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RESUMO
ABSTRACT
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INTRODUÇÃO
São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Art. 6° da CF/1988, grifo nosso).
E uma nova era se inicia, a partir de então, a Assistência Social é afirmada como um
direito social, sendo um marco histórico e legal de ruptura com o assistencialismo. Assim, como
política social pública, a assistência social inicia seu transito para um campo novo: dos direitos,
da responsabilidade estatal, da intersetorialidade, tendo seus direitos formalizados pela Lei
Orgânica de Assistência Social – LOAS:
A Assistência Social é direito do cidadão e um dever do Estado, é Política de Seguridade Social
não contributiva, que provê os mínimos sociais garantidos, realizado através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, garantindo o atendimento as
necessidades básicas (Art. 1º da LOAS/ 1993).
Como pode ser observado, ela é incorporada no tripé da Seguridade Social, juntamente
com a previdência social e a saúde. Tal iniciativa possibilita o oferecimento da proteção social
sem a necessidade de contribuição, destacando-a da previdência social e inovando no que se
refere à cultura e história da proteção social no Brasil.
Contudo, é fato irrefutável que os direitos sociais no Brasil são marcados por sua
natureza histórica, deixando o estigma da filantropia, da ajuda, do clientelismo, de uma cultura
cívica particularista, corporativista, com fraco poder de organização que somadas com as atuais
determinações conjunturais impõe grandes limites aos seus propósitos.
É em razão deste quadro que se observa a ascensão de discursos divergentes quanto à
concepção da Assistência Social como política, aquinhoando os profissionais entre os que a
defendem como uma real possibilidade de ampliação do campo da proteção social e outros que
a afirmam como “um mito” que colabora para uma “assistencialização” da proteção social.
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governamentais, que agora possuem novas atribuições. Não alcançando, assim, o objetivo de
manter a centralidade de suas funções redistributivas, de sua capacidade corretiva das
desigualdades regionais e individuais, e de permitir a participação da população.
Dando continuidade ao resultado de alguns indicadores nota-se que a focalização intui
para a segmentação das atividades. Contudo estas partes segmentadas não se encontram
articuladas o que dificulta o objetivo de um trabalho intersetorial reduzindo-a e isolando-a como
política específica, reforçando uma perspectiva assistencialista.
Mediante, estes dados alguns autores como Ana Elisabete Mota (2008) e Mavi Rodrigues
(2009), defendem que está havendo uma assistencialização da Seguridade Social. Segundo
Mavi Rodrigues (2009), o SUAS por ser muito recente, ainda não está construído, de forma, que
acredita que qualquer análise do mesmo, tem que se basear em tendências, no sentido de
apontar esboços do que pode vir a ser o SUAS e seu significado.
Sendo assim, a autora propõe uma avaliação da assistência social num contexto de
aprofundamento do neoliberalismo, tentando ao mesmo tempo avaliar o significado do Sistema
Único de Assistência Social - SUAS na história da Assistência Social pública brasileira e também
suas tendências futuras, situadas não apenas no âmbito da política de assistência social mas
também nas demais políticas sociais de escopo da seguridade social.
Seguindo este modelo, ela defede a existência de um paradoxo: de um lado reconhece
que o SUAS tem a potencialidade de, efetivamente, colocar a assistência social no Brasil no
campo de uma política pública. Isto porque
ele pressupõe a construção de um sistema único, nacional, descentralizado e hierarquizado e
com controle popular, que dá a assistência social uma padronização em confronto com sua
história de ações segmentadas, fragmentadas e descontínuas no tempo. (RODRIGUES, 2009:
22).
Mas por outro lado, seguindo uma análise destes ganhos por uma perspectiva da
seguridade social, mediante seu desmonte frente ao quadro macroeconômico neoliberal, de
privatização da previdência social e da saúde, de contigenciamento dos recursos públicos a
[1]
serem destinados as políticas sociais , a autora conclui que o SUAS está aquém daquele
projetado no papel.
Endossa este fato lembrando que os recursos são muito mais destinados aos programas
[2]
de transferência de renda mínima do que à montagem da rede de proteção básica ,
confirmando a tendência da política de realizar-se de forma diminuta, se afirmando como um
sistema de proteção focado, voltado esclusivamente a atender ou a diminuir a pobreza absoluta.
Afirma ainda que, mantida a contrareforma do Estado (privatização da saúde e da
previdência) o SUAS pode ser usado na direção da edificação de uma seguridade social pública
meramente assistencial.
É válido reforçar que a autora não nega a importância da adoção de políticas voltadas
para reduzir a pobreza absoluta, mas defende que se não buscar ir para além deste objetivo a
política de proteção social não avança, assim como também não atinge os patamares de
cidadania pretendido.
Enfim, para Mavi Rodrigues a assistência social cresce em detrimento do esvaziamento
das demais políticas sociais. E mais do que isto, é vista como a ancora da proteção social,
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substituindo o lugar ocupado pelo direito do trabalho antes do neoliberalismo, o que para ela é
uma ilusão, visto que,
a assistência social não é capaz de incorporar e integrar a massa, os inúteis para o capital. Não
é capaz de alçar patamares civilizatórios. Ela é apenas capaz de construir uma seguridade
pobre, voltada para os segmentos que se convencionou – erroneamente - chamar de excluídos
sociais. (RODRIGUES, 2009: 24)
[3]
Contudo, uma outra vertente defendida por Sposati declara que a idéia de
assistencialização da proteção social significa a negação da Política de Assistênica. Para
defender esta hipótese ela elenca quatro pontos explanados a seguir.
