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Secretaria Geral de Educação e Cultura

Biblioteca Virtual do GOB

ENSAIOS RESUMIDOS I
O QUE UM MAÇOM DEVERIA SABER

I – INTRODUÇÃO.

Por vaidade e preocupação de que a origem da Maçonaria é


antiguíssima, muitos Maçons deixaram se arrastar pelo erro dos
símbolos e pelos costumes das Lojas. Em vez de investigar como
se introduziram tais costumes na Maçonaria, preferiram abraçar a
ideia de que eles derivaram da própria Instituição – Século XIX -
Findel in “Geschichte des Freimaurerei”, (A História da Maçonaria).

Dentro da estrutura doutrinária oriunda dos Ritos e Trabalhos


maçônicos da Moderna Maçonaria, indubitavelmente, além de todo o corolário
simbólico, tanto autêntico como especulativo, existem outras características
ligadas diretamente à proposta de aperfeiçoamento haurida das manifestações
do pensamento humano em geral dado ao fundamento eclético que identifica a
Sublime Instituição.
Nesse sentido, dentre outros, as datas e períodos solsticiais e
equinociais sempre estiveram ligados aos procedimentos maçônicos, sejam eles
de conduta operativa, sejam eles de conduta especulativa. Assim eles
permaneceriam mais tarde também na decoração dos espaços de trabalhos
maçônicos - Templos, Lojas, ou Salas das Lojas - de acordo com os diversos
sistemas praticados, seja como um símbolo específico, seja como uma alegoria
iniciática.
Essas relações geralmente buscam explicar na escola maçônica, os
fundamentos oriundos dos cultos solares da antiguidade que seriam a base da
imensa maioria das religiões conhecidas.
Nesse particular, não existe aqui qualquer afirmativa que a Maçonaria
seja uma religião, entretanto é inegável essa influência sobre os Canteiros
Medievais que dariam origem à Franco-Maçonaria e posteriormente à Moderna
Maçonaria, esta então imbuída no aprimoramento do Homem como elemento
principal da sua matéria-prima. Enfim tudo na Maçonaria foi sabiamente
constituído para que o Maçom siga à vontade os mandamentos da própria
crença, sem ferir a consciência de qualquer de seus Irmãos.
Por assim ser, segue sob essa óptica e em formato de um breve
ensaio uma sequência de assuntos pertinentes que a nosso ver são
inquestionavelmente apropriados para a melhor compreensão da “arte de
construir especulativa”.
Dando início à jornada, ainda que de modo sintético, serão aqui
abordados apenas aspectos relacionados às festividades pascalinas e o seu elo

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com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte - a Ressurreição da Vida
(Natureza).
O próximo enunciado, “Ensaio Resumido II”, pretende abordar o
solstício de Verão no Hemisfério Norte e João, o Batista, na Maçonaria.

II – A PÁSCOA.
PÁSCOA (do hebraico pesach1 pelo grego Páscha, pelo latim clássico
Pascha) - Substantivo feminino. 1. Na época pré-mosaica, festa da primavera de
pastores nômades. 2. Festa anual dos hebreus, transformada em memorial de sua saída
do Egito. 3. Festa anual dos cristãos, que comemora a ressurreição de Cristo e é
celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia do equinócio de março.
Os judeus a celebram do 14º dia do primeiro mês Nissan2 ao seu 21º dia,
quando todo varão israelita deveria peregrinar até Jerusalém para celebrar a
“passagem”, ou a Páscoa. O título de “passagem” designa para os israelitas à data
instituída em comemoração a libertação desse povo do jugo egípcio, quando o Anjo da
Morte feriu de morte os primogênitos do Egito. Momento oportuno em que Moisés
conduziu o seu povo em direção à Terra Prometida – a “passagem” da escravidão para
a liberdade; da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida; a travessia do
Mar Vermelho seguindo o sinal indicado pela coluna de fumaça e de fogo (Êxodo3 –
segundo livro do Antigo Testamento; da Torá, ou da Lei mosaica; Pentateuco).
Assim toda família judia se reunia na tarde do 14º dia do primeiro mês Nissan
para o ritual do Cordeiro Pascal, consumindo pães ázimos (sem fermento)
acompanhado na refeição de ervas amargas, cujo intuito era o de relembrar o amargor
dos dias de cativeiro no Egito.
A Páscoa, também conhecida como a Festa dos Pães Ázimos (Da
Proposição) perdurava oito dias e o primeiro e o último eram santificados com o
Shabbath4.
No simbolismo Cristão a data se apresenta como a morte de “Jesus Cristo”
e a sua ressurreição ocorrida durante a celebração da Páscoa. Assim a data coincide
com a páscoa judaica, já que “Cristo” fora crucificado na véspera dessa mesma páscoa,

