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O SUAS ou a Rede

de Proteção Social
não Contributiva
Ana Maria Petronetto Serpa
Secretária de Assistência Social de Vitória

Resumo
Este trabalho trata da implantação do Sistema Único de Assistência Social (Suas) em

ANO I, N. 01, P 15 – 22, DEZEMBRO 2010


Vitória, como parte do esforço federativo para instituir uma rede de proteção social não
contributiva no país. Conceitua a Assistência Social como política pública que compõe a
seguridade social brasileira, descreve as diretrizes e princípios que devem orientar a orga-
nização e gestão do Suas, apresenta os programas, projetos, benefícios e serviços em fun-
cionamento em Vitória, por nível de complexidade, quantidade e capacidade de cobertura,
além de apresentar as iniciativas e os resultados nas áreas da gestão, do controle social e do
financiamento da Assistência Social.

Palavras-chave: assistência social; proteção social; política social; seguridade social

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Abstract

REVISTA DA PREFEITURA DE VITÓRIA


Suas: The Network of Non-contributory Social Protection in Vitória
This work relates the establishment of the Unified Social Assistance System (SUAS) in Vitória,
as part of federal efforts to establish a network of non-contributory social security in the country.
It conceptualizes Social Services as a public policy that constitutes Brazilian social security;
describes the guidelines and principles as a public policy that ought to guide the organization
and management of SUAS; presents the programs, projects, benefits and services available in
Vitória, either by level of complexity, quantity or capacity for coverage. It also presents initiatives
and results in the areas of management, social control and financing of social welfare.
VITÓRIA
Keywords: social assistance; social protection; social policy; social security

A partir de 2005, a política de assistência social


tomou novos rumos em Vitória, assumindo
um formato sistêmico de organização e gestão por
dos em parceria com entidades de Assistência So-
cial de Vitória, devidamente registradas no Conse-
lho, constituindo o chamado “vínculo Suas”.
meio do Sistema Único de Assistência Social (Suas).
Fazemos uma “travessia” na Assistência Social:
Programas, benefícios e serviços existentes foram
de ações sociais eventuais para política pública
reordenados e outros implantados de acordo com
de serviços continuados; de ações isoladas para
as diretrizes de Governo e as concepções da Lei
a centralidade do dever de Estado como agente
Orgânica de Assistência Social (Loas), da Política
executivo, regulador e de defesa de direitos; e de
Nacional da Assistência Social (Pnas), da Norma de
reconhecimento do pobre e carente como cidadão
Orientação Básica (NOB) do Suas e de normas mais
com direito a ter direitos (Sposati, 2009).
recentes. As funções ou referências da assistência
social foram implementadas e estão em desenvol- Essa experiência deu origem ao anteprojeto de
vimento. Boa parte dos serviços são implementa- lei para criar o Suas Vitória, que tramita nas instân-
cias competentes do município, visando a dar maior cia a riscos circunstanciais; do convívio familiar,
grau de institucionalidade ao sistema e torná-lo me- comunitário e social.
nos vulnerável às diferentes conjunturas políticas.
Sobre a convivência, a PNAS (2004) afirma que
Segundo Sonia Fleury, a Assistência Social tem o comportamento gregário é próprio à natureza
um caráter muito localista e pode dar uma contri- humana e que é na relação que o homem constrói
buição importante no sentido de uma política que sua identidade e sua subjetividade. “A dimensão
não vem só do nível central para o local, mas que societária da vida desenvolve potencialidades,
pode ter maior importância do local para o nacional. subjetividades coletivas, construções culturais,
Considera ainda que a natureza intersetorial da as- políticas e, sobretudo, os processos civilizatórios”.
sistência pode ajudar a romper o caráter setorial rí- A assistência social, segundo Sposati, é o campo
gido de determinadas políticas, o que pode ser uma da defesa da vida relacional, e o isolamento, sob
contribuição importante para as políticas sociais. qualquer forma e em qualquer fase da vida, reduz
as “possibilidades do sujeito”, sendo essencial, por-
Sobre a política nacional tanto, assegurar a convivência e o pertencimen-
to em todas as suas expressões. Para a autora, as
de assistência social
desproteções estão nas rupturas de vínculos, nas
A assistência social é o campo da “proteção expressões de violência, na ausência de cuidados
social não contributiva” e seus fundamentos são a e na desagregação.
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“preservação da vida” e a “dignidade da pessoa hu-


