerando que o acusado deu prévio conhecimento ao
seu comandante do motivo da dispensa para desconto em
férias, que não chegou a praticar a garimpagem nem obter
qualquer proveito com a viagem, há bastante coerência nas
declarações do Justificante, que foi atraído pelo
empreendimento por lazer, esporte e espírito de aventura,
por ser filho de ex-garimpeiro e pela oportunidade de
praticar a sua especialidade de mergulhador autônomo.
Essa versão é reforçada pelo depoimento do 1.º tenente
Djalma Antônio de Souza Filho, às folhas (...) que atesta a
colaboração voluntária do acusado ao Corpo de Bombeiros
do Rio de Janeiro, realizando trabalho de mergulho durante
dois dias consecutivos, por ocasião de um desastre de
ônibus, tendo o Justificante solicitado que o fato não fosse
comunicado à sua Unidade, pois se encontrava em gozo de
férias, agira por motivo humanitário e não desejava ser
elogiado por este motivo. Observa-se, portanto, que o
Conselho supervalorizou o único registro negativo existente
no Prontuário do acusado e que, somente deveria ser
levado em consideração se confirmado, por observações
anteriores ou posteriores, de modo a caracterizar um
atributo negativo de sua personalidade e que, certamente,
constaria de seu Perfil Profissiográfico, existente na
Diretoria de Cadastro e Avaliação do Exército. Não merece
acolhida, por esta razão, as conclusões do Conselho,
procurando caracterizar o fato como indício de desvio
vocacional ou desmedida ambição por riqueza,
relacionando-o a insatisfação pelos baixos salários, uma
vez que as folhas de alterações do Justificante não somente
não confirmam como desautorizam tais conclusões.

Ao analisar o item “b” do Libelo Acusatório, o relator


viu-se diante de um fato pretérito, que era a replicação da
acusação de que Bolsonaro havia escrito, mais de um ano
antes, o artigo “Salário está baixo” e publicado pela Veja.
Este item também foi afastado, já que o capitão Bolsonaro já
havia pagado pelo erro com 15 dias de prisão. De acordo
com o relatório do general Pires “considerá-lo agora,
equivale incorrer na proibição do bis idem”.

Quanto à acusação constante do item ‘b’ do libelo


acusatório de “ter elaborado e ter feito publicar artigo
“Salário está baixo” na revista Veja, de 3 de setembro de
1986, sem conhecimento e sem autorização dos superiores
hierárquicos, deixando de utilizar os meios regulamentares
para demonstrar insatisfação e apresentar sugestões
construtivas” há uma flagrante contradição no próprio
enunciado da imputação. O Justificante, não apenas
recorreu aos meios regulamentares, como os utilizou até
onde lhe foi permitido. De início, procurou seu comandante,
reiteradamente, informando-o dos efeitos nocivos dos
desgastes salariais dos militares. Insistiu junto ao mesmo
para que a situação constasse dos relatórios periódicos de
informação. Posteriormente, apresentou estudo sobre a
remuneração dos militares, a que denominou ‘anteprojeto’ e
que foi encaminhado aos escalões superiores. Como não
obtivesse solução para o problema, voltou a insistir junto ao
seu comandante e, de modo tão insistente, que o próprio
coronel Ary Sckittiny Mesquita declara, à folha 329 que
“tendo esgotado todos seus argumentos sobre o assunto,
encerrava a conversa, quando o acusado se referia ao
mesmo”. Verifica-se, pois, que o acusado agiu
corretamente, até este ponto, não merecendo acolhidas, as
conclusões do Conselho que, constatando a falha existente
no enunciado da acusação, critica o Justificante por insistir
junto ao comandante e, por apresentar o seu anteprojeto,
atitude que considera extrapolar a competência do acusado
que, na opinião do Conselho, deveria guardar uma atitude
de expectativa e imobilismo, até que o problema fosse
solucionado pelos escalões superiores. Quanto à
publicação do artigo na revista Veja, o acusado errou ao
recorrer à imprensa para revelar a sua insatisfação, fato que
o próprio Justificante reconhece, tendo assumido inteira
responsabilidade por sua atitude. Foi punido com 15 dias de
prisão, que era a pena máxima a ser aplicada por seu
comandante, tendo em vista sua vida pregressa, sem
qualquer punição. Trata-se, portanto, de fato que a despeito
da repercussão nacional, foi analisado detidamente, quando
de sua ocorrência, considerado como adstrito à área
disciplinar e encerrado com a punição aplicada ao
Justificante. Considerando que não há qualquer prova nos
autos estabelecendo relação entre a publicação deste artigo
e os fatos ocorridos mais de um ano depois, que serão
apreciados a seguir, e que o Justificante já foi punido
disciplinarmente pela presente acusação, considerá-lo
agora, equivale incorrer na proibição do bis idem.

O relator, general Sérgio de Ari Pires, analisou os três


itens finais do Libelo Acusatório, que diziam respeito a duas
reportagens publicadas pela revista Veja e onde o capitão
Bolsonaro era acusado de ter mantido contatos com a
repórter Cássia Maria Rodrigues para tratar de assuntos
internos da Arma, ter tomado conhecimento prévio da
publicação de Veja e não ter dado imediato conhecimento
aos seus superiores e de ter sido acusado de mentiroso por
Veja, em edição posterior e de não ter tomado providências
para resguardar sua honra, atacada pela reportagem da
revista.
As acusações constantes do item “c” manter contatos com
elementos da imprensa para tratar de assuntos que
extrapolam a vossa área de competência; as do item “d” Ter
tomado conhecimento prévio de matéria publicada na
edição 999 da revista Veja, deixando de imediato de dar
conhecimento aos seus superiores; e as do item “e” Ter sido
acusado de mentiroso na edição n.º 1.000 da revista Veja,
por negar por escrito as acusações contra sua pessoa
contidas na edição anterior da mesma revista e não ter
tomado providências para resguardar a vossa honra
pessoal, todas do libelo acusatório, referem-se a fatos
interligados, que foram objeto de profunda contradições
entre as testemunhas e que, somente poderão ser
adequadamente avaliadas se colocadas em ordem
cronológica e confrontadas com as provas dos autos.
O presente processo gira em torno de duas reportagens
publicadas pela revista Veja, que deram origem à
Sindicância e a este Conselho de Justificação e que
apresenta a versão da repórter Cássia Maria Vieira
Rodrigues sobre fatos ocorridos na Vila Militar de Deodoro,
de outubro a dezembro de 87 envolvendo o justificante,
outros militares, seus familiares e a citada jornalista, cuja
versão dos acontecimentos foi pelo Conselho ao final, como
sendo a verdadeira.

O relator então passa a discorrer sobre a publicação


da edição n.º 999, de Veja, quando a revista acusa os
capitães Jair Bolsonaro e Fábio Passos, de serem líderes da
preparação de atos terroristas contra o Exército, no caso do
aumento salarial dos militares ficasse abaixo do índice
esperado por eles. A revista indica que a esposa de Fábio,
dona Lígia, seria a informante primeira do plano de detonar
bombas nos quartéis e implica o tenente Jóseman Carvalho
Martins, que não pertencia aos quadros da EsAO, como
tendo confirmado à repórter Cássia Maria, toda a história [o
que foi, posteriormente, desmentido por ele em depoimento
ao Conselho de Justificação].

Em sua edição n.º 999, de 28 de outubro de 87, a revista


Veja publicou matéria editorial intitulada ‘Ordem desunida’,
às folhas 123 a 126, em que trata do episódio de Apucarana
e do aumento de vencimentos concedido aos militares.
Junto com esta matéria, publica a reportagem de Cássia
Maria intitulada ‘Por bombas nos quartéis – o plano na
Esao’, em que esta declara ter participado de uma reunião
na casa do capitão Fábio Passos da Silva, a que
compareceu este oficial, sua esposa, dona Lígia Passos, e
o justificante, quando foram feitas severas críticas às
autoridades e onde tomou conhecimento de um plano
terrorista a ser desencadeado em vários quartéis. Que o
plano ‘Beco sem saída’ lhe foi revelado por dona Lígia,
consistindo na explosão de bombas na Aman, na Esao e
outras unidades. Com a preocupação de evitar feridos, mas
com a finalidade de demonstrar insatisfação com os níveis
salariais e mostrar ao presidente Sarney que o ministro
Leônidas não tem controle sobre a tropa. Em seguida, os
capitães Fábio e Bolsonaro confirmaram o plano e que o
Justificante, sem o menor constrangimento, deu uma
explicação com construir uma bomba-relógio. A repórter
Cássia Maria conclui a matéria afirmando que foi alertada
pelo justificante para nada publicar sobre suas conversas,
tendo respondido que não podia esquecer que ele era uma
profissional. Que decidiu-se pela publicação, porque o plano
foi também confirmado “por um outro oficial que não integra
o grupo da Esao” e que ela o identificaria durante os
trabalhos do Conselho, como sendo o 1.º tenente Jóseman
Carvalho Martins. Tendo o justificante e o capitão Fábio
negado, peremptoriamente, por escrito, a realização da
reunião de 28 de outubro de 1987, bem como todo o teor da
reportagem “Por bombas nos quartéis – um plano na EsAO”
e tendo o ministro do Exército declarado, em entrevista à
televisão, que acreditava na palavra dos dois oficiais.

Como o Comando Militar Leste distribuiu nota à


imprensa com trecho de declarações dos capitães
Bolsonaro e Fábio, negando qualquer envolvimento na
elaboração do artigo de Veja, além do ministro do Exército,
general Leônidas Pires Gonçalves, aceitar as explicações e
dar o caso por encerrado, a revista voltou à carga na edição
seguinte, afirmando que os capitães Bolsonaro e Fábio
haviam mentido.

A revista Veja na edição de n.º 1.000, de 4 de novembro de


87, publicou a reportagem intitulada ‘De próprio punho’ em
defesa de sua credibilidade ameaçada, procurando provar
que os oficiais haviam mentido e que a sua repórter estava
com a verdade. Para tanto, a revista Veja passa a
apresentar o que denomina ‘Provas documentais e provas
testemunhais’, que comprovariam a sua versão dos fatos.
Quanto às provas testemunhais, declara que entre 6 e 21
de outubro de 87 o justificante “encontrou-se com a repórter
quatro vezes e, nessas conversas, queixou-se do comando
do ministro Leônidas, do presidente Sarney e da vida”,
sendo o encontro presenciado pelo fotógrafo Ricardo
Chvaicer, da Veja e pelo motorista Luiz Antônio, da mesma
revista. E o terceiro, por telefone, teve testemunho de
Alessandro Povo, chefe da Sucursal da Veja no Rio de
Janeiro. Quando às provas documentais, publica um croqui
com uma bomba-relógio junto a uma tubulação e outro
mostrando uma rua afirmando que ambos foram elaborados
pelo justificante e entregues à repórter, sendo o segundo o
endereço do capitão Sadon que havia sido preso por ter
protestado contra os baixos salários. Faz, contudo, a
ressalva de que não publicou os croquis anteriormente,
porque o justificante ao fazê-los “não deu a impressão que
estivesse disposto a fazer explodir o quartel e sim, que fazia
uma exibição do mecanismo de funcionamento de um
petardo”. Ainda como prova documental, a revista Veja
afirma que numa das visitas da repórter Cássia Maria à
casa do capitão Fábio, este deu-lhe um documento e ela,
em companhia de pessoa de confiança pessoal do capitão,
dona Lígia, sua esposa, que viajou no banco da frente,
foram com o motorista Francisco, a Marechal Hermes, onde
tiraram uma cópia xerox do documento. [Este documento
seria uma cópia da carta do capitão Sadon, que motivou a
prisão dele, comenta o relator].

Aqui, o relator do processo, general Sérgio de Ari


Pires, depois de seu relatório, faz, de forma sintética, a
análise das provas documentais e testemunhais e
demonstra as contradições existentes e o porque o
Conselho de Justificação não poderia ter levado o caso
adiante, já que havia, no entendimento do relator “tantas
distorções, contradições e mentiras nas duas reportagens,
com o objetivo único de manter a credibilidade da revista, o
que causa estranheza que tais fatos não tenham sido
percebidos pelos membros do Conselho”.

As duas reportagens citadas, da revista Veja, que, à


primeira vista, num exame superficial parece informar um
todo coerente e harmonioso, digno de toda a credibilidade,
mudam completamente de feição, quando as suas partes
são confrontadas com os elementos constantes dos autos.
Há tantas distorções, contradições e mentiras nas duas
reportagens, com o objetivo único de manter a credibilidade
da revista, o que causa estranheza que tais fatos não
tenham sido percebidos pelos membros do Conselho. Em
primeiro lugar, há de se ressaltar a profunda contradição
existente nos depoimentos da repórter Cássia Maria, do
justificante e das testemunhas. Não apenas quanto ao teor
das conversas havidas, bem como quanto às datas e horas
dos acontecimentos. Em seu depoimento de folha 333, a
jornalista declara que manteve vários contatos com o
acusado durante o ano de 87, não podendo precisá-los de
imediato, mas que “nos arquivos da Editora Abril podem ser
encontrados os registros desses contatos”. O motorista
Francisco Suder, às folhas (...) afirmou que acompanhou
Cássia Maria a Deodoro por três vezes, só podendo garantir
que foi em outubro de 87, mas que as datas poderiam ser
confirmadas na revista Veja, onde as saídas das viaturas
ficam registradas na garagem. Em 9 de dezembro de 87, o
Conselho solicitou à revista Veja que lhe fossem remetidos
“os originais dos esboços publicados na edição da revista
1.000, bem como todas as provas documentais e materiais
de que dispunha para comprovar a veracidade das matérias
publicadas nos números 999 e 1.000 da citada revista”. Em
14 de dezembro de 87, Veja remeteu ao Conselho apenas
os originais dos esboços publicados (folhas 280 e 564). Em
5 de janeiro de 88, o Conselho voltou a solicitar à
mencionada revista as provas comprobatórias das
acusações publicadas (folha 419), tendo a Veja respondido
em 8 de janeiro de 88 que já tinha remetido as provas de
que dispunha.

Além dos fatos e argumentos acima apresentados em


seu voto, o relator, general Sérgio Pires, apontou “profundas
contradições existentes nos quatro exames grafotécnicos,
dos quais dois não apontam a autoria dos croquis” e dois
apontam, o que chama o princípio “in dubio pro reo”.
Depois de lido o voto do relator, general Sérgio Pires,
foi dada a palavra à advogada do capitão Jair Bolsonaro,
Elizabeth Diniz Martins Souto, para que apresentasse,
durante “o tempo regimental de 20 minutos”, a defesa de
mérito.
Ela inicia sua fala atacando o Conselho de Justificação
que apurou os fatos envolvendo o capitão Bolsonaro,
taxando-o de “aberração jurídica” por ter deliberado pela
Não Justificação de Bolsonaro, embora sem ter em mãos
provas suficientes para tal, pelo que, ela afirmou que o
Conselho teria agido ao arrepio da lei e que sua motivação
era em base a uma “convicção pessoal e parcial”, o que a
lei, terminantemente, proíbe. Aproveita para elogiar o
relatório apresentado pelo general Pires que, segundo a
mesma, poderia até excluir a necessidade de sua
intervenção, caso isso fosse legal.
Egrégio Tribunal, Ilustre Representante do Ministério
Público.
Senhores juízes, a exemplo dos casos anteriores de
Conselhos de Justificação que têm advogados sustentados
nesta Casa e tendo todas as vezes se pronunciado com
relação à feitura dos processos, que não podemos admitir
nem como advogados, nem vossas excelências como
juízes, que seja desrespeitada a norma, porque, do
momento em que aqui é dado o dever de julgar, desrespeita
a norma legal constituída, realmente não merece qualquer
crédito em seu julgamento. E assim é excelências, que
nesse Conselho [de Justificação], a exemplo do que
julgamos na semana passada, este processo constitui uma
aberração jurídica. Isto, porque, senhores juízes, a própria
lei que institui o Conselho de Justificação – a Lei 5.836 –
remete, em seu artigo 17 ao Código de Processo Penal
Militar, naquilo em que ela não trouxer explicitada. E assim
é que a Lei do Conselho de Justificação ainda que,
excelências, há, constantemente, uma inversão do
Conselho de Justificação. Trata-se de um processo ético,
mas, para que alguém tenha ferido a ética há que existir,
sobretudo, um fato causador da ofensa à ética militar. E
neste processo de Conselho de Justificação há de se
permitir todas as provas que se permite no processo comum
penal. E não podemos admitir que aqueles a quem é dado o
dever de obrigação de conduzir o Conselho venha concluir
em total desrespeito à norma que o determina. O Código de
Processo Penal Militar. Diz o seguinte: “que o juiz, ao
deliberar, formará a sua convicção – vejam excelências,
como é fundamental isto também para os Conselhos de
Justificação -, de acordo com as provas dos autos”. Não
podemos admitir. Ah, ainda é mais claro nos nossos
tribunais superiores, que chegam a anular sentenças e que
um juiz tendo por fora do processo conhecimento de um
determinado fato que venha influir na decisão, ele não
poderá, ainda que conhecedor deste fato decidir de acordo
com este fato. Há que decidir de acordo com as provas dos
autos. Jamais, jamais, excelências, se permitiu, se permite
e se permitirá que qualquer juiz decida por uma convicção
pessoal e parcial. Então estamos diante de um Conselho de
Justificação e o relatório que foi elaborado pelos membros
do Conselho constitui uma afronta às normas legais e um
absurdo jurídico. Depois do relatório do ilustre ministro-
relator, eu digo a vossas excelências, que pouca coisa
restaria à defesa argumentar. Brilhante relatório como foi do
ministro, em que se abordou toda a prova e toda a
documentação dos autos, mas cabe à defesa fazer também
um confronto destas provas, na análise, não do ponto de
vista do Conselho, mas da análise diante do Direito, da
Prova e da Lei. Da mesma forma que Bolsonaro é
submetido a Conselho de Justificação como responsável
pela edição da revista Veja, pela reportagem da revista Veja
n.º 999. Aqui, excelências, eu faria uma condução lógica do
raciocínio lógico.

Neste momento, a defensora de Jair Bolsonaro


demonstra que a instalação dos Conselhos de Justificação
para apurar os fatos envolvendo os capitães Jair Bolsonaro
e Fábio Costa, foi feita ao arrepio do que determina a
legislação militar, ou seja, só deveria ter ocorrido se a
Sindicância – investigação inicial em que se apura a
verdade dos fatos – apontasse a existência de um ato
praticado pelos mesmos, que configurasse um desvio ético,
o que não era o caso, já que a Sindicância apontou que não
havia como responsabilizar alguém pela feitura do croqui em
poder da revista Veja.

Noticiada uma acusação à sua pessoa, procura, tanto


Bolsonaro como o Fábio - como já se disse na sessão
passada -, procura advogado para se defender, ou, aliás,
nem era para se defender, mas para saber como se
conduzir diante da instituição. Procurou o seu comandante
e falou a respeito e negou o fato. Voluntariamente, tanto
ele, quanto o Fábio, fazem uma declaração de próprio
punho e desmentem. Uma declaração, excelência, que há
de se ressaltar aqui a responsabilidade sobre tudo deste
processo ao excelentíssimo ministro do Exército. Porque,
diante desta declaração, na qual, ele nega o fato objeto da
reportagem, mas jamais negou que tivesse conhecido, em
outros tempos, a repórter Cássia. O Sr. ministro do Exército,
usando a rede televisada e a imprensa escrita, disse que
ele, reconhecia a sua declaração, mas trás para a
entrevista, apenas um pequeno pedaço da declaração de
Bolsonaro. Então, deu a impressão de que ele havia
negado até que conhecesse a repórter. Daí, então, ter sido
chamado na edição 1.000 de mentiroso. Então, excelência,
vem a Sindicância determinada pelo ministro; a Sindicância
no processo, aqui em questão. Como os documentos ou a
Portaria de outro Comando é a peça inicial, fundamental à
Notícia-Crime no Conselho de Justificação, então, qual é a
peça inicial? É a Sindicância. E, como já demonstrei a
vossas excelências, a mesma Sindicância do processo de
Fábio é a Sindicância deste processo. Inclusive estão as
mesmas folhas. Nessa Sindicância, tomam-se os
documentos que a revista disse ter; faz-se um laudo pericial
assinado por um capitão e pelo tenente Nilton. Este laudo,
que está à folha 67, conclui da impossibilidade de se
responsabilizar alguém por aquele croqui.

A defensora de Jair Bolsonaro passa a discorrer sobre


o relatório do Conselho de Justificação, em que, diante da
não obtenção de prova pericial que incriminasse o capitão
Bolsonaro na trama urdida pela repórter de Veja, no lugar de
considerá-lo Justificado, age ao contrário, buscando
construir novas provas que pudessem lhes servir de base
para a incriminação de Bolsonaro.
Muito bem, instala-se o Conselho [de Justificação], apesar
de a Sindicância ter concluído que não houve transgressão
disciplinar – veja-se -, e nenhum ato punível ou nenhum ato
que pudesse ensejar um Inquérito Policial Militar [no caso
de crimes militares]. Mas, apesar disso, deveria ser ele
submetido ao Conselho de Justificação. Ora, o Conselho de
Justificação é ético, mas se eles houvessem então mentido,
teriam cometido a transgressão disciplinar e a Sindicância
disse que eles não cometeram transgressão disciplinar e
foram submetidos ao Conselho. Ouvem-se, então,
testemunhas, as mesmas ouvidas no processo de Fábio, e
mais algumas por indicação da repórter da revista Veja. O
Conselho então faz um ofício e manda pedir a Veja que
entregue ao Conselho os documentos que a repórter dizia
ter. Então, chega apenas uma folha de papel, uma única
folha com rabiscos, uma letra de imprensa dizendo que era
o croqui e que a acusação toda contra Bolsonaro seria a
feitura desse croqui, que esse croqui era da lavra de
Bolsonaro. Então, esse croqui – veja excelência -, este
croqui bastava para tornar verídica toda a reportagem. O
Conselho então – vejam bem -, em face dos originais
destes, deste documento, pois era um só, mandou elaborar
o laudo de folha 365. O perito novamente – o perito Nilton -,
com um segundo perito, Horácio Macedo, concluem –
vejam, com os originais -, que realmente não era possível
concluir pela responsabilidade gráfica de quem quer que
seja, porque se tratava de letra de imprensa e letra de
imprensa era facilmente imitável e não tinha caracteres
próprios. Isto, ele não trouxe nenhuma novidade porque, na
verdade, os nossos tribunais já entenderam, principalmente
o Supremo, que perícia feita em Xerox ou em original com
letra de forma - letra de imprensa -, não tem validade.
Então, concluiu-se. Ouvindo as testemunhas – depois vou
analisar cada depoimento -, chegou o Conselho à
conclusão que não tinha elementos para considerá-lo
culpado, mas tinha que considerar culpado o capitão
Bolsonaro.

A advogada alegou que os capitães haviam sido


condenados em primeira instância – por terem violado a
honra militar -, apenas porque o Conselho de Justificação
ignorou o laudo de exame grafotécnico feito pela Polícia do
Exército, que concluía pela impossibilidade de comprovar se
o croqui publicado por Veja era de autoria dos acusados. No
caso do laudo grafotécnico feito pela Polícia Federal, este
também não era conclusivo, apenas indicando indícios de
que o croqui poderia ter sido feito pelo capitão Bolsonaro.
O Conselho de Justificação então impõe à Perícia do
Exército que fizesse a “complementação” de laudo anterior,
com novos dados da Polícia Federal, somente considerando
isto em sua decisão.
Então, o que faz: tome esses mesmos documentos, este
mesmo elemento que os dois outros laudos e submete à
Polícia Federal. Um laudo, realmente encomendado, porque
com aqueles mesmos elementos, a Polícia Federal conclui -
sem quê, nem pra que -, que os caracteres do croqui eram
os mesmos da peça padrão ou “propalaram do punho do
capitão Jair Bolsonaro”. Em razão disso, o Conselho pega o
mesmo perito, Nilton Prado Veras, e o outro, Horácio, e
manda elaborar uma complementação de laudo. E esses
peritos, que já haviam dado dois laudos anteriores, que
mostravam a impossibilidade de se atestar a autoria
daquele croqui, modificam e usam, excelências, as mesmas
palavras da Polícia Federal. Não mudaram nem a vírgula:
“propalaram do punho do capitão Jair Bolsonaro”.

A advogada Elizabeth Diniz, começa a desmontar a


decisão do Conselho de Justificação, que ela chama de
“aberração jurídica terrível”, pois o Conselho não dispondo
de provas para incriminar Bolsonaro, passa a contestar a
defesa e a elencar supostos elementos de convicção para
construir uma verdade que condizia com as ordens
recebidas para condenar Bolsonaro, embora o próprio
Conselho admita, em claras passagens, que não havia
como sustentar a acusação contra o capitão.

Com esses depoimentos, então, já achando que tinha


elementos, aí vem uma aberração jurídica terrível: é quando
o Conselho passa, despreza as provas dos autos e passa a
fazer uma análise subjetiva e passa a fazer uma
contestação da defesa do justificante. Nunca se permitiu a
juiz algum fazer contestação de peça de defesa. O que
compete ao juiz é pegar os elementos da defesa, os
elementos probatórios e fazer sim, realmente checar e ver
se realmente se o que ele disse está de acordo com as
provas dos autos. Mas o que faz o Conselho a partir das
folhas 590, lido aqui pelo ilustre ministro relator; ele passa a
fazer uma contestação. Aliás, o ministro relator bem disse: a
contestação do Conselho passa a contestar aquele a quem
é dado não ser parte - ser imparcial, aquele que vai julgar -,
passa a contestar, de uma maneira absurda, de uma
maneira subjetiva, mostrando da impossibilidade de se fazer
uma análise subjetiva a que lhe é vedado esta posição. Até
que à folha 601, ele chega à conclusão de que as provas,
realmente, não autorizavam a ele chegar a uma conclusão.
Então, ele passa a fazer uma análise. Ele ainda fez o
seguinte: ele botou assim “Análise dos Depoimentos –
Elementos de Convicção”. Então, vejam excelências, é aqui
que está a parte principal da condenação do capitão
Bolsonaro: “Elementos de Convicção”. Já foi lido
excelências, mas eu preciso reler aqui para mostrar o
absurdo. Diz o seguinte: “Ao considerarmos como
verdadeiros os depoimentos constantes de interrogatórios e
acareações, de um lado o depoimento da testemunha
Cássia e outros, que ratificam e atestam a veracidade das
declarações dela”. Isso é que eu acho interessante; é que
não tem nenhuma testemunha, nenhum documento – isso
eu mostrei no Memorial e até peço desculpas pelo tamanho
do Memorial, mas eu não tinha como fazê-lo menor -, ele
diz o seguinte, ele diz elementos de convicção; quais? As
testemunhas trazidas por Cássia são funcionários da Veja
que, em nenhum momento, nem nos depoimentos, nem nas
ratificações, falaram sobre o objeto do Conselho. Falaram,
sim, que num determinado dia, umas esposas de oficiais
teriam ido à Redação Veja e que os conheceram.
Depuseram todas e apenas duas reconheceram Lígia e
nenhuma reconheceu a dona Rogéria. Então, quais são
esses elementos? É por isso que peço permissão para ler e
mostrar quais e levantar todas as contradições. Então, diz o
seguinte – ele não diz quais são esses elementos, porque
as testemunhas ele não pode citar, porque nem falaram
excelências. O que mais intriga a defesa é que nem sequer
falaram assim: ‘realmente eu soube que Cássia no dia 21 foi
à casa de Fábio’ ou ‘realmente eu vi este croqui na
Redação da Veja’. Ninguém falou sobre o croqui, ninguém
falou sobre a visita. Apenas que teriam visto umas mulheres
lá na revista Veja e depois souberam que eram as esposas,
fato que nada tem a ver com o objeto do Conselho de
Justificação. Continua o seguinte: “Seríamos assim
conduzidos a um impasse, por não se ter conseguido a
comprovação absoluta sobre qual das partes citadas
merece (palavra ininteligível)”. Pois bem, diante disso, o que
competia ao Conselho? Decidir pela Justificação do
justificante, porque ele não tinha elementos – o Conselho é
que declara que não tinha elementos -, mas então começa
a fazer uma análise “Apreciando o depoimento do capitão
Bolsonaro e do capitão Fábio, seríamos levados a crer que
estes elementos foram vítimas de vingança por parte da
repórter, agastada, por ter sido frustrada no seu intento de
obter, do capitão Bolsonaro, informações”. Isto o Conselho
reconhece a todo o momento, que ele, realmente, não
passou as informações, mas quer que ele seja condenado
porque, honestamente, excelências, eu não consegui
entender. Continua: “Dentro dessa tese, merece reflexão e
consideração o fato da repórter envolver em sua vingança o
nome de Fábio e Lígia”. Mais adiante: “Por outro lado, além
disso, motivos também não faltam para que os editores da
revista Veja, sem maiores averiguações e sem o mínimo de
provas...”. Por quê? Porque a Cássia disse que tinha vários
documentos, outros que não eram aqueles. Então, fez-se
um ofício à Veja para que mandasse esses documentos. A
Veja informou que não tinha nenhum outro documento que
pudesse comprovar que Bolsonaro era fonte da repórter.
Então, aqui diz o seguinte: “O único documento foi aquela
folha do croqui”. Foi o único documento que mandou.
Então, o que o Conselho faz: sem maiores averiguações e o
mínimo de provas, e além do mais, queimando fontes de
informação – um fato polêmico dentro da própria imprensa,
como atesta a reportagem tal e tal.

O Conselho de Justificação reconhece que a revista


Veja não dispõe de provas de que a repórter Cássia estivera
com os capitães Bolsonaro e Fábio Passos, a não ser uma
única folha de papel, com um croqui, que de acordo com a
Perícia do Exército, poderia ter sido feito por qualquer
pessoa. Além disso, o Conselho admite que a publicação de
Veja era uma leviandade e uma irresponsabilidade e joga
clara dúvida sobre a participação dos dois capitães na
elaboração de malfado plano. “Aqui merece ser comentado
que é, realmente, um absurdo supor que dois oficiais da
patente dos mesmos fossem conceber dentro do
faseamento do chamado plano, algo tão infantil e
rocambolesco, como a realização de um atentado à Adutora
Guandu”, afirma o Conselho.

Então, chega à conclusão, excelências, que somente


prejudicava a confiabilidade da revista, junto às suas
próprias fontes, se não publicasse a matéria. Então, o
próprio Conselho reconhece que a revista Veja não tinha
elementos de prova. Continua: “Considerar que a imprensa
é sensacionalista é quase óbvio”. E aí vai excelências.
Continua a análise. Mais adiante continua o seguinte: “Só
que no caso em questão, a publicação do mirabolante plano
Beco sem Saída seria um exercício de leviandade e de
irresponsabilidade da repórter e do corpo editorial da revista
Veja, que beira às raias do absurdo, dada a gravidade do
teor da matéria que, sabiam de antemão, levantaria
polêmica extremada e que, por isso, deveriam ter o mínimo
de embasamento para futuras comprovações”. Então, vejam
excelências, o Conselho – eu me bato nisso, porque é isso
que temos de bater, porque são esses são os elementos de
convicção. Ora, se esses elementos inexistem, a decisão
teria que ser outra. Eles não tinham os elementos de
convicção, mas continua o Conselho a não aceitar, de jeito
nenhum, o plano Beco sem Saída porque, a exemplo do
que foi lido aqui, no depoimento do general Almério, que
voltarei a ele, realmente, como se pode imaginar, que um
oficial ou quem quer que seja tenha um plano, um plano
terrorista, chama uma repórter e diz que tem esse plano e
que é um ainda plano-surpresa; vamos explodir o Guandu,
vamos explodir isto, vamos explodir aquilo, como plano-
surpresa e dão para a repórter. Quer dizer, não dá nem
para acreditar que alguém pudesse ser processado pela
elaboração de um plano desses. Então, vejam excelências,
continuam os membros do Conselho o seguinte: “Aqui
merece ser comentado que é, realmente, um absurdo supor
que dois oficiais da patente dos mesmos fossem conceber
dentro do faseamento do chamado plano, algo tão infantil e
rocambolesco, com a realização de um atentado à Adutora
Guandu”. Então, se eles reconhecem isso, de que forma,
excelências, eles podem chegar a essa conclusão? [instalar
o Conselho de Justificação] Às folhas 611, eles passam a
analisar os depoimentos, aqui também merece [palavra
ininteligível].

Entenda como o Conselho de Justificação tratou de


forma diferente as provas testemunhais apresentadas pelo
capitão Fábio Passos, como exemplo, de como o Conselho
atuou de forma parcial durante o processo.

Depois, quando Fábio teve que apresentar testemunhas,


ele apresentou uma vizinha que, coincidentemente, teria ido
à casa de Fábio naquele dia e naquela hora, a respeito de
umas fotografias. Quando tinha de apresentar em
depoimento, o Fábio e a sua esposa, foram para a casa
dessa vizinha perguntando se ela se lembrava do fato e se
ela podia depor como testemunha. Essa vizinha concorda,
que é o depoimento de dona Maria Luíza, ela diz que
realmente foi à casa deles naquele horário, dona Lígia
estava acamada, doente, não pode recebê-la, mas foi
recebida pelo capitão Fábio e ela ficou de voltar. Não tinha
ninguém [mais]; eram 17h30. Ela voltou as 18 e pouco, aí
dona Lígia já havia se levantado, a recebeu, conversaram.
Mais tarde, dona Lígia voltou [foi] à sua casa. Então, é um
depoimento que, realmente, tem de ser admitido como
válido. Mas o que o Conselho faz para que levante dúvida
com relação ao depoimento: ah, ela depôs, porque Fábio e
Lígia foram pedir. Ora, é inadmissível que a esposa de um
oficial no Conselho de Justificação fosse mentir. Ela depôs
porque ela era uma testemunha de que, naquele dia e hora
estivera na casa de Fábio.

A defesa de mérito, neste ponto, ataca o Conselho de


Justificação e sugere que ele falseou a verdade para
incriminar, por encomenda superior, os capitães Bolsonaro e
Fábio. E, partindo da mesma premissa acusatória defendida
pelo Conselho em seu libelo, de que, por terem mentido, os
capitães deveriam ser julgados culpados, o mesmo deveria
ocorrer com os membros do Conselho de Justificação, já
que para a advogada dos capitães, “não fazia diferença
entre mentir e falsear a verdade”, embora ela defendesse
que os capitães não haviam faltado com a verdade.

Agora aqui, excelências. Vejam, quando eu disse no


julgamento anterior que, para mim, não faz diferença entre
mentir e falsear a verdade. Se há de se punir o justificante,
há de se punir também os membros deste Conselho,
porque eles fizeram, eles jamais pensaram, eu não sei o
que se passou pela cabeça deles, que neste Tribunal,
vossas excelências não iriam examinar peça por peça do
processo. Talvez, por aquela Notícia do senhor ministro do
Exército? Vão ser condenados. Bastaria um relatório do tipo
que se fez este. E que se tenta iludir todo mundo e que se
tenta trazer fatos que, realmente, o Conselho, com este
Tribunal examinando, só poderia, data vênia, dizer o
contrário. Vejam: às folhas 616, ele passa a analisar o laudo
[pericial]. Ele esquece, por completo, da existência do laudo
da Sindicância, do primeiro laudo negativo e fica com o
laudo da Polícia Federal. Que tivesse, pelo menos, a
consciência, de dizer o seguinte: existem outros laudos,
mas discordo dos outros laudos. Não, “Os laudos expedidos
atestam não restar dúvidas, ao ser afirmado que o
manuscrito contido nesta folha original promanaram do
punho gráfico do capitão Jair Bolsonaro”. Então, vejam
excelências, que nem sequer fizeram referência aos laudos
anteriores. Às folhas 617, eles concluem o seguinte: “que o
justificante mentiu para o Conselho e mentiu em todo o
processo porque, a versão que mais se aproxima da
verdade é a versão da repórter Cássia”.

A advogada Elizabeth Diniz Martins Souto passa a


demonstrar aos juízes do Superior Tribunal Militar que a
condenação do capitão Jair Bolsonaro, pedida pelo
Conselho de Justificação, deixava de lado as provas
aderentes à posição de justificante, para se apegar apenas
no depoimento da repórter Cássia Maria, considerado pelo
Conselho como verdadeiro, embora eivado de contradições.

Então, excelências, o que faz a defesa. A defesa vai


demonstrar a vossas excelências que a condenação está
com base somente no depoimento de Cássia, segundo o
próprio relatório. Ignorou o depoimento de um homem da
estirpe do general Almério, um homem que analisa todo o
libelo como se advogado fosse; com total precisão, ele
analisa o libelo. Então, o que ficou. Ficaríamos então,
excelências, no depoimento de Cássia. Como eu disse
naquele dia, os dois processos tinham de ser julgados
juntos! Então, nós temos o seguinte: às folhas 175 do
processo do capitão Fábio, a repórter Cássia depõe e diz
que teria marcado uma reunião na residência de Fábio
naquele dia e hora, dia 21 às 17h30, com Fábio e com
Bolsonaro, e que, chegando lá – isto também é importante –
estava dona Lígia. Mais tarde, chegou uma pessoa que lhe
foi apresentada como “Xerife”. Aqui, excelências, eu chamo
atenção para isto: “Xerife”. E ela não sabia o nome do
capitão Fábio, era “Xerife”. Tanto é fato, que as publicações
dos jornais saíram, realmente, como “Xerife”. Tanto que,
quando ele procurou o Comando, ele disse: “mas o xerife da
turma sou eu”. Foi assim que ele procurou [o Comando].
Tem alguma coisa mesmo, pois Xerife sou eu; ele disse ao
seu comandante, que ele era o “Xerife” da turma. Mas já
naquela mente formada de se fazer o que fizeram “Xerife”
então era o homem que estava conduzindo os planos
terroristas. Então veja: no dia 21, ela é apresentada ao
Fábio pelo nome de “Xerife” e não sabia o nome de Fábio.
Peço a vossas excelências que guardem este detalhe. Às
folhas 333, ela já depõe no processo do Bolsonaro dizendo
que o seguinte “Que nesse dia, ela havia marcado um
encontro com o capitão Bolsonaro nas Casas Sendas, às 18
horas. Mas, como chegara mais cedo, resolveu ir à cada de
dona Lígia. Chegando lá, mais tarde, chegou Fábio e, mais
lá pelas 18 horas, chegou o capitão Bolsonaro”. Então,
vejam excelências, no depoimento de Fábio, ela teria ido
encontrá-lo na casa de Fábio. No depoimento de Bolsonaro,
ela teria ido às Casas Sendas. Então, eu pergunto: se ela
marcou com Bolsonaro nas Casas Sendas, o que etária ela
fazendo às 17h30 na casa de Fábio e, o que estaria
Bolsonaro fazendo na casa de Fábio às 18 horas, se ele
tinha um encontro marcado com ela nas Casas Sendas?
Depois, ela continua seu depoimento e não fala mais sobre
o que iria tratar com Bolsonaro nas Casas Sendas, não diz
mais nenhum assunto do que seria tratado e passa a
continuar depondo. Ela disse que na casa de Fábio, ela
teria recebido uma carta do capitão Sadon e que, depois,
saiu com dona Lígia para poder tirar Xerox desta carta.
Acontece que no dia em que el foi, no dia 21, o capitão
Fábio e o capitão Bolsonaro, como declararam, tinham
deixado mais cedo a EsAO, porque estava na véspera de
prova; eles estudavam juntos, tanto que declararam que
neste dia – ou pode ser no dia 21 ou dia 22 -, ele realmente
foi à casa de Fábio, a respeito da prova que teria. Então,
naquele dia, eles se lembram que não tinham conhecimento
da carta; eles tiveram no dia seguinte. E esta carta do
capitão Sadon foi fartamente distribuída na EsAO naquele
dia. Naquela tarde já tinha sido distribuída esta carta na
EsAO. Então ela diz que tinha saído com dona Lígia - e que
o motorista também declara, eu vou mostrar a vossas
excelências -, que teria pego (sic) dona Lígia e Cássia na
porta do prédio. O motorista declara que teria levado uma
senhora e a Cássia até na [Rua] Marechal Hermes. Então
lá, ela teria – o motorista vem declarar que tinha pego (sic)
uma senhora, aspecto normal, nós sabemos... (Aqui a
defensora é interrompida pelo presidente da corte, porque
já extrapolara o seu tempo em cinco minutos). Ela justifica:
“Eu pediria vossa excelência, como eu disse a vossa
excelência antes, não se trata de uma apelação. Eu pediria
que me deixasse realmente, o processo é longo, que me
desses mais uns minutos”. O presidente responde: “Vossa
Excelência tem mais cinco minutos”. Ela: “Eu agradeço a
Vossa Excelência”. Dando prosseguimento à defesa: Então
continua ele depondo, o motorista não reconhece Lígia,
como já dissera em depoimento anterior, mas, também, a
testemunha de folhas 301, que depôs no processo de
Fábio, Luiz Carlos Halgh declara que todas as quartas-
feiras, quando sua esposa dá aula no Salão Paroquial, ele
fica com suas crianças e, nesse dia, não viu nenhum
movimento estranho. Então vejam a diferença do
depoimento de Cássia. Mais adiante, ela diz o seguinte:
“Que, quando ela recebeu a informação do Plano Beco sem
Saída, ela telefonou, à noite, para o tenente Jóseman para
confirmar o plano e que o tenente confirmou o plano”. O
tenente depõe às folhas 524 no processo de Bolsonaro,
mas não depõe no processo de Fábio. Ele desmente que
ela tivesse ligado pra ele, sobre qualquer assunto. E ainda
perguntaram pra ele se conhecia o plano Beco sem Saída e
se tinha sido chamado para dele participar. Ele nega que
conhecesse o plano e que alguém tivesse sequer falado
com ele [a respeito do plano]. Outra contradição
excelências: ela disse que fora à casa de Bolsonaro no dia
6/10, a convite dele para um churrasco. Nesse dia, ela
mesma comenta que chegou lá e o capitão não estava.
Soube que o capitão havia levado o tenente Jóseman no
ponto de ônibus. Ela sai atrás do capitão. O capitão, como
parece o ônibus estava demorando volta para sua casa com
o tenente Jóseman. Ela volta pra casa do capitão. Chega lá,
e logo em seguida chega o capitão Júlio convidando o
capitão Bolsonaro para um churrasco, que ele [Bolsonaro]
não sabia que tinha; ele ficou sabendo naquela hora do
convite. Foi feito ali, claramente. Então, o capitão estende
este convite a ela, que estava em sua casa. Então, ele nem
sabia de churrasco; o capitão Júlio declara que foi lá e o
convidou. Ela disse também – também não entendi porque
isso -, que este capitão, quando a viu, disse pra ela o
seguinte: “Ah, eu vou consultar os meus companheiros
sobre a sua visita aqui e volto”. Por que razão iria ele
consultar companheiros sobre uma visita na casa de um
colega? O capitão Júlio depõe às folhas 442 e nega,
sequer, que tivesse falado qualquer coisa com a Cássia. Eu
faço questão de mostrar excelências, essas contradições,
porque o depoimento [a decisão] ficou, realmente, nas
declarações de Cássia. Outra coisa: a Cássia trás para
depor vários funcionários da Veja. Tamanhas foram as
contradições, entre as dos funcionários e as declarações de
Cássia, que começaram então, às folhas 515, acareações.
E, nenhuma, manteve o depoimento de Cássia. Com
relação à conversa do dia 6, [ela] diz que estava junto com
o fotógrafo. Então, interrogado o fotógrafo Ricardo Shvaicer,
às folhas 322, ele diz que não ouviu a conversa porque
dormiu. Ele era um fotógrafo, estava em uma sala pequena,
deitou no sofá e dormiu. Então, excelências, ainda na
tentativa de trazer fatos contra o justificante, trás o
depoimento de folhas 43, que depõe às folhas 270, o
capitão Juarez Aparecido disse que numa conversa com
Bolsonaro, este teria lhe dito que ele já havia tomado a
decisão preliminar e que, depois, tomaria a decisão final,
dando a entender que não ficaria só num relatório de uma
declaração na imprensa. Então, isso ficou julgado no
processo como se fosse, realmente, uma acusação. Mas
ele depõe às folhas 270 e disse o seguinte: “Que o capitão
Bolsonaro quando disse que tomaria a decisão final, ele
estava dizendo que estaria deixando o Exército”.

O Conselho de Justificação, de acordo com a defesa


do capitão Bolsonaro, afirma que vários depoimentos
constavam dos autos apenas para tentar desmoralizar o
capitão Bolsonaro e que o Conselho, chegava a retificar
depoimentos da repórter Cássia Maria, para permitir que
dessem meios dele construir a acusação contra o capitão,
implicando-o em situação inverídica, como foi a acusação
que ele lhe fez de tê-la ameaçado de morte.

Então, vários depoimentos vieram aos autos, numa tentativa


de desmoralizar, realmente, o capitão [Bolsonaro]. Ocorre
que, em razão dessas arbitrariedades, pela primeira vez
que se permitiu um advogado - daí a Preliminar do
justificante - foi no dia 28 de dezembro, quando a repórter
Cássia aparece com advogado. E como ela depunha? Ela
depunha e quando não estava agradando ao Conselho, o
Conselho retificava o depoimento de Cássia. Originou então
uma contestação, de folhas 359, na qual o advogado do
justificante mostra todas as arbitrariedades cometidas e não
se tomou nenhuma [qualquer] providência com relação a
esta contestação juntada e feita pelo advogado. Está nas
folhas 359. Então, excelências, ele [Bolsonaro] é acusado
de não tomar providência com relação às acusações feitas
pelo jornal. O JB trás um artigo de uma entrevista dada por
Cássia dizendo que ele a havia ameaçado de morte numa
sala onde tinha vidros canelados. Então, o que então faz
Bolsonaro diante daquela notícia? Comunica o Conselho e
pede providência, conforme documento constante das
folhas 463, 464, 479 e 481. Ele pede providências. O
presidente do Conselho diz que não competia a ele e,
realmente, nega ao justificante de tomar providências contra
a aberração publicada pelo JB. Então, excelências, é o que
tem neste processo.

Sobre arbitrariedades impostas pelo Conselho de


Justificação...

Agora vejam a arbitrariedade que se cometeu: este rapaz


fez o curso da EsAO com brilhantismo e aqui, excelências,
estão todas as documentações e que comprovam [estou
terminando] que não permitiram que o capitão Bolsonaro
nem o Fábio recebessem o seu diploma no dia 4, foi
retirado da sala de solenidade, não permitiram que ele
ficasse sequer no almoço de confraternização – ele e o
Fábio -, e semana passada, quando já estava marcado o
julgamento do Fábio, o Comando da EsAO mandou jogar
debaixo da porta o diploma de Fábio e entregou à
empregada de Bolsonaro o diploma dele. Não quiseram
pagar os 80% correspondentes o curso da EsAO. Não
pagaram dezembro, janeiro e fevereiro; começaram a pagar
agora em março. São esses oficiais que pedem que
considerem o capitão Bolsonaro indigno do oficialato. Esses
que passaram por cima das leis, das normas e
regulamentos, para que chegassem a uma conclusão
absurda, como chegou o Conselho.

A defesa, ao encerrar sua manifestação, pede que o


Tribunal decida pela Justificação do capitão Bolsonaro.

Então, excelências, por que considerar, se um depoimento


único que o Conselho se baseou é da repórter Cássia?
Nenhuma outra prova, nem funcionários da Veja deram
guarida a este depoimento. Portanto, excelências, a defesa
espera que vossas excelências analisando, conforme eu
citei, principalmente o depoimento do general Almério
Ferreira Diniz, em que ele faz uma análise de todas as
provas dos autos, de todo o libelo, para concluir que, na
verdade, o Conselho não tem razão e que deve ser
considerado Justificado o capitão Bolsonaro, porque não
restou provado o libelo acusatório.

No dia 16 de junho de 1988, o julgamento do capitão


Jair Messias Bolsonaro, no STM, que teve início às 13h30,
às 17h30 horas passou a ser secreto e só terminou às
23h15, quando o presidente do Superior Tribunal Militar
mandou entrar a imprensa, e anunciou: “Estando em sessão
pública, vou declarar o resultado dessa sessão secreta: por
maioria de votos o capitão Bolsonaro foi julgado não
culpado”. Os ministros do STM decidiram, por nove votos a
quatro considerar o capitão Jair Bolsonaro “justificado”, o
que o livrou da ameaça de exoneração e perda da patente
de capitão. No dia anterior, o capitão Fábio Passos da Silva
também havia sido absolvido pelo Superior Tribunal Militar.
Os oito ministros que seguiram o voto do relator foram:
Ruy de Lima Pessoa, Antônio Carlos de Seixas
Telles, Roberto Andersen Cavalcanti, Paulo Cesar Cataldo,
Raphael de Azevedo Branco, Alzir Benjamin Chaloub,
George Belham da Mota e Aldo Fagundes (revisor). Quatro
votaram pela culpa e pela reforma do capitão: Antônio
Geraldo Peixoto, José Luiz Clerot, José Luiz Leal Ferreira e
Haroldo Erichsen da Fonseca.
O revisor do processo, ministro Aldo Fagundes
entendeu que o capitão Bolsonaro havia se deixado levar
pela vaidade e afirmou: “essa caminhada do anonimato à
notoriedade é muito difícil”. Mas ao fim, disse que isso era
“muito pouco” para afastar o militar do Exército.
Em contraponto ao revisor, o ministro civil, José Luiz
Clerot, considerou o capitão Bolsonaro culpado e afirmou
que estava em jogo naquele julgamento era a mentira do
réu, a quem atribuiu a autoria dos croquis.

(...) Nunca, nem antes de 64, se não me falha a memória,


um capitão teve a coragem de afrontar um chefe militar.
Naquela reportagem, esboço, como pode ser visto, foi
publicado mostrando a adutora do Guandu, que abastece a
água do Rio de Janeiro e o croqui de uma bomba junto à
tubulação. Será que esta jornalista, que está aqui presente,
é capaz dessa engenhosidade? O que está em jogo aqui é
a mentira do capitão Bolsonaro. Esta é que está sendo
examinada. É indiscutível que estes fatos ocorreram. Não
tem dúvida... (...)

O ministro George Belham da Mota, tenente-


brigadeiro, votou pela absolvição de Jair Bolsonaro e atacou
a revista Veja: “Essa revista não vale o que come! Essa
revista... Ela visa dar furo de reportagem e jogar um contra
os outros. Essa revista não é digna de respeito”.
O ministro general Alzir Benjamin Chaloub, que
também votou pela absolvição do capitão Bolsonaro, fez
severa crítica à proximidade do capitão Bolsonaro com a
repórter Cássia Maria, dito em trecho de seu voto:

(...) Ele mantinha relações, praticamente, ou contatos, seja


lá o que for com a criatura, que é pouco recomendável;
essa que é a verdade... E perigosa! É a mesma coisa que
você criar uma cascavel dentro de casa. Repórter, não é flor
que se cheire! (...)

Ao final do julgamento, o ministro-presidente do STM,


tenente-brigadeiro Antônio Geraldo Peixoto declarou o
resultado que, por maioria de votos, absolvia Bolsonaro.
De acordo com o Diário de Natal “o assessor de um
ministro do STM disse que a posição do STM demonstrava
uma atitude de independência. Em sua opinião, o tribunal
havia provado que se poderia discordar de um ministro”. O
assessor a quem o jornal entrevistou fazia referência à fala
do ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves,
que havia dito à imprensa que os dois capitães – Jair
Bolsonaro e Fábio Passos - “seriam expulsos da corporação
antes que o tribunal examinasse os processos”.
A decisão do Superior Tribunal Militar em declarar a
inocência dos capitães Jair Bolsonaro e Fábio Passos foi
uma derrota dupla para o ministro do Exército, já que seu
irmão, Eduardo Pires Gonçalves, era o procurador-geral da
Justiça Militar, além, é claro, de derrota para a revista Veja.
O processo envolvendo o capitão Bolsonaro e a revista
Veja, arquivado do Superior Tribunal Militar, é composto de
três volumes, com um total de 1.535 páginas.
No dia 15 de junho de 2018, o jornalista da Veja,
Gabriel Castro, publicou o artigo “Ex-colega quer dinheiro
para contar ação de Bolsonaro em plano de atentado”, onde
afirma que a revista localizou em Fortaleza (CE) o capitão
reformado Fábio Passos da Silva, que pediu um cachê de
R$ 250 mil para falar sobre a ideia de usar bombas para
pressionar o governo a ceder em negociações, tendo,
segundo o jornalista, afirmado que falaria sobre o que tinha
nos autos e o que ficou fora dele.
Castro também afirma que a mulher do capitão Fábio
Passos da Silva chegou a procurar o deputado Jair
Bolsonaro, um de seus filhos, Eduardo Bolsonaro e o
deputado Marco Feliciano para falar sobre o assunto,
pedindo dinheiro para vender o silêncio. Segundo a
reportagem, Jair Bolsonaro teria admitido que, de fato, a
esposa de Fábio o havia procurado e falado em dinheiro,
“mas assegura que encurtou a conversa porque notou que o
pedido cheirava a extorsão”.
Em 2019, o escritor Luiz Maklouf Carvalho publicou
pela editora Todavia o livro “O cadete e o capitão” que conta
a vida de Jair Bolsonaro no quartel, com destaque para o
seu julgamento no STM, que Carvalho define como tendo
sido uma combinação para que Bolsonaro não fosse
condenado em troca de sua saída do Exército.
Disse ainda o autor que os ministros do Superior
Tribunal Militar, ao invés de se apegarem às provas dos
autos preferiram atacar a imprensa, como se esta tivesse
sido a causadora de todos os problemas do capitão, agora
presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.
A história, um dia, dirá quem está com a verdade...
Um capitão na política fluminense
Somente quem tem a vocação da política terá certeza de
não desmoronar quando o mundo, do seu ponto de vista, for
demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para o que
ele deseja oferecer. Somente quem, frente a todas as
dificuldades, pode dizer "Apesar de tudo!" tem a vocação
para a política.
(Max Weber [1864-1920] intelectual, jurista e economista alemão)

Embalado pela repercussão


havida de sua atitude em defesa
dos salários dos militares, o
capitão Jair Bolsonaro decidiu, logo
depois de ter sido absolvido pelo
Superior Tribunal Militar (STM),
entrar para a política, primeiro
concorrente ao cargo de vereador
da Cidade do Rio de Janeiro, com
o objetivo claro de continuar sua
luta pela categoria militar.
Para tanto, Bolsonaro
procurou o tesoureiro do Partido
Democrata Cristão (PDC), Jacinto
Meneses, a quem descreveu sua
intenção de concorrer a um cargo eletivo pelo partido.
“Quero servir à Pátria. Caso eleito, serei o que sou, hoje em
dia, dentro dessa farda”, foi essa a justificativa de Bolsonaro
para sua entrada na política partidária.
Jair Nogueira, que era tenente-coronel da Reserva e
secretário do PDC, disse em entrevista ao Jornal do Brasil,
que quatro outros partidos disputaram a candidatura do
capitão Bolsonaro e citou que um desses partidos era o
PFL, que chegou a lhe oferecer todo o material de
campanha, mas que Bolsonaro preferiu ficar com o PDC e
fazer uma campanha “ombro a ombro”.
De acordo com Nogueira, o capitão Bolsonaro
pretendia atuar com dois slogans: Brasil acima de tudo11 e
Salvem o Rio. Ele via a candidatura de Jair Bolsonaro pela
legenda como demonstração de seu alinhamento com a
ideologia de centro-direita pregada pelo partido e via nele
um ferrenho combatente da corrupção e defensor da
moralidade pública.
Este relato foi publicado pelo Jornal do Brasil, do dia
30 de julho de 1988, não havendo ainda qualquer
manifestação direta feita pelo capitão Jair Bolsonaro, porque
ele ainda estava na Ativa – servindo na Diretoria de
Formação e Aperfeiçoamento do Exército - e, como todo
militar, não tinha liberdade para expressar sobre assuntos
políticos e ele já havia dado muita “canelada” por conta
disso e aprendera que era melhor aguardar a hora propícia,
que haveria de chegar, se seu projeto político desse certo.
O presidente do Diretório do PDC do Rio de Janeiro,
Jorge Coelho de Sá - coronel-médico da Reserva do
Exército -, surpreso ao saber quem era a mais nova
aquisição para os quadros do partido, afirmou:
- Ah, é ele? [em referência à reportagem de Veja que
colocava Bolsonaro como parte da Operação Beco sem
Saída]. Quero dar um abraço nele por isso. Acho que ele vai
ter muito apoio entre os grupos jovens do Exército. O
capitão me parece ser uma figura forte.
No dia anterior à publicação do Jornal do Brasil, o
serviço de Inteligência do Exército registrava o seguinte:

29 jul. 88: Telex – Está lançando a sua candidatura à


Câmara Municipal do Rio de Janeiro/RJ, pelo PDC,
aliando-se ao tenente-coronel de Infantaria Joaquim
Laudier Monteiro. Sua base eleitoral seria o público

11 Em 1975, em visita ao Fort Bragg (casa dos “Special Forces”


americanos) o então coronel Acrísio, comandante do 26.º BIPqdt prestou
atenção na saudação entre os militares “Air Born”, resposta “All the way”.
Ao retornar, adotou “BRASIL + ACIMA DE TUDO” em sua unidade. Em
1985, ao assumir o Comando da Brigada de Infantaria Paraquedista –
onde o cap. Jair Bolsonaro servia -, o general Acrísio Figueira oficializou o
que já vinha acontecendo e determinou que passasse a ser o brado
definitivo da tropa aeroterrestre do Exército Brasileiro, o que permanece
até os dias atuais. (MONTENEGRO, Fernando (coronel). Extra. 23 out.
2018).
interno descontente com os vencimentos.
(Prontuário Confidencial).

Jair Bolsonaro durante sua campanha para vereador do RJ Crédito:


O Globo

A partir do dia 6 de setembro de 1988, o capitão


Bolsonaro foi liberado pelo Exército para que fizesse sua
campanha eleitoral (Número 17.681), não tendo sido,
entretanto, permitido a ele que fizesse isso na Vila Militar, o
que não era também permitido a qualquer outro candidato
civil ou militar. Mas isso não preocupava Bolsonaro “Todo
militar sabe que sou militar e sabem também que sou
candidato e quem eu sou e, com isto, saberão influenciar
suas famílias”.
Entretanto, no dia 29 de setembro – Dia de São Miguel
Arcanjo, padroeiro dos paraquedistas -, Bolsonaro participou
da missa campal realizada na área de estágio do Comando
da Brigada Militar, embora não tenha ficado para os festejos
que aconteceram depois da missa, porque o chefe do
Comando-Maior da Brigada, coronel Pacheco, pediu a ele
que não participasse das comemorações para não
configurar suas conversas com colegas de Arma como
sendo campanha eleitoral.
Não era uma campanha nada fácil e Bolsonaro teve
que driblar muitas barreiras para falar de seus projetos com
o eleitorado. Um núcleo dentro do Exército se opunha à sua
candidatura, por causa de sua atuação pregressa,
considerada agressiva, em favor de melhores salários.
Ele teve que conviver com vigilância 24 horas por dia,
feita por homens do serviço de inteligência do Exército, para
impedir que militares se aproximassem dele para apoiá-lo. E
vários relatórios da Inteligência do Exército, sobre os
movimentos do capitão Bolsonaro foram transcritos para seu
Prontuário Confidencial, feito em 1990, a pedido do ministro
do Estado-Maior das Forças Armadas, general Jonas de
Morais Correia Neto, como os exemplos a seguir:
16 set. 88: Informe (A-1) – Vem desenvolvendo sua
campanha a vereador pelo PDC. Visita frequentemente QM
da Vila Militar, onde mantém contatos...
Em sua campanha, tenta aliciar cabos eleitorais de outros
candidatos de seu partido. O PDC avalia que será eleito
com 30.000 votos, obtidos junto a militares, funcionários
civis e elementos de outras forças.
Realizou em 24 set. 88, panfletagem em frente à ES
abordando praças. Tem sido visto nos bares da Rua dos
Abacates, em Deodoro, na companhia de militares.
Residindo no conjunto residencial da ESAO, causa
repercussão negativa o fato de o nominado trajar camisetas
com sua propaganda eleitoral, bem como colocar adesivos
alusivos à candidatura a vereador, com o número de
inscrição e os dizeres: “a crise é de homens”.

Mas, para Jair Bolsonaro, já havia passado da hora


dos militares ocuparem espaço na política brasileira, para
ter quem lutasse por seus direitos e, principalmente, por
salários mais dignos para a tropa. Ele comparava esta
mudança necessária de paradigma ao que haviam feito os
metalúrgicos do ABC, que deixaram de fazer greves para
fazer política.
Para Jair Bolsonaro, Lula teria sido “importante para
solucionar os problemas enfrentados pelas comunidades do
ABC e também para reduzir a incidência de greves na
região industrial da Grande São Paulo”.
O resultado das eleições trouxe a Bolsonaro a
sonhada vitória, embora no início, tenha gerado
preocupação e, para a imprensa, parecia até perdida, como
publicou O Globo, depois de apuradas as primeiras urnas da
Vila Militar:
O capitão paraquedista do Exército Jair Messias Bolsonaro
parece estar às vésperas de uma grande desilusão.
Candidato a vereador pelo PDC, ele contava com o apoio
maciço de seus colegas da Vila Militar e alimentava
esperanças de ser o ‘puxador de votos’ do partido. Mas as
duas primeiras urnas abertas na 23ª Zona Eleitoral
(Magalhães Bastos), onde há muitos eleitores da Vila, lhe
deram apenas sete votos. (Fonte: O Globo 17 nov. 1988).

Mas ao contrário da votação inicial, Jair Bolsonaro


recebeu números expressivos de votos em áreas onde
havia concentração de famílias de militares, como na 15.ª
Zona Eleitoral, instalada na Escola Municipal Rosa da
Fonseca, que cobria a região de Marechal Hermes, onde
obteve boa votação, embora apenas a metade dos dois mil
eleitores tenha comparecido. Depois de votar, o capitão Jair
Bolsonaro passou o resto do dia “visitando e fiscalizando” as
seções eleitorais instaladas em Bento Ribeiro, Marechal
Hermes e na Vila Militar.
Embora o silêncio fosse uma regra entre os militares e
seus familiares, vigiados de perto pela Polícia do Exército, o
Jornal do Brasil atribuiu a um capitão, não identificado, a
seguinte observação a respeito da candidatura de
Bolsonaro: “Ele tem voto de soldado a general. Sabe por
quê? Porque ele fala o que todos nós pensamos e não
podemos falar”.
No dia seguinte à eleição, o capitão Jair Bolsonaro
teve de voltar ao serviço, por imposição da Diretoria de
Formação e Aperfeiçoamento do Exército, que negou a ele
o pedido de extensão da licença por mais três dias para que
pudesse acompanhar de perto a apuração [manual] dos
votos.
Pela legislação vigente, caso Bolsonaro fosse eleito,
ato contínuo à sua diplomação, ele deveria passar para a
Reserva Remunerada e caso perdesse a eleição, o Exército
decidiria sobre seu destino.
Embora Bolsonaro tenha ficado a princípio, apreensivo
em relação ao resultado da eleição, principalmente por
conta das perseguições que sofreu durante a campanha,
por parte da “comunidade de informações do Exército” - que
teria trabalhado a serviço de alguns setores da Arma -, sua
vitória foi incontestável, tendo sido o vereador eleito com a
16.ª maior votação do Rio de Janeiro.
“Fiz uma campanha gastando muito pouco, sem uma
equipe estruturada e usei uma motocicleta, na qual andei
mais de quatro mil quilômetros para conversar com meu
eleitorado. Com a moto foi mais rápido e com menor gasto”,
afirmou o vereador recém-eleito, aos questionamentos da
imprensa sobre como teria conseguido fazer uma campanha
vitoriosa gastando pouco.
Respaldado pela expressiva soma de 11.062 votos, o
capitão Jair Bolsonaro liderou a votação do pequeno PDC –
Partido Democrata Cristão, fundado em 1985. Para ele “foi
uma votação esperada e de um eleitorado consciente”.
Pela sua vitória, Jair Bolsonaro recebeu felicitações do
ex-presidente da República, João Baptista Figueiredo,
através de um amigo comum e telegrama do general
Newton Cruz: “Felicito prezado amigo brilhante eleição.
Espero vê-lo continuar mesma luta com outras armas.
Abraços”.
Sobre a escolha da legenda para concorrer, Bolsonaro
explicou que o PDC foi o partido que fez a ele menor
exigência – somente 20% dos cargos de confiança -
enquanto o PMDB e o PFL, partidos que ele também havia
tido conversas, exigiam muito mais.
- É um absurdo que no Brasil quem escolhe os
candidatos é o partido e não os eleitores. Daí, o fato de
termos tanta carência de políticos decentes, criticou
Bolsonaro ao fato dos partidos designarem seus candidatos
a partir de critérios pouco transparentes e com prévias
exigências.
Com relação à sua futura atuação na Câmara dos
Vereadores, Jair Bolsonaro fez questão de estabelecer a
sua independência de ação em futuras votações de projetos
legislativos, indiferente ao que recomendaria o PDS:
- Não me submeterei a exigências doutrinárias do
partido, em relação ao voto que darei em projetos da
Câmara dos Vereadores. O critério será a minha
consciência; eu serei dono de mim, afirmou o vereador-
eleito Jair Bolsonaro.
Para ele, o maior prêmio que havia ganhado, com sua
eleição a vereador do Rio de Janeiro, era a liberdade de
poder expressar o que pensava, sem estar sujeito ao
patrulhamento ideológico, quando na Ativa, por conta da
rigidez das regras disciplinares das Forças Armadas.
- Fui submetido ao julgamento das urnas e fui
aprovado. Não gosto da ideia de deixar o Exército, mas,
pelo menos, estou ganhando liberdade para expressar o
que penso. Este foi o maior prêmio com a minha vitória na
eleição.
E Bolsonaro planejava levar essa sua disposição de
luta para ajudar a reorganizar o Legislativo fluminense. Um
de seus maiores anseios era contribuir para a moralização
da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, conhecida, de
velha data, pelo empreguismo, mordomias e funcionários
fantasmas.
Uma das primeiras bandeiras levantadas por Jair
Bolsonaro, como vereador eleito do Rio de Janeiro, era a
austeridade de gastos, já que o Estado do Rio de Janeiro
vivia enorme crise financeira e, para ele, todos deveriam
contribuir:
- Não tem cabimento, por exemplo, cada vereador ter
dezoito assessores parlamentares. Deveria ser reduzido à
metade e apresentarei de imediato, projeto neste sentido.
Temos que dar exemplo para termos autoridade moral no
trabalho que teremos que fazer para sanear as contas do
município.
Mas, ao contrário do que pensava Jair Bolsonaro,
seus colegas da Câmara dos Vereadores queriam era
aumentar o número de pessoal comissionado, passando
cada um a ter 35 assessores.
Mesmo antes de tomar posse como vereador, o que
aconteceria apenas em janeiro de 1989, o capitão Jair
Bolsonaro já tinha pretensões mais ousadas, o que incluía
se tornar um parlamentar federal:
- Imagina, por exemplo, criar uma lei que trate da
promoção de subtenentes e sargentos, cuja mobilidade na
carreira fica dependendo de “critérios subjetivos e nem
sempre é a competência e a habilitação que determina a
promoção. Outros fatores pesam como a influência e o
padrinho”, afirmou Bolsonaro em entrevista concedida ao
jornalista Luiz Carlos Maranhão, do Correio Braziliense,
publicada no dia 4 de dezembro de 1988.
Maranhão diz no artigo “Capitão rebelde aceita
solução das esquerdas”:

A afirmação não seria surpreendente se não partisse do


capitão do Exército, Jair Messias Bolsonaro, eleito vereador
pelo PDC depois de uma atribulada trajetória onde, entre
outras coisas, foi acusado de planejar uma operação
terrorista em quartéis do Rio em protesto contra os baixos
salários dos militares e que se autodefine como um político
de direita. Bolsonaro chegou a insinuar que poderia se
tornar um eleitor do presidente nacional do PDT coso sua
chapa fosse composta com o ex-presidente João
Figueiredo.

Na mesma reportagem, Maranhão cita que o recém-


eleito vereador do Rio de Janeiro, Jair Messias Bolsonaro,
disse que o julgamento a que foi submetido junto ao STM
havia sido “um desgaste muito grande e rendeu
aborrecimento” para a sua família. Mas ironizou o ministro
Leônidas Pires Gonçalves ao dizer que se manteve firme
em sua posição, inspirado por uma frase do mesmo: “Um
homem não deve ceder nunca quando sabe que está com a
razão”.
Sobre um eventual novo golpe militar, receio que vinha
sendo alimentado por partidos de esquerda, especialmente
comunistas, Bolsonaro disse a Maranhão:
- Não acredito em uma nova intervenção militar. Pelo
menos, por agora. Não acredito. Não há preparação visível.
E um golpe não acontece de uma hora para outra. Acho que
primeiro vamos ter um presidente eleito pelo voto popular.
Agora, se ele não resolver, poderemos ter surpresas.
Sobre os comunistas, o capitão fala num misto de
seriedade e ironia:
- Quanto a alegação dos partidos comunistas, antes
de atrapalhar consolida a democracia. Agora eles estão
expostos, sabemos quem são, e até tomam drinks na
Avenida Vieira Souto – avenida dos milionários em
Ipanema.
Embora Bolsonaro ainda estivesse na ativa [até 31 de
dezembro] ele não se omitiu em responder a algumas
perguntas feitas por Maranhão, como o que disse sobre o
resultado das eleições gerais:
- Acho que foi um voto consciente pela mudança.
Contra o status quo. A população entendeu que não estava
bom, e quis mudar. Não acho que foi apenas um voto de
protesto, de revolta. Vai esperar para ver o que acontece.
Mas o jornalista Luiz Carlos Maranhão vai tirando da
boca de Bolsonaro algumas revelações que em nada
combina com o que ele hoje prega, como se sempre tivesse
tido esta visão da política nacional. Por exemplo, para
Bolsonaro “a eleição de membros de partido comunista,
antes de atrapalhar, consolidava a democracia”. Para ele,
“Brizola podia até ser uma solução para o País”.
Em 1989, o vereador Bolsonaro foi escolhido por seus
pares para duas missões importantes na Câmara dos
Vereadores: foi relator do processo de cassação da
presidente da Casa, vereadora Regina Gordilho (PDT) e foi
o 2.º secretário da mesa que presidiu os trabalhos da Lei
Orgânica do Município.
No caso dos trabalhos da Lei Orgânica, de acordo
com o vereador Maurício Azedo (PDT), em entrevista ao
Jornal do Brasil, o critério utilizado para a distribuição dos
cargos da mesa que presidiria foi escolher “os melhores
homens”, entre os quais, o vereador Jair Bolsonaro.
- Foi uma questão de assepsia e de higiene.
Providência para evitar-se a promiscuidade entre os que
têm moral e os oportunistas da Câmara. Eles que façam a
chapa deles e nos enfrentem democraticamente no plenário.
No dia 3 de janeiro de 1989, Jair Bolsonaro se
envolveu em mais um atrito com seus (ex) superiores
militares. Ele havia sido intimado pelo Exército a deixar o
apartamento onde morava com a mulher Rogéria, que ficava
na área da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO),
na Vila Militar, até o dia 30 de dezembro de 1988, último dia
em que ele iria ficar na Ativa, mas não cumpriu o prazo
estipulado, tendo recebido a visita do fiscal de administração
da Escola, coronel Adilson Garcia do Amaral que,
acompanhado de doze soldados e um tenente, queria
consumar o despejo do capitão Jair Bolsonaro.
Depois de muita conversa, o fiscal de administração
da EsAO aceitou que a mudança ocorresse no dia seguinte
até 9 horas da manhã, pena de entrarem no apartamento e
colocarem tudo para fora, conforme explicou Bolsonaro à
imprensa. Contudo, mais uma vez, não foi possível a
mudança, por causa do falecimento de um motorista da
transportadora contratada para o serviço – Transportadora
Baby -, o que foi compreendido, não tendo havido a invasão
do domicílio, conforme prometido pelo coronel Amaral.
Em sua luta pela melhoria dos vencimentos dos
militares, Bolsonaro tinha expectativa, em abril de 1989, de
que um mandado de segurança impetrado por ele junto à
16.ª Vara Federal, garantisse o cumprimento do Decreto-Lei
n.º 2.380, de 9 de dezembro de 1987, que deveria
assegurar aos generais vencimentos iguais aos dos
ministros do Superior Tribunal Militar. Caso entrasse em
vigor tal dispositivo legal, o capitão Jair Bolsonaro receberia
um reajuste em seus vencimentos de 130%.
- Problemas de regulamentação da Lei e o
congelamento de preços e salários impediram que o
Decreto entrasse em vigor. A isonomia valeria para o resto
da tropa e até para o ministro do Exército, Leônidas Pires
Gonçalves, que ainda não foi beneficiado. Leônidas nunca
se preocupou com o bem-estar de sua tropa. Os chefes
militares sempre foram omissos, concluiu Bolsonaro.
Bolsonaro explicou que o decreto que tratava da
isonomia havia sido anulado, com a aprovação pelo
Congresso, em janeiro, de lei que concedia aumento de
vencimentos aos ministros do Supremo Tribunal Militar
(STM). A referida Lei deixara de se referir à isonomia,
deixando os generais sem o benefício e,
consequentemente, o restante da tropa que, determina, em
escala decrescente, os soldos de todas as patentes do
Exército.
Antes das eleições de 1989, o vereador Jair Bolsonaro
entregou a todos os candidatos à Presidência da República
um documento em que buscava o comprometimento destes
a uma pauta reivindicatória dos militares, a qual continha 17
itens, que iam desde a atualização dos benefícios dos
pensionistas dos militares até a passagem do controle das
verbas dos fundos do Exército, Marinha e Aeronáutica, para
o Tribunal de Contas da União (TCU).
Além de enviar tal documento aos candidatos à
Presidência da República, Bolsonaro também providenciou
o envio de 15 mil cópias para os quartéis, para serem lidos
pelos militares da Ativa.
No mesmo dia em que recebeu o documento, o
candidato do Partido Liberal (PL) de São Paulo, Guilherme
Afif Domingos devolveu a Jair Bolsonaro o documento,
tendo escrito, à mão, na margem do documento:
- Estou de acordo com os itens acima enumerados,
comprometendo-me a debater com as classes militares
sobre seus interesses essenciais e defendê-los no exercício
do meu governo, uma vez eleito pela vontade absoluta do
povo brasileiro.
Naquele ano, a direita militar tomou posição e aderiu à
candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência da
República, depois dele ter se comprometido a melhorar o
salário dos militares. Entre os adesistas estava o vereador
Jair Bolsonaro, que assim justificou tal atitude:
- Creio que 60% dos oficiais, suboficiais e sargentos,
com quem tenho conversado, vão votar em Fernando Collor
de Mello, pela perspectiva de mudança que ele representa.
No pouco tempo em que esteve na vereança
fluminense, Bolsonaro apresentou uma atuação discreta,
mas sempre em defesa dos interesses dos militares, em
todas as frentes de luta. Por exemplo, quando em abril de
1989, ele entrou com um Mandado de Segurança na 16.ª
Vara Federal para tentar assegurar o cumprimento do
Decreto-Lei n.º 2.380, que equiparava os salários dos
generais aos dos ministros do Superior Tribunal Militar.
No dia 17 de setembro de 1989 era fundada a
Federação das Associações de Militares da Reserva
Remunerada (Famir), tendo sido eleito vice-presidente, o
combativo capitão e vereador Jair Bolsonaro.
Quando o Exército decidiu fazer pagamentos ao seu
pessoal somente na Caixa e no Banco do Brasil, lá estava o
vereador Jair Bolsonaro protestando, como leitor do jornal O
Fluminense, do dia 17 de novembro de 1989:
Causa-nos estranheza o tratamento desigual aplicado aos
servidores civis, militares e pensionistas do Ministério do
Exército que só podem receber seus pagamentos mensais,
por crédito em conta, através das agências do Bando Brasil
S.A ou da Caixa Econômica Federal, enquanto os demais
servidores da Marinha e Aeronáutica podem optar por
outras redes bancárias quaisquer.
Com o atual sistema estão sendo penalizados, tanto os
usuários não vinculados ao Ministério do Exército, como os
servidores e pensionistas que são obrigados, nos dias
previstos para o pagamento, a tomarem de véspera seus
lugares em cansativas e intermináveis filas como, por
exemplo, ocorre nas agências da Vila Militar – Rio/RJ.
Considerando-se que vivemos em um estado democrático,
por questão de justiça e imparcialidade, preceitos que são
da ética militar, mais uma vez pugno pelo direito de que seja
estendida aos servidores civis, militares e pensionistas do
Exército a opção da escolha da rede bancária para
recebimento de remuneração mensal a que fazem jus.
Afinal, no momento em que o Brasil mais necessita de
trabalho, não se pode dar o luxo de servidores civis
perderem um dia de trabalho por mês, em filas, para
receberem seus salários.
Cap. R/I. Vereador Jair Bolsonaro - Câmara Municipal do
Rio de Janeiro - RJ

De acordo com a jornalista Roberta Jansen, que


escreveu para o Estadão, de 26 de novembro de 2017, o
artigo “Como vereador, Bolsonaro apresentou projeto de
transporte gratuito para militares”, durante o ano de 1989 o
vereador Jair Bolsonaro apresentou sete projetos de lei na
Câmara Municipal do Rio de Janeiro, entre os quais,
destacavam-se dois: um que concedia gratuidade para o
transporte de militares em ônibus urbanos e o outro, que
“regulava o acompanhamento de doentes terminais e idosos
por familiares na rede municipal hospitalar”.
Jansen afirma ainda que o ano de 1989 foi tranquilo
para Bolsonaro, que fez poucos discursos e poucas
indicações na Casa, mas que o ano de 1990 ele não
produziu qualquer projeto de lei no legislativo fluminense,
porque estava totalmente envolvido com o seu projeto de se
tornar deputado federal.
O sempre combativo jornal Tribuna da Imprensa, no
dia 16 de janeiro de 1990, abriu espaço para o vereador Jair
Bolsonaro divulgar uma carta protestando contra o aumento
aprovado para o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)
e também falar, de forma clara e corajosa, sobre o real
papel do vereador, que via ser distorcido por interesses
menores.
Senhor redator,
A população fica perplexa quando, de presente de Natal, vê
sua Câmara de Vereadores aprovar por 34 votos favoráveis,
quatro abstenções (ou omissões) e apenas quatro votos
contrário, a mensagem n.º 376/89 do Sr. Prefeito Marcello
Alencar, que reajustou em até 84%, acima da inflação, o
imposto predial e territorial urbano – IPTU.
A reação é imediata – “levaram dinheiro”, “são todos
corruptos”, “se venderam”, etc. A história não é bem esta. O
motivo real, tenho certeza, é desconhecido de quase todos.
O homem chegando à vida pública (existem exceções) sai
do anonimato, começa a influir nos destinos do município, a
falar e a ser ouvido. Para seu ego, tal situação passa a ser
muito importante e a preocupação de, no futuro, continuar
vereador, é primordial.
Mas como se diz que é bem mais fácil conseguir o primeiro
mandato que o segundo, este homem público tem que
mostrar serviço. Infelizmente, muitos não sabem qual é a
verdadeira função de um vereador. Sua atribuição básica é
legislar (fazer leis); votar os projetos de lei provenientes do
Executivo; fiscalizar seus atos, assim como é claro, zelar
pelos justos interesses de seus munícipes.
A população reclama do vereador – “ele não asfalta ou
ilumina minha rua”; “não drena o valão do meu bairro”, “não
instala meu telefone”, “não me arranja emprego”, etc. Desta
maneira o edil tem seu eleitorado reclamando cada vez
mais e vê seus votos minguando para o próximo pleito.
Por sua vez, o Executivo, tendo herdado dívidas e excesso
de funcionários do governo anterior, está em situação
crítica. Não pode demitir facilmente, pois a legislação
trabalhista favorece justamente o servidor ativo (que
realmente trabalha), mas, injustamente, também o
"apadrinhado" e o “fantasma”. O primeiro é aquele que vai
ao serviço, mas, por absoluta incompetência, não produz, e
o segundo é aquele que só vai, no dia do pagamento, para
receber.
À beira da insolvência, num misto de incompetência
administrativa e tibieza, o Sr. Prefeito envia, às vésperas do
Natal, uma mensagem para a Câmara Municipal endossar.
Uma mensagem de um “papai noel” todo vermelho de falta
de vergonha, padrasto não só para todos os proprietários
de imóveis do município, como também para todos os já
sofridos inquilinos, que pagam, na realidade, o imposto –
aumento real do IPTU.
O Executivo (prefeito) e o Legislativo (alguns vereadores)
veem a possibilidade de terem seus problemas resolvidos.
O primeiro consegue aumentar as receitas às custas de um
verdadeiro assalto aos proprietários de imóveis,
principalmente para os da zona sul, como que, se os que lá
residem fossem “marajás”. Esquecem-se dos pensionistas,
dos aposentados, dos inativos em geral, que, com seus
irrisórios proventos são expulsos deste seu antigo habitat,
que na plenitude de sua juventude, tanto lutaram para
conseguir, mantendo igualmente alto os índices da zona
norte e oeste. Enfim, a injustiça é basicamente cometida
contra todos. Os segundos (repito, alguns vereadores)
aprovaram a Mensagem do Executivo por motivos outros
que não condizem para com o engrandecimento de nosso
Município.
A verdade, de forma simples e objetiva, é esta. A população
deve se conscientizar e não “pedir” para o legislador
resolver seus problemas materiais, pois tal atribuição é de
competência exclusiva do Executivo, e o vereador, por sua
vez deve ser coerente e saber que tem sob a sua
responsabilidade todo o município, e não apenas uma
comunidade ou uma área de pobre gente, rica em votos.
Mais importante para aquele que quer servir e ama seu
município é, atualmente, sua ressureição, a reeleição deve
ser algo natural, espontânea, que advém do trabalho
consciente da Câmara como um todo.
Jair Messias Bolsonaro
Rio de Janeiro - RJ

No dia 21 de janeiro de 1990, o Jornal do Commercio


trazia na coluna “Confidencial”, do jornalista Aziz Ahmed, a
notícia de que a Federação das Associações de Militares da
Reserva Remunerada (Famir), que tinha o vereador Jair
Bolsonaro, como vice-presidente, acabara de divulgar um
manifesto, no qual apoiava a ideia defendida por Collor de
Mello em sua campanha para a Presidência da República,
de criação do Ministério da Defesa.
E olha que, naquele mês, já era notícia na imprensa a
procura de Jair Bolsonaro por uma nova sigla partidária que
garantisse sua candidatura a deputado federal. De acordo
com o Diário do Pará, ele estaria negociando com o PRN –
Partido da Reconstrução Nacional. A pretensão de Jair
Bolsonaro era lícita e corajosa. Ele queria estar em Brasília
para passar a ser ouvido pelo Brasil e não apenas pelo Rio
de Janeiro.
Como deputado federal, suas reivindicações teriam
mais peso, embora ele não se detivesse nunca em razão da
restrição territorial e usava de todos os meios possíveis para
enfrentar a grave crise salarial do militares, como a carta
distribuída à imprensa e reproduzida pela coluna
Confidencial, do Jornal do Commercio, do dia 31 de janeiro
de 1990, que assinou na condição de vice-presidente da
Famir:
Quando se vive uma democracia sem autoridade, como a
que existe atualmente no Brasil, aqueles que primam pela
disciplina são os que mais sofrem. Estou longe de pregar ou
defender uma desobediência civil. Também não quero
criticar os funcionários do Banco Central, que recebem seus
salários por volta do dia 20 do mês referido, os da
Petrobrás, dia 24, assim como das demais estatais. Não
quero também criticar outras categorias de trabalhadores,
que já recebem quinzenalmente e já lutam para receber
semanalmente, pois, afinal, uma inflação de mais de 10%
semanais reflete negativamente no orçamento familiar.
Gostaria, sim, de solicitar um resposta do Sr. Ministro do
Exército: por que seus subordinados recebem apenas entre
os dias 3 e 5 do mês subsequente e o que ele tem,
efetivamente feito pelo homem militar, enquanto soldado e
chefe de família? É fácil comandar homens de boca calada!

Aliás, coragem sempre foi a qualidade impar do


deputado Jair Bolsonaro, quando foi preciso sair em defesa
da população do Rio de Janeiro, no curto prazo em que
exerceu a vereança, como atestou a leitora do jornal Tribuna
da Imprensa, Yolanda Vitterito, em carta publicada no dia 5
de janeiro de 1990, onde agradece ao vereador Jair
Bolsonaro e o parabeniza, “em nome da sacrificada
população do município do Rio de Janeiro” pela coragem
em ter votado contra o aumento do IPTU.
A imprensa carioca vivia entre tapas e beijos – mais
tapas do que beijos -, com o vereador Jair Bolsonaro,
sempre repisando em seu passado e tentando, por vezes,
desmerecer seu trabalho, como no artigo “Câmara do Rio
arma ‘cinto de segurança’”, onde o jornal fez uma série de
análises sobre artigos inseridos no projeto da Lei Orgânica
do Município do Rio de Janeiro, os quais seriam fruto do
corporativismo excessivo, dos membros da afamada Gaiola
de Ouro.
Não faltaram controvérsias e brigas na discussão do
projeto da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro,
tendo o vereador Jair Bolsonaro enfrentado muita oposição,
pois ele lutava contra o que boa parte de seus colegas de
vereança, pois estes queriam mesmo é aumentar seus
privilégios e atacavam a esquerda e outros vereadores,
ditos progressistas – incluindo-se aí o capitão-vereador
Bolsonaro - taxando-os de “esquerda festiva que mora em
Copacabana e toma whisky escocês”.
Bolsonaro chegou a ter uma de suas falas, a respeito
de tais episódios, publicada pela jornalista Luciana Nunes
Leal, do Jornal do Brasil. De acordo com ela, o vereador,
que fazia parte da mesa diretora dos trabalhos da Lei
Orgânica, teria afirmado que não levaria sua mulher para
assistir às votações na Câmara e também não aconselhava
que ninguém levasse.
A jornalista, que acompanhava na madrugada do dia
13 de março de 1990 a discussão e votação do capítulo da
Política Urbana, da Lei Orgânica, fez o seguinte relato,
ressalvando que fatos mais graves já haviam acontecido:
Faltavam alguns minutos para a 1 hora da manhã de ontem
quando o vereador Maurício Azêdo (PDT), irritado com o
discurso do colega Eliomar Coelho (PT) contra uma emenda
que o pedetista havia apresentado para a Lei Orgânica
Municipal, atirou-lhe uma lata de Diet Coke vazia. Pouco
tempo depois, foi a vez do livro “Maquiavel – a política e o
Estado”, de Antônio Gramsci, ser atirado por Azêdo, que
estava do lado direito do plenário, em direção ao mesmo
alvo, no lado esquerdo. O primeiro ataque não chegou a
atingir Eliomar e o segundo acabou passando de raspão
pelo vereador Chico Alencar (PT).

Um desses itens controversos inseridos no anteprojeto


da Lei Orgânica – o inciso 6 do art. 6 - o jornal deu a
entender que tal dispositivo seria obra de Jair Bolsonaro,
afirmando “O dispositivo tem nome próprio, pois o vereador
Jair Bolsonaro (PDC) é capitão do Exército, afastado da
caserna por imperativo da lei militar.
E o jornal cita o tal artigo: “em tempo de guerra, o
vereador-militar não poderá ser reincorporado às Forças
Armadas, a menos que a maioria do plenário entenda o
contrário”.
Pois bem, o vereador Jair Bolsonaro protestou contra
o jornal, que teve de publicar sua reclamação, no dia 9 de
fevereiro, na seção de Cartas dos leitores:
Senhor editor:
Em relação à matéria – Câmara do Rio arma “Cinto de
Segurança” - de 06/02/90, onde é citado de minha autoria o
inciso 6 do artigo 63 do anteprojeto da Lei Orgânica, onde
“Vereador Militar não poderá ser reincorporado às Forças
Armadas, a menos que a maioria do Plenário entenda o
contrário”, gostaria de tecer o seguinte comentário:
1.º - Não é de minha autoria tal emenda, tampouco fui
consultado sobre a mesma.
2.º - É redundante tal artigo, pois o mesmo já existe na
Constituição Federal, em seu artigo 53, parágrafo 6.º. Assim
sendo, apresentaremos emenda supressiva para o mesmo
na Lei Orgânica.
3.º - Como vereador, longe de querer o Brasil envolvido em
um conflito armado, não esperaria a Câmara Municipal se
reunir para decidir se devo ou não cumprir meu dever cívico
– dar a vida pela minha pátria se preciso for -, apresentar-
me-ia para assumir de imediato minha função de capitão
comandante da Bateria, pois tal função só tem a me honrar.
4.º - O Brasil sempre está acima de tudo, inclusive da
Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
5.º - Estou encaminhando cópia em anexo, supressão do
texto da Lei Orgânica.
(a) Vereador Jair Bolsonaro.
Nota da Redação: “O vereador Jair Bolsonaro não
entendeu corretamente a notícia publicada no Jornal do
Commercio. Nela não lhe é atribuída a autoria da emenda,
mas apenas a condição de beneficiário direto dela”. E o
editor do JC ainda assinalou em sua nota de rodapé que
“Como sua carta contém informações complementares,
julgamos oportuno publicá-la, não como um desmentido,
mas como notícia”.
O grande problema provocado por este tipo de
atuação da imprensa é em relação à pessoa que leu apenas
a crítica do jornal e não viu a resposta ou o jornal,
simplesmente, ignora e não publica a contradita, achar que
o jornal está correto. Fica valendo a mentira ou, como
sugerido pelo editor, neste caso, o mal entendido. Acontece
que a imprensa sempre plantou “maus entendidos”, na
tentativa de prejudicar a carreira do capitão Jair Bolsonaro.
A quem interessa este estilo de parte da imprensa
nacional?
Ainda em março de 1990, surgia outra polêmica na
Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, que iria render
muita notícia e discussão. É que a Mesa Diretora da
Câmara havia feito a compra de 42 opalas novos para uso
dos vereadores. Alguns não aceitaram a iniciativa e, entre
estes, estava o vereador Jair Bolsonaro, que usava sua
moto para ir às reuniões legislativas:
- No meu caso, o carro é dispensável e eu não aceito
enquanto a Câmara continuar desmoralizada. Como sou
uma pessoa normal, não tenho coragem de andar de carro
preto pelas ruas. O vereador [do Rio de Janeiro] é visto pela
população como corrupto, como persona non grata.
Mas o vereador Jair Bolsonaro procurava cumprir com
suas obrigações no legislativo carioca, embora todos os
percalços e, em todas as empreitadas, procurou representar
condignamente os seus eleitores.
O capitão-vereador Jair Bolsonaro foi um dos cinco
que não assinaram a Lei Orgânica Municipal – embora ele
tenha sido o segundo secretário da Mesa – por discordar de
diversos artigos incluídos na mesma.
Além de seu trabalho na Câmara Municipal, Bolsonaro
não se desligava de sua missão em favor da tropa. Por
exemplo, na última semana de junho de 1990, o vereador
ajuizou um mandato de Injunção junto ao Supremo Tribunal
Federal exigindo equiparação de salário de ministro de
Estado (que é referência para qualquer funcionário público)
ao dos deputados e senadores. Isto representaria um
aumento de mais de 90% nos vencimentos militares.
Neste Mandado de Injunção, Bolsonaro argumentava
que a Constituição Federal de 1988 havia estabelecido o
princípio da harmonia entre os Poderes e que isto deveria
ser traduzido também em questões remuneratórias. Alegava
ter havido omissão por parte do presidente da República,
Fernando Collor de Mello, que não regulamentou a
equiparação dos vencimentos dos parlamentares com os
dos ministros de Estado, que, por consequência, aumentaria
o salário dos almirantes-de-esquadra – último posto da
carreira militar – e, em sequência, dos postos subsequentes.
Ainda em sua arguição ao Supremo Tribunal Federal,
Bolsonaro alegava que o presidente da Câmara dos
Deputados também se omitiu de suas responsabilidades, ao
não colocar em discussão e votação o projeto do senador
Jarbas Passarinho, que estabelecia esta equiparação
salarial e que já havia sido aprovado pelo Senado Federal.
Bolsonaro também enviou telegrama ao presidente da
República, Fernando Collor, protestando contra o não
reajuste dos funcionários públicos e também em resposta à
entrevista concedida pela ministra da Economia, Zélia
Cardoso de Mello, onde ele, entre outras coisas, afirma:
(...) Um verdadeiro chefe não pode vangloriar-se com a
vitória em uma batalha, se o pretenso êxito foi obtido à
custa do sacrifício desnecessário de seus soldados. Em
verdade, a vitória em que se traduz a eliminação do déficit
público perde toda a sua validade se conseguida em função
do achatamento salarial dos servidores. Ao que parece, V.
Excia, alçado à condição de comandante Supremo das
Forças Armadas por disposição constitucional, desconhece
tal princípio imprescindível para o exercício pleno da nobre
missão de comandar. Mesmo porque, os salários devidos
aos seus soldados estão pagos em desacordo com a
Constituição à qual V. Excia jurou cumprir. A primeira
virtude que se exige para um chefe militar é a lealdade.

Bolsonaro também afirma em sua mensagem ao


presidente da República que seria uma “afronta descabida e
inaceitável” da ministra da Economia dizer que somente em
janeiro de 1991 seria concedido o aumento salarial.
E entre uma ação e outra, entre uma trombada e
outra, o vereador Jair Bolsonaro ia pavimentando seu
caminho para alçar novos e mais altos voos.
De vereador a deputado federal
O fato mais fundamental sobre as ideias da esquerda
política é que elas não funcionam. Portanto, não devemos
ficar surpresos ao encontrar a esquerda concentrada nas
instituições onde as ideias não têm de trabalhar para
sobreviver.
(Thomas Sowell – filósofo, economista e escritor norte-americano)

Como planejado, Bolsonaro, se lançou candidato a


deputado federal, pelo Rio de Janeiro, pelo mesmo partido,
o PDC. Ele queria ampliar seu espaço na luta por um maior
reconhecimento dos militares. “Meu compromisso é, em
primeiro lugar com o Brasil e, em segundo lugar com a
classe militar”, declarou o vereador Jair Bolsonaro à
imprensa.
Entre as muitas coisas que precisava fazer em um
pretendido mandato federal, havia o compromisso de lutar
“pelo efetivo cumprimento do artigo 40 da Constituição
Federal” que previa o direito das viúvas de militares à
pensão integral, já que elas recebiam menos da metade do
que seus maridos recebiam quando estavam vivos.
Mas a briga por melhores salários para os militares da
ativa e a isonomia salarial com os civis já era pauta diária do
vereador Bolsonaro. Assim, durante a campanha eleitoral
para deputado federal, o clima entre ele e as autoridades
militares, principalmente com o Estado-Maior das Forças
Armadas, passou por um período de alta criticidade, com
acusações mútuas e ameaças.
O estopim da crise, estabelecida por melhores salários
dos militares, vinha do Plano Collor e o Estado-Maior das
Forças Armadas e os três ministros militares que, cumprindo
o que determina a Constituição, davam apoio “cego” às
decisões do presidente da República, embora não
pudessem, com isto, calar os insatisfeitos e levar
tranquilidade aos quartéis, pois o sofrimento era geral.
Entenda o imbróglio: a Lei n.º 8.030, de 12 de abril de
1990, aprovada junto com o Plano Collor – medidas de
reformas da economia e de estabilização da inflação -
instituía nova sistemática para reajuste de preços e salários
em geral, a partir de 15 de abril daquele ano, sendo que
para os salários o reajuste seria o mínimo, mas o que
excedesse a este percentual, por livre negociação, não
poderia ser repassado aos preços de mercadorias e
serviços.

Art. 3.° Aumentos salariais, além do reajuste mínimo a


que se refere o art. 2.°, poderão ser livremente
negociados entre as partes, mas não serão
considerados na deliberação do ajuste de preços, de
que trata o § 3.° do mesmo artigo.

Já o reajuste de preços seria o máximo permitido,


ficando de fora do cômputo a inflação dos três primeiros
meses do ano e, na fase pós-plano, a inflação foi fixada em
zero e deixava de ter reajustes mensais para bimensais.
Art. 2° O Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento
estabelecerá, em ato publicado no Diário Oficial da União:
I - no primeiro dia útil de cada mês, a partir do dia 1° de
maio de 1990, o percentual de reajuste máximo mensal dos
preços autorizados para as mercadorias e serviços em
geral.

Com isto, o Estado-Maior das Forças Armadas estava


trabalhando com um índice de reajuste de apenas 24%, o
que deixou os militares inconformados. Só como referência,
é importante dizer que a inflação acumulada do ano de 1989
foi de absurdos 1.782,90%.
Não havia, portanto, como falar em algo tão irrisório.12
- Se com esta história de livre negociação todo mundo
começar a ter aumento e os militares não, vou começar a
reclamar e quero ver quem vai me calar. Tem que ser muito
homem para vir aqui calar minha boca, desafiou o capitão
da Reserva Jair Bolsonaro, da tribuna da Câmara dos
Vereadores.
Mas Bolsonaro não ficou apenas na retórica; ele
enviou mensagem (telex) ao general Jonas de Morais
Correia Netto, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas,

12 Mesmo assim, a inflação acumulada no ano de 1990 foi de 1.476,56%.


protestando contra sua intenção de conceder apenas 24%
de reajuste para os militares das Forças Armadas,
reproduzido aqui em parte:
São inaceitáveis as declarações de V. Excia. à imprensa no
sentido de que a defasagem salarial que atinge os militares
é de apenas 24%, atribuindo as notícias sobre insatisfação
à exploração política e eleitoreira. No meio militar não há
apenas insatisfação, mas indignação pelo arrocho salarial.
Por isso, as autoridades não devem se prevalecer da
disciplina dos militares para subjugá-los.

Por seu turno, o general Correia Netto, enviou


mensagem ao vereador Jair Bolsonaro pedindo que ele
confirmasse o teor de seu telex e das declarações atribuídas
a ele pela imprensa, pelo que Bolsonaro emitiu imediata
resposta, que também a Tribuna da Imprensa deu
divulgação parcial:
Outrossim, reafirmo não ser verdadeira a informação de que
a defasagem dos servidores civis e militares da União ser
apenas de 24%. (...) Estou disposto a abrir mão da minha
imunidade, como renunciar ao meu mandato de vereador
para possível enquadramento disciplinar, não por V. Excia,
mas pelo Exmo. Ministro do Exército, que teria competência
para tal.

Diante do bate-bola com o Estado-Maior das Forças


Armadas e a sua candidatura à Câmara dos Deputados, o
vereador Jair Bolsonaro foi irônico ao comentar com a
imprensa: “Deste jeito eles querem me eleger. Não vou
precisar nem fazer campanha. Se eles continuarem
repercutindo dessa maneira as minhas atitudes, vai ser
ótimo”.
Mas a situação não era assim tão tranquila, devido o
Exército ser uma unidade coesa e seus membros
subordinados a um código disciplinar rígido e de obediência
à hierarquia. Portanto, alguns dissabores eram passíveis de
aplicação ao capitão Jair Bolsonaro, sem que ficasse
configurado algum tipo de agressão à sua imunidade
legislativa.
Por exemplo, ele foi impedido, no dia 8 de abril de
1990 - um domingo -, de ter acesso à Praia do Forte de
Imbuhy [ou Imbuí], uma praia privativa do Exército e que
estava sob a Jurisdição do 21.º Grupo de Artilharia de
Campanha. Esta praia é frequentada por pessoas
autorizadas pelo Exército, inclusive civis, depois de
passarem pelo pente fino do Exército. Ela fica em Niterói
(Jurujuba) entre os Fortes do Rio Branco e Imbuhy.
De acordo com o capitão Jair Bolsonaro, em
representação que fez ao Comando Militar do Leste e
endereçada ao general Ângelo Barata Filho, o primeiro-
tenente de Artilharia, Rogério de Amorim Gonçalves,13
alegando “ordens superiores”, impediu que ele e sua família
(mulher e três filhos) acessassem a Praia do Forte de Imbui,
que ele, assiduamente, frequentava.
Outro fato que foi considerado uma represália ao
capitão Bolsonaro, foi a detenção, no dia 3 de agosto de
1990, de um de seus cabos eleitorais, o sargento reformado
do Exército, Aldair César Crespo, que fazia panfletagem.
Ele distribuía, em filas do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal, de Deodoro, um boletim com
informações e reivindicações específicas da caserna e
também a transcrição de notícias que haviam sido
publicadas pela imprensa sobre o assunto salarial de
interesse dos militares.
Crespo contou que foi abordado por homens da
Polícia do Exército (PE), que determinaram a ele a
interrupção da distribuição dos boletins. Ele disse que foi a
um bar dar um telefonema para pedir instruções, quando foi
cercado por três homens da PE, tendo sido revistado,
amarrado pelos pulsos e levado em um camburão para a 1.ª
Divisão do Exército, onde ficou retido por quase duas horas,
tendo sido liberado depois de ser entrevistado por um
tenente-coronel.

13
Rogério de Amorim Gonçalves é um brilhante militar do Exército,
estando na Reserva Remunerada com a patente de coronel. Ele é
Graduado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas
Negras (1985); Mestrado em Curso de Altos Estudos Militares pela Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército (2005); Especialista em História
Militar em 2011 pela UNIRIO-RJ e Especialista em Política, Estratégia na
Alta Administração do Exército - ECEME – 2011. Atua na Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército (Rio de Janeiro), na Tutoria de
História e Geografia na Divisão de Preparação e Seleção.
De acordo com relatos do sargento Aldair César
Crespo, o tenente-coronel Braz lhe aplicou uma tremenda
reprimenda, enfatizando “para que ele nunca mais
distribuísse papéis na fila, pena de ser preso e processado,
pois aquilo era uma atividade completamente ilícita”.
E Bolsonaro não ficou calado diante disso:
- Não é certo que militares se comportem dessa forma.
É uma baixaria! Trata-se de abuso de autoridade e crime
eleitoral que impede o exercício democrático num ano de
eleições. A legislação eleitoral proíbe apenas carro de som
a menos de 500 metros dos quartéis, não folhetos
impressos.
Mas Bolsonaro não ficou somente nessa reclamação,
que foi difundida pela imprensa. No dia 7 de agosto, ele
compareceu ao Comando Militar do Leste (Palácio Duque
de Caxias) para pedir a instauração de um Inquérito Policial
Militar (IPM) para apurar os fatos, que ele considerava
criminosos.
Mas, apesar dos percalços, Bolsonaro tinha uma
missão a cumprir: lutar pela melhoria salarial dos militares.
Assim foi que no dia 5 de agosto de 1990, o Jornal do
Commercio circulava com mais uma entrevista com o
vereador e candidato a deputado federal, Jair Bolsonaro,
com o título “Bolsonaro: nosso Exército é de boias-frias” e
uma chamada na primeira página do diário carioca, coisa
incomum em se tratando do capitão Bolsonaro:
Temos um Exército de boias-frias: Se como capitão
paraquedista, o paulista Jair Bolsonaro já era irrequieto e
pouco reverente aos rigores dos regulamentos, imaginem
agora que tem um cargo eletivo – é vereador pelo PDC -, e
como será, se eleito deputado federal em outubro próximo.
Considerado um dos mais atuantes líderes do emergente
sindicalismo militar, pela sua intensa luta em favor de
melhores salários para a classe fardada, Bolsonaro acusou
o governo, em entrevista ao Jornal do Commércio, de estar
criando um “Exército de boias-frias”, ao referir-se ao
desligamento do pessoal temporário. Ele fez duras críticas
ao ex-ministro do Exército, general Leônidas Pires
Gonçalves, e disse que, se eleito, vai lutar pela qualidade
de vida dos militares.
Nesta entrevista, o capitão Jair Bolsonaro, falou
abertamente sobre diversos assuntos, como a defasagem e
a não isonomia salarial dos militares, sobre a decepção que
tinha em relação ao general Leônidas Pires Gonçalves,
sobre o apoio que ele recebia dos quartéis à sua
candidatura ao legislativo federal e sobre alguns de seus
projetos, se viesse a ganhar a vaga de deputado federal.
No dia seguinte, o jornal Tribuna da Imprensa
estampava a seguinte chamada de capa: “Bolsonaro prevê
reação em quartéis”. Este foi o título da reportagem, na qual
o vereador Jair Bolsonaro falava sobre o risco que via ante o
congelamento dos soldos militares, pelo governo Collor.
Ele alertou que o governo parecia querer “levar umas
chineladas” e criticou, nominalmente, o ministro do EMFA,
general Jonas Correia:
- O general Jonas Correia, chefe do EMFA, quer tornar-
se um “marajá”. Só falta o turbante na cabeça. Ele quer
melhorar os salários dos generais, porque daqui a pouco
estará aposentado. Só quer jogar para a plateia.
Bolsonaro também fez um alerta quanto à paciência dos
militares que, segundo ele, estaria chegando ao fim: “Nós
faremos de tudo para evitar reações mais fortes, só que a
paciência do pessoal está se esgotando”.
O advogado e ex-controlador de voo da Aeronáutica,
Heitor Vianna Posada Filho, comentou a entrevista de
Bolsonaro em carta enviada ao jornal:
Congratulações à Tribuna tendo em vista a excelente
reportagem com o capitão-vereador Jair Bolsonaro
publicada na edição de 7 de agosto de 1990. O vereador
Bolsonaro é, de fato, um lutador incansável, sendo um
grande exemplo de representante de classe. Passando à
frente de todas as entidades de servidores civis federais, o
vereador Bolsonaro impetrou Mandado de Injunção junto ao
STF, visando o cumprimento de dispositivos constitucionais
que consagram a isonomia salarial no setor público. Com
respeito, especificamente ao tópico militar, podemos
informar à opinião pública que um aspirante formado na
Aman sai ganhando a quantia total de 60 mil cruzeiros
mensais, enquanto nos demais Poderes, os salários
iniciam-se com 89 mil cruzeiros em atividade em nível de 2.º
grau. Os militares não reivindicam reajustes ou abonos,
reivindicam sim o equilíbrio salarial no setor público.
Ainda em agosto de 1990, Jair Bolsonaro comprava a
sua primeira briga com o Congresso Nacional. Ele postulava
que deputados e senadores deveriam ter não só os salários
diminuídos, mas que devolvessem parte do que haviam
ganhado, retroativo a 5 de outubro de 1988. Para tanto,
defendia o uso de uma Ação Popular, que deveria ser
impetrada a partir do recebimento das informações que
havia pedido à Câmara dos Deputados e ao Senado
Federal.
- A Constituição Federal proíbe que os membros do
Legislativo ganhem mais do que os ministros. Certamente o
Judiciário concederá Liminar para fazer cumprir o texto
constitucional.
Bolsonaro também distribuiu a todos os comandantes
de quartéis do Rio de Janeiro um ofício posicionando-os a
respeito do andamento, junto à Justiça, da questão salarial
que impactava a todos, mas que antes de ser eleito
deputado federal, achava que deveria restringir seu
comunicado aos comandantes locais e não faltou ironia para
titular o que chamou de “Operação Isonomia”. O documento
foi também divulgado pela coluna do jornalista Hélio
Fernandes, do jornal Tribuna da Imprensa, do dia 17 de
setembro de 1990.
A “Operação Isonomia” teve seu planejamento calcado em
duas hipóteses:
1. Elevação dos vencimentos dos ministros de Estado e,
consequentemente, repercussão na Tabela de
Escalonamento Vertical da Lei de Remuneração dos
Militares.
2. Redução dos vencimentos dos Congressistas aos limites
pagos aos ministros de Estado. Em qualquer das duas
hipóteses, estaria sendo cumprido o artigo 37, inciso XII, da
Constituição Federal.
Desenvolvimento da Operação: em 27 de março de 87,
Mandado de Segurança impetrado na 16.ª Vara Federal.
Consequência:
1. Emitido o parecer SR-96, de 29 de junho de 1989, da
Consultoria-Geral da República, pela concessão de apenas
13,5% tendo em vista o limite da remuneração dos ministros
de Estado. Do parecer, temos: “Quando o Congresso
despertar para o problema e corrigir a remuneração do
ministro de Estado...”.
2. Em 26 de junho de 1990: Mandado de Injunção com as
seguintes alternativas: a. Simples elevação da remuneração
dos ministros de Estado por ato administrativo; b. Medida
Provisória fixando a remuneração dos ministros de Estado;
c. Votação pela Câmara dos Deputados do Decreto
Legislativo n.º 47, que fixa a remuneração dos ministros de
Estado.
Consequência: Parecer da Procuradoria-Geral da República
pela desnecessidade do Mandado de Injunção por entender
que a Norma Constitucional referida é autoaplicável.
(dependeria apenas do presidente da República).
Em 2 de agosto de 1990, telex ao Excelentíssimo Senhor
procurador-geral da República solicitando arguição de
inconstitucionalidade por omissão.
Consequência: Não houve resposta. Nessas condições foi
afastada, provisoriamente, a primeira linha de ação e
adotada a segunda.
Em 12 de setembro de 1990, Ação Popular para reduzir os
vencimentos de senadores e deputados, em obediência ao
disposto no artigo 37, inciso XII, da Constituição Federal c/c
com o artigo 37 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. (Anexos).

