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Introdução à Teologia

do
Culto Cristão

Alberto Simonton
1
DEDICATÓRIA

À Deus, meu Senhor e Guia,


à minha esposa Marili,
e à minha filha Paula.

2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 04

CAPÍTULO I - CONCEITO DE CULTO 08

CAPÍTULO II - TIPOS DE CULTO 16

CAPÍTULO III - O PROPÓSITO DO CULTO 25

CAPÍTULO IV - REQUISITOS PARA O CULTO 30

CAPÍTULO V - HERMENÊUTICA E O CULTO 40

CAPÍTULO VI - ELEMENTOS DO CULTO 47

CAPÍTULO VII - LITURGIA DO CULTO 81

CAPÍTULO VIII - O DIA DE CULTO 101

CONCLUSÃO 105

3
INTRODUÇÃO

O ser humano foi criado por Deus como um adorador por natureza. Ou seja, ele naturalmente se
volta a prestar culto a alguma divindade, poder, ou ser sobrenatural. Isto é um fato já comprovado pela
ciência. “A antropologia nos diz que todas as pessoas adoram. As sociedades primitivas se envolvem em
rituais e sacrifícios a algo ou a alguém que seja transcendente (mysterium tremendum et fascinans),
esperando participar da vida e do poder da entidade transcendente, e impedir os infortúnios.”1
Entretanto, o fato de o homem ser naturalmente um adorador não faz dele um perfeito adorador.
Muitos erros envolvendo a adoração do ser humano podem ser enumerados. O pecado distorceu a
percepção do ser humano de tal forma que ele muitas vezes faz o que é errado pensando estar certo. E
refiro-me com esta afirmação não exclusivamente aos ímpios, não também aos cristãos. É por esta razão
que Deus revelou em sua Palavra tudo que precisávamos saber a respeito de adoração no culto, pois mesmo
aqueles que se converteram a Cristo ainda podem oferecer a Deus um culto distorcido por causa do pecado.
Ao examinar os acontecimentos atuais é fácil notar que os cristãos estão perdendo gradativamente
o respeito e a noção do que seja cultuar a Deus. “Os dias em que vivemos são dias maus para a Igreja.
Estamos, de forma generalizada, correndo a passos largos no culto que desagrada a Deus e satisfaz o
coração do homem.”2 Vejamos os exemplos abaixo e percebamos como os nossos tempos tem sido profanos
em relação ao culto ao Senhor da Glória:

 Exemplo um:

Um artigo escrito no The Wall Street Journal descreveu a proposta de uma conhecida igreja no sentido de
“reanimar a assistência aos cultos dominicais noturnos”. A igreja “exibiu uma luta livre entre seus empregados.
Tendo em vista a preparação para o evento, dez funcionários foram instruídos por Tugboat Taylor, um ex-
lutador profissional, em puxar os cabelos, chutar os queixos dos outros e arremessar seus corpos ao chão sem
lhes causar qualquer dano”. Isto não trouxe dano físico algum aos funcionários da igreja, mas qual o efeito de
tal exibição sobre a mensagem anunciada por aquela igreja? O evangelho não se torna deturpado e
pessimamente caricaturado por esse tipo de palhaçada? [...] O episódio aconteceu em um culto de Domingo à
noite em uma das cinco maiores igrejas evangélicas dos Estados Unidos. Outros exemplos poderiam ser citados
de várias das mais destacadas igrejas, supostamente pertencentes aos principais grupos da ortodoxia
3
evangélica.

 Exemplo dois:

A revista Los Angeles Times recentemente falou sobre uma Igreja no sul da Califórnia que distribuiu panfletos
anunciando seus cultos como “Horas Agradáveis da Música Country de Deus”. Os panfletos audaciosamente
prometiam “dança semelhante à quadrilha logo depois do culto”. De acordo com o artigo da revista, “o pastor
também dançou, calçado de botas de couro e vestido com jeans”. O pastor justifica esse movimento com a
revitalização de sua igreja. O artigo da revista descreve a manhã de domingo na igreja: “Os membros ouvem os
sermões, cujos temas incluem ‘A Pickup Ford do Pastor e Sexo Cristão’ (classificado com R, que significa
‘relevância, respeito e relacionamento’, disse o pastor, ‘e mais engraçado do que parece’). Após o culto, os
membros dançam com músicas de uma banda chamada Os Anjos do Cabaré (e o que mais poderia ser?). A
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frequência à igreja está aumentando rapidamente [...]

1
HUSTAD, Donald P. Jubilate! A música na Igreja. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1981, p. 73.
2
MENEZES, Raniere. Princípio Desregulador do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/culto_desregulador_raniere.htm>. Acessado em: 15 maio 2013.
3
MACARTHUR JR, John F. Eu Quero a Religião Show. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/igreja/religiaoshow.htm>. Acesso em: 24 abr.2013.
4
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus? Disponível em:
<http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=63>. Acessado em: 24 abr. 2013.

4
 Exemplo três:

O convite abaixo para um culto dominical vespertino apareceu no boletim de uma das maiores e mais
conhecidas igrejas que integram o “Cinturão da Bíblia” nos Estados Unidos: “Circo – Vejam Barnum e Bailey,
quando o mágico do grande e famoso circo vier à Comunhão do Divertimento! Palhaços! Acrobatas! Animais!
5
Pipoca! Que grande noite!

 Exemplo quatro:

Até que ponto a igreja irá em sua competição com Hollywood? Uma grande igreja do sudoeste dos Estados
Unidos acaba de instalar um sistema de efeitos especiais, que custou meio milhão de dólares, capaz de
produzir fumaça, fogo, faíscas e luzes de lazer no auditório. A igreja enviou alguns de seus membros para
estudar, ao vivo, os efeitos especiais de Bally’s Casino, em Las Vegas. O pastor terminou um dos cultos sendo
elevado ao “céu” por meio de fios invisíveis que o tiraram da vista do auditório, enquanto o coral e a orquestra
adicionavam um toque musical à fumaça, ao fogo e ao jogo de luzes. Para aquele pastor, tudo não passou de
um típico Show dominical: “Ele lota a sua igreja através desses artifícios especiais, tais como derrubar uma
árvore com uma serra para ilustrar um ponto de sua mensagem... realizar o maior espetáculo de fogos do 4 de
julho da cidade e um culto de Natal com um elefante, um canguru e uma zebra alugados. O Show de Natal
6
apresenta 100 palhaços com presentes para as crianças da igreja”.

Talvez o leitor se admire de que um cristão tenha realmente feito estas coisas relatadas acima.
Todavia, pode ser que você concorde com outras atitudes no culto que, afinal, no futuro, desembocarão
irremediavelmente nestas relatadas a pouco. É possível que você questione e diga: “Sendo feito de coração,
Deus aceita qualquer culto! O que importa é a sinceridade!” Ou ainda: “Os cultos modernos me edificam
mais do que os cultos frios tradicionais!” Isto é um engano terrível! Pensar que edificação tem a ver com o
que sentimos é algo enganoso. Como diz o teólogo J.C. Ryle:

[...] Eles nos dirão que não são teólogos e não pretendem compreender a diferença entre
uma e outra escola de teologia, mas sabem que a adoração da qual participam os faz sentir-
se tão bem, que não podem ter dúvida de que seja correta. Não estou disposto a deixar que
tais pessoas se afastem facilmente do assunto deste livro. Não posso esquecer que os
sentimentos religiosos são bastante enganosos. Existe uma empolgação natural produzida
em algumas mentes por ouvirem música espiritual e assistirem a espetáculos religiosos, mas
essa empolgação não é verdadeira devoção. Essa empolgação é forte e contagiante enquanto
dura; mas logo vem e logo se vai. É apenas uma influência sensitiva natural que até um
romanista pode sentir ocasionalmente, mas, apesar disso, ele continua romanista tanto em
7
doutrina como em prática.

Na verdade estes cultos “modernos” tem deixado não somente o modo tradicional de cultuar, mas
deixado até mesmo a sensatez de lado. “As inovações litúrgicas são tão cheias de irreverência e criatividade
que perdem em solenidade até para as reuniões seculares. Os adoradores profanos e blasfemos estão
tratando Deus como se Ele fosse um mero mortal como eles.”8Olhando bem vamos perceber que “em
grande parte, o que importa hoje é o bem-estar dos adoradores não do Adorado... O Adorado está sendo
amoldado aos adoradores.”9
A questão que se levanta então é: Deus realmente se agrada do culto que está sendo oferecido a Ele
não importa como esteja sendo feito? A adoração é para agradar a Deus ou ao homem? Se a ênfase está no
adorador, então pode-se aceitar tudo que lhe agrade fazer no culto. Mas se a ênfase é o adorado, então

5
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus?, 2013.
6
MACARTHUR Jr., John F. Eu Quero a Religião Show. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/igreja/religiaoshow.htm>. Acessado em: 04 Ago. 2008.
7
RYLE, J.C. Adoração. Prioridade, princípios e prática. São José dos Campos: FIEL, 2010. p. 18.
8
MENEZES, Raniere. Princípio Desregulador do Culto. 2013.
9
Ibid., Princípio Desregulador do Culto. 2013.

5
devemos nos perguntar: “O que do adorado se agrada?” Infelizmente muitos não entendem que o Diabo
está interessado em desvirtuar a adoração realizada pelos cristãos. “A religião é um dos principais meios
usados por Satanás para cegar a humanidade quanto à sua verdadeira e terrível condição. É o anestésico do
diabo para fazer pecadores perdidos sentirem-se confortáveis e tranquilos em seu vil afastamento de
Deus.”10
Assim, sendo alvo da ação e investidas de satanás, o culto deve ser motivo de aprendizado e estudo
por parte da Igreja. Ela deve conhecer e entender como cultuar a Deus. Os cristãos não podem se dar ao luxo
de ser ignorantes quanto a este assunto tão vastamente referido nas Escrituras. Como Deus já disse há
tempos: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a
nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29). É dever do cristão
conhecer e praticar o que está revelado na Escritura. E isto inclui o tema do culto a Deus.
Como pudemos observar anteriormente, os desvios quanto ao culto já estão chegando às raias do
absurdo. E mesmo não encontrando desvios tão graves, podemos perceber que já se encontram, em muitos
lugares, indícios de atitudes profanas e irreverentes. Que uma mudança é possível não temos dúvida, visto
que Deus é Poderoso para agir em sua Igreja.
Em nosso estudo não pretendemos dar a última palavra a respeito da teologia do culto, nem muito
menos pretendemos ser exaustivos. Procuramos, no entanto, ser objetivos e práticos, querendo ser útil para
o leitor no sentido de responder e esclarecer alguns aspectos relacionados ao culto. Esta obra, em si, deve
servir como introdução ao estudo do tema, a fim de incentivar o leitor a buscar mais sobre o assunto
abordado. Nosso objetivo é ser o máximo bíblico possível nos argumentos, guiando-nos pela interpretação
histórico-gramatical utilizada pelos calvinistas. Cabe então ao leitor, julgar tudo que está escrito, e no
espírito de submissão à Revelação da Bíblia, ver o que Deus está lhe ensinando a respeito do culto ao
Senhor, e providenciar as devidas mudanças se necessário.

Deus abençoe todos nós!

10
PINK, Arthur W.. Adoração. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/adoracao/adoracao_pink.htm>.
Acesso em: 18 jun.2013.

6
CAPÍTULO I
CONCEITO DE CULTO

Antes de nos concentrar nos vários aspectos a serem discutidos neste estudo devemos compreender
claramente sobre o que estamos discutindo. Ora, apesar de todo religioso prestar culto, e de os cristãos
constantemente se envolverem nesta ação religiosa, muitos (infelizmente) não têm em mente uma definição
clara e correta do que estão fazendo.
Em outras palavras, há muitos cultuantes que não sabem dizer o que é culto. Não porque não
tenham uma opinião sobre o que seja o culto, mas porque nunca progrediram no conhecimento sobre este
assunto. O que têm em suas mentes são simplesmente opiniões. Acostumaram-se a simplesmente cultuar
por causa da tradição mesmo sem saber o que significa exatamente. Contudo, sabemos que um cristão
sensato não viverá simplesmente por suas opiniões, mas procurará entender e conhecer o que Deus fala a
respeito de algo tão importante como o culto. E desta forma, não se conformará apenas com suas opiniões
pessoais a respeito do que seja culto, porém, buscará um conhecimento adequado acerca do mesmo.
A fim de compreendermos o assunto desde o início, dedicaremos um pouco de tempo para
conceituarmos o objeto de nosso estudo. Primeiramente observaremos qual a visão comum a respeito do
culto. Para este momento utilizaremos as definições de dicionários populares. Após isto, passaremos a
utilizarmos de conceitos teológicos a fim de chegarmos a uma conclusão clara e fácil de absorvermos.

Conceito Comum de Culto

Se formos atrás do que pensam as pessoas a respeito do que seja um culto, iremos, com toda
certeza, encontrar variados tipos de conceituação. Ora, como é óbvio, dificilmente a opinião geral seguirá
um conceito oficial. Neste caso, o ditado popular “cada cabeça, uma sentença” será real. Assim, um modo
mais rápido e fácil de conseguir o significado do termo como ele é usado na opinião geral das pessoas, e ao
mesmo tempo conhecer o sentido oficial da palavra na nossa língua, é procurando sua conceituação em
dicionários.
Apesar de muitas pessoas não seguirem fielmente o conceito encontrado nos dicionários, neles
temos o sentido mais “natural e ordinário” do termo. Para a segurança em nossa definição, e para não
limitarmos o conceito observando apenas um autor, utilizaremos mais de uma fonte. Vejamos a seguir
algumas conceituações de culto encontradas em dicionários comuns:

 “Homenagem religiosa que se tributa a Deus ou aos entes sobrenaturais;”11

 “Se prostrar diante de algo, em forma de agradecimento ou admiração;”12

 “Homenagem religiosa que se tributa a Deus ou aos entes sobrenaturais;”13

 “Ritual religioso.”14

11
Dicionário online de português. Culto. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/culto/>. Acessado em: 14 jun. 2014.
12
Dicionário inFormal. Culto. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/culto/>. Acessado em: 14 jun.
2014.
13
Dicionário Aurélio. Culto. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/Culto.html>. Acessado em: 14 jun.
2014.
14
Dicionário escolar da língua portuguesa/ Academia Brasileira de Letras. Culto. 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2008, p.384.

7
Com estas conceituações podemos vislumbrar um pouco sobre o significado do assunto por nós
abordado. Entretanto, ainda devemos passar para um segundo momento onde observaremos não a nossa
tradução no português, mas as palavras como elas foram escritas pelos escritores inspirados das Escrituras
em línguas hebraica e grega. Fazendo assim, poderemos entender o significado do termo culto de acordo
com os escritores bíblicos.

Conceito Bíblico de Culto

Ao lermos as Escrituras acharemos muitíssimos textos que falam de culto. Todavia devemos nos
lembrar de que as Escrituras em nenhum lugar escreve um conceito de culto como vimos acima descritos
nos dicionários. Desta forma, teremos que perceber pelos textos o que Deus quer que nós entendamos que
seja o culto. A fim de atingirmos nosso objetivo vamos olhar o significado das palavras nas línguas originais
em que a Bíblia foi escrita. Podemos resumir o significado das palavras utilizadas nos originais das Escrituras
com os seguintes comentários:

Antigo Testamento

 “No AT, a palavra “culto” traduz uma palavra hebraica que significa “inclinar-se, prostrar-se”, uma
postura indicativa de reverência e homenagem. O conceito de culto é expresso pelos termos “servir,
serviço.”15

Novo Testamento

 “Novo Testamento: os principais termos gregos associados ao culto no NT são: (a) proskynéo =
“prostar-se, adorar” (ver Mt 14.33; At 10.25-26; 1 Co 14.25); (b) latreúo (latreía) = “servir, serviço”
(Mt 4.10; At 26.7; Rm 1.25; 12.1); (c) leitourgéo, leitourgía = “servir, ministrar, serviço, ministração”
(At 13.2; Rm 15.27; Hb 10.11; Lc 1.23; 2 Co 9.12; Fp 2.17,30; Hb 8.6; 9.21).”16

1.  “servir executando deveres religiosos.” 17 (Mt 4:10; Lc 1:74; At 7:7, 42; 26:7;
Rm 1:9; 2Tm 1:3; Hb 9:9, 14; Ap 7:15); “Adoro (no íntimo), adoro por servir, sirvo.”18; “servir,
trabalhar por salário, trabalhar; no NT é usado para o culto religioso”. 19

2.  “culto, adoração (a Deus).”21; “Serviço ou culto a Deus.”22 (Jo 16:2; Rm 9:4;


20

12:1; Hb 9:1)

3.  “executar um serviço (religioso).”23 (Hb 10:11; Tt 1:9; At 13:2)

15
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e Suas Consequências para a Pregação e a Liturgia. Disponível em:
<http://www.mackenzie.com.br/7072.html>. Acessado em: 21 jul. 2007.
16
Ibid., 2007.
17
GINGRICH, F. Wilbur; Frederick W. Danker. Léxico do Novo Testamento Grego/Português. São Paulo: Vida Nova,
2000. p. 125.
18
TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento Grego/ por William Carey Taylor. 9ª ed. Rio de Janeiro:
JUERP, 1991. p. 126.
19
RIENECKER, Fritz. Chave linguística do Novo Testamento grego/Fritz Rienecker, Cleon Rogers. São Paulo: Vida Nova,
1995.p. 7.
20
- Esta palavra é traduzida geralmente por “prestar culto, adorar” (Hb 9:9; 10:2; Mt 4:10); “servir” (Rm 1:25;
Mt 4:10). - “culto, adoração” (Rm 9:4; 12:1).
21
GINGRICH, F. Wilbur; Frederick W. Danker. op. cit., p. 125.
22
TAYLOR, William Carey., 1991, p. 126.
23
GINGRICH, F. Wilbur; Frederick W. Danker. op. cit., p. 125.

8
4.  “serviço ritual ou de outra natureza.”24 (Lc 1:23; Fp 2:17; Hb 8:6; 9:21)

Diante destas informações coletadas acima podemos chegar à seguinte conclusão do que seja o
culto cristão: Culto é um serviço de adoração prestado a Deus de modo a reverenciá-lO e homenageá-lO.
Ora, tendo em mente esta conceituação de culto, agora precisamos nos aprofundar mais a fim de
retirar algumas dúvidas relacionadas a ele. Responderemos as seguintes questões iniciais: 1- Desde quando
existe culto? 2- Deus precisa de culto? 3- Pode o crente participar de cultos na igreja católica, ou cultos de
seitas denominadas “cristãs” (ex: adventista), ou qualquer outra religião? Abordaremos somente estas três
perguntas por enquanto, porém, não pararemos aqui; muitos outros aspectos referentes ao culto serão
tratados durante o restante de nosso estudo.

Desde quando existe culto?

Como vimos acima o culto é um serviço prestado a Deus. Por conseguinte, para a existência de culto
é preciso haver as duas partes: a divindade e o cultuante. Bem, sabemos que Deus é eterno e, portanto,
nunca houve tempo em que não existisse. Contudo, os cultuantes só vieram a existir depois de criados pelo
próprio Deus Criador. Assim, o culto só veio a existir depois da criação dos seres morais anjos e homens (Gn
1:1-31); eles é que são os cultuantes criados para glorificar a Deus (Rm 11:36).

Deus precisa de culto?

Deus já criou os seres morais capacitados e voltados para a vida de culto. Eles foram criados santos e
de coração puro, prontos para o culto (Gn 1:31). Bom, uma coisa é dizer que Deus criou os seres morais para
O cultuarem. Outra bem diferente é dizer que Deus precisa deste culto. A Palavra da Escritura é clara ao
afirmar que Deus em nada depende de nós (Ex 3:13-15; At 17:25), e que não precisa de nosso culto (Sl 50:8-
13; Ml 1:10; Is 1:13-15). Este é um Atributo Divino definido na teologia pelo nome de Independência.
Assim, se Deus não precisa de culto, então, a Sua Vontade Soberana é que determinou aos seres
criados renderem culto ao Criador prestando-lhe glória. Então, a questão não é que Deus precisa de culto,
mas Ele determinou o culto para ser glorificado por suas criaturas. Deus não precisa do culto, mas dele se
agrada (Pv 15:8; Lv 1:9; 17:6; 18:19).

Pode o crente participar de cultos na igreja católica, ou cultos de seitas denominadas “cristãs” (ex:
adventista), ou qualquer outra religião?

A questão a ser verificada para se responder a esta pergunta é: Participar de um culto não cristão é
participar da sua idolatria ou não? Caso concordemos que sim, então resta obedecer ao ensino apostólico
que diz para fugirmos da idolatria (1Co 10:14-22), e não nos associarmos aos demônios. Ora, talvez você
ache um exagero dizer que um culto de uma religião pseudocristã seja oferecido aos demônios! Contudo, se
as doutrinas cridas por determinada religião não podem ser classificadas como genuinamente cristã, então
esta religião só pode ser oferecida aos demônios. Neste mundo ‘ou servimos a Deus ou a um ídolo (seja ele
demônio, dinheiro, filosofia...)’. Assim, por mais que uma determinada religião “pareça correta”, ou “não
muito distante das Escrituras”, se ela não for genuinamente cristã, está servindo a Satanás.
Com relação à pergunta acima, caso você não concorde, e diga que um cristão que esteja presente
num culto pagão não está ‘participando’ dele, então resta saber: O que faz então ali senão participando? Só
pode ser classificado como participante do culto quem faz alguma coisa nele? Somente estar presente entre
os adoradores não faz dele um participante do culto? Ora, visto que nem todos os adoradores são ‘ativos’
nos cultos das religiões é difícil fundamentar-se nesta ideia? Que nome daremos ao ato de alguém fazer-se
presente num culto com o qual não concorda com seu conteúdo, mas ainda assim se faz presente?

24
Ibid., p. 125.

9
Ainda devemos observar que em resposta à Pergunta nº 108 do Catecismo Maior de Westminster,
temos a seguinte afirmação: “Os deveres exigidos no segundo mandamento são [...] o desaprovar, detestar e
opor-se a todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de cada um, o remover tal culto e todos os
símbolos de idolatria.” Comentando a respeito deste texto do Catecismo o teólogo Johannes Geerhardos
Vos, escreveu o seguinte:

É um dos deveres do cristão desaprovar, detestar e opor-se a todo falso culto não apenas por
meio do testemunho teórico ou geral contra ele, mas, pelo testemunho prático contra ele,
isto é, por dissentimento e abstenção de nele participar por questão de consciência, pois
25
responderá a Deus no dia do juízo.”

Assim sendo, é o caso de refletirmos mais sobre a questão de nossa participação nestes cultos
idólatras, independente se dizemos que participamos ativamente ou não deles.
Ora, antes que alguém cite o apóstolo Paulo como exemplo, devemos esclarecer o que ele fazia
durante seu ministério aos judeus e gentios. É bem verdade que Paulo visitava os cultos nas sinagogas e lá
proclamava a salvação em Jesus (At 9:20; 13:5, 14, 15; 14:1; 17:1,2, 10; 17:16, 17; 18:1, 4; 19:1, 8). Ora,
primeiramente deveria ser Cristo levado aos judeus, para depois ser pregado aos gentios. Era sua missão
pregar aos judeus por serem a nação a qual pertencia às promessas (Rm 9:4). Todavia, será que podemos
provar que Deus se agrada que participemos de cultos pagãos (seja lá por qual motivo!!), fundamentados na
prática (não ordenada a nós) de Paulo? E, além disto, vemos por acaso Paulo participando de cultos pagãos
seja motivado por evangelização ou não?

Conceito de Adoração

Para darmos continuação ao nosso estudo ainda devemos estudar outra palavra que está
intimamente relacionada ao culto, e que da mesma forma precisa ser esclarecida. O termo a ser estudado é
adoração. Na Escritura, uma palavra que é muitas vezes traduzida por adoração é ( ) 
“adorar” (Mt 2:2,11; 4:9; 14:33; 28:9,17; Lc 4:7,8; Lc 24:52; Jo 4:20-24; Jo 12:20; At 8:27; At 24:11; 1Co
14:25; Ap 4:10; 5:14; 7:11; 9:20; 11:1, 16; 13:4,12,15; 14:9; 16:2; 19:4,20; 20:4). Analisemos sua definição em
dicionários:

 Léxico do Novo Testamento Grego/Português: “(prostrar-se e) adorar, prostrar-se perante,


reverenciar, receber respeitosamente, dependendo do objeto.”26

 Dicionário do Novo Testamento Grego: “(etm. Ajoelho ou prostro-me em homenagem ou


súplica), faço genuflexão diante de, adoro.”27 (Mt 4:10; Jo 4:20s, 23s; 12:20; At 24:11; 1Co
14:25; Hb 11:21; Ap 4:10; 14:7; 19:4)

Como é claro pelo seu significado, a palavra acima descrita mostra uma atitude de submissão e
respeito. Evidentemente existem outras palavras que poderiam ser igualmente expostas, as quais são
também traduzidas por adoração:

1.  “adorar, honrar a Deus mediante atos de obediência à Sua vontade”.28 (Mt 15:9; At
18:13; 19:27)

2.  “adorar, reverenciar”.29; “mostrar veneração (religiosa)”.30 (Rm 1:25)

25
GEERHARDUS VOS, Johannes. O Catecismo Maior de Westminster Comentado por Johannes Geerhardos Vos. São
Paulo: Os Puritanos, 20002. p. 337.
26
GINGRICH, F. Wilbur; Frederick W. Danker., 2000, p. 179.
27
TAYLOR, William Carey., 1991, p. 126.
28
RIENECKER, Fritz., 1995, p. 34.

10
3.  “adoro; mostro piedade (compaixão)”.31 (At 17:23)

4.  “adoração. A palavra pode ser usada de várias maneiras, mas denota o ato de
adoração, culto.”32 (Cl 2:18); “culto, reverência expressa em atos rituais, religião”.33

Em resumo, “o vocabulário referente à adoração, na Bíblia, é muito extenso, porém o conceito


essencial, tanto no Antigo como no Novo Testamentos, é o de ‘serviço’.”34 E além de serviço, podemos ainda
teologicamente entender que “adorar é sentir um amor profundo, uma vontade de estar junto, de dar
atenção exclusiva e entregar completamente nossa vida a Deus.”35 Adoração não é simplesmente gostar de
algo, ou ter prazer em algo. É realmente um sentimento e uma atitude profunda de reverência, respeito,
entrega e devoção vindos da parte do homem como adorador:

A palavra portuguesa “adoração, adorar” é derivada do latim “adoratione, adorare” e


significa ato de adorar, reverenciar com muito respeito, um ser, render culto a, merecimento,
mérito, dignidade, ou mérito, o reconhecimento outorgado ou devido a essas coisas, prestar
homenagem ou respeito. No mundo religioso, o termo é usado para devoção reverente,
serviço, ou honra prestada a Deus, quer pública quer individual. O edifício da igreja é um
lugar de adoração e as formas de serviço divino, adotado por vários grupos ou congregações
36
cristãs, são formas de adoração.

Outra forma de demonstrar o que é adoração é observando exemplo vivo de adoração genuína
exemplificado na Escritura:

Uma dos mais abençoados e belos exemplos registrados no Novo Testamento do que a
adoração é se encontra em João 12.2,3. “Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e
Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de
unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os
seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento”. Como alguém já disse, “ela não
veio ouvir um sermão, apesar do Príncipe dos Pregadores estar ali. Sentar-se aos Seus pés e
ouvir Sua palavra não era naquele momento seu objetivo, não importa quão abençoador isto
seja em sua devida circunstância. Ela não veio para encontrar os santos, entretanto preciosos
santos estavam ali; nem a comunhão com eles; mesmo sendo uma benção, naquele instante
não era seu objetivo. Ela não procurou, depois de uma semana de trabalho, por descanso;
mesmo sabendo bem dos abençoados campos de descanso que havia nEle. Não, ela veio para
pôr diante dEle aquilo que ela tinha ajuntado por tanto tempo, aquilo que era a mais valiosa
de suas posses terrenas. Ela não pensou como Simão, o leproso, sentado agora como um
homem limpo; ela foi além dos apóstolos; e, então, também, de Marta e Lázaro, irmã e irmão
na carne e em Cristo. O Senhor Jesus preencheu seus pensamentos: Ele havia ganho o
coração de Maria e agora tomou todos os seus sentimentos. Ela não tinha olhos para
ninguém além dEe. Adoração e homenagem eram, naquele momento, seu único pensamento
– extravasar a devoção de seu coração diante dEle”. Isto é adoração... Lemos em Mateus 2

29
Ibid., p. 257.
30
HAUBECK, Wilfrid. Nova chave linguística do novo testamento grego: Mateus – Apoclipse/ Wilfrid Haubeck,
Heinrich von Siebenthal. São Paulo: Targumim: Hagnos, 2009.p. 948.
31
TAYLOR, William Carey., 1991, p. 92.
32
RIENECKER, Fritz., 1995, p. 427.
33
TAYLOR, William Carey., 1991, p. 99.
34
THOMSON, J. G. S.S. Adoração. O Novo dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 35.
35
FILHO, Nilson Mascolli. O Louvor em nossa vida. Disponível em:
<http://www.teuministerio.com.br/BRSPORNDESAGSA/vsItemDisplay.dsp&objectID=7F139730-26F4-495F-
9681DC1DA48D34A7&method=display>. Acessado em: 16 jul. 2008.
36
BROMILEY, G.W. ADORAÇÃO. Enciclopédia da Bíblia/ Vários autores. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.p 102, 103.

11
que os magos levavam seus “tesouros” para presentear a Cristo (v. 11). Eles deram ofertas
caras. Isto é adoração. Não é vir para receber dEle, mas render-se diante dEle. É a expressão
37
de amor do coração.

Como podemos concluir, adoração vai muito além do que um sentimento comum que temos por
qualquer coisa.
Além disto, compreendamos inequivocamente que o homem foi criado como um adorador por
natureza; e tudo que faz na vida é um ato de adoração (Cl 3:17; 1Co 10:31; 1Pe 1:15). Não podemos pensar
que somos adoradores em determinados momentos específicos em nossas vidas. Somos adoradores em
tempo integral. O homem não é adorador por ocasião, mas por natureza. Não há na vida do homem um
único momento fora da relação de adoração. Esta precisa ser a visão quanto a adoração:

A Igreja Primitiva continuou olhando para a adoração como uma atividade diária e constante
(At 2.42-47). Para os primeiros discípulos, como diz Mark Earey, "a adoração não era um
tempo separado na vida diária; ela era a própria vida diária." [...] O próprio apóstolo Paulo
referiu-se mais tarde à vida cristã como um contínuo ato de adoração (Rm 12.1-2). E em
Hebreus temos explícito mandamento quanto à necessidade da adoração pública do povo de
38
Deus (Hb 10.25).

Resumindo, adoração não é um serviço esporádico ou superficial do homem em relação a algo que
ele admira, mas sim, um comportamento de reverência, respeito e admiração, isto é, a entrega do coração
submisso e amoroso ao objeto adorado; esta entrega está acima de qualquer concorrência alheia (seja de
uma coisa ou pessoa). Nas palavras das Escrituras é “amar de todo o coração, de toda a alma, de todo o
entendimento e de toda a força” (Mc 12:30). Algo menos que isso pode ser simplesmente um sentimento
forte por algo, confundido por adoração. Ou então, se o individuo possui mais de um objeto de adoração,
chamamos de politeísmo. É uma atitude contrária àquilo que Deus determinou ao ser humano. É na verdade
um pecado, que, como todos os demais pecados, luta contra o que fomos criados para fazer.

Relação entre Culto e Adoração

É fácil observar que os dois conceitos acima se relacionam intimamente. Estão interligados. Não há
verdadeiro culto sem que o cultuante adore... E não há adorador que não cultue. Paulo, em sua carta aos
Romanos, vai exortar os leitores a que vivam de forma a cultuar a Deus (Rm 12:1-2). Em outras palavras,
toda vida deve ser apresentada como um culto a Deus. A vida do adorador é uma vida de culto ao Senhor.
“O culto devido a Deus pelo povo escolhido não está limitado a certos gestos rituais ou cerimônias religiosas,
mas deve abranger todas as áreas da vida.”39 Vejamos os seguintes comentários do referido texto logo
abaixo:

 Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este
mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Romanos 12:1-2). Nestes versos toda
a vida é considerada como adoração.40

37
PINK, Arthur W. Adoração. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/adoracao/adoracao_pink.htm>.
Acesso em: 18 jun.2013.
38
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão. Disponível em:
<http://portuguese.thirdmill.org/files/portuguese/20851~9_19_01_10-25-
36_AM~refletindo_sobre_a_adoracao.htm.>. Acessado em: 23 jun. 2014.
39
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e Suas Consequências para a Pregação e a Liturgia., 2007.
40
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/adoracao_godfrey.htm>. Acesso em: 24 abr.2013.

12
 Assim como Jesus Cristo precisou ter um corpo para realizar a vontade de Deus na Terra, também
devemos entregar o corpo a Cristo para que possa continuar a obra de Deus por meio de nós.
Devemos entregar os membros de nosso corpo como “instrumentos de justiça” (Rm 6:13) para o
Espírito Santo realizar a obra de Deus. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram sacrifícios mortos,
mas devemos ser sacrifícios vivos...O termo “apresentar”, neste versículo, significa “apresentar de
uma vez por todas”. Ordena uma entrega definitiva do corpo ao Senhor... Paulo apresenta dois
motivos para essa consagração: (1) é a atitude certa diante de tudo que Deus fez por nós – “Rogo-
vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus (ênfase do autor); (2)essa entrega é nosso “culto
racional” ou nossa “adoração espiritual”, o que significa que, quando consagramos nosso corpo ao
Senhor, cada dia é uma experiência de adoração.41

 Literalmente, Paulo exorta os destinatários a oferecerem a Deus o corpo como sacrifício. Entretanto,
que num contexto como este a palavra corpo se refere à personalidade por inteiro é óbvio à luz de
6:11-4; ver também Filipenses 1:20...O apóstolo acrescenta: “que é seu... culto”... Paulo está
pensando na ação de cultuar, a consagração irrestrita do coração, mente, vontade, palavras e atos,
de fato em tudo o que uma pessoa é, tem e faz para Deus. Nada menos!42

 A totalidade da misericórdia divina chama pela nossa totalidade. Isso é expressado aqui de forma
única: Rogo-vos… que apresenteis o vosso corpo por sacrifício. Não há dúvida de que Paulo fala
numa ilustração, mais precisamente evocando os cultos no templo, nos quais se colocavam “corpos”
sobre o altar (Hb 13.11). Imediatamente, porém, Paulo deixa claros os limites dessa figura. Agora
não se trata de corpos de animais, mas sim de “vosso corpo”, e não se trata de cadáveres, mas de
sacrifício vivo... Se levarmos em consideração a continuação no v. 2 e em todo o capítulo, Paulo não
está convidando para o martírio. Mas, ao exortar à entrega do corpo, está dando uma ênfase
peculiar. Se ele se limitasse à exclamação genérica de Rm 6.11: “Vivam para Deus!”, com facilidade a
entrega poderia voltar-se unilateralmente para dentro, assumindo um aspecto só interior, racional,
religioso, místico – sem significado sério para a prática... “Corpo” diferencia-se do membro
individual como sendo o abrangente. Por isso, o que Paulo vislumbra não é o culto delimitado,
restrito a uma hora, a um recinto, a um só estado sentimental. No NT os encontros isolados de
cristãos nunca são chamados de “cultos”, uma vez que são nada mais que parcelas de um culto a
Deus que abarca a vida inteira.43

Assim, podemos afirmar que a vida do homem é completamente formada de comportamento


adorador, e simultaneamente um constante culto a Deus. Não existem “momentos de adoração num culto”,
mas o infinito culto de adoração a Deus com a vida.

41
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume I. Santo André: Geográfia editora,
2006. p. 724.
42
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento - Romanos. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 527.
43
POHL, Adolf. Carta aos Romanos – Comentário Esperança. 1ª ed. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1999.

13
CAPÍTULO II
TIPOS DE CULTO

Como foi observado no capitulo anterior, a vida como um todo, em cada procedimento, deve ser
vivida como um culto ao Senhor Jesus Cristo. Assim, não podemos estar consagrados, respeitosos e
reverentes a Deus no templo, e viver de qualquer modo fora do momento de culto no templo. Nós somos o
templo (1Co 6:19), nós somos um constante culto.
Ainda assim, é necessário lembrar que a Bíblia não somente fala de culto no templo. Este é somente
o culto mais referido por nós costumeiramente. Existem outros tipos de culto (ou adoração) que podemos e
deveremos tratar neste estudo. Os tipos de culto que os reformados44 admitem existir são: O culto
individual, o culto doméstico e o culto público. Ou, como diz Jerry Marcellino, a “tríplice adoração a Deus:
adoração particular, familiar e pública.”45
Como já afirmamos anteriormente, a vida completa do indivíduo deve ser um culto a Deus, uma
constante adoração ao Senhor. Todavia, isto não exclui a possibilidade de podermos realizar momentos de
adoração mais ritual, específica e devocional. É aí que encontramos os três tipos de culto referidos acima. A
vida oferecida como um culto a Deus não elimina o ato de culto em si mesmo; antes, o ato de culto completa
a vida de culto. Um não contradiz o outro, mas são facetas da total vida de adorador. É bem verdade que
entre a vida como comportamento (qualquer ato que façamos), e o culto como um momento específico da
vida (momento mais ritual ou devocional), nós encontramos algumas diferenças. Nestes momentos mais
rituais (culto), nós temos uma ênfase em dois aspectos: edificação e exaltação. Enquanto que, no restante
de nossa vida, encontramos a prática da nossa fé (que também exalta a Deus é claro!).
Vejamos um exemplo prático para esclarecimento: num culto familiar eu posso cantar junto com
meus parentes, mas seria impensável que no meio do culto familiar eu dissesse: “agora chegou a hora de
glorificar a Deus limpando a casa”... E em seguida voltasse para continuar o culto familiar”. Ora, como bem
sabemos, a partir do momento em que vamos varrer, houve uma quebra do momento específico do culto
familiar. Por que? Porque apesar de varrer uma casa seja para glória de Deus fazendo parte de minha vida
de adoração ao Senhor (1Co 10:31; Cl 3:17), não constitui parte do culto familiar. E qual a diferença? A
diferença é que no culto familiar nós estamos sendo edificados e exaltamos a Deus. Em outros momentos da
vida, seja o que for que nós fizermos, estaremos exaltando a Deus, por estarmos consagrados a Ele.
Além disto, nos três tipos de culto referidos acima (individual, familiar e público) temos certa
“liturgia a seguir”, certo “conteúdo específico de culto”. Veremos mais adiante em nosso estudo que existem
certos elementos de culto definidos pelo próprio Deus, os quais se tornam meios de graça para nossa
edificação. Enquanto que no restante de nossa vida nós estamos adorando a Deus de modo totalmente livre
e informal46; adorando-O com quaisquer atos praticados por nós a quaisquer tempo e lugar.
Bem, tendo esclarecido estas pequenas diferenças, podemos agora passar adiante observando que
esta distinção de tipos de culto é ao mesmo tempo antiga e comumente aceita pelos reformados. Elas
podem ser claramente vistas, por exemplo, na conhecida Confissão reformada produzida entre 1643 e 1649
- A Confissão de Fé de Westminster. Em seu Capitulo XXI, Seção VI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO
esta Confissão afirma:

“Agora, sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito
a um certo lugar, nem se torna mais aceitável por causa do lugar em que se ofereça ou para o
qual se dirija (Jo 4:21); mas Deus deve ser adorado em todo o lugar (Ml 1:11; 1Tm 2:8), em
espírito e verdade (Jo 4:23,24), tanto em família (Jr 10:25; Dt 6:6,7; Jó 1:5; 2Sm 6:18,20; 1Pe

44
Reformados é uma designação àqueles que concordam com as doutrinas do reformador João Calvino.
45
MARCELLINO, Jerry. Redescobrindo o Tesouro Perdido do Culto Familiar. 1ª ed. São José dos Campos: Editora FIEL,
2004. p. 12.
46
Com a expressão livre e informal não estamos querendo dizer sem parâmetros, pois a Palavra de Deus sempre nos
será o parâmetro para todos os atos na vida. O que queremos dizer é que no cotidiano não utilizamos de nenhuma
liturgia, ou ritual, ou elementos de culto, para realizarmos nossos atos de adoração.

14
3:7; At 10:2), diariamente (Mt 6:11), e em secreto, estando cada um sozinho (Mt 6:6; Ef 6:18),
como também, mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser descuidadas,
nem voluntariamente negligenciadas ou desprezadas, sempre que Deus, pela sua
providência, proporciona ocasião (Is 56:6,7; Hb 10:25; Pv 1:20,21,24; Pv 8:34; At 13:42; Lc
47
4:16: At 2:42).”

Seguindo os mesmos passos de distinção cúltica, a Igreja Presbiteriana do Brasil, que é uma igreja
reformada, no Manual utilizado por ela (Manual Presbiteriano), em seus PRINCÍPIOS DE LITURGIA tem as
seguintes declarações:

 CAPÍTULO III, CULTO PÚBLICO: Art. 7 - O culto público é um ato religioso, através do qual o povo de
Deus adora o Senhor, entrando em comunhão com Ele, fazendo-lhe confissão de pecados e
buscando, pela mediação de Jesus Cristo, o perdão, a santificação da vida e o crescimento espiritual.
É ocasião oportuna para proclamação da mensagem redentora do Evangelho de Cristo e para
doutrinação e congraçamento dos crentes.

 CAPÍTULO IV, CULTO INDIVIDUAL E DOMÉSTICO: Art. 9 - No culto individual o crente entra em
íntima comunhão pessoal com Deus; Art. 10 - Culto doméstico é o ato pelo qual os membros de uma
família crente se reúnem diariamente, em hora apropriada, para leitura da Palavra de Deus,
meditação, oração e cânticos de louvor. 48

Evidentemente você pode dizer que já ouviu falar de mais “tipos de culto” em sua jornada cristã,
como por exemplo: culto de evangelização, culto de oração, culto de doutrina, culto de ação de graças, culto
de formatura... etc. Na verdade estas nomenclaturas são apenas distinções humanas referindo-se
aparentemente à razão daquele culto, ou ao propósito dele. No entanto, biblicamente falando, qualquer
culto é de adoração a Deus Pai, por meio do Deus Filho, no poder do Deus Espírito Santo. Seja ele
Individual, Doméstico ou Público. Se você reparar nestes exemplos dados a acima, perceberá que todos são
cultos públicos, simplesmente, com “nomes diferentes”. Mas o tipo de culto é o mesmo. Quanto pudermos,
é bom evitar a criação e a permanência destes títulos de culto que não encontram fundamento na Escritura,
a fim de que o crente possa entender melhor que só existe culto para adorar a Deus.
Enfim, continuaremos nosso estudo falando de cada um destes três tipos de culto (ou tipos de
adoração). E após ter esclarecido suas diferenças e importância, focaremos nosso trabalho no tratamento do
Culto Público, que é o propósito principal desta obra.

Culto Individual

O culto individual é o exercício devocional que o indivíduo faz em dado momento de sua vida
particular. É um culto ao Senhor realizado pelo crente de maneira reservada. Como já dissemos
anteriormente, não é qualquer coisa que ele faça, pois sabemos que a vida como um todo é um culto a Deus.
Mas o culto individual é um “momento a Sós com Deus” onde o indivíduo busca a presença do Senhor para
uma comunhão maior. A diferença entre este culto e os demais é a ênfase na privacidade do indivíduo. Ele
adora a Deus sozinho; e sozinho ouve a voz de Seu mestre (Mt 6:6; 4:2; 14:23; 26:36-39; Ef 6:18; Dn 6:10; At
16:25; 8:27, 28; 9:11).
Este tipo de culto é o mais simples de realizar, visto que não dependemos de outras pessoas, e
poderemos realizar no momento e local de nossa preferência. Igualmente poderemos seguir uma “liturgia
mais livre” onde eu sou o próprio dirigente e faço-o da forma como quero. Por exemplo, se quiser demorar
duas horas orando, eu posso. Todavia, não poderia ter esta liberdade nos outros tipos de culto. Ou se quiser,
poderei ler toda uma pequena carta de Paulo. Talvez não consiga isto nos demais tipos de culto.

47
A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 115.
48
Manual Presbiteriano – com notas remissivas. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p. 124, 125.

15
Todavia, apesar de simples e solitário, o culto individual é tão importante para o cristão que chega
até mesmo ser considerado como o mais importante de todos dos três tipos de culto. Nas palavras de Jerry
Marcellino: “Somente a adoração particular a Deus, que é o ponto inicial e o fundamento de tudo o que
fazemos como crentes, nos prepara para influenciar nossa família.”49 Assim, para um bom culto doméstico é
preciso uma boa vida de culto individual que me prepara para tal.
Da mesma forma, para um bom andamento do culto público, é necessário que haja práticas
devocionais anteriores que firmem meus passos, a fim de não fazer do culto público um simples
ajuntamento solene hipócrita. Tanto é assim, que Deus ordena e incentiva os dois para o cristão:

A adoração é uma atividade privada e corporativa. As duas coisas não são mutuamente
exclusivas, mas recebem ênfase semelhante nas Escrituras (Mt 6.6 e Hb 10.25). A salvação é
individual, mas não nos confina ao individualismo nem ao isolamento. Como disse Matthew
Henry: "A adoração pública não nos dispensa da adoração privada." O culto público é apenas
50
uma porção da nossa vida de adoração.

Resumindo, o culto individual traz benefícios que não podem ser ignorados. O culto individual é um
momento de devoção e edificação para o servo de Deus. Desprezá-lo, é negligenciar oportunidade de
investir mais em uma vida cristã próspera e saudável.

