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O preço do invisível: As mulheres na pandemia1

REFLEXÕES NA PANDEMIA
Por que as mulheres, onipresentes na luta contra a pandemia e seus efeitos, não obtêm
a visibilidade que elas merecem? A crise que nós vivemos é reveladora de nossa negação
e desconsideração das atividades cotidianas
Nathalie Blanc
Centre National de la Recherche Scientifique, Paris, França
Sandra Laugier
Universidade Paris 1 – Panthéon-Sorbonne, Paris, França
Pascale Molinier
Université Paris 13, Paris, França

Tradução de Juliana De Souza

A
crise sanitária provocada pela Covid-19, por mais dramática que seja, parece também uma
repetição de catástrofes sanitárias e ecológicas por vir. Nesta crise, as mulheres são
curiosamente onipresentes... e ausentes. Presentes em todos os fronts, pois não param de nos
mostrá-las na mídia: na máquina de costura, fabricando voluntariamente máscaras “alternativas”; com
uma vassoura, limpando os hospitais e as lojas que estão abertas; ao lado do leito dos pacientes, no
caixa dos comércios que permitem levarmos uma vida habitável. Uma vaga má consciência coletiva
está surgindo: os clientes cumprimentam e agradecem às caixas a quem, há algumas semanas, não
prestavam atenção, pagando mecanicamente as suas compras enquanto falavam no celular com uma
pessoa a distância, claramente muito mais importante. Os políticos gabam-se do trabalho de
cuidadoras, médicos e enfermeiras, a quem há anos recusam com desprezo o menor aumento de
recursos, colocando o hospital público em tal situação de miséria que nas primeiras semanas da crise
os seus funcionários não tinham nenhum meio de proteção contra a epidemia.
A pandemia atua como dispositivo de visibilidade para práticas geralmente discretas, e
promove a conscientização da importância do care, do trabalho das mulheres e das outras
“mãozinhas” da vida cotidiana, constantemente fechadas entre os muros da vida doméstica. É o
que se denomina trabalho do care que garante a continuidade da vida social. Redescobrimos em
Joan Tronto uma versão política do care cuja proposta é enfatizar a atividade do cuidado, e não a
limitar aos afetos. Assim, não devemos negligenciar a definição que ela propõe:

No sentido mais geral, o care designa um tipo de atividade que inclui tudo o que fazemos para manter, preservar
e reparar nosso mundo de maneira que possamos viver nele o melhor possível. Esse mundo compreende nossos
corpos, o que cada um de nós é como pessoa, nosso meio ambiente, tudo aquilo que buscamos tecer juntos em
uma rede densa e complexa cujo propósito é manter a vida (TRONTO, 2009[1993], p. 143)2.

“Devemos defender a sociedade”, certamente. Mas aquelas e aqueles que a defendem são
invisíveis e até recentemente eram tidos como a face submersa da sociedade, o “taken for granted”
que tornava nossas vidas possíveis. Reduzidos (no todo ou em parte) à nossa vida doméstica, grande
parte dos cidadãos percebe que precisa constantemente do care... porque repentinamente eles

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garantem, homens e mulheres, enfim, uma parte desse trabalho: a faxina, a arrumação, a educação
das crianças... muitas vezes, em tempos “normais”, confiados aos outros. A gramática do care impôs-
se de forma impressionante a todos: nós todos dependemos dos outros, seja para necessidades vitais,
como a vida ou a morte, ou para as necessidades mais banais. Na verdade, são os dois sentidos de
forma de vida, biológica e social (FERRARESE e LAUGIER, 2018), que de repente se impõem sobre
nós: a vida que nos é dada e que podemos perder; a vida ordinária, tornada possível ou ajudada. O
continuum das atividades do care, tão complexo para explicar em teoria, é óbvio.
A consciência da vulnerabilidade é também o que possibilita essa nova sensibilidade. Nós
somos todos vulneráveis, mesmo que não da mesma forma ou com o mesmo grau, inclusive diante
dos riscos à saúde. A autonomia, tão estimada pelos filósofos — e pelas feministas tradicionais,
para quem essa era a prioridade da primeira onda (FISCHER P., 2005; BRUGÈRE, 2019;
GILLIGAN e SNYDER, 2020) — se revela uma ilusão de ótica: a autonomia de um é possibilitada
pelo trabalho dos outros. Estamos redescobrindo a importância da solidariedade e da proteção,
ao contrário dos discursos políticos que dominam a França há décadas. Tudo parece pronto para
uma mudança de valores, ou melhor, finalmente levamos em consideração valores primordiais
como a atenção aos outros, a proteção igual concedida a todos e a dignidade da vida.

