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Psicologia & Sociedade; 24 (1), 197-207, 2012

CORPOS, HETERONORMATIVIDADE E PERFORMANCES HÍBRIDAS


boDIeS, HeTeRoNoRMaTIVITY aND HYbRID PeRfoRMaNCeS

Ricardo Pimentel Méllo


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil

RESUMO
Maneiras de viver, muitas vezes, são naturalizadas como se houvesse uma forma predeterminada de corpo
feminino ou masculino, nos remetendo vivência de nossos corpos como inertes, em oposição à alma imortal e
ativa. Os corpos são qualiicados como materialidades biológicas, sendo experimentados como provas de nossa
sexualidade e da existência de gêneros e aqueles que não se acomodam a essas normalizações são tratados como
“abjetos”. O movimento feminista se opôs as pressupostas diferenças biológicas entre homens e mulheres utili-
zando o conceito de gênero, mas o sexo permaneceu como categoria básica e o corpo como matéria inerte. Como
não sucumbir a perspectivas binárias e dicotômicas? Como fazer de nossas vidas experimentações que ousem
transbordar as normalizações histórico-culturais? A partir de estudos queer propõem-se corpos como vibráteis,
estranhos, formados e dobrados em redes, uma instigação de resistência à ação de isolamento do que se considera
abjeto como consequência da biopolítica.
Palavras-chave: estudos queer; performatividade; corpos vibráteis; relações de gênero.

ABSTRACT
Ways of life often are naturalized as if there was a predetermined shape of the female and male body. The bodies
are classiied as a biological materiality, which is experienced as evidence of the existence of our sexuality and
gender. thus, bodies that do not accommodate to these norms are treated as abjects. to counteract this biological
assumption, the feminist movement began to use the concept of gender in order to strip of the supposedly biological
differences between male and female. However, the sexual organ is still the basic category for differentiation and
the body is still understood as an inert materialization. How not to succumb to binary perspectives? How to live
a life that dares to overlow the historical and cultural commonalities? Taking the queer studies’ perspectives, it
is put forward an idea of bodies as vibratile, strange, freakish devices made and molded in social webs; this is a
proposal of biopolitical resistance to the isolation imposed on the abjects.
Keywords: queer studies; performativity; vibratile bodies; gender relations.

A constituição do olhar clínico e o imperativo Laqueur (2001). Só havia como modelo único o corpo
médico: a naturalização dos sexos masculino, sem a padronização de uma determinada
terminologia para a genitália feminina. A mulher não
O corpo, especialmente sob inluência da cultura tinha um órgão sexual especíico. Seu órgão sexual
judaico-cristã, muitas vezes designa o inerte, o que se apenas não havia se desenvolvido adequadamente e
opõe a alma, esta sim viva, perene imortal, ativa. Como por isso tinha se enrustido, se voltado para dentro.
airma Fontes (2006, s.p.) “a dicotomia entre animado e Galeno foi o grande representante dessa forma de atuar
inanimado ... permitiu a palavra corpus passar a indicar os sobre o corpo, chamada de “modelo de sexo único”. A
objetos materiais – isto é, visíveis”. Dessa forma, corpo mulher era um homem invertido, por isso imperfeita e
tem uma materialidade sensível que, por essa caracterís- inferior. Assim, como no Gênesis, a mulher origina-se
tica, passa a ser deinido como natural e biológico, como do homem, este sim isicamente perfeito.
se fosse autodeinido e independente de práticas culturais, O cristianismo herda essa concepção de corpo e
ou seja, como se os corpos sempre fossem os mesmos em a arrasta para a sua mais intensa disjunção com a vida.
função de uma composição material essencial. Ainal o corpo é menor diante da alma. O corpo, “a
Na Idade Média, via-se uma diferenciação dos carne”, pode nos inviabilizar a redenção eterna. Deve
corpos mais do que da sexualidade, esta explicada ser escondido, evitado. E não é à toa que as “represen-
pelo calor vital, como mostram os estudos de Thomas tações” de Deus são masculinas.