Culto Doméstico

Creio que é desejo de todo verdadeiro cristão ver a Igreja de Jesus crescer e ser forte. Porém, uma
coisa é desejar que isto seja realidade, outra bem diferente é ser parte neste processo contra Satanás e o
mundo. Muitos estão dispostos a aprovar a ideia de uma igreja forte, mas grande parte despreza os meios
que podem ser utilizados para que tal ocorra.
Como vimos anteriormente, a realização de um momento devocional com Deus num culto particular
(individual) é de grande importância para a saúde do crente. Contudo, não possuímos somente este recurso
para o crescimento espiritual em nossa vida. Além de um momento a sós com Deus nós podemos ter um
culto ao Senhor com nossa família. Ou seja, um culto doméstico, onde os membros da família são os
adoradores.
A teologia reformada sempre foi favorável à existência do culto doméstico nas famílias cristãs com
fins de crescimento espiritual. Ora, vemos a posição reformada quanto ao culto doméstico claramente na
Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, seção VI,
onde fala sobre o culto entre os familiares (Jr 10:25; Dt 6:6,7; Jó 1:5; 2Sm 6:18,20; 1Pe 3:7; At 10:2). Porém,
observando acuradamente, a prática de muitas igrejas não condiz com esta declaração. “Toda igreja deseja
ter crescimento. No entanto, é surpreendente como poucas delas buscam promover isso por meio de uma
ênfase na necessidade de se criar os filhos na verdade da aliança.”51 O culto particular pode até ser que
exista na vida do marido e/ou da esposa, mas em muitos lares o culto doméstico não é realizado. “Em
muitas igrejas e lares, ele é algo opcional ou, no máximo, uma prática superficial, como uma breve oração de
agradecimento antes das refeições. Consequentemente, muitas crianças crescem sem nenhuma experiência
ou impressão da fé cristã e da adoração como uma realidade diária.”52 Assim, certamente que a prática das
igrejas não está condizendo com a teologia adotada.
Ora, falamos da importância do culto doméstico (culto familiar). Mas precisamos entrar em
pormenores e esclarecer o que é o culto doméstico e no que ele consiste. O culto familiar ou doméstico, é

49
MARCELLINO, Jerry. Redescobrindo o Tesouro Perdido do Culto Familiar., 2004, p. 12.
50
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão., 2014.
51
BEEKE, Joel. Adoração do Lar. 1ª ed. São José dos Campos: Editora FIEL, 2012. p. 9.
52
Ibid., p. 10.

16
o exercício de devocional de culto realizado por membros de uma família em conjunto, em um
determinado momento do dia. Ele “consiste de oração, leitura da Escritura e o cântico de louvores”.53
Evidentemente que, num mundo ativista como hoje, falar de um período de tempo para juntar os
familiares e realizar um culto doméstico soa como uma “missão impossível”. Mas devemos batalhar para a
sua realização devido à importância que este culto tem para a saúde familiar. Ora, os chefes de família são
os responsáveis pelo crescimento espiritual das suas famílias (Ef 5:25-27; 6:1-4). Assim, coube a “Deus exigir
que os chefes de família façam tudo quanto puderem para guiar suas famílias na adoração ao Deus vivo.
Josué 24.14-15.”54 Um destes meios pode ser o culto doméstico. No dizer de Douglas Kelly: “O chefe de cada
família deve representá-la no culto de adoração a Deus; e também que, o ambiente espiritual e o bem-estar
pessoal daquela família, a longo prazo, será afetado grandemente pela fidelidade — ou fracasso — do
cabeça da família nessa questão.”55 Mesmo que o Pai seja fiel ao Senhor particularmente, deve lutar para
que sua família assim o seja de igual forma. Realizar o culto doméstico é um modo de lutar pela saúde
espiritual de sua esposa e filhos. É lutar pelo seu lar:

O culto doméstico é o fator que determina como as coisas andam no lar. É claro que o culto
doméstico não é o único fator determinante para isso. Ele não substitui outras obrigações
paternas. O culto doméstico sem o bom exemplo dos pais é fútil. O ensino espontâneo que
surge ao longo de um dia comum é crucial. Todavia, separar momentos para o culto
56
doméstico também é importante.

Pensemos da seguinte forma: Se nosso momento a sós com Deus em nosso culto individual é
prazeroso, edificante e fortificante à alma, porque não levar isto aos nossos familiares? Devemos nos
lembrar que nossos filhos ainda estão sob nossa direção e responsabilidade. Eles não estão “por si mesmos”,
mas vive sob nossa proteção paternal. Assim, tudo que fizermos para ajudá-los no crescimento espiritual é
bem-vindo. O culto doméstico se propõe a realizar parte desta tarefa de educar a vida espiritual dos filhos:

Proporciona um maior conhecimento das Escrituras e crescimento na piedade individual,


tanto a vocês quanto a seus filhos. Ele fomenta a sabedoria de como enfrentar a vida, a
abertura para falar de questões relevantes e o relacionamento mais estreito entre pais e
filhos. Os fortes laços estabelecidos no culto doméstico em seus anos iniciais podem ser de
grande ajuda para os adolescentes nos anos por vir. Esses adolescentes podem ser poupados
57
de muitos pecados ao se recordarem das orações em família.

Apesar de parecer claro e convincente, a realidade nos mostra que muitas famílias cristãs não
aderem ainda à prática do culto doméstico. Muitas razões poderiam ser apresentadas aqui. Como bem
sabemos, se alguém não quer algo, muitas “supostas justificativas” podem ser apresentadas. Deste modo,
não podemos num só trabalho apresentar todas elas. Porém, isto não impede de podermos apresentar
algumas objeções que são bem comuns. Observemos abaixo algumas objeções e as respectivas respostas a
elas apresentadas pelo escritor Joel Beeke:

1º objeção: Não há uma hora exata em que todos nós podemos estar juntos.

Se vocês têm horários conflitantes, principalmente quando os filhos mais velhos estão na
faculdade, você deve fazer o melhor que puder. Não cancele o culto doméstico se algum dos
filhos não estiver em casa. Realize o culto doméstico quando a maioria dos membros da

53
BEEKE, Joel. O Culto Doméstico. Disponível em:<http://musicaeadoracao.com.br/19915/o-culto-domestico/>. Acesso
em: 16 maio 2013.
54
BEEKE, Joel. op.cit., p. 19.
55
Ibid., p. 23.
56
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012, p. 11, 12.
57
BEEKE, Joel. O Culto Doméstico., 2013.

17
família estiver presente. Caso surjam conflitos de horários, mude ou cancele a atividade que
estiver ameaçando o culto doméstico, se possível. O culto doméstico deve ser um
acontecimento inegociável. Os negócios, passatempos, esportes e atividades escolares são
58
secundários se comparados a ele.

2º objeção: Nossa família é muito diversificada para que todos sejam beneficiados com isso.

Tenha um plano que abranja todas as idades. Leia um trecho de um livro de histórias bíblicas
para os pequeninos por alguns minutos. Faça a aplicação de um provérbio para as crianças
mais velhas e leia uma ou duas páginas de um livro para adolescentes. Um plano sábio pode
superar qualquer diversidade de idade. Além disso, essa variedade de idades dos filhos afeta
diretamente apenas um terço do culto doméstico, mas não afeta o momento de orações e de
cânticos. Todas as faixas etárias podem cantar e orar juntas. Lembre-se também de que, a
instrução bíblica não se aplica de forma direta a todos os presentes. À medida que você
ensina os adolescentes, as crianças estão aprendendo a ficar sentadas. Entretanto, não
mantenha a discussão por um período prolongado ou todos acabarão perdendo o interesse.
Se os adolescentes quiserem continuar a discussão, retome o assunto depois de encerrar o
culto com uma oração e dispensar os mais novos. Semelhantemente, enquanto você estiver
ensinando os filhos mais novos, os adolescentes estarão prestando atenção. Eles também
estarão aprendendo, pelo seu exemplo, como ensinar as crianças menores. Quando se
59
casarem e tiverem filhos, eles se lembrarão de como você conduzia o culto doméstico.

3º objeção: Nossa família não tem tempo para isso.

Se você tiver tempo para lazer e divertimentos, mas não para o culto doméstico, pense em
2Timóteo 3.4-5, que nos adverte sobre pessoas que amam mais os prazeres do que a Deus,
os quais têm forma de piedade, mas negam o poder que ela tem. Separar um tempo das
60
atividades familiares e dos negócios para buscar a bênção de Deus nunca é perder tempo.

4º objeção: Nossa família é muito pequena.

Richard Baxter afirmou que, para formar uma família, você só precisa de alguém que governe
61
e de alguém para ser governado. Você só precisa de duas pessoas para o culto doméstico.

Ainda que possamos convencer alguns da importância do culto doméstico, é bem provável que ainda
afirmem: “eu não sei fazê-lo!” Bom, se o convencemos da importância do culto, como realizá-lo será mais
fácil de responder. Será que iremos deixar de fazer algo benéfico à nossa família por que “não sabemos
fazer?!” É óbvio que não! Nas palavras de Joel Beeke: “Peça orientação de pastores e pais tementes a Deus.
Pergunte se eles poderiam visitar sua casa e mostrar-lhe como conduzir o culto doméstico ou observar a
forma como você o faz e dar sugestões. Terceiro, apenas comece... Sua habilidade aumentará com a
prática.”62
É bem verdade que muitos cristãos brasileiros não estão bem equipados para fazer uma explanação
de um texto bíblico aos seus familiares. Todavia, isto não é motivo para desânimo ou desistência em realizar
o culto doméstico. Se o chefe de família não tem esta habilidade, nada impede de buscar outras fontes que o
ajudem neste aspecto. “Muitos puritanos dentre o povo tomavam notas dos sermões e os pais

58
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012. p. 57.
59
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012, p. 58.
60
Ibid., p. 55, 56.
61
Ibid., p. 57.
62
Ibid., p. 60.

18
frequentemente, de posse das anotações, usavam-nas nas atividades de adoração junto aos familiares. Se
tinham crianças de mais ou menos 10 anos repassavam o sermão no nível de entendimento desta idade.”63
Em resumo, o culto doméstico é um instrumento que pode fortalecer a família nos caminhos do
Senhor, auxiliando o cabeça da família no cumprimento da ordem do Senhor (Js 24:15 ; Dt 6: 1-9; Ef 6:1-4). E
visto que é útil para todos, então que todos valorizem este culto; mas principalmente os homens, líderes do
lar:

Guarde cuidadosamente esse momento de culto doméstico. Se você souber com


antecedência que o período habitual não será adequado num determinado dia, reprograme o
tempo de culto. Entretanto, não deixe de realizá-lo, pois isso pode se tornar habitual. Quando
puder manter o horário determinado, planeje cuidadosamente e prepare-se com
antecedência, para que cada minuto seja valioso. Enfrente todos os inimigos do culto
64
doméstico.

Infelizmente podemos constatar que muitas famílias estão orando por seus filhos, mas não lhes
ensinam a Palavra. É uma atitude estranha, visto que a Bíblia manda por diversas ocasiões ensinar os filhos a
Sua palavra (Ex 12:25-27; Pv 22:6; Ef 6:4; Sl 78:1-5), mas no entanto, não encontramos um só versículo
mandando explicitamente orar por eles. Não que devemos parar de orar por nossos filhos, mas esta não é a
ênfase no ensino da Palavra a nós dirigida. O culto doméstico se propõe a cumprir o mandamento explícito
do Senhor de ensinar a Escrituras a novas gerações.

Culto Público

Tendo falado do culto individual, e do culto doméstico, cabe a nós agora nos voltar para o culto
público. Como poderemos perceber nitidamente, os tipos de culto vão se diferenciando em número de
participantes, e em exigências litúrgicas. Biblicamente você vai encontrar mais referências aos cultos
públicos oferecidos a Deus do que a respeito dos outros tipos de culto. Porém, mesmo com diversas
referências, não podemos supervalorizar o culto público a ponto de esquecer o valor da vida de adoração.
Como havemos falado anteriormente, tornamos a repetir, “O culto público é apenas uma porção da nossa
vida de adoração.”65
Antes de continuarmos a falar do terceiro tipo de culto, conheçamos alguns conceitos referentes ao
culto público, a fim de compreender melhor este serviço de adoração:

 Culto é a reunião do Povo de Deus, com o Seu Deus, onde: o povo se apresenta diante do seu
Criador-Redentor e oferece adoração, e Deus recebe nossa solenidade falando-nos viva e
profundamente através da exposição fiel de sua Palavra. Dr. Valdeci dos Santos afirma que “... o
culto cristão é a dedicação de nós mesmos a Deus com aceitação de sua paternidade, soberania e
misericórdia, e exultante reconhecimento de sua glória, majestade e graça. O culto cristão é
prestado espiritualmente, com o auxílio do Espírito Santo; tem Jesus Cristo como único mediador, e
baseia-se no conhecimento verdadeiro de Deus”.66

63
BEEKE, Joel. Os Puritanos e a adoração. Disponível em:
<http://ospuritanos.blogspot.com.br/search/label/Os%20Puritanos%20e%20a%20Adora%C3%A7%C3%A3o>. Acessado
em: 25 jun. 2013.
64
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012, p. 36.
65
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão., 2008.
66
MACEDO, Jônatas Abdias de. Liturgia Hoje – Entre a Liturgia Moderna e a Teologia Litúrgica da Reforma. Disponível
em: <http://www.monergismo.com/textos/liturgia/liturgia_jonatas.htm>.Acesso em: 02 ago.2008.

19
 O culto público é o meio pelo qual a igreja manifesta de forma mais notável o conteúdo da sua fé. É
também o momento em que, reunida, oferece a Deus uma resposta àquilo que sabe que ele é e tem
feito. Isso tudo faz do culto uma das facetas mais importantes do viver cristão.67

 O culto cristão pode ser definido como a atitude interior de adoração a Deus, bem como a expressão
exterior da mesma em palavras e atos individuais e comunitários. Portanto, o culto tem duas
dimensões: uma interior e outra exterior; além disso, pode ser individual e corporativo (culto
público).68

 O termo “culto” denota basicamente dois possíveis significados inter-relacionados: 1) Adoração ou


homenagem a uma divindade. 2) Ritual ou liturgia; ou seja, o modo de exteriorizar esta adoração. A
primeira significação refere-se à natureza do culto propriamente dito, enquanto a segunda traduz a
formalização.69

Tendo visto tais conceituações, podemos agora partir para nossa conceituação: culto público é o
exercício devocional de culto prestado a Deus pelo povo de Deus em assembleia. Deve-se chamar atenção
nesta conceituação para o fato de que muitos cristãos pensam que vão para a igreja assistir o culto. “Não
vamos à Igreja para "assistir" o culto, quem assiste o culto é Deus, nós vamos prestar (ou dar) culto, vamos
para adorar a Deus.” 70
Ora, se no culto individual o crente adora, no culto doméstico a família adora, como poderia no culto
público os crentes somente assistirem o culto? Nele, igualmente, o povo adora. O povo é participativo no
culto. Lembremos da conceituação de culto exposta anteriormente por nós: Culto é um serviço de adoração
prestado a Deus de modo a reverenciá-lO e homenageá-lO. Se culto é um serviço, já não é “assistir”, mas
“agir, servir”. O que encontramos de maior diferença em relação aos cultos individual e doméstico, é que
existem mais preceituações a seu respeito.

Culto Público Infantil

Em nossa cultura brasileira tornou-se costume muitas igrejas organizarem um “culto paralelo” onde
as crianças participam em local diferente dos adultos. Geralmente este momento ocorre na hora da
pregação. Ou seja, as crianças participam da liturgia com todos os membros, mas na hora da pregação são
retiradas a um local à parte a fim de serem instruídas conforme suas idades. Entretanto devemos nos
perguntar: Será que esta reunião, às vezes denominada de “culto infantil” tem o apoio das Escrituras? Deus
ordena isto em Sua Palavra?
Como vimos acima, o culto público deve ser oferecido pelo povo de Deus. E quem é o povo de Deus?
Todos aqueles que aceitaram Jesus pela fé se tornaram povo de Deus (1Pe 2:7, 10). Em contrapartida, todos
os filhos dos crentes são também parte do povo da aliança (1Co 7:14; Gn 17:10-13). Então, “como regra, os
filhos da aliança devem estar presentes com a congregação no culto. Eles fazem parte do corpo unido e por
isso devem fazer parte do culto unido. Isso faz parte da essência de quem eles são como filhos do pacto”.71 E
apesar do não conhecimento de muitos, existe textos nas Escrituras que comprovam a participação dos
menores no culto público a Deus (2Crônicas 20:13; Josué 8:35; Joel 2:15). Deste modo, “obviamente,

67
GRANCONATO, Marcos. A Confissão de Fé de Westminster' e o 'Princípio Regulador do Culto. Disponível em:
<http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_content&view=article&id=52:a-confissao-de-fe-de-
westminster-e-o-principio-regulador-do-culto-pr-marcos-granconato&catid=19:monografias-txt&Itemid=111>.
Acessado em: 16 maio 2013.
68
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e Suas Consequências para a Pregação e a Liturgia., 2007.
69
MARTINEZ, João Flávio. Cultos aberrantes. Disponível em: <http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-
BR&article=935&menu=7&submenu=4>.Acesso em: 24 fev.2008.
70
CAMPELO, Walter Andrade. A Música na Igreja de Cristo. Disponível em:
<http://www.luz.eti.br/es_amusicanaigreja.html>.Acesso em: 26 jan.2013.
71
BOOTH, Robert. As Crianças Pequenas e o Culto a Deus. Ano XIII, Nº IV, 2005. Recife: Os Puritanos, 2013. p. 4.

20
crianças pequenas devem fazer parte do culto. Elas estão prontas para participar junto com a congregação
tão logo os pais assumam a responsabilidade de ensinar, treinar e disciplinar seus filhos para o culto.”72
O chamado culto infantil não tem base bíblica, pelo contrário, contradiz com os textos que ensinam
a presença dos infantes no culto público. Além do mais, as justificativas apresentadas para se realizar o tal
culto infantil estão fundamentadas em argumentos fracos e não bíblicos, os quais não abordaremos nesta
obra.
O fato é que os pais devem manter seus filhos no culto público com os adultos e não aderir a esta
metodologia cúltica para crianças. Além do mais, não devem esquecer-se de que não basta trazer os filhos
para o culto público, mas deve ensiná-los a participar dele. A participação das crianças no culto não é
simplesmente uma obediência legalista, mais um meio de elas participarem da adoração e aprenderem a ser
adoradoras:

Quando crianças são trazidas ao culto é essencial que os pais estejam conscientes do fato de
que não basta que simplesmente elas estejam presente, mas também que elas devem ser
treinadas no modo apropriado de cultuar. As crianças devem ser ensinadas a sentar e
permanecer quietas em respeito a seus pais e aos outros, e devem também aprender que a
razão disso é a honra e a adoração a Deus. Os pais, da mesma forma, têm uma obrigação
para com os outros adoradores e para com o próprio Deus em não permitir que seus filhos se
distraiam no culto. É responsabilidade dos pais ensinar, disciplinar e manter controle de seus
filhos no culto. O objetivo é treinar as crianças a exercer autocontrole e aprender como
adorar. Os pais devem estabelecer de forma clara as regras de comportamento para suas
73
crianças, assim como ajudá-las a entender a razão por que elas estão no culto.

Evidentemente que nem sempre isto é fácil de ser realizado. Há crianças que são muito pequenas e
dão algum trabalho extra para os pais. Contudo, isto não é justificativa para desistência em trazer crianças
ao culto público. O escritor Robert Booth, ao falar sobre a participação de crianças no culto público, faz o
seguinte comentário:

Pais com crianças muito pequenas, ou aqueles com filhos no processo de serem treinadas,
deveriam sentar próximo à porta e estar preparadas para discretamente sair do santuário, se
seus filhos começarem a chorar, ou, do contrário, distrairão os outros. Um choramingo ou
acalento ocasional é normal e geralmente não requer muito mais que pegar a criança e
embalá-la ou dar-lhe palmadinhas nas costas. Contudo, se isso não for o suficiente para
sossegar a criança, os pais devem, por cortesia e respeito pelos outros e pelo culto, retirar
seu filho da assembleia até que ele tenha sido acalmado. Crianças que estão começando a
andar são um desafio diferente para os pais. A esta altura elas deveriam estar treinadas a
entender o que a palavra “não” significa e deve-se esperar que permaneçam sentadas
durante o culto tranquilamente. Se fracassarem em fazer assim, então elas devem ser
tratadas como em qualquer outra desobediência obstinada (i.e., pecado) e a disciplina
apropriada deve ser aplicada. Todos nós entendemos que elas são “crianças pequenas”, mas
lembre-se, nossa responsabilidade como pais é trazê-las à maturidade ensinando-as o que
devemos e insistindo que elas obedeçam. Se uma criança está geniosa porque esteve doente,
ou está nascendo dente, ou tem alguma outra razão legítima para não se sentir bem, então,
talvez, não seja adequado que ela esteja presente com a congregação nesse dia. Entretanto,
74
mesmo cansada ou doente as crianças não devem ser permitidas que pequem.

E mesmo nos casos de crianças muito pequenas, ou casos excepcionais, o culto ainda pode ser o
lugar adequado para elas tomando-se, é claro, algumas providências. É o que nos orienta o escritor Randy
Booth:

72
Ibid., p. 6.
73
Ibid., p. 5.
74
BOOTH, Robert. As Crianças Pequenas e o Culto a Deus., 2013, p. 5.

21
Membros amigos na igreja ou parentes podem ser chamados para auxiliar nessa tarefa de
ajudar com as crianças durante o culto, especialmente quando há muitas crianças para
cuidar.[...] Os diáconos devem assegurar que os assentos próximos à porta do santuário
permaneçam disponíveis para pais com crianças pequenas a fim de facilitar melhor uma saída
necessária.[...] Os diáconos, onde for possível, poderiam providenciar uma “sala do choro”
para mães e seus filhos. Essa sala poderia ser equipada com som, vídeo ou um vidro com
película espelhada de modo que as mães possam ainda receber alguma porção do culto, se
elas precisarem sair temporariamente.[...] Uma lista de voluntários para trabalhar no
berçário deveria ser mantida em caso de necessidades especiais, especialmente para
visitantes cujas crianças possam não ficar sob controle ou não estar preparadas para
75
permanecer sentadas durante o culto.

75
Ibid., p. 6.

22
CAPÍTULO III
O PROPÓSITO DO CULTO

Como bem sabemos, um aspecto muito importante que devemos levar em consideração em nossa
discussão a respeito de culto é o seu propósito. Saber os tipos de culto, seu conceito e, contudo, não
compreender seu propósito, é caminhar somente parte do caminho. Quanto ao culto público, por exemplo,
é preciso considerar que “vir ao culto sem saber por quê, sem cuidar como adorar, não é só deixar de
beneficiar-se da experiência, mas, de fato, é distanciar-se ainda mais de Deus.”76 O que devemos fazer no
culto público, e como fazê-lo, nós estudaremos mais adiante. Por agora estudaremos por que devemos
cultuar... Conhecer qual o propósito deste serviço específico de adoração.
Caso observemos a prática moderna que tem sido muito difundida no Brasil de hoje entre os
evangélicos, as pessoas vão para o culto público por muitos motivos não bíblicos. Uns vão para ganhar
dinheiro, outros para procurar profecias que o guiem, outros para tirar os “entraves que satanás tenha posto
em sua vida”... E por aí vão os motivos mais estranhos e contrários à Escritura que possamos imaginar. Não
nos deteremos em argumentar sobre todos eles, visto que seria insuficiente, já que todo dia surgem novos
motivos errados para cultuar, e nossa argumentação não teria fim. Nos esforçaremos em falar acerca de
somente dois erros muito comuns: o culto com o objetivo de satisfazer o homem, e o culto para evangelizar
os ímpios.
Quanto ao primeiro caso, o culto para satisfazer o ser humano, é impressionante como o adorador
“trocou as bolas” e faz de Deus o servente, e o adorador o servido. O adorador (o homem) se tornou o
centro do culto. Tudo que acontece no culto deve satisfazê-lo, ou ser feito em função dele. Isto tem
acontecido largamente nas igrejas brasileiras. Na verdade devo afirmar que quase todo propósito para o
culto que não condiz com o propósito divino, cai no erro de procurar agradar a homens.
Um exemplo disto é o que muitos fazem por aí, arquitetando, modificando, inovando o culto a fim
de fazer o ouvinte (ou membro da igreja) se “sentir bem” na adoração. “Este não é o propósito da adoração
e do louvor, mas sim uma consequência.”77 As pessoas têm buscado o culto não para oferecer serviço de
adoração, mas para ser servido durante a adoração; Serem abençoadas, e terem satisfeitos suas
necessidades. Como bem explica o teólogo e pastor Valdeci dos Santos:

Como filhos desta nossa geração, exigimos que cada momento do culto venha satisfazer
nossas necessidades. Neste contexto, o culto foi transformado em um "programa" e o desejo
de se obter "felicidade" é certamente maior do que o de se obter "santidade... Julgamos o
culto como "agradável," não com base na instrução bíblica apresentada, mas no grau de
"satisfação" pessoal alcançada... Temos que concordar com Mark Earey que o grande perigo
78
dessa adoração é o de "usar a Deus, antes que atribuir-lhe" a devida glória.

É altamente prejudicial deixar de dar a glória devida ao Senhor e deixar de submeter-se aos Seus
propósitos a fim de estabelecer os nossos próprios propósitos. Além de ser uma tolice (pois estamos
confiando em nossa própria sabedoria e não na sapiência de Deus), também é rebeldia, visto que deixamos
de obedecê-lO quanto ao propósito real do culto ao Senhor. Infelizmente os crentes de hoje não são muito
ávidos em conhecer a Palavra de Deus, e como resultado, procuram estabelecer seus próprios parâmetros
quanto ao objetivo do culto. Talvez nem tenham parado para se perguntar: É este o propósito divino? É a
vontade de Deus? Em outras palavras, a falta de conhecimento da Bíblia os faz esquecer-se do próprio

76
OWEN, John. O Verdadeiro Prazer na Adoração. Disponível em:
<http://ospuritanos.blogspot.com.br/search/label/O%20Verdadeiro%20Prazer%20Na%20Adora%C3%A7%C3%A3o>.
Acessado em: 16 abr. 2013.
77
CANUTO, Manoel. Entrevista sobre Reverência no Culto Evangélico. Disponível em:
<http://ospuritanos.blogspot.com.br/2011/02/entrevista-sobre-reverencia-no-culto.html>. Acessado em: 16 abr.2013.
78
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão., 2008.

23
propósito para o qual foram salvos: fazer a vontade de Deus! Se buscam a vontade de Deus a respeito de
outras questões da vida, porque não fazem isto com respeito ao culto?
Por não conhecerem as Escrituras, outras fontes acabam por determinar, ou pelo menos influenciar
o seu modo de pensar. E visto que a moda da vez não é a Revelação Divina, mas os sentimentos humanos,
muitos caem no existencialismo:

Um dos erros explícitos no meio cristão, especialmente refletido em nossa adoração, vem da
influência do existencialismo... A influência existencialista na adoração cristã é evidenciada
pela atual ênfase aos sentimentos. Neste sentido, a liturgia contemporânea tem sido
fortemente acusada de ser um meio para se atingir emoções. Assim é que grande parte dos
nossos cânticos e hinos são instrumentos de auto-ajuda e auto-aceitação, e muitas das
nossas orações são meios de auto-reconciliação. O resultado final é que podemos ir para casa
79
"descarregados" e nos sentindo bem, mas sem termos adorado verdadeiramente.

Ao falarmos que o propósito de culto tem sido equivocado, e que os sentimentos e desejos humanos
não devem constituir em nosso objetivo, pode causar algumas reações calorosamente contrárias a nós. As
pessoas defenderão seus sentimentos e pensamentos a todo custo, mesmo sem saber o que diz as
Escrituras. Por isto, crendo na ação iluminadora e poderosa do Espírito Santo, devemos lhes mostrar as
bases bíblicas que afirmam o propósito do culto a fim de que estes irmãos despertem do “sono” do
existencialismo e de qualquer outra maneira herética de pensar e conceber o objetivo do culto cristão.
As Escrituras nos ensinam que tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus (1Co 10:31; Cl
3:17). Sem dúvida, isto também inclui o serviço de culto. A glória de Deus constitui no objetivo último e
primordial do culto. “Na tradição reformada, o culto tem como objetivo primordial glorificar a Deus, o Deus
santo, cuja salvação graciosa é um dom gratuito e imerecido.”80 Assim, o objetivo proposto pela igreja
evangélica brasileira moderna não está de acordo com os princípios bíblicos.
Mas talvez alguém argumente: Como é que o culto glorifica a Deus se os adoradores não são
satisfeitos em seus sentimentos e necessidades pessoais? Deus não se preocupa conosco? A questão é que, o
verdadeiro filho de Deus vai estar satisfeito e suprido em suas necessidades e sentimentos quando fizer a
adoração requerida por Deus. Não é que Deus despreza os sentimentos humanos e suas necessidades. Pelo
contrário, os sentimentos humanos e suas necessidades só vão ser realmente supridos no culto quando O
obedecermos. E obediência implica em que o propósito maior do culto não é o homem, mas Deus. Ao voltar-
se para cultuar agradando e glorificando a Deus ao invés de querer “usá-lO” no culto, o resultado é que nós
seremos abençoados! Além do mais, nem todas as necessidades sentimentais e espirituais são curadas,
supridas, ou restabelecidas durante o culto público. Deus pode fazer isto em outras ocasiões, e utilizando-Se
de outros meios.
Em contrapartida, não queremos dizer que não haja um propósito secundário que atinge o homem,
o qual também se propõe a cumprir o primário (que é glorificar a Deus). Este propósito secundário consiste
em edificar o adorador (1Co 14:26). Entretanto, lembremos que mesmo querendo edificar o adorador, Deus
está de olho em última instância, na Sua glória. Ele edifica o adorador para que este Lhe sirva e Lhe glorifique
mais perfeitamente.
O culto é voltado para Deus em todos os aspectos. E nós, adoradores, aprendemos acerca do nosso
Deus. E mediante este conhecimento vamos sendo edificados. “O culto é lugar de conhecimento de Deus,
então, o andamento do mesmo, deve gerar este conhecimento.”81 Tem sido assim deste a época do Antigo
Testamento, onde Deus ensinava por meio do culto no Tabernáculo em Israel. O culto volta-se para Deus,
mas atinge e beneficia o homem. “No culto do AT, o elemento mais destacado eram os sacrifícios, que
visavam mostrar como um povo pecador podia aproximar-se de um Deus santo e justo. Os diferentes
sacrifícios tinham o objetivo de fazer expiação pelos pecados, expressar gratidão e alegria, bem como
79
Ibid., 2008.
80
MATOS, Alderi Souza de. A reforma calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7072.html>. Acessado em: 21 jul. 2007.
81
COELHO, Ricardo Moura Lopes. Calvino e a Adoração Comunitária. Disponível em:
<http://musicaeadoracao.com.br/20136/calvino-e-a-adoracao-comunitaria/>. Acessado em: 16 maio 2013.

24
ilustrar ao povo a importância de uma vida de santidade.82Ao chegar à era da Nova Aliança este propósito
não se extinguiu. “A igreja é o corpo de Cristo (1 Co 12.27), e as reuniões da igreja são para adoração e
instrução.” 83 O conhecimento de Deus por meio da instrução é tão manifesto e explícito no culto da igreja
que o apóstolo afirma que até mesmo o ímpio perceberá e reconhecerá (1Co 14:24, 25).
A esta altura é preciso lembrar-nos de que quando falamos que o culto também edifica o crente,
estamos falando do culto, e não de alguma parte dele. Infelizmente muitos, se não pelo conceito mas pelo
menos na prática, parecem entender que a Palavra de Deus pregada é a única fonte de edificação. Durante o
culto prestam atenção em tudo, menos no culto. Contudo, ao chegar na hora da pregação dizem: “Pronto,
chegou a hora da pregação, devo prestar atenção agora!” Como se as orações, o louvor, as leituras bíblicas,
a Ceia do Senhor... Não fossem edificantes. Parece que as outras partes do culto são apenas “preenchimento
de tempo” enquanto não se chega a hora da pregação. Na verdade o culto a Deus é realizado utilizando-se
também dos Meios de Graça. Ora, mas o que isto quer dizer? Na teologia, fala-se que os Meios de Graça são
os meios corriqueiros utilizados por Cristo para derramar graça no coração do salvo.84 São eles: a Escritura, a
oração, e os Sacramentos. Portanto, elas devem receber a devida atenção e participação do adorador, pois
são meios utilizados por Deus para edificá-lo (1Co 14:3, 15-17, 26).
O segundo erro muito comum cometido entre os evangélicos brasileiros em relação ao propósito do
culto é pensar que o culto deve ser voltado para evangelizar os ímpios. Ora, é bem verdade que Cristo será
pregado nos cultos, e que os ímpios podem ter benefício da revelação de Deus que o culto traz consigo (1Co
14:24, 25). Entretanto, fazer da evangelização o propósito do culto é um equívoco. Em verdade, não há base
bíblica para isto. “Atos 2.42 mostra-nos o padrão que a igreja primitiva seguia, quando se reunia: “E
perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.”. Observe que
adorar a Deus e encorajar os irmãos eram as prioridades da igreja primitiva. A igreja se reunia para a
edificação e se dispersava para evangelizar o mundo.” 85
Dizer que devemos ter o foco na evangelização ao cultuar é mudar o foco bíblico de que o culto é para a
glória de Deus e edificação do povo dEle. E não para evangelização. Nas palavras de Robert Godfrey:

Embora o evangelismo possa ocorrer na adoração à medida que o Evangelho é fielmente


proclamado, o propósito e o foco da adoração é de que aqueles que crêem em Cristo possam
se reunir e encontrar a Deus... A adoração fiel, onde o propósito primário é o encontro de
Deus com o Seu povo através da Sua Palavra, pode muito bem ter o resultado secundário, ou
seja, que os incrédulos cheguem à fé. Mas a adoração não deve ser construída para o
86
incrédulo. Antes, ela é para Deus e para a igreja.

E como comenta também o conhecido teólogo John MACARTHUR:

As reuniões da igreja do primeiro século eram essencialmente públicas, assim como muitas o
são hoje. Mas o próprio culto tinha como objetivo a adoração a Deus e a comunhão entre os
crentes. O evangelismo acontecia no contexto da vida diária, à medida que os crentes
propagavam o evangelho. Eles se reuniam para adoração e comunhão e se separavam para
evangelizar. Quando uma igreja torna todas as suas reuniões evangelísticas, os crentes
87
perdem a oportunidade de crescer, de serem edificados e de adorar.

Para muitos crentes o culto deve ser utilizado para “aproveitar a oportunidade de evangelização”
aos descrentes que ali se encontram no culto. Contudo, como vimos acima, as Escrituras apresentam outra
instrução para nós do que devemos focar no culto: Não a evangelização, mas a edificação dos crentes.

82
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e Suas Consequências para a Pregação e a Liturgia., 2007.
83
MACARTHUR Jr., John F. Eu Quero a Religião Show., 2008.
84
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990. p. 609.
85
MACARTHUR Jr., John F. Eu Quero a Religião Show. , 2008.
86
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração., 2013.
87
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus?, 2013.

25
Alguns até pensam que devemos agradar os ímpios para poder ganhá-los, ou pelo mesmo garantir uma visita
futura do mesmo à igreja. Isto é um erro terrível:

A ideia de que as reuniões da igreja deveriam ser usadas para encantar ou atrair os não-
cristãos é um conceito relativamente novo. Nas Escrituras, não há qualquer sugestão quanto
a isso; aliás, o apóstolo Paulo falou da presença de incrédulos na igreja como um evento
excepcional (1 Co 14.23). Hebreus 10.24,25 indica que os cultos da igreja são para o benefício
dos crentes e não dos incrédulos: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos
88
estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.”

Pensemos um pouco: Será que Deus não salvará os seus eleitos caso não os tratemos bem no culto
enquanto ainda são ímpios? Será que somente serão salvos se modificarmos o propósito do culto cristão?
Modificar o propósito do culto para atingir a salvação dos eleitos não é o meio proposto por Deus. Cristo nos
ensina que o meio de se ganhar os eleitos de Deus é outro:

Nosso Senhor comissionou seus discípulos para evangelizarem da seguinte forma: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). Cristo deixou evidente que a igreja
não deve esperar que o mundo venha ou que deve convidá-lo a vir às suas reuniões; Ele
mostrou com clareza que a igreja deve ir ao mundo. É a responsabilidade de todo crente.
Temo que uma abordagem que enfatiza a apresentação do evangelho de uma forma
facilitada dentro da igreja, exime o crente de sua obrigação pessoal de ser uma luz no mundo
89
(Mt 5:16).

O questionamento que podemos fazer é: Será que a razão de os crentes desejarem evangelizar nos
cultos não é porque não estão fazendo evangelização lá fora? Se evangelizássemos constantemente o
mundo não iríamos nos preocupar em “aproveitar o tempo do culto para evangelizar”. Talvez o problema
seja que muitos não queiram evangelizar, e achem mais conveniente levar o ímpio à igreja. Ou talvez nunca
se dispuseram em aprimorar e/ou aprender técnicas de evangelização a fim de executar o serviço
evangelístico. Acham mais fácil que outros preguem na igreja e evangelizem em seu lugar. Muitas
“justificativas” poderiam surgir quanto à razão desta troca de propósito do culto de adoração para
evangelização. Todavia, nenhuma delas passa pelo crivo das Escrituras.
Por fim, cabe a nós exortarmos cada cristão a que se habituem a cultuar ao Senhor. É
impressionante o número de pessoas que hoje em dia querem ser cristãos sem frequentar a igreja. Não
somente quebram os mandamentos do Senhor (Ex 20:8-11; Hb 10:25), como também possuem um
comportamento estranho ao que é revelado nas Escrituras, onde o crente tem prazer em encontrar-se com
seu Deus (Sl 122:1; 84:3, 10). Ora, se sabemos que o culto tem o propósito de edificar-nos, como poderemos
desprezá-lo e desvalorizá-lo? Como disse John Owen: “Jamais vi prosperar espiritualmente um crente que
negligenciasse a adoração pública. Portanto, seria bom pensar um pouco mais na natureza da verdadeira
adoração. O propósito de Deus ao chamar-nos para a adoração é que a nossa fé e o nosso amor sejam
alimentados.”90 E apesar deste propósito ser apenas subserviente ao propósito de glorificar a Deus, não
deixa de ser útil e necessário aos crentes. Na visão de Warfield:

“Nenhum homem pode excluir-se dos cultos regulares da comunidade à qual pertence, sem sérios
prejuízos para sua vida espiritual pessoal” e “nem o indivíduo mais santo pode se dar ao luxo de
dispensar as formas regulares de devoção, e que o culto público regular da igreja, apesar de todas as
91
sua imperfeições e problemas localizados, é a provisão divina para o sustento da alma”.

88
MACARTHUR JR, John F. Eu Quero a Religião Show., 2008.
89
Ibid.,Eu Quero a Religião Show., 2008.
90
OWEN, John. O Verdadeiro Prazer na Adoração., 2013.
91
MACEDO, Jônatas Abdias de. Liturgia Hoje – Entre a Liturgia Moderna e a Teologia Litúrgica da Reforma., 2008.

26
É bem verdade que nossa ênfase neste capítulo se deu ao culto público. No entanto, estas verdades
a respeito do culto público também devem ser aplicadas ao culto individual e doméstico. Estes também não
devem ter como propósito a evangelização, o suprimento das necessidades emocionais, ou os prazeres dos
adoradores. O culto serve para nossa edificação e exaltação a Deus. Não importa a respeito de qual culto
estamos nos referimos. Por meio dele deve estar o nosso crescimento espiritual e a glorificação de Deus.

27
CAPÍTULO IV
REQUISITOS PARA O CULTO

Espero que o leitor já tenha absorvido perfeita e completamente todas as doutrinas que temos
explicado até agora. Falamos sobre o conceito de culto, os tipos de culto, o propósito do culto. Passemos
agora a estudar os requisitos relacionados ao culto.
É preciso entender que o culto requer cumprimento de cada um destes requisitos ordenados por
Deus. No entanto, não devemos crer que Deus não aceitará o nosso serviço de culto se não cumprirmos
todos estes requisitos. Ora, ainda estamos numa condição onde nosso coração não é totalmente puro (1Jo
1:8; Rm 7:15-23). Assim, se Deus só aceitasse o culto totalmente de acordo com seus requisitos santos,
nenhum seria aceito. Contudo, somos aceitos por meio da obra e Pessoa de Cristo Jesus. Assim, mesmo
imperfeito, nosso culto é recebido por Deus.
Porém, não significa que não haja situações tão ofensivas que impeça Deus de aceitar o culto (Is
1:11-15; Is 58; Ml 1:10), ou pelo menos desagradar-se de alguns pecados presentes nele. Por isto é preciso
obedecer em tudo a fim de lhe sermos agradáveis, e nos prevenir de nos reunir “para pior” ao invés de “para
melhor” (1Co 11: 17).

Salvação

Talvez muitos não percebam este requisito, e achem que Deus aceitará a adoração de qualquer
pessoa, pois todos foram criados iguais, “em imagem e semelhança de Deus”. Porém se enganam por
esquecer que todos pecaram e estão agora separados de Deus (Is 59:2; Rm 3:23). “A verdadeira adoração é
prestada a Deus somente por aqueles que nasceram do Espírito de Deus.”92
Deus não aceita o culto do ímpio (Gn 4:3-5; Sl 50:16-23). Os descrentes não tem vida espiritual e
nada mais podem fazer além do que realizar formalidades (Isaías 29:13, 14). Estão mortos em pecados, e sua
condição não os habilita ao culto ao Senhor (Rm 3:10-18; Ef 2:1-3). “Apenas aqueles que nasceram do
Espírito, que repousam sob a obra expiatória de Cristo, que podem adorar o Pai.”93
Infelizmente por falta de entendimento alguns crentes podem até incentivar os ímpios a adorarem a
Deus, como se o seu louvor ou oração pudessem Lhe agradar. Isto não somente desfaz a necessidade do
sacrifício de Cristo (pois se o culto do ímpio é aceito, para que Cristo morreu?), como também engana o
ímpio fazendo-o entender que é aceitável a Deus. Bem falou o teólogo Arthur W. Pink:

É uma crença artificial pecaminosa, uma ilusão fatal, uma farsa maligna, levar pessoas não-
regeneradas a imaginarem que elas podem adorar a Deus. Enquanto o pecador permanece
longe de Cristo, ele é “inimigo” de Deus, um filho da ira. Como então poderia ele adorar a
Deus? Enquanto permanece em seu estado não-regenerado ele está “morto em seus pecados
94
e delitos”.

Devemos levar o ímpio a conhecer a Cristo, e não a adorá-lo! A adoração ele poderá apresentar a
Cristo depois de sua própria conversão. Ora, antes da conversão qualquer pecador é inimigo de Deus (Rm
5:10); porém, depois da conversão, o pecador está em paz com Ele (Rm 5:1).
Às vezes muitos cristãos se deixam enganar pela aparência de justiça e piedade exteriormente
apresentada pelos ímpios. O cristão não pode ser ingênuo. Existem muitos que vão a Cristo não por causa de
Cristo, mas para obter algum benefício pessoal (Jo 6:26). Estes vão a Cristo não porque foram convencidos
pelo Espírito Santo do pecado, da justiça, e do juízo (Jo 16:8-11); mas por querer tirar algum proveito do
Senhor para suas vidas. Podem até mesmo ser como os fariseus, que cultuavam não a Deus, mas a si

92
THOMAS, Geoffrey. A Natureza da Verdadeira Adoração. Revista Os Puritanos. Ano XVII, Nº 4, 2009. Recife: Os
Puritanos. p. 13.
93
PINK, Arthur W. Adoração., 2013.
94
Ibid., 2013.

28
mesmos (Lc 18:9-14). Tenhamos em mente que nem todos os que estão no culto são de fato adoradores em
espírito e em verdade:

Muitas pessoas gostam de frequentar cultos de adoração a Deus. Contudo, esse gosto, em si,
não é necessariamente um sinal de verdadeira espiritualidade. Temos que perguntar o que é
que causa esse gosto... Algumas pessoas podem sentir-se grandemente atraídas pela
realização exterior do culto — pregação eloquente, música agradável, cerimônia solene
(Ezequie1 33:31,32; João 5:35). É certo que é preciso que haja zelo e ordem no culto que
realizamos, mas a pessoa que pensa espiritualmente não está interessada só nessas coisas...
A satisfação derivada de um culto religioso pode provir do sentimento de dever cumprido.
Algum conforto pode ser auferido da ideia de que talvez a frequência aos cultos possa
diminuir a culpa por pecados cometidos e conhecidos... A razão pela qual alguns podem
auferir algum conforto da frequência aos cultos, embora não tenham mentalidade espiritual,
é que eles acreditam que com isso conseguem crédito perante Deus (Romanos 10:3). Sua
ideia de justiça é de algo que eles próprios constroem. A pessoa sente certo prazer resultante
de aparentemente contribuir dessa maneira para o seu próprio crédito... Outros podem
auferir prazer do seu comportamento religioso simplesmente porque secretamente gostam
de ser considerados tipos melhores de pessoas. Pode ser que alguns se orgulhem de serem
considerados devotos... O ponto que eu quero defender é que é possível a pessoa sentir-se
95
bem com um comportamento religioso por razões erradas.

Dizendo em outras palavras resumidamente: “nem tudo que reluz é ouro”. As pessoas vão à igreja
pelos mais variados motivos; e muitos destes motivos não estão de acordo com o culto aceitável ao Senhor.
Assim, este culto não é aceito por Deus. Ele não cumpre o requisito de o adorador ser regenerado,
justificado... Enfim, salvo. O salvo pensa diferente do ímpio. Sua adoração e seu culto são motivados por
razões diferentes. O coração do salvo está voltado para agradar a Deus e glorificá-lO. Este é o seu prazer.
Como explica John Owen:

As pessoas que têm mentalidade espiritual encontram tanto gozo em todos os aspectos da
adoração a Deus que não querem ficar sem ela. É por isso que tem havido tantos mártires —
eles preferiam morrer a parar de adorar. Muitas vezes Davi expressou a saudade que as
pessoas que pensam espiritualmente experimentam quando lhes é negada a oportunidade
de adorar (Salmos 42: 1-4; 63:1-5; 84: 1-4). Além disso, o amor que Jesus Cristo tinha pelas
atividades de adoração não é posto em dúvida (João 2: 17)... Aquelas em cuja vida ocorreu
uma verdadeira mudança espiritual têm prazer nas atividades de adoração porque veem que
a sua fé, o seu amor e o seu gozo em Deus são estimulados por meio delas. Tais pessoas não
realizam meras formalidades. Simplesmente praticar alguma ação na presença de Deus não
tem valor em si (Isaías 1: 11; Jeremias 7:22, 23). Tudo o que Deus nos manda fazer não é
simplesmente para que o façamos, mas porque fazê-lo é o meio de avivar o amor, a
confiança, o prazer e o temor a Deus. É isso que a mentalidade espiritual experimenta. Para
96
os que a têm, a adoração é o meio de incitar maior amor a Deus.