A assistência social é uma política de Estado
mana”. Tornou-se uma política pública de seguri-
que reconhece a importância da ação integrada
dade social, a ser “prestada a quem dela necessitar, entre poder público e sociedade, mas supera a
independentemente de contribuição à segurida- ideologia do favor, da caridade, da ação eventual,
de social” (art. 203 da CF de 1988). Desdobrando que muitas vezes encobrem relações de opressão
a norma constitucional, e ampliando a sua defini- e de clientela enraizadas em nossa cultura políti-
ção, a Loas (lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993) ca e reinventadas na cidade, além de estabelecer
afirma em seu artigo 1º que “a Assistência Social, o “comando único das ações” e a “primazia da res-
direito do cidadão e dever do Estado, é política de ponsabilidade do Estado na condução da política
Seguridade Social não contributiva, que provê os em cada esfera de governo”. Neste aspecto, “a Loas
16 mínimos sociais, realizada através de um conjunto exige que as provisões assistenciais sejam priori-
integrado de ações de iniciativa pública e da so- tariamente pensadas no âmbito das garantias de
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ciedade, para garantir o atendimento às necessida- cidadania sob vigilância do Estado, cabendo a esse
des básicas”. Nessa perspectiva, a Assistência Social a universalização da cobertura e a garantia de di-
assume a “dimensão ética de incluir os ‘invisíveis’, reitos e acesso para serviços, programas e projetos
os diferentes e as diferenças, as disparidades e as sob sua responsabilidade” (PNAS, 2004).
desigualdades, os transformados em casos indivi-
duais, quando são de fato parte de uma situação A vigilância social tem como função saber
social coletiva” (MDS, 2005). onde estão e quantos são os que demandam pro-
teção social e qual é a capacidade dos equipamen-
Ao ser incluída no campo da seguridade social, tos e serviços para suprir suas necessidades. Para
juntamente com a saúde e previdência social, a as- tanto, sistematiza informações e indicadores terri-
VITÓRIA

sistência social adquire caráter de “política de pro- torializados das situações de vulnerabilidade de fa-
teção social articulada a outras políticas do campo mílias e indivíduos, nos diferentes ciclos de vida. A
social, voltadas à garantia de direitos e de condições PNAS coloca também a necessidade da vigilância
dignas de vida”. Tem como funções ou referências a sobre a qualidade dos serviços prestados.
proteção, a vigilância e a defesa social.
A defesa social é referente ao acesso dos usu-
A proteção social de assistência social atua ários ao conhecimento dos direitos socioassisten-
com “vitimizações, fragilidades, contingências, ciais e sua defesa, o que tem sido garantido por
vulnerabilidades e riscos” aos quais indivíduos e meio de campanhas nos bairros e na mídia, socia-
famílias estão sujeitos, por meio de um conjunto lização das informações e acionamento dos meca-
de “ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios nismos de exigibilidade.
ofertados pelo Suas para redução e prevenção do
impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ci- Do Sistema Único da Assistência Social
clo da vida, à dignidade humana e à família como
núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e O Suas é “um sistema público não contributivo,
relacional”. Deve afiançar as seguranças sociais de descentralizado e participativo que tem por função a
acolhida; de renda; de desenvolvimento da auto- gestão do conteúdo específico da Assistência Social
nomia individual, familiar e social; da sobrevivên- no campo da proteção social brasileira” (NOB, 2005).
Ele “regula e organiza as ações socioassistenciais em proteção é fundamental para evitar rompimento
todo o território nacional”. Integra os entes federa- de vínculos familiares e comunitários e desenvol-
tivos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), ver ações de “bloqueio” ao abrigamento.
cada um com suas atribuições, seus respectivos con-
A proteção social especial de alta complexidade
selhos de assistência social e organizações de assis-
é voltada para os que romperam vínculos familiares
tência social. Afirma, ainda, que os serviços ofertados
e comunitários e estão em situação de abandono.
devem ser hierarquizados por níveis de complexida-
Cabe ao Estado garantir-lhes proteção sob a for-
de, ter como foco prioritário a família e, como base de
ma de acolhimento, acesso aos serviços de saúde,
organização, o território. Os eixos estruturantes que
aos direitos previdenciários, retorno à família ou à
orientam a implementação do Suas são:
comunidade, e outros. Opera por meio do acolhi-
t 1SFDFEÐODJBEBHFTUÍPQÞCMJDBEBQPMÓUJDB mento institucional, com a perspectiva do resgate
t "MDBODF EF EJSFJUPT TPDJPBTTJTUFODJBJT QFMPT dos vínculos familiares ou de construção de novos
usuários; vínculos que permitam uma vida autônoma na co-
munidade. Também opera por meio do acolhimen-
t .BUSJDJBMJEBEFTPDJPGBNJMJBS to familiar implantado em Vitória com o programa
t 5FSSJUPSJBMJ[BÎÍP Família Acolhedora, do acolhimento em repúblicas
e proteção em situações de emergências.
t %FTDFOUSBMJ[BÎÍPQPMÓUJDPBENJOJTUSBUJWB