O primeiro se refere a questões, que no seu entender, marcam as Políticas Sociais
contemporânes e com isto a gestão, sendo estas: falta de avanço tecnológico; baixo consenso
entre as três instâncias de governo, observando que a descentralização tem o intuito de
aproximar-se do cidadão mas há discrepâncias na constituição dos municipios; baixa ampliação
e qualificação de recursos humanos; maior flexibilização das regras para ampliar iniciativas do
mercado em detrimento das públicas; neopotismo da gestão local; ritmo diferenciado entre
legislativo, executivo e judiciário; baixa relação de intersetorialidade entre as políticas sociais; e
por fim, lenta e travada concretização destas.
Como pode ser percebido, Sposati reconhece em sua avaliação os pontos de
estrangulamantos da política, aponta ainda, alguns determinantes do modelo neoliberal, mas
considera um equivoco enquadra-los com o desmonte da Política Social, pois acredita que os
Conselhos e Conferências devem interferir na construção histórica, podendo traçar novos rumos.
Sua segunda observação, mostra que a seguridade ficou identificada com a noção de
Proteção Social sendo determinada pelo conceito do que é previdência social, ou seja, recebe
forte influência da idéia de cidadania regulada. De forma que, se discute sua vinculação com os
estigmas da tutela e da subordinação em contraposição aos ideais de emancipação e
autonomia, fetichizando, desta forma, a política de assistência social.
Diante deste ponto, Sposati afirma que a Proteção Social é um instrumento de força e
não meio meramente de proteção no sentido de preservação, elenca, ainda, a presença de um
caráter educativo de uma política de desenvolvimento, superando a visão da proteção como algo
inferior sem perspectiva para o futuro.
Num terceiro momento, a autora defende que a Assistência Social alarga o campo da
proteção social para novos segmentos de classe, ampliando a efetivação do campo dos direitos
humanos e do acesso aos direitos sociais, sendo assim, uma antítese da assistencialização.
Seguindo este pensamento, é conclusivo que a assistência não é uma mera política que
fornece alcance para as demais, como se não houvesse nela resolutividade.
Por último, declara haver mistificações em torno da Assistência Social que impedem sua
valoriazação, sendo algumas delas: crença em que o desenvolvimento da assistência social
seria um retrocesso, pois não apostam na capacidade de ruptura; entendimento da assistência
como mediadora ou processadora de outras políticas e; equivocada distinção de políticas sociais
estruturantes e processantes.
Enfim, Sposati tenta defender a necessidade de compreender a assistência para além de
seu caráter paliativo, desvelando as determinações sociais e históricas que atuam para dar-lhe
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo, Cortez,
2008
BRAVO; PEREIRA. P. (org). Política Social e democracia. São Paulo, Cortez, 2001.
COHN, A. Desafios atuais para a Assistência Social: a busca de alternativas. In: Serviço
Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, (23): 91-111, abril, 1987.
KAMEYANA, N. A nova configuração das Políticas Sociais. In: Estudos de Política e Teoria
Social. Rio de Janeiro, Praia Vermelha, 2001.
LOPES, M. H. C. O Tempo do SUAS. In: Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez,
setembro de 2006
MARSHALL, T. H. Cidadania e classe social. In: Cidadania, classe social e “status”. Rio de
Janeiro: Zahar, 1967.
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SCHONS, S. M. Assistência Social entre a ordem e a desordem. São Paulo: Cortez, 1999.
SPOSATI, A. O primeiro ano do Sistema Único de Assistência Social. In: Serviço Social e
Sociedade. São Paulo: Cortez, setembro de 2006.
[1]
Apesar do aumento de arrecadação do orçamento da seguridade social, que passou de 6,12% do PIB em 1999
para 12,39% em 2005, as reformas da previdência foram efetivadas mediante a alegação de um suposto déficit, sendo
que o próprio Tribunal de Contas da União (TCU), ao analisar as contas do Governo Federal de 2005, reconheceu que
não há déficit na previdência. O que ocorre é uma realocação dos recursos do orçamento da seguridade social para
pagamento dos juros da dívida pública e geração do superávit primário: a Desvinculação das Receitas da União
(DRU) permitiu ao Governo Federal retirar R$ 45,2 bilhões do orçamento da seguridade social entre 2002 e 2004, que
deveriam ser utilizados para as políticas de previdência, saúde e assistência social e poderiam ampliar os direitos
relativos a estas políticas sociais. (BOSCHETTI, 2007)
[2]
Em 2004, de um orçamento executado de R$ 227.145.544,00 (duzentos e vinte e sete bilhões, cento e quarenta e
cinco milhões e quinhentos e quarenta e quatro mil reais), o BPC ficou com R$ 5.748.738, (2,53%), a Renda Mensal
Vitalícia ficou com R$ 1.828.506 (0,80%), a Bolsa Família ficou com R$ 4.929.680 (2,17%) e as demais ações do
FNAS, cujos recursos são repassados aos Fundos Estaduais e Municipais, ficaram com apenas R$ 1.090.790
(0,40%).
[3]
Palestra proferida na Universidade Federal Fluminense no primeiro semestre de 2009.
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