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Relação Médico-Paciente

Anamnese
Conceito Saúde-Doença

“Saúde é o estado de completo bem-estar


físico, mental e social; e não mera ausência
de doença ou invalidez”
(OMS, 1948)
Determinantes de saúde

 Biologia humana
 Serviços de saúde
 Meio ambiente
 Estilo de vida

(Lalonde, 1974)
Determinantes sociais

“ ... a saúde é resultante das condições de


alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde.”

(Conferência Nacional de Saúde, 1986)


História natural das doenças
 Período pré-patogênico: interação de agentes,
fatores genéticos e ambientais

 Período patogênico
 Alteração de tecidos
 Sinais e sintomas

 Sequela e invalidez

 Morte
Método Clínico

 Hipócrates (500 a.C.) sistematizou o método


clínico, utilizando métodos semelhantes aos
atuais através de anamnese e exame físico
(inspeção e palpação)
Medicina baseada em evidências

“É o uso consciente, explícito e judicioso da


melhor evidência disponível que seja capaz de
justificar a tomada de decisões ao se cuidar de
pacientes individuais”
(Sackett 1996)
Diagnóstico
 Conhecimento médico
 Obtenção competente de dados
 Capacidade de integrar os dados
 Exames complementares: uso racional e
criterioso
 Busca do diagnóstico final
 Revisão do diagnóstico
Sintoma, Sinal e Síndrome
 Sintoma: sensação subjetiva anormal sentida pelo
paciente e não visualizada pelo examinador

 Sinal: dado objetivo que pode ser notado pelo


examinador

Obs: Nem sempre é possível fazer uma distinção rígida entre sintoma e sinal
Síndrome e Entidade clínica
 Síndrome: conjunto de sintomas e/ou sinais que
ocorrem associadamente e que podem ser
determinados por diferentes causas

 Entidade Clínica: doença cuja história está


reconhecida no todo ou em parte e cujas
características lhe dão individualidade nosológica
Diagnóstico

 Do grego diagnosis (ato de discernir)


 Conhecer a natureza e as causas das
enfermidades
 Existem vários tipos de diagnóstico
Tipos de Diagnóstico
 Clínico: anamnese e exame físico
 Sindrômico: reconhecimento de uma síndrome
 Anatômico
 Funcional
 Etiológico: identificação das causas
Tipos de Diagnóstico
 Histopatológico
 Anatomopatológico: diagnóstico anatômico e
histopatológica
 Imagem
 Laboratorial
 Diagnóstico de certeza
 Diagnóstico principal e secundários
Diagnóstico de certeza

 Importante para determinar terapia específica


 Hipóteses diagnósticas: levantadas através da
anamnese e do exame físico
 Diagnóstico diferencial: enfermidades com
quadro clínico semelhante
 Diagnóstico principal e secundários
Raciocínio Diagnóstico

 Conceitos: biológico, psíquico e social


 Coletar e organizar dados clínicos
 Relacionar dados anormais da história e exame
físico
 Buscando diagnóstico de síndromes ou
entidades clínicas
 A partir da QP o médico inicia processo de
raciocínio (subconsciente e automático),
formulando hipóteses
Relação Médico-Paciente
Relação Médico-Paciente

 Variedade de sentimentos e emoções,


configurando uma relação humana especial.
 Parte fundamental da prática médica.
Princípios Bioéticos
 Relação igualitária.
 Autonomia.
 Beneficência.
 Sigilo.
 Justiça.
Formação de Caráter
 Ser humano nasce aético.
 Dependente da moral.
 Aprendizado através dos conflitos.
 Desgaste por tratar de vida, honra e saúde.
 Prestar atenção na confiança e empatia.
Aspectos Psicodinâmicos
 Conhecimentos e métodos científicos
distanciam o humanismo.
 Medicina voltada mais para a enfermidade do
que para o paciente.
 Compreender o homem.
 Explorar e compreender os fenômenos
psicológicos.
Classificação da Enfermidade e
Duração da Relação Médico-Paciente
1. Doenças agudas, de pouca gravidade.
2. Doenças agudas graves.
3. Doenças crônicas.
4. Doenças de cura improvável.
5. Doentes terminais.
Doentes Terminais
(Níveis de encontro do médico com o paciente)

1. Médico Ativo / Paciente Passivo.


2. Médico dirigindo / Paciente colaborando.
3. Médico agindo / Paciente participando
ativamente.

Obs: Aliança terapêutica


Médico cuidador x curador
Transferência,
Contratransferência e Resistência

 Principais fenômenos psicodinâmicos.