Mulheres no limite

No entanto, as mulheres ainda hoje estão ausentes da reflexão e da ação política, como se a crise
— que revela sem rodeios o seu papel — as mantivesse à beira da discussão, sempre invisíveis. As
mulheres, significativamente pouco presentes no espaço público da mídia e da política em tempos
normais (25% das capas e matérias), agora são marginais (VIE PUBLIQUE, 16/04/2020). Os
especialistas masculinos se sucedem no microfone ou na tribuna, cheios de certezas e competências,
para “pensar o depois” (pois o pensar tem sistematicamente direito ao complemento de um objeto
direto). Quatro homens em um número do [jornal] Parisien nos dizem sobre “o mundo depois”, [a
plataforma de debates] FigaroVox nos propõe “pensar a crise” com Sylvain Tesson, Pierre Manent, Jean-
Pierre le Goff, Arnaud Teyssier, Joshua Mitchell, Pierre Vermeren, Michel Onfray, Alain Finkielkraut
e Chantal Delsol. A voz masculina é exibida em todos os meios de comunicação, como recentemente
notado pelo Haut Conseil à l’Égalité [entre les femmes et les hommes3], denunciando a presença ultra
majoritária de homens nas emissoras de TV4. Os deputados de esquerda acabam de sublinhar o carácter
doloroso do desfile de oradores do sexo masculino durante o debate sobre o confinamento (ZAPPI,
07/05/2020) numa Assembleia que constituiu um avanço para a paridade [entre homens e mulheres].
Exibindo o monopólio da expertise, essa palavra onipresente é um lembrete constante da dominação
masculina em um mundo que prova ser sustentado pelo trabalho das mulheres. No campo intelectual,
os homens assinam a grande maioria dos fóruns e análises das consequências da Covid-19 publicados
na mídia. Eles publicam mais do que antes, as mulheres publicam muito menos e o número de envios
de artigos por mulheres está em queda livre (KITCHENER, 24/04/2020).

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Por outro lado, mas menos falado, há uma vida ordinária que deve ser reorganizada dia a dia em
tempos da Covid-19: as mulheres em sua maioria nas profissões de care, corpo a corpo com os doentes,
em contato com clientes em supermercados; fazendo malabarismos com as tarefas domésticas que
essencialmente lhes cabem (três refeições por dia, sem cantina para os grandes e nem para os pequenos).
Ainda que haja progressos em algumas famílias das novas gerações, o tempo dedicado ao trabalho
doméstico pelas mulheres permanece amplamente superior (Idem) e, além disso, objeto de numerosas
disputas, como indica uma primeira pesquisa do [Institut français d’opinion publique5] Ifop6. As
pesquisas em andamento nos permitirão saber se as tarefas educacionais prescritas pelo [ministério
francês da] Educação Nacional sob o modo frenético do ativismo foram realizadas preferencialmente
pelas mães, mas já sabemos que nos EUA 80% das mulheres consideram que elas fazem mais, embora
50% dos homens pensem que não (cf. CARLSON, PETTS e PEPIN, 2020; MILLER, 06/05/2020). As
mulheres realizam por telefone e Skype o trabalho de fazer a ligação entre as gerações, que elas já fazem
há muito tempo… além do teletrabalho, ou do trabalho presencial… Todas essas mulheres que estão
trabalhando para sustentar o mundo, recriando o cotidiano, ainda não são creditadas com nenhuma
expertise, com nenhum conhecimento susceptível de reorganizar o mundo. O tempo da Covid-19, que
levou tanta gente a se dar conta do quanto lhes deve (daí os agradecimentos que aparecem, daí os
aplausos que agora incluem as caixas e as faxineiras, ainda se desde o início foi “obrigado aos
cuidadores”), coloca paradoxalmente em cena uma exacerbação das relações sociais de sexo.
A pesquisa atual do [Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale7] Inserm (INSERM
PRESS OFFICE, 10/04/2020) dará números mais precisos, podemos esperar. Caroline Criado Perez,
em Invisible Women: Exposing Data Bias in a World Designed for Men (2019), explica que foram
publicados 29 milhões de artigos sobre o zika e o ebola, mas menos de 1% das publicações tratam do
impacto da questão de gênero durante a epidemia. Faremos melhor com a Covid-19? Dando
visibilidade ao trabalho das mulheres em tempos de catástrofe8, a crise atual deveria, no entanto,
propiciar uma tomada de consciência sobre o papel essencial da mulher na produção do ambiente
cotidiano em todo o mundo, mas também sobre os riscos que correm com a invisibilidade de sua
contribuição e com o desprezo coletivo por todas as tarefas do cuidado e da manutenção do cotidiano.
Os empregos ou serviços principalmente relacionados à luta contra a Covid-19 no apoio à
vida diária são os de auxiliares de enfermagem (91% mulheres), enfermeiras (87% mulheres) ou
caixas e vendedoras (76%), atividades de atendimento à sociedade ou de segurança no
abastecimento, sem contar as professoras (71%). Mesmo os médicos de hospitais hoje são
predominantemente mulheres, assim como médicos de clínica geral e farmacêuticos. A proporção
de mulheres ainda aumenta entre os empregados em casas de repouso e entre cuidadores
domiciliares (97%). Muitos coletivos essencialmente femininos se desenvolveram para fornecer a
manufatura artesanal de máscaras, uma especialidade francesa; frequentemente voluntárias,
como pode ser visto no artigo publicado no Entre les lignes, Entre les mots9, essas mulheres são
levadas em consideração na mídia, mas são proporcionais ao valor atribuído ao trabalho do care,
ou seja, sempre descrito de forma anedótica, na rubrica dos fatos da sociedade, secundário às lutas
dos médicos e às arbitragens políticas. Annabelle, costureira profissional, fica indignada:

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Por que não pagar as costureiras? Parece que, mais uma vez, consideram o nosso trabalho como um passatempo
dominical... Parece que esquecemos que as costureiras, como as cuidadoras, caixas ou catadoras de lixo, são
funções essenciais durante a crise. Muitos desses profissionais encontram-se, no entanto, em situação
socioeconômica precária. O Estado poderia ter optado por fazê-los trabalhar e apoiá-los, nem que fosse para
honrar seu trabalho, que não é supérfluo, mas necessário.

O trabalho gratuito esperado das costureiras, que por vezes têm de fornecer os materiais,
remete ao sexismo latente de uma sociedade em que o trabalho feminino é por definição gratuito
e generoso, e se contenta com um “obrigado”.
Essas máscaras fabricadas (ou essas refeições entregues por chefs a equipes de enfermagem)
são, no entanto, indicativas de uma capacidade compartilhada no mundo ordinário de escolher
rapidamente o que importa na situação presente e de mobilizar suas habilidades a serviço dos
outros. Assim vemos cotidianamente opostas e hierarquizadas a heroica luta dos experts contra a
pandemia e as pequenas mãozinhas que humanizam suas condições e buscam tornar o mundo
habitável (LAUGIER, MOLINIER e PAPERMAN, 07/04/2020). Os meios de comunicação,
sobretudo a televisão, para os quais o telejornal recuperou todo o seu poder de transmissão de
valores, criam, dessa forma, em benefício dos dominantes, um imaginário de crise que mantém
firme as velhas categorias de poder em um período movente. Marlène Schiappa, secretária de
Estado do primeiro-ministro, responsável pela igualdade entre mulheres e homens e pela luta
contra a discriminação, solicitou um relatório com análise multicritério (quantidade, tempo de
fala, tempo de transmissão, enviesamento gênero...) do lugar das mulheres especialistas na mídia
em geral e das mulheres jornalistas neste período de confinamento e de crise da Covid-19. O
resultado promete ser interessante. O apagamento das contribuições femininas está inscrito até
no uso da linguagem, em que seria supostamente justo estender o masculino às profissões
feminizadas em mais de 80%, como fez o presidente [Emmanuel Macron] em seu último discurso.
Claro, “o masculino vence o feminino”, mas talvez esse lembrete seja um pouco inapropriado
(THE CONVERSATION, 06/05/2020). Também é surpreendente o fato de que os enfermeiros
estejam mais presentes nas reportagens de televisão ou do rádio do que as enfermeiras.
Enquanto isso, as mulheres são massivamente impactadas pelas consequências financeiras
da crise da Covid-19. Sabemos que a disparidade salarial na França é, dependendo do nível
salarial, entre 10% e 25% (OBSERVATOIRE DES INEGALITÉS, 25/03/2019), com as mesmas
posições e tempo de trabalho. Ao mesmo tempo que 8% dos homens trabalham em tempo parcial,
esse é o caso de 31% das mulheres, o que significa rendimentos inferiores em relação à média
salarial. Qualquer que seja sua condição de trabalhadora, 3/4 devem se encarregar completamente
material e mentalmente (“a carga mental”) das tarefas domésticas por aproximadamente três
horas por dia. Observe que as enfermeiras não são exceção. Seria essa uma das razões para sua
baixa presença na mídia? Elas teriam coisas melhores para fazer? Se seguirmos essa lógica, são
aqueles que menos teriam o que fazer, os que se permitiram testemunhar… Se adotarmos a
retórica implantada no início da epidemia de Covid-19 pelo presidente Macron, poderíamos citar
as palavras de Joffre, oficial-general francês da Primeira Guerra Mundial que fez a seguinte piada

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em 1915: “Se as mulheres que trabalham nas fábricas parassem vinte minutos, os Aliados
perderiam a guerra!”10. Infelizmente, a retórica da guerra que vê as mulheres como um exército
de reserva é uma forma de consolidar as desigualdades de gênero: ontem as mulheres foram
mandadas de volta para suas casas, hoje dizem que as atividades ordinárias de care estão na
“terceira linha”, desvalorizadas e mal pagas (SILVERA, 2014). Só podemos ficar escandalizadas,
apoiar a maioria das cuidadoras e demonstrar desprezo pela proposta de um abono de 500 a 1.500
euros quando esse valor deveria ser acrescido pelo menos mensalmente aos salários.