A estratégia política-eleitoral de Bolsonaro seria


vitoriosa e ele, em sua primeira tentativa – candidatando-se
pela Aliança Liberal Trabalhista -, em outubro de 1990,
conseguiu conquistar a expressiva soma de 67.056 votos,
tendo sido o sexto deputado federal mais votado do Rio de
Janeiro.
Para ser eleito, Bolsonaro não teve de lançar mão de
métodos tradicionais de campanha, vista que fez pouca
panfletagem, teve pouco espaço no horário gratuito de rádio
e televisão e os gastos foram parcos, mas ele contava com
o apoio e a força da família militar para impulsionar sua
candidatura.
De acordo com o Jornal do Commercio, “o mapa de
apuração mostrou que os votos [maioria] dados ao capitão
vieram da Vila Militar e das zonas eleitorais de Resende,
onde se situa a Academia Militar das Agulhas Negras”.
A votação expressiva obtida por Bolsonaro foi fruto,
sobretudo, do apreço da família militar e de ter ficado
conhecido, em 1987, pela reportagem publicada pela Veja
relacionando-o a um suposto plano que previa a explosão
de bombas em banheiros da EsAO para protestar contra os
baixos salários percebidos pela tropa, tendo sido alçado a
uma espécie de porta-voz do oficialato do Exército.
Embora Bolsonaro tenha sido inocentado das
acusações da revista, pelo Superior Tribunal Militar, sem
dúvida, isso deu maior visibilidade ao capitão que, de forma
destemida, lutava pelos salários de toda a tropa e também
pelas viúvas dos militares, traduzindo assim, os votos, em
reconhecimento.
Mas não eram apenas os militares que tinham
Bolsonaro como exemplo. Vejam a carta que a Tribuna da
Imprensa publicou no dia 26 de outubro de 1990 assinada
pelo advogado de Cabo Frio (RJ), Heitor Vianna Posada
Filho, sobre o capitão-vereador:
Como partidário do vereador, já eleito deputado federal -
Jair Bolsonaro - quero aqui agradecer a Tribuna da
Imprensa todo o apoio que este jornal deu à causa dos
servidores. O capitão Bolsonaro é um líder de classe
incansável, que trabalha, de fato. Por vezes, ligando para
seu gabinete, por volta de 19 ou 20 horas, lá estava ele
trabalhando. Ao contrário do que ocorre com as
representações de servidores civis federais, o capitão
Bolsonaro, de fato age em prol dos servidores militares e
civis, especialmente recorrendo ao Judiciário no interesse
comum das categorias. Também os integrantes da PM
[Polícia Militar] e BM [Bombeiro Militar] sabem que as ações
do capitão Bolsonaro são de seu interesse direto, tendo em
vista a questão da isonomia salarial. Está aí o resultado,
tendo ele recebido uma votação recorde, superando longe
inúmeros políticos de carreira, sem ser artista ou gastar
enormes quantias.

Mesmo antes de confirmada sua eleição para um


mandato federal, o vereador e futuro deputado Jair
Bolsonaro informava a imprensa de que sua prioridade para
o primeiro mandato em Brasília seria defender a isonomia
salarial para os militares no Congresso Nacional.
De acordo com o Jornal do Commercio, o vereador e
deputado eleito, Jair Bolsonaro “criticou a política adotada
pelo governo Fernando Collor que concedeu 30% de
aumento para todos os servidores civis e militares, mas
liberou as estatais para dar o aumento que entendessem”.
Bolsonaro também teria dito que:
O presidente Fernando Collor está mostrando para nós,
disciplinados, a base do coturno. É fácil comandar homens
de bocas caladas, bastando apenas mostrar o Regimento
Disciplinar do Exército (RDE) e o caminho das fronteiras.

Ainda de acordo com o artigo do JC, Bolsonaro disse


que durante sua campanha eleitoral para deputado teria
distribuído cerca de “duas mil cópias de um documento
Reservado do Supremo Tribunal Federal, em que seus
ministros equipararam seus vencimentos aos dos deputados
federais, usando como argumento, dispositivos
constitucionais”.
Ainda segundo o deputado eleito Jair Bolsonaro, os
argumentos utilizados eram os mesmos que ele, em
Mandado de Injunção, utilizava para tentar garantir, na
Justiça, a isonomia pra os militares.
O mês de novembro de 1990 chegava e o governo
não indicava quanto iria conceder de reajuste salarial aos
militares, desesperados diante de uma inflação galopante,
que fechava o ano de 1989, acumulada em 1.782,90%.
Com a inflação controlada dos tempos atuais, fica
difícil para quem não vivenciou este período da história
acreditar que era possível viver num caos desses e,
principalmente, sem saber o que iria acontecer no próximo
mês com os salários achatados e que davam mal para
sobreviver.
A batalha de Bolsonaro pela melhoria dos soldos
militares não era implicância sua com os chefes militares,
mas ele, tendo imunidade parlamentar, não poderia se calar,
conforme outros militares da ativa eram obrigados a fazer.
- Não faço nenhum tipo de conspiração. Minhas
atividades são abertas e através da ação parlamentar e
jurídica. Sou a favor do regime democrático e o respeito
entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Temos
é que criar canais para reivindicação e fazer valer a
Constituição, justificou Bolsonaro a respeito do tipo de
atuação que mantinha - confrontado pela imprensa com
fatos divulgados enquanto era da ativa.
O recém-eleito deputado federal Jair Bolsonaro fez, na
ocasião, um alerta sobre a insatisfação nas casernas com
os baixos soldos:
- A insatisfação está aumentando entre os militares.
Há um clima de desilusão. Sugiro que as autoridades
militares que falam em mercenarismo diante das
reinvindicações, exijam dos futuros militares vocação de
pobreza franciscana.
De acordo com o jornal Tribuna da Imprensa,
Bolsonaro havia considerado “uma covardia” a prisão do
tenente Geraldo Lima, em Brasília, por ter tocado, como
maestro da Banda dos Dragões da Independência, o bolero
Besame Mucho na presença da ministra da Economia, Zélia
Cardoso de Mello, numa suposta alusão ao propalado
romance dela com o então ministro da Justiça, Bernardo
Cabral.
Com relação a uma eventual participação do
sindicalista Luiz Antônio de Medeiros – da Força Sindical e
ligado a Fernando Collor de Mello, que patrocinou a criação
da nova central sindical [Força Sindical] -, como porta-voz
das reivindicações dos militares, Jair Bolsonaro disse:
- Se os chefes militares usarem pessoa estranha ao
meio para reivindicar melhores salários, estarão sujeitos a
cair no ridículo. Nos quartéis já tem gente falando que
Medeiros vai ser o próximo ministro do Exército ou da
Aeronáutica.
No dia 28 de novembro de 1990, ocorreu no Salão
Nobre do Clube Militar, uma “inflamada reunião”, com a
participação de mais de 1.000 militares, das três Armas,
tanto da ativa quanto da reserva, “numa típica assembleia
sindical, com aplausos, questões de ordem e discussões
para votação”.
O general Nilton de Albuquerque Cerqueira,
presidente do Clube Militar arrancou muitos aplausos dos
participantes da reunião, pelo tom firme e sereno com que
discursou criticando o governo do presidente Fernando
Collor de Mello e cobrando uma reposição mínima de 70%
nos salários dos militares e rebatendo “as intimidações do
chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Jonas
Correia”.
- O achatamento dos salários dos militares, em queda
livre desde março, sem reposição, reflete-se no moral e
disciplina militares. Medidas urgentes necessitam ser
tomadas pelo governo para evitar que a situação se agrave
ainda mais. O mínimo que se deseja é a reposição imediata
do poder aquisitivo perdido diante da inflação do corrente
ano.
Em resposta ao chefe do EMFA, general Jonas
Correia, o general Nilton Cerqueira afirmou, de acordo com
a Tribuna:
- Reiniciamos a prática salutar de ouvir os associados,
na certeza de que nenhum de nós é o dono da verdade, por
maior que seja o nível hierárquico. E asseguro que não
faltará coragem serena, física e moral, para pugnar em
defesa de nossos legítimos direitos, sem temer coerção e
ameaças de qualquer natureza. Enganam-se os que
pensam que a crise resultará em redução das Forças
Armadas.
Apesar da força demonstrada pelo Clube Militar e a
sua disposição em negociar com o EMFA, o general Jonas
Correia fez chegar ao general Nilton Cerqueira a informação
de que não estaria disposto a receber ninguém para discutir
o assunto salarial e, além disso, ameaçava punir os militares
que participaram da reunião no Clube Militar.
O jornalista Genilson Gonzaga, publicou em sua
coluna “Coisas & Fatos”, do Jornal do Commercio, nota
intitulada “Salário de fome inquieta os militares” com base
em conversa entre o deputado eleito Jair Bolsonaro e
repórter da IstoÉ Senhor, onde se afirmava que “os baixos
salários dos militares estão inquietando os quartéis e
deixando aflitos os comandos”. Para ele, o presidente
Fernando Collor de Mello sabia da situação e se angustiava,
mas que a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello
“não mexia um único músculo facial”.
Bolsonaro traçou uma radiografia da situação vivida:
Vai à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais num sábado e
num domingo de sol. Os carros estão parados. Ninguém sai
de casa. Falta dinheiro para o combustível do passeio.
Carro só para ir ao supermercado. Há um sufoco terrível. A
situação está péssima, inclusive no atendimento médico;
está ruim. E na alimentação na Academia, que é das piores;
tem boi ralado (carne moída) quase todo dia. Nos quartéis
do Rio de Janeiro só está tendo meio expediente porque
não tem comida para os soldados.

Bolsonaro também voltou a falar sobre o serviço militar


obrigatório, que ele lutava contra, dizendo que iria forçar
uma discussão sobre os mecanismos a serem utilizados
pelas Forças Armadas para atrair os jovens para a carreira
militar. Em seu entendimento, o Exército, no lugar de estar
formando “combatentes, guerreiros”, estava é formando
“matadores de mosquito”.
Bolsonaro, tentando desfazer o imbróglio salarial,
marcou reunião com o secretário da Administração Federal,
João Santana, para tentar sensibilizar o governo da
necessidade de um maior reajuste aos militares, mas o
resultado não foi o esperado por ele, embora estivesse
dentro da expectativa manifestada pelo general Nilton
Cerqueira.
Um manifesto de repúdio ao reajuste de 81% proposto
pelo governo de Fernando Collor de Mello aos servidores
civis e militares federais, assinado por Jair Bolsonaro – vice-
presidente da Famir –, pelo seu presidente, Antônio Garcia
e pelo presidente da Associação dos Militares da Reserva
do Distrito Federal, Ruy Telles, foi distribuído no dia 14 de
dezembro de 1990, na Esplanada dos Ministérios e nas
quadras residenciais dos militares.
Por este manifesto, os militares indicavam que a
defasagem salarial da categoria estava em 441% e criticava
o posicionamento do general Jonas de Morais Correia Netto,
ministro-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, que
teria dito que ficaria contente com 100% de reajuste.
Mais uma vez, Jair Bolsonaro atacava o general
Correia Netto, taxando-o de omisso em relação ao não
realinhamento dos soldos das Forças Armadas, pelo que o
general respondeu em conversa com a imprensa: “Não sou
omisso; estou fazendo o meu trabalho e não faço em troca
de votos”.
O oficial da reserva da Marinha, desde 1989, capitão-
de-mar-e-guerra [cargo equivalente ao de coronel do
Exército] Fernando Antônio Cozzolino, morador da Vila
Isabel (zona norte do Rio de Janeiro) que se tornou um
“especialista” nos problemas salariais dos militares,
escreveu ao jornal Tribuna da Imprensa para falar da
esperança que ele depositava na atuação do deputado
eleito, Jair Bolsonaro, quando assumisse o cargo:

O capitão-vereador Jair Bolsonaro, agora um dos deputados


federais mais votados do Rio (70 mil votos), a par de sua
correta e elogiadíssima atuação como vereador, foi eleito,
principalmente, com os votos provenientes dos quartéis,
navios, militares da reserva, pensionistas, seus
dependentes e parentes. Assim, no Congresso Nacional,
com todas as prerrogativas inerentes ao novo mandato,
Bolsonaro, certamente, saberá defender, com dignidade e
total independência, os direitos dos que confiaram nele. É
óbvio que esses direitos confundem-se com os de milhares
de outros militares e pensionistas espalhados pelo Brasil e
fora, e que, também o apoiam e confiam em sua sabedoria.
Pelas instituições Exército, Marinha e Aeronáutica, é óbvio
que só falam o presidente e os ministros militares, por ele
escolhidos e nomeados. Bolsonaro falará, e com total
independência, pelos eleitores que o escolheram para seu
representante no Congresso e por todos aqueles que
comungam das mesmas ideias, sejam civis ou militares, da
ativa ou da reserva. Se não fosse assim, para os militares, a
obrigação de votar e o direito de poderem escolher seus
representantes não teriam nenhum sentido. (Fernando
Antônio Cozzolino).

Mas antes de se transferir para Brasília, a situação


dos militares ainda mobilizava Jair Bolsonaro, no Rio de
Janeiro, pois a questão era grave e ele precisava ter o apoio
de militares da reserva para a luta que empreendia, já que
os militares da ativa não podiam se manifestar com relação
ao tema.
Assim, foi que no dia 19 de dezembro, Bolsonaro
conseguiu realizar nas dependências do Marã Tênis Clube,
em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio de Janeiro
(próximo à Vila Militar), uma assembleia com a participação
de dois mil militares da Reserva Remunerada, ex-
combatentes e pensionistas, para discutir a questão salarial
e pensões, tendo sido, enormemente aplaudido pelas suas
colocações e advertências, conforme divulgado pela
imprensa:
- Ninguém tem a intenção de levar os militares a fazer
greve. O que temos é outra coisa. Estamos mobilizando
para tomar consciência de nossos direitos e para fazermos
pressão política. Temos que defender a Constituição, pode
não ser a melhor, mas é a que temos. Depois de tomar
posse em Brasília, eu vou dar três meses de prazo para o
governo Collor fazer o seu dever de casa. Depois, caso não
tenha evoluído a questão, vou entrar firme em todas as
esferas possíveis e até promovendo a primeira passeata da
família militar, prometeu Jair Bolsonaro. E completou: “As
autoridades que não respeitarem a Constituição não
continuarão merecendo nosso respeito”.
Mas fazer uma assembleia deste porte, em pleno ano
de 1990, e dentro da Vila Militar, não foi uma tarefa fácil.
Bolsonaro passou todo o dia conversando com os militares
reformados e suas famílias para conseguir realizar a reunião
que, felizmente, teve a devida resposta, tendo comparecido,
entre os muitos militares, o subtenente Rui Telles,
presidente da Federação dos Militares da Reserva, o
almirante Roberto Giovani e o capitão de fragata Ferreira
Marques.
A reunião durou de 20h30 até às 23h00 e a todo o
momento, o capitão Bolsonaro era ovacionado pela plateia,
quando de suas colocações a respeito da necessidade dos
militares reagirem ao arrocho salarial a que estavam, há
muito, sendo submetidos pelo governo federal.
Bolsonaro teceu críticas ao presidente da República,
Fernando Collor de Mello, ao ministro da Justiça, Jarbas
Passarinho, ao chefe do EMFA, general Jonas Correia e ao
Congresso Nacional.
De acordo com sua opinião, as Forças Armadas
estavam sendo empurradas para a esquerda e a CUT e a
Força Sindical poderiam assumir parcelas da
representatividade da luta por melhores salários da
categoria militar.
A fala de Bolsonaro ia de encontro à manifestação de
solidariedade aos militares pela campanha por melhores
salários, expressada pela Central Única dos Trabalhadores
(CUT), no dia anterior. De acordo com o Correio Braziliense,
para o secretário-geral da entidade, Gilmar Carneiro, as
Forças Armadas tinha “uma massa de trabalhadores que,
por sua vez, é responsável pela manutenção e inúmeras
famílias”.
Mesmo com a CUT tendo afirmado não saber como
poderia ajudar a campanha dos militares, Jair Bolsonaro
disse ao Correio Braziliense que “seria bem-vindo o apoio
de qualquer setor” que estivesse com interesse em ajudar
na luta pelo aumento do nível salarial da tropa.
Em função disso, o coronel Gilberto Guedes Pereira,
relações públicas do Clube Militar, agradeceu o apoio
manifestado pela CUT, mas o dispensou: “a CUT tem seu
campo de atuação e, certamente, não será junto aos
militares”.
Ele também disse entender que a má vontade do
governo para com os militares era devida, principalmente,
ao fato da equipe econômica do governo ser, toda ela,
oriunda do partido comunista e criticou também o fato do
governo insistir em deixar as tropas desinformadas:
- Uma tropa mal remunerada, mal alimentada, mal
fardada e desinformada estará sempre disponível para o
aceno de algum aventureiro. Nosso papel é evitar isso. Uma
tropa desinformada é sempre mais fácil de ser manipulada
por oportunistas de plantão.
Chegava janeiro e Jair Bolsonaro estava com
problemas para conseguir um gabinete funcional da Câmara
dos Deputados e chegou a denunciar que fora procurado
por um deputado baiano, que não conseguiu se reeleger,
pedindo Cr$ 600 mil para ceder a ele o seu gabinete, com o
que, claro, Bolsonaro nem cogitou fazer tal negócio:
- Está difícil acreditar em congressistas deste jeito.
Não tenho dinheiro nem pretendo comprar um gabinete,
como muitos parlamentares novos estão fazendo,
ilegalmente, com os que não se reelegeram. Se eu não
conseguir um gabinete na Câmara dos Deputados, vou levar
minha barranca de campanha e armá-la no gramado do
Congresso Nacional e acampo lá.
Antes de concluir seu mandato de vereador, Jair
Bolsonaro, denunciou que teria havido, entre um grupo de
vereadores do Rio de Janeiro e o prefeito Marcello Alencar
(PDT), um acordo para aprovação de novo aumento para o
IPTU, que seria cobrado aquele ano. Pelo tal acordo, os
vereadores poderiam incluir uma emenda na mensagem
enviada pelo Executivo, concedendo um abono de até Cr$
280 mil para os funcionários da Câmara dos Vereadores.
Mas só que o prefeito não cumpriu o acordo feito com
o vereador de seu partido, Maurício Azêdo e, quando
recebeu a aprovação de aumento do IPTU, vetou o artigo
referente ao abono, deixando a turma furiosa. Bolsonaro, é
claro, riu às escâncaras da rasteira que o prefeito deu na
bandidagem da Câmara.
A bomba atômica que quase existiu
Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é
preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser
vitorioso você precisa ver o que não está visível.
(Sun Tzu [544 a.C-496 a.C] general, estrategista e filósofo chinês)

Sempre vai aparecer alguém para dizer: cuidado,


Bolsonaro defendia que o Brasil deveria ter a sua bomba
atômica. Mas não é mentira e, como militar preocupado com
questões estratégicas para a segurança nacional, Bolsonaro
defendia que o Brasil deveria também ter a sua bomba
atômica, porque “é uma arma defensiva e sem que alguém
queira que você a detone”.
Isto, nos idos de 1991, quando de seu primeiro
mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília. Entre os
temas que Bolsonaro abordava com entusiasmo estava o
orçamento das Forças Armadas, a isonomia salarial dos
militares, o cumprimento da Constituição Federal e o
pagamento integral dos pensionistas das Forças Armadas,
dentre outros assuntos que eram caros para a “família
militar”, a quem ele procurava representar na capital federal.
E, entre estes temas estava a questão da bomba
atômica brasileira:
- O Brasil tem que ter a bomba atômica, é preciso
acabar com este tabu. Senão, vamos ficar sempre nessa
miséria, entre os últimos da fila. O pessoal verde, ecológico,
não pode ser contra isso. Temos que dominar o ciclo do
urânio, do começo ao final, para nos colocarmos em pé de
igualdade com as nações do Primeiro Mundo.
Porém Bolsonaro foi enfático: “Não sou a favor é de se
espalhar testes nucleares por ai”, segundo o artigo
“Bolsonaro quer a bomba atômica brasileira”, publicado pela
Tribuna, que circulou no dia 14 de janeiro de 1991.
Antes que você comece a fazer conjecturas a respeito
do tema, é bom que seja esclarecido melhor sobre a origem
do projeto do Brasil para a energia nuclear, que surgiu
quando Bolsonaro tinha cerca de um ano de idade.
No dia 31 de agosto de 1956, depois de vários meses
de discussão, foi criado o Instituto de Energia Atômica, em
solenidade presidida pelo presidente Juscelino Kubitscheck,
no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Depois de assinar
o decreto presidencial, Juscelino Kubitschek afirmou aos
presentes:
- Por ocasião de minha recente visita aos Estados
Unidos tive a oportunidade de entrar em contato com
autoridades americanas no campo da energia nuclear,
recolhendo valiosas sugestões para que o Brasil não se
retardasse nesse terreno. A energia atômica se reveste de
tal importância para o progresso do mundo contemporâneo,
que a Inglaterra deverá inaugurar no ano de 1961 a sua
primeira usina de eletricidade acionada pelo átomo
desintegrado.
O presidente também chamou a atenção dos
presentes para as importantes resoluções baixadas pelo
Conselho Nacional de Segurança, relativas a problemas
envolvendo a produção e o uso da energia atômica.
Claro, nesta época, não se falava no Brasil em utilizar
urânio ou plutônio para a fabricação de uma bomba atômica
nacional, mesmo porque o urânio empregado nos reatores
nucleares é de baixa concentração (4%) e, para usar em
bombas atômicas, o urânio precisa ser concentrado a 80 a
90%.
E foram os Estados Unidos que presentearam o Brasil
com a primeira usina nuclear em miniatura para estudos da
então Escola Técnica do Exército (ETE), hoje, Instituto
Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro.
O que os Estados Unidos incentivavam o Brasil a fazer
era utilizar a energia atômica, exclusivamente, para a
produção de energia elétrica, a partir de urânio de baixa
concentração, usado em reatores nucleares apropriados.
E a aplicação que se vislumbrava para a energia
atômica era justamente usá-la, exclusivamente, a serviço da
paz e do progresso humano, como a produção de energia
elétrica – a exemplo do pioneirismo da União Soviética, que
acionou sua primeira turbina de geração elétrica a energia
nuclear, no dia 27 de junho de 1954 –, a produção de
radioisótopos para aplicação na medicina, biologia, genética
e para o uso industrial.
Mas havia alguns visionários que viam uma
possibilidade quase infindável de aplicações para a recém-
descoberta energia nuclear, a partir de um reator, e falava-
se até que ela seria utilizada para acionar navios,
locomotivas e até para viagens interplanetárias que, para
estes idealistas - um tanto “malucos” para aquela época
ainda tão atrasada tecnologicamente -, o homem somente
não fazia viagens interplanetárias porque faltava um sistema
que permitisse que os “aviões” tivessem autonomia ilimitada
de voo.
Em janeiro de 1956 – Bolsonaro estava com 10 meses
de idade -, já havia uma preocupação com relação à
utilização pelos Estados Unidos da energia atômica para
fins militares, potencializando a capacidade de guerrear, já
que os Estados Unidos tinham um submarino usando um
sistema de motorização a partir de um reator nuclear e outro
estava sendo adaptado.
Além disso, experimentava-se o uso do mesmo
princípio para fazer voar, com elevada autonomia, um avião
B-29, que era visto como uma fortaleza aérea.
Mas vamos ao caso brasileiro...
Durante o regime militar, iniciado em 1964, o Brasil se
viu numa disputa silenciosa com a Argentina em torno de
quem teria a supremacia no continente e isto, na época – e
ainda é assim, a exemplo da Coreia do Norte -, significava
ter domínio sobre a tecnologia de produção de armas
nucleares.
Assim, militares brasileiros alimentaram por muitos
anos um programa nuclear paralelo secreto, que teve início,
depois de 1976, mesmo com a exigência da Alemanha de
que o Brasil não fabricasse a bomba atômica, apesar do
pacote tecnológico da Usina Nuclear de Angra-1, conter o
fornecimento completo das técnicas envolvendo a produção
de combustível nuclear, incluindo itens como
enriquecimento de urânio e o reprocessamento
de plutônio, através dos quais os militares poderiam fabricar
a bomba atômica.
Em 1981, a comunidade de informações brasileira
obteve dados secretos de que a Argentina estaria mais
próxima do que o Brasil de dominar a tecnologia e
fabricação de sua primeira bomba atômica. Com base na
confirmação de tal intenção, os militares brasileiros
intensificaram os estudos sobre o tema.
Entre os anos de 1979 e 1983, o Brasil concedeu 700
bolsas de estudo para brasileiros estudarem na França,
Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Argentina, dos
quais o Brasil conseguiu formar 55 doutores, 396 mestres e
252 especialistas em áreas como segurança de reatores,
materiais nucleares, aplicação de técnicas nucleares,
infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento, além de
recursos humanos, incrementando o potencial das equipes
envolvidas em pesquisas nucleares e, obviamente, também
no programa nuclear paralelo.
Durante o governo do presidente João Baptista de
Figueiredo foi que o programa nuclear brasileiro teve maior
apoio oficial e a questão da bomba atômica passou a ser,
segundo relatos posteriores, uma quase obsessão.
Em setembro de 1987, o então presidente José
Sarney anunciou, com toda pompa e circunstância, que o
Brasil já dominava todo o ciclo nuclear, sem, contudo, falar
sobre o programa nuclear paralelo e a existência de dois
sítios para testes de artefatos nucleares que foram
construídos no Estado do Pará.
Mais tarde, ele disse que o assunto, na época, era
considerado como “segredo de Estado”. Além disso, foi
descoberto, posteriormente, que o programa movimentava
uma conta bancária secreta.
Somente em 1990/1991 é que este programa foi
interrompido, tendo o presidente Fernando Collor de Mello
determinado a destruição dos dois túneis construídos para
testes de artefatos nucleares, razão porque o recém-eleito
deputado federal, Jair Bolsonaro, defendia a continuidade
das pesquisas.
Em documentos liberados para divulgação e
produzidos pelo extinto Serviço Nacional de Informações
(SNI), demonstrava-se que durante o regime militar sempre
houve grande movimentação em torno da construção da
bomba atômica brasileira, mas não se faz qualquer menção
à determinação de qualquer dos presidentes militares para a
fabricação de tal artefato militar.
Então, quando o capitão Jair Bolsonaro, às vésperas
de assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados, fez a
declaração publicada pela Tribuna da Imprensa, que ilustra
o início deste capítulo, ele apenas externava a sua opinião.
Embora legítima e imune à censura, de quem quer
que seja, era apenas uma mera opinião, já que não havia
mais o programa nuclear em atividade e o Brasil - por força
da Constituição Federal de 1988 -, estava impossibilitado de
construir uma bomba atômica, conforme o parágrafo 2.º do
artigo 5.º (Clausula Pétrea – não pode ser alterada), que
estabelece:
Art. 5.º § 2.º - Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte.

E, como o Brasil é signatário do Tratado sobre a Não-


Proliferação de Armas Nucleares (TNP), e é submetido ao
controle da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), não havia e não há como o país decidir por fabricar
mais uma bomba atômica.
Só para complementar a informação, por ser um
tópico relevante é oportuno afirmar que o Brasil, apesar de
todo o esforço empreendido para o estudo de um artefato
nuclear, não dispunha de algo tão importante quanto a
bomba, que é o veículo lançador (foguete) ou míssil de
longo alcance.
Até que o Brasil tentou, com o projeto do VLS (Veículo
Lançador de Satélite), mas não obteve sucesso e a última
tentativa de lançar tal foguete foi em agosto de 2003,
quando a versão 3 deste artefato sofreu uma ignição
acidental, já na torre de lançamento da Base de
Lançamento de Alcântara, causando a morte de 29 técnicos
que faziam os preparativos para o seu lançamento.
E porque os militares, desde o início do
desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro insistiram
em usar combustível sólido (próprio para míssil) para seus
foguetes, ao invés de combustível líquido, o Brasil, depois
de ter iniciado o projeto VLS passou a ser impedido de
comprar componentes eletrônicos sensíveis, no mercado
internacional, para tais foguetes e também deixou de ter a
cooperação da NASA para suas atividades espaciais.
Para completar a tragédia, em 18 de dezembro de
2008, o então presidente Lula assinou o Decreto n.º 6.703
aprovando a Estratégia Nacional de Defesa que confirmou
que o foguete que estava sendo desenvolvido pelo Brasil
para lançamento de satélites também deveria ser utilizado
como míssil.

(...) O desenvolvimento da tecnologia de veículos


lançadores servirá como instrumento amplo, não só para
apoiar os programas espaciais, mas também para
desenvolver tecnologia nacional de projeto e de fabricação
de mísseis.

Mas, o Programa Espacial Brasileiro está “entregue às


baratas”, sem recursos para o desenvolvimento dos projetos
em pauta e sem muita perspectiva. Caberá ao novo
presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, com apoio
do ministro Marcos Pontes, corrigir erros históricos na
condução do Programa Espacial, retomando a sua
capacidade, com fins, exclusivamente pacíficos.
Um novato no planalto central
Concentre-se mais em seu desejo do que na sua dúvida, e o
sonho cuidará de si próprio. Você pode se surpreender de
quão facilmente isso acontece. Suas dúvidas não são tão
poderosas como seus desejos, a menos que você as torne
assim.
(Marcia Wieder – empreendedora, escritora e palestrante norte-
americana)

Em plena sexta-feira, 1.º de fevereiro de 1991, o


capitão Jair Messias Bolsonaro tomava posse, em Brasília,
para o primeiro mandato como deputado federal e iria atuar
no Congresso Revisor da Constituição, mas tendo como
uma de suas metas principais, continuar sua luta pela
melhoria de salários dos militares.
Entre vinte militares da Reserva que se candidataram
ao mesmo cargo pelo Estado do Rio de Janeiro, apenas o
vereador Jair Bolsonaro foi eleito.

O deputado federal Jair Bolsonaro em seu primeiro mandato


Arquivo Pessoal

Depois de empossado no cargo do legislativo federal,


Bolsonaro declarou à imprensa que seria mais útil para os
militares se, com sua atuação no Congresso Nacional, ele
conseguisse sensibilizar os demais parlamentares quanto à
situação crítica que vivia da família militar, em termos
salariais.
O Jornal do Brasil, que tanto havia atacado Bolsonaro,
dando continuidade à divulgação de Veja da “Operação
Beco sem Saída”, se rendeu ao recém-eleito parlamentar,
pelas mãos do jornalista Sérgio Sá Leitão, que não mediu
esforços em tentar reconhecer a boa imagem que tinha o
deputado Jair Bolsonaro:
Os eleitores do Rio estão levando a Brasília um político ao
avesso. Num país onde a eleição de boa parte dos
deputados baseia-se em uma malha onde entrelaçam
presença na mídia, dinheiro fácil e tráfico de influência, o
polêmico capitão da Reserva Jair Bolsonaro, 35 anos,
abandona a fama de golpista com a qual se tornou
conhecido e chega lá sem se valer dos métodos tradicionais
de campanha. Vereador debutante no Rio, ele não
prometeu nada ao eleitorado, não prestou favores obscuros,
não gastou mundos e fundos na confecção do material de
propaganda, não frequentou o noticiário político e indispôs-
se com quase todos os lobbies que rondam a Câmara dos
Vereadores, graças à independência reconhecida por
políticos conservadores e progressistas. (...)

E Leitão fala do prestígio que Jair Bolsonaro


conseguiu conquistar pela sua coragem em lutar em prol
dos salários e benefícios para os militares:

O segredo de Jair Bolsonaro está no imenso prestígio que


desfruta nos quartéis e casernas do estado, os cenários, por
excelência, de sua modesta campanha eleitoral. A história
deste prestígio começa em 1986, quando o jovem
paraquedista de Agulhas Negras, considerado pelos
superiores como uma das poucas lideranças surgidas no
meio militar em seguida ao fim da ditadura, enviou um
documento ao ministro do Exército da Nova República,
general Leônidas Pires Gonçalves, onde reivindicava
aumentos salariais compatíveis com a inflação para o
conjunto da tropa. Foi ameaçado de prisão, mas revidou
com um ato de indisciplina impensável numa democracia
moderna: intempestivo, escreveu e assinou um artigo
análogo para a revista Veja, assustando os políticos e as
lideranças da sociedade civil, que o viram como uma
ameaça golpista à nova democracia. O artigo agradou em
cheio os companheiros de farda. (...)
Sobre a volta por cima que Bolsonaro conseguiu dar
depois de ser inocentado pelo Superior Tribunal Militar e de
ter conseguido se eleger vereador, o jornalista Sérgio Sá
Leitão explica:

Jair Bolsonaro deixou a Nova República de cabelo em pé.


Mas surpreendeu seus críticos, principalmente os que o
viam como um sério perigo ao estado de direito, ao fazer a
aposta definitiva na política legal. Absolvido pelo Supremo
Tribunal Militar da acusação de conspiração contra a ordem,
“em sentença editada às 23h30 do dia 16 de junho de 88”,
como faz questão de lembrar, passou para a reserva e
lançou sua candidatura a vereador pelo PDC. Na Câmara,
aos poucos afastou do mapa a imagem de militar golpista,
trocada por uma imagem bem mais simpática: a de um
parlamentar exemplar, que faltou a apenas quatro sessões
em dois anos de mandato e barrou “junto com a bancada da
esquerda” vários trens-da-alegria. Jair Bolsonaro, de fato,
deu a volta por cima. “As urnas me absolveram de qualquer
pecado”, diz.

Leitão,14 em sua longa matéria fez desfilar uma série


de atributos que ele considerava positivos na vida e na
carreira política do então recém-eleito deputado federal Jair
Messias Bolsonaro:
(...) Hoje, entretanto, este ex-campeão de pentatlo militar
decidiu mudar, convencido de que é um deputado de todo o
país e de toda a sociedade. (...) Se ao menos repetir sua
atuação na Câmara dos Vereadores, o Congresso Nacional
deve ganhar um campeão de moralidade. No plenário,
Bolsonaro é mais um pragmático do que um negociador –
orgulha-se, por exemplo, de jamais ter participado de uma
reunião de negociação com seus pares. Nas votações,
ignora as motivações políticas dos projetos e, simplesmente
pensa se concorda ou não com suas consequências
práticas. (...)

14 O jornalista Sérgio Sá Leitão foi nomeado ministro da Cultura em 25 de

julho de 2017, no governo de Michel Temer e, a partir de 1.º de janeiro de


2019, passou a integrar o Governo de João Dória, eleito governador de
São Paulo, pelo PSDB.
O jornalista também falou da fama de incorruptível de
Jair Bolsonaro, a quem identificou como torcedor do
Botafogo e fã de Aírton Sena:
Com fama de incorruptível, o orgulhoso deputado militar do
PDC prefere não botar lenha na fogueira de suas vaidades.
“Não sou mais macho ou mais honesto do que ninguém.
Sou correto. Se as coisas degeneraram tanto ao ponto em
que isso [ser honesto] é o máximo, não posso fazer nada”.

Bolsonaro em seu Gabinete na Câmara dos Deputados


Arquivo Pessoal.

Na época, Bolsonaro se definia como um democrata,


mas sem se posicionar se era de direita ou de esquerda,
justificando que essa não ideologização o permitiria transitar
com mais liberdade em qualquer partido.
- Nem direita, nem esquerda e sim, o direito, afirmou
Bolsonaro em discurso proferido na Câmara dos Deputados
no dia 5 de março de 1991.
E completou:
- Como militar, afeito ao exercício diário de disciplina e
do permanente adestramento técnico, nunca dei maior
ênfase à ideologia. Por formação castrense, entendia e
entendo o Brasil como minha ideologia.
No mesmo discurso, Bolsonaro fala de suas
apreensões quanto a conviver com seus colegas na Câmara
dos Deputados:
- Ao deixar a caserna, eleito vereador no Rio de
Janeiro, ingressei no exercício da vida pública ciente de
pegar uma carga imensa e, desconfiado de que iria lidar
com pessoas que faziam da vida pública um jogo de
interesses pessoais. Felizmente, só estava certo em parte.
Encontrei no exercício da atividade política, independente
de partidos, pessoas dispostas a lutar e até a brigar pela
coisa pública. Na árdua elaboração da Lei Orgânica do Rio
de Janeiro, apoiei moções das mais diversas correntes. Tão
somente ligado no alto interesse da população do Rio de
Janeiro, independente de partido ou ideologia.
Exemplos de retidão e zelo pelo dinheiro público que o
vereador Jair Bolsonaro deu na Câmara dos Vereadores do
Rio de Janeiro, infelizmente, foi seguido por poucos de seus
colegas ou por nenhum:
Por exemplo: no início da legislatura de 1989, a
Câmara dos Vereadores resolveu adquirir um carro de luxo
para cada um de seus membros, com o que, o vereador Jair
Bolsonaro não concordou e não aceitou receber, justificando
que ficava muito bem se deslocando de sua casa para a
Câmara dos Vereadores com sua motocicleta.
Em outra oportunidade, cada vereador do Rio de
Janeiro recebeu 5 mil cartões de boas-festas para enviar
aos seus eleitores, que custaram Cr$ 296.100,00 mil. Cinco
vereadores, entre os 42 que compunha a vereança,
recusaram a oferta e entre eles estava o capitão Jair
Bolsonaro.
Na ocasião, a vereadora Neuza Amaral, primeira-
secretária da Mesa Diretora, disse que a compra foi feita
porque “era uma prática velha na casa” e ironizou Jair
Bolsonaro por não ficar com os cartões:
- Agradeço ao vereador Jair Bolsonaro por ter
dispensado os cartões, porque outros vereadores estão
carentes. Eu, por exemplo, fui eleita com os votos de 16.340
eleitores. O que são cinco mil cartões perto disso? Vou
acabar cometendo injustiça a muitos deles, que não
receberão meus cumprimentos. Afinal, quem não gostaria
de ser acarinhado com um cartão como este, desejando paz
em 1991?
Já havia se passado mais de um mês de sua posse e
Bolsonaro teve de voltar à carga contra a situação que
enfrentava por não ter conseguido um gabinete para
trabalhar, não havia apartamento funcional disponível e ele
não conseguia contratar assessores parlamentares, pela
dificuldade em alojá-los em Brasília, o que fez o deputado
ameaçar, publicamente, a mesa diretora da Câmara dos
Deputados:
- Não aceito ficar sem teto. Se não receber urgente um
apartamento e um gabinete, armo uma barraca em frente ao
Congresso Nacional e acampo lá com o sargento que trouxe
comigo.
Apesar de ter sido citado, o sargento que
acompanhava Bolsonaro decidiu ir morar com parentes seus
que residiam no Distrito Federal, mas um segundo assessor
do deputado, um oficial da Marinha, não tinha outra opção,
que não a de ficar no apartamento que o deputado Jair
Bolsonaro viesse conseguir junto à Câmara dos Deputados
ou alugar diretamente.

Jair Messias Bolsonaro em seu Gabinete na Câmara


Arquivo Pessoal

Nesse mesmo dia, o deputado teve sua primeira


trombada com o governo do presidente Fernando Collor de
Mello. Em reunião que varou a madrugada, feita com o
secretário de Política Econômica, Antônio Kandir e que
contou com a participação de deputados do PDC e do PFL,
partidos que apoiavam o governo, o deputado Jair
Bolsonaro questionou o secretário sobre item da Medida
Provisória n.º 295 que congelava preços e salários:
- Por que os servidores civis e militares foram
excluídos da unificação da data-base em janeiro e julho?
Por que eles têm sofrido tanto arrocho salarial? As
informações sobre os militares que chegaram ao Executivo
não correspondem à verdade. Quem as processa são
pessoas conhecidas minhas, que trabalham para o serviço
de informação do governo.
No dia 25 de fevereiro, o jornal Tribuna da Imprensa
divulgava uma elogiosa e longa carta do condecorado
radialista Zair Augusto Cançado, em que este destacava
Jair Bolsonaro como um dos deputados federais que
procurava honrar o mandato outorgado por seus eleitores:
Finalmente, parece que o novo Congresso Nacional, recém-
empossado, não se mostra disposto ao papel de fantoche, a
dizer “amém” a tudo que deseja o Palácio do Planalto. Pois
nem o regime militar que tivemos durante 20 anos, a
subserviência dos políticos foi da intensidade que
assistimos até meses atrás. Até no bloco que apoia o
governo Collor, vemos reações altivas e necessárias contra
medidas arrochantes, das quais as maiores vítimas são os
assalariados – trabalhadores, aposentados e servidores da
União. Estes não podem esmorecer, devem fazer suas
visitas diárias a deputados e a senadores, pois os
sanguessugas, os insaciáveis empresários, têm os seus
“lobbies” permanentes junto aos seus representantes no
Congresso: Roberto Campos, Delfim Neto e tantos outros
pais da nefasta política econômica que nos esmaga, que
esfomeia os trabalhadores e enriquece, cada vez mais, as
multinacionais, os banqueiros e outros grupos.
O povo soube conduzir à Câmara dos Deputados,
principalmente, uma bancada valorosa, talvez em torno de
200 parlamentares, e dos quais se espera, logicamente, um
posicionamento correto contra a asfixia salarial, contra as
tentativas do governo Collor de expurgar da Carta Magna
conquistas sagradas. Aplaudam-se, igualmente, os
parlamentares do bloco governista que se saturaram, e
conscientes do dever como representantes do povo votaram
a favor deste. Devem ter-se recordado de que o atual
presidente fez a sua campanha falando o tempo todo nos
“descamisados”, para depois confundi-los com os “marajás”.
Milhares de servidores federais estão em disponibilidade,
afastados, demitidos, humilhados.
Destaque-se, entre os deputados federais, que estão
procurando honrar o mandato popular, o Sr. Jair Bolsonaro,
“dublê” de militar e político, profundo conhecedor das
agruras dos civis e os militares. Antes de seguir para
Brasília, ele dera um aviso: não iria para o Congresso para
fazer o papel de “vaca de presépio”, mesmo estando o seu
partido, o PDC, no bloco governista. E está cumprindo o
prometido. O deputado Jair Bolsonaro, ao que sabemos,
articula a derrubada da Medida Provisória 295/91, que
impõe tremendo arrocho salarial aos trabalhadores. E deixa
claro que tal medida é inconstitucional porque prejudica os
assalariados do setor privado e exclui os servidores civis e
militares do novo sistema de reajuste, baseado na
unificação da data-base, sem garantia de reposição das
perdas ocasionadas pela inflação.
Muitos deputados, aliás, já decidiram estender a
semestralidade ao funcionalismo federal, através de
emendas à MP 295. Se o governo encampasse a iniciativa,
a tabela de cálculo dos salários proporcionaria aos
servidores do Poder Executivo, um reajuste de 3,93% em
fevereiro. O baixo percentual previsto para os servidores,
conforme esta hipótese tem como explicação o fato de que
o índice de 30% pago a partir de outubro veio a título de
abono, e como a tabela pune com menores percentuais
quem teve menos antecipações ou reajustes até o mês
passado, os servidores perdem de qualquer forma. Os
prejuízos abrangem a inflação de março/90 (84,32%),
escamoteada pelo “Plano Collor I”, o IPC de abril a
dezembro, com defasagem de 70%, a inflação de janeiro
(20,21%), não computada pelo novo “Pacote” e o efeito do
último “Tarifaço”, definido por Jair Bolsonaro como
devastador.
Temos que louvar a emenda de autoria do deputado carioca
à MP 295, propondo a adoção de uma política salarial para
o funcionalismo e uma fórmula para correção dos proventos
de aposentadorias e pensões pagas pela Previdência
Social. A injustiça, a discriminação e o desrespeito, além da
maldade que este governo quer perpetrar contra o princípio
da isonomia consagrada na nova Constituição Federal, bem
como o fim da estabilidade dos servidores, precisam unir os
parlamentares independentes e progressistas, sejam de que
partido forem. E os sindicatos dos servidores – nunca é
demais repetir -, devem ir às últimas instâncias em defesa
da classe.

O sempre combativo jornal Tribuna da Imprensa dava


ampla cobertura às manifestações do deputado Jair
Bolsonaro, como no dia 2 de março, quando, mais uma vez,
ele cobrava a melhoria dos soldos militares, o que o governo
prometia resolver, através do envio ao Congresso Nacional,
no máximo em 60 dias, de um Projeto de Lei para
regulamentar a matéria.
“Com o governo comprometendo-se a resolver a
questão em dois meses, temos um fato novo. O Poder
Judiciário não nos dá qualquer esperança”, disse Bolsonaro
ao comentar que havia chegado a um acordo com o líder do
governo, deputado Ricardo Fiúza (PFL-PE), à 1h40 do dia
anterior, numa sessão da Câmara dos Deputados que
somente teve encerramento às 5h30.
Bolsonaro fechou este acordo para permitir a aprovação
da Medida Provisória n.º 295, que previa o congelamento de
preços e salários, o que foi chamado de Plano Collor. A
expectativa era de que o governo, de fato, cumprisse sua
parte no acordo, que tinha o apoio de outros parlamentares.

A maioria dos parlamentares não tem má vontade com os


militares. O que acontece é que nosso silêncio, fruto da
nossa disciplina [dos militares], transmite uma falsa ideia de
que conosco está tudo bem. Com o aumento dos soldos,
outros benefícios serão automaticamente aumentados, pois
o soldo é a base para a maioria dos benefícios,
complementou Bolsonaro.

Em função da postura adotada por Jair Bolsonaro de


negociar com o partido do governo uma solução para o
problema salarial dos militares, ele acabou criando um foco
de atrito ainda maior com os ministros militares. Isto,
porque, a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello,
vinha adiando o encaminhamento de uma solução para a
questão salarial dos militares e achou oportuno o
aproveitamento de uma emenda do deputado Jair
Bolsonaro, em detrimento do que pregavam os três
ministros militares.
E claro, os ministros do Exército, Marinha e da
Aeronáutica sentiram que a “Emenda Bolsonaro”
enfraquecia a liderança deles e fortalecia a do deputado,
que era adepto de uma crítica aberta a seus superiores de
caserna, conforme afirmou o jornalista Paulo Branco, em
sua coluna do dia 4 de março de 1991, publicada no jornal
Tribuna da Imprensa.
O jornalista Alexandre Garcia no artigo “A lei e a
baioneta”, publicada no dia 5 de março, no jornal O
Fluminense, destacou que o deputado Jair Bolsonaro, em
entrevista concedida ao jornal brasiliense BSB Brasil teria
feito a seguinte afirmativa em relação à questão dos baixos
soldos militares:
Se o Judiciário, Executivo e Legislativo não se preocupam
com a categoria [militar], por motivos diversos, eu levaria
uma mensagem muito simples à tropa que, logicamente,
muitos não gostariam: a baioneta, o que seria uma briga
aberta ou uma subserviência eterna. A escolha é dela.

E Alexandre Garcia comentou a fala de Bolsonaro:

Por muito menos, o deputado Márcio Moreira Alves foi


cassado em 1968, e o Congresso fechado. Os deputados
juram cumprir a Constituição e nela está escrito que as
Forças Armadas são organizadas na base da disciplina e
hierarquia para defender as instituições, a lei e a ordem. Um
deputado pregar a baioneta como alternativa é muito grave.
Não sei se a Câmara vai dar importância à declaração e
aplicar as sanções do regime interno. O que se deve
lamentar é esta falta de cultura democrática.

No início de março, começava a ser despachado pelos


Correios o Boletim Informativo n.º 1, organizado pelo
mandato do deputado Jair Bolsonaro, que seria usado como
ligação entre ele e seus eleitores fluminenses. Com tiragem
de 30 mil exemplares, o boletim batia forte no ministro do
Estado-Maior das Forças Armadas, general Jonas de Morais
Correia Neto, a quem Bolsonaro chamou de “pelego,
insensível e omisso”:
Nem mesmo a brutal injustiça, fruto da não regulamentação
do artigo 40 da Constituição, referente às pensões militares,
sensibilizou o atual chefe do Estado-Maior das Forças
Armadas. Em sua omissão em relação com os problemas
da família militar, o senhor Jonas de Morais Correia Neto
comportou-se como um autêntico “pelego”, escreveu
Bolsonaro.

Embora tenha advertido os deputados presentes à


sessão da madrugada do dia 1.º de março, da gravidade da
situação salarial dos militares e da possibilidade disso
desencadear situações de desespero pela sobrevivência e
“resultar até na baioneta”, no seu Boletim Informativo n.º 1,
o deputado tentava evitar que suas críticas aos chefes
militares e aos baixos salários dos colegas fossem
confundidas com intenção golpista: “A busca incessante de
solução de nossos problemas, com ampla divulgação na
imprensa, no momento, é o melhor caminho para evitarmos
mais injustiças e conseguirmos nossos direitos”.
Para Bolsonaro, apesar da situação caótica dos soldos
militares e da consequente insatisfação da categoria, ele
não via ameaça vinda dos quartéis, embora reconhecesse
que poderia haver casos isolados, mas reafirmou sua
crença “na disciplina e até na paciência dos militares”.
Entretanto, para Bolsonaro, “se os salários
continuassem achatados, o Exército é que iria ser
destruído”. Para exemplificar, citou “o pessoal na Traíra
[fronteira com a Bolívia] caçando contrabandistas deve
saber que, se morrer, a família só receberá um terço do que
ganhava, como pensão, apesar da Constituição”.
Mas Bolsonaro não lutaria sozinho e assim, dava início
à movimentação para realizar uma grande manifestação no
Rio de Janeiro com as viúvas de militares, em defesa da
equiparação de suas pensões com os salários recebidos
pelos maridos, quando vivos. Antes dela, outra grande
manifestação era preparada para ocorrer em Recife (PE) no
dia 27 de março de 1991.
A manifestação, no Rio de Janeiro, ocorreu no dia 8
de abril, depois de seis encontros preparatórios realizados,
inclusive na Vila Militar, sendo que a concentração teve
lugar em frente ao Palácio Duque de Caxias (Praça Duque
de Caxias, Centro), e contou com a presença de militares da
Reserva e familiares de militares da Ativa. No dia anterior,
Bolsonaro mandou afixar faixas dirigidas aos militares da
Ativa, com os dizeres: “Sua esposa estará aqui amanhã”.
Mesmo com todo o esforço desenvolvido pelos chefes
militares e ministros das três pastas militares, para tentar
esfriar o movimento, além de militares da Reserva, cerca de
300 viúvas de militares foram - com faixas e cartazes e
algumas mulheres com uniformes de seus maridos -, para o
local combinado.
Embora não tenham conseguido falar com o general
Ângelo Barata Filho, comandante Militar do Leste, já que ele
estava, propositalmente, em visita à Brigada de Infantaria
Paraquedista, em companhia do ministro do Exército,
general Carlos Tinoco Gomes, o movimento foi considerado
muito positivo.
Bolsonaro explicou à imprensa que na semana
anterior havia sido procurado, em Brasília, por coronéis da
Ativa do Exército pedindo a ele que abandonasse a ideia da
passeata, com certeza, como enviados oficiais.
Mas, para o deputado, a única coisa que poderia
mudar aquela situação seria o Estado-Maior das Forças
Armadas (EMFA) mandar um projeto para o Congresso
Nacional, propondo a regulamentação do art. 40 da
Constituição Federal.
- A única maneira de impedir a manifestação será o
Estado-Maior das Forças Armadas enviar um projeto para
regulamentar a situação das pensionistas. Fizemos abaixo-
assinado e o general Jonas Correia continuou omisso.
Entramos com mandato de segurança no STF e nada. Não
nos resta mais nada. O militar deve ser patriota, mas não
idiota. Para vocês terem uma ideia da gravidade das
reclamações, uma funcionária do meu Gabinete ganha Cr$
650 mil, mais que um general-de-divisão do Exército. O
silêncio da caserna não pode ser confundido com
satisfação; é fruto da hierarquia e disciplina.
O jornalista Hélio Fernandes assim se referiu à luta de
Bolsonaro pela melhoria dos salários do militares:
Não faz muito tempo [Jair Bolsonaro] era um simples
capitão, sem maiores pretensões. A partir do aviltamento
dos salários dos militares, se elegeu vereador, depois
deputado federal. E agora lidera, realmente, a luta pela
melhoria de salários, da Ativa e da Reserva.
A passeata de protesto contra os baixos salários –
primeira na história das Forças Armadas - foi realizada em
silêncio e sem discursos, entre 10 horas e 11 e meia, com
todos parando em frente ao prédio do Comando Militar do
Leste (Palácio Duque de Caxias), de onde eram observados
por dezenas de oficiais, que olhavam pelas janelas e alguns
até se solidarizavam com os manifestantes.
Várias faixas e cartazes eram empunhados pelos
manifestantes, com dizeres tais como: “Pensão do coronel
só dura uma semana”, “Como é difícil no Brasil de hoje
sobreviver sendo pensionista das Forças Armadas”, “Quem
tem medo de lutar não tem direito de reclamar” e outras
frases típicas do sindicalismo.
O único incidente registrado foi a tentativa de algumas
mulheres de entrar nas dependências do Palácio Duque de
Caxias, o que foi contido pela ação de seis militares
armados, sob o comando do coronel Lampert, que disse ter
recebido ordens para não reprimir a manifestação, mas que
não poderia permitir a entrada de manifestantes, embora,
para ele, o problema era algo comum para todos os
militares, inclusive da ativa, que não podiam protestar.
À imprensa, Bolsonaro se mostrou satisfeito com o
movimento e elogiou os participantes da passeata, em típico
linguajar sindicalista: “Quem tem medo de lutar não tem
direito de reclamar”. E alertou que o governo federal, pelo
compromisso acertado com ele, tinha até o dia 1.º de maio
daquele ano para enviar ao Congresso um Projeto de Lei
regulamentando os vencimentos do funcionalismo civil e
militar da União.
Mas apesar de Jair Bolsonaro sempre ter tido espaço
garantido na imprensa nacional, ele viu ser barrado nos
quartéis do Exército no Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, a circulação do jornal “linha dura” do
Exército, Letras em Marcha, por este ter divulgado em sua
edição de n.º 255, uma entrevista com o deputado defensor
de melhorias salariais dos militares.
A ordem partiu do comandante Militar do Sul, general
Alberto dos Santos Lima Fajardo, que determinou não só a
proibição da circulação do jornal, mas a destruição de todos
os exemplares que chegassem às unidades militares.
A Tribuna da Imprensa publicou, no dia seguinte, um
editorial em defesa da livre manifestação de opinião, onde
citava o caso da censura imposta ao jornal Letras em
Marcha, feita em represália à publicação de entrevista do
capitão-deputado Jair Bolsonaro:
Censura e Desrespeito
O Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) se reúne hoje para analisar, entre outras
coisas, a condenação do jornalista Hélio Fernandes, que
dedicou sua vida ao jornalismo e que nunca abriu mão de
manifestar opiniões e fazer denúncias. Afinal, não podem
ser condenados os esforços para abrir os olhos de uma
sociedade que cada vez mais é cegada por cortinas de
fumaça providencialmente jogadas para acobertar fatos.
A denúncia, a verdade, a opinião, ainda são,
lamentavelmente, motivos para qualquer tipo de censura,
razões ara qualquer espécie de veto ou perseguição. O
mais interessante de tudo isto, porém, é que os censores
estão atuando em todas as vertentes da opinião, seja ela
rotulada de “esquerda” ou de “direita”.
O caso mais recente disso é o caso do jornal Letras em
Marcha, considerado o porta-voz da linha dura das forças
armadas brasileiras: foi proibido pelo general Alberto dos
Santos Fajardo de circular em todos os quartéis sob o seu
comando. A razão para a proibição foi o fato de o general
não ter gostado da publicação de entrevista concedida pelo
capitão Jair Bolsonaro, hoje deputado pelo PDC-RJ.
É bem verdade que a censura, em toda a sua extensão,
jamais será alijada, pois a informação filtrada sempre existiu
e continuará existindo. Porém, impedir um órgão de
imprensa de circular, independentemente da linha de
opinião que adote, é uma violação a um dos direitos básicos
do homem – o do acesso à Informação.
De certa maneira, já vão longe tempos de triste memória em
que dizer o que se pensa e ouvir o que os outros têm a falar
era considerado crime hediondo, passível de punição com a
própria vida. Do alto de sua autoridade, o general Fajardo
deu mostras, no mínimo, de insensibilidade. Conviver com
as diversas opiniões, aceitá-las, analisá-las e debatê-las
não é um sinal dos tempos: é respeitar a si próprio e aos
outros.
E respeito não se exige, se conquista.
O general Jonas de Morais Correia Neto cansado das
estocadas que recebia de Jair Bolsonaro, no dia 16 de abril,
entregou ao presidente da República, Fernando Collor de
Mello, uma proposta de reajuste para os militares. Embora,
com reflexos mínimos sobre o pessoal da Ativa, a proposta
dobrava os vencimentos dos pensionistas, até então
massacrados pela política salarial do governo federal.
O deputado Jair Bolsonaro afirmou à imprensa que se
o projeto chegasse ao Congresso Nacional, seguramente os
parlamentares, tanto de esquerda quanto de direita, iriam
aprová-lo por entenderem a situação complicada por que
passavam os militares, mas, especialmente, os
pensionistas.
No mesmo dia, o general Correia Neto fez chegar à
imprensa uma carta, de 30 linhas, que ele enviara ao
deputado Jair Bolsonaro, na qual ele chamava Bolsonaro de
“embusteiro, intrigante e covarde”, pela sua fala na Câmara
dos Deputados e declaração à imprensa de que o problema
salarial dos militares era devido à omissão do chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas.
O general Correia Neto ainda acusava Bolsonaro de
deturpar a realidade para proveito pessoal e da política, e de
“tentar se projetar, aliás, tristemente, desacreditando um
homem e sua carreira, montado em procedimentos dignos e
altos princípios”.
O chefe do Estado-Maior explicou ainda que tomou a
decisão de responder por escrito ao que ele chamou de
infâmias ditas por Jair Bolsonaro, porque não dispunha
“nem de tribuna, nem da imprensa, nem de folhetins
propagandísticos”, meios que, segundo ele, “sobravam e
eram usados grosseiramente por Bolsonaro”.
Bolsonaro disse à imprensa que não iria responder ao
general Correia Neto, porque o chefe do EMFA estava se
preparando para vestir o pijama, quando ele poderia, enfim,
sentir na própria pele, a realidade.
No dia seguinte à entrega pelo EMFA da proposta de
reajuste para os militares, o presidente da República,
Fernando Collor de Mello, em pronunciamento a oficiais
generais, pediu aos mesmos que tivessem paciência com a
questão salarial, ao que Bolsonaro se irritou e voltou a
atacar o presidente Collor:
- É muito fácil pedir paciência quando se anda para
cima e para baixo de helicóptero Esquilo que consome 254
litros de combustível por hora, enquanto os militares não
têm gasolina para ir até a beira do lago. É válido que o
presidente tenha algumas mordomias, mas ele não pode
tripudiar sobre quem dá sustentação política a ele. Ele
deveria pensar duas vezes antes de fazer este tipo de
exortação.
No mesmo dia em que iria passar para a Reserva, o
general Jonas Correia Neto, que já havia deixado o
comando do EMFA, pediu a prisão do presidente da
Federação das Associações de Militares da Reserva
(Famir), tenente da Reserva, Antônio de Souza Garcia,
medida decretada pelo Comando Militar do Planalto (CMP).
A prisão do tenente Garcia era pelo prazo de quatro
dias, período em que o mesmo deveria ficar incomunicável.
O motivo de sua prisão foi uma carta publicada no Correio
Braziliense, onde Garcia chamava o general Jonas Morais
de “incoerente”, “narcisista”, “insensível” e “pelego”.
A carta do tenente Garcia foi escrita em resposta a
uma entrevista do general no mesmo jornal, dois dias antes,
na qual este afirmava que o salário dos militares estava
baixíssimo. Garcia respondeu que esta declaração era uma
“ironia” que o general tinha feito por estar deixando o EMFA.
Antes de ser preso, o tenente respondeu a um ofício
do Comando Militar do Planalto (CMP) confirmando ter sido
o autor de tais declarações.
- Não foi uma prisão disciplinar, foi um sequestro, uma
emboscada, um ato covarde bem ao estilo do general Jonas
Correia.15 Isso também foi um desrespeito ao vice-
presidente da República, Itamar Franco, autor da Lei n.º
7.524, de 17 de julho de 1986, que permite ao militar da
Reserva manifestar-se livremente em público sobre
qualquer assunto [exceto de assuntos militares sigilosos]. A
prisão de Garcia também foi um desrespeito ao Legislativo
que aprovou esta Lei, concluiu Bolsonaro.

15
O general de Exército, Jonas de Morais Correia Neto, faleceu no dia 5
de novembro de 2015, no Rio de Janeiro, aos 90 anos de idade.
Bolsonaro aproveitou para responder ao general
Jonas Correia, que havia afirmado existirem grupos que
pretendiam desestabilizar as Forças Armadas:
- Este temor só existe na cabeça de incompetentes e
arbitrários que em seu imobilismo e omissão vivem a ver
chifres em cabeça de cavalo.
A indignação era forte entre os membros do Exército,
da Ativa e da Reserva, mas somente estes podiam,
legalmente, emitir publicamente opiniões, embora, volta e
meia, os chefes militares mandassem prender tais oficiais.
Foi o caso da prisão do coronel da Reserva, Péricles
da Cunha, por ter dado entrevista ao Jornal do Brasil
criticando a atuação das Forças Armadas e também a
atuação do deputado federal Jair Bolsonaro em defesa dos
salários dos militares, que Cunha não via que estava dando
resultado.
Na ocasião, o coronel Péricles da Cunha também
defendeu um novo papel para as Forças Armadas na luta
contra a fome e a miséria, o que seria na visão dele, uma
espécie de Projeto Rondon Militar. Por suas manifestações
públicas, ele foi punido com dez dias de prisão.
Bolsonaro, apesar de atacado, não levou isto em
conta e saiu em defesa do militar preso, entrando com
pedido de habeas corpus no Superior Tribunal Militar, pois o
que estava em jogo não era apenas a liberdade de Péricles,
mas a liberdade de expressão dos militares da Reserva:
- Temos a nossa carta de alforria que é a Lei n.º
7.524/86, mas esta lei não está sendo respeitada. Quando
algum militar da Reserva me pede conselho, eu aconselho
que ele reaja e não aceite prisão ilegal.
Bolsonaro também atacou o comandante Militar do
Sul, general Bayma Dennys, que determinou a prisão do
tenente-coronel Péricles da Cunha:
- O Bayma Dennys sempre se locupletou, sempre
ficou em salões com ar condicionado e agora não tem o
direito de agir desta maneira, inteiramente fora da lei,
afirmou Bolsonaro ao repórter da Tribuna.
O dia 1.º de maio, normalmente comemorado com
ações de mobilização das centrais sindicais, foi usado pelo
deputado Jair Bolsonaro para fortalecer as reivindicações da
classe militar, especialmente a questão dos baixos salários
recebidos pela tropa.
Ele e o coronel Péricles da Cunha participaram do
programa “Encontro com a Imprensa” da Rádio Jornal do
Brasil e, durante uma hora e meia, os dois responderam a
questões formuladas por repórteres que estavam em
Brasília, com Jair Bolsonaro, e em Porto Alegre, com
Péricles da Cunha.
Tanto Jair Bolsonaro, quanto Péricles da Cunha
defenderam a isonomia salarial entre os três Poderes, como
forma de dar fim à eterna defasagem salarial entre civis e
militares da União, externando suas preocupações em
relação a possíveis manifestações de indisciplina nas
Forças Armadas, no caso de continuarem sendo muito
baixos os reajustes salariais.
Na referida entrevista, Bolsonaro afirmou que achava
inevitável que, no futuro, houvesse um segmento sindical
que defendesse a categoria militar, mas o coronel Péricles
da Cunha opinou pela atuação dos Clubes Militares, como
melhor canal de manifestação das necessidades da
caserna.
Uma questão polêmica foi apresentada por Bolsonaro
na entrevista - no que teve o apoio do coronel Péricles. Para
eles, as Forças Armadas deveriam passar a ser controladas
pelo Congresso Nacional “estabelecendo seu efetivo e
outras questões”, tendo Bolsonaro justificado que isso era
praticado na Alemanha.16
Dez dias se passaram e, depois de inúmeras
manifestações e discussões, finalmente, o governo Collor
decidiu por enviar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei
(PL n.º 910/1991) propondo regulamentar o reajuste dos
vencimentos, soldos, proventos e pensões de servidores
civis e militares.

16 Na verdade, isso era um equívoco. As questões de Defesa na


Alemanha sempre foram de exclusiva responsabilidade do governo
federal e a confusão foi pelo fato de ter sido, então recente a reunificação
das Alemanhas, o que aconteceu em 1990, e as Forças Armadas
estavam sendo reorganizadas e também unificadas as tropas, com
participação legislativa.
O deputado Jair Bolsonaro, entretanto, teceu severas
críticas ao projeto do governo, inclusive com distribuição de
panfletos nas portas de quartéis no Rio de Janeiro e em
Brasília acusando o Palácio do Planalto de tentar
“proletarizar” as duas categorias de servidores públicos
federais, através de um projeto de lei cheio de injustiças e
inconstitucionalidade.
Bolsonaro também usou a tribuna da Câmara dos
Deputados para atacar a situação salarial do funcionalismo
público, até tentando usar o humor em sua fala, embora não
leve muito jeito para a coisa, que acabou saindo algo tosco,
como nessa fala:
- Assim como algumas pessoas acham que o cólera é
uma doença sexual, pois teve origem num país que se
chama Peru, algumas autoridades brasileiras - no caso o Sr.
Presidente da República - pensa que a recessão, a inflação
e tudo o que de mau acontece no Brasil têm origem no que
se paga aos funcionários públicos civis e militares da União.
E os protestos de Bolsonaro contra os baixos salários
dos militares continuaram em seguida, na entrevista dada à
Tribuna da Imprensa:
- Você sabia que o operário Magri (ministro do
Trabalho) da Eletropaulo, que recebe Cr$ 910 mil sem
trabalhar, vale mais que um almirante-de-esquadra que
ganha Cr$ 650 mil? Sabia que a viúva de um ministro militar
do STM (Cr$ 1,6 milhão) vale mais que dois generais-de-
exército na Ativa?
Já o Jornal do Brasil, em edição do dia 26 de maio de
1991, dedicou uma página para discutir o problema do corte
de verbas para as Forças Armadas, traçando um quadro
caótico da situação das Armas em todo o território nacional.
E, claro, o deputado Jair Bolsonaro era um dos que foram
ouvidos pela reportagem, não se furtando a dizer o que
sabia:
- O Brasil utiliza canhões de 105 e 155 mm, todos da
2.ª Guerra Mundial. Eles conseguem acertar o alvo com
precisão até uma distância de nove quilômetros. Acima
disso atiram a esmo, porque nós estamos no tempo da
pedra lascada. A falta de recursos é tanta que um recruta,
ao ser incorporado recebe uma farda nova e uma usada. Há
quartéis em que o soldado recebe dois uniformes usados.
Hoje, um soldado do Exército Brasileiro é treinado para a
guerra, com, no máximo, 20 tiros por ano.
Depois de ser aprovado pela Comissão de
Constituição e Justiça, no dia 6 de junho, o PL 910 também
recebeu a aprovação da Comissão de Finanças e
Tributação da Câmara dos Deputados, com a
admissibilidade de 47 emendas de um total de 176 emendas
apresentadas, das quais, 16 foram de Bolsonaro.
Das 16 emendas, quatro foram consideradas
admissíveis, uma foi considerada inadmissível e as
restantes onze emendas, o relator, deputado Pedro Novais,
considerou que a Comissão não tinha competência para
analisá-las e que isto caberia ao plenário da Câmara dos
Deputados.
Esta iniciativa, entretanto, também não vingou e a
situação dos salários dos militares ficava cada vez mais
crítica, a ponto do comandante da 26.ª Brigada de Infantaria
Paraquedista, general José Siqueira Silva, em solenidade
de brevetação de novos 1.601 paraquedistas, realizada no
dia 3 de julho de 1991, ter feito discurso “com forte teor
político e referência explícita à situação salarial dos
militares” e, isto, na presença do presidente da República,
Fernando Collor de Mello e do ministro do Exército, Carlos
Tinoco.
- (...) O Exército precisa de homens, não apenas no
sentido sexual. Espero que esses homens que estamos
formando possam contribuir para ajudar o país, que é tão
onerado por parasitas. (...)
A questão salarial só gerava insatisfação nas Forças
Armadas e conflitos políticos, não se encontrando solução.
A bola da vez era a Medida Provisória n.º 296/91, emitida
em 29 de maio de 1991, que concedia reajustes
diferenciados para parte dos servidores federais civis e
militares, e que estava em análise no Congresso Nacional e
deixava algumas categorias de fora, como era o caso dos
professores universitários, não contemplados.
No dia 17 de junho, o presidente do Senado, Mauro
Benevides (PMDB-CE) anunciou que a MP 296/91 seria
votada no dia seguinte e advertiu os parlamentares de que,
se a mesma fosse rejeitada, o Congresso teria que aprovar,
antes do recesso de julho, um decreto legislativo que
permitisse ao funcionalismo público ficar com o dinheiro
recebido em maio, já que a Medida Provisória passa a
vigorar desde a sua emissão pelo Executivo.
Além da questão do não reajuste salarial para os
professores, outro ponto discutido era “conceder autorização
para que as viúvas dos militares recebessem pensões iguais
ao soldo a que teria direito o marido, se vivo”, o que
contrastava com a situação da época, em que só se recebia
um terço do soldo. A emenda que se pretendia incluir na
Medida Provisória era de autoria do deputado Jair
Bolsonaro, que há muito lutava para que isso fosse
corrigido.
Como não houve acordo com o governo, com relação
às mudanças propostas pelo Congresso Nacional, a MP
296/91 foi rejeitada inclusive com o voto do deputado Jair
Bolsonaro, por não ver aprovada sua emenda, que havia
sido negociada com a liderança do governo, mas no dia da
votação, essa voltou atrás e não honrou com o acordo.
Em função de o Congresso ter rejeitado a Medida
Provisória, os três ministros militares divulgaram uma
pesada nota atacando os parlamentares por não terem
aprovado o reajuste salarial da forma como proposto pelo
Executivo o que, para Bolsonaro teria sido um ataque a
pessoas erradas, pois os ministros deveriam virar suas
baterias contra o presidente da República e só não o
fizeram porque não tiveram coragem de atacá-lo para não
perderem o cargo, cuja manutenção seria a única
preocupação de políticos como eles.
O ministro da Justiça, coronel Jarbas Passarinho
afirmou à imprensa que não sabia o que dizer a um capitão
que devia devolver o aumento recebido em função da
rejeição da MP 296. E foi categórico ao jogar a culpa pela
rejeição da MP ao deputado Jair Bolsonaro:
- Não podemos nos esquecer de que sempre haverá
um Bolsonaro disposto a fechar o Congresso Nacional.
Bolsonaro, dois dias depois foi contestar, na tribuna da
Câmara dos Deputados, tal fala do ministro da Justiça:
- Não estou aqui para fechar nada, muito menos incitar
algum militar a essa aventura. Se não tivesse crença na
instituição legislativa não teria me candidatado a cargo
eletivo nem estaria lutando para emendar matéria de
interesse daqueles que aqui represento. Quanto ao fato de o
coronel-senador-ministro não saber o que dizer ao capitão
que ficou sem aumento, acho que ele deveria se interessar
um pouco mais, na condição de ministro e militar, para
garantir salários mais justos a esta categoria.
Os muitos problemas que enfrentavam as tropas, por
conta dos baixos e até irrisórios salários recebidos, foram
motivos para que partissem para ações mais ousadas em
protesto contra o arrocho salarial.
E até uma bomba foi detonada próximo à estátua do
Duque de Caxias, na Praça Princesa Isabel, região central
de São Paulo, na madrugada do dia 15 de agosto,
danificando a base da estátua, mas sem deixar feridos.
Um telefonema anônimo – alguém se identificando
como membro das Forças Armadas -, foi dado para a sede
do jornal O Diário Popular reivindicando a autoria do
atentado, que assim justificou o ato:
- Tem militar passando fome, sem dinheiro para pagar
o aluguel. Além disso, nós queremos isonomia, equiparação
salarial, salários iguais entre os três Poderes – o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário.
O deputado Jair Bolsonaro, que tinha sua pauta na
Câmara dos Deputados voltada, em grande parte, para a
busca de uma solução para o problema salarial dos
militares, afirmou:
- Este foi um ato isolado, mas temo que possa ser o
primeiro de uma série de outros. O militar vive numa panela
de pressão; se reclamar vai preso, então só resta a ele a
clandestinidade.
E a preocupação em relação à indefinição sobre o
problema salarial dos militares era tal que se via, inclusive, a
possibilidade dos militares boicotarem os desfiles da
Independência da República:
- Conversei esta semana com um coronel dirigente de
quartel e ele estava preocupadíssimo. Afirmou que o lema
“Brasil acima de tudo” estava sendo substituído por “Brasil:
quem usufrui que o defenda”, afirmou Bolsonaro.
Felizmente, não ocorreram manifestações por parte
dos militares, porque isto poderia desencadear um
movimento indesejável à frágil democracia que começava a
se firmar no país.
Mas havia outro grave problema em discussão, desta
feita, praticado pelo Senado Federal, com conhecimento do
presidente da República, Fernando Collor de Mello, para
burlar a Constituição, não retornando um Projeto de Lei
modificado naquela Casa Legislativa e sancionado pelo
presidente da República, sem que tivesse voltado à Câmara
dos Deputados para nova votação.
E era de interesse direto dos militares: o pagamento
de pensão às filhas solteiras de militares, de qualquer idade
e não somente até os 21 anos, conforme havia sido definido
e aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 7 de agosto
de 1991 e remetido ao Senado para discussão e aprovação.
O deputado Jair Bolsonaro afirmou que a proposta de
se extinguir a pensão para as filhas de militares maiores de
21 anos (ou 24 anos, se estudante) havia partido do chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas, general Antônio Luiz
Rocha Veneu e que isso irritou muitos generais viúvos, que
vinham contribuindo para deixar as pensões para as filhas.
De acordo com ele, o assunto foi levado ao conhecimento
do ministro da Justiça e militar da Reserva, Jarbas
Passarinho, que teria ajudado “muito os militares na
negociação com o Senado”.
O próprio Bolsonaro tratou de mobilizar a tropa para
pressionar o Senado Federal. No final-de-semana que
antecedeu a votação do projeto, que ocorreu no dia 13 de
agosto, ele aproveitou a eleição para a Diretoria do Clube de
Subtenentes e Sargentos do Exército, no Rio de Janeiro,
para distribuir cerca de dois mil panfletos sobre a matéria,
pedindo que os militares ligassem para os senadores peara
que votassem em manter a condição de suas filhas, de
qualquer idade [continuar recebendo a pensão], incluindo
ainda no panfleto o nome e o telefone de contato dos 81
senadores. 17

17 Aproximadamente 180 mil filhas de militares ainda recebem pensão


vitalícia no Brasil. Os gastos superam R$ 5 bilhões ao ano. O benefício foi
extinto em 2000, mas quem já integrava o quadro das Forças Armadas
pode pagar um adicional de 1,5% na contribuição previdenciária para
manter o privilégio a sua descendente. Mas isto não existe somente para
os militares e vale para filhas de funcionários públicos federais, incluindo
Um assessor parlamentar do Senado, que conversou
com a reportagem do Jornal do Brasil, “sob a condição de
anonimato”, teria afirmado que a matéria não havia voltado
para reexame da Câmara dos Deputados, porque os
senadores não votaram este item, mas enfiaram “um gato”
no texto aprovado, que falava apenas em filhos menores de
21 anos, tendo sido acrescido o termo “filhas solteiras e...”.
De acordo com tal assessor, que teria participado das
negociações, o ministro Jarbas Passarinho18 “procurou
primeiro o presidente da Casa, senador Mauro Benevides
que não teria concordado em interferir. Foi então que o
ministro resolveu levar o caso ao presidente Collor, que
avalizou a manobra”.
Quanto à participação do ministro da Justiça na fraude
legislativa, o jornal afirmou que isso ficaria comprovado no
Boletim Informativo que o deputado Jair Bolsonaro remetia,
periodicamente, aos seus eleitores. Segundo o jornal, no
alto da página do último informativo iam “dois parágrafos de
agradecimento ao ministro, que no Senado interferiu de

filhas de ex-servidores do Senado Federal, Câmara dos Deputados e


Tribunais Superiores. Várias pensionistas passaram a recorrer ao STF,
onde o ministro Edson Fachin foi sorteado relator. Ele atendeu pedidos de
uma parte delas: as que têm emprego ou renda na iniciativa privada. As
decisões da Segunda Turma foram unânimes. Além de Fachin, também
fazem parte dela os ministros Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski,
Gilmar Mendes e Celso de Mello. Não foram beneficiadas as mulheres
que tenham cargo público permanente ou recebam pensão por morte de
cônjuge. Elas ainda podem ter o benefício submetido ao pente-fino mais
amplo que havia sido iniciado a partir da decisão do TCU. Mais conhecida
no meio militar, a pensão a filhas de servidores federais civis se concentra
no Executivo, com mais de 60 mil beneficiárias e gastos de R$ 2,39
bilhões em 2016. Enfim, é mais uma excrecência da legislação brasileira.
(Fonte: O Globo).
18 No dia 31 de março de 2011, o jornalista Claudio Leal entrevistou por

telefone o ex-ministro Jarbas Passarinho, para o site Terra. Ao pronunciar


o nome de Jair Bolsonaro, Leal escutou o desabafo de Passarinho, que
estava com 91 anos: “Ah, esse homem eu nunca pude suportar!. Já tive
com ele (Bolsonaro) aborrecimentos sérios. Ele é um radical e eu não
suporto radicais, inclusive os radicais da direita. Eu não suportava os
radicais da esquerda e não suporto os da direita. Pior ainda os da direita,
porque só me lembram o livrinho da Simone de Beauvoir sobre "O
pensamento de direita, hoje": "O pensamento da direita é um só: o medo".
O medo de perder privilégios. (...) Fonte: Terra.
modo que as futuras órfãs solteiras dos militares não foram
incluídas no projeto por um lapso do cabo datilógrafo”.
Denunciada a manobra irregular do Senado Federal
pelo então deputado Paulo Hartung – e sancionada pelo
presidente Fernando Collor -, o procurador-geral da
República, Aristides Junqueira, entrou no Supremo Tribunal
Federal com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
propondo que o assunto fosse rediscutido no Congresso
Nacional.
Em paralelo à ADI impetrada pelo procurador-geral da
República Aristides Junqueira, o deputado Jair Bolsonaro
também recorreu ao STF requerendo a volta das normas
anteriores, “que asseguravam não só às filhas solteiras, mas
também às casadas e às divorciadas, de qualquer idade, o
direito de se habilitarem à pensão do pai militar.
Bolsonaro, em discurso proferido no dia 16 de março
justificou sua atitude no “Princípio Constitucional do Direito
Adquirido” e contava, para tanto, com o apoio da
Associação dos Militares da Reserva, com o argumento de
que os militares mortos passaram toda a vida contribuindo
“para o fundo de pensões, na certeza de que suas filhas
teriam direito à pensão”.
E concluía:
- Se não fosse assim, muitos viúvos, com os filhos
casados ou maiores de idade, teriam parado de contribuir, já
que não teriam para quem deixar suas pensões.
Ficou valendo...
O mês de outubro de 1991 chegava e a defasagem
dos salários de militares quase provocou uma crise entre as
Forças Armadas e o governo de Fernando Collor de Mello,
com os ministros militares colocando seus cargos à
disposição, em virtude do ministro da Economia, Marcílio
Marques Moreira, em reunião com os eles e o presidente
Collor ter proposto postergar o reajuste dos salários para
aplicação somente em novembro daquele ano.
Diante do impasse criado, o general Antônio Luiz
Rocha Veneu, ministro-chefe do Estado-Maior do Exército
entregou o cargo ao presidente, sendo seguido pelo ministro
do Exército, general Carlos Tinoco.
De acordo com informações passadas à imprensa
pelo deputado Jair Bolsonaro, o ministro da Aeronáutica,
Sócrates Monteiro ficou do lado do ministro da Economia,
enquanto o ministro da Marinha, Mário César Flores, se
omitiu.
O clima só amenizou, de acordo com informações do
deputado, depois de o governo aceitar sancionar a lei com
publicação imediata no Diário Oficial da União, com a
concessão de reajuste de 45% aos militares.
O problema salarial não era algo que se resolvia com
um reajuste de 45%, depois de meses sofrendo com a
inflação. Embora esta tenha caído bastante em relação aos
dois últimos anos, chegou ao final de 1991 (acumulado de
12 meses), em 492,28%, medido pelo Índice de Preços ao
Consumidor (IPC) e, por isso, o clima de tensão nas Forças
Armadas era permanente.
Assim, durante o evento comemorativo ao Dia do
Aviador (23 de outubro) os ministros militares, general
Carlos Tinoco, do Exército, e o brigadeiro Sócrates
Monteiro, da Aeronáutica, aproveitaram a presença do
presidente Fernando Collor de Mello, em uma cerimônia
fechada ocorrida no salão nobre da Base Aérea de Brasília,
para denunciar os baixos salários pagos às tropas e as
restrições orçamentárias impostas às três Armas.
O brigadeiro Sócrates Monteiro falou contra o que ele
chamou de “má-fé de alguns, que insistem em atingir a
imagem que as Forças Armadas brasileiras conquistaram,
ao longo do tempo, junto à população” e foi além:
- Questionam nosso comportamento, nossa
capacidade a até a necessidade de nossa existência.
Parecem mostrar-se a soldo de intenções inconfessas,
externas ou internas. Precisamos caminhar unidos,
Aeronáutica, Marinha e Exército, e buscar a lealdade, a
coesão e o profissionalismo como os meios mais indicados
para cumprirmos a nossa destinação constitucional.
Em seguida, o ministro do Exército, general Carlos
Tinoco, que também falou em nome da Marinha, depois de
saudar os aviadores, engrossou o coro iniciado pelo
brigadeiro Sócrates Monteiro:
- Não padece dúvida que os organismos de defesa de
nosso país se defrontam com um quadro conjuntural,
comprovadamente adverso. A insensata pregação contra as
Forças Armadas, as restrições orçamentárias e a baixa
remuneração representam óbices consideráveis a
multiplicar-se na rota dos objetivos colimados por nossas
instituições. Sem dúvida, o Exército, a Marinha e a
Aeronáutica precisam ter o imperativo da coesão entre as
instituições.
Depois da solenidade pública, em que foram
condecoradas diversas personalidades com a medalha de
Mérito Aeronáutico, entre estas o humorista Jô Soares, o
presidente Fernando Collor de Mello deixou o local sem se
despedir de ninguém e visivelmente irritado com os chefes
militares.
No dia 24 de outubro de 1991, o ministro do Exército,
general Carlos Tinoco, aproveitou de sua participação na
Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigava a
ameaça de internacionalização da Amazônia, para defender
seu Ministério das denúncias de superfaturamento em
compras de fardas e roupas de cama e banho,
questionando os parlamentares sobre “a quem interessava a
desmoralização das Forças Armadas”.
A indireta, claro, era para o deputado Jair Bolsonaro,
que estava articulando um movimento para destituição de
todos os envolvidos em tal licitação e de toda a cúpula
militar, a começar pelo general Carlos Tinoco, a quem
rotulara de “notório incompetente”.
Para Bolsonaro, a alegação de que a denúncia contra
a “licitação irregular” seria “parte de uma campanha
difamatória contra as Forças Armadas” seria “fruto da
imaginação deformada de comandantes militares que não
queriam se adaptar aos tempos democráticos vigentes no
país”.
Bolsonaro afirmou ainda esperar “que tão logo os
ventos democráticos soprassem nos quartéis, seria possível
desvendar uma série de desmandos então encobertos por
uma verdadeira nuvem de fumaça”. E um dos setores
apontados pelo deputado Jair Bolsonaro como tendo sérias
dúvidas sobre a corrupção era justamente o de compra de
materiais.
Falando sobre a acusação do ministro do Exército,
Carlos Tinoco, o deputado, usando a tribuna da Câmara,
disse que seria dever dos ministros apontar quem estaria
orquestrando a desmoralização das Forças Armadas, mas
claro, isso não ocorreu e nem era algo conveniente para a
nossa jovem e frágil era de redemocratização da República.
Explicam-se os ataques de Jair Bolsonaro dirigidos ao
general Correia Netto: no dia anterior, seu irmão, primeiro-
tenente Renato Antônio Bolsonaro, havia sido preso por
ordem do Comando de Operações Terrestres (Coter),
situado na Vila Militar, acusado de ter desviado uma cópia
do informe de três páginas, em que todas as unidades do
Exército eram instruídas para que o deputado fosse
“identificado pela guarda, conduzido ao comando e inquirido
sobre o que desejava”. Definia-se ainda que “em nenhuma
hipótese, o citado parlamentar deveria se reunir com
militares no interior dos quartéis”.
A prisão de Renato Antônio Bolsonaro foi determinada
pelo chefe do Coter, general Alberto dos Santos Lima
Fajardo, o mesmo que o havia punido, no ano anterior, com
quatro dias de prisão, por transgressão disciplinar. Depois
de cumprir a pena, o irmão de Bolsonaro foi transferido para
Caxias do Sul (RS).
Com relação às irregularidades na compra –
apontadas por Bolsonaro -, e desvios de materiais do
Exército, é preciso entender que não eram coisas novas e já
vinham sendo investigadas pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) desde 1989, tendo o Tribunal condenado em
1991, o sargento José dos Anjos e os tenentes Max da Silva
Ramos e Alexandre Rosa Ferreira, da 4.ª Companhia de
Engenharia de Combate Mecanizada do Ministério do
Exército a devolver aos cofres públicos NCr$ 125.129,62,
referentes ao furto de fardamento e de outros materiais do
Exército ocorrido durante o ano de 1989.
Continuando seus ataques ao ministro do Exército,
Jair Bolsonaro, em discurso na tribuna da Câmara dos
Deputados, sugeriu a demissão do general Carlos Tinoco,
com o argumento de que ele não havia defendido a faixa de
terras de fronteira outorgada aos Ianomâmis e que o melhor
seria que ele “batesse em retirada”, pois não gozava de
prestígio.
Antes que o ano acabasse, Bolsonaro ainda tinha de
deixar mais uma de suas marcas: a guerra virtual contra os
índios. No dia 21 de novembro, de acordo com Ricardo
Boechat, para o jornal Correio de Notícias, Bolsonaro
protocolou, na Procuradoria-Geral da República “a primeira
tentativa legal de anular a criação da reserva Ianomâmi”. A
representação apresentada à PGR “em nome da segurança
nacional”, arguia a inconstitucionalidade do ato.
No dia 12 de dezembro, o Executivo encaminhou, à
Câmara, a mensagem MSC003761991-PE solicitando a
retirada do Projeto de Lei 910/1991.
O primeiro ano de mandato do deputado Jair
Bolsonaro chegava ao fim, mas não as polêmicas em torno
da necessidade de se corrigirem as distorções salariais dos
militares e, como era previsível, afloravam também os
debates sobre as eleições de 1992, em que os militares
almejavam aumentar a sua participação nos legislativos
municipais, como forma de ampliar a representatividade e
poder influenciar nos destinos do país.
De um lado, se posicionava o deputado Jair
Bolsonaro pela candidatura de militares de todas as
patentes e, de outro, os Clubes Militares, Naval e da
Aeronáutica, que trabalhavam pela candidatura de oficiais,
embora Bolsonaro não tivesse fechado as portas ao diálogo.
A Tribuna da Imprensa publicou no dia 23 de
dezembro, uma entrevista com o deputado Jair Bolsonaro,
onde as eleições de 1992 foram amplamente discutidas.
Leia alguns trechos:
- Os Clubes Militares, Naval e da Aeronáutica já estão
estudando nomes para lançarem na eleição do ano que vem
e em 1994. Você está nesta política?
- Eu não fui convidado pelo Clube Militar e me causa
estranheza que os presidentes de clubes de soldados,
subtenentes e sargentos também não sejam convidados
para a reunião que deu início a este processo. Esta iniciativa
dos clubes é legal, porque vivemos em uma democracia,
mas, logicamente, não atingirá seu objetivo se eles não
estenderem as mãos para a massa que compõe as Forças
Armadas. Já que precisam de votos, precisam dessa gente.
Não podemos partir para a política discriminatória, só com
oficiais. Eu estou um tanto quanto na frente deles: nós já
temos nossos candidatos a vereadores, para o ano que
vem, escolhidos em 15 municípios do Estado do Rio de
Janeiro. Só não decidimos ainda aqui na capital. Existem
muitos nomes e temos que fechar com apenas um, que é
para não pulverizarmos os votos. Já temos os nossos
representantes, por exemplo, em Resende, Vota Redonda e
Três Rios.
– Então, ano que vem, teremos duas vertentes “verde-
oliva”: a sua e a dos Clubes Militares?
– Se houver um convite para conversarmos, eu irei.
Estamos entrando realmente na política partidária. Em
Brasília, temos a Federação das Associações dos Militares
da Reserva, a Famir, cujo presidente é o segundo-tenente
Antônio de Souza Garcia, que também está empenhado
nesta luta. Não tem mais essa história de que se associam a
nós não devem pensar em política. Se não tivermos nossos
representantes neste setor, nos igualaremos àquele soldado
que vai à guerra com fuzil, mas sem munição e quer ganhar
a batalha. Nós já escolhemos candidatos a vereador
também em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em
Campinas e Ribeirão Preto e também em Porto Alegre. À
prefeito não, porque ainda é cedo. Logicamente que eu já
pensei em um partido nosso, não apenas de militares, e sim
somando com civis que têm um ideal semelhante ao nosso.
Porém, vamos primeiro eleger em 94 o maior número de
deputados para depois partirmos para a criação deste
partido. (...)
O ano de 1992 não seria muito diferente em relação à
questão salarial dos servidores públicos civis e militares,
devido à brutal defasagem do poder aquisitivo provocado
pela escalada inflacionária, que teve, ao final de 12 meses,
o Índice de Preços ao Consumidor na casa dos 1.119,10%.
A Reforma da Previdência pretendida pelo Governo
Collor de Mello não foi em frente, mas Bolsonaro aproveitou
sua fala do dia 16 de janeiro de 1992, para dar uma
estocada a mais no já combalido Governo colorido:
- Senhor Presidente, acho que o projeto de lei sobre a
Previdência, ora em tramitação nesta Casa, já é assunto
encerrado. Eu gostaria apenas de deixar aqui a minha
posição: se a Casa aprovasse o projeto como está, estaria
assumindo a condição de padrinho de casamento do
descalabro administrativo com a corrupção. O problema do
Brasil, e não só da Previdência, se resume em apenas uma
palavra credibilidade. Se o presidente Collor de Mello não
entender o significado da palavra dou um sinônimo para ele:
vergonha na cara.
Além da Previdência Social, havia a eterna questão
salarial dos militares, e o deputado Jair Bolsonaro, que fazia
oposição sistemática ao papel do Estado-Maior das Forças
Armadas, aproveitou fevereiro para tentar mobilizar a
opinião pública para a necessidade de se criar o Ministério
da Defesa e extinguir as quatro pastas militares existentes.
Para Bolsonaro, os três ministros militares atuavam
como “três patetas” que faziam de tudo para se manterem
em seus respectivos cargos ministeriais e que a “voz da
tropa” nunca era ouvida. Ele entendia que os ministros
militares tinham medo de fazer qualquer tipo de
reivindicação para a tropa porque, em sua visão, os
ministros achavam que se pedissem alguma coisa, seriam
despedidos de seus cargos, razão pela qual estariam tão
acomodados.
No dia 24 de janeiro de 1992, o sargento da
Aeronáutica, Alan Kardec da Silva foi novamente preso,
como punição por requerer, judicialmente, a compra do
apartamento onde ele morava antes de esgota o prazo de
120 dias que as Forças Armadas exigiam para solucionar
um conflito administrativo. O sargento queria obter o mesmo
benefício oferecido aos funcionários civis de ministérios
militares. Bolsonaro novamente entrou na Justiça pedindo a
sua soltura, que viria ocorrer depois de oito dias preso.
Sobre a questão dos baixos salários da tropa, o Jornal
do Brasil do dia 21 de março de 1992, trazia nota na coluna
Informe JB, atribuindo ao deputado Jair Bolsonaro a
seguinte fala:
- Se alguém aparecer de corneta, domingo, na Feira
de Acari, e der o toque sentido, vai ter muita gente batendo
o calcanhar.
E o jornal explicou: “Para quem não conhece a Feira
de Acari, no Rio de Janeiro, ela é a robauto, onde todo
mundo compra e vende, por preço barato, mercadorias
roubadas”.
O general Carlos Tinoco, em editorial publicado em
informe do Exército, datado de 31 de março e intitulado
“Necessidade, Urgência e Justiça” pediu que o projeto de
isonomia salarial entre os três Poderes da União fosse
acelerado, tendo recebido palavras de apoio dos demais
chefes militares.
Até o deputado Jair Bolsonaro, ferrenho crítico do
general Carlos Tinoco, o elogiou, embora com aquela sua
costumeira risadinha irônica: “Só posso bater palmas para
ele. Esse é o ministro que eu gostaria de ter”.
Em abril daquele ano era organizada em Brasília, para
acontecer no dia 27 de abril, a “Marcha pela Dignidade da
Família Militar”, promovida por mulheres de militares que
serviam em Brasília. Para o deputado Jair Bolsonaro, que
usou a tribuna da Câmara para clamar pela sensibilização
dos ministros militares e do presidente Fernando Collor para
o problema, a passeata poderia desencadear uma grave
crise nos quartéis.
Além disso, Bolsonaro lembrou que os artigos 61 e 63
da Constituição, determinavam como de exclusiva
competência do Poder Executivo, a iniciativa de mandar ao
Congresso Projeto de Lei que daria igualdade de direitos
entre funcionários federais civis e militares e conclamou a
todos a se indignarem contra o governo, pelo tratamento
injusto dado aos militares.
Mas, ao invés de dar solução ao problema salarial dos
militares, o Governo de Collor de Mello resolveu partir para
a censura ao movimento reivindicatório, conforme Bolsonaro
denunciou, no dia 9 de abril, em discurso proferido na
tribuna da Câmara dos Deputados:
- (...) Tenho feito uma série de palestras em vários
locais aqui em Brasília. Ontem, outra reunião deveria ter
sido realizada na Igreja Santa Terezinha, situada no
Cruzeiro. Os arranjos foram feitos previamente e na hora
marcada, às 20h, comparecemos ao local. Mas, para nossa
surpresa, o Padre Armando, responsável por aquela Igreja,
fez-nos o seguinte comunicado: o salão paroquial não nos
seria mais cedido e não poderíamos realizar a reunião ali.
Logicamente quisemos saber o porquê disso, mas o padre
disse simplesmente que recebera ordens superiores. Não
disse de quem. Como estávamos em ambiente militar, foi
muito fácil levantar os fatos. Por volta das 18h, aparecera
por lá um carro do Estado-Maior das Forças Armadas. O
motorista, um militar, entregara ao Padre uma folha de
papel. Foi depois disso que o Padre resolveu não nos ceder
mais o local para a reunião. Saíamos da Igreja.
Acompanhavam-nos aproximadamente duzentas esposas
de militares e quase uma centena de militares. E, mesmo
sob aquela forte chuva de ontem à tarde, fizemos ali
mesmo, ao ar livre, a nossa palestra. O que nos surpreende,
e .muito, é que um emissário de Deus se curve a interesses
políticos mesquinhos. No meu tempo de caserna, Senhor
Presidente, era comum ouvir falar em "padre vermelho".
Agora, apareceu uma nova figura: o "padre collorido". Mas
vamos em frente. Hoje, Senhor Presidente, devo fazer uma
palestra na Escola - Classe 106 Norte. Acontece que a
Diretora daquela escola, apavorada, com a voz trêmula,
ontem nos disse, por telefone, o seguinte: "Deputado,
desculpe-me, mas V. Exª está proibido de entrar na escola
amanhã" - ou seja, hoje - "para realizar a sua palestra". Bem
a tempo: comparecerão ao evento os militares e suas
esposas, que moram na SQN 102, SQN 103 e SQN 306. É
lastimável que tal decisão tenha partido do Governador
Joaquim Roriz. Soubemos que a escola recebeu cópia de
uma portaria assinada ontem mesmo pelo Governador,
mudando completamente as regras de cessão das salas das
escolas da Fundação Educacional para a realização de
palestras. Para mim, não é novidade essa atitude do Senhor
Joaquim Roriz. Aliás, tenho certeza de que qualquer dia
algum laboratório português criará um ser com quatro patas,
orelhas grandes, cabeludo e amante da ecologia que sem
dúvida poderá fazer um governo melhor do que o de S. Ex'
aqui em Brasília. Senhor presidente, as palestras vão
continuar, e desafio quem possa contestar o que eu digo em
qualquer delas. Ninguém vai ouvir de mim "abobrinhas".
Quem vai às minhas palestras toma conhecimento do que
está acontecendo na área militar. Descobre, por exemplo,
quem é responsável pelos problemas que envolvem a nossa
isonomia salarial, por que não se elabora uma lei para
regular a promoção de praças e por que o Congresso não
aceita emendas de plenário a projetos que tenham origem
no Poder Executivo. Todos esses temas legítimos são
tratados com palavras não diria duras, mas justas.
Como havia denunciado, no dia 10 de abril, Bolsonaro
foi impedido de conduzir a reunião com mulheres de
militares na Superquadra 113 da Asa Sul, por militares do
Exército. Quando ele chegou ao local marcado para a
reunião, toda a quadra já estava cercada por cerca de 60
militares, que não permitiram a aproximação do capitão-
deputado.
Apesar de seus protestos e da exibição de exemplar
da Constituição Federal que lhe garantiria a liberdade de ir e
vir, Jair Bolsonaro foi cercado pelos militares, que não o
permitiram nem mais um passo em direção ao local do
encontro com as mulheres dos militares.
O jeito foi fazer a assembleia em cima de um
automóvel, ocasião em que Bolsonaro fez “um duro discurso
contra o presidente Fernando Collor, chamando-o de
corrupto e imoral”. Além disso, o deputado acusou os três
ministros militares de omissão, afirmando que “a dramática
situação salarial existente nas Forças Armadas era
consequência da completa ausência de lideranças,
especialmente do Exército”.
Em função desta convocação de manifestação feita
por Bolsonaro, o ministro do Exército, general Carlos
Tinoco, decretou proibição de se fazer manifestações em
áreas residenciais de militares. Mas nada era impedimento
para quem tinha uma missão a cumprir na Câmara dos
Deputados, em Brasília, embora houvesse consequências.
Por exemplo, no dia 10 de abril era noticiado que o
primeiro-sargento Alan Kardec Carvalho Rodrigues, havia
sido preso nas dependências do VI Comando Aéreo
(Comar) de Brasília, por ter participado, no dia 26 de março,
de reunião-protesto convocada pelo deputado Jair
Bolsonaro, ocasião em que este atacou os ministros
militares, especialmente o brigadeiro Sócrates Monteiro, que
determinara a prisão de Alan Kardec.
Na solenidade de promoção de quarenta oficiais-
generais, que teve lugar no salão principal do Palácio do
Planalto, no dia 14 de abril, o presidente Collor aproveitou
seu discurso para agradecer, especialmente, “a
compreensão da família militar, das esposas, filhos e
parentes de militares, para com as restrições”, dizendo que
reconhecia “a nobreza com que as Forças Armadas têm
sabido enfrentar tais limitações”. Concluiu afirmando que
aproveitava o momento par agradecer o “rigoroso sentido de
cumprimento do dever” que ele tinha o orgulho de
comprovar “no conjunto das Forças Armadas”.
Um “oficial presente” teria dito a um repórter do Jornal
do Brasil, que via nas palavras do presidente Collor, “um
recado sutil ao deputado Jair Bolsonaro e a outros militares
da Reserva que anunciavam a realização, no dia 27 de abril
de uma passeata de familiares de militares pela Esplanada
dos Ministérios”.
Neste mesmo dia, o repórter especial da Sucursal de
Brasília do Jornal do Brasil, Luiz Claudio Cunha, escreveu
artigo intitulado “Pedra no Coturno”, onde fez uma
radiografia das ações do deputado federal Jair Bolsonaro:

Pedra no coturno: Deputado-capitão deixa furioso o


Estado-Maior
Brasília – O alvo preferencial do Exército brasileiro, hoje,
tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro, capitão da Reserva
e deputado pelo PDC do Rio. Desde Márcio Moreira Alves,
pivô da crise que acabou no AI-5, nenhum nome causa
tanta indignação no Alto Comando do Exército, em Brasília,
quanto o do parlamentar. “Este fulano fala o que fala e
abusa de sua liberdade, como deputado”, dizia ontem um
general-de-Exército ao Jornal do Brasil. “Ao contrário de
Moreira Alves, um civil, os ataques de Bolsonaro machucam
mais porque vêm de um companheiro de caserna”. Na
segunda-feira à noite, na tentativa de mais uma reunião
com as famílias de militares de Brasília, Bolsonaro teve seu
acesso à quadra de esportes da SQN 103 bloqueada por
soldados da Polícia do Exército, convocados pelo ministro
Carlos Tinoco.
Mesmo assim, Bolsonaro discursou e voltou a chamar o
ministro do Exército de “banana”. “Isso é uma baixaria, mas
o RDE (Regulamento Disciplinar do Exército) não se aplica
a um parlamentar. Esse é um problema para o presidente
da Câmara dos Deputados resolver”, acrescenta outro
general. Bolsonaro consegue audiência entre os parentes
de militares na esteira da crise econômica: o ministro-chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas, general Antônio Luiz
da Rocha Veneu, ao entregar na segunda-feira um estudo
ao presidente Collor denunciou defasagem de 108% para
os militares em 92.
(...) “Se o ajuste sai para os militares, deve ser concedido
também aos servidores civis. Esta é a desgraça”, lamenta
um general. (...)
Os generais se orgulham de sua paciência: “O Exército se
mostra uma instituição madura. A PE cercou a quadra, mas
não botou a mão em Bolsonaro. Hoje o Exército engole
desaforo e não reage fora dos preceitos legais”, lembra um
integrante do Alto Comando. (...)

Bolsonaro, no dia 15 de abril, usou novamente a


tribuna da Câmara dos Deputados para criticar o Congresso
por não tomar posição em relação ao problema salarial dos
militares, advertindo os parlamentares que a situação
poderia descambar para um golpe idêntico ao ocorrido no
Peru.
Na opinião de Bolsonaro, o Brasil estava passando por
um momento de muita miséria causada pelo “desgoverno e
a um Congresso enfraquecido que, em vez de legislar,
participava do loteamento de cargos no Executivo”.
Para os que não estão acostumados com altos índices
de inflação, como os experimentados nos anos 1980/90,
registra-se que a defasagem salarial dos militares,
acumulada, somente no período do governo de Fernando
Collor de Mello já estava em 850%.
E, embora o governo tenha dito que não havia levado
em consideração as palavras de protesto do deputado Jair
Bolsonaro contra a proposta que estava sendo estudada de
dar, como reajuste salarial aos militares, duas parcelas de
20% (inclusive a fala de que iria jogar o aumento do governo
na privada), foi anunciado, no dia 20 de abril de 1992, que o
funcionalismo civil e militar iria receber 80% de reajuste em
três parcelas: 30% em maio, 25% em junho e 25% em julho,
o que, na prática, chegava aos 100% reivindicados.
Da reunião comandada pelo presidente Fernando
Collor de Mello e que decidiu pelo aumento, não houve
participação de qualquer dos ministros militares. O
secretário de Política Econômica afirmou que “a mudança
do índice não teve qualquer influência do discurso feito pela
manhã na Câmara, pelo deputado Jair Bolsonaro (PDC-
RJ)”.
Na fala do deputado, referida pelo presidente
Fernando Collor, o parlamentar disse, textualmente:
“Aconselho o presidente Fernando Collor a pegar o reajuste
de 80%, escalonado em três vezes, e levar para o wc e
fazer bom uso dele”, pelo que foi repreendido pelo deputado
e também oficial da Reserva, Luiz Moreira (PTB-BA), que
presidia interinamente a Casa.
A inteligência do Exército sabia que Bolsonaro vinha
mobilizando muita gente para a passeata programada para
o dia 27 de abril e temia pelo resultado, já que havia
também a influência de sindicatos ligados à CUT, pois o
problema salarial do funcionalismo público federal também
atingia os civis e a imprensa dava cobertura a estas
mobilizações.
O ministro da Justiça, Célio Borja, que conduzia a
questão do reajuste salarial, atacou o deputado Jair
Bolsonaro, afirmando:
- As recentes manifestações de desagrado dos
militares envolveram o aliciamento de familiares,
particularmente as esposas, pelo deputado-capitão da
Reserva Jair Bolsonaro e não por parte de militares da ativa.
O Jornal do Brasil trouxe, no dia 22 de abril, um longo
artigo do jornalista e cientista político, Márcio Moreira Alves
– sim, o político que desencadeou a crise do AI-5 -, onde ele
fez uma análise da atuação do deputado Jair Bolsonaro em
reivindicar melhoria salarial do militares e fez uma
diferenciação entre a crise, da qual ele foi acusado de ser o
pivô, e a crise em que Jair Bolsonaro era o protagonista. A
seguir um trecho do artigo “Os militares e seus soldos – I”
Portanto, em 1968, a luta parlamentar era
caracteristicamente política, encaixando-se em um clima
político interno e internacional que não existe mais. A ação
do deputado Jair Bolsonaro hoje é tipicamente sindical e
corporativista. Logo, Bolsonaro nada tem a ver com os
deputados que, naquela época, arriscaram e perderam os
seus mandatos na defesa das instituições democráticas.

Sobre a forma de agir do deputado Jair Bolsonaro, o


jornalista assim a definiu:
(...) Em princípio, o trabalho do deputado Bolsonaro só
diferencia do proselitismo sindical da CUT por dirigir-se a
uma categoria especial de funcionários públicos, junto aos
quais, as centrais sindicais não atuam e, por invadir a
privacidade de zonas residenciais, impróprias para
comícios. (...) A sua militância sindical, pois é disso que se
trata, visa garantir-lhe a reeleição e o recebimento de um
salário três vezes e meia maior que o de um general de
quatro estrelas, limite máximo a que poderia aspirar se na
carreira continuasse.

No dia seguinte, o Jornal do Brasil trazia a segunda


parte do artigo, em que Márcio Moreira Alves fazia uma
análise dos problemas decorrentes da disparidade entre os
salários pagos pelos Legislativo e Judiciário e a situação
vivenciada pelos militares, especialmente a oficialidade mais
nova. Fechando o seu artigo, que transcreveremos alguns
trechos a seguir, cita um ditado que, segundo ele, se fala
em Minas Gerais: “Ou todos se locupletam ou instaure-se a
moralidade”, concluindo que a segunda hipótese seria a
mais aconselhável e urgente, já que o Peru e a Venezuela
eram dois exemplos nada bons.
(...) O artigo 37, inciso 12, da Constituição reza: “os
vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder
Executivo” e o parágrafo I do artigo 39 diz: “a lei assegurará
aos servidores da administração direta isonomia de
vencimentos para cargos de atribuições iguais e
assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos
Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário, ressalvadas as
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou
local de trabalho”.
Desde que Napoleão ensinou os soldados a ler, porque não
dava mais para transmitir ordens por toques de corneta, os
militares lêem tudo ao pé da letra. O que parece claro no
livrinho é o que vale para eles. Os advogados e juízes, não.
Ganham a vida interpretando textos e tratam de interpretá-
los a seu favor. Pegaram a expressão ressalvadas as
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou
local de trabalho e a usaram para aumentar absurdamente
os proventos do funcionalismo do Legislativo e do Judiciário
e para ganhar, na Justiça, imensas vantagens para algumas
categorias, especialmente para a Polícia Federal.
Implantou-se, com isso, a desordem salarial no serviço
público, de vez que os juízes e os parlamentares
determinam as suas próprias remunerações e as
estabelecem em níveis superiores aos dos Estados Unidos
ou da Suíça. Superiores, inclusive, às do presidente da
República.
(...) Quem mais sente o achatamento salarial é a
oficialidade jovem, os cabos e os sargentos. Tenentes e
capitães ganham pouco, têm filhos em idade escolar, não
têm casa própria. Os colégios particulares estão caros, a
escola publica na falência, os aluguéis não esperam que
recebam aumentos para subir. Muitos, no Rio de Janeiro,
moram em lugares como o Jacarezinho. O mesmo acontece
com os cabos e sargentos, com o agravante de serem as
suas esperanças de promoção reduzidas ou nulas. É essa a
massa de seguidores do deputado Bolsonaro.

Antes desta citação, Márcio Moreira Alves, escreveu:


Não é possível manter, no serviço público, em um país com
níveis de pobreza africanos, salários da Arábia Saudita.
Tampouco é possível exigir os sacrifícios impostos pela
política anti-inflacionária, quando os amigos do Poder
esparramam dinheiro, que atividade lícita alguma justifica.

