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A Ciência Do Concreto

Pg. 15 - 17 O autor abre o estudo lembrando-se de algumas observações propostas por Boas a
respeito da constituição das línguas, usa de exemplo a língua do povo chinuque. Krause é outro
autor citado para demonstrar um modo de formação de uma língua. “Dentre as plantas e os
animais, o indígena nomeia apenas as espécies úteis ou nocivas; as outras são indistintamente
classificadas como ave, erva daninha etc.” (Pg.16)
Em uma publicação dois anos mais tarde que a acima feita por Krause, Handy escreveu sobre o
tema o seguinte: “Eu ainda me recordo da hilaridade provocada entre meus amigos das ilhas
Marquesas... pelo interesse (a seus olhos, pura tolice) demonstrado pelo botânico de nossa
expedição de 1921 em relação às "ervas daninhas" sem nome ("sem utilidade") que ele coletava
e queria saber como se chamavam (Pg.16)” Cada civilização tende a superestimar a orientação
objetiva de seu pensamento; Quando cometemos o erro de ver o selvagem como exclusivamente
governado por suas necessidades orgânicas ou econômicas, não percebemos que ele nos dirige a
mesma censura e que, para ele, seu próprio desejo de conhecimento parece melhor equilibrado
que o nosso.

Pg. 18 – 19 Lévi-Strauss nessas páginas expõe várias citações de alguns autores sobre seus
estudos tais como: Handy e Pikui, Conklin, R.B. Fox e Smith.

Pg. 20 – 23 O autor destaca a importância ao meio biológico dado pelos índios Tewa, nativos do
Novo México, todas as pequenas espécies recebem nomes, a região é repleta de coníferas e cada
uma das variedades recebe um nome próprio diferente da maioria das tribos que não tem essa
preocupação. Nas paginas seguintes Lévi-Strauss cita mais alguns exemplos de povos com
amplo interesse em nomear espécies e estudá-las, faz então uma conclusão: “De tais exemplos,
que se poderiam retirar de todas as regiões do mundo, concluir-se-ia, de bom grado, que as
espécies animais e vegetais não são conhecidas porque são úteis; elas são consideradas uteis ou
interessantes porque são primeiro conhecidas” (Pg. 23)

Pg. 23 – 25 A verdadeira questão não é saber se o contato de um bico de picanço cura as dores
de dente, mas se é possível, de um determinado ponto de vista, fazer "irem juntos" o bico do
picanço e o dente do homem, e, através desses agrupamentos de coisas e de seres, introduzir um
princípio de ordem no universo. Qualquer que seja a classificação, esta possui uma virtude
própria em relação à ausência de classificação. Assim como escreve um teórico moderno da
taxionomia: “Os cientistas suportam a dúvida e o fracasso, porque não podem fazer de outra
maneira. Mas a desordem é a única coisa que não podem nem devem tolerar. Todo o objeto da
ciência pura é conduzir a seu ponto mais alto e mais consciente a redução do modo caótico de
percepção, que começou num plano inferior e provavelmente inconsciente, com a própria
origem da vida. Pode- se perguntar, em alguns casos, se o tipo de ordem elaborado é um caráter
objetivo dos fenômenos ou um artifício construído pelo cientista. Essa questão é constantemente
colocada em matéria de taxionomia animal... Entretanto, o postulado fundamental da ciência é
que a própria natureza é ordenada... Em sua parte teórica, a ciência se limita a uma ordenação,
e... se é verdade que a sistemática consiste em tal ordenação, os termos "sistemática" e"ciência
teórica" poderão ser considerados sinônimos.”

(Pg. 24-25 (Simpson)) Essa exigência de ordem constitui a base do pensamento que
denominamos primitivo, mas unicamente pelo fato de que constitui a base de todo pensamento,
pois é sob o ângulo das propriedades comuns que chegamos mais facilmente às formas de
pensamento que nos parecem muito estranhas.

Pg. 26 – 29 Este trecho traz a relação da ciência com a filosofia e as antigas crenças q davam ao
então não explicável nome de bruxaria, Lévi-Strauss mostra como o avanço da química, por
exemplo, fez com que hoje qualquer combinação de perfumes se baseie em apenas cinco
elementos e em suas diversas combinações, presença ou ausência de elementos, a quantidades
de tais posta em uma tabela permite um numero inimaginável de combinações e essências. Hoje
não se preocupa em remontar certos pontos da historia a ciência se consolidou há poucos
séculos e também recente é o domínio do homem sobre o ambiente, foi no período neolítico que
se confirmou o domínio do homem sobre as grandes artes da civilização: cerâmica, tecelagem,
agricultura e domesticação de animais.

