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PROGRAMA Módulo:

Atenção domiciliar
DE EDUCAÇÃO
na Atenção
PERMANENTE Primária à Saúde
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA

UNIDADE
O que é mais
4
comum na atenção
domiciliar do meu
território?

Giovana Bacilieri Soares


O que é mais comum na atenção
domiciliar do meu território?
Cursista, chegamos à última unidade deste módulo de Atenção domiciliar! Vamos ver aplica-
ções práticas no cotidiano do cuidado das situações mais comuns na atenção domiciliar do
território, a saber: problema respiratório; infecção do trato urinário e dificuldade de evacuar.

Atenção domiciliar na Atenção Primária à Saúde


O que é mais comum na atenção domiciliar do meu território? 2
Aula 1: O cotidiano do cuidado das
situações mais comuns na atenção
domiciliar: síndrome da imobilidade e
problema respiratório
Tendo como referência principal o Caderno da Atenção Básica – Atenção domiciliar (BRASIL,
2013), passamos a elencar as situações clínicas mais comuns e os pontos-chave para lidar
com cada uma delas no dia a dia do atendimento domiciliar, seja pelas equipes de atenção
primária no contexto da Estratégia Saúde da Família, seja no contexto das equipes multidis-
ciplinares de Atenção domiciliar.

Na situação-problema deste módulo, vimos que o Sr. Arnaldo tem o diagnóstico de síndro-
me de imobilidade. Vamos começar esta aula aprendendo mais sobre essa síndrome?

Síndrome da imobilidade
O primeiro e talvez o ponto mais crítico para surgimento e agravamento de várias outras
condições é a chamada Síndrome da Imobilidade (SI), que acomete aqueles pacientes com
problemas degenerativos, traumáticos ou cerebrovasculares como sequela. A perda do des-
locamento e o limite desses pacientes ao leito trazem consequências físicas e psicossociais.
Entre as condições físicas, nos deparamos comumente com atrofias, feridas, as recorrentes
infecções (principalmente de pele, urinárias e respiratórias), a constipação intestinal e a dor.

Cabe destacar que, para avaliação de dor, bem como de outros sintomas, nesses pacien-
tes que muitas vezes apresentam dificuldade de se comunicar, é preciso estar atento. São
pacientes que muitas vezes não conseguem verbalizar, por isso a comunicação não verbal e
a observação de mudanças na funcionalidade são essenciais na assistência (BRASIL, 2013b).

As infecções respiratórias muitas vezes decorrem de broncoaspiração. Um correto manejo


ao alimentar, posicionamento no leito, tipo de dieta e, em alguns casos, “a higiene brônqui-
ca”, com aspiração das secreções das vias aéreas superiores, para aqueles que não conse-
guem realizá-la espontaneamente, são essenciais para prevenção da broncoaspiração e as
infecções decorrentes (BRASIL, 2013b). Vamos falar sobre problemas respiratórios logo mais
nesta aula.

Correto manejo de sondas, trocas de fraldas e higiene do paciente podem evitar muitas
ocorrências de infecções do trato urinário. É bom sempre lembrar que a presença de bac-
térias na urina (bacteriúria), caso seja assintomática, não deve ser tratada e a escolha do
antibiótico deve levar em conta o histórico de antibioticoterapia recente e, quando possível,
culturas urinárias (BRASIL, 2013b).

Como o manejo das dejeções, fraldas e higiene desses pacientes muitas vezes é realizado
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por um cuidador, é fundamental que este tenha um olhar diferenciado para essas tarefas
e saiba a relevância de uma cuidadosa observação, revelando sinais importantes, como o
aspecto das fezes, da urina, presença ou não de sangue ou secreções anômalas, odor acen-
tuado ou outras anormalidades. Contudo, nem sempre estão alinhados os conceitos de pro-
fissionais de saúde, usuários e cuidadores sobre as eliminações intestinais e vesicais. Por
exemplo, o que a equipe considera constipação nem sempre coincide com o que o cuidador
chama de “intestino ressecado” ou “preso”.

A urina também é passível de má interpretação quanto às características de turbidez, odor,


aspecto espumoso, entre outros sinais. Entra, neste caso, um processo educativo envolven-
do equipe-cuidadores-paciente, desde cursos que podem ser ofertados ao simples alerta
para observação e relato de “algo diferente do habitual”. Mudanças de padrão devem ser
sempre aventadas e perguntadas. As infecções do trato urinário e a constipação serão o
assunto da próxima aula desta unidade.

