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Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença

Prefácio
Tríade de ação: doença-internação-tratamento
Tríade de relação: paciente-família-equipe de saúde
Importância: do encontro terapêutico, do saber ouvir, do saber calar, do saber como e porque falar e da
profunda dimensão humana

Introdução
Objetivo: ajudar o paciente a atravessar a experiência do adoecimento
Tratamento psicológico: cuidado que qualquer indivíduo presta a outro a partir de sua presença em
pessoa

O que é a Psicologia Hospitalar?


 Entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento

Podem se evidenciar no paciente, na família ou na equipe


 Não trata apenas das doenças com causas psíquicas (psicossomáticas: quando um aspecto
psicológico atua como causa de uma doença orgânica), mas sim dos aspectos psicológicos de toda e
qualquer doença
 Toda doença apresenta aspectos psicológicos e encontra-se repleta de subjetividade
 Dimensões da doença: biológica, psicológica e cultural
 Aspecto psicológico: manifestações da subjetividade humana diante da doença (sentimentos,
desejos, fala, pensamentos, comportamentos, fantasias, lembranças, crenças, sonhos, conflitos,
estilo de vida, estilo de adoecer)
 Fator psicológico desencadeante: vivência psicológica, consciente ou não, reconhecida ou não pelo
sujeito como ligada ao adoecimento, precipita o início do processo patogênico
 Fator psicológico agravante: vivência psicológica nada tem a ver com o início da doença, mas ajuda
a piorar o quadro clínico já instalado ou flui negativamente no tratamento, dificultando-o
 Função: Facilitar os relacionamentos entre pacientes, familiares e médicos

Qual o objetivo da Psicologia Hospitalar?


 Subjetividade dar voz, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a medicina lhe afasta a cura não
elimina a subjetividade; a subjetividade não tem cura
 Não estabelece uma meta ideal para o paciente alcançar aciona um processo de elaboração
simbólica do adoecimento, como ouvinte privilegiado, não como guia
 Psicólogo: não pode fazer muito em relação a doença em si (trabalho do médico); faz muito no
âmbito da relação do paciente com seu sintoma
 Não pode almejar a eliminação imediata do sintoma escutar o que o sintoma tem a dizer

Comporta informações sobre a subjetividade do paciente, havendo mesmo a noção de que o sujeito fala
por meio de seus sintomas, ou é falado por eles
Como funciona a Psicologia Hospitalar?
 Médico corpo físico (real)
 Psicólogo corpo simbólico está nas palavras
 Signos não-verbais com valor de palavra: gestos, olhares, escrita, silêncio
 Conversa: porta de entrada para um mundo de significados e sentidos
 Escuta: “sustenta” a angústia do paciente o tempo suficiente para que ele possa submetê-la ao
trabalho de elaboração simbólica
 Escuta analítica: intervenções básicas da psicologia clínica (escuta, associação livre, interpretação,
análise da transferência)
 Manejo situacional: intervenções direcionadas à situação concreta que se forma em torno do
adoecimento (controle situacional, gerenciamento de mudanças, análise institucional, mediação de
conflitos)

O paradigma
 Aspecto psicológico: não ocorre isoladamente se dá em uma determinada cultura, e cada
cultura tem seus determinantes sobre a doença (fé: pode ser um recurso terapêutico ou um
empecilho para a vivência da doença)

O diagnóstico
Olhos para ver além do biológico
 Diagnóstico: para facilitar o tratamento hipótese de trabalho, não uma verdade absoluta
 Diagnóstico na Psicologia Hospitalar: conhecimento da situação existencial e subjetiva da pessoa
adoentada em sua relação com a doença não é expresso em termos de nomes de doenças, mas
por uma descrição abrangente dos processos que influenciam e são influenciados pela doença;
modo que o psicólogo dispõe para melhor organizar o seu pensamento
 Todo encontro comporta possibilidades terapêuticas

