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Atenção domiciliar
DE EDUCAÇÃO
na Atenção
PERMANENTE Primária à Saúde
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE
O que é mais
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comum na atenção
domiciliar do meu
território?
Na situação-problema deste módulo, vimos que o Sr. Arnaldo tem o diagnóstico de síndro-
me de imobilidade. Vamos começar esta aula aprendendo mais sobre essa síndrome?
Síndrome da imobilidade
O primeiro e talvez o ponto mais crítico para surgimento e agravamento de várias outras
condições é a chamada Síndrome da Imobilidade (SI), que acomete aqueles pacientes com
problemas degenerativos, traumáticos ou cerebrovasculares como sequela. A perda do des-
locamento e o limite desses pacientes ao leito trazem consequências físicas e psicossociais.
Entre as condições físicas, nos deparamos comumente com atrofias, feridas, as recorrentes
infecções (principalmente de pele, urinárias e respiratórias), a constipação intestinal e a dor.
Cabe destacar que, para avaliação de dor, bem como de outros sintomas, nesses pacien-
tes que muitas vezes apresentam dificuldade de se comunicar, é preciso estar atento. São
pacientes que muitas vezes não conseguem verbalizar, por isso a comunicação não verbal e
a observação de mudanças na funcionalidade são essenciais na assistência (BRASIL, 2013b).
Correto manejo de sondas, trocas de fraldas e higiene do paciente podem evitar muitas
ocorrências de infecções do trato urinário. É bom sempre lembrar que a presença de bac-
térias na urina (bacteriúria), caso seja assintomática, não deve ser tratada e a escolha do
antibiótico deve levar em conta o histórico de antibioticoterapia recente e, quando possível,
culturas urinárias (BRASIL, 2013b).
Como o manejo das dejeções, fraldas e higiene desses pacientes muitas vezes é realizado
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por um cuidador, é fundamental que este tenha um olhar diferenciado para essas tarefas
e saiba a relevância de uma cuidadosa observação, revelando sinais importantes, como o
aspecto das fezes, da urina, presença ou não de sangue ou secreções anômalas, odor acen-
tuado ou outras anormalidades. Contudo, nem sempre estão alinhados os conceitos de pro-
fissionais de saúde, usuários e cuidadores sobre as eliminações intestinais e vesicais. Por
exemplo, o que a equipe considera constipação nem sempre coincide com o que o cuidador
chama de “intestino ressecado” ou “preso”.
Para aprender mais sobre tosse, veja o módulo “Manejo das doenças
e agravos mais frequentes na Atenção Primária à Saúde” do PEPSUS.
Atentar com a família para a mudança de decúbito, sempre que possível, verticalizando a
posição, inclinando o tórax do paciente 30º – 45º, principalmente no momento de se alimen-
tar. São também frequentes após manipulações, intubação, passagens de sondas nasoente-
rais e permanência em ambiente hospitalar.
45º
Para padronizar e tornar objetivos os critérios para uma ou outra decisão, criaram-se diver-
sos escores preditivos de mortalidade, risco, necessidade ou não de internamento. Não há
evidências de superioridade de um escore sobre o outro.
Apesar de úteis para ajudar na tomada de decisões, esses escores e protocolos não devem
ser aplicados de forma automática, pois sua aplicação é discutível quando em pacientes fra-
gilizados. Valoriza-se então o conhecimento da situação anterior do paciente, as mudanças
no seu estado funcional e os recursos disponíveis para se instituir terapêutica específica
(FARRERO et al., 2013).
Vamos relembrar? No nosso caso-problema relatado, o Sr. Arnaldo, de 72 anos, usa “uro-
pen” também conhecido como “sonda camisinha”. Você conhece a Uropen?
Fonte: a) <https://ladobmodainclusiva.com.br/blog/wp-content/uploads/2016/03/uripen-825x510.jpg>; b)
<http://4.bp.blogspot.com/-BfPyW-bmLcU/VohUOpXog-I/AAAAAAAAAus/Puly7QyPd2g/s1600/Sonda%2Bvesi-
cal%2Bde%2Bdemora%2BSVD%2BNo%2BCaminho%2Bda%2BEnfermagem%2BLucas%2BFontes%2BCateteris-
mo%2Bvesical%2Bde%2Bdemora.jpg>. Acesso em: 16 jul. 2018.
O Sr. Arnaldo também já foi usuário de sonda vesical de demora e de cateterismo intermitente.
As respostas positivas para um ou mais desses questionamentos faz com que seja considerado
um esquema de espectro e duração maiores. A escolha do antibiótico deve ser feita consideran-
do a sensibilidade apresentada no meio em questão. Atentar para a duração do tratamento, que
pode ser reavaliada de acordo com resultados dos exames complementares e a resposta clínica
caso a caso. São exemplos de esquemas possíveis/efetivos para ITU os seguintes.