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t 'JOBODJBNFOUPQBSUJMIBEPFOUSFPTFOUFTGFEF- O Suas em Vitória
rados;
Dentro dessa moldura conceitual, Vitória im-
t 'PSUBMFDJNFOUP EB SFMBÎÍP EFNPDSÈUJDB FOUSF plantou o Suas, com programas, serviços e benefí-
estado e sociedade civil; cios organizados por nível de complexidade, con-
t 7BMPSJ[BÎÍPEBQSFTFOÎBEPDPOUSPMFTPDJBM forme descrição a seguir.
t 1BSUJDJQBÎÍPQPQVMBSDJEBEÍPVTVÈSJP
Proteção Social Básica
t 2VBMJGJDBÎÍPEFSFDVSTPTIVNBOPT
A Proteção Social Básica caracteriza-se por ser
t *OGPSNBÎÍP NPOJUPSBNFOUP BWBMJBÎÍPFTJTUF- preventiva e tem com referência o CRAS. Vitória im-
matização de resultados (NOB, 2005). plantou 12 CRAS (sete no período 2007-2009), obe- 17
decendo à territorialização aprovada pelo Conselho

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A família é compreendida como o núcleo social
Municipal de Assistência Social (Comasv). Os CRAS
básico de acolhida, convívio, autonomia, sustenta-
desenvolvem o Programa de Atenção Integral à Fa-
bilidade e protagonismo social. Deve ser apoiada
mília (Paif), um programa-serviço estruturante da
para exercer seu papel de sustento, educação e
proteção social básica que acompanha famílias em
proteção de seus membros. Com a Constituição
situação de vulnerabilidade e risco social, processo
de 88, artigo 226, a família tornou-se “sujeito de
orientado pelo Plano de Acompanhamento Fami-
direitos”. É “base da sociedade” e deve ter “especial
liar. Os CRAS são também porta de entrada para ob-
proteção do Estado”.
tenção de benefícios eventuais, cadastramento no
Cabe ao Suas implantar a rede socioassisten- Cadúnico (condição para acesso aos programas do VITÓRIA
cial entendida como um “conjunto integrado de Governo federal, como Bolsa Família), pré-habilita-
ações de iniciativa pública e da sociedade, que ção ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) de
ofertam e operam benefícios, serviços, programas idosos e pessoas com deficiência que tenham renda
e projetos de proteção social básica e de proteção familiar per capita de até ¼ do salário mínimo, parti-
social especial de média e alta complexidade, devi- cipação em oficinas motivacionais, ações socioedu-
damente articulados entre si” (NOB, 2005). cativas e reuniões de famílias.

