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INTRODUÇÃO ÀS EMERGÊNCIAS MÉDICAS EM ODONTOLOGIA

Professor Frauzemir Santos Lopes

Na prática odontológica é comum nos depararmos com doentes portadores


de patologias diversas: hipertensão, cardiopatias, diabetes, asma. Estes pacientes
merecem atendimento especial e para tanto, necessitamos de conhecimentos que
nos permitam avaliá-los corretamente e tratá-los convenientemente.

Cultura é o principal elemento de diagnóstico sem a qual nada poderemos


realizar. A leitura de bons livros sobre o assunto facilita o exercício profissional
neste aspecto.

Todos os pacientes acima de 60 anos são considerados de alto risco e o


melhor tratamento da emergência médica é a prevenção. A primeira regra é
conhecer o paciente através de uma anamnese bem dirigida. O atendimento ao
paciente é um grande diferencial para criar um vínculo de confiança e de cordiali-
dade. Uma equipe bem treinada e equipada é essencial, mas um bom atendimen-
to com um sorriso no rosto também ajuda. “A recepção empática do paciente
pela auxiliar é o primeiro passo para a supressão do medo e para o bom an-
damento do tratamento odontológico.”

São descritas, a seguir, de maneira sucinta, as emergências médicas mais


frequentemente encontradas no dia a dia, para as quais deveremos estar prepara-
dos, de modo que o atendimento do paciente seja eficiente e seguro.

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Qual o papel do Auxiliar em Saúde Bucal nas situações emergenciais no
consultório odontológico?

• Contribuir para o diagnóstico, prevenção e tratamento das emergências


médicas no consultório odontológico;
• Minimizar o estresse preparando psicologicamente o paciente para enfren-
tar o atendimento odontológico;
• Conhecer os monitores e aparelhos de aferição utilizados em Odontologia,
emprego e indicações de uso;
• Conhecer as situações emergenciais mais comuns no consultório odontoló-
gico, auxiliando o cirurgião–dentista nas condutas e tratamentos emprega-
dos;
• Permanecer vigilante ao comportamento do paciente e identificar pronta-
mente manifestações que correspondam às situações emergenciais;
• Conhecer os principais medicamentos emergenciais, comumente emprega-
dos em Odontologia, colaborando na sua manipulação e administração;
• Conhecer e aplicar técnicas de Suporte Básico de Vida.

Cerca de 85% destas situações emergenciais correspondem, em ordem de


frequência, a: hipóxia, hipotensão e hipoglicemia e todas podem ser diagnostica-
das rapidamente com o auxílio de aparelhos de medição e de monitores: oxíme-
tros, esfigmomanômetros e glicosímetros.

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REFLEXO VAGAL

É uma redução drástica da circulação cerebral ocasionando perda de cons-


ciência, devido a uma queda brusca da frequência cardíaca e da pressão arterial,
geralmente ocasionada por medo e ansiedade. É o que ocorre, por exemplo, com
pessoas que não podem ver sangue. Ao verem objetos cirúrgicos (agulhas) ou
sangue, criam um reflexo que faz o coração tornar-se extremamente bradicárdico
(frequência baixa) e a pressão acaba baixando deixando o paciente pálido, com
sudorese e tonturas. Em alguns casos, a frequência cardíaca chega abaixo de 30
bpm levando o paciente a um profundo quadro de hipotensão e perda da consci-
ência. Uma vez afastada a causa do reflexo, os pacientes tendem a recuperar es-
pontaneamente sem maiores complicações.

Conduta a ser seguida em casos de hipotensão grave:

1. colocar o paciente confortavelmente na horizontal;


2. remover possíveis causas de estímulos fóbicos;
3. medir a pressão arterial;
4. elevar as pernas.

CRISE HIPERTENSIVA

Pressão sistólica (máxima) acima de 140 mmHg ou pressão diastólica (mí-


nima) acima de 90 mmHg configura hipertensão. O estresse emocional que o tra-
tamento odontológico causa nos pacientes (síndrome do jaleco-branco) ainda é o
maior responsável pelas crises hipertensivas. Por isso, é importante que o auxiliar
proceda a aferição da pressão arterial do paciente sempre antes de qualquer tra-
tamento odontológico, uma vez que nem todos os pacientes apresentam sintomas
clássicos de hipertensão (dor na nuca, formigamento nas mãos, alterações visu-
ais, face avermelhada).

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A conduta durante a crise hipertensiva deve seguir a seguinte orientação:

1. acalmar o paciente e posicioná-lo confortavelmente;


2. medir a pressão arterial para confirmar o diagnóstico
3. administrar um anti-hipertensivo ( captopril - 25 mg sublingual) se for o
caso;
4. repetir após 15 minutos, se necessário;
5. encaminhar para atendimento médico se ainda permanecer hipertenso.