Aprenda mais sobre esses assuntos nos seguintes módulos do PEPSUS:

• “Feridas e Curativos na Atenção Primária à Saúde”

• “Procedimentos Médicos na Atenção Primária à Saúde”

Meu paciente está com problema


respiratório
Caro cursista, como já vimos na seção sobre imobilidade, esta condição traz consigo risco
aumentado para as infecções, entre elas as do trato respiratório. Dessa forma, estas são
demanda quase constante no dia a dia da atenção domiciliar.

Acamado, um paciente frequentemente apresenta déficits na fisiologia do trato respiratório


no que se refere à limpeza, à depuração das secreções e agressões externas, como agen-
tes químicos ou micro-organismos que ali se instalam e se desenvolvem causando infecções.
Ambientes fechados, pouco ventilados, como em tantas vezes a equipe encontra o paciente
acamado, são propícios ao surgimento ou ao agravamento de doenças respiratórias. A família
nem sempre tem atentado para a importância de controle rigoroso da higiene ambiental, cui-
dando de eliminar e prevenir acúmulos de mofo, ácaros etc. onde vive o paciente acamado.

Diante da queixa respiratória, e considerando a condição, a suscetibilidade desse paciente à


aspiração, sua imunidade e seu estado nutricional, a primeira grande decisão ou conclusão
a ser feita é: se o caso em questão se trata de infecção de vias aéreas superiores (IVAS) ou
inferiores (por exemplo, pneumonias). Também a seguir se deve pensar se está diante de
doença respiratória aguda ou crônica, ou se há agudização de condição crônica prévia.
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Nesse momento, a história sobre a tosse, a dispneia, entre outros sinais e sintomas, deve
ser detalhada e o exame físico assume vital importância. Deve-se fazer questão de tentar
visualizar a orofaringe, as narinas e também de posicionar o paciente o melhor possível
para uma ausculta pulmonar efetiva. Sinais indiretos, como perfusão capilar, cianose, uso de
musculatura acessória e sinais vitais, podem ajudar a dimensionar o problema e a decidir o
melhor projeto terapêutico para o caso.

Para aprender mais sobre tosse, veja o módulo “Manejo das doenças
e agravos mais frequentes na Atenção Primária à Saúde” do PEPSUS.

As pneumonias são, em grande parte, relacionadas a dificuldades nos processos de deglu-


tição/alimentação, ou ingesta de medicação via oral, nos quais pode ocorrer broncoaspi-
ração, ou ainda infecções por micro-organismos que normalmente seriam debelados pelo
sistema imunológico, mas num indivíduo enfraquecido pela imobilidade e má nutrição, tor-
na-se uma ameaça verdadeira.

Atentar com a família para a mudança de decúbito, sempre que possível, verticalizando a
posição, inclinando o tórax do paciente 30º – 45º, principalmente no momento de se alimen-
tar. São também frequentes após manipulações, intubação, passagens de sondas nasoente-
rais e permanência em ambiente hospitalar.

Doenças degenerativas muitas vezes cursam com enfraquecimento da musculatura aces-


sória à respiração e diminuem a amplitude de movimentação diafragmática, tornando o
padrão respiratório superficial e de maior frequência.

45º

Figura 1: Cuidador em doença degenerativa.

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É importante que tanto a equipe quanto cuidadores estejam atentos para o fato de que os
primeiros sintomas podem ser letargia, rebaixamento do nível de consciência mesmo antes
de dispneia identificável. Observação do tórax, uso de musculatura cervical, aumento da
frequência respiratória e quedas na saturação de O2 são indicativos objetivos de disfunção
respiratória. O paciente pode ter sua função pulmonar mensurada por vários exames e,
para pacientes com doença pulmonar crônica, é válido que se tenha avaliações periódicas
para acompanhar a progressão da doença.

Avaliação da capacidade de deglutir pode também ajudar a decidir e encaminhar o paciente


para se estabelecer uma gastrostomia (GTT), como na situação relatada. Diminuindo a pos-
sibilidade de que o alimento chegue ao trato respiratório, ao invés de ao digestivo, diminui-
-se a incidência de infecções respiratórias recorrentes. Algumas vezes, na prática, treinar o
cuidador para alguns cuidados, higiene, posicionamento já reduz o número de internações
do paciente.