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Por outro lado, os movimentos de libertação que Se os corpos são binariamente heterossexuais as almas
têm visibilidade especialmente a partir da metade do também. Há uma essência masculina e outra feminina.
século passado (especialmente movimento feminista Em outras palavras, há uma alma feminina e uma alma
e LGBT), buscam inverter essa tradição de esconder masculina, ou ainda, modos de ser essencialmente
corpos deixando-os a mostra de modo extremo. São os masculinos ou femininos.
corpos nus, seminus de passarelas, de revistas de sites O olhar médico-clínico não se atém só aos estu-
ditos pornográicos. Busca-se a perfeição do corpo e dos anatômicos e vai, no século XIX, com a utilização
menos a perfeição da alma. Nas artes os corpos são do microscópio nas pesquisas médicas, dar início à
expostos, como por exemplo, na dança contemporânea patologia moderna, inaugurando a chamada “Fase Ce-
em oposição à dança clássica. lular”, em que se desenvolvem estudos de Citologia e
De todos os modos, persistem os usos do corpo Histologia, área reservada hoje à Histopatologia. Esse
como uma massa moldável. a massa sendo natural e o olhar acha-se ainda mais verdadeiro, pois supõe ir além
ser humano podendo aperfeiçoar o natural com práticas do olho humano, como se os aparelhos cada vez mais
de musculação, cirurgias plásticas, alimentação, etc. minuciosos, dispensassem esse olhar e enxergassem
A sexualidade dos corpos permanece na moder- por si sós. As diferenças sexuais são ixadas, mas ainda
nidade como sendo natural, predeinida por Deus ou considerando-se o corpo inerte, só que agora em dimen-
pela natureza. Temos corpos masculinos e femininos sões microscópicas. Tanto que se há dúvida quanto ao
com ins de reprodução. O que a natureza não consegue sexo pelo olhar da genitália, apela-se ao código genético
é deixá-los tão perfeitos e assim o ser humano dá uma e à dosagem hormonal. Com a Biologia Molecular, na
mãozinha com um siliconezinho ou uma toxinazinha. interface entre a Bioquímica e a Genética, os exames
Assim, existimos em corpos biologicamente deinidos clínicos deinidores do sexo ampliam o olhar anatômico
pela natureza como sendo masculinos e femininos; na montagem do corpo sexuado. Por outro lado, Clara
corpos considerados naturalmente sexuados e a pressu- Pinheiro (2006) defende que o saber médico está so-
posta prova material disso é a diferença nas genitálias. frendo um processo de mudança, a partir da hegemonia
Ninguém olha a bunda “igual”. O que pode ser igual é de da biologia molecular:
pronto rejeitado como identiicador de gênero. Esse tipo desse modo, a atividade monótona, cotidiana, do
de conhecimento sobre os corpos humanos é abordado olhar médico sobre a singularidade do corpo doente, é
por Donna Haraway (2009) como prática política que substituída pela leitura de uma coniguração genética
opera materializando e naturalizando maneiras de viver. codiicada, que, podemos dizer, não tem nada de pes-
Constituído o imperativo do olhar bioclínico ou soal. Com isso, a relação médico-paciente deixa de ser
biomédico, a diferença advinda desse olhar generaliza- o cerne da prática médica. Com sua estrutura de genes
codiicada, é possível — este é o sonho de muitos ge-
-se para outras partes do corpo. Com a ajuda importante
neticistas — que cada indivíduo possa ter seu genoma
dos estudos anatômicos esboça-se essa diferença gene- particular, que poderá vir transcrito num compact disc
ralizada a partir do século XVIII, airmando a natureza (Reid, 1992). tal objeto deterá o segredo, se segredo
das inalidades dos corpos femininos à maternagem e houver, de cada individualidade, que, enfatizamos, não
dos masculinos à valentia, à guerra: tem nada de singular e de pessoal. (Pinheiro, 2006, p.9)
um dos aspectos mais signiicativos dessa revolução
Desde a antiguidade diversas transformações na
nos discursos médicos do século XVIII, foi a rea-
valiação dos órgãos reprodutores femininos que, de
concepção de práticas corporais vão sendo constituídas,
imperfeitos e pouco evoluídos, passaram a ser vistos até chegarmos aos modos de viver dos nossos dias (e
como perfeitos e adequados à maternagem. Mas, além noites!): um corpo diagnosticado.
disso, deu-se uma mudança fundamental: o sexo passou Portanto, de práticas gregas de separação entre
a ser pensado como permeando todo o corpo humano, corpo e o espírito, à criação do sexo biológico sepa-
isto é, como algo que não estaria circunscrito apenas rando homens e mulheres pela diferença anatômica e
aos órgãos genitais. De acordo com esta perspectiva, molecular, podemos compreender que todas essas con-
a diferença entre os sexos marcaria toda a extensão do cepções/práticas referiram-se especialmente a como os
corpo e fora da genitália haveria muitas outras diferen- seres humanos governavam as suas vidas gerenciando
ças signiicativas. ... O modelo antigo... de calor vital
seus corpos considerados inertes. Essa é a biopolítica
sai deinitivamente de cena, dando lugar à idéia de uma
diversidade biológica. (Nunes, 2000, p. 39)
descrita por Foucault, que busca retirar dos corpos a
sua máxima eicácia:
As diferenças sexuais serão milimetricamente eu entendia por isso a maneira como se procurou,
traçadas. Não resta quase nada nos corpos inertes que desde o século XVIII, racionalizar os problemas pos-
seja igual para os dois sexos. Cria-se a perspectiva bi- tos à racionalidade governamental pelos fenômenos
nária que vai além dos corpos chegando até as almas. próprios de um conjunto de viventes constituídos em

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população: saúde, higiene, natalidade, longevidade, devem se unir também de modo perfeitamente normal:
raças... (Foucault, 2008, p. 431) um homem com uma mulher. A heterossexualidade é
Foucault argumenta que a partir do século o modelo de normalidade. Fora desse modelo temos
XVIII se buscou racionalizar a prática governamental patologias: um corpo mal tatuado pela natureza ou um
direcionando-a a um conjunto de viventes (população), ser que deseja mudar a tatuagem natural. Vemos que
problematizando-se, por exemplo, saúde, higiene, na- não se trata de um preconceito exclusivamente religioso,
talidade, longevidade, raça, trabalho etc., com o intuito mas uma airmação cientíica.
de regular a população (Castro, 2009, p. 60). Outras consequências: mulheres devem se restrin-
Entendia-se o corpo como tendo uma existência gir ao lar e os homens têm que ir à luta por emprego para
anterior a qualquer de nossas experiências “nele” ou sustentar suas famílias. Neste modelo bélico, quem vai
“dele”. Então nesse sentido - por mais paradoxal que à luta não pode ser então um corpo feminino. E quem
possa parecer - trata-se de uma relação em que o corpo está em casa na vida doméstica não pode ser um corpo
é tido como inerte. Porém podemos argumentar que nem masculino. Quando a heterossexualidade se torna uma
mesmo nas concepções que veem indícios no corpo que normalidade, mais do que uma discussão entre a dife-
designam o que é ser homem ou mulher (por exemplo, rença dos sexos (genitália), temos essa distinção sendo
pênis e vagina) teríamos um corpo inerte, uma vez utilizada para fundamentar as discussões feministas e
que sempre se produz determinadas práticas corporais de gênero. A noção de heterossexualidade, por fazer
e modos de viver. Mas é preciso enfatizar que esse parte de um arranjamento biopolítico, avança sobre
posicionamento coloca o corpo como inerte, uma vez movimentos reivindicatórios. O imperativo biológico
que é ele que nos proporciona sinais naturais que ditam tenta se manter de alguma forma por meio de corpos
modos de ser (homem, mulher, deiciente, criança, velho inertemente sexuados, entenda-se “corpos biológicos”
etc.). Sendo assim os corpos não são abjetos, mas o uso e heterossexuados.
deles sim; eles não são por si imundos ou desprezíveis,
mas seu uso pode ser vil. Os corpos são seres viventes O movimento feminista e o conceito de
habitados por seres de direitos que precisam ser gover- gênero
nados. Essa tecnologia de governo propõe problemas
especíicos a serem geridos. As mulheres desconiam do lugar naturalmente
Abjeto é o que causa repulsa, o que é desprezível. subordinado que as ciências, as religiões, o Estado,
Judith Butler (2008) airma que a matriz de relações de as mídias, lhes reservaram e começaram a questionar
gêneros são fronteiras rígidas construídas em perfor- a atribuição e assunção de uma natureza frágil. Ainda
mances normativas ixadas por serem repetidas vezes sem questionar a inércia de um corpo naturalmente
divulgadas e demonstradas. Seres, corpos, que não se sexuado: “O uso da palavra ‘gênero’, como já disse-
acomodam a essas normas, são tratados como abjetos. mos, tem uma história que é tributária de movimentos
Como exemplo, temos a mulher cantada na música sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas. Sua
“Se acaso você chegasse” de Lupicínio Rodrigues e trajetória acompanha as demandas por direitos civis,
Felisberto Martins (gravada em 1939). Lupicínio havia direitos humanos, enim, por igualdade e respeito”
“roubado” a namorada de outro compositor seu amigo, (Pedro, 2005, p. 78).
Heitor de Barros, e preferindo não “perder a amizade” Em especial nos anos 1980, o movimento femi-
decidiu contar-lhe tudo compondo a música. Heitor aca- nista inicia o uso do conceito de gênero, com o intuito
bou “trocando o falso amor” pela “amizade verdadeira” de desnaturalizar as pressupostas diferenças biológicas
de Lupicínio. Ou seja, a mulher, violou o que se pres- entre homens e mulheres. Assim, a categoria gênero
supõe ser sua condição natural de passiva, tornando-se é incorporada às pesquisas e textos acadêmicos, nas
um corpo abjeto. Há inúmeras situações assim. quais se veiculam temas como, por exemplo, violência
doméstica, dupla jornada de trabalho, sexualidade,
Corpos sexuados e heterossexuais direitos reprodutivos e doenças sexualmente transmis-
síveis. Além de textos, o movimento também reúne a
Criados os corpos inertemente sexuados, ou seja, discussão de gênero em oicinas a im de propiciar às
corpos tatuados pela natureza que nos ditam como de- mulheres espaço de discussão e questionamento sobre
vemos habitá-los, sendo a tatuagem principal a que se suas vidas. O objetivo era o de desnaturalizar a dife-
encontra nas genitálias, temos consequências importan- rença entre homens e mulheres estes ainda tidos como
tes: se existem diferenças e o corpo feminino é perfeito categorias essencialmente universais.
à maternagem (portanto ao privado) e o masculino é No inal da década de 1990, abre-se espaço para
perfeito à guerra (portanto ao público), os corpos só discussões sobre “masculinidades” utilizando gênero