A proteção social básica visa fortalecer a au- Os CRAS acompanham famílias que descum-
tonomia e vínculos familiares e comunitários de prem condicionalidades do Bolsa Família e atuam
famílias e indivíduos e opera por meio dos Centros para que seus filhos frequentem regularmente a
de Referência da Assistência Social (CRAS), que são escola e acessem os serviços de saúde. Além disso,
“uma unidade pública estatal de base territorial, tem a tarefa de articular e fortalecer a rede social lo-
localizada em áreas de vulnerabilidade social, que cal, pois a vulnerabilidade pode ou não representar
abrange um total de até 1.000 famílias/ano”. um risco, “dependendo da relação que se estabele-
ce entre os desafios da necessidade e os recursos
A proteção social especial de média complexi- disponíveis para enfrentá-los” (Sanicola, 2008).
dade atende famílias e indivíduos com direitos vio-
lados, por meio dos Centros de Referência Especia- Já os Serviços de Convivência e de Fortaleci-
lizado de Assistência Social (CREAS). Esse nível de mento de Vínculos (SCFV), referenciados aos CRAS,
incluem serviços realizados em grupos, destinados Idosas e suas Famílias; e Serviço Especializado para
a garantir “aquisições progressivas” às pessoas nos Pessoas em Situação de Rua.
diferentes ciclos de vida, desenvolvendo capaci-
Vitória reordenou os serviços de média com-
dades para o enfrentamento da vulnerabilidade
plexidade que atuavam isoladamente e implantou
social. São SCFV: o Família Multiplicadora (FAM) ,
três CREAS, localizados em Maruípe, Ilha de Santa
as unidades do projeto Cajun, o Pró Jovem Adoles-
Maria e Centro, mas com cobertura em toda a cida-
cente (PJA), o Centro de Referência da Juventude
de. Os CREAS têm capacidade para atender até 250
(CRJ), o Núcleo Afro Odomodê, os grupos e os cen-
famílias cada, por meio de acolhimento e escuta;
tros de Convivência da Terceira Idade e o Centro de
estudo social; atendimento psicossocial individual
Referência para Pessoas com Deficiências (CRPD).
e grupal; oficinas de resignificação da experiência
Compõem ainda a Proteção Social Básica, as de vida; visitas domiciliares; encontros de famí-
Unidades de Inclusão Produtiva (UIPs) de São Pe- lias; envolvimento em mobilizações, campanhas
dro e de Santo Antônio, os programas de transfe- e ações socioeducativas; articulação das famílias
rência de renda (Bolsa Família do governo federal com movimentos de usuários e redes de ajuda mú-
e Família Cidadã do município), os benefícios per- tua; encaminhamentos ao sistema de garantia de
manentes (BPC) e os benefícios eventuais: Natali- direitos (SGD) e à rede de proteção social.
dade, Funeral, Emergencial a Vítimas de Desastres O Serviço Especializado de Abordagem Social,
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(BEVD), e Andada e Defeso (BAD) concedido aos conhecido como “abordagem de rua”, foi ampliado
catadores de caranguejo do município. para todo o território da cidade como uma ativi-
Em 2009, Vitória aderiu ao programa BPC na dade que integra os CREAS. Até então (julho de
escola proposto pelo governo federal. Na primei- 2010), ele atuava mais no Centro, Praia do Canto,
ra etapa de implantação do programa, cadastrou Jardim da Penha, Praia de Camburi e Jardim Cam-
crianças e adolescentes que recebem o BPC, visan- buri. Isso representará um novo modo de atuar e
do conhecer a realidade sociofamiliar e as barreiras exigirá maior sistematização de procedimentos e
(arquitetônicas, culturais, atitudinais) que dificultam um olhar mais aguçado para as vulnerabilidades.
o acesso e a permanência dos mesmos na escola. Vitória tem dois Conselhos Tutelares – Centro
Foram aplicados 219 questionários nessa etapa e e Maruípe, este último implantado em 2006 – que
18 as barreiras, já identificadas em âmbito nacional, integram o Sistema de Garantia de Direitos e são
relacionam-se aos cuidadores, ao preconceito e ao encarregados de zelar pelo cumprimento dos direi-
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acesso às políticas públicas. Elas serão enfrentadas tos da criança e do adolescente. Cabe ao município
pelo município de forma sistemática e intersetorial remunerar os conselheiros e assegurar condições
pelas secretarias de Assistência, Educação, Saúde e de trabalho aos mesmos. Em 2010, uma lei muni-
Cidadania. cipal assegurou vários direitos aos conselheiros,
Em cada território existe um “Coletivo Territo- retirando-os da condição precarizada de trabalho.
rial de Proteção Social” integrado por coordenado- Os CREAS constituirão uma esfera pública que
res dos CRAS e técnicos de referência dos serviços dará visibilidade e permitirá problematizações pro-
da assistência social, com a tarefa de fazer uma fundas sobre as violações de direitos que permane-
gestão territorial local e colegiada da proteção so- ceram restritas ao espaço privado das famílias ou
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cial. Tem também a Comissão Local de Assistência foram naturalizadas pela história. Os desafios serão
Social (CLAS), que, além de trazer as situações de grandes, mas os ganhos sociais e civilizatórios serão
vulnerabilidade do território tornando-se a voz dos maiores. A assistência social no Brasil, nas suas fases
moradores, exerce o controle social da Assistência da caridade e da filantropia, privilegiou a retirada
Social no âmbito local. da família e a internação em asilos e orfanatos. Em
muitos municípios, toda a rede de proteção social
Proteção Social Especial de Média Complexidade é constituída por essas entidades de alta comple-
xidade, que acabam por pautar a agenda local da
Esse nível de proteção social atende famílias
assistência social e por monopolizar os parcos re-
com violações de direitos e opera por meio dos
cursos dessa área. Agora, institui-se uma rede de
CREAS que desenvolvem os serviços de: Proteção
proteção de média complexidade que, dentre ou-
e Atendimento Especializado a Famílias e Indivídu-
tras atribuições, desenvolverá ações de “bloqueio”
os (Paefi), serviço estruturante do CREAS; Serviço
ao abrigamento e à ruptura dos vínculos familiares
Especializado em Abordagem Social; Proteção So-
e comunitários.
cial a Adolescentes em cumprimento de Medidas
Socioeducativas de Liberdade Assistida (LA) e de O gráfico a seguir retrata as articulações e rela-
Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Prote- ções entre os vários serviços e os níveis de comple-
ção Social Especial para Pessoas com Deficiência, xidade do Suas Vitória.
Conselhos