Para diagnóstico de hipertensão ou hipotensão deve-se utilizar o esfigmo-


manômetro, que pode ser aneroide (convencional) ou digital. Os digitais oferecem
maior facilidade de medição, mas o importante é que, independentemente do tipo
do aparelho, a sua parte inflável seja colocada no braço sobre a artéria braquial.
Medida da pressão feita abaixo do nível do coração irá dar um valor maior, e me-
dida da pressão feita acima do nível do coração irá dar um valor menor. Portanto,
todo sensor do esfigmomanômetro, seja ele digital ou aneroide, deve ser posicio-
nado ao nível do coração para que a medida obtida seja confiável.

HIPOGLICEMIA

Hipoglicemia é a diminuição da taxa de glicose circulante e deve ser dife-


renciada da hipóxia, pois apresenta sintomas semelhantes. Tem como causas bá-
sicas:

 Excesso de insulina;
 Supressão da Alimentação (jejum)
 Exercício físico prolongado.

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A glicose é a única reserva de energia de que o cérebro dispõe para reali-
zar seu metabolismo. Em consequência, a sua diminuição acarretará os seguintes
sintomas:

 palidez e suor frio;


 escurecimento da vista;
 letargia, tonturas e fraquezas;
 náuseas e tremores;
 apatia e irritabilidade,
 fome e convulsões.

Embora se assemelhe à hipóxia, a diferença básica está no padrão da


respiração. Na hipóxia, o paciente fica ofegante enquanto que na hipoglicemia a
sua respiração permanece dentro da normalidade e, neste caso, o oxímetro mos-
tra saturações dentro da normalidade (acima de 90%).

A maior parte dos procedimentos odontológicos não exige jejum. Muitos


pacientes acreditam que não devem se alimentar antes de ir ao dentista porque
têm medo de passar mal e vomitar. O profissional e a auxiliar devem orientar o
paciente neste aspecto. A taxa de glicose deve sempre ser medida antes do aten-
dimento nos pacientes diabéticos ou quando houver sintomas de hipoglicemia. O
medidor de glicose capilar é um equipamento indispensável no consultório odonto-
lógico.

A taxa de glicose normal gira em torno de 70 a 110 mg/dl no plasma em je-


jum. Valores abaixo de 70 mg/dl representam hipoglicemia.

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Para o tratamento devemos considerar a gravidade do caso:

 Casos leves: pequeno tremor; palidez discreta e sensação de fome.

 carboidratos (copo de leite, suco de laranja, refrigerantes, chocolates e


açúcares de um modo geral).

 casos moderados: palidez, suor frio, letargia e sensação de desmaio.

 se o paciente não estiver inconsciente e puder fazer uso da via oral, deve-
se dar açúcar. Se não puder ingerir, o profissional deve administrar a glico-
se endovenosa.

A glicose é a única reserva energética para o nosso cérebro. É o único ali-


mento que nosso cérebro reconhece. A falta de glicose é prejudicial porque pode
causar lesões cerebrais irreversíveis, inconsciência, convulsão e morte.

HIPERGLICEMIA (Diabete)

É considerado diabético o paciente que apresenta taxas de glicose acima


de 126 mg/dl no plasma em jejum em duas medidas feitas em dias separados ou
acima de 200 mg/dl a qualquer hora do dia, independentemente da alimentação
que o paciente teve. Para a prática odontológica, é importante sabermos que a gli-
cose aumentada interfere no funcionamento dos fibroblastos e leucócitos o que
favorece a deficiência de cicatrização e à propensão a fazer infecções.

Todo paciente diabético deve passar por exame médico pré-operatório. O


médico deve orientar o cirurgião-dentista sobre o estado geral do paciente e suas
condições para intervenções odontológicas, pois o diabete é um fator de risco para
doença coronariana.
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O paciente diabético suporta taxas elevadas de glicose, mas não suporta as
taxas diminuídas; por isso, o diabético não pode desenvolver quadros de hipogli-
cemia durante ou após o tratamento odontológico. Infecção, medicamentos, cirur-
gias e tratamentos prolongados são alguns fatores que provocam hipoglicemia em
pacientes diabéticos.

Assim sendo, a conduta a ser adotada em pacientes diabéticos deve seguir


as seguintes recomendações:

1. medir a glicose capilar antes do atendimento;


2. atender somente o paciente compensado (taxas de glicose dentro da nor-
malidade ou abaixo de 200 mg/dl)
3. evitar tratamento prolongado;
4. acalmar o paciente e evitar dor;
5. usar antibiótico profilático (porque apresenta propensão a infecção).

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