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Biopolítica da precariedade em tempos de pandemia

REFLEXÕES NA PANDEMIA
Márcia Pereira Leite
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

E
ste texto foi escrito no calor dos eventos e das angústias que vivemos, desde que se tornou
claro que a pandemia havia chegado ao Brasil e que, na falta de políticas públicas e
agenciamentos políticos consequentes, produziria muitos mortos e acentuaria a
precariedade em que vive parte significativa da população brasileira1. Ele mobiliza leituras e
reflexões sobre como vem se dando o governo dos pobres na gestão da pandemia de Covid-19,
reflexões de outros pesquisadores sobre o tema e alguns dos resultados de minhas pesquisas
recentes. A noção de governo dos pobres com que opero apoia-se na análise de Foucault sobre a
governamentalidade como uma forma de exercício de poder “que tem como alvo principal a
população, como forma mais importante de saber, a economia política, como instrumento técnico
essencial, os dispositivos de segurança” (2010[1994], p. 303), envolvendo a preeminência da
soberania e da disciplina para modelar condutas e, portanto, não apenas o governo dos outros,
mas também o governo de si. O texto, então, busca discutir algumas políticas e agenciamentos
que vêm sendo realizados pelos governos federal, estadual e municipal, e seu acolhimento, decerto
muito diversificado, por diferentes segmentos sociais e em diversos territórios da cidade do Rio
de Janeiro, cidade em que vivo e pesquiso. Com base nesta análise, avanço algumas hipóteses
sobre o que, no presente, parece vir se anunciando como futuro, ou, pelo menos, como uma das
possibilidades já construídas e muito disputadas de produção do futuro em nosso país.
Tenho/temos lido reflexões generosas e otimistas2 discutindo as injunções, os
problemas e as soluções alternativas reveladas/vividas a partir da crise sanitária derivada da
Covid-19, e que apostam em uma reforma do sistema capitalista. Imaginam que o
sistema/os capitalistas, assim como os políticos, os trabalhadores e o “povo em geral”,
seriam levados, praticamente obrigados, a se repensar e a mudar os rumos da economia, da
relação com o meio ambiente e das políticas públicas hoje praticadas em grande parte do
Ocidente. E que, assim, a solidariedade floresceria, estimulada pela consciência de que, na
sociedade, dependemos de todos. Adoraria, mas, creio, não será de nosso tempo.
Meu argumento, assim, caminha em sentido contrário, operando com a hipótese de
que, na sociedade brasileira e, em especial, no Rio de Janeiro, vivemos o aprofundamento e
a crescente legitimação do que denomino de biopolítica da precariedade, como algo
necessário para se ultrapassar a crise (hoje sanitária, e já se evidenciando como econômica)
e retomar a “normalidade”. Também me parece que assim se desenha um movimento na

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direção de sua cristalização como senso comum (no sentido de que não mais precise de
justificação, nem de ocultamento, sequer eventuais) sobre como deve ser o governo das
camadas populares, de seus territórios de moradia e de suas formas de gestão do risco e das
urgências cotidianas3. Nos itens que se seguem, pretendo avançar na análise de alguns
elementos que me parecem sustentar essas considerações iniciais.

Biopolítica da precariedade: aprofundando a ‘vulnerabilidade diferencial’ na pandemia

Acompanhando a grande mídia, nacional e internacional, mas também as mídias alternativas


e análises do campo das ciências humanas sobre como diversos governos neoliberais foram
forçados a romper sua ortodoxia para lidar com a pandemia, uma conclusão se impõe: a crise
sanitária desnudou o “Estado mínimo”. Demonstrou, sobretudo para os governos europeus, mas
também na América Latina e nos próprios EUA, a necessidade de algum retorno a princípios
keynesianos (GOULARTI, 24/04/2020, entre outros), ainda que como medidas emergenciais.
Uma atuação mais ampla do Estado no plano das políticas públicas e sociais, sobretudo no campo
da saúde, da renda mínima/salário universal, do financiamento à ciência não vinculada a
resultados de mercado e, em alguns casos, de uma política de habitação, da proibição de remoções
etc., vem sendo implementada4. A gestão da pandemia teria demonstrado os pés de barro de uma
das máximas do neoliberalismo, consagrada na fala, em uma entrevista ao jornal Sunday Times,
de Margaret Thatcher (BUTT, 03/05/1981), primeira-ministra britânica, cerca de dois anos após
assumir o poder, e sintetizada na análise de Harvey (2005, pp. 12-13, grifos meus) desta forma:

Todas as formas de solidariedade social deveriam ser dissolvidas em favor do individualismo, da propriedade
privada, da responsabilidade pessoal e dos valores familiares. O ataque ideológico carreado por aquelas linhas que
fluíam da retórica de Thatcher foi implacável e, finalmente, amplamente bem-sucedido. "A economia é o método",
disse ela, "mas o objetivo é mudar a alma".