Podemos observar claramente a impossibilidade do culto oferecido dos ímpios ser aceito pelo
Senhor quando ouvimos a declaração de Jesus de que Deus procura adoradores que O adorem “em espírito
e em verdade” (Jo 4:24). Esta declaração é muito importante para o nosso entendimento dos requisitos do
culto aceitável, e por isto, devemos estudá-la mais detidamente.
Certamente que a maioria dos cristãos conhece esta passagem da Escritura. Mas a questão é: O que
ela significa? O que Jesus quis ensinar? Lembremos que Jesus está falando com uma mulher que está
confusa quanto ao assunto do culto de adoração. Jesus então dá uma explicação do que realmente Deus
deseja do seu povo salvo. Vejamos o comentário de Josivaldo de França a respeito do texto:

95
OWEN, John. O Verdadeiro Prazer na Adoração., 2013.
96
Ibid., 2013.

29
Estudiosos da Bíblia têm dado diversas interpretações para a expressão “em espírito e em
verdade” de João 4:23-24. Parece razoável entendermos que, ao estabelecer o modo correto
de adorar a Deus, isto é, em espírito e em verdade, Jesus estava criticando o culto judaico e o
culto samaritano. Os samaritanos acreditavam que adoravam o mesmo Deus dos judeus, mas
não aceitavam as mesmas Escrituras dos judeus, a não ser os cinco primeiros livros, o
Pentateuco de Moisés. Como não aceitavam os demais livros da revelação divina (por
acharem que eram invenções dos judeus), o culto dos samaritanos era defeituoso. Por isso
Jesus disse à mulher: “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos,
porque a salvação vem dos judeus” (v22). Os samaritanos adoravam “em espírito”, isto é,
adoravam aquele que eles não conheciam “com alegria e verdadeiro entusiasmo”. Mas e daí?
Não adoravam “em verdade” porque rejeitavam 34 livros do Velho Testamento, a Bíblia de
então. A revelação de Deus nas Escrituras é progressiva; portanto, é impossível conhecê-lO
verdadeiramente ficando apenas com os cinco primeiros livros da Bíblia. Por outro lado, os
judeus aceitavam toda Escritura. Por isso conheciam Deus e tinham tudo para adorá-lO
corretamente. “Tinham tudo”, mas não o faziam. Os judeus se limitavam à formalidade de
um culto onde o espírito não estava presente. Faltavam emoção, vida e alegria no culto
97
judaico.

A explicação de Jesus é clara e simples. Ao invés de desconsiderar os erros cometidos na adoração


tanto dos samaritanos quanto dos judeus, Jesus aponta para o caminho correto a respeito da adoração no
culto. Dois aspectos devem ser cumpridos; dois deveres realizados:

[...] devemos notar que há dois lados na adoração, e devemos tratar ambos de modo correto.
Há o lado do coração da adoração (em espírito) e o lado do conteúdo e da forma (em
verdade). Ambos são necessários. [...] A forma é importante sim. Jesus disse que a adoração
tem de ser conduzida por ambos: atitude correta e forma correta, isto é, em espírito e em
98
verdade.

Se Jesus fala destes dois aspectos da adoração, então implica dizer que a adoração no Antigo
Testamento se distancia muito da adoração na Nova Aliança? Não. Certamente que alguns aspectos
mudaram. Mas não mudou na essência. O Deus é o mesmo e a essência do culto também. Veja a explicação
do teólogo Hermisten Maia:

Deus seria mais espiritual no Novo Testamento do que no Antigo, quando ele mesmo
prescreveu diversos rituais para o seu culto? Obviamente que não. Devemos observar
primariamente que, no aspecto litúrgico, a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento
estava mesmo no aspecto ritual, externo. A integridade exigida por Deus permanece a
mesma: Deus sempre desejou um culto responsável, sincero e comprometido com os seus
99
preceitos.

Observemos igualmente a explanação do Escritor Terry L. Johnson:

Não há dúvida que havia muito de espírito e verdade na adoração do Velho Testamento. Os
símbolos do Velho Testamento nunca foram um fim em si mesmos, ao contrário, apontavam
para o interno e espiritual. [...] Então qual é a diferença? É uma diferença de ênfase e
proporção. O Velho Testamento estava cheio de símbolos na antecipação de Cristo. Estes
símbolos são por natureza temporários. O Novo Testamento tem somente dois: o batismo e a

97
PEREIRA, Josivaldo de França. Os Verdadeiros Adoradores. Disponível em:
<http://musicaeadoracao.com.br/19991/os-verdadeiros-adoradores-pereira/>. Acessado em: 23 maio 2013.
98
JOHNSON, Terry L. Adoração Reformada – A adoração que é de acordo com as Escrituras. 1º ed. São Paulo: Facioli
Gráfica e Editora Ltda, 2001. p. 29.
99
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. O Culto Cristão na Perspectiva de Calvino: uma análise introdutória. Fides
Reformata. São Paulo, v. 8,n.2, p.83, 2003.

30
Ceia do Senhor. Então a adoração no Novo Testamento é “em espírito”, o que significa que
100
não há uma ênfase nos símbolos e tipos como havia na adoração do Velho Testamento.

Portanto, o culto aceitável a Deus sempre teve que cumprir este dois requisitos básicos: Adoração
que procede do coração e que esteja de acordo com a verdade divina. Lembremos agora que, a adoração é
uma ação adequada do adorador ao seu objeto adorado. Assim, quanto melhor conhecemos a Deus, maior é
a possibilidade de adorá-lO em verdade (ou seja, de acordo com a verdade divina revelada). A verdade
mostra-nos quem é o Deus adorado, e deste modo podemos adorá-lo do modo adequado a Ele:

A adoração genuína é uma resposta à verdade divina. É emotiva porque surge de nosso amor
a Deus. No entanto, a adoração verdadeira também deve ser fruto de um correto
entendimento de sua lei, sua justiça, sua misericórdia e seu ser. A genuína adoração
reconhece Deus conforme Ele se revela nas Escrituras. Por exemplo, através das Escrituras,
sabemos que Ele é a única, perfeitamente santa, onipotente, onisciente e onipresente fonte
da qual flui toda bondade, misericórdia, verdade, sabedoria, poder e salvação. Adorar
significa atribuir glória a Deus por causa dessas verdades; significa louvá-Lo por aquilo que Ele
é, aquilo que tem feito e aquilo que tem prometido. Por conseguinte, adoração tem de ser
uma resposta à verdade que Ele revelou a respeito de si mesmo. Tal adoração não pode
101
resultar de um vazio. É motivada e vitalizada pela verdade objetiva da Palavra de Deus.

Por tudo isto que explicamos acima, é que podemos afirmar que se torna impossível que o ímpio
possa adorar a Deus, visto que ele está impossibilitado de conhecer ao Senhor (1Co 2:14; 2Co 4:3, 4). Pelo
contrário, a adoração pagã é totalmente voltada à idolatria e ao adorador. E não somente isto, o modo de
adorar também difere do modo cristão requisitado por Deus. Ambas diferem no conteúdo e na forma. O
ímpio não tem capacidade de adorar a Deus como ele requer:

A adoração pagã é caracterizada por ser não-cognitiva. É mais um estado da mente do que
um funcionar da mente. Ela opera muito mais no nível do sentimento e da experiência do que
no do pensamento. A adoração cristã, no entanto, é racional e cheia de conteúdo. Temos de
amar a Deus com nossa mente (Mt 20:37). Nosso “culto espiritual de adoração” é oferecido
102
com “renovação da nossa mente” (Rm 12:1, 2).

Por fim, o culto bíblico deve ser: 1- Somente a Deus (Dt 5:7); 2- Tendo Jesus como único Mediador
(1Tm 2:5); 3- Pela ação do Espírito Santo (Fp 3:3). Nenhum destes requisitos pode ser cumprido pelos
ímpios.

Sinceridade

Sabemos que Deus é espírito, e que conhece todas as coisas. Até mesmo o coração dos homens.
Desta forma, é impossível utilizar-se de rituais vazios e hipócritas diante deste Deus Poderoso. Deus não está
interessado somente no que fazemos na aparência e exteriormente. Deus quer o nosso coração
completamente (Pv 23:26; Mc 12:30). O culto em si mesmo não tem sentido sem a sinceridade do coração
(Sl 51:16, 17; Mt 7:21; Sl 50: 16-20; Jl 2:13). Se o adorador pensa que pode cultuar a Deus seguindo regras e
rituais, mas não com sinceridade de coração, está enganado. Ainda que ele seja salvo, Deus não se agrada de
uma adoração simplesmente cerimonialista e vazia. Deus quer em primeiro lugar o próprio adorador, e não
o seu culto!
Espanto-me com a quantidade de pessoas que vão ao culto para “garantir uma bênção”, para “se dar
bem no casamento”, “afastar os maus espíritos”, “conseguir um emprego novo”, “eliminar as maldições”...
etc. Se o que nos motiva a participar do culto não for o próprio Deus, então já perdemos a sinceridade e

100
JOHNSON, Terry L. Adoração Reformada – A adoração que é de acordo com as Escrituras., 2001, p. 49.
101
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus?, 2013.
102
JOHNSON, Terry L., op. cit., p. 40.

31
partimos para o egocentrismo humano! Já deixamos de adorar a Ele para voltarmo-nos somente a nós e
nossas necessidades. O culto deixa de ser um serviço de adoração, e passa a ser um serviço de idolatria! Não
que o culto não seja um lugar para se colocar nossas necessidades perante Ele. Mas quando o culto se torna
um meio principalmente para este fim, então isto “já é o fim”. A glória a Deus, a Sua exaltação, a nossa
edificação, e a gratidão a Ele devem ser nossos objetivos sinceros diante de Deus. O que disto passar soará
como barganha com Ele; “uma troca” proposta pelo adorador, e não um culto prestado a Deus. Os que
fazem assim não sabem o que é sincera adoração; “não é vir para receber dEle, mas render-se diante dEle. É
a expressão de amor do coração.” 103

Santidade

Infelizmente desde há muito tempo que o pecador acha que pode se apresentar diante de Deus num
culto ainda que esteja vivendo em pecado (Is 1:11-17; Is 58). Como se Deus não estivesse se importando
com o que ele faz fora do culto público, mas somente com o que faz dentro do culto. Jesus deixa claro que
há uma ligação inequívoca entre minha vida cotidiana e o serviço de culto (Mt 5:21-24).
No Antigo Testamento vemos claramente que Deus é tão Santo que os adoradores não poderiam se
chegar a ele de qualquer forma. Tinham que chegar-se puro. Se alguém se tornasse impuro, deveria fazer
um ritual de purificação antes que pudesse cultuar:

Conforme as regras, era puro o que podia aproximar a pessoa de Deus, e impuro o que a
incapacitava para o culto ou a excluía dele. A pureza estava relacionada com o culto e,
portanto, se achava ligada à santidade. Ensinava-se que a imundícia, embora fosse
cerimonial, não era coisa leviana. Afastava o adorador de seu Deus... A purificação pessoal
simbolizava a santidade, e a purificação cerimonial devia fazer-se acompanhar da purificação
104
interior.

Além de estar relacionado ao culto, os conceitos de pureza e impureza também tornaram-se


símbolos da pureza moral. E tanto os profetas no Antigo Testamento quanto os mestres do Novo
Testamento fizeram uso desta figura de linguagem:

Nos dois testamentos, o puro e o impuro tornam-se símbolos de pureza e impureza moral
(e.g., Is 1:16; 35:8; 52:1; 59:3; Sl 24:4;51:2; Mt 5:8; At 15:8-9; 2Co 7:1; 1Tm 1:5; 3:9; 1Jo 1:7,
9; Ap 21:27). Jesus, porém, deu fim às leis de pureza ritual, convocando seus seguidores à
pureza não de roupas ou alimentos, mas de coração (Mc 7:14-23; Mt 15:17-20; Rm 14:14; Ef
105
2:11-21; Tt 1:15).

Reverência

Outro requisito para um culto aceitável a Deus é a reverência. Muitos hoje dia têm perdido o
respeito ao Senhor do culto. Se quisermos prestar a Deus um culto perfeito e digno, devemos reverenciá-lO,
e não profaná-lO. Infelizmente as pessoas estão prestando um culto ao Senhor como que forçadas a isto (Ml
1:13)! A cegueira é tamanha que alguns acham que não tem nada demais em sair para atender um
telefonema, ir ao banheiro só para sair um pouco do templo, mandar mensagens “sms” durante o culto,
conversar com uma pessoa do lado, dormir, chegar atrasado... E a lista é grande do desprezo e negligência
para com um serviço tão importante para nossas vidas que é culto público. Isto para não falar em histeria,
pulos, rodopios, roupas sensuais, crianças passeando no templo durante o culto, pregadores que contam
mais piadas do que pregam, e outras coisas mais que são estranhas ao que nos ensina as Escrituras. Coisas
estas que nos perecem passar de longe do significado da palavra reverência! Observemos abaixo o

103
PINK, Arthur W. Adoração., 2013.
104
HOFF, Paul. O Pentateuco. São Paulo: Vida, 1996. p. 174.
105
LASOR, William S., David A. Hubbard, Frederic W. Bush. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
1999. p. 95.

32
comentário do teólogo John MaCarthur, o qual é muito útil para nosso entendimento acerca do que estamos
falando:

Hebreus 12.28 afirma: Retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável,
com reverência e santo temor. Esse versículo nos fala sobre a atitude com que devemos
adorar. A palavra grega traduzida por sirvamos é latreuo, que literalmente significa cultuar. O
argumento principal é que a adoração tem de ser realizada com reverência, de uma maneira
106
que honra a Deus.

Como igualmente bem explica o presbítero Manoel Canuto em sua entrevista sobre reverência no
culto:

... Nos cultos e na adoração corporativa, em conjunto, do povo de Deus, na igreja, estamos
vivendo uma época de grande irreverência. A nossa geração não sabe o que é ser reverente,
não sabe o que é culto solene. O culto, com frequência, tem sido um ajuntamento para um
encontro social; a igreja é local de divertimento, lazer; o louvor apresentado a Deus tem sido
uma ocasião de não glorificação do nome de Deus, mas primariamente um momento de
107
entretenimento ou prazer humanos.

Aliás, a bem da verdade, o descaso atinge também os demais tipos de culto. Ou seja, o culto
individual e o doméstico. Às vezes o momento de culto individual é superficial e rápido, sem interesse em
aprender, ou realmente se arrepender, ou verdadeiramente dar graças!
Quanto ao culto doméstico, realizado com pressa e desleixo. Às vezes somente para cumprir um
ritual diário. Será que isto não constitui em falta de reverência para com o Senhor? Será que o Senhor
aceitaria tamanho descaso para com a adoração a Ele? A verdade é que Deus não quer que tomemos seu
Nome em vão, mas O honremos da forma mais alta possível (Ex 20:7). Porém muitos tem se esquecido desta
orientação divina. “Podemos concluir dizendo que as inovações litúrgicas são tão cheias de irreverência e
criatividade que perdem em solenidade até para as reuniões seculares. Os adoradores profanos e blasfemos
estão tratando Deus como se Ele fosse um mero mortal como eles.”108

Obediência

Deus em Sua infinita sabedoria dispôs ao homem tudo o que ele precisava saber a respeito do culto
a fim de que o Senhor fosse adorado adequadamente. Pois bem, tendo isto em mente, lembremos que o
culto somente é aceitável a Deus se for executado de acordo com a Revelação dada por Ele mesmo. É o
requisito da obediência ou fidelidade às Escrituras. Não nos deteremos em explicar os detalhes aqui visto
que argumentaremos extensamente em capítulo posterior quando falarmos do Princípio Regulador do culto.

Emoções no Culto

Nos dias de hoje não precisamos de muito esforço para perceber que há uma disputa acirrada entre
os que querem oferecer um culto mais racional, e os que querem oferecer um culto mais emocional. É uma
disputa constante e forte, podendo até dividir igrejas. Qual será o requisito apresentado por Deus quanto ao
modo de cultuar? Será que o requisito é o intelecto ou os sentimentos?
É bem verdade que o culto deve ser racional (1Co 14.15; Rm 12.1; 1Co 11:28, 29, 31; 12:8; 14:1-19,
26, 29, 31; 1Tm 2:9). Tanto é assim que o Princípio Regulador do culto diz que se deve seguir à risca o que o
Senhor ordena em Sua palavra. Ou seja, cultuar é utilizar a mente e seguir diretrizes e requisitos
estabelecidos pelo Senhor para o culto. Entretanto, o culto de modo algum elimina o emocional do adorador

106
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a deus?, 2013.
107
CANUTO, Manoel. Entrevista sobre Reverência no Culto Evangélico., 2013.
108
MENEZES, Raniere. Princípio Desregulador do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/culto_desregulador_raniere.htm>. Acessado em: 15 maio 2013.

33
(Sl 9:2; 16:9, 11; 20:5; 59:16; 100:1,2,4; 1Tm 2:1; Mt 15 :8, 9). Os dois aspectos devem estar presentes na
adoração cúltica. Fomos criados por Deus como um ser completo, e Deus requer de nós tanto um aspecto
quanto o outro. Não devemos pensar que Deus nos quer ver somente com um dos dois. “A adoração deve
ser emocionante, profundamente sentida e tocante. Mas o importante não é estimular as emoções,
enquanto desligamos nosso intelecto. A adoração verdadeira mescla a mente e o coração em uma resposta
de adoração pura, fundamentada na verdade revelada da Palavra de Deus.”109
O que devemos evitar é o tentar produzir emoções no culto, ou mesmo achar que o culto não foi
edificante por não termos sentido alguma emoção que esperávamos sentir. As emoções são resultado da
verdade divina digerida por nós (Jo 14:1; Mt 6:25-34; Sl 4:8; Js 1:5, 6, 9; Sl 32:5; 19:8; 119:1; At 2:37; Lc
24:27, 32). Não devemos produzi-la. Ela virá naturalmente pela ação do Espírito em nós. Além disto, como já
vimos anteriormente, o culto não tem como propósito produzir emoções que nós esperamos sentir, mas
glorificar a Deus. Nenhum dos autores bíblicos exige que se faça um culto tencionando causar emoções. Elas
veem naturalmente através da absorção da verdade. Ou seja, elas são um resultado consequente, e não um
meio para satisfazer o adorador. Se durante o culto há emoções como resultado da ação do Espírito Santo
para nossa edificação, então Deus é glorificado. Contudo, se não for assim, de que adianta estas emoções
sentidas? Já teremos nos desviado do propósito do culto, e dos requisitos por Deus estabelecidos. Um dos
requisitos de Deus para o culto não é que você tenha as emoções que esperava ter, mais que você seja
edificado. Evidentemente, se isto acontecer juntamente com emoções, é melhor ainda.
O que vemos hoje em dia é uma preocupação demasiada em sentir alguma coisa no culto, ao invés
do desejo de conhecer mais a Deus e aumentar o seu temor a Ele. As pessoas não percebem que
sentimentos que não brotam da verdade da Palavra são inúteis à vida espiritual:

No entanto, o estilo Carismático, podemos dizer com bastante certeza, é fortemente não-
cognitivo. Os louvores, e os consequentes pensamentos a respeito de Deus, são
regularmente banais, repetitivos e vazios de conteúdo sério. O que o “adorador” sente e
experimenta, tende ser superficial e centrado nele mesmo. Ele é movido não pela verdade,
110
mas pelo que sente, e a experiência acaba se tornando um fim em si mesma.

Nos dias de hoje muitos pensam que sentir alguma coisa no culto é sinal de edificação espiritual.
Nada mais enganoso! O ser humano pode facilmente sentir algo sem necessariamente estar sendo edificado.
Como bem fala John MacArthur:

A música pode, às vezes, nos comover pela agradável beleza da melodia, mas este
sentimento não é adoração. Por si mesma, a música, sem a verdade contida nos versos, não é
um recurso legítimo para a adoração autêntica. De maneira semelhante, uma história
comovente pode ser tocante ou inspirativa, mas, se a mensagem que ela transmite não
estiver no contexto da verdade bíblica, quaisquer sentimentos que ela desperte não têm
qualquer utilidade em fomentar a verdadeira adoração. Emoções fortes despertadas durante
o culto não constituem necessariamente uma evidência de que houve verdadeira
111
adoração.

Na concepção paulina, edificação implica em entender as verdades espirituais com a mente (1Co
14:1-19). “Uma adoração em que a mente não desempenha qualquer papel é inútil e não traz nenhum
proveito.”112 Se por causa das verdades da Bíblia temos emoções (seja tristeza, alegria, prazer, fé,
esperança...) isto edifica a alma do adorador. Mas se os sentimentos não forem fundamentados na Palavra,
mas forem consequência de algum ato do culto (pregação, cântico, leitura, oração) sem que haja apreensão
de alguma verdade bíblica, sem que haja submissão à esta verdade, então não passará de sentimentos. E
estes, a gente sabe que vem, e vão.

109
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus?, 2013.
110
JOHNSON, Terry L. Adoração Reformada – A adoração que é de acordo com as Escrituras., 2001, p. 67, 68.
111
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus? op.cit., 2013.
112
RYLE, J.C. Adoração. Prioridade, princípios e prática., 2010, p. 8.

34
Os Desviados e o Culto

Como bem sabemos, o Senhor entregou “as chaves do reino” à Igreja (Mt 16:19). Desta forma, o que
dizer a respeito de pessoas que se desviaram do caminho do Senhor e foram excluídas da Igreja Visível?113
Como saber se elas são ou não salvas? Bom este tipo de conjectura nós não somos chamados por Deus para
fazer. O que Deus almeja é que sigamos as instruções que Ele nos deu para que a Igreja ande sadia.
Neste sentido, não importa sabermos quem é ou não salvo. Todavia, se alguém foi excluído do rol de
membros da igreja, então não podemos tratá-lo como crente, mas como ímpio (Mt 18:17). Assim, com
relação ao culto não podemos permitir que ele ore, cante, dirija, pregue, participe da Ceia do Senhor... Nem
achar que seu culto é aceito pelo Senhor. Ele deve ser alvo de nossa evangelização. Resumindo, enquanto
ele não demonstrar arrependimento e for restaurado, devemos entender que o culto que ele presta não é
aceitável a Deus por ele não estar em comunhão com Cristo. Entretanto, estamos falando do que podemos
fazer como Igreja. Não estamos dizendo que ele perdeu a salvação quando excluído da Igreja, mas devemos
tratá-lo como o Senhor nos instruiu.
Quanto àqueles que estão disciplinados, mas não foram excluídos, Deus espera deles o que já foi
dito acima: vida de santidade. Que deixem o pecado, e sinceramente voltem a cultuar a Deus.

Centralidade de Cristo no Culto

Assim como a Igreja Católica tirou Jesus da centralidade do culto, do mesmo modo muitas igrejas
ditas evangélicas estão fazendo o mesmo. Hoje a ênfase não é orar a Cristo, louvar o Cristo, ouvir o Cristo...
A ênfase está em testemunhos de pessoas que se converteram, no pregador que é bom orador, nas supostas
bênçãos a serem adquiridas pela fé, nos pretensos milagres, no dom de línguas e supostas profecias de
revelação... E por aí vai! Nem mesmo o grupo de louvor escapou, e hoje muitos parecem dirigir o louvor do
culto como quem se apresenta num show. A ênfase não é a letra das músicas ou no Cristo adorado; a ênfase
está na habilidade e técnica dos tocadores, os quais aumentam tanto os instrumentos que nós nem ouvimos
o que está sendo cantado.
Até mesmo em igrejas ditas reformadas nós encontramos estas atitudes alienadas. Deus quer que
Cristo seja o centro do nosso culto. Esta é uma das mudanças oriundas da Reforma Protestante. Contudo,
parece que as igrejas de hoje se esqueceram disto, e carecem de uma “segunda reforma”!

Os Perigos do Culto que não Agrada a Deus

Diante de todos estes requisitos acima esboçados, que de maneira nenhuma esgota o assunto, é
fácil perceber que não cumpri-los traz sobre o adorador consequências maléficas. Não é nosso propósito dar
uma lista exaustiva das consequências da adoração que não cumpre os requisitos ordenados pelo Senhor,
mas apenas esboçar algumas tragédias de se oferecer um culto à maneira do adorador, ao invés de oferecer
ao modo de Deus:

 O adorador não consegue fazer o que se propõe. Ou seja, não consegue glorificar a Deus com o seu
melhor;

 O adorador não é aceito por Deus (Is 1:11-15; Ml 1:6-12; Lc 18:10-14);

 O adorador desobedece ao mandamento do Senhor (Ex 20:4-6; Dt 12:32), caindo em pecado;

113
Igreja Visível: Diz respeito ao ajuntamento de um povo para prestar culto ao Senhor e servi-lO, sem
necessariamente querer dizer que todos individualmente pertencem ao povo eleito de Deus. Ou seja, mesmo entre os
batizados pode haver pessoas não regeneradas.

35
 O adorador não obtém os resultados planejados por Deus. Ou seja, o culto não edifica;

 O adorador pensa que está sendo abençoado, mas poderá receber castigo divino (Lv 10:1, 2; Is 58;
Ml 1:14; 1Co 11:29-32).

Resumindo, podemos dizer que Deus ordena que cumpramos os requisitos do culto revelados por
Ele a fim de lhe sermos aceitáveis em nossa adoração. Ora, “Satanás é o inspirador e dirigente da religião do
mundo. Sim, ele busca adoração, e é o promotor principal de toda falsa adoração.”114(Dt 32:17; 1Co 10:20;
2Co 4:4). Por isto não devemos nos dar ao luxo de seguir um caminho diferente daquele traçado por Deus,
senão estaremos concordando com Satanás querendo impor a Deus um culto ilegítimo. Para finalizar
vejamos algumas diferenças entre o culto verdadeiro (segundo as orientações e requisitos bíblicos), e o culto
falso (dirigido pela vontade humana): 115

Verdadeiro culto Falso culto


Apenas o que Deus ordena em sua Palavra é Tudo o que não é expressamente condenado pela
permitido Bíblia é permitido
Culto centrado em Deus Conduz ao culto centrado no homem
O conteúdo do culto é a Palavra de Deus objetiva O culto se torna cada vez mais subjetivo ou místico
O culto permanece puro, simples e sem adulteração O culto é alterado, evolui e é adulterado por
tradições humanas
O culto baseado na Palavra de Deus possui As formas e o conteúdo do culto público são
parâmetros limitados teoricamente infinitos
Completamente bíblico Basicamente pragmático: o que aparentemente
funciona e agrada às pessoas será usado
O culto evangélico puro é transcultural. O falso culto alimenta a autonomia humana
Desconsiderando-se as barreiras linguísticas, pecaminosa. Portanto, ele é uma mistura de
membros de igrejas fiéis ao Princípio Regulador paganismo e cristianismo. Pelo fato de possuir
podem visitar igrejas da mesma mentalidade em teoricamente opções infinitas, as pessoas têm de
qualquer lugar do mundo e, imediatamente, sentir- adaptar, aprender e ajustar o falso culto a cada
se bem e em casa. No século XVII, puritanos ingleses circunstância cultural e denominacional. Os
ou americanos, presbiterianos escoceses ou anglicanos altamente litúrgicos provavelmente se
irlandeses e holandeses reformados cultuavam a sentem desconfortáveis com os cultos sem
Deus de modo muito similar. Isso não resultou de programação prévia das comunidades evangélicas de
algum ato de conformidade, mas porque criam no negros. Existem milhares de hinários e de liturgias
Princípio Regulador e obedeciam a ele. No futuro, diferentes. Há grupos de rock e de teatro,
quando a doutrina e o culto puros forem revividos, e orquestras, declamação de poesia, vídeos,
nações inteiras forem convertidas e entrarem na apresentações de palhaços, comediantes,
aliança estabelecida por Deus, a natureza humoristas, talk-shows, danças litúrgicas, recitais de
transcultural do puro culto evangélico será muito útil órgão, dias santos diversos e calendários litúrgicos
e importante para turistas e homens de negócio diferentes etc. O falso culto fragmenta a igreja.
Historicamente, o culto das igrejas reformadas e Historicamente, isso tem levado a igreja ao declínio,
presbiterianas era puro, até ser abandonado ou à heresia e idolatria. A igreja apostólica degenerou
redefinido a ponto de se tornar insignificante. posteriormente no papismo.
O culto centrado no homem tem por norte o ser
O culto bíblico é centrado em Deus e em sua Palavra. humano e seus sentidos. Daí sua degeneração no
entretenimento ou nas cerimônias e nos rituais

114
PINK, Arthur W. Adoração., 2013.
115
SCHWERTLEY, Brian. O Princípio Regulador do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.net.br/?secao=liturgia>. Acessado em: 18 jun. 2013.

36
pomposos.
Os homens têm liberdade sob a Palavra de Deus Os homens perdem a liberdade sob seu padrão
mutável e arbitrário.
O falso culto divide a igreja em milhares de facções.
O puro culto evangélico incentiva o ecumenismo Pelo fato de o conteúdo e estilo do culto “evoluírem”
bíblico e a comunidade e se modificarem, os membros mais velhos das
igrejas são separados dos mais novos.

37
CAPÍTULO V
HERMENÊUTICA E O CULTO

Tendo estudado os tópicos introdutórios a respeito do culto cristão devemos passar para a questão
da hermenêutica116 em relação ao culto. Os tópicos abordados nos capítulos anteriores, apesar de serem
igualmente temas teológicos, são pouco debatidos entre os teólogos e cristãos leigos. Entretanto, agora
entraremos num tema que é assunto de discussões a décadas (para não dizer séculos!). A questão a ser
explicada é: Qual deve ser o conteúdo do culto? Como interpretar os textos bíblicos em relação ao que o fiel
deve fazer no culto a Deus? Observaremos duas posições principais que nos bastarão para esclarecer esta
questão.

Diferenças entre Calvino e Lutero sobre o Culto

Com respeito ao culto os próprios reformadores tinham diferenças nas suas concepções. Todos
criam que a Escritura era a única regra, porém, discordavam na interpretação dela com respeito ao culto.
Encontramos duas posições com respeito à concepção do conteúdo do culto: A do reformador Lutero e a do
reformador Calvino.
A concepção de Lutero quanto ao conteúdo do culto pode ser chamado de Princípio Normativo. Este
é o princípio seguido por várias igrejas de nossos dias. Ele diz que “as igrejas podem fazer tudo o que a
Palavra de Deus não proíbe expressamente”.117 Neste caso, o que se pode fazer num culto é bem amplo, e
sujeito a vários acréscimos.
Todavia, o pensamento de Calvino, e depois dele, dos demais teólogos calvinistas, tem uma
concepção mais estrita e limitada com respeito ao culto, assim chamada de Princípio Regulador do culto.
Podemos dizer que, “ao contrário de Lutero, que manteve no culto alguns elementos tidos como
indiferentes (adiáfora), Zuínglio e Calvino pretenderam ater-se estritamente às Escrituras. Daí o chamado
“princípio regulador” – o culto cristão deve se reger pelo que é clara e explicitamente revelado no Novo
Testamento”.118 O que Deus não ordenou em Sua Palavra não deve fazer parte do culto cristão.

O que é o Principio Regulador do Culto?

O fato de que os reformadores Lutero e Calvino tinham posições diferentes quanto ao culto não
deve estranhar a nós. Cada ser humano tem dentro de sua mente um modo de conceber o culto. Os dois
modos acima citados não são os únicos, mas apenas dois discutidos na teologia protestante. Vejamos abaixo
outros princípios que são considerados pelos adoradores quando se quer definir o conteúdo do culto ao
Senhor:

Todo cristão tem algum tipo de regulamentação acerca da adoração. Todo crente coloca uma
linha (limite) em algum lugar no culto. De um lado da linha há uma adoração aceitável e do
outro lado da linha uma que é inaceitável. Todos nós estamos de acordo que existem
algumas coisas que são boas para o culto e outras que não devem existir no culto. A única
questão é: Como e onde vamos colocar esta “linha” demarcatória? Qual a regra que vamos
seguir para saber o que é aceitável e o que é inaceitável? Deixe-me dar algumas regras que
são usadas em nossos dias. Todos nós temos alguma destas regras. a. O PASSADO. “Sempre
foi assim!”, muitos dizem. E se foi suficiente para as pessoas do passado, será bom para nós

116
Hermenêutica é a ciência que estuda os princípios de interpretação da Bíblia.
117
GRANCONATO, Marcos. A Confissão de Fé de Westminster e o Princípio Regulador do Culto. Disponível em:
<http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_content&view=article&id=52:a-confissao-de-fe-de-
westminster-e-o-principio-regulador-do-culto-pr-marcos-granconato&catid=19:monografias-txt&Itemid=111>.
Acessado em: 16 maio 2013.
118
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e Suas Consequências para a Pregação e a Liturgia., 2007.

38
também hoje. “Nossos pais adoraram assim então, assim nós adoraremos”. Dessa forma o
passado é a regra para o presente. b. A PREFERÊNCIA. Esta a regra do que eu gosto, do que
eu quero e do que eu acho agradável. Eu gosto assim; eu me sinto bem com isso; isso está de
acordo com minha personalidade; é a minha preferência. c. PRAGMATISMO. Isso funciona,
atrai pessoas e é popular? Então, vamos fazer assim! Não fazer de outra forma, porque não
seria popular e não atrairia as pessoas. Assim, nossa regra é o pragmatismo: o que funciona.
d. PROIBIÇÃO. Tudo é permitido no culto desde que não seja explicitamente proibido na
Palavra de Deus. Esse foi o princípio que Lutero usou. Ele basicamente disse: Se a Bíblia não
proíbe as velas, então podemos usá-las e assim por diante. Então, se conclui, não havendo
uma clara proibição, podemos fazer. Bem, a Bíblia não proíbe em nenhum lugar a
dramatização no culto, então pode-se usar o drama, o teatro e assim por diante. Eu diria que
estas são as quatro regras mais usadas hoje pelas pessoas para saber o que devem fazer no
culto. Mas a pergunta a ser feita é: Elas são Bíblicas? A resposta é: Não! Então, qual é a regra
bíblica? e. PRESCRIÇÃO. É a regra usada por Calvino que a descobriu na Palavra de Deus:
Somente aquilo que é ordenado na Bíblia deve ser permitido e usado no culto a Deus.
Verdadeira adoração é adoração ordenada nas Escrituras conforme a vontade de Deus.[...]
temos aqui a regra mais radical de todas. É o Princípio Regulador. Mas, de certa forma nós
podemos dizer que todas aquelas regras são “princípios reguladores”. Todas elas regulam o
culto. Então, todos nós temos algum tipo de princípio regulador. Assim a pergunta é: Será
que este nosso princípio regulador é o Princípio Regulador da Bíblia? O Princípio Regulador
bíblico, como podemos demonstrar, é a prescrição. Somente aquilo que foi prescrito e
119
ordenado é permitido.

Diante desta consideração acima podemos perceber que o princípio adotado por Calvino não foi
uma questão de opinião pessoal, mas de submissão à Bíblia. “O Princípio Regulador do Culto afirma apenas
isto: “O verdadeiro culto é ordenado somente por Deus; o falso culto é algo que Ele não ordenou”.”120 Ora,
se encontramos na Bíblia Deus dando ordens com respeito ao culto, então o princípio que deve regular o
culto não pode ser outro a não ser o que Ele mesmo determinou.
Seguindo o mesmo princípio de interpretação de Calvino, a Confissão de Fé de Westminster,
Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, Seção I, declara: “A luz da natureza mostra que há um
Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser
temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas
o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria
vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou
sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas
Santas Escrituras” (Rm 1:20; Sl 119:68; 31:23; At 14:17; Dt 12:32; Mt 15:9; 4:9,10; Jo 4:23,24; Ex 20:4-6).
A declaração da Confissão de Fé fala “[...] qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.
O que exatamente a Confissão quer dizer com a palavra “prescrito”? Quer dizer que todo o conteúdo do
culto precisa necessariamente estar num texto bíblico explícito? Não! Não é este o sentido do texto da
Confissão. A própria Confissão explica o que significa esta frase em seu (Capítulo I, Seção VI). Ali
encontramos a explicação que precisamos para interpretar a palavra “prescrito”. O escritor John M. Frame,
comentando sobre esta questão afirma:

A legitimidade de algum proposto elemento de culto, portanto, pode ser comprovada


mediante “boa e necessária consequência”, isto é, por dedução lógica das premissas
escriturísticas. Ele pode ser inferido do ensinamento implícito das Escrituras tanto quanto do
121
ensinamento explícito delas.

119
MURRAY, David. Adoração Reformada. Revista Os Puritanos. Ano XVII, nº 4, 2009. Recife: Projeto Os Puritanos. p. 3,
4.
120
MCMAHON, Matthew. O Princípio Regulador do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/Principio_Regulador_McMahon.pdf>. Acesso em: 25 jun.2013.
121
FRAME, John M. Algumas Questões sobre o Princípio Regulador. Disponível em:
<http://www.monergismo.net.br/textos/liturgia/Principio_Regulador_JFrame.pdf>. Acessado em: 26 jul. 2013.

39
Semelhantemente Felipe Assis, ao falar do termo “prescrito” diz:

[...] “prescrito” não quer dizer um uso literal dos textos bíblicos que se referem ao culto, até
mesmo por que se fosse assim teríamos muitos problemas de ordem interpretativa. O que
“prescrito” quer dizer é que devemos ter embasamento bíblico para tudo que venhamos a
utilizar no nosso culto público. Isto é o que nos diferencia dos católicos, luteranos e
122
anglicanos.

Resumindo as explicações, podemos dizer que “o modo com que a prescrição é dada não precisa ser
a de uma ordem explícita em um texto da Escritura. Um exemplo aprovado ou um princípio que se mostre
legitimamente aplicável garante um elemento de culto tanto quanto um preceito.”123
Por fim, gostaríamos de deixar a explicação do Princípio Regulador escrita por Marcos Granconato,
desejando eu, que colabore para uma melhor formação do conceito na mente do leitor:

A expressão "princípio regulador do culto" denota a existência de um valor básico e imutável


que deve ser protegido enquanto se realiza qualquer ato formal de adoração. A proteção
desse valor implica a observância de uma norma geral que rege o culto e lhe dá forma. Esse
preceito básico impõe limites ao adorador, impedindo-o de, levado pelos ditames de sua
consciência depravada, apresentar diante de Deus qualquer coisa que não corresponda à sua
natureza e vontade. O valor básico e imutável a ser protegido no campo da adoração é o
"direito" exclusivo de Deus de determinar o modo como deve ser cultuado. A regra básica
que protege esse valor pode ser formulada da seguinte maneira: nada pode ser praticado
durante o culto a Deus que não tenha sido expressamente estabelecido e determinado por
ele próprio nas páginas da sua revelação escrita. É a essa regra básica que convencionou-se
124
chamar "Princípio Regulador do Culto".

O Principio Regulador é Abrangente

Talvez este assunto de Princípio Regulador do culto soe estranho aos ouvidos de muitos, mas na
verdade deveria ser algo bastante natural a nós cristãos. Ora, “para os reformadores, somente a Escritura
Sagrada tem a palavra final em matéria de fé e prática.”125 E como bem sabemos, esta é uma das afirmações
mais conhecidas entre os evangélicos brasileiros: “A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática.” Se é assim
que afirmamos, então porque é de admirar que devemos seguir as Escrituras com respeito ao culto? Acaso o
culto, e tudo que se refere a ele, não é matéria de nossa fé e de nossa prática? Afirmar que a Bíblia é nossa
única regra de fé e prática, e logo depois querer realizar o culto à nossa maneira parece bem contraditório
não acha?
O problema é que muitos falam, mas não vivem o que falam. Declaram crer em determinadas
afirmações que, na prática, negam. Além do mais, ao falarmos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e
prática, estamos dizendo isto com relação a tudo na vida. Assim, o Princípio Regulador não diz respeito só ao
culto público, mas também a todo meu procedimento fora do culto:

O Princípio Regulador se aplica não somente à adoração, mas a todos os aspectos da vida e
testemunho da igreja. A menos que a igreja possa encontrar uma clara garantia das Escrituras
para um ensino ou prática particular, ela não pode falar ou agir. De outra forma, ela corre o

122
ASSIS, Felipe. O Princípio Regulador do Culto e sua Relevância Hoje. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/principio_regulador_felipe.htm>. Acessado em: 02 ago. 2008.
123
YOUNG, W. O Princípio Puritano da Adoração – II in Revista Os Puritanos. São Paulo: Os Puritanos. Ano VIII, nº 3,
jul/ago/set, 2000. p. 3.
124
GRANCONATO, Marcos. A Confissão de Fé de Westminster e o Princípio Regulador do Culto., 2013.
125
SANTOS, João Alves dos. As Doutrinas da Reforma. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/teologia_reformada/doutrinas_reforma.htm>. Acesso em: 18 abr.2013.

40
risco de atar as consciências dos crentes e usurpar o Senhorio de Cristo. Neste sentido amplo,
o Princípio Regulador é apenas uma variação do princípio formal da Reforma, a saber, “sola
126
scriptura”.

Espero que agora o leitor tenha percebido que o Princípio Regulador não é tão estranho às doutrinas
bíblicas como se parece. Pelo contrário, é um dos pilares da Reforma Protestante. Infelizmente estas
doutrinas não são muito divulgadas, e os crentes “leigos” terminam desconhecendo as implicações das
doutrinas da Reforma.
Bom, a questão que desejamos enfatizar é justamente que não somente o culto, mas todos os
aspectos de nossa vida seguem o Princípio Regulador, e portanto, esta doutrina quando referida ao culto,
não deve parecer aos leitores uma doutrina procedente da mente de teólogos “neopuritanos” (“ou de
mentes fechadas”). A autoridade da Revelação abarca todo procedimento do ser humano. Quem explica
este tema com muita propriedade é o escritor John M. Frame:

Comprar couve é realmente adiaphoron, moralmente indiferente? Eu diria que não. Comprar
couve, como todas as ações humanas, é matéria de preocupação para Deus. Ele diz, “quer
comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co
10.31). Essa ordem, como aqueles em Rm 14.23, Cl 3.17, 24 e alhures, é absolutamente
genérica. Ela cobre todas as atividades humanas, inclusive comprar couve. Se compramos
couve para a glória de Deus, ele fica agradado; caso contrário, ele não fica. O ato não é
moralmente indiferente ou neutro; ele é ou bom ou mau, dependendo de sua meta e motivo.
Portanto, em um sentido importante, não há nenhuma adiaphora; não há nenhum ato humano
que seja moralmente neutro. Todo ato humano ou é certo ou errado, ou agradável ou
desagradável a Deus. Isso significa que todas as ações humanas são governadas por
mandamentos divinos. Não há área neutra onde Deus nos permita ser nossos próprios
legisladores. Não há área da vida humana onde Deus abdique de seu governo, ou onde sua
palavra para nós seja silente. Que lei governa a compra de couve? Bem, 1Co 10.31 pelo
menos, para não dizer princípios bíblicos mais estritos que exigem que os pais deem de comer
a seus filhos, tomem precauções quanto a saúde de si mesmos e de outros etc. Ações de acordo
com tais princípios bíblicos estão certas, ações em desacordo com elas estão erradas. Não se
trata de questão de meramente evitar proibições explícitas; antes, trata-se de questão de
guardar os mandamentos de Deus. [...] Em toda ação, estamos ou obedecendo ou
desobedecendo a um mandamento bíblico.127

Bases Bíblicas para o Princípio Regulador no AT e NT

Certamente que diante de todas as explicações acima você ainda pode se perguntar: Mas onde tem
este Princípio Regulador referindo-se ao culto na Bíblia? Podemos mostrar vários textos na Palavra que
indicam que a Vontade de Deus é que o conteúdo do culto seja restrito à ordem do Senhor na Sua Palavra
(Ex 20:4-6; Ex 25:40; Lv 10:1, 2; Dt 12:30-32; Dt 4:1,2; Mt 15:1-9, 13; Pv 30:5, 6; 1Sm 13:8-13; Jr 7:31; 19:5;
Ml 1:7-10; Dt 17:3; Js 1:7; 23:6). Não devemos modificar, acrescentar, ou diminuir as orientações que o
Senhor nos concedeu pela Revelação da Bíblia. Como poderemos observar, existem vários textos que
corroboram a doutrina, todavia, para que o leitor possa entender ainda mais, explicaremos alguns destes
textos logo em seguida.

Êxodo 20:4-6

Ao olhar para o Segundo Mandamento do decálogo a primeira impressão que nos vêm à mente é
que ele expressa, em essência, o mesmo conteúdo do Primeiro. Contudo, precisamos diferenciar os dois no
sentido de que o Primeiro Mandamento fala da exclusividade de Deus, enquanto que o Segundo

126
HART, D.G., John R. Meuther. J. Gresham Machen e o Princípio Regulador. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/principio_regulador_machen.htm>. Acesso em: 02 ago.2008.
127
FRAME, John M. Algumas Questões sobre o Princípio Regulador., 2013.