Na ocorrência de pneumonia há que se decidir se o paciente é elegível ao tratamento no


domicílio, ou necessita de internação hospitalar, pode-se utilizar da via oral ou necessita-
rá de medicação parenteral. Caso a internação seja necessária, ainda é preciso decidir se
necessita de internação em UTI ou em enfermaria.

Para padronizar e tornar objetivos os critérios para uma ou outra decisão, criaram-se diver-
sos escores preditivos de mortalidade, risco, necessidade ou não de internamento. Não há
evidências de superioridade de um escore sobre o outro.

Apesar de úteis para ajudar na tomada de decisões, esses escores e protocolos não devem
ser aplicados de forma automática, pois sua aplicação é discutível quando em pacientes fra-
gilizados. Valoriza-se então o conhecimento da situação anterior do paciente, as mudanças
no seu estado funcional e os recursos disponíveis para se instituir terapêutica específica
(FARRERO et al., 2013).

Sociedades de especialidades de diferentes países recomendam uma combinação de crité-


rios maiores e menores para indicar ou não UTI. Os critérios maiores são choque séptico e
necessidade de ventilação mecânica (FARRERO et al., 2013).

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Aula 2: O caso do sr. Arnaldo: infecção do
trato urinário e dificuldade de evacuar

Vamos relembrar? No nosso caso-problema relatado, o Sr. Arnaldo, de 72 anos, usa “uro-
pen” também conhecido como “sonda camisinha”. Você conhece a Uropen?

Figura 2 – a) sonda camisinha; b) sonda vesical de demora.

Fonte: a) <https://ladobmodainclusiva.com.br/blog/wp-content/uploads/2016/03/uripen-825x510.jpg>; b)
<http://4.bp.blogspot.com/-BfPyW-bmLcU/VohUOpXog-I/AAAAAAAAAus/Puly7QyPd2g/s1600/Sonda%2Bvesi-
cal%2Bde%2Bdemora%2BSVD%2BNo%2BCaminho%2Bda%2BEnfermagem%2BLucas%2BFontes%2BCateteris-
mo%2Bvesical%2Bde%2Bdemora.jpg>. Acesso em: 16 jul. 2018.

O Sr. Arnaldo também já foi usuário de sonda vesical de demora e de cateterismo intermitente.

Aprenda mais sobre cateterismo vesical no seguinte módulo do


PEPSUS: “Procedimentos de Enfermagem na Atenção Primária à
Saúde”.

Infecção do trato urinário


Qualquer manejo urinário que envolva manipulação/cateterização do ureter requer um cui-
dado em relação às infecções do trato urinário (ITU). Muitas vezes a equipe se depara com
pacientes com sondagens de alívio realizadas pelo próprio cuidador ou ainda sondas vesi-
cais de demora com uso muito prolongado. Opções que possam minimizar esses problemas
devem ser discutidas entre a equipe, o paciente, o cuidador e o médico urologista assistente
na atenção secundária.
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As recomendações sobre a condução de casos e a prevenção de recor-
rências de infecção do trato urinário (ITU) devem seguir as seguintes
evidências (GRABE et al., 2015):

Ter um protocolo e segui-lo, bem como cuidado obsessivo com lavagem


de mãos e uso de luvas descartáveis é fundamental para prevenção.

O procedimento de passagem de sonda (cateterização) deve ser


asséptico, usar lubrificante em boa quantidade e cateter do menor
calibre possível, pelo menor tempo necessário.

O sistema coletor deve ficar sempre fechado, a bolsa estando em


nível abaixo da bexiga e da inserção do tubo conector.

Não se deve impregnar sondas com antibiótico ou antissépticos na


tentativa de incrementar a prevenção de ITU.

Uso de antibióticos profiláticos, crônicos ou tratamentos para bacte-


riúria assintomática NÃO são recomendados, bem como antifúngicos
NÃO estão recomendados para candidúria assintomática.

Urocultura como rotina em pacientes assintomáticos NÃO deve ser


realizada. Quando se decide por antibioticoterapia, culturas devem
ser colhidas antes do início do medicamento.

Alguns pacientes são elegíveis para, ao invés da sondagem de demora,


utilizarem o cateterismo intermitente, suprapúbico ou a “sonda cami-
sinha”, já que o índice de ITU recorrente é menor nesses casos, e os
pacientes com mais de 10 anos em uso de sonda devem ser rastre-
ados para câncer de bexiga.

