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A formação da economia cafeeira do vale do Paraíba

Marco Aurélio dos Santos*


Breno Aparecido Servidone Moreno**

Fragoso, João. Barões do café e sistema cura investigar a estrutura e a hierarquia no


agrário escravista: Paraíba do Sul, Rio de sistema agrário escravista-exportador, bem
Janeiro (1830-1888). Rio de Janeiro: 7Letras, como a reprodução desse sistema no muni-
2013. cípio de Paraíba do Sul, situado no médio
Vale do Paraíba fluminense.
João Fragoso inicia o capítulo 1, “Estru-
Nos últimos anos, as pesquisas feitas nas tura e hierarquia no sistema agrário escra-
áreas de História Social e História Econô- vista-exportador”, lançando um conceito-
mica vêm deslindando a complexa realida- -chave: o de “recriação de sistemas agrários
de econômica, política e social de diversas escravistas”. Segundo seu ponto de vista,
localidades brasileiras. Historiadores com esse conceito apresenta três significados. A
diferentes abordagens, favorecidos por uma citação, apesar de longa, merece ser repro-
ampliação do conjunto documental acessível duzida na íntegra, pois mostra o que pode
à pesquisa, estão conseguindo descortinar a ser considerado como sendo a tese central do
significativa complexidade brasileira. O li- autor. Sendo assim, “a noção de recriação de
vro Barões do café e sistema agrário escravista: sistemas agrários escravistas [...]”
Paraíba do Sul, Rio de Janeiro (1830-1888),
do historiador João Fragoso, insere-se nesse - diz respeito à continuidade de uma
amplo corpus bibliográfico que vem, a cada sociedade não capitalista, onde (sic) as
ano que passa, enriquecendo a compreensão relações sociais de produção identificam-
de diversos municípios do país. Em linhas se com relações sociais de subordinação,
gerais, Barões do café é uma versão resumida os fatores de produção (inclusive a mão de
dos capítulos de história agrária de sua tese obra) se apresentam enquanto mercadorias e
de doutorado, defendida em 1990,1 e pro- se verifica a hegemonia do capital mercantil
(fenômeno que se traduz na preponderância
1
FRAGOSO, João L. R. Comerciantes, fazendeiros
e formas de acumulação em uma economia escravista- (Doutorado em História Social) — PPHS-UFF, Rio
-exportadora no Rio de Janeiro: 1790-1888. Tese de Janeiro, 1990.

DOI - http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X0183409
* Doutor em História Social pela FFLCH-USP, Universidade de São Paulo – São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
marcoholtz@uol.com.br.
** Centro de Estudos Migratórios – São Paulo, SP, Brasil. Mestre e doutorando em História Social pela
FFLCH-USP. E-mail: berenomor@yahoo.com.br.

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da elite de comerciantes de grosso trato partindo do que Fragoso escreveu, é possível