Mas será que, agora, com a crise sanitária imposta pela Covid-19 e a experiência dela derivada
para governos e populações, os primeiros “mudariam a alma”, desta feita em direção contrária?
Será que o desnudamento do “Estado mínimo” por sua incapacidade de gerir situações como a da
pandemia os levaria a valorizar um certo keynesianismo no futuro próximo, quando, controlada
a doença, viveremos uma profunda crise econômica? Tenho me indagado sobre a abrangência e
a permanência do movimento de governos neoliberais em termos de políticas públicas e sociais,
uma vez superada a crise sanitária5. De um lado, desconfio da permanência das “boas intenções”
e de algumas das “boas medidas” implementadas na crise (por exemplo, nos agenciamentos em
relação às políticas públicas de saúde, à renda básica/salário universal, à proibição de despejos e
ao congelamento de aluguéis etc.). Questões políticas, públicas, que pareciam ter sido sepultadas
pela hegemonia do neoliberalismo. De outro lado, penso esses processos, construções e disputas

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à luz do jogo político e econômico global, que tem em Trump um de seus principais atores. De
outro lado ainda, tenho como referência esses rebatimentos no Brasil, sob o governo Bolsonaro,
que, ademais, tem seu próprio projeto de governo dos pobres, com muitos pontos de apoio e
convergência em diversos governos estaduais e municipais, especialmente no Rio de Janeiro,
embora com disjunções no que concerne ao tratamento da crise sanitária.
Pensando no Brasil e no governo Bolsonaro, como sabemos, um ator menor nesse jogo que
esquematicamente indiquei acima, e em sua estratégia política antes e durante a crise sanitária, é para mim
impossível não acionar a análise de Naomi Klein sobre o “capitalismo do desastre”. Klein (2008)
argumenta que este vem operando, nos últimos anos, pela recorrente introdução (e busca de legitimação
a partir da lógica da “necessidade para superar o desastre”) de políticas e medidas que desconstroem o que
ainda nos resta no campo democrático. Refutadas em um primeiro momento, muitas vezes com grande
indignação porque incompatíveis com esta tradição e suas conquistas, elas vão produzindo como efeito
inscrever-se no campo do possível e, assim, ampliando nossa tolerância e minando nossa resistência6.
Meu argumento aproxima-se da perspectiva de Klein, considerando que, no contexto de
pandemia que vivemos no Brasil, e especificamente no Rio de Janeiro, as políticas e os
agenciamentos governamentais vêm aprofundado as precariedades históricas em que vivem as
camadas populares de nossa sociedade, no campo do que Foucault (2002[1997]) designou como
biopolítica, como “fazer viver”, como gestão da população que tem como objeto a vida7. E,
observando a recepção aos mesmos por parcela significativa de nossa população, parece-me
também que se vêm produzindo subjetividades consistentes com esta gestão — no sentido do que
Foucault (2010[1994]) aponta como condução de condutas, ou governo de si.
Daniele Lorenzini (14/04/2020) recentemente criticou textos do “gênero pandemia” que têm feito
um uso equivocado da noção de biopolítica, por meio de uma certa demonização da mesma. Considera,
corretamente, que a biopolítica não pode ser reduzida simplesmente à fórmula foucaultiana do “fazer
viver e deixar morrer”, por se tratar de um novo paradigma de governo que amplia tanto as tecnologias
de poder quanto seu alcance: “[N]ão somos mais governados apenas, nem mesmo primariamente,
como sujeitos políticos da lei, mas também como seres vivos que, coletivamente, formam uma massa
global — uma ‘população’” (Idem, ibidem, p. 3). Ele argumenta que não se trata de considerar que a
biopolítica seja boa ou ruim, e sim de compreender que ela “é sempre uma política de vulnerabilidade
diferencial (...), uma política que depende estruturalmente do estabelecimento de hierarquias no valor
das vidas, produzindo e multiplicando a vulnerabilidade como meio de governar pessoas” (Ibidem, p.
5). Por isso, sustenta a necessidade de matizarmos nossas análises, buscando compreender como a
biopolítica, sem constituir uma “evidente oposição da vida e da morte, (...) [constitui] um esforço para
organizar diferencialmente a área cinzenta entre elas” (Idem, ibidem).
Para aprofundar essa questão, vale lembrar que Foucault analisa os paradoxos do biopoder
(o “fazer viver” que caracteriza os Estados modernos), que se entrelaça com o direito de matar
(definidor do poder da soberania), por meio do racismo. Para o autor, o racismo é uma tecnologia
de poder que produz essa diferenciação entre quem deve viver/ser protegido e quem deve morrer
(o “fazer morrer”), e a torna aceitável “aos olhos” da sociedade.

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[O racismo] é, primeiro, o meio de introduzir afinal, nesse domínio da vida de que o poder se incumbiu, um corte:
o corte entre o que deve viver e o que deve morrer. (...) uma maneira de defasar no interior da população, uns
grupos em relação a outros. (...) De outro lado, o racismo terá sua segunda função (...) uma relação positiva [de tipo
guerreiro, compatível com o biopoder]: “Se você quer viver é preciso que você faça morrer, é preciso que você possa
matar” (FOUCAULT, 2002[1997], pp. 304-305).