1 Pesach – Significa em hebraico: passagem.


2 Nissan – 1º mês do calendário hebraico, cujo primeiro dia desse mês dá-se em 21 de março e o
último em 20 de abril. É o início do ano místico hebraico – equinócio de primavera no hemisfério
norte.
3 Segundo a Bíblia (Livro do Êxodo), Deus mandou 10 pragas sobre o Egito. Na última delas, disse

Moisés que todos os primogênitos seriam exterminados (com a passagem do anjo por sobre suas
casas), mas aqueles (Israelitas ou Egípcios) que seguissem suas instruções seriam poupados. Para
isso, deveria sacrificar um cordeiro, passar o sangue do mesmo sobre as ombreiras das portas de
suas casas e não deveria delas sair, assim, o anjo passaria por elas sem ferir seus primogênitos.
Todos os demais primogênitos do Egito foram mortos, do filho do Faraó aos filhos dos prisioneiros.
Isso causou intenso clamor dentre o povo egípcio, que culminou com a decisão do Faraó de libertar
o povo de Israel, dando início ao Êxodo de Israel para a Terra Prometida.
A Bíblia judaica institui a celebração do Pesach em Êxodo 12, 14: “Conservareis a memória daquele
dia, celebrando-o como uma festa em honra de Adonai: Fareis isto de geração em geração, pois é
uma instituição perpétua”.
4 Shabbat – Dia da Criação - sábado (Do hebraico shabbath, pelo latim Sabbatu). Substantivo

masculino. 1. O sétimo dia da semana, começada no domingo. 2. Dia de descanso, ou de descanso


religioso, entre os judeus. 3. Sábado de aleluia - o da semana santa; sábado santo.
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sendo que desde os mais remotos tempos da cristandade esta também é tida como a
maior festa dos cristãos.
Em linhas gerais a “Ressurreição de Jesus”, ou o triunfo do Espírito
ressuscitado destaca a imortalidade espiritual. Não é por acaso que a festa pascal
obedecendo à tradição dos cultos solares da antiguidade ocorre no primeiro mês
(Nissan) do ano religioso hebraico que coincide com o período equinocial ou a
“passagem do Sol” do hemisfério Sul para o Norte (primavera – ressurreição da vida –
a Natureza revive após o inverno – a passagem do inverno para a primavera). Assim a
festa cristã é celebrada no primeiro domingo após o plenilúnio (lua cheia) ocorrido após
o dia 21 de março (data do equinócio5 de primavera no hemisfério boreal). Dentro desse
limite a data pascal ocorrerá sempre entre 22 de março e 25 de abril.
Sem qualquer proselitismo religioso, porém para esclarecimento e
introspecção, cita-se aqui a Epístola de São Paulo aos Hebreus quando aventa que a
imolação do cordeiro é referência à imagem da realidade que se verificou e que o
“Cordeiro de Deus” seria o próprio “Cristo”.
A preparação para a Páscoa cristã realmente começa na quaresma
(quarenta – número penitencial) - quarenta dias de penitência, cujo auge é alcançado
no Domingo de Ramos e simboliza a entrada triunfal de “Jesus” em Jerusalém, uma
semana antes da Páscoa, aplaudido pela mesma multidão que “O” veria morto e
crucificado no final da semana.
Esse teatro alegórico importa ao Maçom e à Maçonaria quando sugere a
lição do aperfeiçoamento natural. A Páscoa se associa à comemoração da morte do
inverno (trevas) e a recuperação da vida – atmosfera simbolicamente ligada à
ressurreição da vida (os cultos solares da antiguidade). É sob esse prisma que surge a
máxima maçônica de relação iniciática – morrer para renascer.
Essa similitude com os cultos solares implica no tema com a prevalência da
Luz sobre as trevas, como é o caso do sábado de aleluia cristão e a ressurreição no
domingo seguinte (Páscoa). A mesma relação também se encontra na páscoa judaica,
ou a passagem do povo hebreu do jugo tenebroso da escravidão para o alvorecer da
liberdade e a busca da terra prometida.
A ressurreição de “Jesus”, despida de prosélitos religiosos demonstra um
profundo sentido para reflexão do Homem – das trevas do sepulcro da morte (inverno)
para a Luz Celestial, o que em linhas gerais significa o ato da redenção.
Indubitavelmente essa alegoria destaca-se simbolicamente na passagem
aparente do Sol do Sul para o Norte, findando o inverno dos dias curtos e das noites
longas e o desabrochar da primavera – a ressurreição da Natureza dando cumprimento
ao início de mais um ciclo natural – a mãe Terra começa a ser aquecida pelos raios
vivificantes do Sol espalhando a vida em um renascer contínuo pelo efeito da “Luz”.
Mensagem dita nos Canteiros da Maçonaria como a maior Glória do Arquiteto Criador.

