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Prefácio
Tríade de ação: doença-internação-tratamento
Tríade de relação: paciente-família-equipe de saúde
Importância: do encontro terapêutico, do saber ouvir, do saber calar, do saber como e porque falar e da
profunda dimensão humana
Introdução
Objetivo: ajudar o paciente a atravessar a experiência do adoecimento
Tratamento psicológico: cuidado que qualquer indivíduo presta a outro a partir de sua presença em
pessoa
Comporta informações sobre a subjetividade do paciente, havendo mesmo a noção de que o sujeito fala
por meio de seus sintomas, ou é falado por eles
Como funciona a Psicologia Hospitalar?
Médico corpo físico (real)
Psicólogo corpo simbólico está nas palavras
Signos não-verbais com valor de palavra: gestos, olhares, escrita, silêncio
Conversa: porta de entrada para um mundo de significados e sentidos
Escuta: “sustenta” a angústia do paciente o tempo suficiente para que ele possa submetê-la ao
trabalho de elaboração simbólica
Escuta analítica: intervenções básicas da psicologia clínica (escuta, associação livre, interpretação,
análise da transferência)
Manejo situacional: intervenções direcionadas à situação concreta que se forma em torno do
adoecimento (controle situacional, gerenciamento de mudanças, análise institucional, mediação de
conflitos)
O paradigma
Aspecto psicológico: não ocorre isoladamente se dá em uma determinada cultura, e cada
cultura tem seus determinantes sobre a doença (fé: pode ser um recurso terapêutico ou um
empecilho para a vivência da doença)
O diagnóstico
Olhos para ver além do biológico
Diagnóstico: para facilitar o tratamento hipótese de trabalho, não uma verdade absoluta
Diagnóstico na Psicologia Hospitalar: conhecimento da situação existencial e subjetiva da pessoa
adoentada em sua relação com a doença não é expresso em termos de nomes de doenças, mas
por uma descrição abrangente dos processos que influenciam e são influenciados pela doença;
modo que o psicólogo dispõe para melhor organizar o seu pensamento
Todo encontro comporta possibilidades terapêuticas
Convidar o paciente a falar sobre o sintoma e esperar que o sentido salte das palavras
Escuta analítica: cria condições para que o paciente descubra qual o significado que ele está
dando, conscientemente ou não, a seu sintoma
Importa: o sentido que o sintoma tem para o paciente, e não o sentido que ele tem em
determinada tradição cultural ou esotérica
Doença é uma mensagem: único tradutor autorizado quanto ao psíquico é o próprio doente
Identificação
Início do tratamento: identificar o paciente claramente nome completo e o número de
leito: primeiros dados recebidos conferir se o paciente com quem está conversando é
efetivamente a pessoa a quem veio atender (“o senhor é o fulano de tal?” – falar nome
completo)
Posteriormente: colher dados idade, estado civil, profissão, naturalidade, procedência e
nome da equipe médica responsável pelo paciente
Registro escrito: nome completo, sem abreviaturas
Psicólogo: apresentar-se de forma explícita, dizendo seu nome, sua profissão e o que veio
fazer aqui
A terapêutica
Estratégia terapêutica da psicologia hospitalar: levar o paciente rumo à palavra
Estratégia: arte de organizar os meios disponíveis para alcançar objetivos desejados plano
de ação
Técnica: própria ação
Não podem ser entendidas como ferramentas, instrumentos aplicados de fora sobre um objeto
são recomendações técnicas e devem ser adequadas a cada situação
Estratégias básicas
Fala: simboliza o sofrimento e dissolve angústia não se resolve, se dissolve em palavras
Ideias no ar: não conhecem limites em palavras: poder ser examinadas como um objeto
Técnicas para fazer falar: entrevista, associação livre e silêncio
Associação livre: escutar livremente, sem valorizar a priori temas relacionados à doença
Entrevista: perguntas objetivas: assuntos que parecer mais acessível -> importante: colocar em
andamento a fala; perguntas: obtenção de dados, estabelecer vínculo e estimular a elaboração
psíquica por meio da fala; para o paciente: parecer uma conversa/bate papo
Fazer silêncio: ser preenchido, idealmente, pelo paciente -> preenchido pelo psicólogo:
estratégia para restabelecer o discurso do paciente e não como um fim em si mesmo
Mudança: nenhum profissional tem o poder de fazer o paciente mudar de posição se ele ainda
não estiver pronto; psicólogo: facilitador do trabalho de elaboração psíquica -> pode levar a
uma mudança ou não; mudança: resultado, não objetivo; compromisso: com a verdade do
sujeito, não com a mudança de comportamento
Negação: defesa psicológica; nega a doença, mas aceita o tratamento: não fazer nada, apenas
ficar atento; nega a doença e recusa tratamento: dizer da existência de um problema de saúde -
> provocação para fazê-lo falar -> se interessar pelos motivos do paciente; nega aspectos
concretos evidentes: investigar a condição mental -> avaliação psiquiátrica; abordar outros
temas -> escolhidos pelos pacientes (caso não escolham, falar de assuntos superficiais até
surgirem outras questões)
Revolta: focalizar na verdade da pessoa -> existe sempre uma verdade que leva ao ato errado ->