O Jornal do Commercio divulgou, também no dia 23


de abril de 1992, que, em função do cancelamento da
reunião entre o ministro-chefe do EMFA, general Antônio
Luiz da Rocha Veneu, e parlamentares, para discutir a
questão salarial, o deputado petista José Genoíno (SP)
justificou que “no momento se buscava uma solução
emergencial para o problema da crise salarial dos militares.
Existem outros assuntos para serem discutidos, como a
isonomia”.
José Genoíno também disse que já havia alertado o
deputado Jair Bolsonaro sobre a inconveniência de se
realizar a manifestação do dia 27 de abril, alegando que
esta poderia ser o estopim para a precipitação da tropa e
para a quebra de hierarquia entre militares.
No mesmo artigo era afirmado que o Superior Tribunal
de Justiça (STJ) havia remetido ao Supremo Tribunal
Federal o pedido de habeas corpus feito pelo deputado Jair
Bolsonaro para que pudesse entrar nas quadras em que
residiam militares em Brasília, para falar sobre os problemas
salariais. Entretanto, de acordo com decisão do STF, o
Tribunal não tinha competência para julgar ações contra o
comandante militar do Planalto.
No dia seguinte, o jornalista Hélio Fernandes publicou,
na Tribuna da Imprensa, uma nota “muito preocupante”.
Segundo a mesma, ele teria ouvido em duas estações de
rádio, que o ministro do Exército, general Carlos Tinoco,
afirmara que se houvesse a passeata do dia 27 de abril, que
estava sendo “organizada pelo capitão Jair Bolsonaro,
mandaria prendê-lo imediatamente”.
Para o jornalista, tal afirmativa, vinda de um ministro
militar, seria algo estarrecedor, já que o parlamentar tinha
imunidade e não poderia ser preso, a não ser em flagrante
delito, que não era o caso.
Na antevéspera do dia programado para a
manifestação, as Forças Armadas entraram de prontidão,
devido aos três chefes militares estarem preocupados com a
passeata de mulheres e parentes de militares, convocada
pelo deputado Jair Bolsonaro, em protesto contra os baixos
salários.
Mas, embora muitos quisessem evitá-la, a
manifestação aconteceu. E não foi uma manifestação
qualquer. Cerca de 1.200 pessoas, entre mulheres e filhos
de militares se concentraram em frente à Catedral
Metropolitana de Brasília e, depois de diversos discursos
inflamados, em cima de um carro de som improvisado e
cedido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), os
manifestantes marcharam pela Esplanada dos Ministérios
até os Ministérios do Exército e do Estado-Maior das Forças
Armadas, sempre seguidos por 450 homens e mulheres do
Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Manifestantes em Brasília no dia 27 de abril de 1992 - Reprodução


O deputado Jair Bolsonaro discursando para os manifestantes
Arquivo pessoal.

Os manifestantes portavam faixas e cartazes com


frases de efeito, como “Disciplina nos quartéis com barriga
vazia não dá”, levavam ainda panelas vazias para simbolizar
a situação de penúria pela qual passava a tropa e peças de
fardas militares. Mas, apesar da apreensão que gerou e do
refrão gritado com animação “Ê ô ê ô o salário é um terror”,
não houve incidente com as tropas do Batalhão de Choque,
nem com os fuzileiros navais e soldados da Polícia do
Exército, que cercavam os prédios dos ministérios militares.

Bolsonaro discursa em frente aos Ministérios Militares Arquivo


Pessoal
A manifestação durou entre 15h00 e 16h25 e
Bolsonaro não poupou o presidente Fernando Collor de
Mello, a quem chamou de “corrupto e imoral” e os ministros
militares do Exército, Marinha, Aeronáutica e do Estado-
Maior das Forças Armadas, a quem chamou de omissos,
bananas e incompetentes, por não atuarem com firmeza
para resolver o problema salarial de suas tropas.
De acordo com o Jornal do Brasil, sempre
“acompanhado de seguranças” e “ao lado da mulher
Rogéria, que usava uma boina de paraquedista”, Bolsonaro
teria dito em seu discurso: “Os brasileiros podem ficar
tranquilos. Não existe nenhum risco de golpe militar porque
“esses caras” não têm nenhum comando sobre as tropas”.
Além disso, Bolsonaro sugeriu que o presidente da
República colocasse no lugar dos atuais ministros “homens
com comando”.
E continuou sua provocação, dizendo: “Um general
sozinho não vai à guerra. Ele precisa sempre de um soldado
para levar tiro na cara”.
Durante o percurso, de cerca de 800 metros, entre a
Catedral de Brasília e a sede do Estado-Maior das Forças
Armadas, pelo menos, vinte mulheres se revezaram no
carro de som, falando sobre os problemas que enfrentavam
pelos baixos salários dos maridos e também cantando
paródias divertidas dos hinos militares, como “Nós somos da
pátria amada, fiéis esposas, sempre caladas”.
E se chegou ao ponto de mulheres de oficiais
cantarem, a plenos pulmões, a música “Para não dizer que
não falei de flores”, de Geraldo Vandré, uma das mais
proibidas e perseguidas durante o governo militar, pois se
converteu em um hino de protesto contra o Regime de
exceção que se instalara no país.
No encerramento dos protestos e depois de longa vaia
ao ministro do Exército, general Carlos Tinoco, os
manifestantes cantaram o Hino Nacional e, por mais de um
minuto, ovacionaram o deputado Jair Bolsonaro, em
reconhecimento à sua luta em favor de melhores salários
para os militares.
Um fato, porém, fora da programação, chamou muito a
atenção de todos. Quando Jair Bolsonaro desceu do carro
de som, integrantes do Sindicato dos Bancários de Brasília,
que era ligado à CUT, ofereceram a ele todo o apoio
necessário para qualquer outra manifestação que ele
quisesse realizar, incluindo equipamentos e serviços
gráficos completos.
O Correio de Notícias afirmou que “uma autoridade”
teria comentado que “se a CUT ou a Força Sindical
tivessem organizado a manifestação das mulheres de
militares, a passeata não teria sido tão agressiva”, se
referindo aos xingamentos feitos por Bolsonaro contra os
chefes militares.
E não era somente por conta dos ataques. Bolsonaro
levou para o ato três parlamentares: Augusto Carvalho
(PPS-DF), que esteve em reuniões de preparação da
manifestação com mulheres de militares; Maria Laura (PT-
DF), ligada à ala trotskista do PT e Ernesto Gradella (PT-
SP), também ligado, na época, à trotskista “Convergência
Socialista”.
O jornalista Genilson Gonzaga, do Jornal do
Commercio, chamou a manifestação comandada por
Bolsonaro de pífia, porque, segundo ele, tinha mais policiais
militares do que manifestantes e justificou isso pelo fato de
muitos terem desistido de comparecer por conta dos últimos
ataques do deputado aos chefes militares e que muita gente
entendia que a culpa não era somente deles e que “tudo
viria a seu tempo”.
Embora tenha havido críticas de setores da imprensa
quanto aos xingamentos do deputado Jair Bolsonaro aos
chefes militares, o que segundo o Jornal do Brasil, tenderia
a afugentar uma maior participação de pessoas em
próximas manifestações, dois dias depois, os quatro
ministros militares se reuniram para exigir do Governo
Federal a isonomia salarial entre os três Poderes da
República, até o final daquele ano.
Na mesma tarde e já coordenada por mulheres de
sargentos e suboficiais da Aeronáutica, ocorreu
manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, que teve
o mesmo nome da organizada em Brasília “Marcha pela
Dignidade da Família Militar”, e também em Fortaleza (CE)
e em Caxias do Sul (RS), todas reivindicando melhores
salários para os militares, e em solidariedade ao deputado
Jair Bolsonaro, que tivera a coragem de dar início ao
movimento, mesmo ainda na Ativa, e sujeito a punição,
como os 15 dias de prisão.
No dia seguinte, o jornalista Lindolfo Machado,
publicava a matéria intitulada “Redução salarial amplia mais
a crise no governo”, na qual demonstrava o quanto a
inflação alta e a falta de reajustes nos salários afetavam a
todos, civis e militares, enaltecendo o papel de liderança de
Bolsonaro:
A política salarial colocada em prática pelo governo Collor,
que conduziu a uma redução progressiva dos vencimentos
de todos trabalhadores e servidores públicos, civis e
militares, é a verdadeira causa da crise que foi se
ampliando até a manifestação de ontem, em Brasília,
realizada pelas famílias de militares em busca de melhor
remuneração. As reivindicações levantadas, tanto pelos
integrantes das Forças Armadas quanto por parte dos civis,
são absolutamente justas, bastando para constatar isto
fazer-se o confronto da correção aplicada aos salários e
aquela apontada nos índices oficiais de inflação calculada
pelo IBGE, insuspeito por ser um órgão do próprio governo.
Tudo começou com o Plano Collor I que, em março de 91,
anulou o reajustamento dos vencimentos de acordo com o
INPC do mês, que atingiu 84%. Depois, as reduções
indiretas foram se sucedendo em nome da estabilização
econômica. O exercício de 90 fechou com uma taxa
acumulada de 1.936%. O ano de 91, os números estão
arquivados no IBGE, basta o governo pedi-los, foi pelo
mesmo caminho. Temos assim, em dois anos, uma taxa
acumulada de, praticamente, 4 mil por cento. A evolução
inflacionária diminui, é verdade, mas, mesmo assim, de
março de 91 a março de 92, atingiu 574%. Para que as
pessoas saibam se foram diminuídas ou não em seus
vencimentos basta confrontar quanto ganhavam em março
do ano passado e quanto ganham hoje. É preciso
considerar, inclusive, que em abril a inflação vai adicionar
pelo menos mais 20%.
(...) Como poderiam ficar inertes os civis e os militares?
Impossível. O problema, como era de se prever, terminou
estourando na área militar, a partir das manifestações do
deputado Jair Bolsonaro, com base na isonomia entre o
Executivo e os Poderes Legislativo e Judiciário. Uma
isonomia, na verdade, impossível de ser concretizada nem
a médio quanto mais em curto prazo.
É só ver e fazer as contas. Quantos são os servidores do
Congresso? Uns sete mil. E do Judiciário? Uns dez mil,
talvez mais um pouco. Enquanto isto, só na administração
direta, autarquias e fundações, são 750 mil. Outros tantos
nas empresas estatais como Banco do Brasil, Petrobrás,
Vale do Rio Doce, Siderúrgica Nacional, Eletrobrás, Furnas,
Comissão Nacional de Energia Nuclear. A diferença do
Legislativo e do judiciário para o Executivo é, no mínimo, de
100%. Senão mais. Como fazer a paridade, então? É
pergunta que se coloca para o ministro Marcílio marques
Moreira responder.

Os ministros militares, Carlos Tinoco (Exército), Mário


César Flores (Marinha), Sócrates Monteiro (Aeronáutica) e
Antônio da Rocha Veneu (EMFA), depois de analisarem os
relatos sobre a passeata e a repercussão da mesma,
concluíram que esta não teve o efeito esperado por
Bolsonaro e classificaram a manifestação como inócua. “O
fracasso da passeata esvaziou a voz do deputado e ele vai
pensar duas vezes antes de falar bobagem”, teria afirmado
um oficial à reportagem do Jornal do Brasil.
Entretanto, o Jornal do Commercio trilhou caminho
diverso na cobertura deste fato. De acordo com o jornal, os
chefes militares, ao contrário do que havia sido divulgado,
teriam considerado que, embora a manifestação não tivesse
tido maiores repercussões na tropa, com certeza a atitude
do deputado Jair Bolsonaro representava contribuição para
os "ganhos da categoria” e que, por exemplo, no caso do
aumento dos 80%, consideravam que só se teria chegado a
este valor por causa da pressão que o deputado vinha
fazendo.
A imprensa não dava trégua e já era dia 1.º de maio,
mas o assunto continuava sendo a manifestação do dia 27
de abril. Até o general Newton Cruz, que tinha bom
relacionamento com Bolsonaro, inclusive tendo comparecido
à sua posse como vereador do Rio de Janeiro, falou contra
a manifestação:
- O Bolsonaro está errado em colocar mulheres de
quepes pedindo aumento salarial para os seus maridos. O
quepe é uma coisa sagrada. Eu, quando era coronel,
quantas vezes fiquei um fim de semana com a minha mulher
sem ter onde arranjar dinheiro. Até arrombar os cofrinhos
dos meus filhos eu arrombei, mas jamais fui um
indisciplinado.
Com o objetivo de diminuir a influência do deputado
Jair Bolsonaro sobre a “família militar” e também, como
forma de prevenir possíveis rebeliões em quartéis, por
causa dos baixos soldos, os ministros militares das três
Armas decidiram manter pressão sobre o Congresso
Nacional, tentando obter, o mais rápido possível, a isonomia
salarial com os Poderes Legislativo e Judiciário.
A estratégia de ação foi definida em reunião ocorrida
no quartel-general do Exército e contou com as presenças
do general Carlos Tinoco (Exército), brigadeiro Mário Flores
(Marinha), brigadeiro-do-ar Sócrates da Costa Monteiro
(Aeronáutica) e do ministro-chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas, general Antônio Luis da Rocha Veneu.
E, claro, um dos focos da discussão era o deputado
Jair Bolsonaro, que mantinha liderança não só sobre os
militares da Reserva e familiares, mas também sobre a
Ativa, tendo o ministro da Aeronáutica sido obrigado a punir
dois de seus subordinados [da Ativa] que participaram da
“Marcha pela Dignidade da Família Militar”, ocorrida em
Brasília.
Já o ministro do Exército, general Carlos Tinoco, que
havia ameaçado Bolsonaro de prisão – o que, contudo,
estava além de sua competência, já que Bolsonaro tinha
imunidade parlamentar –, se viu falando sozinho e com nova
ameaça no ar: processar o “capitão” Bolsonaro [ele não
aceitava chamá-lo de deputado] por injúria, por tê-lo
chamado de “banana e palhaço” durante manifestações
públicas. Também isso caiu no vazio, pois Jair Bolsonaro
poderia como parlamentar fazer tal afirmação, pois tinha
imunidade sobre opiniões, embora a sua grosseria gratuita
pudesse até ser algo condenável.
O jornalista Luiz Claudio Cunha escreveu o artigo “A
volta por cima de Márcio Moreira Alves”, que foi publicado
pelo Jornal do Brasil do dia 3 de maio de 1992, em que
relatava que o ex-deputado federal, jornalista e cientista
político, depois de 24 anos do AI-5, de que ele foi o pivô –
cassado pelos militares, com o fechamento do Congresso
Nacional -, voltou ao Exército, em Brasília, para uma
palestra a um seleto grupo de militares, sobre “A nova
Ordem Mundial e as Estratégias para o Brasil”.
Na conclusão de sua palestra, Márcio Moreira Alves
disse aos militares que repudiava qualquer comparação
entre o “Moreira Alves de 1968 e o deputado Jair Bolsonaro
de 1992”:
O Bolsonaro não é o Márcio de 1968. Eu era apenas um
jornalista engajado no processo político e Jair Bolsonaro é
um líder sindical corporativo, que se arrisca a criar um
conflito físico, uma briga de rua com seus comandantes.
Mas agora, felizmente, muita gente, de um lado e de outro
trabalha para que isto não aconteça.

Ao final do evento, Moreira Alves foi agraciado pelo


Exército, na pessoa do chefe do Departamento de Material
Bélico (DMB), general Armando Paiva Chaves, com uma
placa comemorativa de sua participação no Seminário.
Em sua fala, o general, entre um elogio a Moreira
Alves e uma estocada em Jair Bolsonaro, disse:
- O senhor tinha muitos motivos para recusar nosso
convite, até mesmo para ter ódio dos militares, mas está
aqui, porque pensa no futuro do País.
Moreira Alves, durante seu agradecimento pela
homenagem, aproveitou para brincar sobre sua estadia no
Hotel de Trânsito do Exército:
- Quero agradecer a hospedagem. É a primeira vez
que durmo à custa do Exército sem estar preso. [Claro,
arrancou gargalhadas da audiência fardada].
No dia 13 de maio, o então senador por São Paulo,
Fernando Henrique Cardoso, publicou na imprensa um
longo artigo intitulado “Bolsonaro e o fantasma autoritário” –
onde ele não citava sequer uma vez o nome de Bolsonaro
além do título -, onde fez um alerta sobre o momento de
estabilidade política do Brasil e os eventos ocorridos no
Chile, de Pinochet, e no Peru, de Fujimori, que
reproduzimos em parte, com claras indiretas ao deputado
federal Jair Bolsonaro e suas constantes falas contra a
democracia:
Quando já praticamente ninguém imaginava que pudessem
ocorrer quebras nas regras democráticas na América
Latina, as ameaças na Venezuela e o golpe branco de
Fujimori no Peru voltam a alertar que estamos longe de uma
‘consolidação democrática’.
Sei que é confortador imaginar que ‘no Brasil é diferente’.
Confortador e enganoso. Quantas vezes ouvi em Santiago,
quando eu lá vivia no exílio, durante o governo de Frei, que
essa história de ‘quartelada’ jamais ocorreria em um país
com a tradição democrática do Chile... E, não obstante, até
hoje, no coração da democracia chilena está cravada a
espada constitucional de Pinochet. (...)
Hoje, o País vive um clima de liberdade, mas também de
indefinição institucional. A Constituinte de 88 não respondeu
às grandes questões de como organizar-se melhor a
democracia.
Como, além disso, vivemos em uma sociedade de massas
carentes e desinformadas, não é difícil perceber os riscos
do ‘fujimorismo’.
Não é de espantar que vicejem os salvadores da pátria. Por
sorte, para nós, Collor não é Fujimori: ele respeita a
Constituição, tenta governar com os partidos e insiste em
dialogar. Se Lula tivesse sido eleito, talvez com maiores
dificuldades, também teria resistido bravamente a
‘fujimorizar-se’.
(...)

A luta de Bolsonaro não envolvia somente a questão


salarial dos militares; ele estava sempre atento aos
problemas de corrupção no Congresso Nacional.
Ainda em maio de 92, a Comissão de Constituição e
Justiça declarou o deputado federal Ricardo Fiúza inocente
das acusações lançadas contra ele durante a CPMI [dos
Anões] do Orçamento.
Salvo o mandato, Ricardo Fiúza anunciou que deixaria
a vida pública, renunciando em setembro daquele ano ao
mandato e não tendo se candidatado à reeleição no pleito
de outubro de 1994.
Em “Carta Aberta ao Congresso Nacional”, o
Movimento Gaúcho Anticorrupção, formado por militares da
Reserva, afirmava que o Congresso merecia o título de
“Pocilga de Brasília” dado pelo deputado Jair Bolsonaro,
diante da declaração do deputado Hélio Bicudo de que o
deputado Ricardo Fiúza fora absolvido devido a um acordo
entre o PMDB e o PFL.
O documento, que era assinado pelo capitão-de-
fragata Dario Giordano e pelo coronel do Exército, Francisco
Cabeda Neto, pedia que os eleitores brasileiros não
votassem em candidatos desses dois partidos. De acordo
com os autores da Carta Aberta, os políticos envolvidos em
corrupção deveriam ser julgados por um tribunal popular,
acusados pelo “genocídio de brasileiros”, já que estes
seriam responsáveis indiretos pela morte de milhões de
brasileiros, para quem faltaram os recursos desviados pela
corrupção, que deveriam ser aplicados em assistência
alimentar e atendimento médico-hospitalar.
Os militares ainda registraram na Carta Aberta que,
desde 1988, o Congresso Nacional tinha conhecimento dos
desvios de verbas do Orçamento da União, que vinham
sendo praticados, mas se omitiu na tomada de providências
para sanear o problema.
O documento do Movimento Gaúcho Anticorrupção
lembrava ainda declaração do deputado Nelson Jobim
(PMDB-RS), de 25 de maio de 1991, para quem o
Congresso Nacional era “uma casa imoral e cheia de
corrupção”. E o documento terminava lamentando a
inexistência de um AI-5 para banir os políticos do País e se
despede com um “até a próxima revolução”.
Voltando à questão salarial dos militares, já era o dia
14 de maio de 1992 e o jornalista Hélio Fernandes ainda
publicava em sua coluna na Tribuna, notas sobre o ataque
de Bolsonaro ao ministro do Exército, general Carlos Tinoco:

A questão militar chegou ao Congresso. Muitos estão


dizendo que existe perigo das Instituições serem atingidas,
por dois motivos: 1 – a questão importantíssima da
isonomia salarial. 2 – a outra, meramente circunstancial, da
briga entre o ministro do Exército, Carlos Tinoco, e o
deputado Jair Bolsonaro, que hoje representa muito mais do
que se pensa.
O deputado não fala desde o dia 25 do mês passado,
véspera da passeata das mulheres pertencentes a famílias
de militares. O ministro agiu com violência para reprimir a
passeata, o que não era o que se esperava dele. Tinoco
não sabe, mas caiu muito no respeito da corporação. E não
só entre a chamada “oficialidade jovem”, mais impulsiva.
Generais estão contra ele.
O ministro diz que vai pedir à Câmara licença para
processar o deputado. Ele está mal informado. Tem que
entrar com o processo, e o Supremo Tribunal Federal é que
pede à Câmara a indispensável licença para processar o
deputado. Se a Câmara não conceder a licença (não
concede), nada feito. Muita gente tem medo disso, por
causa de 1968. É diferente.
José Genoíno, em missão de paz, procurou o deputado
Bolsonaro, aconselhando-o a fazer uma retratação pública.
O deputado respondeu: “Faço, se o ministro fizer também
outra, no mesmo dia”. Está certo. E Bolsonaro diz que
chamou o ministro de “banana”, mas não da tribuna da
Câmara. Quem está contra o deputado é Ibsen Pinheiro,
servo, submisso e subserviente.

No dia 2 de julho de 1992, o aposentado Antônio


Dinatz Ribeiro da Silva, de Curitiba (PR), escreveu uma
carta aberta ao deputado Jair Bolsonaro e esta foi publicada
pelo jornal Tribuna da Imprensa:
Deputado Jair Bolsonaro,
Todo o funcionalismo, civil e militar está de olhos postos na
aguerrida figura de Vossa Excelência. É chegada a hora da
expressão “isonomia dos três poderes” sair da retórica para,
finalmente, se concretizar! É uma aberração um agente de
portaria do Poder Judiciário ganhar quase o mesmo
vencimento de um funcionário NS-24, final de carreira, do
Executivo! É um insulto à inteligência um “piloto de
elevador” do Senado, ganhar mais do que um piloto de
Mirage, da Aeronáutica! O Poder Judiciário paga um salário
integral em julho e outro em dezembro, à guisa de
gratificação – portanto, são 14 salários! Os militares e o
Executivo também fazem jus a este benefício, a partir do
próximo mês de julho/92.
É imperioso que se faça cumprir o princípio constitucional
da isonomia! Tal implantação não mais pode nem deve ser
adiada. Os Poderes Judiciário e Legislativo sempre foram
privilegiados! O Executivo, a quem cabe a tarefa mais
espinhosa, sempre foi mal remunerado, sempre foi
postergado pelo governo! É chagada a hora de por um
paradeiro nessa aberrante discrepância. V. Exa., ao
empunhar essa bandeira, tem a consciência de não estar
sozinho e, sabemos, não dará trégua enquanto essa
isonomia não for plenamente implantada!
Agradeço a V. Excia. em nome dos militares e do
funcionalismo civil do Executivo, bem como autorizo a ler
esta carta na tribuna da Câmara.

Devido à pressão dos militares e às negociações havidas no


Congresso Nacional, no dia 9 de julho de 1992 foi
finalmente aprovada a isonomia salarial entre os três
Poderes, no âmbito da Câmara dos Deputados. De acordo
com o deputado Jair Bolsonaro, que participou ativamente
das negociações, “a votação só aconteceu por causa da
pressão decisiva dos militares”.
Mas no Senado Federal, o projeto recebeu quatro emendas
do senador Nelson Carneiro (PMDB-RJ) e teve de retornar à
Câmara dos Deputados, que o aprovou novamente no dia
21 de julho, com a exclusão das emendas inseridas pelo
Senado Federal. No mesmo dia, o projeto de isonomia foi
sancionado pelo presidente Fernando Collor de Mello e
assim, estaria por conta do Executivo definir as tabelas
salariais dos servidores dos três Poderes.
O projeto aprovado no Senado Federal acrescentou uma
emenda favorecendo as pensionistas dos militares, que
poderiam receber integralmente os vencimentos do militar
falecido, como acontece com os servidores civis. O
deputado Jair Bolsonaro tentou manter, pelo menos, esta
emenda, mas não obteve êxito, não conseguindo apoio nem
dos assessores parlamentares dos militares. Para o
assessor do Emfa, Afonso de Liguori, “as tabelas com os
vencimentos que o governo iria mandar ao Congresso
deveria regulamentar também as pensões dos militares”, o
que deveria ocorrer até em 45 dias após sancionado projeto.
Apesar de a lei ter sido assinada - fruto de negociações
entre todos os envolvidos com o problema - chegava ao fim
o ano de 1992 e a isonomia salarial não saia do papel, o
que levou o deputado Jair Bolsonaro a comunicar ao
ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos
(SAE), almirante Mário Cesar Flores, o que já havia feito em
outras oportunidades a outras autoridades militares, que era
muito grande o descontentamento das tropas com a questão
salarial e que isto exigia uma solução urgente.
Mas o ano de 1992 não terminaria sem a ocorrência de mais
um entrevero entre o deputado Jair Bolsonaro e o Exército.
No dia 15 de agosto, ao ver-se impedido de entrar na
Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), para participar
da solenidade de formatura de novos cadetes, o deputado
estacionou seu carro, um Chevette azul, diante do portão
principal da Aman. Irritado com aquilo, o ministro do
Exército, general Carlos Tinoco, determinou: “Tirem aquela
porcaria de lá”, pelo que foi imediatamente atendido, com o
uso de um guincho do Exército, sob os protestos de
Bolsonaro, que subiu no capô de seu carro, enquanto era
guinchado.
O trabalho que o deputado Jair Bolsonaro fazia em defesa
dos militares, o levou a eleger, em outubro de 1992, sua
mulher, Rogéria Nantes Bolsonaro. Ela foi eleita para a
Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pela legenda do PDC,
que fez dobradinha com o PDS na coligação “Rio em defesa
da vida”, com 7.758 votos.
Como era de se esperar, sua maior votação se concentrou
em áreas de famílias de militares, como em Marechal
Hermes, Realengo, Bangu e Campo Grande, na Zona
Oeste, onde Jair Bolsonaro foi seu grande cabo eleitoral.
Antes de terminar o seu segundo ano de mandato na
Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro se indignava com a
proposta feita pelo governo interino de Itamar Franco, em
reajustar os salários dos militares em 100%, enquanto a
defasagem salarial acumulada até novembro de 1992 era de
301%, conforme havia sido demonstrado pelo Clube Militar.
Os ministros da área econômica e parlamentares liderados
pelo deputado Paulo Paim (PT-RS), se reuniram para
discussão da lei salarial. De acordo com o jornalista Marcelo
Pontes, do Jornal do Brasil, teria sido “feia a briga entre os
ministros da área econômica e o deputado Paulo Paim”.
Mas, segundo o jornalista, o que mais teria impressionado
os ministros que participaram da reunião, “foi a cara-de-pau
de alguns deputados, que ficaram calados dentro do
gabinete e, na saída, ao encontrarem os jornalistas, falaram
pelos cotovelos”.
Tudo isto porque Bolsonaro, depois da reunião e estando de
frente ao Gabinete do ministro Gustavo Krause disse aos
jornalistas:
- O governo mantém essa política salarial arrochante e não
quer arcar com as consequências. Se nada mudar, não
ficaria surpreso se repetirem invasões de prefeituras por
militares armados e de bolsos vazios.
O deputado Jair Bolsonaro, em função do crônico problema
salarial do militares voltou a advertir, por escrito, o ministro-
chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE),
almirante Mário César Flores, sobre os baixos salários
pagos aos militares em geral, que os deixavam revoltados e
que, os militares do Distrito Federal, em particular, estavam
preparando uma grande manifestação que teria lugar em
frente ao Palácio do Planalto, contra os baixos soldos e a
favor da isonomia salarial entre os três Poderes.
O que Bolsonaro, contudo, estava propondo aos militares
era uma grande mobilização nacional da categoria para lutar
pela melhoria dos salários, porque, segundo ele, seria
“melhor sobreviver na ditadura do que morrer nessa
democracia”. E Bolsonaro teria até “inventado” um novo
slogan: “Na atual democracia, não há isonomia”.
Bolsonaro estava disposto até a entrar em confronto com
qualquer autoridade, caso fosse necessário, para defender o
salário dos militares e, segundo ele, não estava preocupado
com a sua reeleição “como diziam alguns”, mas que a causa
eram os “militares que passavam fome”.
Bolsonaro, sempre que tinha oportunidade, tecia severas
críticas aos ministros militares que, de acordo com ele, “não
pensavam duas vezes em usar os ‘arcaicos’ regulamentos
militares para coibir seus companheiros de participarem de
movimentos da categoria”.
E ainda: “Se não nos mobilizarmos, não vamos conseguir
nada e o exemplo disso é o que vimos com a Polícia
Federal e outras categorias. Só consegue aumento quem
faz pressão”.
Chegado o final de 1992, os servidores civis e militares
acumulavam no ano uma perda salarial de 462%, mas o
governo federal somente havia aprovado um reajuste de
100%, que seria pago no mês de janeiro de 1993, com o
que, claro, ninguém estava satisfeito, fazendo aumentar a
ira de Bolsonaro contra os ministros militares, a quem não
perdia tempo em atacar publicamente.
Além de problemas envolvendo o salário dos militares,
Bolsonaro teve de enfrentar, em 1993, um problema em seu
próprio partido. O presidente do Partido Social Cristão
(PSC), ao qual o deputado estava filiado, decidiu, sem
consultar as bases partidárias, fundir com o PDS, do qual
ele era egresso.
Surgiria desta fusão o Partido Progressista Reformador
(PPR), com a terceira maior bancada do Congresso
Nacional, com 72 deputados federais e dez senadores, com
o objetivo principal de ter musculatura para concorrer às
eleições presidenciais de 1994. O deputado Jair Bolsonaro
fez parte da Comissão Provisória escolhida para organizar o
PPR no Rio de Janeiro.19
E o lengalenga dos salários dos militares continuava.
Bolsonaro, pela sua atuação em defesa da pauta salarial da
categoria, contrariava a cúpula militar e, por isso, vez ou
outra, era barrado em áreas residenciais militares, como
ocorreu no dia 24 de março de 1993, quando foi impedido
de adentrar ao Condomínio Parque Real, no Realengo (RJ),
moradia de militares, onde havia marcado reunião.
O suboficial da Aeronáutica, Joaquim de Almeida
Pedrosa, fez publicar seu protesto contra este fato na seção
de cartas do jornal Tribuna da Imprensa:

19 Jair Bolsonaro, embora seus críticos gostem de falar que ele não fica

em nenhum partido “já tendo passado por nove legendas”,


maldosamente, não informam a verdade. O deputado, depois de quatro
anos militando pelo PSC foi obrigado a assumir a sigla PPR, porque o
PSC já não existia mais. O mesmo viria ocorrer em setembro de 1995,
quando seu partido o PPR fundiu-se com o Partido Progressista (PP)
mais o Partido Republicano Progressista (PRP), dando origem ao Partido
Progressista Brasileiro (PPB). E o capitão Jair Bolsonaro, mais uma vez
costuma ser taxado de infiel, porque pouco mais de dois anos já pulava
para o PPB.
A desinformação e a falta de habilidade para o
entendimento do síndico-geral do Parque Real (moradia de
militares), em Realengo, na tarde do dia 24/03/93, sábado,
ceifou, de maneira lamentável, aos companheiros de
caserna de receberem informações importantíssimas e de
grande interesse que seriam transmitidas pelo deputado Jair
Bolsonaro, sem sombra de dúvida, o único digno
representante da classe militar.
Mais uma vez, o deputado foi impedido de entrar num
condomínio de militares, seus representados.
Literalmente, o síndico-geral se achou no direito de impedir
o acesso do deputado, contrariando, dessa forma, a
vontade da sofrida classe militar.
Decisões como essa nada somam, apenas demonstram a
desunião dos companheiros que, ao invés de apoiarem a
única voz que nos defende - a repele - não se sabe com
que interesse...
Ficamos privados das informações naquela tarde de
sábado, porém, temos certeza de que não ficaremos
privados do trabalho incansável da dignidade, da bravura e
da luta do dep. Jair Bolsonaro em prol dos interesses da
família militar.

No dia 10 de maio de 1993, Bolsonaro, mais uma vez,


liderou um protesto reivindicatório, na Esplanada dos
Ministérios, em Brasília, ao que a imprensa denominou de
“Caras Pintadas Militares”, porque cerca de 500 mulheres
de militares, com as caras pintadas e usando quepes na
cabeça, participaram do movimento, que reivindicava
reajuste de 97% nos salários.
As mulheres, vestidas de preto, portavam faixas e
cartazes com frases como: “Antes sobreviver em qualquer
regime a morrer nessa democracia”.
A passeata partiu da Catedral de Brasília, parou na
Praça dos Três Poderes, depois em frente ao Estado-Maior
das Forças Armadas e, por fim, em frente ao Palácio do
Planalto, onde Bolsonaro discursou, sob os aplausos da
multidão.
Oito dias depois desta manifestação, o deputado Jair
Bolsonaro foi recebido pelo ministro-chefe da Secretaria de
Assuntos Estratégicos (SAE), almirante Mário César Flores,
que desabafou ao deputado que se sentia “frustrado por ter
mantido a tropa calada e com baixos salários, durante os
dois anos que esteve à frente do Ministério da Marinha, no
governo Collor”, conforme relato da Tribuna, que entrevistou
o ministro sobre o assunto, tendo este ainda
complementado o que Bolsonaro dissera ao jornal, afirmado
que sua frustração se devia, principalmente, ao fato da
isonomia não ter prosperado.

Manifestação de mulheres de militares em Brasília - Reprodução

No dia 21 de maio, uma sexta-feira, o deputado Jair


Bolsonaro se reuniu, no cineteatro Nazaré, em Salvador
(BA), com mais de 400 pessoas, entre militares da Reserva,
da Ativa, ex-combatentes, pensionistas e seus familiares,
para discutir a situação das Forças Armadas e a conjuntura
nacional.
Durante sua fala, Bolsonaro elogiou a indicação do
general da Reserva, Romildo Canhim, para a Secretaria de
Administração Federal e disse que queria ver militares
ocupando os Ministérios da Fazenda e da Agricultura,
porque “no meio civil era difícil encontrar alguém que não
queira se locupletar”.
Bolsonaro, ainda em sua longa fala aos presentes,
muitos munidos com faixas e cartazes, no bom estilo
sindicalista, foi aplaudido de pé quando afirmou que via o
Poder Judiciário como o mais corrupto do Brasil. “Graças a
Deus tenho imunidade parlamentar para poder dizer isto”,
concluiu.
Um dos organizadores do encontro, o coronel-da-
Reserva Antônio Carlos Barbosa, antecedeu a fala de
Bolsonaro e afirmou em sua intervenção, que os militares
haviam decidido se organizar para alertar a sociedade
brasileira para os problemas do país, encerrando sua fala
com a célebre expressão da música de Geraldo Vandré,
Para não dizer que não falei de flores, “Quem sabe faz a
hora, não espera acontecer”, que foi marcante nas
passeatas de protesto contra a instauração do Regime
Militar de 1964.
A edição do dia 22 de maio do jornal O Fluminense
deu espaço à fala do deputado Jair Bolsonaro, que disse
não pregar a volta da ditadura, mas que se houvesse um
golpe de Estado, ele viria “por um anseio popular, pois o
povo não aguentava mais conviver com uma democracia
irresponsável”.
E Bolsonaro não ficaria somente nisso e, um mês
depois, comprava briga com seus pares e com parte da
imprensa, que não deixava de criticá-lo pelas suas atitudes.
A razão era que ele defendeu o fechamento do Congresso
Nacional e a volta dos militares ao poder, diante dos
numerosos escândalos de corrupção envolvendo
parlamentares de todos os partidos, que se arrastavam
desde o governo Collor e, desde 1992, com inúmeras
denúncias contra membros da Comissão Mista do
Orçamento da União, acusados da inclusão de emendas
parlamentares não aprovadas em plenário, e desvio de
muito dinheiro público.
Em seu discurso, Bolsonaro, afirmou:
- Notamos que, lamentavelmente, o Poder Legislativo
está à beira da falência. Assim sendo, logicamente, a
situação que reina no País pode ser modificada de uma
hora para outra. Diria mais: não existe golpe, "fujimorização"
ou sequer regime de exceção sem a falência do Poder
Legislativo. E estamos à beira da falência. Basta fazer uma
pesquisa de opinião para saber isso. E aos que estão
radicalizando comigo - vou até mais avante - sugiro que
façamos um plebiscito para sabermos o que o povo, que é
soberano, acha do atual papel do Congresso Nacional.
Senhor presidente, a atual Constituição garante a
intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei
e da ordem, conforme previsto no art. 142. Mas essa
desordem e descumprimento da lei, só acontecem,
logicamente, após a falência do Poder Legislativo. O que
tenho feito nas minhas reuniões é alertar para isso,
exatamente. Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um
regime de exceção, desde que este Congresso Nacional dê
mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está
muito próximo.
A jornalista Célia Chaim, que assinou a coluna Informe
JB, do dia 26 de junho de 1993, relatou que o deputado Jair
Bolsonaro havia passado “maus momentos ao voltar de
Brasília para o Rio de Janeiro”. Segundo ela, ele “foi
imensamente recriminado por eleitores, por ter defendido a
volta da ditadura” e que “as pessoas mais iradas eram
mulheres”. Relatou Chaim que duas delas mais exaltadas
chegaram a chamar o deputado de “demagogo e
oportunista”, sugerindo a ele que renunciasse ao seu
mandato e voltasse à Vila Militar.
Por conta dos ataques de Bolsonaro à “Democracia”,
ele foi denunciado à Comissão de Ética da Câmara com
recomendação de cassação, por ter cometido grave
transgressão ao regimento interno da Casa e à Constituição
Federal, conforme dito pelo presidente da Câmara,
Inocêncio de Oliveira.
A representação contra Jair Bolsonaro foi feita pelo
corregedor da Casa, deputado Fernando Lyra (PDT-PE) e
pelo procurador parlamentar da Câmara dos Deputados,
Vital do Rego (PDT-PB).
Já o ministro da Justiça, Maurício Corrêa, declarou à
imprensa que a fala do deputado Jair Bolsonaro havia sido
uma irresponsabilidade, ao defender um Estado de exceção
e o fechamento do Congresso Nacional. Era, sem pé e sem
cabeça, pois não existia qualquer violação da soberania
nacional, a Constituição estava sendo respeitada e o
presidente da República, Itamar Franco, cumpria com suas
obrigações constitucionais.
O jurista Miguel Reale Júnior deu sua opinião a
respeito das supostas quarteladas, propostas por Bolsonaro,
ganhando espaço na imprensa nacional. De acordo com o
jurista, a ameaça à democracia não vinha de uma possível
convulsão social, tão alardeada por Bolsonaro, mas de civis
que, apoiados por pessoas iguais a ele – “descrentes das
liberdades políticas” -, acreditavam que “o Brasil apenas
teria jeito se fosse fechado o Congresso Nacional, pondo-se
fim às eleições, pantomina que custa caro e é causa da
corrupção”.
Depois de participar da Páscoa dos militares,
celebrada na Catedral de Brasília, o ministro do Exército,
Zenildo Zoroastro de Lucena, condenou as declarações
feitas por Jair Bolsonaro:
- As críticas do deputado e capitão reformado do
Exército, constituem apenas uma opinião isolada e não
causa preocupação e nenhuma influência nas nossas forças
[se referindo não só ao Exército, mas também à Marinha e à
Aeronáutica, cujos representantes participavam da mesma
celebração]. Pode ser que seu discurso empolgue
segmentos da Reserva, mas não repercute na Ativa. Golpe,
de jeito nenhum!
O ministro da Marinha, Ivan Serpa, também presente
na cerimônia da Páscoa das Forças Armadas, classificou o
discurso de Bolsonaro como “uma opinião pessoal” e sem
qualquer influência na tropa.
Já o então deputado estadual do Amazonas Omar
Aziz, considerou “um momento de maluquice do deputado
Bolsonaro”. Para ele, entretanto, o fato que mais causava
assombro era ver o Congresso Nacional não tomar
“nenhuma medida mais dura contra as aleivosias do citado
político”, ressaltando que a responsabilidade pela tomada
de qualquer medida contra Bolsonaro deveria ser da direção
do Congresso Nacional.
Nas Forças Armadas, apesar de muitos oficiais
concordarem com a situação pintada por Bolsonaro, alguns
chegaram a afirmar à imprensa que o deputado não os
representava e que, para muitos dos militares, a
representação parlamentar era de péssima qualidade,
dizendo que a maioria dos políticos pensava primeiramente
em seus próprios interesses, mas que isto não implicava,
necessariamente, em ter que mudar tal situação à força.
“Nossa Revolução [hoje] é pelo voto”, teria declarado um
oficial-general, que disse acreditar na necessidade de
mudança na representação política.
E, talvez - somente talvez -, se sentindo atingido por
Bolsonaro toda vez que este abria a boca para protestar
contra a corrupção na Câmara dos Deputados, o deputado
Vital do Rego solicitou ao procurador-geral da República,
Aristides Junqueira, que abrisse uma Ação Penal Pública
contra o colega deputado, enquadrando o mesmo na Lei de
Segurança Nacional.
O Jornal do Brasil, que circulou no dia 26 de junho,
trouxe artigo da editoria jornalística, intitulado “O Último
Passageiro” atacando o “conspirador” comportamento do
deputado Jair Bolsonaro:
Em seu Português estropiado, o deputado Jair Bolsonaro
(PPR-RJ) pediu no Plenário da Câmara o fechamento do
Congresso para acabar com a “Democracia irresponsável”.
Utiliza-se da liberdade para tramar sua destruição. Depois
de décadas de ditadura, propõe uma “Ditadura
responsável”. Não está exatamente exercendo o direito de
opinião, está pedindo a conspiração e incitando a sedição.
Representante de grupos minoritários de militares
reformados e corporativistas pretende passar à História
como passageiro único do último avião para Jacareacanga.
[20]

Em primeiro lugar, cabe à Câmara tomar as medidas


cabíveis, eventualmente enquadrá-lo no art. 5.º, inciso 43
do Capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos,
que considera crime imprescritível a ação contra a ordem
constitucional e o estado democrático. O coordenador da
Procuradoria Parlamentar, deputado Vital do Rego (PDT-
PB), já pediu ao procurador-geral da República providências
neste sentido.
Em seguida, caberá ao PPR expulsá-lo, por ter violado o
programa do partido. O presidente do partido, senador
Esperidião Amin, já mandou abrir processo disciplinar, por
falta de decoro parlamentar. Finalmente, está nas mãos dos

20 Em fevereiro de 1956, ocorreu a Revolta de Jacareacanga, que foi um


esboço de reação militar contra a posse de Juscelino Kubitschek na
presidência do país, poucas semanas antes. Oficiais da aeronáutica
partiram da cidade do Rio de Janeiro no dia 10 de fevereiro e se
instalaram na Base Aérea de Jacareacanga. A revolta durou dezenove
dias e terminou com o controle da situação por forças pró-Kubitschek.
Fonte: FGV/CPDOC.
eleitores nunca mais eleger este patético fujimorista,
homem notoriamente desequilibrado e antidemocrático.
Tudo no mais estrito cumprimento da lei. Bolsonaro não
merece ser transformado em vítima da democracia.

Na Base Aérea de Brasília, onde lhe foi transferido o


cargo de presidente interino, já que o presidente da
República, Itamar Franco iria embarcar junto com os demais
membros de sua comitiva para o Paraguai, onde participaria
de reunião do Mercosul, o presidente da Câmara dos
Deputados, Inocêncio de Oliveira, comentou o episódio
envolvendo o deputado Jair Bolsonaro, quando defendeu a
sua cassação para, nas palavras dele “cortar o mal pela
raiz”.
De volta ao Palácio do Planalto, Inocêncio de Oliveira
recebeu, em audiência conjunta, doze deputados federais
de diversos partidos, dois senadores e três ministros de
Estado, com o objetivo de pedir a eles “para que ajudassem
na tarefa de chamar a atenção da sociedade para a
preservação do clima de saúde democrática, que vivia o
país”.
Os deputados pedetistas Pereira Pinto, Barbosa Porto
e Leôncio Vasconcellos, entretanto, foram além e
protocolaram na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados,
pedido para que o deputado federal Jair Bolsonaro fosse
submetido a exame de sanidade mental, onde sustentava:
- Se ele prega o fechamento do Congresso e o
restabelecimento da ditadura, das duas uma: ou ele não
está bem das faculdades mentais, ou goza de plena saúde e
está falando em nome de alguém, o que é extremamente
grave.
O editorial do Jornal do Brasil do dia 2 de julho, com o
título “Fogos-fátuos” fala da entrevista concedida pelo
presidente da República Itamar Franco à TV Manchete e,
claro, o principal personagem era o deputado Jair
Bolsonaro:
Em entrevista à TV Manchete, o presidente Itamar Franco
disse que todo cidadão brasileiro deve estar atento a uma
tentativa de golpe de Estado e acrescentou que é uma
“irrealidade” imaginar o regime autoritário como solução
para os problemas brasileiros. Foi duplamente feliz: no
alerta e na recomendação.
Seria até possível tratar com desdém algum círculo de
nostálgicos da ditadura que infelicitou por mais de duas
décadas. Mas não convém relaxar a vigilância, se
quisermos ser livres. A pronta e viva repulsa dos
parlamentares e do homem das ruas à proposta do lunático
Jair Bolsonaro – de fechar o Congresso em nome do
progresso -, indica que os brasileiros estão atentos na
defesa das liberdades.
(...)
Para aperfeiçoar o Brasil é preciso mais, e não menos
democracia. Esta é a grande lição deste final de século.
Enganam-se os que pensam que os militares democráticos
e legalistas pensam pela cabeça de um Bolsonaro. Iludem-
se os que se embalam com um espectro anacrônico e
autoritário como Alberto Fujimori, dramático subproduto de
uma nação dividida pelo terrorismo e pelo narcotráfico. (...)

Até a colunista social, Danuza Leão, chegou a sugerir


a cassação do mandato do deputado Jair Bolsonaro, no dia
3 de julho, mas, no caso, não foi por conta de suas
tresloucadas ideias de fechamento do Congresso, mas
segundo ela, pelos crimes sempre cometidos contra a língua
Portuguesa, já que ele, segundo Danuza, “não acertava
uma só concordância”.
E o jornalista, biógrafo e escritor mineiro, Ruy Castro,
escreveu para a coluna Opinião do JB, do dia 2 de julho, o
artigo “Diabolismos contra Itamar”, no qual analisava o que
e quem estaria por trás da onda conspiratória contra o
presidente Itamar Franco, envolvendo supostas
“namoradas” com o objetivo, talvez, “de mandá-lo mais cedo
para a sua casinha de sapé, em Juiz de Fora”.
Entre os “diabolistas conspiratórios”, Ruy Castro
sugeria a ação de Bolsonaro:
(...) Bem, estabelecido que esses rumores compõem uma
conspiração, quem estaria por trás da dita? Candidatos não
faltam. O deputado Jair Bolsonaro é um. Há dias ele se
candidatou a um haraquiri político, pregando o fechamento
do Congresso e a volta da ditadura militar. Ex-militar ele
próprio, Bolsonaro ainda não se adaptou muito bem ao
universo paisano. Às vezes, ao passar por um porteiro de
boate, bate continência, confundindo-o com um marechal.
Terá sido a Bolsonaro que Itamar se referia quando disse,
anteontem, que precisamos ficar alerta para uma tentativa
de golpe de estado? Se foi, podemos relaxar, porque
Bolsonaro não derruba nem pinos de boliche. Mas, se é ele
quem anda disseminando esses boatos sobre as
pseudonamoradas do presidente, é bom que Itamar abra o
olho. Numa dessas, sem querer, Bolsonaro pode acertar.
(...)

No dia 8 de julho de 1993, o Jornal do Commercio


estampava em sua quarta página, enorme artigo sobre o
“desastrado discurso” de Jair Bolsonaro e a repercussão
que o presidente Itamar Franco dava ao mesmo em fala à
televisão e em sua participação na reunião do Mercosul, que
aconteceu em Assunção (Paraguai).
Na quarta-feira passada, quando ainda não se haviam
apagado os efeitos do discurso do deputado-capitão Jair
Bolsonaro, o presidente da República fez uma advertência
ao povo brasileiro pela televisão: todos deveriam estar
atentos a qualquer tentativa de golpe de Estado. “Enquanto
estiver sentado na cadeira da Presidência, não permitirei
um quarto golpe de Estado”. A isso acrescentou uma frase
que é quase um lugar-comum: “é uma irregularidade
imaginar que um regime autoritário resolva os problemas do
Brasil”. (...)
O momento brasileiro já era delicado antes de o deputado
Bolsonaro fazer sua pregação; complicou-se depois disso,
especialmente porque o Congresso ainda não deu
demonstrações (no que é auxiliado por uma espécie de
paralisia do Executivo) de mudar de comportamento no que
se refere à seriedade com que trata os problemas do país.
Agora que o presidente toca duas vezes na tecla da
ditadura e do golpe de Estado [na TV e na reunião do
Mercosul] é de perguntar: que sabe V. Excia que não pode
revelar nem ao Conselho da República? Afinal, a esse
Conselho compete (Constituição, art. 90, II) pronunciar-se
sobre as questões relevantes para a estabilidade das
instituições.
Ao fazer insinuações que podem desacreditar um governo
que vem sofrendo ataques de toda sorte, o presidente da
República só reforça o sentimento de alguns setores da
sociedade que imaginam que a autoridade só se restaurará
no país mediante medidas de força. O discurso do deputado
Bolsonaro não pode ter impressionado de tal sorte o
presidente Itamar Franco que o fantasma do golpe de
Estado o esteja perseguindo. Quem conhece o capitão da
reserva Jair Bolsonaro sabe que não tem liderança alguma,
e que deseja apenas estar no noticiário dos jornais e das
rádios. Levá-lo a sério como “golpista”, a ponto de fazer-se
um discurso fora de lugar, numa reunião de chefes de
Estado, é, sinceramente, um pouco demais.

Até o governador da Bahia, Antônio Carlos


Magalhães, ganhou espaço no New York Times para
falar da polêmica criada pelo deputado Jair Bolsonaro ao
propor o fechamento do Congresso. E, por ter descartado,
de pronto, qualquer possibilidade de golpe militar, acabou
irritando o presidente Itamar Franco, que usava o discurso
do golpe para tentar agregar apoio ao seu governo.
O governador afirmou ao NYT que não tinha qualquer
possibilidade de golpe no País e o que havia, de fato, era
“uma inquietação natural dos que estariam começando a
perder a esperança”, mas afirmou que isso era proveniente
de “um grupo pequeno, que só vê solução fora da
democracia e que tais descontentes não têm nem
responsabilidade pelos destinos do país e nem têm valor
diante do sentimento democrático do povo brasileiro”.
O governador baiano aproveitou o espaço dado pelo
jornal americano para afirmar ainda que “esses pequenos
grupos são muito radicais e não encontram apoio na
sociedade, que quer trabalhar e construir um País dentro da
democracia”. E foi incisivo ao apontar que “gente que
defende golpe, como o deputado Bolsonaro, é tão radical e
tão oportunista, que não merece ser qualificada”.
No dia 6 de agosto, o Jornal do Commércio publicou
artigo assinado pelo ex-deputado federal e jornalista
carioca, Márcio Moreira Alves, intitulado “Os militares não
querem. Ainda”, analisando a crise fiscal, moral e
institucional que se instalara na República e que levava
muita gente a clamar por uma intervenção dos militares no
comando do país.
(...) As classes médias, que formam o que se convencionara
chamar de “opinião pública”, ficam de tal forma angustiadas
que se deixam tentar por soluções extralegais.
Desesperançadas de encontrar um homem salvador,
inclinam-se por uma instituição salvadora. No caso, as
Forças Armadas. (...)
Há, sim, empresários, profissionais variados, militares da
Reserva, até donas de casa, batendo às portas dos
quartéis, reclamando uma intervenção salvadora para por
ordem nos negócios da Nação. Ainda não chegaram a jogar
milho para os oficiais e a bater panelas a horas mortas,
como no Chile de Allende, mas estão perto. E, como a
desagregação do Estado produzida pela crise fiscal afeta
também a oficialidade, encontram algum eco, sobretudo
entre os mais jovens, que têm problemas de sobrevivência
maiores.
A posição antidemocrática do líder sindical dos sargentos e
suboficiais, deputado Jair Bolsonaro, é um reflexo desse
sentimento. A motivação essencial de um graduado é o
soldo, de vez que não chegará na carreira além de capitão.
Um oficial jovem pode chegar a general e tem, portanto,
motivações profissionais outras além do soldo, embora,
também seja premido por dificuldades financeiras.
(...)

No dia 17 de agosto, o deputado Jair Bolsonaro, em


entrevista ao jornal O Fluminense, afirmou que entregaria à
Comissão de Constituição e Justiça a sua defesa e que esta
estaria assentada no artigo 53 da Constituição Federal que
dá ao parlamentar o direito de inviolabilidade de suas
opiniões, palavras e votos. Quanto à acusação de ter ferido
o decoro parlamentar, Bolsonaro disse ao jornal que
“Decoro é a consequência nítida e obrigatória de um dever
junto aos representados que nos conduzem ao exercício no
parlamento”. E completou: “Portanto, decoro parlamentar é
o dever de divulgar o pensamento do eleitor na atividade
parlamentar”.
E o relator do caso Bolsonaro na Comissão de
Constituição e Justiça, deputado Mendes Ribeiro (PMDB-
RS) pediu o arquivamento do processo de cassação dele no
dia 1.º de setembro de 1993, com a justificativa de que,
antes de Bolsonaro invocar o retorno dos militares ao poder,
ele condicionou isto a “Se a Câmara não se cuidar...” e que
o deputado Jair Bolsonaro não emitiu opinião em seu
discurso, mas comunicou ao plenário da Câmara uma
constatação: o descrédito do povo brasileiro para com o
Congresso Nacional.
Ao assinalar em seu voto o pedido de arquivamento
do processo, o deputado Mendes Ribeiro, afirmou que não
via qualquer agravante no fato de Bolsonaro ser um militar,
porque segundo o mesmo, “militar é um civil fardado e civil,
um militar à paisana”. E encerrou afirmando: “O golpe de
1964 foi uma tragédia e repetir seus métodos seria uma
tragédia ainda maior”.
Prevaleceu tal tese e o processo contra Bolsonaro foi
arquivado.
Pouco mais de um mês depois, o deputado Jair
Bolsonaro entrava em outra polêmica na Câmara dos
Deputados, ao acusar, em discurso na Casa, que o
governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB)
era o mandante da Operação Onda Vermelha, que se
referia à compra de deputados federais para integrar a
legenda do PSD, ao preço unitário de 30 a 50 mil dólares,
pago em moeda norte-americana, de acordo com
Bolsonaro.21
- Eu fui convidado a ir a São Paulo para conversar
com o “empreiteiro de Fleury”, o magnata que financiou o
troca-troca de partido. O PSD comprou alguns deputados
desta Casa, como se compra bacalhau na feira: pelo cheiro.
A questão dos treze parlamentares que venderam
seus mandatos para o PSD parecia ser coisa normal, na
cabeça de parlamentares do Congresso Nacional, a quem
Bolsonaro acusava de peito aberto, mas que, depois de citar
a venda de mandatos, teve de andar um bom tempo com
segurança particular, devido às ameaças de morte que
sofreu.
O deputado Irani Vieira Barbosa (PSD-MG), que era o
vice-presidente de seu partido, enfurecido com a decisão do
presidente da Câmara dos Deputados que determinou a

21 Este foi um dos grandes escândalos protagonizados pelo Congresso

Nacional nos anos 1990, que teve nesta década, diversos outros
escândalos e investigações envolvendo parlamentares corruptos. Teve o
impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, precedido pela
CPMI do PC Farias; a CPI da Propina, a CPI da Corrupção, a CPMI do
Orçamento, a CPI do PP (Pedro Paulo Leoni Ramos), a CPI do Programa
Nuclear Paralelo, a CPI da Privatização da Vasp, a CPI do FGTS (US$ 12
bilhões desaparecidos), a CPI da Fome, a CPI da Violência no Campo, a
CPI do Narcotráfico, a CPI do Extermínio de Menores e muitas outras.
suspensão da filiação partidária dos 13 deputados federais
que se transferiram para o PSD, disse ao líder Onaireves
Moura (PSD-PR):
- Só nós viramos bandidos? Cadê os outros? Não tem
sentido caçar virgem em um prostíbulo. Inocêncio de
Oliveira é um idiota. Ele não pode suspender filiações.
Somente o TRE ou TSE têm este poder. Bolsonaro foi posto
na reserva por insanidade mental, afirmou Barbosa, com o
que concordou com um sinal de cabeça, o deputado
Onaireves Moura.
Ressalte-se que o deputado Irani Barbosa não estava
entre os investigados pela venda de mandato, pois já era do
PSD há mais anos, o que não acontecia com o deputado
Onaireves Moura, um dos investigados e, posteriormente,
cassado pela Câmara dos Deputados, acusado da compra
de deputados.
Jair Bolsonaro confirmou ao corregedor da Câmara
dos Deputados, Fernando Lyra, em depoimento que durou
cerca de duas horas, no dia 7 de outubro, a tentativa do
deputado Onaireves Moura de lhe pagar cerca de US$ 90
mil, parcelados, para que ele entrasse para o PSD. Seriam
US$ 20 mil de entrada, mais oito parcelas de US$ 5 mil até
abril de 1994, com duas intermediárias de US$ 10 mil. E
mais US$ 10 mil no final de abril, totalizando os US$ 90 mil.
Bolsonaro também disse a Lyra, e depois confirmou tal
fala para a imprensa, que o deputado Onaireves Moura, ato
contínuo à sua negativa em aceitar a oferta, fez-lhe uma
contraproposta de lhe pagar mais US$ 10 mil junto com a
parcela de US$ 20 mil.
Bolsonaro disse ainda que, na tarde do mesmo dia,
teria recebido um telefonema do deputado Nobel Moura,
convidando-o para ir a São Paulo, num voo das 19 horas, da
Varig, onde o ‘negócio’ seria fechado com o empreiteiro,
mas disse não saber o nome do empresário nem da
empresa. Porém, Bolsonaro afirmou não ter ido ao encontro,
tendo se deslocado para sua casa, no Rio de Janeiro onde,
por volta das 23 horas, teria recebido outro telefonema.
Depois de ouvir Bolsonaro, o corregedor da Câmara
dos Deputados disse ter ficado chocado com o que o
deputado declarou, em seu depoimento, no inquérito que
investigava a venda de mandatos “As denúncias são de
uma evidência muito grande. São impressionantes. Mas,
mais impressionante ainda, foi o narrado, reservadamente”.
Mas Bolsonaro deve ter rogado praga nos dois,
porque Irani Barbosa não mais conseguiu se reeleger para a
Câmara dos Deputados.22 E, como deputado estadual teve
seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de
Minas Gerais. Onaireves [Severiano, ao contrário] Moura,
cassado, voltou para o Paraná e se tornou dirigente da
Federação Paranaense de Futebol.
Quando faltava notícia sobre Bolsonaro, a imprensa
dava um jeito de, às vezes, criar algum factoide, mas neste
caso foi uma piada mesmo. A coluna Fato do Dia (6/10/93)
afirmava que o então presidente da Rússia, Bóris Yeltsin, na
crise de 1991, teria consultado, por telefone, o deputado Jair
Bolsonaro (PPR-RJ), para saber se bombardeava ou não o
Parlamento.
A piada decorria do fato de que, no dia 24 de junho de
1993, Bolsonaro ter afirmado, em discurso na Câmara dos
Deputados, que o Congresso Nacional estava “à beira da
falência” e que se desse mais um passo rumo ao abismo,
ele seria a favor da instalação de uma ditadura, de um
regime de exceção.
Embora não concordando com o deputado Jair
Bolsonaro na tese de fechamento do Congresso Nacional, o
jornalista Geraldo Hudson Moreira, em artigo publicado na
Tribuna (‘Raposas velhas de guerra’) no dia 7 de outubro de
1993, discorreu sobre diversas vezes na história em que o
Congresso Nacional foi achincalhado pela imprensa e por
personalidades e, em um trecho de seu artigo, ele fala da
saga de Bolsonaro contra a podridão parlamentar:
(...) A idiossincrasia do povo pelos seus representantes não
é de hoje. Desde priscas eras os senadores são chamados
de “pais da pátria e carcomidos”. Tal sentimento deve ter

22
Em julho de 2000, o deputado cassado, Onaireves Moura, foi preso
acusado de sonegação fiscal, por deixar de recolher aos cofres da
Previdência Social cerca de R$ 525 mil, referente aos 5% da renda dos
jogos realizados no Paraná entre dezembro de 1995 e julho de 1997. Em
6 de novembro de 2007, Onaireves Moura voltou a ser preso, desta feita,
preventivamente por quatro meses, acusado de falsidade ideológica,
formação de quadrilha, fraude processual, estelionato e do desvio de R$
5 milhões dos cofres da Federação Paranaense de Futebol.
até o ex-capitão Jair Bolsonaro ao pregar o fechamento do
Congresso. Não partilhamos dessas ideias, mas
concordamos com o ex-ministro da Educação e líder na
Câmara dos Deputados, no governo Vargas, o falecido
Gustavo Capanema, que dizia que “o congresso tinha 10%
de luminosidade, com capacidade excepcional, 10% de
velhacos, velhas raposas e velhacos de alto bordo e 80%
de legítimos representantes do povo”.

No dia 27 de outubro de 1993, Bolsonaro se via livre


de mais um processo de cassação de seu mandato. Por 29
votos contra apenas 3, o pedido do presidente da Câmara
dos Deputados, Inocêncio de Oliveira, de cassação do
parlamentar por este ter defendido o fechamento do
Congresso Nacional e a instalação de uma ditadura militar,
foi rejeitado.
O deputado não perdeu a oportunidade para criticar os
corruptos do Congresso Nacional: “Ora, esse Congresso
está tão fragilizado, que até o quadro feminino do Exército,
mesmo sem armas de fogo, conseguiria fechá-lo”.
No final de dezembro de 1993 - um ano marcado por
inúmeros escândalos de corrupção, protagonizados por
membros do Congresso Nacional (Venda de mandatos,
Anões do Orçamento) -, o advogado Vasny Gomes fez uma
releitura, no artigo intitulado “Reminiscências de uma
proposta”, das palavras do deputado Jair Bolsonaro, que
pedira, meses antes, o fechamento do Congresso, que aqui
transcrevemos alguns trechos principais:
Não conhecemos, pessoalmente, o deputado Jair
Bolsonaro. Tampouco demos o nosso voto a ele, nas
últimas eleições. Portanto, estamos à vontade, para
opinarmos sobre sua proposta de fechamento do atual
Congresso. Constantemente lemos na Tribuna da Imprensa
os pronunciamentos do Grupo Guararapes, alertando as
autoridades para o caos reinante no país e a necessidade
de homens de conduta ilibada, sejam, civis ou militares,
para conduzirem a nação dentro dos princípios
democráticos e da legalidade. A tese do deputado Jair
Bolsonaro penetrou fundo na mente de milhões de
brasileiros, estarrecidos e revoltados diante de tanta
podridão moral de parlamentares, das negociatas, das
fraudes, os furtos; os desvios de bilhões de cruzeiros para
negócios escusos; dos enriquecimentos de forma ilícita e da
lavagem de milhões de dólares nos paraísos fiscais, etc.
(...).
Aliás, a tese do deputado se aprofundou, ainda mais, no
espírito dos brasileiros, quando José Carlos Alves dos
Santos – embora culpado de alguns crimes – denunciou
muitas irregularidades praticadas à sombra e por trás dos
escombros do Congresso por indivíduos, que eleitos
deputados ou senadores, deveriam dar bons exemplos e,
acima de tudo, zelar pelo dinheiro público. Seja lembrado
também, que Lula prognosticou a existência de “300
picaretas” dentro daquela instituição. Evidentemente, que o
povo, diante dos saques – melhor dizendo, dos assaltos aos
cofres da nação – teria que respaldar a tese sustentada
pelo deputado Jair Bolsonaro, ou seja, fechar o Congresso
Nacional. (...).

No dia 10 de janeiro de 1994, o jornalista Genilson


Gonzaga, do Jornal do Commercio, publicava parte de sua
coluna de análise do que fora o ano de 1993 para a política.
“Falaram e disseram” era o título da retrospectiva feita por
Gonzaga e nesta, como não podia deixar de ser, um dos
vários personagens citados era o deputado Jair Bolsonaro.
(...) Em 1993, os políticos estiveram em baixa.
A tal ponto, que um deputado, o capitão Jair Bolsonaro,
pregou a dissolução do Congresso e as pesquisas
indicavam que, neste caso, o povo aplaudiria
delirantemente.
A corrupção, a pouca vergonha, o deboche, o
corporativismo, o nepotismo e os escândalos grassaram no
Congresso em 1993. Foi necessário uma CPI do
Orçamento, tangida pelo clamor popular, para que cívica e
edificante campanha de moralização e mãos limpas fosse
deflagrada no país.
Surgiram as primeiras cassações, por falta de decoro
parlamentar – e os depufedes Onaireves Moura, Nobel
Moura e Itsuo Takayama foram solenemente para o espaço.
(...)

No dia 4 de julho de 1994, uma terça-feira, Bolsonaro


deixou o apartamento em que morava na Barra da Tijuca
(RJ), por volta das 8 horas da manhã e se dirigia à Zona
Norte, para panfletagem de campanha para a sua reeleição.
No caminho, lá pela 8h30, ao parar em um semáforo
da Rua Torres Homem, em Vila Isabel, dois homens o
abordaram e levaram sua moto, uma Honda Sahara 350,
ano 1994, placa LAZ-0656. Ainda antes de partirem, os
assaltantes decidiram fazer uma revista em Bolsonaro,
quando encontraram a sua arma, uma Glock 380, que
também foi levada pelos bandidos.
Logo após o ocorrido, Bolsonaro registrou queixa na
20.ª Delegacia de Polícia, no Grajaú, onde afirmou que os
dois assaltantes pareciam ter cerca de 20 anos, e que,
mesmo ele estando armado, se sentiu completamente
indefeso.
Informado da ocorrência, imediatamente, o Secretário
de Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Nilton
Albuquerque Cerqueira, designou 50 policiais de diversas
delegacias e especialidades – policiais da 23.ª Delegacia de
Polícia (Meier), da Coordenadoria de Inteligência e Apoio
Policial (Cinap), da Divisão de Fiscalização de Armas e
Explosivos (DFAE), da Divisão de Roubos e Furtos de
Veículos Automotores Terrestres (DRFVAT) e policiais
militares do 3.º BPM (Meier) e policiais do Posto de
Policiamento Comunitário (PPC) da Jacarezinho -, sob o
Comando da delegada Martha Rocha e com a participação
de Bolsonaro, para vasculharem a Favela do Jacarezinho,
local para onde o deputado acreditava que a moto teria sido
levada. Entretanto, apesar dos esforços empreendidos para
recuperar o produto do roubo, a busca foi infrutífera.
Três dias depois, militares do 9.º Batalhão de Polícia
Militar (Rocha Miranda) conseguiram recuperar a moto e a
arma de Bolsonaro, através de uma pessoa que telefonou e
indicou que ela poderia ser encontrada estacionada na
Praça Roberto Carlos, em Acari. A moto estava sem os
retrovisores e sem placa.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro
aproveitou da repercussão do fato para falar sobre a
reclamação de algumas pessoas quanto às dificuldades
para a liberação do porte de armas:
- Estamos observando critérios muito rigorosos, até
mesmo o porte de armas para empresários que alegam
serem alvos de sequestros. O porte não dá segurança a
ninguém, porque num assalto ou sequestro, existe o fator
surpresa. Um capitão combatente da tropa de elite de
paraquedistas, como é o caso de Jair Bolsonaro, foi
surpreendido e dominado por dois marginais.
O ano de 1994 também não seria diferente, em termos
de arrocho salarial para os militares e Bolsonaro vivia em
rusgas com a equipe econômica do Governo Federal e
também mobilizando militares, especialmente da Reserva,
para que pressionassem o governo para resolver o
problema, que se arrastava há anos.
Por exemplo, no dia 12 de agosto, cerca de 100
militares da Reserva, incluindo alguns do Rio Grande do
Sul, e ex-combatentes - debaixo de chuva e bastante frio -,
participaram de mais um protesto, liderado pelo deputado
Jair Bolsonaro, que aconteceu em frente ao Palácio Duque
de Caxias, onde funciona o Comando Militar do Leste, no
Rio de Janeiro.
Em sua fala, Bolsonaro demonstrou “a covarde
defasagem salarial sofrida pelos militares”, através da
exibição de cópias de contracheques de um juiz do
Trabalho, o dele e de um general do Exército, onde o juiz
recebia líquido o valor de R$ 7.367,00, um deputado federal,
R$ 1.580,87 e um general do Exército, o valor de R$
1.361,64 e não poupou críticas ao governo federal:
- Desafio o presidente da República a divulgar na
imprensa os contracheques dos funcionários das estatais,
do Banco Central, dos auditores fiscais, entre outros. Eles
fazem a campanha do Fernando Henrique Cardoso com o
que roubam dos civis e militares. A categoria foi roubada em
97% da inflação de janeiro e fevereiro, além do expurgo de
10% da inflação em URV. A situação do governo é crítica.
Se ele dá alguma coisa para o servidor, vai faltar para
financiar a campanha do FHC. Queremos, portanto, a
isonomia com os Poderes Legislativo e Judiciário.
Na oportunidade, também falou o capitão Emir Garcia,
do Rio Grande do Sul:
- É preciso que se faça alguma coisa. Não podemos
continuar recebendo um salário que não atende às nossas
necessidades básicas. Por isso, é que estou aqui, lutando
pela isonomia.
Ano após ano e a questão salarial dos militares estava
sempre na pauta do dia para o deputado Jair Bolsonaro,
pois o governo não resolvia a questão e os ministros
militares também não tinham força para impor soluções,
como pode ser apreendido do trecho da conversa relatada
por Bolsonaro, depois da audiência que teve com o ministro
do Exército, general Zenildo de Lucena, quando este lhe
confidenciou:
- A crise ainda não começou. O temor é que ela
comece quando os contracheques, com os salários de
março, chegarem aos quartéis.
Além do problema salarial dos militares, Bolsonaro
vivia como peixe fora d’água, em meio a corruptos mil, o que
o deixava furioso e, às vezes, falava o que outros
consideravam inadequado, como o pronunciamento que fez
na tribuna da Câmara, atacando os corruptos e que motivou
o Exército a solicitar da Câmara cópia de seu discurso, onde
ele fala:
- Espero que não tenha de meter uma espoleta
elétrica no tanque de carro de alguma autoridade corrupta,
afirmou Bolsonaro que, não tendo indicado quem, com
certeza apontava para todos os lados, de uma Brasília
apinhada de corruptos por todos os lados.
Bolsonaro foi o primeiro militar a ir para a Câmara dos
Deputados e outros se aventurariam em 1994 a buscar um
lugar ao sol da política Braziliense e todos com a mesma e
difícil missão: levar propostas de melhorias para os militares
da ativa e da reserva, além dos pensionistas.
Em agosto de 1994, os candidatos já estavam na rua
distribuindo seus “santinhos”, o que não era diferente para
Jair Bolsonaro, que pleiteava a sua reeleição pelo PPR –
Partido Progressista Reformador.
Entretanto, a despeito de sua incessante luta pela
melhoria dos salários do militares, a resistência quanto ao
seu relacionamento com os quartéis persistia.
Por exemplo, no dia 19 de agosto, ele teve barrada
sua entrada no 1.º Batalhão de Infantaria de Paraquedistas
do Exército, em Deodoro (RJ) na solenidade que lá
acontecia – a brevetação de 400 novos paraquedistas -,
sendo obrigado a distribuir os seus santinhos fora da Vila
Militar.
E Bolsonaro foi barrado na entrada do quartel pelo
próprio comandante da unidade, general Paulo Roberto
Nalma, que o segurou pelo braço e não permitiu a sua
entrada.
Bolsonaro alegou que apenas queria distribuir boletins
com informações sobre suas atividades no Congresso
Nacional, mesmo sabendo que isso iria acontecer, pois o
general Gil Senna, já havia determinado que o deputado
não poderia adentrar o quartel, dizendo que “não havia
espaço para ele e Bolsonaro no mesmo quartel nem em
lugar nenhum”.
E o Rio de Janeiro era uma base política forte, já que
tinha, naquele ano, cerca de 500 mil eleitores vinculados a
militares, seja de oficiais, suboficiais, sargentos e seus
familiares, considerando que postos abaixo de sargento não
podiam votar.
Além de Bolsonaro, diversos outros militares
pretendiam concorrer a uma vaga à Câmara dos Deputados.
Dois militares de peso se destacavam: os almirantes
Hernani Fortuna, que pretendia concorrer à Presidência da
República pelo PSC e Roberto Gama e Silva, candidato a
vice do Enéias Carneiro (Prona).
E Jair Bolsonaro, insuflando seus colegas de caserna
vivia a repetir: “Se Deus quiser, vão explodir outras bombas.
E fora dos quartéis”.
Chegava o fim do primeiro mandato e o capitão-
deputado Jair Bolsonaro era reeleito, no dia 15 de novembro
de 1994, para o segundo mandato na Câmara dos
Deputados, pelo PPR, com a estrondosa soma de 134.643
votos, tendo sido o deputado mais votado do Rio de Janeiro.
No dia 1.º de dezembro de 1994, o corregedor-
regional eleitoral, Paulo César Salomão, aceitou pedido de
investigação judicial do procurador-regional eleitoral, Alcir
Molina, contra o reeleito deputado Jair Bolsonaro, por abuso
de poder econômico por ter usado dinheiro público em sua
campanha.
Na verdade, a base da denúncia contra Bolsonaro era
ele ter utilizado vantagens e prerrogativas do cargo de
deputado federal, para divulgar seu mandato e pedir votos
para a reeleição, o que é regra geral e não exceção.
Anos de luta contra a corrupção e o
“entreguismo”
Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres humanos
são tão contraditórios que é impossível atender às suas
demandas para satisfazê-los. Tenha em mente
simplesmente ser autêntico e verdadeiro.
(Dalai Lama – chefe de estado e líder espiritual do Tibet)

Era o dia 1.º de fevereiro de 1995, uma quarta-feira, e


lá estava Jair Bolsonaro sendo empossado para o seu
segundo mandato na Câmara dos Deputados.
Entre os 45 deputados federais oriundos do Rio de
Janeiro, cinco eram do PPR: Francisco Dorneles, Amaral
Neto, José Carlos Lacerda, Simão Sessim, Roberto Campos
e Eurico Miranda.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, que havia
tomado posse um mês antes - primeiro mandato - seria
quem, definitivamente, o deputado Jair Bolsonaro não se
alinharia politicamente.
E logo isso já estava nas manchetes dos jornais:
- Eu nunca acreditei e continuo não acreditando neste
governo. Não vai ser nada diferente de Itamar e Collor. O
presidente FHC já está atendendo políticos a varejo e
negociando cargos para ficar bem com o Congresso. Ou
você acha que esses parlamentares vão viver apenas com
seus salários?
Disse, de forma enfática, Bolsonaro à imprensa, por
estar convivendo com um Congresso Nacional cheio de
corruptos, que no ano anterior – depois das investigações
da CPMI do Orçamento (Anões do Orçamento) –
conseguiram se safar da degola, justamente porque era ano
de eleições gerais e fizeram tudo para jogar a sujeira para
debaixo do tapete.
Engraçado que, de acordo com o jornalista Mauro
Braga, Fernando Henrique Cardoso poderia ter sido
companheiro de Arma de Jair Bolsonaro, pois ele tentou, por
três vezes, entrar para a Escola Preparatória de Cadetes de
São Paulo e foi reprovado em todas as tentativas.
- Sorte do Exército, teria dito Bolsonaro.
E logo no início da nova legislatura, o deputado Jair
Bolsonaro teve sua primeira trombada com o presidente da
República. Isto, no dia 17 de março, quando ele saia do
Centro Cultural Banco do Brasil, onde foi lançar, no início da
tarde, o projeto “Acorda Brasil, está na hora da escola”.
Logo na chegada, debaixo de imenso protesto de
cerca de mil pessoas e dois carros de som de apoio, o
presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava cercado
por 40 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar e
25 homens da Polícia do Exército, afirmou “Democracia é
isso aí”, olhando para os manifestantes e dando aquela sua
sempre risadinha sarcástica.
Bolsonaro, em cima do carro de som do Sindicato dos
Bancários, chamou os sindicalistas presentes de
companheiros. E tascou “falação” contra o ministro da
Administração Federal e da Reforma do Estado, Luiz Carlos
Bresser Pereira, a quem chamou de canalha, vagabundo e
sem-vergonha, dizendo que ele só foi para ministério para
continuar roubando os funcionários públicos.
E, para as centenas de militares que davam proteção
ao evento, o deputado Jair Bolsonaro disse: “Infelizmente,
por ordens superiores, vocês estão dando proteção a um
presidente imoral”. Ele também afirmou que somente ele
estava presente àquela manifestação porque “os [outros]
políticos estavam barganhando, traficando influência”.
Poucos dias depois, Bolsonaro se indisporia com o
ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado,
Luiz Carlos Bresser Pereira, durante a exposição que este
fazia à Comissão de Trabalho da Câmara e, por isso, ele iria
receber a primeira ameaça de cassação de seu segundo
mandato, por falta de decoro parlamentar, ao perder a
“pouca” paciência que tem com o ministro.
O motivo era a insatisfação de Bolsonaro pela
mudança de data de pagamento dos servidores e também
pelas respostas evasivas que Bresser Pereira dava às
indagações sobre aumento salarial para os cargos de
confiança – que o governo FHC pretendia fazer através de
Medida Provisória. Pela proposta do governo, o reajuste iria
variar de 17% a 225% retroativo a 1.º de março.
Bolsonaro, em sua intervenção, condenou declarações
recentes do ministro contra a aposentadoria dos militares,
que ele dizia ser “privilegiada”, lembrando ao ministro o seu
passado de tenente da Cavalaria Brasileira.
Quanto à declaração do ministro de que a mudança do
pagamento dos militares - do dia 20 para o início do mês
seguinte -, não era causa de prejuízo, Bolsonaro esbravejou
em tom de provocação “Qualquer idiota sabe que o servidor
está perdendo com o atraso do pagamento e que o governo
está fazendo saldo de caixa com nosso dinheiro”.
Só relembrando: no ano de 1995 a inflação fechou em
147,98%.
Embora não fosse da Comissão de Trabalho e,
portanto, sem direito a manifestação, Bolsonaro, irritado,
porque o ministro ignorou suas colocações, entre outros
impropérios, disse a Bresser Pereira: “Vossa Excelência tem
uma tremenda cara-de-pau, não tem condições morais para
ser ministro”.
Além disso, ele taxou o deputado federal Wigberto
Tartuce (PP-DF), que presidia a reunião, de “sem
vergonha”, por tê-lo advertido pela sua aspereza na fala,
pedindo a sua retirada do recinto. Bolsonaro pegou o
microfone e o jogou no chão, chamou novamente o
deputado Wigberto de sem vergonha e se retirou do recinto
sob os aplausos de pessoas que acompanhavam a reunião.
A atitude de Bolsonaro foi criticada por todos os
parlamentares presentes e, no mesmo dia, o deputado
Oswaldo Biolchi (PTB-RS) apresentou ao corregedor da
Câmara, deputado Beto Mansur (PPR-SP), uma
Representação contra o deputado Jair Bolsonaro pedindo
sua cassação por falta de decoro.
Até o presidente Fernando Henrique Cardoso
aventurou-se a entrar no assunto, dizendo que iria mobilizar
os parlamentares do PSDB e aliados para conseguir cassar
o mandato de Bolsonaro. O tiro, entretanto, sairia pela
culatra e até o presidente da Comissão do Trabalho,
deputado federal Wigberto Tartuce, que também foi xingado
por Bolsonaro, saiu em sua defesa:
- Acho que o governo deveria deixar os assuntos da
Câmara dos Deputados para serem resolvidos pela Casa e
eu acho que o deputado Jair Bolsonaro deveria sofrer
apenas uma advertência.
O deputado Beto Mansur também informou que
tramitava na Comissão de Constituição e Justiça, em regime
de urgência, projeto de resolução mandando arquivar
qualquer processo contra parlamentares por crime de
opinião e de palavra, o que, na prática, colocava por terra
qualquer pretensão punitiva, como a que pretendia o
deputado Oswaldo Biolchi contra Bolsonaro.
Isto seria confirmado depois pelo deputado Beto
Mansur, ao dizer à imprensa que Bolsonaro não teria seu
mandato cassado e sequer receberia qualquer advertência,
já que, de acordo com o Regimento Interno da Casa, ele já
teria sido punido, no ato de sua agressão verbal ao ministro
Bresser Pereira, ao ter sido advertido “verbalmente” pelo
deputado Wigberto Tartuce, não podendo, de tal forma, ser
punido duas vezes.
Além disso, segundo Beto Mansur, depois que
Bolsonaro deixou o recinto onde ocorria a reunião com o
ministro, o deputado Wigberto Tartuce, atendendo
ponderação do deputado Paulo Paim (PT-RS), decidiu
retirar dos anais, não apenas as palavras agressivas a
Bresser Pereira, mas também retirar, ele mesmo, a
advertência feita a Bolsonaro, razão porque ”agora não tem
nada nos anais que condene Bolsonaro”.
O jornalista Hélio Fernandes, em sua coluna do Jornal
do Brasil do dia 28 de março de 1995, foi muito duro na
defesa de Jair Bolsonaro:
Podem dizer o que quiserem. Mas o deputado Jair
Bolsonaro ganhou pontos em quantidade ao agredir com
palavras duríssimas, o homem do supermercado, Bresser
Pereira. A incompetência do homem do fracassado “Plano
Bresser”, vale qualquer reação. E Bolsonaro levou grande
vantagem não só nos quartéis, mas também entre os
eleitores civis. Defendeu o Congresso e mostrou a face do
ministro.

No lugar de um processo de cassação, a Mesa


Diretora da Câmara apenas advertiu Bolsonaro por escrito,
dando por encerrado o episódio, mesmo porque, de acordo
com Mansur, durante a própria reunião da Comissão de
Trabalho, as expressões agressivas dirigidas a terceiros
foram excluídas e, por isso, não existiam mais no sentido
jurídico.
Em resposta, Bolsonaro disse que estaria até disposto
a pedir desculpas ao ministro Bresser Pereira, se ele se
manifestasse a favor de conceder um reajuste de 204%
para os servidores civis e militares, mas foi enfático:
- A maioria dos parlamentares não diz o que pensa,
como eu faço, porque eles têm rabo preso. Eu estou
investigando e armazenando provas em São Paulo contra o
ministro e eu vou derrubá-lo. Ele é um panacão, porque sai
por ai dizendo o que quer e o que bem entende. Ele é
mesmo um canalha.
Mas Bolsonaro não deixou apenas por isso. Dias
depois, encaminhou à Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados um Recurso, assinado por ele e por outros 54
deputados, pedindo que a Advertência por escrito que ele
havia recebido fosse apreciada pelo plenário da Casa, já
que não foi facultado a ele qualquer oportunidade de ser
ouvido antes que fosse advertido.
Questionou Bolsonaro da tribuna da Câmara:
- Onde está, afinal, esta democracia de que eles tanto
falam? Onde já se viu advertir alguém sem lhe dar o direito
de defesa?
No dia 15 de agosto de 1995, o escritor e jurista
Carlos de Araújo Lima, no artigo “Palmas para o deputado
Bolsonaro”, pronunciou a favor do deputado fluminense, em
publicação na Tribuna:
Há quem veja em Hélio Fernandes um jornalista viciado no
“contra”. Visão injusta, pois esse bravo homem de
imprensa, afogado sempre no turbilhão de perplexidades e
desmandos brasileiros, sabe distinguir e, o que é mais,
estimular. Estamos ao seu reboque, fazendo coro com o
elogio que confere ao deputado pelo Estado do Rio, Jair
Bolsonaro (PPR). Anda este dinâmico representante do
povo carioca, incansável defensor dos direitos das
pensionistas militares, empenhado em colher assinaturas de
colegas para derrubar a leviana concessão de tanta terra
aos índios, notadamente aos Ianomâmis.
Há uma coincidência que merece toda nossa atenção. A
notória gravitação internacional, sob o fundamento farisaico
dos direitos humanos, para concessões desmedidas de
terras aos silvícolas, na verdade a solerte pretensão de se
assenhorear de riquezas minerais fabulosas, que como
sabemos, se constituem as terras dos Ianomâmis.
Vale lembrar – sempre é oportuno fazê-lo -, que quando
Fernando Collor esteve nos Estados Unidos, foi
pressionado por George Bush, que presidia a nação norte-
americana – e que fora também pressionado por senadores
daquele país a assim proceder. Tratava-se, como
denunciou dando o nome dos nove senadores o general
Sotero, das concessões ora sujeitas a exame, pela ação
vigilante, pertinaz, de Bolsonaro.
Os Ianomâmis, se vencer a trama internacionalmente
criminosamente e anti-Brasil, teriam a seu favor uma
extensão territorial maior do que a área, duas vezes, duas
vezes, do Estado do Rio, maior também do que Portugal.
Palmas para o deputado carioca, como proclama, ardendo
na chama sagrada, Hélio Fernandes.
Meia centena de deputados e senadores constitui no
Congresso a representação de toda a Amazônia legal. Que
o exemplo de Bolsonaro, do Estado do Rio, os estimule, os
aqueça, os sacuda, deitados que estão em redes de tucum.

Em setembro de 1995, ocorreu a fusão do Partido


Progressista Reformador (PPR) com o Partido Progressista
(PP) e o Partido Republicano Progressista (PRP), dando
origem ao Partido Progressista Brasileiro – PPB, que seria
então a nova legenda de Jair Bolsonaro, na qual também se
filiou a mulher de Bolsonaro, Rogéria Nantes Bolsonaro,
então vereadora do Rio de Janeiro.
O ano de 1996 – segundo ano do segundo mandato
de Bolsonaro -, despontava com muita rivalidade entre
pretendentes a uma vaga na disputa pelas prefeituras
municipais e o PPB queria definir um candidato forte, que
deveria sair entre quatro de suas estrelas no Congresso
Nacional e, entre elas, contava com a força eleitoral de
Bolsonaro para substituir César Maia.
Mas isso era apenas uma frente. O ano iria trazer
grandes problemas à tona, pela pressão que se fazia sobre
a economia brasileira e a vida nacional, advinda da onda
neoliberal que varria o mundo. Bolsonaro falou sobre isso e
outras coisas muito importantes, em entrevista à jornalista
Luzia Lobato, do jornal Tribuna da Imprensa, sendo aqui
transcritos pequenos trechos que dão uma ideia geral do
pensamento de Bolsonaro para a época.
- Como o senhor está vendo esta onda neoliberal que
está entregando a soberania brasileira?
- Eu tenho a coragem de votar o que eu quero no meu
partido. Nunca sofri ameaça de expulsão, de retaliações. Eu
sou um deputado que cuido da minha vida e dos meus
eleitores com toda a independência. Eu acho realmente que
o Brasil está marchando para o entreguismo. Estamos
saindo da condição de quintal do mundo para a de pocilga
do mundo. E a culpa é exclusivamente de nosso
governante. (...)
- Quanto à venda das principais empresas nacionais
estratégicas, como o senhor está vendo isto?
- O golpe de misericórdia será na Vale do Rio Doce.
(...)
- E o que pode ser feito para impedir que isto aconteça
- como a venda da Vale do Rio Doce, Petrobrás, etc.?
- (...) Aqui você vê deputado que ganha R$ 5 mil por
mês, que tem ilha, que anda de avião pra lá e pra cá, tem
fazendas. Isso quer dizer: é um elemento que ganha
dinheiro de algum outro lugar. É lógico que não são todos,
mas é bastante e são as pessoas que dominam o
Parlamento. (...)
- E o Caso Sivam?23
- A CPI do Sivam ia acabar pegando o [José] Serra,
que não é um ministro baú, é um ministro container. Nunca
vi um elemento tão corrupto como esse na minha vida. Esta
é a minha opinião, (...) O Sivam tem que sair? Tem! Porque
as propinas que eles receberam, não têm como devolver
mais. Ninguém quer devolver. São propinas gordíssimas.
Esta é a imagem que se passou para o povo brasileiro no

23
Em 1996, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) protocolou
pedido de instalação de uma CPI sobre o Caso Sivam, mas esta só
saiu em 2001 e de forma esvaziada. Como tinha maioria no
parlamento, o governo FHC conseguiu abafar as denúncias.
Ninguém foi punido.
momento em que Fernando Henrique Cardoso vetou a CPI
do Sivam. Mais importante que o Sivam é o Projeto Calha
Norte, mas para isto tem de ser brasileiro. (...)
- O Senhor acha que mesmo depois da
Supercomissão do Senado, que investiga o contrato
Raytheon, o projeto será aprovado?
- Sim, eu acho que será aprovado. É aquilo que eu
falei. São propinas. Não quero acusar o Gilberto Miranda
(senador PMDB-AM) de absolutamente nada. Ele é uma
pessoa rica. O que não entendo é que ele, que é o relator
de um projeto importante, viaja para a Ucrânia e ele fica lá
vários dias com avião particular. Depois volta para cá. Quem
pagou isso? Será que ele é patriota assim? Quanto ele
gastou numa viagem desta? O que ele ganharia num ano
como senador?
- E se acabar em pizza?
- Pode ser que acabe em pizza, mas você vai ficar
sabendo a verdade.
No dia seguinte, o jornalista Hélio Fernandes deu a
sua opinião sobre a entrevista concedida por Jair Bolsonaro:
O deputado Jair Bolsonaro tem uma qualidade essencial e
indispensável nos homens públicos: a franqueza. Ontem
saiu uma entrevista sua, concedida com exclusividade à
Tribuna da Imprensa. Ele fala sobre vários assuntos,
conversou um tempo enorme com a repórter Luzia Lobato e
não fugiu de nenhum tema, não se escondeu atrás de
palavras, não teve medo.

Bolsonaro, que sempre atacava o governo FHC, por


achá-lo excessivamente corrupto, voltou à carga no final de
fevereiro de 1996 depois de FHC ter dito que “Seria mais
fácil governar o país sem o Congresso Nacional”. O
deputado não perdeu a oportunidade de malhar mais uma
vez o governo:
- Nós vivemos em um país sem lideranças políticas. O
Brasil não pode fujimorizar, porque o presidente não é
patriota e seu governo é desonesto e corrupto. Segundo,
apesar de FHC ter comprado metade do Congresso, está
tendo dificuldades para aprovar a Reforma da Previdência,
daí a ideia de ficar sem os congressistas.
O deputado Jair Bolsonaro, analisando os candidatos
que se apresentavam para concorrer à Prefeitura do Rio de
Janeiro, fez a seguinte declaração, que agora parece ter
sido mais uma profecia:
- Como é que eu vou votar num menino mimado como
o Sérgio Cabral Filho? E a Benedita? Se ela construiu uma
piscina de hidromassagem em seu apartamento, na
Prefeitura ela vai fazer logo uma terma.
No dia 12 de setembro, Bolsonaro fez um contundente
discurso, na tribuna da Câmara dos Deputados, contra
decisão da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos,
do Ministério da Justiça, que havia aprovado o pagamento
de indenizações (entre R$ 100 mil e R$ 150 mil para os
familiares dos mortos) às famílias dos guerrilheiros Carlos
Lamarca (ex-capitão do Exército)24 e José Campos Barreto
(ex-cabo do Exército), além de Carlos Marighela.
Dos sete membros da Comissão, apenas o general
Oswaldo Pereira Gomes – representante das Forças
Armadas -, e o representante do Ministério Público,
procurador Paulo Gonet Branco, votaram contra o
pagamento de indenização aos militares, que eram
considerados traidores.
O general Gomes, que ameaçou renunciar ao cargo
na Comissão de Mortos e Desaparecidos políticos foi
demovido da ideia depois de uma conversa com o
presidente Fernando Henrique Cardoso.
A primeira decisão da Justiça para que a União
pagasse uma indenização à família de Carlos Lamarca foi
em outubro de 1993, pelo que, na época, o JB publicou
carta de protesto do escritor carioca Carlos Ilich Santos
Azambuja:

24 Antes de se integrar ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8),


Carlos Lamarca mandou sua mulher, Marina, e os filhos, Claudia e César,
para Cuba, para que não fossem perseguidos pelo regime militar. O MR8
foi uma organização política de ideologia de extrema esquerda, que tinha
como objetivo a criação de uma ditadura comunista no Brasil. Com a
morte de Lamarca, os militantes remanescentes se retiraram para o Chile,
tendo o grupo sido reestruturado posteriormente com outras orientações.
A preferência por ações armadas deu lugar à atuação nos bastidores
políticos, principalmente, em apoio a Orestes Quércia (MDB).
O JB publicou o despacho da juíza Marisa Ferreira dos
Santos, condenando a União a pagar indenização à viúva
de Carlos Lamarca. Em seu despacho, a juíza disse que
Lamarca “foi obrigado a desertar par não trair suas
convicções”. Discordo da juíza. A verdade é que, ao
desertar, roubando armas a si confiadas, ele traiu o
juramento que fez, ao ser declarado aspirante, de defender
a pátria com o sacrifício da própria vida. Pergunto à juíza:
quem vai indenizar, também com juros e correção
monetária, a viúva ou os pais do tenente Alberto Mendes
Júnior que Lamarca assassinou a coronhadas em Registro,
em 10 de maio de 1970, e a viúva do agente federal Délio
de Carvalho Araújo, assassinado por ele quando do
sequestro do embaixador da Suíça, em 7 de dezembro de
1970?

O partido de Bolsonaro (PPB) coligou, para as


eleições municipais de 1996, com o PSDB de Sérgio Cabral,
mas o deputado – como em diversas oportunidades em que
se declarava independente em relação a decisões tomadas
pelo PPB -, não apoiou tal estratégia. Sérgio Cabral Filho,
que tinha assumido uma vaga de vereador em 1995,
candidatou-se a prefeito do Rio de Janeiro, pelo PSDB, nas
eleições de 1996, mas perdeu para o candidato Luiz Paulo
Conde, do PFL.
Uma das frentes de luta de Jair Bolsonaro era contra a
venda da Vale [do Rio Doce] que, para ele e outros
parlamentares, era uma das estatais estratégicas e o
Governo FHC queria entregá-la ao capital internacional, que
acabaria tomando conta das riquezas do subsolo brasileiro.
Bolsonaro também disse, em diversas oportunidades,
que Fernando Henrique Cardoso iria usar o dinheiro da
venda da Vale para financiar sua campanha para reeleição
à Presidência da República. Claro que isso era “força de
expressão”, mas que teve ataque imediato do historiador
Carlos Ilich Santos Azambuja:
Apesar da minha simpatia por algumas posições adotadas
pelo deputado federal Jair Bolsonaro, eu sou obrigado a
concordar com alguns amigos meus de que, realmente, ele
é um boquirroto, pois não mede o alcance do que afirma e,
assim, perde credibilidade. Afirmar [Tribuna de 17 de março]
que o dinheiro resultante da privatização da Vale do Rio
Doce será usado pelo presidente para a sua reeleição é de
uma infantilidade quilométrica. Gostaria que ele utilizasse o
seu mandato para temas mais sérios. Temas é que não
faltam.

Veja a defesa que o leitor da Tribuna da Imprensa, Ian


Carter-Wight, fez do deputado Jair Bolsonaro, publicada no
dia 1.º de abril de 1997:
Finalmente se descobriu qual ideologia o senhor Carlos Ilich
Santos Azambuja [historiador] segue. Ele não é de direita,
nem de esquerda, muito menos de centro, ele é governo,
seja ele qual for. “Hay gobierno, estoy com el”, dia o senhor
Azambuja, eterno e pouco competente rábula do poder.
Explico porque cheguei a tal conclusão: há dias, ele criticou
o deputado Jair Bolsonaro, flor da direita e ex-militar do
corpo de parquedista do Exército, quando este disse que o
presidente Fernando Henrique Cardoso pretendia vender a
Vale do Rio Doce como forma de, direta ou indiretamente,
bancar sua reeleição. O senhor Azambuja se queixou e teve
uma diatribe literária. Fez uma empedernida defesa de FHC
e atacou violentamente o parlamentar – para minha
surpresa, pois pensava que o Azambuja era um direitaço.
(...)

No dia 26 de junho de 1997, a Tribuna divulgou


matéria feita com o deputado Jair Bolsonaro, ocasião em
que ele acusava os parlamentares (Congresso Nacional) de
terem medo da Rede Globo, por isso, eles não respondiam
aos ataques que a Marinha vinha sofrendo por parte da
emissora.
- É covarde como esta emissora vem atacando a
Marinha do Brasil. E fico perplexo de ver a passividade do
ministro da pasta, almirante Mauro César Pereira, na defesa
da instituição. Ele é muito fraco. A Rede Globo não é
infalível e ataca agora a Marinha, certamente por conta de
motivos inconfessáveis.
Devido os reflexos da Medida Provisória mandada
pelo governo FHC ao Congresso Nacional, no dia 28 de
fevereiro de 1994, os militares, não só das Forças Armadas,
mas policiais civis e militares, novamente se articulavam, em
1997, sob a liderança do capitão Bolsonaro para lutar pelos
seus direitos.
Com a criação do Plano de Estabilização Econômica
(Plano Real) a inflação de janeiro e de fevereiro de 1994,
acumulada em 97%, simplesmente foi escamoteada pra
debaixo do tapete do Palácio do Planalto, deixando os
militares na mão, sem contar com o expurgo de seus
contracheques de 10% da inflação acumulada entre 1.º de
março a 30 de junho, quando vigorou a URV (Unidade Real
de Valor).
Além disso, o Estado-Maior das Forças Armadas
indicava que, de 1.º de janeiro de 1995 até junho de 1997,
os militares já estavam novamente com uma defasagem
salarial de 37% e, embora a pressão fosse menor,
Bolsonaro continuava insistindo em que o governo deveria
cumprir os termos da Lei n.º 8.442/92 (Lei da Isonomia), já
que havia soldados engajados no Exército que ganhava
menos de um salário mínimo.
O problema salarial atingia todas as Armas e também
as polícias militares, que demonstravam grande
descontentamento, tanto que, em julho de 1997, por
exemplo, um contingente do Exército teve de ir para Maceió
(AL) ajudar na segurança pública, devido à greve da Polícia
Militar local por melhores salários.
Não era uma revolta localizada. Em outros Estados, a
Polícia Militar também fazia manifestações e greves. Mas o
problema que parecia mais grave era a participação, em
determinados Estados, de sindicalistas da CUT e militantes
do MST nas manifestações de militares, o que era uma
preocupação para as Forças Armadas e para o Palácio do
Planalto.
Perguntado sobre a questão, Bolsonaro afirmou que
não acreditava que isso fosse avante e que, em sua opinião,
era mais oportunismo, mas advertiu “Quando a pessoa entra
em desespero, se alia até ao diabo”, pelo que, achava que o
governo tinha de tomar iniciativas claras e objetivas para
resolver a questão salarial.
E se criou uma situação constrangedora, porque os
militares do Exército ganhavam tão mal quanto os grevistas
e isto provocou a discussão interna das Forças Armadas e
dos Clubes Militares, já que não podiam deixar que a
discussão ganhasse as ruas e provocasse uma situação
pior.
O Clube Naval, no Centro do Rio de Janeiro,
promoveu um jantar no dia 18 de julho de 1997, para tratar
do assunto, quando se discutiu não somente a questão
salarial, mas o emprego que estava sendo dado às Forças
Armadas em momentos de crise da Polícia Militar, o que
poderia desencadear conflitos armados, com consequências
negativas para o Exército, já que seus militares são
preparados para atirar com munição de verdade.
O deputado Jair Bolsonaro falou depois do jantar:
- Sabemos que a PM está com razão em lutar por
aumento salarial, e estamos vendo que a fatura desta conta
vai acabar sobrando para o Exército. Estamos servindo de
avalistas para governadores incompetentes que não
conseguem controlar as manifestações e acabam
recorrendo ao Exército.
O deputado também informou que estava
programando uma reunião para a terça-feira seguinte, com
parentes de integrantes das Forças Armadas, para discutir a
organização de mais uma marcha, a exemplo do que havia
sido feito em 1992, cinco anos antes, e que teve bom reflexo
junto aos chefes militares e ao governo, tendo conseguido
os militares um reajuste de 80%, que veio ocorrer quatro
dias depois, mas sem a participação de militares da Ativa.
A pressão não funcionava bem, porque o Exército
fazia um patrulhamento muito grande contra a organização
dos protestos e militares da Reserva foram buscar as
perdas salariais na Justiça, com alguns saindo logo
vitoriosos, como foi o caso do próprio deputado Jair
Bolsonaro, a quem a Justiça determinou o reajuste de 28%
referente às perdas do Plano Bresser, inclusive os
atrasados.
Mas, os militares iriam experimentar nova derrota...
Desta feita, no Senado Federal, com a não aprovação
do projeto, de autoria de Jair Bolsonaro, que pretendia
estabelecer um regime próprio de Previdência para os
militares das Forças Armadas. Assim, a choradeira ocorreu
nas três Armas e até levou o Palácio do Planalto a se
manifestar pela anuência com a Aposentadoria Especial
para os militares e diversos políticos se mobilizaram para
tentar jogar água na fogueira, com receio de que os militares
partissem para o confronto.
Bolsonaro, em reação à decisão do Senado Federal,
afirmou:
- Até uma prostituta impõe limites no seu local de
trabalho. Os militares não podem ser mais servis que uma
prostituta.
Embora as eleições estivessem marcadas para
acontecer somente em 4 de outubro de 1998, já no início de
1997, os partidos davam início às conversações internas e
os primeiros movimentos no sentido de construir alianças
para as eleições gerais, já que, além da Presidencial,
também haveria a eleição para governador de Estado, a
renovação de um terço do Senado Federal, a Câmara dos
Deputados e para os Legislativos Estaduais.
E o PPB, de Jair Bolsonaro, também queria entrar na
disputa ao governo do Estado do Rio de Janeiro, chegando
a cogitar que o capitão-deputado se lançasse à disputa para
substituir o governador Marcello Alencar, a quem ele fazia
oposição sistemática, mas também havia o nome do
deputado federal e então ministro da Indústria, Comércio e
Turismo, Francisco Dornelles e do general Newton Cruz.
Isto, contudo, era apenas especulação e logo, Jair
Bolsonaro e Francisco Dornelles, decidiriam pela reeleição.
Além disso, o PPB decidiu apoiar a candidatura de
Fernando Henrique Cardoso, contra o que Bolsonaro reagiu:
- Se soubesse que ia ser assim, tinha-me desfiliado;
eu não voto em Fernando Henrique. Por mim, podem apoiar
quem quiser, mas eu não voto em Fernando Henrique nem
amarrado, afirmou Bolsonaro.
O Rio de Janeiro, em 1997, já contava com maioria de
votos femininos, que atingia 50,5% e, claro, a imprensa
queria saber de Jair Bolsonaro o que ele pensava de ter
uma maioria de eleitores do sexo feminino e ele, como
sempre, não deixou a pergunta sem resposta:
- É importante esse espaço que a mulher está
ocupando a cada eleição. Mas o ideal é fazer uma
campanha geral, com temas, sem se preocupar com
assuntos femininos ou masculinos. Isto, porque, as
mulheres não ligam para esta questão de sexo na hora de
votar.
O ano de 1997 também foi marcado pela aprovação
da reeleição para Presidência da República, ferrenho sonho
de Fernando Henrique Cardoso, que não mediu esforços
para conseguir mudar a regra do jogo. Ele queria ter
condição de continuar por mais quatro anos à frente do
Planalto.
E o deputado Jair Bolsonaro seria uma das vozes
dissidentes, pois já vinha, desde muito, denunciando a
corrupção e o entreguismo do governo FHC. Mas a maioria
foi levada a votar e aprovar a Emenda Constitucional, que
dava a FHC a possibilidade de um segundo mandato.
No dia 14 de maio de 1997, Bolsonaro deu uma
entrevista ao repórter Lauro Rutkowski, do Jornal do Brasil,
falando sobre a venda de votos de parlamentares para a
aprovação da emenda da reeleição, que havia sido
aprovada em segundo turno na Câmara dos Deputados.
No dia anterior, a Executiva do PFL havia expulsado
do partido os deputados acreanos Ronivon Santiago e João
Maia, flagrados em gravações, em que os dois
parlamentares confessavam terem vendido seus votos para
aprovar a Emenda Constitucional da Reeleição.
- O que o Senhor sabe sobre a venda de votos para
aprovação da reeleição de Fernando Henrique Cardoso?
- A lei da oferta e da procura regulou o preço dos
votos dos parlamentares no dia 28 de janeiro de 1997, dia
em que foi apreciada em primeiro turno, no plenário da
Câmara dos Deputados, a emenda da reeleição. Para você
ter ideia do que eu estou falando, um voto a favor estava
cotado em R$ 200 mil no início daquele dia, quando o
governo ainda não tinha certeza da aprovação da emenda.
E olha que, em momento mais crítico, teve parlamentar que
exigia R$ 300 mil. À medida que o governo via que teria os
votos SIM garantidos para a aprovação, o valor também
despencava, como acontece com qualquer mercadoria no
momento em que há uma superoferta. Assim, pouco antes
da votação o valor caiu para R$ 50 mil.
- Como o Senhor ficou sabendo dessas negociações?
- Tomei conhecimento das negociatas em diversas
conversas nos corredores, ou seja, todo mundo sabia que
os interessados na reeleição estavam jogando pesado.
Sempre vinha algum colega brincar comigo, me
aconselhando a vender o voto porque a cotação estava
perto de R$ 200 mil.
- O Senhor sabe quais os parlamentares envolvidos?
- Não sei dizer quem comprou e quem vendeu, mas
que houve compra e venda, isto houve.25
- O Senhor foi procurado para negociar seu voto?
- Não. Mas fui procurado por um homem misterioso,
que não sei o nome - pois ele não se identificou -, que
tentou me subornar oferecendo a possibilidade de uma
audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na
qual seria feita a oferta de um reajuste para as Forças
Armadas. Pois tiveram a cara-de-pau de tentar comprar meu
voto com uma promessa dessas.
Bolsonaro foi um dos poucos deputados federais a
votar contra a Emenda Constitucional que instituía a figura
da reeleição para presidente da República, governadores e
prefeitos municipais.
E no dia 26 de maio de 1997, Bolsonaro se juntou ao
também deputado federal Carlos Santana (PT-RJ) e o
deputado estadual Eliomar Coelho (PT-RJ) para uma
manifestação na Cinelândia pregando a realização de uma
CPI para investigar a compra de votos para aprovação da
emenda da reeleição.