sobre a hierarquia econômica colonial); tirar as seguintes conclusões sobre o “sistema
- essa recriação gera demanda para as agrário escravista-exportador”: (a) esse é um
produções voltadas para o mercado sistema de agricultura mercantil-escravista;
interno e, com isso, permite a recorrência (b) o sistema baseia-se na monocultura, na
da formação econômico-social escravista- agricultura extensiva e no baixo nível téc-
colonial; nico; (c) existe a produção de lucro, com a
- e, por último, tal movimento reitera, na ressalva já apontada; (d) o sistema agrário
fronteira, os traços gerais da sociedade funciona numa sociedade pré-capitalista/
escravista: a produção de mercadorias, uma não capitalista (os dois conceitos são usados
hierarquia econômico-social diferenciada e ao longo do trabalho); (e) fatores de pro-
a hegemonia do capital mercantil. (p. 43) dução como a mão de obra “se apresentam
como mercadorias”; (f) o capital mercantil é
Um pouco adiante, Fragoso escreve que, hegemônico e, por fim (g) existe produção
nessa economia de Paraíba do Sul, de mercadorias (café entre outras).
Uma primeira observação a ser feita é a
as relações de produção se confundem com as de que o autor associa dois conceitos que são
de poder, ou melhor, cuja forma de extorsão significativamente diferentes: o de “socieda-
do sobretrabalho depende de elementos de pré-capitalista” (p. 44) e o de “sociedade
extraeconômicos: o trabalhador direto é não capitalista” (p. 43). Fragoso usa diversas
homem de outro homem. Entretanto, esse variantes desses dois conceitos. Algumas de-
fato não causa o desvio do excedente da las são: “estrutura econômica pré-capitalista”
economia. Ao contrário de outras sociedades (p. 45), “agricultura pré-capitalista” (p. 57),
pré-capitalistas, a recorrência das relações “mercado pré-capitalista” (p. 57) e “merca-
de poder (e, com elas, as de produção) está do pré-industrial” (p. 58). Todas essas clas-
presa aqui ao retorno do sobretrabalho para a sificações seriam características do “sistema
produção por meio dos senhores de homens. agrário escravista-exportador”.
(p. 43-44) Para Fragoso, Paraíba do Sul foi uma
área de “agricultura pré-capitalista altamente
Essa sociedade, porém, tem especifici- especializada, cuja reprodução, tanto no que
dades: “a reprodução ampliada adquire um concerne à geração de suas rendas como o seu
sentido particular que tem como resultado a abastecimento, passa pelo mercado”. Esse é
reiteração e o aumento do poder, sem que isso mais um trecho que confirma que se trata, se-
signifique que tal economia se fundamente gundo o autor, de uma sociedade pré-capitalista
numa lógica do lucro pelo lucro” (p. 44). produtora de mercadorias. Afinal, se as rendas
Como já foi dito, esse início de capítulo e o abastecimento passam pelo mercado, en-
apresenta a base conceitual que dá suporte ao tão o que a sociedade produz são mercadorias
estudo sobre Paraíba do Sul. Nesse sentido, para abastecer a fazenda e para garantir sua
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sobrevivência (reiteração/reprodução, como “não” faz supor a existência de outro modo