não precisa concordar com o comportamento, mas pode reconhecer a autenticidade dos
sentimentos; sinais de violência ou histórico de episódios de violências: abordagens mais
conservadoras
Depressão: depressão muito profunda (deixando de ser fase e virando estado): tratamento
médico (antidepressivos); depressão em pacientes terminais: depressão reativa (reação às
perdas provocadas pela doença); depressão preparatória (perdas que estão por vir)
Enfrentamento: não interromper o fluxo com interpretações apressadas; não se fixar na
verdade que o paciente descobriu em relação a sua doença, pois ela logo será substituída;
intervenções: facilitar o movimento entre a luta e o luto; pessoas mais afeitas à luta ou ao luto:
ajudar a desenvolver o outro pólo
Esperança: toda situação de adoecimento comporta uma possibilidade de esperança -> deve ser
mantida, não importa sob que forma -> quando não houver: paciente haverá de inventá-la ->
não fazer intervenções retificadoras em nome de uma presumível realidade
Bater papo: para conhecer minimamente a vida da pessoa; sem temas pré-definidos
A palavra pertence a quem escuta: preocupação com a linguagem: convive com pessoas que
usam linguagens diversas -> preparo para variar o nível de complexidade de sua linguagem;
adequar a linguagem ao nível de o ouvinte; é o ouvinte que confere sentido à mensagem
Transferência: transferência positiva: favorece o modelo de tratamento proposto pela medicina
(paciente receptivo e médico ativo); interpretação da transferência: diz claramente para o
paciente que o que ele está vivenciando na relação atual é uma repetição de seus
relacionamentos infantis -> funciona quando o paciente já possui capacidade de insight;
interpretação sob transferência: identifica o lugar que o paciente o colocou e usa essa
informação para decidir como vai responder; não pode: esquecer que está ocupando um lugar e
passar a acreditar efetivamente que sabe o que é melhor para o paciente
Situação vital desencadeante: deflagra ou ajuda a deflagrar o processo de adoecimento; criar
condições para que a pessoa possa “digerir” esse acontecimento -> aproximação gradual do
tema, expressão de fantasias catastróficas ligadas ao assunto, elaboração de planos a respeito
de como lidar com suas consequências
Ganho secundário: manejados com muito tato; evitar postura de crítica e julgamento; não
reforçar ainda mais esses ganhos; orientar a família e a equipe
Situações clínicas
O paciente desenganado: não há mais possibilidade de cura ou de mantê-lo vivo; Psicologia não
trabalha com a cura, mas com o desejo (desejo de vida e não possibilidade de vida) -> no desejo
há esperança sempre; esperança é uma questão pessoal, não uma questão de prognóstico
Risco de suicídio: ideação suicida: ideia de morrer se torna frequente, considerada seriamente;
plano suicida: plano, considerando como, quando, onde consumir o fato; ideia + plano + acesso
a meios efetivos = nível mais grave; comunicar de imediato a equipe e, em momento oportuno,
paciente e familiares; registrar avaliação e providências; não deixar paciente sozinho; retirada
imediata de meios disponíveis para a realização de atos suicidas; interconsulta psiquiátrica;
atendimentos amiúde e reavaliações frequentes
O paciente religioso: fé: ajuda as pessoas a atravessarem momentos difíceis; recusa de
tratamento por conta da fé: explicar que uma coisa não exclui a outra (estimular a falar sobre
religiosidade para que surja o “certo do paciente” e não apenas o “errado da situação”)
O paciente que não pediu para ser atendido: discutir com o paciente os supostos motivos que
levaram as pessoas a pensarem que um atendimento psicológico seria benéfico -> explicar o
que é o atendimento psicológico, desfazendo possíveis fantasias; restituir ao paciente o poder
de decidir sobre o atendimento -> se recusar: não forçar e explicar como faz para encontrá-lo; o
trabalho começa por onde é possível, não por onde seria melhor
O paciente silencioso: se não consegue falar com o paciente: falar para o paciente ou falar
sobre o paciente; alternativas de comunicação: gestos ou comunicação escrita; dar notícias do
andamento do tratamento, falar do carinho e da preocupação dos familiares e amigos, ler
jornais, revistas, livros; mutismo voluntário: conversar ao lado do leito do paciente sobre ele
com algum familiar ou membro da equipe (cuidadosamente – convite e não invasão; deve ser
reavaliada constantemente); aceitar a recusa: ficar pouco tempo e dizer que voltará outro dia;
silêncio pleno: colocar-se ao lado do paciente, ouvir o silêncio
Contar ou não contar: como contar: sentimento de empatia
Assistência ao paciente terminal: o conjunto peculiar de mecanismos de enfrentamento que os
pacientes utilizaram no passado para manter sua autoestima e a estabilidade é o ponto central
do processo; religião e espiritualidade: aspectos importantes; tratamento individualizado: é
possível quando conhece o paciente, entende suas necessidades e interesses, acompanhando o
ritmo do paciente e permitindo que ele molde as maneiras pelas quais se dará o atendimento;
morte digna: estar relativamente livre de dor, ter suas funções corporais funcionando o melhor