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como categoria analítica. Nesse caso, se “reairma a parece se perpetuar: a noção de performance pressupõe
historicidade de relações de gênero, a sua importância um corpo inerte. E com ajuda das ciências “psi” o tal
como pressuposto estruturador da experiência e das re- corpo inerte é compreendido como depositário de uma
lações, criticando posições essencialistas e relacionando identidade, (algumas vezes até mutante), ou como es-
o modo como se dá a percepção dos papéis de gênero paço de produção do “si”, da subjetividade.
com a dominação e o poder” (Monteiro, 1997, p. 1). A O que mudou em relação às práticas dos séculos
ênfase nos estudos sobre masculinidades é na produção XIX e primeira metade do século XX: o olhar desnatu-
e circulação de saberes e sentidos acerca do que é ser rante transformado em performances e, portanto, mu-
homem. Estudos sobre a paternidade, por exemplo, daram as formas de produção de si. O que permaneceu:
são apontados por Margareth Arilha, Sandra Ridente um corpo usado para a performance, esta localizada nas
e Benedito Medrado (1998) como tendo se tornado relações construídas por homens e mulheres. O corpo
um campo importante de ações e investigações. Vide a ainda é inerte.
campanha “Dá Licença, eu sou pai!”3 proposta pela Rede Vejamos como exemplo a citação que consta do
de Homens pela Equidade de Gênero — RHEG4, com dicionário de direitos Humanos da Procuradoria Geral
o objetivo informar os homens sobre a prerrogativa da da República do Ministério Público Federal:
licença paternidade, incentivando sua participação no
Gênero é uma categoria relacional do feminino e do
cuidado de ilhos ou adoção. Ao mesmo tempo Benedito masculino. Considera as diferenças biológicas entre os
Medrado alerta para que a paternidade não se transforme sexos, reconhece a desigualdade, mas não admite como
em um mito a exemplo da maternidade (Medrado, 1998). justiicativa para a violência, para a exclusão e para a
Todos esses estudos estavam sob a égide do que começou desigualdade de oportunidades no trabalho, na educa-
a circular como “perspectiva relacional do gênero”, ou ção e na política. É um modo de pensar que viabiliza a
seja, gênero não é um atributo inerente a uma natureza mudança nas relações sociais e, por conseqüência, nas
humana predeterminada advinda de uma organização relações de poder. É um instrumento para entender as
biológica, seja uma identidade feminina ou masculina, relações sociais e, particularmente, as relações sociais
mas gênero constitui-se como modelo cultural cons- entre mulheres e homens. (Procuradoria Federal dos
truído a partir de relações historicamente construídas. Direitos do Cidadão, 2009)
Desse modo o movimento feminista avança no E agora uma citação de Scott:
sentido de questionar qualquer tipo de essencialidade
uma rejeição do determinismo biológico implícito no
sexual marcada previamente nos corpos: o binarismo uso de termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O
masculino versus feminino, a natural maternidade, o termo gênero enfatizava igualmente o aspecto relacio-
natural vigor masculino etc. Um dos posicionamentos nal das deinições normativas da feminilidade. Aquelas
que tem sido colocado em discussão é gênero como que estavam preocupadas pelo fato de que a produção
“performance”. Judith Butler lançou esta maneira de de estudos sobre mulheres de maneira demasiado
abordar o tema, ou seja, o gênero é fruto de determinado estreita e separada utilizaram o termo “gênero” para
modo como uma cultura organiza uma sociedade, não introduzir uma noção relacional em nosso vocabulário
sendo relexo de um sexo determinado biologicamente, analítico. Segundo esta visão, as mulheres e os homens
mas este sendo o efeito da matriz de gênero: eram deinidos em termos recíprocos e não se poderia
compreender qualquer um dos sexos por meio de um
Butler estaria tentando deslocar o feminismo do campo estudo inteiramente separado. (Scott, 1995, p. 72)
do humanismo, como prática política que pressupõe o
sujeito como identidade ixa, para algo que deixe em Aparentemente, retira-se o conteúdo biologicista
aberto a questão da identidade, algo que não organize da sexualidade, mas de algum modo, se mantém o que
a pluralidade, mas a mantenha aberta... (Rodrigues, se pretende excluir: a base biológica que se conigura
2005, p. 179)
num corpo inertemente sexuado. Daí a “identidade
Para essa autora, gênero é uma prótese performá- sexual”, antes vista como normalmente heterossexual,
tica que materializa um corpo. Porém ainda permanece é questionada, amplia-se para incluir homossexuais,
o sexo como categoria básica e o corpo como matéria lésbicas, travestis, transexuais, intersex etc. A pers-
inerte, naturalmente dimórico. É como se a “espécie pectiva de gênero leva adiante a airmativa de que,
humana” tivesse dois diferentes tipos de indivíduos, algumas vezes, o “sexo biológico e o psicológico não
homens e mulheres, que desempenham papéis ou apre- coincidem”. Como se houvesse uma essencialização
sentam performances, que podem ser entendidas como do “sexo psicológico” ou como se este antecedesse ou
“estilos corporais” (Bento, 2006, p. 92). O gênero não é precedesse o “sexo biológico”, nos mostrando de novo
biológico, mas se expressa em um corpo pela repetição que a binaridade corpo-alma e a noção de corpo inerte,
de um estilo que é suposto como sendo fundado na depositária antes de um sexo e agora de gênero, insistem
natureza da espécie (Butler, 2003). Assim, um ponto e persistem nas nossas relações.