Eixo I – Diagnóstico Reacional


 Posição que a pessoa assume em relação a doença
 4 posições: negação, revolta, depressão e enfrentamento variável; não são específicas para
a doença; constituem nas maneiras que os humanos dispõem para enfrentar crises, receber
notícias ruins, lidar com mudanças, encarar a morte, reagir a doenças
 Negação: comumente, primeira reação; o faz porque naquele instante é o que se pode fazer;
deve ser respeitada e não confrontada; a pessoa pode agir como se a doença não existisse ou
minimiza sua gravidade e adia as providências e cuidados; pensamento onipotente –>
reconhecimento das capacidades e negação das incapacidades; emoção predominante: alegria
(esconde o medo da doença e da morte –> surge: angústia vaga, indefinida e flutuante); doença
com muita visibilidade –> negação é o isolamento social (dois problemas: a doença e certa
solidão); tensão acumulada para não se evidenciar os sinais da doença; negação para outras
pessoas (não é uma negação verdadeira) –> intenção de protegê-las ou por vergonha; pode
ocorrer da parte dos familiares e médicos; é diferente de desconhecimento -> não se dá por
falta de informação, e sim por falta de condições psicológicas; jamais é total ou permanente;
passividade; soluções tentadas são mágicas
 Revolta: geralmente se inicia como frustração; frustração-irritação-depressão; intensa atividade
(nem toda atividade é produtiva); é uma passividade enquanto não levar ao enfrentamento da
doença; paciente difícil: protótipo da pessoa na posição de revolta; quando os pacientes podem
ser escutados em sua revolta e mau humor geralmente melhoram em seus relacionamentos;
não há uma garantia contra a doença e a ausência de garantia gera angústia; trabalho do
psicólogo: ouvir essas queixas sem reprimi-las, escutar no lugar de testemunha e não de juiz;
soluções tentadas no impulsivo (ação para descarregar tensão acumulada e não tentativas de
solucionar qualquer problema); quando qualquer emoção muda do tipo pico para o tipo platô,
devemos ficar atentos para seu caráter de disfarce de alguma outra emoção; raiva: positiva,
sinal de luta pela vida, tentativa de afirmação subjetiva –> problema: exagero e constância
(tentativa de evitar algo); trabalho do psicólogo: facilitar a expressão das emoções evitadas sem
acusar o paciente de estar reprimindo uma emoção –> acompanhar o caminho das emoções
(ficar atento ao discurso do paciente e quando ele evidenciar a emoção evitada chamar sua
atenção para ela, se ele estiver pronto falará, caso contrário, cabe esperar e acompanhar);
silêncio genuíno da parte do psicólogo: convite poderoso; depois que a emoção foi expressa,
não é preciso concluir nada, já está feito o mais importante; tempo demais na posição revolta =
desenvolver um padrão de estresse –> positivo quando há um desafio a ser enfrentado, pois
aumenta o desempenho do organismo para luta ou fuga, cronicamente, o corpo e a mente
começam a dar sinal de exaustão; é preciso caminhar em direção a um enfrentamento mais
realista, direcionando os esforços, por exemplo, para o tratamento; pode assumir a forma de
hostilidade contra a instituição.
 Depressão: se entrega passivamente à sua doença; desistência; desesperança na cura ou a cura
não interessa em razão das perdas que acarreta; o objeto que se perde na doença só o trabalho
individual com o paciente pode determinar; depressão reacional: pode-se esperar uma
evolução favorável; depressão melancólica: exige um atendimento mais frequente, mais
atenção a sinais de risco de suicídio, maior entrosamento com a equipe médica, evolução mais
complicada, investigação mais detalhada da história psiquiátrica do paciente; depressão, em
seu sentido de luto e tristeza, é uma etapa necessária ao enfrentamento da doença, mas não
pode ser exagerada; aceitá-la no paciente em vez de querer tirá-lo a qualquer custo dessa
posição; não é a mesma coisa que a doença depressão (pelo seu caráter passageiro e reativo,
não preenche os critérios diagnósticos); tendência para inatividade; pensamento com conteúdo
de onipotência, que pode se estender a uma descrença nos poderes da medicina e da
psicologia; soluções do tipo narcísica; tristeza: emoção marcante;
 Enfrentamento: já passou pelas outras posições; escara a doença de maneira mais realista;
posicionamento em relação a doença: alternância entre luta (diante um limite) e luto (diante
uma perda); não é o que a doença fez de você, mas o que fará com o que a doença fez de você;
soluções do tipo realista; fluidez emocional (todas as emoções se fazem presentes); sintoma:
tentativa de cura, não mais um problema a ser eliminado; cada um possui uma forma de
enfrentar a doença; inclui um pouco de tudo, mas na medida certa e de forma consciente; não
idealizemos o enfrentamento.
 Esperança: fio que sustenta e conecta as quatro posições; se repete em todas as posições, mas
de forma diferente
 Angústia: diante da pessoa adoentada e não apenas a questão da vida ou morte, saúde ou
doença