III– DESFECHO DESSE ENSAIO RESUMIDO.

5 Equinócio (Do latim aequinoctiu). 1. Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração
do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro. 2. Qualquer das duas
interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste: equinócio da primavera, ou
ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra. 3. Instante em que o Sol, no seu movimento
anual aparente, corta o equador celeste.
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Para a Maçonaria saliente-se que essa abordagem não envolve dogmas
religiosos, senão uma comparação que visa o aprimoramento do Homem sugerido pela
escalada iniciática e sem qualquer intuito de desrespeitar as crenças individuais.
Ressalte-se ainda a importância das influências culturais e mesmo religiosas
no seio da Moderna Maçonaria. Nessa proporção estão os seus Ritos e Trabalhos com
os seus costumes culturais das diversas latitudes terrenas. Dentre outras, a missão do
Maçom é também a da investigação da Verdade através dos métodos imparciais da
pesquisa e da história, bem como se despir das concepções anacrônicas.
Para o Maçom sobreleve-se nesse breve ensaio a importância dos termos
relacionados à: “vida, morte, ressurreição, passagem, aperfeiçoamento, ciclos, Luz e
trevas”.
Se bem compreendida a Arte o Maçom poderá perceber que para toda
manifestação humana, seja ela cultural, ou religiosa, haverá sempre uma explicação
coerente e verdadeira. Seria então oportuno salientar que a ignorância e a superstição
são os verdadeiros flagelos da Humanidade, portanto, também inimigos da Maçonaria.

Pedro Juk
Morretes-Paraná, Abril/2014.
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br

APÊNDICE – ENSAIO RESUMIDO I

Tradições pagãs na Páscoa - os Ovos de Páscoa – haurido do Antigo Egito, o


costume de se entregar ovos vem dos teutões6, já que o ovo era o símbolo da vida e da fertilidade.
O mesmo era proibido durante a quaresma e só reaparecia no cardápio de domingo da
ressurreição.
É ainda hoje comum em grande parte dos países a prática de pintar ovos cozidos,
decorando-os com desenhos e formas abstratas, embora que em outros, os ovos tenham sido
substituídos por ovos de chocolate desde o Século XVIII.
Como o costume não é citado na Bíblia, porém mencionado em antigos rituais
pagãos, o hábito acaba por se reportar ao caráter profano dessa tradição. A primavera, coelhos
e ovos pintados com eram os símbolos da fertilidade e renovação.

6Teutônico (do latim teutonicu). Adjetivo 1. Relativo aos teutões, ou aos germanos. 2. Relativo à
Alemanha e aos alemães.
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Ainda de interesse de estudo do maçom e o aspecto da transformação, sugere-se
o estudo e investigação, sobretudo para os ritos que possuem a Câmara de Reflexão, naquilo
que aborda a menção da alquimia e em particular o símbolo do ovo alquímico – estudos para o
Grau de Companheiro.

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