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O movimento queer e os corpos vibráteis tuir em uma política, ou melhor, biopolítica. Não são os
atos em si que interessam por nos dizerem sobre alguma
Como não sucumbir na dicotomia público-pri- “performance”, mas as políticas de gestão de governo
vado, objeto-sujeito, masculino-feminino, corpo-alma, que produzem gêneros. Isso nos leva a conclusão de que
subjetividade-objetividade, sexo-gênero? Como não se não há por si gêneros, também não há por si “perfor-
utilizar corpos como se fossem matérias inertes? Com- mances de gênero”. Caso o conceito de “performativo”
preendo que essas perguntas guiam de algum modo o ou “performance” se apresentem como discursos/
questionamento à perspectiva de gênero relacional que práticas que operacionalizam os corpos, temos ainda
ainda essencializa o corpo o biologicizando. Em outras resquícios de realismo materializados nos corpos. Em
palavras, a perspectiva de corpo sexuado implica uma vez de corpos vibráteis temos corpos matéria onde se
concepção de corpo inerte. efetuam discursos/práticas.
Se com a perspectiva de gênero se airma que não A diferenciação de Preciado em relação às pro-
existe sexo anterior a cultura, alguns estudos ampliam postas de Butler, (ainda que aquela deva a esta créditos
a crítica e alegam que “não existe um corpo anterior importantes de seu percurso de ilósofa e militante femi-
a cultura: ao contrário ele é fabricado por tecnologias nista), é que o corpo farmacopornográico não é dócil. É
precisas” (Bento, 2006, p. 21). Não só o gênero pode possível resistir às normalizações de sexo e gênero em
ser uma categoria de análise, mas o corpo também. operações de desnaturalização do gênero programado,
Podemos encontrar alguns trabalhos sendo feitos nesta tatuado, por meio, por exemplo, da experimentação hor-
perspectiva (Ver, por exemplo, Sant’Anna, 1995, 2001; monal. Não há limite para a manifestação contra-sexual
Soares, 2006). Em outras palavras, a gestão política de do corpo (observo que não escrevi no corpo). Não há
gêneros também se aplica aos corpos. E aí podemos regiões que podem ser recortadas universalmente como
inclusive veriicar a crítica a “performatividade de gê- masculinas ou femininas, ou como mais prazerosas que
nero”, que ainda constitui corpos como se fossem rou- outras, e se são assim consideradas é porque estão afei-
pas vestidas por gêneros, ou gêneros que transformam tas a determinadas políticas que podem ser modiicadas.
as roupas-corpos para uma performatividade do “eu” Se o corpo tem alguma anatomia, não é “performativa”,
(no caso dos transexuais, por exemplo). Não há como mas biopolítica. Se algum corpo é nominado, não é por
buscar uma harmonia entre uma “identidade sexual” causa de uma natureza que o faz crescer de uma deter-
descolada do corpo. Aliás, não há harmonia porque o minada forma, ou por causa de uma “performance de
corpo humano não é inerte, mas foi sendo constituído, gênero”. Não podemos separar o corpo de uma forma
inventado, por isso é vibrátil (do latim, vibratus, índica de governo como se ele obedecesse a alguma classii-
ação do que é suscetível de vibrar: Cunha, 1986, p.820). cação. Estas advêm de regras e práticas absolutamente
Nesse sentido, também podemos rever algumas arbitrárias, sem uma referencia a ser provada no corpo.
posições de Butler. Quando Beatriz Preciado (2002, Em entrevista Butler airma:
2008), ao analisar as tecnologias de gênero, propõe eu acho que discursos, na verdade, habitam corpos.
a “contra-sexualidade” como prática de resistência à Eles se acomodam em corpos; os corpos na verdade
hegemonia binária e heteronormativa, chama a atenção carregam discursos como parte de seu próprio sangue.
para a sociedade ocidental constituída como “sociedade E ninguém pode sobreviver sem, de alguma forma, ser
farmacopornográica”, ou seja, caracterizada pela gestão carregado pelo discurso. Então, não quero airmar que
haja uma construção discursiva de um lado e um corpo
simultânea de modos de viver por meio de hormônios,
vivido de outro. (Prins & Meijer, 2002, p.164)
cirurgias e meios audiovisuais. Esta gestão desenvolvida
a partir da Segunda Guerra Mundial distinguiu corpos Por mais que airme não separar corpo vivido
binariamente heteronormativos em bio e trans. Os bio de corpo discursivo, ainda inicia sua frase acentuando
são os que se identiicam com o gênero que lhes foi que o corpo é habitado por discursos. E como temos
tatuado desde o nascimento e os trans como os que “acesso” ao corpo? Por meio de discursos, ou dos “sen-
buscam tecnologias para modiicar o gênero tatuado. tidos” evocados nos discursos? Será que agindo assim
Nossas sociedades funcionam como laboratórios não estamos ainda no campo representacional de corpo
psicofarmacológicos que fabricam gêneros e corpos que tanto criticamos?
enfatizando supostas diferenças. Se pensarmos o corpo não como efeito de discur-
Ora, mas ambas as classiicações de bio e trans, sos ou invólucro de uma identidade seja lá qual for, mas
são consideradas por Preciado como tecnogêneros, como máquina (Deleuze, 1992), que se deine no seu
fundamentalmente por serem sempre inventados por funcionar ou não funcionar, podemos entender a pro-
tecnologias que dobram o corpo ou o lexionam sobre posta de Preciado. Não é o motor especiicamente em si
alguma maneira de viver. Deste modo, gênero deixa de que deine o carro: se tiramos esse motor e o colocarmos
ser um conceito ou uma “performance”, para se consti- em um ultraleve ele funciona de modo diferente e deixa

