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A NOVA QUESTÃO SOCIAL outros atribuem a confusão entre

seguro e solidariedade a crise de


OS NOVOS CAMINHOS DA
legitimidade que afeta atualmente o
SOLIDERIEDADE
sistema de proteção social.
 O declínio da sociedade securitária
 O seguro é uma técnica; a
não significa que o universo do
solidariedade é um valor.
seguro social esteja em vias de
desaparecer. Os procedimentos Portanto, não estamos diante de uma
securitários continuam a ser antítese, já que o seguro é também
insubstituíveis, e serão sempre uma uma forma de produzir a solidariedade.
das formas modernas da instituição O financiamento do seguro social pode
do vínculo social. (os basear-se em uma variedade de
procedimentos secundários são dispositivos, pode ser contributivo ou
insubstituível e serão sempre uma fortemente solidarista.
das formas modernas da
Passar da visão securitária a uma visão
instituição do vínculo social, porém
solidarista: distinguir a proteção social
não será central)
baseada em uma lógica securitária e
Valorização da cidadania social – tem mecanismos ditos de solidariedade
como consequência um desvio (caráter universal) que caberia ao
progressivo de uma parte do custo Estado.
Estado providencia na direção do
A GRANDE REFORMA FISCAL
financiamento tributário.
 O imposto sobre a renda sempre
DE SEGURADO SOCIAL AO
esteve no centro do imaginário
CONTRIBUENTE.
político de esquerda. [...] A
Substituição da figura contribuinte pelo transformação do imposto sobre a
segurado social. Se deu por dois renda encarnou para os socialistas a
fatores: razões sociais (aumento reforma por excelência. Sem poder
populacional) e razões econômica. revolucionar diretamente a
economia, esperava-se com ele
 Para combater o desemprego é
pode modificar a sociedade, por
preciso diminuir o custo do trabalho
meio da redistribuição de renda.
qualificado.
Aumentar os impostos diretos e
Contribuição social generalizada – reduzir os impostos indiretos. ( essa
contribuição baseada na renda visão do imposto sobre a renda
destinada a financiar a seguridade como instrumento central do
social. reformismo foi abalado em 1980)

A DISTINÇÃO ENTRE SEGURO E A falta de reforma publica sonhava com


SOLIDARIEDADE. uma reforma fiscal.

Para alguns, esse é um meio  Era preciso aumentar a pressão


privilegiado de sustentar o crescimento fiscal sobre a classe mais
dos gastos com a saúde enquanto
favorecidas e reduzia-la sobre as Distancia crescente entre as logicas da
classes populares politicas sociais que se concentram
cada vez mais no mundo dos excluídos
A concepção do socialismo esteve
e a logica politica e fiscal que faz a
associada a uma Representação
classe media a peça central do
dualista da sociedade: contrasta os
funcionamento da sociedade.
grandes e os pequenos, burgueses e
proletários, capitalistas e  Na luta contra pobreza de 1990 Jim
trabalhadores. Assim, essa visão é florio aumentou as taxas medias
incapaz de refletir sobre a sociedade superiores do imposto a renda
real, em toda sua complexidade, a estadual e reduziu drasticamente as
esquerda não conseguiu atuar sobre subvenções as escolas de melhores
ela. bairros para aumentar a assistência
aos pobres. Diante a classe media
- o desaparecimento do mito da
se revoltou.
reforma fiscal foi instrumento central
das mudanças sociais. A classe media fica longe dos
benefícios. As reclamações da classe
O PERIGO DE REDUZIR O SOCIA E A
media tem origem completa na
EXCLUSÃO
separação dos que pagam e os que
Desemprego, novas formas de pobreza recebem.
e desamparo. A “Questão social” se
O ESTADO PROVIDENCIA SELETIVO
deslocou: passamos de uma análise
global do sistema (em termos de Nos Países industrializados, a ideia
exploração, distribuição, etc...) a uma geral é que a seletividade representa
abordagem que focaliza o segmento uma solução para enfrentar a crise
mais vulnerável da população. financeira que o Estado Providência
atravessa em toda parte.
A luta contra a exclusão polarizou toda
a atenção da sociedade, mobilizando O princípio da universalidade esteve
energia e compaixão, ex: organizações historicamente no centro da concepção
caritativas. cívica e nacional da Seguridade Social.
[...] A esquerda sempre denunciou a
Ainda que se considere que a exclusão
seletividade, acusada de estigmatizar
é o mais importante fenômeno social
os pobres e de provocar um retrocesso
de nossa época, ele não esgota a
aos tempos moralizadores da
questão social. Denunciar justamente a
assistência.
pobreza e a miséria existentes no
mundo não nos deve dispensar de uma  De um lado prestar assistência
abordagem mais global das tensões e social a todos, de outro, onerar
contradições sofridas pela sociedade. aqueles de melhores condições
Como: desestabilização geral da econômicas mediante ao imposto
condição salarial e fragilização da mão (esquerda )
de obra.
Certa forma de universalidade deve ser
O PROBLEMA DAS CLASSES MEDIAS conservada em alguns benefícios, ainda
que se adote um critério de parcial/total do acesso ao trabalho
seletividade. [...] Assim, só há duas de grande parte da população.
possibilidades praticáveis: adotar uma
DEFLAÇÃO SOCIAL: um numero de
seletividade moderada, ou, ao
inativos é sustentado por um numero
contrário, praticar uma assistência
crescente de trabalhadores em
orientada especificamente para as
atividade.
populações em situação de grande
dificuldade. SEPARAÇÃO ECONOMIA-SOCIEDADE
 Sociedade Francesa e auxilio Tem se invocado muitas vezes os
seletivo. efeitos perversos do Estado Providencia
para explicar o impasse em que se
O CONTEUDO DA SOLIDARIEDADE
encontra atualmente.
Sistema solidarista – implica a ruptura
OCDE: Publicação de um documento
com a expectativa implícita de uma
em 1994, que determinava como
contrapartida em torno da qual
intuito a perseguição de grandes
organizava a seguridade social.
objetivos sociais do passado, visando
Mais fácil legitimar a solidariedade aplicar a dispersão dos salários para
entre pessoas incapacitadas do que estimular a criação de empregos, mas
legitimar a solidariedade entre sem interferências dos problemas de
categorias de renda equidade do funcionamento do
mercado de trabalho, resultando dessa
REIVENTAR O DESCONTO
forma, a polarização entre eficiência e
Reforma propriamente fiscal. solidariedade. Assumindo assim, uma
Desenvolvimento do CGS leva uma abordagem perversa para se tornar
redistribuição maciça entre gerações. funcional.