 Fenômenos da psicanálise.
Transferência
 Transfere fenômenos afetivos.
 Sentimentos inconscientes vividos.
 Amor transferencial.
 Pode ser positiva ou negativa.
 Médico deve notar e neutralizar.
Contratransferência
 Passagem de aspectos afetivos do médico para o
paciente.
 Mecanismos inconscientes.
 Impossível não relacionar.
 Pode ser positiva ou negativa.
 Por impotência.
Resistência
 Fator ou mecanismo psicológico inconsciente.
 Podem surgir na primeira consulta.
 Ocultar ou deturpar sintomas. Reconhecer o
sofrimento e agir de forma correta e segura.
O Médico
 Não sabe se usar como medicamento.
 Reconhecer o sofrimento e agir de forma correta e
segura.
 Não utilizar palavras ou gestos inadequados.
 Deve dirigir o encontro.
 Valorizar e respeitar as queixas.
 Desprover de preconceitos e respeitar posições.
 Examinar paciente em locais adequados.
Tipos de Médicos

 Depende das características da personalidade.


 Descrever principais tendências.
Paternalista
 Assume a posição de
pai.
 Atitudes protetoras.
 Inclinação para
conselheiro.
 Receptivo aos relatos
pessoais dos pacientes.
Agressivo

 Transforma o paciente em bode


expiatório.
 Disfarçado em mau atendimento.
 Agressividade em formas
simbólicas.
Inseguro
 Deve superar a sua
insegurança.
 Paciente percebe as formas
inseguras.
 Insegurança do médico

Desconfiança do paciente
Frustrado
 Frustração pode começar no
curso de medicina.
 Confunde o médico com herói.
 Especialização.
 Conseguir trabalho estável e
digno.
 Frieza na relação com o
paciente.
“Especialista”

 Dedicado a uma especialidade.


 Não vê o paciente como um
todo.
 Impaciência e incompreensão.
 Distinguir “especialista” de
especialista.
“É aquele que sabe cada vez mais de
cada vez menos até que um dia sabe
quase tudo de quase nada.”
Sem Vocação
 Pressões familiares.
 Fantasias de
enriquecimento e heroísmo.
 Curso disfarça a falta de
vocação.
 Mais grave nas áreas
clínicas.
“Rotulador”

 Sempre com Dx que agrade o


paciente.
 Fisiopatologias sem nexo.
 Acredita nos seus diagnósticos.
 Longas receitas.
Pessimista

 Maior gravidade nas doenças


que a real.
 Agrava a angústia do paciente.
 Extingue a esperança em
pacientes graves.
Otimista

 Evitar otimismo exagerado.


 Não reconhece a gravidade.
 Herói.
 Indica tratamentos de auto risco.
Autoritário

 Impõe decisões.
 Ofende-se com questionamentos.
 Paciente é inferiorizado.
 Atitudes arrogantes.
 Pessoas inteligentes menosprezam o
autoritarismo, independente de onde
venha.
Ideal
( não perfeito )

 Competência científica.
 Interesse pelos semelhantes.
 Visão humanística.
 Trabalho em grupo.
 Integridade, respeito e
compaixão.
Paciente
 Ser humano.
 História individual.
 Personalidade exclusiva.
Ansioso

 Conhecer os sinais de
ansiedade.
 Médico deve saber
ouvir.
 Tentar controlar a
ansiedade do encontro.
Sugestionável
 Excessivo medo de
adoecer.
 Sentem os sintomas das
doenças.
 Médico deve tomar
cuidado com as
palavras.
Hipocondríaco

 Sempre queixando-se de sintomas.