Pg. 30 – 36 Toda classificação é superior ao caos, e mesmo uma classificação no nível das
propriedades sensíveis é unia etapa em direção a uma ordem racional, ao correr dos tempos,
muitas palavras mudam de significado, se transformam, e comparações são feitas e acabam por
dar sentido a estas alterações. O autor cita como exemplo a origem do termo bricolagem, de
algo brilhante a descrição de serviços manuais em jardins. Existe um intermediário entre a
imagem e o conceito: é o signo, desde que sempre se pode defini-lo da forma inaugurada por
Saussure a respeito dessa categoria particular que formam os signos lingüísticos, como um elo
entre uma imagem e um conceito, que, na união assim estabelecida, desempenham
respectivamente os papéis de significante e significado. A imagem não pode ser a idéia, mas ela
pode desempenhar o papel de signo ou, mais exatamente, coabitar com a idéia no interior de um
signo.
Pg. 37 – 43 Ainda tratando de signos imagens, Lévi-Strauss dirige outra vez seu ensaio em
direção as artes citando Clouet, diz: “O exemplo de Clouet não vem por acaso, pois se sabe que
ele gostava de pintar em proporções menores que as da natureza; seus quadros são, portanto,
como os jardins japoneses... em linguagem de bricoleur, denomina-se "modelos reduzidos".
Ora, a questão que se coloca é saber se o modelo reduzido, que é também a "obra-prima" do
companheiro, não oferece, sempre e por toda parte, o tipo exato de obra de arte. Pois parece que
todo modelo reduzido tem vocação estética; inversamente, a imensa maioria das obras de arte é
formada de modelos reduzidos. Poder-se-ia crer que essa característica se prende, de início, a
uma preocupação com a economia relacionada com meios e materiais e invocar como apoio a
essa interpretação obras incontestavelmente artísticas ainda que monumentais. É necessário,
ainda, que nos detenhamos nas definições: as pinturas da Capela Sixtina são um modelo
reduzido, a despeito de suas dimensões imponentes, pois o tema que ilustram é o do fim dos
tempos. (Pg. 38)

Pg. 44 - 46 A arte moderna tem como vocação a exteriorização de ocasiões, de outro lado, a
arte primitiva trazia a interiorização das ocasiões. É preciso acrescentar, enfim, que o equilíbrio
entre estrutura e fato, necessidade e contingência, interioridade e exterioridade é um equilíbrio
precário, constantemente ameaçado pelas trações exercidas, o impressionismo e o cubismo
aparecem menos como duas etapas sucessivas do desenvolvimento da pintura do que como dois
empreendimentos cúmplices, ainda que não surgidos no mesmo momento, agindo em
conivência para prolongar, através de deformações complementares, um modo de expressão
cuja própria existência estava gravemente ameaçada. A voga intermitente das "colagens",
nascida no momento em que o artesanato expirava, poderia ser, por seu lado, apenas uma
transposição do bricolage para o terreno dos fins contemplativos. Enfim, a ênfase sobre o
aspecto factual pode também dissociar-se, conforme o momento, destacando melhor, à custa da
estrutura, tanto a temporalidade social (com Greuze ou com o realismo socialista) quanto a
temporalidade natural e mesmo meteorológica (no impressionismo).

Pg. 46 – 50 Lévi-Strauss neste ultimo trecho explica suas analogias e coloca a relação de ciência
com artes e plano prático como um jogo, logo, este tem suas regras. O jogo aparece, portanto,
como disjuntivo: ele resulta na criação de uma divisão diferencial entre os jogadores individuais
ou das equipes, que nada indicaria, previamente, como desiguais. Entretanto, no fim da partida,
eles se distinguirão em ganhadores e perdedores.
O erro do pensamento abstrato No início do capítulo “A Ciência
do Concreto”, Lévi-Strauss trata de desqualificar a ideia de que
a ausência de termos para expressar, em algumas línguas,
certas palavras, como “árvore” ou “animal” por exemplo, pode
ser motivo para considerar os povos indígenas que se servem
desta língua como intelectualmente menos capazes que a
nossa civilização. Para refutar esta opinião ele afirma que os
que a sustentam esquecem de atentar a outros exemplos que
atestam a riqueza destas línguas. Reforçando ainda mais, Lévi-
Strauss afirma: “Em todas as línguas, o discurso e a sintaxe
fornecem os recursos indispensáveis para suprir as lacunas do
intuitivo”. Para enriquecer mais ainda sua argumentação, Lévi-
Strauss cita alguns autores que sustentaram este pensamento
abstrato. Estes autores citados reforçam a ideia de que o
indígena nomeia e conceitua apenas em função de suas
necessidades. Na contramão desta opinião, Lévi-Strauss nos
fala que “o recorte conceitual varia de língua para língua e, (...)
o emprego de termos mais ou menos abstratos não é função
de recursos intelectuais, mas de interesses desigualmente
marcados e detalhados de cada sociedade particular no seio
da sociedade nacional”. Um grande exemplo insistentemente
comentado por Lévi-Strauss neste capítulo, que reforça seu
argumento contra aquele pensamento abstrato citado acima é
o vasto conhecimento zoológico e botânico que os indígenas
possuem. Conhecimento que vem de um interesse que vai
além da simples utilidade que animais e plantas podem, pra
eles, possuir. Ele diz: “um conhecimento desenvolvido tão
sistematicamente não pode ser função apenas de sua utilidade
prática”. Conclui-se, então, que “as espécies animais e vegetais
não são conhecidas na medida em que são úteis; elas são
classificadas como úteis ou interessantes porque são primeiro
conhecidas”.

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