O ordinário e o político

Se as mulheres desempenham um papel crucial na produção da esfera doméstica, em tempos de


crise elas desempenham um papel auxiliar e de acompanhamento da crise. São elas que permitem
manter o fio da vida ordinária, mas elas são desvalorizadas e invisibilizadas, assim como a própria vida
ordinária. Como podemos entender melhor essa relação entre o que tornamos visível, o que deixamos
na sombra e o que tornamos invisível? Se o lugar das mulheres e de suas palavras é reduzido — mesmo
sendo constantemente atacado (irão muitas vezes ridicularizá-las ou culpá-las por falhas passadas) —
, é por sua invisibilidade estrutural, pela confusão ainda frequente entre o que elas fazem e aquilo o
que elas são, entre um trabalho que exige esforço e competências e sua naturalização no registo das
aptidões femininas (da disponibilidade à dedicação, hoje renovada na tranquilizadora noção de
empatia). Se trata então, para além da lamentação, de se perguntar: que lugar é dado à invisibilidade
no plano simbólico e na distribuição de valores? Quando falamos em invisibilidade, muitas vezes, é
para deplorar uma forma de fatalidade, uma forma de nos limitarmos confortavelmente à observação
— sem pensar no que seria tornar visível, fazer justiça. Já que o invisível não se traduz tão facilmente
no registro do visível, podemos pressenti-lo no constrangimento que vivenciamos com o discurso da
“heroização” das provedoras ordinárias do care — e não apenas por sua hipocrisia. Este é todo o
paradoxo da ética do care e da valorização do ordinário, do discreto, do “inferior”. Toda a dificuldade
também de se valorizar economicamente um trabalho em que a inteligência é mobilizada para
antecipar as necessidades, para agir antes mesmo de se manifestarem, em um mundo limpo, mas que
se apagaram os esforços de remover a sujeira, o desconforto. Uma inteligência que apaga o sucesso
sobre suas obras, e que falha quando ela se faz sentir demais. Por assim dizer: a atenção dada aos outros
nunca deve ser sufocada por uma solicitude indiscreta.
Como então valorizar uma forma de vida insolúvel na gestão neoliberal? Como mudar o
paradigma? Podemos aceitar ser invisíveis sob a condição de não sermos desvalorizadas pelo fato de
ser e de ter a escolha de ser ou não ser, ter a escolha das formas de se tornar visível, que muitas vezes
são histórias, narrativas que entram em detalhes, na matéria do mundo ordinário, que deixam espaço
para as bifurcações imprevistas, as reviravoltas e incertezas de afetos, sua ambiguidade inevitável.
Valorizar a sombra em que se encontram as contribuições dos trabalhadores do care significaria
mudar todo um sistema de valores para não o tornar o duplo obscuro da luz.

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Estamos, portanto, diante de uma ambiguidade: esse trabalho realizado majoritariamente


por mulheres é ainda mais subestimado no momento em que sua importância emerge aos olhos
de todos. O care é de longa data o mesmo nome do que foi negligenciado e desprezado pelas
políticas públicas, que é justamente a falta de atenção (do care) dispensada pelos governos na
última década a todos os setores encarregados de cuidar e de proteger os cidadãos (principalmente
na saúde, mas também educação, combate à pobreza, terceira idade e pessoas com deficiência), o
que torna a luta contra a Covid-19 tão difícil. Das incessantes manifestações dos agentes de saúde
às ficções como Hippocrate — reveja as últimas cenas do filme, em que toda a equipe finalmente
unida exprime sua revolta contra a redução dos recursos, a cegueira do espírito gerencial aplicado
ao ser humano e a falta de reconhecimento das enfermeiras e dos médicos estrangeiros —
expressa-se essa profunda injustiça, que mostra claramente que o care é antes de mais nada uma
questão de igualdade dos cidadãos na proteção que lhes é devida pelo Estado. O desastre sanitário
da Covid-19 mostra a injustiça das políticas direcionadas contra os serviços públicos e (re)coloca
a proteção social no centro de preocupações compartilhadas, de onde havia desalojado a evidência
desigual da maximização dos lucros financeiros.

A invisibilidade globalizada

Mais do que uma mudança, se trata de uma tomada de consciência de uma inversão de valores
aceita há décadas e denunciada desde o início pelas análises do care, ou seja, as profissões mais
verdadeiramente úteis são as menos bem pagas e as menos bem vistas. O que mais importa para
nossa vida cotidiana, o que a torna possível — cuidadores, faxineiros, catadores de lixo, caixas,
entregadores, caminhoneiros —, é na verdade o que menos importa na escala de valores que
coletivamente validamos. Não se trata apenas das múltiplas injustiças estruturais que a epidemia
colocou em evidência, entre quem, por exemplo, está no conforto de uma casa de férias e aqueles
que estão no trabalho ou aglomerados. Se trata do desconhecimento de toda uma sociedade e do
que a sustenta, no dia a dia ou na urgência do risco de morte.
Se essa revelação moral é possível, é precisamente pela situação (sem precedentes para muitas
das gerações atuais) de catástrofe, que revela vulnerabilidades radicais — novamente o
fundamento da ética do care. Vulnerabilidade de pessoas, instituições e ameaça à forma de vida
humana, entendida, para usar uma distinção feita pelo filósofo Stanley Cavell, como horizontal
(social, em vínculos que se recompõem) e vertical (biológica, como espécie globalizada e
ameaçada) (LOVELL et al., 2013). O care nunca é mais visível do que nessas situações em que é a
forma de vida, a vida “normal”, que é abalada, como nesses filmes de catástrofes que começam
com uma descrição perturbadora da vida cotidiana.
Esta crise poderia revelar um conjunto de talentos, competências, saberes e formas de
intervenção no mundo que vão além do que podemos ver na França e nas estreitas lentes do
eurocentrismo. Uma visão radical do care obriga a ver toda forma de vida dos privilegiados como