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Méllo, R. P. Corpos, heteronormatividade e performances híbridas

de ser carro. Muda a política de seu uso. Então, como É importante frisar que Preciado (2008) critica o
separar o motor, da política ou do gerenciamento de seu modo como Foucault desenvolveu seus estudos “sobre o
uso? Na perspectiva aqui adotada, seria impossível. Na corpo”. Parece que antecede a essa discussão especíica
concepção de máquina em Deleuze, podemos entender esclarecer o foco dos estudos de Foucault que dá mar-
o corpo como uma composição, que se constitui sob gem para que surja esta crítica. Em função da concepção
ações e discursividades diversas: biologia, psicologia, de poder como criador mais do que repressor, Foucault
física, religião etc. Ou seja, como uma máquina plural estudou os dispositivos que transversalizavam o corpo
de elementos que se encadeiam e se enredam, propor- ao mesmo tempo em que lhe davam uma determinada
cionando certos movimentos, certas direções. disposição, como sendo o invólucro de um indivíduo.
Os corpos não contêm nenhum sexo e nenhuma Ou seja, colocou à mostra o corpo da sociedade mo-
performance deinida, mas se constituem no modo derna que permaneceu como espaço onde a alma (se
como são vividos em uma potencialização política quisermos a psique, a identidade, a personalidade) se
heterocentrada: medicalização, cirurgias, ornamen- expressa. Foucault, bem sabemos, critica a posição de
tação, indústria pornográica, tecnologias jurídicas e uma interioridade psicológica, ao mesmo tempo em
midiáticas, congressos cientíicos etc. Essas políticas que dá visibilidade a esse dispositivo psicológico na
mais que regular os corpos, os maquinizam. Corpo é formação da vida humana. De todo modo, ele trata o
gerenciamento biopolítico, gestão (calculada) sobre os corpo como superfície de inscrição de práticas e saberes.
luxos da vida. Deiniu-se que o corpo tem sexo e os usos E isso é criticado por Preciado em função da sua prática
diferenciados que se devem fazer dele. Ele, o corpo, é o de resistência onde usa o próprio corpo. Mas, podemos
próprio acontecimento no que ele se faz em luxos: “O compreender isso como estratégias diferentes de análise,
Império dos normais desde os anos 50 depende da pro- mais do que divergências:
dução e da circulação em grande velocidade dos luxos Foucault se coloca, assim, em “Vigiar e Punir” (1975)
de silicone, luxos de hormônios, luxo textual, luxo e “História da Sexualidade” (1976), do lado de fora da
das representações, luxo das técnicas cirúrgicas, e, em experiência do corpo próprio, porque estava interessa-
deinitivo, luxo de gêneros” (Preciado, 2004, p. 2). do, sobre tudo, na lógica do poder sobre o corpo ou no
Não visto como efeito (resultado de algum ato), sistema de forças e saberes que o atravessam. (Silveira
& Furlan, 2003, p. 183)
mas como feito (acontecimento, ação), o corpo se faz
vida humana e nele se gerencia como, por que, com que Preciado faz de seu corpo a sua militância e
inalidade a vida deve luir para ser “autenticamente crítica ao sistema de forças e saberes que se querem
humana”. No luir da vida (das condições nas quais esta hegemônicos. Digamos que ela esteja em um segundo
deve se efetivar) o corpo resulta como esquadrinhado tempo, em relação a Foucault que usou a sua escrita
em cada mínimo pedaço, que divididos terão funções como estratégia de resistência prioritariamente. Ins-
e gerenciamentos especíicos. O sexo passa a ter um trumentalizou quem teve acesso aos seus escritos para
lugar importante nesse gerenciamento, inclusive para dele fazerem o que quiserem. E Preciado (2002, 2004,
produção do trabalho. Por exemplo: alguém tem de 2008) dobrou esses escritos sobre si, fazendo do seu
cuidar do corpo tornado homem que trabalha e produz próprio corpo força de resistência em uma experimen-
e esse alguém é o corpo tornado feminino. Veja-se que tação micropolítica, dosando-se hormônio; fazendo-
o corpo não é reprimido (nem a sexualidade ou o sexo), -se nele e dele um manifesto contra-sexual. Por isso
como bem apontou Foucault, mas se faz na sua própria defendo que devêssemos compreender estas posturas
gerência. O que nos corpos se forma é a gerência deles, não como divergentes, pois falam do corpo como centro
algumas persistentes e insistentes há séculos. O corpo se da vida humana para possibilitar uma relação de cada
faz em múltiplas redes de força, que por isso nos permi- indivíduo consigo mesmo — burilado assim em um
tem compreender que a estratégia de Foucault não é o olhar biomédico (órgãos, funções) e, ao mesmo tempo,
indivíduo (que pode ser compreendido como os nós des- jurídico-político (sujeito as normas, correções, punições
sa rede), mas sobre as condições de possibilidades sobre tendo em vista a “qualidade de vida”) — mas, ambas as
os saberes e poderes que fazem essa rede. O indivíduo é posturas utilizando o corpo de modo estrategicamente
formado na e pela rede materialmente, discursivamente: diferente.
“o intuito primordial da sociedade normalizadora, mais Atenho-me agora à discussão sobre os chamados
do que reprimir a conduta do indivíduo, é inluenciá-lo, transexuais e intersex por considerá-la fundamental, por
conduzi-lo e incliná-lo, por meio de mecanismos dispo- possibilitar que se rompa com a estratégia de viver o
sitivos, no sentido de submeter determinada posição de corpo como circunscrito a uma determinada corporei-
corpos a certos acessos históricos de saberes/poderes” dade natural (como nos estudos queer), e também por
(Silveira & Furlan, 2003, p. 182). ser uma discussão fundamental para se compreender a