talvez preferisse escrever o autor). de produção. De qualquer modo, ao associar
Ora, em primeiro lugar deve-se salientar “sociedade não capitalista” e “sociedade pré-
que a caracterização de Paraíba do Sul como -capitalista”, tem-se uma confusão conceitual
uma sociedade pré-capitalista mostra um vín- que dificulta a compreensão da agricultura
culo do autor com o trabalho de Eugene D. cafeeiro-escravista de Paraíba do Sul. Essa fal-
Genovese, The Political Economy of Slavery: ta de rigor conceitual marca a obra e chama
Studies in the Economy and Society of the Slave facilmente a atenção do leitor.3
South.2 Por outro lado, fica claro que muitas De modo geral, João Fragoso é pouco
das caracterizações feitas por Fragoso care- cuidadoso nos procedimentos metodológicos
cem de rigor conceitual. Deve-se sublinhar, empregados em Barões do café. O autor uti-
de imediato, que existe uma diferença abissal lizou “mais de 400” inventários post mortem
entre os conceitos de “sociedade pré-capita-
lista” e “sociedade não capitalista”. O prefixo
3
O conceito de “sociedade pré-capitalista”, com o
prefixo “pré” compreendido como um momento de
“pré” significa anterioridade e um momento transição, está muito bem caracterizado no “Debate
de transição entre uma sociedade, digamos, Brenner” e no debate sobre a transição do feudalis-
mo para o capitalismo. Não é objetivo desta resenha
colonial, e outra capitalista. Já afirmar uma
desenvolver essa questão do conceito de sociedade
sociedade “não capitalista” significa conceber pré-capitalista. Contudo, vale a pena ler a definição
outro sistema ou modo de produção. Como de R. H. Hilton para “pré-capitalista” em HILTON,
R. H. Introduction. In: ASTON, T. H. & PHILPIN
o autor não conceitua essas expressões, é im- C. H. E. The Brenner Debate: Agrarian Class Struc-
possível associar o conceito de “sociedade não ture and Economic Development in Pre-Industrial
capitalista” com o de “sociedade pré-capitalis- Europe. Cambridge: Cambridge University Press,
1985, p. 5. Ver também a definição apresentada
ta” em Paraíba do Sul. O conceito “sociedade por Robert Brenner em BRENNER, Robert. The
não capitalista” permite pensar que a “socie- Origins of Capitalist Development: a Critique of
Neo-Smithian Marxism. New Left Review, Londres,
dade em estudo [no caso Paraíba do Sul] não
n. 104, 1977, p. 37. Mais ainda, vale a pena conside-
é capitalista”. O adjunto adverbial de negação rar a proximidade entre a “sociedade pré-capitalista
de Paraíba do Sul”, conforme caracterização de Fra-
2
Um exemplo desse vínculo pode ser lido no se- goso (ver especialmente os itens “c”, “f” e “g” cita-
guinte trecho: “The planters were not mere capi- dos anteriormente), e o conceito usado por Paul M.
talists; they were precapitalist, quasi-aristocratic Sweezy de “economia pré-capitalista de produção de
landowners who had to adjust their economy and mercadorias”. Esse conceito foi usado por Sweezy
ways of thinking to a capitalist world market. Their para entender “o sistema que prevaleceu na Europa
society, in its spirit and fundamental direction, rep- ocidental durante os séculos XV e XVI”. Ver SWE-
resented the antithesis of capitalism, however many EZY, Paul. O debate sobre a transição: uma crítica.
compromises it had to make”. GENOVESE, Eugene In: SWEEZY, Paul et al. A transição do feudalismo
D. The Political Economy of Slavery: Studies in the para o capitalismo: um debate. Rio de Janeiro: Paz e
Economy and Society of the Slave South. Middle- Terra, 1977, p. 60-63. O artigo citado de Brenner é
town: Wesleyan University Press, 1989, p. 23. Para uma apreciação crítica da caracterização de Sweezy
uma avaliação crítica da interpretação de Genovese, sobre o período de transição e sobre uma sociedade
ver TOMICH, Dale W. Pelo prisma da escravidão: que, segundo o entendimento do historiador norte-
trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: -americano crítico de Maurice Dobb, não era nem
Edusp, 2011, p. 28-32. feudal nem capitalista nos séculos XV e XVI.