Foucault pensava então em situações extremas (nazismo, stalinismo e genocídio colonial) e,


como argumentei em outro texto (LEITE e FARIAS, 2018), talvez seja possível depreender de sua
análise uma certa esperança de que elas estivessem definitivamente sepultadas pela história. Mas
também pondera que “fazer morrer” não significa apenas “o assassínio direto, mas também tudo
o que pode ser assassínio indireto: o fato de expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de
morte ou, pura e simplesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição etc.” (FOUCAULT,
2002[1997], p. 306). Ou seja, o autor nos fala de um biopoder que opera também pela produção
de vidas precárias, aquelas que não merecem atenção e políticas destinadas a reforçar sua
capacidade produtiva e proteger sua existência. É neste sentido, entendo, que Lorenzini
(14/04/2020) considera que a biopolítica é uma política de vulnerabilidade diferencial.
Concordando com o autor e com sua leitura de Foucault, considero importante resgatar
também Archille Mbembe (2016) para compreender a especificidade da biopolítica da
precariedade e/ou da política de vulnerabilidade diferencial em um país em que, como em quase
todo o Sul global, periferia colonizada do capitalismo, o “fazer morrer”, longe de ser uma
excepcionalidade, como no Norte global (as “situações extremas” de que nos fala Foucault), é
política corrente, política de governo, mais propriamente, nos termos de Mbembe, necropolítica,
que não se evidencia apenas na pandemia, mas também em tempos de “normalidade”. Afinal, o
Estado brasileiro sempre dividiu a população entre aqueles que devem viver e os outros que nem
tanto... Em um certo sentido, sua prática corrente estruturou-se a partir de um corte entre os que
devem/têm que viver e os outros, relegados, que podem morrer. Nem sempre operou em relação
a estes pelo “fazer morrer”, embora tenha sido pródigo em fazê-lo quando os construiu como
“inimigos” das cidades, do Estado e do país8. Uma outra modalidade de produzir essa forma
diferencial de gestão das populações, encoberta pela zona cinzenta que o “fazer morrer”
diretamente denuncia e desvela, é a organizar diferencialmente via políticas públicas no campo
do biopoder. O “fazer viver”, produzindo para alguns — em nossos país, os negros e os pobres
urbanos, os trabalhadores rurais, os indígenas e os remanescentes de quilombos — uma
biopolítica que os expõe “à morte, que multiplica para alguns o risco de morte”, como o próprio
Foucault nos advertiu, via racismo institucional (LEITE, 03/07/2012). É isso que estou chamando
de biopolítica da precariedade: “fazer viver” uns precariamente, expondo-os ao risco de morte,
pela ausência do Estado, e “fazer morrer” outros, pela presença ativa do Estado.

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Fazendo morrer durante a pandemia

Pedimos tanta ajuda do Estado e ele se faz presente neste momento. Como combater um vírus? Como matar a
fome de quem mais precisa? Metendo bala! É mais fácil matar um favelado do que um vírus. Complexo do Alemão
se acabando em tiros (depoimento de moradora do Complexo do Alemão em rede social sobre a operação policial
no local em 15 de maio de 2020) (PEIXOTO, 15/05/2020).

É importante destacar que não houve vítimas inocentes na operação de ontem, o que revela sucesso no
planejamento e na execução. É claro que ninguém fica feliz com esse resultado de tantos indivíduos, de tantos
seres humanos que acabaram perdendo a vida, mas não fomos nós que escolhemos esse resultado. Eles, ao
enfrentarem forças policiais muito bem treinadas, que acabaram tendo esse destino, acabaram escolhendo esse
destino (entrevista do delegado Marcos Amim, da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos da
Polícia Civil [Desarme] e comentarista do Jornal da SBT, sobre a operação policial no Complexo do Alemão, no
mesmo dia, grifo meu) (MARTINS, 16/05/2020).

Na manhã de maio de 2020, as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro (Polícia


Civil e Polícia Militar, com apoio do Batalhão de Operações Especiais da PMERJ, Bope)
realizaram uma operação militar no Complexo do Alemão, conjunto de favelas na Zona Norte
da cidade do Rio de Janeiro. Segundo muitos relatos de moradores, eles invadiram a favela,
lançaram granadas, atiraram a esmo, atingiram casas, transformadores (cortando a energia
elétrica da localidade), “esculacharam” moradores e mataram 13 pessoas. O objetivo declarado
da operação foi buscar “o paiol do tráfico”, onde estariam armas, munições e drogas. Saíram do
Alemão carregando um PM ferido levemente por estilhaços e o “butim” da operação: oito fuzis
e alguma droga (há notícias também, ainda controversas, de que teriam sido apreendidas oito
granadas). Alguns feridos — levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) próxima
— logo vieram a falecer. Os policiais deixaram ainda, na parte alta do Complexo do Alemão, ao
menos cinco corpos, que tiveram que ser descidos para a rua por moradores. Nela, estes corpos
foram pranteados por seus parentes, aglomerados (em momento de pandemia). E deixaram
também os moradores em torno de 36h sem energia (e, portanto, sem água que pudesse ser
carreada por meio de bombas). E consideraram a operação exitosa.
As duas falas citadas em epígrafe nos remetem a experiências diversas de cidade e de
possibilidades de futuro. A primeira, de uma moradora do Alemão, buscando sobreviver. A segunda,
de um delegado de polícia civil, que qualifica a operação, então, como “exitosa”, mesmo com tantas
mortes (justificadas porque não seriam de “inocentes”, assim reivindicando para a polícia o direito
de “fazer morrer” quem presume ser “inimigo”/traficante de drogas ilícitas), e mesmo que o “butim”
se distancie em muito da justificação em torno do “paiol do tráfico”. Nenhuma consideração sobre
ter colocado em risco direto a vida dos moradores com o intenso tiroteio e ampliado sua
vulnerabilidade pela possibilidade de contaminação pela Covid-19. Tanto a operação em si quanto a
declaração do delegado enfatizam que vida dos moradores das favelas cariocas não importa, não é
algo que o Estado ou seus operadores considerem necessário preservar, mesmo em contexto de