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exposição realizada até aqui. No primeiro caso, tran- de sexo natural, biológico. Há uma ontologização dos
sexuais, há “troca de sexo” cirúrgica por se considerar seres humanos mantidos como homens ou mulheres.
que alguém tem uma “identidade” que não combina Em relação aos transexuais deve-se pedir licen-
com sua genitália, ou seja, com seu corpo. Neste caso ça ao Estado, após um longo processo de avaliação
temos um corpo “sadio”, salubre, higiênico, em uma diagnóstica. Se diagnosticado como alguém que tem
“identidade” que adoece por não “se encaixar” nesse realmente uma “identidade” que não combina com seu
corpo. No segundo caso dos intersex, há o diagnóstico corpo, lhe é autorizado. No caso de intersex, geralmente
de uma “genitália ambígua”. Não temos um corpo são crianças, também é o Estado que autoriza a alteração
e assim temos a “certeza” de uma patologia diagnosti- da genitália, também após diagnóstico médico, com
cada por médicos e psicólogos. Dentre os critérios que acompanhamento psicológico da família.
são utilizados para a decisão pelo ato cirúrgico, Paula E qual o crime de intersex? Nenhum. Quando
Machado (2005) aponta os funcionais e estéticos: do diagnóstico de “ambiguidade”, a operação é um
Para o sexo feminino, os fatores mais levados em “direito” alimentado pelo Estado. A diferença é que
consideração, em ordem de importância, são: a capa- se fará uma cirurgia “reparadora de uma deiciência”.
cidade reprodutiva e a possibilidade de reconstrução A “ambiguidade” na genitália impõe a cirurgia, feita
anatômica de uma vagina que possibilite mais tarde, sob a justiicativa de proteger a criança de problemas
para a mulher, relações sexuais prazerosas (o que é de discriminação. Mas sabemos que não é bem assim,
associado à preservação das enervações do clitóris) porque uma vez diagnosticado como ambíguo, o cha-
e que possa ser penetrada por um pênis. Para o sexo
mado hermafrodita/intersex, para sempre levará este
masculino, aparecem os seguintes fatores, também
em ordem de importância: o tamanho e a capacidade
estigma. A discriminação já antecede a cirurgia e não
erétil do pênis; a possibilidade de sentir prazer (o que inda com ela.
é associado à ejaculação) e de penetrar adequadamente Essa faceta jurídica que implica na autorização
uma vagina; a capacidade reprodutiva; e a capacidade do Estado inclui uma importante discussão sobre a
de urinar de pé. autonomia das pessoas que desejam realizar cirurgias
trans e intersex. Como apontamos acima a legislação
A questão da funcionalidade do corpo está bastante brasileira condiciona a cirurgia “à conirmação do diag-
imbricada com aquilo que se espera socialmente de nóstico psiquiátrico de transexualismo — transtorno de
homens e mulheres. Assim, se a capacidade reprodutiva
identidade de gênero ou sexual —, e ao acompanha-
desponta como elemento preponderante nas decisões de
deinição para o sexo feminino, o desempenho sexual
mento psiquiátrico por dois anos para sua realização”
(penetrativo, com pênis de tamanho e capacidade erétil (Ventura & Schramm, 2009, p. 65). Esse diagnóstico
considerados adequados) ocupa o mesmo papel para o deve ter o carimbo de “verdadeiro transexual”. Como
sexo masculino. (Machado, 2005, p.274) se as pessoas que desejam modiicar a anatomia de seu
corpo, nem sempre estejam certas de seu desejo e como
Seguindo na mesma linha, temos também a labio- se devêssemos ter essa certeza. Esta certeza deve impor
plastia, para a medicina compreendida como cirurgia de ao “mutante” o dispositivo da conissão (assumir que é
correção nos pequenos lábios. Mas correção de que? De doente, que apresenta uma patologia e precisa da medi-
uma anomalia? Para alguns movimentos a tal correção é cina para ser curado ou para pelo menos amenizar a sua
vista como uma mutilação na mesma linha das cirurgias dor). Mas, é o saber médico que sabe sobre o corpo dos
de “correção” dos intersex: humanos e o único a realizar o veredictum (verdadeira-
é mutilação, é estragar o que já é perfeito. Que graça mente dito). Como concluem Ventura e Schramm (2009,
tem em se parecer tudo igual? Queremos xoxotas p. 67): “só é possível o acesso aos recursos disponíveis
grandes, beiçudas, enrugadas, polpudas, e também com com a tutela da Medicina e do Direito, e não como uma
clitóris enormes, grossos e eretos, para que possamos
escolha livre do sujeito transexual, nem como resultado
admirá-las e chupá-las até vocês terem os mais intensos
dos orgasmos e até nos saciarmos com seus néctares.
de um acordo entre as partes”. A justiicativa para a
Queremos que você olhe no espelho e admire-se, que tutela do Estado não podia ser pior:
brinque com sua volumosa e deliciosa buceta e jamais a intenção de beneicência e de proteção do paciente tran-
pense em mutilá-la em nome de uma indústria que não sexual, considerando as extensas e irreversíveis modii-
tem piedade e que não está nem um pouco preocupada cações corporais, e a natureza de sua doença - transtorno
em deixá-las mais bonitas, mas em faturar milhões. Não psíquico – que pode limitar sua capacidade de decidir
se deixe enganar! (Beauty Vulva)¹ sobre as intervenções adequadas a serem realizadas em
seu corpo. (Ventura & Schramm, 2009, p. 67)
Na troca de “gênero”, de sexo, há algo que
prejudique a “comunidade”? Não. Nos dois casos, Dessa forma, o “verdadeiro transexual” é incapaz
transexuais e intersex, há preceitos guiados por noção por princípio. Porém, quando se trata de outras interven-

