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6.

Fenómeno social da saúde e da doença


6.1. Influência dos fatores sociais na saúde

Atualmente, vivemos uma era de “transição


epidemiológica”. Este conceito – oriundo da demografia e
da geografia médica – significa que houve uma mudança
nos padrões de mortalidade e nas principais causas de
morte.
Neste caso, constata-se uma substituição progressiva das
doenças infetocontagiosas ou parasitárias pelas doenças
crónicas e degenerativas como principais causas de morte.
Chronic Diseases: Everyone’s Business (2:40)
https://www.youtube.com/watch?v=da8iw9hvQX4&ab

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Nesta nova era, típica das sociedades
desenvolvidas, o objetivo dos serviços de
saúde passa do curar (cure) para o cuidar
(care).

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A preocupação passa a ser de reduzir o
impacto da doença em termos de dor,
desconforto, incapacidade e outros aspetos do
estado de saúde.

Este aspeto é relevante sobretudo nos idosos.
Nos países desenvolvidos, 80 a 90% dos
óbitos têm mais de 65 anos; em Portugal, em
2018, 85% dos óbitos tinham mais de 65 anos.

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DGS | Plataforma da Mortalidade

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https://www.pordata.pt/publicacoes/infografias/causas+de+morte-289 9
Causes of death: Global Burden of Disease Study 2015 (2:15)
https://www.youtube.com/watch?v=ERvFgjBHizo&ab
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O contexto social da doença
A doença, seja ela qual for, não pode ser
compreendida sem analisar o contexto social,
ecológico, epidemiológico e evolutivo em que aparece
e se desenvolve.
Estar doente pode dever-se a outros fatores que não
apenas os biomédicos. Em situação de consulta, há
quem indique como causas para o seu mal-estar
diversas razões (familiares, profissionais, etc.).

Cabe ao profissional de saúde estar atento e


descobrir essas razões, colocando as questões certas
e ouvindo o paciente.
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O contexto social da doença
Além disso, a rede de fatores que podem levar à
doença é tão complexa que a classificação
convencional das doenças (ICD) como sendo
infecciosas, ambientais, psicossomáticas, auto-
imunes, genéticas e degenerativas, por vezes tem
dificuldade em classificar todas as situações em que
não existe um fator único que domina os outros.
Cabe aos profissionais de saúde analisar e
compreender essas questões.
WHO: The International Classification of Diseases (2:06)
https://www.youtube.com/watch?v=PlxvuRPNCFc&ab

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6.2. Estilos de vida em saúde
São vários e conhecidos os fatores que podem influenciar
a saúde de pessoas e comunidades, usualmente
designados por determinantes da saúde.

Isso mesmo pode ser confirmado em dois documentos


fundamentais para conhecer o estado de saúde de Portugal:

SNS, Retrato da Saúde, 2018 (88 páginas)


https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/04/RETRATO-DA-
SAUDE_2018_compressed.pdf
OCDE, Portugal - Perfil de saúde do país, 2019 (24 páginas)
https://www.oecd.org/portugal/Portugal-Perfil-de-saude-do-pais-2019-
Launch-presentation.pdf

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FONTE: SNS, Retrato da Saúde, 2018, página 11.

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Em Portugal, a informação oficial sobre a área da
Saúde pode encontrar-se no site da Direção Geral
da Saúde (DGS). Nele, são identificados fatores
(determinantes) como o local de residência, o meio
ambiente, o estilo de vida, a genética, a educação,
o nível socioeconómico ou a rede social de apoio.
Destes determinantes, importa destacar os Estilos
de Vida (p.ex: alimentação, atividade física, sono,
gestão de stresse ou tabagismo), que representam
em si uma importante oportunidade de promoção da
saúde.
Fonte: www.dgs.pt
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A obtenção de ganhos em saúde pela adoção de
estilos de vida saudável surge como uma
oportunidade de influenciar positivamente a saúde,
sobretudo no que respeita às doenças crónicas não
transmissíveis.
A adoção de um Estilo de Vida Saudável deve ser
vista como uma oportunidade e um desafio da
pessoa, da família e da comunidade, pela
possibilidade de ter uma atitude preventiva no que
diz respeito à saúde.