25 O ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), condenado pelo juiz Sérgio


Moro a 20 anos e três meses de prisão, enquanto ainda cumpria sua
pena no mensalão, desenterrou um episódio polêmico do Congresso
durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB/1994-2002): a
compra de votos de deputados para apoiar a emenda da reeleição, em
1997. Pedro Corrêa, que se tornou colaborador da Lava Jato afirmou aos
investigadores que o episódio envolvendo o governo FHC “foi um dos
momentos mais espúrios” que ele presenciou em todos os anos de
deputado federal. Segundo o delator, houve uma disputa de propinas. Ele
afirmou que estavam em lados opostos o governo Fernando Henrique e o
deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que na época havia acabado de
deixar a Prefeitura de São Paulo com alta aprovação e sua candidatura à
Presidência da República era cogitada. De acordo com Pedro Corrêa,
foram comprados os votos de mais de 50 deputados. O delator, contudo,
estava do outro lado da ‘disputa’. “Além dos fatos já narrados, o
colaborador também participou deste episódio, mas de forma contrária,
tentando alijar com propinas deputados em desfavor da emenda
constitucional com recursos do então ex-prefeito da cidade de São Paulo,
Paulo Maluf (PP-SP)”, afirmou Pedro Corrêa em seu depoimento aos
investigadores. Fonte: Estadão (1.º/7/2016)
Montaram uma mesa com muitas pizzas, com os
nomes dos vinte deputados federais que haviam votado
contra a instalação da CPI, com o objetivo de chamar a
atenção dos eleitores para a necessidade de se investigar o
ocorrido durante a votação da Emenda da Reeleição.
Discursando na ocasião, Bolsonaro defendeu a
necessidade de realização da referida CPI, afirmando que a
renúncia ao cargo de deputado, feita por Ronivon Santiago
e João Maia – representados por Bolsonaro junto ao
Conselho de Ética da Câmara com pedido de cassação dos
mandatos - dava ainda mais força para que uma CPI fosse
instalada na Câmara dos Deputados.
- Está na cara que eles são culpados, porque ao
assinarem suas renúncias, o que fizeram foi confessar o
crime. E o presidente Fernando Henrique Cardoso é o mais
corrupto e corruptor de todos os presidentes, porque compra
quase tudo para se mostrar inocente.
Bolsonaro não perdeu a oportunidade de fustigar FHC,
usando da recém-visita ao Brasil do presidente norte-
americano Bill Clinton:
- Quem deve estar muito contente com a aprovação
da emenda da reeleição é o Bill Clinton. Ele deve estar
muito feliz, já que FHC só tem dado motivos para isso. Com
a intenção do presidente de internacionalizar tudo, como a
Vale e a telefonia celular, Clinton deve ter achado excelente
a aprovação da emenda da reeleição.
Mas Bolsonaro voltaria à carga para a necessidade de
se instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para
investigar a Emenda da Reeleição, proposta pelo petista
Chico Alencar.
- A instalação da CPI da Reeleição é a única forma do
presidente Fernando Henrique Cardoso mostrar que é
honesto. Por isso acho excelente a ideia do Chico Alencar.
Uma CPI, mesmo que termine em pizza por pressão do
governo, permitirá que todos os eleitores do Brasil possam
conhecer melhor os cerca de 50 deputados envolvidos. A
instalação da CPI permitirá também à Câmara dos
Deputados expulsar todos os deputados corruptos e mais o
porco do ministro Sérgio Mota. E é preciso entender que o
Senado Federal somente aprovou a emenda da reeleição,
porque seus membros trocaram votos por favores do Poder
Executivo.
Conforme afirmou na ocasião o senador Élcio Álvares
(PFL-ES), a aprovação de tal emenda era “um marco muito
concreto. Muda tudo. O governo, agora, teria de mostrar à
sociedade o lado positivo das coisas".
E, com a possibilidade de ser reeleito, FHC também
teve de se voltar para os problemas dos militares, que
seriam assim beneficiados, embora o deputado Jair
Bolsonaro tenha se insurgido contra a aprovação da
Emenda Constitucional da Reeleição e da “vergonhosa
compra de votos pelo Planalto”.
A luta de Jair Bolsonaro em favor dos militares,
finalmente, dava ares de ter uma solução, pois o Projeto de
Emenda Constitucional n.º 338/1996 foi aprovado em
segundo turno, pela Câmara, no dia 24 de setembro de
1997, pelo placar de 379 votos a favor, 58 contra e cinco
abstenções.
Por este Projeto de Emenda Constitucional (PEC)
deveria ser alterado o Regime Constitucional dos militares,
inclusive sua política de remuneração e aposentadoria,
desvinculada dos funcionários públicos civis. Enviado o
projeto para o Senado Federal, este foi convertido na
Emenda Constitucional n.º 18/98 e viria a ser aprovado no
dia 5 de fevereiro de 1998.
De acordo com Bolsonaro, a mudança do Regime
Constitucional dos militares corrigia um equívoco da
Constituição de 1988, feito de forma proposital pela
esquerda como retaliação aos militares. Ele também
festejou o fim da vinculação de aumentos salariais dos
militares aos civis.
O ano de 1997 estava por acabar, mas o governo
tinha a Reforma Administrativa por aprovar. Ela foi
aprovada, mas o deputado Bolsonaro e seu colega de
Câmara, Osmar Leitão (RJ) votaram contra, apesar da
orientação do presidente do PPB, Paulo Maluf, que
telefonou ao deputado pedindo apoio para aprovação da
medida do Governo Federal.
Bolsonaro, conforme justificou, votou, mais uma vez,
com a sua consciência:
- Se a coisa fosse tão boa assim, Fernando Henrique
Cardoso não teria oferecido liberar R$ 170 milhões em
emendas parlamentares para os deputados que apoiassem
seu projeto, disse Bolsonaro.
Fazendo uma análise de seus três anos do segundo
mandato e com vistas a se reeleger para um terceiro, nas
eleições do ano seguinte, o deputado Jair Bolsonaro falou à
imprensa sobre sua motivação para estar em Brasília e o
que ele viu de importante em sua atuação:
- Eu vou partir com toda a força para um terceiro
mandato; isto já está decidido. Eu não apresento projetos
para apenas beneficiar o Rio de Janeiro, Estado que aqui
represento, mas meus projetos legislativos são destinados a
atender demandas de todo o Brasil. Nos últimos tempos,
bati muito no FHC, que está entregando o país ao capital
estrangeiro. Votei contra todas as suas propostas de
reformas, não para ser do contra, mas porque tais reformas
são prejudiciais ao país e ao povo. E também lutei e
continuarei lutando em defesa das Forças Armadas e para
dar solução aos muitos problemas que elas enfrentam e não
somente a questão salarial.
No final de 1997 e início de 1998, a Marinha foi notícia
e Bolsonaro sempre era procurado pela imprensa quando o
assunto envolvia as Forças Armadas e não somente o
Exército. Assim, ele teve que dar sua opinião sobre o
plenário do Senado Federal ter aprovado no dia 23 de
novembro de 1997 um projeto que abria a possibilidade de
mulheres virem a ocupar o cargo de almirante de três
estrelas na Marinha. O projeto que já havia sido aprovado
pela Câmara dos Deputados seguiu para sanção
presidencial.
Bolsonaro, como sempre, respondeu de forma simples
e transparente:
- O aumento da presença feminina nas Forças
Armadas vai humanizar a tropa, que ficará menos tosca.
Acho também que as mulheres aceitarão melhor os salários
pagos pela atividade militar. Normalmente, as mulheres não
são chefes de família e terão esse salário baixo como um
complemento do orçamento da casa. Os salários andam tão
ruins que os homens que precisam sustentar suas famílias
não estão aguentando mais.
Mas não era somente esta a notícia envolvendo a
Marinha, e esta estava sob o ataque de várias frentes,
desde que tomara a decisão de comprar 20 aviões de
interceptação e ataque, fabricados pela McDonnell Douglas,
modelo A-4 Skywawk II, do Kuwait, por US$ 70 milhões, o
que o ministro da Marinha, Mauro César Pereira, achava
“imperdível”, mas a oposição colocava obstáculos. Estes
aviões seriam utilizados para equipar o porta-aviões Minas
Gerais.26
O deputado Jair Bolsonaro, embora menos crítico do
que os deputados petistas, afirmou que não achava ser uma
solução para o Brasil ficar comprando aviões lá fora, pois se
o país quisesse ser, de fato, forte em termos de Forças
Armadas, deveria trabalhar no desenvolvimento de um
programa próprio, voltado para a indústria nacional. E foi
taxativo: “não adianta comprar equipamentos lá fora, porque
isso não resolve o problema”.27
No dia 17 de março de 1998 a Câmara dos Deputados
iria eleger a nova Comissão de Direitos Humanos e Minorias
e o deputado Jair Bolsonaro, desde o início, se colocou
como candidato à Presidência da referida comissão, embora
tivesse ressalvas dentro de seu próprio partido - o PPB.
“Sou candidato e manterei esta decisão até o fim,
mesmo sem apoio do meu partido”, falava Bolsonaro aos
quatro ventos, mesmo depois de ficar sabendo que o líder
de seu partido, Odelmo Leão (MG) pretendia indicar para o
cargo o deputado federal Eraldo Trindade, do Pará [que
acabou sendo eleito].
A colunista do jornal O Fluminense, Estela Prestes,
publicou uma nota a respeito do assunto, que ela titulou de
“Uma cópia caricaturada”, onde ela afirmava que Bolsonaro
teria dito que se fosse eleito presidente da Comissão de
Direitos Humanos iria presidi-la “com o cassetete e o fuzil

26 O porta-aviões Minas Gerais foi retirado de serviço em 2001, tendo sido

vendido por US$ 2,0 milhões, tendo sido desmontado e transformado em


sucata na Índia.
27 A Embraer, antes de ser privatizada em 1994, durante o governo do
presidente Itamar Franco, estava à beira da falência e sequer figurava
entre as empresas com maior valor de mercado. Depois de muitos anos
da privatização, é que a Embraer passaria a ser a terceira maior
fabricante de jatos comerciais do mundo.
em cima da mesa” dizendo então que ele seria o Ratinho
[ou sua caricatura] do Congresso e com grandes chances
de ser líder de audiência.
Na verdade, de acordo com o Jornal do Brasil do dia
14 de março de 1998, o deputado Jair Bolsonaro teria dito,
como ele agiria na Presidência da Comissão de Direitos
Humanos:
- Essa Comissão só sabe defender o direito de
marginais e bandidos, e eu vou acabar com isso. Pretendo
presidir essa comissão com o fuzil e o cassetete em cima da
mesa, para acabar com essa história de um grupelho de
parlamentares, que fazem da comissão uma bandeira.
Temos que pegar todos esses vagabundos aqui do Rio de
Janeiro e colocar na Amazônia para trabalhar.
Já o jornalista Aziz Ahmed afirmou que Bolsonaro,
neste episódio de escolha da nova Comissão de Direitos
Humanos era “o homem incerto para o lugar errado”, já que
nem ele acreditava em sua eleição. Ahmed lembra que
Bolsonaro era “a favor da pena de morte, da prisão perpétua
e da tortura em traficantes”. Então, como atuar na Comissão
de Direitos Humanos?
Ahmed ainda citou a colunista Vanda Célia que teria
escrito a respeito da disputa pela Presidência da CDH:
“Depois de Jair Bolsonaro na Presidência da Comissão de
Direitos Humanos, só falta a Câmara dos Deputados
escolher Sérgio Naya para a Comissão de Ética”.
A leitora do JB, Martha Benévolo Pires, de Maricá (RJ)
teve uma carta sua publicada pelo jornal no dia 15 de março
de 1998 e falou sobre a intenção de Bolsonaro em se
candidatar a presidente da Comissão de Direitos Humanos:
Sob a possível inspiração da recente posse de Pinochet
como senador vitalício da República chilena, aqui no Brasil
há quem defenda a indicação do deputado Jair Bolsonaro
para presidir a Comissão de Direitos Humanos, o que seria
um acinte, uma afronta ao bom senso e um desrespeito aos
torturados e mortos durante os anos de chumbo da ditadura
militar.
Bolsonaro, militar que jamais negou suas ideias totalitárias e
ultrapassadas, deve ser preservado e mantido a uma
segura distância de qualquer comissão séria que venha a
tratar de direitos humanos. Ele poderá ser o candidato ideal
se e quando houver uma comissão destinada a discutir
assuntos castrenses (...). Quanto aos direitos humanos, ele
já se excedeu em declarações desastradas e cruéis,
demonstrando que não tem a menor noção a respeito do
assunto (...).

A Folha de Londrina, do dia 28 de março, deu o


seguinte destaque à candidatura de Jair Bolsonaro à
Presidência da Comissão de Direitos Humanos:
O programa de trabalho do deputado Jair Bolsonaro (PPB-
RJ) para a presidência da Comissão dos Direitos Humanos
(CDH) da Câmara inclui o debate sobre a pena de morte e a
revisão do conceito de direito humano. ‘‘É preciso definir o
que é direito humano; o que é o ser humano’’, afirmou
Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, candidato do
PPB ao comando da comissão.

Correndo “por fora” como candidato avulso, já que o


candidato de seu partido era o deputado Eraldo Trindade
(PA), Bolsonaro disse à imprensa:
- Sei que é um sonho, ainda mais agora que não fui
indicado pelo meu partido. Mas pode ser que eu surpreenda
e não tenha somente o meu voto.
Até os índios chegaram a pedir a cassação do
deputado Jair Bolsonaro. Isto ocorreu no dia 16 de abril de
1998, quando participantes do 1.º Encontro Nacional dos
Pajés, pediram à Procuradoria-Geral da República (PGR)
que cassasse o mandato de Bolsonaro por este ter pregado
o extermínio dos índios ao dizer que “a cavalaria brasileira
não foi tão eficiente como a americana, que exterminou os
índios”.
Em função da insistência de Jair Bolsonaro em se
candidatar à Presidência da Comissão de Direitos
Humanos, o então cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom
Paulo Evaristo Arns e mais 159 personalidades criticaram tal
pretensão em uma carta que foi publicada pela Folha e que
também servia de protesto contra a nomeação do general
Ricardo Fayad para a subdiretoria de Saúde do Exército,
porque ele teve atuação em órgãos de repressão do regime
militar.
No dia seguinte, Bolsonaro usou a tribuna da Câmara
dos Deputados para protestar contra o cardeal-arcebispo,
tendo-o chamado de desocupado, vagabundo e
megapicareta. Entre outros impropérios, Bolsonaro disse
que “Dom Paulo Evaristo Arns deveria se recolher à sua
insignificância e ao seu trabalho demagogo”.
E sobrou até para o presidente Fernando Henrique
Cardoso:
- Existe outro megapicareta chamado dom Paulo
Evaristo Arns, que teve a cara-de-pau de publicar carta aos
leitores do jornal Folha de S. Paulo de ontem, assinada por
mais 155 desocupados e vagabundos como ele, criticando
minha possível eleição para a presidência da Comissão de
Direitos Humanos. Apela a Fernando Henrique Cardoso
para que tome as providências legais a fim de que eu não
assuma a presidência daquela importante Comissão, que
defende os direitos humanos de vagabundos como ele, Dom
Paulo Evaristo Arns, que parece que tem as chaves da porta
do céu. Mas, na verdade, as chaves que ele tem na cintura
são da porta do inferno.
O jornalista Rogério Coelho Neto, publicou no dia 18
de abril de 1998, no jornal O Fluminense, o artigo “Uma
figura inquestionável” em que critica o deputado Jair
Bolsonaro pelos ataques que este havia feito da tribuna da
Câmara dos Deputados ao Cardeal-arcebispo de São Paulo,
Dom Paulo Evaristo Arns, que merece ter alguns de seus
trechos transcritos.
Uma figura inquestionável
Ninguém entendeu as razões pelas quais o deputado Jair
Bolsonaro (PPB-RJ) subiu à tribuna da Câmara, um dia
desses, para alinhar uma série de críticas à figura
inquestionável do cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom
Paulo Evaristo Arns. O espanto dos poucos parlamentares
presentes à sessão não foi causado pelas críticas
propriamente ditas, mas pelos termos usados pelo liderado
do ex-prefeito Paulo Maluf, que está merecendo, país afora,
o repúdio geral da comunidade católica.
Bolsonaro tem todo o direito de discordar das posições de
Dom Paulo. O exercício da divergência, aliás, só
engrandece o processo democrático. Quando um
representante do povo aproveita, no entanto, o exercício do
mandato para dizer bobagens e agredir personalidades
públicas, sobretudo aquelas com assinalados serviços
prestados à causa da liberdade, alguma coisa não vai bem.
A anistia concedida pelo ex-presidente João Figueiredo, um
homem sensível à voz das ruas, deveria ter sepultado todas
as tensões que marcaram uma das épocas mais amargas
da nossa nacionalidade. (...)
Pena que a Câmara dos Deputados, na revisão dos
discursos parlamentares acabe por cortar determinadas
expressões da fala de seus representantes menos
cuidadosos. Pela repercussão negativa de mais esta
bravata do impulsivo representante do PPB fluminense, o
presidente da Câmara, Michel Temer, já deve ter
providenciado o devido enxugamento de seu
pronunciamento. Dom Paulo foi xingado de maneira
impiedosa. Bolsonaro usou palavras que não ficariam bem
nem mesmo na boca de malandros que frequentam boates
da pesada. (...)

No dia 2 de maio de 1998, o PPB teve que analisar o


pedido de expulsão do também deputado federal Sérgio
Naya (MG), proprietário da Construtora Sersan, que foi
responsável pela construção do edifício Palace II, no Rio de
Janeiro, implodido depois de ruir parcialmente e de ter
provocado a morte de oito pessoas. O pedido foi formulado
pelo deputado Jair Bolsonaro.
Para quem achava que o deputado Jair Bolsonaro,
com tantos pedidos de cassação contra si não teria peso
moral para pedir a expulsão de um colega de seu partido, é
bom ficar claro que de uma coisa ninguém nunca acusou o
deputado: ser corrupto e não foi a queda do Palace II que
instruiu o pedido de expulsão de Sérgio Naya, mas a
corrupção.
A expulsão de Sérgio Naya foi por ele ter sido flagrado
em conversa gravada, durante reunião com vereadores de
Três Pontas (MG), quando ele disse “não ter ética política,
ter falsificado a assinatura do governador de Minas Gerais,
se apoderara de uma draga de cerca de US$ 1 milhão, que
teria facilidade para fazer contrabando e ainda poderia
pagar uma multidão para aplaudir a festa dos policiais da
Cidade”.
Antes da votação, o deputado Benedito Domingos
(PPB-DF) ainda reclamou dos termos utilizados pelo
deputado Jair Bolsonaro em sua representação contra
Naya. Segundo ele, era inadmissível aceitar o uso de
termos como “trambiqueiro, falsificador de assinaturas,
contrabandista e comprador de votos [para aprovar a
reeleição de FHC]”, mas acabou votando a favor da
expulsão do colega parlamentar, pois afinal, nenhum dos
presentes à reunião da Executiva do PPB deu atenção aos
seus reclames contra Bolsonaro.
Mas esta forma contundente e até um tanto agressiva
de se expressar é tida como uma característica própria do
deputado Jair Bolsonaro, que ele justifica como sendo “coisa
de família” – seus pais têm ascendência italiana -, mas,
infelizmente, a maioria das pessoas prefere ser enganada
com belas, mesmo que insinceras palavras. No país das
telenovelas que fazem imenso sucesso, falar a verdade, às
vezes, soa como agressão.
Como exemplo do que o deputado Jair Bolsonaro
poderia ter deixado de dizer, foi quando ele se dirigiu ao
secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, que
defendia a extradição dos sequestradores do empresário
Abílio Diniz, que o deputado preferia que cumprissem prisão
no Brasil, já que extraditado não havia garantia do
cumprimento da decisão penal.
Poderia ter ficado sem deixar isto registrado nos anais
da história, mas ele resolveu escrever uma carta aberta a
José Gregori com o sarcasmo de assinar “do seu amigo
Bolsonaro”, conforme divulgado em diversos jornais:
Discursando na Câmara dia 7 de abril, a respeito da sua
intenção de indenizar familiares dos 111 mortos em
Carandiru, disse que Vossa Senhoria tinha mais estrume na
cabeça que Sérgio Mota na barriga. Hoje peço desculpa
aos equinos. O que V. Senhoria tem sobre o pescoço não
dá nem para adubar erva daninha. O maior erro do regime
militar foi o de não ter eliminado figuras opulentas, obesas e
obtusas como V. Senhoria que hoje presta um desserviço
ao Brasil.

Mas Bolsonaro também sempre teve os méritos


reconhecidos, justamente, por não medir palavras em
defesa do Brasil, como atesta o artigo publicado pelo
embaixador Joaquim de Almeida Serra, na Tribuna da
Imprensa, no dia 15 de junho de 1998, com o título
“Assumindo responsabilidades”:
(...) Em 18/10/96, pela Tribuna, em artigo publicado na sua
4ª página, registrava eu: - “Nesse quadro à parte, de
partidos sem princípios rígidos, está o PMDB. Com grande
eleitorado, com grande bancada é, entretanto, um saco de
gatos”. (...) “Há, no PMDB, muita gente que é pró-ianque
(perdoe, queria dizer pró-neoliberalismo...). Há uns abutres,
há outros que são o que lhes interessar no momento:
esquerdistas, neoliberais, etc. E há os que adoram a política
do dando é que se recebe”.
“O deputado Jair Bolsonaro” continuava eu, de partido que
não é de meu agrado (o PPB), tem defendido muito mais o
Brasil do que a maioria dos membros do PMDB o tem feito”.
(...)

No dia 20 de junho de 1998, o partido ao qual


Bolsonaro estava filiado, o PPB, anunciou aliança com o
PSDB para apoiar a candidatura à reeleição do presidente
Fernando Henrique Cardoso, sem a participação de Jair
Bolsonaro, que não compareceu à convenção do partido e
anunciou antes a sua posição em relação ao acordo que se
firmava entre as legendas:
- Não vou a essa convenção, porque sou contra esse
governo de Fernando Henrique Cardoso. Há quatro anos
que ele não dá um aumento para os servidores civis e
militares e não posso concordar com o governo que ele faz.
Vou pedir votos para o Enéias [Carneiro], que é um sujeito
sério. Não vou apoiar candidato desonesto e vagabundo.
Na campanha eleitoral daquele ano, o candidato Jair
Bolsonaro sofreu uma “estranha” perseguição da
Arquidiocese do Rio de Janeiro comandada por Dom
Eugênio Sales, que incluiu seu nome em uma lista com 23
candidatos, afixada em 600 igrejas, como tendo votado a
favor do aborto.
O panfleto afirmava que os políticos listados não
mereciam o voto dos católicos. No caso de Bolsonaro, ele
não tinha qualquer participação no caso, mesmo porque a
matéria somente tinha passado pela Comissão de
Constituição e Justiça, da qual o deputado não participava.
- Trata-se de uma atitude sectária e discriminatória da
Igreja. Não bastasse isso, errou ao indicar meu nome. A
matéria não chegou ao plenário, foi tratada somente por
membros da Comissão de Constituição e Justiça e eu
sequer me manifestei a respeito deste assunto.
Nas eleições de 1998, onde Miro Teixeira (PDT) foi o
deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, com
263.015 votos, o capitão Jair Bolsonaro – que era sempre
tratado pelo jornalista Hélio Fernandes como “o único
representante autorizado do Exército e que recebe os votos
da classe” - foi reeleito com o total de 102.893 votos.
Mas novembro ainda prometia muita polêmica e
disposição de luta do deputado para garantir direitos aos
militares, já que o governo queria reduzir despesas com
aposentadorias e pensões, dentro do ajuste fiscal que
discutia com o Congresso, com a Medida Provisória dos
Fundos de Previdência.
Um dos artigos da Medida Provisória previa que a
União, os Estados e os Municípios não poderiam mais
conceder benefícios distintos previstos no Regime Geral de
Previdência Social para seus servidores públicos. As
Polícias Militares estavam incluídas no projeto e foi feito
pesado lobby para a sua retirada, com o que, o relator da
matéria, Márcio Fortes, não concordou.
Então os lobistas da Polícia Militar “sugeriram” que os
militares das Forças Armadas também deveriam constar do
projeto, o que foi acatado pelo relator, dando início a muita
discussão, liderada pelo deputado Jair Bolsonaro. Márcio
Fortes explicou que a inclusão dos militares das Forças
Armadas obedecia a uma lógica de contenção de despesas.
Diante do impasse criado, o relator, deputado Márcio
Fortes, pediu a ajuda do assessor do Planalto, Celeste
Guimarães, recebido pelo deputado Jair Bolsonaro com o
dedo em riste:
- Some daqui. Você está aqui apenas para defender o
governo. Isso é uma tremenda falta de consideração, a
gente vota tudo o que vocês querem e agora vocês colocam
os militares no mesmo saco?
Depois de muita confusão, com ataques verbais e
ameaças de “porrada” feitas por Bolsonaro ao deputado
Robson Tuma, ouve um acordo para retirada do artigo 5.º
da Medida Provisória que incluía os militares, tendo sido a
matéria aprovada com o voto de Jair Bolsonaro. Desta
forma, foram retiradas as pensões e aposentadorias dos
militares do limite imposto pela União para os gastos com os
inativos.
Mas Bolsonaro, sempre atento aos problemas da
classe, queria ir, além disso:
- Você não pode ficar só discutindo o desconto; vamos
discutir o teto também. Apesar de ter uma responsabilidade
similar, um general do Exército ganha a metade de um
ministro do Supremo Tribunal Federal. Como pode um
garotão de 20 anos no Poder Executivo ganhar mais do que
um general quatro estrelas, com 45 anos de serviço
prestado à Nação?
Enfim chegava ao fim o ano de 1998 e com ele,
Bolsonaro fechava mais um mandato na Câmara dos
Deputados. Reeleito, era sair para o merecido descanso
depois de um ano de muito combate e algumas vitórias
significativas.
A questão dos indígenas e a defesa da
Amazônia
Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos há mais de 100
anos ocupam a floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a
ameaça são os projetos agropecuários, os grandes
madeireiros, os garimpeiros e as hidrelétricas com suas
inundações criminosas.
(Chico Mendes [1944-1988] seringueiro e ativista ambiental)

O deputado Jair Bolsonaro em seus primeiros oito


anos de mandato na Câmara dos Deputados dedicou
grande parte de seu esforço para lutar e legislar a respeito
de temas de interesse dos militares e/ou assuntos relativos
à segurança nacional e segurança pública de modo geral.
Uma de suas preocupações era a questão das
imensas porções de terra demarcadas para os indígenas e a
possibilidade das riquezas minerais, existentes no subsolo
destas áreas e a biodiversidade, caírem nas mãos de
potências estrangeiras ou, até mesmo, que viesse ocorrer a
criação de nações indígenas que pleiteassem a
emancipação do território brasileiro.
A demarcação da Reserva Ianomâmi foi tema de seu
primeiro discurso na Câmara dos Deputados no dia 16 de
fevereiro de 1995:
- (...) A atual indústria de demarcação de terras
indígenas tem servido apenas para enriquecer alguns
funcionários ou antropólogos dessa Fundação tão
desinteressada no futuro do Brasil, a Funai. Devemos levar
ao conhecimento público o fato de que 11% do território
nacional já estão demarcados, constituindo área indígena
equivalente a 936 mil quilômetros quadrados, para uma
população de aproximadamente 250 mil índios. Vale dizer
ainda que 250 mil é o contingente populacional do Plano
Piloto, no Distrito Federal. (...) A demarcação da reserva
Ianomâmi, determinada por portaria assinada pelo então
Presidente Fernando Collor e pelo Ministro da Justiça à
época, o Coronel Jarbas Passarinho, em novembro de
1991, teve como único objetivo servir de pano de fundo para
a realização da ECO-92, no Rio de Janeiro. (...) Senhor
presidente, Senhores deputados, devemos dar fim à
indústria da demarcação de terras indígenas. Espero que os
companheiros deem o devido apoio ao projeto de decreto
legislativo de minha autoria, em tramitação na Casa; o
objetivo dessa proposição é tornar sem efeito o decreto de
1992, que permitiu a demarcação da reserva Ianomâmi
nessa proporção inconcebível de 96 mil quilômetros
quadrados. Pretendemos, com essa medida, preservar a
integridade nacional, pois estamos a um passo de
independência daquela área, criando-se, então, uma
reserva indígena naquele local.
Em abril de 1998, militando como um deputado federal
do “baixíssimo clero”, mais uma vez atacava os indígenas
brasileiros, em discurso proferido na Câmara dos
Deputados, quando afirmou em alto e bom tom que "a
cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente foi a
Cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no
passado e hoje em dia não tem esse problema em seu
país”. Claro, ele recebeu inúmeras - e fundadas -, críticas
por dizer tamanha imbecilidade, atacando irmãos índios e
legítimos “donos” da floresta.
O deputado Jair Bolsonaro foi com uma comitiva
formada por representantes da Secretaria de Assuntos
Estratégicos do governo federal, militares das três Armas e
dos deputados federais, Elton Rohanelt (PSC-RO), Antônio
Feijão (PTB-AP) e Gilney Viana (PT-MT) para conhecer o
problema da demarcação de terras indígenas e ver os
possíveis reflexos desta ação para a segurança nacional.
A comitiva, entre os dias 19 e 25 de maio de 1999,
percorreu reservas dos Ianomâmis de Surucucu, em Boa
Vista (RR) e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Para
Bolsonaro, os índios estariam completamente aculturados e
dependentes das tropas que patrulhavam a região, não
querendo deixar, de forma alguma, a região onde estavam
para irem para outras terras.
Em função desta vistoria realizada, o grupo de
parlamentares decidiu apresentar um projeto de lei, na
Câmara dos Deputados, sugerindo a revisão dos projetos de
demarcação das terras indígenas e “a posterior revogação
de partes da lei que dá autonomia ao Executivo para
demarcação de terras”.
Além disso, foi criada a bancada da Amazônia,
formada por 70 parlamentares para continuar estudando o
assunto e tentar buscar solução para o problema da
demarcação das terras indígenas e o que deveria ser feito,
em termos de mudança legislativa para assegurar a
integridade do território nacional, em face de uma possível
ameaça externa.
Em apoio ao projeto do deputado Jair Bolsonaro, o
embaixador brasileiro aposentado, Joaquim de Almeida
Serra, escreveu um longo artigo intitulado “Apelo ao ministro
do Exército”, que foi publicado no espaço “Opinião” pelo
jornal Tribuna da Imprensa, no dia 12 de outubro de 1995,
que vale a pena ser transcrito, em parte, para se avaliar com
dados e conceitos, como era o entendimento geral sobre a
questão indígena no Brasil:
Excelência: baseado no fato de haver convivido com
militares por mais de dez anos; de ser filho e irmão de
oficiais do Exército; de ter 50 anos de serviço público, dos
quais 35 no Itamaraty; de ter, por causa de minha profissão,
vivido mais de 23 anos no exterior; por haver
desempenhado no estrangeiro todas as funções
diplomáticas, havendo sido vice-cônsul no Japão e na
Argentina; terceiro-secretário de Embaixada no México e na
Argentina; segundo-secretário e encarregado de negócios
na África do Sul; primeiro-secretário na França; conselheiro
e encarregado de negócios no Panamá; ministro-
conselheiro e encarregado de negócios no Chile;
Embaixador na Coreia do Sul e no Zaire; pelo fato de haver
desempenhado, na Secretaria de Estado, várias chefias,
como a de Pessoal, do Orçamento e da Inspetoria-Geral de
Finanças; a da Assessoria Parlamentar dos ministros
Horácio Lafer, Affonso Arinos, Santiago Dantas e Mário
Gibson Barboza; de haver sido indicado, por este último,
para ocupar a chefia da referida missão diplomática; por,
igualmente, ter sido embaixador no Zaire – creio poder
dirigir-me a V. Excia., para manifestar minha opinião em
assunto de natureza diplomática e de política internacional.
Li no Boletim do deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ), que V.
Excia. acha que, para não aumentar a intranquilidade
reinante na área Ianomâmi, a questão das reservas
indígenas devem ficar como está. Perdoe-me, excelência: a
ficar como está, o Brasil se pulverizará em pequeninas
republiquetas de bananas, porque à internacionalização das
reservas, seguir-se-á a “independência” das mesmas; à sua
“independência”, a submissão aos Estados Unidos, que
logo mandarão marines, em suas fragatas e corvetas, para
o Amazonas, onde fincarão a bandeiras das listas e
estrelas. Depois, cercado pelas novas “nações”, o Brasil
será liquidado e passará a existir o “Brazil of the United
States”.
Leitor habitual da “Revista do Clube Militar”, na qual até um
artigo meu contra a Rio-92 – cabeça de ponte da conquista
do Brasil - foi publicado na edição de junho de 92 da
mesma, tenho podido observar manifestações veementes
contra a demarcação das reservas. Militares e civis não
entreguistas acham que a demarcação foi um “enigma”,
conforme observa o coronel Mello Henriques. Para mim foi
mais que um enigma. Foi um ato de lesa-pátria a assinatura
da nefanda Portaria 580 e dos atos consequentes relativos
a ela. Segundo Sidney Possuelo, o colaborador de Jarbas
Passarinho e Fernando Collor na matéria, as reservas
ocuparão, depois de demarcadas, 10,6% do território pátrio
– 10,6% de 8.511.000 km2, devem ser 902.166 km2.
Entretanto, meu companheiro no Modecon, Taunay Coelho
dos Reis, culto oficial da Reserva, diz serem apenas
793.000 km2. Por ter muito mais crédito em Taunay, fico
com ele e abandono o dado de Possuelo. Ora, conforme diz
Taunay, a Bélgica é 26 vezes menor, a França e a Grã-
Bretanha juntas não somam esses 793.000 km2. Segundo
ainda Taunay, as reservas indígenas americanas são 4,8
mil vezes menores do que as reservas dos peles-vermelhas
americanos. E, parecendo enigma, mas na verdade sendo
safadeza, têm apenas 165 km2, contra os 793.000 km2 das
brasileiras!
(...)
Excelência: no Boletim da EIR (“Intelligence & Executive
Review”), intitulado “Why the U.N. Plans for world
government must the stopped, gentilmente cedido pelo
diretor do Movimento de Solidariedade Ibero-Americana
(MSIA), Geraldo Lino, consta à página 26, trecho de
relatório do secretário-geral da ONU, Boutros-Ghali, um
egípcio que, em vez de defender os países
subdesenvolvidos, como o seu, defende os interesses dos
EUA e de seus liderados. Boutros-Ghali declarou ao
Conselho de Segurança da organização: “O tempo da
absoluta e exclusiva soberania já passou; agora, é tarefa
dos líderes de cada país encontrar o equilíbrio entre as
necessidades de seus governos e as exigências de um
modo cada vez mais interdependente”. Diria eu:
dependente dos EUA. Excelência: esse foi o sinal para o
início da contagem regressiva para o fim da soberania do
Brasil sobre a Amazônia. Como se sabe, o grande jurista
Clóvis Ramalhete, pouco antes de morrer, advertiu o
governo brasileiro, que as reservas indígenas brasileiras
serão “independentes” a partir de 1996. Se até 31 de
dezembro de 1995 não tornarmos juridicamente anuladas
as demarcações das reservas – que assim não existirão –
elas serão declaradas “independentes” e, pouco depois,
territórios sob a proteção dos EUA. Logo após, colônias
norte-americanas.
Excelência: convença – se possível com a participação dos
ministros da Justiça, das Relações Exteriores, da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica – sua excelência o presidente
ater esse ato de coragem, de brasilidade, de patriotismo, de
independência!

Ao lado da opinião do embaixador aposentado, o


jornal publicou diversas cartas de leitores. Uma dessas
cartas também abordava o risco do Brasil ver a Amazônia
invadida e foi escrita pelo general da Reserva, Tasso Villar
de Aquino:
Não cessa a ousadia dos detentores do poder na afronta á
nação! Eles, que estão deliberadamente empenhados na
destruição da nossa soberania, na desarticulação das
Forças Armadas, na entrega vergonhosa de nossas
riquezas naturais, e do produto do nosso trabalho honesto à
ganância externa, a que são submissos, em troca de
privilégios, vantagens, benefícios e dinheiro bruto!
Agora, nova e abominável afronta: o movimento espúrio
“Tortura Nunca Mais”, de Evaristo Arns e outras espécimes
semelhantes, por decreto de 15/8/95, publicado no “Diário
Oficial” de 16 do mesmo mês e ano, foi declarado “entidade
de Utilidade Pública”! É mais uma bofetada na face da
nação somada a outras: reserva Ianomâmi; sabotagem pelo
governo do projeto Calha Norte; invasão branca da
Amazônia brasileira por “missões evangélicas” estrangeiras,
caso Avólio; anistia unilateral, com indenização, apenas às
famílias dos desaparecidos.
Até quando será tolerada sem reação à altura a petulância
agressiva dessa gente, insensata, insana?!
O grande receio que havia na época, era que o Brasil
pudesse vir a perder a soberania sobre toda a Amazônia.
Isso foi externado pelo deputado Jair Bolsonaro, que debitou
tal ameaça ao presidente Fernando Henrique Cardoso, a
quem qualificou de “traidor da nação”, por FHC estar, na
visão do deputado, em “completa submissão aos interesses
do capital estrangeiro na região”.
Para Bolsonaro, o Brasil corria sérios riscos de ver a
Amazônia sendo invadida por estrangeiros para exploração
das riquezas existentes nas terras dos Ianomâmis, ao norte
de Roraima, depois do presidente da República ter afirmado
que o governo não dispunha de estrutura adequada para o
combate ao desmatamento e às queimadas que ocorriam na
região amazônica.
- Se fosse um brasileiro qualquer que tivesse dito isso,
eu o recriminaria. Mas vindo do presidente da República,
pessoa que conhece toda a cobiça internacional sobre a
região, passo a considerá-lo como um infame traidor de
nosso país, ressaltou Bolsonaro à imprensa.
O deputado lembrou ainda que o interesse externo
pela Amazônia brasileira teve uma fase mais clara, durante
o governo do presidente José Sarney. Neste período, de
acordo com ele, a Funai [dirigida, à época, por Romero Jucá
Filho] contratou o antropólogo norte-americano, Kenneth
Taylor, que era conhecido como um incentivador da criação
de grandes reservas indígenas.
Para Bolsonaro, o projeto Calha Norte, em 1985,
projeto que visava a integração de regiões ao norte do Rio
Solimões e a Amazônia com o sul do país, foi a justificativa
usada para o crescimento da “indústria das demarcações”
de terras indígenas, ocasião em que a terra dos Ianomâmis
passou de dois milhões para sete milhões de quilômetros
quadrados. Em 1991, continuou Bolsonaro, “por pressão do
Senado norte-americano, com Al Gore à frente, a reserva
teve mais uma ampliação para 9,5 milhões de km2, e que
isto havia sido uma exigência para que a Eco-92 fosse
realizada no Brasil”.
Bolsonaro cita ainda como pressão sobre o Brasil e a
questão indígena, a fala de dois líderes de países
desenvolvidos; o então presidente da Rússia, Mikhail
Gorbachev que, em um discurso feito na época da Rio+5,
teria afirmado que ”O Brasil deveria delegar parte de seus
direitos sobre a Amazônia a organismos internacionais
competentes”. Outro político citado por Bolsonaro foi o ex-
presidente da França, François Mitterrand, que teria
afirmado: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa
sobre a Amazônia”.
E, para fechar suas citações, Bolsonaro disse que o
ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, teria
afirmado que “Ao contrário do que os brasileiros pensavam,
a Amazônia não é deles, mas de todos”, classificando esta
fala como a mais hipócrita e ameaçadora de todas.
No dia 14 de maio de 2008 foi um “dia de índio” na
Câmara dos Deputados, que discutia em audiência pública,
os problemas relativos à Reserva indígena Raposa Serra do
Sol, onde a Polícia Federal havia prendido o líder arrozeiro
Paulo Cézar Quartiero e tentava expulsar os invasores da
reserva.
O ministro da Justiça Tarso Genro, que prestava seu
depoimento às Comissões de Relações Exteriores e Defesa
Nacional e da Amazônia, defendeu a atuação da PF e da
Força Nacional de Segurança em Roraima e afirmou que os
arrozeiros que se negavam a deixar a reserva indígena
agiam como terroristas, dizendo ainda que as forças do
Estado iriam atuar para desarmar os arrozeiros, além de
dizer que na região também existiam grileiros, traficantes e
grupos violentos.
Durante as quase três horas de duração da audiência,
Bolsonaro e Tarso Genro discutiram diversas vezes, tendo o
deputado chamado Tarso de “terrorista mentiroso” com o
ministro respondendo que a ele “não impressionava gritos e
olhos arregalados”.
Tarso Genro também classificou de fantasiosa a ideia
de que a demarcação das terras indígenas de forma
contínua iria provocar a perda de soberania do Brasil sobre
tais territórios, e afirmou que as Forças Armadas tinham
total ascensão sobre tais áreas e que poderiam intervir a
qualquer momento para defendê-las.
E a audiência pública foi encerrada justamente pelo
líder indígena Jecinaldo Sateré Maué, que provocou a maior
confusão ao tentar jogar um copo de água em Bolsonaro.
- É que eu não tinha uma flecha naquela, justificou
Maué por ter atirado o copo de água no deputado.
Um projeto, de autoria de Bolsonaro e que tramita até
os dias atuais no Senado Federal, diz respeito a proibir, pelo
prazo de cinco anos, a exportação de madeira não
beneficiada oriunda de floresta nativa, com o qual, o
deputado pretendia tornar a floresta amazônica algo mais
sustentável e com maiores ganhos para a exportação
brasileira e para os empresários envolvidos na atividade de
extração e beneficiamento da madeira.
Este é um exemplo de como funciona as coisas no
Congresso Nacional e também demonstra do porque a
produção legislativa no Brasil é tão baixa e demorada,
muitas vezes, depois de décadas engavetado ou tramitando
no famoso faz-de-conta, o projeto de lei é cancelado por ter
perdido seu objetivo ou por ter se tornado, simplesmente,
imprestável.
No caso, o deputado Jair Bolsonaro apresentou o
Projeto de Lei n.º 2.994/97 no dia 16 de abril de 1997, com a
seguinte redação:
PROJETO DE LEI N.º 2.994/94
Proíbe, pelo prazo de cinco anos, a exportação de
madeira não beneficiada, oriunda de floresta nativa.
Art. 1.º Fica proibida, pelo prazo de cinco anos a contar da
data de publicação desta lei, a exportação de madeira não
beneficiada, oriunda de florestas nativas.
Parágrafo Único: Entende-se por beneficiamento, para os
efeitos desta lei, a transformação de toras em vigas,
pranchões, tábuas, lâminas e outras formas econômicas.
Art. 2.º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3.º Revogam-se as disposições em contrário.
Justificação
As florestas tropicais do sudeste asiático são, ainda hoje, a
principal fonte de madeiras tropicais para o mercado
internacional. Estas florestas, entretanto, estão caminhando
para o esgotamento.
A floresta Amazônica é a última grande reserva de madeira
tropical do Planeta. As empresas que controlam o mercado
internacional desse recurso, especialmente aquelas
sediadas na China, Malásia e Coreia, já começaram a
transferir suas operações para a região.
Sabe-se que apenas a empresa malaia WTK já comprou 1,2
milhão de hectares às margens do Rio Carauari, no
Amazonas. Há, pelo menos, três companhias asiáticas com
sedes já instaladas em Manaus, companhias estas que vêm
adquirindo serrarias na região.
A exploração de madeira na Amazônia brasileira é
conduzida hoje de forma absolutamente predatória. Estudo
recente do Fundo Mundial para a Natureza mostra que no
sistema dominante de exploração florestal praticado na
região, a cada árvore extraída, outras 27 com valor
comercial são destruídas e, no processamento, se perde até
50% da matéria-prima aproveitável. O país não demonstrou,
até agora, capacidade para obrigar as empresas que
operam na Amazônia a conduzirem suas atividades de
forma sustentável, salvo algumas experiências isoladas.
Com o maciço ingresso do capital internacional destinado à
exploração florestal na região, as perspectivas sociais,
econômicas e ambientais são sombrias. A comprovada
incapacidade do governo para controlar a atividade, aliada à
conhecida forma de exploração predatória adotada pelas
empresas asiáticas nas suas regiões de origem, prometem
uma devastação sem precedentes da floresta amazônica.
O Brasil poderá ver-se na situação hoje vivida pela Guiana.
Lá, a produção de toras quintuplicou, nos últimos cinco
anos, mas o retorno financeiro ao país, em 1995, não
chegou a inacreditáveis, um milhão de dólares. Uma cifra
insignificante se comparado com o faturamento de uma
única empresa asiática que transformou as árvores da
Guiana em compensado e recebeu 30 milhões de dólares
com exportações. Em cinco anos, os grupos asiáticos se
tornaram proprietários de 17,4% das florestas da Guiana.
Para enfrentar esta ameaça, aquele país decretou uma
moratória de três anos na exploração florestal, até a criação
de uma sólida política florestal e ambiental.
O Brasil precisa se reparar adequadamente para controlar o
acesso das empresas estrangeiras às suas florestas. Não
se pode permitir que poderosos grupos econômicos
internacionais se apropriem e dilapidem nossos recursos
naturais, com graves prejuízos para as gerações presente e
futuras. O país precisa de tempo e recursos para elaborar
uma legislação adequada e organizar uma fiscalização
eficiente, capaz de garantir a extração bem planejada,
produtiva e sustentável. Cremos que o primeiro passo
nesse sentido é uma moratória de cinco anos na exportação
de madeira nativa não beneficiada.
Sala das Sessões, 16 de abril de 1997.
Deputado Jair Bolsonaro

Este Projeto de Lei tramitou na Câmara dos


Deputados de 8 de maio de 1997, quando foi encaminhado
à Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e
comércio (CDEIC) até o dia 20 de novembro de 2011,
quando a redação final foi aprovada e o Projeto de Lei
aprovado foi encaminhado à Mesa do Senado Federal para
apreciação.
Neste período de tempo, o PL n.º 2.994/94 foi
arquivado e desarquivado quatro vezes, passou por quatro
Comissões da Casa, sempre aprovado por unanimidade e
sem qualquer proposição de emenda, sendo a redação final,
quase cópia fiel do PL apresentado pelo deputado Jair
Bolsonaro. A única diferença ficou por conta da retirada,
pelo relator da CCJ, senador Sarney Filho (PV-MA) do artigo
terceiro que revogava qualquer norma contrária à nova lei.
No Senado Federal, o Projeto de Lei foi lido, em
plenário, no dia 22 de setembro de 2011. No mesmo dia a
matéria, que recebeu o n.º de PLC 84/2011 foi distribuída
para tramitar sequencialmente, entre as Comissões de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); de Assuntos
Econômicos (CAE); de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e Fiscalização e Controle (CADF); e de
Agricultura e Reforma Agrária (CAR), cabendo à última a
decisão terminativa.
A CCJ deu início imediato à análise do PLC 84/2011,
contudo, o relatório do senador Acir Gurgacz (PDT-RO) só
foi emitido em 26 de maio de 2014, com a indicação de que
o mesmo deveria ser rejeitado “por deficiência de técnica
legislativa”, já que “a questão técnica legislativa é óbice à
aprovação” e cita o fundamento legal para isto:
O art. 7.º, IV, da Lei Complementar n.º 95, de 26 de
fevereiro de 1998, determina:
Art. 7º O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o
respectivo âmbito de aplicação, observados os seguintes
princípios:
IV - o mesmo assunto não poderá ser disciplinado por mais
de uma lei, exceto quando a subsequente se destine a
complementar lei considerada básica, vinculando-se a esta
por remissão expressa.

O relator explica que a matéria deveria ter sido


inserida nas Disposições Transitórias do Código Florestal
(Lei n.º 12.651, de 25 de maio de 2012), que dispõe sobre a
preservação da vegetação nativa.
Ocorre que há, em vigência no Brasil, o Código Florestal,
veiculado pela Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que,
expressamente, destina-se à proteção da mata nativa
brasileira.
Como há evidente conexão entre a matéria do Código
Florestal e a da proposição em exame, o assunto deveria
ter sido tratado como disposição transitória a esta Lei, como
novo art. 61, e não como legislação autônoma.
Demais disso, e ainda quanto à técnica legislativa, é
deficiente a definição de “beneficiamento”, para fins de
aplicação da lei, principalmente pelo uso da expressão
generalizante “outras formas econômicas”, a impedir a
exata mensuração do que se pretende proibir.
Nega-se, com isso, o necessário coeficiente de densidade
normativa à proposição. Registre-se que, no nosso
entendimento, essa deficiência é insuprimível por emenda,
já que, para tanto, seria necessária a exata compreensão
dos objetivos do autor, de forma a atender com precisão a
finalidade legislativa, o que, no caso, não nos parece
possível.

O último registro que existe no site do Senado de


tramitação deste Projeto de Lei é de 8 de agosto de 2017.
Falta a retomada dos trabalhos e a votação, mas é um
projeto que, depois de dez anos de tramitação no
Congresso Nacional vai ser descartado.
Veja que no dia 17 de setembro de 1997, o jornal
Tribuna da Imprensa trazia uma matéria sobre a aprovação,
na Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei do deputado
Jair Bolsonaro, com entrevista com o ambientalista Roberto
Teixeira, que trabalhava com outros ambientalistas no
planejamento de protestos contra a exploração da floresta
amazônica por madeireiras asiáticas.
- O governo já licenciou 22 madeireiras asiáticas para
atuar na Amazônia e, até o fim do ano, mais cinco
receberão permissão para atuar naquela região. A
autorização do Ibama é para que eles possam explorar até
186 mil hectares de floresta. Só que isto é apenas no papel;
na prática, a história é outra. As madeireiras asiáticas estão
acabando com a Amazônia e produzindo até cinco vezes
mais do que deveriam em total desrespeito ao meio
ambiente, com uma devastação escandalosa, denunciou
Teixeira.
De acordo com levantamento feito pelo Estadão, o
deputado federal Jair Bolsonaro, desde 1991, quando deu
início à sua carreira no legislativo federal apresentou 171
projetos de lei, de lei complementar, de decreto de
legislativo e propostas de emenda à Constituição (PEC), o
que, para o professor de Ciência Política da USP, José
Álvaro Moisés - entrevistado pelo jornal -, revelaria “uma
boa atividade parlamentar – média de 6,5 propostas por
ano. Não é pouco, mostra que ele é um deputado ativo”.
Moisés, contudo, fez uma ressalva com relação a
apenas dois projetos de Bolsonaro terem sido aprovados
por seus colegas da Câmara dos Deputados em todos
esses anos: isto revela que o que o deputado Jair Bolsonaro
“está propondo não é acolhido na instituição”. Ou seja, a
baixa aprovação de seus projetos não quer dizer que lhe
falta atitude parlamentar, mas que suas ideias não estão
alinhadas com a dos demais parlamentares, o que pode ser
um ótimo sinal, já que o Legislativo Federal está podre, com
a maioria de deputados e senadores encrencados com a
Justiça, especialmente com a Lava Jato.
Não se pode esquecer, contudo, que foi o deputado
Jair Bolsonaro que apresentou a emenda constitucional, que
iria ser aprovada em 2015, que instituiu o voto impresso das
urnas eletrônicas, embora a mudança tenha sido brecada
pelo Superior Tribunal Eleitoral.
Além de apresentar os números da produção
legislativa do deputado Jair Bolsonaro, o Estadão o
entrevistou a cerca da falta de maior diversidade em suas
propostas legislativas e se ele achava que isso o
atrapalharia na corrida presidencial de 2018 e ele não teve
dúvida em responder:
- A Dilma (Rousseff) apresentou algum projeto na vida
dela? O prefeito João Dória apresentou algum projeto? Não
tem nada a ver uma coisa com a outra.
E ele ainda disse ao jornal sobre seu trabalho na
Câmara dos Deputados:
- Tão importante quanto você fazer um gol, é não
tomar gol. Eu trabalho muitas vezes para que certos
projetos não sejam aprovados. Assim, tão importante quanto
apresentar propostas, é rejeitá-las. Uma enorme
contribuição foi o combate ao chamado “kit gay” [material
didático contra a homofobia, vetado na gestão da ex-
presidente Dilma Rousseff, em 2011].
Em visita a Roraima no dia 12 de abril de 2017, o
deputado Jair Bolsonaro, mais uma vez, voltou a defender a
utilização das terras indígenas:
O pré-candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro,
defendeu a exploração de terras indígenas e, novamente, a
criação de campos de refugiados para venezuelanos, em
vista à Boa Vista, capital de Roraima, nesta quinta-feira, 12.
Os dois temas são considerados uns dos mais
emblemáticos no Estado, por conta da terra indígena
Raposa Serra do Sol e da migração de venezuelanos, que
já somam 40 mil em Boa Vista, que tem cerca de 330 mil
habitantes. As declarações foram feitas em um discurso
para cerca de 300 pessoas, após o final de uma carreata,
no centro de Boa Vista.
De cima de um carro de som composto, em sua maioria, por
candidatos e empresários, Bolsonaro disse que o índio deve
ter direito de explorar a sua terra e que, se isso não for feito,
"outras potências poderão transformar essas áreas em
suas". "Por que, no Brasil, o nosso índio tem que ficar
confinado num pedaço de terra? Aquele pedaço de terra é
dele? É. Alguém quer tomar? Não. Mas ele tem que ter o
direito de explorar a sua terra, até mesmo se quiser vender
uma parte dela, que o faça, para o seu bem, para o bem de
sua geração. Não podemos aceitar essa política separatista
entre nós", disse.
O deputado federal também afirmou que "hoje, uma área
maior que a Região Sudeste está demarcada como terra
indígena". "Isso tudo nos leva a uma preocupação dessas
grandes áreas riquíssimas, e cada vez mais isoladas. Os
índios são nossos irmãos, nossos antepassados, mas mais
cedo ou mais tarde outras potências poderão transformar
essas áreas", disse. (Jornal do Brasil)

Três medidas provisórias - MP 789/17, MP 790/17 e


MP 791/17 -, que mudam regras no setor foram editadas em
julho de 2017 pelo governo, alterando, pelo menos, 23
pontos no Código de Mineração e criando a Agência
Nacional de Mineração, que veio substituir o papel do
DNPM.
Mas, mesmo depois de passados oito meses à frente
do Governo brasileiro e em meio às maiores queimadas da
Amazônia, que repercutem negativamente o nome do Brasil
em todo o mundo, Bolsonaro não dá trégua às suas críticas
às reservas indígenas, que ele afirma não mais demarcará.
Em entrevista concedida à atriz e youtuber Antônia
Fontenelle, no dia 30 de agosto e divulgada no dia 2 de
setembro de 2019, o presidente disse que o Brasil está
"quase na ingovernabilidade no tocante às reservas", já
reconhecido como “territórios indígenas”.
De acordo com o presidente "A intenção dessas
grandes reservas, e isso sempre se discutiu na ONU, é que,
pela autodeterminação dos povos indígenas, seriam novos
países no futuro".
E repetiu sua ladainha contra os indígenas e contra as
minorias: “será determinante para a escolha de novo
procurador-geral da República a opinião do candidato sobre
meio ambiente e minorias". "Cada vez se quer mais terra
pra índio”.
Sobre o próximo PGR, o presidente afirmou que o
candidato a ser escolhido por ele tem de ser nota 7 em tudo.
“Não ser 10 num ponto e 2 no outro", afirmou. Ou seja, sua
ideia de um PGR é que ele seja ‘meia boca’ em tudo e que,
com isto, não defenda ou não persiga, com maior ênfase, A
ou B, mas leve a coisa no banho-maria e que a
mediocridade seja a marca de sua atuação.
Bolsonaro luta pelo seu mandato
Não é o desafio que define quem somos nem o que somos
capazes de ser, mas como enfrentamos esse desafio:
podemos incendiar as ruínas ou construir, através delas e
passo a passo um caminho que nos leve à liberdade.
(Richard Bach – escritor norte-americano)

Brasília, definitivamente, não é para os fracos.


Partidos e políticos, volta e meia, são pegos com a boca na
butija, surrupiando o dinheiro público. E Bolsonaro iniciava o
seu terceiro mandato brigando com o PPB, justamente por
conta de seu Partido ter entrado no governo de Fernando
Henrique Cardoso, já demonstrando péssimas intenções
com o dinheiro público.
O PPB “ganhou” o Ministério da Agricultura e do
Abastecimento, nos últimos meses do primeiro mandato de
FHC (1998), e havia indicado como ministro, o advogado e
político gaúcho, Francisco Sérgio Turra, que tomou posse
no cargo em 1.º de janeiro de 1999.
E Jair Bolsonaro já sabendo das más intenções de seu
Partido ao aderir o Governo de FHC foi à tribuna da Câmara
no dia 28 de janeiro, para protestar contra o entreguismo do
Governo e a corrupção no Congresso Nacional, chegando a
fazer uma velada ameaça de aniquilamento destes:
- (...) Tenho votado e continuarei votando contra este
governo, que leva a marca do descaso pelo Brasil, um
governo servil a banqueiros e agiotas internacionais. Como
consequência dessa submissão, marchamos para o
empobrecimento da população, promovendo-se a
exportação in natura daquilo de melhor que temos, em
detrimento do nosso povo. Quando no dia de ontem foram
votados os critérios de demissão de servidores, um
parlamentar advertiu que a maioria governista sequer sabia
o que estava votando; eu acrescento que eles sabem, sim,
muito, e bem, o que estão ganhando. Com um governo
desonesto, não temos esperança; com um Parlamento
servil, nada mais resta a todos a não ser esperar o caos, e
daí, ressurgindo do nada, ao se aniquilarem todos esses
entreguistas e corruptos, reconstruiremos um Brasil justo
que venha a ocupar seu devido lugar no cenário mundial.
De acordo com os caciques do PPB, porém, o ministro
Turra não estava fazendo o que se esperava dele. Assim,
no dia 11 de março de 1999, o senador Luiz Otávio (PPB-
PA) fez um pesado discurso na tribuna do Senado,
criticando o desempenho de Turra e demonstrando como o
partido retribuia ao governo a indicação para cargos
ministeriais e, ao mesmo tempo, o que os partidos
esperavam dos indicados [o que, de forma alguma, seria
coisa lícita] e Turra parecia não entender o jogo:
- Na votação da CPMF, 85% da nossa bancada votou
com o governo. Aqui no Senado, 100%. Temos que lembrar
a importância do Partido em nível nacional.
Mas para Jair Bolsonaro a aprovação da CPMF teria
sido uma desgraça:
- (...) Senhor presidente, Senhores deputados, ouvi na
CBN, hoje pela manhã, o Sr. Pedro Malan, que está no
exterior, declarar que a aprovação da CPMF foi muito bem
recebida pelos investidores internacionais. Com toda a
certeza, a agiotagem passou a noite toda "bebemorando"
essa desgraça aprovada por esta Casa. (...).
A preocupção do senador Luiz Otávio (PPB-PA), prém
era bem outra:
- Dizem que temos dois ministros, mas, até agora, na
verdade, temos um ministro, o ministro Dornelles (Francisco
Dornelles, do Trabalho). Temos também o ministro Turra, da
Agricultura, mas até agora eu só ouvi reclamação dele. Na
reunião do Partido, todos se queixavam.
O que acontecia nos Ministérios que desagradava
tanto a maioria dos parlamentares do PPB? A fiscalização
das empresas estava deficiente? Os ministros não tinham
um bom plano de gestão para seus Ministérios? Os
ministros não haviam cortado despesas e cargos inúteis
para ajudar o governo a reorganizar o Estado?
Claro que não se tratava disso, que é pura utopia.
Partido nunca quer Ministério para trabalhar para o país,
como bem explicou o deputado Jair Bolsonaro em entrevista
que concedeu ao Jornal do Brasil:
- Sim, existem reclamações dentro do PPB e estas
indicam que Turra teria perdido força dentro do Ministério,
porque cargos importantes de sua pasta teriam sido
entregues pelo governo a outros partidos. Além disso,
grupos do PFL e do PTB estariam também interessados em
minar Turra, interessados, até mesmo, em indicar seu
eventual substituto. Para mim, tanto faz essa história de
cargos, porque voto e continuarei votando contra este
governo.
Polêmica pouca é bobagem. Em maio de 1999,
Bolsonaro se envolveria em mais uma e esta lhe traria mais
dor de cabeça e ameaça de cassação de seu mandato
legislativo. E tudo motivado por respostas dadas por ele em
uma entrevista transmitida na madrugada do dia 23, na TV
Record, no Programa “Câmera Aberta” - em um dos blocos,
com cerca de 10 minutos de duração -, mas com grande
impacto, levando a emissora a reprisá-lo, quatro dias
depois.
A Record não somente reprisou a entrevista com
Bolsonaro, como também incluiu, na reapresentação do
programa, a oportunidade dos expectadores darem sua
opinião a respeito da proposta de cassação do deputado.
Perguntado sobre a relação do Congresso Nacional
com a corrupção, Bolsonaro afirmou, sem meias palavras,
que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal deveriam
ser fechados porque só serviam para aprovar coisas de
interesse do governo federal:
- Não funciona. E tenho certeza de que, pelo menos,
90% da população ia fazer festa, ia bater palmas. O
Congresso, hoje em dia, não serve para nada, só vota o que
o presidente quer. Se ele é a pessoa que decide, que
manda, que tripudia em cima do Congresso, dê logo o
golpe, parte logo para a ditadura.
Bolsonaro ainda disse que o regime militar deveria ter
fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar por Fernando
Henrique Cardoso e completou:
- Através do voto você não muda nada neste país,
nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, no
dia em que partir para uma guerra civil aqui dentro e
fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando
uns 30 mil, começando pelo FHC, não deixar ele fora não,
matando! Se vão morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo
quanto é guerra morre inocente.28
Sobre a possível repercussão de sua fala, Bolsonaro
afirmou:
- Eu tenho mais medo de ser impedido de falar o que
penso do que ter o meu mandato cassado. Além disso,
minhas declarações estão protegidas pela imunidade
parlamentar, prevista no artigo 53 da Constituição Federal.
Se posso criticar a imprensa e a Ordem dos Advogados do
Brasil, por que eu não poderia criticar o Congresso Nacional
e o Executivo?
Diversos parlamentares, de tendências variadas, se
manifestaram contra a fala do deputado Jair Bolsonaro,
como por exemplo, o deputado estadual do Amazonas, pelo
Partido dos Trabalhadores, Sinésio Campos:
- O deputado federal Jair Bolsonaro é uma ameaça à
Democracia e está longe de compreender que os problemas
políticos do país podem ser resolvidos tranquilamente,
através do exercício do voto. O Partido dos Trabalhadores,
a que pertenço é contra o governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso, mas jamais chegaria ao extremo de
querer matá-lo como pretende Bolsonaro. O que pode
acontecer é a gente matar FHC não votando nele.
Bolsonaro é saudosista dos tempos em que a ditadura
matava brasileiros inocentes por questões políticas, porque
pensavam, ideologicamente, diferentes. Mas hoje não há
mais clima para ditadura e, tampouco, para se matar
pessoas absurdamente. O povo está mais consciente e
deve matar, sim, os picaretas que Luis Inácio Lula da Silva

28 No dia 16 de novembro de 2017, o ex-presidente Fernando Henrique


Cardoso, que participava de evento na Universidade Brown, em
Washington (USA), de acordo com a jornalista Claudia Trevisan, do
Estadão, teria afirmado "Eu não quero entrar em detalhes, mas há
pessoas da direita que são pessoas perigosas", disse FHC. "Um dos
candidatos propôs me matar quando eu estava na Presidência. Na época,
eu não prestei atenção. Mas hoje eu tenho medo, porque agora ele tem
poder, ainda não, ele tem a possibilidade do poder." Entretanto, FHC que
já previa em 2017 a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018
também deixou claro que considerava o deputado e presidenciável Jair
Bolsonaro (PSC-RJ) a principal ameaça por não saber se ele estaria
comprometido com a Constituição, com o respeito às leis e aos Direitos
Humanos. (TREVISAN, Claudia. Estadão. Conteúdo. 17 nov. 2017).
afirmou existir no Congresso Nacional. Picaretas há, do
presidente a vereadores.
O jornalista Mauro Braga, dois dias depois, saiu em
defesa de Jair Bolsonaro, com uma nota em sua coluna
“Fato do Dia”, publicado pela Tribuna da Imprensa com o
título “Fundo de Verdade”:
Pode-se não gostar do que o deputado Jair Bolsonaro diz,
mas tem de se defender inteiramente o direito dele externar
suas ideias, por mais esdrúxulas que elas sejam. Estão
pensando em abrir um processo para cassar o parlamentar
porque ele disse, em um programa de televisão, que se
deveria fuzilar 30 mil corruptos, entre eles Fernando
Henrique, e que o Congresso deveria ser fechado, porque
só serve para aprovar o que o Palácio do Planalto quer.
Evidentemente, essas são ideias radicais, mas que não
deixam de ter um fundo de verdade, não deixa mesmo.

Apesar de críticas vindas do presidente do Congresso


Nacional, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e do
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), no dia
seguinte, a Tribuna da Imprensa saiu novamente em defesa
de Jair Bolsonaro, com o artigo intitulado, “Viva a
democracia”, publicado na coluna “Fato do Dia”:
Por que cassar o deputado Jair Bolsonaro? Porque ele
disse que os corruptos deveriam ser fuzilados, ou porque o
Congresso não serve para nada e deveria ser fechado?
Sejamos sinceros: quem, enfastiado com as seguidas
denúncias de corrupção, das bandalheiras que ocorrem
diariamente, dos milionários que se fazem da noite para o
dia por conta do dinheiro fácil das “informações
privilegiadas”, não pensou algum dia em instituir a pena de
morte para corrupção?
E quanto ao Congresso? Quem também não sentiu que o
Poder Legislativo tem um papel, na maioria das vezes, só
de homologar o que quer o Executivo, ou se sentiu lesado
vendo que seu voto serviu para eleger um Naya, um
Hildebrando ou um João Alves? Evidentemente, não se
pode fuzilar os corruptos nem fechar um dos pilares do
sistema democrático, mas o que o deputado Bolsonaro fez
foi externar o que existe, sem dúvida alguma, no imaginário
popular.
Além disso, o máximo que Jair Bolsonaro pode ter cometido
foi um delito de opinião, caso em que a Constituição lhe
garante a inviolabilidade de seu mandato. Se o deputado do
PPB carioca tivesse passado da pregação para a prática, a
conversa seria outra. Evidentemente ele não pode sair por
aí ameaçando as pessoas de morte porque são corruptas,
mas não isso o que aconteceu.
Durante anos, as democracias europeias conviveram com
partidos de esquerda radicais, que pregavam a derrubada
do regime, e o fim da própria democracia, e nem por isso os
seus deputados eram ameaçados de cassação. Essa é a
verdadeira beleza da democracia, que aceita conviver até
com quem não concorda com ela.

E o jornalista Claudio Humberto pegou carona na


polêmica proposta de cassação do mandato de Bolsonaro,
publicando a seguinte nota-advertência:
Se cassarem o mandato de Jair Bolsonaro, como ACM
[Antônio Carlos Magalhães] chegou a sugerir, talvez passe
a ser audível a tal “inquietação dos quartéis”, tão
mencionada no período da abertura. O deputado carioca
representa mais a caserna do que supõe a classe política
brasileira.

Defesas públicas não faltaram ao deputado Jair


Bolsonaro e até o juiz de Direito aposentado, professor de
Direito Constitucional e jurista prestigiado, Antônio
Sebastião de Lima, saiu em defesa de Bolsonaro com um
longo artigo publicado no jornal Tribuna da Imprensa, que
circulou no dia 3 de junho, com o título “Fuzilamento do
presidente e de 30 mil corruptos”:
Na entrevista concedida ao programa da TV Bandeirantes -
com repercussão nacional e internacional -, o deputado
federal Jair Bolsonaro afirmou o fracasso da democracia,
defendeu o fechamento do Congresso Nacional e a morte
do atual presidente da República e de uns 30.000 corruptos,
como solução para a crise brasileira. O presidente do
Senado, que serviu à ditadura, sob a qual enriqueceu, opina
pela cassação do mandato do deputado.
Como representante do povo brasileiro, o deputado goza de
imunidade parlamentar, nos termos do artigo 53, da
Constituição Federal. Além disso, ao externar a sua opinião
sobre as medidas que entendia necessárias à defesa dos
interesses nacionais e da moralidade pública, exerceu a sua
liberdade de pensamento e de consciência, que os incisos
IV e VI, do artigo 5.º, da Constituição Federal, asseguram a
todos os brasileiros.
O discurso do deputado assenta-se em fatos notórios: a
corrupção endêmica no país, a soberania nacional perdida,
o patrimônio nacional alienado, os atos de improbidade dos
governantes e dos seus apaniguados trazidos a público
pela CPI do Sistema Financeiro, pelas gravações das
conversas telefônicas da diretoria do BNDES, e demais
escândalos (Sivam, pasta rosa, contas em paraísos fiscais).
O sentimento de revolta manifestado pelo deputado é
compartilhado pela maioria do povo brasileiro. A imprensa
tem noticiado a decrescente do presidente da República e o
crescente descontentamento com o seu governo. A solução
alvitrada pelo deputado é que se afigura extrema. A prisão
dos corruptos, a devolução do dinheiro que ganharam com
as negociatas e a reintegração das empresas alienadas ao
patrimônio da União Federal seria suficiente. Não haveria
necessidade de matá-los, ainda que merecessem a pena de
morte pelo mal que causaram à nação e pela traição à
pátria, pena esta só possível sob nova ordem política,
porque a Constituição em vigor prevê a pena de morte,
exclusivamente, em caso de guerra externa.
(...) A repercussão da entrevista colocou à mostra, pelo
menos, três correntes da direita política no Brasil: 1) a
democrática, inspirada no liberalismo social, adepta do
nacionalismo moderado e do capitalismo domesticado, não
alinhado ao governo atual; 2) a autocrática, fundada no
liberalismo econômico, adepta da globalização e do
capitalismo selvagem, que está no governo; 3) a
autocrática, fundada na segurança nacional, adepta do
ultranacionalismo e da regulamentação estatal da
economia, que já foi governo.

O jornalista Hélio Fernandes, no dia 8 de junho,


praticamente encerrava a discussão sobre esta polêmica:
Jornais e revistas, que pertencem ao rico e famoso,
establishment, receberam ordem de tentar desestabilizar o
deputado Jair Bolsonaro. Motivo: ele pediu que 30 mil
corruptos e mais o próprio FHC fossem fuzilados por
corrupção. Todos usaram a mesma ladainha: “Bolsonaro
ataca a Democracia e não é punido”. É claro que Bolsonaro
usou linguagem direta, “blasfema”, que não agrada a esses
“empedernidos” defensores da Democracia.
Se Bolsonaro tivesse sido “mais hábil”, mais “dispersivo”,
menos “hostil” e tão declaradamente contra personagens,
alguém teria ficado contra ele. Por exemplo: poderia ter se
jogado contra “deputados e senadores”. E esses órgãos de
comunicação (também chamados de mídia), que defendem,
despudorada e descaradamente, a doação do patrimônio
público, que punição eles mereceriam? A mesma que
querem para Bolsonaro.

E Fernandes não ficou apenas nesta nota e aventurou


dimensionar o tamanho da corrupção contra a qual o
deputado Jair Bolsonaro se indignava:
A propósito da corrupção: vai ganhando muitos adeptos a
tese defendida por este repórter, ao ser entrevistado em
Minas pelo jornalista Guilherme Menezes. Disse a ele: “PC
Farias não foi assassinado. Ele se matou quando comparou
a própria situação com a de muitos personagens desse
governo”. É que festejou ao “conseguir” 1,0 bilhão de
dólares. Agora, já começam de dezenas de bilhões. Ficou
envergonhado!

Voltando dois anos no tempo, no dia 9 de junho de


1997, o mesmo deputado Jair Bolsonaro era entrevistado
pelo Programa “Câmera Aberta”, conduzido pelo jornalista
Jair Marchesini e ao lado de Eurico Miranda (PPB), Carlos
Santana (PT) e Carlos Minc (PT). Na oportunidade, o
deputado Jair Bolsonaro assim falou sobre o papel de
alguns parlamentares na corrupção que grassava no
Congresso Nacional:
- Tem muitos parlamentares que recebem uma
denúncia e vão depois barganhar, vão pegar a fita e vão
barganhar: “me dá isso, me dá aquilo” que a gente joga esta
fita fora. (...) O Poder Público, hoje, de maneira geral, está
aí para achacar, para assaltar, para roubar o povo. E digo
mais: o nosso Parlamento, lá em Brasília, só existe para
dizer que existe Democracia.
Apesar de toda a vontade de alguns caciques em
cassar o mandato do deputado Jair Bolsonaro, como
externaram o presidente do Senado Federal, Antônio Carlos
Magalhães, e o presidente da Câmara dos Deputados,
Michel Temer, que prometeu punir Bolsonaro porque “falar
em fuzilamento é uma irresponsabilidade”, não era uma
missão muito fácil, porque deveria ser votado em plenário e
o corporativismo, desta feita, favorecia o deputado militar.
Michel Temer, então presidente da Câmara dos
Deputados propôs que a Casa suspendesse o deputado Jair
Bolsonaro por 30 dias, mas apareceu uma carta,
supostamente assinada por Bolsonaro, dizendo que pedia
desculpa pela sua fala em fechar o Congresso e fuzilar 30
mil corruptos, o que fez Temer recuar.
Na carta atribuída a Bolsonaro, admitia-se que as
declarações haviam sido feitas em clima de radicalização.
“Esse clima leva, muitas vezes, o político a utilizar palavras
que não refletem corretamente o seu pensamento”.
A carta também afirmava que o Congresso era
considerado uma “instituição de maior importância no
Estado Democrático e de modo algum defendia o seu
fechamento” e que não tinha “qualquer elemento que
permitisse duvidar da honra do presidente da República”.
Mas tão logo tomou conhecimento de tal carta, o
deputado Jair Bolsonaro usou a tribuna da Câmara para
dizer em alto e bom som que nunca escrevera ou assinara
carta alguma – que esta teria sido falsificada -, e que não
retirava uma palavra do que havia dito, pedindo ao deputado
Paulo Delgado, que presidia naquele momento a sessão,
lesse o ofício encaminhado por ele ao Senhor Corregedor
da Câmara dos Deputados.
- Senhor presidente, não quero polemizar, mas,
respeitosamente peço para ler o seguinte ofício, de minha
autoria, encaminhado ao Senhor corregedor:
Honra-me dirigir a Vossa Excelência para, com os meus
cumprimentos, dar ciência a esse eminente Corregedor de
que não é de minha autoria a carta de pedido de desculpas
apresentada ao Excelentíssimo Senhor Presidente da
Câmara dos Deputados e lida no Plenário da Câmara no dia
24 de maio de 1999, pelo vice-líder do Governo, e para que
o acontecimento seja devidamente esclarecido, solicito,
salvo melhor juízo, o competente exame grafológico.
Certo da atenção de Vossa Excelência aproveito o ensejo
para expressar os meus protestos de consideração e
apreço.
Atenciosamente,
Jair Bolsonaro – deputado federal – PPB/RJ

E a polêmica continuou mais um tempo...


O corregedor-geral da Câmara dos Deputados,
Severino Cavalcanti (PPB-PE) disse, que iria pedir ao
plenário da Casa que votasse resolução suspendendo o
mandato de Bolsonaro por 30 dias, o que já havia sido
aprovado pela Mesa.
O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que
presidia a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
dos Deputados, embora dizendo não concordar com a fala
de Bolsonaro em fuzilar FHC, acabou saindo em sua
defesa, dizendo que “se fosse realizada uma eleição para
deputado federal, hoje, Bolsonaro seria reeleito, exatamente
pelas posições que prega, porque isso reflete o pensamento
de uma parcela da sociedade”.
Aleluia também disse que os membros do Congresso
Nacional não deveriam se sentir desmoralizados com as
palavras de Bolsonaro, pregando o fechamento do
Parlamento, mas deveriam sim, se sentir envergonhados e
procurar “assimilar o que era dito por Bolsonaro [sobre a
corrupção], ao invés de criticá-lo, pura e simplesmente” e foi
taxativamente contra a sua cassação.
No final, depois de tanto disse-me-disse Bolsonaro
recebeu apenas uma advertência verbal e o caso foi
arquivado.
Mas Jair Bolsonaro, apesar de todas as ameaças de
cassação e do tanto que a imprensa gostava [e ainda gosta]
de cobrar dele atitudes mais civilizadas, não se emendava
e, volta e meia, tinha de provocar alguém.
Foi o que aconteceu no dia 16 de junho de 1999,
quando o deputado foi ao Serviço Médico da Câmara dos
Deputados para pegar um resultado de exames que havia
feito e lá encontrou diversos jornalistas na porta:
- Quem está sendo atendido aí? Perguntou a um dos
jornalistas.
- É o ex-padre José Antônio Monteiro.
- É nisso que dá torturar e não matar. (Bolsonaro se
retirou)
O ex-padre José Antônio Monteiro estava na Câmara
dos Deputados para depor à Comissão de Direitos
Humanos sobre sua prisão em agosto de 1970, pelas forças
de repressão do governo e acusava o novo chefe da Polícia
Federal, João Batista Campelo, de tê-lo torturado. Ele havia
sofrido uma crise hipertensiva, ficando três horas sob os
cuidados médicos da Casa.
Mas logo, Bolsonaro estava de volta ao Serviço
Médico portando diversas fotos de corpos de militares
mortos por guerrilheiros e disse aos jornalistas:
- Estes crimes são os que deveriam estar sendo
investigados. A situação do País seria muito melhor hoje se
a ditadura tivesse matado mais gente.
- O senhor fez exame de sanidade mental? Perguntou
um jornalista.
- Eu estou 100% bem, respondeu Bolsonaro.
Bolsonaro, que defendia o regime militar brasileiro
com tanto vigor, também – quem diria -, já teve o ex-ditador
Hugo Chaves como um de seus ídolos e isto pode ser
comprovado em entrevista que ele concedeu ao Estado de
S. Paulo no dia 4 de setembro de 1999, sete meses depois
da posse de Hugo Chaves como presidente da Venezuela.
Reveja a entrevista concedida ao jornalista Dida
Sampaio, da Agência Estado, e que teve o título “É uma
esperança para a AL”:
- O que representa Chaves?
- É uma esperança para a América Latina e gostaria
muito que esta filosofia chegasse ao Brasil. Acho ele ímpar.
Pretendo ir à Venezuela e conhecê-lo. Quero passar uma
semana por lá e ver se condigo uma audiência.
- A qual figura história ele remete?
- Ao marechal Castelo Branco [primeiro presidente do
Brasil no Regime Militar, entre 1964 e 1967].
- Por que ele é admirável?
- Acho que ele vai fazer o que os militares fizeram no
Brasil em 1964, com muito mais força. Só espero que a
oposição não descambe para a guerrilha, como fez aqui.
- O que você acha dos comunistas apoiarem Chaves?
- Ele não é anticomunista e eu também não sou. Na
verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que
o meio militar. Nem sei quem é comunista hoje em dia.
Chegou o Natal e Bolsonaro participaria de um evento
triste, que era o enterro do ex-presidente da República,
general João Baptista Figueiredo, no Cemitério São
Francisco de Assis, no Caju, Rio de Janeiro.
A cerimônia fúnebre contou com todas as honras
militares, mas sem a presença de políticos civis, incluindo o
presidente FHC que, mesmo estando no Rio de Janeiro,
preferiu mandar uma coroa de flores e pedir ao comandante
do Exército, general Gleuber Vieira, que o representasse.
Bolsonaro estava presente, pelas fraternas ligações
que mantinha com o ex-presidente e com seu irmão, o
general Diogo Figueiredo. Na oportunidade, o deputado se
manifestou com relação à abertura política:
- Acho que a abertura foi um erro, porque o que havia
de pior na política brasileira retornou ao País e esses
políticos mergulharam o Brasil na corrupção, além de
desnacionalizaram nossas indústrias mais importantes.
Três dias depois, ele participaria de outro evento no
Rio, desta feita, no Clube da Aeronáutica. Foi um almoço
promovido pelo clube, em desagravo ao ex-comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Walter Bräuer, que havia sido
demitido por FHC, com a criação do Ministério da Defesa,
que foi entregue a um civil.
O almoço contou com a participação de cerca de 650
pessoas, num momento em que o governo FHC era
bombardeado de todos os lados, com o Impeachment do
mesmo sendo pedido abertamente pelas autoridades
militares, como o brigadeiro Ivan Frota que disse à
imprensa, entre outras coisas: “isso aqui é só a ponta do
iceberg”.
Embora não oficialmente, outros oficiais graduados se
manifestaram livremente e até o deputado Jair Bolsonaro
conversou com os repórteres que cobriam o evento e, mais
uma vez, o foco era o presidente Fernando Henrique
Cardoso, a quem Bolsonaro dedicava toda sua indignação:
- Eu fuzilaria o presidente. Porque cada crime merece
uma pena, e uma pessoa que administra o Brasil como ele
vem fazendo, não merece outro fim. Eu odeio o Fernando
Henrique Cardoso.
Para esclarecer os fatos e não se deixar envolver pela
fala de Bolsonaro, o Clube Militar tratou de divulgar uma
nota explicativa à imprensa, tão logo as notícias começaram
a repercutir no meio político:
A propósito do almoço oferecido ao brigadeiro Walter
Bräuer, no Clube da Aeronáutica, no dia 28 de dezembro
passado, os organizadores da homenagem divulgaram
ontem o seguinte esclarecimento:
1. Somente quatro colegas (brigadeiros Ércio Braga e
Murillo Santos e generais Jonas de Morais Correia e Hélio
Ibiapina Lima) tiveram o encargo de discursar, traduzindo as
opiniões de todos;
2. Ao deputado Jair Bolsonaro e ao brigadeiro Ivan Frota,
muito citados no noticiário, não foi liberada a tribuna; ambos
se limitaram a falar, a repórteres, em caráter estritamente
pessoal, não tendo se dirigido aos presentes e, portanto,
não tendo sido aplaudidos por pronunciamento que não
ocorreram.
Hélio Ibiapina Lima – presidente do Clube Militar

O deputado Jair Bolsonaro chegava ao final de seu


terceiro mandato com mais uma ameaça de cassação junto
à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos
Deputados e o motivo era sugerir - pela terceira vez -, o
fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Michel Temer (PMDB-SP), que presidia a Câmara dos
Deputados, estava firme na disposição de pedir a cassação
de Jair Bolsonaro, mas havia resistência a isto e não
somente por parte de parlamentares do PPB, mas também
de outros partidos, como foi o caso do deputado Inocêncio
Oliveira (BA), líder do PFL, que subiu à tribuna da Câmara,
para contestar o pedido de cassação feito pelo líder do
governo, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM):
- Não defendo a cassação do Bolsonaro, apesar de
lamentar que ele tenha agredido uma autoridade. Foi um
excesso verbal e, por isso, o Bolsonaro tem de ser punido
com a suspensão temporária de seu mandato.
Outros deputados também usaram da tribuna para
tentar “jogar água na fervura” e pedir uma punição mais
branda, como foi o caso de deputado federal José Carlos
Aleluia (PFL-BA):
- O deputado Bolsonaro exagerou e perdeu o controle.
Tratou o presidente da República de maneira descortês.
Mas não há motivo para cassação. Mas, na medida em que
não é a primeira que faz isso, acredito que ele está passível
de punição pelo plenário da Câmara, como a suspensão
temporária de seu mandato.
Também o deputado Milton Temer (PT-RJ) pronunciou
contra a cassação de Jair Bolsonaro, mas fez questão de
enfatizar que fazia isso porque entendia que a proposta de
cassação do deputado era besteira, porque “declaração é
declaração”. E completou:
- O pior é que o discurso burro de Bolsonaro
transforma Fernando Henrique Cardoso em herói. Quando o
PT prega o impedimento de FHC, por crime de
responsabilidade pública, está fazendo uma campanha
constitucional. Golpe quem dá é a direita. Fuzilamento é
coisa da direita.
E até mesmo o deputado José Genoíno (PT-SP), líder
do PT na Câmara dos Deputados, saiu em defesa do
mandato de Bolsonaro:
- O deputado Jair Bolsonaro tem direito a opinião, mas
não pode pregar o crime. Ele precisa ser punido. Acredito,
no entanto, que a cassação do seu mandato é uma medida
muito extremada.
No último dia do ano, o jornalista Mauro Braga
escrevia uma nota sobre o caso Bolsonaro e a ameaça de
cassação de seu mandato:
Tudo bem, o deputado Jair Bolsonaro fez declarações duras
demais, algumas até ingênuas de tão duras, mas ele não
pode ser cassado pelo que disse. A Câmara, com o intuito
de servir a Fernando Henrique, está cogitando cassar o
deputado carioca porque este externou a sua vontade de
fuzilar FHC. A imunidade parlamentar é para isto mesmo,
para o deputado ou senador falar o que quiser mesmo, as
coisas mais absurdas. Se a Câmara dá-se ao direito de
achar que algo é agressivo ou não, a imunidade para de
existir e será melhor instituir logo a censura prévia no
Plenário.

Caso de Cassação era o título do editorial publicado


pelo Jornal do Brasil no dia 3 de janeiro de 2000, com uma
pesada crítica a Bolsonaro:
O episódio do Clube da Aeronáutica, que alguns
classificaram, equivocadamente, de “crise militar”, esvaziou-
se por si mesmo, à falta de consistência. Não teve
importância maior. O almoço foi no dia 28 de dezembro,
terça-feira, na quarta os jornais deram notícias do conteúdo
dos pronunciamentos, quinta-feira, o assunto estava morto
e enterrado. Isto, quanto aos discursos oficiais da cerimônia
que homenageava o brigadeiro Walter Werner Bräuer,
demitido do comando da Aeronáutica.
Mas houve uma declaração à margem do evento que não
pode ficar esquecida: a do deputado Jair Bolsonaro (PPB-
RJ), que pela segunda vez pregou a pena de fuzilamento
para o presidente Fernando Henrique Cardoso. (...)
Tem razão, portanto, o deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ)
ao pretender mobilizar todos os seus esforços no sentido de
cassar o mandato do deputado boquirroto. O que ele
cometeu foi, sem dúvida alguma, ofensa ao decoro
parlamentar. E quebra do decoro parlamentar tem levado
outros deputados à perda do mandato. O procedimento de
seus pares não pode ser diferente em relação a ele. A
quebra do decoro é clara e repetida. Trata-se de um caso
típico para cassação. Bolsonaro já demonstrou fartamente
que não consegue manter a dignidade exigida de
representante do povo na Câmara dos Deputados.

Questionado de todos os lados por suas, no mínimo,


indelicadas palavras, Bolsonaro assim tentou se explicar,
embora sem muita ou nenhuma lógica:
- Tenho direito de me expressar, ou não tenho? Se o
presidente não gostar, o problema é dele. O governo que
administra o País sem responsabilidade merece a pena
máxima. E mais: o inciso 47 do art. 5.º da Constituição
Federal admite a pena de morte em caso de guerra
declarada, o que, para mim, é o caso. Ele [FHC] está
fazendo a guerra mais sórdida; com a caneta na mão.
Merecia ser fuzilado. Foi só isso que eu disse.
Bolsonaro ainda fez uma estranha e bizarra
comparação entre o presidente Fernando Henrique Cardoso
e o ditador Adolf Hitler:
- Acho que Hitler foi mais benevolente que FHC. Ele
colocava as pessoas em câmaras de gás e elas morriam em
cinco minutos. Nós vamos morrer em oito anos [dois
mandatos]. É uma pena de morte que ele está aplicando a
nós.
O vice-presidente da República, Marco Maciel, criticou
as declarações feitas pelo deputado Jair Bolsonaro: “As
declarações vêm em detrimento da própria pessoa dele.
Lamento que tenha falado tão desajuizadamente, tão
inconvenientemente e tão inoportunamente”.
Já o corregedor da Câmara, Severino Cavalcante,
defendeu que fosse levada ao plenário a votação de uma
resolução que levasse à cassação do mandato de
Bolsonaro, já que, para Cavalcante, ele era “um reincidente
contumaz”.
Também se manifestou pela cassação do mandado de
Bolsonaro, o parlamentar fluminense Márcio Fortes,
secretário-geral do PSDB, dizendo que seu partido iria fazer
tudo que estivesse ao seu alcance para cassá-lo.
O jornalista Cláudio Paiva, publicou como opinião, no
Jornal do Brasil o artigo “Fuzilaram o camarão!” sobre os
fatos ocorridos no almoço no Clube da Aeronáutica e os
desfechos em curso, que transcrevemos:29
Ter vontade de matar alguém é uma daquelas coisas que a
gente só confessa para um padre ou para um psicanalista.
Dependendo da corrente psicanalista, em alguns casos nem
para o analista é confiável.
Nos filmes policiais, quando algum personagem conta para
todo mundo que queria matar um sujeito, a gente já sabe
que o tal sujeito vai aparecer morto e o personagem, sem

29 PAIVA, Claudio. Jornal do Brasil. Opinião. Fuzilaram o camarão. Rio de

Janeiro, 7 jan. 2000. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/


DocReader.aspx?bib=030015_12&pesq=Claudio%20Paiva&pasta
=ano%20200. Acesso em: 23 set. 2019.
papas na língua, vai passar o resto do filme tentando provar
que não foi ele o assassino. Como o Brasil ainda não virou
um filme de Hitchcock e Bolsonaro não é o psicopata de
Pacto Sinistro, o que aconteceu naquele almoço no Clube
de Aeronáutica não passou de grosseria.
Que todos nós já sentimos vontade de esganar alguém do
primeiro escalão é verdade, mas falar sobre isso a sério são
outros quinhentos. Publicamente, no máximo desejamos
que a pessoa se dane. Não caso de não ter senhoras por
perto, usamos um palavrão no lugar do “se dane”. Em
mesas exaltadas de chope não chega a ser de mau gosto
mandar um representante do governo para a casa de um
senhor que não ouso dizer aqui o nome.
Na prática, o povo tem preferido vaiar o governo, a usar
fuzis para manifestar seu descontentamento. Entre a
selvageria proposta por Bolsonaro e uma boa vaia, sou
mais a segunda opção. Em casos extremos uma boa torta
na cara tem seu valor. Mandar catar coquinho ou pentear
macacos pode parecer ingênuo hoje em dia, mas ainda faz
efeito.
Fuzilar Fernando Henrique Cardoso, sem dúvida alguma, é
um exagero. Por mais que seu governo ande testando
nossa paciência. Bolsonaro perdeu a cabeça e agora corre
o risco de reencontrá-la do outro lado da guilhotina. Sua
degola vai ser decidida terça que vem.
Isso, se o pessoal da Câmara dos Deputados voltar da
praia.

Genilson Gonzaga dedicou grande parte de sua


coluna no JC do dia 8 de janeiro de 2000, às falas do
deputado Jair Bolsonaro, com o título “Al Paredón!”.
Linha duríssima e expoente no regime militar, o capitão-
deputado Jair Bolsonaro cometeu nova incontinência verbal
ao propor o fuzilamento do presidente Fernando Henrique
Cardoso, durante almoço no Clube da Aeronáutica,
metendo-se em nova enrascada que, aliás, lhe massageia o
ego e lhe rende votos nas casernas. (...)
Desabusado, Bolsonaro notabilizou-se em outras
oportunidades. Já achou que a repressão gastou muito
chumbo com o Lamarca: “ele deveria ter sido morto a
coronhadas”, opinou, rejeitando a possibilidade de a União
vir a indenizar a família do finado. Disse mais, que “o
grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e
canalhas como Fernando Henrique”. E tem ficado por isso
mesmo.

E o assunto cassação de Jair Bolsonaro renderia


ainda muita discussão, no Congresso Nacional e na
imprensa, por causa do tom extremamente agressivo de
suas declarações em relação a fuzilar o presidente
Fernando Henrique.
Entretanto, o presidente da Comissão de Constituição
e Justiça da Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia
(PFL-BA), entendia que a fala de Bolsonaro, infelizmente,
refletia o que uma grande parte da população brasileira
pensava e que, se a eleição fosse naquele mês, ele, com
certeza, seria reeleito.
Aleluia defendeu que Bolsonaro não tivesse seu
mandato cassado e que “a palavra do deputado, por mais
absurda que fosse, deveria ser assimilada. E mais: os
parlamentares têm imunidade por suas palavras, opiniões e
votos”.
O jornalista Jânio de Freitas publicou, também no dia
6 de janeiro, no jornal O Fluminense, o artigo “Fica, fica,
fica” falando sobre o pedido feito por Fernando Henrique
Cardoso, aos deputados de seu partido e aliados, para que
trabalhassem pela cassação de Jair Bolsonaro.
A cassação do capitão-deputado Jair Bolsonaro, pedida por
Fernando Henrique Cardoso aos deputados e pela TV, seria
insensata e injusta. Nenhum deputado tem feito tanto pela
democracia, nos últimos anos.
A frase de Bolsonaro que indignou Fernando Henrique é, de
fato, uma imbecilidade perfeita – “Para o crime que ele
(Fernando Henrique) está cometendo contra o país, sua
pena deveria ser o fuzilamento”. A indignação redobrou
porque é a segunda vez que o bravo capitão fala no
fuzilamento de Fernando Henrique. (...)
Como deputado, Bolsonaro cumpre o mesmo papel que
adotou quando oficial da ativa: desmoraliza manifestações e
reinvindicações militares, mesmo que justas, como tem sido
o caso dos soldos indignos. E projeta sobre os demais
militares e sobre a própria organização militar, a sua
imagem aos olhos paisanos.
Bolsonaro é a camisinha contra a Aids Institucional,, que
são os regimes militares. De cada vez que se põe em cena,
difunde mais a certeza de que os militares fora dos quartéis
não seriam a solução para os 160 milhões de insatisfeitos.
O capitão Jair Bolsonaro deve ser mantido na Câmara dos
Deputados, por serviços prestados à democracia.
A par de injusta, a pretensão de cassá-lo é insensata, como
método. Não faz sentido submetê-lo ao julgamento pelo
plenário da Câmara. Seu caso não requer mais do que uma
junta de psicoterapeutas. Assim mesmo, só para dar o aval
do diploma à obviedade. (...)

Severino Cavalcanti, embora continuasse insistindo


em que o plenário da Câmara deveria votar pela suspensão
do mandato de Bolsonaro por 30 dias, com apoio do
presidente da Casa, deputado Michel Temer, o assunto ia
sendo empurrado com a barriga e depoimentos a favor e
contra o deputado iam povoando a sua biografia, recheada
de folclore.
O Jornal do Brasil, apesar de ter comprado briga com
o capitão Jair Bolsonaro, desde que a repórter Cássia Maria
publicou artigos sobre a Operação Beco sem Saída,
divulgou trecho de uma carta do escritor e jornalista Vicente
Limongi Netto defendendo Bolsonaro:
Há seis penosos anos, FHC e seus áulicos fuzilam o povo,
sem trégua ou castigo. O deputado Bolsonaro é o justiceiro
dos aposentados, dos desempregados, dos servidores sem
aumento há cinco anos, dos doentes sem remédios e
hospitais, das crianças sem escolas, dos professores
humilhados. Bolsonaro expressou o sentimento popular,
sem medo nem hipocrisia. O movimento para punir o
deputado é estúpido, servil e covarde.

O escritor e jurista Tito Costa, especialista em Direito


Público e Eleitoral, que defendia vigorosamente a cassação
do mandato do deputado federal Wanderley Martins (PDT-
RJ), por seu suposto envolvimento com o tráfico de armas,
disse em defesa de Jair Bolsonaro:
- É mais fácil admitir que o deputado Jair Bolsonaro
diga o absurdo de mandar fuzilar o presidente da República,
do que aceitar que um parlamentar se envolva com o
narcotráfico, que caracteriza crime comum.
Ainda no dia 9 de janeiro, o jornalista Hélio Fernandes,
em sua coluna para a Tribuna falou sobre o assunto:
Verdadeiro bombardeio em cima deste repórter para que se
manifeste sobre o discurso do deputado Bolsonaro,
“pedindo o fuzilamento de FHC”. Minhas posições são tão
claras, tão conhecidas, tão limpas e elucidativas, que nem
preciso falar ou escrever, já que falar não me deixam
mesmo, existe contra mim a cassação eterna. Em 1966, a
cassação explícita, agora a implícita. Jamais pediria a morte
de alguém, presidente ou não.
Publicamente, sou contra a pena de morte, até mesmo nos
mais diversos e diferentes casos. Nos EUA (o exemplo que
gostam de citar sempre) a pena de morte tem sido
episódica, “vai e volta” em muitos estados. Bolsonaro já
sentiu que a reação (e a repercussão) do que disse foi um
verdadeiro “auto fuzilamento”, isso provocou um terrível
espanto.
Mas não é o caso de cassação de mandato. Rui Barbosa
sempre ensinou: “No exercício do mandato, a imunidade
acompanha o parlamentar assim como a sombra
acompanha o corpo”. Bolsonaro falou como parlamentar,
não pode ser punido pelo que disse e sim, pelo que
pudesse ter feito. Se a ação de Bolsonaro fosse uma
tentativa de transformar a teoria em prática, aí,
evidentemente, não poderia gozar de impunidade, mesmo
com imunidade.

O jornalista Jânio de Freitas também falou sobre o


assunto, dizendo que, apesar de soar gaiatice a fala de
Bolsonaro quando sugere fuzilar o presidente Fernando
Henrique Cardoso, ele achava que toda a cúpula do
governo FHC deveria, sim, ser processada por improbidade,
embora para ele, as leis sempre foram “elaboradas e
manipuladas por setores dirigentes da sociedade, para seu
próprio proveito e proteção”.
Apesar do foco da imprensa sempre recaísse sobre
Bolsonaro, não era apenas ele que falava em tom exaltado
contra Fernando Henrique Cardoso. O governador do Rio de
Janeiro, Leonel Brizola (PDT-RJ), durante celebração de
seus 78 anos, comparou FHC ao traidor Calabar, da
ocupação holandesa do Século 17 e, fazendo coro ao que
havia sido dito por Bolsonaro, defendeu o fuzilamento do
presidente da República.
A imprensa ainda daria coro a uma suposta fala
atribuída a Leonel Brizola - que já havia dito que o deputado
Jair Bolsonaro “tinha um parafuso solto” -, em relação à sua
fala de que FHC fuzilado: “Por que ele não fuzila? A vida
toda foi só treinamento e nunca colocou em prática. É um
impostor”.
E novamente tinha um leitor do Jornal do Brasil
escrevendo em defesa de Bolsonaro. Dessa vez seria o
poeta Mário Anuzza, do Rio de Janeiro:
Sou contra a cassação do mandato do capitão e deputado
Jair Bolsonaro. Se estamos numa democracia, ele tem o
direito de dizer o que pensa. E sejamos sinceros: qual a
diferença entre a “democracia” em que vivemos e a volta da
ditadura, como defende o deputado? Nós não estamos
numa democracia; vivemos numa ditadura civil. O problema
do Bolsonaro é que ele diz o que pensa. Isto não é
hipocrisia. (Mário Annuza – Rio de Janeiro – RJ)

No dia 27 de janeiro, Bolsonaro voltava a ser motivo


para notícias, desta feita, com o deputado federal petista,
José Genoíno (SP), ex-membro da Guerrilha do Araguaia,
preso por uma patrulha do Exército, em 1972, no Pará, onde
comandava, com o codinome de “Geraldo”, o destacamento
“C” da referida Guerrilha. José Genoíno ficou preso durante
cinco anos e foi anistiado em 1979.
Bolsonaro usou a tribuna da Câmara dos Deputados
para comentar a entrevista dada por Genoíno a uma
emissora de televisão, quando o acusou de ser delator e
mentiroso, afirmando que ele teria sido o responsável por
dar fim à guerrilha do Araguaia, ao entregar para os
militares seus companheiros e ainda classificando o
deputado petista como um colaborador do Exército:
- Genoíno foi um emérito colaborador do Exército
Brasileiro. Ele diz que foi preso e torturado. É mentira. Ele
não precisou ser torturado em nenhum momento. Ele foi o
responsável pelo fim da guerrilha do Araguaia, delatando
todos os seus companheiros.
Em resposta, Genoíno disse que não pediria qualquer
sanção contra Bolsonaro, mas que passaria a ignorá-lo na
Casa.
Entretanto, Bolsonaro não tirava esta afirmativa
“debaixo do sovaco”. Ele tinha a gravação de um
depoimento do coronel da reserva Lício Augusto, que
prendeu na região do Araguaia, em 1973, o então
guerrilheiro José Genoíno. E o oficial garantia que o petista
havia delatado todos os companheiros, posteriormente
mortos em confronto com o Exército.
O último ano do primeiro milênio também marcou a
entrada na política do filho de Jair Bolsonaro, Carlos Nantes
Bolsonaro, com 17 anos, foi eleito vereador do Rio de
Janeiro, pelo PPB, com 16.053 votos, sendo o mais jovem
vereador na história do Brasil.
Para o Jornal do Commercio, Carlos Bolsonaro
afirmou sobre sua eleição:
- Meu pai precisava de apoio político no Rio de
Janeiro. Como não contava mais com o da minha mãe, que
se filiou ao PMDB, eu me candidatei e fui eleito com total
apoio paterno. Para Carlos Bolsonaro, “não bastou o
trabalho que ela [sua mãe] fez na Câmara dos Vereadores
[ela precisava do apoio do pai, Jair Bolsonaro]”.
Mas a candidatura de Carlos não foi nada pacífica.
Quando Jair Bolsonaro quis que o filho se candidatasse ao
cargo de vereador do Rio de Janeiro, ele ainda não tinha
completado 17 anos e sua mãe, Rogéria Bolsonaro, foi
contra:
- Primeiro, ele só tem 16 anos [nasceu no dia 7 de
dezembro de 1982] e não vai parar de estudar para atender
aos caprichos políticos do pai. Não tenho nada contra ele
ser candidato um dia, desde que estude e tenha idade para
isto, afirmou Rogéria Bolsonaro, indagada pela Tribuna.
Já o pai tinha uma visão diferente e rebateu as
acusações da ex-mulher:
- Meu filho, caso eleito em 2000, poderá sim tomar
posse em 2001,30 já que a Lei 9.504/97 assim o garante.

30 No dia 18 de maio de 2001, a colunista Danuza Leão escreveu para o

JB que o vereador Carlos Bolsonaro havia estreado no Plenário da


Câmara Municipal do Rio de Janeiro e que teria feito uma “pérola de
Não fica bem uma vereadora não conhecer sequer a lei
eleitoral. A nobre edil não é padrão de escolaridade para
ninguém, já que teve todos os meios possíveis para ter o 3.º
grau, coisa que, por comodismo, nunca se interessou.

Bolsonaro e seu filho Carlos, logo depois de eleito vereador do RJ.


Reprodução.

O jornalista cearense, Pedro Porfírio, escrevendo para


a Tribuna da Imprensa comentou com relação à vitória de
Carlos Bolsonaro: “A direita preferiu votar num garoto de 18
anos, filho do capitão Bolsonaro, que queria arrancar o
mandato de sua ex-mulher Rogéria, derrotada e humilhada
nas urnas”.
O jornalista Luiz Maklouf Carvalho, relembrou esta
história no artigo “A disputa eleitoral no clã Bolsonaro”
publicado no Estadão de 15 de abril de 2018, onde foi
buscar a origem das desavenças havidas entre o deputado
Jair Bolsonaro e sua ex-mulher Rogéria Nantes Braga
Bolsonaro:
Ao comando do pai, Carlos Bolsonaro registrou sua
candidatura em 27 de junho. A fotografia oficial, que consta
do registro no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro,

discurso”. Danuza afirmou que o jovem vereador teria dito: “Falo, não em
nome do Partido Progressista Brasileiro, mas em nome do Partido do
Papai Bolsonaro”.
sublinha sua juventude estudantil de 17 anos (é de 7/12/82),
sem bens a declarar. Em 24 de julho, a promotoria eleitoral
arguiu que a idade “maculava a condição de elegibilidade”.
Bolsonaro pai recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral,
fazendo uma consulta sobre a idade mínima para
candidatos a vereador. A resposta, unânime, de sete
ministros, foi um inciso da Lei 9.504/97: “A idade mínima de
18 anos para concorrer ao cargo de vereador tem como
referência a data da posse”. Em 1.º de janeiro de 2001 o
filho de dona Rogéria, então suplente, já entrara na casa
dos 18.

Jair Bolsonaro fez de tudo para eleger seu filho,


confiando que seu legado político teria continuidade,
especialmente, no que se referia à ética e respeito ao bem
público. Por isso, o próprio Jornal do Brasil, sempre crítico
ao capitão-deputado, reconheceu sua sadia ascensão sobre
o jovem filho que passaria a ter grande responsabilidade no
campo político:
- O gabinete dele será um apêndice do meu em
Brasília. Daqui a dois anos deixo-o voar sozinho. Mas
estabeleci um limite: não quero que ele discuta nada
particularmente com nenhum vereador.
Durante a campanha para sua segunda reeleição
(set/2000), a vereadora Rogéria Bolsonaro acusou o ex-
marido Jair Bolsonaro de ter sido o mandante do
espancamento de um assessor político e seu ex-colega de
Exército, Gilberto Gonçalves, ocorrido em uma Rua do
Méier, zona norte do Rio de Janeiro.
O motivo, de acordo com ela, foi o fato de Gonçalves
estar trabalhando como cabo eleitoral de sua candidatura.
Tudo isso consta em registros e depoimentos dados à
Polícia Civil do Rio de Janeiro pela própria Rogéria
Bolsonaro, que afirmou à imprensa na ocasião que seu ex-
marido sofria de “desequilíbrio psicológico e mental”:
- Quando vi meu funcionário, ele estava sendo
agredido por policiais e posto no camburão, com a ajuda do
motorista do deputado. Que coincidência! Isso prova o
desequilíbrio mental e psicológico do deputado, que chegou
a colocar o filho [Carlos Bolsonaro], de 17 anos de idade, a
concorrer como vereador, pelo PPB, contra a própria mãe.
Apesar da reclamação, Rogéria demonstrava
confiança em sua reeleição:
- Acho que agora, se Deus quiser, vou arrebentar de
novo [referência à sua primeira reeleição, quando recebeu
24.896 votos]. Não se joga pedra em árvore que dá fruto. Se
isso está acontecendo comigo é porque é o reconhecimento
de um trabalho que estamos fazendo há anos. Tentam nos
denegrir, mas seremos vencedores.
Bolsonaro, por sua vez, deu a sua explicação para o
ocorrido com o assessor de Rogéria que acabava de ser
preso:
- Ele me ameaçou e eu liguei para a Polícia [190]. Ele
me disse: “Se eu perder meu emprego, você vai ver comigo.
Ora, ele é empregado comissionado da vereadora e só irá
perder o emprego se a perder a eleição. E outra coisa, ele
só foi detido porque não quis se identificar para os policiais
civis”.
Esse imbróglio familiar acabou virando um caso de
polícia, tendo sido aberto um inquérito policial, junto à 26.ª
Delegacia de Polícia, em Todos os Santos, onde Gonçalves
foi liberado depois de registrada a ocorrência.
Mas os policiais de plantão na DP tiveram de ouvir
ainda um bate-boca acirrado entre Rogéria e Bolsonaro:
- Bolsonaro induziu Carlos a se lançar candidato
apenas para prejudicar minha campanha à reeleição. O
objetivo dele não é eleger o filho, mas impedir que me
reeleja, dividindo nossos votos.
- Você está fazendo propaganda enganosa usando o
meu nome. [Virando-se para os policiais] Ela fez um panfleto
que diz: Bolsonaro é 15.620 [número dela, que estava no
PMDB]. Isto para dar a entender que eu a estou apoiando.
Até o número do Carlos, que é 11.620, ela procurou imitar.
Bolsonaro, além da ocorrência policial registrada por
ameaça de morte, também entrou com uma queixa no
Tribunal Regional Eleitoral. Entretanto, como quase em toda
desavença de casal, a coisa depois esfria. Meses depois, o
caso foi arquivado, sem que ninguém tenha sido
responsabilizado pelo espancamento do assessor de
Rogéria, por “falta de provas”.
Mas nenhum esforço feito por Rogéria Bolsonaro
favoreceu sua candidatura, pois, sem contar com o apoio do
ex-marido, ela não conseguiu se reeleger para a vereança,
tendo obtido somente 5.109 votos ou 0,16% dos votos
totais.
Entretanto, na mesma eleição, a vereadora Rogéria
votou no ex-marido e assim se justificou para a imprensa,
logo depois de depositar o seu voto na urna e questionada
se havia votado em Jair Bolsonaro para deputado federal:
- Votei nele. E foi por reconhecimento de uma carreira
política coerente e séria dentro da linha que ele se propõe a
executar.
Mas não foi uma derrota que Rogéria aceitaria tão
facilmente. No dia seguinte à divulgação do resultado das
eleições, ela não foi trabalhar e teve de ser sedada, depois
de “passar mal”, de acordo com sua assessoria, que
reforçou o ataque a Jair Bolsonaro:
- O deputado Jair Bolsonaro manipulou a propaganda
eleitoral do Carlos, botando sua própria foto no santinho do
rapaz de 17 anos, para induzir o leitor a imaginar que
estivesse votando nele.
O deputado Chico Alencar assim se manifestou sobre
o fato: “O filho foi claramente usado pelo pai, para se vingar
da vereadora, que foi deserdada É uma prática política
arcaica, com viés autoritário e patriarcal”.
Procurado, Jair Bolsonaro não quis dar seguimento ao
imbróglio familiar:
- Carlos não dará entrevistas agora e já me nomeou
como assessor de imprensa. Mas eu não vou falar mais de
Rogéria. Vou é curtir a minha cervejinha, pois não tenho o
hábito de chutar cachorro morto, muito menos peixe morto.
Acho que ela está mordida. Devia cair de pé, com
dignidade.
No dia 10 de janeiro, a jornalista Dora Kramer, do
Jornal do Brasil, que havia defendido dias antes, com
raivosos vernáculos, a cassação do deputado Jair
Bolsonaro, parecia descrente de que isso fosse acontecer:
Só espuma – não é tão firme assim, como pareceu pela
proposta apresentada pelo líder do governo no Congresso,
Arthur Virgílio – a disposição do Planalto de se emprenhar
pela cassação do deputado Jair Bolsonaro. Ontem já se
dizia que Virgílio apenas marcou uma posição pessoal e
que, na verdade, o governo teria recebido de bom grado
alguma reação do PPB, partido de Bolsonaro. Mas só.
Esse raciocínio autoriza a conclusão de que toda e qualquer
manifestação de indignação com o comportamento de Jair
Bolsonaro, incluindo a do presidente da República, tiveram
apenas o efeito de provocar um efeito-demonstração.
Espuma sem consequência. O que mostra que não é
apenas a esquerda que reserva sua parcela mais aguerrida
ao adversário ameno, companheiro de outros carnavais, no
caso Fernando Henrique. (...)