Eixo II – Diagnóstico médico


 Como é essa doença do ponto de vista orgânico
 Conversa sobre com o paciente: espécie de “quebra gelo” antes da focalização de assuntos de
caráter mais psicológico
 Importa: poder de comunicar a natureza da afecção orgânica que motivou a internação e não
sua precisão científica
 Doença aguda: início súbito, com pouco tempo de evolução
 Doença crônica: se arrasta a um bom tempo
 Conhecer os principais sintomas da doença: ajuda a compreender as dificuldades que ele está
enfrentando
 Tratamento proposto: internação para tratamento clínico, cirurgia, exames
 Programação terapêutica: fornece uma ideia do tempo de internação
 Aderência: em que medida o paciente aceita e cumpre as recomendações médicas
 Prognóstico: previsão do caso com base nas características da doença e por comparação
estatística; favorável: provavelmente o caso evoluirá bem; reservado: as chances não são muito
boas; fechado: sem chances de recuperação
 Regra: consultar o prontuário do paciente e conversar com a enfermagem antes de toda
primeira entrevista; familiarizar-se com o significado das placas na porta dos quartos que
informam sobre os riscos de contaminação
 Comorbidade: existência simultânea de outra doença além da considerada principal e que
motivou a internação; elemento a mais no conjunto de vivências do paciente

Eixo III – Diagnóstico situacional


 Visão panorâmica da vida do paciente; enfatiza as áreas que não estão diretamente
relacionadas a doença, mas que a influenciam e são influenciadas por ela: vida psíquica, vida
social, vida cultural, dimensão corporal
 Mapeamento dos pontos e problemas na vida do paciente que dificultam o enfrentamento da
doença e os pontos de apoio que ajudam nesse processo
 Deve ser objetivo, conciso, redigido de forma positiva, anotando-se a presença dos problemas e
não a sua ausência
 Físico: avalia a constituição física da pessoa e a relação que ela tem com seu corpo; notar
variações extremas (obesidade, magreza extrema, anomalias anatômicas -> não relacionadas
diretamente a doença)
 Vida psíquica: identifica os principais traços de personalidade, possíveis conflitos
psicodinâmicos e eventuais doenças mentais; personalidade: influencia na maneira como
enfrenta a doença; avaliação psicodinâmica: anotar se existem, de modo evidente, conflitos
psíquicos; diagnóstico de saúde mental: identificar alterações psicopatológicas atuais e fazer
uma investigação sobre a história psiquiátrica do paciente; em todos os casos atendidos:
considerar a hipótese de uma patologia mental; primeira vez apresentando sintomas psíquicos:
investigar se a causa é orgânica ou dos medicamentos -> certificar-se com a equipe médica o
afastamento das causas orgânicas antes de assumir o caso; dependentes químicos: casos
psiquiátricos de causa orgânica -> durante um episódio de uso abusivo ou na síndrome de
abstinência (apenas quando a situação se estabiliza é que se apresentam as condições para um
atendimento psicológico); pacientes “neuróticos” (“não tem nada”): fazer diagnóstico correto e
providenciar encaminhamento para tratamento adequado
 Vida social: rede de relacionamentos interpessoais que caracterizam o dia a dia da pessoa ->
quatro áreas: par, família, financeira e profissional -> identificar em cada área: situação vital
desencadeante, ganho secundário, figuras vitais; situação vital desencadeante: acontecimento
que, ao apresentar uma exigência quanto a posicionamento social ou a trabalho psíquico, cria
um estresse que, somado a uma presumível predisposição biológica, coloca em andamento o
processo de adoecimento -> não é a causa da doença -> a pessoa pode ou não relacionar a
situação com sua doença -> relação com o início da doença: imediato ou separada por um
período de tempo -> não é um fator obrigatório no processo de adoecimento; ganho
secundário: privilégio (de ordem material, afetiva ou psicológica) que se recebe após ficar
doente; figuras vitais: pessoas consideradas importantes -> positivas (vivenciadas como fonte
de energia ou motivação) ou negativas (vivenciadas como problemas)
 Vida cultural: identificar elementos culturais relacionados ao adoecimento à medida que se
evidenciam no discurso e no comportamento do paciente -> reconhecer e validar a presença
dos elementos de forma espontânea; elementos culturais mais proeminentes: religião,
medicina popular, linguagem, questão social; religião como agravante no processo de
adoecimento: paciente interpreta a doença como um castigo divino e mergulha em um
sentimento de culpa e depressão; medicina popular: crenças sobre doenças e de formas
tradicionais de tratamento (empirismo, misticismo, uso de remédios naturais) -> não precisa
aderir à cultura do paciente, mas mantenha postura aberta, inclusiva, reconhecendo a
importância desses valores no processo de adoecimento; o que conta não é o que foi dito, mas
o que foi entendido -> identificar possíveis problemas de comunicação e preparar-se para lidar
com eles; adoecer = deixar de produzir/dificulta que familiares e amigos também produzam ->
reflexão sobre o significado social e político