Fonte: www.dgs.pt
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Importa então promover o aumento da literacia em
saúde, ter pessoas e comunidades ativadas e
capacitadas por forma a criar condições que favoreçam
a tomada de decisões críticas face às suas opções.
A Carta de Ottawa para Promoção da Saúde (1986) e os
documentos subsequentes sobre este tema, realçam a
importância de pensar a saúde em todas as políticas,
dos ambientes saudáveis, dos estilos de vida saudável e
da necessidade de orientação dos serviços de saúde
para a prevenção de doenças e promoção da saúde
(OMS, 2017).

Fonte: www.dgs.pt
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6.3. O papel de doente e os tipos
de doentes

➔ A doença é uma categoria socialmente


construída e, como tal, incorpora uma
pluralidade de significados e conotações que
transmitem uma determinada representação
do mundo e da ordem social.
➔ Para a Sociologia, a doença e o papel do
doente podem ser abordados, pelo menos,
de 3 perspetivas.
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illness: perspetiva
pessoal do doente

disease: perspetiva sickness:


dos profissionais de perspetiva
saúde social

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três perspetivas de doença:

➔disease: certificação biomédica / do profissional de


saúde; a doença enquanto conceito construído no
quadro de um sistema de caraterísticas, e enquanto
desvio de uma “norma biológica” (patologia).
➔illness: é o sentimento pessoal, a experiência
subjetiva de estar doente; a doença tal como ela é vivida
pelo doente (enfermidade).
➔sickness: expressa o significado social da doença. É
o papel e o estatuto social associados à doença, numa
relação entre o doente e uma sociedade preparada (ou
não) para o reconhecer e apoiar (maleita).

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Na posse da informação que lhe é dada pelo médico, o
doente “constrói” a sua explicação para a doença, dando
um sentido aos termos que reteve da consulta, mais
conforme com a linguagem que lhe é familiar.
Na reutilização dos termos médicos no discurso do doente,
é possível distinguir a “doença do médico” e a “doença do
doente” (com linguagens, culturas e conceitos diferentes).
Um fenómeno recente e muito interessante é que há cada
vez mais quem chegue à consulta com o diagnóstico já
feito (com recurso às novas tecnologias) → cibercondria

Você sabe o que é Cibercondria? O famoso Dr. GOOGLE (5:20)


https://www.youtube.com/watch?v=bEJTCeBVY7Q
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O papel do doente
A pessoa nunca pode ser desligada do seu contexto
social de origem. Quando a pessoa doente não é
capaz de desempenhar os seus papéis sociais
habituais, a vida das pessoas que a rodeiam pode
entrar em rutura.

Para Parsons (1952), o papel de doente assenta em 3


ideias-chave:
➔ A pessoa doente não é pessoalmente responsável
por estar doente
➔ São concedidos certos direitos e privilégios à pessoa
doente, que incluem o cancelamento das suas
responsabilidades habituais
➔ A pessoa doente deve esforçar-se por recuperar
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Direitos
Papel de doente Papel do profissional

Isenção do seu papel social Garantia de acesso privilegiado


normal quando autorizado pelos ao exame físico e emocional do
agentes adequados doente

Não é visto como responsável Garantia de autonomia na


pela doença e por não prática profissional
conseguir melhorar por mera
vontade
Garantia de autoridade sobre o
doente

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Deveres
Papel de doente Papel do profissional

Tem de ver a doença como Aplicar competência técnica ao


indesejável e querer melhorar problema do doente

Tem de procurar ajuda Ser orientado de forma altruísta


tecnicamente competente e para o bem-estar do doente e
colaborar com o tratamento não para o seu próprio interesse

Manter a neutralidade afetiva

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Segundo Freidson (1970), a
experiência do papel de doente varia
em função do tipo de doença, pois as
reações das pessoas a uma pessoa
doente são influenciadas pela
gravidade da doença e pela sua
perceção desse facto.