No mesmo dia, a Tribuna publicou mensagem do leitor


fluminense, Hamilton Lemos, sobre “os devaneios cívicos”
de Jair Bolsonaro:
Como leitor diário da TI, sinto e vejo neste veículo de
comunicação, a única forma de expressar minha
indignação, quanto a problemas que, diariamente, afligem o
povo brasileiro. Analisando a performance do presidente
FHC é que, recentemente, cheguei à conclusão sobre
assunto que, há muito, me causava espécie. O que levaria
uma pessoa a tentar matar ou matar o presidente de seu
país, como fizeram J. W. Boots e L. H. Oswald, assassinos
de Lincoln e Kennedy, presidentes dos EUA? No caso de
ambos, acredito terem sido questões (como nos fazer crer
as narrativas históricas) de ideologia política. Apenas
hipoteticamente falando, caso algum brasileiro praticasse tal
ato insano, o mesmo seria desencadeado pelo desespero
causado pela figura de um presidente, que à frente de
interesses escusos, inflige a seu povo a mais dura
variedade de massacres sociais, amparado por asseclas
que assim como o mandatário-mor, também vislumbram a
perpetuação da enorme distância entre as classes sociais.
Por essas e outras, deveriam ser mais levados a sério os
devaneios cívicos do deputado federal Jair Bolsonaro.

E as palavras de Bolsonaro inspiraram até uma


brincadeira, um tanto quanto macabra do jornalista Claudio
Humberto, publicada em sua coluna na Tribuna:
Ideia Arriscada – Começou ontem uma nova campanha do
projeto Comunidade Solidária. Dona Ruth Cardoso lançou,
em São Paulo, o “Mude o Brasil em 1 minuto”, um projeto
de capacitação criado pela Agência Publicis-Norton para
jovens carentes de 15 a 21 anos. A ideia é boa, mas o
nome arriscado. Já imaginou se o deputado Jair Bolsonaro
decide colaborar?

O poeta carioca Mário Annuza também deu a sua


opinião sobre a proposta de cassação do mandato do
deputado Jair Bolsonaro:
Sou contra a cassação do mandato do capitão e deputado
Jair Bolsonaro. Se estamos numa democracia, ele tem o
direito de dizer o que pensa. E, sejamos sinceros: qual é a
diferença entre a “democracia” em que vivemos e a volta à
ditadura, como defende o deputado? Nós não estamos
numa democracia, vivemos uma ditadura civil. O problema
de Bolsonaro é que ele diz o que pensa, não é hipócrita.

O assunto fuzilamento continuava rendendo, tanto que


no dia 25 de janeiro, o jornalista Sebastião Nery também
explorava o tema em sua coluna na Tribuna, com o título
“Medo do Fuzilamento”. Mas, desta feita, sobrava também
para o presidente da República:
E Bresser chega até o grande nervo exposto da vida de
Fernando Henrique, que é o livro “A teoria da dependência”,
publicado em 1968, no Chile, com o chileno Faletto, para
FHC ser aceito nos Estados Unidos como o que ele é hoje:
o grande agente dos interesses norte-americanos no Brasil.
Na “Teoria da dependência”, Fernando Henrique dizia que
um país pode desenvolver-se mesmo sendo “dependente”
de outro país rico amigo. Era a sopa no mel para o
Departamento de Estado dos Estados Unidos e da CIA, que
já não aguentavam mais serem denunciados como
imperialistas. Bresser desmascara Fernando Henrique:
“O nosso subdesenvolvimento relativo é crescente.
Enquanto os países ricos se desenvolvem a taxas elevadas,
nós, desmentindo todas as ingênuas teorias (para Bresser,
a “Teoria da dependência” era só uma teoria ingênua) e
esperanças de convergências vemos nossa distância em
relação a eles aumentar dia-a-dia”.
Bresser termina seu surpreendente artigo na “Folha de S.
Paulo” dizendo que “o momento é para repensar o Brasil
(...) de o pêndulo político mudar novamente de rumo e
apontar para a política em que o Estado proteja o interesse
nacional de forma mais clara”.
Está claro, aí, que Bresser Pereira acreditou mesmo na
“solução Bolsonaro” e está com medo de Fernando
Henrique, Pedro Malan, ele e outros serem condenados
pela Justiça a “fuzilamento por traição nacional”.
Ninguém ia chorar; haveria um segundo carnaval no Brasil.

E uma voz forte da caserna também se levantou para


defender o deputado Jair Bolsonaro. Foi o general da
Reserva Tasso Villar de Aquino, que teve suas palavras
reproduzidas na seção de cartas da Tribuna:
Bolsonaro, capitão paraquedista e deputado federal pelo
Rio de Janeiro, é uma voz forte, sincera, leal e brava, que
clama contra o mal, os que o praticam, citando-os; os que
atuam contra os interesses do Brasil e dos brasileiros, os
que estão vendendo o Brasil e levando-o ao caos, traindo-o.
Precisa nossa santa cruzada cívica espinhosa que
empreende, da compreensão, da solidariedade, do apoio do
povo brasileiro, porque os construtores do caos, os
demolidores estão atentos, unidos contra ele, buscando
destruí-lo, procurando calar sua voz corajosa, e é em
defesa do povo que está lutando. Não o conhecem, não
conseguirão, não o intimidarão. É desprendido. Nada quer
para ele, e sim luta, e bravamente, arriscando tudo,
tenazmente, pelo Brasil, pelos brasileiros. Sou seu amigo, o
admiro muito e o prezo, pela sua conduta ilibada, pela
inteireza de caráter, pela sua bravura cívica, pela sua
sinceridade e franqueza, pela sua jovialidade.

No final, o máximo que o então presidente da Câmara


dos Deputados, Michel Temer, conseguiu dar a Bolsonaro
foi uma advertência verbal, assinalando que ele havia
proposto “a quebra da normalidade institucional”.
Certamente, não quis polemizar mais do que o
necessário, vista que, possivelmente, ele se via na conta
dos 30 mil corruptos a quem Bolsonaro defendia o
fuzilamento. Mas isto é outra história...
No dia 24 de fevereiro, o jornal Tribuna da Imprensa
divulgou nova carta do general-de-divisão da Reserva,
Tasso Villar de Aquino que, mais uma vez, saia em defesa
do deputado Jair Bolsonaro, por suas palavras dirigidas ao
presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem Aquino
rotulou de traidor.
Impedir o deputado Jair Bolsonaro de falar é um absurdo, é
uma afronta à nossa Lei Magna – a Constituição do Brasil -,
guia e vontade do povo brasileiro. É como impedir o
Congresso de legislar, de discutir os assuntos e problemas
nacionais. Bolsonaro, além de cidadão brasileiro, com todos
os direitos e deveres (mais deveres que direitos), é
deputado federal com imunidade parlamentar para fazer o
que quiser e o que pensa, o que acredita certo, sem
restrições. Sigam-no os que quiserem, não o façam quem
não aceitam o que ele diz, o que ele pratica, aberta e
sinceramente, os que discordam dele. Estou entre os que
acreditam no que ele diz. A opção é de cada um, soberana
e voluntária. Pretender calá-lo, nunca. Não o conhecem,
não sabem da sua firmeza de caráter e de atitude, os que
isso pretendem. Buscar calá-lo é o mesmo que buscar
silenciar o Congresso! Não o calarão jamais. Quanto mais
pressão neste sentido, mais o estimularão a dizer o que
pensa, agrade ou não. Com a maioria do povo brasileiro,
penso e ajo como Bolsonaro em relação aos desatinos,
desmandos, à traição ao Brasil, do atual governo. (Tasso
Villar de Aquino – Rio de Janeiro).

O presidente Fernando Henrique Cardoso não usava


apenas as leis a seu favor; ele usava de todos os recursos
para conseguir que o Congresso aprovasse as medidas de
seu interesse e monitorava de perto todas as negociações
que ocorriam para evitar que se instalasse uma Comissão
Parlamentar Mista de Investigação (CPMI), “para apurar
supostos casos de corrupção no governo e nas relações
com empresas privadas e a destinação de recursos como o
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)”.
E claro: Bolsonaro lutava ferozmente em prol da
instalação da CPMI.
Entretanto, o trunfo maior de FHC era a grande
bancada do PSDB e do PMDB, que se posicionaram contra
a realização da CPMI. O PSDB contava com a liderança do
senador Álvaro Dias (PSDB-PR) na luta por provar que a
CPMI seria inconstitucional e inoportuna. Pelo PMDB,
embora tenha assinado o requerimento de criação da CPMI,
falava contra sua efetivação e pedia votos contra a
instalação da mesma, o senador Jáder Barbalho (PMDB-
PA), que sustentava ser a proposta fruto de contendas
pessoais, além de ter propósitos políticos e eleitorais.
O deputado Jair Bolsonaro também tinha de lutar
contra medidas do governo FHC que prejudicavam os
militares, como a MP n.º 2.131, que previa o aumento da
alíquota da contribuição previdenciária e a extinção do
direito do militar passar para a reserva com patente superior
a que tinha na ativa. E, nessa luta Bolsonaro não estava só
e contava, inclusive, com apoio de diversos deputados da
esquerda, liderada pelo petista Virgílio Guimarães (MG).
No meio de dois problemas, Bolsonaro decidiu trocar o
“duvidoso pelo certo”: fez um acordo com o Ministério da
Defesa para não assinar o requerimento de criação da CPMI
para investigar corrupção no governo FHC em troca de
mudanças no texto da MP, embora arriscando pagar um alto
preço pela decisão, que achava ser, naquele momento, a
mais adequada e produtiva.
- Vou pagar o preço. Resolver o problema dos
militares é melhor do que morrer com a bandeira da
moralidade nas mãos.
Infelizmente, o governo não cumpriu a parte dele...
Embora o Jornal do Brasil, enquanto existiu, tenha
sido sempre muito rude com o deputado Jair Bolsonaro, vez
ou outra, algum de seus jornalistas jogavam menos pesado.
Foi o caso de Walter Fontoura, que no dia 28 de abril de
2000 publicou esta nota, em sua coluna Informe JB:
O deputado Jair Bolsonaro não tem sido um campeão, ou
sequer um amigo da democracia no Brasil. Ele já chegou a
propor, recentemente, o fuzilamento do presidente da
República. Mas foi eleito gastando apenas R$ 3.000,00
como informa o TSE. Será que não lhe toca a consciência o
fato de que só a democracia pode permitir que tais coisas
aconteçam? Se há políticos que gastam milhões numa
eleição, um Bolsonaro consegue o mesmo mandato a
preços de liquidação com 99% de desconto.

No dia 12 de maio de 2001, o advogado juiz-forano,


Sebastião Osmar Ramalho, conseguia a publicação pelo
Jornal do Brasil de extensa carta emitida por ele, para a qual
o JB titulou de “A LRM [Lei de Remuneração dos Militares]
que engana”, onde é possível, em um pequeno trecho da
missiva, perceber o problema sempre apontado pelo
deputado Jair Bolsonaro:
(...) Sob a égide da anterior lei de remuneração, em
dezembro de 2000, quem foi descontado na quantia de R$
319,72, a título de Imposto de Renda, assustou-se em abril
de 2001, porque lhe foram descontados R$ 629,70, o que
representa, em termos de descontos, um aumento
escorchante de 96,95%. Segundo o deputado federal Jair
Bolsonaro, o ministro da Defesa e os comandantes das
Forças Armadas, além de não quererem se manifestar,
recomendaram aos militares que se abstiveram de fazer
quaisquer comentários a respeito da nova lei de suas
remunerações, principalmente no âmbito dos quartéis.
Aquele que no mês de dezembro/2000 teve, nos seus
vencimentos, descontada a importância de R$ 837,33, a
título de pensão alimentícia, neste mês de abril de 2001
teve inanição, porque o desconto, na mesma modalidade,
passou para o valor de R$ 1.263,63. Sugerindo a ideia de
um aumento abusivo, da ordem de 50,91%. (absurdo!).
Creio que estas citações, dentre muitas outras existentes,
já, até, comentadas, são bastante suficientes para
demonstrarem as razões da insatisfação dos militares das
Forças Armadas com as falsas, enganosas e prejudiciais
disposições contidas na Nova Lei das Remunerações
eivada de desajustes que os prejudicam sobremaneira.

Cabia ao deputado Bolsonaro enfrentar a situação,


pois a ele foi outorgado um mandato para defender, entre
outras coisas, a melhoria salarial para os militares. Às
vezes, as pessoas criticavam Bolsonaro por isso, dizendo
que ele tinha uma pauta única, mas há de se entender que
os militares, por terem ficado à frente do governo por tantos
anos e contrariado muitos interesses, eram perseguidos por
governos e parlamentares de esquerda que iam à forra e a
forma que tinham de fazer isto era justamente enfiando a
mão no bolso dos militares, para fazê-los curvar a espinha
pela pressão.
O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, era um
advogado e havia deixado a chefia da Advocacia-Geral da
União (AGU) para assumir o Ministério da Defesa. Embora
demonstrasse boa vontade em resolver o problema, ele
havia cometido alguns problemas com o governo ao
conseguir da área econômica um reajuste de 30% para os
militares, que deveria ser parcelado de duas vezes, mas sua
pasta esqueceu-se de contabilizar os aposentados e
pensionistas, causando um rombo não previsto nas contas
do governo e a segunda parcela foi adiada.
O deputado Jair Bolsonaro, entretanto, que cumpria o
seu papel de cobrar do governo uma solução, usou, no dia 3
de agosto de 2001, a tribuna da Câmara para “xingar” o
ministro da Defesa:
- Não entendo como o general Gleuber Vieira, um
homem sério, aceita tal imposição deste ministro canalha
chamado Geraldo Quintão, Geraldo “Apagadão”, este
postulão, que não entende nada da vida militar.
Bolsonaro iria ter outra trombada com o ministro da
Defesa Geraldo Quintão e, desta feita, na Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos
Deputados, em reunião que aconteceu no dia 5 de setembro
de 2001. E o assunto em pauta era um tanto espinhoso: a
proposta de acordo, feita pelo governo brasileiro, para os
Estados Unidos utilizarem a Base de Lançamento de
Alcântara, no Maranhão.
A missão do ministro da Defesa era, usando suas
habilidades de advogado, convencer os membros da
referida Comissão de que o acordo era favorável ao Brasil, o
que, definitivamente, não era aceito como verdade e, na
visão dos parlamentares, o acordo feria a soberania do
Brasil e já tinha recebido parecer contrário da Comissão.
Ressalte-se que essa avença bilateral, denominada
“Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil
e o Governo dos Estados Unidos da América sobre
Salvaguardas Tecnológicas Relacionadas à Participação
dos Estados Unidos nos Lançamentos a partir do Centro de
Lançamento de Alcântara” foi celebrada, em Brasília, no dia
18 de abril de 2000, mas de acordo com a Constituição
Federal (art. 49, I) o acordo precisava ser apreciado pelo
Congresso Nacional que, para ser aprovado, exige um
decreto legislativo assinado pelo presidente do Senado
Federal.
A polêmica em torno dos termos do referido Acordo31
envolvia cláusulas como a abertura de contêineres norte-

31O acordo foi encaminhado ao Congresso Nacional pelo presidente da


República, Fernando Henrique Cardoso, exatos doze meses após a sua
assinatura, por meio da Mensagem n.º 296, de 2 de abril de 2001,
americanos em solo brasileiro, proibição do uso de lucros
com lançamentos de foguetes para o programa aeroespacial
brasileiro, acesso à base restrito ao pessoal dos Estados
Unidos quando do lançamento de um foguete e
maleabilidade do acordo apenas quando fosse do interesse
dos Estados Unidos.
Entretanto, para o ministro da Defesa, Geraldo
Quintão, não haveria “nenhuma parcela de perda da
soberania, ínfima, centesimal” que pudesse haver nos
termos do acordo, dando como exemplo acordo semelhante
firmado entre a Rússia e a China.
Em sua intervenção, o deputado Jair Bolsonaro disse
ao ministro que ele tinha um passado de “advogado de
banqueiros [ele foi advogado do Banco do Brasil] e perfil
nota 10 para os interesses americanos”, o que deixou
Quintão bastante irritado. Mas Bolsonaro não ficou apenas
nisso, aproveitou da oportunidade para fustigar o ministro
em relação à questão remuneratória dos militares.
Jair Bolsonaro então apresentou seu contracheque
militar para o ministro demonstrando que a remuneração
havia diminuído. E emendou “O desejo do ministro deve ser
que o soldado almoce capim”.
Aí o tempo fechou de vez, com bate-boca agressivo
entre os dois, tendo o presidente da Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional de intervir e pedir que o
deputado se calasse para que o clima voltasse a permitir a
continuidade da audiência.
Criado o ambiente, o ministro da Defesa respondeu às
indagações de Bolsonaro, mas não deixando de cutucar a
fera com vara curta:

acompanhada da Exposição de Motivos Interministerial n.º 68 MRE-MCT-


MD, assinada em 23 de março, ou seja, dez dias antes do envio da
matéria ao Parlamento. O Acordo foi recebido, na Comissão de Relações
Exteriores e de Defesa Nacional, em 8 de maio de 2001, data em que o
então deputado federal Waldir Pires foi designado relator da matéria.
Depois de muita discussão na CREDN, o projeto, com muitas
modificações e ressalvas, foi aprovado na Comissão, com voto contrário
do deputado Jair Bolsonaro. Este acordo tramitou no Congresso Nacional
até 2016, quando o presidente Michel Temer solicitou a retirada da
Mensagem n.º 296 de tramitação.
- Alguns salários foram reduzidos, porque esses
militares pagavam baixíssimas pensões alimentícias às ex-
mulheres, com base no soldo, que era a menor parte do
rendimento. Com a criação do soldão, a pensão alimentícia
aumentou. Isso foi justo com as mulheres que ganhavam
muito pouco e, neste caso, interesses pessoais estavam
sobrepujando os da categoria, ironizou o ministro da Defesa
em referência ao irrisório desconto de pensão alimentícia
que vinha sendo feito no contracheque do capitão
Bolsonaro.
Mas a gota d’água foi quando Bolsonaro chamou
Quintão, de “despreparado”. O ministro deu um murro na
mesa e esbravejou:
- Não posso aceitar ser ofendido assim. Não sou
nenhuma barata. É a segunda vez que este deputado me
dirige injúrias e difamações. E depois de fazer os ataques,
ele manda retirar nas notas taquigráficas as agressões para
que não exista registro e não possa haver pedido com o
objetivo de ele ser processado. Sou homem de enfrentar
todas as dificuldades, mas isso é uma covardia. Não me
escondo na imunidade parlamentar, que mais parece
impunidade.
Enquanto o ministro reclamava, Jair Bolsonaro ria
ironicamente, o que suscitou novo ataque por parte de
Quintão “Não adianta rir, deputado. Não sou nenhuma
barata e estou me defendendo”.
Em 2002, o deputado Jair Bolsonaro tentou emplacar
modificação na legislação penal, reduzindo a maioridade
penal. No dia 6 de junho, a esquerda colocou nas galerias
da Câmara dos Deputados mais de 500 meninos e meninas
de rua vestidos com camiseta com a frase “Não à Redução
da Idade Penal”.
Ao defender a redução da maioridade penal, o
deputado Jair Bolsonaro foi vaiado pela claque levada pela
esquerda. A garotada ficou de costas para a tribuna,
enquanto Bolsonaro discursava.
Nas eleições de outubro de 2002, Jair Bolsonaro
(PPB) foi reeleito para a Câmara dos Deputados com
88.945 votos.32 Ele, entretanto, teve 13.948 votos menos
que nas eleições de 1998, mas isto se justifica porque
outros militares de peso entraram na disputa eleitoral, já que
a meta da “família militar” era ampliar a representatividade
da categoria em Brasília.
Jair Bolsonaro, quem diria, apoiou Lula nas eleições
presidenciais de 2002 e também apoiou o nome de Aldo
Rebelo (PCdoB-SP) para ocupar o cargo de Ministro da
Defesa. “É um nome excelente, e é nacionalista”, afirmou o
deputado federal Jair Bolsonaro.
Mas não foi somente isso que fez diminuir a votação
de Bolsonaro; o general Gleuber Vieira, a quem Bolsonaro
gostava de atacar da tribuna da Câmara e em suas
entrevistas à imprensa, determinou que os onze mil militares
da ativa que faziam a segurança nas eleições não fossem
votar, diminuindo, por consequência, o total de votos
recebidos nas urnas.
Bolsonaro iria encarar com a mesma disposição o seu
quarto mandato na Câmara dos Deputados, desta vez, o
governo seria petista do presidente Lula, a quem não tinha
apoiado na campanha presidencial.
Em 2002, o deputado Jair Bolsonaro passou a ter
boas relações com o ex-ministro do Exército, general
Leônidas Pires Gonçalves, a quem passou a considerar
como um amigo e com quem teve muitas e boas conversas,
inclusive em sua casa, também no Rio de Janeiro.

32 Flávio Bolsonaro (PPB), na época com 20 anos, foi eleito deputado


estadual do Rio de Janeiro, com 31.293 votos. Em retribuição ao apoio
recebido do pai para a sua campanha, Flávio mandou tatuar no braço
esquerdo o rosto de Jair Bolsonaro.
Uma luta sem fim contra a perda de direitos
Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a
repressão, os assassinatos, mas também pela existência de
extrema pobreza e estruturas econômicas injustas, que
originam as grandes desigualdades.
(Papa Francisco - Jorge Mario Bergoglio)

O deputado Jair Bolsonaro começou o seu quarto


mandato mudando de partido. Deixou o PPB, que aderiu à
candidatura de Lula nas eleições de 2002 -, e se filiou ao
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Embora o PTB também
estivesse na base de apoio do governo petista, Bolsonaro
se transferiu para o partido, avisando que continuaria
inabalável em sua linha de ação: o Partido não mandaria em
suas convicções políticas e ele votaria a favor de projetos do
governo apenas quando este representasse, de fato,
ganhos para a sociedade.
Lula deu início ao seu governo oferecendo benesses
aos partidos que fossem integrar a sua base de apoio
parlamentar, no chamado “Governo de Coalisão”.
Por exemplo, ao deputado Jair Bolsonaro, recém-
chegado no PTB, foi dado a oportunidade de indicar o novo
diretor para o Aeroporto de Macaé.
Bolsonaro, porém, não concordou e justificou com a
imprensa:
- Não estou encabrestado com Lula. Eu declinei de
fazer indicação, porque sou autônomo. Tenho mágoa do PT
e não vou votar com o governo. Não adianta o PT vir pra
cima de mim e oferecer cargo, para eu mudar meu voto.
Meu voto não tem preço.
No dia 8 de abril, o deputado teve seu artigo
“Previdência Militar” publicado pelo Jornal do Brasil, que
vale a pena ser transcrito:
A bem da verdade, o militar nunca contribuiu para a
Previdência. Sempre foi, e ainda é de total responsabilidade
da União, o pagamento dos proventos dos militares. A não
contribuição vem acompanhada de renúncia de direitos
comuns aos demais trabalhadores, como, por exemplo, o
fundo de garantia, horas extras, sindicalização, greve,
habeas-corpus, livre manifestação de pensamento, férias
programadas, filiação político-partidária, local para servir e
tantos outros.
Sua remuneração, ao longo da história, sempre foi aquém
de seus pares do Legislativo e do Judiciário e isso era
recompensado por ocasião de sua passagem para a
reserva remunerada, quando lhe eram concedidos
proventos calculados sobre o soldo do posto ou graduação
imediata, benefício retirado pelo governo anterior, sem
qualquer transição, até mesmo para aqueles que, à época,
tinham mais de 29 anos de tempo de serviço.
Costumo dizer que a carreira militar é tão rica em
“privilégios” que desconheço existir um só deputado,
senador, ministro ou governador com um filho da carreira
das armas. FHC, Berzoini, Aloísio Mercadante e José
Viegas, filhos de militares, talvez por bem conhecerem a
profissão de seus pais, não seguiriam suas carreiras.
A proposta do fim da contagem do tempo de serviço dos
cadetes e das escolas de formação de sargentos, bem
demonstra o total desconhecimento da profissão por parte
daqueles que querem reformar, a qualquer preço, a
previdência militar.
O que esses jovens aprendem naquelas escolas somente
pode ser usado na carreira militar. Que utilidade teriam para
uma empresa privada os conhecimentos de uma aspirante a
oficial de Infantaria, Cavalaria ou Artilharia? Para se reparar
a insanidade do possível fim da contagem desse tempo
universitário de aprendizado, facultar-se-ia a esses jovens
estudantes “militares” o direito de contribuir, como
autônomos, para a Previdência? Nessa nova situação, o
estudante “militar” não poderia ser regido pelo Estatuto dos
Militares, bem como não poderia ser punido pelo
Regulamento Disciplinar, já que não seria militar. Um novo
Exército estaria nascendo sem os alicerces da hierarquia e
da disciplina.
A pensão das filhas, que já está em transição desde
dezembro/2000, vem sendo tratada de maneira simplista
por quem também desconhece a origem da Lei das
Pensões.
Instituída em 1795, com o nome de montepio militar, a atual
pensão militar tem o percentual de desconto de 9% da
remuneração bruta. A filha é uma das beneficiárias da
pensão. Deve ficar consignado que o militar contribui,
obrigatoriamente, para a pensão militar até a data de seu
óbito, ou seja, mesmo após ingressar na inatividade.
O atual governo deveria mandar os seus técnicos lerem,
não só o Acórdão 21.707/95, do STF, que garante às atuais
filhas, órfãs de pais se habilitarem às suas pensões após o
falecimento de suas mães, já que a legislação a ser
observada para sua concessão é aquela vigente na data do
óbito do militar e não a da viúva, bem como a sentença em
Ação Direta de Inconstitucionalidade concedida pelo
Supremo Tribunal Federal, em julho/1993, onde foi
restabelecido o direito das filhas voltarem a se habilitar à
pensão de seus pais, que havia sido, de forma abrupta,
cassada, em 1991, pelo governo Collor.

Lula mandou para o Congresso projetos de lei


propondo as reformas da Previdência e Tributária, constante
preocupação de todos os governos, já que não se consegue
avançar o suficiente, diante de interesses de políticos e
Partidos, que sempre estão acima dos interesses do País.
O deputado Jair Bolsonaro, em encontro de membros
do PTB com o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, foi
categórico ao afirmar “Eu voto contra e saio se o partido
fechar questão”.
O deputado Jair Bolsonaro, que integrava a Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados -
através da ação do líder do PTB, deputado Roberto
Jefferson (RJ) - foi substituído por discordar dos termos
propostos pelo relator da Reforma Tributária, deputado
Osmar Serraglio (PMDB-PR) e que deveria ter seu mérito
apreciado pela Comissão, que também analisaria a proposta
de Reforma Previdenciária, cuja Relatoria estava a cargo do
deputado Maurício Rands (PT-PE).
O Jornal do Brasil, no dia 25 de maio, publicou
mensagem enviada à redação pelo advogado carioca
Ricardo M. Haddad, contrário às substituições de membros
da Comissão de Constituição e Justiça:
Além de substituir seus dois membros da Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara, que eram contra a
Reforma da Previdência, o PT conseguiu também substituir
os parlamentares do PTB, Jair Bolsonaro (RJ) e Antônio
Fleury Filho (SP), que haviam manifestado contrariedade
com alguns pontos da mesma reforma. Substituir
parlamentares do próprio partido ainda seria tolerável, mas
à medida que o PT consegue substituir membros de outros
partidos fica claro que o governo não aceita o pluralismo,
enquadrando quem quer que seja pelo uso da força, no
caso de seus partidários, ou do fisiologismo no caso de
parlamentares de outros partidos.

No dia 10 de junho, Bolsonaro usou a tribuna da


Câmara para, mais uma vez, defender recursos para as
Forças Armadas:
- (...) No Exército, 50% dos veículos, inclusive
blindados, completaram 20 anos de uso. Na Aeronáutica,
70% dos aviões não voam por falta de combustível. Nas três
Armas, o soldo dos recrutas é 40% inferior ao salário
mínimo. Desse jeito, é melhor extinguir as Forças Armadas.
(...)
A imprensa, por saber que as posições de Bolsonaro
tinham penetração em grande parte da sociedade - sempre
firme no combate à corrupção e a violência, embora
algumas vezes pregando o extremismo, como fuzilar o
presidente da República –, vez ou outra publicava fatos
mínimos que se achava ser notícia, como fez no dia 4 de
julho, o grande jornalista Aziz Ahmed, em sua coluna
“Confidencial” do Jornal do Commercio:
Não se sabe se com anuência do secretário da Casa,
vereador Ivan Moreira (PFL), o deputado federal Jair
Bolsonaro transformou o gabinete do filho, vereador Carlos
Bolsonaro, em escritório político. Nele atende eleitores
todas as sextas-feiras, das 9 às 17 horas.

No dia 8, Aziz Ahmed teve que dar espaço para os


reclames do filho de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, que
aproveitou para ampliar a propaganda. Ahmed, contudo,
resolveu ser sarcástico, ao titular o recado do filho de Jair
Bolsonaro como “Meu Papai”:
O titular desta coluna recebeu do vereador Carlos
Bolsonaro o seguinte e-mail: “Agradeço por divulgar, no dia
4 último, o trabalho de atendimento aos eleitores feito pelo
meu pai, o deputado federal Jair Bolsonaro, no meu
gabinete, às sextas-feiras, de 9 às 17 horas. Gostaria que
divulgasse que o meu pai também atende às segundas-
feiras, na Alerj, no mesmo horário, no gabinete 311, do meu
irmão, o deputado estadual, Flávio Bolsonaro”.

Já no final da sua coluna Confidencial do dia 13 de


junho de 2003, Aziz Ahmed escreveu sobre Jair Bolsonaro,
em Inconfidências – notas finais de sua coluna: “Do
deputado Jair Bolsonaro (PTB-RJ) tendo um acesso de
vaidade na Comissão de Segurança Pública: sou mais
bonito do que muita gente que tem dinheiro aqui na
Câmara”.

Protesto comandado por pelo deputado Jair Bolsonaro contra o PT


em votação da Reforma da Previdência. Crédito: Jornal do
Commercio (6/10/2002)

Fato que demonstra bem como funcionam as


negociatas no Congresso Nacional pôde ser visto quando se
discutiam mudanças na Previdência Social. Foi criada, para
isso, uma Comissão Especial da Reforma da Previdência,
sendo que o PTB - de Roberto Jefferson -, ao qual Jair
Bolsonaro estava filiado, tinha direito a três assentos na
Comissão.
Como Roberto Jefferson não conseguiu “barganhar”
com o governo, decidiu indicar três deputados de seu
partido que eram contra as medidas propostas pelo governo
petista, especialmente a taxação dos inativos: Antônio
Fleury Filho, Arnaldo Faria de Sá e Jair Bolsonaro. Mas na
hora de votar a reforma - já com os arranjos escusos
firmados com o governo -, Roberto Jeferson substituiu o trio,
tendo ele próprio ocupado uma das vagas. As demais foram
destinadas aos deputados José Carlos Martinez e Iris
Simões.
Com o apoio do PTB e outros partidos aliados
(”comprados”), no dia 23 de julho, o governo conseguia a
primeira vitória na reforma da Previdência, com a
aprovação, pela Comissão Especial da Câmara, do parecer
apresentado pelo deputado petista José Pimentel (CE).
E Jair Bolsonaro não perdeu a oportunidade de atacar
o governo:
- Meu voto não tem preço e não adianta o PT me
oferecer cargos. Eu não compactuo com traições. “Toma-lá-
dá-cá”, é assim o Governo de Lula.
Mas, durante uma das sessões de apreciação da
Reforma da Previdência, Jair Bolsonaro, considerado o mais
radical da Direita, foi flagrado conversando amistosamente
com o deputado federal paraense, João Batista, o Babá (PT-
PA) considerado o extremista da Esquerda, e a turma não
deixou por menos ao entoar o “beija, beija, beija”.
Em 23 de agosto de 2003, o Brasil iria sofrer um golpe
arrasador e que foi, praticamente, a “pá de cal” em suas
pretensões de ter um foguete lançador de satélites, com a
explosão do VLS V03 (Veículo Lançador de Satélites -
protótipo versão 3) na Base de Lançamento de Alcântara,
no Maranhão, ocasião em que morreram 29 técnicos do
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) ligado ao
Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica.
Logo depois desta lamentável e trágica ocorrência,
muito se especulou sobre o motivo da explosão, que
somente teria um esclarecimento aceitável, do ponto de
vista técnico e pericial, depois de uma profunda investigação
conduzida pela Aeronáutica, com apoio de técnicos russos.
Mas até lá prevalecia a tese de que teria sido uma
ação de sabotagem conduzida pelo governo americano, que
todos sabiam não apoiar o desenvolvimento de um foguete
de longo alcance pelo Brasil, principalmente pelo seu
histórico de querer o desenvolvimento de uma bomba
atômica.
O deputado Jair Bolsonaro usou da tribuna da Câmara
dos Deputados, no dia 27 de agosto, para falar sobre a
situação caótica do Exército Brasileiro, que não mais
conseguia ser atrativo para jovens da classe média e
parecia ter se tornado apenas fonte de emprego para
pobres, já que os salários eram baixos e, somente que
precisava muito é que se sujeitava àquela situação.
E aproveitou o gancho para relacionar a situação do
Exército com outro tema, igualmente preocupante, que era o
acidente ocorrido quatro dias antes, na Base de
Lançamento de Alcântara: “Vejam o caso de Alcântara, em
que pese o empenho, sacrifício e dedicação daqueles
homens. Lamentamos a morte deles”.
Já falando para a imprensa, que lhe perguntou sobre o
que achava das investigações sobre a explosão do foguete,
Bolsonaro respondeu:
- Não vão apurar, pois se o fizerem e aparecer o
responsável, será difícil de ser encarado. É bicho grande,
tipo águia [referência aos Estados Unidos].
No dia 16 de setembro, Bolsonaro voltou a ocupar a
tribuna da Câmara, desta feita para disparar sua
metralhadora giratória contra diversos alvos. Ele teve uma
violenta troca de insultos com o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Eduardo Greenhalgh (PT-SP), ao
condenar a passeata realizada no fim de semana no Rio de
Janeiro em defesa do desarmamento da população e
defendeu o assassinato de Yasser Arafat, então presidente
da Organização para a Libertação da Palestina (OLP):
“quando o [Yasser] Arafat for pelos ares, dou uma festa em
minha casa”.
Depois, Bolsonaro passou a atacar os líderes do MST,
José Rainha Júnior e sua esposa e, novamente, disse para
o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh - que era relator do
Estatuto do Desarmamento -, que ele era “o grande
defensor de bandidos e marginais” e perguntou: “como pode
um advogado de sequestradores propor o desarmamento?”.
E para por mais lenha na fogueira, dois assessores de
Jair Bolsonaro desfilavam pelo plenário da Câmara com
camisetas estampando a frase: “O defensor dos
sequestradores quer desarmar o cidadão honesto. Tem
moral para isto?”, em referência a Greenhalgh ter defendido
os sequestradores de Abílio Diniz (1989).
E claro, o deputado Greenhalgh devolveu os
impropérios e a coisa só não ficou pior, porque a turma-do-
deixa-disso entrou em cena:
- Agora, ocupa a tribuna para atacar um colega de
parlamento dizendo que sou advogado de marginal; trata-se
de uma baixaria mesmo, de injúria, de calúnia, de
impropério, de ofensa pessoal e só vou ser advogado de
bandido quando for chamado a defendê-lo.
Mas polêmica sempre foi um prato cheio para Jair
Bolsonaro.
Por exemplo, no dia 11 de novembro de 2003, o
deputado Jair Bolsonaro e a deputada petista Maria do
Rosário, se agrediram verbalmente no Salão Verde da
Câmara dos Deputados e por pouco não acabou em “vias-
de-fato”. Tudo, porque, Bolsonaro, que estava dando uma
entrevista à Rede TV, expressou seu apoio, por demais
conhecido, de redução da maioridade penal e a deputada,
que aguardava sua vez para falar com a repórter,
interrompeu Bolsonaro, antes que ele acabasse a entrevista.
- Se a senhora é contra a redução da maioridade
penal, pega aquele estuprador de São Paulo [Champinha,
que matou um casal de estudantes em Embu] e leva para a
sua casa.
- O senhor é que promove essas violências.
- Eu que promovo estupros?
- É! O senhor promove sim.
- Grava aí que eu promovo estupros. Grava aí.
- É o senhor. Eu tô vendo isto.
- Grava! Grava aí que eu sou estupra...
- Quem defende a violência é o senhor!
- Eu sou es-tu-pra-dor agora?
- É. É.
- Olha: eu jamais iria estuprar você porque cê não
merece.
- Olha: eu espero que não...
- Se é esse... Se é esse o papo...
- Porque senão eu lhe dou uma bofetada...
- Dá que eu te dou outra. Dá que eu te dou outra!
[empurrando a deputada]
- Mas que barbaridade!...
- Dá que eu te dou outra!
- O senhor tá me empurrando!?
- Dá que eu te dou outra.
- O senhor tá me empurrando!? Que é isso?
- Dá que eu te dou outra!
- Olha aqui seu segurança!
- Tá? Dá que eu te dou outra.
- Mas, o que é isso? Mas, o que é isso?
- Cê me chamou de estuprador?
- Desequilibrado! Desequilibrado!
- Vagabunda!
- Mas, o que é isso? O que é isso? O que é isso aqui?
Desequilibrado! O que é isso, desequilibrado?
- Ah... Vai dizer agora que você é uma coitada, agora?
- Mas o que é isso? Mas o que é isso? Mas o que é
isso? Mas o que é isso?
- A sua família é que é de estuprador de menores. A
sua família...
- Mas o que é isso? Mas o que é isso? Mas o que é
isso?
- Ainda bem que ela gravou tudo ali...
- Mas o que é isso?
- Chora agora! Chora agora! Chora!
Maria do Rosário saiu do Salão Verde chorando e
depois representou na Comissão de Ética da Câmara dos
Deputados contra o deputado Jair Bolsonaro, que acabou
não dando em nada, porque a própria Comissão, depois de
ver várias vezes a gravação da indecorosa contenda verbal,
entendeu que fora a deputada petista a causadora da
confusão, ao interromper a entrevista.
Uma leitora do Correio Braziliense, residente na SQN
210 e identificada pelo nome de Célia Flores Gangl, teve
uma carta sua publicada no dia 16 de novembro de 2003, na
seção de Cartas ao Redator, onde falou sobre o tema:

Lamentável o bate-boca entre os deputados Jair Bolsonaro


e Maria do Rosário, noticiados no CB. Uma discussão
civilizada, com argumentos objetivos e pertinentes seria
mais apropriada e produtiva. Ambos foram deselegantes. E
são essas pessoas que escolhemos para nos representar.
Recomendo aos nobres deputados a leitura de Voltaire
(“não estou de acordo com você, porém defenderei até a
morte seu direito de expressar sua opinião”). Soube que as
aulas de boas maneiras votarão às escolas. Já era tempo.

O maior problema desse embate verbal se verificava


porque a deputada Maria do Rosário era relatora da CPI da
Exploração Sexual e, durante uma blitz em Porto Alegre
(RS), com participação de membros da referida CPI, ela
flagrou seu cunhado com outro homem em um carro com
duas meninas.
E por isso, Bolsonaro disse à jornalista que o
entrevistava “Ela é uma petista recalcada. Estuprador é o
cunhado dela”. Em sua defesa, o deputado disse que Maria
do Rosário o chamou de estuprador e quis dar-lhe um tapa.
No dia 13 de novembro de 2003, o Partido dos
Trabalhadores encaminhava à Mesa Diretora da Câmara
dos Deputados, uma representação contra Bolsonaro,
pedindo que fosse apurado o que havia acontecido na
discussão entre ele e a deputada petista Maria do Rosário
(RS) no Salão Verde da Câmara.
O líder do PT, deputado Nelson Pellegrino (BA)
afirmou, na representação, que Bolsonaro havia ofendido a
deputada verbalmente e a agredido, pelo que, requeria a
sua submissão ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
No dia 10 de dezembro, seria outro dia daqueles...
O ministro da Defesa, José Viegas, compareceu à
Comissão de Assuntos Exteriores e Defesa Nacional,
convocado pela presidente da Comissão, Zulaiê Cobra -
advogada criminalista e deputada federal pelo PSD paulista
– para dar explicações sobre os baixos soldos dos militares,
que havia sido denunciado pelo deputado Jair Bolsonaro,
que afirmou à Comissão que um recruta do Exército
ganhava apenas R$ 153,00 [o salário mínimo vigente era de
R$ 240,00] e que isto estava, infelizmente, levando os
praças à prática de “assaltos a supermercados para matar a
fome”.
Jair Bolsonaro, indignando-se com a fala do ministro,
que demonstrou não ser prioridade do governo o reajuste
salarial para os militares, lembrou a manifestação anterior
do deputado José Dirceu para que fossem encontrados os
ossos dos guerrilheiros do Araguaia mortos na ditadura e
tascou: “Quem vai atrás de osso é cachorro”, frase cunhada
pelo major Sebastião Curió, que integrou força do Exército
que combateu a guerrilha do Araguaia.
O ano de 2003 chegava ao fim, mas a contenda verbal
entre o deputado Jair Bolsonaro e a deputada Maria do
Rosário (PT-RS) ainda iria durar muito tempo, embora
pudesse ter sido evitada. A jornalista Arlete Salvador, do
Jornal do Commércio, em sua coluna do dia 14 de
novembro, deu o tom neutro do que foi a disputa entre os
parlamentares:
A briga entre os deputados Maria do Rosário (PT-RS) e Jair
Bolsonaro (PTB-RJ), pode terminar empatada. A
Corregedoria da Câmara já viu e reviu as imagens da
discussão entre os dois, que aconteceu no Salão Verde da
Casa e foi gravada por várias emissoras de televisão.
As imagens mostram que houve ofensas graves dos dois
lados. Foi a deputada, aliás, quem começou a discussão,
interrompendo uma entrevista do colega. A tendência é
haver advertência aos dois. A deputada Yeda Crusius
(PSDB-RS) também chegou a sugerir que ambos pedissem
desculpas, como forma de contribuição ao resgate da
credibilidade do Legislativo.

Indiferente aos entreveros com a deputada Maria do


Rosário, o deputado Jair Bolsonaro continuava a sua luta
diária para mobilizar as mulheres dos militares na defesa de
melhores salários para a tropa, em reuniões onde
compareciam também alguns militares. A ideia era reeditar o
panelaço feito em 1992, na Esplanada dos Ministérios,
desta vez com cerca de quatro mil manifestantes, pois, para
Bolsonaro, a adesão de possíveis manifestantes havia
aumentado muito, com o arrocho salarial imposto pelo
governo.
O “Povo exigiu militares no poder” foi o título do artigo
do deputado Jair Bolsonaro no Jornal do Brasil, edição do
dia 21 de março de 2004, que publicava visões diferentes
sobre o Regime Militar, numa série de reportagens intitulada
“Olhares sobre 1964”:
Marx escrevia contra os patrões que abusavam
sexualmente de suas empregadas, mas pôs para fora de
casa o próprio filho, que havia gerado na sua doméstica
Helen Demuth. Marx e a esquerda brasileira são filhos do
mesmo pai, bastardos.
Por 20 anos, pregaram mentiras ao sofrido povo brasileiro,
e quando chegaram ao poder, sua primeira vítima foi o seu
mais leal aliado: os servidores públicos. A esquerda
fracassou no início de 1960, pois contra o exemplo da
China de Mao em 1949 e Fidel Castro em 1959 faltou-lhes o
inestimável apoio popular. O povo e a Igreja Católica, em
marcha, exigiram que os militares assumissem o comando
do Brasil para pôr um basta na corrupção e desordem
patrocinadas pelos que hoje estão no poder. Desesperados,
partiram para a luta armada. Muitos com curso de tortura e
guerrilha na China e Cuba, na clandestinidade,
disseminaram o terror. Só os tolos poderiam acreditar que
esses países totalitários queriam patrocinar uma
democracia no país. A Vanguarda Popular Revolucionária
(VPR), tendo como um de seus mais ativos integrantes o
atual ministro José Dirceu, em 1968, lançou ladeira abaixo
um carro-bomba no QG do II Exército, em São Paulo, que
ao explodir, despedaçou o pobre recruta Mário Kozel Filho,
bem ao estilo do grande assassinato do nosso embaixador
Sérgio Vieira de Mello, em Bagdá.
Os militares, em 1964, evitaram que se instalasse uma
ditadura totalitária a exemplo de Cuba, hoje chamada de
democrática pelo presidente Lula.
A luta armada não prosperou e, graças aos militares que
aniquilaram a Guerrilha do Araguaia, hoje não temos no
coração do Brasil uma Farc, a exemplo da nossa vizinha
Colômbia.
Os poucos remanescentes dessa guerrilha, hoje brindados
com indenizações milionárias e pensões na faixa de 10 mil,
ainda posam de heróis junto à mídia ou glorificam seus
mortos, como o caso do médico Carlos Hass, que atendia e
fornecia gratuitamente medicamentos à população carente
naquela inóspita região. Contudo, os recursos para seu
trabalho vinham de sequestros e assaltos nos grandes
centros do Brasil, bem como de países que nunca sequer
ouviram falar de democracia. Hass foi tão herói como hoje o
é o traficante do nosso Estado, que atende com obras
sociais muitas favelas do Rio.
Assim como o povo humilde do Araguaia de ontem, os
favelados de hoje continuam sendo usados para que
espertalhões e crápulas alcancem seus objetivos pessoais.
Hoje, talvez seja o único a dizer que Waldomiro Diniz,
amigo íntimo do terrorista José Dirceu, com seu flagrante de
deslavada corrupção, deu um freio na esquerda, que
persegue há mais de 40 anos o sonho de uma ditadura de
paredão em nosso país.

No dia 24 de março, o jornalista José Vantini, morador


de Petrópolis (RJ), teve sua carta ao editor publicada pelo
Jornal do Brasil, onde afirmava que “O deputado Jair
Bolsonaro, em seu artigo sobre a série Olhares sobre 1964,
disse tudo que o povo brasileiro honesto, trabalhador e
responsável queria ouvir. Nunca me arrependo do voto que
lhe dou”.
O leitor fluminense, Heitor R. Ferreira, também emitiu
posição favorável ao artigo de Jair Bolsonaro, que o jornal
deu publicação no dia 30 de março:
Parabenizo o Jornal do Brasil pela ótima iniciativa de
Olhares sobre 1964, ano de importância crucial para a
nossa história. Gostaria, em especial, de parabenizar o
deputado Jair Bolsonaro (PTB-RJ) por sua contribuição no
capítulo 5 – Povo exigiu militares no poder – em particular, a
passagem do nosso primeiro-ministro José Dirceu,
relembrando parte de sua vida na Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR), assim como os atos praticados por
esta, mostrando-nos o que esses homens sérios (José
Dirceu, Waldomiro Diniz e outros) são capazes de fazer.
Muito obrigado pela leitura prazerosa que o JB vem me
proporcionando.
Mas nem tudo eram somente elogios. Por exemplo, o
leitor fluminense, Juvenal Ferreira Fortes Filho, teve sua
mensagem publicada pelo Jornal do Brasil:
A série de reportagens a respeito do movimento militar de
1964 é daquelas iniciativas que não merecem ressalva, mas
com o convite ao Sr. Jair Bolsonaro é quase uma agressão
à sensibilidade do leitores do JB. Com tantas figuras
civilizadas da direita brasileira em condições de escrever
sobre o golpe militar, sem agredir os fatos e as pessoas, o
JB convida tal figura. Seu escrito tira a seriedade que um
empreendimento jornalístico deste nível requer. Como leitor
cotidiano do JB, há mais de 40 anos, sinto-me agredido.
Registro minha indignação, pois considero que a direita
deve e pode se manifestar, mas por meio de pessoas
civilizadas e com conhecimento sobre o assunto, e não para
dizer asneiras. Surpreende-me um jornalista do nível de
Augusto Nunes aprovar tal barbaridade.

O jornalista e escritor alagoano, mas radicado no Rio


de Janeiro desde 1974, Rubem Mauro Machado, também
protestou contra o artigo assinado pelo deputado Jair
Bolsonaro para a série Olhares sobre 1964, tendo sua
mensagem publicada pelo Jornal do Brasil no dia 28 de
março:
A respeito da série Olhares sobre 1964, parabéns a Denise
Assis e equipe. A série prova que a imprensa pode e deve
ultrapassar a mera função informativa, para chegar à
formativa. No artigo do deputado Jair Bolsonaro (21/3),
Povo exigiu militares no poder, se lê que o povo, ao lado da
Igreja, em marcha, exigiu que “os militares assumissem o
comando do Brasil”.
Como não é a primeira vez que tal afirmação é divulgada,
impõe-se que a verdade seja restabelecida, principalmente,
em atenção às novas gerações que não viveram aquele
período negro. O governo João Goulart tinha amplo apoio
popular, num quadro político extremamente polarizado. O
apoio ao golpe foi apenas de parcela da classe média,
insufladas por setores reacionários da Igreja e pelo
udenismo histérico, sobretudo o lacerdista, que, desde
1950, não fazia senão sonhar em obter pelo golpismo, o
que nunca pudera conseguir pelo voto popular. Essa soma
não faz “o povo”, na verdade, a grande vítima da
quartelada.
O senhor Bolsonaro cai no humorismo involuntário, quando
afirma que os militares evitaram, em 1964, que o Brasil
caísse numa “ditadura totalitária”. Como bem disse Simone
de Beauvoir, a propósito da direita: “A pretexto de salvar a
democracia, ela sempre começa por suprimi-la”. É patente o
tom de revanchismo raivoso do artigo. Sorry, deputado, se o
regime de seus sonhos acabou. Mas, como ensina a
História, toda tirania trás nos eu bojo o selo inexorável do
prazo de vencimento.

A jornalista Belisa Ribeiro, que assinou a coluna


Informe JB do dia 31 de março, começou falando sobre o
“Choro da baioneta”, não deixando de dar uma estocada no
deputado-capitão Bolsonaro:
Hoje, data convencionada pelos militares como dia da
Revolução, consagrada como golpe, os caçadores se
manifestam. Em nada intimidados pelo tanto de debates
que deram voz aos cassados e caçados, pela manhã
colocam cruzes na rampa do Congresso, em memória dos
colegas mortos durante conflitos com os que partiram contra
a luta armada. São do mesmo grupo que, á noitinha, em
Igreja da Capital, reza na missa “em ação e graça pelo 40.º
aniversário da Contrarrevolução de 41 de março de 1964”.
Reservistas, na maioria, fundaram – numa referência ao
Tortura Nunca Mais, criado por ex-presos políticos – o
Ternuma – Terrorismo Nunca Mais, para “opor-se aos que
teimam em defender referenciais comunistas”.
Vestindo camisetas pretas com os dizeres “Não temos nada
a perder”, se juntarão a eles, domingo, o deputado Jair
Bolsonaro e outros militares da reserva, em manifestação
na Praça dos Três Poderes. A palavra de ordem é bem
menos ideológica – aumento. Com promessa de serem
recebidos pelo ministro da Defesa, José Viegas, pedem
20% de reposição salarial e votação da MP de
reestruturação da remuneração da classe que, esperando
há três anos e três meses, e já tem 843 emendas.
Bolsonaro morde e assopra:
- Se o Araguaia não tivesse existido, teríamos hoje uma
Farc. Mas quando um sargento ganha três vezes menos
que um agente da PF, o pessoal fica preocupado é com o
futuro. Com o passado, todos nós, militares u não,
sofremos.
Deveria ser apenas um evento cívico mensal, mas a
troca da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes,33 em
Brasília, no dia 4 de abril de 2004, foi bem diferente. Como
sempre acontece, no primeiro domingo do mês, as Forças
Armadas (Aeronáutica, Marinha e Exército) e Polícia Militar,
se revezam na troca e hasteamento da bandeira, um dos
mais significativos símbolos da Pátria.
E, por isso, “é uma forma de manter acesa a chama do
civismo e incentivar o culto aos símbolos nacionais”, como
define o Palácio do Planalto. Durante a solenidade, ocorrem
desfiles militares e uma salva de canhões, sendo aberto ao
público em geral.

De luto, mulheres do militares pediram aumento de 30%


crédito: Jornal do Brasil (5/4/2004)

Mas no dia 4 de abril de 2004, Jair Bolsonaro


aproveitou para levar ao local da cerimônia cerca de mil
pessoas, entre militares da reserva e familiares de militares,
para cobrar do governo o reajuste dos militares. Quase

33 Permanentemente hasteada a 100 metros do chão, a bandeira mede


286 metros quadrados e está presa a um mastro especial. Com 24 hastes
metálicas, o mastro foi construído como símbolo de diálogo e de
convergência de todas as unidades da federação e dos três poderes da
República. Na base do mastro, está escrito: “Sob a guarda do povo
brasileiro, nesta Praça dos Três Poderes, a Bandeira, sempre no alto –
visão permanente da Pátria”. Fonte: Portal Planalto.
todos os participantes trajavam luto, usando camisetas
pretas com a inscrição “Nada mais temos a perder –
Militares das FFAA”
Este ato estava sendo preparado já há algum tempo,
inclusive com uma manifestação “de ensaio” realizada no
dia 2 de abril, na 102 Norte, para que o panelaço do
domingo fosse coroado de sucesso.
As cerca de mil mulheres presentes pediam aumento
salarial para os maridos de, no mínimo, 30%. Segundo uma
das manifestantes, Claudia Nice Ferreira, a iniciativa tinha
vindo em ótima hora, porque a situação das famílias dos
militares podia ser considerada desesperadora.
- Estamos numa situação terrível. As mulheres têm de
largar os filhos em casa para procurar trabalho, porque não
dá para viver com os salários dos maridos, afirmou Claudia,
mãe de quatro filhos.
O cabo Hélio Pinto, membro da FAB e presidente da
Associação dos Praças das Forças Armadas, também teve
voz na manifestação:
- O último aumento salarial para os militares saiu há
muito tempo e foi um percentual irrisório. Na época, os
cabos, por exemplo, tiveram aumento de 8%.
No dia 9 de abril, a manifestação das mulheres de
militares na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ainda
repercutia na imprensa. O jornalista Ricardo Ramos, do
Jornal do Brasil, que também cobriu o evento do domingo,
afirmou que “Apesar do ministro da Defesa, José Viegas
Filho, “achar” que não haveria reajuste salarial para as
Forças Armadas este ano, os familiares de militares
continuam as articulações na próxima semana”.
O jornalista informou que a Associação das Esposas
dos Militares da Ativa e da Reserva das Forças Armadas
(entidade não oficial) havia programado reunião no dia 12
de abril, que seria realizada no Bloco B da SQN 102 Norte,
para definir as estratégias que o grupo iria adotar para
continuar na luta por melhoria dos salários para os maridos,
que estavam congelados desde 2001.
Panelaço feito por esposas de militares
Crédito: Jornal do Brasil (9/4/2004)

Já no dia 19 de abril de 2004, o então presidente Lula,


durante discurso na solenidade comemorativa do Dia do
Exército, afirmou que atenderia aos anseios das Forças
Armadas por melhores salários, mas que não seria naquele
momento, e completou “ninguém, na história do Brasil, vai
tratar o funcionalismo melhor do que irei tratar”, mas contou
uma baita de uma lorota:
- As pessoas têm que entender que eu as vejo como
eu vejo os meus filhos. Eu não dou tudo o que meus filhos
querem, eu dou apenas aquilo que eu posso dar. E não faço
dívida para dar um presente para o meu filho que eu não
possa pagar depois, concluiu Lula em sua fala.
Bolsonaro, no dia, disse ter ficado satisfeito com a
promessa de Lula em resolver o problema salarial dos
militares, mas afirmou que isso deveria ser feito até 1.º de
maio daquele ano.
O governo mandou para o Congresso Nacional, no dia
16 de setembro de 2004, a Medida Provisória n.º 215
reajustando os vencimentos do militares das Forças
Armadas, com vigência a partir de 1.º de setembro.
O mês de outubro de 2004 foi marcado como o início
da mudança de atitude de Lula em relação à formação de
seu governo que, até então, tinha como base, pessoas do
partido ou de sua confiança pessoal. O ex-ministro Delfim
Netto (PP-SP) pregava que Lula deveria reverter esta
situação, porque ele deveria compreender que fazia um
“governo de coalizão” e não um governo de um só partido e
que “deveria repartir o governo” 34 com os partidos que o
apoiavam no Congresso.
E o PTB, ao qual estava filiado Jair Bolsonaro e seus
filhos, lutava, através de ações de seu presidente nacional,
o então deputado Roberto Jefferson (RJ), para abocanhar
parcela de cargos que, fatalmente, seriam oferecidos por
Lula aos “partidos aliados”.
E Roberto Jefferson, sem a menor cerimônia, oferecia
o PTB como uma noivinha ansiosa para casar: “Depois do
noivado, vem o casamento e os filhos”. E disse também: “O
PT não conhecia o PTB. É verdade que fomos fisiologistas
no passado, mas agora eles conhecem nosso trabalho”.
Bolsonaro também conhecia e, por causa disso, se
preparava para sair do Partido e sobre isso, Roberto
Jefferson foi taxativo “Vamos perder quem não tem sintonia
com o partido [como Bolsonaro] e vamos receber muita
gente”.
O descontentamento do deputado Jair Bolsonaro com
o PTB era porque ele não conseguia conviver com tanto
fisiologismo. Isso foi agravado com o fato de que, como
presidente do PTB, Roberto Jefferson determinou a aliança
de seu partido com o PT nas capitais, para as eleições de
outubro de 2004, pois, segundo ele, em troca, o PT ajudaria
financeiramente o PTB.
Bom, o resto você conhece de sobra, pois num curto
espaço de tempo, o próprio Roberto Jefferson, contrariado
com o pouco – na concepção gananciosa dele -, que

34 O Partido Progressista (PP) é um dos mais implicados na Operação


Lava Jato, com 32 de seus membros sendo alvo de investigações, sendo
três senadores, dezoito deputados e onze ex-deputados. Já são réus no
STF e responderão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro os
deputados federais Luiz Fernando Faria (MG) e José Otávio Germano
(RS) e os ex-deputados federais João Pizzolatti Jr. (PP-SC) e Mário Silva
Negromonte — ex-ministro das Cidades no governo Dilma e, atualmente,
conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia. A
Lava Jato também cobra do PP o pagamento de R$ 2,3 milhões,
referentes a ressarcimento ao erário, multa civil e por danos morais
coletivos. O ex-ministro Delfim Netto também é alvo da Lava Jato e pesa
contra ele a denúncia de recebimento de R$ 15 milhões em propina, por
atividades criminosas para empreiteiras do Consórcio que construiu a
usina hidrelétrica de Belo Monte.
conseguia de propina no governo de Lula, resolveu
denunciar o Mensalão, que era justamente o pagamento
que os partidos e políticos recebiam para votar e aprovar as
medidas de interesse do governo.
Mais uma vez, reafirma-se aqui a tese de que as
mudanças de partido feitas por Jair Bolsonaro não foram
porque ele era infiel às legendas das quais se desfiliou, mas
porque ele não se submetia à corruptela partidária. E ele,
regra geral, sempre teve confirmado como certo o seu
posicionamento.
No dia 2 de dezembro de 2004, o deputado Jair
Bolsonaro levantou uma questão de ordem para protestar
contra a apreciação da Medida Provisória n.º 215 - aquela
de setembro de 2004, que dispunha sobre o reajustamento
dos valores dos soldos dos militares das Forças Armadas.
O SR. JAIR BOLSONARO (PTB-RJ. Sem revisão do
orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje está
prevista a votação de algumas medidas provisórias.
Deputado Alberto Fraga, peço a V.Exa., que é nosso aliado
nesta luta, que me ouça com atenção. Vou me referir à
medida provisória que trata dos 10% concedidos
generosamente pelo Governo Lula aos militares, uma
postura completamente diferente da habitual em sua
campanha. Quando convidado a participar de uma reunião
com militares, no Clube Militar da Aeronáutica, S. Exa.
quase chorou ao se referir à remuneração dos militares. O
mesmo aconteceu na Comissão de Defesa Nacional.
Depois de eleito e empossado, S. Exa. nos ignorou durante
todo o ano de 2003. Por fim, em 2004, após uma batalha
que durou 5 meses, concedeu 10% aos militares. Com todo
o carinho que sinto pelos garçons, comecei a ficar contente
quando S. Exa. começou a nos tratar como garçons ao nos
conceder 10% de reajuste. Logicamente, não sabemos se
os 23%, tão bem defendidos pelo Ministro José Viegas,
serão concedidos no próximo ano, em que pese termos
aprovado uma emenda, quando da votação da LDO, em
que o Governo é obrigado a reajustar o salário dos militares
no próximo ano. Quanto ao percentual, infelizmente, não
poderemos decidir. Por ocasião da chegada da peça
orçamentária à Comissão Mista de Planos, Orçamentos
Públicos e Fiscalização, novamente, para nossa surpresa,
nada foi destinado ao reajuste em 2005. Estamos
trabalhando na Comissão pela concessão dos 23%
restantes. (...)
O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo
Cunha (PT-SP) deu a Bolsonaro a seguinte resposta:
DECISÃO DO PRESIDENTE EM QUESTÃO DE ORDEM
FORMULADA PELO DEPUTADO JAIR BOLSONARO EM
SESSÃO DO DIA 2/12/2004 O Deputado Jair Bolsonaro
alega, em sua questão de ordem, que a Medida Provisória
n.º 215, de 2004, seria inconstitucional pelo fato de alterar a
Medida Provisória n.º 2.215-10, de 31 de agosto de 2001, a
qual está sujeita ao disposto no art. 2.º da Emenda
Constitucional n.º 32, de 2001, que diz "As medidas
provisórias editadas em data anterior à da publicação desta
Emenda continuam em vigor até que medida provisória
ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação
definitiva do Congresso Nacional." Preliminarmente,
registre-se tratar, a questão de ordem, de matéria
essencialmente constitucional, que deverá ser considerada
no parecer da Comissão Mista e apreciada pelo Plenário, na
forma regimental. Entende, ademais, a Presidência, que o
dispositivo constitucional invocado apenas se refere à
dilação da vigência das Medidas Provisórias em vigor
quando da publicação da Emenda Constitucional n.º 32, de
2001, não mais sujeitas à perda de eficácia por decurso do
tempo. Nada impede, todavia, que sejam alteradas por lei
posterior, oriunda de Medida Provisória ou de projeto de lei,
pois não se poderia conceber uma norma jurídica eterna e
não sujeita ao princípio geral de revogação, derrogação ou
alteração da lei antiga pela lei nova ou mesmo de incorrer
em prejudicialidade pela edição de outra Medida Provisória
ou norma jurídica equivalente. No nosso ordenamento
jurídico, até a Constituição Federal pode ser modificada. Por
essas razões, indefiro a questão de ordem, até mesmo
porque o tema será considerado oportunamente pelo
Plenário quando da votação da parte do Parecer da
Comissão relativa ao atendimento dos pressupostos
constitucionais. Sala das Sessões, 2 de dezembro de 2004.
João Paulo Cunha - Presidente.

No dia 10 de dezembro, o deputado Jair Bolsonaro e


seus filhos Flávio (dep. estadual) e Carlos (vereador)
deixaram o PTB e, em solenidade realizada no Palácio da
Cidade – local de trabalho do prefeito municipal do Rio de
Janeiro –, se filiaram ao PFL, com o intuito de juntar forças
para a eleição do candidato César Maia, com promessas do
senador Jorge Bornhausen, presente ao evento, de
“refundar a legenda”, inclusive com a mudança do nome e
da sigla.
Para o jornalista Aziz Ahmed, Jair Bolsonaro contava
com um final feliz, para ele, nessa história de troca de
partido. Em sua coluna na Tribuna, do dia 23 de dezembro,
Ahmed disse que o deputado Jair Bolsonaro só teria ido
para o PFL, em apoio à candidatura de César Maia à
reeleição para prefeito do Rio de Janeiro, com a intensão
de, no caso dessa candidatura ser vitoriosa, ele vir a ocupar
a Secretaria de Segurança Pública.
Como presente de Natal, o Jornal do Brasil publicou
uma carta elogiosa do advogado carioca, Theotônio
Toscano, ao deputado Jair Bolsonaro, na edição de 25 e 26
de dezembro, na qual Toscano comenta a reunião em que o
deputado detona Luiz Eduardo Greenhalgh, mas vai além:
Assisti a uma sessão da Câmara dos Deputados em que o
Jair Bolsonaro, no discurso, revelou que o escritório de
advocacia do deputado Greenhalgh representa boa parte
dos candidatos a indenizações e pensões, recebendo de
cada um 30% dos valores conseguidos. Até aí, apenas a
nossa solene indignação com esse cartel das indenizações
que, infelizmente, não sensibiliza a sociedade a, pelo
menos, exigir esclarecimentos sobre as pessoas
aquinhoadas, seus reais direitos e sobre aqueles que se
locupletam à nossa custa. O problema é que o deputado
Greenhalgh é o responsável pela comissão de anistia. Isso
só poderia acontecer em país com letra minúscula. E o mais
estarrecedor: o deputado não respondeu. Nem ele nem
qualquer outro do PT.

Menos de quatro meses depois de ter se filiado ao PFL,


Jair Bolsonaro já estava pronto para deixá-lo. O motivo era
que o líder de seu partido na Câmara, deputado Rodrigo
Maia, não o havia indicado para a Comissão de Defesa
Nacional, da qual havia participado nos últimos 14 anos. E,
mesmo depois de Rodrigo Maia ter voltado atrás, Bolsonaro
preferiu deixar o partido, com o seguinte desabafo à
imprensa:
- Não fui indicado nem para suplente da Comissão e, se
não sou atendido nem mesmo em uma área que domino
que adianta estar em um partido que não me dá espaço?
Consegui integrar a comissão através do PP. Quero deixar o
partido sim, mas não vou sair atirando em ninguém. Posso
dizer apenas que o problema do PFL é que o [prefeito]
César Maia não mantém contato com os parlamentares e
agora, que é presidente nacional do partido, todo espaço da
TV fica com ele. Se é assim hoje, será que no horário
eleitoral terei de mendigar para ter espaço garantido?
Por isso, Bolsonaro retornou ao seu partido anterior
PPB, mas que tinha mudando a legenda para PP (Partido
Progressista) com supressão da Letra “B”. E claro, a
imprensa não perdoava, pois qualquer político poderia
mudar de partido a hora que quisesse, menos o deputado
Jair Bolsonaro, que seria um infiel. E ele respondeu assim
ao Jornal do Commercio:
- Fidelidade dos políticos deve ser com sua consciência
e seus eleitores. Que fidelidade teve a esquerda brasileira
com os servidores públicos durante a votação da Reforma
da Previdência?
No dia 19 de janeiro de 2005, mais uma vez, o
deputado Jair Bolsonaro anunciou, no Rio de Janeiro, que
sairia candidato à Presidência da Câmara dos Deputados.
Bolsonaro justificou que esta sua decisão seria para evitar
que o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-
SP) disputasse sozinho.
De acordo com Bolsonaro, os outros três candidatos –
Virgílio Guimarães (PT-MG), José Carlos Aleluia (PFL-BA) e
Severino Cavalcanti (PP-PE) -, poderiam ceder às pressões
partidárias e eles seriam susceptíveis a negociar a retirada
das candidaturas. “Eu sou cabeça dura; vou importunar o
PT”. Bolsonaro disse ainda que sabia até onde poderia
chegar com a sua estratégia: “não tenho esperança de
derrotar o Greenhalgh, mas não quero votar em branco e
quero ser uma opção para os outros deputados que também
não querem”.
Embora reconhecendo que sua chance era próxima de
zero, Bolsonaro protocolou sua candidatura ‘avulsa’ à
Presidência da Câmara dos Deputados, dizendo ser esta
uma candidatura de protesto e que ele seria o anticandidato,
sem plataforma política de campanha.
Vinte minutos de acusação. Era esse o título da
entrevista feita com o deputado Jair Bolsonaro, candidato à
Presidência da Câmara, feita pelo jornalista Eumano Silva,
para o Correio Braziliense, do dia 14 de fevereiro de 2005.
- Por que o senhor quer ser presidente da Câmara?
- Busco a independência da Câmara e a valorização do
parlamentar. Não podemos ficar a reboque do Executivo.
Hoje o Congresso se comporta como se fosse um ministério
desprestigiado do governo de Luis Inácio Lula da Silva.
- Quais as medidas que o senhor pretende implementar
caso seja eleito?
- A começar, pela aprovação do orçamento impositivo.
Do jeito que está não pode ficar. Pretendo também fazer as
propostas dos parlamentares chegarem ao plenário para
votação.
- Que tipo de projeto o senhor acha que deve ter
prioridade?
- Os projetos que estabelecem a maioridade aos 16
anos, por exemplo. Tem umas quinze propostas no
Congresso. Uma delas é minha.
- Como o senhor pretende ganhar a eleição para a
Presidência da Casa?
- Eu não vou pedir voto no deserto; eu sei que eu não
tenho voto. Quero usar meus vinte minutos no plenário para
contar como o Greenhalgh defendeu os sequestradores do
Abílio Diniz e o que ele fez para enterrar o caso da morte do
prefeito de Santo André, Celso Daniel.
No dia 14 de fevereiro de 2005, ocorreu a eleição do
presidente da Câmara dos Deputados, tendo sido
considerada uma clamorosa derrota do governo Lula, com a
eleição do deputado Severino Cavalcanti,35com Bolsonaro

35 Em 5 de setembro de 2005, Severino Cavalcanti foi à Nova Iorque para


participar de uma Conferência na sede da Organização das Nações
Unidas (ONU). A viagem coincidiu com as denúncias do mensalinho, um
esquema de pagamento de propina em que Severino Cavalcanti estaria
envolvido – daí a suposição de que ele estaria aproveitando a própria
viagem para esquivar-se das acusações. De fato, foi mostrada em rede
nacional uma cópia ampliada do cheque compensado, utilizado para
pagar-lhe o mensalinho. Em 21 de setembro, renunciou a seu mandato de
deputado federal em decorrência das denúncias. Sebastião Buani, o dono
de um restaurante da Câmara, acusou Severino de cobrar-lhe a
mensalidade de 10 mil reais sob a ameaça de fechar o restaurante dele.
Com a sua renúncia, a presidência da Câmara foi assumida
ficando com apenas dois votos: o seu e o do deputado
Alberto Fraga (PMDB), que formou em Educação Física
junto com Bolsonaro. As candidaturas avulsas de Jair
Bolsonaro, Virgílio Guimarães (PT) e José Carlos Aleluia
(PFL) apenas ajudaram a disputa ocorrer em dois turnos de
votação.
No dia 8 de março de 2005, o deputado Jair Bolsonaro,
acompanhado de representantes de três associações de
mulheres de militares, esteve em reunião com o vice-
presidente e ministro da Defesa, José Alencar, pedindo que
o governo honrasse a promessa feita em 2004 de
pagamento da reposição de 23%, para completar os 33%
prometidos em junho daquele ano.
Apesar de José Alencar ter dito que tinha consciência
dos problemas vividos pela “família militar” ele apenas
prometeu levar o problema ao presidente da República, “não
se comprometendo a oferecer índices e prazos para a
concessão do reajuste”, conforme relatou a Tribuna.
O deputado Jair Bolsonaro, no dia 13 de abril de 2005,
na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
que aprovou o parecer do deputado Sérgio Miranda
(PCdoB–MG) favorável à Proposta de Emenda
Constitucional que proibia o Nepotismo nos três Poderes da
União, classificou a discussão em torno da PEC do
Nepotismo como uma verdadeira hipocrisia. Bolsonaro disse
que, apesar de não ter qualquer parente trabalhando com
ele naquele momento, quem deveria decidir se o nepotismo
era certo ou errado deveria ser o eleitor.
O deputado Jair Bolsonaro aproveitou a presença da
mídia, para protestar contra a Emenda Constitucional em
discussão:
- Isso é palhaçada. Em alguns casos, o nepotismo é
válido. Aliás, esta proposta tem de proibir não só a
contratação de parentes, mas também de amantes de
autoridades. Eu não quero blindagem para chegar ao Rio
[de Janeiro] e dizer que eu votei contra o nepotismo. Isso é
demagogia E as amantes vão ficar de fora dessa relação?

provisoriamente pelo então vice-presidente, José Thomaz Nonô. Aldo


Rebelo foi eleito o presidente-tampão da câmara em 28 de setembro.
Todo mundo sabe que tem amantes de pessoas do
Executivo trabalhando aqui.
E continuou justificando porque era contra o fim do
nepotismo:
- Essa proposta não vai moralizar nada. A despesa
não vai diminuir porque o número de cargos vai continuar
igual e quem quiser vai por uma terceira pessoa para
trabalhar em seu gabinete como “laranja” de um familiar.
Mas a coisa não parou por aí e Bolsonaro resolveu
envolver o governo Lula em suas críticas ao fim do
nepotismo:
O jornalista Mauro Braga, que assinou a coluna Fato
do Dia, do jornal Tribuna da Imprensa, que circulou no dia
16 de abril alertava sobre a necessidade de se criar, ao
mesmo tempo em que se aprovava a PEC contra o
Nepotismo, dispositivos que vedassem a ascensão de
parentes de políticos a cargos públicos burlando o concurso
público:
- (...) Os filhos, sobrinhos, primos, maridos e mulheres
– não podemos deixar de fora também os amantes, como
bem lembrou o deputado Jair Bolsonaro – aumentam a
fortuna da família e, geralmente, não têm qualquer
competência para ocupar o cargo que ocupam.
Durante as comemorações do 357º aniversário do
Exército Brasileiro (19/4), Bolsonaro recebeu a Medalha da
Ordem do Mérito Militar, em solenidade comandada pelo
general Francisco Albuquerque, comandante do Exército.
Vivia-se o Brasil da descoberta do mensalão petista.
E, abatido da Casa Civil com as acusações de
corrupção em alianças políticas para dar sustentação ao
governo Lula, o deputado federal José Dirceu retomaria
seus trabalhos na Câmara no dia 22 de junho de 2005 –
depois que Roberto Jefferson o denunciou como mentor do
esquema do “Mensalão”.
O PT, é claro, armou uma recepção calorosa para o
seu camarada, enchendo as galerias da Casa com
militantes pagos, que aos gritos de “José Dirceu é meu
amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” esperava “o grande
líder”, que adentrou o Plenário pouco depois das 15 horas,
antes dando uma parada para ler uma faixa colocada pelo
sindicato dos vigilantes do Distrito Federal com os dizeres
“Companheiro José Dirceu, defendemos a sua capacidade
de defender a ética, o PT e o governo Lula”. Não podia ser
algo mais esdruxulo, mas era o que José Dirceu tentaria
difundir em seu primeiro discurso de retorno.
E José Dirceu, com a cara-de-pau que sempre lhe é
peculiar, disse: “Fui chefe da Casa Civil. Não me
envergonho. Não faço autocrítica”. E mais “Esse é um
governo que não rouba. Que não deixa roubar. Que
combate a corrupção. O governo não tem nada a esconder”.

Jair Bolsonaro exibindo saco de lixo com os dizeres “Mensalão do


Lullão” - Crédito: Jornal do Brasil (23/6/2005)

Neste ponto de seu discurso, o deputado Jair


Bolsonaro o interrompe, chamando-o de “terrorista”.
Aturdido, com a inesperada intervenção de Bolsonaro, José
Dirceu é calado com as vaias da claque petista para
Bolsonaro que, indiferente aos gritos vindos das galerias,
fazia sinal com as mãos mostrando que José Dirceu
roubava e levantando um saco de lixo cheio de papel
picado, com um cartaz pregado com os dizeres “Mensalão
do Lullão”.
Para completar, o deputado Alberto Fraga (DF) exibia
em leque várias cédulas de reais, agitando-as em direção a
José Dirceu, que depois da intervenção de Bolsonaro, se viu
aparteado em sequência, por diversos parlamentares que o
criticavam pela falta de humildade por estar querendo falar
como se ainda fosse membro do staff de Lula.
Para completar a confusão, a deputada Perpétua
Almeida (PCdoB-AC) arrancou das mãos de Bolsonaro o
saco preto, que rasgou, espalhando papel picado pelo
plenário e a confusão se generalizou, quase acabando em
pancadaria entre diversos deputados que se estranharam,
em meio a tanto empurra-empurra.
Jair Bolsonaro quase saiu no tapa com o deputado
Walter Pinheiro (PT-BA), em uma das muitas confusões que
ocorreram no plenário, que, ao final, obrigou o deputado
Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, a encerrar a
sessão.
Sobre os episódios pouco amistosos ocorridos no
retorno de José Dirceu à Câmara dos Deputados, o
jornalista Rudolfo Lago escreveu o artigo “Temperatura
Máxima” na coluna “Nas Entrelinhas”, do Correio
Braziliense, que foi às bancas no dia 23 de junho.
(...) Num momento em que o governo e o PT deveriam
trabalhar para baixar a poeira na busca de uma solução
para sair da crise, houve um acirramento de posições. É
verdade que os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Alberto
Fraga (Sem partido-DF) não representam a totalidade da
oposição. E poucos corroborariam a troca de sopapos no
plenário. Mas é verdade também que o PT, ao encher as
galerias de militantes e transformar o discurso de Dirceu
num ao político, chamou seus adversários para a briga.
Reforçou o caráter político-eleitoral daquele momento. E
deu espaço para as provocações de Bolsonaro.
(...) Diga-se que antes das provocações de Bolsonaro,
antes mesmo de Dirceu entrar no plenário, eles já tinham se
metido num bate-boca com o vice-presidente da Câmara
José Thomaz Nonô (PFL-CE). (...)
No dia seguinte, Bolsonaro voltava às páginas do Correio
Braziliense, ganhando da Redação do jornal, o artigo
“Desvarios de Bolsonaro”, em que inicia afirmando que a
bancada do PT iria entrar com representação contra o
deputado, por falta de decoro parlamentar por ele, em
discurso na Casa, no dia anterior, ter “ofendido” o presidente
Lula e a nova ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff e
também por ter convocado os militares para uma marcha
em Brasília, no domingo, em protesto contra “o mar de lama
imposto pelo Executivo”. E Bolsonaro atacou também os ex-
guerrilheiros da esquerda, a começar para os parlamentares
que diziam terem sido torturados:
- Não vejo ninguém de esquerda aqui com marca de tortura.
Pelo contrário. Nessa política, os militares deveriam torturar
todo mundo no Brasil porque só tem esperto torturado, entre
ricos e milionários.
Bolsonaro também se lembrou da guerrilheira que acabara
de tomar o lugar de José Dirceu, na Casa Civil, Dilma
Rousseff, taxando-a como “uma pessoa técnica,
especializada em roubo e assalto”. Mas foi além:
- Dilma Rousseff, por enquanto, eu não falarei do seu
passado particular nesta Casa. A tortura que V. Excia sofreu
foi fruto de abstinências. Brevemente, falarei disso aqui.
E ainda teve repertório dedicado ao presidente Lula:
- Senhor presidente [Severino Cavalcanti, presidente da
Câmara dos Deputados], o senhor tem um trabalho muito
forte nesta Casa contra a legalização do casamento
homossexual. Todo mundo apenas fala do gay, já reparou?
Do homossexual ativo ninguém fala; apenas dos boiolas.
Senhor presidente, temos que começar a desmascarar este
governo: se a corrupção existe nesta Casa, quem a pratica,
o homossexual ativo, é o presidente Lula. Temos de
começar um movimento para desbancar o presidente da
República. Não queremos homossexual passivo nem ativo
neste governo.
A psicanalista, poeta e escritora Maria Rita Kehl, em
entrevista concedida ao jornalista Fred Melo Paiva, do
Jornal do Commercio, e publicada no dia 26 de junho de
2005, com o título “O Brasil e Lula no divã” disse que estava
em jogo no Congresso Nacional uma “esperteza baixa”.
Para Maria Rita “mesmo quando vem o Bolsonaro e grita
“terrorista”, é uma passionalidade calculada. Ele imagina o
efeito que aquilo vai ter – não fala de coração, não exprime
sua justa indignação”.
Até o compositor Aldir Blanc tirou um sarro de Bolsonaro em
sua coluna “Rua dos Artistas”, do dia 30 de junho, publicada
pelo Jornal do Brasil:
Em homenagem ao Dudu criei - meio nas coxas -, Delgado,
o Desligado, que é primo mais moço e sem-vergonha de
Rosamundo, o Distraído, imortal criação do Sérgio Porto.
Sintam esta do Delgado. A galera via na telinha do Momo, o
discurso do Zé Dirceu, quando Bolsonaro, o Hitler caboclo,
começou a sacudir um saco de plástico preto. Revoltado,
Ceceu Rico pediu um táxi:
- Que papel ridículo do Bolsonaro sacudindo pra lá e pra cá
aquele saco preto de lixo, fingindo que era dinheiro e
gritando: Terrorista! Terrorista!
Delgado - o Desligado - fez a sua clássica expressão de
espanto:
- Saco preto de dinheiro?!?
- A lá, não tá vendo? Aquele saco preto com cifrão?
Delgado, o Desligado:
- Chiiiii Entendi tudo errado. Achei que era uma
homenagem ao correligionário dele que perdeu o saco na
explosão do Puma,36 naquele atentado do Riocentro!
Mas a provocação de Jair Bolsonaro ao Partido dos
Trabalhadores e seus apêndices de esquerda não ficaria
somente nisso. Dois dias depois, era realizada na Câmara
dos Deputados uma Sessão Solene em homenagem aos
militares que morreram lutando contra a Guerrilha do
Araguaia, reunião esta autorizada pela Presidência da Casa.
O Plenário foi ocupado por cerca de 200 pessoas,
entre militares da Reserva, mulheres de oficiais e

36Na noite de 30 de abril de 1981, mais de dez mil pessoas assistiam ao


show "1º de Maio", em homenagem ao do Dia do Trabalhador, no
Riocentro, no Rio de Janeiro, quando uma bomba explodiu dentro de um
Puma de placa fria, no estacionamento. A explosão matou o sargento
Guilherme Pereira do Rosário, que estava no banco do carona com a
bomba entre as pernas, e feriu gravemente o capitão Wilson Luís Chaves
Machado, que estava na direção do veículo. Ambos pertenciam ao DOI-
Codi, do I Exército. Fonte: O Globo.
integrantes da ONG Terrorismo Nunca Mais. Ao lado do
filho Flávio – então deputado estadual no Rio de Janeiro –,
Jair Bolsonaro conduziu os trabalhos que, entre muitos
hinos marciais e toque de silêncio, foi tomado o depoimento
do coronel da reserva Lício Augusto Ribeiro que, de acordo
com o Jornal do Brasil, chorou duas vezes na tribuna ao
contar como prendeu José Genoíno “e detalhar as
operações que combateram guerrilheiros na divisa do
Tocantins (então Goiás), Pará e Maranhão”.
O oficial disse que se arrependia de “não ter dado uma
bolacha” em José Genoíno, a quem ele debitou ter
entregado todos os seus companheiros de guerrilha, mesmo
sem ter sofrido qualquer tortura para tal e ainda desafiou
Genoíno “Olha no meu olho. Eu te prendi na mata e não
toquei num fio de cabelo seu”.
Parlamentares do PT protocolaram, no Conselho de
Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, o oitavo pedido de
investigação do deputado Jair Bolsonaro, por quebra de
decoro parlamentar, por ataques que ele vinha fazendo, de
forma sistemática, ao Partido dos Trabalhadores.
Para que ninguém nunca se esqueça: 2005 foi o ano
em que a corrupção e a lavagem de dinheiro começaram a
ser, de fato, destrinchada pelo Ministério Público Federal e
pela Polícia Federal, a partir da traição de Roberto Jefferson
a seus comparsas. Não que ele estivesse arrependido pelos
R$ 4 milhões que embolsou no esquema do mensalão,
comandado pelo governo Lula, mas porque ele,
seguramente, foi contrariado em suas reivindicações, nas
negociatas que fazia com o governo para seu partido, o
PTB, votar a favor de projetos de interesse do Planalto.
Mas Jair Bolsonaro, que já pertencera ao PTB, sem
nunca se envolver com qualquer coisa ilícita do partido –
pois sempre se considerou independente -, assim se referiu
a Roberto Jefferson e ao Mensalão:
- Após denunciar o "mensalão" Roberto Jefferson foi
cassado em 2005, por 313 contra 156 votos. A votação foi
secreta, mas adiantei ao Jefferson como votaria em seu
caso. Sem ele, o "mensalão" não teria chegado ao nosso
conhecimento. Há males que vêm para o bem, já diziam
nossos avós. Analisem a importância de Jefferson para o
futuro democrático do Brasil. Temos que continuar
perseguindo o objetivo de extirpar a corrupção do meio
político.37
O ano de 2005 também era marcado com muitos
debates sobre o Referendo programado para que a
população dissesse se queria ou não que a venda de armas
e munições fosse proibida no Brasil.
O porte de arma para todos sempre foi uma obsessão
para Bolsonaro e ele queria ver isto liberado, como um
direito de qualquer cidadão. E ele não ficava somente na
intensão; Bolsonaro sempre andava armado, especialmente,
quando estava no Rio de Janeiro.38
E o Referendo contou com a maioria do povo
brasileiro, mais de 59 milhões de eleitores (63,94%) dizerem
NÃO ao fim da venda de armas e munições em todo o
território nacional, conforme previa o artigo 35 do Estatuto
do Desarmamento (Lei 10.826, de 22 de dezembro de
2003), que também determinava que um Referendo Popular
devesse ser feito para este item específico da lei entrar em
vigor ou não. Vamos detalhar melhor esta questão no
próximo capítulo, em que você poderá perceber como foi
importante a participação do deputado Jair Bolsonaro nessa
discussão.
E o deputado Jair Bolsonaro foi um grande defensor
do NÃO no Rio de Janeiro e se declarava disposto a
transgredir a lei se o SIM ganhasse:
- Corro o risco de ser um infrator em potencial da Lei.
Imagino que a proibição vai estimular as pessoas a terem
armas frias e munições compradas no câmbio [mercado]

37
Pela fala de Bolsonaro, ele votou contra a cassação de Roberto
Jefferson, mas se foi pelos motivos acima citados, o deputado estava
equivocado, porque Jefferson somente delatou o Mensalão porque se viu
tolhido em alguma grande jogada que queria fazer em troca de apoio do
PTB. É importante também saber que o PTB nunca deixou de ser
governo, inclusive durante a gestão de Michel Temer, com o PTB
deitando e rolando com as verbas do Ministério do Trabalho, que virou de
sua propriedade e de sua filha Cristiana Brasil, felizmente, não reeleita.
38No dia 14 de julho de 1999, Bolsonaro se envolveu em uma discussão
por ter sido barrado de entrar armado na agência da Caixa Econômica
Federal do Shopping Tijuca, “criando o maior rebu com seguranças e
policiais do 6.º BPM” e até ameaçando o banco de uma ação judicial.
negro. Assim como existem bocas de fumo teremos as
bocas de fogo. Não vou deixar que minha família fique
vulnerável.
Outra frente de luta de Bolsonaro era contra as penas
para o tráfico de drogas, que ele considerava serem muito
brandas e insistia em que deveria ser aprovado o projeto de
lei, que tramitava desde 2002, endurecendo as penas,
principalmente para o tráfico internacional:
- O Brasil deve adotar medidas parecidas com as
americanas para aumentar o tempo de prisão dos “gringos”.
Certa vez eu conversei com uma portuguesa presa no Brasil
por tráfico internacional de drogas e ela não queria ir
embora, porque a pena lá fora é de oito anos ou até de
morte, de acordo com o País, como a Indonésia. Os
“gringos” presos aqui ficam no máximo três anos presos.
E, diferentemente do ano de 2005, em que grupos
guerreavam contra e a favor do desarmamento, na questão
das drogas houve uma reunião de interesses, fortalecendo a
tese do endurecimento das penas para o tráfico, quando da
discussão do projeto de lei n.º 7.134/2002, originado de uma
Comissão Mista formada sob a coordenação do Senado
Federal e que daria origem à Lei n.º 11.343 – também
chamada Antidrogas - aprovada em 23 de agosto de 2006,
cuja ementa é a seguinte:
Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; estabelece normas para repressão
à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas;
define crimes e dá outras providências.

A Lei Antidrogas, sem dúvida foi um avanço no


combate ao crime organização e ao tráfico internacional,
mas também fez aumentar, a população carcerária, presa
por conta de delitos relacionados com a droga, o que, vez
ou outra, há uma investida de ONG’s, juristas e políticos
pregando a descriminalização da maconha e até de drogas
mais pesadas.
Para o deputado Jair Bolsonaro, entretanto, a lei já
havia sido bastante aliviada e, segundo ele, a defesa da
mudança da lei para legalizar drogas parecia desconhecer
os impactos do vício na vida de uma pessoa.
- Querer legalizar o tráfico como alguns propõem será
o fim do mundo. Não vamos sonhar com dias melhores no
Brasil legalizando, sonhando que você vai quebrar com o
tráfico. Não vai. O cigarro é legalizado e, em média, 30% do
cigarro no Brasil chega por contrabando, afirmou.
No dia 13 de setembro de 2005, o deputado Jair
Bolsonaro aproveitou que a CPI do Mensalão iria tomar o
depoimento do deputado federal e ex-presidente do Partido
dos Trabalhadores, José Genoíno (PT-SP), para provocar o
petista, levando ao recinto da CPMI o coronel da Reserva
do Exército, Lício Augusto Maciel, responsável pela prisão
de José Genoíno, em 1972, durante o início da repressão à
Guerrilha do Araguaia.
O coronel Lício, que na época da repressão adotava o
pseudônimo de “Dr. Asdrúbal” foi retirado da sala da
Comissão por determinação do presidente, senador Amir
Lando (PMDB-RO), apesar de o coronel ter dito que “Como
qualquer cidadão brasileiro, vim para assistir ao depoimento
dele”.
O senador Amir Lando assim explicou à imprensa a
sua atitude em expulsar o coronel Lício da sala de audiência
da CPMI: “O coronel estava aqui para fazer tortura
psicológica. Ele queria empunhar a bandeira da tortura
dentro da CPI. Isso, eu não vou permitir”.
O deputado Jair Bolsonaro depois de conduzir o
coronel Lício para fora do recinto, retornou e aguardou cerca
de quatro horas até ter condição de inquirir o depoente,
José Genoíno:
- Eu quero perguntar ao deputado José Genoíno se o
dinheiro usado por eles na guerrilha vinha da Rússia ou de
Cuba.
- Meu relacionamento com o senhor é o silêncio
absoluto, em nome da ética e do decoro parlamentar,
respondeu José Genoíno.
No dia seguinte, o jornalista Mauro Braga, em sua
coluna Fato do Dia, publicada na Tribuna, não perdeu a
oportunidade de criticar Bolsonaro:
O deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ) está exagerando na
sua inimizade a José Genoíno. Levar o tal coronel Lício à
sessão da CPI do Mensalão, durante o depoimento do ex-
presidente do PT, foi golpe baixo. Ultrapassou todos os
limites do bom senso e desrespeitou não somente a
Comissão – a ponto de ambos serem colocados para fora
pelo presidente da CPI, Amir Lando -, mas a opinião
pública. Que já deixou evidente que não alimenta o
saudosismo e a melancolia que uns poucos têm da ditadura
militar. Mais: o gesto de Bolsonaro não representa o
Exército. As Forças Armadas têm hoje um pensamento
arejado e sabem, sobretudo, que é abrindo as entranhas
que serão arrancados os quistos que infelicitam o País.

Nesta mesma linha, o jornalista Hélio Fernandes


divulgou, sem citar as fontes, que militares do alto escalão
das Forças Armadas haviam comentado que Bolsonaro,
levar o coronel Lício no depoimento de José Genoíno teria
sido uma completa insanidade.
O jornalista e escritor José de Anchieta Nobre de
Almeida também escreveu para a seção de cartas do Jornal
do Brasil, que publicou seu protesto contra o deputado Jair
Bolsonaro, no dia 15 de setembro:
Impressionante e patológico o aparecimento no plenário da
CPI das figuras do deputado Bolsonaro e seu
acompanhante, o “Dr. Asdrúbal”, figura sinistra da era
ditatorial dos anos de chumbo. Não tivesse o PT
mergulhado no lamaçal de posturas antiética ao chegar ao
poder, essas personagens patéticas que envergonham as
gloriosas Forças Armadas, já estariam recolhidas ao exílio
do esquecimento público da história brasileira.

E devido ao seu desempenho, principalmente em


defesa dos militares na Câmara dos Deputados, Jair
Bolsonaro foi reeleito, em outubro de 2006, para o seu
quarto mandato, com o total de 99.700 votos. Seu filho,
Flávio Bolsonaro, também se saiu vitorioso nas urnas,
reelegendo-se para o cargo de deputado estadual do Rio de
Janeiro com 43.099 votos. 39

39No dia 31 de março de 2011, o ex-ministro Jarbas Passarinho foi


questionado pelo jornalista Claudio Leal, do Terra Magazine, sobre este
episódio, perguntando se Bolsonaro causava mal-estar nas Forças
Armadas, pelo que, obteve de resposta:
O deputado Jair Bolsonaro, em toda sua carreira
política, se notabilizou por criar fatos polêmicos e inusitados.
Por exemplo, em junho de 2006, ele apresentou o Projeto
de Lei Complementar n.º 354/06, pela qual se estabeleceria
a cota de 50% das vagas da Câmara dos Deputados para
negros e pardos. De acordo com o Jornal do Commercio, o
deputado justificou seu projeto com o argumento de que, “a
cada dia, se tornam mais frequentes as ações afirmativas
que buscam a inclusão de minorias e setores excluídos da
sociedade”. Segundo ele, “a Câmara deve possuir, de forma
proporcional, representantes de todos os segmentos
sociais”.
Mas pasmem: o deputado Jair Bolsonaro encerrou a
justificação deste seu projeto de lei afirmando que “mesmo
sendo autor do projeto, por coerência, votaria contra a
matéria”.
Em 2006, Bolsonaro, que estava no PP – Partido aliado
de Lula, sem seu apoio e sua participação em negociatas
com o governo, inclusive envolvidas com o mensalão –,
ingressou no PSC (Partido Social Cristão), onde
permaneceria até 2016, contrariando aqueles que gostam
de dizer que ele não é fiel ou não tem respeito pelas
agremiações partidárias a que ele pertenceu.

- Não posso dizer isso, porque seria uma opinião pessoal. Ele já teve um
aborrecimento comigo. Um cadete meu, que depois foi paraquedista e fez
parte da luta contra a guerrilha do Araguaia, Lício Maciel, que esteve à
morte, uma guerrilheira atirou na boca dele... Quase foi o fim. E o Lício
Maciel foi na conversa do Bolsonaro, que o levou para uma sessão (no
Congresso). Ele entrou e levou o Lício, que foi na conversa dele e
começou a dizer: "(José) Genoíno, você tenha a coragem de dizer aqui
na minha frente que foi torturado... Você mente! Você foi preso por mim,
pelo meu grupo". Depois eu soube, por uma mulher da esquerda, que ele
(Genoíno) confessou que lá ele não foi torturado, mas depois.
Então, Bolsonaro submeteu esse rapaz a um vexame, porque ele entrou
numa sessão do Congresso. Eu escrevi um artigo e mostrei a total
imprudência e irresponsabilidade do deputado. Submeter um oficial
brilhante, digno, que tinha exercido sua atividade contra a guerrilha sem
nunca ter participado de uma violência física, e ao contrário, sofreu, para
depois ser expulso de uma sala da maneira vergonhosa como foi!...
(Fonte: LEAL, Claudio. Terra. Magazine. Jarbas Passarinho: “nunca pude
suportar Bolsonaro”. São Paulo, 31 mar. 2011).
A luta contra o desarmamento
Eu estou vestido e armado com as roupas e as armas de
São Jorge, para que os meus inimigos tenham pés e não
me alcancem, tenham mãos e não me toquem, tenham
olhos e não me vejam, e nem mesmo em pensamento eles
possam me fazer mal.
(Jorge Ben Jor – músico, cantor e compositor brasileiro)

A questão de a população ter ou não o direito de


possuir e portar armas de fogo para autodefesa divide o
mundo. E não é de agora que o embate sobre o tema ganha
discursos inflamados e a tentativa de demonstrar que um
lado está mais certo do que o outro ou que os dois estão
errados.
O filósofo romano Marcos Túlio Cícero (106 a.C-43
a.C) dizia que “no meio das armas, calam-se as leis”
desenhando um mundo em que as regras seriam
subjugadas pelo poder das armas. Já o estadista alemão
Otto von Bismarck (1815-1898) dizia que “a diplomacia sem
as armas é como música sem os instrumentos” e pregava o
uso das armas como fator preventivo para conflitos. Mas
houve quem viu um meio termo um tanto fantasioso nesta
história e que parece embalar o discurso da esquerda. Um
exemplo foi o brilhante cantor jamaicano Bob Marley (1945-
1981), ao defender que “se todos nós dermos as mãos,
quem sacará as armas?”.
Pelos exemplos, dá para se ter uma ideia da
complexidade do tema e notar que a posse e porte de
armas de fogo nunca foi uma discussão fácil e não seria
assim no Brasil, especialmente durante a vigência de um
governo de esquerda.
O primeiro ano do governo Lula foi marcado, entre
outras coisas, pela aprovação do Estatuto do
Desarmamento, sonho embalado pelas esquerdas, que
diziam ver neste ato, a possibilidade da diminuição da
violência.
Mas, como já visto, era um tema espinhoso, pois a
defesa do cidadão ter o direito a uma arma de fogo era forte
dentro do Congresso Nacional, especialmente vinda do
deputado Jair Bolsonaro.
O deputado Jair Bolsonaro (PTB-RJ), um ferrenho
defensor do direito do cidadão civil poder ter o porte de
arma foi à tribuna da Câmara, no dia 23 de outubro de 2003,
e fez um discurso-desabafo:
Parece que o Brasil está em festa, pois está para ser
aprovado o Estatuto do Desarmamento. Pão e circo para o
povo. Lula tirou o pão, mas está mantendo o circo.
Obrigado, Lula! O circo está aí.
Lembro-me da aprovação da CPMF, que era para salvar a
saúde, que V.Exa. Sr. presidente, como médico, muito bem
representa. As fontes anteriores da saúde foram
gradativamente substituídas, obviamente para serem
desviadas para o superávit primário, para pagar juros da
dívida. Hoje, a CPMF não é mais de 0,20%, mas de 0,38%,
e a saúde piorou.
Sou favorável ao desarmamento do marginal, e não do
homem de bem. Mentem aqueles, deputado Inocêncio
Oliveira, que dizem que o cidadão não será privado de ter
arma dentro de casa, pois a quantidade de documentos
exigidos para tê-la, bem como as pesadas taxas, fará com
que só os mais abastados possam ter arma na residência.
O restante do povo se comportará como cordeiro no pasto,
à espera do lobo, torcendo para que ele não o escolha.
Vale lembrar que Hitler desarmou o seu povo, e as
consequências nós conhecemos. O povo brasileiro tem de
se lembrar que o exército do PT não é nosso Exército
verde-oliva, mas o MST. O exército verde-oliva foi
completamente desarmado. Nos últimos dias, nos debates
nas Comissões, os petistas se valeram amplamente do
argumento de que 82% da população querem o
desarmamento.
Petistas, 90% ou mais queriam o fim da CPMF, e vocês
votaram contra o povo. Atualmente, quase 100% querem a
correção da tabela do Imposto de Renda, e o patrão de
vocês, José Dirceu, já disse que ela não será corrigida.
Usam-se então as pesquisas de acordo com o que lhes
convém.
Mais argumentos mentirosos: 40% de mortes ao ano
poderiam ser evitadas. Sr. Presidente, mais de 30 mil
desses 40% são marginais que morrem em confronto com a
polícia, morrem em motins, morrem executados por brigas
entre quadrilhas de traficantes etc. Esse número teria de
aumentar para 100 mil ou 200 mil — quanto mais
vagabundo morrer, melhor. Agora, o que vai acontecer é
exatamente o contrário: com o povo desarmado, o número
de mortes vai aumentar.
E há aqueles que pensam como um Deputado evangélico
do Rio de Janeiro que ontem, na Comissão, me criticou,
dizendo que acredita na recuperação do homem. Eu dou
uma sugestão a esse Deputado evangélico e àqueles que
também defendem os direitos humanos: se forem às portas
dos presídios, constatarão que, todos os dias, presos estão
sendo postos em liberdade. Chamem lá um estuprador, um
homicida e contratem-no para ser seu motorista e levar sua
filha ao colégio. Aí eu vou acreditar que S. Exas. estão
dizendo isso com razão, e não voltados para a demagogia.
À exemplo da Prefeitura de São Paulo, da Prefeita Marta,
que apelidaram de Martaxa, o PT apenas está criando mais
uma taxa, que passa a ser o IPVA das armas. Inclusive
estamos dando um cheque em branco a partido. Ele vai
decidir tudo no Planalto, como a periodicidade, por meio de
decreto.
Senhor presidente, como diminuir a criminalidade se o
relator é defensor de sequestradores, como o do caso de
Abílio Diniz, é defensor de Rainha, preso por porte e posse
ilegal de armas? Ele tem ódio de policiais militares! Veja o
caso de Eldorado do Carajás, onde os PMs, acuados
embaixo das viaturas, tiveram de atirar, senão se
transformariam no mesmo em que se transformou aquele
bravo soldado da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, que
teve a cabeça decepada por uma foice do MST.
Nosso País não tem dinheiro, mas vou citar os três últimos
casos com o Deputado Greenhalgh, que defende emendas
na Comissão para anistiados — entre aspas. Frei Chico,
irmão de Lula, por ter passado um mês preso, está
recebendo 461 mil reais, mais pensão vitalícia de R$
3.760,00! Dagoberto Alves da Costa, o marginal ex-
guerrilheiro do Araguaia, está recebendo 187 mil reais, mais
2 mil 233 reais de pensão vitalícia! Deputado Inocêncio, o
sequestrador do embaixador americano Charles Burke
Elbrick, Flávio Aristides, está recebendo 1 milhão de reais
de indenização e pensão vitalícia de 10 mil 714 reais! Será
que o deputado Greenhalgh não tem participação
econômica como advogado desses marginais? É um grande
negócio para S. Exa. esse Estatuto do Desarmamento, pois
está ao lado do lobby dos sequestradores, do roubo de
carga, dos marginais e dos traficantes.
Essa a grande verdade, Senhor presidente, tendo em vista
a história e a biografia do Deputado Greenhalgh.

O Senado Federal aprovou o Estatuto do


Desarmamento (Lei n.º 10.826), no dia 9 de dezembro de
2003. No dia 22 de dezembro de 2003, o Estatuto foi
sancionado pelo presidente Lula, que fez na ocasião o
seguinte discurso:
Esta lei do desarmamento, certamente não será a solução
para tudo, mas é um passo excepcional, que vai poder nos
dar, até a realização do Referendo, o grau de maturidade
que o povo brasileiro tem para enfrentar este problema.
Peço a Deus que estejamos certos, e que a lei tenha a
eficácia que imaginamos.

Mas o Estatuto do Desarmamento previa a realização


de um referendo popular em outubro de 2005 para decidir
se a venda de armas e munições iria continuar ou não livre
no Brasil, conforme previa o artigo 35 da referida lei.

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e


munição em todo o território nacional, salvo para as
entidades previstas no art. 6.º desta Lei.
§ 1.º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de
aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em
outubro de 2005.

Bolsonaro foi um dos que mais lutou contra o


desarmamento da população, na época do plebiscito que
daria o sim ou não à venda de armas no Brasil, que seria
realizado no dia 23 de outubro de 2005, conforme estava
previsto no Estatuto do Desarmamento.
O deputado chegou a instalar outdoor no Rio de
Janeiro com a sua foto e a seguinte inscrição: Entregue sua
arma. Os vagabundos agradecem!
Outdoor instalado no Rio de Janeiro – Arquivo Pessoal

Ele também mandou fazer camisetas e faixas com a


mesma frase.

Passeata no Rio de Janeiro contra a proibição da venda de armas


Arquivo Pessoal

Bolsonaro discursou na tribuna da Câmara defendendo


o não desarmamento da população e pregando o NÃO no
referendo que aconteceria em 2005, citando diversos
parlamentares que eram a favor do desarmamento, mas, ao
mesmo tempo, eram ligados a traficantes ou assassinos:
(...) Faço um apelo ao povo brasileiro: vejam quem está
defendendo o desarmamento no dia 23 de outubro. Olhem
para essas pessoas e, olhando para elas, tirem sua
conclusão. Por exemplo, quem está à frente desse
referendo? Márcio Thomaz Bastos, dono de um enorme
escritório de advocacia em São Paulo, habilitado a defender
os responsáveis pelos crimes mais hediondos do País.
Inclusive, ele quer a revisão da lei sobre o crime hediondo.
Foi advogado daquele promotor de Justiça que assassinou
a esposa, grávida de 8 meses, e o orientou a fugir. Esse
defende o desarmamento.
Outro grande defensor [do desarmamento] é o deputado
Luiz Eduardo Greenhalgh, que defendeu José Rainha
Júnior quando foi preso com uma arma ilegal e trabalha
para que o caso Celso Daniel não seja esclarecido,
defendendo seus torturadores e executores. E o Celso
Daniel era do PT e seu amigo. Ainda assim, ele defende o
desarmamento.
Outro que defende o desarmamento é o Rubem César, da
ONG Viva Rio, amigo íntimo de um cidadão conhecido
como William da Rocinha. Mesmo depois de ter sido
denunciado pela mídia de envolvimento com o tráfico,
continua defendendo o desarmamento. Quando as fitas que
mostram o William conversando com o traficante tornaram-
se públicas, ele simplesmente recolheu-se ao anonimato.
Então, o Rubem César, da ONG Viva Rio, outro que
defende o desarmamento, é amigo de traficantes. (...)
Outro conhecido que defende o desarmamento é o Hélio
Bicudo, presidente da Fundação Interamericana de Direitos
Humanos, aquele que defendeu o sequestrador de Abílio
Diniz, junto com o Greenhalgh. Não era um sequestro
político, era uma ação de grupos terroristas. Disse
ele: Quando uma pessoa entra numa casa de custódia do
Estado, não pode se responsabilizar pela sua própria
segurança. Ele também defende o desarmamento.
Senhor presidente, eu apelo aos eleitores do Brasil para
que, ao votar, analisem quem é contra e quem é a favor.
Não podemos fazer a defesa do bandido, do crime
organizado.
O MST aderiu à campanha do desarmamento. Para quê?
Para facilitar as invasões em fazendas produtivas. Vocês
querem mais do que isso para votar não no dia 23 de
outubro?

Antes que as campanhas junto à população pelo “sim”


ou “não” à proibição da venda de armas e munições
começassem, pesquisas indicavam que a população seria
favorável à proibição do comércio de armas de fogo: 83%
em São Paulo, 82% no Rio de Janeiro e 70% no Paraná,
informava O Globo em sua edição de 26 de junho de 2005,
onde também o jornal destacava o recolhimento de 360 mil
armas de fogo, entregues de forma voluntária.
A pergunta feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
que os eleitores responderam no dia 23 de outubro de 2005
foi: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser
proibido no Brasil?".
O deputado Jair Bolsonaro – destacado membro da
chamada “bancada da bala” e que era um dos maiores
defensores da não realização do referendo e a manutenção
da situação vigente, chegou a dizer durante discurso na
Câmara, que a aprovação da consulta popular e uma
possível proibição da venda de armas era um desejo da
"bancada dos marginais".
O NÃO à proibição da venda de armas no Brasil acabou
saindo vencedor do Referendo, com 63,94% da população
dizendo NÃO. Mas, infelizmente, o que se esperava da lei,
que era a redução das mortes provocadas por armas de
fogo, não ocorreu e o Brasil continua entre os países com os
mais altos índices de crimes com esta causa.
O jornalista Marcos Rolim, escrevendo para o jornal
Uno Fato afirmou, depois de uma avaliação do cenário em
que transcorreu o Referendo, que a vitória do NÃO foi mais
por receio da violência do que pela vontade de se ter uma
arma.
Vinte anos na Câmara dos Deputados
Quem luta com monstros deve velar porque, ao fazê-lo, não
se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante
muito tempo, para um abismo, o abismo também olhará
para dentro de ti.
(Friedrich Nietzsche [1844-1900] filósofo, compositor e poeta prussiano)

O ano de 2007 chegava e um novo mandato se iniciava


para Jair Bolsonaro – o quinto -, mas os problemas que
enfrentaria, infelizmente, eram antigos e sem uma solução à
vista. Por exemplo, a questão da redução da maioridade
penal voltava à ordem do dia, agora com apoio da
Associação Nacional dos Desembargadores (Andes) que,
no dia 12 de março daquele ano, encaminhou ofício ao
presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros,
propondo a realização de uma consulta popular sobre a
redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e a
votação do Projeto de Lei que tratava do tema.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º 301, de
autoria de Jair Bolsonaro e que propõe alterar o art. 228 da
Constituição, data de 11 de janeiro de 1996, e foi apensada
à PEC 171/93 em 18 de abril de 1996.40
Outro problema que mobilizava Bolsonaro era a
violência no Rio de Janeiro. O Jornal do Brasil, em sua
edição de 14 de abril de 2007, trouxe uma extensa matéria
intitula “O primeiro factoide de Cabral”, analisando as
diversas visões sobre a proposta do governador Sérgio
Cabral Filho de por as Forças Armadas no Rio de Janeiro,
para garantir a segurança pública.