 Não acredita nos sintomas e muda
com frequência de médicos.
 Médico deve ouvir com paciência
e ser claro.
Deprimido
 Desinteresse por si mesmo e pelo
seu mundo.
 Pouco comunicativo.
 Fácies de tristeza.
 Sintomas depressivos.
 Médico deve conquistar atenção
e confiança.
Que Chora

 Facilidade para chorar durante a


anamnese.
 Mal estar no entrevistador.
 Extravasar emoções causam alívio.
Eufórico

 Exaltação do humor, fala e


movimentos.
 Mudança de assunto durante a
entrevista.
 Dificuldade para aceitar a
patologia.
 Descartar doença mental.
Hostil

 Agressividade.
 Imperícia médica.
 Utilização de drogas.
Tímido

 Timidez.
 Não confundir com
depressão.
 Deixá-lo à vontade.
 Maiores vítimas dos médicos
autoritários.
Psicótico

 Difícil diagnóstico.
 Doença interrompe o sentido da
continuidade existencial.
 Pode apresentar alterações
psíquicas durante a entrevista.
Estado Grave

 Não colabora na anamnese e no exame físico.


 Perguntas simples, diretas e objetivas.
 Respeitar as incapacidades físicas.
 Não agravar o sofrimento.
Terminal

 Fases:
1. Negação.
2. Raiva.
3. Negociação.
4. Depressão.
5. Aceitação.
Outros Tipos
 Pouca inteligência.
 Surdo-mudo.
 Crianças e os adolescentes.
 Idosos.
Relações Perigosas

Pessimista Hipocondríaco
Relações Perigosas

Autoritário Que chora


Exame Clínico
(Anamnese + Exame Físico)

 Formular hipóteses diagnósticas


 Estabelecer boa relação médico-paciente
 Tomada de decisões
Aspectos Preliminares

 Posicionamento do examinador e do paciente


 Conhecimento das regiões em que se divide a
superfície corporal
 Enquanto estudante, o examinador deverá seguir
as etapas que constituem a anamnese
Exame Clínico
Anamnese
Exame Físico
Acamados:
examinador ao lado do leito
Inspeção Palpação
Melhor posição:
paciente sentado à frente do
médico
Percussão
Modernamente:
sentar ao lado do paciente
Ausculta (Visitas domiciliares)

Peso e Altura

Tpt e PA
Posições
 Para anamnese
 Quando sentado, ficar defronte ao paciente
 Nos doentes acamados, sentar-se ou em pé ao lado
do leito

 Para o exame físico


 Posições do paciente
 Posição do examinador
Decúbito dorsal
Decúbito lateral
( direito e esquerdo )
Decúbito ventral
Posição sentada
Posição ortostática
Divisão da Superfície Corporal

 Determina a localização dos achados semióticos

 Adotada a divisão proposta pela Terminologia


Anatômica Internacional
Semiologia

Anamnese
Anamnese
(Aná: trazer de volta e mnesis: memória)

 Lembrar de fatos relacionados à doença e à


pessoa doente
 Parte mais importante da Medicina
 Auxilia em decisões diagnósticas e terapêuticas
corretas
 Facilita a solicitação correta de exames
complementares
Fazer anamnese = conversar com o paciente

 A anamnese pode ser conduzida das seguintes


maneiras

1. Paciente relata livre e espontaneamente


2. Dirigida: médico conduz a entrevista de forma
correta e objetiva
3. Inicialmente, o paciente relata, depois, o médico
conduz a entrevista
Possibilidades e objetivos

 Estabelecer relação médico-paciente


 Fazer a história e conhecer os fatores pessoais,
familiares e ambientais
 Aspectos do exame físico que merecem
investigação
 Definir a solicitação de exames complementares
 Definir terapia adequada
Principais Erros

 Pressa
 Espírito preconcebido
 Falta de conhecimentos sobre os sintomas da
doença
Nunca esquecer

 Manter boa relação desde o início


 Conhecer e compreender as condições culturais
dos pacientes
 Não sugestionar o paciente
 Investigar sintomas corretamente
 Não solicitar exames desnecessários
 Fazer uma Medicina Humana
Semiotécnica da Anamnese