41
Mandamento fala da espiritualidade dEle. Enquanto o Primeiro preserva a adoração somente a Deus, o
Segundo ensina como Deus deve ser cultuado. O Catecismo Maior de Westminster em sua pergunta nº 108,
diz: Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento? E é declarado como resposta: “Os deveres
exigidos no segundo mandamento são: o receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo o culto e
todas as ordenanças religiosas tais como Deus instituiu em sua Palavra [...]”. Portanto, o Segundo
Mandamento do decálogo diz respeito ao culto. Declara que devemos obedecer o que nos foi Revelado.
Bom tendo em mente que o Segundo Mandamento nos ordena cultuar a Deus do modo como ele
determinou, então se conclui igualmente que é possível um indivíduo cultuar a Deus de modo errado. Por
isto o Segundo Mandamento vem nos conceder o Princípio para levar-nos à forma correta de cultuar o
Criador. Para que o culto realizado seja aceito pelo Senhor devemos entender que o próprio Deus
estabeleceu diretrizes para culto, e estabeleceu o seu conteúdo. A Revelação bíblica nos diz como Deus quer
ser cultuado. Para isto nos serve as Escrituras: “Nos guiar à verdade”. Como declara William Bradshaw a
respeito do sentido do 2º Mandamento: “[...] quer você interprete o segundo mandamento como sinédoque
(i.e. imagens são tomadas como representativas de todos os meios humanamente inventados de culto),
quer não, este mandamento é contra todo culto não determinado por Deus. E a implicação é que, como
parte do decálogo, é um mandamento ainda válido.”128

Levítico (10:1, 2)

Neste texto temos declarado que dois sacerdotes foram julgados pelo Senhor por causa de um
pecado em relação ao culto. Mas qual mandamento eles quebraram? O texto deixa claro que Deus não os
condenou por terem quebrado um mandamento divino (isto concordaria com o Princípio Normativo
adotado por Lutero a respeito do culto como vimos acima). O que aconteceu deixa claro que as Escrituras
seguem o Princípio Regulador, que foi extraído das Escrituras, e defendido pelos Calvinistas:

Esta passagem inicialmente nos mostra que Nadabe e Abiú achegaram-se a Deus, para
oferecer-Lhe incenso, mas Deus não o aceitou. Ele não se agradou do que aqueles homens
Lhe estavam ofertando. Nadabe e Abiú ofereceram “fogo estranho”. Esta expressão é
bastante admirável. Deus jamais havia dito que alguém não Lhe poderia oferecer aquele tipo
de fogo. Você pode examinar toda a Bíblia, a fim de em vão procurar o mandamento que lhes
proibia de fazer isso. Pelo contrário, descobriremos o que Deus positivamente havia dito.
Embora não tenha proibido que alguém Lhe trouxesse esse fogo estranho, o texto bíblico nos
mostra que Deus não o aprovou e matou os homens que o ofereceram. Nadabe e Abiú
determinaram por si mesmos oferecer algo que Deus não havia expressamente pedido; e,
129
por causa disso, foram “consumidos” pelo Senhor.

O pecado deles foi oferecer um culto diferente do que lhes havia sido ordenado. Vemos nas
Escrituras outros exemplos de pessoas que ofereceram culto de forma diferente do ordenado por Deus e
foram desprezados (Is 1:10-15; Ml 1:6-14), e até castigados (1Co 11:30-32).

Deuteronômio 12.30-32

Este texto é interessante, pois demonstra Deus falando especificamente que os israelitas não
deveriam imitar os costumes dos cultos pagãos. “É interessante observar que no Antigo Testamento Israel
não foi proibido de adquirir métodos agrícolas ou arquitetônicos dos cananeus, mas houve explícita
proibição de que copiasse qualquer aspecto da adoração pagã.”130 Com respeito à adoração a regra é: faça
somente o que lhe foi ordenado através da Revelação bíblica! Ainda que um suposto profeta venha dizendo

128
BENNETT, Christopher J. L. O Culto entre os Puritanos in Revista Os Puritanos. São Paulo: Os Puritanos. Ano VIII, nº
2, abr/maio/jun, 2000. p. 11.
129
MCMAHON, Matthew. O Princípio Regulador do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/Principio_Regulador_McMahon.pdf>.Acesso em: 25 jun.2013
130
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão., 2008.

42
que Deus o enviou, e revele algo estranho as Escrituras, ele deve ser rejeitado (Dt 13:1-5; Gl 1:8, 9; 1Co
14:37, 38). As tais “novas revelações” não têm autoridade para modificar, substituir, acrescentar, ou
diminuir o que está revelado na Bíblia!

Argumentos Teológicos

Além dos textos acima explanados, pode-se ainda demonstrar a veracidade do Princípio Regulador
do culto por meio de varias argumentações teológicas. Por exemplo, se o culto pudesse ser oferecido como
queira o homem, acrescentando ou diminuindo, então não haveria necessidade de Paulo ordenar sobre
questões de culto às igrejas (1Co 11,14; 1Tm 2:8-15; Rm 12:1). Bastava eles fazerem com “sinceridade de
coração”! Mas isto não acontece. Pelo contrário, Paulo diz que todos devem seguir as suas ordens (1Co
14:37, 38).
Outro exemplo que podemos dar é o próprio livro de Levítico no Antigo Testamento. Deus ao
entregar a Lei ao povo de Israel no Antigo Testamento elaborou um livro inteiro de culto - o livro que
conhecemos hoje com o nome de Levítico. Ora, se o adorador pudesse adorar de qualquer forma, então o
livro de Levítico não teria nenhuma utilidade! Talvez você argumente dizendo: “Mas Levítico é no Antigo
Testamento, hoje é diferente!” Na verdade não é bem assim. Os princípios para o culto permanecem. O que
mudou não foi a essência do culto, mas alguns aspectos dele. Nas palavras de G.W. Bromiley:

Um ponto adicional é que a adoração bíblica não é deixada ao capricho de homem. Não é
controlada pelos desejos arbitrários ou necessidades contingentes. Ela não pergunta que
coisas serão de maior ajuda, ou expressarão melhor o impulso para adorar, de um ponto de
vista humano. Ela aprende, de Deus, como adorar o próprio Deus que é objeto da adoração.
Isto é especialmente claro no AT, onde Deus diz a Moisés, em pormenores, como esse povo,
redimido por ele do Egito, deve agora adorá-lo e servi-lo tanto no deserto como
posteriormente na Terra Prometida... A rigidez de detalhes, naturalmente, não é mais
encontrada no NT. Mas o mesmo princípio se aplica, mesmo que de modo diferente. Toda a
ação cristã está sujeita à soberania do Espírito e à normatividade da palavra. Se regulamentos
detalhados não são mais dados, os componentes básicos da adoração são claramente
apresentados, tanto no AT como no NT. As formas usadas pelos cristãos, embora variem
muito nos detalhes, devem ser formadas de tal maneira que expressem e incorporem estes
131
elementos essenciais em proporção, pureza e poder.

Além dos argumentos acima podemos acrescentar as explicações de T. David Gordon, que nos
mostra algumas razões claras pelas quais a Igreja deve seguir o Princípio Regulador do culto:

[...] A Igreja é uma instituição; instituída pela ordenação positiva do Cristo ressurreto, e
autorizada por Ele para requerer obediência aos Seus mandamentos e participação em Suas
ordenanças. À Igreja não é dada nenhuma autoridade para requerer obediência às suas
próprias ordens, e não lhe é dada autoridade para requerer obediências a ordenanças criadas
por ela. O Princípio Regulador do Governo da Igreja vem antes do Princípio Regulador de
Adoração.[...] Os caminhos e os pensamentos de Deus estão acima dos nossos, assim como
os céus estão acima da terra. O que nos faz pensar que podemos talvez sondar o que agrada
a Deus? [...] Em muitas passagens, os ímpios são descritos não como fazendo o que é
contrário à vontade de Deus, mas o que está além da Sua vontade. Similarmente, os piedosos
são descritos por seu tremer na presença de Deus, por seu fazer exclusivamente o que Deus
132
quer.

Espero que o leitor tenha entendido claramente o significado do Princípio Regulador do culto.
Fundamentado neste Princípio nós seguiremos com nosso estudo. Caso ainda haja dúvidas, sugiro que releia

131
BROMILEY, G.W., 2008, p. 110.
132
GORDON, T. David. Nove Linhas de Argumentos em Favor do Princípio Regulador da Adoração. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/nove_argumentos.htm>. Acessado em: 02 Ago. 2008.

43
todo o capítulo novamente e reflita sobre cada argumentação. Ao final se pergunte: Por qual razão bíblica eu
não concordo com este Princípio? Esboçamos a maneira calvinista de interpretar e entender o conteúdo do
culto segundo a Escritura. Caso haja divergência na sua visão de entender, então também deve se perguntar
qual linha de interpretação você está adotando para entender as Escrituras Sagradas.133

133
Devo lembrar ao leitor que a linha hermenêutica de interpretação adotada pelos calvinistas procura entender o que
os autores bíblicos intencionaram dizer. Há muitas linhas hermenêuticas diferentes no mundo, mas com certeza não se
coadunam com a intenção do autor inspirado. E se o leitor não desejar saber a intenção do autor inspirado, então que
razão há para se ler a Bíblia?

44
CAPÍTULO VI
ELEMENTOS DO CULTO
Como vimos anteriormente os cristãos devem inequivocamente se apegar ao Princípio Regulador do
culto sob pena de o culto não ser aceito por Deus. Pelo contrário, os cristãos podem até mesmo serem
castigados por insistirem em oferecer “fogo estranho” ao Senhor (Lv 10:1-7; 1Co 11:30-32).
Tendo como pano de fundo o nosso dever de seguir o que está ordenado nas Escrituras, nossa
questão agora é saber: Qual é o conteúdo do culto segundo a Bíblia? Quais elementos devem estar
presentes? Apesar dos apóstolos não nos deixarem uma lista clara dos elementos de culto para o período da
Nova Aliança, ainda assim podemos retirar das Escrituras os elementos de culto ordenados pelo Senhor.
Observemos o comentário do escritor Terry L. Johnson:

Textos como Atos 2:42 nos dão um vislumbre da adoração na igreja primitiva, com um uso
simples da Palavra, dos sacramentos e da oração. Vemos também o apóstolo Paulo
regulamentando a oração (1Co 11:2-16; 14:14-17; 1Tm 2:1-3), os cânticos de louvor (1Co
14:26,27; Cl 3:16; Ef 5:19), a ministração da Palavra (1Co 14:29-33; 1Tm 4:13; 2Tm 4:1,2), o
Ofertório (1Co 16:1,2) e a Santa Ceia (1Co 11:17-34). Esses parecem ter sido os elementos
regulares do culto na igreja apostólica. A oração, a leitura das Escrituras, a pregação das
Escrituras, o cântico de Salmos, a ministração dos sacramentos e os juramentos religiosos,
são todos feitos "de acordo com as Escrituras", modelados pelo exemplo apostólico,
regulados pelas ordenanças apostólicas e acompanhados pelas divinas promessas de
134
bênçãos.

Igualmente seguindo as bases bíblicas para o culto foi que a Confissão de Fé de Westminster em seu
Capítulo XXI, Seção V descreve os elementos do culto: “A leitura das Escrituras, com santo temor; a sã
pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência;
o cântico de salmos, com gratidão no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos
sacramentos instituídos por Cristo — são partes do culto comum oferecido a Deus, além dos juramentos
religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em seus vários tempos e
ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso.”
Bom, os elementos foram apresentados acima, mas ainda devemos entender que estes elementos
são utilizados de forma diferente pela Igreja do Senhor. O teólogo Johannes Geerhardos Vos em seu
comentário do Catecismo Maior de Westminster nos explica esta diferença:

Nas ordenanças voltadas para o uso regular e nas voltadas para o uso ocasional. A oração, a
pregação e os sacramentos, por exemplo, são dirigidas ao uso regular. O jejum religioso, o
jurar em nome de Deus e o fazer votos a Ele são para uso ocasional, isto é, não devem ser
realizadas a intervalos de tempo definidos e regulares, mas quando alguma ocasião especial
135
as exigir.

O Princípio Regulador do culto nos faz entender que somente estes elementos devem se fazer
presentes no culto ao Senhor. Além do mais, não somente estes elementos devem se fazer presentes, eles
devem ser guiados e cheios do conteúdo da Palavra. Cada elemento do culto deve expressar as verdades da
Escritura:

Como a Palavra deve estar presente e encher nossa adoração? Como a Bíblia mostra, a
Palavra está presente de diversas formas... A forma mais óbvia é a leitura da Palavra. Esta
Palavra deve ser uma parte distinta e central da adoração. Paulo escreveu a Timóteo, “aplica-
te à leitura, à exortação, e ao ensino” (1 Timóteo 4:13). Aqui, à leitura da Bíblia é dada uma

134
JOHNSON, Terry L. Adoração Reformada. São Paulo: Os Puritanos, 2001. p . 37.
135
GEERHARDUS VOS, Johannes. O Catecismo Maior de Westminster Comentado por Johannes Geerhardos Vos.,
2002, p. 336.

45
importância que é coordenativa à pregação e ao ensino... A Palavra deve também encher as
nossas orações. As maiores orações da igreja são ricas em linguagens da própria Bíblia,
oferecendo a Palavra de Deus de volta a Ele, em oração. As palavras da Bíblia devem informar
nossas orações com a verdade de Deus, as promessas de Deus, e as bênçãos de Deus sobre o
Seu povo... A Palavra deve ser a base do nosso cantar. No mínimo, os cânticos da igreja
devem relatar as verdades da obra salvadora de Deus. Atenção primária deve ser dada ao
conteúdo dos cânticos... A Palavra deve estar presente nos sacramentos da igreja – o batismo
e a Ceia do Senhor. Agostinho chamou os sacramentos de “a palavra visível”, que é uma
forma útil de pensar sobre eles. Elas não são cerimônias estranhas que distraem de Cristo e
da Palavra, mas são precisamente outra maneira na qual Deus comunica Sua Palavra...
Finalmente, a Palavra deve estar presente na pregação da igreja. Pregação é a comunicação
136
verbal da Palavra de Deus, aplicando-a às vidas do povo de Deus.

Havendo compreendido o que a bíblia diz acerca dos elementos do culto, voltemos nossa atenção à
outra questão de grande importância. A teologia reformada não somente fala a respeito dos elementos do
culto, ela também contempla determinadas circunstâncias referentes à execução do culto que devem ser
consideradas pela Igreja. Estas circunstancias não são iguais aos elementos de culto, mas devem ser
analisados por nós com semelhante atenção. Estes aspectos são denominados de circunstâncias do culto.
Vejamos a diferença entre as circunstâncias do culto e os elementos de culto:

O que diferencia estas circunstâncias dos elementos do culto é que os elementos são parte
essencial do culto a Deus e foram por ele prescritos em sua Palavra, sendo meios pelos quais
recebemos a sua graça e sua Palavra e lhe prestamos adoração e louvor. As circunstâncias,
por sua vez, dizem respeito aos passos envolvidos na implementação e aplicação dos
elementos e são dependentes destes. Destarte, as circunstancias não são parte essencial e
intrínseca do culto, podendo ou não estar presentes, de acordo com o julgamento dos
pastores e conselhos das igrejas locais. A presença ou ausência de determinadas
137
circunstancias não torna um culto mais ou menos espiritual ou aceitável a Deus.

A título de exemplo de circunstancias de culto podemos citar: uso do microfone, púlpito,


instrumentos musicais, horário dos cultos, que tipos de móveis deve estar presentes no templo, decoração,
uso de mídia, coral, local da reunião, roupas para o culto, iluminação... Para todos estes aspectos não
possuímos um mandamento bíblico. Todavia, sejam quais forem as circunstancias, elas não devem ser
guiadas pelo prazer e capricho humanos. Observemos como a Confissão de Fé de Westminster em seu
Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA, Seção VI, trata das circunstancias de culto: “[...] há algumas
circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as
quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da
Palavra, que sempre devem ser observadas” (2Tm 3:15-17; Gl 1:8; 2Ts 2:2; Jo 6:45; 1Co 2:9,10, 12; 1Co
11:13-14). Assim, mesmo que as circunstancias de culto não estejam prescritas nas Escrituras, elas são
reguladas e delimitadas pelos princípios gerais da Palavra de Deus.
Por fim, tendo compreendido que o culto é preenchido pelos elementos de culto, passemos agora a
estudar um pouco sobre cada um deles. Evidentemente não examinaremos exaustivamente todos eles.
Falaremos de alguns aspectos doutrinários importantes para o entendimento correto por parte do leitor, e
faremos alguns esclarecimentos quanto ao seu uso no culto.

Oração

Embora saibamos que há alguns que nem consideram a oração como um Meio de Graça, ainda
assim, é nosso dever esclarecer algumas verdades a respeito da oração no culto cristão. Ora, a Escritura
sempre considerou importante a oração para a vida espiritual dos cristãos (1Ts 5:17; Tg 4:1-3; Mt 26:41; Mt

136
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração., 2013.
137
Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 18, 19.

46
7:7-11; Lc 18:1-78; Ef 6:18, 19). Contudo, sempre houve crentes que negligenciaram a sua prática. Isto é tão
verdadeiro que até mesmo há igrejas em que a chamada “reunião de oração”, não somente vão poucos
indivíduos, como igualmente o tempo gasto em oração é mínimo. Sendo um elemento de culto a oração
deve encontrar lugar nos cultos da Igreja; e ao mesmo tempo ser mais valorizada.
Além da importância de sua presença nos cultos, devemos salientar outro importante aspecto
relacionado à oração. Muitos acham que o cristão deve simplesmente orar, que tudo será atendido.
Infelizmente não entendem que a oração traz consigo alguns requisitos para que Deus possa ouvir o
adorador. Os seguintes requisitos para a oração são encontrados:

1- É preciso orar em nome de Jesus (Jo 14:13);


2- A oração deve ser fundamentada na fé (Tg 1:5-7);
3- O adorador deve andar em santidade (Is 1:15; Jr 11:9-11);
4- O propósito deve ser alcançar a Vontade de Deus (Mt 26:39; 1Jo 5:14);
5- O coração precisa ser sincero (Mt 6:5, 6);
6- O adorador não deve se prender a palavras inúteis (Mt 6:7);
7- A oração deve ser compreendida pelos irmãos no culto (1Co 14:15-17).

Todos estes requisitos devem ser considerados quando oramos. Deus não ouve a oração
simplesmente porque foi oferecida como ato de adoração. Ela deve ser oferecida seguindo os princípios
bíblicos. Por não se seguir estes princípios é que vemos muito erros frequentes em relação à oração nas
igrejas modernas. Por exemplo, encontramos orações que “determinam, decretam, exigem” de Deus. Já não
se ora como servo, mas como “um senhor que exige a resposta”. Já outros oram com palavras tão eruditas
que os mais simples não conseguem entender o que se fala. Como poderão dizer “amém” nestas
circunstâncias? Ainda outros pensam que orar ajoelhado torna as orações “mais poderosas”! Tais
comportamentos e outros semelhantes quebram os princípios bíblicos, e devem ser evitados.
Não somente encontramos requisitos para a oração na Bíblia. Nela também podemos encontrar
algumas regras de comportamento que estão relacionadas à prática da oração. O reformador João Calvino
nos lista algumas regras para observarmos na oração:

(a) reverência: evitar toda ostentação ou arrogância; (b) contrição: deve proceder de um
coração arrependido; (c) humildade: ter em mente a glória de Deus; (d) confiança: firme
esperança de que a oração será respondida. Isso se aplica tanto à oração individual quanto às
138
orações coletivas da igreja.

Em nossa prática devemos seguir tanto os requisitos quanto as regras acima alistadas sob o risco de
estarmos simplesmente orando em vão.
Além destes aspectos a Escritura igualmente ensina que podemos nos dirigir a Deus por meio de
orações de diversos tipos: Louvor: (Ap 4.8-11; Mt 6.9; Lc 1:68); Confissão: (1Jo 1:9; Sl 32:5; 51:1-10; Pv
28:13); Ação de Graças: (Is 12:1-6; Jo 11:41; Mt 11:25; Rm 1:8; Ef 1:16, 5:20); Súplica: (Mt 7:7-11; Tg 1:5; 4:2-
3; At 4:29-31; Mt 6:11); Intercessão: (Jo 17.20; Cl 1.9; Is 53:12, 59:16; Mt 5:44). Como podemos notar, para
os cristãos o problema não é a falta de tipos de oração, mas seguir uma prática mais bíblica.
Alguns equívocos com respeito à oração ainda precisam de esclarecimentos. O primeiro equívoco é
quando um adorador utiliza-se da oração de forma estranha à natureza da oração. Digo isto porque “as
orações de alguns bons homens são mais como pregações do que orações. Eles antes expressam a mente do
Senhor para o povo, do que os desejos do povo para o Senhor. Na verdade, isto dificilmente pode ser
chamado oração.”139 Se um individuo vai orar juntamente com outros, então o que se espera é uma oração,
não um “sermão” ou “um puxão de orelha”.

138
MATOS, Alderi Souza de. O pensamento teológico reformado: Origem e desenvolvimento. Disponível em:
<http://www.mackenzie.com.br/7068.98.html>. Acessado em: 03 ago. 2014.
139
NEWTON, John. Oração Pública. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/oracao/oracao_publica.htm>
Acessado em: 03 ago. 2014.

47
O segundo equívoco é quando o individuo no culto vai orar em voz audível, mas o faz com voz muito
baixa, impossibilitando alguns de escutar o que está sendo dito. Isto certamente não colaborará para um
bom andamento do culto. Quando isto acontece não se tem uma boa reação dos ouvintes. “Fatiga o espírito
e enfada, estar ouvindo, por qualquer tempo, uma voz muito baixa. Algumas palavras ou sentenças serão
perdidas, o que tornará aquilo que é ouvido, menos inteligível e deleitável.”140 Se um indivíduo não
consegue orar de modo que todos ouçam, então, é melhor que o dirigente não o coloque para orar no culto.
A oração é um elemento de culto, e como tal, deve ser abençoador para os ouvintes, e não, um elemento
incompreensível, que não edifica (1Co 14:16, 17).
Deve-se ter cuidado igualmente quando todos os adoradores se põem a orar ao mesmo tempo. Se
não houver um cuidado por parte do dirigente, o culto pode perder o princípio bíblico da ordem (1Co 14:40),
e se tornar uma reunião barulhenta e pouco solene. Há quem pense que pode orar praticamente aos gritos.
Outros pensam que podem pular, gemer... Um elemento de culto nunca deve ser utilizado de forma a
quebrar princípios bíblicos como prudência, sensatez, simplicidade, discrição, respeito ao próximo... etc.
Outro equívoco cometido às vezes em orações públicas é quanto a sua duração. Quando estamos
em nosso culto individual podemos orar o quanto quisermos. Porém, nos cultos doméstico e público não
temos tamanha liberdade. A oração longa neste caso pode ser mais prejudicial que benéfica. Como bem
comenta o clérigo anglicano John Newton:

A principal falta de algumas boas orações é que elas são muito longas; não que eu ache que
devemos orar pelo relógio e limitar-nos precisamente a um certo número de minutos, mas é
melhor que os ouvintes desejem que a oração seja mais longa, do que passem metade do
tempo desejando que ela acabe. Isto frequentemente se deve a uma delonga desnecessária
sobre cada circunstância que se apresenta, bem como repetições das mesmas coisas. [...]
Mas eu creio que algumas vezes acontece, tanto na oração quanto na pregação, de nos
prolongarmos quando na realidade temos pouco a dizer. Orações longas deveriam ser, de
maneira geral, evitadas, especialmente onde muitas pessoas orarão sucessivamente, do
141
contrário, mesmo ouvintes espirituais não conseguirão manter sua atenção.

Pregação e Leitura da Escritura

Nos cultos Individual e Doméstico com certeza a Palavra de Deus deve ser lida. E no culto doméstico,
ela deve ser explicada pelo líder da família aos membros da casa. No culto público a Escritura deve ser lida e
explicada. A função da Palavra é tão importante que os puritanos colocaram a Pregação da Palavra como
sendo o momento mais importante do culto. O culto não pode ser dissociado da Pregação da Palavra:

A Palavra e a Adoração pertencem indissoluvelmente uma à outra. Toda a adoração é uma


resposta inteligente e amável à revelação de Deus, porque é a adoração de seu nome.
Portanto, a adoração aceitável é impossível sem a pregação. Pregar é tornar conhecido o
nome de Deus, e adorar é louvar o nome do Senhor sobre o qual fomos informados. Ao invés
de ser uma intrusão alienígena à adoração, o ler e o pregar a Palavra são realmente
142
indispensáveis à adoração. As duas não podem ser divorciadas.

Por sua importância, devemos diligentemente tentar eliminar erros frequentemente cometidos com
respeito a estes dois elementos de culto.
Quanto à leitura da Escritura pouco há de se falar a respeito. Dificilmente teremos um culto (seja de
qual tipo for) sem a leitura da Bíblia. Dois erros que podem ser cometidos com respeito a este elemento de
culto são: 1- O não entendimento do texto bíblico; 2- A falta de atenção dos ouvintes.
Com relação ao entendimento, todo elemento de culto deve ser compreendido pelos adoradores. O
propósito dos elementos de culto é a edificação dos crentes. Um erro muito cometido nos cultos individuais

140
Ibid., 2014.
141
NEWTON, John. Oração Pública., 2014.
142
MACARTHUR, John. Como devemos cultuar a Deus?, 2013.

48
e domésticos é ler a Palavra e não se importar se entendeu o texto ou não. Ora, que espécie de culto
individual é oferecido a Deus onde o adorador não busca entender o que leu na Bíblia? Que valor tem a
leitura da Bíblia no culto doméstico se a família não entende o que Deus ensina a ela? Estas são atitudes
maléficas, e as encontramos muito entre os crentes no Brasil. Os evangélicos no Brasil tem o costume de ler
simplesmente como “desencargo de consciência” (isto quando leem!). Não importa nem um pouco se o que
ele leu não foi compreendido. A leitura se torna um momento mágico onde o adorador basta ler e pronto...
Deus já falou com ele. Isto é um engano terrível!
Deve-se ter certeza de que o texto que está sendo lido é compreendido pelo adorador. Às vezes a
leitura bíblica se torna algo tão ritual que nos esquecemos de que deve fazer sentido ao adorador.
Reflitamos bem, no Brasil de hoje, será que quando é feita uma leitura na Bíblia Tradução Almeida Revista e
Atualizada (ou Corrigida), todos compreendem (independente do tipo de culto)? Certamente esta tradução
possui muitos termos incompreensíveis à maioria dos adoradores simples. Esta é uma questão que deveria
ser refletida para se obter uma solução viável. Além disto, o que percebemos em nossos dias é que a leitura
da Bíblia em quaisquer dos três tipos de culto é um elemento pouco utilizado. Ou seja, há pouco texto
bíblico sendo lido.
Um fato importante também a ser notado é que nem todos podem ler as Escrituras no culto público.
Não por questão de acepção de pessoas, mas por que alguns infelizmente não têm muita prática de leitura,
fazendo com que a leitura do texto seja deficiente. Por exemplo, erra-se na pronúncia das palavras, na
velocidade da leitura do texto, e até mesmo na pontuação do texto. Isto atrapalha o entendimento do texto
bíblico. As chamadas leituras responsivas muitas vezes também atrapalham mais do que ajudam; uns
acabam lendo mais rápidos que outros, e isto pode atrapalhar no entendimento do que está sendo lido.
O segundo erro a ser considerado com respeito à leitura da Bíblia no culto diz respeito à atenção dos
ouvintes. Ora, se por um lado temos pouca leitura da Bíblia nos cultos públicos, por outro lado não podemos
exagerar fazendo leituras extensas demais, pois corre o risco de perdermos a atenção do leitor. Além do
mais, muitos têm participado das leituras dos textos bíblicos, porém sem nenhuma atenção. São leituras
feitas mecanicamente. A leitura é feita de forma tão desatenciosa que corre o risco de o adorador nem
sequer saber o que está escrito, mesmo tendo acabado de ler!
Mais importante ainda que a leitura da Escritura é a pregação da Palavra. Infelizmente muitas igrejas
tem diminuído o tempo da pregação no culto público. Por exemplo, às vezes dá-se mais ênfase a um
testemunho pessoal do que à pregação. Como se um pudesse ser substituído pelo outro! Como bem
sabemos, testemunho pessoal nem é elemento de culto! Para que colocá-lo no culto público então?
Observemos abaixo o comentário de Jairo Rivaldo sobre o assunto:

Não menosprezamos o valor de determinadas experiências pessoais, tais como a conversão


de um ateu, ou de qualquer outra pessoa que tenha sido chamada pelo Senhor em
circunstâncias dramáticas, mas acho que hoje em dia, existe um grande apelo de quase todas
as igrejas em promoverem eventos totalmente voltados para testemunhos extraordinários,
principalmente envolvendo "ex-famosos". Historicamente, essa prática não encontra
respaldo no cristianismo ortodoxo, e só recentemente, igrejas históricas e de confissão
reformada introduziram essa prática em sua liturgia. O problema das igrejas históricas em
aderir a essa prática neo-pentecostal, está em inverter o foco no culto, está em o culto deixar
de ser cristocêntrico e passar a ser antropocêntrico, digo isso, pois em determinados cultos, o
testemunho pessoal tomou o lugar da exposição da Palavra. Não sou contra que alguém
durante a pregação, conte uma experiência pessoal, até a experiência da sua conversão, mas
contanto que essa não seja o cerne da questão. Para tristeza nossa, igrejas de confissão
reformada, embaladas na onda do crescimento a qualquer custo, tem encabeçado a lista de
igrejas que promovem eventos voltados exclusivamente para testemunhos pessoais, o
interessante, é que só são convidadas pessoas que anteriormente eram conhecidas na mídia,
na música etc. Essa com certeza é uma estratégia de marketing, basta ligar a tv num desses
programas de "milagres" para constatarmos a quantidade de testemunhos pessoais contados
nessas reuniões. Essas introduções modernas no culto cristão, são consequências do
abandono do princípio regulador do culto, que visa purificar simplificar o culto cristão. Afinal
de contas, o culto é o lugar onde se deve falar de cristo, e não de nós mesmos, o lugar onde o

49
evangelho deve ser promovido e não nossas experiências pessoais, em suma, o lugar onde
143
Deus é glorificado e o homem humilhado.

Já em outras igrejas temos um momento de louvor extenso, deixando igualmente pouco espaço ao
pregador. É bem verdade que muitos nem percebem o mal que fazem à igreja desprezando o valor da
pregação.
Outra prática que tem sido muito utilizada em igrejas durante o culto público é o teatro. Ora, Deus
em nenhum lugar ordena que utilizemos do teatro para levar a Palavra a seu povo. Na época de Paulo já
existiam teatros, mas ele instrui Timóteo a pregar a Palavra (2Tm 4:2) e não a fazer uma peça de teatro! Ao
invés de investir em atores, o que as igrejas deveriam prezar grandemente é a preparação do ministro, o
qual alimentará a igreja com a Palavra. O apóstolo Paulo orienta a respeito da capacidade dos ministros
quanto ao ensino (1Tm 3:2; 2Tm 2:15; Tt 1:9). Além disto, o próprio Deus capacita com dom específico
aqueles que chama para o ministério da Palavra (Ef 4:11).
Outra prática que temos visto com respeito à pregação é a entrega dos púlpitos de nossas igrejas a
indivíduos que confessam doutrinas contrárias à linha reformada, ou pessoas incapazes de realizar com
habilidade este elemento de culto tão importante que é a pregação. E mais, vemos indivíduos sendo
ordenados ao ministério, os quais não possuem nenhuma capacidade espiritual, habilidade intelectual, ou
conhecimento teológico para o ofício. Com isto a Igreja corre dois riscos em relação à pregação: 1- O risco de
os ouvintes não entenderem o sermão; 2- O risco de o pregador não ser fiel às Escrituras.144A pregação é um
elemento de culto importante demais para ser negligenciado:

[...] quando a Palavra de Deus é pregada, é como se o próprio Deus estivesse falando.
Quando fiel à Palavra de Deus e movido pelo Espírito a falar o que a Palavra revelada
prescreve, o pregador fala como porta voz de Deus. Calvino tinha essa visão, e por isso não
podia deixar de entender que o ponto alto do culto era a pregação da Palavra, pois era o
momento do próprio Deus falar, por ser ele o autor da pregação, bem como o responsável
145
por seus resultados.

O Catecismo Maior de Westminster explica como deve ser feita a pregação no culto em sua resposta
à pergunta nº 159 - Como a Palavra de Deus deve ser pregada por aqueles que para isto são chamados? Ele
declara o seguinte: “Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a sã
doutrina, diligentemente, em tempo e fora de tempo, claramente, não em palavras persuasivas de humana
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder; fielmente, tornando conhecido todo o conselho de
Deus; sabiamente, adaptando-se às necessidades e às capacidades dos ouvintes; zelosamente, com amor
fervoroso para com Deus e para com as almas de seu povo; sinceramente, tendo por alvo a glória de Deus e
procurando converter, edificar e salvar as almas” (Jr 23:28; Lc 12:42; Jo 7:18; At 18:25; 20:27; 26:16-18; 1Tm
4:16; 2Tm 2:10, 15; 4:2,5; 1Co 2:4,17; 3:2; 4:1,2; 9:19-22; 14:9; 2Co 4:2; 5:13,14; 12:15,19; Cl 1:28; Ef 4:12;
1Ts 2:4-7; 3:12; Fp 1:15-17; Tt 2:1, 7, 8; Hb 5:12-14).
Para realizar tamanha responsabilidade é melhor seguirmos igualmente o que declara o mesmo
Catecismo em resposta à pergunta nº 158 - Por quem a Palavra de Deus deve ser pregada?: “A Palavra de
Deus deve ser pregada somente por aqueles que têm dons suficientes, e são devidamente aprovados e
chamados para o ministério” 146(Ml 2:7; Rm 10:15; 1Co 12:28,29; 1Tm 3:2,6;4:14; 2Tm 2:2). A conclusão que

143
SILVA, Jairo Rivaldo da. Disponível em:
<http: //www.metanoiaereforma.org/2011/05/relevância-dos-testemunhos-pessoais-no.html>. Acessado em: 15 jul.
2011.
144
A fidelidade às Escrituras, e a necessidade de o sermão ser compreensível, são dois aspectos da pregação que a
Igreja nunca deveria abrir mão. Os ministérios da Palavra são os mais importantes da Igreja de Cristo (Ef 4:11-16; 1Co
12:28; 14:1, 3, 19; 2Tm 3:16, 17).
145
COELHO, Ricardo Moura Lopes. Calvino e a Adoração Comunitária., 2013.
146
Discordo um pouco da declaração do Catecismo de Westminster porque entendo que além dos
pastores/presbíteros, os profetas do Novo Testamento também devem pregar à Igreja (1Co 14:1-4, 22, 24, 31, 32).
Porém, entendo que o ensino destes profetas deve concordar com o ensino oficial dos pastores/presbíteros da igreja.

50
podemos tirar destas palavras é que o ofício de pastor requer o chamado divino e preparação adequada
para o benefício da Igreja de Cristo.
Neste ponto é necessário esclarecer que com isto não estou dizendo que outras pessoas além dos
pastores/presbíteros não possam pregar a Palavra. Sem sombra de dúvida que os responsáveis pelo
doutrinamento da Igreja de Cristo são os pastores/presbíteros (Ef 4:11; 1Ts 5:12; 1Tm 3:2; Hb 13:7; 1Tm
5:17; At 20:28-31). Contudo, não significa que outras pessoas não possam trazer uma palavra à igreja no
culto público de Deus, pois existe outro ministério além do ensino, que é ministério da profecia147 (Rm 12:6;
1Co 12:10, 28; 14:3,29-32; 1Ts 5:20).
A esta altura devemos explicar a questão da possibilidade de as mulheres poderem pregar no culto
público por meio da profecia. Muitos teólogos afirmam que as Escrituras não permitem que a mulher faça
uso da palavra profética no culto porque Deus proíbe em duas ocasiões (1Tm 2:12; 1Co 14:33-35). Todavia,
observando atentamente a revelação bíblica veremos que as mulheres não podem ser ordenadas ao ofício
de ensino e governo. Ou seja, elas não podem ser pastoras ou presbíteras. Mas a profecia proferida por
mulheres no culto público não é proibido pela Bíblia (1Co 11:2-16). A fim de retirar dúvidas quanto aos
textos principais sobre este assunto, vejamos as explicações do pastor Augustus Nicodemus Lopes:

 1Tm 2:12:
Transparece do texto que ele não permite que a mulher, em posição de autoridade, ensine os
homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária
autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1Tm 4:11; 6:2;
5:17). Ao que tudo indica, algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos
falsos mestres, estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembleias cristãs.
Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de liderança
autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos, onde certamente homens
estariam presentes. Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por
mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos
homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre os
homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade
que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios que Paulo
percebe na criação e na queda. O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher
assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que
Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v.13),
e pela frase “autoridade sobre o homem” (v.12b). Um equivalente moderno seria a
148
ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa igreja local.

 1Co 14:33-35:

A questão central relacionada com a passagem é que tipo de restrição Paulo está impondo às
mulheres. Essa restrição não parece ser absoluta, a ponto de reduzir as mulheres ao silêncio
total nos cultos, já que ele, em 1Coríntios 11:5, dá a entender que elas poderiam orar e
profetizar durante as reuniões, desde que se apresentassem de forma apropriada, que
refletisse estarem debaixo da autoridade eclesiástica masculina. A dificuldade é que “falar” é
um termo bem genérico (laleō) e Paulo não coloca qualquer qualificação ao mesmo. [...] No
meu entender, a interpretação que traz menos problemas é a que defende que Paulo tem em
mente um tipo de “fala” pelas mulheres nas igrejas que implique uma posição de autoridade.
Elas podiam falar nos cultos, mas não de forma que parecessem insubmissas (ver v. 34b). No

147
Com a expressão “ministério” não estamos dizendo que os profetas do Novo Testamento tem o ofício profético
como acontecia com os profetas do Antigo Testamento. O ministério profético no Novo Testamento tem a ver com a
pregação da Escritura, e não com mensagens inspiradas reveladas por Deus. O único ofício no Novo Testamento
relacionado com o ensino oficial da Palavra à Igreja é o ofício de pastor/presbítero.
148
LOPES, Augustus Nicodemus. Ordenação Feminina: O que o Novo Testamento tem a dizer? Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997__1/ordenacao....pdf> Acessado
em: 01 ago. 2014.

51
contexto imediato, Paulo fala do julgamento dos profetas no culto (v.29), o que certamente
envolveria questionamentos e, até mesmo, a correção dos profetas por parte da igreja
reunida. Paulo está, possivelmente, proibindo que as mulheres questionem ou ensinem os
profetas em público. Se elas têm dúvidas quanto ao que foi dito por um ou mais profetas, as
casadas dentre elas deveriam esclarecê-las em casa, com os maridos (se fossem crentes,
149
naturalmente) (ver v.35).

A questão, portanto, não é se as mulheres podem trazer uma profecia à igreja. E quando falo em
profecia não me refiro a novas revelações, mas sim à pregação da Palavra conforme Paulo diz em (1Co 14:3).
A questão a ser compreendida é que, além dos pastores/presbíteros, os profetas (ou profetizas) também
poderão trazer uma palavra à igreja. Aliás, Paulo considera a profecia muito importante para a Igreja (1Co
12:28; 14:1, 4, 5; 1Ts 5:20). Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que os profetas estão debaixo de
julgamento quanto ao que falam. Tanto por outros profetas (1Co 14:29), quanto pela liderança da Igreja (Ap
2:2), quanto pelo povo de Deus (1Jo 4:1). Resumindo, além dos pastores/presbíteros e dos profetas,
ninguém deve ser colocado para pregar no culto público150.
Por fim, precisamos dizer que ficamos impressionados como nos dias de hoje a pregação da Palavra
seja tão desprezada. Na verdade o povo não somente despreza uma preparação adequada dos pregadores,
desprezam cada vez mais a própria pregação. Muitos vão ao culto público, mas não prestam atenção ao
sermão. A mente deles está voltada a tudo a seu redor (crianças que caminham no templo, o relógio, carros
passando na rua...), voltado a outros assuntos (os seus projetos, o trabalho no dia seguinte, a roupa do
pregador, alguém que faltou no culto...), menos ao que está sendo pregado. O culto deve ser respeitado e
ser motivo de meditação. O catecismo Maior de Westminster orienta como deve ser ouvida a pregação
(resposta à Perg. 160 - Que se exige dos que ouvem a Palavra pregada?): “Exige-se dos que ouvem a Palavra
pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo
que ouvem; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e prontidão de espírito, como a Palavra de
Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a escondam nos seus corações e
produzam os devidos frutos em suas vidas” (Dt 6:6, 7; Sl 84:1, 2, 4; 119:11, 18; Lc 8:18; 1Pe 2:1,2; Ef 6:17,18;
At 17:11; Hb 2:1; 4:12; Tg 1:21).
Uma geração de evangélicos que não sabe ouvir um sermão de modo conveniente não causa
surpresa por tornar as igrejas cada vez mais secularizadas. Aliás, uma geração que não pratica o culto
individual com leitura séria da Palavra, não pratica o culto doméstico com explicação da Escritura, não é de
admirar que não valorizem o sermão no culto público.

Cânticos

Um dos elementos de culto mais discutidos em nossas igrejas modernas são as canções. Grande é a
variedade de ritmos, letras, melodias existentes em nossos dias. As questões mais importantes a serem
discutidas nesta obra são: É permitido à Igreja de Cristo cantar cânticos que não sejam os salmos bíblicos?
Quais os ritmos podem ser utilizados no culto? Quais as melodias permitidas? Qual o conteúdo das letras das
canções? Todas estas questões são importantes e serão alvo de nossa discussão. Tentaremos responder a
cada uma por vez procurando ser o mais bíblico possível.
Primeiramente devemos refletir sobre a questão que, na teologia chamamos de “salmodia
exclusiva”, a qual afirma que Igreja não deve cantar nada além Salmos da Escritura. Muito se tem escrito
sobre isto e não desejo demonstrar as posições “contra” e “a favor” em detalhes. Devido ao fato de que

149
LOPES, Augustus Nicodemus. O culto espiritual: um estudo em 1Coríntios sobre questões atuais e diretrizes
bíblicas para o culto cristão/ Augustus Nicodemus Lopes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.p. 239, 240.
150
Nos casos excepcionais onde existe um grupo pequeno de crentes distante de uma igreja organizada e não há a
presença de um oficial para dirigir ou pregar no culto público, o que fazer? Não se reunirem em culto público? Nestes
casos, a liderança deve deixar um responsável, devidamente habilitado para isto, que dirigirá os cultos públicos (ver
capítulo sobre liturgia do culto). Quanto à pregação, os oficiais devem providenciar alguém que leve a Palavra a este
grupo. Mesmo não havendo um pregador em todos os cultos públicos, este grupo será edificado nos demais elementos
de culto: Oração, Leitura da Bíblia, Cânticos... etc.

52
defendemos a variedade de cânticos, e não sou favorável à salmodia exclusiva, demonstrarei vários
argumentos que autenticam esta posição. Dividiremos a explicação em partes para ajudar na compreensão.

Comentários Sobre os Textos de Cl 3:16/ Ef 5:19

Creio que os textos mais importantes para discutirmos sobre a validade ou não da salmodia exclusiva
sejam (Cl 3:16 e Ef 5:19). Estes são textos em que o apóstolo Paulo está fazendo uma declaração a respeito
dos cânticos a serem cantados pelos crentes. Assim, como no Novo Testamento não encontramos outros
textos claros o bastante sobre a questão, devemos, então, entender principalmente o que ele quis dizer ao
referir-se a “salmos, hinos e cânticos espirituais”.
Se pesquisarmos as posições teológicas vamos encontrar diferentes defensores tanto da posição
favorável à salmodia exclusiva, quanto desfavorável a ela. Trago ao leitor comentários variados sobre estes
textos acima referidos, a fim de levá-los a entender a posição por mim adotada:

a) John MacArthur:

Um salmo falava de uma música sagrada escrita para acompanhamento com instrumento
musical. (Psalmos é derivado de uma palavra que quer dizer tanger cordas com os dedos.) A
palavra era usada para referir a salmos do Antigo Testamento (Atos 1.20; 13.33), bem como
canções cristãs (I Cor 14.26). Um hino falava de uma música de louvor a Deus, um paion [hino
alegre e exultante de louvor, tributo, ação de graças ou triunfo] religioso. Um cântico, porém,
podia ser música tanto sagrada quanto secular. Então o apóstolo especifica: “canções
151
espirituais”.

E ainda:

As distinções entre os termos são um tanto nebulosas, e como Hodge indicou, a nebulosidade
se reflete mesmo no nosso uso moderno dessas palavras. Não obstante, determinar as reais
formas dos “salmos, hinos e canções sagradas” não é essencial. De outra forma, as Escrituras
teriam registrado essas distinções para nós. A grande importância da expressão “salmos,
hinos e cânticos espirituais” parece ser a seguinte: Paulo estava pedindo uma variedade de
formas musicais e uma variada gama de expressões espirituais que não podem ser
incorporadas em qualquer uma forma musical. A opinião apenas de salmos (que vem
ganhando popularidade em alguns círculos reformados hoje) não permite essa variedade. As
opiniões dos fundamentalistas/tradicionalistas, que parecem querer limitar a música
eclesiástica às formas de músicas gospel do início do século XX, também silenciariam a
variedade que Paulo pediu. Mais importante, a corrente reinante nas igrejas evangélicas
modernas, onde as pessoas parecem querer se empanturrar de nada além de simplistas
152
cânticos de louvor, também destrói o princípio de variedade que Paulo determinou.

b) Hernandes Dias Lopes:

Há uma inter-relação entre Bíblia e música na igreja. A pobreza do conhecimento da Palavra


reflete no imenso número de musicas evangélicas pobres e vazias de conteúdo bíblico. Os
153
compositores evangélicos precisam ser cheios da Palavra, pois musica é teologia cantada.

c) João Calvino:

151
MACARTHUR, John. Com Corações, Mentes e Vozes. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/coracoes_mentes_vozes_macarthur.htm>. Acesso em: 15 mai 2013.
152
Ibid., 2013.
153
LOPES, Hernandes Dias. Colossenses: a suprema grandeza de Cristo, o cabeça da igreja/Hernandes Dias Lopes. São
Paulo: Hagnos, 2008. p. 193.