40 Depois de tramitar por cerca de doze anos, foi aprovada, em segundo

turno da Câmara dos Deputados, no dia 19 de agosto de 2015, a PEC


171/93, que seguiu para o Senado Federal. A PEC recebeu 320 votos a
favor e 155 votos contrários. Existe a previsão de que a PEC 33/2012,
que trata do mesmo tema e de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira
(e outros) seja desarquivada e votada no Senado em 2019/20. Ela altera
a redação dos arts. 129 e 228 da Constituição Federal, acrescentando um
parágrafo único para prever a possibilidade de desconsideração da
inimputabilidade penal de maiores de 16 anos e menores de 18 anos por
lei complementar.
De acordo com os jornalistas Felipe Sales e Juliana
Cariello, apesar da proposta sugerida por Sérgio Cabral,
que já tinha até “o apoio declarado do presidente Luis Inácio
Lula da Silva, a presença do Exército na função ganhava
contornos polêmicos e estava longe de inspirar segurança,
na opinião de diversas autoridades e especialistas”.
Alguns dos especialistas consultados pelo jornal
afirmaram que viam “a eventual presença das Forças
Armadas no Estado como um jogo político”, que, para eles,
não se concretizaria, pois o próprio governador não
concordaria com as restrições impostas pelo Estado de
Defesa.
Para o deputado Jair Bolsonaro, o uso das Forças
Armadas no Rio de Janeiro, para cuidar da segurança
pública, poderia se transformar em um desastre, já que os
militares não tinham proteção legal para o caso de matarem
um bandido em combate, pois deveriam, nesse caso,
responder a um tribunal comum.
Outro fator de risco apontado por Bolsonaro era que
muitos militares moravam em favelas e ficariam marcados
pelo tráfico, além destes ganharem menos que um policial
carioca, mas tendo que assumir um risco maior.
Mas os problemas derivados da violência não eram
restritos ao Rio de janeiro e, assim, na primeira quinzena de
maio de 2007, o deputado Jair Bolsonaro compôs com mais
seis deputados federais, um senador e os comandantes do
Exército, general Enzo Martins Peri e da Marinha, almirante
Júlio Soares de Moura Neto, uma comitiva que esteve em
visita ao Haiti para conhecer o trabalho que lá estava sendo
desenvolvido por tropas brasileiras, tanto na área de
Engenharia quanto se Segurança Pública.
Essa visita ocorria no momento em que a Organização
das Nações Unidas pedia ao Brasil que aumentasse em 100
homens, a sua tropa no país caribenho, cujo efetivo já era
de 1.200 militares.
No retorno, Bolsonaro relatou a miséria vivenciada no
Haiti:
- Estive no Haiti em missão oficial da Câmara dos
Deputados e, numa confraternização, observei uma
autoridade local servindo-se de três salgadinhos sempre
que se aproximava uma bandeja. Comia um e colocava dois
no bolso. A miséria é indescritível.41 Verdadeiro flagelo sob
o ponto de vista humanitário. 

 O futuro do país está
comprometido pela falta de recursos naturais e de mão de
obra qualificada. Deixar tal quadro e viver em outro país é a
solução mais fácil. 


No mesmo mês, o Supremo Tribunal Federal julgou
Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta pelo PTB,
que contestava na íntegra, o Estatuto do Desarmamento
(Lei n.º 10.826:2003), mas considerou inconstitucionais três
de seus dispositivos: os que consideravam inafiançáveis o
porte ilegal de armas de fogo de uso permitido, o disparo de
armas e munições em locais públicos e o que proibia a
concessão de liberdade provisória aos acusados de posse
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio
ilegal e tráfico internacional de armas. Na época em que o
PTB entrou com esta Ação no Supremo, o deputado Jair
Bolsonaro ainda estava filiado à legenda e foi por seu
empenho, que o PTB questionava a constitucionalidade de
tal lei.
O primeiro ano do quinto mandato de Bolsonaro
chegava quase ao fim, mas o problema salarial das Forças
Armadas também continuava sendo objeto de reivindicação.
Para tanto, Bolsonaro foi o autor do requerimento de
convocação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para
participar de audiência pública na Comissão de Relações
Exteriores da Câmara dos Deputados.
Entre diversos assuntos tratados, o ministro Nelson
Jobim falou “ter esperança” de que um aumento salarial
para os militares fosse definido até o final de 2007,
adiantando que o reajuste que estava sendo estudado para
a categoria variava de 27,62% para patentes mais altas e de
37,04% para os cargos com menores vencimentos. E disse
ainda, que somente parte do reajuste seria aplicada aos
soldos em 2007 e o restante somente deveria ocorrer em
setembro de 2008.
Bolsonaro reagiu à ideia do ministro de conceder
reajustes diferenciados e afirmou categórico, que com

41
De acordo com o "The Guardian", a renda per capita anual no Haiti está
em US$ 350 ou menos do que R$ 1,5 mil. Além disso, a inflação está em
19% ao ano. (G1. 23 set. 2019).
certeza, os comandantes militares não iriam concordar com
tal coisa. Ele também lembrou a fala de um oficial, ex-chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas – sem o citar
nominalmente –, que teria dito nas comemorações do Dia
da Artilharia, que “Nós militares, vivemos de ideais, não
precisamos de conforto e sim, de motivação para cumprir a
missão”.
Falando com a imprensa, Jair Bolsonaro externou sua
preocupação com o futuro das Forças Armadas, por não
serem priorizadas no planejamento federal:
- A situação das Forças Armadas tende a piorar, com
a crescente evasão de seus melhores quadros, que estão
indo para a iniciativa privada, por conta dos baixos salários
pagos aos militares. Até 2020, a Marinha deve parar por
pura e simples falta de recursos para continuar funcionando
e, a Aeronáutica está indo para o mesmo caminho. Só no
ano passado, 206 oficiais qualificados da Aeronáutica
pediram demissão. A evasão de praças é três vezes maior
do que isso, e sempre são os melhores, os mais treinados.
Ou o governo aumenta os salários ou terá que gastar mais
no futuro para treinar novos oficiais.
Mas os militares e familiares assumiram a defesa
pública pela regularização dos salários e foi o que
aconteceu no dia 27 de janeiro, quando cerca de 500
policiais militares e do corpo de bombeiros do Rio de
Janeiro fizeram grande manifestação na orla do Leblon.
Lá estava presente o deputado Jair Bolsonaro, que
assim se manifestou:
- O soldado começa ganhando menos que uma
empregada doméstica. O secretário [de Segurança Pública]
preocupa-se com o cumprimento das missões, mas parece
não enxergar o lado humano da tropa.
A colunista Anna Ramalho publicou no dia 10 de maio
de 2008, carta enviada ao deputado Jair Bolsonaro, pela
“sua amiga” Cristina Magalhães, filha de um oficial da
Marinha que já havia falecido e sobre problemas que sua
mãe, de 85 anos, vinha enfrentando com relação à pensão
que recebia:
Caro deputado Jair Bolsonaro,
Esta carta tem o objetivo de relatar fatos que vêm
acontecendo com minha mãe, Isis de Souza Gurjão, viúva
do capitão-de-mar-e-guerra da Marinha Brasileira, José
Gurjão Neto e que tem deixado seus sete filhos em estado
de total perplexidade.
Há três anos, minha mãe e um grupo de pensionistas de ex-
combatentes com medalha de guerra conseguiram, em
causa coletiva, liminar para receber um soldo extra,
correspondente à patente do militar, na época da medalha
de guerra. Esse dinheiro passou a ser depositado,
mensalmente, em contracheque separado.
Na ocasião, elas foram avisadas, pelo advogado que as
representava, de que havia uma possibilidade de recurso da
Marinha, em terceira instância. Porém, as chances de perda
do benefício eram mínimas.
Em fevereiro deste ano, minha mãe recebeu o
contracheque e percebeu que o dinheiro não entrara na
conta corrente. Qual não foi sua surpresa ao ser informada
de que a Marinha ganhara a causa junto ao Tribunal de
Contas da União (TCU), e que o dinheiro não seria mais
depositado. E mais: ela deveria devolver o dinheiro recebido
nesses três anos – cerva de 120 mil – caso a Marinha assim
o exigisse.
Dias depois minha mãe recebeu uma carta da Marinha
comunicando que iria, imediatamente, descontar esse
dinheiro (R$ 2.123,00) na folha de pagamento mensal dela
durante 55 meses (até outubro de 2010). Esse valor foi
totalmente arbitrado pela Marinha, sem o menor escrúpulo
ou cuidado em negociar o pagamento da suposta dívida
com seus pensionistas. Como se fosse ato simples e natural
para um pensionista abrir mão de, aproximadamente, 30%
de seus vencimentos!
O primeiro contracheque com o desconto chegou este mês
e, naturalmente, foi um choque para uma senhora de 85
anos. Minha mãe está de cama com a pressão elevada e o
coração (já deficiente) sob o controle médico.
O advogado que cuidou da causa já entrou com mandado
de segurança, mas, infelizmente, não há previsão de
solução para o caso...
Não entendo de leis, mas de humanidade, sim. Imagino
(posso até estar errada!) que os direitos constitucionais de
senhoras – todas pero ou com mais de 80 anos – não
podem ser aviltados. Diz a lei que os salários não podem
ser diminuídos, não é mesmo? Além disso, quantas são
essas pensionistas ainda vivas? 100, 200? Será que com
este dinheiro a Marinha do Brasil vai comprar um porta-
aviões e melhorar a condição de defesa da nossa costa?
Em todas as causas ganhas contra entidades ou autarquias
governamentais, não há pagamento retroativo. Ou seja,
começamos a usufruir o benefício apenas a partir da data
da sentença. Por que, agora que a causa foi ganha pela
União, os beneficiários são obrigados a devolver o que
ganharam? Se a lei manda que elas devolvam o dinheiro
perdido na terceira Instância, que, pelo menos, elas possam
ter o direito de dizer como querem ou podem fazê-lo. Pelo
menos é o que acontece com qualquer tipo de dívida que
um cidadão brasileiro adquire...
... Não vou entrar no mérito da questão de quem foi meu
pai, de tudo que ele ofereceu à nação enquanto oficial da
Marinha, altamente qualificado e condecorado. Isso, nós
oito – minha mãe e seus sete filhos, honrados pela herança
de sua dignidade e fidelidade à pátria – sabemos muito bem
e nos basta. Penso, sim, na angústia e sofrimento de todas
essas senhoras, vendo seus rendimentos diminuídos numa
quantia tão alta, exatamente no momento que precisam de
recursos para ter uma boa qualidade de vida nos (poucos)
anos que ainda lhes restam...
... Espero que algo possa ser feito, ainda confio na Justiça e
no empenho de alguns brasileiros que estão no Congresso
e no Judiciário para defender os direitos dos cidadãos que
trabalham e dignificam o Brasil.

No dia 11 março de 2009, o deputado Jair Bolsonaro42


foi à tribuna da Câmara dos Deputados, naquele momento
presidida pela deputada Vanessa Grazziotin e falou sobre a
busca dos restos mortais dos membros da Guerrilha do
Araguaia, ação defendida pelo governo petista e seus
aliados da esquerda:
Senhora Presidenta,
O Governo está preparando agora uma equipe para ir ao
Araguaia, a fim de buscar os ossos dos marginais que

42 Em 2009, o filho mais novo de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro -

então com 25 anos, formado em Direito e trabalhando como escrivão da


Policial Federal -, se filiou ao Partido Progressista do Distrito Federal, pelo
qual pretendia candidatar-se a deputado federal.
combateram os militares. E por que marginais? Apesar da
marginalidade, já que pegaram em armas, eram financiados
por dinheiro de Fidel Castro, de Cuba.
Então, Fidel Castro financiava uma democracia em nosso
País. É dizer que o diabo estava financiando uma equipe na
terra para salvar almas. É exatamente a mesma coisa. Em
Cuba, no mínimo, 17 mil foram para o paredão. Lá, sim,
presos políticos.
Esses marginais estavam descontentes porque os militares
assumiram o Governo em 1964 a pedido. Quem pediu para
que os militares assumissem? Foi a Igreja Católica, foram
as mulheres de verdade naquela época — porque hoje em
dia as mulheres não são de verdade como naquela época
—, que fizeram passeatas na rua e pediram para que os
militares assumissem. A classe empresarial também pediu
e, mais do que isso, a imprensa de forma unânime pediu. E
nós assumimos - os militares assumiram -, e o Brasil
cresceu.
Hoje estamos nessa balbúrdia que está aí, um Congresso
que não funciona, um Judiciário desgastado e o Executivo
falando abobrinhas e marolinhas o tempo todo. Esperamos
que os militares não tenham de assumir de novo este País
em nome da autoridade, do respeito e da família, porque os
militares não querem assumir isso daí. A bomba está na
mão de vocês. Vocês criaram esse caos, e ela está em
suas mãos. Então, esse pessoal vai ao Araguaia
simplesmente buscar ossos.
Não existem mais ossos, presidenta. Vocês foram para lá
pegar em armas financiadas por Cuba e morreram em
combate. E quem morreu em combate e foi enterrado em
cova rasa os porcos comeram os ossos. Tenho pena dos
porcos, mas nada, além disso. Comeram os ossos! Graças
a Deus, o povo deve agradecer de joelhos aos militares que
acabaram com a Guerrilha no Araguaia, caso contrário, nós
teríamos uma FARC no coração do Brasil. Ou alguém
duvida disso? Que o PT está aliado com as FARC aqui? O
PT está aliado com a então Brigadas Vermelhas, da Itália.
Tanto que o nosso querido Tarso Genro, esse monumento
ao terror e à bandidagem, defende o Battistinha. Tanto que
o MST está ligado às FARCs. Tanto que Tarso Genro
defende a invasão de terras dos outros e o assassinato de
seguranças em fazendas produtivas em nosso País.
Esse é um breve retrato do que acontece atualmente no
Brasil.
Muito obrigado, Presidenta, e que faça uma boa finalização
sobre o meu nome.

Polêmica é com ele mesmo. Em maio de 2009, o


deputado Jair Bolsonaro afixou um cartaz em seu gabinete
que deixaria a esquerda furiosa. O texto fazia alusão à
abertura dos arquivos da ditadura e a busca dos mortos da
Guerrilha do Araguaia, organizada pelo PCdoB, onde
atualmente é o Estado do Tocantins.
A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) fez um discurso
contra o cartaz no plenário. Deputados que estavam
próximos disseram que a deputada foi provocada por
Bolsonaro, que teria lhe dito que haveria problema em achar
os "terroristas" mortos, pois eles teriam sido enterrados em
cova rasa e comidos pelos porcos. Em seguida, Bolsonaro
disse que sentia pena dos porcos. Por causa deste cartaz, o
PCdoB pediu, no dia 28 de maio de 2009, a instauração de
um processo disciplinar contra o deputado Jair Bolsonaro.

Por telefone, o deputado Jair Bolsonaro assim se


explicou para o UOL Notícias: "Esses terroristas foram fazer
o que lá? Pescar lambari? Não, eles foram tomar o poder”.
O deputado disse ainda que não tinha medo de ser
cassado ou repreendido pela Câmara dos Deputados: "Eu
tenho imunidade para quê? Com certeza não é para se
juntar a essa esquerda".
O ano de 2010 foi rico em discussões e o deputado
Jair Bolsonaro sempre era citado pela imprensa, como no
caso da renovação do acordo do Brasil com a ONU para
manter tropas de paz no Haiti, o funcionamento de uma
provável Comissão da Verdade reivindicada pelo Movimento
Tortura Nunca Mais, as muitas discussões em torno da Lei
da Palmada, a luta contra a distribuição pelo governo do kit
contra a homofobia nas escolas públicas, que Bolsonaro
chamou de “kit gay”.
Muitos desses temas polêmicos persistiram na pauta
dos debates em anos posteriores, como o kit gay e
Comissão da Verdade “ou da Mentira”, como gostava de
dizer o deputado Jair Bolsonaro.
No caso das tropas brasileiras no Haiti, Bolsonaro
defendia que o Brasil não deveria renovar o acordo com a
ONU. Para ele, as Forças Armadas estavam sucateadas e o
Brasil não deveria continuar ajudando outros países e não
perdeu a oportunidade: “Sou a favor de um controle de
natalidade lá. A única diversão no Haiti é fazer filho”.43
Jair Bolsonaro falava isto em apoio ao que o
embaixador da Alemanha, em Porto Príncipe, havia dito dias
antes: “Este é um país superpovoado. A mulher haitiana
sempre quer e o homem haitiano sempre pode”.
Em outubro de 2010, Bolsonaro foi reeleito para o seu
sexto mandato com 120.631 votos. Seu filho, Flávio
Bolsonaro também foi reeleito deputado estadual do Rio de
Janeiro, com 56.317 votos. Enquanto isto, o filho Eduardo
Bolsonaro não concorreu a cargo eletivo naquele ano,
porque foi transferido pela Polícia Federal para São Paulo e
não houve tempo hábil para transferir seu domicílio eleitoral,
que era Brasília.
A polêmica em torno do “kit gay”
43 Antes mesmo do abalo sísmico do dia 12 de janeiro de 2010, o mais
grave em 100 anos, a situação do Haiti já era calamitosa. Mais da metade
de seus cerca de 9 milhões de habitantes dispunham de menos de um
dólar por dia para sobreviver. Ao lado da penúria econômica, a
instabilidade política e a insegurança social assolavam a população deste
Estado insular.
Minha busca incansável pela compreensão da
complexidade do gênero humano só tem me levado a
respostas não razoáveis. Assim é a filosofia: prefiro a
ausência de respostas razoáveis a me prender às respostas
exatas das ciências convencionais.
(Philippe Nader – advogado brasileiro)

Somente em 2009, foi que o presidente dos Estados


Unidos, Barack Obama, assinou uma lei chamada Matthew
Shepard – em homenagem ao gay americano assassinado
em 1998, que deu nome à referida lei, e que se tornou
símbolo da luta contra a homofobia, ampliando a legislação
sobre crimes relacionados à discriminação, incluindo a
orientação sexual e a identidade de gênero neste rol de
especificidades a serem respeitadas.
Mas a questão de como enfrentar a homofobia no
âmbito da educação, no Brasil, já era uma preocupação do
Ministério da Educação e Cultura (MEC) desde 2004,
quando o governo federal lançou o Programa Brasil sem
Homofobia, com o objetivo de combater a violência e o
preconceito contra a população LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, transgêneros e outros).
Uma parte do programa do governo brasileiro dava
ênfase à necessidade da formação de educadores para
tratar, em sala de aula, de questões relacionadas a gênero e
à sexualidade, o que deu origem ao Projeto Escola sem
Homofobia.
Para viabilizar a pregação contra a homofobia nas
escolas públicas de todo o país, foi firmado um convênio
entre a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade (Secad) vinculada ao MEC, com recursos do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e
a ONG Comunicação em Sexualidade – Ecos (Atualmente
denominada ECOS – Espaço, Cidadania e Oportunidades
Sociais.), para elaborar um kit de material pedagógico que
seria distribuído a cerca de seis mil escolas públicas de todo
o país.
Este convênio vigorou de 1.º de janeiro de 2008 a 31
de dezembro de 2012. Entretanto, uma polêmica impediu a
aprovação final para produção dos kits e de sua distribuição,
ou seja, o material nunca chegou a ser distribuído pelo
governo às escolas, porque, em 2011, quando os itens do
kit estavam prontos para serem produzidos, setores
representativos da sociedade, liderados pelo deputado Jair
Bolsonaro, iniciaram uma campanha contra o projeto do
MEC.
Nas muitas polêmicas criadas em torno do chamado
"kit gay" – termo cunhado pelo deputado Jair Bolsonaro e
como acabou ficando conhecido –, este, caso fosse
distribuído nas escolas, para alunos a partir da 6.ª série
(cerca de 10 anos), conforme projeto, seria, na visão destas
pessoas, responsável por "estimular o homossexualismo e a
promiscuidade".
No dia 23 de novembro de 2010, foi realizado o
seminário “Escola Sem Homofobia”, na Câmara dos
Deputados, proposto pelas Comissões de Direitos Humanos
e Minorias, Legislação Participativa e Educação e Cultura.
Parte do material que se pretendia entregar às escolas
públicas foi exibido no referido seminário. No vídeo intitulado
"Encontrando Bianca", um adolescente de
aproximadamente 15 anos, se apresenta como José
Ricardo, nome dado pelo pai, que era fã de futebol. O garoto
do filme, entretanto, aparece caracterizado como uma
menina, como exemplo de um travesti jovem. Em seu relato,
o garoto conta que gosta de ser chamado de Bianca, pois é
nome de sua atriz preferida e reclama que os professores
insistem em chamá-lo de José Ricardo na hora da chamada.
O jovem “travesti” do filme aponta um dilema no
momento de escolher o banheiro feminino em vez do
masculino e simula flerte com um colega do sexo masculino
ao dizer que superou o bullying causado pelo
comportamento homofóbico na escola. Na versão feminina
da peça audiovisual do MEC, o material educativo anti-
homofobia mostrava duas meninas namorando.
O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do MEC, André Lázaro, que participava do
seminário na Câmara dos Deputados, afirmou aos
presentes, em tom de brincadeira, que o Ministério se viu
com dificuldade para decidir sobre manter ou tirar o beijo
lésbico do filme.
- Nós ficamos três meses discutindo um beijo lésbico
na boca, até onde entrava a língua. Acabamos cortando o
beijo.
Em outro momento de sua fala, Lázaro reconheceu a
dificuldade de convencer as escolas a discutir abertamente
o tema, embora tenha afirmado que o material proposto pela
ONG Ecos era complementar a ações que o MEC já havia
tomado para impedir a discriminação sexual em material
didático, mas que não havia conseguido ainda que o
material didático contivesse informações específicas sobre o
tema, e complementou:
- A gente já conseguiu impedir a discriminação em
material didático, não conseguimos ainda que o material
tivesse informações sobre o assunto. Tem um grau de
tensão. Seria ilusório dizer que o MEC vai aceitar tudo. Não
adianta produzir um material que é avançado para nós e a
escola guardar.
No dia 30 de novembro de 2010, durante seu discurso
na tribuna da Câmara, quando defendia sua candidatura à
Presidência da Casa, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ)
falou contra a ideia do MEC em distribuir o “kit gay” nas
escolas e fez uma alerta aos pais:
- Atenção, pais de alunos de 7, 8, 9 e 10 anos, da rede
pública: no ano que vem, seus filhos vão receber na escola
um kit intitulado Combate à Homofobia. Na verdade, é um
estímulo ao homossexualismo, à promiscuidade. Esse kit
contém DVDs com duas historinhas. Seus filhos de sete
anos vão vê-las no ano que vem, caso não tomemos uma
providência agora. Dá para continuar discutindo esse
assunto? Dá nojo! Esses gays e lésbicas querem que nós
entubemos, como exemplo de comportamento, a sua
promiscuidade. Isso é uma coisa extremamente séria. Essa
história de homofobia é uma história de cobertura para
aliciar a garotada, especialmente os garotos que eles acham
que têm tendências homossexuais. Está na pesquisa,
publicada aqui, o número de garotos gays ou de meninas
lésbicas, repito, de 7, 8, 9 e 10 anos.
No dia 1.º de dezembro de 2010, o deputado Jair
Bolsonaro voltaria a abordar o tema “kit gay” em novo
discurso na Câmara dos Deputados, desta vez, falando
sobre a Comissão de Educação:
- É lamentável que aquela Comissão esteja
plenamente favorável à distribuição de um kit contra a
homofobia, mas que, na verdade, estimula o
homossexualismo nas escolas de 1.º grau, que será
distribuído às crianças de sete a dez anos de idade. Senhor
Presidente, é lamentável que gente com esse passado, com
essa opção sexual esteja influenciando no kit que será
distribuído em seis mil escolas públicas do primeiro grau em
todo o Brasil. Na verdade, companheiros, eu tenho certeza
de que 90% do pessoal da Comissão de Educação não
sabe disso. Com esse kit, em que são distribuídos alguns
filmetes para garotos e garotas do primeiro grau, na verdade
estimula-se o homossexualismo. Meus companheiros, eu
acho que não estou ficando maluco. Um filmete foi passado
na Comissão de Direitos Humanos na semana retrasada.
São três filmetes, que tratam do namoro de um garoto com
outro garoto dentro da escola e vão ser entregues para os
seus filhos e netos que estão no primeiro grau. Eu tenho um
dos filmetes e vou colocá-lo na Internet. É um negócio triste!
Esse pessoal ativamente gay está extrapolando! (...)
Mas Bolsonaro não era um “Dom Quixote” nessa luta
contra o “kit gay”, já que o embate teve o apoio da Frente
Evangélica e de muitos de seus apoiadores.
A Frente Evangélica se mobilizou para impedir a
distribuição do kit e uma petição chamada “Somos contra o
maior escândalo no país, o Kit Gay,” circulou para colher
assinaturas de pessoas que eram contra a distribuição de
tais kits para as escolas. Fez muito barulho, mas o resultado
foi pífio, pois pouco mais de 38 mil pessoas assinaram tal
petição.
Apesar de a esquerda ter aproveitado o fato para
tentar taxar o deputado Jair Bolsonaro de homofóbico, ele
justificou o trabalho vitorioso de barrar a distribuição do “kit
gay” nas escolas públicas:
- Eu não tenho nada contra os LGBTs. Eu sou contra
quem quer divulgar nas escolas que ser homossexual é
legal. É preciso combater essa proposta de várias formas,
inclusive na peça orçamentária, impedindo a alocação de
recursos para essa finalidade.
Do outro lado do espectro ideológico estava o ex-BBB
Jean Wyllys (PSol), eleito deputado federal em 2010, que
chamou o MEC de covarde por recuar na aprovação do kit
Anti-Homofobia, conforme publicado:
- O ministério da Educação está sendo covarde. Não
pode chegar agora e pegar um material feito por entidades
parceiras e dizer que acha que partes dele precisariam ser
mudadas. É claro que está em jogo o Palocci. Ele [o ministro
Fernando Haddad] foi obrigado a recuar.
E o deputado Jair Bolsonaro,44 que nunca correu de
uma polêmica alfinetou o deputado Jean Wyllys, dizendo
que não teria orgulho em ter um filho como ele. E
acrescentou:
- Este é o ambiente propício para colocar isso. Uma
pessoa já disse aqui que as melhores professoras que teve
foram as prostitutas. Tem professor que é gay. Será que é
bom também?
O deputado federal Jean Wyllys, claro, reclamou com
a Mesa dizendo se “sentir profundamente ofendido”, pelo
que, Jair Bolsonaro retrucou com ironia: “E eu estou sendo
vítima de preconceito contra heterossexual”.
É relevante informar que nenhum elemento do kit
Escola sem Homofobia foi distribuído para as escolas
públicas e o material produzido pela ONG ECOS se
encontra no MEC, sem divulgação, por falta de aprovação,
tendo o contrato entre o MEC e a ECOS sido encerrado em
2012.
Mas o motivo da interrupção do projeto do “kit gay”
poucos conhecem. Durante reunião que um grupo de

44
É importante frisar que a publicação apresentada por Jair Bolsonaro na
entrevista concedida ao Jornal Nacional - durante sua campanha à
Presidência da República -, da Rede Globo de Televisão e depois
replicada nas redes sociais é a tradução do livro da escritora francesa
Hélène Bruller “Aparelho Sexual e Cia”, lançado no Brasil em 2007 pela
Companhia das Letras e não foi distribuído pelo MEC. De acordo com a
Companhia das Letras, a edição está esgotada, e a indicação do livro,
quando estava em catálogo, era para o 6.º, 7.º, 8.º e 9.º anos do Ensino
Fundamental, ou seja, para alunos com idade entre 11 e 15 anos. Embora
haja esta indicação pela editora, a obra não consta nos programas de
distribuição de materiais didáticos do MEC. O conteúdo da obra “Aparelho
Sexual e Cia” é destinado à orientação sexual de crianças e adolescentes
– jovens descolados (espertos), conforme a própria editora. Há uma
seção chamada 'Fique esperto', que alerta para situações de abuso e
explica o que é pedofilia.
parlamentares faziam com a presidente Dilma Rousseff, que
queria que eles deixassem de obstruir as votações no
Congresso, estes pediram a ela que assistisse aos vídeos e
conhecesse o material que estava sendo confeccionado. A
presidente Dilma teve acesso ao conteúdo e, de acordo com
a militante pela família, Damares Alves (atual ministra), esta
teria ficado horrorizada com o material e, de pronto, proibiu
que aquele kit do Programa Escola Sem Homofobia
chegasse às escolas.
Um mandato de reconhecimento popular
Não fique triste quando ninguém notar o que fez de bom.
Afinal, o sol faz um enorme espetáculo ao nascer, e mesmo
assim, a maioria de nós continua dormindo.
(Autor desconhecido)

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirmou no dia 2


de fevereiro de 2011, que uma das prioridades do início de
seu sexto mandato na Câmara dos Deputados seria
combater a distribuição do kit contra a homofobia - o
chamado, por ele, de “kit gay” -, para alunos de escolas
públicas.
Mas ele tinha também outros problemas a tratar, como
a fidelidade ao apoio incondicional que seu partido queria
dar ao governo petista, da presidente Dilma Rousseff, em
troca de benesses e cargos, com o que, o deputado Jair
Bolsonaro não concordava de jeito algum, sofrendo
ameaças de retaliação.
Contra isso, ele protestou firmemente, conforme o
Correio Braziliense:
- Ameaças e pressões não fazem diferença para
parlamentares que não têm “negócios” com o governo. O
que acho absurdo, tanto quanto as ameaças é o fato dessa
maioria esmagadora se comportar como se fosse parte do
governo, como se eles fossem ministros. Não foi para isto
que fomos eleitos. Não foi para negociar cargos em troca de
apoio.
E o governo da presidente Dilma Rousseff, a exemplo
de seus antecessores, se empenhava por garantir a
aprovação de temas espinhosos, como o controle de gastos
com pessoal e o Código Florestal, em troca da entrega de
cargos estratégicos para que os partidos aliados pudessem
indicar seus “homens de confiança”, que nada mais eram,
do que pessoas dispostas a atacar os cofres públicos e
repassar dinheiro para o partido e seus dirigentes.
- Esta tática que eles vão usar, chama-se
‘aproveitamento do êxito’. É uma tática militar que a
presidente Dilma conhece e sabe que funciona. Nesse bolo,
a gente já sente até o cheiro da recriação da CPMF
passando com tranquilidade, afirmou Bolsonaro na
entrevista.
E a língua solta de Bolsonaro iria, mais uma vez levá-
lo a ser ameaçado de perda do mandato por respostas
agressivas dadas no programa CQC, veiculado no dia 28 de
março de 2011, pela Band, em que ele acusou a cantora
Preta Gil de ser promíscua, além de outros comentários
tidos como racistas.
Preta Gil foi convidada, pela direção do programa, a
enviar uma pergunta para o deputado Jair Bolsonaro e esta
lhe questionou sobre como reagiria caso seu filho
namorasse uma negra.. Bolsonaro então respondeu: “Ô,
Preta. Não vou discutir promiscuidade com quem quer que
seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram
muito bem educados e não viveram em ambiente como
lamentavelmente é o teu”.
De acordo com o site Terra, a cantora Preta Gil
revelou não ter assistido ao programa CQC da Band TV e
soube da repercussão da fala de Bolsonaro pela internet,
onde também ela assistiu ao vídeo.
Em seguida, ela postou no Twitter:

Advogado acionado. Sou uma mulher negra, forte e irei até


o fim contra esse deputado, racista, homofóbico, nojento.
Estou em paz, sei muito bem a família que tenho o orgulho
de ser negra e a consciência dos meus direitos como
cidadã.

Também no Twitter, o deputado estadual Flavio


Bolsonaro (PP-RJ), disse que o pai, Jair Bolsonaro, não é
racista e que não teria entendido a pergunta formulada pelo
apresentador. Ele também afirmou que Bolsonaro iria
publicar uma nota em seu site "esclarecendo o mal
entendido".
Depois, em entrevista a Terra Magazine, Bolsonaro
reiterou as críticas feitas ao comportamento de Preta Gil
[Preta Maria Gadelha Gil Moreira de Godoy], mas retificou
as que foram consideradas racistas:
- Eu entendi que ela me perguntou o que eu faria se
meu filho namorasse um gay (...). Se eu tivesse entendido
assim (da forma como a pergunta foi feita), eu diria: “meu
filho pode namorar qualquer uma, desde que não seja uma
com o teu comportamento”.
Alessandra Mello escrevendo para o Correio
Braziliense afirmou, sem meias palavras, que “tirando as
declarações polêmicas nada mais notabilizou o deputado
federal fluminense Jair Bolsonaro”, embora ela tenha
reconhecido que vinha fazendo escola e que, a cada novo
mandato conseguido nas urnas, ele ganhava mais eleitores,
que se identificavam com suas ideias.
Mello também fala que Bolsonaro já havia sido alvo de
20 representações na Câmara dos Deputados por quebra
do decoro parlamentar e que suas declarações “apontadas
como racistas, são manifestações do padrão de
comportamento do deputado de ideias polêmicas” e que ele
nada tinha de progressista, a não ser o nome de seu
partido, o PP – Partido Progressista.
No dia em que se comemorava 47 anos da Revolução
de 31 de março de 1964, o Terra Magazine foi entrevistar o
ex-ministro Jarbas Passarinho, tenente-coronel da Reserva
do Exército brasileiro. 45
O jornalista Claudio Leal conduziu a entrevista por
telefone, que teve como mote a fala desastrada de
Bolsonaro no CQC.
Leal provoca Passarinho dizendo que Bolsonaro - a
quem classifica como um congressista de extrema direita -
teria assumido o papel de defensor dos militares e que dizia
representar “a alma das Forças Armadas”.
- O que o senhor acha da polêmica de Jair Bolsonaro?
Ele sempre diz que representa os militares. Isso é real?
- Nem todos os militares estão ligados a ele, mas
como ele é o único que aparece falando... (...) Ele irrita
muito os militares também, porque quando está em
campanha, em vez de ele ir ao Clube Militar, como oficial,
ele vai pernoitar no alojamento dos sargentos (risos). Pra

45 LEAL, Claudio. Terra Magazine. Jarbas Passarinho: “Nunca pude

suportar Jair Bolsonaro”. São Paulo, 2011. Disponível em:


http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5038071-EI6578,00 -
Jarbas+Passarinho+Nunca+pude+suportar+Jair+Bolsonaro.html. Acesso
em: 23 set. 2019.
ganhar a popularidade dele. Quando eu fui ministro da
Justiça, recebi a visita de uma viúva de um brigadeiro de
quatro estrelas. Ela era pensionista, portanto. Sabe que a
pensão dela, naquela ocasião, no governo Collor, era o que
um cabo recebia na ativa? O Collor me autorizou a tentar
fazer uma modificação daquilo, pra ter pelo menos um
pouco mais de dignidade. Ele (Bolsonaro) me viu fazendo
isso. Ficou calado, veio com a esposa dele lá do Rio (de
Janeiro), e em seguida ele foi pra tribuna e deu aquilo como
projeto de lei dele. Por aí tu vês qual é a pessoa.
- No programa do CQC, ele disse que considerava
uma "promiscuidade" um hipotético namoro do filho dele
com uma negra, e atacou os homossexuais.
- Se alguém me procurar sobre isso, eu me recuso a dar
opinião. Recuso porque eu tenho por ele uma verdadeira
idiossincrasia. Foi mau militar, só se salvou de não perder o
posto de capitão porque foi salvo por um general que era
amigo dele no Superior Tribunal Militar. O ministro (do
Exército), que era o Leônidas [Pires Gonçalves], rompeu
com esse general por causa disso. (...)
Leal formula outras perguntas a Jarbas Passarinho,
mas a tônica é a mesma e o ex-ministro fala com o repórter
não gostar de falar sobre Bolsonaro “porque tudo isso [suas
atitudes imprudentes e irresponsáveis] vem à tona”.
Coube ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal, autorizar, no dia 14 de agosto de 2013, a
abertura de inquérito para investigar se o deputado federal
Jair Messias Bolsonaro (PP-RJ) havia cometido crime de
racismo contra a cantora Preta Gil.
O pedido de abertura de Inquérito Criminal foi
apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
em julho de 2013, com Barroso tendo autorizado o
prosseguimento das apurações. Ele entendeu que havia
“elementos indiciários mínimos da ocorrência do fato e de
eventual autoria por pessoa com foro por prerrogativa de
função”.
O processo foi encaminhado à Polícia Federal, que
pediu cópia do material gravado com Bolsonaro, sem
edição, à Bandeirantes para, em seguida, analisar se os
indícios sustentavam oferecimento de denúncia. Se a Corte
concordasse com os argumentos do MPF, Bolsonaro se
tornaria réu em ação penal.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Bolsonaro
relembrou sua atuação no que chamou de “Caso do Celso
Negão”, como justificativa de que nunca agiu com
preconceito racial:
- Minha relação com os negros sempre foi ótima. Não
vou dizer que meus melhores amigos eram negros, mas tive
bons amigos negros. E teve o caso do negão Celso. Em
1978, tinha um exercício em que passávamos por uma
corda em cima de uma lagoa. Mas o sargento balançou a
corda, e o recruta Celso "catapum" dentro d'água! Agarrei o
negão no fundo. Tirei-o pra fora, porque estava morrendo
afogado. Eu era um atleta, um cavalo. Depois me contaram:
"O soldado Celso é boiola!". Começou a brincadeira em
cima de mim: só tirei o negão para fazer boca a boca. Se
fosse racista, eu teria pulado? 46
Até então, Bolsonaro havia sido denunciado 20 vezes
à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Destas,
em seis vezes foi enquadrado nas hipóteses de perda do
mandato, mas em nenhuma houve votos suficientes para
tal.
O problema do deputado era a forma como ele falava,
sem se importar com o tal do “decoro parlamentar”, que
nada mais é do que um conjunto de “regras de convivência”,
que impedem que suas excelências matem uns aos outros
por causa de brigas em plenário ou fora dele.

46
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) recebeu no dia 5 de
dezembro de 2018, do Exército brasileiro, a Medalha do
Pacificador com Palma. A honraria é concedida a militares que, em
tempo de paz, tenham realizado atos de "abnegação, coragem e
bravura, com risco da própria vida", segundo informou o Centro de
Comunicação Social do Exército. A cerimônia de imposição da
medalha teve a participação do comandante do Exército, o general
Eduardo Villas Boas, e foi realizada no Quartel Geral do Exército,
em Brasília. O ato que garantiu a medalha a Bolsonaro ocorreu em
1978, quando ele impediu que um soldado da 2.ª Bateria de
Obuses do 21.º Grupo de Artilharia de Campanha se afogasse
durante uma atividade militar. Fonte: UOL/Política.
Vossa Excelência pra cá, Vossa Excelência pra lá,
quase na totalidade das vezes, isto não é dito por respeito,
mas para se viver o circo da hipocrisia que mantém inimigos
convivendo pacificamente, porque se não fosse o tal decoro
parlamentar, o Parlamento não funcionaria e as brigas e
mortes seriam inevitáveis, num antro de sujeira que
extrapola qualquer lógica.
Por exemplo, em determinado momento do governo
Lula, o deputado Jair Bolsonaro disse o que foi considerado
falta de decoro parlamentar, porque ele se insurgia contra a
então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, dizendo:
“Cumprimento o presidente Lula por ter nomeado para a
Casa Civil, Dilma Rousseff, uma pessoa técnica,
especialista em assaltos e furtos”.
No caso envolvendo a cantora Preta Gil, o deputado
Jair Bolsonaro foi representado pela artista junto ao
Ministério Público Federal, que formulou denúncia contra o
mesmo, junto ao Supremo Tribunal Federal.47
Logo depois da polêmica entrevista, três entidades de
defesa dos direitos de gays (o Grupo Diversidade Niterói, o
Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual e o Grupo
Cabo Free de Conscientização Homossexual e Combate à
Homofobia) também ajuizaram Ação Civil Pública contra
Bolsonaro.

47
Entretanto, o processo foi arquivado em 2015, porque até a fita de
vídeo que deveria servir de prova no inquérito criminal não foi localizada e
a Band afirmou não mais possuí-la. Pelo menos foi a desculpa da
emissora, o que reforçou a hipótese de que a entrevista foi editada e que
houve manipulação do CQC com relação ao conteúdo gravado, o que
poderia ser desmascarado por uma perícia da PF. Na sua decisão, o
relator, ministro Luis Roberto Barroso, ainda criticou o CQC por promover um
“tipo de debate público no qual, em lugar de focar no argumento, o interlocutor
procura desqualificar moralmente o adversário”. O ministro
também considerou a argumentação do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, também autor do pedido de arquivamento, ao afirmar que
“a ausência da gravação integral, sem edições, não confere juízo de
certeza se a resposta se refere à pergunta formulada”. Em relação à
imunidade parlamentar, Barroso considerou o fato de o
programa CQC ter anunciado o quadro em que Bolsonaro participaria
como a entrevista com “o deputado federal mais polêmico do Brasil”. Isso
demonstra, segundo Barroso, que o deputado foi entrevistado por conta
de seu cargo.
Na ação, as entidades pediam que o deputado fosse
obrigado a se retratar e pagar multa de R$ 500 mil, a título
de indenização por danos morais coletivos.
De acordo com o vereador Leonardo Giordano (PT-
RJ), que assinou a Ação Civil Pública juntamente com as
ONG’s citadas, a advogada Carla Belatto era a
patrocinadora da causa. De acordo com Giordano, “as
manifestações do deputado incitaram neonazistas a agirem
com violência aos homossexuais e em apoio ao
parlamentar”.
Além destes fatos, o vereador também afirmou que o
site da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Transvestis
e Transexuais (ABGLT) teria sido invadido por hackers que
apagaram o conteúdo da página e deixaram mensagens
pró-Bolsonaro e homofóbicas.48
No dia 2 de abril de 2011, o jornalista Leonardo
Cavalcanti escreveu na coluna “Nas entrelinhas” do Correio
Braziliense o artigo “Sobre o que vale a pena”. No artigo,
Cavalcanti faz um paralelo de três frentes: a morte do vice-
presidente José Alencar, motivada por câncer, as sempre
controversas declarações do deputado Jair Bolsonaro e a
vida de uma negra americana contada no livro “A vida
imortal de Henrietta Lacks”, morta por câncer em 1951.
Sem entrar em muitos detalhes, Cavalcanti sugere que
o livro contando a história da negra norte-americana poderia
servir para analisar os fatos políticos de maior destaque
naquela semana: a morte de Alencar e as falas do deputado
Jair Bolsonaro, mostrando “a quem devemos dar ouvidos”.
Assim, Cavalcanti faz o relato de que os médicos que
acompanhavam o problema de Henrietta Lacks teriam
retirado tecidos cancerosos de seu corpo para estudos e
para o desenvolvimento de terapias e medicamentos; isso

48 O processo tramitou na 6.ª Vara Cível e, em abril de 2015, a juíza


Luciana Santos Teixeira condenou Bolsonaro a pagar R$ 150 mil. O
pedido de retratação não foi atendido. O recurso do deputado foi julgado
no dia 8 de janeiro de 2017, pela 6.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro. Por três votos a dois, os desembargadores decidiram
manter a punição. Ainda cabem recursos ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). O que se faz justo apontar é
que o MPF pediu arquivamento da ação por entender não ter havido
crime, mas mesmo assim, a ação foi julgada pelos desembargadores.
há 60 anos. E fala que muita gente ganhou dinheiro com
isso, exceto a família da paciente-cobaia. Mas o fato
principal explorado por Cavalcanti neste tópico era a
carência de profissionais no Brasil preparados para lidar
com a questão do câncer e também de hospitais
especializados. E, para concluir seu artigo, o jornalista fala
sobre Jair Bolsonaro:
(...) O debate sobre o câncer está aberto. É urgente. Algo
bem diferente ocorreu na polêmica das declarações do
militar Jair Bolsonaro, acusado de racismo durante
entrevista à televisão. Rechaçar opiniões racistas e
homofóbicas é um dever do cidadão e ninguém pode fugir
de tal discussão. Mas sempre há um risco de entrar numa
enrascada. As declarações de Bolsonaro, chamado de
estúpido pelos próprios colegas de Câmara, servem mais a
ele do que a qualquer outro. O sujeito se elege por conta de
tais discursos. E sempre que for questionado sobre gays,
por exemplo, vai polemizar. A pergunta é: dar voz ao
parlamentar fluminense trás algum benefício à sociedade?
Nos anos 1930, segundo a repórter Rebecca Skloot, os
pesquisadores escolheram cobaias para as pesquisas sobre
sífilis, porque acreditavam que os negros fossem uma “raça
notoriamente impregnada com a doença”. [depois
observavam os pacientes morrerem lenta e dolorosamente,
quando poderiam evitar tais mortes, pois a penicilina curava
a doença e os pesquisadores sabiam disso]. Poucas coisas
são mais dolorosas e repugnantes como o preconceito. Dar
cada vez menos ouvidos e atenção às frases polêmicas de
Bolsonaro, que está em seu sexto mandato de deputado,
talvez um dia o deixem de fora da Câmara. Será o maior
castigo para alguém como ele.

No dia 10 de abril de 2011, o Correio Braziliense


publicava carta da leitora Zulmira Quinté, moradora do Park
Way, região administrativa do Distrito Federal, que
protestava contra Bolsonaro e o pastor Marco Feliciano:
Os afrodescendentes não querem ser tolerados. Todos
exigem ser respeitados. As declarações preconceituosas e
racistas dos deputados federais Jair Bolsonaro (PP-RJ) e
Marco Feliciano (PSC-SP) causaram indignação na maioria
dos negros brasileiros. Para Bolsonaro, as negras são
promíscuas. Na avaliação do pastor Feliciano, o povo negro
é “amaldiçoado”. Os setores mais esclarecidos da
sociedade reagiram com indignação. As manifestações de
rua começaram e deverão se repetir em Brasília e também
nos estados. Todos têm consciência de que o tratamento
pejorativo dispensado pelos deputados aos negros não é
levado em conta no período eleitoral, quando ambos
buscam em todas as etnias votos para manterem-se no
poder. As manifestações dos afrodescendentes e gays
devem persistir - se possível -, até 2014, para que as
promíscuas e os amaldiçoados ignorem suas candidaturas.
[Os dois foram reeleitos].

E a discussão sobre homofobia descambaria mesmo


no Congresso Nacional no dia 12 de maio de 2011, com a
discussão acalorada entre o deputado Jair Bolsonaro e a
senadora Marinor Brito (PSol). O dia seria dedicado a
discutir o Projeto de Lei nº 122/2006, que tornava crime, as
manifestações homofóbicas.

Explicação da Ementa do PL n.º 122/2006: 49


Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, o Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) e o
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT) para definir os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de gênero,
sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Estabelece
as tipificações e delimita as responsabilidades do ato e dos
agentes.

Mas, quando deveria ser discutido o projeto na


Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
(CDH), seria mais um dia triste para o Congresso, com
baixaria sem igual, com a deputada partindo para o ataque:
– Homofóbico! Tu devias ir para a cadeia! Criminoso!
Respeita! Distribuindo panfleto homofóbico com dinheiro
público.
– Ela [Marinor] não pode ver um heterossexual perto
dela que já sai batendo. Ela não pode ver um macho que
fica louca. Tem que ter um projeto para criminalizar o
preconceito hetero.

49
O projeto inicial (PL 5003/2001) é da deputada federal Iara Bernardi
(PT-SP), de agosto de 2001. Em 12/12/2006, foi protocolado o PL
substituto n.º 122/2006, que continua tramitando.
Por conta desta sua fala, Jair Bolsonaro teve
protocolado na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar,
mais uma representação do PSol pedindo a sua cassação.
Segundo o autor da representação, deputado Chico Alencar
(RJ), a senadora Marinor Brito teria sido ofendida pelo
deputado Jair Bolsonaro, quando a chamou de
“heterofóbica”.
Depois das lamentáveis cenas, a reunião foi encerrada
e o projeto foi retirado de pauta, a pedido da relatora,
senadora Martha Suplicy, para reexame.
Somente no dia 15 de junho de 2011 é que o
Conselho de Ética da Câmara reuniu e decidiu pela abertura
de processo contra Jair Bolsonaro. Diante disso, o deputado
disse aos membros do Conselho: “Não me interessa sofrer
pena alternativa, como a censura pública. Se acharem que
feri o decoro, que peçam a minha cassação para o plenário.
Do contrário enterrem de vez”.
Já para a imprensa, o deputado Jair Bolsonaro disse
sobre a estratégia de defesa que utilizaria na Comissão de
Ética:
- Minha defesa será o ataque. Vou mostrar as
irregularidades que envolvem o governo e as ações a favor
do homossexualismo. No caso específico da senadora, não
temo nada, pois ela me chamou de homofóbico e assassino
no dia da discussão. Nem por isso representei contra ela.
A polêmica duraria, contudo, poucos dias. Em 29 de
junho de 2011, a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar,
decidiu pelo arquivamento do processo contra Bolsonaro,
depois de muito bate-boca entre os envolvidos:
– Sou parlamentar com P maiúsculo e não com h
minúsculo de homossexual, dirigindo ao deputado Jean
Willys (PSol-RJ).
– Sou homossexual com H de Homem, mais homem
que o senhor, retrucou o deputado Psolista.
Depois da vitória por dez votos contra sete, o
deputado Jair Bolsonaro afirmou que “o Conselho de Ética
era formado por sua maioria de heterossexuais que
defendiam a família”, tendo arrancado aplausos dos
presentes.
O filho de Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro
(PP-RJ) disparou no Twitter: “Chuupa Viadada. Bolsonaro
absolvido. Viva a liberdade de expressão”.
Mas o assunto ainda foi, posteriormente, avaliado pela
Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, já que esta
recebeu representações de, entre outros, os deputados
Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro de Igualdade Racial do
Governo Lula, e Luiz Alberto (PT-BA), a procuradora
feminina da Câmara, Elcione Barbalho (PMDB-PA), e a
seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB-RJ). A Comissão de Direitos Humanos da Casa
também apresentou uma reclamação.
Pelas regras vigentes, somente partidos poderiam
acionar diretamente a Comissão de Ética, como o fez o
PSol, em representação que fora arquivada no final do
primeiro semestre. Outras entidades e pessoas físicas
deveriam representar junto à Mesa Diretora.
Portanto, a Mesa Diretora que, se reuniu em 12 de
julho, fez a análise do parecer sobre estas outras
representações. Na oportunidade, o corregedor da Câmara,
Eduardo da Fonte (PP-PE) apresentou seu parecer sobre o
caso: para ele, Bolsonaro, seu colega de partido, deveria ser
absolvido.
Na decisão, os integrantes da Mesa afirmaram que,
“por mais que fossem contrários”, a manifestação de
Bolsonaro estaria protegida pela liberdade de opinião
parlamentar, prevista da Constituição.
E o falatório de Bolsonaro contra os homossexuais
daria margem para ele atacar até a presidente Dilma
Rousseff, durante seu discurso na tribuna da Câmara dos
Deputados, no dia 24 de novembro de 2011:
- O kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff
para de mentir. Se você gosta de homossexual, assuma. Se
o seu negócio é amor com homossexual, assuma, mas não
deixe que esta covardia entre nas escolas do primeiro grau.
O Correio Braziliense publicou, dois dias depois, carta
do leitor Haroldo [Cesar] Michiles (à época, ainda estudante
do 1.º ano de Psicologia) em que o mesmo criticava
duramente o deputado Jair Bolsonaro:
Sobre a matéria “Mais estupidez na boca de Bolsonaro
(25/11, p. 3)” gostaria de externar minha decepção pela
posição preconceituosa, antiquada e cheirando a mofo
desse deputado em relação a diversos temas, em especial
aos gays. Aliás, esse parece ser o discurso único da
“profícua” carreira do político, que no fim acaba dando a ele
a única chance de aparecer. Posições, como esta, incitam
agressões contra homossexuais, o que acontece
diariamente no país. Penso que um representante do povo
deveria mesmo é estar preocupado com a segurança, com
a educação, com a saúde e corrupção. O deputado
Bolsonaro, num discurso pra lá de reacionário, está mesmo
é na contramão do novo, da história. Certamente será
lembrado por isso.

No dia 14 de fevereiro de 2012, o jornalista Aziz


Ahmed, em sua coluna Confidencial, que assinava no Jornal
do Commercio, deu divulgação à seguinte nota em relação
ao deputado Jair Bolsonaro:
Na Rede – O deputado Jair Bolsonaro acaba de incluir em
seu polêmico currículo o registro de um malfeito ambiental.
Ele foi flagrado pescando próximo à Ilha de Samambaia,
pertencente à Estação Ecológica de Tamoios, em Angra
dos Reis. Não quis atender à fiscalização do Ibama, tentou
fazer prevalecer a condição de parlamentar, mas acabou
autuado e multado. Ainda tentou que o ministro da Pesca,
Luiz Sérgio (PT-RJ), intercedesse, alegando que doaria os
50 quilos de olho-de-cão, que já havia pescado, à
população carente de Mambucaba. Mas não adiantou.

Jair Bolsonaro contestou a nota divulgada pelo jornal


do Commercio e teve os seus esclarecimentos divulgados
no dia seguinte, na seção Leitores:
Alertado das arbitrariedades praticadas por servidores do
Ibama na Baia de Angra contra os pescadores nativos da
região, recebi, da então ministra da Pesca, Ideli Salvatti,
resposta escrita de que a pesca artesanal ou amadora, com
utilização de linha, vara e molinete não eram proibidas
naquela área.
No dia 26/01/2012, fui abordada de forma ríspida por cinco
servidores do Ibama, entre eles o seu chefe de escritório
regional, José Augusto Morelli, que mesmo sendo
informado das respostas ao Requerimento de Informações
de abril de 2011, insistiu para que parasse de pescar com
vara na Ilha Samambaia. [50]
Dado à impossibilidade de qualquer diálogo civilizado,
telefonei ao atual ministro da Pesca, Luiz Sérgio, sobre o
desrespeito para comigo e para um documento assinado
por sua antecessora na Pasta.
Não fui autuado, multado nem tive qualquer material
apreendido como não é de praxe pelo Ibama. Se comigo
tentaram via chantagem, inclusive no jornal local A Maré,
não lograram êxito e apenas me deram a certeza da forma
brutal, desumana e ilegal como agem com os humildes
pescadores da região.
Já realizei três contatos com o Ministério da Pesca, dois dos
quais com o ministro, e, salvo motivo de força maior, voltarei
neste carnaval a praticar pesca amadora na região, além de
divulgar extrato da legislação que permite a atividade, junto
aos pescadores locais, que poderão desta forma, para sua
sobrevivência, retirar do mar o sustento próprio e da família,
livres do terrorismo imposto por despreparados e arbitrários
funcionários dos órgãos locais do Ibama.

50 No dia 1.º de março de 2016, a Segunda Turma do STF rejeitou a

denúncia apresentada pela PGR contra o deputado Jair Bolsonaro por


Crime Ambiental, tendo sido relatora a ministra Carmen Lúcia. O
julgamento que havia começado em 23 de junho de 2015 foi suspenso
por pedido de vista do ministro Dias Toffoli, que também vou seguindo o
voto da relatora. A relatora do inquérito, a ministra Carmen Lúcia,
afirmou que no caso inexiste o requisito da justa causa para o
prosseguimento de ação penal, principalmente porque não houve
ofensividade da conduta do agente, uma vez que, quando abordado
pela fiscalização, o deputado estava em pequena embarcação próximo
à Ilha de Samambaia, no contexto de pesca rústica, com vara de
pescar, linha e anzol. “Pelo reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento, e apesar de moldar-se a conduta do denunciado
formalmente à tipicidade formal e subjetiva, não tenho como presente a
tipicidade material, que seria a relevância penal da conduta e do
resultado típico pela significância da lesão produzida, nem ao menos
indiciariamente comprovada no bem jurídico tutelado”, afirmou.
No dia 20 de dezembro de 2018, a AGU emitiu parecer favorável à
anulação da multa de R$ 10 mil aplicada a Bolsonaro pelo Ibama e
retirada de seu nome do cadastro de pessoas físicas e jurídicas com
dívida ativa com a União, com a alegação de que Bolsonaro não teve
amplo direito de defesa e nem teve resguardada a garantia ao
contraditório.
Novo pedido de cassação por quebra de decoro
parlamentar de Bolsonaro foi encaminhado à Corregedoria
Parlamentar, pelo presidente da Câmara dos Deputados,
Marco Maia (PT-RS), depois de receber Representação da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
De acordo com o documento, Bolsonaro, no dia 3 de
abril de 2012, havia tentado obstruir os trabalhos da
Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, que
estava reunida, em sessão fechada, ouvindo ex-integrantes
do Exército que participaram da Guerrilha do Araguaia. Esta
comissão Parlamentar era ligada à Comissão de Direitos
Humanos e Minorias.
Explicou o presidente da Comissão, deputado
Domingos Dutra (PT-MA):
- Apesar de não fazer parte da Comissão da Verdade,
nem da Comissão de Direitos Humanos, ele [Jair Bolsonaro]
tentou obstruir os trabalhos e paralisar as atividades de tais
comissões. Ele tentou intimidar os depoentes, tirando
fotografias às escondidas. Estas pessoas estão
traumatizadas, se sentem ameaçadas de morte e o
deputado Jair Bolsonaro tentou evitar o depoimento.
De acordo com Bolsonaro, o fato de um servidor tentar
tomar a câmera fotográfica de suas mãos, foi o que
desencadeou a confusão. Disse também que se sentia
“indignado com o fato de a reunião ter ocorrido a portas
fechadas”. Para ele, a Comissão era autoritária por não dar
condições de se fazer o contraditório.
Bolsonaro não coleciona somente polêmicas, mas
também elogios...
Durante a leitura de seu voto no julgamento da Ação
Penal 470, no dia 17 de setembro de 2012, para comprovar
a existência do "Mensalão" do Partido dos Trabalhadores,
demonstrou a ocorrência de votações de grande interesse
do governo, como a da "Reforma da Previdência" e a da
"Reforma Tributária", que somente foram aprovadas após
repasse de dinheiro para deputados, tendo citado o
deputado Jair Bolsonaro como o único a não votar com o
governo.
- (...) A Reforma da Previdência e a Reforma Tributária
foram os principais exemplos de votações de interesse do
governo federal na Câmara dos Deputados, que teriam
sofrido interferência desses pagamentos, embora não tenha
sido os únicos atos de ofício cuja prática se pretendeu
influenciar. De fato, essas reformas receberam fundamental
apoio dos parlamentares comprados pelo Partido dos
Trabalhadores e das bancadas, por eles orientadas ou
dirigidas, exatamente no momento em que foram realizados
os maiores repasses de dinheiro aos parlamentares
acusados. Por outro lado, os líderes dos quatro partidos
cujos principais parlamentares receberam recursos em
espécie do PT, orientaram as suas bancadas a aprovarem o
projeto, que foi encaminhado pelo governo. Somente o
senhor Jair Bolsonaro, do PTB, votou contra a aprovação da
referida lei. Todos os demais votaram pelo sentido orientado
pelo líder do governo e do Partido dos Trabalhadores na
Câmara dos Deputados. (...)
No dia 22 de dezembro de 201251, a Câmara dos
Deputados concluía a votação, em dois turnos, da PEC das
Domésticas. Somente os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ)
e Vanderlei Siraque (PT-SP) votaram contra. Para
Bolsonaro, a equiparação dos direitos poderia ter um efeito
negativo para a economia do País. “Não só a empregada
doméstica vai ser demitida como aquela mulher que ganha
R$ 1 mil, R$ 1,5 mil vai para dentro de casa. E a roda da
economia deixará de girar”, alegou Bolsonaro.
Um novo ano de mandato e o Conselho de Ética e
Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados dava início
à análise de representações contra parlamentares, entre os
quais figurava Jair Bolsonaro acusado de afirmações
racistas e homofóbicas como a de que a ministra da
Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora
Menicucci, era “sapatona”. Estava também na pauta a
análise da representação feita contra o deputado por –
conforme a representação - ter discriminado a cantora Preta
Gil por ser negra.
A resposta, supostamente preconceituosa, dada por
Jair Bolsonaro, em março de 2011, à cantora Preta Gil, foi
entendida pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
como suficiente para que o procurador-geral Roberto Gurgel
51
Nas eleições municipais de 2012, o filho de Jair Bolsonaro, Flávio
Bolsonaro (PP), vereador do Rio de Janeiro, foi reeleito com 23.679
votos.
e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto
Barroso, a transformassem em investigação na Suprema
Corte, no dia 14 de agosto de 2013.
Mas os problemas a serem enfrentados eram muitos...
52

Bolsonaro iria entrar em nova confusão, com direito a


ter pedida novamente a sua cassação por quebra do decoro
parlamentar acusado de agressão física a um parlamentar.
O fato ocorreu no dia 23 de setembro de 2013.
Entenda o caso:
Uma comitiva de representantes da Comissão
Nacional da Verdade, que investigava os supostos crimes
cometidos por forças estatais, quando do Regime Militar
implantado no Brasil em 1964, formada pelos senadores
Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e João Capiberibe (PSB-AP),
além de membros da Comissão da Verdade do Rio de
Janeiro, se preparavam para entrar nas dependências do 1.º
Batalhão de Polícia do Exército (BPE) do Rio de Janeiro,
guiados pelo jornalista Álvaro Caldas,53 que havia sido preso
em duas oportunidades neste quartel, quando chegou o
deputado federal Jair Bolsonaro, querendo participar da
visita, sem ter sido convidado para tal.
O senador João Capiberibe o barrou dizendo que ele
não poderia acompanhar a comitiva, com o que Bolsonaro
não concordou, dando início a um bate-boca e empurrões,
tendo alegado ter sido agredido fisicamente por ele, o
senador Randolfe Rodrigues.
Explicou assim o senador Capiberibe sobre o ocorrido:

52 No dia 29 de agosto de 2013, o ministro Marco Aurélio Mello, do


Supremo Tribunal Federal, negou o pedido de liminar, no Mandado de
Segurança (MS) 32.224, impetrado pelo deputado federal Jair Bolsonaro,
pelo qual o parlamentar queria tornar sem efeito a Medida Provisória n.º
621/2013, que instituiu o programa “Mais Médicos”.
53 Álvaro Caldas nasceu em Goiânia, em 1940. Trabalhou nas principais
redações do Rio de Janeiro e de São Paulo: O Globo, Jornal do Brasil,
Jornal dos Sports, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Última Hora
e TV Globo, entre outros. Colaborou em jornais da imprensa alternativa
nas décadas de 1970 e 1980, como Opinião, Movimento e Pasquim. Na
ditadura foi preso várias vezes e as torturas que sofreu foram contadas no
livro “Tirando o capuz”.
- Ele [Bolsonaro] se apresentou e deixei claro que ele
poderia fazer a visita, mas não acompanhando nossa
comitiva. Ele se alterou e terminou agredindo o senador
Randolfe.
O senador Randolfe Rodrigues negou que Bolsonaro
tenha apenas lhe dado um empurrão, como alegou o
deputado carioca:
- O senhor Bolsonaro é o retrato de um Brasil que não
existe mais. É anacrônico. Ele tentou tumultuar a visita e,
não tendo êxito, partiu para nos agredir. Bolsonaro pode ser
comparado aos militares que extrapolam suas funções,
torturam, assassinaram e desapareceram com pessoas,
cometendo crimes em nome do Exército Brasileiro.
Depois da confusão saneada, Bolsonaro foi autorizado
pelos militares a adentrar ao local, mas separado dos
membros da Comissão Nacional da Verdade. De acordo
com Bolsonaro, ele é que sofreu a primeira violência, ao ser
impedido pelo senador Capiberibe de entrar. “Quando fui
entrar, o senador Capiberibe meteu a mão em meu pescoço
e disse: não entre”, afirmou Jair Bolsonaro.
Ainda de acordo com ele, foi depois da intervenção de
Randolfe Rodrigues que teria iniciado, de fato, as rusgas. E
Bolsonaro concluiu: “Se acham que é agressão, paciência.
Se eu tivesse dado uma porrada, ele teria desmontado.
Apesar dos meus 58 anos, estou bem preparado
fisicamente”.
E, por causa disso, o PSol entrou com uma
Representação junto ao Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da Câmara dos Deputados contra a atitude de
Bolsonaro, e o Conselho instaurou o devido processo
disciplinar.
Em plena campanha para conquistar sua sétima
eleição a deputado federal, Jair Bolsonaro foi entrevistado
pelo repórter Wilson Tosta, do Estadão, quando, segundo o
jornal, ele estava “postado na esquina da Estrada do Portela
com a Rua Dagmar da Fonseca, em Madureira, no subúrbio
do Rio”, falando com pessoas que passavam por ali e, claro,
pedindo seu voto.
Segundo Tosta, Bolsonaro era sempre cumprimentado
por pessoas que passavam no local, enquanto ele respondia
à “entrevista em que atacava o Programa Bolsa Família, a
Lei da Palmada, a Comissão Nacional da Verdade, os
Direitos Humanos, a demarcação de terras indígenas e o
governo petista da presidente Dilma Rousseff”.
Tosta fez questão de perguntar a Bolsonaro sobre seu
voto para presidente da República e, segundo o mesmo, o
deputado teria afirmado que votaria “no 1.º turno em Aécio
Neves (PSDB) e, no 2.º turno, ele votaria em qualquer um,
mas não votaria no PT”. E também, que teria torcido o nariz
para a candidata Marina Silva (Rede), dizendo que ela era
"uma esquerdinha".
O deputado federal Jair Bolsonaro apresentou, no dia
19 de março de 2014, o Projeto de Lei n.º 7.282/2014,
modificando a Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), estabelecendo maior possibilidade do
porte de arma para os cidadãos de bem que necessitam
usufruir deste direito.
Justificando seu PL, Bolsonaro citou o caso do praça
das Forças Armadas que combate o crime nas fronteiras
perde o direito ao porte quando fora de serviço e, o
caminhoneiro após nova legislação fica obrigado à
descansar 30 minutos à cada 4 horas dirigidas, forçando
exposição em local inseguro e desconhecido colocando sua
vida e sua carga em risco.

Jair Bolsonaro, em 2014, falando sobre a decisão do PP em apoiar a


petista Dilma Rousseff, deixando de apoiar sua candidatura à
Presidência – Arquivo Pessoal.
“A facilitação ao porte de arma legal é extremamente
necessária para a segurança dos cidadãos de bem de
nosso país”, afirmou Bolsonaro.
O Projeto de Lei n.º 7.282/2014 previa que poderia ser
concedido porte de arma de fogo para pessoas que
justificarem a necessidade para sua segurança pessoal ou
de seu patrimônio.
A Lei do Desarmamento (Lei n.º 10.826/2003)
restringia a concessão de porte apenas às categorias
profissionais que dependem de armas para o exercício de
suas atividades – como policiais, os integrantes das forças
armadas e guardas prisionais.
O projeto ainda estendia o direito a portar armas, a
oficiais e praças das Forças Armadas com estabilidade,
assim como aos oficiais temporários destas instituições. Na
concepção de Bolsonaro, “a incoerência em não se
conceder porte de arma aos oficiais e praças com
estabilidade demonstra o descaso do Governo para com
estes profissionais”.
Já com relação aos oficiais temporários, o parlamentar
acredita que, “pelo seu treinamento e sua responsabilidade,
constituem parcela da sociedade mais do que preparada
para o porte de arma de fogo para defesa própria”.
Em 2014, o deputado Jair Bolsonaro, então com 59
anos, teve a maior votação a deputado federal do Rio de
Janeiro, com 464.572 votos, ou 6,07% do eleitorado carioca,
tendo sido a sua mais expressiva vitória nas urnas,
indicando, claramente, que a população via nele um
candidato que se destacava na Câmara dos Deputados
pelos seus discursos fortes contra a corrupção, o
comunismo e as ações que a esquerda queria introduzir nos
costumes e valores éticos e morais. 54

54
Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho do deputado Jair Bolsonaro
foi eleito, pela primeira vez, nas eleições de 2014, concorrendo
pelo Partido Social Cristão (PSC), tendo alcançado o total de
82.224 votos. Seu irmão, Flávio Bolsonaro, foi reeleito deputado
estadual do Rio de Janeiro, pelo Partido Progressista (PP) com
160.359 votos (2,07%).
Logo após a sua reeleição, Bolsonaro usou a tribuna
da Câmara dos Deputados para falar sobre o fato. Foi no dia
14 de outubro de 2014.
O SR. PRESIDENTE (Inocêncio Oliveira) - Continuando o
Grande Expediente, concedo a palavra ao ilustre Deputado
Jair Bolsonaro, do PP do Rio de Janeiro. S. Exa. dispõe de
25 minutos na tribuna.
O SR. JAIR BOLSONARO (Bloco/PP-RJ. Sem revisão do
orador.) - Prezado presidente, deputado Inocêncio Oliveira,
primeiro, eu queria agradecer a Deus a oportunidade que
Ele me deu para continuar mais 4 anos ocupando esta
tribuna.
Queria agradecer também a oportunidade que deu ao meu
filho, o policial federal Eduardo Bolsonaro, eleito por São
Paulo para deputado Federal com 82 mil votos. Queria
agradecer ao Pastor Marco Feliciano, que me ajudou na
conquista da legenda e também ao deputado Gilberto
Nascimento, que nos ofertou o tempo de televisão para a
campanha dele em São Paulo. Ele gastou
aproximadamente 50 mil reais e obteve 82 mil votos.
O meu nome, o meu passado, obviamente, ajudaram
bastante. É uma linha que eu tracei nesta Casa, desde
quando aqui cheguei, em 1991. Podem alguns não gostar
de mim, mas sabem exatamente qual é o meu
posicionamento.
Também queria agradecer a Deus a reeleição do meu filho
Flávio Bolsonaro como o terceiro mais votado no Estado do
Rio de Janeiro. Um homem que já é querido pela Polícia
Militar, pelo Corpo de Bombeiros Militar, pelos policiais civis
e por uma grande parte da sociedade.
Os quase meio milhões de votos que obtive, então
representam sim, algo que eu prego aqui ao longo de 24
anos. E isso é motivo de orgulho para mim. E não é porque
está dando certo a minha reeleição, é porque as minhas
propostas, as minhas ideias, o que eu defendo é aquilo com
que, cada vez mais, a população tem se identificado. E
vamos continuar nessa mesma linha.
Queria agradecer aqui ao Sr. Olavo de Carvalho, que me
citou em seu blog, dizendo que, caso ele fosse eleitor no
Rio de Janeiro, votaria em mim. É um homem que
representa mais do que a Direita, representa o direito em
nosso País, representa a democracia e representa a
verdade.
Um dos fatos marcantes da minha campanha foi quando eu
estava em Pirassununga e, no Facebook, eu disse que, no
dia seguinte, entre 10 e 12 horas, estaria no Largo do
Rosário, em Campinas, fazendo campanha para o policial
federal Eduardo Bolsonaro. Foram mais de 100 garotos de
16, 17, 18 anos que compareceram. São garotos que
discutem política com P maiúsculo. São garotos que se
libertaram do proselitismo, da mentira e da ideologia de
esquerda que, infelizmente, vem tomando conta do nosso
País.
Entre o que nós defendemos — e vamos pedir apoio aos
que foram reeleitos e aos novos que aqui chegarão — está
o tema do planejamento familiar. O Brasil não pode
continuar crescendo com mais de 2 milhões de habitantes,
aproximadamente, a cada ano que passa.
Entendo eu que a falta de água em São Paulo, infelizmente,
irá se deslocar para o Rio de Janeiro em razão desse
crescimento populacional que nos assusta. Só a capital de
São Paulo agrega, por ano, aproximadamente 140 mil
novos habitantes. O Rio de Janeiro agrega 50 mil novos
habitantes. O planejamento familiar é uma política que
deveria ser pensada por todos na Casa e não por poucos
Parlamentares.
Outro assunto com o qual me coaduno, em parte, com o
candidato Aécio Neves é a redução da maioridade penal.
Por que em parte? Porque ele quer a redução apenas para
aqueles que cometem crimes hediondos. Para mim, todos
deveriam responder pelos seus crimes, independente de ser
hediondos ou não. Hoje, o jovem sabe o que é certo e o que
é errado.
Digo mais: o meu segundo filho, que é Vereador no Rio de
Janeiro, foi convencionado e votado com 17 anos de idade
e, quando foi tomar posse, havia recém-completado 18
anos. Ele sabia muito bem o que estava fazendo. Ele não
votou, ele foi votado.
Então, a redução da maioridade penal, como forma de inibir
a criminalidade ainda na fase juvenil, é algo mais do que
pedido pela sociedade. Em qualquer pesquisa se nota que
92% da população quer a redução da maioridade penal. E,
lamentavelmente, o Governo que está aí de plantão, o
Governo do PT, não admite sequer discutir esse assunto.
Também tenho tido muito apoio quanto à questão da
meritocracia. Até os negros — a maioria com quem eu
tenho conversado — são contra as cotas no Brasil,
Deputado Marco Feliciano, que tem origem
afrodescendente.
Este Governo é especialista na luta de classes: joga
brancos contra negros, com as cotas; joga homossexuais
contra heterossexuais, e, curiosamente, sempre se mostrou
aliado a ditaduras, como a do Irã, como as africanas, onde
os homossexuais ou são condenados à pena de morte ou
recebem duras penas de privação de liberdade.
É um Governo que joga pais contra filhos, como fez com a
Lei da Palmada. Agora é lei. Que retaguarda moral tem ou
teria a Sra. Xuxa Meneghel para patrocinar um projeto como
esse? Ou que moral tem o Estado, seja ele qual for, em
especial este, para dizer como um pai deve educar o seu
filho? É um Governo que joga ricos contra pobres, como se
os ricos fossem os vilões. Temos que lembrar apenas uma
coisa: se os ricos deixarem de produzir, os pobres deixam
de receber aquilo que o Governo lhes dá em forma de
esmola, o que é um crime. Agora, também joga nortistas
contra sulistas. É o Governo, realmente, da divisão e não da
união.
O meu eleitor é, em grande parte, formado por aqueles que
privam pela propriedade privada. A Emenda Constitucional
n.º 81 — é algo mais do que claro —, com o apoio do
Governo do PT, deu um golpe de misericórdia na
propriedade privada. Perde a propriedade não só aquele
que, porventura, pratique o trabalho escravo — o que todos
nós condenamos, é lógico —, mas também, já implícito na
emenda à Constituição, aqueles que pratiquem o trabalho
análogo à escravidão. Ou seja, se o quarto de uma
empregada doméstica, por acaso, tiver uma ventilação
inadequada, o proprietário desse apartamento ou dessa
casa pode, simplesmente, ter a sua propriedade
expropriada. O mesmo acontece no tocante a proprietários
rurais. Eles perdem todos os seus bens em suas fazendas,
em suas chácaras.
Deputado Marco Feliciano, eu tive um grande apoio de
evangélicos no Rio de Janeiro, um apoio silencioso, em
especial desses evangélicos que defendem a família, como
V.Exa. muito bem defende aqui.
Quem, porventura, vier a ter a curiosidade de ler o Plano
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais —
PNPCDH-LGBT vai saber muito bem do que eu estou
falando. Não tenho nada contra — e o Feliciano também —
o homossexual, a lésbica, o transexual. Mas temos tudo
contra a distribuição desse material nas escolas do ensino
fundamental.
Deputado Feliciano, já vou dar um aparte a V.Exa., após a
leitura desses três itens aqui. Desses 180 itens, vou ler
apenas alguns. Um deles cria cota para professor
homossexual no ensino fundamental. Isso é um crime. Um
professor vai dar aula, agora, por ser homossexual, vai ser
escolhido por isso? Até não quero levar para a chacota,
mas qual seria o critério em um caso de empate duplo, triplo
e por aí afora?
O Governo prevê — é o projeto de Dilma Rousseff — a
distribuição de livros para bibliotecas escolares com a
temática Diversidade Sexual para o Público Infanto juvenil.
Vários homossexuais com quem eu conversei no Rio de
Janeiro são contra isso. Acham que esse tipo de matéria ou
disciplina não deve ser ministrada no ensino fundamental.
Diz outro capítulo, bastante claro: Desconstrução da
heteronormatividade. E os livros já propostos para o ano
que vem são bem claros no tocante a isso. Mostram que o
casal, homem e mulher, deve ser desconsiderado. O certo
são dois homens ou duas mulheres — ou o mais certo.
O último item entre os 180 diz o seguinte — Deputado
Feliciano, sobre esse eu gostaria que até V. Exa. falasse
alguma coisa —: Campanha nacional de sexo seguro para
adolescentes LGBT usando personagens adolescentes.
Deputado Feliciano, concedo aparte a V.Exa., por 1 minuto,
com muito prazer.
O Sr. Pastor Marco Feliciano - Muito obrigado, nobre
Deputado Jair Bolsonaro, a quem quero parabenizar pela
expressiva votação no Estado do Rio de Janeiro. A votação
de V.Exa. somada à minha dá quase 1 milhão de votos
neste nosso País. Nobre deputado, também quero
parabenizá-lo pela votação e eleição de seu filho, Flávio
Bolsonaro, pelo PSC — Partido Social Cristão, do Estado
de São Paulo. Ele agora chega para somar às nossas
fileiras, chamadas de fileiras dos conservadores. Nobre
deputado, na semana passada todos os jornais do Brasil
divulgaram que o Parlamento está mais conservador. E
fomos alfinetados por aqueles que são intelectuais, por
aqueles que pensam que nós trazemos algum tipo de
retrocesso, quando, na verdade, desde que eu era
criancinha minha mãe falava que tudo o que fica dentro de
uma conserva em óleo dura mais tempo e fica muito melhor.
Então, eu queria aqui dizer que tudo o que aconteceu no
ano passado, na luta pela Comissão de Diretos Humanos,
onde V.Exa. foi um grande soldado ao meu lado, mostrou
ao Brasil todo o que de fato eram direitos humanos.
Direitos, sim; privilégios, não. Nunca a Comissão de Diretos
Humanos atuou com tanta maestria nesta Casa em 20 anos
de existência. E V.Exa. foi testemunha dos trabalhos que
nós ali fizemos, de quantas pessoas nós ouvimos, que
durante 20 anos nessa Casa não foram ouvidas. Pois bem,
eu quero então aqui só parabenizá-lo. Eu acho que foi um
recado à Nação brasileira tudo o que aconteceu. Aqueles
que não gritaram a nosso favor, no ano passado, deram um
grito nas urnas. Juntando sua votação e a minha soma
quase 1 milhão de pessoas que votaram em nós: pessoas
conservadoras, votos de consciência, sem palhaçada e sem
apelo da mídia. Parabéns, Deputado Bolsonaro.
O SR. JAIR BOLSONARO - Obrigado pelo aparte.
Como prova disso tudo aqui, eu, há poucos dias, no
programa A Voz do Brasil, ouvi que o Governo anunciava
uma relação de pouco mais de 30livros para que os
professores pudessem, dentre eles, escolher alguns para
aplicar na sua escola. Eu fui atrás. Tenho quase metade
dos livros. Todos eles são voltados — no ensino
fundamental, repito — para homossexualismo e ideologia
de esquerda. O que é mais importante, Deputado Feliciano,
parece que não é aprender Física, Química, Matemática,
Português, Biologia, Geometria Descritiva, etc., mas
aprender a não ser homofóbico, aprender a ser de
Esquerda. Este é o caminho que o Brasil está tomando. E
parece que o Congresso está aceitando isso, porque não
conseguimos quórum para votar aqui um projeto de decreto
legislativo que torne sem efeito os efeitos do Decreto 8.243.
Agora, há uma coisa muito importante: numa das idas
minhas a São Paulo, eu tive contato com um garoto que
tinha acabado de prestar o serviço militar como Tenente
R/2. Realmente, o que ele me relatou — quero falar aqui, e
gostaria que a imprensa desse atenção especial a isso —
foi o seguinte:
Como nós militares — eu sou militar —temos a mania da
coisa certa, se eu for dormir na casa do Feliciano um dia,
pode ter certeza que eu vou arrumar a cama, pode ter
certeza disso. Se o Feliciano for dormir lá em casa, eu não
sei, mas talvez ele arrume, talvez. Mas comigo é certo.
Por quê? É uma mania que se tem de dizer que o militar
quer a coisa certa, coberta e alinhada. E, no início do ano
passado, numa leva de médicos cubanos que chegaram ao
Brasil, na última leva de 4 mil, mil ficaram em São Paulo. Ou
seja, o Governo fala que o PSDB é o Governo dos ricos,
mas deixou 25% dos médicos nesta leva exatamente para o
Estado mais rico do Brasil, para ajudar a fracassada
campanha do seu candidato em São Paulo.
Então, percebeu-se ali que uma cama amanhecia arrumada
todo dia. No resto, era um zaralho: homens e mulheres,
ditos médicos, cujas camas ficavam desarrumadas. Até que
o nosso recruta do Exército brasileiro... Se eu fosse
comandante, eu não mandaria arrumar, mas iriam lá,
arrumar essas camas.
Então, na verdade, o pessoal começou a ficar preocupado
com quem seria aquela pessoa. Resumindo, foi descoberto
que ele é um capitão do Exército Cubano. Então, um
capitão do Exército Cubano entre os Mais Médicos. Por isso
é que o PT não quer o Revalida. Até um
Revalida light levantaria todos esses militares que estão
infiltrados aqui junto ao Mais Médicos. Quem não conhece a
história... Esse pessoal, pelo poder, não tem limites.
Bem, foi feita uma Mensagem Direta de Inteligência — MDI,
que chegou aqui ao gabinete do Ministro Celso Amorim. E o
que ele fez com isso? Sentou-se em cima, não toca no
assunto. Ou seja, faz parte do projeto de governo do PT ter
o seu exército de cubanos infiltrados aqui dentro.
Fala-se, por exemplo, em Pinochet. Por que, no Chile,
morreram mais pessoas do que no Brasil? Porque lá, em
1973, quando o Pinochet assumiu o poder, havia mais de
30 mil cubanos prontos para assumir o poder, no Chile. Nós
estamos indo para o mesmo caminho aqui, e a sociedade e
o Parlamento não acordam para isso, continuam
acreditando no PT.
Sem dizer, Deputado Feliciano — V.Exa. que é pai; eu
também sou; e aqui há muitos; e há os que estão nos
ouvindo também —, que V.Exa. sabe o que é ficar longe de
um filho de 2 anos, de 3 anos, de 4 anos, de 5 anos de
idade, pelo prazo de um dia, dois dias, uma semana, um
mês, dois meses. Esses cubanos que estão aqui vão ficar
três anos afastados de sua família. É o trabalho escravo do
PT imposto a homens e mulheres, a pais e mães que têm
os seus filhos presos como reféns lá em Cuba. Que pese
até a questão do dinheiro. A cada 10 mil reais que o
Governo tem gastado com esse programa, 7 mil reais vão
diretamente para o bolso de Fidel Castro; mil reais, dizem,
vão para uma poupança deles. Mas se eles fizerem
qualquer coisa errada aqui, essa poupança simplesmente
será confiscada, e 2 mil reais ficam com o médico cubano
aqui. É um trabalho mais do que análogo à escravidão. É
um trabalho escravo. E esses cubanos estão aqui não para
atender o povo, até porque a capacidade de um médico, por
melhor que seja, brasileiro ou cubano, de salvar uma vida
num Município distante, como, por exemplo, Manacapuru,
no Amazonas, é exatamente a mesma, porque não têm
meios para trabalhar.
Então, esse é mais um crime que o Governo do PT vem
praticando. Eu espero que o Aécio Neves questione a Dilma
Rousseff sobre isso que eu tenho falado aqui, até para dar
uma esquentada nesse debate, e não ficarmos aqui em
coisas tão banais.
Outro assunto de que vejo a Dilma Rousseff falar muito,
batendo no peito, é o de que no Brasil o desemprego é
baixíssimo. Mentira! Nós temos a maior taxa de
desemprego do mundo! E eu tenho duas provas dos nove
para confirmar isso aí. O Governo do PT só considera
desempregado quem procura emprego. A própria Dilma
disse, no último debate, que o Bolsa Família atinge 14
milhões de famílias. Dessa vez, ela acertou a multiplicação.
Falou que 56 milhões de pessoas são cobertas pelo Bolsa
Família, e a condição número 1 para receber Bolsa Família
é não trabalhar. Ou seja, nós temos pouco mais de 25% do
povo brasileiro que não trabalha; somando-se aos 5% dos
que querem trabalhar e não encontram emprego, só aí
temos 30% de desempregados no Brasil. Somando-se
àqueles que não procuram emprego porque desistiram, nós
nos aproximamos de 40% de taxa de desemprego no País.
E quando a Dilma diz que a taxa é diminuta, em torno de
6%, qual é a prova que eu apresento para isso aí? Se
realmente fosse pequena essa taxa de desemprego, o
nosso PIB não seria próximo de zero.
Outra prova que eu apresento é a seguinte: em qualquer
local onde o desemprego é pequeno, o número de mortes
por mil habitantes também é pequeno, e nós temos um dos
maiores índices de mortes por 100 mil habitantes do mundo.
O fato é que os números são maquiados. Cada um que
perde o emprego aqui no Brasil, sendo humilde, vai para o
Bolsa Família e passa a ser considerado como empregado.
Eu entendo que a minha eleição foi importante, assim como
a do Deputado Feliciano, a do Eduardo e a de tantos outros
aqui, mas a eleição mais importante que nós teremos é a do
dia 26 de outubro.
Por isso, eu faço um apelo a quem bate no peito e diz que
vai anular o voto: se você vai anular o voto, é porque
realmente está indignado com toda a sujeira e com toda a
mentira que existem na política, mas você é que vai
reeleger Dilma Rousseff presidente da República com essa
sua atitude.
E detalhe: todos nós estamos no mesmo barco. Não
teremos mais eleições livres em nosso País. Teremos em
2018, sim, a homologação das candidaturas, em que o PT
escolhe o nome e corre para o abraço, nem faz mais
campanhas, porque a base de pessoas pobres que o PT
vem criando cresce cada vez mais. A única coisa que eu
elogio no PT é que ele realmente gosta de pobres. Quanto
mais pobre houver no Brasil, melhor para o PT.
O emprego é outro fator muito importante, Sr. Presidente.
Eu fui ao Vale do Ribeira, terra do Deputado Feliciano e
agora de Eduardo Bolsonaro. No Vale do Ribeira, tirando
Cajati, a economia da região vem basicamente da banana.
No entanto, no Diário Oficial da União de 21 de março deste
ano, na seção voltada ao Ministério da Agricultura, o
Governo, via instrução normativa, autorizou a importação de
banana diretamente do Equador para a CEAGESP.
É um prejuízo direto para 2 milhões de bananicultores no
Brasil.
Outra coisa: eu não entendo como essa banana pode viajar
em linha reta 4.300 quilômetros e chegar a São Paulo com
preço competitivo, já que, ali do lado, temos Eldorado
Paulista, Jacupiranga, Cajati, Registro, Sete Barras,
Iporanga, Pariquera-Açu, que são as grandes regiões
produtoras de banana de São Paulo.
Acreditem se quiser, mas o controle fitossanitário das
bananas importadas do Equador será feito pelo Equador.
Será que isso tudo está sendo feito só porque o Equador
faz parte do Foro de São Paulo? Sem contar as pragas que
virão do Equador para cá, como o moko da bananeira e a
siga toka negra.
Realmente, fica difícil acreditar em um País cuja Presidente
pensa tão pequeno, ao lado de pessoas também tão
pequenas quanto ela.
Em relação às questões ideológicas, cada vez que a
Presidente vai à ONU é um vexame: são pedidos de diálogo
com decapitadores; pedidos a Israel para que não reaja aos
ataques do Hamas; apoio do Governo brasileiro ao governo
da Bolívia, quando ele expropria uma das nossas refinarias
de petróleo, colaborando com o Paraguai para que
multiplique por três o que recebe de tarifa da energia
produzida por Itaipu, imiscuindo-se em assuntos internos de
outros países, sempre defendendo ditaduras e ditadores.
O apelo que eu faço, ao final deste meu pronunciamento, se
dirige àqueles que geralmente anulam os seus votos ou que
votam em branco ou nulo, ou se abstêm: compareçam às
urnas, porque, ou nós tiramos o PT agora, ou ele vai nos
tirar do Brasil.
Concedo um aparte ao Deputado Feliciano.
O Sr. Pastor Marco Feliciano - Nobre Deputado Jair
Bolsonaro, para que conste nas notas taquigráficas, quero
fazer uma correção. Eu errei o nome do seu filho. V.Exa.
tem tantos filhos, o Flávio é do Rio de Janeiro. O que foi
eleito pelo meu partido, em São Paulo, foi o Eduardo
Bolsonaro. Agora o Parlamento tem Bolsonaro elevado ao
quadrado, em dose dupla. Muito obrigado.
O SR. JAIR BOLSONARO - Ele é policial federal, já está na
Polícia Federal há5 anos. Realmente orgulha a minha
família. Todo pai quer que o filho seja melhor do que ele, se
bem que, para ser melhor do que eu, não é muito difícil. É o
que os meus colegas dizem aqui.
Eu levo na brincadeira, mas tenho certeza de que é um
garoto que será lapidado aqui dentro e orgulhará, assim
como V.Exa., deputado Feliciano, nosso querido Estado de
São Paulo. Na verdade, eu sou paulista. Sou nascido na
cidade de Glicério, perto de Birigui. Meu pai me registrou
em Campinas, e eu fui criado basicamente em Eldorado
Paulista. Morei em Jacupiranga, na cidade de Ribeira e em
Sete Barras também. Então, isso tudo faz parte da nossa
história.
Eu tenho uma foto com a minha família toda reunida. Entre
os seis filhos, só o meu irmão mais velho tinha tênis. O tênis
passava para os outros e, quando chegava ao terceiro, se
acabava. Era uma época em que não se tinha essa
demagogia toda que há hoje. Naquela época, o Estado
realmente ajudava os pais e a garotada com educação. Em
uma das áreas mais pobres do Estado de São Paulo, o Vale
do Ribeira e Eldorado Paulista, eu prestei concurso para a
Escola Preparatória de Cadetes do Exército e fui aprovado.
Logo depois, prestei concurso para a Academia Militar de
Agulhas Negras e fui aprovado.
Depois — eu ia falar aqui e acabei não tocando no assunto
— o que eu tive do jornal O Globo foi uma fotografia como
um grande criminoso que praticava crime ambiental na Baía
de Angra dos Reis. Do lado, está o Alberto Fraga, outro
criminoso, segundo o jornal O Globo.
Em 1982, Alberto Fraga cursou comigo a Escola de
Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, onde eu o
conheci. Eu obtive o primeiro lugar, motivo de orgulho e de
muita honra para mim. Trinta e dois anos depois, eu vi
cruzarem a minha foto aqui com a do Fraga.
Sr. Presidente, para terminar, eu fui autuado nesse crime
ambiental por estar sentado em um barco de borracha com
motor de 40 HP, com uma varinha no fundo do barco. Eu fui
autuado às 11 horas do dia 6 de março. Às 15h14min, eu
registrei, no sistema eletrônico, a minha presença. Então, é
simplesmente impossível, em 4 horas e 14 minutos, vencer
2 quilômetros de mar, 200 quilômetros de asfalto da região
de Angra até à capital, pegar um avião, taxiar e fazer 1 hora
e 20 minutos de voo.
O cidadão do ICMBio que me multou é Secretário de Meio
Ambiente da Prefeita Maria Rabha, do PT de Angra dos
Reis. Eu acho que isso, por si só, já explica a perseguição
política. Com toda a certeza, V.Exa. sofre a mesma
perseguição aqui no jornal.
O Sr. Pastor Marco Feliciano - Esse jornal mente quando
diz que há processo. Na verdade, só há inquérito aberto. O
jornal O Globo é tendencioso.
O SR. JAIR BOLSONARO - Deputado Feliciano, eu não
reclamo do jornal em si. O jornal errou porque me
entrevistou por mais de 20 minutos e só disse que eu
respondo por crime ambiental — nada mais, além disso. Eu
me preocupo muito é com a morosidade da Justiça, pois já
era para esse caso ter sido resolvido há muito tempo. Sr.
Presidente, muito obrigado pelo tempo extra.

E, antes que o ano terminasse, o Conselho de Ética


da Câmara instauraria o processo por quebra de decoro
parlamentar contra o deputado Jair Bolsonaro, por supostas
ofensas dirigidas à deputada e ex-ministra dos Direitos
Humanos, Maria do Rosário (PT-RS).
Em discurso no dia anterior, o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ) disse que só não cometeria estupro contra a
deputada Maria do Rosário (PT-RS) “porque ela não
merecia”. O ataque ocorreu depois de a petista usar a
tribuna da Câmara para comemorar o Dia Internacional dos
Direitos Humanos e tratar da entrega do Relatório Final da
Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Foi a segunda vez que Bolsonaro se dirigia à
deputada com as mesmas palavras. Maria do Rosário
deixava o plenário da Câmara depois de fazer o discurso,
quando Bolsonaro subiu à tribuna e gritou:
- Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Fique aí,
Maria do Rosário. Há poucos dias você me chamou de
estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava
você porque você não merece. Fique aqui para ouvir.
Crítico à declaração do deputado, o comentarista
Reinaldo Azevedo afirmou durante o programa “Os Pingos
nos Is”, no mesmo dia da ocorrência, que havia recebido e-
mail de Bolsonaro, tendo respondido ao vivo.
Segue a mensagem enviada a Reinaldo Azevedo pelo
deputado Jair Bolsonaro:
Reinaldo, entre os dias 1 e 5 de novembro de 2003 um
casal de namorados foi surpreendido por 5 marginais
quando acampavam em SP. No dia 2, o garoto Felipe (19
anos) foi executado com um tiro na nuca. Ela (com 16
anos), até o dia 5, foi estuprada pelos marginais em
“rodízio” quando então foi executada pelo menor
“Champinha”, a golpes de facão. No dia 11 a RedeTV me
convidou para falar sobre a redução da maioridade penal já
que sou ainda autor da PEC 301/1996. Não sabia que a
deputada Maria do Rosário havia sido convidada também
para falar, mas contra a redução da maioridade. O resto da
história pode ser visto no vídeo em sua matéria.
Confesso não saber de o porquê o Senhor destila tanto ódio
para comigo. Fui elogiado no “Mensalão” por Joaquim
Barbosa como “o único da base do governo que não foi
comprado pelo PT”. Sei que isto é dever e não virtude. Não
posso acreditar numa CNV onde TODOS seus integrantes
são indicados por um dos lados. Nunca defendi ditaduras,
pois não considero o período militar como tal. Diriam, mas o
Congresso esteve fechado por aproximadamente 1 ano e o
Governo legislava por Decreto-Lei. Sim é verdade, mas
desde quando cheguei à Câmara, em 1991, ela esteve
“fechada” por aproximadamente 10 anos (pauta trancada),
já que o Executivo legislava por Medidas Provisórias.
Vou, talvez, a seu contragosto, continuar lendo seu Blog,
um dos poucos quando não trata assuntos com meu nome,
ser de exemplar imparcialidade e inteligência. Teria muito a
escrever, contudo me permita uma observação: o “cancro
vermelho” não será erradicado com bonitos e elucidativos
textos ou com eleições informatizadas. O PT já foi longe
demais para entregar para a oposição de forma pacífica o
poder. Mais cedo ou mais tarde, a contragosto de muitos e
torcendo eu para estar errado, algumas doloridas doses de
Benzetacil podem ser aplicadas para salvar nossa
democracia. Ou alguém aponte outro motivo pelo qual
nossas Forças Armadas são caluniadas nos últimos 20
anos?
Atenciosamente, Jair Bolsonaro.

Após a leitura do e-mail de Jair Bolsonaro, o


comentarista Reinaldo Azevedo deu a seguinte resposta:
Deputado Bolsonaro,
Nada tenho de pessoal contra o senhor porque, como sabe
a gente nunca se falou; não se conhece. Não haveria como.
Por ocasião da polêmica envolvendo os tais kits gay —
creio, mas não tenho certeza, que cheguei a reagir primeiro
- defendi o seu direito (e até dever) de ter uma opinião a
respeito. Aquilo era mesmo um lixo. Eu só o critiquei,
naquela ocasião, quando o senhor sugeriu que uns
petelecos poderiam fazer bem ao adolescente gay. O
senhor é informado o bastante — ou tem condições de ter
acesso à informação —, para saber que se trata de uma
bobagem.
Quanto à deputada Maria do Rosário (PT-RS), eu mesmo
publico o vídeo agora e o fiz antes para deixar claro que o
senhor foi o alvo original da injúria. Creio que poucos, ou
ninguém, combateram, na imprensa, as ideias tortas dessa
senhora como este que escreve. E o senhor sabe disso.
Se o senhor quer uma lei que agrave a punição para
menores que cometem crimes hediondos — e eu também
quero; se o senhor fez a defesa que fez porque repudia o
estupro — e eu também; se o senhor quer punir atos dessa
natureza — e eu também; se tudo isso é verdade, não
poderia ter falado o que falou. Não poderia, muitos anos
depois, ter repetido o que dissera.
Recorra ao arquivo do blog e leia o que escrevi sobre a
Comissão Nacional da Verdade, que chamei de “farsa” aqui,
na Folha e na Jovem Pan. A questão, deputado, é saber
com quais valores ela deve ser combatida.
Eu não sei que “Benzatacil” o senhor imagina possa ser
empregado contra o PT. Eu só aceito um: a democracia,
que enseja, sim, protestos de rua, dentro da lei e da ordem;
que enseja, sim, campanha pelo impeachment de Dilma, se
ficar provado que ela sabia de tudo, dentro da lei e da
ordem; que enseja, sim, a ocupação do espaço público para
demonstrar contrariedade, dentro da lei e da ordem. Em
suma, deputado, os males da democracia têm de ser
curados com mais democracia. E intervenção militar, a
menos que pedida por um dos Poderes da República, como
reza a Constituição, ESTÁ FORA DA LEI E DA ORDEM.
Escreve o senhor: “O PT já foi longe demais para
entregar para a oposição de forma pacífica o poder. Mais
cedo ou mais tarde, a contragosto de muitos e torcendo eu
para estar errado, algumas doloridas doses de Benzetacil
podem ser aplicadas para salvar nossa democracia”. Não
sei o que isso quer dizer. Não sei o que o senhor tem em
mente — mas não me parece bom. Não sei que futuro o
senhor imagina, mas certamente não contará com o meu
apoio.
Nem com o meu apoio nem com o das Forças Armadas.
Esse tipo de pensamento tem estridência, mas, felizmente,
não tem base social. Seduz alguns milhares de eleitores,
como resta comprovado, mas não passa muito disso.
Infelizmente, deputado Bolsonaro, a sua pregação contribui
apenas para que o senhor tenha, a cada ano, milhares de
votos a mais. Mas não aponta uma saída para o país.
Eu defenderei com determinação o seu direito de ter uma
opinião, dentro do que a Constituição e a civilidade
asseguram. Mas acho intolerável que o senhor diga, à
deputada Maria do Rosário ou a qualquer outra mulher, que
ela “não merece ser estuprada”. Isso degrada a política, a
inteligência, o senso comezinho de moral e, antes de tudo
isso, as mulheres — mulheres, senhor deputado, como a
minha, como as nossas mães, como as minhas filhas, como
as de sua família, como as da minhau E, claro!, com elas,
praticamente metade da humanidade. Tenha paciência!
Aquela é uma fala asquerosa.
Retire o que disse, desculpe-se com a deputada — mesmo
que ela não se desculpe com o senhor — e com as
mulheres. Admita que disse uma asneira.
O senhor afirma que continuará a ler o meu blog, num sinal
de que considera que ele pode ser útil ao senhor e ao
Brasil. Espero, sinceramente, que sim. Defenderei
deputado, enquanto tiver forças, o seu direito a dizer o que
pensa. Mas não conte comigo para grosserias como aquela
ou para flertar com soluções que estejam fora das urnas.
Esse tipo de pregação pode lhe render votos, mas faz mal
ao Brasil.
A propósito: seguidores seus decidiram fazer uma “petição”
pedindo a minha cabeça à Veja. Talvez eles não saibam
que sou antigo nessa história de resistir a grupos de
pressão. O senhor já passou da idade de receber
conselhos. E eu não tenho disposição para aconselhar
pessoas mais maduras do que eu. Deixo uma dica: retire do
seu universo de referências qualquer expediente que não
passe pelo voto e seja mais apaixonado pela Constituição
do que pelos holofotes. Ah, sim: não ajude Maria do Rosário
a voltar para o ministério. Hoje, o senhor é o principal apoio
— às avessas — com o qual ela conta.
Estamos falando de política, deputado, não de guerra.
Finalmente, noto que, em vez de o senhor ameaçar o jogo
político com a cólera das legiões, lembre que a Lei da
Anistia foi referendada por um Congresso eleito livre e
democraticamente, que a acatou como pressuposto na
Emenda 26, que aprovou a convocação da Constituinte. O
senhor tem a lei e a Constituição como aliadas. Não precisa
de armas.

Além do processo no Conselho de Ética, a então vice-


procuradora-geral da República, Ela Wiecko, enviou, no dia
15 de dezembro de 2014, ao Supremo Tribunal Federal,
denúncia contra o deputado pelo crime de incitação ao
estupro, baseada em declarações de Bolsonaro, que disse
não estuprar a deputada Maria do Rosário porque ela não
merecia.55

55 Seguindo determinação judicial, o presidente Jair Bolsonaro (PSL)

pediu desculpas hoje, em mensagem publicada no Twitter, à deputada


federal Maria do Rosário (PT-RS). Em 2014, o então deputado Bolsonaro
afirmou que a deputada não merecia ser estuprada porque ele a
considerava "muito feia" e porque ela "não faz" seu "tipo". Bolsonaro foi
condenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 2015, a pagar
indenização de R$ 10 mil por danos morais. Ele então recorreu ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça), que manteve a decisão, e ao STF
(Supremo Tribunal Federal), que fez o mesmo. "Em razão de
determinação judicial, venho pedir publicamente desculpas pelas minhas
falas passadas dirigidas à Deputada Federal Maria do Rosário Nunes.
Naquele episódio, no calor do momento, em embate ideológico entre
parlamentares, especificamente no que se refere à política de direitos
humanos, relembrei fato ocorrido em 2003, em que, após ser
injustamente ofendido pela congressista em questão, que me insultava,
chamando-me de estuprador, retruquei que ela 'não merecia ser
estuprada'", diz o trecho inicial da nota. (AMARAL, Luciana. BAPTISTA,
Vanessa Alves. UOL. Política. Bolsonaro pede desculpas a Maria do
Rosário por fala sobre estupro. 13 jun. 2019)
A hora de um salto mais ousado
Toda decisão que você toma não é uma decisão sobre o
que você faz. É uma decisão sobre Quem Você É. Quando
você vê isso, quando você entende isso, tudo muda. Você
começa a ver a vida de um modo novo. Todos os eventos,
ocorrências e situações se transformam em oportunidades
para fazer o que você veio fazer aqui.
(Neale Donald Walsch – escritor norte-americano)

A vida do deputado Jair Bolsonaro dentro da Câmara


dos Deputados nunca foi coisa das mais fáceis. Ele sempre
se comportou como uma espécie de “peixe fora d’água”. No
dia-a-dia da Câmara dos Deputados, ele era visto como
alguém arredio, que preferia frequentar locais muito simples
para as refeições, ao invés de acompanhar os colegas para
os restaurantes chiques de Brasília.
Conforme constatou a Isto É, o deputado Jair
Bolsonaro era freguês assíduo da Galeteria Beira-Lago,
“nos almoços nas terças, quartas e quintas-feiras,
geralmente entre 13h00 e 13h30. Muitas vezes, aparecia
também para jantar nas quartas-feiras”, conforme informou
o gerente do local.
É um local muito simples e longe do glamour da
gastronomia brasiliense e que “serve somente frango,
acompanhado de salada de batata, salada verde, farofa de
ovos, arroz de carreteiro e polenta frita. As porções vão
sendo preparadas e colocadas em cima da mesa do cliente
enquanto ele conseguir comer”, afirma a reportagem da
revista Isto É.
Na Câmara dos Deputados, Bolsonaro também se
mantinha afastado das rodas de conchavo e podia ser
encontrado com facilidade em sua bancada no plenário da
Câmara dos Deputados ou no Salão Verde, onde a
imprensa estava sempre de prontidão para entrevistar os
deputados que por ali passam.
Bolsonaro também nunca aceitou seguir orientação de
qualquer dos partidos a que esteve filiado e seu objetivo
com isto era o de ter a liberdade de votar a favor de projetos
que ele achava vantajosos para a sociedade e não
simplesmente por ser de interesse do governo, quando isto,
fatalmente, envolvia o toma-lá-dá-cá, ou seja, ganhar cargos
ou outras benesses, em troca do voto na medida proposta
pelo Executivo.
Assim, Bolsonaro sempre procurou votar com a sua
convicção de que o projeto legislativo trazia benefícios mais
amplos para todos e não apenas em atendimento a acordos
espúrios nos subsolos dos palácios da República.
Ressalte-se que “cargos de confiança” distribuídos a
Partidos Políticos pelo Governo Federal, quase sempre
representaram a indicação de “homens de confiança” para
trabalhar para o partido dentro de estatais e autarquias
federais, normalmente, para cobrar propina, desviar dinheiro
público para o partido e para os políticos e traficar influência,
que se reverta em benefícios.
Bolsonaro sempre defendeu abertamente suas
convicções ideológicas de direita (por exemplo, contra o kit
gay, contra o aborto, contra o casamento gay) e foi
perseguido, justamente, por não pactuar com a roubalheira
que impera na política brasileira e nos negócios entre a
iniciativa privada e entes públicos.
Por essas e outras razões, por mais que Bolsonaro
apresentasse projetos de lei na Câmara, os mesmos eram
engavetados, para que ele não ganhasse maior espaço e
projeção política, ou que isso não servisse de arma contra
os próprios interesses particulares dos membros do
Parlamento, onde a maioria não visa nada dessa história de
representar o povo ou seu Estado; essa gente – os políticos
corruptos -, só pensa em si e em seus.
Somente em raras oportunidades, Bolsonaro obteve
vitória nesta área, como na aprovação, em 2015, no início
de seu sétimo mandato, de sua Proposta de Emenda
Constitucional que previa o voto impresso junto às urnas
eletrônicas, para permitir que qualquer presidente de partido
pudesse requerer a recontagem [manual] dos votos, em
caso de suspeita de fraude na urna ou na contabilização dos
votos pelos Tribunais Regionais Eleitorais ou pelo Tribunal
Superior Eleitoral.
Após a confirmação do eleitor na urna eletrônica, o
"recibo" seria impresso e iria direto para uma urna física
acoplada à urna eletrônica – segundo a proposta, o eleitor
não voltaria para casa com nenhum papel.
Forte oposicionista dos governos federal petista e
peemedebista, Bolsonaro sempre contestou a lisura da
votação, através das urnas eletrônicas, pois estas não
oferecem, de acordo com sua visão, a segurança e a
transparência requerida pelo eleitor, nem é passível de
auditoria.56
Falando com a imprensa sobre a repercussão de sua
atuação parlamentar, que sempre a mídia quis taxar de
fraca, em função da baixa aprovação de suas teses
legislativas, Bolsonaro, afirmou:
- Já é muita coisa. Foi um gol aos 45 minutos do 2.º
tempo. Agora, mais importante do que aprovar um projeto é
evitar que um projeto péssimo seja aprovado. Aqui na Câmara
dos Deputados, eu sou discriminado porque sou um político de
direita. Alguns projetos eu dou para outro deputado apresentar
porque, se pintar meu nome, não vai pra frente.
No dia 25 de maio de 2015, o ministro Luis Roberto
Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou o
arquivamento do Inquérito a que Bolsonaro respondia naquela
Corte, pela resposta dada por ele à cantora Preta Gil, no
programa CQC de 28 de março de 2011 e considerada racista
pela PGR. O ministro consignou ainda em seu voto: “Reitero,
como já fiz em outras ocasiões, o quanto considero
lamentável o tipo de debate público no qual, em lugar de
focar no argumento, o interlocutor procura desqualificar
moralmente o adversário”.