Eixo IV – Diagnóstico transferencial


 Avalia as relações que a pessoa estabelece a partir de seu lugar no adoecimento
 Transferência: vínculos segundo modelos já experimentados anteriormente em sua história
pessoal; paciente estabelece 5 relações fundamentais: família, médico, enfermagem e outros
técnicos, instituição, psicólogo; positiva: afeto predominante -> amistoso e cooperativo ->
fraterna ou erótica (se envolver sentimentos de natureza romântica, sexual ou não); negativa:
afeto predominante -> hostil e competitivo; discurso do mestre: médico sabe o que faz o
paciente sofrer a partir de sua sabedoria pessoal; discurso do professor: médico sabe
fundamentado na ciência; discurso da histérica: paciente instala o médico no lugar do suposto
saber e espera que ele o cure e se responsabilize por sua felicidade; discurso do analista: o
médico faz semblante de que sabe, mas gradualmente conduz o paciente a uma descoberta de
que ele detém um conhecimento sobre si mesmo sem o qual não há cura possível; discurso do
psicólogo hospitalar: analista -> para chegar até ele, terá, na maioria dos casos, de passar pelos
outros discursos
 Solicitação de atendimento e demanda de atendimento: solicitação: pedido para que o
psicólogo atenda alguém; demanda: estado psicológico caracterizado por um questionamento
ou incômodo da própria pessoa em relação à maneira como está vivenciando seu adoecimento;
pode acontecer de a demanda e a solicitação não serem coincidentes
 Realidade institucional: relação entre o paciente e o profissional: não é dual -> terceiro
elemento: instituição (hospital, governo, sistema de saúde pública, empresa de seguro-saúde,
família); hospital: anula a individualidade do sujeito (passa a ser considerado normal)
 Relações paralelas: relações que se estabelecem entre os outros participantes da rede de
relacionamentos (equipe, médico, instituição, psicólogo, família); psicólogo: incluir no
diagnóstico uma avaliação sumária desse cenário que envolve o paciente

A doença como linguagem


 Doença: portadora de muitos significados

Medicina científica: sintoma = alterações fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e moleculares


Medicina oriental: alterações sutis na dimensão energética do paciente que se relacionam com
sua vida afetiva e espiritual
Psicossomática: sintoma = maneira que o sujeito encontrou para expressar conteúdos que não
puderam ser simbolizados em palavras
 Como traduzir o sintoma: ajudar o paciente a descobrir sentido individual do sintoma

Convidar o paciente a falar sobre o sintoma e esperar que o sentido salte das palavras
Escuta analítica: cria condições para que o paciente descubra qual o significado que ele está
dando, conscientemente ou não, a seu sintoma
Importa: o sentido que o sintoma tem para o paciente, e não o sentido que ele tem em
determinada tradição cultural ou esotérica
Doença é uma mensagem: único tradutor autorizado quanto ao psíquico é o próprio doente