53
Ademais, sob estes três termos ele inclui todos os tipos de cânticos. Eles são comumente
distinguidos desta maneira: salmo é aquele que, ao ser entoado, se faz uso de algum
instrumento musical juntamente com a língua; hino é propriamente um cântico de louvor,
seja entoado simplesmente com a voz, ou de outra forma; enquanto que uma ode não
contém meros louvores, mas também exortações e outras matérias. No entanto, ele quer
que os cânticos dos cristãos sejam espirituais, não formado de frivolidades e palavreados sem
154
valor.

d) Warren W. Wiersbe:

Os salmos eram, evidentemente, cânticos do Antigo Testamento. Durante séculos, as igrejas


de países de língua inglesa cantavam somente versões metrificadas dos Salmos. Alegro-me
em ver que estamos voltando a cantar as Escrituras, especialmente os Salmos. Os hinos são
cânticos de louvor a Deus escritos por cristãos, mas não originários dos Salmos. A Igreja de
hoje tem uma rica herança de hinos que, infelizmente, encontra-se um tanto esquecida. Os
155
cânticos espirituais são expressões de verdades bíblicas distintas dos salmos e hinos.

e) Jouberto Heringer da Silva:

A música sempre fez parte do culto ao Senhor. O uso litúrgico dos salmos foi estabelecido por
Davi. Os serviços litúrgicos começavam com a chegada da Arca da Aliança (cf. 1Cr 16:4s) ao
tabernáculo. O livro dos Salmos é o hinário mais antigo que se conhece, usado tanto por
judeus como por cristãos. Seu uso, na liturgia cristã, foi herdado do culto sinagogal (Maxwell,
AOC, 1955, p. 3), mas novas feições musicais foram inseridas com o aparecimento dos
cânticos e hinos (1Co 14:26; Ef 5:19; Cl 3:16) que vêm introduzir, de forma clara, a adoração a
156
Jesus Cristo e ao Espírito Santo, marcas identificadoras da fé cristã.

f) R. G. Rayburn, H. M. Best, D. Huttar e C. Gregg Singer:

Há pouca discussão que durante todos os séculos da história da igreja, a salmodia exclusiva
tem sido endossada por diversos estudiosos dentro da comunidade Reformada, mas não tem
sido uniformemente assim. Por exemplo, R. G. Rayburn escreve que a forma mais básica de
adoração na igreja primitiva incluía, não somente a leitura e exposição da Sagrada Escritura,
orações e a administração adequada dos sacramentos, mas também o uso dos Salmos para o
cântico, bem como o cântico tanto de hinos inspirados como não-inspirados.
H. M. Best e D. Huttar afirmam que a igreja primitiva de forma alguma se restringiu
ao cântico dos Salmos, embora a comunidade cristã fosse muito cuidadosa de como conduzir
na adoração pública. A admoestação de Paulo aos Efésios (5:19) e Colossenses (3:16) para
cantar “salmos, hinos e cânticos espirituais” foi entendida como significando que a igreja
deveria adorar o Deus Triúno por meio de cânticos de louvor inspirados e não-inspirados.
Essas duas passagens não tinham a intenção de restringir a igreja à “salmodia exclusiva”.
O historiador cristão C. Gregg Singer confirma ainda mais isso. Em sua “Lectures on
Church History”, Singer mantém que a salmodia exclusiva nunca foi a opinião majoritária
dentro da cristandade até o tempo dos Puritanos, isto é, o século XVII. Na igreja pós-
apostólica, o Saltério foi usado na adoração pública, juntamente com outros “hinos e cânticos
157
espirituais”.

154
CALVINO, João. Série Comentários Bíblicos João Calvino - Colossenses. São José dos Campos: FIEL, 2010. p. 93.
155
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: volume II. Santo André: Geográfia editora,
2006. p. 183.
156
SILVA, Jouberto Heringer da. A Música na Liturgia de Calvino em Genebra. Disponível em:
<http://www.iglesiareformada.com/da_silva_musica_calvino.pdf>. Acessado em: 26 jun. 2014.
157
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/Salmodia_Exlcusiva_Crampton.pdf>. Acessado em: 25 jun. 2013.

54
g) W. Gary. Crampton:

[...] Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 fortemente suportam, não somente o uso de Salmos, mas
também o uso de hinos e cânticos, baseados na Bíblia, na adoração pública, bem como na
privada. Os defensores da salmodia exclusiva contendem que esses versículos se referem
exclusivamente ao Saltério. Isto é, eles observarem corretamente que a tradução grega do
Antigo Testamento hebraico, a Septuaginta (LXX), usa as três palavras como títulos em sua
versão do Saltério. A palavra salmo (psalmos) é encontrada 67 vezes, hino (humnos) ocorre
13 vezes, e cântico (ode) é encontrada 36 vezes. No sobrescrito do Salmo 76, todas as três
ocorrem. Como Gordon Clark aponta, contudo, “esses três títulos parecem ser inserções na
Septuaginta sem evidência no hebraico”. Mas mesmo que a alegação de Clark não fosse
verdadeira, manter que, porque esses três termos são usados na versão grega do Saltério,
Paulo está com isso restringindo a igreja à salmodia exclusiva na adoração pública é
claramente um caso de falácia lógica. Além do mais, a Septuaginta também usa essas três
palavras em outros lugares além dos Salmos. A palavra ode, por exemplo, é encontrada em
várias passagens do Antigo Testamento (por exemplo, Êxodo 15:1; Deuteronômio 31:19, 21,
22; 32:44; Juízes 5:12; 2Samuel 22:1; Habacuque 3:1, 19). Isaías exorta os santos a cantarem
um novo hino (humnos) (42:10). E no Novo Testamento lemos de odes sendo cantadas em
Apocalipse 5:9; 14:3; e 15:3. Clark está correto quando ele mantém que esse argumento a
158
partir dos títulos “é um suporte muito frágil para a salmodia exclusiva”.

E também:

Alguns dos mesmos exegetas reivindicam que o adjetivo “espiritual” (pneumatikais), como
usado em Efésios 5:19, modifica todos os três substantivos. O versículo seria lido assim: “em
salmos e hinos e cânticos espirituais”. Não somente, eles dizem, são os salmos “soprados por
Deus”, mas também os hinos e os cânticos; eles são igualmente Escritura. (De fato, visto que
pneumatikais é feminino, ele modifica odai, que também é feminino; tanto psalmois como
hymnois são masculinos). Se alguém seguir essa teoria dos defensores da salmodia exclusiva,
a sintaxe do versículo requereria que os salmos e hinos fossem tipos específicos de “odes
espirituais”. Isso é altamente improvável. Estudiosos do Novo Testamento como Hendriksen,
Bruce, Calvin e Lenski mantém (com os tradutores das versões da Bíblia KJV, NKJV, NASV, NIV
e RSV) que a leitura mais natural do versículo é que “espirituais” modifica somente o
substantivo cânticos (odais). A obrigação da prova aqui está com aqueles que adotam a
salmodia exclusiva; eles devem mostrar conclusivamente que no uso de Paulo desses três
termos ele limita a igreja ao uso do Saltério na adoração formal. Se isso não pode ser
realizado, então Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 permanecem como refutações da salmodia
exclusiva. Eu sugiro que o fardo exegético deles é grande demais para ser suportado. A
159
evidência, na melhor das hipóteses, é “frágil”.

h) William Hendriksen:

William Hendriksen, em seu New Testament Commentary: Galatians and Ephesians,


comentando sobre Efésios 5:19, escreve: “O termo salmos com toda probabilidade se refere,
ao menos principalmente, ao Saltério do Antigo Testamento; hinos, principalmente aos
cânticos de louvor a Deus e a Cristo no Novo Testamento... e finalmente, cânticos espirituais,
principalmente à lírica sagrada, tratando de temas não diretamente relacionados com o
louvor a Deus ou a Cristo. Pode haver, entretanto, certa abrangência ou amplificação na
significação desses três termos segundo o seu uso aqui, por Paulo”. Hendriksen não encontra
160
nem sequer uma pista de que Paulo esteja falando somente do uso do Saltério.

158
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
159
Ibid., 2013.
160
Ibid., 2013.

55
i) F. F. Bruce:

F. F. Bruce, em seu New International Commentary on the New Testament: The Epistles to the
Colossians, to Philemon, and the Ephesians, diz, com respeito ao uso paulino de salmos, hinos
e cânticos espirituais em Colossenses 3:16: “É improvável que qualquer divisão severamente
demarcada seja intencionada, embora os ‘salmos’ possam ser extraídos do Saltério do Antigo
Testamento (que forneceu um veículo principal [N.B.; não “o único”, - WGC] para o louvor
desde os tempos primitivos), os ‘hinos’ possam ser cânticos cristãos, alguns dos quais são
reproduzidos, no todo ou em parte, no texto do Novo Testamento, e ‘cânticos espirituais’
possam ser palavras espontâneas cantadas ‘no Espírito’, proclamando aspirações santas”.
Além do mais, numa nota de rodapé com respeito a Colossenses 3:16, Bruce reivindica que,
“é improvável que psalmoi [salmos] e humnoi [hinos] e odai pneumatikai [cânticos
espirituais] devam ser confiados aos três tipos de composição especificadas nos títulos
161
hebraicos do Saltério do Antigo Testamento”.

j) Stephen Pribble:

A menção dos salmos nestes versos provavelmente se refere ao Saltério do Antigo


Testamento, usado, por assim dizer, como um catálogo das várias categorias de cânticos.
Nem o texto de Efésios, nem o de Colossenses se referem especificamente ao culto público
do Senhor; não há nestes textos a ordenança para que se cante “salmos e hinos e cânticos
espirituais” no culto. Na verdade, não há realmente nenhuma indicação direta acerca do
assunto em questão. Mas, mesmo admitindo que haja nesses versos uma aplicação ao culto
cristão, é preciso ser enfatizado que a frase completa “salmos e hinos e cânticos espirituais”
conforme é usada por Paulo é sem dúvida no sentido abrangente e não no restrito; inclui
todos os cânticos legítimos usados no culto conforme determinado em toda a Escritura. Se o
Espírito Santo, falando através do apóstolo inspirado tinha a intenção de ensinar o uso
exclusivo dos Salmos, seria fácil ter dito: “instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em biblo
psalmon [com o livro dos Salmos]” (como é feito em Lc 20:42; At 1:20), omitindo
completamente qualquer menção a hinos e cânticos espirituais. Argumenta-se que o termo
grego usado, psalmois, humnois e odais, aparecem nos títulos dos Salmos na Septuaginta, e é
verdade. Mas isto não comprova que eles sejam termos técnicos referentes exclusivamente
aos Salmos. O fato de que essas palavras sejam usadas numa tradução grega do Antigo
Testamento com relação aos Salmos não prova que eles se refiram invariavelmente aos
Salmos e que não possam se referir a qualquer outra coisa, ou que o uso que Paulo faz deles
em outro contexto exija que se refiram ao Saltério.[...] Com respeito a Efésios 5:19 e
Colossenses 3:16 os defensores da salmodia exclusiva devem (1) mostrar como o contexto, e
não meramente o estudo de uma palavra baseado na literatura de cristãos primitivos,
determina que os termos psalmois, humnois e odais se referem apenas aos salmos do
Saltério, e que, com esses termos genéricos, Paulo não pode ter querido se referir a nenhum
outro tipo de cântico; (2) demonstrar como os leitores originais de Paulo em Éfeso e
Colossos, recém-convertidos de origem pagã e não judaica, sem terem sido criados num
ambiente impregnado pela LXX, teriam por intuição entendido tais termos, empregados sem
maiores esclarecimentos, para referirem-se ao Saltério, e (3) explicar como Paulo pôde tão
informalmente e sem nenhuma explanação introduzir uma nova limitação radical com
relação àquilo que é apropriado cantar, uma discordância com o resto das Escrituras e com
mais de quinze séculos de prática da igreja do tempo de Moisés à era apostólica. A menos
que o defensor da salmodia consiga fazer isso ele precisa reconhecer que sua salmodia
162
exclusiva é uma mera questão de preferência pessoal, e não um mandamento divino.

Estes testemunhos teológicos acima devem bastar para que o leitor possa perceber que aqueles que
defendem a salmodia exclusiva não são convincentes. E igualmente o leitor pode perceber que os que

161
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
162
PRIBBLE, Stephen. O Princípio Regulador e o Canto no Culto. in Revista Os Puritanos. São Paulo: Os Puritanos. Ano
VIII, nº 3, jul/ago/set, 2000. p. 22-24.

56
defendem o uso de outros cânticos de modo algum são teólogos de pouca capacidade, ou leigos
teologicamente.
Contudo, mesmo com os testemunhos contrários à salmodia exclusiva, não significa é claro, que a
Igreja possa cantar com qualquer tipo de letra nas canções. As canções devem ser completamente cheias da
Escritura. Fiéis às doutrinas bíblicas. Infelizmente muitas canções não têm sido produzidas desta forma.
Porém, não podemos apelar para a salmodia exclusiva só porque existe uma má produção de canções. Como
diz o ditado popular: “Não joguemos a criança junto com a água suja”. Apelar para salmodia neste caso seria
limitar a Igreja naquilo que a Bíblia não limita. Fazer isto também é pecado. O que precisamos é de bons
compositores e de liderança que analise as canções antes de a Igreja cantá-las. Resumindo o que foi dito,
limitar-nos ao uso dos salmos bíblicos carece de provas bíblicas determinantes.
Antes que alguém objete mais uma vez sobre os textos analisados acima, passemos a explicá-los um
pouco mais. Pode haver divergências em relação ao sentido dos textos acima. Isto é, se eles se referem ao
contexto de culto ou não. Todavia isto não é relevante, visto que, se o texto se refere ao culto, então é
exatamente o que estamos discutindo neste momento.
Se o texto se refere a cantar canções em outras ocasiões que não durante o culto, isto também
atinge o contexto de culto. Pois pensemos o seguinte: Se Paulo diz que devemos cantar somente salmos
bíblicos em nosso dia-a-dia, porque poderíamos cantar outras canções durante o culto? Ou, se Paulo afirma
que podemos cantar outras canções no dia-a-dia, por que não poderíamos fazê-lo no culto? O texto fala
sobre o que o crente deve cantar. Poderia Paulo fazer distinção entre cânticos para o contexto de culto e
cânticos para fora do culto? Poder fazer esta distinção ele até poderia fazer, mas não há base bíblica para se
fazer esta afirmação acerca do que Paulo falou. O que temos revelado no texto é simplesmente que há
espaço para se entoar canções que não sejam os salmos bíblicos.

Posição do Reformador João Calvino

Já que os defensores da salmodia exclusiva acham esta deveria ser a posição de todos os reformados
quanto a questão, observemos a posição de Calvino quanto ao uso exclusivo de salmos bíblicos no culto.
Quanto à expressão paulina “salmos, hinos e cânticos espirituais” vejamos o que diz João Calvino:

Finalmente, João Calvino, o príncipe dos exegetas, diz: “Essas [as três palavras sob estudo]
são comumente distinguidas dessa forma – que um salmo é aquele no cântico do qual algum
instrumento musical é usado além da língua; um hino é propriamente um cântico de louvor,
quer cantado simplesmente com a voz ou não; enquanto uma ode contém não meramente
louvores, mas exortações e outros assuntos. Ele [Paulo] queria que os cânticos dos cristãos,
contudo, fossem espirituais, não compostos de frivolidade e assuntos sem valor”.
Novamente, não há indicação de que Paulo esteja sequer aludindo à salmodia exclusiva. A
última sentença de Calvino parece indicar uma aceitação de cânticos não-inspirados,
163
conquanto que eles sejam teologicamente corretos.

Claramente observamos que Calvino não interpretava as palavras do apóstolo Paulo como indicando
a salmodia exclusiva. “João Calvino preferia o cântico congregacional dos Salmos, sem acompanhamento
musical, todavia, ele também usou uma versão metrificada dos Dez Mandamentos e da Oração do Senhor na
adoração pública.”164 Calvino fazia uso de outras canções que não os salmos bíblicos:

A primeira coleção de Calvino, compilada em Estrasburgo, compreendia 19 Salmos, o canto


de Simeão, os Des Mandamentos e o Credo Apostólico, todos metrificados. [...] terminava
com estas palavras: “Catarei Salmos e cânticos ao único Deus, enquanto viva [...] Quando
mais tarde João Calvino ampliou aquela primeira coleção de Salmos, considerou conveniente
adicionar certo número de cânticos já existentes; porém se manteve fiel a seu princípio:

163
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
164
Ibid., 2013.

57
“Primeiro os Salmos”. Calvino reconheceu ter chegado a conclusão de que nenhum cântico
165
pode comparar-se aos Salmos.

E ainda:

Dentre as muitas características singulares desse trabalho de Calvino, destacamos a inclusão


do canto congregacional na ordem do culto, como sua parte constitutiva. Na confissão, ele
instrui: “agora a Congregação canta a primeira tábua dos mandamentos, após o que o
ministro dirá [...]” (Bard, ibidem, p. 203). Após a última oração de confissão e antes da coleta
por iluminação e do sermão, ele orienta: “Enquanto a Congregação canta o resto dos
mandamentos o ministro vai para o púlpito; e então faz orações como a que se segue [...]”
(Bard, ibidem, p. 203). E, no final do culto, antes da bênção, ele aponta: “Ao final um salmo é
cantado, após o que o ministro despede a congregação dizendo [...]” (Bard, ibidem, p. 204).
Na ordem para a celebração da ceia encontramos três momentos nos quais a congregação é
instruída a cantar: no início da celebração, confessando a sua fé ela canta o Credo dos
Apóstolos; durante a comunhão, ela é instada a cantar o salmo 138; após a oração de
166
gratidão, ela responde com Cântico de Simeão (Bard, ibidem, p. 204).

Como bem sabemos, na época de Calvino existiam outros reformadores, os quais também não
adotaram a salmodia exclusiva. “Alguns dos Reformadores sustentaram a visão de que os únicos cânticos
apropriados para serem usados na adoração formal eram aqueles encontrados dentro da Escritura, mas eles
não adotaram a salmodia exclusiva.167 Ou seja, não cantavam somente os salmos bíblicos, mas também não
permitiam a criação de novos cânticos não-inspirados. Esta posição era um meio termo entre salmodia
exclusiva e permissão bíblica para se criar outras canções. Neste caso as canções deveriam ser retiradas da
Escritura. Porém, como vimos acima, os textos de Cl 3:16/ Ef 5:19 também são contrários a esta
interpretação.
A questão é que o tempo passou e os teólogos posteriores é que adotaram a salmodia exclusiva.
Esta posição não foi sempre a posição das igrejas reformadas como demonstramos acima. Observemos o
texto abaixo:

João Calvino reconhecia o valor de se cantar os Salmos. Ele instituiu grandes reformas
litúrgicas na Igreja de Genebra depois da reflexão cuidadosa no caráter e papel da música na
Igreja. (Em Genebra, a Igreja cantava os Salmos em uníssono sem qualquer acompanhamento
musical). A maioria das igrejas reformadas na Europa seguiu a prática de Genebra e o cântico
de Salmos tornou-se uma das marcas distintivas das igrejas Reformadas. Alguns Calvinistas
foram além de Calvino, argumentando que os Salmos eram os únicos cânticos permitidos no
culto divino. Esta posição era argumentada com um particular vigor na Escócia, onde os
Presbiterianos enfrentaram repetidas pressões governamentais para abandonarem suas
formas distintivas de culto. Os escoceses responderam que deveriam obedecer a Deus ao
invés do homem e aplicaram este princípio na defesa da salmodia exclusiva. Sérios debates
nesta questão tomaram lugar entre os Calvinistas nos séculos XVIII e XIX quando algumas
168
Igrejas Reformadas introduziram o uso de hinos no culto.

Assim, aqueles que dizem que os reformados deveriam aceitar somente a salmodia exclusiva como
sua interpretação, estes carecem de melhor argumentação e bases bíblicas169. O que ambos os lados devem

165
DEURSEN, F. Van. Os Hinos do povo de Deus. São Paulo: Os Puritanos. Ano XIII, nº 1, 2005. p. 3, 4.
166
SILVA, Jouberto Heringer da. A Música na Liturgia de Calvino em Genebra., 2014.
167
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
168
GODFREY, W. Robert. A Música Aceitável a Deus. Um argumento para maior uso dos Salmos. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/musica_aceitavel_geoffrey.htm>. Acessado em: 02 ago. 2008.
169
SC-94-102 - Doc. CL - Quanto ao Doc. 154 “[...] Recomendar que os pastores e conselhos atentem diligentemente à
teologia refletida nas letras dos cânticos entoados em suas igrejas. [...]”. CE-95-124 - Doc. CVIII - Quanto ao Doc. 114 –
“[...] Os cânticos usados, congregacionais ou não, devem estar em harmonia com uma Teologia Bíblica Sã, com nossos

58
fazer é entender que nesta questão, debatida até hoje, deve haver amor e tolerância para com as diferenças
doutrinárias, visto que este assunto não é uma doutrina central do cristianismo puro.

Confissão de Fé de Westminster

Certamente que muitos proponentes da salmodia exclusiva vão argumentar que a Confissão de Fé
de Westminster, Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, Seção V, declara que um dos
elementos do culto é: “... o cântico de salmos ...”. Mas será que devemos entender com isto que, aqueles
que não adotam a salmodia exclusiva estão sendo contrários à confissão?! Bom, levemos em consideração
pelo menos duas possibilidades de interpretação.
A primeira maneira de interpretar o texto da Confissão de Fé é afirmar que o texto se refere ao livro
dos Salmos da Escritura. Visto desta forma, parece lógico que os defensores da salmodia exclusiva são
invencíveis quanto ao assunto. Porém, devemos nos lembrar de que a Confissão de Fé não são as Escrituras,
e como tal, não podemos fechar a teologia somente nela como a única interpretação possível dos textos
bíblicos, ou como autoridade máxima em questões de doutrina. Fazer isto seria contrariar a própria
declaração da Confissão de Fé acerca das diferenças teológicas (CAPÍTULO I - DA ESCRITURA SAGRADA,
Seção X): “O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem
serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas
de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro
senão o Espírito Santo falando na Escritura” (Mt 22:29, 31; At 28:25; Gl 1:10). Por mais que saibamos que a
Confissão de Fé seja fiel ao ensino das Escrituras, não implica que nela não possa conter erros. Somente a
Bíblia é o texto Inspirado por Deus. Se na Confissão de Fé houver alguma interpretação a qual provamos pela
Escritura ser equivocada, cabe a nós ficarmos com o testemunho claro das Escrituras. Este é o caso da
questão das canções.
Além disto, a declaração diz “... o cântico de salmos ...”, e não “somente o cântico de salmos”,
trazendo assim exclusividade a estes, como é afirmado pelos proponentes da salmodia exclusiva. Os
teólogos que produziram a Confissão eram homens sábios e prudentes. Por exemplo, ao se falar da salvação
de crianças. Existiam posições divergentes, mas a Confissão não adota nem uma nem outra posição, mas
procura se prender ao que, com certeza, era o ensino bíblico170. Assim, no caso das canções no culto, a
Confissão de Fé nem afirma a favor da salmodia exclusiva escrevendo “somente o cântico de salmos”, nem
afirma que “pode ser entoados outros cânticos”. Ela se atém ao que se pode dizer sem risco de ser acusado
de tomar partido de um ou de outro lado. Ela declara o que é comum e certo para as duas posições. Pois,
nenhuma das duas posições dirá que é errado cantar salmos bíblicos no culto. Assim, ainda que o texto da
Confissão se refira aos salmos bíblicos, não podemos dizer que há oposição contra aqueles que também
cantam outras canções, visto que aqueles que não adotam a salmodia exclusiva não proíbem o cantar
salmos bíblicos, apenas aprovam o entoar também outros cânticos. Sendo assim, não são contrários à
Confissão de Fé.
Uma segunda maneira de interpretar a frase da Confissão é afirmar que a referência a salmos é
somente um modo de dizer “entoar canções”. Se esta posição estivar correta, então a Confissão de Fé não se
opõe àqueles que cantam outras músicas além dos salmos bíblicos. Vejamos a explicação de W. Gary
Crampton:

Deve ser declarado que, mesmo que a maioria dos teólogos da Assembleia de Westminster
fossem defensores da salmodia exclusiva, não se segue que alguém seja não-confessional se
ele não for um defensor da salmodia exclusiva. O capítulo XXI da Confissão não denuncia o
uso de hinos e cânticos inspirados ou não inspirados; ele meramente se refere ao “cantar
salmos”. Gordon Clark aponta que a palavra “salmo” se referia originalmente a uma canção

Símbolos de Fé e com o momento do culto em que eles forem cantados. Tais parâmetros devem ser estudados,
comparados com o que a Bíblia nos ensina e com o que nossos Símbolos de Fé interpretam (especialmente o Capítulo
XXI de nossa Confissão de Fé). [...]”.
170
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo X – DA VOCAÇÃO EFICAZ, Seção III.

59
tocada numa harpa. Assim, quando a palavra é usada, não é necessário que ela seja
considerada como se referindo somente aos Salmos inspirados da Escritura. Stephen Pribble
concorda. Em seu livro A Defense of Hymn-Singing in Worship, ele diz que a adoração
religiosa deveria incluir o “cântico de salmos”, não “os Salmos”. A Confissão de Westminster
usa aqui o termo “salmos” no sentido geral da palavra, que, de acordo com o Oxford English
Dictionary, significa “qualquer música sagrada... cantada na adoração religiosa”. Talvez esse
seja o porquê A. A. Hodge, comentando sobre essa seção da Confissão, sugira que podemos
171
sumarizar a declaração “cantar salmos” com a frase “cântico de louvor”.

Argumentos teológicos

Além do que foi dito anteriormente podemos acrescentar alguns argumentos teológicos que
aprofundarão ainda mais a questão sobre os cânticos no culto. Comecemos por Jonathan Edwards, teólogo
por demais conhecido e respeitado. Em sua opinião os cânticos não podem ser restritos aos salmos bíblicos,
pois isto carece de fundamentação. E somando a isto, ele explica que estamos numa era diferente da era do
Antigo Testamento, e devemos agir de acordo com a revelação que ela nos traz:

Longe de mim pensar que o livro dos Salmos deva ser banido da adoração pública; ele deve
ser sempre usado na igreja cristã até o fim do mundo. Entretanto, desconheço qualquer
obrigação para nos restringirmos a ele. Eu não consigo encontrar nenhum mandamento ou
regra na Palavra de Deus que nos limite às palavras da Escritura mais no cantar que no orar;
dirigimo-nos a Deus nos dois casos. Não encontro nenhuma orientação bíblica a mais para
falar-lhe pelo louvor, em métrica, ao som de música, que para dirigirmo-nos a Deus em prosa,
mediante oração e súplica. É realmente necessário termos outros cânticos além dos Salmos
de Davi. Torna-se exorbitante a suposição de que a igreja cristã deva, nos tempos de maior
luz, permanecer eternamente restrita apenas às palavras do Antigo Testamento, quando
assuntos infinitamente maiores de louvor a Deus e ao Cordeiro – as mais gloriosas
particularidades do Evangelho – sejam pronunciadas como por trás de um véu e o nome de
nosso glorioso Redentor nunca seja mencionado, apenas vislumbrado por entre alguma
figura obscura, ou oculto sob o nome de algum tipo. E quanto ao uso das palavras de outras
pessoas, não-concebidas por nós mesmos, não é mais do que fazemos em todas as nossas
orações públicas; toda a assembleia de adoradores, com a exceção de um, faz uso das
172
palavras concebidas por quem fala em nome dos demais”.

O fato é que, como dissemos antes, defender a salmodia exclusiva é tarefa que requer esforço, visto
que não há um mandamento bíblico sequer que favoreça esta posição. Na verdade, os defensores da
salmodia exclusiva têm que lutar contra algumas contradições de sua posição. Vejamos por exemplo o que
acontece com as igrejas da Escócia:

Mesmo em nossas igrejas co-irmãs da Escócia – supostas praticantes coerentes do “princípio


regulador”; aquelas que defendem que o Antigo Testamento não tem nada a nos dizer sobre
a liturgia do Novo Testamento, que são contra a utilização de instrumentos musicais e onde
somente os Salmos são entoados, não existe coerência. Os Salmos são cantados, porém com
músicas e métricas geradas por mentes de cristãos que viveram milênios após a escrita dos
textos bíblicos e as letras são adaptações, para se enquadrar na métrica. Isso sem falar que a
tentativa é de uma liturgia neo-testamentária, que, na parte da música é totalmente
dependente do Antigo Testamento – pois lá é que encontramos os Salmos. Nessas igrejas,
todas as palavras dos Salmos devem ser cantadas com fervor, mas se encontramos aqueles
trechos que falam dos instrumentos musicais temos que ignorar tanto o texto como a eles, e
173
considerando-os parte de uma outra era – dá para perceber alguma incoerência nisso?

171
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
172
Ibid., 2013.
173
PORTELA, Solano. Observações sobre Ritmos e o "Louvor" na Liturgia. Disponível em:
<http://www.solanoportela.net/artigos/ritmos_louvor.htm>. Acessado em: 20 abr. 2013.

60
Se os argumentos a respeito da salmodia exclusiva são tão conclusivos e taxativos, porque então não
se utilizam dos instrumentos? A posição deles parece ser mais por conveniência de opinião do que por
conclusão teológica!
Outra incoerência teológica que encontramos é que sua proposta de se cantar os salmos bíblicos é
impossível de se sustentar. Vejamos o porquê na explicação abaixo:

[...] os defensores da salmodia exclusiva não podem apelar para significados e implicações.
Quando eles advogam a salmodia exclusiva e objetam ao uso de hinos não-inspirados,
mesmo que eles estejam teologicamente corretos (assumamos isso por enquanto), eles se
limitam às palavras exatas nos Salmos. Se os significados são aceitáveis, eles não podem
consistentemente objetar aos hinos biblicamente corretos, mas não-inspirados [...] outra
questão que devemos colocar diante dos defensores da salmodia exclusiva é esta: “O que
constitui um salmo metrificado?” Quão fiel os Salmos cantados devem ser às Escrituras?
Alguns dos salmos metrificados são, na melhor das hipóteses, paráfrases aproximadas do
texto hebraico. Os defensores da salmodia exclusiva não toleram tal negligência em suas
Bíblias. Cantar esses salmos está longe de cantar a “Escritura inspirada”. O defensor da
salmodia exclusiva viola o princípio regulador quando ele não canta os Salmos na linguagem
174
exata do hebraico?

E ainda:

Os defensores da salmodia exclusiva devem distinguir entre ensino, pregação, cântico e


recitação da verdade bíblica. Em Efésios 5:19 somos ordenados a “falar” (laleo) uns aos
outros, e em Colossenses 3:16 a “ensinar” (didasko) uns aos outros, “por meio de salmos,
hinos e cânticos espirituais”. Todavia, Paulo também instruiu Timóteo a “ensinar” (didasko)
(1Timóteo 4:11; 6:2) e a “pregar” (kerusso) (2Timóteo 4:2) para sua congregação na adoração
pública. Agora, é racional supor que é biblicamente apropriado pregar as verdades
encontradas no Credo Apostólico e não ser capaz de cantar ou recitar as mesmas verdades,
por que elas não são encontradas em nenhum lugar nos Salmos? Isso está longe de ser
provável; de fato, é absurdo. A igreja tem toda justificação bíblica para formular hinos,
cânticos, credos, e assim por diante, desde que baseados nas escrituras, e incorporá-los na
175
adoração pública de Deus como um meio de louvá-lo e ensinar uns aos outros.

Outro problema com relação aos argumentos a favor da salmodia exclusiva é que o conteúdo bíblico
é totalmente contrário a esta doutrina. O que vemos na Escritura não é um mandamento para se cantar
somente os salmos bíblicos. O que vemos no testemunho bíblico é diferente da suposta pretensão destes
teólogos:
Há quatro diferentes substantivos na Bíblia hebraica traduzidos por salmo: zimrah, zamir
(plural zemirot), mizmor, e tehillah. Destes, há um que sempre se refere aos salmos contidos
no Saltério: mizmor. Esta palavra aparece apenas nos títulos dos Salmos hebraicos e pode ser
considerada como um termo técnico para Salmo. É extremamente significante que em
nenhum lugar nas Escrituras nós somos ordenados de modo específico a cantar mizmor, o
termo técnico para Salmo. Na verdade, ao convocar que se cante ao Senhor, as Escrituras
usam invariavelmente termos significando “louvor” em sentido mais geral. [...] a ordem
“Cantai-lhe, cantai-lhe salmos”, mais precisamente que cantar o Saltério de modo restrito,
como pode parecer, é na realidade de uma natureza geral e ordena que se cante louvores a
Deus, o que, por conseguinte, os cristãos têm a obrigação de fazer. [...] Devido à rica
variedade dos Salmos, hinos e cânticos espirituais usados na Bíblia, o dever de apresentar
provas repousa sobre os defensores da salmodia exclusiva a fim de demonstrar que os
termos que contêm um sentido genérico estabelecido, quando usados em ordenanças para
se cantar louvores, são restritos a um sentido específico. Não é para demonstrar que um

174
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.
175
Ibid., 2013.

61
determinado termo pode significar o Saltério do Antigo Testamento; antes, é preciso que haja
prova de que tal termo tem tal significado.[...] Não se pode justificar uma paráfrase métrica
na mesma base em que é justificada uma tradução; uma paráfrase métrica não é uma
tradução, mas a paráfrase de uma tradução, e, portanto, um grau aquém da tradução. Cantar
um Salmo metrificado não é o mesmo que cantar a Escritura inspirada; os Salmos em
métrica, na verdade, são hinos de composição humana parafraseando o Saltério, e não
176
idênticos à Escritura inspirada.

Esta questão de se adotar ou não a salmodia exclusiva é bem antiga como pudemos perceber até
aqui. Temos argumentado bíblica, e teologicamente. Porém agora, mais um testemunho é contrário aos
defensores da salmodia exclusiva. Desta vez é o testemunho da história da Igreja que milita contra eles:

O testemunho da história da igreja, certamente, não é o padrão para determinar tais


questões. Somente a Escritura é o nosso padrão. É aqui que o presente escritor não encontra
nenhum apoio para o uso exclusivo dos Salmos na adoração pública. Leonard Coppes, em seu
ensaio não publicado, “Exclusive Psalmody and Progressive Revelation – A response”,
argumenta que os vários cânticos que existiam no Israel do Antigo Testamento, antes da
formação do Saltério, militam contra a salmodia exclusiva. Ele contende que outros cânticos
eram obviamente usados na adoração de Deus pelos judeus. Por exemplo, em Êxodo 15
temos o cântico de Moisés (versículos 1-18), que é repetido na adoração celestial (compare
Apocalipse 15:3), e o cântico de Miriã (versículo 20, 21). Em Juízes 5, temos o cântico de
Débora (veja também Números 10:35, 36; 21:17, 18). Até mesmo o salmista inspirado (Salmo
119:54) fala dos estatutos mosaicos, não simplesmente do Saltério, como sendo seus
cânticos. Dr. Coppes mantém que os cânticos encontrados no livro de Apocalipse (por
exemplo, capítulo 4, 5, 7, 11) apoiam o uso de mais do que os 150 Salmos na adoração
formal. Depois de tudo, nós na igreja do Novo Testamento já temos, através do nosso
mediador Jesus Cristo, entrado na adoração celestial (Hebreus 2:12, 13; 9:24; 10:19-22;
12;22). Ele escreve: “o padrão bíblico para o cântico na adoração é a fidelidade ao que foi
revelado e não inspiração... Portanto, o princípio regulador não impede o uso de cânticos
não-inspirados na adoração, quer privada ou pública”. Enquanto um hino não-inspirado for
biblicamente correto e apropriado para a adoração, ele deve ser permitido na adoração
177
pública de Deus.

Um aspecto interessante que ainda podemos refletir é o seguinte. As canções, segundo a Escritura,
devem ser utilizadas como profecia e ensino (1Cr 25:1, 3; Cl 3:16). E como bem sabemos, profecia e ensino
na Bíblia não significam somente conteúdo revelado por inspiração vindo diretamente da parte de Deus ao
homem. Pelo contrário, variadas vezes, para não dizer a maioria das vezes, é a pregação e o ensino da
revelação já entregue aos homens. Senão fosse assim, teríamos que dizer que somente os profetas do
Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento é que poderiam pregar à Igreja, visto que somente
estes foram os canais oficiais da revelação de Deus. Mas, oposto a isto, o Novo Testamento demonstra que
os profetas e os pastores/mestres deveriam falar à Igreja (1Co 12: 10, 28; 14:1-5; 1Tm 3:2; Tt 1:9; Ef 4:11;
1Ts 5:12; Hb 13:7; 2Tm 2:2). E estes, não são inspirados hoje. Os textos de Crônicas e de Colossensses
citados acima não estão se referindo aos profetas oficiais de Israel e nem aos apóstolos. OS dois textos falam
a respeito de pessoas comuns. Sendo assim, quando falam em profetizar e ensinar, não implica em cânticos
inspirados por Deus.
Como poderíamos dizer que somente os salmos bíblicos é que devem ser cantados ao Senhor, se
tanto a profecia quanto o ensino não são obrigatoriamente inspirados? Ora, se Deus não exigiu que a
profecia e o ensino fossem somente por inspiração, porque diria isto em relação às canções? Neste caso,
falta a prova de que Deus, especificamente sobre as músicas, requer que sejam cantadas somente as que
foram inspiradas e não aquelas que são fiéis ao conteúdo bíblico, como é o caso da profecia e do ensino da
Palavra.

176
PRIBBLE, Stephen., 2000, p. 21, 24.
177
CRAMPTON, W. Gary. Salmodia exclusiva., 2013.

62
Enfim, aqueles que quiserem cantar somente salmos bíblicos não pecam por isto. Contudo, afirmar
que este é o ensino das Escrituras, é um equívoco. Igualmente, querer forçar as consciências dos cristãos a
adotarem a salmodia exclusiva está longe de ser o que revela as Escrituras.

Ritmos e Melodias

Passemos agora à questão dos ritmos e melodias musicais. Será que existe um ritmo certo e um
errado para o culto? Será que existe uma melodia certa e outra errada para o culto? Apesar de perguntas
simples, as diferenças de opiniões têm causado muitos debates. Ora, visto que o tema traz à luz dúvidas
relevantes, não podemos deixar este assunto de fora de nosso estudo.
Sabemos que Deus ordena que sigamos o Princípio Regulador do culto em tudo referente a ele. Mas
o que dizer dos ritmos e melodias? Deus nos deixou ordenado quais utilizar? Se pesquisarmos bem, vamos
perceber que não há declaração alguma sobre um ritmo certo ou errado, ou sobre uma melodia certa ou
errada:

Quando procuramos na Palavra de Deus não encontramos restrição ou classificação


intrínseca de ritmos, como existindo os que são “maus”, e os que são “bons”. Sei que
inúmeros livros têm sido escrito, no campo evangélico, sobre as raízes malévolas de certos
ritmos e é certo que os ritmos estimulam as pessoas a diferentes estados de espírito, mas
permito-me desconfiar das conclusões supostamente científicas e das conexões traçadas por
tais trabalhos. Na maioria das vezes temos apenas uma coletânea de opiniões pessoais e
ilações infundadas. Às vezes, somos levados à dedução de que o único cântico admissível na
igreja seria, preferencialmente, o gregoriano, de alguns séculos atrás, sem muita variação
musical ou harmonia. A realidade é que a Bíblia parece aceitar a utilização de ritmos na
adoração. Com certeza existiam os Salmos “mais agitados” e os “mais lentos’.
Independentemente de tratarmos de “liturgia do VT” ou “do NT”; do templo, da sinagoga ou
da igreja primitiva, Deus permanece o mesmo e o seu agrado/desagrado não deve ter sido
modificado na Nova Aliança. Assim, qualquer investigação sem ideias preconcebidas,
verificará que instrumentos diversos e variados foram utilizados pelos fiéis e aceitos por
Deus, na adoração de sua pessoa. Como já frisamos, entretanto, independentemente da
letra, existe uma empatia entre melodia e ritmo, e o estado de espírito provocado nos
cantantes/adoradores. Ou seja, um ritmo agitado em uma hora de contrição é uma
contradição de bom senso (algo há muito perdido em nossas igrejas). Não deveríamos
precisar de uma profunda exposição teológica para substanciar isso. Um ritmo lento, ou em
tom (clave) menor, numa ocasião de festa, de acampamento, por ocasião de uma caminhada,
é também uma contradição de bom senso. Quando esse julgamento é quebrado, na igreja,
178
faz-se também violência aos que estão sinceramente procurando adorar.

E também:

Realmente, a questão de ritmos não é uma questão na qual a Bíblia legisla claramente. Cada
um de nós, portanto, tem que formar a sua própria opinião, sempre procurando os valores
maiores expressos na Palavra de Deus, em nossos relacionamentos pessoais, sem nunca
179
esquecer a primazia da verdade clara sobre nossas conclusões pessoais.

Como vimos, se não há preceito bíblico para a questão, então devemos nos guiar pelos princípios
gerais da Palavra. Isto requer prudência, amor, bom senso e lógica. Consideremos por exemplo, se “os
cânticos litúrgicos devem centrar o adorador em Deus e sua Palavra. Música que produz dispersão ou
confusão na mente e psique ou que estimula o corpo para a dança não serve para o culto.”180 Não

178
PORTELA, Solano. Observações sobre Ritmos e o "Louvor" na Liturgia., 2013.
179
Ibid., 2013.
180
NASCIMENTO, Misael B. do. Adoração alegre e inteligente. Jornal Brasil Presbiteriano, [S.l], dezembro de 2006.
p. 2.

63
precisamos de um versículo bíblico para chegar a esta conclusão, pois através do restante da Revelação
podemos saber a vontade de Deus com respeito ao culto. Se o ritmo e/ou a melodia não satisfaz ao
propósito do culto, nem colabora para o seu bom andamento, então este(a) já não cabe para ser utilizado no
mesmo. Deus pode não ter ordenado a respeito dos ritmos e melodias que convêm para o culto, mas nos
dotou de sabedoria para discernir quais são os mais apropriados para o serviço de culto.
Notemos por exemplo que Calvino em sua concepção não aprovava qualquer melodia para o culto.
“Calvino sempre enfatizou que deveria haver uma conexão entre a palavra e a melodia, nos cantos litúrgicos,
e que os cânticos litúrgicos não deveriam ser “luminosos e frívolos”, mas “imponentes e majestáticos”,
tendo uma grande aversão às “músicas dançantes” que tornavam o povo licencioso.”181 Semelhantemente o
famoso teólogo Agostinho considerava a música útil, desde que não prejudicasse a adoração da Igreja.
Vejamos as suas palavras:

Agostinho reconheceu que a música é extremamente importante, pois inflama os corações e


chama a um zelo maior pelas verdades que se cantam. Contudo, Agostinho ainda se
preocupou com o perigo de os cânticos despertarem as emoções da Igreja além do que
deveria, de modo que a Igreja não se preocupe realmente com o que está cantando, e se
deixe levar pela melodia. A isto, Agostinho chama de pecado, porém, sem condenar o uso
182
dos cânticos na adoração.

Diante do que foi dito acima não é difícil de entender que nem todos os ritmos e melodias são
apropriados ao serviço de culto ao Senhor. “A melodia deve refletir o modo e a substância do cântico à luz
da alegria e reverência que são apropriadas à adoração.”183 Uma coisa é dizer que Deus não tem preferência
de ritmo e melodia. Oura coisa é dizer que qualquer deles pode ser utilizado no culto. Devemos sempre
considerar que há música para cada ocasião. E o culto não é lugar para danças e agito, mas lugar de reflexão
e reverência:

A música que agrada ao Senhor dentro do parâmetro da Escritura, deve vir de um


discernimento espiritual, produzida numa dimensão de santidade, na motivação exclusiva da
Glória de Deus, resultado de um aperfeiçoamento que busca o excelente para o Senhor, em
expressões e ritmos que sirvam a Palavra e o espírito do Culto que é de solenidade,
reverência e temor; por causa do espírito do Novo Testamento onde o culto é mais
introspectivo, espiritual, a música deve ser despida de marcação exagerada que conduz a
coreografias e cerimonialismos dos quais o culto cristão fugiu desde o início; deve ainda a
música de Deus ser dissociada da mundana sensualidade, e saudável no que concerne a sua
184
sonoridade, não agressiva.

Enfim, infelizmente vemos muitos discutindo sobre a questão dos ritmos e melodias, defendendo
com unhas e dentes suas posições, esquecendo-se que o principal a observar não é o ritmo e ou a melodia
(se bem que eles têm a sua importância), mas a letra da canção. De que adianta conseguir colocar no culto
determinados tipos de ritmos e melodias, se o povo não prestar atenção à mensagem da canção? Que
adiantará se a igreja não for edificada? Como no passado observou Calvino: “... impõe-se diligentemente

181
SILVA, Jouberto Heringer da. A Música na Liturgia de Calvino em Genebra., 2014.
182
PORTO, Allen Ribeiro. Uma análise dos louvores contemporâneos em igrejas Batistas de São Luis –MA, à luz da
Teologia Reformada. Monografia. (Bacharelado em Teologia) – Instituto Superior de Teologia Reformada, São Luis,
2005. P.21.
183
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração., 2013.
184
FIGUEIREDO, Cleómines A. de. Gesticulação e Coreografia. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/igreja/gesticulacao.htm>. Acesso em: 04 ago.2008.

64
guardar que não estejam os ouvidos mais atentos à melodia que a mente ao sentido espiritual das
palavras.”185

Letra

Um fato desprezado por muitos cristãos é que a Bíblia declara que a música deve nos servir como
canal para uma mensagem, e não como promotora de emoções. Não que as músicas não devam emocionar.
Contudo, este não é o propósito declarado pela Escritura (Cl 3:16). O apóstolo Paulo desejava que os crentes
fossem edificados com as canções proferidas durante o culto. Por isto não aprovava o entoar de canções em
línguas (1Co 14:15-17). Assim, podemos inicialmente chegar a duas conclusões: 1 - As canções no culto
devem enfatizar a letra e não a melodia e o ritmo; 2- Elas devem ser compreendidas pelos membros da
igreja.
De acordo com estas primeiras observações não é difícil perceber que muitas canções evangélicas
modernas não seguem estes princípios. Infelizmente temos ouvido canções que são mais para entreter e
emocionar do que para passar uma mensagem aos ouvintes:

Os compositores de cânticos de louvor e outras músicas modernas de igreja muitas vezes


esquecem do papel didático biblicamente ordenado da música eclesiástica. A maioria dos
cânticos de louvor são escritos para atiçar apenas as emoções. São cantados na grande
maioria das vezes como um mantra místico, com o propósito deliberado de pôr o intelecto
186
em um estado passivo enquanto o adorador assimila o máximo de emoção possível.