CLA Semas

FAM

Cras/Paif Cajun

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PJA Coletivos
Territoriais
Contra referência
Referência

Ongs
GCTI
19
CRPD CRJ CCTI

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Sistema de
Proteção

Creas/Paefi
Sistema de
Garantia de
Direitos
VITÓRIA

Proteção Social
Especial de Alta
Complexidade

Proteção Social Especial de Alta Complexidade à documentação civil, a benefícios previdenciá-


rios e assistenciais, à rede de serviços de saúde
A alta complexidade está voltada para indi-
víduos com vínculos familiares e comunitários e socioassistenciais; e resgate de relações com a
rompidos e famílias em risco social grave. Es- família. A Tipificação Nacional de Serviços Socio-
trutura-se numa rede de serviços que garantem assistenciais estabelece quatro tipos de serviços
acolhimento; higienização; alimentação; acesso de alta complexidade: acolhimento institucional,
acolhimento familiar, acolhimento em repúblicas muitos adolescentes abrigados estão comple-
e proteção em situações de calamidades públicas tando 18 anos e não têm para onde ir.
e de emergência.
Os migrantes de baixa renda que vem ao Es-
Um público usuário da rede de alta comple- pírito Santo em busca de trabalho também en-
xidade é a população em situação de rua, que se contram acolhida em Vitória no albergue com ca-
diferencia em vários subgrupos. São catadores de pacidade para acolher 48 pessoas. A dinâmica do
materiais recicláveis que, apesar de trabalharem albergue sofre os reflexos do movimento de traba-
em condições sub-humanas, não perderam o vín- lhadores em busca de emprego, da sazonalidade
culo com o trabalho; os flanelinhas; os pedintes; da agricultura e da divulgação das oportunidades
os que tem transtorno mental; os jovens usuários de trabalho geradas pelo petróleo e gás.
de crack que vão para as ruas para fazer uso da
A rede de Proteção Social Especial da Alta
droga e repelem a aproximação da abordagem
Complexidade do Suas em Vitória conta 22 servi-
de rua; os adultos recém saídos dos presídios e
ços/equipamentos, incluindo entidades convenia-
sem vínculos com a família, sem documento, sem
das, que atendem cerca de 608 pessoas/famílias.
passagem para voltar ao seu município ou outra
Ao todo, a rede socioassistencial do município
forma de proteção social, e se juntam aos grupos
conta com 135 programas/serviços/benefícios e
das ruas.
projetos, integrantes dos três níveis da proteção
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Na origem da vinda para as ruas, três fatores social.