56 O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu no dia 6 de

junho de 2018, por oito votos a dois, derrubar o voto impresso nas
eleições de 2018, para eventual conferência dos resultados da disputa. A
maioria concordou com ação da Procuradora-Geral da República, Raquel
Dodge, que apontou que a medida coloca em risco o sigilo do voto. Na
verdade, o que o STF derrubou foi o artigo da minirreforma eleitoral de
2015 (artigo 2.ª da lei 13.165/2015), que estabeleceu: "No processo de
votação eletrônica, a urna imprimirá o registro de cada voto, que será
depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em
local previamente lacrado". Ou seja, o STF inventou uma decisão apenas
para corroborar decisão já tomada pelo ministro Gilmar Mendes, então
presidente do TSE, que não queria o voto impresso e justificou a derrota
desta pretensão pela falta de verba para a compra e implantação do
sistema.
O dia 17 de abril de 2016 foi histórico para o Brasil, pois,
pela segunda vez, a Câmara dos Deputados dava autorização
ao Senado Federal para julgar um presidente da República e
cassar-lhe o mandato. Foram 367 votos a favor do
Impeachment, 137 contra, além de sete abstenções e duas
ausências. E o deputado Jair Bolsonaro, na hora de declarar
seu voto, disse, não se importando em criar mais uma polêmica
com a esquerda:
- Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o
Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto
Brilhante 57 - o pavor de Dilma Rousseff -, pelo exército de
Caxias, pelas Forças Armadas, o meu voto é SIM!
E claro, esta fala de Bolsonaro também repercutiu mal na
mídia em geral, que não poupou o deputado de críticas.
Ricardo Boechat, no Jornal da Band, que foi ar no dia 18 de
abril, afirmou:
Cada deputado tem direito à palavra e isto faz parte da
democracia e registre-se também a infinita capacidade do
deputado Bolsonaro, de atrair para si os holofotes, falando
barbaridades, sucessivamente. Algumas fazem sentido dentro de
uma determinada lógica ideológica, outras não fazem sentido
dentro de lógica alguma, por exemplo, como a de dedicar seu
voto à memória de um notório torturador. Torturadores não têm
ideologia. Torturadores não têm lado. Não são contra ou pró-
impeachment. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo
humano no nível mais baixo que a natureza pode conceber.
São covardes, são assassinos e não mereceriam, em
momento algum, serem citados. Muito menos numa casa
Legislativa que carrega o apelido de Casa do Povo.

Apesar de tentar, com argumentos antigos e outros muito


mais antigos ainda desqualificar o deputado Jair Bolsonaro, o
The New York Times, no dia 7 de maio de 2016, teve de
reconhecer:
(...) Ele já é um dos políticos mais influentes do Rio de
Janeiro, onde em 2014 foi eleito para um sétimo mandato
de quatro anos no Congresso com mais votos do que
qualquer outro legislador. Agora, o Sr. Bolsonaro está

57
Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um coronel do Exército Brasileiro, ex-
chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos órgãos atuantes na repressão
política, durante o período da ditadura militar.
crescendo entre os que estão olhando a presidência em
2018. (...) O Sr. Bolsonaro, que muitas vezes é saudado
com aplausos estridentes nos lobbies do aeroporto e nas
manifestações de rua em torno do Brasil, colocou o quarto
lugar entre potenciais candidatos presidenciais em uma
pesquisa de opinião pública em abril pela Datafolha, uma
companhia de voto. (...) O Sr. Bolsonaro emergiu como o
candidato preferido entre os brasileiros mais ricos,
garantindo 23% do apoio entre aqueles com os maiores
rendimentos, disse Datafolha. Entre os brasileiros com
educação universitária, o Sr. Bolsonaro ficou com 15 por
cento de apoio.

No dia 21 de junto de 2016, Bolsonaro tornou-se réu


no Supremo Tribunal Federal por apologia ao estupro. Ele
será julgado por ter dito que não estupraria sua colega de
Câmara, a deputada Maria do Rosário (PT-RS), porque ela
não merecia. A decisão foi tomada pela 1.ª Turma, por
maioria, ficando vencido o ministro Marco Aurélio de Mello.
A turma entendeu que as afirmações de Jair
Bolsonaro extrapolaram a imunidade parlamentar e
configurava ofensa pessoal. O caso foi analisado pelo
colegiado em duas ações: uma queixa-crime apresentada
por Maria do Rosário (PET 5.243) e uma denúncia da
Procuradoria-Geral da República.
Para as duas ações admitidas contra o deputado Jair
Bolsonaro, o ministro Luiz Fux foi indicado como relator,
tendo este votado pela aceitação da denúncia nos dois
processos. Segundo ele, a manifestação de Bolsonaro teve
potencial de incitar homens à prática de crimes contra as
mulheres em geral.
- A violência sexual é um processo consciente de
intimidação pelo qual as mulheres são mantidas em estado
de medo, sendo que esse tipo de discurso pode encorajar a
prática do estupro. Ao usar a expressão "merece", o
deputado confere à prática de estupro um status de prêmio
que depende da vontade do homem, afirmou o ministro Luiz
Fux em seu voto.
Conforme os processos, os crimes teriam sido
cometidos pelo deputado em dezembro de 2014, na Câmara
dos Deputados, quando ele teria dito que a deputada “não
merecia ser estuprada”. Também consta dos autos que, no
dia seguinte, em entrevista ao jornal "Zero Hora", Bolsonaro
teria reafirmado as declarações, dizendo que Maria do
Rosário “é muito feia, não faz meu gênero, jamais a
estupraria”.58
No dia seguinte à decisão do STF em aceitar as
denúncias contra o deputado Jair Bolsonaro, sua ex-mulher,
Rogéria Nantes Bolsonaro, saiu em sua defesa, publicando
uma Carta Aberta em sua página do Facebook:
Carta aberta de apoio a Jair Bolsonaro
Sou Rogéria Bolsonaro, ex-esposa de Jair Bolsonaro, e
mãe do Flávio, Carlos e Eduardo. Venho a público, e
espontaneamente, em sua defesa da acusação de incentivo
ao estupro e suas variantes. O conheci ainda muito jovem e
convivo bem até hoje com o pai de meus filhos. Durante
todo esse tempo NUNCA vi nada referente a que ele tivesse
esse desvio de comportamento. É um homem normal com
suas qualidades e defeitos que todo ser humano tem. Agora
vem a mídia ratificando e já execrando-o publicamente com
essa acusação absurda, inverídica e nefasta. É assustador,
revoltante e nojento tudo isso.
Tenho certeza que Jair Bolsonaro será absolvido
simplesmente porque é inocente, simplesmente porque
jamais estimulou o estupro, sempre o contrário, inclusive
com atuação parlamentar extremamente oposta à
acusação. A verdade prevalecerá e passará todo esse
desconforto de situação agressiva, desagradável e
desrespeitosa pra nossa família.
Deus acima de tudo!

58 O presidente Jair Bolsonaro foi condenado, em fevereiro de 2019, a


pagar uma indenização por danos morais, no valor de R$ 10 mil, à
deputada Maria do Rosário (PT-RS) e a publicar em jornal de circulação
nacional e nas redes sociais uma retratação, o que foi cumprido, depois
que o ministro Marco Aurélio de Mello não admitiu recurso impetrado pela
defesa de Bolsonaro. O presidente ainda é réu em duas ações penais no
STF em que é acusado de incitar estupro e cometer injúria. Contudo, os
processos foram suspensos pelo ministro Luiz Fux sob o argumento de
que presidente só pode ser processado por crimes praticados no
exercício do mandato. As duas ações são pelo mesmo motivo, mas por
crimes cometidos em 2016, quando Bolsonaro voltou a afirmar na tribuna
da Câmara e entrevista ao Zero Hora que não estupraria a deputada
petista “porque ela era muito feia”.
Mais de dois anos antes das eleições que o
consagrariam como o 38.º presidente da República
Federativa do Brasil, Bolsonaro já alardeava sua intenção
de se candidatar. Em discurso proferido na Câmara dos
Deputados no dia 8 de agosto, o deputado Jair Bolsonaro
relatou diversos problemas envolvendo as Forças Armadas,
especialmente, a questão salarial, e reafirmava seu desejo
de concorrer à Presidência da República:
- (...) É por isso que eu sou candidato a Presidente em
2018, entre outras coisas. Não estou preocupado em me
eleger, não, mas eu quero, mais bem preparado, discutir os
assuntos ao vivo. Essa nossa grande mídia não me dá
espaço para discutir nada ao vivo, ou, quando dá, é para
aqueles temas que já estamos cansados de saber. É como
se, resolvendo a questão da homofobia no Brasil, fôssemos
resolver o problema da economia. (...).
Bolsonaro também aproveitou para criticar o Supremo
Tribunal Federal:
- Imaginem se nós não tivéssemos aprovado aqui a
PEC da Bengala, e a Dilma continuasse! Mais três ministros
seriam colocados lá. Imaginem o Cardozo como Ministro
da Dilma lá dentro. O Supremo faria inveja à Suprema Corte
da Venezuela, um país que está estagnado, amarrado.
A relação de Jair Bolsonaro e seu partido - o PSC -
começaria a ruir em setembro de 2016 quando o pastor
Everaldo, presidente da legenda, fez um acordo para apoiar
candidatos do PCdoB em diversos estados, contrariando os
princípios e bandeiras que o tornaram conhecido.59
O site Gospelprime destacou que, enquanto o
deputado Jair Bolsonaro e o pastor Marco Feliciano
(PSC/SP) brigavam em Brasília contra grupos comunistas e
a favor da família, o partido fazia coligação com comunistas
em alguns estados e lançava candidatos que eram quase a
antítese de seus expoentes.

59
Em outubro de 2016, o filho de Jair Bolsonaro, deputado
estadual Flávio Bolsonaro, estreou nas eleições majoritárias,
ficando em 4.º lugar na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro,
com 424.307 votos (13,94%) e seu irmão, Carlos Bolsonaro, se
reelegeu para vereador da Capital fluminense, com 106.657 votos.
O site deu como exemplo, a candidata à vereança de
Fortaleza, de Edivânia Matias Goes, que usava na urna o
nome Debora Soft, alcunha usada desde os tempos em que
trabalhava como stripper na capital do Ceará.
Seu lema de campanha era “Vote com Prazer”, o
mesmo de 2004, quando foi eleita com 11.590 votos - a
oitava mais votada daquele pleito. “De várias maneiras, a
candidata do PSC (Partido Social Cristão) contraria a
imagem que a sigla defende em nível nacional”, afirmava o
Gospelprime.
Em função desses fatos, Bolsonaro fez a seguinte
declaração, em vídeo distribuído nas redes sociais:
Essa confusão toda comigo aqui no PSC, o meu partido
atual, começou exatamente porque o presidente do meu
partido foi no Maranhão, pessoalmente. Ele andava comigo
o Brasil todo, mas foi pessoalmente – não precisava ter me
avisado e não avisou - foi e negociou, sabe-se lá o diabo e
o capeta sabe o que, não sei o que o pastor Everaldo foi
negociar junto com o capeta lá com o Flávio Dino e apoiou o
PCdoB do Maranhão. Dá para entender? [faz gesto de o
pastor ser uma pessoa desmiolada]. PSC, Partido Social
Cristão, o “peixinho”, partido da família, o partido de direita.
É brincadeira, né? Eu confesso que havia feito um acordo
com ele de conduta. Pra mim, vale o fio do bigode. O erro
meu foi confiar na palavra dos outros. Nessa capetada, eu
sou obrigado a confiar, porque pra eu buscar algo na
política, eu tenho que ter um partido. Ele deu a palavra pra
mim: partido de direita, de família, pra respeitar o próximo...
E daí, na calada da noite, o cara vai pra São Luiz do
Maranhão e faz um acordo com Flávio Dino, do PCdoB, que
é o governador lá. Sacaneou gente que acreditava em mim
no Maranhão, sacaneou (...). Pastor Everaldo, que vexame!
Pode ter tudo no coração, mas Deus não tem.

No dia 18 de novembro de 2016, o site Folha Web


publicou entrevista concedida pelo deputado Jair Bolsonaro
à repórter Vanessa Vieira, durante a visita que fez ao
Estado de Roraima.
Perguntado se as viagens que ele fazia pelo Brasil
estariam relacionadas com uma futura candidatura à
Presidência em 2018, Bolsonaro respondeu:
- Havendo oportunidade de pleitear vaga no meu
partido, serei candidato. Não estou fazendo campanha.
Estou fazendo uma sondagem, um grande movimento pelo
Brasil para ver os problemas e onde poderemos buscar
possíveis soluções, porque eu não consigo entender que um
país tão rico e maravilhoso como esse, vive esta situação de
caos econômico, moral e social.
E o deputado Jair Bolsonaro continuou:
- Para ser candidato à Presidência, preciso decidir se
continuo ou não filiado ao Partido Social Cristão (PSC). Hoje
estamos na mesma casa, mas dormindo em camas
separadas. Com a nova lei de cláusula de barreira, está
havendo uma grande movimentação em Brasília. Política é
igual a um time de futebol: todo mundo quer reforçar seu
time para o campeonato de 2018, e eu sou o Neymar da
política no momento, com toda a modéstia.
A repórter perguntou a Bolsonaro se ele estava se
inspirando de Donald Trump para fazer a sua campanha
política. Ele assim respondeu:
- Ele que se inspirou em mim, afinal de contas, eu já
sofro os mesmos ataques que ele sofreu, de ser chamado
de homofóbico, racista, fascista, machista há mais de dois
anos aqui, no Brasil. Ele conseguiu vencer tudo isso. Eu
sempre disse que, se eu fosse cidadão americano, eu
votaria no Trump porque a Hilary [Clinton] nada mais é do
que uma Dilma que fala inglês.
Ainda em novembro de 2016, o deputado Jair
Bolsonaro foi contundente no combate à anistia ao caixa 2
eleitoral, cuja emenda, neste sentido, era articulada,
principalmente, por partidos e parlamentares investigados
pela Operação Lava Jato, visando anistiar os crimes
de caixa 2 e isentar os parlamentares envolvidos em futuras
ações criminais.
O deputado Jair Bolsonaro foi à tribuna da Câmara
dos Deputados e, entre outras falas fez a seguinte
intervenção:
Senhor presidente, eu confesso que estou constrangido.
Espero que a Câmara dos Deputados, no dia de hoje não
sepulte o que sobra de nossa credibilidade. (...) “O golpe
[sair sorrateiro do quartel para um rolé na cidade] é válido,
mas se for pego, aguente o tranco”, afirmou Bolsonaro com
base em fala de um de seus instrutores na Escola
Preparatória para Cadetes, em Campinas/SP, nos anos 70,
em relação às escapadas que alguns cadetes davam,
quando deveriam estar no quartel recolhido.

E Bolsonaro continuou seu discurso:

Nós não podemos dar margem para o povo, e com razão,


esculachar o Parlamento brasileiro, que muitos falam que é
a Casa da Democracia – eu concordo –, mas um
Parlamento aprovando, na madrugada, abusando de um
projeto [de iniciativa popular] que, na verdade, visava
combater a corrupção, de agravar penas de corrupção, se
aproveitar disso e botar uma anistia para assistirmos certas
pessoas que estão presas hoje – acredito, que grande
parte, com razão – saiam dando gargalhada de todo
mundo. O povo brasileiro não vai suportar isso daí. O povo
já está muito esclarecido, levando-se em conta eleições
anteriores. Nós não podemos dar margem para o povo pedir
o fechamento do Congresso. Ninguém quer isso e ninguém
está pregando isto.

Bolsonaro também falou sobre as viagens que tem


feito pelo Brasil:
O que eu tenho percebido do povo, que me recebe com
muito carinho em todas as capitais, é que, embora eu não
seja bom [para alguns], o que se vê é que os outros, que
pretendem estar na mesma situação em 2018, são muito
ruins. O que tá pintando na política para 2018 é o “w.o” e
ninguém quer isso. Nós queremos o contraditório, mas
essas falsas lideranças, que usaram e abusaram da
paciência do povo brasileiro, meteram a mão no dinheiro
público, não podem, simplesmente, rir da sociedade, em
função de uma votação que, pelo que parece, será muito
mais grave que a noite das garrafadas. Teremos a
madrugada, senhor presidente, do vale-tudo. Eu acho que a
grande maioria que está aqui agora não é favorável a isso,
não está envolvido na Operação Lava Jato e como também
não esteve no Mensalão. Temos que reagir; no mínimo a
votação terá que ser nominal, porque senão, vai abrir a
possibilidade para que qualquer um de nós parta para o
vale-tudo, o que não queremos.
Como em anos anteriores, 2017 não foi diferente, com
o deputado Jair Bolsonaro se candidatando à Presidência
da Câmara dos Deputados, mesmo sabendo não ter chance
de ganhar. Mas o que sempre o impulsionou a isto foi ter a
oportunidade de discursar contra os adversários políticos.
A eleição, que aconteceu no dia 2 de fevereiro de
2017, deu a Bolsonaro apenas quatro votos ficando em
sexto e último lugar na eleição.
Por unanimidade dos votos, no dia 7 de março de
2017, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal
rejeitou recursos interpostos pelo deputado Jair Bolsonaro
(PSC-RJ) em dois processos julgados pelo colegiado a fim
de que o parlamentar passasse à condição de réu pela
suposta prática dos delitos de incitação ao crime de estupro
e injúria. Os ministros desproveram embargos de
declaração no Inquérito (INQ 3932) de autoria do Ministério
Público Federal (MPF), e na queixa-crime (Petição 5243)
apresentada pela deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Assim, Jair Bolsonaro continuou como réu no STF,60
No mesmo dia e, ao lado do Supremo Tribunal
Federal, no Anexo 2 da Câmara dos Deputados, Jair
Bolsonaro comemorava com seus correligionários e
políticos, a sua filiação simbólica ao Partido Social Liberal
(PSL), sigla pela qual pretendia concorrer à Presidência da
República. Na ocasião, Bolsonaro já se despontava nas
pesquisas de intenção de voto no primeiro lugar, com 19%,
quando Lula não entrava na lista de candidatos. Com ele,
Bolsonaro ficava em segundo lugar com 16%.
No dia 3 de abril de 2017, Bolsonaro, em sua
peregrinação pelo Brasil para se apresentar como candidato
viável à Presidência da República, fez uma palestra no
Clube Hebraica, no Rio de Janeiro. O resultado disso foi
uma dor de cabeça sem fim, inclusive com uma “Notícia de
Fato” protocolada pela Procuradoria-Geral da República

60 No dia 8 de janeiro de 2018, a Câmara dos Deputados encaminhou ao

STF o Termo de Renúncia de Jair Bolsonaro ao cargo de deputado


federal para assumir o cargo de presidente da República. A renúncia
aconteceu no dia 19 de dezembro de 2017. Assim, como prevê a
Constituição Federal, as ações contra Bolsonaro ficarão paradas, já que o
presidente da República não pode ser responsabilizado por ato estranho
ao seu mandato.
contra parte de sua fala, acusada de pregação de racismo.
Ver capítulo seguinte, com detalhes.

Bolsonaro discursa no evento de sua filiação ao PSL


Arquivo pessoal.

Ainda em 2017, Jair Bolsonaro foi tema do “Blog do


Noblat”, de 21 de junho, com o título “O Fantasma
Bolsonaro”, quando este escreveu:
(...) Não gratuitamente, suas bandeiras são a defesa da
moral, dos “bons costumes” e o combate à corrupção. Face
à ausência de uma alternativa democrática à grave crise de
representação, passa a ser visto por parcelas significativas
da sociedade, como o outsider, o antissistema, o “diferente
de tudo que está aí”. Ou até como o “anticapitalista”, como o
definiu uma de suas admiradoras.
É uma falácia, claro. Bolsonaro está na seara da política há
décadas, seu discurso do ódio não passa de um upgrade de
muitas ideias de 1964, responsáveis por mergulhar o país
na mais longa interrupção democrática. Suas propostas são
simplistas – como a de nomear um general para o Ministério
da Educação.
Mas as crises são terrenos férteis para soluções simplistas.
São nelas que os encantadores de serpente proliferam. (...)

O general Antônio Hamilton Mourão, então secretário


de economia e finanças do Exército, sempre foi o preferido
de Jair Bolsonaro para ser seu vice, numa eventual chapa à
Presidência da República. E Bolsonaro já o havia advertido,
lá em 2015, de que isso poderia ocorrer nas eleições de
2018.
O general Mourão também sempre foi muito
polêmico...
Por exemplo, em uma palestra promovida pela
Maçonaria, em Brasília, no dia 17 de setembro de 2017, o
general Mourão disse que seus “companheiros do Alto
Comando do Exército” entendiam que uma “intervenção
militar” poderia ocorrer se o Judiciário não desse uma
solução para o problema político.
Claro, a imprensa caiu de pau em cima do general.
Bolsonaro então rebateu as críticas sofridas por Hamilton
Mourão, acusado pela sua fala, de agir "contra a
democracia". Ele lembrou que a corrupção é um ataque à
democracia:
- Não se faz democracia comprando votos e aceitando
a corrupção por governabilidade. Reagir a isso é obrigação
de qualquer civil ou militar.
Parecia o óbvio, mas para a imprensa era um absurdo
e os repórteres foram questionar o deputado Jair Bolsonaro
sobre seu tweet, ao que ele respondeu com a mesma
tranquilidade e firmeza de sempre:
- Ele falou como um brasileiro qualquer que está
indignado com esse estado de putrefação da política
brasileira. Isso para mim é liberdade de expressão. É um
cidadão. Não tem nada a ver.
No dia 24 de outubro de 2017, a Câmara dos
Deputados se reuniu para decidir se aceitaria ou não a
segunda denúncia de corrupção contra o presidente Michel
Temer. Pré-candidato à Presidência da República, o
deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), deixou de lado as
polêmicas em torno do assunto e assumindo a sua
costumeira defesa do combate à corrupção afirmou:
- Com a coerência de sempre, pelo fim da corrupção,
meu voto é pelo prosseguimento das investigações, afirmou
Jair Bolsonaro em seu voto.
Quando da apresentação da primeira denúncia contra
Temer, em que a Câmara dos Deputados a rejeitou,
Bolsonaro já havia se posicionado pela sua aceitação:
- Para ser uma grande nação, o Brasil precisa de um
presidente honesto, cristão e patriota. Meu voto é não [não
ao relatório que impediria a investigação do presidente
Temer], disse Jair Bolsonaro ao justificar seu voto.
Para cumprir sua determinação de concorrer à
Presidência da República e colocar em prática, o que
chamou de “boa política” - sem o “toma-lá-dá-cá” -, o
deputado Jair Bolsonaro decidiu deixar o PSC e se filiar ao
PSL – Partido Social Liberal, que no dia 5 de janeiro de
2018 fez publicar uma carta aos seus filiados e ao público
em geral e assinada pelo presidente do Partido, Luciano
Bivar, e pelo presidenciável Jair Messias Bolsonaro, em que
ambos comunicavam que estariam juntos em um projeto
que iria “mudar o Brasil”, a partir de 2019.
E deixam claro que Jair Bolsonaro teria total respaldo
do Partido para lançar a sua candidatura à Presidência da
República, definindo como prioridades para o futuro do País:
“O pensamento econômico liberal, sem qualquer viés
ideológico, assim como, o soberano direito a propriedade
privada e a valorização das forças armadas e de
segurança”. Além disso, a carta reafirmava a disposição do
Partido e de Bolsonaro “em preservar as instituições,
proteger o Estado de Direito em sua plenitude e defender os
valores e princípios éticos e morais da família brasileira”.
Em fevereiro de 2018, o general-de-Exército Augusto
Heleno, que foi o primeiro comandante das tropas
brasileiras no Haiti, comandante militar da Amazônia, já na
Reserva, concedeu entrevista ao jornalista Claudio Dantas,
do site “O Antagonista”, quando declarou seu voto a Jair
Bolsonaro e falou sobre o deputado federal, capitão da
reserva e candidato a presidente da República.
– O senhor tem candidato pra presidente?
– Eu tenho uma ligação grande com Bolsonaro.
– Foi seu cadete, né?
– Foi meu cadete, eu tenho ligação com ele todo o
tempo de político dele. Acha que, na situação atual, pra
mim, ele é uma boa opção.
– Você tem dado al...
– E as cobranças, isso é outra coisa engraçada. A
cobrança em cima do Bolsonaro é que ele seja a mistura do
Reagan com a Margareth Thatcher, com Obama, com
Martin Luther King,... Não é; esse candidato, com este perfil
da perfeição. E ninguém nunca cobrou isso dos outros que
passaram aí.
– Qual a grande qualidade do Bolsonaro para o
senhor?
– Eu acho que ele é obstinado. Isso é uma coisa muito
importante. Nos contatos – não sou só eu, outros têm
participado dessas conversas -, ele tem demonstrado que
ele é capaz de modificar um pouco a sua maneira de agir,
para se moldar a uma situação nova de... Porque é novo pra
ele, que foi deputado a vida inteira. E, muitas vezes,
brigando sozinho pelas suas ideias, não sei o que... Hoje ele
tem de estar em um outro contexto né, onde ele tem que ser
mais flexível, ele tem que entender que as opiniões têm que
ser ouvidas.
– Dialogar mais...
– Dialogar. Acho que ele tem entendido isso, ele tem...
eu não gosto da palavra humildade... Humildade é uma
palavra difícil assim, não é uma coisa que eu seja fã dessa
palavra, mas a consciência...
– Por que ele é um bom nome? Por que o senhor vota
nele?
– Porque no quadro político atual, não vejo ninguém
melhor.
– Han... han.
– Não vejo ninguém melhor do que ele.
– Mas qual a grande qualidade dele além dessa...
– Acho que ele é obstinado, acho que ele terá um bom
programa de governo, coisa que não cobram dos outros,
mas dele toda hora cobram “qual o programa de governo?”
Ele tem um ano para pensar em programa de governo, ele
tem de verificar qual vai ser a evolução do país até lá. E
mais, ele sempre declara que vai buscar uma equipe, que
não esteja nesse “toma-lá-dá-cá” Eu acho nisso uma
qualidade excepcional; a vontade dele de romper com o
ciclo do “toma-lá-dá-cá”. Esse “toma-lá-dá-cá” é um negócio
que, para quem não está envolvido no “toma-lá-dá-cá”... Eu
vou usar uma palavra que até é um pouco dura, mas chega
a ser nojento você verificar que os cargos públicos são
mobiliados a custa de troca de favores, por gente que,
sabidamente, é incompetente.
No dia 7 de março de 2018, Bolsonaro, participou de
um ato simbólico, realizado no Plenário 2 da Câmara dos
Deputados, em Brasília, de sua transferência para o PSL.
Em seu esperado discurso proferido no evento –
depois de vários parlamentares que o precederam -, durante
cerca de 40 minutos, Bolsonaro voltou a colocar e, com
muita simbologia, por estar em sua Casa Legislativa, que se
fosse eleito presidente da República, governaria em sintonia
com o Congresso Nacional, mas sem o “toma-lá-dá-cá” que
sempre imperou na política nacional, com malas de
“dinheiro” nos porões do palácio, o que tem sido motivo de
intensa corrupção na política brasileira.
Para formular sua plataforma econômica, o deputado
Jair Bolsonaro foi buscar o economista liberal Paulo
Guedes, então sócio da Bozano Investimentos, empresa de
participações e gestão de recursos. Guedes também é ex-
sócio do Pactual (hoje BTG) e do IBMEC, instituições que
ajudou a fundar.
Ele trabalhou na formulação de um programa
econômico com bases liberais, defendendo o máximo de
privatizações possíveis, com a redução drástica do tamanho
do Estado na economia. Para Paulo Guedes, depois de
trinta anos com o PT e o PSDB se alternando no poder, é
hora de experimentar uma nova receita, para tentar colocar
o País na trilha do crescimento sustentável.
Bolsonaro e os Quilombolas
No momento em que o escravo decide que não quer ser
escravo, suas correntes caem ao solo; se libera e mostra
aos outros como fazê-lo.
A liberdade e a escravidão são estados mentais.
(Mahatma Gandhi [1869-1948] advogado e especialista em ética política)

No dia 14 de abril de 2018, Jair Bolsonaro foi


denunciado, pela Procuradoria-Geral da República, ao
Supremo Tribunal Federal, por crime de racismo, pelas
palavras injuriosas que dirigiu aos quilombolas, indígenas,
refugiados, mulheres e LGBTs, durante o discurso que fez
no Clube Hebraica (RJ), em 3 de abril de 2017. Na ocasião,
Bolsonaro afirmou:
- Eu fui num quilombo em Eldorado Paulista. O
afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não
fazem nada! Eu acho que nem pra procriador servem mais.
Mais de R$ 1 bilhão por ano, gastos com eles. Recebem
cesta básica e mais material e implementos agrícolas. Você
vai a Eldorado Paulista, você compra arame farpado, você
compra enxada, pá, picareta por metade do preço vendido
em outra cidade vizinha. Por quê? Porque eles revendem
tudo baratinho lá. Não querem nada com nada.
Em função desta fala, integrantes do movimento
negro, quilombolas e deputados federais protocolaram no
dia 6 de abril de 2017, na PGR, representação contra o
deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) por "prática de racismo e
violação da dignidade indígena e quilombola".
Durante entrevista coletiva, Benedita da Silva
ressaltou que Bolsonaro utilizou a expressão "arroba",
aplicada para a pesagem de gado e outros animais. Durante
a escravatura, era também utilizada para escravos.

Nós pedimos a punição severa dele baseada na


Constituição, que torna o crime de racismo inafiançável. Ele
já está acostumado a proceder dessa forma. Mas agora ele
mexeu com mais de 51% da população brasileira. Ele nos
discriminou, nos colocou como animais, afirmou Benedita.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, na
“Notícia de Fato” encaminhada ao STF, “em pouco mais de
uma hora de discurso, Bolsonaro usou expressões de cunho
discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente
vários grupos sociais”, tendo sido sua conduta considerada
“ilícita, inaceitável e severamente reprovável”, por terem
sido manifestações de incitação ao ódio e à discriminação.
De acordo com a procuradora-geral da República,
Raquel Dodge, o discurso feito por Jair Bolsonaro
“transcende o desrespeito aos direitos constitucionais dos
grupos diretamente atingidos e viola os direitos de toda a
sociedade”.
Ela ressaltou ainda que a Constituição Federal “garante
a dignidade da pessoa, a igualdade de todos e veda
expressamente qualquer forma de discriminação”.
Antes do ataque aos quilombolas, de acordo com a
PGR, Bolsonaro ainda teria feito “um paralelo da formação
de sua família para destilar preconceito contra as mulheres:
Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens; o quinto eu dei
uma fraquejada e veio uma mulher”. Ela tem seis anos de
idade e foi feita sem aditivos. Acredite se quiser. (Risos na
plateia)
Nesta sua passagem pelo Clube Hebraica, Bolsonaro
enfrentou protestos, foi vaiado na chegada e na saída, mas
nada disso o impediu de dar o seu habitual show de
palavrões. Entre outras coisas, Jair Bolsonaro, falou sobre
sua viagem a Israel, quando levou seus quatro filhos
homens.
Como era de se esperar, os filhos do deputado
Jair Bolsonaro - o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o
vereador Carlos Bolsonaro - saíram em defesa do pai.
Segundo disse Eduardo, “claro que foi uma brincadeira,
tanto que deram risada”. Já Carlos afirmou que “conhece o
seu pai e sabe bem o que passa na cabeça dele”. Depois
afirmou ser um “mimimi boçal” de seus críticos.
De acordo com Carlos Bolsonaro, em seu Instagram:
- Conheço meu velho e sei o que se passa na cabeça
dele: se for para mudar ou se continuarem seguindo com o
mimimi boçal, que escolham outro!
Depois de criticar os quilombolas, Bolsonaro “apontou
seu discurso para os índios, impondo-lhes a culpa pela não
construção de três hidrelétricas em Roraima e criticando as
demarcações de terras indígenas”, conforme a PGR.
Na mesma apresentação, Bolsonaro também prometeu
que, se fosse eleito presidente da República, iria acabar
com as reservas indígenas e que, se dependesse dele,
“todo mundo teria uma arma de fogo em casa”.
No dia 14 de abril de 2018, Gustavo Bebianno, então,
assessor e advogado de Jair Bolsonaro, escreveu e enviou
a O Antagonista – site que deu divulgação à denúncia da
PGR -, a seguinte nota oficial:

A respeito da recente denúncia oferecida contra o


deputado federal Jair Bolsonaro, sua assessoria
esclarece que, mais uma vez, a PGR se presta a
papel de viés político, não condizente com a sua
função constitucional. Em vez de agir na defesa dos
interesses da Nação, perde tempo e recursos do
contribuinte para apurar supostos crimes, que, de
antemão, sabe não terem ocorrido. É lamentável
assistir a ataques infundados, cujo objetivo precípuo é
o de gerar notícias sensacionalistas, a fim de denegrir
a imagem daquele que é, de fato, o maior fenômeno
político do Brasil nos últimos anos, pela sua seriedade,
honestidade e patriotismo. Uma instituição como a
PGR não devia estar à mercê de grupos mal-
intencionados, que se utilizam do discurso
‘politicamente correto’ para mascarar sectarismo e
vitimismo. O deputado Jair Bolsonaro não terá
qualquer dificuldade para demonstrar, na esfera
judicial, que não é racista. Como parlamentar, ele tem
o direito, e o dever, de debater temas polêmicos que
afligem o povo brasileiro e seu eleitorado. Foi
exatamente o que fez no Clube Hebraico, ao defender
que todos devem trabalhar para seu próprio sustento,
inclusive quilombolas e indígenas, ao invés de serem
sustentados pelo Estado.

De acordo com o site, depois que o advogado de


Bolsonaro enviou a nota, ele teria acrescentado que:

A PGR nem sequer mandou instaurar inquérito policial. Isso


é um atropelo do procedimento corriqueiro, que deveria ter
sido adotado. A não instauração de inquérito policial, por si
só, já revela o caráter politiqueiro da denúncia.

Ato contínuo a esta manifestação de Bebianno, o Dr.


José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação
Nacional dos Procuradores da República (ANPR), enviou ao
O Antagonista, a seguinte nota explicativa:
Acerca das declarações do advogado Gustavo Bebianno,
assessor do deputado Jair Bolsonaro, sobre a denúncia
encaminhada ao STF pela PGR Raquel Dodge contra o
parlamentar, cabe esclarecer:
1. Não há nada de estranho ou errado – muito pelo
contrário – em uma denúncia realizada sem prévio inquérito
policial. É jurisprudência antiga e absolutamente pacífica
que o Ministério Público pode e deve encaminhar denúncia
quando presente prova de materialidade e indícios
suficientes de autoria, e se estes elementos já estão
presentes sem o IPL. A denúncia traz especificado que vai
acompanhada de áudio e de laudo das declarações, e,
aparentemente, nem o fato nem as palavras foram negadas;
2. Não há nada de pequeno ou desimportante em defender
os direitos humanos, inclusive processando criminalmente
seus ofensores, como parece sugerir o ilustre advogado.
Muito ao inverso, os direitos da pessoa humana têm status
de direitos fundamentais na nossa Constituição e em todo o
mundo. O racismo, em particular, é crime no Brasil há
quase 30 anos, e não pode ser tolerado em uma sociedade
plural e democrática. O Ministério Público estará sempre de
pé, diante de quem for, para defender os direitos da pessoa
humana;
3. Quando e sempre que um fato em tese criminoso se
apresenta ou lhe é encaminhado, o Ministério Público o
avalia, investiga (quando necessário) e encaminha a Justiça
a opinião que exerce em nome da sociedade. Com todo
respeito, está se tornando tolo o argumento sobre “agendas
ocultas” – absolutamente inexistentes –, repetido à direita
ou à esquerda por muitos políticos e seguidores todas as
vezes que o Ministério Público Federal age com denúncias
e investigações. O simples fato de que todos os matizes
políticos reclamam de forma igual e quase com as mesmas
palavras já demonstra à exaustão que não existe nenhum
tipo de agenda política na atuação do MPF. Existe
cumprimento da sua missão constitucional;
4. A PGR Raquel Dodge agiu de forma fundamentada,
técnica e isenta, absolutamente dentro e conforme sua
missão constitucional, como se espera sempre da Chefe do
MPF (e na melhor tradição de seus antecessores), e de
todos os membros do Ministério Público Federal e
Brasileiro. Agora a Justiça – igualmente isenta e
independente -, após o contraditório e a ampla defesa,
julgará os fatos, nos termos da Lei.

O ministro Marco Aurélio de Mello, membro da 1.ª


Turma do STF foi sorteado para relatar a denúncia
apresentada pela PGR contra Bolsonaro.
O deputado federal Jair Bolsonaro também foi
denunciado na Justiça Federal do Rio de Janeiro
Bolsonaro alegou, em sua defesa, que as declarações
dele são, quase sempre, interpretadas de forma tendenciosa
e, com o objetivo de prejudicar sua imagem. Disse também
que sua imunidade parlamentar assegura a ele o direito de
livre expressão de voto e pensamento.
Em outubro de 2017, a Justiça do Rio de Janeiro
determinou que Bolsonaro, que era pré-candidato à
Presidência da República pagasse R$ 50 mil de indenização
à população quilombola e à população negra em geral,
depois de ter dito que quilombolas "não servem nem para
procriar" durante uma palestra no Clube Hebraica.
De acordo com o Ministério Público Federal, cuja
posição foi seguida pela juíza, embora não tenha penalizado
Bolsonaro com a multa de R$ 300 mil pedido pelo MPF-RJ,
o deputado não apenas expressou sua opinião política, mas
ofendeu os povos quilombolas, além de outras minorias,
“ultrapassando os limites da razoabilidade, gerando, desta
forma, a necessidade de, com caráter reparatório e punitivo,
condenar o réu ao pagamento de danos morais coletivos”.
Em sua sentença, a juíza Frana Elizabeth Mendes, da
26.ª Vara Federal do Rio de Janeiro, afirmou que o
deputado deveria ter postura mais respeitosa com relação
aos cidadãos, ”pois suas atitudes influenciam pessoas,
podendo incitar reações exageradas e prejudiciais à
coletividade”.
Mas não era a primeira vez que Bolsonaro criticava os
quilombolas, taxando-os de “preguiçosos”. Em maio de
2016, ele, em seu gabinete da Câmara dos Deputados,
dava uma entrevista ao correspondente do New York Times,
falando sobre a eventual cessão da Base de Lançamento de
Alcântara para uso dos Estados Unidos, quando criticou o
projeto do PT que queria beneficiar os quilombolas com
parte dos lucros da base:
- Base de Alcântara. Você viu o que a esquerda fez
com vocês; americanos?
- Ucrânia...
- É. Resolveu fazer um acordo com a Ucrânia, que
vivia no guarda-chuva da Rússia. Depois teve aquele
problema. É 1 bilhão de reais nosso jogado fora.
- E tá parado?
- Tá parado. E a Ucrânia agora assinou um Acordo de
Salvaguarda com vocês, os Estados Unidos, e o Brasil não
quer assinar. Tem certas coisas que é segredo de Estado. É
segredo industrial. Por que não quer assinar? Eu quero ver
o que tem dentro do container. Podíamos estar lançando aí
algumas dezenas de satélites por ano aqui no Brasil. Mas
também contra isso, o que um deputado do PT fez? Nós
conseguimos segurar o projeto. Criaram bolsa-satélite. Sabe
o que é isso? Tem bola-família, tem bolsa tudo aqui. Bolsa
crack, em São Paulo, bolsa-prostituta, tem de tudo no Brasil.
O deputado do PT queria criar a bolsa-satélite. Ou seja,
cada satélite que fosse lançado, 20% do lucro iria para a
comunidade quilombola ali do lado. Então o quilombola,
descansado [coloca as mãos atrás do pescoço e vira a
cabeça para trás simulando uma pessoa descansando], só
contanto: mais um satélite; vai buscar lá 2 milhões de
dólares. Esse País não pode ir pra frente. (...)
Mas voltando aos fatos que motivaram mais esta
denúncia da PGR ao STF, contra Bolsonaro, por crime de
racismo, este concedeu entrevista ao Portal da Band no dia
15 de abril de 2018, logo depois de gravar participação no
Programa do Datena, que foi ao ar uma semana depois,
quando afirmou:
- É um jogo político. Eu não sou bandido, a exemplo
do Lula. O Lula não é preso político; o processo pelo qual
estou respondendo, esse, sim, é político.
Bolsonaro ainda disse que a denúncia ao STF poderia
atrapalhar um pouco sua campanha, mas não a ponto de
impossibilitar sua candidatura. Em sua opinião, o eleitor está
do seu lado. “Vários afrodescendentes estão gravando
vídeos falando que estão comigo nessa”. “Tem gente que
fica falando que sou racista, homofóbico, fascista. Vão catar
coquinho, bando de imbecis! Falam que eu não gosto de
mulher. Ué, se eu não gosto de mulher, então eu sou gay”,
riu. “Mas eles não vão ter sucesso assim. O Trump venceu
isso nos Estados Unidos, aqui será a mesma coisa.”
Por três votos a dois, no dia 11 de setembro de 2018,
a Primeira Turma do Supremo rejeitou a denúncia de
racismo contra os quilombolas, feita pela PGR, e arquivou o
caso, entendendo o relator da matéria, ministro Marco
Aurélio de Mello que, embora o uso de frases infelizes pelo
deputado Jair Bolsonaro, isto não configurava racismo.
Bolsonaro e o Nióbio
Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de
ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu
apenas para descobrir que não havia nada dentro dela.
(Esopo [620-560 a.C] fabulista grego)

O Nióbio é um metal raro no mundo, mas com grandes


reservas no Brasil, sendo considerado fundamental para a
indústria de alta tecnologia, cuja demanda tem aumentado e
tem sido objeto de controvérsia e de uma série de suspeitas e
informações desencontradas que se multiplicaram pela internet
– “alimentando teorias conspiratórias e mitos sobre a dimensão
da sua importância para a economia mundial e do seu potencial
para elevar o PIB do Brasil”, conforme o jornalista Darlan
Alvarenga, em artigo escrito para o G1 Economia.61
Um assunto muito discutido em 2017 foi sobre o
Nióbio,62 um dos temas polêmicos de Bolsonaro, quando se
discute a questão mineral no Brasil, ao lado do ataque que
sempre faz às reservas indígenas que, segundo ele, são um
entrave para a exploração de riquezas minerais.

61
O nióbio é um elemento químico usado como liga na produção de aços
especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas
extremas. Quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de
aço, confere maior tenacidade e leveza. O nióbio é atualmente
empregado em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, em tomógrafos
de ressonância magnética, na indústria aeroespacial, bélica e nuclear,
além de outras inúmeras aplicações como lentes óticas, lâmpadas de alta
intensidade, bens eletrônicos. (ALVARENGA, Darlan. G1. Economia.
Negócios. ‘Monopólio’ brasileiro do nióbio gera cobiça mundial,
controvérsia e mitos. São Paulo, 19 abr. 2017).
62A chamada “questão do nióbio” não é um assunto novo. Um dos seus
porta-vozes mais ilustres foi o deputado federal Enéas Carneiro, morto
em 2007, que alardeava que só a riqueza do mineral seria o suficiente
para lastrear toda a riqueza do país. O nióbio já chegou a ser relacionado
até com o mensalão, após o empresário Marcos Valério afirmar na CPI
dos Correios, em 2005, que o Banco Rural conversou com José Dirceu
sobre a exploração de uma mina de nióbio na Amazônia. (ALVARENGA,
Darlan. G1. Economia. Negócios. ‘Monopólio’ brasileiro do nióbio gera
cobiça mundial, controvérsia e mitos. São Paulo, 19 abr. 2017).
Alvarenga discorre mais sobre o Nióbio e sua
produção no Brasil e no mundo:

O mineral existe no solo de diversos países, mas 98% das


reservas conhecidas no mundo estão no Brasil. O país
responde atualmente por mais de 90% do volume do metal
comercializado no planeta, seguido pelo Canadá e
Austrália. No país, as reservas são da ordem de
842.460.000 toneladas e as maiores jazidas se encontram
nos estados de Minas Gerais (75% do total), Amazonas
(21%) e em Goiás (3%).
Segundo relatório do Plano Nacional de Mineração 2030, o
Brasil explora atualmente 55 substâncias minerais,
respondendo por mais de 4% da produção global, e é líder
mundial apenas na produção do nióbio. No caso do ferro e
do manganês, por exemplo, em que o país também ocupa
posição de destaque, a participação na produção global não
ultrapassa os 20%.

De acordo com o jornalista Lucas Vettorazzo,


escrevendo para a Folha o artigo “Mineral Nióbio vira xodó
para Jair Bolsonaro” fala que o deputado teria dito em sua
palestra no Clube Hebraica que "O nióbio vale mais do que
o ouro”, e ainda que: “a maior reserva de Nióbio está sob as
terras indígenas” o que Vettorazzo contesta, dando suas
explicações, em contraponto ao falado por Bolsonaro.
Entretanto, para não ficar apenas com uma visão
única e, talvez tendenciosa, buscamos um especialista no
setor, o geólogo, professor e escritor, Pérsio de Morais
Branco, que teve seu artigo “Nióbio Brasileiro” publicado
pelo site da Companhia de Pesquisas de Recursos Naturais
(CPRM), que é uma empresa pública, ligada ao governo
federal.
Branco inicia seu artigo afirmando que circulam na
internet denúncias sobre o Brasil estar “dilapidando suas
valiosas reservas de nióbio; que é praticamente o único
produtor desse metal, mas não está lhe dando o devido
valor; que o vende a preços irreais; que permite que seja
contrabandeado etc.”.
O autor concorda que há nessas afirmações alguma
verdade, mas que também afirmações falsas e “também
algumas coisas que são apenas parcialmente verdadeiras”:
Depois de expor sobre a ocorrência deste mineral no
Brasil e outros países, o professor Branco escreve ainda em
seu artigo que, somente em Minas Gerais, as reservas de
Nióbio poderão abastecer o mundo por mais 200 anos, se
considerado o nível de demanda atual.
Quanto à importância estratégica do Nióbio, o
professor Branco explica que isso se deve, principalmente,
ao fato do Brasil ter o monopólio sobre o mineral, mas que
ele vale menos que o ouro e o petróleo, além do que, desde
1970 “não há comercialização do minério bruto ou do
concentrado de Nióbio (pirocloro) no mercado interno ou
externo”, sendo que “o metal é vendido, sobretudo, na forma
de liga ferro-nióbio, com 2/3 de nióbio e 1/3 de ferro”.
Citando fontes oficiais, Branco afirma que em 2012, o Brasil
exportou cerca de 71 mil toneladas de liga de nióbio, com
faturamento de US$ 1,8 bilhão.
O professor Branco também demonstra ser uma
falácia os boatos de que há contrabando de nióbio, por ser
um metal mais valioso do que o ouro:
Em 2012, uma onça de ouro (31,1 gramas) valia US$ 1.718.
O mesmo peso de ferro-nióbio custava US$ 0,82. Assim,
contrabandear 1 kg de ouro poderia ser compensador, pois
ele valia US$ 55.241, mas 1 kg de liga ferro-nióbio valia
apenas US$ 61,60. Em reais, com a cotação de junho de
2013, 1 kg de ouro valia R$ 121.530; e 1 kg de nióbio,
apenas R$ 135.

Já o diretor de planejamento e desenvolvimento da


mineração do DNPM (Departamento Nacional de Produção
Mineral) – atualmente, Agência Nacional de Mineração -,
Wagner Fernandes Ribeiro, disse que não vale a pena
explorar mais o mineral, porque o preço vai cair. “Quando
você começa a explorar demais, o preço cai e fica inviável”.
O nióbio, de acordo com Ribeiro, é usado na
proporção de 400 gramas do mineral para cada tonelada de
minério de ferro, alertando que a exploração do nióbio “é um
trabalho que tem que ser cuidadoso porque se você começa
a explorar de uma forma muito ampla, você vai fazer o preço
cair e ele fica inviável”.
Parece serem suficientes tais explicações sobre o
Nióbio brasileiro para contrapor a exagerada defesa que
alguns fazem nas redes sociais de que deveria ser criada
uma estatal para explorar o nióbio brasileiro.
Se fosse esse o caminho, deveríamos também criar
estatal para explorar o ouro, a madeira, pedras preciosas e
outros minerais. Mesmo Bolsonaro que pegou carona neste
assunto, quando o mesmo era forte na internet, acabou
silente e não foi uma de suas bandeiras nas eleições
presidenciais.
O jornalista Darlan Alvarenga fala sobre a questão da
cobiça de outros países sobre o nióbio brasileiro:

Em 2010, um documento secreto do Departamento de


Estado americano, vazado pelo site WikiLeaks, incluiu as
minas brasileiras de nióbio na lista de locais cujos recursos
e infraestrutura são considerados estratégicos e
imprescindíveis aos EUA. Mais recentemente, o nióbio
voltou a ganhar os holofotes em razão da venda bilionária
de uma fatia da Companhia Brasileira de Metalurgia e
Mineração (CBMM), maior produtora mundial de nióbio,
para companhias asiáticas. Em 2011, um grupo de
empresas chinesas, japonesas e sul coreana fechou a
compra de 30% do capital da mineradora com sede em
Araxá (MG) por US$ 4 bilhões.

Alvarenga afirma que o debate em torno do nióbio,


muitas vezes, acaba sendo mais ideológico do que produtivo
para que país possa criar uma política para o mineral, que
resulte na criação de “uma cadeia industrial que vise agregar
valor a este insumo que praticamente só o país oferece”.
“A CBMM não exporta minério bruto. É a única
empresa no mundo que fabrica todos os produtos derivados
do nióbio. O desafio é desenvolver tecnologias de aplicação
para fomentar o mercado desses produtos”, explica o CEO
da CBMM, Eduardo Ribeiro, para a Revista Galileu.
(BERNARDO, André. Revista Galileu. Dossiê. Nióbio: o que
é o metal exaltado por Jair Bolsonaro. São Paulo, 2019).
Sobre os discursos de Jair Bolsonaro
Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e
afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da
esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos.
(Charles Chaplin [1889-1977] ator, diretor e comediante inglês)

Polêmico. Talvez seja a palavra que melhor possa


adjetivar as ações e falas do deputado Jair Bolsonaro e que
faz muita gente torcer o nariz para ele. Mesmo as pessoas
que votam nele não concordam com tudo que ele fala,
mesmo porque, parece que Bolsonaro nunca se importou
com quem discorda dele, mas fala para aqueles que
apreciam seu modo de agir e falar.
E, para verificar o impacto que seus discursos e temas
polêmicos causam em seus eleitores, a empresa de
marketing político Ideia Big Data fez, a pedido do Valor
Econômico um estudo a respeito da opinião destes
eleitores. De acordo com o estudo, o “Eleitor de Bolsonaro
não leva suas opiniões ao pé da letra”.
O estudo foi realizado com diversos eleitores
declarados de Jair Bolsonaro, que deveriam responder a
questões envolvendo coisas defendidas pelo então
deputado federal, relacionadas, por exemplo, com o uso de
maconha por um filho, sobre o tratamento dispensado a
presidiários, violência, homofobia e outros temas
espinhosos, sempre colocando entre as alternativas de
respostas, uma que combinava com algo já dito por
Bolsonaro.
Para surpresa dos pesquisadores, a coincidência entre
o que Bolsonaro prega e o que seus eleitores pensam se
restringe mais a assuntos envolvendo segurança pública,
quando os entrevistados concordavam, por exemplo, com
trabalho forçado para presidiários, castração química para
estupradores, aumento das penas até prisão perpétua,
morte aos bandidos.
Mas as respostas dos entrevistados para outros
temas, como por exemplo, homofobia e uso de maconha,
não tiveram o mesmo alinhamento entre os pesquisados e o
que fala o deputado.
Como síntese, o consultor e mediador do grupo de
estudo, Renato Dorgan afirmou que a maioria dos eleitores
de Jair Bolsonaro – com base neste estudo -, o "enxergam
como um justiceiro pronto para resolver os problemas de
segurança doa a quem doer mesmo se for à base da bala".
Ainda de acordo com a leitura feita por Renato
Dorgan, de como os eleitores de Bolsonaro o enxergam, ele
afirma que, em alguns casos, há semelhança muito forte de
pensamento, como no caso da rejeição ao aumento de
impostos, “repugnância aos sindicatos” e a visão negativa
do que são as cotas raciais nas universidades.
Neste último tópico – cotas raciais -, de acordo com
Dorgan, decorre mais do uso errado desta possibilidade por
muitos candidatos a vagas nas universidades federais, que
fraudam o sistema ao se autodeclararem pardos, índios ou
negros, sem que haja por parte da instituição uma
verificação obrigatória e punição dos infratores, dependendo
de alguém denunciar. O caso aqui é de ojeriza à corrupção
e não à raça do favorecido e também porque o brasileiro, no
geral, não gosta de denunciar ninguém com receio das
consequências.
As conclusões deste estudo indicam que eleitores de
Bolsonaro seriam pessoas que estão inseguras com o
destino do país, com desconfiança do sistema político
vigente, inclusive com o uso de urnas eletrônicas, e com
“sentimento de vergonha com relação à corrupção”
sistêmica que assola o Brasil.
Para Dorgan, esses eleitores vêm em Bolsonaro dois
"atributos" essenciais para combater estes problemas. O
primeiro é sua larga experiência política e totalmente
diferente dos políticos tradicionais, geralmente envolvidos
em casos de corrupção, o que nunca foi noticiado sobre o
deputado Em segundo lugar vem a percepção de Jair
Bolsonaro ser uma pessoa de pulso firme e de
posicionamento forte e decidido diante dos problemas. Ou
seja, ele é visto como alguém de coragem e autoridade, que
poderá vir a colocar ordem na atual bagunça do país,
principalmente na área de segurança pública.
Entre os pontos fracos do deputado Jair Bolsonaro,
identificados pela pesquisa da Ideia foram apontados: a não
concordância com a estatização da economia, por vezes
presente em discursos do deputado e as discussões que
ele, vez ou outra, arranja com mulheres parlamentares, o
que deixa as mulheres retraídas em relação a apoiá-lo.
Mas o Ideia Big Data também identificou em seu
estudo que, no Rio de Janeiro, cidade assolada pela
violência e mais relevante território eleitoral de Bolsonaro,
40% do eleitorado do ex-presidente Lula, deverá migrar para
ele, por verem no deputado fluminense a pessoa que está
mais habilitada alutar contra a bandidagem e dar solução
para o problema da violência na Cidade.
Em outro estudo, agora realizado pelo jornalista André
Shalders, da BBC Brasil e publicado no dia 7 de dezembro
de 2017, foram analisados 1.540 discursos de Jair
Bolsonaro na Câmara dos Deputados, em 27 anos de
mandato.
O jornalista afirmava que “embora sempre tenha se
identificado com a direita, o Bolsonaro do início da carreira
era muito mais preocupado com a defesa dos interesses
dos militares do que polemizar com o PT e a esquerda”.
Shalders faz um comparativo entre o primeiro mandato
de Bolsonaro e o que fora seu último como deputado federal
(2015-2019), demonstrando que seus discursos foram
evoluindo com o passar do tempo e suas preocupações
foram tomando dimensões maiores:
Em seu primeiro mandato como deputado, de 1991 a 1994,
palavras como "militar", "forças armadas", "benefícios",
"salários" e "pensões" apareceram 702 vezes, nos resumos
e palavras-chave dos 279 discursos feitos por ele no
Plenário da Câmara naquele período. Já no atual mandato,
de 2015 até agora, o mesmo conjunto de 16 palavras só
aparece 110 vezes, num conjunto de 143 discursos.

E o jornalista afirma que esta mudança veio ocorrendo


ao longo do tempo e, especialmente, porque seu eleitorado
foi se ampliando, o que o levou a discutir menos os
problemas afetos aos militares e ampliando o espectro de
suas manifestações, debitando a isto o efeito de suas
aparições nas redes sociais e no surgimento de grupos que
defendem o parlamentar.
Com o passar do tempo e aumento de sua projeção
nacional, os assuntos corporativos do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica recuavam. O tempo de Bolsonaro na
tribuna passou a ser ocupado cada vez mais com assuntos
com "apelo" no novo público do deputado, que o conheceu
principalmente na internet.

Shalders relaciona o crescimento da popularidade de


Bolsonaro à sua maior participação nas redes sociais,
citando relatório de agosto de 2017 da empresa de
comunicação corporativa e pesquisa FSB Comunicação
(FSB Influência Congresso), em que Bolsonaro é
reconhecido como o parlamentar mais influente nas redes
sociais, entre todos os deputados e senadores brasileiros.
Os milhões de seguidores de Jair Bolsonaro parecem
ver nele a solução de muitos dos atuais problemas do Brasil,
especialmente por representar o lado pouco visto nos
demais candidatos, que, de acordo com um post na página
do Facebook “Jair Bolsonaro – Direita 2018”, que
perguntava “O que você acha desse homem?”, obteve as
seguintes respostas mais recorrente: Transparência e
Honestidade; Ficha Limpa; Homem de Verdade; Futuro do
Brasil; Nossa Esperança; Mudança de uma Nação; Luz no
Fim do Túnel e outras.
Esta enquete foi feita no dia 14 de fevereiro de 2018,
em um grupo que conta com mais de 160 mil participantes e
que pode ser um termômetro para se entender como os
discursos de Jair Bolsonaro, apesar de todos os senão,
atinge, em cheio, a expectativa de seus virtuais eleitores,
que clamam por maior segurança pública, mudança na
condução dos rumos do país, moralização da administração
pública e da política, maior transparência com os gastos
públicos e enfrentamento dos problemas do país com maior
rigor.
Bolsonaro e o controle de natalidade
É de esquerda ser a favor do aborto e contra a pena de
morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida,
porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele
der errado.
(Luis Fernando Verissimo – cartunista e romancista brasileiro)

Controle de natalidade sempre foi uma preocupação


externada pelo deputado Jair Bolsonaro, pelo entendimento
de que é preciso reduzir a capacidade dos “pobres” de
procriar. Por exemplo, no dia 23 de maio de 2018,
Bolsonaro afirmou na “Marcha dos prefeitos a Brasília” que
estudava colocar em seu plano de governo que estava
sendo elaborado, uma proposta de planejamento familiar,
mas não a detalhou naquele momento.
- Não estou autorizado a falar sobre isso, que botei na
mesa, mas eu gostaria que o Brasil tivesse um programa de
planejamento familiar. Um homem e uma mulher com
educação dificilmente vão querer ter um filho a mais para
engordar um programa social.
Mas este assunto sempre foi recorrente na pauta do
deputado e vamos dar aqui apenas alguns exemplos, como
em 2013, quando, em um de seus discursos na Câmara dos
Deputados, o mesmo afirmou:
- Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar.
Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso, para
votar no governo que está aí. Só para isso e mais nada
serve, então, essa nefasta política de bolsas do governo.
E mais:
- O Estado tem que dar meios para quem,
lamentavelmente, é ignorante e não tem como controlar a
sua prole. Porque nós aqui controlamos a nossa, mas o
pessoal pobre não controla.
Três anos antes, em discurso no plenário da Câmara
dos Deputados, Jair Bolsonaro disse acreditar que “uma das
grandes causas da fome, da miséria e da violência, seria o
crescimento populacional exagerado em nosso país” e
apresentou alguns índices que justificariam sua fala:
- O Brasil cresce à taxa de três milhões de habitantes
por ano; crianças entre 0 e 3 anos, são três milhões que não
têm creche e já vem aqui o problema da paternidade
irresponsável; quem não pode ter filho, que não tenha. E
muitos que não querem ter, não têm como conter a sua
prole e nós precisamos dar meios para que as pessoas
façam a sua paternidade responsável. E a grande verdade é
que a garotada que vai à escola pública, em sua maioria, vai
muito mais atrás da merenda escolar do que do
conhecimento.
Bolsonaro também já havia afirmado em 23 de outubro
de 2005, logo depois da realização do referendo sobre o
comércio de armas e munições –, que esta teria sido uma
oportunidade para a população participar de um tema
importante para o país e defendeu a realização de
referendos também para outras questões que, disse,
precisavam ser discutidas, como o controle de natalidade:
“Nós temos muitos referendos que poderiam ser colocados
à apreciação pública, como o controle da natalidade e a
redução da maioridade penal”.
Ele também disse na ocasião, que esperava que, após
o resultado do referendo, o governo federal fizesse uma
discussão ampla com a sociedade sobre segurança pública
visando a adoção de uma política voltada para diminuir o
que ele classificou de desordenado crescimento
populacional: “Nós não podemos agregar, por ano, três
milhões de habitantes sem meios para que essas pessoas
possam estudar e ser alguém no futuro”.
E retrocedendo no tempo pode-se ver que, desde seu
primeiro mandato na Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro
já insistia em colocar o tema “Controle de natalidade” em
discussão. Por exemplo, no dia 26 de agosto de 1991,
quando foi à tribuna, pela primeira vez para falar sobre este
assunto:
- Sabemos que esse é um dos temas mais explosivos
da atualidade socioeconômica do nosso País, mas, como
envolve questão gravíssima, a ninguém é dado omitir-se
diante dele, principalmente se, como nós, exerce uma
função de natureza pública. Estamos fazendo referencia ao
crescente problema da falta de uma política efetiva de
controle de natalidade no Brasil, que precisa encontrar, com
urgência, uma forma legal de promover esse controle com
vistas a que o casal possa obter autodomínio físico e
psíquico sobre a prole que pode e que deseja ter. (...)
Bolsonaro também propôs, em seu discurso, a
implantação de procedimentos de vasectomia e laqueadura
de trompas, feitos em hospitais públicos como método de
controle do índice de natalidade, com “ampla campanha
pelo rádio e pela televisão”. Entre outras considerações
acerca do tema, o deputado sugeriu que o assunto “Controle
de Natalidade” fosse inserido no currículo escolar:
- Sem dúvida que esse tema, por sua inegável
importância e por seu caráter de relevante prioridade, deve
mesmo constar, de forma obrigatória, nos currículos
escolares, a fim de que possa ter sentido educativo para a
população, pois só o esclarecimento das pessoas é que lhes
possibilitará decidir, com segurança e independência, sobre
questão delicada, que envolve o foro íntimo de cada um.
Em 1992, quando exercia o terceiro ano de mandato
legislativo:
- Devemos adotar uma rígida política de controle da
natalidade. Não podemos mais fazer discursos
demagógicos, apenas cobrando recursos e meios do
governo para atender a esses miseráveis que proliferam
cada vez mais.
Em 1993, ainda em seu primeiro mandato, Bolsonaro
voltaria a colocar o tema na ordem do dia da Câmara dos
Deputados:
- Defendo a pena de morte e o rígido controle de
natalidade, porque vejo a violência e a miséria cada vez
mais se espalhando neste país. Quem não tem condições
de ter filhos, não deve tê-los. É o que defendo, e não estou
preocupado com votos para o futuro.
Em 2003, Bolsonaro disse que a discussão sobre o
auxílio do Estado à população mais pobre entulharia o
Congresso de projetos e que já havia passado da hora de
discutir uma política séria de controle de natalidade:
- Já está mais do que na hora de discutirmos uma
política que venha conter a explosão demográfica, caso
contrário ficaremos apenas votando nesta Casa matérias do
tipo Bolsa Família, empréstimos para pobres, vale-gás, etc.
Bolsonaro, em julho de 2008, afirmou em um de seus
discursos que não acreditava que a educação fosse solução
para os problemas do país:
- Não adianta nem falar em educação porque a
maioria do povo não está preparada para receber educação
e não vai se educar. Só o controle da natalidade pode nos
salvar do caos.
Nota: Vê-se que o art. 10, da Lei n.º 9.263/96, que
regula o § 7.º do art. 226 da Constituição Federal, que trata
do planejamento familiar, proíbe qualquer ação com o
objetivo de controle demográfico ou a indução individual ou
coletiva à prática de esterilização. Ela estabelece como
diretrizes ações preventivas e educativas para o livre
exercício do planejamento familiar.
Este artigo até chegou a ser vetado pelo então
presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com
base em manifestação do ministro da Saúde, Adib Jatene,
pela justificava de que a “esterilização condicionada apenas
à vontade das pessoas” contrariava o interesse público e,
portanto, não deveria ser praticada. Mas o veto foi
derrubado pelo Senado Federal.
Como a fala do deputado federal Jair Bolsonaro, logo
vira retórica para seus filhos, o vereador fluminense, Carlos
Bolsonaro foi ao Twitter para lançar a ideia de que o
Programa Bolsa-Família deveria estar atrelado ao controle
de natalidade, através da laqueadura e vasectomia, como
forma de “estancar a ferida econômica e ainda combater a
miséria e a violência”.
O Jornal Livre, que deu repercussão ao fato no dia 9
de janeiro de 2018, afirmou que o tweet havia sido apagado
pelo vereador, em função de ter sido “confrontado por
internautas”. O site recebeu dois comentários; um de Silas
de Oliveira parabenizando o político:
Ele está de parabéns com esta ideia, quem vive nas ditas
comunidades sabe a realidade do que acontece lá dentro. A
quantidade de meninas gravidas, e crianças sem
perspectiva alguma de futuro, acontecem em qualquer
bolsão de pobreza de norte a sul deste país.

Mas o outro comentário, postado no dia seguinte à


publicação, criticava o site por colocar como contradição a
defesa de uma “pauta esquerdista feita por alguém que se
diz de direita”. O internauta, que apenas se identificou como
Vitor, afirmava que o controle de natalidade não pode ser
considerado política nem de direita nem de esquerda. E
disse estar desiludido com o atual status da política
brasileira: “Olha, eu vou falar uma coisa aqui: a esquerda no
Brasil é uma m***, mas do jeito que a nossa direita vai, com
esses radicalismos idiotas, não sei nãou Dá um
desânimou”.
As viagens do pré-candidato
Descobri a fracassomania numa viagem ao Brasil, há mais
de 30 anos. Toda vez que muda um governo, os intelectuais
brasileiros consideram que está tudo errado e é preciso
começar tudo de novo.
(Albert Otto Hirschman [1915-2012] economista e autor alemão)

Na sessão do dia 5 de dezembro de 2017, o Plenário


do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgou improcedente a
representação ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral
(MPE) contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e
a empresa Google Brasil Internet, por suposta propaganda
eleitoral antecipada visando as viagens feitas pelo
parlamentar no ano de 2018.
Os ministros do Tribunal entenderam que os vídeos
citados na ação não continham pedido explícito de votos,
nem menção à candidatura de Jair Bolsonaro, requisitos
para caracterizar a propaganda antecipada, segundo
Jurisprudência firmada naquela Corte.
Segundo a representação feita pelo MPE, com pedido
de liminar, seria possível constatar, a partir das mídias
veiculadas por meio do portal eletrônico YouTube, que o
deputado Jair Bolsonaro havia sido “recepcionado por
apoiadores em aeroportos, os quais faziam clara menção à
sua pretensa candidatura ao pleito presidencial vindouro”.
Apesar de considerar normal que um pretendente a
candidato fizesse movimentos no sentido de ser percebido
como tal, e que, por isso mesmo, as viagens de Bolsonaro
não configuravam qualquer transgressão à lei eleitoral, o
ministro Gilmar Mendes, que presidia o TSE, afirmou:
- Eu acho que nos próximos casos o Tribunal já vai se
posicionar de maneira mais enfática. Aqui não há só essa
pergunta sobre a legalidade. Há a pergunta também sobre o
financiamento. Quem é que está financiando, e isso pode
levar inclusive, depois, ao reconhecimento de abuso de
poder econômico, que pode levar à cassação do diploma. É
preciso ter muito cuidado com isso.
“A construção de seu nome nacional tem se dado com
base no uso intensivo das redes sociais e também nas
viagens pelo país, algumas delas ligadas a eventos
militares”, atesta o jornalista Gil Alessi, do El País.
E, desde 2015, o deputado Jair Bolsonaro vinha
realizando diversas viagens nacionais com o objetivo de se
encontrar com seus admiradores e potenciais eleitores e
também, para mostrar ao Brasil que ele mantinha sua
disposição em concorrer à Presidência da República em
2018, depois de não poder ter sido candidato em 2014.
No ano de 2016, o deputado Jair Bolsonaro visitou 13
cidades brasileiras.
- Tenho viajado pelo Brasil para conhecer, de perto, os
problemas da população, o que me ajudará a criar um plano
de governo, afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro visitou as seguintes cidades brasileiras:
Anápolis (GO), Aracaju (SE), Barretos (SP), Belém (PA),
Belo Horizonte (MG), Blumenau (SC), Boa Vista (RR), Borda
da Mata (MG), Cambuí (MG), Campina Grande (PB),
Campinas (SP) Campo Grande (MS), Caruaru (PE), Curitiba
(PR), Florianópolis (SC), Garanhuns (PE), Glicério (SP),
Jaraguá do Sul (SC), Joinville (SC), Juiz de Fora (MG),
Londrina (PR), Manaus (AM), Maringá (PR), Monte Sião
(MG), Natal (RN), Nioaque (MS), Ouro Fino (MG), Parnaíba
(PI), Pouso Alegre (MG), Recife (PE), Ribeirão Preto (SP),
Salvador (BA), Santa Cruz do Capibaribe (PE), Teresina
(PI), Três Lagoas (MS), Uberaba (MG), Uberlândia (MG),
Várzea Grande (MT), Vitória (ES), Vitória da Conquista (BA),
Votuporanga (SP) e outras.

Fatos curiosos nas viagens de Bolsonaro pelo Brasil


Segurança Feminina - Durante a visita que Jair
Bolsonaro fez a Belém, capital do Pará, em outubro de
2017, o grupo “Endireita Pará” recrutou um time de 20
seguranças para que este atuasse na segurança (guarda-
costas) do parlamentar. Um detalhe: o grupo era formado
exclusivamente por mulheres.
De acordo com o jornalista Leandro Machado, da BBC
Brasil, o grupo escolheu mulheres para a segurança por
dois motivos: O primeiro motivo seria demonstrar que essa
história de que o deputado seria machista e misógino era
apenas um estereótipo, que a esquerda pregou nele.
O segundo motivo era de ordem prática: como
algumas feministas ameaçavam protestar contra a visita de
Jair Bolsonaro a Belém, o grupo de apoiadores do deputado
pensava em evitar que houvesse um conflito entre estas
feministas e homens da segurança, que, fatalmente, a
esquerda iria repercutir negativamente na imprensa.

Membros do Grupo Endireita Pará


Crédito: Leandro Machado/BBC Brasil

Jair Bolsonaro durante a sua visita em Uberaba (MG)


Crédito: ABCZ

Os quartéis abriram as portas para Bolsonaro - Houve


época em que o deputado Jair Bolsonaro era proibido de
entrar em determinados quartéis, por conta de seu
posicionamento contrário aos governos, principalmente, de
José Sarney e Fernando Henrique Cardoso e pelos embates
frequentes com ministros do Estado-Maior das Forças
Armadas e ministros militares, quando ainda não havia sido
criado o Ministério da Defesa.

Jair Bolsonaro na Fortaleza de São João – Rio de Janeiro


Crédito: Exército

Em 2017, Jair Bolsonaro participou de onze


cerimônias de formatura em quartéis, sendo que, na
Academia Militar das Agulhas Negras (EsAO), onde ele se
formou oficial do Exército Brasileiro, Jair Bolsonaro foi
recebido para uma cerimônia de formatura, aos gritos de
“líder” pelos aspirantes a oficial e foi saudado com
continências, ao ocupar um lugar especial na tribuna, ao
lado de comandantes da instituição e oficiais de alta
patente.
Depois que o El País publicou reportagem sobre a
visita de Jair Bolsonaro sendo recebido com honras na
EsAO, o senador petista Jorge Viana (AC) usou o Twitter
para afirmar que teria sido algo muito grave e precisava ser
esclarecido.
No dia 3 de outubro de 2017, foi a vez do Centro de
Instrução e Adestramento de Brasília (CIAB), da Marinha do
Brasil, receber a visita do deputado federal Jair Bolsonaro.
Após as honras de recepção, presididas pelo
Comandante do 7.º Distrito Naval, contra-almirante Sérgio
Nathan Marinho Goldstein, o capitão de Mar e Guerra,
fuzileiro naval Paulo Roberto Saraiva realizou uma breve
apresentação sobre a missão do CIAB, destacando a
formação de jovens guardas-marinha, soldados fuzileiros
navais, marinheiros-recrutas e grumetes.
Na ocasião, a comitiva de Jair Bolsonaro conheceu as
instalações do CIAB, a exemplo do Simulador de Armas
Portáteis, que inclui a prática do tiro simulado com armas
curtas e longas.

Minas Gerais terá saída para o mar?

No dia 14 de setembro de 2017, o deputado federal


Jair Bolsonaro, de acordo com os jornais O Globo e Estado
de Minas, teria prometido aos mineiros que iria abrir uma
saída do estado para o mar. Entretanto, a despeito do que a
imprensa tenha divulgado o que Bolsonaro fez foi uma
brincadeira – que ele faz questão de afirmar em sua fala -,
não uma promessa, conforme a imprensa.
- Vamos explorar nossas riquezas, quem sabe até
abrindo uma saída para o mar para Minas Gerais. Nós
vamos satisfazer o desejo do mar de ganhar Minas, podem
ter certeza disso.
[Brincadeiras à parte...], este trecho final de sua fala, a
imprensa não divulgou. O Globo, no mesmo dia, publicou
matéria desmentido o que havia publicado anteriormente. Já
a Veja noticiou que Bolsonaro havia negado o noticiado pela
imprensa em entrevistas.
Jair Bolsonaro foi à capital mineira para lançar o livro
"Jair Bolsonaro: Mito ou Verdade", de autoria de seu filho,
Flávio Bolsonaro, e também para dar uma palestra na
Universidade Fumec. Antes, ele concedeu entrevistas para
o programa TV Verdade, do SBT/Alterosa e para a Rádio
Itatiaia, além de se encontrar com o prefeito de Belo
Horizonte, Alexandre Kalil (PHS).

Viagem a Israel

Uma delegação do Partido Social Cristão, liderada


pelo presidente da legenda, pastor Everaldo, esteve a Israel,
em maio de 2016. Participou da comitiva o deputado Jair
Bolsonaro que, na ocasião, foi batizado no Rio Jordão, em
Jerusalém. Também compuseram a comitiva os deputados
estaduais Flávio Bolsonaro (RJ), Felipe Soares (RJ) e
Noraldino Júnior (MG), o deputado federal Eduardo
Bolsonaro (SP), o vereador Carlos Bolsonaro (RJ) e a
secretária de Desenvolvimento do Ceará, Nicolle Barbosa.
A visita em Israel teve duração de seis dias, quando a
Comitiva se reuniu com congressistas do país e participou
das festividades dos 68 anos de aniversário da
independência israelense.

A família Bolsonaro com o presidente do Parlamento de Israel


Crédito: Eduardo Bolsonaro

O embarque para Israel ocorreu no dia 5 de maio e o


deputado federal Eduardo Bolsonaro, que participava da
comitiva, fez a seguinte declaração:
- Hoje embarcamos para Israel. Em que pese a
viagem ser a trabalho, não há custos ao erário (nós mesmos
estamos pagando o voo e o hotel). Nesta oportunidade
enriqueceremos nossa bagagem no tocante a agricultura,
defesa interna e externa, história mundial, combate ao
terrorismo, religião. Aproximar o Brasil de Israel será fazer o
Brasil crescer.
Bolsonaro se encontrou com grande número de
brasileiros radicados em Israel e procurou demonstrar a sua
animação com o projeto Presidencial
No dia 8 de maio de 2016, eles foram recebidos pelo
presidente do Knesset (Parlamento de Israel), Yuli-Yoel
Edelstein. Eduardo Bolsonaro, no dia seguinte publicou
comentário sobre a histórica visita feita ao Parlamento
israelense:
- Ontem conhecemos o Congresso israelense, seu
processo legislativo e eleitoral. Nesta ocasião tivemos
audiência com o presidente do Parlamento, Sr. Yuli-Yoel
Edelstein, ocasião em que este expressou seu
desapontamento com o Governo Federal do Brasil que, sem
motivo plausível, negou credencial ao embaixador de Israel
indicado para atuar no Brasil. Observe-se que ele foi ser
embaixador nos Estados Unidos. Privilegiar acordos com o
Hamas faz o Brasil aliar-se à escória do mundo e tornar-se
um anão diplomático. Queremos outra conduta para o nosso
Brasil, livre de terrorismo.
No dia 10 de maio de 2016, a Comitiva foi recebida
pelo ministro da Agricultura de Israel, Uri Yehuda A.
HaCohen e, depois receberam de técnicos do Ministério
explicações sobre os desafios e as tecnologias
desenvolvidas para aplicação na agricultura local, como o
desenvolvimento de plantas resistentes à seca, bem como,
com o plantio de trigo no deserto, que são apenas alguns
dos avanços tecnológicos na área de alimentos.

Cerimônia de batizado de Jair Bolsonaro no Rio Jordão


Crédito: Arquivo Pessoal.

Posteriormente, foram visitar o Centro de pesquisa


Tecnológica em Agricultura Volcani. Eduardo Bolsonaro
também comentou a visita:
- Foi possível extrair o quanto podemos aprender com
os israelenses em tecnologia genética, radiação solar,
seleção induzida e robótica na área de agricultura e até
piscicultura. Lembro que Israel é um deserto, reutiliza 75%
de seu esgoto nas plantações e dispõe ainda de técnica de
dessalinização de água do mar em larga escala, chegando
até a exportá-la.
O objetivo principal foi verificar as tecnologias que
poderiam ser replicadas no Brasil, notadamente no
semiárido nordestino, onde as condições de clima são
similares àquelas enfrentadas por Israel.
Ainda durante sua passagem por Israel, Jair Bolsonaro
visitou o Memorial do Holocausto, o Parlamento Israelense,
bases do Exército em Jerusalém e se reuniu com o ministro
da Segurança Pública e Assuntos Estratégicos de Israel,
tendo ainda contato com tecnologias de ponta aplicáveis na
educação e na segurança pública.
No dia 10 de maio, a Comitiva do PSC participou da
cerimônia aos mortos em combate e pelo terrorismo. Esta
cerimônia acontece na véspera da independência de Israel
e serve para lembrar os que morreram defendendo sua
pátria em guerras e também às vítimas do terrorismo.
A cerimônia do batizado de Bolsonaro no Rio Jordão,
que foi dirigida pelo pastor Everaldo Dias Pereira, tendo
havido o seguinte diálogo:
- Bolsonaro, você acredita que Jesus é filho de Deus?
- Acredito.
- Você crê que Ele morreu na cruz?
- sim.
- Que Ele ressuscitou?
- Sim.
- Está vivo para todo o sempre?
- Sim.
- É o Salvador da Humanidade?
- Sim.
- Mediante a sua confissão pública, eu te batizo em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Depois de mergulhar Jair Bolsonaro na água, o pastor
Everaldo arriscou uma brincadeira.
- Peso pesado (risadas) - diz.
Bolsonaro, então, se afasta agradecendo os aplausos:
- Obrigado, obrigado.
Antes de viajar para Israel, o deputado Jair Bolsonaro
participou de um evento no Clube Hebraica, no Rio de
Janeiro, onde ele declarou sua admiração por Israel: “meu
coração é verde, amarelo, azul e branco”, disse Bolsonaro a
uma audiência de 400 pessoas no clube Hebraica no Rio de
Janeiro - 3 de abril de 2017 -, em uma referência às
bandeiras israelense e brasileira. Ele ganhou grandes
aplausos enquanto saudava o estado judeu por seu sistema
de poder e bem-estar social, dizendo que Israel deveria ser
inspiração para o Brasil.
Durante sua passagem por Israel, Bolsonaro criticou o
distanciamento da diplomacia brasileira em relação a Israel,
acontecida durante os governos petistas. “A maioria dos
brasileiros dotados de cultura, dignidade e bom senso está
com o povo de Israel e contra o terrorismo”, declarou Jair
Bolsonaro, afirmando que a postura do Brasil vinha sendo
“destrambelhada, inoportuna, hipócrita e covarde”.
No dia 8 de agosto de 2016, em discurso proferido na
Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro, aproveitando o
tempo que lhe restava da fala em defesa dos salários dos
militares, comentou sobre a viagem que havia feito a Israel:
- (...) Vou fugir um pouco agora da questão militar, já
que tenho mais alguns minutos ainda. Estive, há pouco, com
o meu filho Eduardo em Israel. No tocante às suas
dimensões, Israel é menor, territorialmente, do que o menor
Estado brasileiro, Sergipe. Eles não têm nada lá, é o único
país que não tem sequer petróleo. Só tem areia e pedra,
mas lá há um povo e políticos que têm vergonha na cara.
Olhem o que eles não têm e o que eles são! Olhem o que
nós temos e não somos! É vergonhoso!
Eles criam peixe no deserto. Não têm água potável,
mas exportam água potável para a Jordânia. Só têm areia e
pedra, mas têm uma agricultura de fazer inveja à agricultura
brasileira. A precipitação pluviométrica é menor do que a do
Sertão nordestino. O Sertão nordestino é uma miséria, e lá é
um oásis.
(...) Visitei a EMBRAER de Israel e, como sou militar,
perguntei a um brasileiro se lá existia muita gente do IME —
Instituto Militar de Engenharia ou do ITA —Instituto
Tecnológico de Aeronáutica. Ele respondeu que há alguns.
Depois, fiz o levantamento de que há muitos. Além de
brasileiros do IME e do ITA, há muitos da USP e de uma
série de outras universidades. (...)
Viagem aos Estados Unidos

Entre os dias 8 e 13 de outubro de 2017, Bolsonaro,


com uma pequena comitiva, que incluía seus três filhos -
Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro - estiveram em visita
aos Estados Unidos. No primeiro dia da viagem, Bolsonaro
esteve no Padano Bar & Grill em Deerfield Beach (Sul da
Flórida). Em seguida, viajou para Massachusetts, onde
também é grande o número de brasileiros residentes. E
ainda cumpriria agenda em Nova Iorque e em Washington.
No Padano, onde havia cerca de 300 brasileiros,
Bolsonaro, durante mais de três horas, apresentou algumas
ideias de seu programa de campanha, respondeu a
jornalistas e atendeu pedidos de centenas de simpatizantes
que queriam tirar fotografia com ele.

Bolsonaro assediado por fãs brasileiros na Flórida


Crédito: Brazilian Times

Entre suas manifestações, Bolsonaro afirmou que iria


se empenhar para tirar o poder de políticos acusados de
corrupção: “Alguém tem que começar a mudar [a situação
no Brasil]; se é pra fazer a mesma coisa de antes, estou
fora”, disse Bolsonaro aos entusiasmados brasileiros
presentes ao evento, para o qual, cada um pagou o
equivalente a R$ 151,00 pelo jantar e com direito a três
drinks.
O filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que
atua como uma espécie de mediador entre a imprensa e o
pai, disse sobre os objetivos das visitas que estavam sendo
programadas para os Estados Unidos e outros países:
- O objetivo principal é conhecer melhor os brasileiros
que moram fora do Brasil e realizar uma troca de
experiências. Queremos saber o que eles (os brasileiros que
moram no exterior) acham que precisa e pode mudar no
país de origem. Os brasileiros que moram fora sabem dizer
bem melhor sobre o que funciona nos Estados Unidos e não
funciona no Brasil em termos de leis, por exemplo, e o que
pode ser feito para que sejam implantadas e funcionem.
Para Eduardo Bolsonaro, a troca de experiência
serviria também para dar aos brasileiros da Flórida a visão
de dentro da atual política brasileira:
- O que a gente entende, o que pode ser viável ou
não, porque é tanta corrupção e investigação da Polícia
Federal, por exemplo, que às vezes o brasileiro que já está
distante do país não consegue acompanhar e entender.

Parte do pessoal que superlotou a Padano para ouvir o


deputado Jair Bolsonaro Crédito: Brazilian Times

De acordo com a Folha, Gessi Cardoso, uma


médica aposentada de 76 anos que vive na Flórida há
23 anos, foi uma das primeiras a entrar no local, junto
com duas amigas que agitavam uma grande bandeira
do Brasil. Depois, ela deu a seguinte declaração ao
jornal:
- Eu passei um mês de férias agora no Rio de
Janeiro e não acreditei [no que vi e de] como
chegamos ao fundo do poço. Eu quero voltar ao Brasil
de antigamente, onde a honestidade e o trabalho eram
valorizados, e acho que ele [Jair Bolsonaro] é a única
solução.
O jornalista Silas Martí, correspondente da Folha em
Nova Iorque, afirmou em reportagem publicada pelo jornal
no dia 12 de outubro que o deputado Jair Bolsonaro “depois
de uma noite de festa com pastores e simpatizantes numa
churrascaria do Queens [um dos cinco distritos de Nova
Iorque] Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência
madrugou em Nova Iorque”.
De acordo com o Correio do Lago, jornal do Paraná,
Marcius Rivas, instrutor de tiro na academia Eagle Squad
Training Corp, viajou de Orlando até Deerfield Beach,
ambas cidades da Flórida e distantes cerca de 300 km, para
conhecer o deputado Jair Bolsonaro. Morando na Flórida há
quatro anos, Rivas disse que Bolsonaro está conquistando
apoiadores no Brasil e nos Estados Unidos por ser o único
candidato honesto e com a ficha limpa.
"O que os brasileiros querem é um presidente que faça
o seu trabalho corretamente, com dignidade e respeito aos
eleitores. É somente isso, uma pessoa que faça o seu
trabalho direito", disse Rivas.

Jair e Eduardo Bolsonaro respondendo a perguntas a Shannon K.


O’Neill – Crédito: Council
A opção por se reunir com brasileiros em churrascarias
é de fácil entendimento, porque, via-de-regra, estas
pertencem a brasileiros que foram para os Estados Unidos,
prosperaram e apoiam a ideia de um Brasil de
oportunidades para todos os brasileiros. Além disso, os
proprietários têm facilidade em arregimentar os patrícios
para eventos do tipo.
De acordo com Martí, o deputado Jair Bolsonaro estava
de pé bem cedo, pois tinha marcado um café da manhã com
investidores no Council of the Americas, que é uma
organização de defesa do livre mercado, estabelecida em
Manhattan (NY). Neste evento, Bolsonaro teve a
oportunidade de expor sua intenção de se aproximar
novamente dos Estados Unidos, coisa que a era petista
havia tratado de afastar, por conta de seu viés ideológico.
Depois do almoço e já no final da tarde - o
presidenciável Jair Bolsonaro foi ao estúdio de um TV local,
na Times Square, onde deu uma entrevista. Na saída, o
deputado Jair Bolsonaro foi envolvido por um grupo de
mulheres, que haviam participado de sua festa no Queens,
que o protegeram dos jornalistas e fotógrafos presentes
para que não lhe fizessem perguntas ou se aproximassem
do pré-candidato.
Em seu primeiro dia em Nova Iorque, Jair Bolsonaro
também aproveitou para passear de metrô, visitar a Times
Square, praça cartão-postal da Cidade, onde telões
anunciavam a sua presença na cidade, além de visitar o
Memorial pelas vítimas do ataque de 11 de setembro.

Telão na Times Square mostra Jair e Eduardo Bolsonaro que


visitavam Nova Iorque
A terceira parada de Bolsonaro foi a Boston, cidade
que fica a meia hora de avião de Nova Iorque e onde se
concentra uma das maiores comunidades brasileiras nos
Estados Unidos, com cerca de 300 mil pessoas, sendo que,
de acordo com a Folha, “muitos deles são filiados a uma das
400 igrejas evangélicas da região metropolitana da cidade”.
Ainda de acordo com o jornalista Silas Martí – enviado
especial da Folha a Boston – na cidade “onde pastores
naturalizados, comandam rebanhos de ilegais, (...)
Bolsonaro chega com uma aura de salvador da pátria, um
homem, tal qual o presidente americano, capaz de impor
respeito, ou pelo menos ordem, na visão deles”.

Bolsonaro fala para uma plateia lotada no Padano em Deerfield


Beach – Crédito: Folha S. Paulo

Bolsonaro passou dois dias em Boston, onde


percorreu diversos bairros, onde brasileiros mantêm
negócios, como pizzarias, bares, restaurantes, mercados e
templos, além de atuarem como motoristas de Uber.
Em Boston, Jair Bolsonaro também concedeu uma
longa entrevista è jornalista Thaís Partamian Victorello, do
site Prime Brazil USA Magazine, que é transcrita aqui
apenas em parte:
– Hoje eu converso com o deputado federal Jair
Bolsonaro. Seja muito Benvindo a Boston. Eu gostaria que
você falasse um pouquinho sobre essa sua turnê aos
Estados Unidos.
– Ano passado eu estive em Israel. Fiquei oito dias lá,
foi muito proveitoso. Assim como estamos acertando uma
visita à Coreia do Sul e Japão, estamos agora em visita aos
Estados Unidos, ouvindo a comunidade brasileira, mantendo
encontros com evangélicos, com empresários e também
com autoridades do governo Trump. A minha passagem por
aqui também se dá por eu ser um admirador deste grande
país.
– Certo. Esta semana o senhor é capa da revista Veja,
onde ela colocou uma polêmica dizendo que o senhor seria
uma ameaça ao país. Hoje, o que o senhor consideraria
uma ameaça. Bolsonaro seria uma ameaça a que hoje no
Brasil?
– Ameaça à corrupção; ameaça àqueles que querem
perverter nossas crianças em sala de aula; ameaça àqueles
que querem comunizar o Brasil; à Folha de São Paulo. Essa
é a ameaça que eu represento, mas o recado da revista
Veja foi o contrário disso, a começar pela capa. (...)
Em Nova Iorque, no dia 13 de outubro, o deputado Jair
Bolsonaro foi entrevistado pela TV Bloomberg, que o
chamou de o “Trump do Brasil”. Esta entrevista, com cerca
de uma hora, foi conduzida pelos jornalistas David Biller e
Bruce Douglas, oportunidade em que o pré-candidato à
Presidência da República, Jair Bolsonaro, entre outras
coisas, afirmou:
- Eu sou uma ameaça às oligarquias, sou uma
ameaça para os corruptos contumazes, sou uma ameaça
para aqueles que querem destruir os valores familiares.
Essa é a ameaça que eu represento.
De acordo com a Bloomberg – empresa global de
informações financeiras - na entrevista dada por Bolsonaro,
ele apontou “que há mais do que apenas uma retórica
polarizadora em suas propostas iniciais para a candidatura à
Presidência, e ressaltou que seu plano de governo ainda
não está pronto”.
Privatizar algumas empresas, eventualmente incluindo
a Petrobras, a redução dos gastos do setor público e a
erradicação das fraudes nos programas sociais são algumas
das ideias que ele teria em mente, afirmou o Bloomberg.
“Dizem que eu sou o Trump brasileiro”, responde Jair
Bolsonaro ao entrevistador do Bloomberg, com um sorriso
quase irônico, ao ser perguntado se ele se identificava com
o atual presidente dos EUA. “Você acha a comparação
adequada?”, perguntou o entrevistador. Bolsonaro demorou
na resposta, refutou ser um populista e disse que o Brasil
não suportaria mais um presidente nessa linha.
Os jornalistas que entrevistaram Bolsonaro
escreveram que ele, mesmo antes de ter oficializada a sua
intenção de concorrer à Presidência da República, era
recebido pelos seus fãs, em suas viagens internas no Brasil,
como "presidente".
Falam ainda os jornalistas do Bloomberg que, em
determinado momento da entrevista, Bolsonaro “ligou seu
celular para mostrar um grupo de fãs saudando-o em um
aeroporto, durante uma de suas muitas viagens pelo país”.
Infelizmente, alguns eventos que haviam sido
agendados pela equipe de Bolsonaro foram cancelados ou
por conta de alguns atrasos ou, como no caso da palestra
que faria na Universidade George Washington, por iniciativa
de Bolsonaro, já que sua equipe descobriu que o professor
que organizara o evento teve ligações com a Central Única
dos Trabalhadores (CUT) e defendeu a ex-presidente Dilma
Rousseff, quando de seu Impeachment.
A equipe também achou que poderia ter sido armada
alguma “arapuca”, quando viram a relação dos jornalistas
credenciados para a coletiva de imprensa que deveria ser
dada depois da palestra.
O MBL (Movimento Brasil Livre) publicou um post nas
redes sociais com o título “Golaço”, também reproduzido e
analisado pelo Boletim da Liberdade, em que o grupo
pontuou diversos aspectos defendidos pelo deputado Jair
Bolsonaro durante sua viagem aos Estados Unidos, como
“fim da CLT”, “menos impostos”, “menor burocracia”,
“abertura para investimentos dos Estados Unidos”, “armas
melhores para as polícias” e “fim da Lei Rouanet”.
Já o ex-presidente do Instituto Liberal e assessor
próximo de Bolsonaro, o advogado Bernardo Santoro
manifestou-se assim sobre a viagem do pré-candidato aos
Estados Unidos: “Já podemos dizer oficialmente que a
viagem do Jair pros EUA foi um sucesso absoluto”.
Segundo o Painel da Folha, uma segunda viagem de
Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, seria, especificamente,
para visitar universidades, como a da Califórnia, e núcleos
de ensino para entender como o país desenvolve a área de
pesquisa, ciência e tecnologia e o formato da parceria que
estabelecem com a indústria para a pesquisa científica e o
desenvolvimento de novas tecnologias e novos produtos,
com a transferência para a iniciativa e cobrança de royalties.
Viagem à Ásia
No dia 23 de fevereiro de 2018, o presidenciável Jair
Bolsonaro desembarcou em Tóquio, no Japão, por onde deu
início ao seu tour pela Ásia – segunda viagem internacional
de pré-campanha -, que incluiu também sua passagem pela
Coreia do Sul e Taiwan.

Jair Bolsonaro, Ônyx e Eduardo Bolsonaro com o Embaixador da


Coreia do Sul no Brasil, Senhor Jeong Gwan Lee e a embaixatriz
Senhora Park Jong Ran. Crédito: Arquivo Pessoal.

A comitiva de Bolsonaro, formada por assessores, por


seus três filhos políticos, além dos parlamentares Onyx
Lorenzoni (DEM-RS) e Luiz Nishimori (PR-PR), que presidia
o Grupo Parlamentar Brasil-Japão, da Câmara dos
Deputados e os professores da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp), Abraham Bragança de Vasconcellos
Weintraub e Artur Bragança Vasconcellos de Weintraub.
– A proposta da viagem foi minha e Bolsonaro aceitou e
me encarregou de organizá-la. Essa decisão foi tomada no final
de novembro de 2017, após a ida dele aos Estados Unidos –
explicou o deputado federal Ônyx Lorenzoni.
O objetivo era se apresentar a investidores asiáticos e
também conhecer o processo de educação destes países, já
que, para Bolsonaro, o Brasil somente será grande, de fato,
com investimento em projetos de educação, que leve o país
a se destacar em nível internacional, pela competência de
seus jovens.
Antes do embarque para a Ásia, os deputados
federais Jair Bolsonaro, Ônyx Lorenzoni e Eduardo
Bolsonaro tiveram um almoço de trabalho com o
Embaixador da Coreia do Sul, no Brasil, para combinarem a
agenda de compromissos que teriam naquele país.
O deputado Onyx Lorenzoni falou da receptividade
havida no Japão:
- Tivemos uma recepção entusiasmada da
comunidade nipo-brasileira. Os brasileiros se manifestaram
com muito carinho, com muita esperança a respeito da
futura candidatura dele e pedindo para que ele arrume o
Brasil porque querem voltar.
Sobre os objetivos da viagem à Ásia, o deputado Onyx
Lorenzoni afirmou:
- A ideia da viagem foi buscar compreender como
esses países que investiram tanto em educação, que
métodos usaram; que princípios foram empregados, qual a
sistemática, tanto em educação básica como em educação
média. E também um enfoque muito forte na educação
superior do ponto de vista da geração de novas tecnologias.
Ônyx Lorenzoni, que acompanhou a viagem de Jair
Bolsonaro ao Japão, Coreia do Sul e Taiwan, é o maior
entusiasta do presidenciável no Estado. Amigos desde 2007,
eles compartilham dos mesmos ideais, sobretudo em temas
como maior rigor na aplicação de leis penais e revisão do
estatuto do desarmamento.
O parlamentar avisou à cúpula de seu Partido, o DEM,
de que pretendia apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro, na
disputa para o Palácio do Planalto, e que se licenciaria do
Partido, caso este resolvesse lançar candidatura própria.
- Já dei minha palavra ao Bolsonaro e, quem me
conhece, sabe que não dou minha palavra a mais de uma
pessoa. Se o DEM lançar candidato, vou consultar o
diretório estadual, mas o mais provável é que me licencie.
Não sairei do DEM. Tenho me mantido independente, mas
sempre respeitei a posição do partido, mesmo quando tive
opinião contrária. Agora, espero que respeitem a minha.
De Tóquio, no dia 25, a comitiva de Bolsonaro seguiu
de trem para a Cidade de Hamamatsu, o segundo maior
município japonês em extensão territorial, que fica distante
260 km a sudoeste da capital japonesa. Está situada na
província de Shizuoca, com população estimada em 795,93
mil habitantes, dentre os quais, mais de nove mil brasileiros.
De acordo com o Valor Econômico, “em um frio de
5ºC, uma multidão de brasileiros compareceu a estação de
trem de Hamamatsu para acompanhar o desembarque do
deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)”, tendo-o recebido pelo
grito característico de “mito”. O empolgado eleitor do
deputado em terras nipônicas também entoaram gritos de 1,
2, 3, 4, 5.000, queremos Bolsonaro presidente do Brasil.

O primeiro encontro que Bolsonaro teve em


Hamamatsu foi com o cônsul brasileiro, Ernesto Otto
Rubarth. Depois de tirar muitas fotos com brasileiros
radicados naquela Cidade, Bolsonaro seguiu a pé por cerca
de 300 metros até o Restaurante Servitu, onde era esperado
para falar sobre seus projetos políticos, informou Osny
Arashiro, correspondente jornalístico da Folhapress.

Recepção a Jair Bolsonaro em Hamamatsu – Crédito: Edson


Takebayashi (Portal MIE)

De acordo com Arashiro, no discurso que Bolsonaro


fez para cerca de 350 pessoas no Servitu, ele afirmou que
"Quando olhamos para o nosso Brasil, vemos que temos
tudo, riquezas minerais, biodiversidade, energia hidráulica,
eólica, solar, costas maravilhosas, mas temos uma classe
política lamentável". E conclamou o empresariado japonês a
investir no Brasil e prometeu combater a corrupção, além de
promover a Reforma Tributária.

Comitiva de Bolsonaro em visita à Keidaren – Crédito: Arquivo


pessoal de Ônyx Lorenzoni

Bolsonaro e Luiz Nishimori reunidos com Kazuo Todani e Osny


Arashiro – Crédito: Osny Arahiro

Há 30 anos residente no Japão, João Masuko, abriu


as portas de seu restaurante, o Servitu, para receber até
200 interessados em conhecer o presidenciável Jair
Bolsonaro. Em menos de 24 horas, o empresário disse que
conseguiu preencher todas as vagas e ainda teve de
instalar, para o público excedente, um telão no
estacionamento, que fica no 3.º andar do prédio.
- Quando olhamos para o nosso Brasil, vemos que
temos tudo, riquezas minerais, biodiversidade, energia
hidráulica, eólica, solar, costas maravilhosas, mas temos
uma classe política lamentável, disse Bolsonaro, que iniciou
seu discurso batendo continência para a bandeira japonesa
e elogiando o Japão.
Arashiro diz que terminado o almoço com a comunidade
brasileira de Hamamatsu, a comitiva de Jair Bolsonaro
retornou à estação, “onde pegou um trem [trem-bala
shinkansen] com destino a cidade japonesa de Oizumi,
próxima parada do deputado em seu tour pela Ásia”, cidade
situada a 90 km a noroeste de Tóquio, onde foi recebido por
brasileiros entusiasmados, que queriam apertar-lhe as
mãos, tirar uma selfie ou ter de Bolsonaro um autógrafo.
Além da viagem de trem, para chegar até Oizumi,
Bolsonaro e sua comitiva tiveram de recorrer ao uso de
cinco vans, que o empresário Mário Makuda providenciou
com a ajuda de motoristas voluntários. Por orientação da
polícia local e a fim de evitar confusão devido à
aglomeração de pessoas, em cada local haverá dez
seguranças que atuarão de graça.
Mário Makuda é neto de japoneses e vive no Japão
desde 1991, onde trabalha como promotor de eventos.
Makuda disse ter ficado impressionado com a repercussão
da visita de Bolsonaro. Ele foi o responsável pela
organização dos encontros do deputado Bolsonaro com a
comunidade brasileira.
- Não sou filiado a nenhum partido nem tenho
preferência por ninguém. Só resolvi ajudar porque acho
importante sabermos o que os políticos têm a nos dizer,
afirmou Mário Makuda à imprensa.
Para este segundo encontro, foram reservados 300
lugares em um prédio onde funcionou o primeiro shopping
brasileiro do Japão, na cidade de Oizumi, que também é
conhecida como Brazilian Town devido à estrutura e à
grande concentração de brasileiros, pois cerca de 10% do
total de 40 mil habitantes é formada por pessoas oriundas
do Brasil.
Na segunda-feira, 26, a agenda da Comitiva foi em
Tóquio, com uma reunião na Keidanren (Federação das
Indústrias do Japão).
Pela manhã, Bolsonaro e o deputado Luiz Nishimori
foram ao Ministério da Educação, Cultura, Esportes,
Ciências e Tecnologia (MEXT), onde foram recebidos pelo
vice-ministro da Educação, Kazuo Todani, e um assessor do
Ministério, Osny Arashiro, oportunidade em que foram
dadas explicações, por técnicos do MEXT, sobre o sistema
de ensino japonês, tendo este encontro se prolongado além
do previsto.

O pré-candidato Jair Bolsonaro falando na fronteira entre as Coreias


do Sul e Norte

Depois do almoço na residência oficial do embaixador


do Brasil, André Corrêa do Lago, a Comitiva conheceu o
setor de inovação da empresa NEC Innovation World e, no
fim do dia, Bolsonaro fez palestra fechada para executivos
da Keidanren.
A viagem de três dias ao Japão foi encerrada em uma
churrascaria brasileira de Tóquio. A recepção para a
comitiva de parlamentares foi organizada por empresários e
contou com cerca de 150 convidados pagantes.
Bolsonaro distribuiu muitos autógrafos e teve até de
deixar de lado a comida para atender aos brasileiros que
queriam tirar fotografia com ele
No dia 27 de fevereiro, a Comitiva seguiu para a
Coreia do Sul.

Bolsonaro e comitiva em frente na fronteira entre as duas Coreias


Crédito: Arquivo Pessoal

Bolsonaro e comitiva reunidos com a vice-ministra da Economia


de Taiwan, Mei-hua Wang

Deixando clara a sua posição em relação às ditaduras


socialistas e defendendo o regime democrático, Bolsonaro
gravou um vídeo na fronteira entre a Coreia do Sul e a
Coreia do Norte, em frente ao Prédio de Conferências do
Comando Militar da Comissão de Armistício das Nações
Unidas (UNCMAC), na zona desmilitarizada, mas que é, na
prática, o lugar mais vigiado dos dois países:
- Estou aqui a dez metros da Coreia do Norte. Do lado
de cá, liberdade de movimento, democracia, felicidade. E
uma renda per capta 30 vezes maior. Do lado de lá, o
socialismo, o retrocesso. Aquilo que não queremos para
nenhum lugar do mundo, em especial para o nosso querido
Brasil. Vamos lutar para que continuemos sendo o que
sempre fomos. Abraços a todos. Estamos juntos!
Na manhã do dia 1.º de março, Bolsonaro usou o
Twitter para dar um recado aos seus seguidores:
- Passagem na Coréia do Sul: pesquisas,
desenvolvimento, compromisso e seriedade. Temos tudo
para somar com grandes nações que não somente com o
viés ideológico habitual. Rumar contra a direção do Foro de
SP, que nos amarra e impede de termos a dimensão que
realmente merecemos!
No Instagram, Bolsonaro deixou um agradecimento à
bela recepção que teve na Coréia do Sul e um recado aos
brasileiros:

A comitiva de Jair Bolsonaro e os anfitriões de Taiwan no Ministério


da Economia

- Obrigado Coréia do Sul. Nesta oportunidade


aprendemos um pouco mais da importância das startups.
Estivemos no Centro de Economia Criativa e Inovação da
Coréia do Sul para desenvolver tal assunto, além de
reuniões e visitas a centros tecnológicos importantes e
referências mundiais. Temos tudo para que possamos
explodir como referência de desenvolvimento econômico e
social na América Latina, só faltando, um governo que honre
com seus compromissos, seja de confiança e que não
pense apenas em usar dinheiro público para investimentos
meramente ideológicos.
No começo da tarde do dia 1.º de março, Bolsonaro
seguiu para Taiwan, onde teve vários encontros importantes
com membros do governo e empresários. O primeiro evento
em Taiwan foi uma reunião com a vice-ministra da
Economia.
À noite, a Comitiva de Jair Bolsonaro foi recepcionada
com um jantar oferecido pelo embaixador Fábio Guimarães
Franco, que dirigia o Consulado brasileiro em Taipei, capital
de Taiwan. O Embaixador disse à Comitiva de Bolsonaro,
que a visita parlamentar ao Japão, à Coreia e a Taiwan era
“muito, muito significativa”. Para ele, isto seria um “momento
histórico”, explicando que Taiwan foi escolhida como a
terceira cidade mais inteligente do planeta.
No dia seguinte, a Comitiva fez uma visita a uma
escola municipal de Taipei (Taipei Municipal Nan Hu
Elementary School), também chamado de “Campus
Inteligente NA Hu” e teve audiência no Ministério da
Educação, visitou a empresa de tecnologia New Kinpo e a
Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan,
onde se encontrou com um grupo de brasileiros.

Coletiva à imprensa em Taiwan no dia 2 de março de 2018 – Crédito:


Paulo Salvador (Taiwan)

Bolsonaro concedeu uma coletiva de imprensa no final


da tarde e, à noite, ele e sua Comitiva participaram de um
jantar oferecido pelo vice-ministro de Relações Exteriores de
Taiwan, José Maria Liu.
Sentado à mesa com os deputados federais Eduardo
Bolsonaro (PSC-SP) e Ônyx Lorenzoni (DEM-RS),
Bolsonaro disse que pretendia acabar com essa “verdadeira
máfia na política brasileira”. “Se é para fazer a mesma coisa,
estou fora. Não quero acabar meus dias na Papuda nem em
Curitiba”, afirmou, em referência aos complexos prisionais
de Brasília e de Pinhais (PR), onde estão os presos da Lava
Jato e de outras operações da Polícia Federal.
Segundo Bolsonaro, a intenção de sua candidatura à
Presidência da República é mudar a situação reinante na
política brasileira. “Não dá para continuar nessa com seus
Renans, com seus Jáderes, com seus Eunícios. Temos
também outros nomes terríveis”, disse. Bolsonaro afirmou
ainda que “ser bandido é um grande negócio no Brasil” e
que esta realidade precisa ser mudada, porque quem
comete crimes tem de pagar, efetivamente, por eles.
O retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil se deu no dia 3
de março de 2018, mas, a despeito dos objetivos da viagem,
para parte da imprensa brasileira (leia-se Folha/UOL), Jair
Bolsonaro teria usado esta viagem para se autopromover,
como se isto fosse algum tipo de crime.
Em resposta a este questionamento, Bolsonaro disse:
- O parlamentar, em qualquer lugar que esteja não
deixa de estar se promovendo. Isso é automático. Assim
como quando está num local inadequado, ele faz uma
campanha contra si. Nós, parlamentares, queremos ser
reconhecidos pelo lado positivo.
Antes de sua turnê à Ásia, Bolsonaro havia afirmado:
- Nossa ida à Ásia demonstra nosso desejo de
darmos novas e boas referências aos nossos jovens e ao
Brasil. Esperamos voltar com mais ideias em favor do
crescimento do nosso país, priorizando a educação na
base, o desenvolvimento, o respeito ao professor e a
qualificação do aluno.
Reconhecendo a força demonstrada pelo deputado
federal Jair Bolsonaro diante da corrida presidencial, a
Embaixada da China mandou para o Democratas, partido de
Ônyx Lorenzoni, que participou da viagem a Taiwan, a
seguinte carta de protesto:
Brasília, 28 de fevereiro de 2018.
A Embaixada da República Popular da China cumprimenta
antecipadamente a Executiva Nacional do DEM
(Democratas) e tem a honra de informar o seguinte:
O deputado federal e pré-candidato à Presidência, Jair
Bolsonaro (PSC-RJ) e seus três filhos, e o dep. Ônyx
Lorenzoni (DEM-RS) iniciaram uma viagem para os países
e cidades asiáticas, incluindo Taiwan, território inalienável
da China. A visita a Taiwan pela comitiva parlamentar
chefiada pelo dep. Jair Bolsonaro constitui uma violação do
Princípio de Uma Só China, consenso amplo da
comunidade internacional e uma política explicitamente
defendida pelo governo e congresso brasileiro. Nesse
contexto, esta Embaixada vem por este meio a manifestar a
sua profunda preocupação e indignação pela referida visita,
que não só afronta a soberania e a integridade territorial da
China como também causam eventuais turbulências na
Parceria Estratégica Global China-Brasil, na qual o
intercâmbio partidário exerce um papel imprescindível.