OS LIMITES DO ESTADO DE COMPOSIÇÃO X DISSOCIAÇÃO


PROVIDÊNCIA PASSIVO
Efeito perverso da composição:
ESTADO DE PROVIDÊNCIA funciona induzido por uma aproximação
como espécie de máquina de indenizar, excessivamente estreita de um
compensando as perdas de renda e fenômeno, que traduz uma resposta
assume despesas sociais, oferecendo dos fatos à análise, quando esta última
benefícios aos indivíduos desprovidos apenas leva em conta uma parte da
de recursos. realidade, desprezando a complexidade
das relações sociais e dá causalidade
Paradoxos: A autodestruição da
solidariedade. Efeito perverso da dissociação: é uma
segmentação das esferas de atividade
1. Paradoxo: Aumento das
social, que causam uma dissociação
indenizações e multiplicação das
real, provocando uma dissociação entre
necessidades.
econômico e social, buscando eficiência
2. Trabalho como fonte de custos para
econômica e o funcionamento da
compensação social, como
máquina de indenizar.
transferências sociais, a exclusão
A DISSOCIAÇÃO DO CONTRATO Nos anos 80 se rompeu com esse
SALARIAL contrato, o primeiro sintoma foi a
desigualdade, elevação da taxa de
 A dissociação entre econômico e
juros, etc.
social é concebida como parte do
progresso aceito institucionalmente  Subvenções iplícitas: remuneração
e proporciona o aumento do não estava associada à
desemprego em massa e a longo produtividade efetiva,
prazo. redistribuição entre gerações, por
meio dos aumentos de salário em
As transformações sociais de 90 e 80
função da antiguidade, instaurado
aceleraram esse fenômeno e levaram a
pela externalização e diferenciação.
exacerbação do funcionamento
perverso do Estado providencia. 1990 - Externalização: traduz o fato de
que ficaram cada vez mais dissociados
O desemprego em massa: radicaliza a
os registros da eficácia e da
modernização econômica e o corte
solidariedade. Diferenciação: o trabalho
entre atividade econômica e o Estado
não é mais gerado de forma global.
de providência passivo, reforçando as
contradições do sistema. - as empresas passaram a remunerar
assalariado de acordo com sua
A economia europeia em 60 e 70
produtividade.
estava regulada por um contrato social
que levava a economia a encaixar a um  Com isso, as transformações do
"Sistema de subvenções": Favorece o sistema produtivo para um modo
emprego, taxas de juros reduzidas, de produção mais flexível, não tem
salário maior. apenas uma dimensão
organizacional e técnica, mas
Assalariados menos qualificados
traduzem também novas relações
subvencionados pelos mais
sociais, resultando em convenções
qualificados, recrutamento de
sociais subjacentes.
trabalhadores não qualificados,
dinâmica que passou a funcionar entre A RADICALIZAÇÃO DA MODERNIDADE
as gerações: jovens aceitaram
O desenvolvimento do Estado
remuneração mais baixa ao ingressar
providência representa a consequência
no mercado de trabalho, visando
mecânica do rompimento entre
aumentar o salário a longo prazo.
econômico e social.
SMIC: a limitação dos salários levava a
O equilíbrio entre econômico e o social
facilitação das empresas de recrutar
(60) tinha por base a aceitação de uma
trabalhadores, não qualificados.
certa heterogeneidade: a coexistência
 O Estado providência se inscrevia na mesma função produtiva de
naturalmente em uma perspectiva trabalhadores com capacidade muito
secundária, e seu custo se contrastante. – Modernização
aproximava do custo de um acelerada (80) destruiu esse arranjo de
consumo de serviços coletivos. inclusão
Estado de providência concentrando A categoria da invalidez, deslocou-se
microdispositivos de proteção implícita, progressivamente do campo médico
responsabilidade pelo desemprego em para o social.  consequência do
casa, resultando em desempregados crescimento do universo dos
sustentados pelo Estado. – é preciso benefícios. Os desvios dos recursos
resolver dentro da estrutura social e destinados aos inválidos para a solução
