A Páscoa, na sua origem, é uma festa agro-pastoril, que celebrava o fim do inverno e início da primavera, possibilitando assim o plantio e a criação dos rebanhos. E isso ocorre em muitas culturas antigas, que tem sua vida centrada na agricultura e no pastoreio de rebanhos. Em Êxodo 5, quando ainda não há a Páscoa judaica, o povo escravo pede para ir ao deserto para celebrar uma festa. Há certo consenso que a festa a ser celebrada era a o início da primavera. O judaísmo ressignificará essa festa para a passagem da escravidão para a liberdade, para a terra prometida. Há uma divindade na Alemanha, Ostara, que comemora a fertilidade, um tradicional e antigo festival do campo, que celebra o evento sazonal equivalente ao início da primavera. Ela é representada segurando um ovo na mão, sinal da vida (na mitologia aparece o ovo primordial, de onde veio toda a vida), e olhando para os coelhos, símbolo da fertilidade. Inclusive Páscoa em alemão e inglês mantém essa terminologia. O Cristianismo, que nasce no judaísmo, terá na Páscoa sua festa central, mas com outro significado: a partir da narrativa da ressurreição, celebra a passagem da morte para a vida. O Concílio de Nicéia definirá a data da Páscoa, pois com a mudança do calendário, ela não se dava mais na mesma data do judaísmo. Nicéia definirá: é o primeiro Domingo após a lua cheia que ocorre após 21 de março, e pode cair entre 22 de Março e 25 de Abril. Para o Islamismo, Jesus nunca foi morto, mas sim arrebatado por Deus de corpo e alma aos céus, e retornará antes do Dia do Juízo final para derrotar o anticristo e estabelecer seu reinado na terra. O espiritismo entende a Páscoa, a partir da ressurreição, como a existência da vida depois da morte e a libertação do espírito de todo materialismo e apego. Assim, podemos dizer, que a Páscoa é uma festa de muitas culturas e religiões. O que muda são os significados: do inverno para a primavera, da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, do apego ao corpo para a liberdade do espírito. Hoje, já é muito comum fazer uso do termo “passagem” na morte: “ele fez sua passagem, sua Páscoa!” Os símbolos da Páscoa vêm das relações entre as diferentes culturas: - pão sem fermento vem dos camponeses, o cordeiro vem dos pastores e marcava o início da primavera. Serão os símbolos centrais da Páscoa judaica. E no judaísmo o evento é familiar, e faz memória da libertação da escravidão. - coelhos e ovos vêm das tradições germânicas e adentram no cristianismo a partir das conquistas militares e religiosas no norte da Europa. Hoje, há uma apropriação do mercado desses elementos simbólicos, que acabam por esconder o sentido primordial Assim, a Páscoa parte de uma narrativa agrícola e pastoril, e se aprofunda nas diferentes religiões, apontando para um algo a mais, para uma narrativa plena de esperança.