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pandemia. Nada de zona cinzenta por aqui. Ao contrário, vê-se uma definição clara pelo Estado e
seus operadores do que é “branco” e do que é “preto” no acionamento do “fazer morrer”. Sabem bem
quais vidas podem e devem ser preservadas e quais vidas podem e/ou devem ser extintas; que vidas
podem ser pranteadas e para quais o pranto e o luto são negados ou desqualificados, porque desde
sempre foram vidas negadas em sua condição humana (BUTLER, 2015).
Criticando e disputando essa perspectiva, a Defensoria Pública — uma das poucas
instituições estatais do Rio de Janeiro que ainda funciona de uma perspectiva republicana —
solicitou ao Ministério Público uma investigação independente sobre as mortes (execuções?) no
Alemão. Ao mesmo tempo, uma das instituições mais atuantes na defesa dos direitos humanos
dos moradores de favelas no Rio de Janeiro em relação à violência estatal, o Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania (Cesec), imediatamente se pronunciou: “No momento de pandemia, em
que o Estado deveria estar concentrado em salvar vidas, as políticas de segurança pública não
deveriam gerar mais mortes” (HERINGER, 16/05/2020)9.
Produzindo 13 mortes (o que a qualifica como uma chacina), a operação no Alemão teve
visibilidade na grande mídia, mas operações similares têm sido recorrentes nas favelas e periferias
cariocas, segundo diversos interlocutores, moradores dessas localidades, diretamente a mim ou
como depoimentos em suas redes sociais, além de diversos outros relatos e depoimentos que pude
colher em seus veículos de mídia alternativa/comunitária (por razões óbvias, optei por preservá-
los com o anonimato). Vale ressaltar que tais operações têm sido frequentemente noticiadas
também na grande mídia, inclusive com uma certa indignação pela produção de mortes por
operadores do Estado no contexto da pandemia, especialmente no caso de crianças (estas,
humanizadas) e como no caso da interrupção da distribuição de cestas básicas por PMs no Morro
da Providência e na Cidade de Deus em que duas pessoas foram mortas (BARBON, 23/05/2020).
Sob pressão de organizações de direitos humanos, intelectuais deste campo e de moradores e
lideranças de favelas, o governador do estado Wilson Witzel declarou, a seguir, ter orientado as
polícias para evitarem operações em favelas durante ações sociais, sem ter, no entanto, definido e
publicizado um protocolo para essas situações (REGUEIRA, 23/05/2020).
No mesmo 15 de maio, aliás, uma operação policial no Morro de São Carlos, no Estácio,
Zona Central da cidade, impediu os moradores da localidade de acessarem a unidade de saúde
mais próxima. Em Vila Kennedy, uma operação policial para reprimir aglomeração de moradores
que participavam de um evento, em 26 de abril, deixou cinco mortos. Em Acari, subúrbio da Zona
Norte, há notícias de nove execuções sumárias, um desaparecimento e produção cotidiana do
terror pelo Batalhão de Polícia Militar da área. Operações em Cidade de Deus, Manguinhos,
Baixada Fluminense e em outras localidades também acarretaram, segundo relatos de meus
interlocutores, inúmeras mortes. O aplicativo Fogo Cruzado monitora essas mortes que, assim,
encontram divulgação mais ampla. Recentemente, a equipe do aplicativo publicou um estudo
sobre os dois primeiros meses de isolamento (14 de março a 13 de maio) na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro10. Relata diversas invasões policiais a favelas (como no Jacarezinho e no Borel)
e 992 tiroteios/disparos de arma de fogo, produzindo mortes e interrompendo a distribuição de

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cestas básicas e de material de higiene, por diversas instituições, aos moradores. Ainda que esses
dados revelem uma queda de 32% dos tiroteios em relação ao mesmo período de 2019,
demonstram também que a proteção da população moradora em favelas durante a crise sanitária
não integra o escopo das preocupações do Estado e de seus operadores.
É o que nos demonstra um recente relatório da Rede de Observatórios da Segurança
(23/05/2020), que analisou operações policiais e mortes delas decorrentes:

Os dados sobre as operações monitoradas indicam que em março houve uma forte queda no número de
operações em relação às realizadas em 2019. As operações com motivação "repressão ao tráfico de drogas"
diminuíram, enquanto efetivos policiais passaram a ser empregados em ações relacionadas ao controle da
pandemia do Covid-19. No entanto, essa tendência não se manteve. Em abril, as operações policiais aumentaram
no estado do Rio de Janeiro e superaram os números de 2019. O combate ao tráfico de drogas voltou a ser um
dos focos principais das ações — como as sangrentas incursões em favelas, noticiadas nos últimos dias, vem
mostrando. Com o crescimento no número de intervenções, a letalidade policial também aumentou. Em abril de
2020, houve 57,9% mais mortes decorrentes de ação policial do que o mesmo mês de 2019. Em maio de 2020, até
o dia 19, o total de vítimas fatais também superou o mesmo período no ano anterior.