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mantida por uma atividade produzida pelos dominados, mas também pelo desvio de recursos do
Sul que garantem a manutenção e o padrão de vida das pessoas ricas nas sociedades, a começar pela
exploração da migração feminina a serviço de um care de “serviços” que podem ser delegados e
comprados no Norte. Esse trabalho acaba delimitado por tudo o que os mais privilegiados não
assumem, enfim, “o trabalho sujo” que cabe aos “outros”. Seja no âmbito da esfera doméstica, nas
instituições públicas ou no mercado, o care é produzido a baixo custo, por mulheres cujas posições
sociais muitas vezes permanecem precárias, ou mesmo que são excluídas da cidadania até nos países
em que exercem o trabalho. Com a “fuga do care” dos países pobres para os países ricos, atingimos
o limite dos belos discursos sobre a valorização e a heroização das trabalhadoras do care. Porque
ninguém que pode evitar esse trabalho deseja positivamente fazê-lo. Raras são as pessoas que se
ofereceram voluntariamente para trabalhar na limpeza de hospitais (existem algumas).
Esta epidemia, anunciamos no início, não é a primeira e nem será a última do século. Como
sairemos coletivamente dessa e enfrentaremos as próximas? De imediato, se perguntando quem
somos nós. A epidemia é global, e todos dependem uns dos outros para superá-la. Em seguida,
fazendo a ligação entre crise ecológica e epidemia. Não só porque os impactos ambientais, como
sabemos, enfraqueceram as populações das áreas mais afetadas pelo vírus. Mas também porque é a
mesma invisibilidade que afeta as mulheres e o meio ambiente, é a mesma negação daquilo que nos
permite viver. Grande parte da crise ecológica está associada a modos de vida “superconsumidores”
da natureza que atingiram o esgotamento dos recursos. E, no entanto, as medidas em matéria de
proteção da natureza têm, antes de mais nada, se preocupado com espécies e espaços extraordinários
antes de chegar até as pessoas (e, além disso, muitas vezes por meio de injunções concernentes aos
seus estilos de vida — e, portanto, em direção às mulheres). O ambiente ordinário tem sido
frequentemente desqualificado nas políticas ambientais sob o pretexto de que o ambiente cotidiano
é sobretudo urbano. A natureza é muitas vezes abordada do ponto de vista do selvagem a ser
preservado (ou a ser redescoberto, como as reportagens chatas em tempos de confinamento
inevitavelmente intituladas “A natureza reivindica os seus direitos”, em que nos mostram animais
nas ruas abandonados pelos humanos) e nunca do ponto de vista do care ambiental diário.
Esquecemos os serviços prestados pela natureza ou os benefícios que os humanos obtêm dos
ecossistemas, conhecidos como “serviços ecossistêmicos”. A avaliação destes é frequentemente
realizada sem levar em consideração as desigualdades de gênero. Ora, é importante enfatizar a
dimensão generificada da percepção e do uso dos serviços ecossistêmicos por várias razões. As
funções de abastecimento de suprimentos e, portanto, coleta de água, madeira e outras provisões
coletadas diretamente do meio ambiente são essencialmente atribuídas às mulheres.
Especialmente nas áreas rurais e nas áreas urbanas pobres, as mulheres desempenham um papel
importante na agricultura e se responsabilizam pela maior parte das tarefas e afazeres domésticos
não remunerados, como coleta de água e lenha, processamento alimentício, preparo de alimentos
e cuidado de crianças, idosos e pessoas doentes. Se as mulheres não têm acesso a esses serviços
nas proximidades, essas tarefas exigem ainda mais tempo e esforço. As mulheres, legal e
politicamente, têm menos acesso à gestão ambiental (MEINZEN-DICK et al., 2014) e, muitas

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vezes, têm menor nível de instrução e são consideradas menos capazes de tomar boas decisões a
respeito. Em suma, as degradações que afetam o meio ambiente ordinário e os “serviços”
prestados pela natureza contribuem mecanicamente para atingir sobretudo as mulheres. Uma das
formas de se estabelecer essa hipótese é certamente desagregar os dados e ver como as escolhas
feitas em termos de meio ambiente e sua preservação dependem de situações socioeconômicas e
culturais. Não são apenas as atividades de assumir o controle pelo meio ambiente que são evitadas,
mas, de forma mais ampla, as dimensões do meio ambiente relevantes para a atividade das
mulheres (SEAGER, 2016). O ambientalismo grassroots, feito de inovações e mobilizações
integradas à produção do meio ambiente, é obra de mulheres cujo papel é crucial nessa esfera
doméstica estendida ao meio ambiente (BLANC e PADDEU, 2018). Os coletivos formais e
informais que participam da proteção do meio ambiente local e dos serviços ecossistêmicos, seja
em ações locais contra a poluição seja em movimentos contra os grandes projetos urbanos, são
amplamente feminizados e menos visíveis do que os resgate de biodiversidade rara, de espécies e
locais ameaçados de extinção, que, por sua vez, oferecem novos espaços de aventura a uma
população predominantemente masculina, distante da vida de todo dia.