A maior motivação para o protesto da Embaixada da


China foi o fato de que, durante a visita a Taiwan, o
deputado e presidenciável, Jair Bolsonaro, foi recebido por
membros do governo taiwanês.
O presidenciável assim tuitou sobre suas viagens
internacionais realizadas entre 2016 e 2018:
- Nossa passagem por Israel, Estados Unidos,
Japão, Coreia do Sul e Taiwan tem deixado cada vez
mais claro o norte que queremos para o nosso Brasil, algo
bem diferente do que foram os governos anteriores,
simpáticos a regimes comunistas, fiéis e adestrados pelo
Foro de São Paulo.
O atentado sofrido por Jair Bolsonaro
O que há de característico no terror é que ele não está
claramente consciente dos seus motivos; mais os pressupõe
do que os conhece e, se necessário, fornece o próprio temor
como motivo do terror.
(Arthur Schopenhauer [1788-1860] filósofo alemão)

O dia 6 de setembro de 2018 era para ser mais um dia


de congraçamento entre Jair Bolsonaro e seus apoiadores,
desta feita em Minas Gerais, na Cidade de Juiz de Fora,
mas acabou em tragédia e, quase, em sua morte.
Na verdade, a visita à cidade mineira estava prevista
para o dia 6 de agosto, mas foi cancelada, porque o
empresário e presidente da Associação Comercial de Minas
Gerais, Aloísio Vasconcelos, que iria ser apresentado por
Bolsonaro como candidato ao Senado desistiu por razões
particulares.63
Bolsonaro chegou de carro a Juiz de Fora, vindo do
Rio de Janeiro, por volta de 10h30 da manhã, tendo sido
recepcionado no Trevo do bairro Salvaterra e depois seguiu
diretamente para o Hospital do Câncer de Juiz de Fora
(Ascomcer), onde foi recebido por um grupo de apoiadores.
Ele visitou pacientes da instituição, mas a imprensa não foi
autorizada a acompanhar.

No anfiteatro do hospital, a diretora do Ascomcer,


Alessandra Sampaio, juntamente com o candidato, disse
que o hospital atende a pacientes de 150 cidades da região,
sendo 5 mil atendimentos por mês, faltando, muitas vezes,
exames e procedimentos, e por isso, as questões que
envolvem o sistema Único de Saúde (SUS) devem ser

63 Em áudio encaminhado a amigos e colaboradores de seu projeto


político, Vasconcelos destacou ter sido esta uma decisão difícil, sobretudo
pelas adesões que tinha recebido de entidades, do setor empresarial e
até de políticos. “Nem no melhor dos meus sonhos podia imaginar convite
tão honroso para participar de um projeto plenamente viável de disputar o
Senado ao lado do nosso futuro presidente Jair Bolsonaro”, destacou.
(MAGELLA, Paulo Cesar. Tribuna de Minas. 27 jul. 2018)
priorizadas. “Pedimos que ele nos apoie e nos ajude nessa
luta, que todos nós estamos enfrentando”, ressaltou.

Recepção no Trevo do Salvaterra


Foto: Leonardo Costa/Tribuna de Minas

Bolsonaro no anfiteatro do Hospital do Câncer de Juiz de Fora


Foto: Vivian Armond

A passagem de Bolsonaro pelo Ascomcer não foi


muito tranquila, porque tinha muita gente no local e a
entrada no hospital foi marcada por muito empurra-empurra.
Entretanto, por meio de nota, a Ascomcer afirmou que “Em
razão da aglomeração de pessoas quando da sua chegada
houve pequeno alvoroço, rapidamente solucionado pelos
agentes federais, mas que não ocasionou desarranjo e nem
prejudicou o atendimento regular dos pacientes desta
Casa”.
Entrada de Bolsonaro no Ascomcer
Foto: Leonardo Costa/Tribuna de Minas

A nota do Ascomcer afirmava ainda que, no encontro,


foram passadas, a Jair Bolsonaro, as demandas do hospital,
de outras instituições filantrópicas e do Sindicato de
hospitais da cidade, que também estavam representados no
encontro com o presidenciável.
No início da tarde, Bolsonaro participou de um almoço
com cerca de 600 empresários e representantes de
associações comerciais e industriais no Trade Hotel. Antes,
Bolsonaro concedeu entrevista coletiva à imprensa.
Em seu discurso para os empresários, Bolsonaro
discorreu sobre seus planos para a área de Educação e as
Universidades, afirmando que o ensino deve ser priorizado
na infância e escolas militares devem ser instaladas em todo
o Brasil e louvou a disciplina mantida no ensino militar. Já
no ensino superior, para ele, os alunos devem ser educados
para o empreendedorismo e motivados a construírem seus
próprios negócios.
Ele afirmou que seu governo iria exercer autoridade e
que o principal era tirar a esquerda do poder. “Perderam em
1964, em 2016 e agora vão perder em 2018”, ressaltou Jair
Bolsonaro.
Por volta das 15 horas, Bolsonaro seguiu direto para o
Parque Halfeld para um ato público em frente à Câmara
Municipal, descendo depois o calçadão em direção à Praça
da Estação, rodeado por um mar de gente. Na sacada da
Associação Comercial, ele iria fazer um comício previsto
para as 18 horas.
Entretanto, o candidato Jair Bolsonaro foi atacado a
faca, enquanto era carregado por apoiadores durante
caminhada na região central de Juiz de Fora, entre as ruas
Halfeld e Batista de Oliveira.

Instantes antes de Jair Bolsonaro ser esfaqueado em Juiz de Fora


Foto: Campanha

O criminoso, que aparece na foto em destaque, é um


militante de esquerda e ex-filiado do PSol, Adélio Bispo de
Oliveira, que foi contido por agentes da PF e Polícia Militar,
tendo sido preso em flagrante por policiais do 2.º Batalhão
de Polícia Militar de Juiz de Fora e levado para a
Superintendência da Polícia Federal, daquela cidade.
Horas antes do atentado contra sua vida, [64] Jair
Bolsonaro havia feito um post sobre a violência e publicado
em seu Twitter:
Impunidade, desarmamento, indicações políticas e
corrupção geraram e continuam alimentando os maiores
problemas do Brasil: violência, ineficiência do Estado e
desemprego. Tão importante quanto fazer coisas novas, é
desfazer essa estrutura criminosa criada pelos últimos
governos!

64
No dia do atentado, Jair Bolsonaro não estava usando colete à prova
de bala. Ele já havia usado tal proteção em três oportunidades em que
visitou Presidente Prudente (SP), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO).
Bolsonaro é carregado por seguranças depois de esfaqueado
Foto: Campanha

Bolsonaro deu entrada na Santa Casa de Misericórdia


de Juiz de Fora por volta de 15h40, em estado de choque,
devido a uma forte hemorragia – pressão 7 por 4 -, e foi
levado diretamente para a urgência onde passou por
ultrassonografia para verificação da gravidade do ferimento
interno e depois por transfusão de sangue e cirurgia, que
durou cerca de 2 horas e terminou por volta de 19h40,
sendo, em seguida, levado para a UTI da Santa Casa.
Luís Henrique Borsato, da equipe de cirurgia geral da
Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, disse que
houve uma lesão única, mas profunda, e que causou três
perfurações no intestino delgado, tratadas com pontos.
Após o ataque, a primeira reação pública de Flávio
Bolsonaro, o filho mais velho e que era deputado estadual
do Rio de Janeiro [eleito senador] foi dizer, quase que
profeticamente: “Acabaram de eleger o presidente".
Como os parlamentares têm Plano de Saúde, com
atendimento pelo Hospital Sírio-Libanês, que é um centro de
referência internacional de saúde, três médicos daquele
hospital se deslocaram até Juiz de Fora, no mesmo dia do
ataque sofrido por Bolsonaro, para fazer uma avaliação de
seu quadro de saúde e combinar a sua transferência para
São Paulo. A equipe médica do Sírio-Libanês chegou à
Santa Casa de Misericórdia por volta das 23h30.
Tão logo se apresentaram, os médicos Ludmila
Abrahão Ajjar, Filomena Galãs e Juliano Pinheiro de
Almeida, que fazem parte do corpo médico do Sírio-Libanês,
formaram uma junta médica com os médicos da Santa
Casa, Luiz Henrique Borsato, cirurgião do aparelho
digestivo, e Eduardo Borato, cardiologista para fazerem uma
avaliação do estado de saúde de Bolsonaro.
Pela avaliação preliminar, os médicos afirmaram que
uma transferência do candidato entre hospitais estava
descartada naquele momento, pois, conforme os
especialistas, Bolsonaro precisaria ter um mínimo de
estabilidade hemodinâmica para que fosse possível sua
transferência e que uma nova avaliação seria feita na
manhã do dia seguinte.
Por volta da meia-noite, o advogado Victor Metta –
tesoureiro do PSL -, e o médico Antônio Macedo, do
Hospital Israelita Albert Einstein, chegaram a Juiz de Fora,
em um jatinho de Metta. Eles seguiram de táxi até a Santa
Casa e lá, Antônio Macedo examinou Bolsonaro e chegou à
mesma conclusão que haviam chegado os colegas do Sírio-
Libanês: a cirurgia havia sido bem-sucedida.
Ainda de madrugada, houve a decisão pela
transferência de Jair Bolsonaro para o Hospital Israelita
Sírio-Libanês, em São Paulo, prevalecendo a decisão da
família, defendida por Flávio Bolsonaro, que não queria o
pai sendo tratado no mesmo hospital onde se internam os
maiores corruptos da República. Embora Jair Bolsonaro
tenha externado a vontade de ficar mais alguns dias na
Santa Casa de Misericórdia onde se sentia bem atendido,
ele foi voto vencido.
Diante disso, a equipe médica do Sírio-Libanês voltou
à capital paulista, tendo Bolsonaro saído de Juiz de Fora,
por volta das 8h30, usando um jatinho da Líder Taxi Aéreo,
contratado pelo advogado Victor Metta, que levou os
familiares de Bolsonaro em seu próprio avião.
Renato Villela Loures, diretor da Santa Casa de
Misericórdia, disse ter ficado chateado com os médicos do
Sírio-Libanês por pensarem que hospital de interior não tem
condição de atendimento. A revista Piauí reproduziu a fala:

Somos um hospital moderno, de ponta, temos ISO 9001 e


certificação de hospital-escola do Ministério da Educação. A
estrutura do hospital é a mesma para qualquer paciente,
seja famoso ou não. A equipe que atendeu Bolsonaro era a
equipe que estava de plantão naquele dia. Não fizemos
nada diferente da nossa conduta por ele ser candidato à
Presidência. Não nos envolvemos com política.

Ainda de acordo com a revista, que ouviu uma


funcionária da Santa Casa de Misericórdia, durante o dia em
que Bolsonaro deu entrada no hospital, diversas empresas
aéreas telefonaram para a Santa Casa oferecendo para
fazer o transporte de Bolsonaro para São Paulo. “Nunca vi
isso. Era muita gente querendo se aproveitar da situação.
Do que o ser humano é capaz!”.
Bolsonaro deu entrada no Albert Einstein, às 10h40, e
lá permaneceu internado durante 22 dias, entre períodos de
preocupação e de esperança, que a competentíssima
jornalista de Piauí, Consuelo Dieguez conseguiu resumir em
seu sempre belo estilo jornalístico:
O candidato foi internado na Unidade de Terapia Intensiva
do Einstein, onde permaneceu durante quatro dias. Os
primeiros boletins médicos falavam nas “boas condições
clínicas” do paciente. Logo no dia seguinte à entrada no
hospital, Bolsonaro passou um período fora da cama,
sentado na poltrona e caminhando pelo quarto, auxiliado
pela equipe médica. “O tempo será gradualmente
aumentado nos próximos dias, conforme a tolerância do
paciente”, informava o boletim das 18h10 de 8 de setembro.
O objetivo era reduzir riscos de trombose, de complicações
de pulmão e, conforme a nota, “acelerar a recuperação do
funcionamento do intestino”.
Na tarde do domingo, 9 de setembro, dois dias depois da
chegada, os médicos falaram em “regressão” do trauma e
que, nos dias seguintes, seria “possível que o paciente
passe a ingerir alimentos por via oral”. Dois dias mais tarde,
na manhã de terça-feira, 11 de setembro, a alimentação oral
foi de fato reintroduzida. Nesse mesmo dia, Bolsonaro
recebeu alta da UTI e passou para uma unidade de terapia
semi-intensiva, conforme o boletim das 20 horas daquela
terça-feira. A nota do hospital falava do início de uma “dieta
leve”, com “boa tolerância do paciente, sem apresentar
náuseas ou vômitos”.
Logo na manhã seguinte, porém, o prognóstico já não tinha
o mesmo tom positivo. O boletim das 11 horas da quarta-
feira, dia 12, informava que a alimentação oral havia sido
suspensa, por causa de uma distensão abdominal, e
Bolsonaro voltara a receber alimentação endovenosa. Às 20
horas daquela mesma quarta-feira, o inchaço da barriga
persistia e, mais tarde, o quadro evoluiu para “distensão
abdominal progressiva e náuseas”. Bolsonaro foi submetido
a uma tomografia de abdômen. Os médicos constataram
uma aderência obstruindo o intestino delgado, segundo o
boletim das 23 horas desse mesmo dia 12. O quadro do
candidato voltara a ficar grave.
Nessa mesma noite, Bolsonaro teve de passar por uma
nova cirurgia, de urgência, para desfazer as aderências no
intestino e liberar a obstrução. Houve “extravasamento de
secreção intestinal (u) em uma das suturas realizadas
anteriormente para correção dos ferimentos intestinais”,
conforme apontou o boletim das 9h30 do dia seguinte à
cirurgia, quinta-feira, dia 13. A cirurgia de duas horas,
segundo o Einstein, foi bem-sucedida. Pouco mais de 24
horas depois de receber alta da UTI, Bolsonaro voltou à
unidade de terapia intensiva – onde permanece até este
sábado.
Em “grandes traumas abdominais” como o do candidato,
prossegue o boletim que trata da cirurgia de urgência, a
complicação “é mais frequente do que em cirurgias
programadas”. Ao dizerem que esse tipo de aderência é
mais comum em traumas do que nas intervenções
planejadas, os médicos se referem à cirurgia na Santa
Casa, na qual os cirurgiões tiveram que se defrontar com
uma poça de sangue e fezes dentro da cavidade abdominal
de Bolsonaro.

Bolsonaro deixou o Albert Einstein no dia 29 de


setembro, pela tarde, e foi de voo de carreira, da companhia
aérea Gol, para o Rio de Janeiro, onde continuaria o
tratamento médico em sua residência e também, de onde,
comandaria a sua campanha política.
Entretanto, ele teria de passar por uma terceira cirurgia
para retirada da bolsa de Colostomia, implantada na
segunda cirurgia e que consiste na exteriorização do
intestino grosso, através da parede abdominal, para
eliminação de gases e/ou fezes. E, embora o petista
Fernando Haddad tenha chamado, por diversas vezes,
Bolsonaro de “soldadinho de araque”, isto não passou de
uma tremenda falta de respeito, que não se aceita no
mundo civilizado.
Bolsonaro permaneceu todo o tempo de sua
recuperação em sua residência, na Barra da Tijuca (RJ), de
onde saiu apenas para gravar propagandas eleitorais e para
votar no dia 28 de outubro, sempre acompanhado de um
forte esquema de segurança, que envolveu 30 policiais
federais e batedores da Polícia Militar. Ele não participou de
entrevistas externas e nem de debates na televisão.
Mas vamos voltar a Juiz de Fora no evento do dia 6 de
setembro...
Adélio Bispo de Oliveira - o esfaqueador de Jair
Bolsonaro, 40 anos, é natural de Montes Claros (MG) e tem
segundo grau completo. Ele disse, em seu primeiro
interrogatório, que procurava trabalho na cidade e que
estava hospedado, a cerca de 30 dias, em uma pensão
localizada no bairro Paineiras, na região central de Juiz de
Fora.
Adélio disse em depoimento "que não foi contratado por
ninguém para atentar contra a vida do candidato" e que
também "não recebeu o auxílio de ninguém para o intento
criminoso", tendo sido indiciado por prática de "atentado
pessoal por inconformismo político" com base no artigo 20
da Lei de Segurança Nacional.
Leia trecho do primeiro depoimento de Adélio feito à
Polícia Federal:
Em conversa com o autor, este nos informou que saiu de
casa com uma faca de uso pessoal a fim de acompanhar a
comitiva, e no melhor momento pudesse, tentar contra a
vida do candidato, assim tendo feito no momento em que a
comitiva passava pela Rua Batista, por achar ser o mais
oportuno.
Nos afirmou ainda que o motivo do intento se deu por
motivos pessoais, os quais não iríamos entender, dizendo
também em certos momentos que foi a mando de Deus. As
testemunhas disseram à polícia que "o candidato estava
sobre os ombros de um homem, momento em que o autor
aproximou com a faca em uma das mãos, enrolada
aparentemente em uma camisa de cor clara".

Adélio Bispo, depois de transferido para o Centro de


Remanejamento do Sistema Prisional (CERESP) foi ouvido,
em audiência de Custódia, pela juíza Patrícia Teixeira de
Carvalho, da Justiça Federal de Juiz de Fora, tendo dito,
entre outras coisas:
Que perguntado sobre a motivação religiosa, esclarece que
recebeu uma ordem de Deus para tirar a vida de Bolsonaro,
haja vista que, embora ele se apresente como evangélico,
na verdade não é nada disso.
Que questionado sobre a motivação política, informa que o
interrogado defende a ideologia de esquerda, enquanto o
Candidato Jair Bolsonaro defende ideologia diametralmente
oposta, ou seja, de extrema direita; Que se considera um
autor da esquerda moderada; Que Bolsonaro, defende o
extermínio de homossexuais, negros, pobres e índios,
situação que discorda radicalmente (...). Que declara que
não foi contratado por ninguém para atentar contra a vida
do Candidato; Que não recebeu o auxílio de ninguém para
o intento criminoso.

A defesa inicial de Adélio Bispo de Oliveira foi feita


pelos advogados, Marcelo Manoel da Costa, Oliveira
Magalhães, Fernando Costa, Pedro Augusto de Lima Felipe
e Zanone Manuel de Oliveira Júnior. Eles estiveram todos
na audiência de custodia, na tarde do dia 7 de setembro
usando, inclusive, um jatinho particular para se deslocar de
Belo Horizonte até Juiz de Fora. [65]

65
Quando o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos que
cuida do caso, afirmou à imprensa que “uma pessoa ligada à igreja das
Testemunhas de Jeová de Montes Claros” estava custeando a defesa,
aumentaram as especulações. Contudo, no domingo (9), Zanone mudou
o discurso, citando a igreja do Evangelho Quadrangular de Montes Claros
(MG) como responsável pelo pagamento. Lideranças das Testemunhas
de Jeová já haviam pedido que a equipe de advogados esclarecesse a
menção. A organização religiosa emitiu notas negando qualquer ligação
com Adélio, sua família ou sua defesa neste caso. Curiosamente, o
defensor não respondeu oficialmente à instituição. Aílton Pereira, do
departamento jurídico das Testemunhas de Jeová, afirma: “A própria
família diz que o Senhor Adélio é de outra religião. Deve ter sido um lapso
dele. Estamos tentando contato com o Senhor Zanone, mas ele não dá
retorno. Nós somos um povo pacato, que prega o amor ao próximo,
pessoas neutras em assuntos políticos [u] Só queríamos uma retratação
em público. Não queremos forçar”. A Igreja Quadrangular. Contudo, a
congregação nega qualquer envolvimento nos pagamentos. O pastor
Antônio Levy de Carvalho, superintendente da denominação em Montes
Claros, destaca: “A igreja do Evangelho Quadrangular não pagou
absolutamente nada de custas processuais dos advogados do senhor
Adélio”. Após os sucessivos desmentidos, Zanone deu uma terceira
A juíza considerou o atentado contra Jair Bolsonaro
um “delito grave, que revelou profundo desrespeito à vida
humana e ao estado democrático de direito." Ela manteve o
indiciamento de Adélio pela Lei de Segurança Nacional e
determinou que o mesmo fosse transferido par um presídio
federal, confirmando também a Justiça Federal como
competente para o caso.
A magistrada converteu a prisão em flagrante de
Adélio em prisão preventiva, ou seja, sem prazo
determinado para soltura.
Adélio foi levado para o Presídio Federal de Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 8 de setembro, tendo o
mesmo ficado isolado dos demais presos, em uma cela de
cerca de 7 metros quadrados.

Adélio no desembarque em Campo Grande (MS)


Crédito: Correio do Estado

A Polícia Federal de Juiz de Fora abriu dois inquéritos


para apurar as circunstâncias do crime e se houve
participação de terceiros no planejamento e execução do
crime.
O procurador da República, Marcelo Borges de Mattos
Medina, do Ministério Público Federal denunciou no dia 2 de

versão para quem está arcando com custas processuais: “Não sei se é
Testemunha de Jeová, se é Quadrangular. É uma pessoa física, de
alguma forma ligada à congregação, mas não integrante, que conhecia o
rapaz e queria ajudar”. Ele se nega a informar o nome do financiador da
defesa. Fonte: GospelPrime.
outubro, Adélio Bispo de Oliveira como autor do atentado
contra a vida de Jair Bolsonaro.
A tentativa de eliminação física do favorito na disputa pelo
primeiro turno, em esforço para suprimir a sua participação
no pleito e determinar o resultado das eleições mediante ato
de violência - e não, como dito, mediante o voto -, expôs a
grave e iminente perigo de lesão o regime democrático, diz
trecho da denúncia.
(...) Adélio Bispo Oliveira agiu, portanto, por inconformismo
político. Irresignado com a atuação parlamentar do
deputado federal, convertida em plataforma de campanha,
insubordinou-se ao ordenamento jurídico, mediante ato que
reconhece ser extremo. (...)

Para o Ministério Público Federal, Adélio quis, com a


facada desferida contra Bolsonaro, excluí-lo da disputa
eleitoral de modo a "determinar o resultado das eleições,
não por meio do voto, mas mediante violência".
O processo contra Adélio Bispo de Oliveira corre na 3.ª
Vara Federal de Juiz de Fora estando o mesmo sob a
responsabilidade do juiz federal Bruno Souza Savino e, por
parte do Ministério Público Federal atua o procurador da
República, Marcelo Medina.
No dia 10 de outubro, a defesa de Adélio Bispo
apresentou requerimento à Justiça Federal para que fosse
feito um exame psiquiátrico, alegando que o cliente tem
insanidade mental, objetivando vir a considerá-lo
inimputável.
Para justificar o pedido, os advogados citaram que
Adélio revelou ter feito "uso permanente de medicamentos
controlados, de tarja preta, e que possui um histórico de
consultas com médicos psiquiatras e neurologistas".
O juiz Bruno Souza Savino negou, no dia 12 de
setembro, o pedido da defesa de Adélio afirmando que “o
raciocínio organizado e o discurso articulado” de Adélio
Bispo de Oliveira, agressor confesso de Jair Bolsonaro
(PSL), na audiência de custódia, indicam a sua “higidez
mental”.
Savino também disse que, “como bem dito pelo MPF,
razões de cunho religioso ou político são constantemente
utilizadas como justificativa para atos extremos, sem que
isto caracterize, de per si, a insanidade mental de seus
agentes”.
A decisão ressalta que o indeferimento não impede a
renovação do pedido, “desde que acompanhada de novos
elementos de informação que indiquem o efetivo
comprometimento da capacidade do investigado em
entender o ilícito ou determinar-se conforme este
entendimento”.
A Justiça também facultou à defesa o acesso de médico
de sua confiança ao custodiado para que produza laudo
técnico a fim de subsidiar eventual renovação do pedido de
instauração de incidente de insanidade mental.
Assim, o pedido foi refeito e, na nova petição de
“incidente de insanidade mental”, a defesa pediu então
autorização para que Adélio fosse submetido a exames
psiquiátricos na Penitenciária Federal de Campo Grande
(MS), indicando o psiquiatra paulista Hewdy Lobo Ribeiro,
especialista em Psiquiatria Forense, para fazer um laudo
técnico sobre a sanidade mental do agressor informando
ainda que Ribeiro não cobraria pelo serviço pericial.
O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro é dono da
clínica Vida Mental, na Vila Mariana, em São Paulo, e não
parece ser do perfil que necessita desse tipo de trabalho
para se promover.
A coisa se tornava assim, ainda mais estranha:
primeiro, foi a defesa ser feita por um banca de advogados
caríssimos, usando jatinho para seus deslocamentos e cujos
patrocinadores não foram revelados, depois de tentarem
plantar a farsa de que o pagamento estaria sendo feito por
pessoa ligada a uma igreja de Montes Claros (MG) e agora,
um psiquiatra de São Paulo que se desloca até Campo
Grande para fazer, de graça, uma avaliação e respectivo
laudo pericial sobre a sanidade mental de Adélio.
“Nós queremos saber também quem é Adélio. É são? É
um insano? É um louco? É um lunático político? Moveu? Foi
movido?”, disse à imprensa o advogado Zanone Manuel de
Oliveira Júnior, um dos que representam Adélio, em
resposta ao questionamento do por que estaria fazendo tal
perícia.
A perícia médica-psiquiátrica, bancada pela defesa de
Adélio, foi realizada no dia 21 de setembro, sendo que no
dia 1.º de outubro, o exame particular foi protocolado na 3.ª
Vara Federal de Juiz de Fora (MG), com a solicitação de
que uma nova avaliação de sanidade mental seja
determinada pela Justiça, com peritos oficiais. Embora o
processo corra em sigilo e o laudo não ter sido mostrado à
imprensa, a defesa de Adélio informou que este atesta que
seu cliente sofre de transtorno delirante grave.
Mas as coisas começaram a ter novos contornos, com a
Polícia Federal pedindo mais prazo à Justiça Federal para
concluir o segundo inquérito aberto sobre o caso, que visa
investigar possíveis terceiros envolvidos com o crime.
Pessoas próximas às investigações contaram ao jornal
mineiro O Tempo que Adélio Bispo de Oliveira tem relação
de amizade com integrantes da maior facção criminosa do
país, além da ligação das atividades dos advogados que
atendem o réu com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
De acordo com o jornal O Tempo, o delegado Rodrigo
Morais, que comanda as investigações sobre a tentativa de
assassinato de Jair Bolsonaro, suspeita que Klayton Ramos
de Souza, membro do PCC conhecido como "Veim", seja
amigo de Adélio. A dupla teria se conhecido em Montes
Claros, onde ambos nasceram e foram criados, e ainda
manteriam contato pelas redes sociais. "Veim" tem
passagens na polícia por homicídio e já cumpriu pena no
Presídio Regional de Montes Claros.
É bom ressaltar que apesar de no primeiro inquérito a
Polícia Federal ter concluído que Adélio Bispo de Oliveira
agiu sozinho no momento do atentado, uma nova
investigação foi aberta para verificar se terceiros ou alguma
organização criminosa estaria ligada ao atentado.
Um dos motivos para abertura desse novo inquérito foi,
entre outras coisas, o fato do advogado Pedro Augusto de
Lima Felipe e Possa, residente em Barbacena (MG) ter
chegado à Delegacia da Polícia Federal em Juiz de Fora
antes mesmo de Adélio Bispo, após ele ser preso em
flagrante.
A princípio, Adélio se negou a ser atendido por ele. De
acordo com o jornal O Tempo, Possa chegou a tentar
convencer Adélio de que havia sido enviado pela mãe dele,
mas Adélio riu e disse que a mãe havia falecido em 2012.
Testemunhas, ainda de acordo com o jornal mineiro,
afirmam que depois disso os dois se reuniram em privado e
Adélio Bispo foi convencido a aceitar que Possa atuasse
como seu defensor.
A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que o
PCC esteja pagando os advogados do esfaqueador de Jair
Bolsonaro, partindo-se da premissa de que um dos
advogados - Fernando Costa - trabalha para, pelo menos,
quatro integrantes do Primeiro Comando da Capital.
Embora a investigação esteja sendo conduzida pela
Polícia Federal, um inquérito para apurar a tentativa de
homicídio, cometida por Adélio Bispo de Oliveira, também
foi aberto pela Polícia Civil de Minas Gerais. “A partir do
momento em que as provas forem compartilhadas,
poderemos analisar se a competência é da polícia estadual
ou federal. É importante compreender se é um crime de
homicídio com motivação política ou um crime que se
encaixa na Lei de Segurança Nacional”, afirmou o promotor
de Justiça de Juiz de Fora, Oscar Santos de Abreu.
Como havia um conflito, a expectativa era de que, caso
os promotores estaduais e federais verificassem que Adélio
agiu sozinho (que significaria um crime comum), o caso
poderia ficar com o Ministério Público Estadual.
“Um delegado da Polícia Civil está ouvindo as pessoas
que tiveram contato com Adélio e não conseguiu uma
conclusão de que se trate de um crime político, que faça
parte de uma organização com a intenção de desestabilizar
a política do país”, conta o promotor.
Entretanto, no dia 17 de outubro, o juiz de direito da
Comarca de Juiz de Fora, Paulo Tristão Júnior, se declarou
incompetente para julgar a tentativa de assassinato de Jair
Bolsonaro com base na investigação da Polícia Civil.
Ele entendeu que o caso é de competência exclusiva da
Justiça Federal e remeteu os autos à 3.ª Vara Federal de
Juiz de Fora, onde Adélio virou réu com base na denúncia
do MPF e do indiciamento da PF.
Para o advogado de Adélio Bispo de Oliveira, Zanone
Manuel de Oliveira, o cliente deve sim ser enquadrado no
crime contra a Lei de Segurança Nacional. “Ele agiu por
ideologia política e o atentado que praticou é contra um
presidenciável. Não acreditamos que seja um crime contra a
vida, mas um crime político”, afirma. Mas nem mesmo
Zanone descarta que houve a participação de outras
pessoas: “O que mais acontece é o cliente mentir para seu
advogado. E se terceiros existem, isso virá à tona”.
Distribuído ao juiz federal Ubirajara Teixeira no dia 23
de outubro, o processo foi registrado como crime contra a
Segurança Nacional e a Ordem Política e Social. Com a
transferência para a alçada federal, as investigações, até
levadas a cabo pela Polícia Civil e pela Polícia Federal,
serão feitas agora, exclusivamente, pelos agentes federais
de Juiz de Fora.
Às vésperas do segundo turno da eleição presidencial,
um fato novo surgiria: o advogado Zanone de Oliveira disse
ao site O Antagonista que deveria deixar a defesa de Adélio
Bispo de Oliveira porque o misterioso financiador
desapareceu. “Depois que surgiram as ameaças de morte,
ele não entrou mais em contato. Temos quer ver agora
quem vai pagar a conta”.
Muito estranho que a tal ameaça foi relatada no dia 10
de setembro e, somente agora que a Polícia Federal fecha o
cerco nas investigações de tais advogados estarem
envolvidos com o crime organizado, é que Zanone fala em
abandonar a causa porque o patrocinador da mesma
desapareceu.
Ainda de acordo com o jornalista Claudio Dantas, de O
Antagonista, Zanone mantém o nome do benfeitor em sigilo
e garante que não há relação com o tiroteio de Juiz de Fora
e os R$ 14 milhões apreendidos.
A surpreendente vitória nas urnas
O velho ditado sobre dar a um homem um peixe contra
ensiná-lo a pescar foi atualizado por um leitor: Dê a um
homem um peixe e ele vai pedir o molho tártaro e batatas
fritas! Além disso, algum político que quer o seu voto irá
declarar todas essas coisas para estar entre os seus
"direitos básicos".
(Thomas Sowell – economista norte-americano)

Oficialmente, a propaganda eleitoral teve início no dia


16 de agosto de 2018, quando passou a ser permitida a
realização de comícios (sem show musical e/ou artístico),
carreatas, distribuição de material gráfico e propaganda na
internet (desde que não paga pelo eleitor). Já a propaganda
eleitoral gratuita no rádio e na televisão teve início no dia 31
de agosto.
O primeiro turno das eleições foi marcado para o dia 7
de outubro e, caso necessário – nenhum candidato
recebendo maioria simples de votos, uma nova votação
ocorreria no dia 28 de outubro.
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, por ter feito
coligação apenas com o também nanico PRTB, de seu vice,
general Hamilton Mourão, só teve direito a oito segundos
em cada um dos dois blocos de propaganda diária e onze
inserções ao longo do primeiro turno da campanha eleitoral.
Enquanto isso, o candidato do PSDB, Geraldo
Alckmin, teve direito a 5 minutos e 32 segundos mais 434
inserções ao longo do primeiro turno e o candidato do PT,
Fernando Haddad, teve direito a dois blocos diários de 2
minutos e 23 segundos, mais 188 inserções ao longo do
primeiro turno.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, teve direito a 2
blocos diários de 38 segundos cada + 50 inserções ao longo
do primeiro turno. Até o candidato do PSol, Guilherme
Boulos, teve maior tempo de exposição no rádio e na
televisão, com 2 blocos diários de 13 segundos cada + 17
inserções no primeiro turno.
Para o Correio Braziliense, os candidatos falavam
muito com seus eleitores, mas não deixavam transparecer o
que têm de real personalidade, de interesses privados e
ambições, que preferem manter embaçadas por artifícios
criados pelos marqueteiros, ao deixar vir à tona apenas
“promessas e declarações de feitos passados” e, claro,
todos abonadores da candidatura pleiteada. Então, o
Correio foi atrás de “ouvir os astros” e contratou os serviços
de uma astróloga, cujo nome não foi revelado, para estudar
o mapa astral dos presidenciáveis, como o que fez para o
ariano Jair Bolsonaro.
O Sol em Áries transfere ao candidato coragem, iniciativa,
espírito de luta e alguma impulsividade. O ascendente em
Câncer regido pela Lua Aquariana faz com que, de muitas
maneiras, transfira a imagem de alguém que oscila entre o
futuro e o passado, que pode apresentar um desafio com a
diversidade e a imagem social, e que sempre pode
surpreender. É o mapa de alguém de quem podemos
esperar o inesperado. Pode ser constantemente desafiado
a reprimir impulsos, controlar os desejos e a vida financeira
de seus parceiros. O aspecto desafiador entre Plutão e
Saturno no mapa apresenta um traço de radicalidade e o
espírito de “doa a quem doer”. A família pode representar
um desafio importante nesse mapa, assim como a relação
com hierarquia e autoridade.
(AZEVEDO, Alessandra; FORTUNA, Deborah. Correio
Braziliense. 29/07/2018).

Claro, que Bolsonaro não iria pautar sua campanha


por mapa astral nem por conversa de vidente. Se fosse,
assim, Álvaro Dias teria entrado na campanha com “uma
das mãos na faixa”, de tanto que seu conterrâneo Carlinhos
Vidente disse em 2017, que o senador seria o próximo
presidente da República.
Mas teve gente do meio, no final de 2017, falando
também sobre a participação de Jair Bolsonaro. Por
exemplo, o astrólogo João Bidu, falando para O Dia afirmou
que “O que parece bem claro é que as chances de vitória do
ariano Jair Bolsonaro são muito reduzidas, pois Júpiter está
justamente em sua 8.ª Casa Astral, que é sempre sinal de
perdas”.
Além de muita gente ter falado muita besteira, o
presidenciável Jair Bolsonaro tinha o que os demais
concorrentes não tinham: a força da internet, no que ele
vem se dedicando há anos em construir junto com seu filho
Carlos Bolsonaro.
São centenas de grupos, principalmente no Facebook,
onde é possível encontrar grupo com mais de 2 milhões de
membros. Na página oficial de Jair Bolsonaro no Facebook,
na fase de campanha já eram mais de 8 milhões de
seguidores e, no dia 21 de dezembro de 2018, o número de
seguidores da página de Jair Bolsonaro já era de
10.039.004.
E, sabendo deste potencial, sua estratégia foi criar
uma estrutura de campanha com base na internet usando o
Facebook e o Twitter como carros-chefes, e também usando
e até criando a TV Bolsonaro para falar ao vivo, diariamente,
com seus apoiadores e eleitores.
O cientista político Miguel Lago, afirmou à Coluna de
Sônia Racy, no Estadão, do dia 22 de outubro, que
Bolsonaro era “o maior youtuber do Brasil” e foi além: “ele é
um sintoma do impacto da tecnologia na sociedade. Um
fenômeno tecnopolítico, não político”.
E, de fato, toda esta sua movimentação na mídia
virtual foi a grande arma de Bolsonaro, principalmente
depois do dia 6 de setembro, quando foi vítima de atentado
a faca, quando fazia campanha na cidade mineira de Juiz de
Fora.
Depois de ser atendido (e salvo) pelos médicos da
Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, Bolsonaro foi
transferido para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São
Paulo, onde ficou internado 22 dias, tendo recebido alta no
dia 29 de setembro, para ficar sob os cuidados médicos em
sua casa, no Rio de Janeiro, mas com visitas periódicas de
médicos do Albert Einstein, até que fosse liberado para
atividade externa.
Bolsonaro viajou de São Paulo ao Rio de Janeiro, no
dia 30 de setembro, em voo comercial da companhia aérea
Gol, que teve sua decolagem atrasada em 20 minutos por
conta do oba-oba dentro da aeronave, tendo o
presidenciável sido recebido com festa por boa parte dos
passageiros do avião, que gritavam palavras de ordem
como "mito", "ele sim" e "ão, ão, ão, é Lula na prisão". Mas
houve também vaias e gritos de "fascista" e "ele não" por
alguns de passageiros do avião.
De sua residência, o deputado Jair Bolsonaro
continuou sua estratégia de campanha – o uso da internet -,
já que não tinha liberação médica para sair de casa. Mas
deu tudo certo, porque ele conseguiu formar um batalhão de
milhões de fiéis seguidores e difusores de sua campanha
nas diversas redes sociais.

Bolsonaro chega para votar na Escola Rosa da Fonseca, na Vila


Militar (RJ)

As pesquisas eleitorais indicaram que Jair Bolsonaro,


ao contrário do que esperavam seus oponentes, não foi
prejudicado por não ir às ruas fazer campanha. Pelo
contrário, os indicadores cresceram e se chegou ao ponto
de pensar numa vitória no primeiro turno, o que não ocorreu,
mas o resultado foi muito bom. Jair Bolsonaro ficou com
46,03% dos votos válidos contra 29,28% de Fernando
Haddad.
A campanha para o segundo turno não seria muito
diferente, em termos de aparição pública de Jair Bolsonaro,
apesar de ele ter sido liberado pela equipe médica do Albert
Einstein no dia 19 de outubro. Entretanto, pela avaliação de
risco feita pela sua equipe de segurança, ele decidiu
permanecer em casa e de lá continuar os contatos com os
eleitores.
No caso da propaganda eleitoral no rádio e na
televisão, a coisa foi bem diferente. Cada um dos dois
candidatos à Presidência da República passou a contar, de
segunda-feira a sábado, com dez minutos de propaganda
eleitoral em rede, divididos em dois blocos de cinco minutos
para cada um dos concorrentes, para divulgar suas
propostas e plano de governo.
Além disso, as emissoras de rádio e de televisão e os
canais de televisão por assinatura tiveram que reservar,
tempo, de segunda-feira a domingo, para veicular as
inserções de 30 e 60 segundos.
Estava assim restabelecida a equiparação de forças
no rádio e televisão.
As primeiras pesquisas eleitorais, depois de iniciada a
campanha do segundo turno, confirmaram a espetacular
vantagem de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad, em
média apresentando Bolsonaro com 60% dos votos válidos
e Haddad com 40% e isto fez bater o desespero no grupo
petista, que vê a promessa de tirar Lula da cadeia ir pelo
ralo, empurrado por todos os brasileiros que não aceitam
mais a corrupção e nem a impunidade continuar sendo
usada para encobrir a roubalheira de políticos e empresários
corruptos.
De acordo com análise feita pelo Datafolha, no dia 22
de outubro e com base em sua pesquisa realizada nos dias
17 e 18 de outubro, o desejo de renovação e mudança no
poder movia 30% dos eleitores de Bolsonaro e era a
principal razão de voto no candidato do PSL, que tinha 59%
das intenções de votos válidos na disputa pela Presidência.
A rejeição ao PT vinha a seguir, citada
espontaneamente por 25% como motivo para votar em
Bolsonaro, e na sequência apareciam as propostas na área
de segurança do candidato, mencionadas por 17%
(incluindo 1% que citaram a proposta de facilitar a compra
de armas pela população, e 1% que votaram no capitão pela
promessa de diminuir a maioridade penal).
Razões ligadas à imagem e valores pessoais do
candidato somaram 13%, com destaque para a valorização
da família (4%), não estar envolvido em corrupção (4%) e
ser honesto, digno, sincero (3%), entre outras respostas
ligadas a atributos pessoais. No mesmo patamar, com 12%,
apareciam suas propostas de governo e/ou plano de
governo, e 10% mencionaram o combate à corrupção como
razão para votar em Bolsonaro.
Ainda de acordo com a análise da pesquisa do
Datafolha, este afirmou que, em um patamar mais baixo
aparecia a experiência e capacidade de Bolsonaro para
governar (5%), suas propostas para educação (5%), para a
saúde (5%) e para melhorar o Brasil, de forma geral (4%).
Havia 3% que votariam no candidato por falta de melhor
opção, outros 3% que valorizaram suas propostas de
geração de emprego, e 2% votariam por causa de suas
propostas econômicas.
O Ibope divulgou nova pesquisa, no dia 23 de outubro,
cinco dias antes da eleição de segundo turno, feita a pedido
da Rede Globo e do jornal O Estado de S. Paulo e mostrou
Bolsonaro com 57% dos votos válidos (excluídos os votos
brancos, nulos e os indecisos) contra 43% de Fernando
Haddad.
No dia 25 de outubro o presidente do Ibope, Carlos
Augusto Montenegro, disse ao Estadão que Jair Bolsonaro
já estava eleito e a única dúvida que restava era saber qual
a diferença de votos. “A certeza de votos dos dois
candidatos é muito grande, e eles são antagonistas. Só um
tsunami poderia fazer um eleitor de Haddad votar em
Bolsonaro e vice-versa”, afirmou Montenegro.
O Datafolha divulgou sua nova pesquisa também no
dia 25, portanto, a três dias para as eleições, mostrando
pequena queda de intenção de votos em Jair Bolsonaro,
que ficou com 56% dos votos válidos contra 44%, para
Fernando Haddad, com diferença de 12 pontos percentuais.
Em votos totais, Jair Bolsonaro aparecia com 48%,
ante 38% de Fernando Haddad. O Datafolha apurou 6% de
indecisos e 8% que declararam que iriam votar em branco
ou nulo. A pesquisa, encomendada pela Folha e pela Rede
Globo foi realizada entre os dias 24 e 25, com 9.137
eleitores, de 341 cidades.
No levantamento anterior, apurado em os dias 17 e 18
de outubro, Jair Bolsonaro tinha 59% e Haddad, 41% – ou
seja, a diferença, segundo o Datafolha, teria caído de 18
para 12 pontos percentuais.
O general Augusto Heleno, diante dos resultados
apresentados pelo Datafolha no dia 25 de outubro, foi às
redes sociais falar de seu inconformismo com o que
imperava em alguns institutos de pesquisa, com este
pronunciamento:
Boa noite meus amigos e minhas amigas,
Sou o general Augusto Heleno. Acabei de assistir a mais
uma pesquisa do Datafolha para o segundo turno. Hoje é
dia 25 de outubro de 2018, mas a estratégia é a mesma que
seguiram em outras oportunidades: aproximar os
candidatos de modo a favorecer aquele que lhes interessa.
No caso, Jair Bolsonaro é o adversário contra o sistema e
precisa ser combatido. A intenção é nos desestimular e
isso, eles não vão conseguir. Nós temos a convicção plena
de que, no dia 28 de outubro vamos às urnas para
consagrar Jair Bolsonaro 17 e impedir a volta do Partido dos
Trabalhadores ao Poder. O PT foi o responsável direto pela
situação de crise que nós estamos vivendo. Passaram mais
de 15 anos no Poder patrocinando a corrupção, o desvio de
recursos, uma gestão desastrosa e colocando o Brasil na
situação em que estamos hoje. Portanto, não vamos nos
deixar levar por este tipo de convencimento bobo,
convencimento completamente fora dos padrões [da ética e
da decência].
General Augusto Heleno Ribeiro Pereira

No dia 26 de outubro, a partir das 9 horas, o site O


Antagonista divulgou a pesquisa encomendada pela revista
digital Crusoé, com patrocínio da empresa Empiricus, e feita
pelo Instituto Paraná Pesquisas - o que mais acertou nos
resultados eleitorais do primeiro turno. A pesquisa foi feita
com 2.120 eleitores em 26 Estados e no Distrito Federal,
totalizando 160 municípios.
Por esta pesquisa, Jair Bolsonaro ficou com 53% dos
votos totais e Fernando Haddad com 34,4%. Em relação a
votos válidos, Jair Bolsonaro ficou com 60,6% e Fernando
Haddad com 39,4%. Estes resultados contrastaram
enormemente com os indicadores mostrados pelo Ibope e
pelo Datafolha, mas estavam coerentes com o Instituto FSB
Pesquisas, contratado pelo banco BTG Pactual, que
apresentou Bolsonaro com 60% e Haddad com 40% dos
votos válidos e a pesquisa contratada pela XP Investimentos
e feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e
Econômicas (Ipespe), sediado em Recife (PE) que mostrou
Bolsonaro com 58% e Fernando Haddad com 42%.
Na véspera da votação de segundo turno, Michelle
Bolsonaro falou pela primeira vez a uma emissora de
televisão, ao Jornal Nacional, quando comentou o projeto do
marido em ser presidente da República: “Deve estar maluco,
mas, se ele quer, vou apoiá-lo. Agora está nas mãos de
Deus”.
Mesmo com todas as pesquisas mostrando Bolsonaro
à frente, os dois dias que antecederam a votação do
segundo turno foram muito tensos. Jair Bolsonaro chegou a
pedir ao pessoal de seu partido que evitasse qualquer tipo
de manifestação à imprensa para não dar margem a ruídos
no final da campanha e, aos seus apoiadores, pediu esforço
redobrado até que a votação chegasse.

Jair Bolsonaro e sua esposa Michelle deixando o local de votação


Arquivo pessoal

E ela chegou. Bolsonaro, mesmo orientado pela


equipe de segurança de que não fosse votar, com receio de
um atentado contra sua vida, o capitão não deixou de
exercer seu direito. Sua vida estava nas mãos de Deus e
dos homens encarregados de sua segurança, como sempre
afirmava.
Por isso, tão logo a Escola Municipal Rosa da
Fonseca foi aberta e antes da entrada de eleitores, a
mesma passou por uma severa varredura de agentes da
Polícia Federal e militares do Exército foram postados na
entrada e imediações da escola para garantir total
segurança ao candidato do PSL.
Na Escola Municipal Rosa da Fonseca foi instalado
detector de metal e todos os eleitores foram obrigados a
passar por ele. Além disso, o pessoal de imprensa e
funcionários da limpeza passaram por minuciosa revista.
Eram cerca de 9h30 quando Jair Bolsonaro,
acompanhado da mulher Michelle e do filho Carlos, votou,
saindo rapidamente do local, sob um forte esquema de
segurança e sem contato com os eleitores, em respeito à
legislação eleitoral.
Mas o dia todo foi de um silêncio infernal. Nunca
chegava o fim da votação e o início das apurações dos
votos. O TSE prometia que o resultado final estaria
disponível até às 21 horas e que os primeiros números para
Presidência da República somente seriam divulgados a
partir das 19 horas, para esperar o final da votação no
Estado do Acre, que tem uma diferença de fuso horário com
Brasília de duas horas de atraso.
Haja coração para tanta expectativa!
O Ibope foi às ruas ouvir os eleitores para tentar
antecipar possível resultado, o que é chamado de pesquisa
de “boca-de-urna”, e que foi divulgado dois minutos antes
das 19 horas. E o resultado indicava que Jair Bolsonaro
teria 56% dos votos válidos contra 44% de Fernando
Haddad.
Às 19 horas, como planejado, o TSE soltou os
primeiros resultados, com a apuração dos votos já muito
adiantada e lá estava Bolsonaro com mais de 55% dos
votos válidos. Quando o relógio apontava 7 horas e 21
minutos, o Tribunal Superior eleitoral já colocava o capitão
Jair Bolsonaro como presidente eleito para o mandato de
2019 a 2022. Bolsonaro recebeu 57.797.456 votos, tendo
liderado as votações em 16 estados da federação, alguns
com larga margem.
Foi para sua esposa Michele, que Jair Bolsonaro, já
como presidente eleito, dedicou a vitória nas urnas:
Sem ela, eu não teria chegado a esse local, e com ela,
agora, tenho certeza que terei força para prosseguir nesta
empreitada e ir buscar um Brasil melhor para todos nós.

Depois, Jair Bolsonaro fez o primeiro contato com


seus eleitores, através de uma apresentação ao vivo pelo
Facebook, cujo teor de sua fala segue:
Eu quero nesse momento agradecer a Deus pela
oportunidade, e mais ainda, agradeceu a Deus que, pelas
mãos de médicos, enfermeiros e demais profissionais de
saúde da Santa Casa de Juiz de Fora (MG) e do hospital
Albert Einstein em São Paulo, operaram um verdadeiro
milagre, mantendo a minha vida. Um momento que eu
jamais poderia esperar, mas que, graças a Deus, repito, foi
superado. Com toda a certeza, ele reservou algo para mim
e para todo nós aqui, no Brasil.
Esse primeiro contato meu, via live, deve-se ao respeito, à
consideração e à confiança que tenho no povo brasileiro. E,
também, só cheguei aqui porque vocês, internautas, o povo
brasileiro, realmente vocês acreditaram em mim.
Desde o começo, há 4 anos, nessa mesa, quando decidi
disputar a presidência, eu sabia das dificuldades que eu
teria pela frente. Mas, com 59 anos de idade na época, não
podia pensar somente em mim, disputar mais um mandado
de deputado federal, com toda a certeza sendo o mais
votado do Rio, ou até mesmo me elegendo a senador da
República. Depois dos 60, essa vontade se fez cada vez
mais presente. Não por obsessão, não por querer ocupar a
cadeira presidencial por um motivo pessoal. Ocupá-la, sim,
para que juntamente com uma boa equipe, com boas
pessoas ao meu lado, termos a certeza de mudar o destino
do Brasil. Fizemos uma campanha, não diferente dos
outros, mas como deveria ser feita, afinal de contas a nossa
bandeira, o nosso slogan, eu fui buscar naquilo que muitos
chamam de 'caixa de ferramentas para consertar o homem
e a mulher', que é a bíblia sagrada.
Fomos em João 8:32 "E conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará."
Nós temos que nos acostumar a conviver com a verdade.
Não existe outro caminho se quisermos realmente a paz e a
prosperidade. A verdade tem que começar a valer dentro
dos lares até o ponto mais alto, que é a Presidência da
República. O povo tem o direito de saber o que acontece
em seu país. Graças a Deus, essa verdade o povo
entendeu perfeitamente. Alguém, sem um grande partido,
sem fundo partidário, e uma grande parte da mídia me
criticando, colocando-me, muitas vezes, próxima a uma
situação vexatória naquilo que falavam a meu respeito e
passou a acreditar em nós. E passou a ser, sim, integrante
de um grande exército e sabia para onde o Brasil estava
marchando. Não podemos mais flertar com o socialismo,
comunismo, o populismo e o extremismo da esquerda.
Somos os grandes vencedores desse pleito. E o que eu
mais quero, seguindo os conhecimentos de Deus e ao lado
da Constituição brasileira, inspirando-se em grandes líderes
mundiais, com uma boa assessoria técnica e profissional,
isenta de indicações políticas de praxe, continuar fazer um
governo no ano que vem, que possa colocar realmente o
nosso Brasil em um lugar de destaque.
Temos tudo para sermos uma grande nação. Temos
condições de governabilidade. Todos os compromissos
assumidos serão cumpridos. E fazendo um pequeno aparte.
Nada mais gratificante quando eu estive em Maracapuru, no
coração do Amazonas, conversando com pessoas simples,
mas com sede de conhecerem a verdade e conversar com
alguém que realmente os tratava com respeito e
consideração.
O meu muito obrigado a todos vocês pelo apoio, pela
consideração, pelas orações e pela confiança. Vamos
juntos mudar o destino do Brasil. Sabíamos para onde
estávamos indo, agora sabemos para onde queremos ir.
Meu querido povo brasileiro, o meu muito obrigado pela
confiança e, no momento, peço a Deus coragem para poder
decidir o futuro [do brasileiro]. Estou muito feliz. E missão,
não se escolhe e nem se discute, se cumpre. Nós, juntos,
cumpriremos a missão de resgatar o nosso Brasil.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

O deputado Alberto Fraga relembra o início da


caminhada de Jair Bolsonaro até se chegar à vitória nas
urnas:
- Ele começou com uma expectativa muito tímida.
Todo mundo dizia que ele tinha um teto, que não ia crescer
mais. Ele calou a boca de todo mundo que não acreditou. A
maneira como Bolsonaro passou a ser recebido em
aeroportos [saudado por apoiadores Brasil afora com gritos
de mito] foi o primeiro sinal de que o caminho podia render
frutos.
O discurso oficial da vitória
Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido.
(George Eliot - pseudônimo de Mary Ann Evans [1819-1880] romancista
britânica)

Depois de falar ao vivo pelo Facebook, o presidente


eleito, Jair Messias Bolsonaro fez o discurso oficial da
vitória, transmitido ao mundo por um pool de emissoras de
televisão, com imagem gerada pela Rede Globo.

Muito obrigado.
Primeiro agradecer a Deus que, pelas mãos de homens e
mulheres da Santa Casa de Juiz de Fora bem como do
Albert Einstein de São Paulo, me deixaram vivos. Com toda
a certeza essa é uma missão de Deus. Estaremos prontos
para cumpri-la. Meu muito obrigado a todos do Brasil por
essa oportunidade. E, se me permitem eu gostaria de fazer
a leitura do meu discurso da vitória:
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Nunca estive sozinho; sempre senti a presença de Deus e a
força do povo brasileiro. Orações de homens, mulheres,
crianças, famílias inteiras, que diante da ameaça de
seguirmos por um caminho que não é o que os brasileiros
desejam e merecem, colocaram o Brasil acima de tudo.
Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo
será um defensor da Constituição, da democracia e da
liberdade. Isso é uma promessa não de um partido, não é a
palavra vã de homem, é um juramento a Deus. A verdade
vai liberar esse grande país e vai nos transformar em uma
grande nação.
A verdade foi o farol que nos guiou até aqui e vai seguir
iluminando nosso caminho.
O que ocorreu hoje nas urnas não foi a vitória de um
partido, mas a celebração de um país pela liberdade.
O compromisso que assumimos com os brasileiros foi de
fazer um governo decente, comprometido exclusivamente
com o país e o nosso povo e eu garanto que assim o será.
Nosso governo será formado por pessoas que tenham o
mesmo propósito de cada um que me ouve nesse
momento, o propósito de transformar o Brasil em uma
grande, livre e próspera nação. Podem ter certeza de que
nós trabalharemos dia e noite para isso.
Liberdade é um princípio fundamental;
Liberdade de ir e vir, de andar nas ruas em todos os lugares
desse país;
Liberdade de empreender
Liberdade política e religiosa;
Liberdade de fazer, formar e ter opinião;
Liberdade de escolhas e ser respeitado por elas.
Este é um país de todos nós, brasileiros natos ou de
coração. Um Brasil de diversas opiniões, cores e
orientações.
Como defensor da liberdade, vou guiar um governo que
defenda, proteja os direitos do cidadão, que cumpre seus
deveres e respeita as leis. Elas são para todos, porque
assim será o nosso governo constitucional e democrático.
Acredito na capacidade do povo brasileiro que trabalha de
forma honesta, de que podemos juntos, governo e
sociedade, construir um futuro melhor.
Esse futuro de que falo e acredito passa por um governo
que crie condições para que todos cresçam. Isso significa
que o governo dará um passo atrás, reduzindo sua estrutura
e a burocracia, cortando desperdícios e privilégios para que
as pessoas possam dar muitos passos à frente.
Nosso governo vai quebrar paradigmas. Vamos confiar nas
pessoas. Vamos desburocratizar, simplificar,
desburocratizar e permitir que o cidadão, o empreendedor,
tenha menos dificuldades para criar e construir o seu futuro.
Vamos desamarrar o Brasil.
Outro paradigma que vamos quebrar: o governo respeitará
de verdade a federação, as pessoas vivem nos municípios,
portanto os recursos irão para os estados e municípios.
Colocaremos de pé a federação brasileira. Nesse sentido,
repetimos que precisamos de mais Brasil e menos Brasília.
Muito do que estamos fundando no presente trará
conquistas no futuro. As sementes serão lançadas e
regadas para que a prosperidade seja o desígnio dos
brasileiros do presente e do futuro.
Esse não será um governo de resposta apenas às
necessidades imediatas, as reformas que nos propomos
são para criar um novo futuro para os brasileiros. E quando
digo isso falo com uma mão voltada ao seringueiro no
coração da selva amazônica e a outra para o empreendedor
suando para criar e desenvolver sua empresa. Porque não
existem brasileiros do sul e do norte, somos todos um só
país, uma só nação, uma nação democrática.
O Estado democrático de direito tem como um dos seus
pilares o direito à propriedade. Reafirmamos aqui o respeito
e a defesa desse princípio constitucional e fundador das
principais nações democráticas do mundo.
Emprego, renda e equilíbrio fiscal é o nosso compromisso
para ficarmos mais próximos de oportunidades e trabalho
para todos. Quebraremos o ciclo vicioso do crescimento da
dívida, substituindo-o pelo ciclo virtuoso de menores
déficits, dívida decrescente e juros mais baixos. Isso
estimulará os investimentos, o crescimento e a consequente
geração de empregos. O déficit público primário precisa ser
eliminado o mais rápido possível e convertido em superávit,
esse é o nosso propósito.
Aos jovens, palavra do fundo do meu coração: vocês têm
vivido um período de incerteza e estagnação econômica,
vocês foram e estão sendo testados a provar sua
capacidade de resistir. Prometo que isso vai mudar, essa é
a nossa missão. Governaremos com os olhos nas futuras
gerações e não na próxima eleição.
Libertaremos o Brasil e o Itamaraty das relações
internacionais com viés ideológico, a que fomos submetidos
nos últimos anos. O Brasil deixará de estar apartado das
nações mais desenvolvidas, buscaremos relações bilaterais
com países que possam agregar valor econômico e
tecnológico aos produtos brasileiros. Recuperaremos o
respeito internacional pelo nosso amado Brasil.
Durante a nossa caminhada de quatro anos pelo Brasil,
uma frase se repetiu muitas vezes: ‘Bolsonaro, você é a
nossa esperança’. Cada abraço, cada aperto de mão, cada
palavra ou manifestação de estímulo que recebemos nessa
caminhada fortaleceram o nosso propósito de colocar o
Brasil no lugar que merece. Nesse projeto que construímos
cabem todos aqueles que têm o mesmo objetivo que o
nosso. Mesmo no momento mais difícil dessa caminhada,
quando, por obra de Deus e da equipe médica de Juiz de
Fora e do Albert Einstein, ganhei uma nossa certidão de
nascimento, não perdemos a convicção de que juntos
poderíamos chegar à vitória.
É com essa mesma convicção que afirmo: ofereceremos a
vocês um governo decente, que trabalhará verdadeiramente
por todos os brasileiros. Somos um grande país e agora
vamos juntos, transformar esse país em uma grande nação,
uma nação livre, democrática e próspera.
Brasil acima de tudo e Deus acima de todos.

Jair Messias Bolsonaro, a partir de sua consagração


nas urnas passou a contar com um novo esquema de
segurança. Além da Polícia Federal, outros órgãos de
segurança e inteligência passam a se coordenar para
protegê-lo durante o governo de transição – nos moldes do
que é utilizado quando de visitas de chefes de estado.
A diplomação no TSE
Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem
defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de
governo, salvo todas as demais formas que têm sido
experimentadas de tempos em tempos.
(Winston Leonard Spencer-Churchill [1874-1965] político e estadista
britânico)

Havia expectativa de que o presidente eleito, Jair


Bolsonaro, fosse submetido, ainda em dezembro de 2018, a
uma cirurgia para retirada da bolsa de colostomia e
reconstrução de conduto intestinal, razão porque o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) antecipou a cerimônia de
diplomação dos eleitos – presidente e vice-presidente da
República -, para o dia 10 de dezembro.
A entrega dos diplomas a Jair Messias Bolsonaro e
Antônio Hamilton Mourão foi o ato que oficializou o resultado
das eleições presidenciais e habilitou os eleitos a tomarem
posse no dia 1.º de janeiro de 2019.
Foi uma cerimônia muito concorrida, que contou com a
presença de 750 convidados, mas que foi simples, sem
“beija-mão” e sem a entrevista coletiva que estava prevista
para o final do evento, por decisão do presidente eleito.
Seu discurso também foi simples e direto.

Em primeiro lugar, eu quero agradecer a Deus, por estar


vivo, e também agradecer a Deus por essa missão à frente
do Executivo.
Tenho certeza que, ao lado dele, venceremos os
obstáculos.
Parabenizo aqui a família da Justiça Eleitoral, pelo
extraordinário trabalho realizado nas eleições de outubro do
corrente ano. A cada um de vocês, integrantes do TSE, dos
Tribunais Regionais eleitorais, das Forças Armadas e do
Serviço exterior brasileiro, mesários, voluntários e tantos
outros cidadãos, que participaram das eleições, expresso o
meu muito obrigado e o meu reconhecimento por esta
demonstração de civismo e amor ao Brasil.
Hoje, Eu e meu contemporâneo, general Hamilton Mourão,
recebemos os diplomas que nos habilitam à investidura nos
cargos de presidente e vice-presidente da República. Trata-
se do reconhecimento de que o povo escolheu seus
representantes, em eleições livres e justas, como determina
a nossa Constituição.
Não poderia estar mais honrado com a consciência
demonstrada pelo povo brasileiro. Essa vitória não é só
minha; o caminho que me trouxe até aqui foi longo e nem
sempre foi fácil.
Durante minha vida pública, como militar, vereador e
deputado federal, sempre me pautei pela defesa dos
valores da família, pelos interesses do Brasil e pela
Soberania nacional. Orientei a plataforma da minha
campanha à Presidência da República pela defesa desses
valores.
A todos aqueles que me apoiaram e que confiaram em
minha capacidade de lutar em favor do Brasil, o meu muito
obrigado.
Agradeço com carinho, a minha família, a minha mãe
Olinda, ainda viva, com 91 anos de idade, minha esposa
Michelle, meus filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Renan; e a
minha querida filha Laura [acenos e sorriso para a filha].
Nada disso teria sido possível, sem o amor e o apoio
incondicional de vocês.
Agradeço também a todos que acreditaram e que estiveram
comigo desde o início da minha trajetória, nos momentos
felizes, mas, sobretudo, nos momentos difíceis. Essa vitória
é de todos nós.
Agradeço muito especialmente aos mais de 57 milhões de
brasileiros que me honraram com seu voto.
Aos que não me apoiaram, peço a sua confiança, para
construirmos juntos, um futuro melhor para o nosso País.
A partir de 1.º de janeiro serei o presidente dos 210 milhões
de brasileiros. Governarei em benefício de todos, sem
distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião.
Com humildade, coragem e perseverança e, tendo fé em
Deus, para iluminar minhas decisões, me dedicarei, dia e
noite, ao objetivo que nos une: a construção de um País
próspero, justo, seguro e que ocupe o lugar que lhe cabe
entre as grandes Nações do Mundo.
Esse é o nosso norte. Esse é o nosso compromisso!
Senhoras e Senhores,
Somos uma das maiores democracias do Mundo. Cento e
vinte milhões de brasileiros compareceram ás urnas, de
forma pacífica e ordeira. Respondemos ao dever cívico do
voto, com serenidade e responsabilidade.
Nós, brasileiros, devemos nos orgulhar dessa conquista, em
um momento de profundas incertezas em várias partes do
“globo”, somos um exemplo de que a transformação pelo
voto popular é possível.
Esse processo é irreversível. Nosso compromisso com a
soberania do voto popular é inquebrantável.
Senhoras e Senhores,
Os desejos de mudança foram expressos de forma clara
nas eleições. A população que paz e prosperidade, sem
abdicar dos valores que caracterizam o povo brasileiro.
Nossa gente é trabalhadora, constituída por homens e
mulheres, por mães e pais, que criam seus filhos com o seu
suor e dedicação, tendo todos, a esperança de uma vida
digna.
Gente que não mede esforços para o sustento de seus
familiares.
Gente que precisa de um Governo que garanta condições
adequadas para desenvolver seu potencial, com liberdade e
criatividade.
A construção de uma Nação mais justa e desenvolvida
requer a ruptura com práticas que, historicamente,
retardaram o nosso progresso.
Não mais a Corrupção.
Não mais a Violência.
Não mais as Mentiras.
Não mais a Manipulação Ideológica.
Não a Submissão de nossos destinos a interesses alheios.
Não mais Mediocridade complacente, em detrimento de
nosso desenvolvimento.
Todos nós conhecemos a pauta histórica de reivindicações
da população brasileira: Segurança Pública e Combate ao
Crime, Igualdade de Oportunidade e respeito ao Mérito e ao
Esforço Individual.
Todos nós sabemos disso, mas ainda não conseguimos
oferecer à população o que lhe cabe, por dever do Estado.
Sempre no marco da Constituição Federal, nosso dever é
transformar esses anseios em realidade.
Nossa Obrigação é oferecer um Estado eficiente, que faça
valer a pena, os impostos pagos pelo contribuinte.
Nossa Obrigação é garantir que os brasileiros regressem a
seus lares em segurança, após um dia de trabalho.
Nosso Dever é oferecer condições para que o
empreendedor gere empregos e gere renda ao trabalhador.
Tenho plena consciência dos desafios que se colocam
diante de nós. Sem subestimá-los, trabalharei com afinco
para que, daqui a quatro anos possamos olhar para trás
com orgulho, pelo caminho trilhado, em benefício do nosso
amado Brasil.
Senhoras e Senhores,
Vivenciamos um novo tempo. As eleições de outubro
revelaram uma realidade distinta das práticas do passado:
O Poder Popular não precisa mais de intermediação. As
novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o
eleitor e seus representantes.
Nesse novo ambiente, a crença na liberdade é a melhor
garantia de respeito aos altos ideais, que balizam nossa
Constituição.
Diferenças são inerentes a uma sociedade múltipla e
complexa como a nossa, mas, jamais, devemos nos afastar
dos ideais que nos unem: o amor à Pátria e o compromisso
com a construção de um presente de paz e de um futuro
mais próspero.
Senhora ministra Rosa Weber,
Senhores ministros do TSE,
Senhoras e Senhores,
Que este trabalho coletivo que garantiu a legitimidade do
processo eleitoral seja um exemplo da união em prol do
Brasil. Com o apoio e o engajamento de todos, vamos
resgatar o orgulho de ser brasileiro.
Vamos resgatar o orgulho pelas cores da nossa bandeira e
pela força de nosso hino. Porque temos a certeza de que
este País tem como destino a Prosperidade e a Paz.
O Brasil deve estar acima de tudo.
Que Deus abençoe nosso País e a todos nós brasileiros.
Meu muito obrigado a todos!
A posse na Presidência da República
O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita
poder vir a ser. Se me repetir incessantemente a mim
mesmo que sou incapaz de fazer determinada coisa, é
possível que isso acabe finalmente por se tornar verdade.
Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer, eu acabarei
garantidamente por adquirir a capacidade para fazer, ainda
que não a tenha num primeiro momento.
(Mahatma Gandhi [1869-1948] advogado e especialista em ética política)

Enfim, o dia 1.º de janeiro de 2019, tão esperado por


grande parte da população brasileira, chegava. A
madrugada foi de forte chuva em Brasília, mas a manhã
teve apenas uma leve garoa e, à tarde, durante a posse,
embora houvesse algumas nuvens escuras pairando sobre
o Plano Piloto, não choveu, o sol saiu e o Corpo de
Bombeiros teve até de dar um “banho” de água fria em parte
dos 115 mil brasileiros e brasileiras que acorreram ao
Planalto Central para esta grande festa da Democracia e,
segundo Jair Bolsonaro “do início da libertação do povo
brasileiro do socialismo e do politicamente correto”.
Por volta das 14 horas e 15 minutos, o presidente-
eleito Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro,
saíram em comboio oficial, da Granja do Torto – onde
estavam hospedados -, e se dirigiram até a Catedral
Metropolitana de Brasília, onde já se encontrava o vice-
presidente-eleito, general Antônio Hamilton Martins Mourão
e sua esposa, Paula Mourão.
Antes, porém, Bolsonaro fez um rápido
pronunciamento para as redes sociais:

Boa tarde a todos,


Terça-feira, 1.º de janeiro de 2019, 14 horas.
Daqui a pouco, a nossa posse.
Eu quero, em primeiro lugar, agradecer a Deus por
estar vivo. E, depois, a você, cidadão brasileiro, pelo
apoio e pela confiança em nosso trabalho.
Nós pretendemos, sim, mudar o destino de nosso
Brasil, mas, para tanto, precisamos continuar tendo o
seu imprescindível apoio.
Cidadãos brasileiros,
Até daqui a pouco na nossa posse.
Brasil Acima de Tudo e Deus Acima de Todos!

Rigorosamente no horário, conforme previsto pelo


cerimonial do Palácio do Planalto, teve início o desfile do
cortejo presidencial. Bolsonaro optou pelo carro aberto – o
Rolls-Royce Presidencial -, para fazer o deslocamento da
Catedral até o Congresso Nacional, onde seria empossado
como o 38.º presidente da República Federativa do Brasil.
Bolsonaro queria ficar em contato visual com os
milhares de apoiadores de todo o Brasil, que foram até
Brasília e, por precaução adicional, ele utilizava colete à
prova de balas, o que lhe conferia uma maior tranquilidade
quanto à opção de transporte.
Em um trajeto de cerca de 1.500 metros, o Rolls-
Royce, ladeado por seis agentes da Polícia Federal, e pela
tropa dos Dragões da Independência, levou o casal
Bolsonaro até a rampa da Câmara dos Deputados.

Cortejo em carro aberto da Catedral até o Congresso Nacional


Reprodução

O filho do presidente-eleito, Carlos Bolsonaro, também


foi no carro, fazendo segurança de retaguarda. Perguntado
sobre esta atitude um tanto inusitada, o irmão, Eduardo
Bolsonaro, disse: “o Carlos é o pitbull da família”, o mesmo
que já havia dito o pai em outra oportunidade, se referindo à
obsessiva preocupação do filho ‘02’ em protegê-lo.

A Sessão Solene de Posse, iniciada às 15 horas e


encerrada às 15h42, foi realizada no Plenário da Câmara
dos Deputados e foi presidida pelo presidente do Congresso
Nacional, senador Eunício de Oliveira (MDB-CE), com a
mesa constituída ainda das seguintes autoridades, além do
presidente e vice-presidente eleitos: deputado Rodrigo Maia
(DEM-RJ) - presidente da Câmara dos Deputados -,
deputado Fernando Lúcio Giacobo (PR-PR) e deputado
Fábio Ramalho (PTB-MG) - secretários da Mesa do
Congresso Nacional -, Antônio Dias Toffoli (presidente do
STF) e Raquel Dodge (procuradora-geral da República).
O primeiro ato foi prestar o juramento constitucional –
exigência para se tomar posse no cargo -, que consiste,
tanto para o presidente-eleito, quanto para o vice-
presidente-eleito, proferir o texto-juramento: "Manter,
defender e cumprir a Constituição, observar as leis,
promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união,
a integridade e a independência do Brasil".
Depois de lidos, os termos de posse foram assinados
e ambos foram declarados empossados nos cargos de
presidente e vice-presidente da República.

Discurso de posse de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional


Reprodução
Então, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso
dirigido, especialmente, aos parlamentares presentes, para
quem havia dirigido gracejo antes - ao ser questionado por
um presente que estaria assinando casamento pela demora
e de tantas assinaturas no termo de posse -, de que estava
casando com eles:

Exmo. Presidente do Congresso Nacional, senador


Eunício Oliveira,
Senhoras e senhores chefes de Estado, chefes de
Governo, vice-chefes de Estado e vice-chefes de
Governo, que me honram com suas presenças.
Vice-presidente da República Federativa do Brasil,
Hamilton Mourão, meu contemporâneo de Academia
Militar de Agulhas Negras,
Presidente da Câmara dos Deputados, prezado
amigo e companheiro, deputado Rodrigo Maia,
Ex-presidentes da República Federativa do Brasil,
senhor José Sarney, senhor Fernando Collor de
Mello,
Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro
Dias Toffoli,
Senhoras e senhores ministros de Estado e
comandantes das Forças aqui presentes,
Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge,
Senhoras e senhores governadores, Senhoras e
Senhores senadores e deputados federais,
Senhoras e Senhores chefes de missões estrangeiras
acreditados junto ao governo brasileiro,
Minha querida esposa Michelle, daqui vizinha
Ceilândia,
Meus filhos e familiares aqui presentes [a conheci
aqui na Câmara].
Brasileiros e brasileiras,
Primeiro, quero agradecer a Deus por estar vivo.
Que, pelas mãos de profissionais da Santa Casa de
Juiz de Fora, operaram um verdadeiro milagre,
Obrigado, meu Deus!
Com humildade, volto a esta Casa, onde, por 28
anos, me empenhei em servir à nação brasileira,
travei grandes embates e acumulei experiências e
aprendizados que me deram a oportunidade de
crescer e amadurecer.
Volto a esta Casa, não mais como deputado, mas
como presidente da República Federativa do Brasil,
mandato a mim confiado pela vontade soberana do
povo brasileiro.
Hoje, aqui estou fortalecido, emocionado e
profundamente agradecido a Deus, pela minha vida,
e aos brasileiros, que confiaram a mim a honrosa
missão de governar o Brasil, neste período de
grandes desafios e, ao mesmo tempo, de enorme
esperança. Governar com vocês.
Aproveito este momento solene e convoco cada um
dos Congressistas para me ajudarem na missão de
restaurar e de reerguer nossa Pátria, libertando-a,
definitivamente, do jugo da corrupção, da
criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da
submissão ideológica.
Temos, diante de nós, uma oportunidade única de
reconstruir o nosso País e de resgatar a esperança
dos nossos compatriotas.
Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios,
mas, se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo,
alcançaremos êxito em nossos objetivos, e, pelo
exemplo e pelo trabalho, levaremos as futuras
gerações a nos seguir nesta tarefa gloriosa.
Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as
religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a
ideologia de gênero, conservando nossos valores. O
Brasil voltará a ser um País livre das amarras
ideológicas.
Pretendo partilhar o poder, de forma progressiva,
responsável e consciente, de Brasília para o Brasil;
do Poder Central para Estados e Municípios.
Minha campanha eleitoral atendeu ao chamado das
ruas e forjou o compromisso de colocar o Brasil
acima de tudo e Deus acima de todos.
Por isso, quando os inimigos da Pátria, da ordem e
da liberdade tentaram pôr fim à minha vida, milhões
de brasileiros foram às ruas. Uma campanha eleitoral
transformou-se em um movimento cívico, cobriu-se
de verde e amarelo, tornou-se espontâneo, forte e
indestrutível, e nos trouxe até aqui.
Nada aconteceria sem o esforço e o engajamento de
cada um dos brasileiros que tomaram as ruas para
preservar nossa liberdade e democracia.
Reafirmo meu compromisso de construir uma
sociedade sem discriminação ou divisão.
Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade
soberana daqueles brasileiros: que querem boas
escolas, capazes de preparar seus filhos para o
mercado de trabalho e não para a militância política;
que sonham com a liberdade de ir e vir, sem serem
vitimados pelo crime; que desejam conquistar, pelo
mérito, bons empregos e sustentar com dignidade
suas famílias; que exigem saúde, educação,
infraestrutura e saneamento básico, em respeito aos
direitos e garantias fundamentais da nossa
Constituição.
O Pavilhão Nacional nos remete à “Ordem e ao
Progresso”.
Nenhuma sociedade se desenvolve sem respeitar
esses preceitos.
O cidadão de bem merece dispor de meios para se
defender, respeitando o referendo de 2005, quando
optou, nas urnas, pelo direito à legítima defesa.
Vamos honrar e valorizar aqueles que sacrificam
suas vidas em nome de nossa segurança e da
segurança dos nossos familiares.
Contamos com o apoio do Congresso Nacional para
dar o respaldo jurídico para os policiais realizarem o
seu trabalho.
Eles merecem e devem ser respeitados!
Nossas Forças Armadas terão as condições
necessárias para cumprir sua missão constitucional
de defesa da soberania, do território nacional e das
instituições democráticas, mantendo suas
capacidades dissuasórias para resguardar nossa
soberania e proteger nossas fronteiras.
Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o
tradicional viés político que tornou o Estado
ineficiente e corrupto.
Vamos valorizar o Parlamento, resgatando a
legitimidade e a credibilidade do Congresso Nacional.
Na economia traremos a marca da confiança, do
interesse nacional, do livre mercado e da eficiência.
Confiança no cumprimento de que o governo não
gastará mais do que arrecada e na garantia de que
as regras, os contratos e as propriedades serão
respeitados.
Realizaremos reformas estruturantes, que serão
essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade
das contas públicas, transformando o cenário
econômico e abrindo novas oportunidades.
Precisamos criar um círculo virtuoso para a economia
que traga a confiança necessária para permitir abrir
nossos mercados para o comércio internacional,
estimulando a competição, a produtividade e a
eficácia, sem o viés ideológico.
Nesse processo de recuperação do crescimento, o
setor agropecuário seguirá desempenhando um
papel decisivo, em perfeita harmonia com a
preservação do meio ambiente.
Dessa forma, todo setor produtivo terá um aumento
da eficiência, com menos regulamentação e
burocracia.
Esses desafios, só serão resolvidos mediante um
verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca
de novos caminhos para um novo Brasil.
Uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a
democracia brasileira, trabalhando arduamente para
que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e
distante e passe a ser um componente substancial e
tangível da vida política brasileira, com o respeito ao
Estado Democrático.
A construção de uma nação mais justa e
desenvolvida requer a ruptura com práticas que se
mostram nefastas para todos nós, maculando a
classe política e atrasando o progresso.
A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética,
moral e econômica de nossa história.
Hoje começamos um trabalho árduo para que o Brasil
inicie um novo capítulo de sua história.
Um capítulo no qual o Brasil será visto como um País
forte, pujante, confiante e ousado.
A política externa retomará o seu papel na defesa da
soberania, na construção da grandeza e no fomento
ao desenvolvimento do Brasil.
Senhoras e senhores Congressistas,
Deixo esta casa, rumo ao Palácio do Planalto, com a
missão de representar o povo brasileiro.
Com a benção de Deus, o apoio da minha família e a
força do povo brasileiro, trabalharei incansavelmente
para que o Brasil se encontre com o seu destino e se
torne a grande nação que todos queremos.
Muito obrigado a todos vocês.
Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi


ao Twitter e enviou a seguinte mensagem para Bolsonaro:
- Parabéns ao presidente Jair Bolsonaro, que acabou
de fazer um grande discurso de posse. Os Estados Unidos
estão com você!
A resposta veio logo em seguida:
- Senhor Presidente Trump, agradeço suas palavras
de apoio. Juntos, sob a proteção de Deus, traremos mais
prosperidade e progresso para nossos povos!
Depois de permanecer por um bom tempo no
Gabinete da Presidência do Senado Federal, para
descansar um pouco e conversar com algumas autoridades
presentes à posse, às 16h35, o presidente Jair Bolsonaro e
seu vice, general Hamilton Mourão, foram conduzidos pelo
presidente do Senado e pelo presidente da Câmara dos
Deputados até a saída do Congresso Nacional.
Em seguida, houve a execução do Hino Nacional
Brasileiro, pela Banda dos Fuzileiros Navais, seguida da
salva de 21 tiros de canhão e sobrevoo, sobre a Praça dos
Três Poderes, de seis aviões da Esquadrilha da Fumaça.
O presidente da República, Jair Bolsonaro passou as
tropas (Marinha, Aeronáutica e Exército) em revista,
acompanhado do comandante do Batalhão da Guarda
Presidencial (“Batalhão Duque de Caxias”), o tenente-
coronel Pedro Aires Pereira Júnior, empossado no cargo no
dia 14 de dezembro de 2018.
Terminada esta fase do cerimonial, Bolsonaro e
Michelle entraram novamente no carro aberto e foram
conduzidos até o Palácio do Planalto, onde, juntamente com
o vice-presidente, general Hamilton Mourão e sua esposa,
subiram a rampa e foram recebidos pelo ex-presidente
Michel Temer e sua esposa Marcela Temer.
Conduzidos até o Parlatório, Michel Temer entregou a
faixa presidencial a Jair Bolsonaro, ato que representa
apenas a transferência do cargo, já que a posse oficial
aconteceu, antes, no Congresso Nacional.
O Cerimonial do Palácio do Planalto então revelou
uma surpresa guardada a sete chaves, em meio a tantos
atos ensaiados e cronometrados. Antes que o presidente
Jair Bolsonaro fizesse seu discurso para o público, foi
anunciado um discurso, feito na Linguagem Brasileira de
Sinais (Libras) pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, com
interpretação oral simultânea.
Aqui vale uma ressalva: a maioria dos jornalistas,
acostumada a sempre ver acontecer o contrário, ou seja,
uma pessoa fala e outra interpreta com sinais, divulgou que
a intérprete lia o que, não é verdade absoluta, pois quem lia
e transmitia ao público através de sinais era a primeira-
dama Michelle e a intérprete recorria ao que estava escrito
como suporte para sua interpretação, mas estava em
perfeita sincronia com o discurso em Libras.
O uso de duplo recurso para transmitir, de forma oral,
o discurso, com certeza foi feito para dar objetividade e
fidelidade ao que a primeira-dama queria transmitir aos
brasileiros. As duas acabaram se emocionando com o
discurso e com a reação positiva do público presente na
Praça dos Três Poderes.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro discursa em Libras no


Parlatório - Reprodução

Leia o que Michelle Bolsonaro disse em linguagem de


sinais em seu discurso:
Boa tarde a todos,
É uma grande honra e uma grande alegria está aqui
neste momento tão especial e importante para o
nosso país.
Momento de agradecer a todos vocês, brasileiros e
brasileiras, crianças, jovens, idosos, por todo o apoio
e pelo carinho desde o início da nossa campanha.
Agradeço muito, também a todos aqueles que
demonstraram sua solidariedade durante os
momentos difíceis, pelos quais o meu esposo passou
recentemente.
Muita gratidão a Deus, a minha família e a meus
amigos. Em especial, quero agradecer ao meu
enteado Carlos, por toda a ajuda e parceria durante
os 23 dias que passamos dentro do hospital, em São
Paulo.
Agradeço ainda a população brasileira pelas orações
que nos deram tanta coragem para seguir adiante.
Agradeço a Deus essa grande oportunidade de
ajudar as pessoas que mais precisam; trabalho de
ajuda ao próximo que sempre fez parte da minha vida
e que, a partir de agora, como primeira-dama, posso
ampliar ainda de maneira mais significativa. [O
público vibra].
É uma grande satisfação, um privilégio poder
contribuir e trabalhar para toda a sociedade brasileira.
As eleições deram voz a quem não era ouvido e a
voz das urnas foi clara: o cidadão brasileiro quer
segurança, paz e prosperidade. Um país em que
sejamos todos respeitados.
Gostaria de modo muito especial, de dirigir-me à
comunidade surda, as pessoas com deficiência e a
todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês
serão valorizados e terão seus direitos respeitados.
[a intérprete fica com a voz embargada e chora].
Tenho este chamado no meu coração e desejo
contribuir na promoção do ser humano.
Agradeço aos intérpretes de Libras do Brasil, que tem
feito um trabalho de inclusão tão importante.
Em especial, agradeço ao meu amado esposo, o
nosso presidente [aponta para ele, enquanto o
público vai ao delírio], para quem peço o apoio de
todos vocês.
[O pública grita em coro: “beija, beija, beija”. Michelle
não se faz de rogada e beija o presidente. O público
continua pedindo e ela repete o beijo e então, dirige
seu discurso para o encerramento].
Estamos todos de um lado só. Juntos, alcançaremos
o Brasil próspero, com amor, ordem, progresso, paz,
educação e liberdade para todos.
Brasil Acima de Tudo e Deus Acima de Todos!
Muito obrigada.
Deus Abençoe!
O discurso inusitado e emocionante da primeira-dama,
Michelle Bolsonaro, fez a maioria dos jornalistas que
cobriam a posse ficar mudos, pela surpresa e pela falta de
alinhamento político.
Poucos se manifestaram positivamente, mas
preferiram, infelizmente, falar que Michelle Bolsonaro
“quebrou o protocolo”, como se sua fala tivesse sido um
gesto inoportuno, quando, na verdade, era parte do
Cerimonial e somente não foi divulgado, com antecedência,
para ser, justamente, uma surpresa.
Entretanto, um elogio público de peso foi dado pelo
ministro do STF, Marco Aurélio Mello, que elogiou à Sônia
Racy, do Estadão, o gesto da primeira-dama, Michelle
Bolsonaro, de ter discursado em Libras. Ele considerou este
fato “o ponto alto da posse e um gesto de humanidade”.
O diário argentino Clarín publicou um perfil da
primeira-dama, Michelle Bolsonaro. No artigo, ela é descrita
como discreta, "com fortes convicções religiosas e
comprometida com a causa social". Segundo o jornal,
embora ela tenha se mantido discreta, Michelle parece estar
disposta a atender ao "maior número possível de programas
sociais do governo". Entre as principais características da
primeira dama, afirma o periódico argentino, estão a
humildade e "a vocação para estender a mão ao próximo",
conforme diz ter ouvido de pessoas próximas à sua família.
Em seguida à fala de Michelle, usou a palavra o
presidente Jair Bolsonaro, que reafirmou tudo que pregou
em sua campanha eleitoral:
O presidente da República Jair Bolsonaro discursa no Parlatório
Reprodução

Amigas e amigos de todo o Brasil,


É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês
como Presidente do Brasil.
E me coloco diante de toda a Nação, neste dia, como
o dia em que o povo começou a se libertar do
socialismo, da inversão de valores, do gigantismo
estatal e do politicamente correto.
As eleições deram voz a quem não era ouvido.
E a voz das ruas e das urnas foi muito clara.
E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me
comprometer com esse desejo de mudança.
Também estou aqui para renovar nossas esperanças
e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança
será possível.
Respeitando os princípios do estado democrático de
direito, guiados por nossa Constituição e com Deus
no coração, a partir de hoje, vamos colocar em
prática o projeto que a maioria do povo brasileiro
democraticamente escolheu, vamos promover as
transformações de que o país precisa.
Temos recursos minerais abundantes, terras férteis
abençoadas por Deus e um povo maravilhoso.
Temos uma grande nação para reconstruir e isso
faremos juntos.
Os primeiros passos já foram dados.
Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais
barata da história.
Graças a vocês, conseguimos montar um governo
sem conchavos ou acertos políticos, formamos um
time de ministros técnicos e capazes para transformar
nosso Brasil. Mas ainda há muitos desafios pela
frente.
Não podemos deixar que ideologias nefastas venham
a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem
nossos valores e tradições destroem nossas famílias,
alicerce da nossa sociedade. E convido a todos para
iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos -
eu, você e as nossas famílias -, todos juntos,
reestabelecer padrões éticos e morais que
transformarão nosso Brasil.
A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam
acabar. Os favores politizados, partidarizados devem
ficar no passado, para que o Governo e a economia
sirvam de verdade a toda Nação.
Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir
de agora tem um propósito comum e inegociável: os
interesses dos brasileiros em primeiro lugar.
O brasileiro pode e deve sonhar. Sonhar com uma
vida melhor, com melhores condições para usufruir
do fruto do seu trabalho pela meritocracia. E ao
governo cabe ser honesto e eficiente.
Apoiando e pavimentando o caminho que nos levará
a um futuro melhor, ao invés de criar pedágios e
barreiras.
Com este propósito iniciamos nossa caminhada. E
com este espírito e determinação que toda equipe de
governo assume no dia de hoje.
Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da
crise econômica, do desemprego recorde, da
ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento
dos direitos humanos, e da desconstrução da família.
Vamos propor e implementar as reformas
necessárias. Vamos ampliar infraestruturas,
desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o
peso do Governo sobre quem trabalha e quem
produz.
Também é urgente acabar com a ideologia que
defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o
Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do
poder do crime organizado, que tira vidas de
inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a
todos os lugares.
Nossa preocupação será com a segurança das
pessoas de bem e a garantia do direito de
propriedade e da legítima defesa, e o nosso
compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho
de todas as forças de segurança.
Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação
básica, que é a que realmente transforma o presente
e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a
desigualdade social.
Temos que nos espelhar em nações que são
exemplos para o mundo e que por meio da educação
encontraram o caminho da prosperidade.
Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações
internacionais.
Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e
os brasileiros!
Por muito tempo, o país foi governado atendendo a
interesses partidários que não o dos brasileiros.
Vamos restabelecer a ordem neste país.
Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e
dos desafios que vamos enfrentar. Mas sabemos
aonde queremos chegar e do potencial que o nosso
Brasil tem. Por isso vamos dia e noite perseguir o
objetivo de tornar o nosso país um lugar próspero e
seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores
nações do planeta.
Podem contar com toda a minha dedicação para
construir o Brasil dos nossos sonhos.
Agradeço a Deus por estar vivo e a vocês que oraram
por mim e por minha saúde nos momentos mais
difíceis.
Peço ao bom Deus que nos dê sabedoria para
conduzir a nação
Que Deus abençoe esta grande nação.
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Terminado seu discurso, Jair Bolsonaro e Michelle,


juntamente com o general Hamilton Mourão e sua esposa,
Paula Mourão, se dirigiram ao salão principal do Palácio do
Planalto, onde receberam os cumprimentos de chefes de
Estados e representantes diplomáticos para, em seguida,
dar posse oficial aos 22 ministros de Estado escolhidos por
ele para compor o seu primeiro escalão.
Como de praxe, o ministro da Justiça foi o primeiro a
ser empossado, como forma de dar legalidade à posse dos
demais colegas de Ministério. Assim, o ex-juiz Sérgio Moro
tomou posse no cargo de ministro da Justiça e da
Segurança Pública, com enormes desafios pela frente.
Ele foi imensamente aplaudido por todos os presentes
no salão, bem como os milhares de apoiadores de Jair
Bolsonaro que assistiam pelos telões instalados na Praça
dos Três Poderes.
Ressalte-se que o juiz Sérgio Moro foi escolhido para
este cargo, um ano antes de Jair Bolsonaro ser eleito
presidente da República, pelo clamor popular que veio de
milhões de apoiadores do capitão-presidente, que têm a
expectativa de vem em sua atuação ministerial, o combate
ferrenho à corrupção e a violência.
Como último evento programado para a Posse
Presidencial foi servido um coquetel para os convidados no
Palácio do Itamaraty (Sede do Ministério das Relações
Exteriores), tendo os mesmos sido recepcionados pelo
presidente Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro e o anfitrião,
ministro Ernesto Araújo e sua esposa, a embaixatriz Maria
Eduarda de Seixas Correia Araújo.
O destaque entre os convidados foi o primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, recebido por centenas de
apoiadores de Bolsonaro, que estavam em frente ao Palácio
do Itamaraty, aos gritos de “Bibi, Bibi, Bibi,...” e depois
“Israel, Israel, Israel,...” tendo ele subido na lateral do carro
que o transportou para responder ao carinho dos brasileiros
que o saudaram tão euforicamente.

O cardápio, servido aos convidados foi ao estilo


“Comida de Buteco”, tendo sido oferecido: bolinho de
bacalhau, carne louca, bolinho de carne, escondidinho,
massas e batatinhas recheadas. Para beber havia
caipirinha, vinhos tinto e branco, todos nacionais,
espumante Casa Valduga e cerveja.
Não foram vistos muitos empresários no coquetel nem
na posse de Jair Bolsonaro, já que o presidente sempre
pregou uma relação estritamente republicana com os
homens do capital, embora tenha previsto, em seu
programa de governo, ações prioritárias voltadas para
desburocratizar o Estado e apoiar o setor produtivo.

Jair Bolsonaro e Michelle, Ernesto Araújo e Maria Eduarda


Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro ficou todo o tempo do


coquetel em uma sala isolada com seus familiares e poucas
pessoas tiveram acesso a ele, tendo ele deixado a tarefa de
se interagir com os convidados no salão de festas, para seu
vice-presidente e ministros de Estados.
Uma das exceções foi o primeiro-ministro de Israel,
com quem Bolsonaro teve um encontro mais demorado.
Outras pessoas foram autorizadas a conversar com ele,
mas com tempo restrito, devido à sua ainda delicada saúde
e o cansaço natural, por um dia inteiro de muito movimento
e stress.
O coquetel foi encerrado por volta das 22 horas, com
ainda um bom tempo para dormir e descansar, para um
primeiro dia de muito trabalho, reuniões, transmissão de
cargos de ministros e encontros com autoridades
estrangeiras.
Dia 2 de janeiro começou cedo e com muita
atividade...
Bolsonaro não tinha obrigação, nem tempo disponível
para participar das transmissões de cargo nos Ministérios e
até mesmo, porque, em alguns casos aconteciam ao
mesmo tempo.
Mas ele foi à transmissão de cargo no Ministério da
Defesa, com a posse do general Fernando Azevedo e Silva,
o que ele, muito antes de ser criado pelo Governo FHC,
defendia, com veemência em seus discursos na Câmara.
Porém, ao projeto enviado para a Câmara dos Deputados
em 1999, Bolsonaro votou contra, por acreditar que se
tratava de uma iniciativa meramente política.

Momento de reverência à presença do presidente da República


Reprodução

Foi uma das cerimônias de transmissão de cargo


ministerial das mais concorridas da Esplanada. Além da
presença do presidente Jair Bolsonaro estava presente o
vice-presidente, general Hamilton Mourão, os ministros do
GSI, general Augusto Heleno, da Secretaria-Geral da
Presidência, Gustavo Bebianno e do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, todos os comandantes das
Forças Armadas, incluindo o comandante do Exército,
general Villas Bôas, o presidente do STF, ministro Antônio
Dias Toffoli, a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge e muitos outros.
O presidente da República, depois de breves e
carinhosas palavras com o ex-comandante do Exército,
Villas Bôas, proferiu algumas palavras:

Não precisa falar, mas, hierarquia, disciplina e


respeito é que farão do Brasil uma grande Nação. [se
referindo à atenção dispensada ao ex-comandante do
Exército, a quem bateu continência].
Meu muito obrigado comandante Villas Bôas. O que
já conversamos morrerá entre nós, mas o Senhor é
um dos responsáveis por eu estar aqui. Muito
obrigado, mais uma vez. [Palmas]
Autoridades [presentes], me permitam não nominá-
las, para ser o mais breve possível, muito obrigado
pela presença. Em especial, a Dias Toffoli, presidente
do Supremo Tribunal Federal e a Senhora Raquel
Dodge, do MP.
Um breve histórico, já que falamos sobre Defesa. Fui
amigo do Senhor Leônidas Pires Gonçalves, então
ministro do Exército, a partir de 2002. Muito
conversava com ele, inclusive em sua residência. E
ele me reportava sempre, nos contatos que teve com
o ex-presidente da República José Sarney. Em um
dado momento, numa Sessão Solene no Senado,
usei da palavra – já que era uma sessão conjunta -, e
reportei este fato saudando José Sarney que, sempre
que findava o ano, ele arranjava uma maneira de
conseguir recursos extras para contemplar as Forças
Armadas com o equivalente a 1 bilhão de dólares. E,
diga-se de passagem, não havia contingenciamento
naquele tempo. Com o Sarney também tivemos o
13.º salário.
Depois tivemos o senhor Fernando Collor de Mello.
Eu não posso deixar de citar, a Lei Delegada n.º 12,
onde Vossa Excia. conseguiu e, por intermédio dela,
reestruturou a nossa carreira criando a Gratificação
de Atividade Militar. Muito obrigado pelo
reconhecimento.
Depois tivemos o senhor Itamar Franco onde, no
meio de seu mandato, nós tivemos uma dita Isonomia
Salarial. Durou pouco tempo, mas foi bem-vinda.
Depois, tivemos o outro governo e os senhores
sabem qual foi. [ridos]. Tivemos alguns problemas,
em especial comigo, mas prosseguimos a nossa
jornada.
Criou-se em 99, o Ministério da Defesa. Apenas três
deputados votaram contra a criação do Ministério da
Defesa. No entendimento de um deles, que era eu, é
que ele não estava vindo por uma necessidade
militar, mas sim, por imposição política. E tudo se
transformaria numa insana incerteza, a partir daquele
momento. E, obviamente, no que pese alguns bons
ministros civis que tivemos, prezado Raul Jungmann,
como regra, nós fomos um tanto quanto esquecidos.
E esquecidos, por quê? Porque as Forças Armadas,
senhor ministro Toffoli, senhora Raquel Dodge, são,
na verdade, um obstáculo para aqueles que querem
usurpar do Poder.
Temos como herança deste governo que citei agora a
pouco, a Medida Provisória 2215 [Remuneração dos
Militares] que esperamos, prezado ministro Fernando,
não deixá-la completar 19 anos.
O tempo passou e as Forças Armadas sofreram um
brutal desgaste perante a classe política, mas não,
junto ao povo brasileiro, que continua acreditando em
nós. [Palmas].
E as Forças Armadas sempre refutaram a citação de
Sociedade Civil, porque somos uma sociedade só. E,
hoje em dia, a situação a que o Brasil chegou, a
situação comigo aqui [na Presidência da República] é
uma prova inconteste de que o povo, em sua grande
maioria, quer hierarquia, quer respeito, quer ordem e
quer progresso.
E, todo aquele nosso trabalho [pregação] ao longo de
quatro anos, quando comecei a andar pelo Brasil
sozinho, buscando viabilizar a possibilidade de uma
eleição, eu cumpri, escolhendo ministros técnicos
para suas respectivas áreas, e a Defesa não podia
fugir à regra. Obviamente, Temer se antecipou e
escolheu um bom ministro da Defesa, assim como,
poderíamos ter aqui, dezenas de bons na Defesa,
como dezenas de bons presidentes da República.
E a grande verdade que fica em toda esta história:
nós queremos o bem para o Brasil. [palmas]. Mais do
que defender a Pátria, o que nós queremos é fazer
esta Pátria grande. E só faremos isto, se tivermos do
nosso lado uma boa equipe, onde todos conversem
entre si, onde não haja a ingerência político-partidária
que, lamentavelmente, como ocorreu nos últimos 20
anos, levou à ineficácia o Estado e a nossa triste
corrupção.
Mas o momento hoje é para saudar a chegada de um
sangue novo na Defesa, o general Fernando, meu
colega, contemporâneo de Academia Militar das
Agulhas Negras que pega a Defesa, mais do que
arrumada pelo Silva e Luna, um excelente nome que
eu pretendo, se for interesse dele, aproveitar em
nosso Governo. Ele não vai botar o pijama não.
Tenho certeza disto. [Palmas. O general Silva e Luna
se levanta e bate continência para o presidente].
Se eu estou aqui é porque acredito nos senhores e
nas senhoras. E, se os senhores e as senhoras estão
aqui é porque acreditam no Brasil.
E uma prova inconteste do valor das Forças Armadas
foi quando escolhi, pois a decisão foi pessoal e
minha. Certo, Gustavo Bebianno? Pessoal e minha,
mas, obviamente, ouvi meus colegas, mas a decisão
final só poderia ser minha. E escolhi, honrosamente,
para ocupar o cargo de vice-presidente da República,
um general do Exército Brasileiro. [Palmas. O
presidente acena ao vice com rápida continência,
gesto simultâneo do vice-presidente].
A continência tem de ser simultânea, porque eu digo
pra ele, que não sou mais capitão, nem ele é general;
nós somos soldados do Brasil. [Palmas animadas].
Prezado general Fernando, se Vossa Excelência está
feliz e honrosa com este convite, muito mais eu estou
por V. Excia tê-lo aceitado.
Não existe local deste Brasil, nessa imensidão de 8
milhões e meio de quilômetros quadrados onde não
esteja presente as nossas Forças Armadas ou, se
fizer necessário, ela esteja presente neste recanto e
este Brasil é nosso, juntamente com os demais
Poderes – Legislativo e Judiciário, bem representado
aqui pelo senhor Dias Toffoli – faremos, sim, do
Brasil, uma Grande Nação.
Fernando, bem-vindo, o meu muito obrigado e tenho
certeza que ganha, não as Forças Armadas apenas,
mas o Brasil, com a sua presença à frente da Defesa.
Muito obrigado a todos.
[Palmas e cumprimentos. Seguem honras militares
protocolares ao presidente da República, que deixa o
recinto sob muita segurança].
O ex-comandante do Exército, general Villas Bôas, se
emocionou quando o presidente agradeceu de público o
papel que ele desempenhou em sua caminhada ao Palácio
do Planalto.66
O mesmo aconteceu com o ex-presidente Fernando
Collor de Mello, ao ser citado pelo presidente Jair
Bolsonaro, agradecendo-o pelo bônus aos militares em seu
governo. O presidente falou de seu governo, mas não citou
o nome de FHC, de quem nunca escondeu a sua antipatia e
revolta por ações tomadas em seus dois mandatos
presidenciais.

66 Embora o presidente Jair Bolsonaro não tenha explicitado sobre o que

ele agradecia ao general Villas Bôas, posteriormente, o oficial Robinson


Farinazzo Casal, gerente de Projetos da Marinha do Brasil disse em seu
canal no Youtube, que o motivo teria sido o comandante do Exército,
general Villas Bôas, ter tomado posicionamento contrário à consulta feita
pela presidente Dilma Rousseff em implantar o Estado de Defesa no
Brasil quando o Congresso Nacional iniciou processo de seu
Impeachment, tendo assim, atuado como fiel da balança em defesa da
democracia.
Considerações Finais
Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se
transformará em cérebro de altas decisões nacionais, lanço
os olhos, mais uma vez, sobre o amanhã do meu país e
antevejo esta alvorada com fé inquebrantável em seu
grande destino.
(Juscelino Kubitscheck de Oliveira – 21º presidente da República
Federativa do Brasil)

No discurso que proferiu por ocasião do lançamento


da pedra fundamental para a construção de Brasília, no dia
2 de outubro de 1956, o presidente da República, Juscelino
Kubitscheck de Oliveira, deu a dimensão do explendor que
se esperava para o futuro do Brasil.
A epígrafe acima - parte integrante do discurso de
Juscelino - foi cunhada pelo poeta modernista e assessor
especial internacional da Presidência da República, Augusto
Frederico Schmidt - botafoguense como Bolsonaro –, e que
passou a emoldurar a parede dourada do Hall de Entrada do
Palácio da Alvorada.
Dava-se assim, em 1956, a partida para a construção
da nova Capital Federal, que foi prevista na primeira
Constituição da República, a de 1891, embora já se falasse
nesta possibilidade desde 1822. Portanto, era um sonho
antigo, a interiorização da administração pública federal.
Depois de conviverem por algum tempo na capital em
construção e morando no Catetinho, Vinicius de Moraes
(texto) e Antônio Carlos Jobim (música), em 1961,
apresentaram a belíssima obra sinfônica “Brasília, Sinfonia
da alvorada”.
Em seu primeiro ato, ela retrata o Planalto Central
ainda intocado, com o “cerrado ermo”, “os mansos rios
inocentes” e “um infinito descampado” que, segundo
Vinicius, constituíam apenas “antigas solidões sem mágoa”.
O “poetinha”, chamado assim carinhosamente pelo
seu parceiro de jornada, deu o tom do que se esperava para
a nova capital que surgia pelos belos traços de Lúcio Costa
e pela arquitetura impar de Oscar Niemeyer, no terceiro ato
da bela sinfonia, que ele titulou de “A chegada dos
candangos”:

Tratava-se agora de construir: e construir um ritmo novo.


Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas
da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar
e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo,
um novo Tempo. E, à grande convocação que conclamava
o povo para a gigantesca tarefa, começaram a chegar de
todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os
homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro
e mãos de pedra, e que, no calcanhar, em carro de boi, em
lombo de burro, em paus de arara, por todas as formas
possíveis e imagináveis, começaram a chegar de todos os
lados da imensa pátria, sobretudo do Norte; foram
chegando do Grande Norte, do Meio Norte e do Nordeste,
em sua simples e áspera doçura; foram chegando em
grandes levas do Grande Leste, da Zona da Mata, do
Centro-Oeste e do Grande Sul; foram chegando em sua
mudez cheia de esperança, muitas vezes deixando para
trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de
melhores dias; foram chegando de tantos povoados, tantas
cidades cujos nomes pareciam cantar saudades aos seus
ouvidos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria (...).

Vinícius de Moraes, ao descrever a lírica chegada de


mais de 60 mil candangos, ávidos por “ganhar a vida” na
árdua labura que envolvia a construção da nova capital
federal, para depois voltarem felizes para o reencontro de
famílias, asseverou: “A sorte está lançada e a ação é
irreversível”.
Passados 60 anos da inauguração do Palácio da
Alvorada – o primeiro edifício a ficar pronto em Brasília -, o
presidente Jair Messias Bolsonaro e sua família passaram a
ocupá-lo como residência oficial, o que não fez o presidente
que o antecedeu no cargo – Michel Temer, e terá a
oportunidade de sempre poder ler as palavras inspiradoras
de Juscelino Kubitscheck e dar forma a elas, tomando altas
decisões que possam conduzir o Brasil ao encontro de seu
destino, tão alvissareiramente projetado, quando Bolsonaro
apenas engatinhava.
E o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de
Segurança Institucional deu o tom ao trabalho a ser
desenvolvido nestes quatro anos, ao elencar o tripé em que
assentaria o governo: transparência, honestidade e
austeridade.
O que todos esperam, a partir de então é uma virada
de página em tantos dramas e sofrimentos advindos de uma
das maiores crises políticas vivenciada no Brasil, que
acabou provocando uma enorme crise econômica e o
aumento do desemprego, pela retração dos investimentos.
A missão é recuperar o país, devastado que foi por 16
anos de desgoverno de petistas e emedebistas, que
promoveram o maior assalto jamais visto aos cofres
públicos brasileiros, ao lado de outros partidos aliados
criminosamente, que aproveitaram do tal “governo de
coalisão” para assaltar os cofres públicos.
Nunca havíamos tido no Brasil uma eleição, com
tantas pessoas discutindo política e, em sua grande maioria,
formada por jovens, o que dá ainda mais esperança em um
futuro melhor, porque estão sendo forjados cidadãos e isto
poderá refletir em um governo Bolsonaro, que conte com o
apoio de milhões de pessoas para implementar seu projeto
de Brasil e também será cobrado por outro batalhão de
pessoas, inclusive de seus eleitores, para que o governo
atue em sintonia com os anseios de nossas crianças e
jovens, que precisam de uma educação de qualidade, de
perspectiva de emprego e oportunidade de empreender e
ajudar o país a superar seus problemas internos, no que
tange a uma melhor distribuição de renda e o combate à
pobreza, à violência e a discriminação de toda espécie.
Jair Bolsonaro foi enfático em seu discurso de posse
ao afirmar que somos um grande país e agora vamos
juntos, transformar esse país em uma grande nação, uma
nação livre, democrática e próspera. E é isto, que todos
esperam.
Não será tarefa fácil. O Brasil acumulou vícios
centenários e que precisam ser extirpados, para que se
permita um novo recomeço. Os privilégios de determinadas
categorias, notadamente aquelas atreladas ou associadas à
classe política, precisam ser revistas e/ou extintas.
Não é possível mais conviver com o toma-lá-dá-cá que
os políticos de Brasília insistem em manter para cumprir
atos de ofício. Os deputados federais e os senadores da
República não estão em Brasília para enriquecerem e
exigirem benesses em troca de votos que darão a projetos
do governo. Eles são eleitos para legislar em prol do Brasil e
não em causa própria, como a maioria tem feito até então.
Claro, uma parte dos corruptos foi afastada do
Congresso Nacional nas eleições de 2018, mas isto, por si
só, não é garantia de nada, pois outros novos entram e, se
não houver rigor na fiscalização e na cobrança de seus atos,
a coisa volta a descambar, além do que, muito corrupto
permanecerá em Brasília, ou porque concorreu a um cargo
de deputado em vez de tentar a reeleição ao Senado ou
porque ainda conseguiram manter fiéis seus currais
eleitorais em rincões pobres do Nordeste brasileiro.
Além disso, haverá a ala que será oposição por ser
oposição, sem qualquer compromisso com o Brasil e que
estará de olho no pleito de 2022, pouco se importando com
o Brasil de agora e com o futuro dos brasileiros, não se
importando também se os projetos encaminhados ao
Congresso Nacional serão bons ou não para o país.
Portanto, o novo governo deverá manter viva a chama
da juventude que tanto trabalhou para elegê-lo e demonstrar
aos brasileiros, que é possível governar sem desviar verbas,
sem cobrar propinas, sem conchavos com empresários e
políticos, sem o toma-lá-dá-cá vergonhoso que foi a marca
dos últimos anos.
E ao presidente da República, Jair Messias Bolsonaro,
a quem este livro é dedicado, relembramos uma máxima
atribuída a Chico Xavier: “Você não pode voltar atrás e fazer
um novo começo, mas você pode começar agora e fazer um
novo fim”.
Os erros são inerentes ao ser humano e a correção
dos mesmos, também.
Esperamos que o Governo Bolsonaro represente tudo
que seus milhões de eleitores anseiam e que consiga deixar
no passado seus anos de polêmicas para unir o país,
sepultando o divisionismo acumulado em décadas.
E que Deus seja, mais do que nunca, um brasileiro!

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