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Páscoa e Religiões

José Antonio Mangoni

A melhor tradução da palavra Páscoa é “Passagem”.


A Páscoa, na sua origem, é uma festa agro-pastoril, que celebrava o fim do inverno e
início da primavera, possibilitando assim o plantio e a criação dos rebanhos. E isso
ocorre em muitas culturas antigas, que tem sua vida centrada na agricultura e no
pastoreio de rebanhos.
Em Êxodo 5, quando ainda não há a Páscoa judaica, o povo escravo pede para ir ao
deserto para celebrar uma festa. Há certo consenso que a festa a ser celebrada era a
o início da primavera.
O judaísmo ressignificará essa festa para a passagem da escravidão para a liberdade,
para a terra prometida.
Há uma divindade na Alemanha, Ostara, que comemora a fertilidade, um tradicional
e antigo festival do campo, que celebra o evento sazonal equivalente ao início da
primavera. Ela é representada segurando um ovo na mão, sinal da vida (na mitologia
aparece o ovo primordial, de onde veio toda a vida), e olhando para os coelhos,
símbolo da fertilidade. Inclusive Páscoa em alemão e inglês mantém essa
terminologia.
O Cristianismo, que nasce no judaísmo, terá na Páscoa sua festa central, mas com
outro significado: a partir da narrativa da ressurreição, celebra a passagem da morte
para a vida. O Concílio de Nicéia definirá a data da Páscoa, pois com a mudança do
calendário, ela não se dava mais na mesma data do judaísmo. Nicéia definirá: é o
primeiro Domingo após a lua cheia que ocorre após 21 de março, e pode cair entre
22 de Março e 25 de Abril.
Para o Islamismo, Jesus nunca foi morto, mas sim arrebatado por Deus de corpo e
alma aos céus, e retornará antes do Dia do Juízo final para derrotar o anticristo e
estabelecer seu reinado na terra.
O espiritismo entende a Páscoa, a partir da ressurreição, como a existência da vida
depois da morte e a libertação do espírito de todo materialismo e apego.
Assim, podemos dizer, que a Páscoa é uma festa de muitas culturas e religiões. O que
muda são os significados: do inverno para a primavera, da escravidão para a
liberdade, da morte para a vida, do apego ao corpo para a liberdade do espírito.
Hoje, já é muito comum fazer uso do termo “passagem” na morte: “ele fez sua
passagem, sua Páscoa!”
Os símbolos da Páscoa vêm das relações entre as diferentes culturas:
- pão sem fermento vem dos camponeses, o cordeiro vem dos pastores e marcava o
início da primavera. Serão os símbolos centrais da Páscoa judaica. E no judaísmo o
evento é familiar, e faz memória da libertação da escravidão.
- coelhos e ovos vêm das tradições germânicas e adentram no cristianismo a partir
das conquistas militares e religiosas no norte da Europa. Hoje, há uma apropriação
do mercado desses elementos simbólicos, que acabam por esconder o sentido
primordial
Assim, a Páscoa parte de uma narrativa agrícola e pastoril, e se aprofunda nas
diferentes religiões, apontando para um algo a mais, para uma narrativa plena de
esperança.

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