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de Proteção Social
não Contributiva
Ana Maria Petronetto Serpa
Secretária de Assistência Social de Vitória
Resumo
Este trabalho trata da implantação do Sistema Único de Assistência Social (Suas) em
15
Abstract
ciedade, para garantir o atendimento às necessida- cidadania sob vigilância do Estado, cabendo a esse
des básicas”. Nessa perspectiva, a Assistência Social a universalização da cobertura e a garantia de di-
assume a “dimensão ética de incluir os ‘invisíveis’, reitos e acesso para serviços, programas e projetos
os diferentes e as diferenças, as disparidades e as sob sua responsabilidade” (PNAS, 2004).
desigualdades, os transformados em casos indivi-
duais, quando são de fato parte de uma situação A vigilância social tem como função saber
social coletiva” (MDS, 2005). onde estão e quantos são os que demandam pro-
teção social e qual é a capacidade dos equipamen-
Ao ser incluída no campo da seguridade social, tos e serviços para suprir suas necessidades. Para
juntamente com a saúde e previdência social, a as- tanto, sistematiza informações e indicadores terri-
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sistência social adquire caráter de “política de pro- torializados das situações de vulnerabilidade de fa-
teção social articulada a outras políticas do campo mílias e indivíduos, nos diferentes ciclos de vida. A
social, voltadas à garantia de direitos e de condições PNAS coloca também a necessidade da vigilância
dignas de vida”. Tem como funções ou referências a sobre a qualidade dos serviços prestados.
proteção, a vigilância e a defesa social.
A defesa social é referente ao acesso dos usu-
A proteção social de assistência social atua ários ao conhecimento dos direitos socioassisten-
com “vitimizações, fragilidades, contingências, ciais e sua defesa, o que tem sido garantido por
vulnerabilidades e riscos” aos quais indivíduos e meio de campanhas nos bairros e na mídia, socia-
famílias estão sujeitos, por meio de um conjunto lização das informações e acionamento dos meca-
de “ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios nismos de exigibilidade.
ofertados pelo Suas para redução e prevenção do
impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ci- Do Sistema Único da Assistência Social
clo da vida, à dignidade humana e à família como
núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e O Suas é “um sistema público não contributivo,
relacional”. Deve afiançar as seguranças sociais de descentralizado e participativo que tem por função a
acolhida; de renda; de desenvolvimento da auto- gestão do conteúdo específico da Assistência Social
nomia individual, familiar e social; da sobrevivên- no campo da proteção social brasileira” (NOB, 2005).
Ele “regula e organiza as ações socioassistenciais em proteção é fundamental para evitar rompimento
todo o território nacional”. Integra os entes federa- de vínculos familiares e comunitários e desenvol-
tivos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), ver ações de “bloqueio” ao abrigamento.
cada um com suas atribuições, seus respectivos con-
A proteção social especial de alta complexidade
selhos de assistência social e organizações de assis-
é voltada para os que romperam vínculos familiares
tência social. Afirma, ainda, que os serviços ofertados
e comunitários e estão em situação de abandono.
devem ser hierarquizados por níveis de complexida-
Cabe ao Estado garantir-lhes proteção sob a for-
de, ter como foco prioritário a família e, como base de
ma de acolhimento, acesso aos serviços de saúde,
organização, o território. Os eixos estruturantes que
aos direitos previdenciários, retorno à família ou à
orientam a implementação do Suas são:
comunidade, e outros. Opera por meio do acolhi-
t 1SFDFEÐODJBEBHFTUÍPQÞCMJDBEBQPMÓUJDB mento institucional, com a perspectiva do resgate
t "MDBODF EF EJSFJUPT TPDJPBTTJTUFODJBJT QFMPT dos vínculos familiares ou de construção de novos
usuários; vínculos que permitam uma vida autônoma na co-
munidade. Também opera por meio do acolhimen-
t .BUSJDJBMJEBEFTPDJPGBNJMJBS to familiar implantado em Vitória com o programa
t 5FSSJUPSJBMJ[BÎÍP Família Acolhedora, do acolhimento em repúblicas
e proteção em situações de emergências.
t %FTDFOUSBMJ[BÎÍPQPMÓUJDPBENJOJTUSBUJWB
A proteção social básica visa fortalecer a au- Os CRAS acompanham famílias que descum-
tonomia e vínculos familiares e comunitários de prem condicionalidades do Bolsa Família e atuam
famílias e indivíduos e opera por meio dos Centros para que seus filhos frequentem regularmente a
de Referência da Assistência Social (CRAS), que são escola e acessem os serviços de saúde. Além disso,
“uma unidade pública estatal de base territorial, tem a tarefa de articular e fortalecer a rede social lo-
localizada em áreas de vulnerabilidade social, que cal, pois a vulnerabilidade pode ou não representar
abrange um total de até 1.000 famílias/ano”. um risco, “dependendo da relação que se estabele-
ce entre os desafios da necessidade e os recursos
A proteção social especial de média complexi- disponíveis para enfrentá-los” (Sanicola, 2008).
dade atende famílias e indivíduos com direitos vio-
lados, por meio dos Centros de Referência Especia- Já os Serviços de Convivência e de Fortaleci-
lizado de Assistência Social (CREAS). Esse nível de mento de Vínculos (SCFV), referenciados aos CRAS,
incluem serviços realizados em grupos, destinados Idosas e suas Famílias; e Serviço Especializado para
a garantir “aquisições progressivas” às pessoas nos Pessoas em Situação de Rua.