Os esquemas de tratamento de ITU no paciente em atenção domiciliar devem sempre ser


introduzidos a partir de sinais e sintomas e iniciados sempre que possível após coleta de
urocultura. O esquema a ser instituído deve levar em conta alguns questionamentos:

Houve internação hospitalar recente (de 30 dias até um ano, a depen-


der dos procedimentos submetidos, como colocação de cirurgias
urológicas, por exemplo)?

Urocultura recente positiva para algum micro-organismo?

ITU de repetição com último episódio a menos de três meses?

As respostas positivas para um ou mais desses questionamentos faz com que seja considerado
um esquema de espectro e duração maiores. A escolha do antibiótico deve ser feita consideran-
do a sensibilidade apresentada no meio em questão. Atentar para a duração do tratamento, que
pode ser reavaliada de acordo com resultados dos exames complementares e a resposta clínica
caso a caso. São exemplos de esquemas possíveis/efetivos para ITU os seguintes.
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Diagnóstico Tratamento inicial, empírico Duração

NÃO TRATAR (com exceção de


Bacteriúria assintomática -
gestantes)

Fosfamicina trometamol dose


única 3 g/sachê
1 dia
Nitrofurantoína 100 mg 4x/dia
5 dias
Cefalexina / Acetilcefuroxima 4x/
Cistite, ITU esporádica, não com- dia 3-5 dias
plicada Sulfametoxazol+Trimetoprima 3 dias
800/160 mg 2x/dia
3 dias
Norflox 400 mg / Ciprofloxacino
500 mg 2x/dia 3 dias

Levofloxacino 750 mg 1x/dia


Quinolona (Cipro, Levo)
7-10 dias
Ceftriaxona 1 g 2x/dia EV
10 dias
Febril, pielonefrite não compli- Amoxicilina+clavulanato ou
cada Ampicilina+Sulbactan Após melhora, considerar
troca para VO de acordo
Gentamicina ou Amicacina com o resultado da urocul-
tura.
Sulfametoxazol+Trimetoprima
Quinolona (Cipro/Levo)

Amoxicilina+clavulanato ou 7-14 dias


Febril, com fatores urológicos Ampicilina+Sulbactan
complicadores, cateterismo ure- Considerar combinações de
teral, pielonefrite grave, compli- Ceftriaxona dois antibióticos nas infec-
cada ções graves.
Gentamicina ou Amicacina

Sulfametoxazol+trimetoprima

Quadro 4 – Esquemas possíveis/efetivos para ITU.

Fonte: Grabe et al. (2015).

O sr. Arnaldo está com dificuldade de evacuar


No caso narrado, o familiar apresenta o relato de constipação intestinal, que é uma das
queixas mais frequentes na clínica médica, no paciente internado ou no ambulatório. O pri-
meiro passo ao abordar a dificuldade de evacuar é caracterizá-la detalhadamente.

A definição de constipação intestinal é imprecisa, encontrada na literatura como diminuição


da frequência evacuatória para menos de três evacuações por semana, porém incluindo
dificuldade de esvaziamento retal e diminuição do volume fecal a cada evacuação e outros
parâmetros físicos, como o peso das fezes e a quantidade de água (FREITAS et al., 2003).

Deve-se ter cuidado, pois o ritmo intestinal “normal” é bastante variável pessoa a pessoa, em
termos de frequência evacuatória – de três vezes ao dia a três vezes por semana –, podendo
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ser fisiológico e não considerado constipação isoladamente. Por isso é importante tentar
“conhecer” o paciente ao máximo, saber como está o padrão atual e qual era o seu habitual.
Recomenda-se documentar mudanças de padrão e tentar entender os fatores contribuintes
para tais modificações.

Diversos fatores contribuem para a constipação: dietéticos (baixa ingestão hídrica, de fibras
alimentares e excesso de alimentos refinados/industrializados); fatores funcionais, como
no exemplo da imobilidade e do sedentarismo; doenças neurológicas (por trauma medular,
degenerativas ou cerebrovasculares); doenças do cólon ou ânus; distúrbios metabólicos; e
também causadas por medicamentos. Esta última causa merece especial atenção no caso
do paciente acamado, pois a equipe muitas vezes terá que lidar com a chamada “polifarmá-
cia”, os efeitos adversos de medicamento per se ou a interação entre eles.