Identificação
 Início do tratamento: identificar o paciente claramente nome completo e o número de
leito: primeiros dados recebidos conferir se o paciente com quem está conversando é
efetivamente a pessoa a quem veio atender (“o senhor é o fulano de tal?” – falar nome
completo)
 Posteriormente: colher dados idade, estado civil, profissão, naturalidade, procedência e
nome da equipe médica responsável pelo paciente
 Registro escrito: nome completo, sem abreviaturas
 Psicólogo: apresentar-se de forma explícita, dizendo seu nome, sua profissão e o que veio
fazer aqui

A terapêutica
 Estratégia terapêutica da psicologia hospitalar: levar o paciente rumo à palavra
 Estratégia: arte de organizar os meios disponíveis para alcançar objetivos desejados plano
de ação
 Técnica: própria ação
 Não podem ser entendidas como ferramentas, instrumentos aplicados de fora sobre um objeto
são recomendações técnicas e devem ser adequadas a cada situação

Estratégias básicas
 Fala: simboliza o sofrimento e dissolve angústia não se resolve, se dissolve em palavras
 Ideias no ar: não conhecem limites em palavras: poder ser examinadas como um objeto
 Técnicas para fazer falar: entrevista, associação livre e silêncio
 Associação livre: escutar livremente, sem valorizar a priori temas relacionados à doença
 Entrevista: perguntas objetivas: assuntos que parecer mais acessível -> importante: colocar em
andamento a fala; perguntas: obtenção de dados, estabelecer vínculo e estimular a elaboração
psíquica por meio da fala; para o paciente: parecer uma conversa/bate papo
 Fazer silêncio: ser preenchido, idealmente, pelo paciente -> preenchido pelo psicólogo:
estratégia para restabelecer o discurso do paciente e não como um fim em si mesmo
 Mudança: nenhum profissional tem o poder de fazer o paciente mudar de posição se ele ainda
não estiver pronto; psicólogo: facilitador do trabalho de elaboração psíquica -> pode levar a
uma mudança ou não; mudança: resultado, não objetivo; compromisso: com a verdade do
sujeito, não com a mudança de comportamento
 Negação: defesa psicológica; nega a doença, mas aceita o tratamento: não fazer nada, apenas
ficar atento; nega a doença e recusa tratamento: dizer da existência de um problema de saúde -
> provocação para fazê-lo falar -> se interessar pelos motivos do paciente; nega aspectos
concretos evidentes: investigar a condição mental -> avaliação psiquiátrica; abordar outros
temas -> escolhidos pelos pacientes (caso não escolham, falar de assuntos superficiais até
surgirem outras questões)
 Revolta: focalizar na verdade da pessoa -> existe sempre uma verdade que leva ao ato errado ->
não precisa concordar com o comportamento, mas pode reconhecer a autenticidade dos
sentimentos; sinais de violência ou histórico de episódios de violências: abordagens mais
conservadoras
 Depressão: depressão muito profunda (deixando de ser fase e virando estado): tratamento
médico (antidepressivos); depressão em pacientes terminais: depressão reativa (reação às
perdas provocadas pela doença); depressão preparatória (perdas que estão por vir)
 Enfrentamento: não interromper o fluxo com interpretações apressadas; não se fixar na
verdade que o paciente descobriu em relação a sua doença, pois ela logo será substituída;
intervenções: facilitar o movimento entre a luta e o luto; pessoas mais afeitas à luta ou ao luto:
ajudar a desenvolver o outro pólo
 Esperança: toda situação de adoecimento comporta uma possibilidade de esperança -> deve ser
mantida, não importa sob que forma -> quando não houver: paciente haverá de inventá-la ->
não fazer intervenções retificadoras em nome de uma presumível realidade
 Bater papo: para conhecer minimamente a vida da pessoa; sem temas pré-definidos
 A palavra pertence a quem escuta: preocupação com a linguagem: convive com pessoas que
usam linguagens diversas -> preparo para variar o nível de complexidade de sua linguagem;
adequar a linguagem ao nível de o ouvinte; é o ouvinte que confere sentido à mensagem
 Transferência: transferência positiva: favorece o modelo de tratamento proposto pela medicina
(paciente receptivo e médico ativo); interpretação da transferência: diz claramente para o
paciente que o que ele está vivenciando na relação atual é uma repetição de seus
relacionamentos infantis -> funciona quando o paciente já possui capacidade de insight;