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ções cirúrgicas, como a alteração do nariz, da barriga reparar. É tentar “consertar” o que a natureza não con-
etc., o Estado se mantém fora da discussão. Pode-se ar- seguiu. O “super-homem” ao identiicar um estranho
gumentar que se trata de intervenções “qualitativamente intervém para criar um corpo normal, mas coloca o
diferentes”, porque se muda a personalidade, o caráter, intersex e trans nesta condição para toda a sua vida.
a identidade do transexual. Outra justiicativa risível, A prótese não é simplesmente um artefato, mas é
mas compreensível diante do biopoder ou controle o gerenciamento dos corpos.
das populações pelo Estado, é a de que este “cidadão” Os corpos trans são “abjetos”, ou seja, não impor-
mutante teria duas identidades. Em síntese, a “portabi- tam (Butler, 2008; Prins & Meijer, 2002). Como airma
lidade” de um pênis ou vagina origina a classiicação Butler: “tais corpos não são inteligíveis (argumento
das pessoas nas estatísticas e informações da sociedade epistemológico) e não têm uma existência legítima
como um todo. Caso contrário, teríamos de excluir as (argumento político ou normativo)” (citado por Prins
informação sobre “gênero” de inúmeros formulários que & Meijer, 2002, p.156). São abjetos porque, “não são
dão origem a avaliações estatísticas e admitir que o ser consideradas “vidas’ e cuja materialidade é entendida
humano não se deine a partir dele. Os/as brasileiros/as como ‘não importante’” (citado por Prins & Meijer,
têm o “direito” de mudar o que quiserem no “seu” corpo, 2002, p.161). Não são institucionalizados em códigos
menos as genitálias. Não importa que, como no caso vivos de legitimidade, mas em códigos que os matam
do “homem gato”², façam-se cirurgias que nos deixem como patológicos e ilegais. Devem ser expulsos de
“irreconhecíveis”, desde que a identidade de gênero que nossos “chatôs”, casebres, barracos, apartamentos,
tem como suporte natural os órgãos genitais, não seja casas. E só podem entrar nas universidades se forem
tocada. Se há uma genitália deinida como masculina, patologizados.
por exemplo, qualquer dúvida de quem a porta sobre diante de tudo isso, temos os estudos Queer como
isso só pode ser doença da mente, na medida em que o uma proposta de resistência a ação de isolamento do
corpo está normal. A consequência grave é: que se considera abjeto.
a exclusão, no sistema oicial de saúde, do/a paciente A própria sexualização dos corpos deriva de tais
que não preencha os critérios do diagnóstico para o performances. No processo de reiteração das perfor-
acesso às modiicações corporais. Isto implica que as mances de gênero, algumas pessoas, fora da matriz
pessoas excluídas busquem as modiicações corporais heterossexual, passam a ser consideradas abjetas. A
(implante e aplicação de silicone, ingestão de hormônio política queer consiste em perturbar os binarismos de
e outros) no mercado clandestino ou as realizem elas gênero e brincar com as menções feitas sobre gênero –
mesmas, o que implica riscos e mesmo danos irrever- espaço privilegiado para as teorizações e prática queer.
síveis para sua saúde e integridade física. (Ventura & (Pereira, 2008, p.505)
Schramm, 2009, p. 88)
Os queers incomodam porque estão colocando
Como estabelecer uma diferença tão rígida entre em funcionamento corpos que não são homens nem
público e privado? É um disparate a reivindicação de mulheres. Colocam-nos questões como: lésbica signi-
mudança de sexo em nome do privado, para que a ica mulher? Gay é homem? Há homens? Há mulheres?
criança não sofra em público. Ou é uma bobagem a Mais do que essa perguntas identiicatórias, eu
cirurgia trans para que o adulto não sofra mais. Não será perguntaria: é um movimento em que se abandonam ou
a cirurgia que fará um corte deinitivo em preconceitos se reairmam ontologizações? É possível universalizar
e biopoliticas. E o sofrimento advindo da operação? O políticas identitárias? Podemos ver corpos “homo” sem
corte, a cirurgia, a internação, os medicamentos “pra os comparar com corpos “hetero”? Podemos ver mulhe-
toda a vida”? Os olhares sobre aqueles corpos cirurgi- res sem compará-las a homens e vice-versa? Podemos
camente modiicados mudarão? Claro que não. Serão deixar de vez as produções binaristas? Respondem:
sempre olhares de dúvida expressos nas perguntas: A multidão queer não tem a ver com um “terceiro
“ainal que gênero te pertence? Qual é o teu verdadeiro sexo” ou um “mais além dos gêneros”. Dedica-se á
sexo? Diga-me quem és?” reapropriação das disciplinas dos saberes/poderes
Para implantes de silicone em seios de alguém sobre os sexos, à rearticulação e a reconversão das
deinido como feminino é bem diferente. É para “turbi- tecnologias sexopolíticas concretas de produção dos
corpos “normais” e “desviados”. Á diferença das
nar”, um neologismo advindo do substantivo feminino
políticas “feministas” ou “homossexuais”, a política
“turbina”. A que remete essa palavra? Remete a turbina da multidão queer não se baseia em uma identidade
de avião, a subir, alcançar céus, em outras palavras, se natural (homem/mulher), nem em uma definição
tornar uma deusa, vista, percebida, sobretudo desejada. baseada nas práticas (heterossexuais/homossexuais),
Colocar uma prótese em uma pessoa considerada mas em uma multiplicidade de corpos que se levantam
hermafrodita é turbinar? E em um transexual? Não, é contra os regimes que os constroem como “normais”