não apenas um tratamento nas de problemas sociais correspondem a
disfunções EXCLUSÃO REMUNADA. Na
impossibilidade de reinserir na
O estado providencia se desenvolveu
sociedade certos indivíduos tornam-se
sob a forma assistencial da ênfase nas
“inválidos sociais”
indenizações, porque a sociedade
soube manter uma certa O estado providencia aproxima a
homogeneidade, garantido trabalho sociedade de indenização da sociedade
para todos. Por isso, a questão do em exclusão  O Estado providência
desemprego se expressa como a forma paradoxalmente exclui os indivíduos do
desacerbada das contradições da mercado de trabalho para poder ajudá-
modernidade econômica. los.
INGRESSO A UMA SOCIEDADE O aumento das pessoas inaptas para o
INDIVIDUALISTA. trabalho reflete a própria definição,
abaixo:
 Princípio democrático da inclusão e
da igualdade / Princípio produtivo Invalidez Social: reconhece-se como
da diferenciação e da exclusão. inapta para o trabalho toda pessoa que,
devido a uma doença, um acidente de
A TENTAÇÃO DE REMUNERAR A
trabalho ou uma invalidez, não possa,
EXCLUSÃO – perigo da sociedade
por meio de um trabalho adequado,
Remunerar a exclusão: de um lado, a conseguir uma renda equivalente à que
certeza de que o desemprego será receberia outra pessoa de boa saúde
muito duradouro, de outro, o fazendo o mesmo trabalho. Com isso o
reconhecimento da necessidade de seguro contra a invalidez se torna um
instalar uma rede de proteção social seguro contra a doença e contra o
mínima. - essa tentação de desemprego.
remunerar assume o modelo Handicap
O IMPASSE DA RENDA DA
• Renda de subsistência
SUBSISTÊNCIA
Progresso social (1979): Indivíduos que
Renda de Subsistência: tentativa de
estariam em outros tempos
conciliar a assistência com a dignidade
condenados à miséria ou a depender da
cívica.
generosidade flutuante das agências de
assistência social tiveram reconhecido  Consiste em garantir a todo
um direito, é garantido seus meios de indivíduo, do nascimento até a
subsistência. morte, independentemente da
situação de emprego ou renda, uma
renda básica que lhe permita cobrir
as necessidades essenciais, - trabalho como forma de inclusão (não
variando apenas em função do tenho certeza)
número e da idade das crianças sob
A centralidade da questão do emprego:
a sua responsabilidade.
representa o único vetor da exclusão a
 Renda retirada de forma igualitária
que se pode aplicar uma ação pública
do fundo social.
de modo eficaz. De fato, o Estado nada
 A ideia de beneficio universal
pode fazer, ou quase nada, para
constituiu a crescente separação
entre a esfera da atividade reforçar os laços familiares ou sociais
econômica e a da solidariedade. que constituem uma variável essencial
da exclusão. Na impossibilidade de agir
Se todo indivíduo tem a garantia de
de forma direta no social, o Estado
uma renda mínima, pode aceitar, ou se
deve empenhar-se duplamente n
sente coagido a aceitar um emprego
econômico.
mal remunerado.
 Na impossibilidade de agir no social
A partir desse espirito Dahrendorf
o Estado deve empenhar-se no
explica a instituição da renda da
econômico (promover emprego)
cidadania que aumentaria a
flexibilidade do mercado de trabalho/ Retoma a discussão do direito ao
reduzindo o salário mínimo. trabalho.
DA INDENIZAÇÃO A INSERÇÃO
A dissociação crescente entre o
econômico e o social levaria fatalmente
à autodestruição da solidariedade, com
a marginalização cada vez mais
marcante dos excluídos.
A grande questão é descobrir as
garantias sociais que substituam
aquelas que a Revolução destruiu, e
cuja ausência o regime industrial torna
ainda mais visível
A necessidade de abandonar o Estado
de providência passivo e a busca de
uma nova forma de inserção
econômica convergem aqui para
colocar na ordem do dia uma reflexão
de tipo diferente sobre o emprego,
reflexão que não se pode dissociar de
uma nova e ampliada compreensão dos
direitos sociais.

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