Destacam-se nesse grupo de medicamentos, alguns anti-inflamatórios não esteroides (ibu-


profeno, naproxeno, AAS), opiáceos (codeína, morfina, metadona) antitussígenos (trimedal,
codeína), antiácidos (carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio) bloqueadores do canal
de cálcio (verapamil, nifedipina, diltiazem) e anti-hipertensivos diuréticos, simpaticolíticos
(metildopa, clonidina), entre outros.

O tratamento da constipação é também uma abordagem complexa, não pode ser uma estra-
tégia única, pois os pacientes têm condições e causas diferentes. De maneira geral, algumas
medidas podem se aplicar à maioria deles, como a dieta, a ingestão hídrica e de fibras.

Essas orientações, dadas muitas vezes sem o cuidado e o detalhamento necessário, podem
não reverter e até mesmo agravar o quadro de constipação. Cabe destacar alguns pontos
então:

O total de fibras alimentares que deve ser consumido diariamente é


em torno de 20 g por dia, sendo 2/3 desse total em fibras insolúveis
(presente em cereais integrais e em folhas e talos de verduras.), e 1/3
de fibras solúveis (maioria das frutas, legumes, alface).

Pelas dificuldades de deglutição, hiporexia e outras condições, mui-


tas vezes uma recomendação de ingesta de fibras não consegue
resultados simplesmente porque não se consegue a quantidade
necessária diária. Pode-se pensar, a partir da condição do paciente,
em suplementar fibras. Para tanto, existem opções no mercado de
suplementos de fibra alimentar.

A ingestão de fibras DEVE ser combinada à ingestão adequada de


água, caso contrário a fibra pode aumentar a compactação e o endu-
recimento das fezes, sendo fator de risco para desenvolvimento de
fecalomas (fezes empedradas).

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Se não há restrições devido à função renal ou cardíaca, 2 a 3 litros de
líquidos deve ser o objetivo de consumo diário, podendo diversificar
e fracionar ao longo do dia a ingestão de líquidos, mas mantendo a
água filtrada como parte significativa do total.

Como a movimentação é um componente importante para favorecer


o ritmo intestinal adequado, a imobilidade pode gerar ou complicar
constipação. Medidas como girar o tronco, exercitar braços, mover
passivamente as pernas pode ajudar a melhorar o peristaltismo.

O paciente em imobilidade também pode receber massagens com


a mão espalmada no abdome, sempre “empurrando” no sentido da
direita para a esquerda, ou circular em sentido horário. As massagens
realizadas cerca de meia hora após ingesta alimentar podem somar
seu efeito ao reflexo pós-prandial.

Quando as medidas não farmacológicas por si mesmas não levam a um padrão favorável
de funcionamento do intestino e este fato traz sofrimento ou prejuízos à saúde do paciente,
deve se pensar no tratamento farmacológico.

Uma investigação cuidadosa e respeitosa deve ser feita com o cuidador/familiar do paciente
constipado, pois não é raro que se tente tratamentos fitoterápicos, chás ou mesmo medi-
camentos sem que se perceba como automedicação e os riscos de tratar sem critérios. Os
medicamentos que produzem efeito laxante são bem diferentes quanto ao mecanismo de
ação e também por isso quanto à indicação. Sempre que possível, usar por períodos curtos
e tentar enfatizar benefícios de não depender ou se valer exclusivamente das medidas far-
macológicas.

A seguir, um quadro que resume os laxantes mais utilizados, suas características, indicações
e precauções.

Contraindicações/
Fármaco Mecanismo Indicações/dose
cuidados
INGESTÃO HÍDRICA 2L/DIA (6 a
Aumento do volu- 8 copos) no mínimo.
me do bolo fecal e 10 g diárias (2 colhe-
Suplementos de fibras Espaçar tomada de outros
melhora da consis- res de sobremesa
(TriFibra, Agiofibra, medicamentos em pelo
tência das fezes. ou 1 sachê, ou 2
PlantaBen menos meia hora.
No início pode flaconetes).
levar à flatulência. Não usar outros laxantes
associados (loperamida etc.).

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Não usar: intolerantes à lac-
tose.