Enquanto terminava de redigir este artigo, mais uma morte de morador de favela foi produzida
pelas forças de segurança: a de João Pedro, de 14 anos. Policiais civis e federais invadiram, em 18 de
maio, o Complexo do Salgueiro, no município de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, atirando a esmo. Metralharam uma casa na favela (71 tiros), mesmo sob os apelos de pessoas
presentes que gritaram que ali só havia crianças, matando o adolescente. Argumentaram, depois,
estar cumprindo dois mandados de busca e apreensão contra líderes de facções criminosas e que
teria havido um confronto armado. Teriam atirado na direção da casa porque seguranças dos
traficantes pularam seu muro. O corpo de João Pedro foi deixado no local. Um morador levou-o de
carro até onde estava pousado o helicóptero da polícia civil, buscando socorro. O transporte de João
Pedro não pôde ser acompanhado por amigos ou familiares, que ficaram desesperados sem saber
de seu estado e de seu paradeiro. Apenas na manhã seguinte, a família foi avisada de sua morte e
chamada ao Instituto Médico Legal para reconhecimento. Consternado, o pai de João Pedro
afirmou: “A polícia chegou lá de maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem
era”. Enquanto a tia de João Pedro assim exprimiu sua revolta: “Meu sobrinho era negro, mas não é
porque ele era negro que ele era bandido. Ele estava apenas se divertindo (...). Não aceito isso, quero
justiça” (PAIXÃO, 20/05/2020). O resultado da operação, além do corpo no chão, foi a apreensão
de granadas e de uma pistola” (COELHO, JÚNIOR e PEIXOTO, 19/05/2020). A Polícia Civil
instaurou inquérito para apurar o fato e a OAB anunciou que vai acompanhá-lo. Entretanto, a
política de segurança pública que vem sendo praticada, há anos, no Rio de Janeiro — baseada no
confronto, alimentado pela “metáfora da guerra”11, e que se traduz em matar traficantes e em “deixar
morrer” os moradores de favelas e periferias cariocas — não sugere a transformação do inquérito
em processo e a responsabilização dos operadores do Estado, caso evidenciada sua culpabilidade12.

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A nota de protesto do Cesec anteriormente citada critica esse sentido da política de segurança
pública do estado, apontando a ineficiência do confronto, o desprezo por atividades prévias de
inteligência e o desrespeito aos direitos humanos/civis dos moradores. Com efeito, trata-se uma
política que “enxuga gelo” e levanta suspeitas recorrentes sobre o que seria seu objetivo real: fazer
pressão sobre o comércio de drogas ilícitas e aumentar o “arrego” (propina) pago aos policiais
para que a atividade possa prosperar com tranquilidade. Reclama também alguma consideração
por parte dos operadores do Estado em relação à crise sanitária que tem afetado de forma mais
dura justamente os moradores de favelas e periferias, uma vez que as operações ampliam sua
vulnerabilidade em relação ao contágio pela Covid-19. Mas ouvidos moucos a recebem: neste
campo, nada há de novo no governo dos pobres do Rio de Janeiro.

Viver precariamente durante a pandemia: sobre as zonas cinzentas

As mortes e execuções em favelas seguem, sem demandar maiores justificativas (exceto como
vimos, no caso de crianças) do que uma suspeição ou acusação genérica dos mortos não serem
“inocentes” por sua condição de moradores de favelas que convivem com os traficantes de drogas
ilícitas em seus territórios de moradia. O discurso que transforma a convivência em conivência
(MACHADO DA SILVA, 2008; LEITE, 2013) usualmente basta para silenciar qualquer possível
clamor público em termos de injustiça e ilegalidade praticadas pelo Estado.
Mas, como Lorenzini (14/04/2020) nos chamou atenção, há também no Rio de Janeiro e no Brasil
uma zona cinzenta em que se opera a biopolítica da vulnerabilidade diferencial, ou, em minha leitura, a
biopolítica da precariedade. Ela diz respeito aos segmentos populacionais vistos, senão como “inimigos”,
como “quase inimigos”, com suspeita e rejeição como se não tivessem direito à cidade. Além das camadas
populares urbanas já tradicionalmente relegadas à indiferença, como os moradores de favelas e periferias,
os camelôs/trabalhadores informais, os moradores de ocupações, os sem-teto, os dependentes de crack
e outros, sempre reprimidos em seus trânsitos e “virações” pelas ruas13. Para eles, não há políticas efetivas
de proteção da vida, a despeito de algumas declarações de intenções dos governos em todos os seus níveis.
A resistência do governo federal em estabelecer uma renda emergencial, seu valor irrisório, a exclusão de
diversos desses segmentos da possibilidade formal de acioná-los, assim como as dificuldades interpostas
a seu recebimento, ilustram o ponto destacado. O pano de fundo parece-me ser o “cabo de guerra” entre
a necessidade de quarentena para “proteger vidas” e a necessidade de volta ao trabalho para “proteger a
economia”. Assim, se convoca ao trabalho e à circulação na cidade as vidas precárias, aqueles que podem
morrer porque são substituíveis, ainda mais com taxas de desemprego crescentes. Ainda considerando
a renda mínima emergencial, vale destacar que promessas de implementação desse dispositivo pelos
governos estadual e municipal como complementação ao pífio auxílio federal até agora não saíram do
plano das intenções. Tampouco se efetivou uma política mais ampla de cuidado em relação à população
de rua e aos moradores de favelas e periferias, embora haja agenciamentos pontuais, exemplares, a serem
politicamente capturados, mas irrisórios para as vidas precárias.