A negação do serviço

Joan Tronto vislumbra imediatamente em sua definição já citada uma extensão da ética do care
para além do humano: “incluímos a possibilidade de que o cuidado se aplique não só aos outros,
mas também aos objetos e ao meio ambiente”. A ideia de care ambiental (cf. LARRÈRE, 2012), o
cuidado com o meio ambiente próximo, baseia-se na constatação de que o meio ambiente é objeto
de atenções que podem ser vislumbradas a partir da ética do care. A noção de atenção, no sentido
bem material de cuidar, pode ser aplicada a atitudes e práticas muito diversas de consideração ao
meio ambiente: comportamentos individuais ou coletivos de respeito ao meio ambiente (triagem
do lixo, cálculo e limitação da emissão de carbono, compras de alimentos, consumo local, consumo
de energia, de materiais, de bens de consumo...). São esses gestos que estão, pelas forças das
circunstâncias, em prática hoje. Os itinerários técnicos e a aquisição de conhecimentos em
agroecologia podem ser analisados desta forma: a observação precisa e cuidadosa dos fenômenos, a
atenção dada à rotação das culturas no espaço e tempo formam as bases deste tipo de agricultura.
De forma mais geral, o planejamento ecológico e local do espaço (urbanismo, arquitetura,
paisagismo...) pode ser lido como relacionado a uma forma de care com o desejo de prestar atenção
ao espaço próximo, bem como ao macrocosmo planetário. Enquanto o movimento ambientalista
tem se concentrado principalmente nos espaços e espécies emblemáticos, as mulheres em todo o
mundo enfrentam o desafio de proteger esse ambiente ordinário (BLANC, 2019). O desprezo global
pelas atividades do care também conduziu a uma incompletude da concepção liberal da moral e da
justiça, esta última condenada a representar uma heterogeneidade problemática entre a sociedade
em sua dimensão moral e aquilo que a perpetua.

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A verdadeira urgência será a de reverter essa negação dos “serviços” e as décadas que
ignoraram e desperdiçaram os recursos naturais e humanos que sustentam a humanidade. As
pesquisas sobre o papel da mulher no trabalho agrícola, na gestão dos recursos ou da
biodiversidade, na preservação da vida cotidiana são todas formas de clarificar as questões de
justiça associadas às transições socioecológicas, técnicas e econômicas e de perceber os limites de
um conceito de desenvolvimento essencialmente orientado para a preservação do estilo de vida
do Norte, baseados na superexploração dos ambientes naturais… e das populações do Sul. Todos
os estudos realizados mostram que o empoderamento das mulheres contribui para a segurança
alimentar e para a gestão responsável, senão sustentável, da terra. Para isso, o desafio é, mais uma
vez, combater a invisibilização do trabalho do care e apoiar a representação das mulheres nos
órgãos e instâncias de decisão em todos os níveis em caso de catástrofes.
Especialmente porque vários relatórios e estudos mostram que, devido ao seu lugar na gestão
do meio ambiente ordinário, as mulheres são muitas vezes as que têm maior probabilidade de
serem atingidas duramente em caso de catástrofes naturais. Por exemplo, o furacão Katrina, que
devastou Nova Orleans em 2005, afetou principalmente mulheres afro-americanas e seus filhos.
Mais de 70% das pessoas que morreram em 2004 no tsunami asiático eram mulheres. No Sri
Lanka, foi mais fácil para os homens sobreviver ao tsunami de 2004, isso porque eles tinham a
vantagem de nadar e poder subir em árvores, habilidades essas que são ensinadas apenas aos
meninos. Com relação à adaptação às mudanças climáticas, o aumento da seca e da escassez de
água afetará principalmente as mulheres, que são, nos países pobres, as principais coletoras,
usuárias e gestoras da água. Por fim, a perda de meios de subsistência é sinônimo de aumento da
violência de gênero11, uma questão pulsante atualmente. Hoje, a doença atinge principalmente os
homens, mas as mulheres são e serão as primeiras vítimas da pobreza massiva e tão mortal,
segundo todas as previsões, quanto a doença.
Assim, pensar para além da crise não é pensar o depois (com os homens), é pensar com toda
a sociedade e principalmente com aqueles e aquelas que a mantém viva. A revelação das
desigualdades de gênero e do trabalho do care com a crise de Covid no Norte é parte integrante
da longa lista de desigualdades globais de gênero que são exacerbadas em tempos de catástrofe.
Em suma, a crise atual é rica em lições para se levar em conta dos riscos que estão por vir e sobre
a importância da invisibilidade das mulheres e suas consequências para as crises futuras.
Importar-se com os outros, responsabilizar-se, é o valor que se revela hoje como o primeiro,
contra a corrida pelo lucro ou pela exploração dos recursos do planeta. O care há muito foi
considerado (e muitas vezes desconsiderado, como atesta a zombaria ritual) como preocupação
pelo próximo, pela família nuclear, tendo como modelo o vínculo mãe-criança. Teremos agora
compreendido, à custa da catástrofe atual, que esse é um trabalho que sustenta o mundo e,
sobretudo, aquele dos “privilegiados” (GILLIGAN, HOCHSCHILD e TRONTO, 2013). E, “ao
mesmo tempo”, quem se espantará com o fato de que a valorização do care em situação de
catástrofe, e essa responsabilidade coletivamente assumida, seriam imediatamente apagadas por
discursos políticos que visam sempre reservar a palavra e o poder àqueles que são os grandes