Seguindo ainda o ensino de (Cl 3:16; 1Cr 25:1, 3) a canção deve passar não qualquer mensagem
“julgada como espiritual” pelo compositor. As letras das canções devem ser fielmente bíblicas. No culto não
se admite outro tipo de mensagem. As canções devem ser “espirituais”. O apóstolo deixa isto claro no texto:

Se a função apropriada da música inclui “ensinar e admoestar”, então a música na igreja deve
ser muito mais do que um estímulo emocional. Na verdade, isso significa que a música e a
pregação devem ter o mesmo alvo. Ambas pertencem à proclamação da Palavra de Deus. O
compositor deve, portanto, ser tão hábil nas Escrituras e tão preocupado com a precisão
teológica quanto o pastor. E ainda mais, porque as músicas que ele ou ela escreve
provavelmente serão cantadas vez após vez (ao contrário de uma pregação que é feita
187
apenas uma vez).

Por não se perceber o impacto que a música faz nos adoradores, muitos líderes não analisam
criteriosamente todas elas antes de serem entoadas pela igreja. Se as músicas não forem fiéis à doutrina
bíblica, já imaginou o impacto negativo que terá na fé dos crentes? Isto certamente pode causar um prejuízo
enorme à saúde espiritual dos membros. Como já bem afirmou o teólogo e pastor Augustus N. Lopes:
“Nunca é demais acentuar que a teologia de uma igreja é influenciada pela música que ela canta. Pastores
podem pregar sermões doutrinariamente corretos, mas se as suas igrejas cantarem hinos e cânticos
heterodoxos, esses últimos influenciarão mais que as palavras do pastor.”188
Ainda sobre este tema se levanta outra questão: O crente deve cantar uma canção que contém
afirmações nas quais ele não crê? E ele deve cantar uma canção cuja letra ele não compreende no todo?
Como vimos acima, se o propósito das músicas é edificar os crentes pela mensagem bíblica nelas contida,
como cantar canções com doutrinas estranhas à sua fé? Além disto, se não compreendemos a letra de uma
determinada canção, não corremos o risco claro de nos deixar influenciar por uma doutrina errada?

185
MÓDOLO, Maestro Parcival. “Impressão” ou “Expressão”: o papel da música na Missa Romana medieval e no Culto
Reformado. Teologia para Vida/Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. São Paulo: v.1,
n.1, p. 123, jan/jun.2005.
186
MACARTHUR, John. Com Corações, Mentes e Vozes. , 2013.
187
Ibid., 2013.
188
MATOS, Alderi Souza de. A reforma calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

65
Os Sacramentos

O culto também é lugar para a realização dos sacramentos.189 Como elementos de culto, fazem parte
dele, assim como afirma a Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO
DOMINGO, Seção V: “[...] a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo -
são partes do culto comum oferecido a Deus [...]” (Mt 28:19; 1Co 11: 17:34).
A Confissão de Fé de Westminster (CAPÍTULO XXVII - DOS SACRAMENTOS, Seção IV) declara que os
únicos sacramentos válidos são a Ceia do Senhor (Mt 26:26-28) e o Batismo (Mt 28:19). Estes sim foram
instituídos pelo próprio Cristo. Ora, sabemos que a Igreja Católica Apostólica Romana prescreve vários
sacramentos à Igreja além dos sacramentos aceitos pelos evangélicos. São eles: Crisma (ou confirmação),
Confissão (ou penitência), Matrimônio, Ordem e Unção dos enfermos. Evidentemente que estes não fazem
parte dos mandamentos entregues por Cristo à Igreja da Nova Aliança, constituindo-se então em acréscimos
humanos.
Como já vimos anteriormente, cada elemento do culto serve para edificação e/ou exaltação de
Cristo. O que dizer então dos sacramentos? Qual a sua utilidade? Segundo os Padrões de Westminster
(Confissão de Fé de Westminster Capítulo XXVII, Seção I; O Catecismo Maior de Westminster em sua
resposta à pergunta n° 162) os sacramentos servem aos seguintes propósitos:

 Servem como sinais e selos do pacto da graça;


 Representar Cristo e Seus benefícios;
 Confirmar o nosso interesse nEle;
 Fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo;
 Comprometer os crentes no serviço de Deus;
 Conferir àqueles que estão no pacto da graça os benefícios da mediação de Cristo;
 Fortalecer e aumentar a fé e todas as mais graças;
 Testemunhar e nutrir o seu amor e comunhão uns para com os outros;

Ora, se Deus simplesmente nos ordenasse fazê-los isto já nos bastaria. Quanto mais sabendo que
eles possuem tantos propósitos úteis?! Na teologia reformada os sacramentos são também considerados
como meios de graça. Ou seja, eles constituem-se em um dos meios corriqueiros utilizados por Cristo para
derramar graça no coração do salvo.190 Sendo assim, a Igreja de Cristo não pode negligenciar o uso destes
elementos de culto durante sua peregrinação aqui na terra. Por exemplo, alguém que se converte não tem a
opção de ficar sem se batizar. E quanto a Ceia, a Igreja não deve deixar de realizá-la, ou demorar demais em
ministrá-la ao povo.191
A esta altura devemos esclarecer o seguinte: Embora não possuam poder em si mesmos, os
sacramentos são meios utilizados pelo Espírito Santo para abençoar os crentes. Portanto, os benefícios
espirituais conferidos não vêm deles mesmos, mas do Espírito. Tanto a Palavra de Deus quanto os
sacramentos são totalmente dependentes da ação do Espírito Santo, pois eles não operam no coração
humano pelo simples fato de serem administrados aos pecadores. Vejamos a declaração da Confissão de Fé
de Westminster em seu Capítulo XXVII, Seção III: “A graça revelada nos sacramentos, ou por meio deles,
quando devidamente usados, não é conferida por qualquer poder neles existente [...]”
Assim, nem os elementos dos sacramentos têm poder espiritual neles mesmos, nem os
administradores dos Sacramentos são “poderosos” ou “piedosos” a ponto de, ao ministrá-los, trazer a graça
divina (Confissão de Fé de Westminster, CAPÍTULO XXVII - DOS SACRAMENTOS, Seção III).192 Portanto, o
189
O culto referido aqui é o Culto Público. No culto Individual e Doméstico não cabem a realização dos sacramentos.
190
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática., 1990, p. 609.
191
A liderança neste caso terá que decidir a frequência com que se realizará a Ceia do Senhor, visto que na Escritura
não temos ordenado explicitamente de quanto em quanto tempo deve a Igreja fazê-la.
192
“A graça revelada nos sacramentos [...] nem a eficácia de um sacramento depende da piedade ou intenção de quem
o administra, mas da obra do Espírito e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso

66
Espírito Santo é quem age nos corações, ou só haveria um mero simbolismo. Em resumo, podemos dizer que
eles não são somente um simbolismo (visto que servem para nos fortalecer e nos aumentar a fé e todas as
mais graças), e igualmente não são poderosos em si mesmos visto que são apenas “sinais e selos”. A verdade
é que apesar de ser um selo e sinal da Aliança da Graça, Deus age com graça por meio deles, daí a sua
importância para os salvos.
Visto que a edificação provinda dos sacramentos não depende de quem administra, então qualquer
cristão poderá realizá-los? Na verdade não é bem assim. É fato que na Escritura do Novo Testamento não se
encontram diretrizes claras quanto a quem serão os ministrantes dos sacramentos. Entretanto, mesmo não
havendo nas Escrituras uma explicação clara de quem deva administrar os sacramentos, o entendimento da
teologia reformada, levando em conta a Revelação bíblica como um todo, tem sido que os sacramentos têm
ligação com a Palavra de Deus. E que, portanto, “nenhum dos quais pode ser administrado senão por um
ministro da Palavra, legalmente ordenado” (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXVII, Seção IV).
Vejamos a seguinte explicação da doutrina:

As igrejas reformadas (calvinistas) sempre agiram com base no princípio de que a ministração
da Palavra e a dos sacramentos são entrelaçadamente unidas e que, portanto, o presbítero
docente ou ministro é o único legítimo administrador [...] A Palavra e o sacramento estão
193
conjuntamente unidos nas palavras da instituição [...]

A Ceia do Senhor

De acordo com o que vimos acima a Ceia do Senhor é um dos sacramentos instituídos por Cristo.
Apesar de presente em todas as denominações genuinamente evangélicas, muitas dúvidas pairam na mente
dos cristãos leigos com relação a este ritual simbólico. Não cabe em nosso estudo responder a todos os
detalhes acerca dos sacramentos, todavia, iremos tratar de aspectos importantes no que tange a sua
celebração no culto.
Primeiro, devemos esclarecer que a celebração da Ceia do Senhor não é um simples ritual. Apesar de
ser um rito, a Santa Ceia vai mais além, conforme interpretam os reformados. De acordo com a Confissão de
Fé de Westminster em seu Capítulo XXIX - DA CEIA DO SENHOR, Seção I, a Ceia do Senhor serve para trazer
benefícios espirituais aos crentes: “[...] para selar, aos verdadeiros crentes, os benefícios provenientes desse
sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele, e seu compromisso de cumprir todos os seus
deveres para com Ele; e ser um vínculo e penhor da sua comunhão com Ele e de uns com os outros, como
membros de seu corpo místico” (1Co 11:23-26; 10:16, 17, 21; 12:13). E também em seu Capítulo XXIX - DA
CEIA DO SENHOR, Seção VII: “Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos
visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo Crucificado e todos os benefícios
da sua morte, e dele se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente”
(1Co 11:28; 10:16). Os sacramentos são meios de graça, e como tal, edificam o adorador. Há uma ação do
Cristo nos participantes da Ceia.
É triste pensar que muitos tomam parte da Ceia como um simples ritual cristão, sem entender que
ela alimenta a alma194. Por isto se torna ainda mais imperioso cumprir o que ensina a teologia reformada, a
qual diz que a celebração da Ceia deve ser acompanhada da explicação do seu significado. A Ceia não é um
ritual simbólico incompreensível. Ela anda em paralelo com verdades acerca de Cristo que nós devemos
absorver no coração. Lembremos que o apóstolo Paulo explica em (1Co 14) que a edificação é um processo

dele, contém uma promessa de benefício aos que dignamente o recebem” (Rm 2:28, 29; 1Pe 3:21; Mt 3:11; 1Co 12:13;
Lc 22:19, 20; 1Co 11:26).
193
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática., 1990, p. 637.
194
Na era da Nova Aliança, diferente do Antigo Testamento, só possuímos dois símbolos no culto: O Batismo e a Ceia do
Senhor. Contudo, muitos cristãos não sabem explicar o significado destes sacramentos, nem explicar a utilidade e
propósito deles.

67
que passa pela mente. Então, o simbolismo da Ceia deve ser explicado, sob o risco de não ser compreendido
e tornar-se somente um ritual de tradição195. Como se expressa o reformador João Calvino:

Porque se são “palavras visíveis” (tal como Sto. Agostinho os apelida), é preciso não somente
que eles sejam uma demonstração externa, mas também que o ensino seja juntamente
ministrado, atribuindo-lhe inteligibilidade. Inclusive, o nosso Senhor, ao institui-los,
demonstrou muito bem isso, porque diz [na Palavra] que eles são testemunhos da aliança
que ele fez conosco, confirmada por sua morte. É preciso, portanto, que lhes seja explicado o
sentido, para que possamos conhecer e compreender aquilo que ele disse. De outra forma,
teria sido em vão que o Senhor abriu seus lábios para falar, se não tivesse à sua volta ouvidos
para ouvir. Logo, não são necessárias maiores discussões sobre isso. E, quando a questão é
examinada com bom senso, fica claro que é mera bagunça distrair as pessoas com símbolos
que para elas não faz sentido... Logo, se quisermos celebrar em verdade esse sacramento, é
necessário para nós que tenhamos também o ensino, através do qual se explica aquilo que é
simbolizado. Reconheço que isso parece meio estranho àqueles que não estão acostumados,
196
tal como ocorre com toda novidade.

Na verdade, muitas dúvidas seriam retiradas da mente dos leigos se estes tão somente observassem
os textos confessionais de Westminster. Vejamos algumas verdades retiradas das declarações do Capítulo
XXIX - DA CEIA DO SENHOR, as quais esclarecem vários aspectos desta celebração cristã:

1. Cristo não é sacrificado na Ceia como declara a Igreja Católica (Seção II);
2. Quem deve administrar o sacramento é ministro (Seção III);
3. Os elementos são separados do uso comum para o uso sagrado (seção III);
4. A Ceia deve ser distribuída somente aos presentes na congregação (Seção III);
5. Os dois elementos devem ser entregues ao povo, e não somente o pão, como fazem no catolicismo
(Seção IV);
6. Os elementos utilizados na Ceia, apesar de separados do uso comum para o uso sagrado, continuam
pão e vinho. Eles não se tornam elementos de outra natureza (Seção V, VI);
7. Só quem recebe os benefícios da Ceia do Senhor são aqueles regenerados por Cristo. Se um ímpio
tomar parte na Ceia ele não é abençoado (Seção VIII);
8. A Ceia do Senhor só deve ser ministrada aos convertidos (Seção VIII).

Alguns outros detalhes da ceia também devem ser explicados neste momento. Por exemplo, há
quem só sirva a Ceia para os cristãos de mesma denominação. Ora, se a Ceia é do Senhor, e Ele é Senhor de
outros crentes fora da denominação, com que direito se nega a Ceia aos seus próprios irmãos? A questão
não deve ser a respeito de qual denominação ele pertence, mas, se pertence a uma igreja genuinamente
evangélica ou não!
Também considero muito estranho a prática de alguns que servem a Ceia com elementos estranhos
ao estabelecido por Cristo. Quando a questão é servir a Ceia com vinho tinto ou branco, ou servir com vinho
ou suco de uva; ou escolher entre servir pão asmo e pão com fermento, penso que neste sentido estamos

195
É bem verdade que Cristo por Sua misericórdia pode edificar os crentes leigos que não entendem o significado da
Ceia do Senhor. Contudo, este não é o ideal de Deus quanto ao sacramento da Ceia.
196
CALVINO, João. Prefácio de Calvino ao Saltério de Genebra. Disponível em:
<http://salmodia.wordpress.com/tag/culto-reformado/>. Acessado em: 16 abr. 2013.

68
num terreno aceitável e permissível de variação quanto aos elementos estabelecidos por Cristo197. Mas
quando queremos servir “k-suco de uva” ao invés do fruto da videira; ou ao invés de pão servir pizza ou
bolacha, penso que estamos exagerando nesta variação! Lembremos que as circunstâncias de culto devem
seguir ainda os princípios gerais da Palavra, com prudência e bom senso, e não, seguir o bel prazer dos
adoradores.
Igualmente não considero ser uma boa prática de interpretação bíblica nos apegar aos detalhes
como: “O pão deve ser partido na frente dos irmãos no momento da Ceia, e não, vir partido em bandejas”.
Ou então detalhes como: “Devemos cantar um hino depois da Ceia porque Jesus cantou!” Isto cheira mais a
“legalismo” e “cerimonialismo” do que obediência à instituição de Cristo!
Outro detalhe é com respeito a quem deve servir os elementos da Ceia à igreja. A título de exemplo,
a Igreja Presbiteriana do Brasil dá prioridade aos presbíteros. Contudo, na falta de um destes, um membro
piedoso pode estar sendo convidado a fazer este serviço.198 A ministração da Ceia deve ser obrigatoriamente
realizada por um ministro da Palavra, mas a entrega dos elementos não possui tal exclusividade na Bíblia.
Quanto à questão da participação da Ceia devemos ainda nos lembrar de que existem três tipos de
pessoas que não podem ter parte nela. São estes: Os ímpios, os menores dentro do Pacto da Aliança, e os
que se encontram em disciplina.199 Com respeito aos ímpios nós já explicamos anteriormente acima. No que
diz respeito aos menores dentro do Pacto, a questão é que estes não preenchem os requisitos de
participação desta celebração. Observemos a explicação do teólogo Louis Berkhof:

As crianças, embora tenham tido permissão para comer a páscoa nos tempos do Velho
Testamento, não podem ter permissão para participar da mesa do Senhor, visto não
poderem satisfazer as exigências que se requerem para uma participação digna. Paulo insiste
na necessidade de exame próprio antes da celebração, quando diz: "Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice", 1Co 11.28, e as crianças não são
capazes de examinar-se a si mesmas. Além disso, ele assinala que, para uma digna
participação da Ceia, é necessário discernir o corpo, 1Co 11:29, isto é, distinguir
apropriadamente entre os elementos utilizados na Ceia do Senhor e o pão e o vinho comuns,
reconhecendo aqueles elementos como símbolos do corpo e do sangue de Cristo. E isso
também está além da capacidade das crianças. Somente depois de terem elas atingido a
200
idade da discrição é que poderão participar da celebração da Ceia do Senhor.

Com relação aos que se encontram disciplinados, a teologia reformada esboçada na Confissão de Fé
de Westminster, Capítulo XXX - DAS CENSURAS ECLESIÁSTICAS, Seção IV, declara que estes não devem
participar da ordenança da Ceia do Senhor: “Para melhor obtenção destes fins, os oficiais da Igreja devem
proceder dentro da seguinte ordem, segundo a natureza do crime e demérito da pessoa: repreensão,
suspensão do sacramento da Ceia do Senhor por algum tempo e exclusão da Igreja” (Mt 18:17; 1Ts 5:12; 2Ts
3:6, 14, 15; 1Co 5:4, 5, 13).
Igualmente o Catecismo Maior de Westminster, pergunta 173 – Alguém que professa a fé, e deseja
participar da Ceia do Senhor, pode ser excluído dela? Tem como resposta: “Os que forem achados
ignorantes ou escandalosos, não obstante a sua profissão de fé e o desejo de participar da Ceia do Senhor,
podem e devem ser excluídos desse sacramento, pelo poder que Cristo legou à sua Igreja, até que recebam
instrução e manifestem mudança” (1Co 5:3-5, 11; 11:29; 2Co 2:5-8). Evidentemente que nem todo caso de
disciplina é necessário o afastamento. Todavia, nos casos necessários é preciso agir com firmeza. A liderança

197
Falo em liberdade quanto a estes aspectos devido ao fato de eles não serem revelados na Escritura. Sendo assim,
devemos utilizar o bom senso, prudência e sabedoria cristã. Estas coisas são circunstâncias do culto.
198
Ver Princípios de Liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil, Capítulo VII, Art. 15 – Parágrafo único.
199
Apesar de não encontrarmos um mandamento específico ordenando que as mulheres participem da Ceia do Senhor,
entendemos que por implicação elas devem participar por duas razões: 1 - Elas participavam da páscoa no Antigo
Testamento; 2 - No período do Novo Testamento elas também recebem o sacramento do Batismo (At 16:14, 15). Ora se
elas podem participar do sacramento do Batismo então podem igualmente participar do sacramento da Ceia.
200
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática., 1990, p. 663.

69
não deve deixar de observar os elementos de culto com fidelidade e seriedade.201 Ora, se o crente em plena
comunhão já deve inequivocamente se examinar para tomar parte na mesa do Senhor (1Co 11:28, 31) para
não entrar em juízo (1Co 11:27, 29,30, 32), quanto mais os que se encontram em disciplina por já estarem
envolvidos com alguma prática pecaminosa?!

O Batismo

O sacramento do Batismo possui menos elementos do que a Ceia do Senhor, porém, mesmo assim, é
motivo de divisão entre os cristãos devido a detalhes quanto à sua ministração. Refiro-me ao fato de uns
defenderem o batismo por imersão, e outros por aspersão. Apesar da grande convicção, os que declaram
que o batismo só é corretamente administrado quando por imersão acabam recorrendo a argumentos
exegéticos infundados, estranhos ao que revela as Escrituras. A Bíblia não prescreve o quanto de água deve
ser utilizado, e nem o modo como deve ser administrado este elemento (aspersão ou imersão). Assim, pode
ser por um, ou por outro modo. É o que declara a Confissão de fé de Westminster em seu Capítulo XXVIII -
DO BATISMO, Seção III: “Não é necessário imergir o candidato na água, mas o batismo é corretamente
administrado por efusão e aspersão” (At 2: 41; 10: 46-47; 16: 33; 1Co 10:2).
Outro aspecto do sacramento muito debatido é quanto ao batismo infantil. Há aqueles que tentam
argumentar dizendo que não há textos na Bíblia que demonstrem explicitamente que uma criança foi
batizada, e que por isto, não devemos batizá-las hoje em dia. É interessante notar que este tipo de
argumento é viciado em “versículos-prova”, e não em regras de hermenêutica. Ora, para fazermos teologia
devemos observar todo o conteúdo bíblico.202 Por exemplo, não encontramos um texto dizendo a palavra
Trindade, ou dizendo claramente que Jesus não tinha dupla personalidade (uma divina e uma humana), mas
somente uma pessoa. Porém, seria um absurdo dizer que estas doutrinas não são verdadeiras devido ao fato
de não encontrarmos um versículo afirmando estas coisas com todas as letras, visto que o conteúdo
completo da Bíblia comprova estas verdades teológicas.
Ora, se o sacramento da circuncisão era administrado em crianças de oito dias de vida, fazendo-as
entrar na aliança dos pais (Gn 17:9-14; Lv 12:3), então, o batismo, que foi instituído para ficar no lugar da
circuncisão (Cl 2:11, 12), não somente pode, mas deve ser administrado aos infantes. A Confissão de Fé de
Westminster declara explicitamente esta doutrina no Capítulo XXVIII, Seção IV: “Não só os que de fato
professam a sua fé em Cristo e obediência a Ele; mas também os filhos de pais crentes (ainda que só um
deles o seja) devem ser batizados” (At 9:18; Gn 17:7,9; Gl 3:9,14; Rm 4:11,12; At 2:38-39). Infelizmente
muitos crentes têm desobedecido esta ordenança, optando em não batizar os filhos por que preferem deixar
que eles tomem esta decisão por si mesmos. Todavia, nem a circuncisão nem o batismo infantil foram
deixados como opção para os crentes; pelo contrário, foram deixados como mandamento divino.

Juramentos Religiosos e dos Votos

A doutrina calvinista entende que são elementos de culto os juramentos e votos (Confissão de Fé de
Westminster, Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, Seção V: “... além dos juramentos
religiosos, votos [...]”. Trataremos de cada um separadamente devido ao fato deles terem características
particulares.
Apesar de a Confissão de Fé citada acima declarar que os juramentos e votos são elementos de
culto, ela só vai esclarecer sobre estes elementos no capítulo seguinte (CAPÍTULO XXII - DOS JURAMENTOS
LEGAIS E DOS VOTOS). À primeira vista pode parecer estranho a muitos cristãos que o crente em Cristo
possa fazer juramentos. Há difundida, pelo menos aqui no Brasil, a ideia de que jurar é pecado. Porém,
examinando mais apropriadamente as Escrituras vamos encontrar que Deus não proíbe o juramento (Lv
19:12; 2Co 1:23; 2Cr 6:22, 23; Is 65:16; Dt 6:13; 10:20; Ed 10.5; Mt 5.33). A questão não é que o servo de
Deus não pode jurar, mas que ele não pode jurar falso (Lv 19:12), e nem jurar em nome de outros deuses (Dt
6:13).

201
Uma das três marcas da Igreja Verdadeira segundo a concepção reformada é a fiel administração dos sacramentos.
202
A regra de hermenêutica referida aqui é chamada de Analogia das Escrituras.

70
Em que consiste este juramento? Nas palavras da Confissão de Fé de Westminster em seu capítulo
XXII, Seção I: “O Juramento, quando lícito, é uma parte do culto religioso em que o crente, em ocasiões
próprias e com toda a solenidade, chama a Deus por testemunha do que assevera ou promete; pelo
juramento ele invoca a Deus a fim de ser julgado por ele, segundo a verdade ou falsidade do que jura.” Para
um melhor entendimento, vejamos as explicações de Alexander A. Hodge:

Um juramento legal consiste em invocar a Deus, sendo a ocasião de suficiente seriedade e


importância, visando a dar testemunho da veracidade do que afirmamos como verdadeiro,
ou nossa pretensão voluntária de obrigar-nos a fazer algo no futuro – com uma imprecação
implícita do desfavor divino caso mintamos ou provemos ser infiéis em nossos compromissos
[...] um juramento é um ato de supremo culto religioso, visto reconhecer a onipresença, a
onisciência, a justiça absoluta e a soberania da Pessoa cujo augusto testemunho é invocado,
203
e cujo juízo é invocado como final.

Em que consiste um juramento ficou claro. Porém, quando é que isto se faz necessário? Em outras
palavras, em quais ocasiões deveremos apelar para o juramento invocando Deus por testemunha? Pois bem,
“as ocasiões próprias em que um juramento pode ser formulado são todas aquelas em que se faz necessário
fazer um apelo ao testemunho de Deus a fim de assegurar confiança e pôr fim às demandas (Hb 6:16).
Também toda vez em que o juramento é imposto por autoridade competente sobre aqueles sujeitos a
ela.”204
Com relação ao voto, igualmente há muita dúvida entre os cristãos. O assunto na verdade é pouco
referido em igrejas reformadas. Contudo, não deixa de ser verdade que a Bíblia o aprova e orienta sobre eles
(Nm 6:2; 30:2; Ec 5:4-6; Sl 76:11; 61:8; Is 19:21; 1Sm 1:11; At 18:18; Jn 2:9; Sl 22:25; 50:14; 66:13, 14; 76:11;
116:14, 18).
Porém, antes de tudo, vamos distinguir entre o voto e o juramento. Qual a diferença existente entre
eles? “O voto é uma promessa feita a Deus. No juramento, as partes são pessoas, e Deus é invocado como
testemunha. No voto, Deus é a parte a quem se faz a promessa. Ele é da mesma natureza que o juramento,
visto que somos obrigados a observá-los sob as mesmas bases.”205 Podemos conceituar o voto da seguinte
maneira:

Um voto significa uma obrigação ou promessa voluntária feita a Deus. Geralmente é feita
com a condição de que favores especiais sejam recebidos de Deus. Frequentemente, faz-se
um voto a Deus durante uma enfermidade ou outros tipos de aflições. Deve, então, ser
cumprido depois de a calamidade ter chegado ao fim ou o desejo ter sido outorgado (Gn
206
28:20-22; Nm 21:2; 1Sm 1:11; 2Sm 15:8).

Na Escritura nós percebemos que o voto se expressava de várias maneiras. “Um voto podia ser: ou
de realizar alguma coisa (Gn 28:20 e segs.) ou de abster-se de alguma coisa (Sl 132:2 e segs.), uma ação em
retribuição ao favor de Deus (Nm 21:1-3) ou como expressão de zelo ou devoção para com Deus (Sl
22:25).”207
O servo de Deus na verdade não é obrigado a fazer votos. Contudo, uma vez feito, deve-se cumpri-lo
com fidelidade (Ec 5:4, 5; Sl 66:13, 14). É por isto que a Bíblia orienta a ter cuidado ao se fazer um voto (Pv
20:25). “Fazer um voto levianamente, numa ocasião banal, ou pronunciar um voto e deixar de cumpri-lo, é
um ato de profanação contra Deus.”208 Por esta razão é que se torna desaconselhável acostumar-se a fazer
votos:

203
HODGE, Alexander A. Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo: Os Puritanos, 1999. p.
390, 391.
204
Ibid., p. 392.
205
Ibid., p. 395.
206
MASSELINK, W. Voto in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009. p. 635.
207
ELLIS, E. E. Voto in O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 1669.
208
HODGE, Alexander A. op. cit., p. 395.

71
Quando a matéria do voto não é ilegal, mas moralmente indiferente, o voto é obrigatório;
mas a experiência abundantemente comprova que acumular tais obrigações é em extremo
injurioso [...] A multiplicação de deveres auto-impostos o desonra, bem como grandemente
nos molesta e compromete nossa segurança. Seria melhor que os votos fossem restringidos à
disposição e promessa voluntárias de se observarem, com o auxílio da graça divina, os
209
deveres impostos por Deus e claramente revelados nas Escrituras.

Aplicados ao culto podemos perceber algumas ocasiões em que o juramento e o voto são
requeridos. Por exemplo, nos juramentos dos noivos durante a cerimônia de casamento; Ou, com relação ao
voto, temos a pública profissão de fé.

Jejuns Solenes e Ações de Graças

A Confissão de Fé de Westminster menciona ainda que em “ocasiões especiais” a Igreja pode


utilizar-se de mais dois elementos, o jejum e as ações de graças. Segundo a interpretação da Igreja
Presbiteriana do Brasil, de linha teológica reformada, “estas “ocasiões especiais” são guerras, calamidades
públicas e outros acontecimentos extraordinários que devem levar a igreja a buscar o favor de Deus de
maneira mais intensa.”210
Apesar de benéfico ao cristão, o jejum somente servirá para sua vida espiritual se realizado de forma
correta (Mt 6:16-18). A fim de fazê-lo de forma eficiente o servo de Deus precisa compreender primeiro o
que está fazendo. Entender a doutrina do jejum bíblico. Ou seja, deve se perguntar: O que é o jejum bíblico?
A palavra jejum por si mesma significa “abstinência de alimentos”. Isto pode ser feito pela abstinência
completa ou parcial de alimentos durante um período específico de tempo (2Sm 12:16; Dn 10:2-3 ).
Certamente encontramos nas Escrituras o registro de servos de Deus jejuando. Mas qual o
significado desta prática? O que se pretende com ela? Vejamos as explicações a seguir:

O jejum cristão é ensinado em toda a Escritura (2Sm 12:16; Ne 1:4; 2 Cr 20:3; Jn 3:7, 8; Lucas
4:1-13; At 14:23; Mt 6:16-18; 17:21). Tanto na antiga, como na nova Aliança o povo de Deus
praticou o jejum como um ato de consagração pessoal. O jejum não cessou no Novo
Testamento, como alguns pensam, mas tem a sua continuidade comprovada tanto por Jesus,
211
como pela Igreja no período posterior ao Pentecostes.

E também:

O jejum expressava tristeza (1Sm 31:13; 2Sm 1:12; 3:35; Ne 1:4; Et 4:3; Sl 35:13, 14) e
penitência (1Sm 7:6; 1Rs 21:27; Ne 9:1, 2; Dn 9:3,4; Jn 3:5-8). Essa era uma das maneiras pela
qual os homens podiam humilhar-se na presença de Deus (Ed 8:21; Sl 69:10) [...] O jejum
frequentemente tinha por propósito obter a orientação e a ajuda de Deus (Ex 34:28; Dt 9:9;
2Sm 12:16-23; 2Cr 20:3, 4; Ed 8:21-23)[...] No livro de Atos, lemos que os líderes da Igreja
212
jejuaram ao escolher missionários (13:2, 3) e anciãos (14:23).

Como afirmamos anteriormente, precisamos conhecer melhor a doutrina do jejum para podermos
realizá-lo com eficiência. Aprendemos acima o conceito e os modos do jejum. Mas isto não nos livra de
cometemos erros quanto à sua prática. Muitos erros podem ser relacionados ao jejum:

Não se pratica o jejum apenas pela veneração da tradição, embora os servos de Deus em
todos os períodos da história observaram a prática do jejum. Nem se deve jejuar

209
Ibid., p. 396.
210
Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB., 2010, p. 17.
211
TOKASHIKI, Ewerton B. Conselhos práticos sobre o jejum cristão. Disponível em:
<http://doutrinacalvinista.blogspot.com/search/label/Teologia%20pastoral>. Acessado em: 09 ago. 2008.
212
BELBEN, H. A. G. Jejum in O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 792.

72
simplesmente porque uma autoridade tenha ordenado. Nem por legalismo de uma mera
justiça externa com o objetivo de ser visto pelas pessoas (Mt 6:1, 16-18). Nem mesmo tem o
propósito de promover alguma forma de ascetismo, especificamente, a crença de que o
corpo é mal e por isso, tem que ser castigado. Pelo contrário, deve ser oferecido como um
ato de louvor a Deus com uma convicção sincera de que Deus nos convoca para jejuar em
213
certas ocasiões (Mt 17:21; At 14:23).

Com respeito às ações de graças devemos nos lembrar que é da vontade de Deus que o seu povo
seja agradecido (1Co 10:30; Cl 3:16; Ef 5:20; 1Ts 5:18; Sl 50:14).

Questões diversas

Há questões modernas em relação ao culto que precisam ser esclarecidas, pois, ocorrendo em
algumas igrejas, deixam em dúvidas os crentes. Ou seja, eles se perguntam se é lícito ou não fazê-las?
Vejamos algumas destas questões abaixo.

Impetração da Bênção

Quem já entrou em uma igreja evangélica já percebeu que ao final do culto o pastor diz as seguintes
palavras (com algumas poucas variações): “Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus o Pai,
e a comunhão do Espírito, sejam com todos!” Estas palavras ditas praticamente em todo final de culto,
constituem em elemento de culto? Se não, por que são ditas? É verdade que elas não são nem sacramento,
nem elemento específico de culto. Estas palavras são uma invocação da bênção de Deus sobre todo o povo
salvo. Esta invocação no Antigo Testamento era realizada pelo sacerdote (Nm 6:22-27).
Ora, pensemos no seguinte: O serviço corriqueiro de ensino da Palavra era feito pelos sacerdotes,
bem como a liderança espiritual do povo. Na era da Nova Aliança estes dois serviços cabem aos pastores.
Então, é uma conclusão lógica que a invocação também seja realizada por eles nos dias de hoje. Entretanto,
não se utilizam mais aquelas palavras utilizadas pelos sacerdotes. No período de hoje são utilizadas as
palavras que foram ditas pelo apóstolo Paulo à igreja de Corinto (2Co 13:13). Não que o apóstolo tenha dito
estas palavras com a intenção de ser usada ao final dos cultos públicos como invocação de bênção. Todavia,
quer queira quer não, é uma pronunciação de bênção sobre a igreja de Corinto que pode ser utilizada sobre
qualquer igreja de Cristo. As palavras ditas por Paulo refletem a realidade da Nova Aliança, e podem com
certeza ser utilizadas como oração intercessória.
Resumindo, como é uma oração intercessória, a invocação da bênção se constitui em um elemento
de culto. Todavia, por causa do uso exclusivo da invocação da bênção por parte dos sacerdotes no Antigo
Testamento, hoje em dia, especificamente esta oração intercessória sobre a Igreja, só é proferida pelos
pastores. Evidentemente que esta bênção é reservada ao culto público, e não deve ser utilizada em um culto
doméstico.

Ordenação de Oficiais

É bem claro no Novo Testamento que a ordenação de ministros é feita pelo presbitério214 (1Tm
4:14). Porém, não é explícito que seja feito durante o culto público. Não significa com isto que inserir no
culto público o ato de ordenação seja errado. No Antigo Testamento os sacerdotes que ministravam no
Templo também eram consagrados, por ordem divina, em contexto de culto ao Senhor (Lv 8). Não que todos
os detalhes do culto no Antigo Testamento devam ser empregados no culto do Novo Testamento; ou que os
oficiais do Novo Testamento sejam uma linha de sacerdócio como os do Antigo Testamento. Todavia, o que
desejo enfatizar não são os detalhes litúrgicos e cerimoniais, mais o princípio de que a ordenação era
realizada em contexto de culto. Além disto, visto que a ordenação envolve juramentos solenes por parte do

213
TOKASHIKI, Ewerton B. Conselhos práticos sobre o jejum cristão., 2008.
214
A palavra presbitério indica o conselho de presbíteros ou consistório da igreja.

73
vocacionado, e os juramentos serem considerados elementos de culto, então, não há problema em colocá-lo
no culto público.

Unção com Óleo na Igreja

Há em muitas igrejas neopentecostais o uso de óleo para ungir as pessoas. É verdade que no Antigo
Testamento encontramos o uso do óleo sobre algumas pessoas específicas (sacerdotes - Ex 29:7; reis - 1Sm
16:13; profetas - 1Rs 19:16); mas não temos nenhum destes ofícios no período da Nova Aliança. Sendo
assim, não temos mandamento para utilizarmos o óleo. A única ocasião em que encontramos sobre uso de
óleo para ungir é o texto de (Tg 5:14). E ainda assim, três aspectos devem ser enfatizados: 1- Não tem o óleo
poder para curar, pois Deus é quem cura em resposta à oração; 2- O óleo era para ser utilizado somente em
enfermos, e não em qualquer ocasião que se queira, e nem como se ele fosse capaz de conceder poder
espiritual; 3- A unção com óleo não era feita em um culto público, mas na casa do enfermo. Assim,
concluímos dizendo que o uso de óleo para ungir os adoradores no culto público não tem base bíblica.215

Venda de Objetos

Em nossos dias não é difícil encontrar a venda de objetos dentro da área do templo. Por esta razão é
bom estudarmos sobre o assunto para ver o que diz as Escrituras. Na Bíblia está escrito que Jesus expulsou
os vendedores do Templo (Mt 21:12, 13). O Templo era lugar para se realizar culto ao Senhor e não lugar
para negócio (Jo 2:14, 16). Naquela época o Templo era um lugar sagrado e a arca simbolizava a presença de
Deus entre o povo. Não acontece assim no Novo Testamento. Deus não nos ordenou o uso de templos para
o culto. Todavia, não é conveniente que o lugar construído para culto seja utilizado para negócio.
Não significa que os edifícios de hoje sejam sagrados no sentido do Antigo Testamento, pois o crente
pode adorar em qualquer lugar no período do Novo Testamento (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo
XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, Seção VI). Porém, se houver de se vender alguma coisa que seja
feito fora do templo, em ocasião própria (a propaganda dos objetos seja feita depois do culto, e não durante
o mesmo). Outras áreas como salas anexas podem servir para tais feitos. Não é uma questão de
mandamento, mas de bom senso e conveniência.
Quanto aos objetos vendidos, sabemos que algumas igrejas vendem elementos que supostamente
trazem bênçãos aos possuidores (Exe.: água do Jordão, trombeta ungida, rosa santa...). Isto se constitui em
descarada superstição. As igrejas genuinamente evangélicas não concordarão com a venda destes objetos.

Expressões Corporais

Uma questão moderna que tem inflamado os nervos de alguns é quanto ao uso das palmas, levantar
as mãos, danças e coreografias. Será que convém que os cristãos façam estas coisas durante o culto?
Examinemos cada uma destas questões.
Com respeito a levantar as mãos e bater palmas, o escritor Odayr Olivetti nos concede uma boa
explicação:

Pergunta: É proibido levantar as mãos e bater palmas em nossas igrejas? A Bíblia não fala
nada contra. Resposta: A legítima tradição do presbiterianismo evita transformar a vida cristã
numa série de regras "pode-não-pode". O que se espera é que cada pessoa absorva os
grandes princípios da Escritura, princípios como os do amor, da fé, da santidade pessoal, da
fidelidade, os quais habilitam o cristão a agir ou reagir adequadamente nas diversas
situações. Um resumo concreto e objetivo deles se encontra nos Dez Mandamentos dados
por Deus (Ex 20 e Dt 5). Espero, entretanto, que as considerações abaixo sejam úteis:

215
Não implica dizer que se pode fazer uso do óleo no culto doméstico, a não ser no caso citado por Tiago em sua
carta. Além disto, ele não deve servir para se consagrar, ou para conceder poder, ou para abençoar... E outros
propósitos estranhos ao correto sentido do texto.

74
(1) Não haver na Bíblia uma proibição explícita não é critério para definir se esta ou aquela
prática é válida, benéfica e recomendável. Por exemplo, a Bíblia não proíbe fumar. Mas até a
ciência hoje condena essa prática.
(2) Tudo é lícito, mas nem tudo convém: "Todas as cousas me são lícitas, mas nem todas
convêm. Todas as cousas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma
delas... Todas são lícitas, mas nem todas edificam" (1Co 6.12; 10.23).
(3) Se uma prática (nova ou não) tende a causar divisão ou a abalar a unidade do corpo de
Cristo, por amor aos outros, por amor à unidade e por amor a Cristo, desista dela "Ninguém
busque o seu próprio interesse e sim o de outrem... Não vos torneis causa de tropeço... para
a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos [não a mim
ou a um grupo], não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam
salvos" (1Co 10.24,32,33).
(4) As manifestações espirituais devem estar subordinadas aos princípios de respeito mútuo,
ordem e decência: "Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; porque
Deus não é de confusão e sim de paz... Tudo, porém, seja feito com decência e ordem" (1Co
14.32,33,40).
(5) Faça autocrítica examinando os seus motivos pessoais. Não se deixe levar pela moda, pela
onda, ou por qualquer motivo que não procure a glória de Deus e a edificação da igreja:
"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória
de Deus... com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo... seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo" (1Co 10.31; Ef 4.12,15).
(6) Manifestações como levantar as mãos, bater palmas etc. durante o culto, onde ocorrerem
e se ocorrerem, devem ser espontâneas, não comandadas por dirigentes. E não devem
repetir-se frequentemente. Tudo o que se repete frequentemente vira hábito mecânico.
(7) Pode-se encontrar ou forjar muitas explicações para o que vou dizer, mas é fato concreto
que, das igrejas mencionadas no Novo Testamento, a que mais desordem, confusão, facções
e corrupção moral demonstrou foi a igreja que se orgulhava dos seus dons espirituais:
Corinto. Ver, por exemplo, 1Co 3.1-4; 4.6-8,18; 5.1,2; 6.1-8; 11.17-22.
(8) Agitação, movimentos, som, não são sinônimos de vida. Se a nossa comunhão com Deus
em Cristo é real, até no silêncio há vida. Ver, por exemplo, Ex 14.13; 1Rs 19.9-13; Jó 4.16,17;
Sl 46.10; Am 5.12-14; Ap 8.1.
(9) Entre os componentes do fruto do Espírito estão a paz e o domínio próprio – nada
condizentes com agitação: Gl 5.23. — E a verdadeira espiritualidade não é demonstrada por
dons (Mt 7.22,23), mas pelo fruto do Espírito (Gl 5.22,23).
(10) Deus procura adoradores que O adorem em espírito e em verdade. "Deus é espírito; e
216
importa que os seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade" (Jo 4:23,24).

Com respeito às danças no culto público devemos entender que não há base bíblica para o uso delas
em contexto de culto público ou doméstico. Na Escritura do Antigo Testamento podemos encontrar ocasiões
de dança por parte de crentes judeus, mas não como ordem divina, porém, como registro descritivo de
acontecimentos ocorridos na história de Israel. Além disto, “as danças de Mirian, Davi, e outros não foram
em momentos cúlticos, mas em épocas de vitórias e festivas.” 217 Do mesmo modo, “não há uma referência
sequer que no culto do Novo Testamento tenha havido manifestação da dança cúltica. Nem mesmo na Igreja
dos Pais Apostólicos, e nem ainda na Reforma Protestante do Século XVI.”218
Os proponentes das danças litúrgicas não são felizes em suas interpretações das Escrituras. “Se você
examinar os textos que os defensores das inovações usam verá que o uso destes elementos coreográficos
são tomados de textos onde nada é prescritivo, e sim descritivo.”219 Outros, numa tentativa desesperada de
encontrar justificativas para tais atos no culto vão ainda mais longe. Eles se justificam afirmando que o povo

216
OLIVETTI, Odayr. Palmas e levantar as mãos. JORNAL BRASIL PRESBITERIANO, Abril, ANO 45, Nº 595, 2004, p. 3.
217
FIGUEIREDO, Cleómines A. de. Gesticulação e Coreografia., 2008.
218
MORAIS, Ludgero Bonilha. Dança Litúrgica. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/igreja/danca_liturgica.htm>. Acesso em: 04 ago.2008.
219
FIGUEIREDO, Cleómines A. de. op. cit., 2008.

75
gosta. Porém, este tipo de argumento é falho, deixando o povo seguir um comportamento que é condenado
pelo Senhor (Amós 4.4, 5).
A questão toda é envolvida numa questão aparentemente simples em relação ao culto: As
circunstâncias de culto. Os elementos de culto são aquelas atividades específicas ordenadas por Deus para
serem utilizadas no culto (oração, leitura bíblica, sermão, sacramentos, cânticos...). Já as circunstâncias de
culto estão relacionadas ao bom andamento e execução dos elementos ordenados por Deus. “Seu objetivo é
permitir que o culto a Deus aconteça de maneira adequada, apropriada, facilitando a sua realização e
maximizando o potencial dos elementos.”220 As circunstancias de culto não são prescritas, e algumas nem
são indispensáveis, mas apenas acompanham os elementos. Vejamos abaixo a explicação oferecida pela IPB:

Enquanto que a igreja deva se restringir zelosamente aos elementos prescritos na Palavra de
Deus, conforme entendidos pelos símbolos de fé, existem determinadas circunstâncias
referentes ao bom andamento do culto público (1Co 11:13-14, 33-34) que foram deixadas a
critério dos pastores e conselhos das igrejas locais [...] Algumas destas circunstâncias estão
relacionadas com o ambiente de culto, e envolvem decisões quanto à arrumação do salão,
mobiliário adequado e sua disposição no local, a iluminação e decoração do ambiente,
amplificação do som, uso de mídia, a determinação dos horários de culto, entre outros.
Outras circunstâncias estão relacionadas com o culto propriamente dito, tais como o
acompanhamento do cântico congregacional com instrumentos musicais e cântico através de
coros e grupos. O que diferencia estas circunstâncias dos elementos do culto é que os
elementos são parte essencial do culto a Deus e foram por ele prescritos em sua Palavra,
sendo meios pelos quais recebemos a sua graça e sua Palavra e lhe prestamos adoração e
louvor. As circunstâncias, por sua vez, dizem respeito aos passos envolvidos na
implementação e aplicação dos elementos e são dependentes destes. Destarte, as
circunstâncias não são parte essencial e intrínseca do culto, podendo ou não estar presentes,
de acordo com o julgamento dos pastores e conselhos das igrejas locais. A presença ou
ausência de determinadas circunstâncias não torna um culto mais ou menos espiritual ou
221
aceitável a Deus.