Não são absorvi- 15 a 30 ml /dia Uso prolongado, repetido,


Laxantes osmóticos dos e, por osmose, pode alterar eletrólitos, alterar
trazem água para glicemia e pressão arterial.
(Lactulona, Lactulosum, a luz do intestino, 1 supositório retido
supositório de Gliceri- melhorando assim Em virtude desses efeitos,
por 15-30 minutos
na), Minilax (sorbitol) a consistência e o deve-se ter cautela em idosos
até que se obtenha
trânsito intestinal muito debilitados ou com
o efeito.
outras condições de fragili-
dade (hemorragias retais ou
obstrução).
Diminuição de absorção de
Ação lubrificante vitaminas A D, E e K, além de
Laxantes emolientes da parede intesti- cálcio e fosfatos.
1 colher de sopa (15
(lubrificantes), óleo nal e do bolo fecal,
ml) à noite e 1 pela Aspiração e suas consequên-
mineral, Nujol, Purol, facilitando sua
manhã cias no trato respiratório.
Laxol (rícino) passagem pela luz
intestinal. Cautela, portanto, nos pacien-
tes com difícil deglutição.
Laxantes catárticos ou
irritantes/estimulantes Age sobre o plexo Detalhar com o DESACONSELHÁVEL, princi-
entérico aumen- paciente sobre palmente em usos prolonga-
1) Sene, Frutalax, Gutta-
tando a motilidade riscos. Caso utilize, dos, repetidos – pode ocorrer
lax, Tamarine, cáscara
colônica e também minimizar a dose e constipação “rebote”, gerar
sagrada
a secreção de água a frequência utiliza- um ciclo vicioso e necessidade
2) Bisacodil (Dulcolax, no íleo e cólons. das. gradual de aumento de doses.
Lacto-purga etc.
Quadro 5 – Laxantes mais utilizados, indicações e precauções.

Fonte: Formulado a partir de Freitas et al. (2003).

Dessa forma, um problema que às vezes pode parecer simples, pontual, engendra várias
outras questões, sistêmicas e da dinâmica cotidiana dos pacientes. Deve-se atentar toda a
equipe (incluindo técnicos e agentes de saúde) para o fato de que medidas não farmaco-
lógicas são preferenciais e todos devem estar atentos a prospectar o uso, indicado ou por
automedicação, de laxantes por parte de pacientes e familiares.

Outras condições frequentemente encontradas na


atenção domiciliar
Inúmeras outras situações clínicas podem estar presentes no paciente restrito ao leito, seja
pela imobilidade, seja pelo envelhecimento, ou pelas doenças de base, comorbidades. Vale
dar destaque a situações como as relacionadas a doenças cardiovasculares e neoplasias,
pela prevalência e importância dos cuidados.

Doenças cardiovasculares

Muitas vezes o paciente atendido pela equipe de saúde e que apresenta cardiopatia pode
ter seu problema abordado inicialmente ou mesmo detectado, como no caso de arritmias,
ou ainda contar com a equipe para continuidade dos cuidados, como, por exemplo, nos tra-
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tamentos de trombose venosa profunda ou insuficiência cardíaca congestiva.

Neoplasias

Em neoplasias, o paciente pode ser acompanhado não só nas fases de paliação, mas tam-
bém durante a fase de tratamento curativo. Uma boa comunicação com a equipe de onco-
logia, cirurgia e radiologia é importante para o andamento do cuidado domiciliar. Nesses
pacientes uma série de intercorrências é esperada e, quanto maior for o conhecimento da
equipe sobre os riscos e as vulnerabilidades, mais efetivo se tornará esse acompanhamen-
to. Muitas vezes esse cuidado ultrapassa os limites da Atenção domiciliar nível 1, podendo
necessitar a avaliação e o seguimento de equipes de referência.

Em atendimentos a essas e outras comorbidades de variável grau de


complexidade, é importante a equipe estar sempre aberta e proativa
tentando interligar outros pontos de atenção, como o hospital ou
a atenção secundária, sempre buscando o benefício e as soluções
para os pacientes. Mais situações clínicas comuns, como problemas
nutricionais, transtornos de saúde mental, doenças da pele e feridas,
podem ser estudadas em materiais específicos do núcleo de conhe-
cimento e encontradas também no Caderno de Atenção domiciliar,
volume 2 (Acesso gratuito clicando no link aqui).

Finalizando...
Chegamos ao fim do módulo de Atenção domiciliar na Atenção Primária à Saúde! Esperamos
que você tenha aprendido bastante sobre: as relações existentes entre Atenção domiciliar,
Atenção Primária à Saúde e o Sistema Único de Saúde; o cuidado integral e os instrumentos
de trabalho com famílias; e a atenção domiciliar e o manejo de situações mais comuns na
atenção domiciliar do território. Esperamos vê-lo em breve em outro módulo do nosso cur-
so PEPSUS.

Atenção domiciliar na Atenção Primária à Saúde


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