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Nesse sentido, Freidson fala de 3 tipos de
doentes:
➔ condicional (temporário) - Espera-se que a pessoa
doente «fique melhor», e ela recebe alguns direitos e
privilégios em função da gravidade da doença.
➔ legitimado incondicionalmente (crónico) - Dado a
pessoa doente nada poder fazer para recuperar a saúde,
ela tem automaticamente direito a desempenhar o papel
de doente.
➔ ilegítimo (estigmatizado) - Nestes casos, há a noção
de que o indivíduo pode de alguma forma ser
responsável pela doença, não lhe sendo reconhecidos
direitos e privilégios adicionais

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Novas conceções do doente

Nas sociedades modernas, as pessoas


estão cada vez mais a tornar-se
«consumidores de saúde», adotando
uma postura mais ativa em relação à
sua própria saúde e bem-estar:
• têm mais acesso à informação
• têm a capacidade de escolher os seus médicos
• são mais exigentes em relação ao tratamento e
cuidados de saúde
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Doente, paciente, utente ou cliente?

⚫ Doente: pessoa que tem doença ou


enfermidade
⚫ Paciente: pessoa sujeita a tratamentos ou
cuidados médicos
⚫ Utente: pessoa que utiliza os serviços de
saúde
⚫ Cliente: conceito na moda a partir dos anos
1990, implica uma relação entre o profissional
de saúde e o “comprador” do serviço
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6.4. Evolução dos indicadores sociais
relativos à saúde

https://www.pordata.pt/Tema/Portugal/Sa%C3%BAde-12

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Retrato da Saúde (Portugal), 2018
PRINCIPAIS CONCLUSÕES:
⚫ O estado de saúde da população portuguesa melhorou
consideravelmente ao longo das últimas décadas.
⚫ Os portugueses vivem mais anos, sendo a esperança de
vida superior à média da União Europeia.
⚫ Isto deve-se às melhores condições de vida, mas
também ao facto de os cidadãos passarem a ter tido mais
e melhor acesso aos cuidados de saúde.
⚫ Por outro lado, o progresso da medicina e da tecnologia
refletiram-se positivamente nos medicamentos e nas
terapêuticas, que são, hoje, mais inovadores e eficazes.

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⚫ Todas estas evoluções, associadas à profunda
mudança de perfil demográfico e epidemiológico do
país, tiveram um forte impacto na sociedade.
Atualmente, e tal como acontece com os chamados
países desenvolvidos, deparamo-nos com problemas
de saúde bem diferentes daqueles que enfrentávamos
há uns anos.
⚫ Se, por um lado, o envelhecimento da população
conduz ao aumento de doenças crónicas, por outro,
adotámos também novos estilos de vida, com
comportamentos que determinam fortemente o estado
da nossa saúde.
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⚫ As doenças crónicas são responsáveis por 80% da
mortalidade nos países europeus, sendo as afeções do
aparelho circulatório as principais causas de mortalidade.
⚫ A incidência e prevalência destas doenças é condicionada por
fatores de risco individuais e sociais, dos quais se
destacam: >Excesso de peso; >Hábitos alimentares
inadequados; >Sedentarismo; >Tabagismo; >Alcoolismo.
⚫ De acordo com o Global Burden of Disease, em 2016, em
Portugal, cerca de 41% do total de anos de vida saudável
perdidos por morte prematura poderia ter sido evitado se
fossem eliminados os principais fatores de risco modificáveis.

Retrato da Saúde (2018) (15:00)


https://www.youtube.com/watch?v=j-l6-bPk3H4&ab
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https://www.rtp.pt/noticias/pais/durante-a-pandemia-ficaram-por-fazer-14-
milhoes-de-consultas-presenciais_v1360671
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