Pois bem, a questão neste caso é: As danças litúrgicas são circunstâncias de culto ou elementos de
culto? Aqueles que consideram as danças como circunstâncias de culto as colocam no culto sem peso na
consciência. Entretanto os que as consideram um elemento estranho ao culto, são contrários a sua prática.
As igrejas reformadas nunca foram favoráveis ao uso de danças no culto. Esta é uma inovação colocada pelas
igrejas neopentecostais e que foi copiada indevidamente nos cultos reformados. A Igreja Presbiteriana do
Brasil, que é de teologia reformada, considera as danças um elemento estranho, e não uma circunstância de
culto. Vejamos a posição da IPB:

A expressão “danças litúrgicas” é geralmente aplicada às seguintes atividades: (1) as danças


da congregação ao som de música durante o cântico; (2) as danças realizadas por indivíduos
ou grupos à frente da igreja, em determinado momento da liturgia, e que pretendem
transmitir Palavra de Deus ao povo, ilustrando ou dramatizando uma mensagem musical
durante o culto público. Estas últimas são também chamadas de coreografias, e denominadas
pela IPB de “expressões corporais acentuadas”. [...] No que tange às danças litúrgicas, não é
possível demonstrar pelas Escrituras que elas faziam parte do culto público a Deus, quer no
período do Antigo Testamento ou do Novo Testamento e nem que elas são elementos do
culto por ele ordenado. As passagens bíblicas geralmente mencionadas para defendê-las –
como a dança de Miriã e das demais mulheres, a dança de Davi diante da arca, a dança da
filha de Jefté – poderiam, no máximo, provar que cristãos individuais podem eventualmente
se alegrar com os atos salvadores de Deus e espontaneamente dançar de alegria fora do
ambiente de culto. [...] Assim, tais passagens e as outras acima mencionadas e analisadas,
não podem servir de base para justificar práticas tais como danças durante o louvor por parte

220
Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB., 2010, p. 20.
221
Ibid., p. 18, 19.

76
da congregação, a existência de um grupo de dança litúrgica para realizar coreografias
durante o culto, a “criação” do dom da dança santa e a organização de ministérios de dança
litúrgica nas igrejas locais. No caso das expressões corporais realizadas com as crianças nos
departamentos infantis, nós as consideramos apropriadas para a instrução dos infantes, não
devendo, todavia, ser incluídas como parte do culto público oferecido pela igreja. As danças
litúrgicas e as coreografias não estão incluídas na relação dos elementos de culto citados nos
nossos símbolos de fé. Também não se pode incluí-las nos cultos públicos a pretexto de
serem meras circunstâncias. As danças não são circunstâncias ligadas à Palavra, pregada ou
cantada, como se fossem uma encenação ou dramatização da mensagem de Deus, visto que
não contribuem para que a Palavra seja mais bem compreendida pelo povo de Deus e têm a
tendência, ao contrário, de obscurecer o seu significado e sua mensagem, desviando o foco e
a atenção da comunidade. E, além dito, não encontramos nas Escrituras qualquer orientação
para que transmitamos a mensagem de Deus ao seu povo mediante o ato de dançar, como se
o mesmo fosse um meio eficaz para tal.[...] Fortes expressões corporais no culto, como
meneios do corpo e gingas, mesmo não se constituindo em danças, tendem a distrair a
atenção dos adoradores e em alguns casos, a provocar a sensualidade. Destarte, o Supremo
Concílio determina aos seus pastores, concílios e igrejas federadas que tais expressões sejam
222
evitadas.

Não somente as danças litúrgicas no culto, mas igualmente outras questões debatidas entre os
cristãos foram alvo da apreciação da IPB223. Conheçamos a sua declaração oficial:

Algumas atividades exercidas historicamente durante o culto da IPB têm sido alvo de
controvérsia mais recente dentro da denominação, como a participação de corais, o uso de
instrumentos musicais, o entoar hinos e cânticos contemporâneos em vez de exclusivamente
os salmos, e a participação de mulheres cristãs no culto público, orando ou lendo as
Escrituras. A Comissão Executiva da IPB, respondendo consulta sobre o assunto, declarou que
a proibição destas coisas não encontra amparo nos símbolos de fé da Igreja e nem nos
Princípios de Liturgia que regem seu culto, e que, portanto, o cântico coral, o
acompanhamento instrumental, os hinos e cânticos, bem como a participação das mulheres
224
cristãs nas orações e leitura da Palavra podem fazer parte da liturgia presbiteriana.

Evidentemente que ao nos deparar com estas inovações litúrgicas não devemos “mandar descer
fogo do céu”. O culto cristão em qualquer igreja no mundo nunca será totalmente puro. Assim, devemos ter
paciência e amor quando encontramos crentes genuínos que concordam com tais práticas. Uma mudança
em relação a este assunto pode exigir muito tempo.

222
Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB., 2010, p. 25-27, 31-32.
223
Quanto às chamadas “palmas para Jesus” introduzidas também em algumas igrejas durante o culto, a Escritura não
dá base para tal atitude. Semelhantemente, aplaudir coral, cantor ou quaisquer outras pessoas após participação no
culto é terminantemente errado, visto que o culto deve objetivar a glória a Deus, e deve ser exclusivamente
Teocêntrico.
224
Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB. op. cit., p. 19.

77
CAPÍTULO VII
LITURGIA DO CULTO

Após aprendermos tantas doutrinas a respeito do culto ao Senhor, voltemo-nos agora para falar
sobre como formular este culto. Como ele será feito? Obviamente não é preciso ser teólogo para perceber
que a forma como as igrejas fazem seus cultos diferem grandemente não somente aqui no Brasil, mas
também entre igrejas no exterior. Diante disto podemos nos perguntar: Qual destas formas é a correta?
Será que tem alguma forma que é errada? Com certeza podemos errar ao se formular um culto ao Senhor,
pois, não há uma só área de nossa vida que esteja livre de cometermos pecado. Mas o importante agora é
entendermos que o modo como fazemos um culto é também questão doutrinária, e não questão de gosto
pessoal. Minhas doutrinas afetarão no modo como concebo a forma do culto:

Sendo assim, é questionável a afirmação, por parte de ministros [...]: “Sou doutrinariamente
reformado, mas liturgicamente sou aberto”. É possível separar doutrina de liturgia? Liturgia
não é também uma questão doutrinária? Qual a abertura, além dos princípios bíblicos e
reformados, que podemos considerar admissível? A questão litúrgica é secundária? A
Confissão de Fé de Westminster afirma que: “As Igrejas particulares (...) são mais ou menos
puras conforme nelas é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o evangelho,
administradas as ordenanças e celebrado o culto público” (Cap. XXV, 4). Essa afirmação é
bem fundamentada nas Escrituras. É possível verificar na história do povo de Deus, na Bíblia,
que desvios espirituais refletiam diretamente no culto ao Senhor (Vd. Isaias 1.1-20; Ml 1.1 -
4.5). Por outro lado, reformas e reavivamentos eram marcados por uma purificação imediata
do culto. Lembremos dos exemplos de Ezequias (2Rs 18.1-5; 2Cr 29.1-11); Josias (2Rs 23.1-7;
2Cr 34.1-8); Esdras e Neemias (Ed 8.15-20; Ne 9.1-3,5,6; 13.1-12; 15-21). Qual foi a base des-
225
sas reformas? A Lei do Senhor!

Assim, é importante que possamos buscar nas Escrituras as orientações que ela nos dá a respeito
deste assunto. Veremos as bases bíblicas, a concepção reformada sobre o assunto, alguns modelos de
liturgia utilizados pelos reformados, e questões práticas que requerem respostas para as reuniões dos dias
atuais.

Conceito de Liturgia

Primeiramente vamos entender do que estamos falando. Ao nos referirmos sobre como fazer o culto
ao Senhor, não estamos nos referindo aos elementos de seu conteúdo, os quais já foram por nós delineado
e definido anteriormente. Mas sim, estamos querendo entender como devemos aplicá-los no culto. Como
eles devem estar presentes em nosso serviço de culto? Como bem explica o teólogo Alderi Souza:

“Liturgia” se refere ao que é dito no culto público, quer venha de um livro de orações ou
espontaneamente do coração. “Ritual” pode ser entendido como aquilo que é feito no culto
público, seja de acordo com normas escritas ou de maneira livre. Por exemplo: A
congregação se levanta para cantar? Se ajoelha para orar? O pão e o vinho são levados aos
comungantes ou estes vão até a frente para recebê-los? Algum ritual é inevitável. O que se
226
deve evitar é o ritualismo.

Esta ideia de liturgia citada acima descreve bem o que é liturgia na concepção da maioria dos
cristãos leigos. Na verdade a palavra liturgia tem um significado um pouco diferente do utilizado no
cotidiano das igrejas:

225
MEIRA, José Normando Gonçalves. O culto bíblico e a pureza da igreja. Jornal Brasil Presbiteriano, [S.l.], set 2006.
p. 2.
226
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

78
Define Dom Gregory Dix: “‘Liturgia' é o termo dado desde os tempos apostólicos ao ato em
que juntos participamos no culto solene de Deus na qualidade de sociedade ‘sacerdotal' de
cristãos, também chamada de ‘corpo de Cristo', e Igreja”. O entendimento hodierno é que
liturgia é aquele programa impresso que coordena os movimentos dentro do culto, que por
vezes, torna o culto sem liberdade, frio e mecânico. Mas isto não é verdadeiro! Liturgia
significa “pessoas trabalhando”, não pessoas se divertindo, se alegrando, fazendo o que bem
entendem, antes, pessoas trabalhando conforme a vontade de Deus. Estar envolvido
liturgicamente é estar trabalhando na adoração, no culto. Concluímos: liturgia é a
227
manifestação pública do encontro de Deus com seu povo. Liturgia é culto.”

Ainda podemos clarear mais a nossa concepção de liturgia com mais outra explicação do teólogo
Alderi Souza:

A palavra “liturgia”... Ele vem do grego leitourgia (pronuncia-se “leiturguia”) e de início


significava qualquer serviço prestado à coletividade ou a uma pessoa. Na versão grega do
Antigo Testamento (a Septuaginta) referia-se ao ministério dos sacerdotes ou aos atos de
culto realizados por eles. No Novo Testamente o substantivo aparece seis vezes, o verbo três
e dois termos correlatos outras seis vezes. Em geral se refere ao culto da velha dispensação
ou à assistência material aos irmãos (Lc 1.23; Rm 15.27; 2Co 9.12). Quase metade das
ocorrências está na carta aos Hebreus, aludindo ao ministério de Cristo ou dos antigos
sacerdotes judeus (Hb 8.6; 9.21; 10.11). Um uso mais especificamente cristão ocorre em Atos
13.2 e Fp 2.17. No Cristianismo antigo, passou a significar o serviço espiritual prestado a Deus
cuja expressão mais nobre e elevada era oculto público. Na igreja apostólica, como quase
tudo o que se fazia naquele período inicial, o culto era singelo e informal. O Novo Testamento
quase nada diz sobre uma forma de culto, ou seja, uma sequência dos atos de adoração.
Somente encontramos informações sobre os elementos cúlticos: leitura do texto sagrado,
228
cânticos, orações, pregação, celebração da Ceia e invocação da bênção.

Assim, de acordo com o significado da palavra “liturgia”, podemos dizer que o ato de culto é a
própria liturgia, pois o termo falava deste serviço sagrado prestado a Deus pelo Seu povo. Esta identificação
é tão óbvia que o teólogo Hermisten Maia “identifica culto como liturgia, ou seja, culto é liturgia;
entendendo até errôneo utilizar a expressão “liturgia do culto”.”229 Entretanto, para o leitor não se confundir
entre o sentido original da palavra e o sentido hodierno, continuemos utilizando a palavra “liturgia” do
modo como comumente é utilizado por nós aqui no Brasil. Ou seja, como sendo a organização dos
elementos de culto durante a execução do serviço sagrado. Ainda que não seja fiel ao significado do termo
“liturgia”, mas nos livrará de maus entendidos durante as explicações a seguir.

A Liturgia Segundo a Bíblia

Como dito anteriormente, existem diversos tipos de liturgias pelo mundo. No entanto, o
interessante não é a incrível diversidade nesta questão, mas sim, o fato de que em nenhum lugar vemos
uma liturgia prescrita no Novo Testamento. É bem verdade que no Antigo Testamento temos passo-a-passo
o que o sacerdote deveria fazer durante o sacrifícios, ofertas que deveriam oficiar no Tabernáculo (Lv 1-9).
No Novo Testamento a igreja não continuou com os mesmos rituais do Antigo Testamento, pois isto já havia
passado (Cl 2:16, 17; Hb 8-10). A situação dos cristãos em relação ao culto agora é diferente em alguns
aspectos. Não nos aspectos interiores, mas nos exteriores. “A forma exterior do culto difere radicalmente
daquela do Antigo Testamento. Visto que a morte de Cristo constituiu o sacrifício perfeito, não há mais

227
MACEDO, Jônatas Abdias de. Liturgia Hoje – Entre a Liturgia Moderna e a Teologia Litúrgica da Reforma., 2008.
228
MATOS, Alderi Souza de. Liturgia. Jornal Brasil Presbiteriano. Edição 643. Mai. 2008. p. 05.
229
MACEDO, Jônatas Abdias de. Liturgia Hoje – Entre a Liturgia Moderna e a Teologia Litúrgica da Reforma., 2008.

79
necessidade de sacrifícios (Hb 9.11-12, 24-26). De fato, toda a instituição de templo, sacerdócio, sacrifício e
purificação ritual se torna obsoleta.”230
A forma exterior de culto, ou seja, o “ritual ou cerimonia”, não sendo prescrito pela Escritura torna-
se de certa forma “livre para ser organizada pela Igreja”. “A igreja tem autoridade para estabelecer a ordem
da adoração (1Co 14.40)”.231 Muitos acreditam que há textos nas Escrituras que podem ser utilizados como
modelos litúrgicos. Porém, um olhar mais criterioso poderá perceber que estes textos não se referem à
ordem litúrgica de culto, e muito menos do culto na era do Novo Testamento.
O que vamos encontrar claramente são princípios que devem ser levados em consideração na
construção da liturgia, quais sejam: 1-A liturgia deve favorecer em tudo para que o culto seja realizado em
espírito e em verdade (Jo 4:24); 2- Tudo na liturgia deve ser realizado com decência e ordem (1Co 14:40); 3-
Tudo na liturgia deve ser realizado para edificação (1Co 14:26); 4- Todos os momentos do culto devem ser
compreensíveis aos adoradores (1Co 14:1-19).
Observe-se ainda que, além destes princípios descritos acima podemos procurar princípios gerais
que podem nos ajudar a construir uma liturgia da melhor forma possível. Um exemplo clássico são os
Puritanos. Mesmo não podendo tirar uma liturgia pronta da Bíblia seguia os seus princípios básicos. Como
disse Ryken: "O culto puritano como um todo era marcado pelo esforço em despojar-se do supérfluo e
concentrar-se no essencial, o que evidenciava o ideal de edificação".232
E não somente eles, “as Igrejas Protestantes Reformadas, com Calvino, fazem todo esforço para
basear a adoração na “clara garantia da Escritura”.233 Ora, a Reforma Protestante não poderia deixar de
tratar da grosseira heresia que era a missa católica; cheia de acréscimos e decréscimos contrários à
Escritura. E nesta área, as mudanças realizadas pelos reformados foram muitas. Pois como dissemos a
pouco, mesmo não tendo preceitos litúrgicos, temos princípios litúrgicos:

John Oecolampadius (1482-1531), o reformador de Basel, foi um dos mais respeitados


estudiosos de sua época. Desenvolveu longas considerações sobre o que pensavam os
primeiros teólogos reformados sobre o culto. Como Oecolampadius especificou, a Bíblia não
nos fornece qualquer ensino objetivo de como fazer liturgia ou realizar serviço de culto.
Assim, a Igreja não tem como desenvolver serviços de culto de acordo com uma diretriz
específica ou exemplos retirados das Escrituras. Quando a Escritura não nos dá uma direção
específica, devemos procurar os princípios escriturísticos. Oecolampadius afirma que o culto
cristão precisa ser simples, sem rituais pomposos ou cerimônias suntuosas, pois o viver de
234
Jesus era simples e sem pretensão.

Precisamos nos lembrar que na era da Nova Aliança não estamos mais utilizando figuras que
apontam para a obra e Pessoa de Cristo como se fazia no Antigo Testamento no Templo. Hoje em dia só
utilizamos de duas figuras: O batismo e a Ceia do Senhor.235 Ao observar o comportamento de culto da igreja
primitiva, não encontraremos vários ritos ou cerimônias como no Antigo Testamento. Diferente disto, “o
culto do NT não se baseia nas cerimônias rebuscadas do templo, mas no ritual simples da sinagoga.”236 O
que vamos encontrar é a simplicidade, como vimos que foi o alvo dos reformadores:

230
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.
231
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão., 2008.
232
Ibid., 2008.
233
DECKER, Robert. A Liturgia de Calvino. Disponível em: <http://www.espiritualidadecalviniana.com.br/p/textos-
sobre-vida-e-obra-de-calvino.html>. Acesso em: 10 jul. 2014.
234
SILVA, Jouberto Heringer da. A música na liturgia de Calvino em Genebra., 2014.
235
Quanto ao uso de outros simbolismos no culto como: cores simbólicas de panos para lembrar o sacrifício de Cristo,
ou cruz no templo, ou figuras de cenas bíblicas, etc... Devem ser todas retiradas e evitadas sem qualquer prejuízo ao
adorador. Os únicos símbolos que são ordenados por Deus para uso no culto, e que serve à edificação do adorador, é o
batismo e a Ceia do Senhor. O que disto passar é não somente inútil, mais até danoso.
236
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

80
[...] Pelo fato de os sacrifícios tradicionais só poderem ser feitos no templo, as ofertas de
animais e de cereais foram substituídas por “sacrifícios de louvor e oração”. [...] A adoração
na sinagoga era essencialmente um Culto da Palavra; centralizava-se na leitura cerimonial das
Escrituras, especialmente a Torá e os profetas, seguida de discussão. Deve-se entender que o
culto na sinagoga era essencialmente congregacional; embora a figura do rabi (mestre) tenha
se desenvolvido em seu contexto, ele era essencialmente uma reunião de leigos, que
provavelmente participavam das orações, e também da livre discussão que devia seguir-se à
237
leitura das Escrituras (Veja At 17:17).

Quando o culto é formal demais ou cheio de ritualismos engessados, cerimoniais inúteis e sem
propósito, a liturgia começa a atrapalhar a adoração mais do que ajudá-la. O princípio da simplicidade não é
uma questão de opinião que muda de liturgo para liturgo, mais um princípio que evita danos à adoração do
povo de Deus:

Quanto mais tornamos complexo nosso culto, mais externo, mais exterior ele se torna. Mas
se tiramos tudo que apela aos nossos olhos e nossos sentidos, nossa visão, nosso tato, então
chegarem a ter algo bem simples e assim podemos nos focar no coração e não naquilo que
está lá fora. Por isso os reformadores pintaram de cal todas as igrejas, por dentro e por fora.
Tiraram todas as janelas com seus vitrais coloridos; aboliram todas as vestimentas clericais;
todos os incensos e sinos; tudo que impressionava os olhos. “Vamos simplificar”, eles
238
disseram “para que o povo possa novamente adorar de coração.
E ainda:

A simplicidade deve ser a principal característica da adoração nesta época do Novo


Testamento. Ornamentos podem ser usados em algumas ocasiões, com mãos precavidas.
Nem nos evangelhos, nem nas epístolas, achamos o menor fundamento para cerimoniais
suntuosos e abrilhantados ou para muitos símbolos, exceto a água, o pão e o vinho. Afinal de
contas, a impiedade inerente da natureza humana é tal que nossa mente está pronta a
239
afastar-se imediatamente das coisas espirituais para as coisas visíveis.

Não estamos com isto dizendo que a liturgia deve ser livre de toda e qualquer organização e ordem.
Evidente que não! Mas quando o ritualismo se torna um fim em si mesmo, acaba se tornando prejudicial.
Mais adiante falaremos sobre a liberdade quanto à liturgia.
Além do princípio da simplicidade, outro princípio importantíssimo deve ser seguido pelos cristãos. É
o princípio que traz à luz a Revelação do Senhor nas Escrituras. Ou seja, todos os elementos do culto devem
ser fundamentados na Escritura em seu conteúdo. Quem dá uma boa explicação sobre este princípio é
Robert Godfrey:

Como a Palavra deve estar presente e encher nossa adoração? Como a Bíblia mostra, a
Palavra está presente de diversas formas... A forma mais óbvia é a leitura da Palavra. Esta
Palavra deve ser uma parte distinta e central da adoração. Paulo escreveu a Timóteo, “aplica-
te à leitura, à exortação, e ao ensino” (1Timóteo 4:13). Aqui, à leitura da Bíblia é dada uma
importância que é coordenativa à pregação e ao ensino... A Palavra deve também encher as
nossas orações. As maiores orações da igreja são ricas em linguagens da própria Bíblia,
oferecendo a Palavra de Deus de volta a Ele, em oração. As palavras da Bíblia devem informar
nossas orações com a verdade de Deus, as promessas de Deus, e as bênçãos de Deus sobre o
Seu povo... A Palavra deve ser a base do nosso cantar. No mínimo, os cânticos da igreja
devem relatar as verdades da obra salvadora de Deus. Atenção primária deve ser dada ao
conteúdo dos cânticos... A Palavra deve estar presente nos sacramentos da igreja – o batismo
e a Ceia do Senhor. Agostinho chamou os sacramentos de “a palavra visível”, que é uma
forma útil de pensar sobre eles. Elas não são cerimônias estranhas que distraem de Cristo e

237
HUSTAD, Donald P., 1981, p. 92.
238
MURRAY, David. Adoração Reformada. Revista Os Puritanos., 2009, p. 6.
239
RYLE, J.C. Adoração. Prioridade, princípios e prática., 2010, p. 15.

81
da Palavra, mas são precisamente outra maneira na qual Deus comunica Sua Palavra...
Finalmente, a Palavra deve estar presente na pregação da igreja. Pregação é a comunicação
240
verbal da Palavra de Deus, aplicando-a às vidas do povo de Deus.

Em resumo, a liturgia não deve permitir cânticos ou leituras que não sejam retiradas das verdades
bíblicas. Em outras ocasiões podemos ler e ouvir variados tipos de canções e textos escritos por homens.
Porém, no culto, só Deus deve ser ouvido. Assim também deve ser os demais elementos como oração,
sacramentos, votos... Tudo deve ter seu fundamento na Palavra de Deus.
Uma dúvida muito frequente, principalmente entre os chamados “avivados”, é a seguinte: Se não
temos uma ordem litúrgica na Bíblia, então, fazer uma, não estaria atrapalhando o adorador de adorar
livremente no culto? Seguir uma liturgia não deixa o culto tedioso, já que Deus não nos prescreve nenhuma?
Na verdade uma liturgia não atrapalha o adorador de ser livre para adorar no culto público. Pelo contrário,
evita que o culto fuja do ideal divino da “decência e ordem” (1Co 14:40). O texto de (2Co 3:17) muitas vezes
utilizado para uma suposta “total liberdade de expressão no culto” não tem nada a ver com culto, e muito
menos proíbe uma liturgia no serviço de culto da Igreja. Quanto à liturgia deixar o culto tedioso, nós
reproduzimos o que nos diz Odayr OLIVETTI sobre este assunto quando responde À pergunta: A liturgia não
torna tedioso o culto? Diz ele:

Lembre-se o dileto consulente que agitação não é vida; som não é música; barulho não leva
ao céu (1 Rs 18.27; 19.11,12); solenidade não é sono. Na real comunhão com Deus, mesmo
no silêncio há vida. A "liturgia" implanta ordem no culto. Aliás, a expressão clássica para
241
"liturgia" é "Ordem do Culto", abandonada por muitos hoje em dia.

Evidentemente que, pelo fato de não haver uma liturgia inspirada por Deus, isto dá a possibilidade
de errarmos na construção dela. Isto pode ser verdade tanto para aqueles que “abrem demais a liturgia”
podendo quebrar o mandamento de o culto ser feito com ordem; como pode ser verdade para aqueles que
“fecham demais a liturgia”, engessando o culto. A fim de evitarmos os exageros quando na construção de
uma liturgia, disponibilizamos abaixo uma lista critérios de um verdadeiro culto:

 Que não seja motivo de tropeço para ninguém (1Co 10:32);


 Que tudo seja feito com ordem e decência (1Co 14:40);
 Que tudo seja feito para edificação (1Co 14:26);
 Que seja feito para a glória de Deus (Rm 14:6-7).242

Estes critérios sendo guiados pela prudência, pela sensatez e pela biblicidade, nos ajudará a não
errarmos na construção de uma liturgia. Podemos aprender também do grande reformador de Genebra,
João Calvino, a respeito dos princípios bíblicos para o culto:

(a) Integridade bíblica e teológica (lex orandi, lex credendi)


(b) Equilíbrio entre estrutura/forma e essência
(c) Inteligibilidade, edificação
(d) Simplicidade (sem pompa, teatralismo)
(e) Flexibilidade (p.e., frequência da Ceia do Senhor)
(f) Participação congregacional (cânticos, salmos metrificados)243

Dirigente da Liturgia

240
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração., 2013.
241
OLIVETTI, Odayr. Liturgia e Tédio. Jornal Brasil Presbiteriano. Ano 45. Edição 594. Mar.2004. p. 3.
242
CANUTO, Manoel. Entrevista sobre Reverência no Culto Evangélico., 2013.
243
MATOS, Alderi Souza de. A reforma calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

82
Como vimos anteriormente, não há uma liturgia pronta nas Escrituras, e por isto a Igreja de Cristo
deve ser sábia seguindo os princípios litúrgicos encontrado na Bíblia. Além dos princípios esboçados acima a
pouco, devemos ainda nos perguntar: Quem deve realizar a liturgia e dirigir o culto visto que não há mais
sacerdotes como no Antigo Testamento? No Antigo Testamento o culto era totalmente dirigido pelos
sacerdotes, a liderança oficial para o culto. Mas o que dizer de nossos dias onde não existem mais os
sacerdotes? Ora, na Igreja de Cristo há oficiais chamados e estabelecidos para exercerem a liderança
espiritual. Esta liderança é constituída pelos presbíteros/pastores da Igreja (1Tm 3:5; Hb 13:17; 1Ts 5:12).
Desta maneira, seria incorreto concluir que os líderes espirituais do Novo Testamento devam dirigir o culto?
Já que não temos uma prescrição bíblica explícita sobre quem deve dirigir o culto de Deus no período do
Novo Testamento, então por implicação óbvia, a liderança espiritual desta era deve realizar esta obra. Ainda
que não sejam “sacerdotes” como eram a liderança espiritual no Antigo Testamento, mesmo assim, o culto
deve ser dirigido e guiado por eles:244

O padrão clássico da adoração protestante era a do ministro conduzir a adoração. Esse


padrão surgiu do ensino do Novo Testamento, visto que dentre a congregação Deus chamou
pastores e mestres para serem separados para as funções de liderança. “E ele (Cristo) deu
uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como
pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,
245
para edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11-12).

E também:

Muitos evangélicos diminuíram o papel do pastor na liderança do culto e multiplicaram o


número de líderes do culto. São atos alinhados com a cultura democrática, e frequentemente
justificados apelando-se à doutrina do sacerdócio de todos os santos. Mas isso muitas vezes
torna líderes pessoas sem a instrução ou experiência devida para a posição. E mais
importante, tais pessoas não receberam um chamado nem foram separadas para essa obra
pelo corpo da igreja. Os evangélicos precisam reassumir uma teologia de dom e ministério.
Uma das grandes dádivas de Cristo concedidas à sua igreja, de acordo com Efésios 4, são os
dons de pastor e professor. Aqueles que foram dotados e vocacionados por Cristo e sua igreja
precisam dirigir o povo de Deus cuidadosamente em seu culto em conformidade com a
246
Palavra.

Contudo, apesar da liderança possuir a proeminência na direção do culto, ela teria exclusividade
nesta obra? Ou seja, somente eles podem dirigir o culto ao Senhor? Por mais insistentes que fôssemos neste
argumento não poderíamos leva-lo às últimas consequências, visto que no Culto Individual e no Culto
Doméstico a liderança não poderia ser executada pelos presbíteros/pastores. E ainda digo mais, acaso as
igrejas que Paulo fundou em suas viagens missionárias não se reuniram em culto público até que Paulo
elegesse presbíteros (At 14:23)? Ou se por acaso em uma comunidade local não possuírem presbíteros
temporariamente, significa que deixarão de congregar por não haver Presbíteros/pastores para dirigi-los no
culto ao Senhor? Para sermos bíblicos, com respeito ao Culto Público, primordialmente ele deve ser dirigido
pelos presbíteros/pastores. Porém, isto não impede que outros, em determinadas ocasiões excepcionais,
não possam fazer este serviço247. Observemos a explicação do teólogo Augustus Nicodemus sobre o assunto:

244
Na Igreja Presbiteriana do Brasil o responsável por orientar e supervisionar a liturgia no culto público é o pastor
(CI/IPB Art. 31 –“d”).
245
GODFREY, Robert. Agradando a Deus em Nossa Adoração., 2013.
246
GODFREY, W. Robert. Uma Avaliação do Culto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/avaliacao_culto.htm>. Acessado em: 15 maio 2013.
247
A Igreja Presbiteriana do Brasil não impede o uso do púlpito pelos leigos: SC-54-145 – “Quanto a proposta do
Presbitério de Niterói para que os púlpitos sejam reservados somente aos pastores, o SC resolve declarar que
semelhante medida viria contrariar a índole de nosso Presbiterianismo, pois não há, na Igreja Presbiteriana, sacerdotes
com privilégios especiais quanto a penetrar lugares sagrados vedados aos leigos. Além disso, se os leigos podem pregar,
o que é mais importante, porque não poderiam ocupar o púlpito?”

83
Outra tensão é entre ofício e participação. Quem deve dirigir o culto a Deus? Quem pode
participar ativamente na liturgia? Somente aqueles que foram ordenados para isso – pastores
e presbíteros? Ou qualquer membro da comunidade? Respostas variadas têm sido dadas a
essas questões por diferentes grupos evangélicos no Brasil... Parece-nos claro que o caminho
correto é manter no culto a liderança claramente bíblica dos presbíteros e pastores e ao
mesmo tempo procurar entre os não-ordenados aqueles que têm dons públicos que possam,
248
após treinamento adequado, participar ativamente da liturgia.

Observemos igualmente o comentário do Catecismo Maior de Westminster feito pelo teólogo


Johannes Geerhardus Vos a respeito da pergunta nº 156 – A Palavra de Deus deve ser lida por todos? Ele
explica:

Ler a Escritura “em público para a congregação” faz parte da condução da adoração pública
de Deus e deve, portanto, ser feita apenas pelos que foram devidamente chamados para esse
ofício na igreja. É claro que na falta de um ministro ordenado ou licenciado os presbíteros da
igreja podem indicar alguém apropriadamente para ler a Escritura e conduzir uma reunião de
oração ou reunião comunitária. O que o Catecismo nega é que qualquer crente em particular
possa legitimamente tomar para si a condução do culto público sem que para isso seja
249
indicado por aqueles cujo ofício é dirigir a casa de Deus.

Liberdade na Liturgia

Outra questão que devemos abordar a respeito da liberdade na liturgia é quanto ao modo de os
adoradores participarem do culto. Há aqueles que prezam por uma liturgia tão fixa que ninguém pode sair
do “que está escrito” para a liturgia. No entanto, outros concebem uma liturgia feita de modo tão “livre” que
não sabemos o que vai acontecer durante o culto. Certamente, como vimos acima, isto dependerá das
doutrinas que cada igreja adota como correta. Devido ao fato de existirem varias linhas teológicas hoje em
dia, encontramos também vários modos de construir uma liturgia de acordo com o que se acredita. Visto
que defendo a linha de doutrina Calvinista, procurarei mostrar nossa posição quanto a este aspecto da
liberdade:

Historicamente, as igrejas reformadas têm se recusado a adotar uma liturgia fixa. Ao mesmo
tempo, insistem que o culto não deve ser aleatório, totalmente espontâneo, entendendo que
as Escrituras estabelecem normas para o culto. Por exemplo, os elementos constitutivos do
250
culto estão claramente prescritos na Bíblia.

Devemos montar nossas liturgias seguindo os princípios bíblicos; e estes não aprovam nem uma
liturgia fixa e engessada onde somente os dirigentes participam ativamente, pois a bíblia diz que os
membros da igreja podem participar (1Co 14:26-33).251 Igualmente os princípios bíblicos não aprovam uma

248
NICODEMUS, Augustus. Tensões no culto evangélico brasileiro. Disponível em:
<http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=79>. Acessado em: 16 maio 2013.
249
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado - Johannes Geerhardus Vos. São Paulo:
Os Puritanos, 2007. p. 499.
250
MATOS, Alderi Souza de. A reforma calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.
251
Apesar de os membros poderem participar do culto, não significa que a liderança não tenha o dever de procurar
saber anteriormente qual a natureza da participação, qual o conteúdo, ou outras informações que julguem necessárias
a fim de evitar que o culto seja prejudicado em algum dos princípios bíblicos a serem obedecidos. Principalmente a
respeito de irmãos de outras denominações que possuem doutrinas diferentes.

84
liturgia tão livre que quebre a ordem, a decência (1Co 14:40) e a biblicidade. Há de se fazer um equilíbrio na
concepção litúrgica para o culto público:252

[...] a questão da organização versus liberdade na liturgia. Até que ponto podemos organizar
e estruturar a ordem ou sequência dos atos de cultos sem que isso tire a espontaneidade dos
participantes? Ou mais grave ainda, até que ponto a própria ideia de preparar uma liturgia
antecipadamente já não representa uma limitação à liberdade do Espírito de Deus em dirigir
o culto como deseja? Igrejas, movimentos e grupos dentro do evangelicalismo brasileiro têm
assumido às vezes lados radicalmente opostos nessa questão. De um lado temos liturgias
elaboradas milimetricamente, realizadas por ministros paramentados de acordo com o
calendário eclesiástico e as estações do ano, exigindo formalidade, seriedade e reverência; de
outro, cultos sem qualquer ordem ou sequência pré-estabelecidos, onde as coisas acontecem
ao sabor da inspiração momentânea do dirigente, supostamente debaixo da orientação do
Espírito de Deus. Felizmente, onde predomina o bom senso e um desejo de seguir os
princípios bíblicos para o culto a Deus, adota-se uma liturgia que procura usar o que há de
253
melhor nos dois esquemas, unindo seriedade reverente com liberdade exultante.

O leitor poderá entender melhor as diferenças litúrgicas de hoje ao observar o que aconteceu
durante o passar dos anos com a Igreja. Houve alguns acontecimentos que marcaram a Igreja durante sua
caminhada, os quais foram agentes importantes na mudança de forma litúrgica adotada pela Igreja,
culminando no modo como fazemos liturgia em nossos dias. Quem explica bem estas mudanças litúrgicas na
história é João Leonel, que escreveu um artigo sobre liturgia:

Como era possível esse envolvimento de praticamente todos os crentes na liturgia? Creio que
a resposta se encontra no fato de que as igrejas daquele período eram igrejas domésticas. O
povo de Deus se reunia em suas casas para a adoração. Isso pode ser comprovado em vários
textos: Rm 16:3-5, 23; 1Co 16:19; Cl 4:15; Fm 2. [...] Esses dados devem levar-nos a pensar
sobre o tamanho das comunidades cristãs. Elas eram formadas por um pequeno grupo de
crentes, 30 ou 40 no máximo, número que permitisse uma reunião doméstica. Nesse
contexto era, então, possível ter-se um culto mais informal, com a participação de todos. É
um equívoco querermos, como algumas igrejas hoje em dia, simplesmente transportar o
estilo litúrgico desse período para cultos que são frequentados por 150, 200, 500 ou mais
pessoas. Devemos desenvolver maneiras de tornar nossos cultos mais participativos, levando
em consideração, contudo, o contexto atual de nossas igrejas [...] A partir de 150 d.C. já se
verifica, através de dados arqueológicos, que casas particulares eram adaptadas para o uso
exclusivo da igreja. Essas adaptações consistiam em criar um salão maior para as reuniões.
Nele poderiam estar presentes entre 60 e 70 pessoas. Essa adaptação correspondia à
necessidade de maior espaço em função do crescimento das igrejas. No final do terceiro e
começo do quarto século, começam a surgir os prédios construídos especificamente para as
reuniões cristãs. [...] O segundo motivo, decorrência do primeiro, é o número de membros
cada vez maior nas igrejas. Agora ser cristão não é mais uma opção, mas um dever de todo
cidadão romano. Diante desse quadro, quanto mais pessoas, mais difícil a participação ativa
no culto. Não apenas isso, mas também em virtude da imposição, a falta de desejo de
participar tornou a situação ainda mais séria. Portanto, as reuniões eram mais frequentadas,
254
mais formais, e necessitavam de uma direção cada vez mais centralizada no oficiante.

Claramente se vê que alguns fatores influenciaram muito para o surgimento da liturgia moderna.
Infelizmente, muitos ao invés de procurar uma forma de continuar dosando liturgia fixa com liberdade
litúrgica, preferiram dogmatizar a este respeito deixando-a ritual demais. Esta posição se observa cedo na

252
Quanto ao culto doméstico devemos considerar também os princípios bíblicos da ordem e decência, ainda que seja
mais difícil uma maior participação dos membros da família do mesmo modo como temos participação dos membros
da igreja no culto público.
253
NICODEMUS, Augustus. Tensões no culto evangélico brasileiro., 2013.
254
LEONEL, João. A Igreja e a Liturgia. Revista Teológica. [S.I.], v.60, n.51, jan-abr, 1999. p. 39 - 41.

85
história. Por exemplo, “o culto, a partir do quarto século, conforme se vê no manual “Constituição
Apostólica”, surgido por volta do ano 300 d. C., livros II e VIII, tornou-se demasiadamente cerimonialista,
sacramentalista e clericalista.”255 Já outros, deixaram a liturgia livre demais, é o caso de algumas igrejas
neopentecostais em nossos dias.
Inclusive, entre os defensores de uma total liberdade de expressão no culto público há aqueles que
se utilizam do texto de (2Co 3:17) para dizer que Deus nos dá liberdade no culto. Dois erros são cometidos
aqui. Primeiro, que o texto não está falando de comportamento do cristão no culto público. E segundo erro,
é que não podemos interpretar um texto desprezando todo o resto das Escrituras que nos mostra a
necessidade de seguir o Principio Regulador do culto. Assim, não podemos fazer o que bem entendermos
durante o culto baseados neste texto.

Liturgia e Uso da Mente

Ao se falar de liturgia devemos nos ater ao fato de que a liturgia utiliza-se dos elementos do culto, os
quais são meios de graça que edificam o adorador. Ora, se a liturgia for construída de tal forma que os
elementos de culto não possam trazer edificação ao adorador, de que adiantará? A esta altura é bom
lembrar que na concepção do apóstolo Paulo a edificação se dá por meio do uso da mente. Nada no culto
pode ser carente de significado ou insuficiente para a mente entender. Tudo o que se passa no culto deve
servir para a edificação (1Co 14:26); e portanto, deve ser inteligível aos adoradores (1Co 14:5-17). Muitos
acham que a verdadeira espiritualidade se encontra em mistérios, momentos de transe, ou experiências
inexplicáveis! Esta não é a concepção bíblica para a edificação no culto:

[...] afirmar que é possível ter devoção, tanto nas orações como nas cerimônias, sem
entender nada, é uma grande zombaria, não importando o quanto essa [mentira] é repetida.
[E] essa boa afeição a Deus não é uma coisa morta nem embrutecida. Pelo contrário, é um
momento muito vivo, que procede do Espírito Santo quando o coração for adequadamente
tocado e o entendimento for iluminado. E, com efeito, se fosse possível ser edificado por
aquilo que se vê sem compreender o que significa, então S. Paulo não proibiria tão
rigorosamente que se falasse em uma língua desconhecida [sem interpretação], nem
256
utilizaria o raciocínio de que não há edificação quando não há ensino.”

Deste modo, para que cresçamos em espiritualidade é preciso ser atingidos pela Revelação do
Senhor. E isto, de modo compreensível a nós! Deus resolveu se revelar à humanidade por meio de doutrinas.
E estas devem ser aprendidas e compreendidas pela mente humana. O próprio Deus decidiu que seria assim,
e não os homens que decidiram.

Conteúdo Essencial na Liturgia

Para que aconteça um serviço de culto certamente devemos saber quais partes são necessárias. Ou,
dizendo de outra forma, o que não pode deixar de acontecer num culto ao Senhor? As opiniões podem
variar, visto não termos claramente uma ordem a este respeito. Porém, para que o leitor possa construir um
julgamento melhor sobre esta questão nós vamos colocar duas posições a este respeito. A primeira posição
é do reformador Calvino, a qual esboçamos abaixo:

O formato da liturgia de Calvino e os elementos que ele julgava essenciais ao culto não são
necessariamente iguais. Isso porque Calvino entendia que a música, por exemplo, não era
essencial, contudo não havia problema quanto ao seu uso, por ser um elemento válido para

255
FIGUEIREDO, Onézio. O Culto (Opúsculo II). Disponível em:
<http://www.blog-br.com/homota/200721/O+Culto+Reformado.html>. Acessado em: 16 abr.2013.
256
CALVINO, João. Prefácio de Calvino ao Saltério de Genebra., 2013.

86
adornar a adoração a Deus. Em seu entendimento, Calvino via que a igreja não poderia
257
reunir-se “sem a Palavra, sem a esmola, sem a participação na Ceia e na oração.

Agora vejamos a posição da Confissão de Fé de Westminster, também reformada e calvinista, a qual


difere um pouco da posição de Calvino. Em seu Capítulo XXI - Do Culto Religioso e do Domingo, Seção III e V,
a Confissão declara que a oração (Fp 4:6; I Tm 2:1; Cl 4:2; Sl 65:2;67:3; I Ts 5:17,18; Jo 14:13,14; I Pe 2:5; Rm
8:26; Ef 6:8; Jo 5:14; Sl 47:7; Hb 12:28; Gn 18:27; Tg 5:16; Ef 6:18; I Co 14:14), a leitura das Escrituras,
pregação da Palavra, cântico de salmos, administração dos sacramentos, devem fazer parte inequívoca do
culto ao Senhor (At 15:21; Ap 1:3; II Tm 4:2; Tg 1:22: At 10:33; Hb 4:2; Cl 3:16; Ef 5:19; Tg 5:13; At 16:25; Mt
28:19; At 2:42; Dt 6:13; Ne 10:29; Ec 5:4,5; Jl 2:12; Mt 9:15).

Modelos de Liturgias

Tendo estudado os aspectos da construção de uma liturgia bíblica, vamos seguir observando alguns
modelos de liturgia construídos durante a história da Igreja a fim de sermos “orientados” quando estivermos
que montar uma liturgia de culto. Contudo, lembremos que estas liturgias servem como modelos de
orientação, e não como normas, visto que não existe norma litúrgica na Bíblia, mas apenas princípios
litúrgicos.

Liturgia de Calvino

Em Genebra (1542):

Liturgia da Palavra

Sentença da Escritura: Salmo 124:8


Confissão de Pecados: Oração pedindo perdão
Salmo Metrificado
Oração Pedindo Iluminação
Sermão

Liturgia do Cenáculo

Coleta
Intercessões
Oração Dominical, em longa paráfrase
Credo Apostólico (os elementos são preparados)
Palavras de Instituição
Exortação
Oração de Consagração
Comunhão (canta-se um salmo ou lêem-se passagens bíblicas)
Oração pós-comunhão
Bênção (Bênção Aarônica)258

A estrutura observada no culto por Calvino em Estrasburgo era a seguinte:259

(a) Chamado à adoração: Salmo 124.8


(b) Confissão de pecados

257
COELHO, Ricardo Moura Lopes. Calvino e a Adoração Comunitária., 2013.
258
HUSTAD, Donald P., 1981, p. 118.
259
MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

87
(c) Declaração de perdão
(d) Mandamentos cantados com o Kyrie Eleison
(e) Oração de iluminação
(f) Texto bíblico e sermão
(g) Ofertório
(h) Intercessões
(i) Oração do Senhor parafraseada (omitida quando havia Ceia)
(j) Credo Apostólico durante a preparação dos elementos
(k) Oração eucarística
(l) Palavras de instituição
(m) Restrição do acesso à mesa
(n) Recitação de promessas
(o) Sursum corda (corações ao alto)
(p) Comunhão
(q) Salmo 138
(r) Oração de ação de gracas
(s) Nunc dimittis (cântico de Simeão)
(t) Bênção de Arão (Nm 6.24-26)

Liturgia da Sinagoga

01 - Primeira Parte

a. Louvor: Quando se reconhecia a glória (shekinah) de Javé. Leitura frequentemente usada: Ne 9.5-23.
b. Oração: Yotzer (o Criador), o que faz todas as coisas, o que dá a vida e gera os movimentos. Esta oração
reafirmava a fé no Deus Criador, governador e Salvador.
c. Confissão de pecados: Sem confissão não se fazia a entrega da vítima sacrificial e, portanto, não havia
culto, tanto o coletivo como o individual. A confissão preparava o fiel, na Sinagoga, para o grande “Dia do
Perdão” nacional.
d. Perdão: A vítima substituta, oferecida por todos, garantia o perdão tanto na esfera individual como na
comunitária. Na Sinagoga não havia sacrifício, mas a ideia e a lembrança da vítima sacrificial estavam
presentes e eram centralizantes no culto.
e. Gratidão: Agradecia-se a Deus o perdão recebido e todas as demais graças. Os cânticos salteriais,
geralmente, mas não obrigatoriamente, entravam aqui.