 Sempre cumprimentar o paciente


 Início com perguntas simples e diretas
 Técnicas: apoio, facilitação, reflexão,
esclarecimento, confrontação, interpretação,
resposta empática e silêncio
Elementos Componentes

1. Identificação
2. Queixa principal e Duração (QD)
3. História da doença atual (HDA)
4. Interrogatório sobre os diversos aparelhos (ISDA)
5. Antecedentes pessoais e familiares (APF)
6. Hábitos de vida
7. Condições socioeconômicas, culturais e ambientais
1. Identificação
 Nome  Procedência
 Idade  Residência
 Sexo  Nome da mãe
 Cor/Etnia  Nome do responsável,
 Estado civil cuidador e/ou
 Profissão (local de acompanhante
trabalho)  Religião
 Ocupação atual/local de  Filiação a
órgãos/instituições
trabalho previdenciárias e planos
 Naturalidade de saúde
2. Queixa Principal

 Queixa principal que levou o paciente a procurar


o médico
 Se possível utilizar as palavras do paciente
 Não aceitar “rótulos diagnósticos”
 Sugestões para obter
3. História da Doença Atual
 Determinar o sintoma-guia
 Análise de um sintoma:
1. Início
2. Características do sintoma
3. Fatores de melhora ou piora
4. Relação com outras queixas
5. Evolução
6. Situação atual

 Apresentar começo, meio e fim


4. Interrogatório Sintomatológico
 Sintomas gerais: febre, astenia, alterações de
peso, sudorese, calafrios, cãibras
 Pele e fâneros
 Cabeça e Pescoço
 Tórax
 Abdome
4. Interrogatório Sintomatológico
 Sistema Genitourinário
 Sistema Hemolinfopoiético
 Sistema Endócrino
 Coluna Vertebral e extremidades
 Músculos
 Artérias, veias e linfáticos
 Sistema Nervoso
 Exame Psíquico e condições emocionais
5. Antecedentes Pessoais
e Familiares
Antecedentes Pessoais Fisiológicos

 Gestação e nascimento
 Dentição
 Engatinhar e andar
 Fala
 Desenvolvimento físico
 Aproveitamento escolar
 Puberdade
 Menarca e ciclo menstrual
Antecedentes Pessoais Patológicos

 Doenças preexistentes: infância, adulto


 Alergias
 Cirurgias
 Traumas anteriores
 Transfusões sanguíneas
 História obstétrica
 Medicamentos em uso
Antecedentes Familiares

 Perguntar do estado de saúde dos familiares


 Indagar a causa nos casos do óbito e a idade em
que faleceu
 Nas doenças hereditárias fazer levantamento
genealógico
6. Hábitos de Vida

Alimentação
 Alimentação adequada para a pessoa em função
da idade, sexo, trabalho e peso
 Avaliação qualitativa e quantitativa da
alimentação
 Investigar o consumo de proteínas, carboidratos,
gorduras e vegetais
Ocupação atual e anteriores

 Natureza do trabalho
 Contato com substâncias
 Características do meio ambiente

Atividades Físicas

 Tipo de exercício
 Frequência, duração e tempo que prática
Hábitos

 Tabagismo: tipo, quantidade, frequência de uso e


duração do vício
 Bebidas alcoólicas: tipo de bebida, quantidade e
frequência de uso
 Anabolizantes e anfetaminas
 Drogas ilícitas
7. Condições Socioeconômicas e Culturais

Habitação
 Meio ecológico da qual faz parte
 Tipo de moradia
 Número de cômodos
 Número de pessoas que residem no domicílio
 Condições sanitárias
 Coleta de lixo
 Animais domésticos
Condições Socioeconômicas
 Conhecer as possibilidades sociais e econômicas do
paciente

Condições Culturais
 Grau de escolaridade
 Religiosidade

Vida Conjugal e relacionamento familiar


 Relacionamento entre os familiares
 Relação sexual: frequência, tipo e uso de
preservativos
Referências
 Porto & Porto. Exame Clínico. 8 edição,
Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
2017.
 Porto, C.C. Semiologia Médica. 7a edição,
Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
2014.
 Porto, C.C. Semiologia Médica. 5a edição,
Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
2005.

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