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e 2.223 escrituras públicas de compra-venda tários (12 para o período 1840-1850, 33 para
e hipotecas entre os anos de 1830 e 1885 1851-1871 e 10 entre 1871-1880) para deter-
(p. 20). A partir dos inventários, os agentes minar se o crédito era oriundo de Paraíba do
coevos foram distribuídos em uma hierar- Sul ou do Rio de Janeiro.
quia econômica composta por três grandes João Fragoso reconhece que a metodo-
grupos de fortunas (em libras esterlinas). logia adotada em sua pesquisa tem “uma
Quanto ao corte cronológico, Fragoso não série de problemas” (p. 22). Contudo, mal-
justifica a pertinência de dividi-lo em subpe- grado essa observação, o autor acredita ter
ríodos (1830-1840; 1845-1850; 1855-1860; alcançado o objetivo proposto ao perceber
1861-1865; 1870-1875; 1880-1885) e nem as “mudanças de uma dada hierarquia so-
a razão pelo qual certos quinquênios foram cial, e a vida de seus agentes, no tempo, e
excluídos da amostra. Da mesma forma, não portanto em meio às flutuações econômi-
apresenta o método de conversão do mil-réis cas da sociedade” (p. 22). No entanto, seu
em libras esterlinas. Por fim, não esclarece os livro não apresenta a dinâmica desse sistema
motivos pelos quais não utilizou em todos os na formação histórica do Brasil e não leva
quadros, gráficos e tabelas que contemplam em conta os processos globais mais amplos
dados extraídos dos inventários, a totalidade da economia-mundo capitalista. Além dis-
de processos de sua amostra inicial (os 462 so, Fragoso afirma que o sistema agrário de
inventários, como se constata no Quadro Paraíba do Sul conserva “uma certa autono-
16, no capítulo 1).4 Por exemplo, o Quadro mia das flutuações da economia escravista-
3, na página 48, apresenta os “investimen- -colonial frente às conjunturas do mercado
tos nas fazendas de café”. Nesse quadro, o internacional” (p. 65). Ora, sabe-se que essa
autor utiliza-se de 224 inventários, ou seja, autonomia nunca existiu. Esse assunto é ob-
cerca de 49% do total pesquisado. O mesmo jeto de importante debate historiográfico
número de inventários (224) se repete nos pelo menos desde a publicação de O arcaís-
Quadros 14 e 15, às páginas 70 a 72. mo como projeto.5
Deve-se destacar que, em alguns casos,
5
A tese segundo a qual a economia colonial bra-
a amostra de inventários é tão pequena que
sileira gozava de “autonomia” frente à economia
pode até mesmo comprometer a valida- global já havia sido desenvolvida pelo autor em O
de das análises de João Fragoso. Um bom arcaísmo como projeto, redigido em parceria com
Manolo Florentino. FRAGOSO, João; FLOREN-
exemplo do que estamos apontando pode ser
TINO, Manolo. O arcaísmo como projeto. Mercado
observado no Quadro 24 (p. 122), que exibe atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma
a origem dos créditos dos grupos de fortuna economia colonial tardia. Rio de Janeiro, c. 1790-c.
1840. 1. ed., 1993. Ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro:
em Paraíba do Sul entre 1840 e 1880. Nota-
Civilização Brasileira, 2001. Vale notar que esta tese
-se que o autor utilizou pouquíssimos inven- também está presente em: FLORENTINO, Ma-
nolo. Em costas negras: uma história do tráfico de
4
Apenas na confecção do Quadro 16 (p. 78), que escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos
apresenta dados referentes à presença de fortunas no XVIII e XIX). 1. ed., 1997. São Paulo: Companhia
mercado de escrituras de Paraíba do Sul, Fragoso das Letras, 2010; SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá
valeu-se de todos os inventários de sua amostragem. de. Na encruzilhada do império: hierarquias sociais e

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Trabalhos recentes em inventários ques- Vale do Paraíba paulista7 — a montagem