02 - Segunda parte:

a. Oração do amor (Ahabah): Por esta oração o penitente se declarava escravo de Javé, sempre à sua
disposição em quaisquer circunstâncias. Amor-dedicação era o que nela se requeria.
b. Oração de crença no Deus único (Ehad - único): Nesta se repudiava a idolatria e se afirmava pertencer a
um único Senhor. Israel, a noiva, só tinha um esposo, Javé. A fé verdadeira jamais é desviada do Criador para
a criatura.
c. Declaração de fé (Shemah): Fazia-se a leitura de Dt 6.4-9 ou Nm 15.17-41.
d. Oração das bênçãos: Eram dezoito orações ou uma oração só com dezoito seções, agrupadas em:
Adoração, gratidão e intercessão.
e. Ensino: Lei e profetas. Comunicação didática, não retórica.
f. Bênção Aaraônica: Observe que esta ordem obedece a uma sequência lógica, liturgicamente falando, pois
acompanha os movimentos da alma em estado de adoração. A Igreja primitiva, não mais vinculada ao
sistema sacrificial do templo, adotou, com as modificações necessárias, a liturgia da Sinagoga, com ênfase na

88
Palavra de Deus e na celebração da Ceia do Senhor, substituta da páscoa judaica e memorial do sacrifício de
Cristo.260

Liturgia Segundo o Diretório de Culto de Westminster261

1.Convocação Solene

2. Oração

3. Leitura das Sagradas Escrituras

4. Canto do Salmo

5. Oração antes do Sermão

6. Pregação da Palavra

7. Oração após o Sermão

8. Canto do Salmo

9. Benção Solene

Questões Litúrgicas Atuais

Existem muitas controvérsias e diferenças de opiniões relacionadas ao que acontece nos cultos
contemporâneos. Seria muito difícil responder a todos os questionamentos possíveis. Contudo, tentaremos
responder a algumas questões que poderão extinguir muitas dúvidas frequentemente enfrentadas pelos
membros de nossas igrejas.

Grupo de Louvor

Tornou-se algo comum nas igrejas evangélicas brasileiras a presença do chamado “grupo de louvor”.
Será que é correta a utilização de um grupo de louvor na igreja durante o culto público? O que a Bíblia diz a
respeito? Na verdade sabemos que o culto deve possuir a participação dos membros da igreja local.
Portanto, os louvores devem ser congregacionais. Mas quanto à questão de se ter alguém para dirigir o
louvor lembremos que o ideal é que a liturgia seja dirigida pela liderança, como dissemos anteriormente, e
se estes permitem um grupo dirigente no momento do louvor durante o culto é uma questão que irá variar.
O grupo por si mesmo não constitui um erro, visto que, de qualquer forma alguém terá que conduzir a
adoração, como é o caso da liderança local.
Penso que, se o grupo de louvor for utilizado de forma correta, ou seja, servir para “dirigir a igreja
durante a adoração” para que esta cumpra os princípios de ordem, decência, e edificação, será uma bênção
para todos. Mas se sair do propósito, e começar a enredar-se em outros caminhos estranhos, tornar-se-á um
mal. Vejamos alguns erros comuns e prejudiciais a serem evitados pelo grupo de louvor:

 Competição entre grupos de louvor;

260
FIGUEIREDO, Onezio. O Culto Opúsculo II. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/adoracao/o_culto.pdf>. Acessado em: 20 dez. 2013.
261
Disponível em: <http://direitodivino.blogspot.com.br/2012/04/liturgia-segundo-o-diretorio-de-culto.html>. Acesso
em: 16 mai.2013.

89
 Espírito de altivez, como se, fazer parte do grupo de louvor o levasse a um patamar espiritual maior;
 Os membros do grupo de louvor começarem a “fazer show” ao invés de adorar;
 Os músicos aumentarem o som dos instrumentos (quando estes são utilizados pela igreja) a tal
ponto de incomodar os ouvidos, ou impedir que se ouça o que se canta atrapalhando a edificação
pela letra cantada;
 Roupas inadequadas (sensuais ou extravagantes) dos membros do grupo de louvor;
 O grupo escolher as músicas que lhe agradam, e não variar entre ritmos, assuntos, duração, e entre
músicas novas e antigas. Há grupos que também cantam as mesmas músicas, não utilizam o rico
repertório existente no meio evangélico;
 Mandar os membros se levantarem e sentarem diversas vezes;
 Conduzir inapropriadamente a adoração do membro da igreja ordenando que levante as mãos,
batam palmas, diga aleluia... O grupo está à frente para dirigir, e não para produzir atos de
adoração, os quais devem ser espontâneos;
 O membro pensar que estar no grupo de louvor já é suficiente, e não precisa se preocupar em
exercer outros dons espirituais;
 Pensar que o grupo pode “dar pastoral ou exortar a Igreja” como se fosse o pastor;
 Evitar a vã e desnecessária repetição de determinado trecho de uma canção, pois não ajudará em
nada a edificação;
 Os cânticos devem ser inteligíveis aos membros da igreja, ou não servirá para edificação.

Além destas questões a serem evitadas pelo grupo de louvor, o liturgo também deve evitar que o
tempo de louvor seja desproporcional no culto público. Às vezes há um tempo de louvor tão longo que o
tempo para pregação constrange o pregador a diminuir o sermão. Além do mais, deve-se ter um cuidado
quanto a quem deve ser os componentes do grupo. Pessoas de moral duvidosa ou evidentemente de mau
testemunho; pessoas que prejudiquem o bom funcionamento do grupo por quaisquer razão devem ser alvo
de acurada avaliação; igualmente outros que só querem participar do momento de louvor, e quando este
acaba, saem do templo e nem ouvem o sermão; e ainda outros que nem querem ensaiar para o louvor! Se a
liderança deseja utilizar-se de membros que ajudem a igreja local no louvor, então que se responsabilizem
em colocar pessoas à frente da igreja de Cristo que sejam sérias em seu procedimento, e exemplares em seu
comportamento, para não prejudicar em nada a igreja.
Igualmente percebe-se que muitos grupos de louvor infelizmente confundem “dirigir o louvor” com
uma “apresentação musical”. A mania de muitos deles, tanto os que cantam quanto os que tocam, é imitar
bandas famosas as quais admiram. Isto é um equívoco do que devem fazer à frente da Igreja. Vejamos o
comentário abaixo da relidade atual:

Cada grupo de música da igreja local deve ter a sua característica própria. Chega de imitar
esta ou aquela banda gospel. Imita-se tudo, o modo como se veste, o timbre de voz, as frases
de efeito, os “sermõezinhos” entre os intervalos dos cânticos, o choro em determinadas
partes da música, o ajoelhar com as mãos erguidas, e toda encenação do que acaba sendo
mais um show do que o ato de conduzir a igreja através da música para adorar a Deus. O que
me preocupa, como membro da igreja e pastor, é que os grupos musicais copiam
copiosamente tudo o que aparece sem se preocupar em usar o sublime órgão cefálico.
Quando questionamos sobre a letra, o ritmo e até a qualidade espiritual dos cantores que
gravaram o cântico, geralmente, somos identificados como intolerantes e ultrapassados, ou
pejorativamente “tradicionais”, daí a nossa preocupação é interpretada apenas como sendo
uma mera questão de gosto individual ou denominacional, e não de zelo pela verdade, pela
262
saúde espiritual da igreja, ou da santidade de Deus!

262
TOKASHIKI, Ewerton B. Louvorzão karaokê. Disponível em:
<http://doutrinacalvinista.blogspot.com/search/label/Espiritualidade>. Acessado em: 09 ago. 2008.

90
Outras questões ainda são motivo de discussões quanto ao grupo de louvor e merecem nossa
atenção. Tentaremos responder a algumas delas. Iniciemos com a seguinte questão: os dirigentes do louvor
devem ter obrigatoriamente algum curso voltado a canto ou música? Devem ter habilidade profissional? Isto
vai depender do entendimento da liderança da Igreja sobre os textos bíblicos. Os textos de (1Cr 15:22; 25:7)
falam de pessoas habilidosas e capazes que foram colocadas como responsáveis pelo louvor no Templo. Se a
liderança entender que o texto lança um princípio normativo para os dirigentes de louvor da Igreja, então
estes devem ser preparados primeiro, para poder ministrar ao povo de Deus. Se a liderança entende que o
que aconteceu não é um princípio normativo, mas apenas um fato descrito a respeito do que aconteceu,
então a habilidade não será uma exigência indispensável. Se bem que, mesmo neste caso a liderança deve
tomar cuidado para que os dirigentes não atrapalhem mais do que ajudem a Igreja. Aqui o princípio utilizado
já não seria a habilidade musical para estar à frente, mas sim, se os dirigentes de louvor estão sendo úteis no
culto ou um obstáculo ao elemento de culto que é o entoar canções.
As questões seguintes serem respondidas são: Quantas pessoas devem ter no grupo de louvor?
Quantos grupos de louvor devem ter a igreja? Estas questões vão depender da liderança, que na verdade é o
responsável de fato pelo andamento do culto. Quem deve decidir é ela, e não o grupo de louvor.263
A última questão a ser focalizada é: Como deve ser a escolha dos cânticos? Alguns escolhem
intencionando agradar os jovens, outros escolhem os cânticos que lhe agradam, outros escolhem os cânticos
de acordo com o tema do sermão a ser ouvido logo após... A questão mais uma vez recai sobre a liderança
local. O grupo de louvor deve seguir a orientação da liderança. Isto é o que importa. O grupo não pode achar
que pode tomar as rédeas do culto, pois só estão lá na frente por permissão da liderança, que, aliás, pode
tirá-los a qualquer momento que quiser. O grupo de louvor não é um elemento do culto, mas uma
circunstância do mesmo, sendo assim, dispensável. Se os grupos de louvor se pusessem mais em ouvir a
liderança do que se opor a ela, creio que teríamos menos problemas na igreja local quanto às questões das
músicas. Às vezes o grupo quer até mesmo colocar músicas para a igreja cantar sem que antes passe pela
análise do pastor. Isto é um desrespeito, uma imprudência, e uma ousadia sem tamanho!

O Uso das Línguas na Liturgia

Entre as igrejas evangélicas aqui no Brasil há sempre esta diferença de opinião quanto ao uso do
dom de línguas no culto. Todavia, devemos continuar procurando saber quais os princípios bíblicos que
regem a questão. As Escrituras dizem que as línguas podem ser utilizadas no culto público (1Co 14:27, 28,
39). Logo, poderá fazer parte da liturgia do culto público a Deus. Desde que, evidentemente, sigam as
mesmas instruções que Paulo deu à igreja de Corinto. Hoje em dia, por causa do abuso no uso deste dom e
por causa de muita falsificação de pessoas que dizem falar línguas mas na verdade não estão falando, muitos
terminam desprezando a utilidade do dom para edificação quando acompanhado por um intérprete.
Devemos evitar os erros relacionados à pratica do dom, e não, proibir a presença dele.

Litania

Com respeito ao uso de litania no culto não podemos dizer que seja errado. As igrejas reformadas
nunca proibiram o uso de orações escritas. Evidentemente que nem sempre ela é realizada corretamente
pelos adoradores, os quais muitas vezes fazem como se fosse uma simples leitura. Para ser edificante aos
membros da igreja alguns erros devem ser evitados: 1- Deve ser feito com a atenção pelo adorador,
entendendo o texto que lê; 2- Deve ser feito como uma oração, senão deixa de ser um elemento de culto; 3-
Não deve ser longo, para não distrair os adoradores; 4- Seu conteúdo deve ser bíblico e teocêntrico, pois não
há lugar para outro conteúdo no culto senão a revelação bíblica.

Teocentricidade do Culto

263
No caso da Igreja Presbiteriana do Brasil, quem decide é o pastor, pois ele é responsável pela liturgia da igreja local
(CI/IPB Art. 31, letra “d”, esta é uma função privativa do ministro).

91
Um erro muito sutil e despercebido durante o culto é a descentralização e desvio do objeto de culto.
Trocando em miúdos, coisas ou pessoas acabam se tornando o centro das atenções no culto; isto deve ser
evitado. Este erro pode ocorrer de várias formas. A título de exemplo, concentremo-nos numa atitude muito
praticada hoje em dia, que é o conhecido “momentos de homenagens a determinados membros da igreja”
durante o culto. Isto é uma falta de respeito ao Senhor. O único que deve ser homenageado no culto é o
Senhor. Outros tipos de homenagens devem ser realizados fora do culto. A partir do momento que paramos
de utilizar os elementos de culto para “fazer homenagens” a qualquer adorador, tiramos Deus, que deve ser
o centro do culto, e momentaneamente colocamos o homem.
Trocando em miúdos, há ocasiões em que se canta uma canção “em homenagem a fulano”... Ao
invés de cantar para Deus cantaremos pensando em fulano?! Ou por causa de beltrano?! Em outras
ocasiões, como funeral por exemplo, alguém diz: “Vamos cantar tal cântico por que o falecido gostava”... O
culto neste momento dá as costas para Deus, e se canta pensando no que o falecido gosta?! Até a mortos se
quer fazer homenagens no culto público de Deus! Isto com certeza não somente é estranho, como é um
absurdo! Certamente existem outros modos de agir que tiram, ainda que momentaneamente, Deus do
centro do culto, e se coloca coisas ou pessoas. Mas como vimos, todas devem ser evitadas.

Diferenças entre Liturgos

Diante de uma infinidade de modos de realizar uma liturgia de culto certamente nós teremos mais
prazer em determinados modos, e uma tendência de preferir determinados estilos. Mas será que o culto se
tornará mais edificante dependendo do liturgo, ou do tipo de liturgia aplicada? Certamente que poderemos
ter liturgias tão fora dos princípios bíblicos que podem até ser danosas espiritualmente. Contudo, se a
liturgia for dirigida conforme os princípios bíblicos, a questão de quem será o dirigente, ou de como está
construída a liturgia se torna algo irrelevante. Deus utiliza dos meios de graça (elementos do culto) quando,
como, e onde lhe apraz, independente do liturgo ou do tipo de liturgia:

Admito que pode haver mais prazer no ministério de alguns oficiantes do culto do que de
outros. Isso não se deve tanto a diferenças de educação ou de maneiras entre eles, e sim da
adequação dos dons espirituais de uns às nossas necessidades melhor que a de outros. Mas
essas diferenças do efeito do culto sobre nós de quando em quando não alteram o fato de
que a verdadeira adoração está em que ela desperta e revigora a fé e o amor dos que foram
renovados espiritualmente. Para todos os outros o único prazer possível na adoração é o
264
prazer de apreciar a excelência de alguma habilidade puramente humana.

Recitação do Credo Apostólico

Em algumas igrejas em nossos dias está presente a recitação do Credo Apostólico em algum
momento do culto (no fim ou início). Será isto uma boa prática litúrgica? A questão a ser levantada é a
seguinte: O credo apostólico pode ser de alguma forma utilizado como um elemento de culto? Ou seja, se
constitui em leitura bíblica? Em cântico? Em oração? Em sacramento, ou manifestação de algum dom
espiritual? A mim me parece que ele não se encaixa em nenhum dos tipos de elementos de culto ordenados
na bíblia! Todavia, na época da Reforma algumas igrejas utilizavam-se deste recurso, e alguns o fazem em
nossos dias. Sobre qual base bíblica tanto um quanto o outro se fundamentam eu desconheço. Acredito que
utilizá-lo no culto não passa de um acréscimo de um elemento estranho à Palavra que poderia ser evitado
sem nenhum prejuízo ao adorador.

Liturgia de Culto ao Ar Livre

Aqui no Brasil é costume se realizar trabalhos de evangelização em praças, ruas, quadras, etc... Onde
as massas serão atingidas pela pregação da Palavra e pelas mensagens de louvor cantadas. Diante de nosso

264
OWEN, John. O Verdadeiro Prazer na Adoração., 2013.

92
estudo acerca da liturgia, é preciso que nós nos preguntemos: como pode ser feito uma liturgia específica
para estas ocasiões?
Na verdade, antes de montarmos um modelo de liturgia para estas ocasiões é preciso que
esclareçamos o seguinte: O que estamos fazendo nestes locais é um culto, ou um trabalho evangelístico? Por
exemplo, os apóstolos quando pregavam fora das sinagogas, do templo, e das reuniões das igrejas locais,
não é declarado que eles utilizavam de uma liturgia de culto, mas simplesmente que pregavam aos que os
ouviam aproveitando as oportunidades (At 17:17-34; 3:11-21).
Certamente que os “cultos ao ar livre” referidos acima são organizados com antecedência, diferente
do que os apóstolos faziam, pois eram limitados pelo império romano. Entretanto, o que desejamos dizer é
que para um trabalho realizado ao ar livre deveria se ter como propósito a evangelização pela pregação da
Palavra, e não uma liturgia de culto público. Não acho que um trabalho deste tipo devesse ter partes
específicas como uma liturgia ocorrida num templo. No templo temos uma liturgia que segue o Princípio
Regulador do culto, elementos do culto, dirigente específico, propósito de edificação da Igreja e glorificação
de Deus, participação dos membros, etc. Num trabalho evangelístico devemos nos preocupar não com uma
liturgia, mas simplesmente com a pregação do evangelho aos perdidos. Assim, não seria um culto, mas a
realização do mandato do Senhor (Mc 16:15).

Liturgia e o Templo

É fácil de perceber como as igrejas de nossos dias estão preocupadíssimas com a aparência e beleza
dos templos. “As igrejas são, na sua maioria, salões festivos, convidativos, iluminados, ornamentados, enfim,
os esforços criativos das lideranças evangélicas para atrair as pessoas aos templos são imensuráveis. O
entusiasmo, o fanatismo e o marketing mundano imperam. A ordem do dia é inovar, enquanto o preceito
bíblico é ser fiel às Escrituras.”265
Às vezes pode-se gastar mais dinheiro com ornamentos do que com ação social ou evangelização.
Será que Deus realmente se preocupa que o templo esteja belo? Alguns dizem que o templo no Antigo
Testamento era belo, e que para construí-lo foi utilizado muito dinheiro. Ou seja, não foi feito de qualquer
forma. Isto parece ser um argumento forte, mas na verdade os seus proponentes se esquecem que a glória
não estava no templo, mas no Deus que nele habitava. O templo e seus utensílios eram gloriosos não por
regra, mas por propósito divino. Por figurarem realidades espirituais que deveriam penetrar a mente dos
crentes daquela época.
Não há no Novo Testamento nem sequer um versículo que nos mande construir templos. E menos
ainda, que estes sejam pomposos como o templo do Antigo Testamento. É bem verdade que o templo deve
ser um lugar confortável a fim de possibilitar a atenção do adorador durante o culto. Circunstâncias como
calor excessivo, sistema de som ruim, má claridade, cadeiras desconfortáveis, etc. Tudo isto prejudica o
adorador durante o serviço de culto. Mas daí argumentar-se que o templo como um todo deve esbanjar uma
construção cara e de última geração em todas as partes que o compõe, parece carecer de argumentos
fortes.266 Quanto aos ornamentos como flores cortinas e outros objetos, precisamos sempre pensar na
simplicidade, e não na grandeza. Ornamentos não devem prejudicar o culto. Como bem explicou David
Murray:

[...] Mas se tiramos tudo que apela aos nossos olhos e nossos sentidos, nossa visão, nosso
tato, então chegarem a ter algo bem simples. Assim podemos no focar no coração e não
naquilo que está lá fora. Por isso os reformadores pintaram de cal todas as igrejas, por dentro
e por fora. Tiraram todas as janelas com seus vitrais coloridos; aboliram todas as vestimentas
clericais; todos os incensos e sinos; tudo que impressionava os olhos. “Vamos simplificar”,

265
MENEZES, Raniere. Princípio Desregulador do Culto., 2013.
266
A Igreja Presbiteriana do Brasil em seus Princípios de Liturgia, Capítulo II – O templo, Art. 6º, declara: “A construção
do templo deve obedecer a estilo religioso, adaptado ao culto evangélico, em que predominem linhas austeras e
singelas.”

93
eles disseram “para que o povo possa novamente adorar de coração. Isso melhora a
267
espiritualidade”.

Elementos de Culto e suas Formas

A questão que já definimos anteriormente sobre os elementos de culto não findam com a
consciência do que deve ou não haver no culto. Ainda temos que ponderar a respeito de como executar
estes elementos. Ou seja, quais circunstâncias de culto devemos adotar. Uns acham que devemos nos
ajoelhar para orar, outros que devemos ficar de pé para cantar e ler a Bíblia, e ainda outros, que devemos
levantar as mãos. Nas Escrituras não vamos encontrar ordens específicas de como devemos cantar, orar,
pregar, ou ler as Escrituras. Porém, muitas vezes o que é de menor importância se torna motivo para
embates e discussões entre os membros da Igreja. Não são as formas que Deus observa, mas o coração do
adorador (Mt 15:8; Is 58:5; Jl 2:13). Estas coisas constituem-se em circunstâncias de culto, já explicadas
anteriormente, e devem seguir os princípios gerais da Palavra de Deus.

Uso de Expressões

Se observarmos vários cultos evangélicos vamos perceber que em dados momentos encontraremos
diversos tipos de expressões próprias do meio evangélico. Umas, muito utilizadas, outras pouco utilizadas,
umas prontas, e outras livres. Será que podemos estabelecer uma regra quanto a estas expressões? Por
exemplo, em cultos pentecostais e neopentecostais vamos observar várias vezes os membros dizerem em
quaisquer momento durante o culto expressões do tipo: “Glória a Deus!”, “aleluia!”, “misericórdia!” Estas
expressões não são proibidas nas Escrituras. Porém, quem fala tais palavras deve dizê-las em espírito de
oração a Deus! Se por acaso o fazem somente por vício, ou como jargão evangélico, então já não serve
utilizá-las.
Além disto, há pessoas que estão tão viciadas em utilizar tais expressões que utilizam às vezes em
momentos impróprios, provocando mais mal do que bem. Se o adorador quer participar no culto com tais
expressões, devem fazê-las como elemento de culto; como oração, de acordo com a ocasião do que está
acontecendo no culto, e não por mera mania.
Outra expressão muito utilizada entre os evangélicos é o “amém”. O uso desta palavra remonta os
tempos da igreja primitiva, a qual já a utilizava durante o culto público (1Co 14: 16, 17). Todavia, devemos
também enfatizar que, se o adorador não entende o significado da palavra amém, se torna apenas jargão
evangélico. Às vezes se torna algo tão sem sentido que alguns utilizam como uma pergunta de confirmação
para a igreja: “Amém igreja?” O significado da palavra, e o uso dela na Bíblia não tem a ver com estes
equívocos praticados na igreja de hoje. Vejamos o significado da expressão de acordo com a Bíblia:

O dicionário nos diz que amém significa “palavra litúrgica de aclamação, que indica anuência
firme, concordância perfeita, com um artigo de fé; assim seja”. [...] No Antigo Testamento, a
palavra hebraica usada é “amen”, que “expressa uma afirmação certa em face de algo que foi
dito. É usada após o pronunciamento de maldições solenes (Nm 5:22; Dt 27:15) e após
orações e hinos de louvor (1Cr 16:36; Ne 8:6; Sl 41:13, etc)”. Desta forma, há de se perceber
que o termo é empregado com a finalidade de confirmar uma verdade e não de indagar
268
sobre algo.

Em outras ocasiões o adorador sabe o significado da palavra “amém”, mas a utiliza de forma errada.
Por exemplo, se ele diz “amém” sem ao menos ter prestado atenção no que foi orado, lido na Escritura, ou
cantado, como então diz amém?! Como vimos acima, se digo “amém”, estou confirmando algo que foi

267
MURRAY, David. Adoração Reformada. Disponível em:
<http://ospuritanos.blogspot.com.br/2011/02/adoracao-reformada-dr.html#more>. Acessado em: 16 abr. 2013.
268
SILVÉRIO, André do Carmo. “Amém!” ou “Amém?” Qual deve ser a maneira correta de se usar esta expressão tão
conhecida no meio Cristão? Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/liturgia/palavra_amem_andre_silverio.htm >. Acesso em: 02 ago.2008.

94
declarado no culto (seja cântico, oração, pregação, leitura)... Se não entendo, ou não atento para o que é
falado, como posso concordar? Então o “amém” já se tornou um jargão evangélico inútil (1Co 14:16).
Quanto às orações prontas (escritas), ou o uso da oração do Senhor (Mt 6: 9-13) no culto, devemos
compreender que oração é oração. Não importa se ela está sendo feita por meio de leitura ou de livre
expressão. O que importa é o entendimento do adorador, e o coração do mesmo. Quanto à oração do
Senhor, há quem questione o seu uso por nós, pois esta teria sido dada como modelo (princípios para
oração), e não para ser literalmente orada como uma reza. Todavia, não há nenhum erro em se fazer
literalmente a oração modelo de Cristo. Desde que, é claro, o adorador entenda o que está orando. Há
muito tempo as igrejas reformadas têm utilizado orações escritas, e a oração do Senhor:

Durante o cântico, o ministro deixava a mesa e ia para o púlpito. Ali se preparava para a
leitura da Escritura e a pregação, oferecendo uma oração por iluminação. Essa e a oração de
aplicação após o sermão eram as únicas orações “livres” na liturgia de Calvino. Todas as
outras orações eram orações escritas. E, mesmo para essas duas orações livres, Calvino
oferecia aos ministros vários modelos. Após a oração de aplicação, o ministro oferecia a
oração congregacional. Essa oração era concluída com a oração do Senhor, que em algumas
269
congregações era cantada pela congregação.

Por último, queremos falar de outra expressão que é muito utilizada em algumas igrejas e que se
mostra equivocada para o ambiente de culto. É a expressão “participação especial”. É impressionante como
no meio de uma liturgia o dirigente chama um dos adoradores, visitante na igreja ou não, e diz que ele tem
uma “participação especial”(pode ser um cântico, uma poesia, um momento instrumental, etc). As questões
a serem levantadas são: Existe alguém especial no culto além de nosso Senhor Jesus? Existe alguém especial
entre os adoradores, ou somos todos iguais? Que tipo de participação seria especial se tudo que fazemos no
culto se resume aos elementos de culto, os quais não podem ser diferentes? Esta expressão desconsidera
estas questões, e põe em relevo o adorador mais do que deveria.

Acessórios na Liturgia

Como já vimos em capitulo anterior, o Princípio Regulador do culto não impede o uso de
determinados acessórios necessários à execução do mesmo. Por exemplo, os microfones, as cadeiras, o
púlpito... Porém, não devemos esquecer que estes acessórios não são mais importantes que os elementos
de culto. Por exemplo, usa-se o Data Show para apresentação da letra das músicas. Mas quando ele é mal
utilizado, com imagens que chamam mais atenção do que a própria letra, ele se torna um e acessório inútil.
Outro exemplo é quando igrejas se utilizam do recurso de instrumentos musicais. Se o som destes durante o
culto se tornam mais alto do que o povo cantando, então, já não estão servindo como acompanhantes da
canção, mas tornaram-se um fim em si mesmo. Assim, os acessórios devem ser bem utilizados para não
correrem o risco de atrapalharem a adoração ao invés de auxiliá-la, como é sua função.

Liturgia e o Sermão

Como vimos anteriormente, não existe um modo único de se fazer uma liturgia. Entretanto,
devemos estar conscientes de que, seja como for formulada a liturgia, o povo não deve estar cansado e
incapaz de ouvir o sermão. Às vezes se demora tanto com cânticos e orações que o adorador já não tem
mais energias para escutar uma hora de sermão. Digo isto não por causa da falta de espiritualidade do povo,
mas por questões físicas mesmo. É bom lembrar que “com o advento do protestantismo, a pregação voltou
a ocupar um lugar central na atividade da igreja e no culto cristão.”270 O sermão, portanto, deve permanecer
como um elemento primordial no culto.

269
DECKER, Robert. A Liturgia de Calvino., 2014.
270
MATOS, Alderi Souza de. A reforma calvinista e suas consequências para a pregação e a liturgia., 2007.

95
Duração de uma Liturgia

No Brasil de hoje nós temos vários tipos de liturgia presentes nas denominações atuais. Umas
demoradas, e outras não. Qual será o tempo ideal para realização de um culto? É bem verdade que na
Escritura não há uma norma quanto ao tempo de duração de um culto. Isto dependerá de pelo menos dois
fatores: Que tipo de culto nos referimos (individual, doméstico ou público), e em qual cultura ela está sendo
realizada. Provavelmente o culto doméstico não irá durar muito tempo tendo em vista os afazeres de cada
um dos familiares. Já o culto individual tem a duração que o próprio adorador reservar para si. Isto
dependerá de cada um.
Com respeito ao culto público, penso que dependerá da cultura e da condição espiritual. Quanto a
cultura, podemos observar que há lugares que os adoradores passam horas cultuando. Já no Brasil por
exemplo, não podemos passar tanto tempo sem o risco de perder a atenção do adorador. Ora, pensemos
um pouco. Se eu sei que no Brasil não posso demorar muito, porque alongar uma liturgia? Somente para ver
os adoradores não executarem os elementos de culto com tanta empolgação e fervor como do início do
culto? Isto é um contrassenso inútil!
Quanto à condição espiritual, a duração do culto público também é influenciada pela ação do
Espírito Santo. Se a igreja tem vigor e saúde espiritual, o culto público irá provavelmente prolongar-se devido
à condição espiritual encontrada nos adoradores (Ne 8:1-3).

Liturgia e Suas Partes

Há teólogos que vão argumentar que a liturgia do culto público deve seguir determinados momentos
específicos coordenados. Até mesmo se baseiam em textos bíblicos para fundamentar sua argumentação.
Contudo, tais textos não são de modo algum convincentes, e nem derivados de uma exegese sadia. A
estrutura apresentada por eles segue a seguinte ordem:271

Adoração: (Chamada à Adoração e Adoração propriamente dita).


Contrição: (Confissão de pecados).
Louvor: (Ação de graças. Aqui, pode ser colocada a consagração de Dízimos e/ou ofertas).
Edificação: (Pregação: leitura e exposição da Palavra).
Consagração: (Dedicação. Manifestação litúrgica da Igreja com seu “Amém” aos ensinamentos bíblicos: celebração
da Santa Ceia)”. 272

Por mais que queiramos organizar uma liturgia seguindo estas orientações, devemos ter em mente
que a Bíblia não prescreve isto. Assim, não segui-los não causará dano algum aos adoradores no culto. Esta
disposição fica por conta do construtor da liturgia, se seguirá ou não esta estrutura litúrgica.

271
Este modelo é apenas um exemplo. Existem outros modos de apresentar a estrutura de acordo com o pensamento
explicado.
272
PÁDUA, Antonio de. Liturgia Presbiteriana. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/59438777/LITURGIA-
PRESBITERIANA>. Acessado em: 26 jul. 2014.

96
CAPÍTULO VIII
O DIA DE CULTO

Como já vimos anteriormente a vida do homem em tudo que ele faz deve ser um ato de adoração.
Contudo, o nosso propósito é estudar os atos de adoração referentes ao serviço de culto. Após ter estudado
os aspectos referentes a seu conteúdo, significado, e formas, devemos entender agora que, Deus, em sua
infinita Sabedoria, determinou que separemos um tempo específico para realizar este serviço de culto.
Muitos cristãos sabem com certeza que Deus reservou o dia de sábado para o descanso do ser
humano (Gn 2:3; Ex 20:8-11). Entretanto, não compreendem que o dia de sábado (ou dia de descanso)
também foi santificado para outras razões. Dentre estas razões está o prestar culto ao Senhor. Assim tem
sido a interpretação das igrejas reformadas a respeito do Dia do Senhor. Observemos por exemplo o que nos
declara a Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO:
Seção VII - Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de
Deus, assim também, em sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a
todos os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado
(=descanso) santificado por Ele. (Ex 20:8-11; Gn 2:3; 1Co 16:1-2; At 20:7; Ap 1:10; Mt 5:17, 18); Seção VIII -
Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens... Ocupam todo o tempo em exercícios públicos e
particulares de culto e nos deveres de necessidade e de misericórdia. (Ex 16:23-26,29:30;31:15,16; Is 58:13).
Como está claro, participar das reuniões de culto no domingo não é uma questão cultural, mas uma
questão teológica. O Dia de descanso ordenado por Deus não era somente para descanso do homem, mas
igualmente para serviços religiosos.
Com certeza existem muitos cristãos que pensam que o dia de descanso, ou sábado, era somente
para o Antigo Testamento. Todavia, isto decorre de um mau entendimento das Leis Divinas. Ora, os dez
mandamentos nos foram dados para que possamos andar em santidade. Desobedecê-los é pecar contra
Deus (1Jo 3:4):

... a lei com respeito ao Sábado foi incorporada no Decálogo, como um dos dez requisitos em
que toda a lei moral, no tocante às nossas relações com Deus e com nosso próximo, é
generalizada e condensada. Foi escrito pelo dedo de Deus em pedra. É posto lado a lado com
os mandamentos que requerem de nós amor a Deus, honra a seu nome, e que proíbe a falta
273
de castidade e o homicídio.

Assim, “a não-observância deste mandamento equivale à não observância de qualquer outra


ordenança, como matar, adulterar.”274 Porém, ao invés de ser respeitado e honrado como um mandamento
que traz grandes benefícios à igreja, muitos hoje em dia o desprezam, assim como fizeram no Antigo
Testamento (Is 58). Ora, se o mandamento do sábado foi colocado entre os dez mandamentos morais,
obviamente ele não pode deixar de ser cumprido pelo fato de estarmos no período da Nova Aliança. Este
mandamento era obrigatório aos crentes do Antigo, e o é agora aos do Novo Testamento. Ou seja, o quarto
mandamento não faz parte das leis figurativas que foram abolidas por Cristo. “O Sábado é visto no Novo
Testamento sob dois aspectos: cerimonial e moral. O Sábado cerimonial alcança a sua plenitude em Jesus
Cristo. Tudo aquilo que o Sábado tipificava na lei cerimonial, torna-se realidade em Jesus Cristo. Ele é o
‘verdadeiro Sábado’... O aspecto moral ou espiritual do quarto mandamento continua.”275
Evidentemente que ao falar de um tempo determinado por Deus para prestarmos culto não estamos
dizendo que não podemos cultuar a Deus em outras ocasiões. Assim como no Antigo Testamento o povo
poderia cultuar durante a semana, e imprescindivelmente no sábado; nós podemos cultuar durante a
semana, e imprescindivelmente no domingo. Portanto, se a igreja tiver possibilidade, pode se reunir quantas

273
HODGE, A.A. Confissão de Fé Comentada por A. A. Hodge. São Paulo: Os Puritanos, 1999. p. 382.
274
REIFLER, Hans Ulrich. A ética dos dez mandamentos. São Paulo: Vida Nova, 1992. p. 87.
275
CASIMIRO, Arival Dias, Onésio Figueiredo. O dia de Descanso. Revista Teológica Cristã. Vol XIX. Santa Bárbara
D’Oeste: SOCEP, maio/2001. p. 20.

97
vezes tiver condições (At 2:42-47). E os crentes, por sua vez, devem participar destes cultos, ainda que não
aconteçam no dia do Senhor.276

Por que Guardamos o Domingo?

Qualquer cristão percebe com facilidade que as Escrituras ordena que seja santificado o dia de
sábado (o sétimo dia da semana), enquanto que a igreja dos nossos dias guarda o domingo (o primeiro dia
da semana). A dúvida então vem às mentes: Por que não guardamos o sábado como diz o 4º mandamento?
O mandamento na verdade não diz que necessariamente deve ser o sétimo dia a ser consagrado a
Deus. É verdade que era o sétimo dia que se guardava no Antigo Testamento, mas não por que fazia parte da
natureza divina, e sim, por decisão e escolha divina. Assim, o princípio deste mandamento não diz que
devemos guardar o sétimo dia essencialmente. Mas diz que, devemos guardar fundamentalmente um dia
em sete. No caso do período do Antigo Testamento, Deus determinou que fosse guardado o sétimo dia
fazendo referência à criação (Gn 2:2, 3; Ex 20:8-11).
Contudo, no período da Nova Aliança nós percebemos que o princípio continuou. Ou seja, temos que
guardar um dia para o Senhor. Todavia, o dia especificado não é mais o sétimo, mas o primeiro dia da
semana. Apesar de não vermos as Escrituras do Novo Testamento ordenar que se guarde o primeiro dia da
semana ao invés do sétimo, podemos observar que vários textos demonstram que a igreja entendeu e
praticou esta mudança (At 20:7; 1Co 16:2). Tanto é assim, que o domingo foi claramente chamado de “o Dia
do Senhor”:

A expressão "dia do Senhor" (kyriakê) "pertencente ao Senhor" (Ap 1.10), sugere um título
formal sobre o dia de adoração coletiva da igreja. "Senhor" claramente indica a pessoa de
Jesus Cristo. Ele é o Senhor. E o seu senhorio é manifesto em sua ressurreição, que ocorreu
no primeiro dia da semana. Domingo, é portanto, o dia do Senhor assim como a Eucaristia é a
277
"ceia do Senhor" (l Co 11.20).

Evidentemente que esta mudança não foi arbitrária ou por causa do gosto da maioria dos membros
da Igreja. Não foi uma mudança que resultou dos caprichos e da desobediência humana, mas proveio da
vontade de Deus pelas mãos dos apóstolos, os quais eram os representantes de Cristo:

O tempo da observância foi transferido do sétimo para o primeiro dia da semana na época
dos apóstolos, e conseqüentemente com a sanção deles; e esse dia, como o "dia do Senhor"
(Ap 1.10), tem sido observado no lugar do antigo Sábado, em todas as porções e épocas da
Igreja Cristã. Aceitamos essa mudança como nos veio, e cremos estar ela de acordo com a
vontade de Deus... por causa de sua origem apostólica... por causa de transcendente
importância da ressurreição de Cristo, a qual com isso se associa à criação do mundo por
278
Deus, como o fundamento da religião cristã.

Os puritanos através das declarações da Confissão de Fé de Westminster concordam plenamente


com a mudança do dia específico do quarto mandamento do dia sétimo para o primeiro da semana. A
Confissão diz o seguinte na Seção VII, do Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO: Como é lei da
natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também, em
sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens, em todas as
épocas, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (=descanso) santificado por Ele;
desde o princípio do mundo, até à ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a
ressurreição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado dia do
Senhor (=domingo), e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. (Ex 20:8-11; Gn 2:3;
1Co 16:1-2; At 20:7; Ap 1:10; Mt 5:17, 18).

276
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXI – DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, Seção VI.
277
CASIMIRO, Arival Dias, Onésio Figueiredo. op.cit., p. 21.
278
HODGE, A.A. Confissão de Fé Comentada por A. A. Hodge., 1999, p. 383.

98
Como Devemos Guardar o Dia do Senhor?

Como dissemos acima, pelo fato de se enfatizar o Dia do Senhor como um dia de descanso muitos
esquecem que este dia é santificado também para serviço de culto, exercícios devocionais, e ações sociais.
Em dois documentos de doutrina declaradamente reformados nós encontramos que o Dia do Senhor serve
para a realização do culto público de Deus:

 Confissão de Fé de Westminster, Seção VIII do Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO:

Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado o coração e
de antemão ordenado os seus negócios ordinários, [...] ocupam todo o tempo em exercícios públicos
e particulares de culto e nos deveres de necessidade e de misericórdia. (Ex 16:23-26,29:30;31:15,16;
Is 58:13);

 Catecismo de Heidelberg. Pergunta 103 → Que é que Deus requer no quarto mandamento?

Primeiro, que o ministério do Evangelho e as escolas cristãs sejam mantidas e que eu, especialmente
no dia de descanso, seja diligente em ir à igreja de Deus para ouvir à Palavra de Deus, participe dos
sacramentos, para invocar publicamente ao Senhor e para praticar a caridade cristã para com os
necessitados. Segundo, para que em todos os dias da minha vida eu cesse as minhas más obras,
deixe o Senhor operar em mim por Seu Espírito Santo, e assim começar nesta vida o descanso eterno.
(Dt 6.4-9; 20-25; 1Co 9.13, 14; 2Tm 2.2; 3.13-17; Tt 1.5; Dt 12.5-12; Sl 40.9, 10; 68.26; At 2.42-47; Hb
10.23-25; Rm 10.14-17; 1Co 14.26-33; 1Tm 4.13; 1Co 11.23, 24; Cl 3.16; 1Tm 2.1; Sl 50.14; 1Co 16.2;
2Co 8; Is 66.23; Hb 4.9-11).

Há aqueles que no Dia Do Senhor somente querem descansar. Acham que o dia pode ser obedecido
somente cumprindo um de seus propósitos. Contudo, o Dia não somente nos dá oportunidade de descanso,
mas de serviço, e consagração ao Senhor. Já vimos acima que o Dia do Senhor deve ser obedecido por ser
parte dos dez mandamentos entregues por Deus ao seu povo. Assim, guardar de modo correto o 4º
mandamento é uma questão de consciência cristã:

Devemos notar que o requerimento é que nós nos lembremos do dia de descanso, para o
santificarmos. Santificar significa separar para um fím específico... Nessa separação, o
envolvimento de nossas pessoas em atividades de adoração, ensino e aprendizado da Palavra
de Deus, é legítimo e desejável. A freqüência aos trabalhos da igreja e às atividades de culto,
279
nesse dia, não é uma questão opcional, mas obrigatória aos servos de Deus.

Infelizmente muitos têm ficado em casa, ou programado outras atividades, ou até mesmo
trabalhado neste dia, achando que podem fazer o que bem entendem. Isto é danoso para a vida espiritual
do crente, o qual é exortado a se reunir com os irmãos a fim de adorar a Deus (Hb 10:25). E pior ainda, às
vezes os pais vão à igreja, mas deixam os filhos em casa. Como já vimos anteriormente, o culto é para toda a
família. Desde cedo os filhos devem aprender a valorizar e participar do culto ao Senhor. Alguns acham que a
obediência ao 4º mandamento não é tão importante assim. É um pecado insignificante, e pode ser
desconsiderado. Entretanto, muito se perde quando deixamos de fazer aquilo que Deus ordena para nós.
Como comenta Ralph Boersema a respeito deste assunto:

A igreja evangélica brasileira nos primeiros tempos, nos anos de perseguição e construção
das bases, valorizava muito o descanso dos domingos. Mas com a influência do modernismo,

279
NETO, Francisco Solano Portela. Israel e o Maná, no Deserto. Paulo se Reúne no Domingo. Revista Atualidade da Lei
– O Papel Atual dos Mandamentos. São Paulo: Cultura Cristã, s/d. p. 29.

99
dispensacionalismo e pentecostalismo desprezou-se o quarto mandamento. A igreja
evangélica que hoje só tem nove mandamentos ficou bem mais pobre com a perda do quarto
280
mandamento.

280
BOERSEMA, Ralph. O Dia do Senhor. Revista Educação Cristã. Vol IV. Santa Bárbara D’Oeste: SOCEP, Jul/2001. p. 40.

100
CONCLUSÃO

Finalmente chegamos ao fim de nosso estudo a respeito do culto ao Senhor. Certamente que muitos
assuntos poderiam ter sido abordados, mas não é nosso propósito responder exaustivamente a todos os
aspectos referentes ao culto. O nosso desejo é que as respostas às dúvidas principais relacionadas ao culto,
de acordo com as realidades vivenciadas no meio evangélico de nosso país, tenham sido entendidas
conforme a teologia reformada.
Não há como negar que encontramos muitas dúvidas e diferenças litúrgicas nas igrejas em nosso
Brasil. E longe de encontrarmos uma unidade de culto, temos encontrado bastantes diferenças. Nosso
estudo procurou ser bíblico, claro, e desafiador, evidenciando que muitos destes cultos têm se afastado
grandemente do ensino das Escrituras. É bem verdade que não atingiremos a perfeição aqui na terra, mas
não implica que seremos negligentes quanto ao que Deus nos tem revelado na Bíblia.
Tenho plena consciência de que há quem pense que os cultos em nossos dias devem ser atraentes
para poder concorrer com tantas outras atividades que chamam a atenção do homem moderno. Contudo,
esta maneira de pensar, como vimos durante nosso estudo, destoa daquilo que nos é ordenado por Deus em
relação ao culto. O culto cristão não deve ser atraente, mas bíblico:

Tampouco o evangelho tem o objetivo de ser atraente, no sentido do marketing moderno.


Conforme já salientamos, frequentemente a mensagem do evangelho é uma “pedra de
tropeço e rocha de escândalo” (Rm 9.33; 1Pe 2.8). O evangelho é perturbador, chocante,
transtornador, confrontador, produz convicção de pecado e é ofensivo ao orgulho humano.
Não há como “fazer marketing” do evangelho bíblico. Aqueles que procuram remover a
ofensa, ao torná-lo entretenedor, inevitavelmente corrompem e obscurecem os pontos
cruciais da mensagem. A igreja precisa reconhecer que sua missão nunca foi a de relações
públicas ou de vendas; fomos chamados a um viver santo, a declarar a inadulterada verdade
281
de Deus – de forma amorosa, mas sem comprometê-la – a um mundo que não crê.

Para aqueles que entenderam e concordaram com as doutrinas defendidas nesta obra nós
exortamos a que tenham paciência para com aqueles que não enxergam da mesma forma a teologia do
culto. Mesmo porque, nós vamos encontrar diferenças de aplicação dos elementos e das circunstâncias de
culto até mesmo entre aqueles que obedecem ao Principio Regulador do culto. Em todo caso, levemos em
consideração a posição tomada pelo reformador João Calvino com respeito a coisas secundárias. Ele afirmou
que o “amor julgará melhor entre o que danifica e o que edifica; e se deixarmos o ser o nosso guia, tudo
estará salvo”.282
Não fomos chamados para causar mal estar ou desavenças entre o povo de Deus, mas para
podermos colaborar com o crescimento mútuo entre os irmãos. Assim, onde, como, e quando pudermos,
possamos incentivar a prática reformada de culto. E quando isto não estiver ao nosso alcance, devemos
interceder pela Igreja e esperar a Soberania de Deus agir. Como bem falou o teólogo James M. Boice: “O
desastre que tem tomado a igreja em nossos dias, com respeito à adoração, não será curado de um dia para
o outro.”283
Ao mais, não penso que devemos ficar somente frustrados e tristes ao participarmos de cultos onde
as doutrinas reformadas não são a prática em voga. Porém, possamos tirar proveito espiritual de todos os
modos durante a liturgia; julgando todas as coisas e retendo o que é bom. Não somos melhores do que
aqueles que cultuam diferente de nós, somos apenas mais esclarecidos nas doutrinas reformadas. E ao invés
de criticar demasiada e impiedosamente os que cultuam conforme outros pensamentos doutrinários,

281
MACARTHUR Jr., John F. Eu Quero a Religião Show., 2008.
282
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo Sobre a Adoração e o Culto Cristão in Revista Os Puritanos. São Paulo: Os
Puritanos. Ano VIII, nº 2, abr/maio/jun, 2000. p. 31.
283
Ibid., p. 30.

101
empenhemo-nos em ensinar nossos filhos a cultuarem desde cedo de modo mais bíblico, e procuremos
cultuar da melhor forma possível.

Deus abençoe Sua Igreja!

102
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