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Diagnóstico Tratamento inicial, empírico Duração
Sulfametoxazol+trimetoprima
Deve-se ter cuidado, pois o ritmo intestinal “normal” é bastante variável pessoa a pessoa, em
termos de frequência evacuatória – de três vezes ao dia a três vezes por semana –, podendo
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ser fisiológico e não considerado constipação isoladamente. Por isso é importante tentar
“conhecer” o paciente ao máximo, saber como está o padrão atual e qual era o seu habitual.
Recomenda-se documentar mudanças de padrão e tentar entender os fatores contribuintes
para tais modificações.
Diversos fatores contribuem para a constipação: dietéticos (baixa ingestão hídrica, de fibras
alimentares e excesso de alimentos refinados/industrializados); fatores funcionais, como
no exemplo da imobilidade e do sedentarismo; doenças neurológicas (por trauma medular,
degenerativas ou cerebrovasculares); doenças do cólon ou ânus; distúrbios metabólicos; e
também causadas por medicamentos. Esta última causa merece especial atenção no caso
do paciente acamado, pois a equipe muitas vezes terá que lidar com a chamada “polifarmá-
cia”, os efeitos adversos de medicamento per se ou a interação entre eles.
O tratamento da constipação é também uma abordagem complexa, não pode ser uma estra-
tégia única, pois os pacientes têm condições e causas diferentes. De maneira geral, algumas
medidas podem se aplicar à maioria deles, como a dieta, a ingestão hídrica e de fibras.
Essas orientações, dadas muitas vezes sem o cuidado e o detalhamento necessário, podem
não reverter e até mesmo agravar o quadro de constipação. Cabe destacar alguns pontos
então:
Quando as medidas não farmacológicas por si mesmas não levam a um padrão favorável
de funcionamento do intestino e este fato traz sofrimento ou prejuízos à saúde do paciente,
deve se pensar no tratamento farmacológico.
Uma investigação cuidadosa e respeitosa deve ser feita com o cuidador/familiar do paciente
constipado, pois não é raro que se tente tratamentos fitoterápicos, chás ou mesmo medi-
camentos sem que se perceba como automedicação e os riscos de tratar sem critérios. Os
medicamentos que produzem efeito laxante são bem diferentes quanto ao mecanismo de
ação e também por isso quanto à indicação. Sempre que possível, usar por períodos curtos
e tentar enfatizar benefícios de não depender ou se valer exclusivamente das medidas far-
macológicas.
A seguir, um quadro que resume os laxantes mais utilizados, suas características, indicações
e precauções.
Contraindicações/
Fármaco Mecanismo Indicações/dose
cuidados
INGESTÃO HÍDRICA 2L/DIA (6 a
Aumento do volu- 8 copos) no mínimo.
me do bolo fecal e 10 g diárias (2 colhe-
Suplementos de fibras Espaçar tomada de outros
melhora da consis- res de sobremesa
(TriFibra, Agiofibra, medicamentos em pelo
tência das fezes. ou 1 sachê, ou 2
PlantaBen menos meia hora.
No início pode flaconetes).
levar à flatulência. Não usar outros laxantes
associados (loperamida etc.).
Dessa forma, um problema que às vezes pode parecer simples, pontual, engendra várias
outras questões, sistêmicas e da dinâmica cotidiana dos pacientes. Deve-se atentar toda a
equipe (incluindo técnicos e agentes de saúde) para o fato de que medidas não farmaco-
lógicas são preferenciais e todos devem estar atentos a prospectar o uso, indicado ou por
automedicação, de laxantes por parte de pacientes e familiares.
Doenças cardiovasculares
Muitas vezes o paciente atendido pela equipe de saúde e que apresenta cardiopatia pode
ter seu problema abordado inicialmente ou mesmo detectado, como no caso de arritmias,
ou ainda contar com a equipe para continuidade dos cuidados, como, por exemplo, nos tra-
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tamentos de trombose venosa profunda ou insuficiência cardíaca congestiva.
Neoplasias
Em neoplasias, o paciente pode ser acompanhado não só nas fases de paliação, mas tam-
bém durante a fase de tratamento curativo. Uma boa comunicação com a equipe de onco-
logia, cirurgia e radiologia é importante para o andamento do cuidado domiciliar. Nesses
pacientes uma série de intercorrências é esperada e, quanto maior for o conhecimento da
equipe sobre os riscos e as vulnerabilidades, mais efetivo se tornará esse acompanhamen-
to. Muitas vezes esse cuidado ultrapassa os limites da Atenção domiciliar nível 1, podendo
necessitar a avaliação e o seguimento de equipes de referência.
Finalizando...
Chegamos ao fim do módulo de Atenção domiciliar na Atenção Primária à Saúde! Esperamos
que você tenha aprendido bastante sobre: as relações existentes entre Atenção domiciliar,
Atenção Primária à Saúde e o Sistema Único de Saúde; o cuidado integral e os instrumentos
de trabalho com famílias; e a atenção domiciliar e o manejo de situações mais comuns na
atenção domiciliar do território. Esperamos vê-lo em breve em outro módulo do nosso cur-
so PEPSUS.