interpretação sob transferência: identifica o lugar que o paciente o colocou e usa essa
informação para decidir como vai responder; não pode: esquecer que está ocupando um lugar e
passar a acreditar efetivamente que sabe o que é melhor para o paciente
 Situação vital desencadeante: deflagra ou ajuda a deflagrar o processo de adoecimento; criar
condições para que a pessoa possa “digerir” esse acontecimento -> aproximação gradual do
tema, expressão de fantasias catastróficas ligadas ao assunto, elaboração de planos a respeito
de como lidar com suas consequências
 Ganho secundário: manejados com muito tato; evitar postura de crítica e julgamento; não
reforçar ainda mais esses ganhos; orientar a família e a equipe
Situações clínicas
 O paciente desenganado: não há mais possibilidade de cura ou de mantê-lo vivo; Psicologia não
trabalha com a cura, mas com o desejo (desejo de vida e não possibilidade de vida) -> no desejo
há esperança sempre; esperança é uma questão pessoal, não uma questão de prognóstico
 Risco de suicídio: ideação suicida: ideia de morrer se torna frequente, considerada seriamente;
plano suicida: plano, considerando como, quando, onde consumir o fato; ideia + plano + acesso
a meios efetivos = nível mais grave; comunicar de imediato a equipe e, em momento oportuno,
paciente e familiares; registrar avaliação e providências; não deixar paciente sozinho; retirada
imediata de meios disponíveis para a realização de atos suicidas; interconsulta psiquiátrica;
atendimentos amiúde e reavaliações frequentes
 O paciente religioso: fé: ajuda as pessoas a atravessarem momentos difíceis; recusa de
tratamento por conta da fé: explicar que uma coisa não exclui a outra (estimular a falar sobre
religiosidade para que surja o “certo do paciente” e não apenas o “errado da situação”)
 O paciente que não pediu para ser atendido: discutir com o paciente os supostos motivos que
levaram as pessoas a pensarem que um atendimento psicológico seria benéfico -> explicar o
que é o atendimento psicológico, desfazendo possíveis fantasias; restituir ao paciente o poder
de decidir sobre o atendimento -> se recusar: não forçar e explicar como faz para encontrá-lo; o
trabalho começa por onde é possível, não por onde seria melhor
 O paciente silencioso: se não consegue falar com o paciente: falar para o paciente ou falar
sobre o paciente; alternativas de comunicação: gestos ou comunicação escrita; dar notícias do
andamento do tratamento, falar do carinho e da preocupação dos familiares e amigos, ler
jornais, revistas, livros; mutismo voluntário: conversar ao lado do leito do paciente sobre ele
com algum familiar ou membro da equipe (cuidadosamente – convite e não invasão; deve ser
reavaliada constantemente); aceitar a recusa: ficar pouco tempo e dizer que voltará outro dia;
silêncio pleno: colocar-se ao lado do paciente, ouvir o silêncio
 Contar ou não contar: como contar: sentimento de empatia
 Assistência ao paciente terminal: o conjunto peculiar de mecanismos de enfrentamento que os
pacientes utilizaram no passado para manter sua autoestima e a estabilidade é o ponto central
do processo; religião e espiritualidade: aspectos importantes; tratamento individualizado: é
possível quando conhece o paciente, entende suas necessidades e interesses, acompanhando o
ritmo do paciente e permitindo que ele molde as maneiras pelas quais se dará o atendimento;
morte digna: estar relativamente livre de dor, ter suas funções corporais funcionando o melhor
possível, reconhecer e resolver conflitos interpessoais passíveis de serem manejados, realizar os
desejos restantes, passar o controle de coisas práticas para outros; depressão: queremos que o
paciente, se possível, morra sem muita dor e com a angústia em níveis suportáveis; alívio da
dor: dor não tratada por receio de drogadição -> não faz sentido no caso de pacientes terminais;
família: foco mais adequado para os cuidados; crianças: fonte de alívio e consolo -> perguntar se
quer visitar o parente em estado terminal; não-abandono: a própria presença é valiosa;
interesse: paciente sinta que o profissional está verdadeiramente interessado em sua condição;
comunicação: a capacidade de ouvir é mais importante que a capacidade de dizer -> conversar
sobre tudo o que o paciente tiver interesse; fé: contatar pessoas dos grupos religiosos que o