interagem: o desemprego prolongado, o alcoolis-
Além disso, Vitória conta com uma rede de en-
mo e os conflitos familiares. Hoje, poucos são os
tidades não governamentais de assistência social
mendigos tradicionais. O vínculo com a rua é for-
que integram o Suas e ofertam serviços socioassis-
talecido pelas formas tradicionais e efêmeras de
tenciais complementares à ação da Semas. Algu-
ajuda: dinheiro, cobertor, comida, colchão, roupa e
mas dessas entidades têm convênios de grande
outras. As pessoas só aceitam deixar as ruas quan-
porte com o município para a implementação de
do estão muito doentes. O serviço de abordagem
serviços do Suas. Outras atuam complementar-
social de adultos atua diariamente na cidade e co-
mente ao Suas, com aporte de recursos governa-
nhece todas as pessoas e os lugares onde elas cos-
mentais ou não. Cerca de 53 entidades são regis-
20 tumam ficar, mas a saída das ruas depende da acei-
tradas no Conselho Municipal de Assistência Social
tação do encaminhamento proposto pela equipe.
(Comasv).
Mais recentemente, as secretarias de Assistência,
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Saúde e Cidadania se uniram e implantaram o pro-


Da gestão
jeto Tenda da Cidadania, uma nova estratégia de
abordagem que se instala nos logradouros com No âmbito da gestão, a Semas implementa a
concentração de pessoas em situação de rua para vigilância social conforme prevê a política, cons-
abordá-las e prestar atendimentos iniciais. O fato truindo sistemas de informação que permitam
de várias secretarias participarem da tenda é uma elaborar indicadores e índices territorializados da
alternativa promissora. vulnerabilidade; a formação continuada em assis-
tência social envolvendo a rede governamental e
Há também outro grupo que requer a ma-
não governamental, em parceria com a Escola de
VITÓRIA

nutenção de uma rede de alta complexidade: as


Governo; firmatura e acompanhamento de con-
crianças e adolescentes em situação de risco so-
vênios e contratos com orientações e capacita-
cial que são retiradas de suas famílias e encami-
ções sistemáticas de entidades parceiras; o acom-
nhadas aos abrigos. São cinco abrigos, uma casa
panhamento da movimentação dos recursos hu-
de passagem e uma casa lar que compõem essa
manos com esforços permanentes para ampliar o
rede, além do programa Família Acolhedora. Os
quadro de servidores efetivos, conforme as nor-
CREAS acompanharão famílias cujas crianças es-
mas que regulam o Suas; o monitoramento dos
tão em abrigos e correm o risco de perder o po-
padrões de qualidade da rede socioassistencial; a
der familiar sobre elas. É comum classificar essas
adequação dos espaços físicos da rede Suas, que
famílias (as mães em especial) como “negligen-
somam mais de 60 equipamentos; a participa-
tes”, mas não se explicita o que é e o que causa
ção da Semas por meio de seus representantes e
essa negligência, o que dificulta a compreensão
gestores nos conselhos municipais, nas câmaras
do fenômeno e a busca de alternativas para en-
territoriais e no Comitê de Políticas Sociais, além
frentá-lo. Com esse acompanhamento, as famí-
de processar toda a demanda administrativa, or-
lias encontrarão um lugar de apoio e de cons-
çamentária e financeira necessária ao trabalho.
trução de possibilidades de permanecerem com
suas crianças. Também as repúblicas para jovens Vitória é um município de grande porte com
começam a entrar na agenda, considerando que 320 mil habitantes, embora circulem pela cidade
cerca de 700 mil pessoas por dia, o que amplia as De acordo com a diretriz do “financiamento
demandas para a assistência social. É capital, tem partilhado entre os entes federados”, por meio
centralidade econômica e política, tem capacidade dos “pisos compostos”, Vitória recebe recursos
de ofertar serviços sociais que são acessados tam- fundo a fundo do Governo Federal e recursos via
bém por habitantes de outros municípios, e está convênio do Governo Estadual. O repasse “fundo
na gestão plena do Suas desde 2006. É membro a fundo” (Fundo Nacional ao Fundo Municipal da
nato da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), de Assistência Social) garante agilidade, chegada
âmbito estadual e participa do Colegiado Nacional dos recursos aos municípios em tempo real, con-
de Gestores Municipais de Assistência Social (Con- tinuidade da prestação dos serviços e redução
gemas) e do Colegiado de Gestores Municipais de da sobrecarga burocrática. Esse modelo prevê a
Assistência Social do Espírito Santo (Coegemas), reprogramação dos saldos ao final de cada ano e
instâncias de articulação dos gestores municipais o seu uso no ano seguinte, desde que aprovado
por meio das quais fazem o debate e a interlocu- pelo Comasv e o uso se dê dentro do mesmo ní-
ção com os governos estadual e federal. vel de complexidade.
Vitória tem o Fundo Municipal de Assistência
Do controle social
Social que é unidade orçamentária, cabendo à
O controle social da Assistência Social é feito Semas gerenciá-lo e ao Comasv controlar e fisca-
pelos conselhos municipais: Comasv (Assistência lizar esse gerenciamento. Tem também o Fundo