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responsáveis pela gravidade da situação, mas que desejam continuar se beneficiando de sua
posição? Em Parasita, o belo filme coreano de Bong Joon-Ho (GAUDIN, 05/11/2019), os
parasitas não são os pobres que vivem nos porões ou tentam ganhar a vida a serviço dos
privilegiados. A genialidade do filme é fazer-nos compreender que são os próprios privilegiados
quem vive às custas e em detrimento de toda a sociedade. Seria paradoxal que a crise da Covid-19
nos fizesse esquecer a lição da palma de Cannes — e do primeiro Oscar não ocidental.

Notas

1
Publicado originalmente no blog La Vie des Idées, ligado ao ligada ao Institut du Monde Contemporain do Collège de France,
em 19 de maio de 2020. Disponível (on-line) em: https://laviedesidees.fr/Le-prix-de-l-invisible.html. Agradecemos
especialmente à antropóloga Camila Pierobon, pesquisadora de pós-doutorado do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap), pela intermediação do contato com a professora Sandra Laugier e com a tradutora Juliana De Souza.
2
Conferir, sobre care: Gilligan (2008[1982]), Paperman e Laugier (2011[2005]) e Molinier (2009).
3
Alto Conselho de Igualdade entre Mulheres e Homens, em português.
4
Disponível (on-line) em: https://www.haut-conseil-egalite.gouv.fr/IMG/pdf/vigilance_egalite_confinement_avril_2020.pdf
5
N.T.: Instituto Francês de Opinião Pública, em português.
6
Disponível (on-line) em: https://consolab.fr/etude-quotidien-francais-confinement/
7
N.T.: Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica, em português.
8
Cf. também o programa de pesquisa: Wenham, Smith e Morgan (2020).
9
Disponível (on-line) em: https://entreleslignesentrelesmots.blog/2020/04/08/lutte-contre-le-coronavirus-si-les-femmes-
sarretent-lesmasques-tombent-et-autres-textes/. “Uma recuperação econômica, uma realocação... Nas costas das
mulheres? Todos os/as trabalhadores/doras dessa rede são remunerados-as... exceto as costureiras - 5,6% de homens dos
1.500 voluntários, segundo as estimativas iniciais. Este último elo é, no entanto, essencial”.
10
Disponível (on-line) em: https://entreleslignesentrelesmots.blog/2020/04/08/lutte-contre-le-coronavirus-si-les-
femmes-sarretent-les-masques-tombent-et-autres-textes/
11
Gender Responsive Disaster Risk Reduction. A contribution by the United Nations to the consultation leading to the
Third UN World Conference on DRR, 2014 et Training Manual on Gender and Climate Change, IUCN and UNDP (leading
agencies), 2009.

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Nathalie Blanc, Sandra Laugier e Pascale Molinier
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Referências