possível, reconhecer e resolver conflitos interpessoais passíveis de serem manejados, realizar os
desejos restantes, passar o controle de coisas práticas para outros; depressão: queremos que o
paciente, se possível, morra sem muita dor e com a angústia em níveis suportáveis; alívio da
dor: dor não tratada por receio de drogadição -> não faz sentido no caso de pacientes terminais;
família: foco mais adequado para os cuidados; crianças: fonte de alívio e consolo -> perguntar se
quer visitar o parente em estado terminal; não-abandono: a própria presença é valiosa;
interesse: paciente sinta que o profissional está verdadeiramente interessado em sua condição;
comunicação: a capacidade de ouvir é mais importante que a capacidade de dizer -> conversar
sobre tudo o que o paciente tiver interesse; fé: contatar pessoas dos grupos religiosos que o
paciente frequenta -> se não for religioso: investigar convicções a respeito da vida; eutanásia:
sem diretrizes claras e objetivas -> nenhum profissional deve se arvorar ao direito de conduzir
sozinho; manejo: oferecer informações corretas e apropriadas ao paciente, permitir que o
paciente verbalize seus temores e lhes dê a garantia de que não serão abandonados, determine
as prioridades do paciente e acate suas definições de qualidade de vida, ajude o paciente a
manter a esperança, faça a transição de objetivo primário de curar para o objetivo secundário
de cuidar, evite tratamentos excessivamente zelosos, evite a tendência ao afastamento
O psicólogo no pronto socorro: aspecto psíquico: não é o alvo das ações médicas; intervenção
psicológica: calma, tranquila; objetivo do psicólogo: restaurar a simbolização, buscando a
palavra como forma de enfrentamento da situação emergencial; exige criatividade para
possibilitar a verbalização dos conteúdos emocionais; sujeito na urgência: o foco das atenções
terapêuticas; sujeito da urgência: sujeito que demanda -> podem estar na mesma pessoa ou
não; questões sociais também estão presentes
O paciente histérico: sintomas frequentes: convulsões e crises psicomotoras, mas sem achado
neurológico e com grau de teatralidade, paralisia, fraqueza muscular, distúrbios da marcha e
anestesiais que raramente provocam queda e danos sérios, gravidez psicológica, indiferença
inadequada com a gravidade, estado de estupor, hipocondria, ataques de pânico, dores crônicas
sem nenhum achado médico; diagnóstico da histeria: antes, descartar a doença orgânica;
características: sintomas vagos e geralmente precipitados por situações estressantes queixa mal
definida e fora dos padrões anatômicos e fisiológicos, gravidade alegada não é coerente com o
nível de funcionamento do paciente na vida diária, paciente frequentemente sugestionável,
histórico psiquiátrico, consegue suporte físico e emocional; situações positivas também criam
estresse que desencadeia quadros histéricos; tratamento: para resolver a crise atual e facilitar a
aderência a um tratamento ambulatorial -> ouvir de maneira tranquila, dirigir o relato mediante
perguntas sobre os pontos que não ficaram claros no relato espontâneo e sobre os aspectos de
interesse clínico, explicar como acontecem os sintomas, tranquilizando em relação a gravidade
e advertindo da morbilidade e cronicidade; dizer que tem um problema e que tem tratamento
(normalmente psicoterapia e remédios); controlar a agitação na sala, evitando plateia, e
encontrar um local para descanso e observação; encaminhamento: acolhimento inicial para
depois sugerir atendimento mais prolongado; não procurar o que é errado (sintomas,
comportamento, resistência), mas o que está certo (angústia, falha na simbolização, conflito
psíquico)
O paciente na UTI: criar canais para o escoamento das intensidades por meio da palavra;
características da UTI: favorecem o surgimento de sintomas psicopatológicas; favorecer
estimulação psíquica, visual, oferecendo orientação temporal, reforçando atividades que o
paciente goste e tenha condições de realizar, criar novas formas de linguagem; objetivo da
comunicação: menos passar informações e muito mais marcar presença, facilitar a expressão
das emoções e diminuir a solidão; não recuar diante do silêncio nem do coma, ainda há
subjetividade
Sexo no hospital: praticamente sem referências teóricas; estar aberto para conversar se o
paciente quiser
Setting
O local do atendimento: basta um sujeito que queira falar e um psicólogo que saiba escutar;
local: onde o paciente está
Horário de atendimento: aprender a atender no meio de toda a atividade hospitalar, criando,
na medida do possível, condições adequadas de silêncio e privacidade
A duração do atendimento: irregular tanto na frequência como na duração -> depende das
condições físicas para falar, procedimentos médicos e cuidados a serem realizados; aqui e agora
Alta psicológica: o que determina é a cessação de demanda; o objetivo não é levar o paciente a
uma psicoterapia mais prolongada após sua saída do hospital (erro técnico e ético); trabalho do
psicólogo normalmente é interrompido
No olho do furacão: lugar do psicólogo: perto da agitação, dos problemas, da angústia e da
doença, mas um pouco afastado para que não seja tragado por esse redemoinho