paciente frequenta -> se não for religioso: investigar convicções a respeito da vida; eutanásia:
sem diretrizes claras e objetivas -> nenhum profissional deve se arvorar ao direito de conduzir
sozinho; manejo: oferecer informações corretas e apropriadas ao paciente, permitir que o
paciente verbalize seus temores e lhes dê a garantia de que não serão abandonados, determine
as prioridades do paciente e acate suas definições de qualidade de vida, ajude o paciente a
manter a esperança, faça a transição de objetivo primário de curar para o objetivo secundário
de cuidar, evite tratamentos excessivamente zelosos, evite a tendência ao afastamento
 O psicólogo no pronto socorro: aspecto psíquico: não é o alvo das ações médicas; intervenção
psicológica: calma, tranquila; objetivo do psicólogo: restaurar a simbolização, buscando a
palavra como forma de enfrentamento da situação emergencial; exige criatividade para
possibilitar a verbalização dos conteúdos emocionais; sujeito na urgência: o foco das atenções
terapêuticas; sujeito da urgência: sujeito que demanda -> podem estar na mesma pessoa ou
não; questões sociais também estão presentes
 O paciente histérico: sintomas frequentes: convulsões e crises psicomotoras, mas sem achado
neurológico e com grau de teatralidade, paralisia, fraqueza muscular, distúrbios da marcha e
anestesiais que raramente provocam queda e danos sérios, gravidez psicológica, indiferença
inadequada com a gravidade, estado de estupor, hipocondria, ataques de pânico, dores crônicas
sem nenhum achado médico; diagnóstico da histeria: antes, descartar a doença orgânica;
características: sintomas vagos e geralmente precipitados por situações estressantes queixa mal
definida e fora dos padrões anatômicos e fisiológicos, gravidade alegada não é coerente com o
nível de funcionamento do paciente na vida diária, paciente frequentemente sugestionável,
histórico psiquiátrico, consegue suporte físico e emocional; situações positivas também criam
estresse que desencadeia quadros histéricos; tratamento: para resolver a crise atual e facilitar a
aderência a um tratamento ambulatorial -> ouvir de maneira tranquila, dirigir o relato mediante
perguntas sobre os pontos que não ficaram claros no relato espontâneo e sobre os aspectos de
interesse clínico, explicar como acontecem os sintomas, tranquilizando em relação a gravidade
e advertindo da morbilidade e cronicidade; dizer que tem um problema e que tem tratamento
(normalmente psicoterapia e remédios); controlar a agitação na sala, evitando plateia, e
encontrar um local para descanso e observação; encaminhamento: acolhimento inicial para
depois sugerir atendimento mais prolongado; não procurar o que é errado (sintomas,
comportamento, resistência), mas o que está certo (angústia, falha na simbolização, conflito
psíquico)
 O paciente na UTI: criar canais para o escoamento das intensidades por meio da palavra;
características da UTI: favorecem o surgimento de sintomas psicopatológicas; favorecer
estimulação psíquica, visual, oferecendo orientação temporal, reforçando atividades que o
paciente goste e tenha condições de realizar, criar novas formas de linguagem; objetivo da
comunicação: menos passar informações e muito mais marcar presença, facilitar a expressão
das emoções e diminuir a solidão; não recuar diante do silêncio nem do coma, ainda há
subjetividade
 Sexo no hospital: praticamente sem referências teóricas; estar aberto para conversar se o
paciente quiser

Setting
 O local do atendimento: basta um sujeito que queira falar e um psicólogo que saiba escutar;
local: onde o paciente está
 Horário de atendimento: aprender a atender no meio de toda a atividade hospitalar, criando,
na medida do possível, condições adequadas de silêncio e privacidade
 A duração do atendimento: irregular tanto na frequência como na duração -> depende das
condições físicas para falar, procedimentos médicos e cuidados a serem realizados; aqui e agora
 Alta psicológica: o que determina é a cessação de demanda; o objetivo não é levar o paciente a
uma psicoterapia mais prolongada após sua saída do hospital (erro técnico e ético); trabalho do
psicólogo normalmente é interrompido
 No olho do furacão: lugar do psicólogo: perto da agitação, dos problemas, da angústia e da
doença, mas um pouco afastado para que não seja tragado por esse redemoinho

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