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As favelas cariocas, locais de moradia de grande parte da população vulnerável no Rio de


Janeiro, com uma morfologia espacial (ruas estreitas, pouca ventilação, habitações
usualmente superpovoadas) que dificulta por sua precariedade o combate à pandemia, sofrem
ainda com a recorrente falta de energia elétrica e de água e o parco acesso a serviços de saúde.
São, hoje, na cidade do Rio de Janeiro um dos principais focos de disseminação e morte pela
Covid-19 — ambas, como sabemos, subnotificadas. Nem assim merecem atenção especial dos
governos estadual e municipal. Foi Thiago Firmino, morador do Santa Marta, favela situada
na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, que, com ajuda de parceiros da cooperação
internacional, agregou moradores e fez a sanitização do morro. A experiência bem-sucedida
(Santa Marta tem dos menores índices de contaminação por Covid-19) foi replicada pelo líder
comunitário por meio da disseminação desse saber e dessa tecnologia em várias outras favelas
do Rio de Janeiro, notadamente na Babilônia, situada na Zona Sul, e em outras localidades,
na Zona Oeste da cidade. Vêm das iniciativas dos próprios moradores de favelas e de seus
coletivos os mais produtivos esclarecimentos sobre a pandemia e a necessidade de
distanciamento, assim como diversos agenciamentos pra viabilizar sua sobrevivência, por
meio da distribuição de cestas básicas e de material de higiene14.
No contexto da pandemia, governar os pobres pela biopolítica da precariedade significa
também produzir “novos vulneráveis”15 e ampliar a vulnerabilidade de outros, como a população
carcerária (MALLART e ARAÚJO, 29/04/2020), segmentos da população que têm cada vez menos
condições de se proteger da morte, sobretudo quando a produção desta possiblidade é uma
intencionalidade do Estado e seus operadores. A invasão de terras indígenas e quilombolas,
permitida e quiçá estimulada pelo governo federal, assim como a retomada das remoções em
quilombos, ocupações, favelas e periferias, em todo o território brasileiro, não nos deixa dúvidas
acerca dessa intencionalidade16. Muitos pensadores do campo das ciências humanas têm lido a
gestão da pandemia como uma “oportunidade” de se colocar em prática o “darwinismo social”,
sonho de um neoliberalismo radical, pela negligência e discriminação. Ao discutir os efeitos sociais
e políticos da Covid-19 tendo por foco o governo Trump, Judith Butler (2020), por exemplo, se
indaga sobre quem terá acesso a uma eventual vacina. A resposta que sugere, embora pertinente, é
desoladora. Diz a autora: “E a questão sobre quem morrerá e quem viverá parece a nosso presidente
um problema de custo/benefício a ser decidido pelos mercados” (BUTLER, 30/03/2020)17.

Notas finais

Quando comecei a redigir este ensaio, pensava que conseguiria mapear e analisar
satisfatoriamente políticas e agenciamentos do que denomino como biopolítica da precariedade,
sobretudo no Rio de Janeiro. Descobri que era quase um “trabalho de Penélope” pela velocidade
e amplitude de seu aprofundamento. Muitas vezes tive que desfazer e refazer este texto para
incorporar o que se apresentava como elemento novo neste campo. Tive também que lidar com