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Social), Comid (Idoso), Concav (Criança e Adoles- Municipal da Infância e da Adolescência (FIA), cuja
cente), Comped (Pessoa com Deficiência) e Com- principal forma de capitalização tem sido a capta-
sea (Segurança Alimentar e Nutricional). No âm- ção anual de recursos de doação e de dedução do
bito dos territórios, o controle social é feito pelas Imposto de Renda (IR) devido de pessoas físicas e
Comissões Locais de Assistência Social (CLAS). O jurídicas. A partir de 2008, novos procedimentos
Comasv já conta com a participação de usuários foram adotados visando acelerar o processo de
entre seus membros, escolhidos em assembleias liberação de recursos do FIA para projetos de enti-
organizadas pelos CRAS. dades sociais aprovados pelo Concav.

Para apoiar o funcionamento dos conselhos,


Conclusão
foi implantada a Casa dos Conselhos que presta
21
assessoria, orientação e acompanha os conselhos É possível dizer que o Suas está implantado em
e suas comissões temáticas, organiza capacitações Vitória. Cabe agora aperfeiçoar os serviços e cuidar

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de conselheiros e viabiliza a participação dos mes- da sua integração, pois esta não é uma condição
mos em eventos estaduais e nacionais. O municí- dada, mas construída pelos atores que operam o
pio apóia as conferências municipais convocadas a sistema. Também é preciso dar maior grau de insti-
cada dois anos pelos conselhos, entendidas como tucionalidade ao Suas por meio da sua criação por
espaços públicos que avaliam a política e aprovam lei municipal, o que está em curso. São outras exi-
diretrizes a serem observadas. Vem estimulando a gências: implantar plenamente a vigilância social e
interação entre os conselhos por meio do fórum o monitoramento sobre os padrões de qualidade
interconselhos, encontros metropolitanos de con- dos serviços; ampliar a execução direta de serviços
selhos setoriais, resoluções conjuntas nas questões pelo município; aumentar o corpo de profissionais VITÓRIA
comuns a dois ou mais conselhos, reuniões das co- efetivos, e aprimorar a sua qualificação; estabilizar
missões temáticas e outras formas. o orçamento para manter os serviços e incluir no-
vos grupos em situação de vulnerabilidade na pro-
Do financiamento teção social não contributiva; aprofundar o con-
ceito e as práticas de gestão territorial; e evoluir
O orçamento da assistência social cresceu ano
na integração com a saúde, educação, habitação,
a ano, evoluindo de R$ 17.495.830,00, em 2005,
cultura, esportes e cidadania nos territórios, fazen-
para R$ 42.955.031,00, em 2009, e chegando a
do avançar e concretizar uma noção de seguridade
3,34% do orçamento do município em 2009. O
social no município.
percentual dos recursos oriundos de “outras fon-
tes” (governo federal, governo estadual e FIA) na
composição do orçamento da assistência social Referências
em Vitória é de 20,82%, ficando os demais 79,18% BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
sob a responsabilidade do município (fonte 01).
CNAS. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.
Do ponto de vista do investimento por nível de Resolução Nº 109, de 11 de novembro de 2009, publicada no
complexidade, 64,36% dos recursos foram inves- DOU de 25 de novembro de 2009.
tidos na proteção social básica, 17,73% na média FLEURY, Sônia. A seguridade social precisa ser integrada.
complexidade e 17,90% na alta complexidade. Entrevista concedida ao Ministério do Desenvolvimento
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REVISTA DA PREFEITURA DE VITÓRIA
VITÓRIA

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