diferentes ciclos de vida, desenvolvendo capaci-
Vitória reordenou os serviços de média com-
dades para o enfrentamento da vulnerabilidade
plexidade que atuavam isoladamente e implantou
social. São SCFV: o Família Multiplicadora (FAM) ,
três CREAS, localizados em Maruípe, Ilha de Santa
as unidades do projeto Cajun, o Pró Jovem Adoles-
Maria e Centro, mas com cobertura em toda a cida-
cente (PJA), o Centro de Referência da Juventude
de. Os CREAS têm capacidade para atender até 250
(CRJ), o Núcleo Afro Odomodê, os grupos e os cen-
famílias cada, por meio de acolhimento e escuta;
tros de Convivência da Terceira Idade e o Centro de
estudo social; atendimento psicossocial individual
Referência para Pessoas com Deficiências (CRPD).
e grupal; oficinas de resignificação da experiência
Compõem ainda a Proteção Social Básica, as de vida; visitas domiciliares; encontros de famí-
Unidades de Inclusão Produtiva (UIPs) de São Pe- lias; envolvimento em mobilizações, campanhas
dro e de Santo Antônio, os programas de transfe- e ações socioeducativas; articulação das famílias
rência de renda (Bolsa Família do governo federal com movimentos de usuários e redes de ajuda mú-
e Família Cidadã do município), os benefícios per- tua; encaminhamentos ao sistema de garantia de
manentes (BPC) e os benefícios eventuais: Natali- direitos (SGD) e à rede de proteção social.
dade, Funeral, Emergencial a Vítimas de Desastres O Serviço Especializado de Abordagem Social,
ANO I, N. 01, P 15 – 22, DEZEMBRO 2010
(BEVD), e Andada e Defeso (BAD) concedido aos conhecido como “abordagem de rua”, foi ampliado
catadores de caranguejo do município. para todo o território da cidade como uma ativi-
Em 2009, Vitória aderiu ao programa BPC na dade que integra os CREAS. Até então (julho de
escola proposto pelo governo federal. Na primei- 2010), ele atuava mais no Centro, Praia do Canto,
ra etapa de implantação do programa, cadastrou Jardim da Penha, Praia de Camburi e Jardim Cam-
crianças e adolescentes que recebem o BPC, visan- buri. Isso representará um novo modo de atuar e
do conhecer a realidade sociofamiliar e as barreiras exigirá maior sistematização de procedimentos e
(arquitetônicas, culturais, atitudinais) que dificultam um olhar mais aguçado para as vulnerabilidades.
o acesso e a permanência dos mesmos na escola. Vitória tem dois Conselhos Tutelares – Centro
Foram aplicados 219 questionários nessa etapa e e Maruípe, este último implantado em 2006 – que
18 as barreiras, já identificadas em âmbito nacional, integram o Sistema de Garantia de Direitos e são
relacionam-se aos cuidadores, ao preconceito e ao encarregados de zelar pelo cumprimento dos direi-
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acesso às políticas públicas. Elas serão enfrentadas tos da criança e do adolescente. Cabe ao município
pelo município de forma sistemática e intersetorial remunerar os conselheiros e assegurar condições
pelas secretarias de Assistência, Educação, Saúde e de trabalho aos mesmos. Em 2010, uma lei muni-
Cidadania. cipal assegurou vários direitos aos conselheiros,
Em cada território existe um “Coletivo Territo- retirando-os da condição precarizada de trabalho.
rial de Proteção Social” integrado por coordenado- Os CREAS constituirão uma esfera pública que
res dos CRAS e técnicos de referência dos serviços dará visibilidade e permitirá problematizações pro-
da assistência social, com a tarefa de fazer uma fundas sobre as violações de direitos que permane-
gestão territorial local e colegiada da proteção so- ceram restritas ao espaço privado das famílias ou
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cial. Tem também a Comissão Local de Assistência foram naturalizadas pela história. Os desafios serão
Social (CLAS), que, além de trazer as situações de grandes, mas os ganhos sociais e civilizatórios serão
vulnerabilidade do território tornando-se a voz dos maiores. A assistência social no Brasil, nas suas fases
moradores, exerce o controle social da Assistência da caridade e da filantropia, privilegiou a retirada
Social no âmbito local. da família e a internação em asilos e orfanatos. Em
muitos municípios, toda a rede de proteção social
Proteção Social Especial de Média Complexidade é constituída por essas entidades de alta comple-
xidade, que acabam por pautar a agenda local da
Esse nível de proteção social atende famílias
assistência social e por monopolizar os parcos re-
com violações de direitos e opera por meio dos
cursos dessa área. Agora, institui-se uma rede de
CREAS que desenvolvem os serviços de: Proteção
proteção de média complexidade que, dentre ou-
e Atendimento Especializado a Famílias e Indivídu-
tras atribuições, desenvolverá ações de “bloqueio”
os (Paefi), serviço estruturante do CREAS; Serviço
ao abrigamento e à ruptura dos vínculos familiares
Especializado em Abordagem Social; Proteção So-
e comunitários.
cial a Adolescentes em cumprimento de Medidas
Socioeducativas de Liberdade Assistida (LA) e de O gráfico a seguir retrata as articulações e rela-
Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Prote- ções entre os vários serviços e os níveis de comple-
ção Social Especial para Pessoas com Deficiência, xidade do Suas Vitória.
Conselhos
CLA Semas
FAM
Cras/Paif Cajun
Ongs
GCTI
19
CRPD CRJ CCTI
Creas/Paefi
Sistema de
Garantia de
Direitos
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Proteção Social
Especial de Alta
Complexidade
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