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minha angústia ao analisar um Estado que cada vez mais se constrói matando e fazendo viver
precariamente grande parte de sua população. O que pude observar e analisar diz respeito ao que
hoje situo como hipótese de pesquisa: o aprofundamento da biopolítica da precariedade no
governo dos pobres no Rio de Janeiro. Vivemos a implementação de suas políticas e tecnologias
de poder, assim como de seus discursos que as inscrevem no campo do possível. Impensáveis, há
poucos anos, quando acreditávamos haver consolidado entre nós um regime democrático. Mas
vêm se produzindo e se legitimando crescentemente, como Klein (2008) nos advertiu sobre o
“capitalismo de desastre”. Nesses tempos, em que tanto o “fazer viver” como o “deixar morrer” se
ampliam e se aprofundam sem a necessidade de maiores e públicas justificações, precisamos
ajustar nossas lentes analíticas para melhor compreender as zonas cinzentas da vulnerabilidade
diferencial, como nos recomenda Lorenzini (14/04/2020).
Por isso relato um pequeno episódio, que considero “bom para pensar”: nos primeiros dias da
quarentena, assisti a um telejornal da Rede Globo. Uma atriz desta rede, ao ser entrevistada sobre
como lidava com a quarentena, disse segui-la com rigor e estar muito grata a todos os trabalhadores
que “nos ajudam”: “Acho que têm me achado meia maluca, porque, quando o lixeiro passa, eu fico
da janela: ‘Obrigada! obrigada!’. Aplicativos de entrega: ‘Obrigada! obrigada!'”. E, com efeito, cada
vez mais, parece-nos razoável que aqueles que “não podem ficar em casa” saiam para trabalhar.
Aplaudimos os profissionais de saúde como heróis e damos por certo, pois é necessário evitar o caos,
que o transporte de cargas e de passageiros não possam, nem devam parar, assim como com os
profissionais de segurança. Naturalizamos que os que nos servem (trabalhadores em supermercados,
farmácias, entregadores de aplicativos etc.) devem enfrentar o risco de se contaminar para que
possamos nos proteger. Não os qualificamos como heróis, porque sabemos, no fundo, que é a
desigualdade social e o imperativo de sobrevivência que os movem (por isso, “não podem parar”).
Aceitamos e naturalizamos que os mais vulneráveis corram os riscos para que parte da sociedade
(sobretudo suas camadas mais abastadas) sobreviva. Assim vamos produzindo ou renovando nossas
zonas cinzentas da vulnerabilidade diferencial e aprofundando as vidas precárias, descartáveis.
Por tudo que vivemos em tempos de pandemia, entendo que não podemos tentar projetar
nosso futuro ou como agir no presente sem retomar nosso passado e as consequências do que se
produziu em nossa sociedade. Penso que a naturalização, como senso comum — que afinal apoia
ou, minimamente, não estranha, nem se indigna com certos agenciamentos governamentais,
como alguns dos aqui citados —, de que há vidas que devem ser protegidas/amparadas e outras
que não valem a pena, são descartáveis, nos falam do passado, do presente e de futuro. Residem
nessas questões, em seus agenciamentos e críticas, várias pistas analíticas para que possamos
compreender como a biopolítica da precariedade, como o governo dos pobres, prospera e se
aprofunda nos tempos correntes. Por fim, não posso deixar de registrar que, ainda que atualmente
seja crescentemente naturalizada, legitimada e alimente a renovação ou a produção das zonas
cinzentas de vulnerabilidade diferencial em nosso país, a gestão dos pobres nesta cidade, neste
estado e neste país sempre se fez associando raça, classe, gênero e território de moradia na escolha
e aplicação de seus dispositivos de governamentalidade.