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ESTELLE, Ferrarese; LAUGIER, Sandra. Formes de vie. Paris: CNRS Éditions, 2018
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GAUDIN, Christophe. “Le damné galop du cinéma coréen: Autour de ‘Parasite’ de Bong Joon-ho”. La
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https://laviedesidees.fr/Le-damne-galop-du-cinema-coreen.html
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LAUGIER, Sandra; MOLINIER, Pascale; PAPERMAN, Patricia. “Nous défendre – face au discours politique
sur le Covid-19: Dans la crise du Covid-19, toute critique de l’action gouvernementale, dont
l’incompétence et l’irresponsabilité est patente, tend à être écartée comme polémique, ignare et même
dangereuse. Cette tonalité, à la fois sûre de son autorité politique et scientifique, et récusant toute
contestation, est parfaitement reconnaissable pour les féministes: c’est celle du patriarcat”. AOC,
Opinion, 7 de abril de 2020. Disponível (on-line) em: https://aoc.media/opinion/2020/04/06/nous-
defendre-face-au-discours-politique-sur-le-covid-19/
LOVELL, Anne; PANDOLFO, Stefania; DAS, Veena; LAUGIER, Sandra. Face aux désastres. Paris: Ithaque,
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KITCHENER, Caroline. “Women Academics Seem to be Submitting Fewer Papers During Coronavirus.
‘Never Seen Anything Like It,’ Says One Editor: Men are submitting up to 50 percent more than they
usually would”. The Lily, Work, 24 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.thelily.com/women-academics-seem-to-be-submitting-fewer-papers-during-
coronavirus-never-seen-anything-like-it-says-one-editor/
MILLER, Claire Cain. “Nearly Half of Men Say They Do Most of the Home Schooling. 3 Percent of
Women Agree: A survey suggests that pandemic-era domestic work isn’t being divided more
equitably than before the lockdown”. The New York Times, The Upshot, 6 de maio de 2020.
Disponível (on-line) em: https://www.nytimes.com/2020/05/06/upshot/pandemic-chores-
homeschooling-gender.html
OBSERVATOIRE DES INEGALITÉS. “Les inégalités de salaires entre les femmes et les hommes : état des
lieux: En équivalent temps plein, les femmes touchent 18,5 % de moins que les hommes, selon l’Insee.
La discrimination pure serait d’environ 10 % d’après le ministère du Travail”. Observatoire des
Inégalités, Femmes et hommes, 25 de março de 2019. Disponível (on-line) em:
https://www.inegalites.fr/Les-inegalites-de-salaires-entre-les-femmes-et-les-hommes-etat-
des-lieux
THE CONVERSATION. “Débat : Le Covid-19 s’attaquerait-il aussi à la langue française?”. The
Conversation, Arts + Culture, 6 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://theconversation.com/debat-le-covid-19-sattaquerait-il-aussi-a-la-langue-francaise-
137811
VIE PUBLIQUE. “Crise sanitaire et confinement, marqueurs de la place des femmes dans la société:
Implication des femmes dans les métiers de soin au sein des hôpitaux et des Ehpad, présence des
femmes dans les médias, répartition des tâches domestiques... Le Haut Conseil à l'égalité entre les
femmes et les hommes (HCEfh) s'interroge sur ce que révèle cette période de confinement sur la
place des femmes dans la société”. Vie Publique, En Bref, 16 de abril de 2020. Disponível (on-line)
em: https://www.vie-publique.fr/en-bref/274101-le-confinement-un-revelateur-de-la-place-
des-femmes
ZAPPI, Sylvia. “Les organisations de gauche alertent sur le recul du droit des femmes en temps de crise:
Lors d’un meeting féministe en ligne, des députées, porte-parole de partis, syndicalistes et
représentantes d’associations ont rappelé l’importance du rôle des travailleurs en première ligne et
dénoncé les ‘discours virilistes’ à l’œuvre depuis le confinement”. Le Monde, Politique, Coronavirus
et Pandémie de Covid-19, 7 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.lemonde.fr/politique/article/2020/05/07/les-organisations-de-gauche-alertent-sur-le-
recul-du-droit-des-femmes-en-temps-de-crise_6038943_823448.html

NATHALIE BLANC (nathali.blanc@wanadoo.fr) é


diretora de pesquisa no Centre National de la
Recherche Scientifique (CNRS, Paris, França), diretora
do Laboratoire Dynamiques Sociales et Recomposition

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des Espaces (LADYSS, CNRS, Paris, França), e diretora


do Centres de Politiques de la Terre (Universidade de
Paris e Sciences Po, Paris, França). É professora de
geografia na Universidade de Paris Diderot. Doutora
em geografia pela Universidade Paris I - Panthéon-
Sorbonne, mestrado e graduação em geografia pela
Universidade Paris 7 e graduada em Belas Artes pela
Universidade Paris 8.

SANDRA LAUGIER (sandra.laugier@univ-paris1.fr) é


professora titular de filosofia na Universidade Paris 1
- Panthéon-Sorbonne (França), membra titular
do Institut Universitaire de France (Paris), vice diretora
científica do Institut des Sciences Humaines et Sociales
(INSHS) do Centre National de la Recherche
Scientifique (CNRS). Doutora e mestre em filosofia pela
Universidade Paris 4 – Sorbonne (França), graduação
em filosofia pela Ecole Normale Supérieure (ENS, Paris,
França).

PASCALE MOLINIER (molinier@cnam.fr) é professora


de Unité Transversale de Recherches en Psychogénèse
et Psychopathologie (UTRPP) da Université Paris 13
(França). Doutora em Psicologia pela École des Hautes
Études en Sciences Sociales (EHESS, Paris, França).

JULIANA DE SOUZA (desouzamontpellier@gmail.com) é


mestre em filosofia moderna e contemporânea
pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia
(PPGFIL) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (Unesp, Marília, Brasil) e em
humanités numériques pela Université Paul-Valéry
Montpellier 3 (UPVM, França). Tem licenciatura em
filosofia pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM, Brasil).

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