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ou “anormais”: são as drag-king, as bolachas lobas, indiferentes. Não sabemos sobre o mundo além do que
as mulheres barbudas, os trans-bichas sem pênis, os supomos. O mundo não é gay, não é trans, só é estranho
deicientes-ciborgues... O que está em jogo é como e diferente. Não se nasce mulher, não se nasce homem,
resistir ou como reconverter as formas de subjetivação não se nasce gay, trans e também não se nasce com um
sexopolíticas. (Preciado, 2004, p. 4).
corpo, mas nos tornamos humanos com uma biopolí-
tica de gerenciamento de nossas vidas/corpos, que se
incomoda com a impossibilidade de não podermos dar
“Em im”
uma resposta inal em relação a “deinição sexual” e
por isso, cria fármacos, conceitos, técnicas cirúrgicas,
Busquei indicar que mesmo as intervenções
patologias e legislações.
médicas sobre os corpos são guiadas por políticas de
Se nos produzimos como diferença ou como
gerenciamento diversas. O mesmo silicone tem feitos
singulares, podemos ainda assim, caminhar por duas
muito diversos em um “corpo mulher” ou em um “corpo vias: (a) nos airmamos como singulares, mas únicos,
homem”. unos, com identidade, personalidade, caráter, alma,
Tenho certeza de que devemos agir sobre as po- corpo, enim um ser corporiicado; (b) nos airmamos
líticas que continuam naturalizando-se em corpos, os como múltiplos, contraditórios, incoerentes, enim,
considerando como pele ou invólucros de identidades seres incorpóreos ou seres devir (Deleuze & Guattari,
e/ou performances, mas não só combatendo, ou como 1995, pp.18-19). Haraway airmar que “uma única visão
se diz “lutando” contra políticas binaristas. Também produz ilusões piores do que uma visão dupla ou do que
sem lutas, apenas pelo prazer da luidez, fazer em nos- a visão de um monstro de múltiplas cabeças” (2009,
sas vidas momentos com ambiguidades, não porque p. 46). Assim, porque deveríamos postular uma nova
são opostos, mas porque “sem elas não há mudanças” identidade aos seres humanos seja ela única, simulacro
(Feyerabend, 1996, p.195). ou múltipla? Cada uma destas posturas pode nos indicar
A dança tem muito a nos ensinar quando os tanto “dominações quanto possibilidades” (Haraway,
corpos não são vistos como invólucros, mas como o 2009). Somos singulares como pontos que se formam
próprio acontecer. A dança e os corpos se acontecem. em uma rede, mas que é também a junção de todas
Não há danças sem corpos, não há corpos sem dança as linhas que nele fazem um nó. Assim, mais do que
(movimento). reivindicar uma ontologia ao ser humano, que abramos
Ou seja, até que ponto a estratégia para “lutar “nossos” chatôs para que nele e com ele se façam “nós”.
contra” desigualdades está nas separações binárias, que Aliás, esse pronome “nosso” também merece uma pala-
encontram nos corpos a sua “evidência”, separando ho- vra. Está muito mais relacionado a um pertencimento e
mens e mulheres, gays e lésbicas, e intersex? Em outras proveniência coletiva que também poderia ser expresso
palavras, precisamos ser sexuados, (performativamente pelo seu feminino “nossa”, que expressa admiração,
ou não)? E se não mais procedermos binariamente como tornando-se uma interjeição: “nossa!”. Ou seja, os
icam as classiicações biológicas, as teorias psi? Como i- movimentos do viver humano, são mais “nossa!”, do
cam nossas pesquisas, metodologias? Estamos superando que “nossa” signiicando a posse de alguém.
de uma vez por todas o Iluminismo com suas essências? Ainda uma palavra sobre os “nós”. Nesse caso
Estamos abraçando o “pós-humanismo”, o “transuma- também não signiicando pronome, mas sendo entrela-
no”? Ou uma vida “pré-individual” (Gilbert Simondon) çamento de ios (forças) que, ao mesmo tempo, podem
que se deine pelos agenciamentos que fazemos nessa signiicar tanto embaraço e diiculdade, quanto colmo de
grande maquinação mundial que produz individuações? onde nascem novas formas. Nó então entendido como
Antes que alguém indague “se o mundo é gay”, condição de possibilidade para que a vida, ávida, possa
aponto duas diiculdades que identiico nessa pergunta: luir unindo o que se pretende permanente e o devir.
(a) ontologização e universalização do mundo (o mundo assim os chamados seres humanos, merecem uma
é gay): o cajueiro é gay, o pirarucu, o cupuaçu, a rapadu- espantosa frase: “Nossa! Como nos fazemos em tantos
ra, é gay; (b) atrelado a isso vem a noção de progresso: nós!”. Hibridizamo-nós em seres quase-máquinas,
“o mundo gay é melhor do que o mundo hetero”, ou quase-humanos, quase-objetos e chamamos isso de
seja, “há uma evolução”. Só vejo uma pequena brecha vida. Porém os que claramente vivem isso, os que não
(que não se identiica a priori com uma vagina ou um podem ser deinitivamente deinidos (como se alguém
ânus ou entrada de um pênis). Uma brecha que se faz pudesse!), são considerados abjetos, por serem escor-
luxo em todos os poros do mundo, que se for aberta com regadios, por serem “nós” frouxos. Temos a ilusão que
algum esforço, pode tornar-se uma saída para alguns. nos juntamos a idênticos, mas se escolhemos com o que/
O mundo é queer. É estranho sempre, para sempre. Ou quem queremos viver, o fazemos mais por ainidade
somos diferença (Deleuze, 1988) e que sejamos menos do que por identidade (Haraway, 2009, p. 48). Que

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queremos dizer com isso? Se, como airmamos acima, a Termino com uma poesia de Drummond em que
opção seria a de não manter a ilusão de únicos, mas sim aparece um diálogo do poeta com “seu corpo”. Um
a ilusão de que somos, ao mesmo tempo, singulares e corpo que se faz essência e, ao mesmo tempo, se faz
múltiplos como os “nós”, nos entrelaçamos menos por devir na voz do autor. Um embate entre uma naturali-
sermos idênticos e mais por nos reconhecermos como zação e essencialização do corpo que parece inerte e o
ains e assim buscamos cúmplices que de algum modo corpo vida que lui.
possibilitam e favorecem a ilusão da vida.

aS CONtRadIÇÕES dO CORPO
Meu corpo não é meu corpo, Meu corpo ordena que eu saia Quero romper com meu corpo,
é ilusão de outro ser. em busca do que não quero, quero enfrentá-lo, acusá-lo,
Sabe a arte de esconder-me e me nega, ao se airmar por abolir minha essência,
e é de tal modo sagaz como senhor do meu EU mas ele sequer me escuta e vai pelo
que a mim de mim ele oculta. convertido em cão servil rumo oposto.
...
Meu corpo, não meu agente, Se tento dele afastar-me, Já premido por seu pulso
meu envelope selado, por abstração ignorá-lo, de inquebrantável rigor,
meu revólver de assustar, volta a mim com todo o peso de sua não sou mais quem dantes era:
tornou-se meu carcereiro, carne poluída, com volúpia dirigida,
me sabe mais que sei.... seu tédio, seu desconforto. saio a bailar com meu corpo.

Notas Cunha, a. G. (1986). Dicionário etimológico Nova Fronteira da


língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
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php?left=1&main=front&right=1 Acesso em 28 de março publicado em 1968)
de 2009. Deleuze, G. (1992). Conversações (P. P. Pelbart, Trad.). São
2
Dennis Avner entrou para o Guiness Book, livro dos recordes, Paulo: Editora 34.
como a pessoa no mundo que mais transformou seu corpo. Deleuze, G. & Guattari, F. (1995). Mil Platôs – Capitalismo e
O fez para icar parecido com um gato. Esquizofrenia (Vol. 2). Rio de Janeiro: Ed. 34.
3
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