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Universidade de Brasília - UnB

Instituto de Ciências Sociais - ICS


Departamento de Antropologia - DAN
Introdução à Antropologia – Prof. a. Lígia Fonseca
Discente: Matheus Henrique Ferreira Soares | 190035307

Fichamento do texto “ O sexo dos anjos: um olhar sobre a anatomia e a produção do sexo
(como se fosse) natural”, de Paula Sandrine Machado.

O texto em sua natureza, parte da análise de jovens intersex sob uma perspectiva médica e
social, levantando questionamentos sobre fatores culturais e anatômicos acerca do sexo, suas
respectivas construções sociais e determinações normativas.

Em primeira instância, há a análise do “hermafroditismo” em suas raízes mitológicas e


antigas: “De acordo com Anne Fausto-Starling, a palavra Hermafrodita surgiu na Grécia,
representando uma combinação dos nomes de dois deuses: Hermes (o filho de Zeus) e
Afrodite (deusa da beleza e do amor sexual). Um dos mitos de origem do primeiro
hermafrodita, conforme aponta a autora, sugere que Hermes e Afrodite tiveram um filho de
beleza estonteante, de tal forma que teria despertado a paixão de uma ninfa. A ninfa, tomada
por seus sentimentos, colou-se ao corpo de Hermaphroditos, e os dois tornaram-se um.”
(MACHADO, 2005, p. 251). As discussões ao redor do “hermafroditismo’ são diversas, e por
uns, como Focault, considerado uma aberração.

A androginia, na contemporaneidade, é cerceada por várias discussões, como a cirurgia em


pessoas nascidas com ambas as genitálias, estados intersexuais, e vários “níveis” de
hermafroditismo. Pensando em tal movimento, devem-se considerar, assim, as transformações
desta condição ao longo do tempo. O que era considerado monstruoso no século XIX, passa a
ser uma questão médica no século XX e início do século XXI, questão essa, envolta de pontos
anatômicos, visíveis, invisíveis e o pensar do que define ser homem ou ser mulher (sexo).
No que se trata de definir o que é sexo, o gênero sempre está presente em tal determinação,
conceituação esta, relativa e dependente do olhar de quem analisa. No que aborda a questão
das visibilidades e invisibilidades do sexo, são salientados fatores sociais e anatômicos, em
conjunto com a família de crianças intersex e com a medicina. Tais eixos, são utilizados no
artigo e objeto de pesquisa da autora.

John Money, foi um sexologista conhecido no que tange à questão da cirurgia precoce em
crianças nascidas em estado intersex, principalmente no caso de David Reimer, que num
processo de circuncisão teria tido seu pênis severamente queimado. Money, sugeriu a
reconstrução e “reformulação” do sexo da criança para se transformar em uma menina.
Porém, a medicina se demonstrava incapaz de fazer “genitais perfeitos”, deixando insatisfação
nos operados, tanto que David, com 38 anos de idade, cometeu suicídio, depois de várias
cirurgias de “correção”. John Money, dividia o sexo em “sexo biológico e sexo psíquico”, e
para ele a “socialização inequívoca” é o processo que direciona o sexo, que o sexo biológico
deveria estar em conformidade com o sexo psíquico e que a “identidade sexual adequada”
estaria ancorada na anatomia.

Ainda mais, surgem posições em defesa à um “terceiro sexo”, desconstruindo a binariedade,


posição esta, assumida por Herdt, que coloca como fundamento uma construção histórico-
cultural para considerar a existência destes “sexos a mais”, construção esta presente na
binariedade e dicotomias sexuais.

No âmbito médico, o olhar e a visibilidade são fatores importantes no questionamento


constante do que é sexo, o que o define e o que o forma. Tanto que há uma preocupação
estética e cosmética nos resultados cirúrgicos, no que se fala de forma, tamanho, terminação
do trajeto urinário e uso (pênis a penetrar e vagina a ser penetrada), partes estas que compõem
a normalidade e exatidão médica pós-cirúrgica. O diagnóstico sexual da medicina (legitimada
a classificá-lo) se expressa de forma diferente pelas famílias das crianças intersex, pois muitas
delas, já diagnosticam o sexo da criança, mesmo não tendo “legitimação” para tal feito. A
prática médica, por conseguinte, também tem tendências classificatórias, que por sua vez,
nunca fogem totalmente das dicotomias sexuais e binárias, como o termo falus para se referir
ao limiar de um pênis e vagina, porém que traduzido ao latim, ainda significa “pênis”.
Voltando aos “Intersex”, revela-se então um terceiro gênero, o qual foge da “normalidade”
binária, não se encaixando em ser homem nem mulher, assumindo uma posição “fora do
lugar”, variação, considerada como não natural pelo olhar médico. Outro fator, são as
conceituações de normalidade, uma vez que um corpo só “entraria na norma e naturalidade”
quando fosse “visível” algum sexo (de acordo com a concepção médica), “natural” este que
acaba por expressar “ideal”, colocando os corpos intersexuais em posições de anormalidade.
Sem contar outras inúmeras partes em definições sobre “o que é” ter um corpo feminino e ter
um corpo masculino, questão abordada de forma a considerar as funcionalidades biológicas
de respectivos corpos, assim como expectativas de feminilidade e masculinidade.

Do ponto de vista médico, o sexo é definido pelos genitais, aspectos genéticos, gonadais e
hormonais (invisibilidade). Porém sob uma perspectiva social é expressa pela visibilidade:
traços físicos e anatomia, não somente genitais. E aqui está a questão do olhar dos médicos e
da família, pois além de desempenhar um papel, os genitais também servem à funcionalidade
(relação com o sexo oposto).

Portanto, o objetivo das cirurgias são basicamente, construir um corpo onde estereótipos,
femininos ou masculinos, se desenvolvam mais harmonicamente. Estereótipos estes, é claro,
sócio-culturalmente são desenvolvidos, envoltos de dicotomias, binariedades e diversas
cobranças, tanto no que tange à funcionalidade de um corpo quanto ao papel social que este
exerce. Trazendo o definir do que é sexo, pesado na mão da medicina e família (ciência e
cultura), com suas concepções duais, binárias, estereotipadas, socialmente determinadas.

Pensando em tal movimento, se torna importante a desconstrução de tais lógicas, com fim a
compreender o ser humano em todas as suas subjetividades e diversidades, não limitados à
corpos, sexos ou aparências, mas considerados em suas totalidades.

Referências

MACHADO, Paula Sandrine – O Sexo dos Anjos: um olhar sobre a anatomia e a produção
do sexo (como se fosse ) normal. In: Cadernos Pagu. Porto Alegre – RS, Edição 24, 2005, pp.
249 – 251

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