DILEMAS – Rio de Janeiro – Reflexões na Pandemia 2020 – pp. 1-16


Márcia Pereira Leite
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Notas

1
Agradeço a colegas e amigos, especialmente a Apoena Mano, Alexandre Werneck, Lia Rocha e Patricia Birman, que
mesmo não sabendo exatamente o que eu escrevia, mas partilhando de minhas preocupações e de algumas de minhas
análises, me subsidiaram com fontes de pesquisa e interpretações sobre a gestão da pandemia.
2
Ver Boaventura de Sousa Santos (2020) e Nancy (07/04/2020), entre muitos diversas outras. Mas há também análises que
expõem e analisam as contradições do capitalismo, sem participar de formulações que, orientadas pelo desejo, apostam
em sua transformação, ainda que postulem esta necessidade visando um futuro melhor para todos. Veja-se, por exemplo,
Harvey, Žižek, Baidou, Davis, Bihr e Zibech (2020), Castells (27/04/2020), entre outros.
3
Telles vem analisando em vários de seus textos como na “cidade neoliberal”, as camadas populares operam
crescentemente com “virações” para poder seguir vivendo. Uma gestão (individualizada/familiar, mas sempre ao largo do
Estado) do risco e das urgências, por meio de agenciamentos diversos, quase sempre perpassados por muitas tensões e
conflitos. Ver, entre outros, Telles (2015).
4
Sem pretender fazer um inventário dessas muitas políticas e de suas modulações em governos neoliberais da Europa,
da América Latina e nos EUA, aqui apenas destaco algumas delas para ilustrar o ponto. Ver, por exemplo, Tomazelli e
Fernandes (23/03/2020), Fariza (06/04/2020), Vitti (26/03/2020) e Fritz (26/03/2020).
5
É inspirador o artigo de Dardot e Laval (26/03/2020), que nos convocam, a partir da França e da análise do discurso de
guerra de Macron como “resposta estatal a uma crise global” — ver ainda os textos de Araújo (2020) e de Mouzinho e
Freire (2020), nesta mesma seção —, a não nos deixarmos levar por desejos e sonhos. Ver também Braga (14/05/2020)
que, ao se colocar a questão “E se as políticas públicas tornaram-se indispensáveis, o que sustentará o ultra-
individualismo?”, matiza e politiza sua análise: “A atual pandemia, ao esgarçar o tecido social, fatalmente mudará os rumos
da política brasileira. Resta saber para onde”.
6
Refletindo sobre a gestão da pandemia e as análises generosas e otimistas sobre possíveis novos rumos para nossas
sociedades, Klein nos adverte: “Essa crise do coronavírus — como as anteriores — poderia muito bem ser o catalisador
para ajudar os interesses dos mais ricos da sociedade, incluindo os responsáveis por nossas vulnerabilidades atuais,
enquanto oferece quase nada para a maioria dos trabalhadores, acabando com os pequenos negócios de família e
pequenas empresas” (KLEIN, 21/03/2020).
7
O que envolve conhecer, mensurando por meio de estatísticas as dinâmicas populacionais e da cidade (taxas de
natalidade, de mortalidade, de morbidade, de expectativa de vida, de desemprego, de violência e outros assuntos) e atuar
sobre as mesmas pela via de políticas do Estado no campo da saúde, da habitação, do trabalho, da previdência etc.,
operando-se um cálculo sobre o que e quando se quer alcançar. Ver Foucault (2002).
8
Ver Birman e Leite (2018), Leite e Farias (2018), Misse, Grillo e Neri (2015), Farias (2014), Leite (2012a), entre muitos outros
elucidativos textos sobre esta questão. Considerar, também, os relatos e denúncias de diversos movimentos de familiares
de vítimas de violência estatal e seus agenciamentos nos campos político e jurídico, que, crescentemente, têm adquirido
visibilidade e alguma legitimidade na sociedade brasileira.
9
Note-se que o Cesec (https://www.ucamcesec.com.br/) monitora, há muitos anos, os índices da chamada “violência
urbana” (MACHADO DA SILVA, 2008, 2010) e, especificamente da violência policial, atuando também na proposição de
políticas públicas neste campo.
10
Trata-se de um aplicativo que recebe, confere, trata e divulga esses dados a partir de informações de seus usuários e de
parceiros moradores das localidades, assim como recolhe dados da imprensa e de instituições policiais. Começou a operar
em julho de 2016 na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e hoje atua também em Recife. Ver (on-line):
https://fogocruzado.org.br/. Ver também (on-line): https://fogocruzado.org.br/coronavirus-quarentena-dois-meses/
(acesso em 14/05/2020).
11
A “metáfora da guerra” é um dispositivo discursivo que, desde os anos 1980, mobiliza e justifica políticas de segurança
pública baseadas no “fazer morrer” aqueles tipificados pelo Estado como inimigos da cidade: os operadores do tráfico de
drogas ilícitas, os chamados criminosos violentos e os moradores de favelas e periferias que, nesta construção, seriam
“coniventes” com os primeiros. Associa-se à representação do Rio de Janeiro como uma “cidade partida” entre bairros e
favelas, “pessoas de bem”/trabalhadores e bandidos, cidadãos e favelados, estes sem direitos a preservar ou vozes a ouvir.
Ver Leite (2012, 2000).
12
Além dos relatórios publicados no site do Cesec, Machado da Silva (2010, 2008), Leite (2013), entre outros.

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Para excelentes análises sobre o cotidiano desses segmentos populacionais e de sua relação com a cidade e o Estado,
ver Hirata (2018), Birman, Fernandes e Pierobon (2014), Fernandes (2018), Rui (2014) e Schuch, Furtado e Sarmento
(02/04/2020), bem como outros textos desses autores.
14
Sem poder detalhar aqui os dados, experiências e iniciativas diversas que embasam minha análise, remeto o leitor à
página do Dicionário de favelas Marielle Franco, que vem realizando um importante trabalho nesta área e é fonte de
pesquisa imprescindível. Ver o verbete “Coronavírus nas favelas”, disponível (on-line) em:
https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Coronav%C3%ADrus_nas_favelas (último acesso em 24/05/2010).
15
Pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) estima que “83,5% dos trabalhadores encontram-se em posições
vulneráveis: 36,6% porque possuem vínculos informais (altamente instáveis); 45,9% porque, embora formais, foram
drasticamente afetados pela dinâmica econômica, formando o grupo de ‘novos vulneráveis’” (CEM, 28/04/2020).
16
Sem poder me deter neste tópico, remeto o leitor a alguns desses casos, noticiados pela mídia: O Globo (05/05/2020),
Araújo (04/04/2020); Cruz (07/05/2020).
17
Ver também a excelente entrevista da autora a Francis Wade, “Judith Butler, a violência da negligência” (BUTLER e WADE,
14/05/2020).

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MÁRCIA PEREIRA LEITE


(marciadasilvapereiraleite@gmail.com) é professora do
Departamento de Sociologia, do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) e da Especialização
em Sociologia Urbana, todos do Instituto de Ciências
Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj,
Rio de Janeiro, Brasil). Tem doutorado pelo Programa de
Pós-Graduação em Sociologia E Antropologia (PPGSA) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Rio de
janeiro, Brasil) e mestrado pelo Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política do Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

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