tionam outra tese presente em Homens de da cafeicultura escravista obedeceu a outros
grossa aventura6 e n’O arcaísmo como projeto mecanismos. A implantação e a dissemina-
e reproduzida em Barões do café. A noção se- ção da cultura cafeeira provocaram intensas
gundo a qual a história do sistema agrário es- mudanças na composição econômica dos
cravista é resultado de um processo global de domicílios. Os fogos que, em sua maioria,
reprodução que foi “originado de uma acu- dedicavam-se à produção de mantimentos
mulação previamente realizada no comércio” (milho, arroz, feijão e farinha de mandioca),
(p. 43) é uma hipótese que pode servir para sobretudo para a própria subsistência, no iní-
alguns casos específicos. Contudo, essa hipó- cio do século XIX, logo se converteram em
tese não deve ser generalizada para as demais propriedades rurais voltadas à exportação de
regiões do médio Vale do Paraíba, coração café para o mercado mundial. Os agriculto-
da cafeicultura escravista do Oitocentos. res que não dispunham de capital para in-
Em Bananal — e em outras localidades do gressar na cafeicultura adotaram a estratégia
de cultivar milho e feijão entre as fileiras dos
arbustos de café recém-plantados. Com isso,
conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c. 1650- eles foram se deslocando paulatinamente da
c. 1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. produção de gêneros para a atividade cafeei-
Para um contraponto ver, entre outros, os seguintes
ra, sem abdicar do cultivo de víveres para o
estudos: MARQUESE, Rafael; TOMICH, Dale. O
Vale do Paraíba escravista e a formação do mercado autoconsumo.8
mundial do café no século XIX. In: SALLES, Ri- Por fim, cabe salientar que, apesar de
cardo; GRINBERG, Keila (Org.). O Brasil imperial
questionar alguns procedimentos metodoló-
(1808-1889). Volume II (1831-1871). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009, p. 345-347. TOMICH, gicos utilizados para compor o livro Barões
Dale. A “Segunda Escravidão”. In:______. Pelo
prisma da escravidão: trabalho, capital e economia
mundial. São Paulo: Edusp, 2011, p. 81-97. MAR- 7
Cf. MOTTA, José Flávio. Corpos escravos, vontades
QUESE, Rafael. As desventuras de um conceito: livres: estrutura da posse de cativos e família escrava
capitalismo histórico e a historiografia sobre a es- em um núcleo cafeeiro (Bananal, 1801-1829). São
cravidão brasileira. Revista de História (USP), v. 169, Paulo: Annablume/Fapesp, 1999. LUNA, Francisco;
p. 223-253, 2013. MARIUTTI, Eduardo; NO- KLEIN, Herbert. Evolução da sociedade e economia
GUERÓL, Luiz Paulo; DANIELI NETO, Mário. escravista de São Paulo, de 1750 a 1850. São Paulo:
Mercado interno colonial e grau de autonomia: Edusp, 2005.
crítica às propostas de João Luís Fragoso e Manolo 8
Cf. MORENO, Breno Aparecido Servidone. A for-
Florentino. Estudos Econômicos: IPE-USP, São Paulo, mação da cafeicultura em Bananal, 1790-1830, op.
v. 31, n. 2, p. 369-393, abr./jun. 2001. MORENO, cit. Ver também o livro de Maria Luíza Marcílio,
Breno Aparecido Servidone. A formação da cafeicul- resultado de sua tese de livre-docência apresentada
tura em Bananal, 1790-1830. In: MUAZE, Maria- junto ao Departamento de História da Universidade
na; SALLES, Ricardo (Org.). O Vale do Paraíba e o de São Paulo em 1974. Nessa pesquisa, Marcílio pro-
Império do Brasil nos quadros da Segunda Escravidão. curou investigar como “a infraestrutura ou o suporte
Rio de Janeiro: 7Letras, 2015, p. 328-350. humano, material e social sobre o qual se instituiu a
6
Cf. FRAGOSO, João. Homens de grossa aventura: economia cafeeira teve formação anterior a ela e não
acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio apenas concomitante”. MARCÍLIO, Maria Luiza.
de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Na- Crescimento demográfico e evolução agrária paulista:
cional, 1992. 1700-1836. São Paulo: Hucitec/Edusp, 2000, p. 16.

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A formação da economia cafeeira do vale do Paraíba
Marco Aurélio dos Santos e Breno Aparecido Servidone Moreno

do café, Fragoso reproduz uma série de argu- riais e tentar compreender sua atuação no
mentos de seus trabalhos anteriores, como contexto do desenvolvimento da economia
a noção de “autonomia”. Esses argumentos, cafeeiro-escravista do século XIX. Malgra-
já amplamente debatidos pela historiografia, do as polêmicas em torno de suas teses, sua
apontam para outra direção, diferente da empreitada fomenta o debate historiográfico
sustentada pelo autor. De qualquer modo, e o conhecimento da formação econômica e
cabe salientar o esforço de Fragoso em olhar do Estado nacional brasileiro no Oitocentos.
para as elites e suas estratégias empresa-

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